Você está na página 1de 15

CAPÍTULO 5 – FUNDAÇÕES

Alexandre Duarte Gusmão


Universidade de Pernambuco e CEFET/PE
gusmao.alex@ig.com.br

5.1. PRÁTICA DE FUNDAÇÕES NO RECIFE

5.1.1. Geologia

Morfologicamente, a Cidade do Recife apresenta duas paisagens muito distintas: os


morros e a planície. A ocupação da cidade com edificações de grande porte tem se dado,
contudo, apenas no espaço confinado entre os morros e a orla marítima, que se constitui
em uma grande planície.
A planície do Recife é de origem flúvio-marinha, com dois níveis de terraços marinhos
arenosos, correspondentes à penúltima e última transgressão marinha, além de depósitos de
mangues, sedimentos flúvio-lagunares e aluviões recentes. Neste contexto geológico, o
subsolo típico é muito variado. Na Figura 5.1 está apresentado o mapa das unidades
geológicas do Recife (ALHEIROS et al., 1990). Encontram-se camadas de areia fina e
média, de compacidade fofa, intercaladas ou seguidas por outras, seja de argila orgânica
mole, seja de areia concrecionada muito compacta ou arenitos bem consolidados. Os
depósitos de argila orgânica mole e média são encontrados em cerca de 50% da área da
planície, muitas vezes em subsuperfície e com espessuras superiores a 15 m.
Por tudo isto, a prática atual de fundações no Recife é fortemente direcionada pelas
características geológico-geotécnicas do subsolo, ainda que outros fatores influenciem na
escolha e sejam assim encontrados diversos tipos de fundação na cidade (GUSMÃO, 2000;
PACHECO et al., 2000).

5.1.2. Prática de Fundações

Os morros, que se situam na periferia da cidade, são geralmente ocupados pela


população de baixa renda, predominando edificações simples e leves. Praticamente não há
construções de porte com as fundações em encostas, que é causa comum de acidentes em
outras cidades. As edificações de porte do Recife concentram-se na planície (GUSMÃO
FILHO et al., 1998).
A presença de camadas arenosas superficiais na maior parte da planície tem permitido a
adoção de fundações superficiais, especialmente em prédios de até seis pavimentos
(GUSMÃO FILHO, 1998). Estes depósitos arenosos superficiais são quase sempre de
granulometria média a fina, frequentemente siltosas a pouco siltosas, e de compacidade
fofa a pouco compacta como regra geral (NSPT variando de 2 a 10). A espessura pode ser
de 10 a 15 m, dependendo do local, apresentando-se às vezes como pequenas dunas, mais
frequentes na zona sul da cidade (GUSMÃO FILHO et al., 1998).
No caso de prédios de grande porte, é muito comum a utilização da técnica de
melhoramento do terreno arenoso através de estacas de compactação. Esta técnica tem sido
utilizada em Recife desde a Década de 70, apresentando resultados bastante satisfatórios
(GUSMÃO FILHO e GUSMÃO, 1990; 1994 e 2000).
Figura 5.1 – Unidades geológicas do Recife (ALHEIROS et al., 1990).

Tem-se também com frequência a presença de arenitos no nível superficial do perfil de


subsolo da cidade, aparecendo em ambos os terraços marinhos pleistocênico e holocênico
(GUSMÃO FILHO, 1998), especialmente na planície costeira. Dependendo da
profundidade e da espessura do arenito, pode-se projetar fundação superficial em sapatas
ou radier assente diretamente no arenito (GUSMÃO FILHO et al., 1998).
Há, ainda, alguns locais da cidade onde aparecem camadas de fragmentos de conchas
e/ou corais, misturados ou não a areias. Nestes tipos de perfis, há casos de prédios com
fundação superficial com recalques de elevada magnitude (PACHECO et al., 2000).
Finalmente, a presença de depósitos de argila mole, alguns muito espessos, em cerca de
50% da área da planície favorece também o uso de estacas pré-moldadas de concreto e
metálicas, que têm sido soluções de fundação largamente utilizadas no Recife, embora
dispendiosas e, em geral, atingindo profundidades de até 45 m.

5.1.3. Fundações Superficiais

Tipos

Os principais tipos de fundações superficiais são os blocos, sapatas e radier. Os blocos


têm sido usados quase que exclusivamente em obras de pequeno porte, e não serão
comentados nesse texto.
GUSMÃO FILHO (1998) apresentou os resultados de um levantamento dos tipos de
fundação em 196 obras no Recife, obtidos nas principais empresas de projeto estrutural e
de fundações da cidade (Tabela 5.1). Observa-se que há uma predominância das fundações
superficiais, e em especial das sapatas.

