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Introdução
A evolução social e tecnológica da sociedade do século XXI apela à necessidade de
preparar as crianças e os jovens para constantes e rápidas mudanças ao longo da vida.
Os sistemas educativos têm, por isso, vindo a alterar-se, mudando de paradigmas
centrados exclusivamente no conhecimento para outros focados no desenvolvimento de
competências mobilizadoras não só de conhecimentos mas também de capacidades e de
atitudes adequados aos exigentes desafios contemporâneos, que requerem cidadãos
educados e socialmente integrados: jovens adultos capazes de pensar crítica e
criativamente, adaptados a uma sociedade de multiliteracias, habilitados para a ação,
quer autónoma, quer em colaboração com os outros, num mundo global e que se quer
sustentável. A Educação formal de responder às necessidades atuais e futuras das
crianças e dos jovens, tendo em conta as mudanças profundas e crescentes no modo de
funcionar das sociedades e das economias, ou seja, é clara uma necessidade de mudança
e de evolução dos modelos de ensino e das práticas pedagógicas.
As questões que se colocam são complexas e exigem amplo debate e reflexão: Quais os
desafios que se colocam à Educação, à Escola e aos Professores do século XXI, numa
sociedade global? Como inovar em educação e como educar para a inovação? Qual
deverá ser o perfil dos alunos no final dos atuais 12 anos de escolaridade obrigatória em
termos de princípios, valores e competências-chave? Qual o papel das tecnologias
enquanto alavancas da inovação em educação?
Fundamento
Evolução social e tecnológica passada e recente
Numa era de aprendizagens sociais, estas são inter e multidisciplinares, partindo de uma
visão orgânica, social e diferenciadora, centrando-se na colaboração, na autonomia, com
especial enfoque na procura de soluções críticas e criativas (veja-se a nova lógica
associada aos negócios dos hotéis vs. booking, táxis vs. uber, etc.). A escola terá de
preparar os alunos para que, ao longo e no final da escolaridade obrigatória, sejam
capazes de resolver problemas complexos (nomeadamente aqueles que ainda nem foram
identificados), associando essa necessidade à competitividade, à conexão global e ao
mundo cada vez mais global.
Bauman (2013), na obra Liquid Times, apresenta uma metáfora adequada para expressar
o dinamismo do processo de transição entre a modernidade e a fase atual em que nos
encontramos. O conceito recorrente, que permeia Tempos Líquidos, é o da insegurança
existencial. Sendo assim, cabe aqui fazer uma inferência a respeito do termo. A
insegurança apontada por Bauman (2013) tem a sua origem na desregulamentação, no
enfraquecimento das relações humanas, na busca do esclarecimento por meio da
liberdade. E é assim que entramos no século XXI, um século que se inicia marcado pelo
efémero, em que nada pode ser marcado pela certeza. Resta-nos educar para um futuro
que se desconhece e tal só será possível através de um processo de acompanhamento
O Perfil dos Alunos para o século XXI no final da escolaridade obrigatória de 12 anos
definido recentemente em Portugal (ME, 2017) apresenta uma visão assente nos
princípios estruturantes da autonomia e da liberdade, considerando que a melhor
educação é a que se desenvolve como construtora de postura no mundo. Em pleno
século XXI, a escola tem de preparar para o imprevisto, o novo, a complexidade e,
sobretudo, tem de desenvolver em cada indivíduo a atitude, a capacidade e o
conhecimento que lhe permita aprender ao longo da vida. O referido documento define
competências como combinações complexas de conhecimentos, capacidades e atitudes
que permitem uma efetiva ação humana em contextos diversificados e apresenta-as
agrupadas em torno das seguintes áreas: (i) Linguagens e textos. (ii) Informação e
comunicação. (iii) Raciocínio e resolução de problemas. (iv) Pensamento crítico e
pensamento criativo. (v) Relacionamento interpessoal. (vi) Autonomia e
Países como a Austrália, a Finlândia, a Nova Zelândia, o Canadá, entre muitos outros,
estão a fazer um percurso nesta área, renovando e refrescando os seus currículos com o
objetivo de responder aos desafios da sociedade do século XXI, nomeadamente na
inclusão do desenvolvimento de competências transversais no currículo. A Austrália
apresenta1 um currículo para 10 anos de escolaridade obrigatória que dá especial
enfoque às capacidades gerais: “The general capabilities play a significant role in the
Australian Curriculum in equipping young Australians to live and work successfully in
the twenty-first century.” Consideram que os alunos devem desenvolver competências
quando simultaneamente mobilizam capacidades, aplicam conhecimentos e demostram
atitudes de confiança, adequadamente em circunstâncias complexas e sujeitas a
mudanças constantes, quer nas aprendizagens que ocorrem na escola, quer nas suas
vidas fora da escola. As sete competência essenciais do currículo australiano são
apresentadas na figura 2.
1
http://www.australiancurriculum.edu.au/generalcapabilities/overview/introduction
2
http://www.oph.fi/download/175015_education_in_Finland.pdf
À escola
O perfil dos alunos no final da escolaridade obrigatória (ME, 2017) estabelece uma
visão de escola e uma matriz para a tomada de decisão sobre as opções de
desenvolvimento curricular, consistentes com a visão de futuro definida como relevante
para os jovens portugueses do nosso tempo. Deve ser entendido como um guia que
enuncia os princípios fundamentais em que assenta uma educação que se quer inclusiva.
