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Freitas Da Silva Oliveira - CPF: 016.146.971-08

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AUTORES:
FELIPE BORBA

Delegado de Polícia Civil do Estado do Rio Grande do Sul. Especialista


em Direito Público pela FMP. Mestre em Direito pela UniRitter.
Professor universitário e de cursos preparatórios para concursos.
Coordenador da disciplina de Direito Constitucional da Academia de
Polícia Civil do Rio Grande do Sul. Membro da banca do último
concurso para Agentes da Polícia Civil do RS. Aprovado em diversos
concursos públicos, tendo exercido os cargos de Analista do
Ministério Público de Minas Gerais, Advogado do CREA/RS (aprovado
em 1º lugar), Assessor do Ministério Público do Rio Grande do Sul
(aprovado em 1º lugar) e advogado do CREMERS (aprovado em 2º
lugar).

GUILHERME DE SÁ MENEGHINI

Promotor de Justiça do Ministério Público do Estado de Minas Gerais


desde 2011, exercendo as funções como titular da 2ª Promotoria de
Justiça da Comarca de Mariana/MG. Já atuou nas Promotorias de
Justiça das Comarcas de Minas Novas, Diamantina, Ipanema,
Manhumirim, Itabira e Ferros. Já foi Oficial Judicial (Tribunal de
Justiça de Minas Gerais/TJMG - Ouro Preto/MG - 2006- 2007),
Advogado (OAB/MG - 2007) e Delegado de Polícia Civil (PCMG -
2008/2011). Foi professor de Direito Penal e Processo Penal no
Centro de Ensino Superior de Itabira (CENSI - 2009), na Faculdade de
Direito e Ciências Sociais do Leste de Minas (FADILESTE - 2012-2013)
e na Universidade Presidente Antônio Carlos Unidade Mariana
(FUPAC/UNIPAC - 2016). Pós-graduado em Ciências Criminais pela
Universidade Cândido Mendes (2010). Mestre em Direito Penal pela
Universidade Federal de Minas Gerais, com a dissertação 'Concurso
de pessoas nos crimes de peculato e corrupção passiva: um estudo
sobre a teoria do domínio de organização' (UFMG - 2014-2016).
Integrante da Força-Tarefa

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constituída pelo Ministério Público de Minas Gerais para apurar as


consequências do rompimento da barragem de Fundão, da Samarco
Mineração S/A, em Mariana. É palestrante, abordando assuntos
como desastres socioambientais, direitos humanos, ações coletivas e
combate ao crime organizado. Tem experiência na área de Direito,
com ênfase em Direito Penal, Direito Processual Penal, Direito
Administrativo, Direito Constitucional e Direitos Humanos."

RAFAEL FARIA

Delegado de Polícia Civil do Estado de São Paulo. Especialista em


Direito Penal e Processo Penal com Capacitação para Docência no
Ensino Superior pela Faculdade de Direito Damásio de Jesus/SP.
Professor de Direito Penal da Graduação em Direito do Centro
Universitário Unifafibe, em Bebedouro/SP.

RODRIGO DUARTE

Advogado da União. Ex-Oficial de Justiça e Avaliador Federal no TRF


da 2ª Região; Ex-Técnico Administrativo do Ministério Público da
União (MPU) e Ex-Técnico de Atividade Judiciária no Tribunal de
Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ); Aprovado e nomeado no concurso de
Analista Processual do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPE/RJ).

MIGUEL BLAJCHMAN (Organizador)

Advogado. Fundador do site Questões Discursivas. Ex-Analista de


Planejamento e Orçamento da Secretaria Municipal da Fazenda do
Rio de Janeiro (SMF/RJ). Aprovado nos seguintes concursos: Analista
de Controle Externo do Tribunal de Contas do Estado do Rio de
Janeiro (TCE/RJ). Analista e Técnico do Ministério Público do Estado
do Rio de Janeiro (MPE/RJ) e Advogado da Dataprev.

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SUMÁRIO
PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL

 ANALISTA JUDICIÁRIO - STM – 2010 - CESPE


 PROMOTOR DE JUSTIÇA – MPE/PR – 2016 – BANCA PRÓPRIA
 PROMOTOR DE JUSTIÇA – MPE/PR – 2016 – BANCA PRÓPRIA
 ESTAGIÁRIO – DPU – 2014 – BANCA PRÓPRIA

CITAÇÃO

 OFICIAL DE JUSTIÇA - TJAL - 2018 – FGV


 ANALISTA JUDICIÁRIO - TJRJ - FGV - 2014

COMPETÊNCIA

 PROCURADOR DO ESTADO - PGE/BA - CESPE - 2013


 MAGISTRATURA ESTADUAL – TJAL – 2008 - CESPE
 DELEGADO DE POLÍCIA - PCAP - 2010 – FGV

AÇÃO PENAL

 POLÍCIA MILITAR - PMDF – IADES - 2017


 ANALISTA DO MP - MPE/RS - FCC - 2010
 ANALISTA DO MP - MPE/RS - FCC - 2010
 ANALISTA JUDICIÁRIO - TJGO – 2013 – BANCA PRÓPRIA
 MAGISTRATURA ESTADUAL - TJPR - 2017 - CESPE
 PROCURADOR FEDERAL – AGU - CESPE - 2007

APREENSÃO DE MENOR

 POLICIAL CIVIL - PCRN - CESPE - 2008

EXECUÇÃO PENAL

 OFICIAL DE JUSTIÇA - TRF4 - FCC - 2014


 ANALISTA DO MP - MPE/RS – 2014 – BANCA PRÓPRIA
 DEFENSOR PÚBLICO – DPE/AL – 2018 – CESPE

IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL

 PAPILOSCOPISTA DA POLÍCIA FEDERAL – 2012 - CESPE

INVESTIGAÇÃO POLICIAL

 POLICIAL CIVIL - PCSP – 2010 - ACADEPOL

INQUÉRITO POLICIAL

 POLICIAL CIVIL - PCGO - CESPE - 2016

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 DELEGADO DE POLÍCIA - PCSP -ACADEPOL - 2011


 ANALISTA JUDICIÁRIO – STM – 2018 – CESPE
 DEFENSOR PÚBLICO – DPE/AL - 2018 - CESPE
 ESTAGIÁRIO – DPU – 2014 – BANCA PRÓPRIA
 DELEGADO DE POLÍCIA - PCAP - 2010 – FGV
 PROCURADOR DO BANCO CENTRAL - CESPE - 2013
 DELEGADO DE POLÍCIA – PCSP – 2018 – VUNESP
 DELEGADO DE POLÍCIA – PCGO – 2018 – UFG
 DELEGADO DE POLÍCIA – PCRS – 2018 – FUNDATEC
 DELEGADO DE POLÍCIA – PCMG – 2018 – ACADEPOL
 DELEGADO DE POLÍCIA - PCGO –2017 – CESPE
 DELEGADO DE POLÍCIA - PCGO –2017 – CESPE
 DELEGADO DE POLÍCIA - PCSE - 2018 – CESPE
 DELEGADO DE POLÍCIA - PCGO –2017 – CESPE
 DELEGADO DE POLÍCIA - PCMT - 2017 – CESPE
 DELEGADO DE POLÍCIA – PCGO – 2018 – UFG
 DELEGADO DE POLÍCIA – PCBA – 2018 – VUNESP
 DELEGADO DE POLÍCIA - PCRN - 2008 – CESPE

MEDIDAS ASSECURATÓRIAS

 ANALISTA JUDICIÁRIO - CNJ – CESPE - 2013


 POLICIAL CIVIL - PCGO - CESPE - 2016
 DELEGADO DE POLÍCIA - PCSP - ACADEPOL - 2014
 PROCURADOR FEDERAL – AGU - CESPE - 2013
 PROMOTOR DE JUSTIÇA – MPE/RJ – 2018 – BANCA PRÓPRIA

PAPEL DO MINISTÉRIO PÚBLICO

 ANALISTA DO MP - MPU - CESPE - 2013


 ANALISTA DO MP - MPE-SP - 2013 - IBFC
 PROMOTOR DE JUSTIÇA – MPE/BA – 2015 – BANCA PRÓPRIA
 ANALISTA DO MP – 2014 -MPE/BA – AOCP

PRISÃO

 MAGISTRATURA FEDERAL – TRF5 – 2018 – CESPE


 OFICIAL DE JUSTIÇA - TRF3 - 2014 - FCC
 ESCRIVÃO - PCBA - CESPE - 2013
 POLÍCIA DO SENADO FEDERAL - FGV - 2008
 POLICIAL CIVIL - PCES - CESPE - 2010
 DEFENSOR PÚBLICO – DPE/AM – FCC - 2018
 PROMOTOR DE JUSTIÇA – MPE/RJ – 2018 – BANCA PRÓPRIA
 MAGISTRATURA FEDERAL – TRF2 – 2011 - CESPE
 DELEGADO DE POLÍCIA – PCGO – 2018 – UFG
 DELEGADO DE POLÍCIA – PCGO – 2018 – UFG

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 DELEGADO DE POLÍCIA - PCMT - 2017 – CESPE


 DELEGADO DE POLÍCIA - PCGO –2017 – CESPE
 DELEGADO DE POLÍCIA - PCBA - 2013 - CESPE
 DELEGADO DE POLÍCIA - PCES - 2006 - CESPE
 DELEGADO DE POLÍCIA – PCSP – 2014 – VUNESP
 DELEGADO DE POLÍCIA – PCPR – 2013 – COPS UEL
 DELEGADO DE POLÍCIA – PCMA – 2012 – FGV
 DELEGADO DE POLÍCIA – PCMG – 2011 – FUMARC
 DELEGADO DE POLÍCIA – PCRS – 2009 – IBDH
 DELEGADO DE POLÍCIA – PCGO – 2008 – UEG
 DELEGADO DE POLÍCIA – PCSP – 2008 – ACADEPOL
 DELEGADO DE POLÍCIA – PCDF – 2009 – FUNIVERSA

PROCESSO E PROCEDIMENTO

 ANALISTA JUDICIÁRIO - TRF2 – CONSULPLAN - 2017


 ANALISTA DO MP - MPE/SP - VUNESP - 2010
 PROCURADOR DO MUNICÍPIO - PGM-BOA VISTA/RR - 2010 - CESPE
 PROCURADOR DO ESTADO - PGE/BA - 2014 - CESPE
 MAGISTRATURA FEDERAL – TRF2 – 2011 - CESPE

PROVAS

 DEFENSOR PÚBLICO – DPE/AL - 2018 - CESPE


 POLICIAL CIVIL - PCBA - CESPE - 2013
 POLICIAL CIVIL - PCBA - CESPE - 2013
 JUIZ LEIGO - TJAC - 2013 – BANCA PRÓPRIA
 DEFENSOR PÚBLICO – DPU – 2018 - CESPE
 MAGISTRATURA ESTADUAL - TJPR - 2017 - CESPE
 DELEGADO DE POLÍCIA FEDERAL - 2018 - CESPE
 PROCURADOR - PGM-BELO HORIZONTE/MG - 2017 - CESPE
 PROMOTOR DE JUSTIÇA – MPE/PB – FCC - 2018
 DELEGADO DE POLÍCIA - PCAP - 2010 – FGV
 MAGISTRATURA ESTADUAL – TJES – 2011 - CESPE
 MAGISTRATURA ESTADUAL – TJAM – 2016 - CESPE
 PROCURADOR DO BANCO CENTRAL - CESPE - 2013
 MAGISTRATURA FEDERAL – TRF4 – 2007 – BANCA PRÓPRIA
 DELEGADO DE POLÍCIA – PCRS – 2018 – FUNDATEC
 DELEGADO DE POLÍCIA - PCMT - 2017 - CESPE

SENTENÇA

 MAGISTRATURA ESTADUAL – TJDFT – 2014 - CESPE

RECURSOS

 ANALISTA JUDICIÁRIO - TJAL - CESPE - 2012

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 ANALISTA DO MP - MPE/RS – 2014 – BANCA PRÓPRIA


 DEFENSOR PÚBLICO - DPE/MT - UFMT - 2016
 MAGISTRATURA ESTADUAL – TJDFT – 2016 - CESPE

REVISÃO CRIMINAL

 ANALISTA DO MP - MPE/SP - VUNESP - 2015


 DEFENSORIA PÚBLICA ESTADUAL - DPE-MS - 2014 - VUNESP
 ESTAGIÁRIO – DPU – 2013

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL

ANALISTA JUDICIÁRIO - STM – 2010 - CESPE

Redija um texto dissertativo acerca do princípio da publicidade no processo


penal brasileiro. Ao elaborar seu texto, aborde, necessariamente, os seguintes
aspectos: 1- regramento constitucional do princípio da publicidade e exceções
previstas; 2- aplicabilidade do princípio da publicidade durante toda a
persecução penal; 3- consequência(s) para o analista judiciário que torna pública
informação de processo que tramita sob segredo de justiça.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

A publicidade da atuação dos órgãos públicos e dos feitos judiciais é uma


importante exigência da Democracia, pois permite que a população compreenda
as decisões e realize o controle dos seus representantes, eleitos ou não. Assim, a
publicidade é um controle democrático dos atos judiciais.

A Constituição e o ordenamento jurídico preveem que a regra dos


processos judiciais é a publicidade. Na seara penal e processual penal ela é
importante, pois permite que o réu tenha pleno acesso e ciência aos dados do
processo e, com isso, possa exercer condignamente o direito ao contraditório e à
ampla defesa.

A Constituição, nos arts. 5º, LX; e 93, estatui que a regra é a publicidade.
Porém, ela poderá ser restringida quando a defesa da intimidade ou o interesse
social o exigirem. Além disso, o julgamento poderá ser limitado às partes e aos
advogados para preservar a intimidade.

A persecução penal, especialmente na fase de inquérito, possui uma


publicidade bem mitigada, haja vista a dinâmica das investigações exigir um
relativo sigilo para a adequada investigação. Porém, o sigilo não é absoluto e não
pode ser oposto ao defensor do acusado, especialmente depois da edição da
Súmula Vinculante nº 14. Na fase de inquérito policial, os elementos de prova já
documentados devem ser disponibilizados ao advogado por conta do princípio da
publicidade. Porém, elementos que ainda estejam em andamento não devem ser
divulgados.

Caso um analista judiciário torne pública informação sigilosa, ele sofrerá


responsabilização nas três esferas: civil, administrativa e penal, com base no art.
121 da Lei 8.112/90. Na área penal, o delito será o tipificado no art. 325 do
Código Penal: violação de sigilo funcional.

PROMOTOR DE JUSTIÇA – MPE/PR – 2016 – BANCA PRÓPRIA

Discorra sobre o princípio da presunção da inocência, à vista da (a) regra


probatória e da (b) regra de tratamento dele derivadas.

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SUGESTÃO DE RESPOSTA:

O princípio da presunção da inocência (ou presunção de não-


culpabilidade) atua como regra de tratamento e como regra probatória (ou de
julgamento).

Na primeira dimensão, ou seja, como regra de tratamento, deve o


imputado ser tratado como inocente, vedandose prisões processuais automáticas
ou obrigatórias e a execução provisória ou antecipada da sanção penal.

Recente orientação do STF admitindo a prisão provisória do acórdão


condenatório proferido em condenação pelo tribunal de apelação (HC 126.292)
destoaria desse entendimento.

Considerado sob o aspecto de regra probatória, o princípio da inocência


age como regra de distribuição do ônus da prova, impondo à acusação a
incumbência de demonstrar a culpabilidade do acusado além de qualquer dúvida
razoável, e como regra de julgamento, valendo-se do in dubio pro reo nas
hipóteses de dúvida na valoração da prova sobre fato relevante para a decisão
do processo.

PROMOTOR DE JUSTIÇA – MPE/PR – 2016 – BANCA PRÓPRIA

Defina o princípio da correlação entre a denúncia e a sentença. Há ofensa a este


princípio quando o juiz, em procedimento comum ordinário e em crime de alçada
pública, reconhece, na sentença, a agravante da reincidência que não tenha sido
descrita na exordial acusatória? Justifique.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

O princípio da correlação entre acusação e sentença é compreendido


como aquele visa resguardar que o magistrado não julgue ultra petita (além),
extra petita (fora) ou citra petita (aquém), ou seja, que a prestação jurisdicional
contida na sentença penal guarde coerência com o que foi delimitado na
denúncia.

Sua importância para o processo penal está diretamente relacionada aos


princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório (art.5º, LV, da CF),
bem como ao próprio sistema acusatório.

A preocupação que a sentença seja exarada com observância da


correlação justifica a previsão legal das regras contidas nos artigos 383 e 384, do
CPP.

Não há ofensa ao princípio da correlação quando há reconhecimento da


reincidência na sentença, pois esta agravante não modifica a figura penal objeto
da persecução e assim não precisa estar narrada na denúncia. O seu

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reconhecimento nada mais é do que o exercício de jurisdição, não violando o


direito de defesa ou o contraditório. Além disso, há previsão legal expressa,
contida no art. 385, do Código de Processo Penal.

ESTAGIÁRIO – DPU – 2014 – BANCA PRÓPRIA

Responda, em forma de dissertação, em no mínimo 15 e, no máximo, 30 linhas:


a Constituição Federal de 1988 inscreveu, no inciso LVII do art.5º, o princípio da
presunção de inocência. Sobre a presunção de inocência, responda: 1- Disserte
sobre o princípio da presunção de inocência, abordando o conceito. 2- Este
princípio é absoluto ou sofre algum abrandamento legal?; 3- Cite um exemplo de
um abrandamento legal ao princípio da presunção de inocência.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

O princípio da presunção de inocência é um direito e garantia


fundamental do cidadão, insculpido no art.5º da CF/88, que garante que
“ninguém será considerado culpado ate o transito em julgado de sentença penal
condenatória”.

O referido princípio não é absoluto, sofre abrandamentos legais, como é


o caso da previsão de prisão preventiva, dentro dos parâmetros para sua
decretação.

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CITAÇÃO

OFICIAL DE JUSTIÇA - TJAL - 2018 – FGV

No curso de investigação penal pela suposta prática de crimes contra a ordem


tributária, a autoridade judiciária, atendendo a requerimento do Ministério
Público, decretou a prisão preventiva do sócio-administrador da sociedade
empresária investigada, Paulo Manoel, bem como determinou a busca e
apreensão no endereço do escritório da sociedade empresária, expedindo os
respectivos mandados de busca e apreensão e prisão. Em cumprimento da
ordem respectiva, o Oficial de Justiça Avaliador, Júlio César, se dirigiu ao
endereço constante no mandado, na parte da tarde, e, lá chegando, encontrou
anúncio de que a empresa mudou de endereço. Informado pelo porteiro do
prédio acerca do novo endereço, em cumprimento da ordem judicial, Júlio César
localizou então o prédio onde agora funciona a sociedade e chegou ao local por
volta das 20h. Na frente do prédio, se deparou com o sócio Paulo Manoel saindo
e, diante disso, efetuou a prisão preventiva pendente de cumprimento. Em
seguida, ingressou no novo escritório da sociedade empresária e apreendeu
computadores e documentos, conforme constante do mandado, lavrando o
termo respectivo. Alguns dias após, o Ministério Público ofereceu denúncia em
face de Paulo Manoel e também em face de outro administrador da sociedade,
José Carlos. Paulo Manoel foi pessoalmente citado, já que preso, enquanto a
citação de José Carlos foi por edital, pois, após diversas tentativas de localização,
foi certificado que estava em local incerto e não sabido. José Carlos, após o prazo
do edital, não compareceu e nem constituiu advogado, determinando o
magistrado a suspensão do processo e do curso do prazo prescricional, o que
gerou preocupação do Ministério Público, tendo em vista que a única
testemunha do fato era idosa e estava internada em unidade hospitalar, com
doença cardíaca em estado avançado. Considerando apenas as informações
narradas, responda justificadamente: a) O cumprimento do mandado de prisão
preventiva foi válido? b) A busca e apreensão realizada no escritório da
sociedade empresária foi válida? c) Com a suspensão do processo em razão da
citação por edital, poderia o magistrado adotar alguma medida para resguardar
a prova a ser produzida?

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

O cumprimento do mandado de prisão preventiva em desfavor de Paulo


Manoel foi válido, já que a prisão poderia se dar a qualquer momento, desde que
dentro do prazo de validade fixado no respectivo mandado de prisão, conforme
disposto no art. 283, §2º, do CPP. Ademais, a prisão foi realizada em via pública,
o que assegura que não houve violação de domicílio.

Não gozou de validade, por outro lado, a execução de busca e apreensão


promovida no escritório da sociedade empresária, uma vez que o respectivo
mandado judicial se destinava ao endereço empresarial anterior, nos moldes
exigidos pelo art. 243, I, do CPP, não podendo o oficial de justiça, ao tomar

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ciência da mudança de endereço, cumprir qualquer busca sem antes certificar o


fato e comunicar à autoridade judiciária, que, então, poderia expedir novo
mandado de busca. Além disso, a busca violou a previsão do art. 245 do CPP, na
medida em que se deu no período noturno, o que, ademais, a própria Constituição
Federal inibe, ao disciplinar a inviolabilidade domiciliar, no inciso XI do seu art.
5º.

Por fim, a suspensão do processo e do prazo prescricional, decretada em


virtude da citação do réu José Carlos pela via editalícia, não impede que o juiz
proceda à antecipação de provas consideradas urgentes – como no caso narrado,
em que a única testemunha corria iminente risco de morte -, com fulcro no art.
366 do CPP, que é expresso no que tange à autorização para medidas dessa
natureza.

ANALISTA JUDICIÁRIO - TJRJ - FGV - 2014

No dia 13 de novembro de 2014, Eduardo, Matheus e Francisco, unidos em ações


e desígnios, praticaram um crime de roubo na cidade de Niterói. Dirigiram-se,
então, a São Gonçalo, onde praticaram dois furtos qualificados, fato este
presenciado por policiais militares, que conseguiram deter apenas Eduardo, com
os demais agentes empreendendo fuga. A prisão em flagrante de Eduardo foi
devidamente convertida em preventiva. O Ministério Público apresentou
denúncia, perante o Juízo competente, pela prática em conexão dos crimes dos
artigos 157, §2º, inciso II (pena: 04 a 10 anos de reclusão, aumentada de 1/3 a
1/2 e multa); e 155, §4º, inciso IV – 2 vezes - (pena: 02 a 08 anos de reclusão e
multa), todos do Código Penal. Recebida a denúncia, determinou o magistrado
que fossem os réus citados para apresentação de resposta à acusação,
designando, desde já, data para audiência. Compareceu o Executor de Mandados
no dia 24 de novembro aos endereços indicados nos autos como sendo os de
Matheus e Francisco e, como os denunciados não foram encontrados naquela
oportunidade, certificou que estavam em local incerto e não sabido. Diante
disso, foi realizada a citação destes dois réus por edital. Passado o prazo fixado
no edital publicado sem comparecimento dos denunciados ou constituição de
advogado, o juiz suspendeu o processo e o curso do prazo prescricional em
relação a estes dois acusados, inclusive determinando a produção antecipada de
provas. Dois meses após esta decisão, o processo voltou a correr normalmente
em face de Matheus, pois foi descoberto que desde o dia 16 de novembro de
2014 ele estava preso no Estado do Rio de Janeiro pela prática de novo crime de
roubo. Por sua vez, o acusado Eduardo foi requisitado para o dia da audiência
designada, somente sendo citado, porém, no início deste ato da instrução, com
apresentação de resposta à acusação oral pela Defensoria. Em alegações finais,
a Defensoria Pública alegou a nulidade absoluta da citação de Eduardo, pois
realizada no dia de seu interrogatório. Sobre essa situação hipotética, responda
(máximo 20 linhas): (a) Qual o juízo territorialmente competente para julgar os
crimes

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praticados em conexão pelos réus? Justifique a resposta (10 pontos). (b) Quais
as principais espécies de citação previstas no Código de Processo Penal?
Justifique a resposta (10 pontos). (c) Os atos citatórios de Matheus, Francisco e
Eduardo foram válidos? Justifique a resposta (30 pontos).

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

‘egra geral, nos termos do art. 70 “caput” do CPP, a competência será


determinada pelo lugar em que se consumar a infração penal, adotando o
legislador a teoria do resultado como critério de fixação. No caso em apreço,
verifica-se a existência de três infrações penais praticadas em localidades
diferentes, restando caracterizada a conexão intersubjetiva, prevista no art. 76,
I, do CPP. Nos termos do art. 78 do CPP, concorrendo jurisdições de mesma
categoria, a competência será determinada, em um primeiro momento, pelo
local onde foi praticado o crime mais grave: Niterói.

Quanto ao ato pelo qual se dá conhecimento ao acusado da existência de


uma acusação contra ele, o CPP prevê três espécies de citação. A citação pessoal
(real), prevista nos arts. 351 e 352 do CPP, é a regra, sendo tal ato realizado por
mandado judicial cumprido pelo oficial de justiça e também por carta precatória,
nos casos em que acusado residir em comarca diversa do juízo processante; por
carta de ordem, determinada pelos Tribunais nos processos de competência
originária; ou por carta rogatória, que ocorrerá nos casos em que o acusado
residir em outro país.

Outra espécie de citação é a ficta ou presumida que, por sua vez, trabalha
com uma presunção legal da ciência do acusado e divide-se em duas outras
espécies: citação por edital e citação por hora certa.

Nos termos do art. 363, § 1°, do CPP, dar-se-á a citação por edital quando
o acusado não for encontrado, devendo o edital ser publicado em jornal de
grande circulação, na imprensa oficial ou afixado no átrio do fórum com prazo de
15 dias. Por sua vez, a citação por hora certa, prevista no art. 362 do CPP, deve
ser analisada à luz do art. 252 do novo CPC, tendo por objetivo efetivar a citação
nos casos em que o acusado se oculta ou foge dela.

No tocante às citações dos acusados Mateus e Francisco, temos que, em


um primeiro momento, nenhum deles foi localizado nos endereços constantes
nos registros, tendo sido descoberto que Mateus fora preso antes do
cumprimento do mandado de citação pelo oficial de justiça. A citação do réu
preso tem previsão no art. 360 do CPP, estando estabelecido que ela deverá ser
pessoal, não bastando sua simples requisição. Logo, nos termos da Sumula nº
351 do STF, Mateus não poderia ter sido citado por edital, já que estava preso na
mesma unidade da federação em que o juiz exerce sua jurisdição. Com efeito, a
citação de Mateus é nula, já que deveria ter sido citado pessoalmente.

Francisco, por sua vez, não foi localizado pelo executor de mandados, o
que não necessariamente possibilita sua citação por edital, já que o oficial de

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justiça apenas diligenciou em seu endereço. Tratando-se de hipótese de citação


presumida, é evidente que a citação por edital é medida de ultima ratio, que só
deve ser adotada quando esgotados todos os meios de localização do acusado.
Por tal motivo, nula também é a citação deste acusado.

Por fim, verifica-se que Eduardo não foi citado com antecedência, sendo
cientificado da acusação apenas no dia da audiência de instrução. A Defensoria
Pública, por sua vez, não requereu o adiamento do ato e ofereceu a resposta à
acusação oralmente, não havendo que se falar em nulidade de seu
interrogatório, conforme já decidido pelo STF.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal: volume único. 4°


edição. Salvador. Ed. Juspodivm. 2016.

JURISPRUDÊNCIA APLICADA:

Súmula 351 do STF - É nula a citação por edital de réu preso na mesma unidade
da Federação em que o juiz exerce a sua jurisdição.

Habeas corpus. Interrogatório. Falta de citação prévia. Nulidade. Inexistência.


Cientificação da imputação na data da audiência. Nomeação de defensor público
ao réu que com ele se entrevistou previamente e não requereu o adiamento
do ato. Negação da prática do crime pelo paciente. Inexistência de prejuízo a
sua defesa. Audiência de instrução. Nulidade. Ocorrência. Ausência de
intimação pessoal da defensoria pública para o ato. Prova acusatória, colhida na
audiência, utilizada para a condenação. Prejuízo demonstrado. Violação dos
princípios do contraditório e da ampla defesa. Ordem parcialmente concedida.
1. A falta de citação não anula o interrogatório quando o réu, ao início do ato,
é cientificado da acusação, entrevista-se, prévia e reservadamente, com a
defensora pública nomeada para defendê-lo
- que não postula o adiamento do ato -, e nega, ao ser interrogado, a
imputação. Ausência, na espécie, de qualquer prejuízo à defesa. 2. É nula, por
violação dos princípios do contraditório e da ampla defesa, a audiência de
instrução realizada sem a presença da Defensoria Pública, não intimada
pessoalmente para o ato, máxime quando a prova acusatória nela colhida tiver
embasado a condenação do paciente. 3. A atuação da Defensoria Pública,
instituição essencial à função jurisdicional do Estado (art. 134, CF), não pode ser
considerada fungível com a desempenhada por qualquer defensor ad hoc, sendo
mister zelar pelo respeito a suas prerrogativas institucionais. 4 – Ordem
parcialmente concedida, para anular a condenação do paciente. (STF - HC:
121682 MG, Relator: Min. DIAS TOFFOLI, Data de Julgamento: 30/09/2014,
Primeira Turma, Data de Publicação: DJe-225 DIVULG 14-11-2014 PUBLIC 17- 11-
2014).

GABARITO DA BANCA EXAMINADORA:

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Gabarito: Juízo Competente indicado corretamente – Vara Criminal de Niterói. -


Justificativa para indicação do juízo competente, mencionado que o crime de
roubo é o mais grave dos praticados em conexão – art. 78, inciso II, a , CPP. -
Menção às principais modalidades de citação previstas no CPP, dentre as quais
se destacam a citação pessoal ( requisição, mandado, carta precatória, etc.), a
citação por hora certa e a citação por edital. - Apresentação de classificação de
citação entre real e ficta, além de dar breves explicações sobre hipóteses de
cabimento (ex. citação por hora certa – quando o oficial verificar que o réu se
oculta para não ser citado.) – Citação de Matheus – Súmula 351, STF – discorrer
sobre a validade da citação por edital do réu preso. - Citação de Francisco -
discorrer sobre a necessidade de esgotar as diligências para localização do réu
antes da citação por edital. - Citação de Eduardo – discorrer sobre a controvérsia
existente quanto à possibilidade da citação ser realizada na audiência em que se
realiza o interrogatório, destacando que o STJ não considera que isto, por si só,
cause nulidade.

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COMPETÊNCIA

PROCURADOR DO ESTADO - PGE/BA - CESPE - 2013

José, logo após ter iniciado um empreendimento comercial de venda de


eletrônicos em Salvador–BA, adquiriu e conseguiu fazer que entrassem no Brasil
cerca de mil consoles falsificados de videogame, oriundos do Paraguai. Em pouco
mais de uma semana, todos os aparelhos foram vendidos e o dinheiro resultante
das vendas foi utilizado para a aquisição de ações da Caixa Econômica Federal.
Passados alguns meses, José realizou contrato em que trocou as referidas ações
por um apartamento em Salvador, registrando-o em nome de seu filho Pedro,
maior de idade e plenamente capaz. Mediante denúncia anônima, seguida de
extensa investigação policial, o esquema foi desvendado, e José, preso. A partir
dessa situação hipotética, redija um texto dissertativo que atenda,
necessariamente, ao que se pede a seguir. 1- Informe o foro competente para
ajuizar a ação penal contra José. [valor: 6,00 pontos] 2- Indique o(s) delito(s)
cometido(s) por José. [valor: 6,00 pontos] 3- Descreva a conduta a ser tomada
em relação ao(s) tipo(s) penal(is), explicitando as razões do enquadramento.
[valor: 7,00 pontos]

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Em relação ao item 1, o foro competente é o da Justiça Federal da Seção


Judiciária de Salvador/BA, com fundamento no art. 109, V, da CRFB. Isso ocorre
por se tratar do local do resultado do crime, considerando que as mercadorias
(videogames falsificados) foram adquiridas no Paraguai, introduzidas
ilicitamente no território nacional por José e tiveram como destino a cidade de
Salvador, onde então se obteve o proveito do crime não apenas de contrabando,
como também de lavagem de dinheiro, ou seja, ambos sujeitam- se à
competência jurisdicional federal, conforme a Súmula nº 151 do STJ. Foro
competente é aquele do local onde o crime se consumou, o que compreende o
órgão jurisdicional específico e legalmente atribuído para tanto.

No que tange ao item 2, José praticou o crime de contrabando porque sua


conduta incorre no art. 334 do Código Penal. Ele importou de um Estado
estrangeiro mercadoria proibida (videogame falsificado), produto que não
poderia ingressar no território nacional justamente pela sua falsidade, tendo nele
ingressado clandestinamente, isto é, sem qualquer anuência dos órgãos de
fiscalização.

José também praticou crime de lavagem de dinheiro ou lavagem de


capital, previsto no art. 1º da Lei nº 9.613/98, pois dissimulou a natureza de
valores provenientes diretamente da prática do crime de contrabando que o
antecedeu, também da competência federal. Note-se que prevalece, no Direito
Penal, o princípio da especialidade, de modo que não há como reconhecer outros
tipos penais aplicáveis à descrição fática das condutas, conforme expostas na
questão.

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Acerca do item 3, a conduta que se exige para ser tomada, com base no
enquadramento típico do crime de lavagem de dinheiro, pela autoridade policial,
o Ministério Público ou o juiz, consiste em assegurar, nos termos do art. 4º da Lei
nº 9.613/98, o sequestro do imóvel adquirido com o proveito da venda das ações
da Caixa Econômica Federal que, por sua vez, decorre da alienação das
mercadorias contrabandeadas (art. 125 do CPP).

A partir da descrição do fato da alienação das ações e a aquisição de


imóvel em nome de terceiro, o interesse precípuo é garantir a perda do objeto do
crime em favor da União, de forma que as medidas assecuratórias alcançam o
imóvel registrado em nome de terceiro, além da propositura de ação penal
pública incondicionada para o fato típico.

JURISPRUDÊNCIA RELACIONADA:

PENAL. PROCESSO PENAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. CRIME DE


DESCAMINHO. MERCADORIAS APREENDIDAS. CONSUMAÇÃO. ART. 70 DO CPP.
SÚMULA 151 DO STJ. INCIDÊNCIA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL DE
PERNAMBUCO. 1. "A competência para o processo e julgamento por crime de
contrabando ou descaminho define-se pela prevenção do Juízo Federal do
lugar da apreensão dos bens" (STJ, Súmula n. 151) 2. Conflito conhecido para
declarar a competência do Juízo Federal da 13ª Vara da Seção Judiciária do
Estado de Pernambuco, ora suscitado. STJ - CC 126609

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal – Volumes 1, 2, 3 e 4. 18ª. ed. Saraiva.


2016.

MAGISTRATURA ESTADUAL – TJAL – 2008 - CESPE

De posse do inquérito X, já devidamente relatado, o membro do Ministério


Público do estado do Ceará, em vez de oferecer a denúncia, requereu ao juiz de
direito da comarca de Fortaleza a remessa dos autos do inquérito ao estado de
álagoas, porque entendeu ser da competência do Ministério Público daquele
estado oferecer a respectiva denúncia. O citado juiz, sem qualquer manifestação
formal, remeteu, de imediato, os autos do inquérito para o juízo competente do
estado do álagoas, o qual, incontinente e sem qualquer decisão, encaminhou-os
ao Ministério Público do estado de álagoas. áo analisar o inquérito, em vez de
oferecer a denúncia, o promotor de justiça da comarca de Maceió fez extenso
parecer acerca da competência do Ministério Público do estado do Ceará.
“olicitou, portanto, ao juiz de direito da comarca de Maceió o retorno dos autos
do inquérito para a justiça comum do estado do Ceará. Com referência à situação
hipotética apresentada acima, responda, de forma fundamentada em conflito de
competência e de atribuições, ao seguinte questionamento: o que deve fazer o
juiz?

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SUGESTÃO DE RESPOSTA:

á situação do enunciado versa sobre um conflito de jurisdição, que é


uma forma de viabilizar o controle de competência em relação ao juiz e às partes,
nos termos dos arts. 113 e 115, do CPP. Isso é impactante para o processo,
notadamente o penal, já que as infringências às normas de competência podem
gerar nulidades (art. 564, I, do CPP).

O art. 114, do CPP, demonstra as situações de conflito de jurisdição


(positivo ou negativo), sendo que pode ocorrer também o conflito de atribuições,
isto é, a tormentosidade envolvendo entre os órgãos do Judiciário e órgãos de
outros poderes ou entre os órgãos de poderes sem cunho jurisdicional. Pelo que
foi narrado no enunciado, há a existência de um conflito de atribuições entre
Ministérios Públicos estaduais (Ceará e álagoas). Isso é verificável pela
conflituosidade na atribuição para ofertar a denúncia, que precede a própria
instauração de uma relação processual penal.

Os magistrados não aceitarem a manifestação dos parquets


estaduais, atrairia a incidência da atribuição do “TJ para dirimir o conflito, nos
termos do art. 105, I, d, da C‘FB. Porém, a presente situação não encontra
previsão constitucional e, portanto, diante do entendimento do “TF, esses
conflitos devem ser solucionados na esfera administrativa do Ministério Público.
Para o “TF, a interpretação extensiva do art. 102, I, f, da C‘FB, somente
ocorreria se o conflito for idôneo a comprometer o próprio pacto federativo.

DELEGADO DE POLÍCIA - PCAP - 2010 – FGV

João de Souza comete crime de furto na comarca de Oiapoque. Alguns dias


depois, comete novo furto em Macapá, com o mesmo modus procedendi. Uma
semana depois, comete novo furto, nas mesmas condições dos anteriores, mas
dessa vez na comarca de Tartarugalzinho. Um dos objetos furtados em Macapá
foi um talão de cheque, com o qual João emitiu um cheque, falsificando a
assinatura, para adquirir uma televisão LCD de 42 polegadas em uma loja de
eletrodomésticos situada na comarca de Ferreira Gomes. Qual ou quais os foros
competentes para julgar os crimes cometidos por João? Fundamente as suas
respostas demonstrando conhecimento acerca dos institutos jurídicos aplicáveis
ao caso e indicando os dispositivos legais pertinentes.
SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Em relação ao item 1, João de Souza realizou três crimes de furto


(Oiapoque, Macapá e Tartarugalzinho) e um crime de estelionato mediante a
falsificação da assinatura no cheque (art. 171, caput, do CP), uma vez que,
segundo entendimento sumulado do STJ, quando o falso se exaure no estelionato,
sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido.

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No que tange aos delitos de furto praticados em Oiapoque e em


Tartarugalzinho, estas comarcas são competentes para julgar os referidos delitos
praticados em seu solo, aplicando-se a regra geral constante no art. 70 do CPP.
Esta regra aduz que será competente o local em que se consumar a infração.

Contudo, em relação ao crime de furto praticado em Macapá e ao crime


de estelionato, cometido em Ferreira Gomes, apresenta-se um caso de conexão,
ao teor do art. 76, III do CPP (conexão instrumental ou probatória). Este tipo de
conexão aduz que quando a prova de um crime influenciar na prova do outro,
deve ocorrer a reunião dos processos para o julgamento na Comarca de Ferreira
Gomes, haja vista ter sido cometido o crime mais grave (estelionato).

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AÇÃO PENAL

POLÍCIA MILITAR - PMDF – IADES - 2017

Leia, com atenção, a situação hipotética a seguir. Durante uma ação de suporte
a uma força de pacificação, um civil, sem razão aparente, proferiu palavras de
baixo calão e jogou cerveja no uniforme de um cabo do Exército Brasileiro.
Considerando a situação hipotética apresentada e segundo a lei e o
entendimento jurisprudencial do Superior Tribunal Militar, redija um texto
dissertativo e (ou) descritivo acerca da conduta do civil que aborde,
necessariamente, os seguintes tópicos: a) crime cometido pelo civil; b) pena
cabível em abstrato; c) modalidade de ação penal cabível; d) instituição
responsável para o oferecimento da ação penal; e) justiça competente; f) juízo
competente para julgamento; e, g) indicação e justificativa se são cabíveis ou não
os institutos despenalizadores da lei dos juizados especiais criminais (Lei no
9.099/1995).
SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Em relação ao item “a”, o art. 299 do Código Penal Militar prevê o


desacato ao militar em exercício na função ou em razão dela, cominando pena
de detenção de seis meses a dois anos, caso o fato não configure outro crime.
Depreende-se que o ato praticado pelo civil constitui o crime do art. 299 do CPM.

Em relação ao item “b”, a pena cabível em abstrato, consoante o art. 299


do CPM, é de detenção de seis meses a dois anos, caso o fato não configure outro
crime.

Em relação ao item “c”, a modalidade de ação penal cabível é a pública


incondicionada.

Em relação ao item “d”, a instituição responsável pelo oferecimento da


ação penal é o Ministério Público Militar, nos termos do art. 29 do Código de
Processo Penal Militar.

Em relação ao item “e”, com base no art. 125, §3º, da C‘FB, a


competência é da Justiça Militar, cuja competência é das Auditorias Militares ou
Conselhos de Justiça ou juízes de Direito, onde não houver esses órgãos.

Por fim, em relação ao item “f”, o art. 90-A da Lei nº 9.099/95 veda a
aplicação dos institutos despenalizadores dos juizados especiais criminais no
âmbito da Justiça Militar.

ANALISTA DO MP - MPE/RS - FCC - 2010

“á fim de que ocorra legitimamente o recebimento da denúncia ou da queixa,


é imprescindível a análise das condições da ação, verificando-se a presença dos

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requisitos mínimos indispensáveis para a formação da relação processual.”


Diante dessa assertiva, indique e explique as denominadas condições genéricas
para o exercício da ação penal.
SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Condições da ação penal são requisitos exigidos para o regular exercício


da ação penal, funcionando como verdadeiro filtro processual. Analisada a
presença de tais condições, fará o magistrado a análise do mérito sobre a
procedência ou não do pedido. No âmbito processual penal, as condições da ação
se dividem em genéricas (aquelas que deverão estar presentes em toda e
qualquer ação penal) e específicas (aquelas exigidas para uma modalidade
específica de ação penal).

Antes da vigência do novo Código de Processo Civil, a doutrina elencava a


possibilidade jurídica do pedido, o interesse processual e a legitimidade para a
causa como condições da ação penal, sendo que alguns autores acresciam a justa
causa como uma quarta categoria de condição. No entanto, com a vigência do
novo CPC e à luz de uma teoria geral do processo, a possibilidade jurídica do
pedido não mais figura no rol das condições da ação, já que saber se o pedido
formulado é juridicamente impossível confunde-se com o próprio mérito a ser
julgado.

Nesta toada, sob a ótica do novo CPC, temos apenas a legitimidade para
a causa, o interesse de agir e a justa causa como condições da ação penal, as
quais, se não atendidas, gerarão a rejeição da denúncia ou queixa (art. 395 do
CPP).

A legitimidade ad causam nada mais é do que a possibilidade conferida


pela lei para que alguém integre um dos polos da relação jurídica processual, ou
seja, no polo ativo estará o Ministério Público ou o querelante. Já no polo passivo
estará a pessoal natural ou jurídica cuja conduta típica está sendo imputada.

Já a justa causa consubstancia-se no lastro probatório mínimo existente


para embasar a acusação, estando presente na prova da materialidade e nos
indícios de autoria ou participação. Como já mencionado, não há consenso na
doutrina quanto à natureza jurídica da justa causa, mas ausente sua presença,
inadmissível será a peça acusatória (art. 395, III do CPP).

Por fim, e não menos importante condição genérica da ação penal, há o


interesse de agir, constituído pelo trinômio necessidade, adequação e utilidade.
A necessidade diz respeito à aplicação de uma sanção penal àquele que, em tese,
desobedeceu ao ordenamento jurídico. A adequação exige que o órgão de
acusação promova a ação penal nos moldes do procedimento estabelecido pela
legislação, a fim de que seja alcançada a satisfação da pretensão punitiva. Já a
utilidade liga-se à aptidão da ação penal em concretizar a imposição de uma
sanção penal ao acusado, motivo pelo qual não se tem interesse de agir em

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fatos prescritos, não sendo admitido pela jurisprudência a tese da prescrição


virtual.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal: volume único. 4° edição.
Salvador. Ed. Juspodivm. 2016.

TAVORA, Nestor e outro. Código de Processo Penal para Concursos. 7ª edição.


Salvador. Ed. Juspodivm. 2016.

ANALISTA DO MP - MPE/RS - FCC - 2010

Discorra, fundamentadamente, sobre os tipos de ação penal previstos pela


legislação processual penal brasileira e sobre a legitimidade para exercê-las,
esclarecendo se existe no Brasil a ação penal popular.
SUGESTÃO DE RESPOSTA:

A legislação processual penal prevê dois tipos de ação penal: a de


natureza pública, cujo titular é o Ministério Público; e a de natureza privada, cuja
titularidade é da própria vítima. Por seu turno, a ação penal pública divide- se em
condicionada à representação e condicionada à requisição do Ministro da Justiça.
A ação penal privada divide-se em exclusiva (ou propriamente dita), subsidiária
da pública ou personalíssima.

A regra no direito processual penal brasileiro é de que a ação penal para


infrações penais seja pública incondicionada, fazendo menção expressa o
legislador para os casos em que a ação penal dependerá de
representação/requisição do Ministro da Justiça ou para os casos em que será de
natureza privada.

A ação penal de natureza pública é aquela cujo titular é o Ministério


Público e, para seu início, não há qualquer condição específica de procedibilidade,
bastando, tão somente, interesse de agir, legitimidade ad causam e justa causa.
Por sua vez, a ação penal pública condicionada necessita de condição específica
de procedibilidade, qual seja, a representação do ofendido ou requisição do
Ministro da Justiça.

Ao seu turno, a ação penal de natureza privada é aquela titularizada pelo


próprio ofendido ou por seu representante legal na forma de substituto
processual (regra geral no direito processual), denominando-se de ação penal
privada propriamente dita. A ação penal privada também pode ser
personalíssima, que é aquela cujo direito de queixa somente pode ser exercido
pelo ofendido, não podendo nem mesmo o representante legal ajuizar a queixa
em seu lugar. Só há um caso de ação penal privada personalíssima no

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ordenamento jurídico brasileiro, tendo previsão no art. 236 do Código Penal


(induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento ao casamento).

Outra modalidade de ação penal privada é a subsidiária da pública. Neste


caso, originariamente, há um crime que se procede mediante ação penal pública,
mas o titular da ação permanece inerte quanto ao oferecimento da denúncia,
não a oferecendo no prazo legal (art. 46, “caput” do CPP). Desta feita, o ofendido
pode ajuizar queixa-crime em juízo como legitimado extraordinário dentro do
prazo decadencial de 6 meses (art. 38 do CPP), contados do dia em que esgotar
o prazo legal para o oferecimento da denúncia pelo Ministério Público.

De ressaltar, ainda, que há previsão no art. 2°, §2°, da Lei nº 1.079/50,


que trata dos crimes de responsabilidade, da possibilidade de qualquer do povo
oferecer denúncia em face do Presidente da República, Ministros de Estado,
Ministros do STF, Procurador-Geral da República, Governadores de Estado e seus
secretários.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

TAVORA, Nestor e outro. Código de Processo Penal para Concursos. 7ª edição.


Salvador. Ed. Juspodivm. 2016.

ANALISTA JUDICIÁRIO - TJGO – 2013 – BANCA PRÓPRIA

Discorra apontando as principais diferenças entre as peças de denúncia e queixa,


bem como sobre os princípios da indivisibilidade e divisibilidade da ação penal.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

A peça acusatória em crime de ação penal pública denomina-se denúncia,


enquanto a peça inicial acusatória nos crimes de ação penal privada denomina-
se queixa-crime. Ambas são apresentadas por meio de petição, que deve estar
escrita no vernáculo pátrio.

Estabelece o art. 41 do Código de Processo Penal os requisitos de toda


peça acusatória: a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias;
a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo;
a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas. De ressaltar
que o art. 44 do mesmo diploma legal estabelece que a queixa somente poderá
ser ajuizada por meio de procurador com poderes especiais, devendo constar da
procuração o nome do querelante e a menção ao fato criminoso.

Outra diferença existente entre a denúncia e a queixa está no prazo


quanto ao oferecimento de cada peça acusatória. Enquanto o prazo para o

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oferecimento da denúncia (art. 46 do CPP) é de cinco dias no caso de o acusado


se encontrar preso, e de quinze dias caso se encontre solto; o prazo para o
oferecimento da queixa crime está sujeito ao prazo decadencial de 6 meses, que
tem início, em regra, no dia em que o ofendido ou seu representante legal tiver
conhecimento da autoria do autor da infração penal.

Quanto aos princípios da indivisibilidade e da divisibilidade atribuídos à


ação penal, temos que o primeiro é adstrito aos crimes cuja ação penal é de
natureza privada. Já o segundo, aos crimes cuja ação penal é de natureza pública.

Assim sendo, o princípio da divisibilidade, ligado à denúncia, prevê que,


em caso de concurso de agentes, o Ministério Público pode oferecer denúncia
apenas contra um ou alguns dos investigados, e não contra todos, desde que não
haja justa causa para tal oferecimento.

Por sua vez, o princípio da indivisibilidade, ligado à queixa, prevê que em


caso de concurso de agentes, sendo eles conhecidos, o ofendido deverá ajuizar a
demanda em face de todos os autores, não possuindo a faculdade de escolha
(art. 48 do CPP). Caso o ofendido não obedeça a indivisibilidade, a omissão de um
dos agentes conhecidos implica renúncia tácita ao direto de queixa que,
obrigatoriamente, será ampliada aos demais autores do delito, havendo a
extinção da punibilidade, nos termos do art. 107, V, do CP.

O princípio da indivisibilidade trata-se de feição subjetiva do princípio da


obrigatoriedade, ou seja, havendo justa causa, a denúncia deve imputar os fatos
a todos aqueles que foram investigados na fase pré-processual da persecução
penal, sob pena do reconhecimento do arquivamento implícito dos autos de
investigação.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

TAVORA, Nestor e outro. Código de Processo Penal para Concursos. 7ª edição.


Salvador. Ed. Juspodivm. 2016.

JURISPRUDÊNCIA RELACIONADA:

“á Turma, ao prosseguir o julgamento, concedeu a ordem de habeas corpus para


trancar a ação penal em razão da atipicidade da conduta, sendo seus efeitos
estendidos aos corréus em situação análoga, conforme o art. 580 do CPP. O
paciente foi denunciado juntamente com mais onze corréus pela prática de crime
de gestão temerária (art. 4º, parágrafo único, da Lei n. 7.492/1986) na qualidade
de representante de instituição financeira. Segundo a denúncia, o conselho de
administração concedeu carta de fiança considerada irregular devido a seu valor
elevado em favor de empresa de capital baixo, o que contrariava as normas da
instituição financeira, além de colocar em risco tanto seu patrimônio como o
próprio sistema financeiro nacional. Sucede que o chefe do paciente, com
prerrogativa de foro, já obteve o arquivamento da denúncia

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pela atipicidade da conduta descrita na acusação, visto que não houve o tipo
penal que o caso exige: finalidade de agir (interesse), ou seja, dolo específico, e
também não teria conduta contra disposição expressa em lei. Assim, para a Min.
Relatora, diante do arquivamento pela Procuradoria Geral da República ao
acolher parecer no qual se reconheceu a atipicidade do fato, seria inviável agora
a responsabilização somente daqueles que seriam partícipes, visto que essa
manifestação estender-se-ia aos demais denunciados. Destaca a Min. Relatora
não desconhecer precedentes deste Superior Tribunal que afastam a incidência
do princípio da indivisibilidade em relação à ação penal de iniciativa pública.
Explica, contudo, que, em hipóteses como a dos autos, em que o parquet já se
pronunciou pela atipicidade da conduta, a seu ver, incide o princípio da
indivisibilidade em relação à ação penal de iniciativa pública, uma vez que não é
dado ao MP escolher, entre supostos autores de ilícitos penais, apenas alguns
para responder criminalmente, sob pena de infringir o princípio da
obrigatoriedade da ação penal. Por outro lado, anota também que a denúncia,
enquanto faz acusação de delito doloso, narra condutas culposas, revelando
assim carência de justa causa. O Min. Og Fernandes, em voto vista, ressalta
também que, como se trata de tipo punido somente na modalidade dolosa, não
seria viável o prosseguimento da persecução penal quando a peça acusatória
narra condutas culposas. Precedentes citados: HC 82.589-MS, DJ 19/11/2007; HC
95.344-RJ, DJe 15/12/2009; HC 92.952-RN, DJe 8/9/2008; RHC
6.368-SP, DJ 22/9/1997, e RHC 7.982-RJ, DJ 29/11/1999”. (HC 101.570-RJ, Rel.
Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 21/9/2010).

MAGISTRATURA ESTADUAL - TJPR - 2017 - CESPE

Diferencie as condições da ação penal sob a ótica da concepção eclética e sob a


teoria da asserção, considerando a justa causa como espécie de condição da
ação, discorrendo sobre os efeitos da absolvição sumária bem como da rejeição
da peça acusatória.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

O CPC consagrou de forma expressa a Concepção Eclética sobre o


direito de ação, ou seja, o direito ao julgamento do mérito da causa, sendo
irrelevante se favorável ou desfavorável. Contudo, isso fica condicionado ao
preenchimento de certas condições aferíveis à luz da relação jurídica material
deduzida em juízo (condição da ação). ássim, o direito de ação não depende da
existência do direito material, mas do preenchimento de certos requisitos formais
chamados de condições da ação, que não se confundem com o mérito.

Quando ausentes as condições da ação, geram uma sentença


terminativa de carência da ação (art. 485, VI, do CPC), sem a formação de coisa
julgada material, o que, em tese, permite que nova demanda seja renovada, em
havendo correção do vício que deu ensejo à sentença sem resolução do mérito

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(art. 486, § 1º, do CPC). Tratando-se de matéria de ordem pública, não há


preclusão, concluindo os defensores desta teoria que, a qualquer momento do
processo e com qualquer grau de cognição, o juiz deve extinguir o processo sem
resolução de mérito por carência da ação (se entender ausente uma das
condições da ação).

á teoria da ásserção aduz que a presença das condições da ação deve


ser analisada pelo juiz com base nos elementos fornecidos pelo próprio autor em
sua inicial, os quais devem ser tomados como verdadeiros, sem nenhum
desenvolvimento cognitivo, ou seja, o exame deverá ser feito in statu assertionis.

