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VOLTA AO MUNDO
14 estâncias D E N E V E P A R A I R D E C A R R O
PORTFÓLIO
N .º 2 55 | J A N E I R O 2 0 1 6 | M E N S A L | A N O 2 2
Canadá
A NATUREZA SEM
FILTROS
LUXEMBURGO
SURPRESA NO
CENTRO DA
EUROPA
MADRID - LUXEMBURGO - CANADÁ - NEVE - MADAGÁSCAR - PERU N.º 255 JANEIRO 2016
Madrid
UMA VIAGEM DE SABORES
Da tradição aos novos chefs e às últimas tendências na capital
gastronómica da Península Ibérica
Os dez piores
aeroportos
em 2015.
de embarque
Página 99
28
Canadá
Montanhas
Rochosas,
Patrick Grosner
Terra Nova
e Península
de Bruce.
12 24 40 56 70 84 88
Em Alta Madagáscar Madrid Luxemburgo Neve Barranco Viajantes
Um museu na O casal de atores A capital espanhola O pequeno Estado Entre no carro É o bairro com mais Renato e Magda
montanha, dois Vera Kolodzig é um destino de europeu é uma e faça-se à estrada alma e atividade Alves andam pelo
passeios de e Diogo Amaral alta-gastronomia incógnita para até 14 estâncias cultural de Lima, mundo. Apanhámo-
bicicleta, viajar foram ao Índico e que não podemos muita gente. na Europa e em a capital do Peru. -los no outro lado
até Machu Picchu trouxeram histórias perder. E neste mês Descubra-o Marrocos. Damos-lhe Um passeio pela do planeta e eles
sem sair de casa. para contar. há Madrid Fusión. em grande estilo. toda a informação. América Latina. contam-nos tudo.
Volta ao Mundo 3
TENDÊNCIA
Viajar para comer
Como as experiências do palato valem tantas viagens
Patrick
Q
Grosner
uem nunca comeu um comida italiana em todo o lado para Fotógrafo
éclair no parisiense onde vão, porque é nesse confor-
Marais que atire a pri- to doméstico que se sentem bem. É uma estreia nas
páginas da Volta ao
meira pedra. Ou uma Que têm nojo do incerto e rejeitam Mundo. O fotógrafo
ostra fresca em Cancalle, ou um o que não conhecem. Por vezes as de Brasília que já
percebe numa cervejaria da gale- experiências podem não ser muito viveu em Lisboa
ga Finisterra, um pato lacado em positivas – estranhas aos nossos viajou várias vezes,
durante os últimos
Pequim, um hotdog em Coney hábitos –, mas a verdade é que o anos, pelo Canadá.
Island, um caril na zona indiana que se perde com essas está longe Trouxe o seu
Catarina de Singapura, uma coxinha de
frango num boteco do centro do
do que se ganha com todas as outras
em que nos atiramos para fora da
testemunho de um
país que é quase
Carvalho varejo, no Rio de Janeiro, uma nossa zona de conforto.
um santuário da
natureza.
alcachofra frita num restauran- Ementas em línguas estranhas,
Diretora tezinho judeu, em Roma, junto venham elas. Ementas traduzidas
catarina.carvalho@voltaaomundo.com.pt
ao Portico d'Ottavia. todas em inglês e fotozinhas dos
Uma viagem é uma entrada numa pratos, é fugir delas a sete pés e
cultura diferente, da qual os refe- nunca frequentar um restaurante
renciais que nos chegam são todos que as pratique.
sensoriais. É por isso praticamente Ultimamente o turismo gastronó-
impossível dispensar o gosto. Quem mico alcançou estatuto de categoria.
diz gosto diz sabor, palato, prazer da Há quem viaje à procura das estrelas Belén
gastronomia. Sempre me fizeram Michelin ou persiga os chefs mais Rodrigo
Jornalista
muita impressão os turistas a quem famosos. Neste mês, trazemos um
essa experiência escapa por com- guia de Madrid que faz o percurso A jornalista
pleto porque se recusam a pôr-se à pela comida – dos restaurantes aos espanhola volta às
prova, a experimentar coisas novas. chefs, relatando como a cidade se páginas da nossa
revista de viagens
Os turistas – sim, não vou cha- tornou hoje um dos polos mundiais para falar da cena
mar-lhes viajantes – que comem da gastronomia. Bom proveito. gastronómica
madrilena. Falou
com os chefs da
moda, conheceu os
restaurantes onde
é quase obrigatório
ver e ser visto
e traça-nos um
roteiro daquilo que
não pode perder na
capital espanhola.
4 VOLTA AO MUNDO
Aldeia da
roupa colorida
NA PROVÍNCIA DE GUANGXI, ONDE
HABITA O POVO YAO, HÁ TODOS OS
ANOS UM FESTIVAL DEDICADO À
SECAGEM DE ROUPA. ACONTECE
A CADA 6 DE JUNHO E NASCEU DA
IDEIA DE QUE A LUZ DO SOL NESTE
DIA TEM O PODER DE DESINFETAR
AS ROUPAS E AFASTAR OS
INSETOS.
FOTOGRAFIA DE CHINAFOTOPRESS/GETTYIMAGES
19
Vem aí um navio de cruzeiro totalmente ecológico, uma casa espelhada nas
1007 m
museu
O admirável homem
das montanhas
Reinhold Messner inaugurou o seu sexto e último museu, na região do Tirol. Uma declaração de amor
às montanhas daquele que é considerado o maior alpinista de todos os tempos.
O Museu de Corones está aberto todos os dias da semana entre as 10h00 e as 16h00. Entrada: 8 euros para adultos, metade para as crianças.
12 VOLTA AO MUNDO
+
Mar verde
Um navio de cruzeiros
totalmente ecológico
dentro de poucos anos.
Dos navios de
cruzeiros costuma
falar-se da dimensão
e do luxo que lhes estão
normalmente associados.
Mas também das preocupa-
ções ecológicas, já que têm
consumos de energia e
combustível gigantescos.
A Costa Cruzeiros anunciou
para 2019 a construção de
um novo navio para 6600
passageiros, o maior do
mundo, mas que será
também o menos poluente
de sempre. No entanto, há
destino um grupo de trinta especia-
listas que quer criar uma
espelho
embarcação totalmente
ecológica - o Ecoship.
O outro lado do O trabalho começou em
2014 e poderá estar
Nas montanhas Dolomitas há um segredo à sua espera. Arquitetura e luxo, para condizer concluído em 2020, caso
com a beleza natural circundante. haja parceiros e financia-
mento. Um conjunto de
Preço por
noite a partir
de 160 euros
por casa.
Na época
alta chega
aos 250
euros.
14 VOLTA AO MUNDO
es
s
Duas sugestões em Portugal,
vindas de quem mais sabe sobre o assunto – a revista Evasões.
PORTUGAL
es
ge
su
s tõ e s e va s õ
01 CASCAIS
O chefe da Fortaleza
Antoine Westermann definiu a cozinha da Fortaleza do Guincho. Vincent Farges respeitou
a premissa e abriu-a aos produtos nacionais. Miguel Rocha Vieira é o senhor que se segue.
Miguel Rocha Vieira, o chef, es- Westermann, ex-consultor da de Rocha Vieira. Foi ele
tava há 17 anos fora de Portugal, Fortaleza, mas que foi também, quem, ao saber da partida
com passagem por vários restau- justiça lhe seja feita, um dos pri- de Farges e depois de falar
rantes estrelados (o Costes, em meiros entre nós a apostar em com o colega, deu a saber
Budapeste, deu-lhe notoriedade) produtos nacionais de grande da disponibilidade: «Sou de
e chegou à Fortaleza do Guincho qualidade, abriu caminho para a Cascais e sempre olhei para a
em agosto. Desde finais de no- mudança de equipa e de filosofia Fortaleza como um sítio onde
vembro está a mostrar ao que – «Era necessário passar final- gostaria de trabalhar quando sen-
veio. «Foram anos muito bons, mente de um chef francês para tisse que tinha bagagem para
mas agora é tempo de virar a pá- um português. Não conhecia o isso.» Conhecido do grande pú-
gina», confirma Petra Sauer, Miguel, mas, de todos com quem blico graças à sua prestação tele-
diretora deste Relais & Châteaux falei, ele foi aquele que, desde o visiva como jurado do Master-
com uma estrela Michelin desde início, melhor se encaixou no Chef, Rocha Vieira prossegue: Fortaleza do Guincho
2001. A saída de Vincent Farges projeto que temos para a Forta- «Estive estes anos todos longe Estrada do Guincho (Cascais)
em julho, que dera seguimento leza. Tive logo a confirmação: é do mar, agora quero apresentar Tel.: 214870491
à proposta inicial de alta-cozinha este!», confidencia a alemã. o máximo de peixe e de marisco Preço médio: 90 euros
francesa desenhada por Antoine A iniciativa partiu, no entanto, possível: mas não só.» JMS Web: fortalezadoguincho.pt
02 Porto São
PORTO
A pouco mais de hora e meia de Portugal continental, há uma ilha madeirense
SANTO
que desafia os paraísos das Caraíbas, Canárias e América do Sul.
Saiba tudo o que há de melhor em Portugal com a revista Evasões. Todas as sextas com o Diário de Notícias e com o Jornal de Notícias.
VOLTA AO MUNDO 15
bicicletas
ANTÁRTIDA AMESTERDÃO
Explorar Descobrir
a Antártida... Amesterdão...
de bicicleta à boleia
Uma expedição de bicicleta na Antártida soa a tarefa im- Se estiver na capital holandesa e vir uma bicicleta com a
possível. Mas não é. Será uma realidade no final de 2016. grade de trás pintada de amarelo não hesite. Peça boleia.
16 VOLTA AO MUNDO
Ir a Machu
Picchu
sem sair do sofá
A cidade inca de Machu Picchu já pode ser visitada
através do Google Street View.
