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COMUNICAÇÃO

JURÍDICA
Profª Ana Paula Delezuk
Objetivo
Incitar o (a) graduando (a), por meio da leitura e da interpretação
de textos orais, verbais e não verbais o domínio dos diversos
usos da linguagem em diferentes situações discursivas, não só
no contexto acadêmico, mas, também, no exercício da profissão,
bem como, prover consciência reflexiva no (a) aluno (a) sobre a
relevância do bom desempenho linguístico à organização da
linguagem como recurso argumentativo.
JUSTIFICATIVA DA DISCIPLINA NO CURSO
Ao concebermos a linguagem como forma de ação humana, há de se
considerar o relevante papel que ela realiza nas situações de
comunicação/interação, contribuindo, pois, para uma argumentação
mais profícua do articulista. Portanto, a disciplina Português Jurídico,
integra-se à grade curricular deste curso, com o intuito de possibilitar
ao estudante saberes necessários sobre a língua(gem) e sobre seus
impactos discursivos, não só no exercício da profissão, mas, também,
em suas práticas sociais.
QUATRO EIXOS
1- Língua e funcionamento
• Concepções de Linguagem;
• Tipos de Linguagem;
• Variações Linguísticas.
2- Texto e Sentido
• Noção de Texto, de sujeito, de sentido;
• Gêneros Textuais, Esferas do discurso;
• Fatores de Textualidade;
• Coesão e coerência textual;
• O Parágrafo.
3- A Sintaxe
• Conceito de gramática;
• Sintaxe de colocação pronominal;
• A concordância verbal e nominal;
• Vícios de linguagem.
4 –Marcas linguísticas da argumentação
• Operadores argumentativos;
• A Modalização no discurso;
• As pressuposições.
Comunicação Jurídica - Apresentação
•A técnica para se escrever bem na atividade profissional
é conhecer o assunto, estudar gramática, dominar
estruturas argumentativas e apurar recursos estilísticos.
• A eficácia da linguagem jurídica depende de qualidades
constantes a serem aplicadas no texto: clareza, concisão,
coerência, coesão, correção gramatical, formalidade,
padronização, lógica na argumentação. (PAIVA, 2018,
grifo nosso)
Clareza
• Habilidade de transpor com exatidão uma ideia ou pensamento.

• O texto deve ser claro de tal forma que não permita interpretação
equivocada ou demorada pelo leitor.

• É importante usar vocabulário acessível, redigir orações na ordem


direta, utilizar períodos curtos e eliminar o emprego excessivo de
adjetivos.
Observe texto com falta de clareza.
• Vossa Excelência, data maxima venia, não adentrou às entranhas
meritórias doutrinárias e jurisprudenciais acopladas na inicial, que
caracterizam, hialinamente, o dano sofrido.
Veja como fica melhor na redação da professora Hélide Santos
Campos.
• Vossa Excelência não observou devidamente a doutrina e a
jurisprudência citadas na inicial, que caracterizam, claramente, o
dano sofrido.

➢ Evite rebuscamento ou arcaísmos, que podem comprometer a


clareza ou a correção gramatical.
Concisão
• Consiste em informar o máximo em um mínimo de
palavras.

• Termos desnecessários necessitam ser eliminados.

• Mais que curtas e claras, as expressões


empregadas devem ser precisas.
Formalidade e correção gramatical
A utilização do padrão formal de linguagem representa:
• texto correto em sua sintaxe,
• claro em seu significado,
• coerente e coeso em sua estrutura,
• elegante em seu estilo.

➢ Ser culto não é ser rebuscado.


Objetividade
•A objetividade consiste em ir diretamente ao assunto,
sem rodeios e divagações.
• Escreverapenas as palavras imprescindíveis à
compreensão do assunto.
• Evidenciar a ideia central a ser transmitida e usar
vocabulário de sentido exato, com referencial preciso,
para facilitar a compreensão do leitor.
Observe exemplo de texto com falta de objetividade retirado de revista de
grande circulação.
• Investigar as causas principais que fizeram desabrochar no meu espírito
durante os anos tão distantes da infância que não voltam mais e da qual
poucos traços guardo na memória, já que tantos anos se escoaram, a
vocação para a Engenharia é tarefa que pelas razões expostas, me é
praticamente impossível e, ouso acrescentar que, mesmo para um psicólogo
acostumado a investigar as profundezas da mente humana, essa pesquisa
seria sobremodo árdua para não dizer impossível.
Escrito de forma mais objetiva:
• Investigar as causas principais que fizeram desabrochar em mim a vocação
para a Engenharia é tarefa que me é praticamente impossível e mesmo para
um psicólogo essa pesquisa seria árdua para não dizer impossível.
Portanto:
• Linguagem formal indica também texto
objetivo, claro, conciso e correto
gramaticalmente.
Comunicação Jurídica – Aula 1
• Principal enfoque da aula:

