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Um novo paradigma de aprendizagem de

jovens e adultos

Apresentação
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é um campo vasto e carregado de complexidades. Os
educadores e as educadoras de pessoas jovens e adultas, assim como os educandos e educandas,
são sujeitos sociais que se encontram no cerne desse processo diverso, que vai além de uma
“modalidade de ensino” e que, atualmente, vem se redescobrindo em face das mudanças
contemporâneas da sociedade e do próprio espaço educativo.

Nesta Unidade de Aprendizagem, apresentamos “Um novo paradigma da Aprendizagem de Jovens


e Adultos”, buscando, com isso, refletir sobre os aspectos críticos que compõem este processo e os
novos sujeitos, a quem ele se destina, ou seja, os jovens e adultos, ampliando o olhar sobre os
aspectos educativos relacionados à formação humana.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Identificar, criticamente, as bases determinantes para um novo olhar na educação de jovens e


adultos.
• Analisar os novos sujeitos e seu processo de mudanças no público da educação de jovens e
adultos.
• Apontar os novos paradigmas educacionais.
Desafio
No final de 2013 e início do ano de 2014, o Brasil observou o nascimento de um movimento, que
ficou conhecido como “Rolezinho”. Rolezinho (diminutivo de rolê ou rolé, gíria brasileira, significa
"fazer um pequeno passeio" ou "dar uma volta") é um neologismo para definir um tipo de encontro
ou coordenação de encontros simultâneos de centenas de pessoas em locais como praças, parques
públicos e shopping centers. Os encontros são marcados pela internet, quase sempre por meio de
redes sociais como o Facebook.

Esses eventos suscitaram uma polêmica em relação ao jovem na atualidade e sua adequação na
sociedade. Os jovens, participantes desse tipo de movimento, apresentam uma necessidade
específica e pulsante, a do lazer e cultura, ao mesmo tempo, apresentam uma forte capacidade de
mobilização. Apesar de o mundo estar mais aberto, percebe-se, ainda, que há uma negação de
alguns aspectos antropológicos e culturais do indivíduo, seu processo histórico, sua evolução e suas
necessidades.

Diante do exposto, faça uma análise crítica relacionando o movimento à discussão em torno dos
novos paradigmas e desafios da educação no século XXI.

Orientações:

Você deverá considerar:


• A educação como facilitadora do processo de crescimento e de desenvolvimento das pessoas,
facilitando-lhes a aquisição de habilidades básicas tanto de tipo cognoscitivo quanto de
autoconhecimento, de autonomia pessoal e de socialização.
• O processo educativo para promoção do reconhecimento de todas as diferentes capacidades,
ritmos de trabalho, expectativas, estilos cognoscitivos e de aprendizagem, motivações, etnias,
valores culturais de todos os meninos, meninas e adolescentes.
• A superação da cultura do individualismo, tão historicamente arraigada nas instituições
educativas, por uma cultura do trabalho compartilhado.
• A diversidade não como uma técnica pedagógica ou uma questão meramente metodológica, mas
como uma opção social, cultural, ética e política que as equipes de professores e professoras e
todas as pessoas que se dedicam à educação devem assumir, que irão decidir e definir que aspectos
da diversidade é preciso atender, e como se deve agir diante desta.
Infográfico
O infográfico a seguir apresenta uma reflexão sobre o cenário educacional, frente aos desafios
apontados pelas mudanças neste século nos contextos social, político e econômico. Observa-se
que a educação, como mecanismo de transformação, promove uma educação igualitária, conforme
destaca Paulo de Freire: "uma educação que transforme dificuldades em possibilidades".
Conteúdo do livro
Atualmente, vivenciamos um novo fenômeno no qual a informação se torna a matéria-prima, a base
de sistemas econômicos, e provoca mudanças no modo de produção. Assim, há que se pensar no
papel da educação neste processo de mudanças, o qual está construindo a chamada sociedade da
informação, que estimula novas necessidades e demanda novas competências. Ao mesmo tempo
que também vivenciamos crises em diversos setores, exige-se dos profissionais da educação uma
reflexão sobre o que se espera da educação neste novo milênio.

