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Língua Portuguesa

e Literatura
Aluno

Caderno de Atividades
Pedagógicas de
Aprendizagem
Autorregulada - 04
9º ano | 4° Bimestre

Disciplina Curso Bimestre Ano


Língua Portuguesa Ensino Fundamental 4° 9º

Habilidades Associadas
1. Diferenciar a descrição objetiva da subjetiva.

2. Identificar as figuras de linguagem.

3. Identificar e diferenciar personagens protagonistas e antagonistas.

4. Usar adequadamente o dicionário.


Apresentação

A Secretaria de Estado de Educação elaborou o presente material com o intuito de estimular o


envolvimento do estudante com situações concretas e contextualizadas de pesquisa, aprendizagem
colaborativa e construções coletivas entre os próprios estudantes e respectivos tutores – docentes
preparados para incentivar o desenvolvimento da autonomia do alunado.
A proposta de desenvolver atividades pedagógicas de aprendizagem autorregulada é mais uma
estratégia pedagógica para se contribuir para a formação de cidadãos do século XXI, capazes de explorar
suas competências cognitivas e não cognitivas. Assim, estimula-se a busca do conhecimento de forma
autônoma, por meio dos diversos recursos bibliográficos e tecnológicos, de modo a encontrar soluções
para desafios da contemporaneidade, na vida pessoal e profissional.
Estas atividades pedagógicas autorreguladas propiciam aos alunos o desenvolvimento das
habilidades e competências nucleares previstas no currículo mínimo, por meio de atividades
roteirizadas. Nesse contexto, o tutor será visto enquanto um mediador, um auxiliar. A aprendizagem é
efetivada na medida em que cada aluno autorregula sua aprendizagem.
Destarte, as atividades pedagógicas pautadas no princípio da autorregulação objetivam,
também, equipar os alunos, ajudá-los a desenvolver o seu conjunto de ferramentas mentais, ajudando-o
a tomar consciência dos processos e procedimentos de aprendizagem que ele pode colocar em prática.
Ao desenvolver as suas capacidades de auto-observação e autoanálise, ele passa ater maior
domínio daquilo que faz. Desse modo, partindo do que o aluno já domina, será possível contribuir para
o desenvolvimento de suas potencialidades originais e, assim, dominar plenamente todas as
ferramentas da autorregulação.
Por meio desse processo de aprendizagem pautada no princípio da autorregulação, contribui-se
para o desenvolvimento de habilidades e competências fundamentais para o aprender-a-aprender, o
aprender-a-conhecer, o aprender-a-fazer, o aprender-a-conviver e o aprender-a-ser.
A elaboração destas atividades foi conduzida pela Diretoria de Articulação Curricular, da
Superintendência Pedagógica desta SEEDUC, em conjunto com uma equipe de professores da rede
estadual. Este documento encontra-se disponível em nosso site www.conexaoprofessor.rj.gov.br, a fim
de que os professores de nossa rede também possam utilizá-lo como contribuição e complementação às
suas aulas.
Estamos à disposição através do e-mail curriculominimo@educacao.rj.gov.br para quaisquer
esclarecimentos necessários e críticas construtivas que contribuam com a elaboração deste material.
Secretaria de Estado de Educação

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Caro aluno,
Neste caderno, você encontrará atividades diretamente relacionadas a algumas
habilidades e competências do 4º Bimestre do Currículo Mínimo de Língua Portuguesa
do 9º ano do Ensino Fundamental. Estas atividades correspondem aos estudos durante
o período de um mês.
A nossa proposta é que você, Aluno, desenvolva estas Atividades de forma
autônoma, com o suporte pedagógico eventual de um professor, que mediará as trocas
de conhecimentos, reflexões, dúvidas e questionamentos que venham a surgir no
percurso. Esta é uma ótima oportunidade para você desenvolver a disciplina e
independência indispensáveis ao sucesso na vida pessoal e profissional no mundo do
conhecimento do século XXI.
Neste Caderno de Atividades do 4º bimestre, você vai estudar fragmentos de
alguns capítulos do romance “O cortiço” para compreender melhor as habilidades
contempladas para estudo neste caderno. Na primeira aula, vamos aprender a
diferenciar a descrição objetiva da subjetiva. Na segunda aula, você vai recordar
algumas das figuras de linguagem mais recorrentes nos textos, como a metáfora, por
exemplo. Na aula 3, vamos aprender a identificar os personagens protagonistas e
antagonistas. Já na aula 4, aprenderemos a identificar o discurso indireto livre.
Reservamos a aula 5 para você aprender a usar adequadamente o dicionário. E, por
fim, na aula 6, você terá um estudo sobre ortografia para tentar minimizar possíveis
dificuldades ortográficas.
Este documento apresenta 08 (oito) Aulas. As aulas podem ser compostas por
uma explicação base, para que você seja capaz de compreender as principais ideias
relacionadas às habilidades e competências principais do bimestre em questão, e
atividades respectivas. Leia o texto e, em seguida, resolva as tividades propostas. As
Atividades são referentes a dois tempos de aulas. Para reforçar a aprendizagem,
propõe-se, ainda, uma avaliação e uma pesquisa sobre o assunto.

Um abraço e bom trabalho!


Equipe de Elaboração

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Sumário

Introdução ................................................................................................ 03
Aula 01: Como descrever as personagens? .............................................. 05
Aula 02: As “artimanhas” da linguagem ................................................... 10
Aula 03: Mocinho ou bandido? ................................................................. 15
Aula 04: Com a palavra: personagens e narrador .................................... 20
Aula 05: O amigo certo nas horas incertas ............................................... 25
Aula 06: “...como é mesmo que se escreve? Com ‘z’ ou com ‘s’?” .......... 30
Avaliação................................................................................................... 36
Pesquisa..................................................................................................... 40
Referências .............................................................................................. 43

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Aula 1: Como descrever as personagens?

Nesta aula, vamos aprender a identificar e a diferenciar a descrição objetiva da


descrição subjetiva das personagens.
Ao narrar uma história, o autor vai apresentando as personagens
gradativamente, por meio da sua descrição objetiva e subjetiva.

Descrição objetiva: Apresenta a personagem, o fato, o lugar etc. de forma o


mais próximo possível da realidade concreta, por meio da exatidão de detalhes
e precisão de vocábulos. A opinião do observador não é levada em conta.

Portanto, a descrição objetiva é aquela que apresenta o objeto de forma


concreta, buscando maior proximidade com a realidade, deixando de lado as
impressões do observador. Apresenta características como: forma, tamanho, peso,
cor, espessura, volume, etc. A descrição objetiva preocupa-se com a exatidão dos
detalhes e com a precisão dos vocábulos.
Exemplo: Mônica tem 1,65 de altura e 50 kg. Branca, olhos claros, cabelos castanhos,
compridos e lisos.

Descrição subjetiva: É fortemente influenciada pela opinião de quem descreve,


podendo ou não distorcer a realidade. A personagem, o fato, o lugar etc. é
descrito conforme ele é visto na perspectiva de quem narra.

Dessa forma, na descrição subjetiva, o objeto é transfigurado conforme a


sensibilidade do observador, ou seja, o objeto é descrito da forma como ele é visto e
sentido. O observador transmite para a descrição a sua emoção em relação ao objeto.
Não há preocupação com a exatidão dos detalhes do objeto descrito, o importante é
transmitir a impressão que o objeto causa ao observador.
Exemplo: “O sujeitão, que parecia um carro de boi cruzando com trem de ferro, já
entrou soltando fogo pela folga do dente de ouro.” (José Cândido de Carvalho)

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O romance “O cortiço” é a obra que servirá como base para o estudo das
habilidades contempladas no 4º bimestre do 9º ano do Ensino Fundamental.
Romance de cunho social, O Cortiço, de Aluísio Azevedo, é uma história
envolvente e sombria de uma habitação coletiva no Rio de Janeiro do Segundo
Império. A obra tem como tema central a ambição e a exploração do homem pelo
próprio homem. De um lado, João Romão, que aspira à riqueza, e Miranda, já rico, que
aspira à nobreza. Do outro lado, a "gentalha", caracterizada como um conjunto de
“animais”, movidos pelo instinto e pela fome.
O livro narra inicialmente a saga de João Romão rumo ao enriquecimento. Para
acumular capital, ele explora os empregados e se utiliza até do furto para conseguir
atingir seus objetivos. João Romão é o dono do cortiço, da taverna e da pedreira. Sua
amante, a negra Bertoleza, o ajuda de domingo a domingo, trabalhando sem descanso.

Atividade 1

Nesta aula, você vai ler um fragmento do primeiro capítulo da obra, em que o
narrador conta como João Romão enganou a escrava Bertoleza, sua amante, dizendo-
lhe que tinha comprado sua carta de alforria.

