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Manual de Radiodocumentário PDF
Manual de Radiodocumentário PDF
MANUAL DE RADIODOCUMENTÁRIO
PRODUÇÃO: MÁRCIA DETONI
Este manual foi produzido exclusivamente para orientação dos alunos do curso de
Radiojornalismo II da Universidade Mackenzie a partir de experiências pessoais e de
várias fontes internacionais. Não deve ser utilizado ou reproduzido, mesmo com menção
à fonte, fora da referida disciplina.
O que é um documentário?
Cambridge Dictionary: “filme ou programa de rádio ou TV que oferece informação
factual sobre um tema”.
Novo Aurélio: “(...)2. filme, em geral de curta metragem, que registra, interpreta e
comenta um fato, um ambiente, ou determinada situação.”
Dicionário Houaiss: “(...)2. CINE TV filme informativo e/ou didático feito sobre pessoas
(geralmente de conhecimento público), animais, acontecimentos (históricos, políticos,
culturais etc.) ou ainda sobre objetos, emoções, pensamentos, culturas diversas etc...”
Definição da UNESCO:
- Por cerca de quatro décadas, os produtores usaram narradores para contar histórias, ilustradas
com música, efeitos sonoros, e atores.
- As revoluções sociais e acadêmicas dos anos 60 e 70 fizeram com que a fórmula soasse
ultrapassada. A voz solene narrando protestos pacifistas e feministas soava completamente fora
da realidade.
- Com EUA e Europa substituindo o consenso pelo pluralismo, as emissoras passaram a abrir o
microfone para mulheres, trabalhadores, negros e outras minorias.
- Quando a National Public Radio entra no ar, nos anos 70, o principal programa do novo sistema
de rádio não-comercial é apresentado por uma mulher. O forte da rede são os “sound pieces”
(peças sonoras), nos quais as pessoas contavam suas próprias histórias.
- A mudança foi possível graças aos novos gravadores de fitas analógicas K-7, portáteis, baratos
e com boa qualidade de som, que facilitaram as gravações em campo.
- Nos anos 80 e 90 surgem os “sound artists” ou “radio artists”, que passam a produzir peças
sonoras só com sons ambientais, sem usar a voz.
1. Documentários jornalísticos
Podem examinar apenas um aspecto desses temas ou tentar, de forma mais ampla,
examinar como eles afetam a sociedade.
Podem ainda retratar apenas uma única pessoa, um evento ou uma atividade (uma
descoberta científica, a construção do avião Concorde, a vida de uma celebridade, o
trabalho de uma determinada fábrica, grupo teatral ou escola).
- O objetivo é abordar as questões com mais profundidade que o noticiário. Vai além das
manchetes. EXPLICA o que está acontecendo e ABRE UMA JANELA PARA O MUNDO.
2. Documentários históricos
3. Documentários culturais
- Têm como tema as artes em geral, permitindo um uso maior de música, poesia e
drama.
1. Observacional
3. Autoral
São histórias contadas através dos sons: o som da voz humana, das atividades
humanas e da música. Ambos visam a informar e entreter. A diferença básica está na
seleção e tratamento do material usado.
Documentário
Feature (Especial)
Um especial pode incluir música, poesia e ficção para ajudar a ilustrar o tema.
A distinção nem sempre é fácil por causa dos híbridos (documentários “especiais”,
semidocumentários, dramadocumentários), que usam todas as técnicas sonoras e
narrativas disponíveis.
5. Planejamento e Produção de Documentários
Idéia inicial
Tudo pode virar um documentário, desde assuntos quentes na mídia até pautas do
cotidiano. As possibilidades estão em todas as partes: nas notícias dos jornais, nas
esquinas das cidades, no dia-a-dia do próprio produtor.
Planejamento
Após a idéia inicial, a primeira coisa que o produtor deve fazer é responder a duas
perguntas:
Não há uma técnica única e infalível de planejamento. Cada produtor segue seu próprio
método. Mas é fundamental fazer uma boa pesquisa sobre o tema e anotar os tópicos
que devem entrar no documentário:
- locais de gravação
- sons ambientais
- possibilidades de música.
Com base nesse roteiro é que vamos decidir quais técnicas usar para contar a história.
