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tores de livros de engenharia tem con-
:r~buído, sem dúvida, par~ ~ f~rmação de
. genheiros com uma v1sao igualmente
en . d d As .
estreita do seu papel na soc,e a· e. sim, os
organizadores deste livro merecem louvor, e
a nossa gratidão, pelo esforço em alargar a
perspectiva da engenharia sanitária.
Na seleção de capítulos, por exemplo, os
organizadores reconhecem que a chamada
"tecnologia apropriada" · soluções indivi-
duais e sem rede para habitações isoladas e
populações carentes apresenta desafios à
criatividade do engenheiro não menores que
aqueles levantados pela tecnologia de ponta
e pela mecânica computacional. Reconhecem,
igualmente, que o abastecimento de água é
um processo e não apenas um produto; o
engenheiro tem responsabilidades na gestão
do sistema, e não só na sua construção. Os
organizadores reconhecem, além disso, que
o engenheiro sanitarista desempenha o seu
papel no contexto da sua sociedade e de um
ambiente de recursos limitados, aos quais
- ambos têm contas a prestar.
Um outro aspecto a salientar é o esforço
em reunir autores dos capítulos com expe-
riência prática, comparável com os seus
conhecimentos acadêmicos. Nessa dimensão,
seguem a melhor tradição das editoras téc-
nicas brasileiras. Lembro-me de que, quando
eu trabalhava em Moçambique, a biblioteca
da Embaixada Brasileira era o local onde eu

ia procurar manuais práticos de engenharia
sanitária.
Na minha experiência, os melhores li.vros-
texto duram muitos anos, reencarnando-se
numa série de edições sucessivas.
:os organizador:s ~ autores, .ºs meus para-
éns, e, ao próprio livro, deseJo a longa vida
que merece.

Sandy Cairncross
Professor de Saúde Ambiental
London School
· 0 f H · ·
· ygiene &Tropical Medicine


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Léo Heller
Valter Lúcio de Pádua
(.organizadores)

astecimen o
ara consumo

'

BELO HORIZONTE I EDITORA UFMG 12006


Abastecnnento de78928 El'· 4
AC. 220969: R..6 í\lfOS .
Compra - C1a dos L .- 28/06/2007
Nf.: 112790 RS 77,OO .
. b' ..._1 .. ReS· Sem. Ctba
Engenharia Atn 1enusi

Editora UFMG . . . di "ta da Biblioteca Central - térreo


Av. Antônio Carlos, 6627 • Ala _rer -Belo Horizonte/MG
90 1
campus. Pampulha . - CEP
.F ..31270
( ) 499-47681 E-ma, . ·i·. ed..1tora@ufmg.br
. . •
I www.ed1tora.ufmg.br
3
Tel~: {31) 3499-46 5O 1 ax; 31

Escola de Engenharia da UFMG


Diretor Ricardo Nicolau Nassar Koury
Vice-Diretor Rodney Resende Saldanha . .
Rua Espírito Santo, 35 - Centro - CEP 30160-030 -:.B:lo Honzonte/MG
Tel.: (31) 32.38-18901 Fax: (31) 3238-1726 I E-mail. d1r@adm.eng.ufmg.br I www.eng.ufmg.br

conselho Editorial Executivo: Márcio Benedito Baptista, Marcos von Sperling, Ronaldo Guimarães Gouvêa

Projeto gráfico, capa Paulo Schmidt


Formatação Raniere G. Lima
Revisão de provas Alexandre Vasconcelos de Melo e Maria do Rosário Alves Pereira
Ilustrações Andresa Renata Andrade e João Evaldo Miranda Franca

© 2006, Os autores
© 2006, Editora UFMG
Este livro ou parte dele não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização escrita do Editor

Abastecimento de água para consumo humano/ Léo Heller. Valter


A118 Lúcio de Pádua (organizadores}. - Belo Horizonte: Edit~ra
UFMG, 2006. .
859p. (lngenium)
Inclui referências.
ISBN: 85·7041-516-8

1• Aba~ecim~nt~ de água. 2. Tratamento de água.


iii. :;i:~hana sarntána 1. Heller, Léo. li. Pádua, Valter Lt'.ldo de.

CDD: 628.1
CDU: 626.2
Catalogação na publicação•• Oiv1sao
... de. Pfanejamento e. Divulgação
. da Biblioteca Universitária - UFMG
J

• SUMÁRIO

23 Apresentação
27 Prefácio

Capítulo 1
29 Abastecimento de água, sociedade e ambiente
Léo He//er
,
29 1.1 Introdução

30 1.2 Contextos sociais


... 33 1.3 Contexto técnico-científico
34 1.4 Histórico

38 1.5 Necessidades da água

( 42 1.6 Oferta e demanda de recursos hídricos

I 42 1.6.1 Oferta

43 1.6.2 Demanda

'I 45 1.6.3 Balanço oferta x demanda

46 1 .7 Abastecimento de água e saúde •

46 1.7. 1 Evidências históricas


49 1.7 .2 Mecanismos de transmissão de doenças a
partir da água
50 1.7 .3 O impacto do abastecimento de água sobre
a saúde
51 1 .8 Abastecimento de água e meio ambiente
52 1.8.1 Abastecimento de água como usuário dos
recursos hídricos
54 1.8.2 Abastecimento de água como atividade
impactante

1
.

_ . Elementos da legislação
55 18 3
_ A situação atual do abastecimento de água
56 19
. considerações finais
61 1 10

Capítulo 2
- Concepção de instalações para o abastecimento
65
de água
Léo Hel/er
65 2.1 Introdução
.es -
67 2.2 Contextos
2.3 Modalidades e abrangência do abastecimento
72.
2 .4 Unidades componentes de uma instalação de
- - 73
abastecimento de água
2.5 Elementos condicionantes na concepção de
79
instalações para o abastecimento de água

79 2.5.1 Porte da localidade

82 2.5.2 Densidade demográfica

82 2.5.3 Mananciais

84 2.5.4 Características topográficas

85 2.5.5 Características geológicas e geotécnicas

85 2.5.6 Instalações existentes

86 2.5 .7 Energia elétrica

88 2.5.8 Recursos humanos

89 2.5.9 Condições econômico-financeiras


91 2.5.1 O Alcance do projeto
92 2.6 Normas aplicáveis
94 2 ·7 A sequencia
···" · do processo de concepçã.o
j
1
95 2.8 Arranjos de instalações para abastecimento de
água
'
104 2.9 Planejamento e projetos

' Capítulo 3
1 107 Consumo de água
Marcelo libânio, Maria de Lourdes Fernandes Neto,
'J Aloís,~o de Araújo Prince, Marcos von Sperling, Léo Heller

107 3.1 Demandas em uma instalação para


abastecimento de água

108 3_2 Capacidade das unidades


111 3.3 Estimativas de população

1 11 3.3.1 Métodos de projeção populacional

121 3.3.2 Estimativa da população de novos


loteamentos

122 3.3.3 Popufação flutuante

123 3.3.4 Alcance de projeto

126 3.4 Consumo per capita

126 3.4. 1 Definição

126 3.4~2 Consumo doméstico

128 3.4,3 Consumo comercial

129 3.4.4 Consumo público

129 3.4.5 Consumo industria(

131 3 .4.6 Perdas

133 3.4.7 Fatores intervenientes no consumo


per capita de água
-
138 3.4.8 Valores típicos do consumo per capita

de·água

; ...
..-- .
142 3.5 coeficientes e fatores de correção de vazão
142 3 .s.1 Período de funcionamento da produção
3.s.2 consumo no sistema
1
14,2
143 3.s.3 coeficiente do dia de maior consumo (k 1) l

143 3.5.4 Coeficiente da hora de maior consumo (k2) '


144 3.6 Exemplo de aplicação

Capítulo 4
1
153 Qualidade da água para consumo humano
1
Valter Lúcio de Pádua, Andrea Cristina da Silva Ferreira

153 4. ·1 ln.tradução

154 4.2 Classificação dos mananciais e usos da água


159 4.3 Materiais dissolvidos e em suspensão
presentes na água
159 4.3.1 Natureza biológica
176 4.3.2 Natureza química

192 4.3.3 Natureza física


196 4.3.4 Natureza radiológica
197 4.4 Caracterização da água
197 4.4.1 Definição dos parâmetros
198 4.4.2 Plano de amostragem
204 4.4.3 Controle de qualidade em laboratórios
205
4.4.4 Processamento de dados e interpretação
dos resultados
207
4.4.5 Divulgação da informação
208
4.5 Padrões de potabilidade
,
208
4.5.1 Parametros de caracterização da água
destinada ao consumo humano

' D -. . . .
J

211 4.5 .2 Amostragem

215 4.5 . 3 Responsabilidades fegais

Capítulo .5
223 Mananciais superficiais: aspectos quantitativos
Mauro Naghettini
223 5.1 Introdução
224 5.2 O ciclo hidrológico
226 5.3 O balanço hfdrico
230 5.4 Dados hidrológicos

231 5.5 A bacia hidrográfica

233 5.6 Precipitação


241 5.7 Os processos de interceptação, infiltração e
evapotranspiração
249 5.8 As vazões dos cursos d' água

256 5.9 Vazões de enchentes


265 5.1 O Vazões de estiagens

Capítulo 6
275 Mananciais subterrâneos: aspectos quantitativos
Luiz Rafael Palmier

275 6.1 Introdução


277 6.2 A evolução do uso de águas subterrâneas e da
compreensão dos fenômenos hidrogeológicos
279 6.3 Caracterfsticas,.importância e vantagens do
uso ·das águas subterrâneas
285 6.4 Distribuição vertical das águas subsuperiiciais
287 6.5 Fluxo de água subterrânea:. escala local
290
_ .1 Aqüfferos e aqüitardes
290 66
_ .2 Formações geológicas
290· 66
.6.3 Tipos de a~üff;r~s e superfície
291 6
potenc1ometnca

. Propriedades hidrogeológícas dos aqüíferos


293 67
.
67 . 1 Transmissividade
294
6. 7 .2 porosidade e vazão especff ica
294

295 6.7 .3 coeficiente de armazenamento específico

296 6.7.4 coeficiente de armazenamento de aqüífero


confinado

297 6.8 Introdução à hidráulica de poços

298 6.8.1 Cone de depressão em aqüíferos


confinados

299 6.8.2 Cone de depressão em aqüíferos livres

Capítulo 7
303 Soluções alternativas desprovidas de rede
Valter Lúcio de Pádua '


303 7 .1 Introdução

304 7.2 Emprego de soluções alternativas e individuais


305 7.3 Tipos de soluções alternativas e individuais
306 7 .3.1 Captação

311 7.3.2 Tratamento


318 7 .3 .3 Reservação
320 7.3.4 Distribuição

323
7 .4 Cadastro e controle da qualidade da água
323 7 .4.1 Cadastr0
325 7.4.2 Controle da qualidade da água

326 7 .5 Considerações finais

Capítulo 8
,
1
329 Captação de água de superfície •

Aloísio de Araújo Prince


329 8.1 Definição e importância
330 8.2 Escolha do manancial e do local para
implantação de sua captação
f
335 8.3 Tipos de captação de água de superfície

336 8.4 Dispositivos constituintes das captações de


r
1
água de superfície
t
337 8.5 Tomada de água

f
1
337 8.5.1 Tubulação de tomada

343 8.5.2 Caixa de tomada

344 8.5.3 Canal de derivação

345 8.5.4 Poço de derivação


347 8.5.5 Tomada de água com estrutura em balanço
348 8.5.6 Captação flutuante
350 8.5.7 Torre de tomada

352 8.6 Barragem de nível

360 8.7 Grades e telas

367 8.8 Desarenador


374 8.9 Captações não convencionais

378 Anexo - Proteção de mananciais


379 Importância da escolha correta e da proteção dos
mananciais

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e Capítulo~
r
383 Captação de água subterrânea
João cesar Cardoso do Carmo, Pedro Carlos Garcia Costa

1
383 9 .1 Introdução
384 9.2 seleção de manancial para abastecimento público

385 9.3 Seleção de manancial subterrâneo

385 9.3.1 Levantamento de dados


386 9.3.2 Caracterização do tipo de manancial escolhido

390 9.4 Fontes de meia encosta


392 9.5 Poço manual s·imples

393 9.6 Poço tubular raso


395 9.7 Poço Amazonas

399 9.8 Drenos horizontais


403 9.9 Barragem subterrânea 1

406 .9 .1O Barragem de areia


406 9.11 Poços tubulares profundos
407 9.11.1 Projeto
414 9 .11.2 Métodos de perfuração de poços
tubulares profundos ·
419 9 ·11·3 Teste de bombeamento
424 9.12 Proteção das captações

Capítulo 1o
427 Adução
M~rc~a Maria Lara Pinto Coelho
Mareio Benedito Baptista
427
1O.1 Introdução
428
10.2 Traçado das adutoras
431 10 ..3 Dimensionamento hidráulico
431 10.3.1 Considerações gerais
432 10.3.2 Equações hidráulicas fundamentais

433 10.3.3 Condutos forçados

451 10.3.4 Condutos livres

458 10.4 Transientes hidráulic.os em condutos


forçados
458 10.4.1 Definição
1
458 10.4.2 Celeridade
460 10.4.3 Descrição do fenômeno em adutoras por
gravidade
462 10.4.4 Processo expedito para avaliação da
1 variação da carga de pressão

1 465 10.4.5 Métodos para controle de transiente

Capítulo 11
471 Estações ,elevatórias
Márcia Maria Lara Pinto Coelho

471 11.1 Introdução

476 1·1.2 Parâmetros hidráulicos

476 11.2.1 Vazão


476 11.2.2 Altura manométrica

477 11.2.3 Potência e rendimento

479 11.3 Bombas utilizadas em sistemas de


abastecimento de água

479 11.4 Turbobombas

483 11 .4.1 Bombas centrífugas


484 11 .4.2 Bombas axiais e mistas


p
11.4.3 Influência d~ rotação nas curvas
li
e 485 características das turbobombas
r
a
'( 487 11 .4.4 Influência dos diâmetros dos rotores nas
- curvas bombas
t

487 11.s curvas características do sistema


1

1 490 11 _6 Associação de bombas


490 11 .6.1 Bombas em paralelo

492 11.6.2 Bombas em série

494 11.7 cavitação e altura de aspiração das bombas

494 11 ~ 7 .1 Cavitação
495 11. 7 .2 Altura de aspiração nas turbobombas

497 11 .7.3 Escorva das bombas

497 11.8 Golpe de aríete em linhas de recalque


""
499 11.9 Projeto de estações elevatórias
500 11.9.1 Poço de sucção

503 11.9.2 Sala de máquinas

505 11.1 O Bombas utilizadas em situações especiais


505 11.10.1 Bombas volumétricas

506 11.10.2 Carneiro hidráulico


508 • 11.10.3 Sistema com emulsão de ar

51 O 11 . 11 Escolha do tipo de bomba

Capítulo 12
519 Introdução ao tratamento de água
Valter Lúcio de Pádua
519 12.1 Introdução
520 12 ·2 Processos e operações unitárias de
tratamento de água

. .•º n e.
520 12.2.1 Micropeneiramento

523 12.2.2 Oxidação

526 12.2.3 Adsorção em carvão ativado


527 12.2.4 Coagulação e mistura rápida

531 12.2.5 Floculação

533 12.2.6 Decantação

535 12.2.7 Flotação


538 12.2.8 Filtração ráp·ida


1
541 12.2.9 Desinfecção

546 12.2.1 O Fluoretação


1
548 12.2.11 Estabilização química

549 12.3 Técnicas de tratamento de água


l 551 12.3. 1 Filtração lenta e filtração em múltiplas
etapas

55'7 12.3.2 Filtração direta

560 12.3.3 Tratamento convencional e flotação

560 12.3.4 Filtração em membranas

566 12.3.5 Seleção de técnicas de tratamento

Capítulo 13
,.,,
571 Reservaçao •

Márcia Maria Lara Pinto Coelho


Marcelo Libânio
571 13. 1 Considerações iniciais
573 13.2 Tipos de reservatórios
573 13.2.1 Localização no sistema

575 13.2..2 Localização no terreno


578 13.2.3 Formas dos reservatórios



1 . 4 Material de construção
J 13,.2·
578
13.3 Volumes de reservação
579
1
.4 Tubulações e órgãos acessórios
585 13
13.4. 1 Tubulação de entrada
585
.
2
13.4. . Tubulação de saída
586
587 13.4 .3 Descarga de fundo
13.4.4· Extravasor
588
13.4.5 Ventilação
590
590 13 .4 .6 Drenagem subestrutura!

598 13.5 Qualidade de água nos reservatórios

Capítulo 14 •

603 Rede de distribuição


Alofsio de Araújo Prince

603 14.1 Definição e importância

604 14.2 ·Elementos necessários para a elaboração do


projeto
605 14.3 Vazões de distribuição

608 14.4 Delimitação da área a ser abastecida

609 14.5 Delimitação das áreas com mesma densidade


popuf acional ou com mesma vazão
específica
611 14.6 Análise das instalações de distribuição de
, .
< agua existentes
612 14. 7 Estabelecimento das zonas de pressão e
localização dos reservatórios de distribuição
618
14.8 Volume e níveis de água dos reservatórios de
distribuição
t

624 14.9 Diâmetro das tubulações


627 14. 1O Traçado dos condutos
629 14.10.1 Distância máxima de atendimento por
uma única tubulação tronco
l
631 14.10.2 Distancia máxima entre tubulações
tronco formando grelha
632 14.10.3 Distância máxima entre tubulações
tronco formando anel
636 14. 10.4 Comprimento máximo de tubulações
secundárias com diâmetro mínimo de
SOmm
'

637 14.10..5 Comprimento máximo de tubulações


secundárias com diâmetro inferior a
50mm

639 14.11 Estabelecimento dos setores de manobra e


1
dos setores de medição
642 14. 11. 1 Setor de manobra

644 14. 11 .2 Setor de medição

646 14.12 Localização e dimensionamento dos órgãos


acessórios da rede de distribuição

646 14.12 . 1 Hidrantes


647 14.12.2 Válvula de manobra
649 14.12.3 Válvula de descarga
650 14.12.4 Válvula redutora d,e pressão

651 14. 13 Dimensionamento dos condutos

652 14. 13 .1 Método de dimensionamento trecho-a-


trecho
661 14.13.2 Método de dimensionamento por áreas
de influência
"
capítulo 15
Tubulações e acessórios
683
Emllia Kiyomi Kuroda, Valter Lúcio de Pádua

683 . 15.1 Introdução

684 15.2 Critérios para escolha de tubulações

687 1s.3 Tipos de tubulações

689 15.3_ 1 Tubulações de ferro fundido

697 15.3.2 Tubos de aço carbono

703 15.3.3 Tubos de PVC

706 15.3.4 Tubos de polietileno e polipropileno


715 , 15.3.5 Tubulações reforçadas com fibra de vidro
,

717 15.4 Acessórios


717 15.4.1 Válvulas de regulagem de vazão

719 15 .4.2 Comportas e adufas

721 15.4.3 Válvulas de descarga


721 15.4.4 Ventosas •

723 15.4.5 Válvulas redutoras de pressão


723 15.4.6 Válvulas de retenção
723 15.4. 7 Válv!Jlas antigolpe
724 15.4.8 Medidores de vazão

731 15.5 Instalação e assentamento de tubos


735 15.6 Obras complementares
736 '
15.7
Limpeza e reabilitação de tubulações
736 15 ·7.1 Considerações iniciais
738 15 ·7 .2 Limpeza das tubulações
738 15 7 3
· · Reabilitação de tubulações
1

Capítulo 16
741 Mecânica computacional
aplicada ao abastecimento de água
Marcelo Monachesi Gaio

J 741 16.1 Introdução

742 16.2 Os modelos computacionais

743 16.3 Histórico


1
744 16.4 Os modelos disponíveis no mercado
744 16.5 Tipos clássicos de aplicação dos modelos
746 16.6 Como os modelos funcionam
747 16.7 Como trabalhar com os modelos
750 16.8 Bases para trabalho
752 16.9 Construção e uso dos modelos
753 16.9.1 Identificação clara da finalidade do
modelo

753 16.9.2 Simplificação


754 16.9.3 Análise dos resultados
754 16.9.4 Documentação
755 16.1 O Quem deve utilizar os modelos
755 16.11 Como começar?
756 16.12 Exemplos numéricos
756 16.12.1 Exemplo 1
762 16.12.2 Exemplo 2
764 16.12.3 Exemplo 3 (continuação do Exemplo 2)

766 16.12.4 Exemplo 4


t 16.13 Dados utilizados nos modelos
768
J

16.14 Outros exemplos de aplicação de modelos

16.14~ 1 ''Dimensionamento'' de uma rede de


distribuição

772 16.14.2 Continuação do Exercício 16. 14.1


774 16, 14.3 Aut.omação
777 16.15 Redução de perdas
779 16.16 Calibração dos modelos
779 16.16.1 A importância da calibração de um
modelo
780 16.16.2 O processo de cal.ibração
783 16.16.3 O que fazer para aproximar o modelo da
realidade
784 16.17 Simulação da qualidade da água
787 16.18 Considerações fina·is

Capítulo 17
789 Gerenciamento de perdas de água
Ernani Ciríaco de Miranda
789 17 .1 Introdução

791 17 .2 Componentes das perdas de água
793 17 .3 Avaliação e controle das perdas de água
796 17 .4 Indicadores de perdas
804 17 .5 Análise de credibilidade
806 17.6 Ações de combate às perdas de água
809 Apêndice - Glossário
-

Capítulo 18

1
817 Gestã·o dos serviços
Léo Heller
817 18.1 Introdução
818 18.2 Modelos de gestão
818 18*2.1 Breve histórico da gestão do 1
rví
saneamento no Brasil

821 18.2,2 Quadro legal e institucional


829 18.2.3 Modelos de gestão aplicáveis

834 18.3 Práticas de gestão


834 18.3.1 A organização dos serv·iços

841 18.3.2 Participação da comunidade e


integração com outras política
públicas

843 18.4 Considerações finais

Anexos
845 Anexo A - Hidráulica
845 A.1 Algumas propriedades físicas da água
846 A.2 Equações fundamentais do escoamento
permanente
846 A.2. 1 Equação da continuidade
847 A.2.2 Equação da quantidade de movimento
847 A.2.3 Equação de energia - Bernoulli
848 A.3 Adutoras em condutos forçados
848 A.3, 1 Perda de carga contínua

851 A.3.2 Perda de carga localizada


1


1 • •
• •

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-
1
1



A.4 Ad.utaa e
r m ,eseoa,
.
M:ent1 l
1'ivre 1

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• • •


1q l m a s,e
t · míA'i11Jas a
, dmissíveis
A.4,4 Vsl'. 0
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rern ,~mt~ f i


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1
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-. .. ;,.-~
• •


Apresentação

e n a tu re z a
' O abastecimento d e á g u a à s c o m u n id a d e s h u m a n a s c o n s titu i u
d
m
e
a
á
q
g
u
u
e
a
s tã
às
o
p
d
o p u la ç õ e s
n s io n a l. O c u id a d o c o m o p ro v im e n to
nitidamen te m ultidime ir u m a c o n d ic io n a n te
d e s d e se u s u rg im e n to . P as sa a c o n s ti tu
• acompanha a hu man idade u e o h o m e m to rn o u -s e
n v o lv im e n to d a s c o m u n id a d e s , d e sd e q
para a loca lização e o d es e
tr a n s fo rm a e m u m v e rd a d e ir o d e sa fio ,
s a tu a is , es sa q u e s tã o se
um ser gregá ri o e, nos dia s c im e n to p o p u la c io n a l, a
e a m b ie n ta is c o n te m p o râ n e o s : o c re
com os fenômenos sociais ç a s c lim á tic a s , a g lo b a -
e c o n s u m o , a cr is e a m b ie n ta l, as m u d a n
urbanizaçã o, a socieda de d
lizaçã o, os c o n fl it o s
. tra n sfr o n te ir iç o s .. .
p a rt ir d e d ife re n te s p e rs p e c tiv a s c o n c e i-
a e m u m liv ro p o d e -s e
Para trata r deste tem s p e c ia liz a d a e g ra n -
a q u e se a lin h a à lit e ra tu ra n a c io n a l e
' tuais. A mais trad icional de la s
a m p o e xc lu sivo d a s e n g e n h a ri a s c iv il,
c o lo c a o te m a n o c
de p ~e da in tern aciona l a l, a ta re fa d e b e m c a p a -
h íd ri c o s . T al a b o rd a g e m é n e ce ss á ri a . A fin
sa nit.áría ou d e rec urso s s
r, p ro je ta r, c o n s tr u ir e o p e ra r in s ta la ç õ e
n g e n h a ri a p a ra co n ce b e
átar os pro fissionais de e lid a d e s n a cio n a is .
a p e rm a n e c e p ri o ritá ri a n a s d iv e rs a s re a
de abastecim ento de ág u
ito ri a l a d o ta d a n e s ta p u b lic a ç ã o é
tiv a d e c o n c e p ç ã o e d
Entretan to, um a alterna c a m p o te c n o ló g ic o ,
ss id a d e s de fo rm a ç ã o e in fo rm a ç ã o n o
a de, se m desconhecer as nece o u tr a s á re a s, c o n te xtu a -
sa n itá ri o s , h id rá u lic o s , h id ro ló g ic o s e d e
baseado nos conceitos v o lv im e n to . A ss im , p re o -
p o lít ic a , s o b re tu d o d o s p a ís e s e m d e s e n
lizá-las na rea li dade socio a re a lid a d e n a q u a l é
ito s e a s d ir e triz e s te c n o ló g ic a s e m u m
cupa-se em situar os conce e re d e d a q u e la s q u e n ã o
á tic a d a s p o p u la ç õ e s d e s p ro v id a s d
esse ncial diferenciar a problem ia e lé tr ic a o u d a s q u e ..
rg é tic o s c o n v e n c io n a is c o m o a e n e rg
dispõe m de recursos e n e
e tr o p o lit a n a s e , p o r is so , n e c e s s ita m te r
s re a lid a d e s u rb a n a s e m
habitam as ma is complexa o s c o m p u ta c io n a is . A lé m
a , p o r e x e m p lo , c o m m o d e rn o s re cu rs
sua rea lidade sanitária tratad x e rg a r as d im e n s õ e s h is tó -
o s te m a s te c n o ló g ic o s , p ro c u ra -s e e n
disso, junto à abordagem "d b e m c o m o v a lo riz a -s e a
o lí ti c o -in s titu c io n a l e le g a l e n v o lv id a s,
ri ca, cultural, demográfica, p e st e ve m a is p o p u la r
e m a s. E m p re g a n d o u m a e xp re ss ã o q u e já
f dim ensão da gestão dos sist
a b o rd a g e m d e ''te c n o lo g ia a p ro p ri a d a ''.
no m eio téc nic o : te nta -s e u m a

23
Ab ,wdaMnto' de , gua para consumo humano

' - do li'vro alguns princípios centrais nortearam os autores na prepara _


' a elaboraçao · •
. . 1 acurando 9·arantir sua
. . .
coerência
. . ..
conceitua 1
.
· . çao
' d mater,a , P~ ·
• 0 abastecimento de água é~sempre ;ntendido como uma ação que

1
·í·
poss ve , são destacadas as boas práticas
. no a astec1men
á . ._ o e água ·
vjsando à proteção à saúde e mencionadas pr t1cas nao recomen~
dáveis, que ampliam o risco a saúde. .
• o respeito ambiental também permeia a abordagem# enfatizando que ins-
talações para o abastecimento de água ao mesmo tempo são usuárias dos
recursos naturais e poluidoras desses recursos, ao gerar resíduos, demandar
construções e acarretar modificações ambientais para a extração da ág.ua.
• Em um país com as carências do Brasil, deve-se buscar o abastecimento de
água universal e com eqüidade. Em termos práticos, corresponde ao princí-
pio de que toda a população, independente de onde vive, tem direito ao
abastecimento de água e com soluções equivalentes quanto aos seus efeitos,
o que não significa soluções iguais. Esse enunciado remete ao princfpio da
tecnologia apropriada, com o qual a publicação procura ser permeada.
• Procura-se sempre atentar para o conceito de que, na engenharia
como em outras áreas de conhecimento, as verdades são provisórias e
situadas histórica, social e culturalmente . Para tanto, procura-se evitar
enunciados e exemplos dogmáticos e absolutos, buscando sempre
relativizar os enfoques. As normas e o conhecimento consolidado são
descritos e decodificados, porém sempre é lembrado que a verdadeira
engenharia é a que enxerga o conhecimento a partir de uma visão
crítica e a que tem capacidade de questioná-lo e, responsavelmente,
adaptá-lo às realidades sociais e culturais.

. Em_sua utiliz~ção, o livro pretende: cumprir o papel de livro-texto em disciplinas de


graduaçao e de_pos-graduação dedicadas especificamente ao tema do abastecimento de

cursos e graduaçao e de pós grad ~ . _


tec 16 • • • . ~ · uaçao, mesmo que de áreas de conhecimento nao
no g1cas, e constituir material de consulta a p . f' . . d á
A estrutura dO 1. .. . ro ·1ss1ona1s a rea.
ivro, esquematizada na f·1 • • 1 · t" as·
· gura a seguir, 1nc ui seis partes organiza 1v ·
: Ele~en~os intr?du:órios (capítulos 1 e 2).
Avaliaçao qual1tat1va e · . ·. .
(capítulos 3 a 6). quantrtatrva. Fontes para o abastecimento.
• Soluções alternativas des .
• Elementos para projet provid~s de rede (capítulo 7). .

Elementos gerais para p . .


• Gestão desistem-as· d roJbeto, operação e construção (capítulos 15 e 16).
- e a aste -· .
· cimento de água (capítulos 17 e 18).

24
t .O LIVRO EARTICULAÇÃO ENTRECAPITULO
_.. ______ ,.... __ ,
,...... •••• ········-·----------- '

1 · 1 m nt Introdução
'
, 1
1
l1 ln lr tiut ri ,
1

1
l
''.,
f
1 Abastecimento de água,
sociedade e ambiente
'
1
f
1
1 •'•
1
1
1
2 Concepção de lnstaJações !'
para o abastecimento de água :
'
1
1 '
l.......... . ~·····---------~----~-----~-~-MI
1

.. ··········---~---------------------
• • • • • ... • . 1
I Av llr1~no qu llt tiva :
1 tlt t(V 3 Consumo de água ,
I qudn ·, a . :
I For, t<'~ J>&.1rc1 :
I b l clm nto 4 Qualidade da água para :
1 consumo humano ,
: :
'I
1
S Mananciais superficiais:
.:•
I aspectos quantitativqs :
1 :
l
1 6 Mananciaissubterrâneos: :'
I aspectos quantitativos :
1 '
1
1.... •········· !!!li
-
---- --~ ~~--------~------~----'
- r------------ ---M----~-~-~-------------•
1
'
.

'
7 olu~õ -. 1ternatlvas : 8 Captação de águ Elementos !
sprovld de rede : de superflcle para projeto, :.
l 9 Captaçao de água
operação e :
: subterranea construção :
: .
de irnst:alações :
: providas de !
: 10Aduçao rede :
I J;
I li
1 •
: 11 Estações elevatórlas !
1 1
1 •
1 •
•1 12 lntrodurao
~
ao tratamento de égua ''
'I
I
'
f
t
11 13 Reservação •
'
1 1

. ----------,~
l
'
14Rede de distribui~ ªº
.:
'I

r,.......................
: Elementos gerais P r
···········- - - - - ~-

srubulações e acessórios
•' . ..................
.(----------·w
1
. . .
-........-----------, 1

1
I projeto, oper çao !
i construção 16 MocAnlca computacional !
: . pllcada ao abastecimento de :
'
I
égua ,f
1 1
t -~-----------J
-~---···············
1

--------····· ... ·-· ········-- --~-----------~


········- --·
'
d .
! Gestão d slstem 17 Gerenciamento de per as !
t I

I1 de abast clm nt de água :



: de égua :
i 18 Gestão dos serviços !
J
__ ,,
. --~--
(

.---···········
.

t
.. -- - -- --- --- ------

25
o de Agua para consumo humano
Abastetlm• nt

. struça·~0 0 livro beneficiou-se da experiência e do esforç0 de muito .


Na sua con · , · . . . . . . .. s auto-
.. -se na identificação dos espec1ahstas, assegurar um equ1hbrado bala
res. Procurtou ~onhecimento acadêmico e a experiência profissional, a um 56 t.ncea-
mento en re o · . ... . ·. . .. . . · empo
buscando oferecer uma abordagem atuahzada dos te_mas tratados e.mantendo O neces-
sário rigor técnico-dentffico. No processo ~e c~nfecçao da ~bra, tentou-se O esforc;o de
manter 05 autores sintonizados com .os pnncíp1os estabelecidos pel?s organizadores _•
anunciados nesta Apresentação . de forma a assegurar a coerência ao longo de seus
capítulos. obviamente, embora a preocupação com um certo grau.de harmonização dos
textos dos diversos capítulos tenha freqüentado o trabalho de organ1zaçao, assumiu--se em
paralelo O respeito ao estilo e à visão de cad utor, que, além de responsável em última
instância por seu textos, detém os requisitos que motivaram o convite para sua partici-
pação na autoria do livro.

Alguns indispensáveis agra eci en ·.. rn · :


• à Leila Margaret · · li r. · 1 di ·. da, · riteriosa e respeitosa cola-
boração na revi ~ 1a t . -;
• aos engen · . n ·no Alvarez e Marcelo Monachesi
Gaio, por s a 1c1pa as 1 1n · · d revis _o técnica dos capítulos,
e pelas undam· n ,s so es · s d aperfeiçoamento dos textos;
• a todos os p o ,ss, n rs ue con r1bulram de variadas formas, com
le· uras e, sug, s - e s f l,m,nares dos capftufos do livro;
•.ª.?s alunos . . . · a S,s m · de Abastecimento de Agua, do
'S,e 1mo pe I o o e e ngenhari a Civil da UFMG, que, , endo
1

hzado e e · uai· com n do as várias versões preliminares


da pubhca ão, a1 • o da p rmi tr m ap rf I oá ta;
• ao DES - D pa ·o · h ria ni ria e Ambien ai da
UF G, pelo supo e ,n , ,onal n f 1n I n O d riu r
• a Escola e Engenha 1a U , . ,1 1, f in ,. 1 ,. ... . ...
do Fundo de D _ n oi ,m n m1 . '

u u
, e n r1 u1 •
Uld
ur f r 1 e
r

-
Prefácio

Fiquei muito honrada quando recebi dos organizadores do livro Abastecimento de


água para consumo humano o convite para escrever este prefácio. Quando recebi o·texto
t e comecei a passar pelos diversos capítulos me senti privilegiada. Não se trata apenas de
mais um livro técnico de qualidade, o que temos em mão reúne os conceitos e bases
tecnológicas a uma reflexão sobre o tema.
Embora a cobertura de abastecimento de água no Brasil apresente percentuais mais
favoráveis do que outros serviços de saneamento, como por exemplo o esgotamento sani-
tário e manejo de resfduos sólidos, ainda estamos distantes da universalização. Mesmo
quando se considera apenas as populações urbanas, a distribuição regional, por porte de
município, ou por renda, mostra grandes desigualdades no acesso a água em quantidade
e qualidade necessárias para proteção da saúde humana. A desigualdade se revela mais
contundente quando a população rural é considerada.
Ê lugar-comum dizer que esse quadro de desigualdade só será resolvido se houver
decisão política e investimentos no setor. Entretanto, se as soluções técnicas e tecno-
lógicas a serem adotadas seguirem um modelo convencional, os recursos financeiros neces-
sários serão ainda mais volumosos e a sustentabilidade das soluções, questionável. Nesse
sentido este livro resgata com muita propriedade e pertinência o conceito de "tecnologia
apropriada". Esse conceito, pouco invocado nos nossos cursos de graduação, permeia
todo o texto e toma sua forma mais ousada no capítulo 7 - "Soluções alternativas des-
providas de rede" . Hoje a Organização Mundial da Saúde reconhece que, sem o desen-
volvimento, aprimoramento e aplicação de tecnologias voltadas para o atendimento a
unidades domiciliares isoladas ou pequenos grupamentos de pessoas, a universalização
do acesso a água não será possível.
o livro ousa também quando discute, nos seus capítulos 17 e 18, temas atuais como
a questão de perdas e de gestão. Os modelos e práticas de gestão são abordados dentro
de uma perspectiva histórica e de desafios que se apresentam para o setor, sem perder a
consistência técnica. É fundamental que os profissionais que estão sendo formados per-
cebam a complementaridade que existe entre a melhor solução para um problema de

27
,,
1

abutactmsnto1 d IJll#ll1l,1tl I 1ttlJ ,,,,. 11+ftll{Jltl · l d lstema. Sem e'S'6e


' ôlthno compurtflfl f.,, "'\HtfMii Ilfl11&1/141!1, 1111 .,, dlll,lfHlfIli tf HH11 f1t1<.l1 flc:ar comprometida.
Mii nln ,to lff1Mr11t, ,,., "lfttll1/l1" 1111111,,. 1111 r111,1•trbffrt tUetlldacte a este livro
O
'
leitor vai 1ncuntr,tf '"" ,.,.,,, 1111111 u 1111 '"'"'""'"
1 Jft ,u,u•11 t · t1Ut2 aborda . . . •de
planlJJmMfa, pr,~111,, ~ 1111111n1,n,, 11. ,1~11111111-, li 1tltH,f t lrtf f1l( d êguat na Pe151)ectiva
de qdl!ltldsQa • i1wldr1l,11/,r ''" /flJIIII 1/ f,,,,,,, ,,,,,,,, R t t f .cr motivador. agradávef de
ler (e compre,nll•0, 1111" f111 11 l111111 tl11~1,1111,, /.f1/fftlff 111 u ,tlt um texto pretensioso'~
por veu , nl1tmbr1t · · 1HHt 1 11-, w1li H I t tu,, ftf Mt moutros textos ntat;
1
espr~fffCOI,
Enfim, tenh d 1111 ' li~ f1I fl llff1 1 • se beneficiarãodo
conteOdo dNf.l la u,, rrr , ,,,,,,, '''"'"'"''' , 11,, 11, lfU ,,,,,,, fplu qu nortearam os autores
durante a pri p1r . 11 ''"''" li 111 I '" 11,11111111,111111 rt l11rr1t11~At, d nossos enQenheiro.s
civis, sanltarf,tA r,it,1•11f I , ,, 1 · 'f'" ' ,, '"" 11 I vi er instrumento de J

transform li Jt ,I • li Ili ff I 1.

i tltl ~lia Silveira Brandão


Professora da Un8

.....
p

Ca pr·tulo 1
1

nto de água, sociedade e ambiente


Abastecime
l

Léo Heller

1.1 Introdução

h u m a n a e p a ra o d e s e n v o lv im e n to d a s
d a á g u a pa ra a s o b re vi v ê n ci a
O papel essencial m p o , sa be -s e q u e a su a
e n to ge ra l na a tu a lid a d e. A o m e sm o te
sociedades é de conhec im e m
n te p a ra a te n d e r à d e m a n d a re q u e rid a
n atu re z a te m s id o in su fi c ie
disponibilidade na cr e sc e n te m en te . N e st e q u a -
e ta , fe n ô m e n o q u e ve m se a g ra va n d o
muitas regiões do Plan p a ze s d e fo rn e c e r á g u a c o m
a s te c im e n to d e á g u a d e ve m se r ca
dro, as instalações para ab la çõ e s, a lé m d e re s p e ita r o s
d a d e e d e fo rm a ac es s ív e l p ara as p o p u
qualidade, com regula ri s fu tu -
is u tiliz a do s, p e n sa nd o n a p re se nte e n a
á rio s d o s m a n a n cia
interesses dos outros usu r, p ro je ta r, im p la n ta r, o p e ra r,
s p ro fi ss io n a is e n ca rr e g a d os d e p la n e ja
ras gerações. Assim , o s en te
c im e n to d e á g u a d e ve m se m p re te r p re
s ta la ç õ e s d e a b a st e
manter e gerenciar as in a s a tiv id a d e s .
te r a ca pa cid a d e d e co n si d erá -la n as su
essa realida d e e deve m a b a st e ci -
a vi sã o p a n o ra m ic a d a im p o rt â nc ia d o
No presente capít u lo é fo rn e ci d a u m
co m o a m b ie n te . O te x to vi sa a in tr o -
la çã o c o m a so c ie d a d e e
mento de água e de sua re la çõ e s d e a b a s te c im e n to d e
d e s ta ca n d o as ra zõ e s p e la s qu a is in st a
duzir o leitor no tema , n e ce ss i-
e m in tr o d u tó ri a é e ss e n ci a l p a ra o s q u e
ta d a s . E st a a b o rd ag
água devem ser implan ic ia d e te r o s co n c e ito s e n v o l-
so b re o te m a. C o m p re e n d ê-l a p ro p
tam de uma primeira visão ra be m co n ce b e r e p ro je ta r
d e á g ua , q u e sã o fu n d a m e n ta is p a
vidos no abastecimen to
/ unidades e sistemas.

29
1.2 cont~xtos sociais

eg uir descre em duas situações muito díferentes, ern terrn .


os quadros a s .. . os das de-
mandas por água de abasteamento.

América Pré..Colombiana

O povo inca, que ocupa a os · ndes peruanos _na A~éri_ca pré-colombiana, des-
tacava-se pelo seu conhecimento de_ ~ngenh~na san,tána e pelas estruturas que
construíram, suas ruínas mostram ef1c1entes sistemas de esgotamento sanitário e
de drenagem pluvial. Existiam reservatórios de água e sistemas de banhos, para
os quais a água era conduzida através de condutos perfurados em rocha. o sanea-
mento tinh.a es,treita relação com a religião . No início da estação chuvosa, 05
incas realizavam uma .,cerimônia da saúde'', quando se efetuava a limpeza das
moradias e dos espaços públicos . Pretendiam se manter limpos para se apresen-
tarem puros per·ante os olhos dos deuses. Assim, uma crença religiosa gerava a
necessidade de, suprir as ocupações humanas de água e de se desenvolver
a tecnologia necessária. .De maneira indireta, a religião proporcionava melhor
saúde para o po o, desen oi imento e prosperidade.

Pintadas/Ba'h ia

Em 1992, foi realizado um diagnóstico no municf pio de Píntadas/BA, visando a


compre.ender como se realizava o abastecimento de água local e os fatores que
determinavam a ~orma de realização. Pintadas localiza-se a 250 km a noroeste
~e Salvador, no limite leste do semi-árido nordestino. Na época o município
tinha. .cerca de
. ·. .
15 000 h· b" . '
· · a 1tantes, sendo que de 3.000 a 4.000 vivi·am na sede do
mun1cíp10, que conservava .. . ct f • . . . . . -. . .
tatou condi ões · ..· •. . cara er s~icas tipicamente rurais. O d1agnóst1co ~on~-
ç . precarias de
quan t o na zona rural. A Tab 1 . abastecimento de água tanto na sede do mun1cfpto
. . .. . . ,, - .
eª ~ 1 resume o abastec11mento loc.al.
1

30
ADaStecm?Mtod? ãgi.a, sociedade e ambiente I Capítulo 1

1

Tabela 1.1 - Abastecimento de água em Pintadas/BA


l
Característica Sede do município Zon.a rural
Mananciais
Públicos (açudes, poços, Utilizados o ano t odo Utilizados principalmente
1

J cisternas comunitárias) na seca


1
1 Individuais Cisternas 1
(33 % Cisternas (1So/o)
2
Tanques2 (1 o/o) Tanques (83°/o)
• Transporte
Caminhão-pipa Utilizado o ano todo Utilizado principalmente
na seca
Carregando balde na cabeça Sim Sim
3
Mercado de transporte Não existe
Uso
Forma Distinção do uso Concentração dos usos
t
1
segundo a qualidade nos mesmos pontos de
da água água
Principal finalidade Consumo humano Agricultura

Consumo per capita 20 16


(Uhab.dia)
Existência de banheiro Cerca de 50 o/o das Proporção desprezível de
moradias moradias
1 captação de água de chuva dos telhados
2 captação de água de chuva no terreno
3 venda de serviço de transporte de água

Como se observa, Pintadas não possuía um sistema coletivo de abastecimento de


água, fruto da omissão do poder público em assegurar um abastecimento contf-
nuo, fornecendo água com qualidade. A população, nessa situação, desenvolveu
soluções próprias para satisfazer suas necessidades, tanto para consumo huma-
no como para sua subsistência econômica. Assim, são utilizados os mananciais
possíveis e usualmente com água de baixa qualidade, o transporte da água mui~
tas vezes é manual, o consumo per capita é extremamente baixo e raramente se
encontram instalações domiciliares. Este estado provoca doenças, mortes preco-
ces, baixa qualidade de vida e é um fator limitante para o desenvolvimento local.

Mesmo em uma realidade como esta, observam·se desigualdades no abasteci-


mento, havendo diferenciações entre moradores quanto:

• ao tempo de autonomia na utilização dos próprios recursos hídricos (grau


de dependência em relação a recursos públicos ou de t erceiros);

31
. mo humano
. de égua para consu
Abest.ectrnento

de trabalho da família despendido na obtençã 0


• ao tempo , . . d , )· de á .
u ão do tempo otil pro ut1.vo , . .. . , 9lla
{red. ç l'dade da água consumida (rrsco de impacto na saude);
• à qua 1 -' (á m b . ,.
. ·b·1·dade de irrigaçao gua co o em econom1co . . )
• à poSSl 1 1 · ·

rtigo publicado relatava o seguinte sobre o abastecimento d


Em 2004, a eágua d0.
município:

Numa região com tal escassez hídrica as soluções para o ':1anejo e abaste-
cimento de água a serem adotadas devem se~ ~om~atív:1s com esta reali-
dade. 0 abastecimento de água na sede mun1c1pal e realizado por sistema
integrado de abastecimento de água-SIAA operado . pela concessionária
estadual EMBASA, cuja água é captada no reservatório formado pela bar-
ragem de São José do Jacuípe, passa por tratamento e é distribuída para
diversas localidades, chegando a Pintadas. Devido à qualidade da água do
rio Jacufpe e ao represamento, ela chega à cidade com alto teor de
salinidade, sendo recusada pela população para o uso de beber. Análises
físico-químicas da água (. .. ) mostram que a concentração de sais dissolvi-
dos é superior ao permitido pela Portaria 518/04 do Ministério da Saúde
(... ). As soluções de suprimento de água diferenciam~se para a sede muni-
cipal e para a zona rural. A sede municipal, que já conta com o SIAA (. ..)
deve ter o abastecimento universalizado, e compete à Prefeitura, poder
concedente do serviço, exigir da concessionária estaduaJ regularidade no
fornecimento e qualidade da água distribuída. Na zona rural, a solução
que tem se mostrado mais adequada à realidade sociocultural-ambiental
da região é a adoção de cisternas domiciliares que armazenam a água da
chuva captada pelos telhados das casas, eficazes quando utilizadas para o
fornecimento de .água de beber, higiene pessoal e de preparo de alimen-
tos.( ...) Até o fina:I de 2004, o abastecimento de água da população rural
~stará universalizado com cada família dispondo de uma cisterna e de
filtro cerâmico para purificação da água de beber.

Fontes: BERNAT {1992); MORAES et ai. (2004)


·
Como.
se observa•'
aind ª· . . . - á
que. tivesse havido melhorias no abasteciment o de gua
1oca 1 e um planeJament0 d t . . . . . ó5 o
~
primeiro diagnó f . e, erm~nado para superar as carências, 12 anos ap
s ico uma s1tuaçao mu;to inadequada ainda persistia.

32
Abastecimento de água, sociedade e ambiente r Capítulo 1

Diversos outros contextos, semelhantes ou bastante distintos dos apresentados, pode-


riam ter sido mostrados. Porém essas duas situações são ilustrativas, cada uma delas indi-
cando importantes dimensões do abastecimento de água:
• um povo pré-histórico, com suas limitações tecnológicas e a influência
religiosa;
• a população de um município com baixa disponibilidade de água e
baixo investimento do poder público, onde a água tem importante
valor para a sobrevivência
,
mas também econômico.

Esses exemplos ilustram, portanto, a função essencial da água para as populações e


as diferentes motivações para a implantação de instrumentos de organização para o seu
suprimento, influenciando inclusive a forma como este é realizado.

1.3 Contexto técnico-científico

O conceito de abastecimento de água, enquanto serviço necessário à vida das pessoas


e das comunidades, insere-se no conceito mais amplo de saneamento, entendido, segun-
do a Organização Mundial da Saúde, como o controle de todos os fatores do meio físico do
homem, que exercem ou podem exercer efeitos deletérios sobre seu bem-estar físico,
mental ou social. Logo, saneamento compreende um conjunto de ações sobre o meio
ambiente no qual vivem as populações, visando a garantir a elas condições de salubridade,
que protejam a sua saúde (seu bem-estar físico, mental ou social).
Saneamento ou saneamento básico tem sido definido como o conjunto das se-
guintes ações: abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza pública, drenagem
pluvial e controle de vetores. Saneamento ambiental corresponde a um conjunto mais
amplo de ações. A FUNASA (1999) define esta última expressão como " o conjunto de
ações socioeconômicas que têm por objetivo alcançar níveis de salubridade ambiental, por
meio de abastecimento de água potável, coleta e disposição sanitária de resíduos sólidos,
líquidos e gasosos, promoção da disciplina sanitária de uso do solo, drenagem urbana,
controle de doenças transmissíveis e demais serviços e obras especializadas, com a finalidade
de proteger e melhorar as condições de vida urbana e rural". Por outro lado, por salubri-
II
dade ambiental, tem sido entendido o estado de higidez em que vive a população urbana
e rural, tanto no que se refere à sua capacidade de inibir, prevenir ou impedir a ocorrência
de endemias ou epidemias veiculadas pelo meio ambiente, como no tocante ao seu poten~
cial de promover aperfeiçoamentos de condições mesológicas favoráveis ao pleno gozo de
saúde e bem-estar'' (FUNASA, 1999).

33
..
Ab11t fm1nt d Agua p rn contumo humano

p ra a segurar condições adequadas de abastecimento de águ · u d · "rr rn~ rt


, uma abordagem de engenharia mostra--se essencial, pois as instalações d rn "" . fdrie 1r1,1: ;
projetadas, implantadas, operadas e mantidas e, para tanto, é ne~ árl u~, ~,fr1rrn'
consta do v, rbete engenharia" dos dicionários (Ferreira, 1975), seJam lí d
II
rsh •
II

cimento ientfficos e empíricos e habilitações específicas à criação d r


tivos processos que convertam recursos naturais em formas adequada
da nec ssidades humanas". Pela natureza dos problemas colocados p I n am n ,
conceito matemáticos, físicos, biológicos e qufmicos apresentam-se impo · n · p r; u
adequado equacionamento.
Contudo, a engenharia mostra-se insuficiente para assegurar os ~ '
potencíaJmente atingidos pelas obras de engenharia. Para isso, a artícufaçã · d ng r1haria
com outras áreas de conhecimento como a sociologia, a antropofogía, a p ícofo ía
social, a geog.rafía, as ciências políticas, a economia, as ciências gerencíais e a ·ência da
saúde ·, mais que desejável, é obrigatória. Tem sido defendido que, para a íngír pJ no
êxito nessas ações, de um ofhar a partir de uma única área de conhecimento (vísao unídis-
ciplinar) deve-se evoluir para uma perspectiva a partir de diversas áreas de conhecírn nto,
devidamente integradas (visão interdisciplinar). Para ilustrar essa necessídade, reproduz-se
a seguir uma definição formulada há mais de 60 anos atrás:

O saneamento tem sua história, sua arqueologia, sua fíteratura e sua


ciência. A maior parte das religiões interessa-se por ele. A sociologia o
inclui em sua esfera. Seu estudo é imperativo na ética social , É neces··
sário algum conhecimento de psicologia para compreender seu
desenvolvimento e seus reveses. É requerido um sentido estético para, se
alcançar sua plena aprecíação e a economia determína, em alto grau,
seu crescímento e sua extensão (... ) Com efeito, quem decide estudar
essa matéria com um crescimento digno de sua magnítude, d'eve con-
siderá-la em todos os seus aspectos e {... ) com riqueza de detalhes.
(Reynolds, 1943 apud Fair et al, 1980)

1.4 Histórico

A ~ecessídade de utilização da água para abastecimento é indissociável da história da


humanidade. Essa demanda determinou a própria localização das comunidades, desde
· que ~ hon:iem passou a viver de forma sedentária adotando a agricultura como meio ~e
subs,stêncra e abandon d ·d ' . dentária
tornou , °
. an ª. v1 a nômade, mais centrada na caça. A vida se
· mais complexo O equacionamento das demandas de água, que passaram entao ª

34
.1
água, soci edad e e am bien te I Cap llulo 1
Ab astecimento de

a is d e in d iv íd u o s o u fa m ília s ta n to
d e p o p u la ç õ e s e n ã o m
incluir o abastecimento ra r a lim e n to s e p ro m o v e r a
a de s fi sio ló g ic a s d a s p e ss o a s, p re p a
para atender as necessid s c u ltu ra s .
p a ra m an te r a a g ri c u ltu ra , ir rig a n d o a
lim pez a , q u a n to d e a
e n to d e á g u a s ã o e n c o n tra d o s , d e s
riê n cia s d e s u p rim
Vários registros de expe g ia s p a ra a c a p ta çã o,
p ro g re s s iv o d e s e n v o lvim e n to d e te c n o lo
Antigüidade, demonstran d o o
u a . E ss es re g is tr o s ta m b é m d e m on s-
to e a d is trib u iç ã o d e á g
o transporte, o tratamen fo rn e c im e n to d e á g u a n o
d a h u m a n id a d e p a ra o p a p e l d o
tram a crescente consciência n e ss e a s p e c to o b s e rv a n d o -
n a p ro te ç ã o à s a ú d e h u m a n a ,
desenvolvimento das culturas e a d e d a á g u a . E ss a to m a ·a a
iê n c ia q u a n to à im p o rtâ n c ia d a q u a lid
se o crescimento da consc x to s h is tó ric o s , na c o m p re -
n d o ta m b é m , e m d ife re n te s c o n te
de consciência acabou resulta a s te c im e n to e , e m d ec or-
se p re s e rv a re m o s m a n a n c ia is d e a b
ensão da importância d e
rência, s ua s ba cia s c o n tribu in te s .
q u e m a rc a ra m a e v o lu ç ã o h is tó ric a d o
o s im p o rta n te s e v e n to s
Na Tabela 1.2 são listad n o ló g ic a , c o m o a s p re o -
e le p o d e m -s e d e s ta c a r, e m ord e m c ro
abastecimento de água. D
cupaç õe s fo ra m se su ce d e nd o :

a a g ri c u lt u ra e a p e c u á ria , s im u lta -
• com o s u p ri m e n to d e á g u a p a ra
to p a ra c o n s u m o h u m a n o
. ;
neamente ao abastecimen
g u a e m c a n a is e tu b u la ç õ e s ;
• com o transporte da á
p ta ç ão d e á g u a s u b te rr â n e a ;
• com a ca
• com o a rm a ze n a m e n to d a á g u a ;
o a g u la n te s, d e c a n ta ç ã o , fi lt ra ç ã o ,
• com o tr a ta m e n to d a á g u a (c
desinfecção ...);
laç ã o d a á g u a e m re p re s a s ;
• com a acumu
• com a elevação da água;
m p re e n s ã o d a h id rá u lic a ;
• com a co á g u a .
ã o d e s e rv iç o s d e a b a s te c im e n to d e
• co m a o rg a n iz a ç

a história do abastecimento de água (contínua)


Tabela 1.2 _ Eventos relevantes n
Referência
Evento
Data
va da ) pe lo se r hu m an o. FSP (1993)
im ai s do m és ticos e cu l!ivo s ~tri~ o e ce
c 9000- cr iaçã o de an up aç ão pe rm an en te
lítica no Orie nte Próxi m o; rn lcro da oc
sÕoo a. e . R ev oluç ão N eo
m un do (4 ha ) FSP (1993)
ra ci dade m ur ad a do
c. 8350- fundação de Jericó, a primei
7350 a.e . a FSP (1993)
op ot ~ m ia p o r gr up os qu e pr aticav am
co loni zaçã o da pl an ície aluv ial da Mes
c. 5000
a.e. irrigação
de N ip u r (B ab ilô nia) Azevedo Netto
go to s na cida de
c. 3750 utilização de coletores de es et ai. (1998)
a.e . Rezende e
e dren ag em no V al e do H in du s
c. 3200 utilização de sistemas de água Heller (2002)
a.e . Rezende e
co br e no pa lá ci o re al do fara ó eh éo ps
c. 2750 utilização de tubulações em Heller (2002)
a.e .

35

-- · ·- ~- - - -- - - -- --
• , .

.•.
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!. :-.
...~. .>.··,~1--·,
t .:-, •• <:.-'t
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J ... ~ ,~,.- ,"· .•... :·
'
,. .. t-' ,;,• ......: . .
e -· ·~ ..

Ab11ttclmonto do taun parti con,umo humano

u _ s s ·_ 1 g J 1 1 111 i& . a 1 z
(continua)
Data Evento •
- i!Z1fi :· 1 r • RIP E il!U · se Z Referência
c.2600 oxl,tõnclu cJo rC-'.I.Prvatôrlo~ do terrc1 e utlllzaçao de captação subterrânea pelos E -- -

a.e. povo\ or\c•r,1t1I•, Rezende e


Heller (2002)
c.2500 uso corrlquolro cio r11étocios do perfuraçao para obter água do subsolo pelos
a.e. UJD {1978)
egípcio~orf11nfle;O\
e. 2000 utlllta,rio do ~ulferto d t1'1umfnlo na clarlflcaçao da água pelos egípcios Rezende e
a.e. Heller (2002}
c.2000 escritos om ~anflc-rlto sobr, o~ cuidados com a água de beber (armazenamento em
Rezende e
a.e. vasos d~ cobrfl, fUtr«1çno ,,trdv(,s df:4 carvao, purificação por fervura no fogo, por Heller (2002)
aquec1mC'nto cio i,ot CJU por 1r1troduçao de uma barra de ferro aquecida na massa
lfquldd, sequtdd por i1ltr,1c_no cm c1rela e cascalho grosso)
e. 1500 utlUzaçao da dacantaçao para a purificação da água pelos egípcios Rezendee
a.e. Heller (2002)
c. 950 construção das cláss1cas roprai;as de Salomao, entre Belém e Hebron, de onde a Barsa (1972)
a.e. água ~rd ,1d1J11cJ,1clô tramplo e à própria cidade de Jerusalém, local em que foram
imptantadd!, grdíldt'~ c.t~t<>rnJ!, pard acumular águas das chuvas e levantados
reservdtórlos ~crv,do\ r>or tunol!i·canals de alvenaria
c.691 construção do c1qucduto do Jerwan (Assíria}; constituinte do primeiro sistema Azevedo Netto
a.e. público de abastPclmonto da tlgua conhecido et ai. (1998}
e. 625 construção de aqueduto para abastecer a cidade de Mégara e, posteriormente, a Barsa {1972)
a.e. cidade de Samos, ambas na Grécia
e. 580 obras de elevação de água do rio Eufrates) para alimentar as fontes dos famosos Barsa (1972)
a.e. jardins suspensos da Babllõnla, no lmpérlo de Nabucodonosor
e. 330 utllizaçao da roda hldráullca pelos gregos em seus domínios no Oriente Médio Bono (1975)
a.e.
c. 312 construçao do primeiro grande aqueduto romano, o Aqua Apia, com cerca de 17 Azevedo Netto
a.e. km de extensão et ai. (1998),
Barsa (1972)
e. 270 construçao do segundo grande aqueduto romano, com extensão de 63 km Barsa (1972)
a.e.
e. 250 enunciado de princípios da Hidrostática por Arquimedes no seu "Tratado sobre Azevedo Netto
a.e. corpos flutuantes" et ai. (1998)
e. 250 invenç:1o da bomba parafuso, por Arquimedes Azevedo Netto
a.e. et aL (1998)

e. 200 invençao da bomba de plstao, idealizada pelo físico grego Ctesebius e construída Azevedo Netto
a.e. pelo seu dlscJpulo Hero et ai. (1998)
e. 144 construçao do tercelro grande aqueduto romano, o Aqueduto de Márcia, com Barsa (1972)
a.e. 92 km
c. 70 a.e. nomeação de Sextus Julius Frontlnus como Superintendente de Aguas de Roma, Azevedo Netto
provavelmente a primeira orgdnlzaçao a cuidar especificamente do tema et ai. (1998)
e. 305 construção do 14° grdndC' aqueduto romano, elevando para 580 km o Barsa (1972)
comprimento dos aqueduto!I abastocodores da cldade de Roma, dos quais 80 km
em arcos. A vazao totdl c1du1rda ora do 17. m'ls.
até ono p_erfodo, a populaçao de Roma totalliava entre 700.000 e 1.000.000 de .Azevedo Netto
século UI habitantes, o~upanda árcn do rercd de 7.00 ,ha, sendo que, no tempo de et ai. (1998),
d.C. Constantlno {306-33 / d.C.), d cidade p-ossurc:1 247 reservatórios, 11 grandes aarsa (1972)
termas, 926 t,anhalros públlco.s e 1.21 "J chafarizes.
séc. v..x111 consumo de água de apena!t 1 Llhab.dla na maior parte da Europa Rezende e .
(tdade Heller (2002)
Médta)

36
Abastecimento de ~gua, sociedade e ambiente J Capitulo l

(continua)
Data Evento Referência
1126 perfuração do primeiro poço artesiano jorrante, na cidade de Artois, na França. UJD (1978)
1348- ocorrência da grande peste o~ 1:este neg~a (peste bubônica), matando 25 milhões Bono (1975)
1353 de pessoas na Europa e 23 m1fhoes na As,a (25o/o da população mundial)
1590 invenção do microscópio Bono (1975)
1620 infcí~ da con~ção d~ ~qu~duto do rio Carioca, para abastecimento da cidade Azevedo Netto
do Rto de Janeiro, por 1nrc1ativa de Aires Saldanha, com comprimento de 270 m et ai. (1998)~
e altura de 18 m (obra concluída inteiramente apenas em 1723) Barsa (1972)
1654 invenção do compressor de ar, por Otto von Gueriche, na Alemanha Azevedo Netto
et ai. (1998)
1664 !nvenção dos tubos de f erro fundido moldado, por Johan Jordan, na França, e sua Azevedo Netto
rnstafação no pafád o de VersaiHes etal. (1998)
Dacach (1990)
1664 invenção da bomba centrifuga, por Johan Jordan, na França Azevedo Netto
et ai. (1998)
1712 invenção do motor a vapor, por Thomas Newcomen, na Inglaterra Bono (1975)
1723 condusão do primeiro sistema coletivo de abastecimento de água do Brasil, no Rio Azevedo Netto
de Janeiro et ai. (1998)
1775 invenção do vaso sanitário, por Joseph Bramah, na Inglaterra Azevedo Netto
et ai. (1998)
1804 construção da primeira. instalação coletiva de tratamento de água para consumo Azevedo Netto
humano, por meio de filtro lento, concebido por John Gibb, na Escócia et ai. (1976)

1828 construção de conjunto de filtros lentos para utilização no abastecimento de parte Azevedo Netto
da àdad·e de Londres et ai. (1976)
1841 invenção da borracha vulcanizada Bona (1975}

1846 - a cólera mata 180 mil pessoas na Europa, tendo sido comprovada a sua origem na Bono (1975)
1862 água, em Londresl por John Snow
1846 invenção das manilhas ceramicas extrudadas, por Francis, na Inglaterra Azevedo Netto
et ai. (1998)
invenção do aço Bessemer Bano (1975)
1856
condusão da perfuração do poço artesiano jorrante de Passy, para abastecimento Barsa (1972)
1857
de água da ádade de Paris, com 586 m de profundldade e vazão de 230 Vs
invenção do motor de combustão interna Bano (1975)
1860
invenção dos tubos de concreto, por J. Monier, na França Azevedo Netto
1867 et ai. (1998)
utilização de tubos de ferro fundido na adução de água dos rios D'Ouro e São Azevedo Netto
1875
Pedro, para abasteámento do Rio de Janeiro et ai. (1998)
publicação dos trabalhos de Pasteur, na França, que dão origem à Microbiologia Azevedo Netto
1881
et ai. (1976)
construção da primeira hidrelétrica no Brasil, em Diamantfna - MG (para Azevedo Ne.t to
1883
mineração) et ai. {1998)
construção da primeira hidrelétrica para abastecimento públíco, na cidade de Juiz Azevedo Netto
1889
de Fora-MG
et ai. (1998)
criação da Repartição de Agua e Esgoto da cidade de sao Paulo, com a Azevedo Netto
1893
encampaÇão da Cía. Cantareira, empresa privada que era responsável pelo et ai. (1976)
abastecimento da ádade


37
Abastecimento de ,gua para ,onsumo humano

(conclusão)
Data Evento
. Referência ...
1905 primeira aplicação do cloro como desinfetante de água de abastecimento, feita
Azevedo Netto
-
por Sir Alexander Houston (" o pai da cloração"), na Inglaterra et ai. (1976)
1908 primeira aplicação do cloro na desinfecção de água de abastecimento nos EUA, Azevedo Netto
em.. Nova Jersey et ai. (1976)
1913 invenção dos tubos de cimento amianto, por A. Mazza, na Itália Azevedo Netto
et ai. (1998)
1914 invenção dos tu.bos de ferro fundido centrifu_gado, por Fernando Arens Jr. e Dimitri Azevedo Netto
de Lavaud, na cidade de Santos - SP, no Brasil et aJ, (1998)
1936 Lançamento do tubo de PVC, na Alemanha, com a montagem de uma rede Tigre (1987)
experimental enterrada para teste de durabilidade (amostras dessa rede, retiradas
em 1957, mostraram que os tubos não sofreram qualquer alteração)
Fonte: adaptado de compilação realizada por PRINCE (2002)
.e.: cerca de ...

1.5 Necessidades da água

Ao longo da história da humanidade, foram se tornando crescentemente mais diversi-


ficadas e exigentesl em quantidade e qualidade, as necessidades de uso da água. Com o
desenvolvimento das drversas culturas, as sociedades foram se tornando mais complexas e
a garantia de sua sobrevivência passou a exigir, ao mesmo tempo, mais segurança no
suprimento de água e maiores aportes tecnológicos que, por sua vez, também vieram ª
demandar maior quantidade de água. Ma.is modernamente, necessidades outras, como as
ditadas pela sociedade de consume e as "indústrias" de turismo e de lazer, vêm trazendo
novas demandas pela água.
Do ponto de vista dos recursos hídricos existentes no planeta, tanto os superficiais
quanto os subterrâneos, verificam-se diversos usos demandados pelas populações e pelas
atividades econômicas, alguns deles resultando em perdas entre o volume de água capta·
do e O volume que retorna ao curso de água (usos consuntivos) e outros em que essa.s
perdas não se verificam (usos não-consuntivos) embora possam implicar alteração regi· n?
h.d
I 16 · ' .
me ro g1co ou na quaf idade desses recursos. A seguir, apresentam-se os princ· ipa1s usos
da água:

• Usos consuntivos
- abastecimento doméstico· I

- abastecimento
. . industrial·,
- 1rr,gação;
• aqüicultura {piscicultura, ranicultura, .•. )

38
. .... . . _.. .,. ~ -;· e.: ... -; - - .. - ..... --( - - - . ' ~. - .. - .. - - - -e .,._ _, ! • ::: • ••• - - - • •.• - • ' • • • - - '. • - • • " - - - . _ ..;

b t tn n\ -· dnd~ e ambiente I Capitulo 1

• Usos não-consuntivos
- geração de energia hidr · 1 tt i ;
- navegação;
- recreação e harmoni p I t tl ;
- pesca;
- diluição, assimilação f nt

Éinteressante notar a competi ·o t1t1 u n untiv , A] b la 1,3 ilustra a partição 't,Je,I

entre os maiores usos da água nos contrn n·t . m linl . r i , pode-se observar uma maior
superioridade da parcela para uso em frri n , ntin r,t m menor desenvolvimento
- superando 80o/o do uso na Africa n r nd p rticipação da água para uso
industrial nos continentes ocupados por p f n lvid logo mais industrializados. t

Tabela 1.3 - Distribuição anual dos usos da águ por continente (1995) -
-

Continente lrrigaç o Uso industrial Uso doméstico


-

3
km o/o "m' km ºlo
África 127,7 ,O 7, ,O 10,2 7,0
Ásia 1388,8 8 ,O 1 i7,0 ,o 98,0 6,0
Oceania 5,7 4, 1 o, ,.s 10,7 64, 1
Europa 141 , 1 ,, o, S ,O 63,7 14,0
América do Norte e Central 248, 1 4 ,1 , 4 ,7 548
., 10,2
América do ,Sul 62,7 ,.O ,o 19, 1 18,0
TOTAL 2024, 1 8, 1 ,1 256.5 8,6
* percentual entre os três usos
Fonte: adaptado de RAVEN et ai. (1998), apud TUNOI ·t ( 00 }

Em relação ao abastecimento domé ti · d u , bj to do presente livro, este deve


ser considerado para atender as seguin s n id d d um omunidade, considerand.o
o abastecimento por meio de canalizaçõe .

Tabela 1.4 - Necessidades de uso da água em uma comunidade (continua)

Agrupamento Necessidades
de consumo
Consumo Ingestão
doméstico Preparo de alimentos
Higiene da moradia
Higiene corporal
Limpeza dos utensfllo -
Lavagem de roupas
Descarga de vasos sanltárl,.,.,
Lavagem de veículos
Insumo para atividades e onõml · d r I ili r (lavadeiras, preparo de
alimentos...)
Irrigação de jardins, hortas e pomdr s domiciliares
Criação de animajs de cstlr11t.1çêlo e de dfli111ais para alimentação (aves,
suínos, eqüinos, caprinos etc.)
-- --- -----
19
-f to de égua para consumo humano
Abastec men

(conclusão)
Agrupamento Necessidades
de consumo
1

Uso comercial suprimento a estabelecimentos diversos,. com ênfase para aqueles de


maior consumo de água, como lavan~er1.as, bares, restaurantes, hotéis,
postos de combustíveis, clubes e hosp1ta1s
Uso industrial suprimento a estabelecimentos localizados no interior da área urbana,
f com ênfase para aqueles qu~ incorporam água n~ produto ou que
necessitam de grande quantr dade de água para limpeza, como
indústrias de cervejas, refrigerantes ou sucos, laticínios, matadouros e
frigoríficos, curtumes, indústria têxtil.
Uso público Irrigação de jardins, canteiros e praças
Lavagem de ruas e espaços públicos em geral
Banheiros e lavanderias públicas
Alimentação de fontes
Limpeza de bocas de lobo, galerias de águas pi uviais e coletores de esgotos
Abastecimento de ediffcios públicos, incluindo hospitais, portos,
aeroportos e terminais rodoviários e fe·rroviáríos
Combate a incêndio

Note-se que os usos são diversos e atendem a diferentes interesses_ De forma esque-
mática, as ·necessidades podem ser cl·assificadas segundo as seguintes categorias:

• Usos relacionados à proteção da saúde humana: são considerados


usos essenciais que, não sendo satisf·eitos a partir de um patamar
mínimo de quantidade per capít,a, podem implicar transmissão de
doenças para o homem. Incluem os usos para fins de ingestão e de
h.igiene e, nesses casos, os requisitos de qualidade são fundamentais.
lncf uem também a descarga dos vasos sanitários.
• Usos relacionados ao preparo de ali:mentos: incluem o preparo de

alimentos em si, a irrigação de hortas e pom.ares nos domicílios e a
limpeza de utensílios de cozinha,
• Usos relacionados a atividades econômicas.
• Usos destinados a elevar o nível de conforto, a satisfação estética e
cultural das pessoas e a manutenção dos espaços páblicos urbanos e
rurais.

Embora.possa se reivindicar que todas as categorias de uso são necessárias e devem


por consegui~te ser garantidas pelas instalações de abastecimento de água, trabalha-se
com.º _conceit~ de essencialidade. Esta refere-se à quantidade mínima de água e às
c~nd,çoes mfnrmas para seu fornecimento, para atender às necessidades básicas para ª
vida humana, sobretudo visando a proteger sua sa6de, a função mais nobre a ser
Abasteclmento de água, .sociedade e ambiente I Cap(tulo 1

cumprida pelo fornecimento de água. A Organização Mundial da Saúde e a UNICEF


defendem o conceito de que este mínimo seria um consumo de 20 litros diários por
habitante, advindos de uma fonte localizada a menos de um quilômetro de distância da

moradia. Essa condição é definida por aquelas instituições como provisão melhorada
de abastecimento de água. No entanto, o conceito tem sido questionado por alguns
organismos e estudiosos (Satterthwaite, 2003), que, em contraposição, defendem o
direito de todos a uma condição adequada, que prevê um fornecimento contínuo de
água, com boa qualidade e por meio de canalizações. Essa condição seria suficiente para
reduzir grandemente o risco de transmissão feco-oral de doenças, ao passo que a primeira
condição não teria a mesma capacidade~
Um benefício que deve ser considerado, na implantação de instalações de abasteci-
mento de água, refere-se às mudanças nas condições de vida da população. Estudos em
áreas rurais vêm demonstrando que um beneffcio de grande impacto é o tempo que as
pessoas principalmente as mui heres deixam de despender na obtenção de água.
Quando não se dispõe de soluções coletivas de abastecimento e a fonte de água é
distante, as mulheres podem ocupar mais de 1So/o de seu tempo produtivo (Churchill, s.d.)
executando um trabalho pesado, que pode trazer problemas para seu sistema músculo-
esquelético. Além disso, há. uma relação entre a distância da fonte de água e o tempo
despendido, bem como entre estes e o consumo per capita de água, e conseqüentemente
a saúde humana, conforme explicado no item 1. 7 e mostrado na Figura 1.1.

45
40
,......
(O
35
:S• 30
i 25
5..._,,,, 20
o 15
e.
CT 10
5
o
o 10 20 30 40 50
tempo (min)

Figura 1. 1 - Tempo despendido na obtenção de água e consumo per capita correspondente

conforme se pode observar, tempo superior a 30 minutos provoca consumos per


capita inferiores a cerca de 16 1/dia, valor extremamente baixo, que pode provocar grave
comprometimento à saúde da população consumidora.

41
. ,. n de jgua para consumo humano
Abasted men..... .

_ oferta e demanda ~e.recursos hídricos


16 - - e

Uma importante e permanente tensão relacionada com as condições ambientais é a


referente ao balanço entre a demanda (necessidades) de ág~a para consumo humano e a
oferta (disponibilidade) de recursos hídricos, conforme descrito nos itens seguintes.

1.6.1 Oferta

Como é sabido, os recursos hídricos constituem um bem natural, renovável, cujo volu-
me total no globo terrestre é relativamente constante ao longo dos tempos, contudo com
uma distribuição variável no tempo e no espaço, entre os diversos compartimentos ambi-
entais. Ou seja, a distribuição da água entre suas diversas f armas no planeta vem mudando
ao longo dos anos, sobretudo devido à forma como o ambiente vem sendo modificado -
dos impactos locais até os impactos globais , como também se altera ao longo de um
ano hidrológico, segundo as diversas estações climáticas. Além disso, essa distribuição e
essas modificações não são homogêneas no espaço, havendo regiões com extremos de
abundância e outras com extremos de escassez de água.
Na Figura 1.2, observa-se a distribuição média de água na terra, entre suas diversas
formas, destacando a extremamente baixa proporção de água doce mais disponível, no
montante global de água, sendo que a maior parte dela constitui água subterrânea, nem
sempre de fácil exploração.

4,39°/o 1,65o/o

Oceanos
• Àgua subterrânea
.. . .. D Geleiras e calotas polares
Figura 1.2 - D1stribuição média de água na Terra

42
Abastecimento de água, sociedade e ambiente I Capítulo 1

Já na Figura 5.1 (capítulo 5), é mostrado o ciclo hidrológico, cuja compreensão é


fundamental para se entender:
1. que a água se mantém em permanente circulação dinâmica no planeta;
2. que essa circulação é muito vulnerável a modificações nas condi~
çóes ambientais (por exemplo: proteção das bacias hidrográficas x águas
superficiais; proteção das áreas de recarga x águas subterrâneas; preser-
vação da cobertura vegetal x precipitações);
3. que essa circulação é variável no tempo, secular e sazonalmente.

Para o abastecimento de água é fundamental a avaliação das variações de vazão dos


cursos de água, especialmente os superficiais, importando avaliar as vazões mfnimas. A
segurança do fornecimento de água depende da garantia de que a vazão a ser captada
seja superior à mfnima do manancial em um determinado período hidrológico, a menos
que sejam adotadas estruturas para acumulação, mas mesmo neste caso é essencial que se
conheçam as variações hidrológicas do curso de água. Maiores detalhamentos sobre como
podem ser realizadas tais estimativas são desenvolvidos nos capítulos 5 e 6.
Ê importante notar que as vazões mínimas dos mananciais de superfície são muito
vulneráveis ao uso e ocupação territorial nas bacias hidrográficas. Com a crise ambiental, em
que uma de suas expressões é a remoção da cobertura vegetal, o solo das bacias contribuintes
aos mananciais vai tendo sua capacidade de retenção de água diminuída, resultando em
menores vazões em épocas de estiagem. Como se sabe, essa modificação ambiental tam- .
bém provoca eféitos nocivos nas épocas das chuvas, com o aumento das vazões de cheia -
e todas as suas conseqüências , da erosão do solo e do assoreamento dos cursos de água.
Na mesma direção, o impacto das mudanças climáticas globais na disponibilidade de
água ainda necessita ser mais bem avaliado, mas pode-se presumir que, se tem havido um
aumento da temperatura média do Planeta, este também pode trazer implicações nas
vazões extremas dos mananciais.
Outro fator ainda, que pressiona a oferta de água para consumo humano, é a demanda
por outros usos, como os usos para fins agrícolas, crescentes com a ampliação da agricultura
intensiva irrigada, gerando em muitas regiões um ambiente de conflito.

1.6.2 Demanda

Do lado da demanda por água para consumo humano, percebe-se que, ao longo do
tempo, vem ocorrendo um crescente aumento no Brasil, ocasionado pelos seguintes fatores:

• aumento acelerado da população nas últimas décadas, sobretudo


nas áreas urbanas e em especial nas regiões metropolitanas e cidades
de médio porte, embora em ritmo decresc~nte, o que pode ser obser~
vado nas figuras seguintes;

43
• lncr mento da industrialização, aumentando a demanda por água
m nú: leo urb nos; . _ .
• . m .nto do volume de perdas de água em muitos sistemas de abas-
lmen 0 , fruto da obsolescência de redes e de baixos investimentos.

8,0 --- - -- - -- - - - - - -- - -- ---,


~

Ci
Õ 7,0
~
e
m 6,0
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~ 5,0
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~ 1,0
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0,0 ....._
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1940 1950 •
1960 '1970 1'980 1991
Décadas
~ Figura 1.3 - Taxa anual de crescimento da população total e da po.pulação urbana no Brasil
Font : NASCIMENTO e HELLER (2005), com base em dados censitários IBGE:. http://www.ibge,gov.br

40,0 , -- - - -- - - - -- - - - - -
........
~ 35,0
o •
~
..... 30,0
8J• 25.0 • Fortaleza
o.
~ 20,0 * Belo Horizonte
:mo. 15,0 • São Paulo
(O - l i - Salvador
~ 10)0
o_
a.. 5•O ·
-0

o.o .,. .- ------.1 = ----.--------,--------J


1850 1900 1950 2000 2050
Censo [ano]
~ Figura 1.4 - Percentual da po 1 .~ , .. . . . . . do
Fonte: NASCIMENTO e HELLER { ju açao residente em algumas cap1ta1s versus população residente íl() esta
2005
' com base em dados censitários IBGE: http://www.ibge.gov.br
• Das figuras, podem-se ob • •
laçao brasileira co t d . . servar tendêne,as de refrear.nento do crescimento da popu
1
tais, mas este fen~ica-se . esconcentração da r:>opulação âe algmns estados em suas capt·
· · ·meno vem resultand 0 · · . d' porte
conforme mostra a Figura , .s. · · na ~resen•mer.rte clas c1dacdes de mé 'º · '
• •


'
mblente·f Capitulo 1

.O 35 , -- - - - - ·--.. r

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1940 1950 1960 1 1 '. 000 2010
-- . (nJ
- -..Figura 1.5 - Crescimento do número d tfl rilt.fplt1•,, 11rr, 1n .i- tJ , mil h b t ntes
Fonte. NASCIMENTO e HELLER (2005), com b m tJ ,tJtA · ltr1t /Jfl Jflf1I · t , JJ,//www,H, , ov.br

1.6.3 Balanço oferta X demanda

Logo, no balanço entre oferta e d rn nd , Vi r Vi rifl n . f cente deslocamento


r
em direção à demanda, o que tem prov z · 1 . nl llld d e conflitos complexos
em muitas regiões. Esses conflitos podem r urn Jt ·r r J h n · om aimplementação
da Lei nº 9.433/1997, que instituí a Política I n I d~,: ,, l lt I ria o Sistema Naáonal
· de Gerenciamento de Recursos Hfdricos - · f-f, q J r n , msituações de escas-
sez, uso prioritário para consumo humano. P r · • 1 i• 1· , ri do in rumentos de gestão
dos recursos hídricos, como a outorga d dlri í d br n pelo uso, os comitês de
bacia hidrográfica, com competênáa para arbíú•r flt , . ncl de água, com a função
de suporte técnico aos comitês~Esquematí m , , ...,....... fn,Yiiril -·- t ndências verificadas:


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Conffttps
de usos


Figura 1J.6~-·.R~laç~ô oferta/demanda d.e S u

4
umo humano
de água para cons
Aba.stedment o

1.7

1.7.1 Evidências históricas

, regl
Existem · .' stros sobre
· a compreensão
. da associação entre água
_ de consumo
_ · hu ma-
, d datados dos tempos mais remotos. Contudo, essa compreensao verificav
no e sau e, - . _ . . . . a. .se
.g·umas poucas 51 tuaçoes e em algumas culturas e tinha bases explicat,
· v
apenas em 1_ - - . _. . _ _ . . . as
ª
muito distintas das atualmente d1sponíve1s p~lo conhecimento c1entíf1co moderno. Identifi-
cavam-se então desde cuidados com a qualidade da água de consumo, como O relato do
ano 2000 antes de Cristo, na fndia, recomendando que "a água impura deve ser purificada,
pela feivura sobre um fogo, pelo aquecimento no sol, mergulhando um ferro em brasa
dentro dela, ou pode ainda ser purificada por filtração em areia ou cascalho, e então resfri-
ada " (USEPA, 1990), até a preocupação com a sua disponibilidade, como a recomendação
de Hipócrates (460-354 a.C.): "a influência da água sobre a saúde é muito grande".
Ao longo da história, dados disponíveis sugerem, em alguns contextos, que a imple-
mentação de serviços sanitários resultou em melhoria dos indicadores de saúde da população,
embora essa demonstração não seja simples. Alguns relatos, como o apresentado na
Figura 1.7, mostram tendências similares entre ações de saneamento e a redução de mortes
precoces e doenças, nesse caso a redução da mortalidade por febre tifóide doença bacte-
riana de transmissão feco-oral ao passo em que se reduzia a proporção da população sem
acesso ao sistema de abastecimento de água em Massachusetts nos séculos XIX e XX.

Ano 1885 1890 1895 1900 1905 1910 1915 1920 1925 1930 1935 1940
\ . 30
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---

. 19 5 1910 1915 1920 1925 1930 1935 1940


- .·
Figura 1.7 - Evolução da mortalidade o
- Massachusetts c1855 f1 . . . . . .
r febre t1f61de e do atendimento por abastec,m~nto de água
Fonte: FAIR et ai. (1966) apud MCJUNKIN (19~6) 40) ,

46
'í ' ' J
I
mostrada na Figura 1, '
Ili
11 t culo XIX, a efevaçá ~:(5'1
.x t,11·1v,t I · 1 rn período em que · rI
· ir f, , ,t ,· , 11111 ·I trt 1q 1 11 se fenômeno d · "
mfn ·· J '' 1 v ,t,, li t ntes cidades européí,,'- ~
n ,I .,,1,r1 · ,, t t r 11 1 .
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Infra-estrutura sa 11:árt
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Marselha

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• 40 Paris /

.. Marselha/ /
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J
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1870 1800 1890 1900
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Ffgur 1. 1; 1 I :I I f, 11 II tVI t · imento de água e esgotam·en
• Jt ,l i
Fonte; PR / l1J r. 11 I J I ,, I f I

A derno u !Idade da água e a saúde, que


foi inclusiv . pn ...~ . . 1
- ·
1 11 l'l'II . 1r o estudo dos problemas de
saúde póõl1 ., tr i , IJ, d· John ·snow em Londres em
J f( f · · n w em sua investigação, que
meados do ,:;are

mostr.aram I r nas moradias abastecíd.as


peta água n· 1,

Tabela 1,5 • M r 1 gundo a origem do forneci..