... E por tal forma foi o taverneiro ganhando confiança no espírito da mulher, que
esta afinal nada mais resolvia só por si, e aceitava dele, cegamente, todo e qualquer
arbítrio. Por último, se alguém precisava tratar com ela qualquer negócio, nem mais se
dava ao trabalho de procurá-la, ia logo direito a João Romão. Quando deram fé
estavam amigados.
Ele propôs lhe morarem juntos e ela concordou de braços abertos, feliz em
meter-se de novo com um português, porque, como toda a cafuza, Bertoleza não
queria sujeitar se a negros e procurava instintivamente o homem numa raça superior à
sua.
João Romão comprou então, com as economias da amiga, alguns palmos de
terreno ao lado esquerdo da venda, e levantou uma casinha de duas portas, dividida
ao meio paralelamente à rua, sendo a parte da frente destinada à quitanda e a do

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fundo para um dormitório que se arranjou com os cacarecos de Bertoleza. Havia, além
da cama, uma cômoda de jacarandá muito velha com maçanetas de metal amarelo já
mareadas, um oratório cheio de santos e forrado de papel de cor, um baú grande de
couro cru tacheado, dois banquinhos de pau feitos de uma só peça e um formidável
cabide de pregar na parede, com a sua competente coberta de retalhos de chita. O
vendeiro nunca tivera tanta mobília.
— Agora, disse ele à crioula, as coisas vão correr melhor para você. Você vai ficar
forra; eu entro com o que falta.
Nesse dia ele saiu muito à rua, e uma semana depois apareceu com uma folha de
papel toda escrita, que leu em voz alta à companheira.
— Você agora não tem mais senhor! declarou em seguida à leitura, que ela ouviu
entre lágrimas agradecidas. Agora está livre. Doravante o que você fizer é só seu e
mais de seus filhos, se os tiver. Acabou-se o cativeiro de pagar os vinte mil réis à peste
do cego!
— Coitado! A gente se queixa é da sorte! Ele, como meu senhor, exigia o jornal,
exigia o que era seu!
— Seu ou não seu, acabou-se! E vida nova!
Contra todo o costume, abriu-se nesse dia uma garrafa de vinho do Porto, e os
dois beberam-na em honra ao grande acontecimento. Entretanto, a tal carta de
liberdade era obra do próprio João Romão, e nem mesmo o selo, que ele entendeu de
pespegar-lhe em cima, para dar à burla maior formalidade, representava despesa
porque o esperto aproveitara uma estampilha já servida. O senhor de Bertoleza não
teve sequer conhecimento do fato; o que lhe constou, sim, foi que a sua escrava lhe
havia fugido para a Bahia depois da morte do amigo...
Disponível em http://www.lunaeamigos.com.br/fragmentos/fragmentos8.htm Acesso em 16 out. 2013.

1) A partir da leitura do texto, responda:

a) Que característica física marca a personagem Bertoleza?


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b) Que condição social essa característica física lhe impõe em pleno século XIX no
Brasil, período em que se passa a história narrada em “O cortiço”?

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c) Retire do texto um fragmento que comprove sua resposta à questão anterior.

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2) Que característica psicológica de João Romão fica evidente no texto? Destaque um


fragmento que justifique sua resposta.
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3) Considerando o fragmento do primeiro capítulo de “O cortiço”, responda: o que


João Romão pretendia ao falsificar uma carta de alforria para Bertoleza? Explique.
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4) O que é possível deduzir a partir da leitura do trecho “Contra todo o costume, abriu
se nesse dia uma garrafa de vinho do Porto(...)”?
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5) Nos textos narrativos, sobretudo nos romances, é muito comum o narrador


apresentar as personagens por meio de dois tipos de descrição: a objetiva e a

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subjetiva. Retire do texto um fragmento que apresenta uma descrição objetiva e uma
descrição subjetiva.
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Aula 2: As “artimanhas” da linguagem

Nesta aula, vamos relembrar algumas figuras de linguagem que estudamos no


caderno do 2º bimestre.
Você se lembra de quando estudamos a metáfora, metonímia, personificação,
antítese, hipérbole, entre outras figuras? Pois bem! O mais importante é você se
lembrar de que as palavras podem apresentar significados diferentes dependendo do
contexto em que são utilizadas. Quando apresentam um sentido diferente do habitual,
ou seja, quando seu sentido comum é modificado a fim de atribuir maior
expressividade ou um significado especial ao enunciado, dizemos que a palavra ou
expressão foi utilizada em sentido figurado ou metafórico.
Quando palavras ou expressões são utilizadas fora de seu sentido usual para
obter efeitos expressivos nos textos, temos as chamadas figuras de linguagem.
Vejamos um exemplo de metáfora nos versos de Chico Buarque, a seguir:
“Sua boca é um cadeado
E meu corpo é uma fogueira”
Observe que o eu lírico mantém uma relação de similaridade, ou seja, estabelece
relações de semelhança entre os termos “boca” e “cadeado”, de modo que as
características do “cadeado” (fechado) sejam atribuídas à “boca”. O mesmo ocorre
entre os termos “corpo” e “fogueira” (ambos são quentes).
O que ocorre nesse exemplo é uma transferência da significação própria de uma
palavra, no caso, “cadeado” e “fogueira”, para outra significação, “fechado” e
“quente/calor”, respectivamente. A isso chamamos metáfora.
Uma das figuras mais comuns presentes nos textos é a metáfora. Entretanto,
outras figuras também são recorrentes, tais como:

Comparação: é a figura de linguagem que consiste em aproximar dois seres em razão


de alguma semelhança existente entre eles, de modo que as características de um
sejam atribuídas ao outro, e sempre por meio de um elemento comparativo expresso
(explícito): como, tal qual, semelhante a, que nem, etc.

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Exemplo: Meu quarto é quente como um forno.

Personificação: é a figura de linguagem que consiste em atribuir linguagem,


sentimento e ações próprios dos seres humanos a seres inanimados ou irracionais.
Exemplo: A raposa disse algo que convenceu o corvo.

Antítese: é a figura de linguagem que consiste no emprego de palavras que se opõem


quanto ao sentido.
Exemplo: O bem e o mal caminham juntos.

Hipérbole: é a figura que consiste em expressar uma idéia com exagero, a fim de
destacar, enfatizar uma idéia.
Exemplos: dizer mil vezes, morrer de rir, sair voando...

Onomatopéia: consiste na tentativa de reproduzir linguisticamente sons e ruídos do


mundo natural, bem como vozes de animais.
Exemplo: Não aguentava mais o tique-taque do relógio insistente.

Nesta aula, você vai ler um trecho do capítulo III de “O cortiço”, em que o autor
descreve o amanhecer no cortiço.

Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a
sua infinidade de portas e janelas alinhadas.
Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada sete horas de
chumbo. Como que se sentiam ainda na indolência de neblina as derradeiras notas da
última guitarra da noite antecedente, dissolvendo se à luz loura e tenra da aurora, que
nem um suspiro de saudade perdido em terra alheia.
A roupa lavada, que ficara de véspera nos coradouros, umedecia o ar e punha-
lhe um farto acre de sabão ordinário. As pedras do chão, esbranquiçadas no lugar da
lavagem e em alguns pontos azuladas pelo anil, mostravam uma palidez grisalha e
triste, feita de acumulações de espumas secas.

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Entretanto, das portas surgiam cabeças congestionadas de sono; ouviam se
amplos bocejos, fortes como o marulhar das ondas; pigarreava se grosso por toda a
parte; começavam as xícaras a tilintar; o cheiro quente do café aquecia, suplantando
todos os outros; trocavam-se de janela para janela as primeiras palavras, os bons-dias;
reatavam-se conversas interrompidas à noite; a pequenada cá fora traquinava já, e lá
dentro das casas vinham choros abafados de crianças que ainda não andam. No
confuso rumor que se formava, destacavam-se risos, sons de vozes que altercavam,
sem se saber onde, grasnar de marrecos, cantar de galos, cacarejar de galinhas. De
alguns quartos saiam mulheres que vinham pendurar cá fora, na parede, a gaiola do
papagaio, e os louros, à semelhança dos donos, cumprimentavam-se ruidosamente,
espanejando se à luz nova do dia.
Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração
tumultuosa de machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara, incomodamente,
debaixo do fio de água que escorria da altura de uns cinco palmos. O chão inundava se.
As mulheres precisavam já prender as saias entre as coxas para não as molhar; via-se
lhes a tostada nudez dos braços e do pescoço, que elas despiam, suspendendo o
cabelo todo para o alto do casco; os homens, esses não se preocupavam em não
molhar o pêlo, ao contrário metiam a cabeça bem debaixo da água e esfregavam com
força as ventas e as barbas, fossando e fungando contra as palmas da mão. As portas
das latrinas não descansavam, era um abrir e fechar de cada instante, um entrar e sair
sem tréguas. Não se demoravam lá dentro e vinham ainda amarrando as calças ou as
saias; as crianças não se davam ao trabalho de lá ir, despachavam se ali mesmo, no
capinzal dos fundos, por detrás da estalagem ou no recanto das hortas.
O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se; já se
não destacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o
cortiço. Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam se discussões e resingas;
ouviam se gargalhadas e pragas; já se não falava, gritava-se. GRADAÇÃO Sentia-se
naquela fermentação sangüínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras que
mergulham os pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, o prazer animal de
existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra.
Disponível em http://www.lunaeamigos.com.br/fragmentos/fragmentos8.htm Acesso em 16 out. 2013.

