Neste capítulo, estudaremos alguns defeitos de execução ou projeto nas
obras de alvenaria estrutural. Primeiro veremos a definição de patologia:
• patologia : falha, disfunção, defeito que prejudica a estética ou o
desempenho da edificação ou de qualquer uma de suas partes; • patologia das construções : “ciência” que procura, de forma metodizada, estudar os defeitos dos materiais, dos componentes, dos elementos ou da edificação como um todo, diagnosticando suas causas e estabelecendo seus mecanismos de evolução, formas de manifestação, medidas de prevenção e de recuperação. • Diagnóstico : determinação das causas, dos mecanismos de formação e da gravidade potencial de um problema patológico, com base na observação dos sintomas (formas de manifestação) e na eventual realização de estudos específicos; • Prognóstico : avaliações ou conjecturas, baseadas no diagnóstico, acerca da duração, evolução ou término do problema; • Terapia : conjunto de medidas (reforma, recuperação, reforço) destinada a sanar um problema patológico; • Agente : causa imediata que deu origem ao problema patológico (recalque de fundações, movimentações térmicas, sobrecarga, etc.)
11.1 FISSURAÇÃO EM ALVENARIA
As alvenarias, em função sobretudo da natureza dos seus componentes,
apresentam bom comportamento às solicitações de compressão, não ocorrendo o mesmo em relação às solicitações de tração, flexão e cisalhamento, sendo estas as causas da maioria dos casos de fissuras em alvenarias estruturais ou de vedação. Outro fator importante é a heterogeneidade dos diferentes materiais utilizados na composição da parede (blocos, tijolos, argamassa com diferentes propriedades físicas e mecânicas).
Além destas propriedades, existem outros fatores que influenciam o comportamento mecânico das paredes :
• geometria, rugosidade superficial e porosidade do componente de
alvenaria; • índice de retração, poder de aderência e poder de retenção de água da argamassa de assentamento; • esbeltez, eventual presença de armadura (alvenarias armadas e parcialmente armadas), número e disposição das paredes contraventantes; • armarrações, cintamentos, disposição e tamanho dos vãos de portas e janelas; • enfraquecimento provocados pelo embutimento de tubulações, rigidez dos elementos de fundação, geometria do edifício, etc.
A seguir ilustraremos alguns exemplos mencionados :
Sob ação de cargas uniformemente distribuídas, em função principalmente da deformação transversal da argamassa de assentamento e da eventual fissuração de blocos ou tijolos por flexão local, as paredes em trechos contínuos, apresentarão fissuras tipicamente verticais.
Em trechos com a presença de aberturas,
haverá considerável concentração de tensões no contorno dos vãos. No caso da inexistência ou subdimensionamento de vergas e contravergas, as fissuras se desenvolverão a partir dos vértices das aberturas.
As fissuras horizontais nas alvenarias,
causadas por sobrecargas verticais atuando axialmente no plano da parede, não são frequentes; poderão ocorrer, entretanto, pelo esmagamento da argamassa das juntas de assentamento. Tais fissuras, contudo, não são muito raras em paredes submetidas à flexo- compressão.
Devido à cargas verticais concentradas, sempre que não houver uma correta distribuição dos esforços através de coxins ou outros elementos, poderão ocorrer esmagamentos localizados e formação de fissuras a partir do ponto de transmissão da carga.
Recalques diferenciados, provenientes por
exemplo, de falhas de projeto, rebaixamento do lençol, falta de homogeneidade do solo ao longo da construção, compactação diferenciadas de aterros e influência de fundações vizinhas, provocarão fissuras inclinadas em direção ao ponto onde ocorreu o maior recalque.
No caso de carregamentos desbalanceados, sapatas corridas ou vigas de fundação muito flexíveis, poderão provocar o surgimento de fissuras nas alvenarias estruturais. Como exemplo podemos citar a sobrecarga que se concentra nas vizinhanças de grandes aberturas inseridas nas paredes estruturais que no trecho sob a abertura acaba sendo solicitado à flexão, surgindo fissuras verticais nas proximidades do peitoril da janela.
Sendo constituida de materiais porosos, o comportamento das alvenarias será influenciado pelas movimentações higroscópicas desses materiais. A expansão das alvenarias por higroscopicidade ocorrerá com maior intensidade nas regiões da obra mais sujeitas à ação da umidade como por exemplo, cantos desabrigados, platibandas , base das paredes, etc.
Em alvenarias pouco carregadas, a expansão
diferenciada entre fiadas de blocos ou tijolos, pode provocar, por exemplo, a ocorrência de fissuras horizontais na base das paredes.
Na retração por secagem de grandes lajes de concreto armado sujeitas a forte insolação, poderá ocorrer fissuração devido ao encurtamento da laje que provocará uma rotação nas fiadas de blocos próximos à laje.
Devido à movimentações térmicas, surgirão
fissuras idênticas aquelas relatados para a movimentação higroscópica e retração por secagem. Estas serão mais intensas nas lajes de cobertura que poderão ser evitadas com um cintamento muito rígido ou sistema de apoio deslizante.
