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Dissertação de Mestrado

ESTUDO DE FILTRO APLICADO AO


CONTROLE DE EROSÃO INTERNA EM
BARRAGENS

AUTOR: DAYANA SANTOS SILVA

ORIENTADOR: Prof. Dr. Saulo Gutemberg Silva Ribeiro

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOTECNIA DA UFOP

OURO PRETO - SETEMBRO DE 2016


S586e Silva, Dayana Santos.
Estudo de filtro aplicado ao controle de erosão interna em barragens
[manuscrito] / Dayana Santos Silva. - 2016.
161f.: il.: color; tabs; mapas.

Orientador: Prof. Dr. Saulo Gutemberg Silva Ribeiro.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Ouro Preto. Universidade


Federal de Ouro Preto. Departamento de Engenharia Civil. Núcleo de
Geotecnia.
Área de Concentração: Geotecnia.

1. Barragens e açudes. 2. Erosão. 3. Tubulações. 4. Hidraulica. I. Ribeiro, Saulo


Gutemberg Silva . II. Universidade Federal de Ouro Preto. III. Titulo.

CDU: 624.13

Catalogação: www.sisbin.ufop.br
DEDICATÓRIA

À minha família, em especial aos meus pais, Silvio e Ivani, que são responsáveis
pela minha formação.

iv
AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar a Deus, que permitiu que mais essa etapa importante da
minha vida fosse concluída.

Ao Prof. Saulo Gutemberg, pelo tempo disponibilizado, pela confiança, conhecimentos


transmitidos e exemplo de profissional dedicado, refletindo no meu interesse pela
geotecnia e contribuindo para a minha formação profissional.

Aos meus pais, Silvio e Ivani, e irmãs, Tamires e Luciene, que acreditaram no meu
potencial e me apoiaram durante toda minha caminhada.

A toda minha família, em especial, a Tia Ana pela assistência durante a etapa de
consolidação inicial do meu sonho.

Aos professores do curso, pelos conhecimentos compartilhados e aos colegas pela


convivência.

À Escola de Minas e ao Núcleo de Geotecnia (Nugeo), pelo ensino público e de


qualidade, com destaque para a formação geotécnica dos alunos.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pelo


auxílio à pesquisa por meio da bolsa de estudos de Mestrado.

À engenheira Teresa Fusaro, pelo carinho e atenção em disponibilizar publicações


importantes, que foram essenciais para o desenvolvimento deste trabalho, e pelos
conhecimentos transmitidos.

Agradeço à Chammas Engenharia e ao Riad Chammas, por ter cedido o laboratório de


solos para a realização dos ensaios e pela oportunidade de aprendizado.

v
RESUMO

Vários fatores podem colocar uma barragem em risco. A perda progressiva da


estabilidade provocada por algum tipo de anomalia pode levar esta estrutura ao colapso.
No projeto, construção e operação de uma barragem, o requisito fundamental deve ser a
segurança, considerando que os acidentes envolvendo esse tipo de estrutura podem ter
consequências catastróficas e imensuráveis. O processo de erosão interna é uma das
principais causas de ruptura em barragens em todo o mundo. Um dos dispositivos mais
eficientes para evitar e/ou conter esse tipo de processo é o sistema interno de drenagem.
Para se avaliar a susceptibilidade ou vulnerabilidade do solo sofrer erosão é necessário
estudar os processos de erodibilidade e instabilidade interna do solo, que se dão por
meio de critérios definidos na literatura e mais ainda, por ensaios laboratoriais. Os
critérios estão relacionados, principalmente, às curvas de distribuição granulométrica
dos materiais e a combinação do gradiente hidráulico e tensão efetiva. Dentro desse
contexto e com o objetivo de elucidar a aplicação dos critérios de dimensionamento de
filtro, realizou-se ensaio de laboratório em amostra de filtro e solo base. Por meio do
ensaio, foi possível avaliar a eficiência do filtro, como proteção do solo base, quando
submetido a altos valores de gradientes hidráulicos impostos por fluxo descendente de
água. A partir do resultado do ensaio é possível ter uma segurança maior quanto ao
dimensionamento do filtro. Outro recurso disponível, para avaliar os gradientes
hidráulicos, e consequentemente, a erosão interna é a utilização de programas
computacionais aplicados em estudos numéricos de controle de fluxo. Há a necessidade
de recorrer a modelos numéricos, para interpretar e quantificar as grandezas associadas
ao fenômeno da percolação de um fluido em meio poroso, devido à dificuldade que
existe em enquadrar a utilização de soluções analíticas exatas em problemas complexos
como estes. Neste trabalhou, foi utilizado o programa Seep/W para quantificar os
gradientes hidráulicos em diferentes seções típicas de barragem, além do estudo de três
casos reais.

Palavras chave: Barragem, erosão interna, piping, filtro, gradiente hidráulico.

vi
ABSTRACT

Several factors may put a risk in dam. The progressive loss of stability caused by some
kind of anomaly can lead to the collapse this structure. In the design, construction and
operation of a dam, the fundamental requirement should be safety, considering that
accidents involving this type of structure can have catastrophic and immeasurable
consequences. The internal erosion process is a main cause rupture of dams around the
world. One of the most efficient devices to prevent and / or contain such a process is the
internal drainage system. To assess the susceptibility or vulnerability soil eroded is
necessary to study the erodibility and internal processes soil instability, which occur
through criteria defined in the literature and more for laboratory testing. The criteria are
related primarily to particle size distribution curves of the materials and the combination
of the hydraulic gradient and effective stress. Within this context and in order to
elucidate the application of the filter design criteria, laboratory test was conducted in
soil sample and filter base. Through the test, it was possible to evaluate the filter
efficiency as the underlying soil protection, when subjected to high hydraulic gradients
values imposed by downflow of water. From the test result can have greater certainty as
to the design of the filter. Another resource available to evaluate the hydraulic gradients,
and consequently, the internal erosion is using computer programs applied on numerical
studies of flow control. There is the need to use numerical models to interpret and
quantify the quantities associated with the percolation phenomenon of a fluid in porous
media because of the difficulty that exists in framing the use of exact analytical
solutions for complex problems such as these. In this work, the Seep / W program was
used to quantify the hydraulic gradients in different sections typical dam, besides the
study of three real cases.

Key words: Dam, internal erosion, piping, filter, hydraulic gradient.

vii
Lista de Figuras

Figura 2.1 − Barragens de terra homogênea – Seções típicas (USBR, 2002).


Figura 2.2 − Tipos de rupturas em barragens de aterro, estatística feita até 1986, inclui
apenas grandes barragens (Foster et al., 2000 apud Sousa, 2013).
Figura 2.3 − Princípios básicos de segurança de barragens (adaptado Biedermann, 1997
apud Fusaro, 2007).
Figura 2.4 − Barragem de terra sem sistema interno de drenagem (Lambe e Whitman,
1969).
Figura 2.5 − Barragem de terra com sistema interno de drenagem tipo dreno horizontal
(Lambe e Whitman, 1969).
Figura 2.6 − Barragem de terra com sistema interno de drenagem tipo dreno vertical
inclinado (Lambe e Whitman, 1969).
Figura 2.7 − Barragem zoneada de terra e enrocamento (Lambe e Whitman, 1969).
Figura 3.1 − Modelos conceituais de processo de colapso por erosão interna (Adaptado
de Foster e Fell, 1999b apud ICOLD, 2013; Foster, 1999 apud Fell et al., 2005).
Figura 3.2 − Árvore de eventos do processo de erosão interna (Fell et al., 2015).
Figura 3.3 – Alguns tipos de maciço praticados na engenharia de barragens (Foster et
al., 1998 apud Filho, 2013).
Figura 3.4 – Mecanismos finais de falha devidos a eventos de erosão interna (Fell e Fry,
2007 apud Filho, 2013).
Figura 3.5 – Tipos de graduações dos solos.
Figura 3.6 – Granulometria de solos que são susceptíveis à instabilidade interna
(Adaptado de Fell et al., 2015).
Figura 3.7 – Representação gráfica do método para determinação da curva de forma
(Filho, 2013 adaptado de Kenney e Lau, 1985).
Figura 3.8 – Representação gráfica do critério para a avaliação da estabilidade interna
(adaptado de Kenney e Lau, 1985 e 1986 apud Filho, 2013).
Figura 3.9 – Evolução dos limites entre graduações estáveis e instáveis de Kenney e Lau
(adaptado Rönnqvist; Viklander, 2014 apud Kenney e Lau, 1984 e 1986).
Figura 3.10 − Ensaio com fluxo horizontal (adaptado Adel et al., 1988 apud Li, 2008).

viii
Figura 3.11 − Critério hidráulico para fluxo horizontal (adaptado Adel et al., 1988 apud
Li, 2008).
Figura 3.12 − (a) Fotografia do aparelho de teste NEF; (b) Representação esquemática
das camadas de solos durante o ensaio (Adaptado de Soroush et al., 2011).
Figura 3.13 − Ilustração esquemática do detalhe do bocal no teste NEF (Adaptado de
Soroush e Shourijeh, 2009 apud Soroush et al., 2011).
Figura 3.14 − Detalhe mostrando vazamento concentrado através do núcleo da
barragem com descarga para o filtro à jusante (Sherard et al., 1984b apud Fell et al.,
2015).
Figura 3.15 − Equipamento hidráulico, filtro-caixa, com condições de fluxo paralelo
(Adaptado de Bakker et al., 1990 apud ICOLD, 1994).
Figura 3.16 − Limites de erosão do filtro (Adaptado de Foster, 1999; Foster e Fell,
1999a e c, 2001 Foster apud Fell et al., 2015).
Figura 3.17 − Graduações de filtros que apresentaram desempenho pobre (Adaptado de
Fell et al., 2015)
Figura 4.1 − Condições de fluxo nas interfaces de filtragem (adaptado de Fell et al.
2015).
Figura 4.2 − Filtragem e conceito de auto filtragem (adaptado de Fell et al., 2015).
Figura 4.3 − Ilustração do esquema analisado por Taylor, 1948 (Neves et al., 1985 apud
Souza, 2013).
Figura 4.4 – Ilustração esquemática do teste criado para o castelo de areia (Soroush et
al., 2012 apud Fell et al., 2015).
Figura 4.5 − Ensaio do castelo de areia, em campo (Soroush et al., 2011).
Figura 4.6 − Esquema dos passos a serem seguidos para projeto de filtro com base no
critério do USSCS, 1994 (Acosta et al., 2014).
Figura 4.7 − Esquema dos passos a serem seguidos para projeto de filtro com base no
critério do USACE, 2004 (adaptado de Acosta et al., 2014).
Figura 4.8 − Esquema dos passos a serem seguidos para projeto de filtro com base no
critério do USBR, 2011 (adaptado de Acosta et al., 2014).
Figura 5.1 − Critérios de dimensionamento de filtro.
Figura 5.2 − Curva de distribuição granulométrica da amostra do solo base.
Figura 5.3 − Curva de distribuição granulométrica da amostra do filtro.
Figura 5.4 − Série de peneiras utilizadas no ensaio.
Figura 5.5 − Pesagem do material seco, conforme quantidades definidas pela curva

ix
granulométrica proposta para o filtro.
Figura 5.6 − Aparato experimental utilizado para realização do ensaio.
Figura 5.7 − Sequência construtiva da camada de solo base.
Figura 5.8 − Sequência construtiva da camada do filtro.
Figura 5.9 − Corpo de prova finalizado.
Figura 5.10 − Corpo de prova em processo de saturação.
Figura 5.11 − Curva de forma do material do filtro.
Figura 5.12 − Visualização da amostra durante o ensaio.
Figura 5.13 − Evolução da vazão e coeficiente de permeabilidade vertical com o
gradiente hidráulico ensaiado.
Figura 5.14 − Retirada do material do filtro em quatro subcamadas.
Figura 5.15 − Quantificação dos finos na camada do filtro após o ensaio de percolação.
Figura 5.16 − Quantificação da contaminação da camada do filtro após o ensaio de
percolação.
Figura 6.1 − Curva característica (Geo-Slope, 2012).
Figura 6.2 – Diminuição da área útil para o fluxo de água (Morales, 2008 apud
Reichardt e Timm, 2004).
Figura 6.3 − Valores de k versus o Potencial mátrico para três solos hipotéticos (Freeze,
1978 apud Campos, 1998).
Figura 6.4 − Esquema do ensaio da barragem de aterro na altura em que imobilizou o
nível da água (Ferreira, 2008).
Figura 6.5 − Fotografia da barragem de aterro em enchimento com fenda na crista
(Ferreira, 2008).
Figura 6.6 − Ruptura provocada pela erosão interna na barragem (Ferreira, 2008).
Figura 6.7 − Evolução das trajetórias de corante no corpo da barragem (Ferreira, 2008).
Figura 6.8 − Linhas de fluxo e nível freático obtidos via simulação numérica (Ferreira,
2008).
Figura 6.9 − Modelos reduzidos estudados (Marques e Unas, 2010).
Figura 6.10 − Comparação dos resultados dos modelos propostas para os métodos
físico, numérico e gráfico (Marques e Unas, 2010).
Figura 6.11 − Seção 1: Barragem de terra com tapete drenante.
Figura 6.12 − Seção 2: Barragem de terra com filtro vertical e tapete drenante.
Figura 6.13 − Seção 3: Barragem de terra com filtro vertical inclinado e tapete drenante.
Figura 6.14 − Seção 4: Barragem de terra com dreno de pé.

x
Figura 6.15 − Seção 5: Barragem de enrocamento com núcleo argiloso (impermeável).
Figura 6.16 − Seção 6: Barragem zoneada de terra e enrocamento.
Figura 6.17 − Curva de retenção do aterro compactado.
Figura 6.18 − Função permeabilidade do aterro compactado.
Figura 6.19 − Ponto de singularidade formado por segmentos retos (Geo-Slope, 2016).
Figura 6.20 − Critério para quantificar o gradiente máximo – Seção 5.
Figura 6.21 − Exemplo de delimitação das interfaces onde foram obtidos os resultados.
Figura 6.22 − Delimitação região onde foram obtidos os resultados.
Figura 6.23 − Seção 1: Diagrama Gradiente X.
Figura 6.24 − Seção 2: Diagrama Gradiente X.
Figura 6.25 − Seção 3: Diagrama Gradiente X.
Figura 6.26 − Seção 4: Diagrama Gradiente X.
Figura 6.27 − Seção 5: Diagrama Gradiente X.
Figura 6.28 − Seção 6: Diagrama Gradiente X.
Figura 6.29 − Seção transversal típica da Barragem de Emborcação (Divino, 2010).
Figura 6.30 − Diagrama de distribuição de carga hidráulica (equipotenciais) na
Barragem Emborcação.
Figura 6.31 − Quantificação do gradiente hidráulico máximo para Barragem de
Emborcação.
Figura 6.32 − Diagrama Gradiente X, Barragem de Emborcação.
Figura 6.33 − Seção de maior altura da barragem de Irapé (CCI, 2003b apud Aires,
2006).
Figura 6.34 − Diagrama de distribuição de carga hidráulica (equipotenciais) na
Barragem Irapé.
Figura 6.35 − Quantificação do gradiente hidráulico máximo para Barragem de Irapé.
Figura 6.36 − Diagrama Gradiente X, Barragem de Emborcação.
Figura 6.37 − Seção transversal típica da Barragem Bico da Pedra (Montes, 2003).
Figura 6.38 – Seção do modelo numérico calibrado Barragem Bico da Pedra (Montes,
2003).
Figura 6.39 – Diagrama de distribuição de carga hidráulica (equipotenciais) na
Barragem Bico da Pedra.
Figura 6.40 – Diagrama Gradiente X, Barragem de Bico da Pedra.

xi
Lista de Tabelas

Tabela 2.1 − Modos de ruptura de barragens e seus respectivos percentuais de


ocorrência (UNSW apud USBR, 2007).
Tabela 2.2 − Probabilidade anuais de ruptura por erosão interna (ANCOLD apud
Silveira e Machado, 2005).
Tabela 2.3 − Registro de alguns casos de ruptura de barragem por piping (adaptado
Silva, 2012 e Kaplan, 2010).
Tabela 2.4 − Piping em barragens – causas principais (Cruz, 2004 apud Hsu, 1981).
Tabela 2.5 − Acidentes com barragens no mundo com mais de 300 fatalidades (Silva,
2012).
Tabela 2.6 – Principais causas de comportamento insatisfatório de barragens e sistemas
usuais de observação (Cruz, 2004).
Tabela 3.1 – Probabilidade de erosão interna e piping no aterro sobre efeitos de projeto
e construção (Foster e Fell, 2000 apud Fell et al, 2005).
Tabela 3.2 – Classificação de probabilidade de ocorrência de erosão interna em
barragens de acordo com o tipo de maciço (Foster et al., 2000 apud Filho, 2013).
Tabela 3.3 – Cenários e avaliação de continuação da erosão interna através do aterro de
uma barragem (Adaptado Fell et al., 2008 apud Fell et al., 2015).
Tabela 3.4 – Algumas pesquisas de instabilidade interna, com breve descrição das
amostras e condições de teste (Adaptado de Li, 2008).
Tabela 3.5 − Resumo de alguns critérios geométricos para a avaliação da
susceptibilidade do solo à instabilidade interna (Compilado de Barrera, 2010).
Tabela 3.6 − Resumo de alguns critérios hidráulicos para a avaliação da susceptibilidade
do solo à instabilidade interna (Compilado de Barrera, 2010).
Tabela 3.7 − Valores experimentais de gradientes críticos, para solos granulares
(Skempton and Brogan, 1994 apud Jantzer et al., 2010).
Tabela 3.8 − Resumo dos critérios interpretativos do ensaio Pinhole Test (Furo de
Agulha) ASTM D4647M-13 adaptado a NBR 14114-98 (Ramidan, 2003).
Tabela 3.9 − Critérios para os limites de erosão excessiva e contínua (Foster, 1999;
Foster e Fell, 1999a, 2001 apud Fell et al., 2015).

xii
Tabela 4.1 − Influência da porcentagem de finos passantes na peneira nº 100 na
permeabilidade do filtro de agregado lavado (Cedergren, 1967).
Tabela 4.2 − Probabilidade do filtro em conter fissuras, com base no teste de castelo de
areia (Soroush et al., 2012 apud Fell et al, 2015).
Tabela 4.3 − Resumo de alguns critérios de filtros estabelecidos desde os estudos de
Terzaghi.
Tabela 4.4 − Critérios de filtro de acordo com Sherard e Dunnigan (1985, 1989)
(adaptado de Fell et al., 2015).
Tabela 4.5 – Proposta para o critério de filtro baseado nas análises estatística dos
resultados dos ensaios NEF (Foster, 1999; Foster e Fell, 1999a, 2001).
Tabela 5.1 – Quantitativo definido para cada peneira.
Tabela 5.2 – Gradientes hidráulicos definidos em cada ciclo do ensaio.
Tabela 6.1 – Parâmetros de fluxo dos materiais dos modelos de estudo.
Tabela 6.2 – Resumo dos resultados do gradiente hidráulico na interface entre aterro/
fundação e filtro/tapete drenate.
Tabela 6.3 – Resumo dos resultados do gradiente hidráulico de saída, vazão e
velocidade de fluxo.
Tabela 6.4 – Parâmetros de fluxo dos materiais (Divino, 2010).
Tabela 6.5 – Parâmetros de fluxo dos materiais (Aires, 2006).
Tabela 6.6 – Parâmetros de fluxo dos materiais (Montes, 2003).
Tabela 6.7 – Quantificação do gradiente hidráulico, Barragem Bico da Pedra.

xiii
Lista de Símbolos, Nomenclatura e Abreviações

d Diâmetro da amostra
e Índice de vazios
g Grama
h Altura da amostra
h’ e h” fatores de uniformidade
i Gradiente hidráulico
ic Gradiente hidráulico crítico
ix Gradiente hidráulico horizontal
iy Gradiente hidráulico vertical
k Coeficiente de permeabilidade
kv Coeficiente de permeabilidade vertical
l Litro
m Metro
n Porosidade
pp%0,075mm Percentual de finos menores que as partículas de diâmetro igual a
0,075mm
v Vazão
wot Teor de umidade ótimo
A Área da seção transversal
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
ANCOLD Australian Committee on Large Dams
ASCE American Society of Civil Engeneers
ASTM American Society for Testing and Materials
CBDB Comitê Brasileiro de Barragens
CEF Continuing Erosion Filter
CR Compacidade Relativa
Cu Coeficiente de uniformida
D Diâmetro dos grãos do solo
D100FMÁX. Diâmetro máximo através do qual 100% do material do filtro passará

xiv
D10FMÍN. Diâmetro mínimo através do qual 10% do material do filtro passará
D15B Diâmetro através do qual 15% do material do solo base passará
D15F Diâmetro através do qual 15% do material do filtro passará
D15FMÍN. Diâmetro mínimo através do qual 15% do material do filtro passará
D15g Diâmetro com 15% passante na fração grosseira
D50FMÍN. Diâmetro mínimo através do qual 50% do material do filtro passará
D5FMÍN. Diâmetro mínimo através do qual 5% do material do filtro passará
D85B Diâmetro através do qual 85% do material do solo base passará
D85f Diâmetro com 85% passante na fração fina
D90FMÁX. Diâmetro máximo através do qual 90% do material do filtro passará
D95B Diâmetro através do qual 95% do material do solo base passará
F Porcentagem de massa de grãos com diâmetros inferiores a um
determinado diâmetro D
FEMA US Federal Emergency Management Agency
Gs Peso específico relative dos sólidos do solo
H Porcentagem de massa de grãos com diâmetros entre D e 4D
HCT Hidraulic Consolidation Test
HET Hole Erosion Tests
ICOLD International Commission on Large Dams
JET Jet Erosion Tests
L Comprimento
N1 Fluxo normal de interface, condições de altos gradients hidráulicos
N2 Fluxo normal de interface, condições de baixos gradients hidráulicos
NBR Norma Brasileira
NEF No Erosion Filter
P Fluxo paralelo à interface
PAE Plano de Ação Emergencial
PNSB Política Nacional de Segurança de Barragens
Vazão de saída
RCT Rotating Cylinder Tests
SET Slot Erosion Tests
UNSW Universidade de Nova Gales do Sul
USACE United States Army Corps of Engineers
USBR United States Bureau of Reclamation

xv
USDA-SCS United States Department of Agriculture, Soil Conservation Service
USSCS United States Soil Conservation Service
Perda de carga

Potencial de pressão
Potencial gravitacional
Potencial matricial
Potencial total
µ Viscosidade dinâmica
γ’ Peso específico submerso do solo
γw Peso específico da água
θ Teor de umidade volumétrico
θr Teor de umidade volumétrico residual
θs Teor de umidade volumétrico saturado
ρ Densidade específica
ρdmáx Densidade específica seca máxima
ρdmín Densidade específica seca mínima
σ’v Tensão efetiva vertical

xvi
SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 − INTRODUÇÃO
1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ................................................................................. 1

1.3 OBJETIVOS DA DISSERTAÇÃO .......................................................................... 2

1.4 METODOLOGIA ...................................................................................................... 3

1.5 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO ........................................................................ 4

CAPÍTULO 2 − CONCEITOS GERAIS SOBRE BARRAGENS DE TERRA E


SISTEMA INTERNO DE DRENAGEM
2.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ................................................................................. 6

2.2 CONVEITO GERAL BARRAGEM ......................................................................... 7

2.2.1 Barragem de Terra Homogênea ........................................................................ 7


2.2.1 Barragem de Terra - Enrocamento ................................................................... 9
2.3 ACIDENTES EM BARRAGENS ........................................................................... 10

2.4 SEGURANÇA DE BARRAGENS ......................................................................... 15

2.5 IMPORTÂNCIA DA AUSCULTAÇÃO DE BARRAGENS ................................ 18

2.6 SISTEMA INTERNO DE DRENAGEM ............................................................... 20

CAPÍTULO 3 − O FENÔMENO DA EROSÃO INTERNA


3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ............................................................................... 26

3.2 MECANISMOS DO PROCESSO DE EROSÃO INTERNA................................. 27

3.2.1 Iniciação.......................................................................................................... 31
3.2.1 Continuação .................................................................................................... 34
3.2.1 Progressão ....................................................................................................... 37
3.2.1 Mecanismo Final de Falha .............................................................................. 38
3.3 FATORES QUE INFLUENCIAM A EROSÃO INTERNA .................................. 38

3.4 INSTABILIDADE INTERNA DOS SOLOS ......................................................... 40

xvii
3.4.1 Critérios para Avaliação da Instabilidade Interna .......................................... 42
3.4.2 Critério Geométrico de Kenney and Lau (1985, 1986) .................................. 46
3.4.3 Critério Hidráulico de Adel et al. (1988) ........................................................ 49
3.5 ERODIBILIDADE DO SOLO ................................................................................ 50

3.5.1 No Erosion Filter - NEF ................................................................................. 51


3.6 MEDIDAS CONTRA A EROSÃO INTERNA ...................................................... 55

3.7 CRITÉRIOS DE EROSÃO ..................................................................................... 57

3.9.1 Definição dos Limites de Erosão .................................................................... 57

CAPÍTULO 4 − CARACTERÍSTICAS E DIMENSIOANMENTO DE FILTROS


4.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ............................................................................... 63

4.2 PERMEABILIDADE .............................................................................................. 64

4.3 FILTRAGEM E AUTO FILTRAGEM ................................................................... 67

4.4 CICATRIZAÇÃO ................................................................................................... 69

4.5 CRITÉRIOS DE DIMENSIONAMENTO .............................................................. 71

4.5.1 Método de Sherard et al.,(1963) ..................................................................... 73


4.5.2 Método Original do USBR (1977) ................................................................. 74
4.5.3 Método de Sherard e Dunnigan (1985) .......................................................... 74
4.5.4 Método de Foster e Fell (1999) ...................................................................... 76
4.5.5 Método de Vaughan e Soares (1982) ............................................................. 76
4.5.6 Método do USSCS (1994) .............................................................................. 77
4.5.7 Método do USACE (2004) ............................................................................. 79
4.5.8 Método do USBR (2011)................................................................................ 81

CAPÍTULO 5 − ESTUDO LABORATORIAL - EROSÃO INTERNA


5.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE O ENSAIO DE LABORATÓRIO ........................... 83

5.2 CARACTERÍSTICAS GEOTÉCNICAS - SOLO BASE ....................................... 85

5.3 CARACTERÍSTICAS GEOTÉCNICAS - MATERIAL DO FILTRO .................. 86

5.4 EQUIPAMENTO DE ENSAIO .............................................................................. 88

5.5 PREPARO DO CORPO DE PROVA E SUA MONTAGEM NA CÉLULA ......... 90

5.6 METODOLOGIA DE ENSAIO .............................................................................. 92

xviii
5.7 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS .............................................................. 93

5.7.1 Avaliação da Estabilidade Interna dos Solos .................................................. 93


5.7.2 Análise Qualitativa dos Dados ....................................................................... 94
5.7.3 Análise Gradiente Hidráulico ......................................................................... 98

CAPÍTULO 6 − MODELAGEM NUMÉRICA DE FLUXO EM BARRAGENS


6.1 FLUXO EM MEIOS SATURADOS E NÃO SATURADOS .............................. 101

6.1.1 Curva de Retenção do Solo .......................................................................... 102


6.1.2 Função Permeabilidade Hidráulica do Solo ................................................. 103
6.2 REDE DE FLUXO ................................................................................................ 104

6.2.1 Avaliação da Rede de Fluxo a partir de Modelos Reduzidos Publicados na


Literatura ................................................................................................................ 105
6.3 MODELAGEM NUMÉRICA ............................................................................... 111

6.3.1 Programa Computacional Seep/W................................................................ 112


6.3.2 Modelos de Estudo ....................................................................................... 113
6.3.3 Especificação dos Materiais e Condições de Contorno ................................ 115
6.3.4 Discussão do Gradiente Hidráulico no Seep/W ........................................... 117
6.3.5 Apresentação dos Resultados ....................................................................... 118
6.4 ESTUDO DE CASO ............................................................................................. 124

6.4.1 Barragem de Emborcação ............................................................................. 125


6.4.2 Barragem de Irapé ........................................................................................ 128
6.4.3 Barragem Bico da Pedra ............................................................................... 133
6.4.4 Discussão dos Resultados ............................................................................. 137

CAPÍTULO 7 − CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS


7.1 CONCLUSÕES QUANTO AO ENSAIO DE PERCOLAÇÃO EM
LABORATÓRIO ......................................................................................................... 138

7.2 CONCLUSÕES QUANTO AOS ESTUDOS DE SIMULAÇÃO NUMÉRICA.. 139

7.3 CONCLUSÕES GERAIS ..................................................................................... 141

7.4 SUGESTÕES PARA FUTURAS PESQUISAS E RECOMENDAÇÕES ........... 141

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 143

xix
CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO

1.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Barragens são estruturas destinadas à retenção e à acumulação de água, e a arte de


projetar uma barragem está ligada à arte de controlar o fluxo da água pelo conjunto
barragem-fundação (Cruz, 2004). O não controle do fluxo implica na saturação do
aterro compactado que, além da barragem ficar sujeita a elevados valores de
poropressão, acaba por reduzir a resistência ao cisalhamento do solo podendo levar a
estrutura à ruptura.

Estudos mostram que o processo de erosão interna é uma das principais causas de
ruptura em barragens em todo o mundo. Segundo publicação do U.S. Department of the
Interior Bureau of Reclamation (2007), o total de falhas em barragens relacionado à
erosão interna é de 49,60%. É comum que onde haja fluxo de água do material mais
fino para o mais grosso, o transporte de partículas finas possa acontecer. O carreamento
excessivo de partículas é caracterizado como uma patologia. Caso ocorra na fase inicial
de operação um carreamento de finos do solo base (material argiloso) para o filtro,
espera-se que o processo seja estabilizado, de modo que o filtro continue atendendo às
premissas de projeto adotadas a priori.

Um dos métodos utilizados para controle do fluxo é a introdução de dispositivos


internos de drenagem na barragem e na fundação que, se bem dimensionados, cumprem
à proposta de controle do fluxo no interior do maciço. Nos projetos de sistema de
drenagem deve-se destacar as premissas e procedimentos adotados para o seu
dimensionamento, pois este sistema está intimamente ligado à segurança da estrutura.

Segundo Cruz (2004), se a afirmativa de que “a arte de projetar uma barragem é


essencialmente a arte de controlar o fluxo” é válida, a dedicação da projetista dada ao
projeto e dimensionamento do sistema de controle de fluxo, sistema interno de
drenagem, deve ser prioritária.

1
Os filtros devem ser dimensionados para atender aos critérios básicos de retenção e
permeabilidade, que a princípio parecem ser critérios antagônicos. No entanto, estas
condições supõem que as dimensões dos vazios no material do filtro devem ser
suficientemente pequenas para reter as partículas maiores do material protegido e, ao
mesmo tempo, o material deve ter permeabilidade suficiente para impedir a indução de
forças elevadas de percolação e pressões hidrostáticas aplicadas aos filtros.

Ao longo dos anos, vários pesquisadores estudaram o comportamento dos solos


coesivos e não coesivos, quando submetidos a elevadas forças de percolação geradoras
de altos valores de gradientes hidráulicos. A partir destes estudos, foi possível
estabelecer uma gama de relações granulométricas entre o solo-base e o material de
filtro que serão sistematicamente abordadas neste trabalho.

1.2. OBJETIVO DA DISSERTAÇÃO

Em projetos de barragens de médio e grande porte é prudente a adoção de dispositivos


internos de drenagem para controle de percolação. Na literatura é possível encontrar
vários critérios para dimensionamento de filtros baseados na distribuição
granulométrica dos grãos, permeabilidade e tamanho da abertura dos vazios formados
pelos grãos do material do filtro. Levando em consideração a natureza singular dos
solos, além da aplicação dos critérios, é prudente que sejam realizados ensaios de
laboratório, sendo este ainda o método mais confiável para a seleção de filtros.

A proposta principal deste trabalho está relacionada à utilização de três recursos


eficientes para estudo de fluxo aplicado ao controle de erosão interna em barragens e
avaliação da principal ferramenta de controle deste processo, os filtros. Os recursos são
compostos basicamente pelos critérios da literatura, ensaio de laboratório, e modelagem
numérica. A partir destes, é possível conhecer melhor o comportamento do solo e ter-se
mais confiança nas premissas adotadas na fase de projeto.

É objetivo também deste trabalho evidenciar, com base na revisão bibliográfica e


ensaios de laboratório realizados pelo autor, que possivelmente uma barragem possui
internamente gradientes tidos como elevados, o que não representa necessariamente
uma condição de erosão interna. Ressaltar que o gradiente hidráulico não é a única
2
variável que governa o problema de fluxo excessivo, devendo levar-se em consideração
fatores como erodibilidade, tensão efetiva, distribuição granulométrica do solo, entre
outros discutidos sucitamente neste trabalho.

Além de destacar as facilidades e possibilidades que os programas numéricos oferecem


aos engenheiros, na resolução de problemas de domínio contínuo complexos, ênfase
especial foi dada à discussão em torno da avaliação crítica quanto à intrepretação dos
dados de saída e limitações do programa. O fato é que deve-se trabalhar com o
julgamento técnico de engenharia tanto na entrada de dados como na saída dos
resultados, sendo de extrema importância o conhecimento dos métodos empregados
pelo programa para resolução dos problemas.

