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JESSICA

RA:

REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL

JAGUARIÚNA
2019
REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL

RESUMO
Diante da evolução da sociedade o aumento das atividades criminaispromovidas por
indivíduos que perante o sistema penal não são consideradas responsáveis pelos
seus atos gerou inúmeras discussões sobre a redução da maioridade penal. A
sociedadebrasileira como um todo enfrenta inúmeros problemas com
atividadesilícitas, inclusive juvenis. Sobre a óptica da análise e solução do problema
surgiua proposta da redução da idade penal para dezesseis anos, pois há um
consenso que irá diminuir ou resolver, pelo menos em números percentuais a
gravidade desse problema que afeta a sociedade brasileira. A Constituição Brasileira
como um todo prevê a inimputabilidade dos menores de 18 anos, que acabam
respondendo pelos atos criminais ou infrações penais pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente. Existem inúmeros doutrinadores,pensadores e formadores de opiniões
que promovem discussões sobre o assunto e se de fato diminuirá a criminalidade e
a violência ou atividades criminais praticadas por menores de dezoito anos de idade,
entretanto ocorreque um indivíduo que possui idade completa de dezoito anos
comete um homicídio estará sujeitopelo Artigo 121 do Código Penal Brasileiro ao ser
condenado à uma pena que pode variar de seis a vinte anos de reclusão. Quando o
crime como, por exemplo, um homicídio é cometido por um indivíduo que possui
idade inferior aos dezoito anos, não é considerado crime e sim um ato infracional,
sendo que será de cunho do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei
8.069/90, que irá solicitara medida sócio educativa para o menor prevendo a
privação daliberdade no máximo de três anos, deste modo crê-se que o Estatuto
daCriança e do Adolescente torna-se ineficaz e de baixo critério por demais, que
acaba tonando-se benéfico para os indivíduos que não possuem a maioridade.
Oíndice decriminalidade perpetradas por adolescentes que possuem idade entre
doze e dezoito anos possuem um crescimento exponencial acelerado nos últimos
anos ediante desse fator a sociedade brasileira não aceita que esses menores
infratoressimplesmente por não possuírem dezoito anos continuem sendo
consideradosinimputáveis.
o intuito de verificar qual seria
a opção mais pertinente, sem causar prejuízos à sociedade. Por fim, na conclusão,
demonstra-se que no Brasil não há a mínima condição de se reduzir a idade penal,
pois o sistema carcerário brasileiro é falho, sendo que adotar essa medida implicaria
em punir a vítima. Verifica-se ainda a incapacidade do Estado em não reaver suas
políticas públicas, investindo em medidas pertinentes como educação e combate à
desigualdade social. O método de abordagem do estudo é o dedutivo, com análise
bibliográfica e documental.

Palavras-chave: Redução da Maioridade Penal. Estatuto da Criança e do


Adolescente. Inimputáveis
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 05
2. OBJETIVOS .......................................................................................................... 07
2.1 Objetivo Geral....................................................................................................................................... 07
2.2 Objetivo Específico .............................................................................................. 07
3.0 REVISAO DA LITERATURA .............................................................................. 08
3.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA FAMÍLIA E DO DIREITO SUCESSÓRIO ............ 08
3.2 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E O CÓDIGO CIVIL DE 2002.............10
3.3 CONCEITO ATUAL DE FAMÍLIA ....................................................................... 17
3.4 TIPOS DE FAMÍLIA NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO ............... 18
3.5 UNIÃO POLIAFETIVA E O PRINCÍPIO DA MONOGAMIA................................ 19
3.6 MATRIMONIAL ................................................................................................... 22
3.7 INFORMAL ......................................................................................................... 22
3.8 HOMOAFETIVA .................................................................................................. 23
3.9 MONOPARENTAL24 .......................................................................................... 24
4.0PARENTAL OU ANAPARENTAL ....................................................................... 25
4.1 DA SUCESSÃO .................................................................................................. 25
5.0 CONCLUSÃO .....................................................................................................
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICA
1.0 INTRODUÇÃO

Devido ao crescente aumento da violência no país surgiram inúmeros debates sobre


esse tema tanto por doutrinadores, estudiosos e formadores de opiniões com o
advento do crescimento de mídias sociais, e dentre esses debates e discussões
como promover o aumento da segurançapara a população brasileira, com o intuito
de punir e reprimir a prática criminal além de ressocializar o indivíduo,
Atualmente no Brasil a prática de crimes tornou-se banal e corriqueira devido aos
programas sensacionalistas dos meios de comunicação televisivos, entretanto a
preocupação esta centralizada na presença menores de dezoito anos, que tornou-se
cada vez mais comum, inclusive na prática de crimes hediondos. Devido a
globalização e a própria mudança do perfil do jovem devido ao fato do acesso a
informação e a evolução do ser humano como um todo e a mudança de geração.
Toda sociedade e o Estado possuem a utopia de julgar e condenar esses criminosos
e que de certa maneira paguem pelos seuscrimes, para que se tenha o sentimento
que a justiça foi perpetrada.

Entretanto o Brasil conte com um fator preponderante que contribui para o


crescimento da criminalidade que é a desigualdade social, mas fica evidente que
não é justo aliar a pobreza juntamente com o crime, embora uma pequena parcela
da sociedade e grande parte da mídia televisiva, impressa ou mídias sociais
defendem a falta de oportunidades dessa parcela de baixa renda para o aumento
dacriminalidade, mas associar a pobreza com o crime é uma injustiça.

Devido ao crescimento desordenado dos grandes centros que acabou migrando


para as cidades menores foram formadas comunidades miseráveis que exploram e
beneficiam o crime organizado, entretanto vale ressaltar que nessas comunidades
existem pessoas honestas que não possuem suas atividades na vida do crime e
acabam por serem alvos da violência assim como pessoas que não vivem nessas
comunidades. Entretanto é uma tarefa árdua, pois nessas comunidades existem
governos paralelos que possuem suas próprias leis, e acabam por convocar os
próprios moradores inclusive os adolescentes para o mundo do crime.
Quanto a discussão sobre a redução da maioridade penal são apontados inúmeros
culpados que vão desde ao abandono do Estado, da população e daprópria família,
bem como a própria evolução humana, além da falta de oportunidades, embora o
problema seja claro e evidente a solução incide segundo especialistas e
doutrinadores no ajuste de planejamento familiar, políticas públicas,reformulação
das leis, erradicação da miséria, emprego e essencialmente educação.

Outro fator apontado e a proteção exacerbada do Estatuto da Criança e do


Adolescente de 1990, que se torna absolutamente um álibi para esses menores, isso
devido ao fato que todos possuem o conhecimento exato de certo e errado, além de
possuir conhecimento satisfatório sobre a lei que os protege
de forma ampla exagerada.

Devido ao fato de haver o Estatuto da Criança e Adolescente indivíduos menores de


dezoito anos se tornam presas fáceis nas mãos de criminosos que são livres de
possíveis condenações, graças a introdução de crianças e adolescentes na prática
criminal.

A redução da maioridade penal é assunto que de forma ampla e plena cresceu na


sociedade brasileira, e isso ocorreu, todavia em épocas de eleições de cargos
políticos, pois os candidatos prometemdiminuir ou erradicar a criminalidade, e uma
forma de cativar os eleitores é a redução da maioridade penal, que acabam se
tornando e gerando um dos principais assuntos no Brasil acarretando os debates e
discussões sobre o assunto.

As opiniões contrárias e favoráveis,


podem ser falaciosas, mas ao mesmo tempo pode-nos abrir para uma reflexão se é
ou não possível a redução da maioridade penal no Brasil.
Dessa forma, se fará uma análise da redução da maioridade penal a partir de
uma base doutrinária, conhecida como Doutrina da Proteção integral da Criança e
do adolescente. Ressalta-se que serão expostos, conceitos, definições e históricos
que possibilitarão a noção de institutos jurídicos relacionados com a doutrina e a
maioridade penal.
A análise que será realizada, responderá fundamentadamente como a
doutrina de proteção integral (im) possibilitaria a redução da maioridade penal?
As hipóteses levantadas para se responder a possibilidade da redução da
maioridade penal no Brasil levando em consideração o que disciplina a doutrina da
proteção integral da criança e do adolescente foram

2.0 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

2.2 OBJETIVO ESPECÍFICO


3.0 REVISÃODA LITERATURA

3.1 MAIORIDADE

Nesse capítulo pretende-se delimitar o objeto da pesquisa apresentando sobre a


maioridade penal. É importante apresentar algumas definições e conceitos que
permitem uma maior compreensão e entendimento para análise da maioridade, e
sua redução. Desse modo, é essencial conhecer sobre a imputabilidade penal, pois
a maioridade será desenvolvida a partir dessas definições. Assim, com a definição e
abordagem do tema referente aimputabilidade, apresentaremos os critérios
adotados para aferição, e as formas de imputabilidade adotadas pelo ordenamento
jurídico. Imputabilidade De acordo com conjunto de normas jurídicas do Brasil, os
menores de dezoito anos são penalmente inimputáveis, ou seja, aos indivíduos que
até a data do acontecimento do fato ilícito não possuem dezoito anos. Dessa forma,
a Constituição Federal de 1988 disciplina em seu artigo 228 que “São penalmente
inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação
especial.” (BRASIL,1998) O código penal reproduziu o texto constitucional em seu
Capítulo I, título III, artigo 27, que trata da imputabilidade penal referente a faixa
etária. A imputabilidade além de estar relacionada a faixa etária, também abrange
outros indivíduos, conforme a capacidade intelectual do agente, sendo assim, a
legislação brasileira classifica como inimputáveis aqueles que possuem doença
mental, desenvolvimento mental incompleto ou retardado ou estado de embriaguez
acidental completa como inimputáveis. O ordenamento jurídico pátrio não traz a
conceituação de imputabilidade, por isso, é necessário compreender um pouco
sobre a imputabilidade para alcançar o que o legislador pretendia ao determinar a
maioridade penal a partir dos dezoito anos. Nesse sentido o doutrinador penalista
Fernando Capez define o conceito de imputabilidade da seguinte forma:

[...] O grupo fechado de pessoas, composto dos genitores e filhos, e para


limitados efeitos, outros parentes, unificados pela convivência e comunhão de
afetos, em uma só e mesma economia, sob a mesma direção. [...]1

3
GOMES, O. Direito de Família. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998. p. 33.
Abstendo-se dos conceitos pelos doutrinadores ointento do legislador é definir
a família não apenas como instituição jurídica devendo observar a sua importância
perante a sociedade em diversas formas e variações.