• Concepções de linguagem;
• Tipos de linguagem;
Comunicação Jurídica – Aula 1
• Objetivos da aula:
▪ Refletir sobre as 3 principais concepções de linguagem.
▪ Compreender o esquema de comunicação de linguagem
proposto por Jakobson (1960).
▪ Relacionar as funções da linguagem à área jurídica.
Concepções de linguagem
• Temos a linguagem:

a) como representação “espelho” do mundo e do pensamento;


b) como instrumento “ferramenta” de comunicação e;
c) como forma, ou seja, “lugar” de ação ou construção de
interação (KOCH, 2000, p.09).
A LINGUAGEM COMO EXPRESSÃO DO PENSAMENTO
•A expressão (pensamento) seria criada apenas no interior da
mente de cada sujeito, e a exteriorização era uma tradução
daquilo que se pensava sem reflexão.
• Língua homogênea e estática.
• Privilegiava apenas um único uso da língua: gramática
tradicional.
• O contexto de produção do ato comunicativo não exerce nenhum
tipo de influência na linguagem.
A LINGUAGEM COMO INSTRUMENTO DE COMUNICAÇÃO
• Vista como um meio
objetivo para a
comunicação.
• A língua é vista como um
código, isto é, um
conjunto de signos que
se combinam segundo
regras.
• Privilegia
a escrita em
detrimento da fala.
Esquema de comunicação de Jakobson
• Função Poética: quando a mensagem é elaborada de forma inovadora e
imprevista, utilizando combinações sonoras ou rítmicas, jogos de imagem ou de
ideias, temos a manifestação da função poética da linguagem. Essa função é
capaz de despertar no leitor prazer estético e surpresa. É explorado na poesia e em
textos publicitários.

Chegou o milagre azul para lavar!


Lave na espuma de Omo e tenha a roupa mais limpa do mundo!
Onde Omo cai, a sujeira sai!”
(propaganda Omo, 1957)

➢Essas funções não são exploradas isoladamente, de modo geral, ocorre a


superposição de várias delas. Há, no entanto, aquela que se sobressai, o que nos
permite identificar a finalidade principal do texto.
• Função Emotiva: voltada ao emissor, imprime no texto as marcas de sua atitude pessoal,
de sua subjetividade: emoções, avaliações, opiniões. O leitor sente, no texto, a presença do
emissor.

Tomemos como exemplo a transcrição da carta a partir da qual Goethe inicia sua
monumental obra “Os sofrimentos do jovem Werther”:

“4 de maio de 1771
Como estou feliz por ter partido! Meu bom amigo, o que é o coração do homem! Deixá-lo, a
quem tanto estimo e de quem era inseparável, e ainda assim estar feliz! Sei que me perdoa. Mas
outros relacionamentos que tive, não foram acaso criados pelo destino para atormentar um
coração como o meu?”
Função Fática: a palavra 'fático' significa “ruído, rumor”. Foi utilizada inicialmente
para designar certas formas usadas para chamar a atenção (ruídos como psiu, ei). Essa
função ocorre quando a mensagem se orienta sobre o canal de comunicação ou
contato, buscando verificar e fortalecer sua eficiência.

