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METALURGIA MECÂNICA

GRUPO DE ESTUDOS SOBRE FRATURA DE MATERIAIS


DEMET/EM/UFOP

Endurecimento por precipitação


Endurecimento por precipitação

1 – Introdução
2 – Interações discordâncias – precipitados
3 – Aços microligados
4 – Ligas de alumínio tratadas termicamente
5 – Fatores adicionais
6 – Efeitos da precipitação em outras propriedades
Introdução

A precipitação de uma segunda fase a partir de uma solução sólida


super-saturada é, na prática, uma técnica versátil e comum de
endurecimento.

O processo pode ser aplicado a uma série de sistemas. Para isto,


deve-se obedecer às seguintes regras:
a) formar uma solução sólida super-saturada a elevadas
temperaturas;
b) rejeitar um precipitado finamente disperso durante o
envelhecimento.
O tratamento de precipitação consiste nos seguintes estágios:

a) solubilização – envolve o aquecimento da liga até a região


monofásica, com manutenção durante um longo tempo, para
dissolução de qualquer precipitado.

b) têmpera – envolve o resfriamento rápido até a temperatura


ambiente (ou abaixo dela), de tal sorte a evitar a formação de
precipitados estáveis  obtem-se a solução sólida super-
saturada.

c) envelhecimento – este tratamento consiste em se manter o


material na temperatura ambiente (ou acima desta), para se obter
estruturas precipitadas bem finas.
O precipitado produzido pode ser:

a) coerente com a matriz – significa que existe uma


correspondência cristalográfica entre a rede do precipitado e a
rede da matriz.

b) semi-coerente – significa que só existe uma correspondência


parcial entre as respectivas redes; discordâncias formam-se nos
sítios de não-correspondência.

c) incoerente – significa a inexistência de qualquer correspondência


entre as respectivas redes.
Microestruturas na temperatura
ambiente do sistema Al-4%Cu, (a)
produzida por resfriamento lento a
partir de 5500C. (b) produzida por
resfriamento rápido a partir de
5500C.
 zonas GPI: coerentes
 zonas GPII: semi-
coerentes
 estrutura intermediária
‘: semi-coerente
 estrutura de equilíbrio :
incoerente
Sistema Cu-Al
Diagrama de resfriamento contínuo para o sistema Al-4%Cu, mostrando as etapas
do envelhecimento por precipitação.
a) Solução sólida;
b) precipitado coerente;
c) precipitado semi-coerente;
d) precipitado incoerente.
Estrutura e morfologia de  , ’ e ” no sistema Al-Cu.
Liga Al-Cu

O pico na curva de endurecimento é devido a uma ótima distribuição de


tamanho de precipitados e deformação de coerência na matriz. A queda na
resistência com o super-envelhecimento é devida à formação de
precipitados de grande tamanho.
Variação esquemática da tensão de
escoamento com o tamanho de
partícula precipitada.

Exemplos de evolução da dureza


durante o envelhecimento de ligas
Al-Cu endurecidas por precipitação.
Silcock (1953).
Carboneto  metaestável precipitado Cementita dendrítica de uma liga
em planos (100) de uma liga Fe- Fe-0,014%C temperada a partir de
0,013%C temperada a partir de 740oC e envelhecida 10min a
700oC e envelhecida 6h a 200oC. 260oC. Leslie, Fisher e Sen (1959).
Wagenblast e Glenn (1970).
Mudanças nas propriedades de tração de um aço com 0,03%C, temperado a partir
de 725oC e envelhecido a 600C. Keh, Leslie e Sponseller (1965).
Mudanças na dureza, no espaçamento entre partículas e no tamanho de partículas de
um aço com 0,03%C, temperado a partir de 725oC e envelhecido a 600C. Leslie e
Keh (1965).
Cinética de envelhecimento de uma liga Fe-0,02%N, temperado a partir de 500oC e
envelhecido a várias temperaturas, com microestruturas correspondentes a dureza
máxima. O precipitado formado foi sempre Fe16N2. Leslie e Keh (1963).
Interações discordâncias - precipitados

Os seguintes modelos foram propostos para explicar a interação


discordâncias-precipitados:

a) interação de longo alcance;

b) as discordâncias cortam as partículas no plano de deslizamento;

c) as discordâncias dobram-se ao redor das partículas no plano de


deslizamento.
Teoria de MOTT-NABARRO (1940), longo alcance

ys  2 G  f

Gb b
r r
2 YS 4 f
Corte dos precipitados – interação de curto alcance

 r
 
2xb

BROWN e HAM (1971)


1
r
2

  k  
3 1
2
f 2

b
liga Ni-19%Cr-6%Al.
Dobramento pelos precipitados – interação de curto alcance

Gb
 
x
liga Al-0,2%Au.
OROWAN-ASHBY (1968)

Gb  x 
  ln  
2 l 2 b

GLADMAN (1975)

A f X
  ln  
X B
À medida que passa o tempo de
envelhecimento, os precipitados crescem
em tamanho, de tal sorte que a tensão
necessária para cortar os precipitados
cresce com o seu tamanho.

Por outro lado, se os precipitados crescem


em tamanho o espaçamento médio entre
eles também cresce (para uma dada fração
volumétrica de precipitados), e a tensão
cisalhante para dobrar as discordâncias
entre os precipitados decresce
monotonicamente.