Conforme Lobo (2009, p. 2)2,a visão do direito a família é constituída de dois


pilares associados, os vínculos e os grupos, sendo que existem três vínculos que
podem coexistir ou existir em separados como os vínculos de sangue, vínculos de
direito e vínculos de afetividade, entretanto os vínculos familiares são originados
grupos como grupo conjugal, grupo parental (pais e filhos), grupos secundários
(outros parentes e afins).

Segundo cita Maria Berenice Dias (2016, p. 35).

[...] A família é tanto uma estrutura pública como uma relação


privada, pois identifica o indivíduo como integrante do vínculo familiar e
também como partícipe do contexto social. O direito das famílias, por dizer
respeito a todos os cidadãos, revela-se como o recorte da vida privada que
mais se presta ás expectativas e mais está sujeito á críticas de toda a
sorte.[..].3

É inegável que qualquer ser humano que receba o dom da vida, está ligado
de alguma maneira ao seio familiar, independentemente de condições financeiras,
raça, cor, religião, sendo que a partir do momento que são concebidos e se
encontram no ventre materno, já possuem laços familiares.

Venosa (2003, p. 25) que denota atenção para o fato que:

[..] não se pode conceber nada mais privado, mas profundamente


humano do que a família, em cujo seio o homem nasce, vive, ama,
sofre e morre [..] [5]

Diante desse contexto surge a família como a primeira e principal


configuração de agrupamento humano assegurando que os conceitos e a

2
LÔBO, P. Direito Civil: família. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 2.
3
DIAS, M.B.Manual de direito das famílias: de acordo com o novo CPC. Imprenta: São Paulo, Revista dos
Tribunais, 2016, p. 35.
compreensão do conceito de família diante do ordenamento jurídico evoluem
denotando um tema que sofre mutações com o avanço do tempo.

Para compreensão do tema é necessário buscar a sua fonte, ou seja, como


surgiu e como se configuroutodas as suas inúmeras modificações com o passar dos
anos.

De acordo com Wald (2002p.24, 25)4, é denotado que a evolução dos direitos de
família segue a trajetória da própria família, a tentativa de conservar a estrutura da
sociedade pela materialização do vínculo matrimonial gerou o engessamento do
afeto em um casamento indissolúvel.

3.2 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E O CÓDIGO CIVIL DE 2002

Conforme ensina Gama (2001)5 a Constituição Federal de 1988 exonerou o


tratamento especial ao Direito de Família, resguardando um capítulo disjunto para a
parte do Direito (Capítulo VII do Título VIII), que tolerou densa alteração.
Em sentido oposto aos moldes imperiosos e prelatícios definidos pelo Código
Civil de 1916, a configuração de família inferido do texto constitucional foi
estabelecida em princípios como igualdade, solidariedade e respeito à dignidade da
pessoa humana, fundamentos que são os objetivos do Estado brasileiro.
Segundo Gonçalves (2011),6nova Constituição confirmou normas
prontamente existentes no ordenamento jurídico brasileiro, como a gratuidade do
casamento e a garantia de efeitos civis ao casamento religioso, entretanto inovou ao
distinguir como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher ao
igualar o homem e a mulher na sociedade conjugal.

[..] A Constituição de 1988 realizou enorme progresso na conceituação e


tutela da família. Não aboliu o casamento como forma ideal de
regulamentação, mas também não marginalizou a família natural como
realidade social digna de tutela jurídica. Assim, a família que realiza a
função de célula provém do casamento, como a que resulta da “união
estável entre o homem e a mulher” (art. 226, §3º), assim como a que se

4
WALD, 2002. p. 24-25.
7
GAMA, Guilherme Calmon Nogueira. O companheirismo: Uma espécie de família. 2ª ed. Rev. Atual. E ampl.
São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2001
6
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, volume 6: Direito de Família. 8ª ed. Rev. Atual. São Paulo:
Saraiva, 2011.
estabelece entre “qualquer dos pais e seus descendentes”, pouco
importando a existência, ou não, de casamento entre os genitores (art. 226,
§4º). [..]

Theodoro Júnior, H. apud GOMES, 1998. p. 347.

Ao promover condições de igualdade entre o filho havido por adoção aos


filhos de origem sanguínea e perfilhar como família a união decorrente do
companheirismo, chamada de união estável, a Constituição Federal de 1988 foi o
primeiro ampliador jurídico brasileiro quedistinguiu e igualou o afeto como
mantenedor da família, sem distinção aos laços do casamento ou de sangue.

Em acordo com a Constituição de 1988 foi proclamada a Lei nº 8.971/94que


aparelha sobre o direito dos companheiros a alimentos e a sucessão, e a Lei nº
9.278/96 que regula o artigo 226, §3º da Constituição Federal, que versa da união
estável, sendo abonados às relações cultivadas sem o ato pomposo do casamento
os direitos avalizados pelo texto constitucional.

As normas constitucionais que dispõem sobre a família foram regulamentadas


pela legislação infraconstitucional com a promulgação da Lei nº 10.406, de
10/01/2002, o atual Código Civil.

O Código Civil de 2002 buscou adaptar-se à evolução social e aos bons


costumes incorporando as mudanças legislativas sobrevindas nas últimas décadas
do século passado. As alterações introduzidas propendem preservaçãoda coesão
familiar e os valores culturais, conferindo-se à família moderna um tratamento mais
consentâneo à realidade social, atendendo às necessidades da prole e de afeição
entre os cônjuges ou companheiros e aos elevados interesses da
sociedade.(THEODORO JÚNIOR, H. apud GOMES, 1998. p. 34.)8

Rege-se o novo direito de família pelos seguintes princípios:

a) Princípio do respeito à dignidade da pessoa humana, como decorrência do


disposto no art. 1º, III, da Constituição Federal.

7
THEODORO JÚNIOR, H. apud GOMES, 1998. p. 34.
8
Ibid, p. 34.
Verifica-se, com efeito, do exame do texto constitucional;

[..] a milenar proteção da família como instituição, unidade de produção e


reprodução dos valores culturais, éticos, religiosos e econômicos, dá lugar à
tutela essencialmente funcionalizada à dignidade de seus membros, em
particular no que concerne ao desenvolvimento da personalidade dos filhos
[..]9

De outra forma aduz

[...] “não se consegue explicar a proteção constitucional às entidades


familiares não fundadas no casamento conforme (art. 226, § 3º); e às famílias
monoparentais (art. 226, § 4º); a igualdade de direitos entre homem e mulher na
sociedade conjugal (art. 226, § 5º); a garantia da possibilidade de dissolução da
sociedade conjugal independentemente de culpa (art. 226, § 6º); o planejamento
familiar voltado para os princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade
responsável (art. 226, § 7º) e a previsão de ostensiva intervenção estatal no núcleo
familiar no sentido de proteger seus integrantes e coibir a violência doméstica (art.
226, § 8º).[...].10

O direito de família é o mais humano de todos os ramos do direito, em razão


disso, e pelo sentido ideológico e histórico de exclusões, como leciona Pereira(2004,
p. 34).11

[...] é que se torna imperativo pensar o Direito de Família na


contemporaneidade com a ajuda e pelo ângulo dos Direitos Humanos, cuja
base e ingredientes estão, também, diretamente relacionados à noção de
cidadania.[...]

9
PEREIRA, R. C. Da união estável. _________; DIAS, M. B.; (Coord.). Direito de Família e o novo Código Civil. 2.
ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2002. p. 230.
10
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Concubinato e União Estável.7. ed., rev. e atual. Belo Horizonte: Del Rey, 2004.
11
Ibid . p. 35
A evolução do conhecimento científico, os movimentos políticos e sociais do
século vinte e o fenômeno da globalização acenderam mudanças profundas na
estrutura da família e nos ordenamentos jurídicos de todo o mundo, acrescenta o
mencionado autor, que ainda enfatiza:

[..]“Todas essas mudanças trouxeram novos ideais, provocaram um ‘declínio


do patriarcalismo’ e lançaram as bases de sustentação e compreensão dos Direitos
Humanos, a partir da noção da dignidade da pessoa humana, hoje insculpida em
quase todas as constituições democráticas”[..]

Pereira (2004, p. 230).12

O princípio do respeito à dignidade da pessoa humana constitui, assim, base


da comunidade familiar afiançando o pleno desenvolvimento e a realização de todos
os seus membros, principalmente da criança e do adolescente (CF, art. 227).
Princípio da igualdade jurídica dos cônjuges e dos companheiros, no que tange aos
seus direitos e deveres, estabelecido no art. 226, § 5º, da Constituição Federal,“Os
direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo
homem e pela mulher”.

A regulamentação instituída no aludido dispositivo acaba com o poder marital


e com o sistema de encapsulamento da mulher, restrita a tarefas domésticas e à
procriação. O patriarcalismo não mais se coaduna, efetivamente, com a época atual,
em que grande parte dos avanços tecnológicos e sociais está diretamente vinculada
às funções da mulher na família e referenda a evolução moderna, confirmando
verdadeira revolução no campo social.

O art. 233 do Código Civil de 1916 proclamava que o marido desenvolviao


papel de chefe da sociedade conjugal, competindo-lhe a administração dos bens
comuns e particulares da mulher, o direito de fixar o domicílio da família e o dever de
prover à manutenção desta.

