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Ação de Divisão e da Demarcação de terras particulares

Mateus Dantas de Carvalho


Direito Processual Civil III
Parte I “Das disposições gerais”
1. Objeto da Demarcação e da Divisão
– 2.1) Ação de Demarcação: Cabe para o proprietário obrigar o confinante a
extremar os respectivos prédios.
– 2.2) Ação de Divisão: Cabe a ação de divisão para obrigar os demais consortes
a partilhar o bem comum.
– Obs.: Ambos são direito potestativo, não possuem prazo prescricionais para as
demandas ora analisadas.

2. Natureza Dúplice
– É de natureza dúplice, pois, se o réu obtiver resultado favorável, foi isso
resultado que o juiz acolheu seus argumentos contidos na contestação

3. Ação Reivindicatória X Ação Demarcatória X Ação Possessória


– Ação Reivindicatória: Existe exata extensão daquilo que se reivindica, enquanto
na demarcatória essa certeza só é obtida por meio de sentença.
– Ação Possessória: Aqui se discute a posse, enquanto na ação demarcatória se
discute a propriedade, havendo entendimento do STJ que não existe nenhum
empecilho para a ação demarcatória concomitante com uma ação possessória.

4. Cumulação de Pedidos (demarcação e divisão)


– É lícito que o autor cumule num mesmo processo os pedidos de demarcação e
de divisão.
– A demarcação deve ser julgada antes, nessa etapa participarão os confinantes
(vizinhos) e os condôminos (donos da coisa) e uma vez determinada a extensão
da coisa, a divisão será decidida em momento processual do qual participarão
somente os condôminos.
– Como bem anota Daniel Assumpção, não se trata de uma cumulação de pedidos
e sim de uma cumulação de procedimento.

5. Demarcação e Divisão Extrajudicial.


– A demarcação ou Divisão poderão ser realizadas de forma extrajudicial, por
escritura pública.
– Requisitos:
- (a) Maior de Idade
- (b) Capaz
- (c) Concordância de ambas as partes

6. Confinantes como terceiros


– Após o processo de demarcação e fixados os marcos de demarcação, os
confinantes outrora partes da relação jurídica processual, passarão a ser terceiros,
tendo direito a:
- (a) Vindicar os terrenos em que se julguem despojados em virtude de invasão de
linhas limítrofes
- (b) Indenização Pecuniária correspondente ao seu valor (Tutela específica “a
proteção de sua propriedade”, de forma subsidiária a tutela pelo equivalente em
dinheiro)
– Se a ação for proposta antes do trânsito em julgado da sentença homologatória
da divisão, serão citados todos os condôminos e após esse momento todos os
quinhoeiros dos terrenos vindicados.
– Sentença: Em favor dos terceiros confinantes, vale como título executivo judicial
em favor dos quinhoeiros ou dos sucessores a título universal.
– Denunciação da Lide: A melhor doutrina entende que só haverá aplicação desse
dispositivo legal tendo ocorrido a denunciação da lide dos demais condôminos,
hipótese em que não será admissível a formação de título executivo judicial contra
alguém que não participe do processo.

7. Imóvel Georreferenciado
– Georreferenciamento: É o mapeamento de imóveis rurais, de modo que fiquem
claros os vértices de seu perímetro de acordo com o Sistema Geodésico
Brasileiro, com clara definição de seu perímetro, área e posição geográfica.
– Consequência: O juiz pode dispensar a realização de prova pericial em imóvel
georreferenciado.
– Dispensa da Perícia: Entendimento dominante que a dispensa da perícia não é
obrigatória, podendo o juiz determiná-la sempre que surgir dúvidas ou
questionamentos a respeito do georreferenciamento já realizado

Parte II “Demarcação”

8. Petição Inicial
- (a) Documentos Indispensáveis: Os títulos de propriedade
- (b) Narração da causa de pedir: designar-se-á o imóvel pela situação e pela
denominação, descrever-se-ão os limites por constituir, aviventar ou renovar e
nomear-se-ão todos os confinantes da linha demarcanda.

9. Condômino e Demarcação de Imóvel Comum


– Qualquer condômino é parte legítima para promover a demarcação do imóvel
comum, requerendo a intimação dos demais para, querendo, intervir no processo.
Não é necessário a formação de litisconsórcio necessário entre os condôminos.
– Autor: O condômino + Os condôminos terceiros que ingressarem
voluntariamente como assistentes litisconsorciais do autor
– Réu: Os confrontantes do imóvel comum dos condôminos.