O planejamento e a pesquisa também ajudam a definir melhor o ângulo. Podemos, por
exemplo, escolher contar a história tendo como fio condutor “um dia no parque” (da
abertura ao fechamento dos portões) ou “um domingo no parque”.
Título: geralmente é decidido após a realização do documentário (pode, inclusive, sair de uma
frase de um entrevistado)
Objetivo:
- Mostrar como é o parque, atrações que oferece ao público, como ele contribui para a qualidade
de vida das pessoas.
- Incentivar o ouvinte urbano a ver os parques como alternativas prazerosas de lazer e de contato
com a natureza e não apenas como espaços que enfeitam a cidade.
Duração: 15 minutos
Conteúdo do documentário:
Tópicos-chave:
Entrevistados:
- Administradores/
- Público: os que caminham, correm, tomam sol, fazem ginástica, jogam, andam de bicicleta,
patins e skate, levam crianças, idosos e cães para passear.
Sons:
Após a pesquisa sobre o tema (entrevista com a administração do parque para obter
dados e checar pontos fortes) teremos condições de decidir melhor que técnicas
usaremos para contar a história.
A escolha do formato deve levar em conta o material obtido, a melhor forma de passar a
mensagem e o tipo de público que se quer atingir.
Dica: O narrador deve sempre ligar e nunca interromper. Não há necessidade de usar a
voz do narrador entre cada entrevistado.
- “Eu corro aqui todos os dias há 15 anos... Sou bancário, tenho uma vida sedentária e
preciso me exercitar...”
- “Eu trabalho numa metalúrgica, mas vendo picolé nos domingos aqui no parque há dez
anos..”.
Não deixe escapar nenhum barulho. Grave todos os tipos de sonoridade: telefone
tocando, cães latindo, relógios badalando, portas abrindo ou batendo, crianças
brincando, máquinas em operação, trânsito, buzinas, helicópteros, aviões, trens, sinos de
igreja, água correndo, mensagens de telefone, pessoas cantando ou tocando
instrumentos.
Peça para que cantem para você. Grave sistemas de rádio, sirenes da polícia ou de
ambulâncias, o cantar dos pássaros, ondas, cachoeiras, torcidas de futebol, protestos de
rua, programas de rádio e TV, noticiário.
Todos esses sons são muito importantes para ajudar na ambientação e quebrar a rigidez
de textos longos. São eles que enriquecem os documentário ou reportagens. As palavras
podem dizer muito mas são os sons que transportam o ouvinte para o local do fato.
Essa técnica é indicada quando o entrevistado tem uma relação com o local em que
está, como uma família que vai falar sobre seu cotidiano.
Sempre tente gravar o som daquilo que as pessoas fazem. Se você não estivesse lá, o
que elas estariam fazendo? Ouvindo rádio ou TV? Operando algum equipamento?
Lavando roupa? Dando aula?
Não esqueça de gravar pelo menos um minuto do som da sala onde você fez a
entrevista. Será muito útil na mixagem.
Peça ajuda
Quando marcar a entrevista, mencione que você estará gravando também som
ambiente. Isso fará com que o entrevistado comece a pensar em termos de sons.
Quando você chegar, pergunte novamente: “Que sons eu poderia gravar aqui?
- Um trecho ou uma frase de uma canção também podem servir de gancho para o
comentário inicial do narrador. Exemplo:
O programa soa mais verdadeiro se a atmosfera for criada com sons e situações
verdadeiras.
Nos especiais, a música é um elemento forte de ambientação. Uma boa música anima e
dá vida às vozes e textos.
Dicas para uma boa entrevista
Seja positivo e confiante. Pressuponha que a pessoa em questão queira falar com você.
A forma como as pessoas respondem depende da forma como você as aborda. O
segredo é fazer com que elas perceberem a importância do seu projeto.
Diga para que programa ou projeto você está fazendo a entrevista e deixe claro que tudo
pode ser e será editado. Esclareça qual é o objetivo do documentário, o ângulo
abordado, as implicações de uma exposição no rádio.
Com um “código de conduta” firmado, o entrevistado se sentirá mais seguro para falar e
terá mais confiança em você.
Mova cadeiras para que você fique perto do entrevistado. Sente-se na ponta da mesa e
não do outro lado dela. Assim, o microfone ficará próximo do entrevistado e o braço não
fraquejará.