O limite de escoamento do material


percorre então a curva resultante ao lado.
A curva de endurecimento varia com o tamanho e a dureza das partículas
precipitadas.
A presença de partículas duras numa matriz implica que as discordâncias só serão
capazes de cortá-las se as partículas forem extremamente pequenas.
O tamanho crítico de partículas, que corresponde à transição entre os mecanismos
de corte e dobramento, diminui com o aumento da dureza das partículas.
Processo de Laminação Controlada

Conformação a quente de aço com transformação de fase no resfriamento:


a) Convencional: Embora a estrutura seja controlada durante a conformação, pela
combinação de deformação e temperaturas adequadas, as propriedades finais são
definidas em um tratamento térmico posterior.
b) Tratamento termo-mecânico: A conformação “controlada” conduz a um tamanho de
grão austenítico reduzido. Este tamanho de grão reduzido favorece a nucleação dos
constituintes finais do aço. Com o resfriamento controlado, pode ser possível eliminar a
necessidade de tratamento térmico posterior.
Os três estágios da laminação controlada e as mudanças associadas na
microestrutura. J.J.Jonas, 2009.
Alterações microestruturais durante a laminação. Quando não ocorre recristalização da austenita,
obtem-se grãos austeníticos menores e/ou alongados. A nucleação da ferrita é favorecida nestas
condições, resultando em grão ferrítico mais fino no produto da laminação controlada. O resfriamento
acelerado, após a laminação, também favorece a formação de grão ferrítico fino.
Aços microligados (HSLA ou ARBL)

Aços microligados são aços baixo carbono (0.05 a 0.2% C, 0.6 a 1.6%
Mn), que contém cerca de 0.1% de elementos como Nb, V ou Ti.

Os aços microligados são geralmente submetidos ao chamado


tratamento de laminação controlada. Este tratamento consiste de
deformação a quente, em temperaturas específicas e resfriamentos
controlados. Os objetivos principais são:
a) Obter um finíssimo tamanho de grão ferrítico  os precipitados
retardam o crescimento de grão austenítico.
b) Obter um endurecimento por precipitação dos grãos ferríticos 
interação precipitados x discordâncias.
Esquema de ciclos temperatura-tempo para tratamento termomecânico e laminação controlada de aços
baixo-carbono. (a) Processamento normal. (b) Laminação controlada de aços C-Mn. (c) Laminação
controlada de aços HSLA ao Nb. (d) Laminação controlada de aços HSLA ao Nb com temperatura de
acabamento final abaixo de Ac3.
Elemento Precipitado
Nb Nb (C,N), Nb4C3
V V (C,N), V4C3
Nb + Mo (Nb,Mo)C
V+N VN
Cu + Nb Cu, Nb (C,N)
Ti Ti (C,N), TiC
Al + N AlN
Partículas de carboneto de vanádio em aço
microligado

Precipitação de carboneto de nióbio em


contornos de sub-grãos de aço
microligado.
Efeito de elementos microligantes no tamanho de grão ferrítico de aços baixo
carbono laminado a quente. Meyer, Heisterkamp e Mueschenborn (1976).
Efeito de Nb e de Ti no endurecimento de chapas de aço laminadas a quente
e a frio. Meyer, Heisterkamp e Mueschenborn (1976).
Ligas de alumínio tratadas termicamente

Ligas da série alumínio-cobre (2XXX)


Ligas da série alumínio-magnésio-silício (6XXX)
Ligas da série alumínio-zinco-magnésio (7XXX)
Ligas da série alumínio-lítio (2XXX e 8XXX)
Precipitados ’ (CuAl2) numa liga Al-Cu
envelhecida a 240oC.

Precipitados ’ na matriz e  no contorno de


grão (MgZn2) numa liga Al-6Zn-3Mg
envelhecida a 180oC.
Precipitados ’ numa liga Al-Li envelhecida a 190oC, incluindo precipitação numa partícula ’ (Al3Zr).
Fatores adicionais

a) Nucleação heterogênea de precipitados em contornos de


grãos.
b) Formação de zonas livres de precipitados adjacentes aos
contornos de grãos.
c) Estruturas de Widmanstätten.
Precipitação em contorno de grão. Estrutura de Widmanstätten.
ZLP numa liga Al-Ge (20000X). ZLP numa liga comercial de Al-Zn-Mg-Cu de
elevada resistência mecânica.
Morfologia de Widmanstätten de Morfologia de Widmanstätten de fases 
precipitados ’ numa liga Al-4%Ag. (claro) e  (escuro) numa liga Ti-6Al-4V.
Microestruturas de uma liga Fe-0,15%C,
austenitizadas, mantidas em uma certa
temperatura, e depois temperadas.
a) 8000C por 150s.
b) 7500C por 40s.
c) 6500C por 9s.
d) 5500C por 2s.
Efeitos da precipitação em outras
propriedades

Partículas deformáveis :
a) Não causam grande aumento na taxa de encruamento.
b) A deformação uniforme é reduzida.
c) Na transição dúctil-frágil, deslocam a temperatura de transição
para a direita, diminuindo a tenacidade.

Partículas não deformáveis :


a) Produzem elevada taxa de encruamento.
b) A deformação uniforme é reduzida.
c) Na transição dúctil-frágil, deslocam a temperatura de transição
para a direita, diminuindo a tenacidade.

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