Os antigos paradigmas não conseguem mais explicar e preparar os indivíduos para lidar com as
mudanças, principalmente, na educação de jovens e adultos, em que os alunos sofrem com as
mudanças nos processos produtivos, pois já estão ou serão inseridos no mercado de trabalho.
Dessa forma, é importante analisarmos o verdadeiro sentido das instituições educativas no futuro,
para que a educação continue a exercer um papel relevante na "dignificação das pessoas e povos",
conforme menciona Imbernón. O futuro é imediato, por isso, é preciso estabelecer uma relação
entre as mudanças neste novo contexto, a educação e a formação de jovens e adultos.

Aprofunde seu conhecimento através da leitura do capítulo Um Novo Paradigma de Aprendizagem


de Jovens e Adultos, da obra Educação de Jovens e Adultos.

Boa leitura!
EDUCAÇÃO DE
JOVENS E ADULTOS

Antonio Rodolfo de Siqueira


Viviane Guidotti
M278e Siqueira, Antonio Rodolfo de.
Educação de jovens e adultos / Antonio Rodolfo de
Siqueira, Viviane Guidotti. – Porto Alegre : SAGAH, 2017.
216 p. : il. ; 22,5 cm.

ISBN 978-85-9502-052-8

1. Educação de jovens. 2. Educação de adultos I.


Guidotti, Viviane. II. Título.

CDU 37.022

Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094


Um novo paradigma
de aprendizagem de
jovens e adultos
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar, criticamente, as bases determinantes para um novo olhar


na Educação de Jovens e Adultos.
 Analisar os novos sujeitos e seu processo de mudanças no público
da Educação de Jovens e Adultos.
 Apontar os novos paradigmas educacionais.

Introdução
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é um campo vasto e carregado
de complexidades. Os educadores e as educadoras de pessoas jovens e
adultas, assim como os educandos e educandas, são sujeitos sociais que
se encontram no cerne desse processo diverso e que vai além de uma
“modalidade de ensino” e que, atualmente, vem se redescobrindo face às
mudanças contemporâneas da sociedade e do próprio espaço educativo.
Neste texto, você vau refletir sobre os aspectos críticos que compõem
o processo de aprendizagem e os novos sujeitos, a quem ele se destina,
ou seja, os jovens e adultos, ampliando o olhar sobre os aspectos edu-
cativos relacionados à formação humana.

Um novo olhar na Educação de Jovens e Adultos


A Educação de Jovens e Adultos precisa ser entendida pelos professores como
uma possibilidade de resgaste social dos alunos, promovendo uma prática
social como objetivo de uma escola democrática que visa a proporcionar
uma educação de qualidade e crítica para todos. O que vai ao encontro das
Um novo paradigma de aprendizagem de jovens e adultos 65

palavras de Pinto (1993, p. 38) quando destaca “A educação como função


social permanente [...]” para a sociedade.
Para isso, é importante que o professor repense seus paradigmas, primeiro
se conscientizando que os alunos são sujeitos ativos, constituídos de histórias
de vidas, vivências e experiências. Sujeitos esses que já têm uma vida consti-
tuída em um contexto sociocultural que precisa ser valorizado e considerado
no ambiente escolar.
Assim, a prática docente precisa estar interligada com as necessidades e
expectativas dos alunos da EJA, buscando a construção do conhecimento por
meio de atividades que exijam reflexão e criticidade por parte dos estudantes.
Para tanto, neste texto, você vai estudar sobre o novo paradigma de apren-
dizagem da Educação de Jovens e Adultos, com o objetivo de compreender
o papel do aluno na EJA como um sujeito ativo no processo de ensino e de
aprendizagem, reconhecido por sua diversidade e história de vida.
A educação é repleta de diferentes paradigmas, mas você sabe o que são
paradigmas? Moraes (1997) apoiada em seus estudos fundamentada em Morin,
compreende que um paradigma é um padrão compartilhado que ajuda a explicar
certos aspectos de nossa realidade. Esses modelos são, muitas vezes, orientados
pela cultura dominante de uma determinada época ou determinado contexto social,
mas podem estar sujeitos à ruptura devido às mudanças e transformações sociais.
Trazendo esse conceito para o contexto escolar, podemos identificar um exemplo
de paradigma no ensino tradicional, na reprodução de matérias fragmentadas, que
não relaciona, por exemplo, os conteúdos das disciplinas com a prática social dos
alunos, ou que desconsidera que as tecnologias devem ser incorporadas à escola.
Ao (re)pensar o contexto escolar, pode-se dizer que um novo paradigma
estaria na ruptura da relação de poder entre professor e aluno, na busca de uma
educação partilhada e compartilhada entre todos os envolvimentos – alunos
e professores –, na qual, juntos, a aprendizagem se torna significativa em um
processo dialogado (FREIRE, 1996).
Considerando mais especificamente a EJA, por muito tempo esta modalidade de
ensino foi encaminhada por um paradigma – educação tradicional, que valorizava
apenas a reprodução de informação, sem uma preocupação com o aluno, sem
reconhecê-lo como sujeito ativo com potencial de construir novos conhecimentos.
Um ensino tradicional no qual o professor era um detentor do saber e a ele cabia
afirmar o que era importante ou não a turma aprender, desconsiderando as vivências
dos estudantes e sem apresentar preocupação em vincular os conhecimentos das
disciplinas com a prática social dos alunos dentro e fora da escola.
Atualmente, entende-se que a Educação de Jovens e Adultos precisa ser
compreendida como uma possibilidade de promover nos estudantes o auto-
66 Educação de Jovens e Adultos