5. Evite ruídos indesejados
Se a entrevista for importante e você quiser gravá-la em local silencioso, tente conversar
com o entrevistado em um quarto ou numa sala com tapete e cortinas. Não deixe a
entrevista ser prejudicada pelo ruído de lâmpadas florescentes, ar-condicionado,
telefones, rádio, TV e geladeira ou pelo som do trânsito e do vento. Os ruídos podem
desviar a atenção do ouvinte e dificultar a edição. Algumas vezes, queremos o som
ambiente, mas é melhor gravar separadamente para mixar mais tarde.
Se barulho é exatamente o que você quer, coloque o microfone bem perto da sua boca
ou da boca do entrevistado para que a voz fique clara.
Lembre o entrevistado que ele pode errar e repetir a fala e que o material será editado
mais tarde. Aja de forma natural em relação ao microfone. Segure-o, inicialmente, de
maneira displicente. Você pode encostá-lo no queixo (para mostrar que não morde!).
Ligue o gravador sem formalidade e faça algum comentário sobre o tempo ou sobre o
equipamento. Só depois coloque o microfone na posição para gravar. Isso evita o
constrangedor “Ok. Vamos gravar”, aliviando a tensão.
Não esqueça de olhar nos olhos do entrevistado. Faça a entrevista como se estivesse
conversando normalmente com ele. Não deixe o microfone ser o centro das atenções.
10. Faça uma lista de perguntas, mas não fique preso a ela
Deixe a lista a mão para, no final da entrevista, checar se todos os pontos importantes
foram abordados.
Seja objetivo e elabore perguntas que exijam respostas mais longas que um sim ou não.
Em vez de perguntar, por exemplo, “João da Silva era um bom patrão?”, pergunte “O que
os funcionários achavam de João da Silva como patrão?”
Como você vê (o mundo, a vida, a cidade..) desde que aconteceu ( o acidente, o assalto,
a demissão)? O que você sente quando passa pelo local?
15. Não se preocupe em construir frases perfeitas
A menos que sua intenção seja interagir com o entrevistado, não dê risadas altas ou diga
“uh-hun” durante a entrevista porque você não conseguirá editar esses trechos. A sua
presença no tape elimina a sensação de que o entrevistado está se comunicando
diretamente com o ouvinte. Deixe o entrevistado saber que você está acompanhando o
que ele diz balançando a cabeça ou através do contato do olhar.
Termine a entrevista num tempo razoável. Uma hora e meia é o máximo. Depois disso,
tanto você quanto o entrevistado estarão cansados.
Logo após a entrevista, faça anotações específicas sobre o que você viu e sentiu. Anote
a forma como as pessoas estavam vestidas e outros detalhes que poderão ajudar no
script.
Para fazer com que a pessoa repita um resposta ou fale com mais entusiasmo pergunte:
É difícil para os entrevistados descreverem pessoas. Uma forma fácil de começar é pedir
a eles que descrevam a aparência da pessoa em questão. A partir daí é mais provável
que o entrevistado passe a descrever a personalidade.
Por exemplo, ao perguntar sobre uma pessoa, não comece com uma descrição muito
positiva:
“Sei que o prefeito era uma pessoa muito generosa e inteligente. Você achava
isso dele?”
Poucos entrevistados vão contestar uma declaração dessas mesmo que eles não
gostem do prefeito. Você terá uma resposta mais forte se salientar algum aspecto
negativo:
“Apesar de o prefeito ter uma boa reputação pelo trabalho que desenvolveu, ouvi
dizer que ele era um homem de temperamento difícil”...
Se o entrevistado admira muito o prefeito, ele sairá em defesa dele dizendo por que a
afirmação que você fez está equivocada. Se ele achava o prefeito uma figura difícil, sua
pergunta dará a ele a chance de comentar algumas das características desagradáveis do
prefeito.
RECONSTITUINDO A HISTÓRIA.......
27. Tente estabelecer em cada ponto importante da história onde o entrevistado estava e
qual era o seu papel no evento para identificar o quanto a informação é testemunhal ou
se baseia no depoimento de outros.
Faça isso com cautela para não parecer que você está duvidando do depoimento.
28. Não questione relatos que você acha que podem ser incorretos. Em vez disso, tente
obter o maior número possível de informações para descobrir, depois, o que realmente
ocorreu. O entrevistado pode estar contando corretamente o que ELE viu.
