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5.

PATOLOGIA

Neste capítulo, estudaremos alguns defeitos de execução ou projeto nas


obras de alvenaria estrutural. Primeiro veremos a definição de patologia:

• patologia : falha, disfunção, defeito que prejudica a estética ou o


desempenho da edificação ou de qualquer uma de suas partes;
• patologia das construções : “ciência” que procura, de forma metodizada,
estudar os defeitos dos materiais, dos componentes, dos elementos ou da
edificação como um todo, diagnosticando suas causas e estabelecendo
seus mecanismos de evolução, formas de manifestação, medidas de
prevenção e de recuperação.
• Diagnóstico : determinação das causas, dos mecanismos de formação e da
gravidade potencial de um problema patológico, com base na observação
dos sintomas (formas de manifestação) e na eventual realização de estudos
específicos;
• Prognóstico : avaliações ou conjecturas, baseadas no diagnóstico, acerca
da duração, evolução ou término do problema;
• Terapia : conjunto de medidas (reforma, recuperação, reforço) destinada a
sanar um problema patológico;
• Agente : causa imediata que deu origem ao problema patológico (recalque
de fundações, movimentações térmicas, sobrecarga, etc.)

11.1 FISSURAÇÃO EM ALVENARIA

As alvenarias, em função sobretudo da natureza dos seus componentes,


apresentam bom comportamento às solicitações de compressão, não
ocorrendo o mesmo em relação às solicitações de tração, flexão e
cisalhamento, sendo estas as causas da maioria dos casos de fissuras em
alvenarias estruturais ou de vedação. Outro fator importante é a
heterogeneidade dos diferentes materiais utilizados na composição da parede
(blocos, tijolos, argamassa com diferentes propriedades físicas e mecânicas).

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Além destas propriedades, existem outros fatores que influenciam o
comportamento mecânico das paredes :

• geometria, rugosidade superficial e porosidade do componente de


alvenaria;
• índice de retração, poder de aderência e poder de retenção de água da
argamassa de assentamento;
• esbeltez, eventual presença de armadura (alvenarias armadas e
parcialmente armadas), número e disposição das paredes contraventantes;
• armarrações, cintamentos, disposição e tamanho dos vãos de portas e
janelas;
• enfraquecimento provocados pelo embutimento de tubulações, rigidez dos
elementos de fundação, geometria do edifício, etc.

A seguir ilustraremos alguns exemplos mencionados :

FISSURAS EM ALVENARIA ESTRUTURAL :

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Sob ação de cargas uniformemente
distribuídas, em função principalmente da
deformação transversal da argamassa de
assentamento e da eventual fissuração de
blocos ou tijolos por flexão local, as paredes
em trechos contínuos, apresentarão fissuras
tipicamente verticais.

Em trechos com a presença de aberturas,


haverá considerável concentração de tensões
no contorno dos vãos. No caso da
inexistência ou subdimensionamento de
vergas e contravergas, as fissuras se
desenvolverão a partir dos vértices das
aberturas.

As fissuras horizontais nas alvenarias,


causadas por sobrecargas verticais atuando
axialmente no plano da parede, não são
frequentes; poderão ocorrer, entretanto, pelo
esmagamento da argamassa das juntas de
assentamento. Tais fissuras, contudo, não são
muito raras em paredes submetidas à flexo-
compressão.

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Devido à cargas verticais concentradas,
sempre que não houver uma correta
distribuição dos esforços através de coxins
ou outros elementos, poderão ocorrer
esmagamentos localizados e formação de
fissuras a partir do ponto de transmissão da
carga.

Recalques diferenciados, provenientes por


exemplo, de falhas de projeto, rebaixamento
do lençol, falta de homogeneidade do solo ao
longo da construção, compactação
diferenciadas de aterros e influência de
fundações vizinhas, provocarão fissuras
inclinadas em direção ao ponto onde ocorreu
o maior recalque.

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No caso de carregamentos desbalanceados,
sapatas corridas ou vigas de fundação muito
flexíveis, poderão provocar o surgimento de
fissuras nas alvenarias estruturais. Como
exemplo podemos citar a sobrecarga que se
concentra nas vizinhanças de grandes
aberturas inseridas nas paredes estruturais
que no trecho sob a abertura acaba sendo
solicitado à flexão, surgindo fissuras
verticais nas proximidades do peitoril da
janela.

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Sendo constituida de materiais porosos, o
comportamento das alvenarias será
influenciado pelas movimentações
higroscópicas desses materiais. A expansão
das alvenarias por higroscopicidade ocorrerá
com maior intensidade nas regiões da obra
mais sujeitas à ação da umidade como por
exemplo, cantos desabrigados, platibandas ,
base das paredes, etc.

Em alvenarias pouco carregadas, a expansão


diferenciada entre fiadas de blocos ou tijolos,
pode provocar, por exemplo, a ocorrência de
fissuras horizontais na base das paredes.

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Na retração por secagem de grandes lajes de
concreto armado sujeitas a forte insolação,
poderá ocorrer fissuração devido ao
encurtamento da laje que provocará uma
rotação nas fiadas de blocos próximos à laje.

Devido à movimentações térmicas, surgirão


fissuras idênticas aquelas relatados para a
movimentação higroscópica e retração por
secagem. Estas serão mais intensas nas lajes
de cobertura que poderão ser evitadas com
um cintamento muito rígido ou sistema de
apoio deslizante.