10. Forma de Citação


– A citação dos réus será feita por correios.
– Será citado por edital nos casos do art.247 (casos de citação por edital)

11. Contestação
– Prazo: 15 dias
– Reconvenção: Entende a doutrina que não é cabível uma vez essa ação ser de
natureza dúplice. Daniel Amorim entende cabível a reconvenção se o réu
pretender cumular pedido de proteção possessória e de indenização por perdas e
danos.

12. Procedimento Comum


– Esgotado o prazo de defesa do réu, observar-se-á o procedimento comum.

13. Nomeação de Peritos


– Antes da prolação da sentença, o juiz nomeará um ou mais peritos para levantar
o traçado da linha demarcanda.
– Se a demanda tiver um imóvel georreferenciado, o juiz pode dispensar a
realização de prova pericial.

14. Laudo Pericial Requisitos


14.1) Minuciosa indicação do traçado da linha demarcanda considerando:
- (1) Títulos
- (2) Os marcos
- (3) Os rumos
- (4) A fama da vizinhança
- (5) As informações de antigos moradores do lugar
14.2) Prazos
– Indicações de quesitos e assistentes técnicos: 15 dias
– Manifestação das partes sobre o laudo: 15 dias
– Obs.: Apenas fornece informações para o juiz decidir o pedido de demarcação

15. Sentença
– Sentença que julga procedente: Determinará o traçado da linha demarcanda + A
condenação do réu ao pagamento dos honorários advocatícios e custas
processuais.
– Pode também a sentença determinar a restituição da área invadida, se houver,
declarando o domínio ou posse do prejudicado ou ambas.

16. Planta e Memorial


– Caberá ao perito, que já estiverem atuando no processo, efetuar a demarcação
e colocação dos marcos necessários (após o trânsito em julgado da sentença)
– As operações serão realizadas pelo perito serão consignadas em planta e
memoriais descritivos com as referências convenientes para a identificação dos
pontos assinalados.

17. Cadernetas de operações de campo e Memorial descritivo


- Caderneta de operações: É o documento onde o perito deve registrar as
principais informações sobre o imóvel e sua demarcação, respeitando-se dessa
forma o princípio da especialidade, que exige indicações exatas das medidas,
características e confrontações do imóvel.
- Memorial Descritivo: É o documento em que o perito descreve o passo a passo
de suas ações, descrevendo de forma detalhada como foi realizado seu trabalho
de demarcação e colocação dos marcos divisórios.
- A ausência de qualquer deles causa nulidade.

18. Colocação de Marcos


- A colocação dos marcos se dará obrigatoriamente na estação inicial (marco
primordial) e nos vértices dos ângulos, salvo quando em alguns desses últimos
pontos houver acidentes naturais de difícil remoção ou destruição.

19. Exame dos Marcos e Rumos


- Trata-se da possibilidade de ser examinado os marcos e os rumos apresentados
através do memorial descritivo feito pelo perito (agrimensor) para encontrar
alguma divergência ou irregularidade.
- Tem aplicação limitada a pedido fundamentado da parte.

20. Contraditório/Auto de Demarcação


- Concluídos os trabalhos de campo, os peritos apresentarão relatório no processo
cabendo ao juiz intimar as partes para que se manifestem sobre ele no prazo
comum de 15 dias.
- As partes não podem impugnar questões já preclusas, em razão do trânsito em
julgado da sentença.
- É cabível agravo de instrumento da decisão interlocutória que negar a
impugnação de questão proposta pelo autor.

21. Sentença Final


- O procedimento especial da ação de execução de terras tem duas sentenças:
- (a) A primeira: Encerra a fase de conhecimento, fixando os marcos divisórios.
- (b) A segunda: Encerra a fase de execução, homologando o trabalho pericial que
efetiva, no plano prático a primeira sentença.
- Na sentença executiva cabe recurso de apelação sem efeito suspensivo

PARTE III
DA AÇÃO DE DIVISÃO DE TERRAS PARTICULARES

22. Petição Inicial


- Documentos Indispensáveis: Títulos de propriedade do autor.
- Causa de Pedir: (1) A indicação da origem da comunhão e a denominação, a
situação, os limites e as características do imóvel. (2) O nome, estado civil, a
profissão e residência de todos os condôminos (3) As benfeitorias comuns.

23. Citação
- A citação será feita de igual forma da ação de demarcação
24. Perícia
- Objetivo: Medir o imóvel, operações divisão, o perito deverá indicar as vias de
comunicação existentes, as construções e as benfeitorias (indicação de seus
valores) as águas principais que banham o imóvel e quaisquer outras informações
que possam concorrer para facilitar a partilha.
- Poder do Juiz: O juiz pode nomear um ou mais peritos

25. Intimação dos Condôminos


- Prazo: 10 dias para intimação
- Apresentação de títulos e a formulação de pedidos sobre a constituição dos
quinhões.