12
PEREIRA, R. C. Da união estável. _________; DIAS, M. B.; (Coord.). Direito de Família e o novo Código Civil. 2.
ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2002. p. 230.
Esses direitos são agora obrigatoriamente exercidos pelo casal em sistema
de cogestão, devendo as divergências ser solucionadas pelo juiz (CC art. 1.567,
parágrafo único). O dever de prover à manutenção da família deixou de ser um
encargo do marido, incumbido à mulher de acordo com as possibilidades de cada
qual (art. 1.568).

O diploma de 1916 versavaos direitos e deveres do marido e da mulher em


capítulos distintos, poisexistiamdiferenças, e em virtude da isonomia instituída no
dispositivo constitucional retrotranscrito, o novo Código Civil disciplinou somente os
direitos de ambos os cônjuges, afastando as referidas diferenças; c) Princípio da
igualdade jurídica de todos os filhos, consubstanciado no art. 227, § 6º, da
Constituição Federal, que assim dispõe:

[..] Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão


os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações
discriminatórias relativas à filiação” [..]

O dispositivo em apreço estabeleceu absoluta igualdade entre todos os filhos,


não admitindo a retrógrada distinção entre filiação legítima ou ilegítima, segundo os
pais fossem casados ou não, e adotiva, que existia no Código Civil de 1916.

Atualmente todos são apenas filhos, mesmo fora do casamento, outros em


sua constância, entretanto com iguais direitos e qualificações (CC artigos. 1.596 a
1.629).

O princípio ora em estudo não admite distinção entre filhos legítimos, naturais
e adotivos, quanto ao nome, poder familiar, alimentos e sucessão; permite o
reconhecimento, a qualquer tempo, de filhos havidos fora do casamento; proíbe que
conste no assento do nascimento qualquer referência à filiação ilegítima; e veda
designações discriminatórias relativas à filiação; d) Princípio da paternidade
responsável e planejamento familiar.
Dispõe o art. 226, § 7º, da Constituição Federal que o planejamento familiar é
livre decisão do casal, fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da
paternidade responsável.

Essa responsabilidade é de ambos os genitores, cônjuges ou companheiros.


A Lei n. 9.253/96 regulamentou o assunto, especialmente no tocante à
responsabilidade do Poder Público.

O Código Civil de 2002, no art. 1.565, delineou algumas diretrizes,


proclamando que “o planejamento familiar é de livre decisão do casal” e que é
“vedado qualquer tipo de coerção por parte de instituições públicas e privadas”; e)
Princípio da comunhão plena de vida baseada na afeição entre os cônjuges ou
conviventes, como prevê o art. 1.511 do Código Civil. 13

Esse dispositivo possui relação com o aspecto espiritual do casamento e com


o companheirismo que nele deve existir, priorizada, assim, a convivência familiar,
ora nos defrontamos com o grupo fundado no casamento ou no companheirismo,
ora com a família monoparental sujeita aos mesmos deveres e tendo os mesmos
direitos.

O Estatuto da Criança e do Adolescente outorgouos direitos à família


substituta, os novos rumos geremà família sócio afetiva, prevalecendo os laços de
afetividade sobre os elementos meramente formais.

Nessa linha, a dissolução da sociedade conjugal pelo divórcio tende a ser


uma consequência da extinção da afectio, e não da culpa de qualquer dos cônjuges.
O princípio ora comentado é reforçado pelo art. 1.513 do Código Civil, que veda a
qualquer pessoa jurídica, seja ela de direito público ou de direito privado, a
interferência na comunhão de vida instituída pela família.

A liberdade atrelada a comunhão da vida familiar, seja pelo casamento, seja


pela união estável, sem qualquer imposição ou restrição de pessoa jurídica de direito
público ou privado, como dispõe o supramencionado art. 1.513 do Código Civil.

13
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves, 1934 – O poder constituinte / Manoel Gonçalves Ferreira Filho. – 5. Ed.
Rev. – São Paulo: Saraiva, 2007.
O princípio abrange a livre decisão do casal no planejamento familiar (CC, art.
1.565), intervindo o Estado apenas para propiciar recursos educacionais e científicos
ao exercício desse direito (CF, art. 226, § 7 º).

A livre aquisição e administração do patrimônio familiar (CC, art. 1.642 e


1.643) e opção pelo regime de bens mais conveniente (art. 1.639); a liberdade de
escolha pelo modelo de formação educacional, cultural e religiosa da prole (art.
1.634); e a livre conduta, respeitando-se a integridade físico-psíquica e moral dos
componentes da família.

O reconhecimento da união estável como entidade familiar, instituído pela


Constituição de 1988 no art. 226, § 3º, retrotranscrito, e sua regulamentação pelo
novo Código Civil possibilitam essa opção aos casais que pretendem estabelecer
uma comunhão de vida baseada no relacionamento afetivo. 14

A aludida Carta Magna ampliou o conceito de família passando a integrá-lo as


relações monoparentais, de um pai com seus filhos, esse redimensionamento,
“calcado na realidade que se impôs”, acabou afastando da ideia de família o
pressuposto de casamento.

Para sua configuração, deixou-se de exigir a necessidade de existência de


um par, o que, consequentemente, subtraiu de sua finalidade a proliferação.
Gonçalves, Carlos Roberto Direito civil brasileiro.

O modelo conservador e patriarcal foi desastroso e sofreu um severo golpe


quando as uniões extramatrimoniais passaram a desempenhar significativo papel
social, o que ensejou o rompimento de alguns paradigmas.

Emerge agora novo conceito de família, que tem como elemento identificador
a afetividade, aexpansão do conceito de família para além do casamento permitiu o
reconhecimento de outras entidades familiares.
Com isso as uniões de pessoas do mesmo sexo, as chamadas uniões homo
afetivas buscaram inserção no âmbito do Direito das famílias.

14
FERRAZ, Anna Cândida da Cunha. Processos informais de mudança da Constituição: mutações constitucionais
e mutações inconstitucionais. SãoPaulo: Max Limonad, 1986.
Conforme ensina COULANGES (2006).15

[..] No direito romano a família era organizada sob o princípio da autoridade.


O pater famílias exercia sobre os filhos direito de vida e de morte (ius vitae
acnecis). Podia desse modo, vendê-los, impor-lhes castigos e penas
corporais e até mesmo tirar-lhes a vida. A mulher era totalmente
subordinada à autoridade marital e podia ser repudiada por ato unilateral do
marido. [..]

3.3 O CONCEITO ATUAL DE FAMÍLIA

Há alguns anos poderia parecer loucura discutir a respeito do “conceito atual


de família”, porém com a constante evolução que nos rodeia, hoje não
faltaargumentos e muito menos dispositivos legais que o façam ser totalmente livre.

Segundo Dias (2009, p.69).16

Difícil encontrar uma definição defamília de forma a dimensionar o que,


nocontexto dos dias de hoje, se insere nesse conceito. Sempre vem a
mente a imagem da família patriarcal: o homem como figura central, tendo a
esposa ao lado, rodeado de filhos, genros, noras e netos. Essa visão
hierarquizada da família sofreu enormes transformações [...].

Pode se afirmar que quando a Constituição Federal de 1988 entrou em vigor,


ocorreu uma total revolução do direito e conceito de família.
De acordo comBrasil (2002)17, a Constituição Federal de 1988 “absorveu essa
transformação e adotou uma nova ordem de valores, privilegiando a dignidade da
pessoa humana, realizando verdadeira revolução no Direito de Família, a partir de
três eixos básicos”.

Assim, o art. 226 denota que “a entidade familiar é plural e não mais singular,
tendo várias formas de constituição”.

15
COULANGES, Fustel de. A cidade antiga: estudos sobre o culto, o direito, as instituições da Grécia e de Roma.
Tradução de Cretella Jr. J. E Agnes Cretella. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003.
16
DIAS, 2009. p. 69.
17
BRASIL. Constituição da Republica Federativa do Brasil.
O segundo eixo transformador “encontra-se no § 6º do art. 227. É a alteração
do sistema de filiação, de sorte a proibir designações discriminatórias decorrentes do
fato de ter a concepção ocorrida dentro ou fora do casamento”. A terceira grande
revolução situa-se “no artigo 5º, inciso I, e 226, § 5º.

Ao consagrar o princípio da igualdade entre homens e mulheres, derrogou


mais de uma centena de artigos do Código Civil de 1916, e a partir desse contexto e
do que fora exposto sobre o atual conceito de família, nos próximos tópicos veremos
alguns tipos de família que foram ganhando espaço não só na sociedade como
também ganhando grande força no ordenamento jurídico atual. (LOBO, 2006, p. 51).

3.4 TIPOS DE FAMÍLIA NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

Conforme Dia (2006, p.53)a família é uma das instituições mais importantes
da sociedade e ao longo dos anos passou por diferentes transformações e
evoluções, e com isso o Ordenamento Jurídico brasileiro incidiu o reconhecimento
de novas configurações de famílias a partir da vigência da Constituição Federal de
1988, que ampliou o conceito de família que se mantinha restrito aos moldes do
casamento, passando a tutelar e abonando a proteção às demais formas de
manifestação, entre elas a união estável, a família monoparental, as famílias
recompostas ehomoafetivas 18

Entretanto Del Olmo (2006, p. 54) o princípio de empregar o tema “tipos’’ de


famílias é demasiadamente estranho, mas não se leva em consideração que cada
família possui suas manias e tradições, mas sim asua estrutura organizacional e a
sua composição.

Observando as novas configurações de família deve-se embasar nos


princípios da afetividade e da pluralidade, ante a complexidade e multiplicidade dos
vínculos entre os relacionados, que fundam a convivência no afeto, mesmo que de
forma simultânea.