EXEMPLOS:
Expressões que confirmam que alguém está ouvindo ou está sendo ouvido:
sim, claro, sem dúvida, entende?, não é mesmo?
É a linguagem das falas telefônicas, saudações e similares.
• Função Referencial: Privilegia o referente da mensagem (objeto/situação de que trata a
mensagem), buscando transmitir informações objetivas sobre este. Voltada ao
contexto, predomina nos textos de caráter científico e é privilegiado nos textos
jornalísticos.
EXEMPLO:
“Médico é preso em flagrante furtando paciente em Jundiaí, em SP
Bom Dia São Paulo
SÃO PAULO - Um médico foi preso em flagrante em Jundiaí, a 65 km de São Paulo, acusado
de furtar a carteira de um paciente dentro do consultório, durante o atendimento.”
Fonte:http://oglobo.globo.com/cidades/sp/mat/2009/10/23/medico-preso-em-flagrante-furtando-paciente-em-jundiai-em-sp-790985863.asp

➢ Na linguagem jurídica faz-se uso muitas vezes da função referencial quando da citação de
conceitos, legislação própria, descrição de fatos.
• Função Conativa ou Apelativa: essa função procura organizar o texto de forma que se
imponha sobre o receptor da mensagem, persuadindo-o, seduzindo-o. Nas mensagens em
que predomina essa função, busca-se envolver o leitor com o conteúdo transmitido,
levando-o a adotar este ou aquele comportamento.

(Beleza e Força) – 1934


Fonte:
https://www.propagandashistoricas.com.br/2018/03/propagan
da-antiga-biotonico-fontoura.html
Fusca (Volkswagen) - 1967
Fonte:
https://www.propagandashistoricas.com.br/2019/08/fusca-
volkswagen.html
➢ Sabe-se que o texto jurídico é, eminentemente,
persuasório:
• Dirige-se, especificamente, ao receptor; dele se
aproxima para convencê-lo a mudar e/ou assumir
determinado comportamento ou opinião, para alterar
condutas, suscitando estímulos, impulsos para provocar
reações no destinatário.
• Daí o nome conativa, termo relacionado ao verbo latino
conari, que significa promover, suscitar, provocar
estímulos.
• Função Metalinguística: quando a linguagem se volta sobre si mesma, transformando-se
em seu próprio referente, ocorre a função metalinguística.

EXEMPLO:

• Linguística: s.f ciência que estuda a língua humana, a estrutura das línguas e sua origem,
desenvolvimento e evolução. In Dicionário Houaiss

➢ A linguagem jurídica centrada em dicionários e vocabulários específicos.


Petri (2017) expõe que há uma linguagem do Direito porque o Direito dá um sentido
particular a certos termos.
O conjunto desses termos forma o vocabulário jurídico, composto por:
1) termos que possuem o mesmo significado na língua corrente e na jurídica [p.ex.: critério,
argumentos];
2) termos que possuem um significado na língua corrente e outro específico na linguagem
jurídica [ex.: sentença (frase, oração / decisão de juiz)];
3) termos que possuem mais de um significado na linguagem jurídica [ex.: prescrição
(determinação / decurso de prazo)];
4) termos que só possuem significado no Direito [p.ex.: acórdão (decisão de órgão
colegiado)];
5) termos latinos de uso jurídico [p.ex.: caput, data venia].
Em resumo
1 - Função Referencial: usada para informar sobre algo.
2 - Função Poética: usada para transmitir uma mensagem mais
poética.
3- Função Conativa: usada para convencer o receptor.
4- Função Emotiva: usada para transmitir emoções e sentimentos ao
emissor.
5- Função Metalinguística: usada para descrever uma linguagem
usando ela mesma.
6- Função fática: usada para estabelecer, prolongar ou interromper a
comunicação.
Comunicação Jurídica – Aula 2
• Principal enfoque da aula:

• 3ª concepção de linguagem: linguagem como meio de


interação
• Tipos de linguagem;
• Variações linguísticas;
Comunicação Jurídica – Aula 2
• Objetivos da aula:
▪ Refletir sobre a linguagem como meio de interação.
▪ Reconhecer diferenças entre linguagem verbal e não-
verbal
▪ Compreender o que é variação linguística e os tipos de
variações.
A LINGUAGEM COMO MEIO DE INTERAÇÃO
• “Não há linguagem no vazio, seu grande objetivo é a interação, a
comunicação com um outro, dentro de um espaço social”.