Dimensionamento

Para o dimensionamento das sapatas em areias, em geral são usadas fórmulas empíricas,
tais como a que é mostrada na Equação 5.1.

σ adm = 25 ⋅ N SPT (kPa ) (5.1)

Onde: NSPT é a média da resistência a penetração do SPT no trecho entre a cota de


fundação e duas vezes a largura da sapata abaixo dessa cota.

Para efeito de anteprojeto e orçamento estimativo da fundação de um prédio, o volume


de concreto das sapatas (VCON) pode ser calculado admitindo-se que o seu peso equivale a
5 % do carregamento vertical total do prédio, que pode ser tomado igual a 10 kN/m2 por
laje.

QTOTAL = 10 ⋅ AL ⋅ n (kN) (5.2)

QSAP = 0,05 ⋅ QTOTAL (5.3)

QSAP
VCON = (5.4)
γ CON

Onde: AL – área da lâmina do prédio (m2); n – número de lajes; γCON – peso específico do
concreto armado (25 kN/m3)

Atualmente o custo total do concreto armado para fundação varia de R$ 600,00 a 800,00
por m3 de concreto (1 US$ = R$ 3,00), incluindo escavação, concreto magro, forma e
armação, concreto estrutural e reaterro. Caso haja necessidade de um sistema de
rebaixamento com ponteiras, pode-se tomar um valor de 3 a 4 mil reais por mês.
Tabela 5.1 – Resumo das soluções de fundação no Recife (GUSMÃO FILHO, 1998).
Tipo de Freqüência Tipo de Freqüência
Fundação Absoluta (%) Solução Relativa (%)
- Sapata isolada 71,43
Superficial 59,80 - Sapata corrida 26,05
- Radier 2,52
- Estaca moldada in loco 67,50
Profunda 40,20 - Estaca pré-moldada de concreto 25,00
- Outras 7,50

Melhoramento do Terreno com Estacas de Compactação

A implantação da solução de melhoramento da camada superficial através de estacas de


compactação pode viabilizar o uso de fundações superficiais, e reduzir de forma
significativa os custos da fundação. O melhoramento possibilita uma elevação da taxa de
trabalho do terreno, permitindo uma substancial diminuição nos volumes de escavação e de
concreto das fundações projetadas (GUSMÃO FILHO, 1998). O objetivo de melhorar a
camada arenosa superficial é assegurar estabilidade à fundação e evitar recalques
excessivos que possam trazer danos à obra.
O equipamento básico utilizado é um tripé com pilão de 13 a 18 kN, caindo de uma
altura livre de 3 a 5 m, e tubo com diâmetro interno de 300 mm e comprimento de até 5 m.
Outro equipamento também utilizado é um bate estacas tipo Franki de menor porte, com
pilão entre 15 e 25 kN de peso e altura de queda de 3 a 7 m.
A sua produtividade pode variar bastante em função da resistência inicial do terreno,
comprimento da estaca, peso do pilão, manutenção do equipamento, entre outros. Pode-se,
no entanto, admitir uma variação entre 30 e 90 m/dia.
No caso das estacas de areia e brita, o material utilizado é uma mistura de pó-de-pedra
lavado, com brita 50 ou 75 mm. O traço típico em volume é de 3: 1 (pó-de-pedra : brita). O
uso de pó-de-pedra, ao invés de areia, se dá em função de seu menor custo. Normalmente
as estacas são executadas nos vértices de uma malha quadrada com 90 cm de lado. A
malha deve se estender uma ou duas linhas além da projeção da área da edificação. Para
fins de anteprojetos, pode-se tomar uma quantidade de 1,5 a 2,5 estacas por m2 de área da
lâmina do prédio. O preço típico é de US$ 10 por metro, mais uma taxa de mobilização da
ordem de US$ 1000 por equipamento.
O processo de melhoramento de solos, conhecido como “estacas de argamassa”, na
verdade se trata de uma estaca constituída de concreto simples. O seu emprego é
determinado em função da granulometria do terreno superficial e da presença de camadas
argilosas moles superficiais, que devem ser ultrapassadas para redução de recalques.
O preparo do concreto deve ser realizado em uma betoneira com capacidade de rodar
preferencialmente um traço inteiro. O concreto utilizado, devido à grande energia de
apiloamento, tem características próprias, devendo ter um fator água cimento variando de
0,25 a 0,30 com o traço usual em volume de 1 : 8 : 4 (cimento : pó-de-pedra ou areia : brita
38 mm). Este traço geralmente conduz a um fc28 superior a 5 MPa.
Neste caso, as estacas são executadas nos vértices de uma malha quadrada com 80 cm
de lado sob a projeção da sapata. O espaçamento das estacas define a geometria da sapata,
a qual deve ter todas as estacas contidas na sua projeção, transmitindo uma tensão total
menor do que a admissível do solo.
Para fins de anteprojetos, pode-se tomar uma quantidade entre 0,75 e 1,5 estacas por m2
de área da lâmina do prédio. O preço típico é de US$ 13 por metro, mais uma taxa de
mobilização da ordem de US$ 1000 por equipamento.
Para a simulação do NSPT após o melhoramento, pode-se usar o ábaco sugerido por
GUSMÃO FILHO e GUSMÃO (1994) para os solos de Recife (Fig. 5.2). A taxa de
trabalho do terreno normalmente varia de 300 a 600 kPa.

