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Influência do gás sulfídrico, do ferro e de outras substâncias sobre o desempenho e a saúde dos peixes e

camarões
17-abr-2018

A importância de manter adequados valores de oxigênio, pH, alcalinidade, gás carbônico, dureza total,
amônia, nitrito e nitrato nos tanques e viveiros de cultivo de peixes e camarões já foi discutida nessa
sequência de artigos. Neste quarto e último artigo da série “A Água nos Cultivos Aquícolas” será dado
destaque a outros compostos que invariavelmente recebem pouca atenção da parte dos produtores, mas
que podem trazer prejuízos ao desempenho produtivo, à reprodução, à saúde e sobrevivência dos peixes
e camarões.

A água na aquicultura | Parte 4

Por: Fernando Kubitza, Ph.D.


Acqua Imagem Serviços em Aquicultura
fernando@acquaimagem.com.br

O gás sulfídrico (H2S)


Alterações no comportamento e prejuízos ao crescimento, reprodução e sobrevivência em peixes e
camarões podem ser causadas por concentrações subletais de gás sulfídrico. Esse gás tem odor que remete
ao cheiro de ovo podre que comumente sentimos quando passamos por um canal ou rio poluído com
esgoto doméstico, ou mesmo por uma área de mangue. Sentimos também o cheiro do gás sulfídrico na
primeira água descarregada através dos drenos do fundo dos viveiros. O olfato humano consegue sentir o
odor de H2S mesmo a concentrações relativamente baixas, ao redor de 5 ppb (“partes por bilhão” ou
micrograma/l). Cinco ppb de H2S equivale a 5.000 ppm (“parte por milhão”) ou 5 mg de H2S por m3 de
água). A água em contato com o lodo do fundo dos viveiros de cultivo de peixes e camarões pode ter
concentrações de H2S desde zero a 12.000 ppb (ou 12 ppm).
O gás sulfídrico (também chamado sulfeto de hidrogênio – H2S) é formado a partir da decomposição dos
resíduos orgânicos (fezes, sobras de ração, algas mortas, entre outros materiais) em condições anaeróbicas
(ausência de oxigênio). Condições anaeróbicas geralmente ocorrem nas águas mais profundas e no
substrato ou lodo do fundo dos viveiros. Nas fezes dos peixes e camarões há compostos que contêm
enxofre (S), como os aminoácidos sulfurados cistina, cisteína e metionina, além dos sais de sulfatos
usados como suplementos minerais nas rações.
Os íons sulfatos (SO4=) dissolvidos na água também podem ser reduzidos a H2S pelas bactérias
heterotróficas. A água do mar é bastante rica em sulfatos (2.700 mg de sulfatos/l). Sob condições
anaeróbicas as bactérias heterotróficas utilizam os íons sulfatos (SO4=) como fonte de oxigênio,
transformando-os em sulfeto de hidrogênio (H2S). Desse modo, os problemas com intoxicação por gás
sulfídrico são mais comuns nos cultivos com águas marinhas ou estuarinas, do que em cultivos com água
doce. Criadores de camarões marinhos geralmente não monitoram as concentrações de gás sulfídrico na
água. Nos cultivos intensivos, sob altas densidades de estocagem e taxas de alimentação, intoxicações por
H2S causam consideráveis prejuízos econômicos ao produtor, com as perdas de animais por intoxicação
direta, aumento na incidência de doenças e perdas de animais, e redução nos índices de desempenho e de
produtividade do empreendimento.
Não obstante, problemas com H2S também podem ocorrer em cultivos em água doce, especialmente em
viveiros ou açudes mais profundos, onde invariavelmente o substrato ou o lodo do fundo fica desprovido
de oxigênio. Ainda pode haver aumento na concentração de H2S na água após a ocorrência de “morte
súbita do fitoplâncton”. Morte súbita do fitoplâncton é um fenômeno mais comum em viveiros de cultivo
com água doce do que em viveiros com águas marinhas.
Viveiros que receberam aplicações de gesso agrícola (sulfato de cálcio) ou de sulfato de Alumínio
(Al2(SO4)3), para reduzir a turbidez por argila, também podem apresentar elevadas concentrações de
sulfatos na água, que, como já comentado, sob condições de baixo oxigênio (especialmente nos substratos
mais profundos e no lodo), podem ser reduzidos pelas bactérias heterotróficas resultando na formação e
acúmulo de sulfeto de hidrogênio (H2S).
O sulfeto de hidrogênio na água pode ser encontrado em três formas: o gás sulfídrico H2S e os íons HS- e
S=. O H2S é a forma tóxica, pois consegue atravessar as membranas das células branquiais e das demais
células do organismo. Já as formas ionizadas HS- e S= não atravessam a barreira branquial, sendo,
portanto, de baixa toxicidade. O percentual de H2S em relação aos sulfetos totais aumenta com a redução
do pH da água (Tabela 1). A pH 7,0, cerca de 50% dos sulfetos totais estão na forma tóxica H2S. A pH
6,0 praticamente 99% dos sulfetos estão na forma de H2S. A pH 9,0 ou acima, o percentual de H2S em
relação aos sulfetos totais é menor que 1%. Assim, os sulfetos podem trazer mais perigo aos peixes e
camarões em águas com pH 7,0 ou inferior. Valores de pH menores que 7,0, por si só já são prejudiciais
aos camarões marinhos.
Os testes de análises de sulfeto mensuram a concentração de sulfetos totais na água. Dessa forma, para
saber a concentração de H2S é necessário multiplicar a concentração de sulfetos totais pelo percentual de
H2S, de acordo com o pH da água no momento da análise (Tabela 1). Apesar de algumas espécies serem
mais tolerantes ao sulfeto de hidrogênio (como a tilápia de Moçambique e a carpa comum, ver Tabela 2),
concentrações de H2S de 5 a 500 ppb (0,05 a 0,5 ppm) são letais para diversas espécies de peixes e
camarões. A sensibilidade dos peixes e camarões aos íons sulfetos dependem da espécie em particular,
fase de vida, valores de pH, concentrações de oxigênio dissolvido, salinidade, entre outros fatores de
qualidade da água e da condição nutricional e corporal dos animais.
Tabela 1.
Percentual de H2S em relação aos sulfetos totais de acordo com o pH e temperatura da água em água
doce. Em uma água doce de pH 7,0 e temperatura de 28oC 48% (ou 0,48) dos sulfetos totais estão na
forma de H2S. Para água salgada esses fatores devem ser multiplicados por 0,9 (adaptado de Boyd, 2014)

