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UNIMEP

História Contemporânea II

Davi Pereira de Castro RA: 132079-5

Crianças de Grozni

Em crianças de Grozni, de Asne Seirstad, encontramos um relato das guerras


na Tchetchênia, um povo que busca a secessão da Rússia por mais de três
séculos, e das consequências que essas guerras implicaram à população.

Com o fim da URSS, em 1991, o presidente Djokhar Dudaiev viu a possibilidade


de independência da Tchetchênia, mas em 1994 os russos desembarcam no
Cáucaso e começaram uma guerra desastrosa. Os pais de crianças, que se
tornariam órfãos, integravam a resistência que habitava as montanhas, e que
lutaram até sucumbirem pela liberdade com seus kalachinicovs e kinzjais.

Crianças passaram a viver em lixões, caixas de papelão, tubulações de esgoto,


e além de perderem os pais, perderam também a infância, ensino, carinho e
segurança. Desde 1994 mais de 100 mil civis morreram nas guerras.

Existem 25 mil crianças na Tchetchênia que são órfãos de um dos pais ou dos
dois. As crianças de Grozni, capital da Tchetchênia, são vítimas da destruição
de um estado, estão desprotegidas, abandonadas, e nas condições em que
vivem estão suscetíveis a enveredar para o mal. Segundo (Snyder, 2016) o
estado é responsável pela garantia e a proteção dos direitos, que é criar
condições dentro das quais os direitos possam ser reconhecidos, garantidos e
protegidos.

Quando Ramzan Kadirov tomou posse, em 2007, todos os orfanatos públicos


foram fechados e as crianças voltaram para as ruas. Hadizat e Malik são um
casal que não podem mais ter filhos e fazem das tripas coração para manter o
orfanato que eles criaram para tirar crianças das ruas. Atos como os dos anjos
de Grozni, o casal Hadizat e Malik, é o que (Snyder, 2016) classificou como
instinto moral irrepreensível e a bondade humana elementar.

Um tchetcheno é considerado um rossianin e não russki, ou seja, é cidadão da


Rússia, mas não é russo. Um tchetcheno não é considerado “um de nós” pelos
russos. Para os soldados russos que lutaram nas guerras, os tchetchenos são
vistos como malvados, bandidos, selvagens, são os povos das montanhas que
têm espírito de traição. Para a população na Rússia, os tchetchenos também são
considerados selvagens, dikari. Segundo (Sémelin, 2009), o massacre, antes de
tudo, vem de uma operação do espirito, uma maneira de ver o outro, de
estigmatizá-lo, de rebaixá-lo, de anulá-lo, antes mesmo de matá-lo, de fato.

O nacionalismo foi arrancado dos tchetchenos, já que era visto com maus olhos
pelos russos. A doutrinação comunista pregava que o nacionalismo era
decorrência do capitalismo, uma estratégia dos burgueses para à desintegração
do proletariado. Mas para Stalin o que importava era sedimentar o espírito de
nação russo, ele entendia o nacionalismo tchetcheno como uma ameaça para o
nacionalismo russo, e as deportações de 1944 visavam destruir isso.

A justificava para as deportações era que os tchetchenos estavam do lado dos


nazistas. Foram enviados em vagões de carvão para o Daguistão e para a
Sibéria. Um terço da população morreu por febre tifoide contraída na viagem,
pela fome, pelo frio, houve casos de meninas que romperem a bexiga de tanta
vontade de urinar nos vagões e não podiam.

A justificativa de Stalin era espúria, na verdade Crianças de Grozni mostra o


exemplo de tchetchenos que lutaram contra os nazistas do lado dos russos,
haviam sido recrutados antes da deportação e ao regressar para seu lugar de
origem receberam a notícia que ninguém mais habitava por lá. Os tchetchenos
só puderam regressar em 1957, quando Nikita Krushev reviu as posições
estalinistas.

As questões de nacionalidade sempre foi uma pedra no sapato dos russos.


Segundo (Judt,2007) a Rússia estava sob ameaça demográfica imposta pelas
minorias étnicas em 1981 e Brejnev havia dito que havia questões de
nacionalidade que precisavam ser abordadas.

O fundamentalismo islâmico é encontrado por lá, os homens que formavam a


guerrilha, Chamil Basaiev, Salman Radaiev, e outros, foram capturados,
torturados e mortos pelos russos. Alguns lutaram pela secessão, por um estado
secular, e outros apenas por Alá. A verdade é que a guerra radicalizou a
população jovem de uma forma terrível. No livro encontramos um depoimento de
que se os russos saíssem da região haveria uma guerra entre os adeptos do
sufismo e do vaabismo devido as tensões que existem dentro do
fundamentalismo islâmico.

O legado das guerras pela separação é um país que vive sob tirania, tem um
cruel ditador no poder, que nada mais é do que marionete dos russos, Hanzam
Kadirov, e uma população mutilada e vitimada pela miséria. Crianças de Grozni
é um relato triste do que a guerra pelo poder pode causar.

Referências:

Crianças de Grozni, Asne Seierstad; Rio de janeiro: Record, 2008

Pós-guerra: Uma história da Europa desde 1945; Tony Judt; Rio de Janeiro:
Objetiva, 2008.

Terra negra: o holocausto como história e advertência, Thimothy Snyder; São


Paulo: Companhia das Letras, 2016.

Purificar e Destruir: Usos políticos dos massacres e dos genocídios, Jacques


Sémelin; Rio de Janeiro : DIFEL, 2009

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