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CONSTRUINDO UM ARCO

Introdução

Diante da quase inexistência de informações sobre a construção de um arco na língua


portuguesa, decidimos por à disposição de todos que tenham acesso à Internet informações
claras e objetiva de como construir seu próprio arco. Não só algo que consiga disparar uma
flecha de qualquer maneira, mas nosso objetivo é passar conhecimento suficiente para que,
com pouco dinheiro, qualquer aspirante a arqueiro possa ter em mãos uma arma precisa e
potente como aquelas que há milênios fazem parte da história do homem como uma
ferramenta para a caça, defesa, guerra e lazer.
Muitos são os tipos de arcos existentes (vamos ignorar aqueles compostos com roldanas,
nada tradicionais, feios, apesar de também atirarem flechas), dentre os tradicionais, talvez o
longbow inglês seja o mais conhecido e admirado no mundo ocidental, também o mais
simples deles. Vamos mostrar aqui como fazer um arco semelhante ao longbow, algo mais
próxomo do chamado flatbow, de maneira simples (apesar de ainda assim complexa para
leigos, pois a arte da construção de arcos não é algo fácil). Nosso objetivo é que se consiga
um arco com a potência desejada pelo arqueiro que irá usá-lo e com ótima precisão, desde
que usado com as flechas corretas (ver “A flecha e o arco”) e atirado por alguém que
pratique bastante o tiro com este tipo de arco.
Já alertamos o leitor que construir um arco não é algo fácil, exigirá tempo e dedicação.
Dificilmente o primeiro arco feito por alguém será um bom arco, não quebrará. Mas não
desanime, aprenda com seus erros, tire suas dúvidas com alguém mais experiente e o
próximo provavelmente não falhará.

Ferramentas

Há um enorme número de ferramentas existentes que facilitariam a confecção de um arco,


mas como muitas delas são caras e outras raríssimas no Brasil, vamos citar apenas as
mínimas necessárias e mais baratas, facilmente encontradas em lojas de ferragens e
ferramentas. Uma boa plaina é essencial, uma grosa (espécie de lima grossa usada em
madeira), faca(s) e canivete(s), lixas de papel desde a mais grossa (60 está bom) até a mais
fina encontrada (no mínimo 220) passando por todas as intermediárias encontradas (de 20
em 20 está bom, ex.: 60, 80, 100...), você também precisará de algo para prender sua peça
de madeira em sua bancada (a pia da cozinha ou a mesa da sala também serve), como uma
morsa, mas o melhor e mais simples é adquirir dois grampos ‘C’, os vulgos sargentos.
Uma pequena grosa cilíndrica também será necessária, a menor encontrada. Instrumentos
de medição como régua e paquímetro, com marcações para centímetros e polegadas,
também serão essenciais.
Estas já são suficientes para execução de um arco.
A Madeira

A maneira mais artesanal e eficiente de construir um arco começa pela árvore ainda viva.
Ela é cortada, o tronco rachado radialmente em algumas partes, deixa-se secar por mais ou
menos dois anos na sombra, e começa-se a trabalhar lentamente a peça de madeira
seguindo os anéis de crescimento....etc... Mas como esta é uma maneira muito complicada
e demorada nós vamos construir o nosso arco a partir de uma peça de madeira comprada
em madeireiras, um caibro.
Como não foi escolhida a região do tronco a ser usada, e por não ser uma peça que siga os
anéis de crescimento, nosso arco teria grande chance de quebrar se não usássemos um
revestimento nas costas do arco, o backing, ( Em posição de tiro as costas do arco está
voltada para o alvo, e o ventre ou barriga voltada para o arqueiro) mais adiante falaremos
mais sobre o revestimento das costas de um arco.
Deve-se escolher a peça de madeira mais bonita existente no comércio onde esta for
adquirida. Aquela com a cor mais uniforme, com o menor número de fibras saltando para
fora da peça, sem irregularidades, sem sinais de empenamento, rachaduras, ou envergação
deve ser a escolhida. Não compre qualquer peça de madeira, uma má escolha pode ser o
motivo do fracasso de um arco.
A princípio, um construtor de arcos experiente pode fazer um arco de qualquer tipo de
madeira, desde que seja uma espécie de relativa qualidade da madeira. A madeira mais
famosa na confecção de arcos é o teixo (Yew), largamente utilizado na Idade Média nos
arcos ingleses. Hoje nos EUA a Osage Orange é uma das mais renomadas. Mas é quase
impossível conseguí-las no Brasil sem que você mesmo as importe. O Ipê (não somente o
roxo, mas qualquer ipê) é talvez o preferido pelos poucos( “poucos”....vamos mudar isso...)
construtores de arco do Brasil. Muitos construtores de arcos experientes nos EUA usaram, e
não só aprovaram mas ficaram admirados com as propriedades do Ipê num arco bem feito,
uma vez eu li uma frase de um deles que dizia: “Ipê revestido com Bambu, uma
combinação mortal.”.
Mas o ipê não é o único, arcos feitos de Jatobá, Pau Roxo(ou Roxinho), Aroeira (ou
Gonçalo Alvez), Pau Brasil, Pati ( uma palmeira muito utilizada pelos índios da Amazônia
em seus arcos, não há notícias de que alguém, senão os índios, tenham feito um arco desta
madeira) também tiveram sucesso. Dentre estas citadas pode-se escolher aquela que você
possa conseguir com mais facilidade, o Ipê, Jatobá e Aroeira são aqueles que já foram mais
largamente utilizados com bons resultados.

