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Lógica para Computação Primeiro Semestre, 2015

Aula 3: Linguagem Proposicional


DAINF-UTFPR Prof. Ricardo Dutra da Silva

3.1 Semântica
A semântica da lógica proposicional consiste em associar um significado ou interpretação para
os elementos sintáticos. Isso é realizado atribuindo valores verdade às fórmulas da linguagem.
Os valores verdade são: verdadeiro e falso. Comumente representamos verdadeiro e falso por
1 e 0, respectivamente.
Exemplo 3.1
Dadas as proposições:

• p: Está nublado;

• q: Está chovendo.

podemos interpretar cada uma das proposições como verdadeira ou falsa. Podemos tam-
bém interpretar fórmulas compostas, como p ∧ q, que serão verdadeiras ou falsas depen-
dendo das interpretações dos átomos que as compõem. Suponha que temos I(p) = 1 e
I(q) = 0. A fórmula p ∧ q será interpretada como falsa, ou seja, I(p ∧ q) = 0. Isso ocorre
porque a conjunção somente é verdadeira se seus dois argumentos forem verdadeiros.

Definição 3.1. Uma interpretação (ou valoração) é uma função I que atribui valores ver-
dade para as fórmulas proposicionais LLP , ou seja, I : LLP → {0, 1}. A interpretação I de
uma fórmula A ∈ LLP é definida como1 :

1. Base: I(p) = {0, 1} para todo p ∈ P.

2. Passo 1: Caso A = ¬B. I(A) = I(¬B) = 1 se, e somente se, I(B) = 0.


1
O valor verdade das definições deve ser invertido quando a condição à direita do “se, e somente se” for
falsa.

1
2 Aula 3: Linguagem Proposicional

3. Passo 2: Caso A = B ∧ C. I(A) = I(B ∧ C) = 1 se, e somente se, I(B) = 1 e


I(C) = 1.

4. Passo 3: Caso A = B ∨ C. I(A) = I(B ∨ C) = 1 se, e somente se, I(B) = 1 ou


I(C) = 1.

5. Passo 4: Caso A = B → C. I(A) = I(B → C) = 1 se, e somente se, I(B) = 0 ou


I(C) = 1.

Podemos visualizar as funções de valoração para os conectivos da lógica proposicional


através de matrizes de conectivos como na Tabela 3.1.

Tabela 3.1: Matrizes de conectivos.


(a) negação (b) conjunção
I(¬A) I(A ∧ B) I(B) = 0 I(B) = 1
I(A) = 0 1 I(A) = 0 0 0
I(A) = 1 0 I(A) = 1 0 1
(c) disjunção (d) implicação
I(A ∨ B) I(B) = 0 I(B) = 1 I(A → B) I(B) = 0 I(B) = 1
I(A) = 0 0 1 I(A) = 0 1 1
I(A) = 1 1 1 I(A) = 1 0 1

Exemplo 3.2
Dados os átomos p, q e r, suponha a seguinte valoração para eles: I(p) = 1, I(q) = 0 e
I(r) = 1. Então podemos valorar a fórmula (p ∨ q) ∧ (¬q ∨ r) iniciando pelas subfórmulas
mais internas e prosseguindo para as mais externas.

(p ∨ q) ∧ (¬q ∨ r)
(1 ∨ 0) ∧ (¬0 ∨ 1)
1 ∧ (1 ∨ 1)
1∧1
1
3.1. SEMÂNTICA 3

Dada outra valoração para os átomos, I(p) = 1, I(q) = 1 e I(r) = 0, temos a seguinte
valoração da fórmula.

(p ∨ q) ∧ (¬q ∨ r)
(1 ∨ 1) ∧ (¬1 ∨ 0)
1 ∧ (0 ∨ 0)
1∧0
0

O valor de uma fórmula pode variar conforme a interpretação dos átomos.


Podemos computar a interpretação de uma fórmula seguindo um processo das menores
subfórmulas para as maiores subfórmulas.
Definição 3.2. A interpretação de uma fórmulas A pode ser realizada da seguinte forma:

1. Computamos as subfórmulas de A, Subf(A).

2. Ordenamos as subfórmulas pelo seu tamanho.

3. Computamos as interpretações das menores subfórmulas e propagamos para as maiores


subfórmulas.
Exemplo 3.3
Dados os átomos p, q e r, suponha a seguinte valoração para estes: I(p) = 1, I(q) = 0 e
I(r) = 1. Então podemos valorar a fórmula (p ∨ q) ∧ (¬q ∨ r) da seguinte forma:

1. Computação das subfórmulas.

Subf((p ∨ q) ∧ (¬q ∨ r)) = {(p ∨ q) ∧ (¬q ∨ r)} ∪ Subf((p ∨ q)) ∪ Subf((¬q ∨ r))
= {(p ∨ q) ∧ (¬q ∨ r)} ∪ {(p ∨ q)} ∪ Subf(p) ∪ Subf(q) ∪ Subf((¬q ∨ r))
= {(p ∨ q) ∧ (¬q ∨ r)} ∪ {(p ∨ q)} ∪ {p} ∪ Subf(q) ∪ Subf((¬q ∨ r))
= {(p ∨ q) ∧ (¬q ∨ r)} ∪ {(p ∨ q)} ∪ {p} ∪ {q} ∪ Subf((¬q ∨ r))
= {(p ∨ q) ∧ (¬q ∨ r)} ∪ {(p ∨ q)} ∪ {p} ∪ {q} ∪ {(¬q ∨ r)} ∪ Subf(¬q) ∪ Subf(r)
= {(p ∨ q) ∧ (¬q ∨ r)} ∪ {(p ∨ q)} ∪ {p} ∪ {q} ∪ {(¬q ∨ r)} ∪ {¬q} ∪ Subf(q) ∪ Subf(r)
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= {(p ∨ q) ∧ (¬q ∨ r)} ∪ {(p ∨ q)} ∪ {p} ∪ {q} ∪ {(¬q ∨ r)} ∪ {¬q} ∪ {q} ∪ Subf(r)
= {(p ∨ q) ∧ (¬q ∨ r)} ∪ {(p ∨ q)} ∪ {p} ∪ {q} ∪ {(¬q ∨ r)} ∪ {¬q} ∪ {q} ∪ {r}
= {(p ∨ q) ∧ (¬q ∨ r), (p ∨ q), p, q, (¬q ∨ r), ¬q, r}

2. Ordenação das subfórmulas pelo tamanho.

Subf((p ∨ q) ∧ (¬q ∨ r)) = {p, q, r, ¬q, (p ∨ q), (¬q ∨ r), (p ∨ q) ∧ (¬q ∨ r)}

3. Computação das interpretações.

(a) Subfórmulas de tamanho 1.

p q r ¬q (p ∨ q) (¬q ∨ r) (p ∨ q) ∧ (¬q ∨ r)
1 0 1

(b) Subfórmulas de tamanho 2.

p q r ¬q (p ∨ q) (¬q ∨ r) (p ∨ q) ∧ (¬q ∨ r)
1 0 1 1

(c) Subfórmulas de tamanho 3.

p q r ¬q (p ∨ q) (¬q ∨ r) (p ∨ q) ∧ (¬q ∨ r)
1 0 1 1 1

(d) Subfórmulas de tamanho 4.

p q r ¬q (p ∨ q) (¬q ∨ r) (p ∨ q) ∧ (¬q ∨ r)
1 0 1 1 1 1

(e) Subfórmulas de tamanho 8.

p q r ¬q (p ∨ q) (¬q ∨ r) (p ∨ q) ∧ (¬q ∨ r)
1 0 1 1 1 1 1
3.2. SATISFAZIBILIDADE 5

3.2 Satisfazibilidade
A fórmula p∨¬p possui apenas um átomo e, portanto, podemos ter duas valorações diferentes,
I(p) = 0 e I(p) = 1. Em ambos os casos, I(p ∨ ¬p) = 1. Por outro lado, a fórmula p ∧ ¬p
será interpretada como falsa para qualquer valoração do átomo p. Existem também fórmulas
que pode ser interpretadas como verdadeiras ou como falsas, dependendo da interpretação
de seus átomos. A fórmulas p → q é um exemplo do último caso. Podemos classificar as
fórmulas conforme esses comportamentos.

Definição 3.3. Uma fórmula A é:

• válida (tautologia) se para qualquer valoração dos seus átomos sua valoração é verda-
deira, I(A) = 1;

• satisfazível se existe uma valoração dos seus átomos que torne sua valoração verdadeira,
I(A) = 1;

• insatisfazível se para qualquer valoração dos seus átomos sua valoração é falsa, I(A) =
0.

• falsificável se existe uma valoração dos seus átomos que torne sua valoração falsa,
I(A) = 0.

3.3 Tabela-Verdade
A tabela-verdade é um método que gera todas as possíveis valorações de uma fórmula.

Definição 3.4. A tabela-verdade de uma fórmula A é gerada da seguinte forma:

1. Computamos as subfórmulas de A.

2. Ordenamos as subfórmulas por tamanho.

3. Criamos uma coluna para cada subfórmula conforme a ordenação anterior: átomos
mais à esquerda e A na posição mais à direita.