Amostragem de Argilas em Profundidade

Um dos fatores mais importantes que limitam o uso de ensaios de laboratório em


projetos de engenharia geotécnica, é a qualidade das amostras coletadas. O amolgamento
provoca destruição na aglutinação entre os pontos de contatos dos grãos e, portanto, da
estrutura, transformando o solo em uma massa de grãos dispersa, provocando uma
alteração nas características do material. No caso específico das argilas moles, estes efeitos
são mais significativos para aquelas que têm baixa plasticidade (COUTINHO et al., 1998).
Vários fatores contribuem para o amolgamento do solo, podendo ser significativo nas
etapas de prospecção e coleta da amostra; manuseio e transporte da amostra ao laboratório;
manuseio e armazenagem da amostra no próprio laboratório. A Figura 5.3 mostra um
resumo dos efeitos do amolgamento na curva de adensamento edométrico. Observa-se que
o amolgamento provoca uma diminuição da pressão de pré-adensamento (σ’p) e,
consequentemente, do valor do OCR. Além disto, há uma diminuição da compressibilidade
na região de compressão virgem, e um aumento na região de recompressão.
Portanto, pode-se concluir que este efeitos são muito relevantes na previsão de
recalques de edifícios, e que normalmente o amolgamento conduz a uma superestimativa
de recalques, como mostra a Tabela 5.2 (GUSMÃO, 2000).
GUSMÃO (2000) apresentou uma pesquisa sobre a qualidade das amostras de argila
coletadas em profundidade junto ao banco de dados de uma empresa local de consultoria
geotécnica. Foram considerados apenas os ensaios de adensamento edométricos no Bairro
de Boa Viagem, que está localizado na zona sul da cidade, e apresenta o maior número de
lançamentos do mercado imobiliário da cidade. É importante ressaltar que são amostras de
diferentes locais do bairro em diferentes profundidades, mas que estão dentro da mesma
formação geológica, e são representativas dos perfis encontrados nesta região da cidade.
10.00

E = 39 kN.m
FATOR DE MELHORAMENTO (K = Nf / Ni)

8.00

6.00

4.00

2.00

0.00
0.00 5.00 10.00 15.00 20.00 25.00
N-SPT INICIAL (Ni)

Figura 5.2 – Simulação do melhoramento com estacas de compactação.


σ ' p,a σ ' p,n log σ '

Cr,n
1
AMOSTRA
Cr,a NATURAL
1 Cc,n

1
Cc,a

AMOSTRA
AMOLGADA
e

Figura 5.3 - Influência do amolgamento da amostra na curva de adensamento edométrico.

Tabela 5.2 – Influência do amolgamento na previsão dos recalques.


Amostra Amostra Influência
Natural Amolgada nos Recalques
FORTEMENTE • Amostra levemente pré- • Superestimativa dos
PRÉ-ADENSADA adensada (OCR de 1 a 3) recalques
(OCR > 5)
LEVEMENTE • Amostra normalmente • Superestimativa ou
PRÉ-ADENSADA adensada ou mesmo subestimativa dos
(OCR de 1 a 3) parcialmente adensada recalques, dependendo
do porte do prédio
NORMALMENTE • Amostra parcialmente • Superestimativa dos
ADENSADA adensada recalques
(OCR = 1)
PARCIALMENTE • Amostra parcialmente • Superestimativa dos
ADENSADA adensada recalques
(OCR < 1)