18
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito de Famílias. 3. Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006.
Conforme preceitua Dias (2010, p. 44)19, “a manutenção da família visa,
sobretudo, buscar a felicidade”, e desde a vigoração da Constituição Federal de
1988, foram reconhecidas outras formas de família, diferente do modelo, fica óbvio
que antes desse reconhecimento esses tipos de família já eram constituídos, porém,
com o advento da Constituição de 1988essas famílias sobrevieram a ser
juridicamente reconhecidas tendo os seus direitos resguardados por lei.

3.5UNIÃO POLIAFETIVA E O PRINCÍPIO DAMONOGAMIA

O conceito de união poliafetiva aborda o relacionamento entre três ou mais


pessoas que, independentemente de sexo ou sexualidade quese relacionam de
modo contíguo em uma interação recíprocadesenvolvendo um único vínculo
afetivo, com a intenção de constituir uma família.
Conforme Gomes (1998)20, na experiência brasileira foi
encontradodiversos casos de relacionamentos buscando amparo legal e por meio
dessas experiências pessoais de convivências poliafetivassão plausíveisdistinguir
na prática que, a despeito de versar de umfeitio derelacionamento não
contextuado no típico “padrão” brasileiro estabelecido pelos dogmas religiosos e
a sociedade, os requisitos de afetividade,estabilidade e ostensibilidadedeparam-
se devidamentepreenchidos.
Observa-se que a “estruturação psíquica”, nas proporções que se
identificam todos como parte de uma unidade de um só relacionamento,ou seja,
de uma família.
Como define Paulo Iotti (2016)21 ao afirmar que “a união estávelpoliafetiva
se enquadra no conceito ontológico de família e deve ser assimreconhecida” 78.
Num exercício do direito de liberdade constitucionalmente garantidoà estas
pessoas, decidiram elas por constituir uma forma de relacionamento que, aoseu

19
DIAS, M.B.Manual de direito das famílias: de acordo com o novo CPC. Imprenta: São Paulo, Revista dos
Tribunais, 2016
20
GOMES, O. Direito de Família. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998.
21
VECCHIATTI, Paulo Roberto Iotti. UNIÃO POLIAFETIVA COMO ENTIDADE FAMILIAR CONSTITUCIONALMENTE
PROTEGIDA. Revista Libertas, Ouro Preto, v. 2, n. 2, p.2-30
entender, lhes proporcionaria a dignidade e felicidade que todos os
sereshumanos objetivam alcançar em suas vidas.
Em consideração à “repersonalização do direito de família”, pela a
primaziado princípio da dignidade humana, da liberdade e o reconhecimento
doutrinário dopluralismo dos entes familiares, pode-se afirmar estarem abarcadas
pelo caput doart. 226 da CF/88 as uniões poliafetivas.

EnsinaVecchiatti(2016, p. 30)22

[..] “Em suma evoluímos jurídico-socialmente de um modelo hierárquico,


patriarcal, heterossexista e excludente de família juridicamente protegida para
consagrar o princípio da pluralidade de entidades familiares, protegendo-se
constitucionalmente todo agrupamento humano que se enquadre no conceito
ontológico de família, a saber, a união de pessoas pautada no amor familiar,
o amor que vise a uma comunhão plena de vida e interesses, de forma
pública, contínua e duradoura. Nesse sentido,entendemos que a união
poliafetiva se enquadra no conceito ontológicoconstitucional de família e deve
ser assim reconhecida e protegida” [..]

Conforme ainda Vecchiatti(2016, p. 30)23não háunanimidade em relação ao


posicionamento da probabilidade deconsideração das uniões poliafetivas enquanto
entidades familiares, sobre opluralismo familiar célebre pela CF/88, que resguarda
que as múltiplas naturezasdefamília distintas e acasteladas na atualidade não
estabelecemembasamentosatisfatório para viabilizar aimportância de uniões que
não pertencesse ao padrãomonogâmico.

Ao longo de muitas décadas a única e exclusiva entidade familiar reconhecida


pelo clero àlegislação pátria era o casamento monogâmico, mas, entretanto a partir
da premissa e os princípios lógicosque foi embasada na Constituição de 1988, a nova

22
VECCHIATTI, Paulo Roberto Iotti. UNIÃO POLIAFETIVA COMO ENTIDADE FAMILIAR CONSTITUCIONALMENTE
PROTEGIDA. Revista Libertas, Ouro Preto, v. 2, n. 2, p.2-30.
23
Ibid
roupagem axiológica imposta ao Direitode Família foi questionado o “princípio” da
monogamia, confrontando emdireta oposição ao princípio da dignidade.

Sob essa visão Lôbo (2006, p.247)24 afirma que ao perder a qualidade de
princípio geral do direito de família com o fim da exclusividade da família
matrimonial, a monogamia persiste somente como um “princípio específico”,
aplicável apenas à entidade familiar constituída mediante casamento .

Entretanto que não se trata não se trata a monogamia como um princípio, mas sim
umaregra justaposta restritamente à vedação de
multíplicesinclusõesmatrimonializadas.

Porém isso não significa negar à monogamia esse papel nasociedade


brasileira, ou seja, a distinção entre o que denomina de“princípio social da
monogamia” do “princípio jurídico da monogamia”.
É de suma importância ressaltar que a decorrente alvedrio das pessoas e
credos religiosos dos inúmeros grupos/entidades que possuem suas convicções,
acastelam e estabelecemdeterminadas condutas, entretanto em contra partidao
segundo concebeà monogamia a forçanormativa cogente no âmbito do ordenamento
jurídico.
A monogamiacomo “princípio social” é cabívelsendo impraticável a
contençãoda monogamiaenquanto princípio jurídico vigente no sistema
constitucional instaurado pela CF/88.

Tal diferenciação é cruciforme para o doutrinador, pois no andamento em que


amonogamia é assumida como princípio jurídico pelos órgãos julgadores, impõem-
seobstáculos para a efetivação da justiça, condenando-se à invisibilidade jurídica
famílias que, socialmente, são distinguidas e versadas como tais, além de
discriminar indivíduos, notadamente a mulher nas analogias de concubinato.
Após a divulgação da Constituição de 1988 restou determinadoproblema no contexto
jurídico, ou seja, identificar a natureza de construção jurídica ehistórica da
monogamia, passível de ser reavaliada.

24
LÔBO, Paulo Luis Neto. A Repersonalização das Relações de Família. In: DEL’OLMO, Florisbal de Souza;
ARAÚJO, Luís Ivani de Amorim (coords.). Direito de Família Contemporânea e Novos Direito: Estudo em
homenagem ao Professor José Russo. Rio de Janeiro: Forense, 2006
Conforme crítica Diniz (2005)25, a boa parte dos manuais de Direito Civil
tendem a apresentar amonogamia como um pressuposto, um dado, a partir do qual
se geramdesdobramentos na lei em tese chamada “Da superação da monogamia
como princípio estruturantedo estatuto jurídico da família”.

3.6 MATRIMONIAL

Segundo Matos (2008)26, esse conceito de família matrimonial seria o modelo


“ideal’’ na sociedade há alguns anos, entretanto, a família possui configurações além
dos simples conceitos e regras impostas por determinados grupos, como sociedade
e clero”.
A família matrimonial possui está embasada no casamento como ato formal,
sendo o tipo de família clássica, ou seja, que é decorrida do casamento e ambos os
cônjuges não possuem qualquer tipo de impedimento para oficializar essa união.
Conforme Dias (2006)27, “A principal finalidade do casamento é estabelecer
uma comunhão plena de vida com prevê o artigo 1511 do Código Civil, oriundo do
amor do casal, baseado na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges e na mútua
assistência”, sendo os demais objetivos que normalmente se atribui ao casamento
secundário não essencial como a procriação ou a satisfação sexual.

3.7 INFORMAL

Segundo Farias (2002),28 essa configuração de família é comum atualmente,


as pessoas com o passar do tempo adotaram esse tipo de família denominada de
união estável. (Define-se união estável, a luz do artigo 1723 do código Civil, como a
entidade familiar entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública,
contínua e duradoura, e estabelecida com o objetivo de constituição da família).

Esse fator se deve a uma gama variada de fatores que entre eles destaca-se
a condição sócia econômica e os preconceitos de uma sociedade arcaica e

25
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. V. V, Direito de Família. 20. Ed. São Paulo: Saraiva, 2005
26
MATOS, Ana Clara Harmatiuk. “Novas” entidades familiares e seus efeitos jurídicos. In: Família e
Solidariedade:Teoria e Prática do Direito de Família. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2008
27
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito de Famílias. 3. Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006
28
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direito das Famílias. 2ª ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris,
2010
retrógrada, no cenário nacional essa união tornou-se uma alternativa rápida e
simples, sem o prejuízo de que se uma das pessoas viesse a faltar à outra não teria
nenhum direito sobre os bens do de cujus.

Segundo Maria Berenice Dias (2009)29

[..] O Código Civil impõe requisitos para o reconhecimento da união


estável, gera deveres e cria direitos aos conviventes. Assegura
alimentos, estabelece o regime de bens e garante ao sobrevivente
direito sucessório[..].

Por meio do entendimento atual os companheiros (que é a denominação


recebida pela compactuaçãodesse tipo de união), possui os mesmos direitos de
quem é casado. Diante de todos os direitos resguardados por esse tipo de
união,este se se tornou um instituto comum aderido para quem queira constituir esse
tipo de família.

3.8HOMOAFETIVA

Conforme Rios (2002, p. 21-61)30 relação homo afetiva é a configuração de


família mais discriminada que sofre preconceitos atualmente,ou seja, o termo
homossexual possui origem grega onde o prefixo homo denomina o significado de
semelhante entretanto o vocábulo foi instituído para denominar o interesse por
pessoa do mesmo sexo, embora isso possua contexto histórico, poisgrandes
personalidades como Leonardo da Vinci, Michelangelo possuíam essas relações
com seus aprendizes.