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Atividade 2

1) A seguir, retiramos do texto fragmentos que contêm algumas figuras de linguagem


que você recordou nesta aula. Identifique-as.
a) “(...) abrindo (...) a sua infinidade de portas e janelas alinhadas.”
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b) “Como que se sentiam ainda na indolência de neblina as derradeiras notas da última


guitarra da noite antecedente (...)”
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c) “As pedras do chão (...) mostravam uma palidez grisalha e triste (...)”
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d) “(...) dormiu de uma assentada sete horas de chumbo.”


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e) “(...) das portas surgiam cabeças congestionadas de sono (...)”


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2) Agora, você será desafiado a localizar a figura de linguagem indicada nos parágrafos
a seguir.
a) 4º parágrafo – COMPARAÇÃO:
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b) 4º parágrafo – ONOMATOPÉIA:
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c) 5º parágrafo – ONOMATOPÉIA:
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d) 5º parágrafo – ANTÍTESE:
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3) O espaço do cortiço pode ser considerado uma das personagens da obra. Além de
apresentar características tipicamente humanas, é um elemento vivo e determinante
para o enredo.
a) Qual é a figura de linguagem que atribui ao seres inanimados ou irracionais
características humanas?
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b) Retire do texto um exemplo dessa figura.


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4) A gradação é considerada uma figura de linguagem, um recurso estilístico em que


as ideias são dispostas de forma crescente ou decrescente em um texto. Retire do 5º
parágrafo um exemplo de gradação.
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5) Ao contrário do que acontece com o cortiço, que em muitos momentos é


humanizado na obra, os demais personagens são comparados a animais. É o processo
de zoomorfização ou animalização. Retire um fragmento do texto que ilustre a
atribuição de características animais a seres humanos.
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Aula 3: Mocinho ou bandido?

Você já reparou que nos filmes, telenovelas, seriados, histórias em quandrinhos,


contos de fadas, fábulas, entre outros gêneros narrativos, sempre temos a luta entre o
bem e o mal representados na figura das personagens protagonistas e antagonistas?
Toda história, para ser interessante, precisa ter o “mocinho” e o “bandido” duelando.
Mas, afinal, o que são personagens protagonistas e antagonistas? O
protagonista é a personagem principal da trama, aquela que possui o papel de maior
destaque. Já o antagonista é uma personagem que caminha junto com o protagonista
durante toda a história, sendo que seu papel é atrapalhar ou impedir as ações do
protagonista. Portanto, a partir de agora, evite associar protagonista ao “mocinho” ou
“bonzinho” da história e o antagonista ao “malvado” ou “bandido”, pois isso nem
sempre ocorre.
Os papéis de mocinho ou vilão podem estar invertidos ou, ainda, o antagonista
pode se manifestar como um obstáculo na vida do protagonista e não ser,
necessariamente, uma personagem materializada. Assim, o antagonista pode ser o
próprio ambiente onde se encontra o protagonista, um traço de personalidade ou
sentimento do próprio herói contra o qual ele luta ou até mesmo uma idéia ou
conceito que é a principal fonte dos conflitos da história, como preconceito, governo,
escravidão. Lembra-se de “Vidas secas”? Quem no final das contas era o maior
antagonista de Fabiano? O fazendeiro, o soldado amarelo? Não! Era a seca!
Você já deve ter percebido que o protagonista em “O cortiço” é João Romão,
pois a maior parte das ações giram em torno dele. Mas, quem seria seu antagonista na
obra? Vamos descobrir?
Nesta aula, vamos aprender a identificar e a diferenciar os personagens
protagonistas e antagonistas no romance. O trecho transcrito a seguir pertence ao
capítulo X, em que são narrados os preparativos para a festa do Miranda (vizinho do
cortiço e rival de João Romão) que fora contemplado pelo governo português com o
título de Barão do Freixal.

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... No outro dia a casa do Miranda estava em preparos de festa. Lia se no “Jornal
do Comércio” que Sua Excelência fora agraciado pelo governo português com o título
de Barão do Freixal; e como os seus amigos se achassem prevenidos para ir
cumprimentá-lo no domingo, o negociante dispunha-se a recebê-los condignamente.
Do cortiço, onde esta novidade causou sensação, via-se nas janelas do sobrado,
abertas de par em par, surgir de vez em quando Leonor ou Isaura, a sacudirem tapetes
e capachos, batendo-lhes em cima com um pau, os olhos fechados, a cabeça torcida
para dentro por causa da poeira que a cada pancada se levantava, como fumaça de um
tiro de peça. Chamaram-se novos criados para aqueles dias. No salão da frente, pretos
lavavam o soalho, e na cozinha havia rebuliço. Dona Estela, de penteador de cambraia
enfeitado de laços cor de rosa, era lobrigada de relance, ora de um lado, ora de outro,
a dar as suas ordens, abanando-se com um grande leque; ou aparecia no patamar da
escada do fundo, preocupada em soerguer as saias contra as águas sujas da lavagem,
que escorriam para o quintal. Zulmira também ia e vinha, com a sua palidez fria e
úmida de menina sem sangue. (...) Entretanto, a figura gorda e encanecida do novo
Barão, sobre-casacado, com o chapéu alto derreado para trás na cabeça e sem largar o
guarda-chuva, entrava da rua e atravessava a sala de jantar, seguia até a despensa,
diligente esbaforido, indagando se já tinha vindo isto e mais aquilo, provando dos
vinhos que chegavam em garrafões, examinando tudo, voltando-se para a direita e
para a esquerda, dando ordens, ralhando, exigindo atividade, e depois tornava a sair,
sempre apressado, e metia-se no carro que o esperava à porta da rua.
— Toca! toca! Vamos ver se o fogueteiro aprontou os fogos!
(...)
Ah! ele [João Romão] esse dia estava intolerante com tudo e com todos; por
mais de uma vez mandara Bertoleza à coisa mais imunda, apenas porque esta lhe
fizera algumas perguntas concernentes ao serviço. Nunca o tinha visto assim, tão fora
de si, tão cheio de repelões; nem parecia aquele mesmo homem inalterável, sempre
calmo e metódico.
E ninguém seria capaz de acreditar que a causa de tudo isso era o fato de ter
sido o Miranda agraciado com o título de Barão.

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Sim, senhor! Aquele taverneiro, na aparência tão humilde e tão miserável;
aquele sovina que nunca saíra dos seus tamancos e da sua camisa de riscadinho de
Angola; aquele animal que se alimentava pior que os cães, para pôr de parte tudo,
tudo, que ganhava ou extorquia; aquele ente atrofiado pela cobiça e que parecia ter
abdicado dos seus privilégios e sentimentos de homem; aquele desgraçado, que nunca
jamais amara senão o dinheiro, invejava agora o Miranda, invejava-o deveras, com
dobrada amargura do que sofrera o marido de Dona Estela, quando, por sua vez, o
invejara a ele. Acompanhara-o desde que o Miranda viera habitar o sobrado com a
família; vira-o nas felizes ocasiões da vida, cheio de importância, cercado de amigos e
rodeado de aduladores; vira-o dar festas e receber em sua casa as figuras mais
salientes da praça e da política; vira-o luzir, como um grosso pião de ouro, girando por
entre damas da melhor e mais fina sociedade fluminense; vira-o meter-se em altas
especulações comerciais e sair-se bem; vira seu nome figurar em várias corporações de
gente escolhida e em subscrições, assinando belas quantias; vira-o fazer parte de
festas de caridade e festas de regozijo nacional; vira-o elogiado pela imprensa e
aclamado como homem de vistas largas e grande talento financeiro; vira-o enfim em
todas as suas prosperidades, e nunca lhe tivera inveja. Mas agora, estranho
deslumbramento! Quando o vendeiro leu no “Jornal do Comércio” que o vizinho
estava barão — Barão! — sentiu tamanho calafrio em todo o corpo, que a vista por um
instante se lhe apagou dos olhos.
— Barão!
E durante todo o santo dia não pensou noutra coisa. “Barão!... Com esta é que
ele não contava!...”
Disponível em http://www.lunaeamigos.com.br/fragmentos/fragmentos8.htm Acesso em 16 out. 2013.

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Atividade 3

1) As ações narradas no fragmento do capítulo X e seus desdobramentos giram em


torno de dois personagens importantes de “O cortiço”: João Romão e Miranda.
Analisando o papel que cada um desempenha na história, responda: quem é o
protagonista e quem é o antagonista? Justifique sua resposta.
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2) A partir das descrições apontadas no capítulo X sobre os personagens João Romão e


Miranda, complete o quadro a seguir com dados que caracterizam a descrição
objetiva e a subjetiva dessas personagens.