Páscoa ESPECIAL
Desde
ESLOVÉNIA, CROÁCIA E BÓSNIA
1.190
A s Pirâmides do Egito, o
monte Evereste, os tem-
plos de Angkor Wat, a cida-
Tudo conseguido graças a
uma espécie de mochila
(trekker) com cerca de 22
Partida de Lisboa ou Porto (via Lisboa) a 20 mar.’16
360 graus de Visitando: Lima, Cusco, Vale Sagrado, Machu Picchu e Águas
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cicerone
1. Duomo
Obviamente o Duomo, que é o coração
da cidade, com a Galleria Victor 4. Parco
Sempione
Emmanuel... e agora há um passeio
sobre a Galleria, por cima dos telhados,
que é fantástico. Fica por trás do Castello Sforzesco.
É um parque enorme, com o Bar Bianco
no centro, perfeito para famílias e
solteiros de todas as idades. Dá para
fazer jogging ou ouvir música ao vivo.
5. Brera
Fica a dez minutos a pé do Duomo.
Tem videntes que leem a mão, lojas de
design e alguns dos melhores happy
hours de Milão. É um must.
2. Canais
Os dois canais de Milão estão cheios
de vida. Há cafés, bares, restaurantes
e exposições. São mesmo ao pé
de minha casa e perfeitos para tomar
uma bebida depois do jantar.
Milão
DE CARLA VIEITES
E sta portuguesa licenciada em Gestão pelo Instituto Superior
de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE) nasceu em
1973 em Lisboa. Aos 22 anos terminou a sua licenciatura e no 6. Palácio Real
3. Corso Como mesmo ano começou a trabalhar como key account na P&G É um importante centro cultural e já foi
Os cafés de design, como o 10 Corso a residência real em Milão. Está mesmo
Como, são imperdíveis. É onde vou ver Portugal. Em 1997 mudou-se para a Gillette España onde exer-
ao lado do Duomo.
o World Press Photo todos os anos, e ceu as funções de brand manager e de 1999 a 2001 trabalhou
uma das zonas mais bonitas da cidade, em Portugal na Pepsi. Até que, em 2002, Carla se mudou para
sem trânsito e com ótimas geladarias. a cidade do Norte de Itália para assumir o cargo de marketing 7. Teatro Scala
manager da Pepsi South Europe. Durante os anos que tem É uma das salas de espetáculos mais
famosas do mundo e é sempre um prazer
passado em Milão desempenhou várias funções de diretora de
visitá-la. Uma experiência inesquecível.
marketing na Heinz, mas também na prestigiada Expo Milano.
Em abril de 2014 voltou ao negócio dos refrigerantes, sempre
com a Pepsi, e é lá que se mantém. O cappuccino, aqui parti-
lhado com o filho, é um dos prazeres que não dispensa em
Milão, como confessou à Volta ao Mundo. E há tanto para fazer
numa cidade que muitas vezes é vista como escura e industrial,
mas que, na realidade, é surpreendente a cada esquina. Para
viver Milão é preciso conhecê-la ou ter os melhores cicerones
à mão. Carla é um dos nossos guias.
18 VOLTA AO MUNDO
530,4 m
555,7 m
601 m
492 m
660 m
632 m
828 m
508 m
Kingdom Sky Burj Pingan Shanghai Makkah Royal Clock Goldin Lote World One World CTF Tianjin Chow Thai Taipei Shanghai World
Tower City Khalifa Internacional Tower Tower Hotel Finance 117 Tower Trade Center Tower Fook Center 101 Finance Center
Arábia Saudita China Dubai China China Arábia Saudita China Coreia do Sul EUA China China China China
VOLTA AO MUNDO 19
O
pai de Leena Salim Moaz
zam, a embaixadora do
Paquistão em Lisboa,
também era diplomata. E quan
do o governo decidiu mudar a
capital de Carachi para Islama
bad, a família instalou-se em
Murree, uns 45 quilómetros a
norte, à espera que fossem aca
bados os novos edifícios para a
fundação oficial da cidade em
1960. Foi ali que Leena Salim
Moazzam nasceu, «com vista
para os Himalaias», conta, «mas
Leena Salim Moazzam é desde 2014 embaixadora do Paquistão em Lisboa. Filha de um diplomata e casada com o embaixador atual na Holanda. Nasceu em Murree.
20 VOLTA AO MUNDO
CURITIBA
E
stava arrumada, à minha espera: apresentava Ucrânia, haverá muitas casas deste Brasil onde não se esqueceram
uma temperatura amena, uma claridade amena, as danças certas para essa celebração, onde os trajes tradicionais
um olhar sem maldade. Assim, naquela calma de são usados por gente loura que almoçou picadinho.
domingo, pareceu‑me uma cidade para dias tão Estava arrumada, à minha espera, com uma espécie de
largos como as suas ruas e avenidas. Consegui sorriso tímido em tudo: nas fachadas dos edifícios, nas cores,
imaginar‑nos a envelhecer juntos, a dividirmos no breve silêncio que se podia distinguir entre as vozes dos
fins de tarde. Consigo ainda imaginar‑nos. Nada menos do que passeios, prudentes e cordiais, entre os carros da estrada,
esse compromisso me parece digno de uma seriedade como a que cumpridores e com bons travões. Era uma cidade penteada, de
vejo em ti. As propostas indecentes estão fora de questão. rosto lavado e angústia subtil.
Repito o teu nome em silêncio, os meus lábios a moldarem Talvez eu devesse ter desconfiado dos bigodes do Paulo Le‑
‑no, ouço‑o na cabeça com uma minski, sujos de aliterações. Tal‑
voz que imagino ser tua. Como vez eu devesse ter desconfiado
quando esse nome foi dito pela das suas fotografias impressas na
primeira vez, em tupi ou em Apesar de todas as fronteiras, capa dos livros. Poesia como essa
guarani, e alguém lhe avaliou a precisa de matéria rugosa, ma‑
justiça, procurando entender se
visíveis e invisíveis, aqui é esse drugadas de tempestade, ossos,
dizia todo o futuro que era capaz Brasil sem Copacabana, sem alguma falta de civismo. Não há
de conceber. Cheguei já nesse fu‑ Amazónia, sem acarajé. Porque luz sem sombra.
turo. No entanto, sei que há mais o Brasil também é camisola de lã, Ainda assim, consegui
futuro ainda. Ao concebê‑lo, sinto imaginar‑nos a envelhecer jun‑
falta dele, sinto saudades porque
carne de onça, empate a zero tos. Tinha acabado de chegar e
sei que terei de partir. E afasto esse do Clube Atlético Paranaense faltava‑me o mal‑estar de pro‑
pensamento. na Arena da Baixada. curar defeitos, precisava des‑
Curitiba, empresta‑me algum canso dessa viagem que conti‑
do teu urbanismo. Preciso dele nuava a estender‑se a cada passo
para me endireitar. Às vezes, o que dava. Agora, consigo ainda
trânsito que me atravessa confunde‑se e ninguém é capaz de imaginar‑nos a envelhecer juntos. Com essa força, Curitiba, prefi‑
chegar a parte alguma, construí demasiados muros, demasiados ro encher a boca de vogais. Digo: Paraná. Aproveito essa liberdade
becos, falta‑me um sistema funcional de transportes. inocente, como se cantasse o teu hino.
Sim, a Ucrânia, a Polónia, a Itália, a Alemanha, mas também E baixo as pálpebras sobre os olhos para sentir este sol, que é
o Brasil. Apesar de todas as fronteiras, visíveis e invisíveis, aqui é ligeiramente quente e fresco ao mesmo tempo. Como se te recor‑
esse Brasil sem Copacabana, sem Amazónia, sem acarajé. Porque dasse, devolvo a serenidade com que me olhas. E, neste dia largo,
o Brasil também é camisola de lã, carne de onça, empate a zero do nestas ruas e avenidas também largas, imagino que somos noivos,
Clube Atlético Paranaense na Arena da Baixada. E se for feriado na que estamos noivando, que sabe tão bem noivar.
22 VOLTA AO MUNDO
VERA KOLODZIG
24 VOLTA AO MUNDO
26 VOLTA AO MUNDO
O meu primeiro encontro com um lé- ristas com quem nos cruzámos tinham todos a não fazer ideia de onde surgiram os habi-
mure foi num bungalow na praia de Ifaty. um roteiro estudado e organizado e a única tantes que nos ajudaram a tirar o jipe do rio.
Senti a parede de bambu a estremecer e vi rapariga que encontrámos a viajar sozinha Quando viajo gosto de viver ao máximo a
um pequeno bicho cinzento com os olhos estava em pânico porque não encontrou o vida local e em Madagáscar as experiências
vermelhos a fugir. Lido bem com baratas, espírito backpacker de que estava à espera. não podiam ter sido mais genuínas. Numa
mosquitos e outros bichos do género, mas É preciso ter muita paciência porque as in- noite, depois de alguns copos de rum barato,
só a ideia de um rato causa-me ataques de fraestruturas são muito básicas. acabámos numa festa familiar da circuncisão.
ansiedade ao estilo de Paris Hilton. Só no Para evitar mais uma jornada de taxi- O ritual inclui o sacrifício de galinhas, patos
dia seguinte um funcionário do resort dis- -brousse decidimos alugar um jipe com mo- ou bois. Agora que não como carne talvez
se que se tratava de um lémure noturno. torista (porque não podia ser de outra forma) fosse mais difícil lidar com isto. Houve muita
Até então para mim os lémures eram ani- para viajar entre Morondava e Ifaty numa comida, bebida e dança até ao nascer do dia,
mais com a cauda comprida às riscas e estrada que estava fechada naquela altura do hora em que foi feita a «operação». Segundo
sentido de humor, como no filme de ani- ano. Sabia que a estrada era má, não sabia a tradição só assim é que os rapazes se tornam
mação. Essa espécie mais «típica» só vi no que era inexistente. Demorámos dois dias, verdadeiros homens. Não fomos convidados
parque natural de Isalo. da madrugada ao cair do Sol, a percorrer mas fomos muito bem recebidos.
Madagáscar é um país cheio de surpresas. cerca de 450 quilómetros de mato denso que Madagáscar é um país único, um autên-
Não é propriamente fácil fazer uma viagem incluiu uma praga de gafanhotos e longas tico caleidoscópio de natureza. Foi aqui que
independente e foi por isso que se tornou tão horas atolados num rio. Mais uma vez não me encontrei por finalmente me ter sentido
especial. Adoro desafios e aventuras. Os tu- fazia ideia onde estava no mapa. E continuo realmente perdida.