Nas lições valiosas deDias (2008)31,“A sexualidade integra a própria condição


humana, é um direito fundamental que acompanha o ser humano desde o seu
nascimento, pois decorre de sua própria natureza”. Como direito do indivíduo, é um

29
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito da Famílias. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009
30
RIOS, ROGER RAUPP. O princípio da igualdade e a discriminação por orientação sexual: a homossexualidade
no direito brasileiro e norte americano. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p. 21-61.
31
DIAS. Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 8. Edição. Revista, atualizada e ampliada. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2011.
direito natural, inalienável e imprescritível, ninguém pode realizar-se como ser
humano se não tiver asseverado o respeito ao exercício da sexualidade, conceito
que compreende a liberdade sexual e a liberdade da livre orientação sexual.

O direito a tratamento igualitário independe da tendência sexual. A


sexualidade é um elemento integrante da própria natureza humana e possui
abrangência para a dignidade humana.
Todo ser humano possui o direito de exigir respeito ao livre exercício da
sexualidade. “Sem liberdade sexual, o indivíduo não se realiza, tal como ocorre
quando lhe falta qualquer outro direito fundamental”.

Segundo Dias (2016, p.142)32.

[...] As inúmeras decisões judiciais atribuindo consequências jurídicas a


essas relações levou o Supremo Tribunal Federal a reconhecê-las como
união estável, com iguais direitos e deveres. A partir desta decisão passou a
Justiça a admitir a conversão da união homoafetiva em casamento.[...]

3.9 MONOPARENTALIDADE

Segundo Leite (1997),33 Monoparentalidade é uma constituição familiar que


partedaincidência de hegemonia daconfiguração familiar tradicional, pois, denota em
sua estrutura a inexistência do relacionamento conjugal atual, entretanto possui a
sua configuração em um grupo familiar de mães ou pais solteiros que avocam
encargos de ser mantenedor da prole.
O termo “família monoparental” se originou na França em um estudo em 1981
pelo Instituto Nacional de Estatística e de Estudos Econômicos (INSEE) 34,
atualmente a Monoparentalidade possuireconhecimento e aceitaçãoem todo

32
DIAS, M.B.Manual de direito das famílias: de acordo com o novo CPC. Imprenta: São Paulo, Revista dos
Tribunais, 2016.
33
LEITE, Eduardo de Oliveira. Famílias monoparentais: a situação jurídica de pais e mães solteiros, de pais mães
separados e dos filhos na ruptura da vida conjugal. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 1997.
34
Está localizado em Paris, InstitutNational de laStatistique et desÉtudesÉconomiques (INSEE) coleta e publica
informações da economia e sociedade francesas, realizando periodicamente o censo da nação, sendo
semelhante ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (do Brasil) e ao Instituto Nacional de Estatística (de
Portugal).
ocidente, sendo denotado como grupocomposto por qualquer um dos pais ou seus
descendentes.
A família é deliberada monoparental quando exclusivamente um dos
progenitoresconvive com seu(s) filho(s) sobre o mesmo teto, aconjuntura de
Monoparentalidadeatualmente pode ser efêmera, ou seja, pode nutrir sua
composiçãoindividualcategoricamente ou por um breve período. (KALOUSTIAN,
1998).35
Quando na existência de um filho que coexiste com um dos pais a
Monoparentalidade é concretizada, incidindo por situaçõesabstrais à pretensão do
genitor comopela sua oportuna disposição.
A Monoparentalidade pode ser instituída desde a sua ascendência ou
emanada do término de uma família constituída pelo matrimonio, sendo quesob essa
ótica é presumível que se institua porque a mãe gerou um filho, entretanto a
paternidade não foi apurada ou houve adoção. (VIANA, 1998, p. 32)36.

[...]”Ela pode ser estabelecida desde sua origem, ou decorre do fim de uma
família constituída pelo casamento. Nessa diapasão é possível que ela se
estabeleça porque a mãe teve um filho, mas a paternidade não foi apurada,
ou porque houve adoção, ou pode resultar da separação judicial ou do
divórcio. Nessa linha temos a família monoparental formada pelo pai e o filho,
ou pela mãe e o filho, sendo que nos exemplos há o vínculo biológico, ou
decorre de adoção por mulher ou homem solteiro. Nada impede que o vínculo
biológico que une os membros dessa família, não decorra de encontro sexual,
mas resulte de procriação artificial. A mãe solteira submetesse à inseminação
artificial, não sabendo quem seja o doador.” [...] (VIANA, 1998, p. 32).

Conforme Vitale (2002, p.49)37, com relação a família no ordenamento jurídico


brasileiro, estedepara-se com distintas situações que podem constituir esse instituto,
sendo uma dasconfigurações familiares que atualmente denota crescimento
exponencial considerável.

35
KALOUSTIAN, Silvio M. (Org.). Família brasileira: a base de tudo. 3. ed. São Paulo: Cortez, 1998.
36
VIANA, Marco A. S. Da ação de investigação de paternidade. São Paulo: Del Rey, 1998
37
VITALE, Maria Amália F. Famílias monoparentais: indagações. Serviço Social & Sociedade São Paulo, ano 23,
n. 71, set. 2002, ed. especial, p. 49.
Conforme ensina Karpel (1994)38, esse conceito de família sofreu um
acréscimo significativo em virtude da separação dos casais que possuíam frutos
desses relacionamentos, os filhos, sendo que a família monoparental não é dotada
de estatuto jurídico próprio, com direitos e deveres específicos, diferentemente do
casamento e da união estável.
Quando os filhos atingem a maioridade ou emancipam,o poder familiar cessa
acarretando redução doinstituto monoparental, com inclusãoaos direito em caso de
conflito que são aplicados obrigatoriamente sem restrições, como impenhorabilidade
dos bens de família, entendido como sua família.
Segundo Dias (2007)39, é de extrema importância denotar a família que
desenvolve uma estrutura de convívio com crianças e adolescentes sob a guarda de
uma só pessoa, ainda que não parentes, aufere a denominação de família
monoparental, satisfazendoa diferença de proles e inexistência de relacionamento
de ordem sexual.

4.0 ANAPARENTAL SOCIOAFETIVA

Segundo Ruzyk (2005)40, o Direito de Família esta embasado no princípio da


multiplicidade familiar, ou seja, a definição de entidade familiar esta atrelado a
qualquer núcleo de coexistencialidade imutável, público e baseado naafeição,sob
esse ponto de vista a concepção de multiplicidade não possui compreensãono
aspecto de aceitação de novas configurações de família para além das citadas no
art. 226 da Constituição Federal de 1988, porém conjuminada aapreciação da
simultaneidade.

Aessência de uma família composta por dois irmãos afetuosos não constitui
dizeres que as suas partesconsiste em órfãos ou pessoas sem parentes,para o
entendimento de como esses irmãos ao mesmo tempo possam constituir uma
família anaparental sócio afetiva se faz necessário tecer explanações sobre as
famílias simultâneas.

38
KARPEL, Mark A. Evaluatingcouples: a handbook for practitioners. New York: W. W., 1994.
39
DIAS, Maria Berenice. Direito das Famílias. 4ª Edição. São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 2007.
40
RUZYK, CARLOS EDUARDO PIANOVSKI. Famílias Simultâneas: da Unidade Codificada à Pluralidade
Constitucional. Rio de Janeiro: Renovar, 2005.
Ainda segundo Ruzyk(2005)41, o elemento da tautocronia familiar engloba as
circunstâncias em que uma pessoa é denotada como elemento de duas ou mais
entidades familiares diversas entre si. Que originariam diversas hipóteses de
configuraçãoacaudilhadassob a perspectiva da conjugalidade e relação entre pais e
filhos, quanto à perspectiva da conjugabilidade, ou seja, a manutenção institucional
de uma família em paralelo com aessência de um matrimonio ou união estável.

A assimilação das famílias simultâneas parte de doiselementos básicos,


sendo que o primeiro tornar-se visível aoconceito de família como entidade familiar e
não no amplo sentido de consanguinidadecingindo as configurações familiares em
concreto, o segundocogita em uma análise da compleição ou não da conjuntura de
simultaneidade familiar a partir do indivíduo que constitui artifício comum entre as
entidades familiares denotadas.

Conforme denota Tepedino (2008, p.393)42, a impressão habitualmente não


seja externada, a constituição de família com amigos, por mais conexos e francos
que sejam, denota estranheza sendo associada a concepção de que o indivíduo
possui um problema inconciliável com sua família nuclear, que comumente perante a
sociedade e clero é constituída pelos pais e pessoasconsanguíneos.

Moraes (2010, p. 207)43, afirma que há diversas procedências e agentes


pessoais na opção de vida de dois indivíduos em se resguardar e apoiar
reciprocamenteedificando uma família anaparental que na pluralidade das vezes não
tangeproblemas familiares pretéritos,é de extrema importância denotar que o vínculo
afetivo com os pais esta finalizado e por opção em coexistir em família com um
indivíduo, considerado irmão socioafetivo.

A família anaparental sócio afetiva possuicabal status de família não


relevandonenhum tratamento diferenciado em ensejo da carência de vínculos
consanguíneos, quando se defende o reconhecimento jurídico da família
anaparentalsócio afetiva, não é defendido apenas a dignidade de seus
complementares no nível abstrato, mas a tangencia à probabilidade de cultivo de
decorrências jurídicas a relação de fato.

41
Ibid.
42
TEPEDINO, GUSTAVO. Novas Formas de Entidades Familiares: Efeitos do Casamento e da Família Não
Fundada no Matrimônio. Temas de Direito Civil. Rio de Janeiro: Renovar, 2008. p. 393-443.
43
MORAES, MARIA CELINA BODIN DE. A família democrática. Na medida da pessoa humana: um estudo de
direito civil-constitucional. Rio de Janeiro: Renovar, 2010. p. 207-234.
Conforme Matos (2004, p. 168)44, deve ser denotado o cabimento da
vocação sucessória aos irmãos sócio afetivos, bem como quaisquer direitos
asseverados às relações familiares.