Pesquisadores que falaram com sobreviventes do Titanic dizem que cada senhora
entrevistada dizia estar no último bote que deixou o navio. Mais tarde, estudando o local
onde estavam os botes, os pesquisadores perceberam que os passageiros não
conseguiam ver os outros botes, o que fez com que acreditassem que estavam no último
deles.
29. Diga, com tato, ao entrevistado que há uma versão diferente da que ele está
contando: “ Eu ouvi.... ou eu li que...”. Isso não é para questionar o relato do entrevistado,
mas para dar a oportunidade a ele de trazer outras evidências que rebatam a versão
oposta ou para esclarecer por que aquela versão surgiu.
Além da entrevista sentada, peça que o entrevistado lhe mostre, por exemplo, o álbum
de fotos da família ou o funcionamento de uma determinada máquina. Gravar uma
entrevista em movimento funciona muito bem e ajuda o entrevistado a relaxar. Peça que
o entrevistado mostre o local onde vocês estão, descrevendo o ambiente, o que vocês
estão vendo, o que está acontecendo. Isso faz com que o ouvinte se sinta mais próximo
do local e reforça a sensação de ação e imediatismo.
Para ouvir a opinião do público vá onde as pessoas estão esperando: ponto de ônibus,
frente de escolas, filas longas etc.... É mais fácil aborda-las quando estão paradas.
Para fazer com que as pessoas falem de maneira aberta e honesta você precisa de uma
coisa muito simples, mas fundamental: sentir uma curiosidade verdadeira pelo mundo
que o cerca.
Repasse a história com o entrevistado. Ambos têm de concordar sobre como a história
será contada. É comum o entrevistado e o entrevistador terem prioridades e expectativas
diferentes. Peça que o entrevistado conte o fato de forma abreviada. Isso também fará
com que ele se sinta mais confortável porque já sabe o que tem de contar.
Existe uma crença de que a primeira versão é mais espontânea. Mas a experiência
mostra que isso não é verdade. Uma boa história é uma boa história e pode ser contada
muitas vezes.
Como não há links, o entrevistado precisa apresentar-se, dizer quem é, o que faz, qual a
sua relação com a história. As respostas devem incluir todas as informações
necessárias e deixar claro quem está falando.
Ex: “O que o senhor achou da decisão? Como advogado da vítima, eu achei que.....”
“Imagine que você voltou no tempo e está naquele lugar onde tudo começou. O que você
sente, vê, pensa...?
“O plano era jogar uma granada no primeiro carro da polícia que chegasse na ponte. Eu
decidi me esconder atrás de uma pilastra e jogar a granada de lá”.
Insista para que ele traga algumas imagens e movimentos para a primeira cena.
Colocando o entrevistado novamente naquela situação você também consegue
transportar o ouvinte para aquela realidade.
“Eu estava parado atrás de uma pilastra da ponte. Comecei a ouvir o barulho dos carros
do Exército se aproximando. Havia fumaça no ar. Eu ainda não estava certo de qual era o
melhor momento para jogar a granada contra o comboio. A velha ponte começou a
tremer...”
Você também pode decidir contar a história no presente para dar maior impacto a
narrativa:
“Estou parado atrás de uma pilastra da ponte. Posso ouvir o barulho dos carros do
Exército se aproximando. Há fumaça no ar. Ainda não estou certo de qual é o melhor
momento para jogar a granada contra o comboio. A velha ponte começa a tremer....”
Se você escolher contar a história no presente, terá de ficar de ouvidos muito atentos
principalmente nos primeiros 15 ou 20 minutos da entrevista até que o entrevistado se
acostume com a forma.
O presente e passado podem ser usados conjuntamente para contar a história. Você
pode escolher o presente para destacar certas cenas e contar o resto no passado.
Seu papel como entrevistador é cuidar para que toda a história seja contada. Você
conseguir registrar todas as cenas de forma clara e com todos os detalhes importantes?
Todas as cenas estão na ordem correta, permitindo que as pessoas entendam o que
aconteceu?
Uma entrevista como essa geralmente é feita em duas ou mais etapas. Às vezes, o
entrevistado não lembra de tudo no primeiro dia, mas a entrevista acaba reavivando a
memória.
