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Universidade de Brasília - UnB

Departamento de Gestão de Políticas Públicas - GPP

Fundamentos de Administração Pública - Turma A

Prof. Rosana Boullosa

Catarina Cardoso - 15/0032242

PENSATA 1

Texto: FISCHER, Tânia. Administração pública como área de conhecimento e ensino: a


trajetória brasileira. Revista de Administração de Empresas, v. 24, n. 4, p. 278-288, 1984.

O texto em estudo foi escolhido pelo meu objetivo em relação ao tema. Considero
relevante fazer um apanhado geral sobre a história do tema para em seguida focar em pontos
específicos e, lendo a introdução dos textos disponíveis para a análise, este se mostrou mais
propício ao entendimento holístico do assunto. Assim, escolhi analisar mais a fundo o texto
que foca na história da administração pública no Brasil, com esperança de conhecer melhor os
momentos históricos relevantes sobre o assunto e acredito que o texto atendeu minhas
expectativas, citando não apenas momentos, mas também figuras e instituições relevantes a
cada época, como a Dasp - instituição que foi fundamental para o estudo do assunto e que ao
longo da história foi reinventada e adaptou-se aos governos a qual foi necessária.

A intenção da autora ao escrever o texto fica bem clara quando a mesma afirma, logo
no início do artigo, que pretende apresentar a trajetória de desenvolvimento da administração
pública enquanto área de conhecimento. Ela considera esta uma tarefa difícil, dado a extensão
histórica, o grande número de documentos e o contato entre a administração pública e tantas
outras áreas do saber (p. 278). Nas palavras de Fischer:

“A intenção que se tem aqui, reconhecidas estas dificuldades e na impossibilidade de


se apresentar de forma mais objetiva o que se pretende, é fazer uma viagem pela história
deste ensino em nosso país, onde se pretende indicar que configurações ela foi
assumindo ao longo. Do tempo como disciplina ou campo de · conhecimento e matéria
de ensino” (FISCHER, 1984).

Sendo o texto uma revisão histórica, não acredito que a autora tenha exposto tanto suas
próprias ideias, mas sim feito um compilado de momentos, explicitando o porquê de sua
relevância para o tema.
O texto constrói-se, em primeiro momento, buscando definir como a administração
pública se encaixa enquanto disciplina, onde a autora prefere defini-la enquanto uma
interdisciplina, uma vez que a “permeabilidade em relação ao ambiente e a
multidisciplinaridade de contribuições teóricas de que alvo dificultam a aceitação da
administração como disciplina” (p. 279-280). Em seguida, trabalha-se as dimensões de
racionalidade, tão importante a coisa pública, por ser uma das bases para a burocracia.

A partir destas bases teóricas, a autora mostra como o desenvolvimento da


administração pública enquanto disciplina esteve associado a ascensão da própria racionalidade
enquanto princípio para o desenvolvimento do Estado, atrelado também ao autoritarismo. Sob
esta perspectiva de racionalização e modernização, aconteceram então investimento em escolas
focadas no aprimoramento da gestão e da eficiência da administração estatal, como uma
estratégia de desenvolvimento para o país, conforme exposto em:

“Caiden e Caravantes (1982), ao reexaminarem o conceito de desenvolvimento, dizem


que "a administração do desenvolvimento teve sua origem neste desejo dos países ricos
de auxiliar as nações pobres em seu desenvolvimento e, mais especialmente, nas
evidentes necessidades dos novos Estados de transformar suas burocracias do tipo
colonial em instrumentos de mudança social" (FISCHER, 1984).

Esta estratégia, porém, acabou sendo contestada, o que colocou em xeque também as bases do
ensino.
Por fim, debate-se também o declínio da administração como estratégia de
desenvolvimento. Segundo a autora:
“Entre as críticas recebidas quanto ao processo, destaquem-se as relativas ao
mecanismo de treinamento então utilizado, qual seja, o uso dos "agentes de reforma"
como difusores. Além de se terem treinado principalmente os escalões inferiores, o
treinamento recebido foi marcadamente comportamental, com poder restrito de decido,
além de atingir, notadamente, aqueles com pouco poder e ações nas organizações
públicas. Por outro lado, o uso extensivo de empresas consultoras para prestação de
assistência técnica à reforma trouxe contribuições muitas vezes não identificadas com
os valores reformistas.
Seria simplista atribuir-se as falhas da reforma apenas ao tratamento das
questões de pessoal, ao treinamento de agentes e à ação das consultoras. De fato, mais
uma vez se atrelava a reforma ao desenvolvimento do país, agora em uma ótica de
sistemas abertos. Novamente a racionalidade funcional faz parte da ideologia -
reformista, agora vinculada através de técnicas comportamentalistas” (FISCHER,
1984).

É colocado no texto que se pode questionar a administração pública enquanto disciplina


por falta de sua estabilidade. Mas, no atual momento em que vivemos, novos processos, mesmo
que instáveis, recebem atenção acadêmica pela sua relevância. Assim, um importante pilar para
o desenvolvimento da sociedade não pode ser descartado enquanto objeto de estudo pela sua
falta de delimitação, devendo ser cada vez mais explorado até que se conheçam seus limites.
Se coubesse a mim dar um conselho a autora, seria exatamente em relação a questão de não
focar em delimitar o que é uma disciplina, mas sim explorar mais o que pode ser estudado
enquanto administração pública. Outro conselho seria escrever uma atualização do texto e
estende-lo ao que se entende como administração pública na perspectiva da era digital, que
transformou a democracia por permitir mais espaços de debate público, colocando novas
demandas à tona.

Nesta perspectiva de participação popular, seria interessante analisar como se


encaixaria a necessidade de especialização do agente estatal para a formulação e condição das
políticas públicas, uma vez que muitos cidadãos civilmente ativos não possuem passagem pelas
instituições de ensino citadas no texto, mas possuem papel relevante para a condução do
Estado. Também seria relevante analisar como instituições do Estado, que deveriam se basear
na racionalidade e na legalidade, abriram espaço para condutas motivadas por ideologias e
propostas de governo.

Apesar de perceber a relevância da participação norte americana para o


desenvolvimento no do estudo sobre o tema no país, é necessário também levar em conta em
qual momento isso ocorreu e quais as intenções do investimento estrangeiro. Caso estivesse
dando um conselho a alguém que estivesse para ler este texto, escolheria focar em fomentar
um olhar mais crítico sobre essa questão e em como o momento histórico influenciou não
apenas o desenvolvimento do Estado, mas também como foram criadas as bases sobre o estudo
deste. Desta forma, a partir de uma visão crítica, é possível pensar novas perspectivas para o
estudo da administração pública enquanto disciplina. Acredito que este deve ser um dos pontos
de partida para a reconstrução da disciplina e que será debatido ao longo do curso.

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