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Apresentação
Um dos grandes desafios do século 21 tem sido romper, em definitivo, com o preconceito e a
exclusão. Não raro, porém, pessoas das mais variadas faixas etárias ainda sofrem algum tipo de
discriminação por causa de sua condição social, sua visão de mundo, suas características físicas ou
emocionais, sua etnia ou gênero.
A escola é um local fecundo para o crescimento do respeito à diversidade. Entretanto, ela pode ser
também um fator que ocasiona a falta de equidade e de oportunidade na vida de seus alunos.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai aprender sobre as formas de expressão da diversidade
humana, bem como reconhecer os desafios de uma educação que respeite a diversidade. E, por fim,
vai compreender a importância da equidade em um contexto de diversidade, dentro e fora da
escola.
Bons estudos.
Veja, no Infográfico a seguir, os principais agrupamentos que dizem respeito à diversidade humana.
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Conteúdo do livro
No cotidiano da escola, é preciso ter sempre presente a ideia do "binômio" educação e diversidade,
pois estes são conceitos que se relacionam mutuamente e se apresentam por meio da
heterogeneidade na sala de aula.
O fato de os alunos terem a mesma faixa etária não quer dizer que tenham as mesmas
características e interesses, ou seja, cada sujeito tem diferentes maneiras de aprender, que devem
ser respeitadas. E, então, devem ser oferecidas melhores condições de aprendizagem.
No capítulo Diversidade e educação, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai
aprender mais sobre esse assunto, conhecendo importantes documentos que garantem o direito
dos alunos a uma educação de qualidade que respeite as diferenças educacionais de cada sujeito.
Boa leitura.
SOCIEDADE,
CULTURA E
CIDADANIA
Introdução
Neste capítulo, você aprenderá como surge o debate sobre diversidade
e como tem impacto na sociedade, cultura e educação, levando em
consideração as teorias mais modernas sobre o tema e todas as problema-
tizações e os questionamentos necessários para trabalhar as diversidades
e as diferenças enquanto parte de um conjunto de teorias que pensam
uma educação para todos.
Dessa forma, você encontrará não só as ideias-base dos textos clássicos
sobre diversidades, mas também os desenvolvimentos feitos, por exemplo,
na aplicação de políticas de diversidade dentro da Lei de Diretrizes e Bases
da Educação (LDB). Encontrará também a contextualização do debate
que envolve as temáticas de diferenças e de globalização, temas que
influenciam diretamente nas diferentes abordagens do tema no Brasil.
A educação tem sido o caminho central para esse debate, que merece
ser aprofundado e desenvolvido. Por isso, as temáticas educacionais são
a base das reflexões que serão aqui colocadas, levando em considera-
ção suas conexões com as culturas locais e globais, bem como com as
legislações e disputas em torno desse debate.
2 Diversidade e educação
Diversidade humana
Para começar a pensar sobre diversidade, precisamos compreender, antes
de qualquer coisa, o que esse conceito significa, para, posteriormente, apro-
fundarmo-nos nos debates sobre educação, legislação, cultura e sociedade.
Entende-se por diversidade tudo aquilo que é abundante, mas não igual. A
palavra remete a múltiplos elementos, que formarão um conjunto de atribu-
tos, de aglomerados ou de nomeações. Falar sobre diversidade, então, é falar
sobre diversas coisas, contextos e condições que interagem ou não entre si.
Essa é uma definição a priori, que nos dá algumas coisas para pensar, mas
que não explica o conceito de diversidade, o que entenderemos conforme nos
aprofundamos neste capítulo.
Para pensarmos mais densamente essa questão, nos fundamentamos em
Paula (2013), que faz uma retomada do percurso de globalização que homo-
geneíza, ou seja, torna semelhante, as relações entre sujeitos, mesmo que
não sejam iguais. Ao mesmo tempo, acaba deixando evidente, nessa mesma
tentativa de igualar, as diferenças entre os sujeitos.