Se a entrevista for feita com cuidado, você terá todos os elementos necessários para
recriar o fato, cena por cena. Você poderá, inclusive, editar o material, dando maior
impacto as falas sem alterar o contexto:
“Há fumaça no ar. Minhas pernas estão tremendo. Posso ouvir o barulho dos carros do
Exército se aproximando...”
Diferentes cenas podem ser combinadas em ordem diferentes para tornar a narrativa
mais interessante. Ou duas pessoas podem contar a mesma história, de forma
intercalada, a partir de pontos de vista diferentes:
• Sempre use fones de ouvido durante a gravação. Com o fone de ouvido, você
terá a noção exata da qualidade do que está sendo gravado. Se alguma coisa não soar
bem, pare e detecte o problema. Os problemas mais comuns são “pops”, vento e o
barulho feito pelo cabo do microfone. Mas também podem ocorrer interferências de
equipamentos e rádios. Prenda o cabo na mão e não o deixe balançando contra o corpo.
Cheque se os cabos estão bem conectados. Use o corpo para proteger o microfone do
vento, ficando de costas contra ele.
• Preste atenção nos "P" pops. Se você ouvir "P" pops, mova o microfone um
pouco para o lado da boca do entrevistado, afastando-o da área central de projeção da
voz. Os pops ocorrem na área em frente ao centro da boca, mas são evitados com uma
leve inclinação do microfone para a lateral. (Faça um teste: diga a palavra "pop" com a
mão na frente da boca, depois mova a mão levemente para o lado enquanto diz a
palavra pop. Veja como o “p” desaparece rapidamente!)
• Cuidado com o botão da pausa. Sempre cheque para ver se a fita está
rodando. Se você estiver usando o fone de ouvido, pode ser enganado pelo botão da
pausa e achar que a entrevista está sendo gravada.
• Sempre tenha pelo menos um conjunto extra de pilhas e mais de uma fita ou
mini-disc à mão. Calcule uma fita de 90 minutos para cada entrevistado, já que uma
entrevista com mais de uma hora e meia é insuportável tanto para ele quanto para você.
• Coloque etiquetas nas fitas e as numere antes de começar a gravação. As
etiquetas evitam que, na pressa, você use fitas gravadas pensando serem novas. Depois
da gravação, marque todo o conteúdo conforme a sequência de entrevistas e sons.
Repetindo:
1.Transcreva as entrevistas
A única forma de lidar adequadamente com o material e não perder o foco é passar as
entrevistas para o papel. Não há necessidade de transcrever todas as palavras, mas faça
um roteiro com as idéias básicas. É mais fácil trabalhar com papel que com uma
montanha de tapes.
Azul – tratamento
A escolha final dos trechos da entrevista e a edição do material deve ser feita no
momento em que você escreve o script. É aí que você decide o que realmente entra, o
que precisa ser acrescentado ou alterado para dar movimento ao documentário.
4. Escreva para o ouvido.
Repare como você conta uma história a um amigo. Repare nas coisas que você diz e na
ordem em que diz. É assim que você deve escrever. Se houver alguma frase no script
que você não diria numa conversa informal, reescreva.
Evite frases longas, com muita pontuação. Procure usar a ordem direta e expressar um
mínimo de idéias em cada sentença.
Usar linguagem simples não significa escrever sem estilo, cor ou energia. O texto deve
ter vivacidade.
6. Evite o monólogo
- Intercale narração com sons e vozes. Use o som ambiente para fazer passagens
suaves do estúdio para a gravação.
- O depoimento do entrevistado também não deve ser muito longo, a menos que seja
animado o bastante para prender atenção do ouvinte (30” a 45” );
- Evite repetição: a chamada para o entrevistado não deve dizer o mesmo que ele.
Apenas introduza o assunto ou a pessoa;
- Selecione os trechos mais contundentes da entrevista e não esqueça que momentos de
humor descontraem e despertam o ouvinte;
- Em reportagens noticiosas, a música deve ser usada com parcimônia para não virar
poluição sonora e truncar a mensagem;
ABERTURA
1. Música – Tocar em torno de 10” a 15”. Pode desaparecer sob a voz ou ser mantida em
volume baixo para subir e descer, marcando intervalos;
3. Sons ambientais – o repórter pode estar dentro de um trem ou avião, numa escola,
numa igreja...
