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Texto 1 - FONOLOGIA

Texto e exercícios baseados em Introdução à Fonética e à


Fonologia da língua portuguesa, de Sidneya Gaspar de Oliveira e
Teresinha de Moraes Brenner (UFSC, 1988).

I CONCEITO DE FONEMA

O vocábulo “fonema” existiu na Grécia Antiga com o significado de


“enunciação” ou “voz” (Câmara 1975, p. 162). Na atualidade, o termo foi
usado, inicialmente, no século XIX por Baudouin de Courtenay,
linguista nascido na Polônia e radicado na Rússia, tendo a expressão
lhe sido sugerida por um discípulo seu, embora haja quem diga que
tirou a expressão de Saussure (Lepschy 1975, p. 45). Baundouin segue
a “linha psicológica”. Conceitua fonema como “uma representação
unitária, pertencente ao mundo fonético, que surge na alma por meio
da fusão psíquica das impressões conservadas através da pronúncia de
um mesmo som, o que corresponde a equivalente psíquico do som.
Relacionava a som vocal à física e o fonema à psicologia.
Revisam-se, a seguir, princípios linguísticos mais amplos,
formulados por Saussure, no início do século XX, que permitiram
alargar o campo conceitual de fonema dentro do estruturalismo. Assim,
torna-se pertinente a retomada dos termos significante e significado do
signo lingüístico e a perspectiva de sua dimensão nos eixos
paradigmático e sintagmático.
Define-se signo linguístico como uma entidade psíquica
resultante da associação mental entre significante e significado que se
estabelece por convenção social. Evidencia-se no conceito a
arbitrariedade do signo, acentuando-se o caráter marcadamente social
da língua.
Chama-se significante a imagem acústica e significado o conceito
ou imagem mental. Veja-se:
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Entende-se por imagem acústica a impressão psíquica do som; a


representação dele feita pelos sentidos é uma imagem sensorial,
enquanto o significado se reporta ao conceito. Verifica-se que Saussure
estuda, com primazia, a língua oral, sendo o signo linguístico escrito
considerado o signo de um signo. A verdadeira língua representa-se, na
verdade, pelo código oral.
Observe-se como o signo linguístico “casa” se distribui entre
significante e significado em inglês, francês e português,
respectivamente:
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O significante, na oralidade, representa uma extensão no tempo e,


na escrita, uma extensão no espaço. Verifique-se a escrita:
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Essa extensão prende-se às associações sintagmáticas: os


elementos somam-se, encadeiam-se, na linha do tempo, isto é, se
sucedem na cadeia da fala, sendo cada elemento diferente daquele que
o segue e daquele que o precede.
Os elementos relacionam-se, ainda, por associações mentais, de
que decorrem as substituições por semelhança ou por oposição. Daí
advém, em fonologia, o processo de comutação que permite que se
distingam fonemas: /z/ é diferente de /s/ porque substituído o
primeiro pelo último elemento, no significante, na linha paradigmática,
alteram-se significante e significado do signo. Por exemplo, em [´kaza],
casa, trocando-se /z/ por /s/, obtém-se [´kasa], ou seja, caça. O
fonema /z/ comuta com /s/, /p/, /d/, /t/, /v/, /l/, / ʎ / como em:
[´kaza]
[´kasa]
[´kapa]
[´kata]
[´kava]
[´kala]
[´kaʎa]

Nas palavras de Câmara (1977, p. 27), fonemas são entidades


opositivas, relativas e negativas. Assim, Saussure destaca o valor
diferencial dos fonemas e não suas verdadeiras propriedades. Percebe o
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fonema no sistema, isto é, nas relações que estabelece e na função que


desempenha.
A análise acima desenvolvida conduz a que se interprete o fonema
como a menor unidade do significante que, por comutação, altera o
significado do signo linguístico.

Exercícios:

1- Saussure define signo linguístico como uma entidade de duas


faces: significante e significado. Onde se situa o fonema no signo
lingüístico?
2- Represente, através de figura, o signo lingüístico de mala,
destacando seus fonemas.
3- Defina, apoiando-se em Saussure, as relações que o fonema
mantém no signo lingüístico.
4- Interprete o conceito sobre fonema: “possui unicamente uma
função de distinguir significações, sem apresentar uma
significação própria positiva; distingue cada palavra em que se
acha de todas as palavras que, coeteribus paribus, encerram outro
fonema” (Jakobson, apud Camara 1977, p. 29).
5- Construa um quadro dos fonemas consonantais do português e
dos fonemas vocálicos em posição tônica do português.