Globalização refere-se ao momento em que as fronteiras do mundo estão
mais flexíveis, em que capitais, ideias e mercadorias rodam os países de
forma mais rápida e mais direta, ou seja, é uma rede de conexões que envolve
política, economia e cultura. A globalização extrapola as relações comerciais e
financeiras, e a tecnologia é uma de suas marcas mais fortes, sobretudo quando
pensamos sobre o acesso à internet e aos computadores de forma cada vez
mais massiva, caracterizando uma forma rápida de se conectar com pessoas,
conhecendo aspectos culturais e sociais do mundo todo. Cada vez mais, as
tecnologias se mostram como uma grande potência, capaz de transpor as
barreiras territoriais, ligando pessoas e ideias, tendo essa função como parte
das dinâmicas sociais.
Contudo, há alguns pontos da globalização que são complexos e críticos,
como um massivo domínio de algumas culturas como base para transpor as
barreiras, o predomínio da língua inglesa e também o avanço do capitalismo de
forma desregrada e descontrolada. Nesse sentido, pensando sobre diversidade,
a autora afirma que:
Vale ressaltar que, assim como aponta a autora, as questões de raça e etnia,
gênero, geração, religião, entre outros marcadores da diferença, são caras ao
debate sobre diversidade e serão aprofundadas posteriormente ao longo dos
estudos. O importante, aqui, é que sejamos capazes de perceber a necessidade
dessa ruptura com uma percepção homogeneizante da sociedade e de enxergar
a complexidade e a multiplicidade dessas relações em nosso contexto.
Para entender a importância de olhar para a história da educação, assista ao vídeo “Por
que estudar História da Educação?”, de Dermeval Saviani, publicado no canal Nova
Escola. Acesse o link disponível a seguir.
https://goo.gl/aem41m
É a partir desse momento, de uma educação inclusiva e que faz parte dos
direitos básicos, que se toma uma nova ótica para entender e estender o ensino
e as instituições educacionais. Contudo, a diversidade, enquanto perspectiva
da tolerância, só aparecerá muitos anos depois, especialmente com a criação
da LDB, em meados de 1996 (BRASIL, 1996).
Assim, o debate que ascende e que vai tomando formato e força dentro da
educação é a ideia de que, por meio da diversidade, deve-se exercer a tole-
rância ao diferente. A tolerância pautou e ainda pauta uma série de políticas
públicas e educacionais, porém traz diversos problemas de invisibilização e
de não enfrentamento, pois, como vimos anteriormente, a tolerância não exige
respeito e pode implicar em ignorar as diferenças ou simplesmente aguentar
os limites da diferença para cada sujeito.
Dessa forma, o tema da diversidade pela tolerância vai ficando cada vez
mais defasado, provando que, embora tenha um impacto na educação, torna-
-se cada vez menos eficiente. Diversos educadores e acadêmicos, ao pensar
a diversidade, aderem à ideia de diferença, uma vez que aqui está uma das
possibilidades de saída de um estado letárgico que a tolerância pode gerar.
Nas palavras de Michaliszyn (2012, p. 66-67):
diversidade e diferença, por muito tempo tal ideia foi pioneira e conseguiu
destacar a necessidade de se falar sobre as diferenças. Contudo, o processo
brasileiro para inclusão dessas perspectivas deu-se também por uma pressão
internacional para que o país compreendesse em sua perspectiva educacional
uma relação mais justa.
Assim, as dificuldades com a escolarização em massa, como a aprendiza-
gem pouco efetiva e o abandono da escola, entre outros problemas, passaram a
ser compreendidas dentro do debate da diversidade a partir de uma perspectiva
social de inclusão. Para conseguir contemplar esses debates, a década de 90 foi
um marco significativo, pois encontramos mudanças fundamentais, principal-
mente com a Lei de Diretrizes e Bases, homologada em 1996 (BRASIL, 1996).
O sistema escolar, assim como a nossa sociedade, vai avançando para esse
ideal democrático de justiça e igualdade, de garantia dos direitos sociais,
culturais, humanos para todos. Mas ainda há indagações que exigem respos-
tas e propostas mais firmes para superar tratos desiguais, lógicas e culturas
excludentes. (BRASIL, 2007, p. 14).
mais que não nos lembremos onde estão ancoradas as diferenças, vale sempre
compreender que estas foram construídas socialmente.