O Projeto

Muitos são os projetos possíveis para uma arco. Aqui vamos mostrar um projeto de simples
execução e que resultará em um arco com o mínimo de possibilidades de quebrar-se.
Antes de decidir pelo tamanho de seu arco deve-se conhecer o comprimento da puxada do
arqueiro ao qual o arco está destinado. Lembre-se, um arco deste tipo é um instrumento
quase tão pessoal quanto uma escova de dente. Para conhecer o comprimento de sua
puxada sem ter um arco deve-se estender totalmente o braço esquerdo com o punho
fechado em posição de soco, segure uma haste qualquer com a mão direita entre o dedo
indicador e o “dedo do meio”, como uma flecha, apoie a outra extremidade da haste no
punho fechado esquerdo e encoste o dedo indicador direito no canto direito de sua boca, até
onde a maioria dos arqueiros tradicionais puxam a flecha, então meça a distância da haste
de indicador a indicador. Esta será em polegadas o seu draw length ou comprimento de
puxada aproximado. Geralmente os arcos comprados são feitos para uma puxada de 28
polegadas, mais ou menos a puxada de um homem de 1,80 m de altura, é neste
comprimento de puxada também que é medida a potência de um arco em libras.
Quanto maior um arco menor será a probabilidade deste se quebrar. Para um
iniciante,poratanto, recomenda-se que seus primeiros arcos sejam grandes, afim de não
quebrarem-se com facilidade. Deste modo, recomendo que para uma puxada de 28’’
polegadas faça-se um arco de 70’’, para uma puxada maior do que 29’’ , seria interessante
começar com um arco de 72’’. Um arco maior do que 72’’ não seria interessante na minha
opinião. Para puxadas menores que 27’’ pode-se começar com um arco de 68’’. A não ser
que esteja-se falando em puxadas realmente muito pequenas não recomendo que seu
primeiro arco seja menor do que 68''.

Suponhamos que o retângulo abaixo seja sua peça de madeira, ela deve ter, no mínimo
1 ¾’’ X 1 ½’’ X tamanho do comprimento do seu arco. Os nossos retângulos deste
projeto terá estas medidas mínimas.
O primeiro passo é traçar o centro do arco ( obs.: as medidas deste projeto não estão em
escala, considere que o retângulo a baixo meça 1 ¾’’ x comprimrnto do arco) :
A seguir traça-se uma linha 1 ½’’ acima do centro e outra 3’’ abaixo dele, assim
delimitamos a empunhadura:

Então traça-se uma linha 2 ½’’ acima da empunhadura e outra 2 ½’’ abaixo dela:

Agora tracemos uma linha longitudinal pelo centro:

Nosso arco terá 1 ¾’’ em sua área mais larga e ½’’ nas extremidades, sua empunhadura terá
1 ¼’’ de largura, sendo que todas as variações nas larguras serão unidas por retas diagonais.
A configuração final desta face do projeto ficará assim, de modo que a lâmina superior é
representada pelo lado direito de nosso desenho:

Como você já deve ter observado e achado estranho, vou explicar: a lâmina de cima é
ligeiramente maior por ser esta a que sofre maior estresse durante o uso.

Você deverá trabalhar a madeira até chegar nesta forma em vermelho:


Face-1

Bem, vivemos num mundo de, pelo menos, 3 dimensões, vamos continuar...

Aqui temos a face lateral de nossa peça de madeira já com o centro e os outros traços
marcados como na outra face do projeto(obs.: estes desenhos não estão em escala,
considere que o retângulo abaixo meça 1 ½’’ x comprimento do arco):

Não dá para dizer a potência de um arco a partir de suas medidas devido a infinidade de
variações que encontramos nas propriedades dos diferentes tipos e peças de madeiras.
Portanto indicarei uma espessura inicial de lâmina de ½’’, esta medida permitirá conseguir
desde arcos bem potentes até aqueles menos fortes durante a finalização da arma.
Tracemos então o desenho de nossa lâmina:

Você deverá trabalhar a madeira até chegar nesta forma em vermelho:

Face-2
Pronto, agora que você já tem um projeto para seguir, basta só executá-lo!

Execução

Não é fundamental que já se tenha experiência com o trabalho manual de madeira para se
construir um arco com relativa qualidade. No entanto não é aconselhável que seu primeiro
trabalho em madeira já seja em uma peça selecionada e destinada a um arco. Recomendo
que se pegue retalhos de madeira e treine nestes com as ferramentas adquiridas. Assim você
poderá regular aquelas que necessitam de regulagens, como a plaina por exemplo (siga as
orientações do fabricante), e conhecer o poder de desbaste delas.
A ajuda de alguém com certa experiência no trabalho com a madeira também é de extrema
valia. Muitos avôs são ótimos instrutores. Lembre-se, temos muito a aprender com os mais
velhos, especialmente os realmente velhos. Um marceneiro do bairro também não negará
algumas dicas, um dia ele também aprendeu com alguém.
O que um homem que trabalha com madeira deve sempre ter em mente é que você sempre
poderá desbastar, lixar, retirar um pouco mais de madeira, mas nunca será possível colocar
madeira novamente. Portanto tenha paciência. Trabalhe aos poucos. Sem preça. E sempre
com muita atenção.
Agora que você já sabe trabalhar com as ferramentas que tem, vamos ao nosso arco.
O primeiro a fazer é decidir qual dos dois lados será as costas do arco. Quase a totalidade
das quebras de arcos acontecem pelo desprendimento das fibras da madeira localizadas nas
costas do arco. Então, temos que dar maior atenção para esta parte de nossa arma. O lado
com menos irregularidades, menos fibras aparentes deve ser o escolhido para as costas do
arco.
Uma vez definida, as costas do arco deve ser muito bem lixada. Começando com a lixa
mais grossa (60 já está bom) lixe até você ter certeza que outras passadas seriam
desnecessárias, não mudariam nada. Então lixe um pouquinho mais. Só então passe para a
lixa 80. Após lixar bem como com a lixa 80, passe para a 100. Depois de bem lixada com a
lixa 100 pode dar um pouco de descanso às lixas. Como esta face receberá um revestimento
posteriormente ela não necessita estar mais lisa do que estará após a lixa 100.
Agora é hora de traçar os riscos como indicados no projeto. Com um bom lápis, trace-os
nas costas do arco até chegar ao desenho Face-1 do projeto.
Agora você deverá tomar uma decisão, algo pessoal. Se você decidir começar a desbastar a
madeira para chegar primeiro ao traço vermelho de Face-1, pode começar. Só depois de
pronto esta fase você riscará o desenho Face-2. Se preferir começar desbastando com o
objetivo de chegar primeiro ao desenho do traço vermelho de Face-2, risque todos os traços
agora e comece o serviço.
Você deverá tomar cuidado com as costas do arco, esta não deve ser mais mexida(no
interior do traço vermelho, é claro). Comece usando a plaina, esta deverá estar bem afiada.
Alguns se dão bem com as facas e/ou canivetes, se você é um deles, vá em frente com suas
lâminas. Quando já estiver chegando bem perto do traço vermelho, aconselho por as
lâminas e plainas de lado e começar a usar a grosa, é bem difícil fazer uma besteira com
esta ferramenta. Sempre fixe sua peça de madeira para trabalhá-la, assim você terá suas
duas mãos sempre livres.
Revestimento