VOLTA AO MUNDO 27
É
nos estados da Columbia Britânica e de a ilha da Terra Nova e a região continental de Labrador. São
Alberta que encontramos as Montanhas mais de 400 mil quilómetros quadrados de área, mais de
Rochosas canadianas. Fazem parte da quatro vezes o tamanho de Portugal, com uma população de
Cordilheira Canadiana, que liga as meio milhão de habitantes, quase todos a viver na Terra Nova.
pradarias à costa do oceano Pacífico. O terceiro ponto desta viagem em forma de portfólio
Ao sul, delimitam a fronteira com é a península de Bruce, no estado de Ontário, entre a baía
os estados de Idaho e Montana, nos Georgiana e a bacia do lago Huron. É nesta península que
EUA. São vários os picos observados pode ser admirada a formação geológica conhecida por
nesta paisagem canadiana, com destaque para o monte Escarpa do Niagara. Aqui existem dois parques nacio-
Robson e os seus 3954 metros de altitude. Foi por estas nais, oito parques estaduais e quatro parques naturalistas.
paragens que Patrick Grosner começou a fotografar. O destaque maior vai para a Reserva Mundial da Biosfera
Apaixonou-se pela paisagem, pela rudeza e pela beleza do Parque Nacional da Península de Bruce, com os seus
de locais pouco conhecidos da maioria dos europeus. penhascos impressionantes, densas florestas e pequenos
E não quis outra coisa. Continuou a sua viagem pelo lagos. Na lista de preferências também está a primeira Área
Canadá ao longo dos anos e descobriu outros pontos de de Conservação Marinha Nacional do Canadá – a Fathom
interese, como a Terra Nova. Five, com os seus 22 destroços de navios afundados. Mer-
Newfoundland e Labrador, como é denominado no gulhar por estas paragens é uma experiência só ao alcance
original em inglês, é a província mais oriental deste país da dos mais afortunados. E corajosos.
América do Norte. Fica à beira do Atlântico e compreende Venha descobrir um pouco do Canadá connosco.
30 VOLTA AO MUNDO
É um
importante
ponto de
passagem
para aves e
habitat de
animais como
o urso-preto,
a cascavel ou
o mocho.
À esquerda,
um dos
exemplos
dos navios
afundados
que servem
de habitat
a diversas
espécies
marinhas.
À direita,
The Grotto,
a formação
rochosa
e baía de
águas claras
mais famosa
deste parque
nacional.
32 VOLTA AO MUNDO
Os primeiros
europeus a
chegar a estas
costas terão
sido os povos
do Norte
da Europa,
vikings.
Fizeram-no
há cerca de
mil anos.
35
36 VOLTA AO MUNDO
Patrick Grosner
Fotógrafo, nasceu em Brasília em 1970.
Começou a fotografar em 1989, no Cana-
dá. Nos anos 1990 frequentou o curso de
Artes Plásticas na UnB, Universidade de
Brasília, e fotografou grande parte da cena
musical produzida na capital brasileira.
Em 1998 mudou-se para Portugal, tendo
trabalhado como fotojornalista. Colabo-
rou com várias revistas e jornais, desta-
cando-se o semanário O Independente.
Voltou a Brasília em 2006 e hoje trabalha
como freelancer. Em 2014 lançou o docu-
mentário Geração Baré-Cola - Usuários
de Rock, que retrata o movimento musical
de Brasília nos anos 1990.
Estreia-se na Volta ao Mundo com
aquilo de que tanto gosta: natureza. Os
seus trabalhos podem ser vistos no site
patrickgrosner.com.
38 VOLTA AO MUNDO
Madrid
gastronómica
UMA CIDADE PARA COMER E CHORAR POR MAIS
O mundo da gastronomia em Madrid vive um dos seus momentos
mais altos. A capital espanhola tem alguns dos melhores restaurantes
do mundo e muitos dos mais conceituados chefs estão por aqui. Em
mês de Madrid Fusión, o grande evento gastronómico espanhol (25
a 27 de janeiro), fomos escutá-los para saber mais sobre a revolução
à mesa. Eles contam-nos onde ir e o que comer em Madrid.
TEXTO DE BELÉN RODRIGO
42
outros países. Na capital espanhola está o gastronómica. Locais com vida, onde o de-
restaurante mais antigo do mundo, Casa sign quer também cativar os comensais.
Botín (data de 1725), com o seu famoso A decoração da sala combina muitas ve-
leitão assado, e um outro local mítico, Lhar- zes com a decoração dos pratos, está tudo
dy (a funcionar desde 1839). São mais de pensado ao mais ínfimo pormenor, porque
sete mil restaurantes nesta região central os chefs sabem que a viagem gastronómica
do país, com ofertas para todos os gostos não começa no paladar, mas sim na visão.
e orçamentos – bares, tascas, tabernas e Um dos principais responsáveis por colocar a
restaurantes de todos as dimensões. Mas gastronomia madrilena nas bocas do mundo
são os locais com mais prestigio que fazem é David Muñoz. O seu restaurante Diverxo
que os peritos gastronómicos olhem para ganhou a terceira estrela Michelin em 2014,
Madrid como olham para Paris ou para algo que não acontecia na capital desde 1995.
Nova Iorque. A modernidade na gastro- Este jovem madrileno (nasceu em 1980) é
nomia de Madrid acompanha a evolução um cozinheiro atípico, instalado desde 2007
do conceito do espaço. Os restaurantes na cidade depois de uma etapa em Lon-
são também protagonistas da experiência dres a trabalhar em restaurantes asiáticos.
VOLTA AO MUNDO 43
No Diverxo só há espaço para a criatividade David em várias entrevistas. Para já, acaba Bogotá e México. Roncero aprendeu muito
e para a boa disposição. Muñoz não para de de abrir um restaurante em Londres, um do que sabe ao lado de um dos grandes chefs
inventar coisas novas com produtos de di- dos seus sonhos, e a sua ambição parece não espanhóis, o catalão Ferran Adrià. «Com ele
ferentes cantos do mundo. A ninguém passa ter limites. Em Madrid conta também com mudei a forma de entender a gastronomia
despercebida a sua inteligência para fundir StreetXO, uma sucursal low-cost do Diverxo. e ao viajar pelo mundo consegui abrir a
aromas, sabores e texturas. É preciso ir ao Também de Madrid é outro dos chefs minha mente», explica Roncero à Volta
Diverxo com a mente aberta e um paladar mais procurados na capital – Paco Roncero, ao Mundo. Este génio da cozinha considera
que assimile a mistura de sabores doces, áci- nascido em 1969. É o chef executivo e di- que em Espanha se come muito bem em
dos, amargos, azedos, picantes ou fumados. retor do NH Collection Casino de Madrid e qualquer cidade. O chef madrileno diz que a
Aqui não há carta, só duas opções em função do restaurante La Terraza del Casino, com cozinha do La Terraza del Casino «está muito
do número de pratos (145 ou 200 euros por duas estrelas Michelin. Conta também com basea-da no produto e trabalhamos com
pessoa). «Quero comer o mundo», disse outros espaços em Madrid, Ibiza, Xangai, muito carinho e cuidado, sendo a técnica
44 VOLTA AO MUNDO
VOLTA AO MUNDO 45
VOLTA AO MUNDO 47
De Barcelona
Salamanca. de marca do
restaurante
que tem o
nome do chef.
a Madrid
S
e há algo que carateriza a cidade de «Estou cá para crescer, ofereceram-me de felicidade, de técnica, de produto, de
Madrid é a mistura da sua gente e na esta oportunidade e decidi fazer as malas sentimento». Gosta de brincar com o clien-
gastronomia não podia ser de outra e vir para a capital», afirma Ramón Freixa te mas garante que a sua cozinha «tem
forma. Não só os chefs madrilenos triunfam a esta revista. Está à frente do restaurante muito fundo». Ramón não tem medo de
na capital como cada vez mais os grandes com o seu nome, situado no Hotel Único arriscar e no menu encontra-se «o mercado
cozinheiros de outras zonas de Espanha do bairro de Salamanca. «O cliente tem no prato». Os clientes visitam-no para «se
querem instalar-se em Madrid. É o caso uma experiência de 360o, distinta, singular, divertir e comer bem». Assegura que «em
de Ramón Freixa (nascido em Barcelona a minha cozinha, um sorriso, uma mise-en- Madrid há peixe espetacular e uma horta
em 1971), que decidiu mudar-se há seis -scène, uma cozinha de vanguarda mas com muito boa». O seu produto fetiche é o ovo,
anos depois de um grande percurso no sabor tradicional.» A sua influência é catalã, «por ser tão versátil». Com pai cozinheiro
restaurante familiar El Racó d’en Freixa, «as minhas raízes não se esquecem». Freixa e avô padeiro, Freixa recorda: «Em criança
posteriormente chamado Freixa Tradició. define o seu trabalho como «uma cozinha não ia ver jogos de futebol, ia ajudar na
48 VOLTA AO MUNDO
combinam-se com jogos visuais inusitados. para todos os níveis. Além de passar pelo
seu restaurante, Freixa aconselha que se
vá tapear à Latina, visitar alguma oferta
estrangeira como a mexicana ou a chinesa
e seguir os madrilenos. É grande fã de um
dos pratos típicos de Madrid, o cozido, e de
tudo o que seja «boa cozinha».
VOLTA AO MUNDO 49
50 VOLTA AO MUNDO
Na página À direita,
ao lado, o a sala do
chef Iván restaurante
Domínguez e Santceloni,
um dos pratos duas estrelas
que serve no Michelin,
restaurante chefiado por
Alabaster. Óscar Velasco.