II SISTEMA FONOLÓGICO E ORTOGRÁFICO

Para melhor especificar a diferença entre código oral e código escrito,


estabeleça a relação entre o sistema fonológico e o sistema ortográfico
do português (Pais 1981, p. 29-30) no quadro a seguir:
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FONEMAS GRAFEMA E EXEMPLO(S) DE


DÍGRAFO PALAVRAS
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/a/ á
a
/e/ ê
e
/ɛ/ é

/o/ ô
o
/ɔ/ ó

/i/ í
i
/u/ ú
u
/p/ p

/b/ b

/t/

/d/

/k/

/g/

/f/

/v/

/s/

/z/

/ʃ/

/ʒ/
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/m/

/n/

/ɲ/

/l/

/ʎ/

/ɾ/

/R/

Seguem-se referências a realizações fonéticas particulares de


alguns fonemas e respectivas grafias.
- as vogais /o/ e /e/ finais átonas soam como [u],[ʊ] e [i],[ɪ],
respectivamente. Exemplos: barro e dente.
- as consoantes /t/ e /d/ realizam-se, respectivamente, como [tʃ]
e [dʒ] diante de [i]. Exemplo: tia e dia.
- a letra h não grafa nenhum fonema básico do português.
Exemplo: hoje /ˈoʒe/.

Exercícios:

1- Arrole características opositivas entre código oral e código escrito


da língua.

Código Oral Código Escrito

2- Diga quantos fonemas e quantos grafemas (letras) possuem as


palavras:
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Fonemas Grafemas
Parede
Guerrilha
Luz
Arrocho

3- Comprove a existência, no sistema fonológico do português, dos


fonemas que seguem, pela aplicação do processo de comutação:
/f/ /f/alo
/R/ /R/ato
/g/ /g/ala

4- Observe a coluna dos fonemas selecionados do português e


complete a coluna dos grafemas que os representam:

FONEMAS GRAFEMAS
/s/
/k/
/z/

5- Indique os fonemas representados no código escrito pelos


grafemas abaixo discriminados:
GRAFEMAS FONEMAS
s

6- Especifique os fonemas grafados pelos seguintes dígrafos:


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DÍGRAFO

gu

ss

nh

lh

rr

ch

7- Demonstre que a letra h não representa fonema básico do


português, mas que possui correspondência fonêmica em inglês.

8- Segue texto de uma cartilha:


Eu sou um detetive
Meu nome é X
Não mudo minha cara
Mas mudo a minha voz.
Tenho cinco vozes diferentes.
Escute.

A cartilha passa então a arrolar as cinco vozes diferentes de “X”,


que apresenta através das letras. Cite os três fonemas e o encontro
consonantal que “x” representa e exemplifique-os.

9- Complete:

a) Em “conde” a letra c representa o fonema _____________.


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b) Na palavra ___________, ocorre o fonema /ʎ/.


c) Em carrinho, ocorre o fonema ________, mas em carinho, o fonema
______.
d) Em exílio, a letra x representa o fonema ______, mas em exame, o
fonema _______.
e) A letra c grafa os fonemas _______ e ________, como nos
respectivos exemplos _______________ e _____________.

10- Nos vocábulos abaixo, discrimine os fonemas indicados:

a) quero - 1º., 2º. e 3º.


b) joelho – 1º. 3º. e 4º.
c) amanhecer - 1º., 2º. 4º. e 6º.
d) aquarela – 2º., 3º., 5º. e 6º.

Referências Bibliográficas

CAMARA JR, Joaquim Mattoso. História da Lingüística. Petrópolis:


Vozes, 1975.
______. Para o estudo da fonêmica portuguesa. Rio de Janeiro: Padrão:
1977.

LEPSCHY, Giuliu. A linguística estrutural. São Paulo: Perspectiva, 1975.

PAIS, Cidmar Theodoro. Introdução à fonologia. São Paulo: Global, 1981.

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