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Maria João Lopes Dezembro de 2019

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2019/2020
Mestrado em Ensino de Música
Disciplina de Didática Específica de Ensino Vocacional da Música III

Técnicas Contemporâneas no Piano

Introdução:

Com uma existência de séculos de transformações, o piano é um instrumento


altamente versátil com imensos aparatos distintos de onde são possíveis extrair sons.
Usualmente, o som no piano é produzido pela pressão das teclas que, através do mecanismo
do piano, percutem as cordas incutidas no corpo harmónico do instrumento. As composições
para piano são inúmeras e, para a sua distinção, os compositores procuram continuamente
formas inovadoras de compôr música. As técnicas contemporâneas como: o piano preparado
e as técnicas estendidas representam a ambição dos compositores e a procura pela revolução
da perfomance no piano.

1. Evolução na História

O piano contém uma ampla variedade de componentes que possibilitam uma exploração
tímbricas: as teclas, os pedais, as cordas, o tampo harmónico e toda a combinação de
componentes do piano proporcionam uma riqueza expansiva para a imaginação dos
compositores.

Era Romântica (c.1830-c.1900): A introdução do pedal sustain revela-se com os


compositores do ínicio do século XIX (Costa & Gumm 2016). Fredéric Chopin (1810-1849)
procurou o uso de dois pedais (o sustain e o una corda) para uma ampliação das possibilidades
tímbricas (Saxon, 2000). Robert Schumann (1810-1956) requereu a experimentação das
ressonâncias no piano encontradas nas peças Papillons, op.2 e Carnaval, op.9 (Costa, 2016).

Início do Século XX: A partir deste século, os compositores começaram a incorporar as


propriedades acústicas e qualidades percussivas do piano às composições. Denotando-se,
assim, um afastamento pela tonalidade e consonância (Costa & Gumm, 2016). A peça para
piano Allegro Barbaro sz.49, de Bela Bartók (1881-1945) contém elementos percussivos. Lin
(2018, p.2) descreve a natureza composicional de Bártok:

Unlike other composers who concentrated more on melodic contour and harmonic
progression, Bartók more clearly highlighted the nature of the piano as a percussive
instrument. In his works for piano solo, he utilized this idea by notating different accents,
articulations, and repeated-note figures to emphasize rhythmic aspects in his piano music.

O piano é, de facto, um instrumento de percussão, e encontra limitações na sustentação do


som de uma nota, contrariamente aos instrumentos de corda friccionada (Costa & Gumm,
2016). Na transição do século XIX para o século XX, compositores como Prokofiev (1891-
1953) e Stravinsky (1882-1971) realçaram as propriedades percussivas do piano
intensificadas, mais tarde, por compositores como George Crumb (1929- ) e John Cage (1912-
1992). A figura 1 demonstra um exemplo encontrado no guia do Mikrokosmos de Bartók
(Suchoff, 1983, p.231) sobre os tipos de toques percussivos e não-percussivos ao piano:

Figura 1 Percussive and Non-Percussive Touch-


Forms
2. Técnicas Estendidas no Piano e Piano Preparado

As técnicas estendidas são formas não-convencionais de tocar piano e produzir sons


distintos. O uso de técnicas estendidas para piano exige que o artista produza som por
outros meios que não apenas tocar nas teclas. As técnicas empregadas incluiem arranhar,
martelar, friccionar as cordas e, geralmente requer a adição de objetos ao sistema de
cordas e em outras partes do piano. Estas técnicas podem ser feitas com a incorporação
do intérprete ou quaisquer objetos que possam ser colocados no piano. A manipulação
do sistema de cordas do piano e do seu corpo harmónico tem sido uma fonte de conflito
entre pianistas, compositores e técnicos porque são técnicas que condicionam a
fragilidade do piano e, por isso, demandam um conhecimento específico, cuidado e
agilidade extrema por parte do intérprete.

A tabela em baixo revela uma lista extensa de técnicas estendidas e de piano


preparado encontradas no repertório de piano:

Piano Preparado: Introdução de objetos estranhos no funcionamento do piano para


alterar a qualidade do som.

Cordas do Piano: bater ou arrancar as cordas diretamente ou qualquer outra


manipulação direta das cordas.

Sound Icon: colocar o piano de lado e curvar as cordas com crina de cavalo ou outros
materiais.
Assobiar, cantar ou falar para o piano (com o pedal sustain pressionado).
Pressionar silenciosamente uma ou mais teclas, permitindo que as cordas
correspondentes vibrem livremente, criando assim harmónicos das cordas tocadas.
Uso percussivo de diferentes partes do piano, como a borda externa. Isso pode incluir
dispositivos para criar sons contínuos no corpo do piano, por exemplo esfregando a
superfície do piano com objetos (e.g bolas de borracha).
Flageolet: criação de harmónicos tocando as posições de tons na corda com o dedo de
uma mão e pressionando a respectiva tecla com a outra mão.
Uso das palmas das mãos ou dos punhos, ou mesmo de outras partes do corpo, para
tocar as teclas: uma técnica conhecida como “bashing”. É possivel exercer esta técnica
com os pedais, conhecida por “pedal bashing” (Woodman, 2018).
Uso de outros materiais para pressionar as teclas, e.g motores com engrenagens de
plástico para criar vibrações contínuas nas cordas, como nas obras de Roger Reynolds
(1934- ).
Curvar as cordas com feixes de linha de pesca ou crina de cavalo. Técnica introduzida
por John Cage e usada extensivamente pelo compositor Stephen Scott (1944- ).
Silenciar com a palma da mão, ou seja, colocar uma mão na (s) corda (s) para silenciá-
la enquanto toca as teclas com a outra mão. O silenciamento também pode ser
fornecido colocando materiais nas cordas. Pode-se encontrar esta técnica na peça de
Fazil Say (1970 - ), Black Earth.
Amplificação com cartuchos de fonógrafo e / ou. A saída de som pode estar sujeita a
alterações, distorção, gravação e reprodução.

Conclusão

Dada a enorme extensão do piano e versatibilidade é compreensível a aplicação de


técnicas que aproveitem a totalidade do instrumento para a produção de sons
excêntricos. Realça-se a importância no cuidado de manuseio por parte do intérprete, que
deve ser sempre previamente debatido com um técnico para prevenir danos irreparáveis
no piano (Protocol For Extended Techniques Piano Performance, 2019). Estas técnicas
necessitam do conhecimento de um pianista que esteja acomodado a repertório
contemporâneo, sendo raro encontrar pianistas em aprendizagem a utilizar as técnicas
estendidas e de piano preparado. No entanto, compositores como Jorge Peixinho (1940-
1995) compuseram peças para jovens que incluem estas técnicas progressivas.
Referências

Costa, M., & Gumm J. (2016). Healthy Extended Techniques In Non-Traditional Piano
Repertory: A Literature Review.

College and University Technicians Committee of the Piano Technicians Guild (2019)
Protocol for Extended Techniques Piano Performance [Online] Disponível em:
https://www.ptg.org/home

Lin, A. (2018). The Percussive Character and the Lyrical Quality in Bartók’s Piano Music
(Doctoral Dissertation, University of Kansas).

Suchoff, B. (1983). Guide to Bartok’s Mikrokosmos. (2nd ed.). New York: Da Capo.

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