Descrição objetiva Descrição subjetiva

João Romão

Miranda

3) Você deve ter percebido que há algumas palavras no texto que não fazem parte da
nossa linguagem cotidiana. Mesmo assim, é possível deduzir o significado de muitas
delas ao considerar o contexto em que aparecem. A partir disso, aponte o possível
significado dos termos destacados nos fragmentos a seguir.

a) “Do cortiço, onde esta novidade causou sensação (...)”


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b) “(...) pretos lavavam o soalho, e na cozinha havia rebuliço.”
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c) “(...) preocupada em soerguer as saias contra as águas sujas da lavagem (...)”


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d) “(...) porque esta lhe fizera algumas perguntas concernentes ao serviço.”


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e) “(...) a causa de tudo isso era o fato de ter sido o Miranda agraciado com o título de
Barão.”
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4) Releia a segunda metade do texto para responder às questões a seguir:

a) Nesta parte do texto, fica evidente que João Romão foi dominado por um
sentimento tão forte a ponto de influenciar suas ações e pensamentos. Que
sentimento é esse?
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b) O que Miranda possuía que era objeto da cobiça de João Romão? Explique.
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5) Observe o fragmento a seguir e repare que nele há uma metáfora.


“(...) aclamado como homem de vistas largas e grande talento financeiro (...)”

a) Aponte que expressão do fragmento foi utilizada em sentido figurado, conotativo ou


metafórico.
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b) Explique o sentido da metáfora.


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Aula 4: Com a palavra: personagens e narrador

Nesta aula, vamos aprender a identificar o uso do discurso indireto livre no


gênero romance.
Você já leu nesta e na aula passada alguns fragmentos do romance “O cortiço”
e percebeu que os fatos giram em torno de personagens e são conduzidos por um
narrador. A maneira como esse narrador apresenta os fatos depende muito de sua
intencionalidade. Numa narrativa, o narrador pode optar por não apresentar os
diálogos entre seus personagens ou, ao contrário, pode apresentar essas falas de
maneira direta – em que as personagens falam por si mesmas, ou seja, o narrador,
interrompe a narrativa, põe-nos em cena e cede-lhes a palavra – ou indireta – em que
o narrador se coloca como intérprete dos personagens, transmitindo ao leitor o que
disseram ou pensaram. No primeiro caso, temos o discurso direto. No segundo, o
indireto.
Entretanto, além dos discursos direto e indireto que você vem estudando desde
o caderno do 2º bimestre, há também um terceiro tipo de discurso, que é a mistura
dos dois anteriores e é conhecido como discurso indireto livre.
Dos três tipos de discurso, o indireto livre é o mais complexo. Nele, a fala
interior das personagens (ações, idéias, sentimentos e reflexões) insere-se em meio à
fala do narrador, de modo sutil, causando no leitor certa dúvida sobre quem estaria
falando, o narrador ou o personagem.
Para que você possa compreender melhor, vamos relembrar de um fragmento
de “Vidas secas”.
“Sinhá Vitória desejava possuir uma cama igual a de seu Tomás da bolandeira
[cama com estrado de tiras de couro]. Doidice. Não dizia nada para não contrariá-la,
mas sabia que era doidice. Cambembes podiam ter luxo? E estavam ali de passagem.
Qualquer dia o patrão os botaria fora, e eles ganhariam o mundo, sem rumo, nem
teriam meio de conduzir os cacarecos.”
Nessa passagem, o narrador fala para o leitor sobre o que Fabiano estava
pensando a respeito do sonho de Sinhá Vitória, mas, como o fragmento não vem

20
marcado com o verbo dicendi ou de elocução (introduz discurso direto), nem pelos
dois pontos e travessão, nem aspas, a fala do narrador confunde-se com a de Fabiano.

Atividade 4

Para responder às questões seguintes, vamos ler um fragmento do capítulo XIII


de “O Cortiço”, em que o narrador conta como foram as primeiras mudanças de
hábitos de João Romão e o início do seu desprezo pela negra Bertoleza.

... Depois do jantar apareceu uma família; conhecida, trazendo um rancho de


moças; vieram também alguns rapazes; formaram-se jogos de prendas, e João Romão,
pela primeira vez em sua vida, viu-se metido em tais funduras. Não se saiu mal todavia.
O chá das dez e meia correu sem novidade; e, quando enfim o neófito se pilhou
na rua, respirou com independência, remexendo o pescoço dentro do colarinho
engomado e soprando com alívio. Uma alegria de vitória transbordava lhe do coração
e fazia o feliz nesse momento. Bebeu o ar fresco da noite com uma volúpia nova para
ele e, muito satisfeito consigo mesmo, entrou em casa e recolheu-se, rejubilando com
a idéia de que ia descalçar aquelas botas, desfazer-se de toda aquela roupa e atirar-se
à cama, para pensar mais à vontade no seu futuro, cujos horizontes se rasgavam agora
iluminados de esperança.
Mas a bolha do seu desvanecimento engelhou logo à vista de Bertoleza que,
estendida na cama, roncava, de papo para o ar, com a boca aberta, a camisa soerguida
sobre o ventre, deixando ver o negrume das pernas gordas e lustrosas.
E tinha de estirar-se ali, ao lado daquela preta fedorenta a cozinha e bodum de
peixe! Pois, tão cheiroso e radiante como se sentia, havia de pôr a cabeça naquele
mesmo travesseiro sujo em que se enterrava a hedionda carapinha da crioula?...
— Ai! ai! gemeu o vendeiro, resignando-se.
E despiu-se.

21
Uma vez deitado, sem ânimo de afastar-se da beira da cama, para não se
encostar com a amiga, surgiu-lhe nítida ao espírito a compreensão do estorvo que o
diabo daquela negra seria para o seu casamento.
E ele que até aí não pensara nisso!... Ora o demo!
Não pôde dormir; pôs-se a malucar:
Ainda bem que não tinham filhos! Abençoadas drogas que a Bruxa dera à
Bertoleza nas duas vezes em que esta se sentiu grávida! Mas, afinal, de que modo se
veria livre daquele trambolho? E não se ter lembrado disso há mais tempo!... parecia
incrível!
João Romão, com efeito, tão ligado vivera com a crioula e tanto se habituara a
vê-la ao seu lado, que nos seus devaneios de ambição pensou em tudo, menos nela.
E agora?
E malucou no caso até às duas da madrugada, sem achar furo. Só no dia
seguinte, a contemplá-la de cócoras à porta da venda, abrindo e destripando peixe, foi
que, por associação de idéias, lhe acudiu esta hipótese:
— E se ela morresse?...

Disponível em http://www.lunaeamigos.com.br/fragmentos/fragmentos8.htm Acesso em 16 out. 2013.

1) Como você sabe, o narrador de um texto pode ser uma das personagens da história,
quando participa dela. A esse tipo de narrador chamamos de narrador-personagem e
dizemos que o foco narrativo está na 1ª pessoa. Entretanto, quando o narrador está
de fora da história, dizemos que se trata de um narrador-observador e que o foco
narrativo está na 3ª pessoa. Para esse tipo de narrador ainda há uma subdivisão:
i. narrador intruso (fala com o leitor e julga o comportamento das personagens);
ii. narrador neutro (busca não julgar os fatos, apenas narrá-los)
iii. narrador onisciente (releva o sentimento e/ou os pensamentos das
personagens).

a) Em relação do foco narrativo, o narrador conta a história em 1ª ou 3ª pessoa?


_______________________________________________________________________

22
b) A partir da leitura dos fragmentos dos capítulos I, III e XIII de “O cortiço”, responda:
que tipo de narrador predomina no romance?
_______________________________________________________________________
c) Retire um trecho do capítulo X que comprove sua afirmativa.
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________

2) Retire do texto uma passagem em discurso direto.


_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________

3) Agora, passe esse trecho para o discurso indireto.


_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________

4) Nos romances, é muito comum encontramos um tipo especial de discurso, chamado


de discurso indireto livre em que a fala, os pensamentos e os sentimentos das
personagens se misturam e se confundem com os do narrador. Retire do capítulo XIII
de “O cortiço” uma passagem que ilustre o discurso indireto livre.
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________

5) As figuras de linguagem são estratégias utilizadas pelos autores nos romances e em


diversos gêneros de textos orais ou escritos para conferir maior expressividade,
profundidade e beleza. Além da metáfora, outra figura igualmente recorrente nos
textos é a metonímia.
A metonímia ocorre quando há substituição de uma palavra por outra, havendo
entre elas algum grau de semelhança, relação ou proximidade de sentido. Não se trata

23
de uma comparação como a metáfora, mas sim uma troca de termos que se
aproximam.

Observe os exemplos:
Tipos de Metonímia Exemplos
Ler Aluísio Azevedo é contagiante. (a
O autor pela obra pessoa lê a obra criada pelo autor e não o
autor).
A marca pelo produto Para dar brilho, use Bombril. (Bombril é a
marca da palha de aço.)
O continente pelo conteúdo Tomei duas xícaras de café. (Tomamos o
conteúdo da xícara - o café - e não o
continente ou recipiente - a xícara.

A partir dessas informações, releia o fragmento a seguir retirado do capítulo X.