Como já foi dito anteriormente, o desprendimento das fibras das costas de um arco é a
causa de quase todas as quebras de arcos. O revestimento ou backing é um artifício usado
para segurar essas fibras evitando a quebra. No entanto um arco revestido não significa um
arco inquebrável. Revestir um arco significa colar em suas costas algum material tal como
uma lâmina de madeira, bambu, seda, couro de diversos tipos, sinew que é o tendão de boi,
búfalo, cervo, fibra de vidro ou carbono, entre outros. Vamos tratar aqui apenas da madeira,
do bambu e do couro, os mais simples de conseguir e aplicar e também muito eficientes.
O revestimento com madeira pode ser feito com uma lâmina de, em média, três
milímetros de espessura, não pode ser nem muito maior nem muito menor do que isto. A
madeira usada deve ser de peso e dureza medianos e de boa qualidade. A peça deve estar
em perfeitas condições. É importante que a madeira utilizada para este fim não seja
demasiadamente fibrosa.
No caso do bambu, este deve ser do tipo gigante ou bambu-açú, com pelo menos 10 cm de
diâmetro. Ele deve ser cortado maduro e após seco, rachado. As tiras devem ter o seu lado
externo preservado a não ser por leves desbastes que podem ser feitos nos nós, mas isto não
é necessário. O lado interno deverá ser desbastado até se tornar plano e atingir a espessura
esperada, esta não deverá ser inferior a 3 milímetros, e poderá ser maior de acordo com a
sua vontade, lembrando que o bambu irá aumentar a potência de seu arco, portanto não
exagere na espessura deste, você pode acabar tendo que desbastar muito a madeira de seu
arco posteriormente.
O adesivo usado na colagem da madeira ou do bambu pode ser um adesivo epóxi de
qualidade, ou cola de madeira a base de resina vinílica, esta última muito barata e fácil de
encontrar em qualquer comércio do ramo.

Para colar o revestimento de madeira ou bambu use alguns grampos ‘C’/sargentos, quanto
mais grampos melhor ficará a colagem, tente por a mesma pressão em todos. Tiras de
câmaras de ar também podem ser usadas na colagem desde que bem apertadas. Essas tiras
podem ser usadas nos intervalos entre o grampos ou somente elas.
Se você optar pelo couro você terá de escolher qual o tipo de couro que irá usar. Uma vez
cortado no tamanho certo passe bem a cola de madeira a base de resina vinílica nas costas
do arco e prenda o couro ao arco usando faixas hospitalares (encontradas em farmácias para
enfaixar pés torcidos etc...), as faixas devem ser enroladas sobre todo o arco bem apertada.
Para colar o revestimento no seu arco este deve estar já em sua forma final, após alcançar
ambos os desenhos Face-1 e Face-2. Limpe ambas as superfícies a serem coladas
isentando-as de qualquer partícula de poeira.

Alguns Detalhes...

Agora que você já tem um arco revestido, é hora de preparar alguns detalhes antes de
começar a enverga-lo. Vamos desbastar os sulcos nas pontas do arco onde a corda será
encaixada. Imagine que o retângulo abaixo seja a face lateral da ponta de seu arco. O traço
em azul deverá ser traçado ¾’’ abaixo da ponta e o verde ½’’ abaixo do azul. Sobre a
diagonal em vermelho deverá ser feito o sulco. A espessura e profundidade deste depende
do tipo de corda que será usado e de sua preferência. A ferramenta mais eficiente para este
desbaste é uma pequena grosa cilíndrica.
IMPORTANTE!: O lado esquerdo da figura abaixo representa as costas do arco, enquanto
que o lado direito indica o ventre do arco

No caso de você ter escolhido a madeira para revestir seu arco esta deverá ser lixada
desde a lixa mais grossa até a mais fina possível (mínimo 220) passando por todas as
intermediárias, isto antes de iniciar a tileração. O bambu e o couro não necessitam de
serem lixados.