“e o juiz constatar a ausência de uma condição da ação mediante


cognição sumária, deve extinguir o processo sem resolução do mérito por
carência de ação (art. 485, VI, do CPC). Quando houver necessidade de cognição
mais aprofundada para análise da presença das condições da ação, a carência de
ação passa a ser analisada como mérito, gerando uma sentença de rejeição do
pedido do autor com formação de coisa julgada formal e material.

No tocante à justa causa para a ação penal, o art. 395, do CPP, prevê
expressamente que a denúncia ou queixa será rejeitada quando faltar justa causa
para o exercício da ação penal (inciso III). Exige-se da acusação lastro probatório
mínimo de existência material de um fato penalmente punível e indícios
suficientes de autoria para invocar a tutela jurisdicional, normalmente colhidos
no inquérito policial ou de outras peças de informação.

“ob a ótica da concepção eclética, evidenciada ausência de justa


causa para ação penal, deverá o juiz rejeitá-la, fazendo a decisão apenas coisa
julgada formal. Iniciada a ação penal, por se tratar de matéria de ordem pública,
não haverá preclusão e a decisão não fará coisa julgada material.

No âmbito do processo penal, sob a perspectiva da teoria da


asserção, ainda que se analise as condições da ação, com base no que foi narrado
na denúncia ou queixa, deverá o juiz aferir se há justa causa, apreciada em
cognição superficial, evitando-se denúncia ou queixa infundada. Para os que
consideram a justa causa como espécie de condição da ação penal, verificando a
sua ausência por ocasião do juízo de admissibilidade da peça acusatória, deve o
magistrado rejeitá-la, nos termos do art. 395, III, do CPP, fazendo a decisão
apenas coisa julgada formal.

á ausência de justa causa após apresentação da resposta do acusado,


mediante cognição profunda, implicará na absolvição sumária com base no art.
397, III, do CPP, com julgamento de mérito, fazendo coisa julgada formal e
material.

PROCURADOR FEDERAL – AGU - CESPE - 2007

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Marcelo foi denunciado pelo Ministério Público por ter revelado fato que devia
permanecer em segredo e que tinha ciência em razão do cargo que ocupa. A ação
praticada por Marcelo resultou em dano à administração pública, e o Ministério
Público requereu a condenação do denunciado nas penas do art. 325, §2º do
Código Penal (Revelar fato que tem a ciência em razão do cargo e que deva
permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a revelação). Por ocasião do
recebimento da denúncia, o juiz verificou que não havia qualquer prova, ou
sequer indício, no inquérito ou nos autos, a respeito da qualificadora. Com base
na situação descrita acima, redija um texto dissertativo que, aborde,
necessariamente e de modo fundamentado, os seguintes aspectos: 1- correta
conduta a ser seguida pelo juiz; 2- possíveis efeitos da decisão do juiz; 3- recurso
cabível.
SUGESTÃO DE RESPOSTA:

O primeiro ponto a ser abordado é que esse delito é um crime funcional e,


por isso, aplica-se o rito especial dos arts. 513 a 518 do CPP. O art. 513 do CPP
demanda que a denúncia seja instruída com documentos ou justificação que
façam presumir a existência do delito. Logo, exige-se nitidamente um lastro
probatório mínimo para dar início à ação penal. Pela questão, também ficou
configurada a falta de justa causa. Diante desses dois fatores, o magistrado
deverá rejeitar parcialmente a denúncia, de modo a excluir a qualificadora do art.
325, §2º, do CP.

Com a rejeição parcial da denúncia e não havendo recurso do Ministério


Público, ocorrerá a formação da coisa julgada formal no que tange à
qualificadora. Logicamente, caso haja o surgimento de novas provas, a denúncia
poderá ser aditada. Além disso, com a rejeição, o crime torna-se de menor
potencial ofensivo, cabendo a transação penal e a composição do dano.

O recurso cabível da decisão que rejeita a denúncia, ainda que


parcialmente, é o recurso em sentido estrito, com base em interpretação
extensiva do art. 581, I, do CPP.

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APREENSÃO DE MENOR

POLICIAL CIVIL - PCRN - CESPE - 2008

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao


adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de
toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão. Brasil. Constituição Federal de 1988, art. 227, caput. Considerando que
o preceito constitucional acima transcrito tem caráter unicamente motivador,
redija um texto dissertativo acerca do seguinte tema: ASPECTOS CRIMINAIS DO
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - Ao elaborar o
texto, esclareça, necessariamente, as seguintes indagações. 1- Qual a distinção
entre criança e adolescente? 2- O adolescente apreendido em flagrante de ato
infracional poderá ser conduzido ou transportado em compartimento fechado
de veículo policial? 3- Em regra, comparecendo ao distrito policial qualquer dos
pais ou responsável, o adolescente apreendido em flagrante de ato infracional
deverá ser liberado pela autoridade policial?

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

O Estatuto da Criança e Adolescente, consubstanciado na Lei nº 8.069/90,


disciplina legalmente os direitos e deveres infanto-juvenis, materializando a
proteção prevista no artigo 227 da Constituição Federal.

É sabido que crianças e adolescentes não praticam crime. Em verdade, o


menor de dezoito anos é inimputável e está sujeito ao Estatuto da Criança e do
Adolescente. Assim, diz-se que crianças e adolescentes praticam ato infracional
equiparado a crime ou contravenção, nos termos do art. 103 da Lei nº 8.069/90.

Para entendimento do tema, é de se destacar que a legislação em análise


estabelece, em seu art. 2º, uma importante divisão de conceitos entre criança e
adolescente. Para o Estatuto, criança é a pessoa com até doze anos incompletos,
ou seja, aquele que ainda não completou seus doze anos. De outro lado,
adolescente é aquele que possui entre doze anos completos e dezoito anos
incompletos.

A diferença tem importância prática, na medida em que à criança que


praticar ato infracional somente podem ser aplicadas as medidas de proteção do
art. 105 do ECA, enquanto ao adolescente são aplicadas também medidas
socioeducativas.

Na hipótese de o adolescente ser flagrado por policiais cometendo ato


infracional, este, ao ser capturado, não poderá ser conduzido ou transportado em
compartimento fechado de veículo policial em condições atentatórias à sua
dignidade ou que impliquem risco à sua integridade física ou mental, sob pena de
responsabilidade, como estabelece o art. 178 do ECA.

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Em seguida, apresentado à autoridade policial e comparecendo à


Delegacia qualquer dos pais ou responsável pelo adolescente, o art. 174 do ECA
estatui como regra que este será prontamente liberado pela autoridade policial,
sob termo de compromisso e responsabilidade de sua apresentação ao
representante do Ministério Público, no mesmo dia ou, sendo impossível, no
primeiro dia útil imediato. Contudo, isso não ocorrerá quando, pela gravidade do
ato infracional e sua repercussão social, deva o adolescente permanecer sob
internação para garantia de sua segurança pessoal ou manutenção da ordem
pública.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

BARROS, Guilherme Freire de Melo. Direito da Criança e do Adolescente –


volume 36 – Coleção Sinopses para Concursos. Salvador, Juspodivm, 2014

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EXECUÇÃO PENAL

OFICIAL DE JUSTIÇA - TRF4 - FCC - 2014

Cumprindo o mandado judicial, regularmente expedido pela Vara Federal das


Execuções Criminais, nos autos de determinado processo de execução penal, o
Oficial de Justiça dirigiu-se à residência do sentenciado para proceder à avaliação
de um bem móvel, antes penhorado na execução da pena de multa, única sanção
remanescente, eis que já cumprida a pena de reclusão de três anos aplicada,
concomitantemente, por esse único crime em execução. Ali chegando, o Oficial
de Justiça encontra o Advogado do sentenciado pedindo- lhes que suspenda o
cumprimento do mandado. O causídico alega oralmente que, com seus
argumentos antes rejeitados em sede de agravo em execução pelo Tribunal
Regional Federal respectivo, acaba, porém, de obter decisão final favorável em
habeas corpus impetrado perante o Superior Tribunal de Justiça, para o fim
exclusivo de ser determinada a incompetência do Juízo da execução criminal
para executar aquela pena de multa, em favor da competência do Juízo da
Execução Fiscal, devendo o processo de execução penal aguardar suspenso a
solução do débito perante este último. Estritamente, à luz da jurisprudência hoje
consolidada do Superior Tribunal de Justiça, comente a verossimilhança, os
fundamentos e a adequação técnica de cada uma das alegações apresentadas
pelo Advogado para, afinal, justificadamente, dispor sua decisão final, na
condição de Oficial de Justiça, sobre o pedido formulado pelo causídico. Não
acresça novos dados factuais não contemplados na questão.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

A alegação do advogado fundamenta-se no entendimento das turmas


criminais do STJ no sentido de que a execução forçada da pena de multa, em
infrações comuns, cabe ao Juízo competente para a execução fiscal, sendo da
Fazenda Pública, e não do Ministério Público, a legitimidade ativa para tal
intento. Referida visão encontra guarida na Súmula nº 521 do STJ.

Contudo, o STJ vem se mostrando refratário à admissão do habeas corpus


em substituição ao recurso processual próprio. No caso, inversamente ao recurso
especial, alega o advogado ter sido bem sucedido em habeas corpus diretamente,
o que, à vista do entendimento reiterado STJ, colide com o que a referida Corte
vem ordinariamente sedimentando. Aduza-se que o STF trilha o mesmo
entendimento.

Consoante a Súmula nº 693 do STF e o entendimento do STJ, a


jurisprudência ressalta o não cabimento de habeas corpus para o debate
exclusivo da multa penal, já que nele não se expõe a liberdade de locomoção do
paciente em perigo.

Por fim, o STJ pacificou o entendimento de que, com a remessa da


execução da multa ao juízo fiscal, e não havendo outra pena a ser executada,
tem-se a extinção imediata do processo de execução penal, independentemente

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da extinção da multa. Logo, não estaria alinhada a esse entendimento a


concessão da ordem para que o processo de execução penal, no caso, aguardasse
suspenso a solução do débito.

Ademais, além da inverossimilhança da alegação do advogado, a mera


avaliação sequer acresce qualquer gravame ao sentenciado, sendo que a decisão
final do oficial de justiça deve ser a de dar cumprimento à diligência de avaliação
constante do mandado judicial que tem em mãos.

JURISPRUDÊNCIA RELACIONADA:

HABEAS CORPUS – JULGAMENTO POR TRIBUNAL SUPERIOR – IMPUGNAÇÃO. A


teor do disposto no artigo 102, inciso II, alínea “a”, da Constituição Federal,
contra decisão, proferida em processo revelador de habeas corpus, a implicar a
não concessão da ordem, cabível é o recurso ordinário. Evolução quanto à
admissibilidade do substitutivo do habeas corpus. PROCESSO-CRIME –
DILIGÊNCIAS – INADEQUAÇÃO. Uma vez inexistente base para o implemento de
diligências, cumpre ao Juízo, na condução do processo, indeferi-las. (STF - HC:
109956 PR, Relator: Min. MARCO AURÉLIO, Data de Julgamento: 07/08/2012,
Primeira Turma, Data de Publicação: DJe-178 DIVULG 10-09-2012 PUBLIC 11- 09-
2012)

Súmula 693 do STF - Não cabe habeas corpus contra decisão condenatória a pena
de multa, ou relativo a processo em curso por infração penal a que a pena
pecuniária seja a única cominada.

Súmula 521 do STJ - A legitimidade para a execução fiscal de multa pendente de


pagamento imposta em sentença condenatória é exclusiva da Procuradoria da
Fazenda Pública.

Execução penal. Agravo regimental no habeas corpus. Crimes financeiros –arts.


4º e 22 da Lei n. 7.492/86. Pena privativa de liberdade cumulada com pena de
multa. Indulto da primeira e inscrição da segunda na dívida ativa da União. Juízo
da execução penal incompetente para analisar o pedido de indulto da multa.
Competência da autoridade Fiscal. Impetração de HHCC no TJ/SP e no STJ. Não
conhecimento. Ausência de ameaça ao direito de locomoção. Objeto único da
tutela em HC (CF, art. 5º, inc. LXVIII). Impossibilidade da reconversão da multa
em pena privativa de liberdade. Fundamento não atacado. Insistência nos temas
de fundo (competência do Juízo da Execução Penal e prescrição da pena de
multa). Art. 51 do Código Penal: Pena multa convertida em dívida de valor.
Regência pela legislação atinente à Fazenda Pública. Dupla supressão de
instância. Inviabilidade do writ. 1. O habeas corpus é cabível “sempre que alguém
sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de
locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder” (CF, art. 5º, inc. LXIX), por isso
não tem cabimento quando não estiver em jogo o objeto específico de sua tutela.
2. In casu, o paciente foi condenado à pena privativa de liberdade, cumulada com
pena de multa, pela prática dos crimes descritos nos arts. 4º e 22, da Lei n.
7.492/86, e, após o trânsito em julgado da sentença,

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foi iniciada a execução da pena privativa de liberdade, sendo a pena de multa


convertida em dívida de valor e encaminhada à Fazenda Pública para execução,
ex vi do art. 51 do Código Penal. Posteriormente beneficiado com o indulto da
pena privativa de liberdade, o paciente requereu o indulto da pena de multa,
tendo o Juízo da Execução Penal se declarado incompetente para julgar o feito
em face da conversão daquela em dívida de valor, ante o deslocamento da
competência para a autoridade fiscal. 2.1. Daí a impetração sucessiva de habeas
corpus no TJ/SP e STJ sustentando a competência do Juízo da Execução Penal,
fundada em que a conversão da pena de multa em dívida de valor não lhe retira
a natureza penal; inovando, ademais, com a ocorrência da prescrição.
2.2. Ambos os Tribunais não conheceram das impetrações, sob o fundamento da
inexistência de ameaça atual ou iminente ao status libertatis em decorrência de
abuso de poder ou ilegalidade, sendo certo que o inadimplemento da pena de
multa convertida em dívida ativa não resultará em cerceio da liberdade; aliás, em
consonância com o entendimento firmado pelo Pleno desta Corte no HC (AgR) n.
82.880/SP, Pleno, DJ de 16/05/2003, verbis: “CON“TITUCIONáL. PROCESSUAL
PENAL. HABEAS CORPUS: CABIMENTO. C.F., art. 5º, LXVIII. I. - O habeas corpus
visa a proteger a liberdade de locomoção – liberdade de ir, vir e ficar – por
ilegalidade ou abuso de poder, não podendo ser utilizado para proteção de
direitos outros. C.F., art. 5º LXVIII. II. - H.C. Indeferido, liminarmente. ágravo não
provido”, valendo conferir ainda o recente julgado da 2ª Turma desta Corte no
HC n. 105.903, Rel. Min. Rosa Weber, no qual, em situação que se assemelha à
do caso sub examine, assentou que “Tratando-se de condenação criminal
somente à pena de multa e não sendo ela passível de conversão em prisão, não
se encontra em risco a liberdade de locomoção do paciente, não sendo, por este
motivo e conforme consubstanciado na Súmula 693 deste Supremo Tribunal
Federal, cabível o habeas corpus, instrumento destinado à garantia da liberdade
de locomoção”. 3. á insistência no conhecimento de questões sobre as quais as
instâncias antecedentes não se manifestaram encontra resistência na pacífica
jurisprudência desta Corte, no sentido de repudiar o conhecimento, per saltum,
de habeas corpus, sendo certo que, in casu, há dupla supressão de instância. 4.
Não obstante a higidez do fundamento do ato impugnado, e apenas ad
argumentandum tantum, é consensual que a pena de multa pode ser alcançada
pela prescrição da pretensão punitiva, nos termos do art. 114, I e II, do Código
Penal, tanto a pena cominada in abstracto quanto a concretamente fixada na
sentença ainda não transitada em julgado, ao passo que a prescrição da
pretensão executória da pena de multa, vale dizer, da pena resultante de
sentença transitada em julgado, há de ser questionada junto à autoridade fiscal
à luz do Código Tributário Nacional, por expressa disposição do art. 51 do Código
Penal. 5. Ainda a título argumentativo, não há falar em competência do Juízo da
Execução Penal para decidir a respeito da pena de multa convertida em dívida de
valor. Destarte, independentemente da origem penal da sanção, a multa restou
convolada em obrigação de natureza fiscal e, por essa razão, a competência para
passou a ser da autoridade fiscal, por força da Lei n. 9.268/96, que deu nova
redação ao art. 51 do Código Penal. 6. Agravo

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regimental desprovido.(STF - HC: 115405 SP, Relator: Min. LUIZ FUX, Data de
Julgamento: 13/11/2012,Primeira Turma, Data de Publicação: DJe-246 DIVULG
14-12-2012 PUBLIC 17-12-2012)

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: Parte Geral. 18ª. ed. Saraiva. 2016.

ANALISTA DO MP - MPE/RS – 2014 – BANCA PRÓPRIA

Disserte sobre as diversas implicações decorrentes da fuga de detento do regime


semiaberto, levando em conta os procedimentos e consequências atuais e
futuros na vida do detento.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Nos termos do art. 50, II, da lei de execução penal, comete falta grave o
condenado à pena privativa de liberdade que fugir, independentemente do
regime que lhe fora imposto, sendo o fato apurado por meio de procedimento
administrativo presidido pela autoridade administrativa que, regra geral, é o
diretor do presídio. Poderá, ainda, o diretor do presídio, nos termos do art. 54 da
LEP, aplicar as sanções previstas no art. 53, I a IV, que vão da advertência ao
isolamento, não podendo aplicar a sanção de inclusão do preso em regime
disciplinar diferenciado, ato este que atende a clausula de reserva jurisdicional,
sendo sempre assegurada a ampla defesa.

A prática de falta definida como grave ou de crime doloso durante a


execução da pena, nos termos do art. 118 da LEP, acarreta a regressão de regime
prisional, devendo, para tanto, ser o condenado ouvido previamente pelo juízo
em audiência de justificação, assegurando, novamente, o contraditório e a ampla
defesa, já que a ele poderá ser imposto regime mais grave ao que está
cumprindo, no caso, o regime fechado. De ressaltar que somente o magistrado
poderá determinar a regressão do regime, podendo, também, manter o
condenado no regime em que se encontra, homologando a sanção imposta pelo
diretor do presídio.

Outro desdobramento da fuga do preso ocorre com relação à alteração


da data base para a concessão de novos benefícios, prazo este que será
computado a partir da data de sua recaptura. No entanto, alguns benefícios
poderão ser concedidos ainda que diante do cometimento de falta grave (fuga),
tais como o livramento condicional (Súmula 441 do STJ) e comutação de pena ou
indulto (Súmula 535 do STJ).

Quanto à perda dos dias remidos, efeito relacionado à prática de falta


grave, não mais haverá sua perda total, podendo o magistrado revogar até 1/3
do tempo (art. 127 da LEP – alterado pela Lei nº 12.433/11). No tocante ao
benefício da saída temporária, em caso de punição por falta grave, estabelece a

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LEP que será o benefício automaticamente revogado, podendo o condenado


recuperar tal direito se absolvido no processo penal (no caso da prática de crime
doloso), ou caso haja o cancelamento da punição disciplinar ou demonstração de
merecimento.

Em se tratando do tema “prescrição”, nos termos do art. 113 do Código


Penal, o cômputo será regulado pelo tempo que restar da pena do condenado
fugitivo, sendo o prazo interrompido no dia de sua recaptura.

Por fim, de todas as decisões preferidas pelo juiz em sede de execução


penal, caberá agravo em execução sem efeito suspensivo (art. 197 da LEP), exceto
no caso de desinternação ou liberação de pessoa sujeita à medida de segurança,
aplicando-se, quanto ao rito, as disposições do recurso em sentido estrito.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

NUCCI, Guilherme de Souza. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. 8ª


edição. Volume 2. Rio de Janeiro. Forense 2014.

JURISPRUDÊNCIA RELACIONADA:

EXECUÇÃO PENAL. HABEAS CORPUS. FUGA DO APENADO. FALTA


GRAVE.CONCESSÃO DE BENEFÍCIOS PRISIONAIS. INTERRUPÇÃO DO
PRAZO.LEGALIDADE. RESSALVA DO LIVRAMENTO CONDICIONAL, INDULTO E
COMUTAÇÃODE PENA. DATA-BASE. DIA DA RECAPTURA. PROGRESSÃO DE
REGIMEPRISIONAL. 1/6 DA PENA NO REGIME ANTERIOR. REQUISITO OBJETIVO
NÃOPREENCHIDO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. ORDEM
DENEGADA.I. No julgamento do EREsp 1.176.486/SP, a Eg. Terceira Seção desta
Corte, em sessão realizada em 28 de março próximo passado, uniformizou
entendimento no sentido de que a prática de falta disciplinar de natureza grave
interrompe a contagem do lapso temporal para a concessão de benefícios que
dependam de lapso de tempo no desconto de pena, salvo o livramento
condicional e a comutação de pena. II. A data-base para a contagem do novo
período aquisitivo – nos casos de fuga do estabelecimento prisional - por se tratar
de infração disciplinar de natureza permanente, é o dia da recaptura do preso
evadido, consoante a disciplina do art. 111, inciso III, do Código Penal. III.
Apenado que registrava histórico carcerário conturbado, apresentando
regressões e reincidência delitiva quando usufruía do benefício da liberdade
condicional e, além de ter o seu regime prisional regredido em face de uma fuga
cometida, quando teria ficado foragido quase dois meses. IV. Hipótese em que
não se vislumbra o apontado constrangimento ilegal, pois à época do julgamento
do Agravo em Execução n.º 70035353531 (28.04.2010) ainda não havia
transcorrido 01 ano e 04meses - um sexto da pena no regime anterior -, contados
da recapturado apenado, no dia 07.04.2009, não preenchendo ele qualquer dos
requisitos legais - objetivo ou subjetivo - para que lhe fosse deferido o benefício
almejado. V. Ordem denegada. (STJ - HC: 172059 RS

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2010/0084380-7, Relator: Ministro GILSON DIPP, Data de Julgamento:


03/05/2012, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 10/05/2012)

EXECUÇÃO PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO.


INADEQUAÇÃO. FALTA GRAVE. ALTERAÇÃO DA DATA-BASE PARA NOVOS
BENEFÍCIOS. SÚMULAS 535 E 534 DESTA CORTE. RECURSO REPETITIVO (RESP N.
1.364.192/RS). AUSÊNCIA DE MANIFESTA ILEGALIDADE. ORDEM NÃO
CONHECIDA. 1. Esta Corte e o Supremo Tribunal Federal pacificaram orientação
no sentido de que não cabe habeas corpus substitutivo do recurso legalmente
previsto para a hipótese, impondo-se o não conhecimento da impetração, salvo
quando constatada a existência de flagrante ilegalidade no ato judicial
impugnado. 2. A prática de falta grave pelo sentenciado, no curso da execução
da pena, altera a data-base para a concessão de novos benefícios, exceto para
fins de livramento condicional, indulto e comutação da pena. Entendimento
consolidado nas Súmulas 441, 535 e 534 desta Corte e no recurso repetitivo, Resp
n. 1.364.192/RS. 3. Habeas corpus não conhecido. (STJ - HC: 332925 RS
2015/0197913-7, Relator: Ministro RIBEIRO DANTAS, Data de Julgamento:
26/04/2016, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 03/05/2016)

GABARITO DA BANCA EXAMINADORA:

- Gabarito: a) Instauração de Procedimento Disciplinar: Autoridade para


instauração do PAD e aplicação de medidas/sanções (1,0 ponto) b) Audiência de
Justificação – cautelas legais: contraditório/ampla defesa, homologação (1,0
ponto) c) Configuração da falta grave – aplicação de penalidade através de
pronunciamento judicial/reserva de jurisdição (1,0 ponto) d) Regressão de
Regime – reclassificação do regime (fechado) - (1,0 ponto) e) Alteração da data
base para os novos benefícios, contando o prazo a partir da recaptura (1,5
pontos) f) Perda de até 1/3 dos dias remidos (1,5 pontos) g) Interferência na
concessão de benefícios: mudança de regime; indulto/comutação de pena; saídas
temporárias. (1,0 ponto) h) Preservação da contagem temporal para obtenção
do benefício do livramento condicional (0,5 ponto) i) Interrupção do prazo da
prescrição da pretensão executória/Recontagem (1,0 ponto) j) Viabilidade
Recursal: Agravo (0,50 ponto)

DEFENSOR PÚBLICO – DPE/AL – 2018 – CESPE

O diretor de determinada penitenciária de um estado editou ato administrativo


vedando, por tempo indeterminado, visitas íntimas aos presos, sob a alegação
de que, durante os encontros, estavam sendo repassadas informações para o
auxílio da prática de delitos, entre outros, contra os agentes e servidores da
penitenciária. Argumentou ou, assim, que os encontros estavam colocando em
risco a vida e a integridade dos servidores, além de subverterem a ordem e a
disciplina no estabelecimento prisional. Ficaram suspensos os contatos pessoais
e diretos entre os presos e seus visitantes, salvo por meio do parlatório, até a
apuração final dos fatos e a indicação dos responsáveis pelo repasse ilícito de

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informações. A Defensoria Pública e os demais órgãos de execução foram


comunicados do aludido ato. Considerando os princípios relativos à execução
penal, redija um texto dissertativo a respeito da situação hipotética apresentada,
respondendo, de modo fundamentado, aos seguintes questionamentos: 1. A
visita íntima a preso encontra lastro expresso na LEP? 2. O diretor do
estabelecimento prisional está autorizado pela LEP a suspender visitas? 3. A LEP
admite punições de natureza coletiva? 4. Que instrumento(s) jurídico(s)
previsto(s) na LEP poderá (ão) ser empregado(s) pela Defensoria Pública para
garantir os interesses dos custodiados?

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

A LEP não cuida de forma expressa da visita íntima do preso, ela apresenta
dispositivo em relação às visitas no rol geral de direitos do preso. Art. 41 –
Constituem direitos do preso: (...) X – visita do cônjuge, da companheira, de
parentes e amigos em dias determinados. A regulamentação do tema vem em
dispositivos infralegais de natureza regulamentar que disciplinam o ingresso de
visitantes no sistema penitenciário.

Vale ressaltar que a questão trata de preso e penitenciária, e não exige


conhecimento da previsão contida na internação pela prática de atos infracionais
em que o direito à visita íntima encontra previsão legal no Brasil, desde 2012,
com a Lei n.º 12.594/2012, que regula o Sistema Nacional de Atendimento
Socioeducativo, de aplicação obrigatória na execução das medidas
socioeducativas de internação.

A LEP autoriza de forma expressa o diretor do estabelecimento a


suspender visitas, nos termos seguintes: Art. 41 – Constituem direitos do preso:
(...) X – visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias
determinados; (...) Parágrafo único.

Os direitos previstos nos incisos V, X e XV poderão ser suspensos ou


restringidos mediante ato motivado do diretor do estabelecimento. A Lei de
Execução Penal prevê o direito de visitas do preso, cuja suspensão, em casos
excepcionais e fundamentadamente, não poderá ultrapassar trinta dias: Art. 58
– O isolamento, a suspensão e a restrição de direitos não poderão exceder a trinta
dias, ressalvada a hipótese do regime disciplinar diferenciado.

A LEP veda de forma expressa as punições de natureza coletiva: Art. 45 –


Não haverá falta nem sanção disciplinar sem expressa e anterior previsão legal
ou regulamentar. (...) § 3.º São vedadas as sanções coletivas. Assim, a suspensão
da visita tem natureza de sanção disciplinar na forma do art. 53: “Constituem
sanções disciplinares: (...) III – suspensão ou restrição de direitos (art. 41,
parágrafo único).” ás punições devem ser individualizadas, em obediência ao
princípio constitucional da individualização da pena (art. 5.º, incisos: XLVI –
individualização da pena; XLVII – vedação a penas cruéis; e XLIX – respeito à
integridade física e moral do preso).

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Admite-se ao caso, nos termos da LEP, apenas o incidente de excesso ou


desvio de execução: “árt. 81-B – Incumbe, ainda, à Defensoria Pública: I –
requerer: (...) f – a instauração dos incidentes de excesso ou desvio de execução”.

No caso, não se admite: agravo em execução, nos termos da LEP: “árt.


197 – Das decisões proferidas pelo juiz caberá recurso de agravo, sem efeito
suspensivo”; mandado de segurança coletivo; habeas corpus coletivo; ação civil
pública – anulação de ato administrativo (ação anulatória).

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IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL

PAPILOSCOPISTA DA POLÍCIA FEDERAL – 2012 - CESPE

Um homem investigado por usar carteira de identidade com a foto de um ator


norte-americano foi indiciado por estelionato e uso de documento falso. No
documento apreendido pela polícia, além da foto, constava também o nome do
ator; a assinatura do titular, no entanto, era do próprio infrator. De acordo com
o delegado responsável pelo caso, o homem, que, pelos crimes cometidos,
poderá ser condenado a até dezoito anos de prisão, tinha outras cinco
identidades falsas. Duas, entre elas a que continha a foto do ator, foram
utilizadas para a abertura de uma empresa fictícia e, com ela, uma conta
bancária. O indiciado, ainda segundo o delegado, utilizava o limite dos cheques
e dos cartões de crédito para aplicar golpes. Internet: <g1.globo.com> (com
adaptações). Com base nas informações do texto acima e no disposto na Lei n.º
12.037/2009, e supondo que, futuramente, o indiciado venha a ser preso por
crime de furto e apresente à autoridade policial, para fins de identificação civil,
apenas a carteira de trabalho original, disserte acerca de IDENTIFICAÇÃO CIVIL E
CRIMINAL. Em seu texto, aborde, necessariamente, os seguintes aspectos: 1-
documentos que podem atestar a identificação civil; 1- hipóteses em que pode
ocorrer a identificação criminal do civilmente identificado e possibilidade de o
homem citado no texto ser identificado criminalmente; 3- processos de
identificação criminal e providências a serem tomadas pela autoridade
encarregada da identificação do preso.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

O artigo 5º, LVIII, da CRFB estatui que o civilmente identificado não será
submetido à identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei. Para
regulamentar o referido dispositivo, adveio a Lei nº 12.037/09.

Essa norma traz um rol de documentos que podem atestar a identificação


civil das pessoas: carteira de identidade, de trabalho, de identificação funcional
ou profissional; passaporte ou outro documento público que permita a
identificação do indiciado, tais como a carteira nacional de habilitação. Para os
fins da aludida lei, equiparam-se aos documentos de identificação civis os
documentos de identificação militares.

Por sua vez, a lei em análise apresenta as hipóteses em que, embora


apresentado documento de identificação, poderá ocorrer a identificação
criminal: houver rasura ou indício de falsificação documental; o documento
apresentado for insuficiente para identificar cabalmente o indiciado; o indiciado
portar documentos de identidade distintos e com informações conflitantes entre
si; a identificação criminal for essencial às investigações policiais (segundo
despacho da autoridade judiciária competente, que decidirá de ofício ou
mediante representação da autoridade policial, do Ministério Público ou da
defesa); constar de registros policiais o uso de outros nomes ou diferentes
qualificações; o estado de conservação ou a distância temporal ou da localidade

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da expedição do documento apresentado impossibilitar a completa


identificação dos caracteres essenciais.

De qualquer modo, as cópias dos documentos apresentados deverão ser


juntadas aos autos do inquérito, ou outra forma de investigação, ainda que
consideradas insuficientes para identificar o indiciado. No caso apresentado,
seria plenamente possível proceder à identificação criminal do investigado, um a
vez que o documento apresentado possuía indícios de falsificação. Além disso,
também portava diversas identidades com informações conflitantes entre si.

A identificação criminal ocorrerá por meio do processo datiloscópico e


fotográfico, com a juntada aos autos da comunicação da prisão em flagrante, do
inquérito policial ou outra forma de investigação. Também poderá incluir a coleta
de material biológico para a obtenção do perfil genético. Por fim, quando houver
necessidade de identificação criminal, a autoridade encarregada tomará as
providências necessárias para evitar o constrangimento do identificado.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal – volume único. 2ª


edição. Salvador: Juspodivm, 2014, p. 136-ss.

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INVESTIGAÇÃO POLICIAL

POLICIAL CIVIL - PCSP – 2010 - ACADEPOL

Discorra sobre a investigação policial e os direitos humanos: princípios


constitucionais aplicáveis; medidas restritivas de liberdade; e a ação do policial
civil em face da garantia de defesa da vida privada.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Os tipos penais objetivam proteger os diversos direitos fundamentais


previstos na CRFB. Considerando que a autoridade policial, centrada na figura do
delegado de polícia e seus agentes policiais civis, é quem comanda, no sistema
processual brasileiro, as investigações preliminares que visam à apuração da
ocorrência destes tipos penais, ele deve atuar como o garantidor dos direitos do
investigado durante essa frase pré-processual, sempre com vistas ao princípio da
dignidade da pessoa humana.

O STF, por exemplo, entende que a unilateralidade das investigações


preliminares não confere ao Estado o poder de agir arbitrariamente em relação
ao indiciado e às testemunhas. Assim, não pode negar, de forma abusiva, alguns
direitos e certas garantias (vedação da auto-incriminação, por exemplo), já que
derivam diretamente do texto constitucional ou de preceitos inscritos em
diplomas legais. Importante aduzir que o indiciado é sujeito de direitos e dispõe
de garantias, sendo que a inobservância pelos agentes do Estado, além de
eventualmente induzir-lhes a responsabilidade penal por abuso de poder, pode
gerar a desvalia das provas ilicitamente obtidas no curso de uma investigação
policial.

Deste modo, as investigações levadas a efeito pela Polícia Civil não podem
mais ser vistas como instrumento a ser utilizado apenas para a condenação do
suspeito. Pelo contrário, a autoridade policial deve atuar de maneira imparcial,
buscando elementos que possam auxiliar na defesa e na acusação, sempre com
o fito de que a apuração pré-processual chegue o mais próximo possível da
verdade dos fatos, garantindo-se os direitos de todos os envolvidos na
investigação.

JURISPRUDÊNCIA RELACIONADA:

“[...] a unilateralidade desse procedimento investigatório não confere ao Estado


o poder de agir arbitrariamente em relação ao indiciado e às testemunhas,
negando-lhes, abusivamente, determinados direitos e certas garantias – como a
prerrogativa contra a auto-incriminação – que derivam do texto constitucional
ou de preceitos inscritos em diplomas legais: (...) O indiciado é sujeito de direitos
e dispõe de garantias, legais e constitucionais, cuja inobservância, pelos agentes
do Estado, além de eventualmente induzir- lhes a responsabilidade penal por
abuso de poder, pode gerar a absoluta

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desvalia das provas ilicitamente obtidas no curso da investigação policial”.“TF,


ED. Caut. MS 25.617-6/DF, rel. Min. Celso de Mello.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

SANNINI NETO, Francisco. Inquérito Policial e Prisões Provisórias – Teoria e


Prática de Polícia Judiciária. São Paulo: Ideias & Letras, 2014;

DOMINGOS, Rafael Faria. Delegado de polícia e aplicabilidade do princípio da


insignificância na fase pré-processual. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862,
Teresina, ano 22, n. 4947, 16 jan. 2017. Disponível em:
<https://jus.com.br/artigos/55049>. Acesso em: 16 abr. 2017.

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INQUÉRITO POLICIAL

POLICIAL CIVIL - PCGO - CESPE - 2016

João foi indiciado em inquérito policial (IP), e, no curso deste, o juiz competente,
de ofício, decretou a prisão temporária do dito indiciado. Para defender seus
interesses, João constituiu um advogado que, na primeira oportunidade,
requereu ao delegado de polícia responsável acesso a todos os elementos de
prova no curso do IP, para permitir a ampla defesa de seu cliente, de modo a se
garantir, assim, o devido processo legal. Acerca da situação hipotética acima
apresentada e do IP, redija um texto dissertativo que atenda, de modo
fundamentado, às determinações e aos questionamentos seguintes: 1-
Apresente o conceito e a finalidade do IP. [valor: 2,00 pontos] 2- Descreva as
características do IP. [valor: 4,00 pontos] 3- Comente sobre o valor probatório do
IP. [valor: 2,00 pontos] 4- A instauração de IP é indispensável? [valor: 2,00
pontos] 5- Na situação considerada, a prisão temporária de João, nos moldes em
que foi decretada — de ofício — foi legal? [valor: 4,00 pontos] 6- Na situação
considerada, há fundamento legal para o direito de acesso do defensor de João
aos elementos de prova no curso do IP? Em sua resposta, destaque o
entendimento do Supremo Tribunal Federal a respeito. [valor: 5,00 pontos] (30
LINHAS)

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Acerca do conceito e da finalidade do inquérito policial, entende-se que


ele é o conjunto de diligências realizadas pela polícia judiciária para a apuração
de uma infração penal e de sua autoria, a fim de que o titular da ação penal possa
ingressar em juízo.

Como características, o inquérito policial é um procedimento escrito,


sigiloso e inquisitivo, marcado pela oficialidade, oficiosidade, autoritariedade e
indisponibilidade. Outras características que podem ser apontadas são sua
discricionariedade e temporariedade.

No que tange ao valor probatório, ele tem conteúdo informativo e


relativo, pois seus elementos não foram colhidos com observância ao
contraditório e à ampla defesa. O CPP destaca que o juiz formará sua convicção
pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo
fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos
na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.

Em relação à indispensabilidade do inquérito policial, entende-se que ele


não é fase obrigatória da persecução penal, isto é, pode ser dispensado se já
existirem informações suficientes sobre o fato e a autoria delitiva.

Sobre a prisão temporária de ofício, o juiz não pode decretá-la, pois ela
dependerá de representação da autoridade policial ou de requerimento do
Ministério Público, conforme art. 2º da Lei nº 7.960/89.

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Acerca do direito de acesso aos elementos de prova do inquérito policial,


o STF entende que o defensor tem direito de acessar os elementos de prova já
documentados e que digam respeito ao exercício do direito de defesa. Referida
noção foi cristalizada na Súmula Vinculante nº 14. Aduza-se que o direito de
acesso refere-se aos elementos de prova já documentados, de modo que
diligências em andamento, sob pena de frustrar a própria existência, não devem
ser disponibilizadas.

Por fim, importante ressaltar recente mudança legislativa no Estatuto da


OAB, que expressamente determinou ser direito do advogado examinar, em
qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem
procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos
ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e
tomar apontamentos, em meio físico ou digital.

As mudanças na Lei da OAB, de forma a se coadunar com a Súmula


Vinculante nº 14, mencionam que a autoridade competente poderá delimitar o
acesso do advogado aos elementos de prova relacionados a diligências em
andamento e ainda não documentados nos autos, quando houver risco de
comprometimento da eficiência, da eficácia ou da finalidade das diligências.

GABARITO DA BANCA EXAMINADORA:

1- Conceito e finalidade do inquérito policial (IP): é o conjunto de diligências


realizadas pela polícia judiciária para a apuração de uma infração penal e de sua
autoria, a fim de que o titular da ação penal possa ingressar em juízo. (art. 4.º do
CPP: “á polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de
suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e
da sua autoria”). O IP é, portanto, procedimento administrativo inquisitório e
preparatório que consiste no referido conjunto de diligências. A finalidade do IP
é a apuração de fato que configure infração penal e a respectiva autoria para
servir de base à ação penal ou às providências cautelares, ou seja, possibilitar que
o titular da ação penal possa ingressar em juízo. 2- Características do IP: o IP é
procedimento escrito, sigiloso e inquisitivo, marcado pela oficialidade,
oficiosidade, autoritariedade e indisponibilidade. Outras características que
podem ser apontadas são sua discricionariedade e temporariedade. 3- Valor
probatório do IP: o IP tem conteúdo informativo e valor probatório relativo, haja
vista que os elementos de informação não são colhidos sob a égide do
contraditório e da ampla defesa. (artigo 155 do CPP: “O juiz formará sua
convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não
podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos
colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e
antecipadas”). 4- Indispensabilidade do IP: o IP não é uma fase obrigatória da
persecução penal, podendo ser dispensado se já houver informações sobre o fato
e a autoria, indicando o tempo, o lugar e os elementos de convicção (artigo 12 do
CPP: “O inquérito policial acompanhará a denúncia ou queixa, sempre que servir
de base a uma ou outra; Art. 27.

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Qualquer pessoa do povo poderá provocar a iniciativa do Ministério Público, nos


casos em que caiba a ação pública, fornecendo-lhe, por escrito, informações
sobre o fato e a autoria e indicando o tempo, o lugar e os elementos de convicção;
artigo 46, § 1º, do CPP, “Quando o Ministério Público dispensar o inquérito
policial, o prazo para o oferecimento da denúncia contar-se-á da data em que
tiver recebido as peças de informações ou a representação”). 5- Possibilidade de
o juiz decretar de ofício a prisão temporária do indiciado: o juiz não pode decretar
de ofício a prisão temporária de indiciado, a qual dependerá de representação da
autoridade policial ou de requerimento do Ministério Público, conforme dispõe o
art. 2.º da Lei n.º 7.960/1989: “á prisão temporária será decretada pelo Juiz, em
face da representação da autoridade policial ou de requerimento do Ministério
Público, e terá o prazo de 5 (cinco) dias, prorrogável por igual período em caso de
extrema e comprovada necessidade.” 6- Se o defensor tem direito de acesso a
todos os procedimentos e elementos de prova do inquérito, destacando o
entendimento do Supremo Tribunal Federal a respeito: o defensor tem direito de
acesso aos elementos de prova já documentados e que digam respeito ao
exercício do direito de defesa, conforme o próprio entendimento sumulado do
Supremo Tribunal Federal. Súmula Vinculante 14 do STF: É direito do defensor, no
interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já
documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com
competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de
defesa, conforme interpretação do art. 5º, inciso LV, da CF. Obs. 1 - No item 2, a
Banca Examinadora poderá aceitar outras características do IP não descritas no
padrão de resposta, desde que a característica indicada pelo candidato tenha
aceitação na doutrina majoritária ou seja reconhecida pelos Tribunais Superiores.
Obs. 2 - No item 6, as disposições do art. 7° do Estatuto da OAB valerão como
argumentação do item, não sendo apenado o candidato que deixá-las de indicar.

DELEGADO DE POLÍCIA - PCSP -ACADEPOL - 2011

O inquérito policial pode ser instaurado somente com base em denúncia


anônima? Justifique.
SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Primeiramente, importante ressaltar que o inquérito policial é um


procedimento administrativo, predominantemente inquisitório, presidido pelo
Delegado de Polícia, consistente na reunião de um conjunto de diligências
preparatórias. Ele é realizado pela polícia judiciária, a fim de buscar a
identificação de elementos de informação e de fontes de prova quanto à autoria
e à materialidade do delito, para propiciar o ingresso da ação da penal em juízo
por parte do seu titular.

A CRFB, em seu artigo 5º, IV, garante a livre manifestação do


pensamento, mas veda, por outro lado, o anonimato. Por isso, não se faz

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possível a admissão de instauração do referido procedimento investigativo


pautado tão somente em uma denúncia anônima. Isso porque a movimentação
da máquina policial, com a respectiva inauguração do feito, a partir de fato
inexistente, pode dar ensejo à responsabilização do denunciante pelo crime de
denunciação caluniosa, tipificado no art. 339 do CP; e por eventuais danos morais
e materiais causados. Dessa forma, como alguém investigado/denunciado pode
se defender se não tem conhecimento acerca de quem veiculou a notícia do
crime? Tal posicionamento privilegia, portanto, a dignidade da pessoa humana.

Diante de uma denúncia anônima, o Delegado de Polícia deve proceder à


verificação da veracidade das informações transmitidas antes de instaurar o
respectivo inquérito policial, realizando, dessa forma, uma investigação
preliminar. Isso significa que, a partir de uma delação apócrifa, a autoridade
policial poderá executar determinadas diligências para apurar a verossimilhança
dos dados obtidos anonimamente e, só então, iniciar o citado procedimento.

Esse também é o entendimento firmado pelos Tribunais Superiores, os


quais dispõem, em diversas decisões, a ideia de que a instauração de qualquer
ato da persecução penal que tem como base a denúncia anônima enseja a
aplicação da chamada “teoria dos frutos da árvore envenenada”. Isso ocorre
porque todo e qualquer elemento de prova que for colhido posteriormente
restará contaminado.

Acrescentamos, ainda, que o questionamento de eventuais


procedimentos instaurados mediante uma notitia criminis inqualificada deverá
ser realizado pelas vias constitucionais da ação de habeas corpus ou de mandado
de segurança.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

-Coleção Sinopses para concursos. Processo penal, parte geral. Leonardo Barreto
Moreira Alves. Editora Juspodivm. 5ª edição, 2015

- Manual de Processo Penal. Renato Brasileiro de Lima. Editora Juspodivm. 3ª


edição, 2015

ANALISTA JUDICIÁRIO – STM – 2018 – CESPE

O comandante de determinado quartel instaurou inquérito policial militar para


apurar desvios de materiais na seção do almoxarifado. No curso do
procedimento, o encarregado indiciou um tenente, um sargento, um cabo e um
soldado, imputando-lhes a autoria dos fatos. No indiciamento, os quatro
constituíram o mesmo advogado para defendê-los, o qual, de imediato, solicitou
ao encarregado o acesso a todos os procedimentos realizados, tenham sido eles
documentados ou não, para possibilitar a ampla defesa e o

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contraditório. A respeito das informações descritas na situação hipotética acima


e com base no entendimento do Supremo Tribunal Federal e na legislação e
doutrina pertinentes, redija um texto dissertativo acerca do pedido do advogado.
Ao elaborar seu texto, aborde, necessariamente, os seguintes aspectos: 1 -
características do inquérito policial militar; [valor: 14,00 pontos] 2
- finalidade do inquérito policial militar e o cabimento de alegações de nulidades
nesse procedimento; [valor: 12,00 pontos] 3 - possibilidade de deferimento do
pedido do advogado. [valor: 12,00 pontos]
SUGESTÃO DE RESPOSTA:

O inquérito policial militar é um procedimento administrativo instrutório,


pois é uma peça de cunho administrativo, que busca esclarecer uma situação
conceituada como crime militar. Além disso, é um procedimento escrito, sendo
os atos praticados condensados em peças que compõem os autos do inquérito;
inquisitivo, não havendo o contraditório; sigiloso, podendo o encarregado
autorizar que o advogado constituído do indiciado tome conhecimento.

Entre suas características incluem-se, ainda, a oficialidade, pois ele é


conduzido necessariamente por órgãos oficiais com atribuição para o exercício
da polícia judiciária militar; oficiosidade, pois, desde sua instauração, o curso
procedimental independe de provocação; indisponibilidade, pois, uma vez
instaurado, o inquérito não pode ser arquivado.

Outra característica do inquérito é ser dispensável (prescindível), pois o


Código de Processo Penal Militar prevê esta possibilidade (art. 28).

Quanto à finalidade, o inquérito policial militar é a apuração sumária de


fato, que, nos termos legais, configure crime militar, e de sua autoria. Tem o
caráter de instrução provisória, cuja finalidade precípua é a de ministrar
elementos necessários à propositura da ação penal, nos termos do art. 9º do
Código Penal Militar.

Com relação à nulidade, não é cabível a sua alegação no inquérito policial


militar. Eventualmente, irregularidades encontradas, no máximo, podem
invalidar um ato específico.

Por fim, a Súmula Vinculante nº 14 dispõe que é direito do defensor, no


interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova já
documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com
competência de polícia judiciária que digam respeito ao exercício do direito de
defesa. Logo, o advogado tem direito de acesso ao que está documentado por se
relacionar ao direito de defesa, porém, não do que não foi documentado.

DEFENSOR PÚBLICO – DPE/AL - 2018 - CESPE

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Após receber denúncia anônima referente à prática do crime de tráfico de


drogas, a Polícia Civil de determinado estado decidiu realizar investigações
preliminares para confirmar a veracidade dos fatos narrados. Uma vez
confirmado que a denúncia anônima trazia os elementos mínimos de
credibilidade, instaurou-se o devido inquérito policial. Durante o inquérito, após
terem encontrado indícios concretos contra os investigados, os agentes policiais
interceptaram a correspondência dos investigados, apreendendo diversos
documentos, como faturas de cartão de crédito, cartas e envelopes.
Concomitantemente, após haverem obtido a devida autorização judicial para
realizar a quebra do sigilo da comunicação telefônica, os agentes realizaram a
gravação de conversas telefônicas das quais participavam os investigados. As
provas obtidas nas duas linhas de investigação serviram de base para o
indiciamento e o envio do inquérito policial ao Ministério Público para que este
oferecesse denúncia. Com base nas informações descritas na situação hipotética,
elabore um texto dissertativo abordando, de forma fundamentada:
1. A validade de investigação policial iniciada a partir de denúncia anônima,
conforme o entendimento do STF; 2. A validade dos procedimentos policiais
investigatórios bem como os direitos e as garantias fundamentais aplicáveis ao
caso; 3. A prerrogativa do Defensor Público de ter acesso a elementos de prova
produzidos no âmbito do inquérito policial, conforme o entendimento do STF.
SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Sabe-se que a atuação estatal, especialmente na esfera da investigação


criminal, deve-se pautar pelo devido processo legal. Segundo precedentes do STF,
nada impede a deflagração da investigação criminal em decorrência de
“denúncia anônima”, desde que haja a realização de diligências preliminares
para averiguar os fatos nela noticiados, de modo a confirmar a credibilidade da
denúncia.

Todavia, as notícias anônimas (“denúncias anônimas”) não autorizam,


por si sós, a propositura de ação penal ou mesmo, na fase de investigação
preliminar, o emprego de métodos invasivos de investigação, como interceptação
telefônica ou busca e apreensão, nos termos do entendimento do STF. Com base
em tais precedentes, pode-se afirmar que o procedimento descrito na situação
hipotética é válido, pois houve o cumprimento dos requisitos estabelecidos pelo
STF.

Relativamente à quebra do sigilo de correspondência, a conduta dos


policiais não observou as regras e os procedimentos estabelecidos pela CRFB e,
por isso, deve ser reputada como inconstitucional. A ação persecutória do Estado,
qualquer que seja o órgão, para revestir-se de legitimidade constitucional, não
pode ser realizada sem a observância do procedimento previsto pela CRFB, sob
pena de ofensa à garantia constitucional do devido processo legal.

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Como decorrência do devido processo legal, a CRFB estabelece que são


inadmissíveis as provas obtidas por meios ilícitos (art. 5º, LVI). De início, portanto,
é possível apontar essas duas garantias constitucionais. Quanto ao caso
específico, há, ainda, a incidência de dois direitos fundamentais: o sigilo de
correspondência e o sigilo da comunicação telefônica. De acordo com o art. 5º,
XII, da CRFB, é inviolável o sigilo da correspondência.

Correspondência significa toda mensagem verbal realizada pelos


instrumentos da comunicação escrita (cartas, missivas, postagens diversas, fax,
email, etc). Embora o sigilo epistolar não seja absoluto, apenas o juiz pode
ordenar a sua quebra. No âmbito do STF, há apenas um precedente que autoriza
a quebra administrativa no âmbito das penitenciárias, pelo diretor, em casos
excepcionais.

Portanto, a conduta dos policiais foi inconstitucional, pois a polícia não


pode, de forma unilateral, determinar a quebra do sigilo de correspondência, mas
apenas com autorização judicial, ou seja, a prova é ilícita.

Relativamente ao sigilo da comunicação telefônica, a interceptação


realizada pelos policiais atendeu aos requisitos constitucionais previstos no art.
5º, XII, da CRFB. Afinal, a gravação das conversas telefônicas ocorreu mediante
(i) prévia ordem judicial, (ii) nas hipóteses previstas em lei e (iii) para fins de
investigação criminal. Desse modo, a conduta dos policiais foi constitucional e a
prova é lícita.

Quanto à possibilidade de o defensor público ter acesso aos elementos de


prova produzidos no âmbito do inquérito policial, o STF entende pela
aplicabilidade do direito de ampla defesa, embora de forma condicionada. De
acordo com a Súmula Vinculante nº 14, é direito do defensor, no interesse do
representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados
em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia
judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.

Portanto, é possível o acesso, desde que as provas já tenham sido


juntadas ao inquérito.

ESTAGIÁRIO – DPU – 2014 – BANCA PRÓPRIA

Disserte sobre sistema acusatório, sistema inquisitivo e sistema misto. Qual


deles é o adotado pela Constituição Federal ?

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

No sistema inquisitivo é o juiz quem detém a reunião das funções de


acusar, julgar e defender o investigado – que se restringe a mero objeto do
processo. A ideia fundante deste sistema é: o julgador é o gestor das provas, i.e.,
o juiz é quem produz e conduz as provas. O sistema inquisidor possui as

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seguintes características: a) a reunião das funções: o juiz julga, acusa e defende;


b) a inexistência de partes – o réu é mero objeto do processo penal e não sujeito
de direitos; c) o caráter sigiloso do processo; d) a inexistência de garantias
constitucionais, pois se o investigado é objeto, não há que se falar em
contraditório, ampla defesa, devido processo legal etc.; e) a elevação da
confissão ao status de ‘rainha das provas’ (prova legal e tarifação das provas); e
f) a existência de presunção de culpa ‘O réu é culpado até que se prove o
contrário’.

O sistema acusatório é a antítese do sistema processual inquisitório, é o


adotado pela ordem constitucional brasileira estabelecida pela CRB/88, possui
como princípio unificador o fato de o gestor da prova ser pessoa/instituição
diversa do julgador. Há, pois, nítida separação entre as funções de acusar, julgar
e defender, o que não ocorria no sistema inquisitivo. Destarte, o juiz é imparcial
e somente julga, não produz provas e nem defende o réu.

Suas principais características são: a) as partes são as gestoras das


provas; b) há separação das funções de acusar, julgar e defender; c) o processo é
público, salvo exceções determinadas por lei; d) o réu é sujeito de direitos e não
mais objeto da investigação; e) ao acusado são garantidos o contraditório, a
ampla defesa, o devido processo legal, e demais princípios limitadores do poder
punitivo; f) presume-se a não culpabilidade (ou a inocência do réu); g) as provas
não são taxativas e não possuem valores preestabelecidos.