“... No outro dia a casa do Miranda estava em preparos de festa. Lia se no “Jornal
do Comércio” que Sua Excelência fora agraciado pelo governo português com o título
de Barão do Freixal; (...) Chamaram-se novos criados para aqueles dias. No salão da
frente, pretos lavavam o soalho, e na cozinha havia rebuliço.”

Há, na passagem destacada, metáfora ou metonímia? Explique.


_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________

24
Aula 5: O amigo certo nas horas incertas

Você já percebeu que cada vez que lemos um texto sempre nos deparamos com
palavras cujo significado desconhecemos? Certamente você também já notou que a
linguagem escrita exige de nós muita atenção, pois não podemos escrever da maneira
como bem entendemos. Além dos cuidados básicos que devemos ter com a ortografia
no momento em que produzimos nossos textos, é preciso saber a melhor maneira de
transpor para o papel nossas ideias para que o interlocutor (a pessoa para a qual
escrevemos) possa nos entender claramente. Nessas horas, algumas dúvidas surgirão
em relação à maneira correta de grafar esta ou aquela palavra. E sabe quem deverá ser
seu companheiro inseparável? Ele mesmo, o dicionário!
Por esta indiscutível razão é que iremos ver agora um pouco mais sobre as
características dele, para aprendermos cada vez mais a valorizá-lo, assim como ele
merece.
Vamos recordar algumas informações que são essenciais para você utilizar o
dicionário de forma adequada e eficiente.
Você sabe que o nosso alfabeto é constituído de 26 letras, e que as palavras
contidas nos dicionários aparecem organizadas em ordem alfabética, assim como
observamos em alguns gêneros textuais, como é o caso da lista telefônica,
enciclopédias, diário de classe, entre outros. E você sabe o porquê dessa organização?
Ela serve para facilitar ainda mais nossa busca.
Ao abrirmos uma página do dicionário, logo percebemos a presença de duas
palavras que se destacam, principalmente porque elas vêm escritas no canto direito e
no canto esquerdo. Além de serem denominadas de palavras-chave, elas também
servem para orientar nossa consulta, pois indicam a primeira e a última palavra de
cada página e cada palavra do dicionário recebe o nome de verbete.
Para que você possa compreender melhor, vamos analisar o verbete
“abreviatura”:

25
Abreviatura, s.f. 1. Fração de palavra que designa o vocábulo todo. 2. Sinal com
que se representa uma palavra. 3. Qualquer coisa em ponto pequeno; miniatura.
a.bre.vi.a.tu.ra

Após localizamos o verbete que procuramos, percebemos a presença de algumas


letras que surgem abreviadas. Viu só? Estamos falando de abreviatura e logo a
encontramos!
No caso do nosso exemplo, “s.” e “f.” significam “substantivo” e “feminino”,
uma vez que representam informações importantes que devemos saber sobre a
palavra em estudo. No entanto, podemos identificar outras abreviaturas, como, por
exemplo:
adj. – adjetivo sing. – singular
s. m. – substantivo masculino pl. – plural
num. – numeral

Os dicionários mais atualizados também costumam trazer a separação silábica


correta da palavra, pois esta é outra dúvida frequente que temos ao escrever nossos
textos, sobretudo a mão, quando se faz necessário separar em sílabas uma palavra.
É importante você saber que nem sempre aparecem registradas nos dicionários
as palavras nas formas como as encontramos nos textos. Por exemplo, os substantivos
(classe de palavra que designa os seres em geral) aparecem no singular. Dessa forma,
você não encontrará no dicionário a palavra “caminhões”, apenas a forma singular
“caminhão”. O mesmo acontece com os adjetivos (classe de palavra que caracteriza,
qualifica o substantivo), que só aparecem no dicionário no masculino singular.
Portanto, você não encontrará o adjetivo “antigas” (feminino e plural), apenas
“antigo” (masculino e singular).
De modo semelhante acontece com os verbos. Enquanto nos textos eles
aparecem flexionados em pessoa (eu/tu/ele/nós/vós/eles), número (singular e plural),
tempo (presente, pretérito e futuro) e modo (indicativo, subjuntivo e imperativo), no
dicionário aparecem numa forma única: no infinito. O infinitivo é a forma em que o
verbo aparece sem qualquer flexão e termina em AR, ER ou IR: comer, sair, estudar,

26
viajar, ler, namorar, partir... Portanto, você não vai encontrar nos dicionários a forma
verbal “estudaríamos”; apenas a forma “estudar”.
Viu quantas informações importantes você precisa conhecer para usar
adequadamente o dicionário? A partir de agora, use e abuse dele, pois sempre será
seu melhor amigo nos momentos em que bater aquela dúvida!
Disponível em http://www.escolakids.com/uso-do-dicionario.htm Acesso em 19 out. 2013.

Atividade 5

Para você responder às questões a seguir, tenha em mãos um bom dicionário.


Em seguida, leia o trecho do capítulo IV de “O cortiço”, em que o narrador conta como
João Romão levou o português Jerônimo para conhecer a sua pedreira.

E os dois, em vez de procurarem a estrada, atravessaram o capim quente e


trescalante.
Meio dia em ponto. O sol estava a pino; tudo reverberava a luz irreconciliável de
dezembro, num dia sem nuvens. A pedreira, em que ela batia de chapa em cima,
cegava olhada de frente. Era preciso martirizar a vista para descobrir as nuanças da
pedra; nada mais que uma grande mancha branca e luminosa, terminando pela parte
de baixo no chão coberto de cascalho miúdo, que ao longe produzia o efeito de um
betume cinzento, e pela parte de cima na espessura compacta do arvoredo, onde se
não distinguiam outros tons mais do que nódoas negras, bem negras, sobre o verde
escuro.
À proporção que os dois se aproximavam da imponente pedreira, o terreno ia se
tornando mais e mais cascalhudo; os sapatos enfarinhavam se de uma poeira clara.
Mais adiante, por aqui e por ali, havia muitas carroças, algumas em movimento,
puxadas a burro e cheias de calhaus partidos; outras já prontas para seguir, à espera
do animal, e outras enfim com os braços para o ar, como se acabassem de ser
despejadas naquele instante. Homens labutavam.

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À esquerda, por cima de um vestígio de rio, que parecia ter sido bebido de um
trago por aquele sol sedento, havia uma ponte de tábuas, onde três pequenos, quase
nus, conversavam assentados, sem fazer sombra, iluminados a prumo pelo sol do meio
dia. Para adiante, na mesma direção, corria um vasto telheiro, velho e sujo, firmado
sobre colunas de pedra tosca; aí muitos portugueses trabalhavam de canteiro, ao
barulho metálico do picão que feria o granito. Logo em seguida, surgia uma oficina de
ferreiro, toda atravancada de destroços e objetos quebrados, entre os quais avultavam
rodas de carro; em volta da bigorna dois homens, de corpo nu, banhados de suor e
alumiados de vermelho como dois diabos, martelavam cadenciosamente sobre um
pedaço de ferro em brasa; e ali mesmo, perto deles, a forja escancarava uma goela
infernal, de onde saiam pequenas línguas de fogo, irrequietas e gulosas.
Disponível em http://www.lunaeamigos.com.br/fragmentos/fragmentos8.htm Acesso em 16 out. 2013.

1) A seguir, algumas palavras foram destacadas do texto. Procure no dicionário seus


significados e transcreva-os a seguir.
a) reverberava: _________________________________________________________
b) nuanças: ____________________________________________________________
c) betume: _____________________________________________________________
d) calhaus: _____________________________________________________________
e) imponente: __________________________________________________________
f) irrequietas: ___________________________________________________________

2) Reescreva as frases seguintes, substituindo as palavras destacadas pelo sinônimo


mais adequado. Lembre-se de que palavras sinônimas são aquelas que possuem
significados aproximados e que, no mesmo contexto, podem ser substituídas umas
pelas outras. Faça as adaptações necessárias.
a) “Homens labutavam.”
_______________________________________________________________________
b) “(...) surgia uma oficina de ferreiro, toda atravancada de destroços e objetos
quebrados (...)”
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________

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c) “(...) entre os quais avultavam rodas de carro (...)”
_______________________________________________________________________
d) “(...) banhados de suor e alumiados de vermelho como dois diabos (...)”
_______________________________________________________________________
3) Leia com atenção as passagens a seguir. Após, procure explicar o significado das
expressões destacadas, considerando-se o contexto em que aparecem.
a) “(...) os sapatos enfarinhavam-se de uma poeira clara.”
_______________________________________________________________________

b) “(...) que parecia ter sido bebido de um trago por aquele sol sedento (...)”
_______________________________________________________________________

c) “(...) barulho metálico do picão que feria o granito.”


_______________________________________________________________________

d) “(...) de onde saíam pequenas línguas de fogo (...)” faíscas


_______________________________________________________________________

4) Observe o fragmento a seguir, extraído do capítulo XIII.


“Nos leilões das festas de arraial era tão feroz a sua febre de obsequiar a gente
do Miranda, que nunca voltava para casa sem um homem atrás, carregado com os
mimos que o vendeiro arrematava.”