Tabela 2. Concentrações tóxicas de gás sulfídrico (H2S) para algumas espécies de peixes e camarões (ppb
= parte por bilhão ou micrograma/litro

Concentrações subletais e letais de H2S podem ocorrer após um eventual distúrbio dos sedimentos ou da
água em contato com os sedimentos. Ventos fortes (desestratificação dos açudes e viveiros), arrastos de
rede ou mesmo o acionamento súbito de equipamentos de aeração podem promover o revolvimento da
água do fundo dos viveiros. Boyd (2014) sugere que as concentrações de H2S não devam exceder a 2 ppb
nos cultivos em água doce, e 5 ppb nos cultivos marinhos. Esses valores correspondem a 5 a 10% dos
valores de LC50-96h para algumas espécies cultivadas. Alguns especialistas sugerem que as
concentrações de H2S não devem ultrapassar a 10 ppb nos cultivos de camarões marinhos.
A água do fundo dos viveiros pode conter concentrações de H 2S que variam desde 0 a 12.000 ppb. Uma
camada de água de fundo de 10 cm com 6.000 ppb de H 2S, se completamente misturada com o restante da
coluna d’água por algum distúrbio causado por ventos fortes, arrasto de rede, ou por um aerador, pode
elevar para 400 ppb a concentração de H2S na água de um viveiro com profundidade média de 1,50 m.
Para a maioria dos peixes de água doce uma concentração de H 2S de 400 ppb é próxima ou acima dos
limites letais. Para camarões marinhos, essa concentração pode não causar mortalidade direta dos animais
após curta exposição. Porém, reduz a capacidade de defesas contra infecções por víbrios. Estudos
realizados com Litopenaeus vannamei e Marsupenaeus japonicus indicam que camarões
experimentalmente infectados com Vibrio alginolyticus e mantidos em água com 450 a 525 ppb de H 2S
apresentaram maior mortalidade acumulada comparados a camarões mantidos em água com menores
concentrações de H2S.

Figura 1. Kits para determinação da concentração de sulfetos totais na água

Algumas práticas para prevenir problemas com o gás sulfídrico – A manutenção de adequado oxigênio e
a circulação da água é a forma mais efetiva de prevenir a formação e o acúmulo de gás sulfídrico nos
viveiros. Manejo eficiente da alimentação, evitando sobras de ração. Correção da acidez do solo do fundo
dos viveiros, através da calagem. Exposição do solo ao ar após colheitas e drenagens, favorecendo a
decomposição dos resíduos orgânicos (exceto em viveiros de camarões construídos em solos ácidos-
sulfáticos). Monitoramento de rotina do oxigênio dissolvido e das concentrações de H 2S em amostras de
água coletadas do fundo dos viveiros para verificar a necessidade de ajustar o manejo de aeração e
circulação de água, além do controle das taxas de alimentação.