A Figura 5.4 apresenta a variação do OCR obtido em função da qualidade da amostra,


segundo o critério proposto por LUNNE et al. (1997). Observa-se claramente que à medida
que diminui a qualidade da amostra, há uma diminuição do valor do OCR. Um outro
aspecto importante é que se forem consideradas apenas as amostras com qualidade regular
a muito boa (IQ < 0,07), tem-se que todas as amostras apresentam valores de OCR entre
1,30 e 2,50 , ou seja, são levemente pré-adensadas, como foi sugerido por COUTINHO e
OLIVEIRA (1994).
Ressalta-se que mais da metade das amostras apresentaram qualidade entre regular e
muito pobre, o que demonstra a necessidade de um melhor treinamento das firmas
responsáveis pela coleta das amostras. A prática atual na cidade mostra o uso de shelby
sem pistão, com diâmetro variando de 88 a 100 mm.
A Figura 5.5 apresenta a variação do OCR com a profundidade apenas para as amostras
de melhor qualidade (IQ < 0,10). Observa-se uma tendência de aumento do OCR com a
profundidade. Este resultado é bem representativo para as retroanálises de recalques
medidos que têm sido feitas em prédios construídos em Boa Viagem (GUSMÃO FILHO et
al., 1998).
3.00
QUALIDADE DA AMOSTRA (Lunne et al., 1997)
MUITO BOA BOA POBRE MUITO POBRE

PROF. DA AMOSTRA
2.00
ATÉ 20 m
ALÉM DE 20 m

OCR
OCR = 1
1.00

0.00
0.00 0.05 0.10 0.15 0.20 0.25 0.30
ÍNDICE DE QUALIDADE

Figura 5.4 – Variação do OCR com a qualidade das amostras.


OCR
0.00 1.00 2.00 3.00
0.00

IQ < 0,10

10.00
PROFUNDIDADE (m)

20.00

30.00

Figura 5.5 – Variação do OCR com a profundidade para as amostras de melhor qualidade.

A partir dessas observações, GUSMÃO (2000) apresentou uma simulação para o


desempenho de fundações para terrenos com camadas argilosas que apareçam a partir de
10 m de profundidade. Admitindo-se o cálculo do recalque da camada de argila mole
através da curva de adensamento unidimensional, tem-se que se a pressão efetiva vertical
final for inferior à pressão de pré-adensamento, os recalques serão influenciados apenas
pelo trecho de recarregamento da argila, onde o índice de recompressão (Cr) normalmente
varia de 10 a 20 % do valor do índice de compressão virgem (Cc), conduzindo a recalques
de pequena magnitude.
Foi, então, calculado para cada situação o valor do OCR mínimo necessário para que as
pressões estivessem apenas no trecho de recarregamento:

 σ vo
'
+ ∆σ v 
OCRnec =  (5.5)
 σ' 
 vo 

Onde: σ’vo = Pressão efetiva geostática inicial


∆σv = Acréscimo de pressão vertical
As Figuras 5.6 e 5.7 mostram os valores de OCRnec em função da profundidade do
topo da camada argilosa, para prédios de diferentes portes, e para diferentes opções de
fundações. Observa-se, para o caso de fundações em sapatas com melhoramento, e em
terrenos com camadas argilosas que apareçam a partir de 10 m de profundidade, que o
OCRnec para prédios com até 5 pavimentos é igual a 1,30. Para prédios com até 25
pavimentos, este valor já aumenta para cerca de 2,50. Como foi visto na Figura 5.5, as
amostras de boa qualidade para esta profundidade apresentam OCR da ordem de 1,50. Isto
significa que neste perfil, prédios com mais de 5 pavimentos deverão ter parte dos
recalques no trecho de recompressão, e parte no de compressão virgem, justificando os
recalques medidos de elevada magnitude para edifícios nesta situação (GUSMÃO FILHO
et al., 1999).
Para a solução em estacas, tem-se um OCRnec de aproximadamente 1,60 para prédios
com até 25 pavimentos e camada argilosa com topo a partir de 20 m de profundidade.
Através da Figura 5, observam-se para estas profundidades valores de OCR superiores a
2,00 , o que justifica a pequena magnitude dos recalques medidos em prédios nesta
situação (GUSMÃO FILHO et al., 1998).

4.00

PORTE DO PRÉDIO

5 PAVTOS
3.00 10 PAVTOS
15 PAVTOS
20 PAVTOS
OCR nec

25 PAVTOS
2.00

1.00

FUNDAÇÃO EM SAPATAS
COM MELHORAMENTO
0.00
0.00 10.00 20.00 30.00 40.00
PROFUNDIDADE DA CAMADA (m)

Figura 5.5 – OCR necessário versus profundidade – sapatas com melhoramento.