Tillering – Trabalhando o modo como o arco enverga

Agora que seu arco está quase pronto é hora de começar a enverga-lo. Precisamos agora ter
paciência e trabalhar com mais cuidado do que nunca. Devido a não uniformidade da
madeira, do bambu, interferências da camada de cola entre o revestimento, o arco poderá
estar envergando mais em certos pontos da lâmina do que em outros. Desse modo o estresse
não será distribuído igualmente entre todos os pontos reduzindo assim a vida útil do arco.
Pode haver também uma lâmina mais fraca do que a outra, o que também pode ser um
problema.
Os norte-americanos, em se tratando deste processo, usam o verbo to tiller . Até hoje nuca
consegui achar em nenhum dicionário o significado desta palavra como um verbo, e
somente americanos arqueiros conhecem tal verbo. Usarei então a palavra inglesa
aportuguesada.
É nesta fase que iremos trabalhar essas irregularidades na envergadura de nosso arco. É
agora também que iremos diminuir a potência de nosso arco até aquela que queremos. Para
este processo, talvez o mais importante para que tenhamos um arco bem sucedido, teremos
que montar um suporte no qual prenderemos nosso arco pela empunhadura e possamos
enverga-lo progressivamente e observar como as lâminas estão envergando até chegarmos
ao tamanho de puxada que se busca.
Um suporte para “tilerar” um arco pode ser facilmente feito como o da foto abaixo:

Os pontinhos no caibro são ganchos presos


com buchas.
Ou, ao invés de ganchos pode-se prender uma roldana no chão e com uma corda presa à
corda do arco, você pode enverga-lo e observar ao mesmo tempo. Não esqueça de marcar
no suporte o comprimento de puxada correspondente à envergadura que estará sendo
aplicada ao arco.
A “tileração” deve-se iniciar com uma corda maior do que a que se encordoará o arco
posteriormente. Prende-se as extremidades da corda nas pontas do arco sem enverga-lo
ainda. Ponha-o em seu suporte e verifique se as costas do arco está no nível (um nível de
pedreiro é bem útil). Então comece a envergar o arco. Com umas 8’’ já deverá ser possível
observar a envergadura dele. O primeiro ponto a observar é se as duas lâminas estão
envergando igualmente. Daquela que estiver envergando menos deverá ser retirada o
mínimo de madeira de toda a lâmina uniformemente (recomenda-se o uso da grosa). Vá
sempre trabalhando aos poucos. Marque a região a ser desbastada e desbaste bem pouco,
não esqueça que você não conseguirá devolver madeira ao arco! Ponha o arco novamente
no suporte e verifique o resultado. Retire madeira aos poucos e verifique o resultado
quantas vezes forem necessárias. Se você conseguir que as duas lâminas enverguem
exatamente o mesmo tanto, tudo bem. A lâmina superior deve, no entanto, ser sutilmente
(eu digo muito sutilmente) mais flexível que a inferior. O que não deve ocorrer de maneira
alguma é a lâmina de baixo ser mais flexível do que a lâmina de cima.
Agora que temos as duas lâminas envergando corretamente uma em relação à outra, vamos
nos preocupar em como elas estão envergando. Um arco deste tipo não deve se parecer com
uma semi-circunferência, como muitos leigos acham. O ideal é que ele seja semelhante a
uma semi-elipse. Ou seja, nosso arco deve envergar mais a medida que nos aproximamos
das pontas, o mesmo que dizer ser menos flexível a medida que nos aproximamos da
empunhadura. Mas nada muito brusco, esta deve ser mais uma diferença sutil. Veja algumas
fotos de como seu arco envergado deve se parecer:
Imagem cedida por
George Tsoukalas

Chegando no comprimento de puxada que se busca com esta corda grande, reduza o
tamanho dela ou utilize a própria corda destinada ao arco. Desse modo, você deverá
encordoar o arco de maneira que a corda esticada mantenha o arco um pouco envergado.
Então recomece o processo de tileração. Ponha novamente o arco no suporte, tire-o,
desbaste, retorne o arco no suporte, observe... Faça isso quantas vezes forem necessárias até
alcançar o comprimento de puxada que se quer com as duas lâminas envergando
corretamente e da mesma maneira. Se você chegar no comprimento de puxada que se
buscava com o arco ainda inteiro... Você se sentirá verdadeiramente aliviado, a obra de suas
mãos não quebrou, alegre-se, você fez um arco!!!

Acabamento

Quando você chegar nesta fase, Parabéns, seu arco está quase pronto e já sabemos que deu
certo. Agora é hora de trabalhar a empunhadura. Como neste projeto a empunhadura não
enverga, você está livre para trabalha-la como quiser desde que não a enfraqueça muito. Vá
trabalhando a madeira de maneira que a empunhadura se encaixe confortavelmente na mão
do arqueiro.
Agora você terá de tomar mais uma decisão, você poderá colar uma pecinha de madeira
logo acima de sua mão ao segurar o arco para apoiar a flecha durante o tiro ou usar sua
própria mão como apoio para a flecha(era assim que a maioria dos arqueiros dos séculos
passados atiravam inclusive os ingleses da idade média). No caso de atirar usando a mão
como apoio, recomenda-se o uso de algum tipo de luva para evitar possíveis ferimentos.
Veja exemplos de empunhaduras:
É também recomendável que se cole um protetor nas pontas do arco afim de proteger o arco
de ser desbastado pelo atrito da corda diretamente com a lâmina. Este protetor pode ser de
chifre, osso ou casco de animais, madeira ou algum material sintético. Veja alguns
exemplos:

