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GUEDES, Leticia Figueiredo.

Revisão de textos: conceituação, o papel do revisor textual e


perspectivas do profissional do texto. 2013. 13 f. Trabalho de Conclusão de Curso
(Bacharelado em Letras Português)—Universidade de Brasília, Brasília, DF, 2013.

Maytê Cristine do Nascimento Moreira

No artigo Revisão de Textos: conceituação, o papel do revisor textual e perspectivas do


profissional do texto, Leticia Figueiredo Guedes aborda alguns dos diversos problemas que
cercam o profissional dessa profissão. Discutem-se o conceito de revisor de textos, as funções
que este deve exercer e a relação da revisão de texto com processos próprios da área editorial.
Como não existe unanimidade entre as opiniões dos autores que abordam essas questões, a
autora do artigo propõe uma revisão bibliográfica que reúne diferentes pontos de vista. Parte-
se do princípio de que qualquer texto, por quem quer que tenha sido escrito, necessita da
revisão de uma pessoa que não tenha vínculo com esse texto, pois o vínculo faz com que o
autor não perceba certas inadequações cometidas por ele mesmo.
Quanto à conceituação do revisor de texto, os autores trazidos por Guedes estão,
grosso modo, agrupados em dois tipos de opiniões. Um grupo (ROCHA, 2012; CAVALCANTE,
2011; NETO, 2008; COELHO; ANTUNES, 2010) atribui ao profissional o ato de rever o texto no
todo: da escrita à apresentação. No que se refere à escrita, esses autores consideram que a
revisão deve ir além da correção de aspectos gramaticais, pois devem ser considerados
também aspectos textuais de estrutura frasal, repetições, ambiguidades, vícios de linguagem,
abertura de parágrafo e coerência semântica – além de aspectos estilísticos, como
possibilidades que se abrem diante das variedades da língua. A opinião do segundo grupo
(PINTO, 1993; MEDEIROS, 1995), contudo, considera que o revisor é responsável somente por
rever os erros tipográficos de uma prova (versão final do material anterior à publicação),
cabendo aos preparadores de originais ou editadores a correção das inadequações linguísticas;
isto é, para esses autores, o revisor entra em contato com o texto quando o conteúdo deste já
está finalizado.
Para complementar a discussão acerca da conceituação, Guedes traz, ainda, Araújo
(1986) e Yamazaki (2007). O primeiro aborda a normalização literária. Para ele, há o editor de
texto, que é responsável por organizar, selecionar, normalizar, supervisar e preparar os
originais de uma obra. Em seu ponto de vista, deve haver também preocupação com a
sistematização de sinais diacríticos, uso de maiúsculas, abreviaturas, siglas, etc. A segunda, por
sua vez, expõe o perigo da confusão entre as denominações, pois o profissional que exerce as
funções textuais e linguísticas concomitantes às funções editoriais reduz o valor de seu
trabalho.
No que concerte ao papel do revisor de textos, a autora define que o objetivo dos
enunciados é estabelecer a comunicação, e que o profissional atua como um suporte para que
o autor cumpra esse objetivo. Chama-se atenção para as habilidades do revisor, que não se
devem restringir ao domínio gramatical da língua, mas abranger os tipos e gêneros textuais,
além da compreensão de expressões linguísticas referentes a determinados estilos e às
variedades da língua. Yamazaki (2007) aponta a necessidade de uma consciência linguística e
estabelece que o princípio do revisor deveria ser tornar uma obra acessível a um público vasto.
Também são abordadas as necessidades de atualização do profissional e de seu acesso
a bons materiais de consulta. Malta (2000) atenta para o fato de que a língua está em
constante mudança, aos exemplos do surgimento de novas contruções frasais e novos
neologismos. Além disso, para ele, o revisor não se deve contentar com o próprio
conhecimento, mas estar sempre indo ao seu encontro por meio de pesquisas e consultas.
Coelho Neto (2008) sinaliza a importância dos instrumentos de consulta, e Yamazaki (2007)
cita dicionários de autores como Houaiss e Aurélio e o Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa (VOLP).
Guedes expõe que sua própria experiência na área da revisão lhe mostrou que a
prática de revisão de texto é distorcida, uma vez que são atribuídas a esta outras funções que
intregam a editoração. Coelho Neto (2008) considera que o preparador de originais é um
revisor de textos com muita experiência e com mais conhecimento, pois ele consegue dar
conta da revisão e da apresentação gráfica do material. Pinto (1993) também reúne as duas
competências, nominando-as “padronização”. Fica claro, no entanto, que a atribuição de
ambas as competências a um mesmo profissional é indevida, pois são funções que deveriam
ser distribuídas a profissionais com habilidades diferentes, já que a preparação de originais
exige conhecimentos de outras áreas, como, por exemplo, a informática.
A autora relata ainda que pôde observar estagiários de revisão que, ao serem
admitidos, já passaram por um treinamento de preparação e formatação de texto, ficando, a
revisão linguística, em seguindo plano. Nessa perspectiva, ela argumenta que o mercado da
revisão de textos pode ser considerado estável. Porém, por haver tendência à aceleração do
processo editorial, em que são atribuídos ao revisor outros papéis da editoração, é necessário
que os profissionais busquem em sua formação competências que se encaixem nesse
contexto.
Por fim, ressalta-se que o perfil do profissional revisor de textos mudou com o passar
dos anos, conforme a bibliografia estudada expôs. Guedes aponta que os cursos de graduação
em bacharelado em língua portuguesa e de pós-graduação em revisão textual têm deixado de
lado os aspectos de editoração. Ela defende que é necessário que, com o aumento das
cobranças, o profissional também tenha acesso aos conhecimentos de normalização textual, e
exemplifica com as normas da ABNT, um conhecimento quase indispensável. A conclusão do
artigo ressalta a importância da pesquisa dos profissionais e da busca para aprimorar as
capacidades que lhes são exigidas nesse novo perfil.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, Emanuel. A construção do livro: princípios da técnica de editoração. Rio de Janeiro:


Editora Nova Fronteira, 1986.

CAVALCANTE, Marina Pereira. Os desafios da produção textual e a importância do revisor na


análise de textos. 2011. Monografia (Bacharelado em Letras Português] – Universidade de
Brasília, Brasília, DF, 2011.

COELHO NETO, Aristides. Além da revisão. Brasília, DF: Editora Senac-DF, 2008.

COELHO, Sueli Maria; ANTUNES, Leandra Batista. Revisão textual: para além da revisão
linguística. Scripta, Belo Horizonte, v. 14, n. 26, p. 205-224, 1º sem. 2010.

MALTA, Luiz Roberto. Manual do revisor. São Paulo: Editora WVC, 2000.

MEDEIROS, João Bosco et al. Manual de redação e revisão. São Paulo: Atlas, 1995.

PINTO, Ildete Oliveira. O livro: manual de preparação e revisão. São Paulo: Editora Ática, 1993.

ROCHA, Harrison da. Um novo paradigma de revisão de texto: discurso, gênero e


multimodalidade. 2012. Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade de Brasília, Brasília,
DF, 2012.

YAMAZAKI, Cristina. Editor de texto: quem é e o que faz. São Paulo, 2007.

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