Por fim, o sistema processual misto contém as características de ambos


os sistemas supracitados. Possui duas fases: a primeira, inquisitória e a segunda,
acusatória. A primeira fase é a da investigação preliminar. Tem nítido caráter
inquisitório em que o procedimento é presidido pelo juiz, colhendo provas,
indícios e demais informações para que possa, posteriormente, embasar sua
acusação ao Juízo competente. Obedece as características do sistema inquisitivo,
em que o juiz é, portanto, o gestor das provas. A segunda fase é a judicial, ou
processual propriamente dita. Aqui, existe a figura do acusador (MP, particular),
diverso do julgador (somente o juiz). Trata-se de uma falsa segunda fase, posto
que, embora haja as demais características de um sistema acusatório, o princípio
unificador (idéia fundante) ainda reside no juiz como gestor da prova. Há uma
corrente doutrinária que diz que o sistema processual brasileiro é misto
(Tornaghi, Mougenot), aduzindo sua dupla fase: a) a fase investigatória, de
características inquisitórias, visto que é pré-processual; b) fase judicial, com
características acusatórias, iniciada após o recebimento da denúncia ou queixa.
A crítica a esta corrente cinge-se ao caráter administrativo (extraprocessual) da
investigação preliminar (inquérito policial, p. ex.).

A despeito de a Constituição haver adotado como modelo de processo


penal o Sistema Acusatório, permeado de garantias processuais e com distinção
entre as funções de acusar, julgar e defender, o Código de Processo Penal
Brasileiro ainda possui diversas previsões de caráter nitidamente inquisitorial, a
exemplo das três previsões listadas nos itens da questão. Isso porque as

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previsões constantes dos itens ‘b’ e ‘c’ dotam o magistrado, que segundo o
Sistema Acusatório deveria ser inerte e imparcial, de nítidos poderes instrutórios
e acautelatórios, sem depender de quaisquer provocações da acusação para
determinar a produção de uma prova e a prisão de determinado réu.

Por outro lado, a previsão constante do item ‘a’ traz para a fase
processual elementos de informação produzidos sem contraditório e ampla
defesa durante o inquérito, permitindo ao juiz que os aprecie e utilize para
formação de sua convicção, o que traz mais ênfase à doutrina que elenca o
Sistema Processual Penal efetivamente praticado no Brasil como Sistema Misto
e não Acusatório, não obstante a CRFB haja optado nitidamente por este último.
Em razão disso, a doutrina garantista critica estas previsões da legislação
infraconstitucional afirmando ainda sua incompatibilidade material com as
disposições constitucionais.

DELEGADO DE POLÍCIA - PCAP - 2010 – FGV

Instaurado inquérito policial nº 123/10, da Delegacia Especializada em


Entorpecentes, para apuração do crime de tráfico ilícito de entorpecentes, são
identificados e indiciados 3 suspeitos da prática do crime, os quais seriam
intermediários entre o traficante internacional que traz a droga proveniente do
exterior e os traficantes que vendem a droga diretamente aos usuários. Os
indiciados são José da Silva, João de Souza e Joaquim dos Santos. Com o avançar
das investigações, são inquiridas várias testemunhas, as quais temem por suas
vidas caso os indiciados tomem conhecimento dos seus depoimentos, bem como
reunidas provas da participação de José, João e Joaquim no crime. Autorizada a
interceptação telefônica por quinze dias (medida cautelar nº 456/10), são
coletadas provas suficientes para o oferecimento da denúncia, razão pela qual o
pedido de interceptação não é renovado, sendo os autos da medida cautelar
juntados aos autos do inquérito, elaborando o Delegado um relatório conclusivo
e encaminhando os autos à justiça, que os remete ao Ministério Público. O
promotor de justiça, contudo, requisita como diligência a oitiva dos investigados,
providência que não tinha sido tomada pelo delegado. Ao intimar o indiciado
João de Souza, comparece antes da data aprazada para realização da oitiva um
advogado com procuração com poderes específicos para defendê-lo nos autos
do inquérito policial nº 123/10, solicitando vista dos autos e obtenção de cópias.
Tendo em vista o disposto no art. 20 do CPP, pergunta-se: 1. Poderá o Delegado
de Polícia indeferir pedido de vista dos autos do inquérito, formulado por
advogado constituído pelo indiciado, alegando que a divulgação dos
depoimentos das testemunhas coloca suas vidas em risco? 2. Poderá o Delegado
de Polícia indeferir pedido de vista da cautelar apensada aos autos do inquérito,
alegando que o mandato outorgado está restrito aos autos do inquérito? 3.
Poderá o Delegado de Polícia restringir o acesso do advogado de João aos
documentos e conversas que se refiram exclusivamente a João? 4. Poderá o
Delegado de Polícia deixar de intimar João

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de Souza e devolver os autos à Justiça, requerendo ao juiz que indefira a


diligência do promotor por ser a mesma desnecessária? Fundamente as suas
respostas demonstrando conhecimento acerca dos institutos jurídicos aplicáveis
ao caso e indicando os dispositivos legais pertinentes.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Em relação ao item 1, o Delegado de Polícia não poderá negar vista dos


autos do inquérito para o advogado regularmente nomeado pelo investigado e
com poderes específicos para realizar a sua defesa. O Estatuto da OAB (Lei nº
8.906/94) assegura o direito de vista ao advogado, consoante art. 7º, XIV, da
referida norma, não só aos processos judiciais, mas também aos procedimentos
administrativos, como é o caso do inquérito policial.

Importante destacar que a Lei nº 13.245/16 garantiu aos advogados


examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo
sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza,
findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar
peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital.

A autoridade competente poderá impedir o acesso do advogado aos


elementos de prova relacionados a diligências em andamento e ainda não
documentados nos autos. Contudo, isso ocorrerá quando houver risco de
comprometimento da eficiência, da eficácia ou da finalidade das diligências.

Também são garantidos aos advogados assistir a seus clientes


investigados durante a apuração de infrações, sob pena de nulidade absoluta do
respectivo interrogatório ou depoimento e, subsequentemente, de todos os
elementos investigatórios e probatórios dele decorrentes ou derivados, direta ou
indiretamente, podendo, inclusive, no curso da respectiva apuração.

O inquérito policial tem como característica a sigilosidade (procedimento


sigiloso). Contudo, esse sigilo não se aplica às partes, ou seja, ao Juiz, ao
Ministério Púbico e ao advogado regularmente constituído pelo indiciado, ainda
que haja alegação de que o acesso aos depoimentos das testemunhas possa
causar algum risco pessoal a estas. Isso ocorre porque, mesmo no inquérito
policial, devem ser resguardados, em favor dos investigados, os princípios
constitucionais da dignidade da pessoa humana, da presunção de inocência e,
ainda que de forma mitigada, os princípios do contraditório e da ampla defesa.

Nos autos sujeitos a sigilo, deve o advogado apresentar procuração para


o exercício dos direitos dos seus clientes, nos termos da Lei nº 13.245/16, que
alterou o art. 7º da Lei nº 8.906/94.

Inclusive, entende-se que é cabível o manejo de mandado de segurança,


ao juiz de 1º grau, com fundamento no art. 5º, LIX, da CRFB c/c a Lei nº 12.016/09,
por se tratar de direito líquido e certo. Também é cabível reclamação perante o
Supremo Tribunal Federal por afronta à Súmula

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Vinculante, como determina o art. 103-A, § 3º, da CRFB, ou, ainda, manejo de
habeas corpus, por ensejar risco a liberdade de locomoção do indiciado caso o
Delegado indeferisse o pedido de vista.

Em relação ao item 2, não poderá haver negativa por parte do Delegado,


uma vez que a Súmula Vinculante nº 14 consagrou o entendimento de que o
advogado tem acesso amplo aos elementos de prova já documentados nos autos
do inquérito policial, ou seja, quando as diligências já estiverem encerradas.

Em relação ao item 3, o Delegado não pode restringir o acesso a algumas


informações constantes do inquérito policial, pois a acessibilidade do advogado
é ampla, sendo que o acesso ao inquérito abrange todos os seus anexos. Impedir
que o defensor acesse dados já formalmente incorporados ao procedimento
inquisitorial se revela incompatível com a pureza do princípio constitucional da
plenitude de defesa, mormente em matéria penal (embora trate-se de acesso a
informações contidas em inquérito policial, que não é propriamente um processo
penal, mas tão somente, um pré-processo). Como dito, isto ocorre mesmo que
implique desproteção da intimidade de um ou de outro investigado.

A inobservância aos direitos de acesso aos autos, bem como o


fornecimento incompleto de autos ou o fornecimento de autos em que houve a
retirada de peças já incluídas no caderno investigativo implicará
responsabilização criminal e funcional por abuso de autoridade do responsável
que impedir o acesso do advogado com o intuito de prejudicar o exercício da
defesa, sem prejuízo do direito subjetivo do advogado de requerer acesso aos
autos ao juiz competente.

Em relação ao item 4, em regra, segundo a doutrina majoritária, não pode


o delegado de polícia deixar de atender pedido de novas diligências feito pelo
membro do Ministério Público. Referido pedido decorre de imposição legal,
consoante art. 13, II do CPP, além do fato de o Ministério Público ser o titular da
ação penal.

É importante frisar que esta obrigação não representa uma hierarquia


entre Delegado e Promotor, visto que não há relação de subordinação entre eles.
Contudo, parcela da doutrina salienta que poderá o Delegado recusar,
fundamentadamente, ainda que após o relatório final, o pedido de diligências do
parquet quando este representar uma ordem manifestamente ilegal; for
desarrazoado ou meramente protelatório.

Como no caso em tela a requisição do MP mostra-se razoável, deverá o


Delegado de polícia cumprir a diligência pleiteada e ouvir o indiciado que, por sua
vez, tem o direito de ser previamente ouvido nos autos do Inquérito Policial como
exercício da autodefesa.

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PROCURADOR DO BANCO CENTRAL - CESPE - 2013

A Polícia Federal do Brasil investigou, em um único inquérito, organização


criminosa composta por várias pessoas físicas e jurídicas envolvidas na prática
reiterada de omissão de informação às autoridades fazendárias, de crimes de
lavagem de dinheiro, de crimes contra o sistema financeiro e de formação de
quadrilha, tudo, com a única finalidade de atrair para empresas de fachada e seus
respectivos sócios laranjas, com pouco ou nenhum patrimônio, os ônus fiscais da
cadeia produtiva, pois, com isso, as empresas da organização, que realmente
funcionavam (e congregavam os fatores de produção), bem como o patrimônio
dos verdadeiros controladores do esquema criminoso, ficariam ocultos e imunes
à tributação. Apurou-se, ainda, que, além de se dedicar à sonegação de tributos
federais por meio da criação das empresas de fachada compostas por sócios
laranjas, a organização falsificava documentos com a ajuda de servidores da
Receita Federal do Brasil. Apurou-se, por fim, que o Conselho de Controle de
Atividades Financeiras constatara movimentação financeira expressiva oriunda
de empresas que não possuiriam capacidade econômica para tanto. Concluídas
as investigações e ocorrido o indiciamento, e estando ainda pendente, na esfera
administrativa, o lançamento definitivo dos tributos objeto do inquérito, os
indiciados impetraram habeas corpus, com o propósito de obter o trancamento
do inquérito policial, sob o argumento de não existir justa causa para a sua
instauração. Os indiciados alegaram, ainda, ausência de condição objetiva de
punibilidade, dada a flagrante inexistência de crime material. Nessa situação
hipotética, é cabível o trancamento do inquérito policial no que se refere ao
crime de sonegação de tributos? Fundamente sua resposta no posicionamento
predominante do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal federal
acerca da matéria.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

É informado na questão que um único inquérito policial foi usado para


investigar uma série de crimes perpetrados por agentes públicos e particulares,
sendo que tais crimes não eram apenas os abarcados pelo disposto na Súmula
Vinculante nº 24. Referida Súmula informa que não se tipifica crime material
contra a ordem tributária, previsto no artigo 1º, I a IV, da Lei nº 8.137/90, antes
do lançamento definitivo do tributo.

O entendimento consagrado no STF é que se revela imperioso o


exaurimento da via administrativa, isto é, a constituição do crédito tributário
para permitir a persecução penal. Porém, no caso da questão, a investigação
policial apurou diversos outros crimes. Por conta disso, não é devido considerar
ilícita, a ponto de trancar o inquérito policial, a persecução policial para investigar
crimes tributários e outros delitos.

Somente após o exame mais detido das provas carreadas é que se poderá
verificar se os crimes previstos na Lei nº 8.137/90 eventualmente cometidos
podem ser enquadrados na hipótese de necessidade de constituição

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definitiva do crédito tributário. Logo, o entendimento jurisprudencial prevalente


é no sentido da inviabilidade de trancamento do inquérito policial para o delito
de sonegação e para os demais também.

JURISPRUDÊNCIA RELACIONADA:

Com efeito, revela-se juridicamente inviável a instauração de persecução penal,


mesmo na fase investigatória, enquanto não se concluir, perante órgão
competente da administração tributária, o procedimento fiscal tendente a
constituir, de modo definitivo, o crédito tributário. Enquanto tal não ocorrer,
como sucedeu neste caso, estar-se-á diante de comportamento desvestido de
tipicidade penal (RTJ 195/114), a evidenciar, portanto, a impossibilidade jurídica
de se adotar, validamente, contra o (suposto) devedor, qualquer ato de
persecução penal, seja na fase pré-processual (inquérito policial), seja na fase
processual ("persecutio criminis in judicio"), pois - como se sabe -
comportamentos atípicos (como na espécie) não justificam, por razões óbvias, a
utilização, pelo Estado, de medidas de repressão criminal." Rcl 10.644 MC,
Relator Ministro Celso de Mello, Decisão Monocrática, julgamento em 14.4.2011,
DJe de 19.4.2011.

"Da mesma forma, não merece prosperar a alegação de ilegitimidade da


persecução penal por ausência de constituição definitiva do crédito tributário.
De fato, a orientação jurisprudencial desta Corte é no sentido de que a
persecução criminal nas infrações contra a ordem tributária exige a prévia
constituição do crédito definitivo. (...) No caso, entretanto, a medida de busca e
apreensão decretada não se restringia à investigação de crimes tributários,
abarcando também infrações contra as relações de consumo e contra a ordem
econômica. (...) Portanto, não se podendo afastar de plano a hipótese de prática
de outros delitos não dependentes de processo administrativo - já que
demandaria o revolvimento de fatos e provas - não há falar em nulidade da
medida restritiva. É que, ainda que abstraídos os fatos objeto do adminis trativo
fiscal, o inquérito e a medida seriam juridicamente possíveis." HC 107.362,
Relator Ministro Teori Zavascki, Segunda Turma, julgamento em 10.2.2015, DJe
de 2.3.2015.
“(...) Não se podendo afastar de plano a hipótese de ocorrência de outros crimes
não dependentes de processo administrativo - em outras palavras, se a abertura
do inquérito não está fundada apenas na existência de indícios de delitos
tributários materiais - não há falar em falta de justa causa para a sua instauração.
(...)" HC 95.443, Voto do Ministro Cezar Peluso, Segunda Turma, julgamento em
2.2.2010, DJe de 19.2.2010.

GABARITO DA BANCA EXAMINADORA:

- Grade de correção da banca: 1- Apresentação (legibilidade, respeito às margens


e indicação de parágrafos) e estrutura textual (organização das ideias em texto
estruturado). – 2- Desenvolvimento do tema – 2.1 – Impossibilidade

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do trancamento do inquérito policial quanto ao crime de sonegação de tributos


e outros – Fundamentação com base no posicionamento do STJ e STF;

DELEGADO DE POLÍCIA – PCSP – 2018 – VUNESP

Qual o remédio jurídico cabível para trancar inquérito policial instaurado sem
justa causa para apurar responsabilidade penal de crimes ambientais.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

A Lei nº 9.605/98, ao disciplinar os crimes contra o meio ambiente, admite


a responsabilização penal de pessoas físicas e jurídicas, nos termos do seu artigo
3º, e em consonância, segundo posicionamento doutrinário e jurisprudencial
majoritários, com o artigo 225, § 3º, da Constituição Federal de 1988. Ainda a
título introdutório, importa destacar que o sistema da dupla imputação, segundo
o qual a pessoa jurídica somente pode ser acusada da prática de um crime
ambiental em conjunto com as pessoas físicas envolvidas com o fato, foi
rechaçado pela jurisprudência recente dos Tribunais superiores, de maneira que
é possível o exercício da persecução penal – em qualquer de suas fases –
exclusivamente em face da pessoa jurídica.

Diante desse contexto, pois, é que se pode vislumbrar o cabimento de dois


remédios jurídicos destinados ao trancamento de inquérito policial que tenha por
objeto a apuração da autoria de crime ambiental.

Havendo invocação de constrangimento ilegal na instauração de


inquérito policial em desfavor de pessoa física, admite-se a impetração de habeas
corpus, com fulcro no artigo 5º, LXVIII, da CRFB/88, e no artigo 647 do CPP, tendo
por justificativa a tutela da liberdade de locomoção. Em que pese o inquérito
policial não implique, pela mera existência, limitação ao direito de ir e vir,
reconhece-se que, com base em elementos de convicção angariados na fase
policial, o investigado possa ter a decretação de alguma prisão provisória ou
outra medida cautelar que limite o direito em questão, o que legitima,
excepcionalmente, o manejo do habeas corpus.

Em relação à pessoa jurídica, não se admite que figure na condição de


“paciente” da ação de habeas corpus, uma vez que a liberdade de locomoção é
própria de pessoas físicas. Ademais, as medidas cautelares ou mesmo as penas
passíveis de aplicação às pessoas jurídicas não lidam com qualquer aspecto
vinculado ao direito de ir e vir. Nesse cenário, não deixando de cogitar a hipótese
de a pessoa jurídica sofrer constrangimento ilegal pela mera instauração de
inquérito policial contra si, a jurisprudência passou a admitir a impetração de
remédio diverso, dotado de celeridade e eficiência semelhantes ao do habeas
corpus, qual seja, o mandado de segurança, com base no artigo 5º, LXIX, da
CRFB/88, e na Lei nº 12.016/09.

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Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br

Portanto, a depender da qualidade do investigado, visando ao


trancamento de inquérito policial sobre crime ambiental, caberá habeas corpus
e/ou mandado de segurança.

DELEGADO DE POLÍCIA – PCGO – 2018 – UFG

A atividade de investigação criminal é exclusiva da polícia? O STF se debruçou


algumas vezes sobre essa questão. Quais foram os fundamentos e as
condicionantes consideradas para o exercício do poder de investigação criminal
fora das delegacias de polícia?

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Após acirradas discussões doutrinárias e judiciais a respeito do poder


investigatório do Ministério Público, o STF decidiu que o parquet pode investigar,
desde que observados certos requisitos.

Corrente contrária sustenta que o Ministério Público não teria autorização


constitucional para tanto, como ocorre em relação à promoção de inquérito civil
(art. 129, III, da CRFB). Além disso, eventual investigação criminal pelo MP
afrontaria o art. 144, § 1º, I, e § 4º, da CRFB, que concede às polícias federais e
às polícias civis a missão de apurar a prática de infrações penais. Ademais, o
próprio Código de Processo Penal, ao disciplinar o inquérito policial, não deixaria
dúvidas de que a condução da investigação é operada pela autoridade policial.

Já a corrente que defende os poderes instrutórios do Ministério Público


aduz que estes decorreriam do próprio artigo 129 da CRFB, quando, no inciso VI,
estabelece que seus membros podem expedir notificações nos procedimentos
administrativos de sua competência, requisitando informações e documentos
para instruí-los, na forma da lei complementar respectiva. Além disso, a Lei
Complementar nº 75/1993 não limitaria a realização de investigação a fins não
criminais.

Quanto ao argumento contrário, invocador do artigo 144 da CRFB, os


defensores do poder investigatório do MP sustentam que a apuração de crimes
não se confunde com a função de polícia judiciária, sendo esta sim de exclusivo
exercício pelas polícias federais e civis. Por fim, sustentam a incidência da teoria
dos poderes implícitos, fazendo decorrer de sua função constitucionalmente
estabelecida de ajuizar ações penais públicas a atividade de angariar elementos
indispensáveis para o oferecimento de denúncia.

Conforme destacado, o posicionamento adotado pelo STF (intérprete da


Constituição) foi substancialmente definido no sentido de que os arts. 5º, LIV e
LV; 129, III e VIII, e 144, IV, § 4º, todos da CRFB, não tornam a investigação

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criminal exclusividade da polícia, nem afastam os poderes de investigação do


Ministério Público. Isso significa que o Ministério Público dispõe de competência
para promover, por autoridade própria, e por prazo razoável, investigações de
natureza penal, desde que respeitados os direitos e garantias que assistem a
qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação do Estado.

Ademais, devem ser observadas as hipóteses de reserva constitucional de


jurisdição e as prerrogativas profissionais dos advogados, sem prejuízo da
possibilidade do permanente controle jurisdicional dos atos, necessariamente
documentados.

Cumpre ressaltar que a Jurisprudência prossegue entendendo que o


inquérito policial é exclusivamente conduzido pelas autoridades policiais, o que
não impede o Ministério Público de instaurar e conduzir procedimentos
administrativos internos com idêntica finalidade – apuração da prática de
infrações penais.

DELEGADO DE POLÍCIA – PCRS – 2018 – FUNDATEC

Com base na doutrina e na ordem constitucional, convencional e legal


vigentes, discorra, fundamentadamente, sobre a cláusula de reserva de
jurisdição absoluta e a cláusula de reserva de jurisdição relativa, bem como
suas relações nas atribuições do Delegado de Polícia na condução da
investigação criminal.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Fala-se em “cláusula de reserva de jurisdição” quando a ordem jurídica


estabelece que determinados temas devem ser objeto de deliberação pelo Poder
Judiciário, não podendo ser tratados em outras esferas de poder. Ou seja, certos
assuntos estão reservados, normativamente, ao exercício jurisdicional, de
maneira que somente um juiz pode decidir sobre os mesmos.

Na doutrina, encontra-se classificação acerca da reserva de jurisdição,


subdividindo-a em absoluta e relativa.

Absoluta é a cláusula de reserva de jurisdição que prevê que o juiz é o


primeiro e único a deliberar acerca de determinada situação, proferindo a
respectiva decisão. Como exemplo, temos a quebra de sigilo das comunicações
telefônicas, que, consoante disposto no art. 5º, XII, da CRFB, regulamentado pela
Lei nº 9.296/96, somente pode ser decretada por ordem judicial.

Relativa, por sua vez, é a cláusula de reserva de jurisdição que não impõe
com absoluta restrição que somente um juiz delibere sobre certo tema,
assegurando, no entanto, que a última palavra seja da alçada judicial.
Diretamente relacionado à atividade do Delegado de Polícia na condução de

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Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br

investigações criminais, temos a autuação em flagrante, o arbitramento de


fiança, a condução coercitiva e a requisição de informações, atos que, em um
primeiro momento, lidam com aspectos ligados a direitos fundamentais e são
praticados pela autoridade policial, merecendo, no entanto, posterior controle e
fiscalização por parte de um juiz.

Em alguns sistemas jurídicos existe a figura do chamado juiz de instrução,


tendo por atribuição o acompanhamento e o exercício da tutela dos direitos
fundamentais durante a fase de investigação policial, deliberando sobre atos que
limitem ou restrinjam de qualquer forma algum direito fundamental.

No Brasil não há juizado de instrução, de forma que o Delegado de Polícia


acaba atuando como autoridade materialmente judicial, em prática respaldada
pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, no caso Vélez Loor x Panamá,
com fulcro na abertura propugnada pelo art. 7º, nº 5, da Convenção Americana
de Direitos Humanos, notoriamente sobre a prisão/detenção de alguém: “Toda
pessoa detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à presença de um juiz
ou outra autoridade autorizada pela lei a exercer funções judiciais e tem direito
a ser julgada dentro de um prazo razoável ou a ser posta em liberdade, sem
prejuízo de que prossiga o processo. Sua liberdade pode ser condicionada a
garantias que assegurem o seu comparecimento em juízo”.

Diante desse cenário, tem-se que o Delegado de Polícia, em caráter


urgente e necessário, adota medidas decisórias buscando alcançar efetividade e
concretude aos bens jurídicos tutelados, sem prejuízo do controle jurisdicional
posterior, em respeito ao disposto no art. 5º, XXXV, da CRFB.

DELEGADO DE POLÍCIA – PCMG – 2018 – ACADEPOL

Caso seja injustificadamente negado ao defensor do investigado o acesso ao


inquérito policial, QUAIS MEDIDAS JUDICIAIS são cabíveis, visando à obtenção de
acesso aos autos da investigação?

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

É possível, por meio de uma simples petição ao juízo competente,


informar a negativa de acesso. Porém, vislumbram-se três medidas judiciais
pertinentes.

O art. 7º, XIV, da Lei nº 8.906/94 dispõe que os advogados possuem o


direito de examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir
investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de
qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade,
podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital. Logo, a
primeira medida é a impetração de um mandado de segurança em nome do

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advogado, titular direito líquido e certo de examinar autos de inquérito policial,


com fulcro no art. 5º, LXIX, da CRFB e no art. 1º da Lei nº 12.016/09.

Uma segunda medida cabível é que como aos litigantes, em processo


judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o
contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes, com base
no art. 5º, LXVIII, da CRFB e nos arts. 647 e seguintes do CPP, caso a infração em
apuração tenha pena privativa de liberdade cominada, a impetração de habeas
corpus. Aludido habeas corpus terá o investigado como paciente (sendo possível
o mandado de segurança nas hipóteses em que não há pena privativa de
liberdade cominada).

Como terceira medida judicial cabível, a Súmula Vinculante nº 14 aduz


que é direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos
elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório
realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao
exercício do direito de defesa, ou seja, ante os arts. 988 e seguintes do CPC, Lei
nº 11.417/06 e arts. 102, I e 103-A, §3º, ambos da CRFB (após o esgotamento de
eventuais vias administrativas), é cabível também a Reclamação ao STF.

GABARITO DA BANCA EXAMINADORA:

Além de simples peticionamento ao juízo competente, três medidas judiciais são


cabíveis. O art. 7º, inciso XIV, da Lei nº 8.906/94 prevê que os Advogados têm
direito de “examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir
investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de
qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade,
podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital”. Diante
disso, a primeira medida judicial cabível é a impetração de mandado de
segurança em nome do Advogado, que é o titular do direito líquido e certo de
examinar autos de inquérito policial, com fulcro no art. 5º, LXIX, da CF/88, e no
art. 1º da Lei nº 12.016/09. Por sua vez, o art. 5º, LV, da CF/88 estabelece que
“aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral
são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela
inerentes”. Diante disso, com fundamento no art. 5, LXVIII, da CF/88, bem como
nos arts. 647 e ss. do CPP, caso a infração em apuração tenha pena privativa de
liberdade cominada, uma segunda medida judicial cabível no caso é a impetração
de habeas corpus tendo o investigado como Paciente (sendo possível o mandado
de segurança nas hipóteses em que não há pena privativa de liberdade
cominada). Em terceiro lugar, a Súmula Vinculante nº 14 do “TF assenta que “É
direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos
elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório
realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao
exercício do direito de defesa.” ássim, com base nos arts. 988 e ss. do CPC, e na
lei nº 11.417/06, além dos arts. 102, I, l, e 103-A, §3º, da CF/88, após o
esgotamento de eventuais vias administrativas, é cabível também a Reclamação
ao STF.

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DELEGADO DE POLÍCIA - PCGO –2017 – CESPE

Certo delegado de polícia recebeu ofício de um promotor de justiça requisitando


que o próprio delegado promovesse o arquivamento de determinado inquérito
policial já instaurado, sob o argumento de que no âmbito do Ministério Público
havia investigação sobre os mesmos fatos. O promotor alegava que eventual
duplicidade de atividades poderia prejudicar o exame da autoria e materialidade
do delito. Nessa situação, o delegado de polícia deve atender ao requerimento
do promotor? (1,5 pontos). Justifique sua resposta apontando a disciplina do
Código de Processo Penal sobre o tema (4 pontos) e os princípios aplicáveis ao
caso (4 pontos).

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

A requisição formulada pelo promotor de justiça não encontra respaldo


jurídico, de forma que não deve o delegado de polícia atender ao requerimento.
Nesse aspecto, destaca a doutrina que não há vínculo hierárquico entre delegado
de polícia e membro do MP.

O Código de Processo Penal prevê procedimento específico para o


arquivamento de inquérito policial. No seu artigo 17, o CPP explicita que a
autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito. Esta vedação
está vinculada à necessidade de ordem judicial para o arquivamento. Com efeito,
consoante o artigo 28 do CPP, se ao receber um inquérito policial o Ministério
Público entender que não há elementos para o oferecimento de denúncia,
tampouco diligências úteis ao esclarecimento do fato, deverá requerer o
arquivamento do inquérito ao juiz, sendo que o magistrado, não concordando
com a posição do MP, remeterá o inquérito ao Procurador-Geral, para final
deliberação.

Ademais, em que pese o Supremo Tribunal Federal ter reconhecido o


direito de investigação criminal ao Ministério Público, ao julgar o Recurso
Extraordinário nº 593727, não o fez com caráter de exclusividade, mas de
complementaridade. Desta forma, não se mostra adequado o fundamento
apresentado pelo Ministério Público, devendo, para o sucesso da elucidação do
caso, harmonizar as investigações realizadas no âmbito do parquet com as
promovidas pela polícia civil, e não determinar que a autoridade policial arquive
o respectivo inquérito.

Cumpre destacar, outrossim, que a atribuição da polícia civil para


investigar a prática de infrações penais, a fim de elucidar a materialidade e a
autoria delitivas, está consagrada em sede constitucional (art. 144, § 4º, CRFB),
ressalvando-se apenas a competência da União (crimes da alçada da Polícia
Federal). No mesmo sentido, o artigo 4º do CPP, estabelecendo que a polícia
judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas

61
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respectivas circunscrições e terá por escopo a apuração das infrações penais e de


sua autoria, e a recente previsão da função exercida pelos delegados de polícia
na Lei nº 12.830/13.

Note-se que do Código de Processo Penal depreendem-se, pelo menos,


dois princípios do inquérito que seriam violados pela manifestação do Ministério
Público no caso em tela: princípio da indisponibilidade e princípio da
obrigatoriedade.

Embora o inquérito policial seja dispensável (à luz da atribuição do titular


da ação penal de exercer esta independentemente da instauração/conclusão de
um inquérito policial), a polícia civil tem o dever de instaurar dito procedimento
sempre que chegar ao seu conhecimento a prática de um delito de ação penal
pública incondicionada, ou, se for de ação penal privada ou pública condicionada
à representação, com a colheita da pertinente representação da vítima ou de
seus representantes (art. 5º do CPP). Assim, não há discricionariedade – juízo de
conveniência ou oportunidade – quanto à instauração do inquérito policial, sendo
esta, desde que preenchidos os requisitos legais, obrigatória.

Na mesma linha, como consectário da obrigatoriedade, tem-se o princípio


da indisponibilidade, propugnando que, uma vez instaurado o inquérito policial,
a polícia judiciária não pode dispor do procedimento como bem entender,
devendo concluir as diligências pertinentes e encaminhá-lo ao Poder Judiciário,
que, como acima explicitado, poderá então determinar seu arquivamento (artigo
17 e 28 do CPP). Não há, portanto, espaço para destino diverso, sendo imprópria
a pretensão do MP de arquivamento sumário do inquérito policial no âmbito da
própria Delegacia de Polícia.

DELEGADO DE POLÍCIA - PCGO –2017 – CESPE

Acerca do inquérito policial e dos sujeitos do processo, responda, de forma


fundamentada, aos seguintes questionamentos: 1- O investigado pode opor
suspeição ao delegado de polícia com relação aos atos do inquérito policial? Qual
tratamento dispensado pelo Código de Processo penal à questão da suspeição
das autoridades policiais? (5 pontos). 2- Conforme entendimento do Supremo
Tribunal Federal, há possibilidade de suscitar a suspeição de juiz que tiver atuado
apenas na fase inquisitorial? (4,5 pontos)

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

O Código de Processo Penal, no artigo 107, veda a oposição da exceção


de suspeição às autoridades policiais nos atos do inquérito. Entretanto, o mesmo
artigo, em aparente contradição, admite que a própria autoridade policial se
declare suspeita, quando ocorrer motivo legal.

62
Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br

Desta forma, resta claro que o ordenamento jurídico não permite que o
investigado alegue suspeição do delegado de polícia, ao menos não segundo o
trâmite delineado no CPP. Nesse ponto, a doutrina sustenta que, havendo razão
relevante, poder-se-ia invocar a suspeição da autoridade policial no âmbito
administrativo, socorrendo-se do poder hierárquico institucional.

Quanto à atuação do juiz na fase inquisitorial, o Supremo Tribunal


Federal, na esteira de significativa parcela da doutrina, entende que não é
possível arguir a suspeição, ou qualquer outra espécie de questão atinente à
violação da imparcialidade do magistrado, enquanto este exerce as atividades
durante o inquérito policial.

Com efeito, o STF acolhe a concepção de que o juiz, quando exerce suas
funções no âmbito de um inquérito policial, restringe-se a supervisionar e a
gerenciar as atividades, não expressando juízo de valor sobre os fatos
investigados ou acerca de questões relevantes de direito. Nessa linha, a eventual
participação do magistrado na fase pré-processual, por si só, não traduz hipótese
de suspeição ou impedimento à atuação no curso da respectiva ação penal.

O sistema processual brasileiro não adotou o modelo do juízo de


instrução, em que a investigação criminal é acompanhada e presidida por um
membro do Poder Judiciário e o processo penal é impulsionado e julgado por
outro magistrado, sendo expresso o CPP, aliás, no sentido de que o juiz que tenha
autorizado diligências antes da denúncia ou da queixa torna-se prevento para o
julgamento da ação penal (art. 75).

De outra banda, registre-se que há vozes doutrinárias pugnando que, já


na fase do inquérito, é possível identificar e invocar a parcialidade do magistrado
(suspeição ou impedimento), mormente nos casos em que haja a prática de atos
de cunho nitidamente decisório, como concessão de mandado de busca e
apreensão e de interceptação telefônica, ou mesmo a decretação de medidas
cautelares, como prisão temporária ou preventiva, ocasião em que se poderá
aferir, desde logo, a quebra da parcialidade e evitar prejuízos à efetividade da
persecução penal.

DELEGADO DE POLÍCIA - PCSE - 2018 – CESPE

No mesmo contexto fático, Alfredo estuprou, matou e ocultou o cadáver de


Lúcia, que era filha de Cláudio, delegado na cidade onde os fatos ocorreram.
Como responsável por apurar os fatos criminosos, Cláudio presidiu toda a fase
inquisitorial e relatou o inquérito policial. Após a fase de apuração policial, o
Ministério Público local ofereceu denúncia contra Alfredo, a qual foi recebida, e
requereu à autoridade policial que fosse indiciado um partícipe que não constava
no inquérito. Oportunamente, a defesa de Alfredo pugnou pela

63
Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br

nulidade do inquérito policial, alegando que toda a persecutio criminis in judicio


estava contaminada em razão da suspeição da autoridade que o conduziu —
Cláudio, delegado e pai de Lúcia. Acerca da situação hipotética apresentada e do
instituto do inquérito policial, redija um texto dissertativo que aborde, de forma
fundamentada, os seguintes aspectos. 1 - Regularidade, ou irregularidade, do
pedido de indiciamento de partícipe feito pelo Ministério Público local e do
procedimento adotado pelo delegado relativamente a esse pedido. [valor: 4,25
pontos] 2 - Validade, ou nulidade, da peça inquisitorial, conforme o
posicionamento do STF, caso procedente a arguição de suspeição da autoridade
policial. [valor: 4,00 pontos] 3 - Características e tipo de ação penal a que se
destina cada uma das seguintes modalidades de instauração de inquérito: noticia
criminis de cognição inqualificada; noticia criminis de cognição mediata; e noticia
criminis de cognição coercitiva. [valor: 6,00 pontos]

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

No que tange ao item 1, o Ministério Público não pode requisitar o


indiciamento de suspeito/partícipe ao delegado de polícia, já que tal proceder é
ato privativo da autoridade policial, conforme previsto no art. 2º, §6º, da Lei nº
12.830/13. Faculta-se ao parquet, entretanto, a requisição de instauração de
inquérito por meio de noticia criminis, mas não o indiciamento em inquérito já
encerrado e com denúncia recebida.

Em relação ao item 2, consoante entendimento consolidado do STF,


eventual suspeição de autoridade que presida o inquérito policial não o invalida,
uma vez que o inquérito policial é peça meramente informativa e dispensável a
que o juiz dará o valor que esta merecer.

Após o recebimento da denúncia, quaisquer questões referentes a


eventual suspeição do encarregado do inquérito serão consideradas meras
irregularidades. Verifica-se, ainda, conforme disposto no art. 107 do CPP, que
eventual inobservância do referido dispositivo não terá consequência no plano do
processo judicial, embora tal conduta possa ter repercussão na esfera
administrativo-disciplinar.

O CPP, no artigo 107, veda a oposição da exceção de suspeição às


autoridades policiais nos atos do inquérito. Entretanto, o mesmo artigo, em
aparente contradição, admite que a própria autoridade policial se declare
suspeita, quando ocorrer motivo legal.

Desta forma, resta claro que o ordenamento jurídico não permite que o
investigado alegue suspeição do delegado de polícia, ao menos não segundo o
trâmite delineado no CPP. Nesse ponto, a doutrina sustenta que, havendo razão
relevante, poder-se-ia invocar a suspeição da autoridade policial no âmbito
administrativo, socorrendo-se do poder hierárquico institucional.

64
Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br

Por fim, acerca do item 3, noticia criminis de cognição inqualificada ocorre


quando a autoridade policial toma conhecimento da ocorrência de um crime de
forma direta, por meio de suas atividades funcionais rotineiras, podendo
concretizar-se a partir de denúncias anônimas, notícias veiculadas na imprensa,
etc, conduzindo à instauração de ação penal pública incondicionada (art. 5º do
CPP).

Por sua vez, noticia criminis de cognição mediata ocorre quando a


autoridade policial toma conhecimento da ocorrência de crime por meio de
algum ato jurídico de comunicação formal do delito, entre os previstos na
legislação processual. Pode concretizar-se por meio da vítima, de qualquer
pessoa do povo, de juiz, do Ministério Público, do Ministro da Justiça e por
representação do ofendido, podendo dar ensejo à instauração de inquérito nos
crimes de ação penal pública incondicionada, de ação penal pública condicionada
e de ação penal privada (art. 5º do CPP).

Já a noticia criminis de cognição coercitiva ocorre na hipótese de prisão


em flagrante delito, em que a autoridade lavra o respectivo auto
independentemente da natureza da ação. Entretanto, nos crimes de ação penal
pública condicionada e de ação penal privada, sua lavratura apenas poderá
ocorrer se houver, respectivamente, representação ou requerimento do ofendido
(art. 5º do CPP).

GABARITO DA BANCA EXAMINADORA:

1 Regularidade, ou irregularidade, do pedido de indiciamento de partícipe feito


pelo Ministério Público local e do Procedimento adotado pelo delegado
relativamente a esse pedido. O Ministério Público não pode requisitar o
indiciamento de suspeito/partícipe ao delegado de polícia, por se tratar de ato
privativo da autoridade policial, conforme previsto no art. 2.º, § 6.º, da Lei n.º
12.830/2013. Faculta-se ao parquet a requisição de instauração de inquérito por
meio de noticia criminis, mas não o indiciamento em inquérito já encerrado e
com denúncia recebida. 2 Suspeição da autoridade policial arguida pela defesa e
validade da peça inquisitorial, conforme posicionamento do STF. Conforme
entendimento consolidado do STF (HC 121008/DF), eventual suspeição de
autoridade que presida o inquérito policial não o invalida, uma vez que o
inquérito é peça meramente informativa e dispensável a que o juiz dará o valor
que esta merecer. Após o recebimento da denúncia, quaisquer questões
referentes a eventual suspeição do encarregado do inquérito serão consideradas
meras irregularidades. Verifica-se, ainda, conforme disposto no art. 107 do CPP,
que eventual inobservância do referido dispositivo não terá consequência no
plano do processo judicial, embora tal conduta possa ter repercussão na esfera
administrativo-disciplinar. 3 Características e tipo de ação penal a que se destina
cada uma das seguintes modalidades de instauração de inquérito. Noticia
criminis de cognição inqualificada: ocorre quando a autoridade policial toma
conhecimento da ocorrência de um crime de forma direta, por meio de suas
atividades funcionais rotineiras, podendo

65
Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br

concretizar-se a partir de denúncias anônimas, notícias veiculadas na imprensa


etc. Conduz à instauração de ação penal pública incondicionada (art. 5.º do CPP);
Noticia criminis de cognição mediata: ocorre quando a autoridade policial toma
conhecimento da ocorrência de crime por meio de algum ato jurídico de
comunicação formal do delito, entre os previstos na legislação processual. Pode
concretizar-se por meio da vítima, de qualquer pessoa do povo, de juiz, do
Ministério Público, do ministro da Justiça e por representação do ofendido. Pode
dar ensejo à instauração de inquérito nos crimes de ação penal pública
incondicionada, de ação penal pública condicionada e de ação penal privada (art.
5.º do CPP); Noticia criminis de cognição coercitiva: ocorre na hipótese de prisão
em flagrante delito, em que a autoridade lavra o respectivo auto
independentemente da natureza da ação. Entretanto, nos crimes de ação penal
pública condicionada e de ação penal privada, sua lavratura apenas poderá
ocorrer se houver, respectivamente, representação ou requerimento do
ofendido (art. 5.º do CPP). Aspecto 2.1 Conceito 0 Não abordou o tema ou apenas
fez referência a ele, sem tratar, objetivamente, da regularidade do pedido de
indiciamento pelo MP. Conceito 1 Não abordou a impossibilidade de o Ministério
Público requisitar o indiciamento de partícipe à autoridade policial. Conceito 2
Abordou o aspecto, mas não o desenvolveu adequadamente. Conceito 3 Aborda
o aspecto e o desenvolveu de forma correta, articulando-o com as informações
da situação hipotética proposta. Aspecto 2.2 Conceito 0 Não abordou o tema ou
apenas fez referência a ele, sem efetivamente, tratar do objeto do quesito:
ocorrência, ou não, de suspeição da autoridade policial. Conceito 1 Não indicou
que, segundo o STF, eventual suspeição de autoridade que preside inquérito
policial não invalida a ação penal por ser uma peça dispensável e informativa.
Conceito 2 Abordou o entendimento do STF, mas desenvolveu o aspecto de
forma inconsistente. Conceito 3 Abordou o entendimento do STF,
desenvolvendo-o de forma consistente e conectada com a situação hipotética
em apreço. Aspecto 2.3 Conceito 0 Não abordou o tema do quesito ou apenas
fez referência a ele, sem efetivamente, tratar do objeto desse quesito. Conceito
1 Tratou do tema proposto no quesito, mas não indicou as características e os
tipos de ação a que se destina cada modalidade de instauração de inquérito.
Conceito 2 Indicou apenas uma modalidade de instauração de inquérito e a
caracterizou de forma correta ou incorreta. Conceito 3 Indicou apenas duas
modalidades de instauração de inquérito e as caracterizou de modo correto ou
incorreto; OU indicou as três modalidades, mas caracterizou todas
incorretamente. Conceito 4 Indicou as três modalidades de instauração de
inquérito e as caracterizou corretamente.

DELEGADO DE POLÍCIA - PCGO –2017 – CESPE

Discorra à luz da jurisprudência do STF, sobre a existência de exigências


específicas para a investigação preliminar de detentores de foro por prerrogativa
de função no STF (2,5 pontos). Em seu texto, aborde, ainda, o

66
Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br

impacto do foro por prerrogativa de função na instauração do inquérito policial


(3,5 pontos) e na apreciação das medidas restritivas de direito durante a fase
pré-processual (interceptação telefônica e busca e apreensão, por exemplo) (3,5
pontos).

OBSERVAÇÃO:

Ao tempo da aplicação da prova não predominava o entendimento acerca


da restrição do foro privilegiado (Ação Penal nº 937), adotado pelo STF apenas
em 2018. Como o entendimento posterior do STF fez a questão ficar
desatualizada, optamos por indicar o entendimento jurisprudencial. Portanto,
diante do entendimento do STF, investigações e medidas cautelares, se o crime
foi praticado durante o mandato e guarda correlação com o exercício do cargo,
haverá necessidade de autorização do STF para iniciar a investigação e demais
medidas.

Porém, se o delito foi cometido antes da diplomação ou durante o


exercício do cargo e não guarda correlação com ele, as medidas cautelares e a
investigação correrão na primeira instância.

Lógica similar vale para os governadores, mas não para desembargadores


(que continuam respondendo perante o STJ).

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Ementa: Direito Constitucional e Processual Penal. Questão de Ordem em Ação


Penal. Limitação do foro por prerrogativa de função aos crimes praticados no
cargo e em razão dele. Estabelecimento de marco temporal de fixação de
competência. I. Quanto ao sentido e alcance do foro por prerrogativa 1. O foro
por prerrogativa de função, ou foro privilegiado, na interpretação até aqui
adotada pelo Supremo Tribunal Federal, alcança todos os crimes de que são
acusados os agentes públicos previstos no art. 102, I, b e c da Constituição,
inclusive os praticados antes da investidura no cargo e os que não guardam
qualquer relação com o seu exercício. 2. Impõe-se, todavia, a alteração desta
linha de entendimento, para restringir o foro privilegiado aos crimes praticados
no cargo e em razão do cargo. É que a prática atual não realiza adequadamente
princípios constitucionais estruturantes, como igualdade e república, por impedir,
em grande número de casos, a responsabilização de agentes públicos por crimes
de naturezas diversas. Além disso, a falta de efetividade mínima do sistema
penal, nesses casos, frustra valores constitucionais importantes, como a
probidade e a moralidade administrativa.
3. Para assegurar que a prerrogativa de foro sirva ao seu papel constitucional de
garantir o livre exercício das funções – e não ao fim ilegítimo de assegurar
impunidade – é indispensável que haja relação de causalidade entre o crime
imputado e o exercício do cargo. A experiência e as estatísticas revelam a
manifesta disfuncionalidade do sistema, causando indignação à sociedade e
trazendo desprestígio para o Supremo. 4. A orientação aqui preconizada

67
Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br

encontra-se em harmonia com diversos precedentes do STF. De fato, o Tribunal


adotou idêntica lógica ao condicionar a imunidade parlamentar material – i.e., a
que os protege por 2 suas opiniões, palavras e votos – à exigência de que a
manifestação tivesse relação com o exercício do mandato. Ademais, em inúmeros
casos, o STF realizou interpretação restritiva de suas competências
constitucionais, para adequá-las às suas finalidades. Precedentes. II. Quanto ao
momento da fixação definitiva da competência do STF 5. A partir do final da
instrução processual, com a publicação do despacho de intimação para
apresentação de alegações finais, a competência para processar e julgar ações
penais – do STF ou de qualquer outro órgão – não será mais afetada em razão de
o agente público vir a ocupar outro cargo ou deixar o cargo que ocupava,
qualquer que seja o motivo. A jurisprudência desta Corte admite a possibilidade
de prorrogação de competências constitucionais quando necessária para
preservar a efetividade e a racionalidade da prestação jurisdicional. Precedentes.
III. Conclusão 6. Resolução da questão de ordem com a fixação das seguintes
teses: “(i) O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes
cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às funções
desempenhadas; e (ii) Após o final da instrução processual, com a publicação do
despacho de intimação para apresentação de alegações finais, a competência
para processar e julgar ações penais não será mais afetada em razão de o agente
público vir a ocupar cargo ou deixar o cargo que ocupava, qualquer que seja o
motivo”. 7. áplicação da nova linha interpretativa aos processos em curso.
Ressalva de todos os atos praticados e decisões proferidas pelo STF e demais
juízos com base na jurisprudência anterior. 8. Como resultado, determinação de
baixa da ação penal ao Juízo da 256ª Zona Eleitoral do Rio de Janeiro, em razão
de o réu ter renunciado ao cargo de Deputado Federal e tendo em vista que a
instrução processual já havia sido finalizada perante a 1ª instância. (AP 937 QO,
Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 03/05/2018,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-265 DIVULG 10-12-2018 PUBLIC 11-12-2018)

DELEGADO DE POLÍCIA - PCMT - 2017 – CESPE

No curso de inquérito policial, um investigado apresentou documentos e


testemunhas que comprovavam a participação de parlamentar federal em
práticas delituosas no curso do mandato. Diante dos fatos, o delegado de polícia
indiciou o referido congressista, que, inconformado, requereu judicialmente a
anulação de seu indiciamento. A partir da situação hipotética acima apresentada,
responda aos seguintes questionamentos. Fundamente suas respostas no
entendimento do STF acerca da instauração de inquéritos e indiciamentos. 1 - O
indiciamento é ato privativo de delegado de polícia? O que esse ato deve indicar?
[valor: 2,00 pontos] 2 - O delegado de polícia pode indiciar, de ofício,
parlamentar? [valor: 2,80 pontos] 3 - Na hipótese

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Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br

considerada, qual deve ser a providência correta com relação ao ato de


indiciamento do parlamentar? [valor: 2,80 pontos]

OBSERVAÇÃO:

Ao tempo da aplicação da prova não predominava o entendimento acerca


da restrição do foro privilegiado (Ação Penal nº 937), adotado pelo STF apenas
em 2018. Como o entendimento posterior do STF fez a questão ficar
desatualizada, optamos por indicar o entendimento jurisprudencial. Portanto,
diante do entendimento do STF, investigações e medidas cautelares, se o crime
foi praticado durante o mandato e guarda correlação com o exercício do cargo,
haverá necessidade de autorização do STF para iniciar a investigação e demais
medidas.

Porém, se o delito foi cometido antes da diplomação ou durante o


exercício do cargo e não guarda correlação com ele, as medidas cautelares e a
investigação correrão na primeira instância.

Lógica similar vale para os governadores, mas não para desembargadores


(que continuam respondendo perante o STJ).

Como item 1 da pergunta independe do entendimento do STF, optamos


por respondê-lo e, em seguida, aludir ao que decidiu a Suprema Corte nacional.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

O indiciamento é ato privativo de delegado de polícia. Com efeito, o


entendimento doutrinário e jurisprudencial que sempre predominou (inclusive no
âmbito do STF), acabou sendo consagrado, em nível legal, a partir da entrada em
vigor da Lei nº 12.830/13. No seu art. 2º, § 6º, está explicitado, ademais, o que
deve ser indicado neste ato: “o indiciamento, privativo do delegado de polícia,
dar-se-á por ato fundamentado, mediante análise técnico- jurídica do fato, que
deverá indicar a autoria, materialidade e suas circunstâncias”.

Assim, o indiciamento é o ato mediante o qual a autoridade policial,


fundamentadamente, por meio da avaliação dos elementos de convicção
colhidos durante a investigação criminal, reconhece a existência de substanciais
indícios (ou mesmo provas cabais) no sentido da existência do crime e da autoria
delitiva, discorrendo sobre as circunstâncias penalmente relevantes acerca do
fato apurado.

ENTENDIMENTO DO STF VIGENTE:

Ementa: Direito Constitucional e Processual Penal. Questão de Ordem em Ação


Penal. Limitação do foro por prerrogativa de função aos crimes praticados no
cargo e em razão dele. Estabelecimento de marco temporal de fixação de
competência. I. Quanto ao sentido e alcance do foro por prerrogativa 1. O foro

69
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por prerrogativa de função, ou foro privilegiado, na interpretação até aqui


adotada pelo Supremo Tribunal Federal, alcança todos os crimes de que são
acusados os agentes públicos previstos no art. 102, I, b e c da Constituição,
inclusive os praticados antes da investidura no cargo e os que não guardam
qualquer relação com o seu exercício. 2. Impõe-se, todavia, a alteração desta
linha de entendimento, para restringir o foro privilegiado aos crimes praticados
no cargo e em razão do cargo. É que a prática atual não realiza adequadamente
princípios constitucionais estruturantes, como igualdade e república, por impedir,
em grande número de casos, a responsabilização de agentes públicos por crimes
de naturezas diversas. Além disso, a falta de efetividade mínima do sistema
penal, nesses casos, frustra valores constitucionais importantes, como a
probidade e a moralidade administrativa.
3. Para assegurar que a prerrogativa de foro sirva ao seu papel constitucional de
garantir o livre exercício das funções – e não ao fim ilegítimo de assegurar
impunidade – é indispensável que haja relação de causalidade entre o crime
imputado e o exercício do cargo. A experiência e as estatísticas revelam a
manifesta disfuncionalidade do sistema, causando indignação à sociedade e
trazendo desprestígio para o Supremo. 4. A orientação aqui preconizada
encontra-se em harmonia com diversos precedentes do STF. De fato, o Tribunal
adotou idêntica lógica ao condicionar a imunidade parlamentar material – i.e., a
que os protege por 2 suas opiniões, palavras e votos – à exigência de que a
manifestação tivesse relação com o exercício do mandato. Ademais, em inúmeros
casos, o STF realizou interpretação restritiva de suas competências
constitucionais, para adequá-las às suas finalidades. Precedentes. II. Quanto ao
momento da fixação definitiva da competência do STF 5. A partir do final da
instrução processual, com a publicação do despacho de intimação para
apresentação de alegações finais, a competência para processar e julgar ações
penais – do STF ou de qualquer outro órgão – não será mais afetada em razão de
o agente público vir a ocupar outro cargo ou deixar o cargo que ocupava,
qualquer que seja o motivo. A jurisprudência desta Corte admite a possibilidade
de prorrogação de competências constitucionais quando necessária para
preservar a efetividade e a racionalidade da prestação jurisdicional. Precedentes.
III. Conclusão 6. Resolução da questão de ordem com a fixação das seguintes
teses: “(i) O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes
cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às funções
desempenhadas; e (ii) Após o final da instrução processual, com a publicação do
despacho de intimação para apresentação de alegações finais, a competência
para processar e julgar ações penais não será mais afetada em razão de o agente
público vir a ocupar cargo ou deixar o cargo que ocupava, qualquer que seja o
motivo”. 7. áplicação da nova linha interpretativa aos processos em curso.
Ressalva de todos os atos praticados e decisões proferidas pelo STF e demais
juízos com base na jurisprudência anterior. 8. Como resultado, determinação de
baixa da ação penal ao Juízo da 256ª Zona Eleitoral do Rio de Janeiro, em razão
de o réu ter renunciado ao cargo de Deputado Federal e tendo em vista que a
instrução processual já havia sido finalizada perante a 1ª instância. (AP 937 QO,
Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno,

70
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julgado em 03/05/2018, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-265 DIVULG 10-12-2018


PUBLIC 11-12-2018)

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e Execução Penal. 13.


ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016. pp. 114-115; 118-120.

DELEGADO DE POLÍCIA – PCGO – 2018 – UFG

Segundo o Código de Processo Penal (Decreto-Lei n. 3.689/1941), no que se


refere ao inquérito, incumbe à autoridade policial, quando do conhecimento da
prática de infração penal, realizar determinados atos e diligências nele previstos.
Assim, disserte a respeito de tais determinações, incluindo a inspirada pelas
Regras de Bangkok.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Dentre as determinação destinadas à autoridade policial pelo CPP quando


da ocorrência de crime ou contravenção, o art. 6º traz um rol exemplificativo: se
dirigir ao local, apreender objetos, colher provas, ouvir o ofendido e o indiciado,
proceder ao reconhecimento de pessoas e coisas, realizar a acareação, proceder
ao exame de corpo de delito e quaisquer outras perícias, ordenar a identificação
do indiciado, fazer juntar a folha de antecedentes, averiguar a vida pregressa do
indiciado e colher informações sobre a existência de filhos e a idade de cada um,
se possuem alguma deficiência e o contato de eventual(is) responsável(is) pelo
cuidado deles, a ser indicado pela pessoa presa.

Acerca das Regras de Bangkok, Durante a 65ª Assembleia Geral da


Organização das Nações Unidas, realizada em dezembro de 2010, foram
aprovadas as Regras Mínimas para Mulheres Presas, por meio das quais os
Estados-membros, incluindo-se o Brasil, reconhecem a necessidade de
estabelecer regras de alcance mundial em relação a considerações específicas
que deveriam ser aplicadas a mulheres presas e infratoras. Elas foram elaboradas
para complementar, se for adequado, as Regras Mínimas para o Tratamento dos
Reclusos e as Regras Mínimas das Nações Unidas para Elaboração de Medidas
Não Privativas de Liberdade (Regras de Tóquio), em conexão com o tratamento
a mulheres presas ou alternativas ao cárcere para mulheres infratoras.

Nesse diapasão, deve-se asseverar que tais regras são inspiradas por
princípios contidos em várias convenções e resoluções das Nações Unidas e estão,
portanto, de acordo com as provisões do direito internacional em vigor. Elas são
dirigidas às autoridades penitenciárias e agentes de justiça criminal,

71
Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br

incluindo os responsáveis por formular políticas públicas, legisladores, o


ministério público, o judiciário e os funcionários encarregados de fiscalizar a
liberdade condicional envolvidos na administração de penas não privativas de
liberdade e de medidas em meio comunitário.

DELEGADO DE POLÍCIA – PCBA – 2018 – VUNESP

Considere a seguinte situação hipotética. O Tribunal de Contas dos Municípios


do Estado da Bahia encaminha cópia de acórdão ao Ministério Público Estadual,
que, por sua vez, remete os autos à Polícia Civil do Estado da Bahia, que
finalmente distribui o documento para análise da 1ª Delegacia de Polícia de
Salvador. Segundo o acórdão, que foi trazido ao conhecimento do Delegado de
Polícia, a Corte de Contas julgou, por decisão unânime, irregular o contrato
firmado entre a Prefeitura Municipal de Salvador e a Fundação Instituto de
Pesquisas em Diagnósticos por Imagem, aos 6 de junho de 2016, cujo objeto era
a realização de exames de imagem em geral, como Raios-X e Ultrassonografias,
para a população atendida pelas unidades de saúde municipais, em especial nas
Unidades de Pronto Atendimento – UPAs e nos Multicentros. Consta do processo
administrativo, cuja cópia também foi encaminhada, que a dispensa de licitação
fundou-se no art. 24, inciso XIII, que afirma ser dispensável a licitação “na
contratação de instituição brasileira incumbida regimental ou estatutariamente
da pesquisa, do ensino ou do desenvolvimento institucional, ou de instituição
dedicada à recuperação social do preso, desde que a contratada detenha
inquestionável reputação ético- profissional e não tenha fins lucrativos”.
“egundo o Tribunal de Contas, a infringência estaria na dispensa de licitação,
posto que esta não seria aplicável ao caso em tela, por falta de justificativa, em
razão do objeto contratado ser comum. Ainda segundo a Corte de Contas, ficou
demonstrado que os exames contratados são realizados por outros
estabelecimentos particulares por preços 30% mais baratos, em média. Se você
recebesse a documentação referida na qualidade de Delegado de Polícia, caberia
a instauração de Inquérito Policial? Justifique sua resposta, levando em conta os
aspectos procedimentais e materiais envolvidos no caso.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

O inquérito deve ser instaurado, já que a autoridade possui a obrigação


de instaurá-lo, independentemente de provocação, sempre que tomar
conhecimento imediato e direto do fato criminoso.

No caso em tela, a informação enviada pelo Tribunal de Contas dos


Municípios da Bahia consiste em uma notitia criminis, que provocou o
conhecimento do fato por parte da autoridade policial (art. 5º, I, do CPP). Do
ponto de vista material, o art. 89 da Lei nº 8.666/93 prevê que é crime dispensar
ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas em lei, ou deixar de

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observar as formalidades pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade, punido


com pena de detenção, de 3 (três) a 5 (cinco) anos, e multa.

A situação do enunciado demonstra que a dispensa não está justificada,


pois muito embora seja possível a dispensa da licitação para contratação de
instituição brasileira incumbida regimental ou estatutariamente de pesquisa,
ensino ou desenvolvimento institucional, nos termos do art. 24, XIII, da Lei nº
8.666/93, a contratação não possui tal objeto. A contratação tem como objeto
uma prestação de serviços comum, de exames de imagem, logo, não se relaciona
com pesquisa, ensino ou desenvolvimento institucional das unidades da
Secretaria Municipal de Saúde.

Isso faz com que a contratação por dispensa seja injustificada, por
inexistir a razão que lhe motivaria. Como prescreve o art. 26, caput, e parágrafo
único, II, da Lei nº 8.666/93, a dispensa deve ser necessariamente justificada,
devendo constar as razões de escolha do fornecedor ou executante. Só haveria
sentido em contratar uma instituição de pesquisa, ensino ou desenvolvimento
institucional se a Secretaria Municipal buscasse obter com a contratação uma
pesquisa, o ensino de algo ou, ainda, o aperfeiçoamento de suas ações.

Assim, um mero contrato de prestação de serviços de imagem não


justifica a dispensa, porque qualquer prestador da área poderia fornecer os
serviços, não sendo necessário que uma instituição de pesquisa o fizesse. Há que
se considerar, ainda, que conforme a jurisprudência do STF e do STJ, para a
caracterização do delito previsto no art. 89 da Lei de Licitações, demanda-se a
comprovação de efetivo prejuízo ao Poder Público e que, com a conclusão do
Tribunal de Contas de que os preços praticados pela Fundação foram cerca de
30% superiores àqueles praticados pelo mercado, há fortes indícios de ocorrência
dano ao Erário no sobrepreço praticado.

Havendo, assim, elementos que apontam para a materialidade do crime,


certamente cabe a instauração de inquérito policial para apuração da autoria e
consolidação das provas da materialidade. Por tais razões, a resposta deve ser
afirmativa, no sentido de que inexiste justificativa para a dispensa, o que, em
tese, implica na possibilidade de cometimento do crime do art. 89 da Lei Geral de
Licitações, cuja ação penal é pública e incondicionada.

Por fim, importante mencionar que os Tribunais de Contas não analisam


tais aspectos sob a ótica do Direito Penal, de modo que seria necessária a
instauração de inquérito exatamente para apurar se estão, ou não, presentes ao
menos de forma indiciária, os requisitos necessários à propositura da ação penal.
Com isso, um arquivamento ou uma oferta de denúncia, na forma como o caso
foi exposto, seria uma conduta inadequada, por prematura ou açodada, pois
haveria que se perquirir da intenção do agente e da ocorrência do prejuízo.

GABARITO DA BANCA EXAMINADORA:

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SIM, pois a autoridade tem a obrigação de instaurar o inquérito policial,


independentemente de provocação, sempre que tomar conhecimento imediato
e direto do fato criminoso. No caso em tela, a informação enviada pelo Tribunal
de Contas dos Municípios da Bahia consiste em uma notitia criminis, que
provocou o conhecimento do fato por parte da autoridade policial (Código de
Processo Penal, art. 5.º, inciso I). Do ponto de vista material, o art. 89 da Lei
Federal n.º 8.666/93 prevê que é crime dispensar ou inexigir licitação fora das
hipóteses previstas em lei, ou deixar de observar as formalidades pertinentes à
dispensa ou à inexigibilidade, punido com pena de detenção, de 3 (três) a 5
(cinco) anos, e multa. No caso em tela, a dispensa não está justificada, pois muito
embora seja possível a dispensa da licitação para contratação de instituição
brasileira incumbida regimental ou estatutariamente de pesquisa, ensino ou
desenvolvimento institucional, nos termos do art. 24, inciso XIII, da Lei Federal
n.º 8.666/93, a contratação não possui tal objeto. A contratação tem como
objeto uma prestação de serviços comum, de exames de imagem, logo, não se
relaciona com pesquisa, ensino ou desenvolvimento institucional das unidades
da Secretaria Municipal de Saúde. Isso faz com que a contratação por dispensa
seja injustificada, por inexistir a razão que lhe motivaria. Como prescreve o art.
26, caput, e parágrafo único, inciso II, da Lei de Licitações, a dispensa deve ser
necessariamente justificada, devendo constar as razões de escolha do
fornecedor ou executante. Ora, só haveria sentido em contratar uma instituição
de pesquisa, ensino ou desenvolvimento institucional, se a Secretária Municipal
visasse a obter com a contratação uma pesquisa, o ensino de algo ou, ainda, o
aperfeiçoamento de suas ações. Assim, um mero contrato de prestação de
serviços de imagem não justifica a dispensa, porque qualquer prestador da área
poderia fornecer os serviços, não sendo necessário que uma instituição de
pesquisa o fizesse. Há que se considerar, ainda, que conforme a jurisprudência
do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça, para a
caracterização do delito previsto no art. 89 da Lei de Licitações, é necessária
comprovação de efetivo prejuízo ao Poder Público e que, com a conclusão do
Tribunal de Contas de que os preços praticados pela Fundação foram cerca de
30% superiores àqueles praticados pelo mercado, há fortes indícios de
ocorrência dano ao Erário no sobrepreço praticado. Havendo, assim, elementos
que apontam para a materialidade do crime, certamente cabe a instauração de
inquérito policial para apuração da autoria e consolidação das provas da
materialidade. Por tais razões, a resposta deve ser afirmativa, no sentido de que
inexiste justificativa para a dispensa, o que, em tese, implica na possibilidade de
cometimento do crime do art. 89 da Lei Geral de Licitações, cuja ação penal é
pública e incondicionada. CRITÉRIOS DE CORREÇÃO E GRADE Descrição
Pontuação Máxima N1 - Obrigação de instaurar diante da notitia criminis 6 N2 -
Crime previsto na Lei de Licitações (dispensa irregular) 6 N3 - Dispensa realizada
não obedece às previsões legais e o preço foi 30% superior ao praticado pelo
mercado 6,5 N4 - Ausência de justificativa para dispensa 6,5 N5 – Descontos -1
TOTAL 25 Observações: 1. Problemas relacionados à falta de objetividade,
clareza, ortografia e ao não emprego da norma culta da língua portuguesa
implicarão em prejuízo da nota atribuída, descontando-se até 1

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ponto da nota total da questão. 2. Se a resposta for negativa ou omissa ao


apontar na resposta uma decisão sobre o cabimento ou não da instauração de
Inquérito Policial, a nota da questão será ZERO. Tal conduta – arquivamento –
não se justifica perante os elementos constantes do caso proposto e nem diante
da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça.
Isso porque os julgados dos Tribunais Superiores indicam a predominância do
entendimento de que para a Concurso Público consumação do crime previsto no
art. 89 da Lei Federal n.º 8.666/93 é necessário o dolo específico (ou elemento
subjetivo do tipo) de causar lesão ao Erário e a comprovação do efetivo prejuízo
(ver, no Supremo Tribunal Federal, Inq. 2.482/MG e no Superior Tribunal de
Justiça, APn 480-MG e AgRg no REsp 1499915/PR). Pois bem, os Tribunais de
Contas não analisam tais aspectos sob a ótica do direito penal, de modo que seria
necessária a instauração de inquérito exatamente para apurar se estão, ou não,
presentes ao menos de forma indiciária, os requisitos necessários à propositura
da ação penal. Assim, um arquivamento ou uma oferta de denúncia, na forma
como o caso foi exposto, seria uma conduta inadequada, por prematura ou
açodada, pois haveria que se perquirir da intenção do agente e da ocorrência do
prejuízo. Da mesma forma, a afirmação da atipicidade da conduta ensejar a não
instauração de inquérito, por se tratar de um serviço, também não mereceu
pontuação, pois o tipo penal de dispensa irregular de licitação não faz qualquer
menção a uma espécie de objeto. Ou seja, independentemente se o objeto é
aquisição de bens ou prestação de serviços, a dispensa seria ilícita. 3. CRITÉRIOS
DE N1 – Foram aceitas como corretas as respostas que apontaram que o
recebimento da decisão do Tribunal de Contas caracteriza-se como notitia
criminis, bem como as respostas que consideraram que o Inquérito Policial teria
que ser instaurado em razão de a remessa da decisão do Tribunal de Contas, pelo
Ministério Público caracterizar uma requisição, considerando as hipóteses dos
incisos I e II do art. 5.º do Código de Processo Penal. 4. CRITÉRIOS DE N2 – Para
pontuar no item N2 era necessária a correta identificação do delito, qual seja, o
crime de dispensar irregularmente licitação, conforme previsto no art. 89 da Lei
Federal n.º 8.666/93. Não foram consideradas corretas as respostas que
afirmaram a ocorrência do crime de fraude à licitação, pois este é o tipo penal
previsto no art. 90 da referida Lei de Licitações, em que ocorrer ajuste,
combinação ou qualquer outro expediente, que tenham por finalidade suprimir
o caráter competitivo do procedimento licitatório. 5. CRITÉRIOS DE N3 – Neste
item foram considerados dois elementos para a atribuição de nota máxima: a
impertinência da dispensa para um serviço comum que não precisaria ser
realizado por uma instituição de pesquisa; o valor praticado estar
significativamente acima daquele praticado pelo mercado, o que indicaria
possível prejuízo ao Erário, cuja comprovação é exigida para a configuração do
crime, de acordo com a já citada jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça e
do Supremo Tribunal Federal. Na falta de um dos dois elementos, a nota
atribuída foi parcial. 6. CRITÉRIOS DE N4 – As respostas que fizeram alusão a um
suposto foro de prerrogativa de função do Prefeito também foram consideradas
incorretas no critério de correção, já que o enunciado, em

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momento algum, afirma que o Prefeito participou da dispensa de licitação. Muito


pelo contrário, o enunciado é omisso, propositadamente, no quesito autoria,
para que houvesse fundamento para instauração de inquérito já que haveria
indícios de materialidade, mas nenhuma informação sobre a autoria. DIREITO
PENAL: Lei Federal nº 8.666/1993 (crimes nas licitações e contratos da
administração pública). DIREITO ADMINISTRATIVO: Licitações. Objeto e
finalidade. Destinatários. Princípios. Contratação direta: dispensa e
inexigibilidade. Controle e responsabilização da administração: controle
administrativo, controle judicial, controle legislativo.

DELEGADO DE POLÍCIA - PCRN - 2008 – CESPE

Considerando que a Constituição da República Federativa do Brasil (CF) prevê a


independência e harmonia entre os seus três poderes (art. 2.º da CF), assim como
a adoção do chamado sistema acusatório, surgem indagações jurídicas a respeito
da possibilidade de a investigação criminal ser levada a efeito por órgãos diversos
do aparato componente da segurança pública (art. 144 da CF). Nesse contexto, a
ciência processual vem aceitando a perquirição pré- processual por órgãos
diversos do policial, mas sempre procurando aclarar e minudenciar limites legais.
Considerando as argumentações contidas acima, redija, objetivamente, um texto
dissertativo acerca do seguinte tema. - LIMITES DA INVESTIGAÇÃO NO BRASIL
POR ORGANISMOS ESTRANHOS À POLÍCIA - Ao
elaborar seu texto, aborde, necessariamente, os seguintes aspectos: 1-
existência de previsão, no Código de Processo Penal, a respeito da possibilidade
de investigação por outras autoridades administrativas mediante previsão legal
para tanto; 2- função investigativa das comissões parlamentares de inquérito:
abrangência, previsão constitucional e limites; 3- possibilidade de investigação
levada a efeito por membro do Poder Judiciário; 4- investigação por membro do
Ministério Público.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

A carta maior brasileira estabeleceu, no seu art. 144, um rol taxativo dos
órgãos responsáveis pela preservação da ordem pública e da incolumidade das
pessoas e do patrimônio. A doutrina costuma entender que as atribuições dos
órgãos públicos que atuam na persecução penal são elencadas na Constituição
Federal, sendo também confirmadas pela legislação infraconstitucional. Com
isso, não há margens para dúvidas sobre qual é o papel de cada agente público
na tarefa de prevenir ou reprimir infrações penais.

À Polícia Militar e à Polícia Rodoviária Federal são incumbidas da missão de


policiamento ostensivo e preservação da ordem pública, e de patrulhamento
ostensivo das rodovias federais, respectivamente (artigo 144, §§ 12º e 5º, da
CRFB).

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Já à Polícia Civil e à Polícia Federal incumbem as funções de polícia judiciária


e apuração de infrações penais (artigo 144, §§ 1º e 4º, da CRFB). Portanto,
estabeleceu o Poder Constituinte Originário que as polícias civis e a polícia federal
desempenham a função de polícia judiciária e investigativa.

Verifica-se que a função investigativa (repressiva) pertence à polícia civil ou


à polícia federal. Já a função de polícia administrativa, preventiva e ostensiva,
cuja razão de ser é evitar a ocorrência de um fato criminoso, é desempenhada
pela polícia militar, polícia rodoviária federal e, excepcionalmente, pela polícia
federal, quando exerce a função de polícia marítima, aeroportuária e de
fronteira.

No entanto, apesar de, em regra, a atribuição investigativa pertencer à


polícia judiciária, não significa dizer que esta tem exclusividade. O próprio Código
de Processo Penal estabelece, em seu art. 4º, parágrafo único, que a referida
competência não excluirá a de autoridades administrativas, a quem por lei seja
cometida a mesma função. Significa dizer que outros órgãos, desde que
autorizados por lei, poderão exercer função investigativa.

Nesse sentido, dentre os órgãos autorizados por lei a conduzirem investiga-


ções estão a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), o Conselho de Atividades
Financeiras (COAF) e, no caso de crime militar, as polícias militares, forças
armadas e o corpo de bombeiros, através do Inquérito Penal Militar. As
Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI) possuem autorização constitucional
para desempenharem atividades investigativas.

A doutrina ensina que a CPI só pode investigar fatos precisos e determina-


dos, desde que sejam de interesse público. Além disso, com relação aos poderes
da CPI, não obstante constar do texto constitucional que terão poderes próprios
das autoridades judiciais, é pacífico o entendimento de que eles não alcançam as
chamadas “cláusulas de reserva de jurisdição”.

Estas apenas podem ser decretadas pelo Judiciário, com total exclusão de
qualquer outro órgão estatal acerca da prática de determinadas restrições a di-
reitos e garantias individuais, como a violação ao domicílio durante o dia (art.5º,
XI, da CRFB), prisão, salvo o flagrante delito (art. 5º, LXI, da CRFB), interceptação
telefônica (art. 5º, XII, da CRFB) e afastamento de sigilo de processos judiciais.

No entanto, a doutrina e Jurisprudência majoritárias entendem que o


princípio constitucional da reserva de jurisdição não alcança a quebra de sigilo,
já que a própria CRFB determina competência à CPI para decretar, sempre de
forma motivada, a excepcional ruptura dessa esfera de privacidade das pessoas.
Por isso, é possível à CPI decretar a quebra de sigilo bancário, fiscal e telefônico
(refere-se ao registro das ligações efetuadas e recebidas por determinado
terminal telefônico – extrato das ligações -, o que não se confunde com a
interceptação telefônica, que é a captação da comunicação telefônica

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alheia por um terceiro, em tempo real, sem o conhecimento de nenhum dos


comunicadores).

Tema que causa bastante debate na doutrina e na Jurisprudência é a


possibilidade (ou não) de o membro do Ministério Público desempenhar função
investigatória.

Parte da doutrina defende o poder investigatório do parquet com base na


teoria dos poderes implícitos, importada do direito Norte Americano. Tal teoria
versa que a Constituição, ao conceder uma atividade-fim a determinado órgão
ou instituição, culmina implicitamente a ele também conceder todos os meios
necessários para a consecução daquele objetivo.

Logo, se a CRFB atribuiu ao Ministério Público a titularidade de promover a


ação penal pública, implicitamente deu a possibilidade de realizar investigações
criminais. No entanto, cabe destacar que não há lei em sentido estrito, bem como
mandamento constitucional expresso possibilitando que seus membros
promovam investigações criminais.

O STF e o STJ enfrentaram o tema por diversas vezes. Prevalece a ideia de


que o Ministério Público dispõe de competência para promover, por autoridade
própria, e por prazo razoável, investigações de natureza penal, desde que res-
peitados os direitos e garantias que assistem a qualquer indiciado ou pessoa sob
investigação do Estado.

Somado a isso, devem ser observadas, sempre, por seus agentes, as hipó-
teses de reserva constitucional de jurisdição e, também, as prerrogativas profis-
sionais de que se acham investidos os advogados, sem prejuízo da possibilidade
– sempre presente no Estado democrático de Direito – do permanente controle
jurisdicional dos atos, necessariamente documentados.

Por fim, cabe destacar que o Judiciário deve abster-se de promover atos
investigatórios. Isso porque a investigação promovida por ele é incompatível com
o sistema acusatório, que se caracteriza pela presença de partes distintas,
contrapondo-se acusação e defesa em igualdade de condições, e a ambas se
sobrepondo um juiz, de maneira equidistante e imparcial.

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MEDIDAS ASSECURATÓRIAS

ANALISTA JUDICIÁRIO - CNJ – CESPE - 2013

A Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro


(ENCCLA) visa à articulação e à atuação conjunta de órgãos públicos que
trabalham com fiscalização, controle e inteligência como forma de aperfeiçoar a
prevenção e o combate à corrupção e à lavagem de dinheiro. O Conselho
Nacional de Justiça (CNJ) integra o grupo de instituições públicas comprometidas
com a ENCCLA, que hoje reúne cerca de setenta órgãos dos Poderes Executivo,
Legislativo e Judiciário, tanto no âmbito federal quanto no estadual, além do
Ministério Público. Esses órgãos se encontram anualmente para estabelecer
metas para o desenvolvimento de política pública eficaz na coibição de crimes
de corrupção e lavagem de dinheiro. Entre as metas da ENCCLA, o CNJ
regulamentou a criação do Sistema Nacional de Bens Apreendidos, ferramenta
que concentra em um único banco de dados as informações a respeito dos bens
apreendidos em procedimentos criminais em todo o território nacional. Internet:
(com adaptações). Considerando que o fragmento de texto acima tem caráter
unicamente motivador, redija texto dissertativo a respeito das medidas
assecuratórias da apreensão de bens que podem ser determinadas durante a
persecução penal. Ao elaborar seu texto, aborde, necessariamente, os seguintes
aspectos: 1- medidas assecuratórias de apreensão de bens previstas no Código
de Processo Penal; [valor: 6,00 pontos] 2- diferenças entre as medidas
assecuratórias de apreensão de bens; [valor: 12,00 pontos]3- hipóteses legais de
levantamento/cancelamento da medida específica para bens adquiridos com os
proventos da infração. [valor: 10,50 pontos]

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

O Código de Processo Penal prevê, em seus arts. 125 a 144-A, as seguintes


medidas assecuratórias de apreensão de bens: sequestro, especialização e
registro da hipoteca legal, arresto prévio, arresto subsidiário de bens móveis e
alienação antecipada.

O sequestro é uma medida cautelar de natureza patrimonial, consistente


no ulterior perdimento de bens como efeito da condenação (confisco) ou no
interesse privado do ofendido na reparação do dano causado pela infração penal,
que recai sobre bens ou valores adquiridos pelo investigado ou acusado com os
proventos da infração. Os bens sequestrados, entretanto, podem ser levantados
caso a ação penal não seja intentada em 60 dias, ou ainda: se admitida caução
prestada por terceiro; se extinta a punibilidade ou se o acusado for absolvido; e,
por fim, caso eventuais embargos sejam procedentes.

De outro lado, a especialização e registro da hipoteca legal se darão para


a satisfação do dano causado pelo delito e pagamento das despesas judiciais, em
favor do ofendido ou de seus herdeiros. Já o arresto prévio de bem imóvel é uma
medida preparatória da inscrição da hipoteca legal, de natureza

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pré-cautelar, cuja finalidade é tornar os bens imóveis do acusado inalienáveis


durante o lapso temporal necessário à tramitação do pedido de registro do
gravame real.

O arresto subsidiário de bens móveis se dá nas situações em que o


responsável não possuir bens imóveis ou os possuir de valor insuficiente, quando
poderão ser arrestados bens móveis suscetíveis de penhora, nos termos em que
é facultada a hipoteca legal dos imóveis.

Por fim, a alienação antecipada consiste na venda antecipada dos bens,


direitos ou valores em razão da medida cautelar patrimonial ou que tenham sido
apreendidos, desde que haja risco de perda do valor econômico pelo decurso do
tempo.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal – volume único. 2ª edição.
Salvador: Juspodivm, 2014, p. 1084-ss.

POLICIAL CIVIL - PCGO - CESPE - 2016

No curso de uma investigação policial, atendendo à representação da autoridade


policial, foi autorizada judicialmente medida de busca e apreensão de bens e
documentos, a ser realizada em endereço determinado, conforme descrito no
competente mandado. De posse do mandado, os agentes de polícia,
acompanhados da autoridade policial, chegaram ao sobredito imóvel somente
no período noturno, devido a vários contratempos havidos no decorrer das
diligências. Confirmado o endereço, constatou-se a presença de várias pessoas
no interior do imóvel, entre elas, o proprietário da casa, indiciado no inquérito
policial que originou o mandado de busca e apreensão. Adicionalmente,
constatou-se a existência de três veículos na garagem do imóvel. Considerando
a situação hipotética acima apresentada, redija um texto dissertativo acerca do
instituto da busca e apreensão no processo penal. Ao elaborar seu texto, aborde,
fundamentadamente, os seguintes tópicos. 1- Natureza jurídica da busca e
apreensão, seus objetivos e suas características e normas gerais. [valor: 7,00
pontos] 2- Requisitos para o cumprimento da busca e apreensão em suas
modalidades domiciliar e pessoal. [valor: 6,00 pontos] 3- Relativamente à
situação hipotética apresentada: possibilidade jurídica de realização da diligência
no horário noturno. [valor: 3,00 pontos] 4- Relativamente à situação hipotética
apresentada: possibilidade jurídica de realização de busca pessoal nas pessoas
encontradas no interior do imóvel, bem como no interior dos veículos
estacionados na garagem. [valor: 3,00 pontos] (30 LINHAS)

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

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Entende-se pela busca e apreensão como sendo o instituto cautelar que


restringe os direitos individuais com o escopo de acautelar: a) material probatório
indispensável à prova da infração ou à defesa do réu; e b) coisas, animais e
pessoas que não estejam ao alcance espontâneo da Justiça Criminal.

A doutrina mais abalizada aduz que a busca e apreensão é meio de prova,


tendo em vista sua localização topográfica no CPP, razão pela qual alguns
autores mencionam o viés misto desse instituto.

Por restringir direitos, ela é uma medida excepcional, já que afasta a


proteção domiciliar e a inviolabilidade pessoal, garantias com assento no texto
da CRFB. Por conta do viés de excepcionalidade, referida medida depende de
ordem judicial, sendo possível ser empreendida em fase inquisitorial (antes ou
durante o inquérito) e também na fase processual instrutória.

O CPP menciona que a busca poderá ser domiciliar ou pessoal,


entendendo-se a primeira como aquela realizada em residência, bem como em
qualquer compartimento habitado, ou aposento ocupado de habitação coletiva
ou em compartimento não aberto ao público, no qual alguém exerça profissão
ou atividade. A busca pessoal é aquela realizada na própria pessoa, em contato
direto com o corpo humano ou pertences íntimos ou exclusivos do indivíduo,
como bolsas, malas e veículos.

No que tange aos requisitos para a execução da busca domiciliar, temos:


a) ordem judicial escrita e devidamente fundamentada; b) indicação exata do
local, dos motivos e da finalidade da busca e apreensão; c) realização durante o
dia, exceto se o morador consentir com a realização noturna; d) em qualquer
horário, no caso de flagrante delito, pode ocorrer a medida restritiva referida.

Frise-se que a busca pessoal independe de autorização judicial, mas


possui, como critério essencial, a fundada suspeita de que a pessoa tenha armas,
instrumentos do crime ou objetos necessários para a prova de um delito. A busca
pessoal é permitida inclusive durante a busca domiciliar. Aduza-se que a busca
pessoal pode ser realizada em qualquer horário, pois, como dito, independe de
ordem judicial. Se a medida mais gravosa, que é a violação do domicílio, conta
com a ordem judicial, seria de todo improcedente que o executor da ordem não
pudesse revistar as pessoas e os seus pertences encontrados no local.

GABARITO DA BANCA EXAMINADORA:

1- O instituto da busca e apreensão no processo penal é procedimento de


natureza eminentemente cautelar, com previsão na Constituição Federal e no
Código de Processo Penal, sendo medida restritiva de direitos individuais com o
objetivo de acautelamento: i) de material probatório necessário à prova da
infração ou à defesa do réu; ii) de coisa, de animais e até de pessoas que não
estejam ao alcance espontâneo da justiça. A doutrina ainda considera a natureza
jurídica da busca e apreensão como meio de prova, por constar no

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Título VII, Capítulo XI, do CPP, motivo pelo qual alguns também a consideram o
instituto de natureza jurídica mista. É medida excepcional por implicar tanto a
quebra da inviolabilidade do domicílio, quanto a inviolabilidade pessoal, em face
das garantias constitucionais previstas no art. 5.º, incisos e X e XI, da Constituição
Federal. (Art. 5.º, X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a
imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou
moral decorrente de sua violação; XI – a casa é asilo inviolável do indivíduo,
ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso
de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por
determinação judicial). Tal característica, ou seja, a excepcionalidade, em face
das garantias constitucionais em comento, traz em consequência a
jurisdicionalidade, que impõe seja a medida analisada previamente pelo Poder
Judiciário, podendo ser realizada em fase inquisitorial, antes ou durante o
inquérito e em fase processual, ou seja, durante a instrução do processo. Nos
termos do art. 240 e seguintes do Código de Processo Penal, a busca poderá ser
domiciliar ou pessoal, entendendo-se a primeira como aquela realizada em
residência, bem como em qualquer compartimento habitado, ou aposento
ocupado de habitação coletiva ou em compartimento não aberto ao público, no
qual alguém exerça profissão ou atividade. A busca pessoal é aquela realizada na
própria pessoa, em contato direto com o corpo humano ou pertences íntimos ou
exclusivos do indivíduo, como bolsas, malas e veículos. 2- Os requisitos
indispensáveis para a execução da busca domiciliar são: a) Ordem judicial escrita
e fundamentada; b) Indicação precisa do local, dos motivos e da finalidade da
diligência; c) Cumprimento da diligência durante o dia, salvo se o morador
consentir que seja realizada à noite; d) A qualquer hora do dia ou da noite,
independentemente de mandado judicial ou consentimento do morador, por
ocasião de flagrante delito. Já a busca pessoal não depende de autorização
judicial para o seu cumprimento, mas apresenta como requisito essencial e
indispensável a fundada suspeita de que o indivíduo porte consigo ou em seus
pertences armas, instrumentos do crime, objetos necessários à prova do fato
delituoso, entre outros. É também legalmente autorizada quando determinada
no curso da busca domiciliar (art. 244 do CPP). 3- Em se tratando de busca pessoal
e havendo fundadas razões para a execução da diligência, esta poderá ser
realizada a qualquer hora do dia ou da noite, porquanto independe de
autorização judicial nesse sentido; todavia, tratando-se de busca domiciliar, esta
somente se dará no horário noturno se for consentida pelo morador. Não
havendo consentimento deste, a diligência somente poderá ser executada
durante o dia. 4- Conforme dito alhures, no decorrer da busca e apreensão
domiciliar, a legislação processual penal autoriza a busca pessoal,
independentemente de ordem judicial, o que se estende aos objetos pertencentes
à pessoa, a exemplo de bolsas e veículos (automóvel, bicicleta, motocicleta etc.).
Se a medida mais gravosa, que é a violação do domicílio, conta com a ordem
judicial, seria de todo improcedente que o exequente da ordem não pudesse
revistar as pessoas e os seus pertences encontrados no local. Obs. Artigos de lei
ou do CPP não citados neste padrão de resposta

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poderão ser considerados para fins argumentativos da questão, desde que não
contrariem o quanto exigido pela Banca Examinadora.

DELEGADO DE POLÍCIA - PCSP - ACADEPOL - 2014

Comente a peculiaridade estipulado na Lei sobre Drogas, no que se refere ao


ônus da prova, em face da apreensão de bens, valores ou produtos oriundos dos
crimes nela previstos.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

A Lei nº 11.343/06 dispõe, em seu art. 60, caput, que o magistrado poderá
decretar, de ofício, a requerimento do representante do Ministério Público ou
mediante representação por parte do Delegado de Polícia, a apreensão ou outras
medidas assecuratórias relacionadas aos bens móveis, imóveis e demais valores
e produtos dos crimes estabelecidos no referido diploma legal ou que constituam
proveito auferido com a prática dos delitos.

As medidas cautelares podem ser vistas como um dos meios mais eficazes
de repressão ao tráfico de drogas. Diante da frequente ineficiência das penas
privativas de liberdade, até mesmo porque os comandantes do crime são
facilmente substituídos, o confisco de bens e valores acaba por promover o
“tolhimento econômico” daquilo que é obtido com a prática das infrações
relacionadas ao mercado de entorpecentes.

Além de assegurar o confisco como efeito da condenação, as medidas


assecuratórias objetivam garantir uma futura reparação do dano à vítima da
infração penal, bem como ao pagamento das despesas processuais e das penas
pecuniárias ao Estado, evitando, de igual forma, que o réu se farte, de maneira
indevida, da ação delitiva.

Quanto à peculiaridade estipulada na Lei nº 11.343/06, disposta,


basicamente, nos parágrafos do já mencionado artigo 60, em decorrência da
adoção em nosso ordenamento jurídico dos princípios do in dubio pro reo e da
presunção de inocência, o ônus da prova recai sobre o Ministério Público ou sobre
o querelante. De acordo com o art. 156 do CPP, a prova da alegação caberá a
quem a fizer.

Dessa maneira, para a corrente majoritária, caberia à acusação a prova


da existência do fato típico; da autoria ou participação na infração objeto da
persecução penal; da relação de causalidade; e do elemento subjetivo do autor
dos fatos (se agiu com dolo/culpa). Incumbiria, portanto, à defesa a comprovação
da existência de eventual causa excludente da ilicitude, da culpabilidade e até
mesmo de causa extintiva da punibilidade.

Pela importância e pela hierarquia dos princípios supramencionados no


Texto Constitucional, não se faz possível que uma lei estabeleça a inversão do

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ônus da prova com relação à condenação penal. Assim, essa modificação só seria
admitida no tocante aos efeitos secundários do parecer condenatório, que
tenham natureza de sanção civil, intentando a reparação do dano.

De acordo com a redação do art. 60, §1º, da Lei de Drogas, o juiz, após
decretar quaisquer das medidas cautelares, facultará ao acusado o prazo de
cinco dias para que apresente ou requeira a produção de provas referentes à
origem lícita do produto, bem ou valor objeto da decisão. Entende-se ter havido
verdadeira inversão do ônus da prova, uma vez que o próprio agente (e não o
Ministério Público, como visto na regra geral do CPP) deverá comprovar a fonte
lícita do que foi judicialmente apreendido para, assim, obter a sua liberação antes
do trânsito em julgado da decisão.

Para os doutrinadores, o regramento acima explicitado deve ser aplicado


somente aos pedidos de restituição feitos durante o curso do processo. No
momento da prolação da sentença, caberia ao Ministério Público a prova quanto
à licitude dos bens e valores objetos da apuração e sua relação com o tráfico de
drogas.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

Legislação Criminal Especial comentada. Renato Brasileiro de Lima. Editora


Juspodivm. 3ª edição, 2015.

Manual de Processo Penal. Renato Brasileiro de Lima. Editora Juspodivm. 3ª


edição, 2015.

PROCURADOR FEDERAL – AGU - CESPE - 2013

Tendo em vista que, na atualidade, inúmeras ações judiciais têm sido impetradas
contra autarquias federais visando à liberação de bens apreendidos por estarem
sendo utilizados em infrações ambientais, como, por exemplo, caminhões
utilizados no transporte de madeira ilegalmente extraída; gaiolas e malas
utilizadas no transporte de animais silvestres; e tratores utilizados para
desmatamento ou parcelamento irregular, redija um texto dissertativo a respeito
da apreensão de bens utilizados na prática de infrações administrativas
ambientais. Ao elaborar seu texto, aborde, necessariamente, os seguintes
pontos: - apreensão como cautela ou como sanção administrativa; - momentos
de aplicação da apreensão; - aplicabilidade ou não das modalidades de
apreensão à esfera penal; - possibilidade ou não da apreensão administrativa
definitiva se houver absolvição do autuado na esfera penal.
SUGESTÃO DE RESPOSTA:

A Lei nº 9.605/98, em seu art. 25, versa sobre a apreensão de produtos e


instrumentos utilizados na prática de infrações ambientais.

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Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br

O ordenamento jurídico brasileiro prevê, como medida a ser praticada


pela fiscalização ambiental, a apreensão de bens que sejam utilizados pelo
infrator que cause danos ao meio ambiente. Isso decorre diretamente de toda a
principiologia de proteção ao direito fundamental a um ambiente
ecologicamente correto e equilibrado. Portanto, a apreensão dos bens é uma
medida que tem por escopo minorar a potencialidade danosa do infrator e evitar
a reincidência.

Entende-se por instrumento utilizado na infração ambiental tudo aquilo


que for ou estiver sendo utilizado no delito. Quando do julgamento do auto de
apreensão, a autoridade administrativa competente deverá analisar se o bem
aprendido está enquadrado no conceito de instrumento e, caso não esteja,
deverá ser devolvido.

O art. 72 da Lei nº 9.605/98 prevê inúmeras sanções administrativas e,


dentre elas, está a apreensão de bens. Nota-se que a apreensão é uma medida
de caráter acautelatória, que busca evitar a perenização da infração ambiental e
garantir a aplicação prática da eventual sanção administrativa, consoante o art.
101, §1º, do Decreto nº 6.514/98. Ao se deparar com uma infração
administrativa ambiental, o agente público deverá apreender produtos ou
instrumentos utilizados na infração, conforme autorização legal. Com a lavratura
do(s) auto(s) de infração(ões), o acusado poderá se defender em um processo
administrativo específico.

Um ponto importante envolve a apreensão criminal, pois esta possui um


objetivo diferente, embora possa ser empreendida de forma concomitante com a
apreensão na seara administrativa. No campo penal, a apreensão ocorre quando
os bens guardarem pertinência com o delito ou constituírem em elementos
probatórios. Além disso, é efeito da condenação criminal a perda definitiva
(confisco penal). É importante destacar que a sanção administrativa independe
da conclusão de eventual processo criminal ou cível, por conta da independência
de instâncias.

Diante desse fato, ainda que o infrator seja absolvido na esfera penal,
regra geral, não necessariamente o bem terá que ser devolvido, pois poderá
restar configurada a culpabilidade no campo administrativo. Logo, instaurado o
processo administrativo e concluindo a autoridade administrativa pelo
perdimento dos bens, o juízo penal não poderá desconstituir tal decisão.

GABARITO DA BANCA EXAMINADORA:

- Grade de correção da banca: 1-Apresentação (legibilidade, respeito às margens


e indicação de parágrafos) e estrutura textual (organização das ideias em texto
estruturado) 0,00 a 0,50 - 2 - Desenvolvimento do tema - 2.1 - Apreensão como
medida cautelar ou como sanção administrativa 0,00 a 2,50 -
2.2 - Momentos de aplicação da apreensão 0,00 a 2,50 - 2.3 - Aplicabilidade das
modalidades de apreensão à esfera penal 0,00 a 2,50 - 2.4 Possibilidade de
apreensão administrativa em caso de absolvição na esfera penal.

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PROMOTOR DE JUSTIÇA – MPE/RJ – 2018 – BANCA PRÓPRIA

O ordenamento jurídico brasileiro reconhece o “sequestro pelo equivalente” e


a “perda de bens pelo equivalente”? Em que consistem tais medidas?

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

O ordenamento jurídico brasileiro, no âmbito da persecução penal,


realmente reconhece ambas as medidas.

Quanto à primeira, cuida-se de medida cautelar real, que recai sobre bens
ou valores equivalentes ao produto ou proveito de crime, objetivando posterior
decretação de sua perda em favor da União, conforme artigos 125 e seguintes do
CPP, na forma do artigo 91, parágrafo 2º, do CP.

No tocante à perda pelo equivalente, trata-se de efeito da condenação,


consistente no confisco dos instrumentos ou produtos do crime, conforme artigo
91, II, a e b, e parágrafo 1º, do CP.
As comentadas medidas, contudo, somente têm lugar quando o produto
ou proveito do crime não forem encontrados ou quando se localizarem no
exterior.

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PAPEL DO MINISTÉRIO PÚBLICO

ANALISTA DO MP - MPU - CESPE - 2013

Redija um texto dissertativo acerca da relação entre os princípios institucionais


do Ministério Público e a competência para promover atividades investigatórias
para fins de preparação e eventual instauração de ação penal. Em seu texto,
responda de forma fundamentada, necessariamente, aos seguintes
questionamentos: 1- A competência em apreço está expressamente prevista
pela Constituição Federal de 1988 entre as funções institucionais do Ministério
Público? 2- Qual o posicionamento atualmente predominante acerca dessa
matéria, na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal? 3- Como o Supremo
Tribunal Federal aplica a doutrina dos “poderes implícitos” a essa matéria?

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

A Constituição Federal não explicita norma que expresse que o Ministério


Público possui poder de investigar. Por tal motivo, foi internalizada a teria dos
poderes implícitos, nascida nos EUá (caso “Mc CulloCh vs. Maryland”). De acordo
com referida teoria, se a Constituição outorga determinada atividade-fim a um
órgão, significa dizer que também concede todos os meios necessários para a
realização desta atribuição.

A Lei Maior confere ao Ministério Público as funções de promover a ação


penal pública (artigo 129, I). Logo, ela atribui ao parquet todos os meios
necessários para o exercício da denúncia, dentre eles, a possibilidade de reunir
provas que fundamentem a acusação. Ademais, a Constituição não conferiu à
Polícia Judiciária o monopólio da atribuição de investigar crimes.

Convém ressaltar que, além da titularidade da ação penal pública,


também é função institucional do Ministério Público expedir notificações nos
procedimentos administrativos de sua competência, requisitando informações e
documentos para instruí-los, requisitar diligências investigatórias e a instauração
de inquérito policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas manifestações
processuais, bem como exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde
que compatíveis com sua finalidade (art. 129, VI, VIII e IX, da CRFB).

Por sua vez, a Lei Complementar nº 75/93, nos artigos 7º e 8º, enumera
diversas atribuições do Ministério Público da União, destacando-se, dentre elas,
a possibilidade de instaurar inquérito civil e outros procedimentos
administrativos correlatos, requisitar diligências investigatórias, notificar
testemunhas e requisitar sua condução coercitiva, no caso de ausência
injustificada, realizar inspeções e diligências investigatórias e expedir
notificações e intimações necessárias aos procedimentos e inquéritos que
instaurar.

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No âmbito jurisdicional, o STJ e o STF possuem diversos precedentes


reconhecendo o poder de investigação do Ministério Público. O plenário do
Supremo Tribunal Federal reconheceu a legitimidade do Ministério Público para
promover investigações criminais, fixando a ideia de que o parquet dispõe de
competência para promover, por autoridade própria e por prazo razoável,
investigações de natureza penal.

Porém, isso deve ocorrer com respeito aos direitos e garantias que
assistem a qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação do Estado,
observadas, sempre, por seus agentes, as hipóteses de reserva constitucional de
jurisdição e, também, as prerrogativas profissionais de que se acham investidos,
no país, os advogados (Lei 8.906/94, artigo 7º, notadamente os incisos I, II, III, XI,
XIII, XIV e XIX), sem prejuízo da possibilidade do permanente controle jurisdicional
dos atos, necessariamente documentados (Súmula Vinculante 14), praticados
pelos membros dessa instituição.

ANALISTA DO MP - MPE-SP - 2013 - IBFC

Recentemente o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) decidiu sobre a legitimidade


da atuação do Ministério Público Estadual nos recursos de sua competência. De
acordo com a decisão do STJ, é admissível a atuação do Ministério Público
Estadual, como parte, nos recursos de competência desse Tribunal? Como se dá
a atuação do Ministério Público na hipótese de figurar como fiscal da lei, perante
esse Tribunal?

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Existia certa controvérsia no âmbito dos tribunais acerca da legitimidade


do Ministério Público Estadual para atuar, por exemplo, perante o STJ e STF.
Entretanto, tal visão não prevalece mais, de forma que STF e STJ aceitam a
atuação do Ministério Público Estadual como parte.

O Ministério Público da União e o Ministério Público Estadual podem ser


parte e custos legis (na esfera cível ou penal). Assim, tendo a ação sido proposta
pelo Ministério Público Estadual perante o primeiro grau de jurisdição, não há
motivo para impedir a atuação do parquet estadual perante tribunal superior.

Nessas circunstâncias, o Ministério Público Federal exerce apenas uma de


suas funções: custos legis. Dessa forma, sendo o recurso do Ministério Público
Estadual, o Ministério Público Federal, à vista do ordenamento jurídico, pode
opinar pelo provimento ou pelo desprovimento. Assim, cindido em um processo
o exercício das funções do Ministério Público (o Ministério Público Estadual sendo
o autor da ação e o Ministério Público Federal opinando acerca do recurso
interposto), não há razão legal, nem qualquer outra ditada pelo interesse
público, que autorize restringir a atuação do Ministério Público

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Estadual enquanto parte recursal, realizando sustentações orais, interpondo


agravos regimentais contra decisões, etc.

Caso contrário, seria permitido a qualquer outro autor ter o referido


direito e retirar-se-ia do Ministério Público Estadual, por exemplo, o direito de
perseguir a procedência de ações penais e de ações de improbidade
administrativa imprescindíveis à ordem social.

PROMOTOR DE JUSTIÇA – MPE/BA – 2015 – BANCA PRÓPRIA

Em capítulo intitulado “á Desordem nas Instituições da Ordem”, no livro


Legalidade Libertária(Editora Lumen Juris, 2006, p. 337), o professor Luiz
Eduardo Soares, ao fazer uma reflexão sobre as polícias brasileiras, pondera que:
“á ausência de dados críveis e rigorosos sobre o desempenho policial é apenas a
ponta do iceberg. O problema é bem mais profundo e grave: tampouco há dados
consistentes sobre as dinâmicas criminais, ou pessoal qualificado para
interpretá-los (coletá-los, organizá-los, processá-los, distribuí- los), ou rotinas
adequadas que valorizem sua interpretação e a produção de diagnósticos para
fins práticos –isto é, não há gestão do conhecimento.” Nesse contexto, discorra
sobre o controle externo da atividade policial pelo Ministério Público,
abordando, necessariamente, os seguintes aspectos: 1) Natureza jurídica do
controle externo da atividade policial pelo Ministério Público. Fundamentos
constitucionais e infraconstitucionais, do ponto de vista normativo, para esse
tipo de controle; 2) Crítica doutrinária à expressão “controle externo da atividade
policial”, prevista na Constituição Federal de 1988; 3) Objetivos do controle
externo da atividade policial pelo Ministério Público; 4) Qual(ais) polícia(s) e
atividade(s) policial(ais) está(ão) sujeita(s) ao controle externo pelo Ministério
Público; 5) Modalidades de controle externo da atividade policial pelo Ministério
Público, considerando-se, inclusive,o momento e a necessidade de exercício
desse controle, devendo ser citado ao menos um exemplo para cada
modalidade; 6) Formas de exercício do controle externo da atividade policial pelo
Ministério Público, devendo ser citado ao menos um exemplo para cada forma
de exercício. Discorra em até 40(quarenta) linhas.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

O controle externo da atividade policial pelo Ministério Público é um


poder-dever institucional e constitucional, segundo os arts. 127, caput, 129,
incisos I, II e VII, da CF/88; arts. 5º, II, 16º do CPP; arts. 3º, 9º e 10º da Lei
Complementar n. 75/93.

á expressão “controle externo da atividade policial” é genérica e não


especifica quais polícias e atividades policiais estão sujeitas ao controle externo;
também não esclarece, através de regras mínimas, o que consiste esse controle
externo da atividade policial pelo Ministério Público, podendo ensejar

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regulamentação contraditória sobre o tema pelos diversos Ministérios Públicos


através de suas respectivas leis orgânicas.

O controle externo da atividade policial pelo Ministério Público tem como


objetivo o aprimoramento da atividade policial, com ênfase na legalidade,
probidade e respeito aos direitos e garantias fundamentais do cidadão;
indisponibilidade da persecução penal, a preservação da ordem pública e a
incolumidade das pessoas e do patrimônio público; o respeito aos fundamentos
do Estado Democrático de Direito (sistema de freios e contrapesos) e à
competência dos órgãos incumbidos da segurança pública. (art. 3º da Lei
Complementar n. 75/93);

Todas as polícias relacionadas no art. 144 da CF/88, sejam elas


preventivas ou repressivas/judiciárias, estão sujeitas ao controle externo pelo
Ministério Público. Estão sujeitas ao controle externo pelo Ministério Público
todas as atividades-fim e atividades-meio essencialmente ligadas à eficiente
execução das atividades-fim; Controle ordinário; Controle extraordinário;
Controle difuso; Controle concentrado.

O controle preventivo, concomitante e repressivo são modalidades de


controle externo pelo Ministério Público. O exercício do controle externo pode ser
exercido através de medidas judiciais e medidas extrajudiciais (art. 9º da Lei
Complementar n. 75/93).

ANALISTA DO MP – 2014 -MPE/BA – AOCP

Discorra sobre o poder investigatório do Ministério Público na atual conjuntura


jurídica brasileira.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

A Constituição Federal descreve que, entre as funções institucionais do


Ministério Público, está a titularidade da ação penal pública, sendo sua
atribuição promovê-la privativamente, requisitar diligências investigatórias e a
instauração de inquérito policial, bem como promover o inquérito civil e a ação
civil pública, expedir notificações nos procedimentos administrativos, requisitar
informações e documentos, além de outras na forma da lei.

O poder investigatório do Ministério Público em âmbito cível decorre da


própria Constituição Federal, entretanto, em âmbito criminal, o Projeto de
Emenda Constitucional n° 37 abriu discussão com o propósito de dar
exclusividade às polícias civil e federal para a apuração das infrações penais.
Ocorre que a legitimação para a investigação criminal do Ministério Público
decorre da própria titularidade da ação penal pública, sendo inclusive
reconhecida pelos Tribunais Superiores. Com a rejeição da PEC 37, o poder
investigatório em âmbito criminal manteve a sua prevalência, nos termos

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Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br

admitidos pela Jurisprudência dominante, inclusive no âmbito do Supremo


Tribunal Federal.

O Ministério Público, como destinatário das investigações, deve


acompanhar o desenrolar dos inquéritos policiais, requisitando diligências,
acessando os boletins de ocorrências e exercendo o controle externo.

Dessa forma, na atual conjuntura jurídica brasileira, detém o Ministério


Público plena competência para promover investigações na esfera cível e
criminal. As competências da polícia e do Ministério Público não são diferentes,
mas complementares.

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PRISÃO

MAGISTRATURA FEDERAL – TRF5 – 2018 – CESPE

João, suspeito de um roubo à agência da Caixa Econômica Federal de Campina


Grande/PB, ocorrido em 20/6/2012, foi preso em flagrante no dia 3/1/2013,
durante diligência de cumprimento do mandado de busca e apreensão, de que
resultou a descoberta de R$ 900.000,00 (novecentos mil reais) em espécie
enterrados no quintal de sua residência. Considerando essa situação hipotética,
pronuncie-se sobre a validade da prisão de João.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

O caso em tela discute uma suposta situação de flagrante pelo crime de


roubo a numerário existente na Caixa Econômica Federal. O enunciado narra que
o investigado teria sido preso por ocultar novecentos mil reais em espécie em seu
quintal, após ser tido como suspeito do anterior crime de roubo, ocorrido 6 meses
antes da prisão.

Ao que tudo indica, não é possível atestar o flagrante quanto ao crime de


roubo. Com efeito, o art. 302 do CPP apresenta todas as hipóteses em que se pode
enquadrar uma conduta como flagrante. E, salvo melhor juízo, nenhuma delas
pode se amoldar a um suposto cometimento de delito, que depende de
materialidade, mais de seis meses antes do flagrante.

Note-se que o crime de roubo está tipificado como a subtração (para si ou


outrem) de coisa alheia móvel mediante violência ou grave ameaça. É inegável
que a configuração do delito depende da comprovação mínima de tais condutas,
o que não parece ter ocorrido no caso em tela, ao menos segundo o que o
enunciado diz. Ao que consta, o suspeito foi surpreendido com dinheiro enterrado
em seu terreno, o que não necessariamente expressa ou, ao menos, induz que ele
praticou a subtração mediante violência ou grave ameaça.

Ademais, a situação em tela não parece poder ser enquadrada no crime


tipificado no art. 1º da Lei 9.613/98. De fato, a ocultação para lavagem de
dinheiro pressupõe (segundo doutrina e jurisprudência) o animus de mascarar a
origem do numerário para supostamente transforma-lo em dinheiro “limpo”,
apto a ser usado até mesmo de uma só vez (independente do valor). Exige-se,
portanto, aquilo que se convencionou chamar de dolo de ocultação ou dolo de
mascaramento; caso contrário, o crime se exaure na subtração ilícita e violenta,
o que configura o roubo.