•A linguagem é vista como atividade de interação humana e por


intermédio dela os indivíduos praticam ações, que envolvem
tanto fala quanto escrita, considerando o contexto sócio-histórico
e ideológico que estão envolvidos no ato comunicativo.
Gêneros textuais/discursivos
• Na concepção interativa de linguagem o discurso, quando
produzido, manifesta-se por meio de textos e todo o texto se
organiza dentro de determinado gênero discursivo;

• A linguagem típica de cada esfera social determina a escolha de


palavras e a organização dessas palavras em gêneros típicos da
esfera.
Esferas socias e Gêneros discursivos

Discussão sustentada
Esquema/Resumo Petições
Escolar/ Debate regrado Declaração de direitos
Jurídi
Acadêmi Anotações – Diário de leitura Estatutos
-ca
-ca
Seminário Constituições
Tomada de notas Sentenças
Artigo científico
Gêneros Discursivos
Os gêneros discursivos são enunciados relativamente estáveis,
veiculados nas diferentes áreas de atividade humana e se
caracterizam pelo(a):
- conteúdo temático: "o que é e pode ser dizível nos textos
pertencentes a um gênero" (BRASIL, 1998, p. 21);
- construção composicional: a estrutura de textos pertencentes a
um gênero;
- estilo: os recursos linguístico-expressivos do gênero;
Por exemplo, o gênero discursivo sentença judicial é constituído por
três partes distintas:
•o relatório (em que constam o fato, as circunstâncias e as provas
levantadas);
• a fundamentação (argumentação jurídica) e
• a decisão (aplicação da norma jurídica).
Outros gêneros possuem a mesma estrutura, mas o gênero
sentença judicial além da estrutura contém elementos
lexicais/linguísticos próprios do domínio discursivo jurídico que o
diferencia dos demais gêneros.
Tipos de linguagem (Castro, 2013)
• Conforme Cereja (2004, p.230), “a linguagem é todo sistema formado
por símbolos que permite a comunicação entre os indivíduos”;
• A linguagem verbal: é aquela que tem por unidade a palavra. As
informações verbais são plenamente voluntárias: o ato de falar
constitui um elaborado processo, que vai desde a ideia até o
enunciado da mensagem.
• A linguagem não verbal: têm outros tipos de unidade, como o gesto,
os movimentos, a imagem, a nota musical. O comportamento não-
verbal pode ser uma reação involuntária. Por isso, ele nem sempre
obedece a uma lógica evidente.
Tipos de linguagem (Castro, 2013)
• Parauma comunicação plena, torna-se necessário harmonizar
estas duas linguagens: verbal e não-verbal. O profissional da
comunicação e também da educação, para ter sucesso, precisa
conhecer e dominar a linguagem dos sinais, dos símbolos, dos
gestos, da postura, do comportamento.
Variação linguística
• Variação linguística é o movimento comum e natural de uma
língua, que varia principalmente por fatores históricos e
culturais. Modo pelo qual ela se usa, sistemática e
coerentemente, de acordo com o contexto histórico, geográfico
e sociocultural no qual os falantes dessa língua se manifestam
verbalmente. É o conjunto das diferenças de realização
linguística falada pelos locutores de uma mesma língua.
Tipos de Variação Linguística (Bagno, 2015)

• Variação fonético-fonológica:

✓ Penseem quantas pronúncias você conhece para o R da palavra


PORTA no português brasileiro;
✓ Relaciona-se aos diferentes sotaques.
Tipos de Variação Linguística (Bagno,
2015)
• Variação morfológica –
As formas PEGAJOSO e PEGUENTO exibem sufixos diferentes
para expressar a mesma ideia;
Tipos de Variação Linguística (Bagno,
2015)
• Variação sintática – nas frases
o UMA HISTÓRIA QUE NINGUÉM PREVÊ O FINAL.
o UMA HISTÓRIA QUE NINGUÉM PREVE O FINAL DELA.
o UMA HISTORIA CUJO FINAL NINGUÉM PREVÊ.