4.0 SUCESSÃO

Conforme Lobo (2009, p. 149)45, a sucessão visa à transferência do


patrimônio de uma pessoa a outra, ou seja, o patrimônio a ser transmitido é
constituído da totalidade dos bens pertencentes ao de cujus, sejam imóveis ou
móveis, direitos e ações, títulos ou dinheiro, pois o direito à herança é, hoje, um
direito fundamental46 garantido pelo art. 5º, XXX da Carta Magna47.

As dívidas, no entanto, são transmissíveis assim como o ativo epassivo se


transferem, entretantoos herdeiros estarão obrigados às dívidas até o limite das
forças da herança.
Se tratando em sucessão no direito civil brasileiro, é denotado todo e qualquer
patrimônio que possa ser transferido para alguém após o falecimento de outra
pessoa, no qual esse seja herdeiro.
Com base em Maria Helena Diniz(2014, p. 17)48, com a morte do autor da
herança o sucessor passa a ter a posição jurídica do finado, sem que haja qualquer
alteração na relação de direito, que permanece a mesma, apesar da mudança de
sujeito.

44
MATOS, ANA CARLA HARMATIUK. União entre pessoas do mesmo sexo: aspectos jurídicos e sociais. Belo
Horizonte: Del Rey, 2004, p. 160-168.
45
LOBÔ, Paulo Luiz Netto. Direito Civil: Sucessões, op. cit.,2009, p. 149.
46
“A Constituição não refere à sucessão em geral, mas apenas à herança. Ou seja, foi elevado à garantia
constitucional o direito daqueles que se qualificam como herdeiros do falecido, (autor da herança), mas não
qualquer sucessor. A Constituição não define quem seja herdeiro, o que remete ao legislador
infraconstitucional. Mas este está limitado ao fim social da norma constitucional, que é a proteção das pessoas
físicas que possuam com o autor da herança relações estreitas de família ou de parentesco. Todos os demais
sucessores têm tutela restritamente infraconstitucional e desde que não afetem a preferência atribuída pela
Constituição aos qualificados como herdeiros. Os legatários, sejam eles pessoas físicas ou jurídicas, entes ou
entidades não personificadas, são sucessores, mas não são herdeiros”. (LÔBO, Paulo Luiz Neto. Direito Civil:
sucessões, op. cit, 2009, p. 39).
47
Artigo 5º da Constituição Federal de 1988: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida,
à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) XXX - é garantido o direito de
herança;
48
DINIZ, M. H. Curso de Direito Civil brasileiro: Direito de Família. 23. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. v. 5. p. 17.
Segundo afirma Gonçalves (2017, p. 19)49.

A palavra “sucessão” em sentido amplo significa o ato peloqual uma pessoa


assume o lugar de outra, substituindo-a na titularidade de determinados
bens. Numa compra e venda, por exemplo, o comprador sucede ao
vendedor, adquirindo todos os direitos que a esse pertenciam. De forma
idêntica, ao cedente sucede o cessionário, o mesmo acontecendo em todos
os modos derivados de adquirir o domínio ou o direito.

O Direito das Sucessões, em nossa legislação, encontra-se estabelecido no


artigo 5° da Constituição Federal, em seus incisos XXX e XXXI, e nos artigos 1784
a 2027 do Código Civil, além de estarem também na Lei n° 10.406/2002.

4.1 ESPÉCIES DE SUCESSÃO

Em que pese haja varias configurações de sucessão post mortem no direito


civil brasileiro, o crescente emprego desse assunto volve necessário o
aprofundamento e estudo das inúmeras hipóteses de sucessão, inclusive a
testamentária quedenota aos exercitores do direito obtenham aprofundamento em
seus estudos sobre esseinstituto que atenda os interesses do autor da herança,
permitindo a esse dispor de parte de seu patrimônio para posteriormente seu
falecimento melhor compreensãopara que a justiça seja executada com eficácia.
Desta forma, conhecer as espécies de sucessão, suas modalidades, assim
como as características específicas de cada uma é que se pretende através do
estudo exposto neste trabalho

Quanto a Sucessão Ilegítima denotada como Instituto importantíssimo se


tratando em sucessão, sendo que a sucessão é legítima quando, na falta de
testamento, defere-se o patrimônio cônjuge falecido a seus herdeiros necessários
e facultativos, invitados conforme relação preferencial da lei. Quando há

49
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, volume 6: Direito de Família. 8ª ed. Rev. Atual. São Paulo:
Saraiva, 2016.
testamento, mas não abrange todos os bens, a sucessão legítima será aplicada
conformeArt 1788.50

Nos casos de ausência, nulidade, anulabilidade ou caducidade do testamento


ocorre à sucessão legítima que é resultante da lei (art. 1.786 e 1.788 do Código
Civil).51

Segundo Maria Helena Diniz(2014, p.18)52:

[...]“Deveras, se o de cujus não fizer testamento, a sucessão será


legitima, passando o patrimônio do falecido às pessoas indicadas pela lei,
obedecendo-se a ordem a ordem de vocação hereditária (art. 1829 do
Código Civil)”.[...]

A sucessão legítima segue a seguinte ordem de vocação hereditária:

Aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente se


estiver casado este com o falecido no regime de comunhão universal, ou no da
separação obrigatória de bens ou ainda no regime da comunhão parcial, caso o
autor da herança não tenha deixado bens particulares; aos ascendentes, em
concorrência com o cônjuge; ao cônjuge sobrevivente; aos colaterais.

Antes que se adentre no critério de convocação dos herdeiros legítimos, é


necessárioabalizar singelas considerações sobre as nomenclaturas usuais
empregadas por ocasião do estudo da sucessão legítima. O vínculo de duas
pessoas a partir de um ascendente comum denomina-se “linha”, o parentesco por
linha divide-se em parentesco em linha reta e em linha colateral.
Conforme Venosa (2003)53, o primeiro se verifica quando os indivíduos
descendem uma das outras, caracterizando em linha reta ascendente (pais, avós,
bisavós), ou linha reta descendente (filhos, netos, bisnetos).

50
Art. 1.788. Morrendo a pessoa sem testamento, transmite a herança aos herdeiros legítimos; o mesmo
ocorrerá quanto aos bens que não forem compreendidos no testamento; e subsiste a sucessão legítima
se o testamento caducar, ou for julgado nulo.
51
Art. 1.786. A sucessão dá-se por lei ou por disposição de última vontade
52
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. V. V, Direito de Família. 20. Ed. São Paulo: Saraiva,
2014, p.18.
53
VENOSA, Sílvio de Salvo . Direito Civil : Direitos Reais . v. 5 . 12ª ed . São Paulo : ed. Atlas, 2003.
Entretanto por outro lado, o parentesco em linha colateral ocorre quando os
indivíduos não possuem descendência uma das outras, embora constituam o
mesmo tronco ancestral comum (irmãos, tios, sobrinhos, primos). Considera-se grau
o número de gerações que separa os parentes.
Denota Farias (2010)54, pela ordem de preferência indicada no diploma civil,
os descendentes serão os primeiros a serem convocados para o recebimento da
herança, sendo que dentro de uma mesma classe de parentes o grau mais próximo
exclui o mais remoto.
Na linha reta a identificação do herdeiro que sucederá o autor da herança é
sobremaneira simples, pois basta contar o intervalo que distancia uma geração da
outra.
Segundo Dias (2011)55, existindo a hipótese de existência de filho e neto do
falecido, o primeiro será apreciado com a herança, uma vez que é acatadocomo
parente em linha reta em primeiro grau do de cujus.
O neto do falecido apenas herdará em caso de inexistência de filhos ou se
houver direito de representação de seu ascendente que seja pré-morto ao autor da
herança. Na ausência de parentes na classe dos descendentes, a herança será
deferida aos ascendentes do autor da herança, sendo assim, a existência de pai e
avô do falecido obsta a concessão da herança ao avô, parente em linha reta
ascendente em segundo grau do autor da herança.
De acordo ainda com Diniz (2005)56, quanto ao parentesco em linha colateral,
distinto é o critério para a convocação dos herdeiros do falecido, para que se
identifique qual o parente colateral que será beneficiado com a herança, subir até o
ascendente comum das pessoas para comparação e posteriormente declinaronde
se encontra o parente colateral, na situação que conta-se um grau para cada
geração.
Segundo Oliveira (2002)57, sob esta ótica denota-se que os irmãos são
parentes colaterais em segundo grau, o tio e o sobrinho são parentes colaterais em

54
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direito das Famílias. 2ª ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris,
2010.
55
DIAS. Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 8. Edição. Revista, atualizada e ampliada. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2011.
56
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. V. V, Direito de Família. 20. Ed. São Paulo: Saraiva, 2005.
57
OLIVEIRA, Euclides de; HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes. Do Direito de Família. In: DIAS, Maria
Berenice; PEREIRA, Rodrigo da Cunha (coord.). Direito de família e o novo Código Civil. 2ª ed. 2ª tir. Belo
Horizonte: Del Rey, 2002.
terceiro grau; e os primos, como o tio-avô e o neto-sobrinho são parentes colaterais
em quarto grau. Ressalta-se que, para fins de direito sucessório, considera-se
apenas o parentesco colateral até o quarto grau.

SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA

Segundo Barros (2016)58, a sucessão testamentariaa transmissão


hereditária se opera por ato de última vontade, revestido de solenidade requerida
por lei. Como o autor da herança pode dispor de seu patrimônio alterando a ordem
de vocação hereditária prevista em lei, respeitados os direitos dos herdeiros
necessários, ou seja, que respeite a legítima dos herdeiros.

Art. 1.857. Toda pessoa capaz pode dispor, por testamento, da


totalidade dos seus bens, ou de parte deles, para depois de sua
morte.
§ 1º A legítima dos herdeiros necessários não poderá ser incluída
no testamento.
§ 2º São válidas as disposições testamentárias de caráter não
patrimonial, ainda que o testador somente a elas se tenha limitado.

