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Universidade Federal de Alagoas

Campus do Sertão
Eixo de Tecnologia

Mecânica dos Solos I


Aula 08 –
Estabilização de Solos
Prof. Alexandre Nascimento de Lima

Delmiro Gouveia, maio de 2023.


Introdução
A estabilização de um solo consiste em dotá-lo de condições
de resistir a deformações e ruptura durante o período em que
estiver exercendo funções que exigem essas características,
num pavimento ou outra obra qualquer.
A regra é bastante simples quando se associa a ideia de
estabilização ao desempenho das estradas de terra.
Introdução
As estradas com leito de solo arenoso apresentam superfície
de rolamento razoável durante as chuvas, mas muita poeira
durante o período de estiagem; as estradas com leito
constituído de solo argiloso apresentam superfície de
rolamento razoável durante o período de estiagem, mas muita
lama durante o período de chuva.
Introdução
Se forem misturados em proporções convenientes solo
arenoso e solo argiloso, será possível chegar a um produto que
não oferece poeira nas secas nem lama nas chuvas, ou seja,
um produto estabilizado, um solo estabilizado.
Definições
ESTABILIDADE é um processo, por meio do qual, se
conferem ao solo maior resistência as cargas oriundas dos
veículos rodoviários, ou ao desgaste, por meio da correção da
sua granulometria, da plasticidade ou por meio de adição de
substâncias que darão a massa uma maior coesão proveniente
da cimentação ou aglutinação dos grãos entre si.
ESTABILIZAÇÃO são procedimentos visando à melhoria e
estabilidade de propriedades dos solos (resistência,
deformidade, permeabilidade, etc).
Definições
• Solo estabilizado quando se tem ganho significativo de
resistência com o emprego do aditivo;
• Solo melhorado quando a adição busca melhoria de outras
propriedades (exs.: redução da plasticidade e da expansão e
contração) sem ganho significativo de resistência.
Em pavimentação, ESTABILIZAR UM SOLO é torná-lo
capaz de suportar esforços – oriundos das cargas dos veículos
– sem sofrer deformações ou deslocamentos verticais –
recalque – sob quaisquer condições atmosféricas.
Métodos de estabilização
1) Estabilização Físico-química
É feita através do uso de aditivos que interagem com as
partículas de solo visando melhoria e estabilidade nas
propriedades mecânicas e hidráulicas.
Aditivos Utilizados:
• Cal;
• Cimento;
• Asfaltos ou betumes;
• Produtos químicos industrializados: cloretos, ácidos
fosfóricos, etc.
Métodos de estabilização
1) Estabilização Físico-química
Solo-cal: Reações químicas com a fração fina do solo
(pozolânicas).
Efeito da cal nas propriedades do solo:
- Distribuição granulométrica: agregação do solo;
- Plasticidade: melhora a trabalhabilidade;
- Variação volumétrica: redução da expansibilidade e
aumento do limite de plasticidade;
- Resistência: aumento imediato e continuamente crescente;
Interação argila-água: diminui a absorção de água pela argila.
Métodos de estabilização
1) Estabilização Físico-química
Solo-cal:
Reações:
Carbonatação:
Ca(OH)2 + CO2 → CaCO3 + H2O

Reações pozolânicas:
cal + argila → CaO.SiO2.H2O + CaO.Al2O3.H2O +
CaO.Al2O3.SiO2.H2O
Métodos de estabilização
1) Estabilização Físico-química
Solo-cimento: Ação cimentante do cimento nos grãos do
solo através de reações de hidratação e hidrólise.
Ligações mecânicas e químicas entre o cimento e a superfície
rugosa dos grãos. A cimentação é mais efetiva quanto maior o
número de contatos: solos bem graduados e densos.
Uso: qualquer solo, com exceção daqueles altamente
orgânicos. Solos muito argilosos necessitam de elevados
teores de cimento; dificuldade de homogeneização da mistura
(pré-mistura com cal).
Métodos de estabilização
1) Estabilização Físico-química
Solo-cimento:
Reações:
Hidratação:
cimento + H2O → CaO.SiO2.H2O + Ca(OH)2
Hidrólise:
Ca(OH)2 → Ca++ + 2(OH)-
Ataque alcalino:
Ca++ + 2(OH)- + SiO2 → CaO.SiO2.H2O
Ca++ + 2(OH)- + Al2O3 → CaO.Al2O3.H2O
Métodos de estabilização
1) Estabilização Físico-química
Solo-betume: Feito com o uso de materiais betuminosos
(asfaltos diluídos, emulsões asfálticas e alcatrões) para
estabilização. Ex.: areia-asfalto.