manto de águ ,
~~~~~========~~~~~
F·ornec:I
-

Companhi
Compar,hí ·
Restante d
Fonte: SNOW (19 O)


umo humano
.
Abaste,rmen
to de ,gua para cons
- .

. . . . ntagônicas de pensamento sobre o processo saúd


~a épo~a, dua~ teo~;:;ática e a teoria contagionista ..A primeira, hegern:d.oença
debatiam~_se. a teoria m d· . ças eram provocadas por "rn1asrnas", que ser·i . nica no
. f d·a

período, e en -' , que as oen
_ .
responsáveis . - - an, em
pela produçao de doenças. A se · ana-
.. . veneno5.·· 11
• • • u -
qual Snow era partias t:ansmissíveis entre as pessoas o~ pelo meio. Note~se assi~,a de
agentes das doenç , . rpo teórico correto, mas sem dispor de uma evidência que
· com base em um co . . . . concret
Snow,
1865
ainda não haviam sido ,solados os m1crorganisrnos ~ ª
que o sustentasse em · d. · .d · con-
• _ .e rma como a cólera lon nna era transm1t1 a e, em deco " .
seguiu demonstrar a ,o · rrenc,a,
contribuir para seu controle. .. ~ . . . .
A compreensa . ""o quanto às formas como
· . a. transm1ssao de doenças 1nfecoosas
·. se pr.
· ,oces..
_ d e m 05 conhecimentos oentfficos modernos, começou a partir do final d
sa, de acor o o · . . . · o
. XIX com as descobertas de Pasteur e Koch, que deram orrgem à microbiologia. 0
sécu 1o . ºb·1· fº .. d u
seja, a identificação dos microrganismos poss1 i rtou ~o~ irmar a açao os agentes biológicos,
J

de sua presença na água, e de seu papel na transm1ssao das d~enças.


um esforço mais sistemático de compreender as relaçoes entre o saneamento e a
saúde foi observado na década de 1980 a Década Internacional do Abastecimento de
Agua e do Esgotamento Sanitário, decretada pela ONU. A partir dessa década, passou-se
a possuir um conjunto mais numeroso e consistente de estudos epidemiológicos que
avaliavam essa relação, possibilitando extrair valores médios da possível redução na ocor-
rência de doenças, advinda da implantação de serviços de abastecimento de água e de
outras medidas de caráter sanitário. A Tabela 1.6 ilustra a redução mediana na diarréia I

esperada com a implantação de melhorias no abastecimento de água e no esgotamento


sanitário, variando entre 15 e 36%, dependendo do tipo de intervenção_ Já a Tabela 1.7
mostra esse impacto em alguns indicadores de saúde, podendo-se observar que pode ser
significativo.

Tabela 1.6 - Redução percentual na morbidade por diarréia, atribuída a melhorias


no abastecimento de água ou no esgotamento sanitário
Intervenção Redução mediana (%)
Abastecimento de água e esgotamento sanitário 30
Esgotamento sanitário 36
Qualidade e quantidade de água 17
Qualidade da água 15*
Quantidade de água 20
Fonte: ESREY et ai. (1991)
* Estudo de Fewtrell et ai. (2005) mostra .
que este valor pode ser superior, atingindo cerca de 30o/a.

48

j
Ta~ela 1·7 -. Redução percentual na morbld . d mort lldade por indicadores de
saude selecionados, atribuída a melhoria n b . t clm · nto de água e no esgota-
mento sanitário
-- - -

1
Indicador de saúde Redução mediana< > (%)
Ascaridíase 29 {15-83)
Morbidade por doenças diarréicas 26 (0-68)
Ancilostomfase · 4 ( .. )
Esquistossomose 77 (59-77)
Tracoma 27 (0-79)
Mortalidade infantil 55 (20-82)
- . -

Fonte: ESREY et ai. (1991)


(1) Os nOmeros entre parênteses correspondem f 1x d v I '

1.7.2 Mecanismos de transmissão de doenças a partir da água

Dois mecanismos principais de tr nsmi o d do nças pela água, por agentes bioló-
gicos, são observados:
• a transmissão por .ingestão d · águ . ont minada por agentes bioló-
gicos patogênicos;
• a transmissão que ocorre pela in ufi iência da quantidade de água,
provocando higien:e defic:ientei

Em vista disso, dois grupos de doença mais dir tamente relacionados ao abasteci-
mento de água podem ser destacados (Mara F chem, 1999):
• doenças de transmissão feco-oral, qu podem ser transmitidas por
ambos os mecanismos (ingestão ou higi n d ficiente) e que incluem,
dentre outras:
- viróticas: hepatite A, E e F; poliomi lit ; diarréia por rotavf rus;
diarréia por adenovírus;
- bacterianas: cólera; ínfecção por E. · h ri hl cofi,· febre tifóide e
paratifóide;
- causadas por protozoários: amebf s ; ripto poridfase; giardfase;
- causadas por helmintos: ascarídí s, ; tricurfase; enterobfase.
• relacionadas exclusivamente com a quantidad insuficiente de água:
- doenças infecciosas da pele;
- doenças infecciosas dos olhos;
- doenças transmitidas por piolho .

49
. ru . os, destacam-se ainda aquel .doenças transmitidas
- procrram na · ·. Qua · .
quitos, que se .. ·ares completas, a população necess1t ~ecorrer ~o armaienarne e de
instalações domicilt t ~es baldes ...), que se tornam locais propfcros ao desenv . ~to em
'lhames (tambores, Ia o , . o1vimento
v.as1 ·tos Incluem-se neste grupo.
dos mosqu1 . .
.. ue e febre amarela, transmitidas pelo mosquito do gênero Aedes·
• deng . t ansmitida pelo mosquito do gênero Anopheles; '
• malána, r ·r d
• filariose ou elefantíase, transm1 i as pe o mo
1 · squito d · "
o genero Cu/ex.

, _- rta te enfatizar O papel da quantidade da água na prevenção de doença


É 1mpo n . · - . . . . _ d b . s, em
. l'dades considerado ainda mais importante que o a oa qualidade. Estudos
aangta es e na · · , . ' . . ,.. . . · ença
de parasitas intestinais estão mais correlac1onad~s com as maos suJas . um bom indicador
de acesso ao suprimento de água que à quahda?e d~ águ~ consui:r11da (Bartlett, 2003).
· Além das doenças provocadas por agentes b1ológ1cos, Já descritas, é objeto de cres-
cente preocupação a presença de agentes qufmico~ na água e os efeitos crônicos e agudos
que podem provocar. Esses agentes têm ocorrência natural ou pode~ se originar de pro-
cessos industriais, da ocupação humana, do uso agrícola ou do próprio processo de trata-
mento de água e de material das instalações de abastecimento, que ficam em contatocom
a água. Êimportante destacar que a cada ano um novo número de substâncias é sintetizado,
tornando difícil avaliar o efeito que pode acarretar sobre a saúde e a capacidade dos pro-
cessos de tratamento em removê-las. No capítulo 4, esses riscos à saúde são apresentados
de forma mais detalhada.

1.7.3 o impacto do abastecimento de água sobre a saúde

Anualmente, um número significativo de crianças morre no mundo de doenças direta·


mente relacionadas às condições deficientes de abastecimento de água e de esgotamento
sanitário. Essas doenças, especialmente quando associadas com a desnutrição, podem
enfraquecer as defesas orgânicas a ponto de contribuir com doença e morte por outras
causas, como o sarampo e a pneumonia. Este quadro está estreitamente relacionado à
pobreza: a proporção de doenças relacionadas ao abastecimento de água e ao esgotamento
sanitário em crianças menores de cinco anos na África, por exemplo, é mais de 240 vezes
superior à dos países ricos (Prüss et ai., 2002).
Prüss et ai. (2002) estimam que a ausência ou deficiência do abastecimento de água,
do esgot~mento sanitário e da higiene é responsável por 2.200.000 mortes e 82.200.000
anos de vida perdidos ou com incapacidade (DALY) no mundo, correspondendo a4,0% de
todas as mortes e a 5, 70110 de todos os OALY. As doenças associadas
. .
à def1crenc1a
·I'!do sanea-

·
mento provocaram o seguinte número de ocorrências em 2000 (WHO, 2000): ' f

50
• doe:nças di.arréicas: 2.200.000 mortes d ri n m nor, de cinco anos;
• ascaridfase: 900 .000.000 de caso ;
• esquistossomose: 200.000 .000 d,e o ;
• tracoma: 6.000.000 de pessoas fi ar m d vldo à doença!
Em estudo realizado em favela de Belo Horizont , loc fizad no Aglomerado da Serra,
comparando três áreas com diferentes condições d neam n o, Azevedo (2003) mos-
trou uma possível redução de 48°/o na ocorrência d di rréi m crianças entre um e cinco
anos e de 20% na ocorrência de desnutriç!o crônica m crianças na mesma faixa etária,
caso fosse impfantado sistema coletivo de abastecimento de água.
Em outra avaliação, Teixeira (2003), também investigando crianças entre um e cinco
anos, em áreas de invasão em Juiz de Fora-MG, encontrou os seguintes impactos relacionados
ao abastecimento de água:

• o uso de água de sistema público implica 61º/o menos casos de


parasitoses de transmissão feco·oral (presen a nas fezes de ovos ou
cistos de Giardia lamb/ia, Entamoeba histolytica, Ascaris /umbricoides,
Trichuris trichiura, Enterobius vermicu/aris ou Hymenolepis nana) e
60o/o menos casos de diarréia, se comparado com o uso de água de
mina ou nascente, e também 40o/o menos casos de diarréia, se compa-
rado com o uso de água de poços domicilia res;
• a intermitência no abast.ecimento de água é responsável por 2,4 ve-
zes mais casos de desnutrição crônica;
• adequada higiene antes da alimentação pode prevenir 51 % dos ca-
sos de desnutrição crônica;
• o armazenamento adequado da água em reservatórios domiciliares
pode prevenir 36% da ocorrência de parasitoses de transmissão feco-
oral.

1.8 Abastecimento de água e meio ambiente

1
o abastecimento de água mantém uma relação ambfgua com o ambiente, especial-
mente O hídrico: de um lado é um usuário primordial, dele dependendo; de outro, ao
realizar este uso, provoca impactos. Um adequado equacionamento dessa sua dupla ~elação
com O ambiente é requisito indispensável para uma correta concepção do abastecimento
de água .


51
,n no •
. .. h
arocontumo u
Abastecimento da gu . p

.• . . á . ua como usuário dos recursos hídricos


Abastecimento de · 9
1,.8, 1
. stecimento de água é considerado prioritário 1 P
· e

· setor d e ab a h . . - a leg
eo.mo usuár,o, 0 .·
11997
mas esse recon ec1mento nao o desobrig d ·
· F
lação Le1 e e · .·d ral nº 9 4 33 · ' · d. · ·b·1·d d·
. tr'ibua para maior · rspon, 11 .a e para outros US ª e
·· á _ ri
· d curso que con u r,--- ·
uso criterioso o re ~
. .
para a manutenç
. a O da vida aquática. . . .
• . lugar deve·se procurar o estrito respeito à legislar3
nto em pr1me1ro . híd . . Y-'o q
Nesse po , . . ara outorga de uso de recursos ncos. Nesta, com varia.~
estabelece as condiç.õ~ P é er·mi'tida a captação de apenas uma parcela da vazão m', ~
5
. . · .. ·as1le1ros, P n,rna
do manancial supe ,c,a , gar res..
dual escoando para jusante.

1 .
a
..
Exemplo de Va~ão outorg~vel:

t - , •

A legislação de alguns estados ~~t~rm1na _que a vazao max1ma outor-


gável em casos de águas superf1c1a1s é de.

sendo Q , 10 a vazão mínima de 7 dias consecutivos, que ocorre com


7
um tempo de recorrência de 1O anos (ver capítulo 5).
. .

Mesmo na disponibilidade de água para atender às exigências legais, é uma obrigação


ética dos responsáveis pelas instalações de abastecimento de água garantir que esse uso seja
parcimonioso, ou seja, que seja utilizada a quantidade estritamente necessária, sem usos
supérfluos. Para tanto, duas parcelas do conjunto de usos da água devem ser minimizadas:

• as perdas no sistema, em especial as denominadas] perdas físicas,


relacionadas a fugas e vazamentos de águà, que no Brasil corres-
pondem a uma pareei.a inaceitavelmente alta da demanda de água
(maiores detalhes no capítulo 17);
• os desperdícios, que ocorrem no interior das instalações prediais e
qu~ p~dem ser combatidos por campanhas educativas, por modelos
tanfános qu~ p~nem os consumos elevados e pela adoção de equipa-
mentos san1tár1os de baixo consumo, como c·aixas de descarga de
volume reduzido e lavatórios acionados com temporizadores.

A ~em~nda ~e~~ uso para abastecimento pode se tornar muito complexa em regiões
com baixa d1spon1b1hdade ou com elevada demanda de água ou ainda quando ambas as

52
Abastecimento de água; sociedade e ambfent J pi ulo 1

condições se combinam. Nesse caso, uma discussão que vem ganhando terreno no mundo
é a da transposição de bacias, que pode ocorrer de duas formas:

• Pela transferência intencional de água de bacias onde, potencial e


teoricamente, há excesso de água para outras em que há reconhecida
escassez. No Brasil, discute-se há décadas a possibilidade de transpo-
sição das águas do Rio São Francisco para bacias do Nordeste. Trata-se
de discussão envolvida em muita polêmica, que traz o legítimo apelo
do "compartilhamento" de água de uma "região de abundância" com
outra de escassez, mas, para se ter uma dimensão do problema, tem
suscitado diversos questionamentos, como o impacto ambiental do
empreendimento, sua relação custo-benefício e a possível restrição ao
uso da água a montante da captação para a transposição.
• Pela transferência "involuntária" da água de bacias, resultante do
balanço hfdrico desequilibrado entre captação de água e geração de
esgotos. O exemplo a seguir ilustra a situação:

. Região Metropolitana de Belo Horizonte: um ~aso de transposição de bacias

A Região Metropolitana de Belo Horizonte RM~H é .abasteci.da ~or um. co;-


'unto de mananciais, que integram duas sub-bacias h1?rográf1~as .. a ?~eia o
JRio das Velhas e a b ac1a
. d o R·o
, Paraopeba
. . É -a seguinte a d1str1bu1çao dos
mananciais, segundo sua capacidade de produçao:

. 1.8. - Mananc1a1s
Tabela .. . a bastecedores
.· da Região Metropolitana de Belo

.~H~o~ri~z~o~n~te:_~~~~-::;=:=:~~~~C;a~p;acciiiddéa;dlee~in;s~ta;il~addéa;--~~To~t~aÍI~
Sub-bacia Sistema (Lls) (L/s)
de produção
Rio das Velhas 6.750
Rio das Velhas
Morro Redondo 750
200
Barfeiro 7.870
Catarina 170
2.700
Paraopeba Serra Azul
vargem das Flores 1.500

4.200
Manso 8.850
450
lbirité
685 685
Diversos Sistemas independentes
17.405 17.405
Total .
. ara o abastecimento da região, 45% originam-se
Ou seja, dos 17 .40~ Us instalados: 51 % da sub-bacia do Paraopeba. Ocorre que,
da sub-bacia do Rio das Velhas

53
Abastecimento de água p ara consumo hum eno

d la desta vaza o é tran sf armada em es gotos, o


como gran e pRa.rceda s Velh as pois os ma iores destino da .
arte de le m u ni clp io s da R MB H Bel rnHa,~r
é o ,o ,
p têm praticamente 10 0 º'10 de se us esgotos en o or,-
zonte. e ~~ntaAgeumda s e Pampu lha /Onça , aflu caminh
aos R1be1roes rr en te s d o Rio das Velhas. adas
'p icam e nte um caso de tran sp · "" d b ·
Logo este é t ' o s1<;ao e ac1as, embora sem
. ' 't d como no ca so da transpos 1 . a d . Sã F . ser
exp11c1 a o, . ç o o ri o o ra nc1sco. Especialment
em épocas de estiagem, a s1tuaçao provoca . . e

• uma redução da vazão do rio Parao peba e d


os aflu~ntes onde se instalaram as
obras de captação, podendo compromete r os
usos a Jusante;
0 aumento da vazão do rio da s Velh as ;

• a introdução de uma signifi cativ a ca rga po
luid ora adicional no rio das Velhas.

1.8.2 Abastecimento de água como a ti


v id a d e im p a c ta n te

o primeiro e mais significativo impacto ambiental a ser assinalado em


uma instalação
de abastecimento de água é o fato de que a
água, após consumida, necessariamente
retorna ao ambiente e em sua maior proporção
na forma de esgotos sanitários e industriais.
Um possível balanço quantitativo dessa realida
de, em um contexto em que as perdas no
sistema de abastecimento de água são de 30
o/o e a relação esgoto/água é de 80º/o, é
ilustrada na Figura 1.9, podendo-se observar qu
e o valor do lançamento é superior a 50º/o
do volume captado .

Parcela de Evaporação
não retomo
56 (•) ~ ~ - Infiltração
14
Drenagem pluvial

100 70
Adução Consumo

Redes de A. A. e E. s.

Perdas "não tisicas" (contábeis)


30 Evaporação
- ~ - Infiltração
Perdas
Sistemas de esgotos sanitários· retomo
Drenagem pluvial
(•) deve ser adicionada pareei • filtr d
.
Figura 1.9 - Balanço entre
ª ª .
,n ª no sistema de esgotamento sanitário
1

as parce1as de água co nsumid a e convertida em esgo · •s


tos sanitário

54
l
--···,
Ab steomento de água, sociedade e ambiente ,1Capítulo 1

Logo, essa parcela de esgotos representa potencial poluidor muito significativo no


próprio manancial ou em outro, c~so haja transposição de bacias. Há países desenvolvidos,
inclusive, em que, para se garantir o necessário cuidado com a disposição dos esgotos, é
exigido que o lançamento seja previsto a montante da captação. Essa exigência é freqüente
no caso de instalações industriais, por exemplo. A consciência quanto a este impacto
adverte para que o abastecimento de água seja visualizado e planejado mais globalmente,
incluindo o adequado equacionamento da disposição dos esgotos gerados. Em especial
quando o abastecimento de água a ser implantado proporciona uma elevação significativa
da disponibilidade, provoca-se um aumento muito importante na geração de esgotos,
podendo gerar graves problemas ambientais e para a saúde pública.
Além deste, outros potencias impactos das instalações de abastecimento de água,
que entretanto podem ser considerados de pequena magnitude se comparados com ativi-
dades mais impactantes como a mineração, são:

• em obras de captação superficial, quando há alterações no seu leito natu-


ral, estas podem provocar erosões nas margens e assoreamento nos leitos;
• em obras de captação com construção de barragem de acumulação,
os impactos ambientais do represamento podem ser significativos, tanto
sobre a qualidade da água, quanto sobre o ambiente local, inclusive
com disseminação de doenças;
• na operação das estações de tratamento de água são gerados resfduos,
como água de lav.agem d.os filtros e de descarga de decantadores e
floculadores, que necessitam ser tratados convenientemente antes de
seu lançamento;
• obras civis e de instalação de tubulações, sobretudo gr·andes aduto-
ras, podem gerar impactos, por exemplo durante movimentos de terra,
rebaixamentos de lençol de água e ocupação de terrenos.

Como todos os empreendimentos de maior importância, as obras de saneamento


~stão sujeitas ao licenciamento ambiental, no qual devem ser previstas as medidas adequa-
das para a mitigação dos potenciais impactos.

1.8.3 Elementos da legislação


Da vasta legislação ambiental existente no país, nos diversos níveis federativos, possui
estreita aplicabilidade ao abastecimento de água para consumo humano a Resolução
CONAMA nº 357/2005, cuja reformulação foi aprovada em 15 de f~vereiro de ~00~, que
estabelece critério para classificação das águas doces, salobras e sahnas do Terntóno Na-
cional. Essa legislação, ao definir os usos e os requisitos de qualidade da água que cada
uma das 13 classes de águas naturais sendo cinco classes de águas. do~es · .d:vem
apresentar, tem possibilitado O enquadramento das águas de todo o terntóno brasileiro e,

55

t
Abastedmento d

de sua qualidade. Mesmo que essa Jeg-isl.ar:;


_ nutença0
1111
,.. . _ - - . _ ~o
d ·... rrência, o zelo com a ma . '. a principal referencia para a avenguaçao da qual'.
em eco · certamente- se c·onst1tu1 n '
seja dinâmica, · . . .. .. . . 0 • •

997 que ,nstitu1 a Política . D stacados pontos nessa leg1slaçao sao 05 instru-
1 , . Hídncos. e · · · 1. . _ .
Gerenciamento de Recursos . . . ortantes elementos e inter ocutores com a proble-

mática do uso dos recursos hfdncos p


505 Hídricos;
• os Planos de Recur 5
de água em classes, segundo os usos
• 0 enquadramento dos co~tPºrel·acionado à Resolução CONAMA);
d t (ponto mui o ., .
prepon eran es . . de uso de recursos h1dncos;
• a outorga dos direitos hídricos·
. lo uso de recursos - . , , .
• a cobrança pe _ . bre Recursos H1dncos.
• o Sistema de lnformaçoes so

e f . d - ·orm·ente _são ainda estabelecidas nessa fegislação as


1
e menciona o an err , . -· _ _.
-~ . on orm ···,... . h'd
e bac,a - ica, com competência
I ro gráf' · para arbitrar os conflitos rela-
cionados aos recursos rtcos, -d ". . d ,
- . . ·
bacia e estabelecer os mecanis mos de cobrança
.~pelo uso da água, e as agencias e agua,
com a função de secretaria executiva dos co.mttes.

1.9 A situação atual do abastecimento de água

A carência de instalações suficientes de abastecimento de água para as populações


constitui uma das maiores dívidas sociais ainda persistentes no mundo. Permanece um
contingente considerável da população mundial ainda afastada ao acesso a esse bem, que
deveria ser assumido como um direito indiscutível das pessoas. Obviamente, essa carência
está indissociavelmente relacionada com a pobreza mundial, havendo uma convergência
entre a localização dos pobres e a dos excluídos do acesso ao abastecimento de água.
Interessante observar que não há sequer consenso sobre os números dessa carência,
uma vez que estes dependem do próprio conceito do que seria um fornecimento suficiente
de água. A Tabela 1.9 mostra duas diferentes quantificações para as populações urbanas
sem acesso ao abastecimento de água, a primeira delas baseada no conceito da Organização
Mundial da Saúde e da UNICEF sobre abastecim.ento melhorado (consumo per capita de
pelo menos 20 Uhab.dia; disponível a pelo menos um quilômetro da moradia; tubulações
que operem ª pelo menos 50% de sua capacidade; bombas manuais que operem pelo

56
b~ te J capftufo 1
A·bastedmento de água, sociedade e am ren

. . . - abasteci~
rnento à moradia ou ao lote com água encanada, fornecimento contínuo e de boa q~ah~a .e
do Programa UN-Habitat, revelando uma diferença significativa entre as duas estimativas.

Tabela 1.9 - Estimativa do número de pessoas sem acesso ao abastecimento de


água em áreas urbanas no ano 2000 .
•· Região Número e proporção de Número e proporção de
moradores urbanos sem moradores urbanos sem
abastecimento de água abastecimento de2 água
1
melhorado111 11
'adequado"

Africa 44 milhões (15%) 100-150 milhões (35-50%)
Asia 98 milhões (7%) 500-700 milhões (35-50%)
América Latina e Caribe 29 milhões (7%) 80- 120 milhões (20-30%)
Total 171 milhões (8%) 600-970 milhões (28-46%)
..
1 segundo OMS e UNICEF. Global water supply and sanitation assessment. Relatório 2000. 80 p.
2 Segundo UM..Habitat. Water and sanitation in the world's cities. Local action for global goaJs. Earthsacan: Londres,
2003. 274 p.
Fonte: SATTERTHWAITE (2003)

No Brasil, o censo demográfico do JBGE de 2000 revelou a seguinte situação:

Tabela 1.1 O - Cobertura por abastecimento de água no Brasil - ano 2000


Forma de abastecjmento População (moradores em domicílios permanentes)
Total Urbana Rural
Rede geral 127 .682.948 (75,8º/Ó) 122.102.799 (89, 1 %) 5.580. 149 (17,So/o)
• Canalizada em pelo menos um cômodo 118~432 .944 (70,3%} 114.559.080 (83,6%) 3.873.864 (12,4o/o)
• Canalizada só na propriedade ou terreno 9.250.004 (5,5°/o) 7 .543.719 (5,5°/o) 1.706.285 (5,4%)
Poço ou nascente (na propriedade) 28.074.483 (16,7o/o) 10.399.507 (7,6%) 17. 674.976 (56,4o/o)
• Canalizada em pelo menos um cômodo 14.940.615 (8,9%) 6.709.484 (4,9°A,) 8.231 .131 (26,2%}
• Canalizada só na propriedade ou terreno 2.315.903 (1,4%) 848. 717 (0,6o/o) 1.467.1 86 (4,7%)
• Não canalizada 10.817.965 (6,4%) 2.841.306 (2, 1o/o) 7.976.659 (25,4%)
Outra 12.613.463 (7,So/o) 4.513.379 (3,3%) 8.100.084 (25,So/o)
• Canalizada em pelo menos um cômodo 1.887.131 {1,1o/o) 1.085.154 (0,8%) 801..977 (2,6%)
• Canalizada só na propriedade ou terreno 610.696 (0,4 % ) 277.605 (0,2%) 333.091 (1, 1 %)
• Não canalizada 10.115.635 (6,0%} 3.150.620 {2,3o/o) 6.965.015 (22,2%)

Fonte: Censo demográfico (IBGE, 2000)

Nota-se que o país ainda exibe um total de 40,6 milhões de pessoas sem acesso ao
abastecimento de água fornecida por rede coletiva. Esse contingente está mais concentrado
na área rural, na qual 47,6% da população sequer dispõe de água canalizada na proprie-
dade ou no interior do domicílio.
Além dessa desigualdade de acesso estar associada ao local de moradia urbano ou
rural , apresenta uma relação clara com a renda: os mais pobres são os mais excluídos
(Figura 1.1 O).
Outra variação encontrada é a regional, conforme se ilustra na Tabela 1.11, na qual se
observam grandes e importantes diferenciais no atendimento e quanto a indicadores de
eficiência dos serviços, entre as companhias estaduais de saneamento.

57
Abastecimento de jgua para consumo humano

100
90
80
............ 70
~
e_,
(O 60 .l?JÁgua
...,:,""" 50
.
~
•Esgota·
Q)
.o 40
8 30
20
10
o
<1
1a 2 2a3 3a5 5 a 1O 1O a 20 > 20
Renda média mensaJ domiciliar (SM)

SM: Salário mínimo f

Figura 1. 1o _ Cobertura por abastecimento ~e água por rede geral e esgotamento sanitário por rede
, coletora no Brasil, segundo faixa de renda
Fonte: COSTA (2003)

Tabela 1.11 - Indicadores de cobertura e de eficiência dos serviços de abastecimento


de água e de esgotamento sanitário. segundo a companhia estadual (continua) 1

Diagnóstico dos Serviços de Agua e Esgotos - 2000


fndice de índice de Índice de Tarifa Despesa Quantidade Índice de Consumo
atendimento atendimento perdas de média como equivalente produtivid. mêdiode
SIGLA praticada serviço p/m3 de pessoal
de água de esgoto faturamento econ/pes.. ãguapor
1
faturado
1
total tota.l economia
RS/m RS!m emereciados econJemp. m3fmês.e<on
REGIÃO NORTE
CAER/RR 103,3 12,6 49,7 0,86 1,67 475 149 18, 1
CAERD/RO 52,0 ·, , 7 1,70 1,72 1.134
CAESA/AP 57,2 6,2 7112 0,96 1,22 318 1n 19,9
COSAMAIAM 79,7 13,0 0,83 6,28 789 213 3,2
COSANPAIPA 65,8 2.6 45,9 1,08 1,35 1.919 214 16,5
DEASIAC 44,0 70,1 0,95 2,63 309 40 14,8
SANEATJNS/TO 84,1 5,5 31,0 0,93 1,30 1.015 169 15,7
Totais ~ião Norte 68,1 3,'1 473
., 1,07' 1,60 5.896 1:51 1410
REGIÃO NORDESTE
AGESPfSAIPI 105,0 6,9 60,7 1,42 1,54 2.187 197 9, 1
CAEMAIMA 73,3 19,5 65,8 0,71 1,51 2.349 2.19 15,3
CAERN/RN 93,4 15,8 44,9 0,88 1,06 2.083 256 13t5
CAGECEICE 81 , 1 27., 5 34,2 0,64 0,'71 1.970 592 15,0
'
CAGEPA/PB 100,9 27,2 40,7 0,84 0,98 2.327 308 12,9
CASAUAL 64,7 12,6 41,9 1, 15 1,24 1.714 197 13,6
COMPESME 97, 1 21,·1 51,2 0,78 0,93 6.375 265 9,4
DESO/SE 119,9 17,0 47,6 1, 15 248 13,5
1, 18 1.563
EMBASA/BA 91,2 19,9 39,2 345 14,5
0,87 1,43 6.330
TotaíS iRegi!b Nordeste 90,7 20,3 46,2, 0':8 6 ,296 1~9
REGIÃO SUDESTE . . 1t14 26.858
CEDAE/RJ 87,3 47,4 27,0
54,3 1,05 1,20 10.043 457
CESANIES 96,9 16,3 18,5
30,3 0,91 0,86 1.773 384
COPASA/MG 101,4 45,6 14,6
SABESP/SP 26, 1 ,
084 . 0,90 12.639 352
99,5 80,0 31,4 461 15,5
Totais Regf~o Sudeste 1,19 1,13 25.574
96s7 6l, 1 37,7

429 17:,9
REGIÃO SUL • t.09 1, 1.0 50.115
CASAN/SC 88,2 11.0
8,0 31,8 1,29 1,22 3.095 391
CORSAN/RS 99,6 12,8
8,4 51,5 333
SANEPAR/PR 105,3
1,90 2,08 5.750 12,5
43, 1 260 1,11 410
Totais ffi tão Sul 99,8 _ 0,93 7.926 _12 3.
23,9 a.s~ 1,34 ;,2_7 ~~e.ssa aãs

'

58
Abastecimento de água, sociedade e ambiente f Capitulo 1

1
1

(conclusão)
1
Índice de Índice do fndlce de Tarifa Despesa Quantidade fndlee de Consumo
SIGLA atendimento atendimento perdas de mêdla como equivalente produtlvld. módlo do
de água de esgoto faturamento praticada serviço p/m3 de pessoal econ/pes. água por
faturado total total aconomfa
7 -

REGIÃO CENTRQ..QESTE
-" RS/m3 RS/m~ empre«JadM econJemp, . ml[mltl.o«>~
.'
1
CAESB/DF 92,4 88,9 315 18,6 1
21 ,5 1,01 1,05 3.785 1
SANEAGO/GO 93,5 36,9 12,6
SANESUUMS 3S.,2 0,94 1 02 4.697 334
111,9 7,0 41 ,7 " .268 13,7
lbtats Região Centro-Oeste 1,26 1,54 1.084
95,8 46,9 31,6 14,6
1,00 1.08 9.639 316
Jbtais paraogrupo 93,7 39,4 39,4 1,07 1,14
108.909 365 15A,
Nota: valores de índices de atendimento
. -
super. iores a 1.00% são expfrcados
. · · ·
pelas diferenças de fontes de dados para o
numerador e o denominador.
Fonte: SNSA (2001)

Em relação à qualidade como a água é fornecida, as Tabelas 1.12 e 1 .13 revelam que
nem ·sempre sua segurança é garantida.

T~~ela 1.12 -Tipo de processo de tratamento de água por grandes regiões


Distritos, total e abastecidos, com tratamento da água, por tipo de tratamento,
segundo as Grandes Regiões
Distritos abastecidos
Grandes Total de Com tratamento da água
Regiões distritos Total Tipo de tratamento Sem
Total Conven- Simpli- Simples desinfecção trat-
cional ficado (cloração 1

Brasil 9.848 8.656 6.046 3.413 675 2.630 3.258


Norte 607 512 219 86 39 119 349
Nordeste 3.084 2.550 1.925 847 336 807 766
Sudeste 3. 11 5 3 .. 008 2~163 1.586 229 734 1.165
Sul 2.342 1.967 1.21 O 645 56 635 857
Centro-Oeste 700 619 529 249 15 335 121
Notas: 1. Um mesmo distrito pode apresentar mais de um tipo de tratamento de água.
2. Exclusive os distritos que não declararam a existência de tratamento de água.
Fonte: IBG E (2000}

Tabela 1.13 - Característica do sistema de abastecimento de água por grandes regiões


Percentual de distritos segundo a característica do sistema de água
Região/país Sem rede Com Que declaram Com tratam. Convencional
geral
,w

captaçao contaminação dentre dentre os com capt. superf.


superficial os com capt. Superf. e que declaram contam.

Norte 16,65 31,64 17,28 41,67


17,32 46,31 15,58 45,70
Nordeste
Sudeste 3,43 63,73 42,67 81,20
34,88 37,61 86,96
SuJ 16,01
97,53
Centro-Oeste 11,57 46,85 27,93
12, 10 48,94 32,32 77,46
Brasil
Fonte: IBGE (2000)

59
Abastecimento de água par, consumo hu01t1rto

Em nível estadual e regional, também podem-se obse,var importantes d'f


q_ualidade com que o abastecimento de ág~a é realizado, conforme pode-s~ :,ren~íai n:i
F1.gura 1.1O, na qual s~o repres:ntadas as diferentes cobe~u~as por rede geral ~suahzar na
p1os do estado de .Minas. Gera~s, estado em qu~ a relaçao inversa do abaste
1 11 ?5 muníct.
água com a mortalidade 1nfantll também se confirma, conforme Figura . . Cimento d

o _ .......- +
' ' ' M02
Minas Gerais - Municípios - Re ·-
Abastecimento de Águ~l~~s ~e Planejamento
~ .IFC/2002 Porcenta em d O . .. e e Geral
Figura 1. 1o - Cobertura or ab . e om1c1hos Atendidos - 2000
1c1p10. Minas Gerais
Fonte: HELLER et ai. (2003), com ~ase e~s::~:::~~i: água por rede geral, segundo o mun· , . .

. . ., .. • '-L ~

'

•.

45 a 55 35
M · a 45 25 a 35 10 2
Figur 1
a .11 - Associação entr
ortalidade tn• .
. ,ant1I (por mil)
ª 5

M' - e carên ·
mas
Fonte: HELLER et ai. (200 3), Gerais
com base em eia IBGE
dados do . . . de mortalidade ínfantll,
por abastecimento de água e faixas \
'

_. .
,, '( :·
'· .......' • . ...
, '

60

Abastecimento de água, sociedade e ambiente I Capltufo 1

1.10 Considerações finais


1

,
1
!
Conforme pode se observar neste capítulo, a água é um bem essencial à sobrevjvência
do homem e ao exercício de suas atividades. Seu uso é dependente do context9 social e da
importância que cada comunidade atribui a esse bem, o que é perfeitamente verificado ao
longo da história, podendo se perceber a relação entre a água e as várias civilizações e seu
estágio de desenvolvimento social, econômico e tecnológico.
A disponibilidade de água no planeta é limitada, variando de região e segundo a
forma como se encontra na natureza superficial, subterrânea, como água de chuva etc.
Entretanto, em cada aglomeração humana, a relação entre a oferta e a demanda de água
é muito variável e é função de um conjunto de pressões, relacionadas inclusive aos hábitos
locais.
A água ao mesmo tempo pode ser um veículo de transmissão de doenças e outros
agravos (intoxicações, por exemplo) ao homem e pode ser requisito de boas condições de
saúde, particularmente quando é ofertada com quantidade suficiente e qualidade adequada.
Guarda também uma estreita relação com o ambiente, pois da natureza é extraída a água
para o consumo da população. Contudo, as instalações de abastecimento de água podem
ser, elas mesmas, responsáveis por impactos ambientais. '
Nos países em desenvolvimento, incluindo o Brasil, há uma enorme tarefa a ser cum-
prida, no sentido de prover água segura a todos, protegendo a saúde e assegurando uma
relação sustentável com o ambiente.


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l
61 •
Abastaclmento de 6gua para ., oruurno
· humano

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62
.Abastecimento de água, sociedade e ambiente I Capítulo 1
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• •



63
1

Biblioteca Central • PUCPR

Capítulo 2
1

Concepção de instalações
para o al:,astecimento de água

Léo Heller

2 •.·1 Introdução

No abastecimento de água1 como em vários campos da engenharia e das políticas


1

públicas em geral, rara.mente há uma solução única para um dado problema. Mesmo que
1

uma solução seja a vislumbra,da com maior dareza imediatamente e pareça a mais evidente,
outras possibilidades podem ser cogitadas. Mesmo que a primeira opção seja a adotada.
ela em geral não é em si ó.nica: ela mes.ma pode admitir diferentes variantes, diferentes
formas de projeto ou diferentes concepções de djmensíonamento.
Ou seja, no planejamento ou projeto de uma instalação de abastecimento, de água,.
são tomadas in.úmeras decisões, dentre um Jeque de opções possíveis, mesmo que de
forma inconsciente. Muitas vezes, a deásão é slmpfesmente uma recomendaçao de nor-
ma, o uso de um,a fórmula de um livro ou uma soluçao similar à de um projeto já elaborado
ou de ·uma obra já implantada. Mas possivelmente essas opções nao sao a únicas . i o
deve ser reconhecido por quem toma a dec·isao.
A ''boa engenharia'' é aquela capaz de enxergar maisde um caminho par. asoluç o d
um problema, de ponderar os aspectos positivos e negativos de cada caminho d tomar
decisões as mais conscientes possíveis. Essa ''boa engenharia'' tem a percepç o de qu ·cad.
decisão tomada traz implicações de diversas ordens econômicas, sociais, operacionais.4. E,
portanto, valoriza justamente esse processo de tomada de decisões como a etdpa maisd ter-
minante de um projeto, de um dimensionamento ou de uma etapa construtiva.

15
Ab t lm nl d au p r on uma hum . no

A m lhor lu o para um problema de abastecimento de água não é ne .


. . . . ,, d '' . cessaria. .
m nt . mai onômtca, a ma,s segura ou a mais mo erna , mas sim aquela .
apropriada r !idade social em que será aplicada. Logo, a concepção de urna rn~is
501
para um . d d n cessidade situação relacionada ao abastecimento de água ~Çao
consider r . div r as variáveis intervenientes, para que procure ser a mais adequa~ve
FreqO nt m nt , é necessário que sejam comparadas duas ou mais alternativas. E ª·
compara . . pode ser simplificada, apenas visualizando qualitativamente os pró;sa
. ontr d e .d uma para se decidir, ou pode exigir estudos de alternativas rnais corn~
pi xo , com avaliações de custos e benefícios ..
A UNICEF (1978) define como tecnologia apropriada para o saneamento aquela que
reúna s seguintes propriedades:

• higienicamente .segura: que não contribua para disseminar enfermi-


dades, que estimule hábitos sanitários e saudáveis, que evite riscos do
trabalho e que seja ergonomicamente saudável;
• técnica e cientificamente satisfatória: que seja de funcionamento sirnples
e de manutenção fácil, tecnicamente eficaz e eficiente, razoavel·mente
livre de riscos de acidentes e suficientemente adaptável a condições
variáveis;
• social e culturalmente aceitável: que atenda as necessidades básicas
da população, requeira uma alta densidade de mão-de-obra local,
melhore e não subs·titua na medida do possível atitudes e ofícios
tradicionais e seja esteticamente satisfatória;
• inócua ao a.rnbiente: que evite a contaminação ambiental, não alte-
re o equilfbrio ec.ológico, contribua para a conservação dos recursos
naturais, seja econômica no emprego de recur.sos não renováveis,
recircule subprodutos e resíduos, enriqueça e não depreci.e o ambi-
ente;
• economicamente viável: que seja eficaz ·em função dos custos, prefe-
rencialmente adotando soluçõe·s de baixo custo e financeiramente
viáveis; contribua para o desenvolvimento da indústrí:a local, utilize
materiais locais e seja econômica na utilização da energia.

A partir desses conceitos preliminares, o presente capítulo procura fornecer elementos


para o processo de concepção de alternativas e de seleção entre alternativas. Deve-se
advertir, porém, que a etapa de concepção dificilmente admite soluções padronizadas,
sendo que cada realidade requer sua própria e única solução. Assim, neste texto apenas se
relacionam alguns elementos para fornecer suporte a esse processo de formulação de
alternativas e de decisão entre distintas soluções.

1
..
11!1
J

66
Concepção de lnstaíações para o abastecimento de água t CapftuJo 2

2.2 Contextos

Grécia antiga 1

A civilização minóica vivia na ilha de Cr:eta, na Grécja antiga, desde o


ano 3 .000 a.e., segundo os achados arqueológicos, ou seja, há cerca
de 5.000 anos. Chegou a ser um povo muito próspero, vivendo em •

grandes casas e lá existindo palácios luxuosos. Essa civilização desapa-


receu no ano 1.450 a~C., após a erupção do vulcão Santorini.

A prosperidade dessa civilização demandava água. E,· de 'fato, foram


descobertas importantes obras hidráulicas para assegurar esse supri-
mento. A captação de água era realizada por três formas:
• exploração de águas subterrâneas de nascentes, com condução de
água por aquedutos; : •

• exploração de águas subterrâneas por poços;


• coleta de água de chuva em cisternas. •

..

.;-=-- , . ..


....

'

-......... .

..

A água era transportada por tubos de terracota, provavelmente como


conduto Jivre, dada a incapacidade do material em trabalhar sob pressão.
o transporte das fontes até os pontos de consumo podia atingir 5 km.
1 Fonte: KOUTSOYIANNIS {2004)

67
.
A&a,udmenw de .6gua pa,,,a tonsumo
- - humano

(a)

Alças .rri afças


-L'-.....1s~e:.!.!.!
-...J
-
Colar

Junta de cimento

Junta de cimento

"'
Junta de cimento

(b)

o esgotamento sanitário e pluvialimplantado por esse povo também


era notável, sendo dotado de vasos sanitários e um sistema de rede,
.que funciona perfeitamente até hoje, 4.000 anos após ter sido cons-
truído#

No mesmo período (1.450-1.300 a.C.), a civilização micênica drenava o


lago Copais, na Grécia, por meio de outra obra de engenharia surpre-
endente. Para tanto, foram construídos diques de terra, com paredes
em material ciclópico, e três canais principais, com largura de 40 a 80
m1 paredes verticais paralelas com dois a três metros de espessura e
extensão entre 40 e 50 km.

O que mais chama a atenção neste relato é a implantação de obras


hídráulic·as de grande envergadura, em uma época em que ainda não
se dominavam as técnicas atuais para captação de égua, seu transporte
.a distâncias elevadas e vencendo desnívei·s do terreno, além do esgo-
tamento dos efluentes gerados nas cidades.

68
Concepção de instalações para o abastecimento de água I Capítulo 2

Belo Horizonte no terceiro quartil do século xx2

Por todas as partes(...) o espetáculo da lata d;água na cabeça é tão rotineiro


que não chama mais a atenção: nem do povo nem das autoridades. Cada
blca, cada poço artesiano, cada cisterna, cada caminhão-pipa tem sua fila
1
d água. Todo mundo espera a sua vez para encher a lata, o balde, o vasi-
lt1ame (....). Enquanto grande parte da população de BH sofre com a água,
os moradores da Zona Sul não sentem o problema. Têm água com fartura
e abusam disto, lavando seus passeios e automóveis todos os dias (...).
FOLHA DE MINAS, Belo Horizonte, 11/10/1964

Csta notícia de jornal da década de 1960 ilustra o drama do abastecimento


de! água inadequado que pode afligir uma grande cidade, ainda que repro-
duzindo um quadro de desigualdade social, com alguns os mais ricos -
recebendo água com fartura, e chegando até a desperdiçá-la. Este quadro
era responsável por péssimos indicadores sanitários, atestados por estudo
d Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG da época, que apontava
ser Belo Horizonte a capital com maior número de habitantes portadores
d doenças infecciosas intestinais, atingindo cerca de 90o/o da população.

As obras executadas para solucionar o problema a construção do sistema


produtor do Rio das Velhas com capacidade de 6 m3/s tiveram duração
de 15 anos (1958-1973), em vez dos três a quatro previstos. Como entre
a cidade e o ponto de captação existe a Serra do Curral, a adutora de
água tratada deveria vencê-la por meio de dois túnejs, com 227 e 1. 770
m de extensão, além de ser previsto um túnel-reservatório com 1.090 m
de extensão. Entretanto, houve grande dificuldade de perfuração em um
de·terminado trecho, em vista da tecnologia disponível à época, insufici-
ente para os trabalhos de impermeabilização e de consolidação que se
mostraram necessários.

Durante o período de execução, a angústia provocada pela não interligação


da produção de água com a sua distribuição trouxe ainda maior intran-
q(lllidade à população. A pressão social pas~ou a tornar-se tão insuportável
qtJC a Pctrobras foi acionada para perfurar dois tubos verticais (shaft) no
tr,po da Serra do Curral, interligados à parte da adutora já conclufda e, por
mcJr) de uma elevatória, foi colocado em operação um desvio (by-pass) da •

,Jdu1ora, permitindo, em dezembro de 1969, que a cidade recebesse emer-


qC'r,cialmente uma vazão de 750 Us das águas do Rio das Velhas.

1, í1,r1tu I lJNOAÇÃO JOÂO PINHEIRO (199·7)

69
Abasteclmon10 da água para consumo humano

Os Xakriabá no início do século I / 13

os Xakriabá-constituem uma população ín ·ígena qu habita o município


de São João das Missões, no norte d stado d Minas Gerais. São
cerca de 6.500 pessoas, que vivem m uma área de aproximadamente
53.000 ha, distribuindo-se por 52 aldeia e ubaldeias. Das 1.224
casas que ocupam, 87% são con ruída corn materiais diferentes da
alvenaria ou blocos de cimento, s ndo de adobe, "enchimento " (argila
e areia socados entre armações de rnad iraJ, pau-a~píque, lona ou
combinações.

Em 2000, a FUNASA - F.undação acional da Saúde iniciou a implan-


tação de medidas de saneamento na área, ao .e tornar o órgão respon-
sável pela saúpe indígena, Antes disso, apenas 17 (33 %) das aldeias e
subaldeias possuíam sistemas de abastecimento de água* Com o tra-
balho da FUNASA, este núme.ro ele,ou-se para 37 (71 %), atendendo
a 3.811 pessoas· (59%), com a ímplantação de sistemas com capta-
ções em poços profundos, com distribuição de água. até o quintal, o
banheiro ou o interior do domicílio ou ainda por meío de chafarizes.
Porém, a água distribuída por esses sistemas não era suficiente para
impedir o uso de outras fontes de água, como de córregos, lagoas,
minas, cacimbas (água de chuva), poços rasos, minas e proveniente de
caminhões, que são as mesmas fontes procuradas pela população não
atendida pelo sistema coletivo. Das 719 moradias atendidas, em ape-
nas 253 (35%) nunca falta água, sendo que em 20o/o delas falta água
pelo menos uma vez por dia .

A qualidade da água consumida inspira preocupações. Análises reali-


zadas nos mananciais utilizados mostraram presença de Escherichia
coli indicador de contaminação fecal em todas as cacimbas, mi-
nas, córregos e rios, mas não f oí identifícada em poços, chafariz e
caminhão-pipa. Por outro lado, naqueles mananciais, a turbidez mos-
trou-se superior ao padrão de potabilidade em 12 (80%) dos 15 pon-
tos amostrados, revelando situação de baixa efíciêncía da cloração do-
miciliar, quando aplicada.

Em 108 domicílios também foram realizadas análises de água, com


coleta no ponto de coosumo. Em 32 (30%J observou-se a presença
de E. co/i, o que condena a potabilidade da água. Em 52 (48%) foi

~ Fonte: PENA (2004)

70
identificada a presença de coliformes totais# porém não de E. colí, o que
se constituí motivo de preocupação . Embora os coliformes. totais,
em si, não confirmem contaminação ou presença de organismos que
transmitam doenças, sua presença é indicador de alerta . Para e·feito
de comparação, em rede de dist ribuição o padrão brasileiro de pota-
1

bilidade (Portaria MS nº 518/2004) tolera a sua presença em no máxi-


mo 5% das análises.

Os contextos apresentados mostram, dentre inúmeras ossíveís variações, três situa-


ções muito distintas em termos de abastecimento de água local:

• Um povo antigo, com próspero des.envol ímen o econômico e hábitos


socioculturais perdulários, ref letindo na demanda por grande quanti-
dade de água. Essa realidade impulsionou importantes avanços tecno-
lógicos, visando a assegurar o fornecimento de água demandado pelo
padrão socjal e cultural locais, ainda· que sem conhecimento cí.entífico
mais desenvolvido.
• Uma grande capital e sua solução comple,xa de abastecimento no
terceiro quartil do século XX. No período, o domínio das técnicas de
engenharia ainda não se mostrou capaz de·fornecer os elementos para
a implantação de um sistema de ab.astecímento com custos e prazo
compatíveis com as necessidades e disponibilidades locai.s. A realidade
- e possivelmente a incapacidade de pre isáo da época resultou
em custos muito superiores aos previstos, requerendo inclusive investi-
mentos em solução emergencíaJe em prazos não suportados pelo dé-
ficit de abastecimento.
• Uma popuf ação indígena que, vivendo no a uai período em que os
progressos científicos avançam em velocidade j amais observada n,a
história da Humanidade, deveria se be,nef íciar dos modernos padrões
tecnológicos, mas se vê excf.uída do acesso as políticas públicas de
saneamento, no padrão recebido pela média da população brasileira.
Em conseqüência, os Xakriabá recebem instalações de abastecimento de
água de forma incompf eta, insuficiente para assegurar a reve.rsão do
quadro social e não totalmente ancorada nos seus hábitos culturais.

Esses exemplos ilustram as muitas variações que podem ter uma sof.ução para o abas-
tecimento de água e os diversos fatores condiáonantes para a sua concepção: econômicos,
políticos, tecnológicos, socioculturais e físicos.

71
Abastecimento de água para consumo humano

2 _3 Modalidades e abrangência do abastecimento

Inicialmente deve ser entendido que, na expressão instalações para o abasteci..


mento de água: mesmo sob O enfoque da engenharia, ~ode estar in~luída uma variedade
de arranjos, sendo que o clássico sistema de abastecimento de agua se constitui ern
apenas uma dessas soluções. .
Uma distinção oficial pode ser encontrada na Portaria MS n° 518/2004, que
diferencia soluções alternativas de sistemas de abastecimento de água:

• sistema de abastecimento de água para consumo humano: instalação


composta por conjunto de obras civis, materiais e equipamentos,
destinada à produção e à distribuição canalizada de ág·ua potável para
populações, sob a responsabilidade do poder púbJjco, mesmo que
. ...
administrada em regime de concessão ou perm,ssao;
• solução alternativa de abastecimento de água para consumo humano:
toda modalidade de abastecimento coletivo de água distinta do siste-
ma de abastecimento de água, incluindo, entre outras, fonte, poço
comunitário, distribuição por veículo transportador, instalações
condominiais horizontal e vertical.

Nessas definições, deve-se observar, em primeiro lugar, que é considerado apenas o


abastecimento coletivo exclui-se o individual , em função de uma necessidade de
classificação identificada pela norma de qualidade da água para consumo humano. Deve
ser assinalado ainda que, para a Portaria, a distinção fundamental entre as duas modali-
dades é a ''responsabilidade do poder público'', característica do sistema. Sob o ponto de
vista da característica física, sistema ou solução alternativa podem se assemelhar (exemplo:
um condomínio horizontal pode se apresentar fisicamente como um sistema de abasteci-
mento de água de pequeno ou médio porte). Para superar essa semelhança, o manual
'' Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a minimização de riscos à
saúde'' (Bastos e Heller, 2004) empregou a categoria '' soluções alternativas desprovidas de
rede'', para estabelecer uma diferenciação da natureza física em relação ao sistema de
abastecimento de água.
Por outro lado, para efeito do presente texto, importa diferenciar as soluções indi-
viduais das soluções coletivas, em vista das especificidades das primeiras. Assim, as diversas
diferenciações conduzem às quatro categorias de abastecimento de água listadas na
Tabela 2.1.

72

.......
Concepç3o de lnstalacô pnrt1 ,, nbn~fbf rt11u111J, cltJ fllJIIIJ f l nfJffuf,1 l

Tabela 2.1 - Categorias de instalações para o abastecimento d á . u


Segundo a modalidade Segundo a Ojstribuição por
do abastecimento abrangência rede
- .

1 Soluçao individual Jndividual Desprovida de rede Poço rtt',lJ 111rJ1v1cJ1111J


2 Soluçao alternativa Coletiva Desprovida de rede Ch,lfr.1r 11 , c,rruJrHl11rt,,
3 Solução alternativa Coletiva Distribuição por rede Condc,rr,rru,, f,,,,,1,1r1l,1I
4 Sistema de abastecimento Coletiva Distribuição por rede Sfstemd 11t,n•,t,., ,.,J,,r IJ'1 t.,rr1r.1 ldt1clt

Para efeito de abordagem neste livro, as características físicas d in ,t ,1·~ 1 i so


abordadas no capítulo 7 e as de número 3 e 4, nos capítulos 8 a 14.
É importante deixar claro, neste ponto, que, ao se conceber uma ,,,JltJç~o pc1rtl ,tbas·
tecimento de água de uma localidade, deve-se pretender que, em clc~fír,itívc,, todas as
pessoas ou famílias têm direito de um mesmo nível de qualidad m eu abaste..
cimento, assegurando-se:

• água canalizada fornecida até sua moradia;


• fornecimento ininterrupto da água;
• quantidade superior ao mínimo para atendimento de su e ssi··
dades básicas;
• qualidade da água de acordo com os padrões de potabJljdade.

Entretanto, deve-se ter claro também que, muitas vezes, para se atlngtr a se padrao
de serviços, pode ser necessária uma etapa anterior, conforme as soluçõo~ 1 a 3 da
Tabela 2.1.

2.4 Unidades componentes de uma instalação de


abastecimento de água

um sistema de abastecimento de água pode apresentar as unjdades componentes


conforme ilustrado na Figura 2.1, com as funções e possíveis variantes descritas a seguir.

• Manancial (ver capítulos 5 e 6): fonte de água, a partír de onde é


abastecido o sistema. Em linhas gerais, os manancíais podem ser do
tipo:
- subterrâneo freático ou não-confinado;
l - subterrâneo confinado;
- superficial sem acumulação;
- superficial com acumulação;
- água de chuva.

1.
73
-~==-=-
~
---------- ·- ,. . _
... ·-·
.,_: ,,, ' • to,-
.
PT p,

Abastecimento de Água pare con, omo tu,mono

ESTAÇÃO
MANANCIA~ AOUTOAAD ELEVA1ÔRIA DE
AGUA IAUTA•MO ÁOUATRATADA-EEAT
--- --
,.• ·- ..._ ____ _ _ - - - - -
-
1
- - - - - .... -
1

.,,,..- I l
.,,,..,
-
r
l 1

- ,_'·
1

i t - - - ... - -t--+-1-1-- 1

1
1
,
1 1
1
1
1

-- 1 1
1
REDE DE
1
1
DISTRIBUI ÃO
r
~ ~ ~ - ~ ~ ---
- - - - - - -
1

DISTRIBUIÇÃO

- e ••
ESTAÇ O
ELEVATÓRIA oeAGUA AOUiORA O" RESERVAT RIO RESERVAT RIO
CAPTAÇÃO BRUTA· EEAB AGUATRATADA · MT OE MONTANTE DE JUSANTE

Figura 2.1 - Sistema de aba t c:lrn 11t ci ô(Jll • Ur,ld cl componentes


- -

Figura 2.2 - Reservatório de acumula~Qc, parc.1 , a1:>laçao de água do Sistema Rio Manso - Região
Metropolitana de Belo Horlzont • COPASA·MG

• Captação (ver capítulo 7, S 9): consiste na estrutura responsável


pela extração de água do manancial, a fim de torná .. ra disponível para
seu transporte aos locais de ut1Jlzaçao. Pode ser de muitas e diferentes
formas, em funcao do tipo de manancial. Seu projeto, sobretudo quan-
do se refere à captação em manancial de superffcje, deve considerar
cuidadosamente as carac:terístfcas físíc1s do curso d' á·gua e de suas

74
J
margens, bem con:10 as variações azon i d v zto, uma vez que se
trata de uma unidade de muita respon bffid d~ no sistema e, por se
locallzar no curso d',água, fica sujeíta " . o d ínt r11péries.

- ... ; !Jlll's4711l&. t ... '


Figura 2.3 - Captação em poço profundo

1
,

Fjgura 2.4 - Captação superficial

• Adução .(ver capítu~o 1O): destína---se a transportár a água, interli-


ga.ndo· un1·daáes cle caP,tação, tratamento, es.tações elevatórias, reser-
vação .e rede de dlstr:icuição .. Em funçãp ga . água que tra ns~orta, pode
ser adutora de água briuta ou de ágpa tratalfl e, er:n fcanc;ao de suas
ca. racte:,iístitas hi~ráuU~as, pode ser em J<rnifufo llvr.~; e,rn condalo
f,·oiçaaa ·p or g.raMidade. ou em recâtq·.ue"


--

,
'

'

'
l\btt 1 hn nln d 6UllApnr on, umo hum@no

Flgur 2,S - Adutora de água bruta do Sistema Rio das Velhas - Região Metropolitana de Belo Horizonte_
COPASA-MG

• Estações elevatórias (ver capítulo 11 ): podem se mostrar necessárias


quando a água necessita atingir níveis mais elevados, vencendo desní-
veis geométricos. Existem sistemas sem estações elevatórias, da mesma
forma que existem outros com dezenas (às vezes centenas) delas. Seu
emprego é em função, principalmente, do relevo local. Podem ser clas-
sificadas segundo a água que recalcam (bruta ou tratada) e o tipo de
bomba.

• Tratamento (ver capítulo 12): de implantação sempre necessária,


para compatibilizar a qualidade da água bruta com os padrões de pota-
bilidade e proteger a saúde da população consumidora, segundo a
Portari a MS n° 518/2004 (Brasil, 2004). Esta Portaria estabelece as
seguintes condjções mínimas para o tratamento:
. . Toda água fornecida coletivamente deve ser submetida a processo
de desinfecção;
- Toda água suprída por manancial superficial e distribuída por meio
de canalização deve incluir tratamento por filtração.

• Reservatórios (ver capítulo 13): destinam-se, entre outras funções, a


realizar a compensação entre a vazão de produção oriunda da cap-
tação-adução-tratamento, que em geral é fixa ou tem poucas variações
e as vazões de consumo, variáveis ao longo das horas do dia e ao
longo dos dias do ano. Podem assumir diferentes formas, em função
de sua posição no terreno (apoiado, elevado, semi-enterrado, enterrado)
e de sua posição em relação à rede de distribuição (de montan.te ou de
jusante).

76 -.
Concépção de instalações para o abastecimento de água I C.aprtulo 2

Figura 2.6 - Estação elevatória em Taguatinga - DF - CAESB

.... iii iil lii


J
-· - -

Figura 2. 7 - Esta~ão de tratamento de água do Rio das Velhas - Região Metropolitana de Belo Hari~ont~ e-.
COP~SA-MG •

77
AbastecImçnnto de água ·para consumo humano


NT

Hi: nur ! j filii!1li!i! 1"i f'•!'


1
St ; f !·_:l i:It, l,f.
l!!hl!llliMlm!il!IPl!1J!li
Enterrado

···tt'I:._. '!::,~:.:·!•:f
..r;;:.,•;,,·t·:::!! !·::;t.....'{ ·t••
1z:-i:·:,.;
ifhii!iU,tUH1liHiHUfi1hii

Semi-apoiado

___~- .

..... ,~~·~· ...... ,..


..,.: .. -,..~
•/.::;',::X :: X:: X::~::,::!!,., X:~:·::::,::: Y.
• : :,.: !: X:: X;:;.(:: :·~!! X!:~;::,::: X:: X:::-:!: X::
~ ::x:: :'! :: :.! : : }!:: x:: ~ :: :(:::..e:::-::::-:::>!::>:
: : :<:;X:: X::~!! X!! :-'.!: X!: X:: X::!-!:: X::;:::
:,: ! : :.-! :: %:: iC :: :1. :: :< ::~!:!-:::X:: X::~:!;.::::<
: ::.,: :: X::%:; Z :: ~::~::X::x:: X:!:-!:: X::;..!,::
X:: X:: X::~:::,:;: X:: !.e:::..::: X:;>::::-::::,.::::<

Apoiado Elevado

Figura 2.8 - Reservatório elevado - Figura 2.9 - Tipos de reservatório, em função


Guarapari-ES - CESAN da sua posição no terreno

• Rede de distribuição (ver capítulo 13): é composta de tubulações.,


conexões e peças especiais, localizados nos logradouros públicos, e tem
por funçã·o distribuir água até residências, estabelecimentos comerciais,
indústrias e locais públicos. Pode assumir configurações bastante sim-
ples até extremamente complexas, em função do porte, da densidade
demográfjca, da distribuição e da topografia da área abastecida.

Ainda na nomenclatura das unidades componentes, estas podem ser agrupadas em:

• unidades de produção: incluem as unidades a montante do primeiro


reservatório do sistema, iniciando-se na captação, passando pela adu-
ção de água bruta, tratamento e adução de água tratada;
• unidades de di~tribuição: incluem os reservatórios, e a rede de distri-
buição.

Denomina-se ainda de unidade de transporte, o conjunto composto pela estação


elevatória e a adutora correspondente.
A Figura 2.1 Oapresenta um diagrama-chave, em que estão previstas as diferentes formas
de combinação entre as unidades componentes. Nota-se a obrigatoriedade de presença de
algumas das unidades e o caráter eventual de outras, como as adutoras e estações elevatórias.

1·8

• •
.
o abastecim ento do llg uo I C:npttulo 2
Concepçao de instalações para

Í
.. ESTAÇÃO
ELEVATÓRIA
---- ADUÇÃO
MANAN OiA I. 1
1
1

DISTRIBUIÇÃO
OAPTAÇ.J\O TRATAMENTO RESERVAÇÃO

CONSUMO

es entre unidades componentes


stecimento de água. Combinaçõ
S iste m a d e aba
~ Figura 2.1O•
E IRA (s .d.)
ro n11; ada ptado d O L IV

na c o n c e p ç ã o d e i n s t a l a ç õ e s
E l e m e n t o s c o n d i c i o n a n t e s
2 .5
e c i m e n t o d e á g u a
para o abast

a c on c ep çã o de u m a d ad a in s tala çã o
s o s fatores q u e p od em c on d icio n a r
São d ivers o se ja m c on s ide rad o s, ta n to a
e ág u a. É e ss en cial q ue ta is fato res
para o a ba stec im en to d teg rad a . A lgu n s d ess es
q ua nto ao s eu c on ju n to de fo rm a in
ca da unidade índ ív idu alme n te,
i

condicionantes sã o:

2,5, 1 Porte da localidade

s p ortes de sis tem a, co m d iferen tes


d a co m u n id ad e d eterm ina dife rente
O ta m a nh o adu tor as de ág .ua b ru ta pa ra
e-s e, co m o ex emp lo, o diâ m etr o d e
com plexid a des . O b se rv
atende r a três d istin tas p op u la çõ es : .. •

. ,'.
1 - ! ..
'. '
.
... ~ .. ~ ;; ·, .

79


Tabela 22 - lnfluên~la do porte da localidade no diâmetro da adutora
· z ••• •· 1s a · . - :
o .. -,, - - - ~

, -Popu~ (hab) Consumo per capita Vazão de produção


1
Diâmetro (mm)4 -
· (L/hab.dia) -
(Us)
- . -
2
100 4, 17 75
2.000 3
20.GOO 200 55,46 250
3
250 694,44 1.000
200.GOO
, kl roetnerte do d a de rna,or C('J nsur110) = 1,2
2adu.çá0 P"'/ 16 t'.,d,a
3 adu,Ção por ,24/d a
-!para 41Ma 1 e ~ em torno de 1 m/s

Conforme se 1erifíca, para esses três portes de população, a dimensão das unidades
pode mudar qualítatívamente de patamar: em geral, é maior a simplicidade de se proje-
tar, definir o material e verificar o funcionamento hidráulico de uma adutora com diâmetro
de 75 mm, se comparada com uma de 250 mm, que, por sua vez, é menos complexa
que uma adutora de 1 . 000 mm, a qual pode envolver cuidadosas considerações sobre O
material da b.Jbulação, a ocorrência de sub e sobre-pressões transientes, o impacto ambi-
ental das obras etc.
Por outro lado, comunidades de pequeno porte podem estar mais propícias à utilização
de manará ais subterrâneos, uma vez que, salvo exceções em algumas regiões do país
com aqli:ferosubterrâneo de maior potencial de vazão, a maior parte dos poços profundos
do Bras:I apresenta vazões compatíveis com este porte de abastecimento. Essa situação
pode proporcionar uma simplificação no sistema, sobretudo quanto à unidade de trata-
mento. já que, quase sempre, o manancial subterrâneo demanda apenas o tratamento por
desinfecção assoáado à correção de pH e à fluoretação.
Em contrapartida, localidades de maior porte via de regra requerem sistemas mais
complexos, em termos de sofisticação tecnológica e operacional, embora nem sempre
quanto à sua concepção, pois buscar uma solução que seja efetivamente apropriada em
uma comunidade menor pode exigir esforços intelectuais significativos. Sistemas de maior
porte podem se caracterizar por:

• mais de um manancial, exigindo compatibilizar diferentes aduções,


ve icula ndo diferentes vazões;
• implantação de barragem de acumulação para a captação em manan-
ciais superficíais, podendo gerar impactos ambientais e resultar em qua-
lidade da água bruta que exija cuidados especiais no tratamento;
• mananciais com qualidade da água comprometida, exigindo cuida-
dos especiais no t ratamento;
• aduções com comprimentos elevados e, por vezes, elevados desní-
ve is geoméíricos, tornando o projeto dessas unidades mais complexo
e de maior responsabilidade;
• diS::ribuição com diversas zonas de pressão, requerendo vários reser-
vatórios ·e tubulação tronco.

80

• .. • ..,. - ' r.
Concepç:lo de fnstalaçõeS para o abastedmento de água I Capítulo 2.

As Figuras 2.11 e 2.12 diferenciam, por contraste, um sistema para atendimento a


uma comunidade de pequeno porte e outro para uma grande capital.

Reservatório elevado

t
Cloração - D o

- )
Tubulação do sistema de ' )

distribuição
Poço

Figura 2.1 1 • Pequeno sistema, abastecido por poço raso, com reservatório de montante
Fonte: adaptado de o,s..ssA (1980)

Francl•ço
MóiàtQ -· v.
211•,,.,pt;J

~.Oltl
~~

Gu,raJho•
·~

1 • "'

•.I.
- AII.._I llilllt:111
iii f.ti1$111Pllt'TI. . . I) . . ..

a Ru1r• ·..,1111:VJ• *
A IMC,,,'11\-

-
Figura 2.12 - Abastecimento de água da Região Metropolitana de São Paulo - 1995
Fo-nte; TSUTIYA (2004)

81

Abasteclmcl\to de 4gu11 pQro ton11.1n10 humano

2.s.2 Densidade demográfica

A forma como a população se distribui no terrltório pode ser importante condicionante


da concepção, podendo influenciar na dcclsao de se a solução deve ser individual ou cole-
tiva, provida de rede ou não. Por exemplo, a ocupação característica de uma vila rural, uma
comunidade indígena, uma agrovlta, uma ocupação remanescente de quilombo, um acam-
pamento provisório de "sem-terra" pode demandar soluções substancialmente distintas
de uma cidade densamente habitada. É óbvio que, além da ocupação mais dispersa -
menores densidades demográficas , a concepção da solução deve também ser determi-
nada por outras características locais, de natureza física, econômica ou sociocultural.

2.5.3 Mananciais

Este fator é certamente um dos mais importantes elementos condicionantes da con-


cepção das instalações de abastecimento. Diversas situações podem ser encontradas e
cada qual pode ser determinante de decisões a serem adotadas na concepção. Em vista
disso, deve ser uma etapa anterior a qualquer formulação de alternativas a atividade de
definição de mananciais. Trata-se de tarefa de grande responsabilidade, que, dependendo
do porte do sistema, deve envolver profissionais com diversas formações além da enge-
nharia, como geólogos, hidrogeólogos, biólogos e químicos.
Ê uma atividade que envolve um conjunto de procedimentos, como:

• consulta à comunidade local, sobre os mananciais em uso e sua ava-


liação sobre possíveis novos mananciais;
• inspeções de campo, avaliando o atual uso de água subterrânea e
percorrendo os mananciais superficiais, para identificar preliminarmente
possíveis pontos de captação e para verificar a ocupação das bacias
contribuintes, que possa influenciar na qualidade da água;
• estudos hidrogeológicos, para avaliação do potencial de exploração
da água subterranea;
• estudos hidrológicos, para avaliação das vazões extremas dos manan-
ciais de superfície e da necessidade de implantação de barragens de
acumulação;
• realização de análises físico-químicas e microbiológicas da água dos
mananciais candidatos a serem adotados.

Em síntese, trata-se de uma escolha em que deve ser realizada uma análise conjunta
da quantidade e qualidade da água e, para tanto, diversos procedimentos .são desen-
volvidos.

82
• de instalações para o abas tecimen to de água I Caplt vlo 2
Concepç3 o

a pa ra a de finiç ão do m an an cial , se ja m ais de


É freqüen te hav er m a is de u m a a ltern a tiv
a co m b in açã o de m ai s de um m an an cial pa ra
um manancia l ca n dida to a se r utiíiz a d o ou
ve se r real izad o um d eta lha d o e stu d o de
suprir a dema nd a de pro je to. N es se ca so, de
m ico -fin an ce iro s, técn icos , sa n itá rio s e am bi-
s, co n si de ran d o os as pe ctos e co n ô
altern ativa ja to m a da co m em ba -
e ca da a ltern a tiv a , pa ra qu e a de cisã o fina l se
entais ca racte rlst ico s d
sa mento técnico.
f
{

7 i t l & .. ...

Exemplo 2.1

s d e m an ancia l aprese n tad as na F igura


Con si dere as tr ês altern ativa
dive rsos fatores conside ra do s na sele ção
2 .13. C om p are ..as se g und o os
d e alternativas .

ETA (Simplificada) Desinfecção


ETA (Completa)
~

R1
\ _J) () A Hmáx ::; 30 m
(\

.t. H = 60m 6Hméd 120m


Bateria de

íl poços
profundos

L= 20 km L=Bkm lméd =4 kní

ALTERNATIVA B ALTERNATIVA C
ALTERNATIVA A Captação em manancial subterrâneo
Captaçãó em manancial superficial Captação em manancial superficial confinado
sem acumulação com acumulação

Figura 2 .1 3 - A va liaçã o co m pa ra tiva entre al te rnativas de m anan ciais

Solução

A lt er na ti va
fa to r de co m pa ra çã o Alte w at iya B A lt er na ti va e
A lt er na ti va A
Man~ncial de M an an ci al de Manancial
su pe rf fcie se m su pe rf íc ie com su bt er râ ne o
ac um ul aç ão ac um ul aç ão
** * **
Custo de implantação da tomada d'ág~a
* * ***
eq uipam entos eletro m ecan ,cos , *
N úm ero de
• exigindo manutenção ** * ****
Custo de aquisição das bombas ** * **
Con sumo de energia elétrica *** ** *
Custo de Implanta çã o da adutora *** ** *
Custo de Implantação do tratamento *** ** *
os qu ímico s np trata m en to
Consu m o de prod ut
, ** * ** *
Geração de re-síduos (lodo) rr~ tra t~m en to
podendo gerar imP.actos amb1enta1s ** * ., t
ça ** *
Riscos potenciais à saúde devidos Á presen
de microrganismos

83
Abastecimento de água para consumo humano

2 . - r % .r 17 a • • 1· : r • u : a ff a z· _e

..
3 • 2
. r r • - as a :si os a . n . a r : a - : - :

... ,· . , , , Fator de comparaçao · Alternativa


. , Ãltérnativa A ....Alternativa 8
Alternativa e -
Manàncial de Manancial de
superfície sem superfície com Manancial
subterrâneo
acumulação acumulação
• 2 0 • tJ1 • a a a • • a • o ;z a ,t

à
. Risc~s. p~tencíaís. s~úde ·d~~id~s à.pr~s~~ç~
de substâncias q,ufmicas .
Riscos potenciais à saúde devidos à pre·sença * *** *
de algas tóxic~s . .

***
4

Impactos amb1enta1s da exploraçao dos


recursos hídricos
Notas: (*) mais vantajosa;(**) intermediária;(***) menos vantajosa.
1 por lançamento de efluentes industriais ou agrot~xicos,_por ex~mplo
2 por ressusp,ensão no reservatório, quando ocorre 1nversao térmica
3 desde que não existam na estrutura geológica do subsolo
4 assumindo que existam conflitos de uso

sassumindo inexistência de conflito d:e uso

2.5.4 Características topográficas

A topografia local pode influenciar de várias formas a concepção do abastecimento. A


topografia do terreno localizado entre as potenciais captações e a área de projeto influen-
ciam, dentre outros fatores:

• as características da adutora;
• a necessidade de estações elevatórias e o correspondente consumo
de energia;
• a possível ocorrência de golpe de aríete e a necessidade de seu con-
trole.

Por outro lado, a topografia da área de projeto influencia a geometria da rede, poden-
do conduzir a diferentes alternativas de traçado. Cada alternativa pode se caracterizar por
uma específica divisão em zonas de pressão e em zonas de abastecimento, o que resulta
em diferentes custos, consumo de energia elétrica e complexidade operacional.
Essa situação é ilustrada pela Figura 2.14, em que, em uma mesma área de abasteci-
mento, a topografia conduz a duas diferentes soluções:

• Alternativa A: com duas zonas de pressão, três reservatórios e uma


estação elevatória com vazão equivalente ao consumo máximo de toda
a área;
• Alternativa B: co,m três zonas de pressão, dois reservatórios, uma
válvula redutora de pressão e uma estação elevatória com pequena
vazão (apenas suficiente para a zona alta).

84
1

R2
ZA' 'Z}A
1 ,
J ZB
LEGENOk
MT R1 MT R1
AAT: adutora de água
1
'
1 tratada

' 1
EE: estação eleva1ória
R: reservatório

..
-,-
ZA

1
ZB 1

'
VRP: válvula redutora
de pressão
"Zk. zona alta
f ZB: zona baixa
1 ZM: 2ona média
l[ 1
I
1

'

ALTERNATIVA A ALTERNATNA B

Figura 2.14 - Alternativas de zoneamento na distribuição condicionadas pela topografia

2.5.5 Características geológicas e geotécnicas

As características geológicas e geotécnicas ínfluenáam as condições do subsolo sobre


o qual tubulações e estruturas (captações, estações de tratamento, elevatórias, reservatórios)

serão assentadas e as soluções mais adequadas para as fundações, com repercussões
sobre o custo das concepções. A informação pode incJusrve determinar modificações de
localização de unidades (exemplo: evitar instalação de estruturas enterradas em regiões
rochosas).

2.5.6 Instalações existentes

Difícil mente, a comunidade sobre a qual se está planejando uma solução deixa d.e ter
unidades, a partir das quais o abastecimento é atualmente realizado. Uma avaliação cuida-
dosa dessas unidades, visando a seu aproveitamento, constituí uma tarefa central em um
estudo de concepção. Em uma primeira tentativa, deve-se considerar o máximo aproveita-
mento de tais unidades, pois foram impJantadas com recursos públicos ou a partir do
esforço da própria comunidade, merecendo portanto o devido respeito.
Para tanto, cada uma delas deve ser cuidadosamente cadastrada.,.com levantamento
l1 de suas características físicas e de seu estado .de conservação. Deve ser salientado que nem
sempre esta é uma tarefa simples, sendo geralmente muito compl1;tÍ<a gllfaoôQ.,S~ trata de
1 tubulações enterradas adutoras e redes. Nesse último caso, deve-S~ ~-~ rotet ·á informa-
ções dos operadores do serviço, sobretudo daqueles mais antlgo'i .s as\ ·rt011J.l.q,çQes
devem ser complementadas com furos de sondagem estrategicanieLJ; 'te i ~ , ej'g1ê.
·"
ªtil11>.S. ·.
\ ,_..) • !ti: - -
~ • •"'.'i
l '"". ~ ~··">' . ~'!·
l. .

85
Jf-
(t
'lt
e . .to não é raro ser mais razoável abandonar parte ou a totalidade das .
l Ent ret an , . . d t . t un, da d
l
exist,entes, por um ou mais dos seguintes motivos, en re ou ros: es
.
t
• '-Uptaçao, estação elevatória de ádgua bru~ ~·a~ut~ra de água bruta
de mananciais a serem abandona. os, por .e ,c1 nc1a de quantidade
ou por comprometimen~o da quahd~de'. . . .
• adut oras e red ·e com diâmetros muito 1nfer1ores aos necessários na
..
· , o
justificando duplicações; . . .
• estações de tratamento e/ou algumas de suas unidades 1ncornpa-
tfveis com a qualidade da água e/ou com os avanços tecnológicos
da área; d .
• reservatórios posicionados em cotas inad~qua ~s, ~UJO apro~ei:amento
poderia conduzir a um zoneamento ant1-~conom1co da dtstr,buição,
ou com volume muito inferior ao necessário;
• estações elevatórias mal posicionadas ou com dimensionamento
muito distante do necessário;
• estruturas em péssimo estado de conservação, próximo ou já tendo
ultrapassado sua vida útil;
• tubulações em péssimo estado, com corrosão ou incrustação exces-
\

s1vas.

2.5.7 Energia elétrica

A disponibilidade de energia elétrica constitui um item essencial na formulação de


alternativas. A ausência de energia elétrica, que pode ocorrer em comunidades mais dis-
tantes e de menor porte, demanda soluções para bombeamento de água e iluminação
com o uso de alternativas energéticas, como o exemplo mostrado na Figura 2.15.
Além disso, as despesas com energia elétrica vêm se constituindo em um custo muito
elevado dentre as despesas de operação de uma instalação de abastecimento de água. Na
maior parte delas, inclusive, constituí a maior parcela das despesas operacionais, conforme
o gráfico da Figura 2.16, extraído de painel afixado na ETA Rio das Velhas, na Região
Metropolitana de Belo Horizonte, podendo-se perceber a elevadíssima participação (63º/o)
das despesas com energia nos custos do sistema de produção, que apresenta elevadas
alturas manométricas nas estações elevatórias existentes.

86
....

Concep~o de Instalações pc>ra o abastecimento de água t Capitulo 2

Sol

Módulos solares
fotovollãlcos

Controlador Lâmpadas
Controlador Fluorescentes
Inversor e.e. de carga
Painel de ~w
+- e.e. Inversor controre
O ,
1 •

e.e. Corrente
Poste
l e.e.
"--'Alíem:da c:f.
Baterias

Reservatório
~- -.:· ' ~, 21" Cl::éill
+- +- +-
deãgua TV colorida

Abastecimento Lâmpadas
'frlUblico doin,éstico - Fluorescentes
11W
í
===n::~.l.. ~
CA. .,(Rádio
e.e.

preto e branco
'
Cisterna
~ ~ !3.. •
alternativa

'

'
1

· Figura 2.15 - Alternativa de fornecimento energético por energia solar fotovoltaica para pequeno
sistema de abastecimento de água
Fonte: COPASA (1998)

Sistema produtor Rio das Velhas


custo por metro cúbico (R$/m3) agosto 2003

0,0188 0,0012

0,1116 •

• Prod. Quhllco • Serv. Terceiros D Energia elélrica


l]Cusbhafm •Mablais a Pessoat

Figura 2 .16 - Sistema produtor Rio das Velhas, Distribuição proporcional dos iten~ de. d~~ijt sâ:. . .
• • . f •
,-.,-.,.,-

. .
' . consumo
Abastedmt nto dt j gui Jllrl ·
hr..unano

. . ·d·
rtante a ser cons1 .e ·rado é a atual lóg.ca da · rara r ária do setor
Outro f ato tmpo d'f· enc,açao
. __ de ta.:.tas
. ,,,, em função da ora e do
. pe-- :>do de consu-
I
ef'étrico, que estabelece efi . f., • ho·~::a7onal Reso -.,ção EEL 45612000). Nessa
d st tura tar1 ana JU-.HLA-
mo, a chama a e__ru "f t tarifas para horário de ponta composto por três
estrutu~a, .são def1n1d~s d, ere:: feita aos sábados, do.., rgos e ~eriados nacionais- - e
horas dránas co~secutivas, .e~~d~ período de ànco meses, de dez.ernb~ de tim ano a
fora de ponta, período u , d seco pen'odo de sete meses. de ma,o a novembro
. -· t e per10 o ·
abril do ano segu1n e. tarifa (horário de ponta; período seco e a . r horário fora de
A relação entre a maror . . d 2 5 depen a o essiooária e da
ponta; período úmido) pode se aproXJmar e • ~
classe de tensão. ., . nnA-a ~ .. · +-.- · 1· -
Logo, a estrutura t ar1'fá·rra . concessionana,focal ~. ,. . er , . porran~
· da - rmp 1ca{oes. na
.
· · ·
concepção dos sistemas, pr11nc1 · ·paimente no penodo
., . d1ano de ;unconamento
,............__... das un,da-
. ~.
- Sobre este u, lti'mo ponto, e ,m~
des, e na sua operaçao. '""""~ri1e
• ~ 1ll.ftcu q~.as _ concess1
. onanas
cobram uma elevada tarifa de ultrapassagem, quando se o e ma energia do que
aquela contratada para os diversos horários. ~ . .,. _
Por essas razões, deve-se avaliar atentamente o rator energ.a elemca na formulaçao
de alternativas de concepção. Do ponto de vista econom·co, essa parcela de despesas
pode condenar alternativas aparentemente convenientes ou · bilizar outras que pareçam
desfavoráveis.

2.5.8 Recursos humanos

Importante análise na concepção de alternativas ,é o se requerimento de recursos


humanos especializados, muitas vezes não encontrados na região ou demandando ativida-
des de capacitação e de supervisão.
Assim, deve-se partir da premissa de que os serviços de abasteci ento de água neces-
sitam de equipe com uma quantidade mínima de pessoal e com um níveJ míni'mo de
qualificação, para atender serviços como o de construção civil, hidráulicos, eletrome-
cânicos, operação do tratamento e administrativos.
Porém, quando a especialização demandada for incompatívef com o porte e a locali-
zação do sistema, isto pode colocar em risco a continuidade e a qualidade da prestação dos
serviços. Essa situação pode ocorrer, por exemplo, quando são pre istos processos comple-
xos de tratamento, equipamentos eletromecânicos com operação e manutenção especiali-
zados, uso de produtos químicos de difícil manuseio. sofisticados disposimos eletrônicos e
de controle e automação. Logo, a previsão de tais soluções necessita ser prévia e cuidado-
samente avaliada .
.Por outro lado, quando se compara mais de uma alternativa e estas requerem diferentes
cont1n~entes de pessoal, em termos de quantidade e de nível de especialização, esse fator
necessita ser considerado.

88

Ili-......_

para o abastecimento de água I Cap itulo 2


Concepç3o do lnttalaçõas

o n ô m ic o -f in a n c e ir a s
2.5.9 Condições ec

m c o m o o p ri n c ip a l fa to r p a ra
l q u e a s p u b li c a ç õ e s s o b re sa n e a m e n to o c o lo q u e
É us u a d o é : o s c u s to s d o s is te m a
ic a . O ra c ;o c fn io e m g e ra r u tili z a
a esco íh a d e u m a s o lu ç ã o té c n e ja , o
a m e n to d o s b e n e fic iá rio s . O u s
v e is c o m a c a p ac id a d e d e p a g
devem s e r c o m p a tí d o s a o s s e u s c u s to s
s to s d e im p la n ta ç ã o , s o m a
sistema de v e s er im p la n ta d o ca s o se u s c u
m e q u iv a -
rm in a d o a rc a n c e d e p ro je to , s e ja
to ta íi z a d o s a o lo n g o d e u m d e te
operaciona is , e te rm in a ç ã o d a s ta ri fa s ,
n o m e s m o p e rí o d o . E , p a ra a d
lentes à to ta li z aç ã o d a s ta ri fa s d o ta
u m a c o m p a n h ia e s ta d u a l qu e a
e fi n id a s, c o m o n o c a so d e
quando e la s n ã o s ã o p re d
dis p o s iç ã o a p a g a r' ' d os
m a s , é a d o ta d o o c o n c e ito d a ''
n ic a p a ra to d o s o s s·e u s s is te
tarifa ú
usuários. o e xtr e m o , re s u lt a e m s e r v i-
e s s e ra c io c ín io , p o is , (e v a d o a
De v e-- s e te r c a u te la c o m e fic ia d a :
e r a q u is it iv o d a p o p u la ç ã o b e n
e d ife re n te , e m fu n çã o d o p o d
ços de q u a lid a d se rv iç o s d e s e g u n d a
lt o n ív e l; p o p u la ç ã o p o b re c om
o ri c a c o m s e rv iç o d e a
populaçã g o , o p o d er a q u is it iv o d a p o p u la ç ã o
é , e vid e n te m e n te , s e m é tic a . L o
categori a . T a l ló g ic a e n to d a re n d a
s o lu ç ã o . A liá s , o c o m p ro m e ti m
e s e r fa to r c o n d ic io n a n te d a
não dev u s u a lm e nte já é m a io r n as re g iõ es
m e n to d e ta ri fa s d e s a ne a m e n to
familia r co m o p a g a 2 .3 , n a q u a l s e
b re s , c o m o il u s tr a d o n a T a b e la
d a s p e J a s p o p u la ç õ e s m a is p o
ocup a a re g iã o N o rd e s te , q u e te m a
e ti m e n to n o B ra s il é m a io r n
observa q u e o c o m p ro m e m vis ta d a s
S u l o c u p e a s e g u n da p o s iç ã o ,
d a m é d ia , a in d a q u e a R e giã o
menor re n
tarifas mais elevadas.
ta rifa s d e a b a s te c im e n to d e
ti m e n to d a re n d a fa m il ia r c o m
Tabela 2.3 - C o m p r o m e
m e n to s a n it á r io n o B ra s il
água e esgota end a
Renda fa m il ia r Tarifa/r
Consumo médio Valor da tarifa (%)
Região média mensal
(m /mora1dia.
3 de á g u a +
(R$)2
mês) esgoto {R$)
1.013 3,27
18 33
Norte
3
728 3,86
14 28
Nordeste 1.428 2,95
17 42
Sudeste 47 1.263 3,73
Sul 13 1.332 2,76
15 37
Centro-Oeste
1 Fonte: PMSS; SNIS (2002)
2 Fonte : IBGE; PNAD {200 3) ia, A cre, A ma zo na s, Roraima , Pará e Amapá.
u la çao rural de Ro ndô n
3 Excluído o re ndimento da po
p
Extraído de ASSIS e t ai. (2004)
o s e co nô m ic o-f in a nc eiro s c o n s -
cis ã o e n tre a lte rn a tiv a s , o s e stu d
Po r o u tro la do , n a d e d e d ec is ã o .
ú n ic o s , n o p ro ce s s o de tom a d a
e nto fu nd a m e n ta l, e m b ora n ã o
tituem e lem as alte rn a tiv a s q u a nto (i) à s
c o ns id era ç ã o a s d ife re n ça s e ntr e
Esses e stud o s d ev em le va r e m c om e n e r-
p lo ra çã o , q u e in clu e m de s pe sa s
la nta ç ã o e (ii) à s d e sp e s as d e e x
desp esa s d e im p no a a no e e m g e ra r
e ss o a l. E s tas ú ltim as inc id e m a
a , pro d uto s q u ím ic o s e p
gia elétric

89

-

variam segundo a vazão pro~uzída ou ~ população beneflcl d ' d. v ncJo t t lJf1\ld r.

2 2
econômico, conforme Exemplo · ·

Exemplo 2,2

consíder~ duas alt~rn?t!v~s de concepção. A prlm Ir cJ . mtflcJ u,n


custo de ,mplantaçao 1n1c1al de ~$ 1~0.000,00 d<•r,p \ti eorn , 11 r
gía elétríca de R$ 6.000,00 no primeiro ano, cres · neto ,1 llfllit 1,,1< J

com energ1a no pr1me1ro ano de R$ 2.000,00, era e ndo · rn ,' fT\e1ttJXc)


Qual tería o menor valor presente para um período d 1 11 , on 1·
derando uma taxa de desconto de 11 °/o ao ano?

Solução

A segunda alternativa seria a mais econômica, con·form l b I ulr:


• 6
• a E
ALTERNATIVA A ALTERNATIVA D
Ano Despesa de Despesas com Valor Despesa de Da1pa~n• com V lar
implantação energia elétrica Presente (VP), implantação on rgla I trlc
a ma Pr ,11nt1(VP)1
o R$ 120.000,00 R$ 120.000,00 R$ 150.000,00
7

f\ ~ 111() ()00,00
LJ

1 R$ 6.000,00 R$ 5.405,41
R$ 2.000,00 R\ 1 U01,80
2 R$ 6.180,00 R$ 5.015,83
R:&l .OC,0,00 R1L 1 t> /1,94
3 R$ 6.365,40 R$ 4.654,33
1,i , .1) 1,80 f{$ l .',11,44
4 R$ 6.556,36 R$ 4.318,88
íl$ J 1a1,,4,1)
1
f{$ t .tl ~9,6
5 R$ 6.753,05 R$ 4.007,61
R$ J,}'11,01 R$ 1 ~1;1SI
6 R$ 6.955,64 R$ 3.718,77
7 R$ 7.164,31
R J .i 1R,~~
1
~ 1t$ 1.J 1CJ,!.,9
R$ 3.450,75
8 R$ 7.379,24 R$ 3.202,05
"' , .Jaa,; o Jl'& 1.1~o,,s
9 R$ 7.600,62 R$ 2.971,27
R!6 J.4'J'>,l ~ "~' 1.0ú/,3~
10 R$ 7 .828,64 R$ ) .11 11, ','1 R$ 990,42
R$ 2.757, 13
11 R$ 8.063,50
R(G ; .C,Cl'>, ,,,, íl$ C)19,04
R$ 2.558,41
t,$ 1.bl! l ,BJ fti&
12
13
R$ 8 .305,40
RS 8.554,57
R$ 2.374,02
R$ 2.202,92
R$ i. /b8,4 I ª~'·ªº
f\ 16 /91,~4
14 R$ 8.811,20 !'\$ ) f\ 111,i,, Ri /341 ,
1
R$ 2.044, 15
15 R$ 9.075,54 R$ 1.896,83 Ri i '111, OI R11 (161,38
Total
'
' •• R$ 170.578,35
•a, • ._
R$ !.OJ ~,1O
"I' úiJ ,28
RS 16GzBS9,45
1
4 1 ; S.

1 1

' VP = (1 + I.)t , onde.r -- taY.a de d esconto ou "taxa de Juros
. ,,
e t =ten1po.
,
1
(

90
\

Concepçao de Instalações para o abastecimento de água I Capftuto 2

Nem sempre a análise econômica mostra claramente a alternativa a ser adotada, em


vista dos outros fatores a serem considerados. Nesse ponto, um importante problema na
concepção do abastecimento de água é o da localização da ETA, quando a captação se dá
em manancial de superfície: se junto à cidade (ver Figura 2.25) ou se junto à captação (ver
Figura 2.26). Apresentam-se a seguir possíveis vantagens da localização da ETA junto à
cidade:
• redução de despesas com transporte de funcionários;
• redução de despesas com transporte de produtos químicos;
• possível economia na implantação de vias de acesso;
• maior visibilidade do sistema para a população.

Por ou,tro lado, as possíveis vantagens de localização da ETA junto à captação seriam:

• maior facilidade de operação, já que a captação e a ETA seriam centra-


lizadas, podendo implicar redução do custo da mão de obra;
• redução dos custos de adução de água até a cidade, uma vez que a
parcela de água consumida na ETA (lavagem de filtros e decantadores,
preparo de produtos químicos etc.) não necessitaria ser transportada
até a cidade;
• redução dos gastos com o esgotamento da ETA, já que o corpo re-
ceptor estaria próximo da estação de tratamento;
• possível redução de despesa com aquisição de terreno para implan-
tação da ETA, que em geral é menos valorizado nos locais mais distan-
tes da cidade;
• menor risco à população residente na cidade quanto a vazamentos
acidentais de produtos químicos, como o cloro.

Em geral, em sistemas de menor porte, a ETA costuma ser localizada junto à cidade e,
em sistemas maiores, essa locarízação depende de uma análise apurada, que muitas vezes
indica a localização junto à captação.

2.5.10 Alcance do projeto

Outra decisão importante na concepção de instalações de abastecimento é o seu


alcance no tempo, ou seja, para até que ano serão concebidos e dimensionados. Não se
trata de uma questão de menor importância, pois, sob o ponto de vista econômico, dife-
rentes alcances podem determinar diferentes desempenhos financeiros.
Assim, em empreendimentos de maior porte, é justificável que, na fase de concepção,
sejam desenvolvidos estudos econômico-financeiros comparando diferentes opções de al-
cance, cada qual devendo ser pré-dimensionado e avaliado financeiramente, conforme

91

-------------·- - --·.
consumo humano
Abastecimento do Aguo pata

. . alcance de melhor desempenho econômico seria O


2 5
mencionado no item · · · 9 0 • (CM) ou O menor "custo necessário para a que
apresentasse menor custo margina 1 . produção
de um m3adicional", obtido segundo a fórmula .
LVP(investimento)

Para sistemas de menor porte, pode ser fixad~ um determinado alcance com base no
bom senso do projetista. Este valor, em geral, osola entre~ e 12 anos, co~ média de 10
anos, devendo ser menor quando se adotam taxas de crescimento popufaoonal maiores e
se suspeita que estas podem não se realizar.
Além da definição do alcance da primeira etapa de proj~to, é importante pensar na
expansão do sistema, ou seja, na capacidade das etapas posteriores. Isso deve ser realizado
planejando as unidades de forma modular. Por exemplo, se a primeira etapa demanda um
volume de reservação de 500 m3, em uma determinada zona de pressão, pode-se pensar
3
na implantação de dois reservatórios principais com 250 m de volume cada e, dependendo
da projeção p.opula~ional, se prever reserva na área a ser desapropriada para a implantação
de uma terceira unidade de mesmo volume.
Maior desenvolvimento do tema pode ser encontrado no capítulo 3.

2.6 Normas aplicáveis

A norma
úblicos de ab NBR ª
t · 12 ·211/1989 d ABNT trata dos estudos de concepção de sistemas
P as ec1mento
"estudo de arranjos b de água 5 d °
· :gun essa norma, estudo de concepção é um

' as e modo
concepção básica ,, Cone . . . b, . a f orm ·
arem um todo integrado, para a escolha da
· epçao
econômico, financeiro e soe· ,, P as1ca é Ih
11
-
ª me or soluçao sob o ponto de vista técnico,
ia
estabelece que devem ser ab d 1 . ara o desen 1 ·
vo vimento do estudo de concepção, a norma
or adas os seguintes aspectos:
•• a- eon f'iguração topográfica local.
as características 1 . '
• os consum·d -. geo óg1cas da região;.
- 1 ores a ser
• a quantidade d em atendidos;
•. ª integração
· e água
do · t exigida
. e - .
as vazoes de dimensionamento;
s1stema,. sis ema existe nt e, quando é o caso, com o novo

• a pesquisa e a definição dos . .


· mananc1a1s abastecedores;

92

zz E- - - - -
eonrDpçOo tJQ lnstnln~õas para o abastecimento de água I Capitulo 2

• a demonstração de qu o "I ·t m 1Jroposto apresenta total compatí-


bifidade entre suas parlas;
• o método de operac;ao do slslClma;
• a definição das etapas da implcJnlüç:to;
• a comparação técn lco·aconôrnicd das concepções;
• o estudo de viabili dade aconõmlco-flnanceira da concepção básica .

Tais elementos são convenien·temente detalhados pela referida norma, embora alguns
aspectos estejam desatualizados. A NBR 12.211/1 989 é complementada por três impor-
tantes anexos:
• '' Utilização dos elementos cartográficos ", com definição das escalas
adequadas para cada fina lidade.
• '' Características básicas dos sistemas existentes'', fistando os dados
mínimos dos sistemas cxistentas a serem levantados.
11
• Avaliação de disponibi lidades hfdricas de superfície'', com orienta-
ções de procedimentos para 'tais avaliações.

Além dessa, as seguintes normas da ABNT aplicam-se de forma mais ou menos direta
à concepção das instalações para o abastecimento de água:

• NBR 1.038/1986 - Verifica ção de esta nqueidade no assentamento


de adutoras e redes de água.
• NBR 12 .212/1990 - Projeto de poço pa ra captação de água subter-
,.,
ranea.
• NBR 12.213/1990 - Projeto de captação de água de superfície para
abastecimento público .
• NBR 12.214/1990 - Projeto de sis·tema de bombeamento de água
para abastecimento púbJíco .
• NBR 12.215/1991 - Proj eto de adutora de água para abastecimento
público.
• NBR 12.216/1989 - Pr·oj eto de estação de t ratamento de água para
abastecimento público.
• NBR 12.217/1994 - Projeto de reservatório de distribuição de água
para abastecimento público.
• NBR 12 .218/1994 - Proj eto de rede de distribuição de água para
abastecimento público.

Acrescente-se às normas da ABNT a Portaria MS nº 518/2004, referente .à qualidade


da água para consumo humano, que fornece importantes orientações para a concepção e
o projeto de instalações de abastecimento de água,

93
t

~7
. A sequ
..
e
,.
n
, . . d o p roc es so d e c o n c e p ç a o
-
2 5 .. •
'
~ 1a
5
_. . , . . .. . .~
- • l

·nst a• ~ r5 o de abastecim ento de água para o atendím e


A concepção de uma dada '
- . _a se q ..
~ê f t - .
a uma comunidade requer um n cia cu ida do sa d e o rm u aço es, vi sa . nt
nd o à defin·, "'o
· · _ is ad e
·..
q
,u a . ·
por aquela concepçao que ma da e co nve n ien te se Ja p a ra a re a 1. <;
idade em co nsi d. ao
.. · ·
b Ih d ser tão mais completo e deta1ha d
raçao. Este tra a o eve o quanto menos clara em unne-
. ... . . . e apresen1:a asolu r;io A Agura 2 .. . ' a
ava ,açao 1n1c1a1, S - - Y" " ~
.1 7 m ost ra uma sequênci a a ser se guida
em 'análises desse tipo, prevendo as seguintes eta
pas:
.) tame n to d a s c a ra c te rí s ti c as fí sicas,
( 1 1eva n . m e d ia n te v is it as ao
campo, o b te n ç ã o d e inform a ç õ e s ~1 ~p o n , · 1 t .
1ve1s e e v a n a m e n to s to p o-
gráficos e geot écnicos, se necess a ri o
s; . ... . .
(2) le v a n ta m e n to d a s c a ra c te rí st ic
a s so c 1 0 :c o n o ~ 1 c a s, m:d1an.t e
visitas e levanta m e n to s d e campo e
o b te n ç a o de 1nformaçoes dis-
poníveis;
(3) levantame n to d a s característi cas
d e m o g rá fi c a s , com base em in-
formações do fBG E, da p re fe it u ra m
u nicipal, d a concessionária de
energia elétrica e de órgãos de plan e
ja m e n to , p o r exemplo;
(4) levantamen t o d o si st e m a ex ist
e n te , p o r m e io de in fo rm a çõ es
locais e cadastro, a te n tan d o-se p ara
o le v a n ta m e n to d o estado d e
conservação e f un cion amen to d as u n
i dades ;
(5) pesquisa de mananciais , com b
ase em mapas geológicos, na car. .
tografia local, em informações d os mo
radores e no levantamento da s
fontes atualmen te u ti lizadas;
(6) cálculo da de manda, conform e
det alhado n o capítulo 3:
(7) estimativa das vazões mínimas,
c o n fo rm e d e ta lh a d o nos capitula s
5 e 6;
(8) definição do alca nce do projeto, con
forme descrito no capitulo 3;
(9) definição das vazões de p ro jet a
i c o n fo rm e c a p ít u lo 3 ;
(1 O) definição das alt ernativas, q ue po
dem referir-se a to d o o sistema
ou a unidades específi cas, c o m o ad u to ••
ras, estações elevatórias, trata-
mento ou o siste ma d e d istr ib u iç ão;
(11) anteprojeto e p ré -dimension am e n
to d a s alternativas, abordand o
cada unidade em um nível q u e p e rm it
a estimar custos;
~12) avaliação econ ô mica d a s alte rn at
ivas, in c lu in d o as despesas com
1mpla~~ação e operacion ais ao valo r pre
sente, p o d e n d o incluir estudo
espec1f1co para definiç ão d o alcan ce in
dividual de unidades·
(13) avalia~ão das_va n ta g e n s e d e sv
a n ta g e n s d a s alternatí~as, sob o
ponto de vista social, cu lt u ral, d a afi nidade d
a solução com a realida . .
de local, amb ien tal, dentre o u tro s as,p
ectos;

94
(14) escolha da concepção do projeto, dentre as alternativas avõlJ d
ou a adoção de uma combinação entre alternativas e com bas . no~
passos (12J e (13};
(15) estudo econôm ico e determinação das necessidades tarifár1 t1 ,
comparando·se as despesas em valor presente e as receltas potcr1 <fdí;,,
considerando a estrut ura tarifária vigente e o perfjl de consumídor__
(residenciais, comerciais, industriais e públicos, nas diversas fafxc1s d
consumo) existentes;
(16) descrição da solução adotada, mostrando-..se uma síntese de cad
unidade, com suas características hidráuJicas e dimensionajs mals
importantes, de tar forma a comunicar ao leitor do documento a soluc;ao
recomendada, que será objeto de busca por recursos financeiros e/ou
elaboração de projetos.

2.8 Arranjos de instalações para abastecimento de água

Conforme já mencionado, cada localidade, mesmo aquelas de porte muito pequeno,


é única em termos da solução para seu abastecimento de água. Por isso, não se podem
propor projetos-padrão para sistemas que sejam adotados para todas as focalidades que se
enquadrem em determinados critérios, embora seja conveniente a elaboraçao rde projetos-
padrão de unidades, como captação em poços, estações de tratamento, reservatórios,
instalação de ventosas e descargas em adutoras.
Apenas com caráter ilustrativo, este item inclui um conjunto de 13 arranjos esquemá-
ticos de instalações para abastecimento de água, mostrando a variabilidade de situações
existentes e as muitas possibilidades de soluções .


95

-~------------------~
f

...,_ ·
Abast•~,,•n -to d• ,nua
• - p1r• '
c:.on••rmo
..... , - hurn•no

Levantamentos

' - 4. Levantamento do
sistema existente

3. Levantamento daS·
çara<ütCeJtcaa
demc,v-nfficas
1
.,
6. Cálculo da demanda 7. Estimaüva das v ~
1

mínimas

'
8. Definição do alcance
de pro]eto

9. Definição ·das vazões


de projeto

para o sistema
1o. Formulação das
alternativas
_ para unidades e,pecif,ca,

11. Ant~ptojetô e pré--
dimenslónamentó das
alternativas

1
12. Avaliação econômica 13. A_v,aliaçm, das
das alternativas antageóif~11desvantagen
'dás ralternãtivas
1
,.
14. Escolha da
concepção do projeto

15. Esludo ,econômico e


detMTJtaaglo ctas
necesslêtaêtesltãrifárias

16. Descriçã_
o éfa solução
·adotada

Figura 2.17 - Fluxograma para desenvolvimento de um estudo de concepção

96
. . ·..-. . ....
. .. ...,,. .....-.. ,.. . ,., .
~

'
·, • ,•
_F

~

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,• -•':*' .~ -
· ~';W
U ,f ·
\';;
'- •
!1~-
...,·,e. •• , . ., ' , ... •
ConcepçAo de instalações para o abastecimento de água I CaP,ftufo
• 2



Reservatório predial
• •


• ... .


••


,

N. A.
-"
~------1t- Clorador por difusão

r--- Bomba submersfvel

Poço raso

Figura 2.18 - Solução individual com poço raso


Calha de coleta
de água da chuva • • •

Abertura de inspeção
e 1
L ~ •

N.A.
avasor ••


- • Registfu

Consumo Tenêlde
•• !
• ·. 50 fítros
• ' .
,6
•• .' .

., . .
@tiflltêi«mfi 0,5 cm ALTERNATIVA
"-de ãiarnetto
. .,. .
'
;

. · figura 2.19 - Solução.individual com captação de água de chuva e clor~ção d!>miclliar


- . .
Fonte: DACACH {19!i0) . . . '
, '. .. ·.

97
. CHAFARIZ

• _ _ _ _ _ .. , , pn .
...- .·- -

__.................--·. - ., ..-.-
....

,.
.
POÇO
•1
'
Clorador por ., . . :j FRÉÁTICO
;' difusão

1
l

1
1

20 - Chafariz com bomba manual sobre poço freático


Figura 2w
Fonte: adaptado de DJS-.SSA (1980}

• • • • •• •

..JN. A. •


Reservatório


• • • • • • ••


t • •

!
!}
1







• ~Chafariz
' •
••
• •

• •
!'


Figura 2.21 ... Chafariz alimentado por reservatório elevado
' Fonte: DACACH (1990)

'

98

f ·n ,r o - ,
Coneepçao de lnnalaco~ para o abastecimento de água I Capítulo .2

Rese,vatõrio predial
--

.. . ...

••

Agua potável .




• •

Figura 2.22 .. Fornecimento de água par camlnhao-pipa

Fonte de encosta Reservação


/ ·~
.,
, 1 "'\
·> I Distribução
"- ~

Adutora de égua bruta Cloro/~ 1

e. aptação
Flúor

Figura 2.23 - Captação em nascente com aduçao por gravidade

Mananclal de serra
(Pro\egldo)

- Pequena barragem para tomada d'ãgua

Desarenadores

.. Flúor

Rio Fiitrai \
lentos Cloro
Reservação

AAT: Adutora de égua tratada Rede

.
-
. .•:.... .--~··'\\::---
. ~, ,· .. ·,.
,:.,-

- : ~ ; .·
. ...

.
•• •
-· ...
•• l-

-..
(•' .
,,
.

Figura 2.24 - Captação em manancial superficial, aduç4o por gravidade e filtros lentos
~ •
• •,
' 1

99

Cloro l iFl'1or
Tanque de ·- - ~......~ . - - - - - - " 1 ~ Resetvat6rio
contalo

AAB2

PóçoP2
AAB : Adutora de água bruta
PoçoP3 \

PoçoP1

PERFIL

Figura 2.2s .. Baterla .de1,pa~os•.,concentração em tanque de contato/reservatório, distribulc;ao por


gravida-de (p~rfil) ·

Tanque de contato
Poço P1
Flüor Rede de distribuição
AAB

PoçoP2

l Cloro
-


AAB2 '

• •

PoçoP3

,,.,. 1
1 • •
PLANTA
Figura 2.26 - Bater.ia;((:je ·p~1~s,, ~ ncentração em tanque de contato/reservatório. d\str\buição por
'
1
gravir:{aélê·(pJa:mta):



1
\

1
'
'·.
~

\
• •

.. .••

'
i

100
ConceP(âo de fnstalações para o aba\Steámento de·água I Ca,>Jturo 2

Reserv.atório
elevado
Reservaçao ' .
1
Tratamento e recalque ·.1\\ Adutora- de ,,
Estação
ete\tatória~
-- --- ;...:=::::==:::::. =======~
.

água tratada
N. A.
'-:--::::==---:+,r-+,
p~:lt::=::;~
'-. Ada uto.ra de
Adútóia de
água 1rafada Zona alta//
\ ,,..-.,..
xn ·.AA'
J 1J L
- guabruta
'
\ Zonabaixa
\_Tomada de água
com grade e -
caixa de areia PERFIL

Rede de distribuição ,,,


Reservatório
. ~/
elevado , .

Esta~o Adutora de
... elevatória Tratamento Reservação
água tratada - -
[;,

---=
i:: " Affutõrã1de
ereca~
Zona alta ~·
/

'
,, ...... água ·bruta ·
Adutora de ' -: .,_"
.

To~~à água
\.-: com grade e
calxà de areia
' água tratada ' Zona baixa

PLANTA

Figura 2.27 • Captação em manancial de superfície e rede de distribuição com duas zonas de pressão

Reservatório
--

ETA =-
- - - EEAT
li-., -
........=
- i,.-_
_ -

~~"1-J'EEAB
'
Captação
PERFIL

Rede de
dístribulção
Reservatório
EEAB. ETA
EEAT
·' ~ .,f

- '
AAT '
,-\ IL..--L----'

Càptação
PLANTA

Figura 2.28 - ETA junto à captação com reservatório único (perfil e planta)

,

- .','•
. .
·>
.. .

101
r

tn 10 da ig u a p ir a co ni um o humano
Ab1stedm

CAPTAÇAO NA SERRA
COTAm>
I
COTA40
LP DA VRP. 2 (ENTRADA)
.... CO;A1o

LP OA VRP • 2 (SAIOA)

P -1 V R P -2
E = 110 m
S=30m
COTA10
E=110m
s =40 m

EXEMPLO REAL
UATA TUBA • SÃO SEBASTIÃO
CARAG

v~Jvulas redutoras de pressão (VRP)


or gravidade com emprego de
Figura 2.29 - Adução/distribuiçao p

Reservatório a Implantar
;:::i .

Rese,vatórlo
exJstente

ETA EEAT
-- .,_____- =--

11'!9

D ;: ri :::
.

.
r
PERFIL


'


l.

102
' "
Concepçao de Instalações para o abastecimento de água I Cap(tulo 2

Reservatório
de jusante
ETA Reservatório r.:::I
de montante

-- ....
-
lr--"""'1
~

D _.1 ,
!,

=
...

· · Captação
PERFIL

Reservatório
deJusante \
1
1
-
~
,
1~
Rese,vatório
de montante \ ~
EEAB ETA - ~

!

l
<
1
-
' _,;
' - AAB / ....

.... ',, 1 •

1 .
) I e
' ~

- '.
;,,
- - Reservatório
"

.
·captação 91 ..........__ '
'r de jusante
'<.. '
-
fj Reservatório
1
--- •
de Jusante

PLANTA
Figura ·2.30 - Sistema com reservatór'ios de jusante (perfil e planta)

Z-1 .
ReseNatório . '
.
'
ETA a Implantar .
:EEAB EEAT .
1
...
.,. . .
)'' .... ,
.
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--
. .

,'~
t

·! j
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' ~ '1
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. . J
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L.
.
, "ci~ptação ' 1 ., ' .
' . r ••
.
1
' . • • .
• • •

'

Res~ivaf6.rio
exis.tente
PLANTA
Figura 2.31 - Sistema com reservatório existente condicionando a configuração da rede de distribuição
(planta)

• t .,
.... .
. •
.....
. •
'·, .? ,. .• . ..

. ' .'. . ...


. .'

103

----------------- -----------··.
-
J

n,uma 11,1m1nu l
AIJif l t l(lll fl d · QIJ P,IT

pr
.. - ~
etos

s1in lulndo levantamento topográficos e geo-


"'
( 1) , rvt o u .mp-.,, ,
t nl o'\ . cl tro do ~i t ma existente;
( , tudo d onc pçao; , ..
. n olld O do e tudo de concepção, mu1~s vezes nec~ssáno,

tud d , con pção até o Início do proJeto,, .


(4) proJ, to bit 1 0 (pro] to hidráulico, elétrico e orçamento de obra
d t Ih do); .
( ) proJ to x utlvo (projeto estrutural e detaJhamentos complementares);
(6) contr taç .o (flcitac;ao) das obras;
(7) qut 1 .o cJ materlai e ,equipamentos;
(S} x :icuçao d obra ;
(9) ff callzaç o d obras;
(1 O) op r ç ,
,,,,.L, ri J _cion rn conforme o cronograrna hipotético expresso na Tabela 2.4.

Tabela 2,4 ., Diagrama hipotético das fases para implantação de uma instalação de
abastecimento de água
í E ;E 7 ·- a· ( bJ J E 7
a 2 as

A equipe n cessáría par bem conduzír um empreendimento de abastecimento de


água, pecíafmenua os de rnafor porte e de rnaíor complexidade, deve ser necessariamente
muft1díscfpJinar, Corno referência, Okun e Ernst (1987) defendem que um projeto de ab.as-
••
tecimento de águ requer con'tribuições de pessoas com conhecimento e experiêncíª em
díver: campo , mo! · -
J
1

104
Concep~o de instalações para o abasteàmento d~ água J Capítulo 2

• demógr·afo, na estimativa populacional;


• topógrafo, para os necessários levantamentos planialtimétricos;
• .hidrólogo e hidrogeólogo, na pesquisa de mananciais e estimativa
de vazões disponíveis;
• engenheiro sanitarista, para avaliação da qualidade da água dos
mananciais, seleção da mais adequada tecnologia de tratamento,
arranjo do sistema e estimativa de custos;
• economista, na avaliação econômica de alternativas;
• especialista em desenvolvimento institucional e de recursos humanos;
• especialista em comunicação e comportamento humano, para
estimular a participação comunitária;
• especialista em saúde pública.

Podem-se ainda incluir profissionais da área de engenharia de estruturas, geólogos e


outros; dependendo da com piexidade do empreendimento.

Referências e bibliografia consultada

ASSIS, A R.; GUIMARÃES, G·. S.; HELLER, L~Avaliação da tarifa dos prestadores de serviço de abastecimento
de água e esgotamento sanitário no Brasil. ln: XXlX CONGRESO INTERAMERlCANO DE lNGENIER{A SANITARIA
Y AMBIENTAL, 2004, San Juan. [Anais eletrônicos...] San Juan: AIDIS, 2004.
AZEVEDO, E.A. Exdusão sanitária em Belo Horizonte-MG: caracterização e associação com indicadores de·
saúde. 2003. 175 p. Dissertação (Mestrado em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos) - Escola ·de
Engenharia, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2003.
BASTOS, R.K.X.; HELLER, L (Coord.) Boas práticas no abastecimento de água: procedimentos para a
minimização de riscos à saóde. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. Em impressão.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria MS nº 518/2004. Estabelece os procedimentos e responsabilidades
relativos ao controle e à vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade,
e dá outras providências. 2004.
COMPANHIA DE SANEAMENTO DE MINAS GERAIS. Catálogo - Projetos padrão. Beta Horizonte: COPASA,
1998. 127 p..
DACACH, N.G. Saneamento básico. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora Didática e Científica, 1990. 293 p.
DIRECCIÓN DE INGENIERÍA SANITARlA. SECRETARIA DE SALUBRIDAD Y ASISTENCIA. Manual de saneamiento:
vivienda, agua y desechos. México: Limusa, 1980.
FUNDAÇÃO JOÃO PJNHEIRO. Saneamento básico em Belo Horizonte: trajetória em 100 anos- os serviços de
água e esgoto. Belo Horizonte: FJP, 1997. 314 p.
FUNDO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A INFÂNCIA - UNICEF. Estudio conjunto UNICEF/OMS sobre el
abastedmiento de água y eJ saneamiento como componentes de la atendón sanitaria primanà. UNICEF, 1978.

105
Abastecimento de égua para consumo humano

INS I ITUTO BRASILEIRO DE GEOG.RAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Programa Nacional por Amostras de Domfcl-
/ios - PNAD. Rio de Janeiro: LBGE, 2003. co. ROM.
KOUTSOYlANNIS, &>. Water resources technologfes in the ancient Greece. Disponível em: <http://
devlab..dartmouth.edulhJstory,lb1on-ze_age/lessons/21 .html>. Acesso em: 11 mar. 2004.
MdUNKlN, F.E. Agua y sal1:1d humana. México; Editorial Límusa, 1986. 231 p.
OLNEIRA, Emanuel Tavares. Notas de aula sobre abastecimento de água. Belo Horizonte: UFMG, [s.d.J. 67 p.
OKUN, o.A.; ERNST, w.R. communitypfped·water supply systems in developing countries: a planning manual
Washington: The World Bank, 1987. 249, p. (World Bani< Technical Papei number 60.) ·
PROGRAMA O.E MODERNIZAÇÃO DO SETOR DE SANEAMENTO- PMSS. SN~S ~-Sistema Nadonal de Informações
sobre San~mento: diagnóstico dos serviços de água,e esgotos 2001. Brasília: Ministério das Cidades, 2002.
PENA, J.L. Perfil, sanitár;o, indicadoréS demográficos e saúde ambiental após a implantação do Distrito sani-
tário Especial /ndlgena: o caso dos XakriabA em Minas Gerais. 2004. 216 p. Dissertação (Mestrado em
Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos) - Escola de Engenharia, Universidade Federal de Minas
Gerais, Belo Horizonte, 2004.
TEIXEIRA, J,C. Associação entre cenários de saneamento e indicadores de saúde em crianças. Estudo em
áreas de assentamento subnormal em Juiz de Fora-MG. 2003. 278 p. Tese (Doutorado em Saneamento,
Meio Amõiente e R&ursos Hídricos) - Escola de Engenharia, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo
Horizonte, 2003.
TSUTIYA, M.T. Abastecimento de água. Sâo Paulo: DEHS-EPUSP, 2004. 643 p.
VlANNA, N.S. Belo Horizonte: seu abastecimento de água e sistema de esgotos. 1890-1973. Belo Horizonte:
(s.n.], 1997. 115 p.

106
t

Capítulo 3

Consumo de água

Marcelo Libânio, Maria de Lourdes Fernandes Neto,


Aloísio de Araújo Prince, Marcos von Sperling, Léo Heller

3.1 Demandas em uma instalação para abastecimento de água

Uma instalação para abastecimento de água deve estar preparada para suprir um
conjunto amplo e diferenciado de demandas e, diferentemente do que alguns julgam, não
apenas as referentes ao uso domiciliar, embora essas devam ter caráter prioritário. Este
conceito é muito importante na concepção e no projeto dessas instalações, pois a correta
identifjcação dessa demanda é determinante para o dimensionamento racional de cada
uma de suas unidades. Assim, devem ser estimadas todas as demandas a serem satisfeitas
pef as instalações, considerando o período futuro de alcance do sistema e não apenas a
realidade presente, e observadas as vazões corretas em cada uma de suas unidades.
Na determinação da capacidade das unidades de um sistema de abastecimento, diver-
sos fatores necessitam ser cuidadosamente considerados, a iniciar os consumos a serem
atendidos. Estes não se limitam ao consumo doméstico, aquele necessário para as de-
mandas no interior e no peridomicílio das unidades residenciais, embora este tenha caráter
prioritário. Além deste consumo, o sistema deve atender a'inda o consumo comercial,
referente cos estabelecimentos comerciais ·distribuídos na área urbana; público, referente
t ao abastecimento dos prédios públicos e das demandas urbanas como praças e jardins; e
industrial, atendendo tanto as pequenas e médias indústrias localizadas junto às áreas
urbanas, quanto aos grandes consumidores industriais. Além dos referidos consumos, a
1 produção de água deVe considerar ainda os consumos no próprio sistema, como a água
1
J
107
• t e Ri -~--~--,-.-· >4-- •

• ·' ------·-
Abasteclm•u1to de água para cqnsumo humano

necessária para operar a estação de tratamento, e as perdas que ocorrem no .


. . . .- d . - . s1sterna
Estas podem at1ng1r níveis muito etevados, quan o os sistemas sao antigos e obs ·
-\ .. f. . o1etos e
inadequadamente operados, mas, mesmo naque es mais e 1c1entes, algum nível de Perd
ocorrerá e deve ser computado. Maiores detalhes sobre as perdas e seu controle na . as
lações de abastecimento de água são desenvo1v1'd os no cap1't u1o 17. SInsta.
Na determinação das vazões e capacidades das unidades das instalações de aba t .
. _ s ec1-
mentoí os diversos consumos referidos no pa~ágraf o anterior s~~ :xpressos por meio do
consumo per capita (qpc), dado em Llhab.d1a, resultado. da d1v1sao entre O total de de-
manda a ser atendida pelo sistema e a população abastecida.
Outro importante fator, na estimativa da capacidade das unidades dos sistemas, é
O
da variação temporal das vazões. Assim, as unidades devem ser operadas para funcionar
para a demanda média, mas também capazes de suprir as variações que ocorrem ao longo
do ano e ao longo dos dias. Para fazer frente a essas variações, no dimensionamento das
diversas unidades as vazões devem ser acrescidas dos denominados coeficientes de
reforço: o coeficiente do dia de maior consumo (k 1) e o coeficiente da hora de maior
consumo (k2). O conceito dos coeficientes deve ser devidamente compreendido, de modo
que cada um deles seja corretamente considerado em cada unidade·a ser dimensionada. A
seção 3.5 explica os referidos coeficientes.
Nas seções a seguir são detalhados os vários fatores que devem ser considerados na
estimativa das vazôes e das capacidades das diversas unidades de uma instalação de abas-
tecimento de água e na seção 3.6 é apresentado um exemplo de estimativa de vazões.

3.2 Capacidade das unidades

O diagrama representado na Figura 3.1 destaca as vazões a serem consideradas em


cada uma das unidades de um sistema de abastecimento de água. Observe-se que todas
elas derivam da vazão média, dada por:

Q(LI s) = P(hab) x qpc(LI hab.dia)


(3.1)
86.400( s / dia)

108
- - ...~--~ ·; ;

Consumo de água I Capítulo 3

f


Captação
!
1
1
t
ETA Reservatório Rede de distribuição

X (1+9m)
100 ·
+Q
s

Figura 3.1 - Vazões nas diversas unidades de um sistema de abastecimento de água


Os significados de cada termo são os seguintes, com as respectivas unidades e a indi-
cação da .seção deste capítulo na quaJ são expficados em detalhes:

Parâmetro Significado Unidade Seção/capítulo


P populàção hab 3.3
qpc consumo per capita Uhab.dia 3.4
t período de funcionamento da produção h 3.5.1
qrrA consumo de água na ETA º/o 3.5.2
k1 coeficiente do dia de maior consumo - 3.5.3
k2 coeficiente da hora de maior consumo - 3.5.4
Q5 vazão singufar de grande consumidor Us capítulo 14

Na determinação das vazões nas unidades dos sistemas, algumas particularidades


podem inffuenciar no dimensionamento de partes do sistema, a exemplo das adutoras,
que--pedem flão conduzir a totalidade das vazões ou trabalhar com reservatórios de jusante,
confç,rme detalhado no capítulo 11, ou as várias tubulações principais da rede de distri-

buição, apresentada na capítulo 14~ ..


Outro aspecto que merece menção é quanto ao alcance do projeto. Este, mais bem
explicâdo na seção 3.3, pode eventualmente ser diferente entre unidades do sistema, o
que conduzirá a valores diferentes da população utilizada no dimensionamento das uríi-
dades.
O Exemplo 3.1 mostra o cálculo das vazões de unidades de um sistema de abasteci-
mento.

. . .. . ..,
• •
·~~

109
e J
Abasteclme.nto de égua para consumo humana

l .......... , ...... .. ·- • • • •

Exemplo 3.1 -
Calcular a vazão das unidades de um sistema de abastecimento de
água, considerando os segujntes parâmetros:
• P para dimensionamento das unidades de produção, exceto aduto-
ras (alcali:lG:e = 1@ afilas) = 20.0001hab;
• P para dime,n1sionamento de a·dutoras e rede de distribuição (alcan-
ce= 20 an·os), = 25.QOO hab;
• qpc = 200 Uhab.dia;
• t = 16 horas;
• ·qETA = 3%;
• k1 = 1,2;
• k.2 = 1,5;
• Q5 =1,6Us.

Solução:

• vazões médias:

Q 10
= 20.000 x 200 = 46 30L/ 5
ª 86.400 '

Q = 25.000x200 =Sl Bl'L /s


. lOa 86.400 ' .

• vazão de captação e da ETA:

46., 30x1,2x24 3
OPROD - X 1+ - +1,6=87,44Lls
- 16 100

• va·zão da adutora de água tratada:


1
57,87x1,2x24
rJ QAAT = 16 · + 1,6 = 105,77L/ s

t
• vazão total da distribuição:
00151 = 57,87 X 1,21 x 1,5 + 1,6 =105,77L/ s

110

- - - - - - --- -- - - -
Consumo de ~gua I Capltulo 3

3.3 Estimativas de população

3~3.1 Métodos de projeção populacional

Para o projeto do sistema de abastecimento de água, é necessário o conhecimento da


população de final de plano, bem como da sua evolução ao longo do tempo, para o estudo
• das etapas de implantação. O presente item é baseado em von Sperling (2005) .
Os principais métodos utilizados para as projeções populacionais são (Fair et ai., 1973;
CETESBÍ 1978; Barnes et ai., 1981; Qasim, 1985; Metcalf e Eddy, 1991; Alem Sobrinho e
Tsutiya, 1999; Tsutiya, 2004):

• crescimento aritmético
• crescimento geométrico
f • regressão multiplicativa
• taxa decrescente de crescimento
• curva logística
• comparação gráfica entre cidades similares
1
• método da razão e correlação
• previsão com base nos empregos

As Tabefas 3.1 e 3.2 listam as principais características dos diversos métodos. Todos os
f
métodos apresentados na Tabela 3.1 podem ser resolvidos também por meio da análise
estatística da regressão (linear ou não linear). Estes métodos são encontrados em um gran-
de número de programas de computador comercialmente disponíveis, incluindo planilhas
eletfêJílicas (no Excef, ferramenta Solver). Sempre que possível, deve-se adotar a análise da
regressão, que permite a incorporação de uma maior série histórica, ao invés de apenas
dois ou três pontos, como nos métodos algébricos apresentados na Tabela 3. 1.
J Os resultados da projeção populacional devem ser coerentes com a densidade
populac:iQnal da· área em questão (atual, futura ou de saturação). Os dados de densidade
popula·cional sã·o ainda úteis no cômputo das vazões e cargas advindas de determinada
J área ou zona de abastecimento da cidade. Valores tfpicos de densidades populacionais
estão apresentados na Tabela 3.3. Já a Tabela 3.4 apresenta valores típicos de densidades
populacionais ,de,satu.r a~o, em regiões metropolitanas altamente ocupadas (dados basea-
dos na Região Metropolitana de São Paulo).

111
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i,,. - -li ,A ·· •'I J)
_ ~ .'
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...


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•' l
l
Tab~l~ _3.1. Projeção ,pogu!~cional. Métodos com base em equações matemáticas l•
1
1

Mêtódo Descrição Forma da curva Taxa de Equação da Coeficientes 1

1
1


crescimento pro1eçao
'º - (se não for êfetuada análise da '
regressão)
Projeção Crescimento populacional segundo
aritmétíca uma taxa ~on~ante. Méto_do utilizado
para,estimativas de menor. prazo. o
p

dP =K K = P2 -Po
dt ª Pt = Po + Ka.(t - to) a
t2 - to
ajuste .da curva pude ser também
feito·por análise da regressão. t

Projeção CrescimeAto populacional em função da K = lnP2 - lnP0


geométrica população existente a cada instante. p
dP P, = Po. e K9 .(t -to) g
Utilizado para estimativas de menor t2 -to
dt = Kg.P ou
prazo. O ajuste da curva pode ser ou
também feito por análise, da p _ p (1 ' ) {t- t 0 ) • 1
to t
t - o· +I t=eKO -
regressão.
Taxa Premissa de que, na medida em que a p
decrescente cidade cresce, a taxa de crescimento
de torna-se menor. A popufação tende
AI - - - -~·-·---
=
pt Po + (Ps - Po) .
crescjmento assintoticamente a um vaíor de . [ 1_e ·Kd .(t·t 0 ) ]
saturação. Os par~metros podem ser to t
também estimados por regressão não
linear:
)
Crescimento O crescimento popuíacionar segue 2
fogfstíco uma relação matemática, que p p = 2.P0 .P1.P2 -P .(P0 + P2 ) 1
estabelec~ uma curva em forma de S. Pa ,- --- -::::::= s 2
A população tende assintoticamente a Po.P2 -P1
um valor de saturação. Os parâmetros
podem ser também estimados por e= (Ps -P0 )/P0
to t
regressão não linear. Condições
K, = 1 .ln[Pº .(Ps - P, )]
2
neces$átias.: P0<P 1<Pi e P0 .Pi<P, • O
ponto de inflexão na curva ocorre no t 2 -t 1 P, .(P5 -P0 )
tempo [to-ltl(c)IK,J e com Pt=P/2· Para
apl.ítaçâo das equações, os dados
devem ser eqüidistantes no tempo.
Fonte: adaptado pardalmente de QASfM (1985)
• dP/dt =taxa.de crescimento da população em função do tempo
. · • P p , p = populações nos anos t , t , t (as fórmulas para taxa decrescente e crescimento logístico exigem valores eqüidistantes, caso não sejam baseadas na análise da regressão) (hab)
o I
t2 o , -i
• P = poputação estimada no ano t (hab) ; P = população de saturação (hab)
~ Kg' Kd, ~, i, e= coeiicientes (a obtenção
s dos coeficientes pela análise da regressao é preferível, já que se pode utilizar toda a série de dados existentes, e não apenas P0 , P1 e P2 )
'
.. K.ª,
'. '
Consumo de ~gua I Capítulo 3

Tabela 3.,2. Projeções populacionais com base em métodos de quantificação indireta


Método Descrição
'

Comparação gráfica O método envolve a projeção gráfica dos dados passados da população
em estudo. Os dados populacionais de outras cidades similares, porém
maiores, são plotados de tal maneira que as curvas sejam coincidentes no
valor atual da população da cidade em estudo. Estas curvas são utilizadas
corno referências na projeção futura da cidade em questão.
Razão e correlação Assume-se que a população da cidade em estudo possui a mesma
tendência da região (região f fsica ou poJftica) na qual se encontra. Com
base nos registros censitários a razão • população da cidade/população
da região ., é calculada, e projetada para os anos futuros. A população da
cidade é obtida a partir da projeção populacional da região (efetuáda em
nível de ptanejamento por algum outro órgão) e da razão projetada.
Previsão de empregos e A população é estimada utilizando~se a previsão de empregos (efetuada
serviços de utifldades por algum outro órgão). Com base nos dados passados da população e
pessoas empregadas, calcula-se a relação emprego/população", a qual
II

é projetada para os anos futuros. A população da cidade é obtida a partjr


da projeção do número de empregos da cidade. O procedimento é
similar ao método da razão. Pode-se adotar a mesma metodologia a
partir da previsão de serviços de utilidade, como eletricidade, água,
' telefone etc. As companhias de serviços de utilidade normalmente
efetuam estudos e projeções da expansão de seus serviços com relativa
confiabllidade.
Fonte: QASIM (1985)
' Nota: a projeção futura das relações pode ser feita com base na análise da regressão.

Tabela 3.3. Densidades populacionais típicas em função do uso do solo


Uso do solo Densidade populacional
~ab/ha) (hab/kmi
1 Áreas resJdenciais
Residêm ias unffamilíares; lotes grandes 12-36 1.200 - 3.600
Resifl~Jitc:ias Ulí:i-ifamiliares; lotes pequenos 36-90 3.600 - 9.000
Resrdêmcias multifamiliares; rotes pequenos 90-250 9.000 - 25.000
A.partanirent@s . . 250-2.500 25.000 - 250.000
Áreas c0Nrerciais sem p redominânc,a de prédios 36-75 3.600 - 7.500
Áreas industliiais 12-36 1.200 - 3.600
Total (exQI\Jindo-se parques e outros equípamentos de 25-125 2.500- 12.500
grande Ji>"@lte)
• Fonte: adaptado de FAIR, GEYER e OKUN (1973) e QASIM (1985) (valores arredondados)

113
Abaste.cl,mento, de água para consumo humano

Tabela 3.4. Densidades demográficas e extensões médias de arruamentos por ha,


em condições de saturação, em regiões metropolitanas altamente ocupadas
• 1 ' ' = 1 A • '" • a • d Us'o ·do sÕlo ' . . " , o
o o • • • .. • • • •

Densidade
• • l ' ,.

Extensão média
populacional de arruamentos
de saturação (m/ha)
(hab/ha)
Bairros re,sid'enciais de lux"o,' com iote' pãdrão' de Soo" m:" M • • •100 . • 150
,

Bairros residenciais médios, com lote padrão de 450 m · 2 120 180


Bairros residenciais populares, com lote padrão de 250 m 150 200
Bairros mistos residencial-comercial da zona central, com 300 150
predominância de prédios de 3 e 4 pavimentos . .
Bairros residenciais da zona central, com predom1nânc1a 450 150
de ediffcios de apartamentos com 1Oe 12 pavimentos
Bairros mistos residencial-comercial-industrial da zona 600 150
urbana, com predominância de comércio e indústrias
artesanais e leves
Bairros comerciais da zona central com predominância de 1000 200
edifícios de escritórios
Dados médios da Região Metropolitana de São Paulo
Fonte: ALEM SOBRINHO e TSUTIYA (1999)

Ao se desenvolverem as projeções populacionais, os seguintes pontos devem ser con-


siderados:
• Os estudos de projeção populacional são normalmente bastante com-
plexos. Devem ser analisadas todas as variáveis (nem sempre quanti-
ficáveis) que possam interagir na localidade específica em análise. Ainda
assim podem ocorrer eventos inesperados que mudem totalmente a
trajetória prevista para o crescimento populacional. Isso ressalta a
necessidade do estabelecimento de um valor realfstiço para o horizonte
de projeto, assim como da implantação do sistema em etapas.
• As sofisticações matemáticas associadas às determinações dos parâmetros
de algumas equações de projeção populacional perdem o sentido se não
forem embasadas por informações paralelas, na maioria das vezes não quan-
tificáveis, como aspectos sociais, econômicos, geográficos, históricos etc.
• O bom senso do analista é de grande importância na escolha do método
de projeção a ser adotado e na interpretação dos resultados. Ainda que a
escolha possa se dar tendo por base o melhor ajuste aos dados censitários
disponíveis, a extrapolação da curva exige percepção e cautela.
• Os últimos dados censitários no Brasil têm indicado uma tendência
geral (naturalmente que com exceções localizadas) de redução nas taxas
anuais de crescímento populacional.
• É interessante considerar-se a inclusão de uma certa margem de
segurança na estimativa, no sentido de que as populações reais futuras,
a menos por a\guma forte causa imprevisível, não venham facilmente
a ultrapassar a população de projeto estimada, induzindo a precoces
sobrecargas no sistema implantado.

114

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..:,r."
Abastecimento de água para tonsumo humano

d) Taxa decrescente de crescimento

2
_ 2.P0 .P,.P2 -P, .(Po +P2J. ==
Ps - 2
Po.P2 -P,
2x10585x23150x40000-231502 x(10585 +40000) = 66709
2
= 10585x40000-23150

A população de saturação é, portanto, 66. 709 hab.

.
-ln[(Ps-P )/(Ps-Po)l _ -ln[(66709-40000)!(66709-10585)] _ .
2 37
Kd = t -t - . 2000-1980 -0,0 ,
2 o
3 9
pt =Po + (PS - Po). [1-e·Kd.(t·toJ J=10585 + (66709 -10585) X (1- e-0,0 l1x (t·t BO) )

e) Crescimento logístico

Verificação do atendimento ao pressuposto para utilização da equa-


ção do crescimento logístico {ver Tabela 3. 1):
• Dados censitários eqüidistantes no tempo: OK (espaçamento entre
os dados de 1O anos)
• P0 <P 1<P2 : 10585 hab < 23150 hab < 40000 hab ~ OK
• P0.P2<P12 : 10585x40000 <231502 ~ 423.400.000 < 535.922.500 ~ OK

Cálculo dos coeficientes:


2
p = 2.P0 .P,.P2 -P, .(P0 + P2) _
s 2 -
Pa.P2 -P,
~ = 2x10585x23150x40000-23150 x(10585 +40000) 2

10585x40000-231S0 2 =66709

e= (Ps -Po) = (66709-10585) _


5 3022
Po 10585 - ,

t2 t, P,.(Ps -Po) 2000-1990 23150x(66709-10585) '

Equação da projeção:

pt = PS = 66709
1+ C.eK, .(t-to) 1+ 5,3022.e -0, 1036x(t-1980)

116
Consumo de água I Capftufo 3

O ponto de inflexão na curva ocorre no seguint·e ,ano e com a seguinte


população :

Tempo inflexão =t 0 - ln(c) = 1980 - ln(S, 3 o


22>=1996
K1 - O, ·1036

Antes do ponto de inflexão (ano de 1996), o crescimento populacional


apresenta uma taxa crescente e, após este, uma taxa decrescente.

f) Resultados na forma de tabela e gráfico •

Nomen- Ano População medida Po~ula5ão estimada


clatura (censo) Aritmética Geométrica Decrescente Logística

,
10.585 . 10.585 10.585 10.585
PO 1980 10.585
23.150
P1 1990 23.150 25.293 20.577 27.992
40.000 40.000 40.000
'
40.000 40.000
P2 2000
.., 47.354 55 .770 44.525 47'.725
- 2005
53.930
- 2010 - 54.708 77.758 48.284
58.457
- 2015 - 62.061 108.414 51 .405
61 . 534
- 2020 - 69.415 151 .157 53 .998

Projeção populacional

80.000
-.
70.000 l
1

60.000
~;. 50.000
.s:
......_...
,& 40.000 • Censo
Loglst
·~a. 30.000 t:-i·~ - - - Aritm
o
o. 20.000 - - · - Geom
- - - - Decresc
10.000 •••••• Saturação

o 1995 2000 2010 2015


1980 1985 1990
Ano

Figura 3.2 - Projeção populacional. Dad.os medidos e estimados

117
umo humano
Abastecimento d e água para ,ons

· f b observam-se os seguintes pontos, específícos


Pero gráf1co e pe a ta eIa,
para este conjunto de dados:
. ·pulações dos anos 1980 a 2000) apresentam
• os dados observa dos (po · . b
. . t de crescimento. Visualmente, o serva-se que O
tendência crescen e .
modelo da taxa decrescente não se aJusta bem~ esta tafxa crescente.
. . .. . e'trica conduz a valores estimados uturos bastante
• A proJeçao geomrão vir a ser ou não verda d e1ros, · mas que se afas-
e Jeva dos (que po de . . ...
tam bastante das demais proJeçoes). , _
• os métodos logístico e de taxa decr~s~ente tendem a populaçao de
saturação (66. 709 hab, indicada no grafico). _
• Em todos os métodos, os valores calculados da populaçao nos anos
p e p são iguais aos valores medidos, uma vez que estas populações
o 2 f' . t
foram utilizadas para o cálculo dos coe ,cren es.
• A projeção populacional propriamente dita é apenas ap?s o ano
2000. Os anos com dados censitários são plotados no gráfrco, para
permitir uma visualização do ajuste de cada curva aos dados observados
(1980, 1990 e 2000).
• A população de saturação pode ser também estimada tendo por
base a densidade populacional prevista para a área (pop = densidade
populacional x área). Neste caso, a população de saturação deve ser
fornecida como um dado de entrada, e não calculada pelas equações.
• A curva de melhor ajuste aos dados observados pode ser selecionada
por meio de métodos estatísticos, que dêem uma indicação do erro
(normalmente expresso na forma da soma dos quadrados dos erros),
na qual o erro é a diferença entre o dado estimado e o dado observado
(ver item g a seguir).

g) Sof ução do problema utilizando a ferramenta Solver, do Excel

A ferramenta Solver, do Excel, pode ser empregada para a análise da


regressão não linear. Caso ela não esteja disponível, usar o comando
Ferramentas - Suplementos - Ferramentas de Análise (marcar esta op-
ção). O obj~tivo é se obter o menor erro (ou resíduo) possível, no qual
o erro é a diferença entre a população observada (censo) e a estimada
pelo modelo. Como o erro pode ser positivo ou negativo, trabalha-se
co~ ~ erro ~levado ao quadrado, para que se tenha um valor sempre
pos,t1vo. O a1uste para um determinado modelo será o melhor quando
ªsomados quadrados ?ºs
erros for a mínima possível. O Solver efetua
a busca dos valores ótimos dos coeficientes do modef o de forma a
encontrar o mínimo da soma dos quadrados dos erros. '

118
Ao se fazerª. análise da re·gressão não linear, pode-se ter um número
de dados maior do que três. Ademais, os dados não necessitam estar
eqüidistantes.

No presente exemplo, assume-se que há também dados censítários


para o ano de 1970 (ao todo, 4 dados censitários). Além disso, um dos
dados é para o ano de 1991, ao invés de 1990 (os dados não são
eqüidistantes).

Ano Pop (hab)


1970 3000
1980 10585
1991 24000
2000 40000

A seguir é apresentada a planilha Excel, após convergência do Solver.


Nesta planilha, apenas o modelo logístico foi utilizado. No entanto,
qualquer outro modelo pode ser empregad·o, após as devidas adapta-
ções. As adaptações são apenas nas células que contêm os coeficientes
do modelo (no caso, célufas B18 a 820 em outros modelos, pode
haver apenas 2 coeficientes, ou seja, apenas 2 células) e as equações
do modelo (no caso, células 025 a 032). As equações apresentadas
nestas células são as equações do modelo logístico (Quadro 3 .1 , colu-
na Equação da Projeção). Parte da planilha é reapresentada mais abai-
xo, exibindo as equações utilizadas. Naturalmente que os resultados
obtidos são diferentes dos calculados no item f acima, uma vez que os
dados de entrada foram também parcialmente modificados.

Sempre que se trabalha com regressão não linear, deve-se ter o cuida-
do de se interpretar a consistência de cada coeficiente e valor obtido.
Por exemplo, caso se obtivesse um valor da população de saturação
negativa, tal obviamente não teria o menor significado físico. No Sol-
ver, podem ser introduzidas restrições, tais como P5>0 (na planilha,
célula B18 > O) ou P5>P3 (célula B18 > C11 ).

119
Abaltetlmento de égua para cõnsumo hurrtano

e D E F G
A B
1 PROJEÇAO POPULACIONAL _ _
.·Regressão n~o linear, utiHzando a ferramenta SOLVER.
2
3 d d d cens\tários (não necessitam ser eqüidistantes).
4 Preencher as células os a os
5
6 DADOS CENSITÁRIOS
ANO POPULAÇÃO
7 1 .. ;;,,- - - 3Ô0í
8 PO 1970
1980 1058~
9 P1 2400(
10 P2 1991
2000 4000{
11 P3 l: ~ -·- ,
.

12
13 COEFICIENTES
As células abaixo são os coeficientes do modelo, a serem estimados pelo SOLVER. . .
14
As células deverão ter valores digitados inicialmente, para que o SOLVER possa mod1f1cá-los.
15
16
17 LOGÍSTICA
.. ~ ~653921
18 Ps
19 e 16,580~
20 KI . .. -0,~0BÉ
21
22 PROJEÇÃO POPULACIONAL
População (hab) Quadrados dos erros
23 .

ANO Censo Estimada (Pop censo - Pop estim)A2


24 - ~

25 PO - ~~ 1970 3000 3720 517874


26 P1 1980 10585 9914 450369
27 P2 1991 24000 24270 73145

28 P3 ·-
2000 40000 _" - 39935 4201
· 29 · Projeção futura 2005 47720
3_0 . 2010 53814
31 2015 58127
32 2020 60965
33
34 Soma (Pop censo - Pop estim)I\ 2 = .f. __1o_4_s_ss_s_.J
35
36 SOLVER:
37 Definir célula de destino: célula com o valor da soma dos quadrados dos erros
38 Igual a: Min (o objetivo é minimizar a soma dos quadradros dos erros)
39 Células variáveis: células cçm os coeficientes do modelo em análise (células com valores de Ps, c, K1)
40 Para o modelo logfstico, caso a população de saturação (Ps) tenha sido fixada com base em
41 densidade populacional, apenas os coeficientes Kl e e devem ser calculados pelo Solver

120

.•
Consumo do õgud I Capitulo 3

Parte da pf anrlha anterior, com as respectivas equações:


. .

. .
B e . D E
.

F
População (hab) -
23 .
. .
Quadra dos dos erros
24 ANO Censo Estimada (Pop censo - Pop estim)" 2
.
z, .:=BS :;:(8
. . .
:;;($8$18/(1+$8$19*EXP{$B$20*(B25-$8$8)))}
.

i=($C25·025)"2
I6
'e:89 c.:(9 :::($8$18/(1+$B$19*EXP($B$20*{B26-$B$8)))) =($C26·026)"2
27 ::01 0 =(10 =($8$18/(1+$8$19*EXP($8$20*(B27~$8$8)})) =($C27·0 27)"2
.

·2a ::811
.
=C1 1 =($8$181(1 +$8$19*EXP($B$20*(B28-$8$8)))) . =(SC28· 028)"2
29 ;:828+5 =($8$18/(1+$8$19*EXP($8$20*(B29-$8$8))))
30 =829+5 ={$8$18/(1+$8$19*EXP($B$20*(830-$8$8))))
31 =830+5 :($8$18/(1+$B$19*EXP($B$20*(831 -$8$8))))
32 =831 +5 =($8$18/(1+$8$19*EXP($8$20*(B32-$B$8))))
33 . .
34 Soma (Pop censo - Pop estím)" 2 = :::SOMA(F25:F28)
35

3.3.2 Estimativa da população de novos loteamentos

No caso de loteamentos novos, a abordagem para se efetuar a projeção populacional


deve ser naturalmente distinta. Não há dados censitários históricos· da área a ser ocupada.
Neste caso, o planejador deve se basear na experiência de implantação de loteamentos com
características similares, analisando as taxas de ocupação ao longo do tempo. A análise deve
ser executada com bastante critério, conhecimento de experiências similares e bom senso.
'
No caso da ocupação da área se dar predominantemente com equipamentos que
confiram um caráter especial (ex.: região hospitalar, distrito industrial, campus universitário,
parques etc.), não há regras gerais a serem empregadas, devendo ser usadas as melhores
informações disponíveis (usualmente fornecidas pelo empreendedor) que permitam a
estimativa da trajetória populacional ao longo do tempo.
A seqüência exposta a seguir pode ser utilizada para o estudo populacional de novos
loteamentos:

• Analisar a experiência de implantação de loteamentos ou áreas com


características similares em outros locais, em termos da evolução
populacional ao longo do tempo;
• Definir qual será o ano de início de funcionamento do loteamento (ano zero);
• Est imar a população de saturação da área loteada, tendo por base o
planejamento físico-territorial proposto e as densidades médias de
ocupação previstas em cada área de zoneamento;
• Fixar a população nos seguintes anos •
(referenciados com base no ano de
início de funcionamento do loteamento): (a) ano O, (b) ano etn que a popu ...
lação de saturação é atingida (ou 99º!6 atingida). Estes ,dois pontos S:áo

suficientes para a determinação das equações pelos métodos arifméti<20 e
geométrico, os quais necessitam apenas de dois dados populacionais. ~etre .,

121 .1
Abastecimento de água para ,c onsumo humano

a utilização dos métodos logísticos e d~ tax~ decrescent: de crescimento, o


quais necessitam de três dados populaC1onais, há necessidade da informaçao
de mais um ponto. Neste caso, po~e-se fornecer~ por ~xen:ipl~, 0 ano en, qu
se estima que metade da populaçao de saturaça~.se~a at1ng1da;
• Como há uma grande incerteza nestas proJeçoes, podem ser anaJI..
sados diferentes cenários de crescimento (ex.: lento, intermed;árío e
rápido), simplesmente mudando os anos ou as populações associadas
a cada um dos três anos;
• Para cada cenário de ocupação, escolher os m.odelos populacionaís
que propiciem o melhor ajuste aos dados assumidos.

3.3.3 População flutuante

Em localidades turísticas e de veraneio é comum a variação da população ao longo do


ano, atingindo valores mais elevados durante as férias e feriados importantes. Nesta 5 con-
dições, é importante o conhecimento do acréscimo populacional advindo desta populac;ao
flutuante, a qual naturalmente gerará consumo de água.
Ê relevante, portanto, a caracterização das vazões associadas às seguintes condições
de ocupação (ver Figura 3.1 ):

• ocupação normal
• ocupação de férias (duração de 1 a 2 meses)
• ocupação em feriados (ex.: fim de ano, carnavaf, Semana Santa)

População
'
carnaval
-

férias férias fl mda


Semana
janeiro julho ano
Santa
- -

ocupação normal

Jan
...
Dei
Jul
- F' Meses do ano
igura 3 ·3 - Exemplo de ocupação em uma cidade turística sujeita a variações advindas de popufaçAo
flutuante

122

Consumo de água J Capítulo 3

A estimativa d.a pop~lação flutuante pode ser feita por meio de registros de consumo
de água ~ de energia ~létrica, e de medições nas estradas de acesso e no índice de ocupação
da capacidade de aloJamento.

3.3.4 Alcance de projeto

A população de projeto está vinculada à definição do alcance do projeto. Ou seja,


definido o modelo de projeção populacional a ser adotado, para se obter a população a ser
considerada é necessário se estabelecer que afcance o projeto pretenderá atingir.
Para esta definição, deve-se procurar um adequado balanço entre dois extremos: •

(1) alcances muito pequenos trazem como vantagem menores investimentos iniciais,
mas como desvantagem a ocorrência de um menor período de tempo para arrecadação
de tarifas e necessidade de novos investimentos em curto prazo, o que pode ser
inconveniente pois demandaria a obtenção de recursos poucos anos após concluídas
as obras;
(2) alcances muito longos implicam as desvantagens de investimentos muito elevados em
uma primeira etapa, podendo ser incompatíveis com a disponíbilidade financeira, e em
grande ociosidade das unidades nos primeiros anos; e como vantagem há o maior período
de tempo para a arrecadação de tarifas.

Além dessas variáveis, na fixação do alcance, deve-se considerar as incertezas da


projeção populacional e o impacto de a população não evoluir da forma como estimada.
Seria igualmente problemática a adoção de um pequeno alcance e a taxa de projeção
populacional mostrar-se elevada frente à realidade, situação que tornaria o sistema rapi-
damente subdimensionado; quanto ao inverso elevado alcance e pequena taxa de
crescimento populacional , conduziria a um superdimensionamento do sistema, com
Jonga ociosidade.
Quando é necessário tomar uma decisão sobre o alcance do projeto para um sistema
de pequeno porte ou para uma estimativa inicial ou um pré-dimensionamento de uma
instalação de abastecimento de água, em princípio não se mostra necessária uma análise
muito aprofundada do alcance ideal. Uma referência freqüente, no caso de sistema de
pequeno porte, é se adotar um alcance por volta de 1O anos.
Por outro lado, quando a decisão a ser tomada contém uma maior responsabilidade,
deve-se realizar um estudo econômico para dar suporte a esta decisão. Obviamente, a
decisão definitiva deve se dar a partir do resultado do estudo econômico e da avaliação
das características da comunidade e de seu potencial de crescimento. O,estudo econômico,
para esse fim, baseia-se na determinação do custo marginal característico de diversos

123

-
.. . d' . ... 0 daquela c-om o menor valor. Ressaíte-se que Ocone .t
alcances potenc1a1s e na in lCaça . .. - . e, o
de custo marginal é expresso pela Equaçao 3.2.

LVPinvestimentos

Exemplo 3.3

Considere três alcances potenciais ~ª~ª. ~m determina~o projeto: 8,


10 12 anos com investimentos 1n1c1a1s de, respectivamente, R$
25 o~ooo oo, R$ 300.000,00 e R$ 340.000,00. As despesas com ener-
gia elétrica são de R$ 8.000,00_ n_o _primeiro ano, cre~cendo a uma taxa
de 1,5o/o ao ano. A população 1n1c1al é de 2.000 habitantes, cr~scendo
à mesma taxa. o consumo per capita médio é de 120 Uhab.d1a. Qual
teria O alcance mais econômico, considerando uma taxa de desconto
de 11 °/o ao ano?

Solução

A primeira alternativa seria a mais econômica, conforme tabela a se-


guir. Como pode-se observar, mesmo havendo um acréscimo de arre-
cadação nas duas últimas alternativas, este não foi suficiente para
compensar o acréscimo de despesas e o maior investimento inicial.
Assim, tem-se, na primeira alternativa, um menor valor do m3.

Uma observação final em relação ao alcance do projeto é a eventual adoção de dife-


rentes alcances em diferentes unidades. Assim, pode ser O caso de se adotar alcances
menores para as unidades constituídas predominantemente por estruturas, como capta-
ções, elevatórias, estações de tratamento e reservatórios, que podem ser mais facilmente
moduladas, e alcances maiores para adutoras e rede de distribuição.

124

ALTERNATIVA 1 (8 anos) ALTERNATIVA 2. (10 an01) ALTERNATIVA 3 (12 anos)


Ano Desp_esa VP' despesas Volume VPvofume
Des~de Des~de Despe,sa com VPdespesas Volume VPvolume Despesa de Despesa com VPdespesas VoJume VPvotume
lmpfantaçio com faturado faturado lmplantaçio energia faturado faturado lmpJantação energia faturado fnotado
energia Cro>Ji Cm'> cm, (m') (m') (m')

o RS 250.000,00 RS 250.000,00 RS 300.000,00 RS 300.000,00 RS 340.000,00 RS 340.000,00

1 RS 8.000,00 RS 7.201,21 87.600,00 78.918,92 RS 8.000,00 RS 7.207,21 87.600,00 78.918,92 RS 8.000,00 RS 7.207,.21 87.600,00 78.918,9i

2 RS 8.124,94 R$ 6.594,39 88.914,00 72.164,60 RS 8.124,94 RS 6.594,39 88.914,00 72.164,60 RS 8.124,94 RS 6.594,39 88.914,00 72.164,60

3 RS 8.251 ,84 RS 6.033,67 90.247,71 65.988,35 RS 8.251,84 RS 6.033,67 90.247,71 65.988,35 RS 8.251,84 RS 6.033,67 90.247.71 65.988,35

4 RS 8.380,72 RS 5.520,64 97 .601,43 60.340,70 RS 8.380,72 RS 5.520,64 91 .601,43 60.340,70 RS 8.380,72 RS 5.520,64 9t .601.43 60340,70

5 RS 8.511 ,61 RS 5.051 ,22 92.975,45 5S.176,40 RS 8.511,61 RS 5.051.22 92.97$,45 55.176,40 RS 8.511 ,61 RS 5.0St,22 92.975,45 55.176,40

6 RS 8.644,54 RS 4.621,72 94.370,08 50.454, 10 R$ 8.644,54 RS 4.621,72 94.370,08 S0.454, to RS 8.644.54 RS 4.621 ,72 94.370,08 50.454,10

....
N
7 RS 8.779,55 RS 4.228,74 95.785,63 46.135,95 R$ 8.779,55 RS 4.228,74 95.785,63 46.135,95 RS 8.779,55 RS 4.228,74

RS 3.869, 18
95.785,63

97.222,41
46. 135,95

42.187,38
UI 8 RS 8.916,67 RS 3.869, 18 97.222,41 42.187,38 RS 8.916,67 RS 3.869, 18 97.222,41 42.187,38 RS 8.916,67

9 RS 9.055,93 RS 3.540, 19 98.680,75 38.576,75 RS 9.055,93 RS 3.540, 19 98.680,75 38.576,75


• RS 9.197,37 RS 3.239,17 100.160,96 35.275, 14 RS 9.197,37 RS 3.239,17 ?00. 160,96 3S.Z7S, l4
10
11 RS 9.341,01 RS 2,963,75 101.663,38 32.256,09
12 RS 9.486,90 RS 2.711,74 103,188,33 29.495,44
Total RS 293.126,78 471 .366,40 R$ 349.906, 14 545.218,28 RS 395.581,63 606.969,81
Custo
marginal
{RSlm') 062 0,64 0,65

, 1 =
, onde i taxa de desconto ou "taxa de juros" e t =tempo
VP=
(1 + i)t
2 Volumee faturado= 2.000 hab x 120 llhab.dia x 365 dias x (1/1 ,000)

-
...
Abastecimento de água para .consumo humano

3.4 Consumo per c~pita


o
'

3.4.1 Definição

.
qpc é crucial para a determinação das capacidades
O valor do consumo per c~p,ttal -o de abastecimento de água. Conceitualmente o
· 'd d de uma 1ns a aça ,
das várias uni a _es se uinte expressão:
consumo per capita pode ser representado pela g
3
'd. d'' · d
. me ,a 1ar1a o 0 ,,. /ume anual
V'
consumido
,
por•
uma-
dada

população (m )x 1.000~
qpc(LI hab.d1a) = , · · população abastecida (hab)
·'f' d d nsumo per capita é o da média diária, por indivíduo, dos volumes
O s1gn1 1ca o o co . , . . .
'd . t' f
requer, os para sa 1s azer aos consumos doméstico, comercial,
. publico e rndustr1al, além
das perdas no sistema. A unidade usual do qpc é Uhab.d1a.

3.4.2 Consumo doméstico

o consumo doméstico refere-se à ingestão, às atividades higiênicas e de limpeza, ao


. preparo de alimentos e outros usos. Ê notória a intrínseca relação entre a utilização de água
para consumo doméstico em quantidade e qualidade deficientes e a potencialidade de
ocorrência de diversas doenças de transmissão hídrica. Decorre daí a importância funda-
mental de que as populações estejam providas de água com qualidade e em quantidade
tais que garantam a segurança em seu consumo e as práticas de higiene, principalmente
visando à prevenção de doenças.
Nesse sentido, pesquisa apontou um possível efeito da quantidade de água consumida •

sobre a saúde, em área urbana brasileira (Heller et ai., 1996), sendo que o conjunto de
estudos epidemioJógicos tem evidenciado que aumentar a disponibilidade e melhorar a
qualidade da água fornecida pode conduzir a uma redução de doenças diarréicas superior
a 25% (Fewtrell et ai. , 2005). Com respeito à quantidade mínima de água necessária às
boas condições de saúde, há referências a uma quantidade mínima necessária para o
fornecimento doméstico de água, a despeito da existência de uma variedade de valores,
segundo a fonte, entre 15 Uhab.dia e 50 Uhab.dia.
Trabalh_os vêm sendo efetuados buscando relacionar o consumo doméstico de água a
fatores_ possivelmente intervenientes, com o objetivo principal de apresentar previsões mais
apropriadas para essa demanda. Narchi (1989) sugere que a demanda doméstica de água
depende de fatores pertencentes a seis classes distintas, a saber:

126
. ... --- . . - "' .

Consumo de água I Capftuf o 3

i) características físicas: temperatura e umidade do ar, intensidade e


freqüê·ncía de precipitações;
ii) condições de renda familiar#,
iii) características da habitação: área do terreno área construida do
imóvel, número de habitantes etc.; '
iv) características do abastecimento de água: pressão na rede, quali-
dade da água etc.;
v? forma de g_erencíamento do sistema: micromedição, tarifas etc.;
vr) caracterfst1cas culturais da comuni dade.

No mesmo estudo, o autor caracterizou os principais fatores associados à demanda


doméstica de água, na cidade de São Paulo, a partir de uma amostra de consumidores
residenciais. Esse estudo evidenciou correlações entre a demanda doméstica de água e
variáveis como o número de habitantes por domicílio, a área construída, a área do terreno,
o valor venal do imóvel e a renda familiar, sendo as duas primeiras as mais importantes.
Para melhor compreender o consumo doméstico, este pode ser dividido entre dentro
e fora do domicflio. No primeiro caso, merece destaque o emprego de válvulas de descarga
nas instalações sanitárias, concorrendo para elevar o •
consumo devido às atividades de •

higiene. Alguns destes equipamentos podem consumir de 12 a 25 L a cada acionamento.


A partir de 1992 tem ocorrido nos EUA progressiva substituição destas válvulas mediante
incentivo das próprias administrações dos sistemas de abastecimento de água por
unidades com consumo inferior a 6 L por acionamento. Na mesma tendência, foi desenvol-
vido no Brasil na década de 19.80 pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) dispositivo,
denominado válvula de descarga reduzida (VDR), com consumo da ordem de 5 L por
acionamento. Posteriormente, pesquisa realizada nas dependências do próprio IPT apon-
tou consumo médio de descargas de 7,8 e 8,8 L por acionamento. No primeiro caso consi-
deraram-se as válvulas tradicionais adequadamente reguladas e as VDR, justificando a média
de 7,8 L, e no segundo as unidades dotadas de caixas de descarga (Barreto, 1993). Atual-
mente, a normalização brasileira estabelece que o consumo máximo por descarga nas
1
caixas de descarga comercializadas não deve exceder de 6,0 L, o que pode trazer, no
futuro, importante economia de água nas residências e em alguns estabelecimentos
comerciais.
Da parcela do consumo doméstico verificado fora do domicílio, o maior volume
' corresponde à rega de gramados e jardins. Dependendo das condições climáticas, do tipo
de ocupação dos lotes e das características socíoeconômicas e culturais da população, tais
atividades podem até superar o consumo no interior da residência. Este fato é particular-
mente relevante no sul da Austrália e em alguns estados norte-americanos, como Colorado
e Califórnia, onde se verificam em algumas cidades consumos de 300 a 600 Uhab.dia
somente para tais fins (Twort et ai., 2000).
Visando a ilustrar como os consumos podem se distribuir, na Tabela 3.5 são apresen-
tados, para os diversos usos domésticos, os respectivos consumos per capita médios

127
Abas1eclmento de água paro consumo humano

. ·t· adas em alguns países europeus e cidades norte-americanas. Podem-se ob


ver, 1c . . f' . h' 'A • ('') servar {t)
a maior parcela do· consumo é para ins 1g1cn1cos e '' uma variação arn I
que . d 1 1· d ( Pa do
consumo doméstico, mesmo entre países 1n ustr a tza os 130 a 239 Uhab.dia).

Tabela 3.5 • Oíscrimin~ç~~ ~~s.~!s~i-~t~~ ~onsu~os de origem doméstica (L!hab.dia)


Ti~o·d~ Ús~ · _ . . EJJroea. ... .•_ • Estados Unidos (1996-19 98) ...
Inglaterra Norllega Escócia Tampa Denver San Diego Seattle -
(1993) (198~) .. (19_?1_) (Flórida) (Colorado) (Califórnia) (Washington)
1

- ' • ' • • ' 86. 70 93 106 135 96 -


Higiênico* 30 25 37 54 59 62 14152
Lavagem de
roupas
Cozinha 25 28 17 47 45 44 37
lavagem de 4 7 1 --
carros e pátio
--
Total 145 130 148 197 239 202 194
* Soma dos consumos decorrentes de lavagens, toalete e banho.
Fonte: TWORT et ai. (2000}

3.4.3 Consumo comercial

O consumo comercial inclui, entre outras, as demandas de água por hotéis, bares,
restaurantes, escolas, hospitais, postos de gasolina e oficinas mecânicas. Na Tabela 3.6 são
apresentados consumos relativos a distintas atividades comerciais no Reino Unido, conside-
rando apenas os dias de funcionamento .

Tabela 3.6 - Disc.riminação dos distintos consumos de origem comercial no Reino


Unido

Atividade Comercial Consumo


Escolas 25 Udia. aluno, para pequenas unidades, e
até 75 Udia.aluno nas grandes escolas
Escritórios de maior porte 65 Uempregado
Hospitais
350-500 Uleito
Hotéis
350-400 Uleito e até 700 Uleito em hotéis
de alto luxo
Lojas de departamentos
100-135 Uempregado
Peq~en~s estabelecimentos comerciais e
escr1tór1os em áreas urbanas 3-15 Uhab.dia
Fonte: TWORT et ai. {2000}
== -

128
w
consumo de ~gva I Capitulo 3

Para o Brasil, embora com base em dados pouco recentes, pode-se afirmar que o
consumo de água estimado nos distintos estabelecimentos comerciais aproxima-se dos
utifjzados no Reino Unido (Tabela 3.7).

Tabela 3.7 - Consumo médio para distintos estabelecimentos comerciais


Tipo de estabelecimento Consumo
Bar 5-15 Ufreguês
Cinema, teatro e igreja 2,0 Uassento
Garagem 50-100 1/automóvel
Lavanderia 30 Ukg de roupa seca
Posto de gasolina 150 1/automóvel
Restaurante 15-30 Urefeição
Shoppfng center 30-50 1/empregado
Fonte: MACINTYRE (2003)

3.4.4 Consumo público


A demanda de água para uso público relaciona-se à manutenção de parques e jardins,


monumentos, aeroportos, terminais rodoviários, limpeza de vias, prevenção de incêndios,
entre outros, além do abastecimento aos próprios prédios públicos (prefeitura, órgãos
governamentais, escolas, hospitais etc.). Na Tabela 3.8 são apresentados alguns consumos
em estabelecimentos usualmente mantidos pelo poder público.

Tabela 3.8 - Consumo médio para usos públicos


Estabelecimento Consumo
Aeroporto 8-15 Upassageiro
Banheiro público 10-25 Uusuário
Clínica de Repouso 200 - 450 Upaciente, 20 - 60 Uempregado
Prisão 200 - 500 Udetento, 20 - 60 Uempregado
Quartel 150 1/soldado
Rega de jardim 1,5 Um2
Fonte: MACINTYRE (2003)

3.4.5 Consumo industrial

O consumo industrial varia com as diversas tipologias industriais, podendo ocorrer


como matéria-prima, na limpeza, no resfriamento, nas instalações s-anitárias, cozinhas e
refeitórios. Na Tabela 3.9 são apresentadas estimativas de consumo de água para distintas
atividades industriais.

129

·---
Abastet,Jmento de água para consumo humano

Tabela 3.9 - Estimativas de consumo para distintas atividades industriais I j

Consumo -·
Atividade industrial . -
L .
-

5-20 UL de cerveja
Cervejarias
4-50 Ukg de conserva
Con.servas 20 ...40 Ukg de pele
Curtumes 20-250 Ukg de papel
Fábricas de papel
8-50 Ukg de aço
Laminação de aço
1-10 UL de leite
Laticínios
Matadouro 300 Ucabeça abatida, para grandes animais,
e 150 L para pequenos
Saboarias 25-200 Ukg de produto
Tecelagem (sem alvejamento) 10-20 Ukg de produto
Têxtil* 20-600 Ukg de tecido
Usinas de açúcar 0,5-10 Ukg de açúcar
*Variação vinculada ao tipo de fio processado
Fonte: VON SPERLING {2005)

Elevadas discrepâncias nos valores unitários do consumo de água industrial foram verifi-
cadas em pesquisa inclujndo 156 indústrias, de um total de 1401 unidades do parque indus-
trial da região de Belo Horizonte e Contagem. As indústrias integrantes do universo amostral
da pesquisa representavam 87°/o da totalidade do consumo de água e 60o/o da mão-de-obra
empregada no referido parque industrial. As dificuldades de obtenção de dados fidedignos
de consumo de matéria-prima junto às indústrias resultaram na redução do universo amos-
tral. O consumo médio e o desvio-padrão estão apresentados na Tabela 3.1 O.

Tabela 3.1 O·- Consumos específicos para o conjunto de indústrias amostradas. Belo
Horizonte e Contagem, 2000
Tipologia industrial/ Consumo
Número de indústrias Médio Desvio-padrão
Borracha/3 27,4 Ukg 23,7 Ukg
Metalúrgica/30 8,7 Ukg 21,0 Ukg
Mecãnica/11 28,9 Ukg 49,0 Ukg
Eletroeletrônicos/9 41,9 Ukg 93,9 Ukg
Têxtiln 78,8 Ukg de algodão consumido 143,6 Ukg
Abate e f rigorificação de bovin.os/7 13,9 Ukg de carne 23,0 Ukg
Editora e Gráfica/6 •
4,2 Ukg de papel processado 2,01/kg
Produtos Alimentares/7 21, 1 Ukg de farinha de trigo consumida 26,7 Ukg
Construção CiviV4 1,5 Ukg de cimento consumido 1,4 Ukg
Fonte: GONÇALVES (2003)

Os resultados dos desvios-padrão apresentados na tabela evidenciam a grande variação


nos consumos específicos para a quase totalidade das tipologias contempladas, à exceção
do setor de editaria e gráfica. No mesmo estudo, foi ainda avaliada a associação entre o
consumo. de ág~a ~ o número de empregados, para cinco distintas tipologias industriais:
metalurgia, mecan1ca, eletroeletrônica, química e têxtil. A análise estatística apontou que,
à exceção do setor têxtil, em todos os demais essa associação ocorre.

130

.....
Consumo de água I Capítulo 3

A partir da década de 1980, tem sido verificada tendência de redução do consumo de


água nas atividades industriais por meio da racionalização do uso e do reúso. Por outro
J'ado, em função da disponibilidade hídrica, tipologia e características do gerenciamento,
algumas indústrias dispõem de unidades de captação próprias. Na pesquisa mencionada,
das 156 indústrias amostradas, verificou-se que 30% contavam com abastecimento pró-
prio por meio de poços, explicando parcialmente o fato de o consumo de água para fins
industriais representar apenas 2,5% e 11 º/o, respectivamente, para os municípios de Belo
Horizonte e Contagem, mesmo sendo este último município tipicamente industrial .
A ABNT (1990), em relação à demanda industrial, estabelece que,. em sua estimativa,
devam ser considerados: (i) a possfver utilização do sistema público de abastecimento e (ii)
as demandas de água previstas nos projetos de implantação, instalação e ampliação das
indústrias no município.

3.4.6 Perdas

Aos quatro tipos de consumos mencionados incorporam-se as perdas, como relevante •

parcela da demanda de água em um sistema de abastecimento. Conceituai mente, as per-


das correspondem à diferença entre o volume de água produzido e o volume entregue nas
ligações domiciliares.
Do ponto de vista operacional, as perdas de água que ocorrem nos sistemas públicos
de abastecimento referem-se aos volumes não contabiJizados, podendo ser divididas em
perdas físicas e perdas não-físicas ou, conforme nomenclatura adotada no capítulo 17
(específico para o tema), perdas reais e perdas aparentes. Para efeito de composição do
consumo per capita, os componentes das perdas podem ser representados pelas seguintes
parcelas principais:

Tabela 3.11 - Descrição dos componentes das perdas que ocorrem nos sistemas de
abastecimento de água para efeito de composição do consumo per capita
1

Perdas físicas ou reais Perdas não-físicas ou aparentes


Vazamentos nas tubulações de distribuição Li·gações cf andestinas.
e das ligações prediais.
Extravasamento de reservatórjos. By-pass irregular no ramal das ligações (''gato").

Operações de descargas nas redes de Problemas de micromedição (hidrômetros


djstribuição e limpeza de reservatórfos. inoperantes ou com submedição, fraudes, erros de
leitura, problemas na calibração dos hidrômetros,
entre outros).

131
umo humano
Abastecimento de água para cons

de caracterização das perdas é o índice de perdas (º/o) e f


.t. .
uma das 1ormas . . , on arme
Equação 3.3:

Vp-Vm
IP=_.;..·- - (3.3)
VP

Em que:

IP= fndice de perdas (o/o);


3
v = volume de água micromedido ou faturado (m );
vmp = volume de água macromedido, produzido ou disponibilizado para
distribuição (m3).

A adoção de uma ou outra alternativa sublinhada nos termos da expressão pode


depender da metodologia utilizada para a quantificação do índice de perdas. Por exemplo,
se O nível de hidrometração do sistema é baixo, no lugar de se avaliar Vm por meio da
micromedição, este pode ser avaliado pelo volume faturado. Nesse caso, porém, deve
haver o cuidado de, nas ligações micromedidas que consomem menos que o consumo
mínimo para faturamento (10 ou 15 m3, por exemplo), se adotar o consumo efetivamente
apurado.
Diversos fatores influenciam no valor do fndice de perdas. A eficiência da administração
do sistema de abastecimento de água pode ser um deles, interferindo na detecção de
vazamentos, na qualidade da operação das unidades, no controle de ligações clandestinas,
na qferição e calibração de hidrômetros, por exemplo.
A topografia da cidade e a idade das tubulações constituem fatores preponderantes
na magnitude das perdas por vazamentos. Durante os períodos de menor consumo suce-
de-se o aumento das pressões disponíveis na rede de distribuição, em alguns casos pratica-
mente igualando-se à pressão estática, favorecendo as perdas por vazamentos.
Principalmente para sistemas de abastecimento de pequeno e médio porte, as perdas
por vazamento podem ser detectadas durante a madrugada, quando um consumo atípica-
mente elevado em um determinado setor da rede de distribuição estaria relacionado ª
problemas de vazamentos. Testes realizados no Reino Unido e em alguns estados norte-
. · · N0s
ª.mencanos apontaram consumos de 1,0 a 2,5 Ueconomia durante a madrugada. ·
sistemas de grande porte, esta detecção é dificultada pelos consumos decorrentes de al-
gu~s usos p~b~icos e comerciais terminais rodoviários, aeroportos, delegacias, postos de

Os valores referentes às perdas que ocorrem nos sistemas de abastecimento variam


forma
· con ·d ' 1 A · · .
si erav~ · Figura 3.4 1nd1ca os percentuais médios de perdas de faturam ento
para as companhias estaduais de abastecimento .

132
- -----

Consumo de água I Capítulo 3

Índice de Perdas de Faturamento

70 65.8

60
-
';/:!.
~

50
51.2
54,3
-

-g. "'
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._ 40,7 41 ,9 .
o.
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40
OJ 31,0 ' 31 ,4
-e:, 303
d) 30 1

'
26,1 ' ,o
·-e (.)
-,:::,
._
20

10

oCAER/RR OEASfAC CAEMA/MA CASAUAL SABESP/SP SANEPARIPR SANESULJMS

C'ompanhias Estaduais

. Fig,ura 3.4 - fndice de perdas de faturamento das companhias estaduais


Fonte: SNIS (2000)

Verifica-se, a partir da Figura 3.4, um expressivo número de prestadores de serviços


com perdas elevadas, sendo que em sete deles os percentuais são superiores a 50%. A
média nacional é de 39,4 %.

3.4.7 Fatores intervenientes no consumo per capita de água

Como a cota percapíta deve satisfazer a todos os consumos mencionados, esse parâ-
metro, é fortemente in·fluenciado por diversos fatores:

a) Nível socioeconômico da população

Éintuitiva a relação entre o mais elevado padrão socíoeconômíco da população e o maior •

consumo de água, manifesto em atividades que proporcionem, dentre outros, conforto e lazer,
como no uso de máquinas de lavar, piscinas, duchas, lavagem de carros e rega de jardins.
No estado de Minas Gerais, pesquisa analisando o consumo per capita de abasteci-
mento de água para cidades com população de 1Oa 50 mil habitantes · discriminando as
parcelas referentes à demanda residencial, comercial, pública e industrial apontou uma
média global de 148 Uhab.dia, com aproximadamente 83°/o deste consumo de origem
residencíal. Esta pesquisa encontrou também elevada associação entre o consumo e a
renda per capita para as cidades com população superior a 30 mil habitantes, indicando a
influência de outros fatores para as comunidades de menor porte (Penna et ai., 2000).

133
• Abastetlmento dé água para consumo humano

_. f ndo nove bairros de Belo Horizonte e Contagem _ MG


·Estudo anterior, en oca · ; . , d' , d. . , corn
. . - . . co· no" micas _ alta, media alta, me 1a, me ia baixa e baixa
d1st1ntas e1asses soc,oe - - - e
_ . . l . t · domiciliar apontou fortes corre 1açoes entre o consumo d á
consumo essenc,a men e - ' . 2 e 9Ua
e fatores como a renda per capita (R2 == 0,9~2), a área do 10:e (R == 0,887) e o número de
. á . (R O) A Figura 3.5 ilustra a regressao efetuada com a renda
vasos san1t rtos 2 = , · -
0 81 Per
capita (Campos e von Sperling, 1997).

consumo per capita x número de salários mínimos


y= x/((0.021)+(0.003)*x)
300
-co
:S• 250 o
.o o
m
§ o
-·a 1so
...<'9
200

ij
~

~ 100
o
§
(/)
50
e
8 o
o 4 8 12 16 20
Número de salários mínimos

Figura 3.5 - Consumo domiciliar per capita de água em função da renda familiar (Belo Horizonte e
Contagem - MG)
Fonte: CAMPOS e VON SPERLING (1997)

Já pesquisa mais recente avaliou a influência do nível socioeconômico no consu-


mo de água, para 45 municípios de Minas Gerais e 26 estados brasileiros abastecidos
pelas companhias estaduais de saneamento, utilizando dados disponibilizados pelo
SNIS (2000). Esses dados referem-se a informações fornecidas pelo prestador de ser-
.viços, em resposta a um questionário. Para o estado de Minas Gerais, foram identifi-
cadas faixas de variação de consumo per capita de água entre 84 e 248 Uhab.d, para
populações entre 4.000 e 2.300.000 habitantes e arrecadação média per capita entre
16 e 3.300 R-$/hab.ano. As figuras 3.6 e 3.7 apresentam a relação do consumo per
capita de água com a renda e a arrecadação per capita. Note-se que o conceito de
arrecadação municipal dividida pelo número de habitantes é distinto do conceito de
renda per capita (von Sperling et ai., 2002).

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I '
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1 . 134
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- .. :~
~
Consumo de água I Capttulo 3

Renda per capita (estados) X


Consumo·.;peRoapit~\deu~"Qtfêii
850
soo '
260 ·

200 • •
150
100 •

60
..
o.
1,E +02 1,E + 03 1,E + 04
Renda per capita (US$/hab.ano)

Flgura 3,6 • Consumo per capita de â.gua em função da rendapercapita nos diversos estados brasileiros
Fo.nte: VON SPERLING et ai. (2002)

Arrecadação per capita (municípios de MG)


X C~u__ o per capita de água
300

250

Q)
'O
~ ·~
ir·- -0.
200 e

.... ~
ªã
o '
150 •
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6) 100

8 50
o
1,E +01 1,E *02 1,E + 03 1,E + 04
Arrecadaçãll per capita (R$/hab;ano) I

Figura 3,.7. Consumo per capita de á.gua em função da arrecadação municipal dividida pela população
Fonte; VON SPERUNG et ai. (2002)


135
despeito dos baixos coeficientes de de
terminação (R2) d .
à grande d,sp:rs ão do s a os,
. renda per capita. No mesmo contexto, o e águ
pelas populaçoes com maio r to do núme
ro d e in d ú stria s e ativ id a
consumo de á
9
ª
\ ar com o aurnen d es comerciais·,rn ua
tende a se e ev . d á urn a vez q u e P 1an .
. d determina as rea 5, ta is fato res co n c o rrem tanto para ele
ta .as em . d . lpio e do estado quanto para os outros va
r e n d a ~ ~ ~ o m un1c consumos não residen .r .a
n"'ue compõem o qpc. aa~
'á re g ad a pa ra ca ra · , 1 · ~ · d
Outra var, veI emp cte riza r o n 1ve so c1oeconom1co a populaçã o ab
. d' d Desenvolvimento Humano (IDH ) , d' , .
tecida é o 1n ice e . Este 1n ice e considerado um indicasa-
dor do nível de atendimento das necessid . •
a~es humanas, em uma dada socieda
la Organização das Nações Unidas (ON de, se ndo
ca1cu1ado Pe U) para um extenso grupo de pa íses
desde
1990 . D e ssa form a , fo i d e se 1 · d
nvolvido o nd1ce e Oese~v~1v1· mento
pal - IDH-M, com algumas adaptações em Hum an o Munici-
~elação ao IDH, obJet,vando ~o~n.á-lo a
para caracterizar e comparar o desenvo propriado
lvimento humano entre mun1c1p1os. O
obtido pela média aritmética simples de IDH-M é
três índices parciais, referentes às variá
vidade, educação e renda . Pesquisa obje veis longe-
tivando avaliar e hierarquizar os fatore
entes no consumo per capita para 96 m s interve ni-
unicípios de Minas Gerais concluiu qu
apresenta estreita relação com o qpc, e e o IDH-M
m especial para os municípios com a
habitantes, ressaltando sua importância té 100 mil
e abrangência em estudos futuros (F
Neto, 2003). e rna nd es

b) Clima

Ê também intuitivo relacionar às regiõe


s quentes e secas um consumo de águ
elevado, se com parado às regiões temperadas e frias. En a mais
tretanto, fatores corno disponibili-
dade hldrica na região podem influenciar
essa relação.
Estudo realizado em 1996 nos Estados U
nidos (AWWA, 1 9 9 8 ) apontou variação
consumo per capita médio entre 494 Uh do
ab.dia, no estado do Maine, até 1 .230
no estado de Nevada. Uma vez que este Vhab .dia
índice refere-se tão-somente ao abaste
doméstico e industrial, .nã~ contemplando cimento
os gastos com irrigação, tal discrepância
em alguns.casos, r:fl~t,r a influência do clim parece,
a na definição do consumo de água. P
~ad?, essa ,nterferenc,a reduz-se quando se or outro
observam os estados de Montana e da
,~d1cando que outros fatores, além do clim Flórida,
a, intervêm na magnitude deste parâm
Figura 3.8 apresenta os referidos dados. etro. A

136
1
Consumo de água I Capítulo 3

1400 -r--_ _ _ _ __..., 1


. . . _____.) qpc .,.__ _ _ __ _ _ __ __..... 25

--rO temperatura
1200

..........._,
1000
m E
·-
"'C 15 a>
.ci 800 co
m ·-
"O
..e: ,Q)

d- 600 10 E
~
::::,
.......
400 .co
.....
(1)
5 o..
E
200 Q)
.......

Figura 3.8 - Cota per capita de abastecimento domést ico e industrial e temperatura média do ar em
alguns estados dos EUA (1996)
Fontes: AWWA (1998); US-NCDC (2005)

Relacionado ao clima, a influência da temperatura foi avaliada em pesquisa realizada


na cidad·e australiana de Melbourne, relacionando a cota per capita com as temperaturas
máximas diárias registradas durante o verão, no período de 1990 a 1997. Detectou-se uma
relação entre essas duas variáveis, com duas regressões lineares representando o fenômeno.
A primeira equação de regressão explicou a tendência para temperaturas inferiores a 39° e
e a segunda para temperaturas superiores a este valor (Zhou et ai., 2001 ).

c) Porte, características e topografia da cidade

O porte da cidade, diretamente relacionado ao número de habitantes e também ao


seu grau de industrialização, influencia todos os tipos de consumo de água doméstico,
industrial, e::omercial, público e perdas. As características do município, associadas, por exem-
plo, ao seu potencial turístico, também afetam o consumo de água. A topografia do muni-
cípio pode condicionar a rede de distribuição de água a maiores pressões, o que favorece o
consumo pela possibilidade de elevação das perdas físicas.

d) Administração do sistema de abastecimento de água

A administração do sistema de abastecimento pode influenciar, de diversas maneiras,


o consumo de água, em todos os tipos de demanda mencionados. Por um lado, a e)'(jstên:-
cia de micromedição no sistema e os valores da tarifa, bem como sua prog~ssí~rlãii.Je '

#' • - ..

137
Abe st ac lm en to da Agua pa ra co ns
um o hu m an o

. d lor un i'tário do m3 consumido no mês em


(acréscimo o va fu nção do total do co·n
d'd . surno
sobre o consu mo excessivo e os d. espe,r .,cios. esmo a ex1s ncJa e rede coletor d
. d e
esgotos, a,n a qu em uma p·rim·eira analise possa parecer não re1ac.ionada pod. a e
o aumento do consumo, pelo fato de . b . e irn 1.
um consumo muito a1 xo poder preju ' P tear
dicar o escoa.
menta dos despejos.
ão de p·ráticas de gestão pautadas, p . .
A adoç r1nc1palm en te, no adequado contrate
processo de produção e distribuição re f d ' . d
presenta ator que con ,c1ona o consu o
mo por rneio:
• da não ocorrência de intermitê
ncia ou irregularidade no abaste
ci-
mento;
• da qualidade da água ofertada e
de sua aceita ção por parte do con
-
sumidor;
• do controle das perdas que ocorr
em no sistema .

3.4.8 Valores típicos do consu


mo p e r capita de á g u a

Em função da mu\tip\icidade de fatore


s que podem concorrer para o valor
ABNT (1990) apresenta duas difere do qpc, a
ntes possibilidades para essa definiçã
sistemas de abastecimento de água : o nos projetos de
(i) obtenção de dados históricos de m
sumos domésticos, comerciais e indus edição dos con~
triais; (ii) na impossibilidade de determ
les valores, determinação da demand inação daque-
a a partir de cidades de característica
Visando a exemplificar a evolução do s seme\hantes.
s consumos, a Tabela 3 .12 apresenta
são histórica dos consumos de água a progres-
para a cidade de São Paulo, distribuíd
diferentes classes de consumo ou de os segundo as
destino da água .
Tabela 3.12 - Variação da deman
da ao longo de 85 anos, segund
consumos da água, para o munic o os diferentes
ípio de São Paulo
Consumo Saturnino de CNSOS
(Llhab.dia) Brito (1905)
DAE SAEC SABESP
(1951) (1957) (1972) (1990)
Total (%) Total (%) Total (%) Total (º/o) Total (o/o)
Doméstico 100 45,5 55
Comercia\ 42,5 14 0 46,7 180 40 ,0
50 2 2 ,7 50 25,0 45,0 120
e industrial 100 33 ,3 150 37,5 90 30,0
Púb\ico 45 20,4 25 12,5 15
Perda s 25 11,4 40 5,0 20 5,0 20 6,7
Total 220 20 ,0 45 15,0 23,3
100 200 100 50 12,5 70
300 100 400 300 100
Font e: AZEV EDO N mo (1998) 100
= -

138
1
• Consumo de água I Capitulo 3
1
1
j

''
'
1
1
Em decorrênc;a dos diversos fatores determinantes do consumo de água, verifica-se
1
1 nas cjdades brasi.leiras uma ampla faixa de variação dos consumos per capita de menos

1
l de 100 a valores de até 500 1/hab.dja. Dados de companhias estaduais, integrantes do
Diagnóst1ico 2000 do SNJS, apontam um consumo médio no País de 149,4 Uhab.día. Em
relação ao DiagnóstJco 1999, observa-se que houve uma redução de cerca de 6o/o no
consumo médio per capita. A Figura 3.9 apresenta as variações de consumo per capita
dos sistemas operados pela·s companhias estaduais, agrupados por regjões. Observa-se a
ampla variação e o valor médio de 130 Uhab.dia. -

m
::, 300
O) 266
'<O
Q)
-o
250
.e ,..... 200
210 206

·-
Q. ·-co 173
~ ~ 157 149
L.. ,O
Q) (O
150 - 139
119 124
138 134 128
123 112
120 114 123

E
100
113
76
::,
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8 o !(
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a:
a.
LL
o
O
(!)
tn
:E

Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

Figura 3.9 - Variações de consumo per capita de água para estados brasileiros
Fonte: SNIS (2000)

Na Tabela 3.13 são apresentados valores do consumo per capita adotados, no passado,
por entidades locais, estaduais e regionais, tendo em vista normas de projeto específicas. •

Tabela 3.13 - Consumo médio per capita, para populações providas de ligações
domiciliares
Norma/Entidade Consumo médio per capita (Uhab.dia)
Superintendência de Água e Esgotos da 300
CapítaVSP (1960)
Dep. de Obras Sanitárias do Estado de 200
São Paulo (1951)
Normas das Entidades Federais no Para cidades com população inferior a 50.000 habitantes
Nordeste: SUVALE, DNERu, DNOCS, • Recomendado: 150 a 200.
DNOS, FSESP e SUDENE • Mínimo: 100.
Para zonas servidas por torneiras públicas: 30.
Fonte: YASSUDA e NOGAMI (1976)

.

'
..•..:--

139
Abastecimento de âgua para consumo humano

, . d'f
A Tabela 3.14 reune I ere ntes vafores para o consumo per capita, em função
· de
distintas faixas populacionais.

Tabela 3.14 - Consumo me· , dio per capita,


· para populações dotadas de ligações
domiciliares , ..... 1 ••

-
9 r r a • "

.. P~rt~ da· c~m.uni·d~d~ .... F~ixa da População Consumo per capita


{habitantes)
.. .
. .... (L/hab.dia)
... . . . ,
- • • !
p

Povoado rural
T A t' .z s •

< 5.000
1 •
• r

90 a 140
r -• •

-
Vila 5.000 a 10.000 100 a 160
Pequena 1ocalidade 10.000 a 50.000 11 O a 180
Cidade média so.ooo a 250.000 120 a 220
Cidade grande . > 250.000 150 a 300
Fonte: VON SPERLING (2005)

o consumo per capita para populações abastecid~s sem ligaçõ~s d~miciliares, realidade
ainda presente no país, pode ser estimado a partir de categor1zaçao apresentada na
Tabela 3.15.

Tabela 3.15 - Consumo médio per capita, para populações desprovidas de ligações
domiciliares
Situação Consumo médio per capita
{Llhab.dia)
Abastecida somente com torneiras públicas ou chafarizes 30 a 50
Além de torneiras públicas e chafarizes, possuem 40 a 80
lavanderias públicas
Abastecidas com torneiras públicas e chafarizes, 60 a 100
lavanderias públicas e sanitário ou banheiro público
Fonte: FUNASA (2004)

Embora os dados de municípios semelhantes e o uso de tabelas possam permitir


a estimativa do consumo per capita para alguns casos, é questionável sua validade
na previsão das demandas reais para projetos de sistemas de abastecimento de água,
dada a variação desse consumo com os fatores já mencionados. Torna-se relevante,
portanto, a condução de estudos que busquem avaliar, de forma mais sistemática, a
influência dos fatores· intervenientes nesse consumo. Estudos dessa natureza podem
possibilitar a busca de soluções alternativas à utilização arbitrária de dados sobre O
consumo de água, a partir de dados de razoável facilidade de obtenção, em situa-
ções que requeiram o conhecimento desse parâmetro, como no redimensionamento
das demandas Qe,água para uma determinada população. .
Como forma de nortear a definição do consumo per capita, foi desenvolv1d.o
modelo matemático, delineado a partir dos dados de 19 municípios de Minas Ger~is 1

co~ população de ~o mil a 100 mil habitantes, mostrando que o consumo percapt~ f

t
é diretamente relacionado ao percentual de hidrometração e ao consumo de energia
.''
'
!

'
í

140
Consumo de tigua J Capitulo 3

pelos setores industrial e comercial, e inversamente relacionado ao vafor da tarifa


(Fernandes Neto, 2003).
Ponto que merece ser sempre mencionado é a diferença entre os valores do
consumo per capita macromedido, utilizado no dimensionamento das unidades de
um sistema de abastecimento de água, o referente aos valores discutidos nesta
seçao e considerado na equação anterior, e o consumo per capita micromedido,
aquele efetivamente consumido pelos usuários. A diferença entre eles é exatamente
as perdas no sistema, obedecendo à relação expressa na Equação 3.5, derivada da
Equação 3.3:

IP = qpc - qm
qpc (3.5)

Em que:

JP = índice de perdas (%);


=
qpc consumo per capita macromedido (Uhab.dia);
qm = consumo per capita micromedido (Uhab.dia).

ou seja, suponha-seque em um sistema tenha sido apurado um valor médio do


consumo per capita mjcromedido de 100 Uhab.dia. Tal consumo pode ser calcuJado con-
forme se segue:
3 3
_ consumo micromedido (m I mês) x 1OOOL I m
(3.4)
qm - população abastecida (hab) 30dias I mês

se tal sistema apresenta uma média histórica das perdas de 35%, o consumo per
capita macromedido, o qual a capacidade das unidades do sistema deve comportar, será
de 154 Uhab.día.
É fundamental que essa compreensão esteja bastante sólida nos profissionais de
engenharia sanitária, pois se se pretende estimar as vazões escoadas pelo sistema de esgo-
tamento sanitário daquela localidade, o valor a ser considerado para a contribuição per
capita é de 1oo Uhab.dia, pois será este o consumo a ser recebido pela rede coletora.

141
- ........
Abastecimento de âgue para. consumo humano

3. 5 coeficientes e fatores de correção de vazão

3w5.1 Período de funcionamento da produção

O período de funcionamento das unidades de produção deve ser considerado na


determinação das vazões de dimensionamento dessas unidades e deve ser cuidadosarnent
definido. Essa escolha pode ser condicionada por fatores técnicos ou econômicos. e
Um fator técnico típico que pode condicionar essa escolha consiste no tipo de rnanan~
cial. Nesse caso, quando a captação é realizada em manancial subterrâneo, é usual limitar
o tempo de funcionamento em 16 horas/dia, visando a evitar a superexploração do aqüífero
e permitindo o período diário de pelo menos oito horas para a sua recarga.
Do ponto de vista econômico, a decisão passa por se encontrar o período de funciona-
mento que minimize as despesas com mão-de-obra e pessoal, de um lado, e construção,
de outro. Supondo-se, por exemplo, a comparação entre as alternativas de 16 horas/dia e
24 horas/dia de funcionamento da produção, no primeiro caso haveria menor custo com
pessoal pode. .se organizar a operação com dois turnos de oito horas, por exemplo e
despesa com energia elétrica potencialmente menor, na medida em que se pode evitar a
utifização de equipamentos elétricos fora dos horários de maior tarifa. Por outro lado, nessa
alternativa, as unidades produtoras (captação, adutoras, estação de tratamento) teriam
capacidade cerca de SOo/o maior (24/16 = 1,5), com grande impacto nos custos de implan-
tação. Logo, para se tomar esta decisão, deve ser realizado cuidadoso estudo econômico,
cuja responsabilidade é tão maior quanto maiores forem as vazões do sistema.

3.5.2 Consumo no sistema

A operação do próprio sistema de abastecimento de água implica consumos, que


devem ser previstos na produção de água. Destes, é mais relevante e deve ser considerado
no cálculo das vazões de produção o consumo na estação de tratamento. Nas estações
consome-se água para lavagem dos filtros, para a lavagem de outras unidades, como
• decantadores, e para as atividades na casa de química, a exemplo da água necessária para
?preparo das soluções de produtos químicos. Até o final da década de 1980, eram comuns
instalações de tratamento que consumissem algo da ordem de 5% da vazão produzida.
Atualmente, inúmeras unidades de tratamento do País apresentam consumos inferioresª
2%, resultante da maior acuidade na operação. ·

142
..... ~2--s~-------------------s--•a--2SSEE----------I
2
-----------·z•z...a----a--------

Consumo de água I Capltulo 3

'
3.5.3 Coeficiente do dia de maior consumo (k1)

O coeficiente do d;a de maior consumo (k 1) consiste na razão entre o maior consumo


diário verificado em um ano e o consumo médio diário no mesmo ano, considerando-se as
mesmas ligações. Na ausência de determinações específicas, o que deve sempre ser prefe-
rível,, a ABNT recomenda a adoção de um valor de 1,2 para k1 . A Tabela 3.16 apresenta
distintos valores deste coeficiente obtidos em escala real.

Tabela 3.16 .. Coeficientes do dia de maior consumo (k1) obtidos em escala real
Autor/Entidade - Ano Local k1
Cetesb (1978) Valinhos 1,25 - 1,42
t
Tsutya ( 1989) São Paulo 1,08 - 3,08
Saporta et ai. (1993) Barcelona 1, 1O- 1,25
Walski et ai. (2001 ) EUA 1,2 - 3,0
Hammer (1996) EUA 1,2 - 4,0
AEP (1996) Canadá 1,5 - 2,5
Fonte: TSUTYA (2004)

A discrepância dos· valores é explicada pelas distintas características dos sistemas ava-

liados. Entretanto, pode-se observar a elevada variação de valores, reforçando a idéia de
levantamentos em escala real mais sistemáticos e específicos para cada projeto. Tal prática
fica cada vez mais facilitada com a popularização da implantação de macromedidores nos
sistemas.

3.5.4 Coeficiente da hora de maior consumo (k2)

o coeficiente da hora de maior consumo (k2) é a razão entre a máxima vazão horária
• e a vazão média djáría do dia de maior consumo. Na ausência de determinações específicas,
O quedeve sempre ser preferível, a ABNT recomenda a adoção de um valor de 1,5 para k2.
A Tabela 3.17 apresenta valores deste coeficiente determinados em situações reais.

'
Tabela 3.17 - Coeficientes da hora de maior consumo (k2) obtidos em escala real

Autor/Entidade - Ano Local k2

Cetesb (1978) Valinhos 2,08 - 2,35


Tsutya (1989) São Paulo 1,5 - 4,3
Saporta et ai. (1993) Barcelona 1,3 - 1,4
Walskj et ai. (2001) EUA 3,0 -6,0
1 Hammer (1996) EUA 1,5-10,0
AEP (1996) Canadá 3,0 -3,5
- -

Fonte: TSUTYA (2004)

143 •
hu m an o
Abastecimento de água paro consumo

s p a rc ia lm en te e xp lic a da pe la in ex .
,s •
ten ci a d
A discrepância d os va lore s d e term ina d o é . .
d á e p e Ias d 1s t1 ntas c a ra cterística s d . - e
rese.rvatórios dom icilia res no s E U A e C an a b I d . - O S S tste
r a e e va a va n a ç a o d e va lore s rn as
ca so d e k 1, po d e-s e o s e rva
avaliados. Como no s is tem ático s e m es ~ ~ no
d e le v a nta m e n to s e m e sc ala re a l m ais
Brasil, reforçando a id éia
. e sp e c, f,c os
eio d o s m a cro m e d id ores
para cada projeto, por m

• •

3.6 Exemplo d e a p li c a ç ã o

6, procurando ilustrar a aplica ã O d .


Apre~enta-s e, ne sta seção , o Exe m p lo 3.
ç e diversos
dos conc eitos apre sen tados n o capítulo.

Exemplo 3.6

a n o d e 2 0 2 5 , as v a z õ e .
E.stimar a n o a ano, a té o unid ades do
d s. ~a.s
sistema da se de de um município cujos da os cens1tanos estão apre-
sentados a seguir: ,

• Censo d e 1 9 50 : 2 .3 0 7 h a b it a n te s·
• Censo d e 1 9 60 : 5 .0 2 3 h a b it a n te s :
• Censo d e 1 97 0 : 1 2 .4 8 6 h a b it a n t; s .
• Censo de 19 8 0 : 1 8 .6 3 7 h a b it a n te s :
• Censo de 19 9 1 : 2 5 .1 4 5 h a b it a n te s :
Censo de 2 0 0 0 · 3 0 7 12 h b 't
a I an te s ,
.
• · ·

Solução:

a) Projeção aritmética

Kª = P2 - P o = 4 0 0 0 0 -1 0 5 8 5
t2 - to 2 0 0 0 -7 9 B O = 1 4 7 0 ,8

P.
~== 0 +K 1t tO) == 10585
\
ª· i -
+ 1470,8 X (t -7 9 8 0 )

144
Consumo de água I CapJtulo 3

Para se calcular a população do ano 2005, por exemplo, deve-se subs-


tituir t por 2005 na equação anterior. Para o ano 201 O, t = 201 O, e
assim por diante.

b) Projeção geométrica

K = lnP2 lnP0 = ln 40000 - ln 10585 _


-
g t -t 2000 . -0,0665
2 o - 1980

pt = Po. e Kg .(t- toJ = 10585. e 0,0665 X (t- 1980)


pt = Po. (1 + i) (t- to)

1) Projeção populacional

Por se tratar de uma comunidade relativamente nova, com valores de


população ainda reduzidos, os métodos de projeção estudados serão
o de crescimento aritmético e o de crescimento geométrico. A partir
dos dados censitários, determinam-se as taxas de crescimento para os
métodos geométrico e aritmético apresentadas na Tabela 3 .18.

1
Tabela 3.18 - Projeção populacional. Taxas de crescimento observadas
Taxa crescimento Taxa crescimento
População geométrico (T ou i) (%} aritmético (Kª) (hab/ano)
L\t 9
An.o residente Referência
• {ano} Referência Referência Referência
{hab} 1950

censo anterior 1950
censo anterior
1950 o 2.307 - - - -
5.023 8,09 8,09 271,6 271,6
1960 10
' 12.486 9,53 8,81 746,3 509,0
1970 20
18.637 4,09 7,21 615, 1 544,3
1980 30
25.145 2,76 6,00 591,6 557,0
1991 41
30.712 2 ,25 5,31 618,6 568, 1
2000 50

d) Projeção populacional pelo método dos mfnimos-quadrados (regressão


linear)

i - Crescimento aritmético

A equação do crescimento aritmético é Pt = PO + Ka.(t-t0 ), correspon-


dente à equação de uma reta . A partir dessa equação, efetua-se a

145
Abastetlmento do Agua para consumo hum·ano

•'
1 regressão linear com os dados da. coluna "t-t~; ou Dt (ano)" (valores
1
1
de x) e da coluna "população residente (hab) (valores de y), obten~
do-se os seguintes resultados:
1
1
1

1

• coeficiente de correlação: 0,9958
• coeficiente angular: Ka == 590,8
• coeficiente linear: PO == 850
• População em 2000: P2000 = 850 + 590,8.(2000-1950) = 30.390
hab (valor muito próximo do verificado no censo de 2000)
• População em 2025: P2025 = 51.630 hab.

ii - Crescimento geométrico

Inicialmente, a equação do crescimento geométrico Pt = P0 .r9{t-to) = pt


(1 +i)Dt deve ser transformada, tomando-se o logaritmo dos seus dois
membros (r é igual a 1+i, tal como apresentado no Quadro 3 .1 ). Tem-
9
se log Pt = log r .Dt + log P0 • Esta última equação também é a equação
9
de uma reta, do tipo y =a.x + b, em que y = log Pt ex= Dt. Logo, para
efetuar a regressão linear, utilizam-se os logaritmos dos valores da
população, conforme listado na Tabela 3.19:

Tabela 3.19 - Logaritmos dos dados censitários da cidade-alvo da projeção


p_opulacional

O 3,363
10 3,700
20 4,096
30 ~270
41 4,400
50 4,487

Objetivando buscar a solução estatisticamente mais adequada efe-


. - r1near para diferentes
tua-se a reg ressao . ' na
alternativas . como consta
Tabela 3.20. '

Das três projeções a q f


verificada no cens~ do ue orneceu valor da P2000 ~ais próxim~ da
. . , . IBGE neste mesmo ano, ou seJa a que mais se
aproxrmou do ultimo dad 0 . , . . . ,
1950 e 19 . · cens,tano, foi a proJeção sem os anos de
60

146
Consumo de água I Capitulo 3

Tabela 3.20 - Projeção geométrica. Resultados da regressão linear para três alternativas
Alternativa 1 Alternativa 2 Alternativa 3
Parâmetro Projeção com Projeção sem os Projeção sem os
todos os dados anos 1950 e 1960 anos 1970 e 1980
(Ll =O -t 1950) (Â =0 ~ 1970) (L\ =0 ~ 1950)
Coeficiente de correlação 0,9637 0,9916 0,9927
.coeficiente linear {log Fi) 3,490417 4, 116563 3,418804
Coeficie~te angular (log r9) 0,022358 0,012923 0,022540
Populaçao em 2000 e,, 40.581 31 .934 35.140
1 Po.pulação em 2025 146.985 67.194 128.618
(1) Pelo censo do IBGE P2000 = 30~712 hab.

1 iii - Definição da projeção populacional a adotar

Para facilitar a análise dos resultados das diferentes regressões efetua-


das, lançam-se na Tabela 3.21 os respectivos valores de P2000 e de P2025 .
Para efeito de comparação, incluíram-se também na tabela os valores
da taxa de crescimento geométrico equivalente relativo a cada valor de
P2025 obtid'o em comparação com a população do último censo do IBGE.

Tabela. 3.21 - Comparação das distintas projeções populacionais


Tuxa crescimento geométrico equivalente em
População (hab.) relação à população do censo de 2000 (%)
Ano Projeção geométrica , Projeção geométrica
Último Projeção Ultimo Projeção
Censo Altern. Altern . AJtern. aritmética Censo Altern. Altern. Altern. aritmética
1 2 3 1 2 3

1 2000 30.712 40.581 31 .934 35.140 30.390 2, 25* - - -


2025 ..--.- 146.985 67.194 128.618 51 .630 - 5,28 3,02 5,33 2,14

* Relativo ao período 2000-1991

1 Considerando que a cidade apresenta atualmente um bom dinamismo


econômico, o qual deve se manter nas próximas décadas, a adoção do
crescimento aritmético poderia subestimar o crescimento que a cidade
deve experimentar no período em questão, o que indicaria a opção
por um dos modelos geométricos. Comparando-se os valores das ta-
xas equivalentes de crescimento geométrico, conclui-se que a proje-
' ção que mais se aproxima do crescimento observado no último período
c.ensitário (1991-2000) é a alternativa 2 . Assim sendo, provavelmente
a projeção mais adequada é a alternativa 2 do crescimento geométrico,
que reflete melhor a dinâmica populacional da cidade para os 25 anos
em análise. Ê importante observar também que a taxa de crescimento
correspondente (3,02 o/o a.a.) é próxima à taxa verificada no Brasil
(2,43% a.a.) no último decênio,
1

147
li>·

......
c:r

""s

Tabela 3.22 - Exemplo 3.6. Planilha de cálculo de vazões


-
3

-
&
::,
o
a.
Ano t Pop. Índice Pop.
CD
(ndice Cons.médio li><

total Vazões consumidas Vazões Nº horas funcion.


U)
e:
abastec. abastec. perdas per capita e»
(hab) dimensionamento unidades u
(%) (hab) (%) do sistema
(L/hab.dia)
Média Dia maior Produção Hora maior Unid.
consumo (t:16h;qETA:2%) consumo
Rede produção -,..
C1
Ili

o
prod. distrib. Médio DMC ...e:
;J
3
{m /dia) (Lls) (L/s) (Us) (Us) (Us) (lls) (h) {h)
, 3
(col.1) (col 2) (col.3) (coJ.4} (col.5) (col.6) (coJ.7) o
(col.8) (col.9) (col.10) (col 11) (col 12) (col.13) (col~14) (col.15) (col.16) :::r
1:
2000 -5 30.712 80 24.570 30 214,3 3
2001 -4 31.640 80 25.312 30 214,3
5.264,9
5.423,9
60,9
62,8
73, 1
75,3
111,9
115,3
109,7
113,0
-
-
- -
-
- IP
:::s
o
2002 -3 32.595 80 26.076 30
2003 -2 12.284 80 9.827 30
214,3
214,3
5.587,8
2.105,8
64,7
24,4
77,6 118,7 116,4 -
-
-
-
-
2004 -1 21.061 80 16.849 30
29,2 44,7 43,9 -
..a. 2005 o 35.639 90 32.075 29
214,3
211,3
3.610,5
6.776,4
41,8
78,4
50, 1 76,7 75,2 - - - -
..,::.. 94, 1 144,0 141,2 206,3 270,0 9,3 11,2
2006 1 36.715 92 33.778 29 211,3 7.136,2 82,6 99, 1 151,6
00 148,7 206,3 270,0 9,8 11,8
2007 2 37.824 94 35.555 29 211,3 7.511,6 86,9 104,3 159,6 156,5 206,3 270,0 10,3 12,4
2008 3 38.967 96 37.408 28 208,3 7.793,3 90,2 108,2 165,6 162,4 206,3 270,0 10,7 12,8
2009 4 40.143 98 39.341 28 208,3 8.196,0 94,9 113,8 174,2 170,7 206,3 2.7 0,0 11,3 13,5
2010 5 41.356 100 41.356 28 208,3 8.615,8 99,7 119,7 183, 1 179,5 206,3 270,0 11,8 14,2
2011 6 42.605 100 42.605 27 205,5 8 .754,5 101,3 121,6 186,0 182,4 206,3 270,0 12,0 14,4
2012 7 43.892 100 43.892 27 205,5 9.018,9 104,4 125,3 191,7 187,9 206,3 270,0 12,4 14,9
2013 8 45.218 100 45.218 27 205,5 9.291,3 107,5 129,0 197,4 193,6 206,3 270,0 12,8 15,3
2014 9 46.583 100 46.583 27 205,5 9.571,9 110,8 132,9 203,4 199,4 206,3 270,0 13, 1 15,8
2015 10 47.990 100 47.990 26 202,7 9 .727,8 112,6 135, 1 206,7 202,7 206,3 270,0 13,4 16,0
2016 11 49.440 100 49.440 26 202,7 10.021,6 116,0 139,2 213,0 208,8 275,0 270,0 10,3 12,4
2017 12 50.933 100 50.933 26 202,7 10.324,3 119,5 143,4 219,4 215, 1 275,0 270,0 10,6 12,8
2018 13 52.471 100 52.471 26 202,7 10.636, 1 123, 1 147,7 226,0 221,6 275,0 270,0 11,0 13,2
2019 14 54.056 100 54.056 25 200,0 10.811,2 125, 1 150,2 229,7 225,2 275,0 270,0 11, 1 13,4
2020 15 55.689 100 55.689 25 200,0 11 .137,8 128,9 154,7 236,7 232,0 275,0 270,0 11 ,5 13,8
2021 16 57.371 100 57.371 25 200,0 11 .474,2 132,8 159,4 243,8 239,0 275,.0 270,0 11 ,8 14,2
2022 17 59.104 100 59.104 25 200,0 11 .820,7 136,8 164,2 251,2 246,3 27510 270,0 12,2 14,6
2023 18 60.889 100 60.889 25 200,0 12.177,8 140,9 169, 1 258,8 253,7 275,0 270,0 12,5 15, 1
2024 19 62.728 100 62.728 25 200,0 12.545,6 145,2 174,2 266,6 261,4 275,0 270,0 12,9 15,5
2025 20 64.622 100 64.622 25 200,0 12.924,5 149,6 179,5 274,6 269,3 275,0 270,0 13,3 16,0


Consumo de água l Capitulo 3

2. Cálculo das vazões


O cáJcuro das vazões está apresentado na Tabela 3.22. A explicação para cada coluna
é apresentada a seguir:

coluna 1 ano, iniciando no último levantamento censitário, até o alcance do proje-


to (2005).
coluna 2 período, sendo que 2004 foi considerado o período em que seriam ela-
borados os projetos, 2005, o período de construção, e 2006, o primeiro
1 ano de operação do novo sistema.
coluna 3 projeção populacional, por meio da equação de crescimento geométrico,
a partir da população de 2000 apurada pelo censo demográfico (30.712
hab.).
coluna 4 índice de abastecimento: assumiu-se a meta de universalização do serviçot
atingindo 1OOo/o de atendimento, progressivamente.
coluna 5 população abastecida.
coluna 6 índice de perdas de água no sistema: foi assumida a meta de 25o/o
(valor condizente com o nível operaéional do sistema) no ano de 2025.
A redução para 30% costuma ser facilmente obtida, por referir-se à
eliminação de perdas de água facilmente identificáveis é com baixo
custo de correção (vazamentos em válvulas nas unidades de produção
e em reservatórios). Abaixo de 30%, a redução fica mais difícil por
corresponder a perdas essencialmente na rede de distribuição, de iden-
tificação mais difícil e de maior custo para a sua eliminação. Assim
sendo, adotou-se o índice de 29°/o para o primeiro ano de funciona-
mento do novo sistema, reduzindo-o progressivamente daí em diante,
atingindo-se 25o/o no ano de 2019.
coluna 7 consumo médio per capita: assumiu-se que o consumo per capita micro-
medido seria constante ao longo de todo o período do projeto e igual a
150 Uhab.dia. O consumo per capita de projeto (macromedido) foi cal-
culado pela expressão: q = qm I (1-p) sen.do qm = consumo micromedido.
colunas 8 e 9 vazão média =Pab x qpc
coluna 1o vazão do dia de maior consumo = Oméd x k 1

coluna 11 vazão de produção = OoMC x {t/24) x qETA


coluna 12 vazão da hora de maior consumo = OoMc x k2
coluna 13 vazão de dimensionamento da produção: na ausência de estudo eco-
nômico para a determinação do alcance ótimo da primeira etapa,
assumiu-se dividir o período em duas etapas, sendo a priimeira com
alcance até o ano 1O (2015), que permite uma adequada modulação


149

. - . . ... , - .. - .. -
Abastecimento de água para consumo humano

3
das unidades, pois resulta em uma vazão i~ual a A da v~zão d~ final
I
de pano, . modular
.Pe rmitindo . a impfantaçao de elevatórias, unidades
do tratamento, reservatórios, etc.
coluna 14 vazão de dimensionamento da produção: assumido como QHMc do
ano 20.
colunas 15 e 16 número de horas de funcionamento da produção: ~oi determinado para
as vazões média e do dia de maior consumo, sendo importante elemento
para cálculo de consumo de energia.

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ZHOU, S.L.; McMAHON, T.A.; WANG, Q.J. Frequency analysis of water consumption for metropolitan area of

Melbourne. Joumal of Hydrology, v. 247, p. 72-84, Jun. 2001 .

151
Capítulo 4

Qualidade da água para consumo humano

Valter Lúcio de Pádua


Andrea Cristina da Silva Ferreira

4.1 Introdução

Conforme mostrado em capítulos anteriores, do volume total de água existente na


natureza, apenas um pequeno percentual apresenta qualidade, quantidade e acessibilidade
para ser utilizado nos sistemas de abastecimento e, freqüentemente, ela necessita ser
tratada antes de ser distribufda à população. A degradação das águas por meio da poluição
e da não-racionalização do seu uso vem dificultando o seu tratamento, intensificando a
escassez hídrica e aumentando os riscos à saúde humana pelo seu consumo.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estimou, em 1996, que a cada 8 segundos
morreu uma criança de infecção relacionada com a água e que, a cada ano, mais de cinco
milhões de pessoas morrem de doenças ligadas ao consumo de água insegura devido ao
saneamento inadequado (Anon, 1996 apud Payment e Hunter, 2001 ). Segundo a OMS, se
toda população tivesse acesso a água e a serviços de esgotamento sanitário adequados,
deveria haver redução anual de 200 milhões de episódios de disenteria, 2, 1 milhões de
mortes causadas por disenteria, 76.000 casos de dracunculíase, 150 milhões de casos de
esquistossomose e 75 milhões de casos de tracoma (Payment e Hunter, 2001).
A Conferência Internacional sobre a Agua e o Meio Ambiente, em 1992, adotou uma
, declaração reconhecendo "o direito básico de todos seres humarios ·a ter acesso-a água
limpa e saneamento a um preço acessível" (Vidar e Ali Mekouar, 20ID4) .

••
153
q


Abastecimento de á gua para o,n,umo humat10

. . . 'tár·ios decorrentes da djstribuição de água inadequada ao


Tendo em vista os riscos san1 , · . . _
. ít I sa,-#o abordados processos de contam1naçao e poluição
consumo humano, neste cap u o · · . , . , , .
. t d discutidos parâmetros físicos, qu1m1cos, rad1ologicos e
dos corpos d'água; apresen a os e . . · . d
. ló . t 'I' d na caracterização da água; mencionadas as pr1nc1pais oenças refacio-
b10 g1cos u r tza os . b'l'd d 1 · J - •
· d' á
na as com a gua; e apres . entados 05 padrões de pota 11 a e e a eg,s açao pertinente em
nosso pafs.

4.2 Classificação dos mananciais e usos da água

Devido à multiplicidade de aplicações da água nas diversas atividades humanas, 0


conceito de "qualidade da água" precisa ser relativizado, em função do uso a que se
destina.
Éconveniente destacar a distinção conceituai que se faz entre poluição e contaminação.
Num conceito amplo do ponto de vista sanitário, considera-se poluição a alteração das
propriedades físicas, químicas, radiológicas ou biológicas naturais do meio ambiente (ar,
água e solo), causada por qualquer forma de energia ou por qualquer substância sólida,
líquida ou gasosa, ou combinação de elementos, em níveis capazes de, direta ou indireta-
mente: a) ser prejudicial à saúde, à segurança e ao bem-estar das populações; b) criar
condições inadequadas para fins domésticos, agropecuários, industriais e outros, prejudi-
cando assim as atividades sociais ou econômicas; ou c) ocasionar danos relevantes à fauna,
à flora e a outros recursos naturais. A contamjnação tem recebido uma definição mais
restrita ao uso da água como alimento. O lançamento de elementos que sejam diretamente
nocivos à saúde do homem ou de animais, bem como a vegetais que consomem esta
água, independentemente do fato destes viverem ou não no ambiente aquático, constitui
contaminação. Assim, a contaminação constitui um caso particular de poluição da água.
No Brasil, o Conselho Nacional do Meio Ambiente, CONAMA, publicou a Resolução
nº 20/1986, po.steriormente revogada pera Resolução nº 357/2005, que classifica as águas
superficiais do País em doces, salobras e salinas, ordenando-as em função das características
física, química e biológica da água dos mananciais, tornando obrigatória a determinação
de dezenas de parâmetros para caracterizar as águas e assegurar seus usos predominantes.
A determinação destes parâmetros tem sido sistematicamente descumprida devido à falta
d.e r~cursos humanos, materiais e financeiros em muitos órgãos federais, estaduais e muni-
c1pats que poderiam exercer esta atividade. Observa-se na Tabela 4.1 os usos da água
preconi~a~os na Resolução nº 357/2005 do CONAMA, em função da classificação dos
mananc1a1s.

154

J
Qualidade da água para consumo humano l Capítulo 4

Tabela 4.1 • Classificação das águas doces, usos e tratamento requerido segundo o
coNAMA (continua)
t Destinação Salinidade* Classificação
CJasse Especial (com desinfecção)
Classe 1 (tratamento simplifícado)
Doce Classe 2 (tratamento convencional)
a) abastecimento para consumo Classe 3 (tratamento convencional
humano ou avançado)
Salina Não se aplica
Salobra Classe 1 (tratamento convencional
ou avançado)
Cfasse Especial
Doce Classe 1
Classe 2
b) preservação do equilíbrio natural
das comunidades aquáticas Salina Classe Especial
Classe 1
Classe Especial
Salobra
Classe 1
e) preservação dos ambientes Doce Classe Especial
aquátie®s em unidades de Salina Classe Especial
conservação de proteção integral Salobra Classe Especial
Classe 1
Doce
d) recreação e contato primário Classe 2
(esqui, natação, mergulho, etc.) Salina Classe 1
Salobra Classe 1
e) irrigação de hortaliças consumi- Doce Classe 1
das c:rwas e de frutas crescendo Salina Não se aplica
rentes.a@ chão e ingeridas cruas
sem remoção da pelfcuia. Salobra Classe 1
Doce Classe 1
f) proteção das comunidades Salina Não se aplica
aquáticas em Terras Indígenas
Salobra Não se aplica
g) irrigação de plantações, jardi~s,. Doce Classe 2
campos; etc., com os qu.ais o publi- Salina Não se aplica
t
co possa vir a ter contato direto Salobra Classe 1
Doce Classe 2
h) aqüicultura e atividade de pesca Salina Classe 1
Salobra Classe 1
Doce Classe 3
i) irrigação de culturas arbóreas, Não se aplica
Salina
cerealíferas e forrageiras
• Sa.lobra Não se aplica

155
'
,
1
(conclusão)
r Classe 3
Doce
Salina Classe 2
r
• j) pesca amadora
Salobra Classe 2
Doce Classe 3 -
1) recreação de contato secundário Salina Classe 2
Salobra Classe 2
Doce Classe 3
m, dessedentação de anímais Salina Não se apJica
Salobra Não se aplica
Doce Classe 4
n) navegação Salina Classe 3
Salobra Classe 3
Doce Classe 4
o) harmonia paisagística Salina Classe 3
Salobra Classe 3
"*' Salloidade Doce - saJJnidade::::: 0,5 %o; salobras - 0,5 <salinidade> 30 %o; e salinas - salinidade = 30 o/oo.
fonte:httpJ/www.mma,gov.br/port/conama/res/res05/res35705.pdf, acessado em março de 2006. Resolução CONAMA
ª 357 de 17 de março de 2005

Devido à complexidade dos fatores que determinam a qu~lidade das águas (hidrodinâmicas,
físicos, químicos e biológicos), amplas variações são encontradas entre rios ou lagos locali-
zados em diferentes regiões. Da mesma forma, a extensão e a severidade dos danos causados
por ímpactos antropogênicos também variam amplamente entre os diferentes tipos de manan-
ciais e suas características hidrodinâmicas. Como exemplos citam-se o tempo de detenção,
vazão, morfología e padrão de mistura da coluna de água. Deve-se destacar também que os
órversos usos da água, tais como consumo e higiene humanos, pesca, agricultura (irrigação e
suprimento para anjmaís), ·transporte ff uvial, produção industrial, resfriamento industrial, diluição
de resíduos, geração de energia elétrica e atividades recreacíonais, são afetados de modos
diferentes pela alteração da qualidade da água, como exemplificado na Tabela 4.2, onde se
observa que a presença de matéria orgânica pode ser benéfica à irrigação, mas, por outro lado,
acarreta sérios problemas à potabílízação da água para consumo humano.
O aumento das atívídades industriais e agrícolas e o crescimento populacional intensi-
ficam a demanda por água ao mesmo tempo em que contribuem para a deterioração da
sua qualidade. As maiores demandas vêm de atividades que usualmente são menos exi-
gentes em relação à qualidade da água, tal como a agricultura, produção de energia e
resfriamento industrial, em comparação aos suprimentos para consumo humano e deter-
minadas manufaturas industríais. Assim, a água é vital para a proteção da saúde humana e
também para o desenvolvimento econômico. O conflito potencial entre 05 diversos usos da
águal no que se refere à quafídade e quantidade, tem gerado tensões e problemas legais.

156
...-----
Qualidade da água para consumo humano I Capítulo 4

A importância do abastecimento de água deve ser encarada sob os aspectos sanitário e


econômico, sem que o segundo prevaleça sobre o primeiro. Num quadro de escassez hídrica, o
consumo humano e a dessedentação de animais são considerados usos prioritários. A água é a
substância maisabundante nos sistemasvivos, perfazendo 70% ou mais da massa da maioria dos
organismos, havendo uma demanda fisiológica, pois, ao ser eliminada pefo organismo através da
urina (53%), pela evaporação da pele e dos pulmões (42o/o) e pelas fezes (5%), ela precisa ser
reposta através da ingestão de líquidos e alimentos que a contenham. Em níveis bioquímico e
celular, há necessidade de água para regular a temperatura corporal e para atuar como solvente e
veículo de componentes a serem excretados para o funcionamento do organismo (Curtis, 1977).

Tabela 4.2 - L.imitações dos usos das águas, devido à degradação de sua qualidade
Usos
Poluentes ou Agua para Biota

contaminantes Produção de
consumo aquática Recreação Irrigação Usos •
Transporte
energia e
humano e pesca industriais
resfriamento
Patógenos XX o XX X XX' na na
Sólidos Suspensos XX XX XX X X xi xx3
Matéria organica XX
xxs,6 X XX + xx4 xs na
Fitoplancton x7 XX xs xx4 xs Xª
Nitrato XX X na + XX' na na
Sais9 XX XX na XX

xx1º na na
Elementos traço XX XX X X X na na
Mie:!ropoluentes
Organrcos XX XX X X 7• na na
Acidificação X XX X 7• X X na
Fonte: Modificado de CHAPMAN (1996)
XX Dano acentuado, exigindo maiores custos em 3 Assoreamento em canais
tecnologias de tratamento ou excluindo o uso
X Menordano 4 Indústrias eletrônicas
O Nenhum dano 5 Entupimento de filtros
na Não aplicável 6 Odor, sabor e/ou cianotoxinas (estando presentes
cianobactérias tóxicas}
+ A degradação da qualidade da água pode ser 7 Em tanques de peixes, maiores biomassas fitoplanctônicas
benéfica para est e uso podem ser aceitáveis
7 Efeitos ainda não completamente compreendidos 8 Desenvolvimento de macrófitas, além do fitoplâncton
1 Indústrias alimentícias 9 Inclui boro, fl uoreto etc.
2 Abrasão 1O Cálcio, Ferro, Manganês em indústrias têxteis etc.

Os profissionais que trabarham com sistemas de abastecimento de água devem estar


atentos ao fato de que a qualfdade da água dos mananciais pode variar naturalmente ou pela
ação humana e que a não-proteção dos mananciais pode implicar sérios problemas rela-
cionados a potabilização da água, aumentando os riscos sanitários e inviabilizando o emprego
de técnicas de tratamento mais simples e menos onerosas, que poderiam ter sido utilizadas
antes da deterioração da qualidade da água do manancial. Neste sentido, torna-se impor-
tante apresentar o conceito de ''múltiplas barreiras", que preconiza a atenção à água, desde
o manancial até o momento de ser utilizada pelo consumidor. Assim, é de primordial
importância que todo o sistema de abastecimento de água seja projetado, construído, opera-
do e mantido corretamente, tomando-se as providências necessárias para evitar a deterioração

157

.._
Abosteclniento de Agua para consume> humo.no.

da qualidad,e da água no manancial, na captação, na adução, no tratamento n


rese1Vação, na distribuição e nas próprias instalações hi?ráulico-sanitárias predia~. recalque, na
Na Ta,befa 4.3 listam-se possíveis f~ntes ~e det~r1oração das águas, incluindo .
1
rezas adqu,iridas nas ·diversas fases do clcl,o h1drolég1co. Deve-se procurar conh as rnpu ..
. ,. .- - d á . . ecer e ev·
os caminhos que levam à polu1çao e contam1naçao a gua, para reduzir os risco . ttar
s san1tá ·
e os custos associados a·o tratamento da água. rios

Tabela 4.3 .. Caminhos da poluição e contaminação das águas

-

.MaOánciâl~ ........ Precipita"ç~O âtmostériCa: as águas.de eh.uva podem arrastar impurezas -
existentes na atmosfera.
Escoamento superficial: as águas lavam a su~erfície do solo e carreiam
impurezas, tais como partículas do solo, detritos vegetais e animais
microrganismos patogênicos, fertilizantes e agrotóxicos. '
lnfiltr.a,ão no solo: nesta fase pa~e das imp~rezas P?de ser filtrada e removid
mas d_ ep_~~~endo das carad:erfst1cas geol_?gtcas ~ocats, outras impurezas pode a,
ser adqutrtdas através, por exemplo, da dtssoluçao de compostos solúveis ou m
do c~rreamento de ~atéria fecal originada de soluções inadequadas para O
destino final dos deJetos humanos, como as fossas negras.
Uso e ocupação do solo: o uso e a ocupação do solo exercem influência
significativa sobré a qualidade e a quantidade de água dos mananciais.
lançamentos diretos: despejos de águas residuárias e de resíduos sólidos
lançados inadequadamente nos man~nciais.
'

Intervenções estruturais: canaliza~ões de rios, barramentos e desvio de água


numa mesma bacia hidrográfica ou entre bacias e o bombeamento excessivo
da á·gua de aqüíferos pod_em, a longo prazo, causar problemas que superam os
benefícios previstos originalmente. Nas represas as impurezas sofrem
alterações decorrentes de ações de naturezas física, química e biológica. Por
outro lado, o repre,samento favorece a remoção de partículas maiores por
sedimentação e cria condições mais favoráveis para o crescimento de espécies
de algas que podem ser prejudiciais ao tratamento de água.
Captação, Captação: deve ser local.izaâa em local sanitariamente protegido, distante de
aidUi'i".'á'S
~; - I
pontes de lançamento de peluentes ou contaminantes. O pr.ojeto da captação
tratamento e deve evitar a água mais superficial, por exemplo, quando há floraçã·o de algas,
distribuição e impedir o arraste de lodo do fundo do manancial, o qual ,pode apresentar
concen'tração elevada de compostos orgânicos e inorgânicos indesejáveis.
Adução: deve ser executada com os devidos cuidados; por exemplo, não se
admite aduzir água tratada em canais abertos.
Tratamento: nas próprias instalações de tratamento existem possibilidades de
contaminação como -em canais abertos que aduzem água filtrada, pelo mau
esta~e de conservação das diversas unidades de tratamento, pelo uso
inade€1uado de produtos químicos, seja por sua má qualidade ou pela
dosa~em i"nadequada dos mesmos.
Recalque e distribuição: no sistema de recalque a deterioração da ~ualidade da
água p(j)ee ocorrer, por exemplo,, pelo posicionamento muito próximo das
linhas cle drstribuição de água das linhas de esgotamento sanitá.rio. Os .
reservatérios de água devem ser cobertos e o sistema deve funcionar sempre
com priessão ,satisfatória. . . ·.e
lnst~ações hidráuJico-s~nitárias P.rediais: de~em se~ executadas com mate~~:m
técn1cas adequadas, evltando-se 1nterconexoes perigosas e refluxos que P
• •• • -- t
intro~uz.ir água contaminada no sistema de distribuição.
4 . • .. ... • .. 1 .. • • 3

'

158
i.·
li
Qualidade da água para consumo humano I Capítulo 4

4.3 Materiais dissolvidos e em suspensão presentes na água

Água quimicamente pura (H20) é encontrada na natureza somente quando ela está sob a
forma de vapor. Quando as moléculas de água na atmosfera se condensam, as impurezas
começam a acumular: gases dissolvem-se nas gotas de chuva e, ao atingir a superfície, a água
dissolve uma série de substâncias que são incorporadas à água, tais como cálcio, magnésio,
sódio, bicarbonatos, cloretos, s,ulfatos e nitratos, traços de alguns metais como chumbo, cobre,
manganês e compostos orgânicos provenientes dos processos de decomposição que ocorrem
no solo. As águas superficiais e subterrâneas passam a ter impurezas, que sofrerão variações
com a geologia local, vegetação e clima (Branco et ai., 1991 ). Contudo, do ponto de vista da
potabilidade, o conceito de pureza da água é totalmente diverso do conceito químico. A pureza
química da água (H20) é não só dispensável como até mesmo indesejável. A água é um alimento
que, embora não tenha valor energético, contribui fundamentalmente para a edificação do
organls,mo, pela presença de sais e gases dissolvidos, contribuindo para o equilíbrio osmótico da
célula,. Os primeiros organismos vivos provavelmente apareceram em um ambiente aquoso, e a
evolução deles foi marcada pelas propriedades deste meio, por isso todas as funções celulares
são tão adaptadas e dependentes das características físicás e químicas da água (Curtis, 1977).
Por outro lado, o excesso de impurezas - na água, de natureza qufmica ou biológica, pode .

causar sérios danos à saúde humana e às suas atividades econômicas.+Deste modo: é indispensá-
vel que,se faça a caracterização física, química, biológica eraaielégiea da água que, em conjunto,
._ indi~rão_quão impactado_está o mananc~ em que classe de qualidade da água o ff}esmo pode
ser i@_c[bJí@o, quais as restrições para seu uso e qual tecnologia de tratamento será mais adequada,
,... ·-
em fl:!Jnção dos usos previstos Para se fazer a caracterização da água, as amostras devem ser
coletadas e preservadas obedecendo cuidados e técnicas apropriadas; as determinações dos parâ-
metros devem ser feitas segundo métodos padronizados por entidades especializadas./
Durante o período de utilização do manancial devem ser feítos levantamentos sanitários
regulares, acompanhados da caracterização da água, com os objetivos de descobrir eventuais
1 -
alterações na qualidade da água bruta e avaliar a eficiência do tratamento, quando este se •
fizer necessário. No caso de água destinada ao consumo numano, a proteção dos mananciais
• é a primeira linha de defesa do chamado princípio de múltiplas barreiras, pelo qual procura-
se alcançar alto grau de segurança na qualidade da água distribuída à população, através da
vigilância e controle das diversas etapas que compõem o sistema de abastecimento.

4.3.1 Natureza biológica

r
o risco mais comum e disseminado para a saúde humana, assoei.ado ao consumo de
água, origina-se da presença de ITTicr@rganismos que pod.em causar ~®'en,as vartand© de
gastroenterites brandas a doenças fatais. Por outro lado, alguns microrganfsmos, mesmo que
Abastecimento de água para consumo humano

nã~patogênicos, podem causar problemas significativos. Um dos primeiros problemas des-


critos relacionados com a presença de microrganismos na ág.ua tratada refere-se a bactérias
que usam compostos dissolvidos do ferro, chamadas .bactérias do ferro, tais como aquelas
dos gêneros Crenothrix, Leptothrix, Spirophy/lum, Gal/1onella e outras, que podem ocasionar:
mudanças no grau de oxidação ou redução do ferro; produção ou decomposição dos com-
postos do ferro; mudanças no teor de dióxido de carbono na água e aumento da coloração
da água (Babbitt et a/., 1962). Fungos e actinomicetos usualmente têm sido associados com
O gosto e odor da água. Certos actinomicetos são hábeis em degradar anéis selantes de
borracha, encontrados nas tubulações, o que pode levar a vazamentos. Aguas subterrâneas
anaeróbias podem conter bactérias que utilizam o metano como fonte de energia e cuja
biomassa pode levar à obstrução de tubulações, mas estas não contribuem para incrementar
as contagens de bactérias heterotróficas (não são detectadas por esta análise). Bactérias nitri-
ficantes também podem ser encontradas neste tipo de água, quando a remoção da amônia
é incompleta ou quando a monocloramina é utilizada como um desinfetante. O crescimento
destas bactérias leva à produção de nitrito e ao aumento dos valores de contagens de bacté-
rias heterotróficas. Em tubulações com corrosão, podem estar presentes as bactérias sulfato
redutoras, que exercem papel importante na corrosão microbialmente induzida, gerando
queixas dos consumidores, pela coloração da água e pelas manchas provocadtas em utensílios
e roupas. Onde bactérias multiplicam-se, protozoários e invertebrados podem estar presentes
pelo consumo de biomassa. A temperaturas elevadas, protozoários com propriedades patogê-
nicas (como os dos gêneros Acanthamoeba, Naegleria) podem se multiplicar. Copépodos (tipo
de invertebrado), hospedando o nematódeo patogênico Dracunculos medinensis, também
1
podem multiplicar-se nestes sistemas.
Nos itens seguintes são feitas considerações sobre as principais doenças de origem
biológica relacionadas com a água, patógenos emergentes de veiculação hídrica, presença
de organismos patogênicos no sistema de distribuição de água e organismos indicadores
de contaminação.

4.3.1.1 Principais doenças de origem biológica relacionadas com a água

Aguas continentais contêm microrganismos inerentes a elas, como bactérias, fungos, pro-
tozoários e algas, alguns dos quais são conhecidos por produzir toxinas e transmitir doenças..
Os organismos patogênicos de transmissão hídrica e via oral mais amplamente conheci-
dos são listados na Tabela 4.4. Contudo, observa-se, por exemplo, que a própria tabela revela
as muitas incertezas que ainda cercam os riscos associados aos vírus; ,além cljsso, d'iversos
outros organis,mos têm sido identificados como agentes de surtos asso(iados com o consu-
mo de água, incluindo os gêneros de protozoários lsospora e Microsporidium, dentre óutros.
Embora possível, a associação de doenças causadas por helmintos com o consumo de
água é menos nítida, sendo o consumo de alimentos e O contato com solos contaminados
os modos de transmissão mais freqüentes .

160
-- --

Qualidade da água para consumo humano I Cu


('ftulo IJ

. _ , . . •
T,.abel. a 4 .4 - O rg a n is m o s p a t ,. · d ,s sa o h1dr1ca e via oral e su a ,mpor-
ogen,cos e transm
ta ncr a p a ra o a b a st e c im e n to d e á g u a
Dose Reservatório
A ge nt e pa to gê ni co Importância Persistência Resistência animal
pa ra a saúde ao clorob lnfectante
na água• relativae im po rt an te, ,
Bactérias:
Campylobader jejuni, e. coli Alta Moderada Baixa Moderada Sim
- patogênica
Escherichia coli - patogênica Alta M oderada Ba ixa Alta Sim
Escherichia coli - toxigênica Alta
Salmonella typhi Alta M oderada Ba ixa Alta d Nao
Outras saf moneJas Alta Prolongada Baixa Alta Sim
Shigella spp. Alta Breve Baixa Moderada Nao ,
Vibrio cholerae Alta Breve Baixa Alta Não
Yersínia enterocolitica Alta Prolongada Baixa Alta (?) Sim
Pseudomonas aeruginosa º Moderada Podem Moderada Alta(?) Não
multiplicar-se

Vírus:
Adenovrrus Alta 7 Moderada Baíxa Não
Enter0vfrus Alta Prolongada Moderada Baixa Não
Hepatite A Alta 7 Moderada Ba ixa Não
Hepatite E Afta 7 ?• Ba ixa Não
Vírus de Norwalk Altil 7 ?• Baixa Não
Rotavírus Alta 7 7• Moderada Não (7)
Baixa(?) Nã o
Pequenos vírus arredondados Moderada 7 7

Protozoários:
Entamoeba hystolitica Alta Moderada Alta Baixa Não
Moderada Alta Baixa Sim
Giardia intestina/is Alta
Sim
Prolongada Alta Baixa
Cryptosporidium parvum spp Alta

H eim in to s Sim
Afta Moderada Moderada Baixa
Dracunculus medinensis
Fonte: adaptado de WHO (2003c)
?: não conhecido ou não confirmado; é 1 se m an a; m od erad a - de 1 se m ana a 1 mês;
fase in fe ct an te na ág ua a 20 ° C: reduzid a - at
a: período de de tecç ão da
eleva da - mais de 1 mês; m po s de co nt ato tra dicion ais . Re sistência
te en co nt ra-se na ág ua tratada em do se s e te
b: quan do a fa se in fect an us ua lm en te é dest rufdo
am en te destruído ; ba ixa re sistê nc ia - o ag en te
moder ad a - o ag en te po de nã o se r co m plet
completamente; os sãos ; no ca so de alg un s vír us , po de bastar uma
ária pa ra caus ar ln fecç ao em 50 % do s vo lu ntários adult
c: dose necess
unidade infecciosa;
d: a partir de experiência com voluntários; de infecta r ím un ossu pr ím ido s ou pa cie ntes co m câ ncer
fecç ão é pe lo co nt ato co m a pele , m as po
e: a rota principaJ de in
por via oral.

tóge no s m ais releva ntes , ho je co nhec id os , pa ra


Na Ta bela 4 ,5 sã o ap rese ntad os os pa
os ; su a oc orrênc ia, do en ça(s ) qu e po de m oc a-
o abas tecim en to de ág ua, se nd o re laci onad
, qu ai s os sint om as e o sign ifica do sa ni tário da
sjonar, com o se dá a tran sm issã o de sta(s)
in far m aç ões co ntid as no W H O. G uíde lín es for
presença de stes p atóg en o s; a pa rtir de
Drinking-Water Qua/íty (WHO, 2003c) .


161


(continua)
Tabela 4.5 .. Patógenos relevantes para o abastecimento de água
Transmissão Sintomas Significado sanitário
Tipo de organismo Fonte e oc:orrência Doença causada a-
E , e -

',. a- e - - E

Adenovfrus
Tem sido encontrado em Gastroenterite; Por via respiratória; e Infecções no trato Representa risco potencial à
Vírus
vários ambientes conjuntivite; faringite. transmissão fecal-oral, em gastrointestinal, olhos, saúde, ocorre em grandes
aquáticos. •
crianças novas. trato respiratório e quantidades em ambientes
várias outras aquáticos e são resistentes a
infecções. Apresenta processos de desinfecção.
• febre.
-
Adenovfrus (70 nm
1
diam.)
Acanthamoeba spp
Protozoário de vida livre No solo, água doce e EncefaHte hemorrágica e Por aerosóís ou pela Mudanças na Os cístos são grandes,
necrosante ou inflamação poeira, atingindo o trato personalidade, dores sendo facilmente removidos
salgada.
da córnea (espécies respiratório superior, de cabeça. nuca por filtração. Contudo, são
diferentes). pulmões e pele, enrijecida, estado resistentes ao cloro, mas
usualmente aflige pessoas mental alterado, não os trofo·zoftos (formas
debilitadas. letargia, coma, móveis).
A inflamação da córnea: morte. No caso de
• por armazenagem de inflamação da
2
Acanthamoeba sp lente em água córnea, é doença
contaminada. rara que pode levar a
danos na visão,
cegueira e perda do
olho.
Calicivírus
O homem é o único Gastroenterite aguda. Via rota fecal-oral, pelo Náuseas, vômito e Tem sido implicado como o
V{rus entérico
hospedeiro conhecido. consumo de água ou diarréia, terminando agente etiológico de vários
comida contaminada. de 1 a 3 dias. surtos de gastroenterites.

\t(r.us t\po Notwalk


t32. nrd d\~rn.)'l
..
. '

{continua)
Tipo de organismo Fonte e ocorrênda Doença causada Transmissão Sintomas Significado saniblrto
Cryptosporidíum parvum
Protozoário parasita de O homem é o hospedeiro Severa diarréia com risco de Bebendo água Náuseas.., diarréia, Em 1993,, um surto de
células Intestinais
'
primário, mas animais morte em indivfduos contaminad,a por fezes. vômitos ê febre. criptoSpOridiose, assoaado
podem ser hospedeiros imunocomprometidos ou humanas ou de anrmais; oom o suprimento púbhco