conhecimento, a autonomia e a socialização. Além disso, já se compreende


que tanto o professor quanto o aluno podem aprender juntos, a partir do
reconhecimento de que a aprendizagem ocorre durante toda a vida – ou seja, a
educação é um processo permanente (BRASIL, 2000). Desta forma, qualquer
pessoa pode aprender e ingressar no sistema educacional de ensino formal.
Diante disso, a educação precisa acompanhar as transformações dos contextos
sociais em que os alunos estão inseridos.
Consequentemente, a EJA pode ser entendida como a oferta de uma edu-
cação permanente, humana, que age por uma práxis docente crítica, reflexiva
e problematiza dora e que busca tornar o aluno ativo em suas relações sociais
e culturais que serão estabelecidas dentro e fora da escola. Nesse sentido,
Freire (1992, p. 99) afirma que

O sonho pela humanização, cuja concretização é sempre processo, e


sempre devir, passa pela ruptura das amarras reais, concretas, de ordem
econômica, política, social, ideológica, etc., que nos estão condenando à
desumanização. O sonho é assim uma exigência ou uma condição que se
vem fazendo permanente na história que fazemos e que nos faz e re-faz.

A humanização pelo reconhecimento dos alunos acontece no processo de


ensino e aprendizagem, quando o professor, ao planejar suas aulas, pensa em
elaborar atividades consciente de que “A finalidade da educação está implícita
no conteúdo e na forma como é executada.” (PINTO, 1993, p. 48).
Na EJA, o professor precisa estar aberto para deste novo olhar humani-
zado, para acolher os alunos em suas práticas pedagógicas considerando suas
diversidades, seus interesses e suas necessidades, promovendo um ambiente
significativo de aprendizagem, no qual os alunos tenham vontade e prazer de
serem parte integrante.

Para saber mais sobre o que são paradigmas assista ao vídeo Novos Paradigmas da
Educação, em que Mario Sergio Cortella elabora uma explicação sobre esse conceito
relacionando-o. Vídeo disponível em: <https://goo.gl/o93cjY>
Veja também, a proposta curricular a partir da legislação da EJA, publicada pelo
Ministério da Educação (BRASIL, c2016), que está disponível em: <https://goo.gl/Q72jp5>.
Um novo paradigma de aprendizagem de jovens e adultos 67

O aluno da Educação de Jovens e Adultos


Para compreender quem são os alunos da EJA, inicialmente é importante
relembrar o art. 37 da Lei nº 9.39496 ao anunciar que a Educação de Jovens e
Adultos será ofertada para as pessoas que não tiveram acesso ou não conse-
guiram dar continuidade aos seus estudos, no Ensino Fundamental ou Médio
da Educação Básica, na idade apropriada.
Segundo Pereira e Fonseca (2001, p. 60, grifo nosso),

Os alunos nessa modalidade de ensino são, via de regra, oriundos das


camadas populares, com valores e expressão diferenciados daqueles
que se estabelecem na cultura escolar, excluídos da escola regular por
dificuldades de acesso, de conciliação com a inserção precoce no mer-
cado de trabalho, ou de adaptação à própria organização escolar. Agora,
inseridos numa instituição não originariamente concebida para atender
a esse público, vão demandar um trabalho específico que considere seu
contexto de vida, necessidades de aprendizagem, desejos e expectativas
em relação à escola e o vasto mundo de conhecimentos construídos ao
longo da vida.