FISSURAS EM ALVENARIA DE VEDAÇÃO :

As alvenarias de vedação são destinadas para


preencher os vãos das estruturas reticuladas e
das estruturas pilar/laje, resistindo somente
ao seu peso próprio e pequenas cargas de
ocupação (prateleiras, lavatórios, etc.).
Ocorre que, com frequencia, a deformação
dos elementos estruturais horizontais (vigas e
lajes) em conjunto com o encunhamento
rígido da parede no encontro com a viga ou
laje, acaba sobrecarregando a parede de
vedação, originando a partir daí fissuras
mostradas anteriormente como àquelas da
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Caso A – deformações idênticas dos
elementos estruturais superior e inferior. A
parede é solicitada predominantemente ao
cisalhamento, desenvolvendo-se fissuras
inclinadas nas proximidades dos cantos
inferiores.

Caso B – flecha do suporte maior que a


flecha do componente superior. Ocorrem
fissuras inclinadas nas proximidades dos
cantos superiores da parede e fissura
horizontal nas proximidades de sua base;
quando o comprimento da parede for
superior à sua altura, aparece o efeito de
arco, desviando-se a fissura horizontal na
direção dos cantos inferiores da parede.

Caso C – flecha do suporte menor que a


flecha do componente superior. A parede
trabalha como viga alta, ocorrendo fissuras
características de flexão, ou seja, fissura
vertical no terço médio da parede (em sua
base) e fissuras inclinadas nos cantos
superiores.

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Em paredes de vedação com presença de
aberturas, em função da sua localização,
também poderão ocorrer fissuras.

As flechas de vigas ou lajes em balanço,


podem da mesma maneira provocar fissuras
inclinadas na alvenaria de vedação ocorrendo
o destacamento entre alvenaria e estrutura.

Fissuras semelhantes às provocadas por


estruturas em balanço, também surgem em
recalques diferenciais de fundação; neste
caso, as paredes que estão próximas ao pilar
que sofreu maior recalque, apresentarão
fissuras na direção deste pilar.

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Quanto à movimentação higrotérmica,
devemos ressaltar que as propriedades físicas
(coeficiente de dilatação térmica linear,
absorvência, porosidade, etc.) do material
que compõe a estrutura é diferente dos
materiais que compõe a alvenaria o que
realça as movimentações entre elas. Um dos
problemas típicos, é o destacamento dos
panos de vedação em relação aos vãos da
estrutura. Estes ocorrem com maior
intensidade quando :
- estruturas de concreto aparente (maior
absorção de calor do concreto, maior
dilatação da estrutura)
- inexistência de detalhes construtivos
adequados na ligação estrutura/alvenaria
(ferros de espera, telas metálicas,
selantes, etc.)

Em edifícios altos, com estrutura aparente de


concreto armado, a dilatação térmica da
estrutura pode ser muito significativa na
altura do prédio, havendo a possibilidade de
ocorrerem fissuras de cisalhamento nas
paredes dos últimos andares.

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O destacamento entre estrutura e alvenaria
podem ser também ocasionados pela retração
de secagem de blocos mal curados,
adicionando-se a ela o abatimento plástico da
argamassa de assentamento

Além dos destacamentos mencionados, a


retração nas alvenarias de vedação poderá
ainda dar origem a fissuras verticais,
regularmente espaçadas no corpo das paredes
mais longas; tais fissuras poderão se
manifestar ainda nos encontros entre paredes,
nas seções onde eventualmente ocorram
mudanças de espessura da parede ou nas
seções enfraquecidas pela presença de
aberturas ou tubulações embutidas.

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6. BIBLIOGRAFIA

12.1. Bibliografia Básica

1) ABCI – Associação Brasileira da Construção Industrializada - Manual


técnico de Alvenaria – São Paulo, 1990.
2) B. P. Sinha, R. Pedreschi, ...et al ..- Curso Internacional de Alvenaria
Estrutural – São Paulo: ABCP, 1998.
3) RAMALHO, Marcio. – Projeto de Edifícios de Alvenaria Estrutural. – São
Paulo: PINI, 2003.
4) TAUIL, Carlos A., PUGA, Cláudio C. - Curso Sobre Alvenaria Estrutural
com Blocos Vazados de Concreto – Notas de Aula - São Paulo: ABCP,
1993.

12.2. Bibliografia Complementar

5) ALY, V. L. C. e SABBATINI, F. H. Determinação de Correlações de


Resistência Mecânica de Paredes de Alvenaria Estrutural de Blocos de
Concreto – in 5th International Seminar on Structural Masonry for
Developing Countries – Florianópolis, 1994. p.115-126
6) BASTOS, P. S. S. e PINHEIRO, L. M. - Pilares de Alvenaria Estrutural
Submetidos a Compressão Axial – in 5th International Seminar on
Structural Masonry for Developing Countries – Florianópolis, 1994. p. 127-
136
7) CERÂMICA SELECTA - Ensaios de Compressão Simples em Paredes
de Alvenaria de Blocos Cerâmicos – USP, Dpto. de Eng. de Estruturas -
São Carlos, 1997.
8) CORRÊA, M.R.S e RAMALHO, M.A. - Procedimento para Análise de
Edifício de Alvenaria Estrutural Submetidos a Ações Verticais – in 5th
International Seminar on Structural Masonry for Developing Countries –
Florianópolis, 1994. p. 305-314

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9) DUARTE, Ronaldo. B. - Considerações sobre o Projeto Estrutural de
Paredes de Alvenaria – in 5th International Seminar on Structural Masonry
for Developing Countries – Florianópolis, 1994. p. 289-293
10) FARIA, Márcio S. - Alvenaria Estrutural – Implantação de Processo
Construtivo – in 5th International Seminar on Structural Masonry for
Developing Countries – Florianópolis, 1994.
11) OLIVEIRA, JR., V. e PINHEIRO, L.M. - Método Prático para Distribuição
das Ações Verticais em Paredes de Alvenaria – in 5th International
Seminar on Structural Masonry for Developing Countries – Florianópolis,
1994. p. 315-322
12) PRENSIL S/A - Manual Técnico – São Paulo, 1997.

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