Deste modo, da escola, espera-se que seja capaz de formar os cidadãos com as
características já referidas que a seguir se listam: jovens competentes na utilização de
linguagens e de textos, utilizadores de modo proficiente de diferentes linguagens
simbólicas associadas às línguas (língua materna e línguas estrangeiras), à literatura, à
música, às artes, às tecnologias, à matemática e à ciência; capazes de aplicar estas
linguagens de modo adequado aos diferentes contextos de comunicação, em ambientes
analógico e digital dominando capacidades nucleares de compreensão e de expressão
nas modalidades oral, escrita, visual e multimodal. Jovens competentes nos domínios da
informação e da comunicação, sendo para tal fundamental que saibam utilizar e
dominar instrumentos diversificados para pesquisar, descrever, avaliar, validar e
mobilizar informação de forma crítica e autónoma, verificando diferentes fontes
documentais e a sua credibilidade; ágeis na transformação da informação em
conhecimento, sabendo comunicar e colaborar de forma adequada e segura, utilizando
diferentes tipos de ferramentas (analógicas e digitais), seguindo as regras de conduta
próprias de cada ambiente. Jovens com competências associadas ao raciocínio e
resolução de problemas, sendo que estas implicam que estejam capacitados para: (i)
planear e conduzir pesquisas; (ii) gerir projetos e tomar decisões para resolver
Aos professores
O documento Perfil dos Alunos (ME, 2017) apresenta um conjunto de implicações
práticas baseadas na seguinte premissa: “A assunção de princípios, valores e
competências chave para o perfil dos alunos à saída da escolaridade obrigatória implica
alterações de práticas pedagógicas e didáticas de forma a adequar a globalidade da ação
educativa às finalidades do perfil de competências dos alunos.” (p. 16). O papel dos
professores é fundamental na formação deste cidadão e tal implica alterações de práticas
pedagógicas e didáticas de forma a adequar a globalidade da ação educativa às
finalidades do perfil de competências dos alunos. Os professores têm um papel
determinante no desenvolvimento das competências atrás descritas. Práticas
pedagógicas centradas no aluno e no desenvolvimento das suas competências serão
fundamentais: ensino pela descoberta, trabalho de projeto, resolução de problemas,
contextos reais de aprendizagem, role play, entre outras, associadas a estratégias, por
exemplo, de utilização de tecnologias, trabalho em ambientes colaborativos,
gamificação, devem ter um papel preponderante na construção da autonomia dos
alunos, assumindo o professor um papel de orientador das aprendizagens dos seus
alunos.
Notas finais
As atuais e futuras gerações enfrentam desafios e oportunidades que requerem novas
abordagens aos processos de ensino e aprendizagem. A resolução de problemas
complexos, e muitos ainda nem sequer identificados, obrigarão à colaboração, à
criatividade e a preocupações com a sustentabilidade do planeta, a saúde e o bem-estar,
3
http://www.escoladaponte.pt/
4
http://arcomaior.pt/
O Perfil do Aluno tem uma base humanista e procura responder às necessidades atuais e
futuras tendo em conta as mudanças profundas e crescentes no modo de funcionar das
sociedades e das economias, ou seja, é clara uma necessidade de mudança e de evolução
dos modelos de ensino e das práticas pedagógicas. Sugere: (i) abordar os conteúdos de
cada área do saber associando-os a situações e a problemas presentes no quotidiano da
vida do aluno ou presentes no meio sociocultural e geográfico em que se insere,
recorrendo a materiais e recursos diversificados; (ii) organizar o ensino prevendo a
experimentação de técnicas, instrumentos e formas de trabalho diversificados,
promovendo intencionalmente, na sala de aula ou fora dela, atividades de observação,
questionamento da realidade e integração de saberes; (iii) organizar e desenvolver
atividades cooperativas de aprendizagem, orientadas para a integração e a troca de
saberes, a tomada de consciência de si, dos outros e do meio e a realização de projetos
intra ou extraescolares; (iv) organizar o ensino prevendo a utilização crítica de fontes de
informação diversas e das tecnologias da informação e comunicação; (v) promover de
modo sistemático e intencional, na sala de aula e fora dela, atividades que permitam ao
aluno fazer escolhas, confrontar pontos de vista, resolver problemas e tomar decisões
com base em valores; (vi) criar na escola espaços e tempos para que os alunos
intervenham livre e responsavelmente; (vii) valorizar, na avaliação das aprendizagens
do aluno, o trabalho de livre iniciativa, incentivando a intervenção positiva no meio
escolar e na comunidade. A ação educativa é, pois, compreendida como uma ação
formativa especializada, fundada no ensino, que implica a adoção de princípios e
estratégias pedagógicas e didáticas que visam a concretização da aprendizagem. Trata-
se de encontrar a melhor forma e os recursos mais eficazes para todos os alunos
Conclui-se reforçando o papel que as tecnologias podem ter na consecução deste perfil,
nomeadamente enquanto alavancas de mudança e catalisadoras do sucesso por via da
motivação dos alunos e pelas capacidades inatas de criarem contextos reais de
aprendizagem. Não se trata de apenas mudar um modelo de educação que não integra as
tecnologias para outro que as incorpora. É clara a necessidade de evoluir de projetos
muito dirigidos à utilização instrumental das tecnologias, para projetos que se centram
nas mudanças culturais e de práticas pedagógicas num mundo por si repleto de
tecnologias, ou seja, um modelo educativo sustentável, que convoque as tecnologias na
exata medida em que elas estão no mundo de hoje - uma educação com as tecnologias
mas para além das tecnologias.
Referências bibliográficas
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