4. Criamos uma linha para cada uma das possíveis valorações dos átomos.
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5. Propagamos a valoração dos átomos para as subfórmulas, das menores (mais à es-
querda) para as maiores (mais à direita).
Exemplo 3.4
Dada a fórmula, A = (p ∨ q) ∧ (¬p ∨ ¬q), sua tabela-verdade é construída da seguinte
maneira:

1. Computação das subfórmulas.

Subf((p ∨ q) ∧ (¬p ∨ ¬q)) = {(p ∨ q) ∧ (¬p ∨ ¬q), p ∨ q, p, q, ¬p ∨ ¬q, ¬p, ¬q}

2. Ordenação das subfórmulas.

Subf((p ∨ q) ∧ (¬p ∨ ¬q)) = {p, q, ¬p, ¬q, p ∨ q, ¬p ∨ ¬q, (p ∨ q) ∧ (¬p ∨ ¬q)}

3. Criação das colunas da tabela.

p q ¬p ¬q p∨q ¬p ∨ ¬q (p ∨ q) ∧ (¬p ∨ ¬q)

4. Criação das linhas da tabela.

p q ¬p ¬q p∨q ¬p ∨ ¬q (p ∨ q) ∧ (¬p ∨ ¬q)


0 0
0 1
1 0
1 1

5. Propagação da valoração.

p q ¬p ¬q p∨q ¬p ∨ ¬q (p ∨ q) ∧ (¬p ∨ ¬q)


0 0 1
0 1 1
1 0 0
1 1 0
3.3. TABELA-VERDADE 7

p q ¬p ¬q p∨q ¬p ∨ ¬q (p ∨ q) ∧ (¬p ∨ ¬q)


0 0 1 1
0 1 1 0
1 0 0 1
1 1 0 0

p q ¬p ¬q p∨q ¬p ∨ ¬q (p ∨ q) ∧ (¬p ∨ ¬q)


0 0 1 1 0
0 1 1 0 1
1 0 0 1 1
1 1 0 0 1

p q ¬p ¬q p∨q ¬p ∨ ¬q (p ∨ q) ∧ (¬p ∨ ¬q)


0 0 1 1 0 1
0 1 1 0 1 1
1 0 0 1 1 1
1 1 0 0 1 0

p q ¬p ¬q p∨q ¬p ∨ ¬q (p ∨ q) ∧ (¬p ∨ ¬q)


0 0 1 1 0 1 0
0 1 1 0 1 1 1
1 0 0 1 1 1 1
1 1 0 0 1 0 0

Podemos usar a tabela-verdade de uma fórmula A para classificá-la.

Definição 3.5. Dada a tabela-verdade de uma fórmula A:

• A é satisfazível se alguma linha da coluna A tem um 1;

• A é válida se todas linha da coluna A têm um 1;

• A é falsificável se alguma linha da coluna A tem um 0;


8 Aula 3: Linguagem Proposicional

• A é insatisfazível se todas as linhas da coluna A têm um 0.

Exemplo 3.5
Seja A = (p ∨ q) ∧ (¬p ∨ ¬q) cuja tabela-verdade é dada abaixo.

p q ¬p ¬q p∨q ¬p ∨ ¬q (p ∨ q) ∧ (¬p ∨ ¬q)


0 0 1 1 0 1 0
0 1 1 0 1 1 1
1 0 0 1 1 1 1
1 1 0 0 1 0 0

Conforme a coluna relativa a A:

• A é satisfazível pois as valorações dos átomos dadas pela segunda e terceira linhas
tornam I(A) = 1;

• A não é válida (tautologia) pois nem todas as valorações dos átomos tornam A
verdadeira;

• A é falsificável pois as valorações dos átomos dadas pela primeira e quarta linhas
tornam I(A) = 0;

• A não é insatisfazível pois nem todas as valorações dos átomos tornam A falsa.

Exemplo 3.6
Dada a fórmula, A = p ∨ ¬p, a tabela-verdade é

p ¬p p ∨ ¬p
0 1 1
1 0 1

Classificação:

• É satisfazível? Sim.

• É válida ou tautologia? Sim.

• É falsificável? Não.
3.3. TABELA-VERDADE 9

• É insatisfazível? Não.

Exemplo 3.7
Dada a fórmula, A = p ∧ ¬p, a tabela-verdade é

p ¬p p ∧ ¬p
0 1 0
1 0 0

Classificação:

• É satisfazível? Não.

• É válida ou tautologia? Não.

• É falsificável? Sim.

• É insatisfazível? Sim.

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