Os dois artigos anteriores mostraram as limitações e exceções da chamada “regra de Colwell” e, inclusive, o questionamento legítimo sobre se é uma regra ou exceção.
Com relação a João 1:1, que dizer do predicativo nominativo
substantivo anartro theós que precede o verbo e se refere ao Logos (“a Palavra”)? É definido ou não? O que o contexto aponta?
Como já retroexposto, se fosse definido, a ideia seria de que ‘a
Palavra era [o] Deus’. Mas isso não poderia ser, visto que se diz anteriormente, na mesma passagem:
Ho lógos ên prós ton theón
O Logos estava com o Deus
No texto grego, o primeiro substantivo “Deus” é articulado (tem
artigo). Assim, visto que o Logos (“Palavra”, ou “Verbo”) estava com “O Deus”, o Logos não poderia ser “O Deus”. Visto que os próprios trinitaristas reconhecem que o Deus com quem o Verbo estava é o Pai, afirmar que o Verbo era o Deus seria dizer que o Filho é o próprio Pai, algo que nega a própria Trindade!
A Trindade afirma a distinção de Pessoas. Portanto, se o théos
anartro aplicado ao Verbo fosse definido, isso seria um golpe na doutrina da Trindade, contradizendo a fórmula trinitarista. O Pai e o Filho seriam uma só Pessoa que, somada à suposta Pessoa do “Espírito Santo”, resultaria em duas Pessoas, fazendo de Deus uma dualidade, e não uma Trindade.
Mesmo sendo admitida a tradução “o Verbo era Deus” (com inicial
maiúscula), ainda assim tal “Deus” não tem a distinção de ser “O Deus” – expressão usada apenas em relação ao Pai nessa passagem. Isso é um golpe incurável na Trindade, pois ela exige a coigualdade entre as “Pessoas” que a compõem. Mas, como comprovado pelo texto grego de João 1:1, o Pai como Deus é superior ao Filho.
Théos só recebe o artigo em relação ao Logos (o “Verbo”) quando a
passagem acrescenta um adjetivo para explicar que espécie de théos o Logos é. Assim, João 1:18 reza, nos manuscritos mais antigos:
“Nenhum homem jamais viu a Deus; o deus unigênito, que está ao
lado do Pai, é quem O revelou. ”
Assim, o Verbo é descrito como “deus unigênito” (monogenés
theós) – alguém que teve princípio. (Veja a série de artigos “Deus unigênito – um dilema para os trinitaristas”.)
Similarmente, nas Escrituras Hebraicas (“Velho Testamento”), o
Logos é referido como “Deus Poderoso” (hebraico: El Gibor) em Isaías 9:6. Por outro lado, Aquele com quem o Verbo estava no princípio (descrito em João 1:1 como sendo “O Deus”) é descrito na Bíblia como “o Deus Todo-Poderoso” (hebraico: El Shaddai). – Veja Gênesis 17:1.
De modo que, na inteira Bíblia Sagrada, o Logos (“Palavra” ou
“Verbo”) não é coigual ao Pai. E essa ausência de coigualdade aplica um golpe mortal à doutrina da Trindade, tornando-a uma doutrina defunta desde que nasceu, um ‘natimorto’ ou ‘aborto doutrinal’. Fonte: http://www.oapologistadaverdade.org/2017/04/joao-11-e-regra-de- colwell-parte-3.html