A) Que figura de linguagem está presente na passagem destacada?


_______________________________________________________________________

B) Assinale a alternativa em que o significado da palavra “febre” NÃO está de acordo


com a passagem do texto.
a) Elevação anormal da temperatura corporal.
b) Grande perturbação emocional.
c) Desejo ardente.
d) Ânsia de possuir, ambição.

C) Que significado pode ser atribuído à palavra “feroz” no contexto em que aparece no
texto?
_______________________________________________________________________

29
Aula 6: “... como é mesmo que se escreve? Com ‘z’ ou com ‘s’?”

“Professora, ‘desli_e’ é com ‘z’ ou com ‘s’? ‘Ma_estade’ é com ‘g’ ou ‘j’?
‘En_arcar’ é com ‘x’ ou ‘ch’?” Você se lembra de quantas vezes teve dúvidas quanto à
ortografia oficial das palavras? Certamente inúmeras vezes. Ter esse tipo de dúvida é
algo normal, mas você precisa estar sempre atento, pois não é legal escrever um texto
com muitos erros de ortografia. Há quem acredite que o indivíduo que comete muitos
erros ortográficos não domina a língua. Na verdade, o que a pessoa talvez não domine
é a linguagem padrão, mas não significa que ela não sabe português. Se fosse assim,
não conseguiria se comunicar minimamente em português, tanto na modalidade oral
quanto escrita da língua. Portanto, escrever de forma inadequada em determinadas
ocasiões cria uma imagem desfavorável do usuário da língua, o que pode trazer
consequências desastrosas para sua vida, como ser reprovado numa prova de
concurso, por exemplo, ou até mesmo ser ridicularizado.
Vale lembrar que escrever é algo que vai além da vida escolar, das provas e das
redações de concursos. É uma forma de transmitir ideias e conhecimentos adquiridos,
expressar opiniões, promover reflexões, influenciar o outro, etc. Obviamente, escrever
é uma atividade que exige conhecimento da ortografia, da gramática e do léxico
(vocabulário) de sua língua, adquirido ao longo dos anos na escola e nas inúmeras
práticas comunicativas de que participamos todos os dias como sujeitos sociais que
somos.
A leitura frequente de diversos gêneros textuais, sobretudo os mais formais,
como artigos, reportagens, textos didáticos, editoriais, resenhas, entre outros, ajuda
bastante na escrita, pois você toma contato com uma grande quantidade de palavras
grafadas da maneira correta e, através do contato permanente com os textos, você
inevitavelmente memorizará a ortografia de muitas palavras e as dúvidas serão menos
frequentes. Assim, escreverá com mais domínio e segurança.
Com o acesso à Internet e o advento da comunicação virtual através de e-mails,
blogs, Twitter e Facebook, surgiu uma nova forma de linguagem escrita, o chamado
internetês. Expressões como “vc”, “bjs”, “pq”, “ta”, “oq”, “blz”, “vlw” são muito

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comuns e foram criadas para agilizar a comunicação nesses ambientes virtuais.
Entretanto, é sempre bom lembrar que, da mesma forma que se torna entediante e
demorado escrever tudo “certinho” (letra por letra, acentos, vírgulas, ponto final...)
num bate-papo informal no face, também não cabe utilizar o internetês numa prova,
num trabalho da escola, num currículo e nem num e-mail formal, por exemplo, pois
esses textos exigem um grau maior de formalidade em função dos seus propósitos
comunicativos e do papel social do interlocutor. Cada nível de linguagem deve ser
adequado à situação de comunicação do qual o usuário da língua participa.
Sempre que você tiver dúvidas quanto à ortografia oficial das palavras, recorrera
a um dicionário. Ele vai te ajudar com a grafia das palavras, a acentuação gráfica, a
separação silábica e o significado. E não confie totalmente no corretor ortográfico do
Microsoft Word. Ele pode errar feio! Como vimos na aula passada, o dicionário é
sempre o amigo certo nas horas incertas!

Atividade 6

Vamos , agora, testar seus conhecimentos sobre a ortografia oficial das palavras?

Disponível http://portuguesatualblog.blogspot.com.br/2010/07/dificuldades-ortograficas-
emprego-de-s.html Acesso em 20 out. 2013.

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1) Observe as imagens a seguir. Em seguida, escreva o nome de cada ser.

_________________ _______________

________________ ________________

__________________ ________________

_________________ _____________

________________ _______________

2) Observe as palavras a seguir. Algumas foram incorretamente acentuadas e outras


tiveram seus acentos retirados. Reescreva todas as palavras, acentuando-as
corretamente ou retirando o acento no caso das palavras que, de acordo com a norma
culta, não possuem acento.
portuguêsa Abençôar
refem Ingles
gratuíto Raínha
espêlho Melância
ítem Econômia

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3) Separe as sílabas de todas as palavras da atividade 2.

4) Uma das grandes dificuldades que encontramos ao escrever é quando precisamos


utilizar as palavras homônimas e parônimas. Homônimas são palavras que apresentam
ou a grafia ou a pronúncia idênticas ou ambas ao mesmo tempo, mas nunca há
coincidência de significado. Já parônimas são as palavras que apresentam escrita e
pronúncia parecidas, mas sempre com significados diferentes. Exemplos:
HOMÔNIMAS
Expiar: sofrer castigo Espiar: observar
Cassar: anular Caçar: abater o animal
Acender: pôr fogo, alumiar Ascender: subir
Manga: fruta Manga: parte da roupa

PARÔNIMAS
Tráfico – comércio ilegal Tráfego – fluxo intenso de veículos
Inflação: desvalorização do dinheiro Infração: desobediência às leis
Despensa: lugar onde se guarda alimentos Dispensa: isenção, licença
Descrição: ato de descrever, caracterizar Discrição: reserva de atitudes

Com base nas informações anteriores, complete as frases a seguir com os


homônimos ou parônimos adequados ao contexto.
a) Achei que o juiz não ______________ aquele réu. (absolveria / absorveria)

b) No último _______________, descobriu-se que somos mais de duzentos milhões.


(senso / censo)

c) Encontrei a professora de Matemática no cinema, na _______________ das 20h.


(sessão, seção, cessão)

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d) O pianista providenciou o ________________ do seu instrumento para dar um
_________________ no Municipal. (concerto, conserto)

e) O bandido foi colocado em uma ________________ superlotada. (sela/cela)

5) No texto a seguir, algumas palavras tiveram sua ortografia padrão modificada. Com
base nisso:

a) CIRCULE somente as palavras cuja ortografia está em desacordo com norma culta
escrita.

A língua está viva


Na gramática, como muintos sabem e outros nem tanto, eziste a excessão da
exceção. Isso não quer dizer que vale tudo na hora de falá ou escrevê. As normas sobre
as quais não podemos pasar, mas existem também as preferênsias de determinado
altor – regras que não são regras, apenas opições. De ves em quando aparece auguém
querendo fazer dessas escolhas uma regra. Geralmente são os que não estãm bem
interados da língua e buscão solussões rápidas nos guias práticos de redação. Nada
contra. O problema é jugar inquestionáveis as informações que esses manuais contêm,
esquecendo-se de que eles estão, na maioria dos casos, sendo práticos – deichando
para as gramáticas a esplicação dos fundamentos da língua portugueza.
Com informação, vocabolário e o aucílio da gramática, você tem plenas
condições de escrevê um bom texto. Mas, antes de se aventurar, consideri quem vai
ler o que voçê escreveu. A galera da facudade, o pessoal da empreza ou a turma da
balada? As linguagens são diferentes.
Afinal, a língua está viva, renovando-se sem parar, circulando em todos os lu-
gares, em todos os momentos do seu dia. Estar antenado, ir no embalo, baxar um
arquivo, clicá no ícone – mais que expresões – são maneiras de se incerir num grupo,
de socialisar-se.
Disponível em http://valdinere123.blogspot.com.br/2011/05/o-teatro-da-etiqueta-no-
seculo-xv.html Acesso em 20 out. 2013 – com adaptações.

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b) REESCREVA essas palavras corretamente na tabela a seguir.

6) Leia o texto abaixo. Em seguida, complete as palavras com as letras adequadas, de


acordo com a ortografia oficial.

Animais no espaço
Os ru ___os já u___aram cachorros em suas e___periên___ias. Eles têm o
sistema cardíaco parecido com o dos seres humanos. Estudando o que acontece com
eles, os cientistas descobrem quais problemas podem acontecer com as pe___oas.
A cadela Laika, tripulante da Sputnik-2, foi o primeiro ser vivo a ir ao espaço, em
novembro de 1957, quatro anos antes do primeiro homem, o astrona___ta Gagarin.
Os norte-americanos gostam de fazer e___periên___ias científicas espaciais com
macacos, pois o corpo deles se parece com o humano. O chimpan__é é o pref___rido
porque é inteli___ente e convive melhor com o homem do que as outras espé___ies
de macacos. Ele aprende a comer alimentos ___intéticos e não se incomoda com a
roupa espacia___.
Além disso, os macacos são treinados e podem fazer tarefas a bordo, como
a___ionar os comandos das naves, quando as lu___es coloridas a___endem no painel,
por e___emplo.
Enos foi o mais famo___o macaco a viajar para o espaço, em novembro de 1961,
a bordo da nave Mercury/Atlas 5. A nave de Enos teve problemas, mas ele voltou são e
a sa___vo, depois de ter trabalhado direitinho. Seu único erro foi ter comido muito
depre___a as pasti____as de banana durante as refei___ões.
Disponível em http://provasdeportugues.blogspot.com.br/2013/09/avaliacao-de-portugues-
ensino-medio.html#!/2013/09/avaliacao-de-portugues-ensino-medio.html Acesso em 20 out. 2013 –
com adaptações.