Com a empunhadura pronta é hora de lixar. A madeira possui uma beleza tímida, a lixa bem
usada é quem ajudará a beleza da madeira a vencer sua timidez e mostrar-se em público.
Comece com a lixa mais grossa e vá até a mais fina possível passando por todas as
intermediárias. Quanto mais fina for a última lixa mais refinado será o acabamento e mais
bela se apresentará a madeira. Lixe todo o arco (menos o bambu e o couro se for o caso)
com muita dedicação. O bambu pode ser lixado levemente com uma lixa bem fina somente.
De pois de lixado é hora de envernizar. A envernização é necessária para que nosso arco
se proteja da umidade, dos raios solares e ainda evita que a madeira resseque, além de
realçar a beleza da madeira. Os vernizes mais indicados são aqueles a base de poliuretano
ou a base de resina epóxi, os mais resistentes. Temos no comércio um verniz chamado de
marítimo com excelentes propriedades para este fim, sendo este a base de poliuretano.
Siga sempre as orientações do fabricante do verniz para extrair o melhor resultado do
produto que compraste.

Parabéns pelo seu sadio interesse nos arcos tradicionais. Boa sorte em sua empreitada!

Para aprender como atirar, qual a flecha correta e outros detalhes sobre um arco deste tipo
veja nossas outras sessões neste site.

Qualquer dúvida, crítica, observação ou sugestão sinta-se a vontade para entrar em


contato por e-mail. Ficarei muito feliz também se receber fotos dos arcos feitos por você,
seja seguindo estas dicas ou não!

A FLECHA E O ARCO
Introdução
A precisão depende, majoritariamente, do arqueiro. No entanto, há uma parcela relevante
de atuação do equipamento na busca de um tiro preciso. A regulagem de um equipamento
segue os mesmos princípios em qualquer arco, porém é realizada de diferentes maneiras
nos diferentes tipos de arco existente. A grande maioria dos arcos compostos ou dos
recurvos olímpicos possui seu dispositivo de regulagem no próprio arco, podendo assim,
diferentes flechas serem usadas.Nos arcos tradicionais, como não usamos nenhum tipo de
mecanismo extra, a regulagem de um equipamento se torna um pouco mais complexa.
A regulagem de um arco deste tipo é feita a partir da escolha da flecha correta. Neste
processo teremos muitas variáveis a serem estudadas que interferirão em nossos resultados,
algumas delas são: potência do arco, tipo de arco, corda, peso da flecha, rigidez da flecha,
tamanho da pena, peso da ponta.
Entendendo os porquês
Nos arcos tradicionais temos alguns tipos de apoio utilizados para disparar uma flecha, veja
alguns exemplos:
Nota-se que na maioria deles a flecha não estará alinhada no momento do tiro, tendo esta
que se envergar para passar pelo arco. O que ocorre com a flecha durante o tiro é algo
semelhante ao esquema ao lado.

Na Fig.A Temos a flecha presa na corda no momento exatamente anterior à liberação da


corda pelo arqueiro. Fig.B mostra o momento em que a energia potencial elástica das
lâminas se transfere para a flecha em forma de energia cinética. Devido à inércia da flecha,
esta se enverga durante este processo. As figuras fig.C e fig.D mostram a flecha já em sua
trajetória pelo ar.
Obs.: As observações a seguir serão feitas para um arqueiro destro (que puxa a corda com a
mão direita). Se você é canhoto, inverta direita-esquerda.
Para uma mesma flecha temos que: Quanto maior a potência e eficiência de um arco, maior
será a tensão imprimida na flecha em Fig.A e portanto um maior desvio da trajetória para a
direita. Mas o que irá nos interessar será as variáveis para um mesmo arco. Quanto mais
rígida for uma flecha, menos esta irá envergar, portanto, sua trajetória tenderá a desviar-se
para a esquerda. Quanto menos rígida a flecha, maior a tendência de ela desviar-se para a
direita. Flechas importadas podem ser compradas segundo uma tabela que indicará a flecha
“ideal” para a potência e tipo de seu arco. Os fabricantes de flechas geralmente oferecem
essas tabelas em seu sites. Mas para flechas feitas por você mesmo a primeira terá que ser
feita aleatoriamente, os resultados observados e as modificações feitas.
As variáveis
Vamos, antes de tudo, conhecer os fatores que determinarão a rigidez de uma flecha. Para
uma mesma haste temos que:
-Aumentando o peso da ponta reduz-se a rigidez da flecha;
-Reduzindo o tamanho da haste aumenta-se a rigidez da flecha;
-Aumentando o tamanho das penas aumenta-se, sutilmente, a rigidez da flecha.
Lembrando que todas estas variáveis resultarão em diferenças pequenas. Portanto, há
situações em que outras flechas mais rígidas ou menos rígidas deverão ser adquiridas/feitas.
Até o momento falamos apenas dos desvios na horizontal, mas os desvios verticais também
ocorrem e são igualmente maléficos. Estes são facilmente corrigidos com a mudança do
ponto onde a rabeira da flecha é encaixada na corda.
O processo
A função das penas em uma flecha é minimizar os defeitos da flecha e do disparo
estabilizando o vôo de nosso projétil. Os problemas causados pelo excesso ou falta de
rigidez da flecha também são, em parte, corrigidos pelas penas. Em função disto existe um
método de calibração do equipamento que se utiliza de flechas com penas e sem penas para
poder, a partir de um referencial (as flecha com penas), realizar as alterações necessárias. É
este método que iremos detalhar.
Inicialmente teremos que ter um jogo de flechas (meia dúzia é um bom número). Estas
deverão ser exatamente iguais (mesmo tamanho, mesmo peso das pontas, etc.). Metade
delas deverão ter suas penas retiradas, a outra metade deve ter suas penas devidamente
coladas.
Agora, falemos do arqueiro.Você não precisa ser um ótimo atirador para realizar este
processo, mas é essencial que consiga atirar um bom grupo a 18 ou 20 metros de distância
do alvo. Um bom grupo consiste em todas as flechas atiradas atingirem uma mesma região
do alvo, esta região não precisa ser o centro.
Então, é hora de atirar! Esteja a uma distância de uns 18 ou 20 metros do alvo. Atire
primeiro as flechas com penas, estas devem atingir um mesmo local. Em seguida atire as
flechas sem penas, estas deverão atingir outro mesmo local. Seu objetivo será fazer com
que as flechas sem penas atinjam o mesmo local das flechas com penas. Veja os desenhos a
seguir que ilustram as situações com as quais você ira se deparar.