51
Oferta
internacional
M
adrid não é só conhecida pela portuguesa. É um espaço onde se pode
oferta gastronómica de todos os comer uma excelente representação dos
cantos de Espanha, mas também melhores sabores lusitanos «e também
pela variedade e qualidade dos restaurantes galegos, tudo o que nos traz o Atlântico»,
estrangeiros. Entre as mais recentes inaugu- como afirma o dono, português, Nuno de
rações encontra-se o A Japanese Kiritaka, Noronha. Existem produtos comuns nos
uma taberna japonesa onde a cozinha asiáti- países mediterrânicos, mas na zona do
ca se funde com a espanhola; e o Benares, do Atlântico cozinha-se de forma diferente,
internacionalmente conhecido chef indiano «com um maior uso do carvão e o forno».
Atul Kochhar, que propõe cozinha indiana Conta com uma ementa variada de carne
de autor, sendo ao mesmo tempo um ponto e peixe com todos os pratos para partilhar.
de encontro com a cozinha espanhola. Não faltam os peixinhos da horta nem as
Atlantik Corner é outra das novida- pataniscas de bacalhau e, neste restaurante,
des, esta com forte influência da cozinha cozinha-se um delicioso bacalhau à Brás.
52 VOLTA AO MUNDO
MARIA MARTE
De lavar pratos a ter
duas estrelas Michelin
A
história de Maria Marte (nascida O que tenta oferecer nessa viagem? Só com o passar do tempo me perguntaram o
em 1976 em Jarabacoa) dava um Quero que os clientes conheçam coisas no- que queria fazer. Então, aproveitei a saída
bom argumento para um livro ou vas. Gosto de ensinar, transmitir conheci- de um cozinheiro e entrei na equipa. Tinha
filme. Esta jovem dominicana chegou a mentos às pessoas, é esse o meu repto. O receio de ser a última a entrar, mas acabei
Madrid em 2003 e começou a trabalhar cliente deve deixar-se levar e é o melhor por mostrar valor e consegui estar na co-
na cozinha do prestigiado Club Allard a para nós, podemos surpreendê-lo. Temos zinha sem descuidar os meus trabalhos de
lavar pratos. Ninguém sabia da sua paixão três tipos de menus segundo o número de limpeza. Desde aí lutei pelos meus sonhos,
pela cozinha e ela passava as horas a ver o pratos. São pratos pequenos com grandes que agora se tornaram realidade.
que faziam os cozinheiros. Durante algum porções de sabor. Diego Guerrero era o chef de cozinha. Foi o seu
tempo acumulou os trabalhos de limpeza Qual era a sua relação com a gastronomia grande mestre?
da louça com um primeiro contacto com espanhola antes de chegar a Madrid? Diego ensinou-me muito e penso que
as panelas, quase sem tempo para dormir. Conhecia coisas básicas e da República aprendeu também muito comigo. Troca-
O seu sacrifício teve recompensa e a vida Dominicana trouxe o conhecimento das mos muita cultura e por isso trabalhamos
acabou por lhe dar a oportunidade sonhada. minhas raízes. Em Madrid percebi que es- muito bem juntos. Ele ensinou-me muito
Hoje é a única mulher em Madrid que tem tava no berço da gastronomia e aqui obtive e eu fui uma boa aluna.
o reconhecimento do Guia Michelin: conta muitos conhecimentos. Quando ele deixou o Club Allard, Maria
com duas estrelas. Vem de família de cozinheiros? decidiu ocupar o seu lugar. O que sentiu?
O meu pai dirigiu o único restaurante que ha- Senti tristeza por ele se ir embora, mas foi
Que traz Maria Marte à gastronomia de Madrid? via na minha cidade e a minha mãe era uma o momento de tomar uma decisão. Tudo
Consegui uma mistura muito interessante grande pasteleira. Cresci entre fogões e, de acontece por alguma razão. Sem a sua saída
de sabores da minha terra com os tradi- oito irmãos, algum teria de seguir os passos. não teria enfrentado o maior desafio da
cionais de Espanha. Com a minha cozinha Chegou ao Club Allard para lavar pratos. Alguém minha vida, ficar responsável pela cozinha
quero que o cliente faça uma pequena via- conhecia o seu interesse pela cozinha? deste espaço. Claro que senti vertigem, era
gem gastronómica sem sair do seu lugar. Ninguém sabia nada de mim, da minha paixão. normal, mas correu tudo bem.
54
FICAR
Petit Palace Pousada del Peine
E agora está à frente de um restaurante com C/ POSTAS 17
TEL. + 34915238151
duas estrelas Michelin
HPETITPALACEPOSADADELPEINE.COM
Vivi a evolução toda do Club Allard. A pri- QUARTO DUPLO DESDE 85 EUROS
MADRID
meira chegou em 2007 e a segunda em 2012,
quando eu já era chef de cozinha. Recebi Hotel Atlántico
GRAN VÍA 38
duas estrelas, consegui mantê-las e em TEL. +34 915226480
seis meses não existia rastro da cozinha de HOTELATLANTICO.ES
Diego Guerrero. Cozinho com o coração e QUARTO DUPLO DESDE 150 EUROS
55
Cidade do
Em três dimensões
Luxemburgo
A capital do pequeno e rico país europeu é diminuta no tamanho e enorme
na diversidade que oferece: cenários inesperados, belíssimas áreas verdes,
Património UNESCO, arquitetura moderna, gastronomia apetitosa, compras
para todos os gostos, belos museus e até jazz ao pequeno-almoço.
15-12-2015 02:09:35
�
Escondido entre Bélgica, França e Alemanha, o grão-ducado do Luxemburgo é um
mistério. Está entre os dez Estados menos populosos do mundo e o seu nível de vida
é elogiado internacionalmente. Aterramos na capital para decifrar o enigma.
O
lojas de pronto-a-vestir internacionais bastante acessíveis.
Numa esquina, um músico de rua canta sucessos do rock
bem mais velhos do que ele, a poucos passos de uma loja
de malas tão famosas quanto caras. Mais acima, uma co-
nhecida cadeia de fast food está a uma dezena de metros de
um dos três restaurantes com estrela Michelin da capital,
La Cristallerie, no Hotel Le Place d’Armes, membro da
rede Relais & Châteaux.
No quarteirão vizinho, a Place Guillaume II acolhe
mercados de produtos alimentares, flores e vestuário em
segunda mão à quarta-feira e ao sábado de manhã. Nas
imediações, a incontornável Oberweis fabrica artesanal-
mente chocolates deliciosos, elegantes e dispostos de uma
forma que quase parecem joias.
Na direção oposta fica a Place de la Constitution, com o
seu monumento de homenagem aos soldados luxembur-
gueses mortos na Primeira Guerra Mundial, encimado pela
estátua conhecida por Gëlle Fra, ou «mulher dourada».
É também um miradouro sobre o vale do rio Pétrusse:
O mundo todo cabe nesta cidade com pouco mais de cem abruptamente a terra termina, revelando outra dimensão
mil habitantes oriundos de 160 países. Inúmeras línguas, da capital, a «cidade baixa». Para já, a caminhada fica-se
muitas incompreensíveis, ouvem-se pelas ruas da capital pelas alturas, com visita à Catedral Notre-Dame, construída
do grão-ducado do Luxemburgo e a portuguesa, dado pelos jesuítas entre 1613 e 1621, posteriormente aumentada
que a maior comunidade emigrante no país é de origem e ornamentada com vistosos vitrais dos séculos xix e xx,
lusa, não demora a revelar-se: «É de Lisboa? Eu vim para esculturas modernas e portais em bronze do luxemburguês
cá há 13 anos. Vive-se bem aqui, mas tenho saudades do Auguste Trémont.
sol e da nossa alegria! Pretendo regressar em breve. Quer Daí à Rue du Marché-aux-Herbes é um saltinho e o
Em 2014, torradas?», pergunta Lídia, responsável pelos pequenos- Go Ten um bom lugar para almoçar em tons asiáticos,
de acordo -almoços do Hotel Simoncini. Não, só queremos saber por sobretudo japoneses. Ao fim do dia, tapas acompanham o
com a ONU, onde começar uma visita de poucos dias. «É tudo bonito!» aperitivo, depois o espaço transforma-se em bar, repleto
o Luxemburgo
estava no é a resposta e havemos de concordar plenamente no final de gente a tagarelar simultaneamente em várias línguas,
top 3 mundial desta escapadinha. funcionários da União Europeia incluídos. Entre copos e
quanto a A localização do hotel, bem no centro, é ótima para risos fala-se de tudo, inclusive mal de medidas europeias e
produto
interno bruto partir à descoberta. Para a esquerda ficam ruas cheias de do futuro de Schengen, o tratado que popularizou o nome
per capita. lojas sedutoras. Marcas de luxo surgem lado a lado com de uma vila situada no Sul do país.
58 VOLTA AO MUNDO
A Oberweis,
loja de
chocolates
artesanais,
tem de fazer
parte deste
roteiro.
Destaque
ainda para
o hotel
Simoncini
(em cima) e a
sua receção.
VOLTA AO MUNDO 59
60
A nova
Luxemburgo
O Simoncini não é só um hotel, é também uma galeria de
arte contemporânea. Na verdade, trata-se de uma galeria
com hotel e não o contrário, como muitas vezes sucede.
O espaço expositivo existia há cerca de 35 anos, propriedade
de André Simoncini, filho de emigrantes italianos nascido
no Luxemburgo, desde sempre galerista e empresário na
área da hotelaria. Em 2008, juntou tudo no atual edifício:
35 quartos, com obras de arte aqui e ali, e a galeria homóni-
ma, que anualmente apresenta meia dúzia de exposições,
com destaque para trabalhos de artistas japoneses, pelos
quais sente especial fascínio. Também poeta, dedica-se ainda
à edição limitada de livros de poesia, nomeadamente de Gao
Xingjian, escritor chinês de língua francesa distinguido com
o Prémio Nobel da Literatura.
Arte e contemporaneidade são boas dicas para deixar
ANN SOPHIE LINDSTRÖM
62 VOLTA AO MUNDO
FILIPE BRAGA
ANN SOPHIE LINDSTRÖM
VOLTA AO MUNDO 63
64
Nem só de
copos vive
o Lifebar
(ao lado).
Também
tem um menu
de pratos
de inspiração
italiana.