intermediários. Cistos são branda em indivíduos ou durante recreação em de Mitwauk.ee, resultou em
resistentes, encontrados imu·nocompetentes. ambiente aquático dOênça diarrétca em cerca
em água de beber ou de contamínado, através de de 403.000 pessoas. o
recreação. ingestão acidental. monitoramento deste
protozoário deve ser rAptdo
e efetivo para permitir a~ões
Cé1Yl'aSJinfectadas por ,apropria.das.
e.. parvum" (4 a 6 µm
diãm.)
Dracunculus medinensis
Nematódeo, parasita de Água de beber contendo Doença debilitante, que Ingestão de água Ulceração da pele, A água de abastecimento ~
sangue e teç!dos hospcedeiro intermediário: causa pouca mortalidade, contendo microcrustáceos podendo ocorrer a única fonte de infecç3o
microcrustáceos mas provoca um amplo infectados. infecção bacteriana com D. medinensis. Este é o
(copépodos). espectro de sintomas secundária. Sintomas único parasita humano que
,_ . clínicos. de vômito, diarréia, pode ser erradicado pelo
urticária e falta de ar fornecimento de água de
podem advir de beber segura.
reação alérgica .
.'
Entamoeba histolytica
Protqioário parasita de O homem é o Infecções assintomáticas na Ingestão dos cistos a partir Sintomas de A transmlssao pela água
tecidos reservatório primário, maioria. Cerca de 1Oo/o de de água e alimentos disenteria amebiana pode representar
infestando o íntestino, pessoas infectadas podem contaminados. incluem diarréia, contaminação do
. .. puln1ão, cérebro e apresentar disenterias.
-~
cólicas abdominais, suprimento de água com
fígado. Cistos resistem febre baixa e fezes esgoto doméstico.
no ambtente. com sangue e muco.

-
'

-Tipo de organismo Fonte e ocorrência


(continua) >
O"
Ili
~
Doença causada Transmissã·o Sintomas Significado sanitário -
li)

"3

Vírus entérico •
Enterovirus ..
li)
::,
o
a.
Uma série de doenças indo Transmitidos gor rota oral - Febre branda a uma Há dados recentes de li>
Têm sido encontrados no de febre branda a: fecal, mas é possível a ~
série de outros muitas infecções ocorrendo e
esgoto e água tratada. miocardites, disseminação por contato 111
sintomas.
. Têm sido por abastecimento de água, 't,
São estáveis no ambiente meningoencefalites, pessoal e por via 111
relatados casos o qual satisfaz ;
e resistentes ao cloro. poliomíetites e falha · respirat<f>ria. Infecção pode crônicos de especificações de I'\
o::,

múltipla de órgãos em neo- ser adquiricla pela água polimiosites, tratamento, desinfecção e \li
e
natos. contaminada, alimentos e cardiomiopatia quantificação de 3
o
vômito. :,-
dilatada e sindrome organismos indicadores. e
da fadiga crônica. 3
Enterovírus Ili
:i
(30 nm diâm.)7 o

Escherichia coli 0157:H7 e outras cepas patogênicas


Bactéria entérica O homem é o hospedeiro ínfecções no trato urinário, Principal rota por água e Mal-estar que pode Um dos mais recentes
primário. Gatos, galinhas, bacteremia, meningites e alimentos contaminados. apresentar-se como surtos de E. coli 0157:H7
porcos e cabras podem doenças diarréicas. Transmitido também por diarréia branda, ocorreu no suprimento de
servir de reservatório. contato com animais ou infecção hemorrágica água de uma comunidade
com pessoas do cólon, diarréia de fazendeiros, no Canadá,
contaminadas. aquosa, cólicas em maio de 2000, onde 7
abdominais, náusea, pessoas morreram e 2.300
E. co/1'6
dor de cabeça, ficaram doentes.
diarréia com sangue
crônica, vômitos e
febre.
.Giardia intestinales (syn. G. lamblia)
Protozoário flagelado Hospedeiros são o Infecções podem ser Ingestão de água ou Diarréia, dor Surtos têm sido associados
parasita homem e vários animais. assintomáticas. Pode alimento contaminados. abdominal e a consumo de águas
Os cistos são resiste.ntes provocar subnutrição em Também podem ser rotas desnutrição, em superficiais apenas clara.das.
inclusive ao cloro. casos severos. de transmissão: água de casos severos. A destruição dos cistos
recreação e contato requer longo tempo de
pessoal. contato e aftas doses de
cloro.
' .
G.intestinalis9
(continua)
Tipo1de organismo f-0nte e ocorrência Doença causada Transmissão Sintomas Sfgníffcado sanitário
Leglonella spp
Bactéria heterotrôftc:a Desenvolve~se en1 águas Legionella pneumophlla é o Transmissão por ínalaç~o Febre, dor de cabeça, Pode muftipJicar
42 ·spéci~s) paradas a baixas mais importante patógeno de aeros6ís contendo as náuseas, vômftos, extracefu(armente e
temperaturas e baixa deste gên:ero, sendo bactérias. Por contato dor muscular e parasitar protozoários, ·
concentração de responsável pela febre de pessoal, não comprovado. prostração. dessa forma, ou abrigada
nutrientes. Pontiac e legionelose. Legione:lose
,,
causa em sedimentos, torna-se
pneumonia. resistente ao cloro. Surtos
de (egionelose têm sido
atribyfdos ~· água potável
'
1
L. pneumophila º contaminada, sistemas de
resfriamento e água dos
sistemas de distribuição.
Mycobacterium avium complex {MAC) - (M. avlum e M. intrace/Julare)
. Bactgrias heterotróficas Cresce em ambientes Infecções humanas e de Sua presença na água de Doenças pulmonares, Resiste aos processos de
aquáticos adequados, animais dos pulmões, beber confirma esta como osteomieUtes e desinfecção e
notavelmente em nódulos linfáticos, pele, uma rota de exposição, artrites sépticas. procedimentos usuais de
biofilmes. ossos e tratos Estas bactérias são a monitoramento, como
gastrointestinat e maior causa de contagem de bactérias
genitourinário. infecções heterotrófica.s, podem
· oportunistas em falhar (crescimento lento
pacientes em meios de cultivo).
Macrófagos imunocomprometidos
preenchidos com MAC 11 e segunda causa
mais comum de
mortes em pacientes
HIV seropositivos.
Pseudomonas aeruginosa
Bactéria heterotrófica Ocorre em·águas naturais Causa doenças brandas em É um patógeno Pneumonias e Sua presença na água
com ficoc;:ianina e prolifera no sistema de indivíduos saudáveis, oportunista. Infecção infecções diversas. potável indica séria
distribuição e em ocasionando infecções resulta de rachaduras na deterioração na qualidade
sistemas de água quente. secund~rias em ferlmentos pele, feridas ou outros bacteriológica, é
É encônttadà nas fezes, e cirurgias. Causa fibrose canais de infecções. Sua f reqüe_ntemente associada
no solo, na água e no cfstica em pacientes presença na água pode com queixc;1s de sabor e
esgoto. imunocomprometidos. contaminar alimentos e odor. Está ligada a baixas
produtos farmacêuticos, taxas de fluxo no sistema de
deteriorando-os e
-r'l
distribuição e uma elevação GI.
podendo causar
contaminações
na temperatura. --
"'O
e
o
..
secundárias pelo seu ~

• consumo e uso.
.•
(continu_a)
Tipo de organismo Fonte e ocorrência Doença causada.
'
lransmissão Sintomas Significado sanitário
-3
Rotavirus
-
\Ili
:=;
Vírus entérico Agua e alimentos são Gastroenterite viral aguda. A transmissão pode ser via Febre~"6mitos. A presenç:t de rotawus - o,
e.
fontes potenciai.s. rota fecal-oral., gotas e ârarréia aq uosa água abastecida ou a o
s,.
e
aerosóis via rota a õnica. cólicas ocorrência de epidemias eo
respiratória ou por contato abdominais. originadas de água de ""O

13 pessoal e por superfícies consumo contaminada tem


o
...
:!:J>
Rotavfrus (40nm diâm.) contaminadas. sido demonstrado. o"
....:,.
t:.
Salmonella typhí, S. paratyphi (A e B) 3

Bactéria entérica As SaJmonellas são Salmoneloses. S. typhi e S. paratyphi A A doença pode Surtos têm sido registrados ':r'
e:
organismos resistentes são transmitidos de evoluir para; para 5. typhi e não para 3
CJ
sobrevivendo em pessoa a pessoa por água gastroenterite (com outros sorotipos. Os surtos
::,
o
ambientes úmidos. e alimentos contaminados. diarréia branda a relacionados ao
Homens e animais são S. paratyphi B pode ser fulminante, náuseas abastecimento de água têm
hospedeiros. transmítido através de leite e vômitos); sido associados com o
..... e laticínios contaminados. bacterenemia ou consumo de água
,c:n septicemia (picos de subterrânea e superficia\
c::n febre com culturas contaminadas e
de sangue positlvas); lnsuflc\entemente
febre entérlca (febre desinfetadas.
branda e dlarréla); Olt
• 'tj!phy14
imp\es portador, m
p cm
\l,f p \f\ '
Shig · lia spp
~.;} pri111 t up. ri \ ~ tr n n"ttttd .., p 1 1 t& ~ tf\'-"''""'"'"-' •V\JI
,,
pare em r un,,..,.. ~

'Nll"!J>.l- r ·l, tran f rid - 7 ll, ~. . o tl\1Mn~~ ~


t1ospedeiro natural para pe- oa a pe oa pela .l l 1 ni m l,n,.. ~icutd tcçilO
Shigella, permanecendo comida co,,taminada., J p den1 .: tJ
r111.."' ...
localizada em células Podem ser dispersas p r doen a. D re têm nid · ,·t
intestinais. movimentos do ar; dedos. abdomir,ais, febre e presen a de Shigellâ sp .
alimentos e fezes. diarréia aquosa em suprimentos de água
15 Epidemias podem ocorrer ocorrem no início da indica contaminaçao
Shigella sp. recente por fezes,
em comunidades muito doença. Os sintomas
populosas em um espaço podem ser brandos
muito restrito. ou severos, de
acordo com a
espécie. Os casos
. severos sao
mais -
causados p o r 5 .
dysenteriae tipo 1.
.. . -

'

(continua)
Tipo de organismo Fonte e ocorrência Doen~a causada Tr,ansmissão Sintomas Significado sani~rio
Vibrio cholerae

Bactéria Espécies patogênicas são Cólera, sorotipos: V. Traf'!srnitida por rota feGaf - Mttitas infecçã-es são Alguns grupos sorotógicos
associacdas a molusaes e cholerae O1, tem 2 oral, as pessogs adquirem assintomáti(as {60°/ó podem ser habitantes
criustáceos em lag0s, rios biagrupas- o clássico e EI a ihfec§ão po11 íngesfão de ao grupo clássico e normais da água. A,
'
e no mar de regiões tor {de severidade variada); água e alimentos 75% do Ei tar). presença dos patogênicos

tropiGais e temperadas, V. cholerae o 139, contaminados. Sintomas variam qe V. cholerae 01 e 01.3 9 nos
deeresEendo em causando gastroenterites brandos a severos suprimentos de água pode
tet;nP.eraturas abaixo de auto-limitantes, infecções apresentando ter sérias implicações para a
20°(. danosas e bacteremia. aumento na saúde pública e a economia
peristalse seguido das comunidades afetadas.
\/:' ch0/erae 16 por relaxamento, V. cholerae é extremamente
fezes muito aquosas sensível à desinfecção.
e com muco. Mortes

' . resultam de casos
não tratados, numa

freqüência de 60%,
por severa
desidratação e perda
de eletrótitos.
Vírus da hepatite A
Vírus Água e alimentos Hepatite A Ingestão de água e Período de incubação A água contaminada por
contaminados por fezes alimentos contaminados e de 10 a 50 dias. É fezes tem sido implicada com .o
e
contato sexual. uma doença branda muitos surtos no mundo. O -fr
QJ,

caracterizada por vírus da hepatite A é e..


' . .
ro
1n1c1ar rapidamente inativado por ~
QI
,Ili,
repentinamente com radiação UV e por '°c
febre, urina escura, concentrações de cloro QJ

~
mal~estar, náuseas, residual de 2,0 - 2,5 mg L-1• iil
• n
Vfrus da hegatite A (27 - anorexia e o
:::,

~32nrn €JiâJYl.~
11 desconforto V,
e
3
abdominal seguido o
::r
de icterícia. e
3Q}
::>
o
-
ti
QI

'
'.-e-...
"C

o
• J:.


·,•

Tipo de OJjlanisrno Fónte,e omrrênâa ~ca•ISãda

Algumas cepas podem Hepatite tipo E: hepatite Surtos são usuafmente .Incubação: t a 8 otãttàs epidemias..
ser zoonótfcas. Humanos, virai aguda (assemelha-se à assooados com sistemas semanas. Sintomas: associadas com o
primatas, porcos e ratos do tipo A). 'de suprtrn.ento de água dor abdomínaJ, abasteómento de água
têm sido relacionados para abastecimento anorexia, urina contaminada, têm ocorrido
como suscetíveis a contaminados por fezes. escura, febre, em várias partes do mundo#
infecções. Transmissão por contato hepatomegalia,
pessoal parece ter mínima icterícia, maJ-estar,
chance de ocorrer. náuseas e vômitos.
Onde é endêmica, é
Vfrus da hepatite E causa Importante de
(di!m, :::: 32 a 34nm) \ O morte por: falha do
fígado.
especiatmente em
rr\ull1eres grávldas.
Yets1nia enteroa,Jitica
Bactéria ent~tica nin,ai.s domé ti e ertas cep s de ~
se gens dem ~r en .
._L,11, ' .em
reseNa · de ti au_~r fSinose.
pa aoh ~ -
_.,...
à ~- do porco).
. enterorolitica tem 'o pessoa a oessoa e ~
t~

isolada de amostras a a pessoa. , as


ambientais. i ... ,___ são
especialme te da ãg a. . .•.:,...
~-mn= '"" à
t!iãte .......
ômitos~
. ,.. -
. gms ~ âg ua·;;ôa iossr

e 1nrecçoes nos o evilc:da · .; ~ca ~b
podem ocorrer. doração p:i-rlronizada ,e,~
águas com baixa rurb;dez.
1) httpi lweb~uct.ac.,za/depts/mmi/st.annard/adeno.html 11) http://medlib.med.utah.edwWebPat~UTORIAUAJDS/AtOS030.htmJ
• 2} 'h ftp1~.cdfound.to.ít!HTMUaca1 .htm 12) http://www.masdebuceo.com/artícuJo.dm?ídArticufo=l 441
3} httg:llwww.rtcbí.nlm.níh.gov/lCTVdb/lC1VdB/12000000.htm 13} http://web,uct.ac.za/depts/mmí/stannard/rota~htmJ
Ar} tttfp;//ww:w.epa~ovfsafewater/consumer/ciy,pto.pdf 14) http://www.healthcentraLcom/mhdimg/img 1048,cfm
5) http://mattín.pariasítology.mtglll.ca/JIMSPAÇ)Eldracunc.htm 15) http://www.dennjskunkel.com/Stocklmages/97304C,Jpg
6) t\t(p://átl~sior.kr/atlas/lnclude/víewlmg.htrnl 7uíd=633 16) http://www.learner.org/channeflcourseslbiologylun;tslínfect/images.htmJ
4:lrhtt~:l/web,14ct.ac:"Ul/de~mml/stannard/piçorna,html . 17) http ://www.who. lnVemc-documents/hepatltls/docslwhocdscsredc2007.pdfI
VlrusPDF[4J.PDF
8) tonte; http:1/vJww.wadsworth ~orgldataoanWecolí.htm
9) tríttp~f/www.dpd.pdc)gov/dpdx/HTML/lmageLlbrary/Glardiasís_ll,asp?body=G~U 18) http;/lwww.cdc.govlncldodldíseases!hepatitis/siídesetlhep_elslfde_ 1.htm
G"\ard,aslSjbQdy""""G)arQ\as\s_\l 1 ,htm 19) http:llbt.swmed.edu!BloThreatinfo!CatBl20236A.jpg
'\ O) ~t-t-~.ffgenoro~'a .~pm~<:olumbia .edul-tegloníleg_l nfo.html
Qualidade da água para consumo humano I Capftulo 4

A contaminação dos corpos d'água por excretas de animais e humanos introduz o risco
de ínfecção para aqueles que usam as águas para beber, preparar alimentos, hígiene pessoal
e mesmo recreação. Além da ingestão de água contaminada, alguns organismos, capazes de
colonizar sistemas de distribuição, podem ser transmitidos via inalação de aerosóis, por exem-
plo, bactérias do gênero Legionel/a e os protozoários Na·egferia fowleri e Acanthamoeba spp,
agentes, respectivamente, da encefafite rneningocócica amebiana e da meningite amebiana.
Com relação à transmissão do patógeno, o número de casos sintomáticos não é o único
problema. É possível um indivíduo ser infeccioso, mas não-sintomático. Estes indivíduos
assintomáticos são normalmente móveis, devido à falta de morbidez, e têm um alto poten-
cial para djsseminar amplamente um patógeno pela comunidade (Eisenberg et ai., 2001 ).
Adose infectante para cada patógeno varia relativamente ao tipo de organismo, ao ende-
mismo da doença que o mesmo ocasiona (varia de local a local) e à suscetibHídade do indivíduo
exposto, mas uma comparação relativa pode ser obtida a partir da Tabela 4.4. Deve-se ressaltar
que a população mais suscetível a contrair doenças de veiculação hídrica são crianças, pessoas
que estão debilitadas ou vivendo sob condições de falta de saneamento, portadores de síndro-
me da imunodeficiência adquirida, os doentes e as pessoas de idade avançada. Para estas
pessoas as doses infectivas são significantemente mais baixas do que para a população adulta
em geral (Eisenberg et ai., 2001 ). Conclui-se, portanto, que para a promoção da saúde pública
é fundamental considerar: a) a associação das doenças com uma fonte ambiental em particular,
a qual vai ditar o tipo de intervenção que poderá ser adotada e b) a importância de fatores
· sociais, como reformas político-sociais, para uma intervenção maior na redução de doenças e
promoção da saúde. Deste modo, fatores biológicos (como o ciclo de transmissão de uma
doença) tanto quanto fatores sociais (como a pobreza) determinam o impacto de um patóge-
no, em particular, sobre a saúde pública de uma dada região ou país (Eisenberg et ai./ 2001 ).

4.3.1.2 Patógenos emergentes de veiculação hídrica

Segundo a OMS, são considerados patógenos emergentes aqueles que têm apare-
(
cido em uma população humana pela primeira vez, ou haviam ocorrido previamente, mas
estão aumentando em incidência ou expandindo em áreas onde eles não tinham sido
1 previamente registrados usualmente em um período maior que duas décadas (WHO, 1997
1

apud WHO, 2003a). Investigando a história de muitas doenças observa-se que a evolução
de ambos, humanos e patógenos, é interligada: a migração humana tem disseminado
doenças infecciosas ou tem colocado pessoas em contato com novos patógenos; mudan-
( ças ambientais globais têm1expandido a ampfitude de patógenes conhecidos @u têm criado
condições para que microrganismos indígenas atuem como patógenos humanos; técnicas
modernas na pecuária, tanto quanto alguns dos métodos mais tradicionais de criação de
f animais em fazenda, criam um rísco a partir de novas doenças zoonóticas (WHO, 2003a).
Nos últimos anos tem sido dada atenção especial à presença dos protozoários Giardia
e Cryptosporjdíum na água destinada ao consumo humano. A giardíase e a criptosporidiose

169
Abastcclmonto de água para consumo humano

05
são zoonoses que têm como principais fontes de ;ontamínação esgotos sanitários e as
atividades agropecuárias. Sua re~oção nas est~ç~es de tratam~nto de água~ mais diffcil
que a maioria dos demais organismos patogen1cos e as técnicas de pesquisa para
identificação
·· em amostras de água ainda não
. estão consolidadas.
. . A elevada contamin açaos~a
de mananciais é, portanto, um fator de nsco potenetal da presença de protozoários
água tratada. Assim sendo, do ponto de vi~a de co~tr~I~ e da vigíl~ncia da qualidade::
água, e sob a perspectiva da avaliação de_ns~~s, ~ drsetphna do uso do solo e a proteção
dos mananciais assumem importância tão sign1f1cat1va quanto o correto controle operacional
das estações de tratamento de água.
Na Tabela 4.6 apresentam-se os eventos que podem direcionar a emergência ou
reemergência de patógenos na água, destacando-se novos ambientes, novas tecnologias
mudanças no comportamento humano e vulnerabilidade e avanços científicos. '

Tabela 4.6 - Exemplos de potenciais direcionadores dos patógenos emergentes e


reemergentes na água •
Mudanças no comportamento humano
Novos ambientes
e vulnerabilidade
= •

• Circulação humana e a
• Mudanças de clima e
acessibilidade e rapidez dos transportes;
desfloresta mentas·,
• Mudanças demográfícas;
• Projetos relacionados aos recursos
• • Aumento das populações de alto
hídricos (barragens e irrigação);
• Plantas de condicionamento de ar·, risco;
• Mudanças em práticas industriais e de • Liberações intencionais ou
agricultura (p. ex., criação intensiva de acidentais de patógenos na água;
animais); • Número crescente de emergências
• Sistemas de água encanada e seus humanitárias.
projetos e operação inadequados;
• Número crescente de emergências
humanitárias.
Novas tecnologias Avanços científicos
• . Projetos relacionados aos recursos • ~t.iliz.ação excessiva e inapropriada
hídricos (barragens e irrigação); de ant1b16t1cos, drogas parasiticidas e
• Plantas de condicionamento de ar· ínsetici das;
• ~udanças em práticas industriais ~ • Mudanças em práticas industriais e
na agricultura; · na agricultura;
• Efluentes lançados na água e • Avanços em métodos de análise e
tratamentos alternativos de efluentes. detecção;
•. . ~tílização inapropriada de
rnset1c1das de nova geração. -
Fonte: WHO (2003a)

- Novos ambientes - A intera ão O .


taçoes por um dos ,, parce· ,, ç entre hospedeiro e o patógeno é complexa. Adap·
.
estimular o outro a mod'f· ,ros ' para explora ·
r novos ambientes, devem freqüentemen e t
t tear suas caract . , t'1cas,. assim
- er,s . novas cepas de patógenos devem


170
Qualidade da tigua para consumo humano I Capltulo 4

desenvolver-se. Com o tempo, estas cepas podem emergir como novas espécies com sinto-
mas de doença característicos. Há um grande conjunto de estudos de caso demonstrando
como barragens e esquemas de irrigação têm levado à propagação da malária, esquistos-
somfase, fifaríase e encefafite japonesa. Além disso, mudanças no clima estão ampliando as
espécies de mosquito responsáveis pela transmissão do parasita da malária e o vírus da
dengue. Bactérias do gênero Legíonella fornecem bom exemplo da significância de novos
ambientes para patógenos emergentes. Em 1976, um grande surto de pneumonia foi
registrado entre delegados na Convenção da Legião Americana, na Fiíadélfia, EUA. O agente
etiológjco, legionelfa pneumophila, foi identificado mais tarde, após uma exaustiva inves-
tigação microbiológica. A doença tornou-se conhecida como "Doença dos Legionários" . As
bactérias do gênero Legionella são agora conhecidas por ser parte normal da microflora
aquática. O esquema de sistemas domésticos de água quente e fria, clubes especializados
em lazer e plantas de condicionamento de ar resfriado criaram condições adequadas ao
crescimento da bactéria Legionella spp. Muitos outros sistemas produzem finos aerosóis
em algum estágio de seu uso, fornecendo um mecanismo de dispersão que provou ser
efetiva via de infecção. Legionella spp é um exemplo de bactéria do ambiente natural que
expforou um nicho dentro de sistemas produzidos pelo homem e, pela chance, emergiu
como• um patógeno significante (WHO, 2003a).
Novas tecnologias - Freqüentemente, novas tecnologias têm um impacto neutro
sobre a ecologia de patógenos, mas algumas introduzem acidentalmente novas rotas de
exposição entre homens e patógenos. rsso é particularmente evidente quando se trata de

tecn@logias que são usadas no tratamento, armazenagem e distribuição da água. A cada
momento um risco é identificado, sistemas são desenvo,lvídos para eliminar ou reduzir o
risco que podem, em resposta, incrementar ou diminuir novos riscos. Neste contexto de
novas tecnologias, os sistemas de distribuição da água mostram como uma solução de
engenharia para um problema pode criar novas oportunidades para o contato entre ho-
mens e patégenos. A despeito do tipo de tratamento, do manancial de abastecimento e da
utilização do cloro como desjnfetante, a contaminação do sistema de distribuição continua
a ocorrer, sem necessariamente causar grandes surtos facilmente reconhecíveis, através de
fendas ou de outras partes vulneráveis do sistema, e durante serviços de manutenção. Uma
vez no sistema, bactérias, fungos e protozoários podem aderir a superfícies internas dos
tubos e alguns, produzir bíofilmes. Alguns bíofílmes têm mostrado conter uma ou mais
espécies de patógenos emergentes, incJuíndo o complexo Mycobaterium avium (Myco-
bacterjum avium cornplex - MAC, que consiste em uma "associação" de duas espécies: M.
avium e M. intracellufare). O complexo Mycobaterium avium tem sido uma das principais
causas de morte entre populações de HIV soropositivo. Recentemente, a incidência de duas
das três doenças associadas com MAC (MAC pulmonar e Jinfandenites) parece estar incre-
mentando (WHO, 2003a).
Avanços científicos na microbiologia aquática - A história da descoberta de
patógenos descreve um cjcfo de eventos que se inicia com uma doença de etiologia

171
.......,nh.. 1 , v lvimento de técnicas analíticas, e identificação do agen . .íológico.

.n t m r n . p lo incremento de nossa capac1 a . e para concentrar detectar


i r r n·, mostras de água, podemos reconhecer novos patógeno ou a O ••
. 1 . d h 'd - CI
r I r rg i m . nh cidos com doenças de et10 091a escon .ec1 a. Entfí tanto, a
. ,. . . . p it d . v n O n ecnologia de diagnóstico de doenças relacionadas com a água
rm n tiolagia desconhecida uma significante percentagem do total de surto~
d · do n . t tr ticas publicadas nos EUA mostram que entre 1991 e 2000 os agentes
iológi r d 40º/o dos surtos associados ao consumo da água não foram
id ntifi c1d . r conhecimento de patógenos emergentes e reemergentes não depen-
d xclu iv m nt do desenvolvimento de novos métodos analíticos. A reavaliação de
mé o os no cont xto de fornecer conhecimento sobre os riscos à saúde, a partir de
doenç rei cionadas com a água, conduz a uma evolução na interpretação dos resulta-
dos, tal como para a contagem de bactérias heterotróficas e seu significado sanítário
(WHO, 2003a).
Mudanças no comportamento humano e vulnerabilidade - o cólera é um bom
exemplo de um patógeno relacionado com a água que é facilmente t ransportado através
11
de longas distancias pela migração humana. Em 1849, John Snow ,escreveu: Epidemias de
cólera seguem as mais importantes rotas de comércio. A doença sempre aparece primeira-
mente nos portos, e daí estende-se a ilhas ou continentes.'' Esta observação é pertinente
mesmo hoje. Tem sido sugerido que o V. cho/erae pode ter sido reintroduzido na América
do Sul, em 1991, após um século de sua ausência, a partir de água de lastro de navios
cargueiros, Em suas considerações da história ambiental do século 20, John McNeill (2000
apudWHO, 2003a) argumenta que migrações humanas freqüentemente significaram, mais
que crescimento populacional, um djrecionador de mudanças ambientais. Ele afirma que
as migrações mais importantes, da perspectiva ambiental, têm ocorrido nos limite·s entre
ambientes naturais: '' .. de terras úmidas a terras secas repetidamente provoca desertif·icação.
e

Migrações de terras planas para terras em declive freqüenteme·nte levam à rápida


erosão do solo. Migração dentro de zonas de florestas trouxe desflorestamento..'' Deforma
semelhante, a migração de pessoas entre limites naturais tem sido responsável pela emer-
gência de várías doenças infecciosas. Mais notáveis são doenças que têm emergido com
h.omens que têm invadido regiões de florestas, trazendo pessoas a um contato muito pró~
ximo com espécies de animais portadores de patógenos que podem ser transmitidos (WHO,
2003a).

4.3.1.3 Organismos patogênicos em sistemas de distribuição de água

Para muitas doenças infecciosas, os patógenos reproduzem-se dentro do hospede!ro


humano,.0 qual age então como um amplificador. Para um patógeno persistir, ele preasa
reproduzir em núm f. , . . · , . . · .· , ., . de
ro su 1c1ente dentro do hospedeiro, a fim de perm1t1r a 1nfecçao ·

172
Qualld .d da IJ ua p ra consumo humano I Capítulo 4

1
outro hospedeiro. A jornada de um patóg no, d .hosped -fro a hospedeiro, define a via de
transmissão, podendo inctuir hosped iros n -humano , As vias de transmissão incremen-
'
tam em complexidade quando há hosped Jros nlmaí que um patógeno pode infectar.
Como exemplos, citam..se o g nero Salmonel/a {n o a S. typh1), Esch.erichia coli e as espé-
cies bovinas do gênero Cryptosporidíum (Eisenberg et a/,1 2001 ).
A sobrevivência de patógenos microbiológicos, uma vez descarregados num corpo
d'água, é altamente variável, dependendo das características do corpo receptor. É relatado
o registro do bacilo Salmone/Ja spp a uma distancia além de 85 km da fonte pontual, o que
indica sua habilidade para sobreviver, sob condições adequadas, por vários dias. Uma vez
em um corpo d' água, os microrganismos freqüentemente tornam-se adsorvidos na areia,
argila e partículas de sedimentos. A sedimentação das partículas resulta na acumulação
dos organismos no rio ou sedimentos do reservatório. Alguma remoção de microrganismos
da coluna d'água também ocorre como resultado da predação por microzooplancton
(Chapman, 1996)~
Por outro lado, várias bactérias, usualmente de vida livre, porém reconhecidamente
r
patogênicas oportunistas, tais como Pseudomonas aeruginosa, Flavobacterium spp, Actí-
nobacter spp, Klebsíella spp, Serratia spp, Aeromonas spp, também apresentam capaci-
dade de colonizar sistemas de distrjbuição de água, constituindo risco à saúde de grupos
populacionais vulneráveis tais como pacientes hospitalizados, idosos, recém-nascidos ou
imunocomprometidos. Assim, deve-se cuidar para que a água seja biologicamente estável,
ou seja, que não promova o crescimento de microrganismos durante sua distribuição. Limi-
tar a atividade microbiológica nos sistemas de distribuição evita a deterioração da quali.-
dade da água, queixas por parte dos consumidores, doenças e problemas de engenharia. A
atividade microbiofógica nos sistemas de distribuição depende da introdução de fontes de
energia, originadas da água tratada, de materiais em contato com a mesma ou de sedi-
mentos acumulados. As seguintes propostas podem ser usadas para limitar a atividade
microbjoJógica (Lehto[a et ai., 2001 ):
• produção e distrjbuição de água para consumo biologicamente e.s-
tável em um sistema, com materiais não-reativos e biologicamente
estáveis;
• manutenção de um residual de desinfeta nte na ent rada do sistema
de distribuição;
• otimização do sistema de distribuição, para prevenir a estagnação e
acumulação de sedimentos,

Na Tabela 4_ 7 são listados alguns fatores que promovem o crescimento bacteriano na


água de distribuição.

173
Abasteci ment o de âgua pa ra. con sumo hu m an o

ov
Tabela 4.7 ~ Fatores que prom em O crescimento bacteriano na água de distr·b .
, ' U1çã 0
Comentário
Fator ~
b ânico especialmente o carbono orgânico assi
Carbono O ~a~ onl O orgonente controlador do crescim milável (COA) ~
orgânico pr1nc1pa comp ento microbiológico nos sist' é o
assimilável de distribuição . O COA é uma fontd . de c~r b~n · emas
o e ene;.g.1~ ~ue, ~elo seu ba ixo
peso molecular, está pront~ment: ispon ve
palrad a .ª ivt! a e microbiana . Os
oxidantes utilizados na des1nfecçao, se por u!1
1 a o i~a ivam os organismos
t ê · s por outro atuam sobre a matéria or
gânica natural
P1nªcrog ntctºan'do a concentração de COA na água trat
emen ad a. A co a
1

, · A · gu lação
química remove eficienteme_nte a mater1a o~ga fó f
n1ca e o ~ oro (outro
. rtante nutriente requerido para o crescimento
1m po . ba ct er ia no) da ág ua . Se a
d )
água é pré-clorada (ou pré-ozoniza . a , ~n t es d
. a coagu 1a.çao -
qu rm.
ica, 0
incremento de COA e do fósforo m1crob1olog
1cament_e dispon ível pode ser
muitas vezes maior que quando _a águA a ~ratada é desinfetada . Por outro lado,
melhorias na remoção de mat~r,a organ1ca no
proc~sso d : tratamento da água
podem reduzir muito o COA liberado durante
a des1nfecçao.
Materiais Muitos relatos são hoje disponíveis sobre a pr
omoção do crescimento
bacteriano induzida pelos materiais em contat
o com a água tratada . Estes
materiais incluem pinturas de revestimento, bo
rrachas e materiais das
tubulações. Certos produtos químicos utilizad~
s. no tratamento da água como
coagulantes ou auxiliares de coagulação e lubr
1f1cantes também podem
aumentar o crescimento microbiano. Numeros
os outros materiais em contato
com a água tratada podem aumentar o cresci
mento microbiano, como, por
exemplo, o de espécies dos gêneros Legionel/a
e Mycobacterium .
Sedimentos e o acúmulo de sedimentos nos sistemas de distribuição pode serv
produtos de de alimento para bactérias. Detritos originados ir como fonte
do destacamento do biofilme
corrosão podem contribuir para o acúmulo de sedimen
to, mas partículas presentes na
água tratada (células de algas, por exemplo) e
produtos de corrosão também
têm sido detectados como formadores de sedi
mentos. Nas tubulações de
ferro, é difícil diferenciar entre sedimentos e pr
odutos de corrosão . Os
sedimentos e os produtos de corrosão proteg
em os microrganismos da ação
desinfetante do cloro residual .
Temperatura e A temperatura da água, a velocidade do fluxo
condições (suas variações) e o tempo de
residência têm um impacto sobre a atividade
hidráulicas microbiológica. Atividades
biológicas incrementam em cerca de 100°/o qu
ando a temperatura aumenta
em 1OºC . A temperatura de 1SºC tem sido re
gistrada como crítica para o
crescimento de coliformes. As variações na ve
locidade do fluxo afetam o
suprimento de substratos e desinfetante, o de
sprendimento do biofilme e a
acumulação de sedimentos. Um tempo de re
sidência grande, em suprimentos
de á~ua cloradas, resulta no decaimento das
concentrações de cloro livre .
Loca!s c?m, e~evado tempo de residência, com
o as partes periféricas do sistema
de d1str1bu1çao, e os reservatórios são mais vu
lneráveis ao crescimento
bacteriano em decorrência do decréscimo do
desinfetante residual do
depósito de sedimentos e do incremento da te
mperatura da água.'
Fonte: baseado em LEHTOLA et ai . (2001) e
em VAN DER KOOJI (2003)

174
Qualidade da água para consumo humano f Capltulo 4

4-3.1 . 4 Organismos indicadores de contaminação

A identificação e a quantificação de vfrus, bactérias, protozoários e hei mintos apre-


senta limitações técnico-analíticas e financeiras, motivos pelos quais, usualmente, a
verificação da qualidade microbiológica da água destinada ao consumo humano é feita
indiretamente, por meio de organismos indicadores, tal como a bactéria Escheríchia colí ou
bactérfas coliformes termotoJerantes. De acordo com a Portaria nº 518/2004, as amos-
tras com resultados positivos para coliformes totais devem ser analisadas para E. colí e,
ou, cotiformes termotolerantes, devendo, neste caso, ser efetuada a verificação e confir-
mação dos resultados positivos. Cabe reforçar o fato de que, em qualquer situação, o
indicador mais preciso de contaminação é a E,. coli, sendo que sua detecção deve ser
preferencialmente adotada. Contudo, embora a E. coli e os coliformes termotolerantes
sejam indicadores úteis, eles têm limitações, por exemplo, quando se observa que vírus,
cistos e oocistos de protozoários e ovos de helmintos são mais resistentes à desinfecção
1
do que as bactérias, ou seja, a ausência de E. coli e de coliformes termotolerantes não
indica, necessariamente, que a amostra analisada é livre de organismos patogênicos. Em
geral, pode-se· dizer que, no tratamento da água, bactérias e vírus são inativados no
processo de desinfecção, enquanto protozoários e helmintos são, preponderantemente,
removidos por meio da filtração.
Na Tabela 4.8 constam os pa.râmetros adicionais, previstos na Portaria nº 5 ·1s/2004,
que devem ser determinados para auxiliar na avaliação da qualidade microbiológica da
t água.
1 Éimportante destacar que, reconhecidamente, não existem organismos que indiquem
a presença/ausência da ampla variedade de patógenos possíveis de serem encontrados na
f
água bruta ou na água tratada . Adicionalmente, sabe-se que a qualidade microbiológica
da água pode sofrer alterações bruscas e não detectadas em tempo real, já que a amostragem
para o monitoramento da qualidade da água baseia-se em princípio estatlstico/probabi-
lístico, incorporando inevitavelmente uma margem de erro/incerteza, e também por existir
um lapso de tempo entre a coleta da amostra e a obtenção do resul·tado da análise, ou seja,
o resultado obtido do laboratório pode indicar que a amostra coletada há algumas horas
pode ou não estar contaminada, mas não se sabe o mesmo sobre a água que está sendo
1
distribufda neste momento, em tempo real. Deste modo, deve-se frisar que o controle da
qualidade da água, baseado exclusivamente em análises laboratoriaisr ainda que freqüen-
tes, não constitui .garantia absoluta de potabilidade. ''Tão importante quanto o controle
laboratorial são:
'
• a adoção de boas práticas em todas as partes constituintes e etapas
do abastecimento de água;
• a vigilância epidemiológica e a associação entre agravos à saúde e
' situações de vulnerabilidade no abastecimento de água'' (Bastos et ai.,
2003).

175
AJ1&$ted mento de água para c;oosumo humano

· . · Pa~ã~e~ro - . . . . _ ~ignifi~ad~ ..
• p ; J 1 ,. 1 d L
- e u, • J I e

· B~cté~J~s heterotróficas A contagem de bacté~ías heterot~ófi~as_aluda na_?valiação da eficiência ...


do tratamento e, no sistema de d1str1bu1çao, auxilia na verificação da
integridade do sistema e/ou n_a existência ~e pontos de estagnação.
Quando a presença de bactérras heterotróf1cas na amostra é muito
grande, o crescimento das c~fiformes é i~ibido, dando resultados falso-
negativos ?ª
presenç~ de cohformes. A~s,m, _se a contagem das bactérias
heterotróf1cas for reahzada, poderá dar 1ndfc1os do falso-negativo.
Turbidez Na água filtrada,.ª turbidez a~sume a fu.nção de indi~ador ~anitário e não
meramente estético. A remoçao de turb1dez, por meio da filtração,
indica a remoção de partículas em suspensão, incluindo enterovírus,
cistos de Giardia spp e oocistos de Cryptosporidium sp. A turbidez da
água pré-desinfecção, precedida ou não de filtração, é também um
parametro de controle da eficiência da desinfecção, no entendimento de
que partículas em suspensão podem proteger os microrganismos da
ação do desinfetante. Deste modo, o padrão de turbidez da água pré-
desinfecção ou pós-filtração é um componente do padrão
microbiológico de potabilidade da água, pois valores baixos de turbidez
ao mesmo tempo indicam eficiência da filtração na remoção de
microrganismos e garantia de eficiência da desinfecção.
CJoro residual Um dos mais importantes atributos de um desinfetante é sua capacidade
de manter residuais minimamente estáveis após suas reações com a
água. Na saída do tanque de contato da estação de tratamento de água,
a medida do cforo residual cumpre o papel de indicador da eficiência da
desinfecção, devendo ser observado um residual mínimo de cloro livre,
pois ô cloro livre apresenta potencial desinfetante superior ao cloro
combinado. No sistema de distribuição, a manutenção de residuais de
cloro tem por objetivo prevenir a contaminação da água pós-tratamento,
além de servir de indicador da segurança da água distribuída, pois a
redução acentuada do cloro residual em relação à medida na saída do
tanque de contato pode indicar a existência de contaminação ao longo
do sistema de distribuição de água. Assim, o cloro residual pode ser
utilizado como um indicador de potabilidade microbiológica.
fonte: BASTOS et ai. (2003)

4.3.2 Natureza química

As características qufmicas da água -são de grande importância do ponto de vista


sanitário, pois determinãdas substâncias podem inviabilizar o uso de certas tecnologjas
de tratamento ou exigir tratamentos específicos para sua remoção. Dependendo da for-
ma em que se encontra o contaminante ele poderá ou não ser removido durante o
tratamento. Por exemplo, o cromo com valência seis é mais difícil de ser removido que O
cromo com valência três. Também a toxicidade é variável, como no caso de complexos
orgân1cos de mercúrio, que são cerca de cem vezes mais perigosos que o mercúrio mine..
ral. Afora estes aspectos, a caracterização química da água, por meio da determinação

176
j _ _ _ _ _ :a_a_s
..... _ g _____
_ _ _a__ _ _ _ _S_ _ _ _ _ _J_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ l_S_ _ _
S_S_ _E
___ E _ _ m,
&_ _ _ _ _ _____

~
~
-
Qualidade da água para const1mo humana I Capitulo 4

de cloretos., oxigênio dissolvido, nitritos e nitratos, dentre outros, permite avaliar o grau
de poluição de uma fonte de água.
O risco à saúde devido às substâncias qufmicas tóxicas na água para consumo huma-
no drfere daqueles causados por contaminantes microbjológicos. Os problemas associados
aos constituintes qufmicos originam ...se primariamente de sua habilidade em causar danos
a saúd.e, depois de prolongados perfodos de exposição. Há poucos contaminantes quími-
cos da água que· podem levar a problemas na saúde após uma única exposição, exceto pela
contaminação acidental massiva de um suprimento (como o derrame de um produto quí-
mico ou a adição de algicida em reservatórios com elevadas densidades de cianobactérías
produtoras de cianotoxinas). Entretanto, a água geralmente torna-se intragável devido ao
gosto, odor e aparência inaceitáveis, mas isso pode não ocorrer.
Por não serem normalmente associados a efeitos agudos, os contaminantes químicos
• são colocados em uma categoria de menor prioridade do que contaminantes microbiológicos,
dos quais os efeitos são usualmente agudos e muito difundidos, ou seja, os padrões quími-
cos para a água de consumo humano são de consideração secundária em um suprimento
' sujeito a severa contaminação microbiológica (WHO, 2003d). Assim, mesmo sabendo-se
que o uso de determinados desinfetantes químicos no tratamento da água pode resultar
na formação de subprodutos potencialmente nocivos à saúde humana, os riscos decorrentes
da formação destes subprodutos são normalmente pequenos, em comparação com
aqueles que podem advir da desinfecção inadequada, de modo que é importante que a
desinfecção não seja comprometida na tentativa de controlar estes subprodutos.
A água consumida normalmente não é a única fonte de exposição às substâncias
química.s, cujos valores máximos aceitáveis são definidos no padrão de potabilidade. Em
muitos casos, a ingestã.o de um contaminante químico a partir da água é pequena, se
comparada com a de outras fontes como a alimentação ou o ar. Os valores máximos acei-
' táveis citados nos padrões de potabilidade., utilizando-se a abordagem da ingestão diária
tolerável (IDT), incluem as exposições provenientes de todas as fontes, considerando
proporcionalmente o valor da IDT que corresponde ao consumo de água, em percentagem
(WHO, 2003d). Apresentam-se a seguir, em ordem alfabética, parâmetros importantes
utilizados para avaliar a qualidade da água destinada ao consumo humano acompanhado
do seu significado sanitário e/ou importância para o processo de tratamento da água.

Agressividade Natural - A tendência da água em corroer metais pode


ser avaliada pela presença de ácidos minerais (casos raros) ou pela
e·xistência, em solução, de oxigênio, gás carbônico e gás sulfídrico. De
modo geral, o oxigênio é fator de corrosão dos produtos ferrosos, o
gás sulfídrico, dos não-ferrosos e o gás carbônico, dos materiais à base
de cimento. Sob atmosfera redutora, no fundo de lagos, barragens e
rios muito poluídos, há formação daqueles gases com caráter ácido

177
• Abastec.imento de água para consumo humano

..e
J (CO H s mercaptanas, ... ) e de ácidos orgânicos voláteis, gerados
r . 2 'ondiç,ões anaeróbias, que potencializam a agressividade de uma
••
so be · 'd d d á ·1·
á ua natural. Pode-se estimar a agress1v1 a e as guas ut1 1zando-se

1 í;dices como O de Larson e de Langelier, entre outros. Estes índices
permitem avaliar a possibili~ad~ d:
~ água ser corrosiva_ ou de gerar •
incrustações no sistema de d1str1bu1çao de água. A corrosao pode oca-
sionar a liberação excessiva de contaminantes na água, pelo ataque às
tubulações, e a incrustação diminui a seção de escoamento da tubu-
lação, causando problemas no funcionamento hidráulico do sistema
de distribuição (Branco et ai., 1991 ).
Acidez, alcalinidade e salinidade - A acidez e a alcalinidade estão
relacionadas à capacidade de a água neutralizar bases e ácidos, respec-
tivamente. A acidez da água é devido à presença de ácidos minerais
fortes, ácidos fracos, como o ácido carbônico, ácidos fúlvicos e húmi-
cos, e sais de metais hidrolisados como ácidos fortes. Embora de pou-
co significado sanitário, é de interesse se conhecer a acidez, pois o
acondicionamento final da água em uma ETA pode exigir a adição de
alcalinizante para manter a estabilidade do carbonato de cálcio (evi-
tando incrustações nas tubulações) e evitar problemas relacionados à
corrosão no sistema de abastecimento de água . A alcalinidade é de-
v·ida principalmente à concentração de carbonatos, bicarbonatos e
hidróxidos, mas pode incluir contribuições de baratos, fosfatos, silicatos
e outros componentes básicos. Aguas com baixa alcalinidade (<24 mg
L-1 de CaC0 3) têm pouca capacidade tamponante e, por isso, são mais
suscetíveis a alterações no pH (Chapman, 1996). Além de servir como
um sistema tampão, a alcalinidade serve como um reservatório de car-
bono inorgânico (necessário para o processo de fotossíntese), determi-
nando a habilidade de a água suportar o crescimento fitoplanctônico e
de macrófitas submersas. A alcalinidade influi consideravelmente na
coagulação química durante o tratamento da água, uma vez que os
principais coagulantes primários comumente utilizados no Brasil -
sulfato de alumínio e cloreto férrico têm caráter ácido. Assim se a
alcal!n!dade da águ~ for baixa, a coagulação poderá exigir a adiç;o de
alcal~n,zante para aJuste do pH, mas se a alcalinidade e O pH forem
relat,vamen_te alt?s, é ~rovável, por exemplo, que a coagulação com
clor,eto fér~1c? ~eJa mais eficiente, tendo em vista que este apresenta
ca.rater n:1a1s acido que o sulfato de alumínio e pode ser utilizado numa
faixa mais ampla de valores de pH da água bruta. A salinidade repre-
s~n:a a pres:n.ça de sais neutros, tais como cloretos e su·lfatos de
c~lc,o, .magnesio, sódio e potássio. O conjunto de sais normalmente
d1ssolv1dos na água , form a.do pe Ios b',carbonatos, cloretos, sulfatos
. e,
1
f
''
~=' ·--;

178

d
~·----~-~-w--

Qualldade da água para consumo humano I Capftulo 4

em menor quantidade, peJos demais sais, pode conferir à água gosto


safino e uma propriedade laxativa (em função da presença de sulfatos).
O teor de cloretos pode ser indicativo de poluição por esgotos domés-
ticos. De modo geral, a salinidade excessiva é mais própria das águas
subterrâneas que das superficiais, sendo, porém, sempre influenciada
peías condições geológicas dos terrenos banhados ou fíxiviados.
Antimônio - Encontrado principaf mente em efluentes de refinaria de
petróleo, vidraria, cerâmicas, indústrias de eletrônicos e substâncias
de combate a incêndios. Os efeitos potenciais decorrentes da ingestão
da água contendo antimónio incluem o aumento do colesterol e a
redução da glicose no sangue.
Alumínio - Embora o metabolismo do alumínio pelo organismo hu-
mana não seja ainda bem conhecido, e existam trabalhos que sugerem
sua associação com o Mal de Alzheimer, até o presente seus efeitos
tóxicos não são comprovados. Ademais, o alumínio é um elemento
abundante na natureza e a exposição humana pelo consumo de água
é relativamente reduzida. As evidências disponíveis atualmente sugerem
a manutenção de valores máximos permissfveis de ai umínio referentes
apenas à aceitação para consumo (aspectos estéticos): concentrações
aci'ma de 0,2 mg/L- 1 podem provocar depósitos de flocos de hidróxido
de alumínio em sistemas de distribuição e acentuar a coloração da
água.
Arsênio - O arsênio é amplamente distribuído na superfície terrestre,
mais freqüentemente como sulfeto de arsênio ou como arsenatos ou
arsenitos metálicos. Compostos de arsênio são utilizados comercial e
industrialmente, principalmente na indústria eletroeletrônica. A intro-
dução· de arsênio nas águas por ação humana relaciona-se a efluentes
de refinaria de petróleo e indústrias de semi-condutores, preservantes
de madeira, herbicidas e aditivos de alimentação animal. Contudo, há
numerosas regiões nas quajs o arsênio pode estar presente em fontes
de água, particularmente em águas subterrâneas, a elevadas concen-
trações. Uma das principais fontes de contaminação é a erosão de
depósitos naturais contendo arsênio. Sua presença na água para consu-
mo humano tem significância como causa de efeitos adversos à saúde,
tais como danos de pele, problemas no sistema circulatório e aumento
de risco de câncer de pele e pulmão. Seu monitoramento é considerado
de alta prioridade.
Bário - A ingestão de água contendo bário pode acarretar o estímuJo
aos sjstemas neuromuscular e cardiovascular, contribuindo para a
hipertensão. As principais fontes de contaminação por este elemento

179
. -. - ---·-~-- . --· .


Abttst ecimento dei: ãguà para consumo humano

'
1 são efluentes de mineração, efluentes de refinaria de metais e a erosão
de depósitos naturais.
Cádmio - o cádmio é um metal utilizado na indústria de aço e de
plástico.s. Componentes de cádmio são ampíamente usados em bate-
rias. O cádmio é lançado no ambiente em efluentes, e a poluição difu-
sa é causada pela contamjnação, a partir de fertilizantes e de poluição
local do ar. A contaminação da água destinada ao consumo humano
pode ser causada principaímente pela corrosão de tubulações galvani-
zadas, soldas e algumas ligas metálicas, efluentes de refinaria de me-
taist indústria siderúrgica e de plástico e descarte de pilhas e tintas. Os
alimentos são a principal fonte de exposição diária ao cádmio. O fumo
é uma significante fonte adicional de exposição a este elemento. o
cádmio pode causar lesões no fígado e disfunções renais. Há evidências
de que seja carcinogênico por inalação, mas não por via oral, e não há
evidências claras de genotoxicidade.
Cianeto - Os cianetos podem ser encontrados em alguns alimentos,
como a mandioca, e são ocasiona lment e encontrados na água para
consumo humano, como conseqüência principal de contam inação
industria), com destaque para as indústrias de galvanização, plástico e
fertilizantes. Eles ocorrem nas águas na forma iônica ou fracamente
dissociados, mas também podem ocorrer como compostos complexados
com metais. A toxicidade aguda de cianetos é alta e dependente da
espécie como se encontra, algumas formas iônicas e o ácido hidro-
ciânico são altamente tóxicos. Concentrações do cianeto iônico são
reduzidas pelo ácido carbônico e outros ácidos, transformando a
forma iônica em ácido hidrociânico volátil. Entretanto, o principal meca-
nismo de diminuição de seus níveis é a oxidação. Forte luz solar e
temperatura elevada favorecem a oxidação bioquímica, causando a
redução nas concentrações de cianetos. Cianetos, em especial as for-
mas iônicas, são facilmente adsorvíveis pela matéria em suspensão e
sedimentos do fundo. Efeitos adversos do cianeto sobre a tireóide, e
particularmente sobre o sistema nervoso, foram observados em algu-
mas populações após longo tempo de consumo de mandioca proces-
sada inadequadamente e contendo altas concentrações de cianeto.
Cianobactérias e cianotoxinas - A eutrofização de lagos e reserva- •

tórios decorre do excesso de nutrientes no manancial, o que provoca


aumento da atividade fotossíntética . O fenômeno da floração é carac-
terizado pelo crescimento excessivo do fitoplâncton, detectáveJ a olho
nu, na maioria das vezes, pela coloração esverdeada da água, embora
haja exceções que variam da coloração amarelada ao marrom; ou pela

180
Qualidade da água para consumo humano I Capitulo 4

formação de uma camada neustônica semelhante a um derrame de


tinta acumulado na superfície. Estas florações geralmente são com-
postas quase que exclusivamente por cianobactérias, popularmente
conhecidas corno atgas azuis, e algumas espécies podem produzir
linhagens tóxicas. Qualquer processo que provoque a lise das células
libera as toxinas no corpo hídrico, o que representa riscos significativos
à saúde humana, em especial de grupos vulneráveis, tais como paci-
entes renais crônicos, quando expostos a tratamento de diálise com
ág,ua contaminada. As toxinas produzidas pelas cianobactérías são
chamadas cianotoxinas. Quando definidas pela sua estrutura química,
as cianotoxinas são divididas em três classes: os peptídeos cíclicos (as
hepatotoxinas: rnicrocistinas, nodularinas), os alcalóides (as neurotoxinas,
citotoxinas e dermotoxinas) e os lipopolissacarídeos (Chorus e Bartram,
1999). Entretanto, elas são freqüentemente descritas e conhecidas pelos
seus mecanismos de toxicidade, que incluem efeitos hepatotóxicos,
neurotóxicos, dermatotóxicos e aquelas de inibição geral da síntese de
proteínas. As cianotoxinas apresentam muitas variações qufmícas e a
produção de cada uma delas está relacionada a determinadas espécies
de cianobactérias. É importante frisar que a toxicidade das ciano
bactérias pode variar ao longo do tempo, ou seja, uma floração tóxica
pode deixar de sê-la e uma floração não tóxica passar a sê-la. Assim, é
correto referir-se a espécies de cianobactéria s, já relacionadas a
eventos tóxicos, como potencialmente tóxicas ou produt oras de cepas
tóxicas.
Chumbo - A presença de chumbo na água é indesejável devido à sua
tendência em se acumular no corpo humano, resultando em saturnismo
(intoxicação causada pelo chumbo). As crianças são consideradas o
subgrupo mais sensível à presença do chumbo. Seus efeitos incluem
retardo no desenvolvimento físíco e mental/ problemas de rins e elevação
de pressão em adultos, acúmulo no esqueleto, interferência no meta-
bolismo do cálcio e da vitamina D, toxicidade para os sistemas nervo-
sos central e periférico. Sua presença nas águas naturais é incomum,
porém pode ser encontrada nos suprimentos de água que tiverem con-
tato com recipientes de chumbo que sofreram corrosão, tais como
tubulações de chumbo, tanques revestidos com chumbo e pinturas de
chumbo. A erosão de depósitos naturais também é uma fonte poten-
cial de contamin,ação da água. A quantidade de chumbo dissolvido na
água, a partir destes materiais, dependerá de vários fatores, incluindo
pH, temperatura, dureza e tempo de detenção da água.


Cloretos - o ron cloreto não participa de maneira significativa dos
processos geoquímicos e biológícos que ocorrem nos meios naturais,

181
Abastec;mento de água para consumo humano

de modo ~~e ele pode ser con~iderado. um elemento conservativo de


grande ut1lrdade para caracterizar a origem de uma massa d' água e
seu percurso e calcular o fator de concen:ração (ou de diluição) de
uma massa d'água r,esuJtante da evaporaçao (ou precipitação), entre
outros (Carmouze, 1994). Por ser um elemento conservativo , e O es-
goto doméstico conter elevadas concentrações deste íon, a presenç
de cloretos em concentraçoes. . mais
· e1eva das que a encontrada nas ª
águas naturais de uma região é indicativa de poluição. Em águas para ..
consumo humano, a concentração de cloretos está diretamente asso-
ciada à alteração de gosto e, portanto, à aceitação para consumo.
Além de conferir gosto salino às águas, teores elevados de cloretos
podem interferir na coagulação durante o tratamento da água. Os clo-
retos que alteram o gosto da água são, principalmente, os de sódio,
potássio e cálcio. Do ponto de vista sanitário, concentrações muito
elevadas de cloretos podem ser prejudiciais a pessoas portadoras de
moléstia cardíaca ou renal, embora a concentração de sais na alimen-
tação seja muito mais significativa. Cloretos não são removidos por
processos convencionais de tratamento de água, sendo necessários
processos especiais, tais como osmose reversa, troca iônica e eletrodi-
álise.
Cobre - Os efeitos potenciais decorrentes da ingestão de água con-
tendo cobre são desarranjos gastrointestinais (para exposição de curto
prazo) e danos no fígado ou rins (para exposição de longo prazo).
Deve-se dar atenção especial para os portadores de Síndrome de Wilson.
As principajs fontes de contaminação são a corrosão de instalações
hidráulicas prediais, erosão de depósitos naturais e preservantes de
madeira.
Cromo - A contaminação da água por cromo deve-se principalmente
a efluentes de indústrias de aço e celulose, aJém da erosão de depósitos
naturais. A longo prazo, a ingestão de águas contendo este elemento
pode levar ao desenvolvimento de dermatites alérgicas. O cromo triva-
lente é essencial do ponto de vista nutricional, não-tóxico e pobre-
mente absorvido no organismo, enquanto o cromo hexavalente afeta
os rins e o sistema respiratório.
Dióxido de carbono - O dióxido de carbono (C0 2 ) é altamente solú-
vel. n.a água e o C0 2 atmosférico é incorporado da interface ar~águãa~
Ad1c1onalmente, o C0 2 é produzido nos corpos d'água pela respiraç
da biata aquática, durante a decomposição da matéria orgânica sus-
pensa ou sedimentada. O C0 2 dissolvido nas águas naturais faz p~rte
do equilíbrjo envolvendo os íons bicarbonato e carbonato. O C02 livre

182
• - ~ - a . ' 1 1 ...... :'rZ.fol"l:1

Qualidade da égua para consumo humano I Capitulo 4

é aquele compon nt ,. 111 quillbrio com a atmosfera, enquanto o C0 2


~atai é a soma de tod a formas inorgênicas de dióxido de carbono,
~sto é, C02, H Oi, H 0 3 e C0 3' . Ambos, C0 2 e HC03-, podem ser
rncor~orados ao e.carbono organico pelos organismos autotróficos. O
C02 livre compr ende a concentrações de co 2 e H2C0 3, se bem que
esta forma de carbonato é mínima em águas naturais porque prevalece
em valores de pH uperiores a 9,0, o que não é tão comum de ocorrer.
A aftas concentraçõas de ácido carbônico livre, as águas tornam-se
. • w ..
corrosivas a metais e concretos, como resultado da formação de bicar-
bonatos soluveis. A t1abif idade para afetar o carbonato de cálcio com-
ponente do concreto levou ao termo ácido carbônico agressivo ou C0 2
agressivo, o qual tarnbém é chamado C0 2 livre.
Dureza - a dureza é geralmente definida como a soma de cátions
polivalentes presentes na âgua e expressa em termos de uma quanti-
dade equivalente de CaC 0 3 • Os principais íons metálicos que confe-
rem dureza à água são o cá lcio (Ca2+), magnésio (Mg2+), quase sempre
2
associado ao ton sulfato e, em menor grau, ao fon do ferro (Fe + -
associado ao nitrato), do manganês (Mn2+ - associado ao nitrato) ·e do
estrôncio (Sr2+ .. associado ao cloreto) . A dureza é caracterizada pela
extinção da espuma formada pelo sabão (fndice visível de uma reação
mais complexa), o que dificulta o banho e a lavagem de utensílios
domésticos e roupas, criando problemas higiênicos. Ela está associada
a incrustações em sistemas de ar quente, podendo causar problemas
sérios em aquecedores em geral. Na maioria dos casos, a dureza é
decorrente do cátcio associado ao bicarbonato, o qual se transforma
em carbonato (pouco sofúvel), por aquecimento ou elevação do pH,
te·ndo... se neste caso a denominada dureza temporária. A dureza devi-
da a cátions associados a outros ânions é denominada dureza perma-
nente. Uma nomenclatura mais lógica, e que deve ser adotada, é a
que denomina as durezas em devidas aos carbonatos e aos não-carbo-
natos. Nas estações de abrandamento (redução da dureza) podem ser
empregadas resinas específicas para troca de cátions, ou pode-se
elevar o pH para causar a precipitação, principalmente de sais ou
hidróxidos de cálcio e magnésio. Existem estudos epidemiológicos
mostrando uma relaçao inversa estatisticamente significativa e,ntre a
dureza na água e doenças cardiovasculares, entretanto os dados dis-
poníveis são inadequados para permitir uma conclusão de que a asso-
ciação é causal. Há algumas indicações de que águas com teores
muito baixos de dureza podem ter um efeito adverso sobre o balanço
mineral do organismo, mas inexistem estudos mais detalhados (WHO,
2003d).

183

-- - ,------------,--
e
AbaistecJmento de água paro consumo humano

Fenóis e detergentes - O .Progresso industrial moderno vem .


. f 61. d
rando os compostos en 1cos e os etergentes entre as im
incorpo-
encontradas em solução na água. O fenol é tóxico, mas muiiurezas
de atingir teores prejudiciais à saúde já constitui inconvenien~ean~~s
águas que tenham que ser submetidas ao tratamento pelo clor P . .
. b' . d . o, po,s
ª
com ,na com o mesmo, provocan o o aparecimento de gosto e h .
desagradáv~is. Os detergentes, em mai: d: 75o/o dos casos, con~ti~~~
dos de .alqu1l benz:no suffonatos (ABS) sa~ indestrutíveis naturalmente,
e, por isso, sua açao perdura em abastecimento de água a jusante d
lançamentos que os contenham. O mais visível inconveniente reside
na formação de espuma quando a água é agitada. Nas concentraçõe:
maiores trazem conseqüências fisiológicas.
Ferro e manganês - Os sais de ferro e manganês (por exemplo, car-
bonatos, sulfetos e cloretos), quando oxidados, formam precipitados e
conferem à água gosto e coloração, que pode provocar manchas em
sanitários, roupas e produtos industriais, como o papel. Salvo casos
específicos, em virtude das cara,cterísticas geoqufmicas das bacias de
drenagem, os teores de ferro e manganês solúveis em águas super-
ficiais tendem a ser baixos. Aguas subterrâneas são mais propensas a
apresentar teores mais elevados. Na água distribuída, problemas mais
freqüentes estão relacionados com a corrosão e a incrustação em
tubulações .. Dependendo da sua concentração, o ferro, muitas vezes
associado ao manganês, confere à água um gosto amargo adstrin-
gente. Em geral, estas substâncias não estão associadas a problemas
de saúde e por isso compõem o padrão de aceitação para consumo.
Fluoretos - Considera-se que os fluoretos são componentes essenciais
da água potável especiafmente para prevenir as cáries infantis, pois
uma coletividade abastecida com água contendo menos de 0,5 mg/L
de fluoretos apresenta alta incidência de cáries dentárias. Por isso, para
prevenir cáries, costuma-se adicionar fluoretos às águas de abasteci-
mento. Em concentração excessiva, porém, os fluoretos podem causar
a fluorose dentaJ nas crianças, e até a fluorose endêmica cumulativa e
as conseqüentes Jesões esqueléticas em crianças e adultos. Os fluore-
tos também podem ser responsáveis pela osteoporose. As principais
fontes de contaminação são a erosão de depósitos naturais, introdução
na água de abastecimento e efluentes de indústrias de fertilizantes e
alumínio.
Mercúrio inorgânico - Pode causar lesões no fígado, disfunções re-
naís e afetar o sistema nervoso central. A erosão de depósitos natu-
rais, efluentes industriais, chorume de aterro sanitário e o escoamento

184
. . . . . . . . . . . . . .a.. . . . . . . . . .1. . ._ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _
J_&__________a..... a---------a-a-,_·z--·-·

Qualldode dí-1 óguo pnro c.onsumo hun-10110 1Cap(\ulo 4

superficial de áreas agrícolas são consideradas as principais fontes de


contaminação da água pelo mercúrio inorgânico.
Nitratos e nitritos - O fon nitrato ocorre comumente em águas natu ..
rais provjndo de rochas ígneas, de áreas de drenagem e da decomposição
de matéria orgânica . Suas concentrações podem ser aumentadas por
despejos industriais e esgotos domésticos e pelo uso de fertilizantes a
partir de nitrato inorgânico. Em águas superficiais, altas concen-
trações de nitrato podem estimular o crescimento de plantas
aquáticas e do fitoplâncton. o íon nitrito é uma forma de nitrogênio
combinado em estado intermediário de oxidação (entre a amônia,
forma mais reduzida, e o nitrato, mais oxidada); é, também, muito
instávef, passando rapidamente a um estado de oxidaç~o acima ou
abaixo (dependendo do teor de oxigênio e da presença das bactérias
relacionadas com os processos). Pode resultar da oxidaçao da amônia,
em ambiente óxíco, ou da redução do nitrato, em ambiente anóxico.
Geralmente, o fon nitrito encontra-se em concentrações muito reduzi-
das (aproximadamente 0,001 mg L~1) , incrementas das mesmas podem
indicar poluição recente por efluentes industriais e são freqüente-
mente associados à qualidade microbiológica insatisfatória da água .
Tem-se observado que os nitratos podem ser perigosos para os lacten-
tes e para crianças maiores, quando em concentrações superiores a 50
mgt_-1 em N03·. Os nitratos reduzem-se a nitritos, no estômago, e o
nitr'ito é capaz de oxidar a hemoglobina a metahemoblobina, a qual
é incapaz de se ligar ao oxigênio, podendo provocar a cianose ou
metahemoglobinemia (síndrome do bebê azul). Entretanto, as concentra-
ções molares do íon nitrito são 1O vezes mais potentes que o nitrato,
em refação à metahemogtobinemia. Recentemente, tem .. se admitido a
possibilidade de se formar nitrosaminas carcinogênicas por reação
entre aminas secundárias ou terciárias dos alimentos com os nitratos
ingeridos ou oriundos da transformação de nitratos.
Oxigênio dissolvido (OD) - O oxigênio é essencial a todas as formas
de vida aquá·tica, incluindo os organismos responsáveis pelos proces-
sos de depuração em águas naturais. O conteúdo de oxigênio das águas
naturajs varia com a temperatura, a salinidade, a turbulência, a ativi-
dade fotossintética das algas e plantas, e com a pressao atmosférica.
A solubilidade do oxigênio decresce conforme a temperatura e a sali-
nidade aumentam. O oxigênio dissolvido pode ser expresso em mg/L
ou em termos de percentual de saturação. Níveis menores que 80%
de saturação em águas destinadas ao consumo humano podem causar
leve gosto e odor. Variações no OD podem ocorrer sazonalmente, ou
mesmo num período de 24h, em relação à temperatura e à atividade

185
bio Jóg ,c (fotossfntese e res piração). A
respiraç~o- biológica, incluindo
quc•ld rrlr1 cion ada aos processos de
decompo~çao, reduz as concen-
tr rl rô t•
', rJr OD. A det erminação das
.concentr~çoes de OD é uma etap
lJn~J,trnnntc
1 I da verificação da qualidade da agua a
1 porque o oxigênio é
rnvcJ lvid (J, ou influ encia, em quase
tod~s os p~ocessos biológicos e
c~tJírn,ro ,:, nos co rpo s d'água .. Concen
traçoes aba~x? d~ 5 mgL-1 podem
à'Í r•t,1r d,JvPrsamente o funcion
amento e sobrev1venc1a de comu
d,•!t bio lógicas , e abaixo de 2 mgL-1 p nida- •

ode levar à morte excessiva de


,~i 1 ,.. ,;. A medida do OD é também
11 usada na determinação da de-
manda bioquímica d e o x ig ê n io
(DBO). A 0 8 0 é um indicador d
m,, tdtJcJli smo dos organismos vivos, po o
is estes utiliza m m atéria orgâni-
( d CfJ m o alimento. A DBO
é uma característica, não um co
da água. Agua não poluída deve te r n s tituinte
menos de 5 mgL- 1 de 0 8 0 . Quan-
tída<Je~ rn ais elevadas exigem investi
gação da causa . Na determinação
dr.2 r, rJtab ilídade da água o teste rara
mente é feito, porque a poluição
ínorganica pode esta r presente qu
ando a DBO fo r baixa. Quando
DBO fo r alta, a poluição orgânica a
está indicada (Babbitt e t ai., 196
o oxigênio dissolvido é de uso muito mais limita 2).
d fJrJ ltJição em a q ü íf e ro s , e não d o com o indicador
é útil para avaliar o uso destes para
os propósitos normais. A presença de oxigên
io, especialmente em com-
pdnhía do C0 2, constitui-se em fa to
r importante a ser considerado na
prevençao da co rrosão de metais fe
rrosos (canalizações e caldeiras) .
Pe sti c id a s ... A avaliação toxicológica
de resíduos de pesticidas é feita
co rr1 baise no co nceito de Ingestão
Diária Tolerável (IDT), apesar des
ronr.e ito ap li ca r- se , sob retudo, à • te
avaliação dos resíduos em alimen
Cha roa -$e IDT a quantidade de um produ tos.
to químico que se pode inge-
rír diaríarnente durante toda a vida sem
correr risco apreciável, segun-
do (J~ ronhecimentos que se tem até
o momento. A contaminação de
água~ ~ubte rrâneas ou supe rficiais p
or pesticidas pode resultar da apli-
cac;áo intencio nal (para combater
ervas aquáticas, por exemplo), d
prJJ,Jí~o por efluentes industriais, da po a
luição por líquidos para irrigação,
d rrJr,tarf1ínação aciden tal ou da pe
rcolação ou lixiviação de terrenos
pela r.huva. A contaminação deve sem
pre ser evitada, porque os pesti-
rí,J;J'j t:2lterarn a eco logia aquática e
porque há perigo de acúmulo na
<~ rJola alímenta r. Ass im, recomenda-s
e proteger as zonas de captação, o
ttJr'.,(J'.> rJ'água que se rvem de s
mananciais de abastecimento e a
~,Jt,t,:rr!3r,ea5. Convé rn conhecer sempre a s fontes
s circunstâncias em que houve
((Jít1,Jrr1trJação da água, e sempre
que fo r necessária a aplicação inte
r1r;r1tJI rJ<: pe~ticídas em uma n-
bacia hidrográfica. Devem ser a
(J 'J rt"JrrJ~ para a
valiados
qua lidade da água e a influênc
ia desses pesticidas
~Jt,r,! a ecologia aquática, Antes de se pro
por limites admissíveis para

186

1
Qualidade da água para consumo humano J Capitulo 4

os resíduos de pesticidas na água potável, é necessário saber em que


condições desaparecem esses resíduos na água e qual a eficiência dos
métodos de tratamento na remoção dos mesmos.
pH - O pH (potencial hidrogeníônico) da água é a medida da atividade
dos íons hidrogênio e expressa a intensidade de condições ácidas (pH
.) < 7,0) ou alcalinas (pH > 7 ,O). Aguas naturais tendem a apresentar pH
próximo da neutralidade, devido à sua capacidade de tamponamento.
Entretanto, as próprias características do solo, a presença de ácidos
húmicos (cor intensa) ou uma atividade fotossintética intensa podem
contribuir para a elevação ou redução natural do pH. O valor do pH
influi na solubilidade de diversas substâncias, _na forma er.!!_9ue esta::.-
s __,
___ se apresentam na água e em sua toxicidade.$Além disso, o pH é um
parâmetro chave no processo de coagulação durante o tratamento da
água. O condicionamento final da água após o tratamento pode exigir
também a correção do pH, para evitar problemas de corrosão ou de
í~~_ru~taç~o/ Màis importante, o pH é um arâmetro f undamental de
... (" _co_r.ltr(2!e da desinfecção sendo que a cloração perde eficiência em pH
elevado.
Selênio - As prjncipais fontes de contaminação por este elemento são
os efluentes de refinaria d.e petróleo, erosão de depósitos naturais e
resíduos de mineração. O selênio pode causar queda de cabelos e unhas,
problemas circulatórios e danos ao fígado e rins.
Sulfato - O sulfato origina-se da deposição atmosférica, dos aerossóis
do oceano e da lixívia de compostos de enxofre, de sulfetos ou de
sulfatos minerais de rochas sedimentares. Ele é a forma estável, oxidada,
do enxofre, e é prontamente solúvel em água (com exceção dos sulfa-
tos de chumbo, bário e estrôncio, os quais precipitam). Descargas
industriais e a precipitação atmosférica também podem adicionar quan-
tidades significativas de sulfato às ág uas superficiais. O sulfato pode
1

ser utilizado como fonte de oxigênio para bactérias, as quais conver-


tem-no a sulfeto de hidrogênio (H 2S, HS-) sob condições anaeróbicas.
As concentrações de sutfato em águas naturais estão usualmente
entre 2 e 80 mgL-1, se bem que efas podem exceder 1.000 mgL-1,
próximo a descargas industriais ou em regiões áridas onde sulfatos
1
minerais estão presentes. Altas concentrações (> 400 mgL- ) podem
tornar a água impafatável (Chapman, 1996). A presença de campos ...
tos de enxofre pode ser um fator relacionado à corrosividade da água,
visto que certas bactérias podem utiliz·ar os sulfatos na produção de
ácido sulfúrico, que corrói os materiais expostos. Além disso, o sulfato
pode ocasionar efeitos gastrointestinais laxativos e gosto na água.

187
Abaste,lmento de égua para consumo
- humano

S. lfeto _ o sulfeto entra nos aqüfferos pela decomposição de ..


u ·1 .,.. . - A f .· . . d rn1ne~
rais sulfurosos e de gases vu can1cos. ormaçao o sulfeto ern á

anaeróbica em sedimentos de fundo de l~gos e res:rvatonos estratifi-


cados. Traços de sulfeto ocorr:m em ~:d1mentos n.ao-.poluídos, rnas a
presença de altas c?ncentr~çoes ~requentement_e rnd~ca a ocorrência
de despejo doméstico ou industrial. Sulfetos d1ssolv1dos existem n
água como moléculas n~o-ionizadas de sulfeto de hidrogênio (H s:
hidrossulfeto (HS-) e, muito raramente, como sulfeto (5 -). o equilíbrio
2 2

entre estas formas é uma função do pH. Concentrações de sulfeto não


precisam ser consideradas se o pH é menor do que 1O. Quando ocor-
rem concentrações apreciáveis de sulfeto, toxicidade e forte odor do
fon sulfeto tornam a água indesejável para o abastecimento e outros
usos. Entretanto, o nível de sulfeto de hidrogênio encontrado em águas
bem oxidadas é muito baixo, porque ele é rapidamente convertido a
sulfato. Sulfeto total, sulfeto dissolvido e sulfeto de hidrogênio são as
determinações mais significativas. Variações de pré-tratamento (filtra-
ção e redução do pH) são usadas para sua separação. O sulfeto de
hidrogênio é um gás com cheiro de "ovo podre", detectável a baixas
concentrações. A toxicidade aguda para humanos por inalação do gás
é alta. Contudo, não há dados para intoxicação por via oral. O sulfeto
de hidrogênio não deve ser detectável na água pelo gosto e odor.

Os constituintes orgânicos presentes nas águas podem ser de origem natural ou devi-
do a atividades antrópicas. No primeiro caso, têm-se, por exemplo, as substâncias húmicas,
microrganismos e seus metabólitos e hidrocarbonetos aromáticos. Entretanto, a intensa
atividade industrial e a rapidez do lançamento de novos produtos no mercado tor~am
praticamente impossível a enumeração e quantificação de todos os produtos orgânicos
que podem estar presentes na água.
Indústrias dos mais diversos ramos fazem uso de alguns compostos que, dependend?
dª concentraçao, - podem · ser extremamente maléficos . ao ser humano, os danos podem ~ ir
desde pequenas irritações nos olhos e nariz a problemas cancerígenos, alte_raçoes °
0
' d -
numero e cromossomos, danos a órgãos como rins fígado e pulmões, depre ªº: .
. 55 . . prob1e-
m dí · . ' -
· as car acos, danos cerebrais, neurite periférica retardamento na açao neuro tóxica atro
'.·
fia testicular, esterilidade masculina, cistite hemo~rágica, diabetes transitórias, hiperter;:
teratogênese mutag,., d. . . - . . .., da pele. De
, enese, 1m1nu1çao das defesas orgânicas e a1teraçoe5 · jne-
os_poluentes orgânicos de maior prevalência e tox·1cidade podem ser citados: óleos tmes A
ra1s p d · · ' . . rf ctan ·
' ~o ·utos de petróleo, fenóis, pesticidas bifenil policlorados (PCB's) e su ª humano
Portar1a nº 518/2004 b1 . . , . , d ·. nsumo
esta e ece hm1tes máximos permitidos na agua eco

•..
188 J
Ir..
Qualidade da água para ·consumo humano I Capítulo 4

para algumas destas substâncias organicas potencialmente prejudiciais à saúde. Contudo,


a determinação rápida e precisa da concentração destes contaminantes constitui séria difi-
culdade técnica em diversas localidades brasileiras, pois geralmente exige equipamentos
sofisticados e pessoal especializado para fazer os ensaios, nem sempre disponíveis em muitas
cidades brasileiras.
A medida do carbono orgânico total (COT) fornece uma idéia geral da presença
de compostos organicos na água, enquanto a medida do halogenado orgânico total
(HOT) indica a presença de compostos orgânicos halogenados. A determinação de tais
parâmetros é mais simples e menos onerosa que a determinação individual dos diversos
contaminantes orgânicos. Geralmente a quantificação do COT e do HOT é utilizada preli-
minarmente para se comparar águas provenientes de diferentes mananciais, avaliar possí-
veis causas da poluição e para auxiliar na tomada de decisão sobre a necessidade de serem
feitas análises para determinar a concentração de contaminantes específicos.
Apresentam-se a seguir na Tabela 4.9 os efeitos potenciais decorrentes da ingestão de
água com algumas substancias químicas que representam risco à saúde e as principais
fontes de contaminação por estas substâncias.

Tabela 4.9 - Substâncias químicas orgânicas que representam risco à saúde (continua)
Substância Efeitos potenciais decorrentes da Considerações sobre algumas fontes
ingestão de água de contaminação
Acrilamida Efeitos neurotóxicos, deterioração da Produto utilizado no tratamento de água
função reprodutiva. (auxiliar de coagulação), fabricação de
papel, corantes, adesivos.
Benzeno Anemia, redução de plaquetas, Solvente comercial utilizado na
aumento de risco de cancer {tumores fabricação de detergentes, pesticidas,
e leucemia); afeta o sistema nervoso borracha sintética, corantes, na indústria
central e imunológico. farmacêutica e gasoJina.
Cloreto de vinila Exposição crônica - lesões de pele, Tubulações de PVC, efluen·tes de
ossos, ffgado e pulmão . indústrias de plásticos, aerossóis.
1,2 Djcloroetano· Aumento de risco de câncer, Efluentes de indústria química
irritações nos olhos e nariz, além de (inseticidas, detergentes etc.).
problemas renais e hepáticos.
1-1 Dicloroeteno Depressor do sistema nervoso central, Efluentes de indústria quimica,
problemas no ffgado e rins. contaminante ocasional da água, em
geral acompanhado de outros
hidrocarbonetos cloradas.
Diclorometano Toxicidade aguda reduzida, Efluentes de indústrias química e •

problemas no ffgado~ farmacêutica, presente em removedores


de tintas, inseticidas, solventes,
substancias de extintores de incêndio.
Estireno Toxicidade aguda baixa, irritação de Efluentes da indústria de borracha e
mucosas, depressor do sistema plástico; chorume de aterros.
nervoso central, possível
hepatotoxicidade.

189
A.b.aüeclmento de água para consumo humano

Tetracloreto de Problemas no fígado, insuficiência Efluentes de indústria qul . (conclusão)


carbono renal. Exposição crônica pode levar a
problemas gastrointestinais e
sintomas de fadiga (sistema nervoso).
Tetracloroeteno Problemas no fígado e rins.

Triclorobenzenos Toxicidade aguda moderada, efeitos


no fígado.
Tricloroeteno Potenciais problemas de tumores
pulmonares e hepáticos.
Fonte: BASTOS et ai. (2003)

Pelos riscos potenciais· à saúde e uso intenso de agrotóxicos, estes compostos me


se
destaque ao fazer inspeção sanitária da bacia hidrográfica de onde a água será cap::rn
também no monitoramento da qualidade da água distribuída à população. Apresentam-se, n:
Tab.eJa 4.1 O, os efeitos potenciais decorrentes da ingestão de água contendo alguns tipos de
agrotóxicos inctuídos na Portaria nº 518/2004 e as suas principais fontes de contaminação. Desta-
ca-se, contudo, que existem centenas de prindpios ativos de agrotóxicos utilizados comercialmente.

Tabela 4.1 O- Agrotóxicos: efeitos potenciais sobre a saúde e fontes de contaminação


(continua)
Efeitos potenciais decorrentes Considerações sobre algumas fontes
Substância
da ingestão de água de contaminação
Problemas nos olhos, fígado, rins, Herbicida (milho e feijão).
Alaclor ••
anemia.
Aldrin e di.eldrin Efeitos no sistema nervoso central e Pesticidas de solo, proteção de madeira
e combate a insetos de importância de
fígado.
saúde pública (dieldrin); uso
gradativamente proibido.

Problemas cardiovasculares e no Herbicidas (milho e feijão); relativamente


Atrazina estável no solo e na água.
sistema reprodutivo.
Herbicida de amplo espectro,
Bentazona Efeitos no sangue.
persistência moderada no meio
ambiente, elevada mobilidade no solo.
Resíduos de formicidas, elevada mobilidade
Clordano Problemas no fígado e no sistema
no solo; uso gradativamente proibido.
nervoso.
Herbicida utilizado no controle de
2,4 D Toxicidade aguda moderada, macrófitas em água; biodegradável na
problemas de fígado e rins. água em uma ou mais semanas.
Inseticida persistente e estável; uso
·DDT Acumulação no tecido adiposo e no
gradativamente proibido.
leite.
Inseticida utilizado em diversas cultu~ílis ·
Endossulfan Os rins são o órgão-alvo de sua
toxicidade. Pode perturbar o
para controlar pragas, além de s:~~-;ê.
zado para o controle das ':'?~c~ontêm
sistema endócrino por ligar-se a
receptores para o estrogênio. Geralmente.., águas. supderftf~~~es
1
tóxicos.
concentraçoes abaixo os ·

190
Qualidade dà ~gua para consumo humano l Capftu!o 4

(conclusão)
Endrin EfeJtos no sistema nervoso. Resíduos de insetiádas e ratiádasl
praticamente insolúvel em água; uso
gradativamente proibido.
Glifosa,to Toxicidade reduzida, problemas no Herbicida de amplo espectro, utilizado
fígado e no sistema reprodutivo. na agricultura; estável na água e de
baixa mobilidade no solo.
-
Heptacloro e Danos no fígado. Inseticida de amplo espectro, ampla
Heptacloro- utilização como formicida, persistente e
epóxido resistente no meio ambiente; uso
gradativamente proibido.
Hexaclorobenzeno Problemas no fígado, rins e no Fungicida, efluentes de refinarias de
sistema reprodutivo. metais e indústria agroqufmica.
Lindano Problemas no fígado e rins. Utilização de inseticidas em rebanho
bovino, jardins, conservante de madeira;
baixa afinidade com a água, persistente.
Re.duzida mobilidade no solo.
Metolacloro Evidência reduzida de Herbicida, elevada mobilidade no solo.
carcinogenicidade.
Metox'icloro Possíveis efeitos carcinogênicos no Utilização de insetiàdas em frutas
fígado e problemas no sistema hortaliças e criação de aves.
reprodutivo.
Molinato Evidência reduzida de toxicidade e Herbicida (arroz), pouco persistente na
carcinogenicidade. água e no solo.
Pendimetalina Evidência reduzida de toxicidade e Herbicida, baixa mobilidade, elevada
ca rcinogen icidade. persistência no solo.
Pentaclorofenol Problemas no fígado e rins; Efluentes de indústrias de conservantes
fetotoxicidade, efeitos no sistema de madeira, herbicida.
nervoso central.
Permetrina Baixa toxicidade. Inseticida na proteção de cultivas e da
saúde pública (combate a mosquitos.em
depósjtos de água), elevada afinidade
com o solo e reduzida afinidade com a
água.
PropanH Evidência reduzida de toxicidade e Herbicida, sua maior utilização é para o
carcinogenicidade. controle de ervas daninhas no cultivo do
arroz. Possui elevada mobilidade no
solo e afin·idade pela água. Não é
persistente, sendo rapidamente
convertido em condLções naturais a
vários metabólitos, dois dos quais muito
mais tóxicos do que o próprio herbicida.

Simazina Evidência reduzida de toxicidade e Herbicida de amplo espectro, elevada


carcinogenicidade. persistência e mobilidade no solo..

Triflura.li na Evidência reduzida de toxicidade e Herbicida de ampla espectro, pouco


carcinogenicidade. solúvel em água.

fonte : BASTOS et ai. (2003)

191
Abastecimento de água para consumo humano

Dependendo do tipo de contaminante presente na água e do desinfetante ou .


utilizado no tratamento podem ser gerados subprodutos indesejados à saúde doxidante
quais, na Portaria nº 518/2004, são listados o 2,4,6 triclorofenol, bromato, cl~ri:ntre os
· monoc1oram1na
livre, · e-trra
· 1ometanos. Na -r..abefa 4 .11 sao
- apresentados os efeitos poto, cloro
..
~ • e suas principais fontencia1s
decorrentes da ·tngest-ao de água con t en do est as subst-anc,as
. _ es de
contam1naçao.

Tabela 4.11 - Desinfetantes e produtos secundários da desinfecação: efeitos potenci .


sobre a sau'd-e e fontes de contam1naçao
· - a,s
1 . D _ - § E 5

Substância Efeitos potenciais decorrentes Considerações sobre algumas fontes d ·


da ingestão de água contaminação e
Bromato Tumores renais. Produto secundário da ozonização,
decorrente da oxidação de fons brometo.
Clarito Pode afetar as hemácias, Produto secundário da desinfecção com
evidência reduzida de toxicidade dióxido de cloro.
e carcinogenicidade.
Cloro fivre Evidência red.uzida de toxicidade Hígienização na indústria e no ambiente
e carcinogenicidade. doméstico, branqueador, desinfetante e
oxidante de ampla utilização no tratamento
da água.
Monocloroamina Evidência reduzida de toxicidade Produto secundário da cloração de águas
e carcinogenicidade. contendo compostos nitrogenados.
2,4,6 Triclorofenof Indícios de desenvolvimento de Produto secundário da cloração de águas
linfornas e leucemia em contendo fenoís (ex.: biacidas e herbicidas).
experimentos com animais.
Trihalometanos Indícios de efeitos no fígado, rins Produto secundário da cloração de águas
e tireóide. contendo substâncias húmicas e brometos.
Fonte: BASTOS et ai. (2003)

4.3.3 Natureza física

A rejeição de água com padrão organoléptico alterado é um comportamento de defe-


sa intuitivo do homem, o que muitas vezes pode significar realmente uma alteração na
qualidade da água. Contudo, em alguns casos os consumidores podem rejeitar font~s
esteticamente inaceitáveis, mas seguras, em favor de fontes mais agradáveis, mas potenci-
almente inseguras. Em vista disso, a água para consumo humano não deve aprese~ta~ co.r,
gosto ou odor objetáveis, por razões de aceitação pela percepção humana. As pnncipa~s
características físicas da água utilizadas para avaliar sua qualidade são comentadasª seguir
tomando-se como referência os textos contidos em publicação da OMS (WHO, 2.oo3b).

192
J
Qualidade da água para consumo humano I Capitulo 4

Gasto e odor

Os gostos e odores mais comuns podem ter origem biológica: vários organismos
influem na produção de gosto e odor, tais como actinomicetos e cianobactérias; origem
química: dados sobre os (imites dos contaminantes químicos na água responsáveis por
gostos e odores são incertos, mas pode-se exemplificar gostos e odores ocasionados pela
presença de amônia, cloretos, cobre, dureza, sólidos totais dissolvidos e sulfeto de hidro-
gênio; origem de desinfetantes e subprodutos de desinfecção: a um residual de cloro
livre entre 0,6 e 1,0 mg/L, há crescente risco de problemas com a aceitabilidade da água,
devendo"'se prevenir principalmente a formação de dicloroarnina e tricloroamina, resul-
tantes da reação do cloro com amônia, pois estes compostos têm mais baixos limites
para odor do que a monocloramina. Clorofenóis geralmente têm limites organolépticos ·
muito baixos. O 2-clorofenol, 2,4-diclorofenol e o 2,4,6-triclorofenol possuem limites
de O, 1, 0,3 e 2 µg/L para gosto, respectivamente. Os limites para odor são de 1O, 40 e
300 µg/L, respectivamente.
O gosto e o odor também podem desenvolver~e durante a estocagem e distribuição
da água -devido à atividade microbiológica ou à corrosão de tubulações. Gosto e odores
não usuais podem servir como alerta de contaminação e da necessidade de investigação de
suas origens. Além de antiestéticos, eles indicam que o tratamento ou a manutenção e
reparo do sistema de distribuição podem estar sendo insuficientes. Um fator importante
que deve ser considerado é que há variação significativa entre as pessoas na sua habilidade
em detectar gostos e odores na água.

Cor

A cor na água para abastecimento usualmente deve-se à presença de matéria orgânica


colorida (basicamente ácidos fúJvicos e húmicos), associada com a fração húmica do solo.
A cor também é altamente influenciada pela presença de ferro e outros metais, como
constituintes naturajs nos mananciais ou como produtos da corrosão. Ela também pode
resultar da contaminação da água por efluentes industriais e pode ser o primeiro indício de
uma situaçã,o perigosa. A fonte da cor no suprimento de água deve ser investigada, parti-
cularmente se for constatada mudança significativa. Geralmente são aceitáveis pelos con-
sumidores níveis abaixo de 15 UC (unidades de cor). A cor varia com o pH da água, sendo
mais facilmente removida a vatores de pH mais baixos. Define-se como cor verdadeira
aquela que não sofre interferência de partículas suspensas na água, sendo obtida· após a
centrifugação ou filtração da amostra. A cor aparente é aquela medida sem a remoção de
partículas suspensas da água.

193
4

Abastecimento de água para consumo hum a no

Turbidez

A turbidez da água deve-se à presença de matéria particulada em suspensão na á


tal como matéria orgânica e inorgânica finamente dividida, fitoplâncton e outros orgg~a,
. . . . b.d
mos microscópicos planctôn1cos ou nao. A tur I ez expressa, de forma simplificada
an1s-
transparência da água. A turbidez da água bruta tem grande importância, na medida~ª
que é um dos principais parâmetros para seleção de tecnologia de tratamento e contra~
operacional dos processos de tratamentof Em geral, a turbídez da água bruta de mananciais
superficiais não represados apresenta variações sazonais significativas entre períodos de
chuva e estiagem, o que exige atenção na operação da ETA,
Valores de turbidez em torno de 8 uT (unidades de turbidez), ou menos, geralmente
são imperceptíveis visualmente. A menos de 5 uT de turbidez, a água é usualmente aceitá-
vel pelos consumidores. Entretanto, por causa da possfvel presença de microrganismos, é
recomendado que a turbidez seja tão baixa quanto possível, preferencialmente menor que
1 uT (WHO, 2003f). Valores elevados de t urbidez de origem orgânica podem proteger
microrganismos dos efeitos da desinfecção e estimular o crescimento bacteriano no siste-
ma de distribuição. Em todos os casos, a turbidez precísa ser baixa para que a desinfecção
seja efici~nte, requerendo valores menores que 1 uT; o ideal é que a turbidez média esteja
abaixo de O, 1 uT. Dados de um estudo realizado na Filadélfia sugeriram relação entre ad-
missões em um hospital por doenças gastrointestinais e incrementos na turbidez da água
tratada. Os níveis de turbidez examinados estiveram entre O, 14 e 0,22 uT abaixo dos
padrões de potabilidade do país sugerindo que estes padrões deveriam ser reavaliados.
Apesar desta pesquisa ter sido duramente criticada, outros grupos têm sugerido que a
turbidez é um potencial indicador para doenças de veiculação hídrica. Muito ainda há que
ser estudado sobre este parâmetro de fácil medida e que é um dos raros indicadores que
pode ser medido em tempo real (Payment e Hunter, 2001 ).

Sólidos

_..._,, Todas as impurezas presentes na água, à exceção dos gases dissolvidos, contribuem
para a carga de sólidos. Os sólidos podem ser classificados de acordo com seu tamanho e
. carager!?ticas químicasi Quanto ao tamanho, podem ser classificados em sedjmentáveis,
em suspensão, colóides e dissolvidos. Na prática, a classificação é feita separando-se os
sólidos apenas em dois grupos: em suspensão e dissolvidos. Os sólidos em suspensã~ divi- \
de~-se_em sedimentáveis e não sedimentáveís Os sólidos dissolvidos incluem os coló1ães e
Ios -efetivamente dissolvidos. A separação entre sólidos em suspensão e sólidos dissolvidos é
feita utilizando-se uma membrana filtrante com poro igual a 1,2 µm (valor arbitrário).
Qualquer partfcufa não-retida é considerada dissolvida, e as que ficam retidas são cor1Side-
radas em suspensão. Quanto à caracterização químiéa, os sólidos podem ser classificados

194

1
Qualidade da água para consumo humano I Capitulo 4

em vofátejs e fixos. Sólidos voláteis são aqueles que se volatilizam a SSOºC. Contudo, é
impreciso caracterizar esses sólidos voláteis como orgânicos, pojs existem alguns sais mine-
rais que se voJatif izam a ~ssas tem_peraturas.\ A salinidade também está incluída como sófi-
l_9os totais dis~(?lvidosl Usualmente, é a parte fixa dos sólidos dissolvidos que é considerada

como salínidaqef E~ esso de sólidos dissolvidos na água pode causar alterações de gosto e
problemas de corrosão. Como padrão de aceitação para consumo humano, a Portaria
nº 518/2004 estabelece o valor máximo permitido de 1.00Q rngL:~ para sólido~ totais
disso!vid9s na. ~gu? gotável ..,A OMS não estabeleceu um lim~e máximo aceitável, mas
salienta que, a níveis maiores que 1.200 mgL-1, os sólidos tornam a água de beber significan-
temente impaJatável., () ,._ '- 11_,_< t d , v ·>, • ,
) & -'J 11'J~ 7 '-' ...J ({Cf, J_ ~ { "); ., I '- , _. '

Temperatura /'()JYI "' r,.; J .J.,t1_, 7 ~ >'ai.X'-- ~,..,, . .


- /YY'IJ_y..,1 )}d1" hj: ª tj, J_ / [Ú ~/) ~ :$"
1

A água fresca é geralmente mais palatável que a água quente. Além disso, tempera-
turas elevadas da água aumentam o potencial de crescimento de microrganismos no siste-
ma de ciistrib,uição (Legionella spp, por exemplo, prolifera a temperaturas entre 25° e SOºC)
e pode aumentar a sensação de gosto e odor, além da cor e da corrosão.

Condutividade elétrica

~ A condutividade elétrica da água depende da quantidade de sais dissolvidos, sendo


aproximadamente proporcional à sua quantidade. A determinação da condutividade elétrica
perrnjte estimar de modo rápido a quantidade de sólidos,totais dissolvidos (SID) presentes
na ágwa. Para valores elevados de STD, aumenta a solubilidade dos precipitados de alumí-
nio e de ferro, o que influi na cinética da coagulação. Também são afetadas a formação e
precip>it,~_~_?@ d© c:arboTia: o de cálcio, favor~cendo a cor~os~~- / •
A 'rela~ã@ linear entre condut,v,aãae elétrica e s6Jid6s totais dissolvidos pode ser apro-
ximada peJa equação abaixo (Tchobanoglous e Schroeder, 1987 apud Branco et ai., 1991 ):

CE= "L(Ci FJ) (4.1)

Em que:
1

CE= condutividade elétrica em µS cm-1;


' Cí = concentração do íon i na soJução, em mg/L;
Fi = fator de condutividade para a espécie i.

o fator de condutividade varia com os fons presentes e pode ser dado por va.lores
tabelados (Branco et ai., 1991 ).

195
. ara consumo humano
Abasioclment0. do ógu, P ·

4.3.4 Natureza radiológica

A radiação ambiental origina-se de fontes naturais e daquelas produzidas pelo h


. Materiais radioativos ocorrem naturalmente em toda parte do ambiente, corn o..
mem. d. t. d . . oo
.. A . • por exemplo e vários componentes ra ,oa ,vos po em or1g1nar..se no ambient
ur(ln10, . , d' . d . ea
partir de atividades huma~a:, tal como o us~ m_é .1co ou 1n ustnal. Seg~ndo a OMs, a
maior proporção da exposiçao humana à_ rad1açao vem de fon~es n.atura1s fontes de
radiação externa, incluindo radiação cósmica e t~rr~st!e, e a pa~ir da inalação ou ingestão
de materiais radioativos. Há uma menor contnbu1çao a partir de produção de energia
nuclear e testes nucleares (WHO, 2003e).
Há evidências, a partir de estudos em humanos e animais, de que a exposição a doses
baixas e moderadas de radiação pode incrementar a incidência de câncer em longo prazo.
Também há evidências, a partir de estudos com animais, de que a taxa de malformações
genéticas pode aumentar pela exposição à radiação. Efeitos agudos da radiação sobre a
saúde ocorrem a altas doses de exposição, apresentando sintomas como náuseas, vômitos,
diarréia, fraqueza, dor de cabeça e anorexia, levando à reduzida contagem de células san-
güíneas e, em casos severos, à morte (WHO, 2003e).
A interação da radiação com a água, existente em material biológico, resulta na for-
mação de uma série de espécies ionizadas (H+, H2 0-, H20+, e-, e+, H30-, etc.) e de radicais
livres, altamente reativos. Estes irão reagir com proteínas, desativarão enzimas, inibirão a
divisão celular, perturbarão a formação de membranas celulares e poderão ocasionar ou-
tros danos à célula (Sawyer e McCarty, 1987 apud Branco et ai., 1991 ).
A unidade de radioatividade é o becquerel (Bq), sendo que 1 Bq = 1 desintegração por
segundo. A dose de radiação resultante de ingestão de um radionuclídeo depende de
fatores químicos e biológicos. Estes incluem a fração ingerida, que é absorvida através do
intestino, os órgãos ou tecidos para os quais o radionuclídeo pode ser transportado e
depositado, e o tempo que o radionuclídeo pode permanecer no órgão ou tecido antes de
ser excretado.
_A dose resultante da ingestão de 1 Bq de radioisótopos em uma forma qulmica
part,cular pode ser estimada utilizando um fator de conversão de dose (exemplo: fator
5
de conversão de dose para ingestão do radionuclídeo Urânio-238 :::: 4 5 x 10- e do
radionuclídeo Césio-134 = 1,9 x 1o·S). '
_o processo de identificar espécies individuais radioativas e determinar sua concen-
traçao requer análises sofisticadas e de alto custo, o que normalmente não é justificado
porque
. as. concentraçõe · · . .
s, na maioria das circunstancias são muito baixas. Um ca rninho
mais
na f prático é usar
d . · '
. _um procedimento contínuo, onde o total de radioatividade prese · nte
clíd arma e rad1açao
. alf ª b . d
e eta é determinado sem considerar a identidade e ra · · dronu-
· eos especff1cos os I d 1 -1 para
atividade beta tot · _ va ores e O, 1 BqL- , para a atividade alfa total, e 1 BqL ' , 0
a1, sao recomend ad.os como níveis. de proteção para a água para· consurn
· ·

· 196
Qu,alidade da água para consumo humano I Capitulo 4

humano. Abaixo destes valores, nenhuma ação posterior é requerida. Se os valores para
atividades alfa e beta totais acima referidos forem excedidos, então os radionuclídeos
específicos devem ser identificados e suas concentrações de atividades individuais medi-
das para indicar ações a serem tomadas.
Novos suprimentos de água e aqueles não previamente caracterizados devem ser
amostrados com freqüência suficiente para caracterizar a qualidade radiológica da água e
para avaliar qualquer variação sazonal nas concentrações de radionuclíceos. Segundo a
OMS, também devem ser incluídas análises para radônio e para gás radioativo emitído do
urânio, presente naturalmente em rochas e solos, virtualmente em qualquer local sobre a
Terra, e amplamente relacionado a mortes devido ao câncer.

4.4 Caracterização da água



,,..,
- •...cr ~
l\.rÃr"''1 1 >,ç, '
Ú•
A caracterização da água corresponde à quantificação das impurezas -0e na·t ur~
física, química, biológica e radiológica presentes na água. É a partir do conhecimento
das impurezas presentes na água que se pode definir com segurança a técnica mais
adequada para seu tratamento e é também por meio da caracterização da água que se
. pode avaliar se o tratamento foi satisfatório e se a água distribuída à população é
/
_ • s.§!.9,,ur.a._ .9.o pqnto de vi~t~ s~nitár~o\,A caracfêrlzação aa ãgua nãô se re'S'l:ringéãsatlvi-
• dades de laboratório. Previamente deve-se definir um programa que inclua os parâme-
tros a serem monitorados, os planos de amostragem, a forma como os dados serão
l armazenados, interpretados e divulgados, além de se fazer o controle de qualidade dos
laboratórios responsáveis pelas análises.
t

4.4.1 Definição dos parâmetros


'• A definição dos parâmetros a serem monitorados depende dos objetivos do trabalho
a ser realizado. Esses objetivos podem ser, por exemplo: monitorar a qualidade da água
para programas de despoluição ou preservação de mananciais; planejar o uso dos recur-
sos hídricos; fornecer informações sobre a variação sazonal da qualidade da água, para dar
subsfdios à escolha da técnica de tratamento a ser utilizada visando ao abastecimento
i públi.co; verificar o atendimento aos padrões de qualidade de água para usos diversos;
l avaliar a eficiência dos diferentes processos de tratamento de água; obter dados para
pesquisas científicas.

197
AbMtt crm nto d âg ua p ora consumo h umano

A definição clara e precisa dos objetivos facifítará a realização de todas as ativid


post riores. Assim, dependendo da finalidade do trabalho, selecionam-se 05 tip ades
exa mes a serem realizados (bacteriológicos, físicos, químicos) e os respectivos pa~s de
tros mais adequados para caracterizar a água. No caso da caracterização da água dm~-
nad.a ao consumo humano, por exemp fo, a Iegts • laçao
"' b.ras,·1eira
· (Portaria nº 518/2ooest,-)
cita os parâmetros que devem ser quantificados, seja por oferecerem riscos à sao:
humana ou por influenciarem na aceitação do consumo da água por parte da popula -e
(padrao de aceitação). Deve-se destacar que podem ser incluídos outros parâmet~;
além daqueles citados na referida fegisração, para assegurar a qualidade da água distrí~
bufda à população. Ressalta-se aqui a jmportância de se fazer previamente a inspeção
sanitária da bacia hidrográfica, acompanhar as alterações no uso e na ocupação do solo
ao longo do tempo e de se ter o histórico da qualidade da água, para se definir ou alterar
os parametros a serem monitorados. Assim, por exemplo, se na bacia hidrográfica de um
determinado manancial é utilizado um agrotóxico não citado na legislação brasileira que
trata do padrão de potabilidade, e, havendo informações científicas de que o mesmo
pode representar risco à saúde humana, este agrotóxico deve ser monitorado, ainda que
não mencionado na legisíação pertinente,
Deste modo, se a legislação em vigor pecar por omissão, espera-se que os profissio-
nais responsáveis pelo sistema de abastecimento de água tenham sensibilidade para incluir
os parametros adicionais no programa de monitoramento da qualidade da água. Destaca-
se a rapidez com que a indústria química lança novos produtos no mercado, alguns dos
quais podem causar danos à saúde humana se não forem devidament~ removidos no
tratamento da água.

4.4.2 Plano de amostragem

O plano de amostragem deve ser definido com o objetivo de assegurar a representa-


tividade e a validade das amostras coletadas e analisadas em laboratório. Para serem repre-
sentativas, as amostras precisam ser réplicas, as mais exatas possíveis, do ambiente físico,
qufmico e biológico de onde foram coletadas, ou seja, a água coletada deve representar a
qualidade da água amostrada, em termos de concentração de componentes examinados.
Assim, para assegurar a representatividade das amostras, deve-se definir cuidadosamente
o local da amostragem, a periodicidade e o horário das coletas. Para assegurar a validade
das amostras, elas devem ser coletadas, transportadas e preseNadas corretamente, antes
de serem encaminhadas ao laboratórjo.
O excesso ou a insuficiência de dados acarretam desperdício de tempo e de recurso
financeiro. Um plano de amostragem inadequado pode fazer com que se obtenha dados,
mas não assegura que estes dados se traduzam em informações úteis. Em outras palavras,
pode-se ter um "bando de dados'' ao invés de um '' banco de dados". Não tem sentidoª

198

-
Qualidade da água para consumo humano I Capitulo 4

jmpfementação rotineira de um programa incapaz de prestar a informação desejada. Devi-


do às peculiaridades locais e à variedade de objetivos de um programa de amostragem,
devem ser estabelecidos critérios específicos para cada situação, que obedeçam às condi-
ções gerais de representatividade e validade.
Em relação à qualidade da água tratada distribuída à população, a Portaria nº 518/2004,
em seu artigo 18, estabelece que o plano de amostragem relativo ao controle da qualidade
da água de sistema ou solução alternativa de abastecimento de água deve ser aprovado pela
autoridade de saúde pública.

4.4.2.1 Representatividade das amostras

Para assegurar a representatividade das amostras, dois aspectos principais devem ser
observados: a escolha dos pontos de amostragem e a freqüência das coletas.
Pontos de amostragem: em geral, os objetivos do programa de amostragem defi-
nem direta ou indiretamente os locais mais adequados para a coleta, seg1undo a informação
que se quer obter. No caso da avaliação da qualidade da água bruta em um rio ou represa,
por exemplo, deve-se levar em conta que a qualidade da água pode variar temporal e
espaciafmente, quando afetada por fontes de poluição ou de diluição difusa ou pontual,
tais como a mistura com um afluente, que apresenta água com qualidade diferente; degra-
dação natural da matéria poluidora; lançamento de efluentes domésticos ou industriais e
carreamento de produtos utilizados na agricultura. Portanto, a qualidade da água de um
manancial costuma variar de local para local, além de haver uma variação ao longo do
tempo. Assim, a escolha dos pontos de amostragem deve ser feita criteriosamente, para
levar em consideração os aspectos mais relevantes que podem infJuenciar na representati-
vidade das amostras. Quando se define um plano de amostragem é indispensável observar
as particularidades de cada caso.
Quando se faz coletas no sistema de distribuição de água tratada, deve-se atender
ao critério de abrangência espacial e considerar ainda a importância de se ter amostras
em pontos estratégicos e outros que sejam próximos a locais onde há grande circulação
de pessoas, tais como termin,aís rodoviários, edifícios que abrigam grupos populacio-
nais de risco (hospitais, creches, asiJos etc.), locais com sistemáticas notificações de
agravos à saúde, possivelmente associados a agentes de veiculação hídrica (definição
esta que necessita de participação da área de sa~1de pública) e trechos mais vulneráveis
do sistema de distribuição, tais como pontas de rede, pontos de queda de pressão,
tocais sujeitos à intermitência de abastecimento, reservatórios e locais afetados por
manobras realizadas na rede.


199
Aba st ec im en to d , 6g ua pa ra con$umo
hu m an o

Periodicidade da amostragem: Em ge
ral, as informações sobre qualidade de á
referem-se a um período (horário, diário, sema
nal, mensal etc.) durante o qual esta qi~ :
dade pode variar. Por isso, a p~rio~dicidad
e da amostrage~ dev~ ser e~betecida d
que as análises mostrem as var1açoes, de n e forma
atureza aleatória ou s1stemát1ca, que ocorr
qualidade da água. A freqüência com que em na
são coleta~as as amostras deve ser estabe
com O objetivo de se obter as informaçõ lecida
es necessárias com o menor número po
amostras, levando e ssível d
m conta o aspecto custo-benefício. Os resu
reproduzir as variações espacial e tempora ltados analíticos deve~
l da qualidade da ág ua amostrada . A coleta de
amostras pontuais, não distribuídas de m
odo a contemplar as variações sazonais d
dade da água, produz informação incom a quali-
pleta e conduz a erros. Deve-se ter em m
menos os dados relativos a um ciclo hid ãos pelo
rológico, abrangendo todos os parâmetr
possam apresentar variações sazonais sig os que
nificativas e que sejam relevantes para a
de decisão. Destaca-se que existem equip tomada
amentos que permitem fazer o monitora
da qualidade da água em tempo real, co mento
m a possibilidade de teletransmissão dos
Ao definir o plano de amostragem, deve dados.
-se avaliar a relação custo-benefício dest
Quanto ao horário mais adequado para a opção.
as coletas, deve-se levar em consideração
especificidades de cada caso. Para caracte as
rizar o fitoplâncton de um manancial, po
p\o, deve-se ter conhecimento de que r exern-
a comunidade fitoplanctônica pode ap
movimentos de migração vertical na colu resentar
na de água durante o dia . Assim, se é d
definir a a\tura da captação em função d esejado
a menor concentração do fitoplâncton d
maior parte do dia, é necessário realizar a ura nte a
mostragem nictemeral (no decorrer de 2
intervalos de 4h ou menos), para ser con 4h, com
hecida esta dinâmica . ·
Na Tabela 4.12 são apresentadas alguma
s condições para amostragens da água b
e da tratada, baseadas na Portaria nº 518 ruta
/2004 e em publicações da OMS . Ressalta
a definição da periodicidade das amostra -se que
s deve ser baseada no bom senso e na b
ca. Assim, por exemplo, se em função oa técni-
da população de uma localidade, e tom
como referência as exigências da Portaria ando-se
nº 518/2004, for necessária a coleta de 6
tras mensais para determinação de colifo 0 amos-
rmes totais na rede de distribuição, as co
devem se concentrar em alguns poucos letas não
dias do mês, mas sim ser distribuídas un
mente, por exemplo, com duas coletas d iforme-
iárias·. Além disso, é conveniente que a
coleta varie de dia para dia e a ordem hora de
dos pontos varie de mês para mês, de
garantir maior aleatoriedade na amostrag modo a
em e evitar a coincidência de eventos qu
segundo o dia do mês. e variem

200

- E
Qualidade da água para consumo humano I Capitulo 4

Tabela 4.12 ... 'Exemplo de condições para amostragem (Baseado na Portaria


nº 518/2004 e e.m WHO, 1993) .

• quan.do o manancial é superficial, devem ser coletadas amostras semestrais da água


bruta, .Junt_? d~ ponto de captação, para análise de acordo com os parâmetros exigidos
na leg1s1a~?º vJgente de classificação e enquadramento de águas superficiais, avaliando a
compattb1hdade entre as características da água bruta e o tipo de tratamento existente
(Art. 19 da Portaria nº 518/2004);
• o monitoramento de cianobactérias na água do manancial, no ponto de captação,
deve obedecer freqüência mensal, quando o número de cianobactérias não exceder
1.0 .000 cé!u.las ml·1 (ou 1mm 3 L·1 de biovolume), e semanal, quando o número de
c1anobacter1as exceder este valor (§ 1° do Art. 19 da Portaria nº 518/2004};
• é vedado o uso de algicidas para o controle do crescimento de cianobactérias ou
q~alquer i~tervenção no manancial que provoque a lise das células desses
m1crorgan1smos, quando a densidade das cianobactérias exceder 20.000 céJutas/mL (ou
2mm3/L de biov.otume), sob pena de comprometimento da avaliação de riscos à saúde
associados às cianotoxinas (§ 2º do Art.19 da Portaria nº 518/2004);
• no co.ntrole da qualidade da água, quando forem detectadas amostras com resultado
positivo para coliformes totais, mesmo em ensaios presuntivos, novas amostras devem
ser coletadas em dias imediatamente sucessivos até que as novas amostras revelem
resuJtado satisfatório. Nos sistemas de distribuição, a recoleta deve incluir, no mfnimo,
três amostras simultâneas, sendo uma no mesmo ponto e duas outras localizadas a
montante e a jusante (Portaria nº 518/2004);
• a freqüência de amostragem deve aumentar em períodos de epidemias, enchentes,
operações de emergência ou após a interrupção do abastecimento e reparos no sistema
(WHO 1993);
• em sistemas servindo pequenas comunidades, inspeções sanitárias periódicas podem
fornecer mais informações que a amostragem com baixa freqüência (WHO 1993).

4.4.2.2 Validade das amostras

Para que as amostras tenham validade, devem ser observadas rigorosamente as recomen-
dações técnicas aplicáveis às etapas de coleta e preservação das mesmas. Os cuidados devem
ser tomados desde a colocação das etiquetas de identificação até o transporte das amostras ao
laboratório. As orientações apresentadas a seguir são de caráter geral e visam exclusivamente a
chamar a atenção do leitor para a importância e a especificidade das etapas de coleta e preser-
vação de amostras, para garantir que não haja alteração apreciável na qualidade da água
1
durante a coleta e o transporte das amostras até o laboratório. Os diversos parâmetros físicos,
químicos e biológicos a serem analisados podem exigir técnicas de coleta e preser;vação muito
1
distintas e específicas, motivo pelo qual se recomenda a consulta de publicações especializadas
tal como o Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater.
t
Coleta das amostras: o primeiro cuidado que se deve ter ao coletar as amostras que
serão analisadas refere-se à colocação de etiquetas de identificação. Todas as amostras
devem ser acompanhadas de uma ficha de campo, na qual constarão dados como nome
,
201
Abastecimento de água para consumo humano

do manancial; Jocal da coleta, data e hora da coleta; condições climáticas; finalidad


amostra; tipo de preservação de amostra utilizado; nome do coletor. Alguns erros rei:?ª
nados à identificação das amostras são de natureza bastante primária, tais como a utilizaci,?-
de etique~as que não têm boa aderên,cia com o frasco, ª?
uso de etiqu_etas que se desm:~
cham f ac,lmente em contato com a agua e ao preenchimento das etiquetas utilizando-
caneta cuja tinta solta facilmente. Qualquer um destes erros põe a perder todo O trabal~e
de coleta, uma vez que impedirão a perfeita identificação das amostras, quando elas eh:
garem ao laboratório para serem caracterizadas.
A coleta de amostras pode ser manual ou automática. Na coleta manual põe-se
O
frasco em contato direto com o líquido a ser amostrado ou emprega-se algum dispositivo
ou técnica especiar, como é o caso da coleta de amostras de profundidade ou a coleta de
amostras para determinação de gases dissolvidos. Com amostradores automáticos, pode-
se programar o número de amostras durante um determinado período, a duração do perío-
do, os volumes parciais e os intervalos de tempo em que serão feitas as coletas. Existem
amestradores automáticos que unicamente amostram, e outros que amostram, analisam e
registram os resultados, e outros ainda que, além de tudo isso, transmitem telemetrica-
mente os resultados a uma central de recebimento de dados.
Conforme

mencionado anteriormente, cada análise química exige um procedimento
específico de coleta. Apresentam-se, na Tabela 4.13, algumas considerações gerais ilustrativas
de cuidados e procedimentos adotados nas coletas destinadas a exames bacteriológicos,
físicos, qufmicos e biológicos. Ressalta-se novamente que o leitor deve consultar literatura
especializada sobre o tema ou seguir a orientação do laboratório responsável pela análise.

Tabela 4.13 - Exemplos genéricos de cuidados a serem adotados na coleta de amos-


tras {baseado em CETESB, 1987) (continua)
Exames De modo geral, a coleta de amostras para exame bacteriológico em
bacteriológicos sistemas públicos de distribuição deve ser realizada em pontos que
recebam água diretamente da rede de distribuição, e não de caixas ou
reservatórios; escoa-se a linha por 2 a 5 minutos, fecha-se a torneira,
flamba-se, abre-se a mesma a meia seção, escoa-se a água por mais 30
segundos, e só então se abre o frasco apropriado esterilizado para
completá-lo até 4/5 do seu volume e fechá-lo imediatamente. Amostras
de água bruta de mananciais são coletadas abrindo o frasco
apropriadamente esterilizado no momento da coleta, e colocando-o
contra a corrente a cerca de 15 cm de profundidade, sempre
segurando-o pela base; enche-se até 4/5 do seu volume e fecha-se
imediatamente. Amostras de poço são coletadas retirando-se do local
uma porção de água, utilizando um recipiente de transposição
flambado; em seguida enche-se o frasco de coleta apropriado
esterilizado até 4/5 do seu volume e fecha-se imediatamente. Em
amostras tratadas com cloro, deve-se adicionar ao frasco da colheita,
antes de sua esterí(ização, O, 1 ml de uma solução a 1,8o/o de ..
tiossulfato de sódio, para neutralizar a ação do cloro residual que 1n1be
o crescimento bacteriano .

202

-
Qualidade da água para consumo humano I Capftulo 4

(conclusão)
Exames físicos De modo geral, a alíquota coletada, se proveniente de amostrador,
e químicos deve ser retirada logo após aquela destinada a exames bacteriológicos,
e ser resfriada. O frasco destinado a conter a amostra deverá ser
previamente descontaminado em laboratório e rinsado, em campo,
com a própria água a ser amostrada. O tamanho dos frascos vai ser
determinado pelas necessidades de consumo dos métodos analíticos
empregados e pelas réplicas desejadas. Na coleta de amostras em
sistemas de distribuição a linha deve ser inicialmente esgotada por
aproximadamente 3 a 5 mínutos, antes de recolher-se a amostra.
Amostras de lodo e sedimentos são coletadas com dragas e transferidas

para o frasco adequado .
Exames São várias as comunidades aquáticas que podem ser amostradas para
biológicos exame, das quais citam-se:
• a coleta de fitoplâncton é feita com rede de fitoplâncton (malha com
abertura de 25µm ou menos), quando se deseja amostra concentrada
para a anáfise qualitativa, mantendo-se parte do material vivo (somente
resfriado) e parte preservada com solução de formalina a 4o/o, e, para
análise quantitativa, colhendo-se direto do amestrador ou invertendo-se
o frasco a aproximadamente 15 cm de profundidade (manancial), ou
simplesmente enchendo-se o frasco com água da torneira (no caso de
sistema de distribuição). O frasco de armazenagem deve ser
previamente lavado e seco, adicionando-se algumas gotas de lugoJ
(preservante) logo após a colheita da amostra, até se obter cor de chá.
Mantendo o frasco bem vedado, a amostra pode ser conservada por
anos, sem alteração significativa para as análises do fitoplâncton;
• a coleta de zooplâncton é feita com amestrador especial de grandes
dimensões (capacidade de 1Oa 12 L) e que não cause turbulência na
água, para que o zooplâncton maior não escape antes de ser
amostrado. Um exemplo é a armadilha de plâncton Schindler-Patalas. A
preservação é feita com etanol a 70°/o;
• a coleta de bactêrioplâncton é feita com material estéril e através dela
é avaliada a presença de vários grupos de bactérias na amostra
(bactérias heterotróficas totais, Escherichia co/i, coliformes totais, etc.),
inclusive a biomassa bacteria.na;
• a coleta qualitativa de perifiton é feita raspando-se pedras submersas,
pedaços de pau, etc., do local, ou então se empregando substratos
artificiais, tais como lâminas padrão de microscópio ou de plexiglass,
que·são fixadas no local de coleta. Recolhe-se o material aderido após
algum te·mpo de exposição para a formação de coleções;
• a coleta de macroinvertebrados é feita com dragas para sedimentos
de fundo, ou com o amestrador de Surber, para profundtdade:s de até
60 cm, em rios de muita correnteza. Pode também ser feita com redes

ou peneiras.

Preservação das amostras: as técnicas de preservação em geral restringem-se a


retardar a atividade biolóf:rica e a hidrólise· de compostos, ou reduzir a volatilidade dos
constituintes que serão analisados. Sempre que possível, recomenda-se efetuar as análises

203
r
• Abanecfmento de égua para consumo humano

_ d coJe·ta mas a complexidade de algumas determinações inviab·i·


•' no pr6pno 1oca1 e , , . · I .. · 11za est
. t As . f az·se necessário preservar um vo ume suf1oente, coletado e
preced,men o. sim, · . d . . em fras-
. d . aze·na·do por um intervalo e tempo conveniente, para cada pa â
coapropr1a o e arm . · · ~ . .. . . r metro
. d . râmetros Parametros como a temperatura e o pH da água de .
ou grupo e pa . . ·- · . f . _ vern ser
- adas no próprio local de coleta, pois os mesmos so rem alteraçao rápida rn
determ1n . . _ t . 1.d - , . esmo
quando são utilizadas técnicas de preserva~o e, por ou ro a o, sao de !acil medida. Para
os parâmetros que permitem um tempo maior d~ espera, mesmo que seJam observadas as
técnicas de preservação, existe um tempo de val'.dade dentro do qual as amostras devern
ser processadas. Algumas determinaçõe~ necessitam que o processa~ento ~e dê em até
4 h após a coleta, enquanto outras permitem que o proces~am:nto s~Ja realizado em até
alguns meses após a coleta. Os cuidados com a preservaçao sao variados em função do
tipo de análise a ser realizada. Assim, para a determinação do ortofosfato, filtra-se a amostra
logo após a coleta, já para a determinação do oxigênio dissolvido ou o nitrogênio amoniacal
podem ser acrescentados reagentes no momento da coleta. O material dos frascos de coleta
deve ser apropriado a cada tipo de análise: a maioria das determinações químicas, por exemplo,
é compatível com a armazenagem em frasco de vidro âmbar, sendo mais indicado o de
borositicato. Por outro lado, algumas análises, como a de silicatos, não admitem este tipo de
armazenagem, pelas interferências do material do frasco no conteúdo a ser quantificado na

amostra (neste caso são utilizados frascos de polipropíleno). Os procedimentos específicos


para cada parâmetro a ser analisado devem ser obtidos em literatura especializada.

4.4.3 Controle de qualidade em laboratórios

É importante que os laboratótios responsáveis pela análise das águas possuam um pro-
grama de controle de qualidade formalizado, que abranja: a qualificação e a capacitação
periódica dos recursos humanos; a manutenção preventiva e a calibração periódica de equi·
pamentos, conforme recomendações legais ou dos fabricantes; a verificação da qualidade
dos reagentes utilizados nas análises; a existência de documentação detalhada dos procedi·
mentos de rotina do laboratório, tais como regras de segurança, protocolos descritivos dos
procedimentos utifizados nas análises, instruções de coleta e armazenamento de amostras,
calibração dos instrumentos (incluindo as vidrarias e equipamentos como balanças), preparo
e armazenamento de reagentes. Esse conjunto de ações visa a garantir a produção de resul·
ª
tados com máxima confiabilidade. Todos os métodos analíticos devem ser padronizad.~s

crda~e. Na Portana n 518/2004, é mencionado que as metodologias analíticas para deterrn


naçao d~: pa~âmetros físicos, químicos, microbiológicos e de radioatividade devem atender

~u~h~ç!o Stand~rd Methods for the Examination of Water and Wastewater, de auto~ª~
inst1tu1çoes Amencan Public Health Association (APHA), American Water Works A5SOC:1at1on


204
Quali dade da água para consumo huma no I Capi
tu lo 4

(AWWA) e Water Environment Federation (WEF)


(esta é uma literatura aceita internacional-
mente), ou das normas publicadas pela ISO (lnte
rnational Standartization Organization).
Existem instituições habilitadas a credenciar lab
oratórios, mas, em todo caso, os labo-
ratórios devem ter um controle da qualidade an
alítica que inclua verificações de rotina por
meio da verificação da reprodutibilidade dos re
1 sultados de análises feitas em répl icas e a
calibração interlaboratorial, para avaliar a cons
istência dos resultados, quando comparados
com os de outros laboratórios de reconhecida
confiabilidade .
Como existem diversas técnicas analíticas que
podem ser u tilizadas para quantificar
um determinado parâmetro, a escolha das técn
icas de análise deve ser baseada na avaliação
da sensibilidade e especificidade requeridas pa
ra o tipo de amostra (água bruta, tratada ou
distribuída). Por exemplo, se é desejada a info
rmação sobre os nlveis de chumbo que po-
dem causar problemas à saúde, nos sistemas
1
-
pouco valor se for usado um método anal ltico
públ icos de água, haverá, evidentemente ,
incapaz de medir concentrações menores
que 1 mgL-1 , pois é sabido que o chumbo pode
causar efe itos danosos à saúde em concen-
trações muito inferiores a essa. Para evitar essa si
tuação, deve-se definir a menor concentração
'
1
de interesse para cada substância a ser monitora
da e selecionar, então, os métodos anallticos
apropriados. O laboratório responsável pela anál
ise deve ser capacitado para justificar e indicar
o método mais adequado, tendo em vista os
objetivos das anál ises, assim como orientar
sobre as técnicas de amostragem e preservação
mais apropriadas.
Algumas análises podem ser facilmente implem
entadas em pequenos laboratórios de
saneamento, tais como análises de rotina (turbi
dez, pH, cor, cloro residual), realizadas nas
próprias estações de tratamento de água, mas
todas as análises precisam ser realizadas
' com máximo rigor técnico e científico, para
que haja confiabilidade nos resultados. Por
outro lado, determinadas análises requerem
pessoal altamente especializado e/ou equi-
pamentos sofisticados, além de normas de segura •
nça rígidas (como na análise de componentes
radioativos). Nestes casos, e sendo a análise
indispensável para os objetivos propostos,
deve-se recorrer a laboratórios que apresentem
a estrutura necessária .

4.4.4 Processamento de dados e interp
retação dos resultados

Os dados obtidos em laboratório e em campo


devem ser processados adequadamente
e verificados quanto à sua consistência . Nesta
t etapa podem ser realizados tratamentos
estatfsticos, determinações de tendências, corr
elações etc., e a apresentação dos resulta-
dos em formas apropriadas (gráficos, planilhas
• , mapas temáticos etc.), organizando-se um
banco de dados. Infelizmente é comum no Bra
sil a geração de dados e seu arquivamento,
sem que tenham sido devidamente interpretad
os por um profissional qualificado.
A etapa de interpretação dos resultados envolv
e a comparação de dados de qualidade
da água entre os diversos pontos de coleta, an
álises de tendências, o desenvolvimento de
relações causa-efeito entre dados de qualid
ade da água e dados ambientais (geolo-
gia, hidrologia, ocupação do solo, inventário
das fontes poluentes) e o julgamento do

205 •
Abastecimento de água para consumo humano

enquadramento da qualidade da água ao uso a que ~e destina. Quando se trata


. 'lã
v1g1 nc1 ·a no s'
1 stema
. . de abastecimento, todos . os procedimentos
. analisados at ~ .
e aqu15-da
adequados a uma rotina, de modo que se obtenha os resultados o mais rapid ao
· -· d'd t d - arnent
possível, para ~~eª. interpretação e as me ' as a ser~m orna a~ nao l_evem muito tem~
o após a ver1f1caçao de problemas. O trabalho de interpretaçao muitas vezes .
P . . . exige a
cotaboração de especialistas. . .
É também essencial que a informação obtida a partir de programas de rot· .
. . . . . d . ina seJa
revista periodi·camente, para que possam ser feitos estu os no sentido de avaliar
. . . , d se há
necessidade de aumentar ou possibilida de de d1mtnu1r o numero e amostras e de an,1·
· , . a 1ses
levando em conta o aspecto custo-benef1c10. '
os fndices de Qualidade da Agua (IQA) são bastante úteis para dar uma idéia d
tendência de evolução da qualidade da água ao longo do tempo, além de permitir a corn~
paração entre diferentes mananciais. O IQA varia normalmente entre O (zero) e 1oo (cem)
sendo que, quanto maior o seu valor, melhor é a qualidade da água. Os parâmetros utiliza~
dos no cálculo ,do lQA são estabelecidos em função do uso previsto para o manancial. 0
lQA, elab.orado pela National Sanitation Foundation, e adaptado pela CETESB (Companhia
de TecnGlogia de Saneamento Ambiental), leva em consideração o estabelecimento da
qualiaade da,água bruta destinada ao abastecirnent.o. Este IQA é determinado pelo produ-
to por1d.erado dos seguintes parâmetros de caracterização das águas: Oxigênio Dissolvido
(OD), Demanda Bioquímica de Oxigênio (0805,2 0), Coliformes Fecais, Temperatura, pH,
NitrogêAi© Total, Fósforo Total, Turbidez e Sólidos Totais (SEAMA, 2004). A seguinte fórmu-
la é utilizada:

(4.2)

Em que:

IQA: fndice de qualidade das águas. Um número entre Oe 100;


qi: qualidade do i-ésimo parâmetro. Um número entre O e 100, obtido do
respectivo gráfico de qualidade, em função de sua concentração ou
medida (resultado da análise);
wi: peso correspondente ao i-ésimo parâmet ro fixado em função da sua
importância para a conformação global da qualidade, isto é, um número
entre Oe 1, de forma que:

(4.3)

Em que:

n: número de parâmetros que entram no cálculo do lQA.

206


Qualidade da água para consumo humano I Capítulo 4

Segundo o critério da CETESB, a qualidade das águas interiores, indicada pelo rQA
numa escala de O a 100, pode ser classificada em faixas, conforme mostrado na Tabela
4.14. Ressalta-se o caráter genérico do IQA e a possibilidade de sua alteração para aplica-
ções mais específicas, em função dos parâmetros utilizados na caracterização da água, da
escala d·efinida para qi e da importância relativa atribuída a estes parâmetros (wi). Assim,
considerando-se a definição de IQA a partir dos parâmetros OD, DBO, coliformes, tempera-
tura, pH, nitrogênio total, fósforo total, turbidez e sólidos totais, a qualidade da água pode
ser considerada ótima, mesmo se ocorrer contaminação do manancial por substâncias não
quantificadas através daqueles parâmetros. É conveniente relembrar que, no caso de água
tratada destinada ao consumo humano, sua qualidade deve ser avaliada em relação à
legistação vigente que atualmente· é a Portaria nº 518/2004.

Tabela 4.14 - Classificação de águas de acordo com o IQA calculado

IQA Qualidade da água


ao a 100 Ótima
52 a 79 Boa
37 a 51 Aceitável
20 a 36 Ruim
Oa 19 Péssima

, 4.4.5 Divulgação da informação

Os resultados das análjses de caracterização da água, devidamente processados e


1
inte,rpretados, dão origem a refatórios, que devem ser utilizados pelos profissionais da área,
para cque sejam tomadas decisões técnicas, tais como escolha ou aprimoramento da técni-
1

ca de tra~t,amento de água e manejo do manancial. Por outro lado, quando da avaliação da


qualidade da água depender a saúde da população, esta tem o direito legal, definido na
Portaria nº 518/2004, de ter acesso às ínformações, que devem ser apresentadas de forma

clara, utilizando-se recursos como: notificação na conta de água, relatórios publicados em
jornais de grande circulação e Internet. A Portaria nº 518/2004 preconiza a transparência e
o direito do consumidor no acesso a todas as informações relativas à qualidade e potabili-
dade da água, que também devem ser disponibilizadas às Secretarias de Saúde dos Esta-
dos, Municípios e Distrito Federal.


• Abasteclmento de ã9ua para consumo hum.a no

t
1

4.5 Padrões
... . . . ........
- ., .. de
, . ,-_
P<?t~~.il~~.~de.
1-..J•• · · · ·

.
451. Parâmetros de caracterização da água destinada ao consumo
humano

O padrão de potabilidade bra~ileiro_ é com~osto. por: ~). padrão _microbiológico; b)


padrão de turbidez para a ág~a pós-filt~çao ~u pr:~es1nfecç~º·. e) padrao ~a~a substâncias
químicas que representam riscos à saude (1norgan1cas, organ1cas, agrotox1cos, desinfe-
tantes e produtos secundários da desinfecção); d) padrão de radioatividade; e) 0 padrão
de aceitação para consumo humano.
o padrão de aceitação para consumo humano é estabelecido com base em critérios de
ordem estética e organoléptica da água, e visa a evitar a rejeição ao consumo, que levariaà
busca de outras fonte-s de água, eventualmente menos seguras do ponto de vista sanitário.
Algumas substâncias incluídas no padrão de aceitação apresentam também interesse
de saú1de, porém o limiar de percepção de gosto e odor se dá em concentrações inferiores
ao critério de saúde e, portanto, constam apenas como padrão de aceitação para consu~
mo. Assim, atendido o padrão de-aceitação para consumo para tais substâncias, estaria
garantida a segurança sanitária. Para outras substâncias não há evidência suficiente de
risco à saúde, ao menos nas concentrações usualmente encontradas em águas de abaste-
cimento.
Na Tabela 4.15, apresentam-se as substâncias que constam no padrão de aceitação
para consumo da Portaria nº 518/2004.
Na Tabela 4. 16 são listados os parâmetros mencionados na Portaria nº 518/2004,
para caracterização da água destinada ao consumo humano. Deve-se ressaltar, contudo,
que o cri~ério fundamental que rege a definição de potabilidade da água é que ela não
cause mal à saúde humana. Deste modo, se uma determinada substância potencialmente
prejudicial à saúde estiver presente na água bruta ela precisará ser monitorada na água
distribuída à população, mesmo que não explicitado na referida Portaria.
Pode-se definir como água potável aquela que pode ser consumida sem riscos à saúde
humana e sem causar rejeição ao consumo por questões organolépticas. .
O tratamento da água, em si, não garante a manutenção da condição de potabilidade,
uma vez que a qualidade da água pode se deteriorar entre o tratamento, a distribuição, ª
reservação e O consumo. Por esta razão, é entendido na legislação brasileira que a obtenção
ª
e manutenção da potabilidade da água dependem de uma visão sistêmica, abrangendo
ª dinâm;ca da água desde o manancial até o consumo. Esta visão sistêmica tem origern .n~
que se denomina princípio de múltiplas barreiras, o que inclui a proteção dos manancJ~IS
e da área de dre~agem, a seleção de tecnologias de tratamentos apropriadas,ª .ope~a<;~~
correta das estaçoes de tratamento de água, além de medidas para evitar a contam1naçao

208

-
Qualidade da ~gua para consumo humano I Capitulo 4

água no sistema de distribuição, para garantir a segurança sanitária. Estas ações permitirão
orientar medidas corretivas, indícios de risco à saúde e a compatibilidade entre as caracterís-
ticas da água bruta e o tipo de tratamento existente (Bastos et ai., 2003).
Para todos os parâmetros citados na Tabela 4.16 são especificados os valores máximos
permissfvels (VMP) na água destinada ao consumo humano. o leitor pode consultar estes
f valores na Portaria nº 518/2004 do Ministério da Saúde, facilmente obtida pela Internet. A
revisão da referida Portaria é prevista para ocorrer a cada 5 anos ou a qualquer momento;
mediante solicitação justificada dos órgãos de saúde ou de instituições de pesquisa de
reconhecida confiabilidade, podendo alterar 05 valores, assim como incluir ou excluir al-
guns parâmetros que hoje constam no padrão de potabilidade brasileiro.
No Brasil, os padrões de potabilidade foram inicialmente estabelecidos pela Portaria nº

l
56/Bsb de 14/03/1977. Esta foi revogada pela Portaria nº 36 de 19/01/1990. Dez anos
depois foi feita a revisão da Portaria nº 310/2000, quando foi promulgada a Portaria
nº 1.469. Em 25/03/2004 esta Portaria foi praticamente reeditada e denominada Portaria
nº 518/2004, atualmente em vigor, a qual estabelece os procedimentos e responsabilidades
relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão
de potabilidade, e dá outras providências.

Tabela 4.15 - Parâmetros de aceitação para consumo humano incluídos na Portaria


nº 518/2004
Parâmetro Efeito
Alumínio Depósito de hidróxido de alumínio na rede de distribuição
a acentuação da cor devido ao ferro
Amônia (como NH3) Odor, acentuado em pH elevado
Cloreto Gosto
Cor Aparente Aspecto estético . ~
Dureza Gosto, incrustações, comprometimento da formaçao de
espuma com o sabão . . . ,
Etilbenzeno Odor - limite 100 vezes inferior ao cr1tér10 de saude
Ferro Aspecto estético - turbidez e cor
Manganês Aspecto estético -turbidez e c?r . . ,
Monoclorobenzeno Gosto e odor - limite bem abaixo do cr1tér10 de saude
Odor Odores são desfavoráveis ao consumo

Sabor Gostos são desfavoráveis ao consumo
Sódio Gosto
Sólidos dissolvidos totais Gosto, incrustações .
Sulfato Gosto, limite referente ao sulfato de sódio
Sulfeto de Hidrogênío Gosto e odor
Surfacta ntes Gosto, odor e formação ~e, ~spuma ,
Tolueno Odor limite inferior ao cr1ter10 de sa~de .
Aspecto estético, indicação de integridade do sistema
Turbídez
Zinco • Gosto .é. d , de
Xileno Gosto e odor - limite inferior ao cr1t rio e ~~~


209

.1
·- ---·z--·-z·_r_r_
Abastecírnento de água para c·o nsumo humano

Tabela 4.16. Parâmetros de caracterização da água destinada ao consumo hurna.


no (baseada na Portaria nº 518/2004) . . . . . . . . , , ~ . .. _ _ . t É • l '
...
._ •
1
- _, • • 1
Parâmetros que os constituem
w • JII O • 1 a a 11
• ,· · 1 1

Padrões definidos pela


Portaria nº 518/04 ;nl 11• • ,.11 nm

,. _ .assr . • • • s •· r ' ••
· " P~ta.bifid~de da água para consu_mo humano: Escherichia co . -
Padrão mrcrobiológico Coliformes Termotolerantes, Cohformes Totais, Bactérias b,
Heterotróficas
Padrão de turbidez para a água pós-filtração e pré-
desinfecção: Turbidez
Inorgânicas: Antimõnio, Arsênio, Bário, Cádmio, Cianeto
Padrão para substâncias Chumbo, Cobre, Cromo, Fluoreto, Mercúrio Inorgânico, '
químicas que
representam rjscos à Nitrato, Nitrito, Selênio
saúde Orgânicas: Acrilamida, Benzeno, Cloreto de vinila, 1,2
Dicloroetano, 1-1 Dicloroeteno, Diclorometano, Estireno,
Tetracloreto de carbono, Tetracloroeteno, Triclorobenzenos I

Tricloroeteno
Agrotóxicos: Alaclor, Afdrin e Dieldrin, Atrazina, Bentazona,
Cfordano, 2,4 D, DDT, Endrin, Glifosato, Heptacloro e
Heptacloro-epóxido, Hexaclorobenzeno, Lindano,
Metolacloro, Metoxicloro, Molinato, Pendimetalina,
Pentaclorofenof, Permetrina, Propani(, Simazina, Trifuralina
Cianotoxinas: Microcístinas
Desinfetantes e produtos secundários da desinfecção: 2,4,6
TriclorofenoJ, Bromato, Clarito, Cloro livre, Monoclo roa mina,
Total de Trihalometanos
Padrão de radioativjdade Radioatividade alfa global e Radioatividade beta global

Padrão de aceitação para Alumínio, Amônia (como NH 3


), Cloreto, Cor aparente,

consumo humano Dureza, Etílbenzeno, Ferro, Manganês, Monoclorobenzeno,


Odor, Sabor, Sódio, Sólidos Dissolvidos Totais, Sulfato,
Sulfeto de Hidrogênio, Surfactantes, Tolueno, Turbidez,
Zinco, Xileno

No mundo, os padrões e normas de potabilidade podem variar bastante para


determinados parâmetros como, por exemplo, para os parâmetros arsênio, microcistinas,
trihalometanos totais e a contagem de bactérias heterotróficas. Este último parâmetro
é referjdo em alguns padrões no mundo como segue: a WHO Guidelines for Drinking-
water Quality recomenda que a contagem de bactérias heterotróficas seja tão baixa
quanto possível, não atribuindo valor sanitário significativo a esta análise; o German
Drinking Water Regulation especifica que a água distribuída não pode conter mais que
111
100 .UFC mL· 1; a Guidelines for Canadian Drinking Water Quafity não especifica ~
m~x,~o mas recomenda que os níveis sejam menores que soo UFCmL·1; a Austra/Jan
1
Dnnk1ng-water Guidelines tem aceitado os limites de menos de 100 UFCmL- para

210 J
Qualidade da água para consumo humano I Capftulo 4

águas tratadas e menos de 500 UFCmL-1 para a água bruta; no Brasil, a Norma de
Qualidade da Agua para Consumo Humano específica que esta análise deverá ser feita em
20°/o das amostras mensais de água tratada, no sistema de distribuição, e a contagem
não deve exceder 500 UFCmL-1.
Outros casos ilustrativos referem-se ao arsênio, à microcistina e aos trihalometanos.
Na Portaria nº 56/Bsb de 1977 o VMP de arsênio era de 0, 1 mgL-1, na Portaria nº 36 de
1990 admitia-se 0,05 mgL-1 e na Portaria nº 518/2004 este valor foi reduzido a 0,01 mgL-1.
Um fato histórico importante para explicar essa maior exigência em relação ao arsênio foi
a contaminação de milhões de pessoas ocorrida em Bangladesh, pelo consumo continuado
de água contendo teores elevados de arsênio. Essa tragédia ficou mais conhecida na déca-
da de 1990. Em relação a microcistina, essa substância passou a fazer parte do padrão de
potabilidade brasileiro no ano 2000, em decorrência da morte de dezenas de pacientes de
uma clínica de hemodiálise na cidade de Caruaru-PE. Até então não era exigido explicita-
mente o monitoramento das cianotoxinas como a microcistina. Quanto aos trihalometanos,
somente a partir do ano de 1974 passou-se a ter preocupação com eles, quando um
trabalho científico demonstrou que a reação de cloro com matéria orgânica pode gerar
estes compostos e que eles são potencialmente prejudiciais à saúde. Na Portaria nº 56/Bsb,
de 1977, os trihalometanos não eram mencionados. Eles foram incluídos no padrão de
potabilidade brasileiro a partir da Portaria nº 36 de 1990.
Observa-se, com estes breves relatos, que os padrões de potabilidade variam em função
do avanço do conhecimento científico que se tem sobre os riscos potenciais de determinadas
subst.âncias e com o aperfeiçoamento das técnicas de detecção e de remoção das
mesmas, na água destinada ao consumo humano. É importante observar que, mesmo
atendendo a todos os VMP estabelecidos, ainda assim pode haver riscos, até o momento
desconhecidos para a saúde, pelo consumo da água e, portanto, não constantes dos pa-
drões estabelecidos. Destaca-se assim que o conceito de água potável adotado na Portaria
nº 518/2004 refere-se à água que não ofereça riscos à saúde, ou seja, os responsáveis pela
1 operação de sistema de abastecimento ou solução alternativa devem estar atentos a quais-
' quer riscos que possa representar o consumo da água distribuída à população, indepen-
dentemente do risco provir ou não de um parâmetro que conste na referida Portaria. E,
nesse sentido, a Portaria nº 518/2004 trouxe importantes avanços para garantir a qualidade
sanitária da água,

, 4.5.2 Amostragem

Na Portaria nº 518/2004 é definido um plano de amostragem para as águas do sistema


• de distribuição e para à água bruta. O número mínimo de amostras é variável de acordo com
o parâmetro de qualidade da água, o ponto de amostragem (saída do tratamento e reserva-
tórios/rede), 0 porte da população abastecida e o tipo de manancial. O monitoramento da
t
211
Abostocfmento de égua para consumo humano
i
)
)
água bruta tem como finalidade valorizar o ~~nceito de múltiplas barreiras, ~nfatizancto-se a
·- . rt.o. · d
1mpo anc1a . e se estabelecer co-responsab11tdade dos .prestadores
d do
.. serviço de ab .
astec,-
, 1
mento de água na atenção e cuidados com o ~-ananc1a , sen o ex191do o monitoramento
com freqüência semestral da água dos mananc1a1~.
Reconhecendo as especificidades que determinamª presença das substâncias na á
na Portaria nº 518/2004 é prevista flexibilidade n~s planos de amostragem, conforme p~~:
ser depreendido dos tópicos apresentados a se~u,r que, .e~ outras palavras, sugerem que 05
planos de amostragem podem e devem ser revrstos per1od1camente (Bastos et ai., 2003):

• 0 responsável pela operação do sistema ou solução alternativa de


abastecimento de água pode solicitar à autoridade de saúde pública a
alteração na freqüência mínima de amostragem de determinados
parâmetros estabelecidos. Após avaliação criteriosa, fundamentada em
inspeções san;tárias e/ou em histórico mínimo de dois anos do controle
e da vigilâncja da qualidade da água, a autoridade de saúde pública
decidirá quanto ao deferimento da solicitação, mediante emissão de
documento específico;
• em função de características não conformes com o padrão de pota-
bifidade da água ou de outros fatores de risco, a autoridade de saúde
púbJica competente, com fundamento em refatório técnico, determi-
nará ao responsável pela operação do sistema ou solução alternativa
de abastecimento de água que amplie o número mínimo de amostras,
aumente a freqüência de amostragem ou realize análises laboratoriais
de parâmetros adicionais ao estabelecido;
• para a maioria dos parâmetros, é dispensada a análise na rede de
distribuição quando não forem detectados na saída do tratamento
e/ou no manancial, à exceção de substâncias que potencialmente pos-
sam ser introduzidas no sistema ao longo da distribuição.

A freqüência mínjma de amostragem em sistemas de abastecimento de água é


dependente das mesmas variáveis, conforme mostrado na Tabela 4.17. O número mínimo
mensal de amostras para análises microbiológicas, ainda conforme a Portaria nº 518/2004,
é reproduzido na Tabela 4.18, e o número mínimo de amostras mensais para o controle da
qualidade da água de sistema de abastecimento, para fins de análises microbiológicas, em
função da população abastecida, na Tabela 4.19. Na Tabela 4.20 consta o número mínimo
de amostras e a freqüência mínima de amostragem para o controle da qualidade da água
de s~lução alternativa, para fins de análises físicas, químicas e microbiológicas, em função
do trpo de manancial e do ponto de amostragem.

212

Qualidade da água para consumo humano I Capítulo 4

Tabela 4.17 - Número mínimo de amostras para o controle da qualidade da água


de sistema de abastecimento, para fins de análises físicas, químicas e de radioati-
vidade, em função do ponto de amostragem, da população abastecida e do tipo
de manancial
Parâmetro Tipo de Saída do tratamento Sistema de distribuição (reservatórios e rede)
manancial (número de amostras
por unidade de População abastecida
tratamento) <50.000 hab. 50.000 a > 250.000 hab.
250.000 hab.
Cor Superficial 1 10 1 para cada 40 + (1 para cada
Turbidez 5.000 hab. 25.000 hab.)
pH
Subterrâneo 1 5 1 para cada 20 + (1 para cada
10.000 hab. 50.000 hab.)
Superficial 1 (Conforme § 3° do artigo 18)
Subterrâneo 1
Fluoreto Superficial ou 1 5 1 para cada 20 + (1 para cada
Subterrâneo 10.000 hab. 50.000 hab.)
Cianotoxinas Superficial 1 - -
(Conforme§ 5° do •

artigo 18)
Trihalometanos Superficial 1
Subterrâneo -
Demais Superficial ou 1
parâmetrost3> Subterrâneo
NOTAS: (1) Cloro residual livre; (2) As amostras devem ser coletadas, preferencialmente, em pontos de maior tempo de
detenção da água no sistema de distribuição; (3) Apenas será exigida obrigatoriedade de investigação dos parâmetros
radioativos quando da evidência de causas de radiação natural ou artificial; (4) Dispensada análise na rede de
distribuição, qu.ando o parâmetro não for detectado na saída do tratamento e/ou no manancial, à exceção de
substâncias que potencialmente possam ser introduzidas no sistema ao longo da distribuição.

Tabela 4.18 - Freqüência mínima de amostragem para o controle da qualidade da


água de sistema de abastecimento, para fins de análises físicas, químicas e de
radioatividade, em função do ponto de amostragem, da população abastecida e
do tipo de manancial (continua)
1
Parâmetro Tipo de Saída do tratamento Sistema de distribuição (rservatórios e rede)
manancial (freqüência por População abastecida
unidade de
tratamento) <50.000 hab. 50.0.00 a > 250.000 hab.
250.000 hab.

Cor Superficial A cada 2 horas Mensal Mensal Mensal


Turbidez Diária
PH Subterrâneo
Fluoreto
CRL(I) Superficial A cada 2 horas (Conforme § 3° do artigo 18)

Subterrâneo Diária

l
213

-
. '. (conclusão)
- - •

uperficial Semanal
(Conforme § 5º do
artigo 18)
Trimestral Trimestral Trimestral
·uperfidal Trimestral
Anual Semestral Semestral
Subterrâneo -
Semestra1ro Semestral<3> Semestralª>
Superficial ou Semestral
Subterrâneo
..
X T

. ~d ._ . (Z) Apenasserá exigida obrigatoriedade de investigação dos parâmetros radioativos quando


1.d . res, dua 11I re, d · d" - natural ou artificial· (3) Dispensa
· da aná1·1se na
- re de de d·_,st r,·bu1çao
· quando ·
da' e\, ênc1a e causas e ra ,açao '- . -o
r metro não for detectado na saída do tratamento e/ou n~ ~an~nc1al, à exceção de substâncias que
ten ialmente possam ser introduzidas no sistema ao longo da distribuição.

làbela 4.19 - Número mínimo de amostras mensais para o controle da qualidade


da água de sistema de abastecimento, para fins de análises microbiológicas, em
função da população abastecida b

SISI EMA DE DISTRIBUIÇÃO (RESERVATÓRIOS E REDE)


PARÂMEIRO d l
b

População abastecida
_ i . _ 7
-
d

< 5.000 hab. s.oo,oa 20.000 hab. 20.000 a 250.000 hab. > 250.000 hab.

1 para cada 500 30 + {1 para cada 2.000 1OS+ (1 para cada


Coliformes 10
hab. hab.) 5.000 hab.)
totais Máximo de 1.000
· Ot : na saída d,e cada unidade de batamento devem ser coJetadas, no rnfnimo, 2 (duas) amostras semanais,
recomendando-se a coleta de, pelo menos, 4 (quatro) amostras semanais.

Tabela 4.20 - Número mínimo de amostras e freqüência mínima de amostragem


para o controle da qualidade da água de solução alternativa, para fins de análises
físicas, químicas e microbiológicas, em função do tipo de manancial e do ponto de
amostragem

Parâmetro Típo,de Saída do, Número de amostras Freqilência de


manancial tratamento retiradas no ponto amostragem
(para água de consumo<1>
canalizada) (para cada 500 hab,)
Cor, turbidez, pH e Superfióaf 1 1 S manai
coliformes totai~
Subterrâneo 1 1 Mensal
CRLcz,e, SuperfiáaJ ou 1 Diário
1
Subterraneo
NOTAS: (1) ,Devem_ ser retiradas amostrasem, no mfn1mo,
- .
3 pontos de consumo de águc:1' (2) Pc1rc1 vefculos
transportadores de água pa
uma) ál' f. ta consumo humano, deve ser realizada 1 (uma) análise
- ' de CRI t'm rada carga e 1
( an 1se, na onte de fornecimento d b.
outra amostragem dete • . . . . ' e cor, tur 1dez, pH e coliformes totais c.om freqüência mensal, ou
pública; (3) Cloro r sldu I hvr .
rm,nada peta autoridade de saúde 1

214
Qualidade da ~gua para consumo humano I Capítulo 4

4.5.3 Responsabi.lidades legais

As operações envolvidas na determinação da qualidade da água são muitas e comple-


xas. Elas podem ser comparadas a uma cadeia com uma série de interligações e a falha de
qualquer uma delas pode enfraquecer o processo como um todo. É importante que o
desenho dessas operações leve em conta precisamente os objetivos do processo de deter-
minação da qualidade da água. Restrições econômicas, técnicas e de pessoal freqüente-
mente definem quais as variáveis vão ser monitoradas e os métodos a serem utilizados,
sendo necessário cuidadoso estudo para assegurar que os objetivos originais sejam
contemplados do modo mais eficiente possível.
O processo de determinação da qualidade da água é o conjunto de todas as avalia-
ções físicas, químicas e biológicas da água. Chapman (1996) cita definições correntemente
utilizadas para os diferentes tipos de programas de observação ambiental, referindo-se ao
monitoramento da qualidade da água como um processo de longo prazo de medidas
padronizadas e observação do ambiente aquático para definir o atual estado de qualidade
e suas tendências; à inspeção como um processo de duração finita, um programa intensi-
vo para medir e observar a qualidade da água para um propósito definido; e à vigilância
como um processo contínuo de medidas e observações específicas para o propósito de
manejo da qualidade da água e visando a atividades operacionais.
As definições podem ser freqüentemente confundidas. Entretanto, elas diferem em
relação à sua utilidade predominante na determinação da qualidade da água. No abasteci-
mento, a inspeção sanitária é o primeiro passo para determinar a possibilidade de utilização
1 do manancial para abastecimento humano. A vigilância sanitária deve ser implementada
para a certificação da qualidade e a adequação dos processos. Eo monitoramento também
pode ser implementado para prevenir o processo de deterioração do manancial como um
' todo, incluindo o monitoramento da área de drenagem e dos usos implementados à
montante.
Nos âmbitos Federal, Estadual e Municipal, nas suas respectivas áreas de competência,
cabe à FUNASA · Fundação Nacional de Saúde e às Secretarias de Saúde dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios, respectivamente, promover e acompanhar a vigilância
(no caso das Secretarias municipais, exercer a vigilância) da qualidade da água e estabelecer
' referências laboratoriais para dar suporte às ações de vigilância da qualidade da água para
consumo humano.
Cabe, ainda, à FUNASA: aprovar e registrar metodologias não contempladas nas refe-
, rências citadas no artigo 16 do anexo da Portaria nº 518/2004; definir diretrizes específicas
para o estabelecimento de um plano de amostragem a ser implementado pelos Estados,
Distrito Federal ou Municípios, no exercício das atividades de vigilância da qualidade da
f água, no âmbito do Sistema único de Saúde - SUS; e executar ações de vigilancia da
qualidade da água, de forma complementar, em caráter excepcional, quando constatada,
tecnicamente, insuficiência da ação estadual, nos termos da regulamentação do SUS.

215
AbastecJmento de água para consumo humano

As Secretarias de Saúde dos Estados e do Distrito F':deral cabe: garantir, nas atividades
de vigilância da qualidade da água, a implem~ntaçao de um plano de amostragem
pelos municípios, observadas as dire:rizes específicas a serem elaboradas pela FUNASA; e
executar ações de vigilância da qualidade da ág~a, d~ !?rn:1ª com~lement~~· em caráter
excepcional, quando constatada, tecnicamente, 1nsuf1c1enc1a da açao mun1c1pal, nos ter~
mos da regulamentação do SUS. .
Já às Secretarias Municipais de Saúde cabe ainda:

• sistematizar e interpretar os dados gerados pelo responsável pela


operação do sistema ou solução alternativa de abastecimento de água,
assim como pelos órgãos ambientais e gestores de recursos hídricos,
em relação às características da água nos mananciais, sob a perspectiva
da vulnerabilidade do abastecimento de água quanto aos riscos à saú-
de da população;
• efetuar, sistemática e permanentement.e, avaliação de risco à saúde
humana de cada sistema de abastecimento ou solução alternativa, por
meio de informações sobre: a) a ocupação da bacia contribuinte ao
manancial e o histórico das características de suas águas; b) as carac-
terísticas f'ísicas dos sistemas, práticas operacionais e de controle da
qualidade da água; e) o histórico da qualidade da água produzida e
distribuída; e d) a associação entre agravos à saúde e situações de
vulnerabilidade do sistema;
• • auditar o controle da qualidade da água produzida e distribuída e as
práticas operacionais adotadas;
• garantir à população informações sobre a qualidade da água e riscos
à saúde associados, nos termos do inciso VI, do artigo 9, do Anexo da
Portaria nº 518/2004;
• manter registros atualizados sobre as características da água distri-
b~.fda, sistematizados de forma compreensível à população e disponi-
b1l1zados para pronto acesso e consulta pública;
• manter mecanismos para recebimento de queixas referentes às
ca_racterísticas da água, para a adoção das providências pertinentes;
• informar ao responsável pelo fornecimento de água para consumo
human? ~ob~e anomalias e não conformidades detectadas, exigindo
as prov1denc1as para as correções que se fizerem necessárias·
• aprovar o plano· . de amostr· ' .
· agem apresentado pelos responsáveis pelo
control: da qualidade da água de sistema ou solução alternativa de
abastecimento · de água
. , que d · · · ·
eve respeitar os planos mínimos de amos-
tr~gem expressos na Portaria nº 51812004 ;
• implementar um plano pró · d
rd d d pno e amostragem de vigilância da qua-

I a e a água, consoante diretrizes específicas elaboradas pela


FUNASA; e

216
Qualidade da água para consumo humano I Caprtufo 4

• definir o responsável pelo controle da qualidade da água de solução


alternativa.

Conforme definido pela Portaria nº 518/2004, o fornecimento de água às populações


pode ser realizado por dois diferentes tipos de instalações: o sistema de abastecimento de
água para consumo humano e a solução alternativa de abastecimento de água para con-
sumo humano. O texto a seguir relembra as definições expressas na Portaria:

• sistema de abastecimento de água para consumo humano: instalação


composta por conjunto de obras civis, materiais e equipamentos, des-
tinada à produção e à distribuição canalizada de água potável para
populações, sob a responsabilidade do poder público, mesmo que
administrada em regime de concessão ou permissão;
• solução alternativa de abastecimento de água para consumo huma-
no: toda modalidade de abastecimento coletivo de água distinta do
sistema de abastecimento de água, incluindo, entre outras, fonte,
poço comunitário, distribuição por veículo transportador, instalações
condominiaís horizontal e vertical.

É imputado ao(s) responsável(is) pela operação de sistema ou solução alternativa de


abastecimento de água exercer o controle da qualidade da água, sendo que em caso de
regime de concessão ou permissão ~o sistema de abastecimento de água é a concessionária
ou a permissionária a responsável pelo controle da qualidade da água. Incumbindo, também,
ao(s) responsável(is) pela operaç,ão e sistema de abastecimento de água:

• operar e manter o sistema. de abastecimento de água potável para a


pop·ulação consumidora, em conformidade com as normas e legisla-
ções pertinentes;
• manter e controlar a qualidade da água produzida e distribuída, por
meio de; a) controle operacional das unidades de captação, adução,
tratamento, reservação e distribuição; b) exigência do controle de qua-

lidade, por parte dos fabricantes de produtos químicos.utilizados no
tratamento da água e de materiais empregados na produção e distri-
buição que tenham contato com a água; e) capacitação e atualização
técnica dos profissionais encarregados da operação do sistema e do
controle da qualidade da água; e d) análises laboratoriais da água, em
amostras provenientes das diversas partes que compõem o sistema de
abastecimento;
• manter avaliação sistemática do sistema de abastecimento de água,
sob a perspectiva dos riscos à saúde, com base na ocupa~ão da bacia
contribuinte ao manancial, no histórico das características de suas
águas, nas características físicas do sistema, nas práticas operacionais
e na qualidade da água distribuída;

217
--
• -- •

• encaminhar à autoridade de saú e púb11t'A, par fln'.'i d , mpro~ação


do atendimento à Portaria n" 518/2004, r~latólirr., rnr:n í3 I" com infor-
mações sobre o controle da qualídade d;; ágtJl, f~gun ~o modelo esta-
beleci do pela referida autoridade; ~
" promover, em conjunto com os órgã ~ amo,
'r . ,
I.; · 9 . stores ?e re-
cu rsos hídricos, as ações cabíveís pa,a ~ pr, ~_<;ao do mananctal de
abastecimento e de sua bacia contriboín , a Am e JíflO fetuar con-
trole das características das suas água:;, n~ .rm<Y do artígo 19 do
Anexo da Portaria nº 518/2004, notificari . lmedíatam nte a autori-
dade de saúde pública, sempre que h u•1er índtcloJ d risco à saúde
ou sempre que amostras coletadas ap,~~fltare,11 r, 1>ultados em desa-
cordo com os limites ou condições da rff.>pectíYa ela se de enquadra-
mento, conforme definido na legíslac;ao 'ligen e"pecfflca;
• fornecer a todos os consumído,es, os terrn~ do Código de Defesa
do Consumidor, informações sobre a qualidade da água dfstríbuida,
mediante envio de relatório, dentre outr~ ri e1Ani~rnos, com periodici-
, dade mínima anual e contendo, pelo roe o;, a~ ..,~guintes informações:
a) descrição dos mananciais de abastedrnento, incluindo informações
sobre sua proteção, disponíbílídade e qualidade da água; b) estatística
1
descritiva dos valores de parâmetros e qualidade detectados da água,
• seu significado, origem e efeitos sobre a saúde; C) ocorrência de não
conformidades, com o padrão de potabílidad e ai!" rnedidas corretivas
providenciadas;
• manter registros atualizados sobre as caracten. .tícas da água distri-
' buída, sistematizados de forroa cornpreensíYel aos consumidores e
disponibilizados para pronto acesso e con,.ulta pública;
• comunicar, imediatamente, á autorídade de ..aúde pública e infor-
1
.
mar, a~equadamente, à população a deteq;A de qualquer anomalia
operac1o~al n?. sistema ou não conforrnidade na qualidade da água
1
trat~da, 1dent1f1cada como de risco a .,aúde, adotando-se as medidas
previstas no artigo 29 do AneYi.0 da Portaría nº 518/ 2004 1'
• manter · . para receb1rne
~ecanrsmos ., nto d· queíxas referentes às
características da água e para a adoçá a pro vidêncías pertinentes.
Ao. responsável por solução alternativa
Secretaria Municipal de Saúde inru ... __ dm nto de água, definido pela
, m~I
• requerer, junto à autorídad d . ,
1
fornecimento de á e e saúde púbhca, autorízaçao para o
ser fornecida, incl~~:~ª!;6:ntando laudo so~re a análí~e da água a
tarla nº s1a1 definíd p<2râm~~ dP qualidade previstos na Por-
2004, · os por critér, a ret rida autoridade;

218 •
Qualidade da água para consumo humano I Capítulo 4

• operar e manter solução alternativa que forneça água potável em


conformidade com as normas técnicas aplicáveis, publicadas pela ABNT
- Associação Brasileira de Normas e Técnicas, e com outras normas e
legislações pertinentes;
• manter e controlar a qualidade da água produzida e distribuída, por
meio de análises laboratoriais, nos termos da Portaria nº 518/2004 e,
a critério da autoridade de saúde pública, das mesmas medidas im-
postas ao(s) responsável(is) pela operação e sistema de abastecimento
de água;
• encaminhar à autoridade de saúde pública, para fins de comprovação,
relatórios com informações sobre o controle da qualidade da água,
segundo modelo e periodicidade estabelecidos pela referida autoridade,
sendo no mínimo trimestral;
• efetuar controle das características da água da fonte de abasteci-
mento, nos termos do artigo 19 do Anexo da Portaria nº 518/2004,
notificando, imediatamente, à autoridade de saúde pública sempre

que houver indícios de risco à saúde ou sempre que amostras coleta-
das apresentarem resultados em desacordo com os limites ou condi-
ções da respectiva classe de enquadramento, conforme definido na
legislação específica vigente;
• manter registros atualizados sobre as características da água distri-
buída, sistematizados de forma compreensível aos consumidores e
disponibilizados para pronto acesso e consulta pública;
• comunicar, imediatamente, à autoridade de saúde pública compe-
tente e informar, adequadamente, à população a detecção de qual-
quer anomalia identificada como de risco à saúde, adotando-se as
medidas previstas no artigo 29 do Anexo da Portaria nº 518/2004;
• manter mecanismos para recebimento de queixas referentes às
características da água e para a adoção das providências pertinentes .

1
219
Abasteclm,e nto de 6gua para consumo huma,no

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Disp_onfvel em: <http://www.who.int/docstore/water _sanitation_health/GDWQ/ Updating/draftguidel/
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WORLD HEALTH ORGANIZATION. 7, Microbial aspects. ln: WHO. WHO Guidelines for Drinking-water Quality.
3. ed. 2003c. 59 p. Disponível em: <http://www.who.int/docstore/water_sanitation_health/GDWQ/Updating/
draftguldeJ/2003gdwq7 .pdf>. Acesso em: 12 jun. 2004.

WORLE> HEAL17H ORGANIZATION. 8. Chemica/ aspects. ln: WHO. WHO Guidelines for Drinking-water Quality.
3. ed. 2903d. 215 p. Dtspnnível em: <:http:/MWN.who.int/docstore/water_sanitatlon_health/GDWQ/ Updating/
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WORl!.fl REALTH ORGANIZATlON. 9. Radiologlcal Qua/ity of Drinking·Water. ln: WHO. WHO Guidelines for
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hea]ttiVGE>WQ!WJ:rdatlng/draftguidel/2003gdwq9.pdf>. Acesso em: 12 jun. 2004.

WORt.6 HEALTH ORGANIZATIO.N. 10. Acceptabi/ity aspects. ln: WHO. WHO Guidelines for Drinking·water
Qua.lity. 3. ed. 2003f. 10 p. Disponível em: <http:J/www.who.int/docstore/water_sanitation_health/GDWQ/
Updating(dtaftguidelt2003gdwq10.pdf>. Acesso em: 12 jun. 2004.

t
1


'

r

221
Capítulo 5

Mananciais superficiais: aspectos quantitativos

Mauro Naghettini

5.1 Introdução

O aproveitamento e a conservação dos recursos hídricos são atividades que requerem


concepção, planejamento, administração, projeto, construção e operação de meios para o
controle e a utilização racional das águas. De forma ampla, pode-se agrupar os problemas
relacionados ao aproveitamento e à conservação dos recursos hídricos em três grandes
blocos temáticos, a saber: (i) o controle do excesso de água, (ii) a conservação da quantidade
de água e (iii) a conservação da qualidade da água. Todos requerem o estudo dos funda-
mentos da chamada engenharia hidrológica.
A hidrologia é considerada uma geociência que trata das águas da Terra, sua ocorrên-
cia, circulação, distribuição, suas propriedades ffsico-qufmicas e suas relações com os seres
vivos. A engenharia hidrológica utiliza os princípios cientfficos da hidrologia para solucionar
1 os problemas de engenharia resultantes da exploração dos recursos hídricos terrestres pelo
homem. Em sentido amplo, a engenharia hidrológica busca estabelecer as relações que
determinam as variabilidades espacial, temporal e geográfica dos recursos hfdricos, com o
objetivo de assegurar a qualidade do planejamento, projeto e operação de estruturas e
sistemas hidráulicos. = •

A utilização dos recursos hídricos para os setores de abastecimento de água, irri-


gação, geração de energia e navegação fluvial pressupõe a quantificação de diversas
grandezas do ciclo hidrológico, bem como de suas respectivas variabilidades, com o
objetivo de estabelecer as vazões características para projeto e operação das estruturas

223
.
Abastecimento de 6gua para co.nsumo humano

hidráulicas envolvidas. As obras de alteração do regime hidrológico, como os reserva-


tórios de acumulação, e as estruturas de controle e d~enagem de enchentes, tais corno
diques, muros de contenção, bueiros e vertedores, sao exem~los de medid~s necessá-
rias para a atenuação da escassez ou excesso de água, as q.ua!s dependem diretamente
de estudos hidrológicos. O presente capítulo tem por obJetivo estabelecer os funda-
mentos de tais estudos, com o foca voltado para O armazenamento e transporte das
águas superficiais.

5.2 O ciclo hidrológico

'

A circulação contínua e a distribuição da água sobre a superfície terrestre, subsolo,


atmosfera e oceanos é conhecida como ciclo hidrológico. A radiação solar e a gravidade
são os principais agentes que governam os processos do ciclo hidrológico, os quais encon-
tram-se ilustrados esquematicamente na Figura 5.1 . Existem seis processos básicos no ciclo
hidrológico: evaporação, precipitação, .infiltração, transpiração, escoamentos superficial e
subterraneo. Os mecanismos que regem o ciclo hidrológico são concomitantes, o que não
permite caracterizar o seu início ou fim.
Sob o efeito da radiação solar e da turbulência atmosférica, a evaporação ocorre a
partir das superfícies d'e água, formando uma massa de ar úmido. O resfriamento deste ar
úmido provoca a condensação do vapor e a formação de minúsculas gotas de água, as
quais pre.ndem-se aos sais e às partículas higroscópicas presentes na atmosfera, dando 1

origem às nuvens, que são f armas de nebulosidade em suspensão no ar atmosférico. O


choque entre as gotículas em suspensão provoca o seu crescimento, tornando-as suficien-
temente pesadas, para se precipitarem .sob a forma de chuva, neve ou granizo.
As gotas de chuva iniciam então a segunda fase do ciclo hidrológico, a precipitação, a
qual pode variar em intensidade de uma estação para outra, ou de uma região para outra,
a depender das diferenças climáticas no tempo e espaço. Parte da precipitação pode ser
recolhida pela folhagem e troncos da vegetação e não atinge o solo. A esse armazenamento
de água dá-se o nome de interceptação, do qual grande parte retorna à atmosfera sob
forma de vapor, através da energia fornecida pela radiação solar. A parcela da precipitação
q~e atinge o saio pode infiltrar para o subsolo, escoar por sobre a superfície ou ser recolhida
diretamente por cursos e corpos d'água. Os processos de infiltração e escoamento
superficial são muito inter-relacionados e influenciados pela intensidade da chuva, pela
cobertura vegetal e pela permeabilidade do solo.

224

Mananciais superficiais: aspectos quantitativos f CapJtulo 5

Lago

Oceano

:;;,-~~
Aquífero

=
E Evaporação P = Precipitação f = Infiltração
S =Escoamento superficial B = Escoamento subterrâneo T = Transpiração
Figura 5.1 - O ciclo hidrológico

Parte da água que se infiltra fica retida em poros na camada superior do solo, p:,ela
ação da tensão €af)ilar. Essa umiclade retictla no solo pode ser absorvida pelas raízes da
vegetação ou pocde sofrer evaporação. Outra parte do volume infiltrado pode formar o
escoamento subsuperficial, através das vertentes e camadas mais superficiais do solo. o
restante da água de infiltração irá percolar para as camadas mais profundas, até encontrar
uma região ma qual todos os interstícios do solo estarão preenchidos por água. Essas cama-
das de solo saturad@ com água são chamadas lençóis subterrâneos e repousam sobre
substratos impermeáveis ou de baixa permeabilidade. CD escoamento subterrâneo em um
aqüffero, por exemplo, pode se dar em cdix,ersas direções e, eventualmente, emergir em um
lago ou mesmo sustentar a vazão de um rio perene em perío@os de estiagem.
Se a chuva exceder a capacidade máxima de imfiltraçã© do sol©, esse excesso irá inici-
almente se acumuJari em depressões e, em seguida, formar o escoamento superficial. Esse
ocorre através de trajetórias preferenciais, sulcos, ravinas, vales e cursos d'água, os quais
• finalmente irão desaguar nos mares e oceanos. Nesse trajeto da água superficial, @@dem
©correr, mais uma vez, @erdas por ir1filtração e evaporação, conforme as característiGas de
relevo e umidade presente no solo.
O cicf© thiclrológice completa-se pele ret©rno à atmosfera da água armazenada pelas
plantas, pelo solo e pelas swperffcies líquidas, som a forma de vapor d'água. Quando essa
mudança de fase term ©rigem em superfícies líquidas, dá-se o nome de evaporação
simplesmente. As plantas, por sua vez, aesorvem a água retida nas camadas super.i0ries ae
solo, através de seus sistemas radiculares, utilizand©-a em seu processo de crest!:imente.

225

..
Abost,cim~nto de água para consumo humano

A transpiração é o processo pelo qual as plantas dev~lvem para a atmosfera parte da


á.gua que absorveram do solo, expondo-a à evaporaçao através de pequenas abertura
existentes em sua folhagem, denominadas estôm~tos. O conjunto d~s processos d;
evaporação da água do solo e transpiração é conhecido por evapotransp,ração. Segundo
Linsley et ai. (1975), em escala continental, cerca de 25% d.º.volume d'água que atinge
o solo alcança os oceanos na forma de escoamento superf1c1al e subterrâneo, ao passo
que 75% volta à atmosfera, por evapotranspiração.
O volume total de água na Terra é estimado em 1.460 milhões de quilômetros cúbicos
e encontra-se distribuído de forma bastante desequilibrada entre rios, aqüíferos, oceanos e
lagos. A Tabela 5.1, adaptada de Nace (1971 ), apresenta as estimativas do balanço global
do volume de água, sua distribuição e os respectivos tempos de residência. Observe que O
volume de água subterrânea, embora represente quase a totalidade da água doce não
congelada existente no globo terrestre, pode demorar até alguns milhares de anos para ser
completamente renovado. •

Tabela 5. 1 - Balanço hídrico global


Fonte Volume (10 km )
6 3
Volume(%) Tempo de residência

Mares e oceanos 1.370 94 4.000 anos


Lagos e reservatórios 0, 13 < 0,01 1O anos
Pantanos < 0,01 < 0,01 1-10 anos
Rios < 0,01 < 0,01 2 semanas
Umidade do sof'o 0,07 < 0,01 2 semanas - 1 ano
Agua subterrânea 60 4 2 semanas - 10.000 anos
Geleiras 30 2 10-10.000 anos
Agua atmosférica 0,01 < 0,01 1O dias
Agua biosférica < 0,01 < 0,01 1 semana
Fonte: adaptado de NACE (1971)

t

5.3 O balanço hídrico

Consjderando os seis processos principais do ciclo da água, pode-se fazer uma estima-
tiva das quantidades de água que passam por cada uma destas etapas. Esta quantificação
advém da aplicação do princípio da conservação da massa, cuja formutação representa a lei
fundamental da hidrologia ou equação do balanço hídrico. Esta é a expressão da equação
da continuidade aplicada ao ciclo hidrológico em uma bacia hidrográfica · ou em uma
determinada região e define a relação entre os fluxos médios de água que entram (Qe)

226
Manancla,~ ur, ,ria lo 1.1tr,ectru QuDn1'tauvos I Capitulo 5

e que saem (05) de um sistema definido no espaço e o volurne armazenado AV, durante um
intervalo de tempo tit

(1)

Supondo os instantes de tempo inicial e final t 1 e t·2, respectivamente, a Equação 1


pode ser escrita como

- - -os, + o
-
v2- v, -_Oe, + oe2 - S2

t2-t1 2 2 (2)

Para uma bacia hidrográfica, os componentes do armazenamento (V2 e V1) serão os


correspondentes ao volume de superfície Vs (incluindo os volumes armazenados em rios,
canais, fagos, reservatórios e depressões), ao volume de subsolo V8 (incluindo a umidade
do solo e o volume armazenado em aqüíferos) e ao volume de interceptação V,r, esse de
magnitwde menor em relação aos primeiros. Uma vez fixado um certo intervalo de tempo,
o fluxe de emtrada (Oe) poderá ser representado pelo volume de precipitação P. Da mesma
forma, o de safàa (Qs) poderá ser a soma dos volumes correspondentes ao escoamento
superficial 5, aos escoamentos subsuperficial e subterraneo B, à evaporação E, à transpiração
T, assim como à infiltração /, no intervalo de tempo em questão, Logo, em unidades
volumétricas, a Equação 2 pode ser expressa como:

dV5 +AV8 =V5 ~ 2 )-V5 (t 1 )+ V0 (t2 )- V0 (t 1 ) =P- S - B- E- T - I (3)


Da mesma forma que essas equações podem ser aplicadas a bacias hidrográficas, elas
podem ser modificadas para representar o balanço hídrico de um reservatório, ou de um
trecho de rio, ou mesmo de uma superfície ímpermeáve(, desde que os termos pertinentes
sejam considerados. Em alguns casos, as unidades são alturas equivalentes em milímetros
de água uniformemente distribuídos sobre a área da bacia hidrográfica, Em particular, o
volume de escoamento superficial V5, quando expresso na forma de altura equivalente (em
mm ou cm) sobre a área de drenagem, recebe a denominação de deflúvio superficial ou,
simplesmente, deflúvio.

227
1

Abastecimento de água para consumo humano

= =

----
= := • "' = ;

Exemplo 5.1

Deflúvío - Considere que a seção fluvial que drena uma bacia hidro-
gráfica de área igual a 100 km2 apresenta uma vazão média anual de
1 , 5 m3/s. calcule O deflúvio anual.

Solução

Conforme descrito acima, o deflúvio é a altura equivalente (mm ou


cm), distribuída sobre a área de drenagem da bacia, correspondente a
uma vazão uniforme ao longo do intervalo de tempo em questão. Logo:

m3
Q- 1
5
5=. x 86.400 x 365(s)= ·~ x 86.400 x 365=0,473m=473mm
2
A(m ) 10

Exempfo 5.2

BaJanço Hídrico - Durante o mês de Julho de 1981 , a afluência média


ao reservatório de Três Marias (MG) foi de 430 m3/s. No mesmo perío-
do, a CEMIG operou o reservatório liberando para jusante uma vazão
de 250 m3/s para atendimento à navegação, sendo que a geração de
energia elétrica consumiu uma vazão adicional de 500 m3/s. A precipi-
tação mensat na região foi de apenas 5 mm, enquanto o total mensal
de evaporação da superfície do reservatório foi de 11 O mm. Sabendo
que no início do mês o NA do reservatório era 567 ,03 m, calcular o NA
no fim do mês, dada a relação cota-área-volume a seguir. Despreze as
perdas por infiltração e calcule a precipitação efetiva (precipitação-
evaporação) sobre o lago, com base no NA de 567,03 m. Fazer inter-
polação linear na relação cota-área-volume.

228
Mananciais superficiais: aspectos quantitativos I Capitulo 5
1

Reservatório de Três Marias - Relação Cota-Área-Volume

9
NA(m) Volume (x10 m 3
) Area do reservatório (km } 2
'

565,00 12,729 912


565,50 13, 126 933
566,00 13,527 953
566,50 13,929 974
567,00 14,331 995
567,50 14,733 • 1.018
568,00 15, 135 1.040

Solução

De acordo com o enunciado do problema, Oe= 430 m3/s, Q5 = 250 m3/


s + ·SOO m /s = 750 m 3/s, P = 5 mm, E= 11 O mm, NA;= 567,03 me t =
3

31 dias. Com esses valores na Equação 3, obtém-se uma outra, cujas


incógnitas são o volume no fim do mês e a área, ou seja:

m3
v;ª -V~ª =(P-E)x A+[(Qe -Q )x 86.400 x 31]<=>m
5
3
=mm xm + x s
s
2

v:a -567,03 =(0,005-0,110)x A+[(430-750)x 86.400 x 31]


Com o auxílio da relação cota-área-volume e de interpolação linear,
pode-se escrever

' ) x ~ .018-A)=(567,50-567,03)x(! .018 -995)


(567,50-567,00_
1 2
=> A = 996,38 Km
I (567,50- .5 67,00)x €4,733-via)=(567,50-567,03)x (!4,733-74,331)
1 => Vta= 14,35512 X 10 m
9 3

'1 Substituindo esses valores calculados, obtém-se:

Vta-14,35512 X 10 9
=(0,005 -0,110 )x 996,38 X 10 +
6

( + [(430-7505 )x86400x31]= 13,4980 x 10


9
m3

229
, . . ; : sss : a a a a a o . ta -

Aba.st~cfmento de ágúa para consumo humano

Outra vez por interpolação linear, obtém-se o NA no fim do mês:

(!3,527 -13,126)x (566,00-NA, )=Q3,527 -13,393)x


x (566,00-565,50)=> NA, == 565,83 m

5.4 Dados hidrológicos

A quantificação dos diversos processos do ciclo hidrológico, das suas respectivas


variabilidades e de suas inter-relações requer a coleta sistemática de observações, em
várias escalas de tempo e espaço. As respostas aos diversos problemas de engenharia
hidrológica serão tão mais corretas quanto mais longos e precisos forem os registros de
dados hidrológicos. Esses podem compreender dados climatológicos, pluviométricos,
ff uviométricos, evaporimétricos, sedimentométricos e outros, obtidos em instalações
próprias, locarizadas em pontos específicos de uma região, em intervalos de tempo
preestabelecidos. O conjunto dessas instalações, chamadas estações ou postos, constitui
as redes fluviométricas e/ou hidrometeorológicas. A manutenção regular e a extensão
das redes de monitoramento são atributos essenciais para a qualidade dos estudos
hidrológicos. ·
Atualmente, no Brasil, as entidades que operam as redes fluviométricas e hidro-
met eorológicas são a Agência Nacional de Aguas (ANA) e o Instituto Nacional de
Meteorologia (INMET). Por meio de sua página na Internet (http://www.ana.gov.br), a
ANA disponibifiza informações fluvio-pluviométricas de mais de 20.000 estações no
território nacional. Outras redes acessórias, de menor extensão, são mantidas por com-
panhias de saneamento e energéticas. Algumas das características e variáveis hidroló-
gicas mais comumente medidas encontram-se listadas na Tabela 5.2, juntamente com
suas respectivas unidades.
Dependendo do problema em questão, o ciclo hidrológico ou seus componen~es
podem ser tratados em diferentes escalas de tempo ou espaço. o globo é a maior
escala espacial, enquanto a bacia hidrográfica é a menor. Entre as duas figuram .ª5
escalas continental, regional e outras, a depender da conveniência para a análise
hI.d ro 16g1ca . . Em geral, a solução de grande parte dos problemas re1ac.·10 nados
· em questao.
à hidrologia aplicada dá-se na escala da bacia hidrográfica.

230

j e a -- ___ - •• , ...,,-s::,- a- ..~, -.. .r. j ,._. ::' - a a = = =

Mananciais superficiais: aspectos quantitativos I Capltulo 5

Tabela 5.2 .. Características e variáveis hidrológicas .. unidades


Variável Característica Unidade
Precipitação Altura mm, cm
Intensidade mmlh
Duração H, min
Evaporação / Intensidade mm/dia, mm/mês
Evapotranspiração Total mm,cm
Infiltração Intensidade mm/h
Altura mm, cm
Escoamento superfi·cial Vazão Us, m /s 3

3 6 3 3
Volume m , 10 m , (m /s).mês
Altura equivalente (Deflúvio) mm ou cm sobre uma área
Escoamento subterrâneo Vazão 3
Umin, Uh, m /dia
3 6 3
Vofu.me m , 10 m

5.5 A bacia hidrográfica

Uma bacia hidrográfica é uma unidade fisiográfica, limitada por divisores topográficos,
que recolhe a precipitação, age como um reservatório de água e sedimentos, defluindo-os
em uma seção fluvial única, denominada exutório. Os divisores topográficos ou divisores de
água são as cristas das elevações do terreno que separam a drenagem da precipitação entre
duas bacias adjacentes, tal como ilustrado na Figura 5.2.
A bacia hidrográfica, associada a uma dada seção fluvial ou exutório, é individualizada
pelos seus div;sores de água e pela rede fluvial de drenagem. Essa individualização pode se
fazer por meio de mapas topográficos. Os divisores de água de uma bacia formam uma
linha fechada, a qual é ortogonal às curvas de nível do mapa e desenhada a partir da seção
fluvial do exutório, em direção às maiores cotas ou elevações (Figura 5.2). A rede de drena-
gem de uma bacia hidrográfica é formada pelo rio principal e pelos seus tributários, cons-
tituindo-se em um sistema de transporte de água e sedimentos, enquanto a sua área de
t drenagem é dada pela superfície da projeção vertical da linha fechada dos elivis@r:es de
água sobre um plano horizontal, sendo geralmente expressa em hectares (ha) ou quilôme-
I tros quadrados (km2).
Uma bacia hidrográfica é um sistema que integra as conformações de relevo e drena-
gem. A parcela da chuva que se abate sobre a área da bacia e que irá transf©rmar-se em
escoamento superficial, chamada precipitação efetiva, escoa a partir das maiores elevações
do terreno, formando enxurradas em direção aos vales. Esses, por sua vez, concentram
1

231
Abastecimento de água para consumo humano

esse escoamento em córregos, riachos e ribeirões, os quais confluem e formam o rio P ·

ou descarga da bacia. Na seqüência d~ um evento ch~voso s'.g.n1flcat1vo, a vazão Q varia


com o tempo, de uma forma característica de cada ?~era. O graf1co de Q(t), com t ao longo
de uma ocorrência chuvosa isolada, é chamado h1drograma e encontra-se esquematica..
mente representado na Figura 5.3. As áreas que contribuem para a formação da vazão O
vão se estendendo desde aquelas mais adjacentes aos cursos d' água até as mais distantes
delineando as características da parte ascendente A-B do hidrograma. Se a extensão espa~
cial e a duração da chuva forem suficientemente grandes, todos os pontos da bacia irão
contribuir, concentrando a totalidade do escoamento superficial no exutório. Sob tais condí..
ções, nesse ponto, forma-se um estado de equilíbrio na bacia e a vazão Q encontrar-se-á em
seu ponto máximo a vazão de pico Q max; se a chuva efetiva continuar com a mesma
intensidade, a vazão ficará estacionária nesse ponto máximo. Caso contrário, as áreas de

contribuição irão diminuir gradativamente, iniciando a fase descendente B-C do hidrograma .

695

680

Divisor de Águas
655 660 65 70
Exutório

Figura 5.2 - Individualização de uma bacia hidrográfica

232 .
1

~
Mananciais superflciais: aspectos quantítativos I Capítulo 5

Tempo t
B
1
Q (t) 1
1
1 Volume de recarga dos
1
J escoamentos subsuperficial
1
e subterrâneo
p (t) Chuva 't
1
Omax
efetiva 1
1

'1
1
1
1
• J
'' .,.,"" ,,, ... ..- - -
1

' __ ...

-... ..........
~
., .,,, -
... r
1 e
A --- •
'
1
1

'

Tempo t
-
Figura 5.3 - Hidrograma caracter{stico de urna bacia hidrográf ica

As vazões de uma bacia dependem de fatores climáticos e geomorfológicos. A inten-


sidade,, a dwração, a distribuição espaço-temporal da precipitação sobre uma bacia, bem
carmo a evapotranspiração, estão entre os principais fatores climáticos. Por outro lado, um
hidrograma sintetiza a forma peta qual uma bacia hidrográfica atua como um reservatório,
distribuindo a precipitação efetiva ao longo do tempo. O hidrograma possui vazões e tem-
pos característicos, os quais são atributos típicos, resultantes das propriedades geomorfoló-
gicas aa bacta em questão. Essas podem ser sintetizadas pela extensão da bacia, forma,
distribuição de relevo, declividade, comprimento do rio principal, densidade de drenagem,
cobertura vegetal, tipo e uso do solo, entre outras.

5.6 Precipitação


A precipitação é a descarga líquida ou sólida que se abate sobre a superfície terrestre,
resultante da condenspção do vapor d'água atmosférico. A precipitação pode ocorrer.~@b
diversas formas, como chuvisco, chuva, ~ranizor orvalho, geada ou neve. O chu\tisce ·G:@fril - ·
• •
siste em gotículas'muito finas de água, com diâmetros entre O, 1 e 0,5 mm, que se preeiµi- •

tam sobre a superfície, com intens1claGies tão baixas que às vezes parecem flL1tuar tirQ ar
atmosférico. A chuva é formada por gotas maibres, G:om dlêmetros entre OÍS e 5 mlm\,~lt.le
se precipitam com intensidades muito variáveis e dependentes de mecanismo de as@ ensão

·23,3 • •

• •
'
'
a
,..... a

Abasteclmento de água para consumo humano

das massas de ar úmido. Algumas nuvens de desenvolvimento ve~ical podem produzir


granizo, ou seja, precipitação sob a forma de pedras de gelo de dimensões variadas. 0
resfriamento noturno pode provocar a condensação do vapor d' água nas folhagens das
plantas e em superfícies de objetos expostos ao ar, provocando o ~ue se chama de orvalho.
Quando a temperatura é inferior a OºC, o orvalho pode dar or,ge~ ~ 9:_ada, formando
cristais de gelo nas superfícies expostas ao ar. A neve resulta da prec,p,taçao de cristais de
gelo, os quais formam flocos de dimensões e formas va~iadas. A ocorrência de neve no
Brasil está limitada a regiões pouco extensas do suf do pais,
Para que a precipitação possa ocorrer, é necessário, inicialmente, que algum mecanismo
faça o ar úmido resfriar-se até a temperatura de saturação de vapor d' água. Células de
circulação convectiva, barreiras orográficas ou fenômenos frontais podem ser tais mecanismos.
Atingido o nível de saturação, o vapor d'água começa a condensar...se em torno de
partículas finíssimas de sais marinhos e resíduos de combustão, chamadas de núcleos de
condensação. Esse processo propicia a formação da nuvem, ou seja, um aerosol constituído
por ar, vapor d'água e gotículas de água (em estado líquido ou sólido) de diâmetros
entre 0,01 e 0,03 mm. Esse aerosol permanece em suspensão devido à turbulência atmos-
férica e às co,rrentes de ar ascendente que se opõem à ação da gravidade. Para haver
precipitação, é preciso que as gotículas adquiram um volume tal que seu peso supere as
forças que as mantêm em suspensão.
O principal mecanismo de crescimento das gotas d'água é conhecido como o da
coalescência direta, segundo o qual o aumento de volume ocorre pela colisão das gotículas
em suspensão. De fato, em uma nuvem existem gotículas de maior tamanho, cuja tendên-
cia é de descender mais rapidamente (ou de ascender mais lentamente) do que as gotículas
menores. Esse fato, associado à intensa turbulência no interior da nuvem, provoca a repe-
tida colisão entre as gotículas, as quais coalescem para formar gotas maiores, com peso

suficiente para se precipitarem; as gotas de chuva podem atingir diâmetros de até 6 mm e
velocidades de queda de até 9 m/s. A continuidade do processo de crescimento das gotículas
e a velocidade de realimentação das nuvens, por correntes ascendentes de ar úmido, po-
dem originar precipitações de intensidades e durações muito variadas.
As precipitações classificam-se em orográficas, convectivas e frontais, de acordo com
os mecanismos de ascensão das massas de ar úmido que as produzem. As precipitações
orográficas resultam do resfriamento adiabático de massas de ar em expansão, ao longo da
encosta de uma serra. As precipitações orográficas são geralmente localizadas sobre uma
certa área e apresentam características variáveis de intensidade e duração. As precipitações
convectivas, resultantes de células de convecção térmica, são geralmente de grande inten-
sidade, de curta duração e restritas a pequenas áreas. Em função dessas características, as
precipitações convectivas podem produzir enchentes em bacias de pequena área de drena..
gem .. Já as ~recipitações frontais apresentam maior duração e podem atingir exterisas áreas;
suas intensidades, entretanto, são relativamente baixas ou moderadas. Essas características
fazem com que as precipitações frontais estejam na origem das enchentes, em bacias de
grande área de drenagem.

234
··--

Mananciais superficiais: aspectos quantitativos I Capítulo 5

A chuva que se abate sobre uma determinada área pode ser medida, em um dado
ponto, por meio de apare1hos denominados pluviômetros e pluviógrafos. Em alguns casos,
pode-se medir a sua extensão e va·riação espacial por meio do radar meteorológico. O
pluviômetro é um recipiente metálico, com volume capaz de conter as maiores precipita-
ções possfveis, em um intervalo de 24 horas. Esse recipiente possui uma superfície horizontal
de captação da chuva tal que o total diário de precipitação pode ser obtido por

V
P~ 10 -·
A (4)

onde Pé a altura diária de chuva, em mm, V é o volume recolhido no recipiente, em cm3


e A é a área da superfície de captação, em cm2.

O modelo de uso mais difundido no Brasil é o pluviômetro "Ville de Paris", ilustrado na


Figura 5.4. Esse pluviômetro possui uma área de captação de 400 cm2 e é instalado geral-
mente a 1,5 m do solo, conforme indicado na Figura 5.4. O volume de chuva, acumuJado
entre as 7 horas de um dia e a 7 horas do dia seguinte, é retirado abrindo-se o registro da
parte inferior do pluviômetro e, em seguida, é transformado em altura diária de precipitação
(mm), através de provetas especificamente graduadas para a superfície de 400 cm2. A
graduação das provetas decorre da Equação 4. Existem provetas com capacidades máxi-
mas de 7 e 25 mm, ambas com graduação de 0,2 mm e precisão de O, 1 mm. A grande
limitação do pluviômetro é a de não poder individualizar precipitações de duração inferior
a 24 horas.
Essa limitação, inerente ao pluviômetro, é contornada pela utilização do pluviógrafo.
Tal como o pluviômetro, esse aparelho possui uma superfície que capta os volumes pre-
cipitados e os acumula em um recipiente. Diferentemente do pluviômetro, entretanto, o
pluviógrafo permite o registro contínuo das variações da precipitação ao longo do dia.
Existem vários tipos de pluviógrafos, os quais diferem entre si pelos seus detalhes de
construção. Um dos tipos mais usados no Brasil é o chamado pluviógrafo de massa,
ilustrado na Figura 5.5.
o pluviógrafo possui uma área de 200 cm 2, que coleta a água proveniente da chuva e
a acumula gradualmente em um recipiente solidário ao braço da balança. Conforme au-
mentam os volumes precipitados, aumenta também o peso do recipiente, fazendo com
que o braço da balança se movimente para baixo. Solidária ao outro braço da balança,
encontra-se uma pena que descreve movimento oposto ao do recipiente. Esse movimento
da pena permite registrar a variação da precipitação ao longo do gráfico sobreposto a um
tambor, o qual executa uma rotação completa em torno do seu eixo a cada 24 horas~

235
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Abastech11ento de 6gua para consumo humano

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Figura 5.4 Pluv;ômetro "Ville de Paris"


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especial



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massade ~

limitador de
máxima balança
Figura 5.5 Pluviógrafo
w

o recipiente de coleta, no jnterior do pluviógrafo, possui volume máximo corre~pon-


dente a 1O mm de precipitação, o que equivale à posição mais elevada da p~na s6~ré ·o
gráfico. Nesse ponto, um sifão no interior do recipiente permite o esgotamento d? y~l.~me '

ali acumulado, fazendo com que a pena volte à posição de origem e reinicie o re9i~ljj da
precipitação continuada. Esse dispositivo automático de descarga permite r~j:j.etir.il)ãê.{ini:
damente o ciclo de medição, e assim registrar sobre o gráfico qualquer voly'J1ê;d'ãfj~ ~: :
precipitação. O gráfico da variação da chuva ao longo do dia é denominad0.P.J~viõ9~mª:,
O impresso apropriado a esse gráfico deve ser substituído pelo oper~dor dà ~stã'-ãl · :Í~1' . .
gráfica às 7 horas da manhã de cada dia. A Figura 5.6 rei:>roçluz o p\'~V;i99r~'g.i. ·. a!·.QB rQl{i- .·. :;
97, registrado pelo pluviógrafo do tipo massa de uma estação pluviógráfic~~Qfü.ê. "'é~ ' .-Wt::t;:.:,
exemplo, a ocorrência de uma precipitação contínua de.cerCa de 17 mlTl durá~ Ef a · . ~~!M'.S\:':ii
e as 15·20 horas de 05/01/97 · · ·· ••. ' - t,;_:!!if:,
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Mananciais superficiais: aspectos quantitativos I Capitulo 5

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Figura 5.6 - Reconstituição gráfica do pluviograma de 06/01/97

A al'tura média de precipitação sobre uma determinada área ou bacia, decorrente de


uma chuva isolada, ou em intervalos mensais ou anuais, é um requisito importante em
diversos problemas de engenharia hidrológica. O método mais simples de obtenção da
precipitação média espacial consiste no cálculo da média aritmética das precipitações
observadas nas estações existentes na área. Esse método, ilustrado na Figura 5. 7a, pode
ser empregado em áreas de relevo pouco acentuado, com estações pluviométricas unifor-
memente espaçadas.
O método de Thiessen, ilustrado na Figura 5.7b, pode ser empregado em regiões
relativamente planas, com alguma irregularidade na distribuição espacial das estações. A
essência do método de Thiessen é atribuir um fator de ponderação a cada estação pluvio-
métrica, em função de sua área de influência. As etapas seqüenciais desse método são as
seguintes: (i) localizar as estações em um mapa da bacia e conectá-las mediante segmentos
de reta; (ii) traçar a mediatriz de cada segmento de reta definindo polígonos em torno de
cada estação, cujos lados definem a sua respectiva área de influência; (iii) calcular o fator de
ponderação de cada estação, dividindo a área formada pelo respectivo polígono de influ-
ência pela área total; (iv) calcular a precipitação média espacial através da média ponderada
das precipitações em cada estação, usando os fatores anteriormente calculados.
o método das isoietas, exemplificado na Figura 5. 7c, permite considerar indiretamente
os efeitos da topografia e outras influências subjetivas sobre a hidrometeorologia da região
ou bacia. Esse método consiste essencialmente no traçado de tinhas de igual precipitação,
chamadas isoietas, a partir das observações pontuais. Em seguida,, as áreas entre isoietas
adjacentes ,são obtidas por planimetria e expressas em porcentagem da área total. Os incre-
mentas percentuais são então multiplicados pela altura média de chuva estimada para a
região, ent re as isoietas sucessivas correspondentes. A soma desses produtos fornece a
precipi.tação média sobre a bacia.

237
f. Abastecimento de água para consumo humano
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Mananciais superficiais: aspectos quantitativos I Capitulo 5

'

Como resultado da circulação geral da atmosfera, as chuvas, em geral, tendem a


decrescer em intensidade à medida que nos afastamos do Equador, em direção às maiores
latitudes. Entretanto, outros fatores, tais como a disponibilidade de umidade atmosférica e
a distribuição do relevo, fazem com que a precipitação tenha um padrão muito complexo,
em termos de variação geográfica. As alturas médias de precipitação anua( no Brasil variam
entre cerca de 450 mm, na região nordeste, a 3 .500 mm em algumas regiões da Amazô-
nia. Na região sudeste, as precipitações médias anuais situam-se entre 1.000 e 2.000 mm,
com valores superiores a 2.000 mm ao longo da orla litorânea, esses devido à intensificação
orográfica. O regime pluviométrico anua( é diferente nas várias regiões do país. No litoral
,
nordeste brasileiro, a época chuvosa situa-se entre os meses de abril e julho, enquanto a •

época seca ocorre entre setembro e novembro. Nas regiões sudeste e centro-oeste, as
precipita~ões concentram-se entre outubro e março e são escassas durante os meses de
inverno. Na região sul, as precipitações mensais variam relativamente pouco ao longo do
ano, sem a presença de uma sazonalidade tão marcada como a observada na região sudeste.
A Figurç1 5.8 exemplifica a variação das alturas médias mensais de precipitação ao longo do
ano para três cidades, localizadas em diferentes regiões do Brasil.

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Porto Alegre Aracaju São Paulo


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Figura 5.8 - Alturas mensais de precipitação em algumas cidades brasileiras - Médias para o período
• 1961-1990
J
1 Fonte: www.inmet.gov.br
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1

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A Figura 5.9 apresenta o histórico das precipitações mensais observadas em Belo
Horizonte de 1961 a 1989. Observe que existem períodos com muita precipítação e perío-
1
1
1 dos ·com pouca precipitação. Esses períodos se compensam de forma q~e a tendência ,•
t
constante é o retorno ao valor médio. Em outras rE:giões do mundo, dive·rsos,pesqyisadores
I' tentaram compreender~-estabelecer re~ularid~de para as ff~tuações das~ré~{prta~ões em 1

t
1
torno de seu valor méçJ10. Entretanto, a exceçao da regularidade das var;t,a~gs~·fioi,ttrna& e
""
sazonais, não se pôde demonstrar conclusivamente a existência de nenhum- - ,iéla r~gular e
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i persistente nas variações temporais das precipitações. ·t · ~ · ~;>·,: ' ·,
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239
Abast~clmento de água para consumo humano

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Meses (de Janeiro de 1961 a Maio de 1989)
Figura 5.9 - Variação de Precipitação Mensal em Belo Horizonte, de 1961 a 1989

As grandezas características de um evento chuvoso são: (i) a altura pluviométrica ou


altura de chuva P, a qual representa a espessura média (em mm) de uma lâmina d' água
distribuída por sobre a área atingida pela precipitação; (ii) a duração t, que representa o
intervalo de tempo (em minutos ou horas), decorrido entre o início e o fim da precipitação;
e (iii) a intensidade i, que é a altura de chuva por unidade de tempo, geralmente expressa
em mmlh, a qual pode apresentar considerável variabilidade temporal ao~longo da duração
da precipitação. A máxima altura de precipitação de 24 horas, observada na região próxi-
ma a Belo Horizonte, foi de 266 mm, registrada em 15/02178 na estação pluviográfica de
Caeté. Esse foi um evento chuvoso de grande intensidade, com concentração de cerca de
-
170 mm de precipitação em apenas 6 horas (i=28,3 mm/h). Entretanto, a magnitude desse
evento revela-se relativamente modesta, quando comparada às máximas precipitações
observadas em outras regiões do mundo. Dentre os recordes mundiais de precipitação,
exemplifica-se a altura diária máxima de precipitação de 1.870 mm, observada em 16/03/
1952 na ilha Réunion, localizada no oceano Índico (Linsley et ai., 1975).
No que se refere às chuvas de duração inferior a 24 horas, a análise dos registros
pluviográficos permite determinar as alturas (mm) e as intensidades (mmlh) de precipitação,
para qualquer intervalo de tempo entre 5 minutos e 24 horas, a partir de qualquer
origem na escala de tempos. A análise da variação das intensidades com as durações,
obtidas dos registros pluviográficos de um certo evento chuvoso, revela que as chuvas de
curta duração são mais intensas, contrariamente às mais longas, que são de menor ifilten..
sidade. Esse comportamento é recorrente para as precipitações mais raras e~portanto, de
menor freqüência. Em um dado local, provido de registres pluviográficos, é possível siFltetizar,
em uma única expressão, a variação conjunta da intensidade das precipitações com suas

240
Mananciais superficiais: aspectos quantitativos l Capítu lo 5

respectivas duração e freqüência. Tal expressão constitui a chamada curva IDF


(intensidade-duração-freqüência), válida para o local em questão, a qual é um instru-
mento indispensável para o dimensionamento de galerias de drenagem pluvial, bueiros e
outras estruturas hidráulicas, localizadas em bacias de pequena extensão e, portanto,
sujeitas a inundações provocadas por chuvas intensas, de curta duração e de reduzida
extensão espacial.
'

5.7 Os processos de interceptação, infiltração e


evapotranspiração
'

J Os processos de interceptação, infiltração e evapotranspiração são aqueles que redu-


zem a precipitação total à precipitação efetiva, podendo eventualmente dar origem ao
escoamento superficial. A interceptação corresponde à fração da precipitação que fica
retida (ou é absorvida) pela vegetação e que, finalmente, retorna à atmosfera por meio da
f
evaporação. De acordo com Ponce (1989), as chuvas leves, de pequena duração, sofrem
perdas substanciais por interceptação. Como essas chuvas são muito freqüentes, elas res-
pondem por grande parte da perdç:3 média anual por interceptação, a qual situa-se em
torno de 25 % da precipitação média anual. Para precipitações moderadas, a perda por
interceptação situa-se entre 3 e 36% da altura de chuva, dependendo das características
da cobertura vegetal. Para precipitações intensas e menos freqüentes, a perda por intercep-
tação representa apenas uma pequena fração da altura total de chuva. Em conseqüência,
é prática comum desprezarem-se as perdas por interceptação em estudos hidrológicos
relativos às grandes enchentes, restritas a um intervalo de tempo relativamente curto.
A infiltração, por sua vez, é o movimento da água .através da superfície para o interior
do solo, distinguindo-se da percolação, que se refere ao movimento da água dentro do
solo. A infiltração e a percolação ocorrem nas camadas superiores do solo, as quais são

constituídas por fragmentos de matéria inorgânica de várias dimensões e diferentes
composições mineralógicas, assim como de matéria orgânica, ar e água. Os vazios ou
poros do solo compreendem os espaços existentes entre os agregados estruturais e os
espaços no interior dos próprios grãos constituintes, conforme ilustrado na Figura 5.1 O.

241
Abastéclmento de água para consumo humano

poros

poros


Figura 5.1 o - Poros ou vazios em uma amostra de solo
os poros ou vazios de um solo têm dimen~ões muito variáveis. P~r pe:~itirem ~ pe~co-
lação descendente da água sob a ação da gravidade, os poros de maior d1ametro sao ditos
gravitacionais. Os de menor diâmetro são chamados poros capilares, por permitirem a
retefilção da água, sob a ação da tensão superficial entre os fragmentos do solo e a super-
fície líquida. A água penetra e se movimenta no interior do solo pela ação combinada das
forças gravitacionais e capilares. Ambas agem verticalmente e provocam a percolação da
água infiltrada em direção às camadas mais profundas do solo. Entretanto, as forças capi-
lares-também agem lateralmente, desviando parte da água gravitacional para os poros
capilares. Essa ação das forças capilares provoca o decréscimo progressivo do escoamento
gravitacional, à medida que a frente de umidade avança em direção às camadas mais
profundas do solo. A retenção de água pelas forças de capilaridade faz com que o escoa-
mento gravitacional se processe com resistência hidráulica progressivamente maior, através
de poros cada vez menores, à medida que a precipitação avança no tempo. Pelas mesmas
razões, a quantidade de água que se infiltra no início de uma chuva é menor se os poros
capilares já estiverem sido preenchidos por um evento chuvoso anterior.
Em 1933, Horton definiu o termo capacidade de infiltração, doravante simbolizado
por fp,, como sendo a quantidade máxima de água que um solo, sob dadas condições,
pode absorver na unidade de tempo e por unidade de área horizontal. Portanto, a capaci-
dade de infiltração refere-se a uma razão de variação ou intensidade máxima de absorção
de água e suas unidades usuais são mmlh ou mm/dia. Em um dado instante, a intensidade
atual de infiltração Íj será igual à capacidade de infiltração ti somente se a intensidade de
chu~a i igualar ou exceder fp. Nesse caso, o volume de chtva que excedeu a capacidade
máxima de absorção do solo poderá acumular-se em depressões ou transformar-se em
~scoa~e~to superficial. Contrariamente, sob a condição i ~ fp, todo o volume de precipitação
irá se infiltrar~ aumentando o teor de umidade retida no solo ou percolando para O
lençol subte~raneo. Essas duas situações estão indicadas na Figura 5.11, por meio de urna
representaçao por reservatórios hipotéticos.

242

d
Mananciais superficiais: aspectos quantitativos 1 Capitulo 5

capacidade
de infiltração
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Figura 5,. 11 - Representação da infiltração por meio de reservatórios hipotéticos

A infiltração é um processo bastante complexo que depende de·uma série de fatores


inter-ri.elaci@nacâ@s. Os principais são: a duração e a intensidade da chuva, as.características
f.ísic-as e 0 te0r Eie wmidade do solo, a cobertura vegetal e o manejo da terra. A Figura 5.12
ilustr~ o rtl©do como a retenção progressiva da água nos poros capilares provoca a redução
exponencial da capacidade de infiltração com a duração da chuva. Nessa figura, vê-se
também que a iAtensidade de infiltração atinge o valor máximo instantâneo, ou capacidade
de im;filtração instantânea, somente quando se inicia o escoamento superficial.

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o.
Tem(!)o <!Jesde o inlcio da chuva (h)

Figura 5.12 - Variação temf:)onal da caparêcfade de infiltraçã0 e do escoamento s~penfiEial c!Jurarnte
uma ~huv.a de ifiltensíclaEfe uraif0time

..

1

l .
~
Abastecimento de água para consumo humano

A influência da textura do solo pode ser visualizada na Figura 5.13a. Um solo arenoso
com poros de grande diâmetro, drena mais efetivamente a água gravitacional e tem maio~
capacidade de infiltração do que um solo argiloso. Por outro lado, a presença de cobertura
vegetal não só atenua a compactação provocada pelo impacto das gotas de chuva, como
também cria condições favoráveis para a ação escavadora de insetos e animais, além de
pequenas fissurações no solo, ao longo do sistema radicular da planta. A combinação •

desses efeitos faz com que a presença de vegetação atue no sentido de aumentar a capa..
c1dade de infiltração, como ilustrado na Figura 5.13b. A macroestrutura do terreno tam-
bém influi na capacidade de infiltração. De fato, terrenos arados ou cultivados favorecem a
absorção de água pelo solo, tal como mostra a Figura 5.13c. Finalmente, se o solo estiver
s,eco no início da chuva, a infiltração será grandemente facilitada. Contrariamente, um
maior teor de umidade presente no solo irá atuar no sentido de diminuir a capacidade de
infiltração, tal como ilustra a Figura 5.13d.

...?

a -~ b

-·~
e
o
Textura grosseira -'8-
E
o
Solo com cobertura
Jg Solo arenoso .§
-
l i.:; -
cr vegetal
-e::
Q)
,:::,
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Q)
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co
Textura fina (1)
-o .
-o
"6 Solo argiloso
ro
-o
·- Solo desnudo
tá u
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co e..
<.:> ro
ü

Tempo desde o inlcfo da chuva (h) Tempo desde o inicio da chuva (h)

e d
-'ê -Ê
.e

- E
Solo cultivado -E
·~-~
o
·~.....
o

~
Solo seco
i .::: -ti::
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(l)
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,Q ) "'O
,:,
<t1 Solo abandonado Q)
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ro
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"C
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co
o.. l'O
(3 o.
(O
(.)

Tempo desde o Inicio da chuva (h)


Tempo desde o início da chuva (h)

Figura 5.13 - Fatores Intervenientes na variação da capacidade de infiltração

244
I 5
Mananciais superficiais: aspectos quantitativos Capítulo

Existem vários modelos matemáticos que pretendem traduzir a variação temporaf da


capacidade de infiltração, durante um episódio de chuva, em um dado ponto de uma bacia
hidrográfica. O mais conhecido é o modelo de decaimento exponencial de Horton, dado
pela expressão

(5)

na qual fp representa o valor instantâneo da capacidade de infiltração no tempo t conta-


do a partir do início da chuva, fO é o valor inicial, fc é o valor mínimo e k é uma constante
característica do solo. As unidades são [mm/h] para fp, fe e t,0 [h] para te [h-1] para a
I

constante k..observe que para t=O, fp=fo e para t=oo, fp=fc. o volume total de infiltração
F (mm), ao fim de um tempo t, é dado por:

(6)

Os parâmetros do modelo de Horton podem ser estimados por meio de medições


locais em infiltrômetros, os quais são cilindros metálicos, de 20 a 100 cm de diâmetro, que
são cravados verticalmente no solo, de forma a restar pequena altura livre sobre a superfície.
Durante a medição da capacidade de infiltração, mantém-se sobre a superfície do solo uma
camada de água de espessura constante entre 0,5 e 2 cm. O volume de água necessário
para manter o nível constante é controlado por um reservatório de alimentação graduado.
Dividindo-se esse volume pela área do cilindro e pelo intervalo de tempo, obtém-se a esti-
mativa de capacidade de infiltração média, válida para o período e o local em questão. Os
valores típicos da capacidade de, infiltração ao final de 1 hora de precipitação, para alguns
tipos de solos, encontram-se listados na Tabela 5.3. Em geral, esses valores aproximam-se
das capacidades finais de infiltração fc·

Tabela 5.3 - Valores típicos de capacidade de infiltração


Tipo de Solo fe (t=1), em mm/h

Infiltração elevada {solos arenosos) 12,50-25,00


Infiltração média (solos siltosos) 2,50-12,50
Infiltração baixa (solos argilosos) 0,25-2,50
Fonte: adaptado de LENCASTRE e FRANCO (1984)

' A evaporação é o processo pelo qual a água, já acumulada em depressões do terreno


ou em corpos d'água como lagos e reservatórios, transforma-se em vapor e retorna à
atmosfera. A evaporação ocorre quando a·s moléculas ele água adquirem energia cinética
suficiente para se libertarem da superfície líquida. A energia necessária·, por unidade de
massa, corresponde ao calor latente de vaporização, o qwal provém das trocas de radiação
e calor na atmosfera. Na linha de contato entre a superfície líquida evaporante e o ar há

245
Abastecimento de água para consumá humano

urna troca contínua de moléculas em estados líquido e gasoso. A medida que o pr~cesso
de evaporação continua, a pressão de vapor na camada imediatamente acima da superfície
evaporante aumenta, até atingir o seu valor de saturação. Para que o pràcesso de evapG>ração
continue, é necessário que aquela camada de ar saturado de vapor d'água seja removida e,
11
conseqüentemente, possa existir um '' déficit de saturação A remoção da camada de ar •

saturado é proporcionada pela ação do vento sobre a superfície líquida. Portanto, para
haver e manter a evaporação é prec.iso: (i) que haja suprimento de energia; (ii) que exista
um gradiente de pressão de vapor entre a superfície evaporante e a atmosfera; e (iii) que
haja vento atuante. Essa descrição qualitativa permite concluir que o processo de evaporação

compreende as etapas de transferência de calor e transferêncía de massa .
A evaporação de um lago ou reservatório não pode ser medida diretamente. Por essa
razão, o cálculo da evaporação de um corpo d' água faz-se através de abordagens indiretas,
entr~ gS quais destaca-se a medição por tanques evaporimétricos, que são pequenos reser..
vafórios impermeáveis, cheios de água, expostos às condições atmosféricas e instalados
préximos ao lago ou reservatório cuja evaporação se quer estimar. A evaporação diária do
. tanque evaporimétrico é obtida pelo príncípío do balanço hídrico. O tanque evaporimétríco
de l:JSO mais difundido no Brasil é o chamado ''tanque classe A'', originalmente padronizado
pelo U. S. Weather Bureau. Trata-se de um tanque cjrcular, construído em aço galvanizado
sem p;ntura, de diâmetro 122 cm e altura 25,4 cm, tal como ilustrado na Figura 5.14.

~ · 122 cm
micrômetro
..t_5cm
Poço tranqüilizador Estrado de
25,4 cm madeira

. .................... ... .

• .•
.

tanque :

.
• •
'



• ..•

• •
• •
• •
• •
• •

.• •

• pluviômetro •


• • • .._ • • • • • • • • • • • t • • • • • • • • • • • •

Figura 5.14 - Tanque evaporimétrico " Classe A,,

246

• • •
Mananaaís superf1c1aís: aspectos quantitativos I Capítulo S

O tanque '' classe A" é montado sobre um estrado de madeira de 15 cm de altura·


Deve-se encher o tanque até que a superfície da água esteja a 5 cm dos bordos. O nível
d'água é medido às 9 horas de cada dia, através de um micrômetro, solidário a uma ponta
de leitura instalada dentro de um poço tranqüilizador. se não ocorrer precipitação, a evapo-
ração diária é dada pela diferença entre duas leituras consecutivas. Entretanto, se houver
precipitação, deve-se somar a altura diária, medida pelo pluviômetro, à diferença entre as
leituras consecutivas do tanque evaporimétrico.
Devido às suas pequenas dimensões, relativamente às de um lago ou reservatório, o
tanque evaporimétrico recebe maiores afluxos de energia por radiação e também por con-
dução, pela base e pelos lados. A ação do vento de remoção da camada de ar saturado
também é relativamente facilitada. Esses fatores fazem com que os dados obtidos por
tanques evaporimétricos superestimem a evaporação diária de um lago ou reservatório.
Por essa razão, é usual corrigir-se os dados de tanques evaporimétrícos através do chama--
do ''coeficiente de tanque", esse sempre inferior à unidade. Esse coeficiente varia com o
local, com a época do ano e com a profundidade do corpo d'água. Essa variação, entretanto,
é de difícil determinação. Em diversas regiões do Brasil, é usual adotar-se um valor
constante entre O, 7 e 0,8 como fator de correção para os dados evaporimétricos de tan-
ques '' classe A''. Existem outras metodologias para o cálculo da evaporação de superfícies
líquidas, entre as quais destacam-se o balanço hídrico (ver exercício 2) e os modelos combi-
nados de transferência de massa e energia. No que concerne a esses últimos, o leitor deve
remeter-se ao capítu1o 3 de Chow et ai. (1988).
A evapotranspiração é o processo pelo qual a água armazenada nos lagos, nos reser-
vatórios, nos cursos d' água, no solo e na vegetação transforma-se em vapor e retorna à
fase atmosférica do ciclo hidrológico. Nesse sentido, a evapotranspiração inclui todo o
volume de água que retorna à atmosfera sob a forma de vapor, seja por evaporação das
superfícies líquidas ou da umidade do solo, seja por transpiração das plantas.
A transpiração consiste basicamente no transporte da água retida no solo até a super-
fície das folhas, pela ação das raízes das plantas. A transpiração inicia-se quando a diferença
de concentração entre a seiva dentro das raízes e a água retida no solo cria uma pressão
osmótica, que força a entrada de água para o interior da planta. Em seguida, a água é
transportada até os espaços intercelulares existentes no interior das folhas. Essas possuem
aberturas, chamadas estômatos, que permitem a entrada de ar e gás carbônico para o
interior das plantas. O processo de fotossíntese consiste na produção de carboidratos,
fundamentais para o desenvolvimento da planta, a partir de uma pequena fração da água
disponível, e do dióxido de carbono absorvido através dos estômatos. Entretanto, quando
os estômatos se abrem, a água escapa através deles e atinge a superfície das folhas, onde
ela torna-se sujeita à evaporação. A razão média entre a quantidade de água que retorna
à atmosfera por transpiração e a quantidade de água que é efetivamente usada para o
desenvolvimento da planta é superior a 800.

247

b
Abastecimento ·d e água para consumo humano

Da mesma forma que a evaporação do solo, a transpiração está limitada ao volu


·1 ·d d D d rne
água retida sob a ação das forças de cap1 an a e. . e acor o _com a representação Por de
reservatórios hipotéticos da Figura 5.11, o armazenamento de umidade do solo porrete _
• • • • • nçao
capilar possui limites. É usual referir-se ao 1imite superior c~~o a c~pac1dade de campo,
correspondente à posição do extravasar do segundo reservator10 da Figura s.11 . Esse lim·t
. 1 , 1 ie
refere-se ao volume de água que fica retida no soo apos comp etar-se a drenagem Por
gravidade, obtida ao submeter-se a amostra de solo saturado a uma pressão de 1/3 atmos-
fera. o limite inferior, ou ponto de murcha permanente, representa o teor de umidade do
solo abaixo do qual as raízes das plantas não conseguem extrair a água de que necessitam
e iniciam a fase de definhamento. Experimentalmente, obtém-se esse limite ao subrneter-
se a amostra de solo à pressão de 15 atmosferas. A diferença entre esses dois limites
representa a capacidade de armazenamento de umidade do solo, também indicada na
Figura 5.11 . Essa umidade disponível corresponde à máxima quantidade de água que pode
ser usada para os processos de evaporação da água do solo e de transpiração das plantas.
Os valores típicos do teor de umidade, capacidade de campo e do ponto de murcha perma-
nente para alguns tipos de solos encontram-se listados na Tabela 5 .4. Observe que um solo
arenoso, no qual predominam os poros de grandes dimensões, é bastante permeável à
água gravitacional tendo, em conseqüência, pequena capacidade de armazenamento de
umidade por retenção capilar. Por outro lado, um solo argiloso possui grande capacidade
de armazenamento de água capilar, porém é pouco permeável à água gravitacional.

Tabela 5.4 .. Valores típicos de umidade para solos (% do peso seco)


Tipo de solo Capacidade de Ponto de murcha Umidade
campo permanente disponível
arenoso 5 2 3
siltoso 22 13
argiloso 9
36 20 16
Fonte: adaptado de LINSLEY et ai. (1975)

A limitação da intensidade de evapotranspiração imposta pela quantidade de umi-


dade disponível do solo torna necessária a introdução do conceito de evapotranspiraçáo
potencial (ETPpot), definida como aquela que ocorreria caso o solo apresentasse, a todo
instante, um teor de umidade suficiente para levar a planta à plena maturidade. Isso
equivale a dizer que a retenção capilar deve estar a todo instante em um valor igual ou
pouco i_nferior à capacidade de campo. A ETP pot distingue-se da evapotranspira~ã~ real
ou efetiva (ET~re~1), a qual refere-se à evapotranspiração, que ocorre sob a cond1çao de
nenhuma restnçao à depleção da água retida por capilaridade, podendo esse armazena·
mento chegar a valores inferiores ao ponto de murcha. Em regiões áridas, a ETPpot e a
ETPreal pode'.11 a~resentar ~alares bastante distintos; a diferença entre a precipitação eª
evapotransptraçao potenoal representa um valor proporcional ao volume de água a ser

248
1 5
Mananciais superltcials: aspectos quantJtatJvos Capitulo

suprido por irrigação. Em regiões úmidas, com precipitação uniformemente distribuída


ao longo do ano, a ETPpot e a ETPreal podem apresentar valores próximos.
Quando a depleção da retenção capilar puder ocorrer livremente, a evapotranspiração
real passa a depender principalmente da umidade disponível e das propriedades do solo,
tais como composição mineralógica, textura e porosidade. Se a camada superficial do solo