1.3. METODOLOGIA

Como comentado, a proposta principal deste trabalho está relacionada à utilização de


três recursos eficientes para estudo de fluxo aplicado ao controle de erosão interna em
barragens e avaliação da principal ferramenta de controle deste processo, os filtros.
Assim sendo, a metodologia proposta e aplicada neste trabalho consistiu na seguinte
sequência, a saber:

1. Revisão bibliográfica direcionada para entendimento do fenômeno da erosão


interna, as propriedades do solo envolvidas no processo, suas formas de
iniciação, continuação, progressão e provável causa de ruptura de barragens, e
estudo dos métodos e critérios aplicados para avaliação da instabilidade interna
dos solos, como será apresentado no Capítulo 3;
2. Revisão bibliográfica direcionada aos estudos das características dos filtros e
aplicação dos inúmeros critérios de dimensionamento dos mesmos.
Conhecimento dos ensaios de laboratório que subsidiaram os estudos de erosão
interna e a principal ferramenta de controle deste processo, os filtros.
3. Seleção e aplicação de dois critérios de dimensionamento de filtro e critérios
para avalição da instabilidade interna dos solos em materiais representativos do
filtro e solo base. Em sequência, realização de ensaio de laboratório com estes
materiais para verificar o desempenho do filtro;

3
4. Emprego da modelagem numérica de fluxo como uma ferramenta útil para
estudos ainda na fase de projeto, oferecendo informações quanto à vazão,
poropressão, gradiente hidráulico e outras variáveis relacionadas à erosão
interna. Os estudos foram realizados para seções típicas de barragens,
comumente adotadas em projeto, e elaboração de três estudos de casos reais de
barragens.

O estudo numérico auxilia a projetista a identificar pontos mais vulneráveis na


barragem de modo a orientar e chamar a atenção quanto ao dimensionamento
especialmente criterioso destes pontos.

1.4. ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO

Essa dissertação foi estruturada em sete capítulos e um anexo, de acordo com a seguinte
abordagem:

O Capítulo 1 apresenta as considerações iniciais e a motivação para a qual o trabalho foi


desenvolvido, bem como a descrição geral do escopo adotado com justificativa da
escolha do tema e seus métodos de avaliação.

No Capítulo 2, têm-se os conceitos gerais sobre barragens e sistemas internos de


drenagem. Relatam-se dados de acidentes e falhas relacionados com estas estruturas e
ressalta-se a importância dos projetos de barragens estarem atrelados aos quesitos de
segurança. Apresenta também os elementos constituintes do sistema interno de
drenagem de uma barragem.

No Capítulo 3 é realizada uma abordagem ampla do fenômeno da erosão interna, com


base nos fatores e mecanismos pela qual este se desenvolve. Apresentam-se os critérios
que avaliam a susceptibilidade à instabilidade interna do solo. Descreve-se o ensaio de
não erodibilidade de filtro (NEF – No Erosion Filter) sendo um dos ensaios de
laboratório extremamente realizado por vários pesquisadores para estudo da erosão
interna.

4
No Capítulo 4 são apresentadas algumas características intrínsecas do material de filtro,
como permeabilidade, filtragem, auto filtragem e cicatrização. Em seguida, são
abordados os métodos propostos para dimensionamento de filtros, desde o publicado
por Terzaghi, baseados na distribuição granulométrica dos materiais envolvidos no
processo de filtragem, até os mais recentes, apresentados na literatura.

O Capítulo 5 sintetiza os procedimentos e resultados do ensaio de laboratório realizado


em amostra de filtro e solo base, para avaliação da eficiência do filtro quando submetido
à condição de fluxo constante gerador de altos gradientes hidráulicos. Faz-se uma
caracterização geotécnica dos materiais utilizados como amostra, descreve-se o
equipamento utilizado e, sucintamente, apresenta-se a metodologia de execução do
ensaio.

O Capítulo 6 mostra o emprego do método numérico, por elementos finitos, para


interpretação e quantificação das grandezas associadas ao fenômeno da percolação de
um fluido em meio poroso. Faz-se uma discussão relacionada aos gradientes hidráulicos
obtidos pela solução numérica (programa Seep/W), e da complexidade de relacionar
este parâmetro ao fenômeno da erosão interna. Por fim, são realizados estudos
numéricos em algumas seções típicas de barragem e revisto o estudo de fluxo de três
barragens existentes, baseado em trabalhos desenvolvidos no NUGEO – Núcleo de
Geotecnia da UFOP.

O Capítulo 7 apresenta a consolidação das principais conclusões da dissertação a partir


do escopo apresentado e desenvolvido no trabalho, e feitas algumas proposições e
sugestões de pesquisas e estudos futuros.

5
CAPÍTULO 2

CONCEITOS GERAIS SOBRE BARRAGENS DE TERRA E SISTEMA


INTERNO DE DRENAGEM

2.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A construção de barragens é uma arte antiga praticada por várias civilizações, com
destaque para os antigos egípcios que foram pioneiros na construção dessas estruturas
entre 2.950 a.C. e 2.750 a.C, devido especialmente aos extensos períodos de seca a que
estavam sujeitos (Jesus, 2011). Inicialmente, as civilizações visavam apenas o
armazenamento de água para abastecimento e irrigação, e mais recentemente à
possibilidade de produção de energia elétrica, entre outros fins.

As barragens podem ser classificadas segundo diferentes critérios, nomeadamente


quanto à forma estrutural, aos materiais utilizados, às suas dimensões, à capacidade de
armazenamento e finalidade.

O Comitê Brasileiro de Barragens (CBDB) definem as barragens como obstáculos


artificiais com a capacidade de reter água, qualquer outro líquido, rejeitos, detritos, para
fins de armazenamento ou controle, podendo variar em tamanho desde pequenos
maciços de terra a enormes estruturas de concreto ou de aterro.

Estas estruturas geotécnicas podem ter usos múltiplos, servindo duas ou mais
finalidades, das quais para armazenamento e abastecimento de água, fornecimento de
água à indústria, irrigação, combate a incêndios, regularização e controle de cheias,
recreio e navegação, geração de energia hidroelétrica, dessedentação, piscicultura e
contenção de rejeitos.

No Brasil, desde o início dos anos cinquenta as concessionárias estatais passaram a se


concentrar em empreendimentos de grandes vultos. Por esse motivo as mais importantes
contribuições no sentido de desenvolvimento de tecnologias de projeto, construção e
operação de barragens são principalmente devidas à implantação de hidroelétricas. A
maioria das grandes barragens do Brasil (pela classificação da CIGB) encontra-se na
6
Região Nordeste, a maior parte delas em aterro compactado, sem serem muito altas. Nas
regiões Sul e Sudeste a implantação de barragens foi principalmente direcionada para
produção de energia elétrica (CBDB, 2011).

As décadas de 60 e 70 foram pródigas em obras hidrelétricas, permitindo que o Brasil se


desenvolvesse. Na década de 60, o nível de informalidade era dominante, porque a
finalidade última era a obra que estava em construção. Existia é claro um projeto
conceitual predefinido, mas a sua adaptação ao sítio era objeto de discussões e as
mudanças que ocorriam, ocorriam nas obras. Na década de 80, houve uma redução dos
investimentos em hidrelétricas (Cruz, 2004).

Nos últimos 40 anos o país tem participado intensamente da economia internacional,


variando entre a oitava e a décima maior economia do mundo. As secas no Nordeste e o
desenvolvimento do País foram os fatores determinantes para a implantação do grande
número de barragens construídas desde a última década do século XIX (CBDB, 2011).

2.2. CONCEITO GERAL DE BARRAGEM

2.2.1. Barragem de Terra Homogênea

As barragens de terra são o tipo de barragens mais usuais em todo o mundo,


representando cerca de 63% do total mundial. Em seguida, surgem as barragens em
concreto, de gravidade, com cerca de 17% do total em todo o planeta (Souza, 2013).

Massad (2010) comenta que, no Brasil, as barragens de terra são mais utilizadas devido
às condições topográficas, com vales muito abertos, e à disponibilidade de material
terroso. Além disso, este tipo de barragem tolera fundações mais deformáveis, podendo
ser construir sobre solos moles, como no caso da barragem do rio Verde, próximo à
Curitiba, com 15,0 m de altura máxima.

Em relação às outras barragens, uma barragem de aterro implica, desde logo, uma
preocupação acrescida com os estudos de percolação, uma vez que a passagem de água
através do corpo da barragem é uma realidade. Estes estudos, bem como os de
estabilidade, deverão ser acompanhados por um eficaz sistema de monitoramento em
7
fase de construção e em serviço, para averiguar a funcionalidade e segurança de todo o
sistema (Souza, 2013).

Segundo USBR (2002), o tipo de barragem de terra, homogênea ou zoneada, é


geralmente escolhido em função do volume e da qualidade dos materiais existentes no
local, dos processos construtivos a serem utilizados e dos solos que constituem as
fundações da barragem. A Figura 2.1 apresenta as seções típicas de barragens de terra
homogênea utilizadas em projetos.

Seção com enrocamento de pé

Seção com tapete drenante

Seção com dreno inclinado e tapete drenante

Figura 2.1 – Barragens de terra homogênea – Seções típicas (USBR, 2002).

Na seção em solo compactado é projetado o zoneamento da seção aproveitando-se os


materiais mais permeáveis nos espaldares, devidamente protegidos principalmente
contra o efeito de erosões superficiais, e os menos permeáveis na zona central. Devem
ser consideradas, para definição do zoneamento dos materiais, suas características
tecnológicas, a sua sequência e época de escavação e de aproveitamento (Eletrobrás,
2003).

8
2.2.2. Barragem de Terra – Enrocamento

A utilização de enrocamentos em barragens data de 1850, quando mineiros na Sierra


Nevada, Califórnia, utilizaram esses materiais para construção de barragens para
armazenamento de água, uma vez que havia muito material rochoso disponível e eles
detinham a técnica de utilização de explosivos para fragmentação dos maciços
rochosos. Nessa época os enrocamentos eram simplesmente lançados e a única
exigência era a alta resistência da rocha e a presença de poucos finos. Como vedação,
eram utilizados troncos de madeira sobrepostos, formando uma barreira de vedação
(Divino, 2010).

Os fatores que concorrerão para a escolha de uma barragem de seção mista terra e
enrocamento serão (Eletrobrás, 2013):

 Disponibilidade de enrocamento proveniente de escavações obrigatórias;


 Fundações de boa resistência para garantir a estabilidade de taludes
mais íngremes da barragem;
 Seções de maiores alturas da barragem permitirão grandes reduções
dos volumes totais em função da declividade dos taludes.
A disposição dos diversos materiais na seção deverá ser feita de modo a
concorrer para uma melhor compatibilização de deformações entre o núcleo, as
transições e enrocamento dos espaldares.

No caso das barragens de enrocamento com núcleo argiloso, o principal desafio é


compatibilizar as deformações no elemento resistente com as deformações ocorridas no
elemento impermeabilizante, evitando concentrações elevadas de tensões e eventual
fissuração do núcleo. O problema de trincas e fissuras em barragens de enrocamento é
recorrente, tendo sido observado ao longo da história das barragens em uma quantidade
significativa de estruturas. A principal preocupação com estas patologias é a
possibilidade de comprometer a segurança estrutural (Divino, 2010).

A maior preocupação com o aparecimento de trincas em barragens de terra e


enrocamento reside na possibilidade destas ocorrerem internamente ao núcleo

9
(transversais), podendo criar um caminho preferencial de fluxo através do núcleo e até
levar à ruptura da barragem por erosão interna (Divino, 2010).

2.3. ACIDENTES EM BARRAGENS

Como citado em Silva (2012), o Comitê Internacional de Grandes Barragens, em 1995,


publicou um abrangente histórico de rupturas (ou falhas) de barragens ocorridas no
mundo, desde o fim do século XIX e a respectiva análise estatística sobre as causas,
momentos, tamanhos e tipos de barragem. As principais conclusões do ICOLD foram:

 A porcentagem de falhas em grandes barragens tem caído durante as últimas


quatro décadas; 2,2% das barragens construídas antes de 1950 falharam,
enquanto falhas em barragens construídas depois de 1951 são menos de 0,5%;
 Em termos absolutos, a maioria das falhas ocorre em barragens pequenas, que
perfazem a maior parte das barragens em serviço. A razão entre falhas de
barragens de uma dada altura e as barragens construídas dessa altura
praticamente não varia;
 A maioria das falhas ocorre em barragens recém-construídas. 70% ocorreram
nos primeiros 10 anos, e mais especificamente no primeiro ano após o
comissionamento;
 A maior taxa de falhas é encontrada nas barragens construídas entre 1910 e
1920;
 A causa mais comum de falhas de barragens de concreto está relacionada com
problemas de fundação, como erosão interna e esforços cisalhantes insuficientes
da fundação correspondendo a 21% cada;
 Com barragens de aterro (terra ou enrocamento) a causa mais comum de falha é
o galgamento (31% como causa primária e 18% como causa secundária),
seguido por erosão interna no corpo da barragem (15% primária e 13%
secundária) e na fundação (12% primária e 5% secundária);
 Quando as estruturas anexas são o centro da falha, a causa mais comum é a
capacidade inadequada de vertimento (22% causa primária e 39% secundária);

10
 As ações mais frequentes tomadas após a falha são abandono do projeto (36%),
construção de uma barragem com novo projeto (17%) e reconstrução total com o
mesmo projeto (16%).

Segundo o USBR (2007 apud Souza, 2013), a Universidade de Nova Gales do Sul
(UNSW) faz uma relação e resumo dos modos de falhas/rupturas em barragens e seus
respectivos percentuais de ocorrência, como apresentado na Tabela 2.1, com destaque
para o piping como umas das principais causas de ruptura.

A erosão interna, em especial o piping, é uma efetiva causa de ruptura e acidente em


barragens. Até 1986, no que se referem às grandes barragens, as estatísticas dos tipos de
ruptura são as apresentadas na Figura 2.2. Foster et al. (2000) destacam que cerca de
metade de todas as rupturas são relacionadas com o piping e aproximadamente 42%
delas ocorrem durante o primeiro enchimento. Cerca de 66% (englobando todos os tipo
de rupturas) das rupturas ocorrem durante os primeiros 5 anos de operação das
barragens.

Tabela 2.1 – Modos de ruptura de barragens e seus respectivos percentuais de


ocorrência (USBR, 2007 apud Souza, 2013).
% Total de falhas
(quando o modo % Total de falhas % Total de falhas
Modo de falha
de falha é (até 1950) (após 1950)
conhecido)
Galgamento 34,2 36,2 32,2 %
Vertedouro 12,8 17,2 8,5 %
Piping pelo aterro 32,5 29,3 35,5 %
Piping do aterro para fundação 1,7 0,0 3,4
Piping pela fundação 15,4 15,5 15,3
Deslizamento à jusante 3,4 6,9 0,0
Deslizamento à montante 0,9 0,0 1,7
Terremoto 1,7 0,0 3,4
TOTAL 102,6 105,1 100,0
Total galgamento e obras
47,0 53,4 40,7
anexas
Total piping 49,6 44,8 54,2
Total deslizamento 4,3 6,9 1,7
Total nº de barragens de aterro
124 61 63
(durante construção)
Total nº de barragens de aterro
com anos de operação (até 300.400 71.000 229.400
1986)
Probabilidade anual de falha 4,1x10-4 8,6x10-4 2,7x10-4

11
Figura 2.2 – Tipos de rupturas em barragens de aterro, estatística feita até 1986, inclui
apenas grandes barragens (Foster et al., 2000 apud Sousa, 2013).
A Tabela 2.2 apresenta a probabilidade anual de ruptura por erosão interna, em
barragens, segundo ANCOLD (Australian Committee on Large Dams).

Tabela 2.2 – Probabilidade anuais de ruptura por erosão interna (ANCOLD apud
Silveira e Machado, 2005).

Tipo de erosão interna Probabilidade anual

Piping através do aterro 7,5x10-5

Piping através da fundação 1,9x10-5

Piping interface aterro-fundação 4,0x10-5

A ASCE publicou, em 1973, que o problema de piping em barragens de terra modernas


seria praticamente inexistente pelo fato de ter-se o conhecimento e o uso do zoneamento
adequado do aterro e filtros de proteção. Mas o controle de perda d’água e possível
piping pela fundação é uma questão mais difícil. A susceptibilidade de dano na
fundação por piping não está relacionado à idade da barragem. Pequenas infiltrações
podem ser observadas em barragens, com fluxo de água limpa por anos quando de
repente a água torna-se turva, barrenta, indicando a ativação do processo de piping
requerendo, assim, rápido tratamento corretivo. O tempo requerido para o
desenvolvimento do processo de piping varia bastante dependendo da susceptibilidade à
erosão dos materiais e dos gradientes hidráulicos envolvidos. Perigosos estágios do
processo podem ser atingidos em minutos, dias ou meses.

Muitos casos de rupturas em barragens foram registrados ao longo dos anos. A Tabela
2.3 apresenta uma síntese de alguns acidentes registrados no mundo, nos quais o modo
de falha mais provável teria sido a erosão interna.

12
A Tabela 2.4 apresenta a análise das causas que desencadearam o piping, com as
respectivas incidências, associadas aos casos de piping em barragens construídas entre
1978 e 1980 e levantados por Hsu (1981 apud Cruz, 2004).

Tabela 2.3 – Registro de alguns casos de ruptura de barragem por piping (adaptado
Silva, 2012 e Kaplan, 2010).
Barragem Ano/Local Causa provável
Gradiente hidráulico excessivo na
fundação junto da trincheira drenante.
Teton 1979, Estados Unidos
Emprego de solo altamente susceptível
ao processo de piping.
Piping no material do talude ao longo do
CSC Orchards 1995, Estados Unidos
conduto vertedouro de soleira.
Construção da ombreira esquerda da
Barragem de Camará 2004, Alagoa Grande (PB) barragem em fundação de rocha alterada,
por onde o processo erosivo teve início.
Apertadinho 2008, Rondônia Piping na região do vertedouro.
Piping no contato do maciço de terra
Espora 2008, Rondônia
com a estrutura de concreto do vertedor.
Cabixi II 2008, Rondônia Piping.
Piping no contato do vertedouro e
Mineração Casa da Pedra 2008, Congonhas (MG)
maciço.

Tabela 2.4 – Piping em barragens – causas principais (Hsu, 1981 apud Cruz, 2004).

Causas conhecidas Nº de casos %


Trincas devido a recalques diferenciais 3 17,6
Trincas horizontais devido a adensamento do núcleo 1 5,8
Argila erosiva do núcleo 1 5,8
Trincas transversais devidas a compactação irregular do enrocamento 1 5,8
Trincas no núcleo e no filtro devido a excesso de finos no filtro 3 17,6
Transições e filtros inadequados - gradientes elevados 1 5,8
Filtro mal graduado e segregado 1 5,8
Ruptura de laje de concreto a montante 1 5,8
Concentração de gradientes elevados devido a descontinuidades da fundação 2 11,8
Fissuras na rocha de fundação 1 5,8
Material erodível, juntas abertas na rocha, filtro inadequado e de baixa
1 5,8
permeabilidade
Tapete de montante sobre fundação em cascalho e blocos de rocha 1 5,8
17 100%

Inerentes ao evento catastrófico de ruptura de uma barragem estão as perdas materiais,


sociais, ambientais e, frequentemente, de vidas humanas. A Tabela 2.5 resume alguns
acidentes citados na literatura, que resultaram em pelo menos 300 fatalidades.

13
Tabela 2.5 – Acidentes com barragens no mundo com mais de 300 fatalidades (Silva,
2012).
Geração Mortes Mortes
Local Descrição
elétrica (min) (max)
Japão Forte chuva destrói barragem do lago Iruka não 941 1.200
EUA Colapso da barragem de South alaga a cidade de Johnstown não 2.200 2.209
Índia Colapso da barragem de Tigra alaga a cidade de Gwalior não 1.000 1.000
Itália Colapso da barragem de Gleno sim 356 600
EUA Ruptura da barragem de Saint Francis, na Califórnia sim 426 500
Paises
Tempestade do Mar do Norte causa ruptura de vários diques não 1.835 1.835
Baixos
China Falha da barragem de Lomngtun não 707 707
Colapso da barragem de Malpasset alaga as cidades de
França sim 361 500
Malpasset, Bozon e Fréjus
China Falha da barragem de Tiefosi não 1.092 1.092
Colapso das barragens de Panshet e Khadakwasla provocam
Índia não 1.000 1.250
inundação da cidade de Pune
Alemanha Tempestade do Mar do Norte causa ruptura de vários diques não 315 315
China Falha da barragem de Liujiatai e outras na bacia do Rio Hai não 948 5.616
Deslizamento de encosta causa transbordamento da barragem de
Itália sim 1.900 2.500
Vaiont, destruindo Longarone e outras vilas
Falha de barragem de rejeitos de mineração destrói a vila de
Bulgária não 488 488
Sgorigrad
China Falha da barragem de Hengjiang sim 779 779
China Falha da barragem de Lijiazui não 580 580
Rompimento das barragens de Banqiao, Shimantan e outras 60
China sim 26.000 230.000
atingidas pelo Tufão Nina na bacia do Rio Amarelo
Índia Colapso de barragem de Machhu II inunda a cidade de Morvi sim 1.500 2.500
Falha da barragem de Hirakud, no Rio Mahanadi, provoca
Índia sim 200 1.000
inundação
Rompimento da barragem de Gouhou, próximo à cidade de
China não 290 1.200
Gonghe
Ruptura de diques na cidade de Nova Orleans pelo Furacão
EUA não 1.464 1.464
Katrina

Apesar das fatalidades vinculadas aos acidentes, Silva (2012) ressalta que estes servem
de catalisadores do processo tecnológico e provocam reações da sociedade que
estimulam o debate em torno do assunto. O debate é de suma importância uma vez que
gera pressão para regulamentações e estabelecimento de obrigações cada vez mais
severas a fim de se reduzir os riscos.

14
2.4. SEGURANÇA DE BARRAGENS

No projeto, construção e operação de uma barragem, o requisito fundamental principal


deve ser a segurança. Uma vez que os acidentes, envolvendo esse tipo de estrutura,
podem ter consequências catastróficas e imensuráveis, em termos de impacto
socioeconômico e ambiental.

O Projeto de barragens é um ramo da Engenharia que envolve equipes


multidisciplinares de profissionais dado o envolvimento de vários aspectos como
hidrológicos, hidráulicos, estruturais, geotécnicos, entre outros. Neste caso, pode ser
atribuído certo grau de complexidade, necessitando de perícia e bom sendo para aplicar-
se as boas práticas de engenharia.

Fusaro (2007) ressalta que os engenheiros geotécnicos lidam sempre com o


desconhecido. Isto se dá primeiramente porque não podem controlar totalmente os
materiais com os quais eles trabalham, uma vez que proveem de jazidas e áreas de
empréstimo de forma geral não uniformes. Além disso, no caso de barragens, os
métodos construtivos introduzem uma variabilidade adicional nas características dos
materiais de construção do maciço.

Para melhorar a segurança e reduzir o impacto de eventuais rupturas de barragens é


necessário se projetar e construir adequadamente a estrutura, e implementar um
eficiente monitoramento e gestão para garantir a sustentabilidade econômica, social e
ambiental do empreendimento.

Fiorini (2008) complementa que a boa concepção geral do projeto, o arranjo e o


dimensionamento adequado das estruturas são fundamentais para o sucesso do
empreendimento, pois erros ou estudos e levantamentos insuficientes podem levar a
graves consequências posteriores. O projeto deve ser cuidadoso e realizado por
profissionais experientes de acordo com o estado da arte. Inovações e soluções
avançadas exigem estudos aprofundados e completos.

Biedermann (1997 apud Fusaro, 2012) considera que a segurança de barragens pode ser
obtida apoiando-se em três pilares básicos: segurança estrutural (projeto, construção e
15
manutenção adequados), monitoramento e gestão de emergências, como apresentado na
Figura 2.3.

Figura 2.3 – Princípios básicos de segurança de barragens (modificado Biedermann,


1997 apud Fusaro, 2012).

Após inúmeros acidentes com ruptura de barragens pelo Brasil, a sociedade e a


comunidade técnico-científica sentiram a necessidade de um regulamento específico
sobre segurança de barragens, que estabelecesse mecanismos de controle, sendo então
aprovada em setembro de 2010 a Lei nº 12.334, que instituiu a Política Nacional de
Segurança de Barragens (PNSB). Muito se discutiu com a comunidade técnica durante
sete anos até a promulgação desta lei que representa um grande passo na legislação
brasileira.

A Lei nº12.334/2010 tem como maior mérito exigir e uniformizar as ações de controle
da Segurança de Barragens para todos os tipos de empreendimento, sejam barragens de
água ou de resíduos, bem como para as diversas finalidades como mineração, irrigação,
geração de energia, entre outros.

Como objetivo de orientar e direcionar o projeto, construção e operação de barragens,


existem alguns manuais amplamente empregados no Brasil, dentre os quais podem ser

16
citados o Critério de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas, da Eletrobrás (2003), o Guia
Básico de Segurança de Barragens de 2001, publicado pelo Comitê Brasileiro de
Barragens, e o Manual de Segurança e Inspeção de Barragens de 2002, publicado pelo
Ministério da Integração Nacional.

Entretanto, mesmo sendo a erosão interna a segunda causa de ruptura mais recorrente
em barragens, poucas informações se obtêm nesses documentos, a esse respeito. Em
contrapartida, esses documentos apresentam uma ampla abordagem sobre estabilidade
de taludes, Plano de Ação Emergencial (PAE), inspeções e instrumentações, entre
outros assuntos.

O Manual de Segurança e Inspeção de Barragens (2002) faz algumas considerações a


respeito da erosão interna. O Anexo C, deste manual, resume os tipos de anomalias
detectadas em barragens com as causas prováveis, possíveis consequências e ações
corretivas, sendo o piping um processo recorrente.

A ineficiência do sistema interno de drenagem de uma barragem está diretamente ligada


a anomalias como o piping. Logo, é viável que uma avaliação detalhada deste sistema
seja implementada e acompanhada ao longo da vida útil do barramento. Isso justifica a
relevância da incorporação do assunto nos manuais e guias de projeto.

Resumidamente, Silveira (2013) comenta que acidentes com barragens poderiam ser
evitados ou reduzidos ao mínimo se houvesse um projeto bem realizado e detalhado, se
a construção fosse realizada por uma empresa experiente e idônea, se fosse operada por
uma equipe treinada para atuar em situações de emergência, e se a instrumentação fosse
adequadamente lida e analisada. Com todas essas etapas adequadamente realizadas, ter-
se-ia uma barragem segura durante toda sua vida útil, geralmente de 50 anos.

17
2.5. IMPORTÂNCIA DA AUSCULTAÇÃO DE BARRAGENS

Uma vez que o projeto e construção adequados são fundamentais, mas não suficientes
para garantir a continuidade da operação segura das barragens, deve ser estabelecido um
processo de acompanhamento e avaliação permanentes do desempenho destas
estruturas. Este processo é usualmente denominado de auscultação de barragens, e
engloba as atividades de observação, detecção e caracterização de eventuais
deteriorações que possam aumentar o potencial de risco de uma estrutura (Fonseca,
2003).

Fiorini (2008) define a auscultação como sendo o conjunto de métodos de observação


do comportamento de uma determinada obra de engenharia, com o objetivo de controlar
as suas condições de segurança, comprovar a validade das hipóteses e dos métodos de
cálculo utilizados no projeto, verificar a necessidade da utilização de medidas
corretivas, fornecer subsídios para a elaboração de novos critérios de projeto, etc.

Este autor esclarece que um plano de auscultação bem programado se dá por meio da
instalação de instrumentação suficiente, lida e interpretada adequadamente, com
frequência apropriada e acompanhado de inspeção visual in situ.

É de grande importância a instrumentação de barragens, pois permite detectar pontos na


barragem onde existem níveis críticos de segurança estrutural e operacional. Para Cruz
(2004), apesar de a instrumentação não constituir a solução para todos os problemas, é
inegável sua utilidade quando convenientemente projetada, instalada e interpretada, não
só para a avaliação das condições de segurança de um empreendimento, em todas as
suas fases, mas também para verificação das hipóteses adotadas em projeto, com o
objetivo principal de tornar as obras mais econômicas, dentro das necessárias condições
de segurança.

De acordo com o USACE (1995), a instrumentação de campo é mais essencial para a


engenharia geotécnica do que para a maioria dos outros ramos da engenharia, em que os
projetistas têm maior controle sobre os materiais de trabalho. A determinação do
número, tipo e localização dos instrumentos requeridos por uma barragem pode ser
efetivamente escolhido pela combinação de experiência, bom senso e intuição.
18
O banco de dados gerado pelas leituras dos instrumentos e informações coletadas em
inspeções de campo, se bem interpretadas, podem ser uma ferramenta de grande auxílio
na detecção de anomalias como, por exemplo, o piping. Neste caso, é prudente analisar
as variações observadas e registradas de vazões percoladas a jusante da barragem,
turbidez da água de percolação, níveis de água no reservatório e dentro do aterro,
poropressões, entre outras grandezas.
De acordo com Fusaro (2007), para que os máximos benefícios possam ser extraídos da
instrumentação, a avaliação detalhada e a interpretação dos resultados devem ser feitos
imediatamente após a coleta dos dados. Provavelmente, a mais comum e menos
justificável deficiência dos atuais programas de avaliação do comportamento de
barragens, seja aquela oriunda do fato de que os dados permanecem sem interpretação
até que sua análise torne-se tardia ou obsoleta pela aquisição de novas leituras.

A avaliação do comportamento de uma barragem de terra trata basicamente de cinco


questões fundamentais, cujas respostas podem ser obtidas com a ajuda da
instrumentação (ASCE, 2000 apud Fusaro, 2007):

 A barragem é estável sob a ação dos carregamentos esperados?


 As deformações são aceitáveis para os carregamentos esperados?
 A quantidade de percolação é aceitável?
 A percolação ocorre de forma que não ocorrerá erosão interna da fundação ou do
maciço?
 A borda livre é adequada para impedir o transbordamento durante a passagem da
cheia de projeto?

Cruz (2004) resume as principais causas de comportamento insatisfatório apresentado


por barragens de terra e enrocamento e indica os sistemas usuais de observação, dentre
os quais a instrumentação, como apresentado na Tabela 2.6.

19
Tabela 2.6 – Principais causas de comportamento insatisfatório de barragens e sistemas
usuais de observação (Cruz, 2004).
Comportamento Causa Sistema de observação
Chuva intensa
Galgamento de ondas de Inspeção visual
montante
Transbordamento
Taludes e éreas de jusante
Erosão interna Batimento de ondas de
Inspeção visual
jusante
Velocidade tangencial da
Batimetria
água de jusante
Talude de montante Batimento de ondas
Trincas/canalíticos
Inspeção visual
Erosão interna Deficiência de
Instrumentação
compactação/interfaces
Deterioração da fundação ou
do maciço Inspeção visual
Cisalhamento Sismos Topografia
Poropressões Instrumentação
Recalques diferenciais
Ressecamento Inspeção visual
Trincas Inspeção visual
Ruptura hidráulica
Instrumentação

2.6. SISTEMA INTERNO DE DRENAGEM

Segundo Cruz (2004), dentre os requisitos básicos de uma barragem, o de estanqueidade


é fundamental. A conjugação do sistema de vedação e drenagem constitui a principal
defesa das estruturas de terra a processos de erosão interna. Nenhuma barragem pode
ser considerada com comportamento satisfatório sem que seja suficientemente vedante.
A vedação da barragem e de sua fundação deve, portanto, ser a primeira preocupação na
elaboração do projeto.

Este autor ressalta que os sistemas de drenagem constituem a principal defesa contra
fluxos concentrados e preferenciais. Nas barragens homogêneas, além do controle do
fluxo, eles são importantes para a estabilidade do espaldar de jusante, já que abatendo a
linha freática, anulam-se os efeitos das poropressões de percolação em praticamente
toda a região a jusante do eixo da barragem. Além deste benefício, a drenagem
regulariza a saída do fluxo, tanto da própria barragem como da fundação, atenuando as
pressões e disciplinando seu escoamento para jusante da barragem. Nas fundações

20
muito permeáveis ou com feições preferenciais de fluxo, a drenagem é o elemento que
proporciona o controle efetivo das pressões de saída d’água.

Parecia haver uma falta de consciência na década de 1950 e 1960 da necessidade de


bons filtros perto da crista da barragem, de modo que o controle de qualidade foi, por
vezes, pouco exigente. Algumas barragens ainda tinham os filtros omitidos perto da
crista (mesmo sendo eles projetados). Tais omissões não se restringiram às pequenas
organizações, muitas vezes, acontecia sistemicamente com grandes empresas de boa
reputação (Fell et al., 2014).

Como recomendação de ordem prática, Cruz (2004) diz que é de todo aconselhável
levar os sistemas internos de drenagem (sejam verticais ou inclinados) até o N.A.
máximo normal do reservatório, e lançar dreno horizontal no contato com a fundação.

A utilização de areias “sujas” (alto percentual de finos) para a construção de filtros de


barragens, embora aparentemente segura quanto à filtragem, pode ser desastrosa casa
ocorra trincas no filtro. A coesão resultante das partículas finas tende a conter as
aberturas criadas pelas trincas proporcionando livre percolação de água por entre os
vazios/fissuras. Areias, mesmo finas, só se mantêm trincadas ou fissuradas pela ação da
sucção enquanto não saturadas, como nos “castelos de areia de praia”. Com a saturação,
a sucção desaparece e as areias colapsam, mantendo os vazios estáveis (Cruz, 2004).

As trincas no filtro proporcionam caminhos preferenciais de fluxo às águas que


percolam através do aterro da barragem. Em sendo filtros construídos a partir de
materiais que não satisfazem as premissas e cálculos de projeto, é provável as forças de
arraste, devido ao fluxo de água, carreie as partículas finas desencadeando o processo de
erosão interna.

Um sistema de drenagem interno de uma barragem pode ser composto basicamente


pelos seguintes elementos:

 Dreno vertical ou inclinado na barragem;


 Dreno horizontal na barragem;

21
 Dreno de saída ou de pé (coletor dos drenos vertical ou inclinado e horizontal)
na barragem;
 Trincheira drenante na fundação das ombreiras;
 Furos de drenagem e poços de alívio na fundação.

Para selecionar o material adequado do filtro, é preciso que o material seja permeável o
suficiente para permitir o livre escoamento da água, sem alteração da estrutura
granulométrica do filtro, e ser fino o suficiente para evitar a migração de partículas do
solo, a ser protegido, através dos seus poros.

Se não existir um sistema de drenagem na barragem, a linha de fluxo irá interceptar a


face do talude de jusante, como ilustrado na Figura 2.4. Neste caso, a face do talude
poderá gradualmente erodir, pois a água fluindo para fora tenderá a carrear partículas de
solo com ela. Caso haja evolução do processo, as partículas carreadas darão lugar a
vazios que ao interligarem-se formam um caminho regressivo de erosão, o que poderá
levar a estrutura à ruptura.