2.00

1.60

1.20
OCR nec

PORTE DO PRÉDIO
0.80
5 PAVTOS
10 PAVTOS
15 PAVTOS
0.40
20 PAVTOS
25 PAVTOS FUNDAÇÃO EM ESTACAS

0.00
10.00 20.00 30.00 40.00 50.00
PROFUNDIDADE DA CAMADA (m)

Figura 5.6 - OCR necessário versus profundidade – solução em estacas.


5.1.4. Fundações Profundas

Tipos

Os principais tipos de fundações profundas são disponíveis no Recife através das


empresas locais. Em virtude do nível d´água freático se encontrar próximo da superfície do
terreno, é pouco freqüente o uso de tubulões. Mesmo nas pontes construídas mais
recentemente, essa solução tem sido preterida pelas estacas.
A Tabela 5.3 apresenta os tipos mais usais de estacas, com algumas das suas
características. Já a Tabela 5.4 apresenta a lista das empresas sediadas na cidade com os
tipos de estacas que estão capacitadas a executar.

Estacas Pré-Moldadas de Concreto

Há atualmente na região metropolitana do Recife duas fábricas de estacas pré-moldadas:


(i) Solos Santini, que está localizada no município do Recife, e fabrica estacas de concreto
vibrado convencional; (ii) T&A Pré-Fabricados, localizada em Igarassu, que fornece
estacas protendidas e centrifugadas.

Tabela 5.3 – Características dos tipos de estacas mais usuais no Recife.


Tipo Carga de Comprimento Produtividade
de Trabalho de Usual Média
Estaca Compressão (kN) (m) (m / dia)
- Pré-moldada de concreto 300 – 3100 até 36 m 40
- Metálica (perfis tipo trilho) 200 - 2200 até 48 m 50
- Franki 420 – 1700 até 20 m 30
- Hélice contínua 670 – 3520 até 22 m 120
- Raiz 400 – 1500 até 30 m 40

Tabela 5.4 – Relação das empresas de fundações sediadas no Recife.


Tipo de Estaca
Empresa Pré- Metálica Franki Hélice Raiz Compactação
Moldada Contínua
Blokit X X X
Copef X X X
Fundacel X X X
Fundações X X X
Geoteste X X X
GNG X
Mecsonda X X
O&M X X X X
Recon X X X X
Rossi X X X X
Sefe X
Solos Santini X X X
T&A* X
* é apenas fornecedor de estacas
As Tabelas 5.5 e 5.6 apresentam as principais características das estacas dessas duas
empresas, respectivamente. Ressalta-se que tais dados podem ser alterados a qualquer
momento, e devem ser conferidos junto ao departamento técnico das empresas.
A execução do estaqueamento normalmente é feita a percussão com martelos de queda
livre. A recomendação é que os martelos tenham peso da ordem do peso da estaca. Isso
tem dificultado a cravação de estacas acima de 30 m de profundidade, visto que há poucos
martelos disponíveis na região com mais de 50 kN de peso.
Algumas empresas também possuem martelos a diesel (D12, K35, etc), mas que têm
sido menos usados nas obras de edificações.
No caso de haver camadas intermediárias resistentes (NSPT > 20 a 25), pode-se fazer um
pré-furo com sondas rotativas (mais comum) ou com trados. Os pré-furos têm sido feitos
até 15 m de profundidade, mas naturalmente há um custo adicional ao estaqueamento.

Estacas Metálicas

Até o final da Década de 90, praticamente só se usava na cidade estacas metálicas que
fossem compostas por trilhos usados. Essa opção tinha a vantagem do menor custo em
relação aos perfis laminados novos. A partir da ampliação do Metrorec, foi observada uma
grande mudança no mercado, e atualmente há uma predominância dos perfis laminados. A
Tabela 5.7 apresenta as principais características dos perfis metálicos.
Os principais fornecedores dos laminados são a Açominas e a Usiminas, ambas sediadas
em Minas Gerais. Incluindo o custo do frete, esses elementos têm custo final em Recife
entre R$ 2.000,00 e 2.400,00 por tonelada de aço. A esse valor deve ser somado o custo da
cravação (R$ 25,00 a 45,00 por metro de estaca, mais R$ 8.000,00 de mobilização dos
equipamentos).