1 está úmida, o tipo, a coloração, a densidade e o período de crescimento d.e uma planta
afetam a exposição, a distribuição e a reflexão da radiação solar pela folhagem, assim
como a turbulência do ar. Inversamente, a radiação solar e a turbulência do ar afetam a
abertura dos estômatos dos diversos tipos de plantas, alterando dessa forma a transmissão
da água de seus sistemas radiculares até as folhas. Essa dependência mútua e a prevalência
dos fatores meteorológicos conduzem à generalização da idéia de que, sob condições
potenciais, a evapotranspiração é regida principalmente pelas condições atmosféricas. Por
essa razão, é freqüente a sugestão de que os mesmos métodos de cálculo usados para
estimar a evaporação de superfícies líquidas sejam também utilizados para o cálculo da
evapotranspiração potencial, com atguma correção devido aos fatores vegetativos. Para
detalhes sobre os métodos de estimativa da evapotranspiração .potencia·I, o leitor deve
remeter-se ao documento Crop Evapotranspiration - Guidelines For Computing Crop Water
Requirements - FAO Jrrigation And Drainage Paper 56, acessível pela URL <http://
www.fao.org/docrep/X0490E/X0490EOO.htm>.

5.8 As vazões dos cursos d'água

As vazões de uma bacia hidrográfica resultam de uma complexa interação dos diver-
sos processos de armazenamento e transporte do ciclo hidrológico, .De fato, o decréscimo ..
da capacidade de infiltração ao longo da duração de um episódio de chuva, resultante do
aumento do teor de umidade do solo, faz com que o excesso de água concentre-se em
depressões do terreno. Com a continuidade da chuva, o excesso de água, em relação à
capacidade máxima do armazenamento em depressões, começa a escoar sob a forma de
lâminas de escoamento superficial em direção às menores elevações do terreno. Tal escoa-
mento superficial, conseqüência da chamada precipitação efetiva sobre a bacia, é o de
maior velocidade de transporte entre todos os elementos que compõem as vazões dos
cursos d'água. Os outros componentes, a saber, os escoamentos subsuperficial e o subter-
râneo ou de base, têm resposta relativamente muito mais lenta.
O escoamento sub-superficial corresponde à parcela da água infiltrada que escoa atra-
vés da zona não saturada do solo. O escoamento através do meio poroso, constituinte dos •

horizontes mais superficiais do subsolo, faz-se com maior resistência hidráulica do que

249
AbaS"b.!clmento de água para consumo humano

~corre com o escoamento superficial. Pelas mesmas_ razões, porém de modo ainda .
intenso, o escoamento de base, correspondente à agua de recarga do armaz:en rnais
subterraneo, apresenta as menores velocidades dos três componentes das vaz:õesª;ento
. curso d'água. Em geral, o escoamento através de um aqüífero processa-se em e.um s
. . . "b , - .
laminar, demorando s.emanas ou até meses para contn Ulí para a vazao de um rio ou fl . reg1rne e
1 . . . l"
d d •
t d
a um ago. Em reg1oes com sazona 1 .a e mui o marca a, como o sudeste brasileir a u1r r
f ,, . . -
escoamento de base é, de ato, o componente que mantem as vazoes de um curso d'á o, o E
.
perene, durante as proJonga das estiagens. gua e

Os escoamentos superficial, subsuperficial e de base, cada qual com seu volume e


cronologia típicos, combinam-se dinamicamente nas áreas de descarga, formando as vazões
de um curso d'água. Portanto, a vazão Q(t), em um instante particular t, medida em urna
seção transversal de um certo rio, compõe-se da drenagem do volume de água que precipi-
toµ sobre aquela bacia, em intervalos de tempo anteriores. O conjunto das vazões médias
observadas em um grande número de intervalos de tempo discretos e regulares, em uma
.. . certa seção fluvial, constitui as séries de vazões da estação fluviométrica correspondente.
1
Compreender a variabilidade presente em tais séries, e daí depreender alguns de seus valores
característicos, estão entre as principais atividades da engenharia de recursos hídricos.
l
As vazões dos cursos d'água são medidas indiretamente em uma estação fluviométrica:
medem-se os níveis d'água, os quais são depois transformados em vazões por meio da
curva cota-descarga, ou curva chave, característica daquele local. A estação fluviométrica é
uma instalação, localizada às margens de uma seção fluvial, que dispõe de equipamentos

para observar a evolução dos níveis d'água ao longo do dia, seja de forma discreta, por
meio de duas leituras diárias (7 e 17 horas) das réguas linimétricas, seja de f arma coritínua;
por meio de aparelhos denominados de linígrafos. A Figura 5.15 ilustra o principio da
medição de níveis d'água, através do esboço de uma instalação típica .

Línfg·rafo
4 •

RN2 tt
Réguas Linimétricas
NA

RN1

· ,Figura 5.15 - Medi.ções de níveis d'água em uma estação fluviométríca

250

------,---- .... - -

Mananciais superficlats: aspectos quantitat ivos I Capítulo 5

A curva chave refere-se à rela - .


sária para a conversa-o d . b çao cota·desc.arga de uma estação fluviométrica, neces-
as o servações d t d . . .
em um núm,ero mínimo d e co as .em escargas, sendo def1n1da com base
· e 10· a 12 medições si Jtâ
mente espaçadas ao lo d . · mu neas de cotas e descargas, ra.zoavel-
~ ngo a variação das e t A d' -
executadas por diversos mét d . . º .as. s me. 1çoes de descarga podem ser
. . . . o os, sendo o mais empr d é d á 1 "d
cuJo pr1ncíp10 acha-se íf.ust11. .ad F' ega o o m to o rea-ve oc1 ade,
· · o na 1gura 5.16.

Largura: O~ x ~ L
Profundidade: O~y Sp(x)

Área da seção: A =f:p(x) dx


Velocidade média: V= r s:(•) V(x,y )dy dx
Va7.âo: Q= A V

Figura 5. 16 - Princípio da medição de descarga pelo método área-velocidade


'
Na prática, são fixadas algumas verticais ao longo da largura da seção, nas quais são
empregados os molinetes, para se medir as velocidades em pontos específicos das profun-
didades locais. Os molinetes são aparelhos que dispõem de hélices em torno de um eixo
• horizontal (ou conchas em torno de um eixo vertical), as quais, quando colocadas contra a
r
direção do escoamento, giram e fornecem o número de rotações n, em um determinado
inteNalo de tempo. A velocidade pontual é dada por v =a.n + b, onde a e b são coeficientes
de calibração, específicos de cada molinete. O molinete permite a medição da velocidade
em qualquer ponto da vertical. É usual ,:nedir~se as velocidades a 20 e a 80% da profun-
t •
didade. Nesse caso, a velocidade média na vertical é tomada como a·média aritmética de
I
V , e V , . Quando a profundidade é pequena, a velocidade média é tomada igual à
02 08
velocidade pbntual v , . A Figura 5.17 mostra alguns tipos de molinetes mais usuais.
06
Uma vez calculada a velocidade média de cada vertical da seção transversal, a descar-
ga do setor representativo da vertical é obtida pelo produto da velocidade média pelq área
do setor. Essa é aproximada por um retângulo de base igual à soma das meta<ifes das
distâncias entre verticais sucessivas e de altura igual à profundidade da verti.cal. Fit\atmen~e,
determina-se a descàrga da seção transversal somando-se todas as descargas setc1.ir1ais1_,!:!m
outras datas, repete-se esse processo para diferentes níveis d'água (ou ~otas), .al~ que: se
tenha um número suficiente de mediçGes de descarga, para a definição ·<:fa , QP.ia ltili2fe; · ' ~

local. o Exemplo 5.3, a seguir, ilustra o cálculo de uma medição de descê:\r.ga~,-· .: ~. ,., '::~. -: .· · · ._ ._. :
• _. t• l ~ 1 ~ '* ••

.,
'I": 1

:.... <.;; :(• i .,. ••


. "
t"··

·251
Abasté,lme!'lto dé ág ua pa ra consum
o humano

r . _.
Tipo Hélice - eixo horizontal (marc
a A. Ott)

Tipo Price - eixo vertical (marca Gurl


ey) +

Figura 5.17 - Tipo usuais de molinet


es

Exemplo 5.3

A figura a seguir mostra a seção d


e medição de uma estação fluvio
métrica. As profundidades e as m -
edições puntuais de velocidades
tomadas nas diversas verticais a ,
20 e 80 ou 60º/o das respectiva
profundidades, estão indicadas n s •

a figura. Calcular a vazão total,


área molhada, a velocidade e a p a
rofundidade médias na seção.

Verticais
Distâncias entre verticais (L).
1 2 3 4 5

o
1,50 1,50 1120 1,40 1,00
6
1,40
7
2,00
8

2,50
9
3 ,0 0
10

• . 0,17
0,271 0,41 2
- 0 ,485 0,321 0,178 o
0,62 0 ,150
0_500
0.214
1,40
1,60
0,390 1,75
0,397 velocidades pontuais <Y em m/s)
0,380

2,86 2,85
profundidades (P em m )
2,95

252


·------ -·---.

Mananciais superficiais; aspectos quantitativos I Caprtu lo 5

Solução:

V1 (m/s)
* g, (m1 /s)
,· Vertical _L. (m) Le {m) ** Lmédlo (m) P1 (m) At (m2 ) 20% P 60% P 80% P V1médio
1 1,50 - 0, 170 0, 158
1,50 T,50 0,620 0,930 - 0, 170
2 1,50 1,20 - 0,214 0,243 0,524
1,35 1,60 2, 16 0,271
3 1,20 1,40 1,30 - 0,397 0,405 1,50
2,86 3,72 0,412
4 1,40 1,00 1,20 0,380 0,440 1,56
2,95 3,54 0,500
s 1,00 1,40 T,20 2,85 3,42 0,485 - 0,390 0,438 1,50
6 1,40 2,00 1,70 0,257 0,289 0,860
1,75 2,98 • 0,321
7 2,00 2,50 2,25 1,40 3, 15 O, 178 - O, 150 0, 164
o, 110
0,517
0,303
..
,,,,_,_8-· 2150 3100 2,75 1,00 2175 0, 11 O
* • Comprimento do subtrecho anterior à vert' 1
'* * • Comprimento do subtrecho
. 1ca
posterior à vertical
Vazão Total (m3/s) 6,92
Area Molhada (m2) 22,6
Velocidade Média (m/s) 0 ,306
Profundidade Média (m) 1,46

As curvas-chave podem ser simples ou complexas, conforme as estações flÚviométricas


possuam controles hidráulicos muito ou pouco definidos. Em geral, um trecho de rio de
morfologia pouco variável, com controle de seção crítica bem definida, como uma queda
d'água a jusante da seção das réguas, permite a aproximação da relação cota-descarga por
uma curva-chave única ao longo de toda a variação das cotas. Nesse caso, empregam-se os
métodos de regressão simples para a definição da equação da curva-chave. Entretanto,
estações fluviométricas localizadas em trechos de rios com essas características são muito
raras, sendo muito mais freqüente encontrar curvas-chave com controles variáveis com as
cotas, ou mesmo curvas-chave instávejs, que variam no tempo conforme se sucedem os
períodos de estiagem, com deposição de material sólido ao longo do leito fluvial, e os
períodos de cheias, com remoção dos depósitos aluvionares. O leitor deve remeter-se às
referências Jaccon e eudo (1989) e Santos et ai. (2001), para detalhes sobre a definição de
cuNas-chave complexas.
Uma vez definida a curva-chave de uma estação fluvíométrica, procede-se à trans-
formação dos níveis d' água diários em descargas médias diárias, estabelecendo as séries
fluviométricas necessárias para os estudos hidrológicos. A Figura 5.18 esquematiza a
seqüência das etapas de definição das séries fluviométricas.
Os estudos hidrológicos dependem da qualidade e representatividade dos registros
fluviométricos, para bem caracterizar a variabilidade das vazões de um curso d'áglla. Quanto mais
consistentes e extensas forem as séries fluviométrícas, mais confiáveis serão as estimativas das
vazões características empregadas no i!)rojeto das diversas estruturas que compõem um
sistema de abastecimento de água. Entretanto, em locais desprovidos de obseiivações fluvio-
métricas, ou em situações emergendais, os engenheiros recorrem a métodos expeditos de
estimativa da velocidade média da seção transversal, dentre os quais destaca-se a medição por

253

_____________.

Ahastecim@nto de ~gua para ct:J "Jumo humano

flutuadores. Essa consiste em se estimar primeiramente a velocidade na superfície de urn trecho


retillneo de um curso d'água, por meio da velocidade com que um corpo flutuante (como urna
garrafa semícheia, lançada no terço intermediário da_seção flu~al) atravessa uma distância
previamente medida ao longo de uma das margens do." º· A desperto da complexa relação entre
a velocidade médi·a da seção e a velocidade à superfície, é usual ~dotar-se um fator constante,
entre 0,80 e 1,00, segundo Roche (1963), para corrigir as velocidades superficiais. Uma vez
estimada a velocidade média, ela é multiplicada pela área da seção transversal, para se
obter um valor aproxim.ado da descarga do curso d' água naquele instante de tempo.
Para O monitoramento de vazões de estiagem de cursos d'água de pouca largura ou
profundidade, é freqüente o uso de pequenos vertedores, através dos quais é possível
deduzir; a partir das equações de base da hidráulica, a relação entre os níveis d'água e as
·descargas. De fato, a descontinuidade hidráulica, provocada pela mudança do regime de
escoamento entre as seções a montante e a jusante do vertedor, faz com que a relação
cota·descarga seja unívoca e dependente apenas da geometria e dimensões da seção ver-
tente. Um dos vertedores mais empregados é o triangular com ângulo de 90°, construído
em chapa de aço, como ilustrado na Figura 5.19, cuja relação cota-descarga é dada por
Q = c.hS/ 2,
Nessa relação, Q denota a vazão em m3/s, h é a cota em m, medida acima do vértice
do triângulo, e e é o coeficiente adimensional de descarga. Cada vertedor triangular deve
ter o seu respectivo coeficiente e, calibrado a partir de medidas volumétricas de vazão para
diferentes cotas. Na ausência de tais medições, recomenda-se o valor médio de c== 1,36.
Referindo-se às variáveis indicadas na Figura 5.19, um vertedor triangular com z= 0,5Sm,
B= 0,25m, L= 1,25m e A= 0,30m é capaz de medir vazões entre 0,5 e 57 Vs, com precisão
de ± 3% (Nolan et ai.,1998).
As séries ftuviométricas possuem valores característicos que são empregados em vari-
ados estudos hidro.Jógicos. Em linhas gerais, pode-se agrupá-los nas seguintes categorias:
(i) descargas médias máximas anuais (para uma dada duração, por exemplo, 1 dia), neces-
sárias para o dimensionamento de estruturas diversas de controle de cheias, tais como
diques, muros de contenção, vertedores, túneis e canais de desvio; (ii) descargas mínimas
anuais (para uma dada duração, por exemplo, 7 dias), necessárias para o dimensionamento
de sistemas de captação de água de abastecimento urbano, industrial e de perímetros de
irrigação; (iii) descargas médias mensais. necessárias para o dimensionamento de volumes
úteis de reservatórios de acumulação, destinados à regularização de vazões.
A representação gráfica da variação intra-anual das vazões médias diárias de uma esta-
ção fluviométrica é chamada de fluviograma. Esse gráfico permite visualizar os períodos de
cheias e estiagens, sendo geralmente construído com base no chamado ano hidr@lógico
regional, o qual tem como data inicial o primeiro dia da estação chuvosa e como fim o)últfrno
dia da estação seca. Os fluviogramas podem .ser construídos com dados de vazões médias
di~rias ou médias mensais, em que a escala das ordenadas pode ser logarítmica ou aritfflética,
cuJ~ escolha d~pende da amplitude intra-anual das vazões. A Figura s.20 apresenta um
ff uv1ograma tfpico de uma estação fluviométrica localizada na região sudeste do Brasil.

254
J
Mananciais superficiais: aspectos quantitativos I Capftulo 5

,
seção de controle
PF ~
seção de medição.:,>~~~~ .. -


observador
~
lin(grafo
seção das réguas ~

'

Medições de cotas Medições de descargas

Cotas linimétricas (7 e 17 h} Medições simultâneas


ou de cotas e descargas [ h;, 01]
Cotas linigráficas (continuas}

Cotas Médias Oiârias - Estação 44345677 Ano 2000


Rio Do!J.rados em Estação Hipotética Área: 234 km2 Cota
Jan Rev Mar Aor Maf Jun Jy! Ago Set Out Nov Dez
222 333 144 82 69 66 56 52 45 34 221 122
232 334 94 122 89 78 55 56 40 33 229 172
235 330 t23 222 89 n 54 54 49 32 122 199
242 233 244 178 85 66 53 50 47 31 114 222
m 156 #4 n 79 66 52 54 45 30 92 345
292 133 187 76 79 65 50 48 42 28 92 456

•• • ••• • • •• ••• • • ••••• • •••••••• •• •••••• •• curva-chave


... .. ............ ... ..................
~

Med Descarga
Max
Min

Descargas

Figura 5.18 - Etapas seqüenciais para obtenção das séries fluviométricas

255
Abastedment:o de água p:ara consumo humano

z
8

... - ' ; .
L
- · Figura 5.1 9 _ Foto e es,quema de um vertedor triangular em 90º (adap. NOLAN et ai., 1998)

100(
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1
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1
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111:i: ,I

. .

10
OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAi JN - JUL AGO SET
t (dia)
· Figura 5.20 - Fluviograma típico de estação fluviométrlca do sudeste brasileiro

5.9 Vazões de enchentes

Uma enchente representa o escoamento superficial produzido em uma bacia sub~e-


tída a condições hidrometeorológicas particulares. A severidade dessas condições determina.
se o volume da cheia pode ser contido nos limites do leito menor do curso d'água, ou
então ocupar a planície de inundação, tal como ilustrado na Figura 5.2 1. As encherites-de
um curso d'água provocam inundações, prejuízos, perdasde vidas e representam um ~rande

256
5
Mananciais. superficiais: aspectos quantitativos I Capítulo

risco para estruturas hidráulicas ali situadas. o estudo das vazões de enchentes é necessário
para o dimensionamento de vertedores de barragens, canais, bueiros, galerias de drena-
gem, localização de tabu,eiros de po.ntes e casas de máquinas, alturas de diques e muros
de contenção,. determinação do volume de controle de cheias em barragens, bem como
planejamento da ocupação de planícies de inundação .

H2(leito maior)

H1 (leito menor)

Figura 5.21 - Leito menor e planície de inundação de uma seção fluvial


O hidrogra.ma tf pico de uma enchente, ilustrado na Figura 5.22, evidencia os pro-
cessos de produção e concentração da chuva efetiva em uma bacia, ao longo de um
período relativamente curto de algumas horas ou de alguns dias. A forma do hidrograma
depende da intensidade e da área coberta pela precipitação, assim como da forma e da
topografia da bacia. As técnicas empíricas para separar os escoamentos superficial,
subsuperficial e de base acham-se detalhadas, por exemplo, nos textos de Linsley
et ai. (1975) e Viesmann e Lewis (1996) e são bastante empregadas na análise de
hidrogramas de cheias.
Os métodos mais usuais para a estimativa de vazões de enchentes são: (i) o m.éto-
do "racional''; (ii) o método do hidrograrna unitário; (iii) os métodos estatísticos; e (iv)
os métodos de simulação hidrológica da resposta da bacia a precipitações extremas,
por meio de modelos matemáticos da transformação chuva-vazão. Em geral, os méto-
dos do hidrograma unitário e da simulação hidrológica aplicam-se a casos ond.e é
necessário o conhecimento da distribuição temporal do volume da cheia, como, por
exemplo, quando se quer estimar o hidrograma de cheia afluente a reservatórios de
acumulação. Por outro lado, o método ''racional" e os métodos estatísticos aplicam-se,
de modo geral, aos casos em que se requer somente a estimativa da vazão de pico
Omax, como, por exemplo, a determinação da cota do piso de uma casa de máquinas,
de modo que os equipamentos fiquem a seco durante a passagem de uma cheia de
referência. Além disso, devido às premissas inerentes a cada método, a preferência por
um ou por outro se dá também em função do tamanho e das características morfoló-
gicas da bacia. Gray (1972) sugere o emprego do método "racional " em bacias de até
2,5 km2, do hidrograma unitário ou de métodos estatísticos em áreas de drenagem de
até 5000 km2, prosseguindo com mod.elos matemáticos distribuídos de simulação

257
o hu m an o
Ab as te cim en to de água para consum

u
nte capít . lo se rã o ab orda d o s so m e nte
. - .
. . porte. No prese de m a ro r ap l1 caça o p ara o proJe to
a s de m a,~r ,, considerad os
hidrológica, em baci rem e ter-se às re ferênci a s
s e "ra cio nal ' d e nd o le it o r
os métodos estatístico O

Linsley e t ai. (1975), , Viesmann e Lewrs


outras metodologias citadas.

~
•••
_____. f=fo+(fc-fo) e·kt ••

>

• ••

Í base ••
••
••
••
•• ••
•• •••

•••
• ••
••
•• •
•• ••
•• ••
••• •••
•• •
•• ••
••• •
••
•• •• •••
!• :• •••
.• .
• •
••
•••
••
• Escoamento ••

i (mm/h •
•••
••

superficial 1

••
••

1 :
•• ••
• ••

t resposta •••
•••
••
••
+ ••
••

Omax
•••

-- ., - ••

-- -- -- l
••

Q (m 3/s) -- -
r------------~-== -- ------ ----
-- -- -- -É;~~~e~~;~~~ ~~Ei9L- -- -

Escoamento base

ra 5. 22 - Hidrogra ma típ ico de uma enchente


Figu
so ci a d a s à q u a n tif ic a çã o e in te rd e p e n d ê n ci a
Em decorrência das in ú m e ra s in ce rt ez as as
ch ei a , é u m a p rá tic a co m u m tra ta r va riá ve is
dos processos fís icos ca us ais d e u m e ve n to de
is d e u m a b a ci a, co m o a le a tó ria s e, p o rt a n to ,
as va zõ es m á xi m a s a n u a
hidrológicas, tais como te m á tic a . D e st a -
p e la te o ria d e p ro b a b ilid a d e s e e st a tís tica m a
suscetíveis de sere m an alis ad as
g a d o e m h id ro lo g ia , a a n á lis e d e fr e q ü ê n ci a
do es ta tí st ic o m a is e m p re
cando-se como o méto ro b a b ilid a d e co m
sc a, em sí nt es e, e xt ra ir in fe rê n cia s q u a n to à p
de vazões máxim as a n u a is bu
1
va lo r (o u q u a n til), a p a rtir d e u m c o n ju n to
ua lar o u su p e ra r u m ce rto
que a variiável irá ig
amost ral de o co rrê ncia s d a q u e la va riá ve l.
na s va zõ es m á xi m a s a n u a is d e u m a b a ci a
As característic a s d a va ria b ilid a d e p re se n te
d e d is tr ib u iç ã o d e p ro b a b ili d a d e s , d e n tr e as
permitem a elas associar , fu n çõ e s a ss im é tric as
o a d e G u m b eJ , a G e n e ra liz a d a d e V a lo re s
quais as majs fre qü e n te m e n te e m p re g a d a s sã
a P e a rs o n e a L o g -P e ars o n d o tiµ o Ili . E ss es
o n e n ci a l, a L o g -N o rm a l,
Extremos (GVE), a Exp m se r e xp re ss os
rit o s p o r 2 o u ,3 p a râ m e tro s, os q u a is p o d e
1
são modefos matemátic o s d e sc
co e fic ie n te d e a ss im e tria 'Yx p o p u la ci o n a is .
é d ia JJx da va riâ n ci a cr 2x e d o
como funções da m p o p u la ci o n a is d e
re la çõ es e n tr e os p a râ m e tro s e as m e d id a s
A Tabela 5.5 aprese n ta as

258
· t' 1 Capítulo 5
Mananciais superficiais: aspectos quant1ta ,vos

variabilidade, assim como as expressões das funções densidade e acumulada de probabili-


dades, a amplitude (A) da variável aleatória e a equação de quantís para cada mode~o
distributivo. Para as distribuições de Gumbel e Exponencial, os coeficientes de assim~tna
são positivos e constantes, ao passo que, para a Log-Normal, 'Yx é dependente das medidas
populacionais de posição e dispersão. Por outro lado, as distribuições de 3 parâmetros
apresentam assimetria variável e necessitam da especificação de uma medida adicional de
forma de variabilidade.
Dada uma amostra { X 1 , x2 , ... , XN} de vazões máximas anuais observadas ao longo
dos N anos de registros de uma estação fluviométrica, o ajuste dos modelos distributivos da
Tabela 5.5 aos dados amostrais faz-se pelos métodos tradicionais de inferência estatística,
entre os quais o mais simples é o chamado método dos momentos. Esse consiste em
encontrar as estimativas dos valores numéricos dos parâmetros da ·função de distribuição a
partir da solução simultânea de um sistema de igual número de equações e incógnitas,
obtido ao substituir as medidas populacionais de tendência central, de dispersão e de
assimetria, tal como expressas na Tabela 5.5 em função dos parâmetros, pelas respectivas
estatísticas descritivas amostrais.
As estatísticas descritivas amostrais são dadas peJas seguintes expressões:

Lxi (7)
"µ x -- x--- _i=_1_
N

N
LCX.-x)2 (8)
&2 == 5 2 = _i-_1 _ _ __

N -1

(9)
y = g = (N-1XN-2) s 3

Para as distribuições de dois parâmetros, são necessárias somente as estimativas JJ.x e


êr~. resujtando em ~m sistema de duas equações': dua~ i_ncógnitas. Para as ~i~tribuições de
tres parametros, o sistema passa a ter uma equaçao ad1c1onal, com a prescr1çao da assime-
tria amostral dada pela expressão 9.

259
- >
Tabela 5.5 - Principais distribuições de probabilidade usadas na análise de freqüência de vazões máximas.anuais
. ..·•-
D
C7'

Distribuição Funçao densidade


Íz(X)
Função acumulada
=
A
Jlx ªx
2
'Yx
Quantis Obs.
-
....
3

Fx(X} = P(X ~ .x} xlf)>u
-•
:,
o

Jfxi(x) dx
<D
F- 1 (x)
..
a.

- 1 , lnx-µ y
- o
e:

..s•
':,.
log Normal • , ,
1 ' 2
<I> lnx- µy
' X>O a 2' µ~(erp0: - J) 3CVx expl4>- 1(lnx)1 Y ·= lnX ~

exp --2 exi . µ.,. + 2y


Xcry~ ... . <1y

,
a
... O'y , ... ,
+CV'.z CV= a / µ ct>=N(O, l)
..
:::;.
e
3
Pearson 3 o
a · Ver Rao e Hamed ::r
llll~{x-s y-~expf-llrt)s )] 2
li)
X>E
Jfx(x)dx f!
.a
+- e
..
r=funçao Gama
- (J3>0)
X<S
j3 j3 2 Ja
2
(2000) 3
:,
o

(P<O)
- Jã
. .
Log Pearson3 * Idêntica à P3 com Y=ln(X) • • * • • •
[ ver Rao e Hamed (2000)) •
'

Exponencial .í3 expE-/3 (x-e.)] 1- exp[- f3 (x - e)] X>& 1 1 2 lnQ-F)


e+- J3 2
e-
J3 í3
Gumbel 1
-
X-&
,
X-&
' - - ,
X-&
' - -oo a e+ 0,57720. 1,64Sa. 2 i:::sl, 14 & -a ln(-lnF)
-ex~ - -ex~ - exp -ex~ - a .- +oo
a ... a '
a ' - ...
. ,
GVE dF(x) •

- 1e(x-& )· ;
1
X<T a
&+M- a
' 2 Raoe
s+-P a
T=s+-
a
dx exp - 1- ~ (,e.O) JC
- N-M 2
Hamed lC lC
a ,K,
'
- - . X>T M = t-r(l+1e) (2000}
P= 6-(- (n F)~]
N=fQ+à:)
(tc<O)

Mananciais superficiais: aspectos quantitativos I Capítu lo 5

Uma vez obtidas as estimativas dos parâmetros dos modelos distributivos, prossegue-
se com o cálculo dos quantis x(F) ou x(7), correspondentes a probabilidades Fou a tempos
de retorno T de interesse. O tempo de retorno T é definido como o intervalo de tempo
médio, em anos, necessário para que um certo quantil x(n seja igualado ou superado uma
vez, em um ano qualquer. O tempo de retorno T relaciona-se à probabilidade F, por meio
da expressão T = 11(1 - F). A especificação de Testá associada ao risco hidrológico de
ocorrência de pelo menos uma cheia anual maior do que o quantil de referência, ao longo
da vida útil operacional da estrutura ou empreendimento em questão. O Exemplo 5.4, a
seguir, apresenta um cálculo para a distribuição de Gumbel. Para as outras distribuições,
bem como para outros métodos de inferência estatística, recomenda-se ao leitor a
utilização do pacote computacional ALEA, disponível para download a partir da URL <http://
www.ehr.ufmg.br>. O programa ALEA também verifica a adequação de cada modelo
distributivo~ por meio dos testes estatísticos de aderência do Qui-Quadrado e de Kolmogorov-
Smirnov, bem como apresenta gráficos de aderência visual em papel de probabilidade expo-
nencial.

Exemplo 5.4

Um sistema de abastecimento de água é parcialmente composto por


uma captação direta, ancorada às margens de um rio, e conectada a
uma instalação de recalque, situada em local cltlo piso deve estar em
cota suficientemente alta para não ser inundado pela cheia de tempo
de retorno igual a 100 anos. As descargas do rio em questão são
monitoradas em um posto fluviométrico, cuja seção de controle coincide
com aquela onde se pretende construir a casa de máquinas. Os 35
anos de registros de vazões médias diárias máximas anuais fornece-
3
ram as seguintes estatísticas descritivas: média X = 40 m /s, variância
5 2=22 (m3/s)2 e coeficiente de assimetria g=1, 12. Determinar a cota
altimétrica mínima do piso da casa de máquinas, sabendo que a cota
altimétrica do zero linimétrico é de 540,632 me que a curva-chave do
posto é dada por Q=2h 2+10h-5, com Q em m3/s eh em m.

Solução

o primeiro passo é estimar a cheia x 100 , correspondente ao tempo de


retorno T=100 anos. Para isso, é necessário prescrever um modelo
distributivo adequado à amostra. No presente caso, e com base som,ente
nas informações disponíveis, o modelo Gumbel de dois parâmetros,
cujo coeficiente de assimetria populacional é fixo e igual a 1, 1396 (ver

261

Abast.edmento de· água para consumo humano

Tabela S.S), parece estar adequado a uma amo:tra de assimetria 1, 12 .


E estudo mais .aprofundado, a adequaçao do modelo deve ser
v:i~;da por meio de aderência visual e ?s
t~stes estati~ticos do Qui-
Quadrado e de Kolmogorov-Smirnov. Est,mat,va do parametro de es-
ca Ia ex: Ta be Ia 5 --:) cr2 = 1,645 a 2 e m é to .d o _d os momentos
=
6.2 = 52 =1,645ª2 484 ~ â == 17 ,15 m /s. Est1mat1va do parâmetro
3
-
a: Tabelas--:) E<t.}e + 0,57721a ~ ê=X-0,57721â==40-
1
- O,57721 x 17,15 = 30 ,1 o m3/s. Relação entre Te F: T = P(X ~ x) ==
1 1
= 1 = => F(x) = 1-}__ == 1- = 0,99. Curva de
1- P(X ~ x) 1- F(x) T 100
q uantis: Ta beta 5 ~ x (F) = ê-&ln(-lnF)=> x(0,99) == x100 ==

• ::::; 30,10-17,15 x tn[-ln(0,99)] =109m 3/s . Estimada a cheia centenária,


o segundo passo é calcular a cota altimétrica correspondente, a qual
denota-se por H100 . A cota em relação ao zero linimétrico é o valor de
h da curva-chave, que corresponde à cheia centenária, ou seja, h=8, 18 m.
Portanto, a cota altimétrica mínima do piso da casa de máquinas deve
ser H 100=8, 18+540,632=548,812 msm.

Se uma chuva de intensidade constante, com duração suficientemente grande, se


abater sobre uma bacia impermeável, a vazão em seu exutório irá igualar a intensidade de
precipitação, depois de decorrido um certo intervalo de tempo. Esse intervalo denomina-se
tempo de concentração e refere-se àquele necessário para que a chuva, que se abateu
sobre a área mais a montante da bacia, chegue à seção do exutório. Em uma bacia perme-
ável, de área suficientemente pequena para que a precipitação possa ser considerada
uniformemente distribuída no tempo e no espaço, a vazão máxima no exutório, ao final do
tempo de concentração, poderá ser tomada como uma fração constante da intensidade de
chuva. Essa fração irá depender de vários fatores, tais como o relevo, o tipo de solo eª
cobertura vegetal da bacia em estudo. Essa é a essência do chamado método racional,
proposto em 1851 pelo engenheiro irlandês T. J. Mulvaney. Devido à sua simplicidade, 0
mét~do racional tornou-se de uso muito difundido em projetos de drenagem pluvial, de
bue~ros : de. out~a: est~uturas de condução do escoamento de pequenas bacias. Entretanto.
devido as s1mphf1~açoes inerentes à formulação do método, recomenda-se o seu uso
somente para bacias de até 2,5 km2 de área de drenagem.
Forimalmente o rne'todo res . , .
, · ume-se a seguinte expressão:
Q =CiA 1
P 3,6 (1 O)
,

262
Mananciais superficiais: aspectos quantitativos I Capítulo 5

na qual Op denota a vazão máxima (m3/s) ao final do tempo de concentração da bacia,


durante o qual ocorreu urna precipitação de intensidade constante i (mmlh) e uniforme-
mente distribuída sobre a área de drenagem A (km2). o coeficiente adimensional C corres-
ponde à fração da intensidade de chuva que se transforma em escoamento superficial.
Llamas (1993) apresenta a seguinte fórmula de cálculo do coeficiente C, tendo-se em conta
os fatores topográfic·o (Ct), do solo (C5) e da cobertura vegetal (Cc):

(11)

A Tabela 5.6, a seguir, apresenta valores típicos dos componentes para cálculo de C.

Tabela 5.6 .. Componentes para estimativa de coeficiente de escoamento superficial

Fator topográfico Cr Bacia de declividade suave (<3m/km) C,=0,3


Bacia de declividade média (3 a 30 m/km) Ct=0,2
Bacia de declividade acentuada (>30 m/km) C,=0, 1
Fator do solo Cs Solo predominantemente argiloso C5=0, 1
Solo siltoso Cs=0,2
Solo silto-arenoso Cs=0,4
Fator de cobertura Terreno cultivado C,=0, 1
vegetal e, Bosques e florestas C,=0,2
Fonte: Adaptado de LLAMAS ( 1993)

Na Equação 1O, a intensidade i corresponde à taxa constante de um evento de chuva


de duração igual ao tempo de concentração da bacia e de tempo de retorno compatível
com o risco hidrológico associado ao projeto em questão. Tal como mencionado no item
5.6 do presente capítulo, a relação conjunta entre a intensidade, a duração e a freqüência

(ou tempo de retorno) das precipitações intensas, em geral, é sintetizada pelas chamadas
curvas IDF (ver Exemplo 5.5). DAEE-CETESB (1980) transcreve um grande número de tabe-
las contendo as relações IDF, válidas para diversas localidades brasileiras. Entretanto, no
contexto de aplicação do método racional, a correta especificação da duração da chuva
intensa na Equação 1Orequer uma estimativa do tempo de concentração da bacia. Dentre
1 as inúmeras expressões empíricas de estimativa do tempo de concentração, uma das mais
empregadas é a de Kirpich, dada pela equação
1
te = O,O 1947 Lo,11 1-0,Jas , (12)

1 na qual a unidade do tempo de concentração te é minuto e L (m) e I (mim) representam,


respectivamente, o comprimento e a declividade média do talvegue principal. O Exemplo
1
5.5 ilustra uma aplicação do método racional.
1

263

- - - - - - - - - - - - - - - - -- - -.
Abastec;imento de água para consumo humano

. .., .. , \ ,., i "!Õ ,


• l ' '

E.xemplo 5_5 1

--
Deseja-se proteger contra eventuais enchentes uma certa área próxi-
ma a um rese·rvatório de distribuição de água de uma cidade. Para
isso, será projetado um ca1nal de seção circular que deverá drenar uma
bacia hidrográfica de 168 hectares, com capacidade de escoar a vazão
máxima res·ultante de uma chuva intensa de tempo de retorno igual a
50 anos. A bacia possui relevo muito acentuado, com predominância
de solos siltosos e grandes áreas de matas e florestas. O perfil longit u-
dinal do rio principal dessa bacia encontra-se ilustrado na f igura que
0 211
se segue enquanto a curva IDF do local é dada por i=:- - - - 5950T ·
. ' ~+26 )1,15 '

• com i em mm/h, tem min e Tem anos .

Solução
l

Perfil longitudinal

- - Perfil natural - - Perfil médio equivalente



1400
l!
li •
1200
1
.!
'
-- E
G)
1000
800
•• -:e
.--.......
i ::, 600
.
1

~
1
< 400
1 200
'
·tf o 2000 4000 6000 8000 10000
Distância da nascente (m)

Trata-se de uma bacia cuja área de drenagem de 168 ha ou 1,68 km 2


acha-se dentro dos limites de aplicação do método racional. Da figura
pode-se obter diretamente o comprimento do talvegue L=10.000 m,
enquanto sua declividade média pode ser aproximada pela de·clividade
1=0,034 mim do perfil médio equivalente. Com esses valores; a •'
<
• • Equação 12 fornece a estimativa do tempo de concentração tc=86 mi- l
;,•

nutos. A curva IDF, com o tempo de retor·no T=50 anos e duração


t=tc==86 min, produz a intensidade da chuva de projeto i=61,2 mm/h.
As características da bacia e a Equação 11 conduzem ao coeficientf
de ~sco_amento superficial c=0,5. Finalmente, a vazão de projeto, pelâ. ·
-, . , ·- a~l.1~a~a.° ??.
método racional, resulta ser Op=14,28 m3/s.
•• , o
,~
' == == ·~
'

264
~-
Mananciais superficiais: as.pectos quantitativos I Capitu,o 5

5.1 O Vazões de estiagens

Em uma bacia hidrográfica, um longo período de tempo sem a ocorrência de predpi-


t.ação conduz à condição de estiagem, durante a qual as vazões dos cursos d'água perenes
são alimentadas pela lenta drenagem da água armazenada nos lençóis subterrâneos. Du-
rante este período, exemplificado pela estação seca da Figura 5.20, as descargas são
consideravelmente inferiores aos seus valores médios anuais e os rios apresentam profun-
didades e velocidades relativamente muito menores. Essas características do período de estiagem
podem ser ainda ma.is intensificadas, a depender da extensão do intervalo de tempo sem a
ocorrência de precipitações importantes ou da insuficiente recarga dos aqüfferos durante
as estações chuvosas precedentes,. dando lugar a anos excepcionalmente secos e críticos
do ponto de vista do abastecimento de água, em escalas local e/ou regional. A severidade
e a freqüência com que as vazões de estiagem prolongada ocorrem também estão relaciona-
das a problemas de abastecimento industrial ou agrícola, à manutenção de calados míni-
mos para a navegação fluvial, à redução da capacidade de autodepuração dos cursos
d'água e à manutenção dos ecossistemas aquáticos e ribeirinhos.
Diante das séries conseqüências das estiagens prolongadas para a gestão da quanti-
dade e qualidade dos recursos hídricos, é evidente a necessidade dos órgãos gestores esta-
belecerem critérios de vazão máxima outorgável de modo a conciliar as demandas dos
diversos usos e usuários da água, em um quadro de desenvolvimento regional sustentável.
No Brasil, a Lei Federal 9433 de janeiro de 1997 estabeleceu os princípios da gestão dos
recursos hídricos, entre os quais os principais são: (i) o reconhecimento do valor econômico
da água como indutor de seu uso racional; (ii) a adoção da bacia hidrográfica como unidade
de gestão; (iii) o estabelecimento da outorga de direito de uso e da cobrança pela
utilização da água, como instrumentos de gestão e (iv) a gestão descentralizada e partici-
pativa, permitindo que os poderes públicos federal, estadual e local interajam com os usu-
ários e com a sociedade civil organizada, nos processos de tomada de decisão. A vazão a
ser captada para um sistema de abastecimento de água, mesmo que considerada pela lei
mencionada como prioritária em relação às outras utilizações, está sujeita à outorga de
direito de uso que representa o instrumento discricionário que os poderes públicos federal
e estadual, proprietários constitucionais da água, dispõem para gerir a sua distribuição e
- .
conservaçao rac1ona1s.
.
A constituição brasileira determina que os cursos d'água são de domínio federal, caso
atravessem mais de um estado da federação ou façam fronteira com outro país, ou de domí-
nio estadual, caso nasçam e tenham sua foz no mesmo estado da federação, estabelecendo,
dessa forma, as responsabilieacles pela concepção e execução da outorga de direito de uso
da água, circunscritas e harmonizadas pelos princípios da Política Nacional de Recursos Hídri-
cos (Lei Federal 9433 de 1997). Portanto, cada estado da federação tem sua própria legislação,
com seus critérios específicos e seus próprios órgãos gestores dos recursos htdricos de

265
Abastetlmento de água para consumo humano

seu domínio. Em particular, aos órgãos gestores estaduais compete efetivar a auto
. . d . d rga do
d. ire1to e uso da água, por um período especificado e tempo, não implicando este ato
alienação parcial das águas, que são públicas e inalienáveis. Cada estado fDCou, em sua lee'.11
açao - pertinente,
· uma vazao- mín1ma· de referencra
"' · so bre a qual o poder público concede gis-
'
outorga de direito de uso de recursos hídricos a um usuário ou a uma concessionária d:
serviços de abastecimento de água. A Tabela 5.7 faz um sumário dos critérios usados por
diversos estados brasileiros, relacionando os respectivos órgãos gestores e legislação específica.
E.m sua grande maioria, os critérios estaduais têm como vazão de referência algum
valor característico que pode ser extraído da chamada curva de permanência das vazões
locais, ou dos resultados da análise de freqüência de vazões mínimas anuais. No primeiro
caso, suponha que uma dada seção fluvial disponha de N dias de registros fluviométricos,
para os quais se quer construir uma curva de permanência. Um modo simples de fazê-lo é:
(i) ordenar as vazões Q em ordem decrescente; (ii) atribuir a cada vazão ordenada Om a sua
respectiva ordem de classificação m; (iii) associar a cada vazão ordenada Om a sua respec-
tiva prclbabilidacie empírica de ser igualada ou superada P(Q~Om), a qual pode ser estimada
pela r.a~ão (m!N) e (iv) lançar em um gráfico as vazões ordenadas e suas respectivas
proba,bilidades P(Q2Qm). A Fígura 5.23 exemplifica uma curva de permanência construída
com base nas vazões médias diárias de uma estação fluviométrica, sendo conveniente
ressaltar que 1OO.P(Q20m) pode ser interpretada como a porcentagem do tempo em que
a vazão indicada foi igualada ou superada ao longo do período de registros. Dessa forma,
a vazão de referêncja Q90 corresponde, na curva de permanência da Figura 5.23, ao valor
0,4Sm3/s que é igualado ou superado em 90% do tempo. Se esta estação fluviométrica
estiver localizada em um rio de domínio do estado da Bahia, a máxima vazão outorgável a
um usuário, segund'o a Tabela 5.7, será de 0,80, Q90 ou 0,36 m3/s.

Curva de Permanência
8
7

6
-~ 5
E
~4
t<O
~ 3
>
2
1 •

Q .f...-~-..--~-r~--,.~~..---~~~--~--~--r-----,------i
o 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
% Tempo em que Q>=Vazão

Figura 5.23 - Exemplo de curva de permanência

266
Tabela 5. 7 - Critérios de outorga, órgão responsável pela emissão da outorga e legislação pertinente para diversos estados
brasileiros (continua)

Estado Critério adotado órgão responsável Legislação pertinente


80°/o da 0 90, sem barramentos; Lei 6.855/95 - institui a PERH
80°/o das vazões regularizadas, com 90°/o de garantia, em Decreto 6.296/97 -
Superintendência de
Bahia barramentos de rios perenes; regulamenta esta lei do que
Recursos Hídricos
95% das vazões regularizadas, com 90% de garantia em dispõe sobre outorga.
barramentos de rios intermitentes.
Lei 11 .996/92 - institui a PERH
Volume outorgado não deverá exceder 9/1 O da vazão regularizada Secretaria de Recursos Decreto 23.067/94-
Ceará regulamenta esta lei do que
anual, com 90°/o de garantia. Hídricos
dispõe sobre outorga.
Lei 2.725/01 - institui a PERH
80°/o das vazões de referência 0 1., 0 ou 0 90 ou Om1 e de vazões Secretaria de Meio
Decreto 22.359/01 -
Distrito
regularizadas em rios perenes ou, na falta destas, vazões instantâneas Ambiente e Recursos regulamenta esta lei do que
Federal
N
c:n dos meses de agosto a setembro, medidas pelos usuários. Hídricos dispõe sobre outorga.
......
Lei 13.199/99 - institui a PERH s:
Instituto Mineiro de Portaria 010/98 - regulamenta
QJ
:,
Minas Gerais 30°/o da Q1• 10 •
Gestão das Águas
(l)
::,
n
a outorga. -·
-
QJ.
VI
V,
e
O poder outorgante poderá articular-se com outras instituições, "O
ro
órgãos e instituições de pesquisa para proceder à análise técnica das Superintendência de ::l,
-n-·
Lei 12.726/99 - institui a PERH
disponibilidades hídricas e na definição de vazões de referência, Desenvolvimento de -·
QJ
VI
Paraná Decreto 4.646/01 - dispõe ••
devendo ser associadas a probabilidades de garantia de suprimento e Recursos Hfdricos e Q1
VI
sobre o regime de outorga. "O
ro
levar em conta vazões para a manutenção dos ecossistemas Saneamento Ambiental
aquáticos. ~
.e
eQI

Volume outorgado não deverá exceder 9/1 O da vazão regularizada


Secretaria Extraordínária · Lei 6.308/96 - institui a PERH
do Meio Ambiente, dos Decreto 19.260/97 -
---·
:,
Qj
-< ·
Paraíba Recursos Hídricos e o
anual com 90% de garantia. regulamenta esta lei do que V,
-
Minerais dispõe sobre outorga. na.,
"O
e
o
---
\Tl


3li>
..
:,
o
e.
Tabela 5.7 - Critérios de outorga, órgão responsável pela emissão da outorga e legislação pertinente para diversos estados o
C>-
Q
e
brasileiros (conclusão) Ili
'tS
...we,
Estado Critério adotado Órgão responsável Legislação pertin_ente
n
o
:::,

"'3e
Lei 11.426/97..... dispõe s0bre a o
Secretaria de Ciência, ::-
Política Estadual de Recursos e
O órgão gestor definjrá os volumes máximos a serem outorgados Tecnologia e Meio 3
Pernambuco Hídricos e o Plano Estadual de I»
:::,
com base nos estudos dos recursos hídricos existentes. Ambiente, através de sua o
Recursos Hídricos
Diretoria de Recursos
Hídricos
Decreto 20.269/97 -
regulamenta a lei anterior~
...., As vazões mínimas, para manutenção da vazão ecológica,
cn Lei 3.239/99 - dispõe sobre a
CIO Rio de estabelecidas pelo Plano de Bacia Hidrográfica, para as diversas Conselho Estadual de
Janeiro seções e estirões do rio, deverão ser consideradas para efeito de Recursos Hídricos
Política Estadual de Recursos
outorga. Hídricos.

Secretaria de Recursos Decreto 13.283 -


Rio Grande regulamenta a outorga de
9/1 O da vazão regularizada anual com 90% de garantia. Hídricos e Projetos
do Norte • • direito de uso de recursos
espec1a1s
hídricos.
Lei 3.870/97 - dispõe sobre a
Superintendência de Política Estadual de Recursos
O poder público deve calcular o volume outorgável sazonalmente em Recursos Hídricos da Hídricos.
.Sergipe função do nível de garantia de, no mínimo, 85% e de, no máximo, Secretaria de Estado do Decreto 18.456/99 -
95%. Planejamento e da regulamenta a outorga de
Ciência e Tecnologia direito de uso de recursos
hídricos.
, r s I Capítulo· 5
Mananciais superficiais: aspectos quantita ivo

Alguns outros estados brasileiros, a exemplo de Minas Gerais, adotam como referência
a vazão média mínima anual de 7 dias de duração e de tempo de retorno igual a 1O anos,
geralmente d~notada por 0 7,10 . Para um dado ano de registros fluviométricos, tal como o
exemplificado pelo fluviograma da Figura 5.20, o valor Q7 anual corresponde à média das
sete menores vazões consecutivas ocorridas naquele período. Para um conjunto de vários
anos de registros fluviométricos, é necessário proceder à análise de freqüência dos respec-
tivos valores anuais de 0 7, para que possa ter a estimativa da vazão de referência 01, 10·
No caso de vazões mínimas anuais, tais como as vazões Q7, o conceito de tempo de
retorno também é aplicável, muito embora tenha que ser redefinido como o tempo médio,
em anos, necess,ário para que o evento A:{a variável X (ou o7) é menor ou igual a um certo
valor} ocorra uma vez, em um ano quafquer. Assim definido e contrariamente ao conceito
válido para enchentes, a relação entre o período de retorno T, em anos, e a probabilidade
F=P(X~) agora é T=1/F. Sabe-se que as vazões médias mínimas, tais como a 0 7, são valores
limitacdGs inferiormente. De fato, nesse contexto, a menor vazão possível é a vazão nula.
Apesar de ~ue qualquer distribuição de probabilidade, cuja variável aleatória tenha limite
inferior, possa ser usada para modelar eventos mínimos, é muito freqüente a utilização da
distribuição de Weibull para esse fim. Embora essa distribuição possa ser prescrita com 2 ou
3 parâmetros, limita-se a descrição que se segue ao modelo distributivo de 2 parâmetros.
Nesse caso, as funções densidade de probabilidade e de probabilidades acumuladas de
Weibull são dadas respectivamente por

(l

, para x ~ O a,~>0 e (13)

I
(14)

nas quais a e b são, pela ordem, os parâmetros de forma e escala. Esses parâmetros são
relacionados às medidas populacionais de posição e dispersão por meio das seguintes
relações:

E(x)=pr 1+!_ ,Var(x)=p 2 r 1+{ -r 2 1+!_ ,


a a a (15)

ClO

1
onde r(.) representa a função gama, dada pela integral r(a)=J tª- exp(-t)dt, cujas solu--
7

ções numéricas encGntram-se·tabeladas em diversos livros. .textê de matemática. Dada uma
amostra de vazões médias Q7 mínimas anuais, pode-se estimar os parâmetros da distribuição

269
AtJi,1\oclmti,,lo tia ÂOUO poro consumo humano

deWelbull, por meio da substituição do valor esperado e a variância populacionais, na Equa-


çêo 15, pelas respectivas estimativas amostrais. As soluções simultâneas do sistema podem
ser maisfacllmente obtidas, através do coeficiente de variação amostral CV. Formalmente,

1 Ê(X_) X rQ+1/a) = A(a)


2
CV=f vftr(X) = Sx = ~r(! +2/~)-r Q+ 1/~) ~á(a)-A (a)
2 (16)

Arbitrando-se um conjunto de valores possíveis de a, pode-se calcular o numerador e


o denominador da Equação 16, os quais são tabelados, em seguida, para diversos valores
de CV, tal como apresentado na Tabela 5.8. Na seqüência, o parâmetro ~ pode ser estimado
por:
-
"~ =_,__
X

1 · A(tt) (17)

Tabela 5.8 .. Relações auxiliares para a estimativa do parâmetro de escala de Weibull


1/Alfe A(Alfa) B(Alfa) CV 1/Alfa A(Alfa) B(Alfa) CV 1/Alfa A(Alfa) B(Alfa)
:; 1 1 CV
0,000 1,0000 1,00000 0,0000 0,105 0,9493 0,9155 0, 1259 0,210 0,9155 0,8863 0,2394
0,005 0,9971 0,9943 0,0063 O, 110 0,9474 0,9131 0, 1316 0,215 0,9143 0,8860 0,2446
0,010 0,9943 0,9888 0,0127 0, 115 0,9454 0,9107 o, 1372 0,220 0,9131 0,8858 0,2498
0,01 5 0,9915 0,9835 0,0190 0,120 0,9435 0,9085 O, 1428 0,225 0,9119 0,8856 0,2549
0,020 0,9888 0,9784 0,0252 O, 125 0,9417 0,9064 O, 1483 0,230 0,9107 0,8856 0,2601
0,025 0,9861 0,9735 0,0315 0, 130 0,9399 0,9044 O, 1539 0,231 0,9105 0,8856 0,26 11
0,030 0,9835 0,9687 0,0376 O, 135 0,9381 0,9025 O, 1594 0,232 0,9103 0,8856
0,035 0,2621
0,9809 0,9641 0,0438 0, 140 0,9364 0,9007 0, 1649 0,234
0,040 0,9098 0,8856 0,2642
0,9784 0,9597 0,0499 0,145 0,9347 0,8990 O, 1703 0,235 0,2652
0,045 0,9096 0,8856
0,9759 0,9554 0,0559 0, 150 0,9330 0,8974 O, 1758
0,050 0,2355 0,9095 0,8856 0,2657
0,9735 0,9513 0,0619 O, 155 0,9314 0,8960 o, 1812 0,2360 0,9094 0,8856 0,2662
0,055 0,971 1 0,9474
0,060 0,9687 0,9435
0,0679 0,160 0,9298 0,8946 o,1866 0,2361 0,9093 0,8856 0,2663
0,0739 O, 165 0,9282 0,8933 O, 1919 0,2362 0,9093 0,8856 0,2664
0,065 0,9664 0,9399 0,0798 0, 170 0,9267 0,8922
0,0/0 0, 1973 0,2363 0,9093 0,8856 0,2665
0,9641 0,9364 0,0857 O, 175 0,9252 0,8911
0,075 0,2026 0,2364 0,9093 0,8856 0,2666
0,9619 0,9330 0,091 5 0,180 0,9237 0,8901
0,080 0,2079 0,2364 0,9093 0,8856 0,2667
0,9597 0,9 298 0,0973 0,185 0,9222 0,8893 0,2132
0,085 0,2364 0,9093 0,8856 0,2667
0,090
0,9575 0,9267 O, 1031 o,190 0,9208 0,8885 0,2185 0,2364 0,9093 0,8856 0,2667
0,9554 0,9237 O, 1088 0, 195 0,9195
0,095 0,8878 0,2238 0,2364 0,9093 0,8856 0,2667
0,9533 0,9208 0, 1146 0,200 0,9 18 1
o,,oo 0,95 13 0,9181 O, 1203 0,205 0,9168
0,8872
0,8867
0,2290 0,2364 0,9093 0,8856 0,2667
E
0,2342 0,2364 0,9093 0,8856 0,2667

Umavez estimados os parâmetros da distribuição de Weibull, pode-se calcular o quantil


x correspondente a uma dada probabilidade F, ou a um perfodo de retorno T, por meio da
Jnversa de Fna Equação 14, ou seja:

270
-
·-
Mananciais superficiais: aspectos quantitativos I Capitulo 5

1 •

xF= li [- lnQ-F)]~ ou Xr = f3 - ln 7_!__ -;; (18)


T
O procedimento de cálculo, acima descrito, encontra-se automatizado no programa
de computador ALEA, o qual está disponível para download a partir da URL <http://
www.ehr.ufmg.br>. O Exemplo 5.6 ilustra a estimativa da máxima vazão outorgável para o
Rio Paraopeba, na localidade de Ponte Nova do Paraopeba, em Minas Gerais.
Por fim, cabe assinalar, entretanto, que, com muita freqüência, a inexistência de regis-
tros ftuviométricos nas seções fluviais em estudo não permite a estimativa das vazões míni-
mas de referência pelos métodos de cálculo descritos. Nesses casos, é forçosa a alternativa
da regionalização de vazões, por meio da qual as informações provindas das estações
fluviométricas existentes são adimensionalizadas e analisadas em seu conjunto, para que,
em seguida, possam ser espacializadas e, finalmente, empregadas para se estimar as va-
zões características em locais não medidos. Um exemplo desse t ipo de estudo é o volume
intitulado '' Deflúvios Superficiais em Minas Gerais'' (Hidrosistemas, 1993), correntemente
emp~egado pelo lGAM Instituto Mineiro de Gestão das Agua.s como instrumento de
análise para concessão de outorgas em Minas Gerais.

Exemplo 5.6

De acordo com a legislação mineira, a máxima vazão outorgável em


uma dada seção fluvial corresponde a 30 o/o da 0 7 , 10 . A Tabela 5.9
apresenta as Q7 mínimas anuais, extraídas das vazões médias diárias
observadas no Rio Paraopeba em Ponte Nova do Paraopeba. Use o
procedimento de cálculo descrito para a distribuição de Weibull,
para estimar a máxima vazão outorgável nesse local. Em seguida,
verifique a qualidade do ajuste, por meio de um gráfico entre as Q7
observadas e o modelo distributivo de Weibull. Para isso, (i) classifique
as 0 7 observadas em ordem crescente; (ii) atribua o número de
ordem m aos valores classificados, sendo m= 1 para o menor e m=N
para o maior; (iii) associe às vazões ordenadas os tempos de retorno
empíricos estimados por (n+ 1)/m; (iv) faça o ajuste de parâmetros da
distribuição de Weibull, conforme anteriormente descrito; (v) estime
os quantis teóricos de Weibull para diferentes tempos de retorno,
por meio da Equação 18 e (vi) verifique a qualidade do ajuste, lan ..
çando em um mesmo gráfico as vazões observadas com seus respecti-
vos tempos de retorno empíricos, bem como as vazões estimadas por
Weibull para diferentes tempos de retorno, usando Tem abscissas e
0 7 em ordenadas.

271
. . arã consumo ,,e.um ano.
Abastecimento de água p

..

Solução

As estatísticas amostrais pertinentes ao cálculo são X= 28,475, Sx =


= 7,5956 e CV= 0,2667- Entrando com o valor de CV na Tabela 5.8, tem-
se a estimativa â = 4,23. Em seguida, pela Equação 17 obtém-se a esti-
mativa ~ == 31,32,. De acordo com o modelo de Weibult (Equação 18), a
1
-
a.
== 18,4m 3/s. Logo, a

máxima vazão outorgável é 5,52 m3/s. O gráfico que se segue, cons-


truído tal como a seqüência descrita no enunciado, revela um excelente
ajuste entre as observações e o modelo probabilfstico adotado .

272
Mananciais superficiais: aspectos quantítatlvos I Capítulo 5

• Distribuicão emoírica - Aiuste de Weibull


50,0 , - - -- - - - - - - - - - - -- - - - - - - - - - - -- - - - - - - - - - ,

450
'

40,0 -

35,0
-;,'e
-d
E ao.o -

25,0

•••
20.0
• • •
15,0

10,0 +_ ---~-----r-----.------.----~---....---------...-----l
0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 . 25,0 30,0 35,0 40,0 45,0

Tempo de retorno (anos)

'

Referências e bibliografia consultada

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Capítulo 6

Mananciais subterrâneos: aspectos quantitativos

Luiz Rafael Paf míer


f

6.1 Introdução

O aproveitamento das águas .subterrâneas data de milhares de anos e atualmente é


crescente o seu uso para suprimento de necessidades, seja no atendimento total ou suple-
mentar do abastecimento público e de atividades agrícolas e industriais. O termo águas
subterrâneas é usualmente reservado às águas do subsolo que se encontram abaixo do
lençol freático, em solos e formações geológicas completamente saturadas (Freeze e Cherry,
1979). Ressalta-se, porém, que a denominação é também associada a todas as águas que
ocorrem abaixo da superfície da terra, face à evolução de abordagens de determinação de
reservas de água disponíveis para uma análise mais abrangente das suas condições de uso

e proteção (Rebouças, 1999b). No presente capítulo, utiliza-se a primeira definição.


Se a hidrologia é considerada uma geociência que trata das águas na Terra, sua
ocorrência, circulação, distribuição, propriedades físico-químicas e suas relações com os
seres vivos (ver item 5.1 ), a hidrogeologia engloba as inter-refações das formações geoló-
gicas e processos com a água (Fetter, 1994). Os princípios científicos da hidrogeologia
são utilizados para solucionar problemas de engenharia relacionados à captação e ao con-
trole de águas subterrâneas nesse último caso tem-se como exemplo as escavações
que atingem profundidades inferiores ao nível do lençol freático , assim como aqueles
relacionados à contaminação dos mananciais subterrâneos, seja por meio da proteção ou
reabi Iitação.

1
Abastecimento d~ ãg ú a pa ra consumo humano
'
.. . . subterrânea são primordialmente r~
Os mananc1a1s de águba I e perecia carregados pe\a
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chuva que se 1n ª
1 so o
d 5 por lagos e cursos d' água · as rec
são ocasionalmente .aume: : ~ influentes, cujos .argas
fre á tico . o utras contribuições, denominad
superiores à superffoe do ~ ~ 1 0 as d:i~eis São
excesso de irrigação, de vazame
artificiais, ocorrem em funçao ~im ntos em canais e ~cargas
e do uso de poços de recarga a e n ta d o s com excedentes de águas de
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- ento de esgoto ou de agua . es ou de
estaçoes de tratadm a rc e "
Por outro la o, uma P la dos fluxos de água subterranea deságua em foni-
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menta os rios, po en o to rn á-lo s p e re n es durante as e açoes e prec1.p. Les, ah ..
. 1ta çõ e s re' 1·
mares e oceanos. Porta'ª
mente escassas, ou é d e sc a rregada diretamente nos 1agos, 1va..
bt ~ está intimamente associada à água rt· · 1 D f nt
água su erranea stá sub""errân s u p e ,e ia . e ato, a água nã , o, a
subterranea, mas e ea como poderia estar superf
l icial. Contudo cornoºhe
diferenças óbvias entre os sistem ' • • •
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as superf1c1a1s e subterraneos, • ' á
'd d ele p a ra ~fe ito d e re d u ç ão de
comp1ex, a e, s us ua lm ente são estudados de forma
principalmente em estudos em e . , c om. p artime. ntada. Porém
scala regional, ha que se consid ,e
erar a 1nterconectividade
entre os sistemas.
O crescente aumento do consumo de água seja
dial ou pelas taxas de consumo p pe lo aumento da população mun-
er capita é responsável pelo
dos recursos hídricos subterrâneo uso cada vez mais intenso
s. Poços rasos ou profundo
- , drenas e galerias filtrantes sã s, tubulares ou escavados
o utilizados para captar a água
casos, verifica-se a superexploraç subterrânea. Em alguns
ão (sobre-bombeamento) de alg
taxas de bombeamento, conside uns mananciais, isto é, as
radas insustentáveis, são supe
natural. Como conseqüência, sã riores àquelas de recarga
o verificados sérios problemas
níveis dos lençóis freáticos, da p , tais como: redução dos
rodutividade dos poços, do es
níveis mínimos dos reservatórios e coamento de base e dos
áreas pantanosas; aumento do
água subterrânea; ocorrência de s custos de exploração de
subsidência e intrusão salina; e
centes. Adicionalmente, as águas s desaparecimento de nas·
ubterrâneas estão cada vez m
principais fontes os efluentes dom ais po\uídas, sendo as
ésticos, industriais e agrícolas. Porta
nhecido potencial das águas subte nto, apesar do reco-
rrâneas para suprimento das de
dada região, é evidente que tal ex mandas de água de uma
ploração deve ser realizada de fo
e integrada à exploração dos recu rma racional, sustentáve\
rsos hídricos superficiais. Objeti
apresentar as noções básicas e o va-se no presente capítulo
s conceitos fundamentais rela
ênfase no aproveitamento de águas tivos à hidrogeo\ogia, com
subterrâneas.

276


· · 1Cap· rtulo 6
Mananciais subterraneos: aspectos quantrtattvos

6.2 A evolução do uso de águas subterrâneas e da


compreensão dos fenômenos hidrogeológicos

A utilização das águas subterrâneas e o reconhecimento de sua importância como


fonte de abastecimento, prtncipa1mente das populações primitivas das zonas áridas e semi-
áridas, em muito precede o entendimento de sua origem, ocorrência e movimento. Inicial-
mente eram aproveitadas águas de nascentes e de lençóis freáticos rasos. Nesse último
caso, por meio de escavações rudimentares, que com o tempo evoluíram para cacimbas
revestidas de pedra e betume, como é o caso do cacimbão (poço escavado) mais antigo até
agora descoberto há cerca de 1O.DOO anos , na cidade fortificada de Jericó (Rebouças,
1999b).
Além dos poços escavados, os qanats, uma das obras mais engenhosas de captação
de água subterrânea, também eram utilizados na Antigüidade. São galerias e túneis hori-
zontais de até centenas de quilômetros de comprimento, que demandam intensa mão-de-
obra e uso de técnicas que remontam a mais de 3.000 anos. Uma seção longitudinal
.
ao
longo de um qanat é mostrada na Figura 6.1. Tipicamente, um túnel de inclinação suave é
escavado em um solo aluvionar para, por gravidade, conduzir água de seu extremo de
montante, loca,izado abaixo do nível do lençol freático, até o seu extremo de jusante, que
se encontra acima no nível da superfície. Galerias verticais são escavadas em intervalos
igualmente espaçados para permitir o acesso ao túnel (Todd, 1980). Esses sistemas são
ainda encontrados nas regiões áridas e semi-áridas do Oriente Médio e Norte da Africa.
Area de recarga

Poços intermediários
Campos irrigados • • • • ·: • : Poço de montante
Aluvião ++ ••
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Extremidade de • • + •

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Figura 6.1 - Seção longitudinal ao longo de um qanat


1 -Fon-
te: NATIONAL ACADEMY OF SCIENCES (1974)

Como a água subterrânea permanece oculta até aparecer em fontes ou poços, asso-
cia-se a ela, mesmo nos dias atuais, uma sombra de mistério e superstição. Exemplo mar-
cante é a persistência do mais antigo método de prospecçã·o de água subterrâne~, baseado
no uso de uma vareta em forma de forquilha (CETESB, 1978). ·O método consiste em se
caminhar por uma dada área segurando com ambas as mãos essa vareta até que seu

277
Abastecimento de ãg ua pa ra co nsumo humano

. ente para baixo, supostamente pela presença


extremo livre seja atr~fdo osten~ivam zes na B de á
íblia (CETESB, 1978), e ainda de grande agu~
subsuperficial. Menc1onad~ várias ~est'1ficação
,. cie n tí fic a (T o dd , 19 80 ). ce, ..
1
taçao popu ar,.º . m étod o n a o te m JU ·
f. f acreditavam que a água do mar .
Antigos c1ent1stas e I16so os convertia-se ern águ
ed 'd ~ d m a r até a lc a n ça r a fo n te . O co n
h
e cr
· a
doce, na. m · 1 a em que fl u1a o . . m e nto claro do c,·cl
b rvações e dados quant1tat1vos, fo,, alcança o
hidrotóg1co, baseado em O se do apenas na se-
. . l X VII D u ra n te o sé cu lo s e g u
· f d d .
gunda metade do sécu o · · · in te , un am e n to s e g e olo gia fora m
. f d su b sí . d " · ·
estabelecidos, ornecen o · d io s p ara O e n te n d im ento a ocorrenc,a e movimento das
~ A rt . . . .
águas subterraneas . pa ir da Revolução Industrial, 1n1c1ada nesse mesmo século na lngta-
. rt " · da s á g u . . ·
as subterrâneas f 01 def1n1t1vamente recon h 'd ·
terra, a 1mpo anc1a · ec , a na Europa
uma vez que as demandas de água aumentara . . ,
m de forma rápida, para abastecimento das
emergentes atividades industriais e crescimen
to acelerado dos centros urbanos (Rebouças,
1999b). Poços com profundidades superiore
s a 500 met~os foram ~e~~rados na ~rança
primeira metade do século XIX (CETESB, 1978 na
1
). No Bras.11, desde ~ 1n1c10 da ~olo~1zação
águas subterrâneas vêm sendo utilizadas pa as
ra abastecimento, vide os cac1mboes (poços
escavados) encontrados nos fortes militares, co
nventos, igrejas e outras construções dessa
época (Rebouças, 1999b). Entre 1845-1846
foram perfurados os três primeiros poços
tubulares no Brasil, na cidade de Fortaleza, p
or uma empresa americana (Leal, 1999}.
Apesar dos avanços obtidos na hidrogeolog
ia, observa-se, em nível mundial, uma
carência de dados detalhados sobre a dispo
nibilidade, qualidade, uso e distribuição do
recursos de água subterrânea, indispensáveis s
para sua adequada gestão. Usualmente, tais
dados só podem ser obtidos por meio de pe
rfurações de poços, cujos custos são relativa-
. mente elevados, dificultando, assim, o estab
elecimento de redes de monitoramento. Mes
mo quando recursos são obtidos para finan -
ciamento de alguns estudos, a geologia do
local pode ser tão peculíar e a área pesquisad
a tão limitada em extensão que sua utilidad
como banco de dados é restrita (Cleary, 198 e
9). No Brasil, em geral, os maiores níveis
conhecimento hidrogeológico são verifícados de
nas áreas com densidades demográficas mai
elevadas, principalmente nos domínios metro s
politanos (Rebouças, 1999b).
~ortanto, sistemas de monitoramento de água
s subterrâneas precisam ser aprimorados
em diversas ~~giões para disponibilizar infarm
ações relativas às taxas de deplecionamento
dos mananciais subterrâneos e a qualidade de suas ·
águas. Em cada país tal tarefa deve ser
de re~pon~a~ilidade de uma entidade nacio
nal, mas como as águas' subterrâneas não
respeitam lrm,tes de municípios, divisas de est
ados e, mesmo, fronteiras de países, os resu
tados, em alguns casos, devem ser avaliados l-
em um nível internacional (UNEP, 1996), po
o. bombeamento de água em , d is
um pa,s po e 1n · . ,.
rios de outro país (Banco Mundial, te rf er 1r n o b o m b e a m e n to ou na s va zoes e d
1998 ).

278
-
Mananciais subterrâneos: ' - 1capítulo 6
- · t 1vos
aspectos quantita

6.3 Características, importância e vantagens do uso das


água.s subterrâneas

A parcela da água de infiltração que atinge os mananciais subterrâneos é auto-depu-


rada à medida que percola pela zona não saturada do solo e subsolo, devido aos processos
bio-ffsico·geoqufmicos de interação água/rocha e de filtração lenta. A água subterrânea
move-se de forma muito lenta em comparação com a água superficial; a velocidade de 1m/dia

é considerada alta no primeiro caso, enquanto que para um curso d'água superficial o
equivalente seria a velocidade de 1m/s (Cleary, 1989). Face às reduzidas velocidades dos
fluxos de água subterrânea, seus tempos de residência variam de algumas semanas a mi-
' lhares de anos tempo médio da ordem de 280 anos (Lvovitch, 1970 apud Cleary, 1989)
-, ou seja, suas taxas de recarga anual são usualmente muito pequenas. Esse fato, associ-
ado aos grandes volumes disponíveis (mais de 95o/o dos volumes de água doce na Terra,
excluídas as calotas polares e as geleiras), significa que os mananciais subterrâneos podem
ser considerados uma reserva de longo prazo. Por outro lado, uma vez poluídos, uma auto-
descontaminação, por meio de mecanismos de fluxo natural, pode levar centenas de anos.
r Além de desaguarem na superfície dos terrenos f armando as fantes , em lagos,
mares e oceanos, e alimentarem os rios, as águas dos mananciais subterrâneos e seus fluxos
podem ser captados por poços. Como regra geral, são perenes os rios que drenam regiões
com excedentes hídricos e com condições hidrogeológicas favoráveis à f armação de grandes
reservas subterrâneas (Rebouças, 1999a}. De forma similar às bacias hidrográficas superficiais,
uma bacia hidrográfica subterrânea é definida por um volume subsuperficial através do qual
as águas subterrâneas escoam para uma zona de descarga específica, limitada por divisores
1
que não necessariamente coincidem com aqueles das bacias superficiais.
A contribuição global dos fluxos de águas subterrâneas em relação à descarga total
dos rios é da ordem de 31 %; valores por continente são mostrados na Tabela 6.1. A contri-
' buição direta dos fluxos subterrâneos aos oceanos é da ordem de 5% da descarga total dos
rios (Zekster e Dzhamalov, 1981 apud Ward e Robinson, 1990).

Tabela 6.1 - Contribuição dos fluxos subterrâneos à descarga dos rios {km3 /ano)
Recursos Escoamento Contribuição Descarga total

continentes superficial subterrânea média dos rios
América do Sul 6.641 3.736 10.377
América do Norte 4.723 2.222
África 6.945
2.720 1.464 3.808
Ásia 7.606 2.879 10.485
Austráfia/Oceania 1.528 483
1
Europa 2.011
1.647 845 2.321
Ex-URSS 3.330 1.020
Total mundial 4.350
• 27.984 12.689 40.673
• Fonte: WORLD RESOURCES INSTITUTE (1991) apud TUNDJSI (2003)

279
Ab'1stedmento ·d e · gua para co.ns.umo buma110

r
)•
A evolução tecnológica da construção de poços, dos equipamentos de perfur _
das bombas hidráulicas associada à disponibilidade de energia elétrica, tornou aça? e
. ,. ' . d . Poss1ve1
a1cançar profundidades cada vez maiores, em tempos ca a vez menores. Portanto
. . . . bt " . , Pode..
se afirmar que praticamente já não existem mananc1a1s su erraneos inacessíveis (Rebou a
2002a), embora sua exploração dependa, dentre outros fatores: da quantidade de , ç s,
l · · f · d · I· d ·
disponível. em função das propnedades .ís1cas o mananc,a , a qualidade da á agua
1
J
influenciada pela geologia do manancial e por pressões antrópicas; e do custo de e;~ª·
raç~o. que depende da profundidade e das condições de bombeamento. Po.
Várias vantagens são atribuídas ao aproveitamento das águas subterrâneas em rela-
ção às ~guas superfiàais:
• o abastecimento não está sujeito a situações críticas face à ocorrência
de condições climáticas anormais, pois geralmente a quantidade e a
qualidade das águas subterrâneas não são significativamente afetadas
pela variabilidade sazonal ou interanual das fontes de recarga, tais
como periodas longos de estiagem, que poderiam ser suficientes para
reduzir de maneira. perigosa os níveis de reservatórios superficiais;
• os mananciais subterrâneos podem ser considerados recursos estraté-
gicos. na medida em que normalmente sua exploração não é afetada
pela ocorrência de eventos catastróficos como terremotos, erupções
vulcânicas e guerras;
• a água subterrânea pode ser explorada no local onde ocorrem as
demandas, sem que haja a necessidade de se construir adutoras. Em
muitos países, há· mais locais disponíveis para exploração, em larga
escala, de águas subterrâneas, do que aqueles para construção de gran-
des barragens, cujos reservatórios, adicionalmente, têm seus volumes
\
diminuídos em fu.nção dos processos de assoreamento e estão sujeitos
a perdas devido à evaporação, o que não ocorre com os mananciais
subterrâneos. Como requer áreas limitadas, a captação de água
subterrânea não compete c.om outras formas de uso do solo urba-
nização, atividades industriais e agrícolas;
• as águas subterrâneas geralmente apresentam características perfei-
tamente compat íveis com os padrões de potabilidade e são isentas de
bactérias normalmente encontradas em águas superficiais face,
conforme mencionado anteriormente, às baixas velocidades de
percolação e aos processos bio-físico-geoquímicos que se desenvol-
vem na zona não saturada do solo. Adiciona lmente, a temperatura da
água em mananciais subterrâneos tende a permanecer relativamente
constante, enquanto pode variar excessivamente nos reservatórios
superficiais; e
• no que se refere a custos, as captações de água subterrânea dispen-
sam investimentos em estações completas de tratamento · quando

280

......_ __- -- ---------


.
Mananciais subterraneos: aspectos quantitativos I Capítulo 6

não se encontram poluídas , e em adutoras, petos motivos já expostos.


Os investimentos e prazos de execução das obras são comparativa-
mente menores aos necessários para o desenvolvimento de captações
de águas superficiais, sobretudo quando estas demandam a construção
de grandes barragens, sistemas de captação, adução e tratamento de
águas. Por fim, os sistemas de captação de água subterrânea podem
ser desenvolvidos em estágios, com novos poços sendo perfurados
em função do crescimento da demanda. Os custos internacionais de
captação de água subterrânea naturalmente recarregada, 88 dólares
por mi1 metros cúbicos. Para a captação de rio, ainda excluindo trans-
porte, e considerando apenas o armazenamento, estima·se que
esses custos estejam entre 123 e 246 dólares por mil metros cúbicos
(Rebouças, 1999b).

Em contrapartida, algumas desvantagens do aproveitamento das águas subterrâneas


em relação ao de águas superficiais também podem ser citadas. No primeiro caso, as águas
geralmente têm que ser bombeadas, enquanto podem estar disponíveis por gravidade nos
reservatórios de superfície, os quais, além do armazenamento, podem ser utilizados para
outros fins. Adicionalmente, as vazões individuais dos poços são relativamente pequenas,
limitadas pelas características geológicas do manancial subterrâneo.
As águas subterrâneas podem apresentar alto teor salino e chegar a ser impróprias
para fins potáveis (nota-se que, dependendo das condições, o processo de salinização
também pode afetar as águas de· determinados reservatórios superficiais). Se a dureza
das águas subterrâneas for excessiva (com concentrações de cálcio e/ou magnésio aci-
ma dos limites), o seu consumo pode provocar problemas de saúde (como cálculos
renais), o que demandaria tratamento especial de abrandamento. De uma maneira
geral, as atividades de investigação, monitoramento e gestão são muito mais comple-
xas e caras, e demandam maior tempo de avaliação, para os aproveitamentos de águas
subterrâneas.
Ainda que seja interessante mencionar as vantagens e desvantagens do uso das águas
subterrâneas em relação ao aproveitamento de águas superficiais, deve-se ter em mente
que o dilema referente à determinação da melhor entre as duas alternativas é, de uma
certa forma, irrelevante. Há que prevalecer a visão integrada dos recursos hídricos para a
determinação, caso a caso, da estratégia de atendimento das demandas. Adicionalmente,
a gestão de recursos hídricos deve contemplar um maior uso da água disponível e um
ma~or valor para a sociedade do uso da água disponível, por meio de ações ou medidas que
sejam compatíveis com a correta gestão ambiental, de forma a garantir a integridade do
recurso.
Não há dados mundiais consistentes sobre o uso de mananciais subterr~neos para
atendimento das demandas de água (UNEP, 1996). E os dados disponíveis geralmente se
referem a períodos relativamente curtos para subsidiar análises consistentes sobre as ten..
dências de desenvolvimento das explorações das águas subterrâneas (Shiklomanov, 1997).

'

E E
Abast c:thttento de água ipara (on,sumo humano

Porém, é possível estimar que o uso d~ ~guas superficiais é resp?nsável Pelo atendimento
·de cerca de 80o/o das demandas mund1a1s. Os valores percentu~,~ por setor sao mostrados
na Tabela 6.2. A estimativa do volume total captado de mananc1a1s subterrâneos está
. . , bl' . .. entre
600 e 700km3/ano, sendo 65o/o p~ra ab~stec,mento pu 1co mun1c1pa,1 20º/o para a agri-
cultura e 15º/o para o setor industrial (Sh1klomanov, 1997).

Tabela 6.2 - Uso mundial de águas superficiais e subterrâneas por setor


- JS E J G g5 d
atai e
-
-·-
. . . .. ...... .
Tipo de uso Água superficial
.. ,, .
{%) Água sub~errâ~e~ (%) -
J6s: W • • ,L F
1 O

50 ...
7 1] . g J J às

Abastecimento público 50
Irrigação 80 20
Indústria 90 10

Fonte: SHIKLOMANOV (1997}

Apenas dez países extraem ma;s de 1Okm 3/ano dos mananciais subterraneos, dos
3
quais apenas dois aproveitam mais de 100km3/ano índia (180km /ano) e Estados Uni-
dos (11 Okm3/ano) (Shiklomanov, 1997). Neste último, a taxa de abstração de água subter-
1

rânea em relação ao total é de 23,So/o; os mananciais subterrâneos fornecem mais da


metade da água potável do país e 96% daquela consumida em áreas rurais (UNEP, 1996).
Na América Latina, UNEP (1996) cita cinco capitais altamente dependentes da exploração
de água subterrânea (entre parênteses as vazões extraídas dos mananciais subterrâneos):
Buenos Aires (4,2m3/s), Cidade do México (37m3/s), Lima (8,7m3/s), San José (5,0m3/s) e
Santiago (11 m3/s). Estima-se que cerca de 7,9m3/s sejam extraídos de mananciais subterr~neos
- sistemas aqüíferos da Bacia do Alto Tietê na Região Metropolitana de São Paulo
(FUSP, 2002 apud Porto, 2003). No Brasil, 23,5°/o da água consumida provêm de mananciais
subterrâneos, dos quais 37,5% atendem o abastecimento municipal (Shiklomanov, 1997).
Para ilustrar alguns aspectos relevantes da gestão de recursos hídricos em um contexto
de inserção da exploração de águas subterrâneas, podem ser citados exemplos relativos a
alguns dos países e cidades acima mencionados. Nos Estados Unidos, 30o/o das águas
subterrâneas utilizadas para irrigação provêm de um único manancial aqüffero Ogollala,
que ocorre nos oito estados mais secos do país. Os custos de produção de água de seus
poços têm aumentado de forma crescente, face à necessidade de alcançar maiores profun-
didades, as quais eram da ordem de 30 metros há 40 anos e atualmente atingem valores
superiores a 100 metros. Rebaixamentos do nível do lençol freático superiores a 300 me..
tros, causados pela superexploração, foram registrados na parte norte da região Meio-
Oeste do país. Casos de subsidência da ordem de 8 metros desde 1920 no Vale de San
Joaquim, na Califórnia, e de até 3 metros na área de Houston-Galveston também são
associados à exploração de águas subterrâneas (UNEP, 1996).
Como conseqüência da exploração intensa do manancial subterrâneo localizado na
região metropolitana da Cidade do México o aqüffero do Vale do México , fonte de
cerca de 80% do abastecimento dos seus quase 20 milhões de habitantes, há registrosde
locais que subsidiram em até 8 metros. Além da subsidência excessiva, o rebaixamento do

282
Mananciais subterrâneos: aspectos quant1tabvos I CapUuJo 6

tençot e a deterioração da qualidade da água do manancial restringiram o uso dessa fonte.


Atualmente, parte da água consumida está sendo bombeada, a uma elevação superior a
1.000 metros, até o Vale do Máxlco, a partir do rio Cutzamala, por uma tubulação de cerca
de 180 quilômetros da comprimento. O custo médio incremental dessa fonte, de 0,82
dólares por metro cúbico, é SSo/o superior ao da fonte subterrânea anterior (Banco Mundi-
al, 1990).
AssociaMse ·freqüentemente uma redução da recarga abaixo das cidades como resultado
da impermeabilização das superfícies. A situação pode ser diferente em cidades com inade-
quados sistemas de esgotamento sanitário. Há registros de taxas de recarga até seis vezes
superlores em áreas urbanas do que em áreas rurais adjacentes, como resultado da impor-
tação de água para atendimento das demandas nas primeiras e também da recarga a partir
de vazamentos de adutoras, de redes de esgotamento sanitário e tanques sépticos. No
caso de um dos subúrbios da cidade de Lima, localizada na costa pacífica, de clima árido, a
recarga natural pré-urbanização era próxima de zero e atualmente é de 700mm/ano, devi-
do, em grande parte, aos vazamentos das adutoras de água tratada e à sobreirrígação das
áreas de lazer (UNER 1996).
No ano de 1981, o custo médio incremental do abastecimento de água da cidade de
Lima; baseado na captação de água do rio Rimac e em suprimentos subterrâneos, era de
0,25 dólares por metro cúbico. Devido às taxas relativamente altas de exploração dos
mananciais subterrâneos, previa-se que essas fontes não poderiam ser utilizadas além do
início de 1990. O planejamento de longo prazo considerava a transferência de água da
bacia hidrográfica Atlântica, com custos médios incrementais de 0,53 dólares por metro
cúbico de água (Banco Mundial, 1998).
Embora não se disponha de um cadastro completo de poços, estima-se que existam
mais de 200.000 poços tubulares em atividade no Brasil. Sua distribuição, porém, é bastante
irregular, com altas concentrações em algumas áreas urbanas, sendo a utilização da água
subterrânea no meio rural, em geral, pouco representativa (Leal, 1999). Assim, apesar
desses poços serem utilizados para diversos fins, como a irrigação, a pecuária e o abasteci-
mento de indústrias, o maior voíume de água é destinado ao abastecimento público. Na
região nordeste do pafs, ainda que um grande número dos poços abertos tenha sido desa-
tivado, pois as águas captadas eram salobras, impróprias para o consumo humano (Salati
et ai., 1999), há estimativas de que existam mais de 60.000 poços tubulares ativos, forne-
cendo água para suprir, primordialmente, parte das nec~ssidades de a.basteci_mento públi-
co, inclusive de cidades de grande porte, como Maceió, Natal, Recife e Sao Luís (Leal,
1999).
Estima ..se em 2.000 0 número de poços privados não controlados em operação na
cidade do Recife (Rebouças, 2002b). Na Região Met~opoJítana de São Pau~o, com cerca de
90º/o da população atendida pela rede de abastecrm~nto ,..de água,. o numero de poços
privados não controlados é da ordem de 7.000. Essa s1tua~ao é r:lat,v~~ente c?mum em
muitas das principais cidades do pafs, nas quaís condomín1os res1denc1a1s, hotéis de luxo,

283
-- ,
Abast ecimento de água para co
;,sumo humano
.

. . . , . . . b .1 cimentos comerciais, escolas, clubes esportivos, cent


hosp1tats industrias, esta e e. b d ros de
· , .1
t ção postos de gaso 1na, a
efíoportos
· ·' entre outros,
. se a astecem
. e forma . desord .
enada
naª ' , . ra reduzir a sua conta mensal e evitar os constantes rodíi
das águas subterraneas, pa . gggb ios de
falta d'água dos serviços públicos (Rebouças, 1 ). . . , , .
Na cr#dade de 5-ao Paulo, com · base
· nos preços atuais da agua . .da rede publica, urn
, . d
gran de usuar10 po e .·ter O custo de investimento de
,. um poço amortizado
_ _ em pouco~ .
,,,ais
de 8 meses, exc1ut'ndo-se os custos de manutençao . da captaçao e extraçao (Porto, .2003. ).
Uma avaliação realizada com base em dados obtidos com fornecedores de materiais Para
poços tubulares indica que 15.000.novos poços são perfurad~s anualmente n.o estado de
São Pau1o, mas O órgão responsável tiem outorgado apenas 1OYo desse total (H,rata, 20 03).
Preocupações com uma possível superexploração dos mananciais sub:errâneos no estado
de São Paulo têm sido mençionadas, mas não há estudos para avaliar a quantidade de
água que pode ser extraída de maneira sustentável.
Visando a disciplinar o uso racional das águas subterrâneas, a Lei Federal nº 9.433/
1997, que trata da Polftica Nacional de Recursos Hídricos, e as leis específicas de alguns dos
Estados da Federação instituíram o instrumento de gerenciamento denominado outorga
do direito de uso das águas. Pela Constituição da República de 1998, as águas subterrâneas
são de domínio dos Estados e do Distrito Federal, no âmbito de suas jurisdições. Assim, as
outorgas devem ser concedidas por esses entes federados.
No que se refere aos aspectos qualitativos, o crescente número de poços não contro-
lados perfurados nos grandes centros urbanos do país é também motivo de preocupações,
face aos riscos de contaminação dos aqüíferos. Quando o uso da água subterrânea se
destina ao abastecimento público, as Portarias do Ministério da Saúde definem os padrões
de potabilidade da água a ser fornecida pelos operadores dos sistemas de abastecimento.
Quanto ao uso das águas, uma vez obtida a outorga de direito de uso por um usuário
individual, na falta de uma legislação e fiscalização específicas, fica sob responsabilidade
deste a utilização adequada quanto ao fim a que se destina e a manutenção do poço.
Porém, a grande maioria dos proprietários não tem conhecimento suficiente dos proble-
mas e riscos associados a essa manutenção e, muito menos, do tipo de análise laboratorial
que deve ser feita para atestar a potabilidade da água captada. Em zonas urbanas, além
dos exames ~acteriológicos e físico-químicos tradicionais, para atestar a potabilidade da
água_subterranea é fundamental realizar análises da presença de solventes clôrados e de
metais pesados, as quais são caras e realizadas por poucos laboratórios do país (Hirata,
2003). .

284
Mananciais subterraneos: aspectos quantitativos l Capitulo 6

6.4 Distribuição vertical das águas subsuperficiais

Um ~iagrama simplificado de uma seção transversal típica de um vale de rio é mostra-


do nas F1~~r~s ~.2 e 6:~' onde estão indicadas as principais zonas nas quais as águas
subsuperfic,a,s sao classtf1cadas. A zona de solo e a zona intermediária compõem a zona
não saturada, que se estende até a parte superior da franja capilar, que é zona de separação
da zona não saturada da zona saturada (alguns autores incluem a franja capilar na
definição de zona não saturada). O lençol freático constitui-se no limite superior da zona de
saturação e é definido como a superfície na qual a pressão da água no subsolo é igual à
pressão atmosférica, ou seja, pressão efetiva nula. Onde a superfície do terreno intercepta
o lençol freático, a água subterrânea aflora na forma de fontes, córregos ou rios.
Essa classificação é uma abordagem introdutória conveniente, mas deve-se ressaJtar
que o sistema representado é essencialmente dinâmico, com variações espaciai's e tempo-
rais em uma bacia hidrográfica. Assim, as espessuras das zonas representadas variam em
diferentes áreas da bacia e, por exemplo, em um mesmo local a profundidade do lençol
freático pode tanto aumentar como resultado da ocorrência de períodos secos ou da
superexploração de águas subterrâneas, ou diminuir em função de períodos chuvosos
ou de recarga artificial.
Na zona não saturada, ou zona de aeração ou zona vadosa, os poros do solo estão
preenchidos com ar e água, a qual está sob pressão efetiva negativa também chamada
de potencial de sucção, pressão capilar ou tensão capilar , devido à tensão superficial
entre a superfície líquida e o ambiente geológico. Assim, um poço comum, constituído de
uma tubulação aberta com um filtro na extremidade inferior e exposta à atmosfera no
outro extremo, instalado na zona não saturada, permanecerá seco mesmo quando o solo
se encontra extremamente úmido ao ser tocado. Para coletar amostras de umidade do solo
dessa zona são utilizados (isímetros de sucção. A zona de solo, ou zona solo-água, pode
possuir propriedades de fluxo diferentes daquelas do meio poroso que se encontra abaixo.
' Sua espessura varia com os tipos de solo e vegetação, sendo tipicamente de um a dois
metros. Édessa zona que as plantas extraem a água, através de suas raízes. A espessura da
1 zona intermediária depende principalmente do clima, mas também da topografia, podendo
variar de zero ' em áreas de alto índice pluviométrico, até centenas de metros, em áreas
.

áridas e montanhosas.
A zona não saturada é, na realidade., uma zona de transição na qual a água é absorvida,
' temporari·amente armazenada ou transmitida para o lençol freático ou para a superfície do
solo, de onde evapora. Énessa zona que se desenvolvem os processos bio-físico-geoquímicos
de interação água/rocha e de filtração lenta, responsáveis pela auto-depuração e pela alte-
1
ração físico-química da água de infiltração. Quando da ocorrência de chuva~ prolongadas
ou particularmente intensas, parte da zona de solo pode tornar-se tempora~1amente s~tu-
rada, mas separada por zonas não saturadas das águas subterrâneas localizadas abaixo.

285

..
Abastedmento de Agua para c:0nsL1mo humano

ZOflà de SOio Infiltração


.... *)< · · -- · ·

Zona lntermed[âria

·Percotação

Zona de saturação Lençol freático

' t

Figura 6.2 .. Diagrama simplificado de uma seção transversal típica de um vale de rio
Fonte: WARO e ROBINSON (1990)

©
® ©
Superfície Zona de solo
Zona / potenciométrica
não Zona
saturada Lisímetro de sucção Franja capilar intermediãria
~
···~

· . .....
+ •
.
• • • • Lençol • • ·• • . • • • • • • • • • • • •
.. - + + + • + + • • • • + + + + + + + • • •+ • + • • • + + +
'+ + +
+
...;
+
AqU(fero
• + • + • + • + • + ·freático
+ + + + + + + + + + + + + + + + t • • • • • • • • • • • • • • • t::i+,
+ •
+ + + +• • • • +
+
+
+
+
+
+ +
+
Zona • .. + + + + + + + t + + + + + + + + + + + + + + ..
+++++ ++++++++++++++
+ + .. + + +
+++++
+ + + • ·+ livre
+ + + +
saturada ---------~-·--~--------------------~------------------------- -
- - - - - - - - - - - - - - - - - ~ - - - - - - - - ~ - - - - - - - - ._ - - - - - - - - -..,- - - ...J-" -. - -- - - - - --- - - - -
---~--~-----------~---------------~--~-----~,~~--------~~~-
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- - - - - - , - - - -,- -
• - _ ___..,....,.._ ~~ -- - - _, ___ .,_ - ---- J- --- - , - .., - "- -::...~
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- - - - --i_ -

-- C -- -- -- '=5'"~-
- -

~-
-

.- -
-
-
Aqüitarde

AqUlfero
confinado

Figura 6.3 - Diagrama símplifícado do sistema de água subterrânea em escala local


Fonte: CLEARY (1989) •

286
Mananàais subterrâ neos: aspectos quantitat
ivos 1Capitulo 6

Adicionalmente, há situações em que a pre


sença de uma camada praticamente imp
na zona intermediária implica a ocorrênci ermeável
a de um lençol freático suspenso e, port
condições de saturação, dentro da zona anto, em
não saturada. Os exemplos anteriores ilu
preferência de alguns autores pelo termo stram a
zona vadosa, por considerarem que essa
nação é mais apropriada para descrever denomi-
o fenômeno saturado/não saturado obs
zona do solo e na zona intermediária (C e rv ado na
leary, 1989).
A zona saturada ocorre abaixo do lençol fr
eático e nela os poros (as fraturas) do solo
rocha) estão tota\mente preenchidos por (da
água, a qual se encontra sob pressão su . '
pressão atmosférica, ou seja, pressão efe perior a
tiva positiva . Acima do lençol freático est
cap,\ar, cuja espessura pode variar de algu á a franja
ns centímetros, nos terrenos de cascalho
metros, nas geologias argilosas. Na franja , a vários
capilar a pressão efetiva é negativa, em
poros, se não houver ar aprisionado, poss bora os
am estar saturados . Assim, suas característ
atendem as definições das zonas não satu icas não
radas e saturadas anteriormente mencion
esse motivo, o termo zona de tensão satu adas. Por
rada é mais descritivo para as condições o
na franja capilar (Freeze e Cherry, 1979). bservadas
A zona de saturação pode se estender a
fície do terreno, como ocorre em muitos té a super-
lagos e nos pântanos. Os poços de bomb
para suprimento de água, ou poços de o eamento,
bservação, para, por exemplo, monitoram
presença de contaminantes, são instalados ento da
na zona saturada . Embora existam outras
tações (Rebouças, 1999b), conforme menci interpre-
onado na introdução deste capítulo, o term
subterr~neas usua\mente se refere às água o águas
s das zonas saturadas e assim é interpreta
do aqui.

6.5 Fluxo d e água subterrânea: e


1 scala local

O movimento da água subterrânea foi ve


rificado experimentalmente por Henry Da
engenheiro hidráulico francês que, em 18 rcy,
56, mostrou que a vazão de água que esco
de uma coluna de areia (Q) era diretamen a através
te proporcional à diferença de carga hidrá
entre seus dois extremos e inversamente p ulica (L\h)
J roporcional ao seu comprimento (L), A va
ada é obviamente proporcional à área da zão esco-
seção transversal perpendicular à direção
(A). Assim, a lei de Darc.y, válida para aqü de fluxo
íferos não fissurais, é expressa por:
t
(1)
na qual o coeficiente K, cuja dimensão
é de unidade de comprimento por un
tempo (portanto, a dimensão é idêntica idade de
à de velocidade), é chamado de condu
hidráulica saturada. tividade

287
JL a : as a a a a =e •

Abastecimento de água para tonsumo humano


O sinal negativo indica que o escoamento se processa no sentido de diminui ..

ª
medida equivalente à altura de coluna de líquido) e carga de pos1çao (altura em rei .. 'V,

desprezado, visto que as velocidades_ de águas subte:r~neas sao relativamente Pequenas


Notar que, conforme mencionado no item 6.4, a pre~sao da á~~a no solo é negativa na zon~
não saturada e na franja capilar, nula no lençol freático, e pos1t1va na zona saturada.

l
H

· Figura 6.4 - Carga hidráulica h, carga de pressão 'V e carga de posição z em uma amostra de solo
-Fonte: FREEZE e CHERRY (1979)

A Equação 1 pode ser utilizada tanto para fluxos em meios saturados como não satu-
rados porosos. No último caso, a condutividade hidráulica é uma função do teor de umida-
de do solo e seu valor máximo é igual à condutividade hidráulica saturada, a qual depende
do r.neio poroso e do fluido. Em alguns textos mais antigos o coeficiente K é denominado
coeficiente de permeabilidade (Freeze e Cherry, 1979).
A condutividade hidrá·ulica saturada é um dos poucos parâmetros físicos que pode
variar mais do que treze ordens de grandeza (ver Figura 6.5), o que, em termos práticos,
significa que o conhecimento de uma ordem de magnitude da referida grandeza pode ser
bastante útil. Uma grande dificuldade de aplicação da Lei de Darcy está relacionada à
variação espacial da condutividade hidráulica dentro da formação geológica, além de sua
variação em relação à direção de medição em um dado ponto da mesma formação.

288
••


-- ==-=-- Balalb1p ltthetwr~


- ~-
- ~ :RJGnof!fiffS,e
·,Mita_rt(étfims ftltulad.a~
- ~-. C ~[
®mmilaI --- i ••
2

----Arênito,--- - -
Rochas

Depósitos
lnconsolidados
----Silte loeSS''""""""__ __
---Areia siltosa---

---Areia pura---
--Cascalho--

1 14 1 1 11 1 1 12
K
1·11 J l ..g 1 17 1
10 10..fO 10 10.a 10· 10-6 10-5 10 10-3 10-2 10· 1 10 10 (cmls)

j- -~1 .
•·
1 -10 1 1 11 1 1 1 1 12 11 , K
(m/s)
10~t3· 10:-f2 10·11 10 10..g 10.a 10· 10-6 10-5 10-4 10-3 10· 10· 1


---
e:
o
O\
,f
•• • • -- •• aa t

,f

1
,• 6.6.1 Aqüiferos e aqüitardes

~ comum em hidrogeologia a cf assificação das formações geológicas em função de


1
sua permeabilidade. Assim, o termo aqüífero pode ser definido como uma formação geo-
!
I
lógica saturada que pode armazenar e transmitir quantidades significativas de água sob
' gradientes hidráulicos naturais ou como uma formação geológica que pode armazenar e
'1 transmitir água a taxas suficientemente rápidas para fornecer quantidades razoáveis para
1
poços (Cleary, 1989; Fetter, 1994; Freeze e Cherry, 1979). Tais definições são obviamente

relativas e, no campo da perfuração de poços, a expressão quantidades significativas pode
ser relacionada a quantidades economicamente viáveis. Por exemplo, no caso de um poço
• municipal típico, isso pode significar vazões de 1000 a 4000m3/dia, enquanto que para um
1
único poço residencial, vazões de 20m3/dia e em uma área desértica, uma geologia que
fornec·e O,Sm3/dia (Cfeary, 1989).
Por outro lado, aqüitardes são formações de baixa permeabilidade, que armazenam e
transmitem. água muito lentamente de um aqüífero a outro, mas não em quantidade sufi-
ciente para suprir poços de bombeamento. As quantidades de água transmitidas em tais
formações, através de enormes áreas, podem ser importantes em estudos regionais de
escoamento de águas subterrâneas. Um aqüiclude, por sua vez, é definido como uma
formação geológica saturada incapaz de transmitir quantidades significativas de água sob
gradientes hidráulicos naturais.
A maior parte das formações é classificada como aqüífero ou aqüitarde. Fetter (1994)
sugere que formações geológicas com condutividade hidráulica acima de 1Q-7mJs sejam
consideradas como aqüfferos (e menores do que esse valor, aqüitardes). Ainda assim, o
7
mesmo autor menciona que uma camada de silte com condutividade hidráulica de 1o- rnls
no interior de uma argila pode ser utilizada para fornecer água a um pequeno poço, sendo
considerada um aqüífero. Essa mesma camada de silte no interior de um cascalho seria
considerada um aqüitarde .

6.6·.2 Formações geológicas

O potencial de águas subterrâneas de uma dada região depende, dentre outros fat~
res, do seu perfil geológico, ou seja, das características e espessuras das formações geoló-
gicas. As rochas sedimentares originaram-se a partir do intemperismo que decompõe
rochas preexistentes. Os calcários, constituídos principalmente de carbonato de cálcio, apre-
sentam,. de um modo geraf, percentagem desprezível de poros quando de sua situação

290

L
Mananciaissubterrãneos:as:pectos quantita1i\los I Capítu lo 6

fJ11! 1ll1 li •r ,, l1,t'~ l111 1lr• oltJvcís à açã.o da água, são produzjdas fraturas e fissuras,
f 11111111
t 1111 i, 1 r II f 1 11 lt , , ,, ,, *, 1,, "1,~,
r1 rr,,,rr1tJr condutos subterrâneos e fornecer grande quantidade
t l 1 lllt h1 , H111 111 '~ ' 1•( <J1 ti t ,1', rrJc.J,a•; sedimentares originaram-se a partir de sedimentos are-
i,,, 1,• 11 li ,H ,11., ,~. 11111 f, li, 1,, 11rr~n "tormados, em função da compactação e cimentação, em
1
11, 1~Ili~1 J1 11111 u li 1, 1 ,, 1, '1r-J<•< 1lv:1trlonte. Enquanto os folhelhos são muito pouco pe·rmeáveis,
1

111 ,11 ~li l\ 1( ~111 ,1•i ,, f 1rl, ,,t', rjcJ', , ronítos variam muito; dependendo do tipo e tamanho e da
111111 ,,1,11 , ,,, 1 ,,,11,,, rr1 Jr,tt1rJos quantidades de água.
1 11 u l 1,, •J( 11 H ,1, <, , 1, 1lt 1
,tr,tm~se do resfriamento de uma mistura de silicatos em fusão
1

(lI trili! r1,1), 1,11 ,v, f 1h t 11< , , Jt1 r>roftJndidades variáveis da crost.a terrestre. São tambérm conhe-
1

I l lr.1 • 11t111, tf 11 l 1,t, <Ir I r t'l ,l:4IJ,r,o e a presença de água está condicionada à existência de
ll1• 111 r1 11t1 lt.1 t11lrt'•, ,,,, ,~1,, 1>,
geralmente, diminuem de dimensão com o aumento da
1

1111 tl111 11IJ11 Hlt { )•, JI 11111,,; r.ó fornecem água, em escala relativamente pequena, se possuírem
111, 1 • I 1, 1, 1,1 r 11 l1,; 1l 11 1 • J:~0'1 ·basaltos se constituem em bons aqüíferos, em função da
1

,111 Ht11,I trl1 1,Ir l111f11, 1tc, r•xl'1l<~ntes (CETESB, 1978).


I\ • tI li l 1,1• 11 lf 1,tt·,l(,1fI J i resultam da transformação de rochas ígneas e sedimentares,
IH 111 , , lt rit t t~~ I '' f';r ,rln4', t flli1qmórfícas, devido à ação do calor e enormes pressões, além da
1r \l I rl l lt fl( 11, J, 111111, 11<, tr r1<:t 1LG ativos. Em geral, são aqüfferos pobres, que só armazenam e
rr:J1llf ,1 1,,111,ítl1l í< f,1,Jr11, ,tJ.Jrnciáveís de água se forem suficientemente fraturadas. o már-
ll nII t , , r t 1i 1, , •., ilt'~v, I, r,ol 1:! urna rocha metamórfica calcária, pode conter canais para
1111 111-, 11,11,1, 111,1 ,~ ,,,r,,vltr1n,,1ação de água.
/\ 1, 1,th 11 I, ti 1, ,J ,,~,4q(,f'f ,ros aproveitados em todo o mundo, com altas vazões, consiste
11 ti, l,1• t , ,,,t 11ft ,r,,, ,1r1r.) onsolídados encontrados em planícies costeirast vales aluviais e
I h 1
1
u'1•~11c1~. tTffrt! l 11 1
, (( Ir: 1ry, 1989). Os aqüitardes mais comuns são as argilas, folhelhos e as
1111111 -41 11 ,1,,11, 1,1 ,1,,1,t't) (rc t1Jradas.
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1101 11 11 , 11 f( 1., 1,11 , il ,t ,r1,,o,,c,r(1inados freáticos ou livres, são usualmente os primeiros materiais
1 111 101 II rif 1 , ,1• , I' 1,,t 1,J,J rJ,t pílrfuração de poços. Por vezes, uma camada de solo de baixa
11 ~,, IH,1 1111, l trt,,( , ,1 or1tr;ido cJontro da zona não saturada e a água que perecia por essa ultima
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A I lt, irHlrt ,lt 'if ,Ir, r,, 11'11r,-Jdo resultante é chamada de aqüífero suspe.nso, tipo especial de
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s 1nd1v1dua1s, mas sao geralmente 1na?equados como fontes
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I h, 111 " , ~~ 1t ll o,I, ir, ,1,, ,11J, <:Jornandam bombeamentos por longos penados (Cleary, 1989).

291
. mo humano
á ua para cc,nsu
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. de aqu e, . . .f
. . . d' . 05 diferentes t,~os · ,.. 0 indicados dors aqüí eros suspensos,
66 3 45
A Figura · / n ~: e nas localízaçoe~ e ~eno, com conseqüente ocorrência de
aqüffero B é e?~
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Figura 6.6 - Tipos de aqüífero
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o-nte: CLEARY (1989)

Sob condições de fluxo horizontal de água subterrânea, os níveis d' água nos poços
que penetram um aqüífero não confinado coincidem com o nível do lençol freático em
torno desses poços, conforme indicado no poço 7 da Figura 6.6. Portanto, nesses casos, os
níveis d'água nos poços descrevem a carga hidráulica totat do aqüífero, definindo uma
superfície potenciométrica que é literalmente o contorno físico do lençol freático. Sob con-
dições de fluxo vertical de água subterrânea, os níveis d'água nos poços passam a depender
do filtro e de sua posição vertical.
A água em um poço perfurado em um aqüífero confinado usualmente alcança níveis
supe~iores ao topo do aqüífero (poço 2 da Figura 6.6) e, nesse caso, 0 poço é considerado
art:~1ano, ass~m como o ~~üffero (Freeze e Cherry, 1979). Quando a carga hidráulica de um
aqulfero con:1nado é suf1oente para elevar a água de um poço acima da superflcie do solo
5 6
(poço da Ftgur~ ,6), 0 poço é considerado artesiano surgente ou jorrante. Notar que se

vazao esses poços pode ser controlada . 1 - . • . .· •l


estado do Piauí por exem . com
1
ª insta açao de equipamentos de controle. O

que em dois deles a vazão disp ma,s de 25 anos foram vedados no estadQ, serad'o
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(ABAS, 2004). on ve era da~ordem de 2.300 metros cúbitos por. tí"çfa.
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292
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Mananciais subterraneos: aspectos quantita tivo

Os níveis d'água d,os poços que penetrarn um dado aqüífero confinado també~ po-
dem ser conectados para definir uma superfície potenciométrica, a qual, ao contrário do
que ocorre nos aqüíferos freáticos, é uma superfície jmaginária que não serve como contorno
físico superior do aqüffero. Embora seja tradicionalmente utilizado para se obter indícações
das direções de escoamento de águas subterrâneas em um aqüífero, o conceito de uma
superfície potenciométrica só é rigorosamente válido para fluxos horizontais em aqüíferos
horizontais. Se houver componentes verticais de fluxo, como usualmente é o caso, os
cálculos e avaliações executados com base nesse conceito podem induzir a erros de elevada
magnitude (Freeze e Cherry, 1979).
Além da contribuição da água percolada através da zona não saturada, a recarga
natural em um aqüffero não confinado pode também provir do aqüitarde localizado abaixo,
uma vez que a água pode descer ou subir topograficamente, desde que flua sempre de
áreas de maior para menor carga hidráulica. Os aqüfferos confinados podem ter sua área
de recarga localizada onde afloram na superfície, como indicado na localização 1 da Figura
6.6, ou, como acontece na maioria dos casos, podem receber recarga através de drenança
vertical de formações geológicas sobrepostas. Portanto, a primeira situação acima, quar
seja, de aquíferos que afloram em áreas topograficamente altas, é muito rara (Freeze e
Cherry, 1979), apesar de ser comum o exemplo na maioria dos livros de água subterrânea
(Cleary, 1989). Ainda na Figura 6.6, a carga hidráulica da superfície potenciométríca do
aqüífe,ro confinado B é superior àquela da superfície potencíométrica do aqüífero não con-
finado A (que coincide com o lençol freático) tanto na localização 8 como na 6. Como há
uma indicação de farha geológica nesta última localização, o fluxo subterrâneo ocorreria
do aqüffero B para o aqüffero A.

6.7 Propriedades hidrogeológicas dos aqüíferos

Existem seis propriedades físicas do fluido e do meio geológico que precisam ser
conhecidas para descrever os aspectos hidráulicos do fluxo de água subterrânea, quais sejam:
massa específica, viscosidade dinâmica e compressibjlidade da água; porosidade, permea-
bilidade e compressibilidade do meio geológico. Todos os outros parâmetros necessáríos
para descrever as propriedades hidrogeológicas podem ser derivados dessas seis, como é o
caso da condutividade hidráulica saturada, como visto no item 6.5. Na seqüência serão
vistos o conceito de transmissividade a outra propriedade de fluxo relevante, além da
condutividade hidráulica saturada , e os conceitos relativos ao armazenamento: porosí-
dade, vazão específica, coeficiente de armazenamento específico e coeficiente de armaze-
namento.

293
-

Abttat cftn11nto do ógoo pato, consumo humano

6.7 .1 Transmissividade

.,, f' _ f' do a transmissívidade (D é definida pelo produto da condu


Para um aquf era con ,na , _ . . ..
tividade hidráulica saturada (K) e a sua espessura (b), ou seJa.

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(2)
Portanto, a transmissividade, cuja dimensão é de u~idade de volume por unidade de
tempo por unidade de comprimento, é a taxa volu~~tnca de fluxo atravé~ de un:ia ~~ão
de largura unitária e altura igual à espessura. b do aqu1fero, q~an? 0 0 gradient~_h,draulico
2
é unitário. Valores de transmissividade superiores a 0,01 Sm Is indicam bons aqu1feros para
bombeamento de água. O conceito é bem defjnido para fluxo bidjmensional e horizontal
em direção a um poço em um aqüífero confinado de espessura b, mas perde o sentido para

a maioria das outras aplicações de águas subterrâneas, embora possa ser utilizado para
aqüfferos não confinados, quando o termo b passa a ser a espessura saturada do aqüífero
(Freeze e Cherry, 1979).

6.7.2 Porosidade e vazão específica

A porosidade totar de um material geológico (n) é a relação entre seu volume de vazios
e seu volume total, ou seja, é um índice que indica a quantidade máxima de água que pode
ser armazenada no material saturado. A porosidade total pode ser dividida em porosidade
primária, que se refere aos vazios formados quando da formação da rocha, e porosidade
secundária, referente às aberturas que se formaram após a formação da rocha. O volume
de água representado pela porosidade total é composto pela vazão específica (Sy) água
i• que drena livremente por gravidade e pela retenção específica (S ) água que fica
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ret, a nas superffcies geológicas devido à tensão superficial. r

Portanto, o coeficiente de armazenamento para aqüíferos não confinados é conhecido


t como vazão específica, visto que essa última pode ser definida como o volume de água que
r u~ aqüífero não confinado fornece por unidade de área de aqüífero por unidade de declí-
~10 do lençol freático. Os vaJores de vazão específica variam de 0,01 a 0,30. A Figura 6.7
Ilustra u~ exempl? de aplicação do conceito: o volume de água drenada de um aqüífero
não confina~~· cuJa vazão específica é igual a 0,25, quando o lençol freático é rebaixado 4
'.11etros (admitindo-se que o rebaixamento é uniforme) em uma área de 1km 2 (106m2), é
1guaJ a 106m3 ou seJ· a 0 d d - ,. - · d dO
- _. ' - , pro uto a vazao espec1f1ca pela área e pela altura rebaixa a
1ençof freático (Cleary, 1989).

294
Manonel I ubtorr.1n o a p cte tlU nUt tlvo:, 1Capitulo 6

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Figura 6.7 - Ilustração gráfica da vazão específica


Fonte: CLEARY (1989)

6.7.3 Coeficiente de armazenamento específico

o coeficiente de armazenamento específico de um aqüífero (S5) é definido como o


volume de água que um volume unitário do aqüífero libera do armazenamento (ou adiciona
a ele) por descida (ou subida) unitária da carga hidráulica média do volume citado. Seu
valor é definido pela soma de dois termos, como mostra a equaçao abaixo,

- pg (a+ n~), (3)

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na qual pé a massa específica da._água, g é a aceleração da gravidade, aé a c~m@.LeiSji:l' ·, atl~
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·295
..
Abastêclmento de água para .consumo humano

A água liberada de aqüfferos que se encontram s?b. altas pressões é proveniente da


compressão do aqüífero e da expansão da água. Ess~ ultima ~eralmente ~ouco contribui
para o valor do coeficiente de armazenamento específico, ou seja, :ss~ coef1~iente depende
apenas do primeiro termo, ou, mais especificamente, da co_mpressao 1~elá~t1ca (plástica ou
irreversível) de lentes de silte e argila. Corno essa compressa?~ q~ase inteiramente irrever-
sível, o coeficiente de armazenamento especifico tende a d1m1nu1r (Cleary, 1989).
A água bombeada de um aqülfero confinado provém principal~ente da compressão do
mesmo·e da recarga de aqüíferos sotopostos e/ou sobrepostos, ou seJa, o aqüífero confinado
permanece completamente saturado. Para taxas de bombeamento superiores às taxas de
recarga, a diferença é obtida do armazenamento do aqüffero, por meio da compressão das
camadas e lentes de textura fina, se presentes, do aqüífero. No caso de uma superexploração
excessiva e longa de um aqüífero que contém uma quantidade significativa de material com--
.Pressívet, pode ocorrer um movimento descendente, chamado de subsidência, e/ou horizontal
• • da superfície do terreno (CJeary, 1989). Exemplos de subsidência nos Estados Unidos da
América e no México foram citados no item 6.3. Aqüíferos confinados de areia e cascalho
bem compactados, sem tentes de sífte ou argila e contornados por aqüitardes incompressíveis
e de reduzidas permeabilidades, possuem baixos valores do coeficiente de armazenamento
específico, o que significa que a carga hidráulica deve ser reduzida de forma significativa em
grandes áreas para atender uma demanda relativamente elevada.

6.7.4 Coefjciente de armazenamento de aqüífero confinado

Define-se o coeficiente de armazenamento (S) de um aqüífero confinado de largura b


como o volume de água que um aqüffero libera do armazenamento (ou nele armazena),
por unidade de área superficial do aqüífero, por unidade de descida (subida) na componente
de carga hidráufica normal àquera superfície. É um coeficiente adimensional, com valores
entre 0,005 e 0,00005, definido pelo produto do coeficiente de armazenamento específico
(Ss) e a espessura do aqüffero, ou seja:

S=SJJ (4)
Assim como o conceito de transmissividade, o coeficiente de armazenamento é bem
defi~ido para fluxo bidimensional e horizontal em direção a um poço em um aqüffero
confinado de espessura b, mas perde o sentido para a maioria das outras aplicações de
águas subterrâneas (Freeze e Cherry, 1979).
A Fig~~ª 6.8 ilu~ra um ex:mplo de aplicação do conceito: o volume de água drenada
de u.m aqu,fero confinado, CUJO coeficiente de armazenamento é igual a 0,005, para um
reba,xa~e~to da supe.~ície potenciométrica de 30 metros (admitindo-se que o rebaixa-
2
mento e uniforme), verJf1cado pelos níveis d'água nos poços 1 e 2 em uma área de 400 km

(,1Q6m2). , e' igua
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area e pela altura rebajxada da superfície potencio métrica.

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Mananciais subterraneos: aspectos quantitativos I Capítulo 6


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Figura 6.8 - Ilustração gráfica do coeficiente de armazenamento


Fonte: CLEARY (1989)

Notar que, ao contrário do que ocorre para aqüíferos não confinados, o volume refe-
rente ao decaimento da superfície potenciométrica (12 x 109m3) não tem significado físico
de água, como ficaria mais exp(ícito caso as superfícies potenciométricas imaginárias esti-
vessem acima da superfície do terreno (Cleary, 1989). Os valores dos exemplos apresentados
indicam que as propriedades favoráveis de armazenamento dos aqüíferos não confinados
os tornam mais eficientes para exploração por poços.

6.8 Introdução à hidráulica de poços

297
Abos.te<l.m@nto.de água para c.o nsumo humano

civil. Tanto no ca.so da extração de água como no de sua injeção são observadas altera -
~uperfíde potenciométrica em torno dos poços. Nos itens seguintes são abordados ~oes.cta
tntrodutórios ·da hidráulica de poços, com ênfase na extração de água. Pectos
f

6 .. 8-1 Cone de depressão em aqüíferos confinados

· Conforme mencionado, na exploração de água subterrânea por um poço em um


aqüífero confinado, esse permanece sempre saturado e, com o início do bombeamento
observa-se a formação do chamado cone de depressão da superfície potenciométrica irna~
ginária do aqüífero, conforme indicado na Figura 6.9. A carga hidráulica H0 é a aftura da
superffcie potenciométrica antes do início do bombeamento. O nível d'água no poço
,. t d progressivamente diminui até que seja estabelecido um equilíbrio, isto é, a recarga para O
aqü.ffero é igual à descarga proveniente do poço. Nesse último caso, mantidas as condições
de equilíbrio, o regime passa a ser permanente e o nível dinâmico de equilíbrio no poço é
atingido. Notar que, para fins ilustrativos, representou-se esse nível como o limite final do
cone, mas, na realidade, o nível d' água no poço encontra-se um pouco abaixo em função 1

das perdas friccionais na entrada do filtro e no próprio poço. O rebaixamento (s), ou depressão,
em um dado tocai a uma distância r medida a partir do centro do poço é a diferença entre
·o nível. potenciométrico estático (H 0 ) e a carga H no local de mesmo raio.

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Figura 6.9 - Cone de depressão em aqüfferas confinados •

Fonte; ClEARY (1989)


.

298 '
'
.
Mananciais subterraneos: aspectos quantitativos I Capitulo 6

Na Figura 6. 9 são mostrados dois poços . um que está sendo utilizado para bombe-
amento e outro de observação · para ilustrar o conceito de penetração de poços, o qual
se refere ao comprimento do filtro em relação à espessura saturada do aqüífero. Quando
esses valores são iguais, caso do primeiro poço, tem-se a situação de um poço totalmente
penetrante, enquanto que para o segundo poço, de observação, diz-se que o poço é
parcial mente penetrante. O fluxo de água subterrânea ·é horizontal quando o poço é total-
mente penetrante, mas pode começar a fluir verticalmente em direção ao filtro nas proxí·
midades de um poço parcialmente penetrante, o qual é menos eficiente do que poços
totalmente penetrantes.

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Superfície "'n
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Datum
Figura 6.1o - Cone de depressão, área de recarga, face de drenança, carga total e níveis de água em
aqüfferos não confinados
1 Fonte: CLEARY (1989)

6.8.2 Cone de depressão em aqüíferos livres

Como a água bombeada de um aqüífero. não confinado provém da drenança dos


espaços porosos das ·J:>roxirntdades do poço, o cone de clepr.essão neste caso, dJferente-
mente do cone de depressão imaginário de aqüíferos confinad,os, é literalmente o contorno

299
do aqüffero, conforme índicado na Figura 6.1 O. Admitindo-se que o f.iltro do poço pela .
· t · 1 ' t d
se processa O bombeamento tenha comprime~ o 1gua a espessura sa ura .a do aqúffero, qual
0
lençol freático imediatamente em torno do filtro e~tá exposto à atmosfera~Ne5z casos
mesmo que as perdas por atrito no filtro e no próprio poço fossem nulas, o nível do len Í
freático exatamente adjacente ao poço permaneceria acima do nível d'água no ínteríor:
poço devido ao desen 101,ímento da face de drenança.
Conforme menáonado no ítem 6,5, a soma da carga de pressão e da carga de POSíÇão
é igual à carga hidráulica total, cujo vaior em um dado ponto representa o valor da linha
eqüipotenciat que passa pelo mesmo. As Jinhas de fluxo linhas imaginárias que índicarn
o caminho que uma partícula de água subterrânea percorre ao escoar pelo aqüífero , no
caso de uma formação isotrópíca, ou seja, na qual a condutividade hidráulica ~aturada ern
um ponto é igual em todas as direções, são perpendiculares às linhas eqüipotenciaís.
Um piezõmetro é caracterizado por possuir um comprimento de filtro relativamente
t I l curto, quando comparado a espessura saturada do aqüífero, e um espaço anelar selado
que começa exatamente acima do filtro. É freqüentemente utilizado para medir a carga
hidráulica de um ponto de um aqüífero. Na Figura 6.1 O, por exemplo, são apresentados dois
piezômetros. Admitindo-se que o aqüffero é isotrópico, longe do poço de bombeamento
1
as linhas eqüípotenáais são verticaís e a água subterrânea flui horizontalmente. Nesse
caso, a carga hidráulica total no piezõmetro 2 é igual à altura do lençol freático ao lado
desse piezõmetro. Na regíão do cone de depressão, o fluxo é vertical e os níveís d'água
no interior do poço e fora deJe são diferentes, pois próximo do poço de bombearnento as
linhas eqüipotenciais são curvas, como indicado na Figura 6.1 Opela linha que intercepta
o filtro no piezõmetro 1. Portanto, o nível d' água no piezômetro é menor do que o nível
do lençol freático adjacente.
Assim como no caso dos aqü.fferos confinados, o cone de depressão de um aqüífero
não confinado também dirnínui progressivamente até que a taxa de recarga seja ígual à
taxa de bombeamento, quando condições de equilíbrio são atingidas. Nessas situações, o
fluxo de recarga (F), cuja dimensão é de unidade de volume por unidade de área por
unidade de tempo, é utilizado para a obtenção da vazão de bombeamento (Q) sob condi-
ções de estado permanente e geologia ísotrópica e homogênea, ou seja,

• (5)

sendo R o raio de .influência do poço.

Se o lençol freático é essencialmente plano, esse raio de influência defi.ne a zona de


captura do poço, isto é, qualquer contaminante que infiltrar e interceptar o cone de de-
pressão formado atingirá o poço.

300

-
Mananclaís subterraneos: aspectos quantitativos I Capítulo 6

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301

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Capítulo 7

Soluções alternativas desprovidas de rede

Valter Lúcio de Pádua

7 .1 Introdução

1
As denominadas sol uções alternativas de abastecimento de água para consumo
1

humano abrangem todas as modalidades de abastecimento coletivo de água distintas do


sistema tradicional, abordado em outros c·apítulos deste livro. As soluções alternativas
• incluem, dentre outras, as fontes, poços comunitários, distribuição por veículo transporta-
dor, instalações condominiais horizontal e vertical. Inclui-se também, no presente capítulo,
a menção a produtos químicos de uso menos usual no tratamento de água, mas com
potencial de aplicação em pequenas comunidades. Faz-se também um relato da captação
de água de chuva destinada ao consumo humano e ao emprego de filtros domésticos, que
podem ser considerados como soluções i'ndividuais de abastecimento.
As soluções alternativas jamais devem ser entendidas como soluções improvisadas ou
destinadas apenas a populações de baixa renda. Elas devem ser compreendidas como
técnicas que fazem parte do leque de opções do projetista, considerando q·ue, em hipótese
alguma, admite-se o fornecimento de água que não atenda ao padrão de potabilidade
vigente no País, seja esta água proveniente de um sistema tradicional de abastecimento ou
do que se denomina soluções alternativas. Ê importante que o leitor tenha isso em mente
ao percorrer as páginas deste capftulo e que o projetista se lembre de que, no processo de
escolha da forma mais adequada de abastecimento de água de U:ma comunidade, ele deve
considerar, além dos aspectos técnicos, os culturais, os socioeconômicos e os ambientais,
dentre outros .
1

303
Abasteclmento d!! água para consumo humano

7.2 Emprego de soluções alternativas e individuais

Conceitualmente, as soluções alternativas de abastecimento de água para consumo


humano são todas as modalidades de abastecimento coletivo de água distintas do siste--
ít

ma de abastecimento de água", sendo esse último definido como '' instalação composta
por conjunto de obras civis, materiais e equipamentos, destinada~. produção e à distribuição
canalizada de água potável para populações, sob responsab1l1dade do poder público,
mesmo que administrada em regime de concessão ou permissão''. Assim, o sistema de
abastecimento de água está sob a responsabilidade do poder público e a distribuição da
água é feita, obrigatoriamente, por meio de redes, enquanto que, na solução alternativa
de a_bastecimento, não há obrigatoriedade de distribuição por rede e nem obrigatoriedade

de responsabilidade do poder público. Contudo, como observa Bastos et ai. (2003), do
1• ponto de vista físico, determinados tipos de soluções alternativas podem ser idênticos aos
sistemas de abastecimento, como as instalações condominiais horizontais, por exemplo.
Nesse caso, a diferenc'iação está apenas no fato de a responsabilidade não ser do poder
'
público e sim do próprio condomínio, ou seja, em determinados casos a diferença entre
1

1
sistema e solução alternativa de abastecimento de água é, fundamentalmente, de caráter
1 gerencial.
O emprego de soluções alternativas de abastecimento de água pode ocorrer para
1
atender a uma situação transitória ou permanente. No primeiro caso, destacam-se as
situações de emergência de origem natural ou operacional, conforme exemplificado na
Tabela 7 .1. As soluções aíternativas têm caráter permanente, quando utilizadas por longos
períodos, em áreas rurais ou urbanas. Em muitas localidades brasileiras com escassez hídri-
ca, a exemplo de comunidades rurais do semi-árido, as soluções alternativas são as princi-
pajs responsáveis pelo abastecimento de água da população. O poder público do País
ainda não garante água a milhares de brasileiros que, por esse motivo, têm que recorrer a
soluções muitas vezes precárias, que não asseguram o acesso à água, com qualidade e em
quantidade necessária ao consumo humano. Este é, ainda hoje, um dos maiores proble-
mas a serem enfrentados no campo do abastecimento de água no País, pois as soluções
individuais implicam transferir para a população, em geral a população mais carente e com
menor nível de instrução, a responsabilidade que compete ao poder público.
As situações de emergência podem comprometer a qualidade ou a quantidade da
água distribuída à população e por isso os serviços de abastecimento de água devem con-
tar com. um plano de emergência dirigido a diminuir os riscos de acidentes que possam
contaminar a ~gua ou comprometer a regularidade do abastecimento e, caso venha a
ocorr:r uma s1tu_ação de e~ergência, o plano deve prever ações imediatas, incluindo a
adoçao de soluçoes alternativas para atender a hospitais, creches, asilos e escolas, dentre
outros.

304

b e •
soluções alternativas desprovidas de rede I Capftulo 7

Tabela 7.1 - Exemplos de situações de emergência que podem demandar o uso de


soluções alternativas de abastecimento de água

Situação de emergência de origem Situação de emergência de origem


natural operacional
Enchentes, secas, tempestades ou Rompimento de adutoras, corte ou restrição no
eutrofização da água dos mananciais fornecimento de energia elétrica, paralisação do
de superf{cie, que coloquem em risco processo de desinfecção de água, acidentes
a qualidade da água com produtos qufmicos junto ao manancial
superficial, falta de água por períodos
prolongados em setores de abastecimento,
paralisação parcial ou total do fornecimento de
água por períodos superiores a dois dias
Fonte: Adaptado de BASTOS et ai. (2003)

7.3 Tipos de soluções alternativas e individuais

Neste item serão abordadas soluções alternativas e individuais que envolvem a captação,
"
o tratamento, a reservação e a distribuição de água. Estas soluções podem apresentar
diversos arranjos, conforme exemplificado na Tabela 7 .2.

Tabela 7.2 - Exemplos de soluções alternativas e individuais de abastecimento de


água para consumo humano
Componente do sistema de Exemplo de solução alternativa ou individual
abastecimento de água
Captação • Nascente, poço de uso familiar ou coletivo,. manancial
de superfície, água de chuva
Tratamento • Desinfecção solar, fervura, uso de desinfetantes a base
de cloro, filtros domésticos, tratamento domiciliar com
fi,tros de areia, emprego de coagulantes naturais, sachês
com produtos qufmicos
Reservação • Reservatórios domiciliares (caixas d'água), cisternas ou
caixas para armazenamento de água de chuva,
pequenos reservatórios públicos
Distribuição • Chafariz, torneiras públicas, veículos transportadores
l

305
Abastecimento de água para consumo h·umano

7 .. 3.1 Captação

A captação de água em nascentes, poços de uso familiar ou coletivo e água de eh


· d· 'd · d b t · d
pode cara:cterizar soluções alternativas ou in iv1 ua1s. ~ a as ec1m,e~to e água. Tambémuva
. in.clui-se neste g_
rupo a capt.ação de água em mananc1a1s de superf1c1e, quando esta é feita
de modo precário, tal como ilustrado na Figura 7.1 a, em que os próprios moradores cole-
tam a água no manancial e a transportam para casa. Evidentemente a alternativa mostrada
é inadequada, pois não há qualquer garantia sobre a qualidade da água, ainda que ela
possa ser,tratada pelos moradores, conforme comentado no item 7.3.2. A quantidade de
água assim obtida é geralmente insuficiente para assegurar a higiene pessoal, e o sacrifício
dos moradores é muito grande, pois muitas vezes eles têm que andar longas distâncias
carregando latas de água na c::aibeça ou no lombo de animais.
As modalidades de captação alternativa de água, em nascentes e em poços, são
semelh.antes às que foram mostradas em capítulos anteriores deste livro, relativos a siste-
mas tradicionais de abastecimento de água. Contudo, em algumas localidades brasileiras,

principalmente na região semi-árida, a água de nascentes e poços pode não existir próximo
às residências e a água de superfície, quando há, freqüentemente apresenta qualidade
insatisfatória para o consumo humano. Em vista disso, uma solução que tem sido colocada
em prática é a captação de água de chuva. Está em andamento no País o P1 MC programa,
1
1 que tem como objetivo construir um m,ilhão de cisternas destinadas ao armazenamento de
' água de chuva na região do semi-árido, beneficiando cerca de 5 milhões de pessoas. Na
Figura 7.1 b é mostrada uma cisterna que armazena a água de chuva que cai sobre o
telhado de duas casas vizinhas, atendendo a duas famílias. Devido à importância do P1 MC
e ao número de pessoas que se pretende atender por meio deste Programa, serão feitas
considerações mais específicas sobre essa solução alternativa/individual de abastecimento
de água para consumo humano . .
1

(a) Manancial superficial (b) Captação de água de chuva


_ Figura 7 · 1 - Captação de água em manancial superficial (a) e captação de água de.chuva (b)
Fonte; BUEHNE et ai. (2001)

306
Soluções alternativas desprovidas de rede I Capítulo 7

Os reservatórios das águas de chuva (denominados de cisternas ou caixas) usualmente


são construídos em alvenaria, ferrocimento ou placas de cimento, sendo essa última opção
a mais popuiar no Brasil. Há pequenas diferenças no material utilizado ou na técnica de
construção, segundo diversas regiões onde são construídos.
A cisternas de alvenaria e de ferrocimento podem ser construídas diretamente sobre o
terreno, enquanto a cisterna de placas é semi-enterrada. Na Figura 7.2 são mostradas ·
diversas etapas da construção de uma cisterna de placas. A natureza do terreno é que
determinará a profundidade de escavação. Solos arenosos, ou sem pedras grandes, facili-
tam o trabalho de escavação. Por outro lado, a presença de solo duro no fundo da cisterna
torna mais segura a base que sustenta o reservatório. Deve-se tomar cuidado com solos
argilosos que têm propriedade de dilatar, pois isso pode causar problemas estruturais à
cisterna, depois de construída.

. .

figura 7.2 - Algumas etapas da construção de cisternas de placas destinadas ao armazenamento de


água de chuva: início da escavação, escavação concluída, peneiramento da areia para
confecção das placas, colocação das placas, colocação das vigas da cobertura e cisterna pronta
A água de chuva que caí sobre os te,hados é recolhida em calhas e encaminhada para
reservat.órios, semelhantes ao mostrado na Figura 7 .1 b, para ser utilizada no período de
estiagem. Existem cisternas com:unitárias capazes de atender a grupos de famílias em
pequenas comunidades rurais, sendo algumas delas construídas em escolas e igrejas. Em
determinadas localidades, quando há escassez de chuva, as cisternas são utilizadas como
reservatórios para o armazenamento de água subterrânea e mesmo de água distribuída
por caminhão-pipa.
Para escolher O local de construção da cisterna de captação de água de chuva deve-se
levar em consideração algumas orientações básicas:

' .
307
...

Abastetlmonto de Agua para consumo humano

• para evitar Orisco de contaminação da água, a cisterna deve ser


construída a, pelo menos, 15 m de distância de locais como fossas,
latrinas, currais e depósitos de lixo; .
• a cisterna deve ser colocada em ponto baixo do terreno, para rece-
ber por gravidade a água escoada de todos os lados do telhado;
• sempre que possível, deve-se aproximar a cisterna da cozinha, para
f acif itar o acesso das donas de casa;
• deve-se procurar um local isento e/ou afastado de árvores ou arbus-
tos, para evitar que as raízes da vegetação cresçam e provoquem
rachaduras e vazamentos na cisterna.

A cisterna de placas foi .inventada por volta do ano de 1960, por um pedreiro da
região noroeste do Estado de Sergipe (Simão Dias), chamado Nel. Após vários anos de
trabalho em São Pauto, na construção de piscinas, onde aprendeu a utilizar placas de
cimento pré-moldadas, ele voltou ao Nordeste e se valeu da sua experiência para criar um
novo modelo de cisterna rural de forma cilíndrica, a partir de placas pré-moldadas curvadas.
r
A difusão do modelo foi realizada primeiro através de contatos que ele teve com vários
pedreiros da região no Sergipe e Nordeste da Bahia. Nel e seu irmão espalharam essa
técnica na região de Paulo Afonso. Outro colega deles difundiu as cisternas de placas na
1
região de Feira de Santana/BA, mais especificamente em Conceição de Coité, que se
tornou um dos principais centros de divulgação desse modelo na Bahia (Bernat, 1993).
Como o telhado das casas pode receber poeira e vários tipos de depósitos trazidos
pelo vento, além de ser lugar de passagem de animais, como ratos, pássaros, gatos e
;nsetos, a água armazenada na cisterna pode ser contaminada ao passar pelo telhado. Para
evitar que isso ocorra, os telhados e as calhas precisam estar limpos antes de cada estação
de chuva, e as cisternas devem ser dotadas de dispositivos que propiciem o desvio, para
fora delas, das águas das primeiras chuvas e das chuvas fracas, até que a superfície do
telhado fique limpa. Se essas impurezas forem arrastadas para dentro da cisterna elas
poderão se constituir em fonte de matéria orgânica, que favorece o desenvolvimento de
organismos patogênicos, afém de conferir à água um aspecto desagradável ao consumo
humano. Estes cuidados podem ser acompanhados da colocação de barreiras físicas, com
a finalidade de evitar a contaminação da água da cisterna, utilizando-se dispositivos que
permitem a remoção das sujeiras mais grossas da água: ·

• coador: são dispositivos colocados na entrada da cisterna, às vezes é


util.izado coador de pano, empregando-se teta de mosqueteira ou outro
tec~do com malha não muito fina. O risco de entupimento constitui o
maior p~oblema deste sistema. Outro tipo de coador utilizado é o coa-
dor de zinco, o qual tem a forma de um funil furado no fundo com um
prego. Tem a vantagem de poder permanecer em cima da cisterna, sen-
do assim integrado ao sistema de condução de água;

308
Soluções alternativas desprovidas de rede I Capltulo 7

• decantador (ou coador de alvenaria): é constituído por um comparti-


mento de 50 a 200 litros, onde a água fica decantando por certo tem-
po, para a sedimentação de resíduos vegetais. O decantador deve ser
limpo regularmente. Chuvas muito fortes diminuem a eficiência deste
sist.ema, porque a afta velocidade da água atrapalha a decantação;
• filtro de areia : trata-se de um filtro constituído por camadas sucessivas
de material granular (pedregulho, areia grossa, areia fina e eventual-
mente carvão), dispostas em um compartimento de alvenaria instalado
acima do teto da cisterna, no local de entrada de água . Além de filtrar
os materiais mais grossos, há possibilidade de ocorrer filtração biológica
nesse tipo de filtro, o que possibilita reduzir a presença de microrga-
nismos. Na prática, contudo, este sistema apresenta limitações devido
aos problemas freqüentes de entupimento, que podem reduzir bas-
tante a eficiência do tratamento, e tornam bastante difícil a manutenção
'
do sistema .

Outras medidas para assegurar a qualidade sanitária da água das cisternas são
mencionadas nos próximos itens dest e capítulo.

Exemplo 7 .1

Considere uma casa localizada na região do Vale do Jequitinhonha -


MG, cuja família necessita de água de chuva para beber e cozi nhar
durante o ano todo. Pede-se:
i) listar os dados que são necessários para dimensionar a ci sterna des-
tinada à captação de água de chuva;
ri) dimensionar a cisterna de captação de água de chuva para atender
1 a fam ília no período de um ano.

Solução:

i) Dados para dimensionamento

Para calcular o volume da cisterna são necessários, pelo menos, os


• seguintes dados: índice pluviométrico na região (no caso, considerar
600 mm/ano), número de pessoas que moram na casa (para este
exemplo, considerar 8 pessoas), área de telhado da casa (considerar,
• neste exemplo, 35 m2), o tipo de cobertura do telhado (para especi-
ficar o coeficiente de escoamento superficial médio C, que está rela-
cionado com as perdas por infiltração). Considerar, neste exemplo;

309
Abastecimento de água para c;onsumo humano

que seja telha de barro, ou seja, C.=0, ?S: conf~rme mostrado na Ta ..


bela 7 .4, consumo per capita médio drár10 de agua para beber e co-
zinhar.

ii) Dimensionamento

• Volume anual de água necessário (V n>


vn =consumo per capita x número de pessoas na família x período uso d:
Considerando que o consumo diário de água para beber e cozinhar
na região é o apresentado na Tabela 7.3, resufta: V n = 4 x 8 x 365 :::
11.680 L.

Tabela 7.3 .. Consumo diário de água

' t
Uso Consumo em litros/pessoa/dia
1
t
- Mínimo Máximo Média

• Beber, cozinhar 2 4
-
' 3
Banho, Jimpeza, roupas, louça 7 19 13

• Volume de água potencial (V p) e efetivo (V e)


• VP = pluviometria média local x área do telhado= 0,6 m/ano x 3 5 m2 =
21.000 litros.
1
Ve :a:: VP x coeficiente de escoamento superficial (C) = 21 .000 x O, 75 =
3
15.750 L = 15,75 m • Assim, pode-se construir uma cisterna com
capacidade para armazenar 16.000 litros de água .

Tabela 7.4- Valores médios do coeficiente de escoamento superficial (C), de acordo


com as características do material usado na cobertura de captação, para o trópico
semi-árido brasileiro

Material da cobertura =
'

Polietileno
e (médio)
Argamassa de cimento e areia 0,90
Asfalto 0,88
Telha de barro 0,88
0,75


fonte: citado em BERNAT (l 993)

.. 310
li.._
~ u,;60s 8ltcrnall'1aJ uc;prov1das de rede I Capítulo 7

132 Tratamento

fT'uiras situações, a água captada pela população, por meío de soluções alternativas
'la·.-a....as. rão é adequada ao consumo humano. Nestes casos, torna-se imprescindível o
err~rego oe ª '9°fTla técnica de tratamento. Contudo, diferentemente dos sistemas tradi-
cor a·s ae abas4"a.eorrento de água, as soluções alternativas não necessariamente estão sob
a ,e;c::-;~.san· ·aaae do poder públíco, ou seja, a solução para o abastecimento da água, e as
m9".se-a~êra as dele acftJindas, são de responsabilidade da própria população, em geral a
wa.s ca"e~:e. que Muitas vezes habita zonas ruraís mais afastadas, ou a periferia de centros
....rba"os_ Exis'"..em técricas de tratamento que podem ser utilizadas pela população, mas há
ser---cre o r.sco de os procedimentos não serem seguidos corretamente e, ao contrário das
c.As q. . .e produzem água para um grande número de pessoas, e para isso necessitam de
u-rr '"'"':.Tera re!ai.ramente pequeno de funcionários qualíficados, no caso das soluções
ar..er-ativas podem haver vários locais de tratamento da água. Em determinadas situações
ter1-Se u.rr po~o de tJatamento em cada residência, de modo que a falha no tratamento
ooce comprometer a sa;,de de todos os moradores da respectiva residência. Destaca-se,
a•noa, a d:.::cufdade de controle da qualidade da água quando são adotadas estas soluções.
A seguir são apresentadas técnicas de tratamento de água que podem ser aplicadas
ei11sol...ções attema:.ivas desde que a população seja devidamente treinada para isso. Inici-
a mer-a.e aprese'l!a se uma alternativa denominada de tratamento com coagulação, que
pode ser ap!:cada em situações semelhantes à mostrada na Figura 7.1(a). Em seguida,
apreser1tafl"-se técnicas de filtração e posteriormente de desinfecção. As técnicas de
aa:.a'T'ent.o de água empregadas em sistemas tradicionais de abastecimento são discutidas
capítulo 12 do livro.

Tratamento co:m coagulação

A realidade brasil.eira nos leva a situações em que muitas pessoas, ainda hoje, captam
e consomem águas superficiais sem nenhum tipo de tratamento. Embora inadmissíveis,
fatos semelhantes ao ilustrado na Figura 7.1a fazem parte da paisagem cotidiana de
d ersas comunidades brasileiras. Na Figura 7.3 é mostrada uma criança fazendo o trata-
mento da água com sulfato de alumínio, numa região da Afríca. Observa-.se a precariedade
da situação. Mesmo que a criança tivesse o domínio das técnicas de tratamento; a água
poderia ser contaminada pefas próprias condições sanitárias do local e do recipiente onde
está sendo feito o tratamento. Uma situação mais .apropriada é ilustrada na Figura 7.4;
onde se faz uso de uma semente utjfizada como coagulante natural, sendo mostrado o
morador coletando as sementes (a), as sementes utilizadas no tratamento (b), as moradoras
1oca-s fazendo o tratamento em condições adequadas de higiene (e) e as amostras coleta-
das para controle da qualidade da água (d).

311
Abastedmento de água para consumo humano

O tratamento ilustrado na fjgura 7.4 e compreende todas as etapas do denon,· ,.


tratamento convencional (capítulo 12): as sementes são trituradas e adicionadas á ágJ ·
para promover a coagulação, em seguida a água é agitada por um determinado tem r..,,
para facilitar a agregação das impurezas (floculação), depois a água perrnanece e r:
repouso para permitir a sedimentação dos flocos, posteriormente tem-se a filtração ~ · .
geral utilizando-se tecidos ou filtros domésticos) e, finalmente, faz-se a desinf~ ,.
hipocJorito de sódio ou outro produto .


i'. ' d- . •
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1

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•. '; Figura 7 .3 - Criança coagulando água com " pedra branca", nome. dado ao sulfato de alurriínio .:G
\\ Fonte: JAHN (1989)
Quênia

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1
(a) (b) (c) (d)
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1
Figura 7.4 - Etapas do tratamento de água com semente de moringa: coleta da semente (a}, 5€mentei
1
1

1
sem casca (b), senhoras fazendo o tratamento da água (e) e coleta de amostras para
• análise da qualidade (d)
'

Fonte: JAHN (1989)
1

'i
1
No Brasif, a moringa oleifera é conhecida como quiabo de quina. No Nordeste,, é
chamada de lírio branco. A moringa se adapta bem em locais com pluviometria baixa e
cfimas quentes, não tem exigências quanto ao tipo de sofo, só mostrando impossibilidade
de se dese·nvolver em solos encharcados. As sementes da moringa agem como um coagu-
l
'
,.• .
• lante natural, podendo substituir coagulantes sintéticos usualmente utilizados no trata-
mento de água para consumo humano, tais como O sulfato de alumínio. É relatado na
.' literatura que o uso das sementes de moringa no tratamento doméstico de águas é uma
' '• prática milenar na Índia, ·
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••
1 •
Algumas pesquisas têm demonstrado que o suco de folhas frescas,e. ,extrpb)~--~ -- ·_ · ·,.; ~~:~·.
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sementes inibem o crescimento de Pseudomonas aerugínosa e Staphy/oCbcaisa/J'ip~ei;,~. :. "':.:::·
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t,. .. "'~~ ~~
·~'.:!' -
. ' - .. ·~.
Soluções alternativas desprovidas de rede I Capitulo 7

temperatura ambiente, outros mostram que o emprego da moringa pode possibilitar redu-
ções superiores a 98º/o de coliformes termotolerantes e remover cercárias do Shistosoma
mansoni, agente causador da esquistossomose (ou barriga d' água, como às vezes é conhe-
cida popularmente). Estudos recentes demonstram que a semente da moringa, quando
utilizada como coagulante, apresenta elevado potencial de remoção de toxinas, produzidas
por cianobactérias, e as folhas da árvore da moringa parecem apresentar alto valor protéi-
co, sendo consumida por algumas pessoas. O óleo da semente apresenta valor comercial,
e pode ser extraído sem que a semente perca seu poder de coagulação. A prática tem
mostrado que o emprego da semente da moringa no tratamento de água é facilmente
incorporado pelas comunidades. Deve-se ressaltar, contudo, que a quantidade de moringa
a ser utilizada na coagulação precisa ser determinada previamente para cada tipo de água
1 a ser tratada, assim como ocorre quando se utilizam coagulantes sintéticos, e há casos em
que a semente da moringa não apresenta eficiência satisfatória para viabilizar a potabilização
da água bruta.
Existem disponíveis comercialmente pequenos pacotes com produtos químicos,
semelhantes a sachês de chá, destinados à potabilização de águas. Em Bangladesh, por
exemplo, devido ao excesso de arsênio na água subterrânea, têm sido comercializados e
distribuídos sachês destinados à remoção deste elemento na água dest inada ao consu-
mo humano. Entretanto, a eficiência destes produtos não é totalmente comprovada e
também aqui há o problema de se repassar para a população a responsabilidade pelo
tratamento da água e os riscos inerentes ao uso incorreto dos produtos. Garantir a qua-
.. lidade da água e o controle da dosagem correta em comunidades que muitas vezes
' ap·resentam baixos índices de escolaridade são tarefas extremamente diffceis. Após o
tratamento, 05 residuais dos produtos químicos adicionados à água podem causar danos
1
à saúde. Deve-se desencorajar o uso de produtos não conhecidos e de processos paten-
teados que não trazem informações suficientemente claras ao usuário.

Filtração

A f I'ltraçao
- d miciliar da água constitui um hábito cultural dos brasileiros, mas ela seria
o . , bl' f · · t
. á 1 · 1,·dade da água distribuída pelo sistema pu 1co osse 1nte1ramen e
1 d1spens ve , caso a qua . . . ,
'á I E t t
con f I ve . n re an o, n . t a
- 0 é ·
1sso O que ocorre em muitas
. localtdades _ , .do Pais. Nestes c:asos,
os f 'It tros const't1. uem-se numa · . barreira. sanitária
· a mais,
· quando nao a untca, capaz de reter
partículas e alguns microrganismos presentes na água. . .. .
·,onar que não há consenso quanto à apl1cab1hdade dos filtros
Contu do, deve-se rnenc .. ,. . . .· . . . ·d ..
· ·· .d b onto de vista da sua ef1c1enc1a bacter1ológ1ca. Segun o o
dom1c1hares, sobretu o so o P · . .. _ .. _ ,
rma ou regulamento que exphc1te os requ1s1tos a serem
INMETRO (2005), não há uma no · ·. . .. , .. . d.
• . . d é .t'rcos O que· faz ,com que exista um elevado 1numefo e
observados para os f1 1tros . om s , . . ,.. . , .,, . ...J • f , .. -
. . d f'lt
I 5 associado à ausencta, em alguns casos, ae IFI orr.n.açoes
tipos, marcas e f abrtcantes · e ro , .. . h d · d d· d
.. _ . . l'd d d 5 mesmos e em outros casos, á gran e varie a .e e
acerca da ut1ltzaçao ou fina t a e o · ,

313

·- J
Abastecimento de água para consumo hum ano

informações que confundem o consumidor. Uma inf~rmação que todas as ~arcas deveriarn
contemplar é se o filtro deve ser usado para águ~ pre-tratada (água f orneada pela rede ele
abastecimento dos centros urbanos) ou água direta ~a fonte (como poços e nascentes,,
mas nem todos informam. Recomenda-se ao consumidor que compre, sempre que Possi--
vef, produtos certificados por órgão competente. . .
o tipo de filtro, a forma como é efetuada sua ltmpeza e a qualidade da água bruta Sã
determinantes do sucesso desses dispositivos. Em locais onde há distribuição de água b~
com qualidade físico-química e bacteriológica comprometida, destinar exclusivamente ao
filtro domiciliar a função de potabilizar a água é incorreto. Porém, quando a turbidez não é
excessivamente elevada, a combinação filtro-desinfecção domiciliar pode resultar em uma
água com condições adequadas para consumo. Por outro lado, onde existe um sistema
público que distribui água que atende ao padrão de potabilidade, os filtros domiciliares
podem exercer papel de barreira contra eventuais recontaminações nas instalações prediais"
sobretudo nos reservatórios. Havendo dúvida quanto à procedência da água, não se deve
confiar somente no filtro. Nesse caso, recomenda-se que antes do consumo a água seja
fervida por, pelo menos, 15 minutos ou que seja desinfetada de outra forma. Apresentam-se
a seguir afguns tipos de filtros domiciliares.

• Filtro de vela
Os filtros domiciliares mais tradicionais são os de vela de porcelana. Uma operação
importante nesses filtros é a da limpeza, na qual é tradicional o empre,go de material abra-
sivo, como o sar e o açúcar. Essa prática, porém, não é recomendável, pelo fato de que a
superfícje de menor porosidade da vera, normalmente vidrada, pode ser danmcada com o
uso destes materiais abrasivos. Após essa operação, o consumidor observa melhora na
capacidade de fjftração da vela, sendo que, na verdade, ocorre um comprometimento do
seu desempenho, devido ao aumento do tamanho dos poros por onde a água passa,
reduzindo sua capacidade de retenção de impurezas. A limpeza da vela deve ser realizada
apenas com sabão e esponja de espuma.

• Filtro de areia
O filtro de areia tem funcionamento semelhante ao dos filt.ros lentos das ETAs, mencio-
nados no capítufo 12. De forma similar, a limpeza desse tipo de filtro deve ser realizada
através da raspagem da sua camada mais superficial. Após diversas limpez,as, o leito filtrante
deve ter sua espessura original reconstituída. É usual a previsão de uma camada de
carvão vegetal, na parte interior do filtro de areia, objetivando a adsorção de compostos
responsáveis pela presença de sabor ou odor na água. A eficiência dos filtros domiciliares
de areia é, entretanto, discutível. Existem registros que mostram situações onde a água
filtrada tem maior conteúdo de bactérias que a não filtrada. Assim, não é recomendadaª
utilização dessas unidades se não houver garantia de que serão corretamente operadas e
de que a água será desinfetada após a filtração.

314
Soluções altern~tivas dêsprovidas de rede I Capítulo 7

• Aparelhos industrializados
Atualmente há no mercado uma grande variedade de filtros domiciliares. Existem os
q~e ~mpregam recursos para a desinfecção, como a ozonização, a radiação ultravioleta e o
nr~rato de prata. Entretanto, não se pode assegurar confiabilidade tota1 desses aparelhos,
se~a, por exempl~, pela conversão incompleta do oxigênio em ozônio, no primeiro caso,
seJa ~ela prog~essr~a. perda do poder bactericida de desinfetantes, como o nitrato de prata.
H~ ainda os dtspo:i~rvos que se propõem a reduzir sabor e odor, por adsorção com carvão
ativado. É necessar,o, entretanto, que o consumidor se conscientize da necessidade da
t~oca ~~riódica _do ~eia adsorvente, quando de sua saturação. Existem, finalmente, os
d1spos1t1vos de f1ltraçao com diversos meios filtrantes, como terra diatomácea, carvão, areia
e materiais sintétic?s, como as membranas. A eficiência da limpeza do filtro é essencial
para seu bom functonamento.

Desinfecção

Para assegurar a qualidade microbiológica das águas destinadas ao consumo humano,


é praticamente indispensável submetê-las a algum processo de desinfecção. Provavelmente
uma das únicas exceções refere-se ao consumo de águas minerais envasadas, que pode
ser enquadrada no grupo das soluções individuais de abastecimento de água, e apresenta
um custo relativamente alto para a população. Entretanto, o consumo de água mineral
exige cuidados específicos, pois há· relatos de empresas clandestinas que comercializam
águas que não atendem ao padrão de qualidade exigido no País e que não têm licença
para explorar e comercializar esse tipo de água. Afora essa preocupação, o consumidor
deve tomar medidas para evitar a contaminação da água dentro de casa, quando utiliza
garrafões de água mineral. Os fornecedores incluem instruções nos rótulos das embalagens
e freqüentemente fornecem um telefone de contato, com ligação gratuita, para o caso de
o consumidor observar algum proble.ma, ou necessitar de esclarecimento. Algumas instruções
típicas são: limpar sempre a parte superior do garrafão antes de utilizá-lo, retirar completa-
mente o selo de segurança dos garrafões, nunca deixar o selo em contato com a água,
evitar deixar o bebedouro aberto por muito tempo, não deixar o garrafão exposto ao sol e
armazená-lo sempre em lugar limpo e fresco, mantendo-o longe de produtos que possam
contaminar a água.
A desinfecção de água pode ser realizada por meios físicos e qufmicos, destacando-se,
entre os primeiros, para aplicação em sistemas alternativos ou individuais de abastecimento
' de água, a ebulição e a irradiação. Quanto aos processos químicos, os compostos de cloro
são os mais utilizados, embora desinfetantes alternativos, tal como o ozônio, tenham se
popularizado nos últimos anos~Em nível domiciliar, e para pequenas instalações, é possível
1 obter resultados satisfatórios de desinfecção de água por meio de algumas soluções simpli-
ficadas.

315

• 1
Abasteclm~nto de água par.a ,o nsumo humano

É importante lembrar que a desinfecção ~estina--se a ~arantír ~ q~alidade microbioló-


gica da água, el~ não t:m a~ão sobre contaminantes de ongem ~u1m1ca. Para assegurar a
eficiência da des,nfecç~o, é 1mpo~ante que a água apresent~ baixa ~on_ce~tração de Sóli-
dos dissolvidos e turbtdez reduzida. Apres...entam . .se ~ seg~1r?~ pr1~c1pa1s métodos de
desinfecção de águas empregados em soluçoes alternativas e 1nd1v1dua1s de abastecimento
baseado em Barros et ai. (1995). '

• Hipocloração
A hipocloração consiste em dosar hipoclorito de cálcio ou de sódio na água. o requi-
sito básico para um dosador é sua capacidade de regular com precisão a quantidade do
produto a ser aplicado. o hipoclorito de cá feio é um produto sólido, comercialmente forne-
cido em forma granular, com cerca de 70o/o de cloro ativo. Para ser aplicado, deve ser
di(u{do em água. o hipoclorito de sódio é encontrado sob a forma de solução, com cerca
de 12 a 15% de cloro ativo. A água sanitária é uma solução diluída de hipoclorito de sódio,
,.. contendo entre 2 e 5o/o de cloro ativo. Um problema com o uso da água sanitária para a
desinfecção é sua adulteração, o que faz com que a concentração real de cloro no produto
seja inferior à especificada em seu rótulo. Além disso, o hipoclorito de sódio pode natural-
mente perder seu poder desinfetante com o passar do tempo. A quantidade de hipoclorito
de sódio ou de cálcio a ser utilizado depende do volume de água a desinfetar, da qualidade
da água e da concentração da soJução de hipoclorito que estiver sendo utilizada. Após a
aplicaçãor e mistura do desinfetante com a água, recomenda-se esperar uma hora antes de
1 utilizá-la, para dar tempo do hipoclorito de sódio ou de cálcio promover a desinfecção:

• Clorador por d;fusão


o uso de poços rasos no Brasil, especialmente nas localidades onde inexiste um sistema
público de abastecimento de água, torna esse dispositivo bastante útil. Trata-se de um
equipamento para dosagem de cloro, que pode ser instalado no interior do poço raso, e
que libera cloro numa veJocídade relativamente homogênea, mantendo um teor residual
até o término de sua vida útil, usualmente em torno de 30 dias, quando deve ser substituído.
O dosador é constituído de um recipiente e de uma mistura de areia com cloro, colocado
em seu interior. Quanto à mistura, são utilizados areia com um produto granular de cloro,
podendo ser a cal clorada, que possui cerca de 30o/o de ctoro ativo, ou o hipoclorito de
cálcio, com aproximadamente 70% de cloro ativo.

• Clorador de pastilha
A vantagem dessa solução consiste na dispen?a do aparato para dosagem do cloro,
uma vez que, nesse caso, a cloração é realizada em linha. Não devem ser utilizadas pasti-
lhas do tipo empregado em piscinas, pelo seu possível efeito nocivo sobre a saúde. Uma
alternativa é o uso de pastilhas de hipoclorito de cálcio, disponíveis no mercado, embora
com custo superior ao das pastilhas para piscinas. Como, porém, a solução tem uma apli-
cação potencial em pequenas instalações, o acréscimo de custo operacional não chega ª
inviabilizar o uso das pastilhas de hipoclorito de cálcio.

316
soluções alternativas desprovi'das de rede I Capítulo 7

• o_esinf<:_cção d_º_1:1iciliar . _ . . bre


A des1nfecçao dom1c1l1ar usualmente é realJzada quando nao se tem seguranç~ so
a qualidade da água que chega aos domicílios, seja ela proveniente de u~ s1st~ma
tradicional ou de solução alternativa ou individual de abastecimento. Os principais desinfe-
tantes empregados são o cloro (com mais freqüência o hipoclorito de sódio) e o iodo. Outra
opção é submeter a água à fervura por 15 minutos, antes do consumo. ...
No caso do cloro, deve ser calculada a diluição necessária para o preparo da soluçao,
observando o teor de cloro livre no produto empregado. Sugere-se preparar uma solução e
dosar o necessário para satisfazer a demanda de cloro na água. Quando não é realizado
ensaio para a determinação da demanda de cloro, pode. .se empregar, como referência,
dosagens entre 1 e 5 mg/L. Costuma-se recomendar 3 gotas de água sanitária para cada
litro de água a ser desinfetada.
No caso do iodo, emprega-se a chamada tintura de iodo a 8º/o e uma solução de hjposul-
·fito de sódio. São colocadas 20 gotas da tintura de iodo em um garrafão de 20 litros e, poste-
riormente, este é completado com água a ser tratada. A mistura é deixada em repouso por uma
hora. Em seguida, adicionam-se 20 gotas da soJução de híposulfito de sódio. O garrafão é
então agitado e colocado novamente em repouso por uma hora. A finalidade da_solução de
hiposulfrto de sódio é neutralizar o excesso de iodo ainda presente na água, após o primeiro
perfodo de repouso. Se as 20 gotas de solução de iodo não forem capazes de produzir uma
tonalidade amarelada na água, significa uma elevada contaminação, exigindo, portanto, uma
quantidade adicional do desinfetante. Nesse caso, deve-se adicionar uma gota de tintura de
iodo e agitar a mistura sucessivamente, até se obter uma tonalidade amarelo pálida.

• Desinfecção por radiação solar


Diversos estudos têm demonstrado a possibilidade de se promover a desinfecção da
água por meio da desinfecção solar. Muitos organismos patogênicos presentes nas águas
são vulneráveis ao calor e à radiação ultravioleta e ambos, calor e radiação ultravioleta,
estão disponíveis na energia solar. Existe reJato de estudo em que amostras de água, deli-
beradamente contaminadas com esgotos, foram colocadas em recipientes transparentes e
expostas diretamente ao soJ durante algumas horas em recipientes de tamanho e material
variado. Em outro estudo, amostras ídênticas de água foram guardadas em habitações
iluminadas com luz artificial. Observou-se que 99,9% das bactérias coliformes foram elimi-
nadas após 95 min de exposição ao sol, enquanto foram necessários 630 min para a mes-
ma eliminação nas amostras de controle mantidas sob luz artificial. Há relatos na fiteratura
demonstrando a possibilidade de inativação total de alguns microrganismos como a Pseu-
domonas aeruginosa (15 min), Salmonella flexneri (30 min), 5. typhi e S. enteritidis (60
min), Escherichia co/i (75 min) e Candida ssp. (180 min). Quando se consideram aspectos
ecológicos, a facilidade operacional, o custo e os resultados promissores citados na literatura,
a desinfecção solar é uma técnica que merece destaque especial para ser utilizada em
soluções alternativas de abastecimento de água, embora seja conveniente ressaltar a
necessidade de se realizarem estudos complementares sobre o emprego desta técnica.

317
Abast,edmento de água para consumo humano

e
e
..
e
7.3.3 Reservação

A intermitência do fornecimento de água em sistemas públicos de abasteciment


do País conduziu a população brasileira a criar o hábito de utilizar reservatórios doméstico~
para armazenar água e utilizá-la quando o fornecimento é interrompido. Por outro lado
em algumas soluções alternativas ou individuais de abastecimento de água, a reservaç~~
é imprescindível. Em todos os casos, os reservatórios precisam ser mantidos tampados e
serem limpos periodicamente, pois, do contrário, eles serão pontos de contaminação da
água. .
Na Figura 7.Sa é mostrada a ilustração da confecção artesanal da tampa de um pe-
queno reservatório de uso coletivo em uma comunidade da África. A confecção artesanal
da tampa não visa apenas à redução de custos, ela também tem a função de fazer com que
a população se sinta mais envolvida nas questões relacionadas ao cuidado com a água. Na
Figura 7.Sc tem-se afotografia de uma cisterna (reservatório), utilizada no armazenamento
de água de chuva destinada ao consumo humano. Para as cisternas, deve-se prever dispo-
sitivos de extravasão, limpeza de fundo e ventilação, devidamente protegidos por telas,
para evitar o acesso de animais e o carreamento de impurezas ao seu interior. Em qualquer
reservatório,
"
deve-se cuidar para evitar condições propícias ao criadouro de vetores que
,.
procriam na agua.

'
(a) confecção de tampas (b) pequeno reservatório coletivo (e) reservatório de água de chuva
Figura 7.5 - Alguns tipos de reservatórios utilizados em soluções alternativas de abastecimento de
·r água
Fonte das ·fotograf;as {a} e (b): JAHN (1989)
••i

Para manter a qualidade da água, é necessário realizar a limpeza regular dos reserva·

limpeza dos ~elhados de captaçao, das calhas de coleta e do sistema de con.duçao de . é1f.I 7
A água das cisternas geralmente é retirada com baldes ou bombas manuais, que t~rtfí. ... ,· .
devem ser mantido~ em condições adequadas de higiene, para ev!tar a, ~~nta~~a:· .:~ . .,. ,. .·
Apresenta-se a seguir uma seqüência de etapás para a limpeza de caixas d água utih~ ~~-~~~'~.-·:Y{$t~r:1t

318
em residências. Para os demai tip d I rv tórios, de soluções alternativas ou indívíduaí ,
deve-se fazer a adaptação corr p nd nt .

.Procedimentos para limpeza d caixas d'água


• . techar o reg istro de ent rada de ág ua da casa, ou amarrar a bóia, e
utilizar a água normalmente, té que o nível da água fique a aproxí-
madamente um palmo do fundo da caixa. Se for necessário, armazenar
previamente parte da ág ua para uso durante o período em que ela
estiver sendo limpa;
• tampar a saída da água, para que a água que ficou no fundo seja
utilizada na lavagem da caixa e para que a sujeira não desça pela
tubulação;
• lavar as paredes e o fundo da caixa com escova de fibra vegetal ou
de fio de plástico macio (nao usar sabão detergente, ou outro produto,
e evitar escova de aço e vassoura);
• retirar a água de lavagem e a sujeira com uma pá de plástico, .balde
e panos, deixando-a bem limpa. Utilizar panos limpos para secar o
fundo, evitando passá-los nas paredes;
• ainda com a saída da caixa fechada, deixar entrar um palmo de
altura de água, adicionar 2 litros de água sanitária e deixar por 2 ho-
ras. Com uma brocha, balde ou caneca plástica, molhar as paredes
internas com a solução desjnfetante e, a cada 30 minutos, verificar s·e
as paredes internas da caixa secaram . Caso isso ocorra, fazer nova
aplicação dessa mistura, até completar 2 horas;
1 • não usar de forma alguma esta água durante 2 horas; passado esse
tempo, ainda com a bóia da caixa amarrada ou o registro de entrada
fechado, esvaziar a caixa, abrindo a sua saída. Abrir todas as torneiras
e acionar as descargas (isso auxilia também na desinfecção das t ubu-
lações da residência). Armazenar esta água para lavagem de pisos e
quintal;
• lavar a tampa e tampar adequadamente a caixa para que não en-
1 trem pequenos animais, insetos ou sujeiras, que podem contaminar a
água e ser responsáveis pela transmissão de doenças. Anotar do lado
de fora da caixa d'água a data de quando deve ser feita a próxima
1 limpeza;
• abrir a entrada de água e deixar a caixa encher, para então come-
çar a utilizar a água normalmente.

319

.........___
1
Wi& E 1" - • - - --

Abastoclmonto de água para consumo humano

7.3.4 Distribuição

Nas soluções alternativas desprovidas de rede de distribuição de água são vários


O
arranjos possíveis de se encontrar. O que se vê normalmente são captações, seguidas 0 ~
não por algum tipo de tratamento, e, posteriormente, o armazenamento em um reservatório
dotado de torneira pública ou a distribuição direta por chafariz. Do chafariz ou da torneira
púbfica, a população abastece a sua residência, seja por intermédio de baldes ou por ·qual-
quer outro recipiente. Outra possibilidade, igualmente corriqueira, é a situação em que, ao
invés da utilização do chafariz/torneira pública, a água é transportada até os moradores por
meio de veículos transportadores, muitas vezes os populares ,, caminhões-pipa'', embora
ta,mbém seja comum o transporte em lombo de animais, conforme mostrado na Figura
7. 7. Verificam-se ainda situações em que coexistem os chafarizes/torneiras públicas e os
veículos transportadores. São apresentadas a seguir algumas práticas recomendadas, a
serem observadas no armazenamento e distribuição da água, nas condições expostas ante-
riormente, conforme consta em Bastos et ai. (2003). Todas as soluções alternativas coleti-
vas de abastecimento de água devem possuir um cadastro apropriado das instalações e das
análises ,de controle da qualidade da água conforme comentado no item 7 .4 .

---- .Figura 7. 7 - Soluç~es alternativas e individuais de transporte de água


Fon,tes das figuras (a): JAHN (1989) e (b): BUEHNE et ai. (200 1)

Recomendações para reservatórios com torneiras públicas

• evitar o aparecimento de fendas que causam vazamentos e eventuais


contaminações externas;
• dotar o, reserva·tório com dispositivos de extravasão, limpeza e venti-
lação adequados, que evitem a entrada de pássaros, insetos, poeira e
ou.tr?s animais e substâncias indesejáveis;
• cuidar para que o reservatório contenha tampa de inspeção devida-
mente selada, para evitar penetração de água de drenagem da cober-
tura ou entrada de objetos indesejáveis;

320
Soluções alternativas desprovidas de rede I Capítulo 7

• efetuar a limpeza periódica do reservatório e após serviços de repa-


ros ou construções;
• manter controle de qualidade da água adequado e de acordo com a
legislação vigente;
• evitar condições propicias ao criadouro de vetores que procriem na
água, a ~x~mpJ~ de mosquitos transmissores de dengue, especialmente
nos locais 1med1atamente abaixo da to·rneira ·
• I

• requ~rer, Junto à autoridade de saúde pública, autorização para o


fornecimento de água, apresentando laudo sobre a análise da quali-
' dade da água a ser f ornecida·, •

1
• garantir que as torne.iras tenham as suas saídas em nível pouco aci-
ma do fundo, para evitar que eventuais impurezas acumuladas no fundo
do reservatório venham a ser transportadas para o coletor de água.

Recomendações para chafarizes

• manter controle de qualidade da água adequada e de acordo com a


fegislação vigente;
• garantir que a fonte supridora do chafariz seja segura;
• evitar condições propícias ao criadouro de vetores que procriem na
água, a exemplo de mosquitos transmissores de dengue, especialmente
nos locais imediatamente abaixo da torneira;
• requerer, junto à autoridade de saúde pública, autorização para o
fornecimento de água, apresentando laudo sobre a análise da quali-
dade da água a ser fornecida.

Recomendações para veículos transportadores

Na Portaria nº 518/2004 do Ministério da Saúde (BRASIL, 2004), é estabelecido que o


responsável pelo fornecimento de água por meio de veículos deve: i) garantir o uso exclu-
i sivo do veículo para o transporte de água para o consumo humano; ii) manter registro com
dados atualizados sobre o fornecedor e/ou sobre a fonte de água; e iii) manter registro
atualizado das análises de controle da qualidade da água. Além disso, a água fornecida
para consumo humano por meio de veículos deve conter um teor mínimo de cloro residual
.livre de o,s mg/L. Outros aspectos que devem ser considerados ao empregar veículos trans-
portadores são listados a seguir:

321

7
-
At,astee<tmento de água para tonsumo humano

• manter a carroceria em esta~o adequado de conservação, evitando


ferrugem e perda da estan.que1dad~; . , .
• manter 05 dispositivos de 1ntroduçao e retirada de agua (equipamentos
de sucção, torneiras, mangueiras, válvulas etc.) em perfeito estado de
conservação e h'igiene;
• garantir que a fonte supridora de água dos veículos seja segura;
• cuidar para que a água transportada tenha, de acordo com a legislação
vigente, a controle de qualidade assegurado, e que o laudo de contra ..
le de qualidade da água seja transportado pelo condutor do veículo;
• cuidar para que o abastecimento da popufação não seja comprome~
tido pelo mau manuseio do dispositivo de retirada da água, e que este
esteja devidamente limpo e isento de contaminação;
• efetuar a limpeza sistemática, e em períodos adequados, do veículo,
principalmente após serviços de reparos;
• cuidar para que o veículo contenha, de forma visível, em sua carro-
ceria, a inscrição '' ÁGUA POTÁVEL'';
• operar cuidadosamente a descarga de água, de modo que não haja
arraste da mangueira no chão, que possa danificá-la ou comprometer
a qualidade da água;
• requerer, junto à autoridade de saúde pública, autorização para o
fornecimento de água, apresentando laudo sobre a análise da quali-
dade da água a ser fornecida.

Na Figura 7.6 tem-se a ilustração de um chafariz e de uma torneira pública, mostra-se


't ainda a coleta de água em um reservatório de armazenamento de água de chuva para
consumo humano.
No caso da Figura 7.6c, recomenda-se um cuidado especial na retirada da água, para
evitar contaminação de todo o volume armazenado na cisterna. O reservatório deve ser
dotado de sistema apropriado para a extração de água e possuir tampa selada e removível
para a retirada de água, no caso de a retirada ser feita com baldes, conforme ilustrado na
Figura 7.6c. Mas, preferencialmente, para proteção sanitária da água, recomenda-se a
utilização de bombas manuais para extrair a água. Estas bombas são de baixo custo e
podem ser fabricadas P.elos próprios moradores, se eles forem corretamente instruídos.
Nos casos em que são usados baldes para retirar a água, deve-se atentar para as ce>ndições
de limpeza e higiene do recipiente e da corda que o prende, para evitar risco de contaminação
da água.

322
Soluções alternativas desprovidas de rede I Capítulo 7

(a) chafariz público (b) torneira pública (e) distribuição individual


Figura 7 .6 - Soluções alternativas e individuais de distribuição de água
Fonte da Figura (e): BUEHNE et ai. (200 1)

Para facilitar a retirada da água, algumas cisternas são construídas instalando-se tor-
neiras próximo ao fundo, mas observou-se que, além de se tornar um possível ponto de
contaminação, pela ação de pequenos animais, o reservatório ficava vulnerável à ação de
crianças, que o esvaziavam abrindo a torneira . Assim, as famílias rapidamente ficavam
privadas da água armazenada no período de chuva, para ser consumida no período de
estiagem, que na região do semi-árido brasileiro pode durar 9 meses. Outra dificuldade
relacionada à colocação de torneiras próximas ao fundo das cisternas decorre do fato de
algumas .das cisternas serem construídas semi-enterradas, o que impossibilita a instalação
da torneira na sua parte inferior.

7.4 Cadastro e controle da qualidade da água

7 .4.1 Cadastro

O cadastro dos sistemas de abastecimento, das soluções alternativas de abasteçj-


mento de água e também de soluções individuais é urn instrumento fundaf.l)er.ltal, que
permite avaliar a evolução dos fatores de risco à saúde dos serviços de saneamern'itlo. Ror
essa razão, também se constitui em instrumento valioso para os responsáveis pelo: siite- .-
ma, ou solução alternativa, conhecerem esses fatores de risco inerentes às instalà(jêet
peJas quais se responsabilizam. Segundo B·astos et ai. (2003),. os Indicadores pass['l~is ~ e

323
. . .. osumo humanoi
Abasteclrnent.o de água para co

. /d . . a artir do
p·cadast;
r o de sistemas e soluções alternativas d b
serem const rui os, . e a astecj..
menta de água, são:
• atendimento da legislação de controle da qualidade da água de con ..
sumo humano; . ,
• cobertura da população em abastecimento de agua;
• tratamento da água;
• desinfecção da água;
• consumo per capita de água;
• regularidade do serviço de abastecimento de água;
• intermitência do serviço de abastecimento de água.

As Informações cadastradas devem ser incorporadas ao Sistema de Informação de


Vigilância da Qualidade da Agua para Consumo Hlumano (SISÁGUA), para que sejam mais
bem sistematizadas e contribuam para o exercício da vigilância. Não existe um fluxo único
definido para a tramitação das informações cadastrais. O Ministério da Saúde, por intermédio
da CGVAM, preconiza um fluxo padrão a ser utili.zado pelos órgãos de vigilância. o fluxo
propõe, de maneira geral, que as fichas de coleta de dados sejam preenchidas pela área
responsável pela vigilância da qualidade da água n,a Secretaria de Saúde do município, se já
não o foi pelo responsável pela prestação dos serviços. Tais fichas devem ser mantidas
arquivadas por um período próximo a um ano. Esses dados devem ser alimentados no
SISÁGUA, mesmo antes de uma análise de consistência dos dados, análise que deve ser
feita apenas após a alimentação do sistema, por intermédio da avaliação dos indicadores
nos relatórios de saída do próprio SISÁGUA. No.s casos em que o SISAGUA não esteja
implantado no município, o procedimento de alimentação dos dados deve ser feito pela
regional de saúde que abrange o município e, na ausência desta, pelo estado (Bastos et ai.,
2003).
O SISÁGUA é com·posto por três módulos de entrada de dados: i) módulo do cadastro
dos tipos de abastecimento de água; ii) módulo de controle da qualidade da água para
consumo humano; iii) módulo de vigilância da qualidade da água para consumo humano.
Os modelos de fichas de cadastro utilizados pelo SISÁG UA podem ser obtidos junto ª
secretarias ou no Ministério da Saúde.
Bastos et ai. (2003) comentam que, no caso de sistemas de abasteciment.o de água e
de soluções alternativas coletivas providas de redes de distribuição de água, a elaboração

saud: publica a r:sponsa~1lidade de manter atualizadas as informações no. SISAGUA. ~de


s~lu~oes alternativas coletivas desprovidas de redes de distribuição, a autoridade de.sa:m
publica local é quem ?eve se r~~ponsabilizar pela elaboração do cadastro, em parceria ema
outro~ agentes de saude rnun1c1pal como, por exemplo, os agentes de saúde do progra
de Saude da Família.

de construir indicadores que permitam avaliar a evolução histórica das condições

324
Soluções alternativas desprovidas de rede I Capítulo 7

abastecimento de água e subsidiar a avaliação de risco à saúde de determinado sistema


ou solução alternativa. O cadastro deve ser visto em duas categorias. Numa primeira,
devem ser consideradas as informações relativas às unidades físicas que compõem os
sistemas de abastecimento e as soluções alternativas. Estas informações permitirão compor
os indicadores quantitativos do abastecimento de água, como por exemplo: cobertura,
continuidade, consumo per capita, tratamento, entre outros. Na segunda categoria,
devem ser consideradas as informações que permitem caracterizar a qualidade da água.
Tais informações podem ser obtidas, portanto, dos relatórios de controle de qualidade
elaborados pelos prestadores de serviços de abastecimento de água, ou dos resultados
das análises da qualidade da água realizados para a vigilância da qualidade da água, de
responsabilidade da autoridade de saúde pública municipal. O intervalo de tempo para a
atualização das condições de abastecimento de água não tem um período predetermi-
nado. A rigor, as informações relacionadas à primeira categoria devem sempre refletir as
intervenções que são verificadas em qualquer sistema ou solução alternativa de abasteci-
mento de água. Entretanto, a título de orientação, entende-se que um programa de
vigilância da qualidade da água para consumo humano deve manter informações atua-
lizadas em um período não superior a um ano (Bastos et ai., 2003).

7 .4.2 Controle da qualidade da água

De acordo com a Portaria n° 518/2004 (Brasil, 2004), o controle da qualidade da água


para consumo humano corresponde ao conjunto de atividades, exercidas de forma
contínua pelo(s) responsável(is) pela operação de sistema ou solução alternativa de abaste-
cimento de água, destjnadas a verificar se a água fornecida à população é potável, assegu-
rando a manutenção desta condição. A vigilância da qualidade da água para consumo
humano é definida como J'um conjunto de ações adotadas continuamente pela autoridade
de saúde púbíica, para verificar se a água consumída pela população atende à referida
Portaria e para avaliar os riscos que os sistemas e as soluções alternativas de abastecimento
de água representam para a saúde humana". Segundo Bastos et ai. (2003), para o efetivo
exercício da vigilância da quaJidade da água para consumo humano, é necessário que os
prestadores de serviços de abastecimento de água forneçam informações cadastrais sobre
o respectivo sistema ou solução alternativa, visando a informá..los sobre as caracterrsticas
básicas relacionadas à qualidade da água para consumo humano. A autoridade de saúde
pública, responsável pela vigilância da qualidade da água no nível focal, deve receber o
diagnóstico inicial das condições do abastecimento de água da população, tanto no meio
urbano quanto no rural.
Antes do ano 2000, quando foi publicada a Portaria n° 1469, posteriormente substi-
tuída pela Portaria n° 518/2004 (Brasil, 2004), não havia distinção de exigências de contro-
le da qualidade da água entre os sistemas e as soluç.ões alternativas de abastecimento de

325
Abtrstacht'I Ontô da, 6900 poro consumo humano

água e, em vista disso, as soluções alternativas não se viam obrjgadas a exer


O
qualidade da água, e nem as autoridades sanitárias a sua vigilância, s::r controle da
usuários, que correspondem a uma parcela significativa da população brasu::tendo .seus
riscos. ' ª maiores
De acordo com a Portaria n° 518/2004 (Brasil, 2004), os responsáveis peJ
qualidade da água de sistemas e de soluções alternativas de abastecimento~ co~trole da
manancial superficial devem coletar amostras semestrais da água bruta, junto ª~ridos Por
captação, para análise de acordo com os parâmetros exigidos na legislação v· Ponto de
e1ass1'f"1caçao e enquadramento de águas supert·1c1a1s,
· · ava1·,ando a compatibilidadeigente de
características da água bruta e o tipo de tratamento existente. Toda água fornecid entre, ~s
vamente deve ser submett"da a processo de des1n . fecçao,
- concebido e operado de for a co et,-
garantir o atendimento ao padrão microbiológico da referida Portaria. maª
No item 4.5.3 do capítulo~ deste livro .são a~resentadas informações sobre 05 planos
.,,. . de amostragem e as responsab1hdades legais relativas às soluções alternativas de abasteci-
mento de água, conforme consta na Portaria n° 518/2004 (Brasil, 2004). Recomenda-se ao
l leitor qu,e recorra àquele capítulo para obter informações complementares sobre O controle
t
da qualidade da água destinada ao consumo humano. Deve-se ressaltar que são previstas
sanções administrativas aos responsáveis pela operação dos sistemas ou soluções alternativas
1 de abastecimento de água que não observarem as determinações constantes na Portaria
' nº 518/2004. Destaca-se ainda que, sempre que forem identificadas situações de risco à
saúde, o responsável pela operação do sistema ou solução alternativa de abastecimento de
água e as autoridades de saúde pública devem estabelecer entendimentos para a elabo-
ração de um plano de ação e tomada das medidas cabíveis, incluindo a eficaz comunicação
à população, sem prejuízo das providências imediatas para a correção da anormalidade.
1

7.5 Co.n,siderações finais

Na atualidade, milhões de brasileiros ainda não têm acesso a água potável e a un.iver-
salização desse bem é um desaf,·.o que deve envolver toda a soc1eda · d~.·técn
. de, ·1nc1u,n . ICOS,
· ·
pesquisadores, professores, estudantes e os poderes executivo, legislativo e judiciário. U~
aspecto de grande relevância é o desenvolvimento de técnicas alternativas que ~-ossambse_
. · na1
s de a a5
adotadas por comunidades não atend~das atualm_ente ~elos sistemas ~r~d1:10 esoluções
tecimento de água. Contudo, as soluçoes alternativas nao devem ser sinonimo d irriento
improvisadas. Elas não se constituirão em soluções se falharem na ga~~tia de forne~egurar
de água que atenda ao padrão de potab;lidade, em quantidade suf1c1ente para as

326
SoluçõeS alternauvas despro,.lidas de rede I Capítulo 7

boas condições de saúde à população. Deve-se considerar ainda que ações que não envol-
vam a participação da comunidade dificilmente terão resultados positivos.
Merece destaque o marco legal representado pela public.ação da Portaria n° 1469/
2000, posteriormente reeditada como Portaria nº 518/2004 (Brasil, 2004), ao atribuir
responsabilidades legais e explicitar particularidades das soluções alternativas de abasteci-
mento de água. Entretanto, ainda há muito a se fazer para garantir o acesso a água potável
a todos os moradores do País. Em geral, as soluções alternativas, a exemplo da água distri-
buída por caminhões-pipa, apresentam custo por m3 de água muito superior ao das soluções
tradicionais providas de rede de distribuição. Iniciativas da sociedade civil organizada e
do governo, ·tal como a que deu origem ao P1 MC, merecem destaque pelo caráter inova-
dor e pela ação concreta no sentido de melhorar as condições de vida da população mais
carente. Contudo, mesmo no caso das cisternas destinadas à captação de água de chuva,
há desafios a serem enfrentados, perguntas que ainda carecem de resposta: a água de
chuva, por apresentar pH tendendo à acidez, pode ser agressiva ao concreto dos reservató-
rios e com isso promover a liberação de metais potencialmente prejudiciais à saúde? A
água de chuva é excessivamente desmineralizada para ser recomendada ao consumo hu-
mano7 Qual a qualidade da água da chuva nas diversas localidades onde estão sendo
construídas as cisternas? A população está devidamente instruída para adotar boas práti-
cas de manejo da água?
O monitoramento da qualidade da água de soluções alternativas de abastecimento é
um desafio, que se torna ainda maior quando se considera o monitoramento de soluções
individuais de abastecimento. Como, por exemplo, monitorar a qualidade da água de 1
milhão de cisternas de captação de água de chuva destinada ao consumo humanor'Ápe-
nas a título de ilustração, suponha-se que no plano de amostragem de um sistema de
abastecimento seja previsto que determinada análise química deve ser realizada semestral-
mente, para controle da qualidaae da água. Se considerarmos uma ETA com capacidade
de tratar 16 m3/s, em menos de 12 dias essa vazão seria suficiente para encher 1 milhão.de
cisternas com capacidade de 16.000 litros, volume esse que pode atender uma família
durante todo um ano na região semi ..árida. Como nas ETAs são esperados procedimentos-
J
padrão de tratamento da água, uma amostra semestral para quantificar a presença de
determinada substancia química pode ser representativa de todo o volume tratado naquele
período, mas e no caso das soluções individuais, tais como as cisternas? Coletar e analisar
amostras semestrais em um milhão de cisternas é inviável do ponto de vista operacional e
econômico. Assim, faz-se necessário definir um pla,10 de amostragem específico para este
I tipo de solução, com base em análises estatísticas, que possibilite acompanhar os efeitos
1 da implementação da ação destinada a melhorar as condições de acesso à água potável,
seNindo de instrumento para auxiliar na tomada de decisões a respeito da necessidacde de
mudar de estratégia, em função do nível de aceitação das comunidades e dos resultados
obtidos após a implementação da ação saneadora.
Destaca-se ainda·a importância de se ter programas contfnuos de educação sanitária
1
para as populações atendidas por soluções alternativas de abastecimento de água, e, mais
1
1
327
.Ab.~stec.lménto d-, 6gua para -c;onsutno humano
l

ainda, para aquelas que fazem us.o de soluções individuais. Instruções simples co .
. 1açao
tar a popu - que ut,·,·1za água ·de f ont e ,n
· natura
· a f'I,.trar e a ferver a água
' rno. 0 nen-
impacto muito grande na redução da mortalidade infantil e no aumento da ex~:id~ ter
da qualidade·de vicia da população. Alguns problemas relativos ao abastecimento dea~iva e
principalmente para as populações de baixa renda que habitam zonas rurais e, em es 9~ª·
· ár,·do bras1·1 erro,
o sem1- · necessttam
· de esforço coIet',vo para serem resolvidos. Pecial'

Referências e bibliografia consultada

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DE ENGENHARIA SANITÁRIA EAMBIENTAL, 20., 1999, Rio de Janeiro. Anafs... Rio de Janeiro; [s.nJ, 1999•

328 ','
:

...

Capítulo 8

Captação de água de superfície

Aloísio de Araújo Prince

, 8.1 Definição e importância

t
No contexto deste livro, entende-se por captação de água de superffcíe o conjunto de
estruturas e dispositivos construídos ou instalados junto a um rio, ribeirão, córrego ou lago,
para a retirada de água destinada ao abastecimento de comunidades humanas.
As pessoas experimentadas que trabalham com abastecimento público de água cos-
tumam dizer que '' o tratamento da água começa na sua captação". Com isso querem
ressaltar que a parte mais importante de um serviço de água potável é o seu manancial e a
respectiva captação de suas águas. Isso porque, da escolha judiciosa e da proteção efetiva
do manancial, e também da correta construção e operação de seus dispositivos de captação,
depende o sucesso das demais unidades do sistema no que se refere tanto â quantidade
r como à qualidade da água a ser disponibilizada aos consumidores.
Assim sendo, ·e·special atenção deve ser dedicada às atividades necessárias para a
escolha e proteção do manancial e do local de sua captação, assim como para a elaboração
do projeto e para a construção e operação das estruturas e disposítivos que compõem a
unidade de captação de água .

329
o

Aba-s tet.hnento do égllo pata t.onsumo humano


..

8.2 Escolha do manancial e do local para implantação de sua


captação .

Para a adequada escolha do manancial e do local para a implantação da captaÇão da


suas águas, três conjuntos de elementos e de considerações relevantes devem ser le,ac1~
em conta: (i) tipos de estudos a realizar; (ii) condições gerais a serem atendidas pefo lor..alde
captação; e (iii) inspeção de campo e consulta à comunidade a ser beneficiada. Na seqliênoa,
esses três temas são detalhados.

Tipos de estudo a realizar

As informações, levantamentos e estudos necessários para a escolha do manancizl e


do local de implantação de sua captação são basicamente os seguintes:

• mapa geográfico da área da localidade a abastecer e da região no


seu entorno, preferencialmente do tipo planialtimétrico. Deve ser lem-
brado que o manancial e a localização de sua captação têm grande
influência nos aspectos técnicos e econômicos da concepção global
do sistema de abastecimento de água em estudo, principalmente no
que se refere a: (i) tipo de tratamento de água; (ii) comprimento, acesso,
perfil topográfico e desnível altimétrico de aduçáo; (iii) aproveitamento
de unidades de abastecimento de água existentes; (iv) racionalidade
na disposição das unidades de reservação e distribuição;
• estimativa da vazão mínima dos mananciais em estudo, nos pontos
mais indicados para a sua captação, assim corno o conhecimento d.as
vazões disponíveis para captação segundo o respectivo órgão respon-
sável peta gestão de recursos hídricos;
• levantamento sanitário da bacia hidrográfica a montante dos possí. .
veis pontos de captação, incluindo a caracterização dos principais usos
da terra e da água, com atenção especial para as atividades degrada-
doras da vegetação e poluidoras da água, do solo e do ar;
• conhecimento dos usos da água a jusante dos pontos de captação
em estudo;


• levantamento das características físicas, químicas e biológícas da água
e avaliação do transporte de sólidos, em épocas representativas do
ano, nos pontos cogitados para a localização da captação; .
• levantamento de dados, informações ou estimativas sobre os níveis
?e ~gu~ máximo e mínimo nos locais de captação em estudo, com ª
1nd1caçao dos prováveis períodos de recorrência· ,I

,
''
1
( '

330
Captaç~o de água de superfície I Capitulo 8

• levantamento de informações e de dados planialtimétricos, batimé-


tricos e geotécnicos que permitam a realização de estudos técnicos e
econômicos comparativos dos locais aventados para a focalização da
captação (após a escolha do melhor local, esses estudos serão comple-
mentados com o nível de detalhamento adequado ao porte e tipo de
1
obra de captação).

A maior ou menor amplitude ou complexidade dos elementos acima dependerá de


dois fatores principais:

• grandeza da vazão necessária, no sentido de que a captação de


maiores vazões exige a utilização de mananciais de maior porte, que
1 são mais raros, mais diffeeis de proteger e apresentam maiores dificul-
dades para a captação de suas águas;
• disponibilidade de recursos hídricos na região de interesse, visto que
1 em áreas onde há a escassez de bons mananciais de água, em quanti-
dade ou qualidade, mais difícil torna-se a pesquisa para a sua identifi-
cação.

Nos casos mais complexos, ou seja, que envolvem comunidades maiores ou regiões
carentes de recursos hídricos (em quantidade ou qualidade), os estudos supracitados serão
de maior abrangência e exigirão maior nível de detalhes. Quando se tratar de pequenas
comunidades localizadas em regiões em que os bons mananciais sejam facilmente identifi-
cáveis, esses estudos poderão ser criteriosamente símpíificados.

1 Condições gerais a serem atendidas pelo local de captação

O local de captação deve atender às seguintes condições gerais:

• Situar-se em ponto que garanta a vazão demandada pelo sistema e


a vazão residual estabelecida pero órgão de gestão das águas, quer se
trate de captação a fio de água ou com regularização de vazão.
• Situar-se a montante da localidade a que se destina e a montante de
outros focos de poluição importantes, ou seja, em local que garanta
água com qualidade compatível com as tecnologias de tratamento de
água técnica e economicamente possíveis de serem adotadas para a
comunidade em consideração.
• Situar-se em cota altímétrica superior à da localidade a ser abastecida
(para que a adução se faça por gravidade), desde que a resp-ectiva
l distância e o percurso de adução não inviabilizem economicamente
essa alternativa; ou, caso a adução por gravidade seja inviável técnica
ou economicamente, o local de captação deve situar-se em local com

331
-

cota aftimétrlca que resulte menor desnível geomé·l rico em rei .. ,


focalidade e que possibilite as condições apropriadas de bombeaªrnçao ª
. 1. ( . ento
de dduç'1o por reca que menor comprimento, perfi l adequad
condíções satisfatórias de acesso). 0 e
'f
,e • Si.tuar-se em .terreno ~ue ~presen~e con,dições de acesso, caracte-
ríst,cas geológtcas, bat1metr1a, níveis de inundação e condições d
,
'l' arraste e deposição de sólidos favoráveis ao tipo e porte da captaçã~
lc a ser ímpfantada.
\ • Sítuar~se em trecho ~eto do curso de água ou, caso isso não seja
l possfveJ, em focal próximo à sua margem externa, como se mostra na
~
Figura 8.1, evitando assim sua implantação em trechos que favoreçam
1
o acúmulo de sedimentos.
1
1 • Permitir que as estruturas e dispositivos de captação fiquem protegidos
da ação erosjva da água e dos efeitos prejud iciais decorrentes de
remanso e da variação de nível do curso de água.
1 1 • Resurtar o mínimo de alterações no curso de água em decorrência
1 da fmpfantação das estruturas e dispositivos de captação, inclusive no
que se refere à possibifidade de erosão ou de assoreamento.

f O projeto de captação, além de contemplar as considerações e medidas associadas


t aos tóprcos listados acima, deve incluir também as obras para garantir o acesso permanente
a essa unidade.

y Sedimentos
;/Tomada d'água / Tomada d'água J/ Tomada d'água
;- ' o
·- o
- ~
·-
/
I
'
'

-
erevatôría
Sedimentos ·. I I
Elevatória Elevatória

Situação deseJávef • Situação aceitável Situação incorreta


- rJgura B. 1 ,. Posjcíonamento, em planta, das captações em cursos de água de superf[cie

fnspeção de campo e consulta à comunidade a ser .beneficiada

. . · nto
A inspeção de campo na bacia hidrográfica, que inclui o denominado levantame
sanitário, e a consulta à comunidade a ser beneficiada são importantes para:

332



Captação de água de superfície I Capftulo 8

• escolher o melhor manancial, em função da demanda a atender, da


quantidade e da qualidade da água disponível no manancial e da
economicidade do sistema (lembrar a hierarquia dos mananciais mais
econômicos no que tange à qualidade da água e à proteção da bacia
hidrográfica: fontes de encosta; manancial superficial de serra; poços
rasos; galerias de infiltração; poços tubulares; córregos; ribeirões; rios);
• identif'icar usuários de água que captem vazões significativas a mon-
tante dos pontos cogitados para a localização da captação de água
em estudo;
• escolher o melhor local para a captação, de modo a evitar a captação
de água poluída ou em quantidade insuficiente, assim como para
simplificar e tornar mais econômica a concepção, o projeto, a construção
e a operação das demais unidades do sistema (lembrar sempre que: (i)
II
o tratamento da água começa na sua captação (ii) a posição relativa
11
;

de cada unidade do sistema pode influir muito no custo de implantação


e de operação do sistema, sobretudo naqueles de maior capacidade; (iii)
as condições topográficas, geotécnicas e batimétricas da área destinada
à captação têm grande influência nos respectivos custos de implantação
e operação);
• medir e avaliar a vazão disponível (lembrar que medições de vazão e
análises de água feitas em apenas um ·momento podem não ser repre-
sentativas, mas são indicadores úteis), inclusive para balizar os estu-
dos hidrológicos ·teóricos;
• identificar os níveis máximo e mínimo de água nos prováveis locais
de captação;
• identificar medidas necessárias para a proteção do manancial e de
sua bacia hidrográfica, no que se refere à melhoria da quantidade e da
qualidade da água;
• conseguir o envolvimento e o apoio da comunidade a ser beneficiada,
por meio de suas lideranças e principais representantes, tanto na
escolha do manancial mais apropriado e da melhor alternativa para
sua captação, como na adoção e manutenção de medidas duradouras
• para a proteção do manancial escolhido .

Para ser realmente produtiva, a inspeção de campo deve ser adequadamente preparada
e ptanejada, com a obtenção prévia do máximo de informações de escritório (dados
1
secundários), incluindo mapas e estudos geográficos e de recursos naturais, além de dados
sobre atividades econômicas, todos relacionados à área de interesse.
Nos trabalhos de campo, o engenheiro deve dispor dos materiais e equipamentos
r necessários: mapas, aparelho GPS - Global Positioning System, máquina fotográfica, trena,
metro, compasso de encanador (para medição de diâmetro de tubos), trado, cronômetro,
dispositivos para medição de vazão, frascos para coleta de água etc.

333
- - ~ - - - - - ~ · - · · ·- j

.
' .

Abastecimento de água para consumo humano

(
(
..< As reuniões com as lideranças e representantes da comunidade também devem
planejadas com antecedência e com esmero. Para a identificação dos interlocutores e P:;~
"'
w
O agendamento das reuniões, são muito importantes os contatos prévios feitos com:

• prefeito ou secretário municipal responsável pelo serviço de abaste ..




• cimento de água;
• pessoal responsável pelos serviços de saneamento básico no município;
• técnicos da área de saúde, geralmente atuantes em postos de saúde
e hospitais;
• dirigentes de associações comunitárias e de clubes de serviço;
• dirigentes do Conselho Municipal de Meio Ambiente;
• dirigentes de associação de proteção ao meio ambiente;
• lideranças religiosas, como padres e pastores, ou seus auxiliares
diretos; '

r • •
• técnicos da Emater - Empresa de Assistência Técnica e Extensão Ru-
rar, que gerafmente possui escritório em quase todos os municípios
1 dos estados onde atua;
1 • técnicos de outros órgãos estaduais e federais ligados à gestão de
recursos hídricos, ao desenvolvimento florestal, à proteção do meio
,t ambiente, ao exercício da engenharia (inspetorias do CREA), que por~
l ventura possuam representante no município de interesse;
• profjssionais da mídia local (jornais e rádios, principalmente).

Para as reuniões com a comunidade, o engenheiro precisa desenvolver um mfnimo de


1
1
habilidades relacionadas à comunicação social. No caso de projetos maiores, poderá inclu-
1
sive ser assessorado por profissional dessa área de conhecimento. Lembram-se alguns
requisitos a serem atendidos pelo responsável pela condução desse tipo de reunião: (i)
preparação prévia dos temas a serem abordados; (ii) franqueza e honestidade (transparência)
na exposição dos fatos; (iii) habilidade para incentivar a manifestação dos participantes,
lembrando sempre que os moradores da comunidade a ser beneficiada, por conheceremª
realidade local, podem dar importantes contribuições para a identificação das soluções
mais adequadas; (iv) capacidade de ouvir, analisar e debater com respeito e tranqüilidade
as sugestões recebidas.
Muitas vezes, em decorrência da exigüidade dos prazos impostos pelo contratante do
projeto, o engenheiro não dispõe do tempo desejável para a realização das observa-çõ:5 e
estudos sobre as características do manancial, que variam ao longo do ano hidro16.g,co,
limitação esta que é mais freqüente na elaboração de projetos destinados a pequena: 1
localidades. Para situações como esta, tornam-se ainda mais decisivas as seguintes prov,..
ciências:

• reuniões com pessoas que residam ou desenvolvam a·tividades na



localidade a ser beneficiada ou na bacia hidrográfica dos mananciais

.1
'

i
334 '
1

..

Captação de água de superfície I Capítulo 8

cogitados, para conhecimento da realidade local, dos melhores


mananciais e dos locais mais adequados para a captação destes últi-
mos, segundo a importante ótica de quem realmente conhece, pela
• A t. • · ,....

v1venc1a, a reg1ao em estudo;


• realização de análises de água (bacteriológicas e físico-químicas),
em que a escolha dos parâmetros a serem analisados seja feita a
partir das reuniões com a comunidade local e da inspeção sanitária
já ressaltadas;
• elaboração de estudos hidrológicos, para determinação das vazões
máxima e mínima do manancial, com base em estudos regionais sobre
deflúvios superficiais que abranjam o local de interesse, conforme abor-
dado no capítulo 6.

8.3 Tipos de captação de água de superfície

As captações de água de superfície podem ser de cinco tipos principais:

• captação direta ou a fio de água;


• captação com barragem de regularização de nível de água;
• captação com reservatório de regulari zação de vazão destinado
prioritariamente para o abastecimento público de água;
1 • captação em reservatórios ou lagos de usos múltiplos;
• captações não convencionais.

A captação direta ou a fio de água é aplicada em cursos de água superficial que


possuam vazão mínima utilizável superior à vazão de captação ·e que apresentem nível de
água mínimo suficiente para a adequada submergência ou posicionamento da tubulação
ou outro dispositivo de tomada.
l A captação com barragem de regularização de nível de água também se aplica a
cursos de água de superfície com vazão mínima utilizável superior à vazão de captação,
porém cujo nível de água mínimo seja insuficienle para a necessária submergência ou
1
posicionamento da tubulação ou outro dispositivo de tomada. Neste caso, o nível mínimo
de água é elevado por meio de uma barragem de pequena altura, também conhecida

como soleira, cuja única finalidade é dotar o manancial do nível de água mínimo necessário
à sua captação.
l
A captação com reservatório de regularização de vazão destinado prioritariamente ao
abastecimento público de água é empregada quando a vazão mínima utilizável do manancial

335

''

A&astedmento de ~gua para con.sumo humano

e
( de superfície é inferior à vazão de captação necessária. Neste caso, torna-se necessária a
.,
(
construção de barragem dotada de maior altura, suficiente para permitir o acúmulo de

volume de água que possibilite a captação da vazão necessária em qualquer época do ano

,

hidrológico, além de garantir o fluxo resíduar de água em quantidade adequada à manu-
1
' tenção da vida aquática e a outros usos a jusante da barragem. É obra cujo projeto e
construção são mais complexos do que o.s demais tipos de captação.
A captação em reservatórios ou lagos de usos múltiplos é aquela que se dá ern
reservatórios artificiais ou em lagos naturais cujas águas não tenham o seu uso príorítárro
relacionado ao abastecimento público de água.
As captações não convencionais são aquelas concebidas para permitir o emprego de
equipamentos de elevação ou recarque de água movidos por energia não convenóonal
como a eólica, a solar ou as provenientes de transiente hidráulico (golpe de aríete) ou ainda
do impulso proporcionado pelo jato de água. No item 8.9, apresentam-se alguns desses
tipos de captação .
r •

1
1

t 8.4 Dispositivos constituintes das captações de água de


superfície
L

Os dispositivos que podem estar presentes numa captação de água de superfície são
1 basicamente:

• tomada de água, que ocorre em todo o tipo de captação;


• barragem de nível ou soleira, utilizada em mananciais cuja lâmina
mínima de água é insuficiente para a necessária submergência do dis-
positivo de tomada de água;
• reservatório de regularização de vazão, para situações em que ava-
zão mínima disponível do manancial for menor do que a vazão de
captação;
• grades e telas, geralmente presentes em todo o tipo de captação;
• ~~sarenador, popularmente denominado caixa de areia, que é
ut,l_izado quando o curso de água apresenta transporte intenso de
sófJdos 1 .

1 Por transporte intenso de sólidos por um d · · •. ~ a , r t


Con r:ent,.aça-0 . · curso e água entende-se o transporte de sólidos sedimentáveis em s ~ --
. ... ,, superior a 1,0 gil {ABNT, 1992).

336
- - - ~ ---- ~

Captaçao de tigua de superffae I Capitulo 8

,
Nos próximos itens, cada um dos dispositivos relacionados anteriormente são apre-
sentados com detalhes, à exceção do reservatório de regularização de vazão, que não é
, detalhado neste capítulo por envolver técnicas muito espec'íficas, não condizentes com o
escopo mais geral aqui desenvolvido.

, 8.5 Tomada de água

A tomada de água é o dispositivo da captação de água superficial que tem por finali-
dade conduzir a água do manancial para as demais partes constituintes da captação.
Com base no grau crescente de complexidade, os tipos de tomada de água de super-
fície mais utilizados podem ser ordenados da seguinte forma:

• tubulação de tornada;
• caixa de tomada;
• canal de derivação;
• poço de derivação;
• tomada de água com estrutura em balanço;
• captação flutuante; ·
• torre de tomada.

A seguir, apresentam-se a descrição e a aplicação de cada um dos tipos de tomada


de água listados, assim como as condições gerais e específicas a serem observadas na
elaboração dos respectivos projetos hidráulicos.

8.5.1 Tubulação de tomada

É o dispositivo de tomada de água constituído por tubulação simples, que conduz a


água desde o manancial até a unidade seguinte, que pode ser um desarenador (Figura
8.2), a caixa de passagem de uma adutora por gravidade (Figura 8.3), o poço de sucção de
uma elevatória (Figura 8.4) ou até mesmo a sucção direta de uma bomba (Figura 8.5).

337
Abastecimento de água para consumo humano

-' roõ
e: Desarenador
. Poço

·Desarenador Poço
as ,

::.;
'
7 ~
.•
•• •
• •
•• •

Crivo
.

N. A.
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.•
Tubulação
- ·.

• • •
Crivo •
~- .. . ..'·
. •,• . •• •. • ·~__,
•• • .. '
.- .

Planta Corte

· Figura 8.2 - Tubulação de tomada com crivo, descarregando em desarenador (neste caso, conjugado
a poço de sucção) ·
Fonte: HADDAD (1997) •

'


Poço

N. A. -----i··
Poço \J • •

• 11 - - - - - - - - i \
• •
;)Ir •

••
Crivo •





,.
·. . • · .·. , " :. Adutora
por gravidade
Adutora •

por gravidade

Planta •

Corte
Figura 8.3 - Tubulação de tomada com crivo, descarregando em caixa de passagem
Fonte: HADDAD (1997)

Sucção

N. A. máximo
-
N. A. mínimo
-
Tubulação
o ••
Crivo • o
Válvula
• 4
a.___-.=-------'

Posto de temada
(Seção circular ou retangular)

. Figura 8.4 - Tubulação de tomada co . . .· . ..


~Fo-nte: OLIVEIRA (s.d.) · m crivo, descarregando em poço de sucçao

338
Captação de água de superflcie I Capítulo 8

Casa de bombas

.. •

N. A. máximo
" -

Vávufa da pé com crivo

. _ Figura 8.5 - Tubulação de tornada com crivo ligada diretamente à sucção de bomba
Fonte-: DACACH (1975)

Geralmente a tubulação de tomada é provida de um crivo (Figuras 8.2 a 8.5) ou de tubos


t perfurados (Figur-a,8.6), instalados em sua extremidade de montante e localizados dentro
do curso de água. Esta última opção é preferjda quando o curso de água possua margem
dotada de pequena declividade e quando a sua lâmina de água seja de pequena espessura.
'
N. A.
f "


1 Tubulação de captação
0 o0 o 0 o0 0 0 0
o o o oo oooo o

--
1

Figura 8.6 ~ Tubulação de tomada com tubos perfurados


-
Fonte: DACACH (1975) ·
'

1 A tubulação de tomada aplica-se a cursos de água perenes, sujeitos a pequena variação


de níver de água e que não possuam regime de escoamento torrencial com o arraste de
sólidos volumosos, que possam danificar, por forte impacto, a tubulação instalada no seio
l
da massa líquida.
A tubulação pode ficar apoiada sobre pequenos pilares de alvenaria, de concreto ou
de madeira, ou ainda sobre estrutura metálica.
Quando na extremidade de montante da tubulação for utilizado um crivo, recomenda-
se que entre ele e a tubulação exista uma curva de 45°, de modo que as abert,uras do crivo
fiquem voltadas a favor do senti'do da corre11teza, o que minimizará a possibilidade da
obstrução do crivo ou de impactos que possam danificá-lo.

339

Abastecimento de água para consumo humano

A proteção do crivo contra impactos pode ser feita também pelo seu envolvimento
com uma.gaiola de madeira, de concreto ou de metal.
As aberturas
. do crivo ou dos tubos perfurados devem apresentar área total bem maior
do que -a seção da tubulação de tomada, a fim de que as obstruções que nelas vão se
·pro.ce~sando,.e q,ue são responsáveis pelo aumento da perda de carga nesse tipo de toma-
da qe ~gua, não exijam limpezas freqüentes do crivo.
Para ·que a tubulação de tomada possa se ligar diretamente à sucção de bombas
.centr[fug_a~ ·comuns é necessário que o curso de água não apresente transporte intenso de
sólido_s (definido no item 8.4) e que seu nível mfnimo de água possibilite a necessária
subm~rgência1 para que a tubufação de tomada possa funcionar como tubulação de sucção.
Se o conjunto motobomba estiver instalado nas margens do curso de água, como indicado
ná 'Figura 8.5, é necessário também que a diferença entre o nível do eixo da bomba e o
nível mínimo do manancial não exceda a capacidade de sucção da bomba.
Em captações de água de pequeno porte, instaladas em rios de regime de escoamento
••

,
tranqüilo, têm sido usadas mangueiras plásticas como tubulações de tomada ligadas à
!' sucção de conjuntos motobomba de eixo horizontal, instalados na margem do curso de
água e protegidos sob pequena caixa de alvenaria.
Um outro tjpo de tomada de água direta com conjunto motobomba é o que utiliza as
r
denominadas bombas anfíbias modulares. Como ilustrado na Figura 8.7, é uma solução
interessante por dispensar a construção de casa de bombas, por minimizar as obras na mar-
gem dos cursos de água superficiais e por não ficar limitada por problemas de altura máxima
de sucção, visto que o equipamento é instalado dentro do curso de água. Não obstante, há
a necessidade de uma altura mínima de lâmina de água no local de sua instalação.

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1

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N. A.


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"

Conjunto motobomba
submersível
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340 • '

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Quadro 8.1 - Orientações para a elaboração de projetos de tomadas de água


Tipos de tomada
Orientações* Tubulação caixa de canal de Poço de Em Torre de
Flutuante
de tomada tomada derivação derivação balanço tomada

Posição em relação à trajetória do curso de água: deve situar-se em trecho reto ou próximo X X X X X X X
à margem externa do curso de água* (ver Figura 8.1)
Velocidade da água nos condutos livres ou forçados: deve ser maior ou igual a 0,60m/s* X X X X X X X
(para evitar a deposição de sólidos suspensos na massa líquida)
Número de tomadas: em cursos de água com transporte intenso de sólidos(!>deve haver, no X X X X (4) (4) X
mínimo, uma entrada de água para cada variação de 1,SOm do nível de água*
Ancoragem e proteção: os dispositivos de tomada devem ser ancorados e protegidos contra a X X X X X X
X
ação das águas*
Válvulas ou comportas de controle de fluxo de água: as tubulações de tomada devem ser
dotadas de válvulas ou de comportas para a interrupção do fluxo de água, com possibilidade X X X X X X X
de fácil acesso e manuseio*
Percurso entre a tomada de água e o desarenador: deve ser o mais curto possível* X X X X X X X

Combate a vórtice: nos casos em que possa ocorrer vórtice na entrada de tomada de água, X X X X X
deve ser previsto dispositivo que evite a sua formação
Proteção ~ontra solapamento: existindo a possibilidade de que, por ação das águas, ocorra o
solapamento d.o solo em que o dispositivo de tomada estiver instalado ou ancorado, deverão X X X X X X X
ser previstas fundações profundas para o seu apoio ou proteção do solo com enrocamento
Tomada de água diretamente por bombas: é admítlda quando: a) for dispensável o
desarena.dor; b) for indispensável o recalque para transferir água do manancial para o desare- X .X X X X
nador; e) a população de projeto for inferior a 10.000 habitantes, a critério do contratante
Altura livre em relaçãa ao leito do curso de água: igual a pelo menos 0,30m acima do
leito do curso de água para evitar a captação de sólidos decantados (lama) ou arrastados no X X X X X X X
fundo dos cursos de águam
Subnrergênçf.a em relação ao nível mínimo de água do manancial : a profundidade de sub-
mergência deve ser suficiente para superar a perda de carga no dispositivo de tomada e também
para, evitar: a) entrada de materiais flutuantes na tubulação de tomada de água incluindo algas I X X X X X
cianemctéf ías OlJ ,s.eu a.€élmulo em' crivos; b) o choque de materiais flutuantes pesados com o
13
dispositivo dê tem9cfa; e) entrada de ar na sucção de bombas usadas em tomadas de água >
- -
* /J.s ~ões ~irtaladas com asterísGo constam da NBR 12.213 (ABNT, 1992). •

<1>Sólidas sedimentáveis em suspensãe maior que 1,0 g'l. (ABNT, 1992).


(2) Quanto maior for a quantidade de lama, tanto maior deve ser essa altura livre. Se a captação for com barragem de nfvel, essa altura deve ser de no mínimo 0,60m para fazer face ao depósito de sólidos
-
que ~ralrnente se forma a montante de barramento. -
......
<3) Para evitar a entradà e choque de material flutuante,. a submergênda é função do porte e da velocidade da água do manancial. Em córregos e ribeirões normais, 20cm costuma ser um valor adequado. -o
,C

(X)
(4) Deve possuir mecanismo para posicionar o dispositivo de tomada (bomba ou tubulação) com a submergênda adequada, conforme previsto neste tópico.
Abastecimento de água para consumo humano

Exemplo 8.1

Dimensionar uma tubulação de tomada de uma captação de água de


superfície destinada a uma comunidade com população de projeto de
2 .000 habitantes, consumo per capita médio de água macromedido
de 150 Uhab.dia e coeficiente de reforço do dia de maior consumo
(k 1) igual a 1,2. As unidades de produção de água deverão ser projeta-
das para funcionarem no máximo 16 horas por dia. O comprimento da
tubulação de tomada é de 5 m e ela descarrega num poço de tomada,
a exemplo do mostrado na Figura 8.4.

Solução:

• Vazão de captação
Q = 2000 x 150 x 1,2 / (16 x 3600) = 6,25 Us = 0,00625 m3/s

• Diâmetro da tubulação de tomada
Velocidade mínima: 0,6 m/s
V= Vazão/ Seção do tubo ==> V= O/ (nD 2!4) =40 / (nD 2) (8.1)
Donde: D= [40 ./ (1tV)Jº·5 (8.2)

Substituindo, com Q em m3/s e V em m/s (as unidades de medida de-
vem ser compatíveis entre si):
D = [4 x O, 0062 5 / (3, 14 x O, 6)]º·5 = O, 115 m = 115 mm
Escolhe-se, então,. o diâmetro comercial (DN) igual ou imediatamente
inferior ao diâmetro calculado (para que a velocidade não fique inferior
ao valor mínimo estabelecido):
l
Logo: DN = 100 mm
• Velocidade da água na tubulação de tomada
Sendo o diâmetro da tubulação de tomada calculado igual a 100 mm
ou O, 100 m, tem-·se, pela Equação 8.1:
V= 4Q / (1tD2) =4 x 0,00625 / ( 3, 14x0, 1002; = 0,80 mls (V> 0,6 mls
~ OK)
• Perda de carga na tubulação de tomada (ht1)
3
Pela fórmula de Hazen - Williams ( com as unidades em m ou m /s):
h,= 10,643xlx(QIC) 1·85. Q -4,8 7
sendo L =5,0 m ( conforme enunciado do problema) e adotando C=130
(para tubo de ferro fund ido revestido internamente com argamassa de
cimento):
h 11 = 1O, 643 x 5x (O. 00625 / 130)1,85 x o. 100·4,87 = 0.041 m
• Perdas de carga localizadas (ht2)
Pela fórmula de cálculo de perd as de carga localizadas:

342

- -- --· ·
Captação de água de superfície I Capítulo 8

2
h, = (Lk) v 1 2g (8 .3)
Adotando para a tubulação de tomada o desenho da Figura 8.4, tem-se:
- crivo comercial : k == o, 75
- válvula de gaveta : k = 0,20
- saída de tubulação: k == 1,00
'Lk = 1, 95
Donde h, 2 = 1,95 x 0,802 1 (2x9,BO) = 0,064 m
• Perda de carga total
h, = hf1 + h,2 == 0,41 + 0,064 = O, 105 m
Ou sej~, a perda de carga nesta tubulação de tomada é muito pequena.
Exclustvamente para compensá-la, a submergência da tubulação de
tomada teria de ser de apenas O, 105 m ou 1o,s cm.
(Caso a tubulação de tomada fosse constituída de tubos perfurados,
o cálculo da perda de carga nos orifícios de tubo perfurado seria
feito pela fórmula aplicada a orifícios Q = Cd5(2gh)º,s, em que: Q é a
vazão por orifício, calculada dividindo-se a vazão de captação (multipli-
cada por um coeficiente de segurança de 1,5) pelo número de orifícios a
serem perfurados nos tubos de tomada; S é a seção de cada orifício; Cd,
coeficiente de descarga, pode ser adotado como igual a 0,6; g é a acele-
ração da gravidade (9,8 m/s2) eh, a perda de carga que se quer calcular
- todos os valores em metros ou em suas unidades múltiplas.

t
8.5.2 Caixa de tomada

É uma variante da alternativa com tubulação de tomada, empregada quando o


curso de água apresenta regime de escoamento torrencial ou rápido, colocando em risco
a estabilidade de tubulações instaladas no seio da massa líquida, pela possibilidade da
colisão destas com sólidos pesados, transportados pelo curso de água em épocas de
fortes chuvas. Para essas situações, é mais indicado que a tubulação de tomada seja
substituída por uma caixa de tomada instalada na margem do curso de água, como
ilustrado na Figura 8.8. Contudo, ela não se aplica quando for muito reduzida a altura da
lâmina de água mfnima do manancial, quando a calha molhada deste se afastar muito
das margens nos períodos de grande estiagem ou quando ocorrer excesso de algas no
manancial (neste último caso, a tomada subsuperficial é um imperativo, inclusive quando
conjugada a barragem de nível).

343
Abastecimento de água para consumo humano

-ct1
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(.)
e: Caixa de tomada
cc Poço ·
e: Poço com grade • •
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N. A. • •

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com grade

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Tubulação

Planta Corte

Figura 8 .. 8 - Caixa de tomada de água em capta ção a fio de água


Fonte: HADbAD (1997)

As·(aixas·de tomada são dotadas de grade em sua entrada, cujo dimensionamento é



objeto do.item ·8.7 .. Como se pode ver na Figura 8.8, após a caixa de tomada pode haver
uma tubulação interligando-a à unidade subseqüente. Quando após a caixa de tomada for
utilizado um canal, então este tipo de solução passa a ser denominada canal de derivação,
descrito no próximo item.
No Quadro 8.1, apresentado no item 8.5.1, estão resumidas orientações importantes
para a elaboração do projeto das caixas de tomada.

8.5.3 Canal de derivação

É utilizado em captações de médio ou grande portes, cumprindo ao mesmo tempo as


funções da caixa de tomada e do canal que interliga aquela à unidade subseqüente, como
se exemplifica nas Figuras 8.9 e 8.1O. Não se aplica a captações de pequena vazão, isto
devido à prescrição da velocidade mínima de 0,60 m/s para o escoamento da água em
tubulações e canais de tomada de água (canais para pequenas vazões com essa velocidade
teriam dimensões por demais diminutas para viabilizar sua construção e manutenção). No
mais, as situações em que o canal de derivação se aplica e as situações em que ele deve ser
evitado são semelhantes àquelas descritas para a caixa de tomada no item anterior (inclu-
sive nos casos de ocorrência de excesso de algas no manancial, quando esse tipo de solu-
ção deve ser evitado). .
Geralmente os canais de derivação são dotados de grade em sua entrada, como se vê
nas Fi,guras 8.9 e 8.1 O. O dimensionamento das grades é apresentado no item 8.7.
Também no Quadro 1, já referido anteriormente no item 8.5.1 , apresentam-se impor-
tantes orientações para a elaboração do projeto dos canais de derivação.
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344
- - --------------~--- . · · -·

Captação de água de superfície I Capítulo 8

Grade Poço de tom ada Desarenador Poço



. Grade
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Caixas de areia
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Planta Corte
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• _ · Figura 8.9 - <:anal de derivação e desarenador afastado da margem do curso de água
Fonte: HADPAD {1997)

Grade Poço de tomada


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Caixas de areia
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Planta Corte
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_ Figura 8.1O - Canal de derivação e desarenador posicionados junto ao curso de água
t Fonte: HADDAD (1997)
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•.

.'
8.5.4 Poço de derivação
r

Consiste de um tubulão construído na margem de rios ou ribeirões que seja inundável


e que apresente declividades acentuadas, como se exemplifica na Figura 8.11 .
Quando a variação de nível de água do rio for acentuada, pode-se adotar mais de uma
tubulação de tomada, como se mostra na Figura 8.12.
Antes do advento das bombas resistentes à abrasão, esse tipo de solução só era viável
em cursos de água com reduzido transporte de sólidos. Com a entrada no mercado nacio-
.•
nal desse tipo de bomba, sobretudo os conjuntos motobomba submersíveis para esgoto e, ,j
'

posteriormente, para água bruta, esse tipo de solução passou a ser utilizado também em
cursos de água cujo transporte de sólidos é maior.
O uso de conjuntos motobomba submersíveis aplicáveis à água bruta possibilitou
soluções muito simples e baratas, com poços de dimensões red1..1zidas e sem apresentar
• ,.
inconvenientes sérios no caso de· ser inundado, não obstante o custo , mais elevado

345 ..

• •
Abastecimento de água para consumo humano