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Avaliação

Caro(a) aluno(a),

Agora que você estudou as seis aulas deste bimestre, está preparado para testar
os conhecimentos adquiridos ao longo destas quatro semanas! A seguir, você deverá
responder às questões propostas. Elas foram formuladas de acordo com as habilidades
trabalhadas neste caderno. Bom trabalho e boa prova!

Você vai ler um fragmento do capítulo XIX de O Cortiço, em que o narrador conta
como Bertoleza percebeu o esforço de João Romão para ascender socialmente. Após,
responda às questões de 1 a 5.

... Era isto justamente o que, tanto o Barão como o Botelho, morriam por que lhe
dissessem. Sim, porque aquela boa casa que se estava fazendo, e os ricos móveis
encomendados, e mais as pratas e as porcelanas que haviam de vir, não seriam
decerto para os beiços da negra velha! Conservá-la ia como criada? Impossível! Todo
Botafogo sabia que eles até aí fizeram vida comum!
Todavia, tanto o Miranda, como o outro, não se animavam a abrir o bico a esse
respeito com o vizinho e contentavam-se em boquejar entre si misteriosamente,
palpitando ambos por ver a saída que o vendeiro acharia para semelhante situação.
Maldita preta dos diabos! Era ela o único defeito, o senão de um homem tão
importante e tão digno.
Agora, não se passava um domingo sem que o amigo de Bertoleza fosse jantar à
casa do Miranda. Iam juntos ao teatro. João Romão dava o braço à Zulmira, e,
procurando galanteá-la e mais ao resto da família, desfazia-se em obséquios brutais e
dispendiosos, com uma franqueza exagerada que não olhava gastos. Se tinham de
tomar alguma coisa, ele fazia vir logo três, quatro garrafas ao mesmo tempo, pedindo
sempre o triplo do necessário e acumulando compras inúteis de doces, flores e tudo o
que aparecia. Nos leilões das festas de arraial era tão feroz a sua febre de obsequiar a
gente do Miranda, que nunca voltava para casa sem um homem atrás, carregado com
os mimos que o vendeiro arrematava.
E Bertoleza bem que compreendia tudo isso e bem que estranhava a
transformação do amigo. Ele ultimamente mal se chegava para ela e, quando o fazia,

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era com tal repugnância, que antes não o fizesse. A desgraçada muita vez sentia-lhe
cheiro de outras mulheres, perfumes de cocotes estrangeiras e chorava em segredo,
sem ânimo de reclamar os seus direitos. Na sua obscura condição de animal de
trabalho, já não era amor o que a mísera desejava, era somente confiança no amparo
da sua velhice quando de todo lhe faltassem as forças para ganhar a vida. E
contentava- se em suspirar no meio de grandes silêncios durante o serviço de todo o
dia, covarde e resignada, como seus pais que a deixaram nascer e crescer no cativeiro.
Escondia-se de todos, mesmo da gentalha do frege e da estalagem, envergonhada de
si própria, amaldiçoando-se por ser quem era, triste de sentir-se a mancha negra, a
indecorosa nódoa daquela prosperidade brilhante e clara.
E, no entanto, adorava o amigo, tinha por ele o fanatismo irracional das caboclas
do Amazonas pelo branco a que se escravizam, dessas que morrem de ciúmes, mas
que também são capazes de matar-se para poupar ao seu ídolo a vergonha do seu
amor. O que custava aquele homem consentir que ela, uma vez por outra, se chegasse
para junto dele? Todo o dono, nos momentos de bom humor, afaga o seu cão... Mas
qual! o destino de Bertoleza fazia-se cada vez mais estrito e mais sombrio; pouco a
pouco deixara totalmente de ser a amante do vendeiro, para ficar sendo só uma sua
escrava. Como sempre, era a primeira a erguer-se e a última a deitar-se; de manhã
escamando peixe, à noite vendendo-o à porta, para descansar da trabalheira grossa
das horas de sol; sempre sem domingo nem dia santo, sem tempo para cuidar de si,
feia, gasta, imunda, repugnante, com o coração eternamente emprenhado de
desgostos que nunca vinham à luz. Afinal, convencendo-se de que ela, sem ter ainda
morrido, já não vivia para ninguém, nem tampouco para si, desabou num fundo
entorpecimento apático, estagnado como um charco podre que causa nojo. Fizera-se
áspera, desconfiada, sobrolho carrancudo, uma linha dura de um canto ao outro da
boca. E durante dias inteiros, sem interromper o serviço, que ela fazia agora
automaticamente, por um hábito de muitos anos, gesticulava e mexia com os lábios,
monologando sem pronunciar as palavras. Parecia indiferente a tudo, a tudo que a
cercava...
Disponível em http://www.lunaeamigos.com.br/fragmentos/fragmentos8.htm Acesso em 16 out. 2013.

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1) Releia com atenção o fragmento a seguir.

“Sim, porque aquela boa casa que se estava fazendo, e os ricos móveis
encomendados, e mais as pratas e as porcelanas que haviam de vir, não seriam
decerto para os beiços da negra velha! Conservá-la ia como criada? Impossível! Todo
Botafogo sabia que eles até aí fizeram vida comum!”

A partir da leitura do texto, pode-se deduzir que


a) João Romão e Bertoleza foram amantes durante anos.
b) João Romão e Bertoleza conheciam-se desde muito jovens.
c) João Romão havia comprado Bertoleza de seu antigo dono.
d) João Romão havia contratado Bertoleza para ser sua criada.

2) Assinale a alternativa que apresenta um exemplo de discurso indireto livre.


a) “João Romão dava o braço à Zulmira, e, procurando galanteá-la e mais ao resto da
família (...)”
b) “Maldita preta dos diabos! Era ela o único defeito, o senão de um homem tão
importante e tão digno.”
c) “A desgraçada muita vez sentia-lhe cheiro de outras mulheres, perfumes de cocotes
estrangeiras e chorava em segredo (...)”
d) “(...) tanto o Miranda, como o outro, não se animavam a abrir o bico a esse respeito
com o vizinho e contentavam-se em boquejar entre si misteriosamente (...)”

3) Releia a passagem a seguir:


“Nos leilões das festas de arraial era tão feroz a sua febre de obsequiar a gente
do Miranda, que nunca voltava para casa sem um homem atrás, carregado com os
mimos que o vendeiro arrematava.”

Nesse fragmento, os termos obsequiar e arrematava, significam,


respectivamente,
a) oferecer e concluía.

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b) presentear e acabava.
c) agradar e adquiria.
d) cortejar e completava.

4) Das passagem a seguir, qual a única que NÃO apresenta uma descrição subjetiva da
personagem Bertoleza?
a) “(...) feia, gasta, imunda, repugnante, com o coração eternamente emprenhado de
desgostos (...)”
b) “Fizera-se áspera, desconfiada, sobrolho carrancudo, uma linha dura de um canto ao
outro da boca.”
c) “(...) sem interromper o serviço (...) gesticulava e mexia com os lábios, monologando
sem pronunciar as palavras.”
d) “E contentava- se em suspirar no meio de grandes silêncios durante o serviço de todo
o dia, covarde e resignada (...)”

5) Observe os dois fragmentos a seguir:

I – “Como sempre, era a primeira a erguer-se e a última a deitar-se; de manhã


escamando peixe (...)”
II – “(...) desabou num fundo entorpecimento apático, estagnado como um charco
podre que causa nojo (...)”

Nesses trechos, pode-se verificar, respectivamente, a presença das figuras de linguagem


a) hipérbole e metáfora.
b) antítese e comparação.
c) onomatopeia e gradação.
d) metonímia e personificação.

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Pesquisa

Neste caderno, você conheceu um pouco sobre outro importante romance da


literatura brasileira, “O cortiço”, de Aluísio Azevedo, publicado em 1890. As
personagens principais são os moradores de um cortiço no Rio de Janeiro, precursor
das favelas, onde moram os excluídos, os humildes, todos aqueles que não se
misturavam com a burguesia e, todos eles, possuindo os seus problemas e vícios,
decorrentes do meio em que vivem. O autor descreve em 23 capítulos a sociedade
brasileira da época, formada pelos portugueses, os burgueses, os negros e os mulatos,
pessoas querendo mais e mais dinheiro e poder, pensando somente em si, ao mesmo
tempo em que presenciam a miséria, ou mesmo a simplicidade de outros.
Vamos reler um fragmento do capítulo XIX e outro do capítulo XXIII. Nessas
passagens, você perceberá como a personagem Bertoleza é desprezada por João
Romão, depois de passar anos trabalhando para enriquecê-lo.