São alunos que (re)ingressam no sistema de ensino, do qual, por algum


motivo, tiveram que abandonar. Por isso, eles precisam ser reconhecidos como
sujeitos já constituídos de vivências e experiências de vida, a partir do contexto
em que estão inseridos socialmente, culturalmente e economicamente. Portanto,
o professor na EJA, conforme destaca Pinto (1993), tem que considerar seus
alunos como cidadãos úteis, pensantes e atuantes na sociedade, resgatando
neles a vontade de aprender.
Assim, os alunos precisam ser valorizados, diante de um cenário escolar
que lhes proporcione a construção do conhecimento pelo reconhecimento de
suas especificidades, ou seja, a partir de seus saberes prévios que incluem suas
experiências de vida, para poderem criar novos conhecimentos na escola.
Também é importante o professor considerar o contexto tecnológico em
que vivemos atualmente, com a disseminação do uso das Tecnologias de
Informação e de Comunicação (TICs) ganhando novas configurações de
mediação também na escola.

Por isso, a educação, além de facilitar o acesso a uma formação baseada


na aquisição de conhecimento, deve permitir o desenvolvimento das
habilidades necessárias na sociedade da informação. Habilidades como
68 Educação de Jovens e Adultos

a seleção e o processamento da informação, a autonomia, a capacidade


para tomar decisões, o trabalho em grupo, a polivalência, a flexibilidade,
etc., são imprescindíveis nos diferentes contextos sociais: mercado de
trabalho, atividades culturais e vida social em geral. (FLECHA; TORTAJADA,
2000, p. 24-25).

Diante dessas mudanças ocasionadas pelas TICs, o professor precisa in-


corporar a suas aulas esses recursos tecnológicos a fim de estar conectado às
necessidades atuais não só de formação baseada em conhecimentos teóricos
dos jovens e adultos, como também de desenvolver habilidades ao prepará-los
para um mercado de trabalho altamente competitivo e tecnológico.

Para mais informações sobre a Educação de Jovens e Adultos, leia Educação de Jovens
e Adultos: uma memória contemporânea. Nesta obra são destacados pontos históricos
dessa modalidade de ensino para o entendimento de como a EJA se constituiu no
Brasil. O volume 1 do livro (UNESCO, 2004) faz parte da Coleção Educação para todos,
do Ministério da Educação.
Essa obra está disponível em: <https://goo.gl/vX15uW>.

Novos paradigmas educacionais na EJA


Ao considerar o perfil dos alunos da EJA é importante que o professor entenda
que a aprendizagem é um processo contínuo que se dá por toda a vida, como
já mencionado anteriormente. Assim, o educador não pode se considerar um
detentor de saberes e conhecimento, mas sim um ser humano inacabado que
também está em um processo contínuo de aprendizagem, assim como seu
aluno. Segundo Freire (1996), a consciência do inacabamento faz com que
o professor continue a aprender, buscando novos conhecimentos, sendo por
isso essencial que essa construção e reflexão se dê a partir das suas práticas
pedagógicas em sala de aula.
Por esse ângulo, o papel do professor não é apenas o de repassar informa-
ções, mas sim o de (re)construir conhecimento com os alunos, por meio de um
processo de ensino e de aprendizagem dialogado em que todos os envolvidos
tenham respeito às opiniões diversas e divergentes e que estejam abertos a
Um novo paradigma de aprendizagem de jovens e adultos 69

aprender e refletir sobre seus paradigmas e suas opiniões, na construção de


uma sociedade inclusiva e democrática.
Nessa perspectiva, menciona-se as ideias de Paiva (2006, p. 521):

Entendendo que a questão da Educação de Jovens e Adultos assume a


perspectiva de inclusão em sociedades democráticas, e que esta inclusão
passa a se dar pela conquista de direitos, tomei como matrizes conceituais
direito e democracia, admitindo que são estes os conceitos fundantes da
ampliação da compreensão do que é a Educação de Jovens e Adultos,
na contemporaneidade.