desse tipo de equipamento em relação às bombas centrífugas comuns, de eixo hori-


zontal.
Esse tipo de solução tem sido também empregado em cursos de água que, além de
.possuírem margens inundáveis, apresentam regime de escoamento torrencial, funcio-
nando o poço de tomada como proteção do conjunto motobomba submersível contra
1 O
.seu a rraste pela água e contra o seu impacto com corpos de maior peso arrastados pela
correnteza .
No caso de alturas manométricas excessivas, pode-se cogitar a utilização de uma
instalação
• de recalque convencional intermediária entre a captação do tipo em estudo

e o l9cai de destino final da água bruta. A captação com poço de derivação e conjunto
róOtobqrhba submersível para água bruta funcionaria, assim, como uma elevatória de
'lf, •

b~j~~ recalque, conjugada à elevatória convencional de alto recalque. Tudo irá depen-
d~F·ãt> E!studo econômico que considere as diversas alternativas possíveis de captação
e recalqu,e.
·J

l
No Quadro 8.1, apresentado no item 8.5.1, estão resumidas orientações importantes
para a elaboração do projeto dos poços de derivação.
.••
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1 •

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N. A. máx. •

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1.
1 N. A. mín. •

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Crivo •

Conjunto motobomba
Figura 8.11 - Poço de derivação com apenas uma tomada de água
Fonte: DACACrH ( 1975)

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346

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Captaçao de água de superfície I Capltu lo 8

Poste com bandeira


para orientar navegação .. ... • • . .

~
- Casa de bombas ~
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lif\• • • -
• ••••• • • • -
.:... -
N. A. máx. - 430,46 •


.
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• ... ..

, Poço ••

Caixa de concreto
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O n / 'l428,00 • '
•• •
N. A. mín. - 426.21 ~N. A. méd. -427,00 ~ ~ ~ m_ 1, • •
., , sucção
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o/ 425,50 .,
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- ' !!" •

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• '• •• •• • . .•

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.... . • Tomada 2
I Tomada 1 Gaiola

Figura 8.12 - Poço de. derivação com duas tubulações de tomada de água
-Fo-nte: DACACH (1975)

8.5.5 Tomada de água com estrutura em balanço

É um tipo de captação em que a tomada de água é feita por um conjunto moto-


bomba submersível para água bruta, resistente à abrasão, que fica suspenso dentro do
curso de água, por exemplo, por meio de uma corrente integrada a uma talha que pode se
movimentar ao longo de uma viga em balanço, geralmente do tipo treliça, instalada trans-
versalmente ao curso de água (ver Figura 8.13). Seu emprego tornou-se possível após o
advento dos conjuntos motobomba submersíveis para água bruta.
Aplica-se a rios pouco encaixados, com grande oscilação do nível de água, tanto em
profundidade como no afastamento às margens.
Treliça

N. A. máximo

N. A. mínimo

Mangote flexível

Bomba submerslvel
-=--- Figura 8.13 - Tomada de água com estrutura em balanço
Fonte; HADDAD (1997)

Outras orientações para a elaboração do projeto deste tipo de tomada de água cons-
tam do Quadro 1, apresentado no item 8.5.1 .

347
--------. - . - . ···- ·--·~"- '""":"~--~

Abastoclniônito dó Ag uo pare consumo humano

8.5.6 Captação flutuante

Éa modalidade de to.macia de água que se aplica sobretudo er11 lagos ou represas,


mas também em rios maiores com regime de escoamento tranqüilo ou fluvial, sem
arraste freq,üente de sólidos flutuantes de grandes díroensões e dotados de grande
largura e profun,didade, mesmo em períodos de estiagem, Tern sido rnaís utilizada em
Siistetnas de pequenas e médias comunidades, como alternatíva rnais econômica às
captac;ões convencio,nais com torre de tomada, de custo mais elevado e incompatível
com a 'Viabilídade econômico-financeira dos sistemas de rnenor capacidade.
Pode ser de três diferentes tipos:
• com motor e/ou bomba não submersíveis, instalados ern balsa (Figura 8.14);
• com conjunto motobomba submersível suspenso por f lut uadores
,,,- ,. '
(Figura 8.15);
r:
1,
'

• com to.macia de água flutuante (Figura 8. 18).


1
• •
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·-e:
(.)

<tJ
1 e:
«)
~

/1 Flutuadores
8.alsa Mangote
1
",.
Planta Corte
Figura 8. 14 - Tomada de água com conjunto motobomba f lutuante ínstalado em balsa
---
Fonte: HADDA_D (1997)

A captação com conjunto motobomba não submersível instalado em balsa (Figura


8.14) ap'Jica-se a situações em que não seja economicamente indicada a utilização de con-
juntos submersíveis, visto que este tipo de equipamento costuma apresentar cinco desvan-
tagens em relação _aos conjuntos motobomba convencionais (de eixo horizontal e ~ara
instalação obrigatória sob abrigo): maior preço de aquísíçáo, menor rendimento, men@res
vazões, menores alturas manométricas e maior risco de danos sígnifícativos por chocque's

com sófidos flutuantes de maior massa, arrastados pelo rio. Essas.desvantagens to~nar,n-se
tanto mais significatívas quanto maiores forem as vazões envolvidas.
Em contrapartida, tem-se que a sustentação por rneio de flutuadores, uttHza~a na ·
alternativa com conjuntos r:notob0ml:Da swbmersíveís,(Fígura 8..15}, tende a apresemtar ffie·
nor cu.sto do que a constru~ão da balsa. Logo, a adoção de uma-ou de outrca·~as dwas

348
• •


- . _ .. _ - -4 -·

Captação de água de superfróe I ap1tulo 8

prime;ras modalidades listadas (com conjunto motobomba instalado em balsa ou suspenso


por meio de flutuadores) vai depender da realização de estudo técnico-econômico compa-
rativo entre as duas alternativas. Nesse tipo de estudo, há a tendência de que a alternativa
com balsa seja mais vantajosa nos sistemas de maior porte (com maiores vazões de captação),
enquanto qu,e a modalidade que emprega flutuadores é mais indicada para as captações
de menores vazões.

Flutu.ador de ~ustentação
para bomba submersível ""'
~

Bóia de sustentação
N. A.
",
,
-
.....
'\
/ para mangueira flexível

V r
• '..........
Mangueira flexível
/
Cabo de aço ~

1 1

Blocoj,de concreto
com alça de ferro ""'
" í'Bomba
submersível
para ancoragem ~r.., r., -

~
Figura 8.15 - Tomada de água com conjunto motobomba suspenso por flutuadores
Font e: CETESB (1979)

·.
Já a terceira modalidade, em que apenas a tomada de água é flutuante (Figura 8.16),
tem a sua viabilidade econômica dependente da amplitude da variação do nível de água do
·1

.
'
manancial e também da topografia, da geologia e da extensão da área inundável no local
onde ficará o poço que irá receber a água da t(?mada
.
flutuante. Se tais condições deman-
dar:em um poço muito profundo a ser construído erry local inundável ou com geologia
desfavorável, essa alternativa poderá se tornar economicamente desaconselhável. Como
.•
decorrência dessa limitação, este tipo de tomada de água não é muito usual, sobretudo
quando a captação é feita em lagos naturais.
Qualquer que seja a modalidade de captação flutuante escolhida, atenção especial
deverá ser dispensada à fixação ou ancoragem da estrutu_ ra flutuante, principalmente quando
ela é instalada em rios, em que a ação de arraste pela água é mais significativa.
Outra característica desse tipo de tomada de água é a necessidade de que a tubulação
seja flexível, o que hoje.é facilitado pela existência de tubos de material plástico de grande
resistência a esforços internos e externos.
No Quadro 8.1, apresentado no item 8.5.1, resumem-se outras orientações de caráter
• 1
geral para a elaboração do projeto de captações flutuantes.

349
Abastecimento de água para consumo humano

Bóia N. A.
'1
- -
\ ~
Para o paço de tomada
º~~\~ Poço -,

Bóia Mangote flexível


/
Mangote flexível
Barragem de nível

Planta Corte parcial

Figura 8.16 - Tomada de água flutuante


Fonte: HADDAD (1997)

8.5.7 Torre de tomada

1 É a modalidade em que a tomada de água é feita por meio de uma torre de grandes
dimensões, com entradas de água em diferentes níveis, a exemplo do que se mostra na
Figura 8.17.
É um tipo de tomada de água que, pelo seu maior custo, é indicado para grandes
1

sistemas de abastecimento de água cuja captação se faz em lagos, em reservatórios de


regularização de vazão ou em grandes rios dotados de grande variação no posicionamento
do nível de água, tanto em profundidade como em afastamento às margens. A NBR 12.213
(ABNT, 1992) estabelece que a sua utilização deve ser precedida de estudo técnico-econô-
mico que considere também as outras alternativas tecnicamente viáveis.
A torre de tomada pode funcionar apenas como um dispositivo de tomada de água
ou, simultaneamente, como tomada de água e elevatória. Isso vai depender do porte do
sistema e das condições topográficas do terreno nas suas imediações. Quando funciona
também como elevatória para grandes vazões, os equipamentos de bombeamento de
água são geralmente conjuntos motobomba de eixo prolongado, ficando o motor no piso
situado acima do NA máximo do manancial e a bomba centrífuga, instalada no poço com
água, abaixo do NA mínimo e com a necessária submergência.
Neste tipo de tomada, é importante levar em consideração, além das oscilações do
nível de água, as variações da qualidade da água em função da profundidade.
As águas represadas favorecem o desenvolvimento de algas (inclusive cianobactérias),
principalmente nas camadas superiores, onde é mais elevada a temperatura e mais intensa
a penetração dos raios solares.
Já nas camadas inferiores costuma ocorrer água com teores excessivos de matérja
orgânica em decomposição e também metais como ferro e manganês, favorecendo o

350
Captação de água de superfície I Capítulo 8

desenvolvimento de compostos causadores de cor e também de odor e gosto desagra-


dáveis. Este fenômeno acentua-se nos períodos de temperatura mais elevada, em que o
processo de decomposição é mais intenso. Assim sendo, a vazão residual pode comprometer,
outrossim, as águas de cursos de água situados a jusante de represas ou lagos que apresen-
tem o problema em questão, sobretudo quando as vazões dos cursos de água são insufici-
entes para a desejável diluição da carga poluidora em consideração. Para fazer face a esse
problema, torna-se fundamental a adequada operação das entradas de água que ficam
posicionadas em diferentes profundidades na torre de tomada, além da correta gestão e
manejo do lago ou represa e de sua bacia hidrográfica.

Casa de

manobras 11 I Ponte de acesso


N. A. 32,50 m •


• •


• •

-
- .
...,.,. . ..
. .

Tubo
Corte CC

.
•' e

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I_ 11 - - ~. . 3 , . L _ I - . - ~ ~ ~ ~ ~
: ---L - - 1
~==t#f.=#----~M.

Planta

___ Figura 8.17 - Torre de tomada


Fonte; YASSUDA e NOGAMI {1976)

351
A.basteclmento de água para consumo humano

Os depósitos de sedimentos são favorecidos muitas vezes durante a construção dos


tagos ou represas artificiais, quando não se faz a necessária limpeza da área a ser inundada.
Outro fator que pode agravar essa situação é a utilização inadequada da bacia hidrográfica
contribuinte para o lago ou represa, com a geração de volumes significativos de esgotos e
de sólidos lançados nas águas como decorrência de atividades urbanas, industriais, agrícolas
ou minerárias mal posicionadas ou desenvolvidas sem os· necessários cuidados. Além do
correto manejo da bacia hidrográfica, é fundamental que haja uma área de proteção no
entorno do lago ou represa, com a proibição de atividades que possam prejudicar a quali-
dade da água represada.
A instalação de uma descarga de fundo junto à torre de tomada em lagos ou represas
também pode contribuir, ainda que apenas ao seu redor, para a minimização dos proble-
mas relacionados aos depósitos de sedimentos em questão. Na Figura 8.17, por exemplo,
a tubulação mais inferior poderia funcionar como descarga de fundo, descarregando não
no interior da torre de tomada, mas a jusante da represa ou do lago.
Atenção especial deve ser dispensada também à operação das torres de tomada em
lagos ou represas durante a ocorrência do fenômeno conhecido como inversão térmica,
que acontece sobretudo nos dias mais frios do ano, quando a temperatura da água nas
camadas inferiores fica maior do que nas camadas superiores. Nessas ocasiões, há o
revolvimento das camadas de água mais profundas do lago ou represa, que ascendem
para níveis superiores carregando consigo sedimentos indesejáveis. Isso ocorrendo, pode
se tornar indispensável a interrupção da captação de água, até que o lago ou represa
volte a apresentar co·ndições satisfatórias para a sua utilização.
Outras orientações para a elaboração do projeto deste tipo de tomada de água cons-
tam do Quadro 1, apresentado no item 8.5.1 .

8.6 Barragem de nível

A barragem de regularização de nível ou, simplesmente, barragem de nível é um muro


de pequena altura (l a 2 metros) construído perpendicularmente a um curso de água
superficial, com a finalidade de dotá-lo de altura de lâmina de água que seja suficiente para
a derivação ou captação de suas águas.
Aplica-se a cursos de água de superfície cujo nível de água mínimo (NAmin) seja por
demais reduzido. Recebe também a denominação de soleira. A Figura 8.18 ilustra uma
configuração típica desse tipo de obra. Na situação mais rudimentar, é construída com
blocos de rocha simplesmente colocados no curso de água, quando recebe a denominação
de enrocamento.

352
(Q-·
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~ Tubulação Desarenador Poço
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1 ' - Barragem de nível

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Planta CorteAA

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Abasteclm,e nto de água par,a consumo humano

Tipo de maciço e partes constituintes

As barragens de nível são geralmente construídas em concreto simples ou em alvena-


ria de pedra, devendo resistir à pressão ou empuxo da água pelo seu próprio peso. Sua
seção transversal costuma ser próxima a um triângulo retângulo, conforme ilustrado na
Figura 8.18. Suas partes constituintes, indicadas na mesma Figura 8.18, são:

• ombreiras: têm por finalidade a composição com as marg·ens do cur-


so de água, devendo ter um comprimento de encaixe (nas margens)
suficiente para impossibilitar a percolação lateral da água; deve pos-
suir também altura e largura que facilitem o trânsito de uma pessoa
das margens do curso de água à parte superior da barragem;
• vertedor: é o corpo principal da barragem, tendo por finalidade es-
coar a vazão excedente do manancial; sua parte superior é denominada
soleira do vertedor e seu dimensionamento é feito para a vazão de
cheia do curso de água;
• fundação: é a parte do maciço da barragem construída no subsolo,
que tem por finalidade impedir o afundamento e o arraste da estrutura,
e também não p~rmitir a percolação da água por debaixo da obra;
• descarga de fundo: é a tubulação colocada junto à base da barra-
gem, com dupla finalidade: permitir a passagem da vazão residual
obrigatória (vazão ecológica somada à vazão para as atividades
desenvolvidas a jusante) e auxiliar na limpeza dos sólidos retidos ime-
diatamente à montante da barragem;
• bacia de dissipação: é a superfície do talvegue do curso de água que
fica imediatamente abaixo do vertedor da barragem. É geralmente
revestida com pedras, para evitar a erosão do solo pela água que
extravasa pelo vertedor. Quanto mais alta for a barragem, tanto
melhor deve ser a proteção dessa área.

Altura da barragem de nível

A altura da parte externa da barragem de nível deve ser tal que permita o adequado
posicionamento da tomada de água que, conforme foi visto no item 8.5.1, deve ficar a
, •·
pelo menos 0,60 m acima do fundo e a não menos que 0,20 m abaixo do NA m1n1mo
garantido pela barragem. Respeitando, com alguma folga, esses desníveis mínimos, a altu-
ra externa da barragem de nível dificilmente é superior a 1,5 m.
Já no que se refere à altura da janela ou do vão destinado a conter a elevação da água
sobre a soleira do vertedor, esta deve ser calculada com base na vazão de cheia do curso de
água e no comprimento do vertedor, que pode ocupar toda a largura do mesmo curso de
água. Esse cálculo é apresentado no tópico relativo ao vertedor, apresentado mais à frente.

354
Captação de água de superfície I Capitulo 8

Base da barragem de nível

Em s.e tratando de uma pequena barragem de gravidade, o seu maciço deve resistir ao
empuxo da água pelo seu próprio peso. Sendo construída em concreto simples ou em
alvenairia de pedra, terá de trabalhar somente à compressão. Para tanto, a resultante das
forças que sobre ela atuam deve passar pelo terço médio de sua base, como se mostra na
Figura 8. 19.

N. A.
'J

2H/3

E
H/3
p 1
-
'
- ,R
A e ' B

b/3 b/3 b/3 ººº


o ºº
(
b J
Figura 8.19 - Barragem de nível: esquema para dimensionamento de sua base

Na Figura 8.19, estão representados:

• hc: altura máxima da lâmina de água sobre a soleira do vertedor,


calculada para a vazão de cheia, como será visto no tópico relativo ao
'f
'
vertedo·r;
• h : altura externa da barragem no seu vertedor;
• H: altura máxima -da lâmina de água sobre a base da barragem, sen-
.. do igual à soma de hc com h;
• E: empuxo da água sobre o maciço da barragem;
• P: peso do maciço da barragem;
• b: largura da base da barragem que se deseja calcular;
• H/3 e b/3: posição dos pontos de aplicação, respectivamente, das
forças E e P;
• 'Ya: peso específico da água;
• 'Yb: peso específico do material de construção do maciço da barra-
gem.

355
,
Abastecim en to de ág ua pa ra consum
o hu m an o

.. d .
Ut1hzan o a sim b. olog·,a acima' O cálc
.
ulo da \argura (b) da base da barrage
m éi .
.
como se mostra a segu.,r. Da Física e da H1dráu\1ca, tem-se, para uma barragem com ,eito
primento igual a L: co rn-

E = ("fa ·H2 12) . L (8 .4)

p = ("fb·b.h /2) . L
(8.S)
Tomando-se os momentos das torças
P e E em relação ao ponto B da Figu
ra 8.19 ,
resulta a equação de equil(brio:

E.(H/3) =P.(b/3) ~ E.[(h+hJ /3] = P.(b/3) (8.6)


Substituindo nesta última equação os
valores de E e P dados pelas Equações 8.4 e
8.5 :

'Ya·H3 /6 = "fb·b2.h /6
Donde, finalmente :

b=
(8.7)

V e rt e d o r

Usualmente costuma-se adotar para o v


ertedor da barragem o perfil conhecido
Creager que, a\ém de favorecer o ráp como
ido escoamento da vazão ou descarg
ocorrência de efeitos nocivos à estrutu a, impede a
ra, a exemplo das pulsações e vibraç
líquida. Tal estrutura é particularmente im ões da veia
portante para vazões de cheia de maiore
A Figura 8.20 e a Tabela 8 .1 fornecem s valores.
os elementos para o projeto do re1e
Creager. Os valores da tabela são válidos rido perfil
para hc ::: 1m. Para outros valores de hc
dessa tabe\a devem ser multiplicados p , os valores
e\o valor real de hc·
Tabela 8.1 - Coordenadas p a ra o tr a ç a
do d o perfil c re a g e r p a ra vertedor de barrag
e~
X Y X y
0,0 X y -
O, 126 0 ,6 0 ,0 6 0 0,870
O, 1 0,036 1,7
0,2 0,8 O, 1 4 2 2 ,0 1,220
0,007 1,0 0 ,2 5 7 1,960
0,3 0,000 2 ,5
0 ,4 1,2 O,3 9 7 2,820
0,007 1,4 3 ,0
O,5 6 5 3 ,5 3,820
Obs.: x e y deve m te r a mesma unidad
e de med ·1da de
co mpr.imento .
Fo n te: AZEVEDO NITTO et ai. (1998)

356
--·~~~~~-------------------------------~~-
Captaçao de água de superfície I Capítulo 8

0,126 <1

<J
4 <1

0,397 ----- --~


,1 - - - - - --- - ·- - <1

<1
<1

4 <1
4
<1
'

<J 4
4 <1 4

<1
y

Figura 8.20 - Perfit Creager para vertedor de barragem

Éinteressante observar que os valores de y da tabela acima, a partir de y == 0,87 m, são


muito próximos dos valores de b calculados pela Equação 8. 7 (para hc = 1,0 me maciço em
concreto simples), como se mostra na Tabela 8.2. Isso permite concluir que o perfil Creager
deve .ter sido idealizado para permitir, a um só tempo, o melhor escoamento da água e a
estabilidade do maciço da barragem.

Tabela 8.2 - Comparação entre os valores de x e b para barragem com perfil Creager*
y (m) x (m) b (m)
(tirado .da tabela) (calculado pela Equação 8.7)
O,87 1,7 1,768
1,22 2,0 1,932
1,96 2,5 2,346
2,82 3,0 2,868
3,82 3,5 3,492
* com he = 1m

o cálculo da altura de sobrelevação (hc) da água sobre a soleira do vertedor com perfil
Creager é feito pela seguinte equação:

Q = 2,2 L H312 (8.8)

Em que:
Q: vazão que escoa pelo vertedor (m 3/s);
L: comprimento da soleira .do vertedor (m);
H: altura da lâmina da água sobre a soleira do vertedor (m) = hc no caso de
vazão de cheia.

357

Ab,asteclmento de água para (onsumo humano

1 ' '. • )i, .. Q


- •

Exemplo 8.2
----
Dimensionar uma barragem ~e. nível em concreto simples, com perfil
Creager, para a vazão de cheia igual a 1200 Us . A largura do córre
no local da barragem é de 3 m e a vazão residual para atender a~~
usos de jusante e à vazão ecológica é de 45 Us.

Solução:

• Definição da altura da barragem de nível (h ou y) no trecho de seu


vertedor
Adotou-se h = y = 1,5 m, de modo a garantir a altura de 0,8 m para O
dispositivo de tomada de água, em relação ao fundo do córrego (para
evitar arraste de lama), e uma lâmina d'água de 0, 7 m para afogamento
do dispositivo de tomada (para evitar entrada de ar e possibilitar o
escoamento por gravidade da água captada até o desarenador).

• Definição da altura máxima da lâmina d'água sobre a crista da bar-


ragem (h,)
Como primeira tentativa, admitiu-se que todo o maciço livre da barra-
gem funcione como vertedor. Logo, a Equação 8.8 da vazão no perfil
Creager fica assim:
Q = 2,2 L H312 ~ 1,2 = 2,2 *3,0* hc3J2 => hc = 0,32 m (valor bastante
satisfatório para uma pequena barragem de nível como a barragem
em questão)~ Logo, será adotado o perfil Creager em todo o maciço
livre da barragem.
(Deve-se observar que valores de hc > 1m implicam maior impacto da
água no pé a jusante da barragem, além de poder resultar maior inun-
dação de áreas a montante da barragem .)

• Cálculo da largura da base da barragem (b)


Na Equação 8. 7, tem-se, para a água, 'Ya = 1000 kgf/m 3 e, para o con-
creto simples, 'Ya = 2400 kgf/m3. Donde:
b = [(1000/2400),.(1,5 + 0,32)3/1,5)112 ~ b = 1,29m

• Cálculo das coordenadas para construção do perfil Creager d 1


Sendo hc = 0,32 m, os_valores de. x .e de y da Tabela 8. 1 (elabor:d~
para hc =1 ,0 m) deverao ser mult1pllcados por 0,32 (valor calcul ue
O
para hc). Como nessa tabela o último valor de y é 3,820 m q
I
corresponderia ao valor de y = h = 3,820 m x 0,32 ;:: 1,22 m ' eª

358
Captação de ág ua de su perffcie I Ca pítu
lo 8

te rá d e ser e x p a n d id a p a ra se c h e
p a ra a b a rr a g e m ). Para ta n to , se
= =
g a r a y h 1 ,5 m (a lt u ra e s c o lh
id a
rá u ti li z a d a a E q u a ç ã o 8 .7 . Resu
e n tã o a Tabela 8 .3 para o tr a ç a d lt a
o d o p e rf il Creager.

Tabela 8.3 - Perfil Creager para a barr


agem de nível do Exemplo 8.2
· x (m) y (m) x (m) y (m) x (m) y (m) x {m) y (m )
0,0 0 ,0 4 0 O, 1 9 2 0 ,0 1 9 1,1 6 6 (•)
a

0 ,5 4 4 0 ,2 7 8 1,3
0 ,0 3 2 0 ,0 1 2 0 ,2 5 6 0 ,0 4 5 0 ,6 4 0 0 ,3 9 0 1 ,2 3 0 (•) 1 ,4
0 ,0 6 4 0 ,0 0 2 0 ,0 8 2 0 ,8 0 0 1 ,2 9 3 (•)
0 ,8 0 0 0 ,6 2 7 1,5
0,096 0 ,0 0 0 O, 1 2 7 0 ,9 6 0
0 ,1 2 8 0,960 0 ,9 0 2
0 ,0 0 2 O, 181 1, 1 2 0 1, 120 1 ,2 2 2
l·J Valores calculados pela Equação
8,7

• D im e n s io n a m e n to d a descarg
a de fu n d o d a b a rr a g e m
A tu b u la ç ã o d e descarga d e fu n d
o deve ser d im e n s io n a d a c o m o tu
lação c u rt a e d e m o d o a g a ra n ti b u -
r o fl u x o m ín im o e s ta b e le c id o p
ó rg ã o responsável p e la g e s tã o de e lo •

recursos h íd ri c o s , p a ra a te n d e r a
usos d e ju s a n te e à v a z ã o e c o ló g os
ic a .
A v e lo c id a d e da á g u a na tu b u la ç
ã o deve ser s u p e ri o r a 0 ,6 m /s (p
e v it a r a d e p o s iç ã o d e sólidos) e in a ra
fe ri o r à v e lo c id a d e m á x im a a d m it
p a ra o ti p o d e tu b o q u e se u ti li z id a
a r (g e ra lm e n te fe rr o fu n d id o , a q
· c o rr e s p o n d e V max = 6 m/s). Para ue
m in im iz a r p ro b le m a s d e e n tu p im e
o d iâ m e tr o d a tu b u la ç ã o e m p a u n to ,
ta deve ser p re fe re n c ia lm e n te ig
o u s u p e ri o r a 1 5 0 m m . u al
O d im e n s io n a m e n to c o m o tu b u la
ç ã o c u rt a , c o m c o e fi c ie n te d e d e
carga (Cd) ig u a l a 0 ,6 , fi c a a fa v o s-
r da segurança, sem c o m p ro m e te
c u s to d a o b ra , q u a n d o se tr a ta d r o
e p e q u e n o s d iâ m e tr o s . A fó rm u la
c á lc u lo d e tu b u la ç õ e s c u rt a s é : de

' Q = Cd.S.(2.g.h)112
(8.9)
Em q u e :

Q: vazão q u e passa pela tu b u la ç ã o c u


rt a (m3/s);
Cd: c o e fi c ie n te de descarga (a d o ta d o
ig u a l a 0 ,6 , a fa v o r da segurança);
S: área d a seção transversa\ da tu
b u \a ç ã o c u rt a (m 2);
g : aceleração da g ra v id a d e (m/s 2
);
h: a lt u ra d e á g u a sobre a tu b u la ç
ã o c u rt a (m).

Para tu b o s d e seção circular, s e n d


• o
S =1t.fJ2/4,

359
Abastecimento de água para consumo humano

tem-se na Equação 8.9:

Q = cd.(1t.D214).(2.g.h) 112 ==} D= {4Q / [(Cd.1t).(2.g.h)112JJ112 (B. 1O)

Entrando na Equação 8.1 O com os valores conhecidos, obtém-se:

o= {4x0,045 ~ {(0,6x 3, 14).(2 x 9,BOx 1,5) 1) ~D= O, 133 m


112 112 =133 mm
Adota·se o diâmetro comercial (DN) imediatamente acima, ou seja, DN = 150 mm.
Para este diâmetro, a vazão residual livre será:
3
Q = 0,6.(1t.O, 152/4).(2.9,8.h.1,5) 112 = 0,0581 m /s

A velocidade na tubulação, calculada pela Equação 8.1, será de:

V= 4QI (1t[)2) = 4 x 0,0581 / (3, 14 x O, 1502) = 3,28 m/s

Caso a vazão residual tenha que ser limitada ao valor estabelecido no


enunciado do problema (45 Us), a válvula de parada (registro), exis-
tente na tubulação de descarga de fundo, terá que ser adequadamente
estrangulada para veicular a vazão desejada de 45 1/s, a que corres-
ponderá a seguinte velocidade da água na tubulação:

V= 401 (1tfJ2) = 4 x O, 045 / (3, 14 x O, 15()2) =2, 55 mls

Adotando-se tubo de ferro fundido para a tubulação de descarga de


fundo em questão, tem-se que as velocidades calculadas atendem aos
limites estabelecidos (0,6 m/s ::; V::; 6 m/s•).

8.7 Grades e telas

Grades e telas são dispositivos empregados em captações de água de superfície para


reterem materiais flutuantes ou em suspensão de maiores dimensões. As grades são cons. . •

titufdas de barras paralelas e destinam-se a impedir a passagem de materiais grosseiros. Já


as telas são compostas por fios formando malhas que têm por finalidade impedir a passa-
gem de materiais flutuantes não retidos na grade. ou seja, as telas devem ser sempre
instaladas após as grades.

360
Captaçao de água de superfície I Capítulo 8

Exjstem dois tipos de grades:

• grade grosseira: destinada à retenção de materiais flutuantes ou em


suspensão de maiores dimensões (superiores a 7,5 cm); o espaçamento
entre suas barras paralelas é usualmente de 7,5 cm a 15 cm, e seu
emprego é indicado para cursos de água sujeitos a regime torrencial e
quando corpos flutuantes de grandes dimensões puderem danificar as
instalações de grades finas ou telas;
• grade fina: utilizada para a retenção de materiais flutuantes ou em
suspensão de dimensões. menores (inferiores a 7, 5 cm); a distância
entre as suas barras paralelas varia entre 2 cm e 4 cm .

As espessuras das barras metálicas constituintes das grades para captação de água
superficial costumam atender a uma das seguintes bitolas padronizadas:

• grade grosseira: 3/8'' (0,95 cm), 7/16" (1,11 cm) ou 1/2 " (1,27 cm);
• grade fina: 1/4" (0,64 cm), 5/16'' (0,79 cm) ou 3/8" (0,95 cm).

Quanto maior a altura da grade, maior deve ser sua espessura, para conferir-lhe maior
rigidez .
As telas, que são de uso mais restrito em captações de água superficial, são constitu-
ídas por fios metálicos ou de material plástico, formando malha com 8 a 16 fios por decí-
metro de comprimento da tela.
As grades e telas podem ser de limpeza manual ou mecanizada. Não obstante, os
equipamentos de limpeza mecanizada, pelo seu elevado custo, são restritos às captações
de grandes vazões (gerafmente maiores que 1 m3/s).
Segundo a NBR 12.213 (ABNT, 1992), as instalações com grades e telas para captação
de água de superfície devem atender às seguintes condições construtivas:

• grades e telas devem ser usadas obrigatoriamente em captações à


superfície da água;
• as grades grosseiras devem ser colocadas no ponto de admissão de
água na captação, seguidas pelas grades finas e pelas telas;
• as barras e os fios constituintes das grades e telas devem ser de
material anticorrosivo ou protegido por tratamento adequado;
• as grades e telas com limpeza manual devem ter inclinação para
jusante, de 70° a 80° em relação à horizontal, além de passadiço para
facilitar os serviços de manutenção.

No que se refere ao dimensionamento das grades e telas, a mesma NBR 12.213 forne-
ce as seguintes orientações:

• Area das aberturas da grade: na seção de passagem referente ao


nível mínimo de água, deve ser igual ou superior a 1,7 cm2 para cada

361
e a a

_aas as s 2

l'itro por minuto de vazão captada, de modo que a velocidade resul-


tante seja iguat ou inferior a 1O cm/s;
• Perda de carga nas grades e telas: a ser calculada pela fórmula da
perda de car·gas localizadas:
(8.11)

·Em que:
ht: perda de carga (m};
V: velocidade·média de aproximação (rnls), considerando como obstruída
50% da respectiva seção de passagem, entendendo-se por velocidade de
aproximação a velocidade da água na seção imediatamente a montante da
grade ou tela (com 50% de obstrução no presente caso);
g: aceleração da gravidade (mfs2);
k: coefiáente de perda de carga, cujo valor é função dos parâmetros
geométricos das grades· ou telas, a ser calculado pela Equação 8.12
apresentada no tópico seguinte (grandeza adimensional).

• Coef.iciente de perda de carga (k) em grades: o valor de k, a ser


utilizado na Equação 8. 11 aplicada a grades, deve ser calculado pela
seguinte equação:

k = J3 (slb)1,33 sen a (8.12)

Em que:
~: coeficiente adimensiona1, que é função da forma da barra (ver Figura
8w21);
' s: espessura das barras;
b: distância livre entre barras (b e s devem entrar na Equação 8.12 com a
mesma unidade de comprimento);
a: ângulo da grade em relação à horizontal.

• Coeficiente de
perda de carga (k) em telas: o valor de k, a ser utilizado
na Eq~ação 8.11 aplicada a telas, deve ser calculado pela seguinte
equaçao:

k = 0,55 (1-g2) /e2 (8.13)

Em que:
e: porosidade, igual à razão entre a área livre e a área total da tela, sendo:

362
Capta~o de água de superfície I Capítulo 8

a) para tela de malha quadrada:


E= (1-n.d)2
b) para tela de malha retangular:
e = {1-n 1.d 1).(1-n 2 .d2J
Onde:
n, n,, n2: número de fios por unidade de comprimento;
d, d,, d2: diâmetro dos fios (mesma unidade utilizada para a definição de n).

,... s Jlo{

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FORMA A 8 e D E F G
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C> -
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r-
-

Figura 8.21 - Formas geométricas e coefiáente b das seções transversais das barras de grades
Fonte: ABNT (1 9 92)

Exemplo 8.3

Dimensionar uma· grade para captação de 20 Us num ribeirão, utili-


zando caixa de tomada. O manancial apresenta regime de escoamento
torrencial em períodos de chuva, com transporte de sólidos flutuantes
de grandes dimensões. As alturas das lâminas de água míni·ma e
máxima do ribeirão sobre a laj e de fundo da caixa de tomada (colocada
o., 40 m acima do leito do curso de água) são, respectivamente, de
0,30 m e 1,20 m.

363
Abastedmento de água para consumo humano

Solução:

• Tipo de grade e especificações de suas barras


Visto que o manancial apresenta regime de escoamento torrencial co
transporte de sólidos flutuantes de grandes dimensões, e considerandrn
O
também o pequeno valor da vazão a ser captada (20 Us), será adotad
uma grade do tipo grosseira de limpeza manual, com a configuraçã~
da Figura 8.22 .

N. A. máximo

E
o
"',....-
li
X
N. A. mínimo -(O
E
:I:
-
Hmín = 0,30 m

<J Li
<J

k B
J
Figu.ra 8.22 - Vista de frente da grade do Exemplo 8.3

Por se tratar de grade grosseira manual de pequena altura, as suas


barras terão espessura (s) de 3/8 '' (0,95 cm), espaçamento (b) de 1O
cm e inclinação horizontal (a) de 70°, com base nas especificações
recomendadas para o presente caso e que constam da parte conceituai
deste item 8.7. As barras terão seção circular (ver Figura 8.21) e serão
de aço carbono com pintura anticorrosiva.
• Área útil mfnima da grade (Au) .
Conforme ap,resentado na parte conceituai deste item 8. 7, a área,~til
ou área das aberturas da grade, na seção de passagem referent~ a9
nível mín1i mo de água, deve ser igual ou superior a 1, 7 cm 2 para cada
litro por minuto de vazão .captada, de modo que a velocidade resul~~nt~
seja igual ou inferior a 1Ocm/s.

'
I

. .:' ..

-.
364
Captaçao de água de superfície I Capítulo 8

Sendo:
O== 20 Lls = 20 Lls x 60 slmin = 1200 L/min,
tem-se:
Au = 1, l cm 2 I (Llmln) x 1200 Llmin =2040 cm2 = O' 204 m2

Adotado Au == 0,204 m2
Donde: Vu = QI Au == 0,020 m3/s .) 0,204 m2 = 0,098 m/s = 9,8 cm/s
.. (<1 Ocm/s => OK)
.

• Largura útil mínima da grade (Bu)


Bu = Au Hmin
'
• •
+
Sendo Au=0,204 m2 (calculada no tópico anterior) e Hmin==0,30 m
(dado do enunciado do problema):
Bu = 0,204 + 0,3 = 0,68 m => Adotado Bu =0.68 m

• Número (mínimo) de barras (n)


Pela Figura 8.22 vê-se facilmente que:
Bu = (n-1 ) .b => n = (Bulb) + 1
(n deve ser número inteiro, com arredondamento para cima)
Entrando com os valores conhecidos:
n = (0,68/0,1 ) + 1 = 7,,8 => Adotado n =8

• Largura total (mínima) da grade (B)


Também pela Figura 8.22, tem-se:
B = n.s + (n-1).b •

Entrando com os valores adotados paras (9,5 cm) e para b (1 O cm), e
sendo n = 8, resuJta:
B = 8 x 9,5 + 7 x 1O= 146 cm= 1,46 m => Adotado B = 1,46 m

• Altura da grade
Ê função da altura do NA máximo do curso de água em relação à laje
de fundo da caixa de tomada. Sendo essa altura de 1,20 m (ver enun-
ciado do problema) e admitindo uma borda livre de 0,20 m, a grade
terá altura de 1,40 m. Conseqüentemente, será também de 1,40 m a
altura (ou comprimento) de cada uma de suas barras.

• Dimensões úteis da caixa de tomada


As dimensões da caixa de tomada onde ficará instalada a grade é
função das dimensões da grade, da topografia do terreno na margem
onde ela ficará instalada e do diâmetro da tubulação (ou das dimensões

365
Ab.aste.cfmento de égua para consumo humano

do canal) que vem após ela. Admitindo que, neste caso, 0 ponto .
alto do terreno fique 0,25 m acima do NA máximo e que seja de ~;is
mm o diâmetro da tubulação subseqüente, a caixa de tomada terá o
. d" - ,
seguintes 1mensoes u eis: t . as
.. altura (com mureta de 0,30 m acima do nível do terreno): 1
40
0,30 = 1, 70 m (deve ser superior às dimensões da tubulação ~u d+
0
canal subseqüentes);
- comprimento (frontal) = 1,46 m (comprimento da grade, devendo
ser~ 0,60 m, para permitir a construção e a manutenção da caixa de
tomada onde a grade ficará instalada 2 );
- largura (lateral): 0,60 m (valor mínimo para permitir a construção e a
manutenção de caixa de tomada com altura de até 1,50 m para
alturas maiores ver Tabela 8.5, apresentada no item 8 .8).

• • Perda de carga na grade


É calculada pelas Equações 8.11 e 8.12:
ht = k v 129
2

k. ::: p (s/b) 1, 33 sen a


Tendo sido escolhida a seção circular para as grades, tem-se, pela
Figura 8.21:
~ = 1,79

A veloc'idade V, que é a velocidade de aproximação na seção a mon-


tante da gra·de com SOo/o de obstrução, é calculada como segue:

V= Q + [0,5.(B. Hmin)l = 0,020 [0,5.(1,46 x 0,30)] = 0,091 m/s


1)

Entrando-se com os valores de ~, de V e das demais variáveis conheci-


das nas equações para cálculo de k e h, escritas acima:

k = 1,79 (0,95 / 1O) 1,33 sen 70° = 0,073


ht =0,073 x 0,0912 / (2 x 9,8) =0,00003084 m = 0,03 mm

Ou seja, a perda de carga é muito pequena, que é uma característica


das grades grosseiras.

. . . d d á ser de, no mlnimo, 0,60 m~


2 Caso a largura da grade seJa menor que 0,60 m, o compnmento frontal da caixa de toma a . ever ·
fechando-se com alvenaria ou com concreto o espaço que exceder o comprimento da grade.

366
Captação de água de superflcie I Capítulo 8
1
t
1

8.8 Desarenador

O desarenador, comumente designado caixa de areia, é instalação complementar das


captações de água de superfície, utilizado quando o curso de água apresenta transporte
inten·so ,de sólidos, ou seja, conforme a NBR 12.213 (ABNT, 1992), quando a concentração
de sólidos sedimentáveis em suspensão no manancial atinja varar igual ou superior a 1,0 g/
L por um período de tempo significativo.
Em sistemas de abastecimento de água, os desarenadores são geralmente projetados
com seção retangular em planta, sendo o seu comprimento pelo menos 3 vezes maior do
que a sua ·targura, para minimizar a possibilidade de curto circuito da água no seu interior,
a exemplo do que está ilustrado nas Figuras 8.23 e 8.24.
Como seu próprio nome indica, o desarenador tem por finalidade remover da água
captada a areia de uma dada granulometria. No seu interior ocorre a chamada sedimentação
de partículas discretas, ou seja, de partículas que, a exemplo da areia, não têm alterado o
seu tamanho, forma ou peso ao se sedimentarem.

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
>
-~> 1 1 b/ 1 >I 1- >I I

CONCOR. L CONCOF
, , . .
• • • •

Vigas de piso
para limpeza
/
\ '
~ Ha·Z - --
., M

<I I\ 1
/ \
.f , l ·I 4
d 4

p "
\li Depósito de areia •
<I
4
7S 4
4 .d
A f/
" 4
,li . • <I

Figura 8.23 - Planta e corte de um desarenador com duas células

367
a a w

Abastecfmento de água para consumo humano

. 1'



Figvra 8.24 - Fotografia de um desarenador de duas células e grade


Fo·nte: PESSOA e JORDÃO (1982}

Para o dimensionamento dos desarenadores utilizam-se os conhecimentos da cinemá-


tica, como se mostra na Figura 8.25. Ou seja, o problema consiste na determinação do
co.mprimen.t o L, necessário para que o grão de areia que estiver entrando na parte superior
do desare·nador (situação mais desfavorável) nela fique retido ao final do seu movimento
..
descendente até o fundo do desarenador (devido à ação da gravidade), deslocamento

( vertical esse que ocorre simultaneamente ao movimento horizontal de que a partícula de


r', areia também está dotada, como conseqüência do escoamento horizontal da água ao
(1
., longo do desarenador. Se esse grão de areia em posição mais desfavorável ficar retido,
todos os demais grãos de areia com dimensões iguais ou superiores ao primeiro também
ficarão.
Dentro do desarenador, as partículas de areia estão dotadas de dois movimentos
perpendiculares entre si:

• movimento horizontal, devido à movimentação da água nessa direção.


Sendo a vazão da água constante, esse movimento se faz com
velocidade também constante (vh), igual à velocidade da água, que é
igual à razão entre a vazão e a seção transversal do desarenador. Por-
tanto, o movimento horizontal é retilfneo e uniforme;
• movimento vertical, resultante da ação da força da gravidade, con-
traposto pelo empuxo da água e pela força de atrito do grão de areia
.

com a água, em seu movimento descendente. A Hidráulica mostra
que, como conseqüência da ação concorrente das três forças citadas, · ·
••
a partícula de areia, após o equilíbrio dessas mesmas forças, é dotada.
!
1
••
·4 •, . • ..
'!
•t .
··1 -.
itt"' '~
• Í• •· 368
. ),j •
Captaçao de ~gua de superfláe I Capítulo 8

de movimento vert ical uniforme, com velocidade que depende das


dimensões do grão de areia e da viscosidade da água. Essa velocidade
é denomínada velocidade terminal de sedimentação ou simplesmente
velocidade de sedimentação (v5), e seu valor é determinado experi-
mentalmente, como consta da Tabela 8.4.

K"' Partícula discreta N. A.



---
vs vh --" -
Fluxo
h

Depósito

ri• L

Corte

4
4
.... á

"' 4 .,.o "'


1
~ Partícula discreta
8
·-~
vh
Fluxo
• " •
1- - <(\ q w

"' ,d
"'
4

• •

r Planta

Figura 8.25 - Desenho esquemático para dimensionamento de desarenador

Tabela 8.4 - Velocidade terminal de sedimentação de grãos de areia (g=2.650 kgf/m3)


Diâmetro dos grãos Velocidade terminal de sedimentação (cm/s)
(mm)
Hazen.(T=10ºC) Azevedo Netto (T=20ºC)

1,00 10,0 •••

0,80 8,3 • ••

0,60 6,3 .' .


0,50 5,3 •• •

0,40 4,2 •• •

0,30 3,2 4,3


0,20 2, 1 2,4
0, 15 15 I •• •
0, 10 0,8 0,9
0,01 ••• 0,01
0,001 ••• 0,0001
.~
-

Fontes: YASSUDA e NOGAMI (1976); VIANNA (1997)

·' 369
.
' •
Aba$teclmento de água para consumo humano

Sabe-se da cinemática que, quando um corpo está dotado de dois movimentos .


. t .. . t d t d s1rnu1
tâneos perpendiculares entre s1, ais mov~men os po em ser rata os analiticamente de .
modo individual. Portanto, com base na Figura 8.25, pode-se escrever:

- movimento vertical: h =V5 . t ==> t = h / V5 (8.14)


- movimento horizontar: L = vh.t ==> t =L / vh (8.1 S)
- equação da continuidade (vazão): Q =vh (b.h} ==> vh =QI (b.h)
(8.16)
.. (8.15) em (8.14): L/vh=hlv5 ~ L=h.(vhlvsJ (8.17)
- (8.16) em (8.17); L = Q I (b. vsJ . (8.18)
A Equação 8.18 é a equação utilizada para o cálculo do comprimento teórico do
desarenador, como se apresenta nà Exemplo 8.4.

Da Equação 8.18, pode-se escrever também: V5 = QI (b.L) = Q IA (8.19)


sendo A área em planta do desarenador: A = b. L

As Equações 8.18 e 8.19 mostram que a altura da lâmina de água (h) não interessa
para o cálculo do comprimento do desarenador, visto que, se, por um lado, a altura menor
implica vh maior , conforme a Equação 8. 16, vh maior implica menor tempo (t) para O
movimento desde a superfície até o fundo, de acordo com a Equação 8.15.
Ou seja, essas duas variáveis, vh e t, compensam-se na Equação 8.15 e o.comprimento
L do desarenador permanece o mesmo, qualquer que seja h. ·
Contudo, do ponto de vista hidráulico, a altura da lâmina de água (h) dentro do
desarenador é importante para evitar o arraste da areia depositada ou retida por sedimen-
tação no desarenador, devendo possuir um valor mínimo que possibilite que a velocidade
horizontal no desarenador [vh= Q/(b.h)J não seja superior a 0,30 m/s.
As Equações 8.14 e 8.19 mostram que existem duas maneiras de calcular ou verificar
o valor da velocidade de sedimentação para a qual o desarenador foi dimensionado (v ), a
5
saber:

v5 =hlt e v5 = QIA

A relaç.ão Q/A, que exprime a velocidade de sedimentação, é também conhecida


como taxa de escoamento superficial ou, mais simplesmente, taxa de sedimentação. Como
velocidade de sedimentação, é normalmente expressa em cm/s ou mm/s e ainda cm/min.
Como taxa de escoamento superficial, sua unidade de medida costuma ser m3/(m2.dia),
equivalente a m/dia, que é unidade de velocidade. Esta última unidade de medida, se tiver
valor unitário, significa que cada 1 m3/dia de vazão do líquido a ser sedimentado requer
uma área de sedimentação de 1 m2 .

370
Captação de água de superfície I Capltulo 8

A NBR 12.213 (ABNT, 1992) prescreve as seguintes condições para a elaboração de


projeto de desarenadores:

• o desarenador deve ser instalado entre a tomada de água e a adutora;


• devem existir preferencialmente dois desarenadores, dimensionados,
cada qual, para a vazão total, ou seja, um deles deve funcionar como
unidade de reserva;
• o desarenador pode ser dispensado quando se comprovar que o trans-
porte de sólidos sedimentáveis não é prejudicial ao sistema;
• os desarenadores devem ser dimensionados para a sedimentação de
partículas de areia com v5 ~ 0,021 m/s (para reterem partícuJas com d ~
0,2 mm);
• a velocidade de escoamento horizontal (vh) deve ser menor ou igual
0,30 m/s;
• o comprimento do desarenador obti·do no cálculo teórico deve ser
multiplicado por um coeficiente de segurança de, no mínimo, 1,5;
• o desarenador com remoção por processo manual deve ter: a) depósito
capaz de acumular o mínimo equivalente a 1Oo/o do voíume do desare-
nador; b) largura mínima (b) que facilite a construção e a limpeza do
desarenador (e possibilite também que vh ~ 0,30 m/s).

Para tornar fácjl a construção e a limpeza dos desarenadores, costuma-se adotar para
a sua largura (b) os valores práticos que constam da Tabela 8.5, que também costuma ser
utilizada para definir a largura de valas para assentamento de tubulações:

Tabela 8-.5 - Largura dos desarenadores em função de sua altura


altura(rn) largura mín.{m)
< 1,00 0,60
1,00 - 2,00 0,90
2,00 - 4,00 1,20
> 4 00
'
2,00

Para minimizar curto-circuito no escoamento da água dentro do desarenador de escoa-


mento horizontal, a relação entre o comprimento do desarenador e sua largura deve ser
maior ou igual a 3, mesmo que isso resulte menor velocidade de sedimentação (o dimensio-
l namento ficará a favor da segurança).
É importante observar que a altura que consta da Tabela 8.5 não é a altura da lâmina
de água no interior do desarenador, mas sim a altura total do desarenador, que depende
não só da altura da lâmina de água, mas do desnível total entre a laje de fundo do desare-
nador e a superffcie do terreno onde este será construído.

371
Abasteclménto de água para consumo humano

. .. .. . .. , "

Exemplo 8.4 -
Dimensionar um desarenador para a vazão de 20 l/s, a ser construído
anexo à captação de água de um ribeirão. No ponto escolhido para a
captação, o NA mínimo do ribeirão apresenta altura de 0,95 m em relação
ao seu leito. Já no local previsto para a construção do desarenador,

a superfície do terreno fica a 1,25 m acima do NA mínimo do rio.

Solução:


Para o dimensionamento do desarenador, serão atendidas as orienta-
í'~
1
ções da NBR 12.213 (ABNT, 1992), referidas em páginas anteriores, a
saber:
1
1
- velocidade de sedimentação: v5 = 0,021 m/s (para remoção de partí-
culas com d ~ 0,2 mm);
- coeficiente de segurança: 1,5 (para cálculo do comprimento do
1
desarenador);
1
- largura do desarenador (b): compatível com sua profundidade (h) -
conforme Tabela 8.5;
- velocidade de escoamento horizontal: vh ~ 0,30 m/s.
{1) Altura do desarenador (H)
Sendo recomendável que a geratriz inferior do dispositivo de toma-
da de água fique a pelo menos 0,30 m do fundo do curso de água
'
(11 ª orientação do Quadro 8.1 ), adotou-se para a altura útil da lâ-
mina de água no desarenador (h) valor igual à altura da lâmina de
água mínima do rio (dado do problema igual a 0,95m) menos os
0,30 m supracitados. Ou seja:

h = 0,95 - 0,30 = 0,65 m.


Para determinar a altura do desarenador (H), deve-se somar ao valor
de h a altura d'o depósito de areia (1 Oo/o de h), o desnível entre o NA
da água no desarenador e a superfície do terreno (dado do problema
igual a 1,25m), e a altura da mureta de proteção aó longo do desare-
nador na superfície do terreno (0,30 m). Logo;

H = 0,65 +O, 1Ox 0,65 + 1,25 + 0,30 = 2,27:::: 2,3 m

372
-
Captação de água de superflcle I Capítulo 8

(2) Largura útil do desarenador (b)


Pela Tabela 8.5, sendo H = 2,3 m, resulta:

b = 1,20m


(3) Comprimento do desarenador (C)

Entrando com os valores de Q, de v5 e. de b na Equação 8.18:

L = Q / (v5.b):::; (0,020 m3/s) + (0,021 mls x 1,20 m) = 0,80 m


Com o coeficiente de segurança de 1,5, o comprimento (C) do desare-
nador deve ser de pelo menos:

C= 1,5L= 1,5x0,80m= 1,20m


A relação entre comprimento e largura do desarenador ficaria:

•' C lb = 1,2 m / 1,2 m = 1


Este valor é insatisfatório, visto que C/L deve ser superior ou, no míni-
mo, igual a 3, para minimizar curtos-circuitos da água dentro do desa-
renador. Logo, para atender a essa relação, adotou-se, a favor da
segurança (e com isso aumentaremos a remoção de areia, incluindo
também grãos com diâmetros um pouco menores do que o prescrito
peta NBR 12.213):
(C > 1,5 L =1,2 m, portanto , OK)
e= 3 b = 3 x 1,2 = 3,6 m
Para facilitar a limpeza, deve ser adotada, conforme estabelece a NBR
' 12.213, uma unidade de reserva, ou seja, o desarenador deverá ter duas
céluJas, cada qual com as dimensões de 3,6 m x 1,20 m x h=2,3 m.

(4) Verificação da velocidade de escoamento horizontal (vh)

Pela Equação 8.16:


vh =OI (b.h) =0,020 rr,3/s + (1,2 m x 0,65 m) = 0,026 mls
(vh < 0,30mls, portanto OK)

313

Abastotlman.to de ógua para consumo humano

8.9 Captações não convencionais

São captações concebidas para permitir o emprego de equipamentos de elevação ou


recalque de água movidos por energia não convencional, como a eólica, a solar, a proveni-
ente de transiente hidráulico (golpe de aríete) ou a decorrente do impulso proporcionado
pelo jato de água.
São soluções muito interessantes por dispensarem a utilização de energia elétrica ge-
rada a partir do consumo de recursos naturais que estão se tornando escassos e de custo
elevado, como é o caso, respectivamente, dos combustíveis fósseis e da água represada em
grandes hidrelétricas.
Porém, atualmente no nosso país, são aplicáveis somente a pequenos sistemas de
abastecimento de água, devido a limitações de capacidade dos respectivos equipamentos
d.isponibilizados pela indústria nacional.
Neste capítulo, faz-se maior referência apenas às captações de água concebidas para
proporcionarem a elevação ou recalque de água utilizando a ação de jatos de água ou o
transiente hidráulico (golpe de aríete) induzido na adutora de recalque, a saber:

• captação projetada para permitir a elevação ou recalque da água


por rodas de água;
• captação concebida para possibilitar o recalque da água pelo equi-
pamento denominado aríete hidráulico, popularmente conhecido como
carneiro hidráulico.

Na seqüência, apresentam-se breves considerações sobre estes dois tipos de captação,


assim como algumas informações sobre a sua utilização .

Captação conjugada a roda de água

A roda de água é um dos equipamentos mais antigos empregados pelo homem para
a elevação da água. Há registros de sua utilização no antigo império egípcio, ou seja, há
cerca de 5.500 anos, para a captação e elevação de águas do rio Nilo, destinadas à irrigação
e ao consumo humano. Com a atual crise da energia elétrica, a roda de água volta a ser
.usada, agora conjugada a bomba de êmbolo (pistão), como se mostra na Figura 8.26.

374
Captaçao de água de superfície I Ca pítulo 8

Reservatório ~

--
1

N. A. •
\J •

'\
Bomba de êmbolo
(pistão)
••• ...


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• "' "' "' "' "' "' "' "' "' "'




•• • • "' "' "' "' "' ,j,
"' "'
• "' "'
"' "' "' "'
' Poço de sucção
Figura 8.26 - Captação de água conjugada a roda de água
Fonte: CATÁLOGO DA HIDROTEC BOMBAS HIDRÁULICAS (1994)

Na Figura 8.26, vê-se que a captação deve proporcionar um desnível geométrico em


relação ao local de instalação da roda de água, de modo a resultar vazão adequada para
fazer girar a roda com o número de rotações necessário para o funcionamento da bomba
a ela conjugada .
Uma indústria do Estado de São Paulo fabrica rodas de água para o recalque de vazões
variando de 2.200 1/dia (0,025 Us) a 84.000 Udia (0,97 Us), contra alturas manométricas
de até 100 mca.

Captação conjugada a carneiro hidráulico (aríete hidráulico)

Neste tipo de instalação, ilustrada na Figura 8.27, o local da captação deve propiciar
uma aftura de água ou pressão adequada sobre o equipamento de recalque de água,
conhecido como carneiro ou aríete hidráulico. Esse equipamento, desde que posicionado
corretamente, ·gera uma seqüência de rápidos e contínuos transientes hidráulicos (golpes
de aríete) que resultam sobrepressões de intensidade adequada na linha adutora, possibi-
litando a elevação ou o recalql!Je de ·vazões de água dentro de certos limites, que são
apresentados no capítulo rei ativo a estações elevatórias.

375
. .. - ~ i ti a: a

Abastecimento de água para consumo hum~no

Reservatório

-·~
o
~
-Q)
Q)
Q)
"'O
~
Fonte de .a
-a,
suprimento (F) -
:e
~"::/=.==~·..r Extravasar Tubulação
Crivo
-
"O
m
<1>
< de recalque
(q,v,l,d)
::::::,
O"

"O
Q) Câmara-de=ar
Descarga ~ Ar
.3
-m
Tubulação - -

de suprimento
(Q,V,L,D)

Caixa de válvulas
Figura 8.27 - Captação conjugada a carneiro hidráulico
Fonte· : DACACH (1990)
• Os carneiros hidráulicos fabricados comercialmente no Brasil permitem o recalque de

'
vazões que variam de 12 Uhora (0,0033 Us) a 800 Uhora (0,22 Us), com altura de recalque
que pode chegar até 60 mca, no caso da vazão máxima de 800 Uhora, para um desnível de
1
1Omca entre o NA mínimo na captação e o carneiro hidráulico (6 mca de altura de recal-
que da vazão máxima de 800 Uhora para cada 1 mca de desnível).

Referências e bibliografia consultada

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. NBR 12.213: Projeto de captação de água
desuperflcie para abastecimento póblico. Rio de Janeiro, 1992.
AZEVEDO NITTO, José Martiniano de et ai. Manual de hidráulica. sao Paulo: Edgard Blücher, 1998. 670 P·
BAPTISTA, Márcio; LARA, Márcia. Fundamentos de engenharia hidráulica. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2002.
42.3 p.

376
_J
----- - - - - ---------- • sc e #. -

Captaçao de agua de superffcie I Capítulo 8

COMPANHIA DE TECNOLOGIA,DE 5AN-6AMENJO -AMBIENTAL- CETESB. Estudos sobre sistemas de abaste-


1

dm.entoi·de á'gµa:,para,.rconsumJdores1r;k)1 eqµe.nJ!>J1Pª1ftei 'SãgAPag_lo: ·Qras_a, 1979. 700 p. Relatório.


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VJANNA.fj Mariw-s R~ a. ,Hidráulica aplicada às estações de tratamento de água. 3. ed, Belo Horizonte:
ltnpmt;,~ 19911. 516J~ i
YAUUDA, Qf.l\larão rR.,; NOGAMI, Paulo S. Captação de águas superficiais. ln: OLIVEIRA, Walter Engrácia et

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'

377
Abaste cimento de água para consumo humano

Anexo •

Proteção de mananciais

A pequena parcela de água doce disponível no planeta reforça a necessidade da


preservação da quantidade e da qualidade dos recursos hídricos disponíveis no planeta, em
especial das águas superficiais, que a cada dia tornam-se relativamente mais escassas
em função do acelerado crescimento populacional, da má utilização dos recursos naturais
pelo homem e da poluição por·ele causada.
Ainda que o total da água que participa do ciclo hidrológico não se altere, por se tratar
de um ciclo fechado, podem modificar-se a sua distribuição e a sua qualidade nos principafs
ambientes que veiculam a água (atmosfera, oceanos e continentes). Ou seja, mesmo não
se alterando o total de chuvas, a água pode ficar cada vez mais inacessível àqueles que dela
• necessitam, se cuidados não forem tomados para a sua permanência em boas condições
de uso no local de interesse.
Nesse sentido, a vegetação é de fundamental importância para a retenção da água
n·os continentes, pois dela depenpe a maior ou menor quantidade da água que se infiltra
f
no solo, parcela essa que garante as vazões das nascentes e dos poços, além de ser a
grande responsável pela perenidade dos corpos de água superficial. Tem-se assim que o
desmatamento predatório pode comprometer seriamente os recursos hídricos numa dada
região, podendo levar até mesmo à sua exaustão e à conseqüente desertificação de vastas
áreas, como já ocorre em diversas regiões do mundo e do próprio Brasil.
Também a qualidade da água pode variar de região para região, a depender da
poluição causada pelas atividades humanas. E, nesse ponto, também a preservação da
vegetação, o uso e a ocupação adequados do solo nas bacias contribuintes influenciam
diretamente na preservação da qualidade das águas dos mananciais. Donde a importante
conclusão de que a quantidade e a qualidade da água em condições de ser consumida
pela população de uma determinada região podem ser deterioradas dramaticamente em
decorrência da forma de agir dessa mesma população.

378
------ ~-~~------------•1-...............--•a---------~-

captação de água de superffde I Capítulo 8

lmport.ância da escolha correta e da proteção dos mananciais

O manancial é a parte mais importante de um abastecimento de água, pois de sua


escolha criteriosa depende o sucesso das demais unidades do sistema, no que se refere
tanto à quanti.dade como à qualidade da água a ser disponibilizada à população.

O manancial é a primeira e fundamental garantia da quantidade e da


qualidade da água em seNiço de abastecimento de água.

Deve ser lembrado também que, se a água captada estiver poluída por determinadas
substânàas, não será possível torná-la potável pelos processos de tratamento de água
usualmente utilizados. Os fatos abaixo descritos esclarecem essa afirmação.
O chamado tratamento convencional da água (composto por coagulação, floculação,
ecantação e filtração), mesmo complementado por oxidação, não é capaz de remover
satisfatoriamente substâncias como: antimônio, bário, cromo(+6), cianeto, fluoreto, chum-
bo, mercúrio (inorgânico), níquel, nitrato, nitrito, selênio(+6), tálio, compostos orgânicos
sintéticos, pesticidas e herbicidas, rádio, urânio, cloreto, sulfato e zinco (AWWA, 1999).
Tal problema chega a assumir uma proporção tão crítica que em países desenvolvidos
êm-se priorizado estratégias em que um município de maior porte suporta financeiramente
regiões vizinhas, indústrias e produtores agrícolas, para proteger as bacias hidrográficas. No ·
cômputo final, os custos inerentes a taJ apoio podem ser muito menores do que tentar
transformar água poluída em água potável. Relata-se que a cidade de Nova York, por
exemplo, planeja despender U$1,4 bilhão para proteger seus mananciais, inclusive adqui-
rindo grandes extensões de terra nas bacias, o que evitará um gasto de U$3 a 8 bilhões
para a implantação de um novo sistema de tratamento de água (Worldwatch lnstítute,
1999).
A Declaração Universal dos Direitos da Água, promulgada pela ONU em 1992, em seu
artigo 3º, lembra que:

ºOs mecanismos naturais de transformação da água bruta em água potável


são JentosJ frágeis e muito limitados. Assim sendo, a água deve ser
,,.,,, . • " · • 11
manipulada com racionalidade, precauçao e parc1mon1a.

Todos esses importantes alertas apontam numa só direção:

A imperiosa necessidade da proteção dos mananciais utilizados pelas


populações humanas e demais seres vivos.

379
Abastecimento de água para consumo humano

Por isso é que nos países mais desenvolvidos as bacias hidrográficas de m .,


cuidadas e declaradas como verdadeiros santuários ambientais. ananc,a1s São

Prática Prática recomendada


não recomendada
Ao escolher um manancial, o profissional de b
Muitas vezes o profis- . d a_as-
t~c1mento e águ~ deve considerar aspectos reta-
sional de abastecimento
c1ona_dos à quant1~ade de água, à facilidade de
de água, ao escolher o
aduçao e à proteçao do manancial (qualidade da
manancial, pensa ape-
água), lembrando-se de que, via de regra, quanto
nas na suficiência de sua maior a vazão do manancial tanto maior é a sua
vazão (quantidade de bacia hidrográfica, o que vale dizer, tanto mais
água) e na facilidade de difícil será garantir a proteção da respectiva bacia
adução de suas águas hidrográfica e, por conseguinte, a qualidade da
até a comunidade. água a ser captada.

Assim sendo, todo o esforço deve ser feito pelos prestadores dos serviços de abasteci-
mento de água, juntamente com as populações abastecidas, para que seja garantido -
inclusive, mas não apenas, pela atuação dos órgãos ambientais responsáveis que as
atividades desenvolvidas na bacia, a montante das captações de água, não comprometam
mas favoreçam a quantidade e a qualidade desse precioso líquido.
A seguir, apontam-se algumas providências a serem adotadas para que os objetivos
acima destacados sejam atingidos:

(1) Ter o adequado conhecimento da bacia hidrográfica a montante


da cap·tação de água, incluindo os aspectos relacionados à geologia,
ao relevo, ao solo, à vegetação, à fauna e às atividades humanas aí
desenvolvidas. Para tanto, é essencial que se realizem periodicamente
inspeções sanitárias nas bacias contribuintes aos mananci.ais.
(2) Adotar medidas concretas de minimização e controle da poluição
da água e que garantam a sua vazão mínima natural. Para tanto, a
população abastecida e as pessoas com atividades na bacia hidrográfica
do manancial devem ser conscientizadas sobre a importancia dessas
medidas, inclusive por meio de ações de educação ambiental. Deve..se
incentivar a formação de associação comunitária para a adoção de
práticas que Jevem à melhoria da qualidade e da quantidade da água
do manancial, como a exigência de ações a cargo dos órgãos ambien-
tais responsáveis tanto pela área de recursos hídricos, como pela ~e
recursos florestais e pelo controle da poluição. Para tanto, é muito
importante que haja a articulação entre diferentes setores, como os

380

Captação de água de superfície I Capftulo 8

serviços de saneamento, os órgãos da agricultura, comitês de bacia e


órgão ambiental.
(3) Enquadrar o curso de água, de acordo com a legislação específica .
(4) Se possível deverá ser criada e implementada lei que possibilite a
existência efetiva da respectiva Area de Proteção Ambiental.
(S) Conservação ou recomposição da vegetação das áreas de recarga
do lençol subterrâneo, áreas essas geralmente situadas nas chapadas
ou nos topos dos morros.
(6) Manutenção da vegetação em encostas de morros, além da ·
implantação de dispositivos que minimizem as enxurradas e favoreçam
a infiltração da água de chuva, como por exemplo pequenas bacias de
captação de enxurradas em encostas de morros .
(7) Conservação ou replantio, com vegetação nativa, das matas cilia-
res, que se situam ao longo dos cursos de água e que são importantes
para minimizar o carreamento de solo e de poluentes às coleções de
água superficial.
(8) Utilização e manejo corretos de áreas de pasto, de modo a evi-
tar a degradação da vegetação e o endurecimento do solo. por
excessivo pisoteamento de animais (que dificulta a infiltração da
água de chuva).
(9) Utilização e manejo adequados do solo nas culturas agrícolas vi-
sando a prevenir erosão e carreamento de sólidos para os cursos de
água, por meio de técnicas apropriadas, como plantio em curvas de
nível e previsão de faixas de retenção vegetativa, cordões de contorno
e culturas de cobertura, além do uso criterioso de maquinário agrfcola,
evitando a impermeabilização do solo.
(1 O) Desvio de enxurradas que ocorrem em estradas de terra, para
bacias de infiltração a serem implantadas lateralmente às estradas vi-
cinais, procedimento que evita o carreamento de solo aos cursos de
água e favorece a infiltração da água de chuva no subsolo.
(11) Utilização correta de agrotóxicos e de fertilizantes, de modo a
evitar a contaminação de aqüíferos e das coleções de água de super-
fície.
(12) Destinação adequada dos esgotos e dos resíduos sólidos ("lixo")
originados em residências, criatórios de animais e atividades fabris,
com a mesma finalidade do tópico anterior, valorizando técnicas de
minimização, reutilização e reciclagem de resíduos.
(13) Reúso da água em usos menos nobres.
(14) Estímulo à utilização de sistemas de irrigação mais eficientes no
consumo de água e de energia pelos agricultores.
(15) Incentivo a atividades econômicas que não agridam o meio ambi-
ente, tais como agricultura orgânica e turismo ecológico.

381
•• • -a-=i- s--- -ª-· --- - - --- - -
Abaste(f mentt> de àgua para (onsumo humano

Como resumo e lista de verificação (chek list) das principais medidas descritas para a
proteção das bacias de mananciais, apresenta-se, no quadro a seguir, dezesseis itens refe-
renciados pela EMATER-MG como importantes para o manejo integrado de bacias hidro-
gráficas.

Lista para verificação de providências para proteção de bacias de


• •
mananc1a1s
• Possibilitar condições à participação democrática, empreendedora e organizada
do·s,ccicladãos;
• Utilizar e solo de acordo com a sua capacidade de suporte;
• Controlar as enxurradas e demais processos eros'ivos;
• Proteger e/ou recuperar a vegetação nativa em áreas de preservação perma-
nente e reserva legal;
• Recuperar áreas degradadas;
• Respeitar a legislação ambiental;
• Proteger as nascentes e áreas de recarga de aqüíferos;
• Coletar e armazenar as águas de chuva;
• Desenvolver ações de educação ambiental junto à população;
• Tratar e dar destino correto aos efluentes de indústrias, pocilgas, aviários e está-
bulos;
• Utilizar sistemas de irrigação mais eficientes no consumo de água e de energia;
• Dar destino correto aos resíduos e esgotos domésticos;
• Disciplinar o uso de agrotóxicos;
• Estimular a agricultura orgânica, turismo ecológico e outras atividades que não
agridam o meio ambiente;
• Conservar as estradas rurais, adequando-as à preservação ambiental;
• Desenvolver trabalhos em parceria com instituições e comunidades.

382

Capítulo 9

Captação de água subterrânea

João César Cardoso do Carmo


Pedro Carlos Garcia Costa

9.1 Introdução

Além de países.como a Alemanha, a Áustria, a Bélgica, a Holanda e a Suécia, em que


quase a totalidade da população é abastecida por água subterrânea (Unesco, 1998),
também no BrasiJ um grande número de cidades é abastecido por esses mananciais, capta-
dos por meio de poços tubufares profundos. Nas regiões Sul, Sudeste e parte do Centro-
Oeste, cidades de pequeno e médio porte são abastecidas, integralmente, pelas águas
subterrâneas captadas no Aqüffero Guarani. Esse aqüífero constitui-se na maior reserva de
água subterrânea do mundo, estimada em 46.000 km3 (Borghetti et ai., 2004). Seu apro-
veitamento é destaque em municfpíos do interior do Estado de São Paulo, como Ribeirão
Preto, São José do Rio Preto, Catanduva, tjns, dentre outros, que têm cerca de 80º/o de
suas sedes municipais abastecidas totalmente por água subterranea. Tais dados revelam a
importância dos aqüíferos, indicando a necessidade de uma gestão sustentável, de modo a
·não ,comprometer a disponibilidade para as futuras gerações.
Neste capítulo é abordado o aproveitamento das águas subterrâneas por meio de·
captações alternativas e convencionais, porém sempre dentro de critérios que mantenham
a qualidade e a quantidade (sustentabilidade) desse recurso natural. Assim, são descritas
formas de construções de cap·tações e.m fontes (minas ou nascentes), poços amazona.s,
poços tubulares, poços escavados. e drenos horizontais.

383
Abastecimento de água para consumo humano

9.2 Seleção de manancial para abastecimento público

Para a seleção de manancial destinado ao abastecimento público, é importante que


todas as opções, superficiais e subterrâneas, sejam analisadas e devidamente avaliadas.
Entretanto, neste capítulo o objetivo é expor os critérios que d€'1em ser considerados na
avaJiação e definição de um manancial subterrâneo.
Na escolha do manancial para abastecimento público a análise não deve se restringir
a parâmetros técnicos. Ê muito importante envolver a comunidade na escolha do sistema
que irá servi-la. A participação da comunidade garante um maior comprometimento com a
preservação e com a proteção do sistema. A imposição de um projeto de captação, à
revelia da comunidade, pode trazer como conseqüência a rejeição do sistema a ser implan-
tado. Este fato pode se dar, particularmente, em função do mananáal escolhido ou pelo
tratamento químico adot.ado, -muitas vezes necessário para garantir a qualidade da água a
ser distribuída e que, geralmente, é uma inovação estranha aos costumes da comunidade.
Assim; com o intuito de abrandar resistências e uma possível rejeição futura ao proje-
to, recomenda-se que a definição do sistema seja compartilhada com o público-alvo, desde
a tomada de decisão sobre o local onde a água será captada, até seu tratamento e distri-
buição. Esta recomendação vale tanto para os mananciais superficiais como para os subter-
râneos.
O aproveitamento das águas subterrâneas para abastecimento público é uma alterna-
' tiva que deverá ser sempre analisada, pois nas suas diversas formas de ocorrência podem
oferecer soluções simples e de grande viabilidade técnica e econômica. Especialmente no
abastecimento de pequenas comunidades e núcleos populacionais da zona rural, as capta-
.. ções de águas subterrâneas subsuperficíais, por poços rasos e por drenas, e as aflorantes,
como as fontes, são de fácil jmplementação, operação e manutenção e têm baixo custo de
construção. Já os poços tubulares profundos, apesar de exigirem um maior investimento
nas fases de estudo e de construção, trazem ganhos por, geralmente, permitirem a simpli-
ficação do tratamento da água a ser distribuída, conforme comentado na seção 6.3 do
capítulo 6.
Na seleção do manancial, o projetista deve compilar o maior número possível de infor-
mações disponíveis, objetivando conhecer com detalhes os elementos técnicos e socioeco-
nômicos locais. O estudo dos mananciais do entorno da comunidade a ser servida deve, na
primeira fase, ser orientado pelos dados quantitativos e qualitativos relativos aos pontos
potenc!ais de captação. Assim, serão levantados os mananciais que satisfaçam a demanda
do proJeto, considerando a perspectiva de crescimento da comunidade. Deve-se, ainda,
priorizar as alternativas que apresentem melhor qualidade maior proximjdade e menor
d~s~íve! geométrico em relação ao ponto em que se prete~de construir o reservatório de
d1strrbu1ção.

384
Captaç~o de água subterranea I Capítulo 9

9.3 Seleção de manancial subterrâneo

Para a seleção de um manancial subterrâneo, os estudos devem ser realizados em


duas fases a serem descritas a seguir: fase de levantamento de dados e fase de caracterização
do tipo de manancial. -

9.3.1 Levantamento de dados

Nesta primeira etapa, as atividades são desenvolvidas no escritório, com o levanta-


mento da documentação disponível sobre a região, tal como:

• mapas planialtimétrico, geológico e hidrogeológico, com o objetivo


de conhecer o relevo, a geologia e a hidrogeologia regional, além de
delimitar a rede de drenagem e as áreas de recarga ~ descarga;
• pontos de águas existentes (poços tubulares e manuais, nascentes).
No caso de poços, para conhecer o seu perfil litológico e construtivo,
deverão ser conhecidas a(s) profundidade(s) das entradas de água e os
dados dos testes de bombeamento disponíveis; nas nascentes, o tipo
de fonte, a vazão e a qualidade da água;
• fotografias aéreas e imagens de satélite ou de radar, que viabilizem
a definição preliminar das descontinuidades (fraturas: falhas, diáclases
etc.), da litologia, das coberturas aluvionar, eluvionar e coluvionar, e
do padrão da rede de drenagem.

A segunda etapa consiste no levantamento, dentre outros, dos seguintes dados de


campo:

• diagnóstico do manancial subterrâneo que se pretende captar, veri-


ficando capacidade de produção, qualidade da água e condições sani-
tárias e ambientais na zona de recarga do aqüífero;
• reconhecimento geológico-estrutural in loco, com a locação da cap-
tação, observando as condições de acesso ao local escolhido, o desní-
vel em relação ao ponto para onde se pretende recalcar a água, a
disponibilidade e a distância dos pontos de energia elétrica e o uso e a
ocupação do solo na área de recarga.

385
Abastecimento de água para consumo humano

9.3.2 Caracterização do tipo de manancial escolhido

De posse das informações levantadas, é preciso observar que cada tipo de mananóa
subterrâneo possui algumas particularidades que devem ser bem estudadas antes da sua
definição como local de captação para abastecimento de uma comunidad·e.
Os mananciais subterrâneos podem ser divididos em duas categorias: os naturais
aflorantes, que compreendem as fontes, nascentes ou ''minas'' de qualquer tipolog;a, nas
quais a água alcança a superfície por ação de processos ligados à dinâmica terrestre; e
05
captados por obras diversas, tais como poços, galerias, drenas etc. A seleção desses
mananciais para atendimento dos diferentes tipos de uso da água, entre os quais o abaste-
cimento público, depende dos fatores hidrogeológicos locais e regionais.

9.3.2.1 Mananciais naturais ou aflorantes

A escolha de uma fonte, nascente ou "mina" para abastecimento público deve se


precedida de um criterioso exame na área de recarga e sobre o comportamento da sw
vazão. Isso porque, normalmente, as fontes são mais susceptíveis à poluição e às variações
sazonais de vazão. As melhores informações sobre as fontes podem ser obtidas co a
própria comunidade. Deve-se indagar, com perguntas simples e objetivas, o comportamento
da vazão ao longo dos anos e particularmente as variações ao longo do ano hidrológico.
Outros aspectos fundamentais são as obseNações in loco sobre as condições sanitárias,
ambientais e a situação da cobertura vegetal e o uso do solo na área de recarga.

9.3.2.2 Mananciais subsuperficiais


1

O poço raso, também conhecido como poço manual ou freático, é urna escavaçã
manual ou mecânica, de seção cilíndrica, em geral, com diâmetro muito variá.vel, desde
alguns centímetros até metros. A profundidade do poço, suficiente apenas para penetrar a
zona saturada em espessura segura para obter água, é definida pelo nível do lençol freático
ou nível de água no aqüífero. Esse tipo de captação pode ser dividido em três classes:

• poços manuais simples: escavações verticais feitas com ferramentas


manuais. Geralmente têm secções circulares e diêmetro próximo de
um metro, suficiente para permitir o trabalho humano durante sua
construção;
• poços tubulares rasos: são escavações verticais fe itas a trado ou por
cravação de hastes metálicas, geralmente em material inconsolidado,
mais comumente nas aruviões e coberturas det rít icas, ou em rochas
brandas;

386

..
Captação de água subterranea I Capítulo 9

• poços amazonas: são escavações verticais, geralmente rasas e cons-


truídas, na maioria das vezes, com profundidade de até 1O metros e
diâmetro entre 3 e 6 metros. É, a um só tempo, local de produção e de
armazenamento de água.

Os drenas são valas ou trincheiras abertas desde a superfície do terreno até atingir o
aqüífero, onde se introduzem tubos ranhurados envoltos numa manta permeável e numa
camada de elementos de granulometria controlada, capazes de direcionar o fluxo das águas
subterrâneas para pontos de interesse. Outras formas de drenas são perfurações sub-hori-
zontais feitas por sondas, trados ou por cravação de hastes, a partir de locais estrategica-
mente selecionados. Tais obras podem ser implantadas no interior de poços amazonas, de
galerias ou nas variações bruscas de declive (quebras naturais do terreno) onde se intro-
duzem, mecanicamente, elementos de alta permeabilidade, para conduzir as águas do
aqüífero aos pontos de captação.
Por sua vez, as barragens subterr~neas são construções destinadas a criar um reserva-
tório artificial no interior de sedimentos aluvionares, à semelhança dos lagos produzidos
por barramentos convencionais. Nas aluviões do leito de drenagens intermitentes ou efê-
meras , constrói-se um obstáculo impermeável, com a finalidade de barrar o fluxo de água
subterrânea e elevar o seu nível a montante do barramento.
A escolha de uma alternativa subsuperficial para ser usada no abastecimento público
deve ser precedida de uma criteriosa análise do uso e ocupação da área de recarga e sobre
a variação da superfície potenciométrica do sistema aqüífero subsuperficial. Isso porque,
normalmente, estes sistemas aqüíferos apresentam maior vulnerabilidade aos agentes
poluidores e são mais susceptíveis às variações sazonais de vazão, que são função do clima.

9.3.2.3 Mananciais profundos

A escolha de se abastecer uma comunidade por meio de poço tubular profundo deve
ter como pré-requisito um estudo detalhado de natureza hidrogeológica, com abrangências
local e regional. Existe sempre o risco de insucesso na perfuração, sendo que o custo para
a construção envolve um capital significativo. Entre os fatores que influenciam na decisão
deve-se considerar a quantidade e a qualidade da água demandadas.
A locação de poços tubulares profundos deve ser precedida do inventário dos poços
existentes na região, com o objetivo de identificar a posição e os critérios utilizados no
posicionamento dessas captações, a produtividade e a posição das entradas de água. Em
seguida, deve-se avaliar a geometria do aqüJfero, delimitar as áreas de recarga e descarga,
definir o tipo de aqüífero poroso ou granular, fissurado, cárstico e, finalmente, elabo-
rar o modelo hidrogeológico conceituai para o local.
As áreas em que estão presentes os sistemas porosos ou granulares oferecem maior
flexibilidade para a locação. lsso se deve ao fato de que tais aqüfferos apresentam, como

387

·---
AbastecJmento de água para consuimo humt1no

caracterfstíca, uma porosidade pri~ária eu~ padrão hidro~:ológico mais homogêneo D


geral nesses mananciais a ,acaçao deve ser pos1c1onada nas zonas top ·. e
um modo . , ograf,ca..
mente mais baixas (zonas de descargas).
N.os aqüíferos fissurados O posicionamento
. .
de poços tubulares profundos é b
. f t' d . ern nia1s
.
I que no caso anterior. A pr1nc1pal caracter s 1ca esses sistemas é a circula . .
comp exo ,. . 'd . çao das
ág·uas subterrâneas através de superf1c1es de descont1nu1 ades da rocha falhas d'á
- b h É , i cla-
ses etc. . , formadas pelo efeito de deformaçao so re as roe as. ' portanto, um sist
de porosidade secundária, com distribuição tipicam~nte heteroJênea das zonas de a~~~
zenamento de água, que dependem do .grau de interconexao entre as superfícies de
descontinuidade, 0 que demanda o conhecimento "d~ comportamento estrutural do pacote
rochoso, especialmente as direções de esforços te~on1cos cap~zes de gerar descontinuidades
abertas, para permitir O fluxo de águas subterraneas. Assim, na seleção de locais para
·perfuração de poços nesse sistema, vários fatores devem ser considerados: a morfologia do
terreno, a disposição e a relação da malha hidrográfica superficial com as descontinuidades, a
distribuição das litotogias e a natureza dos elementos estruturais que afetaram as rochas
locais.
No posicionamento do poço, nesse caso, o primeiro passo deve ser a fotointerpretação
regional, marcando a rede de drenagem, falhas e juntas, como forma de identificar as
direções estruturais das descontinuidades do maciço rochoso. No local, depois de lançar no
mapa os elementos da fotointerpretação e os pontos de água cadastrados no entorno da
área de interesse da pesquisa, devem-se identificar ou confirmar a direção e o mergulho
das descontinuidades, buscando entender o esquema de deformação que afetou a região
e sua relação com a produtividade dos mananciais existentes. Ao final, a locação do poço
tubular deve ser planejada para atingir as fraturas abertas, que normalmente estão associ-
adas ao último evento tectônico regional de deformação.
Em casos especiais, aconselha-se a utilização de métodos geofísicos para o posiciona-
men·to de poços tubulares profundos. Entretanto, o uso dessa ferramenta não elimina o
risco de insucesso na obtenção de boas vazões.
Os aqüíferos cársticos são desenvolvidos em rochas carbonáticas, principalmente ond.e
o mecanismo básico de formação do aqüífero é a dissolução pela água de uma rocha
carbonática. Regiões onde ocorrem os aqüfferos cársticos são facilmente identificadas por
apresentarem características geomorfológicas, hidrográficas e hidrogeológicas peculiares,
que devem ser analisadas em conjunto, onde se pode destacar:

• escassez de águas superficiais, decorrente da tendência à substituição


da rede de drenagem superficial por circulação subterrânea, com surgi-
mento de cursos de água secos ou intermitentes, mesmo em regiões de
clima úmido;
• presença de depressões e zonas de abatimento (dolinas e uvalas) e
de s~midouros ou pontos de infiltração de águas da superfície;
• exrstência de cavidades no subsolo, com presença de grutas;
• solos de boa fertilidade.

388
c aptação de água subterrânea I Capítulo 9

Dolinas são depressões de forma aproximadamente circular ou ovalada, de bordas


fortemente inclinadas e fundo plano. O desnível entre o fundo e o topo das bordas pode
variar de poucos metros a valores próximos a duzentos metros. A origem dessas formas
deve...se ao colapso da estrutura de rochas de composição carbonáticas de seu substrato,
quando submetidas à dissolução química provocada pela circulação de águas subterrâneas.
As águas de chuva ou de drenas superficiais que fluem para o interior de uma dolina se
infiltram para o subsolo por pontos de infiltração ou sumidouros existentes em seu fundo
ou nas bordas.
As uvalas são duas ou mais dolinas interligadas. As uvalas podem ter formas mais
variadas que as dolinas, de acordo com a disposição, no terreno, das dolinas que lhes
deram origem.
A locação de poços tubulares nesse tipo de aqüífero tem por base a identificação dos
aspéctos morfológicos superficiais, do modelo de carstificação e do padrão tectônico que
afetou as rochas locais, visando a identificar as inter-relações entre as diversas descontinui-
dades estruturais e as zonas de dissolução cársticas. Por outro lado, devem ser mapeadas as

formas cársticas superficiais, como as dolinas, uvalas e sumidouros, relacionando-as com o
padrão tectônico definido.
Segundo Silva (1984), a classificação das dolinas como indicadoras de água
subterrânea pode ser feita considerando o seu diâmetro e forma. Dolinas com menor
diâmetro indicam menor grau de evolução da carstificação e, portanto, menor proba-
bilidade de se encontrar o sistema aqüífero obstruído por sedimentos argilosos. Afirma
o autor: '' As dolinas com menores diâmetros são indicadoras de ocorrência de água
subterrânea.'' Já as dolinas com diâmetro maior indicam uma carstificação mais evoluída,
com maior probabilidade de se encontrar o sistema cárstico obturado por sedimentos
argilosos.
Silva (1984) afirma que as dolinas de forma elíptica, normalmente, estão associadas a
fraturas. O eixo maior da dolina corresponde à direção do fraturamento aberto e, conse-
qüentemente, à direção do fluxo subterrâneo. Já as dolinas circulares não mostram a direção
do fluxo subterrâneo, sendo necessário usar outros parâmetros hidrogeológicos na deter-
minação da direção preferencia1 do fluxo.
Diante dos conceitos expostos, na locação de poços tubulares em aqüíferos cársticos
devem-se pesquisar as seguintes estruturas geológicas locais:

• fraturas paralelas ao esforço de deformação da rocha;


• fraturas de distensão, normais ao esforço de deformação da rocha;
• pontos de interseção de fraturas;
• dolinas controladas por fraturas abertas;
• dolinas ativas, com sumidouros;
• dolinas com pequenos diâmetros;
• dolinas com formas elípticas.

389
Abastecimento de :água para con suma, humano
· •

... li
9.4 Fontes de me~~ -~~~º~~~
• • •.
• l -
I •

A captação de fontes de meia ~~cos


ta pode ser'. em muitas situ_ações, u
"á , A água captada pode ser utiliz ma alternativa
v l ve . ada no próprio local por melo da
. . tr u·. c . 'd d o p eração de
reg1s o, o onduzida a distâncias consideráveis por grav, a e, atrave,s de um um
Esse tipo de manancial é, quase semp . , f . . a a du tora
re. muito vulnerave1aos e eito~ da .
necessário um rigoroso planejamento para poluição. Assim, é
proteger a fonte, ~or meio de cercas que
çam a aprox,mação de pessoas e anim impe-
ais, de valetas que desvtem as águas de
ponto de afloramento e de reforço da co chuva do seu
bertura arbórea em seu entorno.
Para a captação das fontes d,e encosta
, uma metodologia simples e eficiente
trução de uma caixa co\etora exatamente é a cons--
sobre a surgência. Esta caixa deve ser cim
nas partes \aterais e su·perior. No fundo, entada
por onde a água penetra na caixa, colo
camada de cascalho rotado ou de brita g ca-se uma
rossa, de mais ou menos 30 cm de esp
parte superior, a caixa coletora deve ser d essura. Na
otada de uma tampa de inspeção, send
alrnente utilizada para a co\ocação de pro o eventu..
dutos para a desinfecção da água .
No seu interior, além do crivo, através
do qual a água tem acesso à tubulação

(com registro), instala-se um extravasar (l adutora


adrão) e uma tubulação de limpeza, pa
fundo e provida de registro (Figura 9.1 ). rtindo do
A caixa coletora deve apoiar-se na
camada impermeável ou na rocha sã, c
seja em fratura. Para isso, escava-se o terr aso a fonte
eno, removendo-se o material inconsoli
blocos de rocha encontrados. A construç dado e os
ão deve ser feita com cuidado, se possív
uso de máquinas pesadas, como tratores el sem o
e retroescavadeiras, sobretudo quando
mostrar as fissuras da rocha, para preven o terreno
ir desvio parcial e até mesmo total da á
vés de outras fraturas próximas. gua, atra-
Esse tipo de captação precisa ser m
uito bem protegido, eliminando todos
poluição de suas imed;ações, como: foss os focos de
as, estábulos, chiqueiros, currais e dep
lixo. Deve-se ter o cuidado de acompan ósitos de
har o uso de agrotóxicos na área de re
fonte. A Figura 9.2 ilustra a solução. carga da

390
Captação de água subterrânea I Capítulo 9

Valeta de proteção

o Extravasar

o --- o
-
N. A.
o o ~
o o - -
Adutora

Descarga •

__- ,Figura 9.1 - Captação de. água de fonte de aqüffero granular


Fonte: ~'ACACH (1982)

111111
1
lllltllll
1

~ Re9.0lito . Caixa coletora


++ + + + .,1111111 11 1
1
. '; · : ~ : · ~ . \ · . · . . ' . ' . ' , ' . • Dreno subsuperficial
+ + + ·+ + + + 1,11 1 11111
.. + .... + + . , + + + • ,, 1 a 1 1 1 t
·+ + + + + + + + + + º •. 1 1 1 I ,,...,'":'""~- • • •
• + + + + + + + + + + 1111111 ••
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+ • +· + + + + + + + + li , ,, •
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+ + + + + + + + + + +. + ~. + + + + + + + + . • + + + + + + + + + t + + + + +• 1111 Ili.li

o 2
- -1 -
Figura 9.2 - Captação de água de fonte de a.qüífero fraturado


391
Abastecimento de ág ua pa ra consum
o humano

9.5 Poço manual simples

os poços manuais simples são recom endados para abastec


im en to de residên cias uni-
fam.i\tares ou de pequenos agrupamentos p
opu\acionais . A decisão pela construção
poço manua\ simples deve ser precedida de um
de uma pesquisa muito fácil, que é a ab
um furo a trado, de preferência no per{o ertura de:
do mais seco do ano, para se conhecer
terreno a ser perfurado, a profundidade do n{ o perfil do
vel estático e a vazão que pode ser captada
nesse periodo do ano hidrológico .

• M é to d o construtivo
A época adequada para a escavação dess
e tipo de poço é o período da estiagem
no período das chuvas o trabalho envotv , pois
e um risco considerável de acidentes, d
maior potencia\ de desmoronamento do te evido ao
rreno . Entretanto, a construção de um p
requer, sob qualquer tipo de regime clim oço
ático, a adoção das medidas de segura
sárias para garantir a estabilidade das p nça neces-
aredes do poço de acordo com o avan
ração . ço da perfu-
A escavação é feita manualmente, utiliza
ndo-se picaretas, pás, enxadas e alavan
1
material desagregado é retirado por me cas. O
io de caçamba presa a uma corda, com
um saritho. O poço deve ser centrado n o apoio de
o furo a trado, ter a forma cilíndrica e d
torno de um metro. A profundidade d iâmetro em
eve ser suficiente para atingir a superf
aqüífero superior (lençol freático) e ne ície livre do
le penetrar pelo menos um metro. Poré
não deve ter uma profundidade inferio m, o poço
r a três metros, que é uma a\tura mín
revestimento de proteção sanitária do p 1ma para o
l oço .
Para a construção do poço uma técnica simp
les é usar, como revestimento , manilha
de concreto . Na instalação dessas man s
ilhas, a sua descida para revestir o poço
concomitante com a escavação . Para ta po de ser
nto, o dia metro dos tubu\ões e do poç
o em coOY
1

trução devem ser da mesma ordem de g


randeza. As mani\has são assentadas u
outras desde a boca do poço, descendo vert ma sobreas
icalmente pela força do próprio peso. Caso O
diâmetro do poço seja maior que o diâm
etro das manilhas, é importante prever um si
de sarilho e ganchos para possibilitar sterra
a descída das manilhas. o espaço an
parede e a manitha pode ser preenchido com elar entre ª
areía ou argila (no trecho acima do lenço\:.
Para viabilizar a escavação abaixo do nível da á
gua, pode ser necessário o esgotamer.tc._.i'
que pode ser feito com uma bomba ou
mesmo manualmente.
As obras envotvidas na complementação
do poço constituem-se da ,mpermeabi\i
~e pelo menos três metros da porção z ;
superior, a construção de uma parede, ta
impermeável até a cota de um metro ac rn ..
ima da superfície do terreno e a construção
tampa ~e concreto para o poço. Na zon de;
a saturada, o espaço ane\ar entre as m
fur~s, tipo dr~no~ e a parede do poço anilh_... -.
deve se r pree nchido com brita, cascalho r
areia. Nos pr1me1ros três metros abaixo
do nível do terreno, espaço anelar : 1
0 ~
J

392
Captação de água subterrânea I Capítulo 9

impermeabilizado com calda de cimento ou argila compactada, formando uma capa


envoltória de pelo menos quinze centfmetros de espessura.
A Figura 9.3 mostra o projeto de um poço manual simples. Após o término da cons-
trução, deve..se proceder à desinfecção de água do poço, utilizando-se hipoclorito. A água
clorada deverá ser retirada após 12 horas e descartada. Nos poços instalados em áreas com
sedimentos ricos em matéria orgânica não se aconselha a cloração constante, em fun-ção
da possível formação de compostos organoclorados na água armazenada. ·

Sistema de bombeamento

Laje de proteção (cimento)


. , .
...
... • • . • . . .., -,..__
.. .-,....._

~
• • • Parede de alvenaria ou
anel de concreto

= 0,80 -1 ,20
+ + + + + + /
+ ++ ++ ++ + + + + + + + +
+ + ~ + + + + + + + ~ + + + +
+ + + + + + + + + + + + + + +
+ T + ~ + + + + + + + + + + +
+ + + + + + + + + + + + + + +
T + + + + + + + + + + + + + +
+ + + + + + + · ++++++++
+ + + + + + + ~....._,
+ + + + + + +
N. A. + + + + + + + +
+ + + + + + + ~ · ++++++++
+ + + + + + + +
+ + + + + + + ·+++++ + + +
+++++++ ~ + + + + + + + +
+ + + + + • + . + + + + + + + +
+ + + + + + + + + + + + + + +
+ + + + + + + + + + + + + + +
-r+ +++++ Clorador + + + + + + + +
+ + + + + + + . + + + + + + + +
++ +++++ ~ + + + + + + + +
+ + + + + + + · + + + + ++ + +
+ + + + + + + + + + + + + + +
+ + + + + + + + + + + + + + +
+ + + + + + + + + + + + + +
+ + + + + +

Pré-filtro Base rochosa Con'unto motobomba Parede de alvenaria


impermeável submersível com tijolos furados
Figura 9.3 - Poço manual simples

9.6 P,oço tubular raso

..
Os poços tubulares rasos são, na maioria dos casos, empregados para abastecimentos
individuais na zona rural, que requerem pequena vazão. São constriufdos em terrenos facil-
mente desagregáveis, como aluviões ou mantos de alte~ação das r:ochas cristalinas. Assim,
esse tipo de poço é apropriado para captar água subterranea do sistema aqüffero granular
pouco profundo.

393
Aba:steclmento d'.e água para consumo humano

Em geral são construidos com equipamentos pequenos, tipo trados manuais


. r • d á f OU
mecanizados, ou pequenas sondas que usam Jatos e gua ~orno e emento Perfurador.
0
diâmetro de perfuração varia entre 50 e 100 mm e a profundidade raramente ultrapassa os
20 metros. A Figura 9.4 ilustra esse tipo de poço. ·

11
Perfuração 6 ou 8"
)

laje de proteção ~
...--'----i
Superfície do terreno
/

Selo de calda
de cimento ------- ~------·
.........
-'----,.jf---
Tubo de PVC
geomecânico de
• 1 f i'
100 mm ou PVC rígido

__,_ .
- . .
--- -
Pré-filtro de brita
zero ou areia Filtro de PVC
sel.ecionada ' geomecânico de
100 mm ou PVC rígido

ranhurado envolto em
' tela de náilon

.' ± 20 m Rocha dura


.. ' Figura 9.4 ~ Poço tubular raso
t t' •
tJ"4. ti
1

....... ' 1

• Método const.rutivo

A construção desses poços deve ser feita em diâmetro que permita a instalação de
revestimento com tubo de PVC geomecânico ou rígido e, na zona saturada, com elemen-
tos filtrantes de PVC geomecânico, ou mesmo com tubo de PVC rígido ranhurado.

Nesse tipo de poço é aconselhável sempre usar uma camada de pré-filtro disposta no
espaço anelar entre o filtro e as paredes do aqüífero. o emprego de pré-filtro tem por
objetivo estabilizar os sedimentos do aqüífero, permitindo O uso de um elemento filtran~e
com ranhuras maiores. O pré-filtro deve ser de areia ou "pedrisco", com granulometna
controlada e homogênea, geralmente brita zero, de forma a redUliir o ··<Earreamento de
• •
material sólido para o interior do poço, através das aberturas do f:iltro. Recorner,ida-se ~ e
o pré-filtro tenha granulometria capaz de reter 90% do material cqae colíflp'õe, ii.farlli:laefcl@
aqüífera. :
AP do pré-f·11tro, deve-se completar a porção
tala~ao
- · supenor,. 1110 ,rStro el:ltre o
.. Á
.,5 a ins
• ..J'
p,.,,. • _ afé
aquífero e o revestimento,
•• com uma çalda de cimento, -visal,)clo -â iirmpet.meabíllza(aQ

394 ,
Captaçao de água subterranea I Capítulo 9

uma profundidade mínima de 3 metros abaixo da superfície do terreno. Caso o poço esteja
em área de inundação, o revestimento deve ser instalado com sua borda superior acima do
terreno, com uma altura suficiente para protegê-lo das enchentes. A cota de inundação
pode ser pesquisada junto aos moradores da região.
É importante registrar que esse tipo de captação, em função da sua pequena profun-
didade e da natureza da área onde é construída, é altamente susceptível a contribuir para
a poluição do aqüífero. Assim, as medidas de proteção devem ser objeto de cuidados
• •
espec1a1s.

9.7 Poço Amazonas

Os poços Amazonas são recomendados para o abastecimen~o de comunidades onde


existem aqüfferos granulares, pouco profundos e de baixa produtividade. A construção
desses poços de grande diâmetro visa a resolver o problema da baixa produtividade do
aqüífero, pois ao mesmo tempo o poço Amazonas é um ponto de produção e de arma-
zenamento de um bom volume de água. Para maior facilidade e sistematização da construção,
nos programas de implantação de sistemas de abastecimento em várias comunidades de
uma mesma região, é recomendável a padronização do diâmetro dos poços. Isso permite o
reúso das formas e a mobilização de material em quantidades predefinidas brita e ci-
mento para cada um dos locais onde se pretende construí-los. A experiência dos autores
na região Norte de Minas permite recomendar a adoção de um diâmetro interno de 4 m. O
diâmetro recomendado permite reservar 12,5 m3 de água para cada metro de penetração
no aqüífero captado. A partir desse valor, a penetração poderá ser calculada conforme a
população a ser abastecida. Toda a água reservada no poço Amazonas pode ser transferida,
por bombeamento, para um reservatório e daí distribuída por gravidade à população. O
bombeamento pode ser realizado em um curto período, preferencialmente em horário
noturno, quando as tarifas de energia são mais baixas.
Um prático projeto de poço Amazonas prevê seu revestimento, no trecho acima do
nível estático, com tijolos comuns e, abaixo desse nível, com paredes filtrantes em concreto
cavernoso. O espaço entre a parede de concreto cavernoso e o subsolo escavado deve ser
preenchido com areia, para constituir um pré-filtro.

• Método construtivo
Detalhes do poço Amazonas são apresentados na Figura 9.5.

395 •
Abastec:Jmento de água para consumo humano

0,75 rn
Fixação de clorador Tampa de inspeção K · - ~
- •
. . / Saída para bombeamento
: ~~;.~•.'i:=1
,--~~~~~~~-t-
1

1
• 1

1-'

: Superfície do terreno
///, '/7/ ~ . ///////. "//////
Tijolo comum , · . 1

1
• Tijolo em pé e ferragem
1

com concreto

N. A. 1

N.A
1/ 1



v -
.. .
·-. ••

• ••

••

~• ~ -


. :
·: ...
\
Cinta de concreto
::! :-!~ ,,-- cavernoso annado
...-. .• •: .
E- ,. ·· ~v Concreto cavernoso
g
Dreno ~ · . . "'
º ... º º º º .. º •• º º . . . . . . . . . . . . . . . . . . ; .=·
d'
Dreno ra ia1
#
•••• •••••ooo
•••••••••0000000
000000000000000 •
oooooe 0000

o~

radial , : ·:: ·:: (-.::·:. ~ Sapata padrão em concreto


--~~------~------~----~~~------
...: · "- cavernoso e vergalhões 3/8•

Substrato rochoso
Figura 9.5 - Poço Amazonas

As etapas construtivas são descritas a seguir, estando representadas na Figura 9.6.

• Inicialmente, no ponto onde será construído o poço, deve-se abrir


um furo a trado, para se conhecer o perfil do terreno a ser perfurado e
a profundidade do nível estático.
• A escavação é feita manualmente, utilizando-se picaretas, pás, en-
xadas e alavancas. Tomando-se o furo a trado como centro da escavação,
delimita-se, n.a superfície do terreno, um círculo com 6 metros de diâ ...
metro (etapa 1).
• A escavação do terreno manterá este diâmetro até um máximo de
1,5 m de profundidade ou, então, até uma cota de 0,9 m acima do
lençol freático (etapa 2). Nesta profundidade marca-se um novo círculo,
com diâmetro interno de 4 m e, a partir desse ponto, escava-se
uma valeta anelar, com 0,40 m de largura e profundidade de 0,85 m,
conforme indicado na etapa 3. A valeta é então moldada com barro,
na forma especificada na etapa 4, para receber o concreto que dar~
forma à .sapata cortante do poço.

396
Captação de água subterranea I Capítulo 9

1 (n
6m
2 (T)
> 1.5 m 8

0,90 m
---------- - NA
.
••
3 (T} ----- ... -- NA
0,4 4,0 m 0,4 • •

- - - - - - - - - - - NA LEGENDA:

Mod. de forma (T) T Superfície do terreno


em barro NA Nível de água
: ..._ ._.. . l"'õ-i Bomb·a 9 ..L.ú..l.l,,,,,,,
- - - - - - - - - - - NA
Formas de madeirit
ª
L.Q.J

f]
Revestimento com tijolo simples
Concreto cavernoso
-:·:·:
.....
· : ..-
:·:·

11~11 ~
.........
i,i,i

rn Argila compactada .': - - - - - .•
- - NA
para concretagem _ (T)
II Pré-filtro em areia fina e média -. ... ..
':• • 8 Entulho de escavação
- - - - - - - - - - - NA •

6 _ r-- (T)
"' . .. . . ~

----------- NA Tubo
,.,
7 ~ Mangante ..........-::::::!At:::T (T) ..• ----- - - NA
' . ''
.
1m O 1 2 3m
• ----

Escala
Figura 9.6 - Etapas de construção do poço Amazonas

Tanto a sapata como as paredes do poço que estão abaixo do nível de água são feitas
com concreto cavernoso, segundo as seguintes recomendações: . 1


• o concreto cavernoso é preparado com brita zero, cimento e água. A
brita zero é inicjalmente peneirada em malha de 0,5 cm (equivalente •

às peneiras usadas na sopração de café), visando a eliminar as frações


mais finas, para obter grãos de tamanho mais homogêneo e aumentar
a porosidade do concreto a ser preparado. A porção fina que p.assa .
pela peneira deverá ser estocada para uso no concreto comum da tampa
do poço;
• obtid.a a brita com fragmentos homogêneos, o concreto cavernoso
deve então ser preparado com as seguintes prepor~ões volumétri(as:
15 volumes de brita peneirada, 3 volumes GJe GiroeFlt@ e 1 -volume de
água. Se·a água for insuficiente, deve ser adicioriaêa em ~uantidaãe-s
ínfimas, até a obtenção da viragem ,do concreto~ O Gomere'tc~l, clijf';)mis
de preparado, deve ter o aspecto de fragmentos homegêrnees,. dte fO-
cha:r- envoJvido: por fina película· âe c:imento; ·


. -


39l
,.. -

Abastecimento de á.gua para c.onsumo humano

• em casos de aqüíferos com águas de turbidez elevada, pode-se adi-


cionar até 20% do volume em areia, para reduzir a porosidade e me-
lhorar a filtração da parede;
• depois da preparação da forma da sapata no próprio terreno, faz-se
a sua concretagem com concreto cavernoso, armado com 5 verga ..
lhões de diâmetro 3/8 '', e estribos espaçados de metro em metro;
• sobre a sapata concretada no próprio terreno =forma moldada com
barro , passa-se à montagem de uma forma circular com 0,2 m de
vão e 4 m de diâmetro interno (etapa 5). Em casos onde o terreno
apresenta baixa resistência, as paredes do poço podem ser reforçadas
com 6 colunas, espaçadas de 2 metros entre si, e anéis, a cada metro
linear de avanço na perfuração. As colunas e os anéis devem ter 4
ferros de diâmetro 3/8'', dispostos regularmente, e poderão ser con-
cretados com o próprio concreto cavernoso (etapa 6);
• o avanço da perfuração deve observar o tempo necessário para a
cura completa da sapata. A escavação prosseguirá normalmente até o
nível de água, mantendo-se, até este ponto, o fundo do poço plano. A
medida que se escava o fundo do poço, o peso da sapata e da parede
cavernosa acima dela farão a estrutura deslizar suavemente para baixo,
funcionando como escoramento da escavação. Ao ser alcançado o
nível de água há a necess;dade de utilização de um conjunto moto-
bomba equipado com mangotes e tubulações, para esgotamento do
poço. A construção de uma pequena bacia para instalação do mangote
e crivo torna-se necessária ao bombeamento (etapa 7);
• a etapa 8 (Figura 9.6) ilustra a repetição do ciclo, com a concreta-
gem avançando metro a metro. O espaço anelar entre a parede porosa
l
• e o terreno, na medida em que a estrutura desce, deve ser paulatina-
mente preenchido com areia, até a cota do NA. Ao atingir-se a profun-
didade requerida para obtenção do volume de água desejado, deve-se
completar a parede do poço até a cota de 1m sobre a superfície do
terreno, com tijolos ou concreto comum. O espaço anelar entre a parede
impermeável (acima do nível de água) e o terreno deverá ser preenchido
com argila e compactado, conforme ilustra a etapa 9, visando ao se la-
mento para proteção sanitária;
• a etapa 1O mostra o poço com sua cobertura em concreto comum .
Após o término da construção, deve.. se proceder à desinfecção de água
do poço, utilizando hipoclorito. A água clorada deve ser retirada após
12 horas e descartada. Nos poços Amazonas instalados em áreas com '

sedimentos ricos em matéria orgânica deve haver um cuidado especial
com a cloração, em face da possível formação de compostos organo . .
cloradas na água armazenada, o que deve ser objeto de sistemático
monitoramento e eventual substituição do agente desinfetante.

398
Captação de água subterranea I Capítulo 9

9.8 Drenos horizontais

Os drenas horizontais são captações de água subterrânea indicadas para meios poro-
f
sos, cujo nfve.f de água está posicionado a pequena profundidade. Éindicado para áreas de
! ocorrência de.aluviões ou coberturas detríticas com pouca espessura e significativa exten-
são em área. Geralmente, a captação é constituída de um ou mais drenas horizontais
assentados no fundo de uma vala (trincheira) e interligado(s) a um poço coletor, como
mostra a Figura 9. 7. Os tubos do dreno podem ser de PVC geomecânico, PVC rígido ou de
aço .galvanizado ranhurado. Em terrenos com sedimentos de granulação fina ou na presen-
ça de.á·guas turvas, a porção ranhurada do tubo deve ser envolvida por uma manta porosa
(tipo bidim) ou tela de nylon e por um pré-filtro constituído por camadas de areia e de
cascalho ou brita, selecionados de forma a eliminar as partículas em suspensão na água.

E
o
r1
-
Superfície do terreno
\

1 - Tubo de desinfecção em PVC rígido, diâmetro 50 mm.


2- Tubo de PVC geomecânico do tipo filtro ou Tubo dreno de PVC rígido com ran.huras o~lígua·§
de 20 em 20 cm revestido em tela de nylon, diâmetro de 100 mm, caimento d.e 5%. ,

3 - Pré-filtro e camada filtrante conforme especificado .


4 - Poço para coleta de água.

Figura 9.7 - Seção longitudinal de dreno para captação de água subsuperficial



' . •

'

. ·.
•. .• . •,

Abashdm•n10 de Agua para consumo humano

Escavação da trincheira 3a

Colocação da areia, brita zero 3b


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Tubo dreno

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2 PJ'é..filtro de brita zero
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granulometria 3 a 12 mm material- e.smvado

Figura 9.8 - Etapas construtivas de dreno para captação de água subsuperficial •

400

-- - -
Captação de égua subterrânea I Capítulo 9

• Método construtivo

A escavação para instalação do dreno pode ser manual ou mecânica (utilizando retro-
escavadeira). Deve ser em forma de trincheira simples, com largura útil em torno de 0,5 m
(Figura 9.8).
A instalação do tubo dreno deve obedecer a seguinte seqüência, indicada na Figura 9.8:

• colocar no fundo da trincheira uma camada de areia fina peneirada,


com 1O cm de espessura; em seguida, recobrir a parte central da areia
com uma camada de 1O cm de brita zero, que deve ser peneirada em
malha de 5 mm e lavada, para eliminação da fração fina . As bordas
dessa camada (1 O cm em cada extremidade) devem ser completadas
com a mesma areia da camada inferior. Deve-se evitar o uso de brita
calcária, que provoca aumento de dureza da água;
• instalar tubo-dreno sobre a camada central de brita, mantendo-se uma
inclinação mínima de 0,2 o/o, no sentido da extremidade de coleta;
• recobrir o tubo com camada de brita e areia, na form a já descrita;
• preencher a parte superior da escavação com material argiloso ou
com o próprio material da escavação;
• instalar na extremidade de montante de cada tubo-dreno um tubo
de diâmetro menor, em posição vertical, até aflorar 1m acima do ter-
reno, como indicado na Figura 9. 7. Esse tubo destina-se à desinfecção
e limpeza do dreno. Deve s~r dotado de tampão de vedação e estar

muito bem protegido contra animais domésticos e silvestres;
• como tubo-dreno, podem ser utilizados filtros de poços tubulares
profundos em PVC geomecânico ou aço galvanizado. Esse material
deve ter uma ranhura contínua e abertura de cerca de 2 mm. Pode-se
optar por uma construção mais econômica, usando tubos de PVC rígi-
do, no diâmetro de 100 mm, ou, eventualmente, 75 mm. Nesse caso,
as ranhuras deverão ser feitas na porção correspondente a metade
inferior do tubo, conforme mostra a Figura 9.9. Para tanto, pode-se
utilizar uma serra fina para metal. Os cortes no tubo devem ser feitos
com ângulo de 90º em relação ao eixo, eqüidistantes de 2,5 cm, e
alternados a cada lado do semicilindro inferior do tubo;
• os tubos-dreno devem ser envolvidos por manta porosa (bidim) ou
por tela de nylon, fixada por arame de alumínio ou fio de pesca (Fi-
gura 9.9);
• construir na parte de jusante um poço coletor.

Caso a disponibilidade de água seja pequena, pode-se aumentar a área de captação


instalando os dreno.s segundo traçados variados, conforme indicado na Figura 9.1 O.

401

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Abastecimento de Agua para consumo humano

Corte do tubo-dreno U

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Revestimento com malha de bidin ou tela de nylon


Arame de alumlnio

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Figura 9.9 - Esquema construtivo de dreno com tubo de PVC ranhurado

Traçado em espinha de peixe


TraÇ!1do em paralelo

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O Poço coletor Traçado radial


Traçado em grelha
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. Figura 9.10 - Tipos de traçados de drenos para captação de águ.a subsuperficial
=-Fo-nte: DACACH (1982)

402
.
Captação de água subterrânea t C

9.9 Bar.ragem subterrânea


BarraQens subterrâneas ou diques subterrâneos são construções destinadas a armaz


naT â~uas em unidades rochosas de natl!Jreza sedimentar, criando um aqüífero ~renuf
artificial. Esse tipo de afumulação de água subterrânea é conhecido desde o início do
sécwlo passado. Normalmente, a captação da água armazenada é feita por meio de poço
ma}lual ou sirntilar. Algumas citações bibliográficas mostram o uso de barragens subterrâ-
neas na ttália e ma Argentir1a. No Brasil, as primeiras experiências são do início da década de
80, onde pesquisadores da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) e da EMBRAPA
'
(Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) desenvolveram um tipo de barragem subter..-
1
râr1ea para utilização no Nordeste brasileiro. Em Minas Gerais, o CETEC (Fundação Centro
Tecnológico de Minas Gerais) também construiu algumas dessas barragens na região do
semi-árido mineiro. Na Figura 9.11 apresenta-se um perfil esquemático desse tipo de cons-

trução.

Poço de capta ão

NA
2 Montante

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NA acn
\J Jusante o

• + ~luxo subterrâneo

Barragem subterrânea
Figura 9.11 - Barragem subterr~nea

403

,_. •
AbastecJm-,nto de água para consumo humano

• Método construtivo

Para a escolha de um local propício à construção de uma barragem subterrânea, •

deve-se considerar a espessura da camada aluvial, a sua composição granulométrica, a


inclinação do terreno, a inexistência de soleiras rochosas, a relação morfológica do vale,
a distância da área de recarga e a qualidade da água da aluvião. Depois de constatada a

existência de condições adequadas para a implantação da barragem, procede-se a sua


construção, de acordo com as etapas descritas a seguir (ver Figura 9.12).

• Escavação da vala ... escava-se uma vala transversalmente à direção


de escoamento da água, com a largura total e profundidade do vale
até encontrar a rocha inalterada. Essa escavação pode ser manual ou
mecanizada, utilizando-se trator de esteira ou retroescavadeira .
• Septo impermeabilizado - a vala deve ser impermeabilizada com ar-
gila compactada ou, de maneira mais simples, rápida e econômica,
por mei'o de uma lona plástica recobrindo a parede da vala, que fica
oposta ao sentido de procedência do escoamento superficial.
• Estrutura para captação da água subterrânea - esta captação pode
ser feita através de um poço raso. Nesse caso o poço deve ser instalado
na porção mais profunda da vala, pode ser construído com anéis
semi-porosos pré-fabricados, de 1,0 a 1,2 m de diâmetro, por 0,5 m
de altura . Os anéis são colocados justapostos até alcançarem a super-
fície, ficando o último totalmente acima do nível do terreno. Antes de
colocar o primeiro anel, deve ser colocada uma camada de brita, para
proporcionar maior permeabilidade do meio, bem como impedir a en-
trada de areia no poço. A produtividade desta captação pode ser
incrementada com a colç>cação de drenas horizontais, dispostos radial-
• mente em refação ao poço .
• Enchimento da vala - concluídas as operações de enlonamento da
parede da vala de construção da barragem, procede-se ao enchimento
da vala com o material dela retirado.
• Enrocamento - embora não seja imprescindível, é aconselhável a cons-
trução de um enrocamento de pequena altura (cerca de 0,5 m) sobre a
barragem subterrânea, a fim de reter água do escoamento superficial,
para facilitar a infiítração e recarga do reservatório formado.
• Piezômetros - é aconselhável também a construção de um a dois
piezômetros, a montante da barragem, com distâncias de 100 m e
200 m da mesma, a fim de melhor monitorar o rebaixamento dos ní-
veis de água e a evolução da sua qualidade com o tempo.

404
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G) O F L Leito do rio - Fluxo superficial


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Enchimento com areia ou
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Figura 9.12 ~ Barragem subterrânea ·- Mét odo construtivo •

Embora dispensando os tratamentos mais complexos que são necessários à


manutenção de uma barragem superficial, esse tipo de barramento necessita ser moni-
torado, para evitar o processo de salinização da sua água, tendo em vista as elevadas
taxas de evaporação nas regiões semi-áridas. O principal elemento do monitoramento
é o próprio poço construído junto ao septo impermeável da barragem, o qual desem-
penha as seguintes funções:

• permitir a captação da água por bombeamento ou simplesmente


por meio de um sistema de sarilho/corda/caçamba, para consumo hu-
mano, animal ou irrigação;
• coletar amostras de água para análises físico-químicas periódicas, a
fim de monitorar a evolução da salinização na bacia de acumulação;
• acompanhar a evolução do rebaixamento dos níveis de água duran-
te o ano;
• rebaixar ao máximo possível a água da bacia de acumulação logo no
início do período chuvoso, a fim de promover a renovação das águas
armazenadas, evitando o processo de salinização progressivo, decor-
rente da concentração de sais por evaporação da água das zonas mais
superficiais. •

O processo de salin.ização é conseqüência da concentração cumulativa de sais, ano


a ano, devidg à evaporação cda água, similar ao que ocorre também com as águas de
superfície. Se for observado o esquema de esgotamento anual do reservatório da barragem,
Abasteclmén.to de .água para con$umo humano

o aumento da salinização será minimizado, pois as âguas novas que entram com as prime·
.
chuvas, ao serem retiradas . e1.1m1narao boa parte dos sa,s.
do reservatório, 1 -- . tras

9.10 Barragem de areia

Estas construções foram idealizadas para o aproveitamento de fontes de contato entre


sedimentos arenosos e argilosos, em borda de chapadas, que se constituem nos exutórios
naturais das águas subterrâneas armazenadas nestes terrenos. As barragens de areia, além
de permitir a captação de água de boa qualidade, auxiliam na contenção de erosão nos
1 taludes locais. Essas obras constam de duas partes construtivas: a primeira é representada
pela instalação de tubos-dreno; e a segunda é constituída pela construção de um barra-
mento, destinado a elevar o nível da água e reter areia na área de drenagem/captação.
O procedimento para instalação do dreno é o descrito no item 9.8. As trincheiras
pequenas devem ser escavadas até o substrato impermeável. Vale lembrar que aqui a
escavação será muito facilitada pela pouca profundidade e tipo de material a trabalhar. A
barragem propriamente dita poderá ser construída em concreto ciclópico, pedra rejuntada,
ou mesmo alvenaria comum. Sua base deve penetrar no substrato impermeável para evitar
infiltração de água através da zona de contato. Para a coleta da água dos drenas deve ser
construftd.o reservatório, cuja capacidade de armazenamento deve ser determinada pela
produtividade do .aqüífero e p·elo número de pessoas a abastecer.
Considerando-se que estas captações geralmente são recomendadas para zonas de
.... borda de chapadas, em áreas de alta instabilidade, medidas de proteção, tais como cerca
para isolamento, plantio de espécies nativas para recomposição da vegetação e construção
do terraço para desvio das águas pluviais devem ser adotadas.

9.11 Poços tubulares profundos

A construção de poços tubulares para captação de água subterrânea proveniente dos


aqüfferos profundos passa necessariamente pelas seguintes,fases: projet©, l01c:a~ão, perfu~
ração, desenvolvimento, teste de produção, instalação do equipamento de bombeamento
e construção da proteção sanitária do poço.

406
CoptaçDo de água subterranea I Capítulo 9

No que se refere a especificações técnicas, a construção de poços tubulares recebeu


da Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT duas normas, editadas no ano de
1992: a ABNT NBR 12.212 Projeto de poço para captação de águas subterrâneas, cujo
objetivo é fixar as condições exigíveis para a eíaboração de projetos de poços tubulares; e a
ABNT NBR 12.244 Construção de poço para captação de água subterrânea, cujo obje-
tivo é estabelecer os parâmetros a serem observados na construção de poços tubulares.

9.11.1 Projeto

Na construção de poço tubular para captação de água subterrânea com boa produtivi-
dade e qualidade, o primeiro passo é projetar o poço com o objetivo de atender à demanda
requerida com o menor rebaixamento possível e obter água com padrão de potabilidade
aceito pela legislação brasileira, prevenindo possíveis contaminações. o local escolhido deve
situar-se o mais próximo possível do ponto onde se pretende construir a caixa de distribuição
e da rede erétrica, de forma a reduzir os custos de implantação do projeto.
Para a elaboração do projeto de um poço tubular profundo, o responsável técnico
deve ter domínio da norma técnica ABNT NBR 12.212 e levantar os dados geológicos e
hidrogeológicos da área onde se pretende construir a captação, a saber:

• geologia local (aspectos litológicos, estruturais, estratigráficos e geo-


morfológicos);
• espessuras dos aqüíf eros que serão captados;
• características hidrodinâmicas dos aqüíferos;
• granulometria dos sedimentos (para os aqüíferos arenosos);
• qualjdade da água a ser captada;
• demanda requerida pela comunidade ou pelo empreendimento.

Se as informações básicas necessárias para projetar o poço não forem conhecidas e,


na região, não existirem outros poços tubulares, é aconselhável a construção de um poço
pioneiro para pesquisa e reconhecimento do sjstema aqüífero local. Para reduzir os custos,
recomenda-se que os poços pioneiros sejam construídos com diametros menores, apenas
suficientes para permitir a avaliação dos parâmetros hídrodinâmicos do aqüífero e a quali-
da.de da água a ser captada. Os dados obtidos conferirão maior segurança na elaboração
do projeto definitivo do poço tubular produtor.
O projeto deve especificar: o método de perfuração; o díarnetro e a profundidade
total do poço; as características do revestimento com tubos lisos e os intervalos com filtros;
o tipo de material, a espessura e a granulometria do pré--filtro; a indicação da pr@funqjdade
do selo sanitário; a especificação da laje de proteção; e, finalmente, o tipo de dasinfecção
do poço após o encerramento de todos os trabalhos de construção. A Figura 9.13 apresenta
os perfis esquemáticos de um poço tubular a ser perfurado em aqüffero granular e de outro
a ser construído em aqüífero fraturado.

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Perfil esquemático construtivo de poço Perfil esquemático construtivo de poço


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Tubo de revestimento ~

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Fiitro (NBR: 12.212)

Obs.: em situações especiais pode-se instalar filtro no contato da rocha


alterada com a rocha dura.
Captaçao de tigua subterr~nea I Capítulo 9

As observações descritas a seguir devem ser consideradas na determinação dos parâ-


metros dos projetos.

a) Diâmetro de perfuração

O diâmetro de perfuração depende basicamente da capacidade de produção e da


profundidade do nível dinâmico. Com esses elementos é possível especificar a bomba a ser
utilizada. Segundo a ABNT NBR 12.212, deve-se manter um espaço anular mínimo de 25
mm em torno do corpo da bomba. Entretanto, cabe ressaltar que os projetistas podem se
deparar com condições que exigem adequações específicas. A Tabela 9.1 apresenta os
diâmetros recomendados para poços tubulares, considerando as suas vazões.
1

Tabela 9.1 - Coeficiente de aumento da vazão com o diâmetro de perfuração


Vazão em Diâmetro externo da Diâmetro ótimo do Menor diâmetro do
3
m /min carcaça bomba (mm) revestimento (mm) revestimento (cm)
< 0,4 100 150 DI 125 DI
0,3 < 0,7 125 200 DI 150 DI
0,6 < 1,5 150 250 DI 200 OI
1,3 < 2,5 200 300 DI 250 DI
2,3 < 3,4 250 350 DE 300 DI
3,2 < 5,0 300 400 DE 350 DE
4,5 < 6,8 350 500 DE 400 DE
6,0 < 12 400 600 DE 500 DE •

Notas:
DI: diâmetro interno
DE: diâmetro externo
Fonte: FEITOSA et ai. (1997)

Para poços de grandes vazões, pode-se projetar a construção do poço com dois diâ-
metros diferentes, ou seja, iniciar com um diâmetro maior, reduzindo na porção inferior. A
porção construída em maior diâmetro é denominada câmara de bombeamento e a sua
construção tem por objetivo permitir a instalação de bombas adequadas à vazão desejada.
Entretanto, a decisão de aumentar o diâmetro da câmara de bombeamento deve ser
cuidadosamente analisada, pois isso repercute significativamente nos custos de perfuração
e pode resultar em um aumento pouco significativo na vazão.
A Tabela 9.2 mostra a relação do aumento da vazão com o diametro da cêmara de
bombeamento.

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409 •
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Abasteclmento de ãgua para co,nsumo humano

Tabela 9.2 ... Coeficiente de aumento da vazão com o diâmetro de perfuração


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Diâmetro de câmara de bombeamento Diâmetro ótimo do ..


milímetros revestimento {mrn)
Polegadas
F • ~ L - • • •

6 152,4 1.000 -
12 304,8 1.100
18 457,2 1.181
24 609,6 1.240
30 762,0 1.289
36 914,4 1.333
48 1219,2 1.408
fonte: modificad,o de FEITOSA et ai. (1997)

b) Profundidade

A situação onde o poço apresen,ta o melhor rendimento hidráulico ocorre quando sua
profundidade permite atravessar toda a unidade aqüífera. Entretanto, o custo de perfuração
aumenta significativamente com o avanço do poço em profundidade. Dessa forma,
deve-se ter em conta o recurso financeiro disponível para a perfuração e a vazão requerida
pe,lo projeto.
Além desses fatores, a definição da profundidade do poço exige que o projetista ana-
lise os dados disponíveis sobre a tjpologia e a espessura do aqüífero, ou seja, nos sistemas
cársticos, conhecer a profundidade da carstificação; nos aqüíferos fissurados, a profundidade
das descontinuidades abertas; nos sistemas porosos, a espessura e a posição estratigráfica
do sedjmento saturado em água. A experiência tem mostrado que os poços em aqüíferos
cársticos ou fissurados, em algumas regiões brasileiras, não devem ultrapassar 300 metros,
pois abaixo desta profundidade são raras as descontinuidades com circulação de água.

e) Revestimento

Denomina-se revestimento o conjunto seqüencial de tubos instalado no poço, com O


objetivo de sustentar as suas paredes, impedindo que o substrato perfurado desmorone.e
venha a obstruir a perfuração. A escolha do tipo de revestimento é função da re-sístência
mecânica, corrosão, estanqueidade das juntas e resistência às manobras durante as opera-
ções de manutenção do poço. Os tipos de revestimento mais utilizados são tubos de,aço,
galvanizados ou não (o tubo preto não é recomendado para águas corrosivas), ou de PVC,
de acordo com as normas internacionais, tais como DIN 2440, DIN 2441 e ASTM A 12o.

410
Captação de água subterrânea I Capítulo 9

d) Filtro

O filtro; também conhecido por crivo ou tela, é um revestimento especial que permite
a passagem de água do aqüífero para dentro do poço. Portanto, é instalado junto às
porções permeáveis e saturadas do aqüífero.
O comprimento da coluna de filtro depende da espessura da camada saturada, das
pressões e da vazão de explotação projetada. De acordo com a ABNT NBR 12.212, o
comprimento do filtro deve ser calculado com base na seguinte fórmula:

L = (Ql1t. A 0 . D. V)x100

Onde:
L= comprimento, (m);
Q == vazão a ser explotada, (m 3/s);
Ao= área aberta total, (o/o);
D= diâmetro do filtro, (m);
V = velocidade de entrada de água, (m/s).

Uma regra prática utilizada para distribuir a coluna de filtros reva em conta a profundi-
dade do poço. A coluna de filtro deve ser assim disposta: para aqüíferos não confinados,
colocar os filtros na porção inferior da zona saturada, cobrindo entre 30% e 40% da

espessura desta; para aqüíferos confinados, os filtros podem ser distribuídos ao longo do ·
poço, de forma que cubram entre 70% e 80o/o da zona saturada.
Éimportante ressaltar que a admissão (crivo) da bomba filtro não deve ser instalada na
mesma posição onde estão localizados os filtros. Nessa posição, a velocidade de fluxo é
muito grande, o que pode provocar o carreamento de partículas.
A escolha do tipo de filtro depende de fatores como as características granulométricas
da camada aqüífera, a vazão de explotação e a disponibilidade financeira do projeto.
Normalmente, esses equipamentos são fabricados com aço galvanizado, aço inoxidável,
aço carbono ou PVC. Devem ser projetados para suportar a pressão das camadas do
aqüffero e os esforços ou stress'' a que são submetidos durante os procedimentos para
11

posicioná-los corretamente dentro do poço, nos pontos indicados pelas entradas de água.
Dos filtros disponíveis no mercado os mais conhecidos são (Figura 9.14): !
'•
'.
'•
• filtro tipo Nold; •.

l,,•'
• filtro de ranhura contínua; • ••
,:

• filtro de frestas.

411
A1bastedmento de água para consumo hrumano

a) Filtro t ipo Nold b} Filtro de ranhura contínua e) Filtro de frestas


1
Figura 9.14 - Tipos de filtros para poços tubulares profundos
Fonte: (a) CAPU·CCII (2001) I (b) CUSTÓDIO e LLAMAS (1976) / (e) CUSTÓDIO e LLAMAS (1976)

O filtro de ranhura contínua (Figura 9.14b) apresenta a seção transversal das aberturas
com forma aproximadamente triarngular, constituindo-se no modelo que apresenta o me-
lhor rendimento, pois,permite mai,or área relativa de entrada de água. Deve-se ressaltar que
são os de custo mais elevado. Assim, a opção por este tipo de filtro passa necessariamente
por uma análise d.a demanda a ser atendida e pela disponibilidade financeira do projeto.
Nesse t~po de filtro, a água encontra menor resistência para entrar no poço. A veloci-
dade do fluxo de entrada também é menor. Por conseqüência, a perda de carga no filtro é
mínima., o qu1 e im plirc:a, rebaixamento menor para uma mesma taxa de bombeamento.
1

Esses fatores área de abertura maior e baixa velocidade de entrada de água prolon-
g1am a vida útil dos poços tubulares, reduzindo a taxa de incrustação nas paredes da ranhu-
ra e, conseqüentemente, retardando o processo de obstrução das ranhuras.
Os filtros de frestas (Figura 9. 14c) possuem aberturas similares às das ''venezianas"
empriegadas 1nas janelas residenciais. As aberturas podem ser orientadas tanto na direção
perpendicu lar ao 1eixo maior da peça como na direção paralela. Estão disponíveis em aços
1

galvaniz,ado, inoxídável e carbono (tubo preto). O filtro de frestas tem área aberta menor
do que os.de ranhuras. O uso deste tipo de filtro é indicado para produção em cascalhos ou
conglomerados ,pouco consoJidad,os. Seu emprego em camadas arenosas não é aconselhável,
pois é maior a po,ssibilidade de ent.upimento.
Na fabricação de filtros podem ser empregados aço carbono, aço inoxidável ou PVC
geomec.ânico ou rígido. A escolha do material do filtro deve ser orientada pelo tipo de
aqüff:ero a ser explotado granul.ometria nos sistemas porosos e tipo de alteração encon..
trada nas fendas do siistema fissurado e pelas características físico-químicas da água

412
Captaçao de água subterranea I Capítulo 9

(incrustantes ou corrosivas). Atualmente, os filtros de PVC têm sido bastante utilizados,


principalmente nos poços de pequena vazão que abastecem pequenas comunidades ou
condomínios.
O diâmetro do filtro é outro parâmetro que interfere na sua escolha. Segundo Feitosa
et ai. (1997),.para dimensionar o filtro deve-se utilizar duas equações orientativas, apresen-
tadas a seguir, que consideram a velocidade de entrada de água no poço e nos filtros.
No cálculo da vazão máxima permissível pelo furo usa-se:
Q=2 rt r h V

Onde:
Q =v~zão máxima de penetração da água no poço (L3T-1);
r =raio do furo (L);
h = comprimento do poço no raio r (L);
v = velocidade de entrada da água no poço (LT-1) = raiz quadrada de K/15
ou raiz quadrada de K/30;
K= condutividade hidráulica do aqüífero (LT-1 ).

No cálculo da vazão máxima de entrada da água no filtro, emprega-se a equação:

Q=21trha~v

Onde:
Q = vazão máxima de entrada da água no filtro (L3T-1 );
r = raio do filtro (L);
h =comprimento do filtro (L);
a = porcentagem da área aberta do filtro*;
~=porcentagem da área fechada do filtro*;
1
v = velocidade de entrada de água pelo filtro (LT- );
K = condutividade hidráulica do aqüífero (LT-1).
*Os valores de a e b são encontrados nos catálogos dos fabricantes de filtro.

Deve-se ainda considerar a dimensão das aberturas do filtro. Para isso, é necessário
conhecer a curva granulométrica da litologia que compõe o aqüífero. Quanto menor a
granuJometria do aqüífero, rrrenor deve ser a a.bertura do filtro. CG>ntudo,. existe um ponto
a partir do qual torria..;se invi·ável o uso do filtro, pois sua abertura seria murto pequena, o
que reduziria drasticamente a produtividade ,do poço. Nesses casos, deve-se ,usar uma
camada de pré-filtro, disposta no ·espaç© anular entre o fiiltro·e as paredes do aqüffero. O
pré-tittro tem granulometria e permealDilidade cor1troladas, para atuar como elemento de
proteção, de forma a reduzir o carreamento de material sólido para o interior do poço,

413
Abllrtec:lmento dê égua para consumo humano

a. t.ravés· das aberturas


. · .· do· filtro. Assim, são duas as situações que devem ser consideradas no
projeto do poço:
• Poço sem pré-fittro . . o filtro .é i~stalad~ díre:~mente em contato corn
O aqüffero. Neste caso, um cr1tér10 prático ut1l1za?o é o de que O ele-
mento filtrante retenha entre 40% e 50% .dos sedimentos da formação
aqüífera, ou seja, que as aberturas permitam a passagem de 60% a
50º/o do material da formação. Um fator a ser observado, nesta situação,
é a composição ffsico·química da água a ser captada . Caso ela
apresente características corrosivas, deve-se optar por um modelo de
fiítro com uma abertura que permita a passagem de 50% do material
da formação. Esse procedimento prolonga a vida útil do poço.

• Poço com pré-filtro - o emprego de pré-filtro tem por objetivo esta-


bil;zar os sedimentos muito finos e de granulometria muito uniforme,

permitindo o uso de um elemento filtrante com ranhuras maiores. Para


est~ tipo de poço, as ranhuras do filtro devem reter 90% do material
que compõe o pré-filtro. Segundo Driscoll (1989), um pré-filtro com
13 mm de espessura já é suficiente para reter os sedimentos finos do
aqüífero. Porém, na prática, tendo em vista as dificuldades para insta-
lação de pré-filtros na profundidade e espessura adequadas, sugere-se
que o espaço entre a parede do aqüífero e o filtro não seja inferior a
7 ,5 cm. Pode-se afirmar, em síntese, que a instalação do pré-filtro é
indispensável em poços focados em aqüíferos constituídos de sedimentos
muito finos, com granulometria menor que 0,25 mm. Também, como
regra geral, devem ser instalados sempre que o revestimento tiver
intercalação de trecho com elemento filtrante. Tal providência diminui
o tempo de desenvolvimento natural do poço, prolonga a vida útil da
bomba e permite a instalação de filtros com ranhuras mais abertas, o
que contribui para se obter uma maior eficiência hidráulica do poço.

9.11.2 Métodos de perfuração de poços tubulares profundos

Os métodos mais utilizados para a perfuração de poços tubulares profundos são: per-
cussivo, rotativo e rotopneumático. A escolha do método de perfuração é conseqüênci~ ~~

dad~s f1nance1ras e de tempo também apresentam grande influência na escolha do t1p


equipamento de perfuração.

414
Captação de água subterranea I Capítulo 9

a) Sondagem percussiva

Essa é a metodologia mais simples e mais antiga utilizada pelo homem na perfuração
de poços tubulares. Basicamente, consiste na fragmentação da rocha por meio do impacto
de uma ferramenta pesada que a golpeia continuamente. É um método indicado, prefe-
rencialmente, para perfuração de poços tubulares em rochas consolidadas, que geralmente
não apresentam problemas de desmoronamento. Não é aconselhável para ser empregado
em rochas inconsolidadas, devido à baixa produtividade na perfuração. Caso seja o único
método disponível, em função da impossibilidade de se contar com outro tipo de equipa-
mento, deve-se utilizar lama de perfuração ou revestir provisoriamente o furo, como forma
de manter a estabilidade das paredes do poço. A produtividade desse método é muito
I baixa quando utilizada em profundidades superiores a 200 metros e diâmetros maiores
que 350 mm (14 '').
Existem vários tipos de sondas percussivas. As mais utilizadas são as de pequeno porte
e de operação simples, geralmente montadas sobre o chassi de um caminhão, o que faci-
lita o seu deslocamento. Os principais componentes de uma sonda percussiva, indicados na
Figura 9.15, são os seguintes: · ·

• Trépano : ferramenta de perfuração responsável pela fragmentação


da rocha. Pesa entre 100 e 1000 kg. A escolha do trépano depende do
tipo de rocha e do diâmetro do poço;
• Haste: acrescenta peso à coluna de perfuração e também tem a fun-
ção de manter a verticalidade do poço;
• Percussor: ferramenta auxiliar que serve para liberar o trépano de
possíveis aprisionamentos na rocha;
• Balancim: é um dos componentes da percussora. Permite o movi-
mento alternado de elevação e abaixamento do cabo de aço e de toda
a coluna de perfuração;
• Porta cabo: prende o cabo de aço à coluna de perfuração;
• Cabo de aço: liga a coluna de perfuração à parte da sonda responsável
pelo movimento de percussão;
• Caçamba: é utilizada para a limpeza do poço durante a perfuração.
Retira do poço em construção o material rochoso desagregado ou
cominufdo pelo trépano. .1i
.
f

,l
'

b) Sondagem rotativa
1
1
l
'
.1
1
..'
A sondagem rotativa é indicada para a perfuração de poços profundos em geral,. ou i

1
seja, de pQços profundos destinados tanto à obtenção .de águ.~ como à sondagem ge0Jó·g1~a, 1

na investigação do substrato rochoso. As perfuratrizes utilizadas na sondagem ro~at1va


para captação de água subterrânea, comumente conhecidas como sondas rotatTVas",
li

415
Abasteclment-0 de água para consumo humano

podem ser máquinas de pequeno ou grande porte. A escolha do equipamento é definida


pelo projeto do poço que se pretende perfurar, levando em consideração a profundidade e
o diâmetro projetados.
o método em questão pode ser utilizado em todos os tipos de rocha. Entretanto I
deve-se considerar que o rendimento em rochas inconsolidadas é muito !baixo. Nos terre-
nos cársticos, por sua vez, o emprego de sondas rotativas deve ser evitado. Isto porque a
ocorrência de cavernas ou fendas nas rochas carbonáticas provoca quedas bruscas, com a
conseqüente perda, total ou parcial, da coJuna de perfuração.
Os principais equipamentos que compõem uma coluna de perfuração e uma perfura-
triz rotativa encontram-se descritos a seguir:

• Broca (bit): existem vários tipos de broca para uso em sondas rotati ..
vas. Na abertura de poços tubulares para captação de água subterrânea
1
as mais utilizadas são as do tipo "tricônicas'', em aço ou em vídea .
Geralmente, as tricôriicas de aço são indicadas para perfuração de ro-
chas inconsolidadas (friáveis), enquanto as de vídea são recomendadas
parà perfuração de rochas compactas (duras);
• sub- broca: une a broca ao comando;
• comando: conjunto de peças que une a sub-broca às hastes. Tem a
função de dar peso à coluna de perfuração;
• hastes vazadas: além de transmitir o movimento rotatório à broca,
têm a função de conduzir a rama de perfuração, armazenada em tan-
ques na superfície, até o fundo de poço;
• haste quadrada (kelly): é encaixada sobre a mesa giratória e transmite
o movimento rotatório à coluna de perfuração;
• mesa giratória (carro): tem a função de transmitir o movimento rota-
tório à coluna de perfuração.

Outros componentes da coluna de perfuração são: cabo, guincho para movimento do


cabo, bomba de lama e tanque de lama.

Sondagem rotopneumát·ica

Esse método de perfuração é uma combinação dos dois descritos anteriormente. Con-
siste na fragmentação da rocha por meio de movimentos percussivos, em alta freqüência e
pequeno curso, conjugados a um movimento rotativo. Nesse método também é utilizadaª
fama de perfuração. Esse tipo de sondagem tem como principal elemento propulsor~ ar
comprimido gerado por compressores de alta potência. A coruna de perfuração consiste
em uma broca (bit) e uma peça intermediária, denominada ''martelo'', responsável pela
percussão gerada pela passagem do ar comprimido.

416
Captação de égua subterranea I Capitulo 9

Pona de
- - - - percussão

tabode -=
percussão

1
Porta cabo
Ponto de giro
do balancim
Balancim
Percussor
Salda de
força

Haste

Trépano
Abastecimento de água para consumo humano

Figura 9.16 - Fotos de broca tricônica


-

figura 9.17 - Sonda Roto-Percuss;va (foto cedida pela Geosof - Ge0Jog1a e Sondagem t

418
Captação de água subterrânea I Capítulo 9

9.11.3 Teste de bombeamento

Inicialmente, é importante conceituar o termo teste ou ensaio de bombeamento, que


num sentido amplo pode ser dividido em duas classes: teste de aqüífero e teste de produção.
O primeiro tem por objetivo definir os parâmetros hidrodinâmicas de um sistema
aqüífero, como transmissividade, coeficiente de armazenamento e condutividade hidráulica.
Já os testes de produção têm por finalidade determinar a vazão ótima de bombeamento,
as perdas de carga e a eficiência do poço.
Neste texto, trata-se apenas da execução e interpretação do teste de produção, que é
o de maior interesse prático para os profissionais que trabalham com abastecimento de
água.
A execução do teste de produção é relativamente simples. Consiste no bombeamento
da água do poço, com o registro simultâneo da evolução do rebaixamento do seu nível de
água. Essa operação deve ser efetuada em três ou mais etapas. Em cada uma delas, a
vazão é aumentada gradativamente.
Na execução do teste de produção o ideal é que se observem duas condições:

• que o acréscimo na vazão, de uma etapa para a outra, ocorra numa


progressão geométrica;
• que a vazão do último estágio seja da mesma ordem de grandeza
(ou superior) daquela planejada como a vazão de explotação. •

Entretanto, deve-se considerar que, para poços de vazões inferiores a 1O m3/h, o teste
de produção pode ser contínuo e com uma vazão constante. Nesse caso, o tempo de
bombeamento não deve ser inferior a 24 h.

Execução do teste de produção:


A execução do teste de produção deve ser precedida do planejamento adequado,
para que estejam disponíveis no local de sua realização os seguintes elementos:

1. características construtivas, litológicas e hidrogeofógicas do poço;


2. equipamento de bombeamento para uso no teste, em conformi-
dade com as vazões determinadas durante o desenvolvimento do poço.
Deve-se ter presente que não é recomendável executar teste de pro-
dução com equipamento a ar comprimido (compressor), pois esses equi-
pamentos não mantêm uma vazão constante,, tornando impossível
estabelecer as etapas do bombeamento;
3. instrumentos para a medição das vazões. Quando a vazão do poço
for estimada como inferior a 40 m3/h, pode-se usar tambores de 200 ou
220 litros na medição; para vazões mais elevadas, deve-se adotar um
medidor de vazão contf nua, como um vertedor ou um tubo de "Pitot'';

419
4. medidor de nive.l elétrico;
s. valores preestabelecidos, como o tempo de d~r.ação de cada etapa
do teste, que deve ser planejada de forma a perm,t,r uma relativa esta-
bilizaçao do nlvel de água (nível dinâmico) ao final da etapa. Em geral
as etapas devem ·ter durações que variem entre 6 e 8 horas; '
6. garantia de que o local onde a água extraída será lançada esteía
numa posição que não interfira no resultado do teste. A distancia de
lançamento é estabelecida em função do tipo de aqüífero, porém nunca
deve ser inferior a 25 metros;
7. planilha para registrar os dados do teste. A Tabela 9.3 apresenta
um modelo de ''ficha de testei(.

Tabela 9-3 .. Modelo de ficha de teste de produção


•& li : z a z T , ,

Medidas do teste de produção


ldentificaçao: Município: -
Proprietário: Nº do poço:
Localização: Latitude: Longitude: Folha:
Nfvel Estático (N.E): Data do intcio: Hora: Cota:
Equipamento de teste: Data do final:

Hora:
0 Tubo descarga: 0 Tubo de ar: Prof. injetor: Saliência:

Responsável técnico:
Rebaixamento do nível da á ua
Tempo Hora N.D. Vazão Tempo
(mln) local (m) (Vh) Hora ND Vazão
•'- , e (min) Local Tempo N.A.
(m) (Vh) (min) (m)
1,5 510
540 1
2 1,5
3 570
600 2
4
630 3
5
660 4
6
690 5
8
720 6
10
12 750 8
14 780 10
1,6 810 12
18 840 14
20 870 16
25 900 18
30 930 20
40 960 25
'60 990 30
90 1020 40
120 1050 60
150 1080 90
1110 120
150

420 '' '


CaptaçAo de agua subterranea I Capítulo 9

f
Tempo Hora N.D. Vaz~o Tempo Hora ND Vazão Tempo N.A.
(min) Local (m) (1/h) (mln) Local (m) (1/h) (min) (m)
180 1140 180
210 1170 210
240 1200 240
270 1230 270
300 1260 300
330 1290 330
360 1320 360
390 1350 390
420 1380 420
450 1410 450
480 1440 480

Antes de se iniciar o teste, é desejável manter o poço em repouso pelo maior tempo
possível, para a medição do nfveJ de água antes do bombeamento (nível estático). Reco-
menda-se que a paralisação do poço seja por um período mínimo de 24 horas. ·
Antes de figar a bomba para o início do teste, é preciso fazer algumas medidas do
nível de água no interior do poço, após o período de repouso. O nível estático será
determinado pela média aritmética dessas medidas e será a referência a partir da qual
serão determinados os rebaixamentos medjdos ao longo do tempo. De posse dos dados
e dos cuidados citados, pode-se iniciar o teste de produção propriamente dito.
Antes que as bombas sejam ligadas para o início do teste, deve-se certificar de se ter
em mãos as etiquetas numeradas, resistentes à umidade, suficientes para marcar, no fio do
medidor de nfvef, as variações do nível de água nos primeiros 30 minutos, de acordo com
os tempos preestabelecidos na ''ficha de teste" (Tabela 9.3). Isso é muito importante, pois
nesses primeiros trinta minutos as variações precisam ser medidas em inrtervalos de tempo


mu,to curtos.
Decorrida a primeira etapa do teste, em que necessariamente o nível dinâmico tenha
atingido a estabilidade por um tempo considerável, passa-se imediatamente para a segun..
da etapa, alterando a vazão do teste para, em seguida, adotar os mesmos procediff\\entos
da etapa anterior, inclusive o de ter à mão etiquetas para os primeiros 30 minutos. Conclu-
ída a segunda etapa, altera-se novamente a vazão, para avançar à terceira etapa do teste
de produção, observados os cuidados descritos para as etapas anteriores.
Ao finaJ do teste, a bomba deve ser desligacít1 e acompanhada a recuperação do nível
dinâmico (ND), até que ele se iguale ao nível estático (NE), anotando os-tempos e as ,posi-
ções do ND na mesma planilha onde foram lançados os dados ,do re'.baixamento. Estes
.
'

dados são muito importantes para a avaliação de alguns dos parâmetros hidráulicos do ~

l
aqüífero. Nos p~imeiros trinta minutos da recuperação, deve-se ter preparados os marcadores, ~
1'\ .
5
a exemplo da etapa inicial. ~

421
,
- ...
- d t ste de· produçao~
lnterpretaçao o e. . d· fíodu~o
· , def1n1r
é poss1vel . . a equaçao,
_ a curva caraf"i,"ri
·om os dados
..
do teste e P Y- ' -
e .ente, a vazão ótima para sua explotaçao. Com os dados do~
'""""~tJr.a
e
do poço e, conseqilent rn,
'lha como a apresentada na Tabela 9.3, na qual: te!,
deve ser elaborada uma Pani
.,. ós a e.....+'.'.lbilízarão do nível dinâmico;
Q == vazao ap , · -:,w ~
s == rebaixamento do poço"' (NE- ND);
s/Q ""rebaixamento específico.

Tabela 9.4 • Modelo de planilha para resultados do teste de produção


Etapa Q S s/Q Duração
(m'/h) (m) (mi m'/h) (mín)

• •

Para determinar a equação característica do poço, faz-se o lançamento, em papel


milimetrado, das vazões estabilizadas nas três etapas do teste (Q1, Q2, Q3) no eixo das
abscissas, e dos rebaixamentos específicos (s/Q) correspondentes no eixo das ordenadas.
1 Os pontos assim definidos determinarão uma reta, representativa da equação característíCil
do poço, também chamada equação dos rebaixamentos. O gráfico apresentado na Figura
9.18 representa uma reta definida pela equação característica de um poço .

,.•
•'
L

s 1Q"' J>. ,\- eo.

8
e e= tge
!E
o
Q) .e
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<J.> E
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..,_;
eCl.) E
E
m
.~ro B
.o
&. '
,.,
,,,,,,,,, ,,,
Q . -

. Vazão (O) m' / h


-Fonte:
· Figura
ROCHA9.18 . Exemplo de re Presentaçao
(1982) - grafrca
, . da equação característica de um poço

422

----
Captaçao de água ~ubterrAnea I Capitulo 9

c1uaçao catacter.rstlca do poço também pode ser escrita como:


s/Q • 8 ·t· co

Otide:
Q• vazio após a estabili~açã0 do ní'lel di~ãmico;
• rebalxame~to do ~oço = ~N.1:.- ~.D.);
·B • coeficiente de perê:fa ele car~ia do acqüífero;
C • coeficiente de perda de carga do poço.

m
mseguida, monta-se um segund@gráficz:o vazão (Q) x rebaixamento (s) , para
deflríl~8o da curva característica do p 0~0, como se exemplifica na Figura 9.19 .

3
Q (m / h) Vazão máxima
t
10 20 50 100 120 140
o '
r
1
..... •

1
1
© 1
1 1
o
1 1
1 1
1 1
1 1 1
1 1 1
®
o 1 1
1 1
1 1
1 1

'e
4§._ _.... ......... --- - - - - - - - - - - - - - ~ 1
IP l?onto critico
~

"' 2 ........... ........ --- ----------------


-

3

1

• •

~ ·• r,JgurP 9.19 . Bxamplo de curva caraçter,fst1ca cle um·1p.e:>.~o •

Vonte:ROél1IA (1102) . '


No gráflcoi observa·se que a curva característica do poço é constituída de
o primeiro, OP. é praticamente uma reta, evidenciando o fato de que O rebaixa~:9rnentos:
pequenos incrementas; o segundo segmento, PQ, é curvo, com rebaixamentos n~o sofre
tuados. O ponto "P" de inflexão da curva, onde o rebaixamento torna-se mais amais acen.
denomina-se ponto critico. centuado,
A vazão mâxtmat vazão no ponto crítico ou vazão crftica, é considerada ava . .
- . é f I d f' .
de explotação do poço. Com este conceito, poss ve e inir a vazão ótima ou seg zao hrnito
'
exp\otação de um poço, a ser fixada sempre abaixo da vazão crítica. ura Para
Flnalmente, deve-se definir com precisão a profundidade do ponto de tomada d'á
?s
Para tanto, é necessário que se ten~am disp~nfveis parâ.metros hidrodinâmicas do aqü~~~
e a evo,ução sazonal da superfície potenc1ométr1ca regional. Entretanto, quando não
dispõe destes dados, deve-se adotar uma margem de segurança, posicionando a born~e
(ou tomada d'água) pelo menos 10 metros abaixo do nível dinâmico. É importantelembra~
que a tomada de água não deve ser instalada na altura de trechos revestidos com filtros,
caso o poço esteja equipado com esse tipo de revestimento, para evitar sobrepressões
nesses pontos mais frágeis do revestimento.

9.12 Proteção das captações

Em todas as obras de captações propostas há necessidade de adotar medidas de


proteção do local, para evitar a poluição de origem humana e animal, bem como que se
L
acelerem os processos erosivos porventura ali existentes. Assim, recomenda-se que sejam
postas em prática as seguintes medidas:

• isolamento de uma área em torno da obra, para evitar o livre acesso


de anima1s, tendo como par~metros: uma distância de 25 m de raio
quando se tratar de poços, cisternas ou fontes; e 20 m do eixo maior
da zona de captação, quando se tratar de fonte difusa, barragens ou
drenas;
• construção de terraços e drenas superficiais, para desvios das águas
pluviais e contenção de erosão;
• plantio sistemático de espécies vegetais adaptadas à área.

424
1
Referências e bibliografia consultada

1 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS -ABNT. NBR 12.244: Construção de poço para c z ~
de ág_ua subterrAnea. Rio de Janeiro, 1990.
1
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Universidade de São Paulo, São Paulo, 1984. p, 197.
1 UNITED STATES ENVIRONMENTAL PROTECTION AGENCY. Manual of water constroction practices.. Washingtm:
USEPA, 1975. 156 p.
1
UNITED NATIONS EDUCATIONAL, SCIENTIFC AND CULTURAL ORGANIZATION. Groundwater

' and Deve/opment Briefs. 1998.

f
,
1 •

1
425

-
1
• Capítulo 1O

Adução •

'1

Márcia Maria Lara Pinto Coelho


Márcio Benedito Baptista

10.1 Introdução

As adutoras são tubulações encarregadas pelo transporte de água entre unidades do


sistema de abastecimento que precedem a rede de distribuição. Assim, as adutoras interli-
gam a captação à estação de tratamento de água e desta aos reservatórios. Quando as
adutoras são derivadas de outras, sem distribuição de água para os consumidores, são
chamadas de subadutoras.
A adução por gravidade constitui o meio mais seguro e econômico de se transpor-
tar a água. Todavia, nem sempre existe um desnível suficiente para conduzir, por gravidade,
a vazão necessária entre os pontos a serem jnterligados. Nesses casos, elevatórias, são
necessárias e as adutoras a elas interligadas são classificadas como adutoras por recalque.
Outra forma de classificar as ·adutoras,diz respeito à natureza da·· água,trans(Dortada.. Assim,
quando antecedem a estação de tratamento de água são· denominadas de adutora de
.
água bruta e, após receber o tratamento, por adutora de água tratada. '

l·j
·;·!\
.....~.:-;
· ~.-·\

4·27
&&t t 2 a a ;a . ; ; a a t5 : a t a as a a a : a •

Ab11sud.mento de 6gua para c.onsumo humano

10.2. Traçad.o das adutoras


. . .

O traçado das adutoras geralmente é definido com base em critérios técnicos e econõ.
micos. Por isso, a sua concepção deve ser realizada com o auxílio de levantamentos topográ-
ficos. geotécnicos e inspeções de cam,po, evitando-se regiões que dificultem os trabalhos de
implantação, operação e manutenção, tais como áreas pantanosas, declividades elevadas
I

vias de tráfego intenso etc. As áreas de instalação das adutoras devem ser, preferencialmente
1

de domfnio público. Quando isso não é possível, a faixa a ser utilizada deve ser desapropriada
ou deve ser estabelecido um contrato de servidão sobre ela, podendo, nesse caso, ser utilizada
pelo proprietário, com restrições decorrentes da servidão.
Tendo em vista a topografia dos terrenos e as condições de operação em regime
permanente, os perfis das adutoras podem estar totalmente abaixo, coincidentes ou aci-
... ma, em alguns pontos, das linhas piezométricas efetiva e absoluta, ou do plano de carga
estático., implicando os cinco tipos de perfil mostrados na Figura 10.1 e descritos a seguir:

linha .
- ... - - Pte~ornétr;
- ------ - --..:.
abs
ca abso1ura.--.
Patm - ...
y -- -
-- -----...
- __ Plano de carga estático
--- --->----------------------
-- -- -- --
---- ---
B
3 p
inha .
Prezornét .
-y nca eflet·IVa
1 --

Figu.ras 1O. 1 - Possíveis traçados de condutos

• No Perfil (1) a tu'bulação está totalmente abaixo da linha piezométrica


efetiva, assim, a carga de pressão reinante na tubulação, correspon-
dente ao segmento AB., é superior a pressão atmosférica em todo o
seu perfil, tratando-se, portanto, de um escoamento forçada.
• O Perfil (2) coincide com a linha piezométrica efetiva, por conseguinte, 0
conduto tem escoamento livre, com pressão na superfície igual à atmosférica.
• No Perfil (3) o conduto corta a linha píezométrica ·efetiva·; conse-
qüentemente, o trecho da tubulação situado ac.ima d.e·ss-a. fi,nha· fica
sujeito a pressões inferiores à atmosférica, podendo ocasiona1r a entra-
da de ar ~ a contaminação da água, pela poss1bil1iitade ;de Sij,cção. .
• No Perfil (4} o conduto corta O plano de carga estático, alérr:1 de
cortar a linha piezométrica efetiva. Neste caso, a águ)a não ,ati,n~e
naturalmente o trecho situado acima do nível de água no reservatório

428
Adução I Capitulo 1O

R1 e o e.scoamento só é possível após o enchimento da tubulação. O


trecho situado acima da linha piezométrica efetiva denomina-se sifão.
• No Perfil. (5) o conduto corta a linha piezométrica absoluta, sendo,
portanto, 1mpossíve\ o escoamento por gravidade.

·-.~. · · ·· ····· ·· ···· ···· ··-········· -······· ·· ···· ·····-.····················-··············~


:.:.····-···
-·- ·-·-·-·-·-.-. -
'
1
---·-.-·-·-.-.
- ·-·- · - , ---. Ah
L1
-·-·-·-·-·-·- .
-·-·-·-·-·-·-
. - . . -i--i-==-----1
--

Conduto forçado

- -. .. ........ -. -....... .... .. ........ -.,..,..


..,dPl~~;.;.:
.... ... ... ............. ....... .......................... ........ . ___,..... •

Túnel

Conduto livre

...... ...
~~,,.:;· ---······-~ ---········-·························- ~---···· ······························--~··········--····

.-::::::::::::--..,.._
-·-·- .. -.. -._
::::=::::n:- - .
1
Sifão invertido

' Sifão invertido

f
Adutora Mista
Fi.gura 10.2 - Adutoras por gravidade

Por uma questão de segurança sanitária e estabilidade do funcionamento hidráulico, as


adutoras são ~F@jetadas para 0perarerrn tetatm·~ te aba.ixo das linhas,p.iez©métri,as éfetlvas do
1

l estoamento F)errrman'Brote,·©U coin·<Gidentes,":om,e-stas. Por iss©, sempre que pGss(veJ, b1:1smm--se


traçaa©s c©m ·©s:perfis ·~1) e (2), ©611uffla .@©ínfilnill\\a'Çá@ lclestes r(acltrtera mista), C©nfo1me rinostra 1

' a FigJ.rJrai1'0.2. ·01trecJR0 sltwa~inteJramenteabaix® da Hra~a ptez(g)mém~)lefewai ,e que nlmina1mente


interll!a' d@is.trech@s ,da aclwt@ra de cond'Lito livre, de11Qrnina,-s.e sifãG> invertido. reste tel'Jiliito se 1

deve, a@ aswe·ct<?> s_ efi(r)EltílaJilte-a@ de um sifão tra:ditii©nal, trr©·riib.rd.C11>,1 em,1rn.a:cla se ass.emlilham


quaAto ,a:€} funai:onamETrlt@ mi'dráuli,o. Para c:ontrolar e,(GrAJ:i>atilrulizar as va~ães,·de ,can.all·com a
do·sifã'm ilrlvertiêQ e gar?antif a ~ressão atmosférik:a, ,uma es'llrtJtura de transição localieada entre
o cond,uto livre e o sifão invertido na adutora mista deve ser prevista. Quando as condições
1
'

429
.
. .
Abastecimento de água para consumo humano

topográficas locais indicarem um Perfil (3), uma das soluções normalmente adotadas é a co _
trução de uma caixa de transição no ponto mais alto da tubulação, de maneira a altera~s
posição da linha piezométrica. Assim, a tubulação fica totalmente abaixo desta e, Portant:
sujeita apressões positivas, como no Perfil (1). Essa solução, entre~nto, implica, quase sempre:
aumento do diâmetro de parte da tubulação, conforme pode ser visto no Exemplo 10.2. Algu.
mas vezes é,mais indicado mudar o tragido da adutora, contornando o ponto alto ou mesmo
construiRdo Ym túnel para que a tubulação não corte a linha piezométrica.
Os Perfis (4) e (5) têm parte do seu traçado situado acima do plano de carga estático e
por isso, têm o funcionamento limitado às condições de um sifão tradicional. A solução a I

se adotar para uma operação mais segura é a instalação de uma elevatória para impulsionar
o líquido e, assim, obter pressões superiores a pressão atmosférica em toda a tubulação.
A Figura 10.3 mostra uma elevatória convencional e outra para reforço, do tipo booster,
transportando água entre dois reservatórios, por meio de adutoras de recalque, e as novas
posições das linhas piezométricas efetivas.
1

r ·-·-,\- . L'
i -·- ·-·- .JQryª Piezo ~ .
i. · ·--·- ·-'7!~Jrtca
.. . ... .

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-·- - 1--:r--
1

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1

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1

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L 1

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i datum
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Elevatória
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. . . .,,,(, i
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........ C::ff'ic ' man ·-..... .... ·· · - 9
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1
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~__,
~ ---~-----------------~------------ -- ~
- -

Booster
Figura 10.3 .. Adutoras por recalque

430

... ,
---
Adução I Capítulo 1O

10.3 Dimensionamento hidráulico

10.3.1 Considerações gerais

A vazão é um dado essencial ao dimensionamento. No caso das adutoras a vazão


transportada é condicionada pelo consumo de água da população, pela posição dos reser-
vatórios em relação à adutora considerada, bem corno pelo tempo de funcionamento e
capaàdade das unidades do sistema, conforme pode se constatar nos esquemas (a), (b) e
(c) mostrados na Figura 10.4, em que:
1
- Q 0Mc: vazão média do dia de maior consumo;
- QHMc: vazão média da hora de maior consumo;
- q: va·zão consumida na ETA;
1
- Qmrn: vazão mínima na rede de distribuição.

' Oa.c+ q Q Ol,IC > :IJi, QHMC

Adutora Elev. Elev.


ETA Reservatório
(a) •
de montante Rede

q
t QDMC - ~ >
Oa.e+ q {
Q HMCr ª DMc-«
Elev. Elev.
ETA Reservatório
(b) Rede de Jusante

• q Reservatório
~
Q Ol,IC+ q Oouc 01...c 1 j

Adutora Elev. Elev. Elev. ·


ETA
1 (e)
~
Rede1
õ
-
'
1
Reservatório
Ri Rede2
Figura 10.4 - Vazões de dimensionamento das adutoras

431
Abaste:ctmento de água para consumo humano

No esquema (e) foi admitido ~ue a reservação para at:~dimento ~o co~sumo da Rede
2 está no reservatório R2. Caso estivesse em R1, o reservator10 R~ func1onar1a apenas corno
caixa de passagem e as vazões nas tubulações a montante e a Jusante de R2 seriam iguais
a da hora de maior consumo da Rede 2.
Numa situação intermediária, em que Xº/o do volume consumido na Rede 2 estivesse
em R2 e Yº/o estivesse em R1, a vazão da adutora que interliga R1 ao R2 teria que suportar a
hora de ma;or consumo de Y% do volume aduzido, além de Xº/o do dia de maior consumo.
Outro fator importante na definição das vazões é o tempo de funcionamento das
unidades. Os sistemas por gravidade funcionam, normalmente, 24 horas por dia. Já as
adutoras por recalque costumam trabalhar por um período de tempo "T'' , que varia de 16
a 20 horas por dia, para posstbilitar a manutenção dos equipamentos das elevatórias e
permitir a operação dessas fora do horário de ponta do sistema elétrico, o que reduz as
des,pesas com energia elétrica. Nessa situação, a vazão da adutora subseqüente à elevatória
deve ser multiplicada pelo fator "24ff".
Além da vazão ''Q", para o adequado dimensionamento, há necessidade de se definir
previamente o material e o comprimento do conduto, bem como a diferença entre as cotas
dos níveis de água dos reservatórios, ou de outra cota piezométrica conhecida. Estes dois
últimos parâmetros (L e ~h) são normalmente definidos por meio de levantamento plani-
altimétrico. Conhecidos estes parâmetros, o dimensionamento pode ser completado por
meio das equações hidráulicas fundamentais, apresentadas a seguir, e as específicas para
· condutos forçados (item 10.3.3) ou para condutos livres (item 10.3.4).

10.3.2 Equações hidráulicas fundamentais


1

..
•' '
O escoamento no interior das adutoras é considerado, para efeito de dimensionamento
da sua seção transversal, como permanente. Deste modo, as equações da Continuiclade e
Bernoulli, mostradas a seguir, podem ser utilízadas para análise da questão, necessitando
para isso, basicamente, da vazão a ser aduzida e de dados físicos previamente fixados, tais
como comprimento, material e diferença entre níveis de água a montante e jusante do
conduto.

• Equação da Continuidade

(10.1)

Em que:
A: área da seção transversal do escoamento, em m2;
U: velocidade média do escoamento, em rn/s;
Q: vazão em m3/s.

432
Adução I Capít ulo 1O

t
• Equação de Energia - Bernoulli

t P, Ut P UJ
Z1 + + a 1 = Z2 + 2
+ + ~h
y 2g y 2g (10.2)

1 Em que:
Z: carga de posição;
P/y. carga de pressão;
2
U /2g : carga de velocidade, também denominada de taquicarga;
Lih: perda de carga total, igual a soma da perda de carga contínua(Lih')
mais a localizada (Lih");
a: coeficiente da energia cinética ou de Coriolis (a :::::1,0).

Plano de carga estático


9 ----- --- ---
- --- - -- ------- L'rnh d óh
----.---ª--8-Pfl[ga ,
• lrnha Piez --.-----
P,ly ométnca u
-
G)
~-
- .,.-- ~·- ·-·- ·-·-·-. p .jy
........... iubuJaç-
-... . -.ªº - ..
-·-·-. ... . @
"' -·--·-·-i. -·-·-.,
-
-·-·-- ..._ .,_ 'i - ,._ , . ._
-

~
-·-·-· ·- ·- ·- ·- ·- ·- ·- ·- ·- ·- ·- ·- ·- ·- ·- ·- ·- ·- ·- ·- ·- ·- ·- ·- ·- ·- ·- ·- ·- ·- ·- · • ·-.. datum
L
1
Figura 10.5 - Representação gráfica da equação de Bernoulli

f 10.3.3 Condutos forçados

No conduto forçado a pressão no escoamento é diferente da atmosférica, portanto,


tem que ter a superfície fechada e normalmente de seção circular. A aJDlicação··da equação
de Bernoulli entre duas seções do conduto.,.juntamente com.a equação de perda de ,carga, 1

permite verificar se o escoamento pode se ,efetuar por gravidade ou se haverá a necessidade


de recalque e, por conseguinte, a determinaçã@ cdo dlârnetro.
t
Nos escoamentos forçados, geralmente a parcela,,relativa a energia cinética (U2/2g) é
muito pequena em relação à carga de pre5são (P,Jly) ri©rmalrnente eliiccrontrada no interior 1

das tubulações. Nas adutoras é da ordem de 1o/o e nestes casos despre,zada. Assim, a linha
piezométrica é considerada coincidente com a linha de carga e o abaixamento da linha
'
p1ezométrica igual à perda de carga.

433

.' . .
-.:.. "'
~ ..
. ...:-~~. '• . .,. ..,# ...-....-....
'
;
~
.
-
Abastec_lmento de água para consumo humano

A norma brasi1eira para projeto de adutora tem recomendado a equaç.. .


Para . . .
ava,iação da perda de carga cont ínua, to d .
av,a, por f ·,·
ac, idade de ao
cálcuJ Un1ve
. rsa1
comum O uso d1 .. empíricas,
e equaçoes · · ta 1como a d w·,,·
. e Hazen- , 1ams, que PodO, ainda e·
sentar resultados satisfatórios, quando utilizadas dentro dos limites recornend edrn ªPre-.
experimentos. Além da perda de carga contfnua, as perdas de carga localizadas a deve~
os no
ser consi:deradas no cálculo da perda de carga total, embora seJam, geralmente
. . , d d ,
s1g·n1f1cantes quando comparadas com a per a e carga continua. Essas equaço- , Pouco
. · . es são
apresentadas a seguir:
• Equação Universal para perda de carga contínua

(10.3)
...
(10.4)

Sendo:
.1h': perda de carga total em m;
U: velocidade média do escoamento em m/s;
D: diâmetro do conduto em m;
L: comprimento do conduto em m;
Q: vazão em m3/s;
• g: aceleração da gravidade= 9,81 em mfs2;
f: coeficiente de perda de carga.

No Anexo A, é apresentada a Equação A.6 para o cálculo do coeficiente "f" no regime


laminar e as Equações A.8 e A.9 para o cálculo no regime turbulento.

• Equação de Hazen-Williams para perda de carga contínua


10 64 0 1,85
~h'= I L (10.5)
c 1,Bs 4,87
0
· · ade
A equaçao -- de Hazen-W1lhams
·· é recomendada para tubos com d·,. rametros actm
. ·çáo
50 mm d · d , · . .. . dessa equa
_ , con uz1n .o ág~a fna. Os s1gn1f1cados e as unidades dos termos ·· da natureza
sao os mes~~s da Equaçao.10.4, com exceção do coeficiente C que depende da água
e das GOíl!J1çoes do material empregado nas paredes dos tubos, bem co;ncontradOS
O
transpo.rtada. A Tabela A.4 do Anexo A mostra os valores de C normalmente
na prática.

• ..
t
434
_ ·-- . -- - ~· - · · · ·

Adução I Capítu lo 1O

• Perda de carga localizada


Experiências mostram que a perda de carga localizada i\h" para uma determinada
peça pode ser cafculada pela expressão geral:

M''= KU2/2g (10.6)

~h'' =perda de carga localizada, em m;


U =velocidade média do escoamento em m/s;
K =coeficiente que depende da geometria da singularidade e do número
de Reynolds. A Tabela A.5, do Anexo A, mostra valores aproximados desse
coeficiente para peças normalmente empregadas.

Para o cálculo da perda de carga localizada utiliza-se, além da expressão geral, o


método dos comprimentos equivalentes. Este método consiste, para efeito de cálculo
somente, na substituição das singularidades presentes, geradoras das perdas de carga
localizadas, por um tubo de diâmetro, rugosidade e comprimento tal que proporciona a

mesma perda de carga original das singularidades. Os comprimentos equivalentes cor-
respondentes às peças mais freqüentes nas instalações hidráulicas são mostrados nas Tabe-
las A.6 e A.7, do Anexo A.
O escoamento em condutos forçados pode se realizar pela ação da gravidade ou
necessitar de elevatória, ocasionando alteração no método de dimensionamento das adu-
toras, conforme descrito nos itens seguintes.

10.3.3.1 Adutora por gravidade

A capacidade máxima de uma adutora por gravidade ocorre quando toda a carga
1
hidráulica disponível é utilizada na perda de carga ao longo do conduto. A seguir é
t
apresentado um exemplo de uma adutora conectando dois reservatórios, para ilustrar o
problema.

Exemplo 10.1

A figura a seguir mostra os reservatórios R1 e R2, com níveis médios de


água nas cotas 810,0 m e 784,0 m, interligados por uma adutora de
1200 m de comprimento, para conduzir 60 lls de água. Supondo que
as perdas de carga localizadas sejam devidas a: 3 curvas 90°, 6 tês de
passagem direta, 1 entrada normal e 1 saída de canalização e 1 válvu-
la de gaveta aberta, pede-se:

• •

435

.: ,·~~-
.....
. u .M:.l". :. .~~~~ - - s----ss - - - - - - - - --
.... ,~
..~-
Abastecimento de água para consumo humano

a. dimension~r O diílmetro de~ta tubulação, admitindo ser de PVc com


aspereza média de 0,035 mm,
b. calcular a vazão efetiva que poderá ser conduzida na adutora
dimensionada e a velocidade correspondente;
e. indicar algumas medidas que poderão ser tomadas para a aduto
conduzir exatamente a vazão espec,.f 1ca
. d a. ra

' • , . - · ~ ... ,1.1,.. ....


M;:;-f, ...... •. • .. . • ... .... .. . .. .. . .. .. ........P.Jª.'.'\Q-~~-.Çç1[9.é;l..~~tªlis;o
. • .. . . ........................ .
- -·-·-·-·-·- - - -·- -·-·-·- -·-·-·-·-·-·-·-·-·-·-·-·-·-·-·-,J,.LDb.ª piez:ométrica ~h-,·;··· ,. · ... ··
. . .... _ ·- ·- u
·- ·-·- ·- ·- ·- ·-·-... . ... . ._
·- ·-·-...., 26,0 n,
~h;álv: !
r---_------2J1 - .
Válvula

Solução

a) Os níveis de água nos reservatórios permitem constatar que é possí-


vel o transporte da água por gravidade. Além disso, observa-se que a
tubulação está totalmente abaixo da linha piezométrica, indicando
a possibilidade de funcionamento como conduto forçado. Para o
traçado desta linha piezométrica considerou-se a hipótese de que toda
a energia disponível seria utilizada para vencer as resistências, ou seja,
o desn ível entre os reservatórios (26,0 m) seria igual à perda de carga
total, e que o diâmetro da adutora é constante. A seguir, será verificado
o diâmetro da tubulação para que essa hipótese ocorra.

Em adutoras, a perda de carga localizada é, geralmente, bem inferior à


perda de carga contínua. Assim, para efeito de dimensionamento preli-
minar, ela norm.almente é desprezada e, conseqüentemente, a perda de
carga total (Lih) é considerada igual a contínua (Lih'). Util·izando a reco-
mendação da norma NBR-591/91 da ABNT será empregada a Equação
10.4, com tih'= 26,0 m, L= 1200 m e Q=0,060 m3/s. O valor de "f"
pode ser calculado pela Equação A-7, ou mesmo por (A-8) ou (A-9) (ver
Anexo A), para um dado diâmetro, viscosidade e aspereza da parede.
Nesse caso, a aspereza para tubo de PVC pode ser admitida igual ª
0,035 mm e a viscosidade cinemática da água igual a 1,01 x1 o-6 m2/s,
numa temperatura de 20º C. Como o diâmetro é a incógnita do proble-
ma, o valor de "f" tem que ser obtido a partir de tentativas, ou co~ 0
auxílio do programa HidroWin 1, obtendo-se os seguintes resultados.

T O programa Hi·droWin pode ser encontrado no site: <WWW.ehr.ufmg.br/download>.

...
436 · .•
~
Aduçao I Capítulo 1O

- diâmetro: 185 mm
- velocidade: 2,24 m/s
- coeficiente f: 0,0156

Se no lugar da equação Universal para perda de carga fosse utilizada a


t
de Hazen-Williams, com (=140, o resultado para o diâmetro seria 188
mm e, portanto, bem próximo ao obtido anteriormente.

O diâmetro comercial mais próximo ao calculado é de 200 mm. Para


este diâmetro e vazão de 0,060 m3/s, utilizando a equação Universal
para perda de carga, obtém-se, por meio do HidroWin:
- velocidade: 1,91 m/s
- perda de carga unitária: 1,45 x 10·2 mim
- coeficiente f: O, O1 56
- perda de carga contínua : 17 ,44 m

b) A perda de carga localizada será calculada, utilizando a Equação A-


11 e alguns dos coeficientes da Tabela A-5, apresentados no Anexo A,
conforme se mostra a seguir:

Coeficientes de perda de carga localizada ''K''


Peça Quantidade K
Curva 90º 3 040
t 1,20
Tê de passagem direta 6 0,60 3,60
Entrada normal de canalização 1 0,50 0,50
Saída de canalização 1 1,00 1,00
Válvula de gaveta aberta 1 0,20 0,20
Total 6,50

A perda de carga total é a soma da perda de carga contínua e localizada,


expressa em termos da velocidade média pela equação seguinte:
i
2 2
5 72
t1h= !J:.+K U :::>26=(0,0tS · oo+6,50)U ~U=2,26m/s
D . 2g 0,20 2g

Pela equação da Continuidade, obtém-se:

Q = 1tD2 u = 1t. o,202 2,26 => Q = 0,077 m3/s


4 4
t

437
Abastecimento· de água para <onsumo humano

Observação: Ao mudar a v:locida?e,_ o ~ºeficiente de perda de carga


''f" também se altera. Todavta, a var,açao e pequena, passando de o,o
156
para 0,0154, sem alteração sign.íficativa no valor final da vazão.

e) Na parte (a) da solução desse problema foi verificada a perda de


carga contínua (~h'=17,44 m) e a velocidade média do escoamento
(U .::: 1,91 m/s). Com esse valor, obtém-se para a perda de carga loca- .
lizada:

2
1 912
Ah"=KU =6,50 • =1,21m
'
2g 2 ·9,81

·Dessa maneira, a perda de carga total é 18,65 m e, portanto, inferior


t à carga disponível de 26,0 m. Uma válvula totalmente aberta, como
...
determinado .na parte (b), proporciona a vazão de 71 1/s. Para reduzir a
t vazão para 60 l/s, a medida. mais imediata é o fechamento parcial des-
ta válvula, de tal modo a dar um incremento de perda de carga igual a
7,35 m (8h''vátvula = 26,0-18,65=7,35 m). A nova linha piezométrica é
m·ostrada na fi·gura a seguir:

N.A. -.::: ª-~~~~-.... ...-·-·-


~ . . . .·-. ·-. .·-. .·-.·-· ·····-. .·-.··-···~·-. . .·-. .· ·-.. . .Li?.!?_nha~~-~~-~ 9ê..~~~-· ..........,................................................................................. .
njo,,.. . f..:
- ·- ·- ·- -- ·- -- ~ -~~~!~Qossível
,R1 ·- ·- ·-·- ·- ·- 84 O 26,0m
·- ·- . . - ·-~---·---·-·-
· - -- -- · - · - - ............ .
N A. - 7
·-·-·-"' -·-· --.
• 1
,,

•• •

• • •

•• • .


r

Considerando o efeito do envelhecimento do material da adutora e,


conseqüentemente, o aumento da perda ,de carga após algum tempo
de uso, esse procedimento dá maior segurança na operação do siste-
ma. Entretanto, nas situações em que o aumento da vazão é impossível,
essa energia despendida com o fechamento da válvula poderia ser
utilizada no próprio tubo. para reduzir o diâmetro de parte da adutora
e, ,por conseguinte, o seu custo. Assim, a perda de carga contínua
poder.ia passar de 17 ,44 m para 24, 79 m, considerando a adutora for..
mada por duas tubulações em série, sendo a primeira de comprimento
L,, diâmetro de 200 mm e perda de carga unitária de 1,45 x 10·2 ':'/rn,
e, a outra, por uma tubulação com o diâmetro come·rciaJ imeoi.a;ta ..

mente inferior ao anteriormente calculad,o (0 =150 mm), c·uja pêrda
2
•• .'
. de carga unitária é de 6, 15 x 10-2 mim .
:1
.,'

r,t..• .r

..,,••
..

438
Adução I Capítulo 1O

t1h=J1L1 +J2 (1200-L 1 )


2
:. 24,79 = 1,45 · 10- L1 + 6,15 · 10-2 (1200-L,)

L1 = 1043 m de tubos com diâmetro de 200 mm (U 1=1,91 m/s)


L2 = 157 m de tubos com diâmetro de 150 mm (U2=3,40 m/s)

Embora esta solução seja mais econômica, o valor encontrado para a


velocidade de escoamento, no trecho com diâmetro de 150 mm, é
excessi-vamente alto e um golpe de aríete, caso ocorresse, poderia ser
muito violento. A figura apresentada a seguir mostra a modificação da
linha piezométrica ao se adotar dois diâmetros diferentes para a adu-
tora, sendo D1 >D 2 •

..... . .,, , "'' u, ·........ . .


-·-·--··-·-·- -· 4 •••••• , • .._.... . . • • • • . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ,. .. ~ ........ . . . . . • P.J~.l'\Q.g_~.~.rRª .~~,~~çg~ ..... ....... ... . . 1·... . ........ ...
26 o m
.

· -·- ·- ·- ·- ·- ·- ·- ·-·-·- ·- ·- ·-·-·-·- ·-·- ·-·- ·-·-·-·-·-~ir:t_~~.Plezométrica óh'1


R - ·- ·--·- ___,_ - ·- · ,
1 - ·- - ·- ·- ·- ·-·-·- ·- ·- ·- . óh'2
• •

D~
'

Exemplo 10.2

A figura abaixo mostra o perfil do terreno no qual deverá ser assentada


uma adutora em PVC de 1200 m de extensão, para interligar os
reservatórios R1 e R2 , cujos nfveis de água médios estão nas elevações
81 o,o m e 784,0 m, respectivamente. Pede-se dimensionar essa adu-
tora para conduzir 60 1/s de água.

Plano de carga estático


a10 --'~
10~.o~m!l-~ ~ - - - - - ---~~~--------=-=.:....-~_.:_-----~~-----~1
805 R1 •

-
Ê 800
J!l 795 • • Perfil da tubulação /

'


• 784,0m
785
R2
780
400 500 6,00 700 800 900 1000 1100 1200
·100 o 100 200 300
Extensão Cm}

439
.Abart,clme·nto da tgua para consumo humano

Solução

Pode-se constatar pelos dados apresentados que, se não fosse pelo


perfil da adutora, esta estaria sujeita às mesmas condições daquelas
apresentadas no exemplo anterior. Por causa desse perfil, caso fosse
adotado o diâmetro de 200 mm determinado anteriormente, a adutora
,cortar·ia a linha piezométrica.

Para que isso não ocorra, buscar-se-á elevar a linha piezométrica nos
primeiros SOO .m, por meio do aumento do diâmetro da tubulação nes-
se trecho. Dessa forma, a adutora será formada por dois trechos com
diâmetros diferentes, intercalados por uma caixa de transição, cuja
função será a de fixar a piezométrica nesse local e de compatibilizar a
vazão entre os dois trechos.
l A tabela, mostrada. a seguir, apresenta os valores calculados para os
'l coeficientes de perda de carga da fórmula Universal, velocidades mé-
dias do escoamento, perdas de carga unitária e perdas de carga para
' cada um dos trec·hos da adutora, caso se utilizem os diâmetros de 250
mm, 200 mm ou 150 mm, vazão de 60 1/s, viscosidade da água igual a
5 2
1,01 x 10- m /s e aspereza da tubulação de 0,035 mm .
.

D (mm) 250 200 150


f 0,01575 0,01563
U (m/s) 0,01571
1,22 1,91 3,40
J (rn/rn) 4,80 X 10·3 1,45 X 10·2 6, 15 X 10·2
.. Ãh t (m) 2,40 7,27 30,77
..., i\h2 (m) 3,36 • 1O, 15 43,05

A figura a seguir mostra a nova linha piezométrica, utilizando nos primei-


ros 500 m de tubulação diametro de 250 mm, e os 700 m restantes, 200
mm de diâmetro. A piezométrica na caixa de transição será 807 ,60 (810,0
- Llh 1), garantindo, assim, pressões positivas no interior dessa adutora.

Linha plezométrica para D= 250 mm
Plano de carga e5 LD.(tlco
1
Caixa de transição
10,0 m
s.10
~--..·-~....
t
•• • • •111-, •• 1
805
--
R
1
• • • ·-.
, ·......_~~_;_·-~
' "
- ·~··:.;...·
f

·_......:'"-r
. 1. ·":": =:-:-:r~ L,
1 -~
.... .
· ·-: · · · ?~?'!1.~try~ P~~ !".= 200 rrim .-.._
1 • 1 • •• · • • • · • nha pJ · --
S 795
.t .
~
'
4
:
-- _j - -
•·
~ ·- 1-- - f>·----···-~ ... 792,66 . m·
~ ~.! 7,84. u m
. 1 - --- -

_. ... _ 1 Perfil a tubula ão \ __ 1 . _ . _ J..•• -· ·- ;ia

785
1
• - - - - - ---- • !- 1
- - - --· - ----- · - - ~ - - - 1 -- - - --- ...)._. -·- - -- ~
780
-100 o 100 200 300 400 500 600 1000 1100 ltoO.
700 800 900
Extena,ão (m)

...
1 , 1
• n o • • a a , o , , '
1 a e. e o ! 71

440
<
Aduçao I Capitulo 1o

10.3.3.2 Adutora por recalque

1 Os diâmetros das adutoras por recalque, normalmente, são escolhidos com base num
critério econômico, no qual é levado em conta não somente as despesas com a tubulação,
mas também com os conjuntos elevatórios, pelos motivos expostos a seguir:

• Um diâmetro pequeno para a tubulação ocasiona uma perda de car-


ga maior e, por conseguinte, uma altura manométrica e potência do
conjunto motobomba mais elevadas; conseqüentemente, o preço do
conjunto elevatório é maior e as despesas com energia também, em-
bora o custo da tubulação seja menor.
• Um diâmetro maior para a tubulação implica despesa mais elevada
para a implantação da tubulação; entretanto, proporciona menor perda
de carga e, com isso, a potência fica reduzida, resultando em custo
menor para a aquisição e operação dos conjuntos elevatórios.

Assim< o diâmetro da adutora mais conveniente economicamente é aquele que resulta


em menor custo total das instalações, considerando o dispêndio de capital com a estação
elevatória e tubulação, juntamente com as despesas com a energia consumida e outros
custos de operação, conforme mostrado na Figura 10.6. A equação de Bresse apresentada a
seguir sintetiza os resultados normalmente obtidos por essa análise econômica:

(10.7)

Em que:
D = diâmetro da adutora de recalque, em m;
Q = vazão aduzida, em m3/s;
K = fator da fórmula de Bresse.

O valor de "K" depende de alguns fatores econômicos e, portanto, oscila bastante ao


longo do tempo. Os valores mais freqüentes estão entre 0,8 e 1,4. Por medida de segurança
é usual se adotar " K" igual a 1,2 nas estimativas preliminares.
Considerando a vida útil dos projetos de instalações de recalque, os gastos com ener-
gia, muitas vezes, ultrapassam os custos de investimento das instalações, sendo responsá-
veis por SOo/o, aproximadamente, das despesas das companhias de saneamento (Clin-genpeel,
1983 apud Pimentel, 2002) e, portanto, é a despesa operacional de maior relevancia na
determinação do diametro econômico das adutoras.
Um exemplo simplificado é mostrado a seguir, para ilustrar o procedimento de cálculo
usado na escolha do diâmetro de uma adutora por recalque. Como os dispêndios são
realizados em tempos distintos, as despesas são atualizadas, utilizando a metodologia do
Valor Presente, para fazer a comparação entre os diametros a serem analisados. Na prática

441
Abut-«Jtlm,ento de jgua para consumo humano
l

uma análise rnàis detalhada deveria considerar o crescimento da vazão ao lo ·


, .
do de AroJeto, o aumento provável da perda de carga com o tempo, custos ma· ngo do Pe ,
no-
. de tubulaç~o~ cor:ijuntos elevatórios, válvulas, equipamentos elétricos etc e ·a ~s Purados
. . ·, 1nc u -
ª
'
' outros custos.Qperac1ona1s e de manutençao. ~
1 5ao de

• •

Despesa 1 -----·---r-··-~--,------,--.....----

---·~·-----~------! ---- Despesa total

Mfnim o- ···--··· -····· ·-~


I
-·~-·~
-·~
-.:-:-.·
=-· -L~
J ..
:-----+---- Despesa com aquisição e
assentamento da tubulação
·- - - - - - - - ..;_ _ _ _ - - - - · - t -, /




·-



.

1 1
1
1
1
• Despesa com motor,
1



I bomba e energia
•1
1 •
1

D econômico DIÂMETRO

Figura 10.6 - Despesas versus di~metro econômico

-(
~ . (
(:
Exemplo 10.3 (:

Dimensionar uma adutora, com base em critérios econômicos, para


conduzir em média a vazão de 220 1/s e no máximo de 260 1/s, a uma
altura geométrica de 40 m numa extensão de 1O km. As principais
despesas ·são: R$1 ,83. por diâmetro (em mm) e por comprimento êe
tubulação (em m) assentada em área rural; R$15000,00 gor kW c;je
conjunto motobomba instàlado, com reser-va de SOo/.o; R$ 0,0.g p@ .,
• kWh de energia consumida. Considerar a taxa de descor1Jt0s cde 12%
l ao ano, rugosidade interna, da tubulação Gie O,á mm., term rqer:at ura da
j
. t água de 20° C e alcance de 25 anos para o projeto.
• •
,
1 •

'1 1


.
442

••
Adução I Capítulo 10

Solução

A ap[icação da fórmula de Bresse, com K=1,2 e Q = 0,22 m3/s fornece


o valor D=0,56 m, base para a escolha dos diâmetros comerciais ana-
lisados de 500, 600 e ~00 mm, mostrados na tabela a seguir.

Tabela 1O. 1 - Comparação técnica e econômica para escolha do diâmetro da adutora

Cálculos Diâmetro da adutora (mm} Equacionamento


soo 600 700
a) Altura geométrica (m) 40 40 40
b) Perdà de carga para Q= 220 1/s 25,8 10,0 4,5
c) Perda de carga para Q= 260 1/s 35,9 13,9 6,3
d) Velocidade média (m/s) 1,1 0,9 0,7
e) Altura manométrica máxima 75,9 53,9 46,3 (e) = {a) + {c)
f) Potência <1) máxima {kW) 277 196 169 (f) = 9,81 .0,26. {e) / O, 70
g) Potência instalada do motor {kW) •
415 295 253 {g) = 1,5. {f)
h) Potência<!) média utilizada {kW) 203 154 137 (h) = 9,81 .0,22. [{a)+{b] / 0,70
Custo do capital: (R$1000)
i) Tubulação 9150 10980 12810
j) Bombas 6223 4419 3796
k) Total do custo do capital 15373 15399 16606
Valor presente dos custos para 25 anos e taxa de descontos de 12% a.a. : (R$1000)
1) Capital inicial 15373 15399 16606
m) Renovação de bombas em 20 anos 12> 645 458 394
n) Despesa com energia em 25 anos o> 1115 847 854
Valor presente total 17133 16704 17753
Observações:
(1) Potência em kW=9,81.Q.H / T] (Q em m 3/s, Hem me o rendimento T)=0, 70 )
(2) Valor presente= Custo x 1/(1+j)n, em que j = 0, 12 e n = 20 anos
(3) Valor presente= Custo anual de energia x [(1+j)n-1 )/j(1+j)n], em que j = O, 12 e n = 25 anos

Uma análise fundamentada no custo inicial de implantação somente


poderia resultar na escolha do diâmetro de 500 mm por apresentar o
menor valor de capital investido. Entretanto, levando em conta a
metodologia apresentada na tabela anterior, o valor presente dos custos,
para 25 anos de projeto e taxa de 12% a.a., mostrou que o diâmetro
de 600 mm para essa adutora é a solução mais vantajosa, sob o ponto
de vista econômico-financeiro.

443
Ab1stecfmanto de 6gua pera c.onsumo humano


10.3.3.3 Pressão de trabalho na tubulação

1
A pre·ssãa no escoamento é determinante na espessura e nas características neces-

• sárias do, material dos tubos e equipamentos, bem como dos blocos e estruturas de
ancoragem de tubulações, conexões e equipamentos q~e deverão receber os esforços
resultantes 1dessa pressão. Dessa mane'ira, pressões excessivamente altas elevam os custos
·do material e da instalação da adutora. Pressões muito pequenas, abaixo da atmosférica
,
também devem ser evi'.tadas, principalmente se a tubulação for de parede fina, composta
de material flexível, pois estará mais sujeita ao colapso estrutural.
Em regiime permanente as pressões dinâmicas máxima e mfnima correspondem,
respectivamente, à maior e. menor distância vertical entre a tubulação e a linha piezométrica,
conforme mostra a Figura 10.7 (a). Entretanto, é comum a instalação de válvulas de contro-
le de fluxo na linha. Neste caso, quando a válvula estiver fechada a pressão estática pode
ser superior à dinâmica (Figurà 10.6-b).

Plano de carga estático


(a) ·--===------"--1--·
-=-R
1 ...
·~~ ·-·~·-~
............-·-·-···-·-·-·-·-·-·-·-·-·-·-·-·-·-·-·-·-·-·-·-·-·-·-
••••••
........ L. ·-·-·-·-·-·-·-·-·

1 ................. IOha · •

....................P.J~zomét..,·
•••.••••••••. !, ca

/
~=::F::.::'m~lnf Y··············~·-····-··· ············•••••••••....... ___
--
_
PmáX I 'Y

(b)


"-válvula


(a) sem válvula; (b) com válvula a jusante
Figura 1O. 7 - Pressões máxima e mfnima na adutora em regime permanente

Pa!a mini.mizar o problema de·pressões elevadas pode..se utili;zar sesâe a simples 1

alter,açao do trar;ado da adufora, para evitar ~ontos maito baixms até \(áJvula5'reâluJtor,as de
pressão ~u reservatórios intermeeJiários, ga~ ~ossibilitam 0 est~belecirmemto da pressão
atmosférica no nível de égua, mostrada na Figuia 10.8. · . .

..


444
Adução l Capttulo 1O

I--:;:_:::;:;_:--
R 1_ __,,..,.b!..!!~12&ióm'é't-;- ·- ·- ·- · - .- ·- · .- .- .~ ·- .- .- ·- ·-·-·- ·- ·- .- ·-·- ·- Plano de carga estático R1
- ....,-1!9a R
........:.1.._·-... ·-- ...~ressão estática quebrada
"'{-...;;Y[J.b!!Qiezomét . L--+-P;;ã-~dinámica quebrada
~-·-"·-..f.'.Ça R
·-·-·-·- ·- ·-·-:::-.::~!"' ·- · ..._,·-·-·-
.•..... ·- ·- ·- ·-·-·-·- ·- ·-·-·- ·- ·- Plano de carga estático R3
-----... ----------.
-····- ............ •

-···l-::;;::
_::::::----1
Reservatório de Pressão -
quebra pressão dinâmica
~ máxima

Figura 10.8 - Adutora por gravidade, com reservatório de quebra de pressão

Para especificação da tubulação de uma adutora, é necessário calcular as pressões


referidas anteFrormente, em regime permanente, e as pressões máximas, considerando a
possibilidade de golpe de aríete, tratada no item 10.4, e compará-las com as especificações
téGnicas fornefidas pelos fabricantes dos tubos e equipamentos. Uma outra condição a ser
verifi<1:ada diz respeito à pressão de teste hidrostática aplicada à canalização a ser assentada,
para garantir a estanqueidade( estabelecida na norma brasileira ABNT NBR 9.650. A tabela
a segwir sintetiza as condições anteriormente mencionadas e que devem ser respeitadas
numa especificação:

Tabela 10.2 - Verificação das pressões para especificação de tubulação


Projeto Condição f:abricante
Pressão de cálculo em regime permanente ~ Pressão de serviço admissível
Pressão máxima de cálculo, incluindo o golpe de ar{ete ~ Pressão máxima admissível
Pressão hidrostática ~ Pressão de tesle admissível

10.3.3.4 Etapas de implantação das tubulações

As adutoras podem ser implantadas em uma ou mais etapas, por meio de tul;>wlações
em paralelo. A existência de mais <de uma linha oferece melhor se~wrança à manuten~ãe
do abastecimento. E~tretanto, para se de@iãir sob>re a nuelhor alternativa, há de se ogmsi€fe-
rar outros fatores tam0ém, como por exemple:

• se existe espaço para assentarTie,mte Gie outra tubwla~ão na faixa de


assemt amef,ltO da f;)rimei~a limha ow erni owil:r@ ~aminfio;
• se o períad0 àe tem,po erntre a p>J1imeiri:a etapa e a se~1in~e, cle~inido
,:J:ela ev0lcr~ão êa vazá© cdema·ndf ada, Justif:ii a mai,s @o qt:Je l.!.ltiT!ila-et ap,a;
• se a implanfação cle Ot::Jira twb>ulaçã@ tapriesemrta ~iabilidJa€Je ecglilê,mie;o-
finaIJ~eira. · •

4A5 •
.. a a l 1 1 a a a a ws m s •, o e se e E.d '·'*· 2 -• •

Abasteclrnen'\o de água para consumo hurnono

Para analisar o último fator ap~ntado: considere uma adutora cuja vazão inicial seja
1
"Q" e que após "n" anos a vazao seJa "2 Q . A questão que se coloca é o assentamento d
adutora em uma etapa somente para a vazao • "20" ou, se é mais· conveniente sob
O
ª
aspecto econômico-financeiro, o assentamento de uma linha para uma vazão ''Q" e a
duplicação desta linha após '' n" anos.
Um estudo hidráulico da adutora mostra que, para uma dada carga hidráulica, a
1
vazão ''Q é proporcional a "DX", em que "D'' é o diâmetro da tubulação e "x" igual a2,s,
'

de acordo com a equação Universal de perda de carga, ou igual a 2,63, quando utilizado
Hazen-Wjtfiams para esse cálculo. Assim, para dobrar a capacidade de vazão da tubulação,
o diametro do tubo deve aumentar em torno de 30°/o. Considerando que as despesas com
a adutora sejam proporcionais ao diâmetro, a duplicação da adutora pode ser considerada
viável do ponto de vista econômico e financeiro se o valor presente desta duplicação for
menor que o valor presente da adutora para a vazao "2Q", implantada no início do proje-
to, ou seja,

R$ X+ R$ X/ (1+j)n ~ 1,3 R$ X,

em que ''R$ X" é o valor das despesas de uma adutora para a vazão "Q" e a taxa anual de
juros "j''. A expressão resultante dessa análise, apresentada a seguir, mostra que, para uma
taxa de juros d·e 12o/o a.a., seriam necessários mais de 10,6 anos entre as etapas, para que
a duplicação fosse viável do ponto de vista econômico-financeiro.
1 / (1+j)n ~ 0,3

10.3.3.5 Entrada e saída de ar nas adutoras

As águas contêm em torno de 2 % de ar dissolvido. Esse ar em regiões. de baixa


pressão tende a ser liberado e se acumula em pontos mais altos da tubulação, formando
bolhas, conforme mostra a Figura 10.9 (a). Tomadas d'água e poços de sucção de bombas
inade.quados, com presença de vórtices, podem também causar entrada de ar na tubulação.
Contudo, o principal motivo de entrada de ar tem sido a interrupçao do abastecimento de
água. Se este não é removido, a seção de escoamento fica reduzida, conforme mostra
a Figura 10~9 (b), ocasionando com isso a redução da capacidade de escoamento na tubu-
lação e até mesmo a interrupção do fluxo. Na região da bolha de ar o escoamento se
processa como se estivesse em um conduto livre, sem ter, forçosamente, pressão atmosfé-
rica na superfície da água. Dependendo da mudança da inclinaç!o do conduto, o escoa-
mento livre pode tornar-se forçado novamente, por um processo gradual (Figura 1O.~-b),
ou bruscamente variado, por meio de um ressalto hidráulico (Figura 10.9-c), nesse último
caso, gerando maior perda de carga focalizada e redução do vazão.

.
,
446 "••
Adução I Capitulo 1O

P.C.E.
-·-·-i:i;íi' -·--~·~---·-·-·-··.... ·····-···-·-·-·-·-·-·-·-·-·-·-·-·-·-·1 P.C.E. = Plano de carga estático

•••

L.C. = Linha de carga
.••••
...•
..• •
••
••
. •

..••

.......__-.J:. •

.••••
(a) Fluldo em repouso

P.C.E.
-·-·-·-·-·-:·.-.)J'
Par/y"'l.rt4J :,:_· ·-ç; ";,-~
·l ....---
t.~'c---~......................
--~--~ --..~--~
---~--~--c~._c;·,..·{~-§~ffi.~IAA.9.
--~·-~ --~l--!J!/~·-ll 6h P.C.E.
-·-·-·-·-·-·-·-·-·-·-·-·-·-·---·-·-*
~·-·- ·-·-·-·-··
l .C. sem boi j 6h
~ ~ - - · • com sa de ar

~--- _,--
~........ · <com bolsa deª'!:
ar
'
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...
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6, iressalto;
\
....• ...: .:•.
• : t :
. . •

••• .••• .••


.••
••
.••• .••••.•

....• .•

{b) Fluido em movimento


- . •

© Fluido em movimento
- ->
••
••

Escoamento gradualmente variado Escoamento bruscamente variado


Figura 10.9 - Bolsa de ar dentro de um conduto com água

O ar tende a se mover em bolsas, que podem ser levadas para frente em um declive
descendente ou subir contra o fluxo, dependendo da declividade da tubulação. O ar que
não é arrastado naturalmente pelo fluxo deve ser removido mecanicamente, por meio de
válvulas de ar denominadas ventosas.
Pesquisas realizadas por Kent (Tsutiya, 2004) indicam que, nos escoamentos com velo-
cidades inferiores à velocidade crítica (Ve), dada pela equação mostrada a seguir, o ar deve
ser retirado por meio de ventosas.

(10.8)

Em que:
Ve : velocidade crítica, em mls;
g: aceleração da gravidade, em mfs2;
D: diâmetro da tubulação, em m;
e : ângulo que a tubulação a jusante do ponto alto farma com a horizontal,
em graus. •

• Ventosas
As ventesas sã© aparelhG>s dotados de flutuadores, que acompanham o nível da água.
1 Assim, CJ1Uand© o nível de á€}ua desce o niple de descarga se abre, permitindo a passagem de
ar; se o nível da água sGBe, o flutuador também sobe, vedando o eriffcio de Í\liple de descar-
ga. DepeRdendo da vazão de ar a escoar, as ventosas podem ter uma ou duas camaras,

447 •
Abastecimento do água para consume) humano

conforme mostra a Flgura 10.1 O, denominadas, respectivamente, de ventosas .


tríplice função. A ventosa de tríplice funçao tem uma camara que trabalha corno
. • _ s1rnples ede A

sa simples, e a outra tem um orifício de maior dimensão que permite a operaÇão ~ma Vento.
vazões d.e ar e trabalha a b·a1xas
· pressoes... A vento~'
· ·~::t s·mpl
1 · · ut1·r·1zada para egrande
es e, mais . s
. . d
deslocado pela água, no processo de enchimento a adutora, bem como as bolhas d . expelir oar
venham a_se formar d~rante a operaçao. - As ~entosas trí'P1·ices, al~m ' da_funÇão atribuídaear que
~s
ventosas simples, admitem ar durante o esvazJamento da tubulaçao, a fim de evitar d
sões no seu interior e, por conseguinte,
. o cotapso do con duto. epres.

Niple
• •
....-- Ar , ' a-

Flutuador
Flutuador
1 '

. {• Agua
,
Agua'

' •

..,. '
ventosa simples
ventosa de tríplice função
'
I
'
.

l
Figura 10.1 O- Ventosas
' '
''
\
1, As ventosas são montadas sobre uma tomada vertical na parte superior da canal!·
zação, normalmente com a utilização de um tê. Para manutenção, esse equipamentoé
geralmente precedido de um registro de gaveta.
"! ' . A remoção do ar durante o processo de enchimento de água da adutora é uma das
.., .•
.. 1 .,
principais funções das ventosas, pois sem isso o funcionamento da adutora não seria pos·
sível. A Figura 10.11 mostra o enchimento de uma adutora por gravidade, alimentada
~elos reseNatórios R1 e R2, na qual o escoamento foi bloqueado, pela falta de uma~ento~
instalada no ponto mais alto da tubulação, ou pelo mau funcionamento desta. Essa situa~o
.
ocorre quando H1 é igual a H2. Se houvesse a retirada do ar a carga de água H1 "semi· maior
que H2 e o escoamento se processaria.

1--=;;:;:::--- ;...._... ...... ......~. .... - ·-~-·-...


- . ...... -----~..· -·--·---·----- --------- -- --------- P.C:~ __.... •
)

--·----~------·- ,_ _..,-- '•

..' : R,
'

Carga disppJli'i_.§lr · . .
'i
para a túbal~çao>.c~e,a
. .. · ·. ·

, _ .1
p ~-
:.
• '
t ~
J!!.t
- ~

>
• •

;

.
1. •
'

Figura 10.11 - Bloqueio do escoamento


.•


..

'•.•
448
Adução I Capítulo 1O
1

• Dimensionamento das ventosas


Num dimensionamento preliminar, adota-se para diâmetro da ventosa "dv" valor igual ou
superior a 1/8 do diâmetro da tubulação (dv ~ D/8). Entretanto, o dimensionamento mais
apropriado é realizado considerando a vazão da linha e um diferencial de pressão entre a
atmosfera e o interior da ventosa de 3,5 m.c.a., aproximadamente. A figura a seguir mostra
o gráfico fornecido por um fabricante de ventosa, para seleção do seu diâmetro nominal (DN).
Para exempJifiG:ar, é mostrado neste gráfico um ponto, cuja vazão de adução é igual a 300 1/s e
o diferencial de pressão é de 3,5 m.c.a, conforme a recomendação. Desta maneira, a ventosa
indicada para atender à descarga ou admissão de ar nessa adutora deve ter DN 100.

I I
4,0 / /
" ·- ·- ·- ·- ·- ·- ·- ·- ·... ·-·-·-·-.- -·I .-. 1.. · - •
J I

,,,...... 3,0

/
I

c:cs I
o Q 2.0
g J J
1,5 '/
o.O.
-8
..?;:
10 / I
'
I
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I
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SI> J
Cc € ~
" ~ ... ~ ~
1

~ ~

~ "J
'I'
0,1 .
10 50 100 200 400 600 1000 2000
Vazão da adutora-Q (Us)
Figura 10.12 - Gráfico para seleção do tamanho da ventosa de tríplice função

A norima ABNT 591 /9 l recomenda o dimensionamento das ventosas para atender as ,
, seguintes condições:

- descarregamento de vazão de ar igual à vazão de água na adutora, em


condições de enchimento desta com velocidade máxima de 0,30m/s;
t
- ad missão de vazão de ar jgual à vazão máxima de água que pode sair pela
1

descarga mais próxima à ventosa, em condições normais de operação;


l - admissão de vazão de ar suficiente para evitar o colapso da adutora,
em condições de escoamento variado.
,
• Locais de instalação de ventosas •(
As ventosas são instaladas onde existe a tendência de acúmulo de ar, de uma maneira ~
gera_l, nos po.ntos mais altos da tubuJaçã0. Além desses pontos, deve-se iflstala·r ventosas
nos p-ontos altos, imediatamente antes e logo após as descargas de água das adutoras,
1

para facilitar a entrada de ar, quando as descargas estiverem em operação. Outro local em
J

t
449
Abastecfmento de água para consumo humano

que a instalação de uma ventosa torna-se necessária corresponde ao ponto em que .


.
piezemétrica, relativa à descarga de um trecho da adutora, corta esta adutora. a 1inha
Por isso, 0 perfil da adutora é determinante para a localização deste equiparnento. A
norma brasileira recomenda um traçado formado por trechos ascendentes longos
pequerta ,decljvidade, seguido de trechos descendentes curtos, com maior declividade P ., com
. , ois
isso faoilita o acúmulo de ar nos pontos mais altos e reduz o arraste de bolsas de ar contrá-
rias ao fluxo, facilitando a localização dos pontos de ventosa. As declividades dos trechos
ase.tendentes não devem ser inferiores a 0,2o/o, e, nos trechos descendentes, as declividades
não devem ser inferiores a 0,3%, mesmo em terrenos planos. A Figura 10.13 ajuda a
esclarecer a conformação do perfil de tubulação citado anteriormente e a Figura 10.14, a
focalização de ventosas e descargas para um dado perfil de tubulação.

1
.
Figura 10..13 - Declividades recomendadas para as tubulações
!
1
V

• l
l l

d V !
d 1
R t
R - válvula de p.arada
V -ventosa
1
. d
d - válvuta de descarga
••
Figura 10.14 · Localização das ventosas e descargas para um perfil de tubulação

l 10.3.3.6 Descargas nas adutoras

. euid~dos especiais também devem ser tomados nos pontos baixos das adutoras, com
a 1nstataçao de váJv,utas d · d . d tre·
hO d d e escarga, para proporcionar o esvaziamento completo O
~e r:~ ~:or~. A necessi~~de de. esvaziamento da adutora ocorre normalmen~e na fase
Pd . p a~ao, por ocas1ao da limpeza e desinfecção da tubulação e postenormeAte,
para · renar a hnha quando 1 . · , ' ,~ eza
dos resíduos sólid ª
· . guma parte desta necessita de manutenção ou mesmo irnJ'l
de\'º . . ·~ os ~ventualrnente decantados após algum tempo de uso. O escoamen10
vç ocorrer por gravtdade é _ · · 51irlhiaS
Para completar O es . · ' po~ m, caso nao seja possível, é comum a utiliza~ão de l\>o I

vaziamento. .
Dependendo do desnível d t h . pode
ser muit0 elevada, devendo fer ~ rec ~ se~ esgotado, a velocidade do escoamento; ,r,ire;.
O

mente encaminhado ao slstem ~a energia cinética dissipada e o sei!! ~fl\!Jente,IJ©lil'le~l!l~iaiS


a eceptor, tal como os córregos e galer1a's dfe á~t11a5~

• 4..50
Adução I Capítulo 1o

outro inconveniente gerado pela alta velocidade é a cavitação, que pode danificar rapida-
mente a válvula de descarga. Nesse caso, uma placa de orifício inserida antes da válvula reduz
O
diferencial de p_
ressão e os riscos de cavitação.
os diâmetros dessas descargas são condicionados pelo tempo requerido para esvazia-
mento do trecho da linha e pela velocidade mínima necessária ao arrasto do material
eventualmente sedimentado. Como regra prática utiliza-se diâmetro superior a 1/6 do diâ-
metro da tubulação (dd ~ D/6).

10.3.4 Condutos livres

\ Nos trechos em conduto livre, adota-se, usualmente, a hipótese de regime uniforme


de escoamento excetuando--se segmentos específicos, tais como entradas e saídas de ca-
nais, trechos em queda, caracteristicamente correspondentes ao escoamento gradual e
t bruscamente variado. ·
Nos itens a seguir são apresentadas indicações para projeto e dimensionamento de
adutoras em escoamento livre enfocando-se, sobretudo, o escoam,ento uniforme.
{
10.3.4.1 Dimensionamento na hipótese de Escoamento Uniforme

A hipótese de escoamento uniforme é descrita matematicamente pela Fórmula de


Chézy, com a seguinte expressão:

Sendo:
l U: Velocidade média, em m/s;
C: Coeficiente de resistência de Chézy;
Rh : Raio Hidráulico, em m;
( 1 : Declividade, em mim.

Para a definição do Coeficiente de Chézy, de caráter fundamentalmente empírico, ..


( destacam-se as expressões de Kutter, Bazin e Manning, sendo esta a mais difundida atuar-
mente:
'

r e = -1 R 1/6 . '.
n h '.-
...•
.•
'

;i.
. Nesta expressão, o Coeficiente de Rugosidade de Manning, "n", traduz a resistência ao •,

." ~

.~
escoamento associada à parede do conduto. Assim, chega-se à seguinte expressão de cálculo: ,,;''
'
r .,.'
'.

451
~ ---------===-=========--====---------------~
.... " .' ,,.
Abast.eclmento de água para consumo humano ' ~
......
i de
nar
ria U =.!_ R;'3 1 112
'10 n
me--
Ssi Combinando esta expressão com a equação da Continuidade, vern:
s,
-u '

rrv Q =!__ARt13 1112


n n (10.9)
;
1u
'
sendo "A" a área da seção, em m2.
!S
d

'1,ª É importante assinalar que o escoamento uniforme pode ocorrer tanto em .


· J como torrenc,a
,f' uvra - da dec1·1v1'dade de assentamento da adutora Mregim
· 1, em f unçao · e
s . . atores
l,f detalhes sobre este aspecto podem ser encontrados em publicações específicas.
e No estudo hidráulico de adutoras, os problemas de cálculo do escoamento uniforme
a"...
, podem se apresentar de forma distinta, segundo o tipo da variável desconhecida. oprimei-
t ro problema corresponde à verificação das condições de funcionamento hidráulico, ou
seja, à. determinação da capacidade de vazão de um daao conduto. Assim, sendo conheci-
1
f 1

' das as propriedades geométricas da seção em estudo (A, Rh), pode-se efetuar o cálculo, de
forma direta e imediata, para qualquer uma das outras variáveis envolvidas na equação
anterrormente apresentada.
O segundo tipo de caso de cálculo corresponde ao dimensionamento propriamente
dito, ou seja, deseja-se determinar as dimensões da adutora, em função da vazão, conhe-
cidas a rugosidade e a declividade. Neste caso a variável desconhecida é exatamenteª
... profundidade normal e a resolução do problema implica uma sistemática iterativa ou grá-
,. fica, como visto a seguir.
Para seções com geometrias regulares, parametrizáveis, tais como as seções circulares,
trapezoidais e retangulares, podem ser utilizadas tabelas e gráficos, como apresentado na
Figura A.1 do Anexo A, que possibilitam realizar o cálculo mais facilm~nt~. iteo
A utilização de programas computacionai·s, tais como o HidroWin, Já citado, perrn ·
cálculo do escoamento uniforme de forma simples e rápida. d ráficOS
Para seções complexas, diferentes das seções tabeladas ou constante~ º;função
disponfvejs, torna--se necessário construir gráficos ou tabelas relacionando ARh e
da profundidad: y, d~ forma similar aos gráficos da Figura A. 1 do. Ane~o Aé facilitado ~r
. Para as seçoes c1rculare~'. de freqüente utilização, o cálculo h1dráuhconexo A, relad~ 1

meio do uso de tabelas aux1hares, como apresentado na Tabela A.8 d.o A ·ento à seça0
nando as condições efetivas de trabalho com as condições. de !unci?~ª~esta sisterná'
plena. O Exemplo 10.4, mais adiante no texto, ilustra uma aphcaçao pratica .
tica de cálculo. a a evitar pro-

blemas de oscrfaçao abrupta de fâm1na d' água, que ocorrem quando O


valores próximos do topo do conduto.

452
Adução I Capltulo 1O

No cálculo do escoamento uniforme, torna-se também necessário determinar o coefici-


de rugosidade "n''. Usualmente isto é feito com a utilização de tabelas, encontradas na
ente
. tura técnica em grande numero, ' obt'd · de ensaios
I as a partir · e medições de campo.
1,~raem ,,ser.aqui destacados os elementos
.
apresentados na obra Open-Channel Hydrau/ics de
Dev . d
ven Te chow (1959), onde consta uma extensa 1sta e coeficientes de rugosidade associados
1

a diversos materjais e situações de utilização. Na Tabela A.9 do Anexo A são apresentados


alguns valores de coeficientes de rugosidade usualmente utilizados.

10.3.4..2 Dimensionamento em condições de vazão não definida -


J Saídas de reservatórios

As situações colocadas no item anterior pressupõem conhecida a vazão em trânsito.


l Entretanto, podem ocorrer situações em que as vazões e as profundidades não são conhe-
cidas, como no caso da saída de um reservatório, alimentando uma adutora.
Assim, supondo um reservatório com um dado nfvel d'água constante, com velocidade
de aproximação nula, alimentando a adutora com rugosidade " n.", imp,lantada com uma
declívidade ''I'', podem ocorrer duas situações distintas:

l • Se a declividade da adutora for igual ou superior à crítica, ocorrerá a


profundidade crítica na saída do reservatório e a vazão crítica será transportada;
• Se a declividade da adutora for inferior à crítica, ocorrerá a profundi-
1 dade normal logo à saída do reservatório, sendo a vazão transportada
correspondente ao escoamento uniforme em regime fluvial ..

Para definir a real condição de funcionamento, pode..se adotar a seguinte sistemática


1
de cálculo:

• Supondo que a profundidade crítica ocorra à saída do reservatório,


1 resolver o sistema de equações para Q e Yc:

H,== y , +(1 + C. ) 0 22 (10.1Oa)


1
2gA
2 (10.10b)
0 8:::: gA 3

1 Onde:
Hr é a profundidade do reservatório em relação ao nível de entrada do ·.
canal e Ce é um coeficiente de perda de carga na entrada da adutora,
f
usualmente adotado entre 0,3 e 0,5;
A e B são, respectivamente, a área e a largura superficial, funções de Yc·

1 .'

•'I
• •
,(
'

453
----
Abasteclmi,nto de água para consumo humano

• Determinar a declividade crítica:

· T12
I = Qn
e AR~'3 (10.11)

• Pela comparação da declividade crítica com a declividade real da


adutora (1 0 ), pode-se, em seguida, identificar a situação real de operação:
- se a declividade da adutora for igual à crítica, tanto a vazão como a I
profundidade calculadas estão corretas;
- se a declividade da adutora for superior à crítica, apenas a vazão está
correta. A ~inha d'água pode ser definida sabendo-se que a profundidade
crítica ocorre à saída do reservatório e esta tende, em seguida, para a
profundidade normal, correspondente ao escoamento uniforme, cal-
culada pela fórmula de Manning;
- se a declividade da adutora for inferior à crítica, a vazão e a profundi-
dade calculadas estão incorretas tendo em vista que a adutora funciona
em regim1e fluvial. Torna-se, portanto, necessário recalcular a profundidade
de escoamento e 9 vazão em trânsito, como se segue:

Calcular a profundidade normal fluvial logos após a saída do reservatório:

Hr -- · Y + (1+Ce) R4t3/
h
2gn 2 (10.12)
1
1
Calcular a vazão real, com a fórmula de Manning, sabendo-se que A e Rh são depen-
' dentes da pro·fundidade y, definida pela Equação 10.12:

Q =!_AR213 1112
n h

10.3.4.3 Indicações gerais de projeto


f

. .d des ligadas
. ·1~1
O proJeto de adutoras em escoamento livre apresenta várias espec1f c ª ·' ·cas,
tanto a situações hidráulicas particulares, tais como curvas e transições, como tecnolóe~óes
tais como escolh.a de materiais e revestimentos. o tratamento exaustivo destas qu ·
escapa, evidente~~nte, ao objetivo deste texto. . _ hidráUÍI~ '
f

A norma brasileira ABNT NBR 591/91 recomenda a verfficaç.ao de alguns asped.05 segur.
ª
especfficos quando do projeto das adutoras. Estes pontos são discutidos, de forma suanta, ndida!i
Primeirament_e coloca-se a questão das velocidades, que devem estar co;:s~~stes na
entre valores máximos e mínimos, de forma a minimizar, respectivamente, ·

454
\

Aduçao I Capítulo 1o

estrutura e deposições de material sólído. Assim, no tocante às velocidades máximas, estas


devem estar limitada~ aos valor~s apresentad~s na Tabela A. 1o do Anexo A.
1 Quanto às velocidades mínimas, caso haJa possibilidade de carreamento de material,
l ecomendam-se valores li"mites, apresentados na Tabela A.11, do Anexo A, de modo a se
:vitar a dep0siçã0 de sólidos hidrotransportados. Evidentemente, no caso de adutoras trans-
f portando ágbla tratada, os valores de referência apresentados podem ser desconsiderados.
outr@ ponto a ser aqui destacado corresponde à utilização, em projeto, de condutos com
seção transversaJ feehada. Nestes casos, segundo a Norma brasileira, o tirante de água deve
corresplonder à,seçãa de máxima eficiência, ou seja, à condição de minimização do perímetro
molhaclo, levando à etimizaçãG> hidráulica do conduto. As caracterJsticas das seções de máxima
eficiência usualmente utilizadas são apresentadas na Figura A.2 do Anexo A.
Éimportante salientar que as seções de máxima eficiência não representam, forçosa-
1
mente, as condições de maior vazão ou de menor custo. Os aspectos tecnológicos de
implantação e a adoção de critérios de operação distintos podeim levar a soluções finais de
engenharia bastante distintas daquelas obtidas com a adoção do princípio de máxima
eficiência hidráulica. Este aspecto poderá ser visto no Exemplo 10.,4.
Outro aspecto importante a salientar diz respeito à adoção da hipótese de escoamento
uniforme, usualmente adotada no dimensionamento das adutoras. A hipótese corresponde,
1
em muitos casos, a uma simplrricação das condições reais de funcionamento hidráulico. As-
sim, antes de se efetuar o dimensionamento final e definitivo em locais que possam ser
observadas situações hidráulicas particulares, tais como em trechos com possibilidade de
remanso, transições, confluêncjas, é importante a determinação da linha d'água em condi-
ções mais realistas, correspondentes ao escoamento gradualmente variado. Recomenda-se
aqui a consulta a publicações específicas de hidráulica (Baptista e Coelho, 2003), bem como
1 a utilização de programas computacionais (tais como o HidroWin, já citado), que permitem o
cálculo destas situações de forma rápida e segura.
Da mesma forma, pode ser necessária a previsão de estruturas de dissipação de energia
junto a quedas e pontos de despejos. Estas situações correspondem ao escoamento brusca-
mente variado, sendo que seu tratamento deve ser também efetuado de acordo com as 1

indicações constantes de publicações específicas de hidráulica (Baptista e Coelho, 2003).


1

Exemplo 1o.4

Dimensionar uma adutora com tubos circulares pré-moldados de con-


creto para uma vazão de 1100 1/s, implantada com declividade de 1, 7 % ·

1 Solução

T:atando-se de conduto com seção transversal fechada, a Norma bra-


sileira NB 591 preconiza adotar-se seção de máxima eficiência. Assim, '
.

455
Ab1steclmento de •eua para consumo humano

O tirante de água em condutos circulares está limitado a 5ocy do diâ-


0
metro&

Em se tratando de tubos de concreto, ª. velocidade máxima de escoa.


menta és m/s e o coeficiente de rugosidade é de 0,013.

=
Fixando y/D 0,50, pela Tabela A.8 do Anexo A, tem-se que Q,/QP ::: o.so

Op = Oxl 0,50 ==? Op = 1# 1 m3/s / 0,50 = 2,2 m3/s

mas Q·P = o,11tDBl3J112


n =)D= (0,6982)318 =0,87 m

Adotando o diâmetro comercial imediatamente superior, D= 1,00 m,


tem-se:

Op = 3, 1509 m3 !s

==> Q/Qp = 3
(1, 1 m /s) I (3, 1509 m3/s) = 0,3491

Pela Tabela A.8 do Anexo A=) y/D =0,42 < 0,50 :> tirante satisfatório

'
l
0 4 213 12
1
1
up = • 0 1'
n
=4,01m Is

=) Ux ::: O, 91 x 4, O1 mls = 3, 65 m/s < 5, 00 mls :> velocidade satisfatória

Se o critério de adoção do critério de máxima eficiência não fosse ado-


tado, o emprego do diâmetro de 0,80 m levaria a um valor de y/D =
D,58 e a uma velocidade de 3,64 m/s, perfeitamente satisfatória.

I
• f

456
Adução I Capítulo 1O

Exemplo 10.5

calcule a vazão em uma adutora retangular em concreto, com rugosi-


dade 0,015, largura de 1,30 metros e declividade de 0,04º/o, abastecida
por um reservatório com nível d'água situado a 0, 70 metros acima da
entrada.

Solução

Supondo coeficiente de perdas na entrada igual a 0,40 e utilizando as


· Equações 10.10a e 10.10b, tem-se:

02 •

0,70 == Yc + (1 + 0,40) 2
2gA
2 3
Q 1,30 = g(1,30yc}

Resolvendo o sistema de equações, resulta:

==> Yc = 0,41 m e Q = 1,07m3/s


Levando este valor à Equação 10.11, pode-se definir:

lc =0,0058 mim t

Como l (0,04%) é menor do que lc (0,58o/o), tanto a profundidade como a vazão


calculada não correspondem às condições reais de funcionamento, pois o canal funciona
em regime fluvial. Torna-se necessário recalcular a profundidade e a vazão para esta condição
de funcionamento. Assim, utilizando a Equação 10.1,2, tem-se:

H, == y + (1 + Ce) R4' 31
2 h O
2gn
1
4/3
(1 + 0,40) 7 3
, o.y
0,70 == y + 1,30 + 2y x0,0004
2x9,81x(9,01 s'j
==> Y == 0,67m

457
-- --- = 0,554m Is 3

- -- •

t
z

em EODdutos forçados

-
o escoamento varia com o
Se esta mudança é
escm,1,ento e o movimento do
·- ._,,_, ~~. . . .. mc:s?e raso soo estudo é
c:onne, i~o
. , •.+J.i_i;: ....._.,. --.
~ }
10
; ......,...;?" 41 a a e •,.=µas= :r a: ~ .:. · r ril3r.ça é fápida, surge uma onda de
........ _ -

- . ~ • - -·
i-5 •:, &: SE:!:S7 - . .. ..
::: %
.._ ~ , .
L ,- m ·.a_-3:: - ,;; :_ oo • s - das ondas de pressão solilre
. .• . :-- - •· -, .... -:::: .,, ,. ' .:t:sFs 3ê o: el:a. ..,,. :0 rai é · 1àe aríete. fez com QUe o
..::-.:::s:::·-=-- - - : ! "::! ·• cs b ·_,ns fosse também conhecido

l
j •

'

'


Aduçáo l Capftulo 1O

K
-
p
C== (10.13)
K D'P
1+ -
E e

Em que:
e ::: celeridade efetiva de propagação da onda de pressão, em m/s;
1 K = módulo de elasticidade volumétrica da água, em kgf/m2;
=
p massa específica da.água, em kgf.s2.m-4;
o == diâmetro da tubulação, em mm;
1
e = espessura da parede do tubo, em mm;
E= módulo de elasticidade linear do material do tubo, em kgf/m2;
q, =fator relativo à fixação do conduto;
µ =coeficiente de Poisson do material de que é feito o tubo, adimensional.

O fator \J1 pode ser avaliado da seguinte forma, segundo a norma brasileira NBR NB
591 /91:

q, = (5/4) - µ=conduto ancorado contra movimento longitudinal numa


extremidade e livre na outra
\J' = 1- µ2 = conduto ancorado sem movimento longitudinal em toda
a sua extensão (conduto enterrado)
q, = 1 - (µ/2) = conduto com junta de dilatação, entre ancoragens, ao
1 longo de toda a sua extensão
q, = 1 = conduto assentado com juntas de dilatação em toda sua
extensão

Os valores de p e K para a água a 20º e são, respectivamente, 1O1,8 kgf.s2 .m-4 e 2,24
1 8
º
x kgf.m-2. Nessas condições, a celeridade teórica da onda no meio infinito é 1483 m/s,
demonstrando ser muito mais elevada que as velocidades encontradas nos escoamentos
1
e~ condutos forçados, geralmente inferiores a 5 m/s. A Tabela A-2 do Anexo A mostra
ªgun~ ~alores de p e K para outras temperaturas da água. Os valores de E e µ para os
materiais mais utilizados na fabricação de tubos são os seguintes:
1

E== 2,11 x 1010 kgf/m2 eµ= 0,27 para o aço;


E== 1,55 x 101° a 1,73 x 1010 kgf/m2 eµ= 0,25 para o ferro fundido;
E== 2,46 x 108 a 3,52 x 1os kgf/m2 eµ= 0,45 para o PVC rígido a 20° C.
A'
dacte dintensidade do golpe de aríete depende da compressibilidade do líquido, da elastici-
°
Assirn tubo e, principalmente, do tempo em que é realizada a alteração da velocidade.
t a abertu
· ra e o fechamento de válvulas ou a parada de uma bomba, ou mesmo o .
•.·
..

..
·,'
.,.
)
459
i
l
. .- .
• ;I,! •••
. . ..
' '°1 •• •

. .
'
... . .
1 ,;;.~ "" •.~ .

Abastecimento de água, para consumo humano

rompimento da tubulação, estão entre as principais causas do golpe de aríete Os ef .


... . · e1tos
danosos decorrentes desse fenômeno sao numerosos, podendo-se destacar o rompiment
0
da tubulação, pelo excesso de pressão, e o colapso da tubulação pela depressão.

10114.3 Descrição do fenômeno em adutoras por gravidade

A figura a seguir mostra o ciclo da propagação de uma onda, para um sistema com-
posto por um reservatório a montante e uma válvula a jusante da tubulação, em que as
perdas de carga contínuas e localizadas são desconsideradas, para análise do transiente
gerado pelo fechamento da válvula de jusante.
O tempo "t'' que uma onda de pressão gasta para sair da válvula após o fechamento •
instantâneo e chegar ao reservatório é "UC ", sendo "L" o comprimento da tubulação
entre a válvula e o reservatório e "C" a velocidade da onda ou celeridade. A referida figura
mostra quatro fases desse ciclo, totalizando um período de 4UC.

1ª fa,se: começa logo após o fechamento total e instantâneo da vál-


vula e termina quando a frente da onda de pressão (C) atinge o
reservatório. Após o fechamento da válvula,a carga cinética é trans-
formada em carga de pressão. Dessa maneira, a tubulação vai se
dilatando gradualmente ao longo da tubulação, devido à sobrepressão
(àH). A velocidade (U) se anula em todo o conduto, quando a onda
chega ao reservatório.
2ª fase: começa com o retorno do excesso de água, acumulado na 1ª
fase para o reservatório. Com isso, as dimensões e a pressão da tubu-
lação voltam ao normal, gradualmente, a partir do reservatório.
3ª fase: após a fase anterior, na qual toda a tubulação ficou com a
mesma carga inicial (H), surge uma depressão (.. fiH), ficando o tubo
submetido a uma carga (H ..AH), a velocidade reduzida a zero e o diâ-
metro diminuído, a partir da válvula até o reservatório.
4ª fase: o tubo reage para voltar às dimensões iniciais, admitindo água
na tuburação proveniente do reservatório, estabelecendo assim um
escoamento em direção à válvula. Com isso, as dimensões e a pressao
..
da tubulação começam a voltar ao normal, a partir do reservatório,
completando o ciclo na válvula. A partir daí um novo ciclo se inicia.

551
A perda de carga ao longo da tubulação contribui para o amortecimento dos suce -
. a 1O16,, •
vos golpes de aríete·, conforme se pode constatar pelos gráficos mostrados na F1guf"' ·
P.C.E I &H e
: -:"":""""~ :-: :--:: =-- t-----------. •

P.C..E I

• •
• •
• •
• •
• •

Frente : •




da onda~• •




válvula H •

• válvula
• •
• • •
• •
• •
• •
• •

~ ~ ~- -~ ~ ~ ~ ~ ~· •<tit,•• •···· ···· · ······ ··.,.·
·- ·-·-·-·- ·· > U U=O
~~~-=-----;.;;;;;,;;;,........=::..::....;;.........~~::-..:..:......;.;;_,,..... ... .... .. .. . . , .. .... .

