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JOÃO 1.1 “... E O VERBO ERA DEUS.”.

Na formação de frases usamos substantivos e verbos. E a relação entre os dois numa


frase pode ser bem diferente, compare:

Frase Número 1: “Um homem fala”, e Frase Número 2: “Ele bate no homem”.

Na primeira frase, o substantivo “homem” é o sujeito, fazendo a ação indicada pelo


verbo (falar); mas na segunda frase, o mesmo substantivo “homem” é objeto, sofrendo a ação
do verbo (bater). Concluímos que substantivos podem servir como sujeito ou objeto.

Mas como distinguir entre estes dois usos, estas duas funções na frase (sujeito e objeto)?
No português usamos a posição das palavras na frase para diferenciá-las, observe:

O sujeito vem antes do verbo: “Um homem fala”.

E o objeto vem depois do verbo: “Fala uma palavra”.

De fato, no português, ordem indica função. Nas frases “O cachorro morde o homem” e
“O homem morde o cachorro”, alterando a posição das palavras na frase o sentido também é
alterado. Ordem indica função (no português).

Todavia, no grego não é utilizada a ordem das palavras para este fim; em vez disso o
grego modifica um pouco a forma da última sílaba do substantivo para indicar a função da
palavra na frase. Essa modificação da forma do substantivo chama-se “declinação”.

λόγ-ος (logós), λόγ-ου (logóy), λόγ-ω (lógô), λόγ-ον (logón). Essas quatro palavras
possuem uma mesma tradução: Palavra. Como você pode observar as três primeiras letras
dessa palavra são idênticas (essa é a raiz da palavra), e o que muda é a terminação, que
chamamos de declinação.

No grego chamamos de “caso nominativo” a declinação que indica o sujeito na frase: ος

A declinação que indica a ideia de possessão chama-se de “caso genitivo”: ου

A declinação que indica a ideia de objeto indireto chama-se de “caso dativo”: ω

A declinação que indica a ideia de objeto direto chama-se de “caso acusativo”: ον

O caso nominativo é o que indica o sujeito. Quando o sujeito rege um verbo de ligação
tal como “é” (um verbo que liga o sujeito a outra coisa), outro substantivo também aparece no
caso nominativo – o predicativo do sujeito. Na frase “João é um homem”, “João” é o sujeito,
e “homem” é o predicativo do sujeito. Em português, o sujeito e o predicativo do sujeito são
distinguidos entre si pela ordem das palavras (o sujeito vem primeiro). Não é assim no grego.
Visto que a ordem das palavras em grego é bastante flexível, e é empregada visando ênfase
mais do que uma função gramatical rigorosa, outros meios são usados para distinguir entre o
sujeito e o predicativo do sujeito. Por exemplo, se um dos dois substantivos tem o artigo
definido, é o sujeito.

Conforme dissemos, a ordem das palavras é empregada especialmente visando o


propósito da ênfase. De modo geral, quando uma palavra é colocada no início da oração, é
para enfatizá-la. Quando um predicativo do sujeito é transportado para antes do verbo, recebe
ênfase em virtude da ordem da palavra. Um bom exemplo desse fato é João 1.1. Nossas
versões têm, tipicamente, “e o Verbo (ou a Palavra) era Deus”. Em grego, no entranto, a
ordem das palavras foi invertida. O texto diz:

και θεος ην ο λογος

e Deus era a palavra

Sabemos que “a Palavra” é o sujeito, porque leva o artigo definido (“ο”) e, por isso,
traduzimos assim: “e a Palavra era Deus”. Duas perguntas, ambas com relevância teológica,
devem vir à mente: (1) por que θεος foi transportado para o início da oração? e (2) por que
está sem artigo? Resumindo, sua posição enfática ressalta sua essência ou qualidade: “O que
Deus era, a Palavra era”. A falta do artigo definido nos impede de identificar a pessoa da
Palavra (Jesus Cristo) com a pessoa de Deus (o Pai). Isso significa que a ordem das palavras
nos diz que Jesus Cristo tem todos os atributos divinos que o Pai possui; a falta do artigo nos
diz que Jesus Cristo não é o Pai. O principal personagem da reforma protestante, Martinho
Lutero, falando sobre esse assunto disse: “a falta de um artigo vai contra o sabelianismo; a
ordem das palavras vai contra o arianismo.”. O sabelianismo é o ensino herético que não faz
distinção entre o Pai, Jesus Cristo e o Espírito Santo. Para eles o Pai, Jesus Cristo e o Espírito
Santo são a mesma pessoa. E o arianismo é o ensino herético que nega a divindade de Jesus.

Para mostrar esse fato de outra maneira, vejamos como seriam interpretadas as
diferentes construções gregas:
και ο λογος ην ο θεος = “e a Palavra era o Deus”. Essa redação estaria dizendo que a
“Palavra” é o “Pai” dando suporte ao sabelianismo, negando a distinção entre a Palavra
(Jesus) e Deus (o Pai).

και ο λογος ην θεος = “e a Palavra era um deus”. Essa redação daria suporte ao
arianismo, negando a divindade plena de Jesus. Os testemunhas de Jeová são a versão
moderna dos arianos.

και θεος ην ο λογος = “e a Palavra era Deus”. Essa é a redação encontrada no Novo
Testamento em Grego. Mostrando que Jesus e o Pai são duas pessoas distintas, e que todos os
atributos que Deus o Pai possui, Jesus Cristo (a Palavra) Possui. Tudo isso é afirmado de
modo conciso em και θεος ην ο λογος .

REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA:

[1] SCHALKWIJK, Francisco Leonardo. Coinê: Pequena gramática do grego


neotestamentário. Minas Gerais: CEIBEL, 2011. p. 10, 12.

[2] MOUNCE, William D. Fundamentos do Grego Bíblico: Livro de Gramática. Editora


Vida. São Paulo: Editora Vida, 2009. p. 37,38

Organizado por: Leandro Mendonça Justino

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