Assim, salvo melhor juízo, a prisão realizada supostamente em flagrante


delito é absolutamente ilegal.

OFICIAL DE JUSTIÇA - TRF3 - 2014 - FCC

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No cumprimento de um mandado judicial, em diligência externa, o oficial de


justiça é gravemente aviltado por particular tecnicamente primário, estando
aquele no exercício de suas funções. Fundamentadamente, esclareça se, em
relação ao particular: a. Cabe prisão em flagrante? Quais as providências que
deverão ser adotadas pela Autoridade Policial? b. Cabe, em tese, prisão
preventiva se já tiver sofrido condenação criminal recorrível? Por quê? c. Sob
quais pressupostos e forma pode ser algemado?
SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Ao proceder à análise do problema exposto, verifica-se que ao ser aviltado


por particular no exercício de suas funções, o oficial se justiça foi vítima do crime
de desacato praticado pelo particular, previsto no art. 331 do CP. Por não possuir
pena privativa de liberdade máxima superior a dois anos, é considerada infração
de menor potencial ofensivo, conforme determina o art. 61 da Lei nº 9.099/95.

Deste modo, ao ser detido e conduzido, a juízo do delegado de polícia,


deverá ser lavrado termo circunstanciado de ocorrência, encaminhando-o
imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima. Caso não seja possível
a apresentação imediata, deverá o autor assumir o compromisso de comparecer
ao Juizado quando for convocado, sob pena de ser preso em flagrante caso não
o assuma (art. 69 e parágrafo único da Lei nº 9.099/95).

Na hipótese de ter sofrido condenação recorrível, não será admitida a


decretação de eventual prisão preventiva em virtude de não ser crime punido
com pena máxima superior a quatro anos (art. 313, I, do CPP), bem como estar
ausente o requisito de condenação transitada em julgado previsto no art. 313, II,
CPP, haja vista o princípio da presunção de inocência (art. 5º, LVII, da CRFB).

A Súmula Vinculante nº 11, editada em 2008, aduz que só é lícito o uso de


algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à
integridade física, própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros. Essa
excepcionalidade deve ser justificada por escrito, sob pena de responsabilidade
disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou
do ato processual, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado.

O Decreto nº 8.858/16 limita o uso de algemas a situações de resistência


e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia,
causado pelo preso ou por terceiros. A norma determina que toda medida
excepcional deve ser justificada por escrito, de forma semelhante ao que já diz a
Súmula Vinculante nº 11.

O emprego de algemas terá as seguintes diretrizes: a dignidade da pessoa


humana (art. 1º, III, da CRFB); a proibição de que qualquer pessoa seja submetida
a tortura, tratamento desumano ou degradante (art. 5º, III, da CRFB); a
Resolução nº 2010/16, de 22 de julho de 2010, das Nações Unidas sobre o
tratamento de mulheres presas e medidas não privativas de liberdade

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para mulheres infratoras (Regras de Bangkok); e o Pacto de San José da Costa


Rica, que determina o tratamento humanitário dos presos e, em especial, das
mulheres em condição de vulnerabilidade.

JURISPRUDÊNCIA RELACIONADA:

Súmula Vinculante n° 11 do STF: - Só é lícito o uso de algemas em casos de


resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria
ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por
escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da
autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem
prejuízo da responsabilidade civil do Estado

Sumula n° 444 do STJ - É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais


em
curso para agravar a pena-base.

GABARITO DA BANCA EXAMINADORA:

A-Trata-se de crime de menor potencial ofensivo (Cód. Penal, art. 331), com pena
máxima não superior a 2 anos de detenção, diante do que o autor do fato é de
ser conduzido preso à presença da Autoridade Policial que lavrará termo
circunstanciado e, à vista do compromisso de comparecimento ou apresentação
imediata a Juízo, não lhe imporá prisão em flagrante e sequer lhe exigirá fiança
(Lei no 9.099/95, art. 69, parágrafo único). B-Não, posto que não se trata de
crime punido com pena máxima superior a 4 anos (Cód. de Processo Penal, art.
313, I) e o autor do fato, aliás de menor potencial ofensivo, não foi ainda
definitivamente condenado por outro crime (Cód. de Processo Penal, art. 313, II),
militando em seu favor, ademais, a presunção constitucional de inocência
(Constituição Federal, art. 5º, LVII c/c o sentido normativo da Súmula 444 do STJ).
c. Nos termos da Súmula Vinculante 11 do Supremo Tribunal Federal, somente é
possível a aplicação de algemas quando houver resistência, ou fundado receio de
fuga ou perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de
terceiros, justificada a excepcionalidade, em qualquer caso, por escrito.

ESCRIVÃO - PCBA - CESPE - 2013

Disserte sobre os direitos da pessoa presa, abordando, necessariamente, os


seguintes aspectos: 1- principais direitos assegurados pela CF e pelo Código de
Processo Penal à pessoa presa em flagrante ou por força de mandado judicial; 2-
consequências da inobservância desses direitos pela autoridade policial; 3-
direitos do preso em relação à atuação dos meios de comunicação.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

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Em um Estado Democrático de Direito, como é o caso do Brasil, a prisão


de um indivíduo deve se dar com fiel observância dos direitos e garantias
fundamentais assegurados pela Constituição Federal e pelos demais diplomas
normativos em vigência.

A Constituição Federal determina, em seu art. 5º, LXIII, que o preso será
informado de seus direitos, dentre os quais, o de permanecer calado, sendo-lhe
assegurada a assistência da família e de advogado. No mesmo sentido, o art.
289-A, §4º, inserido no CPP pela Lei nº 12.403/11, também prevê disposição
semelhante, assegurando que caso ele não informe o nome de seu advogado, a
prisão será comunicada à Defensoria Pública.

Ademais, a CRFB também assegura aos presos o respeito à integridade


física e moral (art. 5º, XLIX). Nessa esteira, é indevida a reprodução pública da
imagem de pessoas envolvidas em crimes, especialmente se ela possuir
conotação antissocial ou degradante. Porém, admite-se a divulgação se houver
autorização do titular da imagem ou se necessária à administração da justiça.
Um exemplo deste último caso seria o retrato falado ou a própria fotografia para
fins investigativos.

O art. 5º, LXII, da CRFB estabelece que a prisão de qualquer pessoa e o


local no qual se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente
e à família do preso ou à pessoa por ele indicada. Há dispositivo semelhante no
Código de Processo Penal, mais especificamente em seu art. 306 e seu §1º. É
assegurada também a assistência ao preso por sua família e por advogado, além
da identificação dos responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório
policial.

Por fim, deve-se sublinhar que a inobservância dos direitos assegurados


ao preso tornará a prisão ilegal. Como consequência, a prisão será
imediatamente relaxada, como manda o art. 5º, LXV, da CRFB, restabelecendo a
liberdade de locomoção do sujeito.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal – volume único. 2ª


edição. Salvador: Juspodivm, 2014, p. 844-859.

VIEIRA, Ana Lúcia Menezes. Processo Penal e Mídia. São Paulo: RT, 2003, p. 153.

POLÍCIA DO SENADO FEDERAL - FGV - 2008

O Senado Federal, por decisão unânime, fez instalar uma Comissão Parlamentar
de Inquérito para investigar as razões que originaram o caos aéreo nacional. Os
senadores pretendiam conhecer todos os detalhes relacionados ao tráfego aéreo
nacional com objetivo de elaborar uma nova legislação que melhor regulasse a
matéria. Diversas medidas foram tomadas, entre elas a convocação

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Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br

de autoridades civis e militares para prestarem depoimentos, a requisição de


documentos de órgãos públicos, a realização de diligências envolvendo exames
estatísticos e, ainda, a convocação de pessoas envolvidas com a colisão de dois
aviões no aeroporto de Porto Alegre. Esse acidente fora causa da morte de 150
pessoas que estavam embarcadas no avião da companhia Voe Bem que, ao
aterrissar, colidiu com um avião particular que estava em solo, manobrando para
estacionar em um hangar. O primeiro a ser intimado, na condição de
testemunha, foi o controlador da pista principal do aeroporto de Porto Alegre,
José Josias. Ao chegar ao Senado Federal para ser ouvido, José Josias estava
acompanhado pelo advogado Mário Messias, o qual se dirigiu ao Presidente do
Senado comunicando que ficaria ao lado do seu cliente durante todo o
depoimento. O advogado também apresentou uma petição juntando
documentos que comprovavam que José Josias fora indiciado no inquérito
policial que apurava a responsabilidade criminal das mortes ocorridas naquele
mesmo acidente que os Senadores apuravam. A petição finalizava informando
que José Josias se reservaria ao direito de permanecer calado caso considerasse
que as respostas às perguntas eventualmente formuladas pelos Senadores
violariam sua garantia de não se auto-incriminar, a sessão corria bem até que a
Senadora Maria Marins indagou de José Josias sobre a permissão que ele teria
dado para que o avião da companhia Voe Bem pousasse justamente na pista de
número 03, onde estava o avião particular. Nesse momento, José virou-se para
Mário e disse que não gostaria de responder àquela pergunta, tendo o Dr. Mário
Messias dito que José poderia deixar de responder à pergunta. Maria Marins
indignou-se e disse que aquele comportamento era inadmissível, ao que o
advogado retrucou que se tratava de uma garantia de seu cliente. A Senadora
então expulsou o advogado da sala, o qual saiu sob protestos, dizendo que a lei
previa que ele poderia acompanhar seu cliente. Com a saída de seu advogado,
José Josias foi novamente perguntado pela Senadora sobre a permissão que ele
teria dado para que o avião da companhia Voe Bem pousasse justamente na pista
de número 03, onde estava o avião particular. Mais uma vez, José se recusou a
responder. Nesse momento, a Senadora avisou a José que essa recusa
caracterizaria os crimes de desobediência (art. 330 do Código Penal), desacato
(art. 331 do Código Penal) e falso testemunho (art. 342 do Código Penal), pois
José ali comparecera na qualidade de testemunha, não indiciado. Pela terceira
vez, José afirmou que permaneceria calado, sendo-lhe dado voz de prisão em
flagrante pela Senadora Maria Marins, determinando-se à Polícia Legislativa que
lavrasse o auto de prisão em flagrante, que seria presidido por ela própria,
Senadora. (a) Foi correta a expulsão do advogado da sala de sessões em que
ocorria o depoimento de seu cliente? Indique as normas jurídicas (princípios e
leis) que regulam o caso. (b) Avalie a decretação da prisão de José Josias. Analise
o(s) crime(s) efetivamente praticado por José Josias. Indique e analise as normas
jurídicas (princípios e leis) que regulam o caso.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

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Diante do caso acima explicitado, faz-se importante salientar,


primeiramente, que foi incorreta a expulsão do advogado da sala de sessões em
que ocorria o depoimento do seu cliente, haja vista a disposição do art. 3º, §2º,
da Lei nº 1.579/52, que regulamenta as Comissões Parlamentares de Inquérito,
no sentido de que o depoente poderá fazer-se acompanhar de advogado, ainda
que em reunião secreta. Ademais, a Lei nº 8.906/94 assegura ao profissional da
advocacia as suas prerrogativas funcionais e, dentre elas, a de assistir o seu
cliente e a de comunicar-se com ele durante a inquirição, bem como a de não
sofrer nenhum tipo de coação.

Cumpre destacar, ainda, que, embora a presença de advogado não seja


tida como obrigatória ao longo dos procedimentos conduzidos pelas CPIs, a
escolha de um defensor cuida-se de uma faculdade do cidadão. A defesa técnica,
exercida por profissional de advocacia, dotado de capacidade postulatória,
constitui-se, ao lado da autodefesa, em uma das subdivisões do direito
constitucional da ampla defesa (art. 5º, LV, da CRFB).

No tocante à prisão de Josias, pode-se afirmar que o auto de prisão foi


lavrado em desacordo com a legislação vigente, haja vista que a conduta
praticada por ele é, na verdade, atípica. Assim, não há que se falar em eventual
prática do crime de desacato, tendo em vista a inexistência de qualquer ofensa
ou desprestígio a funcionário público. De igual forma, não encontra pertinência
legal a capitulação do delito de desobediência, diante da ausência da ordem legal
desobedecida. Por sua vez, a infração de falso testemunho também não restou
configurada, porque ninguém está obrigado a responder questionamentos
realizados por autoridade pública, mesmo na condição de testemunha, que
possam vir a incriminar o depoente.

O princípio constitucional do nemo tenetur se detegere (art. 5º, LXIII, da


CRFB), empregado, também, no âmbito das Comissões Parlamentares de
Inquérito, estabelece que ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo.
De acordo com o entendimento da doutrina majoritária, a mencionada garantia
encontra aplicabilidade a qualquer pessoa a quem seja imputada a prática de um
ilícito criminal, esteja ela presa ou solta.

No caso específico da testemunha, em que pese esta última estar


submetida ao compromisso de dizer a verdade, não pode ser obrigada a
responder sobre fato que possa, em tese, incriminá-la. Na hipótese trabalhada
pela questão, a viabilidade da adoção do citado princípio tornou-se ainda mais
evidente, em razão do fato de José Josias ter sido indiciado em inquérito policial
que apurava o mesmo fato, e em razão da indagação formulada durante a
sessão.

Faz-se importante mencionar que dentre os desdobramentos do direito


de não produzir prova contra si mesmo, estão: o direito ao silêncio; o direito de
não ser constrangido a confessar a prática de ilícito penal; a inexigibilidade de

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dizer a verdade; e o direito de não praticar qualquer comportamento ativo que


possa incriminá-lo.

GABARITO DA BANCA EXAMINADORA:

- GRADE DE CORREÇÃO DA BANCA EXAMINADORA: O candidato deveria


identificar como incorreto e ilegal o procedimento de expulsão do advogado da
sala em que ocorria a sessão. (2 pontos) 2 O candidato deveria apontar como
normas jurídicas que regulam o caso a lei 1.579/52 que prevê a participação do
advogado durante a CPI (art. 3o, § 2º. O depoente poderá fazer-se acompanhar
de advogado, ainda que em reunião secreta.(Incluído pela Lei no 10.679, de
23.5.2003)). Paralelamente, o candidato deveria discorrer sobre o princípio da
ampla defesa, previsto na Constituição. Embora não seja obrigatória a presença
e participação de advogado nos procedimentos administrativos, trata-se de uma
faculdade que o cidadão pode exercer. 3 O candidato deveria identificar que o
comportamento de José Josias não constitui nenhum crime. Não se trata de
desacato porque não houve qualquer ofensa a funcionário público; não se trata
de desobediência porque não houve ordem legal desobedecida; e não houve
crime de falso testemunho porque ninguém está obrigado, nem mesmo a
testemunha, a responder questionamentos de autoridade pública cuja resposta
possa incriminar o depoente. 4 O candidato deveria apontar que o
comportamento de José Josias está 2 pontos amparado na cláusula
constitucional do direito ao silêncio, também conhecida como garantia de
vedação de auto-incriminação, prevista no art. 5º, inciso LXIII, da Constituição. 5
O candidato deveria apontar que não há diferença entre testemunha, indiciado
ou acusado no que tange ao direito de não se auto-incriminar. Essa garantia
constitucional aplica-se indistintamente a qualquer pessoa. Não obstante, no
caso, ficava clara a aplicabilidade da garantia em razão do fato de José Josias já
ter sido indiciado em inquérito policial que apurava o mesmo fato, bem como em
razão da indagação formulada.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

MARCELO NOVELINO. Curso de Direito Constitucional. 11ª edição. Editora


Juspodivm.

http://www.conjur.com.br/2005-nov-
17/supremo_autoriza_advogado_acompanhar_cliente_cpi

http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigobd.asp?item=%20760

POLICIAL CIVIL - PCES - CESPE - 2010

Uma mulher de dezoito anos de idade foi vítima de estupro em que, mediante
ameaça exercida com uma arma de fogo por um homem desconhecido, foi

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Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br

submetida à prática de conjunção carnal e atos libidinosos diversos. O autor,


após a satisfação de sua lascívia, liberou a vítima em um matagal e esta foi
socorrida por transeuntes e apresentada à delegacia de polícia, onde foram
adotadas as providências preliminares pertinentes (exames periciais, oitiva
formal etc.), e, após isto, a vítima foi encaminhada à rede de saúde para o
atendimento emergencial pertinente aos crimes sexuais. Ainda na delegacia de
policia, por ocasião de sua oitiva, a vítima descreveu com detalhes o autor do
fato e salientou que este possuía uma cicatriz de queimadura em grande parte
do rosto, sendo, portanto, de fácil reconhecimento. Assim que recebeu a notícia,
a autoridade policial determinou diligências visando a localização do autor,
logrando encontrá-lo ainda nas proximidades do local onde se deram os fatos,
trazendo consigo peças íntimas da vítima. Conduzido à delegacia de polícia, o
autor, penalmente responsável, sem qualquer constrangimento, confessou a
prática delituosa, assumindo, ainda, a autoria de inúmeros estupros
anteriormente havidos naquela região. A vítima, após o atendimento médico,
não retornou à delegacia e não mais foi encontrada, não tendo representado
formalmente contra o autor. O delegado de polícia entendeu pela prisão em
flagrante do criminoso, procedendo à lavratura do respectivo auto com o
consequente recolhimento do autor à prisão. Com referência à situação
hipotética acima descrita, redija um texto dissertativo que aborde,
necessariamente, os seguintes aspectos:1- Possibilidade jurídica de o delegado
de polícia instaurar inquérito policial, iniciado com a autuação em flagrante do
autor do delito. 2- Consequências advindas da autuação em flagrante. 3- Ação
penal nos crimes contra a dignidade sexual e sua repercussão no inquérito
policial.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Uma das formas de a notícia do crime chegar ao conhecimento do


delegado de polícia é por intermédio do auto de prisão em flagrante (de cognição
coercitiva). Neste caso, após a formação da convicção jurídica por parte da
autoridade policial acerca da existência da situação flagrancial e de indícios
suficientes de autoria e de prova da materialidade do delito, o inquérito policial
é inaugurado pela lavratura do procedimento, sob a presidência daquele.

Conforme dispõe o art. 302, IV, CPP, considera-se em flagrante delito


quem é encontrado, logo após a prática delitiva, com objetos que façam presumir
ser ele o autor da infração - como no caso apresentado, em que o autor foi
localizado trazendo consigo peças íntimas da vítima. A prisão de qualquer pessoa
e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente,
ao Ministério Público e à família do preso ou à pessoa por ele indicada (em até
24 horas). Caso o autuado não informe o nome de seu advogado, cópia integral
também será encaminhada para a Defensoria Pública. No mesmo prazo, será
entregue ao preso, mediante recibo, a nota de

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culpa, assinada pelo delegado, com o motivo da prisão, o nome do condutor e os


das testemunhas, além da capitulação da infração.

Ao receber o auto de prisão em flagrante, caberá ao magistrado adotar


as seguintes medidas (com base do art. 310 do CPP), de forma fundamentada:
relaxar a prisão ilegal; converter a prisão em flagrante em preventiva, desde que
presentes os requisitos legais (arts. 312 e 313 do CPP); e se inadequadas ou
insuficientes as medidas cautelares previstas na legislação (art.319 do CPP),
conceder liberdade provisória, com ou sem fiança.

A regra, nos crimes contra a dignidade sexual, é a de que a ação penal


será pública condicionada à representação do ofendido. Nestes casos, a lavratura
do auto e a consequente instauração do inquérito policial dependem da
manifestação de vontade do legitimado a oferecer representação (condição
específica de procedibilidade). No entanto, não se tem exigido o cumprimento de
formalidades quanto ao ato. De acordo com o STJ, o mero registro do boletim de
ocorrência ou a realização do exame do corpo de delito já denotam o interesse
na persecução penal. Na hipótese trazida pela questão, a vítima procedeu à
feitura de exames periciais e à descrição das características físicas do autor, além
de ter tido a sua oitiva reduzida a termo, podendo-se considerar preenchida a
referida condição.

Os delitos praticados contra a dignidade sexual proceder-se-ão,


entretanto, mediante ação penal pública incondicionada se a vítima é menor de
dezoito anos ou pessoa vulnerável, incluídos, neste conceito, os menores de
quatorze anos; aqueles que, por enfermidade ou deficiência mental, não têm o
necessário discernimento para a prática do ato; e aqueles que, por qualquer
outra causa, não podem oferecer resistência (art. 217 e 225 do CP), ressalvados
os casos de incapacidade meramente transitória, de acordo com o entendimento
do STJ.

Nesta hipótese, o inquérito policial poderá ser inaugurado de ofício pelo


delegado de polícia ou por notícia do crime ofertada por qualquer do povo, desde
que verificada a procedência das informações (por portaria); mediante requisição
do membro do Ministério Público ou da autoridade judiciaria; mediante o
requerimento da vítima ou de seu representante legal; e pela lavratura do auto
de prisão em flagrante.

JURISPRUDÊNCIA RELACIONADA:

HABEAS CORPUS LIBERATÓRIO. CRIMES SEXUAIS. ATENTADO VIOLENTO AO


PUDOR (ART. 214, CAPUT DO CPB). PACIENTE CONDENADO A 7 ANOS DE
RECLUSAO, EM REGIME ABERTO. ALEGAÇAO DE FALTA DA REPRESENTAÇAO.
AUSÊNCIA DE CONDIÇAO DE PROCEDIBILIDADE. NULIDADE DO FEITO. NAO
OCORRÊNCIA. INTENÇAO INEQUÍVOCA DA VÍTIMA DE VER O FATO APURADO.
FORMALISMO QUE DEVE SER AFASTADO. PRECEDENTES DO STJ. ORDEM
DENEGADA. 1.É firme o entendimento desta Corte, nas hipóteses de

100
Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br

crimes sexuais, que a representação da ofendida ou de seu representante legal


prescinde de rigor formal, sendo suficiente a demonstração inequívoca da parte
interessada de que seja apurada e processada. Precedentes do STJ. 2. In casu ,
tal como anotado no parecer ministerial, a narração da violência sexual efetuada
pela vítima à autoridade policial e reproduzida em juízo, ostentando riqueza de
detalhes, bem se presta a substituir a reclamada representação, que deve ter
aqui relevada a sua indispensabilidade. 3.Opina o MPF pela denegação da ordem.
4.Ordem denegada.STJ – HC 89.745.

HABEAS CORPUS. ESTUPRO DE VULNERÁVEL. WRIT IMPETRADO


CONCOMITANTE À INTERPOSIÇÃO DE AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. NÃO
CABIMENTO. VERIFICAÇÃO DE EVENTUAL COAÇÃO ILEGAL À LIBERDADE DE
LOCOMOÇÃO. VIABILIDADE. PRETENSÃO DE RECONHECIMENTO DE NULIDADE
NOS DEPOIMENTOS COLETADOS POR MEIO DE AUDIOVISUAL. AUSÊNCIA DE
ALEGAÇÃO EM MOMENTO OPORTUNO. INEXISTÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DE
PREJUÍZO. NÃO OCORRÊNCIA, ADEMAIS, DE PREJUÍZO EVIDENTE. COAÇÃO
ILEGAL NÃO DEMONSTRADA. PRETENSÃO DE TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL.
VULNERABILIDADE VERIFICADA APENAS NA OCASIÃO DA SUPOSTA OCORRÊNCIA
DOS ATOS LIBIDINOSOS. VÍTIMA QUE NÃO PODE SER CONSIDERADA PESSOA
PERMANENTEMENTE VULNERÁVEL, A PONTO DE FAZER INCIDIR O ART. 225,
PARÁGRAFO ÚNICO, DO CP. CRIME DE AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA À
REPRESENTAÇÃO. AUSÊNCIA DE INEQUÍVOCA MANIFESTAÇÃO DA VÍTIMA NO
SENTIDO DE VER O CRIME DE ESTUPRO DE VULNERÁVEL PROCESSADO.
INEXISTÊNCIA DE CONDIÇÃO DE PROCEDIBILIDADE. CONSTRANGIMENTO ILEGAL
EVIDENCIADO.HC 276.510/RJ, rel. Min. Sebastião
Reis Júnior, 6ª Turma, j. 11.11.2014, noticiado no informativo 533.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

CLEBER MASSON. Direito Penal Esquematizado. Parte Especial. Vol. 3. 7ª edição,


Editora Método.

DEFENSOR PÚBLICO – DPE/AM – FCC - 2018

Discorra sobre o cabimento da decretação da prisão preventiva para garantir a


execução de medidas de urgência, nas hipóteses em que o delito envolver
violência doméstica (Lei 11340/2006), abordando os seguintes tópicos: a.
Requisitos objetivos e subjetivos da prisão preventiva; b. A prisão cautelar e a
aplicação do princípio da insignificância aos crimes praticados com violência
doméstica; c. Descumprimento da medida de urgência e crime de desobediência.
(Elabore sua resposta definitiva em até 30 linhas)

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

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Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br

A prisão pode ser compreendida como a privação da liberdade da pessoa


humana e seu recolhimento ao cárcere em virtude de flagrante delito ou por
ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente.

Há três tipos de prisão em nosso ordenamento jurídico: prisão pena,


decorrente de sentença penal condenatória com trânsito em julgado; prisão
extrapenal, que são a prisão civil, somente permitida para o devedor de
alimentos, conforme a Súmula Vinculante nº 25, e a prisão militar; e a prisão
processual (também conhecida como provisória, cautelar ou sem pena), tendo
como subespécies a prisão em flagrante (entendimento controverso na doutrina),
preventiva e temporária.

A prisão preventiva é uma espécie de medida cautelar de natureza


pessoal, isto é, uma providência estatal que tem por escopo garantir a utilidade
e a efetividade do resultado da tutela jurisdicional. Esta ocorrerá com a sentença
penal condenatória ou absolutória. De nada valeria, por exemplo, uma sentença
condenatória à pena privativa de liberdade se o acusado já tiver se evadido do
distrito da culpa.

Com o advento da Lei nº 12.403/11, além das medidas cautelares


drásticas (prisão preventiva e temporária), foram incluídas medidas cautelares
diversas da privação da liberdade, nos termos do art. 319 do CPP. Qualquer
medida cautelar de natureza pessoal, prisional ou diversa da prisão, terá caráter
excepcional, temporário, revogável e substitutivo.

Dentre as medidas cautelares de natureza pessoal, há a prisão preventiva.


Esta pode ser entendida como uma espécie de prisão cautelar decretada pela
autoridade judiciária competente mediante representação da autoridade policial
ou requerimento do Ministério Público, do querelante, ou do assistente, em
qualquer fase das investigações ou do processo criminal. Para que ela possa ser
concretizada, devem estar preenchidos os requisitos legais, além de ocorrerem
os motivos autorizadores listados no art. 312 do CPP.

Nos termos do art. 311 do CPP, a prisão preventiva poderá ser


representada pela autoridade policial (Delegado de Polícia) durante a fase
investigatória. Também pode ser requerida pelo Ministério Público, querelante
ou assistente durante as investigações ou no curso do processo. O juiz só pode
decretar prisão preventiva de ofício no curso da ação penal. É preciso destacar
que ela só deve ser utilizada quando as outras medidas cautelares diversas da
prisão revelarem-se inadequadas ou insuficientes. Corroborando tal visão, os
arts. 282, §6º e 310, II, ambos do CPP. Além disso, é preciso verificar se estão
presentes o fumus commissi delicti e o periculum libertatis, ambos previstos no
art. 312 do CPP:

O fumus commissi delitci (fumaça do cometimento de um delito) nada


mais é do que a prova da existência do crime e indícios suficientes de autoria. Já
o periculum libertatis consiste na demonstração do efetivo risco da liberdade

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ampla e irrestrita do agente, de modo a assegurar o resultado prático do


processo.

Assim, diante do perigo que a liberdade do suspeito ou réu possa


acarretar à ordem pública, à ordem econômica, à instrução criminal ou para a
aplicação da lei penal, a restrição de sua liberdade deve ser decretada. A partir
disso, é possível depreender que “ordem pública” é um conceito aberto, vago e
indeterminado, gerando divergência na doutrina e na Jurisprudência quanto ao
seu real significado.

Há quem relacione a prisão para garantia da ordem pública ao impacto


social do crime ou clamor público como, por exemplo, medida de defesa social,
isto é, imediata reação ao delito. O fundamento para essa posição seria a de
satisfazer o sentimento de justiça da sociedade, bem como evitar novos crimes.
Há também quem associe ordem pública com a credibilidade da justiça. A
brutalidade do delito pode provar uma intensa comoção no meio social, gerando
sensação de impunidade e descrédito pela demora na prestação jurisdicional.
Havendo fumus boni iuris, não seria conveniente aguardar o trânsito em julgado
para só então prender o indivíduo.

No entanto, prevalece na jurisprudência o entendimento de que a prisão


preventiva decretada como garantia da ordem pública tem por objetivo
resguardar a sociedade da reiteração de crimes em virtude da periculosidade do
agente. É feito um juízo de periculosidade do agente, que não pode ser
presumida. Somado a isso, é preciso que fique demonstrado, através de dados
concretos, que se o agente permanecer solto, certamente voltará a delinquir.

O pressuposto da garantia da ordem econômica, por sua vez, assemelha-


se ao de garantia de ordem pública, mas relacionado a crimes contra a ordem
econômica. Logo, decretar uma prisão preventiva com tal fundamento é evitar
que o agente continue a reiteração delituosa em relação a infrações penais que
perturbem a ordem econômica.

á Lei nº 11.340/06, conhecida como “Lei Maria da Penha”, em


homenagem a Maria da Penha Maia, mulher que passou anos sendo agredida
por seu marido até ficar paralítica em razão de um tiro desferido pelo agressor,
foi criada alguns anos após a publicação pela Comissão Interamericana de
Direitos Humanos de um relatório. Nesse documento foi exposto que Brasil não
cumpria adequadamente seu compromisso de coibir a violência doméstica.

O objetivo da lei em análise, portanto, é proteger as mulheres vítimas de


violência doméstica e familiar, tendo estabelecido, para tanto, diversas medidas
de assistência e proteção.

Segundo o art. 5º da Lei 11.340/06, configura violência doméstica e


familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe
cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou
patrimonial no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de

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convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as


esporadicamente agregadas; no âmbito da família, compreendida como a
comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados,
unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; em qualquer
relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a
ofendida, independentemente de coabitação.

A coabitação, conforme a Súmula nº 600 do STJ, não é considerada


requisito para qualquer hipótese de violência doméstica e familiar contra a
mulher descrita no artigo 5º da Lei Maria da Penha, muito embora a dispensa
tenha sido expressamente prevista no respectivo inciso III.

Para merecer a tutela da Lei nº 11.340/06, há que ser reconhecida a


chamada violência doméstica e familiar contra a mulher que, segundo a lei, é
qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão,
sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial, nos termos
art. 7º da referida norma. É indispensável, portanto, para a incidência da lei em
tela, que a violência envolva motivação baseada no gênero (razões do sexo
feminino). A mulher deve ser menosprezada, subjugada, discriminada
justamente por ser mulher. Como visto, a lei não protege a mulher somente
contra a violência física, mas também psicológica, sexual e patrimonial.

Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher


não incidem os dispositivos despenalizadores previstos na lei dos juizados
especiais (Lei nº 9.099/95), nos termos do art. 41 da Lei nº 11.340/06. Após um
longo debate sobre a (in)constitucionalidade ou não do referido artigo, o STF
entendeu pela sua constitucionalidade, razão pela qual tais institutos não são
aplicados aos casos tutelados por esse diploma normativo. Nesse sentido, o STJ
aprovou a Súmula nº 536, a qual ratifica tal entendimento.

Além disso, a lei, através de seu artigo 17, veda a aplicação de penas de
cesta básica e outras de prestação pecuniária, bem como a substituição da pena
eventualmente aplicada que implique o pagamento isolado de multa.

Ademais, por meio da Súmula nº 588, o STJ sedimentou o entendimento


de que, quando houver emprego de violência ou de grave ameaça em crimes ou
contravenções praticadas contra a mulher, no ambiente doméstico, não se
admite a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. E,
na mesma linha, a Súmula nº 589 do STJ consagrou a inaplicabilidade do princípio
da insignificância às infrações penais que estejam abrangidas pela Lei Maria da
Penha.

Entre as diversas medidas adotadas pela lei com o objetivo de tutelar a


mulher em estado de vulnerabilidade, há as chamadas medidas protetivas de
urgência, que poderão ser adotadas em relação ao agressor (art. 22), mas
também quanto à ofendida (art. 23 e 24). Tais medidas protetivas são
verdadeiras medidas cautelares cujo objetivo é instrumentalizar a eficácia do
processo para assegurar a correta apuração do fato delituoso, a futura e

104
Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br

possível execução da sanção, a proteção da própria vítima, ameaçada pelo risco


de reiteração da violência doméstica e familiar ou, ainda, o ressarcimento do
dano causado pelo delito. Caso as medidas protetivas impostas ao agressor
sejam descumpridas, é possível, nos termos do art. 313, III, do CPP, a decretação
da prisão preventiva para garantir a sua execução.

Por fim, cabe destacar que os crimes envolvendo violência doméstica e


familiar contra a mulher deverão, nos termos do art. 29, ser julgados pelos
juizados de violência doméstica e familiar contra a mulher. Não se trata de
juizados especiais criminais, mas de varas especializadas para o julgamento e a
execução das causas (civis e penais) decorrentes da prática de violência
doméstica e familiar contra a mulher.

GABARITO DA BANCA EXAMINADORA:

Abordagem esperada: A. Requisitos objetivos e subjetivos da prisão preventiva:


garantia da ordem pública. - Garantia da ordem econômica. - Conveniência da
instrução criminal. - assegurar a aplicação da lei penal. - Prova da existência do
crime. - indícios suficientes de autoria. - Crimes dolosos com pena privativa de
liberdade máxima superior a quatro anos. - Reincidência. - Garantir a execução
das medidas protetivas de urgência. B. a prisão cautelar e a aplicação do princípio
da insignificância aos crimes praticados com violência doméstica - súmula 589,
do STJ. C. Descumprimento de medida de urgência e crime de desobediência.

PROMOTOR DE JUSTIÇA – MPE/RJ – 2018 – BANCA PRÓPRIA

É correto afirmar que a prisão domiciliar, no âmbito da persecução penal,


consiste em medida alternativa ou diversa à prisão preventiva?

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Com efeito, não é correto afirmar que a prisão domiciliar, no âmbito da


persecução penal, consista em medida alternativa ou diversa à prisão, tratando-
se, na verdade, de medida substitutiva à prisão preventiva, pois inclusive o
decreto da medida impõe ao julgador a análise dos pressupostos autorizadores
da prisão preventiva (CPP, artigos 311/312, do CPP).

Se presentes, poderá caber a prisão domiciliar, desde que configurada


uma das situações do artigo 317/318 do CPP. Por outro lado, as medidas
alternativas ou diversas à prisão, previstas nos artigos 319/320 do CPP, somente
têm lugar exatamente quando a extrema ratio da ultima ratio (Prisão Preventiva)
não puder ser decretada, mas houver alguma necessidade de acautelamento dos
meios e fins do processo por medida menos tormentosa.

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MAGISTRATURA FEDERAL – TRF2 – 2011 - CESPE

Sobre a prisão temporária, responda: a) qual a diferença fundamental entre ela


e a prisão preventiva? B) em que consiste o periculum libertatis, apto a autorizá-
la? C) por que meio e de que forma, o sujeito preso por força de prisão
temporária poderá conhecer as razões da custódia?

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

No tocante ao item “a”, a prisão temporária possui previsão na Lei nº


7.960/89, detendo natureza processual, assim como a prisão preventiva. A
diferença entre a prisão temporária e a prisão preventiva, apesar de ambas terem
natureza processual, a temporária guarda cariz pré-processual, pois busca
preservar os atos investigatórios. É por tal motivo que a prisão preventiva pode
ser decretada em qualquer fase investigativa ou já no curso da ação penal (ainda
que não transitada em julgado uma sentença), enquanto que a prisão temporária
pode existir apenas na fase investigativa, ou seja, não pode ser decretada após
ter sido iniciada a ação penal.

Como segunda diferença, temos que a prisão temporária possui previsão


na Lei nº 7.960/89, ao passo que a prisão preventiva é prevista no Código de
Processo Penal. Uma terceira diferença reside no prazo, já que a prisão
temporária ocorre por cinco dias, prorrogáveis por mais cinco, salvo no caso de
crimes hediondos, cujo prazo é de trinta dias, prorrogáveis por mais trinta. A
prisão preventiva não possui um prazo previamente definido, mas deve atender
aos princípios da proporcionalidade e necessidade.

No tocante ao item “b”, o periculum libertatis idôneo para a decretação


da prisão temporária envolve a verificação de possibilidade de o investigado,
quando em liberdade, puder cometer atos que turbem a investigação. O art. 1º
da Lei nº 7.960/89 elenca as possibilidades de decretação de prisão temporária:
1) quando imprescindível para as investigações do inquérito policial; 2) quando o
indicado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos necessários ao
esclarecimento de sua identidade; e 3) quando houver fundadas razões, de
acordo com qualquer prova admitida na legislação penal, de autoria ou
participação do indiciado em determinados crimes. (inciso III).

Já em relação ao item “c”, a prisão temporária deve ser decretada, por


ordem escrita, pela autoridade judiciária competente, com a devida
fundamentação, nos termos do art. 93, IX, da CRFB. Um ponto importante é que
não se admite a prisão temporária de ofício, pois depende de representação da
autoridade policial ou do membro do Ministério Público. Somado a isso, a CRFB
assegura que a pessoa presa tenha ciência das razões pelas quais foi colocada
em custódia e a identificação dos responsáveis pela prisão.

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A Lei nº 7.960/89, no art. 2º, §4º, menciona que decretada a prisão


temporária, expedir-se-á mandado de prisão, em duas vias, uma das quais será
entregue ao indiciado e servirá como nota de culpa.

DELEGADO DE POLÍCIA – PCGO – 2018 – UFG

O STF afastou a vedação legal às penas restritivas de direitos, a vedação legal à


liberdade provisória e a imposição de regime inicial fechado, previstas quanto ao
tráfico de drogas, nas Leis 8.072/90 e 11.343. Quais foram os fundamentos?

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Para o STF, a individualização da pena, prevista no art. 5º, XLVI, da CRFB


impede que o legislador retire do julgador o poder-dever de ponderar, no caso
concreto, as circunstâncias objetivas e subjetivas do fato-tipo.

Assim, é vedado subtrair da instância julgadora a possibilidade de se


movimentar nos quadrantes da alternatividade sancionatória. Afinal, quando
quis afastar o tráfico de drogas da possibilidade de fiança, graça ou anistia, o
Constituinte o fez expressamente (art. 5º, XLIII, da CRFB).

Nesse sentido, a fixação ex lege do regime inicial fechado, a vedação legal


às penas restritivas de direitos e a vedação legal à liberdade provisória impõem
um automatismo legal contrário à razoabilidade, à individualização da pena e à
garantia do juiz natural.

DELEGADO DE POLÍCIA – PCGO – 2018 – UFG

O Art. 289-A e §1º do Decreto-Lei n.3.689, de 3 de outubro de 1941 – Código de


Processo Penal, alterado pela Lei n. 12.403/2011, dispõem que: “O juiz
competente providenciará o imediato registro do mandado de prisão em banco
de dados mantido pelo Conselho Nacional de Justiça para essa finalidade”. E que
“Qualquer agente policial poderá efetuar a prisão determinada no mandado de
prisão registrado no Conselho Nacional de Justiça, ainda que fora da
competência territorial do juiz que o expediu”. ássim, indaga-se: é possível a um
agente policial efetuar a prisão decretada, ainda que fora da competência
territorial do juiz que o expediu, mesmo sem o registro do mandado de prisão no
Conselho Nacional de Justiça?

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

A resposta é positiva, já que o art. 2º da Lei nº 12.403/11 inseriu o art.


289-A no CPP, que dispõe, no §2º, que qualquer agente policial poderá efetuar a
prisão decretada, ainda que sem registro no Conselho Nacional de Justiça,

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adotando as precauções necessárias para averiguar a autenticidade do mandado


e comunicando ao juiz que a decretou, devendo este providenciar, em seguida, o
registro do mandado no BNMP.

Essa regra diz respeito à prisão efetivada por qualquer agente policial,
ainda quando o mandado de prisão não esteja registrado no CNJ. Assim, na
circunstância da prisão em comarca distinta daquela onde tramita o processo, é
possível cumprir a ordem, desde que o agente policial adote a cautela de verificar
a fidelidade/autenticidade do mandado.

Por fim, logo que cumprida a ordem, deve a autoridade policial cientificar
a autoridade judiciária (juízo) que emitiu o mandado, a quem cabe proceder ao
registro no banco de dados do CNJ.

GABARITO DA BANCA EXAMINADORA:

Sim, pois segundo o artigo 2º, da Lei nº 12.403/11, é possível a realização da


prisão, mesmo sem o registro do mandado de prisão no Banco Nacional de
Mandados de Prisão do Conselho Nacional de Justiça – BNMP / CNJ. Essa regra
diz respeito à prisão efetivada por qualquer agente policial, ainda quando o
mandado de prisão não esteja registrado no CNJ. Assim, na circunstância da
prisão em comarca distinta daquela onde tramita o processo, é possível cumprir
a ordem, desde que o agente policial adote a cautela de verificar a
fidelidade/autenticidade do mandado. Mas não é só: deverá, logo que cumprida
a ordem, cientificar a autoridade judiciária (Juízo) que emitiu o mandado, a quem
cabe proceder ao registro no banco de dados do CNJ.

DELEGADO DE POLÍCIA - PCMT - 2017 – CESPE

Considerando os dispositivos da Lei nº 12.403/2011, que promoveu alterações


no Código de Processo Penal relativas à prisão processual, discorra sobre a
natureza jurídica da prisão em flagrante diante da nova roupagem processual
penal, abordando, necessária e fundamentadamente, as justificativas
doutrinárias que defendem a sua cautelaridade [valor: 4,00 pontos] e as que
defendem a sua pré-cautelaridade [valor: 3,60 pontos].

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Com a Lei nº 12.403/11, diversos dispositivos do Código de Processo Penal


foram alterados, notadamente em relação à prisão processual, fiança, liberdade
provisória e medidas cautelares. Uma das principais alterações, quanto à prisão
processual, foi a aparente alteração da natureza jurídica da prisão em flagrante,
que, segundo alguns doutrinadores, teria implicado a consagração de sua
natureza pré-cautelar. Entretanto, parte da doutrina ainda defende a natureza
cautelar, mesmo com a referida alteração legal.

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á definição da natureza da prisão em flagrante reflete na admissibilidade


de que acarrete, por si só, a manutenção da prisão do indivíduo, que fora flagrado
cometendo o crime ou logo após a sua prática. ántes da Lei nº 12.403/11,
conforme reconhece a doutrina, predominava o entendimento de que a prisão
em flagrante detinha natureza cautelar, de forma que o sujeito surpreendido no
decorrer da prática da infração penal, ou logo em seguida, poderia permanecer
preso enquanto fosse necessário para garantir o resultado da investigação
criminal ou do processo respectivo.

Ocorre que, com a nova redação, principalmente do art. 310 do CPP,


alcançou-se maior vigor à tese da natureza pré-cautelar da prisão em flagrante,
pois dito artigo apresenta, como alternativas ao magistrado, quando recebe o
auto de prisão em flagrante: a) relaxar a prisão, em caso de ilegalidade; b)
converter a prisão em flagrante em preventiva, se presentes os requisitos e não
parecerem suficientes as demais medidas cautelares; e c) conceder liberdade
provisória, com ou sem fiança.

Note-se que a prisão por força do flagrante, de acordo com esse


dispositivo, manter-se-ia somente até o instante em que o juiz analisasse a
situação de flagrância, do que se depreende a impossibilidade de o indivíduo
permanecer preso tão somente porque fora flagrado na prática delitiva.

Para quem sustenta a natureza pré-cautelar, a prisão em flagrante seria


um mero ato administrativo que antecede a fase em que o juiz poderá reconhecer
a presença dos requisitos comuns às medidas cautelares (fumus boni iuris e
periculum in mora), e, então, decretar a prisão preventiva - única medida cautelar
regulada pelo CPP que teria o condão de manter o flagrado preso. ‘egistre-se
que o art. 306, §1º, do CPP impõe que a prisão em flagrante deva ser submetida
ao crivo judicial dentro de 24 horas, com a remessa do respectivo auto.

Como dito, ainda há quem vislumbre cautelaridade na prisão em


flagrante. Os argumentos perpassam pela própria Constituição Federal, que no
art. 5º, LXI, autoriza que os cidadãos sejam presos em flagrante ou por ordem
judicial, de onde se extrairia a natureza autônoma da prisão em flagrante, ainda
que efêmera – até a sua conversão em preventiva ou concessão de liberdade
provisória.

álém disso, a interpretação topográfica revelaria a natureza cautelar da


prisão em flagrante, na medida em que o art. 283, que elenca as espécies de
prisão no direito processual penal brasileiro, integraria o título que disciplina as
medidas cautelares. Isso seria reforçado pelo texto do art. 283, §1º, do CCP, ao
mencionar as medidas cautelares previstas neste título não se aplicam à infração
a que não for isolada, cumulativa ou alternativamente cominada pena privativa
de liberdade. Com essa leitura, a tese da cautelaridade da prisão em flagrante
enxerga as características das medidas cautelares no momento da

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prisão, como a jurisdicionalidade, acessoriedade, preventividade e


provisoriedade.

Por fim, importa destacar que a tese da pré-cautelaridade parece


predominar na doutrina mais recente, que, além dos fundamentos legais
supracitados, aduz que não existe finalidade de garantia ou de tutela da
investigação ou do processo na prisão em flagrante: daí porque seria incoerente
reconhecer natureza cautelar ao ato.

DELEGADO DE POLÍCIA - PCGO –2017 – CESPE

Redija um texto dissertativo acerca de liberdade provisória, atendendo ao que


se pede a seguir: 1- Defina prisão em flagrante delito e descreva as espécies de
flagrantes admitidos pelo ordenamento jurídico brasileiro (5 pontos) 2- Discorra
sobre a possibilidade de concessão de liberdade provisória mediante fiança em
caso de prisão em flagrante, indicando os tipos penais inafiançáveis e a
legitimidade para conceder fiança (4,5 pontos).

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

A prisão em flagrante é espécie de prisão cautelar, com natureza


administrativa, promovida enquanto ocorre a prática do delito, ou logo após a
consumação da infração penal. Possui previsão constitucional (art. 5º, LXI) e a
prescindibilidade de ordem judicial para sua realização decorre de sua
emergencialidade, visando à cessação da execução do delito e à preservação da
materialidade e da autoria delitivas.

O Código de Processo Penal disciplina a prisão em flagrante nos artigos


301 a 310. No artigo 301 explicita-se que qualquer pessoa pode prender em
flagrante, enquanto as autoridades policiais e seus agentes possuem o dever de
efetuar tal prisão, de onde se extrai a classificação dos chamados flagrantes
“facultativo” e “obrigatório”, respectivamente.

A partir da leitura do artigo 302 do CPP, a doutrina apresenta as espécies


de flagrante: a) “flagrante próprio ou perfeito”, que se dá nas hipóteses dos
incisos I e II do referido artigo, quando o agente esteja desenvolvendo os atos
executórios da infração penal, ou quando tenha acabado de cometê-la; b)
“flagrante impróprio ou imperfeito”, que se dá em conformidade com o disposto
no inciso III, quando o agente for perseguido logo após a prática do delito, por
qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser ele o autor da infração; e c)
“flagrante presumido”, previsto no inciso IV, verificando-se nas situações em que,
embora não tenha sido perseguido, o agente é encontrado, logo depois, com
instrumentos, armas, objetos ou papeis que façam presumir ser ele o autor da
infração.

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A prisão em flagrante, além da natureza administrativa, possui caráter


precário, na medida em que, figurando como medida de segregação cautelar,
deve ser imediatamente avaliada pela autoridade policial, que decidirá sobre a
formalização do auto de prisão em flagrante, e, em seguida, submetida à
avaliação – por meio do respectivo auto - do Poder Judiciário (art. 306 e 307 do
CPP), a fim de avaliar a legalidade da prisão e decidir sobre a manutenção do
flagrado preso.

Aquele que restar detido em situação de flagrância poderá ser solto,


basicamente, por duas razões: pelo relaxamento da prisão, na hipótese em que o
magistrado identificar alguma ilegalidade na prisão ou no seu processamento;
ou pela concessão de liberdade provisória, que pode ser condicionada ou não à
prestação de fiança. Registre-se que a própria Constituição, em seu art. 5º, LXVI,
estabelece que ninguém será submetido à prisão ou nela mantido quando a lei
admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança.

Nem todos os crimes admitem a concessão de liberdade provisória


mediante fiança. Com efeito, são considerados inafiançáveis pelo artigo 323 do
CPP: a) crime de racismo; b) crimes de tortura, tráfico de drogas, terrorismo e os
definidos como hediondos; e c) crimes cometidos por grupos armados, civis ou
militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático.

Ao lado da vedação citada, registre-se a regra geral de que a fiança não


será admitida quando presentes os requisitos e pressupostos para a decretação
da prisão preventiva (art. 324, IV, do CPP). De fato, não se mostraria coerente
arbitrar fiança e, no mesmo contexto, determinar que o sujeito permaneça preso.

Afora as hipóteses acima arroladas, todos os crimes são afiançáveis (não


havendo qualquer limitação qualitativa ou quantitativa da pena cominada, como
outrora).

São legitimados a arbitrar fiança – quando cabível - as autoridades


policial e judiciária. O CPP, em seu artigo 322, prevê que o delegado de polícia
somente poderá conceder fiança para os crimes cuja pena máxima não seja
superior a 4 (quatro) anos. O magistrado, por outro lado, pode conceder fiança
sem qualquer restrição (salvos os crimes inafiançáveis).

Assim, se o crime pelo qual a autoridade policial esteja autuando alguém


em flagrante tenha cominada pena que não ultrapasse quatro anos, a própria
autoridade, na delegacia, poderá conceder a liberdade provisória ao sujeito,
desde que prestada a fiança fixada – que, na esfera policial, pode variar de um a
cem salários mínimos (art. 325 do CPP). Sendo a pena superior ao limite referido,
somente o juiz poderá conceder o benefício, de ofício ou a requerimento das
partes.

JURISPRUDÊNCIA RELACIONADA:

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HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO QUALIFICADO TENTADO. FLAGRANTE IMPRÓPRIO


OU QUASE-FLAGRANTE. PACIENTE PRESO LOGO APÓS OS FATOS. EVENTUAL
IRREGULARIDADE DO AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE QUE NÃO IMPLICA EM
NULIDáDE Dá PRI“ÃO. PLEITO DE LIBERDáDE PROVI“ÓRIá INDEFERIDO. (…)
ORDEM DENEGADA. 1. Não há que se falar em irregularidade na prisão em
flagrante, pois o ora paciente foi perseguido logo após a prática do eventual
delito, após terem os agente policiais tomado ciência do crime, sendo certo que
a seqüência cronológica dos fatos demonstram a ocorrência da hipótese de
prisão em flagrante prevista no art. 302, inciso III, do Código de Processo Penal.
(…) (HC 83.895/CE, Rel. Ministra JáNE “ILVá (DE“EMBáRGáDORá CONVOCáDá DO
TJ/MG), QUINTA TURMA, julgado em 18/10/2007, DJ 05/11/2007, p. 328)

HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DO RECURSO PRÓPRIO (NÃO CONHECIMENTO).


ESTELIONATO. PRISÃO PREVENTIVA. LIBERDADE PROVISÓRIA CONDICIONADA
AO PAGAMENTO DE FIANÇA ARBITRADA EM R$ 1.350.000,00 (UM MILHÃO E
TREZENTOS E CINQUENTA MIL REAIS). VALOR INCOMPATÍVEL COM A
SITUAÇÃO ECONÔMICA DA ENCARCERADA. CONSTRANGIMENTO
ILEGAL CONFIGURADO. 1. O habeas corpus não pode ser utilizado como
substitutivo de recurso próprio, a fim de que não se desvirtue a finalidade dessa
garantia constitucional, com a exceção de quando a ilegalidade apontada é
flagrante, hipótese em que se concede a ordem de ofício (Precedentes). 2. A
fixação da fiança, como contracautela à prisão provisória, não detém o objetivo
de atribuir punição ao agente que, em tese, praticou uma conduta típica, uma
vez que a segregação preventiva não se confunde com a prisão-pena (carcer ad
poenam). 3. Ademais, a fiança não há de ter o condão de garantir a futura
reparação civil decorrente de uma condenação criminal. Para a garantia de uma
futura reparação civil, decorrente de uma eventual condenação penal, há uma
série de outros institutos, tal qual o sequestro de bens móveis e a hipoteca de
bens imóveis (art. 130 e segs. do Código de Processo Penal). 4. Preceitua o Código
de Processo Penal que o valor da fiança, fixado entre 10 e 200 salários mínimos,
somente poderá ser aumentado em até mil vezes, "se assim recomendar a
situação econômica do preso" (art. 325, § 1º, III), circunstância que não se
coaduna com o caso presente. 5. Ressalte-se que os valores a serem pagos a
título de reparação pelos danos sofridos pelas vítimas dependem de pedido
expresso, sendo vedada a fixação de ofício de indenização correspondente. Se é
assim, mais ainda evidente se constata o constrangimento ilegal, quando não há
nem mesmo sentença prolatada, e o valor do suposto dano afligido pelas vítimas
foi, em verdade, utilizado como justificador para a mantença da prisão cautelar.
6. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício, a fim de reduzir o
valor da fiança para o máximo previsto no art. 325, inciso II, do Código de
Processo Penal, desde que a paciente se comprometa ao comparecimento a
todos os atos do processo para os quais seja intimada, bem como não se ausente
da comarca por mais de
30 dias. (HC 276.103/MG, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA,
QUINTA TURMA, julgado em 17/09/2015, DJe 22/09/2015)

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DELEGADO DE POLÍCIA - PCBA - 2013 - CESPE

Antônio foi condenado a cumprir pena em regime semiaberto e, após o trânsito


em julgado da sentença que determinou o imediato cumprimento da pena, foi
encaminhado a uma cadeia pública pelo delegado responsável, sob o argumento
de que não havia vaga disponível no estabelecimento apropriado ao
cumprimento do regime semiaberto. Interpelado pela defesa do condenado, o
delegado informou que, assim que surgisse uma vaga, Antônio seria
imediatamente transferido da cadeia pública para o estabelecimento
apropriado. Em face dessa situação hipotética, esclareça, de forma justificada,
com base na legislação e na jurisprudência, se a conduta do delegado foi
adequada e se violou algum preceito constitucional. Aponte, ainda, o que deveria
ter sido feito quanto ao cumprimento da pena.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

O delegado de polícia, no desempenho de suas funções e como servidor


público, deve velar sempre pela legalidade estrita de suas decisões. Assim sendo,
cabia à autoridade policial aplicar e cumprir a determinação da autoridade
judicial no que se refere ao cumprimento da pena do condenado.