�
Do total de 525 mil habitantes do Rodeado por uma agradabilíssima área verde, o vizinho
Luxemburgo, em 2013, quase 90 mil MUDAM, Musée d’Art Moderne Grand-Duc Jean, é o outro
grande motivo para vir até Kirchberg. Desenhado pelo au-
eram de origem portuguesa. tor da pirâmide no Louvre, Ieoh Ming Pei, que usou como
«apoio» para o edifício a fortificação Thüngen, do século
olímpica, restaurantes e outros espaços que se pretende que xviii, apenas recebe exposições temporárias. A atual, Eppur
contribuam para fixar aqui a população. Si Muove, criada para o semestre em que o Luxemburgo
A Philharmonie é um dos orgulhos desta zona da cidade. preside à União Europeia e que pode ser visitada até 17 de
Com um grande auditório de acústica excecional, desde que janeiro, aborda a relação/influência da ciência e da técnica
foi inaugurada, em 2005, já recebeu mais de milhão e meio sobre a arte contemporânea.
de visitantes e algumas das mais reputadas orquestras e ma- O caminho de volta pode incluir mais duas paragens
estros a nível mundial. O próprio edifício é uma obra de arte dedicadas ao design e à arquitetura: uma na Rob Vintage,
do arquiteto francês Christian de Portzamparc, distinguido casa/loja com peças autênticas dos anos 1950 e 1960 cuja
com o Prémio Pritzker. Também acolhe espetáculos de jazz proprietária, Michele, adora partilhar ideias sobre «mobili-
e música do mundo (Mariza cantou aqui em novembro) e ário com história»; e outra no LUCA, Centro Luxemburguês
concorridos concertos para crianças e adolescentes. para a Arquitetura, que promove interessantes exposições.
VOLTA AO MUNDO 65
Na cidade
baixa
É a maior e mais bonita surpresa numa capital cheia de
contrastes. Descendo na direção do rio, a paisagem urbana
transforma-se, dando lugar a mais história, a mais espaços
verdes – que, no total, cobrem um terço da cidade – e a
uma inesperada serenidade.
Exemplo especial da arquitetura militar durante vários
séculos, e na qual colaboraram afamados especialistas
europeus, entre eles Vauban, engenheiro de Luís XIV, a For-
taleza consta das listas do Património Mundial da UNESCO
desde 1994. É possível viajar até ao passado caminhando
por 23 quilómetros de túneis subterrâneos escavados no
rochedo Bock, que em tempos idos abrigaram soldados,
respetivos cavalos e equipamentos, mas percorrer o Chemin
de La Corniche, conhecido como «a mais bela varanda da
Europa», revela-se muito mais aprazível.
Chega-se ao Grund, no fundo do vale profundo, que
mais parece uma aldeia pitoresca do que parte integrante
de uma capital europeia. Ruelas estreitas, casas baixinhas,
pontes velhas que cruzam o rio Alzette, músicos de rua e
artesãos concentrados nas suas artes contribuem para um
cenário com um charme verdadeiramente único.
Também há restaurantes e bares, que pela noite esta
zona tranquila ganha especial animação, a caminho do
Centro Cultural Neimënster. A abadia erguida em 1606,
expropriada quando da Revolução Francesa, depois prisão,
O rio Alzette até 1980, é o edifício que acolhe hoje conferências, expo-
nasce em sições e concertos, designadamente de jazz nas manhãs
França,
passando de domingo, os Apéro’s Jazz, com entrada livre.
pela cidade do Há que chegar cedo para conseguir lugar, que as mesas
Luxemburgo. são rapidamente tomadas por gente a ler o jornal e a beber
Tem 73
quilómetros galões enquanto espera, lado a lado com quem leva o ape-
de extensão. ritivo mais à letra e pede um crémant, vinho espumante
66 VOLTA AO MUNDO
�
Auditório da gastronómica
Philarmonie da capital
(em cima) tem é uma boa
capacidade surpresa.
para 1500 Um Plateau
pessoas. (em baixo)
é exemplo
disso.
68 VOLTA AO MUNDO
RECORTE E LEVE
NA SUA VIAGEM
AGRADECIMENTOS:
14
–
D ’ I S E R E
TODAS AS ESTRADAS
VA L
– C E R L E R C O U R M AY E U R – S E R R A D A E S T R E L A – S A N I S I D R O – S I E R R
-
- VA L
L O U R O N
-
L E
M O N T- D O R E
-
VA L
D ’ I S E R E
–
C O U R C H E V E L
–
AV O R I A Z
I E R R A N E VA D A N - B A Q U E I R A - B E R E T – B O I - TA Ü L L – G R A N D VA L I R A –
–
Serra da Estrela
LEGENDA
DISTÂNCIA*
CUSTO PORTAGENS
ESTÂNCIAS
SERRA DA ESTRELA
298 KM 4H00
1
21,35 €
Por mais que puxemos a brasa à nossa serrinha, o telesqui de iniciação (aumenta a capacidade em FORFAIT: 15 € POR DIA. CINCO DIAS
a Estrela não é nem nunca será uma estância para pista, passando de 150 pessoas por hora para 1200), A PARTIR DE 65 €
grandes esquiadores – basta ver que a pista mais abriram uma segunda loja no topo da estância, reno- DOMÍNIO ESQUIÁVEL: 7 KM
longa tem pouco mais de dois quilómetros de extensão varam o interior da loja já existente e criaram um PISTAS: 19
e a mais difícil um desnível de cerca de 130 metros –, fun-park na zona da Torre. Outra das novidades é COTA MÁXIMA: 1988
mas não deixa de ser a nossa estância de inverno. as aulas de esqui estarem agora disponíveis a partir COTA MÍNIMA: 1851
A única. Mudar as suas caraterísticas naturais e imitar dos 3 anos. Um investimento que ronda os 700 mil SITE: SKISERRADAESTRELA.COM
o que se faz nos Pirenéus é tarefa impossível, se bem euros. Para uma escapadela de fim de semana, para
que os responsáveis estejam dispostos a encurtar matar o vício enquanto não chegam as verdadeiras
distâncias. Neste ano contrataram mesmo o antigo férias na neve, pela paisagem, pelas recordações da
diretor técnico de várias estâncias de Andorra. Mas infância que esta serra sempre desperta, todos os
não se ficaram por aqui. Construíram um novo tapete motivos são válidos para subir ao ponto mais alto de
com 170 metros de comprimento que vem substituir Portugal continental.
72 VOLTA AO MUNDO
Baqueira-Beret
San Isidro
Cerler
Boi-Taüll
Sierra Nevada
a Sierra Nevada como principal Nem todos os lugares comuns são maus. Sierra FORFAIT: 38 € POR DIA. SETE DIAS
destino. Mas há muito mais Nevada tornou-se um destino de eleição para os 250 €. GRATUITO PARA MENORES
estâncias espanholas além da portugueses porque é perto, mas também pelas DE 6 ANOS.
andaluza. Cerca de 30 no total, excelentes condições. Esquiadores, snowboarders, DOMÍNIO ESQUIÁVEL: 106,8 KM
iniciados ou verdadeiros peritos, há lugar e espaço PISTAS: 124
espalhadas um pouco por todo o
para todos. Além de uma extensa oferta hoteleira e COTA MÁXIMA: 3300
país. Nos mui concorridos Pirenéus
muita animação après-ski. É aqui que se situam o COTA MÍNIMA: 2100
existem ainda alguns segredos mal
Pico Mulhacén, o teto da Península Ibérica (3482 m) SITE: SIERRANEVADA.ES
guardados e, mesmo aqui ao lado, e o Pico Veleta (3392 m). Das suas 124 pistas, sete
uma montanha com mais de dois estão classificadas como negras (muito difíceis),
mil metros a menos de um depósito 50 como vermelhas (difíceis), 41 como fáceis
de distância. e 19 como muito fáceis.
VOLTA AO MUNDO 73
SAN ISIDRO
747 KM 9H00 27,85€
3
ADULTO, 15 € PARA CRIANÇA.
CINCO DIAS 255 € E 160 €
DOMÍNIO ESQUIÁVEL: 34,01 KM
PISTAS: 35
COTA MÁXIMA: 2100
COTA MÍNIMA: 1500
SITE: NIEVELEONSANISIDRO.COM
CERLER
1163 KM 13H30 16,15 €
4
SETE DIAS DESCONTO DE 20%.
DOMÍNIO ESQUIÁVEL: 79 KM
PISTAS: 68
COTA MÁXIMA: 2630
COTA MÍNIMA: 1500
SITE: CERLER.COM
74 VOLTA AO MUNDO
6
FORFAIT: 30€ POR DIA.
SETE DIAS 147€
DOMÍNIO ESQUIÁVEL: 46 KM
PISTAS: 62
COTA MÁXIMA: 2.751
COTA MÍNIMA: 2020
SITE: BOITAULLRESORT.COM
BAQUEIRA-BERET
1244 KM 14H00 46,55 €
5
MENOS DE 6 E MAIORES DE 70: 3 €.
DOMÍNIO ESQUIÁVEL: 155 KM
PISTAS: 103
COTA MÁXIMA: 2510
COTA MÍNIMA: 1500
SITE: BAQUEIRA.ES
75
GRANDVALIRA
1251 KM 14H00
7 28,75€
Grandvalira
Do pequeno principado encravado entre Espanha e Melhor do que isto só nos Alpes. Ainda assim, querem FORFAIT: 46 € POR DIA PARA
França raramente se ouve falar durante quase todo continuar a crescer. Se a estância da serra da Estrela ADULTO, 42 € POR CRIANÇA.
do ano, mas faz parte do dicionário de inverno de neste ano investiu uns respeitáveis 700 mil euros, os DOMÍNIO ESQUIÁVEL: 210 KM
qualquer esquiador. As razões são semelhantes às da andorrenhos desembolsaram 16 milhões de euros em PISTAS: 128
Sierra Nevada. Não só porque ainda é suficientemen- novas infraestruturas – o maior investimento da sua COTA MÁXIMA: 2640
te perto para ir de carro e fazer a viagem de uma as- história. Mais e melhores meios mecânicos de aces- COTA MÍNIMA: 1710
sentada, sem necessidade de pernoitar pelo caminho, so às pistas, mais e melhores hotéis e restaurantes, SITE: GRANDVALIRA.COM
mas porque tem excelentes condições, quer em ter- espaços novos para as famílias, tudo para aumentar
mos de qualidade da neve e das pistas quer em termos a qualidade dos serviços e diminuir as filas e a confu-
de serviços. Mais ainda depois da junção entre as são. Era uma das críticas recorrentes à estância.
estâncias Pas de la Casa/Grau Roig e Soldeu/El Tar- As suas 128 pistas continuam com a qualidade
ter, dando assim origem à Grandvalira, o maior domí- de sempre, tal como os vários percursos free ride
nio esquiável dos Pirenéus, com 210 quilómetros. - devidamente identificados no mapa.
