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29/04/2019 Utopia dos 99% - 18/03/2019 - Antonia Pellegrino e Manoela Miklos - Folha

Antonia Pellegrino e Manoela Miklos (/colunas/antonia-


pellegrino-e-manoela-miklos/)

Utopia dos 99%


É necessário que o feminismo liberal seja superado

18.mar.2019 às 2h00

Na semana em que o Brasil chorou os mortos de


(https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/03/atiradores-matam-cinco-alunos-e-um-funcionario-em-escola-em-

suzano-na-grande-sp.shtml)Suzano (https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/03/atiradores-matam-cinco-alunos-

e-um-funcionario-em-escola-em-suzano-na-grande-sp.shtml) e a Nova Zelândia


(https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2019/03/numero-de-vitimas-de-massacre-na-nova-zelandia-sobe-para-50.shtml)

foi vítima de uma chacina em cujos fuzis estavam cravados os nomes de


neonazistas e extremistas brancos que atacaram e mataram imigrantes e
militantes de extrema esquerda, foi lançado no Brasil, pela editora Boitempo,
o livro “Feminismo para os 99%: um manifesto”, de Nancy Frazer, Tithi
Bhattacharya, Cinthia Arruzza.

Antes de executar 50 frequentadores de uma mesquita em Christchurch,


Brenton Tarrant, um dos atiradores, publicou nas redes sociais um
manifesto, antípoda àquele escrito pelas três autoras. 

O assassino evoca a sua condição de branco, emite frases preconceituosas


contra muçulmanos e afirma que seu objetivo seria “criar uma atmosfera de
medo” e “incitar a violência” contra imigrantes”.

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No texto, ele manda um recado para marxistas, antifascistas e comunistas:


“eu não quero convertê-los, eu não quero me entender com vocês. Aqueles
que acreditam em igualdade e aqueles que acreditam em hierarquia nunca
vão se entender”, afirma. “Eu quero vocês na minha mira.”

Desconstruir o velho normal no qual homens brancos ocupam o topo da


pirâmide social é um dos desejos mais imperiosos dos feminismos. Não para
rebaixar os homens, mas para refundar relações sociais e de produção. 

Para que uma elite de 1% da população não oprima os 99% do planeta é


preciso abolir hierarquias. E é isso que “Feminismo dos 99%” propõe. Com
prefácio da deputada federal Talíria Petrone (PSOL), o livro é um passo
definitivo para que o feminismo deixe de ser lido (ou exercido) como
costumes, comportamento ou política identitária, e passe a ser encarado em
sua real radicalidade: “uma nova fase na luta de classes”, na palavra das
autoras.

Para tanto, é necessário que o feminismo liberal seja superado. O feminismo


liberal é aquele em que uma mulher almeja ter uma chefe mulher “que
decide quando um drone bombardeia a sua casa”. 

O feminismo liberal é reformista, não questiona as relações de produção e


está centrado nas liberdades individuais e igualdades formais, como a
salarial. Busca a eliminação da desigualdade de gênero através de caminhos
acessíveis apenas às mulheres da elite. Suas figuras icônica são Hillary
Clinton (https://m.folha.uol.com.br/folha-topicos/hillary-clinton/?pg=5) e a presidenta do Facebook,
Sheryl Sandberg. 

Para as autoras, o feminismo liberal se tornou hegemônico nas últimas


décadas, devido ao reduzido nível de lutas e mobilizações no mundo. No
entanto, a marca da atual onda feminista é a conexão em rede, a
comunicação democratizada e a internacionalização das lutas. Desde 2011,
primaveras viralizam e hashtags engajam mulheres de múltiplas
nacionalidades na mesma narrativa. E, a partir de 2017, o 8 de março começa
a se tornar um ato articulado transnacionalmente. 

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O feminismo dos 99% é fruto dessas marchas “pela rebelião e luta contra a
aliança entre o patriarcado e o capitalismo que quer que sejamos obedientes,
submissas e quietas”, diz o manifesto. 

O feminismo dos 99% é “uma alternativa ao feminismo liberal, já que é


abertamente anticapitalista e antirracista: não separa a igualdade formal e a
emancipação da necessidade de transformar a sociedade e as relações sociais
na sua totalidade, da necessidade de superar a exploração do trabalho, o
saque da natureza, o racismo, a guerra e o imperialismo”, disse Arruzza em
entrevista, pautando inexoravelmente que feminismo é revolução em um
mundo onde as utopias parecem ter sido varridas, e a antipolítica do ódio e
da eliminação da divergência só aumenta. E viva a igualdade.

Antonia Pellegrino e Manoela Miklos


Antonia é escritora e roteirista. Manoela é assistente especial do Programa para a América
Latina da Open Society Foundations. Feministas, editam o blog #AgoraÉQueSãoElas.

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