Neste Caso o ponto de encaixe da rabeira da flecha


está muito alto. Abaixe-o um pouco e analise os resultados.
Agora o ponto de encaixe da rabeira da flecha na
corda está muito baixo. Suba-o um pouco e analise os resultados.

Nesta situação o grupo das flechas sem pena


(pontinhos) ficou à esquerda das flechas com penas. Motivo: Flechas muito rígidas;
Solução: Usar ponta mais pesada ou usar hastes maiores ou adquirir flechas menos rígidas.
Agora o grupo das flechas sem penas ficou à direita
do grupo das flechas com penas. Motivo: Flechas pouco rígidas; Solução: Usar pontas mais
leves ou reduzir o tamanho das hastes ou adquirir flechas mais rígidas.
As mudanças devem ser feitas uma de cada vez pouco a pouco, e os resultados observados
a cada mínima mudança. Todas a mudanças feitas devem ser feitas em todas as flechas. As
flechas com penas e sem penas devem ser sempre idênticas. Se você já tiver chegado ao
extremo de todas as variáveis em uma flecha sem conseguir os resultados esperados,
infelizmente você terá que fazer ou comprar flechas novas com as características mais
próximas daquilo que você busca.
Obs.: Se o grupo de suas flechas sem penas estiver só um pouquinho à direita e abaixo do
grupo das flechas com penas suas flechas estão perfeitas para seu arco, uma vez que as
penas fazem com que a flecha se comporte como se fosse um pouco mais rígida.
Agora que você já tem as flechas ideais para seu arco é só treinar bastante. Para conhecer
técnicas de tiro tradicional ou “instintivo” explore nossas páginas através do link
‘Atirando’.

ATIRANDO

Introdução

Dentre as armas que lançam projéteis, creio ser o arco a mais difícil de dominar. Um bom
arqueiro não é aquele que, utilizando de miras e outros mecanismos já regulados, atinge o
alvo esperado a uma distância conhecida. A magia de atirar com o arco está na dificuldade
de conseguir atirar com precisão em alvos a distâncias vriadas, desconhecidas e sem o uso
de miras.

Muitos dos arqueiros tradicionais não gostamos da idéia de usar equipamentos complexos
para atirar flechas (também são chamados de arcos!). É comum ver atletas em competições
usando arcos tão cheios de acessórios que, em minha opinião, descaracterizam a beleza da
arma. Há determinadas coisas em que muita tecnologia e novos sistemas não caem bem. Eu
penso que os arcos usados em competições olímpicas não poderiam possuir acessórios
como miras e estabilizadores. Sendo estes jogos um evento tão cheio de história e
romantismo, por que não dificultar um pouco mais deixando a modalidade em questão mais
parecida como ela era antigamente?

Enfim... Os arqueiros tradicionais não usam nehum tipo de mira, estabilizador, etc. Apesar
de alguns realmente procuraerem estimar a distância de seus alvos antes de mirar, todos os
cálculos e "regulagens" são feitos mentalmente. Alguns falam em tiro instintivo, mas
levando ao pé da letra isto significa que já nasceríamos sabendo como mirar a diferentes
distâncias, o que infelismente não ocorre.

Um arqueiro pode considerar-se um bom arqueiro quando conseguir atingir o alvo com
precisão em diferentes distâncias não conhecidas. Pois em situações de caça (ou guerra para
aqueles que gostam de viajar um pouco...) não saberemos a que distância o animal se
apresentará a nós (ver Caça com arco). Portanto, qualquer que seja a técnica usada para
mirar, esta deve permitir ao arqueiro acertar objetos a distâncias não conhecidas. Iremos
falar apenas das técnicas mais usadas por arqueiros tradicionais ao redor do mundo.

A forma adequada

Não existe uma receita que você ira seguir e no final estará atirando bem. As técnicas
apresentadas são sempre uma das técnicas existentes. Portanto, não se deve olhar para
alguém que atira de maneira diferente e dizer que ele está atirando errado. Se uma técnica
funciona bem para alguém, esta é uma boa técnica. Há, no entanto, formas consideradas
adequadas. O que acontece é que as técnicas mais usadas são aquelas que funcionam bem
para a maioria das pessoas, logo, se você usá-la, tem grandes chances de funcionar para
você também. Com a forma "adequada" você também tem menores chances de sofrer
lesões físicas, o que é um ponto importante considerando que a maioria dos arqueiros
tradicionais procuram atirar com o arco mais potente que conseguirem atirar
confortavelmente. Por isso apresentaremos aqui as formas e técnicas de atirar e mirar mais
utilizadas.