A falha mais comum dos documentários não está no conteúdo, mas na estrutura: falta de
identificação dos entrevistados, uso de uma voz ouvida anteriormente sem nova
identificação, uso inadequado de música, falta de contexto....
ENCERRAMENTO
- Não apresentar nenhuma conclusão, deixando que o ouvinte forme o seu próprio
parecer sobre o tema.
PONTOS PERIGOSOS!
Produtores americanos dizem, com base na própria experiência, que, num programa de
meia hora, há vários momentos em que a atenção da audiência tende a diminuir a menos
que algo novo e interessante aconteça no programa.
Para manter aceso o interesse dos ouvintes, eles recomendam o uso de música, novas
vozes ou novos sons e idéias nesses “pontos perigosos”.
SÉRIES
O importante é que cada programa tenha o seu próprio conteúdo e faça sentido
separadamente.
PROGRAMA 7 : SÉRVIA
DURAÇÃO: 14 minutos
FEVEREIRO 1994
NARRADOR (MÁRCIA): Nos restaurantes de Belgrado, uma minoria que ainda pode
pagar 50 dólares por uma refeição tenta esquecer a crise relembrando canções de uma
época em que a Iugoslávia era bem mais próspera. De todos os países comunistas do
leste europeu, a Iugoslávia era o que possuía o regime mais aberto. As pessoas tinham
liberdade para viajar e abrir pequenos negócios e um padrão de vida invejável, como
observa o economista Yuri Baiets, do Instituto de estudos econômicos de Belgrado.
NARRADOR (MÁRCIA) Uma das coisas que mais me impressionaram em Belgrado foi
a resignação dos sérvios. Apesar de todas as dificuldades econômicas não há qualquer
sinal de rebeldia contra o governo. Eu conversei sobre essa questão com o deputado da
oposição Vladeta Jankovic, vice-presidente do Partido Democrata da Sérvia.
O rádio é um excelente veículo para contarmos histórias. Mas nem todas as histórias
conseguem engajar o ouvinte e capturar a sua atenção.
As histórias que geram mais curiosidade são as que podem ser contadas numa
seqüência de ações.
Veja esse exemplo tirado do programa “This American Life”, produzido para a National
Public Radio, nos EUA:
Brett estava na plataforma do trem. Horário de pico. Estação lotada. Ele avista um
rapaz no final da plataforma. O rapaz caminha em sua direção parando, de pessoa
em pessoa, para dizer alguma coisa. É um rapaz bem vestido que parece estar
pedindo esmola. Ele chega cada vez mais perto. Vai de pessoa em pessoa,
dizendo rapidamente alguma coisa. Conforme ele se aproxima, Brett começa a
ouvir o que ele está dizendo...
A essa altura está todo mundo ligado. Por quê? A história não podia ser mais banal, mas
contém um elemento fundamental para o sucesso da narrativa:
Sempre que houver uma sequência de eventos – aconteceu isso, depois aquilo... –
vamos querer saber o que aconteceu depois.
Essa história banal consegui despertar uma curiosidade: O que o rapaz estava dizendo?
E o ouvinte provavelmente vai ficar ligado até descobrir .
... e o que ele está dizendo é: “Você fica. Você cai fora. Você pode ficar. Você tem
de ir”... Quando ele chega na frente de Brett, se aproxima e diz: “Você pode ficar”.
E Brett sente euforia! Não há outra palavra para descrever o que Brett sente.
Euforia!!! Ele sabe, no seu íntimo, que não tem motivo para se sentir assim. Mas,
no fundo de seu coração, o fato de o rapaz ter dito que ele podia ficar o deixou
realmente feliz! É que existe alguma coisa muito forte em relação ao julgamento
que os estranhos fazem da gente. Parece que, por serem estranhos, eles têm uma
outra visão, uma visão especial, de nós...
Depois da seqüência de fatos, vem uma reflexão. E essa reflexão sobre o significado da
seqüência de atos é outro elemento importante da narrativa.
“O Rádio é um meio peculiarmente didático. Não basta contar a história. Você tem de
explicar o que ela significa. Se a história de Brett não tivesse uma reflexão sobre o
julgamento dos outros não teria o mesmo efeito”. (IRA GLASS – produtor de “This
American Life”)