OLHOS DE UM GATO
Maytê Moreira
“Quem vê o mar não o conhece, olha e sente-o, só não o pode saber. Ele tem
obscuros mistérios, medonhos intentos, que não quereis desvendar. Porque é
sempre renovado e em novas formas se apresenta, ora se revolve como monstro
eriçado de picos e corcovados, ora se amaina em funesta planície e navegamos
num olho de homem morto, na horizontal, distendido e sem viço. Um mar seco de
deserto. Tórrido presságio. Por isso, digo-vos eu, não o desafieis.”
SE JÁ VÃO MORTOS, POR QUE TEMEM
O NAUFRÁGIO?
• José (o criado) tão diáfano, tão subtil, que não podia ser molestado
• Julien (o escravo)
ILHA E OS PRIMEIROS MOMENTOS
• Espaço: uma pequena extensão de areia que some nas marés duas vezes ao dia;
uma gruta, o céu e o mar.
• Todos ainda se importam com os contratos sociais.
• Estranhamento do “outro” e da natureza.
• Capataz governa o grupo.
• Pensam individualmente, sem sentido de grupo, que ganham aos poucos.
“Enquanto comia, o criado passava-lhe os dedos pelo cabelo, como que a penteá-la e a
desembaraçar-çhe os nós, com toda a suavidade. E ela consentia, como um cão
esquivo que deixa que os outros lhe lambam as feridas. [...]. Ao padre, tudo isto lhe
parecia extremamente inapropriado, aquele molho de gente, aglobmerada, a tocar-se, a
mergulhar-se na mesma água que bebiam [...]. A ele, atónito Marcolino, dava-lhe a
sensação de que os troncos de todos eles oscilavam, grotescos, de um lado para o
outro, num coletivo embalo, como se estivessem outra vez na jangada [...].”
A NORMALIZAÇÃO DOS ABSURDOS.