O conceito de cultura não será trabalhado com a perspectiva multicultu-
ral que homogeiniza as diferenças. Tal perspectiva é aquela trabalhada na
chave da diversidade para a tolerância, que expõe no seu cerne que todos
são iguais acima das diferenças e, assim, não contempla os conflitos. Já
a visão de cultura como parte significativa, fundamental e problemática
das diferenças, entende que todos somos diferentes em nossas particula-
ridades, por isso cada política ou conceituação precisa levar em conta os
conflitos, e não buscar captar todas as diferenças em grandes conceitos
universalizantes.
Nesse sentido, a visão de que a globalização nos aproxima não cabe
dentro desse conceito de cultura pelas diferenças, visto que, como abordado
anteriormente, a globalização nublou as fronteiras, mas tem como parte
de si uma homogeinização a partir do apagamento das diferenças e do
massivo aumento de uma cultura do norte global, como Estados Unidos e
Europa, como a cultura “certa” a ser seguida. Dessa forma, a globalização
se mostra como um grande fator de conflito quando traz consigo um modo
de aculturação.
Nesse sentido, a cultura não é o que nos une em um lugar comum, mas
é aquilo que pauta sentido, ora normatiza, ora particulariza, ora exclui, ora
inclui, de um modo que coloca os sujeitos dentro de uma esfera de inteli-
gibilidade, ou os exclui desta. A cultura nos ajuda, então, a compreender a
realidade social. Dessa forma, a cultura levada a cabo aqui, aparece como
parte dos processos de normatização discursiva das práticas de diferenciação,
e não como o suporte que nos une em um lugar comum, mas sim como parte
dos processos que explicam o social. Assim, o conceito de cultura passa a
ser algo enraizado, sentido e trabalhado por nós:
[...] é o que significa dizer que devemos pensar as identidades sociais como
construídas no interior da representação, através da cultura, não fora dela.
Elas são o resultado de um processo de identificação que permite que nos
posicionemos no interior das definições que os discursos culturais (exteriores)
fornecem ou que nos subjetivemos (dentro deles). Nossas chamadas subjeti-
vidades são, então, produzidas parcialmente de modo discursivo e dialógico.
Portanto, é fácil perceber porque nossa compreensão de todo este processo
teve que ser completamente reconstruída pelo nosso interesse na cultura; e
por que é cada vez mais difícil manter a tradicional distinção entre “interior”
e “exterior”, entre o social e o psíquico, quando a cultura intervém (HALL,
1997, p. 9, tradução nossa).
Diversidade e educação 13
Políticas de inclusão
As políticas de inclusão social e educacional não datam de hoje, são políticas
públicas reconhecidas como basilares na sociedade brasileira. Em 1961, a antiga
LDB, conhecida pela sigla LDBEN, já abordava a educação especial, mas de
forma altamente aquém ao que encontramos hoje. A LDB de 1961 afirmava
que: “A Educação de excepcionais, deve, no que for possível, enquadrar-se no
sistema geral de Educação, a fim de integrá-los na comunidade [...]” (BRA-
SIL, 1961, documento on-line). É importante ressaltar alguns trechos desta
já mencionada legislação, como o uso de “excepcionais”, termo comum na
época, mas que não é mais usado para categorizar pessoas com deficiências.
Também devemos ressaltar que a lei não obrigava as escolas a tomarem medidas
eficazes, deixando em aberto com “no que for possível”.
É com a Constituição Federal de 1988 que as políticas de inclusão começam
a tomar novo formato, especialmente quando observamos o Art. 205º que
rege, dizendo: “[...] a Educação como um direito de todos, garantindo o pleno
desenvolvimento da pessoa, o exercício da cidadania e a qualificação para o
trabalho [...]” (BRASIL, 1988). A importância desse trecho se destaca com o
relato anterior, de 1961, pois não mais deixa espaços para a obrigação ou não
da inclusão e inserção de alguns, passa a ser imposta constitucionalmente
essa condição.
Isso não quer dizer que o ano de 1988 mudou as relações sociais de diferença
há muito colocadas no Brasil, porém foi um primeiro passo para as políticas
que se seguiram, e ainda seguem, em processo de implantação. Pensar a
educação para todos e todas foi uma mudança impactante, sendo que a uma
parte significativa da população o acesso a educação não era garantido ou
efetivamente pensado.