Estacas Tipo Franki

Trata-se de um dos tipos mais comuns de fundação na cidade, mas tem perdido muito
mercado desde a aquisição dos primeiros equipamentos para estacas hélice contínua pelas
empresas locais (ano 2000). Há uma grande rejeição da vizinhança das obras a essa
solução de fundação, em virtude das grandes vibrações e ruídos provocados por essas
estacas.
No caso da presença de camadas arenosas profundas com baixa compacidade, as estacas
ficam longas ou trabalham com reduzidas cargas de trabalho. Nessas situações, uma opção
interessante é a compactação da camada em profundidade, que tem sido usada desde o
início da Década de 70, e que foi implementada pelo brilhante Engenheiro Guilherme
Miguel Rossi (Fig. 5.7).
Inicialmente é feita a cravação do tubo até 5 m abaixo da cota escolhida para a ponta da
estaca. A bucha é expulsa e a compactação é então feita com a introdução de areia e brita
50 mm (traço em volume de 2 : 1) em um trecho de 6 m para cima. Coloca-se uma nova
bucha e o tubo é recravado cerca de 1 m dentro do trecho compactado. Finalmente é aberta
a base largada e a estaca passa a ser executada de modo convencional.
Normalmente a carga de trabalho nas estacas com compactação é reduzida em 20% em
relação à carga usual (tensão de compressão de 6 MPa). A Tabela 5.8 apresenta as
principais características das estacas tipo Franki executadas no Recife.
Tabela 5.5 – Características das estacas pré-moldadas de concreto da Solos Santini.
Diâmetro Carga
ou Peso Máxima de Preço*
Ref. Seção Lado (kg/m) Compressão (R$ / metro)
(mm) (kN)
ET-20 triangular 200 48 200 50,00
EV-20 quadrada 200 96 400 60,00
EV-25 quadrada 250 125 650 75,00
EV-30/7 quadrada 300 166 850 90,00
EV-30/9 quadrada 300 192 900 110,00
EV-35 quadrada 350 245 1200 120,00
EV-40 quadrada 400 332 1850 158,00
EC-300/6 circular 300 111 550 55,00
EC-300/8 circular 300 132 750 80,00
EC-300/10 circular 300 152 800 90,00
EC-370/10 circular 370 197 1200 110,00
EC-450/9 circular 450 220 1650 135,00
* deve ser acrescentada uma taxa de mobilização de R$ 6.000,00 ( 1 US$ = R$ 3,00)

Tabela 5.6 – Características das estacas pré-moldadas de concreto da T&A.


Diâmetro Carga
ou Peso Máxima de Preço*
Ref. Seção Lado (kg/m) Compressão (R$ / metro)
(mm) (kN)
EPH-200 hexagonal 100 65 300 52,00
EPH-280 hexagonal 140 84 500 70,00
EPH-320 hexagonal 160 96 650 88,00
EC-300/8 circular 300 138 800 100,00
EC-350 circular 350 154 900 108,00
EC-400/8 circular 400 201 1150 120,00
EC-400/10 circular 400 236 1400 134,00
EC-500 circular 500 290 1750 168,00
EC-600 circular 600 393 2400 240,00
* deve ser acrescentada uma taxa de mobilização de R$ 6.000,00 ( 1 US$ = R$ 3,00)

Tabela 5.7 – Características dos perfis metálicos.


Tensão de
Perfil Tipo Seção Trabalho a Preço**
Compressão* (R$ / kg)
(MPa)
- Trilhos usados TR25 a TR68 Aba + Boleto 64 0,80 a 0,90
- Açominas Laminado I ou H 175 2,00 a 2,30
- Usiminas Chapas soldadas H 125 ---
* deve ser descontado 1,5 mm por face em contato com o solo (corrosão).
** incluído o frete, mas deve ser somado o custo da cravação, que é da ordem de R$ 25,00
a 40,00 por metro, mais R$ 8.000,00 de mobilização dos equipamentos (1 US$ = R$ 3,00).
Estaca

1m

Trecho
compactado 5m

Figura 5.7 – Estaca tipo Franki com compactação

Tabela 5.8 – Características das estacas tipo Franki.


Diâmetro Volume Carga Máxima Preço da Preço do
(mm) de Base de Compressão Estaca* Melhoramento
(litros) (kN) (R$ / metro) (R$ / metro)
350 180 570 120,00 90,00
400 270 750 133,00 95,00
520 450 1300 145,00 100,00
600 600 1700 160,00 110,00
* deve ser incluída a taxa de mobilização de R$ 6.000,00 (1 US$ = R$ 3,00).