1ª fase o< t < uc UC < t < 2UC

P.C.E I P.C.E I






válvula H


• válvula






~--~--~~~~=~~
~:..u ... . . . . .u=O .........


·- ·-. ,- ________
-
......._.__.; ; ; ;,; ,; ·- ·-·· ...;;...,.....;.;;;;;:~;;;;;.,;.~~~ ......... .. ...... .. ........

2UC < t< 3UC 4ª fasé 3UC < t <4UC )>


a.
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· F.igura 1O. 15 - .Prowagação da onda de pressão no golpe de aríete -


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.. . .. .

Abasteciment o d &égua para consumo humano

Pressão

Sobrepressão

+ + + 1
PreaSs.ão
estática
.. -
• ••
••• Depressão •• ••
•• • •••
•••
:•1 •••

••
••
••• ••• •••

• •• :
••• ••
••
•• ••
•• •
•• ••• ••• ••
••• •••

•••
. ••
••
•• •• • ••
•• •• ••• ••

2UC 2UC 2UC 2UC


Período do conduto

(a)

Pressão

Sobrepressão

+
Pressão + +

,
estática
- •

.•••• ___
.. ....,
• :••
: Depressão ••
••• •••
•••' •
•• •
• • •••
••• •• ••• ••
•• ••
•• • ••• •••
• •••
••• :•• ••
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•• • ••
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•• ••• •• •••

••• •••
••

••
• •••
• ••• •••
••• •• • ••
• • ••• •••

2LIC 2UC 2UC 2UC


Período do conduto

(b)
Figura 1O. 16 - Evolução da pressão no transiente hidráulico

10.4. 4 Processo expedito para avaliação da variação da carga de pressão

O estudo do escoamento transiente é bem mais complexo que o do escoamento


permanente, uma vez que o envolvimento da variável "tempo'' requer a utiJjaação de
equaç?es diferenciais. par~iais, cuja .solução só pode ser realizada através de mé:°d;;
nul'iilénoos (computac10na1s). ou gráficos. O estudo do golpe de aríete tleve ser reailz:
pelo método das características, Se!!JUndo a norma brasileira ABNf NBR 591/91 - ProJ 10
de adutora de água f)ara abastecimeMto pâblico. A intêAção, no ptes~nte texto, é
15
e5
ap:~ª
apresentar a problemática dos escoamentos transitórios, uma vez que a sua an

462
'
. .. '
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' . _. j.
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f. "".·: .",... :.
~ ·,. •
"
4 . ... r · '· ,r . . ·

AduçAo l Capítulo 1O

leta é muito extensa, necessitando um estudo avançado. Este assunto é tratado em


~~;~grafia especializada, ~orno em Souza (1991) e Wyli_: e st~eeter ~ 1993).
considerando que é importante que se tenha noçao da 1ntens1dade do fenômeno,
apresenta-se a seguir um proc:sso expedito de avaliação dos valor~s de sobrep:essã~ e
depressão ao longo da tubula~a~: onde a perda de carga é descons,derada. As s1tuaçoes
analisadas contemplam a poss1b1lldade de manobra rápida em uma válvula e uma mano-
bra lenta. Os resultados encon~rad~s por este processo são superiores aos reais, entretanto,
r
.uando a perda de carga é 1nfer1or a 5 % da pressão estática ou de serviço, os erros
~o pequenos. Por esse motivo, este processo ainda é utilizado para instalações de pe-
queno porte, sobretudo tendo em vista que os resultados assím obtidos estão a favor da
segurança.

a) Manobra rápida
A manobra é considerada rápida quando o tempo ",:" de fechamento da válvula é
inferior ao período em que a onda de pressão gasta para ir ao longo da tubulação e voltar
à válvula,, ou seja: 't .~ 21/C. O maior valor da carga de sobrepressão se verifica junto à
válvula e é admitido igual ao da subpressão '' ~H". Se a manobra rápida resultar no fecha-
mento total o valor de LiH é dado pela equação de Joukovsky, apresentada a seguir:

t1Hmáx
cu
::::: - (10.14)
g

Em que:
liHmáx: carga de sobrepressão, em mca;
e: celeridade, em m/s;
U: velocidade média da água, em m/s;
g: aceleração da gravidade, em mfs2. 1
l
O valor de "~Hmáx" é suposto constante até uma distância igual a (L-C112) da válvula,
sendo Lo comprimento da tubulação e -r o tempo de manobra da válvula. A partir daí, o
valor de "liH" reduz linearmente até zero na entrada da tubulação, conforme mostra a
figura a seguir.

463
Abasle'dtnento de 4gua para ., onsumo humano

Crc/2 L-Ct/2
= = . ' ' :.fc:.- ==

1
~===CU/g

H

válvula


L

FJgura 10.17 - Variação da sobrepressão "~H " ao longo da tubulação

A carga total de pressão pode então ser calculada como sendo a soma da carga
estática de pressão e a sobrepressão "~H ''.
Para se ter uma idéia da dimensão da sobrecarga de pressão, suponha o caso do
fechamento instantâneo de uma válvula que controla o escoamento em um tubo de ferro
fundido. 'Para tanto, vare a pena ressaltar que a sobrecarga de pressão, em uma súbita
mudança de velocidade em uma tubufação, é dada pela equação de Joukovsky. Conside-
rando a celeridade igual 1.200m/s, aproximadamente, para uma tubulação de ferro fundi-
do e uma va.riação da velocidade de 1,0 m/s, a sobrecarga de pressão seria de 122 m.
Todavia,, como resultado da presença de pequenas quantidades de ar dissolvido na água, a
1
1 vetacidade de propagação da Oílda pode estar entre 900-600 m/s. Mesmo com esse último
• valar a sobrepressão seria da ordem de 61 m.

'b) Manobra lenta

No caso de .manobra lenta, o tempo "t'' de fechamento da válvula é superior ª2uc.



A equação mostrada a seguir, atribuída a Michaud, permite calcular o valor da carga de
• sobrepressão ''AH" :

'
2LU
ô.Hmáx. :::: gt (10.15)

A Eq - 1o 1s .
necessárteIa
e
: uaçao , . tem sido aplicada também para se calcularº. t~mpo aileletiiliJ @.
_fechamento da valvufa, para que a pressão total não ultrapasse um 1lm1te preest W"'-~



• • •
• •
464
Adução I Capít ulo 1O

. .s Métodos para controle de transiente


10 4

A Equação 10.14 para o cálculo da sobrepressão máxima permite concluir que as


1
reduções dos valores da velocidade média "U" do regime permanente inicial e da celeridade
II
da onda elástica "C podem controlar um transiente hidráulico, mantendo o valor da
sobrecarga mais baixo.
os parâmetros que podem reduzir a celeridade, conforme mostra a Equação 10.13,
na prática, são relacionados às características da tubulação, quais sejam:

'
11
- aumento do diâmetro interno '' D ;

- dimintJição da espessura "e" da parede;


- diminuição do módulo de elasticidade "E" do material.
t
Omodo de operação das válvulas (abertura ou fechamento) é muito eficiente no contrate
dos altos valores de sobrepressão nas instalações, conforme se pode constatar na Equação
10.15 para,manobras lentas. Assim, quanto maior for o tempo "t" menor será a sobrepressão.
1
Além dos métodos citados anteriormente para controle do transiente hi.dráulico, é
comum na prática da engenharia a utilização de dispositivos de proteção, para eliminar ou
1

1 mes.mo reduzir os efeitos indesejáveis decorrentes do golpe de aríete. A 1ocalização satisfa-


tória de alguns desses dispositivos encontra-se indicada na Figura 10.18.

1 Chaminé de equilíbrio
Linha piezométrica
-

cu/g TAU
--

1
- - - - ------
Reservatório
- -
Hidropneum ic Válvula de retenção
-"':"

Poço de Bomba com


sucção
by-pass
l
rE---~~~~~~~--~~~L---- --~--~~---~~---::

1
-font-.Figura 10.18 - Indicação de localização de alguns dispositivos de proteção contra o golpe de ariete
e. lWORT et ai. (2000)

465
Abastecimento de Agua para consumo humano

• Volante, q~ando colocado na bomba,_ aumenta a inércia das partes gi.


rantes, reduz1.ndo a taxa de desaceleraçao da bom~a e a correspondente
taxa de mud.ança de vazão, bem como a subpressao. Todavia, para não
atingir dimensões exageradas do vol~nte e u_ma carga excessiva no mo..
tor, seu uso fic·a limitado a pequenas tnstalaçoes em que a linha de recal-
que não exceda a'lgumas centenas de metros (Macintyre, 1987).
• Válvula antigolpe ,de aríete, também conhecida por válvula de alívio, é
• utilizada numa de·rivação da tubulação de recalque para combater 05
prootermas de sobrepressão. Dotada de duas câmaras separadas por um
diafr.a~ma, ·conforme mostra a Figura 10.19, a válvula só atua quando
soficltâda por uma pressão adicional. Nesse momento o diafragma se
movimenta liberando um orifício que permite a passagem de água para
atmosfera. Com a saída da água, a pressão vai sendo restabelecida .

.' •

-Ar comprimido
- --
Ar comprimido
1

• - -i..Ar
:._;:_ comprtmido
'' ' .1'
'
,f
p

(a)
1 1

... .1 .•

Figura 10.19 - Válvula antigolpe de aríete


Fonte: SILVESTRE (1989)

• O reservatório hidropneumátíco é um reservatório metálico, onde


·, .
água e ar são acumulados sob pressão em seu interior. Posicionado

ilogo após a válvula de retenção, permite amortecer tanto a pressão
'

I
,
r
1
mínima, cede1ndo uma certa quantidade de água para a tubulaçã~,
• 1
d
....
-~
'i
t
I

t
quanto a pres.são máxima, ao receber a água da tubulação, compri-

mindo o ar (ver Figura 10.20). A manutenção de ar comprimido no
reservatório, entretanto, requer cuidados especiais.
..
..
·,
.... . ,,

466
'
--·

Aduçáo I Capítulo 1o

ar

ar ' •
Hmáx.

Hmín.

~ Reservatório de ar
...r.:-Bocal
(díssipador de energia)

água

1 •
Figura 10.20 - Reservatório hidropneumático
-Fo-nte; MACINTYRE (1987)
1

i1 •

1
t • _A chaminé de equilíbrio é um dispositivo utilizado para combater tanto
j
subpressões quanto sobrepressões. Consiste em uma tubulação vertical,
aberta para atmosfera, de tal maneira a permitir a oscilação do nível da
água. Por conseguinte, a altura da chaminé de equilíbrio é dependente
do nível piezométrico, levando a empregá ..la quando a altura geométrica
1
é reduzida, ou então, posicioná-la em condição topográfica mais favorá-
vel. Como as chaminés de equilíbrio se situam, normalmente, em pontos
intermediários da adutora de recalque, as ondas de pressão são refletidas
1 mais rapidamente e uma manobra antes considerada rápida (t<2L 1/C)
transforma-se em manobra lenta (t>2L2/C), para L2<L1. ·
• O tanque alimentador unidirecional (TAU) funciona de maneira •

semelhante à chaminé de equilíbrio, porém, com objetivo único de 1

alimentar a tubulação, quando da ocorrência de subpressões. Assim, o


TAU não precisa ser muito elevado e deve se localizar nos pontos mais
sujeitos a separação da coluna líquida. •


Além dos dispositivos descritos anteriormente, podem ser citados ainda os seguintes
meios para reduzir ou inibir o golpe de aríete:

- limitação da velocidade de escoamento na tubulação;


- aumento do tempo de abertura e/ou fechamento das válvulas de controle;
- redução da velocidade da onda pela mudança do material do tubo
ou pela injeção de ar.

46.7

'
- ...
Abastecimento de 6gua pa ra consum
o humano

Exemplo 10.6

Determine a celeridade de propagaçã


o da onda de pressão, quando o
escoamento de água a 20º e sofre u
m golpe de aríete, n o interior de
um conduto em PVC, de 25 mm de dia
metro e 2,5 mm de espessura,
assentado com juntas de dilatação, e
m toda sua extensão .

p = 101,8 kgf .s2 .m-4 (água a 20º C)


K = 2,24 x10 8 kgf .m-2 (água a 20º C)
E = 2,6x1 os kgf .m- 2 (PVC rígido a 20° C)
D = 0,25 m
e = 0,0025 m
q, = 1 •

11 K 2,24 · 1oª
• -
p 101,8
(= · - - 159 m/s
1+ ~ D'P + 2,24 ·1O8 O,25
E e 1
2,6 .1 oª o,002s

Neste caso, a velocidade da onda C II II


é igual a 159 m/s. Compara ndo
essa celeridade com a celeridade em m
eio não confinado (C = 1483
m/s), vê-se que as caracterfsticas do con
1 duto influenciam bastante no
1 valor da celeridade.
1

Exemplo 1O. 7

Suponha que na tubulação do exemp


lo anterior a velocidade da água
seja de 2 ,0 m/s. Pede-se calcular a so
brecarga máxima provocada pelo
fechamento de uma válvula, realizado
em 4 segundos, colocada numa
das extremidades da tubulação. A
200 m de dist~ncia da válvuJa , a
outra extremidade da tubulação é \\g
ada a um reservatório, cujo nível
de água máximo está a 3 0 m acima
da válvula.

e1ass1'f 1· caça- o da manob· ra: 2L = 2'O· 200


= 2 52 segundos
e 159 I

468
Adução I Capítulo 1O

como o tempo de fechamento da válvula (-t) é superior ao período da


tubulação (2UC), a manobra é considerada lenta e a sobrepressão pode
ser calculada pela equação de Michaud, mostrada a seguir:
1
2LU == 2 · 200 · .2 = 20 4 m
~Hmáx == g-r 9,81 · 4 '
'
A carga de sobrepressão (DHmáx) ocorre junto a válvula e decresce line-
armente até anular-se no reservatório. Conseqüentemente, a carga de
1
pressão máxima corresponde à soma da carga de pressão estática (=30,0
m) mais a sobrepressão (=20,4 m), resultando em 50,4 m. Este valor
deverá ser inferior ao especificado na classe de pressão do tubo.
1

f Referências e bibliografia consultada


1 •

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. NBR 591: Projeto de adutora de água para
abastecimento público. Rio de Janeiro, 1991.
l ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. NBR 12.266: Projeto e execução de valas para
assentamento de tubulação de água, esgoto ou drenagem. Rio de Janeiro, 1992.
AZEVEDO NITTO, J.M.; ALVAREZ, G.A. Manual de hidráulica. 7. ed. São Paulo: Edgard Blücher, 1982.
BAPTISTA, M.B.; COELHO, M.M.L.P. Fundamentos de engenharia hidráulica. 2. ed. Belo Horizonte: UFMG,
1
2003. 437 p.

BARBARA. Canalizações de pressão. Catálogo, 1987.


GARCEZ, L.N. Elementos de engenharia hidráulica e sanitária. 2. ed. São Paulo: Edgard Blücher, 1976. 356 p.
' LEME, P.F. Engenharia do saneamento ambiental. 2. ed. Livros Técnicos e Científicos. Rio de Janeiro, 1984.
358 p.

MACINTYRE, Archibald Joseph. Bombas e instalações de bombeamento. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
S.A., 1987. 782 p.
' MARTINS, J.M. Canalizações de água: materiais, condições hidráulicas e sanitárias. Construção e proteção ln:
AZEVEDO Nmo, J. M. et ai. Técnica de abastecimento e tratamento de água. 2. ed. cm5B: São Paulo,
1976. V. 1.
1
PIMENTEL, G.H. Sistemas de abastecimento de água: dimensionamento econômico. João Pessoa: Universi-
tária UFPB, 2002. 192 p.

SAJNT-GOBAJN. Linha adução água. Disponível em: <http://www.saint-gobain-canalizacao.com.br>. Acesso


1 em: 22 abr. 2004.

469
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PJ eotp:e,déa1lete,.1Bêlo.)11ii0Jizo11te: ~~MI, ir9S9~1:44 p•
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S0ll•, ip)A.; ~ " ~ ~i.IrlA, fFJMl- M~(J_S ~111pvtaaionais ,aplicados â hidráulica. São Pauto:
iun:datãa~itemidlct~td~llia} mss}11iiaiP~
ffi9.!Rl{l !/ISJgroa.ntlllTJ;,-stJJ'{fMl,em rAWYlJA\ ti9-5A~ MâJlUâ}l;M;1;1,, ,2.6.0 p.
~ mm t@Stelim~éag~ S'ã~ !PauJ~J l ~.:att;mentaYde e·ngenharia Hidráulica e sanítárla da
.~ 1e., . - . ~ê!S~®smt1aui~ttM.~ 11J}i.
~ Al~~~YA~QJJ.1~1,i\lI.llmJln®IJ'~\fN4Wt~1!()'/J./t. '5_..1ed. ·LorrdJês; IWA, 2000•. 676 p.
WYIJ:~~~S1'n- ,t!al rEf.cd(JJt( tatfSif@Jb~~- ~ô~leJsey.~'.Rteotfte1~aJJtrengJewood CHfs, 1993.
1

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deal!laSfatmeJ1tQ;fHttat;lrtren1o-qr1e;;âg1J~~i . éd~'S~ô' Pãulo~ c·e:rese~1.976. v. 1.
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Capítulo 11

Estações elevatórias

Márcia Maria Lara Pinto Coelho

11.1 Introdução
1

l
Tendo em vista a economia de energia, facilidade de operação, manutenção e segu-
rança, seria desejável que os escoamentos fossem inteiramente por gravidade. Contudo,
algumas vezes, os locais a serem atendidos estão em pontos altos ou muito afastados das
1
fontes de abastecimento de água. Deste modo, as elevatórias tornam-se essenciais na
§Qtação, adução, tratamento e rede de distribuição de água, para conduzir o líquido a
cotas mais elevadas, ou para aumentar a capacidade de adução do sistema.
As elevatórias de sistemas de abastecimento de água,. quando destinadas a conduzir
águas não tratadas, denominam-se elevatórias de água bruta. Caso contrário, são denomi-
~adas de elevatórias de água tratada e normalmente são Instaladas após as estações de
t tratamento de água para o bombeamento do lfquido até os reservatórios. Podem também
estar entre reservatórios, ou ainda, em aJgum trecho da rede de distribuição de água, e
neste caso são mais conhecidas por boosters, A figura seguinte mostra um esquema básico
t de sistema de abastecimento de água e algumas inserções possíveis de elevatórias, para
demonstrar a freqüência com que essas unidades de recalque podem ocorrer.
_ As elevatórias de água bruta normalmente fazem parte das captações e, portanto,
1 estão s · · · · 1 f d'd
d "· ~Jertas às condições impostas pelos mananciais, quais sejam, níve e pro un r a e d
ª.lamina d'água, bem como distância entre a captação e a elevatória. A Figura 11.2
rno~ra um tipo de elevatória de água tratada, dotada de poço de sucção, muito utilizada
1 en, s1ste d
mas e abastecimento de água.

471
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Abreviaturas:

i'· . •
:6AB- Elevatória·de égua bruta •


~ lt.:rü,vatória de água ·tratada


Ef1\ lol'Estação:,de tratamento de água

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Legenda - Figura 11.2:


1) A válvula de pé com crivo é uma vál~ 1ufa d
na extremidade inferior da tubulaçã o de sucçãr.,, "', '",t;'J 1
" ;,í" í ta la

localizada acima do nfvel de água do po


r .1~,,J , " ,,,,,,t,11 ~s á
1 1

ço de ~ J ' 1/1 1), ,, ,, , 1J 11tJJPtivo


de impedir o retorno do líquido qua ndo a bú,,,r,,,
crivo que vem acoplado à válvula te m a
,,1 .,, ,,,,,ar,
11 ,J,~ 1: )( r O
finatídatJ19 tlt- r, ,,.,, ,, ij '! íl ·ra-
da de partfculas só'lidas no interior da borr,b
a,
2) A redução excêntrica é a peça qu e
se adapf;J ,., 1Jr., f4 ~ J d,~ ,,cçao,
geralmente de maior diâmetro, à entrada
da brJ,, t,"I ,j,. . ,, '"' <Jr <Jiame,
tro. A excentricidade exigida nesta peça ter,, ;.,
f r,.,, 1J~tJ,., _,., ':tita r o
acúmulo de bolhas de ar na seção de en
trada rJ:, r1 1.1r, íJ~
3) A ampliação concêntrica é a pe ça
de adapf~"lJ', ,J~ J •J,a·<;!O de
recalque, geralmente de maior diâmetro,
a .,tJÍ 2' da Jf.J , ,a, <$ neno r
díametro.
4 ) A válvula de retenção destina-se à
prote já _ú " r,,Da r) )r t ra o
retorno da água e à manutenção da co
luna lfqo, ' , 11r ., 'i ã o da
parada do motor.
5) A válvula ou registro é um aparelh
o que d 1e ~~r ,r ';A J ~o Jogo a
se guir da válvula de retenção, visando a rn
anute, ~ t. ,, ff: ' , J rl'I co mo
o controle da vazão.
6) A bomba é o equipamento destin
ad o a ,ar,!, ·ú í( i ar a n rg ia
mecanica que recebe do motor em energia
hídráuli'Ã, 'l Jt J f,.,,,oa dr,ética,
de pressão ou de posição (Andrade, 1967,
, fAd i~ rJ,.. ;, t ,~ a respe ito
desse assunto serão apresentados a pa rt ir de, it
er, ~ 'J .,,, .,
7) O motor de acionamento tem a finalid
ade dé f c,rr 1. /'J ~ Ç- f ':dlJla r r ~ níca
às bombas. A fonte de energia dos moto re~ é e
lt,.tr,r,;;, , ,.,,rr,(flmente ,
t odavi a, devido à ausência ou falta de el e
tríc1dadt:, ,, ,.,t".,''~ rr1oii dos a
diesel ou gasolina são também utilizad os. Em
~ítJ;.s~~:"., ,~""'"( ,aí~ , ou tras
fontes de energia, oriundas de cata-ven
to , roda d'ág JtJ tt célula solar
podem tornar-se tecnicamente e econo rnicarn
n f ar "J ,, I

_Qua ndo o eixo da bomba está acima do nível de ág


ua, a ritJ r à ,mtalação mostra~a
na f rgu ra 11.2, a bomba é dita de sucção positiva ,
t Jc, ca"./.J rv r,fráf,"Ji ;; ~ ç r)o é negativa
e díz ~ que a bomba está afogada. A bomba mostra
da oa f1gJr~ 11 3 ,~fá r,e:;:;a situação.
Nas instalações elevatórias d·e sucção negativa 1
a váf.;ula d€! p i· " 4 "l fl;ritrirJdade da redu ..
çã o tornam-se desnecessárias, uma vez que a tub
utaçao d~ wet,.ãfJ lt r,.arrt.Jda cheia, por se
encontra r abaixo do nível de água.

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'

referência


'

--


Ab,asteclmento de água para consumo humano

Legenda ·- Figura 11.3:


Hgr: Altura geom.étrica de recaJque
Hg5: Altura geométrica de sucção
Hg: Altura geométrica total
Hmr: Altura manométrica de recalque
Hm 5: Altura manométrica de sucção
Hm : Altura manométrica total

11.2 Parâmetros hidrá,ulicos

Os par~metros hidráulicos mais importantes no dimensionamento dos conjuntos moto-


bomba são: vazão, altura manométrica, potência e rendimento.

11.2.1 Vazão

As vazões a recalcar, geralmente, são determinadas em função das condições de


funcionamento das unidades a montante e ajusante da elevatória. De fato, não faz sentido
especificar uma bomba com vazão superior a capacidade máxima do poço, ou estabelecer
uma vazão de recalque para alimentar a ETA incompatível com a capacidade desta.!::;
estações elevató.rias que alimentam um sistema de distribuição de água sem reserva~o
-
aeveên atender ao dia e à hora de maior consumo do setor atendido. Por outro lado, em
sistemas com reservação suficiente, as bombas devem atender ao quesito da máxima d~-
manda diária e ao tempo estabelecido para o enchimento do reservatório. Além das condi·
ções de funcionamento das unidades vizinhas, há de se considerar também o r.egime..de
- operação da elevatória e o número de etapas de implantação estabelecido na concepção
básica do sistema de abastecimento, neste último caso determinante para a escolha do
• número de bombas da estação elevatória

1'1.2.2 Altura manométrica

A .altura manométrica representa a energia absorvida pelo líquido em escoamento~


por u~rdade de p.eso deste, ao atravessar a bomba. Assim, a equação da conservação d
energia (Bernoulli), quando aplicada entre duas seções de um escoamento que contét'Tl
'
1
i

476
1

Estações elevatórlas f Capítulo 11

ma
U. .
bomba, deve
. . levar em. e.on
. ta a
. . altura manométrica e .d d
. onsr eran o as seçoes 1 e 2,oi

tocahzadas ª. .monta.nte
. e a Jusante
. da bomba ' respectivament
· .
e, e onentan do pelas
_ infor-
.
mações contidas na Figura 11.3, demonstra~se:

Hgs +
R
1 +
u
2
1 + Hm = Hg r +
P
2 +
u
2
2 + Ah Ah
y 2g y 2g s + Ll r

2 2
P2 -R1 U2 -U1 (11 .1)
Hm == Hg + - y + 2g +- .tih1- 2

Em que:
Hm: altura manométr.ica fornecida pela bomba, em m;
Hg: desnível geométrico entre as seções ·1 e 2, em m;
P: pressão no centro da seção considerada, em kgf/m2;
'Y : peso específico da água, em kgf/m3;
U : velocidade média do escoamento na seção, em m/s;
Ah1-2: perda de carga total entre as seções 1 e 2, em m.

Vê-se, portanto, que a altura manométrica "Hm" é função do desnível geométrico


"Hg", das cargas de pressão "P/y" e cinética "U2f2g", bem como das perdas de carga
"ôh" entre as duas seções consideradas. Assim, se os pontos 1 e 2 estiverem sujeitos à
pressão atmosférica, tal como nas superfícies de água dos reservatórios, e se a diferença de
energia cinética for desprezível, tem-se:
(11 .2)
Hm = Hg + 1ih1_2
Entretanto, se a entrada do reservatório se fizer pelo fundo deste, a carga de pressao
"P'J}f' será igual a lâmina de água no reservatório. No caso da elevatória mostrada na
figura 11 .3, os pontos 1 e 2 estão sujeitos à pressão atmosférica. Além disso, a velocidade
do escoamento no ponto 1 pode ser considerada nula, por pertencer à superfície de água
do poço de sucção, dessa forma, para essa elevatória obtém-se:

Hm == Hg + uJ + Ah (11 .3)
2g 1- 2

11,2·3 Pot....enc1a
. e rendimento

Nurn ~ . .d á ,. é 0 trabalho realizado sobre o


li u· . a instalação de recalque, a potência ht r u,1ca . · · · . ão:
q ido ao passar pela bomba em um segundo, podendo ser expressa pela equac;

411
Abasteclment.o de água pera consumo húmnno 1

Em que:
pH ; potência hidráulica, em 01;
y : peso,es·pecífico da água, em kgf/m3 (ry -1000 kgf/m3);
Q : vazão de recalque, em m3/s;
Hm: altura manométrica, em m.

Para que o líquido receba a pot~ncia requerida P1-1, a bomba deve rec:eiJer J l>Oléi-
'-ci?. sup~ri_?r a potência hidráulica: pois normalmente há perda.s no seu intenor. fsç...a;sir~
se devem, geralmente, aos seguintes fatores:

- aspereza da superfície interna das paredes da bomba;


- recirculação do líquido no interior da bomba;
- vazamentos através das juntas;
.. energia dissipada no atrito entre partes da bomba;
- energia dissipada no atrito entre o fluido e a bomba.

A razão entre a potência hidráulica "PH" e a potência absorvida pela bomba •pB • ~JIO-
mina~se rendimento ou eficiência da bomba "118 ". Os rendimentos das iJor,bõs ·laf.a:r oos-
1
tante, conforme a vazão ' Q'', a. altura manométrica "Hm" e o tipo da bc~ca, es:ando,
normalmente, entre 30o/o e 90o/o. Portanto, a potência da bomba, ou potência~ por
esta ao motor,. também chamada por potência nominal do motor, é dada por:

_ yQHm
P.a- .
75118 (11.4}

Para efeito de avaliação da potência absorvida pelo conjunto elevatório \motor ebom--
ba), é necessário conhecer, além do rendimento da bomba ''Tls", o rencf.rr.ento do rro1Df
11 11

1lM que é a relação entre a potência que o motor transmite e a que ele recebe da~
,

de energia (11M = PsfP). A potência recebida pelo motor denomina-se potênáa doCOflJ'Jnto
motobomba, cuja expressão matemática é a seguinte:

P == Ps == yQHm _ yQHm
11M 751'Jo'11M - 7511

Sendo:
Tl : rendim.ento do conjunto motobomba (T\ = lla ·'llM)
P: potência absorvida pelo conjunto motobomba., em cv1

1 1cv = 0,735 kW.

478
.

Estações elevatórias I Ca pítulo 11


,

11 .3 Bombas utilizadas em sistemas de abastecimento de


água .
-

Muitos foram os recursos empregados na Antiguidade para elevar a água, utilizando-


se desde a força humana ou animal até pedais, guindastes etc. Entretanto, 0 primeiro
·nstrumento especificamente destinado a aumentar a energia do escoamento, para trans-
~ortar ou elevar o lfquid?, foi concebido no ano 200 a.e. pel~ filósofo grego Ctesibius e
aperfeiçoado por seu discípulo H~r~ (Carvalho, 1977). Esse instrumento, acionado por
meio de vapor, era uma bomba ptstao, do grupo das bombas volumétricas. Atualmente,
muitos são os modelos e tamanhos de bombas disponíveis no mercado, acionadas por
vários tipos de energia, contudo, as bombas mais empregadas em sistemas de abasteci-
mento de água são as turbobombas, apresentadas no item seguinte. As bombas volu-
métricas pertencem à outra classe de bombas, que se distinguem das turbobombas pelo
modo e recurso utilizado para transformar a energia mecânica em hidráulica. Esse critério
de distinguir as bombas é utilizado para classificação geral destas em:
- turbobombas;
- bombas volumétricas;
- bombas especiais (carneiro hidráulico, bombas de emulsão de ar etc.).

As bombas volumétricas e especiais são utilizadas em situações muito específicas e


por isso são tratadas separadamente no item 11.1 O.

11.4 Turbobombas

As turbobombas, também conhecidas por bombas hidrodinâmicas ou rotodinâ-


micas ou simplesmente dinâmicas (Macintyre, 1987) são dotadas de uma parte móvel
denominada rotor, que se movimenta dentro de uma carcaça, pela ação do motor, produ-
zindo o movimento do líquido. A energia cinética desse escoamento é parcialmente con-_
vertida em pressão no interior da bomba, permitindo que o líquido alcance ,posiç_õ~s mais..
_!levadas, ou mais distantes, através da tubulação de rec~Jque. Esse_deslocamento do fluido
provoca uma depressão na entrada da bomba r:1ossibllitando o acesso de mais água e a-
cont· · ' ,.., . . ·
· ..tnu,dade do escoamento. Todavia, essa depressão tem que ser hm1tada, para evitar o
dProcesso d · é · d -
·· e cav,tação (ver item 11.7). Por causa disso, as alturas manam trtcas e sucçao
as turbobombas são, normalmente, inferiores a 6 m.

479
A«--·---·-- •
. a consumo humano
)U)astedrnento de água par

soca de
recafque

- '

Boca de
sucção
;;1------+

••
1
J ~ ..
• ' Gaxetas Voluta

(a) Bomba com um estágio


seção longitudinal

Boca de sucção
Boca de recalque •
~
• •
• •

... ~,
t-.
...


• • • ••

Gaxetas

(b) Bomba com três estágios


Seção longitudinal

Rotor

Rotor
t

(e) Bomba com dupla sucção


Seção longitudinal

Figura 11 .4 • Alguns tipos de turbobornbas

480
Estações elevatórias I Capítulo 11

Conforme mostrado na Figura 11.4, as turbobombas podem ter somente um ou vários


rotores dentro da carcaça, assentados sobre o mesmo eixo. No primeiro caso, são denomi-
. nadas de simples estágio, no outro, de múltiplos estágios. Nas bombas de múltiplos estágios
a água, ao sair do primeiro rotor, adentra o segundo, de onde sai com maior pressão e
entra no rotor s~guinte; a cada estágio a capacidade de elevação da bomba é aumentada.
Por isso, essas bombas são indicadas para sistemas que precisam recalcar grandes alturas
manométricas, sendo o efeito da quantidade de rotores semelhante ao da colocação de
bombas em série, assunto a ser tratado no subitem 11.6.2. A entrada do líquido no rotor,
quando realizada por um lado somente, é caracterizada como de sucção simples e., quando
admite líquido dos dois lados, de sucção dupla, conseguindo, nesse caso, maior equilíbrio
do rotor.

Para facilitar a desobstrução dos rotores destinados a bombear água bruta, eles po-
dem ser abertos, semi-abertos e fechados. No rotor aberto, as pás ficam livres dos dois
lados, no semi- aberto as pás são fechadas por um disco unilateral~ Os rotores fechados dos
dois lados apresentam melhor rendimento e, por isso, são mais indicados para trabal.har
com água limpa (ver Figura 11.5).

í
disco
(a) • (b) (e)
Figura 11.5 - Rotores: (a) aberto, (b) semi-aberto, (e) fechado

A bomba ligada ao motor por meio de eixo horizo_!l!ª' é a sol~~C?_f'!.l~l~ e~~re_ga_d~ª·


tendo em vista o menor cus o essa quando com arada com a de eixo vertical.,.Entretanto,
quando a altura de sucção é elevada, como nos poços profundos o tomadas.de.água
em (los, as omoas ve-rttcais-deve-m se_r cooSJ eradas pois-0-mGt0r-é- flG-SiGiQAado..acima do ~·
-~ ve âã água e-ãl)omba ííllersa: ngada ao motor por um eixo alongado. diminui a altura de , : ~~~~~~:0
sueçâo e, conseqüentementê,-6s:riscos-de cavitação, conforme relata o item 11.7. Ot:Jtfa · . ~~i~~ 1
,
""~ ....,

alternativa menos onerosa para captações em poços prpfundOs ou em rios Jem 5,!dO,a~ . _: ;,:
. Dombas Submers véiS (ver Figur a·11--:-6) cfue âprese Lfáro..CUst de ibStalação a' bai ·da
que as bombas de eixo vertical. uma reSSitva, entretanto) deve ser;ifêit~ ao~nocoe·'"b# !. ~,

submersível", pois muitas bombas ficam submersas na água. A gtláf.l:cle· •.Jfet.eà d


bomba é que o motor (blindado) também fica subffiers0r assim•..o r.na· ·lfl t.l,.CIL..:.11··'."'X!".

den0minação
.
motor submersível ou conjunto motob0n1Pa S!!!~er,s~ •.·; : ~
;:f'Vf.:,"r,~~?~~

·, ,
. . ..

..


481
-
.· - .. ... l
~~S!la+Wm
,,t .22&
._

~
__2 - - - - - ------·

Abastecimento de água para consumo humano

Figura 11.6 - Bo·mbas submersíveis

A trajetória ãe fluxo aa água no rotor pode ser radial, axial e mista. o ro ra . .


tem essa aeno.minação devido à trajetória feita no plano radial (normal ao eixo), causa_. .
pela for§a cen.trffuga. No rotor axial a trajetória de fluxo se faz segundo o eixo a ba,
provocada peta força de sustentação, gerada pelo perfil hidrodinâmico (aspecto de- , ,
do rofor. O rotor do tipo misto, ·também denominado diagonal ou helicoidal. possui •.-.. . .
escoamento diagona.l ao eixo, provocado pela ação combinada das forças cenbífuga e e
sustentação. Assim, pode-se concluir que esse tipo de rotor tem características in~-d?á-
rias a do tipo radial.e axial. ·Nos subitens 11.4.1 e 11.4.2 é feita uma descrição das boi1tnas
centrífugas (ou radi.ais), axiais e mistas, que são assim denominadas por utilizatem os roto-
res acima· descritos. Essas classificações apresentadas anteriormente e outras e pede
ser úteis numa se.leção de bombas são reunidas e apresentadas na Tabela 11.1 .

Tabela 11.1 • Classificação das turbobombas


Critério Classificação
Número de rotores Simples estágio (um rotor
Múltiplos estágios (dois ou ma·
-
Número d·e entradas de aspiração
I

Sucção simples
Dupla sucção
Aberto
Tipo de rotor Semi-aberto
Fechado
Horizontal
.Posição do eixo bomba-motor Vertical
Inclinado
l Radial
Trajetória de ftuxo no rotor Axial
Misto
• - - · Pressão deseRV©IYida Baixa pr~ssão (atê 15 mca
Méôja pres~o (l S a 50 mca


Alta pressão (aettna de 50 roca
BaiKa rota~ão (até 1.200 rpm}

. Rstag-ãe da 15.c>mb·a )
.· ~édia rotação (1.500 a 1. ~
í• aa • 11z • , ,.
"2 • e ta .. ., ·, .
e , ·, ·· - - " • . . -: · ·
· ·
, • .
· · •
.., Alta ~Qtação (3.000 a 3.600
= "'* - '• •
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4
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·~·v. •

482

Estações elevatónas I Capftu'° 1

11.4.1 Bombas centrífugas

As bombas centrífugas são as mais utilizadas nos sistemas de abastecimento de água,


principalmente devido à larga fajxa de serviço que podem atender, bem como pela alta
eficiência e baixo custo que apresentam quando comparadas com outras turbobombas
(Twort et ai., 2000).
O rotor do tipo radial, empregado nas bombas centrífugas, é dotado, normaímente,
de dois djscos com algumas pás em forma de espiral entre eles. Um dos discos é fixado ao
eixo da bomba e o outro tem um orifício central, concêntrico ao eixo, denominado olho do
rotor, por onde a água entra, passa pelas pás e é arremessada radialmente, pela ação da
força centrífuga, daí a denominação recebida por essa bomba. Na carcaça, câmara que
envolve o rotor, parte da energia cinética do escoamento é convertida em pressão e parte
é p{=rdida na turbulência e atrito. Por conseguinte, a eficiência na produção de energia útil
depende, principalmente, do projeto do rotor e da carcaça.
As bombas são projetadas para trabalharem com vazões e alturas manométricas
previamente estabelecidas. Através de ensaios, verifica-se que as bombas são capazes de
atender outros valores de vazões e alturas manométricas, além dos pontos para os quais
elas foram projetadas. O conjunto dos pontos em que a bomba é capaz de operar constitui
a faixa de operação da bomba. Além dos dados relacionados com altura manométrica,
busca-se obter, nos ensaios das bombas, os valores da potência necessária ao acionamento
e do rendimento da bomba com a vazão recalcada. As curvas geradas com as informações
citadas anteriormente constituem as curvas características ou de performance da bomba.
A Figura 11.7 mostra o aspecto geral dessas curvas características para as bombas centrífugas,
em relação ao ponto de projeto.

Vazão(%)
Figura 11 .7 - Curvas caracterfsticas das bombas centrífugas a uma dada rotac;ão

483
Abastecimento de água para consumo, humano

As informações contidas nestas curvas são essenciais para a escolha da bomba e para
o modo de operação da elevatória. O gráfico de potência, por exemplo, mostra que a
potência ''P8 ·" na bomba centrífuga cresce com o aumento da vazão ''Q". Por esta razão,
recomenda-se que a partida dos motores que acionam bombas centrífugas se faça com O
registro de recalque fechado, quando a vazão é nula e a potência necessária ao aciona-
mento é em torno de 40% da potência no ponto de projeto. Posteriormente, o registro
deve ser aberto, até atingir a vazão de operação do sistema. Destaca-se ainda nessa figura,
na curva relativa à altura manométrica, que na faixa de vazão até 80% da vazão correspon-
dente ao ponto de projeto a curva é instável, isto é, para uma mesma altura manométrica
é possível ocorrer duas vazões diferentes. Em situações desse tipo é conveniente que a
bomba opere fora da faixa. de instabilidade, todavia, uma curva estável, em que a altura
manométrica decresce continuamente com o aumento da vazão, é o ideal e felizmente
ocorre com mais freqüência. As curvas características Hm x Q das bombas centrífugas
geralmente podem ser expressas por uma equação do 2º grau do tipo mostrado a seguir,
2
Hm = aQ + bQ + e ,

cujos coeficientes a, b e c podem ser determinados após a obtenção experimental de três


p.ares Hm e Q. Teoricamente, a curva gerada por essa equação é válida na faixa onde Hm e
Q são positivos, entretanto, na prática, a curva fica também restrita à faix.a de vazão em
, que os rendimentos são considerados aceitáveis.

11.4.2 Bombas axiais e mistas

As bombas axiais e mistas se adaptam melhor aos serviços que necessitam bombear
grandes q'uantidades de água e baixas alturas manométricas. As curvas características para
essas bombas estão mostradas na Figura 11.8. Analisando essas figuras, pode-se perceber
que a potência requerida pela bomba do tipo mista na partida é bem próxima à potência
no ponto de projeto. O mesmo não acontece com a bomba axial, cuja potência requerida
na partida é substancialmente maior que a potência apresentada no ponto de projetoM
Conclui-se, portanto, que as partidas das bombas axiais devem ser feitas com as válvulas
1

do recalque abertas, para minimizar a potência na partida e a corrente requerida pelo


1
motor. As bombas axiais, geralmente, têm baixa capacidade de sucção e, por isso, são
normalmente instaladas afogadas. !
1
1

t
1

, :

. . ...' ..
'

484

- --- ·· · - -·
Estações elevatórias I Capítulo 11

--
o~
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Bomba mista

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~e.
Q)

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.....
-<( o"'-~.1-~...1.-~..L_~..L_~,,!_~..1-__i
20 40 60 80 100 120

Vazão (%)

Bomba axial
--
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150 M
ro .,..:3
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e
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i....
•• ~~l'J). P~ to de
e. .....
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-
<( o 20 40 60 80 100 120
Vazão (o/o)

Figura 11.8 - Curvas características das bombas mistas e axiais

11.4.3 Influência da rotação nas curvas características das turbobombas '•


..
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:-:-:==- =
. . ::,. .=:...
~=---
.. ~

Abastedmento de ígua parai <0n.sumo humano

,demais grandezas geométricas não variam. Desta forma, é ~ossível obter, para cada Pont
da curva à rotação "n 1". outro ponto da curva caracterlst,ca à rotação n2, utilizando ~
Equações 11 .5, 11.6 e 11.7.

Q2= n2 Q
1
n, (11.5)

Hm1 (11.6)

(11. 7)

Sendo:
n: rotação;
P8 : potência da bomba;
Hm: altura manométrica;
Q: vazão.

Para exemplificar os efeitos do aumento da velocidade de rotação .sobre as caracterís-


ticas da bomba, a Figura 11.9 mostra que um acréscimo de 10% na velocidade de rotação
implica um aumento de 10°/o na vazão, 21 o/o na altura manométrica e 33% na potência da
bomba. Constata-se, assim, que o aumento da rotação tem um impacto significativo na
potência d'a bomba e,.conseqüentemente, na potência do motor.

- 140
-o
o~

l(\J
130 - --· .
°'
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~
Estações elevatórias I Capitulo 11

'
11.4.4 Influência dos diâmetros dos rotores nas curvas bombas

Para ampliar a faixa de aplicação de determinado modelo de bomba, é comum o


fabricante ,apresentar alguns tamanhos padronizados de rotor, para o mesmo tipo e tama-
nho de carcaça. A Figura 11. 1O mostra as curvas de performance de uma bomba, para os
possíveis rotores da mesma, cujos diâmetros estão indicados pela letra"~" . Algumas vezes,
a mudança de diâmetro é realizada através de raspagem do rotor. Entretanto, esse proce-
dimento só é viável para bombas centrífugas, onde as faces do rotor são paralelas, mesmo
assim podendo acarretar sensível redução no rendimento. Por esse motivo, as raspagens
são limitadas em 20º/o, normalmente. O diâmetro do rotor após a raspagem, determinado
pelas regras da semelhança mecânica, não tem apresentado muita precisão, embora seja
possível concluir que o aumento do diâmetro do rotor provoca também o aumento da
vazão, altura manométrica e potência, todavia, é prudente consultar o fabricante da bom-
ba para obter maior precisão.

11.5 Curvas características do sistema

O ponto de operação de uma bomba é dependente das condições do sistema em


que esta é instalada, ou seja, da posição e pressão a que a bomba está· submetida, bem
como das velocidades e perdas de carga na tubulação. A expressão mostrada a seguir,
correspondente à Equação 11.1 vista anteriormente, é representativa da curva caracterís-
tica do sistema.

2 2
P - R U -U
Hm = Hg + 2 , + 2 , + Ah,_2
l
y 2g
Tal curva, quando representada num gráfico Hm versus Q, tem para ordenada, na
origem, a al·tura estática, isto é, a soma da carga de posição e pressão (Hg + P2 I y-P, I Y ).
Os outros termos dessa equação são uma função quadrática da vazão e, p~rtan~?' corres-
pondente a uma parábola do segundo grau, conforme se demonstra a seguir, ut1Jrzando as
equações da Continuidade e de perda de carga:

487

.
Abastecimento de 6gu,a para consum o humano

Bombas Centrifugas
1775 RPM •
CURVA DE PERFORMANCE

110 - 1 1

': 0111 • ,, •
100 •
-
' ••

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60

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-1-._,,,_4- _;:-,-
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l •
J

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1
-> 300 f 017~~a: 1
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1 • 1
l

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400
600 800
1000 1200
VKlJ.O(m ~

D~rga
ft> a • 2oi2m0l

Figura 11.1 o- lnflu~ncia do di arnetro do rotor nas curvas ca racter,lsticas de l!l ma bomba • •

..

.
ABB
'
Estações elevatórias I Capítulo 11

u2 BQ2
-· = - - - ( 11 .8)
2g g1t2D4

Ah,_2 = Ah'+Ah" (11 .9)

\
~h·~ Bf 02 L
1t2g Ds (11.10)

1
MI"= LK( 8Q2 )

gn2D4 (11.11)
1

Em que:
U: velocidade média na seção considerada, em m/s;
Q: vazão, em m3/s; •

D: diâmetro da tubulação, em m;
J.h1-2: perda de carga total, em m;
1 L\h': perda de carga continua na tubulação2, em m;
f: coeficiente de perda de carga da equação Universal;
L: comprimento da tubulação, em m;
1 L\h": perda de carga localizada, em m;
K: coeficiente de perda de carga localizada.

Para uma instalação cujos coeficientes de perda de carga, diâmetros e comprimentos


são conhecidos, por meio das Equações 11.8 a 11. 11, a Equação 11 .1 reduz-se a Equação
11.12, sendo '' r'' o fator relacionàdo a essas grandezas conhecidas: .

p -A
Hm == Hg + 2 , + rQ2 (11.12)
r
1
A interseção da curva obtida na Equação 11. 12 com a curva característica da bomba
constitui o ponto de operação ,cla bomba1num dado sistema, tal como mostra a Figura
11.11. A obtenção desse ponto de operação é· .ealizada por processo gráfico, porque
l
raramente o fabricante f@rnece a e~ua·~ã@ ~a curva.
A Figura 11. 12 ilustra alguns tipos de sistemas de tubulações e suas curvas caracterís-
ticas correspondentes.

i à norma ABNT NBR 12.215 recomenda a equação Universal. Para outras equações e coeficientes de perda de carga, ver
ANEXO A.

489
''. '
,'
:l
~ ~----·------
z•s-um ..............~:~
- ~ -·--~~-
• Abastecim en to de âgua para cons
umo hu m an o

l 1
1 1
.. Bomba -
1
_,......- - -. .- 1-- - - - -
1 Pon o de operá~o
• 1 ~

-1 __J_ --= =- - 1 , -=----r-=-:.:-:. J --~
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m I Sistema , 1 . 1 1
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1 1 :
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1 ;
!_

1
1

1
- - . .. • J

Vazão
,
Figura 11 .11 - Curva caracte rística da
bomba vers us curva do sistema de tu
bulação

'
1

1
11.6 Associação d e bombas

1
1
As exigências das instalações são muito
variadas em termos de vazão e altura m

métrica e nem sempre é possível encon ano-
trar essas características em uma bomb
A associação das bombas em paralelo e a somente.
em série amplia e flexibiliza a utilização
elevatória, como pode ser constatado a da estação
seguir.

11.6.1 Bombas em paralelo


A associação em paralelo é muito u ti\izad


a nos casos em que uma bomba some
não atende a elevatória em termos de va nte
zão ou quando se deseja aumentar a ca
do sistema por partes. A instalação consi pacidade
ste em ligar numa mesma t ubulação, d
barriletel as tubulações de recalque das enominada
bombas em paralelo (B e Bz), conform
Figura 11 .13wa. Geralmente, são utilizad 1 e mostraª
as bombas iguais para se evitar corrente
rias e em número de 2 ou 3. A curva ca s secuAdâ. .
racterística do sistema resultante da asso •
pa r.ateio é obtida adicionando as abscissa ciação em
s "Q" das curva s ca,racterfsticas de cada
para uma mesma altura maf}ométrica. bomba,

490
Estações elevatórias I Capítulo 11
'
l
1

SISTEMAS CURVAS CARACTER(STICAS


. 1
'
l
1 - Al:TURA GEOMÉTRICA+ PERDÀS Oi= CARGA 1
• Hm '
1
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..
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1

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.. ' 2·- SISTEMA POR GRAVIDADE

Hm
BOM8A tf
1
f
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• R
Hg j :º Q
.!.. . ........... .... .............-'-.
.

• Hm •
3 - SISTEMA COM TUBULAÇÕES EM PARALELO
BOMBA
••

.•••• SISTEMA
• •


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T ..... I • • • • • .. • • • • • • • ... • • • • • • • • .. • .. • ... .. • t-=:;~,; Ah1 • .~·. ··:·~~ i.: ••.. · · · · · · · •
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Hg l 01 ,- R2 Hg
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l
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01, L , 131 • •• • •

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.•• 1
a

4 - SISTEMA DESCARREGANDO EM'DQIS1RE-


SERVATÓRIOS OE NIVEIS ·p,FERENTES Hm
BOMBA ,• SISTEMA
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T ................... .. ,. ............
i OL,2
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Hg ~ • •• ••
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Q 1 Ot a

5 ~ SISTEMA COM ALTURA GEOMÉTRICA


VARIÁVEL Hm
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--
-.,.... .. . .... . . . ... . . . ... . . .. . . . . .. . t .. • • • • • ... • • • .. • ,'
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u
n92j
1
1
IHgj

• •
• •

Abastecimento d, Agua para consumo humano

(a) Bombas em paralelo (b} Bombas em série

Barrilete

Fig1
ura 11.13 - Associação das bombas em paralelo e em série

Analisando os gráficos mostrados na Figura 11.14-a observa-se que a vazão resultante


da associação em paralelo, num dado sistema de tubulação, é inferior à soma das vazões que
da.ria cada bomba operando na mesma tubulação (Q3/3 < 02/2 < Q1). Outro ponto que deve
ser destacado é a forma das curvas características (ver Figura 11.14-b), pois a associação em
paralelo pode tornar-se mais eficiente, isto é, fornecer maior vazão bombeada, se:

l
,1
- a curva do sistema de tubulação for pouco ascendente (pequena
perda de carga);
1
t
• - a curva característica da bomba for acentuadamente descendente.
'1
<
.L Outro fator a ser considerado na escolha da curva da bomba é a questão da estabilidade,
1 pois as bombas postas para funcionar em paralelo estão sujeitas a trabalhar dentro de uma

faixa maio,r da curva, podendo, inclusive, operar na faixa de instabilidade, onde a vazão
recafcad.a é duvidosa.
l


1 11.6.2 Bombas em série


1
1
'
•••
j
j
1
\ A associação em série é um recurso utilizado qu_
ando se tem uma grande altura mano-
l
1 métrica para se atingir. Tal associação pode ser realizada por meio de bombas, na qüã~ 0 ..
••

1 recalque da bomba de montante é ligado à sucção da outra de jusante (ver Figura 11.13-l'Jl, ·.
t
..t
1
/ ou por alguns rotores numa mesma carcaça da bomba (multi-estágio). Em·ambos os i:as'©s· :': ·
!,
\ a curva resultante deste tipo de associação é obtida sornando-se as ordenadas ·(I-Jm)·t s ~í '·.
I curvas características de cada bomba, ou rotor, para uma mesma vazão: · · : . "'·'.. ·. : ~ ~ ~ L,,. •.

'
[ A Figura 11 .15 mostra um sistema cuja alt'~ra geométrica podê llariar deb19;1ca,~ ;; · ·IJ
t' • os benefícios advindos da associação de duas ·bómbas ig 1.Jais e.m·~érie. o~er;va-se: ·~ ·~ ·
altura manométríca do novo ponto de ~peté\São ~P,U. é.s·~periqr a;~~~ p.óifttJ;)Ae ~ e ' ~ ,
~omente.um~ ~omba), IJem c9m.01ayazao: ~l~ro dt~sq, per~e~~~~.ij~ 1, m0J · · · -.~ ~ t
e arcançado qu~nd~ 1=1s,d~,jlf ~omã.~ ;i~;eJP.:Sêr:i~:(P,1). ·. · . · :. :"~:·;·~:~.:.
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Estaçõesefevatórias f ú pJtuJo ·11


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03/3 Q2/2 Q1 C2 Q3 Q

(a)
Hm....._

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'

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Q Q
(b)

Figura 11.14 - Associação em paralelo. de bombas •

1.
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Aba,teclmen10 de 6gua para con:s1J1mo bumano

11.7 Cav·itação e altura de aspiração das bombas

11. 7.1 Cavitação

As bolhas formadas.pelo ar dissolvido na água podem se desprender do líquido quan-


do a pressão reinante no escoamento é reduzida ao vai or da pressão de vapor. Essas bolhas
tendem a aumentar de tamanho, tornando o escoamento intermitente, ou então pode
ocorrer a separação da coluna líquida se a bolha ocupar toda a seção do tubo. As bolhas
também podem ser ca.rreadas pelo escoamento para uma região de pressão mais alta e
implodir pela ação da pressão externa. O colapso das bolhas produz choques entre par-
tfcula·s fluidas que provocam flutuação na pressão e danificam a parede do conduto, redu-
zindo, assim, a capacidade de escoamento. Este fenômeno é conhecido por cavitação,
pois no processo há formação de cavas ou bolhas no líquido. A cavitação pode também
ocorrer em regiões sujeitas a redemoinhos e turbulências, que geram alta velocidade de
rotação e, conseqüentemente, provocam a queda de pressão, como nos vertedores de
barragens. Outros exemplos de peças e aparelhos sujeitos à cavitação são as válvulas, orifí-
cios, reduções bruscas, curvas e bombas.
• No caso específico das bombas, as bolhas de ar são normalmente levadas pelo escoa-
mento para o seu interior, onde a pressão é superior a pressão interna da bolha. Estas
tendem a implodir e a água circundante é impelida para o centro da bolha, havendo um
choque das partículas (golpe de aríete). Surge uma onda de sobrepressão em direção con-
trária ao centro da bolha, podendo atingir a parede interna da bomba. As bombas que
operam com altas velocidades estão mais sujeitas a este tipo de problema. Os efeitos mais
diretos decorrentes da cavitação são:

- Barulho e vibração provocados pelas implosões das bolhas. Depen-


dendo da bomba e particularmente do seu tamanho, o barulho pode
parecer desde um leve som estalado até um som superior a 1OOdb.
- Danificação do rotor e da carcaça na região de colapso das bolhas.
- Falha estrutural, fadiga e problemas nos acoplamentos e nas anco-
ragens .
... Alteração das curvas características das bombas.

A Figura 11.16 mostra as curvas característjcas da altura manométrica "Hm" e rendi-


mento "11" versus vazão ''Q'' de uma determinada bomba centrífuga, instalada em um.
sistema no qual a bomba cavita para vazões superiores a "Qz" . A partir desta vazão, as
curvas características não seguem mais os comportamentos normais, apresentando uma
queda substancial nos valores da altura manornétrica e do rendimento. Assim, o ponto real
de trabalho será o ponto (2) e não o (1).

494
Estações elevatórias I Capítulo 11

Hm 11 X Q
11
Hrn x Q

,,.

.,· ·1
• •

2 i •


•.. •\


• ••
..•
.• \.. < - em condi?ões
.••
.••

\ <- normais
Q

Figura 11.16 - Influência da cavitação nas curvas características de uma bomba centrífuga

Uma maneira de se combater a cavitação é.injetando ar dentro da região das bolhas


para reduzir o módulo de elasticidade volumétrico do líquido e amortecer o colapso da
cavidade. Uma forma mais eficiente de evitar o problema é posicionando a bomba numa
1 altura conveniente, como relatado a seguir. Entretanto, quando a cavitaçâo é inevitável,
deve-se especificar as tubulações com material mais resistente à erosão, na região sujeita à
cavitação.

11.7.2 Altura de aspiração n~s turbobombas


, •
\
~
l
J•
••
l
A cavitação tem origem no ponto de menor pressão, por conseguinte,. no caso das
bombas, na sucção, principalmente na seção de entrada do rotor, antes de receber a ener-
gia cinética do movimento do rotor e logo após o escoamento ter perdido carga na tubu-
j
lação de sucção e na entrada da bomba. A equação de Bernoulli aplicada entre o nível de
água do poço de sucção e esse ponto permite deduzir a Equação 11 .13 que dá o valor da
altura de sucção, a partir da qual há formação das bolhas de vapor.
,''
p abs p abs
Hgs :::; atm - v + llh5 + NPSH, (11.13)
'Y y
[
l

Em que: •1

Hg5 : altura compreendida entre o nível de _águ_ a do reservatório de sucção


e o eixo da tubulação de entrada da bomba, em m;
2
patmabs: pres~ão atmosférica local {ab-solufa), ern ~gf/m. ;
Pvabs: pressão de yapor do .líquido (qbsoluta), em kgf/p,2;
'Y: peso espeç.ífiço d.a água, em kgf/m 3; . ' . . •

• l

- 495

'
Abastecimento de água para consumo humano

~hs: perda de carga na sucção, em m;


NPSHr: carga energética que a bomba necessita para succionar o líquido
sem cavitar, em m.

O nível de água do reservatório de sucção deve ser tomado como referência. Assim,
nas bombas afogadas, como a mostrada na Figura 11.3, Hg5 tem um valor negativo e será
positivo quando a bomba estiver posicionada acima desta referência, como mostrado na
Figura 11.2.
Vale a pena ressaltar na Equação 11.13 que somente a pressão atmosférica tem sinal
positivo, que facilita a sucção, enquanto as demais grandezas, de sinal negativo, dificultam
a aspiriação da água pela bomba. A Equação 11 .14 permite estimar o valor da pressão
atmosférica local em função da altitude "h ", em relação ao nível do mar, em metro.

pabs h
atm = 10 33-- (11.14)
y , 900
Os valores da pressão de vapor "Pvabs" e do peso específico "r'' para água podem ser
obtidos nas Tabelas A-1 ou A.2 do Anexo A, em função da temperatura.
O termo NPSH é proveniente de nomenclatura inglesa, correspondente à iniciais de
''Net Positive Suction Head''. Neste caso, "NPSHrequerido", ou simplesmente "NPSHr", é
interpretado fisicamente como sendo a carga energética que a bomba necessita para sue-
. cionar o líquido sem cavitar e está relacionada com a perda de carga e a energia cinética na
entrada do rotor. Conseqüentemente, o "NPSHr" aumenta com a vazão. Os dados relati-
vos ao ''NPSHr" podem ser obtidos experimentalmente e são, normalmente, fornecidos
pelo fabricante da bomba, por meio de um gráfico em função da vazão, cuja curva tem a
forma mostrada na Figura 11.1 O.
Uma outra maneira de se verificar as condições de cavitação é separando, na Equação
11.13, os termos que dependem da instalação ou do líquido bombeado dos termos que
dependem da bo,mba. O conjunto dos termos que dependem da Instalação é normalmente
denominado de "NPSHdisponrve1", ou simplesmente "NPSHd" e representa a carga existente
na 'instalação para permitir a sucção do fluido.

p abs p abs
atm - Hgs + v +ó.hs == NPSHd
y y (11.15)

Em resumo, a avaliação das condições de cavitação pode ser realizada calculando o


"NPSHd'' para a vazão de operação da bomba com a Equação 11 .15 e comparando com o
valor do ''NPSH,", obtido na curva fornecida pelo fabricante, para a mesma vazão. Assim, se
.. N'PSHd > NPSHr ~ não há cavitação
- NPSHd < NPSHr ~ há cavitação ,.
t
·Z

496
___._ ..
~ - ---

Estações elevatórias I Capítulo 11

Normalmente os líquidos bombeados não se apresentam em uma forma pura, mas


contaminados por impurezas que podem alterar a pressão na qual a cavitação se inicia. Um
dos tipos de impureza que ocorre com freqüência no meio líquido são gases dissolvidos
que plodem provocar o surgimento de bolhas macroscópicas a pressões ainda superiores a
pressão de vapor. Por este motivo, no caso de seleção de bombas, é importante estabelecer
uma margem de segurança, para garantir a operação da bomba, mesmo com líquidos
impuros, sem o inconveniente da cavitação. Na prática, utiliza-se a margem de segurança
mínima de 0,5 m do líquido bombeado, ou 20% do valor teórico.
Quando o fabricante não fornece a curva do "NPSHr'' versus vazão, pode-se calcular
' um valor aproximado para o ''NPSHr", nas proximidades do ponto de rendimento máximo,
pela expressão:

NPSHr =0,0012n 4 13 213


Q (11 .16)

Sendo:
n: rotação nominal da bomba, em rpm;
Q: vazão no ponto de rendimento máximo, em m3/s;
NPSHr: em m.
1

11.7.3 Escorva das bombas

1
As turbobombas só podem operar se estiverem totalmente cheias de água, ou seja,
escorvadas. Conforme relatado anteriormente, a depressão deve-se ao deslocamento do
I fluido e é igual ao produto do peso específico desse fluido (y) pela altura manométrica de
sucção. Desta forma, se no interior da bomba contiver ar (Yar = 1 kgf/m 3), no lugar de água
('Yágua = 1000 kgf/m3), a depressão será muito pequena e incapaz de fazer a água chegar
até a bomba. Assim, uma bomba localizada acima do nível de água do poço de sucção
deve ser cheia de água antes da partida. Esse enchimento pode ser realizado manualmente,
através de um tanque localizado em nível acima da bomba, ou por ejetor que aspira a água
para o interior da bomba .


- 11.8 Golpe de aríete em linhas de recalque

No capítulo anterior, 0 problema dos transientes hidráulicos foi levantado para as aduto-
ras Por gravidade (ver item 10.4), onde foram destacadas, como potenciais causadores do
'

497
Abastecimento de ãgua para c..on.sumo humano

golpe de aríete, as altas velocidades de escoamento, as rápidas manobras nas válvulas


controladoras de vazão e a ocorrência de ruptura da tubulação. Estes riscos também estão
presentes nas linhas de recalque, sendo agraJados por problemas que podem ser gerados
pelo conjunto motobomba, tais como defeito mecaníco na bornba ou interrupção da energia
que alim,enta o motor. Este últjmo motivo é o mais freqüente.
Quando o fornecimento da energia é interrompído, a velocidade angular do rotor
diminui rapidamente, até que as forças de inércia do conjunto rotatório sejam equilibradas
pelas forças originárias do atrito e da gravidade no equípamento. Conseqüentemente, a
vazão, a velocidade e a pressão interna da tubulação vão sendo reduzidas, até que ocorra
a inversão no sentido do escoamento, retornando o fíquído em direção à bomba. Caso não
exista válvula de retenção, a bomba começa a girar em sentido contrário, funcionando
como turbina.
Entretanto, a situação mais comum é a instalação de válvulas de retenção logo após a
bomba, para manter a co1unà de água da tubulação de recalque sempre cheia. Assim, o
retorno do escoamento pode encontrar a válvula fechada ou aberta, dependendo do tem-
po de manobra desta. Caso essa válvula esteja fechada, haverá uma sobrepressão devido
ao golpe de aríete. Es,sa sobrepressão poderá ser agravada se a válvula estiver semi-fechada
ou, ainda pior, se estiver aberta, pois a velocidade do líquido no interior da tubulação pode
atingir valores muito elevados.
O estudo do golpe de aríete deve ser realizado pelo método das características, segun-
do a Norma brasileira ABNT NBR-591/91- Projeto de adutora de água para abastecimento
público. Para tanto, recomenda-se a consulta de publicações específicas sobre o assunto,
como a de Wylie e Streeter (1993) e de Souza et ai. (1991). Contudo, um diagnóstico
preliminar pode indicar o rigor do golpe de aríete num dado sistema, no qual as caracterís-
ticas hidráulicas e de operação sejam estabelecidas. Segundo o Manual M 11 da AWWA
(1964), para a maioria das linhas adutoras com bombas centrífugas, as questões relaciona-
das na Tabela 11.2, apresentada a seguir, poderão dar um indicativo da seriedade do pro-
blema do golpe de aríete no sistema.
Se, a resposta a alguma das questões de (a) até (g) for ,afirmativa, há uma forte possi-
bilidade de que ocorram sérios golpes de aríete. Se 2 ou mais das 12 questões tiverem
respostas afirmativasif a possibilidade de golpe será proporcíonal ao número de respostas
afirrna·tivas.
Cabe relembrar que o período crítico do conduto, em segundos, é definido como "21/
C", sendo '' L" o comprimento do conduto e "C '' a celeridade de propagação da onda de
pressão, conforme apresentado na Equação 10.4.2, do capíturo 1o.

.
498 '
1
-- - ·- . -- ~- - .

Estações elevatórias I Capitulo 11

Item Pergunta Resposta


Existe algum ponto alto no perfil dai linha adutora onde a ocorrência de
a um vácuo pode causar a separação da coluna de água quando a bomba
se desligar?

b
o comprimento da linha adutora é inferior a 20 vezes a carga na
bomba?
A.velocidade máxima de escoamento na linha de recalque é superior a
e 1,2 m/s?

d O fator de segurança dos tubos é inferior a 3,5 para as pressões


normais de operação?
Qual é a taxa natural de desaceleração da coluna de água se a bomba é
1
e desligada? A coluna de água parará e inverterá sua direção de
escoamento em tempo inferior ao crítico de propagação da onda de
sobrepressão para a linha adutora?

l f A válvula de retenção fecha em tempo inferior ao tempo crítico da linha


de recalque?

g Existe alguma válvula automática de fechamento rápido ajustada para


abrir ou fechar em tempo inferior a 5,0 segundos?
r
h A bomba ou o seu motor seria danificado se fosse permitido o retorno
do escoamento na velocidade máxima?

1 A bomba estará trabalhando adequadamente antes que a válvula de
descarga esteja plenamente fechada?

J
A partida da bomba será com a válvula de descarga com a gaveta
aberta?
Existe booster no sistema que seja dependente da operação da estação
' k
de bombeamento em consideração?
Existe alguma válvula de fechamento rápido automático usado no
1 sistema de bombeamento que se torna inoperante com a falha do
sistema de pressurização do bombeamento?
Fonte: Adaptado de Steel pipe-AWWA M11 (1964)

- 11.9 Projeto de estações elevatórias

As estações elevatórias dotadas de turbobombas e motores elétricos, são constituí-


das: basicamente, de poço' de sucção e casa de máquinas. Em estações elevatórias de
. . maior Porte é comum prever instalação para o operador, subestação de rebaixamento de
Pot"enc,a,
· of1c1na,
· · almoxarifado etc.

499
~mer,te> de água para consumo humano

11.9.1. Poço de sucção

Algumas vezes as tomadas de água bruta por meio de bombas são realizadas direta-
mente nos rios, lagos, 1QU em -'canais, de deriivá·ção, conf@rme mostra a Figura 11.17 mas,
normalmente, são feitas em peços ,cle suGºã®, ·~r:iAoiwalm:ente ·<qUafldo se referem às águas
1

tratatfas (ver Figura 11.18). Q11am0ô)~t0viàas/0e p©ço de sucção~as bombas J1)edem estar no
próprio poço, denominado poço úmido, ou em poço seco, conforme mostra a Figura 11.19.

- 1

bomba motor
de eixo
válvula de pé horizontal
com crivo

Figura 11.17 - Tomada de água direta, situada na margem do manancial

motor •
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1
1

1
válvula

1

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canal de derivação grade bomba


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Figura 11.18 - Tomada de água direta no canal de ·clerivaçao
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Estações elevatórias I Ca pít ulo 11

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Poço úmido Poço seco

Figura 11.19 - Instalação de bomba em poço úmido e seco


-Fonte: NOVAK et ai. (l 996)

A instalação de bomba em poço úmido é um sistema econômico e largamente utilizado,


principalmente pela vantagem que apresenta com relação à redução na altura de sucção e
à escorva da bomba, entretanto, a manutenção fica prejudicada pela dificuldade de acesso
à bomba. A instalação abaixo do nível de água, em poço seco, atende aos quesitos redução
na altura de sucção, escorva e manutenção da bomba, mas nem sempre é viável economi-
camente, devido principalmente à topografia. Os motores das bombas podem ficar fora do
poço de sucção, abrigados das intempéries do tempo, ou desabrigados; neste caso, sua

especificação deve prever uma proteção especial. Já as bombas submersíveis, que possuem
motor blindado acoplado à bomba, podem ficar imersas na água do poço de sucção.
Quando a altura de sucção é pequena, as bombas são instaladas em poço seco, acima do
nível de água.
Um aspecto importante nos projetos das estações elevatórias é a tomada de água e,
conseqüentemente, do poço de sucção. No caso de pequena submergência na tomada de
água, vórtices podem ser formados, dando oportunidade de entrada de ar na tubulação de
sucção, que podem causar queda de eficiência, vibração estrutural e corrosão na bomba e
acessórios. Para evitar a formação de vórtice, a Norma brasileira ABNT NBR 12.214/1992
faz algumas recomendações para as dimensões do poço de sucção, dentre estas:

• submergência mínima da entrada da tubulação de sucção de 2,5 d,


sendo "d'' o diâmetro interno dessa tubulação, ou 0,50 m;
• distância mínima entre a parte inferior do crivo (ou do tubo) e o
fundo do poço de 1,0 d a 1,5 d, ou 0,20 m;
• distância mínima da parte externa da tubulação às paredes de 1,0 d
ou 0,30 m.

501
Abastecimento dQ 6gua para cQnsumo humano

Uma das maneiras de assegurar um escoamento mais uniforme e menor perda de


carga na tubulação de sucção é fazendo a entrada desta em forma de sino, conforme
mostra a Figura 11.20-a. Neste caso, segundo recomendações de Prosser(l 977), as dimen-
sões do poço de sucção são aquelas apresentadas na Figura 11.20.

d
a) Tubulação de Sucção l'""'--d Tubulação de sucção
em boca de sino
1-1 farva de 114 de elipse
D )!d =1,5 .. 2,0

b) Arranjos para uma bomba

04

Plantas -- 20 --
20
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-+ 20 ~...J.....

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-
Seções 1

t
0/2
- -
- «- ~
D 0 /4
b1) Poço de sucção úmido
b2) Poço de sucção seco
b3) Poço de sucção seco,
• com tubulação com
entrada horizontal tubulação com entrada por cima
e extremidade com boca de sino
e) Arranjos para várias bombas, com poço de sucção úmido

+
·ED·

U<1 ,2 s +
U< 0,3 m/s·EI)· 60
+
20

1<- " >IE 40


Ded.lvldade Inferior a 10 % Nível do fundo

• c1) Poço de sucção conjunto


L::: 100

Planta c2) Poço de sucção independente


figura 11.20 - Arranjos para instalação da t b 1 - Planta
"'
sucçao . u u açao de sucçã 0 , dota da de boca de sino no poço de
Fonte: PROSSER (1977) ' ·.

502
Estações elevatórias I Capítulo 11

11.9,2 Sala de máquinas

A sala de máquinas é o local destinado ao abrigo dos conjuntos elevatórios, tubula-


ções de sucção e recalque, aparelhos de controle, equipamentos eletromecânicos comple-
m~ntares e Instrumentos de medição elétricos e hidráulicos. Para permitir a retirada e a
rcpoc,lção das partes pesadas da instalação elevatória, em geral são instalados equipamentos
dei movimentação de carga. ·
No dimensionamento das tubulações de sucção e recalque, devem ser observados os
critériosestabelecidos pela Norma brasileira ABNT NBR 12.214/1992 relacionados a seguir:
• velocidade mínima no barrilete: 0,60 m/s
• velocidade máxima na tubulação de recalque: 3,0 m/s
• velocidade mínima na tubulação da sucção:
.. água transportando matéria orgânica ou suspensões siltosas: 0,30 m/s
.. água transportando suspensões arenosas: 0,45 m/s
• velocidade máxima na tubulação de sucção, conforme indicado na
Tabela 11.3. Entretanto, no caso de bombas afogadas admitem-se
velocidades superiores a essas.

Tabela 11.3 - Velocidade máxima de sucção


Diêmetro nominal Velocidade
DN m/s
50 0,70 •

75 0,80
100 O 90
I

150 1,00
200 1, 1O
250 1,20
300 1,40
~ 400 1,50

l
O arranjo dos conjuntos motobomba, tubulações de sucção e recalque, bem como
barrilete, devem ser concebidos tendo em vista a montagem, a operação e a .manutenção
dos equipamentos. Por isso, é importante prever uma área de circulação (lateral e sup,êrior)
ern torno destes, via equipamento de movimentação de carga. A Figur,a 11.21 apresenta
algumas sugestões de arranjos para assentamento de conjuntos motobomba e tubulações,
Para alguns tipos de bombas.

503
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Arranjos para bombas centrífugas Arranjos para bombas centrffugas
de eixo horizontal de eixo vertical


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Estações elevatórias I Capitulo 11

11.1 O Bombas utilizadas em situações especiais

As turbobombas, hoje em dia, estão presentes em quase todas as instalações de bom-


beamento. Entretanto, em a\gumas condições especiais, as bombas volumétricas, os car-
neiros hidráulicos e os sistemas com emulsão de ar podem ser a melhor ou a única solução
de bombeamento em pequenos sistemas de abastecimento de água.

11.10.1 Bombas volumétricas

As bombas volumétricas (volumógenas ou de deslocamento direto) são raramente


utilizadas em sistemas de abastecimento de água, a não ser em serviços cujas alturas
manométricas são excepcionais e as vazões são reduzidas, fugindo da faixa de aplicação
das turbobombas. Além disso, têm sido empregadas como bombas dosadoras, pois permitem
um controle mais preciso dos volumes bombeados.
As bombas volumétricas são dotadas de câmara e órgão propulsor instalado em seu
interior, que transmite energia de pressão ao líquido. O órgão propulsor pode ser um dia-
fragma, ou pistão, dando assim origem às bombas do tipo diafragma ou pistão também
denominadas de êmbolo. A Figura 11.22 mostra o funcionamento da bomba tipo pistão,
iniciando pela condição mostrada em (a) e posteriormente a ascensão do pistão (b), que
produz o vácuo no interior da câmara, abrindo uma válvula situada na parte inferior (V2),
que dá lugar à entrada de líquido na câmara (c). Na seqüência, o pistão é movimentado em
sentido contrário (d), o que faz o fechamento dessa válvula (V2) e a abertura de outra (V1),
instalada num orifício posicionado no pistão, enchendo toda a câmara de água. Novamente
o pistão é levantado, forçando o fechamento da válvula (V1) e a saída de água pela
tubulação de recalque (e). Ao mesmo tempo, a válvula (V2) é aberta, dando acesso ao
cilindro de nova quantidade de água e início de novo ciclo. Vê-se, portanto, que o escoa-
mento deve flutuar ciclicamente. Essa flutuação pode ser reduzida substancialmente co.m a
colocação de três ou mais câmaras.
A determinação da altura manométrica de recalque para as bombas do tipo pistão
deve levar em consideração, além das grandezas vistas no item anterior, algumas outras
próprias da bomba, tais como:

• A carga energética para manter abertas as válvulas de aspiração (V 1)


e de recalque (V2).
• A carga energética para adquirir as acelerações nos encanamentos de
aspiração e de recalque, em conseqüência da intermitência da descarga.

Uma vantagem desse tipo de bomba, em relação às turbob·ombas, é que ela não requer o
enchimento prévio da bomba e da tubulação de sucção, pois ela é auto-escorvante.