FISSURAS EM ALVENARIA DE VEDAÇÃO :
As alvenarias de vedação são destinadas para
preencher os vãos das estruturas reticuladas e das estruturas pilar/laje, resistindo somente ao seu peso próprio e pequenas cargas de ocupação (prateleiras, lavatórios, etc.). Ocorre que, com frequencia, a deformação dos elementos estruturais horizontais (vigas e lajes) em conjunto com o encunhamento rígido da parede no encontro com a viga ou laje, acaba sobrecarregando a parede de vedação, originando a partir daí fissuras mostradas anteriormente como àquelas da Técnicas Construtivas Especiais – Alvenaria Estrutural – Prof.º Fábio Usuda alvenaria estrutural. 63 Caso A – deformações idênticas dos elementos estruturais superior e inferior. A parede é solicitada predominantemente ao cisalhamento, desenvolvendo-se fissuras inclinadas nas proximidades dos cantos inferiores.
Caso B – flecha do suporte maior que a
flecha do componente superior. Ocorrem fissuras inclinadas nas proximidades dos cantos superiores da parede e fissura horizontal nas proximidades de sua base; quando o comprimento da parede for superior à sua altura, aparece o efeito de arco, desviando-se a fissura horizontal na direção dos cantos inferiores da parede.
Caso C – flecha do suporte menor que a
flecha do componente superior. A parede trabalha como viga alta, ocorrendo fissuras características de flexão, ou seja, fissura vertical no terço médio da parede (em sua base) e fissuras inclinadas nos cantos superiores.
Em paredes de vedação com presença de aberturas, em função da sua localização, também poderão ocorrer fissuras.
As flechas de vigas ou lajes em balanço,
podem da mesma maneira provocar fissuras inclinadas na alvenaria de vedação ocorrendo o destacamento entre alvenaria e estrutura.
Fissuras semelhantes às provocadas por
estruturas em balanço, também surgem em recalques diferenciais de fundação; neste caso, as paredes que estão próximas ao pilar que sofreu maior recalque, apresentarão fissuras na direção deste pilar.
Quanto à movimentação higrotérmica, devemos ressaltar que as propriedades físicas (coeficiente de dilatação térmica linear, absorvência, porosidade, etc.) do material que compõe a estrutura é diferente dos materiais que compõe a alvenaria o que realça as movimentações entre elas. Um dos problemas típicos, é o destacamento dos panos de vedação em relação aos vãos da estrutura. Estes ocorrem com maior intensidade quando : - estruturas de concreto aparente (maior absorção de calor do concreto, maior dilatação da estrutura) - inexistência de detalhes construtivos adequados na ligação estrutura/alvenaria (ferros de espera, telas metálicas, selantes, etc.)
Em edifícios altos, com estrutura aparente de
concreto armado, a dilatação térmica da estrutura pode ser muito significativa na altura do prédio, havendo a possibilidade de ocorrerem fissuras de cisalhamento nas paredes dos últimos andares.
O destacamento entre estrutura e alvenaria podem ser também ocasionados pela retração de secagem de blocos mal curados, adicionando-se a ela o abatimento plástico da argamassa de assentamento
Além dos destacamentos mencionados, a
retração nas alvenarias de vedação poderá ainda dar origem a fissuras verticais, regularmente espaçadas no corpo das paredes mais longas; tais fissuras poderão se manifestar ainda nos encontros entre paredes, nas seções onde eventualmente ocorram mudanças de espessura da parede ou nas seções enfraquecidas pela presença de aberturas ou tubulações embutidas.
1) ABCI – Associação Brasileira da Construção Industrializada - Manual
técnico de Alvenaria – São Paulo, 1990. 2) B. P. Sinha, R. Pedreschi, ...et al ..- Curso Internacional de Alvenaria Estrutural – São Paulo: ABCP, 1998. 3) RAMALHO, Marcio. – Projeto de Edifícios de Alvenaria Estrutural. – São Paulo: PINI, 2003. 4) TAUIL, Carlos A., PUGA, Cláudio C. - Curso Sobre Alvenaria Estrutural com Blocos Vazados de Concreto – Notas de Aula - São Paulo: ABCP, 1993.
12.2. Bibliografia Complementar
5) ALY, V. L. C. e SABBATINI, F. H. Determinação de Correlações de
Resistência Mecânica de Paredes de Alvenaria Estrutural de Blocos de Concreto – in 5th International Seminar on Structural Masonry for Developing Countries – Florianópolis, 1994. p.115-126 6) BASTOS, P. S. S. e PINHEIRO, L. M. - Pilares de Alvenaria Estrutural Submetidos a Compressão Axial – in 5th International Seminar on Structural Masonry for Developing Countries – Florianópolis, 1994. p. 127- 136 7) CERÂMICA SELECTA - Ensaios de Compressão Simples em Paredes de Alvenaria de Blocos Cerâmicos – USP, Dpto. de Eng. de Estruturas - São Carlos, 1997. 8) CORRÊA, M.R.S e RAMALHO, M.A. - Procedimento para Análise de Edifício de Alvenaria Estrutural Submetidos a Ações Verticais – in 5th International Seminar on Structural Masonry for Developing Countries – Florianópolis, 1994. p. 305-314
9) DUARTE, Ronaldo. B. - Considerações sobre o Projeto Estrutural de Paredes de Alvenaria – in 5th International Seminar on Structural Masonry for Developing Countries – Florianópolis, 1994. p. 289-293 10) FARIA, Márcio S. - Alvenaria Estrutural – Implantação de Processo Construtivo – in 5th International Seminar on Structural Masonry for Developing Countries – Florianópolis, 1994. 11) OLIVEIRA, JR., V. e PINHEIRO, L.M. - Método Prático para Distribuição das Ações Verticais em Paredes de Alvenaria – in 5th International Seminar on Structural Masonry for Developing Countries – Florianópolis, 1994. p. 315-322 12) PRENSIL S/A - Manual Técnico – São Paulo, 1997.