Figura 2.4 – Barragem de terra sem sistema interno de drenagem (Lambe e Whitman,
1969).
Deste modo, é necessário inserir drenos que proporcionem o abatimento da posição do
nível d’água dentro do aterro da barragem. As Figuras 2.5 a 2.7 ilustram exemplos de
sistemas de drenagem interno em barragens de terra, destacando-se que em barragem
zoneada de terra e enrocamento, o espaldar de jusante construído com enrocamento já
desempenha a função de drenagem da água que passa através do aterro menos
permeável.

Figura 2.5 – Barragem de terra com sistema interno de drenagem tipo dreno horizontal
(Lambe e Whitman, 1969).
22
Figura 2.6 – Barragem de terra com sistema interno de drenagem tipo dreno vertical
inclinado (Lambe e Whitman, 1969).

Figura 2.7 – Barragem zoneada de terra e enrocamento (Lambe e Whitman, 1969).

De acordo com a Eletrobrás (2003), casos excepcionais envolvendo sistemas favoráveis


de solicitação e de menor responsabilidade poderão dispensar os filtros vertical e/ou
sub-horizontal contínuos substituindo por um sistema de drenos de pé e de fundação.
Ressalta-se, entretanto a importância dos filtros verticais nos diques de selas, mesmo
que de pequena altura.

Cruz (2004) e Eletrobrás (2003) relacionam as seguintes recomendações a serem


adotadas em projeto de sistemas de drenagem interno de barragens:

 O dreno vertical (ou inclinado) deve se estender por toda a extensão longitudinal
da barragem e até a elevação do nível d’água máximo normal de operação do
reservatório. O dreno vertical só é recomendável para barragens até 20,0m
(máximo de 30,0m), por questões de concentração de tensões no mesmo. Para
barragens maiores, deve-se adotar o dreno inclinado;
 A espessura do dreno vertical (ou inclinado) é função do método construtivo e
dos equipamentos de construção. De qualquer forma, não deve ser inferior que
0,6 a 0,8m, para prevenir qualquer falha devido à contaminação do solo
adjacente;
 O dreno horizontal não deve ter espessura superior a 2,0m, por motivos
econômicos. Em casos de maiores vazões, deve-se recorrer ao dreno-sanduíche.

23
Por razões construtivas, o valor mínimo da espessura desse dispositivo é de
0,25m;
 O dreno de saída ou pé deve ter altura, no mínimo, igual a duas vezes a
espessura do dreno horizontal, e largura de crista mínima de 4,0m;
 Trincheiras drenantes, na fundação de ombreiras, devem ter largura mínima de
0,6 a 0,8m e profundidade máxima de 3,5m;
 Furos de drenagem devem ser executados em uma só linha e com espaçamento
médio de 3,0m até a profundidade ditada pelas condições de fundação.

A Eletrobrás (2003) ressalta que, no dimensionamento final, às espessuras requeridas


pela capacidade drenante deverão ser adicionadas espessuras consideradas
contamináveis pelo material de base (material a ser protegido).

Os dispositivos de drenagem em barragens geralmente são feitos de areia e brita. Porém,


em substituição a este sistema de drenagem convencional, existem vários estudos de
soluções inovadores com a utilização dos geossintéticos. Resolveu-se explorar este
segmento porque os geossintéticos podem ser fabricados visando atender a um
determinado conjunto de especificações e apresentam facilidade de transporte para os
canteiros de obra.

Na maioria das vezes, o fluxo pela fundação das barragens pode ser dominante, sendo
superior ao fluxo pelo maciço. O dreno horizontal, neste caso, tem a função principal de
controlar o fluxo pela fundação e não de direcionar o fluxo do maciço ou dreno vertical,
para jusante da barragem. Para seu melhor desempenho, o dreno horizontal deve ser
contínuo e revestir toda a área da fundação e ombreiras.

Como o fluxo pela fundação pode e na maioria das barragens é dominante, ou seja, é
bastante superior ao fluxo pelo maciço compactado, o projeto de vedação de fundação
conta com os seguintes sistemas (Cruz, 2004):

 Injeções de calda ou argamassa de cimento, para tratamento em fundações em


rochas;

24
 Cut-off para tratamento em fundações em areias, aluviões, areno argilosos com
granulometria descontínua, colúvios com permeabilidade mais elevada que o
elemento vedante da barragem, e em descontinuidades permeáveis em solos
residuais e saprolíticos e saprólitos;
 Diafragmas rígidos, plásticos, colunas injetadas, colunas secantes de concreto,
para controle de fluxo em formações arenosas e em cascalho;
 Tapetes vedantes.

Cruz (2004) faz uma observação prática da avaliação da quantidade de água de


percolação que pode ser admitida pelo conjunto maciço-fundação de barragens. Esta
informação é de grande valia em projetos e monitoramento de barragens, pois
engenheiros e projetistas podem orientar-se quanto a valores de referência na avaliação
de riscos e limites das estruturas. A quantificação é feita com base na finalidade da
barragem. Assim, como dados básicos, barragens para controle de cheias ou para
hidroelétricas não devem ter vazão superior a 5,0l/min por metro de barragem, e
barragens para abastecimento de água e irrigação não devem ter vazão superior a 0,1%
da média das vazões naturais.

25
CAPÍTULO 3

O FENÔMENO DA EROSÃO INTERNA

3.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Os primeiros engenheiros que analisaram o processo de erosão interna foram Blight


(1910) e Lane (1935), conforme citado em Berrones e Acosta (2011). Estes autores
definiram a susceptibilidade à erosão do solo por meio de um fator de percolação C,
função dos caminhos horizontal e vertical do fluxo de água, do tipo de solo e da carga
hidráulica entre os níveis de água, a montante e a jusante, da estrutura hidráulica.
Entretanto, segundo Berrones (2000 apud Berrones e Acosta, 2011), este critério não
atende satisfatoriamente todos os casos sendo sua utilização não recomendada.

A erosão interna é caracterizada essencialmente pelo movimento de partículas através


do solo, como consequência da desestabilização do equilíbrio de forças na matriz do
solo. O desequilíbrio ocorre quando as forças de atrito que tendem a arrastar as
partículas, geradas pela percolação da água, se tornam maiores do que aquelas que
resistem ao movimento. Destacando que o gradiente hidráulico tem uma relação direta
com a intensidade dessa força de atrito.

Erosão interna ocorre quando partículas de solo, dentro de um maciço ou suas


fundações, são carreadas para jusante pelo fluxo de percolação. O termo erosão interna
engloba uma variedade de termos mais específicos encontrados na literatura, tais como
piping, erosão regressiva, instabilidade interna, sufusão, erosão de contato, dentre
outros. A maior parte destes termos incorpora o mecanismo de iniciação do processo de
erosão interna e são utilizados com diferentes significados por pessoas, empresas ou
países diferentes.

O piping pode ser definido como uma fase potencial de progressão da erosão interna,
que tem início a jusante e resulta na formação de um túnel contínuo entre montante e
jusante da barragem ou sua fundação. Erosão interna é comumente descrita como
“erosão interna e piping”, mas o piping é realmente o culminar de um processo de
erosão em que um número de fases deve ocorrer e serem sustentadas, a fim de que um
26
tubo (pipe) desenvolva através da barragem ou a sua fundação e permita a passagem de
quantidades consideráveis de água que podem conduzir a uma ruptura (ICOLD, 2013).

Barrera (2010) comenta que um conceito chave para o desenvolvimento do estudo da


erosão interna é determinar o início da mesma. O início deste fenômeno é atribuído a
mais de uma condição. Algumas das situações, com as quais o início da erosão interna é
definido, são:

 Uma mudança na curva granulométrica antes e depois do ensaio de filtro


(Kenney e Lau, 1985);
 Uma alteração na declividade da curva de velocidade de filtração versus o
gradiente hidráulico (Skempton e Brogan, 1994);
 Taxa de perda de partículas finas (Moffat, 2005);
 Mudança brusca dos gradientes hidráulicos com o tempo (Moffat, 2005);
 Detecção visual, isto é, quando visto turbidez na água percolada pela amostra no
ensaio de filtro.

Dependendo do estágio e intensidade do processo de erosão interna, o dano ocorrido


pode ser classificado como um simples incidente, passível de reparo, ou um acidente,
evento catastrófico de colapso da estrutura geotécnica.

3.2. MECANISMOS DO PROCESSO DE EROSÃO INTERNA

O processo de erosão interna, em barragens de aterro e suas fundações, pode ser


classificado em três modos gerais de ocorrência citados a seguir:

 Erosão interna através do aterro;


 Erosão interna através da fundação;
 Erosão interna através do aterro para a fundação.

Segundo o ICOLD (2015) e Fell et al. (2015), além disso, o processo de erosão interna
pode ser dividido em quatro fases de desenvolvimento sendo iniciação, continuação,

27
progressão e finalmente o colapso da estrutura geotécnica, como apresentados na Figura
3.1.

(a) Erosão interna através do aterro de uma barragem, iniciada devido à erosão regressiva e
erosão por vazamento concentrado, respectivamente.

(b) Erosão interna através da fundação de uma barragem, iniciada a partir do processo de erosão
regressiva com piping.

(c) Erosão interna do aterro para fundação de uma barragem iniciada a partir do processo de
erosão regressiva com piping.

Figura 3.1 – Modelos conceituais de processo de colapso por erosão interna (ICOLD,
2015; Fell et al., 2015).

28
Para efeitos práticos, Fell et al. (2015) sugerem o refinamento deste processo na
seguinte sequência genérica de eventos mostrada na Figura 3.2.

Figura 3.2 – Árvore de eventos do processo de erosão interna (Fell et al., 2015).

Fell et al. (2015) e ICOLD (2015) destacam que a primeira condição para ocorrência da
erosão interna é a desagregação das partículas do solo. A água escoa através da
barragem ou flui entre trincas com velocidade suficiente para fornecer energia para
separar as partículas da estrutura do solo. A natureza do solo do aterro ou fundação
determina a sua vulnerabilidade à erosão e o seu mecanismo de erosão interna. Assim,
três classes de solo podem ser distinguidas, de acordo com sua natureza:

 Solo não plástico: tais como siltes, areias, areias siltosas e areias siltosas com
pedregulhos; estes solos colapsam quando saturados, geralmente não sustentam
rachaduras/fissuras quando saturados e são erodidos com relativa facilidade;
como solos pouco coesivos se tornam mais grossos do silte para a pedregulho e
progressivamente requerem maior energia para iniciar a erosão; a resistência à
erosão está relacionada com o peso da partícula e, em alguns casos, estado de
tensões e desprendimento de partículas; estes solos estão sujeitos à erosão
regressiva, a erosão de contato ou sufusão dependendo da sua distribuição
granulométrica;
29
 Solo plástico: tais como argila, areia argilosa e areia argilosa com pedregulho;
são geralmente mais resistente à erosão do que os solos pouco coesivos; estes
solos estão sujeitos à erosão por vazamento concentrado e erosão de contato;
erosão regressiva e sufusão não ocorrem sob gradientes hidráulicos normalmente
experimentados em barragens e suas fundações, mas pode ocorrer em locais
cujo gradiente hidráulico é muito elevado; solos argilosos sustentam
rachaduras/fissuras mesmo quando saturados; emprego de maior energia para
separar as partículas a partir de trincas ou vazamento concentrado, mas em
sendo removidas as partículas são pequenas e facilmente transportadas através
da rachaduras/fissuras; a resistência à erosão está relacionada a força de contato
entre a água, que percola através das trincas ou vazamento concentrado, e a
tensão de cisalhamento crítica do solo;
 Solo plástico dispersivo: solo em que, por causa da sua mineralogia e da química
da água, a erosão vai iniciar em trincas ou vazamento concentrado sob baixa
tensão e gradiente hidráulicos.

O fenômeno de dispersão contraria o conceito, há muito tempo formado, de que solos


argilosos são materiais altamente resistentes ao efeito da erosão, desenvolvida pela ação
das forças de percolação atuantes nas partículas do solo. Entretanto, devido a séries de
problemas em obras geotécnicas, sabe-se hoje que muitas argilas tendem a apresentar
comportamento dispersivo o que viabiliza o processo de erosão interna.

O grau de dispersão de materiais argilosos pode ser determinado a partir de ensaios


padronizados como o Crumb Test – NBR 13601 (ABNT, 1996a), Sedimentometria
comparativa – NBR 13602 (ABNT, 1996b) e Teor de sais na água intersticial do solo –
NBR 13603 (ABNT, 1996c).

Basicamente, a dispersão está associada à quantidade de cátions de sódio e à quantidade


de sais dissolvidos na água intersticial. Segundo a NBR 14114 (ABNT 1998), o
fenômeno da dispersão ocorre quando as forças de repulsão entre as partículas
individuais da argila sobrepujam as forças de atração, de modo que, em contato com a
água, essas partículas são progressivamente destacadas da massa de argila e formam
uma suspensão. Caso haja fluxo de água, as partículas dispersas são carreadas,
ensejando a ocorrência da erosão interna por dispersão.
30
De acordo com Sherard et al. (1972 apud ABNT, 1998), são denominados solos
dispersivos as argilas muito erodíveis, mesmo quando comparadas com solos não
coesivos como areias e siltes, as quais, em presença de água, sofrem erosão por um
processo conhecido como dispersão ou defloculação.

3.2.1. Iniciação

Existem várias formas de subdivisão dos processos de iniciação da erosão interna.


Atualmente há uma tendência de caracterização de quatro mecanismos de iniciação de
erosão interna (ICOLD, 2015 e Fell et al., 2015), sendo eles:

A. Iniciação por Vazamento Concentrado

Ocorre quando há uma abertura através da qual ocorre um vazamento concentrado e as


paredes da abertura podem ser erodidas pelo fluxo de água. Tais vazamentos
concentrados podem ocorrer em juntas de construção no maciço, zonas contínuas
contendo materiais grosseiros e/ou mal compactados ou em fissuras internas causadas
pelo estado de tensões, recalques, ressecamento ou fratura hidráulica. Em algumas
circunstâncias, estas aberturas podem ser sustentadas pela presença de elementos
estruturais, tais como vertedouros e condutos, ou pela presença de materiais coesivos
capazes de “suportar o teto” da cavidade tubular do piping.

B. Iniciação por Erosão Regressiva

Envolve o desprendimento de partículas de solos, quando o fluxo de percolação sai em


uma superfície livre não filtrada, tal como a superfície a jusante de uma fundação em
solo, a face de jusante de um aterro homogêneo ou uma zona de enchimento grosseiro
com enrocamento imediatamente a jusante de um núcleo argiloso. As partículas
separadas são levadas pelo fluxo de infiltração e a progressão gradual deste processo
culmina na formação de um tubo contínuo de erosão em direção a montante do aterro ou
da fundação da barragem.

31
Existem duas formas de erosão regressiva, “erosão regressiva com piping” e “erosão
regressiva global”. No primeiro caso, em solos arenosos o tubo de erosão é
essencialmente horizontal e o teto do tubo é formado por uma camada de solo coesivo.
Para a “erosão regressiva global” são formados tubos de erosão regressiva curtos, mas
estes colapsam sucessivamente resultando em erosão generalizada. Duas formas de
“erosão regressiva global” são reconhecidas. Na primeira, cavidades subverticais são
formadas em núcleos de maciços compostos por areias siltosas de granulometria aberta
(mal graduada) e cascalhos (não plásticos), já na segunda, ocorre o desembricamento
dos taludes de jusante de maciços areno-siltosos e de cascalhos.

Kovacs (1981 apud Barrera, 2010) descreveu o piping como um “efeito de fervura”,
quando um movimento significativo de partículas, ao longo da linha de fluxo, cria um
canal de alta permeabilidade dentro da camada e as partículas sólidas parecem “ferver”
na saída deste canal.

De acordo com Fell et al. (2005), Von Thun (1996) descreve quatro condições que
devem existir para ocorrência da erosão regressiva com piping, sendo elas:

 Caminho de fluxo de infiltração e fonte de água;


 Materiais erodíveis dentro do caminho de fluxo, e este material tem que ser
transportado pelo fluxo de infiltração;
 Saída desprotegida (sem filtro), a partir do qual o material erodido possa
escapar/emergir;
 Formação de tubo de erosão, onde os materiais participantes deste processo
devem ser capazes de formar e suportar o “teto” da cavidade erodida.

O Bureau of Reclamation (2007) registrou vários casos em que a “erosão regressiva”,


em solos de baixa plasticidade, levou a um evento significativo de erosão interna. É
importante notar que este tipo de erosão interna não é sempre rápido, podendo ser
gradual e levar décadas em vez de horas ou dias para se desenvolver. Em alguns casos,
os gradientes hidráulicos internos se apresentam em níveis críticos para períodos curtos
de tempo, e assim, a erosão será um episódio temporário.

32
C. Iniciação por Erosão de Contato

É uma forma de erosão interna que envolve a erosão seletiva das partículas finas no
contato com uma camada mais grossa, causada por um fluxo que passa pela camada
mais grossa. Refere-se apenas a condições em que o fluxo na camada mais grosseira é
paralelo à interface entre a camada grossa e a fina. A erosão seletiva de partículas finas,
a partir do contato com uma camada mais grossa, causada pelo escoamento através da
camada fina com fluxo normal à superfície de contato é considerada em outra fase do
processo de erosão: continuação.

D. Iniciação por Sufusão

A sufusão envolve a erosão seletiva de partículas mais finas a partir da matriz de


partículas grosseiras, de tal modo que as partículas mais finas são transportadas pelo
fluxo de água através dos espaços vazios entre as partículas maiores, deixando para trás
um esqueleto formado pelas partículas mais grossas.

Um filtro construído com materiais internamente instáveis possui um potencial de


erosão das partículas mais finas, que sendo concretizada torna a matriz do filtro mais
grossa e menos eficaz em proteger os materiais do solo base da erosão (Fell et al.,
2015).

Na literatura, muitas das vezes o mecanismo de sufusão é associado a solos


internamente instáveis. Segundo Li (2008) a estabilidade interna é um termo geral usado
para descrever a migração de partículas mais finas de um solo dentro dos seus poros. A
literatura relacionada a este fenômeno outros termos como: estabilidade inerente (termo
pouco usado), sufusão e sufosão. Frequentemente os termos sufusão e sufosão são
usados alternadamente na literatura.

Segundo ICOLD (2015), para a sufusão ocorrer os seguintes critérios devem ser
satisfeitos, sendo:

33
 Critério 1: O tamanho das partículas finas do solo deve ser menor do que o
tamanho dos espaços formados pelas partículas grossas, que constituem o
esqueleto básico do solo;
 Critério 2: A quantidade de partículas finas do solo deve ser apenas suficiente
para preencher os vazios do esqueleto do solo base, formado pelas partículas
grossas. Se existir mais partículas finas do que o necessário para preencher os
vazios, as partículas grossas irão "flutuar" na matriz de finos, em vez de formar
o esqueleto do solo;
 Critério 3: A velocidade de fluxo, através da matriz do solo, deve impor uma
tensão suficientemente elevada para superar as tensões efetivas do solo e mover
as partículas finas através dos vazios.

Os dois primeiros critérios relacionam-se com o tamanho das partículas e a distribuição


destas dentro do solo, e são denominados de “critérios geométricos”. O terceiro refere-
se às forças hidráulicas, produzidas pelo fluxo de água, que proporcionam o movimento
de partículas do solo, chamado de “critério hidráulico”.

3.2.2. Continuação

A fase de continuação da erosão está atrelada ao fato de a barragem contar ou não com
um sistema de drenagem interna. No caso de contar com um sistema de drenagem
interna, outro ponto importante a avaliar é se este sistema é eficiente, ao passo de
interromper o processo de erosão. No item 3.7 são discutidos os critérios de
classificação dos limites de erosão.

A partir dos conhecimentos e práticas de engenharia, foram constatadas pelos


engenheiros de barragem que a utilização de zoneamento do aterro e de sistema interno
de drenagem são formas eficazes de conter o processo de erosão (ICOLD, 2015). A
Figura 3.3 apresenta algumas configurações de seções típicas, praticadas na engenharia,
e a Tabela 3.1 mostra uma análise qualitativa das probabilidades de ocorrência de
erosão interna, segundo essas configurações.

34
Figura 3.3 – Alguns tipos de maciço praticados na engenharia de barragens (Foster et
al., 1998 apud Filho, 2013).

Tabela 3.1 – Classificação de probabilidade de ocorrência de erosão interna em


barragens de acordo com o tipo de maciço (Foster et al., 2000 apud Filho, 2013).
Probabilidade de
Tipo / Categoria de maciço (ver Figura 3.3) ocorrência de Controle de erosão interna
erosão interna
Barragem homogênea (0)
Barragem de terra com proteção de pé em enrocamento A. Alta Pouco ou nenhum controle
(2)
Barragem zoneada (3)
Barragem zoneada de terra e enrocamento (4) Algum controle, a depender
Barragem com núcleo de "argila pura" (puddle core) B. Moderada dos materiais do maciço e da
(8) eficiência do filtro
Barragem com núcleo em aterro hidráulico (11)
Barragem de terra com face de concreto (6)
Controle moderado, a
Barragem de enrocamento com face de concreto (7)
depender da eficiência do
Barragem de terra com núcleo de concreto (9) C. Baixa
filtro e dos dispositivos em
Barragem em enrocamento com núcleo de concreto
concreto
(10)

Barragem de terra homogênea com filtros granulares Bom controle, a depender de


(1) D. Muito baixa boa qualidade de projeto e
Barragem de terra com espaldares em enrocamento (5) construção do maciço e filtros

Dependendo do zoneamento e do modo de falha da barragem, alguns cenários de


continuação da erosão interna através do aterro podem ser definidos. A partir disso, Fell
35
et al. (2015) apresentaram alguns cenários e avaliação de continuação da erosão, como
mostrado na Tabela 3.2.

Tabela 3.2 – Cenários e avaliação de continuação da erosão interna através do aterro de


uma barragem (Adaptado de Fell et al., 2008 apud Fell et al., 2015).
Cenários Avaliação Exemplos

1. Barragem
homogênea sem Não há potencial
filtro para filtragem. A
interceptando erosão contínua é
totalmente o certa.
aterro.

Fissura/alta
permeabilidade
2. Maciço de
através do núcleo
jusante com
pode se estender
material coesivo,
para o maciço de
capaz de manter
jusante ou não, e
uma fissura/
encontrar uma
tubulação.
saída desprotegida
(sem filtro).
Avaliar a
3. Zona de filtro/
probabilidade da
transição à
zona de filtro ou
jusante do núcleo
transição ser eficaz
ou zona do
usando os critérios
maciço de
de projeto de filtro
jusante incapaz
de Foster (1999),
de manter uma
Foster e Fell
fissura/tubulação.
(1999a, 2001).
Para a continuação
da erosão através
de um fissura/junta
4. Piping em uma aberta, esta deve
junta ou fissura ser suficientemente
aberta. aberta para
permitir que o solo
em volta passe
através dela.
Cenário aplicável
se o caminho de
infiltração que vai
para o dreno de pé
pode conduzir à
5. Erosão em erosão contínua os
direção ao dreno materiais do aterro
de pé. ou fundação.
Avaliação
considerando
detalhes de projeto
e construção do
dreno.

36
3.2.3. Progressão

Uma vez iniciada e não interrompida pela ação do filtro na barragem, a erosão interna
vai progredir caso existam condições hidráulica e/ou mecânica adequadas (ICOLD,
2015), das quais:

 Condição hidráulica adequada: a água que escoa através da barragem, deve gerar
uma velocidade de percolação de modo a fornecer energia, ou força de arraste,
suficiente para continuar a transportar as partículas do solo, ao longo de
aberturas e superfícies externas da barragem, em um processo contínuo;
 Condição mecânica adequada: a água só escoa através de caminhos preferenciais
na barragem porque esses caminhos são criados por fratura hidráulica e/ou o
“tubo” ou cavidade, através da qual as partículas erodidas estão sendo
transportadas, não colapsa. Solos plásticos (coesivos), quando saturados e
parcialmente saturados, podem sustentar aberturas pelo solo criando “teto” e
“parede”. Solos como siltes não plásticos, areias e cascalhos, em geral, não
conseguem sustentar o “teto” da abertura, entrando em colapso quando são
saturados. No entanto, solos não plásticos parcialmente saturados e com elevado
percentual de finos podem conter uma abertura ao longo da superfície freática,
pelo efeito da sucção, podendo entrar em colapso com a saturação.

Segundo o ICOLD (2015), a fase de progressão da erosão pode ser interrompida,


considerando as condições hidráulicas, nos casos em que o fluxo através do “tubo”
formado pelo fluxo concentrado, erosão de contato ou sufusão, sofre uma perda de
potencial devido a dissipação da carga hidráulica nas zonas a montante ou a jusante.
Neste caso, uma condição de equilíbrio pode-se estabelecer e as forças de erosão
tornam-se iguais ou menores do que as forças de resistência. No caso da erosão
regressiva, a interrupção da progressão do “tubo” acontece se o gradiente hidráulico do
processo é menor do que o gradiente crítico.

Considerando as condições mecânicas, tem-se que a progressão pode ser interrompida,


se as partículas de uma zona a montante do núcleo da barragem, transportadas através
do “tubo” em desenvolvimento, eventualmente criam uma camada que sela o filtro

37
interrompendo a progressão da erosão. Para que isto ocorra, deve existir um filtro de
transição a jusante do núcleo para interceptar as partículas erodidas (ICOLD, 2015).

3.2.4. Mecanismo Final de Falha

Caso as fases da erosão interna tenham sido concluídas sem ocorrência de processos de
estabilização, combinadas com o insucesso das ações de detecção e intervenção do
processo é praticamente inevitável o colapso da barragem. A ruptura ocorrerá por um
dos mecanismos mais comuns listados por Fell e Fry (2007 apud Filho, 2013), como
apresentados na Figura 3.4, por ordem de frequência observada de ocorrência.

Figura 3.4 – Mecanismos finais de falha devidos a eventos de erosão interna (Fell e Fry,
2007 apud Filho, 2013).

3.3. FATORES QUE INFLUENCIAM A EROSÃO INTERNA

Foster e Fell (2000 apud Fell et al., 2005) apresentam, na Tabela 3.3, uma classificação
resumida sobre os fatores que influenciam a probabilidade de iniciação, continuação e
progressão da erosão, finalizando com o colapso da barragem. O que se segue é um
resumo das informações apresentadas, principalmente para auxiliar na avaliação de
38
barragens existentes. Um ponto discutido também é fornecer um guia útil que fomente a
execução de obras aplicando-se as boas práticas de engenharia, para reduzir a
probabilidade de problemas de erosão interna nas novas barragens.

Tabela 3.3 - Probabilidade de erosão interna e piping no aterro sobre efeitos de projeto e
construção (Foster e Fell, 2000 apud Fell et al., 2005).
Importância Relativa
Fator
Início Continuação Progressão Colapso
Geometria
Zoneamento geral B - M A
Largura do núcleo M/A - B B
Largura/altura do núcleo B/M - M B
Largura da crista - - - B/M
Borda livre - - - M/A
Propriedades da zona à jusante - - M/A A
Filtro - A A M
Compatibilidade do núcleo da barragem
Classificação M - A B
Erodibilidade/dispersividade B - A B
Densidade de compactação M - M B
Teor de umidade de
A - A B
compactação
Permeabilidade M - M B
Grau de saturação M - A B
Fundação
Irregularidades em grande escala A - B -
Irregularidades em pequena
M - B -
escala
Compressibilidade dos solos M - B B
Conduto
Se presente A - A B
Detalhes tipo/conjunto B - B -
Assentamento B - B -
Detalhes das trincheiras A - A B
Parede adjacente ao núcleo
Se presente A - A B
Inclinação M - B -
Acabamento B - B -
Volume de armazenamento - - - M
Seção de fechamento do rio/ensecadeira
M - M B
Notas: (1) Os pesos dados à importância relativa são julgados e variam de barragem para
barragem;
(2) - = não aplicado, B = baixo, M = médio, A = alto.

39
A erosão interna através do aterro, como mostrado na Tabela 3.3, pode estar associada a
estruturas inseridas no seu interior, tais como condutos, parede de vertedouro ou
estruturas de concreto, de apoio, adjacentes ao aterro compactado. Durante o processo
construtivo, pode ser observada a dificuldade de compactação do material do aterro
junto às estruturas adjacentes ou internas a ele, o que pode criar caminhos preferenciais
de percolação e, consequente, erosão interna.

3.4. INSTABILIDADE INTERNA DOS SOLOS

As características do tamanho e distribuição das partículas do solo estão intimamente


ligadas a susceptibilidade à instabilidade interna do material. Normalmente, um solo é
constituído de partículas de diferentes tamanhos. A Figura 3.5 ilustra algumas
distribuições granulométricas típicas dos solos, na qual solos com uma vasta gama de
tamanhos de partículas são considerados bem graduados (ou amplamente graduado). Ao
passo que uma graduação contendo apenas algumas frações de tamanhos é classificada
como uniforme (mal graduado). Por fim, aqueles que apresentam deficiências em alguns
tamanhos de partículas são denominados solos com graduação aberta.

Figura 3.5 – Tipos de graduações dos solos (PLTW, 2016).

De acordo com Fell et al. (2015), sendo o solo base mal graduado há uma deficiência de
partículas de tamanho médio ou apenas partículas de tamanho uniforme, possibilitando
que as partículas finas desloquem-se através dos espaços formados pelas partículas
grossas. Neste caso, maior será a susceptibilidade deste material à instabilidade interna,
representado pela curva de distribuição granulométrica, descontínua, mostrada na
40
Figura 3.6. Em tal situação, deve-se projetar um filtro capaz de controlar a erosão das
partículas mais finas do solo base.

Figura 3.6 – Granulometria de solos que são susceptíveis à instabilidade interna


(Adaptado de Fell et al., 2015).

Para Kezdi (1979), Kenney e Lau (1985) e Moffat (2005) citado em (Li, 2008), o início
da instabilidade interna é regida pela:

 Forma da curva de distribuição granulométrica, porosidade e forma das


partículas do solo;
 Combinação da tensão efetiva e gradiente hidráulico crítico.

A primeira condição representa um critério geométrico que pode ser utilizado para
determinar a susceptibilidade à instabilidade interna. Enquanto que a segunda condição
estabelece uma relação hidromecânica, que pode ser utilizada para determinar o
gradiente crítico em que a instabilidade interna se inicia a uma determinada tensão
efetiva (Li, 2008).

Segundo Rönnqvist e Viklander (2014), recorrendo-se às regras de filtragem de


Terzaghi e Peck (1948), Kezdi (1979) e Sherard (1979) propuseram,
independentemente, métodos teóricos de avaliação da estabilidade interna, dividindo a
curva de graduação do solo em uma parte fina e outra grosseira, para avaliar a
capacidade de auto filtragem do solo. Ainda de acordo com Rönnqvist e Viklander

41
(2014), posteriormente, Kezdi (1979) introduziu o conceito de sufusão como um
mecanismo de erosão. No entanto, sob a ótica do USACE (1953) com experiências de
filtro, Kenney e Lau (1984, 1986) promoveram, significativamente, o conceito de
estabilidade interna, propondo um método para a análise das curvas granulométricas.

3.4.1. Critérios para Avaliação da Instabilidade Interna

Barrera (2010) cita que, ao longo do tempo, vários critérios foram desenvolvidos por
diferentes autores para avaliar a susceptibilidade do solo à instabilidade interna.
Existem dois tipos de critérios básicos: os geométricos e hidráulicos, como citado
anteriormente. O critério geométrico caracteriza a potencialidade da erosão interna por
meio da análise das curvas granulométricas. O critério hidráulico preconiza que se um
solo é classificado como potencialmente instável, ele não é por si só instável, mas
precisa de uma força “externa”, decorrente do fluxo de água, e gradientes hidráulicos
suficientemente altos para ocasionar a sufusão ou piping.

Várias pesquisas foram desenvolvidas, a partir de ensaios de laboratório, para


elaboração desses critérios. A Tabela 3.4 apresenta uma breve descrição das amostras e
condições de teste de ensaios adotadas por alguns autores da literatura.

Tabela 3.4 – Algumas pesquisas de instabilidade interna, com breve descrição das
amostras e condições de teste (Adaptado de Li, 2008).

Tamanho da Sobrecarga Qualidade Gradiente Direção do Tipo de


Autor Vibração
amostra (cm) (kPa) da água hidráulico fluxo critério
Kenney e h = 20,0 a
Água Punção
Lau 50,0 10 Re > 10 Descendente Geométrico
recirculada manual
(1985) d = 24,5 ou 58
Adel et
Não
al. l = 105,0 0 0–1 Horizontal - Hidráulico
mencionado
(1988)
Skempton
h = 15,5 Não
e Brogan 0 0–1 Ascendente - Hidráulico
d = 13,9 mencionado
(1994)
Wan and h = 25,0 a
Não Descendente/ Geométrico/
Fell 30,0 0 10 – 20 -
mencionado ascendente hidráulico
(2004) d = 30,0
h = 30,0 a
Moffat Destilada e Descendente/
50,0 25 a 175 1,0 – 65 - Hidromecânico
(2005) desaerada ascendente
d = 28,0

42
Li (2008) ressalta que na revisão da literatura é possível encontrar vários critérios
geométricos desenvolvidos para avaliar o potencial de instabilidade interna de solos
pouco coesivos. Entre eles, os critérios de Kezdi (1979), Kenney e Lau (1985, 1986) e
Burenkova (1993) são os mais comumente preconizados para uso na prática de
engenharia. Estes critérios avaliam a instabilidade interna de solos granulares,
baseando-se em diferentes hipóteses e ensaios.

Segundo Li (2008), estudos limitados foram realizados associados à abordagem do


critério hidráulico, como os de Adel et al. (1988), Skempton e Brogan (1994), Richards
e Reddy (2007). Outra observação deste autor é que o primeiro e único estudo do efeito
combinado entre o gradiente crítico e tensão efetiva, no início da instabilidade interna,
foi realizado por Moffat (2005), sendo razoável observar que esta relação ainda não foi
estabelecida de forma abrangente.