Estabilização com cloretos


Feito através da adição de cloretos de sódio e cálcio
aplicados a solos bem graduados para evitar pó nas estradas
não pavimentadas. Alta capacidade higroscópica dos sais –
mantém o solo umedecido; pouco usado no Brasil.
Métodos de estabilização
2) Estabilização Granulométrica
A estabilização de um solo pode ser conseguida
simplesmente pela adequada distribuição das diversas porções
de diâmetro dos grãos.
Esta distribuição é tal que os vazios dos grãos maiores são
preenchidos pelos grãos médios, e os vazios desses, pelos
miúdos. O conjunto representa um produto de massa
específica aparente superior à dos componentes, o que lhe dá
maior resistência e impermeabilidade, além de exigir, em caso
do uso de algum aglomerante, o mínimo consumo deste.
Solo estável
Entre as características que um solo estabilizado deve
apresentar ressaltam-se a resistência ao cisalhamento e a
resistência à deformação.
A condição de resistência ao cisalhamento deve fazer com
que o solo, quando sujeito às tensões oriundas da passagem
dos veículos, resista, sem romper, a deformações além de
certos limites considerados ainda compatíveis com as
necessidades do tráfego.
Solo estável
Um solo estável deve apresentar uma superfície resistente
aos esforços de cisalhamento ou cortante, de modo que,
quando a carga do veículo atue na massa de solo, o mesmo
sofre uma deflexão dessa massa e não apareça na superfície,
fissuras ou rupturas.
Deve, ainda, apresentar resistência ao desgaste feitos pelas
rodas dos veículos e, apresentar resistência aos agentes
geológicos de superfície (em especial a água), que provoca a
desagregação e remoção de suas partículas ocasionando os
efeitos de erosão.
Objetivo da estabilização granulométrica
Obter uma massa de solo que apresente uma resistência
mecânica inicial satisfatória, definida pela resistência ao
esforço de cisalhamento, permanente ao longo da vida útil do
pavimento.
Na estabilização de um solo é costume denominar:
• agregado do solo à fração retida na # 75 µm;
• fração fina à fração passante na # 75 µm, responsável pelo
atrito interno do solo;
• ligante de solo à fração que passa na # 425 µm, utilizada nos
ensaios de consistência, como o LL e o LP.
Objetivo da estabilização granulométrica
Essa separação em frações, além de dar ideia da distribuição
granulométrica, permite avaliar as duas características
importantes de um solo que podem ser obtidas nos ensaios de
cisalhamento:
• a coesão unitária (c) de um solo, que é conferida a esse
solo principalmente pela porção que passa na # 75 µm;
• ângulo de atrito interno (ø), que é conferido ao solo
predominantemente pela porção retida na # 75 µm.
Objetivo da estabilização granulométrica
A resistência ao cisalhamento é regida pela Lei de Coulomb
cuja expressão é:
𝛿 = 𝜎𝑒 ∙ tan ø + 𝑐
𝛿 = 𝜎𝑡 − 𝑢 ∙ tan ø + 𝑐
Onde:
δ: resistência ao cisalhamento (ou corte);
σe: pressão efetiva normal ao plano de cisalhamento;
σt : pressão total normal ao plano de cisalhamento;
u: pressão neutra (não contribui para a resistência ao
cisalhamento) ou pressão nos poros (ar e água).
Métodos de estabilização granulométrica
• Método algébrico ou analítico;
• Método do triângulo;
• Método gráfico de Rothfuchs.
Métodos de estabilização granulométrica
• Método algébrico ou analítico:
O projeto de misturas recai na resolução de sistemas com
mais equações que incógnitas. Em tais sistemas, em geral não
é possível encontrar uma solução que atenda a todas as
equações simultaneamente.
Procura-se resolver o problema por partes, ou seja, o sistema
de equações completo é subdividido em sistemas menores,
com número de equações igual ao número de incógnitas, e
através da solução de vários sistemas menores busca-se
iterativamente uma solução que atenda à faixa especificada.
Métodos de estabilização granulométrica
• Método algébrico ou analítico:
Métodos de estabilização granulométrica
• Método algébrico ou analítico:
Variáveis de decisão:
fi: fração do material na mistura
Parâmetros:
ci: custo unitário do material (R$/kg);
pi,j: percentual do material que passa na peneira;
Sj: limite superior do percentual que passa na peneira para a
faixa granulométrica desejada.
Ij: limite inferior do percentual que passa na peneira para a
faixa granulométrica desejada.
Métodos de estabilização granulométrica
• Método algébrico ou analítico:
Parâmetros:
LLi: limite de liquidez do material;
IPi: índice de plasticidade do material;
LLmax: limite de liquidez máximo da mistura;
IPmax : índice de plasticidade máximo da mistura;
R#200/#40,max: razão máxima entre o percentual da mistura que
passa na peneira 200 e o percentual da mistura que passa
na peneira 40.
Métodos de estabilização granulométrica
• Método algébrico ou analítico:
Modelo:

Sistema:
Métodos de estabilização granulométrica
• Método algébrico ou analítico:
Sistema:
Métodos de estabilização granulométrica
• Método do triângulo:
Se conhecendo as porcentagens de área e pedregulho, silte e
argila, é possível representar os diferentes solos disponíveis e
aquele referente ao material desejado, pontualmente, em um
gráfico triangular.
A partir desse gráfico, determinam-se os percentuais de cada
solo de modo a reproduzir outro material que atenda às
exigências do material desejado.
Métodos de estabilização granulométrica
• Método do triângulo:

10 90
20
A 80
30 70

-x
40o 60
oss

F in
50 X 50
Gr

o
60 1-y Y 40
70 C 30
x

80 20
90 10
B
10 20 30 40 50 60 70 80 90
Ligante
Métodos de estabilização granulométrica
• Método gráfico de Rothfuchs:
1) Determina-se a curva média da faixa granulométrica
especificada;
2) Traçam-se as curvas de distribuição granulométrica dos
materiais a misturar;
3) Traça-se, para cada material, uma reta, de tal modo que as
áreas S1 e S2, situadas para um e outro lado da reta traçada,
sejam aproximadamente iguais;
Métodos de estabilização granulométrica
• Método gráfico de Rothfuchs:
4) Ligar as extremidades opostas dos segmentos. A
intersecção destes novos segmentos com a reta diagonal
determinam as proporções necessárias dos materiais para a
mistura, lidas nas ordenadas;
5) Prepara-se uma amostra da mistura para verificação se os
parâmetros de plasticidade obedecem as especificações.
Métodos de estabilização granulométrica
• Método gráfico de Rothfuchs:
Exemplo de estabilização físico-química

Colocação do material Abertura das embalagens e


1º espalhamento
Exemplo de estabilização físico-química

Espalhamento mecânico Desagregação de torrões


Exemplo de estabilização físico-química

Outras camadas Irrigação


Exemplo de estabilização físico-química

Rolo compressor
Reforço do subleito
O reforço do subleito é executado normalmente em estruturas
espessas resultantes de fundação de má qualidade ou tráfego
de cargas muito pesadas, ou de ambos os fatores combinados.
Os solos ou outros materiais escolhidos para reforço de
subleito devem atender às condições de resistir às pressões
aplicadas na interface entre a sub-base e o reforço, que são
menores que as pressões aplicadas na interface base/sub-base,
mas que são maiores que as pressões aplicadas na interface
reforço/subleito.
Reforço do subleito
O reforço do subleito é geralmente constituído de um único
solo havendo apenas a exigência de ter um maior CBR e um
menor IG do que o subleito.
No caso de pavimentos rígidos, geralmente essa camada de
reforço é dispensada.
As pressões transmitidas através da placa de concreto
chegam à interface entre a placa e a sub-base bastante
amortecidas. A própria sub-base, nesse caso, tem
funções diversas daquelas relativas aos pavimentos flexíveis
não se computando, entre essas funções, a de resistir e
distribuir esforços verticais.
FIM
alexnlima@gmail.com

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