26. Oitivas das Partes e Impugnações


- Prazo para oitivas: O juiz ouvirá as partes em um prazo comum de 15 dias
- Impugnações: (1) Se não houver impugnações, o juiz determinará a divisão
geodésica do imóvel. (2) Se houver decidirá as questões no prazo de 10 dias.

27. Benfeitorias Permanentes


- As benfeitorias permanentes limitam as constituições dos quinhões, devendo as
mesmas serem respeitadas, junto com o seu respectivo terreno.
- Regras:
- (1) A benfeitoria deve ser permanente
- (2) Constituída a mais de 1 ano
- Consequência:
- Não se computarão na área dividenda.

28. Os vizinhos do imóvel a ser dividido


(1) Dos Direitos
- Os vizinhos terão direito a restituição dos terrenos que lhe tenham sido
usurpados.
- Caso a linha traçada pelo perito invadir a área de confrontantes (vizinhos) eles
poderão, a qualquer momento, propor ação visando à restituição da àrea
usurpada.
(2) Da citação (Legitimidade Passiva)
- Hipótese 1: Sendo proposta durante o processo de divisão, ou seja, antes do
trânsito em julgado da sentença homologatória da divisão haverá litisconsórcio
passivo entre todos os condôminos
- Hipótese 2: Sendo proposta após a extinção do processo ou após o trânsito em
julgado será citado o quinhoeiros do terreno vindicado e sendo mais de um, será
necessária a formação de litisconsórcio passivo.
(3) Em caso de perda do quinhoeiro
- Caso o quinhoeiro perca ação reivindicatória para o vizinho, poderá se valer da
sentença de procedência como título executivo judicial para haver, dos outros
condôminos do processo divisório ou de seu sucessores a titulo universal, a
composição pecuniária proporcional ao desfalque sofrido.
29. Laudo Pericial
- Cabe o perito a elaboração de laudo fundamentado com a divisão do imóvel.
Deve o perito preserva, no limite do possível, a comodidade das partes
adjudicando, de preferências, a cada condômino, terrenos contíguos às suas
residências e benfeitorias e evitar o retalhamento dos quinhões em glebas de
terras.

30. Partilha
- (1) Prazo para manifestação das partes sobre o laudo pericial: 10 dias
- (2) Depois disso o juiz deliberará a partilha, em cumprimento a essa decisão, o
perito procederá à demarcação dos quinhões, em acordo com as seguintes regras:
- 2.1) Com relação as benfeitorias temos as “comuns” e as “particulares”
- (a) As benfeitorias comuns que não comportarem divisão cômoda serão
adjudicadas (dada a propriedade) a um dos condôminos mediante compensação
- (b) As benfeitorias particulares dos condôminos que excederem à área a que
têm direito serão adjudicadas (dada a propriedade) ao quinhoeiro vizinho mediante
reposição.
- 2.2) Com relação as servidões
- instituir-se-ão as servidões que forem indispensáveis em favor de uns quinhões
sobre os outros, incluindo o respectivo valor no orçamento para que, não se
tratando de servidões naturais, seja compensado o condômino aquinhoado com o
prédio serviente.
- As compensações e as reposições serão feitas em dinheiro, salvo se disposto em
contrário pelas partes.

31. Procedimentos Finais


- Depois do término dos trabalhos periciais, e desenhado na planta os quinhões o
perito organizará o memorial descritivo.
- Em seguida o escrivão, em seguida, lavrará o auto de divisão, acompanhado de
uma folha de pagamento para cada condômino.
- 1) Auto Divisão (Elementos)
- 1.1) a confinação e a extensão superficial do imóvel (integralidade)
- 1.2) a classificação das terras com o cálculo das áreas de cada consorte
- 1.3) a respectiva avaliação de cada quinhão, se não for possível a proceder-se-á
a avaliação da integralidade do imóvel.
- 1.4) o valor e a quantidade geométrica que couber a cada condômino,
declarando-se as reduções e as compensações resultantes da diversidade de
valores das glebas componentes de cada quinhão.
- 2) Folha de Pagamento (Elementos)
- 2.1) a descrição das linhas divisórias do quinhão, mencionadas as confinantes
(com outro imóvel)
- 2.2) a relação das benfeitorias e das culturas do próprio quinhoeiro e das que lhe
foram adjudicadas (dada a propriedade) por serem comuns ou mediante
compensação
- 2.3) a declaração das servidões instituídas, especificados os lugares, a extensão
e o modo de exercício.

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