Para uma pessoa destra a corda deve ser puxada com a mão direita. Quando de pé, o corpo
deve estar alinhado com o eixo de simetria de nosso corpo (a linha que vai da cabeça aos
pés dividindo o corpo em duas partes iguais). O braço que segura o arco é totalmente
estendido para o lado de modo que nossa lateral esteja voltada para o alvo. A cabeça deve
deslocar-se 90° no sentido do alvo, você deve olhar para o alvo. Veja as fotos a seguir:

Puxando a corda

Existem muitas técnicas para puxar uma corda. Desde aquelas em que a flecha deve ser
segurada pelo dedão e pelo indicador e a corda puxada pelo anelar e pelo médio até aquelas
em que um anel especial posto no dedão puxa a corda junto com outros dedos. Mas nós
veremos somente as duas mais utilizadas. Nessas duas utilizamos os três dedos do meio.
Todos estes três dedos quando usados em baixo da flecha, caracterizam uma técnica. Na
outra,a flecha fica entre os dedos indicador e médio. Você deverá testar as duas e ver com
qual delas você se sai melhor.

Os músculos usados para puxar a corda são: músculos do ombro, músculos das costas, e em
menor instância, alguns músculos do braço. Uma atenção especial deve ser dada para os
músculos das costas, pois a maioria de nós não sabemos usá-los, então, preste atenção ao
puxar o arco e tente utilizar estes músculos.

Um fator de extrema importância para conseguir um tiro preciso é que o comprimento de


sua puxada seja sempre exatamente o mesmo. Para isto o braço que segura o arco deve
estar em todos os tiros totalmente estendido. Você também deverá definir um ponto no qual
sua mão que puxa a corda do arco sempre estacionará antes de soltar a corda. Muitos
definem este ponto como sendo quando a ponta do indicador toca o canto direito da boca.

Mirando

Como já foi dito, existem muitas maneiras de mirar com um arco. Talvez a mais usada
delas seja a chamada gap shooting. Esta técnica consiste, basicamente, em adequar a
posição do arco à distância do alvo utilizando da variação do espaço entre a ponta da flecha
e o ponto do alvo que busca-se acertar. Calma... explicaremos melhor.

Para utilizar desta técnica o arco deve ser um pouco inclinado no sentido horário (para
destros). O ato de mirar deve ser feito com os dois olhos abertos, assim você pode ter uma
melhor noção da distância entre você e o alvo. Então, ao mirar, o arqueiro terá a visão da
ponta da flecha e, acima desta, o alvo, existindo um espaço livre (gap) entre os dois.
Quanto mais distante estiver o alvo menor será o espaço entre a ponta da flecha e o alvo.

Alguns arqueiros tentam estimar a diatância de seus alvos e utilizam, racionalmente, o


tamanho de gap considerado adequado. Outros procuram treinar com alvos em diversas
distâncias a fim de treinarem seu cérebro, para que este, inconscientemente, calcule o gap
adequado de acordo com a distância aparente do objeto, não interessando os números. É
este último que acaba sendo chamado por alguns de tiro instintivo.

Esta técnica de tiro não exige que o arqueiro mire por muito tempo antes de soltar a flecha.
Alguns dizem que só conseguem um bom tiro se este for dado em 4 segundos: um segundo
para puxar a corda, outro para estacionar a mão que puxa a corda no ponto adequado, mais
um segundo para mirar e no último segundo a corda é liberada. Outros preferem mirar mais
conscientemente e demoram cerca de 3 ou 4 segundos mirando. Você deverá tentar de
diferentes maneiras e desenvolver seu proprio estilo.
Cordas

Um arco consiste no arco propriamente dito e, necessariamente, em uma corda.


De nada adianta possuir um bom arco se você não tiver também uma boa corda.
Existem diversos tipos de materiais utilizados na confecção de cordas, fibras
vegetais (cânhamo, caraguatá, palmeiras etc), fibras de origem animal (tendões,
tripas, couro) e as fibras sintéticas, como o poliéster, dacron, e outras. Os mais
primitivistas preferem utilizar os materiais naturais, mas sendo estes de difícil
obtenção e complexo processamento, a maioria dos arqueiros, mesmo os
tradicionais, optam pelo uso de cordas feitas de fibras sintéticas.

No Brasil existe uma linha de poliéster vendida em lojas que fornecem artigos para
sapateiros que já vem encerada, possui alta resistência a tração e pode servir
para a confecção de cordas para arcos de ate 40 lbs de potência, talvez 45. Em
arcos mais potentes este material apresenta um grau de elasticidade que
inviabiliza sua utilização para este fim.

Uma das fibras mais utilizadas no mundo para a fabricação de cordas para arcos é
o dacron B-50. Este possui as propriedades necessárias para um bom arco.
Existem outras fibras que apresentarão desempenho superior ao dacron, mas
estas são no mínimo 200% mais caras e não podem ser utilizadas em qualquer
arco devido a sua elasticidade praticamente zero.

O dacron B-50 é produzido por uma empresa norte-americana especialmente para


arcos e pode ser adquirido em lojas do ramo em carretéis de 0,25 lbs ou 1,00 lbs.
Geralmente a corda é feita com duas ou mais cores para que se tenha um bom
resultado estético. Visto que muitos brasileiros, por qualquer que seja o motivo,
acham inconveniente terem que comprar dois carretéis inteiros para fazerem
apenas uma ou duas cordas, nós estamos fornecendo informalmente o dacron B-
50, produzido pela Brownell pelo preço de R$ 0,25 o metro (lembramos que o
objetivo deste site não é comercial, estamos mais uma vez tentando ser úteis, a
fim de facilitar a prática do esporte no país). Clique aqui para saber como adquirir
este material.

A corda feita com linha de sapateiro

Antes de eu aprender a fazer cordas no estilo flemish, eu acabei inventando um


tipo de corda. Talvez este estilo até já exista, mas até hoje eu nunca o vi em outro
lugar a não ser em um arquinho de fibra de vidro com o qual eu dei meus
primeiros tiros, que está pendurado lá no meu quarto.