76 VOLTA AO MUNDO
OUKAIMEDEN
1297 KM 17H30
8 16,30€
Marrocos? Sim, Marrocos. Se há destino ideal para 3200 metros de altitude, em plena cordilheira do Atlas. FORFAIT: 10 € POR DIA.
uma road trip é este país magrebino. Pela dimensão, Ostenta mesmo, com muita pompa e grande orgulho, DOMÍNIO ESQUIÁVEL: 20 KM
pela paisagem, pela aventura, pela comida, pelas pes- o título de mais alta estância do continente africano. PISTAS: 7
soas e pela neve, que também as há. E não será de- Tudo a cerca de 80 quilómetros da vibrante e cosmo- COTA MÁXIMA: 3268
masiado longe? Nem por isso. Ir de Lisboa até à es- polita Marraquexe, uma espécie do melhor de dois COTA MÍNIMA: 2610
tância de Oukaimeden, perto de Marraquexe, é quase mundos na mesma viagem. Ainda mais a norte fica SITE: SKIRESORT.INFO/SKI-
o mesmo (pelo menos em termos de distância) do Mischliffen, perto de Fez e Meknes. Foi aqui que nas- RESORT/OUKAIMEDE
que ir até Andorra. É verdade que qualquer semelhan- ceu o primeiro clube de esqui do país, no longínquo
ça com os seus domínios esquiáveis é pura coinci- ano de 1932. Não valerá a pena fazer mais de mil
dência – se Grandvalira tem mais de 220 quilómetros, quilómetros de propósito para lá ir esquiar, até porque Oukaimeden
Oukaimeden tem apenas 20, para não falar que tem só tem quatro pistas, mas estando em Marrocos e
apenas sete pistas contra 128 –, mas não é menos sendo a neve o combustível da viagem, não deverá
verdade que cinco delas estão situadas a mais de deixar de lá passar.
CORBIS
77
Avoriaz
Val d’Isere
Courchevel
Le Mont-Dore
Val Louron
Q
uem vai a Andorra vai até aos
Pirenéus franceses. O mais difícil
é mesmo escolher a estância certa,
afinal são mais de 40 só do lado gaulês.
Quem quiser fazer uma paragem e
pernoitar durante a viagem, algo sempre
aconselhável numa verdadeira road trip
(snowtrip, neste caso), pode sempre andar
um pouco mais e ir até aos Alpes, a meca
do esqui europeu. Pelo caminho, há
estâncias menos sonantes mas igualmente
merecedoras de uma visita, como as do
maciço central, no centro-sul do país. Até
PAULO BARATA
9
FORFAIT: 26 € POR DIA
PARA ADULTO. 6 DIAS 159 €
QUILÓMETROS ESQUIÁVEIS: 41
PISTAS: 32
COTA MÁXIMA: 1840
COTA MÍNIMA: 1200
SITE: AUVERGNE-SANCY.COM
VAL D’ISERE
1951 KM 20H00 104 €
10
FORFAIT: 54 € POR DIA.
SETE DIAS 315 €
DOMÍNIO ESQUIÁVEL: 300 KM
PISTAS: 124
COTA MÁXIMA: 3550
COTA MÍNIMA: 1850
SITE: VALDISERE.COM
VOLTA AO MUNDO 79
VAL LOURON
1188 KM 13H30 46,55 €
11
PARA ADULTO. 6 DIAS 127€
QUILÓMETROS ESQUIÁVEIS: 22
PISTAS: 19
COTA MÁXIMA: 2100
COTA MÍNIMA: 1455
SITE: VAL LOURON-SKI.COM
PAULO BARATA
80 VOLTA AO MUNDO
12
FORFAIT: 49,50€ POR DIA.
SETE DIAS 279 €
DOMÍNIO ESQUIÁVEL: 153 KM
PISTAS: 50
COTA MÁXIMA: 2466
COTA MÍNIMA: 1000
SITE: AVORIAZ.COM
COURCHEVEL
1916 KM 20H00
13 104,05 €
VOLTA AO MUNDO 81
Courmayeur
COURMAYEUR
1943 KM 20H40
14 154,15 €
82 VOLTA AO MUNDO
De um
E tem, espalhadas pelas ruas, placas
que garantem: «Barranco: un buen lugar
para el amor.»
fôlego
TEXTO DE CATARINA PIRES
FOTOGRAFIA DE LEONARDO NEGRÃO/GLOBAL IMAGENS
H
á acasos felizes e foi um território de artes e boémia. Muito hipster. O me-
deles que nos levou a lhor isco que se pode estender a jornalistas. Neste
Barranco, depois de caso com o twist: o que pode ser hipster, no Peru?
uma manhã passada Por lá andámos perdidos, a deambular, com o
no centro histórico de tiquetaque do relógio a não permitir descobertas.
Lima, de uma visita ao Até que a placa, num quarteirão fronteiro ao mar:
magnífico Museu Larco «Barranco, un buen lugar para el amor.» Havia que
(museularco.org), que tem um riquíssimo acervo voltar, sem horas nem agenda. O encontro ficou
de tesouros pré-incas – incluindo uma espécie de marcado para uma próxima oportunidade, sob
kamasutra de cerâmica, dezenas ou centenas de pena de vivermos para sempre com uma história
peças que exibem com eloquência a antiguidade e mal resolvida. Temeu-se o pior, mas afinal, uns dias
ousadia da sexualidade sem fins reprodutivos – e depois, já sem relógios nem programas, com uma
de um excelente almoço no Huaca Pucllana, apre- cidade enorme por conhecer, foi lá que voltámos.
sentado como um dos melhores restaurantes do O Parque Municipal foi o ponto de desembar-
mundo (resthuacapucllana.com). É bem capaz de que escolhido pelo taxista. Havia um mercado,
o ser, uma vez provadas as criações das chefs Marilú que quase nos perdeu – chás, doces, artesanato,
Madueño e Andrea Massaro, das quais se destacam o joalharia, têxteis –, levando-nos os soles que resta-
incontornável ceviche e o tradicional lomo saltado. vam (não era domingo, mas todos os domingos há
As horas livres conduziram-nos a Barranco. Do mercado ali), e, ao lado, a Biblioteca Municipal, que
bairro, ou distrito, como se designa no Peru, um funciona como posto de turismo e que é de visita
dos 43 da capital, lê-se nos guias de viagem que é obrigatória, apesar de nós não termos entrado.
84 VOLTA AO MUNDO
1 7
VOLTA AO MUNDO 85
5 Um dia em
PERU Lima não fica
completo
Lima sem visitar
Av. San Martin
este bairro
que transpira
cultura.
LIMA
nesi
7 Barranco
Av. Jo
olog
Av. B
se
Maria
Oceano Pacífico
Egur
en
3
a
de Osm
edro
Av. P
Barranco
86 VOLTA AO MUNDO
de namorados e apaixonados.
Reza a lenda que se pedir um
desejo e a atravessar pela pri-
meira vez sem respirar, este se
concretizará. Mesmo que isso
não aconteça, passar esta ponde
construída em 1876 para ligar
as ruas Ayacucho e La Ermi-
ta significa encontrar do outro
lado uma das melhores vistas
da cidade.
1
7Restaurante
Canta Rana
Propriedade de um argentino,
de obras feitas de plástico reci- e mercados de produtos típicos 5Galeria Luzia Vicente Furguiele, dos tetos
clado e textos de carácter am- do Peru. A Biblioteca Municipal, de La Ponte pendem cachecóis de clubes de
bientalista sobre o material que cujo edifício em tempos albergou gluciadelapuente.com futebol e as paredes estão for-
está a dar cabo do planeta. Ao o nunicípio, também vale a visi- radas de fotografias de cantores
fundo, um café minimalista, ta, pelos livros, pela arquitetura É uma das novas coqueluches de de tango e artistas e futebolistas
com uma varanda a dar para ne- e pelos mapas do distrito, que o Barranco e da cidade de Lima. conterrâneos. Paul McCartney,
nhures. Da programação: teatro, ajudarão a encontrar os pontos Tem como objetivo dar a conhe- dos The Beatles, lá em cima,
concertos, exposições. de interesse. cer os novos artistas plásticos numa foto autografada e dedica-
Av. Pedro de Osma, 135, Barranco, Lima peruanos e expor os «últimos da a Vicente. Apresentado como
4 Museu Pedro de Osma gritos» da arte contemporânea huarique, nome dado às tascas
3Parque e Biblioteca museopedrodeosma.org do país. É lá que fica a Dédalo, por estas bandas, vai fazer trinta
Municipais de Barranco loja de design e decoração que anos e será essa maturidade que
peru.travel Construído numa antiga man- tem dado que falar no mun- o faz estar à altura de qualquer
são do início do século xx, ao do inteiro. bom restaurante, digno de guia
É uma boa forma de começar a estilo colonioal, o Museu Pedro Paseo Sáenz Peña, 206, Barranco, gastronómico. A carta é extensa
desfiar o fio de Ariadne que o de Osma, além dos magníficos Lima e variada e convida à partilha,
guiará pelas ruas de Barranco jardins, tem um impressionante para experimentar o mais pos-
(na verdade, não tão labiríntico acervo de arte religiosa e uma 6 Ponte dos Suspiros sível. Ceviches vários, tapas de
como isso). O Parque Municipal, coleção de peças de prata, metal batata ou mariscos, e o inevi-
além de receber eventos cul- nobre muito (bem) trabalhado A caminho do mar, a Ponte dos tável lomo saltado são apenas
turais diversos, é regularmente no Peru. Suspiros é um dos ex-líbris de Bar- algumas hipóteses.
utilizado como espaço para feiras Av. Pedro de Osma, 433, Barranco, Lima ranco e local de «peregrinação» Pasaje Génova, 101, Barranco, Lima
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N
e trabalharam no Dubai. Em comum, um projeto: sair de casa com a mochila às costas
e conhecer o mundo sem data de regresso.