Levando em consideração que o critério geométrico proposto por Kenney e Lau (1985,
1986) seja um dos mais utilizados, este será abordado com mais detalhes no item 3.7.2.
O critério hidráulico proposto por Adel et al. (1988) se diferencia dos demais, pelo fato
de ter sido realizado ensaio com imposição de fluxo horizontal através do corpo de
prova, sendo também abordado com mais detalhes no item 3.7.3.

As Tabelas 3.5 e 3.6 apresentam de forma resumida alguns critérios geométricos e


hidráulicos propostos por diversos autores na literatura.

43
Tabela 3.5 - Resumo de alguns critérios geométricos para a avaliação da
susceptibilidade do solo à instabilidade interna (Compilado de Barrera, 2010).
Avaliação da susceptibilidade à instabilidade interna com base no critério geométrico
Autor Observação Critério

Se Cu < 10, o solo é internamente estável;


Avaliação com base no coeficiente de
Isotomina (1957) Se 10 < Cu < 20, transição de estabilidade;
uniformidade (Cu = D60/D10).
Se Cu > 20, o solo é internamente instável.
Proposto para solos com graduação aberta.
Divisão da curva granulométrica em duas
De Mello (1975) Se D15g/D85f ≤ 5, o solo é internamente estável.
porções, fina e grossa, em algum ponto
arbitrário.
Critério similar ao proposto por De Mello
Se todas as razões D15g/D85f ≤ 4 a 5, o solo é
Sherard (1979) (1975). Porém, não restrito a solos com
internamente estável.
graduação aberta.

Divisão da curva granulométrica em duas


Se D15g/D85f ≤ 4, o solo é internamente
Kezdi (1979) porções, fina e grossa, em algum ponto
estável.
arbitrário.
Realizou-se 20 ensaios em pedregulho
0,76 x log (h”) + 1 < h’ < 1,86 x log (h”) + 1,
arenoso, partículas com tamanho máximo de
Burenkova (1993) domínio dos solos que não susceptíveis à
100mm e Cu acima de 200. Definição de limite
sufusão.
para solos susceptíveis ou não à sufusão.
Ensaios com partículas de vidro para controle
Tomlinson e Vaid
de forma, textura superficial e uniformidade de D15g/D85f < 8, não apresenta erosão interna.
(2000)
tamanho.

Análise de solos com graduação aberta, de


*H/F = 1 (Kenney e Lau) pode ser estendido a
Garner et al. (2002) origem glacial. Ensaios com 600kPa de carga
solos com mais de 20% de finos.
axial e fluxo ascendente.
Considerações: (1) o método de Kezdi (1979)
Ensaios em permeâmetros, sob fluxo mostrou-se preciso; (2) a regra empírica H/F =
Moffat (2002) descendente, com aplicação de tensão de 1, Kenney e Lau (1985, 1986) é razoável, mas
25kPa e i= 0,1 a 18. pode ser extremamente limitada pelo % de
finos estimado.
Considerações: (1) o método de Isotomina
(1957) é pouco assertivo; (2) os métodos de
Kezdi (1969), De Mello (1975) e Sherard
(1979) são muito conservadores; (3) o método
Para solos pedregulho areno siltoso e
de Kenney e Lau (1985, 1986) é de certa
Wan e Fell (2004a) pedregulho areno siltoso e argiloso, com % de
forma conservador por classificar alguns solos
finos (plásticos e não plásticos) variável.
internamente estáveis como instáveis; (4) o
método de Burenkova (1993) é menos
conservador do que o de Kenney e Lau (1985,
1986).
Probabilidade do solo ser internamente
instável:P=(exp (z))/([1-exp (z)]),
Proposto para solos pedregulho areno siltoso e sendo:Z=2,378 log (h”) – 3,648h’ + 3,701
Wan e Fell (2008) pedregulho areno argiloso, com graduação (para solos com IP=13% e 10% de finos) e
aberta e amplamente bem graduado. Z=3,875 log (h”) – 3,591h’ + 2,436 (para
pedregulhos arenosos com menos de 10% de
finos plásticos)
Considerações: (1) o método de Kezdi
Ampliou os estudos feitos por Moffat (2002). apresenta melhores resultados para solos com
Ensaio de seis tipos de graduações com graduação aberta; (2) o método de Kenney e
Li (2008) diferentes índices geométricos: (H/F)min =0,4 a Lau apresenta melhores resultados para solos
1 e D15g/D85f = 4 a11. Aplicação de tensão de amplamente bem graduados; (3) o método de
25 a 200kPa e imáx.= 65. Burenkova é menos conservador do que o de
Kezdi e Kenney e Lau.
Nota: D15g = Diâmetro com 15% passante na fração grosseira, D85f = Diâmetro com 85% passante na fração fina; h’ =
D90/D60 e h” = D90/D15 : fatores de uniformidade.
(*) Parâmetros H e F definidos no item 3.8.1.

44
Tabela 3.6 - Resumo de alguns critérios hidráulicos para a avaliação da susceptibilidade
do solo à instabilidade interna (Compilado de Barrera, 2010).
Avaliação da susceptibilidade à instabilidade interna com base no critério hidromecânico
Autor Critério Conclusão
Terzaghi Gradiente hidráulico crítico, do fluxo vertical ascendente, que reduz a
(1939) tensão efetiva do solo a zero.
Skempton e
Para pedregulho arenoso, internamente instável, erosão inicia com
Brogan Curva ic versus (*H/F)mín.
gradiente hidráulico crítico de 1/3 a 1/5.
(1994)
Ressalta a importância do controle: da razão entre os tamanhos das
Tomlinson e
- partículas, espessura do filtro e magnitude da taxa de crescimento do
Vaid (2000)
gradiente hidráulico, das quais podem influenciar o início do piping.
Ensaios para avaliar: (1) se o aumento do gradiente hidráulico por si só,
é suficiente para iniciar o processo de erosão; (2) introdução de água
Garner et al.
- gasosa nas amostras, a fim de desencadear o processo de sufusão. Os
(2002)
resultados dos testes mostraram que o processo sufusão pode ser
iniciado por introdução no solo de água com gases dissolvidos.

Embora exista uma base razoavelmente confiável na identificação de


solos internamente estáveis, o papel das influências hidrodinâmicas e as
Moffat (2002) -
consequências da instabilidade (em termos de massa total perdida de
solo) não podem ser descrita com confiança.

(1) Para os solos internamente instáveis testados, todos começaram a


erodir com i ≤ 0,8 ou, e muitos com i < 0,5; (2) não existe uma relação
matemática definitiva entre ic e Cu, e (*H/F)min e o % de finos; (3) solos
com alta porosidade tendem, geralmente, a erodir sob ic menores; (4)
solos com finos argilosos erodem com ic maior que solos similares, mas
Wan (2004) -
sem finos argilosos; (5) a densidade do solo tem um efeito significativo
sobre o ic, solos com maiores densidades apresentaram gradiente maior,
dado o mesmo teor de finos; (6) solos com granulometria descontínua
são erodidos a um i mais baixo do que solos melhor graduados, com o
mesmo teor de finos.
Ensaios em areia com pedregulho e areia siltosa com pedregulho: (1) o
início da instabilidade interna é ativado por um aumento do ic aplicado;
(2) existe uma relação linear entre ic e σ’v; (3) cada graduação produz
Moffat (2005) - diferentes caminhos hidromecânicos, que caracterizam o início da
instabilidade interna; (4) não encontrou-se uma taxa de aumento do i
médio que exercesse um controle significativo no ic e governasse o
início da instabilidade interna.
Ensaios em areia com 5, 10, 20 e 30% de argila (plasticidade igual a
33): (1) a erosão da argila não afeta a distribuição granulométrica ou o
volume da amostra, apenas diminuição a permeabilidade (sufusão); (2)
a sufusão aumenta de acordo com i; (3) o percentual de argila afeta
significativamente na sufusão, visto que i para 20% de argila é quase o
dobro de i para 10%; (4) a porosidade inicial também afeta a sufusão
Bendahmane
quando o confinamento na célula triaxial diminui de 150 para 100 kPa,
et al. (2008)
dobrando as taxas de sufusão; (5) quando o aumento do i alcança um
certo limite, começa a erosão da areia e argila, causando um colapso
total na amostra (erosão regressiva); (6) os ic erosão regressiva de são
elevados e aumentam com menor confinamento; (7) a erosão regressiva
é afetada pela porcentagem de argila presente na amostra; para
percentuais acima de 10%, o fenômeno não se desenvolveu.
(1) a combinação da σ’v e ic influência o início da instabilidade interna.
Considera-se o limite do início da instabilidade interna como
Li (2008) - envolvente hidromecânica; (2) a relação entre ic e σ’v é definida como
envolvente hidromecânica, sendo diferente para cada graduação; (3) i c é
proporcional à σ’v.
Notas: = Peso específico submerso do solo; =Peso específico da água; Gs=Peso específico relativo; n=porosidade;
D15g = Diâmetro com 15% passante na fração grosseira, D85f = Diâmetro com 85% passante na fração fina.
(*) Parâmetros H e F definidos no item 3.7.1.

45
A partir dos critérios abordados nas Tabelas 3.5 e 3.6 é percebido que os critérios
hidráulicos ou hidromecâmicos apresentam maior complexidade, comparados aos
critérios geométricos. Os critérios geométricos apresentam-se melhor definidos dentro
de uma expectativa de avaliação da susceptibilidade do solo à instabilidade interna, e a
obtenção da curva granulométrica do solo é um processo relativamente simples e rápido
de se conseguir em laboratório. Já as relações dos critérios hidráulicos ou
hidromecâmicos apresentam-se diferentes para cada graduação, e os autores se a têm
mais a avaliação de comportamento e tendência dos resultados dos ensaios.

3.4.2. Critério Geométrico de Kenney and Lau (1985, 1986)

Kenney e Lau testaram, em laboratório, um total de 23 graduações de amostras de solos,


modeladas em permeâmetros de carga constante sob fluxo descendente e vibrações,
para determinar o potencial de instabilidade interna em solos granulares pouco coesivos
(Ahlinhan et al., 2012).

Em 1985, estes autores propuseram transformar a curva de distribuição granulométrica


comum em um diagrama de F-H, denominado curva de forma, onde F é a porcentagem
de massa de grãos com diâmetros inferiores a um determinado diâmetro D e H é a
porcentagem de massa de grãos com diâmetros entre D e 4D. A partir daí,
estabeleceram que solos mal graduados com o valor mínimo de H/F ≥ 1,0, para F ≤
30%, e solos bem graduados com o valor mínimo de H/F ≥ 1,0, para F ≤ 20%, são
assumidos como internamente estáveis (Ahlinhan et al., 2012).

Em resumo, pode-se concluir que o critério admite que o solo cuja curva de forma se
localiza acima da linha H = F, para os intervalos 0% < F < 20% ou 0% < F < 30%, é
considerado internamente estável, entretanto, se parte dessa curva se apresentava abaixo
da linha H = F, o solo será considerado instável.

O método foi desenvolvido para filtros de zonas de transição com menos do que 5% de
finos passando na peneira de 0,075 mm (ICOLD, 2013).

46
As Figuras 3.7 e 3.8 apresentam graficamente os métodos para obtenção da curva de
forma (Kenney e Lau, 1985) e para avaliação da estabilidade interna de solos – Kenney
e Lau (1985, 1986), respectivamente.

Figura 3.7 – Representação gráfica do método para determinação da curva de forma


(Kenney e Lau, 1985 apud Filho, 2013).

Figura 3.8 – Representação gráfica do critério para a avaliação da estabilidade interna


(Kenney e Lau, 1985 e 1986 apud Filho, 2013).
47
Kenney e Lau desenvolveram ao longo de 1984 a 1986 vários estudos e propuseram os
limites de avaliação de instabilidade e estabilidade interna do solo como apresentado na
Figura 3.9. Barrera (2010) salienta que apesar do valor limite de H/F ter sido ajustada
para 1,3, estudos e discussões posteriores de Lubochkov (1969), Milligan (1986),
Sherard e Dunnigan (1986) e Ripley (1986) concordaram que este limite era
conservador, o que possibilitou a adoção do limite H/ F≤1.

Baseado em Wan (2006), Li (2008) e Li e Fannin (2008), os autores Rönnqvist e


Viklander (2014) comentam que o método de Kenney e Lau foi validado por
comparação com ensaios de outros autores na literatura, e adaptações foram feitas para
melhorar potencialmente a sua capacidade preditiva.

Figura 3.9 – Evolução dos limites entre graduações estáveis e instáveis de Kenney e Lau
(Kenney e Lau, 1984 e 1986 apud Rönnqvist e Viklander, 2014).

De acordo com Filho (2013), faz-se importante destacar as ressalvas feitas por Kenney e
Lau (1985, 1986) na conclusão do trabalho desenvolvido por eles, sendo:

 O método mais seguro para se determinar a estabilidade ou não de um material é


a realização de ensaios de percolação para as condições a serem praticadas
durante a vida útil da estrutura a ser dimensionada;
 Ensaios que combinam altas velocidades de percolação e vibração, representam
condições mais severas do que as encontradas na prática, porém tais condições

48
se justificam pela pequena duração dos ensaios em comparação à vida útil das
estruturas construídas em campo.

3.4.3. Critério Hidráulico de Adel et al. (1988)

Adel et al. (1988, apud Li, 2008) testaram três solos comumente utilizados em obras de
proteção de encosta e diques na Holanda. A amostra ensaiada possuía 105,0cm de
comprimento com uma malha confinando a maior parte do material (Figura 3.10).
Nenhuma sobrecarga foi aplicada à amostra, e o fluxo unidirecional foi aplicado
segundo uma direção horizontal. Qualquer carreamento de partículas finas foi coletado
em uma caixa de areia. A taxa de perda de partículas finas, definida como aquela para o
transporte de 1g/m2.s, foi utilizada para determinar o valor do gradiente hidráulico
crítico. Esta taxa foi medida durante 30 minutos ou mais. Uma relação linear foi
proposta entre gradiente hidráulico crítico (icr) e (H/F)min, como apresentado na Figura
3.11.

Figura 3.10 – Ensaio com fluxo horizontal (adaptado Adel et al., 1988 apud Li, 2008).

Figura 3.11 – Critério hidráulico para fluxo horizontal (adaptado Adel et al., 1988 apud
Li, 2008).

49
Nesses ensaios Adel et al. (1988) obtiveram gradientes hidráulicos, característicos do
início da erosão, da ordem de 0,70 para material estável e 0,16 a 0,17 para material
instável, conforme apresentado na Tabela 3.7. Estes valores apresentam-se menores do
que os valores obtidos, por exemplo, por Skempton e Brogan (1994). Neste caso, esta
diferença pode ser atribuída à direção do fluxo ensaiado, ou seja, as partículas
submetidas ao fluxo vertical, que se opõem à gravidade, apresentam maior dificuldade
de movimentação, com gradientes maiores do que no fluxo horizontal.

Tabela 3.7 – Valores experimentais de gradientes críticos para solos granulares


(Skempton and Brogan, 1994 apud Jantzer et al., 2010).
Fluxo horizontal Fluxo vertival ascendente
Material
den Adel et al., 1988 Skempton and Brogan, 1994
Instável 0,16 – 0,17 0,20 – 0,30

Estável 0,70 1,0

3.5. ERODIBILIDADE DO SOLO

O conceito de erodibilidade do solo está relacionado com a susceptibilidade ou


vulnerabilidade deste sofrer erosão e sua resistência à desagregação. A quantificação da
erodibilidade do solo é um processo complexo por depender de vários fatores, sendo
eles mineralógico, químico, físico, geométrico e morfológico. O balanço dos atributos
favoráveis e desfavoráveis ao processo é que, ao final, possibilita concluir-se quanto as
propriedades e grau de erodibilidade.

Na literatura é possível encontrar vários tipos de ensaios de laboratório propostos para o


estudo da iniciação da erosão interna. Alguns destes ensaios são resumidamente citados
a seguir (Fell et al. (2015):

 Ensaios para avaliação da erosão por vazamento concentrado, como:


o Rotating Cylinder Tests (RCT) realizados por Arulanandan e Perry
(1983), Chapius (1986a,b), Chapius e Gatien (1986), Lim (2006), Lim e
Khalili (2010);
o Slot Erosion Tests (SET) e Hole Erosion Tests (HET) realizados por
Wan (2006), Wan e Fell (2002, 2004a,b), Bonelli et al. (2007);
50
o Jet Erosion Tests (JET): Hanson (1990, 1991), Hanson e Cook (2004).
 Ensaios para avaliação da erosão regressiva com piping modelados em calhas
hidráulicas. Os primeiros ensaios foram relatados por Witt et al. (1981), Silvis
(1991), Weijers e Sellmeijer (1993) e Technical Advisory Committee (1999) e
foram desenvolvidos no laboratório Delft Geotechnics em Netherlands.
Schmertmann (2000) desenvolveu um método que se baseia nos ensaios de
erosão regressiva com piping em calhas na Universidade da Flórida;
 Ensaios para definição de métodos para previsão da iniciação e progressão da
erosão regressiva global, como realizados por Sun (1989), Marot et al. (2007) e
Bendahmane et al. (2008), Moffat e Fannin (2011) e Moffat et al. (2011);
 Ensaios para avaliação da sufusão realizados por Kenney e Lau (1985, 1986),
Wan e Fell (2004c, 2007), Fell et al. (2008), Fell e Fry (2013) e Li e Fannin
(2012);
 Ensaios para avaliação da erosão de contato realizados por Istomina (1957),
Brauns (1985), Wörman e Olafsdottir (1992), Guidoux et al. (2010) e Den Adel
et al. (1994), Schmitz (2007) e Beguin (2011).

3.5.1. No Erosion Filter – NEF

Numerosos critérios, baseados em ensaios de laboratório, foram propostos para projeto


de filtro a partir dos quais alguns são mais aceitos e implementados. ICOLD (1994) e
USBR (1987) citado em Shourijeh et al. (2011), afirmam que embora os critérios
propostos levaram a performances comprovadas, a realização ensaios de laboratório,
ainda é o método mais confiável para a seleção de filtros.

O ensaio de não erodibilidade de filtro (NEF – No Erosion Filter) é reconhecido como


um teste competente especialmente para solos com granulometria fina (argila). Este
ensaio, também conhecido por Pinhole Test, foi inicialmente proposto por Sherard et al.
(1976) e posteriormente normatizado pelas normas brasileira e internacional NBR
14114 (1998) e ASTM D4647M (2013), respectivamente. De acordo com Soroush et
al. (2011), muitos pesquisadores como Khor e Woo (1989), Foster e Fell (1999),
Delgado e Locke (2000), Soroush e Shourijeh (2004) e Soroush et al. (2008) repetiram

51
os testes NEF, salvo algumas particularidades, para fundamentar filtros adequados e
avaliar a credibilidade dos critérios propostos para dimensionamento de filtro.

Os testes de NEF realizados por Sherard et al. (1984a e b, apud Fell et al., 2015) foram
dirigidos no sentido de buscar a distribuição granulométrica das partículas do filtro que
oferecessem condições para impedir a erosão interna ou minimizar sua ocorrência.

No ensaio NEF, água sob alta pressão é passada através de um pequeno buraco, de
1,0mm, feito na camada compactada do material do solo base sobrejacente ao material
do filtro, como mostrado na Figura 3.12.

Segundo Soroush et al. (2011), durante os testes de NEF, em solos de baixa plasticidade
de granulação fina, existe uma chance que as regiões superiores do buraco amoleçam
levando ao seu fechamento. Em tais casos, nenhum fluxo emerge através do orifício
(isto é, para fora do aparelho), consequentemente, a funcionalidade do filtro não pode
ser testada. Para contornar este problema, Soroush e Shourijeh (2009, apud Soroush et
al., 2011) recomendam a utilização de um cone truncado (bocal) que se introduz na
amostra de solo base para dar suporte ao furo durante o teste, semelhante ao detalhe
ilustrado na Figura 3.13.

Figura 3.12 – (a) Fotografia do aparelho de teste NEF; (b) Representação esquemática
das camadas de solos durante o ensaio (Adaptado de Soroush et al., 2011).

52
Figura 3.13 – Ilustração esquemática do detalhe do bocal no teste NEF (Adaptado de
Soroush e Shourijeh, 2009 apud Soroush et al., 2011).

Os resultados deste teste permitem considerações preditivas sobre a performance do


filtro. Segundo Kingsland et al. (2012), para a interpretação dos resultados do ensaio e,
consequentemente, avaliação do desempenho do filtro deve-se considerar:

 Vazão inicial;
 Clareza da água efluente e no caso de turbidez, o tempo que ela demora a
clarear;
 Evidência de erosão da amostra de solo base;
 Evidência de erosão da base para o material do filtro.

Se água turva emergir é sinal que alguma erosão tenha ocorrido e que as partículas
erodidas não foram retidas no filtro, então conclui-se que filtro não desempenhou com
sucesso seu papel de proteção. Além disso, pelo ensaio de Pinhole test é possível obter a
classificação do solo base quanto ao grau de dispersão, como apresentado na Tabela 3.8.

Tabela 3.8 – Resumo dos critérios interpretativos do ensaio Pinhole Test (Furo de
Agulha) ASTM D4647M-13 adaptado a NBR 14114-98 (Ramidan, 2003).

53
Este ensaio visa simular a condição em que ocorre a formação de um vazamento
concentrado através do núcleo ou aterro de uma barragem, de modo que na interface
entre o solo base e o filtro ocorram altos valores de cargas e gradientes hidráulicos (Fell
et al., 2015). Caso as partículas erodidas do solo base concentrem-se na interface de
filtragem e o fluxo pela abertura seja interrompido, como esquematizado na Figura 3.14,
o desempenho do filtro é considerado satisfatório.

Figura 3.14 – Detalhe mostrando vazamento concentrado através do núcleo da barragem


com descarga para o filtro à jusante (Sherard et al., 1984b apud Fell et al., 2015).

O ensaio para avaliação da erodibilidade do solo, como apresentado até o momento,


aborda a erosão em termos de fluxo perpendicular à interface solo base e filtro. No caso
de fluxo paralelo à interface, é possível realizar ensaio com equipamento de laboratório
semelhante ao mostrado na Figura 3.12, porém inclinando-se o equipamento de modo a
permitir a variação do gradiente hidráulico (Figura 3.15).

Figura 3.15 – Equipamento hidráulico, filtro-caixa, com condições de fluxo paralelo


(Adaptado de Bakker et al., 1990 apud ICOLD, 1994).

54
Este ensaio avalia o fluxo entre materiais adjacentes, tais como, entre o aterro e rip rap
de enrocamento, entre materiais de transição, casos específicos de fluxo na face de um
dique ou revestimento sujeito à ação de ondas, e fluxo paralelo à margem de canal. De
acordo com ICOLD (1991, apud ICOLD, 1994), para filtro sob enrocamento verifica-se
que filtros razoavelmente bem graduados, com diâmetro máximo dos grãos entre 8 e
10cm (3 ou 4 polegadas), são satisfatórios para a grande maioria das barragens. Entanto,
estes filtros podem estar sujeitos à segregação e não proteger de forma eficiente contra a
influência frequente da ação das ondas.

Fell et al. (2015) consideram que para as camadas finas de rip rap sobre barragens
importantes (associada a dano potencial de ruptura), com ação significativa de ondas
advindas do reservatório, devem ser projetados filtros criteriosos.

3.6. MEDIDAS CONTRA A EROSÃO INTERNA

Um dos fatores que desencadeiam a erosão interna é a presença de altos gradientes


hidráulicos. Neste caso, uma das formas de prevenção da ocorrência deste fenômeno
seria a diminuição dos gradientes hidráulicos atuantes no aterro e fundação da
barragem.

O gradiente hidráulico é definido pela relação entre a carga hidráulica e a distância de


percolação da água; assim para diminuir o gradiente é necessário a diminuição da carga
hidráulica ou aumentar a distância de percolação. Neste caso, algumas técnicas de
controle de percolação, pela fundação, possibilitam o aumento da distância de
percolação como, por exemplo, construção de parede diafragma, tapete impermeável a
montante da barragem e trincheira de vedação (cut off).

Segundo Moreira (1981, apud Matheus, 2006) ocorre com frequência interpretações
erradas associando segurança à erosão interna somente à redução dos gradientes.
Segundo o autor, a análise de segurança contra o piping, deve contemplar a comparação
entre forças de percolação e forças de gravidade. Logo, para o autor, o estudo mais
adequado de piping envolve o estabelecimento do estado de tensões no maciço durante

55
todas as fases de operação da barragem, uma vez que, tanto a força de percolação
atuante quanto a resistente, de gravidade, são função do estado de tensões.

O ICOLD (2013) cita algumas intervenções que podem ser aplicadas isoladamente ou
em conjunto, para prevenir a progressão da erosão interna, sendo:

 Rebaixar o nível do reservatório usando comportas do vertedouro ou


descarregadoras de fundo;
 Instalar poços de alívio de pressão no aterro e na fundação;
 Construir filtros invertidos nas áreas onde o material erodido emerge da
fundação e/ou do aterro;
 Construir bermas de estabilização para reduzir a probabilidade de alcance da
erosão, instabilidade de taludes, ou descalçamento;
 Lançar material granular (areia/cascalho/enrocamento) no lado de montante em
buracos de focos erosivos para tentar bloqueá-los.

A curto e médio prazo, o aumento do controle e/ou monitorização da barragem pode ser
usado como intervenção. Para barragens antigas, onde pouco se sabe sobre a geometria
interna e solos utilizados na construção, considerando que os riscos para a sociedade
sejam médios a baixos, o controle e/ou monitorização pode ser a forma mais eficaz de
gestão de risco (ICOLD, 2013).

Normalmente o sistema interno de drenagem é um método eficaz e simples de controle


da erosão interna. Fell et al. (2015) comentam que a presença de filtros bem projetados,
para controle das etapas de continuação e progressão da erosão no aterro e fundação da
barragem, podem praticamente eliminar as chances de ocorrência do piping. No entanto,
isto dependente de um bom projeto geotécnico, no qual os filtros interceptem todo o
fluxo através do aterro. Os autores destacam que ainda assim, alguns pontos “cegos” por
vezes podem existir.

56
3.7. CRITÉRIOS DE EROSÃO

Segundo Sherard e Dunning (1989) e Peck (1990), citado em Foster e Fell (1999c), uma
das principais funções do filtro localizado à jusante do núcleo é prevenir o
desenvolvimento do piping através da barragem na eventualidade de um vazamento
concentrado através do núcleo. O bom desempenho de barragens com filtros projetados
de acordo com os critérios modernos têm provado que esses filtros são capazes de
proporcionar a vedação de vazamentos concentrados, de forma confiável.

Foster (1999), Foster e Fell (1999a, 2001), citado em Foster e Fell (1999c), utilizaram
os dados dos ensaios de Sherard (1984a, b) e ensaios adicionais utilizando equipamento
de teste similar ao do ensaio NEF, para o desenvolvimento do conceito dos limites de
nenhuma, alguma, excessiva e contínua erosão, ilustrado na Figura 3.16.

Fell et al. (2015) comentam que Foster (1999), Foster e Fell (1999a, 2001) fizeram
análises estatísticas dos resultados dos ensaios de laboratório em materiais de filtro
realizados por Sherard e Dunningan (1989), pela University of New South Wales e
ensaios adicionais utilizando equipamento de teste similar ao do ensaio NEF. Estas
análises proporcionaram o desenvolvimento do conceito dos limites de comportamento
e evolução dos ensaios. Esses limites foram comparados ao comportamento das
barragens que experimentaram filtros com desempenhos bons e ruins, para permitir a
aplicação prática dos critérios e avaliação da segurança de outras barragens.

Os ensaios adicionais utilizados por Foster (1999), Foster e Fell (1999a, 2001) trata-se
do ensaio CEF (Continuing Erosion Filter), que é um ensaio modificado a partir do
NEF para avaliar, também, a erodibilidade do solo.

3.7.1. Definição dos Limites de Erosão

O sucesso ou insucesso do desempenho do filtro, avaliado por meio dos testes de


laboratório, é usualmente representado como alguma medida de erosão por perda do
material de base. A princípio, os termos utilizados para classificar o comportamento dos
testes de filtro foram desenvolvidos por Foster e Fell (1999), sendo definidos os
seguintes limites:
57
(i) Nenhuma erosão (No erosion): vedação da interface do filtro com
praticamente nenhuma erosão do solo base;
(ii) Alguma erosão (Some erosion): vedação da interface do filtro, com alguma
erosão do solo base;
(iii) Erosão contínua (Continuing erosion): o material do filtro é muito grosso
para permitir que os materiais erodidos, do solo base, viabilizem a vedação da
interface solo base/filtro, permitindo a erosão irrestrita do solo base.

O conceito de erosão excessiva (Excessive erosion) foi criado, posteriormente, e


caracteriza a vedação do filtro depois da erosão excessiva do material do solo base. O
resumo dos limites está apresentado na Figura 3.16.

Figura 3.16 – Limites de erosão do filtro (Adaptado de Foster, 1999; Foster e Fell,
1999a e c, 2001 Foster apud Fell et al., 2015).

Segundo Foster e Fell (1999), testes adicionais de filtro foram realizados utilizando uma
versão modificada do teste NEF, chamados de testes de Filtro com Erosão Contínua
(CEF - Continuing Erosion Filter), para determinar o limite da erosão contínua em
solos com D85B > 0,1mm. Os procedimentos de ensaio dos CEF foram essencialmente
os mesmos que os do ensaio NEF, tal como descrito por Sherard e Dunnigan (1989),
mas com as seguintes modificações:

58
 A água que passa através do filtro durante o ensaio é recolhida e os materiais
erodidos são secados e pesados para determinação da perda de material, do solo
base, requerida na vedação do filtro;
 Progressivamente, filtros com graduação mais grossa foram usados até que o
mesmo não fosse selado;
 Amostras com a camada do solo base mais espessa foram usadas para permitir
maiores perdas por erosão.

Ainda segundo estes autores, os testes foram realizados durante um tempo suficiente até
que ficasse evidente a selagem do filtro ou se julgasse que este não iria selar, sem
importar o quanto de erosão tivesse ocorrido no solo base. Os filtros foram julgados
como selados quando todas as seguintes condições fossem alcançadas:

 Toda pressão de alimentação fosse mantida, no espaço acima da base da


amostra, conforme medido no manômetro;
 A água que passa através do filtro estivesse clara;
 A taxa de fluxo de água que passa através do filtro diminuísse substancialmente
a partir do fluxo inicial, ficando relativamente constante.

O U.S. Department of the Interior Bureau of Reclamation (2004) complementa que o


teste CEF examina parcialmente a erosão contínua de filtros, que não cumprem os
padrões atuais de projeto. Os resultados obtidos a partir do teste CEF mostram que os
filtros podem ter um desempenho adequado, mesmo depois que alguma erosão dos
materiais do núcleo tenha ocorrido, e podem ser instrutivos ao analisar estruturas mais
antigas que não satisfazem os critérios atuais de dimensionamento de filtro.

Foster e Fell (2001, apud Hill, 2008) avaliaram o que acontece quando os filtros não
satisfazem os critérios de filtro aceitos, a partir dos dados coletados de outros
pesquisadores e de suas próprias investigações de laboratório usando os testes NEF e
CEF. A classificação de “nenhuma erosão” indica menos de 10 gramas de material
erodido do solo base, para solos pouco coesivos, e nenhuma erosão visível para solos
coesivos. O grupo de “alguma erosão” indica entre 10 e 100 gramas de material erodido
para solos pouco coesivos, seguida da vedação do filtro. A “erosão excessiva” indica a

59
vedação do filtro, mas depois de mais de 100 gramas de material erodido. Finalmente, a
classificação de “erosão contínua” que indica uma graduação demasiadamente grossa do
filtro para permitir que os materiais erodidos do solo base selem o filtro, resultando na
erosão irrestrita do solo base.

De acordo com Fell et al. (2015), existem inúmeros casos de incidentes descritos na
literatura envolvendo erosão interna e piping de materiais do núcleo para filtros de
jusante, em aterros zoneados ou núcleo central de barragens terra e enrocamento.

Algumas barragens foram construídas na década de 1960 e 1970 coincidindo com o


período quando houve uma tendência em abandonar a utilização de múltiplos filtros,
uniformemente graduados, para utilizar-se um único filtro, de largura substancial e de
ampla graduação (Ripley apud ICOLD, 1994).

A Figura 3.17 apresenta graduações de filtros, de pobre desempenho, de algumas


barragens. Estas curvas de distribuição granulométrica apresentam graduação ampla e
baixas proporções de tamanhos de areia o que tendem a torná-los suscetíveis a
segregação, durante a construção, e potencialmente instável internamente (Fell et al.,
2015).

Figura 3.17 – Graduações de filtros que apresentaram desempenho pobre (Adaptado de


Fell et al., 2015)

60
Foster e Fell (1999) e Fell et al. (2015) comentam que na literatura internacional,
apenas duas barragens, Rowallan e Whiteman, experimentaram um desempenho fraco
do filtro envolvendo erosão interna e piping de materiais do núcleo de granulometria
fina com D95B < 2 mm. Em ambos os casos, a combinação do material mais fino do
núcleo com o mais grosso do filtro, leva à categoria de erosão contínua, tal como
definido pelos testes de laboratório, isto é, D15F/9 > D95B.

Estes autores acrescentam que barragens com bom desempenho do filtro, geralmente,
têm filtros com uma média de D15F ≤ 0,5 mm, relação que apresenta material mais fino
do que o critério de dimensionamento proposto por Sherard e Dunnigan (1989) para
solo base do Grupo 2 (D15F ≤ 0,7mm). As graduações mais grossas são apenas
ligeiramente mais grossa do que isto (D15F até 1,5mm). Barragens com pobre
desempenho do filtro têm filtros com uma média de D15F > 1,0mm e, geralmente, a
perda por erosão maior ou igual a 0,25g/cm2.