Texto 1 – Capítulo XIX


“E Bertoleza bem que compreendia tudo isso e bem que estranhava a
transformação do amigo. Ele ultimamente mal se chegava para ela e, quando o fazia,
era com tal repugnância, que antes não o fizesse. A desgraçada muita vez sentia-lhe
cheiro de outras mulheres, perfumes de cocotes estrangeiras e chorava em segredo,
sem ânimo de reclamar os seus direitos. Na sua obscura condição de animal de
trabalho, já não era amor o que a mísera desejava, era somente confiança no amparo
da sua velhice quando de todo lhe faltassem as forças para ganhar a vida. E
contentava- se em suspirar no meio de grandes silêncios durante o serviço de todo o
dia, covarde e resignada, como seus pais que a deixaram nascer e crescer no cativeiro.
Escondia se de todos, mesmo da gentalha do frege e da estalagem, envergonhada de si
própria, amaldiçoando-se por ser quem era, triste de sentir-se a mancha negra, a
indecorosa nódoa daquela prosperidade brilhante e clara.”
Disponível em http://www.lunaeamigos.com.br/fragmentos/fragmentos8.htm Acesso em 16 out. 2013.

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Texto 2 – Capítulo XXIII
“[Bertoleza] Reconheceu logo o filho mais velho do seu primitivo senhor, e um
calafrio percorreu-lhe o corpo. Num relance de grande perigo compreendeu a
situação; adivinhou tudo com a lucidez de quem se vê perdido para sempre: adivinhou
que tinha sido enganada; que a sua carta de alforria era uma mentira, e que o seu
amante, não tendo coragem para matá-la, restituía-a ao cativeiro.
Seu primeiro impulso foi de fugir. Mal, porém, circunvagou os olhos em torno de
si, procurando escapula, o senhor adiantou se dela e segurou lhe o ombro.
— É esta! disse aos soldados que, com um gesto, intimaram a desgraçada a
segui-los. — Prendam-na! É escrava minha!
A negra, imóvel, cercada de escamas e tripas de peixe, com uma das mãos
espalmada no chão e com a outra segurando a faca de cozinha, olhou aterrada para
eles, sem pestanejar.
Os policiais, vendo que ela se não despachava, desembainharam os sabres.
Bertoleza então, erguendo se com ímpeto de anta bravia, recuou de um salto e, antes
que alguém conseguisse alcançá-la, já de um só golpe certeiro e fundo rasgara o ventre
de lado a lado.
E depois embarcou para a frente, rugindo e esfocinhando moribunda numa
lameira de sangue.”
Disponível em http://www.lunaeamigos.com.br/fragmentos/fragmentos8.htm Acesso em 16 out. 2013.

Nesses fragmentos, fica evidente uma questão sociocultural recorrente na


história do Brasil, que é a exploração, preconceito e a discriminação sofridos pelo povo
negro que muito contribuiu para a construção da sociedade brasileira.
Você sabe que os povos africanos trouxeram diversas contribuições para a
cultura e formação do povo brasileiro, uma vez que influenciaram a língua, a música, a
dança, a culinária, a religião, entre outros.
De posse dessas informações, você deverá realizar uma pesquisa, dividida em
duas etapas, que poderá ser realizada em duplas ou em grupos:

ETAPA 1: Entreviste uma pessoa de descendência africana. É recomendável que essa


pessoa tenha 40 anos de idade ou mais. Procure investigar as seguintes questões:

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Você vê alguma diferença de tratamento em relação aos negros, considerando
o período de 20, 30 anos atrás em relação aos dias atuais? O que mudou?
Mudou para melhor?
Você já sofreu algum tipo de discriminação? Relate alguma situação.
Você acha que mesmo existindo a lei que pune o racismo, as pessoas ainda
continuam discriminando os negros?
Na sua opinião, existe ou não discriminação no Brasil?

Você poderá fazer outras perguntas que achar interessantes. A partir das
informações fornecidas pelo entrevistado, organize-as em um texto em que você
apresente a pessoa entrevistada (se ela consentir, é claro!) e exponha as informações
colhidas. Leia seu texto para seu (sua) professor(a) e colegas.

ETAPA 2: Pesquise na internet ou em outras fontes a participação do negro na cultura


e sociedade brasileiras. Faça um painel com fotos de algumas personalidades
brasileiras que venceram o preconceito e adquiram respeito e reconhecimento social.
Abaixo de cada foto, dê as principais informações sobre sua contribuição social,
cultural ou política. Eis algumas sugestões:
Taís Araújo, Lázaro Ramos (atores);
Joaquim Barbosa (ministro do Ministro do Supremo Tribunal Federal);
Benedita da Silva (deputada federal);
Edson Arantes do Nascimento – Pelé (jogador de futebol);
Adbias do Nascimento (militante político, ator, poeta);
Aleijadinho (escultor mineiro);
Zumbi dos Palmares; (ícone da resistência negra à escravidão)
Juliano Moreira (médico psiquiatra);
Lima Barreto, Machado de Assis (romancistas);
Pixinguinha, Cartola (compositores);

Caro aluno, esperamos que após o estudo de alguns fragmentos do romance “O


cortiço” você tenha se interessado pela leitura integral da obra. Acesse o link
http://stat.correioweb.com.br/arquivos/educacao/arquivos/AlusioAzevedo-
OCortio0.pdf e leia esse grande clássico da literatura brasileira.

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Referências

[1] ABAURRE, Maria Luiza M.; ABAURRE, Maria Bernadete M.; PONTARA, Marcela.
Português: contexto, interlocução e sentido. São Paulo: Moderna, 2010. 2º vol., p.
174-230.
[2] BAGNO, Marcos. Português ou brasileiro? São Paulo: Parábola, 2001.
[3] Brasil, Ministério da Educação. PDE: Plano de Desenvolvimento da educação:
SAEB: ensino médio: matrizes de referência, tópicos e descritores. Brasília: MEC,
SAEB; Inep, 2008.
[4] CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Português: linguagens. V.
2, ensino médio. 7. ed. ref. São Paulo: Saraiva, 2010.
[5] GANCHO, Candida Vilares. Como analisar narrativas. São Paulo: Ática, 2006.
[6] ILARI, Rodolfo. Introdução à semântica: brincando com a gramática. 5 ed. São
Paulo: Contexto, 2004.
[7] KOCH, Ingedore. Ler e compreender os sentidos do texto. São Paulo: Contexto,
2006.
[8] MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão.
3. ed. São Paulo: Parábola, 2008, p. 233.
[9] (Org.) Editora Moderna. Projeto Araribá. Português 7ª série. São Paulo: Ed.
Moderna, 2006.
[10] PLATÃO, Francisco; FIORIN, José Luiz. Para entender o texto: leitura e redação.
10. ed. São Paulo: Ática, 1995.
[11] Rio de Janeiro. Secretaria de Estado de Educação. Orientações Pedagógicas para o
9º ano do Ensino Fundamental – 1º e 2º ciclos do 4º bimestre. Rio de Janeiro, 2013.
[12] Rio de Janeiro. Secretaria de Estado de Educação. Roteiro de Atividades para o 9º
ano do Ensino Fundamental – 1º e 2º ciclos do 4º bimestre. Rio de Janeiro, 2013.

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SITES PESQUISADOS:

http://www.lunaeamigos.com.br/fragmentos/fragmentos8.htm Acesso em 16 out.


2013.

http://stat.correioweb.com.br/arquivos/educacao/arquivos/AlusioAzevedo-
OCortio0.pdf

http://provasdeportugues.blogspot.com.br/2013/09/avaliacao-de-portugues-ensino-
medio.html#!/2013/09/avaliacao-de-portugues-ensino-medio.html Acesso em 20 out.
2013.

http://valdinere123.blogspot.com.br/2011/05/o-teatro-da-etiqueta-no-seculo-xv.html
Acesso em 20 out. 2013

http://portuguesatualblog.blogspot.com.br/2010/07/dificuldades-ortograficas-
emprego-de-s.html Acesso em 20 out. 2013.

http://www.escolakids.com/uso-do-dicionario.htm Acesso em 19 out. 2013.

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Equipe de Elaboração

Diretoria de Articulação Curricular

Adriana Tavares Maurício Lessa

Coordenação de Áreas do Conhecimento

Bianca Neuberger Leda


Raquel Costa da Silva Nascimento
Fabiano Farias de Souza
Peterson Soares da Silva
Ivete Silva de Oliveira
Marília Silva

PROFESSORES ELABORADORES

Aline Barcellos Lopes Plácido


Andréia Alves Monteiro de Castro
Anna Carolina C. Avelheda
Flávia dos Santos Silva
Gisele Heffner
Leandro Nascimento Cristino
Lívia Cristina Pereira de Souza
Tatiana Jardim Gonçalves

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