Em ocasiões que ocorre o falecimento de um individuo que não hátestamento


por opção própria do falecido, ocorre à sucessão legítima onde a herança é
conduzida aa pessoas da família do de cujus.

O falecido, autor da herança, pode dispor de seu patrimônio alterando a


ordem da vocação hereditária prevista na legislação, desde que respeitado os
direitos dos herdeiros necessários.

Conforme Dias (2016)59, na legislação vigente prevalece pela visão


quantitativa, a sucessão legítima sobre a testamentária pelo motivo cultural,
psicológico e pela forma que o legislador disciplinou contemplando as pessoas da
família do falecido, especialmente quando há descendentes.

58
BARROS, Washington Monteiro, Ana Cristina de Barros Monteiro França Pinto. Curso de Direito Civil
Imprenta: São Paulo, Saraiva, 2016.
59
DIAS, M.B.Manual de direito das famílias: de acordo com o novo CPC. Imprenta: São Paulo, Revista dos
Tribunais, 2016.
Os indivíduos que optam pela realização do testamento, normalmente não
possuem filhos e, evidenciando como principal objetivo beneficiar o cônjuge ou
outros indivíduos em detrimento de ascendentes.

CAPACIDADE DE TESTAR E DE ADQUIRIR

O artigo 1.860, do Código Civil, denota que possui a capacidade de testar toda
pessoa física de direito natural, que não seja declarada incapaz pela lei e que no
momento do testamento estiver em pleno discernimento, desta forma se o individuo
optar pelo testamento sobre efeito de álcool, medicamentos fortes ou qualquer tipo
de droga não será valido esse testamento.

Conforme Gomes (1998)60, entretanto possuirá validade se o individuo


apresentar plena consciência do ato que esta praticando, os maiores de 16 anos
poderão ser testados conforme previstos no parágrafo único do mesmo artigo.

De acordo com Mendes (2008, p.14-17)61, a lei não estabelece limite


temporal, para a capacidade testamentária ativa, a senectude ou idade avançada
não inibe o indivíduo de testar, contudo se em virtude de condições patológicas que
acompanham a idade avançada, como a arteriosclerose, a debilidade mental e
outras doenças, e a lucidez do individuo for afetada, instalando-se processo de
involução senil caracterizar-se-á a incapacidade.

O artigo 1.861, do Código Civil, cita que a incapacidade superveniente do


testador não invalida o testamento, e que o testamento do incapaz não se valida
com a superveniência da capacidade, ou seja, que se o incapaz perpetrar um
testamento e após deixar de ser incapaz, isso não ira validar o testamento.

A Capacidade testamentária passiva é a capacidade de receber ou adquirir


por testamento, verificada no momento da abertura da sucessão. Não podem

60
GOMES, O. Direito de Família. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998.
61
MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucional / Gilmar Ferreira Mendes, Inocêncio Mártires
Coelho, Paulo Gustavo Gonet Branco – 2. Ed. Rev. E atual. – São Paulo: Saraiva 2008. (paginas 14,15,16, 17)
receber por testamento as pessoas elencadas no art. 1.801 do Código Civil
Brasileiro, sob a pena de nulidade.

Segundo Moraes (2011)62, a doutrina dominante pondera os absolutamente


incapazes a receber por testamento como os filhos não concebidos à época da
abertura da sucessão (com exceção dos eventuais filhos de pessoas indicadas pelo
testador), as pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado não
existentes à época da morte do testador (verificada a exceção da fundação que
deverá ser criada segundo a vontade do testador, pois, assim como a lei põe a salvo
os direitos do nascituro, por analogia, a empresa embrionária também poderá
receber por testamento).

A capacidade deve estar presente no momento da abertura da sucessão.


Portanto, se o adquirente não possuir a capacidade no momento da feitura do
testamento, mas a possuía na data da morte do testador, tem direito à aquisição.

A capacidade para testar é diferente de capacidade para adquirir. O menor de


16 anos e a pessoa mentalmente enferma tem capacidade para adquirir, mas não
possuem capacidade para dispor.

2.2 ESPÉCIES DE HERDEIROS

O herdeiro é a pessoa a que a lei adjudicaà capacidade de suceder à pessoa


que falece comumente denominado de cujus, nos seus direitos e obrigações a
missão do direito sucessório é identificação de quem são os herdeiros, então
somente irá proceder à divisão dos direitos e obrigações deixados pelo autor da
herança, contudo a identificação dos herdeiros não é uma tarefa simples, devendo
ser observados diversos fatores para tanto.

62
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional / Alexandre de Moraes. – 27. Ed. – São Paulo: Atlas, 2011.
Conforme Lobo (2004, p. 138) 63, para isso são denotadas premissas, onde
todos os parentes são herdeiros,ou seja, todos possuem “legitimidade” para
herdar, todos são herdeiros legítimos, não somente os parentes, o cônjuge e o
companheiro são herdeiros legítimos, entretanto nem todos fazem jus à herança,
sendo herdeiros em potencial.

O legislador presume que laços afetivos geram dever de mútua assistência e


tenta adivinhar quem a pessoa, ao morrer, gostaria de contemplar com o seu
patrimônio. E, atento à proximidade com o de cujus, estabelece uma ordem de
prioridade entre os herdeiros. É o que se chama de ordem de vocação hereditária.

No sistema atual a vocação hereditária é estabelecida por classes,


baseadas nas relações de família e de sangue.

Segundo Venosa são os descendentes, ascendentes, cônjuges colaterais e


estados.

Conforme Dias (2009)64, não considera o Estado uma das classes de


herdeiro, havendo um segundo critério a ser observado quando da convocação dos
herdeiros à herança:

(a) primeiro os parentes mais próximos;

(b) a preferência é sempre dos descendentes’’.

Referidas classes encontram-se elencadas no artigo 1.829 do Código Civil,

Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:

I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente,


salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão
universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640,
parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da
herança não houver deixado bens particulares;

II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;

III - ao cônjuge sobrevivente;

63
LÔBO, Paulo. A repersonalização das relações de família. Revista Brasileira de Direito de Família. Porto Alegre,
IBDFAM/Síntese, n. 24, p. 138, jun-jul. 2004.
64
DIAS. Berenice. Manual de Direito das Famílias. 5. Ed.. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
IV - aos colaterais.

Portanto, cada inciso do art. 1.829 refere-se a uma classe de herdeiros. Note
que no corrente diploma foi estabelecida a herança concorrente do cônjuge com
descendentes e ascendentes.

Conforme Cruz (2003)65, o fato de alguém integrar a ordem de vocação


hereditária não assegura por si só o direito a herança, nem mesmo o fato de
pertencer à mesma classe sucessória afiança a participação na herança.

A chamada dos herdeiros é sucessiva e excludente, isto é,serão chamados


os ascendentes na ausência de descendentes e o cônjuge sobrevivente
isoladamente, na ausência de ascendentes e assim sucessivamente.

Segundo Dias (2009),66 há uma regra geral, ou seja, existindo herdeiros de


uma classe, os herdeiros das demais classes são excluídos da sucessão. Na
hipótese de uma classe estiver vazia é que a próxima classe será chamada. Um
único herdeiro de uma classe afastará todas as classes subsequentes a ele. Pode-
se dizer então que há uma hierarquia de classes.

Importante ressaltar a lição de Venosa(2003)67 acerca da sucessão no


âmbito internacional, senão vejamos: No âmbito do direito internacional privado,
dispõe a vigente LINDB, Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro, Lei
nº 12.376, de 30-12-2010 (art. 10): “A sucessão por morte ou por ausência
obedece à lei do país em que era domiciliado o defunto ou o desaparecido,
qualquer que seja a natureza e a situação dos bens.” O § 1º desse artigo
acrescenta:

“a vocação para suceder em bens de estrangeiro situados no Brasil será


regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge brasileiro e dos filhos do casal,
sempre que não lhes seja mais favorável à lei do domicílio”.

65
CRUZ, Paulo Márcio. Fundamentos do Direito Constitucional./ Paulo Márcio Cruz. / 2ª edição./Curitiba: Juruá,
2003.
66
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 4ª ed. Rev. Atual. E ampl. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2007.
67
VENOSA, Sílvio de Salvo . Direito Civil : Direitos Reais . v. 5 . 12ª ed . São Paulo : ed. Atlas, 2003.
HERDEIROS COLATERIAS

No inciso IV do artigo 1.829, estão os colaterais, que não são qualificados


como herdeiros necessários, mas somente como herdeiros legítimos.

Parentes colaterais são os que a lei assim define (CC 1.592): os


provenientes de um tronco comum, como a limitação do parentesco é até o quarto
grau, somente esses desfrutam da qualidade de herdeiros.

A ordem de precedência atende à proximidade de graus: os mais próximos


excluem os mais remotos. Os irmãos dispõem da condição de herdeiros colaterais
de segundo grau. Na falta destes, herdam os de terceiro grau – sobrinhos e tios –
e, por último, os de quarto grau – sobrinhos-netos, tios-avôs e os chamados
primos-irmãos. Ainda que existam vínculos de parentesco mais distantes, os
efeitos são meramente sociais, sem relevância jurídica. Parentes não são, e nada
herdam.

Portanto, na existência de descendentes, ascendentes ou cônjuge, os


colaterais não herdarão. Entretanto, se o autor da herança vivia em união estável,
inexistindo descendentes ou ascendentes, haverá concorrência entre o
companheiro e os colaterais, conforme exposto pelo artigo 1.790, III, o qual causa
ampla discussão na jurisprudência.

