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NÃO SE PODE MORAR NOS

OLHOS DE UM GATO

De Ana Margarida de Carvalho

Maytê Moreira
“Quem vê o mar não o conhece, olha e sente-o, só não o pode saber. Ele tem
obscuros mistérios, medonhos intentos, que não quereis desvendar. Porque é
sempre renovado e em novas formas se apresenta, ora se revolve como monstro
eriçado de picos e corcovados, ora se amaina em funesta planície e navegamos
num olho de homem morto, na horizontal, distendido e sem viço. Um mar seco de
deserto. Tórrido presságio. Por isso, digo-vos eu, não o desafieis.”
SE JÁ VÃO MORTOS, POR QUE TEMEM
O NAUFRÁGIO?

• Primeiro capítulo, narrado pela Nossa Senhora de Todas as Angústias:


- narrador em primeira pessoa, mas onisciente, por ser santa;
- “minha memória é uma vala comum”, “cabelo de índia escalpelado”.
• A embarcação: um copo cheio de água prestes a transbordar.
• Cúmulo do copo cheio: santa insultada, de pernas para cima.
• Embarcação afunda.
“Alija! Alija! Tudo ao mar!

Depois, uma lassidão, tingida de espanto. Um momento de imperceptível


duração, num silêncio estático. Como a rolha que tapa a garrafa do turbilhão. De
novo, o restolhar de ânsias, o resfolegar do pânico, do sufoco, da brasa.”
OS OUTROS CAPÍTULOS:

• E se já vão mortos porque temem o naufrágio?


• O sonho dos condenados (três minutos antes de acordarem)
• As marcas que a areia deixa nos pés
• E se arruma o jogo com rei branco em casa preta
• Eremitério de boas intenções
• Os som das penas quando caem
• Não são os deuses que dormem, nós é que os sonhamos
• O céu dos pardais, estúpido!
PERSONAGENS PRINCIPAIS

• Nunísio (o passageiro) “ Também trilhava distraída de olhos sempre rasos de


• Emina (a rapariga) chão, com os pequeninos dentes roazes, os mantimentos
• Maria Teresa (a mulher adunca) ali acumulados, e não havia capataz que lhe
• Macolino (o capelão) questionasse a legitimidade, nem lhe pusesse entraves
• Capataz ou condições. Era um ser à parte, por todos considerado

• José (o criado) tão diáfano, tão subtil, que não podia ser molestado

• Henrique (o menino) com as questões terrenas da mesquinha sobrevivência.”

• Julien (o escravo)
ILHA E OS PRIMEIROS MOMENTOS

• Espaço: uma pequena extensão de areia que some nas marés duas vezes ao dia;
uma gruta, o céu e o mar.
• Todos ainda se importam com os contratos sociais.
• Estranhamento do “outro” e da natureza.
• Capataz governa o grupo.
• Pensam individualmente, sem sentido de grupo, que ganham aos poucos.
“Enquanto comia, o criado passava-lhe os dedos pelo cabelo, como que a penteá-la e a
desembaraçar-çhe os nós, com toda a suavidade. E ela consentia, como um cão
esquivo que deixa que os outros lhe lambam as feridas. [...]. Ao padre, tudo isto lhe
parecia extremamente inapropriado, aquele molho de gente, aglobmerada, a tocar-se, a
mergulhar-se na mesma água que bebiam [...]. A ele, atónito Marcolino, dava-lhe a
sensação de que os troncos de todos eles oscilavam, grotescos, de um lado para o
outro, num coletivo embalo, como se estivessem outra vez na jangada [...].”
A NORMALIZAÇÃO DOS ABSURDOS.

• Maria Teresa toma as rédeas e vira líder do grupo.


• Capataz ainda é uma figura altiva.
• Consolidação como grupo.
• Natureza: harmonia, contemplação e medo.
• Ilha é uma casa improvável.
A NORMALIZAÇÃO DOS ABSURDOS.

• Maria Teresa toma as rédeas e vira líder do grupo.


• Capataz ainda é uma figura altiva.
• Consolidação como grupo.
• Natureza: harmonia, contemplação e medo.
• Ilha é uma casa improvável.
CENAS MARCANTES

• O corpo do rapaz contra o casco.


• Chegada de Julien na ilha.
• Pai e filho roubam lebre de uma loba.
• Duelo entre Tereza, “a louca da praia”, e a mãe baleia “a louca do mar”.

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