O ferro e seus óxidos


O ferro é um dos mais abundantes elementos encontrados no solo e rochas. Grande parte do ferro presente
no solo está na forma de pirita (FeS2). Em algumas regiões há fontes de água com elevados teores de
ferro. Isso pode prejudicar a incubação e eclosão dos ovos, bem como prejudicar o desenvolvimento e
aumentar a mortalidade de pós-larvas e alevinos, especialmente em águas limpas, desprovidas de
fitoplâncton. Pesquisadores já avaliaram as concentrações de ferro que matam 50% dos peixes em 96
horas (LC50-96h) e concluíram que níveis de ferro na água acima de 30 mg/l podem ser diretamente
letais para peixes de água doce. No entanto, mesmo a concentrações muito menores, da ordem de 0,2 a
0,5 mg/l, podem ocorrer severos problemas advindos da irritação, inflamação e necrose nas brânquias,
provocadas pela deposição de precipitados insolúveis de ferro (oxi-hidróxidos de ferro) entre os
filamentos e as lamelas branquiais, que invariavelmente resultam em necroses e destruição do epitélio
branquial e, invariavelmente, grande mortalidade dos animais. Concentrações de ferro total da ordem de 2
mg/l já são suficientes para exacerbar esses problemas. Para camarões marinhos o ideal seria que a
concentração de ferro na água não ultrapassasse 1 mg/l.
O ferro pode existir na água de duas maneiras: na forma reduzida e solúvel (Fe 2+ íon ferroso), ou na
forma oxidada e insolúvel Fe3+ (íon férrico). Como a água nos cultivos de peixes geralmente contém
adequados níveis de oxigênio, a maior parte do ferro se encontra na forma oxidada e insolúvel Fe 3+. Os
íons Fe3+ por si só são pouco tóxicos aos peixes. Porém, podem formar óxidos (Fe2O3) e oxi-hidróxidos
insolúveis (Fe(OH)63+) que ficam aprisionados nas lamelas branquiais e que causam irritação e
inflamação do epitélio branquial, dificultando a respiração, a excreção de amônia e a osmorregulação dos
peixes. Os íons Fe3+ em contato com as brânquias também favorecem a formação de radicais livres, que
provocam oxidação e destruição dos tecidos branquiais. Em casos extremos, ocorrem lesões no epitélio
branquial, resultando em uma condição chamada de doença das brânquias (“gill disease” no termo em
inglês). Isso acaba favorecendo infeções secundárias por bactérias e, até mesmo, por fungos, causando
severa necrose nas brânquias. A susceptibilidade dos peixes à irritação e inflamação branquial pelos
compostos de Fe3+ varia em função da espécie. No entanto, as pós-larvas em geral, sofrem mais danos do
que juvenis ou peixes adultos.

Como evitar problemas com o excesso de ferro na água?


No caso de águas de poço ricas em ferro para o abastecimento de incubatórios de peixes, é necessário
prover forte aeração para oxidar os íons ferro que poderiam se depositar sobre os ovos ou sobre as
brânquias em formação das pós-larvas, bem como nas brânquias dos micro alevinos (Figura 2). Essa água
aerada deve, em seguida, passar por tanques ou piscinas para que os óxidos de ferro formados se
precipitem e não sejam levados para as incubadoras e tanques onde são mantidas as pós-larvas. No caso
do abastecimento de viveiros (Figura 3) basta deixar a água exposta ao ar por alguns dias e providenciar
aeração caso os níveis de oxigênio estejam baixo. Realizar a calagem, para que a água dos viveiros
apresente pH mais próximo do neutro. A toxidez por ferro geralmente é agravada em águas de pH
menores que 6. Estimular o desenvolvimento do fitoplâncton através de uma adubação inicial também
ajuda a acelerar o processo de formação e precipitação de óxidos de ferro. Há relatos de que a presença de
fitoplâncton e outros compostos orgânicos na água diminui o risco de ocorrência de danos nas brânquias
causados pelo ferro e seus óxidos e oxi-hidróxidos insolúveis.