A autora ainda alerta para a formação dos docentes ao mencionar que


“Professores quase sempre formados para lidar com crianças acabam ‘caindo’,
no âmbito dos sistemas, em classes de jovens e adultos com pouco ou nenhum
apoio ao que deveriam realizar.” (PAIVA, 2006, p. 521).
Assim, o professor precisa estar atento às necessidades de aprendizagem
dos jovens e adultos e aceitá-los como cidadãos ativos e com potencialidades
para aprender, sem julgamentos prévios de que são incapazes ou limitados
para determinada aprendizagem ou novo conhecimento. O professor necessita
instigar, provocar, orientar e respeitar sempre o ritmo da turma, o que remete a
uma necessidade de o professor ter consciência das características dos alunos
que ingressam na EJA, assim como também de não esquecer da função social
que ele desempenha na escola:

Saber que devo respeito à autonomia, à dignidade e à identidade do


educando e, na prática, procurar a coerência com este saber, me leva
inapelavelmente à criação de algumas virtudes ou qualidades sem as
quais aquele saber vira inautêntico, palavreado vazio e inoperante. (FREIRE,
1996, p. 69).

Ao considerar essas questões, o planejamento das atividades não pode


ser infantilizado, mas sim pensado e organizado considerando o contexto
sociocultural dos alunos. Sobre a questão da infantilização, Oliveira (2007)
alerta que isso ocorre quando o professor não se interessa pelos conhe-
cimentos prévios e pelo contexto social dos estudantes, o que resulta na
70 Educação de Jovens e Adultos

desvalorização dos saberes e das vivências dos alunos em relação aos


conteúdos curriculares da escola, ao apenas executarem planejamentos que
foram pensados e organizados para crianças no Ensino Fundamental ou
para jovens no Ensino Médio, sem uma adaptação para EJA ponderando
suas especificidades.
Tal resultado também é observado a partir da utilização de práticas pe-
dagógicas que não se preocupam com o perfil dos alunos da EJA, focadas
apenas na atuação do professor como representante do saber e da verdade,
considerando a escola como o único lugar em que se constrói conhecimento.
Nesse cenário, os conteúdos são aplicados de forma fragmentada, sem a
necessidade de se estabelecer uma relação significativa com os alunos. Essa
prática docente nega a necessidade de um novo paradigma da Educação de
Jovens e Adultos, na qual o aluno deve ser um sujeito ativo e autônomo na
construção de conhecimento. Por isso, ela acaba sendo organizada com base
em uma ‘educação bancária’, criticada por Freire (1996), na qual o aluno é
apenas um receptor sem ativa participação.
Para você entender como é a prática docente de um professor que considera
as vivências dos alunos, reconhecendo a importância de um novo paradigma
para Educação de Jovens e Adultos, veja o exemplo a seguir:

Desde o princípio, a professora Renata atuou a partir de um novo para-


digma: o de que seus alunos lidam com problemas reais e que, a partir
deles, a construção de conhecimentos sobre a leitura, a escrita, os nú-
meros e as operações pode acontecer de maneira eficaz e significativa.
Ela acreditou, desde o início, que era possível estabelecer uma aliança
entre o mundo real e concreto dos alunos e os conhecimentos formais,
podemos dizer, escolares. (BRASIL, 2006, p. 28).

O exemplo da professora Renata demostra o envolvimento de um docente


com a problematização de situações reais do cotidiano dos alunos em sala de
aula, com a finalidade de estabelecer relação entre os conteúdos das disciplinas
e a prática social dos estudantes dentro e fora da escola, considerando suas
diversidades, seus contextos e saberes que eles já construíram a partir de
experiências e vivências ocorridas fora de sala de aula.
Um novo paradigma de aprendizagem de jovens e adultos 71