Uma notável exceção é a barragem de Songa, com um intervalo de D15F de 0,4 a 1,5mm.
Estes valores são consideravelmente menores do que os de outras barragens com
desempenho ruim de filtro. No entanto, a graduação do filtro da barragem de Songa,
mostrada na Figura 3.16, é ampla e com baixa percentagem de areia, como discutido
anteriormente, sendo provável que as reais graduações locais do filtro sejam
provavelmente mais grossa do que o mostrado (Foster e Fell,1999; Fell et al., 2015).

Na avaliação dos filtros de barragens existentes, deve-se considerar a atuação do filtro


no caso do desenvolvimento de fuga concentrada através do núcleo do barramento. Com
base em dados de casos históricos e ensaios de laboratório, Foster e Fell (1999) e Fell et
al. (2015) sugeriram o provável comportamento do filtro, no caso de fluxo de fuga,
sendo:

 Vedação com nenhuma erosão: vedação do vazamento concentrado e


interrupção da erosão, com pouca ou nenhuma erosão do material protegido. O
fluxo de fuga é tão pequeno tornando-se improvável sua detecção;
 Vedação com alguma erosão: inicialmente é permita a erosão do solo base, mas
eventualmente o filtro é selado sessando a erosão. Moderado fluxo de fuga,
devido ao piping, podendo ser de até 100,0l/s;
61
 Vedação com erosão excessiva: é permite a erosão através do solo base, com um
aumento significativo do fluxo de fuga de até 1000,0l/s, com potencial para
causar buracos por abatimentos na crista e túneis de erosão através do núcleo
(piping);
 Erosão contínua: filtro com graduação grossa o que não viabiliza a interrupção
da erosão do solo base. Prováveis processos ilimitados de erosão e fluxo de fuga.

A Tabela 3.9 apresenta os critérios definidos para os limites de “erosão excessiva e


contínua”. Os critérios para o limite de “erosão excessiva” foram definidos a partir dos
estudos de caso e das análises laboratoriais. Estes critérios devem ser utilizados com
cautela e para a tomada de decisão final, devem ser apoiada nos resultados de testes de
laboratório usando o filtro/transição e materiais do núcleo da barragem (Fell et al.,
2015).

Tabela 3.9 – Critérios para os limites de erosão excessiva e contínua (Foster, 1999;
Foster e Fell, 1999a, 2001 apud Fell et al., 2015).
Critério proposto para o limite de Critério proposto para o
Solo Base
erosão excessiva limite de erosão contínua
Solo com D95B < 0,3mm D15F > 9D95B
Solos com 0,3 < D95B < 2,0mm D15F > 9D90B
Em média D15F > D15F que
proporciona uma perda, por erosão,
de 0,25 g/cm2 no ensaio CEF.
Solos com D95B > 2,0mm e teor
Limite graduação grossa com D15F
de finos > 35%
> D15F que proporciona uma perda, Para todos os solos:
por erosão, de 1,0 g/cm2 no ensaio D15F > 9D95B
CEF.
Solos com D95B > 2,0mm e teor
D15F > 9D85B
de finos < 15%
D15F > 2,5D15F de projeto, onde:
Solos com D95B > 2,0mm e teor
D15F de projeto = (35 - pp%
de finos entre 15 a 35%
0,075mm)x(4D85B - 0,7)/20+0,7
Nota: Os critérios são aplicáveis diretamente aos solos com D95B de até 4,75 mm. Para solos com partículas
mais grosseiras determinar D85B e D95B usar curvas de granulometria ajustadas para se obter a dimensão máxima
de 4,75mm.

Foster e Fell (1999) ressaltam que uma barragem, em particular, pode ter filtros com
graduação mais grossa do que a do limite de “erosão contínua”, isto não significa
necessariamente inferir que a barragem romperá no caso de um vazamento concentrado.
A avaliação da probabilidade de ocorrência do evento de piping, que conduz a ruptura
da barragem, precisa levar em conta a probabilidade de progressão do piping que
conduza a algum mecanismo de rompimento.
62
CAPÍTULO 4

CARACTERÍSTICAS E DIMENSIONAMENTO DE FILTROS

4.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Os projetos de barragens de terra devem sempre contemplar sistemas internos de


controle de percolação, consagrando na prática de projetos a adoção de aterros com
sistemas de filtros capazes de prevenir a surgência de água na face do talude de jusante
e controlar o fluxo e as poropressões no maciço e fundação.

O uso de filtros é também fundamental para o controle da erosão interna em barragens,


sendo destacado por Fell et al. (2015) que, se os filtros não funcionarem
adequadamente, maior será a probabilidade de desenvolvimento da erosão interna, o que
poderá induzir a ruptura da barragem. Estes autores propõem a diferenciação das
regiões do maciço da barragem com base nas condições de fluxo. A Figura 4.1
apresenta um modelo de perfil de barragem na qual se pode observar os vetores de fluxo
normal (N1 e N2) e paralelo (P) às interfaces de filtragem, podendo discriminar as
regiões em:

 Região crítica: fluxo normal à interface de filtragem (solo base e filtro), com
geração de altos valores de gradientes hidráulicos (N1);
 Região parcialmente crítica: fluxo normal à interface de filtragem, com geração
de baixos valores de gradientes hidráulicos (N2);
 Região não crítica: fluxo paralelo à interface de filtragem (P).

Os filtros localizados nas regiões críticas de fluxo são destacados como sendo essenciais
para o controle de fluxo, sendo então denominados de “filtro crítico”.

Baseado no conceito da continuidade, as linhas de fluxo ao passarem por dois meios


com condutividades hidráulicas diferentes sofrem difração na região de interface entre
os materiais. Neste caso, o termo fluxo normal, utilizado por Fell et al. (2015), pode ser
interpretado de acordo com o conceito da continuidade.

63
Figura 4.1 – Condições de fluxo nas interfaces de filtragem (adaptado de Fell et al.
2015).

Observa-se que os filtros críticos localizam-se, como apresentado na Figura 4.1, à


jusante do núcleo (filtro vertical) e no encontro do aterro de jusante com a fundação
(tapete drenante). Os filtros referentes às regiões críticas são essenciais, devendo ter
prioridade no tempo gasto no projeto de controle de fluxo.

Os filtros, referentes ao fluxo paralelo às interfaces dos taludes de montante e jusante,


são propostos respectivamente para controle de erosão superficial, devido à ação das
ondas advindas do reservatório da barragem e das precipitações. Se tratando de
barragem de contenção de água, na prática, utiliza-se rip rap para proteção do talude de
montante, sendo uma camada de cobertura parcial que vai do meio do talude até à crista,
e proteção vegetal no talude de jusante.

4.2. PERMEABILIDADE

Cruz (2004) faz uma ponderada avaliação dos termos permeabilidade e condutividade
hidráulicas. Este autor interpreta a permeabilidade, como a facilidade (ou dificuldade)
que um meio poroso oferece à passagem de um fluido pelos seus vazios. Já a
condutividade é o termo adotado para descrever a facilidade que um meio confinado
oferece ao fluxo, como é o caso de fissuras ou fraturas rochosas, “tubulações” e
“caminhos confinados” em descontinuidades rochosas.

64
Frequentemente, a água ocupa uma porção considerável dos vazios do solo e, quando
submetida a diferenças de potenciais, ela se desloca. Esse deslocamento é condicionado
pela dimensão e forma dos vazios existentes, o que define a permeabilidade deste meio.

Pela lei de Darcy, a permeabilidade e a vazão têm influência sobre os gradientes


hidráulicos gerados no interior do material. Em projeto, é desejável que os gradientes
hidráulicos máximos no interior do elemento drenante sejam os menores possíveis.

O filtro deve ser suficientemente permeável para impedir a geração de grandes forças de
percolação e poropressões. Isso é levado em consideração no critério de D15F / D15B > 4
ou 5, que garante que a permeabilidade do filtro seja de 15 a 20 vezes maior que a do
solo base. No entanto, é igualmente importante manter-se um percentual mínimo de
finos. Para filtros críticos, especifica-se o percentual de 2% ou 3% de finos não
plásticos, para os outros filtros até 5% de finos pode ser aceito, mas prefere-se que esse
percentual seja menor (Fell et al., 2015).

Em obras de grande vulto como barragens, muitas das vezes é difícil encontrar áreas de
empréstimo suficientes. Caso se tenha quantidades restritas de material para o filtro, e
que não atenda à premissa do teor desejável de finos, recomenda-se a lavagem do
material para que seja possível reduzir o percentual de finos. Muitos autores comentam
que o custo para lavagem e alcance de não mais do que 2% de finos, é viável
economicamente, devido aos benefícios de proteção do filtro.

A partir de considerações teóricas esperadas, Cedergren (1967) comenta que a


permeabilidade varia com o quadrado dos diâmetros dos poros e das partículas do solo.
Varia também significativamente com o tamanho dos grãos e é extremamente sensível à
quantidade, características e distribuição das frações finas. A influência do percentual
de finos sobre a permeabilidade dos filtros de agregados manufaturados (graduação a
partir de 2,54cm) é apresentada na Tabela 4.1.

65
Tabela 4.1 - Influência da porcentagem de finos passantes na peneira nº 100 na
permeabilidade do filtro de agregado lavado (Cedergren, 1967).
Porcentagem passante
Permeabilidade (m/s)
na peneira nº100
0 2,7x10-4 a 10-3
2 3,5x10-5 a 3,5x10-4
4 6,9x10-6 a 1,7x10-4
6 1,7x10-6 a 6,9x10-5
7 6,9x10-7 a 10-5

Os fatores que podem influenciar no coeficiente de permeabilidade do solo são


resumidos por Pinto (2006), sendo:

 Estado do solo: proporcionalidade entre o coeficiente de permeabilidade (k) e o


índice de vazios (e) do solo. Quanto mais fofo o solo mais permeável ele é;
 Grau de Saturação: a percolação da água não remove todo o ar existente num
solo não saturado. Desta forma, o coeficiente de permeabilidade de um solo não
saturado é menor do que de um solo totalmente saturado;
 Estrutura: a permeabilidade depende não só da quantidade de vazios do solo,
como também da disposição relativa dos grãos;
 Anisotropia: geralmente, o solo não é isotrópico em relação à permeabilidade;
coeficientes médios de permeabilidade na direção horizontal 5, 10 ou 15 vezes
maiores do que na vertical são comuns;
 Temperatura: o coeficiente de permeabilidade depende do peso específico e da
viscosidade do líquido. Ora, estas duas propriedades da água variam com a
temperatura, sendo a viscosidade muito sensível.

Cedergren (1967) ressalta que a permeabilidade deve ser determinada por meio de
ensaios de campo e/ou laboratório, e não a partir de correlações que envolvam
propriedades tais como tamanho dos grãos. Mesmo que informações do tipo e tamanho
dos grãos do solo, em geral, sejam úteis, estas características apenas podem indicar,
aproximadamente, o intervalo de permeabilidade esperada e não um valor singular.

66
4.3. FILTRAGEM E AUTO FILTRAGEM

Em qualquer interface de dois materiais porosos granulares, onde haja fluxo de água do
material mais fino para o mais grosseiro, Cruz (2004) afirma ser inevitável que algum
transporte de partículas venha ocorrer.

A filtragem é uma característica do material drenante, que consiste em impedir que os


grãos da matriz do solo a ser protegido sejam transportados junto com a água
percolante. Um filtro deve ter um arranjo de vazios tais que os grãos do material a ser
protegido não consigam ser transportados através dele.

Os vazios do filtro são controlados pelas partículas finas e, para fins de concepção, o
D15F é geralmente usado para definir a dimensão destes vazios. Sherard et al. (1984a,
apud Fell et al., 2015) mostrou que para solos granulares o tamanho dos vazios entre as
partículas do solo, conhecido como o tamanho da abertura, é dado por D15F/9. Testes
feitos por Foster (1999, apud Fell et al., 2015) confirmam este aspecto.

Outro conceito básico que deve ser considerado é o da auto filtragem, que pode ser
desenvolvida pelo solo base. Se o solo for bem graduado, as partículas maiores fecham
os vazios do material do filtro impedindo a passagem das partículas médias para dentro
do filtro, que por sua vez impedem as partículas finas. Neste caso, o processo depende
da distribuição granulométrica do material, como ilustrado na Figura 4.2. Sendo o solo
base mal graduado, a auto filtragem fica comprometida, pois há uma deficiência de
partículas de tamanho médio e, consequentemente, a passagem dos finos através do
filtro é facilitada, viabilizando o processo de erosão interna.

(a) solo base bem graduado (b) solo base mal graduado, com deficiência de
partículas médias.

Figura 4.2 - Filtragem e conceito de auto filtragem (adaptado de Fell et al., 2015).
67
Cruz (2004) cita que o trabalho pioneiro de Silveira (1964) e um grande número de
trabalhos que se seguiram, dentre os quais o trabalho de Wittmann, 1979, e os trabalhos
de Humes, 1985 e 1995, propõem metodologias para cálculo das curvas de vazios do
filtro e as distâncias percorridas pelas partículas ou grumos de solo, visando a definir a
extensão da zona de auto filtragem e a efetividade do filtro propriamente dito.

Segundo Neves et al. (1985, apud Souza, 2013), Bertram (1940), orientado por
Casagrande, procedeu a ensaios laboratoriais para validar o critério de retenção dos
filtros, utilizando filtros de areia fina bastante uniformes, simulando assim as condições
mais propícias à ocorrência de erosão interna. Este autor realizou também estudos tendo
por base o que foi proposto por Terzaghi e concluiu que, se os poros dos filtros forem
suficientemente pequenos para impedir o movimento das partículas do solo base,
correspondentes ao diâmetro máximo de 85% (D85B), as partículas mais finas também
seriam impedidas de penetrarem no filtro. Seguindo este raciocínio, Taylor (1948), por
sua vez, realizou uma análise com base em esferas de igual diâmetro, numa
aproximação grosseira, para estabelecer a dimensão máxima das partículas que podem
ser usadas como material de filtro sem o perigo da penetração de finos através de seus
poros, como esquematizado na Figura 4.3.

Figura 4.3 - Ilustração do esquema analisado por Taylor, 1948 (Neves et al., 1985 apud
Souza, 2013).

68
4.4. CICATRIZAÇÃO

O processo de cicatrização analisado no presente trabalho trata da capacidade do filtro


em conter fissuras.

A cicatrização é caracterizada por dois processos. O primeiro é a auto filtragem, já


abordada no item anterior, no qual requer que o material seja filtro de si mesmo. O
segundo pode ser denominado de selagem, sendo o processo pelo qual o material do
filtro não mantenha uma fissura aberta em presença abundante de água. Assim, mesmo
que uma trinca atravesse um elemento drenante suas paredes “desmoronarão”
rapidamente em presença da água percolante, fechando-a de modo a impedir a
continuidade da trinca.

ICOLD (1994) comenta que as fissuras que se desenvolvem em um núcleo de argila


podem permanecer abertas e relativamente estáveis, permitindo a erosão das partículas
mais finas deixando as partículas mais grosseiras no lugar. Por consequência, o
bloqueio ou fechamento da fissura pelos detritos mais grosseiros erodidos será difícil de
ocorrer, permitindo o carreamento das partículas finas do núcleo para o filtro.

Vaughan e Soares (1982, apud ICOLD, 1994) sugeriram que um filtro “perfeito” deva
ser concebido para reter a menor partícula que possa surgir durante a erosão, não
dependendo da auto filtragem dos detritos erodidos e operar independentemente da
quantidade de segregação. A ideia seria que o material do filtro fosse não coesivo e
capaz de colapsar, assim a auto filtragem deveria ocorrer na fissura mesmo que uma
zona adjacente ao núcleo tenha sido danificada. Para avaliação desses processos, estes
autores descrevem um teste simples, atribuído a Vaughan, para avaliar a cicatrização, ou
a capacidade do filtro em conter fissuras. Este teste é adequado para ser realizado em
campo e foi elaborado para examinar a coesão (coesão aparente) do material do filtro.

Fell et al. (2015) relatam que refinamentos deste teste foram propostos por Soroush et
al. (2012), como ilustrado na Figura 4.4. A amostra do filtro é compactada dentro de um
molde com diâmetro de 155mm e altura de 200mm, com teor de umidade e densidade
relativa características dos filtros que serão utilizados em campo. A amostra é removida
do molde e colocada sobre uma placa perfurada; em seguida, coloca-se a placa
69
perfurada em um tabuleiro preenchido com água permitindo a ascensão capilar da água.
Se a água subir, reduzir a sucção capilar e a amostra colapsar, o material do filtro é não
coesivo.

Figura 4.4 - Ilustração esquemática do teste criado para o castelo de areia (Soroush et
al., 2012 apud Fell et al., 2015).

Soroush et al., (2012, apud Fell et al., 2015) ensaiaram materiais não plásticos, com
percentual de finos na faixa de 5% a 15%, e um único material plástico. A partir desses
dados e dos estudos desenvolvidos por Foster e Fell (1999b) e Fell et al., (2008), eles
propuseram as classificações quanto à probabilidade dos materiais em conter fissuras de
acordo com o tempo de ensaio, como discriminado na Tabela 4.2.

Tabela 4.2 - Probabilidade do filtro em conter fissuras, com base no teste de castelo de
areia (Soroush et al., 2012 apud Fell et al, 2015).
Probabilidade do filtro em
Tempo de colapso da amostra (min)a,b
conter uma fissura
≤2 Muito improvável
2≤5 Improvável
5 ≤ 15 Improvável a provável
15 ≤ 60 Provável
> 60 Quase certo
Notas:
(a) Dado que a amostra colapsa em um tipo de ruptura de falha, que é rápida
quando colocada em movimento e a amostra se divide.
(b) Devem ser realizados pelo menos três ensaios.
(c) Dependendo do índice de plasticidade.

Segundo Soroush et al. (2011), em geral, os resultados do teste de castelo de areia são
qualitativos, e o acompanhamento do julgamento proficiente de engenharia é necessário
para verificar sua autenticidade e confiabilidade. Os testes do castelo de areia devem ser
realizados para avaliar a colapsibilidade e cicatrização do filtro, e são particularmente

70
aplicáveis aos filtros sobre processo de compactação pelo tráfego de equipamentos,
filtros segregados, etc. A Figura 4.5 apresenta um teste em seus estágios iniciais.

Figura 4.5 - Ensaio do castelo de areia, em campo (Soroush et al., 2011).

4.5. CRITÉRIOS DE DIMENSIONAMENTO

O engenheiro Karl Von Terzaghi foi o precursor dos estudos relacionados ao


dimensionamento de filtros. Ao longo dos anos, vários pesquisadores estudaram o
comportamento dos solos coesivos e não coesivos quando submetidos a grandes forças
de percolação geradoras de altos valores de gradientes hidráulicos. A partir destes
estudos, foi possível estabelecer uma gama de critérios relacionados, principalmente, às
curvas de distribuição granulométrica dos materiais envolvidos no processo de
filtragem.

O “Critério clássico de Terzaghi”, como é conhecido, foi proposto por Terzaghi (1926,
apud Filho, 2013) consistindo o primeiro critério largamente adotado em projetos de
filtros, tendo sido utilizado como base para inúmeros estudos posteriores.

São duas, as condições necessárias para a seleção do material adequado para o filtro,
sendo:

1) Capacidade de retenção, ou seja, as dimensões dos vazios formados


pelos grãos do filtro devem ser suficientemente pequenas de forma a
possibilitar a retenção de partículas do material protegido (solo base).
Síntese da capacidade de controlar e impedir a erosão do solo base;

71
2) Permeabilidade, ou seja, o material do filtro deve ser permeável o
suficiente para permitir o livre escoamento da água, sem alteração da
sua estrutura granulométrica e capacidade de descarga impedindo a
geração de grandes forças de percolação e poropressão.

O critério de Terzaghi é válido para solos não coesivos e uniformes. Terzaghi propôs o
critério de retenção de D15F/D85B ≤ 4 para controlar a erosão e, para garantir que o filtro
seja suficientemente permeável, o critério de permeabilidade de D15F/D15B ≥ 4 (Filho,
2013).

Em geral, os filtros devem ser confeccionados com materiais de boa qualidade para
garantir durabilidade e resistência ao longo da vida útil da barragem. É destacado pelo
ICOLD (1994) que filtros susceptíveis aos efeitos descritos abaixo devem ser evitados,
sendo:

1) Ganhar coesão, cimentar ou obstruir com o tempo, como resultado de


ataques químico ou biológico;
2) Alterar sua granulometria devido aos processos de manufatura,
colocação e compactação;
3) Degradar com o tempo, por processos de congelamento e
descongelamento ou umedecimento e secagem;
4) Alterar a graduação devido a altas tensões de compressão e
cisalhamento atuantes na base do aterro da barragem.

Os métodos propostos para dimensionamento de filtros, desde o publicado por Terzaghi,


basearam-se, em sua maioria, na distribuição granulométrica dos materiais envolvidos
no processo de filtragem. Entretanto, outros critérios propostos na literatura tiveram
como referência a permeabilidade e o tamanho da abertura dos vazios formados pelas
partículas do material do filtro, como apresentado resumidamente na Tabela 4.3.

72
Tabela 4.3 – Resumo de alguns critérios de filtros estabelecidos desde os estudos de
Terzaghi.
Sherard et al. (1963)
United States Bureau of Reclamation – USBR (1977)
Critérios clássicos baseados na
Sherard e Dunnigan (1985)
distribuição granulométrica
Foster e Fell (1999a)
Vaughan e Soares (1982)
United States Soil Conservation Service – USSCS (1994)
Critérios atuais baseados na
US Army Corp of Engineers – USACE (2004)
distribuição granulométrica
United States Bureau of Reclamation – USBR (2011)
Brauns e Witt (1987)
Schuler e Brauns (1993, 1997)
Lafleur et al. (1993)
Critérios baseados no tamanho Giroud (1996)
da abertura dos vazios do
material de filtro Indraratna e Raut (2006)
Indraratna et al. (2007)
Raut e Indraratna (2008)
Kenny et al. (1985)
Vaughan e Soares (1982)
Critérios baseados na
Vaughan e Bridle (2004)
permeabilidade do filtro
Delgado et al. (2006)

Nos itens seguintes são abordados com maior detalhe alguns critérios de projeto de
filtro baseados na distribuição granulométrica dos materiais, para filtros que apresentam
fluxo normal a sua interface e que são considerados, portanto, essenciais para o controle
da erosão interna.

4.5.1. Método de Sherard et al. (1963)

O critério de Sherard et al. (1963, apud Acosta et al., 2014), consiste nas seguintes
definições:

a) D15F ≤ 5D85F;
b) D15F ≥ 5D15B;
c) A curva de distribuição granulométrica do filtro deve ter a mesma forma da
curva do material base, a ser protegido;
d) Se o solo base apresentar uma elevada percentagem de pedregulhos, o filtro deve
ser concebido considerando a porção mais fina passante na peneira de 1” (25,4
mm);

73
e) Os filtros não devem conter mais de 5% de finos passantes na peneira nº 200, e
estes não devem ser coesos.

As regras de Sherard et al., (1963, apud Acosta et al., 2014) são muito conservadoras
para alguns tipos de solos, como argilas e solos grossos com finos argilosos, os quais
apresentam uma inerente resistência ao piping devido a sua coesão. Da mesma forma,
este critério é também conservador para solos grossos, bem graduados com finos
siltosos, pois estes materiais são considerados filtros naturais.

4.5.2. Método Original do USBR (1977)

O método original USBR, como descrito em Fell et al.(2015), contempla:

a) I – D15F/D15B = 5 a 40, desde que considerado o item II;


II – O filtro não possui mais do que 5% de finos passantes na peneira nº 200 e
estes finos devem ser pouco coesivos.
b) D15F/D85B ≤ 5;
c) A curva de distribuição granulométrica do filtro deve ser aproximadamente,
paralela à curva do material do solo base;
d) Tamanho máximo das partículas do filtro deve ser igual a 75mm, para evitar a
segregação durante a construção;
e) Para o solo base com partículas de pedregulho, o D15B e D85B devem ser
analisados em função da graduação do solo mais fino que 4,7mm.

Os critérios (a) I e (a) II foram propostos para assegurar que o filtro seja mais permeável
do que o solo base. Já os critérios (b) e (c) foram concebidos para assegurar que o filtro
consiga controlar alguma erosão do solo base (Fell et al., 2015).

4.5.3. Método de Sherard e Dunnigan (1985)

De acordo com Sherard et al. (1984a, 1984b) e Sherard e Dunnigan (1985), citados em
Fell et al. (2015), o United States Soil Conservation Service (USSCS) realizou
extensivos ensaios de laboratório para verificar os critérios de filtro, utilizando
diferentes aparelhos de ensaio para simular fluxo concentrado em uma barragem.
74
O método proposto por Sherard e Dunnigan leva em consideração diferentes testes de
erodibilidade para solos base arenosos, siltosos e argilosos.

Segundo Sherard e Dunnigan (1985, apud Fell et al., 2015), os resultados dos testes
confirmaram que os filtros a jusante do núcleo da barragem, com propriedades não
muito diferentes das que são utilizadas comumente na prática, são capazes de impedir
de forma confiável a erosão causada por vazamentos concentrados, mesmo quando os
gradientes e as velocidades de fluxo são muito maiores do que os valores que poderiam
existir em uma barragem.

Com base nesses testes, estes autores recomendaram os critérios discriminados na


Tabela 4.4. Este método tornou-se amplamente adotado por USBR (1989a), USDA-SCS
(1994), FEMA (2011) e em toda a Austrália (Fell et al., 2015).

Tabela 4.4 – Critérios de filtro de acordo com Sherard e Dunnigan (1985, 1989)
(adaptado de Fell et al., 2015).
% de finos passantes
Grupo Critérios (5) Observações
na peneira nº 200 (1)
1(2)(6) ≥ 85% D15F ≤ 9D85B(3) D15F ≥ 0,2mm

2(2) 40 - 85% D15F ≤ 0,7mm(3)


Para a porção mais fina
3 < 15% D15F ≤ 4D85B(4)
que 4,75mm
(4) D15F calculado por
4 15 a 40%
interpolação linear
Notas: (1) Para todos os solos com componente de cascalho (exceto o Grupo 3), os filtros devem ser
projetados na graduação que parte do solo mais fino que 4,75mm;
(2) D15F deve ser composto inteiramente por areia ou areia com pedregulhos, com 60% > 4,76mm (ou seja,
menos que 40% de finos) e tamanho máximo das partículas de 50 mm;
(3) Critério aplicado independente da forma da curva granulométrica;
(4) Critério se aplica a solos, razoavelmente, bem graduados. Para o caso de solos mal graduados, é
conveniente projetar um filtro para a porção mais fina deste solo, ou executar ensaio para avaliar a
erodibilidade, em laboratório, e selecionar o filtro adequado;
(5) Os critérios já incorporam um fator de segurança adequado;
(6) Ensaio de sedimentação necessário para definir o tamanho das partículas menores que 0,075mm.

Os critérios descritos acima não incluem referências específicas quanto ao limite de


percentual de finos, exceto a indicação, para os Grupos 1 e 2, que os filtros sejam
totalmente compostos de areia e cascalho. Algumas limitações quanto ao percentual de
finos, como as requeridas pela USBR (1977), parecem estar implícitas, ou seja, os
filtros devem possuir menos que 5% de finos (Fell et al., 2015).

75
4.5.4. Método de Foster e Fell (1999)

Foster (1999) e Foster e Fell (1999a), citados em Fell et al. (2015), realizaram extensos
ensaios para avaliar a erodilidade do solo com configuração semelhante à de Sherard et
al. (1984a, 1984b), e analisaram os resultados dos ensaios feitos pelo USSCS. A Tabela
4.5 resume os resultados, sendo o critério para o limite de “nenhuma erosão” (colunas 4
e 5 destinado à avaliação do desempenho de filtros de barragens existentes.

Segundo Fell et al., 2015, este trabalho mostrou que a divisão entre os Grupos 2 e 4 é
melhor definida com percentual de finos igual a 35% do que com 40%, como utilizado
por Sherard e Dunnigan (1989).

Tabela 4.5 – Proposta para o critério de filtro baseado nas análises estatística dos
resultados dos ensaios NEF (Foster, 1999; Foster e Fell, 1999a, 2001 apud Fell et al.,
2015).
Critério de
Grupo Faixa de D15F para o
Percentual dimensionamento de Critério para o limite
do solo limite de “nenhuma
de finos (a) Sherard e Dunnigan de “nenhuma erosão”
base erosão”
(1989)
1 ≥85% D15F ≤ 9D85B 6,4 – 13,5D85B D15F ≤ 9D85B (b)
2A 35 – 85% D15F ≤ 0,7mm 0,7 – 1,7mm D15F ≤ 0,7mm (b)
3 <15% D15F ≤ 4D85B 6,8 – 10D85B D15F ≤ 7D85B
D15F ≤ 1,6D15Fd, onde
1,6D15F –2,5D15F do
D15F ≤ (40 – pp% D15Fd = (35 – pp%
critério de
4A 15 – 35% 0,075mm)× (4D85B – 0,075mm)
dimensionamento de
0,7)/25 + 0,7mm (4D85B – 0,7)/20 +
Sherard e Dunnigan
0,7mm
Nota: (a) A subdivisão dos Grupos 2 e 4 foi modificada a partir de 40% passante na peneira nº 200, tal
como recomendado por Sherard e Dunnigan (1989), para 35% com base na análise de dados do teste do
filtro. Os Grupos de solos modificados são denominados Grupos 2A e 4A. O teor de finos é o percentual
menor que 0,075mm, após o solo base ser ajustado para partículas com tamanho máximo de 4,75mm.
(b) Para solos altamente dispersivos (Ensaio Pinhole classificação D1 ou D2 ou Emerson (classifica o
comportamento de agregados do solo, quanto à sua coerência, quando imerso em água.) classificação 1 e 2)
é recomendado usar-se D15F menor, sendo: Para o Grupo 1utilizar-se D15F ≤ 6,4D85B e para o Grupo 2A
D15F ≤ 0,5mm.

4.5.5. Método de Vaughan e Soares (1982)

Vaughan e Soares (1982, apud Fell et al., 2015) propuseram o conceito de “filtro
perfeito”. Nesta abordagem, a distribuição do tamanho das partículas do núcleo argiloso
é obtida a partir do ensaio de sedimentação apenas pela dispersão mecânica, sem adição
de dispersantes. A água utilizada para o ensaio deve ter a mesma composição química

76
da água que escoa através da barragem, uma vez que o tamanho dos flocos depende da
composição química da água.

Ensaios de laboratório foram realizados para relacionar o tamanho dos flocos de argila
com a gradação do “filtro perfeito”. Os ensaios constaram basicamente da passagem de
suspensão aquosa, contendo argila floculada, através de amostras de filtros. Estes
autores verificaram que existia uma relação aparente entre o tamanho das partículas
retidas pelo filtro e a permeabilidade do mesmo, fornecendo um conceito alternativo
para o projeto de filtros para solos não coesivos (ICOLD, 1994).

Ensaios realizados dessa forma em solos de duas barragens indicaram a necessidade de


uma fração significativa de silte no filtro, e que mesmo uma areia fina a média poderia
não ser satisfatório. O critério de “filtro perfeito” frequentemente resulta no
dimensionamento de filtros com granulometria mais fina do que os dimensionados por
outros critérios, pois não dependem da característica de auto filtragem do solo base.
Algumas vezes, este critério requer um filtro com três transições enquanto que outros
métodos podem requerer apenas duas (Fell et al., 2015).

É observado por Fell et al. (2015) que o processo sugerido por Vaughan e Soares é
enfraquecido tanto pela graduação grossa de alguns filtros, como por não se adequarem
aos critérios do USBR (1977) ou Sherard e Dunnigan (1985).

4.5.6. Método do USSCS (1994)

O critério USSCS (1994, apud Acosta et al., 2014) é um dos mais utilizados atualmente
nos Estados Unidos e em outros países, na qual considera como princípios fundamentais
os requisitos do critério proposto por Terzaghi.

Este critério baseia-se nos resultados de um exaustivo estudo de filtros em laboratório,


realizado pelo USSCS no Laboratório de Mecânica dos Solos em Lincoln, Nebraska,
desde 1980 a 1985, e revisto em 1993. A Figura 4.6 apresenta de forma esquemática os
doze passos (considerando tubos perfurados) para determinação do intervalo onde se
deve estabelecer a graduação do filtro (Acosta et al., 2014).

77
Figura 4.6 – Esquema dos passos a serem seguidos para projeto de filtro com base no
critério do USSCS (1994, apud Acosta et al., 2014).

78
4.5.7. Método do USACE (2004)

O Corpo de Engenheiros do Exército dos Estados Unidos (USACE) propôs um critério,


com regras similares às do USSCS, para projeto de filtros. Fundamenta-se em satisfazer
três condições principais (Acosta et al., 2014):

 Requisito de estabilidade interna ou piping (de retenção do material protegido);


 Requisito de permeabilidade (de livre movimento da água);
 Requisito de baixa geração de poropressões (de capacidade de descarga).

Os passos que devem ser seguidos para cumprir-se a proposição feita pelo USACE,
tanto para materiais coesivos como não coesivos, estão esquematicamente apresentados
na Figura 4.7.

79
Figura 4.7 – Esquema dos passos a serem seguidos para projeto de filtro com base no
critério do USACE (2004 apud Acosta et al., 2014).

80
4.5.8. Método do USBR (2011)

O USBR, assim como outros departamentos nos Estados Unidos, desenvolveu os seus
próprios critérios de projeto para filtros de barragens sob sua jurisdição. Este critério
apresenta similaridade aos critérios estabelecidos pelos USSCS e USACE. Entretanto,
em seus mais recentes manuais, certas diferenças se destacam, sobretudo, no curso final
da faixa do filtro (USBR, 2011 apud Acosta et al., 2014).

Comparado aos outros métodos atuais, Acosta et al. (2014) relatam que o método
proposto pelo USBR apresenta adicionalmente ênfase em solos dispersivos, que são
solos susceptíveis à segregação de suas partículas e posterior erosão em fissuras sob a
infiltração de água. As etapas deste método estão sintetizadas na Figura 4.8. Para solo
base com mais de 15% de finos, os autores recomendam realizar ensaios especiais,
como Crumb Test (ASTM D6572) e Double Hydrometer Test (ASTM D4221), para
estabelecer se as argilas são dispersivas, o que não se consegue obter por meio de ensaio
padrão de granulometria.