✓O sentido geral é o mesmo, mas os elementos estão organizados


de maneiras diferentes;
Tipos de Variação Linguística (Bagno, 2015)
• Variação semântica –
•a palavra VEXAME pode significar “vergonha” ou “pressa”,
dependendo da origem regional do falante;
Tipos de Variação Linguística (Bagno, 2015)
• Variação lexical –
• as palavras Jerimum e Abóbora se referem todas à mesma coisa;
Tipos de Variação Linguística (Bagno, 2015)
• Variação estilístico-pragmática – os enunciados:
• QUEIRAM SE SENTAR, POR FAVOR E
• VAMO SENTANO AÍ , GALERA
Correspondem a situações diferentes de interação social,
marcadas pelo grau maior ou menor de formalidade do ambiente
e de intimidade entre os interlocutores , e podem inclusive ser
pronunciados pelo mesmo individuo em situações de interação
diferentes.
Marcos Bagno (2015) – Variação Linguística:
“1 – Norma padrão: modelo idealizado de língua “certa” descrito e
prescrito pela tradição gramatical normativa
2 – Conjunto das variedades mais prestigiadas: faladas pelos
cidadãos de maior poder aquisitivo, de maior nível de escolarização e
de maior prestígio sociocultural
3 – Conjunto de variedades estigmatizadas: faladas pela imensa
maioria da nossa população, seja nas zonas rurais, seja nas periferias
e zonas degradadas das nossas cidades, onde vivem os brasileiros
mais pobres, com menor acesso à escolarização de qualidade,
desprovidos de muitos de seus direitos mais elementares.” (BAGNO,
2015, p.12 e 13)
Preconceito linguístico (Bagno, 2015)
• (...)
todo juízo de valor negativo (de reprovação, de
repulsa ou mesmo de desrespeito) às variedades
linguísticas de menor prestígio social. Ele está
diretamente ligado a outros preconceitos (regional,
cultural, socioeconômico etc.) e, no Brasil, atinge
principalmente as regiões mais pobres da nação e dos
grandes centros urbanos. Seu fim pressupõe o ensino da
adequação linguística nas escolas e o respeito por parte
da mídia às diversas variantes da língua.
Acesso às variedades de prestígio:
“Todos os aprendizes devem ter acesso às variedades
linguísticas urbanas de prestígio, não porque sejam as
únicas formas certas de falar e de escrever, mas porque
constituem, junto com outros bens sociais, um direito do
cidadão, de modo que ele possa se inserir plenamente na
vida urbana contemporânea, ter acesso aos bens culturais
mais valorizados e dispor dos mesmos recursos de
expressão verbal (oral e escrita) dos membros das elites
socioculturais e socioeconômicas;” (BAGNO, 2015, p. 15)
Porém...
“uma quantidade gigantesca de brasileiros permanece à
margem do domínio das formas prestigiadas de uso da
língua ” (BAGNO, 2015, p. 15)
Variações históricas
• Palavras ou expressões que deixaram de ser utilizadas;
• Grafemas que deixaram de ser usados.
➢ Um exemplo clássico quanto a esse tipo de variação na linguística consiste na
remoção do “ph” em determinadas palavras.
Exemplo 1:
• Pharmácia (forma antiga).
• Farmácia (forma atual).
Exemplo 2:
• Vossa mercê (forma antiga).
• Você (forma atual).
Variações diafásicas (situacionais)
• Ocorrem em função do contexto comunicativo, influenciando e
determinando a maneira como as pessoas se dirigem ao
interlocutor, adotando uma linguagem formal ou informal.
• Em outras palavras, é quando a mesma pessoa altera sua
maneira de falar dependendo do ambiente no qual ela se
encontra (informal ou formal).
• Linguagem formal
• Trata-sede um tipo de linguagem considerada mais culta e prestigiada,
utilizada principalmente quando não existe familiaridade/intimidade
entre os interlocutores da comunicação ou em determinadas situações
que requeiram maior seriedade, como em uma audiência jurídica, por
exemplo.
• Linguagem informal
• Trata-se daquela que é caracterizada por ser menos culta ou prestigiada,
sendo utilizada especialmente quando há maior grau de
intimidade/familiaridade entre os interlocutores ou em situações
descontraídas, como no bate-papo com os amigos em um barzinho, por
exemplo.
Variações diatópicas (regionais/ geográficas)
• Também chamada de variação geográfica ou regional, consiste
numa variação ocorrida quando a mesma Língua é falada de
forma diferente, a depender de determinada localidade (país,