SOS
Abastecimento d e. água p ara consumo humano

ALAVANCA

-- --
Cilln.dro -
- -- -
-- -
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V1
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Pistão
V1
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V2 -- ---
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Tobo de - - -
sucção - - - -
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' }
1 ••
-
(a) (b) (e) (d) (e)

••

Figura 11.22 - Bomba tipo pistão

1
11.10.2 Carneiro hidráulico
ri
O carneiro hidráulico desempenha, ao mesmo tempo, a função de motor e bomba,
ut.ilizando parte da energia hidráulica, recebida como fonte propulsara, para elevar uma
fração d.a. água recebid.a. A condição topográfica necessária à sua instalação torna o seu
emprego mu,ito restrito, além disso, só consegue elevar uma pequena fração da água que
recebe. Apesar desse fato e do baixo rendimento, ainda é utilizado em algumas fazendas e
sftios, tendo em vista as vantagens de funcionamento contínuo, facilidade de manutenção
e baixo custo do equipamento.
Muito provavelmente, o carneiro hidráulico é a única aplicação positiva do golpe de
aríete, já que o seu funcionamento depende da ocorrência de transientes hidráulicos.. A
Figura 11 .23 ajuda a entender o funcionamento desta bomba. A água captada, pela a~ão
da gravida.de, enche toda tubulação até a válvula V1, escapando ainda um pouco de água
por ela, até que a força devido à pressão do escoamento supera o peso desta válv.ula,._
. .
fechan,d.o-a bruscamente. !·mediatamente surge uma sobrepressão em todo o·carpe> ~b· ,: · '

carneiro hidráulico, abrindo a válvula V2 e deixandó passar à água para a çamara de.ar,., ,)
. ~

:.-r,;f, :
comprimindo-o. O ar reage e força o fechamento da vâlsi,úla·V2 e o escoamento·da áf,i!J~ .':.\~~~'
paí pÊI~;"" ~ /'" ;tt
pela tubulação de recalque. Enquanto isso, a ~Qua orill!;lâa di;i .fonte voltq a:es~a_
válvula v1, pois o desvio do escoamento,para a câmar11 redú;,: ã Pr~'s~o. · · ,. . . . ·::.· ' ·
,... ?\ ...;a.,
,,..~
• ,,,
,
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tu ;,

506
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----- - - - - -
Estações elevatórias I Capitulo 11

Elevação útil

vazão de / ' H,
recalque q
vazão de Hs
carneiro
montante Q ~ hidráulico

Instalação esquemática

ar
pesos
-
vazão de válv la V2 castelo
recalque '-«_ - ~ Q-q

vazão de
montante
~~~~
válvula V1

Detalhe
Figura 11.23 - Carneiro hidráulico

O módulo de elasticidade do material da tubulação que alimenta o carneiro hidráulico


provoca mudanças na velocidade da onda de pressão e, conseqüentemente, afeta a perff'or-
mance da bomba (Rojas, 2002). Por isso, é recomendável a utilização de tubos de ferro fClmdié.ie
para atubulação de alimenta~o do equipamento, quando a altura de queda for superio~ a 4,2 fim,
tanto pela sua resistência a sobrepressão, como pelo módulo de elasticidade do material. 'ÃZe-
vedo Netto e Alvarez (1982) recomendam também para essa tabulação urn alirahameAt@ retilf:..
neo, diâmetro superior ao da tubulação de recalq(je e mais as segtiintes relações:

• L ~ 1,0Hr a 1,2Hr, sendo L = comprimento da tubulação a montante


• 1OH 5 > L ~ 5 H5 '

• 8,0m < L ~ 75 m

A quantidade de ágwa a~r:oveitada pel@.Garlíileir0 hiâfâl!Jli€e'é fumçã© da rela~ãGheRtre a aJtura


de moratante e a Gfe r.ecalgue, beoo com0 lda vazão gis}Domfvel e do rendimer1t@ clm equiparneAto.
Rata,exemplificar, apresemtam-se r;1a Tamela 1íl .4 @s G.fa@f©s dJe wm f.a)Fi<iarate clfe crarnneiri@%idráwlico.


Abast.eclmento de água para consumo humano

'Tabela 11.4 - Características de carneiro hidráulico


= • • • , • •• • =
Características Modelo 3 Modelo4
• '. 1 ... • ==- • , • • • •• Modelos --
Vazã.o disponível Q (1/min) 12 a 20 20 a 30 .
1 40 a 65
Diam,etro da tubulação de entrada li
1.1/4" 2 li

Diâmetro da tubulação de recalque Y2 11


1/2 11

3/4"
, 1 r r a : • =

••
Proporção (1: H/Hs) Vazão de recalque (1/h) -
'
1:3 180..300 . 300-420 640-950 4

1:4 120-21 O 220-320 440-700


1:5 100-170 180-270 350-570
1:6 80-140 150-220 300-480
1:7 70-120 115.. 190 245-420
1:8 60-105 105-170 210-360
1:9 55-100 90-150 180-320
1:1 O 45-85 85-135 150-290
1:12 • 40-70 70-11 O 125-255
1:14 30-60 60-95 100.. 175
1: 16 25-50 50-80 80-140
1:18 20-40 45-70 60-110
1:20 15-35 40-55 45-100
Fonte: KENYA LTDA (2005)

Os rendimentos desse equipamento são muito variáveis, oscilando entre 30o/o e 80%,
quando calculados pela expressão mostrada a seguir:
1 q .H,
Tl ==-
º Hs (11 .21)

Em que:
1 q: vazão de recalque, em 1/h;
t
11: rendimento hidráulico do carnejro;
Q: vazão de mo,ntante, em 1/h;
H5: altura de montante, em m;
,Hr: .altura de recalque, em m;

11.10.3 Sistema com emulsão de ar

Este sistema, mais conhecido por air-lift, é comumente utilizado para retirada de água
de poços profundos e tomadas de água com grandes quantidades de areia, silte ou óxi~o de
ferro, que poderiam desgastar outros tipos de bemba. A extração da ág1:1a se·fae por meio de
injeção de ar dentro do poço. Oar, ao mistl:lrar-se com a água, forma uma emu!São de menor
peso especifico que a água e por isso mesmo se elevai mais que O nível dinâmico da água. A
Figura 11 .24 ajuda a entender o funcionamento explicado e apresenta a nomenclatura
1
1

508
...
,··' : '
. , . t .. .. ...
, ----

Estações elevatórias I Capítulo 11 ·

normalmente empregada. nesse tipo de instalação. A eficiência desse tipo de bomba é relati-
vamente baixa, variando de 25% a 40º/o.
.

Ar comprimido , Manômetro
) - - - . , . . u . . __ _

..H------ Saída de água


- - - - - - - - - - -

Tubo de descar a
o
o tct1
- - - - - - - - - - - - - (.) °'
..::= ct1
~ >
C)~
o Q)
e.. Q)
.9 "C
- ct1
& ·-- -- --
º --
Tubo de ar
- - - - -
Q)
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-co -
-
:::,
Q.
o
"'C
Q)
- - - - - - - -
-

-
-

- -
... ...
-
......
- - - - -
-
..- ... - Nível dinâmico
- - - - - - - -
Q)
Cl o
::::::,

- - - - - - - lL - . . _

"'C
ca
·-
"O
"O
e:
.ae Difusor
a..

Filtro

-=--- Figura 11.24 - Sistema de retirada de água com ar comprimido


Fonte: MACINTYRE (1987)

Para especificação do compressor, é importante conhecer o consumo de ar e a pressão


necessária nesse tipo de sistema. A equação q = fQ permite estimar a vazão necessária é:Je
ar, sendo

q : vazão de ar;
Q : vazão de água no recalque;
f : vazão específi,a de ar, ctUe pode ser calculada, segundo Macintyre
(1987), pela equação de Rix-Abrams, mestrada a seguir:

f= _ _ c__
klog A+ 10,3 (11.22)
10,3
-.

•''

• •
,
••

509
.
\
-
• • '
1


a , 2 as.: E E 2 S E 1 JS& JS e eu a e 4

Abas:tec:lmento de 6gua para consumo humano

O coeficiente k que aparece na equação anterior depende da submergência s , da


pela Equação 11 .23, e da posição do tubo de ar ~m relaçãoª-º tubo de descarga. ÍTab~:
11:.5 mostra como os valores de k costumam variar em funçao desses parâmetros.

S == 100 A (11 .23)


P A+C

Em que:

A: submergência dinâmica;
C: desnível topográfico.

Tabela 11 . 5 - Valores de k em função da submergência


Submergência (%) Valores de k
Tubo de ar por fora Tubo de ar por dentro
do tubo de descarga do tubo de descarga
75 14,92 13,45
70 1
14,59 13, 12
65 14, 18 12,47
60 13,65 11,62
55 12,96 10,68
50 12,06 9,70
45 11,09 8,72
t 40 1
10,03 7,54
35 8,80 6,60

A pressão p, a ser fornecida pelo compressor de ar, pode ser determinada pela equa-
ção mostrada a seguir, em que A é a submergência em relação ao nível dinamico e i1h ª
perda de carga no tubo~.de ar.

A+Ah
(12.24)
p = 0',70

1
11.11 Escolha do tipo de bomba
l

. . . ~nha~
( Para selecionar adequadamente um tipo de bomba é fundamental qu~ se · .tenores
ciente informação a respeito dos vários tipos de bombas existentes. Nos itens an

510 -·
' .. ~
'
Estações elevatórias I Capítulo 11

(11 .4 e 11.1 O) foram apresentadas as turbobombas (centrífuga, axial e mista), normalmente


utilizadas em sistema de abastecimento de água e algumas não convencionais, tais
como a bomba alternativa, o carneiro hidráulico e a bomba com sistema de ar comprimido.
Dentre as bombas convencionais, as centrífugas de eixo horizontal são as mais utilizadas
nos sistemas de abastecimento de água, por atender. uma ampla faixa de serviços, com
arranjos qt:ie faeilitam a manutenção, por um custo n0rmalmente inferior aos de outros
tipos. Visand0 a orientar a seleção de bombas, apresenta-se a Figura 11.25 com o campo
de er:nprego das turbobombas e das bombas alternativas.

--
E f
m 1000 .. . 1• - - - · - -

-
·-' -
(.)

•Q)
E
o
e:
m
100 ·- · - i-------- -----
1
1

E
~
entrífuga
l
.....
-
<(
:::,
10 - -
~~sta~I
·r----,-::::::::::::=r--·---
. ".
. - -
Axiais

10 100 1000 10 000 100 000

Vazão (m3 /h)

-Fonte: MACINTYRE (1987)


Figura 11 .25 - Campo de emprego de bombas alternativa~ e turbobombas

A velocidade específica é um parâmetro importante na seleção do tipo de b@rmtba e


representa a velocidade de rotação da bomba modelo, trabalharado com vazã@ e aítwira •

manométrica. iguais a unidade. Com base na teoria da semelhança dinâmica é pe>ssív.ef


obter a Equação 11.25 para o cálculo desse parâmetro e a partir deste classificaFi fu@mbas
similares, como mostra a Tabela 11.6 para as turlJobomoas.

'
nQT/2
ne = H3t 4 (11.25)
m

Em que: ·
ne : vel0cidade específica da bormt>a rm@ãel@:, em (~tlil; •

n : velacidaâe e:Je r©ta<;ã0 Ela l>©mrtea ,rotõtl(!)o, em rnpl'ilil;


Q : vaião b0mbeada n© pQrnto d~ má"Xrma ef~c;iêrncia, efiYi1 mPt~;
ftn: altwra r:f.lah@m'âtniea A© pont@ t!Je êfi@iêmG:ia mm<itrmj , em ftril

.,,~--·
,1 as.. i !Si ili •

..... .... .... .


' .

Abastecimento de égua para <onsomo humano

Tabela 11.6 • Faixa de opera~o das turbo~ombas com relação à velocidade es!Jecífi
Tipo de bomba Velocidade específica ca
Radial 10-90
Mista 40-160
Axial 150-420

• .. J Isa Isa
•• •

Exemplo 11.1 •

Uma elevatória capta água de um manancial, cujas cotas dos níveis máxi-
mo e mínimo de água são 640,0 m e 635,0 m, respectivamente. Através
de uma adutora, a água é recalcada para um reservatório. A entrada da
adutora no reservatório efetua-se na cota 670,0 m, O, 1O m acima do seu
nível máximo de água. O diâmetro da tubulação de sucção e recalque é
de 200 mm, comprimento total de 2500 m, altura média das rugosidades
das paredes das tubulações de 0,035 mm (PVC). As perdas de carga loca-
lizadas no recalque totalizam 7,0 U2/2g. Determinar as faixas de vazão e
de potência em que a bomba opera nesse sistema, tendo em vista as
características da bomba apresentadas na tabela a seguir:

1 Vazão em (Vs) o 10 20 30 40 50
Altura manométrica (m) 50 48,2 45,8 41,5 37,4 32,3
Rendimento da bomba (o/o) o 45 65 71 65 45

Solução

Probl,emas desse tipo são resolvidos através do confronto das curvas


do sistema com a da bomba, normalmente por meio gráfico, e então,
determinado o ponto de trabalho.

Analisando a Equação 11 .1 representativa de sistemas de tubulação e


a~licando·a a e:te, con_stata-se que duas equações de curva Umita:r:
fa ixa de operaçao do sistema uma para Hg = 30 O m e a outra P
, . 1 , . ma-
Hm2 .== 35,0 m. Além disso, pode-se considerar a veloc1d~de. noais a
nancial desprezível e as pressões neste e no reservatório ,gu .
atmosfera· Assim, a equação 11 .1 para este problema transforma--se em.

Hm1 == Hg1
u2
+ ....?... + Jih u2

2g Hm2 = Hg2 + 2 +Ah


2g

512
Estações elevat6rlas I Capltulo 11

U2 corresponde a velocídade média na saída da tubulação e ~h às perdas


de carga contínua (L.\h') e localizada (8h "). A tabela a seguir mostra o cálculo
para obtenção da curva do sistema, cujas perdas de carga contínua foram
calculadas para vários valores de vazão, pela fórmula universal (Equação
11 ~ 11 ), com coeficientes de perda de carga obtidos por meio da equação
de Colebrook ..White. Para facilitar o cálculo, o programa HidroWin3
foi utífízado para determinação da perda de carga contínua.
1

Q (l/s) o 10 20 30 40 50 60
U(m/s) o 0,32 0,64 0,95 1,27 1,59 1,91
Re(x10s) o 0,63 1,27 1,88 2,51 3, 15 3,78
f o 0,021 0,018 0,017 0,016 0,016 0,016
Ah' o 1,33 4,69 9,91 16,95 25,76 36,33
u,2g
2 ó 0,01 0,02 0,05 0,08 O, 13 O, 19
~h" o 0,07 0, 14 0,35 0,56 0,91 1,33
30,0 31,41 34,85 40,31 47,59 56,80 67,85
Hm,
35,0 36,41 39,85 45,31 52,59 61,80 72,85
H

o gráfico seguinte apresenta os valores obtidos para as curvas do sistema


(Hm, e Hm2 ), em função da vazão, juntamente com os dados da bomba
de altura manométrica e potência, esse último calculado pela Equação
11.4. A faixa de operação (interseção das curvas Hm 1 e Hm2 com a curva
da bomba) apresenta os resultados de vazão compreendidos entre os
vafores de 26,4 e 31, 1 1/s e as correspondentes potências de 16 e 18 kW.

---

20

10 15 20 25
o 5
Va~ão ~l~)
'
. .,.. •. [e r : .s-..d
• ,.. , .... · ,,. lt , .,,..... ,.,.,.,w efir ófm1g Br. êJ0wo,oa >.
·3 OHíclroWio•pode ser,eocontrado nos ei ,,,, ... ~J<· • ··li'

·- ..
-- ......
Abastedm111nto de ãgua ,>
ara consumo humano

'º 11.2
bomba recalca água or
a para o reservatório
t?,ação 860,0 e ora para o . R R 1 cujo N A
reserva tó rio 2 com N . . es tá n a
~ n õo como origem um p . . .A . n a e lev aç ã
·
oço d,e ~ucçao CUJO .A
N
. está na e le vação
o 8 4 0 o
- dados das curvas caracter1st1cas de perda d 8 0 0
,
0
,
. Je conduz água para _ e c arg a da tu b ula - '
o R1 e a da tubulaçao ça o T ·
ara O R2, juntamente com T2 que transporta á u1
os da
dos da bomba , estão mostrado
1abela seguinte. Pede-se de
terminar a vazão em cada sg ª
bomba recalque simulta tubulação, cas; :
neamente para os dois reservató
rios .
• L •••••
1 1 1 1 l r

Vazão (m 3/h) o,o


s o ,o 100,0 1s o ,o 200 ,0 2 s o, o 30
T., Ah, (m) o,o 350 ,o 400,0 4so,o soo,Õ
0,0
1,8 7 ,0 15 ,8 28,0 43,8 63
T2 Ah2 (.m) ,0 85,8 112,0 141 ,8 175,0
0,0
1,1 4,5 10,1 18,0 28 ,1 40
Bomba Hm(m) ,5 55, 1 72, 0 91,1 112,5
160,0 158,0 156,0 152,0 146,0 137 ,O 12
5,0 110,0 92,0 72,0 50,0
Solução

Esse problema é resolv id


o graficamente, plota
- cu rv a da bomba com ndo:
os valore s dados;
- curva T1, soma de ~
h1 ·e Hg 1 (Hg = 60,0
- curva T2 , soma de li 1 m) ;
h2 e Hg 2 (Hg = 40,0
- cu rva T1+T , cor res 2 m);
2 pondente à soma da
de T2 , para uma mesma vazão de T1 com a va
altura ma nométrica. z ão
A interseção da curva T
1+T2 com a curva da bomba é cor
ao ponto de operação respondent e
(Q = 438 m3/h, Hm =
iguais a 76,0 m nas cur 76 ,0 m) . Para Hm, e H
vas T e T , respect iva m2
res Q , =150 m /h e Q 1 2 m ente , obtém-se os valo
3
=2 83 m3/h, respostas do -
2 problema.
160
Bom rc3
140 ~
y
120 ~

- .y / .~
.,,,, 7 ...
- 100
,,,

... ..... / -
E
-E 80 .,,. .,,, - " """', ..
J:
60 T1
- - - .,,.
P1 - .,--

,,,. _,.c:r
P2 . J ., ,,
/ ... p ..... ~
.

~
'~
40 T2

T1+T2
T1+T2 -
.
20
-
o
o 50
-
100 150 200 450
250 300 350 400
a ( m3/h)

514
Estações elevatórias I Capítulo 11

Exemplo 11.3
'

Dois reservatórios são interligados por uma adutorg de 2000 m d.e com-
prtmento, 100 mm de diâmetro, rugosidade de 0,035 mm, conforme
perfit mostrado na figura a seguir. O nível de água do reservatório R1
está na elevação 624,0 m, e do reservatório R2 , na elevação 604,0 m.
Desejando-se aumentar a vazão transportada em 50o/o, uma bomba tipo
booster deve ser instalada na linha. Determinar a vazão , a altura mano-
métrica e o local em que a bomba deve ser instalada, desprezando as
perdas de carga localizadas.

R1 N.A. ==624,0 m
640 ..t====::;:::===;::=-----.------,---:-~--,----.------,
R2 (N.A. =604,0 m)
620~ l. •• ·- -- - t--- - - -
l ....

580 · ---Í---
' 1
560
540 -
---- --
1
r
O 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000
J

Solução

..

• Vazão da adutora por gravidade


Admitindo que toda a carga disponível (20,0 m) seja gasta com a per-
da de carga e com o auxílio do HidroWin para cálculo da vazão na
equação Universal, obtém-se Q=7,831/s.

• Dimensionamento da bomba

A nova vazão deve ser de 11, 75 1/s, ou seja., SO·o/o superior a· calculada
anteriormente. Para este valor de Mai'.ãQ a J9erda de €a.rga total é íll2, 56 rn.
A fr§ura a seguir mostra as Linhas Piez@rmélriG:as 1 e 2, ce~resp,@ndemifles
às vazões escoadas de 7,83 e 11,Y S 1/s, riespeeti~amer1tre. ~alia C@m\1.
1

pensar o abaixamento da lintía pie:ze:m,étl ica, u.rma b@mb>a cem a'l~mrra


1

man.ométrica de 22, 56 m t or.na-se r.1ecessãnia. Peâe-se (Pe,IAGem:er t am-


bém que a Limha Pie·zor.net~iefa i c@rtaria e t~bulaçã~~ mtim ~ €JA!t@ mis-
tam:te a7®0 ml aproximadarnenite, â@rieservat é~io Rl , e <g;ae a p>ariti·r
daí a gressão ma tufu~laçã© fiooria rae9aitttia se ro'ã'@ tesse o@loeada ~ma

Abastedmonto de Agua para consumo humano

bomba. Assim 1 é importante que esta seja instalada anteriormente a


esse ponto, a 1600 m de R1, por exemplo, como mostrado na figura

R1(N.A.::624,0mi)
640 -

620 -
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~ .._.., , ,. .~.~~~-~~~?·~-~-''.!~ r~...... ....... --Hm:' -' !?........ ._ ..
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600 -irrtra p1 zométrlcé 2 - '
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56.Q - ----- •- -. - - - ----- - •
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-, I

560 - -- - . - .B ba_
1
540 1

O 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000

Exemplo
- -
11 .4

Uma instalação elevatória possui 2 bombas iguais, sendo uma para


operação ,e a outra para reserva. As características do sistema e da
bomba são apresent.adas na tabela a seguir. Eventualmente, o sistema
tem demandad.o uma vazão superior ao que a bomba em operação é
,capaz. Por isso,. pede-se analisar o arranjo (série ou paralelo) mais conve-
niente para o aumento de vazão e determinar a potência demandada
pela. bomba.

3
Q (m /h) O soo 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000 5500 6000
Bomba Hm (in) 80,0 75,3 70,1 64,5 58,4 51,9 44,9 37,5 29,6 21,3 12,~ - -
••
ri (%) O 25 50 64 75 82 85 83 78 70 60 - - .•'
16
~is~ema H~ (m) .. 40 . 49, 1_5 ~0~6 41,35 42,4 43, 75 45,4 47,35 49,6 52, 15 5_~ §B, 15 ~'-

Solução • •

No gráfico apresentado a seguir observam-se as curvas Hm x Ó e yt XQ ,


da bomba, bem cqmo a curva do sistema, todas elas dadas r:,o Rº(o~l.e- """'TI
ma. As curvas da dssociação em paralelo e em série dessa bomffia~iilíl; ·
bém foram plotadas nesse gráf.ico, permitindo detetn'li~a~ os ~:: ;e .
1, 2 e 3, correspon~ente~t respectivamente, aos pontos de traD: :f!pal?}a· . .
uma bomba, d~as õombas em série e duas bor.ubas em P~~ 1: 1_ao em
lhando nesse s1stema. R.0de-se· ass'1'm·, c·0ncluir ·qt:1~ a ~ss 0eiaç ~w.
- -,, , ~ a:ZQ:© !fílll-f,ll(lr
par alelo,das ·auas.bornbas pr00tJ2 maior vaz~ ão ~fonts 3: ~~ timct
1

Hm"'52 ·m),.eQq uant o.a.s f?ombas,emsérie' l!lno&uzel;!i) 4z·4lii r,m3.Jlil e;


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Estações elevatórias I Capítulo 11

A potência demandada por uma bomba quando associada em parale-


_lo é 565cv, calculada pela Equação 11.4, para os valores obtidos nos
pontos 5 e 8 do gráfico (0=2350 rn3/h, Hm=52m e h=80%). Nota-se,
para o caso de a bomba estar funcionando sozinha que a potência
demandada é de 586 cv, calculada com os dados dos pontos 1 e 6 do
gráfico (0=2970 m 3/h, Hm =45m, h=84,5%). Assim, a especificação
do motor deve prever a potência de 586 cv, necessária ao funciona-
mento de uma bomba no sistema .

160 • 1
1 • •
·2 ~o}Tlb s em s rie ---,-1
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1
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1 -
• 1 1• 1 t +-
o ·r l

O 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000 5500 6000

Vazão - a (m3/h)

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'

'

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.. ... .
518 ••
.

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Capítulo 12

Introdução ao tratamento de água

Valter Lúcio de Pádua

12.1 Introdução

Nos sistemas de abastecimento de água, tem-se como objetivo final disponibilizar


água potável aos usuários, de forma contínua e em quantidade e pressão adequadas.
Neste capítulo faz-se a descrição de técnicas de potabilização, ou seja, do tratamento da
água bruta antes de sua distribuição, para que a água não ofereça riscos sanitários à·popu-
lação. Apresentam-se aqui as noções básicas dos principais processos e operações utiliza-
das no tratamento de água para consumo humano. Para informações detalhadas, incluindo
as relativas ao dimensionamento hidráulico das unidades que constituem as estações de
tratamento de água (ETAs), o leitor deve consultar algumas das referências bibliográficas
citadas ao final do capítulo. Embora seja comum se dizer que do ponto de vista técnico
pode-se potabilizar qualquer tipo de água, os riscos sanitários e os custos envolvidos no
tratamento de águas contaminadas podem ser muito elevados, exigindo o emprego de
técnicas cada vez mais custosas e sofisticadas, motivo pelo qual deve-se priorizar ações de
II
proteção dos mananciais, ou seja, pode-se dizer que o tratamento começa na escolha da
captação da água bruta''.
Abasteclmel'lto de água para consumo humano

12.2 Processos e operações unitárias de tratamento de ,,


· · agua

Neste item são feitas considerações sobre os fundamentos dos principais Process
operações unitárias utilizadas no tratamento de água para abastecimento público os os e
são suscintamente descritos na Tabela 12. 1, apresentando-se maiores detalhes 'nos iuais
seguintes. A combinação de processos e operações unitárias dão origem ao que se de~n~
mina "técnicas de tratamento de água'', assunto abordado no item 12.3 °
Na Portaria nº 518/2004 do Ministério da Saúde (Brasil, 2004) são estabelecidos os
valores máximos permitidos para diversos contaminantes orgânicos e inorgânicos que po-
dem estar presentes na água potável, mas é praticamente impossível especificar todos os
contaminantes e as respectivas concentrações máximas, para que não afetem a saúde
humana. Nas ETAs, devem-se buscar alternativas técnicas que possibilitem, no mínimo, a
produção de água que atenda ao especificado na referida portaria.
Diversos tipos de produtos químicos podem ser utilizados no tratamento da água:
oxidantes (tais corno ozônio, cloro, dióxido de cloro, peróxido de hidrogênio), alcalinizantes
(geralmente cal ou hidróxido de sódio), coagulantes (em geral sais de ferro e de alumínio,
além de polímeros), desinfetantes (cloro e seus compostos, ozônio, dentre outros), produ-
tos para correção da dureza (cal, carbonato de sódio e resinas de troca iônica), produtos
para controle da corrosão (cal, carbonato de sódio, metafosfato, silicato e outros)·e carvão
ativado para adsorção de contaminantes. Todos os produtos químicos devem ser manuseados
com cuidado, seguindo-se rigorosamente as instruções de segurança dos fabricantes, e
eles não podem introduzir contaminantes na água.

12.2.1 Micropeneiramento

A ABNT (1992), por meio da NBR 12.216, estabelece que as grades destinadas a reter
materiais grosseiros existentes nas águas superficiais podem ser utilizaó.las nasRAS quando
circunst~ncias especiais não permitem a sua localização na captação. ©iferemtemente ~as
grades, as unidades de micropeneiramento destinam-se à retenção de sóli!ialt>S fil'l65 nao-
1 "d .
co 01 ais em suspensao - e gera 1mente contam com sistema de limpeza por á9ua em contra
· ..
corrente. .de
Basicamente, as micropeneiras constituem-se de malhas com diferentes aberturas de
filtração. Em geral, a carga hidráulica disponível para a passagem da água é P~~:-
rnodo que, nestes casos, as aberturas devem ser grandes o bastante para garantir bea-
de filtração compatível com o que se deseja na prática. os sistemas que utilf2'.3m bom rnas
men~o. ~ara permitir a passagem da água ~través das microper1elras sao mais :r~çãO
poss1b1htam
e. remover partículas de menor dimensão, uma vez que as aberturas

520

h
Introdução ao tratamento de água I Capítulo 12

podem ser menores, graças à carga hidráulica disponível ser mais elevada (em dec~r:ência
do sistema de bombeamento). Na Figura 12.1 tem-se a representação esquemat1ca da
malha de micropeneiras e de alguns formatos de materiais em suspensão presentes na
água bruta. Os materiais semelhantes a (A), com formato aproximadamente esférico e
dimensão ligeiramente superior à da abertura de filtração da micropeneira, ficarão retidos
nas malhas. Por outro lado, o material (C) será retido ou não em função da sua orientação
em relação às malhas.

1,

1, ,,
1

Figura 12.1 - Representação esquemática de material em suspensão possíveis de serem removidos


na micropeneira, em função da forma, tamanho e posição relativa

.Na Figura 12.2 é mostrado esquematicamente o funcionamento de uma micropeneira


1 rotativa que gira parcialmente submersa na água. As extremidades do tambor possuem
orifícios, no centro dos quais entra o afluente. A pequena diferença de nível de água é a
responsável pela carga hidráulica de filtração, de modo que as malhas precisam ter aberturas
1
relativamente grandes para garantir o escoamento da água. Quando o tambor se move,
1
1
1
um jato de água limpa a micropeneira, removendo as partículas retidas. Na Figura 12.3
tem-se a fotografia de micropeneiras com aberturas de 25 e 50 µm .
•1
1
Jato de água

!!!
• Peneira rotativa
1

'1
~
'•'

• Descarga
11
1
l

___.Material.em
suspensão retido
l
..

Figura 12.2 - Representação esquemática


de uma micropeneira rotativa

521 •
• Abastecimento de água para consumo humano

- P . . . processos e operações unitárias de tratamento de água


Tabela 12. 1 - r1nc1pa1s
para abastecimento público
Processo/ Descrição/finalidade
-
operação unitária
Micropenei ra menta Passagem da água por penei.ras co~ malhas de pequena abertura, ..
visando a remoção de material part1culado.

Oxidação/aeração oxidar matéria orgânica e inorgânica presente na água, facilitando


sua remoção posterior.
Adsorção Remover compostos orgânicos e inorgânicos indesejáveis, incluindo
os que causam sabor e odor, fazendo a água e~trar .em contato
com uma substância adsorvente (em geral carvao ativado).
Troca iônica Destinado a remover contaminantes inorgânicos presentes na
água, fazendo-a passar por uma coluna contendo material
sintético especial (resina).
Coagulação Adição de coagulante, visando desestabilizar impurezas presentes
na água e facilitar o aumento do tamanho das mesmas na etapa
de floculação.

Floculação Agitação da água realizada após a coagulação, com o objetivo de


promover o contato entre as impureza.s e, assim, aumentar o
tamanho das mesmas.
Decantação Passagem da água por tanques, no fundo dos quais as impurezas
ficam depositadas.
Flotação Ar~aste da~ impurezas para a superfície de um tanque, por meio da
açao de m1crobolhas.
Filtração em meio Remoção de ma~erial particulado presente na água, fazendo-a
granular passar por um leito contendo meio granular (usualmente areia
e,ou antracito).
Filtração em Remo~ão ?e
co_ntaminantes orgânicos e inorgânicos, incluindo
membrana mat~r,al ~1s~olv1do, passando a água por membranas com abertura
de ftltraçao inferior a 1µm . (ver Figura 12 .33)
Desinfecção Processo destinado a ·1nat'1var m1crorgan1smos
· . .
patogênicos
presentes na água. -
Abrandamento
Proctess? destin?do a reduzir a dureza da água e remover alguns
con am,nantes inorgânicos.
Fluoretação
~diçbãotde cor;,po.stos contendo o íon fluoreto com a finalidade de
um a era carie infantil. ,
Estabilização química
Acondicionamento d- á . f 't -
corrosivos ou ·- - ª gua, com a finalidade de atenuar e et os__
.c,·i·,ares incrustantes no sistema abastecedor
- e nas instalaçoes
dom' -· •

'.
j_
•,.'

522
----
lntroduç~o ao tratamento de água I Capítulo 12


'
As mícropeneiras podem ser adotadas nos seguintes casos:

1 a) quando a água apresenta algas ou outros microrganismos de tipo


e em quantidade tal que sua remoção seja imprescindível para viabili-
1
zar o tratamento posterior;
b) quando permite a potabilização da água sem necessidade de ou-
' tro tratamento, exceto desinfecção;
e) quando permite redução dos custos de implantação ou operação
de unidades de tratamento subseqüentes.

12.2.2 Oxidação
1

A oxidação química ou a oxidação por meio da aeração podem ser utilizadas para
r reduzir a concentração de contaminantes orgânicos e inorgânicos, que não são normal-
mente removidos de modo satisfatório nas unidades que usualmente compõem as ETAs.
Contudo, especialmente no caso do emprego de oxidantes químicos, podem ser gerados
1
subprodutos indesejados, que necessitam ser monitorados e removidos, se forem encon-
trados em concentração superior ao valor máximo permitido na Portaria nº 518/2004
(Brasil, 2004).
A oxidação por aeração destina-se a introduzir ar na água, por meio de aeradores,
para a remoção de compostos voláteis e oxidáveis e gases indesejáveis. De acordo com a
ABNT (1992), a aplicabilidade dos diferentes tipos de aeradores e suas taxas de aplicação
devem ser determinadas preferencialmente por meio de ensaios. Os dispositivos de aera-
1 ção citados na ABNT (1992) são: plano inclinado, bandejas perfuradas sobrepostas, casca-
tas, escadas, ar comprimido, tanques com aeradores mecânicos e torre de aeração, dentre
outros. Nas Figuras 12.4 e 12.5 são ilustrados aeradores de bandeja e de cascata.
No caso da remoção de contaminantes por oxidação, em que a aeração não é eficiente,
pode-se estudar o emprego de oxidantes químicos, tais como cloro, ozônio, dióxido de
cloro, permanganato de potássio e peróxido de hidrogênio. O tipo de oxidante químico,
1 sua dosagem e o tempo de contato devem ser estabelecidos em laboratório, em função da •

qualidade da água bruta, tomando-se cuidado ,especial com os subprodutos gerados na


oxidação, que podem ser prejudiciais à saúde humana e, por isso, necessitam ser reduzidos
a concentrações aceitáveis pelo padrão de potabilidade vigente.
1 A remoção de metais por meio da formação de preccipitado pode ser conseguida por
oxidação ou elevação do pH, uma vez que esses ~r0oeG!imentos permitem fazer com que
alguns metais se tornem insolúveis na água, possibJlitaíldO sua remoção posterior em decan-
t tadores ou filtros das ETAs. Na Tabela 12.2 são mostradas as concentrações de alguns
metais presentes em água subterrânea, em função do aumento do pH. O pH adequado
deve ser estabelecido experimentalmente, pois, como se observa, a elevação contínua no pH

523
Abastecimento de ág ua pa ra co ns
um o hu m an o

.. . · . · m ente m elho Ultad os e c erta m ente, conduz a aumento do


nao ,mphca necessar,a res res '
. . t' dad e m aior de p ro .
duto qu fm 1co, quanto por au-
custo operacional, tanto por exigir q I
uan
mentar o volume de lodo gerado .

A
a
..
,......
................... ...... ..........
t i . ..

~
·~ · · · .. .,.

li.. . .. . .. -.
cc
..... . ... -. ... ..
• • • • a • •., • • ..

riftclos de
distribui o
.

Cortina .· f.t -··-···· T


.~ i;:ntrada
~
circular
Plataformas Entrada
Tabuleiras co mcoque

Vertedores
Tangue de col~ta
F -- -Qf - - - - ~ - - - U T -.
.......

lfsaída

Figu ra 12.4 - Aerador de bandeja


Figura 12.5 - Aera dor d e cascata
Fonte: RIC HTER e AZEVEDO NETI
O (1991) -Fonte: RIC
H TER e AZEVEDO NETTO (1991)

1
Tabela 12.2 - Remoção de metais
de água subterrânea 1
em função da elevação do pH 1

Metal Agua Água subterrânea após tratam


subterrânea ento* r

pH=9,1 pH=9,9 pH:11,3


Arsênio (mg/L) 0, 12 =

Bário (mg/L) 0 ,0 3 0 ,0 3 0,03


0,24 0, 17
Cádmio (mg/L) 0, 15 0 , 19
0,003 < 0,001

Cromo total (mg/L) < 0 ,0 0 1 <0,001
0,09 0 ,0 0 6
Chumbo (mg/L) 0 ,0 0 6 0 ,0 0 6
0,03 0 ,0 0 6
Mercúrio (mg/L) 0 ,0 0 6 0 ,0 0 6
<0,001 <0,001
Selênio (mg/L) < 0 ,0 0 1 <0,001
Prata (mg/L)
<0,001 <0,001
0,001 < 0 ,0 0 1 <0,001
Ferro (mg/L) <0,001 < 0 ,0 0 1 <0,001 . ,
3,52 0,07
Manganês (mg/L) 0,07 1,05 ,
Zinco (mg/L) 0,9 Não detectado Não dete
0,69 ctado Não detectado.
Fonte: citado em OI BERNARDO (1
0 ,3 6 0 ,0 9 O61 . '_
993) .'
*0 tratamento inclui adição de cal pa '
sedimentação·por 120 mlnu t I - d
ra e evaçao o pH , mistura rápida
os. por 1 minuto, floculação por 30 • utos e7'
mi~ ~...:.,

524 ·

Introdução ao tratamento de ~gua I Capítulo 12

,.
Dependendo da concentração de ferro e de manganês e do pH da água, a aeração
pode ser eficiente para reduzir a concentração da forma solúvel destes metais, principal-
mente do ferro; sendo observado que o pH exerce influência significativa na eficiência do
processo. Entretanto, dependendo da forma como o ferro e o manganês se encontram, a
aeração pode não ser suficiente.
Além dos contaminantes inorgânícos, a oxidação da água bruta também tem como
finalidade facilitar a remoção de contaminantes orgânicos, tais como as substâncias húmi-
cas causadoras de cor. Na Figura 12.6 são mostrados os valores de turbidez de uma água
tratada por filtração direta descendente sem floculação. A única diferença operacional
entre as duas finhas de tratamento (A2 e 82) refere-se ao fato de esta última não receber
cloro antes da unidade de mistura rápida. Observa-se, neste caso, que a cloração exerceu
forte influência sobre a qualidade da água filtrada, indicando a viabilidade do tratamento
por meio da filtração direta, desde que se faça a pré-cloração. Contudo, como a água bruta
em questão apresenta concentração relativamente elevada de algas potencialmente tóxicas,
faz-se necessário um monitoramento rigoroso dos subprodutos da cloração e recomenda-se
o estudo de oxidantes alternativos, tais como ozônio, dióxido de cloro e permanganto de
potássio, a visando a atenuar os riscos sanitários decorrentes desses subprodutos.

6,0
m CJ Filtro A2,
(5 mg de_c_
lor_ol-L)
.:_ _ _ _ _ _ __
~ 5,0
--
• Filtro 82 (sem cloro)
m
li:;:
:::,
4,0 L----------------~-------~.-.-
O')
..ro
co
-e
3,0
N
Q)
:g 2,0
·2::::,
t- 1,0

0,0 3
'

5 7 . 9 _ 11 13 15
o 1 Duração da carreira de,filtraçao (h)

- Figura . _ Influência da pré-oxidação (cloração) na qualidade de água tratada por meio da filtração
12 6
direta

525
Abastecimento de água para consumo humano

12.2.3 Adsorção em carvão ativado

Os processos de adsorçao - utilizados na remoção . de contaminantes


- orgânicos e inor-
gânicos podem ser represen t ados, de modo simplificado, pela reaçao A+ B<=} AB, em que
" . adsorvida (adsorvato) e. B, o_ adsorvente.
A representa a su bst anc1a . ,.. . . _ .
.
Drversos t.1pos
· de forças qu'im,·cas, tais como l1gaçoes de h1drogen10, 1nteraçoes dipolo-
. 1o e f orças de ,va
d1po , n der waals, são responsáveis, por manter. os_compostos na superff , cie
do adsorven t e. 5e a reação for reversível, as moleculas cont1nuarao
· d' , a se acumular,
· ,.. · ate que
se igualem as velocidades de reação nos dois sen:idos, o que 1n ;ca~a a ex1stenc1a de e~ui-
líbrio, e não ocorrerá remoção adicional. A quantidade de substancias q~e pode ser retida
na sua superfície é uma das principais características dos adsorventes. Existem muitos mo-
delos matemáticos que procuram descrever essa relação, mas eles dependem da determi-
nação experimental de coeficientes empíricos.
No tratamento de água, os adsorventes mais utilizados são a alumina e o carvão
ativado, com destaque para este último. Dentre as duas modalidades de carvão ativado,
carvão ativado em pó (CAP) e carvão ativado granulado (CAG), nas ETAs brasileiras o CAP
é o mais usado. A capacidade - de adsorção do carvão ativado está relacionada a diversos
fatores, tais como temperatura, natureza do carvão e das substâncias a serem removidas,
pH da água e superfície específica do carvão. Dentre os parâmetros utilizados para caracte-
rizar as propriedades de adsorção do CAG e do CAP, o mais empregado é o índice de iodo,
por meio do qual mede-se a quantidade de iodo que é adsorvida sob condições específicas
de ensaio. Para o emprego em ETAs, recomenda-se que o carvão ativado apresente índice
de iodo superior a 500 mg/g.
A adsorção em carvão ativado tem sido empregada principalmente para reduzir a
concentração de compostos orgânicos indesejados. Embora a oxidação de água bruta com •
concentração elevada de compostos orgânicos possa permitir a redução da dosagem de
coagulante necessária ao tratamento da água e, assim, em certas situações, viabilizar o
emprego de técnicas de tratamento mais simplificadas, ela leva à formação de outros com·
postos com ?1:nor massa molecular, mas não reduz, ou reduz pouco a concentração de
car?o~~ ~rgan,co total (COT) da água, e pode gerar subprodutos da oxidação até mais
pre1ud1c1a1s à saúde do ser humano do que sua forma não oxidada. Por este motivo, reco·
me~da-~e: sempre que possível, a não oxidação qufmica da água bruta, mas no caso de ela
ser 1nev1tavel, dev~-se fazer estudos para avaliar se haverá necessidade de remover os
s~bprodutos da ox,~aç~o. Para atender a essa finalidade, a adsorção em CAP ou em CAG
sao atualmente as tecn,cas mais ut·1·
112 d · r
d . . as. Os ª
compostos
e orrgem natural, tais como as sub t " · .. h ,. · orgânicos
. indesejados podem se
· ·u
.
provenientes ..
de at1v1dades ·
hum . s anc,as um1cas responsáveis pela cor verdadeira,
. . 0 .·
. , anas, como no caso de pesticidas utilizados na agricultura
e que contaminam as aguas superficiais e s·ubt ,..
Nas ETAs, o CAP e, aplicado
.
e f
. erraneas.
d s
unidades de fitraça- 0 rn orma de suspensão em um local que antece aª
. , enquanto o CAG e' t·1· d. · . coa a
· u 11za o em colunas, através das quais es

526
........
Introdução ao tratamento de água I Capftulo 12

água filtrada. É sempre recomendada a realização de ensaios em laboratório, para determ~~r


a dosagem de CAP e a vida útil do CAG, bem como o tempo de contato necessar,o
para remover as substâncias orgânicas consideradas. O local de aplicação da suspensão de
CAP deve ser definido levando-se em consideração a eficiência da sua mistura com a água,
O tempo de contato necessário para a adsorção dos contaminantes (em geral de 1Oa 120
min) e o grau de interferência com os demais produtos químicos aplicados na ETAs. Na
Tabela 12.3 tem-se a listagem de alguns possíveis locais de aplicação da suspensão de CAP.

Tabela 12.3 - Locais de adição de suspensão de CAP


Local Vantagens Desvantagens
Tomada de água Tempo de contato Algumas substâncias que seriam removidas
longo. Boa mistura. por coagulação, floculação, sedimentação
(ou flotação) e filtração podem ser
adsorvidas, aumentando o consumo de CAP.
Chegada de água Melhor controle da Mesmas desvantagens. As vezes tem-se um
bruta na ETA dosagem em relação pré-decantador antecedendo a coagulação.
à opção anterior.
Unidade de mistura Mistura eficiente e Possível redução na taxa de adsorção, pela
rápida da ETA tempo de contato interferência de coagulantes. Tempo de
razoável. contato às vezes insuficiente para remoção
de certas substancias. Adsorção de
.
substâncias que seriam coaguladas .
Entrada dos filtros Uso eficiente de Possível passagem de CAP pelo meio filtrante
CAP. e redução do tempo de contato.

Quanto ao CAG, existe uma grande variedade de materiais que podem ser utilizados

na sua produção. Porém, predominantemente, empregam-se madeira, lignita, carvão betu-
minoso e sub-betuminoso e osso. As principais vantagens do CA~ em comparação ao
CAG, são o menor investimento inicial e a maior flexibilidade com relação à alteração da
dosagem aplicada, em função de variações na qualidade da água bruta. O CAP apresenta
como desvantagens a remoção relativamente baixa de compostos orgânicos voláteis e
maior problema para disposição do lodo, já que o CAP contribuirá para aumentar o volume
de Jodo gerado na ETA, enquanto o CAG pode ser reaproveitado, após passar por um proces-
so de regeneração em equipamentos especiais.

12.2.4 Coagulação e mistura rápida

A cor, a turbidez, o sabor, o odor e diversos tipos de contaminantes orgânicos e inor-


ganicos presentes na água geralmente estão assoGiados a partfculas,suspensas ou dissolvidas,
que podem requerer a coagulação química da água, a fim de facilitar a remoção dessas

527
mumente empregados nas ETAs são o sulfato de alurn' .
impurezas. Os coagulantefs coso clorado O sulfato férrico e o hidroxi-cloreto de aJ ,n,?,. 0
. "'é . · 0 sulfato erro
1 · ' . , . . um,n,
doreto 1 rr,co, 'd à a de produtos químicos e a natureza d1st1nta das águasb 0
CA 0 PAC). Devi o gam . _ . . rutas
(H ~ 1. ... de experimentos em 1nstalaçao-p1 1ato ou em Jarteste, para defin. '
é ssenc1al a rea ,zaçao . , 'd A Ih d . ir as
e . .. . d. de coagulação e mistura rap, a. esco a o tipo de coagul
ondiçoes adequa as . ,. . Q d ante
c d á d ma criteriosa avaliação técnica e economrca. uan o a coagulação não ,
depen e~ e u . d h d t d e
. d d
realiza a e mo do adeq · uado , compromete-se
. . o esempen
, o e
d 'do as unidades de trat a-
.. aJusan
mento . te, aumentando os riscos. san1tár1os_da agua . . pro_ uz1 a. O desconhecimento
dos fatores que interferem na coagulação e sua nao ot1m1zaçao no ~ue se refere ao tipo de
·. lante e auxiliar de coagulação, pH, dosagens, tempo e gradiente de velocidade de
coagu h d · 1, ·
mistura rápida, comprometem seriament,e o desempen o a ETA. A em disso, ao se fazer
a avaliação de custo, deve-se levar em conta a procedência, a fórmula química aproximada
e a forma de fornecimento dos diversos produtos químicos, assim como a proximidade do
local onde são produzidos e os custos de aquisição. Coagulantes fornecidos na forma
sólida são mais baratos, devido à redução do custo de transporte, mas acarretam maiores
problemas operacionais, pela necessidade de se preparar a suspensão na própria ETA, po-
dendo demandar mais funcionários e causar problemas associados à manutenção da lim-
peza no local.
As impurezas que precisam ser removidas da água bruta nas ETAs apresentam grande
variação de tamanho. As que se apresentam como matéria particulada causam turbidez à
água; substãncias dissolvidas são responsáveis pela coloração, havendo evidência de que o
sabor e o odor estejam associados a partículas coloidais. Estas impurezas comumente pos-
suemcarga superficial negativa em meio aquoso, a qual pode ser determinada por meio da
medida do potencial zeta {PZ). Quando ocorre a dispersão do coagulante, são originadas
espécies hidrolisadas que reagem quimicamente, com as impurezas ou que atuam sobre a
superfície delase reduzem a força repulsiva que tende a mantê-las estáveis no meio aquoso,
de modo a facilitar a remoção nas unidades posteriores do tratamento. No ·entanto, não
ap~n~s ª interação de ordem eletrostática é importante. Também interações de ordem
quimica devem ser avaliadas, quando se estuda a coagulação realizada nas ETAs.
Os operadores das ETAs precisam estar conscientes de que simplesmente aumentara
dosagem de coagulant - é f' · - · t' , imo
determ1nar
. o pH de co e nao- su ,c,ente .
para melhorar a coagulaçao. É 1mportan 155
rre
1
um d agu açao apropriado. Tem-se observado que em muitas ETAs oco
gran e desperdício d • , qual
poderia ser reduzida e _coagu 1ante, devido a sobredosagem deste produto, a
de coagulante por meio de estudos de tratabilidade da água bruta. Erro na dosag;m
impurezas pres~~tno PH de coagulação pode conduzir à reversão da carga superficial as
prometer seriame:ts na á~ua, ocorrendo o fenômeno da reestabilização, que pode com·
e a ef1ciência d ETAs a a água
estudada, foi possível obter . as . Observa-se na Figura 12.7 que, par dosa·
gem de 5 mgJL quant d turb1dez remanescente da ordem de O5 uT tanto com a da
nos valores de PH d ode 15 mg/L de coagulante, desde q. ue a co;gul~ção fosse realiza
a on em de 4 4 6 ,
· ' e ,O, respectivament.e.

528

lntroduçao ao tratamento de água I Capltulo 12

20 2,43

0,45

~
15 º·li • 0~ 5
º~º º·~ 0,65
0,4~ J.',5
0,85
• 1,82

-- J
E
--
..J
O)

-o
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10 ºiiº 0,50
• -
1,2
0,55
0,76
• 0,85
0,85
• •!,95
0,95

0,95
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1,22 ...E
<J::
e -
<ê..r:.
5 º'º º~º 0,70
• 1.2
• 1,5 1 7 1,5 1 1 ..2
• ií • Ili'
1,2
• 0,61

'
o
3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0 7,5 8,0 8,5 9,0 9,5
pH de coagulação
Figura 12.7 - Diagrama de coagulação com PAC [AI (OH) c1 1com 18o/o de basicidade (valores
·,nt ernos do gráf'1co .1nct·1cam a turb'd n m 3 n-m
I ez remanescente)

Ultimamente, tem sido dada grande ênfase na remoção de matéria orgânica natural
(MON) por coagulação química, uma vez que a MON pode funcionar como precursora da
formação de subprodutos indesejáveis da desinfecção. Deste modo, ampliam-se os objeti-
vos tradicionais da coagulação realizada nas ETAs, que são a remoção de cor e turbidez,
conciliando-os com a remoção de MON, o que geralmente exige o emprego de dosagens
elevadas de coagulante e vafores baixos de pH de coagulação, caracterizando o que se
denomina coagufação melhorada (enhanced coagulation).
Dependendo da qualidade da água bruta, o emprego de polímeros pode possibilitar
vantagens, tais como aumentar a duração da carreira de filtração, reduzir os gastos com
produtos químicos, diminuir o volume de lodo gerado e aumentar a eficiência de remoção
de co~ turbídez ou carbono orgânico total da água. Os polímeros podem ser sintéticos ou
naturais, catiônicos, aniônicos ou não-iônicos, havendo diferentes marcas no mercado bra-
sileiro. Nos estudos em laboratório, deve-se avaliar com cuidado os diferentes tipos de
poffmeros e a dosagem a ser adotada na ETA. Deve-se ressaltar, contudo, que d0sagens
muito elevadas de polímero podem comprometer o desempenho dos filtros, reduzindo a
duração da carreira de filtração, produzindo resultado inverso ao desejado.
A d;spersão do coagulante na água bruta é realizada nas unidades de mistura rápida.
Os parâmetros de projeto desta unidade,são o tempo de detenção e o gradie.nte·de veloci- •

dade, sendo que este último está relacJon·ado à intensidaee ·de agitação da massa lf~uida,
necessária para garantir a adequada dispersão dos produt@s químicos ·Utilizados Aa coagu-
lação. Os gradientes de velocrdade médios de mistura rápida podem variar desde seo s-1,
ou menos, a valores superiores a 7000 s-1, e o tempo de mistura·rápida ob>se,vado ·rtas ETAs 1

é da ordem de 1 segundo a mais de 3 minutos. Os valores destes .parâmetr-os, vt~aAdo a


Otimização do desem~enho da unidade, dependem f.undamenrtalmeRte da qualicl_a_ de da
água bruta, da tecnologia de tratamento utilizada na ETA e das condições de coagulação .

529

.. . . -~ -~ . : ..-------
umo humano
. . -de água para ,ons
Abastedmento

. . d elocidade médio de mistura rápida devern Pref


.. e O gradiente . e v . . _ . . . ' erencj..
Por isso o tempo base em 1nvest1gaçoes expenmenta1s. Valores in
alment~, ser determinados .&cotmr negativamente a qualidade da água produzida aucrnorretos
. t s podem a' e a . . . , enta
destes parâme ro · · _ d eração sejam estes devidos ao ma11or consumo de p~ d r
d onstruçao e e op ' , d - o uto
os custos e e . d lodo gerado na ETA ou a re uçao do volume efetivo de ;
.. maior volume . e . ... d agua
químico, ao , . de se terem carreiras de f1ltraçao e curta duração.
d ·da em decorrenc1a . h'd , .
pro uzr ~, 'd ETAs pode ser realizada por sistemas , rauhcos, mecanizad
A mistura rápt a nas . . , ·1· d d' . os
. . espec1a1s.
ou dispos1t1vos . · Em muitas. ETAs bras1le1ras
_ e ut,
, 1za _ o me 1dor Parshall para P
. ro..
·
mover . . · ráp,'da e para. medir, a.vazao
a mistura . afluente a estaçao. Segundo a ABNT (1992),
constituem dispositivos de mistura rap1da .

• qualquer trecho ou seção de canal o~ ~e canal.ização que produza


perda de carga compatível com as con~1çoes deseJadas, em termos de
gradiente de velocidade e tempo de m1st~ra; .
• difusores que produzam jatos da soluçao de coagulante, aplicados
no interior da água a ser tratada;
• agitadores mecanizados;
• entrada de bombas centrífugas.

Podem ser utilizados como


I
dispositivo hidráulico de mistura: •

• qualquer singularidade onde ocorra turbulência intensa;


• canal ou canalização com anteparos ou chicanas;
• ressalto hidráulico;
• qualquer outro trecho ou seção de canal ou canalização que atenda
às condições da norma.

A aplicação da solução de coagulante deve ser sempre feita imediatamente antes


do ponto de maior dissipação de energia e através de jatos separados de no máximo 10
cm. As unidades mecanizadas de mistura rápida são mais versáteis que as hidráulicas,
pois possibilitam a variação do gradiente de velocidade médio, se isso se fizer necessário,
O
que não é possível nas unidades hidráulicas. Por outro lado, as unidades hidráulicas
apresen~am ~enor custo de implantação e de manutenção. Os procedimentos de cál~ulo
para. estimativa do gradiente de velocidade médio em cada um deles podem ser obtidos
em h~eratura específica sobre o projeto destas unidades. Ao decidir pelo tipo de unidade
?e mistura r~pida, deve-se levar em conta também as dificuldades locais no que se refere
~ manute~çao de equipamentos mecanizados. Não é raro encontrar equipamentos fora
e operaçao por longos , d da água,
l

devido à f lt d perio os, comprometendo a eficiência do tratamento · N


ª
Figura 12 8 t
ªe manutenç-
.
·
ao preventiva ou corretiva das instalações mecaniz
· adas a
· r
· em-se a 1lust - d . . . . dem se
utilizadas nas ETAs. raçao e algumas unidades de mistura rápida que po

530
lnttod~ ao ·tratamento de água t Capftufo 12

Ma!ha com fies de Malla oom fios de


~ OU aço plástico 00 aço ino)idâ\lef
(' iro.xidâvet

l!, ' t .

Range

...__,/ \._.
2ooa c1e mmna
Lremovfvel
Peça deifexão dos ja!os

(a) Mecanizada
(b) Injetor

Solução do
coagulante
Tubos
aams Planta
Se tldodo
Pollmero
Oriflclos-....... t--s:n-- - r - ---..-- Coagulante o onal
Válwlas para
descarga 1 ..
· St~og de Ju nte
com altura aj tável

Seção
Longitudinal Malha
(opcional)

(e) Malha de tubos (d) Medidor Parshall


_ _ Figura 12.8 - Exemplos de unidades de mistura rápida
Fonte: OI BERNARDO (1993)

12.2.5 Floculação

As reações químicas que se iniciam na unidade de mistura rápida possibilitam que


as impurezas presentes na água possa·m se aglomerar, formando flocos na unidade de
floculação. Nesta unidade não ocorre remoção de impurezas; a finalidade é apenas acon-
dicion.ar a água que será encaminhada aos decantadores (ou flotadores) ou aos filtros da
ETA, aumentando o tamanho das partículas.
Pela definição da ABNT (1992), floculadores são unidades para promover a:a~r.egP:ção.
de partículas formadas na mistura rápida, sendo preconiiado que os pa·ra):meffi@S ~e
projeto e operação destas unidades (período de detenção no tanqu·e de Jlmolil1a~e-e ~ , .
gradiente de velocidade) devem ser determinados por m~io deens-aios reaJ1,i aêãs e@}R a
água a ser tratada. s·egundo ·a ABNT (1992)4 ~ep.enâendo:cJo port~ ea esf,af~ ~a~rrit~rro
do órgão contratante, não sendo possfvét proceder .aos ensaios Qe~ir:ial;fos a ti'lemrt,nir.iaii
O
• Período de detenção adequado,' pe.~~m~ser âd~tadós v~l,@resteotre 2t:> ~lo mfntJtds;

. . •

r. 53~1• •

<
.
_
. ...

U mohumano
ág ua para cons
Abastecfrnento d e

. d h'dráulicos e entre 30 e 40 minutos, para os mecanizado -


ara fJocula ores 1 , • . • 1 'd d . s. Nao
P . . deve ser previsto gradiente deve oc1 a e máximo, no prim . sendo
realizados ensaios, . , . . . _1 . , . e1ro con, .
_1 e mínimo no ultimo, de 1Os . Os ensaios em laboratorio é q Parti.
mento, de 70 S ' . , ue Pern,· · -0
. , r qual O . radiente de velocidade adequado para cada agua, em funç- 1t1ra
estabe1ece . 9 . . . . ao do te
de floculação. Na prática, tem--se observado que o valor d~ gradiente de velocidade rn~~
. diminuí à medida que aumenta o tempo de floculaçao. O estabeleciment d. .ed10
Ót1m0 . . . . . .. . o o te
de detenção fica a critério do pr0Jet1sta, com base na análise dos resultados dos . rnpo
Nas ETAs a·floculação pode ser realizada hidráulica ou mecanicamente. Dom ensaios.
. , . . . .- . , . esmo rn
que no caso da mistur~ rápida,. em?ora.ª. floculaçao h'.drauhca ap~esente menor custo de e:º
frução e de manutençao e maior s1rnphc1dade operacional, ela nao possui flexibilidad ns-

seu emprego nas ETAs em que a água bruta. apresenta, sazonalmente, grande van ~ do
qualidade. Na Figura 12.9 são ilustrados alguns tipos de unidades de floculação em açao de
r:TAr · a d' t d ' 'I 1 . . d d.. pregados
e'.11 e,/"\:).: s proce .1men os e ca cu_o para estimativa. o gra 1~nte de velocidade médionos
diversos tipos de un1çJade de·floculaçao podem ser ?bt1dos em literatura específica.

Saída
• ,.,. ,.,. ,.,. ,.,. ,.,. ,.,. --,i
1..
,d

• . •



~ ~ ~ ~ ~ ~ \.:.,

• ~
• •
-

Escoamento vertical (corte) ·

,.,. r-.. r-.. r-.. ,.,. r-.. ,.,.


- 1(

Entrada " "" \,;,f \,:., vf vf 1.:1


Descarga
Escoamento horizontal {planta)
(a) Floculação em meio granular
(b) Floclilação em chicanas

-::.,.. •
't

4
• ••
~
"~
p:
,

. -..


. ..
.

•• . •..

. (e) Floculação mecanizada


Figura 12 9 .
. . Exemplos de unidades de floculação

532
lntroduç~o ao tratamento de água I Capítulo 12

12.2.6 Decantação

Nas ETAs, quando a água bruta apresenta alta concentração de partículas em suspensão
ou de sólidos dissolvidos, é necessária a construção de unidades que removam parte
destas impurezas, antes de encaminhá..la aos filtros. A decantação é uma das técnicas mais
antigas e simples de clarificação da água e resulta da ação da força de gravidade sobre as
impurezas, facilitando a sedimentação delas no fundo da unidade, e resultando na clarifi-
cação do sobrenadante.
Para pequenas comunidades, a operação, denominada sedimentação plena, é uma
alternativa ao pré-tratamento do afluente, em substituição à coagulação química e à
floculação_A sedimentação plena apresenta como vantagens o menor custo operacional,
uma vez que pode prescindir dos produtos químicos utilizados na coagulação e das unida-
des de ,mistura rápida e de floculação. Além djsso, o lodo produzido é menos sujeito a
problemas para disposição final, em decorrência da não utilização de coagulante químico.
Contudo, em virtude da pequena velocidade de sedimentação das partículas que precisam
ser removidas da água bruta, as unidades de decantação, quando não se tem pré-trata-
mento por. meio de coagulação e floculação, requerem espaços físicos nem sempre dispo-
níveis no,local de implantação da ETA, o que inviabiliza o emprego da sedimentação plena.
A coagulação e a floculação possibilitam a obtenção de partículas com maior velocidade de
sedimentação, viabilizando a construção de unidades de decantação mais compactas.
As unidades de decantação são projetadas com base na taxa de aplicação superficial
(TAS), que está diretamente relacionada com a velocidade de sedimentação das partículas
suspensas na água e é calculada dividindo-se a vazão afluente ao decantador peta sua área
em planta. A ABNT (1992), que aborda questões relativas ao projeto de estações de trata-
mento de água para abastecimento público, recomenda que a TAS dos decantadores seja
determinada por meio de ensaios de laboratório e que, não sendo possível a realização dos
ensaios, sejam adotados os seguintes valores, em função da capacidade das ETAs, tal como
mostrado na Tabela 12.4.

Tabela 12.4-TAS em função da vazão tratada na ETA, segundo a ABNT (1992)


Vazão tratada na ETA Taxa de aplicação superficial (TAS)
Até 1.000 m3/d 3 2
até 25 m m- d· 1

Entre 1.000 e 10.000 m3/d 3 2 1


até 35 m m- d· quando tem-se bom nível operacional, caso
3 2
contrário recomenda-se TAS de até 25 m m' d.,
_Mais de 10.000 m~/d 3 2
até 40 m m· d· 1

i _A redução na TAS possibilita melhoria ~a qu~lidade da água decantada, co~t~~o


rnplica a construção de unidades de decantaçao maiores. Deve-se destacar que a def1n1çao
da TAS depende fundamentalmente da qualidade da água bruta. A remoção de flocos

533
....
ua com concentração elevada de deterrn·1 .
lt ntes de á9 · b' . nadas
. . orno os resu a . dadeira elevada e baixa tur 1dez, exige O P . .
muito le.ves, tais e . possuem cor ver . roJeto
. d lgas ou que
espécies
· eª
d res com ·baixa · TAS · · do decant ador f 01· uma inov ~
lacas) no ·interior
de decanta o los (dutos ou P . açao
. tradução de rnódu. . d·écada de 1960, que deu origem aos chamad
A ,n . . ,c1ada na . . os
de importância 1n t nos decantadores convenc1ona1s com escoament
de gran t xa. Enquan o ,. . 50 3 -2d-1 . o
decantadores de alta ~ -o su erfidal em geral e inferior a rn m ' a introdução de
hor ·
,zontal a taxa de apllcaça P. t de unidades com taxas de até 150 m3m-2d-1 Po
·b·rta O proJe o . . · r
dutos ou placas poss1 11 d tadores de alta taxa permitem reduzir o espaço físico
·or TAS os ecan 1
· - d d
possibilitarem ma, ' uando é necessária a ap 1caçao e pro utos químicos
ETAs Entretanto, q
ocupado peIas .· · d contato os decantadores de aIta taxa podem ser inade-
't m maior tempo e ' · .
que necess1 ª. de detenção neste tipo de unidade em geral ser inferior a60
0
quados' em virtude do temp · ' d 2 4h O ·
d antadores convencionais e e a oras. maior tempo de
minutos, enquanto nos ec . .
.. 'b'l'ta que eventuais problemas durante o tratamento seJam detec-
detençao também poss1 11 · • , -
. 'd tes que a água seja enviada a populaçao. Tanto na decantação
tados e corr1g1 os an .
• nto na de alta taxa a remoção do lodo depositado no fundo da unidade
convenciona1 qua '
pode ser feita mecanica ou manualmente. A freqüência dessa opera~ão dependerá_da
concentração de sólidos suspensos presentes na água. Em todo caso, o intervalo decorrido
entre duas remoções de lodo não deve ser longo a ponto de possibilitar a solubilização de
metais e outras substâncias prejudiciais à saúde humana, que estejam presentes na forma
de precipitado no lodo da ETA.
A eficiência da unidade de decantação é diminuída quando ocorre mau funciona-
mento das unidades de coagulação e floculação, o que pode acontecer por problemas
operacionais ou quando a água bruta apresenta baixa concentração de partículas, fato que
dificulta a coagulação, uma vez que resulta menor taxa de contato entre as partículas eos
produtos da hidrólise do coagulante, limitaf}do o transporte de massa. Com a finalidade de
a~mentar ~ eficiê,ncia da coagulação nestes casos, há autores que fazem refe.rência à adi-
çao de argila na agua bruta, ou à recirculação de partículas previamente removidas, para
aumentar a eficiência .
da op eraçao - de decantaçao. - É comum ouvir de alguns opera dores O
re 1ato de que é mais fácil "r "
impar a água no período de chuva do que no período de seca.

Exemplo 12 .1
• -

Uma ETA que tem bom ní .


dois decantado . vel operacional e que trata 180 Us possui
res, cada um .
mento. Com base com 8 m de largura e 30 m de compri-
ver,'f'Jcar se o valor nestes dad os, ca Icu lar a TAS dos decantadores e
·
encontrad O ·. · ·2)
atende ao recomendado na ABNT (199 · ·

534
Introdução ao tratamento de ~gua I Capltulo 12

Solução

• Cálculo da capacidade da ETA (C) em m3/dia

3
0={vazão (lls) x 86.400 (~d)] I 1. 000 (lfm ) =180 x 86.400 / 1. ooo == 15.552 m3/dia
• Cáículo da TAS

TAS=C/Área total de decantação = 15. 552 I (2 x 8 x 30) == 32,4 m3m-2dia-1

Considerando os valores que constam na Tabela 12.4, observa-se que


4
sob estas condições a TAS atende à recomendação da ABNT (1992).

1 12.2.,'7 Flotação

Quando as etapas de coagulação e floculação da água bruta conduzem à formação


dE flocos com baixa velocidade de sedimentação, é necessário projetar os decantadores
com baixa taxa de aplicação superficial, o que exige a construção de unidades que ocupam
grande espaço físico. Uma alternativa para tratamento de águas desta natureza é a subs-
âluição dos decantadores por flotadores. Estas unidades exigem operadores mais qualificados,
'eqGentemente precisam ser cobertas, requerem equipamentos para geração das
mícrobolhas (bomba de recirculação, câmara de saturação e compressor de ar) e aumen-
lam o consumo de energia elétrica na ETA, mas também apre~entam muitas vantagens em
elação aos decantadores, tais como: i) são unidades mais compactas; ii) produzem lodo
rom maior teor de sólidos; iii) possibilitam reduzir o consumo de coagulante primário; iv)
l>05s"bilitam reduzir o tempo de floculação; v) reduzem o volume de água descartada junto
com o Iodo, em relação à porcentagem da vazão total tratada na ETA; vi) promovem ''air
stripping" de substâncias voláteis, porventura presentes na água, e vii} promovem um certo
Qraude oxidação da ág.ua, o que pode facilitar a remoção de metais solúveis.
Enquanto na sedimentação a força de gravidade atua fazendo com que as partículas
5l:' del)OSítem no fundo do decantador, na flotação a clarificação da água é conseguida por
~.eio da produção de bolhas que se aderem aos flocos ou partículas em suspensão, aumen-
~ 0
empuxo e provocando a ascensão dos flocos até a superfície do flotador, de onde
sao removidas.
~ tamanho das bolhas gerada~ é um dos principais aspe~os a serem considerados na
, .- º·As bolhas menores são mais adequadas, tendo em vista que elas deslocam menos
q.Jido d . . . ~ •t•d d d . ..
as i ª superfície das partículas e, por isso, apresentam maior 'ªº.' '' aue e a .esao·...J

lrlPurezas. Além disso, as bolhas menores apresentam menor velocidade ascensional,


535
ara consumo humano
Abastecimento de água p

,,0 flotador e, conseqüentemente, maior oportu-


. de detençao n ·· · 'd N T, b ·
. ltando em ma.1or tempo · rtrculas a serem removi as. a ,a ela 12.S são
resu t e as bolhas e as pa
nidade de contato .en. r .. técnicas de flotação.
apresentadas as pnnc1pa1s ~

• Classificação das técnicas de flotaçao ~


Tabela 12.5 Modo de geraçao das bolhas -
· Nome da técnica
E geral por meio de agitação, usualmente através de
-
. Flotação por ar disperso ou por
r:iores, ou passando o gás por placa porosa .
ar induzido
Flotação eletrolítica Eletrólise da água.
Flotação por ar dissolvido a Dissolução do ar na água à pressão atmosfé!ica e su~
vácuo posterior liberação numa câmara com pressao negativa.
Flotação por ar dissolvido por Dissolução do ar na água so~ pressão e sua posterior
pressurização liberação à pressão atmosférica.

Geralmente, na flotação por ar disperso são formadas bolhas com diâmetro de 0,4 a
2,0 mm, as quais não apresentam desempenho satisfatório no tratamento de água para
abastecimento público. As.bolhas geradas na flotação eletrolítica geralmente são menores
que as conseguidas na flotação por ar disperso e na flotação por ar dissolvido, de modo
que a menor turbulência causada por estas microbolhas, resultantes da flotação efetrolítica,
torna esta técnica vantajosa para a remoção de flocos frágeis e pouco densos. Contudo, a
taxa de aplicação superficial usualmente requerida na flotação eletrolítica é muito baixa, 1
a 4 m/h, se comparada com a empregada na flot.ação por ar dissolvido, 8 a 12 mlh. Além
disso, na flo~ção_eletro!ítica ocorre dissolução do material dos eletrodos, o que pode acar-
reta! con~minaçao_da agua com metais pesados, o que inviabiliza seu emprego na clarifi-
caç.ao de agua destinada ao abastecimento público.
. A fl~tação por ar di~solvido por pressurização (FAD) é subdividida em: a) flotação por
ar d1ssolv1do com pressurização tOt I d fl _ . . · .
rização parcial do afl t ª
.a ~ uente, b) flotaçao por ar d1ssolv1do com pressu-
uen e, e e) flotaçao por d' 1 'd · da
Esta última técn·ica é. . · ar isso v, o com recirculação pressuriza ·
a mais apropriad ·
frágeis tais como no tr·at
· ' amento de ág
ª
no tratamento de afluentes que contêm flocos
I
(usualmente entre s e 1Oo/c) d · fl · ua, e corresponde à recirculação de uma parce a
por meio de bombas centr'1fºu o eG. uente dos flotadores ou dos filtros e sua pressurização,
entre 250 e soo kPa a ta d
gas. .
eralment
· e, ª
pressão na camara de saturação é man
t"
1
da
. , . , xa e apltcaçã . . . . .
tempo med10 de detença.. o é-. f . .o superf1c1al varia de 1 000 a 2 000 m3m-2d-1, eo
. .. tn er,or a 5 · . . · · · h ·
com diâmetro na faixa de 20 a 1oo . minutos. Na FAD, geralmente são formadas boi as
. Uma unidade de geração d ~m.
conJunto moto-bomba Para P e m'.crobof has na FAD é composta basicamente de um
saturaç- · ressur1zaçã d de
ao que recebe ar de um o a água de recirculação de uma camara
~~~e~~:al~e~te é responsável ta::Pressor e .de um dispositivo de
despressurizaçáO,
a carnara de flotação A ~ Pela mistura da recirculação com a água bruta
. Camara d · · de
e saturação deve conter dispos1t1vos
'
•' .
' l

V
{..
536 ..
·.•
e
\·.
' '
lntrouu~aci nu trnl ,n nw cJ óguo I Capitulo 12

segurança (válvulas de alívio e válvulas de retenção), de con·trol d - vazão e de controle


do nível de água.
os principais aspectos a serem considerados no projeto de sistemas de flotação por ar
dissolvido estão relacionados à quantidade de ar fornecido, 1aman~10 das bolhas, pressão
de trabalho na câmara de saturação, taxa de recirculaçao e taxa da cJplícaçao superficial. A
otimização destes parâmetros deve ser realizada por melo de ensaios cm escala-piloto, pois
dependem fundamentalmente das características do afluente, do tipo de produtos quími-
cos utilizados no tratamento, da concentração e do tamanho dos 'flocos (ou partículas) em
suspensão.
Embora, assim como a sedimentação, a flotaçao também requeira coagulação e
floculação prévia como etapas do tratamento de água, o tamanho dos flocos necessários
à flotação é usualmente inferior ao da sedimentaçãof o que possibilita a construção de
floculadores com menor tempo de detenção (em geral de 8 a 25 minutos) do que os
normalmente projetados para ETAs com decantadores (comumente da ordem de 20 a 40
minutos).
Outro aspecto muito importante que deve ser levado em conta no projeto de unida-
des de FAD é o dispositivo de "raspagem'' e de coleta de lodo flotado. Deve-se permitir a
maior acumulação possível de lodo na superfície, a fim de se obter maior tempo de drena-
gem da parte emersa. Por outro lado, o lodo deve ser raspado antes que a quantidade de
ar escapada comece a provocar a sedimentação do lodo desaerado, em forma de placas,
no momento em que ele for solicitado pelas laminas do raspador.
A remoção do lodo acumulado na superfície do flotador pode ser efetuada continua-
mente ou de forma intermitente, utilizando-se raspadores superficiais mecanizados, ou por
inundação. A remoção por inundação consiste no aumento do nível de água no interior da
câmara de flotação, através do fechamento da canalização de saída da mesma, até ocorrer
o extravasamento da água superficial, juntamente com o lodo, para o interior de canaletas
de coleta. O método de inundação não requer equipamentos especiais e minimiza os efei-
tos da raspagem do lodo sobre a qualidade da água tratada, mas provoca maior gasto de
água (acima de 2 % da vazão afluente), e o lodo removido apresentará baixa concentração
de sólidos (menos de 0,2%). Quanto aos raspadores mecanizados, os mais utilizados em
l unidades de flotação retangulares são:

• rapadores para a extensão total ou parcial do flotador;


• raspadores de borda.
Enquanto nos decantadores convencionais as taxas de escoamento superficial em
geral são menores que so m3m-2d-1 e jnferiores a 150 m3m. ='d·1 mesmo nos decantadores
de alta taxa, os flotadores são com~mente projetados para operar com taxas na faixa de
120 a 300 m3m-2d-1 ou até superiores. Além disso, como já comentado, a ffotação pode
Possibilitar a redução do consumo de pro1dutos químicos destinados à coagula~ão da água,
de rnodo que deve ser feito um estudo econômico para avaliar se essa economia compensa

537

á uo para consumo
humano
Abostoclmonto do g

. létrica assocra - . Éfunda ..


· do à flotação por ar dissolvido.
o do consumo de energia e . . a ão a capacidade de operaçao ~o sistema Por
o aument .bé que se leve em cons1der ç . FAD requer cuidados maiores do que o
mental tam m ma vez que a • . .
d f
parte os. un\.,.ionários da ETA, . . tação . Nas ETAs, a flotaçao, 1
'd dus de decan ocorre
. numa un •
1
ário à operação de uni a e d f'lt aça· .configurando, neste u timo caso, o que
necess , ·d des e I r 0 , - ,·
• dade independente ou nas um ~ 12 12 tem-se a representaçao esquemat1ca de urna
se denomina flotofiltração. Na Figura .
instalação de flotação.

Raspadores de lodo

Agua flotada

Câmara... de
(

saturaçao
Saída de água •
pressurizada

Floculadores
_ Fi~ura .12. 1O- Representação esquemática de uma ETA com flotação
Fonte: LEOPOLD (2006)

Neste tipo de instalação a água coagulada passa pelos floculadores e na saída destas
unidades existe um dispositivo que introduz.água pressurizada e libera mícrobolhas deª~·
que tendem a um movimento ascendente arrastando consigo os flocos forma dos na un1-
dade de floculação. A água pressurizada :em
de uma ctlmar.a onde é feita a saturação d~
água com ar, sob pressao - elevada. O ·líquido proveniente
· da ctlmara de saturação_e

~espressurizado em dispositivos especiais e misturado à água floculada, ocorrendo en~o a
1 liberação de microbolhas, que promovem a flotação de grande parte ôo material partlc~-

lado presente na água. A água pressurizada é recirculada contínuamente, numa vazao
1

1 que, em geral, equivale a valores da ordem de 5 a 1O o/o d~ vazão total tratada na ETA.
1

12.2.8 Filtração rápida

. Neste item São feitas consid -. . . - é abmidada


no Item 12.3.1. Nas ETAs a filt er~çoes r~lat1vas à filtração liápída; a filtraçae lenta _ de t@.S
~ ee:anismos: transporte 'd ê r~çao rápida em rneio grar:iulai:.# o .resultado da .ªça<0 mente
,., - -~ , ª er nc1a e des"' l'I '
na rrgl:.lfa 12.11. Os me --:-,- · _ f:Jr:enu1rnernto1,conforme rrnost,adG esque
matlca
rt'culas
can,srn 0 s ci .., · d ·r pa ,
·e ,rafilsporite sã0 r.e:spomsãveis por con uzi

538
lntrocJu~ao do tratamento de ~gua r Capítulo 12

Suspensas no líquido para as proximidades da superfície dos gra"'os do · (


_ . . meio granu 1ar co1eto-
res). Quando as partíc~las estao mu'.to próximas dos coletores, forças de ação superficial
atuam de modo a aderi-las à superfície dos mesmos ou de partículas pr · t d 'd
d· · A d'd 1 ev1amen e a er, as,
removendo-as · a água. me_ ª que prossegue a carreira de filtraçao, as partículas removi-
das acumulam-se na superfície dos col:tores, diminuindo o espaço intergranular e, conse-
qüentemente, aumentando as forças c1salhantes que atuam sobre material d
O
·t d
" . epos, a o.
Quando ~as ,orças atingem valores que superam as forças adesivas, as partículas são
desprendidas e arrastadas para outras camadas do filtro, onde O fenômeno novamente se
repete. Outro fator responsável pel? desprendimento é a colisão, que ocorre entre as partículas
suspensas no afluente e os depósitos formados sobre os coletores.

Partícula, dp
Transporte
. Coletor, dg

~ Linha de corrente •

da água

Figura 12.11 - Mecanismos de filtração


-Fonte: AMIRTHARAJAH (1988)

De modo geral, pode-se dizer que o transporte de partículas é um fenômeno físico,


sendo afetado principalmente pelos parâmetros que governam a transferência de massa,
tais como tamanho dos grãos do meio filtrante, taxa de filtração, temperatura da água,
densidade e tamanho das partículas suspensas no afluente. Ao contrário do transporte de
partículas, a aderência é basicamente um fenômeno qufmico, muito influenciado pelo tipo
e dosagem de coagulante aplicado no pré-tratamento e pelas características da água e do
meio filtrante.
A carreira de filtração é definida como o intervalo de tempo decorrido entre o momento
que um filtro é colocado em operação e o momento em que ele é retirado de operação
para limpeza. Conforme ilustrado na Figura 12.12, existem duas condições que exigem
retirar um filtro de operação: quando ele passa a produzir água que nao atende ao padrão
de Potabilidade; quando a perda de carga devida a retenção de impurezas atinge o valor
máximo estabelecido no projeto. Do ponto de vista técnico, a situação ideal para encerra-
~ento da carreira de filtração é aquela em que as duas condições-limite são atingidas
sirnultaneamente, mas em nenhuma hipótese deve-se permitir a distribuição de água que
não atende ao padrão de potabilidade, de modo ,que os fíltros devem ser sempre retirados
de operação quando houver dete~ioração da qualidade da água, mesmo que a perda de
carga máxima admissível seja ínferior à estabelecida em projeto.

'
539
.....
.. ara consumo humano
Abastecimento de água p

- - - - Situação
Perda de carga
- - - ideal
limite
- - - -
- - -
- - - - - (D Etapa inicial

- - -- ® Etapa intermediária
i- -- ....
@ Etapa do transpasse

® 0
(D /
/
/
/
Valor critico ,.

---
.............

Térruno da Duraçao-

carreira carreira (h)

Figura 12.12 - Estágios da filtração rápida

Para lavar um filtro, fecha-se a comporta ou registro de entrada de água, procedendo-se


à lavagem do filtro pela introdução de água (e ar, quando for o caso) no sentido ascen-
sional, com velocidade tal que promova a expansão do meio filtrante e que resulte em
forças de cisalhamento que superem as forças de adesão que mantêm as·partículas aderi-
das aos grãos do meio filtrante.
Os m~todos de lavagem de filtros rápidos podem ser classificados em quatro cate-

gor1as:

• lavagem exclusivamente com água;


• lavagem ~~~ água e lavagem auxiliar superficial ou subsuperficial;
• lavagem 1n1c1al com ar, seguida de lavagem com água;
• lavagem com ar e água simultaneamente.
12
b . Na Figura ·13 é mostrado o esquema de uma unidade de filtração que é composta
as1ctamente de uma com~orta de entrada, meio granular (camada filt;ante e eventual-
men e camada suporte) sistema de d .
distribuição de água (e ' t · 1 · renagem destinado à coleta da água filtrada e à
· · · . even ua mente ar) para lav d
lavagem. A água para limpeza dos filtr agem e ~alhas para coleta ~e água e
bombeamento direto ou d d. . ~s pode ser proveniente de reservatório elevado,
· · os ema1s filtros qu - · ETA
enquanto um deles está se d e sao mantidos em operação na 1i ,
n o Iavado.

540
lntroduçao ao tratamento de água I Capftulo 12

canal de distribuição
de água aos filtros rr----.--.-------
NA NA
_ romporta de
~ entrada valha de coleta de
. . __ __. n---...· __,,,, ..._......
- agua de lavagem
mE ~
01 Q)
~ 01
m m Entrada de água para
o > Areia lavagem do filtro
6? m
Q) - ' 1/
"O Q)
Q) "O Pedregulho r\.

-o m 11111111111111 Saída
-m :J
01 1---r-"'----P,.,,<~ de água
e . .m Dre"no . - - - - - . filtrada
m ID
u "O do filtro

Figura 12.13 - Esquema de u.m filtro com escoamento descendente


- Fonte: DI BERNARDO (1993)

A eficiência da filtração rápida em meio granular é afetada por muitas variáveis, desta-
cando-se: características do meio filtrante (espessura, massa específica, tamanho, forma e
distribuição de tamanhos dos grãos), características dos sólidos suspensos (concentração,
natureza, tamanho, forma e distribuição de tamanho das partículas), sistema de filtração
(taxa constante ou declinant:e, filtração ascendente ou descendente), taxa de filtração,
carga hidráulica disponível, sistema de lavagem do filtro e temperatura da água. Os filtros
devem ser projetados e operados para que as carreiras de filtração tenham duração mfnima
de 20 horas, pois carreiras curtas elevam os custos operacionais da ETA, uma vez que
aumentam o consumo de água destinado à lavagem dos filtros. Contudo, carreiras com
duração muito longa também devem ser evitadas, pois podem resultar no aumento da
força de aderência das impurezas aos grãos do meio filtrante, dificultando a remoção dos
sólidos durante a lavagem.

12.2.9 Desinfecção

A desinfecção da água tem caráter corretivo e preventivo. No primeiro caso, objetiva-se


ª eliminação de organismos patogênicos que possam estar presentes na água, iri1cluindo
bactérias, protozoários e vírus. Por outro lado, é mantido um residual do desinfetante na
água fornecida à população, para atuar preventivamente, caso ocorra alguma contaminação
na rede de distribAJição, e inditar a qualidade da água distribuída.

541
·dentificarem na água todos os organismos pote .
. . difi Idade em se l · . - , naalrn
oevido à tCU · nas ETAs é feita a determ1naçao do numero mais P , ente
. . à saúde humana, . . • . rovavel d
preJud1c1a1s · ... . ecessariamente bactérias patogen1cas, mas que servem e
'f que não sao n .. d d . cornou
coft orme5, . ·i· do para indicar a probab1l1da e . e contaminação biai ' . rn
A t indireto ut11za · ·· . . .- - ogiça %
parame riO. d entrada da rede de d1stnbu1çao nao devem apresentar bact · . · .
ostras coleta as na '" . _ , . .d er1as do
am f totais e em nenhuma s,tuaçao e perm1t1 a a presença de col'f .
grupo coI, ormes , . ..f I orrnes
·resume-se que a ausência 'de co I armes cor.responda à ause" .
1
termotoIeran tes. P . , _ . . nc1a de
. os pa+·ogênicos Contudo, ex1stem.patogenos. que sao ma,s resistentes à desini1 0 N

organism • · .,
.formes conforme pode ser observado na Figura 12.14 ao comparar a dos
ecça
que os Col1 r ,· • • • . ' o . . agem
relativa de um desinfetante nec~sána para 1nàtt~ar_1~O Yo de Eschen~h1a co/i, bactéria do
grupo coliformes termotolerantes usada como 1nd1c~dor de ~ontam1nação, com a dosa.
gemcorrespondente para inativação de outros organismos. A ngor, a ausência de bactéri
do grupo colíforme não assegura a qualidade bacteriológica da água. Na Tabela 12.6 tem-:
a estimativa da quantidade de alguns organismos patogênicos necessários para iniciar uma
enfermidade, ressaltando-se que os números são estimados, pois variam de acordo com a
resistência de cada pessoa.

Tabela 12.6 .. Quantidade de organismos para iniciar a enfermidade

Organismo Quantidade Nome da doença


Giardia 1amblia 10 Giardíase
Shigefla dysenteriae 10 Disenteria
Vibrio colerae 1.000 Cólera
Salmonella typhi 10.000 Febre tifóide
Cistos ~e ~nta~oeba histolytica 20 Disenteria amebiana
Escher1ch1a co/1 1x10 º
1
Gastroenterite

SaJ,:nonella typh;
ShJgella sone;
Staphylococus aureus
Escherfch;a coli
Coliformes totais
Streptocac~ fecalis
. Contag_enJ em p/aca pa"" N

PoJ1ov1rus urao
Rotavírus Bacilus .subtilis
Cfstos de Acanthamoeb·a castelan;
o
5
10 15
Dosagen1 reiat- · . .
Ft. · MI (Escher,ch;a co/j =1)
gura 12 14 . ·
· - Eftci"enc1a
· de inat· -
Fonte; DI BE correspo d
RNARDo (1 993)
l~açao de vá . . . ~ d gem
n ente à tnativação dnos tipos de m1crorganismos, em funçao da osa .
· e 100 % de E. Co/i

542
......
. .
~- .: . .. : 1
ln\{ ao tratamonto de Agua I Capítulo 12

, l1tTI u n,
i d seguintes mecanismos:
, t 1, n1 t li m com inativação de enzi-
' 11 , t lul r. itando a síntese de proteí-

u bjetiva é a eliminação dos


'' · denominada esterilização.
' n1 g ral, têm-se os oxidantes
'
..... LII •

r ido de hidrogênio e os rons


.,., fi i destacam-se o calor e a
it p la utilização de radiação
d gua. O transporte, manu-
. . .L 6

' "--' t'l•'.'\r nd o critérios de segurança

u d inf t nte mais comumente


......tl 11 rn . .._..L.t t r de vazamento de cloro
'
'P.l\' aeven, t nd r aos seguintes requisitos:

r n1 n1 p t gênicos;
im I n, tice e não causa-
m ndições segu-
i pli a ão;
f rma rápida e pre-

ur nd , desse modo,
t mln nas diferentes

'-'~• ,' ""mo tempo de contato


n tureza do agente ffsi~e
m formas esporulacl
d ntato e o tlp
n i lm nte por m~
tnd uar!o, dw .. ~ ,·~
o humano
ara ,onsurn
monto de água P
Abast e('-

- do cloro com algumas substancias, principal


do que a rea Ça0 rnent
pesquisas têm, m?stra a à formação de THM, compostos org~noclorados que Pod e •

substancias hum1cas, 1;v h na Além âe THM, podetn ser formados outros sub em
à saude uma · · ld h 1 . Proctu-
causar probl ema5 . h acetonitrilas, halocetonas, ác1 os a oacét1cos, clorof - .
- ção tais como aIO , bl' T. 'd 'f• en61 s
tos da e1ora , . t preJ'udiciais à saúde pu 1ca. ,em s1 o ver1 1cado que O T '
- - otenc1a 1men e . . · s HM
dentre outros, P - 'genos e as haloaceton1trilas podem ter ação mutagê· .
- tencíalmente cancen , . -. . . nica e
sao P.º _ - . t de tumores. contudo, os nscos san1tános, .eventualmente
induzir O desenvolv1men o . .. d ,.. asso-
. - b d t da cloração, podem ser muito .menores o que aqueles decorrent
ciados a su pro u_.o_5-aça- o hídrica
. a que _ a populaçao
,. . . , estará suJe1
. . .ta, caso a água na. . o es.
das doenças de ve1cu 1 . __ . , se1a
.d algum processo de desinfecçao. Assim, caso os subprodutos da cloração ap
submetI aa - . , , . ,. .. _ re-
sentem-se em concentração superior a max1ma perm1t1da, deve-se optar por outros méto-
dos de desinfecção.
Nas águas brutas que contêm precursores de formação de THM e outros compos-
tos organoclorados indesejados e que necessitam da oxidação através do emprego de
cloro, é comum a realização da pré-cloração seguida da aplicação de um sal de amônia
(usualmente sulfato de amônia ou cloreto de amônia) ou de solução de amônia, prove-
niente de amônia gasosa. As cloraminas resultantes da reação entre o cloro e a amônia
apresentam menor poder de desinfeéção qué Ócloro livre, mas possibilitam minimizar
aformação de compostos organoclorados. Na Figura 12.15 são mostrados carros-tanque
de cloro utilizados em ETAs de grande porte, cilindros de amônia e dosadores de
.
"
amon1a.

(a) carros-tanque de cloro . - .


Figu . (b) cilindros (e) dosadores de amônia
-=-- . ra 12.15 - Carros-tanque de 1
Fonte. 01BERNARDO ( ) e oro,
·r .
e, tndros de amônia e dosadores de amônia
1993

Na Portaria nº 518/2004 . . , .
após a desinfecção a , d do Ministerio da Saúde (Brasil 2004) é estabelecido que
d . ' agua eve conte , · . ' ' . nn
sen o obrigatória a ma t _ rum teor m1n1mo de cloro residual hvre de0,5 líl!:f"'
distribuição, recomend:udençao de, no mínimo, 0,2 mg/L em qualquer ponto da rede de
tempo de contato mínimo n o-se·
de que. a cl oraçao · realizada em pH inferior a $,O e em
- seia
Atualmente t 30 minutos.
cloro ' em crescido o i t . ·
rad· ~ara emprego em ETA n er_:s~e pelo estudo de deslnf tantes altert11at1vos ~o
iaçao ultravioleta ou a s. i
oz~n10, dióxido de cloro peróxido de hh:lrogênt@ 1
com inaçao de alguns destes não causam a forrn.açá@de

544
tntroduçao ao tratamento de tigua I Capltulo 12

THM, mesmo quando há quantidades apreciáveis de substâncias húmicas na água,


porém podem ser responsáveis pela formação de outras substâncias que também s~o
poter1cialmente tóxicas. Dentre os desinfetantes alternativos citados, o ozônio e o dió-
xido de doto são os que mais têm sido utilizados nas ETAs, em substituição ao cloro
gasoso. .-
Ao contrário do cloro, o ozônio e o dióxido de cloro devem
,. ~er produzidos
'
no local,de
uso. No estado puro o ozônio não P.Qde ser liquefeito

por aumento de pressão, devido aos
riscos de e~plosão. QprinGif)al processo de produção
.,._
de ozônio é por descarga elétrica com
a utilização de gás se€o, oxi9êni0,eu ar. O dióxido de cloro normalmente é obtido por meio
de solu,ees ~e clarito de sõqio e áéido clorídrico. Q residual de ozônio na água é pouco
persistente, enqwanto o afõxido de .cloro é bastante estável, o que é extremamente vanta-

joso, pa~a p~evenír eventuais contaminações que podem ocorrer no sistema de abasteci-
meflto cle água. N~s Figl!Jras 12.16 e 12.17 são mostradas instalações de geração de dióxido
de floro e de ozônio de ETAs.

(a) Bombonas de armazenamento de clorito de (b) Unidade de geração de dióxido de cloro


sódio e ácido clorídrico
Figura 12.16 - Sistema de geração de dióxido de cloro instalado numa ETA

t
.;;;, - ~
• 1

(a) Unidade de preparação de ar (b) Gerador de ozônio e dispositívp de controle


de voltagem e freqOêncla

Figura 12.17 - Sistema de geração de ozônio instalado f'iluma ETA: produção de ozônio a partir do ar
- (GapaGidacle de produção de 1 kg de ozônio/h) •

Fonte: DI BERNARDO (1993)

545

'
- -
água para co
nsumo humano
· e11to de
Abast ecH11

m equipamento utilizado em ETAs para P d .


1g mostra-se u d · h ro u21r O
Na Figura _12· . de sódio, a partir do sal e coz1n a. Essa técnica Pode s
0
desín1fetante h1poclor1t s ETAs de pequeno porte, nas quais também é u er
cialmente na · d suai a
empregada es~e rito de sódio comercial, transporta o em bombonas de 60 k
utíliza, ão de h1p0clo g
-o a 12º/o de NaCIO).
(s.o1uça
~~~~

• • .!
- t:lltt O • •t lÍÍ)\

-•

{a) Tanque com a salmoura (b) Painel de controle (e) Células de geração

Figura 12.18 - Equipamento utilizado na produção de hipoclorito de sódio a partir do sal de cozinha

.A desinfecção com radiação ultravioleta é um método que não requer a adição,de


prod'utos químicos na água, mas que não possibilita a manutenção de úm residu9I, para_
prevenir contaminações no sistema de distribuição. Uma alternativa a este problema é
fazer o uso combinado da radiação ultravioleta com outro tipo de desirafe\arnte. C9nsidera-se
que as alterações que ocorrem na matéria orgânica, pela ação 'da radiação ultravioleta} não
são prejudiciais à saúde humana nem ao meio ambiente. A radiação ultravioleta atua
principalmente nos ácidos nucléicos (ADN),.promovendo reações fotoquímicas QUe inati-
va~ os microrganismos. As lârupadas de baixa pre~s·ão de vapor de. mércúrio sãe as princi··
pais fontes de radiação ultravioleta utilizada na desinfecção de águas.

12.2.1 O Fluoretação

Normalmente O flúo , d' . ·li~ato


de sódio fl ' r e ª ic,onado à água na forma de ácido fluorsilícico, flu@rsi ·
. , uoreto de sódio fl , . . . . . rnerate
contra a decom . _ ou uoreto de calc10 (fluor1ta) para agir prieve1r1tiva . a
forma concentr:dos1çao
a ou d1lu1da d d
~º-
esmalte dos dentes. A aplicaçã~ do ácida pc;,ôe ser te1til nl·
,.J s f'j0rrna
mente, para fazer d ' epen endo da vazão e precisão dos dosau,ore · baS
dosadoras ou outroad' osagem, são utilizados dispositivos de nívêl cornlstantê, b@fl'l r.ei .
licatO d , . S ISpositivos f · .. 90 flQOfs1 ,.
e sod10, a do 'con arme ilustrado na Figur,a 12.19. N@caso te.
O dosad sagem geralme t , f · · t~icart:1en
f or consta de um . n e e e1ta a seco, volumétri<::a G>U @fiêl'llflíle . ano
1
undo, onde um disco rot:t'.o para disposição do produto G@rn f@rrmla t~@ ro,0-cõn1cra de
IVO transp0 rt . , awertU
ª continuamente o cornpost@pafa ª •

546
lntroduçao ao tratamento de água I Capítulo 12

descarga. O ajuste da dosagem é feito pelo controle do avanço da lâmina de regulagem


da abertura. O equipamento ,geralmente é montado sobre uma balança, para controle
do consumo. No Brasil, a fluoretação é prevista na Portaria nº 635ll5 do Ministério da
Saúde. Contudo, a utilida~e clo emprego de flúor em águas de abastecimento tem gerado
controvérsia entre especialistas, sendo alguns favoráveis e outros contrários à sua
utilização.

ÁGUA PARA
DJ!,UJ~O

AGUA S.O_B PRESSÃO


PARA FUN0J0NAMENTO
DOVENTURI

1 VENTURI COM.VAf.VULA
- DE RETENÇÃO

t
CAIXA OE NÍVEL
CONSTANTE ___......._,

SUCÇÃO
(a) Dosador de ácido fluorsllícico
'

,
HASTE DE - - - - - - - • '
,
SUSPENSÃO 1

• HASTE DO
AGITADOR
1 AGITADOR
REDUTOR
CORREIA "V" • •
' MOTOR

PARATANQUE
· . DF. DISSOLUÇÃO

(b) Dosador de f\uorsilicato de sódio

---. Figura 12.19 - Exemplos de dosadores de compostos de flúor


Fonte: DI BERNARDO (1993)

547
&&
_..._.,. ... s::-v ..

á ua para ,ons umo humano


.
Ab11t.1,1m1nto dl - 9

Estab1. 1•
1zaça. . o química
2
12... 1 1

das as etapas d e tratamento, a água distribuída


. . à população
, deve
t
Após passar por o . 'd d ara consumo humano vigente no pais (Portaria nº
d -
atender ao pa rao de potab1lt a . e p . f . á . . 'd
. tando valores 1n er1ores ao m x1mo perm1t1 o quan-
d0 esmo apresen .
518/2004). Contu , m água po de apresentar-se corrosiva ou incrustante e acarretar danos
to a contaminantes,~ . ~ 0
ilustrado na Figura 12.20.
na tubulação de distr1bu1çao, ta 1 com

- Figura 12.20 - Estado de um tubo utilizado na distribuição de água potável

Além da redução da área útil do tubo, o que aumenta a perda de carga na rede de
distribuição e, conseqüentemente, reduz a vazão veiculada, eventuais reduções no valor do
pH da água produzida na ETA dissolvem de modo descontrolado o material incrustado na
tubulação e o conduz aos ramais domiciliares, aumentando a turbidez e a cor da água,
causando inconvenientes à população. Mas não só as características organoléptícas da
água são afetadas. A dissolução do material incrustado também pode ser responsável pela
brusca elevação da concentração de determinados metais e outras substâncias na água,
em níveis superiores ao recomendado para consumo humano.
Enquanto a incrustação geralmente tem sua origem na distribuição de água com pH
eleva~o, a corrosão está associada a águas com valores de pH relativamente baixos e,
especialmente em tubulações metálicas, ela é responsável pelo aumento dos custos de
ma_nutenção da rede, devido aos gastos com reparos e substituição das tubulações e aces-.
sór,os, e também pelo aumento d - 'd
em. decorrência
. ·. do desgaste da tubª concentraçao
1 - de metais presentes na água consumi ta,
bílídade, deve-se garantir
. que a água u açao.dPortanto,
'd além de atender aos padrões.de
,. po tea- ·
t
para evitar problern 5 d pro uzi a nas ETAs seja estabilizada quirnu:::arnen ' n
ª
controle da corrosa- 0 1e:orre,nt~s da incrustação ou corrosão. Em geral, as téEAiC?S~a~ . j
es ao re ac,onad à tJfi···a
tubulação alteração da l"d
1 as escolha adequada do material que cor1s I w
res e aplic~ção de carna~~ª ade da água, emprego de proteção catódica, uso de·i' ifü!~-: : .
protetora o contr0 I d d ã ll'ie ·S-~0 ·a, . r
~ ncreto exige a estabilização da á · . e a corrosão de metal ou a · ~1 · ~ . • _ :. · :,
ltfosfato vem sendo estudad 0 gua no final do tratamento. Nos últimos anos;~ flliC~ •. ; .
· ~. Para ameniza bl · - e~ .. ~ '
rosao provocados pela água. r pro emas decorrentes dé incrus!f!tª 0 '·~ :;',
·,

'
.. ... .' .-.

548
'
Introdução ao tratamento de água I Capítulo 12

Em sistemas onde ocorre mistura da água tratada na ETA com a água de poços, os
problemas associados à corrosão e à incrustação podem ocorrer se qualquer das águas não
estiver estabilizada quimicamente.

12.3 Técnicas de tratamento de água

No Brasil, a prática consagrada para o tratamento de águas superficiais, na maioria


das situações, indui as seguintes etapas:

• clarificação, destinada a remover sólidos presentes na água. Esta etapa


ocorre nos decantadores, flotadores e filtros;
• desinfecção, destinada a inativar microrganismos patogênicos;
• fluoretação, para prevenção da cárie dentária infantil;
• estabilização química, para controle da corrosão e da incrustação da
água nas tubulações, concreto etc. Trata-se de uma preocupação eco-
nômica com a integridade das instalações domiciliares e do sistema de
distribuição.

Exjstem djversas técnicas de tratamento de água para abastecimento público, desta-


cando-se no Brasil aquelas denominadas tratamento convencional (ou de ciclo completo) e
a filtração direta, embora outras, como a filtração lenta, a flotação e a filtração em mem-
brana também sejam empregadas, mas em um número ainda relativamente pequeno de
ETAs. De maneira geral, podem-se distinguir as técnicas de tratamento de água em função
dos processos e operações unitárias que elas possuem, tal como mostrado na Figura 12.21,
onde não foi incluído a o pré-tratamento (tal como micropeneiramento), a oxidação/adsor-
ção, a estabilização química, a fluoretação, a desinfecção, que são etapas que podem ser
comuns a todas as técnicas.
Neste item, inicialmente faz-se a descrição geral destas diversas técnicas, e ao final são
feitas considerações sobre os limites de aplicação das mesmas, tendo em vista aspectos
relacionados à qualidade da água bruta, aos custos envolvidos no tratamento da água, à
va·zão a ser tratada e à complexidade operacional.

549
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3 ':r
e
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Coagulação Coagulação Coagulação Coagulação Coagulação Coagulação •o
:1

Pré-filtração
Floculação F\oculação Floculação
1

·U ,
UT
o Filtra_ção Filtração
Filtração Filtração Filtração Decantação Flotação
descendente ascendente (asaenêie:nte
....::::J.. e::::::: -

Filtração ação)
t;il
Filtração Filtração
descendente descendente
1 ' 1 '

1 ,
1 '
' I

Filtração lenta Filtração.em múltiplas Filtração direta Filtração)direta Filtração direta Dupla filtração Tratamento Tratamento
etapas (FiME) descendente desrendênte com ascendente convencional com flotação
floculação
''

- - ,., ..................._,_.......................................................-.---,---
a ;a a o :ses a o ut •• ou a 44cs os ss a a a o se ee se e a e• - ,' ... ~
Introdução ao tratamento de água I Capít ulo 12

12,.3.1 Filtr.a ção lenta e filtração em múltiplas etapas

Na filtração lenta o tratamento da água é feito por um processo biológico, não há


necessidade do emprego de coagulante químico, o que, aliado à menor freqüência de
limpeza dos filtros, simplifica a operação e facilita a utilização dessa técnica, mesm? e~
regiões mais remotas. Contudo, a implantação de ETAs com filtração lenta, em decorrenc1a
de os filtros serem operados com baixa t,axa de filtração, requer espaços físicos significativa-
mente maiores do que o das demais técnicas que também utilizam a filtração em areia, o
que pode dificultar sua construção em áreas urbanas adensadas. Contudo, quando se
considera a extensão do território brasileiro e se constata que a maior carência de água
potável é registrada nos municípios que apresentam menor número de habitantes (em
geral nas comunidades rurais), a filtração .lenta apresenta-se como uma alternativa de
tratamento de água com grande potencial para ser empregada em diversas locaridades do
País, quando a água bruta apresenta condições favoráveis ao emprego desta tecnologia,
como comentado no item 12.2. 7.
Na Figura 12.22 tem-.se a representação dos arranjos das unidades de pré-tratamento,
que podem anteceder a filtração lenta. Quando se emprega a pré-filtração, tem-se a
técnica denominada Filtração em Múltiplas Etapas (FiME). Na Figura 12.23 é ilustrado o
princípio de funcionamento da FiME, por meio da qual é feita a separação gradual do
material em suspensão presente na água bruta, fazendo-a passar por sucessivas unidades
de filtração, antes de a mesma ser encaminhada ao filtro lento. Nas Figuras 12.24, 12.25
e 12.26 mostram-se esquemas de unidades de pré-filtração dinâmica em pedregulho,
pré-filtro de pedregulho e da unidade de filtração lenta. Os pré-filtros de pedregulho
podem possuir escoamento descendente, horizontal ou ascendente, conforme ilustrado
na Figura 12.25. O pré-tratamento pela FiME deve ser previsto quando há excesso de
sólidos em suspensão na água bruta, visando a atenuar a sobrecarga dos filtros lentos,
cuja turbidez máxima do afluente, segundo diversos autores, não deve superar a 1o uT.
Assim, no tratamento de águas cuja turbidez pode ser elevada nos períodos de chuva ou
no caso de águas captadas de represas que podem apresentar florescimentos de algas, 0
pré-tratamento deve ser sempre previsto, do contrário as carreiras de filtração seriam
muito curtas, inviabilizando o emprego da filtração lenta. Na Figura 12.27 tem-se O es-
quema geral de uma instalação FiME e a fotografia de uma ETA que emprega esta técnica
de tratamento.
O filtro lento constitui-se basicamente de um tanque, onde é colocada areia com
espessura geralmente entre 0,90 e 1,20 m, sobre uma camada de pedregulho, com
espessura entre 0,20 e 0,45 m. Sob a camada de pedregulho tem-se o sistema de drena-
g.em, destinado a recolher a água filtrada, tal como mostrado esquematicamente na
Figura 12.26.

551
Abastecimento de igua para consumo humano

gua bruta
-
Decantação-plena
(lag~ cdtcanta-dor convencional Pré-filtração dinâmica
ou de alta axa}
1 em pedregulho .

Pré..filtra~o em pedregulho com escoamento horizontal,


ou vertical (ascendente ou descendente}

Filtração lenta

-- Figura 12.22 • Variantes de técnicas de tratamento que empregam a filtração lenta


Fonte: Df BERNARDO et ai. (1999)

Separação de material
gross§iro e redução de
organismos

Agua bruta

Água Água
Água
pré-filtrada pré-filtrada
Separação gradual de material fino e microrganismos filtrada

Figura 12.23 ~ Representação e .


Fonte: Dt BERNARDO et ai. (1999) squemáttca do tratamento da água por FiME

• 552
...-
Introdução ao tratamento de água I Capít ulo 12

Válvula de controle
da vazão afluente ~
Coletor
secundário
Câmara de coleta do
excesso ou de água de '/
lavagem superficial

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Desvio
(opcional)

Câmara de
chegada

Coletor principal
(Qa-Qe)
Excesso
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Qe
/ Efluente Válvula de controle da
vazão coletada

Figura 12.24 - Esquema de uma unidade de pré-filtração dinâmica em pedregulho


-Fonte: DI BERNARDO et ai. (1999)

Na filtração lenta geralmente são utilizadas areias com pequena granulometria, de


modo que ocorre considerável retenção de impurezas no topo da camada filtrante. Segun-
do Di Bernardo et ai. (1999), no início da filtração há predominância do mecanismo de
interceptação, que promove a remoção de partículas maiores que os vazios intergranulares,
o que contribui para a formação de uma camada biológica no topo do meio filtrante,
denominada de schmutzdecke (expressão alemã que significa '' camada de sujeira''). A
eficiência da filtração lenta depende dessa camada biológica, a qual normalmente demora
desde alguns dias até semanas para se formar, dependendo das características do afluente
e do meio filtrante, além das condições operacionais. Somente após o amadurecimento do
filtro, ou seja, do tempo necessário para a formação do schmutzdecke, é que há produção
de efluente com qualidade satisfatória. Deve-se esperar o amadurecimento do filtro, sem-
pre que ele for recolocado em operação após a limpeza da unidade de filtração lenta. A
atividade biológica é considerada a ação mais importante que ocorre na filtração lenta,
sendo mais pronunciada no topo do meio filtrante, porém se estendendo até cerca de 40
cm de profundidade. A camada biológica constitui-se por partículas ·inertes, matéfia orgâ-
nica e uma grande variedade de microrganismos, tais como bactérias, algas, protozoários e
metazoários, dentre outros, além de precipitados, tais como os de ferro e de manganês,
quando esses metais se encontram em est_ ado solúvel no afluente.
Uma das principais vantagens atribuídas ao filtro lento é a elevada eficiência de remoção
de organismos potencialmente transmissores de doenças. A remoçãQ> de bactérias patogênicas
evírus no filtro lento é atribuída a vários fatores, destacando-se: o decaimento natural, devido
O
filtro lento ser um ambiente relativamente hostil para esses, microrganismos; a predação; o
efeito biacida da radiação solar; e a adsorção no biofilme aderido ao meio filtrante.

553

AbastQclmento de água para consumo húmano

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Pré-filtro de
pedregulho com escoamento
descendente - PFPED
Descargas

Pré-filtro de pedregulho
com escoamento
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Descargas 1

Pré-filtro de pedregulho !
com escoamento ascendente
em câmaras em série· PFPAS

Canaleta
de entrada
Caixa de entrada
Válvulas para o Pedregulho Extravasar lateral
controle de
entrada de água ·.·.........
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Figura 12.25 . Esquema de pré-filtros de pedregulho


Fonte: DI BERNARDO et ai. (199g) ·,

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Abastecimento de água para cons

. . urezas vão sendo retidas no interior do meio filtrante r d


A medida que as 1mp . , e uzern~
se os vazios intergranulares por onde a águ~ pode passa~ o qu~ aumenta a perda de carga
. g'ida a perda de carga devida à retençao de impurezas estabelec·id ·
Quan do é at 1n ~ . . a ern
projeto, torna-se necessário retirar o filtro de opera_çao e fazer sua hmpeza. Como na filtração
lenta, a retenção de impurezas ocorre predominantemente no topo do meio filtrante
a limpeza do filtro é feita pela remoção de cerca de 2 cm da camada superior da ar . •
'lt d " 1
· era,
lavando-a posteriormente e recolocando-a no f I ro quan o, apos tmpezas sucessiva
espessura total da areia chegar a cerca de 60 cm. No caso d~ filtros que possuem pequ:~:
área em planta, essa limpeza é feita manualmente, como ilustrado na Figura 12.28. Em
filtros de grandes dimensões, pode ser necessário o emprego de equipamentos mecânicos
para remover a camada superior de areia. O intervalo de tempo decorrido entre as limpeza~
de um filtro caracteriza a duração da carreira de filtração, que na filtração lenta em geral é
superior a 2 meses, podendo chegar a valores bem superiores a esses, quando a água bruta
apresenta pouca matéria dissolvida e em suspensão.

Etapas de pré-tratamento Etapas de tratamento

Filtração lenta Desinfecção


Pré-filtração
Curso d'água Pré filtração ascendente em
dinâmica - PFD pedregulho - PFPA

Figura 12.27 - Esquema de .


-Fo-nte· DI BERNARDO uma instalação FiME
· et ai. (1999)

-=---- Figura 12 28 L'


Fonte: DI BERNARoo :t :~~~~~,manual de um filtro lento

556
lntroduçao ao tratamento de água I Capítulo 12

12.3.2 Filtração direta

Neste livro, o termo filtração direta inclui todas as técnicas de tratamento em que
filtros rápidos são as únicas unidades destinadas à remoção de sólidos présentes na água e
nas quais a água bruta é coagulada antes de ser encaminhada às unidades de filtração.
Assim, como técnica de tratamento por filtração direta, tem-se:

• filtração direta descendente: a água coagulada percorre a camada


filtrante de cima para baixo, e a água filtrada sai na parte inferior do
filtro;
• filtração direta descendente com floculação: semelhante ao anterior,
l com a diferença de que a água é coagulada e floculada antes de entrar
no filtro;
• filtração direta ascendente: a água coagulada percorre a camada fil-
trante de baixo para cima e a água filtrada sai na parte superior do filtro;
' • dupla filtração: a água coagulada passa por uma unidade de filtração
ascendente e depois por uma unidade de filtração descendente. Em
relação às demais técnicas de filtração direta, esta possibilita o trata-
mento de água bruta de pior qualidade, com maior quantidade de
material dissolvido e em suspensão devido a ação dos dois filtros.

Na Figura 12.29 tem-se a representação esquemática de instalações de filtração dire-


ta. A floculação pode ou não ser necessária na filtração direta descendente), dependendo
das características da água bruta. Quando predominam partículas com tamanho da ordem ·
de 1 µm na água bruta, em geral a filtração descendente não apresenta desempenho
satisfatório e, nesse caso, a floculação, ao promover o aumento do tamanho das partículas,
possibilita a melhoria do desempenho da ETA. Por outro lado, prever a construção dos
floculadores, quando eles são dispensáveis, aumenta desnecessariamente o custo da ETA.
Embora o ideal seja que o escoamento da água se faça no sentido dos maiores grãos
para os menores do meio filtrante, quando se tem a filtração em areia os grãos de maior
tamanho localizam-se sempre nas camadas inferiores, enquanto os menores grãos ficam
na superfície superior. Não é possível modificar esta disposição dos grãos de areia, pois
~uando os filtros rápidos (ascendentes ou descendentes) são lavados pela introdução de
~gua n_o fundo dos filtros, essa água expande o meio filtrante. e provoca uma estratifi:ação
.º meto granular, fazendo com que os grãos menores localizem-se na parte superior do
filtro. No caso da filtração descendente, essa disposição dos grãos não é a mais adequada,
e: em vista disso, em algumas ETAs são projetados meios filtrantes de dupla camada (antra-
cito + areia). O antraéito é um carvão com m_ enor densidade do que a areia e, deste modo,
duranteª lavagem do filtro os grãos de antracito mesA10 tendo tamanho maior do que os
da • I ,

areia, mantêm-se no topo do meio filtrante. Ressalta-se que o antrac,to é empregado


l
ªPenas na filtração descendente.

557 •
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Abasteclmen

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Desinfecaçao
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Canal de descarga
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(d) Dupla filtração
Figura 12.29 - Esquema em corte longitudinal de ETAs com filtraçao direta

558
Introdução ao tratamento de ~gua I Capítulo 12

Na filtração direta, as taxas de filtração usualmente variam entre 120 e 360 m3m-2d- 1,
sendo os valores da ordem de 120 m3m-2d-1 adotados no projeto das unidades de filtração
ascendente, enquanto as taxas mais elevadas referem-se à filtração direta descendente. Essas
taxas são muito superiores às normalmente empregadas no projeto de filtros lentos (3 a 6
m3m-2d-1). Em vista disso, a penetração de impurezas na filtração direta não fica restrita
apenas ao topo do meio filtrante, tal como ocorre na filtração lenta, atingindo profundidades
maiores. Em relação à filtração lenta, a filtração rápida exige maior controle operacional e
pessoal mais qualificado para sua operação. Por outro lado, permite tratar águas superficiais
com maior quantidade de material dissolvido e em suspensão, muitas vezes encontrados
mais próximos do centro de consumo. Diferentemente da filtração lenta, cujas carreiras de
filtração chegam a durar vários meses, na filtração rápida, usualmente os filtros precisam ser
lavados em inteNalos de 20 a 50 horas ou menos, dependendo das características da água
que chega ao filtro e das condições de operação. Como pode ser visto no Exemplo 12.1, a
filtração rápida ocupa áreas bem menores que a necessária à filtração lenta.

Exemplo 12.1

Calcular a área necessária para a construção de filtros, considerando a


filtração lenta, a filtração ascendente e a filtração descendente para a
vazão nominal de 3.600 m3/d. Adotar as taxas de filtração de 3, 120 e
3 2 1
360 m m- d- para os filtros lento, ascendente e descendente, respec-
tivamente .

Solução

A taxa de filtração (TF) corresponde à vazão (Q) dividida pela área total

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I ro ento.
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· TF 120(m. m d )
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559
umo humano
Abastecimento de água para cons

,w

nvencional e f lotaçao
12.3.3 Tratamento co

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ento descen en e. ' un çao de reter partículas ern
escoam .. 'd no s d e ca n ta do re _ fl sus.
nsão nao removi as s . Como a coagu 1açao, a oculação e a
pe .. ) , . d de ca n ta -
(ou a flotaçao ocor re m em u nid a d es co lo ca da s .
em serie, o esempenho 1nsatisfatórioçao
, d . h d d d d
uma determina a unidade influi no -desempen o e to as as ema1.s que esta-o . e
no . _ a Ju sa n t
d projeto e operaçao das ETAs, para e,
de mo o que g arantir a produçao de água que
atenda ao padrão de potabilidade, dev d d - ,
e ser a a atençao a ot'~m.1zaça- o do .
todo e não às unidades consideradas sistema como
isoladamente. Na Figura 12.30 é m
ostrado O
convencional, pode-se tratar águas com c
oncentraçoes de material d1ssolv1do e
relativamente altos em relação ao adm em suspensão
itido para a filtração lenta e para a fi
Quando os flocos formados no tratamen ltração direta.
to da água apresentam velocidade de
tação baixa, os decantadores podem não sedimen-
ser adequados para reter as impureza
acarretar sobrecarga de sólidos nos filtros s, e isso pode
que, em decorrência disso, irão se co
mente, exigindo lavagens freqüentes do lmatar rapida-
meio filtrante, com gasto excessivo d
lavagem . Nestas situações, pode ser mais e água para a
adequado projetar a ETA com flotado
· de decantadores. A flotação é especia res, ao invés
lmente indicada no tratamento de ág
altos de cor verdadeira e baixa turbidez uas com valores
e águas com concentrações elevadas
estas tipicamente conduzem à formação de algas, pois
de flocos com baixa velocidade de se

dimentação.

12.3.4 Filtração em membranas

.Na filtração em membranas, utiliza-se u


de filtração que per 't m m aterial semipermeável com m.icro abert
. . ' - . ura
mi e a remoçao de material particula 1

d1ssolv1das eíons dis 1 'd As d'f do micromoléculas, mo lécu-1ª s


so vi os. 1 e re n tes fo rm a s d e tra ta ' b ' -
naspodem ser comb ' d · m e n to p o r filtra ç ã o em mem ra
in .
o ratamente de á a as entre s1, tal como ilustrado na Figura 12 31 de modo avi·a-b'11I'2 r
t
abertura d f'lt _guas com valores de
tu rb id e z d a o
· ' ª
d
e I raçao das memb rd em d e a té 1 0 0 uT. O tamanho a
reversa A escolh d d
. · ª
t,cas da água a at membrana adequa d
ranas ecresce no sentido da microfi
.
ltra ç ão para a 05 m os
í
e
ser ra tad a a p a ra c a d a ap lica çã o d e p e n d e rá d ra cte r s-
ed as ca é
bombeado para m, d
o u1o s c o nte
ª
q
d
u a 1

id a de d es e jad a pa ra o e flu e n te fin al.
fl
O a ue
n te
através delas gerand
' 0 o pe rm e a
n
d
°as m e m b ra n a s, o q u e p e rm ite a p a ss a ge m
d a ág ua
d5
como concentrados. Este r º'. enquanto os contaminantes rejeitados sa...o co teta o .l
..'•
tangencial (cross f/ow). NaPFtcesso, ilust~ ão '.
ado na Figura 13.31, é conhecido co '
!

~ ; ~ernbrana . Na Figura 129~;ª ~ 2.32 e m o ~ltraÇáO •

mostrada a fotografia de um módulo .•.'


filtra ção ern membra . sao mostradas as faixas de aplicaç d e f 1 I ~ 1

na menci d ã o dos quatro proc


ona os na Figura 12.31.

560
-

Aplicação de coagulante
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I li descarga da água de lavagem -
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Figura 12.30 - Esquema em corte de uma ETA convencional @
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Partlcu.las Mlcromolé.culas dissolvidas
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dissolvidos
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Agua
tratada

Microfiltração Ultrafiltração Nanofiltração Osmose inversa

Figura 12.31 - RepreserJtação esquemática da filtração em membranas (à esquerda) e exemplo de



l combi'nação d~ diferentes métodos de filtração em membrana (à direita)
Fonte: DYNATEC (s.d.)

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Figura 12~32 - Módulo de filt·ra _..


Fonte: DYNATEC {s.d,) - çao em mem?rana

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. consumo humano
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. d abastecimento público a filtração em memb


d á destina a ao . . . . rana
No tratamento e gua á as salobras. Nas ETAs convenc1ona1s não se con
• 1 te para tratar gu se..
é utilizada especta men _ . especialmente cloretos, o que em geral é feito P
. ntraçao de sais, D d or
gue redução da conce . té.cnica relativamente cara. epen endo das caract
. a que é uma e..
meio da osmose revers , · · .t á passar por um pré-tratamento antes de ser en
á f bra ela necess1 ar . . d ca..
rfsticas da gua sa o , · é-tratamento pode const1tu1r-se e outras unidades d
.hd à ose reversa Este pr f'I - ) e
m1n
. ~ a a osm : f'lt
micro I raç , a
- o ultrafiltração ou nano I traçao , ou mesmo por urn
,

tratamento convenciona' 1· coagulação, floculação, decantação, filtração em areia


-

feito numa ETA com pré-e oraçao, , d d ·· '


,. ( over O excesso de cloro da agua que po e an1f1car a mern-
filtração e~ carvaod para rem ~eversa) filtração em cartucho com abertura de 5 mm para
brana do sistema e osmose ,· , ,
somente então passar pela osmose reversa.
A disposição final do concentrado dos ~essa!in}zad.ores por osmose r:ver~a .é u~ pro-
blema importante a ser considerado. Sua d1spos1çao direta no solo leva a sal1n1zaçao e à
infertilidade. Estudos alternativos indicam a possibilidade de se utilizar o concentrado na
alimentação de gado e na criação de camarão. Há também campos de pesquisa para
avaliar a capacidade de absorção de sal por determinadas espécies de planta e estudos da
possibilidade de empregar o concentrado na produção de hipoclorito de sódio (água sani-
Mria). ·
Nos últimos anos, o uso de membranas como tecnologia para o tratamento de águas
naturais, com vistas ao abastecimento público, tem conquistado espaço cada vez maior em
alguns países europeus e nos Estados Unidos, onde calculava-se que o mercado interno de
venda de membranas movimentaria cerca de 1,5 bilhões de dólares, em 2002. Entre as
vantagens recorrentemente mencionadas no emprego da filtração em membranas, encon-
tram-se:

~ ~aior facilidade de adequação aos padrões de potabilidade, havendo


1nd1cações de que pode tratar água com até 100 uT;
• eventualmente pode ser dispensado o emprego de coagulantes·
•. redução do trabalho do operador, em função da automatizaçã~ do
sistema de controle· I

•emtenor
d erreno; área de implantação, com redução dos custos de aquisição

• possibilidade de remoçã 0 d .
com eficiência su . , e contaminantes orgânicos e inorgânicos,
água. ª
per,or das técnicas tradicionais de tratamento de

.Naturalmente, a lógica que condu . -


funciona necessariamente d
co
.
ª
2
mesma forma B ·,
ªº
uso das membranas em países desenvolvidos nao
d ão
m os custos de operação da ETA no ras1 . Do ponto de vista financeiro, a re uç
os gastos com pessoal no Br ·1 . pode ser menos relevante no Brasil quando se compararn
as, e nos Estad U 'd ' . ·. o
os n, os ou em países europeus. Além disso,

564
Introdução ao tratamento de água I Cap
ítulo 12

consu rno de energia elétrica. aumenta, e os custos de aquisição e manutenção dest


são mais elevados no Brasil, ~ma vez que g a
· tecn o logia
rande pa~~ d_o material precisa ser impo
rtado.
por
outro lado, deve-se considerar que even
1· d -
rmicos pode imp ,car em re uçao os cust d
ª tual m1n1m 1zação do consu m o de reagentes
qu os operacionais de ETAs, principalmente
regiões isoladas, on de há gastos si·gn,·t·icat,·vo em
s com o frete de insumos. Étambém impo
ssaltar que a redução do uso de reagentes q rtante
uímicos torna o processo de tratamento m
~;pactante ao ambiente, pois pode implica enos
r eventualmente na redução significativa d
dução de lodo. a pro-

Flu1d Systems

(a) Pré-tr at am en to
(b) Membranas de osmose reversa
Figura 12.34 - Instalação de pré-tratam
ento da água bruta e sistema de osmos
e reversa
Um importante aspecto a ser considerad
o quando se estuda a viabilidade do emp
dessa tecnologia no Brasil refere-se à forma rego
ção de mão-de-obra a ser utilizada na op
das ETAs. Embora já se tenha mencionado eração
que em ETAs nas quais são utilizadas me
nas, há redução na carga de trabalho de mbra-
operadores, suas funções passam a ser
sofisticadas. Além de conhecimentos bási mais
cos de química e de princípios de filtraç
operadores precisam ser treinados sobre in ão, os
strumentação, uso de programas de com
dores específicos e calibragem de aparelho puta-
s de monitoração, que podem ser sofistic
Sabe-se, no entanto, que na maioria das ados.
Pouco qua 11·t· ETAs b rasileiras a mão-de-obra empregada é
1cada, sendo imprescindível um treiname · · o f unc,o
rnento d nto intenso, para garantir · na-
ª equado dos sistemas de filtração em membranas. A exp ·,. · · 1 t rn
rnostrado a existência de muitos problem e r,enc,a nacio.ra~ e_
as operacionais nos sistemas de dessah
Por osrnose reversa, freqüentemente asso n1zaçao
ciados à operação inadequada dos sistem
as.
'

565
-. de técnicas de tratamento
12.3.5 SeJeçao .

. tratamento visa remover da água os organismos patogênico


Basicamente, o . d . d' . . s e as
• · r. .. origânicas ou inorgânicas que po em ser preJu 1c1a1s à saúde hurn
su qu,m1cas . , . . . . ana.
Mas alem da preocupação sanitána, ~ exigido que a água seJa esteticamente agradável,
sendo necessário reduzir sua cor; turb1dez, odor~ ~a~~r, para ~ue aten~a aos requisitos
..
~n•m~~ .õ"igr"dos pela Portaria nº 518/2004 do M1n1ster10 da Saude (Brasil, 2004). Adi'C.IO-
naltrente, a água tratada deve ser químicamente estável, para que não provoque incrustação
OlJ corrosão excessiva na tubulação de distribuição.
Na Tabela 12.7 apresenta-se uma comparação de diversas técnicas de tratamento de
agua, onde se pode observar vantagens e desvantagens de cada uma delas.

Tabela 12.7 - Caracteristicas de algumas técnicas de tratamento de água


Técnica de tratamento
Parâmetro
Filtração lenta Filtração Filtração

Tratamento
direta direta convencional
- descendente ascendente
Simples Especializada Especializada Especializada
C ....Su'DO de Nufo
Baixo Baixo Alto
- 'a11te
a>acu
es.s:enaa à variação Baixa
<; ...ar :fade da água
, i...,.
Baixa Moderada Alta
L.. ·Dela 005 lhos Raspag.em da
Fluxo Fluxo Fluxo
camada supeficiaf ascendente ascendente ascendente
Usual limitar a Sem
pequenas Sem Sem
limitações limitações limitações
instalações
10 a 100 2 a 30 5 a 45 10 a 60
Grande Pequena Pequena Média
,l"L"'4
'1 .. •

~"" -.::.:'""f"~..... . •bruta é um dos p · · · t


ag · ·d
-:. -~~ .:a ~ e.a ae .ratament nna pa,s atores que devem ser considera os na
... :::::'"' ~ ..t:a C€".~ ao~ . o, sendo que o afluente às ETAs com filtração lenta ou
e~ ~ ... _.es ntarvaloresde p " d d ira
. .... ~:a.s, sg~...::ca.. arametros tais como turbidez cor ver a e ·
1
e-- ::. - , ~"'-amente inferi , ta-
' ..

.. -- '"'5 ::::~~ ~JTlp e- ores aos de aguas brutas que podem ser 1:ra
- ~ :.\..."'Qe ~ - .. m . Contudo d · · ada
-- ....-
"""" -'--~a L. ,..
·-'co::aaa ~.,. ífl .. • quan o ficar demonstrado que determrn
ais de uma t . . . . - ·,J de
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::: S::> "-:e ""~ ~ - ecn,ca, outros fatores tais como complextoa '
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· - ~ çao e de oper, - . ' 'de- •'
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~ rq . açao e porte da instalação devem ser consi .''

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tJe o ProJeto das c-rJ\ _ - . . • menta ~
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nao se restringe ao d1mensrona
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).

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566
!
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lntroduc;Ao ao tratamen
to de água I Capitu lo 12

'dades de tratamento. É im
dasuni prescindível a existência
con ven ie ntem · d de labo ratório b e m e q u ip
deárea 5 e nte p ro Je ta as p ara arm a do e
'd
ue sejam garanti as con d' - a ze namento e preparo de pr
1çoes adequa das de trab odutos qufmi-
cos, ~·am treinados para e alho para os funcionário
etes s 1 xercer as funções que lh s e que
'ódicos de capac1. taça- o e t 1• - es são designadas, preve
a ua izaçao prof 1' ss.1onal. ndo-se cursos
~~ brasileiras, que levam à pro_du Muitos problemas obse
rv ados nas
ç~o de ~gua q~e não ate
eao aumento dos custos nde ao padrão de potab
operac1ona1s, estao relac ilidade
de parte dos operadores. _ ion ados com o baixo nível de
qualificação
.
No processo de seleçao da
técnica de tratamento, d
nal das características da á eve-se considerar a varia
~ua bruta e não apenas ção sazo-
inada época do ano. Nao valores pontuais, restrito
h á c on s s a u m a d ete r-
mcnica, hav e nso em relação aos lim ites d
té I
endo va ores d1' st1
· ntos apr e aplicação de cada
esentados por diversos a
a classificação que consta na utores. Na Tabela 12 .8 te
norma da ABNT relativa m-se
relacionam-se os principais ao projeto de ETAs . Na T
parâmetros e respectivos abela 12 .9
literatura especializada par valores normalmente refe
a orientar a escolha do t renciados na
cimento público. Na Tabe ipo de tratamento de ág
la 12.1 O reproduzem-se ua para abaste-
mente à filtração direta, c as recomendações relati
onforme conclusões de va s especifica-
pesquisadores de cinco un uma rede de pesquisa c
iversidades brasileiras. omposta por

Tabela 12.8 - Classificaç


ão das águas
Característica básica
Tipo de água
A B
0805 C D
• média (mg/L)
• máxima (mg/L) < 1,5 1,5 a 2,5 2,5 a 4,0
3,0 4,0 > 4,0
Coliformes totais 6,0 > 6,0
• méd ia mensal (NMP/1 O
OmL) 5 0 a 1 0 0 100 a 5.000
• máximo (NMP/1 OOmL) 5 . 0 0 0 a 20.000 > 2 0 .0 0 0
pH > 100(*) > 5.000( **) > 20.000(** *)
5a9 -
Cloretos (mg/L) 5a9 5a9 3,8 a 10,3
Flu oretos (mg/L) < 50 50 a 2 5 0 250 a 600
< 1,5 1,5a3,0 > 600
Fonte: NBR12.216 da ABN > 3,0 -
T (199 2)
(*) em menos de 5% das a
mostras examina da s; ( *
5 % das amostras examina * ) em menos de 20 o/o d
das as amostras exa minad a
s ;( * * * ) em menos de

Pela definição da NBR 12


.216 (ABNT, 1992), tem
-se:
• água tipo A: águas s
uperficiais ou subterrâ
neas provenientes de
cias sanitari mente pro
9 t e g idas e que atendem ~ ~­ 1
dade, sendo requerido ao padrão de potab1l1
s apenas desinfecção -
•. água tipo B: águas s e correção de pH;
uperficiais ou subterr
cias não protegidas e âneas provenie.~tes d
que atendem ao pad e ba-
me io de tecnologia de rão de potabilidade,
t r a t a m e n t o que não ~or
exija coagulação quím
ica;

567
a a se a a a a a aa a

• Ab,.,teclmt nto cf·e .tgua p11,a con, omo homano

• água tipo C: águas superficiais provenientes de bacias não .


e que exijam tecnolog;as com coagulação, para atender ao Prote_g1das
potabilidade; Padrao de
• água tipo D: águas superfi'cíais de bacias não protegidas . .
5
poluição, e que requerem tratamentos especiais, para aten'd UJeitas à
drão de potabilidade. er Pa .. ªº
Tubera 12.9 - limites de aplicação de diferentes técnicas de tratament
da qualidade da água bruta o, em função
Valores máximos para a água bruta
Tfpo de tratamento
Turbide2:
(uT)
Cor Ferro Manganês
verdadeira total (mg/L)
NMP -
(uH) (mg/L)
coliformes1100 rnL
'

Filtraçao lenta
Totais Fecais -
10 5 1 0,2 -
Pré-flftro + fiftro lento 50 2.000 soo
10 5 0,5
'
F'ME
.

Filtração direta ascendente


100 10 3 0,5 1º·ººº
20.000
3.ooo
s.ooo
100 100 15 1,5
Dupla fiftração 200 5.000 1.000
150 15 2,5 20.000
Filtração direta descendente 25 25 2,5 5.000

- 2.500 soo
fjftraçã,o direta descendente 50 50 2,5 -
com floculação 5.000 1.000
Tratamento convencional** 250 * 2,5 - 20.000 5.000
Legenda; NMP (número mais provável)
*Depende do valor de turbidez, ** para águas que excedem os limites do tratamento convencional, este deverá ser
compfementado com tratamentos especiais, tais como pré-oxidação, ajuste de pH, aplicação de polímeros, utilização
de caNao ativado etc.

Dentre as técnicas mais utilizadas no tratamento de água para abastecimento público,


a filtração djreta é a que apresenta menor custo de implantação. Por outro lado, em geral
a filtração lenta é ma;s vantajosa do ponto de vista de operação e de manutenção, tanto no
que se refere aos menores custos quanto à maior simplicidade destas atividades. Contudo,
deve. .se levar em consideração que a filtração direta possibilita o tratamento de águas
brutas com maior quantidade de matéria em suspensão e substâncias dissolvidas do queª
., '
recomendada para o emprego da filtração lenta. Entretanto, se devido às caracter,sticas
ffslco..qufmicas e bacteriológicas da água bruta não for possível assegurar sua potabiliza~áo
por meio daqueJas tecnologias, faz-se necessário avaliar o.emprego do tratamento em·c1: 10
1
completo, que caracteriza as ETAs que possuem unidades de mistura rápida, floculaçao,
decantação (ou fJotação) e filtração.

tagens e desvantagens e que e/as possuem l1m1tes de aphcaçao. O desconhecimen · . ·lhlda

.:1
nao f~r a correta,~ 1nve~1mento pode ser e~ vao, pois a construçao de u~~ada à água ,,

garantia de produçao de agua potável. A técnica de tratamento deve ser apr:op t mente,
do manancial; além djsso, a ETA precisa ser projetada, construída e operada corre ª ,•
1
'
•'


568
lnt,oduçl)o ao tratamento de ~gua I Capitulo 12

Tabela 12.10 .. Parâmetros de qualidade da água bruta sugeridos para as tecnologias


de filtração direta . .
Tecnologf a de tratamento
rt 1 ?E & lF

Fiitração
E
a
.
caracterlstlcas da Filtração Dupla fiJtração Dupla filtração
Agua bruta direta direta
descendente ascendente (Pedregulho i + (Areia grossa t+
7 --'
fll -- s t ) ( J • sRi
areia ou CD .J-) areia ou CD ,!.)
•• J ••

90% ~ 10 90o/o ~ 10 90% s 100 90% ~ 50


rurbldez (uT) 95º/c, ~ 25 9So/o ~ 25 95°/o S 150 95% ~ 100
100% ~ 100 1OOo/o s 100 100% s; 200 100% ~ 150
90% ~ 20 90% s 20 90% S 50 90o/o S 50
cor verdadeira (uC) 95% ~ 25 95º/c, ~ 25 95% s 75 95°/o s 75
100°/o ~ 50 1OOo/o s 50 100% s 100 100% ~ 100
Sólrdos emsuspensão 95% ~ 25 95% s; 25 95% S 150 95% ~ 100
(rng/L) 100% :s; 100 100°/o S 100 100% s 200 100%~150
Collformes totais 1.000'1) 1.000~1)
(NMP/1 OOmL) s.000<0 5.ooo<l)
E. coll sooº'
(NMP/1 OOmL) SOOº' 1.000(1) 1.000°>
Densidade de algas
(UPA'mL)
soo soo 1.000 1.000
Taxa de filtração FAP: 80-180 FAAG: 120-240
1
(rn m d' 2 1 200-600 160-240
) FRD: 180-600<2> FRD: 200-600<2)
Nº de DFI durante a
carreira de filtração das NA ~4 ~4
filtros ascendentes
Taxa de aplicação de
água na interface NA ~ 600 ~ 600 ~ 600
3 2 1
durante as DFI (m m· d· )

Legenda: DFI -descarga de fundo Intermediária; FAAG - filtro som escoamento ascendente em areia grossa; FAP -filtro com escoamento
ascendente em pedregulho; FRD - filtro rápido descendente; CD - camada dupla de antracito + areia; NA - não se aplica.
Notas: 1. Limites mais elevados podem ser adotados com o emprego de pré-desinfecçao. 2. As taxas de filtração
rnals elevadas nessa faixa sao aplicáveis somente quando é utilizado melo fíltrante de dupla camada.
fonte: DI BERNARDO et ai. (2003)

Sempre que possível, a escolha da tecnologia de tratamento de água e a determinação


dos parametros de projeto e de operação das ETAs devem basear-se em investigações, em
laboratório e em instalações-piloto. Contudo, as investigações também devem ser rotirileiras
após a inauguração da ETA para que, quando necessário, possam ser feitas alterações nos
Par~metros operacionais, em decorrência da alteração da qualidade da água ,bruta.ao longo
do tempo. Em geral, as ETAs de ciclo completo podem ser convertidas sem ciifiauldades para
trat~mento por filtração direta, nos ·períodos em que .a,água bruta do manaFlcial apresentar
quah~ade compatível com esta tecnologia, o que possibJlita a redução do consumo de prociutos
químicos e menor geração de lodo. Entretanto, tal procedimento não é·indicado no caso de
ET~ que possuam decantador de manto de lodo, pois se houver deterioração repentina na
qualidade da água bruta, essas unidades de decantação, ao serem recolocadas em operação,

569
. . ua para consumo humano
Abastecimento de ág

ara apresentar desempenho satisfatório, 0 q


· ente longo P . ue
Ievam U.m tempo relat.
. 1vam d
d água pro uz, . 'da na ETA durante
. este 1nterva 1o.
ª .
1

mpromete a qualidade esquisas relacionadas ao tratamento de água Par


co . . · dedicam a P . . a
os prof1ss1ona1s
, bl'
que se
tão sempre a J
lmeiando O aperfeiçoamento ou o desenvolvimento

abastecimento pu . 1co es de á ua. 0 objetivo primordial é assegura_r a potabilidade da
das técnicas de tratamento~ g tudo é importante buscar alternativas de baixo custo
d. t 'bufda à populaçao. Con ' 1· - d ,á
água ,s r, . . .bjet1vo . .para via
. b'il'izar a universa .1zaçao o acesso. a gua em quan..
O
que atendam a es~e ' á . para satisfazer os fins a que se destina.
tidade e com qualidade necess rias

Referências e bibliografia consultada

ABICALIL, M. T. uma nova agenda para o saneamento. ln: SNIS (Org.). O pensamento do setor sa~eamen_ to
no Brasil: perspectivas futuras. PMSS - Programa de Modernização do Setor Saneamento. Secretaria Especial
de Desenvolvimento Urbano - SEDU/PR. Brasília, 2002.

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570
·-
Capítulo 13

Reservação

Márcia Maria Lara Pinto Coelho


Marcelo Libânio

13.1 Considerações iniciais

As unidades de reservação são tradicionalmente concebidas e operadas enfocando


como objetivos principais (i) a regularização entre as vazões de adução e de distribuição, (ii)
o condicionamento das pressões na rede de distribuição, bem como, quando necessário,
(iii) a reserva para combate a incêndios e outras situações emergenciais. A Figura 13.1 a
seguir ilustra em (a) e (b) os objetivos (i) e (ii), respectivamente, e em (c) a variação das
cargas piezométricas quando o reservatório está fora de operação.
Em relação ao primeiro objetivo, as unidades que antecedem o reservatório são usual-
mente dimensionadas para a vazão média do dia de maior consumo (Q 0 >c), produto da
cota per capita pela população de projeto, maximizada pelo coeficiente do dia de maior
consumo (k1). Uma vez que no dimensionamerito das redes de distribuição essa vazão
acresce-se do coeficiente da hora de maior consumo (k2), os reservatórios permitem que as
Uhidades precedentes apresentem dimensões mais econômicas compatíveis a vazões de
menor magnjtude.
Adicionalmente, uma vez que na maioria significativa dos sistemas de abastecimento
ª a~ução de água tratada ocorre por meio de instalações elevatórias, as unidades de reser-
v~çao permitem menores variações na vazão de recalque e o desenvolvimento de estraté-
;~as ~assfveis de reduzir o consumo de energia elétrica, freqüentemente interrompendo a
· uçao nos períodos do dia de maior·tarifa.


571
.....
Abastecimento de água para consumo humano

Reservatório -
de montante
L-..r---r--

• (a) Rese~atório atendendo


as vanações de consumo
Vazão do dia de maior consumo vazão da hora de maior consumo

Linha Piezomé1w
Para a · u,eq Linha piei. para a menor demanda
vazão fllédfa
-

Abert
{b) Reservatório controlando
as pressões
Fechado
-

~ ::::::::: : ::· :~Lin...:...: p:;ie;;zo~m~étri~·ca~p~


h.:.Ja .a~~-~a~me~n~or~de::_!!m~an~da~-----_
Reservatório - Linha Piez
de montante · Para a maior"
vemanda

aoa
---- -·
t:1.--.11 ]
aoa aaa e ,
ºªª [: 1,
ªªª
1--1ª
~li
ªª ~~~ 1 , (e) Sistema funcio.n~ndo
sem o reservatono
Aberto
-
Figura 13.1 - Algumas finalidades da reservação

Vale mencionar que os gastos com energia elétrica despendem de 12 a 2·oo/cº• atingindo
no
até 25%, em alguns casos, da arrecadaçao - dos sistemas
. . ·
de abastec,men to de água , astos
País, constituindo-se no segundo insumo mais importante, superado apenas pe1 5!ções º
com pessoal. Estima-se que 95% deste consumo de energia elétrica advenha das eão dos
de recalque, e, neste contexto, têm sido desenvolvidas estratégias para, em funçdados,
níveis dos reservatórios e das pressões nas redes de distribuição aos mesmos asso
reduzir o tempo de funcionamento dos conjuntos elevatórios. . . eressante
Com o mesmo propósito de minimizar o dispêndio de energia ~létnca, ,nt ara duas
alternativa na concepção dos sistemas de abastecimento de água foi adotada P (lG!uçáo
cidades de médio porte da Bahia. Partindo da premissa de elevar a capacidade de::afiou-se •.
.

em 20%, para que a adutora de recalque funcione diariamente 20 h_oras, um ponto


'

.
economicamente a alternativa da implantação de uma unidade de reservaçao em .'••
..•;,,,,
i~
.k.
... ~~,
572 . •·.':~
·~
~-------------------------~~
Reservação I Capftulo 13

elevado da adutora de água bruta e, no segundo caso, da adutora de água tratada. Esta
unidade, denominada reservatório pulmão, permitiria a adução por gravidade com a
conseqüente paralisação do recalque nos períodos de maior custo da tarifa de energia
elétrica. Esta concepção mostrou-se vantajosa quando cotejada ao tradicional funciona-
mento de 24 horas da instalação elevatória. O aumento da vazão aduzida não acarretou
alteração nos diametros das duas adutoras (extensão de 17 e 7 km), estimando redução
dos gastos de energia elétrica para os dois sistemas de 42 e 25 % e do investimento total
de 24,2 e 2,4 o/o.
Em perspectiva semelhante as unidades de reservação, prestam-se também a assegurar
O abastecimento em situações emergenciais, motivadas por incêndios ou paralisações do

abastecimento decorrentes de eventuais manutenções das demais unidades integrantes


do sistema. Tal função cresce em importância nos EUA, Canadá, e, em alguns países euro-
peus, nos quais não se empregam reservatórios domiciliares.

13.2 Tipos de reservatórios

Fundamentalmente, os reservatórios podem ser classificados quanto às localizações


no sistema de abastecimento e no terreno, quanto à forma e o material de construção da
unidade propriamente dita, conforme exposto nos subitens seguintes.

13.2.1 Localização no sistema

Segundo a Norma brasileira NBR 12.217/94, as unidades de reservação podem ser


instaladas a montante ou a jusante da rede de distribuição. Os reservatórios de montante
sempre fornecem água à rede e consistem na alternativa mais extensivamente utilizada nos
sistemas de abastecimento do País. Dependendo da extensão da rede, este tipo de reserva-
tório tende a favorecer a uma variação acentuada nas cargas piezométricas nas extremidades
das redes de distribuição devido à redução da demanda, por essa razão a localização ideal
desse tipo de reservatório é próxima ao centro de consumo. A Figura 13.2 apresenta dese-
nho esquemático de reservatório de distribuição de montante, o plano de carga estático e
as linhas piezométricas referentes às demandas da rede de distribuição, evidenciando a
variação da pressão na extremidade da rede. Em função da topografia da cidade, pode
h~ver necessidade da utilização de um segundo reservatório objetivando minimizar as pres-
soes nas áreas de menor cota, delineando as denominadas zonas de pressão.

573
Abasteclmento de .água para consumo humano

Plano de carga estático


-
·-- . ------ enor demanda
-- -..!!~~~ f!!.ezométni ·------ -
Reservatório -- ca Para a rna1· Variação
de montante - º' demanda da pressão

Pressão
DOO -,
e
e
)
Pressão
estática
l J
DOO DOO [ 1
[

1
:J
dinâmica
mfni'ma
[
[
1
.: J C]QQ EJ'DD [: 1
1
1 1
.[
,e orno
J
]
GJD.D [
rnno
J
J

Figura 13.2 ... Desenho esquemático típico de um reservatório de montante

Alternativamente, as unidades de reservação podem ser instaladas a jusante da rede


de distribuição, fornecendo ou recebendo água, respectivamente nos períodos de maior
ou m·enor demanda. Como durante determinados períodos do dia a estas unidades aflui
apenas parcela da vazão tratada são também denominados de reservatórios de sobra
e, conseqüentemente, através de uma única tubulação a água aflui ou eflui da unidade.
A Figura 13.3 apresenta configuração típica para os reservatórios de jusante, e a Figura
13.4 a inter-relação, em termos da declividade da linha piezométrica, entre duas unida-
des de reservação.

Variação ------ - - - - ------ Linha piezoméfrica na hora d


----- ------------ e consumo nulo
da altura --- --------- -·--
manométrica
.-....... ' ' ' ------ ----- --- -------
....

.. --- _.,,. ., , ,-'~---:=::::::=-J


.
: ........
~........
'

...-,:.~@O
...~--......~0 {{\OI'
-
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,i, ri}'f\C;,\J.
:
!'
..
4
- - - - -
- - - - .... _ - - -

-------------- ,,,,,,-

~"~"ª \
- ~ - - - J.•..l , . .
__ ,.. ... - - 1'\10~
,(,.1.
'

i

••
Üt\"i p\e?O Reservatório

•••

d9J·usante

••
DOO


••
•• J
••


•••

- ~• a >

figura 13.3 - Desenho esquemático típico de um reservatório de Jusante

574 .' .'


'
Reservação l Capítulo 13

Linha
~==--te:=:::-------___ __ ___ ___piezométrica
_________na hora de consumo nulo
_____
- -... --
~~
------ ------- ----------------
... _.. . -- - - ----- -,4 ~==---f
-----,_
- - - - - --- --- ....... ____ __ ___ __ ___ - --- ---
-------u-mõ~rno
---na- -h-º'""
~ de cons
étr\ca
L\nna p\e1.om
Resecvatório I DOO
de montante 1 Reservatório
DOO DOO 1 1
1 1 de jusante
1
DOO 1
DOO DOO 1
1

Figura 13.4 - Desenho esquemático de dois reservatórios de montante e jusante

13.2.2 Localização no terreno

Os reservatórios podem ser elevados, apoiados, semi-enterrados e enterrados, conforme ·


apresentado na Figura 13.5. Os reservatórios elevados apresentam laje de fundo em
cota superior à do terreno, usualmente de menores dimensões, e objetivam primordial-
mente condicionar as pressões dinâmicas nas áreas de maior cota topográfica. Em muitos
sistemas de abastecimento, principalmente nas cidades mais planas, o reservatório elevado
é freqüentemente construído nas proximidades de uma outra unidade de reservação,
enterrada ou apoiada, com o intuito de otimizar a operação. Nestes casos, a adução ao
reservatório elevado ocorre a partir desta unidade, reduzindo o dispêndio de energia elétrica,
pois o conjunto elevatório é dimensionamento para uma menor altura manométrica, pela
· redução do desnível geométrico e do comprimento da tubulação de recalque .
.

- l
J

Elevado Stand-plpe Semi-enterrado ApQlado



Enterrado •

Figura 13.5 - Tipos de reservatórios

575

to de água para consu mo humano
Aba.stedmen

. de .implanta do5 passam a se constituir


. pontos
d de referência
N ( ·idades ou bairros on . a·is extensivamente emprega a na construção
asn ·ir dnca, a m . . '
e aprese tam-se na forma d ci· en ou· de tu11p • a· A Figura 13.6 mostra
• . a fotografia de. urn
. át'ica, do tipo stan f..p,p ' de tu 11pa,
pnsm • construído nas prox1m1dades
. de uma unidade
eservatório elevado em orma 'dade de médio porte. Na Figura 1~· 7 é apresen..
r . ntro de uma c1 'd d
enterrada
· o projeto localizado no ce .
'. de um rese rvatór10 e eva o,1 d metálico de 50 m3 de capac1 a e.
tado

'
'

576
Reservaçao I Capítulo 13
'

J
-
- Na mã,c. 894 m
, ,

l 1

l;

) :
• 1

1
IJ
1

11
1
g
1 I'
~
1

1
' .l
1 •
11

:

1
l

Corte BB CorteAA

'

Descarga
Ji'=!t~~~§:${-1$~
CA1>_N.3º°
1
--• Drenagem pluvial

e- Entrada

Planta
Figura 13.7 - Reservatório elevado metálico (V=50 m3)

577
o humano
ara ,onsurn
to de 6gUI p
Abasteclm•"

~ .
do
s reservator1os
13,2,3 formas

. há ampla gam d
t rrados semi-enterrados e apoiados,
atór1os en e ' a ef
Para os reserv , lares e retangulares. Para um mesmo volume as prime· or..
· ando as c1rcu , . ' irashã0
mas, predom1n ri·mento das paredes, e as ultimas favorecem a modula ..
tar menor comp A. - Çao do
de apresen .. a implantação em etapas. exceçao dos reservatórios ele d
·r

· e de reservaçao pa , , . va os
vou~
1 · lares comumente são construidas com um m1n1mo de dois com ·:
as unidades retangu
. f
~ d d d , Parti-
com extravasares e tubulaçoes e entra a, e sa1da e descarga . d
mentes cont guos ,,- .. _ . 1n e.
. . permitindo por ocas1ao das limpezas que as descargas de fundo se suced
pen dent es , . d I am
sem a paralisação do abastecimento. Para as unida .es retangu ar:s, constituídas de dois
módulos, 0 menor comprimento de. paredes será obt1~0 ~ara :el~çao 3/4 entre a largurae
comprimento. Nos reservatórios orculares a relaçao 1guahtána entre o diâmetro esu
O
altura produz mais economia, quando considerado as áreas de parede, lajes de fundo ed:
cobertura. As alturas das lâminas d'água variam entre 2,5 e 7,0 m, normalmente, depen-
dendo do volume do reservatório, conforme apresentado no Quadro 13.1:

Quadro 13.1 - Indicações para a altura da lâmina de água em reservatório


Volume (m 3) Altura da lâmina d'água (m)
até 3.500 2 I 5 a 3 ,5
3.500 a 15.000 . 3 5 5
acima de 15.000 ª
, a 7,0
5,0 ,0
Fonte: TWORT et ai. (2000)

13.2.4 Material de construção

Embora ampla gama de mat . .


de reservação os reservató . d eriais. possa ser empregada na construção das unidades
, rios e maior port - .
armado e, menos freqüent e sao usualmente construídos de concreto
aimente os reservatórios el emente
d ' aço ' alve · ·
naria estrutural e concreto pretendido. Espec1- ·
armad a, f'b .
1 ra de vidro açoeva os
d.de menor rt. - ,
po e sao tambem construídos em argamassa .
Acobertura da , . . e ma eira.
animais e unidade de reservaç- d . .
- corpos estranhos Fr .. ao eve impedir a penetração de água de chuva,
Poe-se camad . . equentement . d'15..
e I ataç..
ª
efeitos d d'I de brita ou arg'ila . e, em reservatórios de concreto armado,
expandida b · · Os
realizada t · ªº
nos períodos m .
· ·· a ravés deªbertura de no a,s quent
so re a laJe de cobertura para reduzir
d 5er
. es o ano. A inspeção da unidade deve
mínimo 0,60 m de lado. . .
1
:

578
Reservação I Capítulo 13

13.3 Volumes de reservação

o volume de reservação constitui na soma d'os volumes úteis de todas unidades de


uma determinada zona de pressão ou do sistema de abastecimento como um todo. O
volume útil· de cada unidade refere-se aquele compreendido entre os níveis máximo e
mínimo do reservatório. Estes correspondem, respectivamente, ao maior nível passível de
ser atingido em condições normais de operação e à lâmina d' água mínima para evitar
vórtices, cavitação ou arraste dos sedimentos depositados no fundo da unidade.
A determinação do volume de reservação deve se basear no consumo da comunidade
abastecida e na adução da água tratada, assim como exemplificado no Quadro 13.2.

Quadro 13.2 - Determinação do volume útil de reservação


Tempo Consumo Adução Déficit Saldo
h
3
m /h 3
m /h m3 m3
1 70 100 -30
2 60 100 -40
3 55 100 -45
4 54 100 -46
5 70 100 -30
6 79 100 -21
7 93 100 -7
8 100 100 o
9 128 100 28
10 140 100 40
11 148 100 48
12 150 • 100 50
13 145 100 45
14 • 138 100 38
15 125 100 25
16 120 100 20
17 11 O 100 10
18 100 100 o
19 98 100 -2
20 95 100 -5
21 88 100 -12
22 83 100 -17
23 76 100 -24
24 75 100 -25
- Média= 100 Total= 304 Total=, 304
'

1
1
1
1

579
O humano
á ua para consum
Abastecimento de g

. te os dados e cálculos apresentados no Quadr


ta graf1camen o
A Figura 13.9 represen _ d de 13 mil habitantes, consumo per capita de 150
laçao da or em . . .
13 .2, típica de uma
.
popu .
do dia (k 1) e a
d hora (kz) de matar consumo 1gua1s a de 1,2 e 1 5
, d d - . 1 ,'
Uhab.dia e coeficientes f ·onamento continuo a a uçao, 1gua a 1oo m3Jh
. 'derando o unct I d .
respectivamente, cons1 d que nos instantes t 1 e t2 por vo ta as 8 e 18 horas
Da análise desta figura depreen ed-se ' gua iguala-se à vazão aduzida e neste intervalo ~
. a demanda e a d' d .
respectivamente . . d duça... o Para a demanda no ta e maior consumo se
- . O déf1c1t a a ·· , . , . '
reservatório compensa • , exatamente o necessar10, as are,as acima e abaixo da
515
o volume de reservaçã? d~ Ctemaoes dados de consumo diário, a determinação do volume
d -- rão 1gua1s om
linha de a uçao se • • r meio do diagrama de massa apresentado na Figura 13 g
d reservação pode se rea1,zar po d d ..
e · b d ·parti·r da reta de adução acumula a e a curva do consumo
o mesmo é ela ora o a . . .
. 'd'
acumulado, co1nc1 1n o d na extremidade ' concernentes ao dia de maior consumo.
_ Por meio
· tes à curva do consumo acumulado paralelas à reta da aduçao
.as tangen . nos pontos de ,
d
máximo e mínimo, a distân~ia entre as duas tangentes ~aralela ao eixo das ordenadas sera
a capacidade do reservatório, correspondente .ª 304 m . , . ,
Principalmente nos sistemas de abastecimento de pequeno e med10 portes e co-
mum o funcionamento do sistema de produção por um período da ordem de 16 a 20
horas. Como conseqüência a adução de água tratada é intermitente, permitindo reduzir
custo de energia elétrica e de pessoal. Neste caso o excedente do volume aduzido deverá
ser igual ao déficit verificado durante o período de paralisação da adução. O Quadro
13.3 apresenta duas simulações para adução, ambas considerando um período igual a 1

16 horas de funcionamento e uma comunidade cujo consumo é o mesmo daquele apre-


sentado no quadro anterior. Assim, a vazão aduzida nas 16 horas de funcionamento
deverá ser maior para compensar o tempo em que estará paralisada, ou seja, 24/16 vezes
a vazão com funcionamento contínuo. A adução na primeira simulação tem início às
8horas e a segunda às 4 horas, resultando, por isso, diferentes volumes de reservação,
556 m3 e 602 m3, respectivamente.
Similarmente à adução contí •
. nua, o vo1ume de reservação pode ser também determi-
nado por meio do diagrama de . · .
la - 1 d Q massa apresentado na Figura 13 1O representando a s1mu-
çao o , uadro 13.3. O volume d - , . ' . 1
correspondentes ao fd e r~se~açao sera o somatório das ordenadas C2 e C .,.
F .. s per o os de paralisaçao da adução
requentemente, na implanta - d . .
mo. Nestas circunstân · çao e novos sistemas não se dispõe da curva de consu-
·1 c1as, a curva da Figu 13 8 ó'd
' ustrada na Figura 13 11 ra · pode ser aproximada de uma sen I e,
· , representando a de
compreendido entre oe 12 h
d d'
man a no 1a de maior consumo. No per o
f do
0
12 horas restantes. oras, consumo supera a adução e o oposto se sucede nas

580
.. .

Reservaçao I Capítulo 13


140
..

•'

o.
•1"1
N EnGbenaa
'
~ 80
• 1

, 60-1- -
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1 1
O+-~---~-,-~-..-~.....,_~-r-~-..-~-i,-~-.-~....-~~·..----.,.......~
o 2 4 6 8 1O 12 14 16 18 20 22 24

Figura 13.8 - Curva de consumo típica para adução contínua


·'

.2600.. •

.
' 1

2400, 1 l 1 1
• 1 1
1

-
1
1 1 1 1 1
2200 • Enchendd
C') 1
1
-·e E 200·0
.êl>
1800
..
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1• 1 1

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Adu9ª~.. ~q~,1114la .~, ~ .. Q-fga~idade·__ :
' 1
100·0
! 1 Esvaziando I ..:•.. . ', do reservatõ.no
," .,. ~ . 1
=~01''nilt: t· • • 1
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ao·o.
1
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1 " oasurflo;i: · •
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600 l ;a.p.urpulªct • 1
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. Ench·en·da 1
l• l ·,
400·· ~
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200\ • 1
1
1 '1
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o • • 't1

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•'' 'f2 ·
o 2 4 6 ·a 10 12,. . 14 '16 ·1s- ~20 •
'
~ ·' 24·
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-- ~'}

; Temp_p .pçras) · ·, . _./~&~~da~


Figura 13.9 - Diagrama de massa pà~á d~termina~ão do volumê;9..e r~ser:w~ã·e>. Áar~(aãu~ão .eontCraoa
-..: . ..,..,

.. •.

•• •
.. ' ' •
•' ..- . r'
' •

,
. ' ·-
• 1

• , .

• ••
•• ,. - ,
•'


,
Ab·asteclmento de égua para eonsumo
huma .no

Quadro 13.3 - Det erminar~ão d o volume


ú ti l d e reservação
Simulação 1
Tempo eonsumO Adu ra.,,w o Déficit Saldo
Simulação
2
h m1/h m3/h m3/h 3 Adução Déficit
m /h m3/h
1 70 o m3/h
-70
2 60 o O
-60 --70
3 55 O O
-55 -60
4 54 O O
..54 · .. 55
5 70 150
O -70
6 79 150 96
O -79
7 93 150 80
O -93
8 100 150 71
150
9 128 50 150 57
150
10 140 150
22 150 so
11 148 10 150 22
150
12 150 2 150 10
150
13 145 150 o 1.,5 0 2
14 138 5 o
15 150 150
125 150 12 150 5
16 120 25 12
17 150 150
110 150 30 150 25
18 100 40 30
19 150 150
98 150 50 150 40
20 95 52 50
21 150 150
88 150 55 o 52
22 83 62 -95
23 76
150 o -88
150 67 o
24 75 -83
o 74 o
- Total 2.400 -75 -76
2.400 -556 o -75
556 2.400 -602 602
A equação da senóide para o con
sumo de água pode ser represe
13 .1, sendo o último termo corres ntada pela Equação
pondente à vazão aduzida:
Q == A sen bt + k Qmédio
1 1

b=n/12
(13.1)
A::: k,k2Qmédio -k,Qmédio ::: k,Qméd/o
(k 2
-1)
Em que:

Q : Consumo, em m3/h;

Omédio: ~azão média, corres


per capita, em m3/h· pondente ao produto da popula
, ção pela vazão
t : Tempo, em h;
,
A: Amplitude da senóide, em m

k,: Coeficiente do dia de maior ~
onsumo·
k2: Coeficiente da hora de maior con
sum~. '

l
'
i
{
. 1
582 .•

1
. JII
Reservaçao I Capitulo 13

Tempo de adução
2800
--
1


, 1
1

2400
Ca~ acida je do / ~ ....-
l/ C2
,..... '
resE rvaró ·io=C· + C2
- 2000 / ~
1 "'... _ ... V /
~


1

~ 1600 - - .. - ' .. -
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·, v / i
1200 / / 1
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800 • ~ \.I ./ •
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400
Esva~ .iando
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1
1
1

o 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
Tempo (horas)
Figura 13.1 O- Diagrama de massa para determ
inação do volume de reservação com adução in
termitente

21t/b

1 6 0 - r - - - ~ ~,-~ ~ ~ - - - - - ~ ~ - - ~
~---
140 -

,.......,
120 - - ... "Esv aziando -
• .e
:::J 100
-

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l('Q 80
Enc endo
j 60
40 ~- ~ ~ ~ - ; - ~ ~ ~ ~ + - - ~ ~ - -- t-~
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20 --1--~ ~ ~ - - '- ~ ~ ~ ~ + - ~ ~ ~ -
+-~ ~ ~ ~1
Q -J - - - - ~ ~ ~ 4 - ~ ~ ~ -
- 4----,~~~-t-~~~-
. 1
o 6 •

12 18 24

• Tempo (h)
Figura 13.11 - Representação senoidal da cu
rva de consumo de água de um sistema
. Pode-se concluir pela Figura 1.3.11 que o vo
lume de reservação deve ser no mínimo
igual à área em que a vazão aduzida excede ao
e;onsumo, objetivando armazenar o exce-
de~te da adução para posteriormente fornecer ág
ua à recle de distribuição FlO período de
maior demanda . O volume <=:orrespondente à ca
pacidaG.fe mínima de reservação OIres) é
dado pela Equação 13.2, sendo os limites de in
qual a v - tegração correspondentes ao período AO
·a
azao aduzid supera a demanda: . · · . .
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Reservação I Capítulo 13

diário de funcionamento das estações elevatórias permitindo a paralisação da adução quando


a tarifa de energia elétrica é mais onerosa.
Especificamente para os reservatórios elevados, a norma brasileira para projeto de
reservatório anterior à NBR 12.217/94 recomendava um volume mínimo de 1/30 do
volume total do dia de maior consumo. Nos diversos projetos de sistemas de abasteci-
mento construídos no País pela antiga Fundação SESP, atual FUNASA, era usual destinar
20% deste volume distribuído para os reservatórios elevados. Embora a norma atual,
NBR 12.217/94, não faça menção explícita à percentagem do volume de reservação
destinada ao reservatório elevado, por economia são comumente construídos com
pequena altura secundariamente para favorecer menor variação nas pressões na rede
de distrieuição , Jimi'tando o volume em 500 m3 e respondendo por algo como 1o a
20% do volume de reservação.

13.4 Tubulações e órgãos acessórios

13.4.1 Tubulação de entrada

Conforme reportado no item 13.2, com o intuito de minimizar as variações da altura


manométrica nas aduções por recalque, a tubulação de entrada no reservatório usualmente
efetua-se com descarga livre, acima do nível d'água máximo de operação. O dimensiona-
mento da tubulação de entrada ao reservatório realiza-se em função da velocidade da
adutora que o alimenta, limitada ao dobro desta. Conforme apresentado no Capítulo 1O,
Figura 10.4, a vazão transportada na adutora é condicioAada pela posição do reservatório
em relação à adutora considerada, sendo para reservatórios de montante igual a:

Q _ k7Pq
D>C - 86400

Em que:
- OoMc: vazão do dia de maior consumo, em Us;
- k, : coeficiente do dia de maior consumo;
- P: população abastecida, em habitantes;
- q : consumo per capita, em Uhab.dia.

585
Ab,astec lm en to de àg ua pa ra consum
o hu m an o


Para se ter reservatórios elevados de meno
r capacidade e consequ"
menor custo, é comum armazenar parte do '
volume no reservatório apoiaden o
teme
.. nte, de
elevado como caixa de passagem . Assim, a
. vazão alocada no reservatório a ' ~tih zando o
posteriormente passará para o reservatório. .
elevado por meio de uma adutorapod1ado e' que
será correspondente a da hora de ma.ior consu
mo (QHMc=k20oMc), implican doe recalq ue,
acréscimo da vazão para a adutora de recalq
ue. ' Po rtanto,
Para a entrada afogada em reservatórios de
. montante, há de se instalar d·i ..
que evite o retorno da água à adutora . Para si. . sp os1t1vo
. stema s de m aior porte, é comum em
. d
de sensores de níve1no 1nter1or os rese , . d O
rvator1os conecta os aos conjuntos elevatpr ego
óri
objetivando o acionamento ou paralisação
abastecidos por gravidade, é comum preve
das bombas, automaticamente . Em siste::~
r dispositivos automáticos para controlar ou
limitar o nível máximo, para evitar perda de á
gua pelo extravasar.

13.4.2 Tubulação de saída

A tubulação de saída é dimensionada para avazã


o de distribuição (QH>c=Pqk k /86400),
cuja velocidade média deve ser menor que u 12
ma vez e meia a velocidade média na rede
distribuição imediatamente a jusante do rese
rvatório. É usual a insta lação da tubu lação de
saída no poço de rebaixo, visando o total apro
veitamento do volume do reservatório, a me-
nos de uma altura inferior destinada ao depósi
to de sedimentos. Este poço, deve ser dotado
de grade para proteção contra acidentes e re
dução de vortex. Para se evitar o vortex, é
conveniente dimensionar o poço com altura d
e água, acima do eixo da tubulação, superior
a três vezes o diâmetro desta (Figura 13 .11 ).
Para as tubulações de entrada e safda, o contro .
le da afluência ou efluência, governado
pelo nível d' água no interior da unidade, deve
se realizar por sistema de fechamento p~r
válvula ou equipamento similar localizado ext
ernamente ao reservatório. Para a tu?ul~çao
de saída, pode ser necessário prever também
a instalação de um dispositivo destina O ª
permitir a entrada de ar na canalização .
Em reservatórios de jusante, utiliza-se a mesm fda do
a tubulação para entrada e 5~ anie
reservatório, neste caso a vazão transportada
a alimentação do reservatório, ou a diferença
a
pode ser do dia de maior consu~~eu~aior ••
.:r
entre a vazão da hora e do di~ amento •
•'

consumo, quando o reservatório abastece a 1

rede de distribuição. Para dimension per!odo


desta tubulação, a condição que conduz ao m
em que o reservatório de jusante está sendo
aior valor de vazão corresponde 0 ª
alimentado, para (ki<2). a tubu lação
Embora menos usua I no País e mais comum n
os EUA, Canadá e Euro~~· • siroilare5 ·
de salda pode ser instalada acima da laje de fu 1 5
ndo do reservatório e ~m con : diferença
à da Figura 13.11 pode ser instalada a tubula
ção que alimentará os h1dra~tes.
de volume no interior do reservatório é destin
ada ao combate a incêncios .

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586
Reservaçao I Capítulo 13

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CorteAA

Figura 13.11- Detalhe



da tubulação de saída de um reservatório de duas·câmaras

13·4.3 Descarga de fundo •

1 •


1
. . Pana: cQi 1~Jefij)~ ea~tta..Meliil!O (€fã1~mjfade (de rresmua~~ dw&-se PJimtStt tamtbém a 1

~~~~~fíM~~~e·~~àdai~~~~
me;tr~ llilímm':0) á~ Ul$@J,mltrll e 1rdiftilernrs~11:aMefillt111Je.afiBarSe em1lttl~G d.& teF:Apo de
r©)

587 •
Abastecimento de âg ua para consum O humano

6 · us u alm e n t e entre 3 e 6 horas . A eq uaç ão


esgotamento da c mâ a ra/reservat rio . . · , · mo stra da
tempo d e e sva 21 am e n to em reservatórios pr1smat1cos
a seguir permite calcular o :

(13 .4)

Sendo: . ( d âmara a ser esgotada, em


A = área hor1zonta a e m2;
to em m2.
1 ... de esgotamen ,
S= área da tubu açao '
. d t bulação de esgotam
h = carga de água sobre o eix o a u ento, em m;
d .
·
t = tempo necessário para esgotar em segun os,
, d t da relação entre o co
cd =coeficiente de descarga, depen e mprimento
nd~metro (D), ou seja, sua
classificação como onfíc10, boca
ou u º- · _ UD·
valores usuais desse coeficiente
, em funçao da relaça o .

Quadro 13.4 _coeficientes d


e descarga
UD 0,5 2a3 1O 20 30 40 50
ed 0,61 0,82 0,77
100
0,73 0,70 0,64
Fonte: AZEVEDO NETTO e AL 0,58 0,47
VAREZ (1982)

13.4.4 Extravasor

O nível máximo do reservatório


é estabelecido pela posição do
mendado distância mínima de 0 extravasar, sendo reco-
,30 m entre o nível de água m
extravasão e a cobertura da un áximo atingido pela água em
idade . Este órgão acessório fu
permitindo detecção de extravas nciona a descarga livre
amentos - e é dimensionado pa
devendo ser conectado a uma tu ra a vazão máxima afluen~e,
bulação vertical para descarte
escoamento P?~conduto livre à em uma caixa e poster~or
rede de drenagem ou corpo
elevados, devido à grande en receptor. Nos reserv~tóno;
ergia do escoamento na sa
importante que este seja conecta ída do conduto vertical,
d ·
dos condutos e erosões no terre o a um dissipador de energia, para não prov
no. ocar desgaste
Overtedor circular colocado na
parede do reservatório é um d
extravaso.r, entretanto, pa~a que os tipos mais simples ~e
este funcione como tal a sua
ao seu diâmetro. Outro tipo m espessura, deve ser inferior
uito utilizado é o tubular (co
m ou sem calha coletora).

588

Reservação I Capítulo 13
• •

dimensionamento·destes é reali·zado por meio da teoria clássica de v~rtedores, algumas


o 'â d d ' t ; .
. destas forml:Jlações, em un, a es. o s1s ema metr1co, são apresentadas na Figu·ra 13.12.
\

---
•.:,..+ ,..--,,-==:FI- .
-= h
-
h
-··
- -==
_-
::::,--- \

~---,---- ~--------~---- --
---------------- - - ----~-------------
D

• h
.• ------ -·

••
._

-
' 1
' 1

:«'
1
De ..:'
'
1
Q = n k De h .42 Q=1,838 Lh31'2

Vertedor circular Vertedor tubular Vertedor retangular


de parede delgada
Figura 13. 12 - Vertedores e seu equacionamento

A equação apresentada para vertedor tubular somente é aplicável para os casos. em


que a carga "h'' é inferior a ''DJS'', sendo ·,,k" um coeficiente empírico dependente do

diâmetro, como mostrado a seguir:

Quadro 13.5 - Coefi<!ientes k para vertedor tubular


De(m) • K


0,175 1,435 •
0,25 1,440

0,35 1,455
0,50 1,465 •

0,70 1,515 •
\

••
Fonte: apud AZEVEDO NEITO e ALVAREZ {1982) '
••


Para val@res de ''h'' superiores a ''D/5'' e inferieres a ''3h'', o extravasefi gass·a a
funcionar como b0cal, e, neste caso, .a J:quaçã"é 13.5, Gujes termos já foriam GJesetitos raa
Equação ·13.4 para o sistema métrico, permite dimensienar o extravasar.
1

,l
j

,.•
} . Quando a carga ''h'' sobre o extra2asor·0u o sebl i:fiârnetro to~raa-se elffi?aê@, ê €©1iiltte-
n,ente adotar a calha coletora, como a mostrada nª Figrnna 13. ~3. O e~ÚaGienarmet'ilt© da
(alha coletora pode ser realizado cem a forrnttJla~ã© agresemta@a arnteriormeQte fila Fii~wra
13 2
1 ·1 para v~rtedores retangulares de Ji1arede tllel!!Jada, sefill!le '"r." @ G@FY1P1Pililllel'ilt© da e~ista
.\
I aa
, calbª por ende a água deve passar. . . , · .. . . _. .
.• . • • • •

,; 1

.. •

·589

• •
Aba5tecímento de água para c.onsumo humano

N.A. extravasão 0,30 m (mfn'imo)


I h -. .
N.A. má,x. --··--.. -----"W.------·--------.. ------
)' - 1 ~
Calha coletora/ h · ... -·-· ··-·-·-·- ~ \ l Extravasar
- • ~ 1

iv

1

! Grade protetora
1
1,
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1

Vai para o

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L--- ·-1---
....,
- · _ , . sistema de drenagem
·- ·---'

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l • • : o ' tio


..

.o 1
• • O • O

Figura 13.13 - Extravasar_com calha coletora

13 .. 4.5 Ventilação

A v.ariação .abrupta do nível de água no interior do reservatório, tanto no enchimento


quanto no esvaziamento, pode suscitar esforços na cobertura da unidade devido à variação
da pressão interna. Para minimizar tal efeito, a unidade deve possuir ventilação, protegida
· com telas e com cobertura para evitar a entrada de água de chuva e poeira (Figura 13.14).
A vazão de ar de dimensionamento deverá ser igual à vazão de distribuição· no dia e hora
de maior consumo, acarretando para as unidades de maior porte a imstalação de diversos
dispositivos de ventilação. A área da seção desses dispositivos, ou aberturas, deve se basear •

na velocidade de 15 m/s de ar. A figura a seguir apresenta dois tipos de dispositivos venti-
ladores, ambos dotados de curva de 90° curvadas para baixo, para impedir a. entrada de
poeira e -água de chuva e de tela fina entre os flanges para não permitir a entrada de
pequenos animais para o interior dos reservatórios. ' 1
4
'
1.3.4.6 Drenagem subestrutural

~ara verificar eventuais v~zamentos sob o fundo do reservatór,io, deve ser P'7"'st~ '
'
'

um sistema de drenagem, cuJo efluente deve descarregar em caixa de coleta v,srve '
'
'
'
'
'

I

('
• 590 ;
. r•
' . . . . .
Reservaçao J Capítulo 13

A Figura 13.15 apresenta o projeto de um reservatório apoiado, onde é possível verifi-


car na planta e nos cortes CC e DD detalhes desse sistema de drenagem.
'
Prote~o em tela fina
.--.,,-....__Lurva 90° flangeada itistalãda entre llanges'\. t------1,.

_..
0·· ',
~

Curva 90° flangeada /~


( ,____,E;=,~
1

11
1

1
Proteção térmlca 1
1
Proteção térmica
argila e~andida 1
1 1
1 1 argila expandida
-
111 ---- - - - ---- ---- --- -- --- - ----
--.

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o .
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----
a.
~ o
• o O I o o
1
• 1
1
1
(a) (b)

Figura 13.14 - Tubo de ventilação para reservatório

Exemplo
• •

Dimensionar um reservatório de distribuição para atender uma popu-


lação de 50.000 habitantes, cujo consumo per capita é de 200 1/hab.dia
e coeficientes do dia e hora de maior consumo iguais a 1,2 e 1,5, 1

respectivamente, supondo que este seja do tipo apoiado, abastecido


por uma adutora de recalque.

Solução •

a- Cálculo das vazões


_ Pq 50.000hab.200LI habdia .L /
• vazao médja· Q . = = -- . . = 116 s
• médio 86.400 86.4005 f dia
• vazão do dia de major consumo: QD>C = k1Qmédio = 1,2 x 116 = 139L/ s

• vazão dà hora de maior consumo:


QH>c == k, X k 2Qmédio = 1,2 X 1,5 X 116 = 209[/ S

J
..
. •
.

...
µ
,

591
..
Abast•dmento d• lgua para consumo humano
'

Lastro de concreto ro
Fundo d o ~

C)
• .. . ..
--+-
. ~

1
-
o=--
1010
t' T
Dreno de ruooo
Corte DO

..
-
A
~-===-~+--t1-t~~- . -
••'
'
B

, Para o sistema
de drenagem

..

.. • : :1
.. t .
Planta 1
• '1 ••

Tubo de concreto

'
Corte CC CorteBB

Alvenaria da b]dos
macíços e:: 10 an
• • o o

• •

Es!:adalnlema

• -· ..
. Dreno de fundo
1

CocteM

Figura 13.15 - Projeto de reservatório apoiado de <V=150 m3}
• •

1
.'
l
1

592 •

-
' -
Reservação I Capítulo 13

b- Cálculo do volume de reservação (V)


\ .
1 739xL/ s .
v= QD>C x86.400 = 86.400s/d1a = 4.003.200L = 4.003xm 3
3 3

e- Dimensões do reservatório
Tofifl·ãiil'GQ a forma retangular para o reservatório e altura de lâmina
d"á9;1!Ja· ,cle a., 8·5 m, conforme recomendado no Quadro 13.1, tem-se
para ·ár:ea:
. . deste:

4 3
A= .oo =1039,7em 2
3,85

Adotando para cálculo das dimensões laterais o critério econômico de


x/y:314 e a divisão interna em 2 compartimentos iguais, conforme
mostrado na figura a seguir, obtém-se:

- X -
- y

1039,7
X·Y= 2 = 519 85'
,m 2
, •

X 3
-=-
y 4 •

=>y=26,0 m, x=20,0 me h=3/ 85 m

d - Dimensionamento das tubulações


• Adutora de recalque

On>c = 139 /Is •

D,= K Q0 >c (equação de Bresse)

593

Abastecimento de 6gu1 p hu
ara consum O rnano

D
r
=1,0 0,139 =0,37im
o, (adotado)= 0,40 m •


Uadutora _ 0_ :.,1..3_ --9-- = ~ = 1,1mI s


= 1t X O,402 •
• •

• Tubulação de entrada
à.s câmaras
• •

Qd>c = 139 /Is_



-
critério: Uentrada ~ 2 · Uadu
tora

u
entra da <
- 2 · 1 , 1 m ls
• •

u
entrada <
- 2,2mls

Pela equação da Continu


idade
Q = AU p => 0,139im 3 1 tD 2
/ s= · 2 , 2 im l s
4
~ D = 0 ,2 8 m ~ D
(adotado) = 0 , 3 0 m

• •
• Tubulação de saída às •

câmaras

Q H>C = 209il/ S


critério: Usalda ~ 1,5 : Urede

Supondo ·que a tubulaçã


o da r;ede à e ·distribuiçã
' reservatório tenhaJdia:me
1
o ltgadai là) salda ído
tr;e de1 SQ© mm•. a vele~d
m/s. Asslrn1,a verm~cçj-âaâe Aa tu aêe 1R.eate ~ td é 1,()6
bnlã~O d'e ,satda rêe-ve 'S.er tr
• m/s. Caso fosse \:JtiJizacie e
dtamau e C\10met©jal (~O~ G
nte m ·
0 r a 1,59
méAte ir:tf,éfiÍ@r ae âa rede lrrtt tm:e11iât• •

fie distJiii\bm~ã©, têr,,.S8'-i'p 1


1

dade, superior à recomet1d .(8::6 mis ld & w f.oc~ •



a<;ã@Jda N0rti0a 'brcasilejra
1

we:R1)2.217 194.


594
ti . .'. . ,
Reservação I Capítulo 13

Neste caso, a manutenção do diâmetro de 500 mm, igual ao da rede,


é recomendável. . .

Embora existam dois compartimentos no reservatório, as tubulações


de entrada e saída foram dimensionadas supondo apenas uma das
câmaras funcionando, pois é normal desativar uma delas para manu ...
tenção.

• Descarga de fundo

Utilizando a Equação 13.4 para calcular o tempo de esgotamento de


2
cada compartimento do reservatório, com h= 3,85 m, A= 519,85 m e
Cd= 0,61, têm-se, para os diâmetros da tubulação de esgotamento de
150 mm, 200 mm e 250 mm, os tempos de esgotamento mostrados no
quadro a seguir. Adotando a recomendação de tempo inferior a 6 horas,
o diâmetro escolhido para a tubulação é 250 mm. Vale ressaltar que em
condições normais o esgotamento do reservatório é realizado quando
este não está em seu nível máximo e, portanto, caso isso venha ocorrer
quando o reservatório estiver à meia altura (h= 3,85/2) o tempo gasto
para o esgotamento, utilizando o diâmetro de 250 mm, será 3 horas.

Diâmetro (mm) Tempo (h)

150 0,018 11,87


200 0,031 6,68
250 0,049 4,27

• Extravasar

Utilizando as equações mostradas na Figura 13 .12 e a vazão de Oo>c =


O, 139m3/s, têm-se as seguintes dimensões e cargas, conforme o tipo
de extravasar utilizado: . ·

- vertedor circular : D = 0,40 m e h = 0,38 m


- vertedor tubular: D= O, 70 m e h = O, 11 m
- bocal (Cd=0,61) D::::0,30 m e h' = 0,53 m
- calha coletora: L=2, O m e h = O, 11 m

:nalisando os resultados, vê~se que o vertedor tubular e a calha colet?'ª


presentam as menores cargas de água (h= O, 11 m). Entretanto, devido '

ª0 elevado diâmetro da tubulação no vertedor tubular, optou.-se pela



595
Abastedmerito de 6gua para éonsumo humano

cáfnp1haçã:o :Galha coletora-bocal, seguin·do o mesmo ·padrão apresen-


tà.ab na Figura ·1·3 ..13 .

'
• Ventilação •

• O dimensionarriento da ventilação é realizado para:


Q HMC =0,209 m /s 3

u·<·1s mls •

S,UJpôAdo tubos vemtilad0res com diâmetro·- de:1,00 .mm, ou 0,0Qj]85 m2


de se~ã0 fr,ansve_rsal, têm-se pela eEfua§·ão da c0n.tinuidaâe 0 n·útnero
''ri''. de toces v:entiladores, cômo demonstrad0 a seguir:

0.209 m~ is= n.0,00785 m2 . 15 m/s


n·=2 •

A Figúra 1·3. J6 contêm um desemho esquemático do a·rránjovdas t4bu-


,·.-·_ lç1&õ~s.e ·as dime~sões cal.culadas no exem·p·10 em· pauta.
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Descarga
de fundo
D250·mm·
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26,0 m
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Abastecimento de água para consumo humano

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13.5 Qualidade de água nos _reservator1os

Usualmente, os projetos dos reservatórios de abasteci.menta e~fa...tiz~m essencialmente


a integridade estrutural, os aspectos funcionais e estéticos'. a distancia aos centros de
consumo entre outros fatores. As questões associadas à qual idade da água nos reservató-
rios são f~eqüentemente tratadas como itens de importância secundária, resumindo-se à
manutenção nestas unidades da concentração de cloro residual. Entretanto, vários episódios
recentes de surtos de doenças de transmissão hídrica foram relacionados a problemas na
reservação, principalmente pela deterioração da qualidade da água tratada.
Na concepção do sistema de reservação, diversas variáveis devem ser conside-
radas e investigadas pelo projetista, visando à preservação da qualidade da água.
Uma elevada razão volume do reservatório/vazão aduzida, resultando em tempos
de detenção mais longos, e a configuração inadequada dos dispositivos de entrada
e saída de água no reservatório acarretando a estratificação das águas de dife-
rentes idades podem afetar negativamente as características da água. O tempo
de residência, também denominado tempo de detenção ou tempo de retenção
hidráulica, é diretamente afetado pela freqüência do ciclo enchimento-esvaziamento
do reservatório e pela variação volumétrica nestes ciclos, e estes, por sua vez, estão
· relacionados com a capacidade do reservatório.
Longos tempos de detenção nos reservatórios favorecem o crescimento e a aclimatação
das bactérias nitrificantes às condições de pH e à presença do residual do desinfetante,
favorecendo a nitrificação. Em águas cloradas, tal fenômeno representa uma queda nas
concentrações do cloro residual, uma vez que o cloro (agente oxidante) é utilizado na
oxidação, por bactérias, do nitrogênio amonical (amônia) a nitrogênio nitroso (nitrito) e
este, por sua vez, a nitrogênio nítrico (nitrato).
Por sua vez, dependendo da configuração dos dispositivos de entrada e saída de água,
ou seja, número, distância e posição relativa entre as canalizações afluente e efluente, bem
como a existência de obstáculos para dispersão do fluxo, observam--se diferentes compor-
tamentos hidráulicos do fluxo e possibilidade do aparecimento de zonas de estagnação.
Em unidades com dispositivo comum de entrada e saída, geralmer;ite situado no fundo da
estrutur~ ~o reserv~t~rio, verifica-se prefere~cial.mente uma situa,ção do tipo ''primeiro a
~hegar, ultimo a .~a,r , na qual a.s águas mais distantes do mesmo apresentam elevadas
idades e, consequentemente, baixos valores do residual do desinfetante. Usualmente, as
~nidades de reservação loc~lizadas no final da rede de distribuição, 05 reservatórios de
Jusante, apresentam tal conf1gll.Jração.
?iferentemente, em reservatórios com dispositivos de chegada e saída distintos, reser-
vatórios de montante, geralmente posicionados
· · em . os na estru tura d.e reservar,a~o
· lad.os opost · '!r' . ,
o fluxo comporta-se comumente· como ''primeiro · a chegar:
. · · a sair
, pr1me1ro · ,, , sr'tuaça""'o· na
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598
Reservação I Ca pi tu lo 13

ai a idade média das águas em seu interi


qu or será basicamente dependente do te
detenção hidráulic· d d. - d · mpo de
o e a con 1çao e mistura.
Ainda em relação à condição de mistura
, os reservatórios podem contribuir sub
almente para o aumento da idade média stanci-
da água, dependendo de sua operação
e geometria. No tratamento de esgotos , locação
, é conhecida a utilização de tanques
esféricas ou cúbicas a fim de se promove e bacias
r uma boa mistura em seus interiores.
lado, as unidades de reservação com ele P or outro
vada razão comprimento/largura ou a
comportam-se como reatores de fluxo d ltura/raio
e pistão, ou seja, podendo apresentar
nenhuma mistura da massa líquida. Neste pouca ou
s últimos, observa-se, por amostragem
sas profundidades, uma variação significa e m diver-
tiva das concentrações de cloro, sendo m
concentrações de cloro nas regiões próxim aiores as
as ao dispositivo de entrada .
Em reservatórios com elevado quociente
altura/largura e cujo dispositivo de cheg
encontra-se no fundo do mesmo, não há u ada
ma mistura entre as águas das camadas su
(maiores idades) e inferiores (menore_s id periores
ades). Nestes casos, o tempo de residê
significativo efeito sobre a idade média do ncia tem
efluente que se manifestará na concentr
cloro residual, tendendo a se reduzir para ação de
águas de maior idade.
A qualidade do efluente de reservatório
s do tipo mistura completa é mais sensí
variação volumétrica. Estudos demonstra vel à
ram que o impacto da variação volumé
reservatórios sobre a idade da água no sist trica de
ema de distribuição é altamente depend
número e locação destas unidades. Em ente do
unidades de reservação nas quais não
flutuação substancial no volume, a idade há uma
média das águas verificada em seu interi
I ser muito elevada, podendo atingir dias,
• or pode
ou mesmo semanas.
Adicionalmente, a determinação da po
sição relativa do reservatório à superfíc
terreno enterrado, semi-enterrado, ap ie do
oiado e elevado é um fator importante a ser
considerado. Reservatórios de distribuição
elevados são preferidos devido à condiç
l favorável de ''mistura completa'' e à maio
r variação volumétrica durante os ciclos d
ão mais
mento e esvaziamento. e enchi-
Édesejável a remoção total da amônia p
resente na água bruta nas estações de tr
mento, porém a ocorrência da nitrificaçã ata-
o no sistema de distribuição apresenta in
efeitos adversos: aumento das concentraç úmeros
ões de nitrito e nitrato, redução do cloro
aumento das populações de bactérias hete residual,
rotróficas e redução do pH, da alcalinida
1

teor de oxi gênio dissolvido, implicando nu de e do


m maior ônus para a remediação do pro
atendimento ao Padrão de Potabilidade. blema e
Vários estudos recentes têm buscado ava
liar a incidência da nitrificação em sistem
de .abastecimento de água que utilizam a as
cloração. Nos Estados Unidos, aproxima
dois terços dos grandes e médios sistem damente
as de abastecimento que empregam e
apresentam águas com algum grau de n ste gás
itrificação, mais pronunciadamente nos
quentes do ano. meses
A ausência de luz solar pode promover
um crescimento de bactérias nitrificante
tornando os reservatórios cobertos mais su s,
sceptfveis à nitrificação. Todavia, reserva
tórios

599
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Abastecimento de ~gua para consumo humano


descobertos raramente empregados no País apresentam maior risco da prolifera _


de aIgas e de contam,naçao
· -- por outros m1croorgan1smos.
· · As bactérias
· nitrificantes çao
-
5
extremamente resistentes à desinfeção por cloração, pois o produto da concentração ~o
cloro peto tempo de contato necessário à eliminação das bactérias nitrificantes é considera~
vetmente maior que o verificado para a E. coli. Desta forma, há a tendência destes organismos

aderirem à superfície de colóides e sólidos suspensos, que lhes servem de escudos
protetores e de substrato rico em nutrientes. Nos reservatórios de sistemas afetados pela
nitrificação, verifica-se um elevado grau destes organismos em sedimentos aderidos às
paredes e ao fundo.
Aliado aos fatores já aHnhavados decaimento do cloro residual combinado ou livre
em função da oxidação de compostos orgânicos e/ou inorgânicos e florescimento algal ,
a quaJida.de da água pode sofrer alterações devido ao contato da água armazenada com O
concreto das paredes do reservatório. Este fenômeno é explicado pelas distintas concentra-
ções de carbonato de cálcio na água e na superfície de contato das unidades de reservação,
observando-se uma deterioração do concreto. TaJ processo ocorre mais acentuadamente
no caso de águas brandas, por apresentarem menores concentrações de carbonato de
cálcio (mg/L CaC03), configurando-se em um meio mais ávido pelo saJ.
A preocupação com a-deterjoração do concreto justifica-se na medida em que tal
fenômeno implica a formação de uma superfície rugosa e, conseqüentemente, de um

substrato bem mais propício à adesão de patogênicos e outros microrganismos, bem como
pelo comprometimento da estrutura de tais unidades.

Referências e bibliografia consultada


ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNI NBR-593/77: Elaboração de projetos de reserva- 1


tór;o de distiibuição de água para abastecimento público. Rio de Janeiro, 1977. 7 p.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS -ABNT. NBR-12.217: frojeto de reservatório de distribuição
de água para abastecimento público. Rio de Janeiro, 1994. 4 p.
AZEVEDO NETTO, J.M.; ALVAREZ, GA.-Manualdehidráulica. 7. ed, São Paulo: Edgard Blucher; 1982. 335 P· v. , .
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Capítulo 14

Rede de distribuição

Aloísio de Araújo Prince


Este capítulo inclui considerações conceituais e orientações técnicas para as diversas


etapas da elaboração de projeto de rede de distribuição de água~Dele também constam
exemplos numéricos de dimensionamento de redes de distribuição por processo convencional
(não automatizado), com auxílio de computador (programa Excel). O emprego de
softwares relativos a modelos de simulações hidráulicas para dimensionamento de redes
de distribuição é objeto de outro capítulo deste livro.

14.1 Definição e importância

Rede de distribuição é a unidade do sistema de abastecimento de água constituída


Por tubulações e órgãos acessórios instalados em logradouros públicos, e que tem por
finalidade fornecer, em regime contfnuo (24 horas por dia), água potável em quantidade,
q~~lidade e pressão adequadas a múltiplos consumidores (residenciais, comerciais, indus-
triais e de serviços) localizados em uma cidade, vila ou outro tipo de aglomeração urbana.
. A denominação rede de distribuição provém da forma como as suas tubulações são
instaladas, formando rede de condutos interligados entre si e possibilitando diversas deri-
vações para a distribuição da água potável aos imóveis abastecidos.

603
r; A importância da rede de distribuição deve-se a duas caracterfsticas de
vância a eta associadas,, quais sejam: grande rele-
.

• cara~erfstica de garantir, como derradeir~ unida?e do sistema de
abastecimento de água, que a água produzida e verculada pelas u ._
.• '• . dades anteriores chegue até os seus consumidores finais sem a deter~-
..... . . .
• '1 ,

. .
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. \" ~ ração de sua qualidade e com a quantidade, pressão e continuidad
estaberecidas pela boa técnica e pelas normas oficiais aplicáveis·, e
•, característica de constituir-se, geralmente, ·na mais extensa unidade
do sistema, responsável, em geral, por mais de 50% do seu custo de
implantação.
Uma rede de distribuição mal projetada ou mal operada é permanente fonte de pro-
blemas, mormente no que tange a perdas de água, ao comprometimento da qualidade da
água e a reclamações doS' usuários.

14.2 Elementos necessários para a elaboração do projeto



Os elementos necessários para a elaboração do projeto estão muito bem definidos na
NBR 12.218 da Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT (1994), que versa sobre
projeto de rede de distribuição de água para abastecimento público. Essa norma é uma
, importante fente de consulta para aqueles que se dedicam a tal tipo de proj~to..-P~la
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! destacam·se os seguintes elementos, como requisitos necessários para a elaboração·de um .
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Rede de distribuição I Ca pitulo 14

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rau de detalha~ento desses estudos e le~antamentos prévios depen~e d~. porte
O· 9 idade envolvida. Para pequenas comunidades, pode ser bastante s1mpl1f1cado,
da c~rn~;ente 00 que se refere a levantamentos planialtimétricos, cadastro da rede exis-
prlncipadetalhes de arruamentos, dos tipos de pavimento, de obras especiais e de inter-
tente e·as desde que nao
- haJa· a om1ssao
· . . de dados e ,n
· f armações cuja ausência possa
ferênc1meter
' . de do proJeto,
a qualrda . .1nc1us1ve
. no que se refere às especificações e ao
cornPre·
to das obras a executar.
orçamen

14.3 Vazões de distribuição

Para o estabelecimento das vazões de distribuição devem ser consideradas:

• as vazões para atender às áreas específicas de consumo de água em


que a focalidade ou a área de projeto estiver subdividida;
, as vazões demandadas por consumidores singulares (grandes consu-
midores);
• as vazões das áreas de expansão .

No Brasil, a NBR 12.218 da ABNT (1994) dispensa, para efeito do dimensionamento


básico da rede, a consideração de demandas especiais para combate a incêndios, estabele-
cendo a necessidade de justificativa para os casos em que tais demandas sejam acrescidas
às vazões de dimensionamento da rede. O fato de se dispensar a inclusão das vazões de
combate a incêndios no cálculo básico da rede não significa que esta não deva ser dotada
de condições mfnimas para atender a essa finalidade. Para tanto, a NBR 12.218 prevê
condições para a instalação e funcionamento de hidrantes, estabelecendo que a rede seja
verificada hidraulicamente com o funcionamento de um hidrante por vez, conforme
desenvolvido no item 14. 12. 1.
No dimensionamento das redes de distribuição, utiliza-se a vazão da hora de maior
consumo, no dia também de maior consumo, calculada pela seguinte expressão:

(14.1)

Na qual:
Oo:vazão de distribuição (Us);
k1·• eoef'1c1ente
· do dia de maior consumo;
k2· eoef.tc1ente
l
· da hora de maior consumo;

605
Ab.a.s1iedmento de água para consum·o humano

P: população de projeto da área considerada (hab);


q: consumo médjo per capita de água, incluindo as perdas de á
· d b · t d ' (Uh b . 9ua no
sistema público e a astec1men o e agua a .dia).