1. As mudanças no contexto do reconhecimento da importância


surgimento da sociedade da da atuação dos alunos.
informação impõem discussões d) São novas formas da Educação
que também se aplicam ao campo de Jovens e Adultos, que centra
da educação. A pedagogia crítica o conhecimento no que é
se vê como um conjunto de produzido dentro da escola.
suposições teóricas e práticas e, e) São modelos de educação
neste contexto, surgindo como um fundamentados na
meio de interação entre os diversos fragmentação das disciplinas.
aspectos simbólicos, a vida cotidiana 3. Segundo a legislação brasileira
e o contextual. Posto isso, o foco vigente, que trata sobre a EJA,
da educação pressupõe o(a): podemos falar o seguinte
a) necessidade de mudança de sobre o público-alvo desta
uma educação como fato modalidade de ensino:
abstrato para uma educação a) A EJA será ofertada somente
como prática social concreta. para alunos que já atuam
b) fracasso escolar atribuído no mercado de trabalho.
ao fracasso de estudantes b) A EJA será ofertada apenas
das classes minoritárias. para alunos que ingressarem
c) discussão do ajuste da nos últimos anos do
linguagem, a igualdade do ensino fundamental.
discurso de normas, com foco c) A EJA será ofertada apenas
na responsabilidade social. para alunos que ingressarem
d) entendimento do contexto no ensino médio.
histórico-cultural para d) Alunos que concluírem seus
compreender o contexto estudos na Educação de
social, político e econômico. Jovens e Adultos não podem
e) cultura popular como fonte ingressar no ensino superior.
produtora de conhecimento e) Alunos que por diversos
e de legitimação do motivos não tiveram acesso
poder da educação. ou não conseguiram dar
2. Sobre os novos paradigmas da continuidade aos estudos,
Educação de Jovens e Adultos, podem ingressar na Educação
pode-se afirmar que: de Jovens e Adultos, e após
a) São modelos de ensino apenas. concluírem podem, se quiserem,
b) São modelos de prática ingressar no ensino superior.
educativa centrados na 4. Muitas vezes, os próprios
atuação do professor. educadores, por incrível que pareça,
c) São novas formas de pensar também vítimas de uma formação
a Educação de Jovens alienante, não sabem o porquê
e Adultos, a partir do daquilo que dão, não sabem o
72 Educação de Jovens e Adultos

significado daquilo que ensinam e a uma educação excludente.


quando interrogados dão respostas V. Os projetos curriculares devem
evasivas: “é pré-requisito para as desconsiderar a influência
séries seguintes”, “cai no vestibular”, do currículo oculto que
“hoje você não entende, mas daqui permeia o caráter informal
a dez anos vai entender”. Muitos educacional, pois o mesmo
alunos acabam acreditando que não interfere no contexto
aquilo que se aprende na escola social da prática educativa.
não é para entender mesmo, que só É correto apenas o que se afirma em:
entenderão quando forem adultos, a) II, III e V.
ou seja, acabam se conformando b) I, II e III.
com o ensino desprovido de sentido. c) I, II, IV e V.
(VASCONCELLOS, 2002, p. 27-8) d) I, III, IV e V.
Correlacionando o texto de e) I, II, III e IV.
Vasconcellos aos desafios 5. Um novo paradigma de
educacionais que se convergem em aprendizagem de jovens e
um novo paradigma da educação, adultos significa repensar a
analise as afirmativas a seguir: prática educacional a partir
I. O processo de conhecimento dos seguintes aspectos:
deve ser refletido e encaminhado a) Diversidade, flexibilização escolar;
a partir da perspectiva de sintonia com o ambiente, prática
uma educação voltada social concreta e individualismo.
para uma prática social. b) Individualismo; submissão
II. A instituição educativa já não cultural dos professores;
possui um saber instituído comunidades de aprendizagem;
inquestionável, mas este se aprendizagem dialógica.
expande no tecido social. c) Sistema econômico;
III. A necessidade de analisar o individualismo; aprendizagem
progresso de uma maneira dialógica; qualidade;
não linear, nem monolítica, comunidades de aprendizagem.
mas integrando outras d) Individualismo; diversidade
identidades sociais, outras cultural; multiculturalismo;
manifestações culturais da aprendizagem dialógica;
vida cotidiana e outras vozes formação do pedagogo.
secularmente marginalizadas. e) Individualismo; sintonia com o
IV. A educação do próximo século ambiente; prática social concreta;
no âmbito das instituições aprendizagem dialógica;
educativas deverá analisar e comunidades de aprendizagem
propor-se de novo, entre outros, e multiculturalismo.
o direito à diferença e a recusa
Um novo paradigma de aprendizagem de jovens e adultos 73

BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases para a


educação nacional. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 23
dez. 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm>.
Acesso em: 20 fev. 2017.
BRASIL. Ministério da Educação. Proposta curricular: legislação. Brasília: MEC, c2016.
Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=arti
cle&id=13535:proposta-curricular-legislacao&catid=194:secad-educacao-continuada>.
Acesso em: 10 mar. 2017.
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BRASIL. Ministério da Educação Trabalhando com Educação de Jovens e Adultos: alunas
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FLECHA, R.; TORTAJADA, I. Desafios e saídas educativas na entrada do século. In: IM-
BERNÓN, F. (Org.). A educação no século XXI. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2000. p. 21-36.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 25. ed.
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FREIRE, P. Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido.
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MORAES, M. C. Paradigma educacional emergente. Campinas: Papirus, 1997.
OLIVEIRA, I. B. Reflexões acerca da organização curricular e das práticas pedagógicas
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PAIVA, J. Tramando concepções e sentidos para redizer o direito à Educação de Jovens e
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em: <http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v11n33/a12v1133.pdf>. Acesso em: 15 fev. 2017
PEREIRA, J. E. D.; FONSECA, M. C. F. R. Identidade docente e formação de educadores
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Disponível em: <http://seer.ufrgs.br/educacaoerealidade/article/view/26138/15253>.
Acesso em: 27 fev. 2017.
PINTO, Á. V. Sete lições sobre educação de jovens adultos. 8 ed. São Paulo: Cortez, 1993.
Disponível em: <https://nacepteca.files.wordpress.com/2014/11/sete-lic3a7c3b5es-
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74 Educação de Jovens e Adultos

UNESCO. Educação de Jovens e Adultos: uma memória contemporânea: 1996-2014.


Brasília: UNESCO, 2004. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/down-
load/texto/me000378.pdf>. Acesso em: 10 mar. 2017.
VASCONCELLOS, C. S. Coordenação do trabalho pedagógico: do projeto político-
-pedagógico ao cotidiano da sala de aula. São Paulo: Libertad, 2002.

Leituras recomendadas
FREIRE, P. A educação na cidade. São Paulo: Cortez, 1991.
FREIRE, P. Educação e mudança. Rio de janeiro: Paz e Terra, 1979.
FREIRE, P. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo:
UNESP, 2000.
FREIRE, P.; SHOR, I. Medo e ousadia: o cotidiano do professor. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1986.
Conteúdo:
Dica do professor
O novo paradigma da educação demanda que os profissionais desta área ampliem sua visão de
mundo, mas com profundidade, para que possam ser catalisadores de mudanças e também possam
estimular mudanças que contribuam para a formação de novos sujeitos para a sociedade. É
necessário que atuem de forma mais consciente nesta sociedade, compreendendo as mudanças nos
processos de produção, que irão impactar na aquisição e desenvolvimento de novas competências.

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Exercícios

1) As mudanças no contexto do surgimento da sociedade da informação impõem discussões


que também se aplicam ao campo da educação. A pedagogia crítica se vê como um conjunto
de suposições teóricas e práticas e, neste contexto, surge como um meio de interação entre
os diversos aspectos simbólicos, a vida cotidiana e o contexto. Posto isso, o foco da
educação pressupõe o(a):

A) Necessidade de mudança de uma educação como fato abstrato para uma educação como
prática social concreta.

B) Fracasso escolar atribuído ao fracasso de estudantes das classes minoritárias.

C) Discussão do ajuste da linguagem, a igualdade do discurso de normas, com foco na


responsabilidade social.

D) Entendimento do contexto histórico-cultural para compreender o contexto social, político e


econômico.

E) Cultura popular como fonte produtora de conhecimento e de legitimação do poder da


educação.

2) Leia atentamente o trecho abaixo:

“Ser utópico não é apenas ser idealista ou pouco prático, mas também efetuar a denúncia e a
anunciação. Por isso, o caráter utópico de nossa teoria e prática educativa é tão permanente
como a educação em si, que, para nós, é uma ação cultural. Sua tendência para a denúncia e
a anunciação não pode se esgotar quando a realidade, hoje denunciada, amanhã cede seu
lugar à realidade previamente anunciada na denúncia. Quando a educação já não é utópica,
isto é, quando já não possui a unidade dramática da denúncia e da anunciação, ou o futuro já
não significa nada para os homens, ou estes têm medo de se arriscar a viver o futuro como
superação criativa do presente, que já envelheceu [...]” (FREIRE, Paulo, 1977 apud
IMBERNÓN, J., 2000. p. 72).