Estacas Hélice Contínua

A estaca hélice contínua é de concreto moldado in loco, executada por meio de trado
contínuo e injeção de concreto fluido através da haste central do trado simultaneamente a
sua retirada. A primeira obra em Recife foi o Banco Central na Rua da Aurora, executada
em 1993. Até o final da Década de 90, foram feitas no Recife apenas grandes obras, onde o
grande número de estacas compensava os custos de mobilização dos equipamentos que
vinham de São Paulo (Fórum na Joana Bezerra, Hospital Português, entre outras).
Desde o ano de 2000, quando foi adquirido por uma empresa local um equipamento da
Cló Zironi, as estacas hélice vêm conquistando uma fatia cada vez maior do mercado.
Atualmente há três equipamentos disponíveis na cidade, com capacidade de até 800 mm de
diâmetro e 22 m de comprimento. A Tabela 5.9 apresenta as características das estacas
hélice contínua.

Estacas Raiz

Essas estacas têm sido usadas em Recife desde o início da Década de 80, como na
ampliação do Estádio do Arruda. Atualmente são usadas normalmente em obras industriais
e de reforço de fundações, tendo em vista o maior custo que os demais tipos de estacas em
obras convencionais. A Tabela 5.10 apresenta as principais características das estacas raiz.
Tabela 5.9 – Características das estacas hélice contínua.
Diâmetro Carga Máxima de Consumo de Preço**
(mm) Compressão Concreto* (R$ / metro)
(kN) (m3 / metro)
350 580 0,115 52,00
400 750 0,151 82,00
500 1300 0,236 122,00
600 1700 0,339 155,00
700 2300 0,462 215,00
800 3000 0,603 260,00
* considerado um sobreconsumo de 20%.
** considerado R$ 250,00 / m3 de concreto (incluindo a bomba), mais R$ 3,00 / kg de aço;
deve ser incluída ainda a taxa de mobilização de R$ 10.000,00 , aluguel de
retroescavadeira por R$ 300,00 / dia, e R$ 40,00 por caçamba de 12 m3 de bota-fora
(1 US$ = R$ 3,00).

Tabela 5.10 – Características das estacas raiz.


Diâmetro Diâmetro Carga Máxima de Preço*
Acabado do Tubo Compressão (R$ / metro)
(mm) (mm) (kN)
200 168 500 100,00
250 220 700 130,00
310 275 1000 150,00
400 355 1500 200,00
* deve ser incluída a taxa de mobilização de R$ 3.000,00 (1 US$ = R$ 3,00).

Orçamento Estimativo

Para efeito de anteprojeto e orçamento estimativo de uma fundação em estacas de um


prédio, o número de estacas (NEST) pode ser estimado admitindo-se a relação entre o
carregamento vertical total do prédio, que pode ser tomado igual a 10 kN/m2 por laje, e a
carga de trabalho da estaca. Esse valor deve ser multiplicado por um fator de correlação (β)
que depende do tipo de estaca e da obra, mas pode ser tomado entre 1,10 e 1,30.

QTOTAL = 10 ⋅ AL ⋅ n (kN) (5.5)

QTOTAL
N EST = ⋅β (5.6)
V ADM

Onde: AL – área da lâmina do prédio (m2); n – número de lajes; VADM – carga de trabalho
da estaca; β - fator de correlação que varia de 1,1 a 1,3.

A partir das tabelas apresentadas anteriormente, pode-se chegar ao orçamento


estimativo do estaqueamento. Já o volume de concreto dos blocos de coroamento pode ser
estimado de modo semelhante ao apresentado para as sapatas, ou seja, o peso dos blocos
pode ser tomado igual a 5% do carregamento vertical total do prédio.
Ressalta-se que deve ser ainda acrescentado o custo do projeto executivo, que varia de
3 a 5 % do custo total da fundação (estaqueamento + blocos de coroamento).
5.1.5. Referências Bibliográficas