É de se destacar, ainda, que o cumprimento de pena é de competência do


Juiz de Execução, ou do Juiz de Direito da Comarca que assim exerce essa fun-
ção. De modo que no caso em apreço, o Delegado de Polícia atua apenas como
representante do Poder executivo no cumprimento da pena.

Em relação à transformação em regime aberto ou prisão domiciliar, o tema


é polêmico, porém já decidido no âmbito dos tribunais superiores. O condenado
não pode ser penalizado mais gravosamente que a sentença transitada em
julgado lavrada pela autoridade Judicial. Não dispondo o Estado de vaga em
regime de cumprimento apropriado a condenação do réu, a execução da pena
deve ser dar em regime mais benéfico.

Portanto, a inexistência de vaga no estabelecimento penal adequado ao


cumprimento da pena permite ao condenado a possibilidade de ser encaminhado
a outro regime mais brando, sob pena de configuração de constrangimento
ilegal. Aliás, tal tema foi objeto da Súmula Vinculante nº 56, que consagrou a tese
de que a falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção
do condenado em regime prisional mais gravoso.

JURISPRUDÊNCIA APLICADA:

“Incumbe ao Estado aparelhar-se visando à observância irrestrita das decisões


judiciais. Se não houver sistema capaz de implicar o cumprimento da pena em
regime semiaberto, dá-se a transformação em aberto e, inexistente a casa do

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albergado, a prisão domiciliar.” (HC 96.169, rel. min. Marco Aurélio, julgamento
em 25-8- 2009, Primeira Turma, DJE de 9-10-2009.) Vide: HC 94.810, rel. min.
Cármen Lúcia, julgamento em 28-10-2008, Primeira Turma, DJE de 6-3-2009; HC
87.985, rel. min. Celso de Mello, julgamento em 20-3-2007, Segunda Turma, DJE
de 1º-8-2013.

“Prisão para fins de cumprimento de pena em regime semiaberto. (...) á


determinação judicial no sentido de que o paciente seja preso em cadeia pública
interdita configura constrangimento ilegal. Ordem concedida para que seja
assegurado ao paciente o cumprimento da pena em estabelecimento prisional
adequado ao regime fixado na sentença, mesmo que em outra localidade.” (HC
94.810, rel. min. Cármen Lúcia, julgamento em 28-10-2008, Primeira Turma, DJE
de 6-3-2009.)

“Constitucional. Direito Penal. Execução penal. Repercussão geral. Recurso


extraordinário representativo da controvérsia. 2. Cumprimento de pena em
regime fechado, na hipótese de inexistir vaga em estabelecimento adequado a
seu regime. Violação aos princípios da individualização da pena (art. 5º, XLVI) e
da legalidade (art. 5º, XXXIX). A falta de estabelecimento penal adequado não
autoriza a manutenção do condenado em regime prisional mais gravoso. 3. Os
juízes da execução penal poderão avaliar os estabelecimentos destinados aos
regimes semiaberto e aberto, para qualificação como adequados a tais regimes.
“ão aceitáveis estabelecimentos que não se qualifiquem como “colônia agrícola,
industrial” (regime semiaberto) ou “casa de albergado ou estabelecimento
adequado” (regime aberto) (art. 33, § 1º, alíneas “b” e “c”). No entanto, não
deverá haver alojamento conjunto de presos dos regimes semiaberto e aberto
com presos do regime fechado. 4. Havendo déficit de vagas, deverão ser
determinados: (i) a saída antecipada de sentenciado no regime com falta de
vagas; (ii) a liberdade eletronicamente monitorada ao sentenciado que sai
antecipadamente ou é posto em prisão domiciliar por falta de vagas; (iii) o
cumprimento de penas restritivas de direito e/ou estudo ao sentenciado que
progride ao regime aberto. Até que sejam estruturadas as medidas alternativas
propostas, poderá ser deferida a prisão domiciliar ao sentenciado. 5. Apelo ao
legislador. A legislação sobre execução penal atende aos direitos fundamentais
dos sentenciados. No entanto, o plano legislativo está tão distante da realidade
que sua concretização é absolutamente inviável.
(i) reformular a legislação de execução penal, adequando-a à realidade, sem abrir
mão de parâmetros rígidos de respeito aos direitos fundamentais; (ii)
compatibilizar os estabelecimentos penais à atual realidade; (iii) impedir o
contingenciamento do FUNPEN; (iv) facilitar a construção de unidades
funcionalmente adequadas – pequenas, capilarizadas; (v) permitir o
aproveitamento da mão-de-obra dos presos nas obras de civis em
estabelecimentos penais; (vi) limitar o número máximo de presos por habitante,
em cada unidade da federação, e revisar a escala penal, especialmente para o
tráfico de pequenas quantidades de droga, para permitir o planejamento da
gestão da massa carcerária e a destinação dos recursos

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necessários e suficientes para tanto, sob pena de responsabilidade dos


administradores públicos; (vii) fomentar o trabalho e estudo do preso, mediante
envolvimento de entidades que recebem recursos públicos, notadamente os
serviços sociais autônomos; (viii) destinar as verbas decorrentes da prestação
pecuniária para criação de postos de trabalho e estudo no sistema prisional. 6.
Decisão de caráter aditivo. Determinação que o Conselho Nacional de Justiça
apresente: (i) projeto de estruturação do Cadastro Nacional de Presos, com
etapas e prazos de implementação, devendo o banco de dados conter
informações suficientes para identificar os mais próximos da progressão ou
extinção da pena; (ii) relatório sobre a implantação das centrais de monitoração
e penas alternativas, acompanhado, se for o caso, de projeto de medidas
ulteriores para desenvolvimento dessas estruturas; (iii) projeto para reduzir ou
eliminar o tempo de análise de progressões de regime ou outros benefícios que
possam levar à liberdade; (iv) relatório deverá avaliar (a) a adoção de
estabelecimentos penais alternativos; (b) o fomento à oferta de trabalho e o
estudo para os sentenciados; (c) a facilitação da tarefa das unidades da
Federação na obtenção e acompanhamento dos financiamentos com recursos
do FUNPEN; (d) a adoção de melhorias da administração judiciária ligada à
execução penal. 7. Estabelecimento de interpretação conforme a Constituição
para (a) excluir qualquer interpretação que permita o contingenciamento do
Fundo Penitenciário Nacional (FUNPEN), criado pela Lei Complementar 79/94; b)
estabelecer que a utilização de recursos do Fundo Penitenciário Nacional
(FUNPEN) para financiar centrais de monitoração eletrônica e penas alternativas
é compatível com a interpretação do art. 3º da Lei Complementar 79/94. 8. Caso
concreto: o Tribunal de Justiça reconheceu, em sede de apelação em ação penal,
a inexistência de estabelecimento adequado ao cumprimento de pena privativa
de liberdade no regime semiaberto e, como consequência, determinou o
cumprimento da pena em prisão domiciliar, até que disponibilizada vaga.
Recurso extraordinário provido em parte, apenas para determinar que, havendo
viabilidade, ao invés da prisão domiciliar, sejam observados (i) a saída antecipada
de sentenciado no regime com falta de vagas; (ii) a liberdade eletronicamente
monitorada do recorrido, enquanto em regime semiaberto; (iii) o cumprimento
de penas restritivas de direito e/ou estudo ao sentenciado após progressão ao
regime aberto. (RE 641320, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno,
julgado em 11/05/2016, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL – MÉRITO
DJe-159 DIVULG 29-07-2016 PUBLIC 01-08-2016)

DELEGADO DE POLÍCIA - PCES - 2006 - CESPE

Face às normas processuais pertinentes à prisão cautelar, redija um texto


dissertativo sobre a possibilidade de prisão em flagrante delito nos crimes de
ação penal pública condicionada e nos crimes de ação penal de iniciativa privada,
abordando em cada ação, necessariamente, os seguintes aspectos: 1-

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possibilidade jurídica da prisão; 2- titularidade das ações; 3- natureza jurídica.


(30 linhas)

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Inicialmente, devemos compreender o conceito de prisão como sendo a


privação da liberdade de um indivíduo, isto é, tolhe-se o direito de ir e vir através
do recolhimento da pessoa humana ao cárcere. Portanto, no Brasil, a prisão deve
se basear em decisão de magistrado competente, devidamente motivada e
reduzida a escrito ou decorrente de flagrante delito. Neste último caso, prisão em
flagrante, ela pode ocorrer por qualquer um do povo.

Quanto à possibilidade jurídica do pedido de prisão em flagrante para a


ação penal pública condicionada à representação ou na hipótese de prisão em
flagrante nos crimes sujeitos a ação penal de iniciativa privada, ela pode ocorrer.

Porém, desde que haja, no ato de formalização do auto de prisão em


flagrante, caso a vítima esteja presente, e tendo autorizado (formalizado por
escrito), o devido procedimento de prisão. Neste aspecto, verifica-se que é
necessário que a vítima se manifeste favoravelmente e por escrito para a
realização da medida constritiva. Afinal, ela confere legitimidade à concretização
da prisão para que, em seguida, seja lavrado o auto de prisão em flagrante.
Contudo, caso a vítima não esteja presente, ou seja incapaz naquele momento
de dar o seu consentimento, lavra-se a prisão e busca-se colher a manifestação
do ofendido para efeito de lavratura do auto.

Já nos crimes de ação penal de iniciativa privada, a vítima deve manifestar


seu intento de maneira expressa e sacramentada para que a prisão em flagrante
delito aconteça. Portanto, basta a aquiescência da vítima, ainda que informal.

No que tange ao prisma da titularidade das ações, em ambos os casos, ou


seja, na hipótese de ação penal pública condicionada a representação e na
hipótese de ação penal privada, a titularização da representação será da vítima
do fato criminoso. Contudo, na ação penal pública condicionada à representação,
quem oferecerá a denúncia será o Ministério Público.

Já na ação penal privada, o titular da ação penal será a própria vítima,


que deverá ingressar em juízo com a queixa crime. Em ambos os casos, quem irá
formalizar o auto de prisão em flagrante será o Delegado de Polícia, respeitando
as condições de procedibilidade nos casos acima expostos.

Por fim, a natureza jurídica da prisão em flagrante delito configura-se


como uma das modalidades de prisão cautelar, de natureza administrativa,
realizada no instante em que se desenvolve ou termina de se concluir a infração
penal, seja ela crime ou contravenção penal.

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DELEGADO DE POLÍCIA – PCSP – 2014 – VUNESP

DISSERTAÇÃO: Discorra sobre os pressupostos de garantia da ordem pública e


garantia da ordem econômica, como fundamentos de representação do
delegado de polícia pela decretação de prisão preventiva.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

A prisão pode ser compreendida como a privação da liberdade da pessoa


humana e seu recolhimento ao cárcere em virtude de flagrante delito ou por
ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente.

Há três tipos de prisão em nosso ordenamento jurídico: prisão pena,


decorrente de sentença penal condenatória com trânsito em julgado; prisão
extrapenal, que são a prisão civil, somente permitida para o devedor de
alimentos, conforme a Súmula Vinculante nº 25, e a prisão militar; e a prisão
processual (também conhecida como provisória, cautelar ou sem pena), tendo
como subespécies a prisão em flagrante (entendimento controverso na doutrina),
preventiva e temporária.

É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade


de depósito.

A prisão preventiva é uma espécie de medida cautelar de natureza


pessoal, isto é, uma providência estatal que tem por escopo garantir a utilidade
e a efetividade do resultado da tutela jurisdicional. Esta ocorrerá com a sentença
penal condenatória ou absolutória. De nada valeria, por exemplo, uma sentença
condenatória à pena privativa de liberdade se o acusado já tiver se evadido do
distrito da culpa.

Com o advento da Lei nº 12.403/11, além das medidas cautelares


drásticas (prisão preventiva e temporária), foram incluídas medidas cautelares
diversas da privação da liberdade, nos termos do art. 319 do CPP. Qualquer
medida cautelar de natureza pessoal, seja prisional ou diversa da prisão, terá
caráter excepcional, temporário, revogável e substitutivo.

Dentre as medidas cautelares de natureza pessoal, há a prisão preventiva.


Esta pode ser entendida como uma espécie de prisão cautelar decretada pela
autoridade judiciária competente mediante representação da autoridade policial
ou requerimento do Ministério Público, do querelante, ou do assistente, em
qualquer fase das investigações ou do processo criminal. Para que ela possa ser
concretizada, devem estar preenchidos os requisitos legais, além de ocorrerem
os motivos autorizadores listados no art. 312 do CPP.

Nos termos do art. 311 do CPP, a prisão preventiva poderá ser


representada pela autoridade policial (Delegado de Polícia) durante a fase

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investigatória. Também pode ser requerida pelo Ministério Público, querelante


ou assistente durante as investigações ou no curso do processo. O juiz só pode
decretar prisão preventiva de ofício no curso da ação penal.

É preciso destacar que ela só deve ser utilizada quando as outras medidas
cautelares diversas da prisão revelarem-se inadequadas ou insuficientes.
Corroborando tal visão, os arts. 282, §6º e 310, II, ambos do CPP. Além disso, é
preciso verificar se estão presentes o fumus commissi delicti e o periculum
libertatis, ambos previstos no art. 312 do CPP:

O fumus commissi delitci (fumaça do cometimento de um delito) nada


mais é do que a prova da existência do crime e indícios suficientes de autoria. Já
o periculum libertatis consiste na demonstração do efetivo risco da liberdade
ampla e irrestrita do agente, de modo a assegurar o resultado prático do
processo.

Assim, diante do perigo que a liberdade do suspeito ou réu possa


acarretar à ordem pública, à ordem econômica, à instrução criminal ou para a
aplicação da lei penal, a restrição de sua liberdade deve ser decretada.

á partir disso, é possível depreender que “ordem pública” é um conceito


aberto, vago e indeterminado, gerando divergência na doutrina e na
Jurisprudência quanto ao seu real significado.

Há quem relacione a prisão para garantia da ordem pública ao impacto


social do crime ou clamor público como, por exemplo, medida de defesa social,
isto é, imediata reação ao delito. O fundamento para essa posição seria a de
satisfazer o sentimento de justiça da sociedade, bem como evitar novos crimes.

Há também quem associe ordem pública com a credibilidade da justiça. A


brutalidade do delito pode provar uma intensa comoção no meio social, gerando
sensação de impunidade e descrédito pela demora na prestação jurisdicional.
Havendo fumus boni iuris, não seria conveniente aguardar o trânsito em julgado
para só então prender o indivíduo.

No entanto, prevalece na jurisprudência o entendimento de que a prisão


preventiva decretada como garantia da ordem pública tem por objetivo
resguardar a sociedade da reiteração de crimes em virtude da periculosidade do
agente. É feito um juízo de periculosidade do agente, que não pode ser
presumida. Somado a isso, é preciso que fique demonstrado, através de dados
concretos, que se o agente permanecer solto, certamente voltará a delinquir.

O pressuposto da garantia da ordem econômica, por sua vez, assemelha-


se ao de garantia de ordem pública, mas relacionado a crimes contra a ordem
econômica. Logo, decretar uma prisão preventiva com tal fundamento é evitar
que o agente continue a reiteração delituosa em relação a infrações penais que
perturbem a ordem econômica.

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JURISPRUDÊNCIA APLICADA:

PENAL E PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS


CONTRA ATO DE MINISTRO DE TRIBUNAL SUPERIOR QUE INDEFERE
LIMINARMENTE WRIT, COM FUNDAMENTO NA SÚMULA 691 DO STF. DUPLA
SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. TRÁFICO DE ENTORPECENTES. PRISÃO EM
FLAGRANTE CONVERTIDA EM PREVENTIVA. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA.
GRAVIDADE EM CONCRETO DO CRIME. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1.
A periculosidade do agente, evidenciada pelo modus operandi e a gravidade em
concreto do crime, constituem motivação idônea para a manutenção da custódia
cautelar. Precedentes: HC 113.793, Segunda Turma, Rel. Min. Cármen Lúcia, DJe
de 28/05/2013; HC 109.723/PI, Primeira Turma, de minha relatoria, DJe de
27/6/2012; HC 118.982/MG, Rel. Min. Teori Zavascki, Segunda Turma, DJe de
12/11/2013; RHC 117.467/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, Primeira Turma, DJe de
05/11/2013. 2. A custódia preventiva visando à garantia da ordem pública, por
conveniência da instrução criminal e para assegurar a aplicação da lei penal,
legitima-se quando presente a necessidade de acautelar-se o meio social ante a
concreta possibilidade de reiteração criminosa e as evidências de que, em
liberdade, o agente empreenderá esforços para escapar da aplicação da lei penal
(HC 109.723, Primeira Turma, Relator o Ministro Luiz Fux, DJ de 27.0612). No
mesmo sentido: HC 106.816, Segunda Turma, Relatora a Ministra Ellen Gracie,
DJ de 20/06/2011; HC 104.608, Primeira Turma, Relatora a Ministra Ellen Gracie,
DJ de 1º/09/2011; HC 106.702, Primeira Turma, Rel. Min. Cármen Lúcia, DJ de
27/05/2011. E, na linha da jurisprudência dessa Corte, se as circunstâncias
concretas da prática do crime indicam a periculosidade do agente, está
justificada a decretação ou a manutenção da prisão cautelar para resguardo da
ordem pública. 4. A primariedade, os bons antecedentes, a residência fixa e a
profissão lícita são circunstâncias pessoais que, de per se, não são suficientes ao
afastamento da prisão preventiva (HC 112.642, Segunda Turma, Relator o
Ministro Joaquim Barbosa, DJ de 10.08.12). No mesmo sentido: HC 106.474,
Primeira Turma, Relatora a Ministra Rosa Weber, DJ de 30.03.12; HC 108.314,
Primeira Turma, Relator o Ministro Luiz Fux, DJ de 05.10.11; HC 103.460, Primeira
Turma, Relator o Ministro Luiz Fux, DJ de 30.08.11; HC 106.816, Segunda Turma,
Relatora a Ministra Ellen Gracie, DJ de 20.06.11; HC 102.354, Segunda Turma,
Relator o Ministro Joaquim Barbosa, DJ de 24.05.11, entre outros). (STF – HC:
120739 SP , Relator: Min. LUIZ FUX, Data de Julgamento: 01/04/2014, Primeira
Turma, Data de Publicação: DJe- 080 DIVULG 28-04-2014 PUBLIC 29-04-2014).

DELEGADO DE POLÍCIA – PCPR – 2013 – COPS UEL

Discorra sobre a prisão processual e seus princípios.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

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á prisão processual, também denominada provisória, cautelar ou sem


pena, tem como subespécies a prisão em flagrante; a prisão preventiva; e a prisão
temporária. Ela consiste naquela decretada antes do trânsito em julgado da
sentença penal condenatória, objetivando assegurar a eficácia das investigações
ou do processo criminal.

á prisão cautelar deve estar obrigatoriamente comprometida com a ins-


trumentalização do processo criminal, tratando-se de medida excepcional. Não
pode se revelar como forma de cumprimento antecipado da pena, já que o juízo
que se faz para o seu decreto não é de culpabilidade, mas sim de periculosidade.

Inclusive, o “TF entende que a prisão cautelar tem função exclusivamente


instrumental, não podendo se converter em forma antecipada de punição penal.
ássim, somente se justifica a segregação cautelar em hipóteses estritas, não
podendo se efetivar, legitimamente, quando ausente qualquer dos fundamentos
legais necessários à sua decretação pelo Poder Judiciário. De igual modo, não se
pode conceber a prisão cautelar meramente para dar satisfação à sociedade, à
opinião pública ou à mídia, sob pena de se desvirtuar sua natureza instrumental.

álém disso, para a decretação da prisão cautelar, precisam estar


presentes o fumus comissi delicti, que é a probabilidade de a ordem jurídica
amparar o direito que, por essa razão, merece ser protegido; e o periculum in
mora, que é o risco de perecer que corre o direito se a medida não for tomada
para preservá-lo.

O primeiro princípio que rege a prisão processual é o de que ela não se


mantém e nem se decreta se não houver perigo à aplicação da lei penal; perigo
à ordem pública; ou necessidade para a instrução criminal, conforme o art. 312
do CPP.

O segundo princípio é o de que ela deve ser necessária para que se alcance
um daqueles objetivos, tendo por critério a legalidade e a adequação a uma das
hipóteses legais, com base no art. 282, I e II, do CPP.

O terceiro princípio é o de que os fundamentos da prisão processual


podem suceder-se, mas não se acumulam. Logo, se a prisão em flagrante é válida
e não for cabível nenhuma medida prevista no art. 219 do CPP (subsidiariedade),
converte-se em preventiva.

DELEGADO DE POLÍCIA – PCMA – 2012 – FGV

De acordo com a reforma processual penal mais recente, é possível que a


prisão preventiva seja decretada de ofício pelo juiz? Fundamente sua resposta.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

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O art. 311 do Código de Processo Penal possibilita a decretação da prisão


preventiva do acusado pelo juiz, de ofício, no curso da ação penal. De outro lado,
o mesmo dispositivo exige requerimento do Ministério Público, do querelante ou
do assistente, ou, ainda, representação da autoridade policial para que a prisão
preventiva seja decretada no curso do inquérito policial.

Todavia, parcela da doutrina faz severas críticas quanto à possibilidade


de decretação da prisão preventiva de ofício pelo juiz, mesmo que no curso da
ação penal. “egundo esta corrente, a possibilidade de decretação da prisão
preventiva de ofício pelo juiz fere os princípios da imparcialidade e da inércia,
sendo incompatível com o sistema acusatório, o qual prima, acima de tudo, pela
separação entre as funções de acusar, defender e julgar. ágindo o juiz de ofício,
sem qualquer requerimento pelo cerceamento cautelar, este se mostraria
interessado na causa, revelando certa confusão nas funções acima elencadas.

Os opositores dessa visão aduzem que, no curso da ação penal, será


possível a decretação ex officio da prisão preventiva, já que, uma vez em curso a
atividade jurisdicional, pode e deve o juiz velar pelo seu desenvolvimento regular
e finalístico.

Por fim, faz-se necessário analisar o disposto no art. 20 da Lei nº


11.340/06 (Lei Maria da Penha), o qual, em uma interpretação literal, autorizaria
a decretação da prisão preventiva do agressor, de ofício pelo juiz, no curso do
inquérito policial. áqui, há um aparente conflito com o art. 311 do CPP que exige
requerimento do Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou, ainda,
representação da autoridade policial para que a prisão preventiva seja decretada
no curso do inquérito policial.

ápesar de se tratar de legislação especial, a Lei Maria da Penha apenas


reproduzia a redação anterior do CPP, a qual foi alterada com o advento da Lei
nº 12.403/2009. ássim, deve prevalecer o Código de Processo Penal com a alte-
ração promovida pela Lei nº 12.403/11, mais nova, sobre a Lei Maria da Penha,
vedando-se, pois, a decretação da prisão preventiva de ofício pelo juiz no curso
do inquérito policial.

á dúvida que surge é se, no âmbito da referida lei, o juiz poderá decretar
de ofício a prisão preventiva em sede de inquérito. Ora, tal dispositivo baseava-
se na antiga redação do art. 311 do CPP, que figurou como seu paradigma ao
estabelecer a possibilidade de o juiz decretar a prisão preventiva de oficio no
inquérito e no processo. Hodiernamente, com a mudança de paradigma
introduzida pela Lei nº 12.403/11, deve-se estender essa mudança da norma
geral a todas as leis que se basearam naquele padrão.

DELEGADO DE POLÍCIA – PCMG – 2011 – FUMARC

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Diante do descumprimento injustificado de medida cautelar diversa da prisão


anteriormente imposta (art. 319, CPP) poderá o juiz em qualquer inflação penal
punida com pena privativa de liberdade, decretar prisão preventiva do
indiciado/acusado? Fundamenta sua resposta.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Por mais que se deva respeitar a homogeneidade das medidas cautelares,


não se pode negar ao juiz a possibilidade de decretar a prisão preventiva no caso
de descumprimento das cautelares diversas da prisão. Isso pode ocorrer ainda
que ausente qualquer hipótese do art. 313 do CPP, sob pena de se negar qualquer
coercibilidade a tais medidas.

Caso fosse admitido entendimento diverso, o art. 319 do CPP restaria


praticamente inutilizável. Portanto, na hipótese do art. 282, §4º, c/c art. 312,
parágrafo único, ambos do CPP, a prisão preventiva pode ser decretada,
independentemente da observância do art. 313 do CPP, em qualquer infração a
que se comine pena privativa de liberdade.

Tal medida não fere o princípio da homogeneidade, haja vista que a pena
em abstrato cominada ao delito nem sempre é sinônimo de aplicação dos
benefícios despenalizadores, como transação penal, suspensão condicional do
processo, substituição da pena, as quais dependem de outros requisitos.

Com o advento da Lei nº 12.403/11, a prisão preventiva poderá ser


utilizada em três circunstâncias distintas: de modo autônomo, em qualquer fase
da investigação, hipótese em que sua decretação estará condicionada à
observância dos arts. 311, 312 e 313 do CPP; como conversão da prisão em
flagrante (art. 310, II, do CPP), que também estará condicionada à observância
dos arts. 311, 312 e 313 do CPP; e de modo subsidiário, pelo descumprimento de
cautelar diversa da prisão anteriormente imposta (art. 282, §4º, c/c art. 312,
parágrafo único, do CPP), hipótese em que a preventiva poderá ser decretada
independentemente das circunstâncias e hipóteses arroladas no art. 313 do CPP.

Delegado de Polícia – PCRS – 2009 – IBDH

Conceitue flagrante esperado, preparado e diferido ou retardado, bem como


explique quais as principais diferenças entre eles no resultado de uma operação
policial.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Flagrante é a situação em que o sujeito esteja cometendo o delito ou que


tenha recém cometido. Juridicamente, as espécies de situações que configuram
flagrância estão delineadas no Código de Processo Penal, em seu artigo 302.
Ocorre que os conceitos apresentados no enunciado não estão

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previstos, expressamente, na legislação, sendo construções doutrinárias e


jurisprudenciais amplamente consagradas.

Flagrante esperado é aquela situação em que a polícia, tendo


conhecimento de que determinado crime ocorrerá, coloca-se de prontidão,
aguardando que a prática ocorra para, então, intervir e efetuar a prisão dos
participantes. Trata-se de prisão legal, traduzindo-se em prática comum, na
medida em que, com o avanço dos meios de investigação, a polícia vem tendo
condições de descobrir a pretensão de prática de certos delitos antes mesmo de
sua verificação.

O problema está no chamado flagrante preparado, também chamado de


provocado. Neste caso, a polícia não se limita a aguardar a prática delitiva, mas
provoca a conduta criminosa, fazendo com que o autor do delito participe, na
realidade, de uma cena teatral. O autor do “delito” não praticaria, ou pelo menos
não da maneira como praticou, o fato se não fosse a provocação do agente do
Estado.

A principal diferença entre ambos, segundo se verifica na doutrina e ainda


na Jurisprudência, é que a primeira situação, a do flagrante esperado, é
considerada plenamente válida, enquanto a segunda, do flagrante preparado (ou
provocado), não. A rejeição ao flagrante dito preparado ocorre geralmente por
dupla fundamentação: haveria a intervenção decisiva de um terceiro a preparar
ou a provocar a prática da ação criminosa e, assim, do próprio flagrante.

Como segunda justificativa, por causa da preparação resultaria uma


situação de impossibilidade de consumação da infração de tal maneira que a
hipótese se aproximaria do crime impossível. Trata-se de tema já objeto de
entendimento sumulado pelo próprio STF (Súmula nº 145). Com efeito, não
havendo crime, ou sob outro enfoque, não havendo situação de flagrância, resta
claro que o Delegado de Polícia não poderá lavrar o auto de prisão em flagrante,
sob pena de estar praticando um ato ilegal (passível de configurar, inclusive, o
crime de abuso de autoridade, previsto na Lei nº 4.898/65).

O flagrante diferido ou controlado, por sua vez, existe quando, a fim de


angariar maiores elementos de convicção ou mesmo a prisão de mais envolvidos
na empreitada criminosa, a polícia deixa de prender em flagrante imediatamente
à prática do delito. A prisão em flagrante será diferida, isto é, adiada, para que a
medida final se concretize no momento mais eficaz do ponto de vista da
formação da prova e fornecimento de informações. Esta espécie de flagrante é
típica para os casos em que se esteja investigando as atividades de organizações
criminosas.

Importante frisar que a prisão em flagrante no modelo diferido ou


controlado depende de autorização judicial, sob pena de configuração do crime
de prevaricação, uma vez que o Código de Processo Penal é explícito quando

123
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afirma que os agentes do Estado possuem o dever de efetuar a prisão em


flagrante.

DELEGADO DE POLÍCIA – PCGO – 2008 – UEG

Em determinado Município, no curso de inquérito policial contra o prefeito


municipal, ao elaborar representação para prisão preventiva, você se depara
com preceito na Lei Orgânica Municipal que estipula ser o prefeito insuscetível
de prisão, nas infrações penais comuns, enquanto não sobrevier sentença
condenatória. Discorra sobre a constitucionalidade do preceito, indicando o
órgão competente e o meio adequado para sua apreciação in concreto.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

O preceito analisado na questão estabelece uma imunidade formal


relativa à prisão do Prefeito. O que se pretende na Lei Orgânica do Município em
comento é que o Chefe do Executivo Municipal somente seja preso em razão de
sentença, não o sendo em razão de prisões cautelares. O texto constitucional
previu tal imunidade para o Presidente da República –Chefe do Executivo Federal
–, não a estendendo aos demais níveis da federação.

O STF entende que o disposto no art. 86, §3º, da CRFB, é prerrogativa


inerente ao Presidente da República enquanto Chefe de Estado. No sistema
presidencialista, o Chefe do Executivo Federal desempenha a função de chefe de
Governo (relacionado ao exercício de seu mandato eletivo e realização das
políticas internas), bem como a de chefe de Estado (voltada para o plano
internacional, diante de outros Estados igualmente soberanos). Dessa forma, a
referida imunidade formal se relaciona com a preservação das suas funções
enquanto chefe de Estado.

Ressalte-se que a Constituição de 1988 foi bem minuciosa com relação às


matérias constantes das leis orgânicas municipais. Com base nisso, estabeleceu
foro especial por prerrogativa da função aos Prefeitos na hipótese de prática de
crimes comuns. Estes devem ser processados e julgados perante o Tribunal de
Justiça respectivos, nos termos do art. 29, X, da CRFB.

A norma que prevê a referida imunidade para o Prefeito extrapola o


permissivo constitucional e está desprovida de fundamento de validade, devendo
ser impugnada pela via do controle de constitucionalidade. Destaque- se que a
hipótese mencionada no enunciado da questão não permite o controle por meio
de áção Direta de Inconstitucionalidade, nos termos do art. 102, I, “a”, da CRFB.

Caso a lei orgânica municipal contrariasse a Constituição Estadual, é certo


que deveria ser impugnada no Tribunal de Justiça local, nos termos do

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artigo 125, §2º, da CRFB. Mas a questão não traz informação de que a norma
conste de Constituição Estadual e, por isso, não se pode trabalhar com esta
hipótese.

Logo, deve-se concluir pela inexistência de previsão constitucional acerca


da via do controle concentrado de lei orgânica municipal em face da CRFB (com
exceção do caso de ADPF). Por fim, frise-se que a inexistência de norma se refere
ao controle concentrado, já que pela via do controle difuso é perfeitamente
cabível a impugnação.

DELEGADO DE POLÍCIA – PCSP – 2008 – ACADEPOL

É possível o relaxamento da prisão em flagrante promovido pelo Delegado de


Polícia? Justifique.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Como se depreende do disposto no art. 304, caput, do CPP, à autoridade


policial incumbirá ouvir o condutor, as testemunhas que o acompanharem e, ao
final, interrogar o preso. Assim, apurando a ocorrência de fundada suspeita
contra o conduzido (art. 304, §1º, do CPP), isto é, se os fatos narrados
constituírem infração penal, constando elementos que indiquem que o conduzido
provavelmente é o seu autor, e se a situação em que o conduzido foi encontrado
configurar uma das hipóteses de flagrante admitidas na legislação, deverá a
autoridade policial determinar seu recolhimento à prisão, com a lavratura do
respectivo auto flagrancial.

Na interpretação em sentido contrário do art. 304, §1º, do CPP, pode-se


concluir que, se das oitivas não resultar fundada suspeita contra o investigado, a
autoridade policial não poderá recolhê-lo ao cárcere, determinando sua imediata
liberação. Nada impede, no entanto, a instauração de inquérito policial ou
lavratura de boletim de ocorrência. Para parte da doutrina, este fenômeno se
trata do relaxamento da prisão em flagrante pelo Delegado de Polícia,
denominado “auto de prisão em flagrante negativo”.

O relaxamento poderia ocorrer quando não estivessem presentes


algumas condições somente passíveis de verificação ao final da formalização do
auto, como, por exemplo, o convencimento, pela prova testemunhal colhida, de
que o preso não é o autor do delito.

De outro lado, há uma posição que entende que a hipótese em comento


não se trata propriamente de relaxamento da prisão em flagrante. Primeiro,
porque a prisão em flagrante somente se aperfeiçoa após a captura, condução
coercitiva, lavratura do auto e recolhimento ao cárcere, não sendo possível falar
em relaxamento da prisão se todas as fases não foram cumpridas. Depois,

125
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tendo em vista que a Constituição, ao fazer menção ao relaxamento da prisão


ilegal, evidencia que somente a autoridade judiciária poderia fazê-lo (art. 5º,
LXV). Tratar-se-ia, em verdade, de situação em que a autoridade policial apenas
deixa de ratificar a voz de prisão em flagrante dada pelo condutor, ante a
ausência de fundada suspeita contra o investigado.

DELEGADO DE POLÍCIA – PCDF – 2009 – FUNIVERSA

Redija um texto descritivo acerca do tema prisão e liberdade provisória,


abordando, necessariamente, os seguintes tópicos: (a) conceito e fundamento
legal da prisão; (b) conceito, fundamento legal e cabimento da liberdade
provisória; (c) modalidades de prisão provisória ou cautelar, conceito e
pressupostos respectivos; e (d) a prisão provisória, o postulado constitucional da
presunção de inocência e a atual jurisprudência do Supremo Tribunal Federal.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

A prisão pode ser compreendida como a privação da liberdade de


locomoção e o respectivo recolhimento da pessoa humana ao cárcere. Este
recolhimento pode ser fruto de flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada da autoridade judiciária competente, salvo nos casos de
transgressão militar ou por força de crime propriamente militar, definido em lei,
nos termos do art. 5º, LXI, da CRFB.

Há três tipos de prisão em nosso ordenamento jurídico: prisão pena;


prisão extrapenal; e prisão processual.

A prisão pena decorre de sentença penal condenatória com trânsito em


julgado. A prisão extrapenal é a prisão militar e a civil (somente permitida para o
devedor de alimentos, nos termos da Súmula Vinculante nº 25). E, por fim, a
prisão processual, também chamada de provisória, cautelar ou sem pena, possui
como subespécies a prisão em flagrante (há divergência doutrinária), preventiva
e temporária.

A prisão provisória (preventiva ou temporária) é uma medida cautelar de


natureza pessoal drástica, cujo objetivo é assegurar a eficácia da investigação
criminal ou do processo penal em relação aos efeitos nocivos do tempo. Isso
ocorre para assegurar a correta apuração do fato delituoso; a futura e possível
execução da sanção; ou a proteção da própria coletividade, ameaçada pelo risco
de reiteração da conduta delituosa.

Assim como qualquer medida cautelar, a prisão provisória é excepcional.


Isso porque o princípio constitucional da presunção de inocência, hospedado no
art. 5º, LVII, da CRFB, também previsto em diversos tratados internacionais

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sobre direitos humanos (a exemplo do Pacto de São José da Costa Rica), assegura
que ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença
penal condenatória.

Isso significa dizer que, como regra, a pessoa deverá responder ao


processo penal em liberdade. Por essa razão, a prisão cautelar é excepcional e só
poderá ser decretada quando atendidos os requisitos legais constantes dos arts.
312 e 313 do CPP. No caso da prisão temporária, deverão ser verificados os
requisitos da Lei nº 7.960/89. A prisão provisória, portanto, não pode ser utilizada
como execução provisória da pena, conforme posicionamento da jurisprudência,
notadamente do STF.

De qualquer maneira, deverá ser observada a possibilidade de aplicação


de medidas cautelares diversas da prisão e que não sejam suficientes para a
tutela da ordem pública, conveniência da instrução penal ou aplicação da lei
penal (prisão cautelar como ultima ratio).

Conforme exposto, há duas espécies de prisão provisória: a preventiva e a


temporária. A prisão preventiva é uma espécie de prisão cautelar decretada pela
autoridade judiciária competente mediante representação da autoridade policial
ou requerimento do Ministério Público, do querelante ou do assistente, em
qualquer fase das investigações ou do processo criminal. A decretação deverá
ocorrer sempre que estiverem preenchidos os requisitos legais, além dos motivos
autorizadores listados no art. 312 do CPP, desde que se revelem inadequadas ou
insuficientes as medidas cautelares diversas da prisão.

Já a prisão temporária é uma espécie de prisão cautelar decretada pela


autoridade judiciária competente durante a fase investigatória, com prazo de
duração. Ela deve ser determinada quando a privação da liberdade de locomoção
do investigado for indispensável para a obtenção de elementos de informação
quanto à autoria e materialidade das infrações penais elencadas no art. 1º, III,
da Lei nº 7.960/89, bem como em relação aos crimes hediondos e equiparados.

Como diferença entre ambas, podemos citar, além da própria previsão


legal distinta, as espécies de crimes que autorizam a decretação. Enquanto na
prisão preventiva o cabimento se dá para qualquer tipo de delito (exceto o
previsto no art. 28 da Lei nº 11.343/06), a prisão temporária pode ocorrer apenas
para os delitos tipificados na Lei nº 7.960/89.

Outra distinção envolve a fase da persecução penal na qual é possível a


decretação. Na prisão preventiva, a decretação pode ocorrer na fase
investigativa e na processual; a prisão temporária só pode ocorrer durante a fase
investigatória.

Uma terceira diferenciação está no prazo. Enquanto que na prisão


preventiva não há prazo legal de duração, na prisão temporária o tempo de

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duração para os crimes hediondos ou equiparados é de até trinta dias, podendo


ser prorrogado por mais trinta. No caso de crime não hediondo o prazo é de cinco
dias, prorrogável por igual período.

No tocante ao alvará de soltura, na prisão preventiva ele é necessário


para a liberdade do preso. Já na prisão temporária é desnecessário o alvará, pois
passado o prazo, o preso deve ser colocado em liberdade.

O direito à liberdade provisória, que tem fundamento legal no art. 5º,


LXVI, da CRFB, é decorrência do princípio da presunção de inocência. Se a pessoa
é considerada inocente, deverá responder as investigações e ao processo em
liberdade. Com o advento da Lei nº 12.403/11, a liberdade provisória pode
funcionar como medida de contracautela ou como medida cautelar autônoma.

É medida de contracautela quando substitui a prisão em flagrante, isto é,


quando o acusado é posto em liberdade submetido a certas obrigações que o
vinculam às investigações, ao processo e ao juízo. Isso ocorre para assegurar sua
presença aos atos investigatórios e processuais sem a necessidade de que
permaneça privado de sua liberdade.

Este tipo de liberdade provisória pode ser concedido pelo Delegado de


Polícia nos crimes apenados com pena máxima em abstrato não superior a
quatro anos, mediante o pagamento de fiança, nos termos do art. 322 do CPP,
ou pelo juiz, mediante a imposição ou não de qualquer medida cautelar diversa
da prisão, prevista no art. 319 do CPP.

A liberdade provisória também funciona como medida cautelar


autônoma, com a imposição de uma ou mais medidas cautelares diversas da
prisão elencadas no art. 319 do CPP. As medidas cautelares alternativas à prisão
poderão ser impostas mesmo se o acusado estiver em liberdade desde o início da
persecução penal como, por exemplo, condição para que assim permaneça. Essa
liberdade provisória poderá ser convertida em prisão preventiva no caso de
descumprimento de qualquer das obrigações impostas ao acusado, conforme
previsto no art. 312, parágrafo único, do CPP.

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PROCESSO E PROCEDIMENTO

ANALISTA JUDICIÁRIO - TRF2 – CONSULPLAN - 2017

“Fulano de Tal, brasileiro, casado, servidor público, é denunciado pelo crime de


corrupção que fora praticado por ele um ano antes. A denúncia é recebida.
Devidamente citado por edital, Fulano não comparece nem constitui advogado.”
Considerando o caso hipotético, comente quais são as consequências
processuais e penais e, explique, abordando, inclusive a questão dos prazos: isso
se aplicaria a qualquer outro crime da justiça comum?

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

De acordo com o art. 366 do CPP, quando o réu, citado por edital, não
comparece e nem constitui advogado, ficam suspensos o processo e o prazo
prescricional.

Sobre a duração da prescrição há três correntes: a) a suspensão deve


durar por prazo indeterminado; b) a suspensão do prazo prescricional não pode
ser indefinida, de modo que deve durar o tempo máximo de prescrição admitido
pelo Código Penal, findo o qual voltará a fluir; e c) a suspensão não pode ser
indefinida, de modo que deve durar prazo idêntico ao da prescrição da pretensão
punitiva propriamente dita, pelo máximo da pena cominada em abstrato
(Súmula 415 do STJ), findo o qual voltará a fluir.

Além disso, o juiz poderá decretar a prisão preventiva, se presentes os


pressupostos, fundamentos e condições de admissibilidade, e determinar a
produção de provas consideradas urgentes, levando em consideração em tal caso
que a decisão deve ser concretamente fundamentada, não a justificando o mero
decurso do tempo (Súmula 455 do STJ).

Por fim, aa regra de suspensão do processo e do prazo prescricional


aplica-se aos outros crimes de justiça comum, exceto os crimes previstos na lei de
lavagem de dinheiro por expressa determinação legal (art. 2º, §2º, da Lei nº
9.613/98).

ANALISTA DO MP - MPE/SP - VUNESP - 2010

Talvez a maior dificuldade dogmática do Processo Penal seja estabelecer


procedimentos “equilibrados”, que permitam ao acusado exercitar amplamente
seu direito de defesa e que, ao mesmo tempo, possam distribuir a Justiça de
forma célere e eficaz. Recentemente, a Lei nº 11.719/08 alterou profundamente
o rito do procedimento comum ordinário, previsto a partir do art. 394 do CPP.
Discorra sobre a dificuldade apontada (“equilíbrio”), dando ênfase à introdução
da fase de resposta escrita à acusação (CPP, art. 396-A) e possibilidade de
absolvição sumária do acusado (CPP, art. 397).

129
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SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Com o advento da Lei nº 11.719/08, inovações foram trazidas ao Código


de Processo Penal, consistentes em traçar regras que viabilizem um processo
mais célere, possibilitando um julgamento adequado e efetivo, atendendo aos
preceitos constitucionais. Isso serve para demonstrar a ocorrência dos princípios
da economia processual, da celeridade, da concentração dos atos processuais em
audiência e da identidade física do juiz.

A resposta à acusação é o momento processual para que sejam alegadas


matérias preliminares, as quais, em regra, possuem conteúdo de natureza
processual, cuidando de temas a serem apreciados pelo juiz antes de qualquer
análise do mérito. De ressaltar que se trata de peça defensiva de apresentação
obrigatória, sob pena de declaração de nulidade absoluta.

Ademais, seu escopo principal é uma eventual absolvição sumária nas


hipóteses de atipicidade, excludentes da ilicitude ou da culpabilidade, salvo
inimputabilidade ou causa extintiva da punibilidade (art. 397 do CPP).

A absolvição sumária consiste em um verdadeiro julgamento antecipado


da lide, nos mesmos moldes do que já existia no procedimento originário dos
Tribunais e no procedimento dos crimes funcionais, concretizando o princípio da
razoável duração do processo (art. 5°, LXXVIII, da CRFB).

Porém, antes de tomar eventual decisão absolutória, deve o magistrado


determinar a oitiva do órgão acusatório, garantindo-se a aplicação do princípio
do contraditório. Afinal, para que seja acolhido o alegado pelo réu em sua defesa
prévia, se documentos ou fatos novos forem alegados, surge a necessidade de
ouvir a parte contrária.

Deste modo, promove-se o equilíbrio desejado, em virtude da


possibilidade de alegar diversas matérias de defesa em sede preliminar, evitando,
em prol da eficiência e da economia processual, a instrução de processos que
poderiam, já de início, ser julgados em virtude da presença das hipóteses legais
acima mencionadas.

JURISPRUDÊNCIA RELACIONADA:

“(...) 1. Não se verifica a arguida nulidade por falta de fundamentação da decisão


que rejeitou as teses defensivas apresentas, uma vez que o Juízo de primeira
instância, após analisar a resposta à acusação oferecida pelo ora Paciente,
examinou, ainda que de modo conciso, as referidas arguições , concluindo por
determinar o prosseguimento da ação penal. 2. Esta Corte já se pronunciou no
sentido de que, não sendo a hipótese de absolvição sumária do acusado, a
manifestação do Juízo processante não há de ser exaustiva, sob pena de
antecipação prematura de um juízo meritório que deve ser naturalmente
realizado ao término da instrução criminal, em estrita observância aos princípios
da ampla defesa e do contraditório. Precedente. 3.

130
Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br

Recurso ordinário desprovido. Prejudicada a análise do pedido liminar”. (“TJ -


RHC: 34955 SP 2012/0273880-2, Relator: Ministra LAURITA VAZ, Data de
Julgamento: 01/04/2014, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe
10/04/2014).

Informativo 503 do “TJ: “á absolvição sumária só é possível se evidenciada uma


das hipóteses previstas no art. 397 do CPP. No caso, o tribunal de origem
manteve a absolvição sumária do réu acusado de crime de contrabando ao
argumento de que ele não tinha consciência da origem das máquinas caça -
níqueis apreendidas em seu estabelecimento. A Min. Relatora asseverou que,
sendo ponto controvertido o conhecimento da procedência estrangeira das
máquinas apreendidas e de seus componentes, mostra-se descabido o
afastamento do dolo do agente sem a devida instrução probatória. Precedentes
citados: REsp 1.206.024-ES, DJe de 13/8/2012, e REsp 1.206.103-ES, DJe de
14/2/2012. REsp 1.206.320-ES, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 4/9/2012”.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

NUCCI, Guilherme de “ouza. “Código de Processo Penal Comentado” – 15ª


edição, rev., atual., ampl. editora Forense – grupo GEN. 2016.

LIMá, Renato Brasileiro. “Manual de Processo Penal” – volume único. 4ª edição,


rev., atual., ampl. Editora JusPODIVM. 2016.

PROCURADOR DO MUNICÍPIO - PGM-BOA VISTA/RR - 2010 - CESPE

Antônio, servidor público municipal, lotado na seção de licitação e contratos de


uma prefeitura municipal, coordenador do departamento de compras, licitação
e contratos do referido ente municipal, no regular exercício da função pública,
dispensou licitação em diversas compras no período de janeiro a agosto de 2009,
fora das hipóteses legais de dispensa e com inobservância das formalidades
pertinentes ao procedimento administrativo licitatório, ensejando um prejuízo
de R$ 90.000,00 aos cofres do município. Além disso, em concurso material,
solicitou significativa quantia para célere liberação de pagamento a fornecedores
e devassou sigilo de proposta apresentada em procedimento licitatório, para
beneficiar falsificação de documentos públicos e, com isso, ocultar algumas
práticas ilegais. Por fim, no curso da apuração administrativa, Antônio retardou
a prática de ato de ofício para satisfazer interesse e sentimento pessoal. Todos
esses fatos restaram provados nos autos de inquérito policial que, concluso, foi
encaminhado ao Ministério Público, o qual denunciou Antônio, desencadeando
ação penal que se encontra em curso. Considerando a situação hipotética
narrada acima, redija um texto dissertativo que atenda, necessariamente, de
forma justificada e com o devido fundamento, as seguintes determinações: 1-
comente sobre a possibilidade de habilitação do município na condição de
assistente de acusação; 2- informe que medida processual penal garantirá o
ressarcimento dos prejuízos sofridos pela

131
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administração; 3- comente sobre os efeitos penais da sentença condenatória no


tocante ao cargo público do servidor; 4- elenque as infrações penais praticadas
pelo servidor.
SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Em relação à assistência de ente público no processo penal, existe


controvérsia doutrinária sobre o tema. A doutrina contrária à assistência aduz,
sinteticamente, que o Estado já estaria presente na ação penal pública em virtude
da atuação do Ministério Público. Com isso, não caberia ao ente público atuar na
qualidade de assistente, pois haveria a situação de duas entidades estatais
estarem contra o réu.

Já a doutrina que defende a assistência aduz que determinadas infrações


penais poderão gerar, além da sanção penal, outras formas de reação do Direito,
possuindo, por exemplo, interesse de natureza patrimonial a partir da violação a
determinados bens jurídicos de particulares perfeitamente individualizados. Não
se pode negar, por exemplo, o interesse jurídico de determinado município na
condenação de servidor público que cometeu delitos funcionais em um
procedimento licitatório.

O STJ possui entendimento no sentido de ser admissível a assistência de


pessoas jurídicas de direito público como assistentes da acusação quando a
motivação da intervenção for extrapenal. Para tanto, aduz que, segundo dispõe
o art. 91, I, do CP, constitui um dos efeitos da sentença penal condenatória tornar
certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime.

Por isso mesmo dispõe o art. 63 do CPP que, transitada em julgado a


sentença condenatória, poderão promover-lhe a execução, no juízo cível, para o
efeito da reparação do dano, o ofendido, seu representante legal ou seus
herdeiros. Nesse caso, a sentença constitui título certo e ilíquido em favor do
direito à indenização, e, com esse título executório, o exequente não vai discutir
o an debeatur, mas sim o quantum debeatur.

A medida processual penal a ser adotada para garantir o ressarcimento


do erário municipal é o sequestro. Constitui-se em uma medida assecuratória
fundada no interesse público e antecipativa do perdimento de bens como efeito
da condenação, no caso de ser produto do crime ou adquiridos pelo agente com
a prática do fato criminoso. Por ter por fundamento o interesse público, qual seja,
o de que a atividade criminosa não tenha vantagem econômica, o sequestro
pode, inclusive, ser decretado de ofício.

Em relação à perda do cargo público do servidor, o art. 92 do CP menciona


que, dentre os efeitos da condenação, temos a perda do cargo, função pública ou
mandato em algumas situações de pena privativa de liberdade. Existe
posicionamento no sentido de que a perda de cargo público é tão somente efeito
administrativo da decisão judicial, de modo que a

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motivação/fundamentação para esse efeito da pena pode decorrer do próprio


conjunto da decisão judicial.

O STJ entende que os efeitos específicos da condenação não são


automáticos, de sorte que, ainda que presentes, em princípio, os requisitos do
art. 92, I, do CP, deve a sentença declarar, motivadamente, os fundamentos da
perda do cargo público.

No tocante às infrações praticadas pelo servidor, houve o cometimento


do delito previsto no art. 89 da Lei nº 8.666/93; do delito de corrupção passiva
(art. 317 do Código Penal); do delito previsto no art. 94 da Lei nº 8.666/93 e do
delito de prevaricação (art. 319 do Código Penal).

JURISPRUDÊNCIA RELACIONADA:

MANDADO DE SEGURANÇA. RECURSO. AÇÃO PENAL PÚBLICA E ASSISTÊNCIA.