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Figura 2. Na imagem 1 pode ser observado depósitos de óxido de ferro sobre a membrana de ovos de
dourado já com os embriões em fase avançada de desenvolvimento (foto do autor). Na imagem 2, podem
ser vistas nano partículas de óxido de ferro (Fe2O3) na água (imagem extraída do artigo de Zhu X, Tian S,
Cai Z, 2012. Toxicity Assessment of Iron Oxide Nanoparticles in Zebrafish (Danio rerio) Early Life
Stages). Na imagem 3, pode ser observada a deposição de partículas de óxido de ferro nos filamentos
branquiais e fusão das lamelas branquiais em truta. Na imagem 4, um filamento branquial de aspecto
normal, limpo, sem a presença de partículas de óxido de ferro e sem ocorrência de fusão de lamelas
(imagens extraídas do artigo de Peuaren et al, 1984. The effects of iron, humic acid and low pH on the
gills and physiology of Brook trout, Salmo truta)

Figura 3. Precipitados de hidróxido de ferro nas laterais de um viveiro de produção de alevinos (aspecto
de ferrugem). Viveiro com uma nata de óxido e oxi-hidróxido de ferro na superfície da água. Essa
condição é chamada popularmente de “capa rosa” no Nordeste (fotos do autor)
Alumínio
O alumínio (Al3+) pode ser prejudicial aos peixes, especialmente em águas ácidas e desprovidas de cálcio.
A interação entre alumínio, pH e concentrações de cálcio (dureza cálcica) determinam o risco de
intoxicação por alumínio. Compostos de alumínio são praticamente insolúveis a pH entre 6,0 e 8,0. Porém
a solubilidade desses compostos aumenta bastante em águas muito ácidas (pH < 5,5) ou muito alcalinas
(pH > 9,0). Problemas com alumínio são praticamente inexistentes em cultivos marinhos, devido às
baixas concentrações de alumínio, elevadas concentrações de cálcio e pH entre 8,0 e 8,5 na água do mar.
No entanto, em regiões do Cerrado e em áreas Amazônicas, onde as águas são predominantemente ácidas,
e praticamente desprovidas de cálcio, a presença de alumínio impõe risco aos peixes, especialmente às
fases mais jovens (pós-larvas e micro alevinos). Águas ácidas, mesmo com concentrações muito baixas
de alumínio, podem causar elevada mortalidade de embriões e larvas de peixes nos incubatórios (Tabela
3).

Tabela 3 . Efeito do pH sobre a mortalidade de embriões (ovos olhados) de truta mantidos em água com
dureza < 9 mg CaCO3/l e contendo 0,3 mg de Al3+/l (ou 300 ppb). Adaptado de Hunn et al 1987)

Concentrações tóxicas de alumínio variam em função da espécie de peixe, fase de desenvolvimento e


condições de acidez e concentrações de cálcio na água. Alguns estudos encontraram concentrações letais
para peixes entre 1,5 e 29 mg de alumínio/l (LC50-96h). Especialistas indicam ser seguras as
concentrações de alumínio de até 0,1 mg/l. Concentrações acima de 0,3-0,5 mg/l (300 a 500 ppb) podem
prejudicar o crescimento dos peixes. O alumínio e seus compostos (hidróxidos de alumínio) não são
tóxicos diretamente aos peixes, visto que não ultrapassam a barreira branquial. No entanto, da mesma
forma relatada na doença das brânquias causada pelo ferro, os íons de alumínio (Al 3+) e seus hidróxidos
positivamente carregados (Al (OH)2+; Al (OH)2+) se ligam a receptores nas brânquias dos peixes,
causando danos físicos ao epitélio branquial. Isso prejudica funções importantes das brânquias, como as
trocas de gases (respiração), osmorregulação, excreção de amônia e a regulação do balanço ácido: base no
sangue. Comparado aos íons de ferro (Fe3+) e de manganês (Mn2+), os íons AL3+ apresentam maior fator
de acúmulo nas brânquias dos peixes. A presença de íons cálcio (Ca 2+) na água reduz o acúmulo de
compostos de alumínio no epitélio branquial.
A aplicação de calcário ou cal (calagem) nos viveiros é a prática mais simples e efetiva para minimizar o
risco de problemas com o excesso de alumínio na água. O mesmo vale para fontes de água usadas em
incubatórios, que devem ser armazenadas em viveiros ou tanques de modo que possam ser corrigidas com
calcário ou cal antes de serem usadas nas incubadoras.