Em pafses como o Brasil, em que os prédios possuem reservatór' ,


. . ... . ios Prop .
armazenamento de água, essa vazao, por força da regularização proporcio rios de
· fl u1· de f orma mais· un,'farme, sem os picos
reservatórios pre d.1a1s, · acentuadosnada Por. ta,s·
sobremaneira o dimensionamento das redes de distribuição em que não sã:ue on~ran,
reservatórios prediais (que é o caso dos Estados Unidos e de países da Europa) ~suais os
· · K é ,
ref1ete-se no va 1ar do coef1c1ente 2, que menor nos pa,ses como o Brasil em · sse fato
reservatÓrios. pre d'1a1s
. sao
. . ut11za·1· dos em 1arga esca1a. ' queos
As vazóes relativas a consumidores singulares ou grandes consumidores são conside-
radas individualmente para efeito do cálculo das vazões empregadas no dimensionamento
da rede, devendo ser sempre assocjadas aos pontos da área de projeto em que tais vazões
são disponibilizadas. Não incidem, portanto, na determinação das vazões específicas de
áreas relativas a diversos usuários com consumos semelhantes, como se verifica a seguir.
A vazão de distribuição, excluídas as vazões pontuais de consumidores singulares (gran-
des consumidores), pode ser associada à área ou à extensão de tubulações da área a que
ela se refere. Nesse caso, é denomínada vazão específica de distribuição, ou simples-
mente vazão específica, sendo calculada em Us.ha ou em Us.m, para aplicação·deforma
homogênea sobre área ou sobre o comprimento das tubulações que abrangem diversos
usuários com consumos semelhantes. Por isso, no seu cálculo não entram as vazões pontuais
relativas a consumidores singulares (grandes consumidores). Suas fórmulas de cálculo são
as seguintes:

• (14.2)

k1 k2 qP Q0 (14.3)
qm::; 86400 L = L

Na qual:
qa: vazão específica de distribuição por área (Us.ha); .. archa
qm: vazão específica de distribuição por metro de tubulaçao ou em rn
(Us.m);
A: superfície da área a que a vazão de distribuição se aplica (ha); _ de
0
L: comprimento das tubulações de distribuição na área a que ª vaza · '
!

·distribuição se aplica (m); a •


•,

,.

Oo, k1, k2, q e P: os mesmos significados que os discriminados para ~


~

Equação 14.1 . ~..'


. •.
'

606
Rede de distribuição I Capítulo 14

Exemplo 14.1

Calcular a vazão de distribuição (Q 0 ) e as vazões específicas de distri-


buição por área (qa) e por metro de tubulação (qm) para uma cidade de
médio porte com os seguintes dados relativos ao final do alcance do
projeto: área = 200 ha; população = 20 000 habitantes; consumo per
capita médio macromedido = 200 Uhab.dia; k1 = 1,2; k2 = 1,5. Nessa
área, os quarteirões têm dimensões de 100 mx100 m (incluindo as
larguras das ruas) e o comprimento total das tubulações iguala o das
ruas, num total de 40 000 m (200 m/ha).

Solução

Q0 = 1,2 X 1,5 X 200 X 20.000 / 86.400 = 83,3 Us


qa = 1,2 x 1,5 x 200 x 20.000 / (86.400 x 200) = 0,417 Us.ha
qm = 1,2 x 1,5 x 200 x 20.000 / (86.400 x 40.000) = 0,00208 Us .m

Exemplo 14.2

Recalcule o exemplo numérico anterior, aplicado agora a uma peque-


na comunidade com os seguintes dados referidos ao final do alcance
do projeto: (1) população de projeto: 2000 hab; (2) consumo per capita
médio macromedido = 100 Uhab.dia; (3) número de horas máximo de
funcionamento das unidades de produção = 16 horas; (4) k1 = 1,2; (5)
k2 = 1,5; (6) área de projeto = 40 ha; (7) extensão total de ruas =8 000 m
(200 m/ha - quarteirão predominante: 100 mx100 m).

Solução

Toda rede de distribuição deve funcionar 24 horas por dia. Assim sen-
do, o fato de as unida·des de produção funcionarem por um período
inferior a 24 horas por dia não altera as fórmulas básicas de cálculo
de vazões para a rede de distribuição, cabendo ao reservatório de

607
• ·..•

Abastecfme.nto de água para consumo humano

distribuição compatibilizar os diferentes regimes de f uncio


unidades de produção e da rede de distribuição. Tem-se narn__ento das
, entao:
Q0 = 1,2 X 1,5 X 100 X 2.000 / 86.400 == 4, 17 Us .
qa = 1,2 x 1,5 x 100 x 2.000 I (86.400 x 40) = O, 104 Us.ha
qm = 1,2 x 1,5 x 100 x 2.000 I (86.400 x 8.000) = 0,000521 Us.ha

14.4 Delimitação da área a ser abastecida

A delimitação da área a ser abastecida é feita na respectiva planta topográfica, que


pode ser completa, no caso de comunidades maiores, ou simplificada 1, no caso de comu-
nidades. de pequeno porte. Sua escala deve ser tal que não resulte número exagerado de
plantas, permitindo fácil visão da área como um todo. Para cidades grandes, é comum a
escala de 1:5 000. Já para comunidades menores, a escala mais indicada é a de 1:2000.
A área a ser delimitada deve incluir todos os arruamentos existentes e as áreas de
expansão previstas para serem ocupadas dentro do alcance do projeto, em consonância
com a legislação de uso e ocupação do solo para as localidades qu.e disponham desse
importante documento legal de planejamento urbano. Nos casos em que inexista tal l~g!~-
1ação, devem ser consideradas como áreas de expansão aquelas que sinalizem apossibih-
dade de serem ocupadas dentro do alcance do projeto. d
É importante observar que geralmente os limites da área de projeto e tambémbe
suas áreas específicas, a serem definidas no próximo item não devem sit~ar·se ~º,:.
arruamentos, visto que costumam existir imóveis dos dois lados das rua~, ~ventd~ eh:~ue
10
É mais correto que tais limites sejam localizados no interior dos quarte1roe-s, na (ver
5
delimita os lotes que se voltam para essas mesmas ruas, avenidas ou vielas extrema
Figura 14.2).

·. uiJdaS ede
. . , . . e dtrnensõeS red tOfíl' ,.

1 Por levantamento plan1atttmétr1co srmpltfrcado entende~se aquele que, por abranger área~ d de alguns e1ernent°5s1n9utr
.:-•
reduzida complexidade - como costuma ocorrer em pequenas comunidades-, pode prescindir IS elaborados de ..;.
..
~-
curvas de nfvel (a serem substituídas por cotas de cruzamentos e de pontos notáveis) e detaJheS ma
ridades que não são importantes nesse tipo de comunidade.

608
Rede de distribuição I Capltulo 14

14 5 Delimitação das áreas com mesma densidade


1

populacional ou com mesma vazão específica

Dtintro do perímetro maior que é a área de projeto (delimitada conforme o item ante-
rior), dt.1vcm ser definid.os os. contornos.da~ difere~tes áreas específicas, segundo o tipo de
oc lJflcl~c.10 prevls~a (r~s1denc1al, c~mer~1al, 1n~ustr1al ou especial) e os respectivos adensa-
tilt'nto\ r,opulac1ona1s ou ocupac1ona1s ou, ainda, de acordo com as correspondentes va-
,o,i!J C\f)CCíflcas,para o que os dados do setor comercial do serviço de água existente
devem ~cr criteriosamente considerados.
contudo, deve ser ressaltado que, no caso de pequenas comunidades, costuma ser
r.1 dcquada a adoção de um único tipo de ocupação, ou seja, uma mesma densidade popu-
1,lclonéll o uma úniça vazão específica. Isto por não existirem, em comunidades de pequeno
r,orlc, nem áreas de dimensões significativas com ocupações distintas, nem com consumos
do água diversificados.
Para a maioria das áreas formais das cidades brasileiras (excluindo as favelas das gran-
de\ cidades, em que as densidades populacionais variam de 150 a 1.000 hab/ha), são
aptlcávels as densidades populacionais indicadas na Tabela 14. 1.

Tabela 14.1 - Densidades demográficas observadas em áreas urbanas comuns


Tipos de ocupação Densidade demográfica
( hab/ha)
lonas suburbanas ou semi-rurais 10a25
Art:las urbanas periféricas ou de residências de luxo 25a50
/ona rasldenclal popular e setores de habitação de classe média soa 75
~Ptores de casas geminadas de 1 a 2 pavimentos 75 a 100
Sc\torPs de casas geminadas de 2 a 3 pavimentos 100 a 150
~,,1ores de edifícios de apartamentos de 3 a 5 pavimentos 150 a 250
S<'toras de edlf{clos de apartamentos de 5 a 15 pavimentos 2soa soo
/on,1~ comerciais 50 a 150
/or,a!> Industriais 25 a 75
r
o11 tt1 PUPPI (,981) ~ ----~--------------------~--------------------~--------------------~------------- '

Na Região Metropolitana de São Paulo, são adotadas as densidades demográficas de


~rlluração e as extensões médias de arruamentos apresentadas na Tabela 14.2.
No caso de existir legislação de uso e ocupação do solo ou estudos específicos a esse
r,,~r>rlto para a cidade ou área em consideração, deve-se considerar as densidades popula-
clc>r1r1ls Indicadas nesses documentos oficiais.
Em cidades maiores, em que o consumo médio per capita de água varie significati-
v,1rr1rnte de uma área ,para outra, o dimensionamento da rede de distribuição fica mais
r,r fltIro se as áreas forem identificadas não mais pelas suas diferentes clensidades popu-
lr1r Jonals, mas sim pelas suas diferentes vazões especificas de distribuição por área (qa).

609
.... __
..
~

Abastecimento de água para consumo humano •

É o que se denomina de área específica da rede de distribuição, assi


área de características próprias de ocupação, concentração demográf,·c rn entendida a
consumidor de água (ABNT, 1994}.. a e cate9or1·a de
A vantagem de trabalhar com áreas específicas de rede de distribuição t
maior se a cidade possuir· áreas ·,ndust r,a,s
· · e áreas comerc1a1s
· · que incluam Po orna-se a·1nda
. . . · e apresentem consumos de água cons1deráve1s
res1denc1a1s . . as quais poucas . unidades
. . . , r isso rn
não são mais referidas a habitantes, mas ao consumo de água que aí ocorre .~srno,
. por segundo e por hectare. Por. exemp1o, para d'1stntos
em lttros . . .industriais nonn
, quant1f1cad
. 0
adotar-se, no Brasil, a vazão específica de 1 a 2 Us.ha. 815 é usual

Tabela 14.2 - Densidades demográficas de saturação e extensões méd'


arruamentos a dotadas na Reg1ao .
.. . Metropo11tana de Sao
. _ Paulo ias de

Características urbanas dos bairros Densidade demográfica


Extensão média de ,
de saturação (hab/ha)
arruamento (m/ha)
Bairros residenciais de luxo com lote 100 -
padrão de 800 m2 150
Bairros residenciais médios com lote 120
padrão de 450 m2 180
1


Bairros residenciais populares com lote 150 (

padrão de 250 m2 200 •

Bairros mistos residencial-comercial da 300 (


150
zona central, com predominância de ·
prédios de 3 a 4 pavimentos
e
Bairros residenciais da zona central, com 450
predominância de prédios de 1O a 12 150
pavimentos
Bairros mistos residencial-comercial- 600
industrial da zona urbana, com
150 e
predomin,ância de comércio e indústrias
artesanais e leves
Bairros comerciais da zona central com 1000 200
predominancía de edifícf.os de escritório
~==-~~~~~_:_:_=.:..:~~----------~~~---------.
Fonte; TSUTYA (2004)
-
É interessante observar que uma densidade populacional, relativa a uma determina~
área, pode ser facitmente transformada em vazão específica de distriibuição por área, se ~o
conhecido o consumo médio per capita prevalecente nessa mesma área. A transfo~a~o
é feita pela seguinte fórmula, derivada da Equação 14.2, observando que a de":r~~; SE
popufaci·onaf (D), expressa em hab/ha, é o resultado da divisão da população (P) resid p1
X(
numa dada área pela superfície (A) dessa mesma área (D= P/A):
b1
k1 k2 q P k1 k2 q D . Pc
(14.4)
qª = 86400 A = 86400 .


....
• •

''. .
• •• t

610
Rede de distribuição I Capítulo 14

ou seja, ao identificar uma área pela sua vazão específica de distribuição por área,
utiliza..se um parâmetro que associa, num mesmo valor, a densidade populacional e o
consumo médio per capita verificados nessa mesma área.
com base nessa sistemática, a área objeto do Exemplo 14.1, que apresenta densidade
populacional de 100 hab/ha (resultado da divisão de sua população de 20 000 habitantes
pela área de projeto, igual a 20 ha, e correspondendo à ocupação com casas geminadas de
um e dois pavimentos, conforme Tabela 14.1) pode ser facilmente referida à sua vazão
específica de distribuição por área, calculada diretamente pela Equação 14.4 como segue:

qa = 1,2 x 1,5 x 200 x 100 I 86400 = 0,417 1/s.ha (o mesmo valor calculado
no Exemplo 14.1)
O ato de identificar áreas homogêneas pelas suas vazões específicas de distribuição
por área é partic.ularmente conveniente quando as cidades dispõem de setores de medição
de vazão bem planejados e com boa análise e cruzamento dos dados de vazão obtidos por
meio de macro e micromedidores.
Após a delimitação das áreas com diferentes densidades ou vazões específicas, devem
ser localizados os consumidores singulares e suas respectivas vazões de consumo. Por con-
sumidor singular entende-se aquele que, ocupando parte de uma área específica, apresenta
consumo de água significativamente maior que o produto da vazão específica da área
onde ele se situa pela área por ele ocupada.
Não deve ser esquecido que a totalização das subáreas e de suas vazões deve repro-
duzir a população total de projeto definida na projeção populacional e, com a inclusão das
vazões dos consumidores singulares, ser compatível com a vazão de fim de plano adotada
para o dimensionamento das unidades de produção do sistema como.um todo.
No Exemplo 14.11, as áreas foram individualizadas por suas vazões específicas de
distribuição por área.

14.6 Análise das instalações de distribuição de água


existentes

Quando na área de projeto existirem instalações de rede de distribuição anterior, deve-


se proceder à análise criteriosa de como tais i-nstalações podem ser integradas no novo
projeto em elaboração. Essa é uma atividade extremamente imJ[)ortante, pelos seus refle-
xos na redução de custo da implantação do novo sistema. Contudo, é indispensável lem-
brar · conforme consta inclusive do item 5.5.2 da NBR 12.218 (ABNT, 1994) · que as
partes aproveitáveis da rede existente devem atender à referida norma ou a ela adaptar-se,

611
• •

nsumo humano
e água para co
Abastecimento d

e ntações. Implícito nessa recomendação está a ..


.. ou compIem d venf1ca -
mediante alteraçoes d garantia da qualidade a água, o que é Particul Çao
dições e f · arrne
também das con .. . 't antigas em que se tenham armado incrustações qu ~ nte
. b laçoes mui o 1 - . e,avo~
crítico para t~ u ,_ d !idade da água. Para tubu açoes em que esse probJe ~
• 1
ª
çam a deter1oraçao · quda rá se tornar necessária a reabilitação de sua superfície ~a se1o
ente grave, po e r - . interna
part1cu arm . é . s viáveis em se tratando de tubu açoes de maiores diâmet :
ue existem t cn1ca _ . ros.Ja
para o q ~ d d',. metros reduzidos, em que essa operaçao de limpeza e de re
par~ ~s ~ubulaçoes_ e ~a possível poderá se impor a sua substituição. com.
051çao internas nao seJa ·· '
P Maiores . . .1nformaço"es sobre como elaborar e documentar. os. estudos de aproveitamenf
. lO
'd d
de uni a es ex1s · tentes constam do capítulo 3.
. O fiel cumprimento
. . . dessa
. . sistemática ,
e
requisito considerado indispensável pelos órgãos nac1ona1s e 1nternac1ona1s que financiam
obras de abastecimento de água.

14.7 Estabelecimento das zonas de pressão e localização dos


reservatórios de distribuição

Para funcionar adequadamente., a rede de distribuição deve estar sujeita a uma pres-
são mínima e a uma pressão máxima. A pressão mínima tem por finalidade vencer os
desn.rveis topográficos e as perdas de carga no ramal predial e nas tubulações internas d~
préd~os abas~ecidos, de modo a garantir que a água chegue até o reservatório predial
padrao, ou seJa, aquele instalado no piso ou no teto de prédio de no máximo dois pavimentos.
lnter~ssa neste caso a denominada pressão dinâmica mínima assim entendidaª pressão
referida ao , 1d0 · ·· ' d. .. de •
. . _ niv~ eixo da via pública, em determinado ponto da rede, sob con ,çao
ut1lizaçao no dia eh d . . . , , . d água no
re . ora e maior consumo e com a ocorrência do n1vel m1n1mo e · ·
spect1vo reservatório de distribuição
Já a não superação d - · . 'd d dos tubOS,
conexões e vál • . ª pressao máxima destina-se a garantir a integrt a e . 'tea
vu 1as utilizadas · 1 - • • ,.essão 11(T11
que podem st .. nas insta açoes pred1a1s (que possuem uma P 1
'ed de
·
. . e ar SUJe1tas) t b . ., da~ e
d1str1buição e . e am ém a reduzir as perdas de água nas tubulaçoes "ºrn
nos ramais p d"1 15 · ( ,. · · . sas ou
furos devido à
N
_· re
· corrosao va ·
ª
as perdas de água em tubulaçoes defe1tuo. ~·
tubufaÇUvJ,
L;

este caso a pr - riam com a raiz quadrada da pressão reinante nas d J:nida
, essao de int , ·,na e,up
corno a pressão refe 'd eresse é a denominada pressão estática ,nál<I 'da rede,
sob condiÇão de co n a ao nível do eixo da via pública em determinado ponto _..rrivll ..
reserv t · nsumo nulo ' á a no re,5JIC'-"-
a óno de distribuição. e com a ocorrência do nível máximo de gu

612

Rede de distribuição I Capítulo 14

No Brasil, a NBR 12.218 da ABNT (1994) estabelece em 100 kPa (aproximadamente


10
mca) a pressão dinâmica mínima em redes públicas de distribuição de água, e em 500
kPa (aproximadamente 50 mca) a pressão estática máxima, com as seguintes ressalvas:

5.4.1.2 Os valores da pressão estática superiores à máxima e da pressão dinâ-


mica inferiores à mínima podem ser aceitos, desde que justificados técnica e
economicamente.
5.4.2 Trechos de condutos principais que não abastecem consumidores ou
tubulações secundárias não estão sujeitos aos limites da pressão estabele-
cidos em 5.4.1, mas devem ser verificados quanto à estabilidade estrutural e
à segurança sanitária.
Não obstante essas ressalvas, todo o esforço deve ser feito para que as pressões rei-
nantes na rede de distribuição estejam dentro dos limites de 1Oe 50 mca, visando sobretudo
a redução das perdas de água. As exceções devem corresponder a situações muito
especiais, a serem devidamente justificadas, não devendo abranger áreas de extensão
significativa.
Assim sendo, após a delimitação da área de projeto, a primeira providência a se adotar
para a elaboração do projeto de uma rede de distribuição de água é o estabelecimento das
suas zonas de pressão, assim entendidas as áreas decorrentes da subdivisão feita na área de
projeto para que as respectivas pressões estática e dinâmica obedeçam aos limites indica-
dos acima. •

Para tanto, há que se dispor da planta topográfica da área de projeto, dotada preferi-
1

velmente de curvas de nível de metro em metro, sobretudo quando se tratar de área de


maior dimensão, em que simples pontos cotados não permitam a fácil visualização de todo
o conjunto.
Se a diferença entre a maior e a menor cota altimétrica da área de projeto (área com
abastecimento) for inferior a aproximadamente 40 m, haverá apenas uma zona de pres-
são. Se essa diferença for maior do que 40 m, haverá a necessidade de mais de uma zona
de pressão, sendo que para cada diferença de aproximadamente 40 m haverá a necessidade
de uma zona de pressão. E por que não a cada 50 m7 Porque, à diferença altimétrica
máxima de 40 m, há que se somar pelo menos mais 1O m relativos à pressão dinâmica
mí~ima que deve existir em todo ponto abrangido pela zona de pressão, chegando-se
assim aos 50 mca (40 mca + 1O mca = 50 mca) de pressão estát'ica máxima estabelecidos
pela Norma, conforme ilustrado na Figura 14.1.

613
d ttFICW(ãi P- • 2- &• 2 -a-a---1-a-a--·-=-=---
Abasteciment o de égua para consumo humano

Reservatório • R
~

10,0 m+hf
-

40,0 m-hf

A - - - - - 1 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Área a ser abastecida por R

Figura 14.1 - Definrção das zonas de pressão

Ainda a respeito da Figura 14.1, deve ser observado que se a área relativa ao trechoA-
B for ocupada, haverá a necessidade de um outro reservatório para abastecê-la com a
pres.são dinamica mínima de 1O mca. Isto poderá ser feito por um reservatório elevado
junto ao reservatório apoiado em A ou, se a topografia do terreno permitir, por intermédio
de um outro reservatório apoiado situado em área com cota altimétrica pelo menos 1Om
superior à do terreno em A e não muito afastada deste, conforme comentado com mais
detalhes adiante.
Não se deve pensar, contudo, que o estabelecimento das zonas de pressão é um
problema meramente matemático, a ser resolvido pela divisão, por 40 m, da diferença
entre as cota·s altimétricas extremas da área a ser abastecida, como referido em pará~rafo
anterior. Na verdade, deve-se levar em conta também a escolha dos locais para a im-plantação
dos reservatórios de distribuição, a quem cabe, em cada zona de pressão, comandar_as
pressões que nela irão prevalecer. Ena escolha do local para implantação dos reservatórios
outros fatores também devem ser considerados, quais sejam:

• a localização mais próxima possível dos reservatórios aos respectivos


centros de massa de consumo de água; ~
• as características topográficas e geológicas do terreno onde serao
implantados, o qual, para não onerar excessivamente o custo da obra
1
de implantação, não deve ser nem muito inclinado ou acidentado, nem
constitufdo·por solo rochoso ou pouco consistente; . .
• a localização, capacidade e estado de conservação dos reservatórios
existentes, para possível aproveitamento no novo sistema;
• maior custo dos reservatórios elevados.

614
Rede de distribuição I Capítulo 14

Assim sendo, a amplitude altimétrica das zonas de pressão não precisa ser uniforme-
mente distribuída. Uma zona poderá ter a.amplitude, por exemplo, de 37 m de desnível
eométrico, enquanto que a amplitude da outra poderá ser de 31 m. Tudo dependerá da
Íocalização dos reservatórios existentes que sejam aproveitáveis e dos terrenos mais adequa-
dos para a implantação dos novos reservatórios de distribuição que se façam necessários.
Em se tratando de reservatório apoiado no terreno, este deverá ser posicionado em
local dotado de cota altimétrica que supere em, no mínimo, 1O ma cota do terreno mais
elevado da zona de pressão que ele irá abastecer, a fim de garantir a pressão dinâmica
mínima de 1O mca (na verdade, essa diferença entre cotas altimétricas deve ser de 1O m
mais a perda de carga que irá ocorrer entre o reservatório e o terreno mais elevado que ele
irá abastecer), como se mostrou na Figura 14.1 .
Se houver prédios a abastecer na área localizada entre a curva de nível que passa
pelo terreno do reservatório apoiado e aquela situada a pelo menos 1O m abaixo desta
última, então o abastecimento dessa área ficará por conta do reservatório da zona de
pressão imediatamente acima (ver Figura 14.1). Caso não haja outra zona de pressão
superior ou não exista terreno relativamente próximo com cota altimétrica e com condi-
ções geotécnicas e topográficas favoráveis, será necessário prever um reservatório elevado
para o atendimento dessa área. Neste último caso, o reservatório elevado costuma ficar
no mesmo terreno do reservatório apoiado correspondente (seu fuste deverá ter, então,
altura de aproximadamente 1O m). Nos Exemplos 14.3 e 14.4, essa questão pode ser

entendida concretamente, inclusive no que se refere à determinação do volume de cada


reservatório.

Exemplo 14.3

Escolher o JocaJ e o tipo de reservatório (apoiado ou elevado) para


atender à vila cuja planta topográfica está apresentada na Figura 14.2.
Considerar como área de projeto aquela dotada de arruamentos. A
densidade populacional de projeto é de 240 hab/ha, relativa à ,ocupação
com prédios pequenos de apartamentos, predominando dois

pavimentos.

Solução

• Cotas altimétricas extremas e desnível altimétrico total na área de


projeto
Conforme o enunciado deste exemplo, a área de projeto é aquela onde
existem arruamentos. Nessa área, têm-se:

615
ra consumo humano
Ab as teci me n to d o jg u e pa

esoaln : 1: 2000
- --
·-- ·-·~----825--- -. . . . _

• 1 \



'

.. , •
1
'
• I t
'
~
J 11 \,
1

\ ~\
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r 1
\
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• -·

Limite d a
1 re a deprojeto
a vila objeto do E 01 1
1 p lo 14 .3
14.2 - Planta topog rafica d
Figura

616

_ -
E_ _ _
-- -- - -_ _
p

Rede de d1stnbu,çáo I Capf ulo 14

~ maior cota altímétrica : 846 m (na praça, ao lado do campo de futebol);


~ menor cota altimétrica: 818 m (no prolongamento da rua 4).

Donde: Af/g =846 - 818 =28 m

• Definição do número de zonas de pressão e escolha do loca l do


reservatório

Aprimeira vista, sendo AHg =28 m < 40 m, seria indicada apenas uma
zona de pressão . O local para o posicionamento do reservatório ficaria
no terreno com cota altimétrica de 846 m, no interior do quartei,rão
destinado à praça.

Porém, como existem prédios a abastecer em área bem próxima e ao


redor do reservatório, praticamente com a mesma cota que a do terre-
no escolhido para a localização deste último, a adoção de apenas uma
zona de pressão exigiria que esta fosse totalmente abastecida a partir
de um reservatório elevado, em face da inexistência de terreno favorá-
vel à implantação de outro reservatório apoiado, em cota altimétrica
suficiente para abastecer a área de interesse.

Outra solução possível seria limitar a área a ser abastecida pelo reser-
vatório elevado àquela que não pudesse ser abastecida por um reservatório
apoiado localizado no mesmo terreno com cota igual a 846 m. Essa
área é toda aquela que se ,situa abaixo da curva de nível de 835 m,
abrangendo 6,4 ha do espaço destinado a habitações (68% da á:rea
total com essa finalidade), ou seja, uma superfície considerável por abri-
gar 68% da população total da vila (para toda a área está prevista uma
única densidade populacional de projeto).

Nesta segunda alternativa, tem-se, portanto, dois reservatórios, um


apoiado e um elevado, ambos localizados no terreno com cota 846 m,
na praça que fica ao lado do campo de futebol, sendo que:
- o reservatório apoiado abasteceria a área situada abaixo da curva
de nível de 835 m, que inclui 68% da população de projeto;
- o reservatório elevado atenderia à área situada acima da curva de
níve\ de 835 m, que responde por 32º/o da população de projeto;
- a adução seria real izada até o reservatório apoiado, devendo haver
uma estação elevatória para transferir água do reservatório apoiado
até o elevado.

617

ua para consumo humano


Abastecimento de ãg

. á t nto mais interessante so


sta segunda aItern a tiv a se.r ª b o po n to de
E for a densidade popu 1ac·ion 1 d
.
vista econômico quanto rna1or a a vil a ern
·o r f o r v o lu m e d - 1
u ·a q ua n to rn a1 O e r es er va ç a o e ev a da
q e s tão , o u s eJ , d' cute no próximo item, n - ,. . "
. c o a o e econom 1ca a .
necessário, pois, rn o se is
. ado com grande volume de
adoção de r~se rvatór10 e1ev · re s e rvação (su-
500 rn 3) . Q u a ndo isto ocorre, o volume
t ot al
da reservaçao ele~a ª ts do v
f 'c o lu m e n o r e s e rv ató rio a p o ia
d0, 1 a n d o a rn a1 o r p a r e do e f u nc io-
'd des ern conjunto . E já qu h .
nando as duas uni a e aver1a a necess ida de
. . d re s e rv a tó rio s a - d
desses dois tipos e s o lu çao com uas zonas de pres
. - a ·io r c ' . . 'd s ã o
la re za . E h a v e ria a in da a cons1 erar a eco nom.
1mpoe-se com m ia
de energia elétrica que a seg .
unda alternativa poss1'b.1'I1' ta · ·
sig n ifica t ~ 1 a, ao ev it ar
O iv o volume demandado pela zo
qbuoem na baixa tivesse de se r
beado até o reservatório eleva
do antes de ser d1' str1'bu1'do
de haver apenas uma zona de , no caso
pressão .
caso a população da vi la seja
pequena, a primeira a lt e r n
ser a escolhida , visto que deix a t iva pode ri a
aria de ser significativa a ec
obtida com a adoção de duas onom ia a se r
zonas de pressão . E sob o p
operacional, a so lução com ape o n t o de vist a
nas um reservatório seria va
caso . No próximo exemplo nu ntajosa nest e
mérico, apresenta-se o cálc
me dos reservatórios apo iado ulo do volu-
e elevado referidos acima .

1~· 8 _vo
!u~e e níveis de água dos r
d1str1bu1çao eservatórios d e

Quando o reservatór io for apoiad


volume é função da quantidade o - . .
d , e nao estiver conJugado
seu cálculo fe ito conforme crit , . a reservatório elevado, seu
e agua demandada em sua á
Se o reservatório tiver de ser1ols ap rea d e in fluê nc ia, sendo O
fo . 'f' . resentados no capítulo 13.
r si~n 11cat1vo (maior que er e evado e o v0 I d
. ume emandado pela sua áre
vantaJoso subdividir o seu volum m500 3 a de influe"na.a
d, aproximadamente), pode-se
do e a outra rt e to rn ar e c o n o m ica mente
pa e, em reservató · e re s.ervação f' d
com o elevad d ' ican o parte deste no reserv · 1 va -
.d
apoia o p º·
sen o u tiliz ri
ada umao a p oiad o
·
Est
e
,
u

tim o fun cion
a tó n o e
·
e
to
ara o elevado. e1 evató · d a ria e n tã o em conJUíl
ria e á g ua p ara bo m be , '
ar água do reservatónO ·
Na alternativa su r .
a evitar fre .. ê . P ac1tada, o
v o lu
qu nc1a excessiva de part'd e d m
o reservatório elevado é estab
I as e p d elecido de modo
ara as das bombas e de m
od o a garantir

618
Rede de distribuição I Capltulo 14

mínima em cota elevada para possíveis inte


reserva . rrupções no fornecimento de energ ia
. (durante 30 minutos ou mais . ) -r. .d
elétrica . · ,em s1 o usual no Brasil atribu ir ao reservatóri
o 01 o
volume variando de 1O1° a 20 Yo o volumd o
eleva d . . e de reservação total demandado na
sua área de influência, ficando o vo 1ume .re
stante armazenado no reservatório apo iad
funciona conjugado ao elevado (Martins, 19 o,
76).
que Quando se utiliza reservatório elevado con
jugado com reservatório apoiado, a vazão a
recalcada do reservatório apoiado para o reserva se r
tório elevado (QE) deve ser, logicamente, ma
que avazão do dia de maior consumo (Q~Mc) re ior
lativa à área abastecida pelo reservatório elevad
emenor ou igual à vazão da hora de maior con o,
sumo (QHMc) relativa à mesma área . Seu cálc
pode ser feito, de forma simplificada, pelas se ulo
guintes equações de interpolação, sendo Vz
volume total de reservação necessário para a áre o
a em consideração e VE o volume adotado pa
ra
O reservatório elevado:

OE= OoMc (1 + Ã)
(1 4 .5)
Observe-se que, na equação acima, para VE
= Vz (ou seja, toda a reservação necessária
ficando no reservatório elevado), Â = O e, p
ortanto, QE fica igual a OoMC· E para VE =
(valor desprezível em relação a Vz, ou seja, to O
da a reservação necessária ficando pratica
mente no reservatório apoiado ou semi-ente -
rrado), Â = 0 ,5 e, portanto, QE = 1 ,5 OoMc
fácil perceber que ambos os resultados são a .É
bsolutamente lógicos, o que atesta a coerê
ciadas Equações 1 4 .5 . No Exemplo 1 4 .4 , é ap n-
resentada uma aplicação prática desse méto
do de cálculo . -
No caso de pequenas comunidades ou de
áreas com populações reduzidas (menor
que 5 OOQ habitantes) em que, por força de
condições topográficas haja uma única zon
de pressão a ser comandada por reservatório a
elevado, costuma-se aceitar, por razões eco
nômicas, a util ização de um único reservatóri -
o, elevado, sendo o dimensionamento do se
vo lu me fe ito à base de um qu into (1/5) do v u
olume de consumo de água no dia de maio
co nsumo na área em consideração . Ou seja, n r
essa situação especial, o reservatório elevad
é dimensionado para cumprir apenas a fu o
nção de volante (para compensar a variaçã
consumo ao longo do dia), conforme proposto o de
por Azevedo Netto et ai. (1998), dispensan-
do-se as demais parcelas que normalmente c
ompõem o volume de reservação.
No que concerne aos níveis de água no inte
rior dos reservatórios de distribuição, são
dois os níveis relevantes para o dimensionam
ento da rede de distribuição:
• nível de água máximo, o qual é usado
para a verificação da pressão
estática nos pontos de interesse da rede
de distribuição, sendo a pres-
são estática máxima calculada em relaçã
o ao ponto mais baixo da área
em que se faça a distribuição de água;
• nível de água mínimo, utilizado para o
cálculo das pressões dinâmi-
cas mínimas nos pontos de interesse da
rede de distribuição, confor-
me definido no item 1 4 . 7.

619
Abastiec.lmento de égua para consumethumano •

~ exemylo d~ que ~e apresenta em outro. ca~ítu.lo_deste li.vr?, ~s modelos rnaternár


de s1mulaçoes h1drául1cas para redes de d1str1bu1çao, apl1cave1s com a ut,·i· _ icos
. .. . izaçao d
computador, poss1b1l1tam cálculos mais exatos, e em tempo real, para 05 volu e
reservatórios e seus níveis · de água ref er1'd os acima.
· críticos · mes dos

, .
' .
Exemplo 14.4 -

Complementar o Exemplo 14.3, calculando os volumes dos rieservató-


rios para a alternativa com duas zonas de pressão, com os seguintes
dados para o alcance do projeto: (1) densidade populacional: 240 hab/
ha (típica das áreas mais adensadas de cidades médias ver Tabela
14.1); (2) consumo per capita médio de água: 250 1/hab.dia; (3) k1 ==
1,2; (4) k2 = 1,5.

Solução

• Áreas a abastecer

A alternativa com duas zqnas de pressão, discutida no Exemplo 14.3,


abrange as seguintes áreas, calculadas a partir da Figura 14:2:
- áreas destinadas a habitações:
zona alta (acima da curva de nível 835 m): 3,0 ha
zona baixa (abaixo da curva de nível 835 m): 6,4 ha
- áreas destin.adas à praça e a finalidades institucionais:
zona alta (acima da curva de nível 835 m): 1,8 ha
zona baixa (abaixo da curva de nível 835 m): 0,5 ha
- área total: 11, 7 ha

• População de projeto
zona alta: 3,0ha x 240 hab/ha = 720 hab
zona baixa: 6,4 ha x 240 hab/ha = 1.536 hab
população total= 2.256 hab

• Vazões de projeto
1

- no dia de maior consumo (OoMc):


zona .alta: 720x250x1 ,2/ 86.400 = 2,50 Us
zona baixa: 1.536x250x1 ,2/ 86.400 = 5,33 Us
total= 7,83 Us
.. .

620
Rede de distribuição I Capítulo 14

,
1

_ na hora de maior consumo (QHMc):


zona alta: 720x250x1 ,2x1 ,5/ 86.400 = 3, 75 Us
zona baixa: 1.536x250x1 ,2x1 ,5/ 86.400 = 8,00 Us
tota 1= 11 , 7 5 1/s

• Volumes de água demandados no dia de maior consumo (VoMc)


zona alta: 720x250x1 ,2 = 216.000 L = 216 m3
zona baixa: 1.536x250x1 ,2 = 460.800 L = 461 m3

, Volumes de reservação necessários (VR)

Admitindo que a localidade em questão não disponha de estudos


específicos para a determinação dos volumes de reservação, estes
serão calculados como iguais a 1/3 do volume de água consumido no
dia de maior consumo. Donde:
para zona alta: VRzA = 1/3 x 216 m3 = 72 m3
para zona baixa: VRzs = 1/3 x 461 m3 = 154 m3
total: VRT = 226 m3

• Volume dos reservatórios

Em função da topografia da área da vila, torna-se necessário um reser-


vatório elevado para a zona alta. O volume de reservação demandado
por essa zona de pressão, 72 m3 (conforme tópico anterior), não é

excessivo para um reservatório elevado. Assim sendo, a solução para


este quesito, usando volumes padronizados, poderia ser:
Volume do reservatório elevado: VE = 75 m3
Volume do reservatório apoiado: VA = 150 m3

Porém, para exercitar o processo de minimização do volume do reser-
vatório elevado que é fundamental quando o volume demandado
Pela área de influência do reservatório elevado atinge valores acima
de aproximadamente SOO m3 , segue-se o critério visto, para tanto, •

na parte conceituai deste item: ,

- Volume do reservatório elevado:


~ indicação econômica é que ele seja de 10% a 20% do volume de
agua demandado no dia de maior consumo em sua área de influência
(cf. início do item 14.8). Logo:
VE:::: 20% x 216m3 = 43 2 m3 ==> Adotado volume padrão de 50 m3
Autonomia do reservató;io elevado de 50 m3, na hora de maior consu-
rno:
5
t:::: 0.000 L + 3, 75 Us + 3.600 s/h =3, 7 horas (maia·r que 0,5 h ==> OK)

621
.


••

Aba:Stedmento de égu;, para consumo humano

. . Volume do reservatório apoiado


3
vA= vR . vE= 226 m3 - so m3 = 176 m => Adotado volume padrão de
3
200 m . . . ..
3
Ou seja, o reservatório apoiado 1nclu1rá 25 m (75 ~ - 50 m3 == 25 m3)
3

do volume de reservação da zona afta, a ser transferido ao reservatório


elevado por meio de uma pequena estação elevatória a ser implan-
tada entre os dois reservatórios.

• Vazão a ser recalcada do reservatório apoiado para o reservatório


elevado (QE)
Usando as Equações (14.5):

Para VE == 75 m3
VZA = 0,5(75-75)/ 75 = zero
À= 0,5 (VZA - VE) /
OE= OoMC/ZA (1 + À) = OoMCIZA = 2,50 Lls

Para Ve = 50 m3
'A= 0,5 (VZA • VE) / VZA = 0,5(75-50)/ 75 = O, 17
QE = OoMCIZA (1 +À)= QDMCIZA (1 + O, 17)= 1, 17 x 2,50 = 2,93 L/s

. -

Exemplo 14.5

Calcular os volumes dos reservatórios de distribuição para a mesma vila


,da Figura 14.2, porém considerando-a como uma pequena comuJ1idade,
com os seguintes dados para o alcance do projeto: (1) densimade
populacional: 60 hab/ha (casas isoladas, com lotes médios e pequenos);
(2) consumo per capita médio macromedido: 100 Uhab.dia; k1 = 1,2 e
k2 ;:: 1,5.

Solução '

Será adotado O mesmo roteiro de cálculo do Exemplo 14.4.


• População de projeto

zona alt~: 3,0 ha x 60 hab/ha = 180 hab


zona baixa: 6,4 ha x 60 hab/ha = 384 hab
população total =564 hab
.
·,.

622

. . ._ _
sz -- -=-•=-r--.....,-·· -
Rede de distribuição I Capítulo 14

f
• vazões de projeto
_ no dia de maior consumo (OoMc):
zona alta: 180x100x1 ,2/ 86.400 = 0,25 Us
zona baixa: 384x100x1 ,2/ 86.400 = 0,53 Us
total = O, 78 Us
1
_ na hora de maior consumo (QHMc):
zona alta : 180x100x1 ,2x1 ,5/ 86.400 = 0,37 Us
zona baixa: 384x100x1 ,2x1 ,5/ 86.400 = 0,80 Us
tota 1 = 1, 17 Us

• Volumes de água demandados no dia de maior consumo (VoMc)


zona alta: 180x100x1 ,2 = 21.600 L = 21,6 m3
zona baixa: 384x100x1 ,2 = 46.080 L = 46, 1 m3
total = 67, 7 m3

1 • Volumes de reservação necessários (VR)


para zona alta: VRZA = 1/3 x 21,6 m3 = 7,2 m3 •

para zona baixa: VRzs = 1/3 x 46, 1 m3 = 15,4 m,3


total: VRT = 22,6 m3

Em face dos pequenos volumes de água envolvidos, torna-se mais van-


tajoso, técnica e economicamente (neste caso, a facilidade operacional
1 •

seria o fator de maior peso), adotar-se uma única zona de pressão, a


ser abastecida por um reservatório elevado (devido às condições topográ-
ficas locais), com volume igual a 1/5 do volume de água demandado no
dia de maior consumo (critério de dimensionamento adotado quando se
utiliza todo o volume de reservação elevado, conforme foi visto. na parte
I
conceituai deste item 14.8). Logo:

VE == 1/5 x 67, 7 m3 = 13,5 m3 => Adotado o volume padrão de 15 m3

A adução de água tratada seria feita diretamente ao reservatório ele-


vado, com vazão igual a vazão do dia de maior consumo de toda a
área, ou seja, O, 78 Us .

' •

623
ara consumo humano
Abasteclment.o de água p

1 ~es
14.9 Diâmetro d.as tubu aço
E

utilizados
• numa rede de distribuição de água devem s er
d.â tros das tubu açoes
1 . . d' í .
Os , ·me t de tudo com o5 d,·ªA metros comerc1a1s 1spon veis no. mercado· Corn
compatíveis, an es á . , " sultar. primeiramente, os catálogos atualizados dos fabr,·
f' r1dade é necess rro con " , . . .. , . ..
essa 1na ' _ .
cantes de tubos, conexoes, v álvulas e peças espeC1a1s ut1frzados em redes publicas de distri-

buição de água. d d d' t 'b · - é d


o diâmetro m1n1m , • 0 geralmente adotado em re es e 1s r1 u1çao . _ e 50 mm' de
· eom a NBR 12 .218 da ABNT (1994)2. Contudo,
aco~do .,nc1us,ve _ em s1tuaçoes
.~ . e
.especiais
mediante a competente justificativa, podem-se usar tubufaçoe~ com d1ametros 1nfer1ores a
so mm, em PVC ou materiais similares para instalações prediais (por não serem sujeitas a
problemas de tuberculização). São duas as situações principais em que isso tem ocorrido: (i)
em áreas de densidade populacional e consumo de água baixos, como as prevalecentes em
determinadas comunidades rurais e em áreas periféricas de cidades; e (ii) em linhas de
distribuição localizadas e de pequena extensão, como aquelas formando alças instaladas
em calçadas ou ainda em vielas no interior de quarteirões (redes condominiais). No item 14.10.5,
será visto com mais detalhe o emprego de tubulações com diâmetro menor que 50 mm.
Como acontece em todo dimensionamento de tubulação, o diâmetro a adotar é fun-
ção da velocidade da água, cujo valor deve situar-se entre limites, mínimo e máximo, esta-
belecidos com base em considerações de natureza técnica e económica. A velocidade
mínima é e~abelecida para minimizar a corrosão interna e evitar a deposição de materiais
~m s~spensao porventura existentes na água, inclusive os decorrentes de processos corro-
~ivos ~nstalados no interior das tubulações. Seu valor usual é de O 60 m/s, como consta
1nclus1ve da NBR 12.218 (ABNT, 1994). '
Já a velocidade máx· é b .
· dos ao escoamento
cia · da •ma
, resta
b elec1da - para evitar
. . . os
. efeitos
. dinâmicos nocivos asso-
desgaste das tub 1 - agua ,so repressoes pre1ud1c1a1s devidas ao golpe de aríete), ao
u açoes e respectiv 5 · f d
corrosão e aos ruídos d ?
ac~ssór1os por problemas de erosão, ao contra e a
carga nas tubulações f tesa?,r~dáveis, assim como para permitir a limitação da perda de
" , a or u timo este qu , · · · 'b · - de
água. O valor da velocid d . ,e e muito importante em redes de d1stn u,çao .
conforme o autor. e O seuª paise ~áxrma
de or· da agua em tubulações de rede de distribuição varra
Nessa mesma Tabela 14.3, incl rge~, como se mostra na Tabela 14.3. . .
fórmula Vmax==0,6+ 1 so ( " uem se os valores de velocidade máxima calculada pela
es . f. , com V em mi:5 t•
. pec,a
dtstr'b izada
I ·· -
como ade d
qua a Para o t b ·e D em m), que também" é referida na bibJiogra de 'ª
uiçao de água, emb es ª elecrmento da velocidade máxima em ,redes
ora conduza a v. 1 . . . 'd S,
ªores ma,s conservadores, ou SE!Ja, ma,s reduz, 0
i -
Ern ~reas muito aden
Permitir d' " . sadas, como as
istanoas razoilvets e . que ocorrem na cidade . ara
ntre as tubulações t"o de São Pau/o -SP, o dlametro mínimo adotado é de 15 mm P
·~· nco, como
consta do item 14.10.2).




'
624
Rede de distribuição I Capítulo 14

nibela 14.3 • valores máximos de velocidade da água em tubulações de rede de


. ,.,
distrib1u1çao .
- Velocidade máxima (m/s)
D •
França EUA Itália
{mrn) (L.Bonnet) São Paulo Fórmula
(Fanning) (M.Marchetti) (Azevedo Netto) V=0,5+1,SD
- 75• o

0,70 0,80 0,75 0,60


0,75 0,95 0,80 0,71
100 0,60
0,80 1,20 0,90 0,75
150 0,80
OI 90 1,35 0,83
200 1,00 0,90
1,00 1,50 0,90
250 1, 1O 1, 1O
300 1, 1O 1,65 0,98
1,20 1,20
350 1,20 1, 75 1,05
1,25 1,30
400 1,25 1,80 1, 13
1,35 1,40
450 1,30 1,90 1,20
1,40 1,50
500 1,40 2,00 1,28
1,50 1,60
550 1,50 2,05 1,35
1,60 1,70
600 1,60 2, 10 1,43
1,70 1,80
750 1,75 2, 15 1,50
1,90
1000 2,00 2,40 1,73
2,20
2, 1O

Fonte: AZEVEDO NETIO et ai. (1998)

No Brasil, a NBR 12.218 (ABNT, 1994) estabelece em 3,5 m/s o valor da velocidade
máxima em redes de distribuição. Porém, tendo em vista limitar sobretudo a perda de
carga nas tubulações que varia aproximadamente com o quadrado da velocidade -
muitos autores preferem estabelecer valores variáveis para a velocidade máxima, conforme
seja o diilmetro da tubulação. Têm-se, assim, valores variando de 0,70 mls para a tubulação
de 50 mm de diilmetro até 2,20 m/s para tubulações com diilmetro de 1 000 mm (Azevedo
Nettoeta/., 1998: 224). Na Tabela 14.4, listam-se os valores da velocidade máxima preco-
nizados pelos mesmos Azevedo Netto et ai., lado a lado com as respectivas perdas de carga
unitárias.
Não obstante o dimensionamento feito modernamente por meio de computadores,
utilizando ao máximo as perdas de carga disponíveis, possa resultar valores elevados para a
velocidade da água em tubulações das redes de distribuição (próximos ao limite máximo de
35
• mls quando os desníveis topográficos são acentuados), tal procedimento deve ser
encarado com prudência. Épreciso lembrar que o dimensionamento de redes de distribuição
! feito com base em previsões de adensamento populacional e de consumos per capita de
gua de longo prazo, que podem se alterar no transcurso do período de alcance do proje-
to. Assirn, não é recomendável trabalhar muito próximo ao limite máximo das condições
topográficas disponíveis.
_Deve ser lembrado também que sobretudo nas cidades maiores, as obras de implan-
taçao d - ' . 'd á ·
àPo e~ubulaçoes em logradouros públicos. costu~am causar transtorn~s co~SI er ve~~
das ~ilaçao, alérn de não serem baratas. Por isso, é 1m_portante que elas nao seJam n~pe51
do . rn rnesrno local em curtos espaços de tempo, ainda que como obras de amplraçao
sisterna existente.

625
Abas:tec,i mento, de água para consumo humano

Tabela 14.4- limites práticos de velocidade e de vazão para tubulações de rede de


distribuição
Velocidade
- = o

- .
Vazao max1ma
,
Perda de carga unitária (J) -
D (Qmax)**
(mm) máxima (Vmax}* em m/100m (C=130)***
(m/s)

{Us) Para Q Para Q/2 -
50 0,70 1,4 1,49 ...
0,41
75 0,90 4,0 1,44 0,39
100 1,00 7,9 1,25 0,34
150 1,00 17,7 0,77 0,21
200 1, 1O 35 0,65 O, 18
250 1, 1O 54 0,50 0, 14
300 1,20 85 0,48 O, 13
350 1,30 125 0,46 O, 13
400 1,40 176 0,45 0, 13
450 1· 5,0
I 238 0,45 O, 12
soo • 1,60 314 0,45 0, 12
600 1,80 509 0,45 0, 12
700 2,00 769 0,46 O, 13
800 2,20 1105 0,47 O, 13
* Conforme AZEVEDO NITTO et ai. (1988: 493) **Q
max
=Vmax.1tD2/4
***Valores pela fórmufa de Hazen-Williams, com C = 130 •

Com base em todas essas considerações, têm sido tradicionalmente adotados limi-
tes máximos
• de velocidade mais prudentes para as tubulações de redes de distribuição
de água, a exemplo dos valores indicados na Tabela 14.4, com base na respeitável expe-
riência de seus autores. Deve ser observado que os diâmetros integrantes da tabela
correspondem àqueles comercializados atualmente no Brasil para utilização em redes de
distribuição de água.
Os valores da Tabela 14.4 aplicam-se a situações normais. Caso a área de projeto
seja muito acidentada, com valores maiores de carga hidráulica disponíveis, pode-se ex-
ceder um pouco os valores tabelados. Em situação oposta, quando a área é muito plana,
com valores reduzidos de carga hidráulica disponível, pode-se usar valores inferiores aos
indicados.
Também na Tabela 14.4, é interessante observar que, quanto maior o diâmetro das
tubulações, tanto menor a correspondente perda de carga unitária máxima, ainda que se
admitam majores velocidades. Isto ocorre porque as tubuf,ações de maiores diâmetros
estendem-se por comprimentos muito maiores do que aquelas dotadas de menores diâme-
tros, devido à sua maior capacidade de vazão. E como nas redes cle distribuição as cargas
topograficamente disponíveis costumam ser reduzidas, é fundamental que corresponda~
f . · d d
coe 1c1entes e per; a de carga unitária menores para as tubulações de maiores com · . pr1 ..
mentas, ou seja, para as tubulações de maiores diâmetros. .
•.

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.
·' . .
:' ;

626
Rede de distribuição I Capítulo 14

14.10 Traçado dos condutos

Definidas as zonas de pressão, conforme explicado no item 14.7, 0 passo seguinte é O


lançamento dos condutos ou tubulações da rede de distribuição na malha viária de cada
zona de pressão.
A rede de distribuição de água é constituída por dois tipos de condutos:

• condutos ou tubulações secundários: tubulações de menor diâme-


tro, em contato direto com os prédios a abastecer, cuja a)imentação é
diretamente dependente dessas tubulações;
• condutos ou tubulações principais: tubulações de maior diâmetro,
responsáveis pela alimentação dos condutos secundários. São também
denominados tubulações tronco ou condutos mestres, e a eles corres-
ponde o abastecimento de extensas áreas da cidade.

Basicamente, existem dois tipos de traçados para as redes de distribuiçãq:

• rede ramificada ou em '' espinha de peixe'', típica de áreas que apre-


sentam desenvolvimento linear pronunciado e em que as ruas não se
conectam entre si por impedimentos topográficos ou de traçado urba- .
no. Nesse tipo de rede, os condutos principais são dispostos segundo
a direção predominante da área e os condutos secundários deles deri-
vam, conforme ilustrado na Figura 14.3;
• rede malhada, típica de áreas com ruas formando malhas viárias,
permitindo que as tubulações se liguem entre si pelas suas duas
extremidades, conforme indicado na Figura 14.4. Esse tipo de traçado
apresenta vantagens não só para o escoamento hidráulico mas tam-
bém para a qualidade da água, ao permitir o permanente fl~xo da
l água nos dois sentidos das tubulações, evitando as denominadas
pontas mortas.

1
R
--.

Figura 14.4 - Rede malhada


Figura 14.3 - Rede ramificada

627
.•
____ _... ., , __ _
... . ..
. ,\..

_ _ _ __.... ~l •
Aba.steclmento de ãgua para con·sumo humano

No que se refere ao traçado dos condutos principais, duas configuraç-oes se dest


acarn·
• condutos prin-cipais em grelha, traçado característico de área . ·
. .b . . d 'd d l . 1 s muito
estreitas ou com a1xa ens1 a e popu aciona , em que 05 cond
• · · sao
pr1nc1pa1s · 1men t e para 1e 1os en t re s1,
,., senst~e · 11gando-se
· apenasutos
uma de suas extremidades a um outro conduto principal e apresenta edrn
diâmetros decrescentes no sentido contrário ao reservatório, com~ s~
mostra na Figura 14.5;
• condutos principais em anel, em que as tubulações principais for-
mam circuitos fechados ou em anéis, como ilustrado na Figura 14. 6.

Esse tipo de traçado é característico de áreas com maiores densidades
populacionais e com configuração em que as larguras dessas mesmas
áreas não sejam muito reduzidas. É o traçado que apresenta maior
eficiência hidráulka.

Anel li

R
- '1--- - ' 1 - - ~ ~ ~ ~ ~ ~- · Anel Ili
R
.

e- ~ Anel 1 ·

Figura 14.5 - Condutos principais em grelha Figura 14.6 - Condutos principais em anel
O
A NBR 12.218 da ABNT (1994), em seu item 5.6, dá as seguintes orientações para
traçado dos condutos principais e secundários, buscando, obviamente, melhores condi·
ções de escoamento hidráulico e da garantia da qualidade da água (itens 5.6.1 e 5.G.2 ),
melhores condições operacionais (item 5.6.3), redução de custos de implantação e de ope·
ração e também a minimização de transtornos à população (item 5.6.4):

5.6.1 Os condutos principais devem ser localizados em vias públicas,


formando, preferencialmente, circuitos fechados. d
5.6.2 Os condutos secundários devem formar rede malhada, poden °
ou não ser interligados nos pontos de cruzamento. . 300
5.6.3 Ao longo de condutos principais, com diâmetro superior ª
mm, devem ser previstos condutos secundários de distribuição. . . 15 -
P r1nc1pa
5 .6.4 A rede deve ser dupla nos seguintes casos: a) em ruas . 1 é
de tráfego intenso; b) quando estudo demonstrar que a rede dUP ª
mais econômica.
Rede de distribuição l Capítulo 14

. ntação de que os condutos principais


Aor1e . formem preferencialmente circuitos fecha-
. d a que O traçado em grelha seJa transformado em anel sempre que as distâncias
dos 1n uz b 1 -
extremidades abertas de suas tu u açoes tronco contíguas não sejam excessivas.
entre as . . . d d d . d .
Ainda com a f1nalrd.a e e re uz!r custos e ,mplantação e operação, os condutos
. . is devem se localrzar preferencialmente em: ·
pr1nc1pa
• ruas sem pavimentação ou com pavimentação menos onerosa;
• ruas de menor intensidade de trânsito;
• proximidade de grandes consumidores;
• proximidade das áreas e de edifícios que devem ser protegidos con-
tra incêndios.

No posicionamento das tubulações principais devem ser levadas em conta também as


distâncias máximas que cada uma delas pode ter até os limites de sua área de influência, de

modo que fique garantido o abastecimento destas últimas com a utilização de tubulações
secundárias dotadas do diâmetro mínimo adequado, o qual, por sua vez, é função da
densidade populacional e da vazão específica da sua área de atuação. Os métodos de
cálculo dessas distâncias máximas são apresentados a seguir, para três situações típicas: (1)
para área abastecida a partir de uma única tubulação tronco; (2) para área atendida por
tubulações tronco dispostas em grelha; (3) para área alimentada por tubulações tronco
dispostas em anel.
Em todas essas situações fica evidente que a localização das tubulações tronco no eixo
de simetria de suas áreas de influência facilita o atendimento dessas distâncias máximas,
além de possibilitar maior equilíbrio para a distribuição de água.

14.10.1 Distância máxima de atendimento por uma única tubulação


tronco

. Aocorrência de área abastecida a partir de uma única tubulação tronco é caracterís-


tica de áreas com dimensões limitadas e que apresentam baixos v~lores de densidade
Populacional e de vazão específica. Para essa situação, a menos que haja impedimento
de ordem econômica para a sua obra de implantação (ver tópico anterior), a tubulação
tronco
. , · 1 1
sera localizada no eixo de simetria da área a abastecer, em para e O a ma ' 1·ar
dirnensãO d · 7
essa mesma área como se mostra na Frgura 14. ·
A área de influência ou ;rea a ser abastecida por cada derivação da tubulação tronco
correspo d , · (· )
?~ ·d
nessa . n e à area hachurada na Figura 14. 7. A vazão máxima . que po e ser supr ~
·,da
t area Por uma·tubulação secundária conectada em um un,co ponto à tubulaçao
ronco é I d · 14 7 ·
ca culada pela seguinte equação, facilmente dedutível a Figura · ·

629
Aba:stecJrnento de ãgua para consumo hum3no

'

(14.6)

Na qual:
Q 5 = vazão máxima que pode ser veicufada pela tubulação secundária
(obtida da Tabela 14.4 para o diametro da tubulação secundária) (Us);
dmax = distância máxima à tubulação tronco (hm);
Lp =dimensão do quarteírão paralela à tubulação tronco (hm);
qª = vaz.ão específica da área a ser abastecida (Us.ha).

R
t t t . t t t t

p - Tubulação tronco
- Tubulação secundária
~-dmáx-~
Figura 14. 7 - Distân,cia má.xi ma de atendimento por uma única tubulação tronco

Da Equação 14.6, obtém-se a distância máxima (dmax), medida em hectómetros (1 h.m


= 1 00 m), que deve existir entre a tubulação tronco e o poflto mais reml~to que rpoderá ser
alimentado a partir da tubulação tronco, por urna tubulação secundária interligada a esse
tronco:
dmax = Qsf (q8 . LJ (14.7)
Como é fáál de visualizar, a fórmula acima aplica-se t.ambém para o cálculo da distâ~
eia máxima de tubulações tronco formando grelha ou anel até o limite das áreas externa
(ao anel ou à grelha) que lhe são adjacentes.

630
Rede de distribuição I Ca pi tu lo 14

Distância m á x im a e n tr e tu b u la ç õ e
14.10, 2 s tr o n c o fo rm a n d o g r e lh a

A Figura 14.8 fornece a configuração b


ásica para a realização desse cálculo:
.
l..:p

Tronco

máx

Tronco

Figura 14.8 - Dist~ncia m á xi ma entr


e duas tubulações tr o n co fo rm a n d o
grelha
Seguindo a mesma term inologia e racio
cínio semelhante ao do tópico anterior,
têm..se:

(14.8)

(14.9)
(14.9) em (1 4 .8):
"

(14.10)

Donde:

(14.11)

(14.11) em (14.9): •

d _ 2 0s
max -
LPq a
(14.12)
O
tronc~e valor de dmaxfor muito pequeno (inferi
or a 20 0 m) · o que implicaria tubulaçõ.w-.1
tado PaPor demais pr.óximas entre si , fí
-ra a t b 1 ~ ca caracterizada a insuficiência do diâmetro ado-
ocorrer e u- u açao secundáriat o qual dev
e, por issot ser aumentado. Isso costuma
'
1
e de Sao Paulo o d1ametro mfntmo das.tu
bu tações secundénas é de 75 mm.
1

631
Ab•Jl*'dm•nto de •gua pm consumo humano

14. 10.3 Distância máxima entre tubulações tronco formando anel

Para este caso, tem-se a configuração básica mostrada na Figura 14. 9.


usando a mesma terminologia e raciocínio semelhante aos usados nos tó .
, . d. - d rt. . - . picos ante
rtores, exceto.no que se refere às 1mensoes os qua e,roes, aqui denominados l e .
conforme a Figura 14.9, têm-se: 1 L2,

(1) nº de derivações em cada lado: (d/L 1 - 1) e (d/L2 - 1)


(2) total de derivações voltadas para o interior do anel:
2 (d/L1 .. 1 + d/L2 - 1) = 2 (d/L 1 + d/L2 - 2)
(3) vazão total máxima que pode alimentar a área interna do anel·
2 (d/L 1 + d/L2 - 2).Q 5 .
(4) vazão demandada pela área interna do anel: d2 qª

Sendo (3) igual a (4), obtém-se:


1
d2 qa = 2 (d!L1 + d!L2 - 2).0s

Donde;

(14.13)

dmáx=d

as Os
as Os [.
-
Qs •

Qs l
Qs
=d
Qs [.

Qs· •

as [
Qs
-

as Qs Qs t '
'
'

'

- -~
- 1:
Figura 14 9 .. • •
1
1: 1 .
. Distancia má . 1 1:1
x, ma entre tubuf . . . . .
açoes tronco formando anel

63
.2
Rede de distribuição I Capitulo 14

_do a equação do 2º grau (que só é possível se o seu discriminante for 1.1 > O),
Resolven - d - bl . .
· r valor é a solµçao o pro ema, pois o.que interessa é a maior distância
. de maio ,,. _ , . .
araiz _ Se A< o, deve ser aumentado o d1ametro da tubulaçao secundaria, o que 1ncre-
possfvel, r de Os tornando viável a resolução da equação.
menta o va1o ,
'

• - • • =
- = - - J F

- Exemplo 14. 6

Para as tubulações tronco dispostas em anel, conforme indicado na


Figura 14.1 O, calcular a distância máxima que pode haver entre elas e
também as distâncias máximas que elas podem ter até o perímetro
externo da área indicada, sendo de 50 mm o diâmetro das tubulações
secundárias. São conhecidos os valores dos seguintes parâmetros refe-
ridos ao final do período de alcance do projeto: (1) densidade popula-
cional: D =120 hab/h~; (2) consumo per capita médio macromedido
(incluindo perdas de água): q = 200 Uhab.dia; (3) k1 = 1,2; (4) k2 =
1, 5; (5) L1 =11 O m; (6} L·2 = 9 O m . .

1 1 •
h - h

i
V

1 •

\
1

; • 1 •

''

1 •
• . • •'

- •
''
'
1
t
~1

-- Figura 14

~
·1o - Rede em anel do Exemplo 14.6

633

,, •
Abastecimento de água para tonsumo humano

Solução:

• Vazão específica por área:


qa:::: D.q. k1.k2/86.400 => qa = 120 X 200 X 1,2 X 1,5/ 86.4QQ ~
0,500 Us.ha qª::
• Vazão máxima das tubulações secundárias:
C~mo primeir~ tentativa, experimentou-se DN 50 mm para as tubula-
çoes secundárias.
Pela Tabela 14.4, para DN = 50 mm:=> Q 5 = 1,4 Us

• Distância máxima entre troncos (d):


-
Ca\cutada pela Equação 14.13:

O,SOO .d 2 _ 9
7,tO +0, 0 d +2 = O .=> O, 18cf -2,02d + 2 = O
2 X 1,4 1,10 xQ,90
Donde (raiz maior): .
d= 1O, 11 hm = 1.011 m (ou seja, uma distância bastante folgada) •

• .Cálculo da distância máxima ao perímetro externo horizontal (dv)


É feito pela Equação 14.7, sendo a distância paralela ao tronco hori-
,
zontal Lp = L2 =0,90 hm:

dv =Os I (qa.lp) = 1,4 / (0,50 x 0,90) = 3, 11 hm = 311 m

• Cálculo da distância máxima ao perímetro externo vertical (dh)


É feito também pela Equação 14. 7, sendo a distância paralela ao tron-
co vertical Lp=L1= 1, 1O hm: '

dh = Os I (qa.Lp) = 1,4 / (0,50 x 1, 1O) = 2,54 hm =254 m


O
Ou seja, todas as distâncí~s calculadas são razoáveis, o que confirma
DN 50 mm para as tubulações secundárias. ,.
l J a r n J o aa s o 1 e r•

634

\ - - ---
Rede de distribuição I Capítulo 14

Exemplo 14. 7

Para a tubulação tronco da Figura 14. 7, a ser utilizada na rede de


distribuição de água de uma pequena comunidade, calcular o seu al-
cance máximo até o perímetro externo da área a ser abastecida, sendo
de 50 mm o diâmetro das tubulações secundárias. São conhecidos os
valores dos seguintes parâmetros referidos ao final do período de al-
cance do projeto: (1) densidade populacional: 35 hab/ha; (2) consumo
per capita médio macromedido (incluindo perdas de água): 100 U I

hab.dia; (3) k1 = 1,2; (4) k2 = 1, 5; (5) LP = 100 m; (6) Lt = 80 m.

Solução

• Vazão específica por área:


Pela Equação 14.4: •

qa = D.q. k1.k2/86.400 => Qa =35 x 100 x 1,2 x 1,5/ 86.400 => qa= 0,073 1/s.ha

• Vazão máxima da tubulação secundária:


Pela Tabela 14.4, para D = 50 mm (1ª tentativa) => Os = 1,4 Us

• Cálculo da distância máxima ao perímetro externo (paralelo à


tubulação tronco):
É feito pela Equação 14. 7, sendo a distância paralela ao tronco hori-
zontal LP = 100 m = 1,0 hm:


Dmax =Os / (qa.Lp) = 1,4 / (0,073 x 1,00) = 19, 18 hm = 1.918 m

Ou seja, distância bastante folgada, que confirma o DN 50 mm para as


tubulações secundárias.

Os resuftados dos Exemplos 14.6 e 14. 7 mostram que, para áreas com densidade
populacional não elevada, as distâncias de máximo alcance das tubulações tronco são
relativamente grandes, mesmo quando se .utiliza o diâmetro mfmimo de SOmm para as
tubulações secundárias. Isto proporciona boa flexibilidad.e n,o momento de ea:tabelecer
O
pesicienamerito das tubulações tronco, o qwe t@rna mais fáQif a consideração dos
1

demais riequisitos a serem observados nessa operação (localização em ,r,uas menos


movímentadas e com pavimentos menos onerosos). Não obstante, o cálculo dos valores

635
Ab cln1 nto d dgua p ra consurno humano

das distancias máximas deve ser sempre realizado, para orientar e justificar ..
. ,. . . .
namento adotado para as tubulaçoes tronco. O Pos,c ..
10

14.10.4 Comprimento máximo de tubulações secundárias com


diâmetro mínimo de 50 mm

o comprimento máximo de uma seqüência de tubulações secundárias, com diametro


mínimo de 50 mm, é função do diâmetro da tubulação secundária, da vazão máxima
atribuída a esse diâmetro e do coeficiente de vazão específica de distribuição por metro de
tubulação (qm) da respectiva área de projeto, sendo este último calculado conforme Equação
14.3. Seu valor deve ser tal que não resulte no início da tubulação, ou seja, no seu
ponto de derivação da tubulação tronco que a alimenta, vazão superior à vazão máxima
admitida para o diâmetro da tubulação secundária. Logo, o seu cálculo é feito pelas seguin-
tes equações:

• Para tubulação secundária alimentada por apenas uma derivação de


tubulação principal:

(14.14)
Sendo:
lmax : comprimento máximo da tubulação secundária (m);
Os : vazão máxima relativa ao diâmetro da tubulação secundária conforme
Tabela 14.4 (Us);
qm: vazão específica de distribuição por metro de tubulação [U(s.m)],
relativa à área em estudo.

• P~ra tu?ul~ç~o secundária alimentada por duas derivações de tubu~


laçoes pnnc,pa,s (tubulação secundária localizada entre duas tubula~
ções tronco):

(14.15)

.Exemplo 14.8
..

Calcular o compr' .. . ara as


localidades d imento máximo das tubulações secundária~ p rte)
e 14 2 (p. . e que tratam os Exemplos 14.1 (cidade de médio Pd~ ·as
· equena com .. ·d un or1
tenham d·~ · uni ade)r em que as tubulações sec
tametro de so mm.

636
Rede de distribuição I Capftulo 14

,.,,
soluçao

• Para a cidade de médio porte de que trata o Exemplo 14.1


No Exemplo 14.1, calculou-se: qm = 0,00208 Us .m. Logo:
Para tubulações secundárias alimentadas por apenas uma derivação
de tubulação principal:

Lmax =Os/ qm = 1,4 I 0,00208 = 673 m


Para tubulações secundárias alimentadas por duas derivações de
tubulações principais:

Lmax = 2Qs I qm =2 x 1,4 I 0,00208 = 1.346 m

• Para a cidade de pequeno porte de que trata o Exemplo 14.2


No Exemplo 14.2, calculou-se: qm = 0,000521 Us.m. Logo:
Para tubulações secundárias alimentadas por apenas uma derivação
de tubulação principal:

Lmax = Os I qm == 1,4 I 0,000521 = 2.687 m


Para tubulações secundárias alimentadas por duas derivações de
tubulações principais:

. Lmax = 2Qs I qm = 2 X 1., 4 / 0,000521 = 5.374 m

14.10.5 Comprimento máximo de tubulações secundárias com


diâmetro inferior a 50 mm

.Apesar de a NBR 12.218 da ABNT (1994) estabelecer como 50 mm o diâmetro


rnrn!mo das tubulações da rede de distribuição, têm sido utilizadas tubulações de diâme-
~ro inferior a 50 mm, com essa finalidade, tanto em pequenas comunidades como em
are~s ~e baixos valores de densidade populacional e consumo per capita de água (áreas
~~nfén~as ou de dimensões limitadas) de diversas comunidades de médio e grande porte
_ Bra~,I. Porém, duas condições têm sido observadas para tanto: (i) que essas tubula-
çoes se1am fabricadas com material não corrosível, a exemplo das tubulações de PVC; (ii)
O
:e ~eu dimensionamento seja feito pelo critério de comprimento máximo, conforme
explica a seguir.

637
, ara consumo humano
Abastedmento de ãgua P

, . . te
rtante ter presen . que, quanto menor for
. . o diâmetro da tub . u..
Antes de tudo, é 1mpo . ,_ .·· á em área urbana, tanto mais estará ela sujeita ao
d . t ·bu1çao de gua . .. 1 .d
lação de uma rede de is n . . to populacional além do p aneJa o para as ruasern
ssfvel crescimen ·" · d. t b 1 - ,
fracasso pelo sempre po . . anto menor o d1ametro a u u açao, menor e sua
que ela estiver instalada. Isso porque, quentos significativos de vazões, lembrando que pe.
. . .f I ara absorver aum . . 1·
capacidade ou o ga P _ b 1. ões de diâmetro reduzido 1mp 1ca grande aumento
queno acréscimo de vazao em tu u aç
de perda de carga. . . t ue as tubulações secundárias de redes de distribuição
As · ndo tem sido propos o q . d. .
sim se ' · · d'"'metro inferior a 50 mm, seJam 1mens1onadas para a
d á
e gua e
m áreas urbanas com 'ª
·1 ' t d'das com lançamento pelo comprimento máx.1mo relativo
. .
saturação das ruas por e as a en ' ,
a essa situação (Ennes, 1987). .. · d b·
d
Para ruas em que pre o m·
1nem residências unifam1l1ares, integrantes
_ . . e
. . a1
rros popu-
lares, é comum adotarem-se as seguintes hipóteses de saturaçao dos lotes.

• testada de cada lote: 1O m


• habitantes por residência : 5 hab./domicílio
• consumo per capita do sistema ou macromedido: 150 Uhab.dia
• coeficientes de reforço: k1 = 1,2 e k2 = 1,5 (k 1 .k2 = 1,8)

Utilizando esses dados, obtêm-se as seguintes vazões específicas por metro linear de
rede (qm):

• com tubulação simples (uma tubulação no leito carroçável da rua):


2x(Sx150x1 ,8)/(86.400x10)=0,00313 Us .m
• com tubulação dupla (uma tubulação em cada passeio):
(5x150x1 ,8)/(86.400x1 O) =0,00156 Us .m
Para o dimensionamento das tubulações, consideram-se os limites de velocidade e
vazão indicados na Tabela 14.5, válidos para tubulações de PVC (cálculo da perda de carga
pela fórmula de Flamant, cuja expressão é, para Q em 1/s, o em mm e J em m/1 OOm: J =
8,24x1 Q7.Q1 ,7SJD4,75):

14
Tabela ,5 • Limites de velocidade e de vazão em tubulações com D < 50 mm
Tipo de D referência {nominal) D Espessura
tubo D Perda
poleg. (mm) (mm)*
externo tubo , .
Velocidade Vazão
interno maxima máxima carga
(mm) (mm)
PVC soldável, (mm) (m/s) (1/s) (m/100m)
3/4''{19, 1mm) 25 25 1#7
PVC soldável 1"(25,4mm) 21,6 0,35 0,13 1,06
32 32
PVC soldável 2, 1 27,8 1,01
11/4"(31,Bmm) 40 0,42 0,25
40 2,4
PVC soldável 1Y2"{38,1mm) 35,2 0,50 0,49 1,07
50 50
* Diametro externo 3,0 44,0 1,09
0,60 0,91

638
Rede de distribuição I Capítulo 14

com base nos limites de vazão da Tabela 14.4 e nas vazões específicas calculadas no
parágrafo anterior, t~m-se os comprimentos máximos relacionados na Tabela ~ 4.6 para as
tubulações secundárias operando com os parâmetros de projeto indicados acima:

Tabela 14.6 - Comprimentos máximos de tubulações secundárias com D < 50 mm


Comprimento máximo {m)
Lançamento da Tipo DE25 DE32 DE40 DE 50
tubulação
Simples Dupla Simples Dupla Simples Dupla Simples Dupla
Tubulação alimentada Q/qm 41 82 291 583
81 163 155 311
por uma extremidade
Tubulação alimentada 2Q/~ 82 1 165
164 163 326 311 621 583
por duas extremidades
Obs.: Para per capita de 100 Uhab.dia, os comprimentos acima listados devem ser multiplicados por 1,5.

É inte·ressante observar que o P-NB-594 (ABNT, 1977), que deu origem à atual NBR
12â218, previa a utilização de tubulações de diâmetro inferior a 50 mm em comunidades
até 5.000 habitantes e quota per· capita até 100 Uhab.dia, estabelecendo os limites de
atendimento relacionados na Tabela 14.7, por sinal, compatíveis com os da tabela anterior:

Tabela 14.7 - Atendimento máximo de economias por tubulações com D < 50 mm


Diâmetro interno Nº de economias abastecidas
(mm) (máximo)

25 10
30 20
35 50
Fonte: P-NB-594 (ABNT, 1977)

14.11 Estabelecimento dos setores de manobra e dos setores


de medição

Por setor de manobra entende-se a menor subdivisão da rede de distribuição adotada para
possibilitar o seu isolamento quando da realização de obras e serviços de reparos e manu-
. tenção, sem a necessidade de interromper o abastecimento de água do restante da rede.
Já o setor de medição é definido como a parte da rede de distribuição, adequada-
mente delimitada e passível de individualização, que tem por finalidade permitir, com
base em dados obtidos por meio de medidores de pressão e de macro e micromedidores
de vazão nele instalados, o acompanhamento da evolução do consumo de água e

639
o humano
consu m
to de água para
Abastecfmen

d de carga e das perdas de água na rede de d' .


ém a avaliação das per as istribuiçào
tamb fere d 1· 't - d
ue o setor se re . d ada concepção e e ,m1 açao os setores de
aq I te a a equ - . rnanob
Larnentave men ' t mam ser encaradas, nao raro, como atividades rn . ra e
dição cos u . H ~ arg1na· .
dos setores de me. d de de distribu1çao de água. Poucos sao os técnico is na
- d proJetos e re
elaboraçao e
..
. rtância dessas at1v1dades. s que tê
fl1
t tos para a ,mpo . .
estado a en . 'piente mas inadiável pr1or1dade que os órgãos regulad
e tudo com a ,nc1 . ores e
on O ' d d à r-edução de perdas de água em sistemas de abastecirn
· · d res vêm an
f1nanc1a . .
° ' . .
de de distribuição é uma das unidades mars problemáticas
ento de
á ua nos quais a re . _ nesse
9 .
sentido a ques ao t- dos setores de manobra e dos
. setores de med1çao terá de passa r aser
.
devidamen e co't ns'
iderada na elaboração dos proJetos
. e na
. construção das redes de d'c+r:
IJut-
. _ de água· Isso porque não há como realizar um efrcaz
bu1çao . _controle de perdas de água
sem a existência de setores de manobra e de setores de med1çao corretamente concebidos,
implantados e operados. É importante também que sua operação seja feita em estreita
ligação com os setores comercial e cadastra I qu.e, por sua vez'. devem.ser ~otados de siste-
ma de informações e de registros sempre atualizados e mantidos à d1spos1ção dossetores
técnicos e administrativos.
Na Figura 14.11, reproduz-se um desenho em que fica patente a tendência de se

projetar redes subdivididas em blocos ou setores (conjuntos de malhas) concebidos para
tornar mais eficazes as operações de medição (macromedição) e de manobra em redes de
distribuição de água, sem prejuízo de suas demais funções. Como se pode ver nessafigura,
cada setor é constituído por uma rede de distribuição independente, alimentada por ape-
nas dois pontos, o que minimiza o número de macromedidores e de válvulas de manobra
a instalar e a operar (apenas duas unidades de cada por setor). Fica patente nesse modelo
a vantagem da divisão de áreas maiores em setores menores com redes de distribuição
independentes.
Precursor desse modelo de rede de distribuição em blocos é o modelo adotado na
rede de distribuição de água da cidade de Belo Horizonte - MG conhecido como Modelo
Cardelli~i
196 em homenagem ao engenheiro italiano Andréa Cardellini, que o projetou em
~ ~ivas, 1995). Nesse modelo, as tubulações que alimentam diretamente as ligações
pred1a1 5 t' · ·
cons ituem alças independentes, ligadas individualmente às tubulações principais
e_dotadas de uma válvula de manobra única em cada alça. Sob o ponto de vista de opera·
çao este modelo é rf · . . . . . •es e
da qu l'd d pe eito. Mas, sob o ponto de vista da melhor d1stnbu1ção de vazo
aI a e da águ 1 · • 'b içãO
serem 1· . a, e e apresenta um ponto fraco que é o fato de as alças de d1stn u
· a 1mentadas por , · . ' ·· • d ·agua.
o modelo de bl . um unico ponto, o que pode dificultar a melhor circulação ª dOS

de circulação d á ardellinl) por duas derivações. Com isso melhora-se a co . e-


. a gua, sem com . mnum
ro reduzido de válvul d . .prometer as vantagens de operação da rede por u Atefl"
der-se-i~ melhor tarn~: e co~trole ~apenas duas válvulas para cada bloco ou afça)doda5
tubulaçoes secundá. m~ on~ntaçao da NBR 12.218 (ABNT. 1994} de que o traça
nas se1a feito em malhas. . '

640
Rede de distribuiçao I Capitulo 14

Reservatório de disbibuição

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legenda

,.- Cáixa deiUM.1t0le·d-D dislm0,


1,2,3 =tto.oos
1 1

r---- -B- -m:S:lxaiJêtÇj:Hjli:llle1fssubtlts_tnlõ


g : ~ ê ~ f t >,dJubdls:Uito
- Q :.. VAlvulàGJ,1~menttparai:nmnobra
~ ~ 4Hliilré1etd~1'.bJ@,
- (Re<l&píl}mlfa·
-- Rede s-e:-eun'dãrfa

Nº do subdi~lrlto •

- ~i!Ura· T4. t1 .. Sub:divisão de rede em setores de medição e de manobra
Fonte: AZE\/EDl~ Nmo et ai. (1998)

641

o de ág ua pa ra O hu ma no
Abastedmen t co nsum

. .d
tam-se cons1 e rações e orientações para a delimitação dos se..
Na seqüênoa, apresen de medição.
tores de manobra e dos setores

14.11.1 Setor d e m a n o b ra

· f'1 ·d o seto r de m a nobra é a m eno r subdivisão da rede de distribuição


Como Já de n o,1
. . . lamento de uma determinada área da
finalidade perm1t1r o 1so rede de distri-
que tem por . .. d b erviços de reparos e de manutenção, sem a nece
buição para a reahzaçao ~ o rases , restante da rede.
ssidade
de interromper o abastecimento de agua do
A NBR 12 .218 (ABNT, 1994), em seu item 5.8, e .
stabelece que.
0 setor de manobra deve abranger uma área que apresen

te uma
ou mais das seguintes características: a) exte
nsão de rede de 7 .O~O a
35 .000 metros; b) número de economias e
ntre 600 e 3 .0 0 0 unida-
des; c) área entre 40 .000 m2 (4ha) e 200.00
0 m2 (20ha); .
• o isolamento do setor de manobra deve se
r fe it o pelo acionamento
do menor número de válvulas.

Essas duas orientações constituem avanço notáve


l em relação à prática tradicional de
dotar a rede de distribuição de um número infin
dável de válvulas de manobra, uma em
cada derivação de toda tubulação principal e dive
rsas outras em pontos estratégicos das
tubulações secundárias, a fim de permitir o isola
mento de áreas em que a rede ficava
subdivid ida. Além do custo significativo dessas vá
lvulas de manobra e de suas caixas de
acionamento e proteção, essa prática tradicional ex
ige do operador do sistema um esforço
sobre-humano para fechar (e posteriormente abrir
) uma quantidade enorme de válvulas.
Isto quando ele consegue localizar, acessar ou aci
onar todas essas válvulas, visto que não
raro diversas delas costumam apresentar um dos
seguintes problemas:
• o~issão de sua localização no cadastro da
rede existente, motivada
mui.tas vezes pela falta de atualização cadast
ral ou pela ocultação in-
devida_das tampas das caixas de acionamen
to das válvulas devido a
sucdessivl as obras de calçamento ou de asfalt
on. e e as se encontram· amento das via's públicas •

,
• impossibilidade de ·
do recobriment . 5
eu acionamento, como conseqüência tam
por obras de ca~~rresponsável das tampas d bé m
e suas caixas de acesso,
• dificuldade de amento ou de asfaltamento
mal feitas;
em face não só dce~sáo às válvulas defeituo
. s a s para o seu conserto,
caixas de acionamªenJt mencionad a ocu 1taç ... d

0 a o das ta mpas e suas
dessas caixas, na mai '. rn;s também devid
o à própria concepção
verticais que permiteona _ as vezes c o n s ti
tu i das p o r simples tubos
m tao somente o acionamento d o cabe
çote

642
Rede de .distnbuição I Capitulo 14

das válvulas, como se mostra na Figura 14. 13, logo abaixo da solução
desejável representada na Figura 14.12., Sobre o uso de caixas de
proteção e acesso a válvulas, há que se ter cuidado especial quando
nelas for entr·a r o operador, tendo em vista a possível presença de
animais peçonhentos e de gases venenosos advindos sobretudo da
decomposição de matéria orgânica.

Asfalto ,..._ Tampa de ferro fundido


• • 4


Cabeçote

Registro

~ Bloco de apoio
_ · Figura 14.12 - Caixa de acionamento de válvula de manobra (solução desejável)
Fonte: WIENDL (1973)

- Rua sem. pavimentação ~ Tampa de concreto armado ou


ferro fundido

Alvenaria ou
pré-moldada Terreno bem apiloado

Tampa guia pa11",l.1-_,,.



chave de manobra Cabeçote

-- Registro

L, , , BJoco de apoio
-Fonfe: Figura · de acesso a váIvu la de parada (so1uçao
W1EN.DL14•13 - Ca''IX·a .. ·,n deseJáve
· · 1).
• ·· (1973)

643
..
-
Abast e<Imen to d e água p ara consumo h u m an o

Esses problemas e dificuld


. a des, envolvendo as válv
f orma irracional in . . ulas de
duz muitas vezes o opera d d . rn a
. '
veis válvulas ao ter de iso . d o r o s is te m a a d es n o b ra .
.
lar uma eterm1na a ar d , . 1 rn p1 a h i.,.
. e a d a r c o n s 1 de r ''lttda
sendo feito pelo acionam - . d e de d e d ' . .ar essasi sde
ento tao somente ; is tr,b u 1 ç ã
na sa ída do reservatório, m e u m a u nica válvula d o, o que rQ,
n u rne .
esmo que isso resulte a
mento de toda a rede. indesejável P e ,~anobra
, loca~~ba
ara isação d ' ªda
Para evitar esse tipo de pr o funcio
oblema duas providência
s fazem-se indis ,
(1) localizar com mais
na.
raciona\idade as válvu Pensaveis:
tando ao máximo a sup . d . la s de ma nob
rac1ta a orientação da ra aprov .
te limitar o número de se NBR 12 ' e1.
tores de manobra ; 2 1 8
(2) dotar as válvulas d · 'que Perrni-
'd ,. . e m a nob ra , c u jo n ú m
t
provi enc1a an er,or, d. . e ro já estará reduz id
e cai xas que na.. o seJ.am
mas que permit. am tam bé apenas de acionamo pela

m o c1·1 acesso at é ela
identificação, a exemp s e a sua permaneentot ,
lo da Figura 14.12 .
ne
É notavefm ent e esclare
cedor que, numa com
14.000 hab itantes (3.000 un idade com até aproxim
economias), o referido it adamente
que haja um ún ico setor em 5.8 da NBR 12 .218 d
de manobra, com a ne a ABNT permite
vá lvufa de manobra, que cessidade da instalação
pode ficar na saída do re de apenasuma
constituir uma única zon servatório de distribu ição
a de pressão. , se tal localidade
No Exemplo 14.11, apres
entado no item 14.13 .2,
exercitada . a orientação exposta é de
vidamente

14.11.2 Setor de me
dição

Como consta da definiç


ão apresentada no 1. níc1. . 4 1 1
tem por objetivo permitir 0 d e ste item 1 · , 0 setor de medição
. . co m b ase e m d ad o
. .. e d e m a c e
m1cromed1dores de vazã , s d e m e d id o re s d e p r es s a ro
o nele instalados, o aco o n su rn o
m p a n h a m e
d lu ç ã o d o co
de água e também a ava n to a e v o . .. aque se·
liação das perdas de águ d d is tr ibu
refere. a na á re a d a re d e e 1 ça o
Para a consecução desse t a tu a li za d o
objetivo é fundamenta . " . d e c a d as ro
da rede de distribuição e li l a e x1stenc,a ,. d NBR 12.21 8
gações prediais . Também
da ABNT (19
. -
. ·
94) resum1das a seguir, .
a se re m co ns
.
id
s
e
ã
r
o ú te is a s orient~ç~s
a d ef 1n 1 ça o
s e :os
to re s d e
d
me 1çao em redes de dis · a d a s p a r a . . áx im p o s~
tribuição, embora pareç . r · 11
o s p ro .
tos, em cada setor, para o a m d tsc ~ t veis 0 5 m
a
1 te s m 't é n o s
comprimento de rede (d trv e l cornos cn de
estabelecidos para a defini everia ser comp úmero de
çã o dos seto re
1 Já lv ll~ n ta '
b , s de manobra) e para O
mana ra (o numero prop n áreas). AS one
osto é muito elevado, s e q u e na s
ções são as seguintes: ob re tu d o em P

li
644
Rede de distribuição I Capítulo 14

• na delimitação dos setores de medição, devem ser observados os


critérios ou normas do órgão responsável pela operação do respectivo
sistema de abastecimento de água;
• a delimitação do setor de medição deve ser feita, preferencialmente,
de modo que nele fiquem contidos consumidores de uma mesma
categoria funcional (residencial, comercial ou industrial) e social ou
econômica (popular, média ou alta);
• a alimentação do setor de medição deve ser feita pelo menor núme-
ro possível de pontos, de modo a minimizar o número de medidores
de pressão, de macromedidores de vazão e de válvulas de manobra
nele instalados;
• deve ser limitado a 20 o número de válvulas destinadas ao isolamento
de cada setor de medição;
• a extensão máxima da rede abrangida por cada setor de medição
deve ser de 25 km (este comprimento é mais restritivo do que o com-
primento máximo estabelecido para a definição do setor de manobra,
como se discute abaixo);
• os medidores de vazão e os medidores de pressão a serem utilizados
nos setores de medição podem ter previsão de instalação permanente
ou contarem com dispositivos para sua inserção provisória durante
apenas a realização das campanhas de medição, a critério do órgão
responsável pela operação do correspondente serviço de abastecimento
de água.

. Deve ser observado que quanto maior e mais complexa for a localidade abrangida
pelo projeto, tanto maior será o número de setores de medição a serem implantados. Nas
pequenas comunidades em que não ocorra significativa diferenciação de consumo de água
entre os usuários do sistema, será suficiente implantar apenas um setor de medição, com a
localização dos seus aparelhos nas proximidades do reservatório de distribuição.
A respeito do supracitado comprimento máximo de rede de distribuição proposto pela
NBR 12.218 para cada setor de medição (25 km), é importante notar que ele é mais restri-
vo do que o comprimento máximo estabelecido para a definição do setor de manobra,
ti_
visto no item 14.11.1 (35 km). o mais adequado parece ser a prevalência dos critérios
relativos à delimitação dos setores de manobra, de modo que sejam coincidentes os setores
de manobra e os setores de medição. E isto é possível de estabelecer junto ao órgão res-
ponsável pela operação do respectivo sistema de abastecimento de água, conforme previs-
to na primeira orientação listada acima.

645

•'···~--
.Abai.rtecímento de água para consumo humano

14. 12 Localização e dimensionamento dos órgãos acessót'


da rede de distribuição 1os

Os ,denominados órgãos acessórios de uma rede de distribuição de água - b .


I 5ao as,ca-
mente os hidrantes, as válvulas de manobra, as vá vu 1as de descarga e as válvulas r d
. .
de pressão. Sobre eles, apresentam-se a seguir. cons1'deraçoes
... de .interesse para pro·
e utoras
d d . 'b · - d N- b
a operação de redes e 1stn u1çao e gua. ao 0 sane, para 1n,ormações rnais ~eto
á t t · -' O
d e
Jhadas sobre características e especificações desses equipamentos, deve ser consultadeta-
capítulo relativo a tubos, válvulas e acessórios. 00

1,4.12 .. 1 Hidrantes

São peças especiais ligadas às tubulações principais da rede de distribuição e que têm
por finalidade possibilitar a obtenção de água para o combate a incêndios. Na Figura 14.14,

apresentam-se os dois tipos de hidrantes mais utilizados em redes de distribuição de água:
os de coluna e os subterrâneos.

Corpo
Tampa
(/>60 mm

- •

E
E

E
CX)
C)

,-.... ê-Eõ'
,@E -o E E
E ~ Q>O nJ E E
1
ll)
...- C'\I ..olO -E a> o
CIO
Tampado IQ
n,C'\I
-
Q)
. !!.-
'<:!"
(\1 e N

Le9istr.o 1

t .. -
..,_ ._.. ~"""\..,.
1
, : •f.. ,,!!, .... 1
02 mm -......-4~ ,
11
1 1 l ' t -
•t 150mm ~~ Curva longa
I f • 1 1
1 J~
l
Gurva curta


....,_ 155mm .~
(a) Hí.éfrante He coluha
(b) ~idrante subterrâneo
Fonte: Fígura
WIENDL1'(197'
4.143)- blidrantes
,
titiljzados em rede!;) de cli.trib1Jiçã0
. de ê'.lgua

646
Rede de distribuição I Capítulo 14

ática brasileira para a especificação e a localização de hidrantes, consagrada pela


A pr d . 'd
NBR 12 .218 da ABNT (1994), po e ser assim resumi a:

• É dispensável a instalação de hidrantes na rede de distribuição de


água de localidades com demanda total inferior a 50 Us. Nesse caso,
deve haver um ponto de tomada junto ao reservatório para alimentar
carros-pipa de combate a incêndio .
• Em localidades com demanda total superior a 50 Us, deve ser reali-
zada consulta ao corpo de bombeiros para a localização das áreas de
maior risco de incêndio, tendo em vista o traçado das tubulações prin-
cipa is e o posicionamento dos hidrantes.
• Os hidrantes devem ter uma das seguintes capacidades: 1O Us nas
áreas residenciais e de menor risco de incêndio, ou 20 Us em áreas
comerciais, industriais, com edifícios públicos ou de uso público ou
ainda prédios cuja preservação seja de interesse da comunidade.
• Os hidrantes podem ser dos tipos coluna e subterrâneo, com orifício
de entrada de 100 mm, nas áreas de maior risco, ou do tipo subterrâ-
neo, com orifício de entrada de 75 mm, nas áreas de menor risco.
• O diâmetro mínimo da tubulação da rede para a ligação de hidrante
deve ser de 150 mm.
• Os hidrantes devem estar espaçados entre si com a distância máxi-
ma de 600 m, medida ao longo dos eixos das ruas.
• O dimensionamento da rede de distribuição deve incluir a verificação
hidráulica do atendimento das vazões nos hidrantes, admitindo-se que
apenas um hidrante seja operado por vez.

No Exemplo 14.11', apresenta-se a aplicação prática das orientações indicadas.

14.12.2 Válvula de manobra

A válvula de manobra, popularmente designada registro, é uma peça especial desti-


nada à interrupção ou ao controle do fluxo da água em tubulações sob pressão. Em redes
d d'1 'b
~ str1 uição de água é geralmente do tipo de gaveta, em que o fechamento ou a redu-
ça~ de ~ua seção, por onde passa a água, são feitos por uma chapa metálica vertical do tipo
gudhoti~a, que pode subir ou descer por acionamento externo ao corpo da válvula propria-
mente di~o. Tal acionamento pode ser realizado por meio de um volante, haste de manobra
~u por dispositivo de comando a distância ou por telemetria. A Figura 14.15 ilustra esse
ipo de peça especial.

647
r - ; ; ~ ~ ~- - - - - - ------ -

Abastecimento de égua para consumo humano



1
1 •
1

• •
1
'
J

l
......,.
1

-•
- 4 .... . .
• •
1
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.

1
~ - • .- . '

1

• •
• - ·----.......i

Figura 14.15 - Válvula de gaveta


-Fonte: WIENDL (1973)
• •

Confonme amplamente discutido no item 14.11, sua utilização deve ser limitada e
basear-se ,em planejamento inteJigente de disposição de setores de medição e de mano-
bra. Para cada u.m desses setores, que podem abranger áreas muito amplas, há situações
que requerem a instalação de uma ou no máximo duas válvulas de manobra (conforme
item 14.11).
A NB,R 12.218 (ABNT, 1994) prescreve a instalação de válvulas de controle nas deriva-
·ções das tubula ções tronco que alimentam as tubulações secundárias. Comparando essa
1

prescrição com aquelas relatjvas à definição do setor de manobra (vistas no item 14.11.1 ),
caracteriza-se uma contradição, exceto em três situações: (i) quando o traçado das tubula-
ções principais é concebld0 para formar um conjunto de anéis e troncos sucessivos, que
1

·fique responsável peJa alimentação seqüencial de mais de um setor de manobra ou de


medição interligados; (ii) quando o dimensionamento das tubulações principais mostrar:se
insuficiente para atender ,à demanda eventual de combate a incêndio, o que poderia exigir
restrições na al imentação de tubulações secundárias para o direcionamento de vazões em
1

direção ao hidrante próximo ao local de incêndio; (iii) quando houver o receio de q~~
possam ocorrer desequilíbrios na distribuição de água, com a existência de áreas t~pog de
ficamente favorecidas (áreas baixas) que venham a consumir mais água, em preJufzo
outras com posição desfavorável (áreas altas). ·dade
eont udo, as tres,. s1tuaçoes
. .. supracitadas que demandariam a ut1·1·1zaça"'o de quant1.. de
. , ., . adoçao
excessiva de valvulas de controle, são situações nue podem ser evitadas com d de ª
- • "1
traçados de tubulaçoes qwe evitem os referidos problemas. Nesse senti 0 ,'d 0 mo e Io
nobra
redes em bloco, a utilização de redes independentes para cada setor unificado de '.11ª ntat11
d. ... . f - -
e me 1çao e a 1mp antaçao de válvulas de manobra em tubulaçoes tronc
1 o que aftme

648
Rede de distribuição I Capítulo 14

s baixas são providências muito mais racionais do que dotar a rede de uma infinidade
as área f' . d 'd . . .
. álvulas de manobra de e 1các1a uv, asa, como se d1scut1u no item 14.11 .1.
de v As válvulas de manobra, bem como as válvulas de descarga comentadas no próximo
. devem ser instaladas em caixas que permitam o fácil acesso a elas, tanto para a sua
item, - ( F' )
operação como para a sua manutençao ver 1gura 14.12 . Fundamentais são tam m a · bé
atualização permanente do cadastro dessas caixas e os cuidados para nelas entrar em face
da possível presença de animais peçonhentos e gases tóxicos.
o diâmetro da válvula de manobra é o mesmo da tubulação em que a válvula é
instalada. Nos diâmetros maiores, seus custos de aquisição e de instalação são bastante
significativos, o que é mais uma justificativa para o seu uso em quantidade que seja a
mínima indispensável.
o Exemplo 14.11 inclui uma aplicação prática das orientações apresentadas acima .

14.12.3 Válvula de descarga

Éo mesmo tipo de peça usada como válvula de manobra, ou seja, é uma válvula de
gaveta, porém com a finalidade de permitir a retirada de água das tubulações da rede de
distribuição nas operações de limpeza das tubulações ou para permitir a execução de obras
de ampliação ou de serviços de manutenção. Por isso, é instalada nos pontos mais baixos
da rede de distribuição, de forma a possibilitar o esvaziamento por gravidade do maior
número de tubulações.
Os pontos finais de descarga devem ser cursos de água ou galerias de água pluvial, o
que exige medidas para proteger as tubulações associadas às válvulas de descarga contra
entupimento e contra a invasão de eJementos que possam colocar em risco a segurança
sanitária e operacional dessas válvulas e da rede de distribuição a elas ligada. Dispositivos
de proteção contra erosão e de dissipação de energia poderão ser necessários para a água
a ser descarregadá, sobretudo em tubulações de maiores dimensões.
A válvula de descarga, popularmente denominada registro de descarga, é instalada
em derivação à tubulação na qual se fará a descarga de água, por meio da conexão intitu-
lada Tê. Seu diâmetro mínimo deve ser de 100 mm, quando associada a tubo com diâme-
~ro i~ual a ou maior que 1ao mm, ou de 50 mm, ql:Jando ltgada a tubo com diâmetro
inferia~ a 100 mm (ABNT, 1994). Essas válvulas, quando instal·adas no subsolo, devem ser
prot~gidas por caixas de proteção e acesso adequadas, inclusive, quando for o caso, para
p~ssibilitar a transição até a tubulação de descarga. Em se tratando de válvulas de grande
d1ametro ate - · deve ser dada ao projeto e construçao · d'1spos1't'1vo
,.. do respectivo
d _ · , nçao especial
tr~ anco~agern. Em todas essas situações, as válvulas em questão devem constar do cadas-
atuahzado da rede de distribuição.

649
humano
ara c_or1.sumo •

A!,asteámento de jg t1 • P

· de pressão
14-12.4 Válvula re d u to ra

a pe ça e sp e cia l e m p re ga d a
.0 nome indica, é um b I 'd É P ara re d .
Como o se u p r6 pr , ec , os. f arm a d a P u2 ,r a
b1 5 - aJ· u st a n d o -a a va lo re s p re est a e o r um co .
_ oe , . , 1 n1 un .
pres sa o em tu u aç la , p a ra q u e es ta
sa m en te id ealizado e instalado na va vu cu m pr a a
to de mol as en ge n ho · sua
função (ver Figura 14.16). re ss ã o n as tu b u laçõ e s é f .
en te , em re de s de dis trib u iç ã o , a re d u çã o da p
Usualm C e1 ta Po r
b ra -p re ss ã o , a d e q u a d a m e n te p o si cio n ad o
reservatórios ou p o r ca ix as de q u e s. on tu d
· " · 1· d cu st o d o s te rre n o s seia . o,
de ha Ja ca re nc ra de ár ea s 1v re s o u o n e o m u ito el e
em locais on - d . J
lic a ~a -
o r p o e re m se r ,_ns ta la da s n a p ró p ria vi a P úb
do, as válvulas redutora s de p r:ss a o , p
ss o, na o o b sta n te os se us m a io re s re q u e rim e n to s de m 'te rn
sido utilizadas com su ce an ut en çã o
. t'I ' -
. nars. or isso, sua maior u I rzaçao ocorre em áreas topogr t·
. P .
e de ajustes operac,o es d e su ªic a~ en te
m ai or es , e m q u e h a ja d iv e rs a s si tu a çõ
muito acidenta da s da s ci da de s peraçao da
- á · · 'd no m ·
,c a m e n te d e se ja da .
pres sa o m x, m a, pe rm 1t 1 a p o r n o rm a o u e co
.

_ Figura 14 16 •

IENDL (1~73)- Válvula redutora de pressão


Fonte : W •

As informações sobre . .
as fa ix as de va riação d - .
e sobre os re quer im e s válvulas se ap lic am
J:)ara a su a inst 1 - e ~ ressa o a q ue essa
sendo necessária ntos ,
u fabrican te
ções técnicas ' Par a ª sua u til iza çã o aça o va ria mª ãe a co rd o co m o se
· a consult , ª aos respeGtiv@s catálogos de informa- •

650
Rede de distribuição I Capitulo 14

14. 13 Dimensionamento dos condutos

Existem dois métodos clássicos para o dimensionamento das tubulações da rede de


distribuição de água:
• método de dimensionamento trecho-a-trecho, com ou sem seccio-
namento fictício;
• método de dimensionamento por áreas de influência , com os consu-
mos localizados em pontos nodais e em pontos singulares intermediá-
rios das tubulações tronco.

o método de dimensionamento trecho-a-trecho, por ser mais trabalhoso quando o


comprimento total.das tubulações é elevado (mais de 4.000 m), tem sua aplicação prática
geralmente limitada a áreas de extensão reduzida (áreas inferiores a 20 ha) ou ainda à verifi-
cação da pressão dinâmica no ponto ou em pontos mais desfavoráveis de trechos curtos de
tubulações secundárias integrantes de redes maiores dimensionadas pelo segundo método.
Já o método de dimensionamento por áreas de influência, usando pontos nodais,
aplica-se a áreas maiores. Por isso mesmo é o mais usado, pois, na maioria das vezes, as
áreas de projeto excedem os limites de aplicabilidade prática do método de dimensiona-
mento trecho-a-trecho.
Nos subitens segujntes, são destacados os principais pontos de interesse desses dois
métodos, para sua aplicação prática no dimensionamento das redes de distribuição de
água. A fundamentação teórica de ambos os métodos não é objeto deste livro, que pressu-
põe o conhec.imento de tais fundamentos, próprios dos livros de Hidráulica, como os de
Azevedo Netto et ai. (1998) e Baptista e Lara (2002).
No que se refere ao cálculo das perdas de carga lineares em tubulações, adotou-se neste
capítulo a fórmula , de Hazen-Williams para as tubulações de diâmetro igual ou superior a
50 mm e a fórmula de Flamant para as tubulações em PVC com diâmetro inferior a 50 mm.
Isso está de acordo com a prática adotada pela maioria dos projetistas por uma questão de
praticidade e realidade. A utilização da fórmula Universal, para o dimensionamento de redes
de distribuição, seria por assim dizer um luxo excessivo e grande consumidor de tempo, pela
grande variedade de diâmetros de tubulações que ocorrem nas redes de distribuição, pela
grande reiteração de cálculos inerentes aos métodos de dimensionamento e também pelas
imprecisões associadas à definição dos comprimentos das tubulações (que não incluem as
perdas de carga localizadas, geralmente desprezíveis) e à determinação do material da tubu-
lação (sujeita aos preços de mercado no momento de sua aquisição3), além dos métodos

3 Por esta mesma razão, o coeficiente de rugosidade c da fórmula de Hazen-Williams costuma ser feito igual a 130 no dimen-
sionamento de redes de distribuição, por corresponder ao tipo de tubulação mais desfavorável neste aspecto, que é a tubulação
de ferro-fundido revestjda com argamassa de cimento.

651
consumo huma no
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· · os precisas o . as
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d . ensionamento trecho-a-trecho
14.13.1 Método d e 1m

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Nesse méto o, ap 1c ve . - , .
.. . d mente) 0 dimensionamento das tubulaçoes e feito trecho-a-trecho
tubulaçoes, aproxima a ,· .. ,
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d1st1ngu1n o-se u as s'
ituações peculiares: em redes ram1f1cadas e em redes malhadas.

a} Em redes ramificadas

Quando a rede é ramificada, ou seja, quando as tubulações não formam malhas -


ver Figura 14.3 e item 14.1O, onde é ressa\tado ser esta uma situação típica de localidades
muito pequenas que se desenvolvem ao longo de estrada ou de vale estreito e acidentado
-, é muito fácil entender o seu dimensionamento. Ele é feito de jusante para a montante,
ou seja, no sentido da acumulação das vazões, observando-se cinco orientações básicas:

a.1 ) Admite-se a distribuição uniforme do consumo de água ao lon-


go dos trechos da tubulação, calculando-se para tanto a vazão especí-
fica. de distribuição por metro de tubulação ou em marcha '(qm), vista
no item 14.3 Equação 14.3;
a.2) A vazão distribuída em cada trecho de tubulação é obtida pelo
produto do comprimento do trecho pela vazão específica de distribuição
por metro de tubulação (qm);
3
a. ) As vazões veiculadas nas tubulações se acumulam trecho a tre-
cho, de trás para a frente at , · , . .
." , e o reservator10 de distribuição·
a.4) O d1ametro das t b 1 - , . . '
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a 5) o ' I lmed ros internos menores do que 50 mm·
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vazão da extrernídade de . carga em cada trecho~ feito com base na
metade da vazão d'i t 'b 'dJusante do trecho considerado, somada à
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zao fictícia de dimen . o, resu tando a denomina a va-
s1onamento.
Aaplicação prática dessas orie - . . . ·.
do Exemplo 14.9. ntaçoes pode serfaolmente entendida pela leitura atenta 1

652
Rede de distribuição I Capítulo 14

- Exemplo 14.9

Dimensionar a rede de distribuição ramificada destinada a um condo-


mínio fechado constituído de prédios pequenos de apartamento, cujo
arruamento, que se inicia no ponto 11, está representado r-ia Figura
14.17, sendo dados: (1) população de projeto= 800 hab; consumo
per capita médio macromedido = 200 Uhab.dia; k 1 = 1,2 e k2 = 1,5;
NA máximo do reservatório = 466,9 m; NA mínimo do reservatório= •

463,4 m.

Solução

Por se tratar de uma rede ramificada de pequena extensão, foi adotado


o método de dimensioname·nto trecho-a-trecho.

• Cálculo do comprimento total das ruas (L)


Somando os comprimentos das ruas, indicados na Figura 14.17, che-
ga-se a L = 965 m, lembrando que o trecho R-11 não é arruamento,
mas sim acesso ao reservatório (sem moradias).
' (Este comprimento é bastante razoável em relação à população de pro-
jeto, correspondendo a 965 mi 800 hab = 1,2 m/hab. Por outro lado,
sendo de 88 m o comprimento médio dos quarteirões (965 m + 11
1 testadas = 88 m), têm-se que: o comprimento de ruas por hectare
deve ser de cerca de 2x88/ 0,88 2 = 227 m/ha; a área aproximada de
projeto pode ser estimada em 965 m + 227 m/ha = 4,25 ha; e a densi-
dade populacional média de projeto será da ordem de 800 hab +
4,25 ha = 188 hab/ha, valor bastante razoável para áreas com prédios
pequenos de apartamento ver Tabela 14.1 / áreas com prédios pe-
quenos de apartamento.)

• Cálculo da vazão total de distribuição (Q 0 )


Conforme item 14.3, Equação 14.1:

Oo == P.q.k, .k2 I 86.400 = 800x200x1 ,2x1 ,5 / 86.400 = 3,33 Us

• Cálculo da vazão específica de distribuição por metro de tubulação (qm)


Também conforme item 14.3, mas usando a Equação 14.3:

qm== P.q.k, .k2 I (86.400.L) = 800x200x1 ,2x1 ,5 / (86.400 x 965) = 0,00345 Us.m

653
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Tabela 14:.s - Dimensionamento de rede ramificada pelo método trecho-a-trecho
Cota piezom. . Pressão disponível
Trecho Comprimento (m) Vazão (1/s) D V ta t Perda de Cota paezom. Cota terreno (m) {m)
mon n e .
Mm m/s (m) carga (m) Jusante {m)
J-M Jusante Trecho Montante Jusante Trecho Média Jusante Montante Jusante Montante
(coluna) (1) (2) (3) (4) (S) (6) (7) (8) (9) (10) (11) (12) (13) (14) (15)

1-2 o 105 105 0,00 0,36 O, 18 50 0,.1 459,47 0,04 459,43 435,7 433,4 23,73 26,07

3-4 o 75 75 0,00 0,26 O, 13 50 O, 1 459,23 0,01 459,22 442,0 437, 1 17,22 22,13

4-2 75 120 195 0,26 0,41 0,47 50 0,2 459,47 0,23 459,23 437, 1 433,4 22, 13 26,07

5-2 o 80 80 0,00 0,28 O, 14 50 O, 1 459,47 0,02 459,45 435,7 433,4 23,75 26,07
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2-6 380 95 475 1,31 0,33 1,47 50 0,8 461,02 1,56 459,47 433,4 431,6 26,07 29,42
u,

o 115 115 0,00 0,40 0,20 50 O, 1 461,02 0,05 460,98 433,8 431,6 27, 18 29,42
7-6
120 710 2,04 0,41 2,24 75 0,5 461,62 0,59 461,02 431,6 430,3 29,42 31,32
6-10 590
461,58 431,9 430,3 29,68 31,32
8-10 o 105 105 0,00 0,36 O, 18 50 O, 1 461,62 0,04
461,60 432,0 430,3 29,60 31,32
9-10 o 70 70 0,00 0,24 O, 12 50 0, 1 461,62 0,01

3,05 0,28 3, 19 75 0,7 462,37 0,76 461,62 430,3 440,8 31,32 21,57
10-11 885 80 965
3,33 0,00 3,33 75 0,75 463,4 1,03 462,37 440,8 463,4 21,57 0,00* ::o
11-R 965 100 1065 ltl
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Soma 1065 3,33 4,33 a.


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* Pressão na superfície do solo situado na saída do reservatório (ponto sem distribuição); na tubulação, que estará 0,60 m abaixo da superfície do terreno, a pressão será de 0,60 m. :, .
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• Numeração dos trechos


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é cumulativo, a numeraçao dos trechos
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Como o cá(culo da:á:az~~ frente, na mesma ~eqüência. em que as
dev: ser feita dei t Pultando a numeração indicada na Figura 14.17.
vazoes se acumu am, res
• Dimensionamento dos trechos
. T b 8 cuJ·o preenchimento obedeceu aos seguintes
Está feito na ,a e1a 14· ,
passos, muito fáceis de enten.der: .
_ colunas (1) a (3): valores tirados da pl~nta da rede .(F1gu.ra 14. 17),
observando-se que a coluna (1) é cumulativa, devendo incluir todos os
trechos a jusante do nó considerado;
- colunas (4) e (5): valores correspondem ao produto do respectivo
comprimento de tubulação pelo valor da vazão específica por metro
de tubulação (qm);
- coluna (6): valor da col. (4) + metade do valor da col . (5);
- coluna (7): definido pela Tabela 14.4 para a vazão dada na cal . (6);
2
- coluna (8): calculada pela equação 4Q/1tD = (4xcol (6)/1.000)~
[p. (col(7)/1 .000)2];
- coluna (1O): calculada pela fórmula de Hazen-Williams: hf = 10,63 .L.
(Q/C)1,85 .0-4, 87, com os valores em metros ou seus múltiplos e C = 130;
- coluna (9): preenchida de trás para frente, começando com o valor
do nível de água (NA) mínimo do reservatório de distribuição, na linha
11-R; a partir daí, os valores são tirados da coluna (11 ), pois a pressão
de montante de um trecho é a pressão de jusante do trecho imediata-
mente anterior, conforme seqüência indicada na planta da rede;
- coluna (11 ): igual ao valor da col. (9) menos valor da col. ( 1O);
- colunas (12) .e (13): valores tirados da planta topográfica;
- coluna (14): igual ao valor da col. (11) menos valor da cal . (12);
- coluna (15): igual ao valor da col. (9) menos valor da col . (13}.

Não há
de fim d r hcomo evitar trecho
• 5 J · .
com ve oc1dade inferior a 0,6 m/s (que ocorre nos trechos
e ,n
dado pela NBRa, como se
. ve na Tabela 14 8) . d . . , .
· , pois a otou-se o diâmetro m1n1mo recomen-
12 218
trechos de''em se.r . ·t ' igl udal a s.o mm. Para evitar problemas de qualidade de água nesses
' v tns a a os d1s ·1· · 1O
de um ramal predial ada t d posi ivos de descarga em suas extremidades (a exemp
acionados com a freq" __P ~ o, no qual se possa fazer a descarga de água), que deverão ser
uenc1a a ser determina . da por observações de campo.
.

b) Em redes com tubula - .


seccionamento fictício çoes formando malhas /método de

Quando a rede é const't 'd


(ver item 14.1Oe Figura 14.4) que é -a situação mais

· 656
Rede de distribuição I Capítulo 14

comurnente encontrada na prática , .º dimensionamento trecho-a-trecho exige que, apenas


. aefeito de cálculo, a rede malhada se1a transformada em outra ramificada, por meio de pontos
:r~ecdonamento fictício_~ue dêem origem a extremidades hipoteticamente livres ao longo
dos diversos trechos ramificados em que a rede é transformada (esta transformação pode
ser melhor visualizada no Exemplo 14.1 O). Isto feito, o dimensionamento passa a desenvol-
1

ver-se como o de uma red e ramificada, conforme explicado no tópico anterior.


Para a localização e a utilização dos pontos de seccionamento fictício, quatro orienta-
ções básicas devem ser observadas no método de dimensionamento em questão:
b.1: numa rede de tubulações sob pressão, a água percorre preferen-
cialmente os caminhos mais largos (com diâmetro maior) e os caminhos
mais curtos (com menor comprimento), o que privilegia as tubulações
tronco e os trechos mais curtos de tubulações secundárias;
b.2: os pontos de seccionamento fictício são aqueles que a água pode
acessar por dois ou mais percursos distintos (pontos de encontro de
duas ou mais setas indicadoras do percurso da água na planta da rede
de distribuição); . .
b.3: para facilitar os cálculos, os pontos de seccionamento são geral-
mente localizados nos cruzamentos das ruas, de modo a utilizarem-se
as cotas altimétricas com que tais cruzamentos são geralmente identi-
ficados nos levantamentos topográficos;
b.4: o seccionamento fictício é considerado como tendo sido correta-
mente realizado quando a maior diferença entre as pressões calculadas
para cada ponto de seccionamento, segundo cada um dos possíveis
percursos da água até esse ponto, for inferior a 10% da média das
pressões obtidas para o ponto em consideração (na situação real não há
diferença entre essas pressões, pois esses pontos estão sujeitos à mesma
pressão por estarem ligados entre si, ainda que para efeito de cálculo
sejam considerados independentes um do outro).
No Exemplo 14.1 o, apresentado a seguir, essa seqüência de dimensionamento pode
ser facilmente compreendida e exercitada.

Exemplo 14.1 o

Dimensionar a pequena rede de distribuição com tubulaçõ:s forman-


do malhas, destinada a um condomínio constituído de prédios peque..
nos de apartamentos, cuJo· arruamento,
. · ·1n1c,.
que se · ·a no ponto
. ·. _ 7, está
...
representado na Figura 14.18, sendo dados os seguintes valores rela~1
vos ao alcance do projeto: população= 1.300 hab; consu~o per caf1ta
médio macromedido = 200 Uhab.dia; k1 = 1,2 e k2 =.1,5, NA máximo
do reservatório= 854,0 m; NA mínimo do re5ervat6r10 = 851,5 m.

657
Abastec:tmiento de água para consumo humano

Solução

Por se tratar de um.a rede de pequena extens~?, vamos adotar o méto-


do de dimensionamento trecho-a-trecho, utilizando o seccionamento
fíctício pelo fato de as tubulações formarem malhas.

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Fluxo da água
Comprimento do trecho

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100 m ($)
>
100m 1 + Seccionamentofictício

fjgura 14.18 - E.squema de dimensionamento de rede de distribuição em malha pelo método trecho-
a-trecho ou por seccionamento fictício

• ·Cálculo da área de projeto


Somando os comprimentos das ruas, indicados na Figura 14.18, che-
ga-se a L = 1.080 m, lembrando que o trecho R-7 não é arruamento,
mas sim acesso ao reservatório (sem moradias).
(Este comprimento é bastante razoável para o tipo de ocupação pre-
visto: prédios pequenos de apartamento , correspondendo a 1080 m +
=
1300 hab 0,8 m/hab. Por outro lado, sendo de 90 m a dimensão
média dos quarteirões [(100+80)/2], têm-se que: o comprimento de
ruas por hectare deve ser de cerca de 2x90/0,92 = 222 m/ha; a área
interna e externa à malha pode ser estimada em4: 1,33x(1080 mi 222
m/ha) =6,5 ha; se medida diretamente no desenho seriam obtidos 6,4
ha, que é o vafor correto, porém muito próximo ao estimado; e a den-
sidade popuracional média de projeto será da ordem de 1300 h~b/
6,5 ha = 200 hab/ha, valor bastante razoável para áreas com prédios
pequenos de apartamento ver Tabela 14.1/ áreas com prédios pe-
quenos de apartamento.)

. . destina-se a
. . · · ' ,ª
4 O fator de correção de 1 33 d0 t d
1nclurr a área exte à Ih
. - . d
a o na equaçao empregada para o cálculo aproximado a re
·
á a de proJeto,
•·
· pnm-ento O
wf'I
perfme1.,v
.. rna ma a, que também faz parte da área de projeto. Essa área externa tem por com orno 33% da área
~a marha interna e por largura a metade d,a dimensão média do quarteirão. Foi avaliada, neste exemplo, e
interna. Quanto maior a área · t d · ..
· tn erna a malha, tanto menor será esse fator de correçao.

..
'
658 _J
Rede de distribuição I Capítulo 14

• Cálculo da vazão total de distribuição (QD)


conforme item 14.3 e Equação 14.1 :

Oo == P.q.k 1.k2 I 86.400 =1.300x200x1 ,2x1 ,5 / 86.400 =5,42 Us

• Cálculo da vazão específica de distribuição por metro de tubulação (qm)


Também conforme item 14.3, mas com a Equação 14.3:

qm== P.q.k1 .k2 I (86.400.L) == 1.300x200x1 ,2x1 ,5 I (86.400 x 1.080) = 0,00502 Us.m

• Indicação dos percursos preferenciais da água


Está feita pelas setas desenhadas na Figura 14.18, com base na orien-
11
tação básica b.1 '' .

• Indicação dos pontos de seccionamento fictício


Está feita por pequenos traços perpendiculares às tubulações, nos pon-
tos de encontro de duas setas com sentidos diferentes, como está
11
explicado na orientação básica b.2 também apresentada acima .
11
,

• Numeração dos trechos


Sendo cumulativo o cálculo das vazões, fez-se a numeração dos tre-
chos de trás para frente, na mesma seqüência em que as vazões se
acumulam, resultando a numeração indicada na Figura 14.18.

• Dimensionamento dos trechos


Está feito na Tabela 14.9, cujo preenchimento seguiu os mesmos pas-
sos do Exemplo 14.9, pois, com o seccionamento fictício, a rede em
malha foi transformada em rede ramificada.

• Verificação das pressões nos pontos de seccionamento


Está feita na Tabela 14.1 o, cujo preenchimento obedece~ à orientação
básica b.4 ,, . Como se vê, em todos os pontos de seccionamento, a
11

diferença entre as pressões ficou dentro do limite exigido (10% da


média das pressões obtidas para cada ponto seccionado). Geralmente,
. · "
quando o seccionamento é bem feito, a observanc,a · do limite
· de 1
· Oo/o
sempre ocorre. Quando isto não se dá, a primeira providência~ adotar
é verificar se não houve erro no preenchimento das planilhas de
d.1mens1onamento
. d úmero de
o que é muito comum pelo gran e n . ·
dadas manuseados. ' Não havendo erro na planilha,
· · devem se. r revistos
·
. ., os fluxos de água idealizados anteriormente.

'

659
>a"'
........
o

-
""3
-
o:,
o

..
Q.
o
o
e
o
Tabela 14.9 - Dimensionamento de rede em malha pelo método trecho-a-trecho (seccionamento fictício) '"O
o ....ca
ft
Cota terreno Pressão disponivel o
Trecho Comprimento (m) Cota piezom. Perda de Cota piezom.
Vazão (1/s) D V (m) {m) ...e
=
montante carga jusante 3
o
(m) (m) (m) . jusante montante jusante montante ':r'
J-M Jusante trecho montante jusante trecho média mm m/s e.
3
0,03 848,61 823,7 8.29,2 24,91 19,44 o
::::,
1-2 o 80 80 0,00 0,40 0,20 50 O, 1 848,64 o
0,03 848,61 836,0 829,2 12,61 19,44
3-2 o 80 80 0,00 0,40 0,20 50 0, 1 848,64
0,5 849,52 0,88 848,64 829,2 830,8 19,44 18,72
2-4 160 100

260 0,80 0,50 1,05 50
O, 1 849, 19 0,06 849, 13 823,7 824,9 25,43 24,29
1-5 o 100 100 0,00 0,50 0,25 50
o,
0,4 849,52 0,33 849,19 824,9 830,8 24,29 18,72
o, 5-4 100 80 180 0,50 0,40 0,70 50
o
0,06 849,13 836,0 835,1 13,13 14,09
3-6 o 100 100 0,00 0,50 0,25 50 O, 1 849, 19
50 0,4 849,52 0,33 849, 19 835, 1 830,8 14,09 18,72
6-4 100 80 180 0,50 0140 0,70
75 0,8 850,57 1,05 849,52 830,8 831,4 18,72 19, 17
4-7 620 100 720 3, 11 0,50 3,36
O, 1 850,23 0,06 850, 17 824,9 826,7 25,27 23,53
5-8 o 100 100 0,00 0,50 0,25 50
0,4 850,57 0,33 850,23 826,7 831,4 23,53 19, 17
8-7 100 80 180 0,50 0,40 0,70 50
50 O, 1 850,23 0,06 850, 17 835, 1 834,6 15,07 15,63
6-9 o 100 100 0,00 0,50 0,25
0,4 850,57 0,33 850,23 834,6 831,4 15,63 19, 17
9-7 100 80 180 0,50 0,40 0,70 50
100 0,7 851,50 0,93 850,57 831,4 851,5 19, 17 0,00*
7-R 1080 150 1230 5,42 0,00 5,42
1230 5,42 4,50
Soma .
• Pressão na superfície do solo situado na saída do reservatório (ponto sem distribuição); na tubulação, que estará 0,60 m abaixo da superfície do terreno, a pressão será de 0,60 m.
Rede de distribuição I Capitulo 14

410 _verificação das pressões nos pontos de seccionamento


rabeia 1 · , . _


24,91 25,43 25, 17 0,26 1,03%
1 12,61 13, 13 12,87 0,26 2,02 %
3 24,29 25,27 24, 78 0,49 1,98o/o
5 14,09 15,07 14,58 0,49 3,36%
6

.13.2 Método de dimensionamento por áreas de influência


14

como foi ressaltado no item 14.13, o método de dimensionamento por áreas de


influência, usando pontos nodais, aplica-se a áreas de maiores dimensões. Por isso mesmo
é O mais usado, visto que, na maioria das vezes, as áreas de projeto excedem os limites de
aplicabilidade prática do método de dimensionamento trecho-a-trecho.
Este método distingue-se por três premissas básicas:

, O dim~nsionamento detalhado é feito apenas para as tubulações


tronco;
• As tubulações secundárias e as áreas que elas abastecem são conside-
radas como agrupadas em .pontos de concentração convenientemente
.

dispostos ao longo das tubulações tronco. Esses pontos de concentração


são denominados pontos nodais ou simplesmente nós.
• As tubulações secundárias são objeto somente de duas verificações
muito simples de se fazer: (i) verificação da pressão dinâmica mínima
no ponto mais desfavorável (ponto mais elevado e mais afastado) da
área de projeto; (ii) verificação das suas vazões de alimentação, nas
respectivas derivações das tubulações tronco, as quais não devem ex-
ceder a vazão máxima admitida para o diâmetro dessas mesmas tubu-
lações secundárias. ·
1

. O dimensionamento da rede de distribuição fica, assim, praticamente resumido ao


di~ensionamento das tubulações tronco, simplificando em muito o dimensionamento,
CUJos passos são descritos abaixo.

~4-13.2.1 Passos para o dimensionamento de rede de distribuição por


areas de influência

·

1
( ) Fazer a verificação prévia da pressão estática mái<ima e do desnível
Qeornét · existente para garantir a pressão d"1nam1ca
· rico "' · mfn,·ma ·

661
nsumo humano
Abastecimento do 4gua para co

. diferentes densidades populacionais e


(2) Delimitar ~s áreas c~i:s (conforme item 14.4), explicitando ou
diferentes vazoes es~e . pecffi.cas (em Us.ha).
1 1 do essas vazoes es
ca cu an . tos de consumo singular (grandes consumidores),
(3) Localizar 0 ~ pon . . · serem atendidas pela rede de distribuição.
com as respectivas vazoes a - .
d d·mensionamento as tubulaçoes tronco exis-
(4) Lançar na planta .e i D > 100 mm).
tentes a serem aproveitadas (com - . .. .
. . t es de manobra e de med1çao, seguindo as orien-
(5) Del1m1tar os se or
tações apresentadas no item 14.11 .
. . ·
(6 ) Pos1c1onar as
tubulações tronco ' levando em conta as considera-
ções do item 14.1O (traçado dos condutos).
(l) Posicionar os pontos nodais ou nós nas tubulações, levando em
conta:
- posição dos consumidores singulares; . _
- localização dos setores de manobra e de macromed1çao;
- condicionantes para a otimização econômica dos diâmetros das
tubulações tronco, a saber: (i) deverá haver sempre um nó no ponto
de encontro de dua·s ou mais tubulações tronco; (ii) a distância máxima
entre dois nós sucessivos ao longo de uma mesma tubulação tronco
deve ser de aproximadamente 200 m a 400 m (para áreas menores,
adotar 200 m; para áreas maiores, 400 m).
(8) Delimitar as áreas de influência dos nós, que são geralmente obti-
das pelo traçado das mediatrizes das retas que unem os nós vizinhos,
complementadas, quando necessário, por bissetrizes dividindo áreas
de influência de mais de dois nós (ver Figura 14.20).
(9) Calcular a superfície (em hectares) da área de influência de cada
nó, subdividida, quando for o caso, segundo as subáreas de diferentes
vazões específicas que sobre ela incidirem.
(1O) Transformar a área de influência de cada nó calculada em
hectares. conforme o passo (9) em vazão de carregamento do nó, o
que é feito pelo produto das subáreas de influência do nó de interesse
pelas respectivas vazões específicas (em Us.ha)', seguido da totalização
do resultado desses produtos para cada nó. .
(11 ) Verificar as vazõ d b - .
pontos d d . _ es as tu ulaçoes secundárias nos respectivos
e er,vaçao das tubulações tronco
( 12) Transportar as v - b. . .
nho onde os 6 f azoes O tidas no passo anterior para o dese-
as prováveis : :- or~m dispostos e determinar, em primeira tentativa,
acumulação dasoes _e cada trecho de tubulação tronco, mediante a
vazoes dos nós, que deve ser feita de trás para a

662
Rede de distribuiçAo I Capítulo 14

fren e, a partir do nó
_ t-
. mais
_ afastado
- do reservatório de d'1st r1'b u1çao
. -
ou do ponto ~e der1vaçao da subadutora (ou da tubulação tronco de
. arquia maior) que abastece a área em questão
h1er ·
(13 ) Definir o diâmetro
_ de cada
. _um dos trechos das tubulaçõe s t ron _
(com base nas vazoes que ,rao por ela transitar e nos valo d
co d . 'd d d' res e
vazão máxima a m1t1 os para ca a iâmetro de tubulação comercial
conforme consta da Tabela 14.4); e efetuar o equilíbrio das vazões no~
trechos em que as tubulações tronco formam anéis pelo método d
Hardy-Cross, c~ja co.nceituação teórica e aplicação prática são objet~
de livros de H1drául1ca, como os de Azevedo Netto et ai. (1998) e
Baptista e Lara (2002).
(14) Calcular as perdas de carga, velocidade da água e pressões
disponíveis nos trechos e nós das tubulações tronco, verificando O aten-
dimento dos valores limites cabíveis em cada caso.
(15) Verificar a pressão dinâmica mínima no ponto mais desfavorável
da área de projeto.
(16) Posicionar e especificar os hidrantes (em cidades cuja demanda
de projeto supere 50 Us, como visto no item 14.12 .1 ), as válvulas de
manobra e as válvulas de descarga, e verificar o desempenho hidráulico
da rede projetada para possibilitar o funcionamento dos hidrantes .

Exemplo 14. 11

Dimensionar a rede de distribuição para a área representada na Figura


14.19, com os seguintes dados para o alcance do projeto: (1) população
de projeto: 16.030 hab; (2) densidade populacional da área central:
150 hab/ha; (3) densidade populacional da área periférica: 70 hab/
ha; (4) consumo per capita médio macromedido (para toda área): 200
=
Uhab.dia; (5) k1 1,2; (6) k2 =1,5; (7) dimensões dos ,quarteirões:
100 mx100 m; (8) cotas do terreno: conforme Tabela 14.9; (9) abaste-
cimento da área de projeto pela subadutora AA; (1 O) pressão dinâmica
mínima no ponto de derivação da subadutora AA: 791,35 mca; (11)
pressão estática máxima no ponto de derivação da subadutora AA:
79 9,07 mca; (11) cota altimétrica do ponto mais elevado na ár.ea d~
projeto: 770,35 m (ponto A 2); (12) cota altimétrica do ponto m~is b~i-
xo na área de projeto: 749 ,93 m (ponto 82 ). A área em questao nao
Possui consumidores singulares nem rede de distribuição de água .

663

. ._ •
--·~. -----··· '
----··· -
- JA1.-110,35
1

Rua 1
•i
'
.
• Rua2 -

Rua3

Rua4 '

A
Rua5 ••
•i

.E
Rua6 o E
C)
,-.... o
Rua
-
7
.

--
o

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A •.•
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• Rua9
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Rua 1C ,.,., ....., ,.,. u., -m
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co
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~
<O m
~ ~ ~ ~ ~ iJ z ~ ~
' .
Rua 11 ~ ~
'32 · 749,93
L----··' 1 -----· •• •
1.500 m
••• ' ••• •

LEGENDA:

- - Limite da área de projeto
• Limite de zonas de densidades
pqpulaclonais diferentes
H Subadutora de água tratada

Figura 14.19 - Area de projeto do Exemplo 14. 11

Solução

Para resolver este exemplo numérico seguem-se os passos de dimensio-


namento (1) a (16) descritos no texto que antecedeu imediatamente a
este exemplo:

• Verificação da pressã~ estática máxima e ·do desnível geemétrico


existente para garantir a pressão dinamica mínim~ - p~sso (1 ~ .
Segundo O enunciado deste exemplo numérico .a área em ~1Jesi\tã@· é
aba 5t 'd · '
_ ec, ~ a partir de uma suba.dutora de água tr:atada. L!@ge: .
ª .pressa o estática máxima é obtida nela diferenca eramne a «et~ ü)J·e~o-
métr1ca á · ~ -s ~ z,P.'
rn xima na subadutora (dad0 do r:irGclema;\ e a Got a tmp,0gEaí•11ca
do ponto m · b · · ,.., " liA·
799 07 ais a1xo do terreno que censtitl:li a área de p, ojet©, ou 5eJ1~·


.. ,

664 . •

-
Rede de dtstnbu1çao I Capitulo 14

.. 0 desnível geométr~co exístente para garantir a r _ . " .


fnima é dado pela diferença entre a cota piez P é e.ssao dt~am,ca
rn . bf. om tr1ca mínima
subadutora {d ado d o pro ema} e a cota topográfica do ontO n.a
efevado do terreno que forma a área de projeto . .P ma,s
77035"' 21.00 m. Ou seja, valor razoável para at; ~u seia: 7~1.35 -
1o~ca estabelecido pela NBR 12.218 e para compn er ao mínimo de
- • ensar as perdas de
carga nas t ub u1aç~es entre a derivação da subadutora e O .
elevado em questao. ponto mais

• Delimitação das áreas com diferentes densidades . .


· · - · 't· . popu 1ac1ona1s e
diferentes vazoes espec, 1cas, cálculo das vazões espec'f11cas
' - passo (2)
Está indicada na Figura 14.19, que faz parte do enunciad d t .
· · ·. d o es e exem-
plo numérico,
. . constan o de duas
. . áreas distintas·
· a a
' rea ·
ma,s centra 1,
com
. 150 hab/ha,
. e a área per1fér1ca,
/ . com 70 hab/ha · o cons uma me-,
d10 per capita neste exemplo é un1co: 200 Uhab.dia.
Teremos, então, as seguintes vazões específicas, calculadas pela Equação
14.5:
- área central : qa 1: 150hab/ha x 200Uhab.dia x 1,2 x 1,5 / 86.400 =
0,625 Us.ha
- área periférica: qa2 : 70hab/ha x 200Uhab.dia x 1,2 x 1,5 / 86.400 =
0,292 Us.ha

• Localização dos pontos de consumo singular (grandes consumido-


res), com as respectivas vazões a serem atendidas pela rede de distri-
buição - passo (3)
Neste exemplo, não há grandes consumidores.

• Lançamento das tubulações tronco existentes a serem aproveitadas


- passo (4)
Não há rede existente na área em questão, conforme enunciado deste
Exemplo.

• Delimitação dos setores de manobra e de medição - passo (5)


O estabelecimento dos setores de manobra pode ser feito peto critério
proposto pela NBR 12.218 (ABNT, 1994) e apresentado no item 14.11,
constando da prescrição de que o setor de manobra deve abranger
uma área que apresente uma ou mais das seguintes características: a)
extensão da rede: 7 .000 m a 35.000 m; b) número de economias: 600
2
a 3.000; c) área: 40.000 m2 a 200.000 m (20 ha).

A área em questão apresenta os segujntes ·valores para os parâmetros


supracitados:


665
o hu ma no
Ab as t ed ment o de água para consum

1 4 0 0 m + 1sx1 .0 0 0 m = 3 0 .4 0 0 m
_ extensão de rede: 11 ~ · (estimado): ·1
eco n 6 .0 3 0 h ab I 4 ,4 hab/econ
_ número de omias
= 3 .643 economias; _ 1 6 50 ooo
- área: 1.500 m x 1.100 m - . m 2 = 1 6 5 ha .

ua extensão de rede, a área em questão


Portanto com base na s b pod e
constitui~ apenas um setor de mano ra.

No que se refere aos critérios para o estabelecimento dos setores de


. .. f 'a da
med1çao re erenct s no item 14 .11.2, notadamente o que estabelece
rim e nto m á xim o da re d d .
em 25 km o co p m de de ca a setor e medição,
a em ca us a co m 3 0 ,4 km d d o
tem-se que a e ár .' de re e, exce e em 2 0 Yo o
'd l'm ite . N o m esm o ,te m 1 4 .1 . .
1.2, defende-se a un1f1caçao dos_
refer1 o I d
'té ·
cri rio s de e st a be lecim e nto d os se d' -
tores e me 1çao com os de def'1n·1ç-ao
dos setores de mànobra, com prevalência d , • .
estes u1t,mos . Assim sendo,
e desde que o excesso de 20°/o não é ex
agerado, a área de projeto
em questão pode constituir também um ún
ico setor de medição, coinc i-
dente com o setor de manobra, sendo est
a a solução adotada neste
dimensionamento .

A concepção com um único setor que se


ja ao mesmo tempo de mano-
bra e de medição é muito vantajosa por d
emandar a instalação de
ape'nas um macromedidor de vazão, de um
medidor de pressão e, como
é discutido no passo (16), também de uma
única válvula de manobra,
a serem instalados, todos eles, na derivaç
ão da subadutora que abas-
tecerá a área em causa .

Este exemplo aponta para uma diretriz im


portante defendida no item
14.11, válida inclus ive para cidades q
ue demandem mais de um setor
de medição e mais de um setor de manob
ra: os critérios para a delimi-
tação de.ss_es setores devem ser compa
tibilizados para p e rm it ir a
superpos,çao dos setores de medição com
ocorrendo . os setores a · o s setores de controle. Isto
. . . . ' ss1m u 'f ' d _
ni 1ca os sao dotados de redes de d1.str1.
bu1çao independente -
s p 't ' d . . .
dores e de válvulas , erm 1 1n o a m1n1m1zação do número de med .
de b 1-
factível a op . • mano ra a serem instala .
erac,ona 1ização d dos e to rn a n d o mais
dela de rede em bl .
f .
os re er1dos setores, a exemplo do mo
ocos, ilustrado na Figura 14.11. -

• Posicionamento d
as tubulações tronco - passo (6)
São diversos os fatores a .
das tubulações tro serem considerados para o posicionam
ento
· nco, conforme exposto n o it e m 14
.1 O, além da

666
Rede de distribuição I Capítulo 14

necessidade de compatibilizar esse traçado com a disposição dos setores


de medição e de manobra. Porém, antes de tudo, é preciso ter-se a
noção de quais são as distâncias máximas de alcance das tubulações
tronco, que, como foi visto, dependem do tipo de traçado de tais
tubulações, das dimensões dos quarteirões e da vazão específica da área
correspondente. Para este exemplo, as distâncias máximas são cal-
culadas abaixo, seguindo o roteiro de cálculo apresentado no item 14.1o:
_ Distância máxima (dmax) para uma única tubulação tronco ou para
tubulação externa de anel até a sua área de influência do lado de fora
do anel:
_ para área periférica: dmax = Q5 /(qa.~) = 1,4 / (0,292x1 ,O)= 4,79 hm =479 m
- para área central: dmax = Q5 /(qa.l,J = 1,4 I (0,625x1 ,O)= 2,24 hm = 224 m

Observando a Figura 14.19, vê-se que é possível haver uma única


tubulação tronco apenas na área periférica, passando pelo seu eixo de
simetria (Rua 6), cuja distância até os limites externos da área de pro-
jeto é de 550m . Já na área central, é mais lógica a adoção de tubula-
ções formando anel (melhor situação do que a disposição em grelha
em face das distâncias envolvidas e também por favorecer o escoa-
mento hidráulico).

..
Caso os quarteirões não fossem quadrados, haveria quatro distâncias
máximas a serem observadas, duas para cada área de vazão específica
diferente, como se viu no item 14.10.1.
- Distância máxima (d) entre tubulações tronco formando anel, na
área central, calculada pela Equação 14.13:
- [qa/(2Q5)]d 2 - [(L,+L2) I (L, .L2)]d + 2 = O
- [0,625/(2x1 ,4)] d2 - [(1,0+ 1,0) / (1,0x1 ,O)]d + 2 = O
- O' 223d 2 - 2d +2 = O

Resolvendo a equação do segundo grau, obtém-se a raiz de maior


valor:

d= 7,8 hm = 780 m

Por este cálculo, a distância máxima entre as tubulações tronco for-


mando anel é de 780 m. E, pelo cálculo do tópico anterior, a distância
máxima entre essas tubulações tronco e os limites da área externa ao
anel é de 224 m na área central e de 479 m na área periférica.

Procurando aproveitar ao máxjmo as distâncias calcuJadas acima, uma


disposição econômica para as tubulações tronco seria a indicada na
Figura 14.20.

'
667
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~
J.. t.· ' ..,.. ....
;.µ ... ;..~ ·.....
">

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Aba:stecrmento dé água para ,consumo humano

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NDA:
'

- - Tubulação tronco '

Tubuíação secundária
N Subadutora de água tratada
Lim,ite de áreas com diferentes
d,ensidades,populacionais
- --- • · ,Limtte das área.s de influência dos nós
f Limite da área de projeto

Figura 14.20 - T;a~ado das tubulações tronco do Exemplo 14.11 e das áreas de influência de seus nós

Caso h ouvesse grandes consumidores, poderiam ser necessárias tubu-


1

laç,ões tronco específicas para atendimento desses consumjdores. Po-


rém, o traçado das tubulações tronco principais, conforme proposto,
não se ,alteraria (os troncos para os grandes consumidores seriam como
que ram ifi,cações dos tron·cos principais).
1

. . . ... de camP 0
Uma vez feito esse traçado teórico, caberia a 1nspeçao J ções
.
para ver se as ruas escolhidas para a loca 11zaçao - das tubu a
·r das no
~ronco atenderiam também às demais con~ições especi '~tegidoS
item 14. 1O (proximidade a edifícios principais e a serem ~ruas com
contra incêndio; ruas com pavímentação menos oner~s~~: tenharn
menor trânsito). Admitindo que a maioria dessas condiço


668
Rede de distribuiçao I Capítulo 14

sido atendidas, adota-se o ~raçado apresen:ado na Figura 14.20.


(Caso hou~esse algu~ .conflito com as co.nd1ções desejáveis, 0 tra-
ado deveria ser mod1f1cado, porém respeitando as distâncias máxi-
ç as e procurando situá-lo o mais próximo possível dos eixos de
;metria das respectivas áreas de influência.)

• Posicionamento dos nós nas tubulações tronco - passo (7)

considerando que no exemplo em questão não há consumidores singula-


res e a área de projeto constitui apenas um setor de medição e de mano-
bra, há que se observar tão somente a terceira orientação deste passo (7),
apresentada no item 14.13.2. Assim sendo, foi colocado um nó no ponto
de encontro das tubulações tronco e um nó a cada 300 m ou 400 m de
distância do nó anterior, como se mostra na Figura 14.20. Para facilitar a
divisão das áreas de influência, procurou-se também dispor os nós de
forma a mais simétrica possível entre eles.

• Delimitar as áreas de influência dos nós - passo (8)

Esta etapa foi feita com base nas orientações indicadas para o passo
em questão no início deste item 14.13 .2, resultando nas áreas de
influência dos nós que constam da Figura 14.20, e cujos contornos
'
estão indicados na Tabela 14.11, para facilitar as suas identificações.

Se houvesse apenas o anel com os nós localizados em seus vértices, as


áreas de influência dos nós seriam obtidas pelo traçado apenas das
mediatrizes das retas que unem os nós vizinhos. Contudo, como há
nós intermediários nas tubulações do anel e ainda uma tubulação tronco
isolada interferindo com este último, teve-se de recorrer também ao
traçado de bissetrizes dos ângulos formados pelas tubulações tronco
convergentes, de modo que, com a composição das mediatrizes e bis-
setrizes incidentes sobre áreas comuns, se chegasse à definição da área
de domínio de cada nó, como está desenhado na Figura 14.20.

Aorientação básica que preside esta operação é a seguinte: a reta a se


adotar para demarcar o limite da área de cada nó (mediatriz ou bisse-
triz) deve deixar num de seus lados os pontos mais próximos de um
dos dois nós considerados e, no lado oposto, os pontos mais próximos
do outro nó do par em questão, Ou seja, as retas divisórias dev:m ser
O lugar geométrico dos pontos eqüidistantes dos nós responsáveis pelo
abast ·
· ec1mento ·
das áreas contf guas considera das.

669
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Tabela 14.11 -.Á reas de influência e vazões de carregamento dos nós; e vazões nos pontos de derivação das tubulações tronco s
ae
Área interna anel (ha) Área externa anel (ha) Vazão {Us) Nº derivações Vazão p/derivac;ão 3
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Nó Contorno Área in- Área ex- Área in- Area ex- Area in- Área ex- 3
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Ref qa1 Ref qa2 Total Ref qa1 Ref qa2 Total terna terna Total terna terna terna terna
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anel anel anel anel anel anel
1 BCDEFB 6 75 0,00 6,75 1,50 9,00 10,50 4,22 3,57 7,78. 3 3 1,41 1, 19
'
.....,
~ 2 BCGH 2,25 0,00 2,25 1,75 16,00 17,75 1,41 5,77 7, 17 2 4 0,70 1,44
o
3 GIJKDCG 8,88 0,00 8,88 1,75 7,00 8,75 5,55 3, 14 8,69 4 4 1,39 0,78
4 JLMNOPJJ 3, 13 0,00 3, 13 2,00 16,50 18,50 1,96 6,07 8,02 2 4 0,98 1,52
5 KJLMQRSK 6,75 0 ,00 6,75 1,50 1,50 3,00 4,22 1,38 5,59 3 2 1,41 0,69
6 EFZYE 2,25 0,00 2,25 1,75 16,00 17,75 1,41 5,77 7, 17 2 4 0,70 1,44
7 DEYWSKD 8 ,87 0,00 8,87 1,75 7,00 8,75 5,54 3, 14 8,68 4 4 1,39 0,78
8 TQRSWVUT 3 12
I 0,00 3, 12 2,00 16,50 18,50 1,95 6,07 8,02 2 4 0,98 1,52
9 MNOUTQM 0,00 0,00 0,00 0,00 19,50 19,50 0,00 5,69 5,69 o 8 0,00 0,71
Som.a 42,00 0,00 42,00 14,00 109,00 123,00 26,25 40,58 66,83 22 37 •
1, 19 1, 1O
RcdPúe u,~tr,t,ult;no I Ct1pftulo 14

• calcular a superfície (em hectares) das áreas de influência dos nós,


subdividida segundo as subáreas de diferentes vazões específicas; cal·
cular as vazões de carregamento de cada nó e verificar as vazões nas
tubulações secundárias, em seus pontos de derivação das tubulações
tronco - passos (9), (1 O) e (11)

os resultados desses cálculos encontram-se na Tabela 14.11, onde se


nomeia também o contorno de cada área de influência, para fa ci litar a
sua visualização.

o valor das áreas foram obtidos pelo cálculo das superfícies das
figuras geométricas que formam essas áreas (retângulos, quadrados,
triângulos ou trapézios, basicamente.

Os valores das vazões foram determinados mediante as seguintes ope-


rações:
- para áreas com vazão específica da área central (qa 1), multiplica-
ram-se as superfícies dessas áreas pela vazão específica qa1 = 0,625 U
s.ha, calculada no passo (2);
- para áreas com vazão específica da área periférica (qa 2), multiplica-
ram-se as superfícies dessas áreas pela vazão específica qa2 = 0,292 U
s.ha, calculada no passo (2).
Já as vazões nas tubulações secundárias, em seus pontos de derivação
das tubulações tronco, também mostradas na Tabela 14.11, são o
resultado da divisão da vazão no nó pelo número de derivações a ele
associado (obtido da Figura 14.20, considerando-se duas situações:
derivações na área interna ao anel e derivações na área externa ao
anel). Os resultados mostraram-se compatíveis com a vazão máxima
admitida para as tubulações secundárias (1,4 Us para DN = 50 mm),
pois apenas nos nós 4 e 8 eles excedem ligeiramente o limite máximo
de 1,4 Us, o que é automaticamente compensado pela folga existente
nos nós vizinhos, quando do equilíbrio a ser promovido naturalmente
pela água em sua movimentação real pelas tubulações.

• Transportar para o desenho as vazões calculadas para os nós e indi-


car as vazões de cada trecho das tubulações tronco - passo (12)

É o que está feito na Figura 14.21. Para o cálculo inicial das vazões nos
trechos, partiu-se do nó mais distante da unidade responsável pelo
abastecimento de toda a rede considerada (no caso, a subadutora AA),
ou seja, o nó 1, cuja vazão de carregamento é 7,8 Us. Considerando

671
sumo humano
Abastedmento de água para 'º"

tronco e
• Definir o diametro de cad · umd ti h !I i, tul ui ., 3)

efetuar o equillbrio das vazõ t) s t1\ h :i. "' :\\) '' i; ·-'--'LI!

Os diametros estão definido . n ti ,1 , t '- t •


' \' , ,1 n uas va-
-'~ ,~ , b ervado
zões máximas que constam d'9 b 1\ , i, i\
d tLibulação
também que, em anéis de di tribui l • 11 t\\ ,t•
tronco deve ser de 100 mn1.

O equilíbrio das vazões 110 at, 1 ,t t\1~\


Tabela 14.12 pelo método d t1 lt~...., \

A

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'

66,9
300m



Rede de dlstrlbultao I Capitulo 14

• • qullfbr1o das vazões no anel pelo método de ~ardy-Cross


'" Q· DN Hf hf/Q ~Q* Q DN Hf hf/Q V
r-,,1 t, m) (L/s) (m_
m ) ·( mca) (m/Us) (Us) (Us) (mm) (mca) (m/L/s) (m/s)
t ·1 t1t) 21. 1,31
200 0,05 0,000 27,800 200 1,31 0,05 0,88
\ .1.t t) 1 •' 3,80 O, 19
150 0,000 19,800 150 3,80 . o, 19 1, 12
. 11. l 0,98
150
100
1.02
0,09
0,26
0,000
0,000
11, 100
3,900
150
100
0,98
1,02
0,09
0,26
0,63
0, 50
1 t

lllll · ' Í\
_7, ao -1,31 0,05 0,000 -27,800 200 -1,31 0,05 0,88
l • 150 -3,80 O, 19 0,000 -19,800 150 -3,80 O, 19 1, 12
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(11 . 1 150 -0,98 0,09
.. 100 -1,02 0,26
0,000
0,000
-11,100
-3,900
150
100
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-1 ,02
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• 1, 18 0,00 1, 18
1
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,\ 0,000 0,000
t)- , t,t l l .~I (t,f 1

,111 l preenchin1ento e aos resultados da Tabela 14.12, cum-


f 1 ,t It r q u :
,,1

r m tiradas da Figura 14.21, atribuindo-se sinal positivo


~ \, : l\\ uj minhamento, no anel, se dá no sentido horário (caso
li, v\i: Clt \ trechos 5-4, 4-3, 3-2 e 2-1 ), e sinal negativo àquelas
lll ) ,t 11ttti r1ti-horário (vazões dos trechos 5-8, 8-7, 7-6 e 6-1 );
), ti l ~r11 tr comerciais (DN) dos trechos, conforme já ressaltado,
f t lf11 ti tt rr11in d s com base na Tabela 14.4 para a respectiva vazão
i tt t' t1 • . nd 100 mm o diâmetro mínimo das tubulações tronco
t'''' 1r, i 1 di tribuição;
~t tj arga ht foram calculadas pela fórmula de Hazen-
Wflll,llll , ni = 130;
,\ t t' ,l de azão que deve ser somada às vazões atribuídas
fl \I l,\ltllt 11tt i ersos trechos de tubulações tronco que constituem
) 11,t\f { t 11 f f n1 Figura 14.21 ),. para que as vazões estejam balancea-
i,, t lJ )l -lJI f ito pela expressão: LQ =- Lht I [1,85 L(ht/0)]. Essa
t rI t'~ ~ ti "' r f ita tantas vezes quantas necessárias, até que se
l1t, 1,l,,i, 1 .. • 1 Us e l:hf ~ 0,05 mca;
N t ,,, 1 m questão, ·em que excepcionalmente o anel possui
t ll tr t .. t1 · .. b · lutamente simétricos entre si, foi possível obter já
i \ 11,1 ll lltl1 l di tr ibuição de vazão perfeitamente balanceada, o que
f 1 \ t\r,t1,111,ld I resultados da Tabela 14.12, obtendo-seio= 0,0
l , .:ht ), t = 0,000 já na primeira rodada de ajuste. Mesmo
1, 1111, ,l r t ri :i l t ~b I apr·esenta os cálculos da segunda rodada, com
·t 1) noo, ,lpt n 1 para ilustrar como seriam feitos os cálculos da
, ,, lltr1,t,1 tt)ti,lti 1 :i aju te caso l;Q ~ O, 1 1/s e tht ~. 0,05 mca. Já na
1111!11 . ,i,.;il, dt tt' ,n m anel com a operação de um hidrante, realizada
r11,11, ,1tftl11,t ,, 1 ·la 14.1 5, houve a necessidade de uma segunda

673
mo humor10
de água pf fif consu
Abastecimento

~ . ·sto que a consideração da vazão d


. de vaz.oes, vi . . o
. dada de aJuste . · . . antes existente,
ro . . .. a simetria . , · d h
hidrante el1m1noué . .que não sejam s1metr1cos, ou quan. o ouver dois
5
_ No caso de an 1 ( 'tuação típica de areas muito grandes)
. . ntfg UOS SI . . . d d ,0
ou mais anéJs co -- é mais complexo, ex191n o uas ou mais
balanceamento das vaz~e~as vazões (Q), sobretudo no caso de anéis
reiterações para o cálcu do ser visto em Azevedo Netto et ai. (1998) e
nforme po e · d ·t ·d
contígu~s, co 2002 ). Isto reforça o ponto e vis a aqui efendido
em Bapt1sta e_ Lara ( d . dependentes para os setores de medição e
d çao de re es 'n , 1· .
sobre a a o · · ~ m anel único ou numero rm1tado de anéis
I que resultarao e ·· · ~ d
contra e, densidades demográficas e vazoes e consumo que
para á:eas com d N"0 obstante deve ser ressaltado que a utilização
não seJam eleva
de softwares espec1 ic0 .
ª:t··
: para dimensionamento de rede de distribuição
. . á 'd .
t cálculos muito simples e r p, os,
_ No a ancea .
ocorre é a melhor utilização dos tre~hos c~m menor compr1me~to ou
.,.. t mais folgado, para os quais desvia-se uma parcela maior de
d,ame ro , • - 1
· -- mo é feito automaticamente pe 1a agua na s1tuaçao rea .
vazao, co . d , _ .
• Calcular as perdas de carga, velocidade a agua e pressoes dispo-
níveis nos trechos ou nós das tubulações tronco, verificando o atendi-
mento dos valores limites cabíveis em cada caso - passo (14)

Todas estas operações estão feitas na Tabela 14. 13, em relação à qual
cabem as seguintes observações:

- os dados dos trechos que formam o anel de distribuição, já calculados


na Tabela 14.12, foram simplesmente transpostos daí para a Tabela 14.13;
- os dados dos nós da tubulação tronco que não forma anel foram
calculados como se fez no tópico de dimensionamento trecho-a-tre-
cho, pois, na verdade, após o balanceamento de vazão pelo método
de Hardy-Cross, o método de dimensionamento das tubulações tron-
co transforma-se no método aplicável a tubulações ramificadas, ou
seja, o método trecho-a-trecho· f

- como é t~pico do dimensionamento trecho-a-trecho, a primeira parte


do preenchimento da tabela (cálculos da vazão da velocidade e da
perd~ de carga) é feita de trás para a frente, poi~ todos os cálculos se
r~lacr~nam à vazão, que é calculada cumulativamente nessa mesma
d~reçao (~e jusante Para montante). Já os cálculos relativos à cota
~rezométrrca e.à pressão disponível são realizados de montante para
Jusante, a partrr da pre - d' ,. . · , . . á I
1 . b .
pe o a astec,mento da á .ssao 1nam1ca mrn,ma na unidade respons ve
tratada AA . _rea .em questão (no caso a subadutora de água
do enu~c;ad' OcudJa pressao dinâmica mínima [791,3 5 mca]) é um dado
o problema· f

674
Rede de distribuição I Ca pítulo 14

_ como se pode observar na Tabela 14.13, todas as pressões obtidas


nos nós são superiores à pressão dinâmica mínima de 1 o mca, o que
atende à NBR 12.218 (ABNT, 1994);
_ as colunas intituladas '' diferença de pressão no nó'' destinam-se à
verificação das diferentes pressões em nós alimentados por mais de
um percurso distinto da água. Isto ocorre apenas no nó 1, que é abas-
tecido pela tubulação tronco formada pelos trechos 5-4-3-2-1 e pela
tubulação constituída pelos trechos 5-8-7-6-1. Devido à plena similari-
dade entre essas duas tubulações, não há diferença entre as duas pres-
sões obtidas para o nó 1. Mas isso é uma éxceção. Na maioria dos
casos, haverá diferença entre essas pressões, sendo admissível a variação
que não exceda 10°/o da média das pressões obtidas (mesmo critério
visto no dimensionamento por seccionamento fictício).

Tabela 14.13 - Pressão disponível e velocidade nas tubulações tronco do Exemplo 14.11
hf Nó Dif. pressão
Compri- Vazão DN Veloci- Pressão ,
Cota Cota , nono
Nó Trecho 0 dade Trecho A - Nó nono
mc:: (Lls) {mm) (m/s} •
p1ez. terreno {mca}
{mca} {mca} Dif.
{mca) {m) %
{mca)
A - - - - 791,35 750,32 41,03 -
9 A-9 300 66,9 300 0,95 0,93 0,93 790,42 751,20 39,22 - -
5 9-5 200 61,2 300 0,87 0,52 1,45 789,90 752,63 37,27 - -
4 5-4 300 27,8 200 0,88 1,31 2,77 788,58 753,72 34,86 - -
3 4-3 400 19,8 200 0,63 0,94 3,70 787,65 755,50 32, 15 - -
2 3-2 300 11 , 1 150 0,63 0,98 4,68 786,67 758,05 28,62 - -
1 2-1 300 3,9 100 0,50 1,02 5,69 785,66 755,95 29,71 - -
8 5-8 300 27,8 200 0,88 1,31 2,77 788,58 748,89 37,69 - -
7 8-7 400 19,8 200 0,63 0,94 3,70 787,65 751 ,54 36, 11 - -
6 7-6 300 11 , 1 150 0,63 0,98 4,68 786,67 753,93 32,74 - -
1 6-1 300 3,9 100 0,50 1,02 5,69 785,66 755,95 29,71 0,00 0,00

• Proceder à verificação da pressão dinâmica mínima no ponto mais


desfavorável na área de projeto - passo ( 15)

O ponto mais desfavorável no tocante à pressão dinâmica mínima é


aquele que possui maior cota altimétrica e está localizado à maior dis-
tância da unidade responsável pelo abastecimento da área em estudo.
No caso deste exemplo, é o ponto A 2 , indicado na Figura 14.20 (dado
do enunciado do problema).

O ponto A2 situa-se na área de influência do nó 2 do anel de distribuição .


Na Figura 14.22 - parte (a), reproduzem-se as tubulações secundárias
que são abastecidas pelo nó 2, indicando-se nelas os pontos de seccio-
namento a serem considerados para o seu dimensionamento pelo
método trecho-a-trecho.

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Rede de distribuição I Capítulo 14

tubulações secundárias que partem do nó 2 para chegar até o pon-


:: Ai formam uma rede ramificada como está desenhado na Figura
14.22 - parte (b).

Para fazer o dimensionamento pelo método trecho-a-trecho é preciso


conhecer o valor do coeficiente de distribuição linear para a área
correspondente, que, no presente caso, é a área periférica indicada na
Figura 14.19, com as seguintes características, obtidas na referida Fi-
gura ou fornecidas pelo enunciado deste exemplo numérico:
_ superfície: 109 ha; comprimento das ruas: 21.400 m (calculado a
partir da Figura 14. 19);
_ densidade populacional: 70 hab/ha; consumo per capita médio: 200
Uhab.dia; k1 = 1,2; k2 = 1,5 (dados do enunciado deste exemplo);
_ com base nesses dados, calcula-se o coeficiente de distribuição li-
near pela Equação 14.3:

qm = 1,2x1,5x200x(109x70) I (86.400x21.400) = 0,00149 Us.m

e também calcula-se, pela Equação 14.14, o comprimento máximo de


tubulações secundárias de DN = 50 mm (com Os = 1,4 Us) que pode
ser alimentado por cada derivação da tubulação tronco:

Lmax = Os / qm = 1,4/0,001486 = 942 m (na área periférica).

A verificação da pressão dinâmica disponível no ponto A2 está feita na


Tabela 14.14, tomando por base o esquema unifilar da Figura 14.22
(b) e a vazão de distribuição linear qm = 0,00149 Us.m calculada aci-
ma.

Tabela 14.14- Verificação da pressão dinâmica mínima no ponto mais desfavorável (Ai.)
Comprimento Cota Perda Cota Cota Pressão
Trecho (m) Vazão • •
DN p1ezom. de prezom. terreno disponível
J-M média

Jusante trecho (mm) montante carga jusa~nte jusante jusante
(L/s)
(mca) (mca) (mca) (m) {mca)
A2-IV o 100 0,07 50 784,55 0,01 784,84 770,35 14,49
IV-Ili 100 100 0,22 50 784,90 0,05 784,85
111-11 300 100 0,52 50 785, 14 0,24 784,90
11-1 soo 100 0,82 50 785,69 0,55 785, 14
1-2 700 100 1, 12 50 786,67 0,98 785,69
-
Soma 800 1,83

qm= 0,00149 Us.m

677
1

. 0 humano
para ,onsurn
,AbastecJrne11to de água

. h' ento da Tabela 14.14, cabem as seguint


,., preenc 1m es
com relaçao ao .
observações: d tubulações foram tirados da Figura 14.22 (b)·
·rnentos
_ os compn . d as · b ·d 1 · t
da trecho foi o t1 a pe a segu1n e equação: '
_ a vazão média . e cat + 112 comprimento trecho) x qm
·mento Jusan e d . d
- (compn . étricas foram calcula as a partir a cota piezorné-
- as cotas piezoml 67 mca conforme Tabela 14. 1 3;
· d nó 2 igua ª
786 ' ' t A (
tnca o ,, ,dinâmica mínima, que ocorre no pon o 2 ponto mais
- a pressao do enunciado do problema), foi calculada como igual

9
a 14,4 m ( ·menta total das tubulações secundárias entre o nó 2
Também o compr, · , ·
A (BOO m) é inferior ao comprimento max1mo calculado
e ? ponatºra a2área onde elas se situam (942 m).
acima p
· · r e especificar os hidrantes, as válvulas de manobra e as
• Pos1c1ona .f. __ d d h h.d
válvulas de descarga, e efetuar a ven 1caçao o . esempen o I ráulico
da rede para possibilitar o funcionamento dos h1drantes - passo (16)
a) Posicionamento e especificação dos hidrantes: .admiti~do que a área
em questão integre cidade com demanda. de. proJet~ maior que 50 Us,
05 hidrantes foram posicionados como se 1nd1ca na Figura 14.23, tendo
sido obedecidas as orientações do item 14.12.1, ou seja, eles estarão
localizados ao longo das tubulações com diâmetro 150 mm, espaçados
entre si no máximo 600 m, contados ao longo dos eixos das ruas. Admi-
tindo que os locais de instalação dos hidrantes (ao longo das tubulações
tronco, na área central, em que a densidade populacional é de 150 hab/
ha) sejam um misto de área residencial com área comercial, os hidrantes
serão os de maior capacidade (20 Us), do tipo de coluna, com orifício de
entrada de 100 mm.
b) Posicionamento e especificação das válvulas de manobra: como a
área de projeto constitui apenas um setor de manobra e de medição,
est~ pr:vista a instalação de tão somente uma válvula de parada, na
d.envaçao da subadutora de água tratada no ponto A, indicado na
1
'. gura 14.23 . E~a terá o mesmo diâmetro da tubulação onde será
instalada, ou seJa., 300 mm.

; ~ não instalação de válvulas de controle nas derivações das tubu-


a~oes,.tronco baseia-se nos seguintes fatos: (i) as tubulações tronco
nao a imentam outro t
de pro'eto •. . s se ores além deste que abrange toda a área
J em cons .- . . , . . ,..

de combate e,. li~ as .tubulaçoes tronco suportam bem a solicitação


a 1ncend10 com 0 , ,
' se verá na al1nea seguinte.

678
R1do do dlstrlbu'lçao I Capftulo 14

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Figura 14.23 - Distribuição das vazões com um hidrante funcionando próximo ao nó 2

e) Posicionamento e especificação das válvulas de descarga: como não


!ºi fornecido o levantamento topográfico da área em questão, fica
impossível efetuar o posicionamento completo das válvulas de descarga.
Não obstante, é possível definir que haverá uma válvula de descarga
no. ponto 82, indicado na Figura 14.20 e indicado como o ponto mais
baixo da área de projeto. Como nesse ponto é de 50 mm o diametro
?ª tubulação da rede de distribuição, a válvula de descarga a ser ar
instalada terá também o diâmetro de 50 mm.
d) Verificação do desempenho hidráulico da rede de distribuiç~o projetada
para possibilitar o funcionamento dos hidrantes: seguindo a orientação

679
..
-

A ba st ct fm en to d~ égua paro co
nsumo humano

apresentada no item 14.12.1, essa veri


ficação foi feita com a
h\drante operando de cada vez. ·A s1·tuaça- · d . Penas , .
. o ma,s esf avorável co \..lrn
ao funcionamento do hidrômetro a se . ,
r insta ado nas prox rrespond
irnid e
nó 2, no dia e hora de maior consu
mo. A distribuição d e va ~des da
tubulações tronco ficari.a, ent-ao, c tá . d'
. . . .. - om o es ,n 1cado na Figuzoes nas
(1 a tentativa). A ver1ftcaçao do desemp ra 1 4
enho das tubulações pa ·23
nova situação consta nas Tabelas 1
4.15 a 14.17. Por e\as, .vê-se qra esta
ponto mais desfavoráve1 (ponto A ) - ue, no
2 , a pressao chegará a
valor que embora ,n · f er,·or à pre - 6 4 6
' f · d
ssao m n1ma e 1o mca 'Pod rn ca
considerado satisfatório por corre ' '
sp onde r a um a situ e ser
.
nai, de ocorrência que se espera se . d ação e xc e p .
_
Ja rara e e duraçao relativameCnlo -
curta. te

! a b e la .14_. ~ ~ - ~quilibri.o ~~~ vazõe~


~? anel com hidrante d o n ó 2 operando
L
A n e l Trecho (m) Q DN Hf hf/Q õQ
{Us) (mm)
Q DN Hf -
(m c a ) (m/L/s)
• 1 • 1 .. . (L/s) (L/s) {m m ) hf/Q
5 -4 3 0 0 4 2 ,9
• {mca) (m/U
200 2 ,9 3 0 ,0 7 -0 ,3 5 s)
4 -3 4 0 0 3 4 ,9 4 2 ,5 5 200 -
200 2 ,6 7 0 ,0 8 -0 ,3 5 2,89 0,07
3 -2 3 0 0 2 6 ,2 3 4 ,5 5 200
150 4 ,7 8 O, 1 8 -0 ,3 5 2,62 0,08
5 -8 300 -3 2 ,7 2 5 ,8 5 150 4,66
200 -1 7 8 0 ,0 5 -0 ,3 5 0,18
8 -7 4 0 0 -24,7
I
-3 3 ,0 5 200 -1,81
200 -1,41 0 ,0 6 -0 ,3 5 0,05
7 -6 3 0 0 -1 6 ,0 -2 5 ,0 5 200 -1,45
150 -1 ,9 2 O, 1 2 -0 ,3 5 0,06
6 ... 1 300 -8,8 -1 6 ,3 5 150 -2,00
100 -4,58 0 ,5 2 -O' 3 5 O, 12
1 -2 300 -1 ,0
-9, 15 100 -4,92
100 -O 0 8 0 ,0 8 -0 ,3 5 0,54
Total ' -1 ,3 5 100 -0, 14
0 ,7 0 1 ,0 8 0, 11
LlQ -0 ,3 5 3
-O 01 I 1,10
0,003

Tabela 14.16 - Pressões disponíveis


n a s tu b u la ç õ e s tronco com o hidran
operando •
te do nó 2
N ó Trecho C o m p ri - Vazão
DN V e lo c i- hf •
m e n to (U s ) (m Nó Pressão Dif. pressão
m ) d a d e Trecho A - N ó
(m ) C o ta C o ta no N ó no Nó
(m /s ) (m
ca ) (m c a ) •
p1ez. te rr e n o (mca) Dif.
(mca) (m ) (mca) %
A - - - -
9 A-9 - - - 7 9 1 ,3 5 7 5 0 ,3 2 41 ,03 - - 1

300 8 6 ,9 0 300 1 ,2 3
5 9-5 200 s1 :2 0
1 ,5 0 1 ,5 0 7 8 9 ,8 5 7 5 1 ,2 0 38,65 -
4 300 1, 15 0 ,8 8 2 ,3 9 7 8 8 ,9 6
5-4 300 4 2,5 5 7 5 2 ,6 3 36,33
3 200 1,3 6 2 ,8 9 5,28 7 8 6 ,0 7 - -
4-3 400 34,55 7 5 3 ,7 2 32,35
2 200 1, 1O 2,62 7 ,9 0 7 8 3 ,4 5 27,95 -
3 -2 300 2 5 ,8 5 7 5 5 ,5 0
8 150 1 ,4 6 4 ,6 7 1 2 ,5 6 7 7 8 ,7 9 2 0 ,7 4 -
5-8 300 3 3 ,0 5 7 5 8 ,0 5
7 8-7
200 1 ,0 5 1,81 4 ,2 0 7 8 7 , 1 5 7 5 0 ,8 9 36,26 - - 1
400 2 5 ,0 5 200 -
6 7 -6 300
0 ,8 0 1,45 5 ,6 4 7 8 5 ,7 1 7 5 1 ,5 4 34,17 -
1 6 ,3 5
1 6-1 300 9, 15
150
100
0 ,9 3 2 ,0 0 7 ,6 4 7 8 3 ,7 1 7 5 3 ,9 3 29,78 -
2 1-2 1, 17 4,92 1 2 ,5 6 7 7 8 ,7 9 7 5 5 ,9 5 2 2 ,8 4
300
- - -
1,35 100 O, 1 7 0 ,1 4 12,71 7 7 8 ,6 4 7 5 8 ,0 5 20,59 o, 14 0,63
-

680
Rede de d1stribuíçao I Capitulo 14

14 17 _ verificação da pressão dinâmica mínima no ponto mais desfavorável


Tabefda d~ distribuição (ponto Az) com um hidrante operando
da re e .
- hO comprimento Vazão DN Cota Perda Cota Cota Pressão
rrec (m)· média (mm) piezom. de piezom.
terreno disponível
... M·J (Us) montante carga jusante jusante
jusante
jusante trecho (mca) {mca) (mca) (m) (mca)
-5-Az o 100 0107
0,22
50 776,82 0,01 776,81 770,35 6,46
4-5 100 100 50 776,87 0,05 776,82
300 100 0,52 50 777, 11 0,24 776,87
3-4
1-3 500 100 0,82 50 777,66 0,55. 777, 11
2.. 1 700 100 1, 12 50 778,64 0,98 777,66
soma 1,83

Referências e bibliografia consultada

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. NBR 12.217 (NB 587189): Estudos de concepção
de sistemas púbUcos de abastecimento de água. Rio de Janeiro, 1992.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNt NBR 12.218: Projeto de rede de distribuição de
água para abastecimento público. Rio de Janeiro, 1994.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNt P-NB-594: Elaboração de projetos hidráulicos de


rede de distribuição de água potável para abastecimento público. Rio de Janeiro, 1997.
AZEVEDO NITTO, J. M. et ai. Manual

de hidráulica. São Paulo: Edgard Blücher, 1998. 670 p.
BAPTISTA, M.; LARA, M. Fundamentos de engenharia hidráulica. Belo Horizonte: UFMG, 2002. 423 p.
ENNES, Y. M. Uma parcela da dívida social em busca da tecnologia apropriada - O saneamento rural em
Minas Gerais. Engenharia Sanitária, Rio de Janeiro, v. 26, n. 2, p. 148-159, abr./jun. 1987.

MARTINS, J. A. Reservatórios de distribuição de água. ln: OLIVEIRA, Walter Engrácia et ai. Técnica de abaste-
cimento e tratamento de água. 2. ed. São Paulo: CETESB, 1976. v. 1. 549 p.

PUPPI, 1. C. Estruturação sanitária das cidades. São Paulo: CETESB, 1981 . 320 p.

TSUTIYA, M. t Abastecimento de água. São Paulo: Departamento de Engenharia Hidráulica da Escola Poli-
técnica da USP, 2004. 643 p.

VIVAS, José Venancio Teixeira. Utilização do "Modelo Cardellini" como tecnologia apropriada de lançamento
de redes de distribuição de água para comunidades de pequeno e médio portes - Estudos de casos: Canápolis
e Mirat em Minas Gerais. 1995. 118 f. Dissertação (Mestrado em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos
Hídricos) - Escola de Engenharia Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1995.
WIENDL, Wolfgang G. Tubulações para água. São Paulo: CETESB, 1973. 339 p.

681

-
Capítulo 15

Tubulações e acessórios


Emília Kiyomi Kuroda
Valter Lúcio de Pádua

15.1 Introdução

Os registros históricos indicam que, provavelmente, as primeiras tubulações utilizadas


pelo homem precedem a história escrita, havendo vestígios em ruínas da Babilônia e China
Antiga. O breve e simplificado relato representado na Figura 15.1 é útil para que se vislum-
brem as opções que se tinham em épocas passadas e no período atual. As pesquisas, a
descoberta de novos materiajs, o desenvolvimento técnico das indústrias e as exigências
relacionadas à resistência das tubulações e à segurança sanitária conduziram à situação
atual. A diversidade de tipos de materiais existentes exige estudo cuidadoso do projetista
para definir a opção mais adequada para cada aplicação, em termos técnicos e econômicos.
O leitor deve estar atento aos novos lançamentos, informando-se com fabricantes e
atualizando-se pela leitura de periódicos especializados. Neste capítulo são feitas conside-
rações arespeito dos tipos de tubulações mais empregados em sistemas de abastecimento
de água.

683
Abastecimento ·d& água para consumo humano,

(> e.-7.000 aC: primeiros experimentos c~m minério de cobr: ".ª


Anatólia
()C . 2.750 aC: utilização de tubulaçoes de cob~e no palac,a real do faraó Ché
0
e 1~664: invenção dos tubos ~e ferro f~nd.1do moldado, na França - Ps
c)1 .B48: inve~ção d:s manilhas ceram1cas extrudadas. na Inglaterra
01 .858: 1nvenr;ao do aço 8essemer
1-)1 .867: invenção dos tubos de concreto, na França
~,1 .913: invenção dos tubos de cimento amianto, na Itália
()1 .914: invenção dos tubos de ferro fundido centrifugado n_
• o 8ras·I1
~ 1.936: lançamento de tubos de PVC, na Alemanha

_ figura 15.1 - Alguns marcos na história das tubulações (c.=cerca de., a.e .: antes de Cristo)
f onte: Baseado em PRlNCE (2002)

15.2 Critérios para escolha de tubulações

Para escolher o tipo de tubulação a ser utilizado numa determinada obra, o proje-
tista deve considerar diversos fatores, incluindo aspectos técnicos e econômicos. Os
aspectos técnicos, tais como vazão, rugosidade, resistências física e química às ações
interna e externa, facilidade de montagem, manutenção, dentre outros, devem asse-
gurar a qualidade sanitária da água e o desempenho satisfatório do sistema projetado,
de forma a minimizar a ocorrência de interrupções no abastecimento de água e garan-
tir a segurança do sistema. Os aspectos econômicos devem permitir a execução da
obra de acordo com o planejamento e o cronograma previamente definidos, conside-
rando-se, também, os custos de manutenção durante a vida útil da obra. Decisões
baseadas exclusivamente em aspectos econômicos, sem as devidas consideraçõestéc-
nicas, podem conduzir a fracassos que comprometem a credibitidade do profissional
responsável pela especificação da tubulação.
Na Tabeta 15.1 são apresentados os principais fatores que devem ser considerad.as
na escolha da tubulação. O projetista deve estar ciente de que os custos podem variar
significativamente, em decorrência da entrada de novas empresas no mercado e deaper-
feiçoamentos nos processos de fabricação.

684
Tubulações e acessórios I Capitulo 15

• fatores a serem considerados na escolha da tubulação


abela 1s.1 . . . .
11 siderar Co. ment'ar1os
.
fator a con . .
o projetista não deve se esquecer de que o transporte de água
bruta e de águ~ tratada requerem cuidados distintos. Há águas
·dade da água a que sao agre.ss1vas às tubulações, mas também há ·tubulações
oual1 . · d que podem liberar, na água, substâncias potencialmente
se r transporta a
prejudiciais à saúde.
Em função do. tipo de mate.ri ai utilizado nas tubulações, estas
V záo a ser aduzida - ~presen~am dtâmetr?s ~áx1mos. e mf~imos de fabricação. É
~irnension~mento 1mpresc1ndfvel a real1zaçao de d1mens1onamento hidráulico
hldráuhco adequado.
Devem-se estimar as variações de pressões estática e dinâmica do
condições de sistema, bem como a ocorrência de transientes hidráulicos
escoamento (golpes de aríete) e a possível intermitência do escoamento.
Devem-se obter informações como declividade do terreno, altura
características do de aterro, tipo de solo, localização do lençol freático, carga de
local tráfego.
A pressão interna exercida pela água e as cargas externas podem
Resistência física
ser fatores limitantes na escolha da tubulação. Além disso,
às pressões
devem-se considerar os valores limites de resistência à tração,
intern,as e
compressão, flexão, deformação, fadiga, abrasão e colapso.
externas
A.s condições climáticas locais (temperatura, umidade) e o tipo de
·a;"' Resistência a
solo onde será instalada a tubulação podem ser muito
,é agentes físicos e
desfavoráveis a alguns materiais.
o químicos
e. Depende de fatores tais como características do solo, cargas
·-"O"' externas e natureza da água transportada. A durabilidade
·;"' Durabilidade desejada pode variar de alguns dias a décadas, dependendo da
·-...,.cu. natureza da obra .
ra
E Principalmente em situações de emergência, a rapidez de
execução da obra torna-se mais importante que seu custo final .
"'.g Facilidade de Deve-se considerar o tipo de montagem, distância mínima entre
; assentamento e apoios, deflexão máxima permitida, .ovali~aç.ão'. estanqu~id?de,
"g de manutenção variedade de conexões, diâmetros d1spon1ve1s, 1ntercamb1ahdade
"O
·-..
cu
Q.
e periodicidade entre manutenções.
Na avaliação dos custos, é indispensável levar ém consideração
e
Q. não apenas o preço da tubulação~ do assentamento,~ mas
também o custo de operação do sistema e n:ianutençao durante
Custos a vida útil da obra. Além disso, deve-se considerar os custos
decorrentes dos transtornos causados na infra-estrutura local,
por ocasião de possível manutenção do sistema .

685
ara cons urno hl.1 11'1 ª "º
.... 4gua P
,Ab••te<I,n en to "ª •

força da água
.
.b la ção de água (...) provocou o alagam
' de um a tu u · en to d
"A 'explosão de ix ou ou tra s 2 0 0
1 . e 93
. 16 pess oas e m1 co m as to rn e,ras secas P
as as feri u f ar ra stad as pe la co
· . · elo
C ' . ssoa s oram rre n te za, 1nc u1ndo uma cr,an d
1
menos cinco pe A s ví tim as so d ' . ça e
rn de 76 anos. · fr era m ,ver sa s es co ria çõ es . ( ) d
3 e um ho me . . . ··· 0 n e
. de fe rro fun d id o , de 80 centímetros de diâmetro ( )
sa va um cano .
antes pas t a de 1o metros de compr1m en
t . ...
se um a era er o, p o r cinco de largu ra
formou- d' d de 'P ar ec . . d d h - d
· de profun I a · ia um a ca ch o e ira sa 1n o o c ao, a altura do f'ie
quatro · . dvogado que mora a 3 0 metros da cratera o
do Poste' ' disse o ar e teve O carro
m et ro s. (... d
)Ainda de madruga a, a Defesa Civil interd i-
arra stado na rua po 50
. . . or ca us a de d e sa ba m e n to s e ra c h d A f · , ·
to u oito ,m6veis p . a ur as . s am,lias seriam
a de pa re ntes ou hotéis pagos pela companhia de saneamento .
levadas para a eas . .
(... ) Os prejufzos dos moradores do ~airro sena . ·
m ressarcidos pelo seguro da pró-
pria companhia de saenamento (... )

Esse texto foi extraído da reportagem de um jorn


al sobre os problemas ocorridoscom
O rompimento de uma adutora de água tratada. Embora fatos
deste tipo não sejam corri-
queiros, eles podem ocorrer por erros de engenh
aria, tal como especificação incorreta da
tubulação ou até por falhas operacionais, mas ta
mbém deve-se levar em consideração a
possibilidade de ocorrências não diretamente ligad
as ao projeto, tais como fadiga do mate-
rial da tubulação, acomoda ção do solo, tremores
de terra, excesso de carga externa . Este
último fato pode ocorrer, por exemplo, quand
o o crescimento desordenado da cidade
conduz à passagem de tráfego pesado sobre um
trecho da faixa de domínio da adutora,
sem que isso fosse previsto no projeto orig inal.
Aescolha do tipo de tubulação a ser empregada em
um sistema de abastecimento de
água depende, numa primeira etapa, do estabe
lecimento de parâmetros calcu\ados utili-
~ando-se equações da hidráulica, que permitem
obter, por exemplo, os valores de pressão
,~terna ~ de velocidade da água aos qua is a tub
ulação estará sujeita. Esses valores, por si
ª
~o,. restringem gama de opções dispon íve l, um
limitesde pressão e d 1 'd d
a vez que cada tipo de tubulação possui
dos fabr.ican tes para e ve oc1 a e para uso prático . O projetista deve consultar os catálogos
t h ·
ornar con ec1m ento dos valores de· pressão a d'
sas tubu1açoe dmitidos para as iver-
_
s.
Usualm ente para c d DN ( ."
terminol ogias ' • ª
re1ativas à pressão:
d iaª
metro nom in al) podem ser definidas as seguin . tes 1

• PSA - Pressão de se . .
cont ínua e em . rv iço admissível com to ta l· segurança, de
regime h'd , • forma
• PM s - Pre - .
1
ra u 1ico
pe rmanente, excluindo o golpe de aríete;
. 55
tar, inclui nd o ao m áxima d ·
O e serviço que um c o m p o n e n te pode sup r-
goIpe de aríete· o
' '

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Tubulações e acessórios I Capítulo 15

TA_ pressão hidrostática máxima admissível, no teste de campo, de


• P componente de uma tubulação recém-instalada;
~~N • Pressão nomina_l ~xpressa por um número utilizado como refe-
~ ·a Todos os mater1a1s com flanges de um mesmo DN e designados
renc1 . d' _ d
por um mesmo PN têm as 1mensoes os flanges compatíveis.

Éoportuno lembrar que, além do ti~o de material, os valores de pressão suportados


bulação dependem também do diâmetro nominal (DN), da espessura de parede e
pelat'tu de juntas e acess6.rtos
. .insta1ados no sistema.

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