CRIME CONTRA A PREFEITURA MUNICIPAL. 1. DA DECISÃO DENEGATORIA DE
MANDADO DE SEGURANÇA EM UNICA INSTANCIA, CABE RECURSO ORDINARIO.
2. TRATANDO-SE DE AÇÃO PENAL PÚBLICA PROMOVIDA PELO MINISTÉRIO
PÚBLICO DO ESTADO, SENDO LESADA A PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO,
E ADMISSIVEL O INGRESSO DESTA COMO ASSISTENTE. E QUE O INTERESSE DO
BEM PÚBLICO GERAL DO ORGÃO MINISTERIAL NÃO COINCIDE COM O INTERESSE
SECUNDARIO DA OFENDIDA MUNICIPALIDADE. 3. RECURSO PROVIDO. (STJ -
RMS: 546 SP 1990/0007494-0, Relator: Ministro JESUS COSTA LIMA, Data de
Julgamento: 17/10/1990,T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJ
05.11.1990 p. 12434</br> RT vol. 667 p. 334)

AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. DIREITO PENAL E PROCESSUAL


PENAL. PODERES INVESTIGATÓRIOS DO MINISTÉRIO PÚBLICO. RECURSO
EXTRAORDINÁRIO REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA Nº 593.727.
UTILIZAÇÃO DA PROVA EXTRAJUDICIAL COMO FUNDAMENTO PARA A
CONDENAÇÃO. POSSIBILIDADE EM CARÁTER COMPLEMENTAR À PROVA
JUDICIALIZADA. PARECER TÉCNICO. NÃO SUJEIÇÃO À DISCIPLINA LEGAL DA
PROVA. INDEFERIMENTO DE PRODUÇÃO DE PROVA CONSIDERADA
IRRELEVANTE. DISCRICIONARIEDADE REGRADA. RENOVAÇÃO DO
INTERROGATÓRIO AO FINAL DA INSTRUÇÃO. LEI Nº 11.719/2008. ALTERAÇÃO
LEGISLATIVA SUPERVENIENTE. TEMPUS REGIT ACTUM. TIPICIDADE. ELEMENTO
SUBJETIVO. REEXAME DE PROVA. SÚMULA 7/STJ. DESCLASSIFICAÇÃO. PRINCÍPIO
DA ESPECIALIDADE. PERDA DO CARGO PÚBLICO. VIOLAÇÃO DE DEVER PARA
COM A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. 1. O Tribunal Pleno do
Supremo Tribunal Federal, no julgamento do Recurso Extraordinário nº 593.727,
submetido ao rito do artigo 543-B do Código de Processo Civil, pacificou o
entendimento no sentido de que "O Ministério Público dispõe de competência
para promover, por autoridade própria, e por prazo razoável, investigações de
natureza penal, desde que respeitados os direitos e garantias que assistem a
qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação do Estado,
observadas, sempre, por seus agentes, as hipóteses de reserva

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Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br

constitucional de jurisdição e, também, as prerrogativas profissionais de que se


acham investidos, em nosso País, os Advogados (Lei 8.906/94, artigo 7º,
notadamente os incisos I, II, III, XI, XIII, XIV e XIX), sem prejuízo da possibilidade
- sempre presente no Estado democrático de Direito - do permanente controle
jurisdicional dos atos, necessariamente documentados (Súmula Vinculante 14),
praticados pelos membros dessa instituição". 2. O artigo 155 do Código de
Processo Penal não impede a utilização da prova extrajudicial como fundamento
para a condenação desde que em caráter complementar à prova produzida sob
crivo do contraditório judicial. 3. Documento particular produzido pela vítima
tem natureza de parecer técnico, não sujeito à disciplina legal da prova inserta
no artigo 155 e seguintes do Código de Processo Penal. 4. O parágrafo 1º do
artigo 400 do Código de Processo Penal confere ao magistrado a condição de
destinatário final das provas, o qual, pelo princípio do livre convencimento
motivado, pode indeferir de forma fundamentada as providências que considere
protelatórias, irrelevantes ou impertinentes, não estando obrigado a realizar
outras provas quando já se encontra suficientemente instruído diante dos
elementos probatórios existentes nos autos. (...). 8. A pena de perda do cargo
público não é mero efeito da condenação, devendo ser motivada por
determinação expressa do parágrafo único do art. 92 do Código Penal, tal como
nos presentes autos, em que o réu, na condição de agente fiscal de rendas do
Estado, valeu-se do cargo para perpetrar o crime de corrupção ativa em matéria
tributária (artigo 3º inciso II, da Lei 8.137/90) causando lesão ao erário estadual
que, segundo ele próprio, poderia alcançar mais de duzentos milhões de reais. 9.
Agravo regimental improvido. (AgRg no REsp 1444444/SP, Rel. Ministra MARIA
THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 16/02/2016, DJe
24/02/2016

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 28. ed.
Atlas. 2015.

PIETRO. Maria Sylvia Zanella di. Direito Administrativo.29ª. ed. Forense. 2016.

PROCURADOR DO ESTADO - PGE/BA - 2014 - CESPE

No dia dez de dezembro de 2012, em delegacia de polícia civil situada no


município de Juazeiro–BA, instaurou-se inquérito policial para apurar notícia de
prática de peculato, em continuidade delitiva, cuja autoria suposta fora atribuída
a três indivíduos, ocupantes de cargos públicos comissionados de nível s uperior
e lotados no setor administrativo de determinada secretaria de Estado da Bahia.
No curso das investigações, os três investigados foram exonerados, perdendo,
por completo, os vínculos que mantinham com o serviço público e com o estado
da Bahia, o qual, por meio de sua procuradoria geral, formulou pedido à
autoridade policial para habilitar-se como assistente de acusação, alegando
interesse em garantir a eficácia da possível sentença

134
Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br

penal condenatória, uma vez que fora vítima da referida ação delituosa.
Posteriormente, a autoridade policial indiciou os três investigados por prática de
peculato, em continuidade delitiva e em concurso de agentes, porquanto
comprovada a apropriação de valores de que tinham a posse em razão de seus
cargos. A denúncia oferecida pelo Ministério Público conteve idêntica
capitulação e foi recebida, de modo integral e imediato, pelo juízo criminal
competente, que, por sua vez, determinou a instauração da ação penal, bem
como a expedição dos mandados de citação dos réus. Com base nessa situação
hipotética, redija um texto dissertativo que atenda, necessariamente, ao que se
pede a seguir. 1- Em face das normas processuais penais, examine o pleito
formulado pelo procurador geral do estado da Bahia, discorrendo sobre sua
viabilidade jurídica, sua tempestividade e seu direcionamento. [valor: 9,00
pontos] 2- Discorra sobre a marcha procedimental adotada pelo juízo criminal
por ocasião do exame e do imediato recebimento da denúncia, considerando as
condições em que o crime foi perpetrado. [valor: 7,00 pontos] 3- Aponte, de
modo fundamentado, se foram observadas ou não as normas processuais que
regem a hipótese contemplada no texto. [valor: 3,00 pontos]

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Em relação ao item 1, no que diz respeito à sua viabilidade, o pleito não


poderá prosperar. O pedido para habilitar-se como assistente de acusação foi
apresentado ainda no curso da apuração do fato tido por delituoso (em sede
policial), de modo que ficou evidenciada a ofensa ao disposto no artigo 268 do
CPP, que dispõe que em todos os termos da ação penal pública poderá intervir,
como assistente do Ministério Público, o ofendido ou o seu representante legal,
ou, na falta, qualquer das pessoas mencionadas no art. 31 do CPP.

Logo, o pedido para ser admitido como assistente de acusação só poderá


ser deduzido após a instauração da ação penal pública, e não no bojo do inquérito
policial. Dessa forma, o pedido não tem viabilidade, dado que é intempestivo e
não oportuno.

Por outro lado, soma-se à intempestividade o endereçamento equivocado


do mencionado pedido, uma vez que foi dirigido à autoridade policial. Segundo
as normas processuais penais que regem a matéria, o pedido para habilitar-se
como assistente de acusação deve, exclusivamente, ser dirigido ao juízo criminal
competente. A jurisprudência é pacífica nesse sentido.

O rito procedimental adotado pelo juízo criminal competente está correto.


Na hipótese, não se pode cogitar da aplicação do art. 514 do CPP por dois
motivos. Quando do oferecimento da denúncia e da instauração da ação penal,
os denunciados já não ocupavam mais cargos no serviço público (já haviam sido
exonerados) e, por isso, não tinham mais qualquer vínculo com a administração
pública estadual, vítima do delito por eles praticado.

O magistrado corretamente adotou o rito previsto no art. 394, §1º, I e


§2º e o art. 396, todos do CPP, ou seja, o procedimento comum ordinário, e não

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o rito previsto nos arts. 513 a 518 do CPP. Registre-se a existência de divergência
jurisprudencial entre o STJ (súmula 330) e o STF, envolvendo a necessidade ou
não da resposta preliminar de que trata o art. 514 do CPP, na ação penal instruída
por inquérito policial.

JURISPRUDÊNCIA RELACIONADA:

Súmula 330 do STJ - É desnecessária a resposta preliminar de que trata o artigo


514 do Código de Processo Penal, na ação penal instruída por inquérito policial.

HABEAS CORPUS. APROPRIAÇÃO INDÉBITA QUALIFICADA. AUTOS DO INQUÉRITO


POLICIAL ARQUIVADO, POR DECISÃO DO JUIZ, A REQUERIMENTO DO
PROMOTOR DE JUSTIÇA, COM BASE NA POSSÍVEL OCORRÊNCIA DA PRESCRIÇÃO
VIRTUAL. OFENSA AO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. MANDADO DE SEGURANÇA
MANEJADO PELA VÍTIMA. TERCEIRO INTERESSADO. POSSIBILIDADE. SÚMULA
524/STF. NÃO INCIDÊNCIA. 1. É sabido que o nosso
ordenamento jurídico pátrio não prevê a prescrição em perspectiva. Com efeito,
impossível falar na existência de coisa julgada em favor do paciente, um vez que
o ato judicial atacado afronta a legislação penal vigente, bem como vários
princípios constitucionais. 2. É verdade ser inadmissível a intervenção do
assistente de acusação na fase inquisitorial, o que somente poderá ocorrer após
o recebimento da denúncia, quando então se instaura a ação penal, conforme
dispõe o art. 268 do CPP. Entretanto, não se pode privar a vítima, que
efetivamente sofreu, como sujeito passivo do crime, o gravame causado pelo ato
típico e antijurídico, de qualquer tutela jurisdicional, sob pena de ofensa às
garantias constitucionais do acesso à justiça e do duplo grau de jurisdição. 3. De
outra parte, também não se desconhece a jurisprudência pacífica desta Corte e
do Supremo Tribunal Federal no sentido de que não cabe recurso da decisão
judicial que, acolhendo manifestação do Ministério Público, ordena o
arquivamento de inquérito policial por ausência de justa causa. 4. Contudo, no
caso vertente, verifica-se que a controvérsia reside na circunstância de tal
decisão ter sido proferida em desacordo com o princípio da legalidade, visto que
o Magistrado de primeiro grau não respeitou os ditames dos arts.109 e 110 do
Código Penal, que regem a matéria a respeito da prescrição, atuando fora da
esfera estabelecida pelo legislador. 5. Por conseguinte, é possível o
conhecimento do mandado de segurança no âmbito penal, notadamente
quando impetrado contra decisão teratológica, que, no caso, determinou o
arquivamento de inquérito policial por motivo diverso do que a ausência de
elementos hábeis para desencadear eventual persecução penal em desfavor do
indiciado. 6. Dessarte, à falta de previsão legal de recurso específico, a flagrante
ilegalidade é passível de correção por meio de mandado de segurança, por ser
medida cabível para a defesa de interesse de terceiro que não figurou na ação
penal, dado que sequer foi instaurada, e que, portanto, não possui legitimidade
recursal. 7. Por fim, não se aplica à espécie a Súmula nº 524/STF, porquanto, o
próprio representante do Ministério Público, ao requerer o arquivamento do
inquérito, com base na prescrição em perspectiva, admitiu, na época, a
existência de materialidade e indícios suficientes de autoria para a deflagração

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da ação penal. 8. Habeas corpus denegado. HC nº 66.171/SP julgado prejudicado,


por possuir idêntico pedido. HABEAS CORPUS Nº 123.365 – SP – STJ

HABEAS CORPUS. PENAL E PROCESSUAL PENAL. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO


PÚBLICO E PECULATO. INEXISTÊNCIA DE NULIDADE POR INOBSERVÂNCIA AO
ART. 514 DO CPP (QUE ESTIPULA A PRÉVIA MANIFESTAÇÃO DEFENSIVA EM
CRIMES PRATICADOS POR SERVIDOR PÚBLICO CONTRA A ADMINISTRAÇÃO) SE,
AO TEMPO DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA, O AGENTE NÃO MAIS EXERCIA A
FUNÇÃO PÚBLICA. ALEGAÇÃO TARDIA, APÓS O JULGAMENTO DA APELAÇÃO E
DA INTERPOSIÇÃO DE RECURSO ESPECIAL. NULIDADE RELATIVA. PREJUÍZO NÃO
DEMONSTRADO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO DEMONSTRADO. PARECER
DO MPF PELO INDEFERIMENTO DO
WRIT. ORDEM DENEGADA. 1. A notificação do servidor, nos termos do art. 514
do CPP (que estipula a prévia manifestação defensiva em crimes praticados por
servidor público contra a Administração), não tem aplicabilidade se, ao tempo da
ação penal, o agente não mais exercia a função pública. 2. Ademais, a nulidade
por inobservância do art. 514 do Código de Processo Penal é relativa, devendo,
pois, ser arguida em momento oportuno, concomitantemente com a
demonstração do prejuízo sofrido pela parte, o que não se verificou na espécie.
Na hipótese, somente após a confirmação da condenação em segundo grau, após
duas concessões de HC, uma delas por esta Corte para o refazimento da pena do
paciente, é que se suscitou referida nulidade, sem a insinuação do prejuízo
sofrido. Precedentes do STJ. 3. Parecer ministerial pela denegação da ordem. 4.
Ordem denegada. HABEAS CORPUS Nº 129.266 – RJ - STJ

MAGISTRATURA FEDERAL – TRF2 – 2011 - CESPE

Uma equipe local da Polícia Federal apreende mercadorias descaminhadas, na


Rodovia Presidente Dutra, na altura da Cidade de Resende, ao determinar revista
em ônibus procedente do Paraguai e com entrada no Brasil por Foz do Iguaçu.
Feita a comunicação do flagrante, o Juízo Federal de Resende coloca os
indivíduos em liberdade provisória mediante fiança. Após a elaboração do laudo
pericial das mercadorias, e em virtude de promoção do Ministério Público
Federal, os autos são redistribuídos para uma das Varas Federais Criminais da
Seção Judiciária do Rio de Janeiro, especializada no processo e julgamento dos
crimes contra o sistema financeiro nacional, cidade esta onde residem os
passageiros, proprietários das referidas mercadorias. Nela, o Juiz recebe a
denúncia e determina a citação dos acusados. Pergunta-se: o procedimento está
adequado aos pressupostos da instauração da relação processual? Justifique.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

137
Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br

O procedimento adotado não está correto, haja vista malferir a temática


da competência processual penal.

Um ponto importante reside no fato de que o art. 109, IV, da CRFB


menciona ser competência da Justiça Federal processar e julgar o descaminho (os
crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços
ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas,
excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da
Justiça Eleitoral). Isso decorre do latente interesse da União por conta da
obrigação tributária que não foi satisfeita.

Assim, o delito de descaminho envolve a ordem tributária, e não o sistema


financeiro nacional e seus respectivos delitos, regulados pela Lei nº 7.492/86.
Ademais, a competência para processar e julgar o crime de contrabando ou
descaminho é definido pela prevenção do juízo federal do local da apreensão dos
bens (Súmula nº 151 do STJ), ou seja, Resende.

A consumação do delito de descaminho e a posterior abertura de


processo-crime não estão a depender da constituição administrativa do débito
fiscal. Primeiro, porque o delito de descaminho é rigorosamente formal, de modo
a prescindir da ocorrência do resultado naturalístico. Segundo, porque a conduta
materializadora desse crime é iludir o Estado quanto ao pagamento do imposto
devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria. E iludir não
significa outra coisa senão fraudar, burlar, escamotear.

138
Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br

PROVAS

DEFENSOR PÚBLICO – DPE/AL - 2018 - CESPE

Policiais civis receberam denúncia anônima de tráfico de entorpecentes contra


determinada pessoa, em cuja residência, segundo o denunciante, estaria
guardada farta quantidade de cocaína e de maconha. Mesmo sem fazer
nenhuma diligência para apurar a veracidade da denúncia anônima e sem ter
realizado outras diligências, os policiais ingressaram, por volta de 22h30mim, na
residência do suspeito. Lá, sem a obtenção prévia de mandado judicial de busca
e apreensão, realizaram exaustivas buscas. Redija um texto dissertativo acerca
da licitude da ação policial na situação hipotética apresentada a, considerando
dois possíveis desfechos: (a) os agentes policiais encontraram e apreenderam um
tablete de 1 quilograma de maconha; e (b) nada foi encontrado na casa durante
o procedimento de busca e apreensão. Ao elaborar seu texto discorra sobre: 1.
Garantia constitucional de proteção a inviolabilidade do domicílio como direito
fundamental do cidadão; 2. Exceções que permitem a violação do domicílio; 3.
Definição de horários para o cumprimento de mandado de busca e apreensão
autorizado por juiz; 4. Validade da denúncia anônima para a deflagração no
inquérito policial de procedimentos invasivos, na esfera de proteção individual
do cidadão.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

A Constituição Federal assegura a todos a inviolabilidade do domicílio,


definindo a casa como asilo inviolável do indivíduo, onde ninguém pode penetrar
sem consentimento, salvo nas hipóteses de flagrante delito, ocorrência de
desastre, necessidade de prestar socorro, ou, ainda, durante o dia, entre 6 horas
e 18 horas, em caso de cumprimento a ordem escrita da autoridade judiciária.

Assim, em princípio, seria ilegal o ingresso na casa do suspeito à noite,


sem a detenção prévia de mandado de busca judicial, o qual deveria ser cumprido
durante o dia, nunca à noite. A consequência dessa irregularidade é que as provas
eventualmente colhidas sejam nulas de pleno direito e não possam ser
aproveitadas no processo.

Todavia, tratando-se de crime permanente, tal como o tráfico de drogas


na modalidade de guardar ou ter em depósito substância entorpecente, a ação
policial poderia eventualmente ser reconhecida como válida, desde que
demonstrada, mesmo posteriormente, a presença de graves e ponderáveis
indícios de que naquela residência havia um crime em andamento, o que
afastaria a ilegalidade da ação policial, pois o ingresso no domicílio estaria
excepcionado pela norma constitucional.

Ainda assim, a situação hipotética descrita revela que houve açodamento


e precipitação na ação policial deflagrada, porque faltou o cuidado de realizar
previamente diligências mínimas que evidenciassem a plausibilidade

139
Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br

e veracidade da denúncia anônima. Esse cuidado é o mínimo que se deve exigir


da autoridade policial para não incorrer em arbitrariedades e ofender os direitos
individuais objetos de especial proteção no capítulo dos direitos e das garantias
fundamentais estabelecidos na Constituição Federal, procedendo com abuso de
autoridade, conforme a Lei 4.898/65.

Assim, para que se reputasse lícita a prova colhida naquela ação policial,
haveria de se demonstrar, de forma razoável e ponderada, a probabilidade
concreta de que um crime estava sendo praticado na casa invadida, justificando-
se o ingresso da autoridade policial, mesmo fora do horário normal, de presença
da luz solar.

Se, devido à urgência do caso, não fosse possível prévia obtenção de


mandado judicial de busca e apreensão, deveria ser submetido o ato à apreciação
posterior do juiz, que decidiria, conforme sua íntima convicção, se haveria razão
plausível para justificar o ingresso à noite na residência do suspeito, e não apenas
a averiguação de mera denúncia anônima, que não é suficiente à quebra da
inviolabilidade do lar.

JURISPRUDÊNCIA RELACIONADA:

Recurso extraordinário representativo da controvérsia. Repercussão geral. 2.


Inviolabilidade de domicílio – art. 5º, XI, da CF. Busca e apreensão domiciliar sem
mandado judicial em caso de crime permanente. Possibilidade. A Constituição
dispensa o mandado judicial para ingresso forçado em residência em caso de
flagrante delito. No crime permanente, a situação de flagrância se protrai no
tempo. 3. Período noturno. A cláusula que limita o ingresso ao período do dia é
aplicável apenas aos casos em que a busca é determinada por ordem judicial.
Nos demais casos – flagrante delito, desastre ou para prestar socorro – a
Constituição não faz exigência quanto ao período do dia. 4. Controle judicial a
posteriori. Necessidade de preservação da inviolabilidade domiciliar.
Interpretação da Constituição. Proteção contra ingerências arbitrárias no
domicílio. Muito embora o flagrante delito legitime o ingresso forçado em casa
sem determinação judicial, a medida deve ser controlada judicialmente. A
inexistência de controle judicial, ainda que posterior à execução da medida,
esvaziaria o núcleo fundamental da garantia contra a inviolabilidade da casa (art.
5, XI, da CF) e deixaria o Documento assinado de proteger contra ingerências
arbitrárias no domicílio (Pacto de São José da Costa Rica, artigo 11, 2, e Pacto
Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, artigo 17, 1). O controle judicial a
posteriori decorre tanto da interpretação da Constituição, quanto da aplicação
da proteção consagrada em tratados internacionais sobre direitos humanos
incorporados ao ordenamento jurídico. Normas internacionais de caráter judicial
que se incorporam à cláusula do devido processo legal. 5. Justa causa. A entrada
forçada em domicílio, sem uma justificativa prévia conforme o direito, é
arbitrária. Não será a constatação de situação de flagrância, posterior ao
ingresso, que justificará a medida. Os agentes estatais devem demonstrar que
havia elementos mínimos a

140
Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br

caracterizar fundadas razões (justa causa) para a medida. 6. Fixada a


interpretação de que a entrada forçada em domicílio sem mandado judicial só é
lícita, mesmo em período noturno, quando amparada em fundadas razões,
devidamente justificadas a posteriori, que indiquem que dentro da casa ocorre
situação de flagrante delito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e
penal do agente ou da autoridade e de nulidade dos atos praticados. 7. Caso
concreto. Existência de fundadas razões para suspeitar de flagrante de tráfico de
drogas. Negativa de provimento ao recurso. RE 603.616/RO, Rel. Ministro Gilmar
Mendes, julgado em 5/11/2015 (MS-22.934).

POLICIAL CIVIL - PCBA - CESPE - 2013

No âmbito de procedimento investigatório criminal, agentes policiais decidiram


interceptar a correspondência de servidor público estadual suspeito da prática
dos crimes de peculato e corrupção passiva. Os documentos apreendidos
abrangiam faturas de cartão de crédito, cartas e envelopes. Simultaneamente,
mediante autorização judicial determinando a quebra do sigilo da comunicação
telefônica do referido servidor, os agentes policiais gravaram as conversas
telefônicas do investigado com várias pessoas. As provas obtidas serviram de
base para o indiciamento do servidor público e o envio do inquérito policial ao
MP para o oferecimento de denúncia. Em face dessa situação hipotética, discorra
sobre a constitucionalidade dos procedimentos adotados pelos policiais,
indicando os direitos e garantias fundamentais aplicáveis ao caso e mencionando
a possibilidade de o advogado de defesa ter acesso aos elementos de prova
produzidos no âmbito do inquérito policial.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Em primeiro plano, deve-se recordar que o art. 5º, XIII, da CRFB estabelece
que é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de
dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial,
nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal
ou instrução processual penal.

Neste sentido, a interceptação das comunicações epistolares do


investigado apresenta-se claramente inconstitucional, dada à vedação
estabelecida pelo dispositivo acima mencionado. A interceptação da
comunicação consiste na sua interrupção ou intromissão por terceiro, sem o
conhecimento de um (ou ambos) dos interlocutores, o que exatamente
corresponde ao caso em análise.

De outro lado, a interceptação telefônica realizada pelos policiais


demonstra-se constitucional, pois foi realizada com autorização judicial,
conforme permissão constante na parte final do art. 5º, XIII, da CRFB.

141
Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br

Importante mencionar que estando todos os elementos já documentados


nos autos, é direito do advogado do investigado ter acesso a eles, conforme
estabelece a Súmula Vinculante nº 14.

Por fim, a Lei nº 13.245/16 modificou o Estatuto da OAB e ampliou os


direitos dos advogados no tocante ao acesso a inquéritos. Com isso, garante- se
ao advogado a possibilidade de ter acesso a todos os documentos de uma
investigação, sejam físicos ou digitais, mesmo que ela ainda esteja em curso. A
regra já valia para as delegacias de polícia, mas não abrangia o acesso a outras
instituições, como o Ministério Público.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

NOVELINO, Marcelo. Curso de Direito Constitucional. 10ª edição. Juspodivm:


Salvador, 2015, p. 419.

POLICIAL CIVIL - PCBA - CESPE - 2013

Após recebimento de denúncia anônima, agentes da polícia civil invadiram, no


período da noite, quarto de hotel, com o objetivo de proceder à busca e à
apreensão de materiais e documentos supostamente utilizados por determinado
hóspede em crimes relacionados à clonagem de cartões de crédito. Os materiais
e os documentos obtidos durante a invasão do quarto de hotel foram as únicas
provas que alicerçaram a denúncia oferecida pelo MP. Com base nessas provas,
foram tomados depoimentos de diversas testemunhas, os quais serviram,
também, de fundamento para a condenação do réu. Com base nessa situação
hipotética, redija texto dissertativo sobre a (in)constitucionalidade da operação
policial, abordando, necessariamente, de forma justificada, os seguintes
aspectos: 1- direitos e garantias fundamentais aplicáveis ao caso; 2-
(im)possibilidade jurídica de utilização, em processo judicial, das provas obtidas
na referida operação.
SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Segundo estabelece o art. 5º, XI, da CRFB, a casa é asilo inviolável do


indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo
em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o
dia, por determinação judicial.

No Código Penal, a abrangência da definição de “casa” compreende


qualquer compartimento habitado, aposento ocupado de habitação coletiva e
compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou
atividade, consoante o art. 150, §4º. Deste modo, no caso concreto, o dormitório
de hotel encontra-se protegido pelo dispositivo constitucional em análise.
Estando ausentes quaisquer das hipóteses em que se permite a violação do
domicílio, a incursão policial ali realizada se revela inconstitucional.

142
Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br

Consequentemente, por força do art. 5º, LVI, C‘FB (“são inadmissíveis,


no processo, as provas obtidas por meios ilícitos”), bem como do art. 157 e seu
§1º, do Código de Processo Penal, e à vista da ilegalidade da busca e apreensão
realizada pela polícia, com violação ao domicílio, as provas ali obtidas não
poderão ser utilizadas no processo judicial correspondente.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

NOVELINO, Marcelo. Curso de Direito Constitucional. 10ª edição. Juspodivm:


Salvador, 2015, p. 398.

JUIZ LEIGO - TJAC - 2013 – BANCA PRÓPRIA

Disserte sobre o tema "inadmissibilidade das provas ilícitas no processo penal",


abordando os seguintes aspectos: distinção entre prova ilícita e ilegítima, Teoria
dos Frutos da Árvore Envenenada e consequência da decisão que declara a prova
inadmissível.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

A Constituição Federal estabelece, em seu art. 5º, LIV, que são


inadmissíveis no processo as provas obtidas por meios ilícitos. A despeito dessa
previsão, a CRFB não trouxe qualquer conceito de provas ilícitas ou o regramento
sobre a consequência de sua utilização. Nessa toada, a doutrina costuma apontar
distinções entre provas ilegais, ilícitas e ilegítimas. A primeira seria gênero, que
abrangeria as provas ilícitas e as ilegítimas.

Prova ilícita é aquela obtida através de violação de regra de direito


material (penal ou constitucional). Exemplifica-se, por exemplo, com aquela
prova obtida por meio do emprego de tortura, vedada no ordenamento material
constitucional (art. 5º, III, da CRFB). De outro lado, prova ilegítima deve ser
entendida como aquela que é obtida com violação a norma de direito processual.
Exemplifica-se com aquela prova obtida por meio de depoimento de pessoas
proibidas de depor sobre fatos que envolvam sigilo profissional (art. 207 do CPP).

A temática das provas ilícitas ganhou tratamento legal por meio da Lei nº
11.690/08, que alterou o art. 157 do Código de Processo Penal, o qual passou a
vedá-las expressamente. Para parte da doutrina, o dispositivo abrange as provas
ilícitas propriamente ditas e as ilegítimas, uma vez que o legislador não fez
distinção entre provas obtidas com violação da norma de direito material e/ou
de direito processual.

Ainda é de se ressaltar que com a mencionada alteração do CPP, este


passou a vedar também as provas ilícitas por derivação, com base na “teoria dos
frutos da árvore envenenada”. Pode-se dizer que provas ilícitas por derivação são
aquelas que, mesmo produzidas validamente, foram afetadas

143
Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br

pelo vício da ilicitude de uma prova originária, que a elas se transmite,


contaminando-as. A jurisprudência dos Tribunais Superiores têm amplamente
adotado a “teoria dos frutos da árvore envenenada”, mesmo antes da alteração
do diploma processual penal.

Por fim, verifica-se que o legislador atribuiu, como consequência da


decisão que declara a prova inadmissível, o seu desentranhamento, nos termos
do art. 157, caput, e seu §3º, todos do CPP.

JURISPRUDÊNCIA RELACIONADA:

“HáBEá“ CORPU“. “ONEGáÇÃO FI“CáL, LáVáGEM DE DINHEIRO E CORRUPÇÃO.


DENÚNCIA ANÔNIMA. INSTAURAÇÃO DE INQUÉRITO POLICIAL. POSSIBILIDADE.
INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA. IMPOSSIBILIDADE. PROVA ILÍCITA. TEORIA DOS
FRUTOS DA ÁRVORE ENVENENADA. NULIDADE DE PROVAS VICIADAS, SEM
PREJUÍZO DA TRAMITAÇÃO DO PROCEDIMENTO INVE“TIGáTIVO. ORDEM
PáRCIáLMENTE CONCEDIDá”.“TJ, HC 64.086/PR, 5ª
Turma, Relator Min. Arnaldo Esteves Lima, publicado em 04/08/2008.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

Lima, Renato Brasileiro. Manual de Processo Penal – volume único – 2ª edição.


Salvador: Juspodivm, 2014, p. 583-605.

GABARITO DA BANCA EXAMINADORA:

As provas ilícitas, segundo a nova redação dada ao art. 157 do CPP, são “as
obtidas em violação a normas constitucionais ou legais”, ou seja, a prova ilícita
viola regra de direito material. A prova ilegítima é a que viola regra de direito
processual no momento de sua produção em juízo. Segundo a teoria ou princípio
dos frutos da árvore envenenada (fruits of the poisonous tree), adotada pela
Corte norte-americana desde 1920, a prova derivada diretamente da prova ilícita
também é ilícita. Anote-se que o § 1º do art. 157 do CPP dispõe que “são também
inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas” (...). De acordo com o sistema da
inadmissibilidade da prova ilícita, a decisão que declara a prova inadmissível é o
seu desentranhamento (exclusão) dos autos do processo (CPP, art. 157, caput e
§3º). Temas a serem abordados - 1. Distinção entre prova ilícita e ilegítima - 2.
Explicação da teoria dos frutos - 3. Desentranhamento - Temas a serem
abordados: 1. Distinção entre prova ilícita e ilegítima - 2. Explicação da teoria dos
frutos - 3. Desentranhamento.

DEFENSOR PÚBLICO – DPU – 2018 - CESPE

Há diferença entre condução coercitiva de testemunha e condução coercitiva de


acusado ou investigado? Justifique sua resposta abordando aspectos teóricos
constitucionais penais e processuais penais.

144
Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Sim, existe diferença entre a condução coercitiva de testemunha e a de


acusado ou investigado no sistema jurídico brasileiro.

A condução coercitiva de testemunha tem amparo no ordenamento


jurídico, em razão dos arts. 330 (desobedecer a ordem legal de funcionário
público) e 342 (negar ou calar a verdade) do CP e dos arts. 202, 206, 218 e 219
do CPP (possibilidade e obrigação de toda pessoa ser testemunha, salvo as causas
de dispensa; requisição de sua apresentação à autoridade policial pelo juiz ou
determinação de sua condução por oficial de justiça com auxílio de força policial).

A condução coercitiva do acusado ou investigado viola o direito


fundamental ao silêncio não incriminador (art. 5º, LXIII, da CRFB), vertente do
nemo tenetur se detegere, e viola o princípio da inocência (art. 5º, LVII, da CRFB)
como parâmetro de tratamento do acusado ou investigado, sujeito de direitos
constitucionais e titular de garantias fundamentais, não objeto de acusação ou
investigação, até o eventual trânsito em julgado de decisão condenatória.

MAGISTRATURA ESTADUAL - TJPR - 2017 - CESPE

Aponte a previsão legal da figura do agente de polícia infiltrado, na legislação


brasileira, elencando e relacionando os tipos penais que a admitem.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

O agente infiltrado ou encoberto é aquele membro da polícia judiciária


que se infiltra em uma organização criminosa participando da trama
organizativa, utilizando-se de uma identidade falsa, concedida pelo Estado.

Tem por escopo detectar a o cometimento de delitos e informar sobre suas


atividades às autoridades competentes. Tudo isso com o escopo primordial de
obter provas da prática de crimes e proceder à detenção de seus autores. No que
toca às previsões legais, são elas: art. 53, I, da Lei nº 11.343/06; arts. 3º, VII, e 10,
da Lei nº 12.850/13; e art. 190-A do ECA.

GABARITO DA BANCA EXAMINADORA:

Previsão legal Lei 11.343/06 — art. 53, I (lei de drogas) rol não taxativo Lei
12.850/13 — art. 3º, VII e 10 (lei de organização criminosa) (admitindo-se 10 a
14/15, ou 10 e seguintes, ou 10 e §§) Lei 13.441/17 - alterou o art. 190 do ECA.
(Admitindo-se alteração do ECA no art. 190-.A) Tipos penais que a admitem a)
Lei de drogas (11.343/06 — rol não taxativo (incidentes em todos os tipos penais
previstas na legislação ou indicando os arts, 28, 33 §§ 2º, 3º e 4º, 34, 35, 36, 37,
38 e 39) b) Lei de organização criminosa — 12.850/13 - Infrações penais

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Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br

praticas por organizações criminosas (art. 1º, §1º e art. 2º) - Infrações penais
previstas em tratado ou convenção internacional quando, iniciada a execução no
País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou
reciprocamente; (art 1º, §2º, I) - Organizações terroristas, entendidas como
aquelas voltadas para a prática dos atos de terrorismo legalmente definidos. (art.
1º, §2º, II e/ou art. 16 da lei 13260/16). c) Lei. 13.441/17 — altera o art. 190 do
ECA em rol taxativo Art. 190-A - A infiltração de agentes de polícia na Internet
com o fim de investigar os crimes previstos nos arts. 240, 241, 241-A, 241-B, 241-
C e 241-D desta Lei e nos arts. 154-A, 217-A, 218, 218-A e 218-B do Decreto-Lei
n° 2.848 de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), (admitindo-se 240 a 241-D
do ECA)

DELEGADO DE POLÍCIA FEDERAL - 2018 - CESPE

Nos autos de procedimento executivo fiscal de cobrança do imposto de renda de


pessoa jurídica, o juiz federal responsável pela vara de execuções fiscais de
determinado estado da Federação expediu ordem de interceptação de
comunicação telefônica do representante legal da empresa devedora executada,
sob o fundamento de que havia indícios da prática de sonegação e fraude fiscal.
Com a negativa da companhia telefônica em fornecer os dados e as gravações
correspondentes, o cumprimento da ordem foi dirigido à delegacia da Polícia
Federal para que, sob pena de incursão no crime de desobediência, prendesse o
funcionário da companhia telefônica responsável pelo fornecimento das
comunicações telefônicas e colhesse elementos de prova relacionados ao seu
conteúdo. Autorizou-se, desde logo, o ingresso da autoridade policial na
residência e no escritório do representante legal da empresa executada e de seus
advogados, sem, contudo, especificar-se o conteúdo da busca e apreensão. Ato
contínuo, a ordem judicial foi cumprida em sua integralidade, de modo que o
juízo da execução fiscal teve acesso às gravações telefônicas que corroboravam
a prática do crime de fraude fiscal e sonegação, a partir das quais a Polícia Federal
também colheu provas do crime de remessa ilegal de divisas. Redija um texto
dissertativo, abordando as normas constitucionais e os direitos fundamentais
violados na situação hipotética apresentada. Fundamente seu texto na
Constituição Federal de 1988, na jurisprudência do STF e na doutrina.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

O enunciado da questão narra situações que macularam à inviolabilidade


do sigilo das comunicações, a licitude da prova produzida no âmbito da
investigação criminal e inviolabilidade dos domicílios pessoal e profissional do
representante legal da empresa executada e de seus advogados.

No que tange à inviolabilidade do sigilo das comunicações e o princípio do


juiz natural, a ordem judicial é inconstitucional por violar o direito fundamental
à privacidade e à intimidade, asseguradas pelo art. 5º, XII, da

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Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br

CRFB. No caso, a ordem partiu de juiz flagrantemente incompetente em


procedimento de execução fiscal, e não em sede de investigação criminal ou
processo penal, como autoriza excepcionalmente a CRFB.

Desse modo, verifica-se que a violação ao sigilo telefônico no caso foi


acompanhada da ofensa ao princípio do juiz natural, configurando ordem
manifestamente ilegal cujo cumprimento poderia ser recusado pela autoridade
em respeito à CRFB e à lei que regulamenta a interceptação das comunicações
telefônicas. Inviável a prisão do funcionário da companhia telefônica que
legitimamente recusou-se a fornecer as gravações.

Acerca da ilicitude da prova, a irradiação dos efeitos da ilicitude e


invalidade dos atos posteriores, o comando judicial, além de incorrer em clara
ilegalidade e violar o sigilo das comunicações telefônicas, autorizou, sem
competência jurisdicional, a coleta de informações e provas derivadas das
gravações telefônicas obtidas, o que configura a contaminação de todas as
demais provas eventualmente colhidas. Isso porque, com base na jurisprudência
e doutrina mais abalizadas, a prova obtida por interceptação não autorizada pelo
Judiciário, nos termos da Lei nº 9.269/96, é imprestável e as evidências que dela
decorram padecem da mesma falta de serventia processual.

Assim, o próprio juiz ou o tribunal a que ele está vinculado deve declarar
a nulidade da prova ilícita colhida via interceptação e invalidar os atos
subsequentes que decorram da violação ao direito fundamental ao sigilo
telefônico.

Já em relação à inconstitucionalidade da busca e apreensão genérica e


inviolabilidade do domicílio profissional dos advogados, deve ser registrado que
a ordem judicial incorreu em ofensa à garantia constitucional de inviolabilidade
da pessoa jurídica executada e de seu representante legal e dos advogados que
a patrocinam no juízo federal das execuções fiscais.

Apesar de a inviolabilidade de domicílio não ser um direito absoluto,


especialmente quando presente o mandado judicial, a ordem que autoriza a sua
expedição não pode ser genérica, devendo especificar o que constitui a busca,
isto é, não pode ser uma verdadeira devassa. Além disso, ainda que fosse válida
a interceptação telefônica aqui tratada, não seria admissível o seu uso para
finalidades distintas da hipótese de cometimento dos crimes a que fez referência
o juiz que a autorizou para incluir outros objetos ou investigados, como é o caso
dos advogados.

Estes têm os endereços profissionais igualmente protegidos pela cláusula


da inviolabilidade de domicílio, conforme reiteradamente decidido pelo STF, que
autoriza a exceção da busca e apreensão apenas quando há fundada suspeita
que os próprios advogados praticam o crime sob o pretexto do exercício da
profissão.

GABARITO DA BANCA EXAMINADORA:

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Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br

O candidato deve discorrer sobre pelo menos três violações a direitos


fundamentais previstos nas normas constitucionais: inviolabilidade do sigilo das
comunicações, licitude da prova produzida no âmbito da investigação criminal e
inviolabilidade dos domicílios pessoal e profissional do representante legal da
empresa executada e de seus advogados. 1 Inviolabilidade do sigilo das
comunicações e o princípio do juiz natural A ordem judicial tratada na hipótese
descrita é inconstitucional por violar o direito fundamental à privacidade e à
intimidade asseguradas pela proteção ao sigilo das comunicações telefônicas
disposto no inciso XII do art. 5.º da Constituição Federal de 1988 (CF) — “XII – é
inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados
e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas
hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou
instrução processual penal”. Nesse sentido tem decidido o “TF: “á ausência de
autuação da interceptação telefônica, em descompasso com o art. 8.º, cabeça,
da Lei n.º 9.296/1996, caracteriza irregularidade incapaz de torná- la ilícita” (HC
128.102, rel. min. Marco áurélio, julgamento em 9/12/2015, Primeira Turma, DJE
de 23/6/2016). No caso, a ordem partiu de juiz flagrantemente incompetente em
procedimento de execução fiscal, e não em sede de investigação criminal ou
processo penal, como autoriza excepcionalmente a CF. Desse modo, verifica-se
que a violação ao sigilo telefônico no caso foi acompanhada da ofensa ao
princípio do juiz natural (STF. RHC 80197/GO, rel. min Néri da Silveira, Segunda
Turma, DJ 29/9/2000; Inq 3732/DF, rel. min. Cármen Lúcia, Segunda Turma, DJe
22/3/2016), configurando ordem manifestamente ilegal cujo cumprimento
poderia ser recusado pela autoridade em respeito à CF e à lei que regulamenta a
interceptação das comunicações telefônicas. Inviável a prisão do funcionário da
companhia telefônica que legitimamente recusou-se a fornecer as gravações. 2
Ilicitude da prova, irradiação dos efeitos da ilicitude e invalidade dos atos
posteriores O comando judicial, além de incorrer em clara ilegalidade e violar o
sigilo das comunicações telefônicas, autorizou, sem competência jurisdicional
para tanto, a coleta de informações e provas derivadas das gravações telefônicas
obtidas, o que configura a contaminação de todas as demais provas
eventualmente colhidas. Nesse sentido é a jurisprudência do STF e a doutrina de
Gilmar Mendes e Paulo Branco: “Com relação às gravações de conversas
telefônicas, a jurisprudência do STF assentou-se no sentido de que a prova obtida
por interceptação não autorizada pelo Judiciário, nos termos da Lei n.º
9.269/1996, é imprestável e que as evidências que dela decorram padecem da
mesma falta de serventia processual. Acolheu-se a doutrina do fruits of the
poisonous tree. ántes da lei de 1995, nenhuma escuta era admissível” (Gilmar
Mendes e Paulo Branco. Curso de Direito Constitucional. 12.ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2017, p. 294). Assim, o próprio juiz ou o tribunal a que ele está vinculado
deve declarar a nulidade da prova ilícita colhida via interceptação e invalidar os
atos subsequentes que decorram da violação ao direito fundamental ao sigilo
telefônico. 3 Inconstitucionalidade da busca e apreensão genérica e
inviolabilidade do domicílio profissional dos advogados Por fim, há de se registrar
que a ordem judicial incorreu em ofensa à garantia

148
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constitucional de inviolabilidade tanto da pessoa jurídica executada quanto de


seu representante legal e dos advogados que a patrocinam no juízo federal das
execuções fiscais. Sabe-se que, apesar de a inviolabilidade de domicílio não ser
um direito absoluto, especialmente quando presente o mandado judicial, a
ordem que autoriza a sua expedição não pode ser genérica, devendo especificar
o que constitui a busca — não pode converter-se em devassa (STF. HC 95.009,
rel. min. Eros Grau, j. 6/11/2008, P, DJe de 19/12/2008). Além disso, ainda que
fosse válida a interceptação telefônica aqui tratada, não seria admissível o seu
uso para finalidades distintas da hipótese de cometimento dos crimes a que fez
referência o juiz que a autorizou para incluir outros objetos ou investigados,
como é o caso dos advogados (STF. Inq 3.014 AgR, rel. min. Marco Aurélio, j.
13/12/2012, P, DJe de 23/9/2013), cujos endereços profissionais estão
igualmente protegidos pela cláusula da inviolabilidade de domicílio, conforme
reiteradamente tem decidido o STF, que autoriza a exceção da busca e apreensão
apenas e tão-somente quando há fundada suspeita que os próprios advogados
praticam o crime sob o pretexto do exercício da profissão (STF. Inq 2.424/RJ, rel.
min. Cezar Peluso, DJe 25/3/2010). Quesito 2.1 0 – Não apresenta ocorrência da
ofensa à inviolabilidade do sigilo das comunicações nem o princípio do juiz
natural. 1 – Apresenta ambos, mas não justifica suficientemente com base na
legislação e jurisprudência nenhum deles. 2 – Apresenta e justifica apenas um
dos aspectos da cobrança inviolabilidade do sigilo das comunicações ou princípio
do juiz natural. 3 – Apresenta ambos os aspectos, mas justifica suficientemente
apenas um deles. 4 – Apresenta e justifica, com base na legislação e
jurisprudência, a ocorrência da ofensa à inviolabilidade do sigilo das
comunicações e o princípio do juiz natural. Quesito
2.2 0 – Não apresenta a ocorrência da ilicitude da prova com a irradiação dos
efeitos da ilicitude e invalidade dos atos posteriores. 1 – Apresenta ambos, mas
não justifica suficientemente com base na doutrina e jurisprudência nenhum
deles. 2 – Apresenta e justifica apenas um dos aspectos da cobrança ilicitude da
prova com a irradiação dos efeitos da ilicitude ou invalidade dos atos posteriores.
3 – Apresenta ambos os aspectos, mas justifica suficientemente apenas um
deles. 4 – Apresenta e justifica, com base na doutrina e jurisprudência, a
ocorrência da ilicitude da prova com a irradiação dos efeitos da ilicitude e
invalidade dos atos posteriores. Quesito 2.3 0 – Não apresenta a ocorrência da
inconstitucionalidade da busca e apreensão genérica e inviolabilidade do
domicílio profissional dos advogados. 1 – Apresenta apenas um dos aspectos,
mas não o justifica suficientemente 2 – Apresenta e justifica apenas um dos
aspectos da cobrança inconstitucionalidade da busca e apreensão genérica ou
inviolabilidade do domicílio profissional dos advogados 3 – Apresenta ambos os
aspectos, mas justifica suficientemente apenas um deles 4 – Apresenta e
justifica, com base na jurisprudência, a ocorrência da inconstitucionalidade da
busca e apreensão genérica e inviolabilidade do domicílio profissional dos
advogados.

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PROCURADORIA MUNICIPAL - PGM-BELO HORIZONTE/MG - 2017 - CESPE

Um assessor do gabinete do governo de determinado estado da federação


gravou o, por conta própria, conversa telefônica da qual participaram o próprio
assessor, o governador e um empresário da construção civil, sobre negociação
de favorecimento em contrato de prestação de serviços de engenharia e,
consequentemente, da percepção de valores e legais a serem recebidos
pessoalmente após a negociação, o assessor entregou o material gravado
autoridade policial, que tomou as providências necessárias e prendeu, em
flagrante, os envolvidos, que estavam de posse da minuta do contrato e de
montante em espécie. Considerando essa situação hipotética, responda aos
questionamentos a seguir, fundamentando suas respostas nos termos do
entendimento do STF. 1. A gravação telefônica é considerada lícita, apesar da
ausência da autorização judicial? 2. O agente político poderá estar sujeito tanto
regime de responsabilização política. a de responsabilização civil? Por qual (is)
meio(s)? 3. Ao analisar as contas do governador, o Tribunal de Contas poderá
requisitar diretamente informações que importem a quebra de sigilo bancário?

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

O STF tem jurisprudência pacificada acerca da licitude e


constitucionalidade de gravação telefônica realizada por um dos interlocutores.
Para o STF, a gravação de conversa telefônica feita por um dos interlocutores,
sem conhecimento do outro, quando ausente causa legal de sigilo ou de reserva
da conversação, não é considerada prova ilícita.

Quanto ao regime de responsabilização política, o agente político está


sujeito tanto à responsabilização política por meio de impeachment (art. 85,
parágrafo único, da CRFB), ante o regime constitucional dos crimes de
responsabilidade, quanto à responsabilização cível por improbidade
administrativa, por força do art. 37, §4º, da CRFB, nos termos da jurisprudência
do STF.

A Lei nº 8.429/92, que dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes


públicos pela prática de atos de improbidade, que tem sua gênese na
Constituição Federal (art. 37, §4º), é instrumento de realização do princípio
maior, o da moralidade administrativa. A lei que dispõe sobre as sanções
aplicáveis ao administrador ímprobo é, portanto, instrumento de realização do
princípio da moralidade administrativa.

Assim, a interpretação desta, que tem por finalidade realizar o princípio


constitucional, há de ser a mais larga, a fim de se conferir a máxima eficácia a
este. Portanto, é forçoso convir que os agentes políticos mencionados somente
respondem pelos crimes de responsabilidade tipificados na lei especial. No que
não estiver tipificado como tal, não há que se falar em crime de responsabilidade.
E, no que não estiver tipificado como crime de responsabilidade, mas estiver
definido como ato de improbidade, responderá o

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agente político na forma da lei própria, a Lei nº 8.429/92, aplicável a qualquer


agente público.

Por fim, o STF já decidiu que os tribunais de contas não têm poder para
decretar quebra de sigilo. De acordo com o STF, o TCU não detém legitimidade
para requisitar diretamente informações que importem quebra de sigilo
bancário. Entende-se que, por mais relevantes que sejam suas funções
institucionais, o TCU não estaria incluído no rol dos que poderiam ordenar a
quebra de sigilo bancário (art. 38 da Lei nº 4.595/64 e art. 13 da Lei
Complementar nº 105/01).

JURISPRUDÊNCIA RELACIONADA:

A gravação de conversa telefônica feita por um dos interlocutores, sem


conhecimento do outro, quando ausente causa legal de sigilo ou de reserva da
conversação não é considerada prova ilícita.” (áI 578.858-AgR, rel. ministra Ellen
Gracie, julgamento em 4/8/2009, Segunda Turma, DJe de 28/8/2009.)

Improbidade administrativa. Agente político. Comportamento alegadamente


ocorrido no exercício de mandato de governador de Estado – Possibilidade de
dupla sujeição tanto ao regime de responsabilização política, mediante
impeachment (Lei n.º 1.079/1950), desde que ainda titular de referido mandato
eletivo, quanto à disciplina normativa da responsabilização civil por improbidade
administrativa (Lei n.º 8.429/1992). (...) Regime de plena responsabilidade dos
agentes estatais, inclusive dos agentes políticos, como expressão necessária do
primado da ideia republicana.” (áC 3.585-AgR, rel. ministro Celso de Mello,
Segunda Turma, julgamento em 2/9/2014, DJe de 28/10/2014.)

MANDADO DE SEGURANÇA. TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO. QUEBRA DE


SIGILO BANCÁRIO. IMPOSSIBILIDADE. SEGURANÇA CONCEDIDA. O Tribunal de
Contas da União, a despeito da relevância das suas funções, não está autorizado
a requisitar informações que importem a quebra de sigilo bancário, por não
figurar dentre aqueles a quem o legislador conferiu essa possibilidade, nos
termos do art. 38 da Lei n.º 4.595/1964, revogado pela Lei Complementar n.º
105/2001. Não há como admitir-se interpretação extensiva, por tal implicar
restrição a direito fundamental positivado no art. 5.º, X, da Constituição.
Precedente do Pleno (MS 22.801, rel. ministro Menezes Direito, DJe-047 de
14/3/2008.) Ordem concedida. MS 22.934/DF, rel. ministro Joaquim Barbosa,
17/4/2012. (MS-22.934)

PROMOTOR DE JUSTIÇA – MPE/PB – FCC - 2018

A Constituição Federal de 1988 estabelece que são inadmissíveis, no processo,


as provas obtidas por meios ilícitos (art. 52, LVI). Discorra sobre as provas ilícitas
no processo penal, abordando os seguintes tópicos: a. conceito de prova

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ilícita e sua evolução; b. O princípio da proporcionalidade e a prova ilícita; c. a


prova ilícita por derivação. (Elabore sua resposta definitiva em até 30 linhas)

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

A noção de prova ilícita vem sendo desenvolvida, continuamente, em sede


doutrinária, com reflexos jurisprudenciais e normativos. Tradicionalmente,
sempre se entendeu que prova ilícita seria aquela obtida com infringência a
normas de direito material, como a confissão mediante prática de tortura do
interrogado ou a obtenção de documento a partir da violação de domicílio,
configurando uma espécie do gênero “prova ilegal”. Outra espécie de prova ilegal
seria a prova ilegítima, cujo vício traduziria infração a normas de direito
processual, como o reconhecimento pessoal sem a observância dos trâmites
dispostos no art. 226 do CPP.

No âmbito normativo, a partir da Lei nº 11.609/08, passou-se a sustentar


a tese de que teria sido ampliado o conceito legal de prova ilícita, abarcando o
que até então seria classificado como prova ilegítima, na medida em que o art.
157 do CPP passou a dispor que são inadmissíveis, devendo ser desentranhadas
do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas
constitucionais ou legais. Entretanto, cumpre ressaltar que não há consenso
doutrinário sobre a efetiva ampliação do conceito de ilicitude probatória.

Partindo da premissa de que não existem direitos absolutos, e assumindo


que a vedação à utilização de provas ilícitas pode contrastar com outros direitos
fundamentais, aduz-se que o princípio da proporcionalidade pode motivar a
admissibilidade de uma prova ilícita, como nos casos em que, por exemplo, a
prova ilícita seja a única capaz de demonstrar a inocência do réu, evitando-se,
assim, uma injusta condenação.

Cumpre registrar que parcela doutrinária assevera, em hipóteses dessa


natureza, que a própria ilicitude estaria afastada, com base na justificante do
estado de necessidade (art. 24 do CP). De qualquer sorte, importa destacar que
predomina o entendimento no sentido de que o princípio da proporcionalidade
não pode ser empregado com o fim de viabilizar a utilização de prova ilícita em
desfavor do acusado, somente em seu benefício.

Consagrou-se, outrossim, a partir da teoria dos frutos da árvore


envenenada, a concepção de que a prova pode ser considerada ilícita, apesar de
não haver qualquer infringência ao sistema normativo em sua obtenção, em
razão de derivar de outra prova, esta sim ilícita, sendo denominada de prova
ilícita por derivação. No CPP, o instituto foi disciplinado no art. 157, §1º.

Exemplificativamente, imagine-se que tenha sido expedido e


regularmente cumprido mandado de busca e apreensão, com respeito às normas
pertinentes, mas cujos detalhes do local da medida tivessem sido angariados em
depoimento prestado sob coação física. Em princípio, as provas

152
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obtidas pelo cumprimento do mandado de busca e apreensão não estariam


maculadas, mas, diante da relação de causalidade com o depoimento viciado,
passam a ser consideradas ilícitas (por derivação).

Por fim, em relação ao tema da prova ilícita por derivação, cabe ressaltar
que o próprio Código de Processo Penal (art. 157, §2º) relativiza o
reconhecimento da ilicitude e o respectivo desentranhamento dos autos toda vez
que restar configurado que a prova poderia ser alcançada por fonte
independente, compreendida como a que, seguindo os trâmites investigatórios
ou instrutórios de praxe, conduziria ao fato objeto de prova (teoria da descoberta
inevitável).