ão é exagero dizer que foi o gosto Depois do casamento, traba‑ episódios mais caricatos da via‑
pelas viagens que juntou este ca‑ lharam mais de um ano no Dubai gem, nomeadamente no Laos,
sal. Magda, polaca, fez Erasmus e regressaram a Portugal. Foi des‑ onde Renato teve o infortúnio de
em Madrid e decidiu passar uma te cantinho que saíram já em maio atropelar um pintainho. «Não
semana de férias no Porto. Rena‑ de 2015, seguindo de carro até à íamos a mais de 50 km/h quando,
to, que sempre viveu no Norte e Polónia, não necessariamente em de repente, um grupo de oito ou
recebia viajantes em casa – ofe‑ linha reta. dez pintainhos saiu disparado
recia o sofá aos coachsurfers – Na Europa, não prescindiram para o meio da rua. Só tive tempo
deu‑lhe guarida na cidade. Foi do «velho Peugeot» de Renato de meter pé e mão aos travões,
assim que se conheceram e se que, com algum esforço, lhes per‑ mas nem tentei desviar‑me para
tornaram inseparáveis: ela voltou mitiu viajar por Espanha, Andor‑ evitar uma queda.» Um dos ani‑
à Polónia, terminou o mestrado e ra, França, Mónaco, Itália, Suíça, mais não resistiu e Renato, con‑
regressou a Portugal. Já falava es‑ Áustria, Liechtenstein e Roménia. doído, voltou para trás, pergun‑
panhol e a adaptação não foi di‑ Largaram o automóvel em terri‑ tando a uma senhora de quem
fícil. No inverno de 2014, num dia tório polaco, em casa dos pais de eram os pintainhos. Por gestos,
sem chuva, casaram‑se numa Magda, e abraçaram os transpor‑ percebeu que o dono estaria no
praia em Vila Nova de Gaia. «Ti‑ tes públicos. Chegados entretan‑ campo e deixou 10 mil LAK (cer‑
vemos uma sorte tremenda com to ao Sul da Ásia, têm andado ca de um euro) para que a mulher
o tempo», escreve Renato, por «literalmente em todos os tipos lhos entregasse. Ainda a viu de‑
e-mail. Todos os contactos para de transporte existentes. Autocar‑ positar solenemente a carcaça do
esta entrevista foram virtuais, já ros, comboios, tuk‑tuks, táxis, animal à entrada de uma casa.
que a Volta ao Mundo os apanhou mototáxis, barcos, comboios de Partiram sem percurso defi‑
na Malásia, seis meses depois de bambu e muitas, muitas motos nido: «Sabíamos que queríamos
terem começado aquele que será alugadas. Já lá vão 20 alugadas ir para leste e até agora assim tem
– pelo menos até ao momento – o nesta parte do globo», precisam. sido. Com raras exceções: do Viet
Envie as suas histórias para: grande projeto das suas vidas: uma Foi mesmo de moto, recor‑ name para o Laos e dali para
viajantes@voltaaomundo.com.pt viagem sem data de regresso. dam, que tiveram alguns dos Myanmar.» A cruzada oriental
88 VOLTA AO MUNDO
89
levou‑os a chamar ao blogue que confesso que tivemos alguma te, família e amigos acabaram por
criaram East We Go (eastwego. sorte», contam. aceitar.
A VIAGEM,
com), uma plataforma que ali‑ Optar por uma viagem sem A viagem, longe de uma pro‑ LONGE DE UMA
mentam com relatos da viagem. regresso foi «estranho» ao início, vação, só os tem fortalecido en‑
Conseguiram mesmo o patro‑ diz Magda. Desde que se conhe‑ quanto casal, asseguram: Magda
PROVAÇÃO,
cínio da empresa onde Renato ceram que falavam numa aven‑ diz que só tem saudades de ter o SÓ OS TEM
esteve empregado no Dubai, tura deste género, mas garantem seu próprio espaço físico, porque
que os financia a troco de foto‑ que só quando entregaram as Renato «é muito fácil de aturar».
FORTALECIDO
grafias dos locais por onde vão cartas de despedimento dos res‑ Ele garante que até já se juntaram ENQUANTO
passando. «Não cobre os gastos, petivos empregos, no Dubai, é a outros viajantes, que foram
mas é uma ajuda.» que ganharam consciência do encontrando pelo caminho, para
CASAL,
O Dubai fez parte da etapa que estava a acontecer. «Parecia fazer alguns percursos, mas ASSEGURAM.
preparatória desta empreitada tudo um pouco irreal.» Houve nunca poderá separar‑se da mu‑
sem fim à vista. Estiveram 14 me‑ quem franzisse o sobrolho, natu‑ lher porque se desorienta facil‑
ses a trabalhar nos Emirados Ára‑ ralmente. Perguntavam‑lhes se mente. «Nunca sei o nome do
bes Unidos, cada um na sua área iam mesmo desistir assim dos hotel, nem onde é. Se nos per‑
– Magda é professora, Renato trabalhos, «como se o mundo dermos, o que ainda não acon‑
trabalha em recrutamento – para tivesse acabado para nós», re‑ teceu, temos combinado ir o
amealhar dinheiro para o proje‑ cordam. «Foi tão fácil deixar o mais rapidamente possível à in‑
to. «O Dubai tem um mercado Dubai como foi para nos estabe‑ ternet para podermos comuni‑
de emprego muito dinâmico, lecermos por lá.» Eventualmen‑ car», confessa.
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02
DESIGN Pedro Botelho, diretor adjunto, Miguel Vieira, coordenador,
LEONOR RODRIGUES Ana Faleiro, Carla Maria Oliveira e Rute Cruz.
PRAGA, REPÚBLICA CHECA FOTOGRAFIA Fernando Marques
No passado mês de setembro, eu e uma amiga decidimos COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Bárbara Cruz, Belén Rodrigo, Catarina Pires, João
Ferreira Oliveira, João Mestre, José Luís Peixoto,
visitar duas capitais europeias, uma delas, Praga, na Leonídio Paulo Ferreira, Nuno Mota Gomes,
República Checa. Era uma cidade que eu já queria visitar Teresa Frederico, Vera Kolodzig (texto), Diogo Amaral,
há algum tempo mas que, sem dúvida, superou as minhas Leonardo Negrão, Patrick Grosner (fotografia),
Lília Gomes (design) Helena Ferreira
expetativas. O centro histórico de Praga remete-nos
e Rita Bento (copy desk).
para uma época quase medieval, tanto pelo género de ASSISTENTE EDITORIAL Madalena Marques Pinto
construções como por todas as superstições e mitos COPY DESK Elsa Rocha, coordenadora, Ângela Pereira
03
RITA MONTEIRO DE BARROS Susana Azevedo (Lisboa), Vítor Cunha (Porto)
AMESTERDÃO, HOLANDA PUBLICIDADE Lisboa: Sandra Morgado
(sandra.morgado@globalmediagroup.pt)
É uma cidade bastante turística, tudo é muito caro, Vera Peres, diretora de contas
mas não faltam ótimas opções de locais a visitar: desde (vera.peres@globalmediagroup.pt). Tel.: 213 187 3 75
museus a lojas. Estive com uma amiga e foi muito giro Porto: Cristina V. Carvalho, gestora de conta
(cristina.v.carvalho@globalmediagroup.pt), Tel.: 222 096 210
«perdermo-nos» pelos imensos canais iluminados
durante a época do Natal. É um destino a repetir pela
animação nas ruas e o bom ambiente que se vive.
Aproveitámos também para conhecer Roterdão,
a uma hora de comboio. Assinaturas: Atendimento ao assinante: Dias úteis, das 7h00 às 18h00. Tel.: 707 200 508. Custo das
chamadas da rede fixa 0,10 Eur/minuto e da rede móvel 0,25 Eur/minuto, sendo ambas taxadas ao
segundo após o 1º minuto. Valores sujeitos a IVA. E-mail: apoiocliente@noticiasdirect.pt
04 LUÍSA KAMINSKI
VENEZA, ITÁLIA
Impressão e acabamento: Lisgráfica, S.A. – Estrada Consiglieri Pedroso, Casal de Santa
Durante os dez dias que passei em Veneza, e que cada
Leopoldina, 2745-553 Barcarena. Embalagem, circulação e distribuição porta a porta:
vista parecia tirada de um postal, tive a oportunidade de Notícias Direct – Tel.: 219 249 988. Distribuição em Portugal: Vasp.
conhecer algumas das ilhas ao largo numa viagem de
barco: Murano, Burano e Torcello. A que gostei mais foi
Burano: é única e cheia de alegria, as pessoas são muito
simpáticas e todas as casas têm uma cor diferente que
correspondem a diferentes proprietários. Como boa
apreciadora de arte que sou, não tive dúvida de que ficava
por lá mais tempo.
Propriedade da Global Notícias, Publicações, SA
Sede: Rua Gonçalo Cristóvão, 195 – 4049-011 Porto; Tel.: 222 096 111; Fax: 222 006 330
Filial: Avenida da Liberdade, n.º 266 (Ed. Diário de Notícias), 1250-149 LISBOA
Tel.: 213 187 500; Fax: 213 187 506
Registada na Conservatória Comercial do Porto sob o n.º de identificação
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96 VOLTA AO MUNDO
Por uma história, por uma notícia, vamos ao fim da rua, vamos
ao fim do mundo. E por isso, pela 7ª vez consecutiva, a TSF foi
www.tsf.pt eleita uma marca Superbrands. Obrigada!
Em Viagem
Dicas, curiosidades, informações, notícias, conselhos de viajantes profissionais
e tudo o que precisa de saber para que as suas viagens corram bem. Em viagem, informação é poder.