É só em 2001, contudo, que o Plano Nacional de Educação implanta uma
letra de lei mais eficaz e inclusiva, que aborda as deficiências como parte
da educação escolar, colocando “[...] a garantia de vagas no ensino regular
14 Diversidade e educação
Leituras recomendadas
ABRAMOVICZ, A.; SILVÉRIO, V. R. (Org.). Afirmando diferenças: montando o quebra-cabeça
da diversidade na escola. Campinas: Papirus, 2015.
BRASIL. Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. [2018]. Dispo-
nível em: <http://www.seppir.gov.br/>. Acesso em: 03 dez. 2018.
BRASIL. Secretaria Nacional de Políticas para Mulheres. Secretaria Nacional de Políticas
para Mulheres. 2012. Disponível em: <http://www.spm.gov.br/sobre/a-secretaria>. Acesso
em: 03 dez. 2018.
CARVALHO, M. P. (Org). Diferenças e desigualdades na escola. Campinas: Papirus, 2013.
CORREA, R. L. T. Cultura e diversidade. Curitiba: Intersaberes, 2012.
MISKOLCI, R. Teoria queer: um aprendizado pelas diferenças. São Paulo: Autêntica, 2012.
Dica do professor
A escola é considerada como o espaço de convivência em que os alunos ampliam seus
conhecimentos e constroem novas visões sobre o mundo. Nesse contexto, é preciso compreender
o universo escolar a partir do seguinte ponto, relativamente à temática da diversidade: a escola é o
lugar por excelência do encontro e da educação para a acolhida da diversidade, mas é também um
fator que ocasiona a diversidade.
É nesse contexto que o respeito às diferenças deve ser um dos valores mais desenvolvidos desde a
entrada das crianças na escola, promovendo sentimentos de respeito e empatia. Na escola, a
diversidade deve ser uma regra, e não uma exceção.
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Exercícios
1) A diversidade humana é definida de muitas maneiras, mas pode-se dizer que ela é resultante
do atual modo de pensar, que leva a comparações entre o eu e o outro. Em muitos casos,
essas comparações enfatizam sobretudo os aspectos negativos dos outros.
C) Mesmo em um sistema escolar com base na atenção integrada às diferenças individuais, são
comuns os " bolsões de fracasso escolar".
D) O fator idade, alterado pela evasão escolar ou pela repetência, impede que o aluno, mesmo
frequente, possa progredir nos estudos.
E) O ponto de partida para o atendimento de crianças com histórico de vida muito divergente
dos demais é sempre o currículo escolar.
De acordo com a Declaração Mundial sobre Educação para Todos (1990), artigo 3o, é
necessário universalizar o acesso à educação e promover a equidade, melhorando sua
qualidade, bem como tomar medidas efetivas para reduzir as desigualdades.
D) ter uma visão clara de que a escola pública oferece um ensino de menor qualidade no que diz
respeito ao atendimento às diversidades.
3) As discussões sobre diversidade ampliam-se a cada dia devido às pesquisas, aos eventos na
área, entre outros.
( ) Ao se trabalhar a diferença de modo coletivo, entende-se ela como uma parte que
constitui a diversidade.
A) V, F, V, V.
B) F, V, F, V.
C) V, V, V, F.
D) V, V, F, F.
E) F, F, V, F.
Tânia, uma aluna com politraumatismo, está terminando a formação profissional de nível
superior em pedagogia. Chegar a esse nível só foi possível graças a sua tenacidade, ao apoio
constante dos pais, ao estímulo dos colegas e a uma equipe de professores convencida de
que as dificuldades dela seriam superadas com sua integração no grupo e com a adaptação
do currículo às limitações sensoriais e intelectuais que ela apresentava.
A) As ações em favor de alunos como Tânia devem ser exclusivamente do poder público.
B) Ao considerar a diversidade, a integração dos alunos, em cada uma das séries, se dará de
modo inteiramente homogêneo.
D) Em um sistema educacional como aquele em que Tânia estuda, o aluno especial é o único
beneficiado.
Acompanhe, neste Na Prática, a ação realizada pela Dra. Dorothy Smith, convidada pela professora
da escola, que desenvolveu junto aos alunos de uma turma do ensino médio conexões acerca da
significação local e cultural para o contexto educacional.
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Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:
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