81
Figura 4.8 – Esquema dos passos a serem seguidos para projeto de filtro com base no
critério do USBR (2011 apud Acosta et al., 2014).

82
CAPÍTULO 5

ESTUDO LABORATORIAL - EROSÃO INTERNA

5.1. CONSIDERAÇÕES SOBRE O ENSAIO DE LABORATÓRIO

Visto que recorrentes acidentes com barragens têm como causa principal o processo de
erosão interna, é de extrema importância o controle eficaz do fluxo de água pela
estrutura. Em projetos de barragens que contam com um sistema de drenagem interno
bem projetado, é pouco provável o desenvolvimento da erosão interna pelo maciço.

Os materiais empregados como filtro e dreno de uma barragem devem ser intensamente
estudados, para que desempenhem com excelência suas funções de filtragem, drenagem
e proteção. Para isso, é recomendado que os estudos baseiem-se não somente nas
referências literárias, mas também, na realização de ensaios de laboratório.

Os critérios de dimensionamento de filtro, propostos na literatura, são de grande valia


para os engenheiros projetistas de barragens. Como comentado anteriormente, vários
pesquisadores realizaram inúmeros ensaios para validação de suas proposições.

Dentro desse contexto e com o objetivo de elucidar a aplicação dos critérios de


dimensionamento de filtro e avaliar a sua eficiência frente aos processos erosivos,
realizou-se ensaio de laboratório em amostra de filtro e solo base, no espaço físico do
Laboratório de Solos da empresa Chammas Engenharia Ltda.

Para a obtenção da amostra do filtro, foram utilizados dois critérios de


dimensionamento propostos na literatura, sendo um critério clássico, Sherard e Dunning
(1985), e outro atual, USBR (2011), ambos baseados na distribuição granulométrica do
material e apresentados detalhadamente no Capítulo 4.

A amostra de solo base utilizada é advinda de aterro compactado de uma barragem. A


partir da curva granulométrica deste material e dos critérios de dimensionamento de
Sherard e Dunning (1985) e USBR (2011) foi possível traçar uma curva de distribuição

83
granulométrica para o filtro, que atendesse às premissas básicas de retenção e
permeabilidade, como ilustrado na Figura 5.1, e então confeccionada a amostra do filtro
em laboratório.

Devido à falta de recursos, não foi possível realizar ensaios para avaliar o grau de
dispersão do material do solo base. Assim, foi estudado e aplicado o critério do USBR
(2011) considerando o solo base dispersivo e não dispersivo.

Figura 5.1 – Critérios de dimensionamento de filtro.

O ensaio aqui proposto consiste basicamente na aplicação de fluxo unidirecional


vertical em amostra de solo base e filtro, compactados em equipamento do ensaio de
adensamento edométrico, do tipo HCT (hidraulic consolidation test) abordado
detalhadamente no item 5.3. A configuração do ensaio teve como referência alguns
ensaios descritos na literatura e a ABNT NBR 14114.

84
5.2. CARACTERÍSTICAS GEOTÉCNICAS - SOLO BASE

Para determinação das frações granulométricas da amostra utilizada para o solo base foi
realizado ensaio de granulometria (ABNT NBR 7181). A curva granulométrica do
material está apresentada na Figura 5.2. De acordo com a curva, o material é
classificado como silte areno argiloso, apresenta coeficiente de uniformidade (Cu) igual
a 33 sendo considerado como bem graduado.

Figura 5.2 – Curva de distribuição granulométrica da amostra do solo base.

Como mencionado, o material do solo base advém de amostra deformada de aterro de


uma barragem. Para reconstituição em laboratório das condições “in situ” do aterro, foi
realizado ensaio de compactação na energia Proctor normal (ABNT NBR 7182). O
ensaio de compactação apresentou densidade máxima seca (ρdmáx) de 1,41g/cm³ e
umidade ótima (wot) de 30,2%.

Este material apresenta plasticidade média a alta, com índice de plasticidade de 24%.
Realizou-se, também, ensaio de permeabilidade a carga variável (ABNT NBR 14545),
com fluxo vertical, resultando em coeficiente de permeabilidade vertical de 1,08x10-
5
cm/s.
85
5.3. CARACTERÍSTICAS GEOTÉCNICAS - MATERIAL DO FILTRO

A amostra utilizada para o filtro foi obtida após definição da sua curva de distribuição
granulométrica, com base nos critérios de dimensionamento de filtro citados no item
5.1. A curva de distribuição granulométrica do filtro está apresentada na Figura 5.3. O
coeficiente de uniformidade (Cu) deste material é igual a 18 sendo considerado,
também, como bem graduado.

Figura 5.3 – Curva de distribuição granulométrica da amostra do filtro.

Em laboratório, o primeiro processo para a composição da amostra do filtro foi peneirar


uma porção de material grosseiro, pelo processo de peneiramento manual, na série de
peneiras ilustradas na Figura 5.4.

Figura 5.4 – Série de peneiras utilizadas no ensaio.

86
Após peneiramento, o material retido em cada peneira foi lavado para eliminação de
qualquer material fino contido naquela porção. Em seguida, o material das peneiras foi
levado para secar na estufa à temperatura de 105 a 110ºC.

Devido à limitação do tamanho do equipamento utilizado para ensaiar o fluxo vertical e


respaldado pelos ensaios de laboratório apresentados na literatura, foi descartado o
material passante na peneira de malha Nº10 e retido na peneira de malha Nº4, ou seja,
utilizou-se apenas partículas com diâmetro menor ou igual a 4,75mm.

A partir da curva granulométrica do filtro e considerando obter-se um total de 2,0kg de


amostra foi possível calcular o peso retido para cada peneira, como mostrado na Tabela
5.1. A Figura 5.5 apresenta o material após pesagem de acordo com os valores definidos
na Tabela 5.1.

Tabela 5.1 – Quantitativo definido para cada peneira.


Passado Peso retido
Peneiras (mm)
acumulado (%) (g)
2 57 1140
1,2 47 940
0,6 34 680
0,42 28 560
0,3 22 440
0,15 11 220
0,074 2 40

40g 180g 220g 120g

120g 260g 200g 340g

Figura 5.5 – Pesagem do material seco, conforme quantidades definidas pela curva
granulométrica proposta para o filtro.
87
Finalmente as porções peneiradas, lavadas, secadas e pesadas em cada peneira foram
misturas para a composição da amostra do filtro. Em seguida, realizou-se ensaio para
determinação da densidade específica seca máxima (ρdmáx.) e mínima (ρdmín.) seguindo
os procedimentos do ensaio de compacidade relativa (CR), considerando-se CR igual a
65%, encontrando os valores de 1,735g/cm³ e 1,397g/cm³, respectivamente.

5.4. EQUIPAMENTO DE ENSAIO

Para realização deste trabalho utilizou-se o equipamento do ensaio adensamento


edométrico do tipo HCT (hidraulic consolidation test), útil no estudo de deformações
em solos não consistentes a partir de forças de percolação induzidas por um fluxo
constante.

O equipamento utilizado é composto de uma célula triaxial modificada, bomba de fluxo,


central de pressão e volume, transdutores diferenciais de pressão positiva e negativa,
sistema de aplicação de carregamento com dispositivo de medida das deformações
verticais e um sistema de aquisição de dados.

No ensaio em questão foram utilizados a bomba de fluxo, central de pressão e volume e


transdutor diferencial de pressão positiva, a fim de submeter a amostra à um gradiente
constante, cujas pressões aplicadas no topo e na base da amostra foram previamente
definidas (Figura 5.6).

Para a aplicação da pressão no topo foi utilizada uma linha de pressão de um painel de
saturação de ensaio triaxial, oportunamente localizada próximo ao equipamento HCT,
tornando possível controlar a pressão de topo (painel triaxial) e base (transdutor
diferencial de pressão – HCT).

88
Figura 5.6 – Aparato experimental utilizado para realização do ensaio.

A célula triaxial modificada é confeccionada em acrílico compostas de uma câmara


externa e por um tubo interno (destinado a receber a amostra a ser ensaiada), de 90,7mm
de diâmetro e 202,8mm de altura. O tubo interno é conectado a uma pedra porosa na
base da célula e ainda um top cap perfurado provido com uma pedra porosa de bronze
(colocado sobre a amostra a ser ensaiada), cujo diâmetro é correspondente ao do tubo
interno. O material transparente possibilita a visualização da amostra e avaliação do seu
comportamento durante o ensaio.

A câmara é fixada entre duas peças metálicas no topo e base. A peça de base possui
quatro dispositivos de saída de fluxo, e a de topo um dispositivo de saída. Na base duas
saídas são responsáveis pelo enchimento da câmara triaxial. As outras duas são
conectadas à base do corpo de prova, sendo uma ligada diretamente no transdutor
diferencial de pressão negativa (não utilizado neste ensaio), e a outra ligada em paralelo
com o transdutor diferencial de pressão positiva e a bomba de fluxo, para medida da
pressão de base estabilizada durante cada estágio de gradiente. A entrada do topo
comunica diretamente com o tubo externo, a fim de aplicar a pressão de topo no corpo
de prova e também para a sua saturação.

A central de pressão e volume é composta por uma bomba de fluxo e por um painel de
controle, onde é possível controlar o fluxo ou a pressão de base requerida para um
gradiente pré-estabelecido e ainda realizar as leituras do volume percolado e das
deformações verticais (não utilizado neste ensaio).

89
5.5. PREPARO DO CORPO DE PROVA E SUA MONTAGEM NA CÉLULA

Após estudo das características geotécnicas dos materiais do solo base e filtro, foi
possível estabelecer algumas premissas para montagem do corpo de prova,
considerando condições reais de projeto e construção do aterro e filtro de uma
barragem.

Para a camada de solo base, com altura de 40,0mm, dimensionou-se compactação por
pisoteamento de quatro subcamadas de 10,0mm de espessura e grau de compactação
maior ou igual a 98%. A partir do peso específico úmido, calculou-se a quantidade de
solo de 64,61g, necessária para cada subcamada.

Foram retiradas amostras em três cápsulas, para verificação do teor de umidade e


posterior cálculo do grau de compactação efetivo da camada. A sequência construtiva
para montagem da camada solo base está apresentada na Figura 5.7, consistindo na
pesagem, compactação e escarificação de cada subcamada. Após compactação
verificou-se a altura e o grau de compactação efetivos da amostra, sendo de 43,0mm e
93,3%, respectivamente. Observa-se que a energia de compactação por pisoteamento
utilizada na moldagem foi inferior à considerada inicialmente.

Figura 5.7 – Sequência construtiva da camada de solo base.

90
A camada do filtro também seguiu a sequência de compactação por pisoteamento de
quatro subcamadas, agora de 12,0mm de espessura cada. A partir do ensaio de
densidade específica seca máxima e mínima e definição do CR igual 65%, foi possível
calcular o peso específico seco do material e, consequentemente, o peso de cada
subcamada. A sequência construtiva para montagem da camada do filtro está
apresentada na Figura 5.8.

Figura 5.8 – Sequência construtiva da camada do filtro.

Finalizado o processo de montagem do corpo de prova no tubo de acrílico, este foi


encaixado na base metálica na qual são conectadas as mangueiras do sistema de
direcionamento do fluxo. Posteriormente, uma camada de 2,0cm de areia grossa foi
colocada acima da camada compactada de material fino, em seguida, uma peça de
acrílico perfurada foi colocada acima da amostra, como apresentado na Figura 5.9. Após
montagem do corpo de prova, este foi submetido a processo de saturação (Figura 5.10)
para posteriormente iniciar as leituras do ensaio.

Figura 5.9 – Corpo de prova finalizado.

91
Figura 5.10 – Corpo de prova em processo de saturação.

5.6. METODOLOGIA DE ENSAIO

No ensaio HCT com bomba de fluxo, a vazão de fluxo através da amostra é controlada
pela bomba de fluxo e a diferença de pressão resultante é medida por um transdutor
diferencial de pressão. Porém no ensaio realizado neste trabalho, não foi utilizado esse
procedimento, pois as pressões atuantes no topo e base da amostra foram controladas e
pré-estabelecidas. O corpo de prova levou 30 dias para saturar totalmente e assim
possibilitar o início do ensaio.

Foram realizados 10 ciclos de ensaio em uma única amostra. A pressão no topo da


amostra foi mantida constante durante todo o ensaio, e a pressão de base variando
apenas de um ciclo para outro, sendo mantida constante por ciclo. Com a diferença de
pressão resultante, medida pelo transdutor, foi possível obter o gradiente hidráulico por
ciclo. Indiretamente o gradiente hidráulico de cada ciclo de ensaio foi controlado e pré-
definido.

92
5.7. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

5.7.1. Avaliação da Instabilidade Interna dos Solos

De acordo com alguns autores, o início da erosão interna devido à instabilidade interna
dos solos tem relação direta com a forma da curva de distribuição granulométrica do
material e à combinação da tensão efetiva e gradiente hidráulico.

A partir dos critérios geométricos e hidráulicos é possível avaliar a susceptibilidade à


instabilidade interna. Destaca-se que, na literatura, a maior parte dos critérios
encontrados estão relacionados à análise geométrica de fácil aplicação, embasados em
ensaios com amostragens de material granular.

Os critérios hidráulicos não são simples de serem aplicados, devido às singularidades e


condições de contorno de cada serie de ensaios considerados por cada autor, ficando em
sua maior parte restritos à observação de tendências.

Para avaliação dos materiais utilizados no ensaio de laboratório, foram aplicados os


critérios de De Mello (1975), Sherard (1979) e Kenney e Lau (1985). O critério foi
inicialmente proposto por De Mello (1975) e posteriormente adaptado por Sherard
(1979), não restringindo o tipo de material, fino ou grosso, podendo ser aplicado ao
filtro e solo base. Já o critério de Kenney e Lau (1985) foi aplicado apenas ao material
do filtro, sendo este desenvolvido para solos granulares.

É sabido que ambos os materiais ensaiados apresentaram coeficientes de uniformidade


característicos de solos bem graduado. Segundo o critério de De Melo (1975) / Sherard
(1979), a razão D15g/D85f em alguns pontos das curvas de distribuição granulométrica
apresentou valores maiores que 5, classificando os materiais do solo base e filtro como
internamente estáveis.

93
Para o critério Kenney e Lau (1985), foi plotada a curva de forma do material do filtro,
como ilustrado na Figura 5.11. Sendo este material bem graduado, para o índice de
estabilidade mínimo H/F ≥ 1 considera-se F ≤ 20%. Nestas condições, a curva de forma
apresenta-se acima da linha H = 1,3F (limite ajustado) classificando, novamente o
material do filtro como internamente estável.

Figura 5.11 – Curva de forma do material do filtro.

5.7.2. Análise Qualitativa dos Dados

Os 10 ciclos do ensaio foram caracterizados por valores de gradiente hidráulicos pré-


definidos e mantidos constantes, apresentados na Tabela 5.2, variando de 4,75 a 94,95.
Para isso, as pressões aplicadas no topo da amostra foram mantidas constantes e as
pressões aplicadas na base reduzidas a cada ciclo, obtendo-se assim um diferencial de
pressão crescente, mas constante a cada ciclo.

Tabela 5.2 – Gradientes hidráulicos definidos em cada ciclo do ensaio.


Diferencial
Pressão de Pressão de Gradiente
Ciclo de pressão
topo (kPa) base (kPa) hidráulico
(kPa)
1 98 2 4,75
2 97 3 7,12
3 96 4 9,50
4 95 5 11,87
5 90 10 23,74
100
6 85 15 35,61
7 80 20 47,48
8 75 25 59,35
9 70 30 71,21
10 60 40 94,95

94
Como mostrado na Tabela 5.2, foram considerados no ensaio altos valores de gradientes
hidráulicos, dentro da máxima capacidade do equipamento de pressão do laboratório.
Esperava-se que o fluxo de água imposto através da amostra produzisse uma força de
arraste crítica, ou seja, a máxima conseguida nas condições do ensaio, para que fosse
possível avaliar o comportamento da amostra frente a esta imposição.

O material transparente do equipamento HCT possibilitou a visualização da amostra e


avaliação do seu comportamento durante o ensaio. Mesmo com o aumento do gradiente
hidráulico, não foi observado carreamento significativo de partículas finas para a
camada do filtro, como pode ser observado na Figura 5. 12. Foram observadas junto à
parede do equipamento na camada do filtro algumas porções pouco expressivas de
material fino, advindo do solo base, isso pode ser consequência da dificuldade de
compactação do material junto à parede.

Figura 5.12 – Visualização da amostra durante o ensaio.

A partir das leituras de tempo, volume de água percolada através da amostra e com os
dados geométricos, foi possível calcular-se a permeabilidade e velocidade de percolação
para cada estágio do ensaio, como apresentado na Figura 5.13. Como esperado pela Lei
de Darcy, a vazão observada no ensaio é diretamente proporcional ao gradiente
hidráulico. Observa-se que a curva característica da condutividade hidráulica se
manteve basicamente constante ao longo dos 10 ciclos, indicando que a estrutura física
do solo base manteve-se praticamente inalterada quanto à perda de material. Esta
observação pôde ser confirmada a partir da retirada da amostra e quantificação dos finos
presentes na camada do filtro.

95
Ao final do ensaio, a amostra foi retida do equipamento de HCT. Primeiro, retirou-se a
camada de solo base e coletou-se três cápsulas do material para ensaio de teor de
umidade. Verificou-se que o material do solo teve um aumento de umidade de 36,0%
em relação à condição inicial do ensaio de percolação.

Em seguida, procedeu-se a retirada do material do filtro, a partir da base da amostra, em


quatro etapas com a divisão da camada de 48,0mm em quatro subcamadas, para
avaliação visual e quantitativa da contaminação do material.

Figura 5.13 – Evolução da vazão e coeficiente de permeabilidade vertical com o


gradiente hidráulico ensaiado.

Ao passo que as subcamadas foram retiradas, foi possível visualizar o interior da


amostra, como apresentado na Figura 5.14. Pode-se observar que a maior parte das
partículas finas do solo base permaneceu na interface entre os dois materiais, ficando as
camadas posteriores do filtro sem vestígio visual de contaminação, com coloração clara
e amarelada igual a do início do ensaio.

As porções de materiais das subcamadas foram pesados e levados em estufa, para


determinação do teor de umidade. Subsequentemente, estas subcamadas foram lavadas
na peneira nº200 e o material retido foi seco em estufa. Dessa forma, pôde-se obter a
diferença do peso do material grosso antes e após a lavagem na peneira nº200, esta
diferença representa a quantidade de material fino presente na camada do filtro após o
ensaio de percolação, como apresentado no gráfico da Figura 5.15.
96
A quantificação do material fino presente na camada do filtro, após o ensaio de
percolação, leva em consideração os 2% de finos iniciais do dimensionamento da curva
granulométrica apresentado no item 5.3. Assim, para se avaliar a contaminação do
material deve-se descontar na curva “Final do ensaio”, da Figura 5.15, os 2% referentes
ao dimensionamento do filtro obtendo-se a curva da Figura 5.16.

Figura 5.14 – Retirada do material do filtro em quatro subcamadas.

Figura 5.15 – Quantificação dos finos na camada do filtro após o ensaio de percolação.

A partir da Figura 5.16 observa-se que a subcamada subjacente ao material do solo


base, ou seja, a camada de interface entre os materiais ensaiados apresentou o maior
percentual de contaminação, ficando a subcamada mais externa com o menor
percentual. Com isso, pode-se concluir que mesmo submetido a altos valores de
gradiente hidráulico, o filtro conseguiu conter com sucesso as partículas finas do solo

97
base na interface entre os materiais, apresentado ao final do ensaio um percentual total
de 5,03% de finos.

Figura 5.16 – Quantificação da contaminação da camada do filtro após o ensaio de


percolação.

Considerando que em projetos de barragens recomenda-se que a espessura do dreno


vertical não seja inferior a 0,6m, tem-se que a espessura da camada ensaiada, de 48mm,
representa apenas 8,0% do praticado. Segundo o manual de Critérios de Projeto da
Eletrobrás (2003), no dimensionamento final, às espessuras requeridas pela capacidade
drenante dos filtros serão adicionadas espessuras consideradas contamináveis pelo
material de base. Com base nestas considerações e fazendo uma colocação hipotética, o
percentual de 8,0% poderia representar a espessura adicional reservada para
contaminação ou “sacrifício”, fazendo-se uma analogia aos metais de sacrifício que ao
se oxidarem eles naturalmente formam uma espécie de película protetora que impede
que o restante do material sofra a corrosão.

5.7.3. Análise Gradiente Hidráulico

No ensaio de percolação foram considerados altos valores de gradientes hidráulicos,


como mostrado na Tabela 5.2. O corpo de prova foi submetido, a cada estágio do
ensaio, a forças de percolação cada vez maiores dentro da máxima capacidade do
equipamento de ensaio do laboratório. Porém, a partir dos resultados observa-se que o
gradiente hidráulico de 94,95 não foi suficiente para provocar um carreamento de finos
98
significativo para a camada do filtro. Esta resistência do material do solo base à erosão
interna era esperada, já que pelo critério geométrico o material foi classificado como
estável internamente.

Em ensaios apresentados na literatura realizados por diversos autores, os valores de


gradiente hidráulico obtidos em materiais coesivos, para o início da instabilidade interna
ou erosão do solo são bastante elevados. Segundo Park (2003), Wan e Fell (2004)
aplicaram nas amostras ensaiadas um fluxo unidirecional descendente com gradientes
hidráulicos de 10 a 18, Leonards et al. (1991) trabalharam em ensaios com material
argiloso como solo base compactado a 95% do Proctor normal, com gradientes
hidráulicos variando de 40 a 80, e para compactação a 100% os gradientes foram de 160
a 240. Maior destaque é dado ao trabalho de Sherard et al. (1984b), estudo de filtro para
silte e argila, que executaram ensaios com gradiente hidráulico variando de 1000 a
2000.

Alguns materiais iniciam o processo erosivo a partir de baixos valores de gradiente


hidráulico, inferiores a 1, outros materiais apresentam uma resistência maior ao início
da erosão, necessitando de valores elevados de gradientes hidráulicos.

O início do mecanismo de erosão intern é influenciado por alguns fatores como


gradiente hidráulico, porosidade, densidade, distribuição granulométrica, erodibilidade,
entre outros. Em seu trabalho com solos grosseiros, Wan (2004, apud Barrera, 2010)
concluiu que solos com alta porosidade tendem, geralmente, a erodir sob gradientes
hidráulicos críticos menores. Solos com finos argilosos erodem com gradiente
hidráulico crítico maior que em solos similares sem finos argilosos. Ainda segundo este
autor, a densidade do solo tem um efeito significativo sobre o gradiente hidráulico
crítico, na qual solos com maiores densidades apresentam maior resistência à erosão.
Para os solos internamente instáveis ensaiados, todos começaram a erodir com gradiente
menor que 0,8, em alguns solos com gradiente até inferior a 0,5.

Skempton e Brogan (1994, apud Jantzer, I. e Knutsson, S., 2010) trabalhando com solos
arenosos e pedregulhos verificaram que enquanto o gradiente crítico é,
aproximadamente, igual 1 em materiais internamente estáveis, materiais internamente
instáveis experimentaram valores mais baixos cerca de 1/3 a 1/5 dos gradientes de
99
material estável. O valor depende também da orientação do fluxo, caso se trate de fluxo
vertical ascendente, o gradiente crítico admissível é superior, em comparação a quando
se trata de fluxo horizontal.

Segundo estes estudos, o início da erosão interna em solos grosseiros acontece com
gradientes hidráulicos críticos menores comparados com solos finos.

100
CAPÍTULO 6

MODELAGEM NUMÉRICA DE FLUXO EM BARRAGENS

6.1. FLUXO EM MEIOS SATURADO E NÃO SATURADOS

Um assunto de grande importância para a Engenharia Geotécnica trata-se do


conhecimento acerca do fluxo e percolação de água através dos solos. Tal conhecimento
é determinante em obras tais como barragens, encostas, fundações, dentre outras.

O fluxo através e sobre a superfície do solo é responsável por diversos mecanismos de


erosão, entre eles a erosão interna (piping, sufusão) e superficial (lixiviação). Os
problemas de engenharia bi e tridimensionais, que envolvem a utilização da equação
diferencial do fluxo, são bastante complexos o que torna o processo de obtenção da
solução não trivial. Neste caso, lança-se mão da utilização de métodos gráficos,
modelagem numérica, bem como modelos físicos.

De acordo com Rennó e Borma (2015), a condutividade hidráulica, em meio saturado, é


afetada pela estrutura e textura do solo, sendo maior em solos porosos, fraturados e bem
estruturados, ou seja, não depende apenas da quantidade de poros, mas também do
tamanho e da geometria desses poros, por onde o fluido irá ser conduzido. Por isso, em
geral, solos arenosos apresentam condutividade hidráulica maior que solos argilosos
quando saturados.

Em solos não saturados, há a presença de água e ar nos poros, o que dificulta o fluxo de
água através do mesmo. Nesta condição o potencial total da água no solo é representado
pelo somatório dos potenciais gravitacional e matricial. A condutividade hidráulica não
saturada é considerada variável sendo função do teor de umidade volumétrico,
, e da sucção mátrica, , do solo não saturado.

Segundo Biassusi (2001), o primeiro trabalho que se tem notícia apresentando uma
equação que quantificava o movimento da água no solo em condições de não saturação
é o de Buckingham (1907), originando a “equação de Darcy- Buckingham”. Richards

101
(1931), baseado no princípio da conservação da matéria, associou a equação da
continuidade com a equação de Darcy- Buckingham, obtendo assim uma equação
diferencial geral que governa o fluxo de água no solo, levando em conta as variações no
tempo e espaço.

6.1.1. Curva de Retenção do Solo

Uma das características mais importantes de um meio poroso não saturado é a relação
entre o seu conteúdo de água e o potencial matricial, denominado curva de retenção de
água no solo, que pode ser determinada a partir de ensaios de laboratório ou aplicação
de relações empíricas. Esta relação é uma característica do solo, e caso a geometria do
sistema não sofra variações, é possível sua utilização para estimar o teor de água do solo
a partir do seu potencial matricial e vice-versa (Biassusi, 2001).

O potencial mátrico do solo pode ser medido por tensiômetros, que costumam
apresentar bons resultados. Os blocos de gesso também são muito utilizados,
principalmente devido a seu baixo custo, mas apresentam medidas imprecisas,
principalmente em condições úmidas. Normalmente se utilizam o tensiômetro para
condições úmidas e os blocos de gesso para condições secas. Podem também ser
utilizados, para a medida, o psicrômetro (método direto) e os métodos indiretos, tais
como: outros blocos de resistência elétrica (nylon ou fibra de vidro), sensores para
medir a dissipação do calor, método do papel filtro, método eletro-óptico e filtros de
discos porosos de nylon (Campos, 1998 apud Stephens, 1996).

Quanto às relações empíricas, Quispe (2008) ressalta que na literatura encontram-se as


proposições sugeridas por van Genuchten (1980), Srivastava e Yeh (1991), Fredlund e
Xing (1994), dentre outros.

A Figura 6.1 apresenta uma curva de retenção típica, onde alguns valores merecem
destaque como o teor de umidade volumétrico saturado (θs), o teor de umidade
volumétrico residual (θr) e o valor de pressão de entrada de ar, que é o valor da carga de
pressão no qual ocorre a entrada de ar nos poros do solo em um processo de secagem.

102
Figura 6.1 – Curva característica (Geo-Slope, 2012).

6.1.2. Função Permeabilidade Hidráulica do Solo

Quando o solo está saturado, todos os poros estão preenchidos e são condutores, então a
condutividade hidráulica é máxima. Quando o solo se torna não saturado, alguns poros
estão preenchidos de ar e a porção condutora da área transversal do solo decresce
correspondentemente. O valor da condutividade hidráulica decresce rapidamente com o
decréscimo do teor de umidade volumétrico (θ) ou da carga de pressão, devido à
diminuição da área útil para a condução da água, estabelecendo a relação k(θ), como
ilustrado na Figura 6.2 (Reichardt e Timm, 2004 apud Morales, 2008).

Figura 6.2 – Diminuição da área útil para o fluxo de água (Reichardt e Timm, 2004
apud Morales, 2008).

103
Em condições de saturação, solos arenosos possuem condutividade hidráulica maior que
solos argilosos, mesmo tendo menor porosidade. À medida que a umidade decresce, a
condutividade hidráulica de ambos os solos decresce rapidamente, com um gradiente
mais acentuado para os solos arenosos. Em condições muito secas, a areia apresenta k
menor que a argila, conforme pode ser observado na Figura 6.3 (Campos, 1998).

areia siltosa

argila siltosa

Areia uniforme

Potencial mátrico

Figura 6.3 – Valores de k versus o Potencial mátrico para três solos hipotéticos (Freeze,
1978 apud Campos, 1998).

6.2. REDE DE FLUXO

Ao se mover no interior de um maciço de solo, a água exerce em suas partículas sólidas


forças que influenciam no estado de tensões do maciço. Os valores de poropressão e
com isto os valores de tensão efetiva em cada ponto do solo são alterados em
decorrência de alterações no regime de fluxo. Na zona não saturada, mudanças nos
valores de umidade do solo irão alterar de forma significativa os seus valores de
resistência ao cisalhamento.

Segundo Eletrobrás (2003), as análises de percolação, em barragens de terra e/ou


enrocamento, têm por objetivo prever a distribuição de pressões e o valor das vazões no
maciço, nas fundações e demais áreas de interesse. De modo a fornecer subsídios para
estudos de estabilidade, para dimensionamento dos dispositivos de drenagem interna e

104
para seleção e dimensionamento dos sistemas de impermeabilização e drenagem da
fundação.

Atualmente, uma solução muito disseminada entre as engenharias é o estudo de


problemas em meios contínuos aplicando-se os métodos numéricos com formulação em
elementos finitos. Engenheiros têm demonstrado um interesse crescente por estudos
mais precisos do comportamento de elementos estruturais complexos, que conduz a
tratamentos analíticos mais elaborados de soluções extremamente difíceis. Além do
mais, com a disponibilidade de meios computacionais, uma grande variedade de
cenários pode ser analisada e fornecer subsídios para o dimensionamento do problema.

6.2.1. Avaliação da Rede de Fluxo a partir de Modelos Reduzidos Publicados na


Literatura

Um dos métodos para obtenção da rede de fluxo é por meio da elaboração de modelos
físicos, que tendem à simplificação do comportamento de problemas reais mediante
uma análise tridimensional.

Geralmente a escolha em analisar um caso por meio de modelo reduzido se


deve a dificuldade em prever as condições e os efeitos de uma obra. Devido a grande
eficácia da transmissão dos resultados obtidos em modelo reduzido para os protótipos,
os primeiros ganham grande confiabilidade. Entretanto, este processo deve ser feito
com muito cuidado e critério (Rocha, 2006 apud Araújo, 2013).

Na literatura é possível encontrar estudos recentes com esse tipo de abordagem, seja
para definição, comparação e validação da rede de fluxo, como Ferreira (2008), Ferreira
e Marques (2009), Marques e Unas (2010), Unas (2010), Araújo (2013), Pierozan
(2014), entre outros.

Ferreira (2008), em seu trabalho, desenvolveu um equipamento laboratorial para ensaio


de modelos reduzidos. O autor procedeu-se à construção de uma barragem homogénea
efetuando uma ligeira compactação, em seguida, o enchimento do reservatório, de
acordo com o perfil esquemático apresentado na Figura 6.4 e 6.5. O ensaio do protótipo
da barragem levou cerca de duas horas a realizar-se.
105
Figura 6.4 – Esquema do ensaio da barragem de aterro na altura em que imobilizou o
nível da água (Ferreira, 2008).

Figura 6.5 – Fotografia da barragem de aterro em enchimento com fenda na crista


(Ferreira, 2008).

Passados alguns minutos o autor observou ressurgência de água na face de jusante do


talude e posterior ruptura localizada com deslizamento de material (Figura 6.6), que
poderia ter se dado devido a um fenômeno erosivo no interior da barragem, cuja
manifestação principal foi o arraste de material.

Figura 6.6 – Ruptura provocada pela erosão interna na barragem (Ferreira, 2008).

106
Analisando a foto da Figura 6.6, é possível dizer que esse tipo de processo erosivo na
face inferior do talude pode estar associado à falta de confinamento do solo. Trata-se de
um mecanismo de ruptura que pode gerar um processo progressivo de ruptura
ascendente.

A Figura 6.7 apresenta a evolução das trajetórias de fluxo, após injeção de corantes
naturais de cores diferentes.

Figura 6.7 – Evolução das trajetórias de corante no corpo da barragem (Ferreira, 2008).

A reprodução através da modelagem numérica está apresentada na Figura 6.8. A


barragem é homogênea com isotropia de permeabilidade, sendo adotado k=1,3x10-3m/s.

107
Figura 6.8 – Linhas de fluxo e nível freático obtidos via simulação numérica (Ferreira,
2008).

Ferreira (2008) conclui que os resultados obtidos se mostraram bastantes satisfatórios,


ressaltando o caráter didático do experimento, na visualização de fenômenos como o
comportamento das linhas de fluxo e o processo de erosão interna durante os ensaios.

Na sequência do trabalho apresentado, Marques e Unas (2010) deram continuidade à


exploração das potencialidades do equipamento produzido por Ferreira (2008).
Decidiram avançar para a realização de estudos, em modelo reduzido, de diversas
geometrias correntemente adotadas em barragens de aterro, para o controle da
percolação através do aterro, que visam entre outros objetivos evitar a surgência na face
de jusante, apresentadas na Figura 6.9.

108
(a) Seção homogênea com dreno horizontal

(b) Seção homogênea com dreno de pé

(c) Seção homogênea com dreno chaminé

(d) Seção zoneada

Figura 6.9 – Modelos reduzidos estudados (Marques e Unas, 2010).

A Figura 6.10 apresenta resumidamente os resultados dos estudos físico, numérico e


gráfico, resultantes dos modelos propostos pelos autores. Também é possível constatar o
erro médio entre a solução experiemental e numérica no que diz respeito às leituras das
alturas piezométricas.