estado, cidade).
• Esse tipo de variação linguística é identificado ao compararmos
as alterações do português entre as diversas regiões do Brasil e
também ao compararmos o português falado no nosso país com
o português falado em Portugal.
Alguns exemplos:
• Mexerica, bergamota ou vergamota = determinado tipo de fruta cítrica.
• Marmitex, quentinha = comida.
• Macaxeira, aipim, mandioca = um tipo de raiz.
Esse tipo de variação ocorre mediante influências culturais, hábitos regionais,
tradições etc., podendo acontecer das seguintes maneiras:
• Diferentes palavras para os mesmos conceitos ou significados;
• Diferentes dialetos, sotaques e falares;
• Diminuição de palavras ou perda de fonemas.
Variações diastráticas (sociais)
• Também conhecidas como variações sociais, são tipos de variações linguísticas que
ocorrem em virtude da convivência entre determinados grupos sociais que, por
questões culturais, preferências, atividades ou profissões em comum adotam um
linguajar próprio (especialmente jargões e gírias).
Trata-se, por exemplo, da linguagem utilizada entre grupos distintos, tais como:
• Advogados;
• Surfistas;
• Policiais;
• Políticos;
• Religiosos;
• Bandidos etc.
Outros fatores extralinguísticos que
interferem nas variações
• Classe social ou nível socioeconômico;
• Nível de escolarização;
• Sexo;
• Idade;
• Profissão;
• Redes sociais;
• Palavras e expressões estrangeiras.
O POETA DA ROÇA
Patativa do Assaré
Sou fio das mata, cantô da mão grossa, Meu verso rastêro, singelo e sem graça,
Trabaio na roça, de inverno e de estio Não entra na praça, no rico salão,
A minha chupana é tapada de barro Meu só entra no campo e na roça,
Só fumo cigarro de paia de mio. Nas pobre paioça, da serra ao sertão.
(...)
Na tenho sabença, pois nunca estudei, Só canto o buliço da vida apertada,
Apenas eu sei o nome assina. Da lida apertada, da roça e dos eito
Meu pai, coitadinho! Vivia sem cobre, E às veis, rescordando a feliz mocidade,
E o fio do pobre não pode estuda. Canto uma sôdade que mora em meu peito.
Adequação linguística
• Adequação linguística: princípio segundo o qual não se fala mais em “certo” ou
“errado” na avaliação de uma determinada variedade linguística. Fala-se, pois, se a
variedade em questão é adequada ou não à situação comunicativa (contexto) em
que ela se manifesta.
• Isso significa que, em um contexto formal ou solene, seria adequado o uso da
linguagem formal (padrão, culta) e inadequado o uso de uma variedade informal
(coloquial). Da mesma forma, em situações informais, deve-se usar uma variante
informal (coloquial) em detrimento da linguagem formal (padrão, culta).
Exemplo:
⇒ Adequado:
• “E aí, cara, bão? Anima cine amanhã?” (contexto: um adolescente conversando
com um amigo)
• “Bom dia, diretor Pedro! Eu gostaria de falar com o senhor sobre algumas
questões de interesse da instituição.” (contexto: um estudante universitário
dirigindo-se ao diretor de seu curso)
⇒ Inadequado:
• “Olá, dileto confrade! Quereria eu convidá-lo para uma atividade casual, como ir
ao cinema.” (contexto: um adolescente conversando com um amigo)
• “E aí, cara! Bão? Queria trocar uma ideia contigo sobre a facul.” (contexto: um
estudante universitário dirigindo-se ao diretor de seu curso)
• Como diz Maurizzio Gnerre em seu livro Linguagem, escrita e poder, a
Constituição afirma que todos os indivíduos são iguais perante a lei,
mas essa mesma lei é redigida numa linguagem que só uma parcela
reduzida de brasileiros consegue entender. A discriminação social
começa, portanto, já no texto da Constituição . É claro que Gnerre
não está querendo dizer que a Constituição deveria ser escrita em
alguma variedade estigmatizada, mas sim que todos os brasileiros
que estão sujeitos a ela deveriam ter acesso mais amplo e
democratizado a essa espécie de língua oficial que, restringindo seu
caráter veicular a uma parte da população, exclui necessariamente
outra, sem dúvida a maior.
• Muitasvezes, os falantes das variedades estigmatizadas deixam
de usufruir de diversos serviços a que têm direito simplesmente
por não compreenderem a linguagem empregada pelos órgãos
públicos.

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