Defensivos agrícolas
O Brasil é um país com grande tradição em agricultura. Desse modo, é de se esperar que muitos
empreendimentos de aquicultura estejam circundados por culturas agrícolas (soja, milho, cana, laranja,
feijão, etc.). Uma grande diversidade de herbicidas, inseticidas, fungicidas, reguladores de crescimento,
dessecantes e outros químicos, são regularmente aplicados às culturas agrícolas. Por mais criterioso que
possa ser o uso desses produtos, é muito provável que parte desses defensivos acabem chegando aos
mananciais que abastecem as pisciculturas (através da derivação pelo vento durante a aplicação, da água
de chuva que se infiltra no solo carregando os químicos, enxurradas, ou até mesmo pela inadequada
disposição das embalagens e descuido na limpeza dos equipamentos de pulverização).
Nas Tabelas 4 e 5 são resumidas as concentrações letais de alguns defensivos agrícolas para a Tilápia, o
Tambaqui e o Camarão Marinho. Informações sobre doses letais dos defensivos para os organismos
aquáticos (peixes, camarões, microcrustáceos e mesmo algas) podem ser encontradas na WEB e nas
fichas técnicas ou bulas dos produtos. Com base nos valores de LC50-96 h apresentados nas Tabelas 4 e 5
podemos considerar como seguras as concentrações menores que 10% da LC50-96h (ou 5%, sendo ainda
mais conservador).

Tabela 4. Concentrações letais de alguns defensivos agrícolas avaliadas para o Tambaqui e Tilápia do
Nilo

a) baixa resistência ao manuseio e doenças;Embora seja pouco provável que uma eventual contaminação
das águas atinja concentrações letais próximas das apresentadas nas Tabelas 4 e 5, é possível que os
mananciais hídricos em uma região de intensa produção agrícola já possam conter concentrações subletais
de um ou mais desses químicos. A ocorrência de dois ou mais compostos, mesmo em doses subletais,
pode potencializar o risco de intoxicação dos animais e exacerbar os prejuízos econômicos com a queda
no desempenho e produtividades dos empreendimentos aquícolas. Animais intoxicados por defensivos
agrícolas podem ter a reprodução e crescimento prejudicados e apresentar diversos sinais clínicos, entre
eles:
b) alterações no comportamento (hiperatividade, natação errática, aumento da ventilação branquial,
boquejamento na superfície d’água, letargia, prostração lateral, entre outros);
c) coloração do corpo escurecida;
d) deformidades corporais (na coluna vertebral, opérculo e boca);
e) tumores ou verrugas próximos à boca e cabeça;
f) anomalia e lesões no fígado, coração e outros órgãos internos;
g) alterações na contagem de células sanguíneas.

Tabela 5. Concentrações letais de alguns defensivos agrícolas avaliadas para o camarão marinho
Litopenaeus vannamei

Algumas boas práticas podem ser adotadas para minimizar os riscos e os possíveis impactos dos
defensivos nas pisciculturas que estão circundadas por culturas agrícolas:
a) Adoção de práticas de conservação do solo, como o terraceamento de áreas agrícolas e de estradas
rurais, especialmente para evitar a entrada de água de enxurrada diretamente nos açudes que servem de
reservatórios e nos canais que conduzem a água aos viveiros.
b) Investimento em infraestrutura hidráulica que possibilite o controle do suprimento de água para cada
um dos viveiros individualmente. Adotar sistema de produção com regime de baixa renovação de água.
Evitar renovar água dos viveiros em épocas onde as pulverizações das culturas são mais concentradas e
quando essas são sucedidas por chuvas intensas.
c) Correção da água nos açudes de armazenamento através da calagem, para que os valores de dureza e
alcalinidade total fiquem acima de 30 mg de CaCO3/l. Os íons cálcio, magnésio, bicarbonato e
carbonatos podem amenizar a toxicidade de diversos princípios ativos presentes nos defensivos.
d) Armazenamento dos defensivos agrícolas em local exclusivo e de acesso controlado e permitido
somente a pessoas de confiança.
e) Adequada disposição das embalagens e lavagem dos equipamentos de manipulação e de aplicação de
defensivos. Essas tarefas devem ser atribuídas a pessoas de confiança e adequadamente instruídas para
isso.

Considerações finais
Diversas outras substâncias e elementos presentes na água de cultivo podem vir a influenciar os
resultados produtivos e econômicos dos empreendimentos de aquicultura. Por isso, produtores e técnicos
devem procurar buscar mais informações sobre qualidade da água e investir em equipamentos e kits de
análise que possibilitem monitorar de forma ágil e precisa os parâmetros de qualidade da água. Com este
artigo concluímos a série “A Água nos Cultivos Aquícolas”. Fica aos leitores da Panorama
da AQÜICULTURA, minha mensagem: “Cultivar a água é essencial para produzir peixes e camarões de
forma sustentável”.

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