109
(a) Posição da superfície freática da barragem homogênea com dreno horizontal de acordo com as soluções
experimental, numérica e gráfica; Erro médio entre a solução experimental e numérica de 1,06%.

(b) Posição da superfície freática da barragem homogênea com dreno de pé de acordo com as soluções
experimental, numérica e gráfica; Erro médio entre a solução experimental e numérica de 3,9%.

(c) Posição da superfície freática da barragem homogênea com dreno chaminé de acordo com as soluções
experimental e numérica.

Como o material do núcleo apresenta uma


permeabilidade substancialmente mais baixa
que a do aterro, dificultando a visualização
integral das linhas de fluxo com o recurso do
corante.

(d) Posição da superfície freática da barragem zoneada de acordo com as soluções experimental e numérica; Erro
médio entre a solução experimental e numérica de 3,51%.
Figura 6.10 – Comparação dos resultados dos modelos propostas para os métodos
físico, numérico e gráfico (Marques e Unas, 2010).

Segundo Marques e Unas (2010), a combinação da abordagem experimental com a


numérica visa estabelecer uma ligação concreta entre a realidade física e a modelação
computacional, desejavelmente propiciatória de uma aprendizagem mais profunda em
que a teoria seja "vista em ação" e assim vivenciada de modo intuitivo.

110
6.3. MODELAGEM NUMÉRICA

A necessidade de recorrer a modelos numéricos, para interpretar e quantificar as


grandezas associadas ao fenômeno da percolação de um fluido em meio poroso, surge
pela dificuldade que existe em enquadrar a utilização de soluções analíticas exatas em
domínios, cuja geometria e condições de fronteira sejam particularmente complexas. A
utilização de técnicas iterativas fundamentadas em formulações matemáticas que
permitam fixar equações diferenciais governativas que relacionem as grandezas
dependentes da permeabilidade do meio com o fluxo que nele se estabelece, revela-se
uma alternativa cuja utilidade cresce em proporção ao advento de ferramentas
computacionais mais sofisticadas (Unas, 2010).

A previsão quantitativa é um objetivo primário da maioria dos engenheiros ao usar


modelagem. Entretanto, é importante observar que a qualidade destas previsões está
intimamente ligada à boa aferição dos parâmetros do modelo, os quais representam as
propriedades dos materiais (Almeida, 2010).

Diante de toda a discursão em torno do gradiente hidráulico e da complexidade de


relacionar este parâmetro ao fenômeno da erosão interna, este trabalho propõe a
utilização do sistema computacional GeoStudio 2012, módulo Seep/W, da empresa
canadense Geo-Slope International Ltda, para realizar estudos numéricos de fluxo
aplicado.

Para tal, foram modeladas seções típicas, geralmente adotadas em projetos de barragem,
que contemplam diferentes dispositivos de drenagem interna. Para finalizar, foram
realizados estudos de caso contemplando três barragens, objeto de uma das linhas de
pesquisa do NUGEO, a saber: Montes (2003), Aires (2006), Almeida (2010) e Divino
(2010).

111
6.3.1. Programa Computacional Seep/W

Devido a sua não linearidade geométrica, os problemas de superfície livre podem ser
solucionados analiticamente apenas para casos simples, muito particulares. Para que
situações mais complexas possam ser analisadas, é necessário que se adote algum
método numérico baseado na discretização do domínio de percolação. Entre os vários
métodos disponíveis, o Método dos Elementos Finitos (MEF) ainda é, provavelmente, o
mais utilizado (Strufaldi, 2004).

A implementação do MEF num problema de domínio contínuo consiste na sua


discretização em subdomínios, ligados entre si por nós, tal que se garantam os requisitos
necessários de continuidade. A partir daí, o programa computacional descreve o
comportamento de cada nó separadamento, na qual a interligação destes possibilita a
determinação do comportamento geral da estrutura.

Este trabalho propõe a utilização do software Seep/W, da empresa canadense Geo-Slope


International, na sua versão mais recente 2012, para realizar estudos numéricos de
controle fluxo em barragens de terra.

O Seep/W é um programa em elementos finitos que analisa problemas de percolação e


dissipação de poropressões em solos. O programa permite vários tipos de análises, tais
como simples problemas em meios saturados e regime estacionário a situações mais
complexas envolvendo materiais não saturados em regime transitório. O fluxo em solo
não-saturado segue a Lei de Darcy de uma maneira semelhante ao do fluxo em solo
saturado.

A interface gráfica do Seep/W opera no ambiente Windows o que proporciona uma


interação amigável entre o usuário e programa. O programa permite criar a geometria,
gerar a malha de elementos finitos, impor as condições de contorno, resolver
numericamente o problema e tratar graficamente os resultados obtidos.

112
6.3.2. Modelos de Estudo

Em projeto, vários estudos preliminares antecedem à escolha do tipo de barragem e


seção típica. A concepção inicial está ligada às características do local, condições
geológicas, característcas da fundação, disponibilidade de material, cronograma, desvio
do rio, entre outros fatores. Diante disso, é importante ressaltar que para definição das
seções típicas estudadas neste trabalho, não levou-se em consideração essas
características, até porque se trata apenas de modelos de exemplo, porém estes modelos
contam com um embasamento técnico de projeto.

Os modelos das seções típicas empregados neste trabalho estão ilustrados nas Figuras
6.11 a 6.16. Em geral, os perfis são compostos de aterro compactado e/ou enrocamento,
e conta com sistema interno de drenagem singular. Objetivou-se com isso, estimar e
avaliar os gradientes hidráulicos desenvolvidos em cada tipo de seção.

Figura 6.11 – Seção 1: Barragem de terra com tapete drenante.

Figura 6.12 – Seção 2: Barragem de terra com filtro vertical e tapete drenante.
113
Figura 6.13 – Seção 3: Barragem de terra com filtro vertical e tapete drenante.

Figura 6.14 – Seção 4: Barragem de terra com dreno de pé.

Figura 6.15 – Seção 5: Barragem de enrocamento com núcleo argiloso (impermeável).

114
Figura 6.16 – Seção 6: Barragem zoneada de terra e enrocamento.

6.3.3. Especificação dos Materiais e Condições de Contorno

Os parâmetros de fluxo dos materiais estão apresentados na Tabela 6.1. Para o aterro
compactado foram tomados os resultados de ensaios de laboratório, consubstanciados
no Capítulo 5. Os estudos consideram os solos como sendo isotrópicos em relação à
condutividade, exceto o material do aterro que devido à compactação apresenta
condutividade na direção horizontal cerca de três vezes maior que na direção vertical.

Tabela 6.1 – Parâmetros de fluxo dos materiais dos modelos de estudo.


k θ θr
Material Condição k’y / k’x
(m/s) (m³/m³) (m³/m³)
Parcialmente
Aterro argiloso compactado 2,0 x 10-7 0,3 0,5 0,1
saturado
Fundação Saturado 1,0 x 10-7 1,0 - -
Filtro Saturado 1,0 x 10-4 1,0 - -
-2
Brita 0 Saturado 5,0 x 10 1,0 - -
-1
Brita 1 Saturado 1,5 x 10 1,0 - -
Enrocamento Saturado 1,0 x 100 1,0 - -

As características e forma das funções de retenção e permeabilidade definidas para o


aterro compactado, devido à condição de saturação parcial do mesmo, estão apresntadas
nas Figuras 6.17 e 6.18. Para os demais materiais considerou-se a condição de
condutividade constante, sem aplicação de funções nos modelos.

115
0,5

0,45

Teor de umidade volumétrica (m³/m³)


0,4

0,35

0,3
Aterro compactado
0,25

0,2

0,15

0,1

0,05
0.01 0.1 1 10 100 1000

Matriz de sucção (kPa)

Figura 6.17 – Curva de retenção do aterro compactado.

1.0e-06

1.0e-07
Permeabilidade hidráulica (m/sec)

1.0e-08

1.0e-09

1.0e-10
Aterro argiloso
compactado
1.0e-11

1.0e-12

1.0e-13

1.0e-14

0.01 0.1 1 10 100 1000

Matriz de sucção (kPa)

Figura 6.18 – Função permeabilidade do aterro compactado.

Em todas as seções típicas foi considerado barragens com altura de 30m e reservatório
de água operando com borda livre de 2m, ou seja, na El. 43m. Na fase de projeto é
muito difícil avaliar e prescrever a condição de contorno a jusante de barragens. Um
procedimento comum é adotar a prescrição da carga igual ao nível do terreno.
Considerando a condição de operação em regime permanente e barragens de
armazenamento de água, adotou-se como condições de contorno para o fluxo a
prescrição de carga total a montante de 43m, igual à elevação do nível do reservatório, e
a jusante a prescrição de carga total de 15m, igual à elevação do terreno de fundação.
116
6.3.4. Discussão do Gradiente Hidráulico no Seep/W

Numa formulação de elementos finitos, a matriz de gradiente é denominada matriz [B] e


é calculada para todos os pontos dentro de um único elemento, com base nas
coordenadas dos nós do elemento e na função de forma, que determina a forma como a
carga total é distribuída no interior do elemento (Geo-Slope, 2016).

De acordo com o tutorial do Seep/w, em uma formulação de elementos finitos os


gradientes dentro dos elementos, em cada lado de uma extremidade partilhada, não são
necessariamente os mesmos. Isto ocorre porque as funções de forma usadas para saber
como os parâmetros são distribuídos não são contínuas para os elementos adjacentes ao
longo de uma extremidade.

Ainda segundo o tutorial, o método de elementos finitos garante a continuidade do fluxo


nos nós, como por exemplo do balanço de massa, mas não garante que tenhamos
continuidade de energia, ou gradiente, nas extremidades do elemento. Se refinarmos a
malha, é possível melhorar aparentemente a continuidade do gradiente através de uma
extremidade do elemento. Mas provavelmente, isso não irá melhorar o balanço de
massa nodal, pois se a solução era convergente antes do refinamento, ela vai continuir
convergente depois do refinamento.

O problema de convergência ou uniformidade de distribuição dos parâmetros ao longo


da extremidade dos elementos é uma limitação crítica do software de elementos finitos.
Para interpretação dos dados de saída do programa, o analista deve fazer um julgamento
de engenharia e ter um conhecimento adequado dos métodos de cálculo que o programa
utiliza, para asism, tomar valores coerentescorrentes e representativos. Os resultados
computados nem sempre podem apenas serem aceitos pelo seu valor nominal como
representativos das condições esperadas em campo.

Em softwares com modelagem 2D, como o Seep/W, deve-se tomar cuidado ao obter os
gradientes de sáida em pontos acentuados formados por segmentos retos, como
ilustrado na Figura 6.19, denominados matematicamente de pontos de singularidade.
Isto significa que a solução da equação diferencial parcial, que descreve o fluxo no
interior do sistema, é indefinida no ponto de singularidade. A consequência é que os
117
gradientes (derivativos) das equações de fluxo tende para infinito no ponto de
singularidade. (Geo-Slope, 2016).

Figura 6.19 – Ponto de singularidade formado por segmentos retos (Geo-Slope, 2016).

Com isso, ao examinar gradientes de saída em modelo geométrico com face inclinada,
como apresentado na ilustração, recomenda-se que seja considerado os valores de
gradientes a alguma distância dos pontos de singularidade, em cerca de um a dois
metros de distância. A implicação prática é que os gradientes calculados nestes pontos
não têm nenhum significado físico e muito provavelmente não são representativos das
condições reais de campo.

Com base na revisão bibliográfica e ensaios de laboratório realizados pelo autor,


entende-se que possivelmente uma barragem possui internamente gradientes maiores do
que 1,0, o que não representa necessariamente uma condição de erosão interna (piping).
É importante lembrar que o gradiente hidráulico não é a única variável que governa o
problemas de fluxo excessivo, devendo levar-se em consideração fatores como
erodibilidade, tensão efetiva, distribuição granulométrica do solo, entre outros
discutidos anteriormente neste trabalho.

6.3.5. Apresentação dos Resultados

Foi simulado fluxo permanente para todas as seções de estudo, considerando condição
normal de operação de uma barragem e reservatório de água operando com borda livre
de 2,0m.

118
Com base na discussão do item 6.3.4 sobre o gradiente hidráulico, é sugerido e adotado
neste trabalho um críterio para quantificar o gradiente máximo devido a não
convergência e/ou continuidade desta variável na interface entre duas regiões e em
pontos de singulatidade (Ribeiro, 2016 comunicação pessoal).

O critério para quantificar o gradiente máximo trata-se da plotagem de todos os


gradientes dentro da região amostrada em função da distância, como apresentado na
Figura 6.20.

Os pontos onde não há convergência da equação de fluxo os resultados tendem para


infinito, como destacados na Figura 6.20. O início do trecho onde os gradientes
hidráulicos tendem para o infinito pode ser tomado como indicativo do valor máximo
do gradiente. Neste caso, os demais pontos acima o ponto inicial de tendência podem
ser descartados não apresentando solução confiável.

5,0
4,5
Região onde a solução
Gradiente hidráulico horizontal

4,0 numérica não garante a


continuidade do gradiente.
3,5
3,0 imáx.
2,5
2,0
1,5
1,0
0,5
0,0
-8 -6 -4 -2 0 2 4 6
Distância (m)

Figura 6.20 – Critério para quantificar o gradiente horizontal máximo na interface entre
o núcleo e o filtro da Seção 5.

A Equação Diferencial (6.1) descreve o fluxo em através do solo em regime


permanente. Para solos homogêneos e isotrópicos, o coeficiente de permeabilidade na
direção horizontal e vertical são iguais, logo temos que o gradiente de saída é
independente da condutividade hidráulica, como é evidenciado pela Equação (6.2).

119
Neste caso, a distribuição da pressão é independente da condutividade hidráulica, por
consequência, o gradiente de saída é independente da condutividade hidráulica. A
descarga específica ou velocidade Darciana (chamado velocidade do líquido no
Seep/W) é, contudo, diretamente relacionada com a condutividade hidráulica. Para
areias a taxa de fluxo ascendente será muito maior do que para materiais argilosos,
embora o gradiente de saída seja o mesmo. Portanto, quando consideramos a
possibilidade de piping, no ponto de saída da água, é necessário avaliar mais do que
apenas a gradientes de saída, mas também a quantidade e velocidade de fluxo também
(Geo-slope, 2007).

Os resultados obtidos pela simulação, em termos de gradientes hidráulicos na direção


horizontal nas interfaces próximas ao aterro compactado e filtro, como exemplificado
na Figura 6.21, estão apresentados na Tabela 6.2, além do número de elementos finitos
definidos para cada modelo.

Figura 6.21 – Exemplo de delimitação das interfaces onde foram obtidos os resultados.

120
Tabela 6.2 – Resumo dos resultados do gradiente hidráulico máximo.

Nº Filtro vertical Tapete


Núcleo / Filtro
Seção Descrição Elementos inclinado / drenante /
(transição) (ix)
Finitos Aterro (ix) Fundação (iy)
Barragem de terra com tapete
01 drenante com núcleo de brita e 13.102 - 1,25 -
transições de areia
Barragem de terra com filtro vertical
02 11.560 2,93 0,95 -
e tapete drenante, ambos de areia
Barragem de terra com filtro vertical
03 inclinado e tapete drenante, ambos 7.529 1,70 0,60 -
de areia
Barragem de terra com dreno de pé
04 de enrocamento e transição de brita 6.669 1,88 1,44 -
e areia
Barragem de enrocamento com
05 10.384 - 1,93 2,80
núcleo argiloso (impermeável)
Barragem zoneada de terra e
06 6.192 2,00 0,73 -
enrocamento, com transição em brita
Nota: ix = gradiente hidráulico horizontal; iy = gradiente hidráulico vertical

A Tabela 6.3 mostra os gradientes de saída, na direção vertical, e a quantificação e


velocidade de fluxo, sendo ilustrado a região onde foram obtidos os resultados na
Figura 6.22.

Figura 6.22 – Delimitação região onde foram obtidos os resultados.

121
Tabela 6.3 – Resumo dos resultados do gradiente hidráulico máximo de saída, vazão e
velocidade de fluxo.

Gradiente Velocidade de fluxo Vazão unitária


Seção Descrição
vertical de saída (m/s) (m³/s/m)
Barragem de terra com tapete drenante
01 0,03 5,30 x 10-9 2,26 x 10-6
com núcleo de brita e transições de areia
Barragem de terra com filtro vertical e
02 0,15 8,40 x 10-9 3,47 x 10-7
tapete drenante, ambos de areia
Barragem de terra com filtro vertical
03 inclinado e tapete drenante, ambos de 0,11 6,23 x 10-9 2,33 x 10-6
areia
Barragem de terra com dreno de pé de
04 0,01 7,55 x 10-10 1,94 x 10-6
enrocamento e transição de brita e areia
Barragem de enrocamento com núcleo
05 0,07 9,20 x 10-9 9,72 x 10-6
argiloso (impermeável)
Barragem zoneada de terra e
06 0,02 2,76 x 10-9 2,34 x 10-6
enrocamento, com transição em brita

A partir da Tabela 6.3 pode-se observar que a seção que apresenta o maior valor de
gradiente de saída não é a mesma que apresenta a maior quantidade e velocidade de
fluxo. Isso reforça o comentário feito anteriormente de que para avaliação da possível
occorência de piping, todas as variáveis envolvidas devem ser analisadas, não apenas o
gradiente hidráulico.

Em geral, os gradientes quantificados foram baixos, lembrando que a simulação


contemplou condição normal de operação.

As Figuras 6.23 a 6.28 mostram os diagramas de distruição dos valores de gradiente


horizontal por toda a seção.

50

40
Elevação (m)

30
0,2
20
1,2
0,6

10
0,4
0,2
0,1

0,3

0,
0,3

1
5
0,

-10
-90 -75 -60 -45 -30 -15 0 15 30 45 60 75 90

Distância (m)

Figura 6.23 – Seção 1: Diagrama Gradiente X.

122
50

40
0, 4
Elevação (m)

30

0,5
20

0,7

1
0,3
10

0, 1

0,
0,4

2
0

-10
-90 -75 -60 -45 -30 -15 0 15 30 45 60 75 90

Distância (m)
Figura 6.24 – Seção 2: Diagrama Gradiente X.
50

40
Elevação (m)

30

20
0 ,7
0,
5

10
0 ,4
0,3

0,1
0,2

0,3
0,1

-10
-90 -75 -60 -45 -30 -15 0 15 30 45 60 75 90

Distância (m)
Figura 6.25 – Seção 3: Diagrama Gradiente X.
50

40 0,3
Elevação (m)

30

20
0,8
0,5
0,3
0,2

0,4
0,1

10
0,2
0,4

-10
-90 -75 -60 -45 -30 -15 0 15 30 45 60 75 90

Distância (m)
Figura 6.26 – Seção 4: Diagrama Gradiente X.
50

40
Elevação (m)

1,7
30
2
20
2,1

10 1,2 0,
1
1
0,8

0,
0 ,3
0,7
0 ,3

-10
-90 -75 -60 -45 -30 -15 0 15 30 45 60 75 90

Distância (m)
Figura 6.27 – Seção 5: Diagrama Gradiente X.

123
50

Elevação (m) 40

30

20

0,
6
0,4
10

0,1

0,2

0,3

0,1
0,3
0

-10
-90 -75 -60 -45 -30 -15 0 15 30 45 60 75 90

Distância (m)
Figura 6.28 – Seção 6: Diagrama Gradiente X.

6.4. ESTUDO DE CASO

Para os estudos de caso, adotados neste trabalho, foram consideradas três barragens
existentes, já abordadas em trabalhos desenvolvidos no NUGEO – Núcleo de
Geotecnia da UFOP, de Montes (2003), Aires (2006), Almeida (2010) e Divino (2010).

Os trabalhos citados tratam de duas barragens de terra e enrocamento e outra de terra


homogênea.A Barragem de Irapé é de terra e enrocamento, de geometria convencional
com núcleo trapezoidal, e a Barragem de Emborcação, também é de terra e
enrocamento, porém, não convencional. Nesta barragem o núcleo é inclinado para
jusante. A terceira, Barragem Bico da Pedra, é constituída de aterro compactado de terra
e possui sistema convenciaonal de drenagem, com dreno vertical e tapete drenante.
Conta também com um tapete impermeável, a montante do maciço, para controle de
percolação pela fundação devido à sua considerável permeabilidade.

Vale destacar que a seção com núcleo inclinado dificulta a convergência da solução
numérica em termos de percolação, pois a inclinação condiciona um retorno da água
que percola pelo filtro de montante adjacente ao núcleo. Outro destaque é dado ao fato
de que os três estudos de casos contemplam barragens diferentes que abrangem uma
grande escala de obras de barramento.

124
6.4.1. Barragem de Emborcação

A Usina Hidrelétrica de Emborcação ou Usina Hidrelétrica Theodomiro Santiago


localiza-se no rio Paranaíba, município de Araguari, estado de Minas Gerais. A Usina
possui uma barragem principal em enrocamento com núcleo argiloso e esbelto, com
158m de altura máxima, inclinado para montante, ligado a uma camada horizontal
impermeável junto à fundação (Divino, 2010).

Em sua dissertação, o autor estudou o comportamento da barragem avaliando-a nos


períodos de construção, enchimento do reservatório e operação, por meio do
monitoramento visual e análise dos dados da instrumentação instalada na seção do leito
do rio (estaca 10+00), correspondente à seção de máxima altura da barragem. A Figura
6.28 mostra a seção transversal típica e os diversos materiais que constituem o maciço
da barragem.

Figura 6.29 – Seção transversal típica da Barragem de Emborcação (Divino, 2010).

As zonas de projeto da barragem, mostradas na Figura 6.28, receberam uma numeração


sequenciada para cada função, descrita a seguir (Divino, 2010).

Zona 1 – Enrocamento compactado – camadas de 0,60m


Zona 2A – Enrocamento compactado – camadas de 1,20m
Zona 2B – Enrocamento compactado – camadas de 0,90m
Zona 3 – Enrocamento – Zona de Grandes Blocos
Zona 4 – Transição a montante do núcleo
Zona 5 – Filtros: montante e jusante do núcleo

125
Zona 6 – Núcleo impermeável compactado
Zona 7 – Random impermeável compactado
Zona 8 – Transição a jusante do núcleo
Zona 8A – Transição fina a montante e jusante do núcleo
Zona 8B – Transição grossa a montante e jusante do núcleo

A dissertação de Divino (2010) teve como objetivo principal avaliar o comportamento


tensão-deformação da barragem de Emborcação, por meio de análise pormenorizada
dos dados da instrumentação instalada e da elaboração de um modelo numérico mais
representativo das condições de campo.

No escopo deste trabalho, atenção será dada à análise de fluxo através do maciço,
considerando o regime permanente, utilizando os dados constantes do trabalho original,
para análise dos gradientes hidráulicos nas interfaces entre núcleo e filtro. Sendo a
fundação em rocha impermeável, os gradientes de saída, nesse caso, não faz sentido
serem avaliados.

A Tabela 6.4 apresenta os valores de condutividade hidráulica considerados para o


estudo. De acordo com o trabalho citado, os parâmetros de fluxo foram estimados com
base em dados apresentados em Dam Projetos de Engenharia (2006) e resultados de
ensaios em laboratório e campo no período construtivo da barragem.

Tabela 6.4 – Parâmetros de fluxo dos materiais (Divino, 2010).


k θ θr
Material Condição k’y / k’x
(m/s) (m³/m³) (m³/m³)
Parcialmente
Núcleo 1,0 x 10-9 0,1 0,42 0,1
saturado
Enrocamento 60cm Saturado 1,0 x 10-3 1,0 0,50 -
-3
Enrocamento 90cm Saturado 5,0 x 10 1,0 0,50 -
-2
Enrocamento 120cm Saturado 1,0 x 10 1,0 0,50 -
-4
Transição Saturado 5,0 x 10 1,0 0,50 -
-2
Grandes Blocos Saturado 1,0 x 10 1,0 0,50 -
-4
Filtro Saturado 1,0 x 10 1,0 0,40 -
Parcialmente -9
Base Argilosa - Random 1,0 x 10 0,1 0,42 0,2
saturado

126
Como condições de contorno de montante e jusante, foram prescitas cargas totais iguais
às cargas de elevação de 660,0m e 520,0m, respectivamente. A fundação não foi
representada, mas em sendo esta impermeável, definiu-se uma condição de contorno de
fluxo nulo para a base da barragem.

De acordo com o diagrama de distribuição de carga hidráulica, apresentado na Figura


6.30, a água percola pelo enrocamento e a carga é praticamente toda dissipada no núcleo
da barragem.

670
660 4
650
640
630
620
Elevação (m)

610 1,8
600 1 5
590 1,4
2A 2B 2B 1
580
570 6 1 2A 3
560
9
0
66

550
2
0

8
65

540 1
0

550
580

1
62

530 2A
520 7 PH201
520
510
-300 -250 -200 -150 -100 -50 0 50 100 150 200

Distância (m)

Figura 6.30 – Diagrama de distribuição de carga hidráulica (equipotenciais) na


Barragem Emborcação.

De acordo com os resultados da análise numérica, o gradiente hidráulico máximo na


região entre o núcleo e filtro é da ordem de 2,7 (Figura 6.31). O diagrama com
apresentação dos gradientes ao longo da seção da barragem é mostrado na Figura 6.32,
na qual é possível observar uma concentração de valores em um ponto de singularidade
na porção inferior a jusante do núcleo.

127
5,0

4,5

Gradiente hidráulico horizontal


4,0

3,5

3,0

2,5
imáx.
2,0

1,5

1,0

0,5

0,0
-140 -125 -110 -95 -80 -65 -50 -35 -20 -5
Distância (m)

Figura 6.31 – Quantificação do gradiente hidráulico máximo para Barragem de


Emborcação.

670
660 4
650
640
630 0,4
620 0,9
Elevação (m)

610 1,8
600 1 1
590 1,4
2A 2B 2B 1
580
570 1 1 2A 3
560 1,4
9
550
2 1,8
540 1 8
1 1,8
2A
2

530
2,

520 1,4 0, 2 7 PH201


0,
7

510
-300 -250 -200 -150 -100 -50 0 50 100 150 200

Distância (m)

Figura 6.32 – Diagrama Gradiente X, Barragem de Emborcação.

6.4.2. Barragem de Irapé

O Aproveitamento Hidrelétrico de Irapé (AHE Irapé), também denominado de Usina


Hidrelétrica Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, encontra-se situado no Norte
de Minas, na região do rio Jequitinhonha a 9 km do distrito de Lelivéldia, município de
Berilo – MG, a 69km de Araçuaí – MG (Aires, 2006).

De acordo com o trabalho, a Cemig passa a construir o AHE Irapé a partir de abril de
2002, cuja barragem é a maior em altura do Brasil e a segunda da América do Sul, com

128
208 metros de altura, constituída de enrocamento com núcleo de argila com
comprimento total de 551m.

A barragem é do tipo terra-enrocamento, a crista encontra-se na elevação 515,50. A


inclinação do talude de montante é de 1:1,5 até a elevação 484,00, passando para a
inclinação de 1:1,3. O talude de jusante, por sua vez, possui inclinação de 1:1,3. A
Figura 6.33 apresenta a seção de maior altura da barragem, demonstrando o zoneamento
de materiais nesta estrutura (Aires, 2006).

A seção e os materiais adotados na modelagem numérica, para análise de fluxo através


do maciço, foram os mesmos utilizados por Aires (2006) e Almeida (2010). A seção
modelada é uma simplificação da seção real da barragem sem perder a
representatividade de cada material, pois muitos materiais apresentam características
geotécnicas semelhantes. Os materiais consttituintes do modelo numérico estão
indicados na Tabela 6.5.

129
Figura 6.33 – Seção de maior altura da barragem de Irapé (CCI, 2003b apud Aires, 2006).

130
Tabela 6.5 – Parâmetros de fluxo dos materiais (Aires, 2006).
k θ θr
Material Condição k’y / k’x
(m/s) (m³/m³) (m³/m³)
Solo argiloso arenoso Parcialmente saturado 1,2 x 10-9 0,1 0,40 0,1
-4
Filtros Saturado 1,0 x 10 1,0 - -
-3
Transições Saturado 1,5 x 10 1,0 - -
-7
“Cascalho” Parcialmente saturado 1,0 x 10 0,1 0,40 0,1
Enrocamento de rocha
pouco a medianamente Parcialmente saturado 1,0 x 10-0 1,0 0,45 0,05
decomposta
Enrocamento de rocha
medianamente a muito Parcialmente saturado 1,0 x 10-0 1,0 0,45 0,05
decomposta
Random Parcialmente saturado 5,0 x 10-7 1,0 0,45 0,05
Enrocamento de rocha
Parcialmente saturado 1,0 x 101 1,0 0,45 0,05
pouco decomposta a sã
Fundação superficial Saturado 1,0 x 10-6 1,0 0,40 -
-8
Fundação profunda Saturado 1,5 x 10 1,0 0,40 -

Como condições de contorno de montante e jusante, foram prescitas cargas totais iguais
às cargas de elevação de 507,86m e 328,0m, respectivamente, propiciando uma
diferenta de carga de 179,86m a ser dissipada ao longo da seção da barragem. É
importante ressaltar aqui também que foi considerado o fluxo em regime permanente, e
a barragem operando em condições normais, ou seja, sem nenhuma intrefenrência de
anomalias conhecidas.

Por se tratar de estruturas com material do núcleo com coeficiente de permeabilidade


muito baixo, na barragem de Irapé assim como para barragem de Emborcação, a perda
de carga, ou dissipação, se dá praticamente através do núcleo da barragem (Figura
6.34).

131
520
500
480
460
440
Elevação (m)

420
400
380
360
340
320
300 0
50
280

33
0
34
0

420
4 00
440

3 60
4 60

380
48

0
260
240
220
-400 -300 -200 -100 0 100 200 300 400

Distância (m)

Figura 6.34 – Diagrama de distribuição de carga hidráulica (equipotenciais) na


Barragem Irapé.

De acordo com os resultados da análise numérica, o gradiente hidráulico máximo na


região entre o núcleo e filtro é da ordem de 1,5 (Figura 6.35). O diagrama com
apresentação dos gradientes ao longo da seção da barragem é mostrado na Figura 6.36,
na qual é possível observar gradientes hidráulicos na fundação da mesma ordem de
grandeza dos apresentados no núcleo.

3,5

3,0
Gradiente hidráulico horizontal

2,5

2,0

1,5
imáx.

1,0

0,5

0,0
-90 -70 -50 -30 -10 10 30 50
Distância (m)

Figura 6.35 – Quantificação do gradiente hidráulico máximo para Barragem de Irapé.

132
520
500
480
0,4
460
0,7
440
0 ,9
Elevação (m)

420
400
380 1,1
360
340

1,2
1

1,4
320
300
280

0,1
1,3

0,3

0,7
0,5

0,8

0,1
0,5
260 1

0,3
240
220
-400 -300 -200 -100 0 100 200 300 400

Distância (m)

Figura 6.36 – Diagrama Gradiente X, Barragem de Emborcação.

6.4.3. Barragem Bico da Pedra

A Barragem Bico da Pedra está localizada a cerca de 5km a sudeste da cidade de


Janaúba/MG e aproximadamente 130km de Montes Claros – Minas Gerais.

A barragem é do tipo homogênea com crista de 9,0m de largura, na cota 558,80m, e


305m de extensão e 45,0m de altura máxima . O talude de montante possui inclinação
de 1:2,5 (V:H) da crista até a cota 542,00m, onde encontra uma berma de 3,75m de
largura, prosseguindo com inclinação de 1:3 (V:H) até a cota 525,00m, onde inicia o
tapete impermeabilizante que se estende a 250,0m para montante no trecho central do
vale. O talude de jusante possui inclinação de 1:2,5 (V:H), com bermas de 2,0m para
cada desnível de 10,0m até a cota 538,80m, prosseguindo com talude de 1: 3 (V:H) até a
cota 518,00m, onde se acha a berma de 4,0m (Montes, 2003). A Figura 6.37 apresenta a
seção transversal tipo da barragem.

De acordo com Montes (2003), a permeabilidade dos solos de fundação foi verificada
por meio de ensaios de permeabilidade in-situ, realizados concomitantemente com as
sondagens a percussão, tendo-se encontrado valores entre 7,5x10-2 e 1,0x10-5cm/s. Para
fins de estudo da percolação pela fundação, consideraram-se os valores de 5,66x10-
3
cm/s para permeabilidade média dos solos da fundação e 1,0x10-2cm/s para
permeabilidade da areia do leito do rio.

133
Figura 6.37 – Seção transversal típica da Barragem Bico da Pedra (Montes, 2003).

134
Em seu trabalho, Montes (2003) objetivou analisar a segurança contra ruptura da
barragem de Bico da Pedra. Para tal, ele desenvolveu uma carta de risco com base na
leitura das pressões existentes nos piezômetros da obra por meio de análises de fluxo
pela barragem e fundação, com base nos dados de campo e laboratório.

Este trabalho considerou as mesmas premissas para modelagem definidas por aquele
autor, com objetivo de quantificar os gradientes hidráulicos da barragem, para um
cenário de operação normal da estrutura. Os parâmetros das análises para fluxo
permanente foram obtidos através da calibragem do modelo numérico adotado e estão
apresentados na Tabela 6.6. A Figura 6.38 representa a seção tipo do modelo calibrado,
onde foi analisada a instrumentação de campo.

Tabela 6.6 – Parâmetros de fluxo dos materiais (Montes, 2003).


k θ θr
Material Condição k’y / k’x
(m/s) (m³/m³) (m³/m³)
Parcialmente
Aterro compactado 1,0 x 10-8 0,5 0,40 0,08
saturado
Fundação - Aluvião Saturado 2,5 x 10-4 1,0 - -
Parcialmente
Dreno 5 x 10-3 1,0 0,45 0,045
saturado
Tapete impermeável Saturado 1 x 10-8 0,5 - -

570
Elevação (m)

560
FILTRO VERTICAL
550
540 TAPETE IMPERMEÁVEL TAPETE DRENANTE
530 ATERRO COMPACTADO
520
510 FUNDAÇÃO
500
490
-10 40 90 140 190 240 290 340 390 440 490

Distância (m)

Figura 6.38 – Seção do modelo numérico calibrado Barragem Bico da Pedra (Montes,
2003).