ALHEIROS, M.M.; MENEZES, M.F.; FERREIRA, M.G. (1990). “Carta Geotécnica da


Cidade do Recife”, Sub-Área Geologia / Geologia de Engenharia, Relatório Final de
Atividades. FINEP / UFPE, 81 p.
COUTINHO, R.Q. e OLIVEIRA, J.T.R. (1994). “Propriedades Geotécnicas das Argilas
Moles do Recife – Banco de Dados”. X COBRAMSEG, Foz do Iguaçú, Vol. 2, pp.563-
572.
GUSMÃO, A.D. (2000). “Influência da Qualidade de Amostras de Argilas Moles na
Previsão de Recalques de Edifícios”. IV Seminário de Engenharia de Fundações
Especiais e Geotecnia, São Paulo, Vol.1, pp.71-84.
GUSMÃO, A. D.; GUSMÃO FILHO, J. A. e MAIA, G. B. (2000a). “Medições de
Recalque de um Prédio em Recife”. Simpósio Interação Estrutura-Solo em Edifícios,
São Carlos, CD-ROM.
GUSMÃO, A. D.; GUSMÃO FILHO, J. A. e PACHECO, J. L. (2000b). “Interação Solo-
Estrutura em um Edifício com Fundação em Solo Melhorado”. Simpósio Interação
Estrutura-Solo em Edifícios, São Carlos, CD-ROM.
GUSMÃO, A. D.; PACHECO, J. L. e GUSMÃO FILHO, J. A. (2002). “Caracterização
Tecnológica de Estacas de Compactação para Fins de Melhoramento de Terrenos”. 13º
Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica, São Paulo, Vol.
3, pp.1691-1700.
GUSMÃO, A. D. e CALADO Jr., I. H. (2002). “Efeitos da Interação Solo-Estrutura em
uma Edificação com Fundação em Solo Melhorado”. 13º Congresso Brasileiro de
Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica, São Paulo, Vol. 3, pp.1743-1752.
GUSMÃO, A. D.; GUSMÃO FILHO, J. A. e CALADO Jr., I. H. (2003). “Settlement
Monitoring of Buildings – The Experience of Recife, Brazil”. 12th International
Conference on Soil Mechanics and Geotechnical Engineering, Vol.2, pp.2649-2660,
Cambridge.
GUSMÃO FILHO, J. A. e GUSMÃO, A. D. (1990). “Contribuição ao Estudo do
Melhoramento de Terrenos Arenosos”. 9º Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos
e Engenharia de Fundações, Salvador, Vol.2, pp.395-402.
GUSMÃO FILHO, J. A. e GUSMÃO, A. D. (1994). “Estudo de Casos de Fundações em
Terrenos Melhorados”. 10º Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia
de Fundações, Foz do Iguaçu, Vol.1, pp.191-198.
GUSMÃO FILHO, J. A. (1998). “Fundações do Conhecimento Geológico à Prática da
Engenharia”. Editora Universitária, UFPE, Recife.
GUSMÃO FILHO, J. A., GUSMÃO, A. D. e MAIA, G. B. (1998). “Prática de Fundações
na Cidade do Recife: Exemplos de Casos”. 12º Congresso Brasileiro de Mecânica dos
Solos e Engenharia Geotécnica, Brasília, Vol. 3, pp.1415-1422.
GUSMÃO FILHO, J. A., GUSMÃO, A. D. e MAIA, G. B. (1999). “Performance of a
High Building with Superficial Foundation in Recife”. 11th Panamerican Conference on
Soil Mechanics and Foundation Engineering, Foz do Iguaçu, Vol. 3, pp.1563-1569.
GUSMÃO FILHO, J. A. e GUSMÃO, A. D. (2000). “Compaction Piles for Building
Foundation”. International Conference on Geotechnical and Geological Engineering,
Melbourne, CD-ROM.
GUSMÃO FILHO, J. A. e GUSMÃO, A. D. (2002). “Low-Cost Foundation Practice in
Recife, Brazil”. 9th Congress of the International Association for Engineering Geology
and the Environment”, Durban, CD-ROM.
LUNNE, T., BERRE, T. e STRANDVIK, S. (1997). “Sample Disturbance Effects in Soft
Low Plastic Norwegian Clay”. Recent Developments in Soil and Pavement Mechanics,
COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, pp.81-102.
OLIVEIRA. J. T. R., GUSMÃO, A. D. e ARAÚJO, A. G. (2002). “Comportamento
Tensão-Deformação das Fundações de Três Edifícios Monitorados”. 13º Congresso
Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica, São Paulo, Vol. 3, pp.1701-
1711.
PACHECO, J. L. (2002). “Estudo de Técnicas de Melhoramento de Terrenos Superficiais
Arenosos no Recife”. Dissertação de Mestrado, UFPE, Recife, Brasil.
PACHECO, J. L.; GUSMÃO, A. D.; GUSMÃO FILHO, J. A. e AMORIM Jr., W. M.
(2000). “Recalque de Edifícios em Depósitos de Conchas”. IV Seminário de Engenharia
de Fundações Especiais e Geotecnia, São Paulo, Vol. 1, pp.227-237.
PASSOS, P. G. O., BEZERRA, R. L., GUSMÃO, A. D. e CAVALCANTE, E. H. (2002),
“Avaliação da Resistência e Deformabilidade de Solos Melhorados com Estacas de
Areia e Brita”. 13º Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia
Geotécnica, São Paulo, Vol. 3, pp.1679-1689.

Você também pode gostar