Como eu não sei qual a espessura da linha que você conseguiu comprar, eu não
poderei recomendar um número fixo de linhas que serão usadas. Recomenda-se
que você faça um teste para saber quantos quilos sua linha agüenta. A maneira
mais simples é você pegar um balde com alça e alguns sacos de mantimentos,
como arroz, feijão, milho, macarrão etc. Amarre sua linha na alça do balde e
suspenda-o, vá enchendo o balde com os sacos de mantimento lentamente até
que sua linha estoure. Conte quantos quilos de mantimento tinha no balde quando
a linha estourou, esta é a capacidade máxima de tração de sua linha. Converta
esta capacidade para libras (1 libra = 453,6 g) e veja quantas linhas serão
necessárias em sua corda, considerando que a capacidade de tração de sua
corda será igual a soma das capacidades de tração de cada linha que forma sua
corda. Por segurança, adicione 30 lbs à potência de seu arco para saber qual a
capacidade de tração que você precisa em sua corda final. Pode parecer muito
mas não é.

O comprimento de linha que será gasto para fazer as alçinhas (loops) das
extremidades será em média um palmo em cada extremidade. E considerando
que sua corda ainda será torcida para ficar pronta para o uso, suas linhas terão de
ser uns 50 cm maiores do que o comprimento esperado na corda final. É
necessário que sua corda possua número par de linhas, posteriormente você
entenderá o porquê.

Agora que você já cortou todas as linhas que serão usadas em sua corda, vamos
a execução. Conte um palmo a partir de uma das extremidades e segure com o
dedo, a alçinha será logo acima deste ponto. Segure com o dedo e torça o resto
do feixe deste ponto até a extremidade (pelo menor caminho). Passar um pouco
de cera pode ser necessário e ajudará a manter a torção em seu feixe de linhas,
eu uso cera de abelha, mas parafina também serve.
Abaixo do seu dedo que ainda está segurando o feixe de linhas separe o feixe em
duas metades e passe a parte do feixe que foi torcida pelo meio, agora sim você
está fazendo a alçinha propriamente dita. Você vai passar até chegar ao tamanho
da alça que você deseja.

Então você deverá torcer a porção logo abaixo da divisão anteriormente feita ( no
mesmo sentido da torção feita inicialmente) dando umas duas voltas completas de
modo a estrangular a aquela parte que passou entre as duas metades.

Abaixo desta torção separe o feixe novamente em duas metades e então passe
aquela porção da extremidade inicialmente torcido novamente por entre a divisão.
Repita a operação até o fim da extremidade que está sendo "costurada" por entre
a porção principal da corda.

O excesso pode ser aparado (cuidado pra não cortar a corda toda junto!) ou
desfiado. Desfiando você consegue uma aparência semelhante a um silenciador
disposto em posição inadequada, fica até que que legal.
Repita a operação na outra ponta do feixe de cordas e sua corda de arco estará
pronta. Agora é só torcê-la até chegar no comprimento esperado, se ela ficou
pequena demais...é uma boa desculpa pra você fazer outro arco menor. E outra
corda maior também.

A corda Flemish

Galeria
Este é um espaço destinado à exibição de fotografias relacionadas aos arcos tradicionais. Se
você construiu um arco tradicional e gostaria de compartilhar a imagem de seu brinquedo,
envie sua foto para pedroselegato@toxophilos.com.br que esta será posta nesta página.

Arco de pau-brasil, 1,85 m de


comprimento, 50 lbs de potência, feito por Willian Maia, que reside no estado de São
Paulo.
Ponta de caça, flecha, e
empunhadura de arco também feitos por Willian Maia.

Arco
de ipê feito por Otton, de Goiás, provavelmente o construtor de arcos mais experiente do
país.

Este foi um arco que eu


(Pedro Selegato) fiz de ipê com revestimento de marfim. A lâmina de marfim que eu usei
não era de qualidade e começou a quebrar. Então eu o "rerevesti" com seda artificial verde
e enrolei poliéster azul na região com problemas, enrolei a linha azul na outra lâmina
também só para combinar. Como ele foi revestido de seda eu o batizei de "Casulo".
Ponta do Casulo

Arco de Ipê, com pontas estáticas, 1,80 m e 40 lbs feito Por Willian Maia

Empunhadura do arco anterior


Arco
recurvado revestido com bambu, de 45 lbs, também feito por Willian Maia
As fotos acima são de três arcos feitos por Alfredo Javier Cottet, um colega construtor de
arcos da Argentina. As flechas também foram feitas por ele com hastes de bambu, sendo
que as três maiores do meio possuem rabeiras entalhadas em madeira. Os arcos são de uma
espécie de Osage Orange que cresce na Argentina. Foi utilizado um tronco e seguiu-se os
anéis de crescimento, portanto não usou-se revestimento.
Essas três fotos mostram detalhes de
um arco de Ipê revestido com pau-marfim. a decoração da empunhadura e pontas foi feito
com o raro jacarandá da Bahia! O artesão é um amigo de MG, Gustavo, também conhecido
por "Fonsecawood"...

Essas duas fotos são de um arco que eu fiquei muito feliz em saber de seu sucesso. Primeiro
por que foram as primeiras fotos que recebi de um arco feito segundo as instruções deste
site. E segundo, pois nunca tinha visto alguém que tenha feito um arco de pau-roxo/roxinho
revestido com pau-marfim. Mais uma bela e eficiente combinação de madeiras nativas para
o nosso uso! O artesão é Frederico Xavier, da Bahia.

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