GABARITO DA BANCA EXAMINADORA:

Abordagem Esperada: a. Conceito de prova ilícita 1. Art. 52, LVI e Art. 157, CPP
= "as obtidas em violação às normas constitucionais ou legais" (0,10) 2. Evoluçã o
do conceito (0,50) 3. Prova ilícita e ilegítima (distinções) (0,10). b. Princípio da
proporcionalidade I. Conceito (0,15) 2. A prova ilícita em favor do acusado (0,15)
3. A prova ilícita contra o acusado (0,10). c. Prova ilícita por derivação.1. Teoria
dos frutos da árvore envenenada (0,10) 2. Consequência processual (0,10) 3-
Exceções: a. Não evidenciado o nexo causal (0,10) b. Fonte independente (0,10)
c. boa-fé (0,10) d. serenidade (0,10)

DELEGADO DE POLÍCIA - PCAP - 2010 – FGV

Luiz da Silva, acusado pelo crime de estupro contra Maria dos Santos, entra
furtivamente na casa de uma amiga da vítima e subtrai de sua escrivaninha uma
carta assinada pela própria Maria, admitindo que as acusações contra ele
formuladas eram falsas, e que foram motivadas por vingança, já que a vítima era
em verdade apaixonada pelo réu e foi por ele desprezada. De posse da carta, o
advogado do réu promove sua juntada no processo, sob a alegação de que a
vítima decidira confessar ao acusado que tudo não passava de uma mentira e
que estava arrependida, requerendo que o Juiz o absolva, com base em tais
evidências de sua inocência. Contudo, consciente de que tal fato não ocorrera
dessa forma, o promotor de justiça requer autorização judicial para a
interceptação das comunicações telefônicas do acusado e seu advogado, a qual
é deferida, vindo aos autos a transcrição de conversa entre Luiz da Silva e seu
advogado na qual o acusado revela que a prova fora obtida mediante a entrada
furtiva na casa da amiga da vítima, mas que achou melhor apresentar outra
versão em juízo de modo a dar aparência lícita para a prova que levará a
absolvição do acusado. O promotor de justiça então requer o desentranhamento
da carta em virtude da sua ilicitude. Pergunta-se: 1. Poderá o juiz determinar o
desentranhamento da carta obtida por meio da entrada furtiva de Luiz na casa
de uma amiga de Maria em virtude do que foi comprovado na interceptação
telefônica? 2. Poderá o Juiz proferir sentença absolutória válida com fundamento
na carta obtida por meio da entrada furtiva

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de Luiz na casa de uma amiga de Maria, exclusivamente? Fundamente as suas


respostas demonstrando conhecimento acerca dos institutos jurídicos aplicáveis
ao caso e indicando os dispositivos legais pertinentes.
SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Em relação ao item 1, segundo o art. 157 do CPP, as provas ilícitas, que são
consideradas aquelas que violam preceitos constitucionais ou legais, devem ser
desentranhadas do processo e inutilizadas, cabendo ao Juiz determinar essa
medida. Dessa forma, poderia o Juiz determinar que a carta obtida mediante a
violação de domicílio (ilícita) fosse desentranhada do processo.
Por outro lado, excepcionando a regra contida no dispositivo retromencio-
nado, deverá o magistrado deixar de realizar o desentranhamento e utilizar a
prova como fundamento para a absolvição, já que, apesar de colhida de forma
ilegal, teve como escopo provar a inocência do réu, hipótese que tem sido admi -
tida pela doutrina e Jurisprudência, consistindo na chamada prova ilícita pro reo.
Quando a obtenção da prova é feita pelo próprio interessado (o acusado),
ou mesmo por outra pessoa que tenha conhecimento da situação de necessida-
de, o caso será de exclusão da ilicitude, pois presente uma das causas de justifi -
cação: o estado de necessidade.
No tocante ao item 2, poderá o magistrado, deixando de realizar o desen-
tranhamento, valer-se da carta obtida por meios ilícitos para absolver o acusado,
haja vista não se poder aceitar que um acusado seja condenado pelo simples fato
de que a demonstração de sua inocência só é possível realizar-se através de prova
obtida ilicitamente.
Neste caso, o valor fundamental a ser protegido é mais relevante do que o
bem atingido com a obtenção da prova. Segundo o STF, essa prova poderá não
só embasar um decreto absolutório em face do réu inocente, como também servir
de base para condenação da suposta vítima que praticou o delito de denunciação
caluniosa (art. 339 do CP).
Esse posicionamento pela admissibilidade da prova ilícita quando ela fa-
vorecer o réu é tranquilo na doutrina, pois impedirá a condenação de uma pes-
soa injustamente acusada, até por que não é de interesse do Estado condenar um
inocente. Entre aceitar uma prova vedada, apresentada como único meio de
comprovar a inocência de um acusado, e permitir que alguém, sem nenhuma
responsabilidade pelo ato imputado, seja privado injustamente de sua liberdade,
a primeira opção é, sem dúvida, a mais consentânea com o Estado Democrático
de Direito e a proteção da dignidade humana.
O princípio da proporcionalidade deve ser utilizado no caso em tela, uma vez que
direitos como a presunção de inocência, da ampla defesa e da liberdade do réu
preponderam em face de outros valores como o direito de punir do Estado, a
inviolabilidade domiciliar, da intimidade, vida privada, etc.

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MAGISTRATURA ESTADUAL – TJES – 2011 - CESPE

á produção de prova testemunhal não trata dos fatos em si, porque estes compõe
um acontecimento cuja característica é o seu exaurimento e a sua resolubilidade
no plano da própria existência. Vale dizer: a prova testemunhal tem como objeto
aquilo que é dito sobre o que aconteceu. á perspectiva psicojurídica pretende
salientar a importância psicológica do depoimento das testemunhas ou da
declaração da vítima ou das partes na produção da decisão do juiz, e não na
reconstituição dos fatos. Com efeito, o que se reconstitui é aquilo que é passível
de ser dito, falado e evocado: não os fatos, mas a memória dos fatos. (Jorge
Trindade. Manual de psicologia jurídica para operadores de direito. Porto álegre:
Livraria do ádvogado, 2011, p. 276-77, com adaptações). Considerando que o
texto acima tem caráter unicamente motivador, defina, com base na perspectiva
psicológica e gramatical, três classes de perguntas utilizadas na condução da
coleta da prova testemunhal e uma espécie de pergunta classificada quanto à
sua estrutura.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Com base na perspectiva psicológica e gramática, na prova


testemunhal há três classes de perguntas que podem ser usadas: perguntas
determinantes; perguntas diferenciais; e perguntas disjuntivas.

ás perguntas determinantes são aquelas que detêm um grande grau


de objetividade, de forma que a base central envolve a interrogatividade, como,
por exemplo “quando, como, onde e por que”? ás perguntas diferenciais
envolvem os questionamentos cuja resposta é “sim” ou “não”. Já as perguntas
disjuntivas totais são aquelas nas quais o magistrado se vale de temas opostos,
de forma que uma resposta automaticamente anulará a outra. Mas, se uma
resposta anular de forma parcial, a pergunta será disjuntiva parcial, poderá
restar alguma temática especifica.

Já no que tange à estruturação, as perguntas podem ser: abertas ou


fechadas. O primeiro tipo, perguntas abertas, consiste naquelas em que é
permitido à testemunha uma grande margem de liberdade, ou seja, pode
expressar as impressões dos acontecimentos. Por sua vez, o segundo tipo,
perguntas fechadas, consiste naquelas nas quais há uma restrição para o relato
testemunhal.

MAGISTRATURA ESTADUAL – TJAM – 2016 - CESPE

HABEAS CORPUS. FALSIDADE IDEOLÓGICA. No caso, a hipótese não diz respeito,


propriamente, à falsidade da identidade do réu, mas, sim, ao fato de o então
indiciado ter faltado com a verdade quando negou, em inquérito policial

155
Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br

em que figurava como indiciado, que tivesse assinado termo de declarações


anteriores, que, assim, não seriam suas. Ora, tendo o indiciado o direito de
permanecer calado e até mesmo o de mentir para não se autoincriminar com as
declarações prestadas, não tinha ele o dever de dizer a verdade, não se
enquadrando, pois, sua conduta no tipo previsto no art. 299, do Código Penal.
Habeas corpus deferido, para anular a ação penal por falta de justa causa. (HC
75.257-RJ; Rel. Min. Moreira Alves; 1.ª Turma do STF; DJ de 29/8/1997).
Considerando que o texto acima tem caráter unicamente motivador, redija um
texto dissertativo respondendo, justificadamente, ao seguinte questionamento:
ao réu é concedido o direito de mentir? Ao elaborar sua resposta, discuta: 1-
Princípios jurídicos; [valor: 0,80 ponto] 2- Moral; [valor: 0,70 ponto] 3- Direito
subjetivo. [valor: 0,80 ponto]

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

A afirmação de que o réu tem o direito de mentir, como um corolário do


direito de não se autoincriminar, se cotejada com outros elementos de reflexão,
como princípios jurídicos, moral e o conceito de direito subjetivo, revela uma
intrincada questão de filosofia jurídica e ética. É que essa afirmação aponta para
um problema de razão prática que não comporta solução trivial no direito.

Primeiramente, é necessário justapor ao direito de não se autoincriminar


o princípio de que ninguém pode se beneficiar da própria torpeza (nemo auditor
propriam turpitudinem allegans). São princípios que apontam para direções
distintas, encerrando um aparente conflito. Os princípios jurídicos são diretivas
deônticas a serem observadas por configurarem exigência de justiça, equidade
ou alguma outra dimensão da moral política (conforme entendimentos de
Dworkin), havendo necessidade, para sua aplicação, de atividade interpretativa.

Para solucionar um caso difícil com princípios prima facie contraditórios,


é necessário compreender o direito como integridade, ou seja, como dotado de
um tipo de coerência que objetiva uma adequada composição entre justiça,
equidade e devido processo legal, em que se procura, respectivamente, uma
equilibrada distribuição de bens, a consolidação de instituições equânimes e a
consolidação de procedimentos equitativos.

Os princípios jurídicos, embora com conformação própria, expressam


questões de moral política. Em uma concepção de ética vinculada a padrões de
bem viver, em que sobressaem as virtudes, a mentira revelaria um
comportamento indesejável, já que apoiada em um vício com alto potencial
desagregador e prejudicial à comunidade. Todavia, as concepções de correção da
modernidade foram reconstruídas a partir de uma perspectiva individual, que,
em Hobbes, se apoia em um direito natural à autopreservação.

Esse direito à autopreservação é compatível com uma moral universalista,


baseada na dignidade da pessoa humana, ou seja, é possível defender que a
mentira como estratégia de autoproteção é um comportamento

156
Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br

admissível. Em suma, a mentira revela um comportamento eticamente vicioso,


mas aceitável como meio de autopreservação do indivíduo. Em uma sociedade
em que a pessoa humana é unidade fundamental, os direitos fundamentais
constituem uma questão de princípio.

O ordenamento jurídico protege liberdades, por meio dos direitos


subjetivos, que podem ser compreendidos como vontade juridicamente protegida
(Windscheid) ou interesse juridicamente protegido (Ihering). Dizer que o réu tem
o direito de mentir significa que ele pode exercer o seu livre- arbítrio para escolher
a sua autopreservação, como interesse legítimo a ser protegido, não sendo
sancionado por tal comportamento. Constrói-se aí uma zona de neutralidade,
impedindo-se que o Estado interfira em tal escolha (conceito negativo de
liberdade).

Nessa linha, o direito de mentir pode também ser caracterizado como um


direito em sentido fraco (Dworkin), em que se protege a faculdade de a pessoa
agir conforme a sua consciência e interesses. Todavia, o direito de mentir não
significa que a mentira seja uma manifestação jurídica válida, de modo que o réu
poderia tirar consequências válidas e benéficas de seu ato voluntário. É por isso
que o depoimento do réu objetiva a obter a sua confissão, só valendo como prova
os fatos relatados que lhe sejam desfavoráveis.

Em suma, o réu tem permissão para praticar tal ato, o que não exclui, no
entanto, a obrigação da autoridade judiciária de negar valor probatório a tal
comportamento. Contudo, o entendimento mais recente da jurisprudência,
notadamente do STJ, é no sentido de que o princípio constitucional da autodefesa
(art. 5º, LXIII, da CF) não alcança a quem se atribui falsa identidade perante a
autoridade policial com o intento de ocultar maus antecedentes, consoante
Súmula 522, do STJ. Referida súmula claramente diz que a conduta de atribuir-se
falsa identidade perante autoridade policial é típica, ainda que em situação de
alegada autodefesa.

PROCURADOR DO BANCO CENTRAL - CESPE - 2013

A Polícia Federal do Brasil tomou conhecimento, por meio de telefonema


anônimo, de que determinado servidor do BACEN estaria repassando
informações privilegiadas ao operador do mercado de capitais, que, por sua vez,
as utilizaria para fins de especulação com títulos imobiliários de algumas
companhias. Considerando essa situação hipotética, responda, de modo
justificado, aos seguintes questionamentos. a) É possível a instauração do
inquérito policial após a denúncia anônima? [valor: 9,50 pontos] b) Qual é o
procedimento necessário para a quebra dos sigilos telefônico, fiscal e bancário
do referido servidor do BACEN? [valor: 5,00 pontos]

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

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Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br

Não há ilegalidade na instauração de inquérito policial baseado em


informações anônimas, desde que feitas investigações preliminares para verificar
a validade da denúncia. Portanto, a mera instauração de inquérito por conta de
denúncia anônima não é válida, mas caso haja diligências a fim de verificar algum
grau de plausibilidade, legitima-se a deflagração do inquérito. Tal
posicionamento é amplamente aceito no STJ e no STF.

A interceptação telefônica vem regulada na Lei nº 9.296/96, sendo que o


art. 2º dessa norma elenca o rol de hipóteses em que não será possível a
decretação da medida: a) não houver indícios razoáveis da autoria ou
participação em infração penal; b) a prova puder ser feita por outros meios
disponíveis; e c) o fato investigado constituir infração penal punida, no máximo,
com pena de detenção. Além disso, em qualquer hipótese deve ser descrita com
clareza a situação objeto da investigação, inclusive com a indicação e
qualificação dos investigados, salvo impossibilidade manifesta, devidamente
justificada.

Assim, a interceptação será possível quando houver indícios razoáveis de


autoria ou participação em infração penal; quando a prova não puder ser feita
por outros meios disponíveis ou o fato investigado não constituir infração penal
punível com detenção. A autoridade policial pode representar ao juiz, na
investigação criminal, pleiteando a interceptação telefônica.

Porém, a interceptação deve estar lastreada em um mínimo de


plausibilidade da denúncia anônima, haja vista a força impactante dessa medida
nos direitos fundamentais da intimidade e privacidade da pessoa mencionada.

Em relação ao sigilo fiscal e bancário, regra geral, a quebra do sigilo


bancário pode ser levada a efeito apenas pelo Poder Judiciário e pelas Comissões
Parlamentares de Inquérito. Tais decisões devem ser fundamentadas, apontando
a necessidade e proporcionalidade da providência. Há certa polêmica quanto à
possibilidade de o Ministério Público decretar a quebra. Predomina, contudo, a
posição pela qual o parquet precisa do aval da autoridade judicial para fazê-lo,
tendo em vista a inexistência de autorização legal para tanto.

Assim, o delegado pode fazer um requerimento ao Judiciário, mas


também deve haver um lastro probatório mínimo a demonstrar a
imprescindibilidade dessa medida extrema e que afasta momentaneamente a
privacidade e intimidade. Portanto, é preciso que existam diligências iniciais a fim
de robustecer o pedido de quebra desses sigilos.

JURISPRUDÊNCIA RELACIONADA:

“PENáL E PROCE““UáL PENáL. HáBEá“ CORPU“ “UB“TITUTIVO DE RECUR“O


ORDINÁRIO. ARTS. 342 , 343 E 344 DO CÓDIGO PENAL .INSTAURAÇÃO DE

158
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INQUÉRITO POLICIAL A PARTIR DE DENÚNCIA ANÔNIMA. ADMISSIBILIDADE. De


acordo com a jurisprudência da Quinta Turma desta Corte, não há ilegalidade na
instauração de inquérito policial com base em investigações deflagradas por
denúncia anônima, eis que a autoridade policial tem o dever de apurar a
veracidade dos fatos alegados, desde que se proceda com a devida cautela (HC
38.093/AM, 5ª Turma, Rel. Min. Gilson Dipp, DJ de 17/12/2004).

“(...) “alientou-se que, no caso, a partir de informações obtidas por


colaboradores, e, posteriormente, somadas às mencionadas ligações anônimas,
policiais — ainda sem instaurar o pertinente inquérito policial — diligenciaram
no sentido de apurar as identidades dos investigados e a veracidade das
respectivas ocupações funcionais, tendo eles confirmado tratar-se de oficiais de
justiça, cujos nomes eram os mesmos fornecidos pelos “denunciantes”.
Asseverou-se que, somente após essas explicitações, o delegado representara ao
Judiciário local pela necessidade de quebra do sigilo telefônico dos investigados,
considerando-se, no ponto, que os procedimentos tomados pela autoridade
policial estariam em perfeita consonância com a jurisprudência do STF.
Registrou-se, ademais, que o juízo monocrático, em informações prestadas,
comunicara o devido recebimento da denúncia, porquanto demonstrada a
existência da materialidade dos crimes imputados e indícios suficientes de
autoria, não sendo o caso de rejeição sumária. HC 95244/PE, rel. Min. Dias
Toffoli, 23.3.2010.

GABARITO DA BANCA EXAMINADORA:

- Resposta: 1- Apresentação (legibilidade, respeito às margens e indicação de


parágrafos) e estrutura textual (organização das ideias em texto estruturado). –
2- Desenvolvimento do tema – 2.1- Legalidade ou não de instauração de
inquérito policial com base em denúncia anônima. 2.2- Possibilidade de o
delegado, apenas com a informação anônima, representar ao juiz para
interceptação telefônica e quebra de sigilo fiscal e bancário.

MAGISTRATURA FEDERAL – TRF4 – 2007 – BANCA PRÓPRIA

Aborde a questão da prova ilícita: 1) hipóteses constitucionais e legais de


vedação; 2) prova ilícita por derivação; 3) tratamento doutrinário e
jurisprudencial à admissão da prova ilícita; 4) casuística: 4.1) prova ilícita pro reo;
4.2) validade ou não da utilização de informações reconhecidamente sigilosas,
licitamente obtidas em feito criminal (para processos disciplinares decorrentes
do mesmo fato, ou em procedimentos investigatórios por outros crimes).

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Entende-se por prova ilícita aquela obtida ou usada de forma que não se
coadune com o ordenamento jurídico, em franca violação ao texto

159
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constitucional ou a outras normas pertinentes. O art. 5º, LVI, da CRFB


expressamente veda a admissibilidade de provas ilícitas, situação similar no art.
157 do CPP. Como exemplo de provas ilícitas apontadas pelo texto constitucional,
temos aquelas conseguidas por tortura, com interceptação telefônica sem
autorização judicial ou com violação de domicílio sem se amoldar aos permissivos
previstos.

Frise-se que a ilicitude abrange a prova obtida de forma ilícita, mas


também às que derivarem dela, ou seja, só foram obtidas por conta da
ilegalidade prévia, naquilo que se denomina, com origem do direito dos EUA, de
fruto da árvore envenenada. A jurisprudência é uníssona em não admitir provas
ilícitas ou ilícitas por derivação, ante a necessidade de o Estado agir dentro dos
parâmetros previamente estabelecidos para reprimir infrações penais, por mais
repugnantes que sejam os delitos.

Um ponto importante reside na viabilidade, ou não, de obtenção de prova


ilícita que seja favorável ao réu, como, por exemplo, a violação domiciliar pelo
réu para buscar um documento que comprove sua inocência. Essa prova ilícita
deve ser admitida? A doutrina, em que pese uma ou outra divergência, entende
claramente pela possibilidade de essa prova ilícita ser usada por conta do estado
de necessidade.

Por fim, o uso de informações sigilosas obtidas licitamente em feitos


criminais e sua possibilidade de utilização na esfera administrativa envolve a
seara da prova emprestada. O STF e STJ admitem tranquilamente a prova
emprestada do processo criminal para instruir um processo administrativo
disciplinar, mas desde que aludida prova tenha sido submetida ao crivo do
contraditório no feito penal.

DELEGADO DE POLÍCIA – PCRS – 2018 – FUNDATEC

No campo das interceptações telefônicas e/ou telemáticas no inquérito


policial, discorra, fundamentadamente, sobre serendipidade objetiva e
subjetiva, e s erendipidade de primeiro grau e de segundo grau. Considerando
a atuação do Delegado de Polícia na investigação criminal, apresente os
respectivos conceitos e a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal sobre o
assunto.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Durante a execução de uma interceptação telefônica, nos moldes


regulados pela Lei nº 9.296/96, é possível que a polícia judiciária acabe
angariando elementos de convicção acerca da prática de outros delitos ou da
participação de outras pessoas, diversas das que vinham sendo objeto de
investigação. A esse encontro fortuito de provas atribuíram o nome de

160
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“serendipidade”, tradução da palavra inglesa “serendipity”, que tem por


significado a situação em que algo é achado por acaso.

A serendipidade é classificada como objetiva quando, por meio da


interceptação telefônica, a polícia acaba tendo contato com informações sobre a
prática de outra infração penal. A serendipidade é classificada como subjetiva
naqueles casos em que se obtêm indícios de envolvimento de sujeito diverso do
que vinha sendo investigado.

Além dessa classificação, fala-se em serendipidade de 1º e de 2º graus, a


depender da existência de conexão entre os fatos/indivíduos objeto da
interceptação e os que foram “achados” durante as conversas telefônicas
acompanhadas com autorização judicial (1º grau - com conexão; 2º grau - sem
conexão).

Segundo a jurisprudência do STF, é válido o fenômeno da serendipidade,


em quaisquer de suas modalidades, desde que inexista má-fé na localização da
prova e que estejam presentes os requisitos legais na decretação da medida. A
título de exemplo, note-se que ocorreria má-fé e violação aos requisitos legais se
a autoridade policial representasse pela interceptação de determinado número
telefônico sob o fundamento de apurar certa prática delitiva, quando, na
verdade, pretendia obter elementos de prova acerca de outra infração, para a
qual não se admite o emprego da interceptação (um crime punido com detenção,
uma vez que o art. 2º, III, da Lei nº 9.296/96, veda tal meio de obtenção de prova
para crimes que não sejam punidos com pena de reclusão).

Na prática, o delegado de polícia, independentemente de autorização


judicial específica, poderá utilizar as informações obtidas por meio da
interceptação telefônica, desde que validamente decretada, ainda que não haja
relação entre o crime/sujeito investigado e o descoberto casualmente. Não
havendo relação, deve a autoridade policial utilizar o conteúdo da conversa
interceptada a título de “notitia criminis”, determinando a instauração do
pertinente procedimento policial (inquérito ou termo circunstanciado), ou a
remessa para o órgão com atribuição para a respectiva investigação.

Sobre esse último ponto, é preciso verificar se não há foro por prerrogativa
de função por parte do sujeito cujo envolvimento em alguma infração penal fora
descoberto durante a interceptação. É pacífico na jurisprudência do STF que,
nesses casos, e desde que a infração tenha vínculo com o exercício do mandato
ou com o exercício da função pública, os elementos de convicção não poderão ser
utilizados no respectivo inquérito policial, devendo ser o conteúdo enviado ao
tribunal com competência para processar e julgar o detentor do foro privilegiado.

DELEGADO DE POLÍCIA - PCMT - 2017 - CESPE

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O art. 1.º da Lei nº 9.296/1996 disciplina que “á interceptação de comunicações


telefônicas, de qualquer natureza, para prova em investigação criminal e em
instrução processual penal, observará o disposto nesta lei e dependerá de ordem
do juiz competente da ação principal, sob segredo de justiça”. Com base nas
disposições da referida norma legal, no entendimento dos tribunais superiores e
na conceituação doutrinária dos diversos fluxos de comunicação, faça o que se
pede a seguir. 1 - Conceitue e diferencie interceptação telefônica, escuta
telefônica, gravação telefônica e quebra de sigilo de dados telefônicos e
esclareça sobre a sujeição, ou não, de cada uma dessas medidas ao regime da Lei
nº 9.296/1996. [valor: 4,00 pontos] 2 - Discorra acerca da legalidade ou não do
acesso, sem ordem judicial, a arquivos de ligações realizadas e recebidas e à
agenda de contatos em aparelho telefônico do indiciado apreendido
regularmente pela autoridade policial e esclareça sobre a sujeição, ou não,
dessas medidas ao regime da Lei n.º 9.296/1996. [valor: 3,60 pontos]

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Interceptação telefônica, escuta telefônica e gravação clandestina são


institutos distintos entre si.

Na interceptação telefônica nenhum dos interlocutores sabe que a


conversa está sendo gravada por um terceiro. Na escuta um dos interlocutores
sabe que está sendo gravado por um terceiro. Na gravação um dos interlocutores
é quem grava a conversa. A interceptação telefônica e a escuta demandam,
necessariamente, autorização judicial para que sejam consideradas provas
lícitas. Já a gravação telefônica pode ser feita sem a autorização do juiz, sendo
que ela é aceita pela jurisprudência como meio de defesa.

Configura-se pertinente diferenciar interceptação telefônica de quebra de


sigilo telefônico. Na interceptação, quem intercepta tem acesso ao teor da
conversa, ao passo que na quebra do sigilo de dados telefônicos permite-se o
acesso à relação de ligações telefônicas originadas e recebidas por uma linha
telefônica, cujo fornecimento fica a cargo da operadora de telefonia celular. Não
se confunde com a interceptação da comunicação telefônica e, portanto, a ela
não se aplica o regramento da Lei nº 9.296/96.

A CRFB tratou de salvaguardar quatro liberdades: a comunicação de


correspondência, telegráfica, de dados e a comunicação telefônica. O sigilo diz
respeito à comunicação em si, e não aos dados já armazenados. É a efetiva troca
de informações o objeto tutelado pelo art. 5º, XII, da CRFB. A Lei nº 9.296/96, por
conseguinte, foi enfática ao dispor especificamente sobre a proteção ao fluxo das
comunicações em sistemas de informática e telemática. Depreende-se da
mencionada norma que houve uma preocupação do legislador em distinguir o
que é a fluência da comunicação em andamento daquilo que corresponde aos
dados obtidos como consequência desse diálogo.

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A Lei nº 9.296/96, conforme o STF e STJ entendem, abarca a interceptação


telefônica stricto sensu e a escuta telefônica, já que ambas constituem
procedimentos de captação da comunicação alheia, por terceiro interceptador,
exigindo determinação judicial. Já a gravação telefônica, em que a captação da
conversa é feita pelo próprio interlocutor, não se submete ao regime da Lei nº
9.296/96, não dependendo de autorização judicial para ser realizada, como dito.

Apenas o juiz poderá autorizar a utilização da interceptação telefônica


como meio de prova. Isso poderá ser feito de ofício ou a requerimento da
autoridade policial, na investigação criminal; ou do Ministério Público, na
investigação criminal e na instrução processual penal. A ausência de autorização
judicial para a captação de conversas enseja a declaração de nulidade da prova
obtida, pois constitui vício insanável.

Em relação à legalidade do acesso, sem ordem judicial, a arquivos de


ligações realizadas e recebidas e à agenda de contatos em aparelho telefônico
do indiciado, não se confundem comunicação telefônica e registros telefônicos,
que recebem, inclusive, proteção jurídica distinta. Não se pode interpretar a
cláusula do art. 5º, XII, da CRFB no sentido de proteção aos dados enquanto
registro/depósito registral. A proteção constitucional é da comunicação de
dados, e não dos dados.

Ademais, o art. 6º do CPP estabelece que é dever da autoridade policial


proceder à coleta do material comprobatório da prática da infração penal. Ao
proceder à pesquisa na agenda eletrônica dos aparelhos devidamente
apreendidos, meio material indireto de prova, a autoridade policial, cumprindo o
seu mister, busca, unicamente, colher elementos de informação hábeis a
esclarecer a autoria e a materialidade do delito.

Quanto ao acesso ao detalhamento das chamadas recebidas e realizadas


por telefone, com a informação de número, data, horário e duração, registrados
na memória do aparelho regularmente apreendido pela autoridade policial, o STF
entende pela legalidade da medida. Isso ocorre porque a diligência policial não
caracteriza interceptação de comunicação telefônica, não sendo necessária,
portanto, de autorização judicial.

Importante frisar que o STJ possui entendimento no sentido de que são


nulas as "provas" obtidas pela polícia sem autorização judicial através da
extração de dados e conversações registradas no aparelho celular e whatsapp do
investigado, ainda que tal aparelho tenha sido apreendido no momento da prisão
em flagrante delito.

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SENTENÇA

MAGISTRATURA ESTADUAL – TJDFT – 2014 - CESPE

Defina e esclareça as diferenças, se houver, entre sentenças simples, sentenças


subjetivamente complexas e decisão subjetivamente plúrima, apresentando
pelo menos um exemplo para cada caso.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

A doutrina mais abalizada aduz que a sentença pode ser simples ou


subjetivamente complexa.

Sentença simples é aquela proferida por órgão monocrático ou singular.


Sentença subjetivamente complexa é aquela na qual cabe a mais de um órgão
apreciar as questões que integram a lide para que se possa ter o julgamento final.
O exemplo clássico de sentença subjetivamente complexa é a exarada pelo
presidente do tribunal do júri, pois, para que ela seja proferida, demanda- se o
concurso do conselho de sentença (decide acerca do crime e autoria) e do
presidente (determina as sanções).

Caso a decisão advenha de órgão colegiado homogêneo (tribunais de


segundo grau, por exemplo), a doutrina chama de decisão coletiva. Saliente-se
que, quando os membros de uma câmara de tribunal apreciam um recurso, eles
manifestam-se sobre toda a matéria, ou seja, inexistem divisões de funções
(como é o caso do tribunal do júri). Assim, se a decisão do tribunal de segundo
grau é um ato de vontade de vários juízes, a doutrina nomeia isso como decisão
subjetivamente plúrima.

Por fim, como exemplo de sentença simples, temos aquela emanada por
um juiz monocrático de primeiro grau ao condenar ou absolver alguém pelo crime
de furto simples. Um exemplo de sentença subjetivamente complexa é aquela
emanada do juiz presidente do tribunal do júri com base na decisão do conselho
de sentença. Um exemplo de decisão subjetivamente plúrima seria o acórdão
proferido por uma turma criminal de um tribunal de justiça confirmando,
cassando ou reformando a sentença proferida por juiz monocrático de primeiro
grau.

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RECURSOS

ANALISTA JUDICIÁRIO - TJAL - CESPE - 2012

O processo não é apenas o instrumento de realização do direito penal, mas


instrumento de efetivação dos direitos e liberdades individuais previstos na
Constituição. É inaceitável a aplicação de uma pena que não tenha sido precedida
de um processo válido. Um dos princípios mais caros ao processo penal, que deve
ser observado sob pena de nulidade absoluta, refere-se à garantia de informação
e participação que possibilitam a reação (contrariedade) das partes. Esse
princípio, aliado a outro, o da ampla defesa, fundamentam uma das mais
recentes súmulas do STF, a de n.º 707, que tem a seguinte redação: Constitui
nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer contrarrazões ao
recurso interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação de
defensor dativo. Redija um texto dissertativo explicitando o princípio de que
trata o excerto apresentado acima. Em seu texto aborde, necessariamente e de
forma justificada, os seguintes aspectos: 1- a relação entre informação,
participação e reação no processo penal; [valor: 5,00 pontos] 2- o recurso a que
se refere a Súmula n.º 707/STF — recurso cabível contra a decisão de rejeição da
denúncia. [valor: 4,00 pontos]

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Estabelece o art. 5°, LV, da CRFB que aos litigantes, em processo judicial
ou administrativo, e aos acusados em geral, são assegurados o contraditório e a
ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes, o que torna os princípios
do contraditório e da ampla defesa corolários do devido processo legal, também
tutelados como direito fundamental no art. 5°, LIV, da CRFB.

O devido processo legal traz a ideia de que o sujeito possui direito a ser
processado nos ditames da lei, sem abusos e exceções, devendo ser garantida
não só a ciência e a participação em todos os atos do processo, mas também a
ampla defesa, traduzida como a soma da autodefesa e da defesa técnica.

É neste sentido que foi editada pelo STF a Súmula nº 707. O processo
penal, por si só, gera constrangimento suficiente ao acusado, o que possibilita
seu trancamento caso não haja justa causa para tanto. Isso é o motivo pelo qual
há o direito de informação do acusado, consectário lógico do princípio do
contraditório. Recebida a informação por aquele sob o qual recai a imputação,
surge o direito à participação e à ampla defesa, restando caracterizado o devido
processo legal em que o imputado, após cientificado dos atos, exerce seu direito
de contradizê-los e de reação às acusações delineadas na peça acusatória.

Neste sentido, a ausência de informação sobre os atos processuais que se


desenrolam em um processo resvala na violação precípua ao princípio do
contraditório, estabelecido pela CRFB como sendo corolário do devido processo
legal.

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Quanto ao recurso cabível contra a decisão negativa do recebimento da


denúncia, nos termos do art. 581, I, do CPP, caberá recurso em sentido estrito,
devendo o advogado do imputado ser intimado para oferecer contrarrazões.
Caso não o seja, a súmula nº 707 do STF é categórica ao dizer que não será
admitida nomeação de defensor dativo para tanto, sendo nulo, de pleno direito,
o julgamento em que o defensor daquele sobre o qual recai a imputação não seja
intimado a oferecer as contrarrazões recursais.

ANALISTA DO MP - MPE/RS – 2014 – BANCA PRÓPRIA

“O interesse jurídico na interposição de um recurso no processo penal é


considerado um dos pressupostos subjetivos exigidos para o recebimento e o
posterior conhecimento da irresignação, na medida em que a lei estabelece que
não se admitirá recurso da parte que não tiver interesse na reforma ou na
modificação da decisão”. Diante dessa assertiva, indique e explique a eventual
possibilidade da existência de interesse jurídico, por parte da defesa, em recorrer
de uma sentença penal absolutória fundada na inexistência de provas suficientes
para a condenação do acusado.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Segundo o art. 577, parágrafo único, do CPP, não se admitirá recurso da


parte que não tiver interesse na reforma ou modificação da decisão. Logo, o
interesse recursal deriva da sucumbência, compreendida como uma situação de
desvantagem jurídica oriunda da decisão recorrida. Quanto à sucumbência, esta
existirá quando a decisão não atender à expectativa juridicamente possível.

Especificamente quanto aos fundamentos para a prolação de uma


sentença penal absolutória, pode-se mencionar: estar provada a inexistência do
fato; não haver prova da existência do fato; não constituir o fato infração penal;
estar provado que o réu não concorreu para a infração penal; não existir prova
de ter o réu concorrido para a infração penal; existirem circunstâncias que
excluam o crime ou isentem o réu de pena (arts. 20, 21, 22, 23, 26 e § 1º do art.
28, todos do CP), ou mesmo se houver fundada dúvida sobre sua existência; não
existir prova suficiente para a condenação.

No tocante ao recurso de decisão absolutória por ausência de provas,


poderá ser interposto, pois tal decisão não faz coisa julgada no juízo cível. Esse é
um caso em que a defesa se insurge contra o decreto absolutório objetivando
modificar seu fundamento, a fim de que seja reconhecida a existência de legítima
defesa real, por exemplo. Com isso, tal decisão refletirá diretamente na seara
cível.

Quando houver prova de que o réu não concorreu para a infração penal e
a existência de causa real justificante, aí sim haverá impedimento para a

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propositura da ação indenizatória no cível. Tais questões estão estabelecidas nos


arts. 65 e 66 do CPP, os quais tratam da ação civil “ex delicto”. álém disso,
impedirá eventual responsabilização no âmbito administrativo quando estiver
provado que o réu não concorreu para infração penal, bem como também estiver
reconhecida a inexistência material do fato.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

NUCCI, Guilherme de “ouza. “Código de Processo Penal Comentado” – 15ª


edição, rev., atual., ampl. editora Forense – grupo GEN. 2016.

LIMá, Renato Brasileiro. “Manual de Processo Penal” – volume único. 4ª edição,


rev., atual., ampl. editora JusPODIVM. 2016.

GABARITO DA BANCA EXAMINADORA:

O candidato deverá responder a questão apresentando os seguintes


fundamentos jurídicos e legais: 1. Analisar a legitimidade e o interesse jurídico no
processo penal para a interposição dos recursos. 1,0 ponto. 2. Descrever as
possibilidades e modalidades de sentença absolutória previstas na legislação
(artigo 386 do Código de Processo penal). 1,0 ponto.3. Analisar a independência
do juízo cível e a possibilidade de a sentença penal absolutória não operar a coisa
julgada no juízo cível (artigos 66 e 67 do Código de Processo Penal). 1,5 ponto.4.
Diferenciar quais as sentenças penais absolutórias são passíveis de causar
prejuízo jurídico à defesa. 2,0 pontos. 5. Analisar os reflexos jurídicos da prolação
de uma sentença penal absolutória em outras áreas do Direito, no caso, no
âmbito civil e no âmbito administrativo. 2,5 pontos. 6. Posicionar-se
fundamentadamente acerca do interesse jurídico da defesa em recorrer, nos
casos em que a sentença absolutória permitir a irresignação da defesa, como na
sentença penal absolutória fundada na inexistência de provas suficientes para a
condenação do acusado, a fim de evitar os consectários administrativos e civis da
ação praticada. 2,0 pontos.

DEFENSOR PÚBLICO - DPE/MT - UFMT - 2016

Disserte sobre os recursos no Processo Penal, abordando necessariamente: I -


Seu fundamento; (Valor: 3,75 pontos) II - Sua natureza jurídica; (Valor: 3,75
pontos) III - Suas características; (Valor: 3,75 pontos) IV - Seus efeitos. (Valor:
3,75 pontos)
SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Os recursos têm por fundamentos a necessidade psicológica do vencido,


a falibilidade humana do julgador e as razões históricas do próprio Direito. A
existência dos recursos se baseia no próprio texto constitucional, quando este
organiza o Judiciário em duplo grau de jurisdição, atribuindo primordialmente
aos tribunais a competência recursal.

167
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Em relação à natureza jurídica do recurso, entende-se que o instituto é


desdobramento do direito de ação ou de defesa, tratando-se de continuidade da
relação jurídica processual, em decorrência do inconformismo de uma ou de
ambas as partes com a decisão de primeiro grau.

Apontam-se, ainda, determinadas características inerentes aos recursos,


denominadas por alguns estudiosos como princípios. Entre as mais importantes,
destacam-se: a) voluntariedade: decorre da manifestação de vontade da parte
insatisfeita (art. 574 do CPP); b) taxatividade: para que seja possível recorrer, é
necessário que o ordenamento preveja expressamente o recurso, ou seja, o rol
legal é taxativo; c) unirrecorribilidade: cada tipo de decisão comporta um único
recurso, sendo ônus da parte escolher o adequado; d) fungibilidade recursal: se
não houver erro grosseiro ou má-fé, a parte não será prejudicada pela
interposição de um recurso por outro; e) convolação: possibilita que um recurso
manejado de forma correta se convole em outro caso se revele mais útil ao
recorrente; f) vedação da reformatio in pejus: proíbe-se a piora da situação
jurídica do recorrente, inclusive em relação ao quantitativo de pena fixado por
seu antecessor; g) conversão: se for interposto recurso para órgão incompetente,
este deverá remetê-lo àquele que tenha competência; h) complementariedade:
possibilita a integração do recurso já interposto toda vez que a decisão recorrida
for modificada supervenientemente; i) variabilidade: possibilidade de o
interessado, enquanto estiver em andamento o prazo recursal, interpor mais de
um recurso contra a mesma decisão (defendido minoritariamente); j)
dialeticidade: aquele que recorre deve expor os fundamentos, possibilitando o
contraditório recursal; e k) colegialidade: o recurso deve ser apreciado por órgão
colegiado, integrado por mais de um julgador.

Por fim, os efeitos dos recursos são os que seguem: a) devolutivo: o


recurso devolve a matéria para ser novamente apreciada pelo Judiciário,
podendo ser iterativo (quando a devolução é para o mesmo órgão que proferiu o
julgamento) ou reiterativo (quando dirigido a órgão diverso, ad quem); b)
suspensivo: paralisa a eficácia da decisão recorrida; c) regressivo: possibilidade,
atribuível por lei, de o mesmo órgão que proferiu a decisão exercer o juízo de
retratação, modificando-a; d) extensivo: ocorre no concurso de pessoas, quando
a decisão do recurso interposto por um dos réus, que fundada em questão que
não seja de caráter pessoal, se estende aos demais; e) translativo: decorrente do
efeito devolutivo, possibilita ao julgador ad quem adotar qualquer decisão
favorável ou desfavorável a qualquer das partes; e f) dilatório-procedimental: o
recurso alarga o rito, em decorrência dos atos que decorrem de sua interposição.

JURISPRUDÊNCIA RELACIONADA:

HABEAS CORPUS. CALÚNIA E DIFAMAÇÃO. PRIMEIRA SENTENÇA ANULADA EM


FACE DE INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA. IMPOSIÇÃO DE PENA MAIS GRAVE EM
SEGUNDA CONDENAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO QUE

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PROÍBE A REFORMATIO IN PEJUS. RESTRIÇÃO DO JUÍZO NATURAL À


REPRIMENDA IMPOSTA PELO MAGISTRADO INCOMPETENTE. CONCESSÃO DA
ORDEM. 1. Embora haja grande discussão acerca da natureza da sentença
proferida por magistrado absolutamente incompetente - se nula ou inexistente
-, tem-se que tal questão não é determinante para a solução do tema ora em
debate, já que até mesmo aqueles que entendem que os atos praticados por juiz
absolutamente incompetente são inexistentes admitem que deles podem
emanar certos efeitos. 2. Ainda que a definição sobre a natureza da sentença
proferida por juiz absolutamente incompetente não seja crucial para o deslinde
da presente controvérsia, é de se ter em mente que tem prevalecido o
entendimento segundo o qual o referido ato é nulo, e não inexistente.
Precedentes. 3. Ao se admitir que em recurso exclusivo da defesa o processo seja
anulado e, em nova sentença, seja possível impor pena maior ao acusado, se
estará limitando sobremaneira o direito do acusado à ampla defesa, já que nele
se provocaria enorme dúvida quanto a conveniência de se insurgir ou não contra
a decisão, pois ao invés de conseguir modificar o julgado para melhorar a sua
situação ou, ao menos, mantê-la como está, ele poderia ser prejudicado.
4. O artigo 617 do Código de Processo Penal, no qual está explicitada a vedação
da reformatio in pejus, não estabelece qualquer ressalva quanto aos casos de
anulação do processo, ainda que por incompetência absoluta, não devendo o
intérprete proceder à tal restrição. 5. Mesmo que haja anulação do feito por
incompetência absoluta, deve-se ter presente que se este acontecimento só se
tornou possível diante de irresignação exclusiva da defesa, como na hipótese
vertente, razão pela qual não é admissível que no julgamento proferido pelo
Juízo competente seja agravada a situação do réu, devendo prevalecer o
princípio que proíbe a reformatio in pejus. Doutrina. Precedentes.6. O princípio
do juiz natural, previsto como direito fundamental no inciso XXXVII do artigo 5º
da Constituição Federal, é instituído essencialmente em favor daquele que é
processado, a quem se confere o direito de ser julgado por quem esteja regular
e legitimamente investido dos poderes de jurisdição, não sendo concebível que
uma garantia estabelecida em favor do acusado seja contra ele invocada, a fim
de possibilitar o agravamento de sua situação em processo no qual apenas ele
recorreu. Precedente. 7. Ordem concedida apenas para determinar que a Corte
de origem redimensione a pena do paciente, tendo como parâmetro o teto
estabelecido pela sentença anulada.STJ – Quinta Turma – HC 114.729 – Rel. Min.
Jorge Mussi – DJ 21/10/2010.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo penal. 14. ed. São Paulo: Atlas, 2003. p.605;

ALENCAR, Rosmar Rodrigues; TÁVORA, Nestor. Curso de Direito Processual


Penal. 12. Ed. Salvador, Juspodivm, 2017, p. 1329-1362.

MAGISTRATURA ESTADUAL – TJDFT – 2016 - CESPE

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Descreva todos os efeitos recursais possíveis mencionados pelas doutrinas e


jurisprudências, explicando e exemplificando cada um deles.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Os efeitos de maior destaque que os recursos possuem são o


devolutivo e o suspensivo.

No que tange ao primeiro, efeito devolutivo, ele pode ser entendido


como a devolução à instância superior do assunto que foi decidido na instância
inferior, ou seja, a segunda instância pode conhecer o recurso e rever a decisão
de piso. Especificamente no campo processual penal, com base no art. 617, do
CPP, e “úmula 160, do “TF, há a limitação do efeito devolutivo no sentido de que
a matéria a ser conhecida fica delimitada pelo que foi impugnado no recurso
(famosa expressão tantum devolutum quantum appellatum. “omado a isso,
temos também a vedação da reformatio in pejus quando do recurso por parte do
réu.

No que tange ao segundo efeito, suspensivo, o art. 584, do CPP


claramente dispõe que tal recurso possui referido efeito. Entretanto, como o
efeito suspensivo não é a regra geral, a doutrina e a jurisprudência entendem que
ele pode ser concedido, mas com viés de excepcionalidade. O ponto principal é
que o efeito suspensivo, como o próprio nome diz, é uma barreira para a geração
dos naturais efeitos de uma decisão.

Os outros efeitos recursais são: regressivo, extensivo e translativo.

O primeiro deles, regressivo, também denominado iterativo, diferido


ou reiterativo, significa dizer que o órgão que proferiu uma decisão pode
reexaminar e se retratar, tendo como exemplo o recurso em sentido estrito e os
embargos de declaração.

O segundo deles extensivo, vem previsto no art. 580, do CPP. áludido


efeito aduz que, quando houver situação de concurso de agentes, a concessão de
um recurso a um dos réus produz efeitos para todos os outros, mas desde que
haja a devida fundamentação e o motivo de concessão não seja de caráter
eminentemente pessoal. Como exemplo, temos a concessão da liberdade em
habeas corpus impetrado por um dos réus.

Por fim, o terceiro deles, chamado de efeito translativo, é aquele que


possibilita o conhecimento de ofício das matérias de ordem pública (se não forem
prejudiciais ao réu). Como exemplo, temos a situação em que apenas a acusação
interpõe um recurso e, havendo uma prescrição, por ser benéfica ao réu, ela pode
ser conhecida de ofício.

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REVISÃO CRIMINAL

ANALISTA DO MP - MPE/SP - VUNESP - 2015

Discorra sobre os efeitos do provimento da revisão criminal, de acordo com o


disposto no artigo 627 do Código de Processo Penal, exemplificando, e esclareça
se há extensão ao sentenciado não recorrente, por aplicação do artigo 580 do
mesmo diploma legal.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Segundo dispõe o art. 627 do CPP, a absolvição em sede de revisão


criminal implicará o restabelecimento de todos os direitos perdidos em virtude da
condenação. Deste modo, além do efeito principal, que é aplicação da pena, a
sentença condenatória acarreta ao réu diversos efeitos secundários: registro
como maus antecedentes; a possibilidade de gerar reincidência; o lançamento do
nome do sentenciado no rol dos culpados; a obrigação de indenizar o dano
(gerando título executivo no juízo cível); o confisco de instrumentos, produto ou
proveito do crime; a perda de cargo, função ou mandato, conforme o caso; a
incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela, em certas
situações, a inabilitação para dirigir veículo, além da suspensão dos direitos
políticos enquanto cumprir pena.

Havendo procedência à ação revisional, todos esses efeitos são


recuperados pelo condenado, salvo os que já tiverem sido concretizados. De mais
a mais, os efeitos da absolvição obtida, em regra, atingem apenas a pessoa
requerente, salvo quando os fundamentos não sejam de caráter exclusivamente
pessoal e se firmem em situação comum aos litisconsortes na ação penal
condenatória, como determina o art. 580 do CPP.

Como bem ensina a doutrina, trata-se da extensão subjetiva do efeito


devolutivo do recurso. Se os réus se encontram na mesma situação de fato, não
há razão para que o recurso/ação beneficie somente aquele que recorreu ou
ingressou com a ação.

JURISPRUDÊNCIA RELACIONADA:

“(...) Cabe assinalar, finalmente, que a norma de extensão inscrita no art. 580 do
CPP pressupõe, para efeito de sua aplicabilidade, identidade ou, pelo menos,
similitude de situações, deixando de incidir naqueles casos em que se registram
circunstâncias de ordem pessoal (HC 66.698/PE, Rel. Min. MOREIRA ALVES; HC
86.489-extn/SP, Rel. Min. CEZAR PELUSO; HC 96.087/SE, Rel. Min. CÁRMEN
LÚCIA; HC 96.131/SE, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA; HC 104.763/MS, Rel. Min. DIAS
TOFFOLI; HC 117.203/DF, Rel. Min. TEORI ZAVASCKI; RHC 80.741/PA,
Rel. Min. MAURÍCIO CORRÊA, v.g.). A indicação de motivo, de caráter
exclusivamente pessoal, impede que se dê efeito extensivo à ordem de habeas
corpus, pois, presente tal circunstância, descaracteriza-se, por completo, a
própria razão de ser subjacente à hipótese de extensão das consequências

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benéficas de determinada decisão. Em suma: tenho para mim que os


fundamentos subjacentes à presente impetração divergem dos critérios que a
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal consagrou na matéria ora em
exame”. (“TF - RHC: 122498 DF, Relator: Min. CELSO DE MELLO, Data de
Julgamento: 27/05/2014, Data de Publicação: DJe-104 DIVULG 29/05/2014
PUBLIC 30/05/2014).

Bibliografia: NUCCI, Guilherme de “ouza. “Código de Processo Penal Comentado”


– 15ª edição, rev., atual., ampl. editora Forense – grupo GEN. 2016.

GABARITO DA BANCA EXAMINADORA:

Provida a revisão criminal, diz o artigo 627 do Código de Processo Penal que
serão restabelecidos os direitos perdidos em razão de efeitos penais da
condenação, sejam eles primários (ex.: liberdade) e secundários (ex.: devolução
da fiança perdida) e extrapenais (ex.: restabelecimento do poder familiar).
Demais disso, os efeitos da absolvição, obtida na ação autônoma de impugnação,
se estendem ao condenado não recorrente, desde que seus fundamentos não
sejam de caráter pessoal e se firmem em situação comum aos litisconsortes na
ação penal condenatória, como estabelece o artigo 580 do Código de Processo
Penal. 1. Efeitos do provimento da revisão criminal 4,0 2. Exemplos dos direitos
restabelecidos (efeitos primários 1,0, secundários 1,0 e extrapenais 1,0). 3,0 3.
Extensão dos efeitos da absolvição, obtida na ação autônoma de impugnação ao
condenado não recorrente Fundamentos sem caráter pessoal e firmados em
situação comum aos litisconsortes na ação penal condenatória. 3,0

DEFENSORIA PÚBLICA ESTADUAL - DPE-MS - 2014 - VUNESP

Sobre a revisão criminal, responda: a) conceito; b) natureza processual; c)


requisitos; d) limites e efeitos.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

A revisão criminal é meio processual adequado para que uma decisão


condenatória com trânsito em julgado seja revista a qualquer tempo se presente
uma das hipóteses descritas no art. 621 e incisos do CPP, com o objetivo de o
acusado se ver absolvido ou beneficiado de alguma outra forma.

Muito embora arrolada pelo legislador como recurso, a revisão criminal


não passa de mera ação penal de natureza constitutiva, pois, embora colocada
no capítulo atinente aos recursos dentro do Código de Processo Penal, a revisão
é, também, ação autônoma destinada ao desfazimento dos efeitos produzidos
por uma sentença condenatória com trânsito em julgado e surgiu no processo
penal como remédio jurídico para tutelar o direito de liberdade. Tem sua
similitude à ação rescisória do cível.

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Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br

Os requisitos são aqueles previstos no art. 621 do CPP, ou seja, é


necessário que a decisão final condenatória haja assumido as feições de coisa
julgada e esteja presente uma das hipóteses previstas nos incisos I, II e III do
citado artigo e código.

Também é possível a revisão criminal quando conjugada às hipóteses do


art. 626 do CPP. Não há necessidade de o condenado recolher-se à prisão.

A revisão criminal não permite ser reiterada, exceto se verificadas novas


provas diversas daquela que servirá de objeto para discussão inicial.

Tem como efeito a alteração da classificação penal, a absolvição do réu,


a modificação da pena e a anulação do processo. Note-se que a revisão não
poderá agravar a situação do acusado, exceto se o objeto desta for a anulação
de todo o processo.

Se a decisão da revisão não for exclusiva às condições pessoais do


acusado, ela terá o efeito extensivo ao corréu, dada a aplicação analógica do art.
580 do CPP.

ESTAGIÁRIO – DPU – 2013

A Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso do Sul propôs uma revisão


criminal que teve provimento pelo Tribunal de Justiça e resultou na absolvição
do assistido R.M.D. O julgamento foi realizado nessa terça-feira (22), pela 2ª
Turma Criminal do TJMS. A revisão foi proposta pelo defensor público de Três
Lagoas, Antonio César Bauermeister de Araújo, lotado na 3ª DP Criminal, e
acompanhada pela defensora pública de 2ª Instância, Vera Regina Prado
Martins. O assistido R.M.D. extraviou seus documentos em 2009, que foram
falsificados e utilizados por terceira pessoa, que com a falsa identidade foi
processado e condenado em 2013, por porte ilegal de arma de fogo, a dois anos
de reclusão e dez dias-multa, após responder o processo em liberdade. A
intervenção da Defensoria Pública já havia sido fundamental anteriormente,
quando o assistido foi preso em 23 de maio de 2013. Os familiares de R.M.D.
buscaram a Instituição e através de imediato requerimento do defensor público
Alceu Conterato Júnior, também de Três Lagoas, obteve o direito de ser colocado
em liberdade até que fosse proposta e julgada a revisão criminal, que confirmou
a inocência do assistido. (Revisão Criminal nº 2011.030147-0) (Fonte: JusBrasil
notícias) Considerando o texto acima como mero reforço de inspiração, disserte
sobre o instituto da revisão criminal, abordando necessariamente os seguintes
aspectos: a) conceito, b) natureza jurídica, c) prazo para ajuizamento, d)
hipóteses de cabimento, e, e) possibilidade ou não de utilização em favor da
sociedade.
SUGESTÃO DE RESPOSTA:

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Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br

A revisão criminal é a ação penal constitutiva, de natureza complementar,


destinada a rescindir total ou parcialmente sentença condenatória, porquanto
visa a desfazer os efeitos da manifestação judiciosa definitiva.

A revisão criminal possui natureza jurídica de ação processual penal.

Não há prazo para a revisão criminal, pode ser feita inclusive depois do
cumprimento total da pena.

A revisão penal é cabível nas seguintes hipóteses: quando a sentença


condenatória for contrária ao texto expresso da lei penal ou à evidência dos
autos; quando a sentença condenatória se fundar em depoimentos, exames ou
documentos comprovadamente falsos; quando, após a sentença, se descobrirem
novas provas de inocência do condenado ou de circunstância que determine ou
autorize diminuição especial da pena.

Não é possível revisão em favor da sociedade (pro societate) em função


do disposto no art. 626, parágrafo único, CPP.

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