Mediante a leitura, pode-se dizer que a palavra “utópico” sugere que a:

A) Prática educativa seja uma idealização do futuro.

B) Prática educativa seja utópica.


C) Prática educativa seja reprodutora de mecanismos.

D) Educação tenha como prática a unidade da denúncia e da anunciação.

E) Educação baseia-se na fantasia do futuro.

3) Analise as seguintes frases com base nas reflexões propostas a respeito dos desafios à
educação no século XXI:
(1) Sobre o campo educativo, é importante ter, pelo menos, dois tipos de olhares
PORQUE
(2) não podemos tentar adiantar o que acontecerá nos tempos que virão sem fazer uma
referência ao passado.

A respeito dessas afirmativas, assinale a alternativa CORRETA.

A) As duas afirmativas são verdadeiras, e a segunda justifica a primeira.

B) As duas afirmativas são verdadeiras, e a segunda não justifica a primeira.

C) A primeira afirmativa é verdadeira, e a segunda é falsa.

D) A primeira afirmativa é falsa, e a segunda, verdadeira.

E) Tanto a primeira quanto a segunda afirmativas são falsas.

4) Muitas vezes, os próprios educadores, por incrível que pareça, também vítimas de uma
formação alienante, não sabem o porquê daquilo que dão, não sabem o significado daquilo
que ensinam e quando interrogados dão respostas evasivas: “é pré-requisito para as séries
seguintes”, “cai no vestibular”, “hoje você não entende, mas daqui a dez anos vai entender”.
Muitos alunos acabam acreditando que aquilo que se aprende na escola não é para entender
mesmo, que só entenderão quando forem adultos, ou seja, acabam se conformando com o
ensino desprovido de sentido. (VASCONCELLOS, 2002, p. 27-8)

Correlacionando o texto de Vasconcellos aos desafios educacionais que se convergem em


um novo paradigma da educação, analise as afirmativas a seguir:

I. O processo de conhecimento deve ser refletido e encaminhado a partir da perspectiva de


uma educação voltada para uma prática social.
II. A instituição educativa já não possui um saber instituído inquestionável, mas este se
expande no tecido social.
III. A necessidade de analisar o progresso de uma maneira não linear, nem monolítica, mas
integrando outras identidades sociais, outras manifestações culturais da vida cotidiana e
outras vozes secularmente marginalizadas.
IV. A educação do próximo século no âmbito das instituições educativas deverá analisar e
propor de novo, entre outros, o direito à diferença e a recusa a uma educação excludente.
V. Os projetos curriculares devem desconsiderar a influência do currículo oculto que
permeia o caráter informal educacional, pois o mesmo não interfere no contexto social da
prática educativa.

É CORRETO apenas o que se afirma em:

A) II, III e V.

B) I, II e III.

C) I, II, IV e V.

D) I, III, IV e V.

E) I, II, III e IV.

5) Um novo paradigma de aprendizagem de jovens e adultos significa repensar a prática


educacional a partir dos seguintes aspectos:

A) Diversidade, flexibilização escolar; sintonia com o ambiente, prática social concreta e


individualismo.

B) Individualismo; submissão cultural dos professores; comunidades de aprendizagem;


aprendizagem dialógica.

C) Sistema econômico; individualismo; aprendizagem dialógica; qualidade; comunidades de


aprendizagem.

D) Individualismo; diversidade cultural; multiculturalismo; aprendizagem dialógica; formação do


pedagogo.

E) Individualismo; sintonia com o ambiente; prática social concreta; aprendizagem dialógica;


comunidades de aprendizagem e multiculturalismo.
Na prática
O contexto, no qual um novo paradigma de aprendizagem de jovens e adultos emerge, é marcado
por discussões relacionadas a uma educação voltada para uma prática social concreta, que deve
considerar, entre outras discussões: a sintonia com o ambiente; a promoção de uma aprendizagem
que dialoga com seu tempo, que sugere uma educação que prioriza a qualidade, a solidariedade, a
aprendizagem instrumental de conhecimentos e habilidades. Uma educação que possibilite o aluno
crescer, por meio da promoção do autoconhecimento, da autonomia e da socialização.
Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:

Sociedade 3.0 - Um novo paradigma para a Educação do Século


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