Para definição da condição de contorno de montante, considerou-se o nível normal de


operação do reservatório, logo, carga total igual a elevação de 553,0m. Para jusante,
definiu-se carga igual a elevação do terreno de 515,0m.

A Figura 6.39 mostra o resultado obtido para o diagrama de distribuição de carga


hidráulica da barragem, na qual é possível observar que a maior perda de carga se dá na

135
porção de montante do aterro compactado. Sendo a fundação composta por aluvião,
com alto coeficiente de permeabilidade, é observada uma perda de carga pouco
acentuada nessa camada.

570
Elevação (m)

560
550
540
549
530 541
520 535

9
52
545

541

537

527

523
533

519
510
549

500
490
-10 40 90 140 190 240 290 340 390 440 490

Distância (m)

Figura 6.39 – Diagrama de distribuição de carga hidráulica (equipotenciais) na


Barragem Bico da Pedra.

A Tabela 6.7 mostra os valores de gradiente hidráulico para a seção de maior altura da
barragem Bico da Pedra. Observa-se que os valores quantificados, para as variáveis em
questão, são pouco expressivos, o que pode ser atribuído à influência do tapete
impermeável utilizado no tratamento de fundação. A partir da Figura 6.40 identificamos
que os maiores gradientes ocorrem próximos ao tapete impermeável.

Tabela 6.7 – Quantificação do gradiente hidráulico, Barragem Bico da Pedra.

Filtro vertical Tapete Saída


(ix) drenante (ix) jusante (iy)

0,16 - 0,65 0,1 0,1 - 0,2

580
Elevação (m)

565

550
0,3

535
0,
0,3

0,2
520 0,5
0,6

505

490
-10 40 90 140 190 240 290 340 390 440 490

Distância (m)

Figura 6.40 – Diagrama Gradiente X, Barragem de Bico da Pedra.

136
6.4.4. Discussão dos Resultados

Para as análises de percolação realizadas para as três barragens dos estudos de caso, foi
considerado um cenário de normalidade dentro do contexto de operação de uma
barragem, ou seja, nenhum efeito de anomalias como por exemplo erosão interna ou
colmatação do sistema de drenagem interno. Neste caso, os baixos valores de gradiente
hidráulico obtidos apresentam-se coerentes com o contexto da simulação numérica.
Ressalta-se, no entanto, que para a Barragem de Bico da Pedra observa-se um forte
afogamento do sistema de drenagem, porém não há evidências que este afogamento
tenha gerado aumento comprometedor dos gradientes hidráulicos, escopo deste estudo.

Para a elaboração de uma conclusão mais refinada acerca do gradiente hidráulico e sua
relação com o processo de erosão interna, seria necessário avaliar os materiais que
compõem os maciços e filtros das barragens, por meio de os ensaios de laboratório e
adoção de critérios da literatura.

Como ressaltado nos Capítulos 3 e 5, deste trabalho, os materiais coesivos necessitam


de gradientes hidráullicos maiores para se estabelecer uma instabilidade interna na
matriz do solo, e por consequência iniciar-se o processo de erosão interna. Viu-se que
no ensaio de laboratório os gradientes hidráulicos chegaram até 94,95. Esta magnitude
não foi suficiente para provocar um carreamento de finos significativo para a camada do
filtro. Em contrapartida, a literatura mostra estudos em solos pouco coesivos, ou seja,
granulares e com percentual baixo de finos, valores de gradiente hidráulico de até 0,5
para se iniciar a instabilidade interna no material.

Com base nessas informações, pode-se supor que os gradientes obtidos para as
Barragens de Emborcação, Irapé e Bico da Pedra são pouco significativos para induzir
um processo progressivo de erosão interna. Outros fatores relativos às práticas de
construção e tempo de operação da barragem devem ser levados em consideração nesta
análise, tais como controle de compactação, seleção dos materiais e construção dos
filtros, zonas com alta permeabilidade, trincas, entre outros.

137
CAPÍTULO 7

CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS

7.1. CONCLUSÕES QUANTO AO ENSAIO DE PERCOLAÇÃO EM


LABORATÓRIO

Para a avaliação da vulnerabilidade ou susceptibilidade à instabilidade interna dos


materiais utilizados no ensaio de laboratório, foram aplicados os critérios de De Mello
(1975), Sherard (1979) e Kenney e Lau (1985). Em todos os critérios, os materiais do
solo base e filtro foram classificados como internamente estáveis. Estes critérios
oferecem uma referência confiável na identificação de solos internamente instáveis,
porém, são limitados quanto a identificação das consequências da instabilidade, o que
justifica e enfatiza a necessidade de realização dos ensaios para melhor conhecimento
das características do solo.

Os gradientes hidráulicos definidos, dentro da máxima capacidade do equipamento de


pressão do laboratório, variaram de 4,75 a 94,95 ao longo do ensaio. Mesmo com o
aumento significativo do gradiente hidráulico, foi observado externamente ao
equipamento de ensaio (célula de HCT de material transparente) carreamento
desprezível de partículas finas para a camada do filtro.

Considerando as condições do ensaio de laboratório, os resultados obtidos mostraram


que mesmo em situação extrema de gradiente hidráulico da ordem de 100, a
permeabilidade da amostra manteve-se constante e visualmente as partículas advindas
do solo base mantiveram-se na interface entre os dois materiais, ou seja, não ocorreu
nenhum processo erosivo. O filtro conteve quase que em sua totalidade, as partículas
finas advindas do solo base, desempenhando com sucesso seu papel de camada de
proteção e atendendo os critérios básicos de projeto de retenção e permeabilidade.

Há de se considerar ainda, que a camada do filtro de 48mm, representa apenas 8% da


espessura mínima, de 60cm, recomendada em projeto para filtro vertical. Neste caso, o
percentual de 8% pode ser contabilizado junto às espessuras adicionadas ao filtro, ao
prever-se uma possível contaminação parcial do dispositivo. Sendo assim, a
138
contaminação em 5,03% da camada de filtro ensaiada, é passível de aceitação. Além do
que, na literatura, o critério de dimensionamento de filtro proposto por Sherard et al.
(1963) admite um percentual de até 5% de finos para o material de filtro.

Entendendo-se que os altos valores de gradiente hidráulico obtido no ensaio poderiam


ser questionados, o autor argumenta que em ensaios apresentados na literatura (NEF –
No Erosion Filter) com materiais coesivos (argilosos, silto argilosos), os gradientes
hidráulicos críticos necessários para se iniciar a instabilidade interna no material, são
bastante elevados. Em contrapartida, ensaios realizados em solos pouco coesivos, ou
seja, granulares com baixo percentual de finos, os valores de gradiente hidráulico crítico
se mostram baixos chegando até 0,5.

Importante ressaltar também que em um ensaio, muitas das vezes algumas condições
são tomadas que não refletem o comportamento ou características de um maciço, em
campo, sujeito ao piping. No ensaio, atentou-se para a regularidade da superfície de
contato entre material base e filtro, a energia de compactação da amostra, a seleção
minuciosa do material do filtro, entre outros detalhes, o que muitas das vezes não
acontece no campo. As condições críticas que condicionam a ocorrência de anomalias,
como a erosão interna, podem não ser aquelas consideradas nos ensaios.

Para se obter uma boa equivalência dos resultados é recomendado fazer-se ensaios de
laboratório com uma média de 05 corpos de prova e considerando-se mais de uma
condição de moldagem, no que diz respeito a grau de compactação, dimensionamento
do filtro, introdução de furo na amostra para simulação de fluxo concentrado. Em
campo, é necessário planejar e executar um rigoroso controle de campo, ser criterioso
quanto à seleção do material de construção e prezar pelas boas práticas de engenharia
para a construção do filtro e aterro compactado.

7.2. CONCLUSÕES QUANTO AOS ESTUDOS DE SIMULAÇÃO


NUMÉRICA

É recomendado explorar ao máximo a ferramenta computacional, que foi desenvolvida


para viabilizar e facilitar a obtenção de resultados de problemas complexos, mas é
necessário fazer isso de forma criteriosa. O fato é que deve-se trabalhar com o
139
julgamento técnico de engenharia tanto na entrada como saída de dados, e admitir como
resposta do problema apenas os dados consistentes. Isso dentro da ótica dos
conhecimentos de engenharia e a forma de operação do programa.

Os resultados obtidos pela simulação mostraram que os gradientes quantificados foram


baixos, considerando-se na simulação uma condição normal de operação.

Foi observado que a seção típica que apresentou o maior valor de gradiente hidráulico
de saída, não foi a mesma que apresentou a maior quantidade e velocidade de fluxo,
mostrando que para avaliação da possível ocorrência da erosão interna, todas as
variáveis envolvidas no problema devem ser analisadas, não apenas o gradiente
hidráulico.

Para interpretação dos dados de saída do programa, o projetista deve fazer um


julgamento de engenharia e ter um conhecimento adequado dos métodos de cálculo que
o programa utiliza, para assim, tomar valores coerentes e representativos.

Foram desenvolvidos também três estudos de caso, considerando as Barragens de


Emborcação, Irapé e Casa de Pedra. Com base nos resultados obtidos na simulação de
fluxo e no trabalho desta dissertação, conclui-se que os valores de gradientes hidráulicos
encontrados são pouco significativos para induzir um processo progressivo de erosão
interna. A Barragem de Bico da Pedra apresentou um forte afogamento do sistema de
drenagem, porém não há evidências que este afogamento tenha gerado aumento
comprometedor dos gradientes hidráulicos. Ressalta-se que para a elaboração de uma
conclusão mais refinada e assertiva, seria necessário avaliar os materiais que compõem
os maciços e filtros destas barragens, por meio da realização de ensaios de laboratório e
aplicação dos critérios encontrados na literatura explorados neste trabalho.

As análises numéricas complementaram as análises de laboratório e empíricas, uma vez


que podem quantificar muitas das variáveis que estão envolvidas no problema de fluxo
excessivo, tais como gradiente hidráulico, velocidade de fluxo, tensão efetiva e
quantidade de fluxo.

140
7.3. CONCLUSÕES GERAIS

Diante das evidências e sensibilidade adquirida ao longo do escopo explorado neste


trabalho, é conclusivo que a presença de filtros bem projetados, para bloqueio da etapa
de continuação da erosão interna, seja pelo aterro e/ou fundação da barragem, podem
eliminar as chances de ocorrência deste fenômeno.

Os materiais empregados como filtro e dreno de uma barragem devem ser intensamente
estudados, para que desempenhem com excelência suas funções de filtragem, drenagem
e proteção. Para isso, é recomendado que os estudos baseiem-se não somente nas
referências literárias, mas principalmente na realização de ensaios de laboratório. A
partir de análise qualitativa e quantitativa dos resultados do ensaio é possível ter-se um
grau de segurança maior quanto aos métodos e critérios utilizados no dimensionamento
do filtro.

7.4. SUGESTÕES PARA FUTURAS PESQUISAS E RECOMENDAÇÕES

Como sugestão para ampliação da pesquisa sobre o entendimento do processo de erosão


interna, recomenda-se:

 Calibração da rede de fluxo de modelos numéricas a partir da construção de


modelos reduzidos de barragens, o que demandaria a escolha de melhores
condições de contorno a serem utilizadas nos programas computacionais;
 Realizar análises de fluxo, a partir da modelagem numérica, para cenários
críticos contemplando anomalias e efeitos do processo de erosão interna, tais
como fluxo concentrado, zonas com alta permeabilidade hidráulica e
colmatação. Para as mesmas condições, confrontar os valores de gradiente
hidráulico obtidos na simulação numérica com resultados de ensaios de
laboratório;
 Fazer ensaios de laboratório com uma média de 05 CP’s e considerando-se mais
de uma condição de moldagem do corpo de prova, no que diz respeito a grau de
compactação, espessura variação da espessura das camadas, dimensionamento

141
do filtro, introdução de furo na amostra para simulação de fluxo concentrado,
entre outros;
 Considerar outras metodologias e tipos de ensaios de laboratório apresentados
na literatura. Recentemente, alguns autores têm realizado ensaios para avaliar a
influência do efeito de escala no resultado e considerações sobre o processo de
erosão interna.

142
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153
ANEXO I – RESULTADOS DE ENSAIOS DE LABORATÓRIO

ENSAIO DE EROSÃO - FILTRO / SOLO BASE

TEOR DE UMIDADE
CAMADA 1 2 3 4
BACIA Nº 6 7 32 10
SOLO ÚMIDO + BACIA (g) 217,07 185,53 269,82 111,49
TARA BACIA (g) 38,88 37,22 81,53 38,47
SOLO SECO + BACIA (g) 186,12 160,82 237,40 98,01
SOLO SECO (g) 147,24 123,60 155,87 59,54
ÁGUA (g) 30,95 24,71 32,42 13,48
UMIDADE (%) 21,0 20,0 20,8 22,6
UMIDADE MÉDIA (%) 21,1

Camada 4
Camada 3
Camada 2
Camada 1

APÓS LAVAGEM NA PENEIRA #200*


BACIA Nº 6 7 32 10
SOLO SECO* + BACIA (g) 180,59 154,66 228,20 94,45
SOLO SECO* (g) 141,71 117,44 146,67 55,98
PASSANTE NA PENEIRA #200* (g) 5,53 6,16 9,20 3,56
% da camada 3,76% 4,98% 5,90% 5,98%

PESO TOTAL SOLO SECO 486,25


PESO TOTAL SOLO SECO* 461,80
TOTAL PASSANTE NA PENEIRA #200* (g) 24,45
PORC. DE FINOS APÓS PERCOLAÇÃO 5,03%

154
ÍNDICE DE VAZIOS MÁXIMO E MÍNIMO

DENSIDADE SECA MÁXIMA DISPOSITIVOS DE PRECISÃO:

DETERMINAÇÃO Nº 01 02 03 Balança: 11

MOLDE + SOLO (g) 3444,000 3452,000 3446,000 Estufa: 01

MOLDE (g) 2992,000 2992,000 2992,000 DENSIDADE REAL DOS GRÃOS

SOLO (g) 452,00 460,00 454,00


d (g/cm³): -
VOLUME (cm3) 265,09 265,09 265,09

gs (g/cm3) 1,705 1,735 1,713 ÍNDICE DE VAZIOS MÍNIMO

gsmáx (g/cm3) 1,735


emín:
DENSIDADE SECA MÍNIMA

DETERMINAÇÃO Nº 01 02 03 ÍNDICE DE VAZIOS MÁXIMO

MOLDE + SOLO (g) 4968,000 4958,000 4968,000


emáx :
MOLDE (g) 3520,000 3520,000 3520,000

SOLO (g) 1448,00 1438,00 1448,00 OBSERVAÇÃO

VOLUME (cm3) 1029,39 1029,39 1029,39

gs (g/cm3) 1,407 1,397 1,407

gsmín (g/cm3) 1,397

Material do Filtro (passado na


AMOSTRA: PROFUNDIDADE: - DATA: 15/09/15
#4,8mm)

CLIENTE: Dayana Santos/UFOP OPERADOR: Isabela Bernardes


PROTOCOLO:
-
PROJETO: - CÁLCULO: Tadeu Castro

LOCAL: - VISTO: Tadeu Castro

155
GRANULOMETRIA POR SEDIMENTAÇÃO

DADOS PARA CÁCULO


AMOSTRA TOTAL DIÂMETRO DOS GRÃOS (mm) n=Viscosidade (tab.)
a) P ESO ÚM IDO TOTA L (gr) 2350,00 1800* n h h=Altura queda (cal.)
= 2 *
b) P ESO SECO RETIDO # 10 (gr) 0,00 d - ga t" t"=Tempo em segundo

c) P ESO ÚM IDO P A SSA DO # 10 (gr) : (a-b) 2350,00


a -b * d
d) P ESO SECO P A SSA DO # 10 (gr) : 2117,69 Q = Q' x Lc Q' = = 2,423
e) P ESO SECO TOTA L (gr) : (b+d)
1+ h
2117,69 (d - 1) Ps

DETERMINAÇÃO DA UMIDADE HIGROSCÓPICA PENEIRAMENTO DO SOLO GRAÚDO


P ENEIRA P ESO P ESO RETIDO P ESO QUE % QUE P A SSA DA
CÁ P SULA Nº 66 22 50 Nº ABERTURA RETIDO A CUM ULA DO P A SSA A M OSTRA TOTA L
P ESO ÚM IDO + TA RA (g) 87,31 82,02 92,24 (mm)

P ESO SECO + TA RA (g) 80,21 76,00 84,80 2" 50 0,00 0,00 2117,69 100,00
P ESO DA Á GUA (g) 7,10 6,02 7,44 11/2" 38 0,00 0,00 2117,69 100,00
TA RA (g) 14,91 22,20 16,30 1" 25 0,00 0,00 2117,69 100,00
P ESO SOLO SECO (g) 65,30 53,80 68,50 3/4" 19 0,00 0,00 2117,69 100,00
UM IDA DE (%) 10,87 11,19 10,86 3/8" 9,5 0,00 0,00 2117,69 100,00
UM IDA DE M ÉDIA (%) 10,97 Nº 04 4,8 0,00 0,00 2117,69 100,00
FA TOR DE CORREÇÃ O FC = 100/100+h Nº 10 2,0 0,00 0,00 2117,69 100,00

PENEIRAMENTO DO SOLO MIÚDO


P ENEIRA A M OSTRA P A RCIA L % QUE P A SSA
Nº A B ERTURA P ESO RETIDO P ESO RETIDO P ESO QUE DA A M OSTRA A M OSTRA P A RCIA L
(mm) A CUM ULA DO P A SSA TOTA L
16 1,20 0,40 0,40 62,92 99,37 P ESO
30 0,60 1,58 1,98 61,34 96,87 ÚM IDO (g)
40 0,42 1,58 3,56 59,76 94,38
50 0,30 2,68 6,24 57,08 90,15 P ESO
100 0,15 6,15 12,39 50,93 80,43 SECO (g)
200 0,074 6,02 18,41 44,91 70,93

SEDIMENTAÇÃO - DADOS GERAIS


P ESO DO SEDIM ENTO ÚM IDO (g) 70,27 DENSÍM ETRO Nº 008/14
P ESO DO SEDIM ENTO SECO (g) 63,32 P ROVETA Nº 44
CORREÇÃ O DO M ENISCO DEFLOCULA NTE Hexametafosfato de sódio
DENSIDA DE DOS GRÃ OS 2,871

SEDIMENTAÇÃO

t
LEITURA DIÂ M ETRO
TEM P ER. CORREÇÃ O LEITURA % FINOS
HORA LEITURA L (ºC) CORRIGIDA DOS GRÃ OS CI CORRIGIDA TOTA IS
(min) M ENISCO (mm)
10:20 15" 33,50 33,50 22,0 0 0,093 -2,85 30,65 74,26
10:20 30" 32,30 32,30 22,0 0 0,066 -2,85 29,45 71,36
10:21 1' 31,00 31,00 22,0 0 0,046 -2,85 28,15 68,21
10:22 2' 29,80 29,80 22,0 0 0,033 -2,85 26,95 65,30
10:24 4' 26,80 22,0 0,023 -2,85 23,95 58,03
10:28 8' 25,00 22,0 0,016 -2,85 22,15 53,67
10:35 15' 22,90 22,0 0,012 -2,85 20,05 48,58
10:50 30' 20,20 22,1 0,0085 -2,83 17,37 42,09
11:20 1h 18,00 22,1 0,0060 -2,83 15,17 36,76
12:20 2h 15,50 22,6 0,0043 -2,70 12,80 31,01
14:20 4h 13,50 23,1 0,0030 -2,56 10,94 26,51
18:20 8h 12,10 23,1 0,0022 -2,56 9,54 23,12
10:20 24h 9,20 21,6 0,0013 -2,95 6,25 15,14

CLIENTE: AMOSTRA: OPER.: Visto:


PROJETO: Guilherme Tadeu Castro
Protocolo:
CALC.: DATA DE INÍCIO: 03/08/2015
LOCAL:
Dayana Santos DATA DE FIM: 05/08/2015

156
CURVAS DE DISTRIBUIÇÃO GRANULOMÉTRICA
PENEIRAS Nº 200 100 50 40 16 10 4 3/8" 1 1/2" 2"
30 3/4" 1"
100,00

90,00

80,00

70,00
Porcentagem que Passa

60,00

50,00

40,00

30,00

20,00

10,00

0,00
98 7 6 5 4 3 2 2 3 4 5 6 7 89 2 3 4 5 6 7 89 2 3 4 5 6 78 9 2 3 4 5 6 78 9 98 7 6 5 4 3 2
0,0001 0,001 0,01 0,1 1 10 100
Diâm etro dos Grãos (mm)

ARGILA SILTE AREIA FINA AREIA MÈDIA AREIA GROSSA PEDREGULHO


21,30% 49,10% 13,30% 13,20% 3,10% 0,0%

CLIENTE: AMOSTRA: OPER.: Visto: DESCRIÇÃO DA AMOSTRA: Protocolo:


Guilherme Tadeu Castro
PROJETO: 00 CALC.: INÍCIO: 03/08/2015 Silte areno argiloso
Dayana Santos TÉRMINO: 05/08/2015

157
PROTOCOLO Nº
LIMITES DE ATTERBERG -
LL/LP
(NBR 6459/84 e NBR 7180/84)

CLIENTE OBRA

Amostra Prof. Coordenada E [m] Coordenada N [m]

- - -

Operador Verificado Aprovado


Isabela Dayana Santos Tadeu Castro

LIMITE DE LIQUIDEZ
Determinação Nº 1 2 3 4 5 6
Cápsula Nº 47 96 98 101 114
Mcap+solo+água (g) 10,77 13,63 11,48 13,93 13,40
Mcap+solo (g) 8,68 11,26 9,75 11,11 10,08
Mcap (g) 4,56 6,76 6,86 6,73 5,06
Msolo (g) 4,12 4,50 2,89 4,38 5,02
Mágua (g) 2,09 2,37 1,73 2,82 3,32
w (%) 50,7% 52,7% 59,9% 64,4% 66,1%
Número de Golpes n 45 38 29 22 15
Utilizar valor (sim/não) sim sim sim sim sim não

Equação da Reta:
69,0%
w = a*ln(N) + b
a= -0,1512
64,0%
Teor de Umidade (%)

b= 1,0898
R² = 0,9279
59,0%
LL 60%

54,0%
LP 36%

49,0%
10 Número de Golpes 100 IP 24%

LIMITE DE PLASTICIDADE
Determinação Nº 1 2 3 4 5
Cápsula Nº 4 23 27 35 41
Mcap+solo+água (g) 7,92 9,13 8,11 6,05 8,01
Mcap+solo (g) 7,47 8,73 7,82 5,67 7,76
Mcap (g) 6,27 7,64 6,99 4,68 7,04
Msolo (g) 1,20 1,09 0,83 0,99 0,72
Mágua (g) 0,45 0,40 0,29 0,38 0,25
LP (%) 37,5% 36,7% 34,9% 38,4% 34,7%
Utilizar valor na média (sim/não) sim sim sim não sim
desvio da média (%) dentro dentro dentro - dentro
LP (para compor a média) (%) 37,5% 36,7% 34,9% ñ utilizado 34,7%

LP (%) 35,96%
OBSERVAÇÕES

158
PERMEABILIDADE
CARGA VARIÁVEL

MOLDE Nº Permeâmetro TEOR DE UMIDADE


DIÂMETRO cm 10,05 CÁPSULA Nº 106 71 62
ÁREA cm 2 79,327 SOLO ÚMIDO + TARA 29,16 23,58 31,60
BURETA SOLO SECO + TARA 23,07 18,97 25,53
DIÂMETRO cm 2,690 TARA 5,14 5,12 7,27
ÁREA cm 2 5,683 a SOLO SECO 17,93 13,85 18,26
CORPO DE PROVA ÁGUA 6,09 4,61 6,07
COMPRIMENTO cm 13,05 L UMIDADE (h) % 34,0 33,3 33,2
ÁREA cm 2 79,327 A MÉDIA 33,5
PESO g 1669,54 Pn

CONSTANTE DO ENSAIO 2,3 x ((a x L)/ A 2,15

VOLUME DO CORPO DE PROVA 3


cm 1035,22 V= L xA
DENSIDADE DO SOLO ÚMIDO g/cm 3 1,613 g h = ( Pn / V )
DENSIDADE DO SOLO SECO g/cm 3 1,208 g s = ( gh / (1+h))
UMIDADE ÓTIMA % -
DENSIDADE SECA MÁXIMA g/cm 3 -
GRAU DE COMPACTAÇÃO % -

HORA DE LEITURA DA A LTURA A LTURA COEFICIENTE COEFICIENTE DE


TEM P O TEM P ER.
LEITURA B URETA INICIA L FINA L DE CORREÇÃ O P ERM EA B ILIDA DE

t h0 h1 T K 20
CK
13:14:00 (s) 0,00 (cm) (cm) (º C) (cm/s)
13:23:00 540 1,70 248,00 246,30 21,1 0,974 1,16E-05
13:31:00 480 3,70 246,30 244,30 21,1 0,974 1,55E-05
13:43:00 720 5,60 244,30 242,40 21,1 0,974 9,86E-06
13:53:00 600 7,60 242,40 240,40 21,1 0,974 1,26E-05
14:04:00 660 9,70 240,40 238,30 21,1 0,974 1,21E-05
14:12:00 480 11,20 238,30 236,80 21,1 0,974 1,20E-05
14:20:00 480 12,70 236,80 235,30 21,1 0,974 1,20E-05
14:28:00 480 14,20 235,30 233,80 21,1 0,974 1,21E-05
14:33:00 300 15,00 233,80 233,00 21,1 0,974 1,04E-05
14:43:00 600 16,80 233,00 231,20 21,1 0,974 1,18E-05
OBS: moldado do bloco - direção K T médio (cm/s) = 1,19E-05 2,3x((a x L) / (A x t))x log(h0/h1)

horizontal K20 médio (cm/s) = 1,16E-05 CK x KT

Cliente: Amostra: Oper.: Início: 22/7/15 Protocolo:


Projeto: B A R00075A S Lucas Souza Fim: 23/07/15
Local: Calc.: Visto:
Mayara Rodrigues Tadeu Castro

159
PERMEABILIDADE
CARGA VARIÁVEL

MOLDE Nº Permeâmetro TEOR DE UMIDADE


DIÂMETRO cm 10,10 CÁPSULA Nº 103 45 04
ÁREA cm 2 80,119 SOLO ÚMIDO + TARA 28,82 26,34 27,88
BURETA SOLO SECO + TARA 23,37 20,90 22,47
DIÂMETRO cm 2,510 TARA 7,02 4,56 6,28
ÁREA cm 2 4,948 a SOLO SECO 16,35 16,34 16,19
CORPO DE PROVA ÁGUA 5,45 5,44 5,41
COMPRIMENTO cm 12,80 L UMIDADE (h) % 33,3 33,3 33,4
ÁREA cm 2 80,119 A MÉDIA 33,3
PESO g 1653,90 Pn

CONSTANTE DO ENSAIO 2,3 x ((a x L)/ A 1,82

VOLUME DO CORPO DE PROVA 3


cm 1025,52 V= L xA
DENSIDADE DO SOLO ÚMIDO g/cm 3 1,613 g h = ( Pn / V )
DENSIDADE DO SOLO SECO g/cm 3 1,209 g s = ( gh / (1+h))
UMIDADE ÓTIMA % -
DENSIDADE SECA MÁXIMA g/cm 3 -
GRAU DE COMPACTAÇÃO % -

HORA DE LEITURA DA A LTURA A LTURA COEFICIENTE COEFICIENTE DE


TEM P O TEM P ER.
LEITURA B URETA INICIA L FINA L DE CORREÇÃ O P ERM EA B ILIDA DE

t h0 h1 T K 20
CK
13:14:00 (s) 0,00 (cm) (cm) (º C) (cm/s)
13:22:00 480 1,30 248,00 246,70 21,1 0,974 8,42E-06
13:31:00 540 3,00 246,70 245,00 21,1 0,974 9,85E-06
13:43:00 720 5,00 245,00 243,00 21,1 0,974 8,76E-06
13:53:00 600 6,80 243,00 241,20 21,1 0,974 9,53E-06
14:05:00 720 8,70 241,20 239,30 21,1 0,974 8,45E-06
14:13:00 480 10,10 239,30 237,90 21,1 0,974 9,40E-06
14:21:00 480 11,40 237,90 236,60 21,1 0,974 8,78E-06
14:29:00 480 12,70 236,60 235,30 21,1 0,974 8,83E-06
14:33:00 240 13,90 235,30 234,10 21,1 0,974 1,64E-05

OBS: moldado do bloco - direção K T médio (cm/s) = 1,11E-05 2,3x((a x L) / (A x t))x log(h0/h1)

Vertical K20 médio (cm/s) = 1,08E-05 CK x KT

Cliente: Ferrous Amostra: Oper.: Início: 22/7/15 Protocolo:


Projeto: B A R00075A S Lucas Souza Fim: 23/07/15
Local: Calc.: Visto:
Mayara Rodrigues Tadeu Castro

160
COMPACTAÇÃO PROCTOR NORMAL

Compactação
Cápsula (nº) 51 25 78 34 40 3
Mcap+solo+água (g) 94,50 95,60 97,96 83,59 89,24 194,12
Mcap+solo (g) 80,49 79,55 79,52 67,13 69,37 168,92
Mcap (g) 16,04 16,03 15,99 15,94 14,52 53,19
Mágua (g) 14,01 16,05 18,44 16,46 19,87 25,20
Msolo (g) 64,45 63,52 63,53 51,19 54,85 115,73
Umidade - R (%) 21,7% 25,3% 29,0% 32,2% 36,2% 21,8%
Utilizar valor na média (s/n) - - - - - - - - s s n
Umidade para compor a média (%) s s s s s - - - 21,8%
Umidade média (%) - - - - - - - - 21,8%

Água adicionada (%) 0,0% 3,0% 6,0% 9,0% 12,0% Energia de Compactação
Água adicionada (g) 0,00 90,00 180,00 270,00 360,00 Normal (N)/Intermediaria (I)/Modificada (M)

Umidade de Cálculo - C (%) 21,8% 25,4% 29,1% 32,7% 36,4% Normal


Nº do Molde nº 2 2 2 2 2 Tamanho do Cilindro
Mmolde+solo+água (g) 3572,00 3653,00 3724,00 3764,00 3731,00 Pequeno (P)/Grande (G)
Mmolde (g) 1865,00 1865,00 1865,00 1865,00 1865,00 Pequeno
Msolo+água (g) 1707,00 1788,00 1859,00 1899,00 1866,00 Nº de goles por camada
Diâmetro do Molde (cm) 10,14 10,14 10,14 10,14 10,14 26
Altura do Molde (cm) 12,67 12,67 12,67 12,67 12,67 Nº de camadas
Volume do Molde (cm 3) 1023,00 1023,00 1023,00 1023,00 1023,00 3
Utilizar Umidade de Cálculo Massa de Solo (g)
(C/R) R R R R R
(C) Umidade Real (R) 3000
3
Dens. Úmida (g/cm ) 1,669 1,748 1,817 1,856 1,824 Massa de Solo Seco (g)
Dens. Convert. (g/cm 3) 2463,56
Dens. Seca (g/cm 3) 1,371 1,395 1,408 1,405 1,339 Massa de Água (g)
Umidade Utilizada (%) 21,7% 25,3% 29,0% 32,2% 36,2%
536,44
Utilizar Valor (s/n) s s s s s n n n

R² = 1 r dmáx (g/cm 3)
CURVA DE COMPACTAÇÃO
1,410
1,430 ## ## ## wótima (%)
## ## ## 30,2%
OBSERVAÇÕES:

1,410

21,7% 25,3% 29,0% 32,2% 36,2% #N/D #N/D #N/D


1,371 1,395 1,408 1,405 1,339 #N/D #N/D #N/D
rdmáx (g/cm 3)

#N/D 1,390 0,302 1,410

1,410 1,410 1,339 1,410


30,2% 27,2% 30,2% 30,2%
1,370

1,350

1,330
21,0% 23,0% 25,0% 27,0% 29,0% 31,0% 33,0% 35,0% 37,0% 39,0%

UMIDADE (%) APROVADO:

CLIENTE: AMOSTRA: OPERADOR: DATA:


Tadeu Castro 17/07/2015
PROJETO: CÁLCULO:
Silte areno argiloso Tadeu Castro PROTOCOLO:
LOCAL: VISTO:
Tadeu Castro

161
TEOR DE UMIDADE

CÁPSULA Nº 66 62 16

SOLO ÚMIDO + TARA (g) 51,14 39,36 50,46

TARA (g) 14,33 9,52 12,17

SOLO SECO + TARA (g) 42,71 32,50 41,70

SOLO SECO (g) 28,38 22,98 29,53

ÁGUA (g) 8,43 6,86 8,76

UMIDADE (%) 29,7 29,9 29,7

UMIDADE MÉDIA (%) 29,8

CLIENTE: OPERADOR: Tadeu Castro


PROTOCOLO:
PROJETO: CÁLCULO: Tadeu Castro
PROF (m ) : VERIFICADOR: Tadeu Castro
AMOSTRA: DATA: 14/09/2015

TEOR DE UMIDADE

CÁPSULA Nº 2 72 77

SOLO ÚMIDO + TARA (g) 89,39 66,93 56,34

TARA (g) 13,21 13,78 14,86

SOLO SECO + TARA (g) 67,56 51,29 44,57

SOLO SECO (g) 54,35 37,51 29,71

ÁGUA (g) 21,83 15,64 11,77

UMIDADE (%) 40,2 41,7 39,6

UMIDADE MÉDIA (%) 40,5

CLIENTE: OPERADOR: Tadeu Castro


PROTOCOLO:
PROJETO: CÁLCULO: Tadeu Castro
PROF (m ) : VERIFICADOR: Tadeu Castro
AMOSTRA: DATA: Depois do ensaio

162

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