POR RICARDO SANTOS | RICARDO.SANTOS@GLOBALMEDIAGROUP.PT
1.
PORT Os piores
aeroportos
HARCOURT
NIGÉRIA
Principais críticas: pouca
em 2015
amabilidade, alegada
corrupção, falta de lugares
para sentar, inexistência
de ar condicionado
em funcionamento. Um top 10 que qualquer um dos responsáveis por estes aeroportos
gostaria de esquecer. Ou como a experiência da viagem pode ser
traumatizante se tiver de aterrar ou partir desta dezena de
aerogares escolhidas pelo site de viagens The Guide to Sleeping in
Airports (sleepinginairports.net). Mais de 26 mil respostas 4. TASHKENT
USBEQUISTÃO
devidamente identificadas servem de universo a este inquérito que
5. SIMÓN BOLÍVAR
incluiu questões relativas a conforto, instalações, limpeza e serviço
ao cliente. Faça as contas e confirme se já teve a «sorte» de passar
por um deles e se concorda com a distinção. CARACAS, VENEZUELA
6. TOUSSAINT
LOUVERTURE
PORT AU PRINCE, HAITI
7. HAMID KARZAI
KABUL, AFEGANISTÃO
2.
REI ABDULAZIZ
8. TAN SON NHAT
HO CHI MINH, VIETNAME
– JEDDAH
ARÁBIA SAUDITA 3.
TRIBHUVAN 9. BENAZIR
Principais críticas: ambiente
caótico, sujidade nas casas – KATHMANDU BHUTTO
de banho, filas demasiado NEPAL ISLAMABAD, PAQUISTÃO
10.
extensas no controlo Principais críticas:
de passaportes. desorganização BEAUVAIS-
e atrasos, repete -TILLE
a posição do ano PARIS, FRANÇA
passado.
VOLTA AO MUNDO 99
2016
Não
perca!
1 0 FE S
STAS E EV E NTO
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Este é um ponto de encontro para via-
jantes e habitantes locais de quase 400
cidades em 80 países. Escolha o progra-
ma que quer fazer em determinado des-
tino e seja guiado por quem lá vive.
É fácil, barato e permite uma experiência
total de integração na realidade local.
CORBIS
«Nunca vá de viagem com alguém «Se desejas viajar para longe e de forma
de quem não goste.» rápida, leva pouca bagagem. Deita fora
ERNEST HEMINGWAY, escritor norte-americano todas as tuas invejas, ciúmes, mágoas,
do século xx egoísmos e medos.»
CESARE PAVESE, escritor italiano do século xx
«Um bom viajante não tem planos fixos
e dele não se espera que chegue.» «Paris é sempre uma boa ideia.»
LAO TZU, filósofo e alquimista chinês do século vi a.C. AUDREY HEPBURN, atriz belga do século xx
«As pessoas não fazem viagens, «Não me digas quão educado és, diz-me
as viagens é que fazem as pessoas.» quanto já viajaste.»
JOHN STEINBECK, escritor norte-americano MAOMÉ, figura máxima do islão
do século xx
«Não existem terras estrangeiras.
«Uma vez por ano, vá a algum local É apenas o viajante que é estrangeiro.»
onde nunca tenha ido.» ROBERT LOUIS STEVENSON, escritor britânico
DALAI LAMA, atual líder religioso budista do século xix
Tu te Reconnaîtras
ANNE-MARIE DAVID
{ 1973 }
SEBASTIEN GREBILLE/ONT
Reis da Eurovisão
-Bretanha. O tema é uma chanson
cadenciada de jeito motivacional,
bem ao estilo que a Eurovisão
sempre adorou.
Geográphico
geográficas e outras curiosidades
de bolso. Por João Mestre ILHAS REUNIÃO
joao.mestre@globalmediagroup.pt
T
udo começa por bater surpresas e mal-entendidos. parâmetros materialistas), com remoto da União Euro-
certo na geografia. Utopia Desaconselha-se, desde logo, o reservas de ouro que servem para peia? Não é o Corvo. Fica bem
é uma ilha, porém não uso de joias ou adornos, uma vez contratar mercenários na even- mais longe, a 6 mil quilóme-
fica longe da costa. Em termos que o ouro, a prata e as pedras tualidade de uma guerra. tros da respetiva capital, Pa-
de dimensão, não é grande nem preciosas não só não têm valor A moda é, também ela, inexis- ris. Também terá sido desco-
pequena: 300 quilómetros de intrínseco como quem os osten- tente. Toda a gente se veste de berta por navegadores
largura na sua parte mais ampla, ta é malvisto. O ouro é usado para igual, pelo que não há alfaiates portugueses, que lhe chama-
adelgaçando nas extre- nem boutiques – Utopia ram Santa Apolónia, ainda
midades, que quase se não é um grande destino que a coroa nunca tenha de-
tocam, formando um es- de compras. Aliás, a vai- cidido povoá-la. Os franceses
treito de 17 quilómetros dade e o consumo osten- não se fizeram rogados e to-
com uma lagoa interior sivo fazem parte daquilo maram posse da ilha em
abrigada de tempestades. que os utopianos conside- 1642. Em 1946, foi promovi-
Um croissant geográfico, ram «prazeres ilusórios», da a département, gozando
protegido por uma série por oposição a prazeres do mesmo estatuto político
de rochedos e baixios «naturais» como a con- que a França continental.
ocultos que só os utopia- templação da verdade ou Reunião fica no Índico e
nos conhecem, o que tor- a compreensão de algo, o tem como vizinha mais pró-
na praticamente impossí- derradeiro objetivo dos xima a Maurícia, a coisa de
vel uma invasão marítima. seres humanos. Sobre se 150 quilómetros. A capital
O urbanismo foi pensado é ou não uma sociedade é Saint-Denis, onde vivem
ao milímetro. Há 54 cida- perfeita, o visitante trata- perto de 150 mil pessoas. As
des, mais ou menos idên- rá de tirar as suas conclu- restantes 600 mil espa-
ticas e equidistantes, aces- sões. Mas convém partir lham-se pela orla costeira,
síveis entre si com um dia ciente da ordem das coi- mais plana e acessível do
de caminhada no máximo. sas: os mais novos devem que o interior. Mas é no co-
A capital, Amaurota, fica submeter-se aos mais ração da ilha que reside o
no centro. A sua planta velhos, as mulheres de- maior encanto: o Parque
obedece a um desenho pendem da autoridade Nacional de Reunião, Patri-
quadrado, com três quilómetros fazer penicos, os criminosos são do marido e a escravatura é prá- mónio da Humanidade que
de lado, e está rodeada de mu- condenados a usar colares e anéis, tica comum. Igualitarismo será ocupa 40% da superfície e
ralhas, torres e fortins. Diz-se e as pedras preciosas servem para assunto para outras utopias. reúne impressionantes ce-
que foi fundada pelo próprio as crianças brincarem. Dinheiro, nários de picos, caldeiras e
Utopos, pai da nação utopiana. propriedade privada, riqueza e Em 2016 assinala-se o 500.º um vulcão ativo. Cozinha
É um país com pouco turismo, pobreza, são conceitos desconhe- aniversário da obra futurista de crioula, arquitetura colonial
porém hospitaleiro com quem cidos para os utopianos, que tra- Thomas More, Utopia. Ao longo do e oceano Índico completam
vem por bem. Os utopianos são balham apenas pelo valor do ano, a Somerset House (utopia2016. o quadro. Com a vantagem
uma sociedade pacífica, toleran- trabalho e para cumprir o seu com), em Londres, apresenta uma de que não é preciso vistos
te e segura, mas é importante papel na sociedade. Isso não in- programação ampla de exposições, nem câmbio. Viva o lado
que o visitante conheça os cos- valida, porém, que o país em si debates e workshops subordinados tropical da União Europeia!
tumes e regras locais, para evitar seja sobejamente rico (segundo ao tema «A sociedade ideal».
do. Porém, ao invés da persona- Médio Oriente e cumpriram a Venezuela, apanha um transa- 4. ÁFRICA DO SUL
gem de Júlio Verne, Dumitru «contracosta» de África até Mo- tlântico para Lisboa. Por Espa- É dividir o mal pelas cidades: o
Dan partiu sem prazos. çambique. De Madagáscar se- nha, segue até Marselha e em- poder administrativo e
Em 1908, o Touring Club de guiram para a Austrália de barco, barca para Salonica. executivo está em Pretória, o
France lançou um concurso: mas não pararam. Nos dias em- A 29 de março de 1916 ei-lo de legislativo na Cidade do Cabo
daria cem mil francos (hoje barcados, passavam 10 a 12 ho- novo em Bucareste. Faltam 4 mil e o judicial em Bloemfontein.
equivalentes a 500 mil euros) a ras caminhando no convés. quilómetros. Em 1923, com a
quem percorresse outros tantos Seguir-se-iam Nova Zelândia, Europa recuperada da I Guerra 5. SUAZILÂNDIA
quilómetros a pé. Entre as duas Sri Lanka e Índia, onde Pascu Mundial, lança-se à «reta fi- É um dos países mais
centenas de inscritos estavam morreu de overdose de ópio. nal»: Jugoslávia, Itália, Suíça e pequenos da África
quatro romenos, estudantes em Regressaram a África. Foram da França. Chega a Paris a 20 de continental. Mas não lhe
Paris. Dumitru e Paul Pârvu, que Boa Esperança ao Senegal, e em julho, 15 anos após a partida. bastava Mbabane. Lobamba
cursavam Geografia, e Gheorghe Tenerife iniciaram a travessia até Com a inflação, o prémio não é não só sede do poder
Negreanu e Alexandru Pascu, ao Brasil. Percorreram a Améri- valia um décimo. Mas ficou para legislativo como capital
alunos de conservatório. ca do Sul e, já no Panamá, apa- a história. E com histórias para espiritual da nação suazi.
A viagem foi antecedida por dois nharam o barco para o Japão, contar.
No próximo mês
Vamos à procura dos melhores destinos para 2016.
Curtas e longas viagens, odisseias de uma vida,
promoções e segredos por desvendar.
Férias à vista!