Como exemplificado:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. INVENTÁRIO. SUCESSÃO DO


COMPANHEIRO. CONCORRÊNCIA COM OS COLATERAIS. Em se
tratando de matéria sucessória, o legislador tratou de forma diferente os
institutos do casamento e da união estável. O companheiro supérstite
participa na sucessão do outro com os parentes colaterais sucessíveis,
quando o inventariado não deixou descendente ou ascendente. Inteligência
do art. 1.790, III, do Código Civil.”.68

Embargos infringentes; união estável; sucessão; companheira sobrevivente


direito à totalidade da herança; exclusão dos colaterais inaplicabilidade do
art. 1.790, inc. iii, do código civil.69

Ademais, de forma evidentemente inconstitucional, permite o legislador a


distinção entre os quinhões concedidos aos irmãos bilaterais (filhos do mesmo pai
e da mesma mãe), caso haja irmãos unilaterais (filhos somente do genitor
falecido). Sendo assim, sucedendo colaterais de segundo ou terceiro grau,
necessário atentar se tratam de irmãos unilaterais ou bilaterais, atingindo tal
distinção também os sobrinhos.

Por fim, atenta-se para o fato de o direito de representação mantre-se


assegurado aos colaterais de terceiro grau,“Assim, somente os sobrinhos podem
herdar por representação de seus pais, e isso, se existirem outros tios
sobreviventes, irmãos do falecido (CC 1.840)”. Concorrendo irmãos do de cujuse

68
NOTA: INVENTÁRIO SUCESSÕES. DECISÃO QUE ESTIPULOU A INCIDÊNCIA DO ART. 1.790, INCISO III, DO
CÓDIGO CIVIL, COM A DETERMINAÇÃO DE HABILITAÇÃO DOS PARENTES COLATERAIS DO AUTOR DA HERANÇA.
EQUÍVOCO EVIDENCIADO. APLICAÇÃO ANALÓGICA DO ART. 1.829, INCISO III, E ART. 1.838, AMBOS DO CÓDIGO
CIVIL, A FIM DE VEDAR A DISTINÇÃO ENTRE CÔNJUGE E COMPANHEIRA SOBREVIVENTES PARA FINS
SUCESSÓRIOS. INTELIGÊNCIA DO ART. 226, § 3º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. Com a promulgação da
Constituição de 1988 e a elevação da união estável à condição de entidade familiar para conferir-lhe maior
proteção do Estado, pode-se falar que a família é gênero, de que são espécies o casamento e a união estável. A
distinção aos direitos sucessórios dos companheiros - inciso III do art. 1.790 do Código Civil - viola o princípio
constitucional da igualdade, uma vez que confere tratamento desigual àqueles que, casados ou não,
mantiveram relação de afeto e companheirismo durante certo período de tempo, inclusive, contribuindo para
o desenvolvimento econômico da entidade familiar. Os Tribunais pátrios têm admitido à aplicação do art. 1.829
do Código Civil não só para o cônjuge, mas, também, para a companheira, colocando-as em posição de
igualdade na sucessão. RECURSO A QUE SE DÁ PROVIMENTO.
(TJ-SC - AG: 20130579574 SC 2013.057957-4 (Acórdão), Relator: Gilberto Gomes de Oliveira. Data de
Julgamento: 11/06/2014, Segunda Câmara de Direito Civil Julgado) (grifos meus).(TJ-RS - AI: 70059080705 RS,
Relator: Jorge Luís Dall’agnol Data de Julgamento: 28/05/2014, Sétima Câmara Cível, Data de Publicação: Diário
da Justiça do dia 03/06/2014). (grifos meus).
69
NOTA: Tendo a Constituição Federal, em seu art. 226, § 3º, equiparado a união estável ao casamento, o
disposto no art. 1.790, III, do Código Civil vigente colide com a norma constitucional prevista, afrontando
princípios da dignidade da pessoa humana e da igualdade, resguardados na Carta Constitucional, razão para ser
negada vigência ao disposto legal. À união estável são garantidos os mesmos direitos inerentes ao casamento,
efeito que se estende ao plano sucessório, mormente no caso em exame onde autora e de cujus viveram more
uxório por três décadas, obtendo o reconhecimento judicial desta união como estável aos fins da C. F.
Inexistindo descendentes e ascendentes, é da companheira sobrevivente o direito à totalidade da herança,
excluindo-se os parentes colaterais. EMBARGOS INFRINGENTES ACOLHIDOS. SUSCITADO INCIDENTE DE
RESERVA DE PLENÁRIO. (SEGREDO DE JUSTIÇA). (Embargos Infringentes Nº 70027265545, Quarto Grupo de
Câmaras Cíveis, Tribunal de Justiça do RS, Relator: André Luiz PlanellaVillarinho, Julgado em 10/07/2009).
(TJ-RS - EI: 70027265545 RS, Relator: André Luiz PlanellaVillarinho. Data de Julgamento: 10/07/2009, Quarto
Grupo de Câmaras Cíveis, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 25/08/2009) (grifos meus).
sobrinhos, os irmãos recebem por cabeça e os sobrinhos por estirpe, em
representação dos genitores pré-mortos’’.

2.3 SUCESSÃO NO CASAMENTO E NA UNIÃO ESTÁVEL

Para Gonçalves (2014, p. 38)70, “casamento é a conjunção do homem e da


mulher que se unem para toda vida, a comunhão do direito divino e do direito
humano”. É, assim, ato jurídico solene, com atuação de duas pessoas plenamente
capazes e habilitadas.

Conforme a lei dispõe, a finalidade do casamento é de estabelecer


comunhão plena de vida, constituindo a está união um regime de bens, regulado no
Direito de Família.

O artigo 1511 dispõe da seguinte maneira sobre o casamento,

[...] Art.1511. O casamento estabelece comunhão plena de vida, com


base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges.[...]

Segundo Giorgis (2009), a união estável incide na união prolongada entre


homem e mulher. Reconhece-se o instituto da união estável com os seguintes
elementos: estabilidade, capacidade e impedimento. No que concerne à
estabilidade, deve ser demonstrado à durabilidade 71do relacionamento. Já na
capacidade, os sujeitos devem possui idade mínima de 16 anos. E, quanto ao
impedimento, não pode ocorrer nenhuma da causa prevista no art. 1.521 do CC, que
dispõe sobre as causas suspensivas.

Sendo assim, para que exista a união estável entre duas pessoas é
necessário que haja convivência pública, contínua e duradoura, visando à
constituição de uma entidade familiar.

70
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, volume 8: Direito de Família. 8ª ed. Rev. Atual. São Paulo:
Saraiva, 2014.
71
GIORGIS, José Carlos Teixeira. Arqueologia das famílias: da ginecocracia aos arranjos plurais. In: Direito das
Famílias: Contributo do IBDFAM em homenagem a RODRIGO CUNHA PEREIRA. Organização Maria Berenice
Dias. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009.
Prescreve o artigo 1723:

Art.1723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre


o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e
duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família.

Conforme afirma Gonçalves (2011)72, a Constituição Federal em seu art. 226


§3° equipara o companheiro ao cônjuge no que concerne a constituição de entidade
familiar. O Direito de Família aplica-se, aos companheiros, os mesmos princípios e
normas atinentes a alimentos entre os cônjuges.

Ocorrendo o mesmo com os efeitos patrimoniais, ou seja, aplicam-se à


união estável as mesmas regras do casamento. O Direito Sucessório, contudo,
aplica regras diversas a essas pessoas no que concerne a divisão da herança.

Art.1790. A companheira ou companheiro participará da sucessão do


outro quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigência da
união estável, nas condições seguintes:

I- Se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota


equivalente à que por lei for atribuída ao filho;

II- Se concorrer com descendentes só do autor da herança, tocar-lhe-


à a metade do que couber a cada um daqueles;

III- Se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a um


terço da herança;

IV- Não havendo parentes sucessíveis, terá direito a totalidade da


herança.

Já o artigo 1829 dispõe sobre a sucessão do cônjuge, assim dispõe

Art. 1829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:

I- Aos descendentes, em concorrência com cônjuge sobrevivente,


salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão
universal, ou no de separação obrigatória de bens (art. 1640,
parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da
herança não houver deixado bens particulares;

II- aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;

III- ao cônjuge sobrevivente;

72
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, volume 6: Direito de Família. 8ª ed. Rev. Atual. São Paulo:
Saraiva, 2011
IV- aos colaterais.

A sucessão dos companheiros está previsto nas disposições gerais do título


referente ao direito das sucessões, e não no capítulo da vocação hereditária, como
ocorre com os cônjuges.

Além de estar previsto em disposições diferentes, o companheiro não foi


incluso no rol dos herdeiros necessários, sendo somente considerados tais herdeiros
os descendentes, ascendente e o cônjuge.

Faz distinção entre a sucessão do companheiro com filhos comuns ou só do


de cujus. No tocante que diz respeito à concorrência, o companheiro sobrevivente
terá direito a uma quota à que for atribuída ao filho, se de ambos. Caso concorrer
com descendente só do falecido, tocar-lhe-á, somente a metade do que couber
aquele. O cônjuge, contudo, irá concorrer com os descendentes independentemente
filhos de ambos ou não.

De acordo com Grisardi (2010)73, outra distinção existente entre a sucessão


do companheiro e do cônjuge é que, aquele, se concorrer com herdeiros de outras
classes, terá direito a um terço da herança, ou seja, não é abonada uma parte
mínima na concorrência com os demais herdeiros, como ocorre com os cônjuges.

O companheiro somente irá possui o direito a totalidade da herança se não


haver parentes sucessíveis, assim, se o de cujus tiver parentes colaterais, o
companheiro sobrevivente irá receber um terço da herança, como prescreve o inciso
III do art. 1790.

Segundo Hesse (1991)74, contudo, não ocorre com o cônjuge, pois não
havendo descendente ou ascendente, este terá direito a totalidade da herança. Não
terá que dividir com os colaterais do de cujus, conforme disposto no art. 1829 inciso
III.

73
GRISARD FILHO, Waldyr. Famílias Reconstituídas: novas uniões depois da separação. 2ª ed. Rev. E atual.
Editora Revista dos Tribunais. São Paulo, 2010
74
HESSE, Konrad. A força normativa da Constituição. Tradução Gilmar Ferreira Mendes. Porto Alegre: S. A.
Fabris, 1991.
Importante salientar que o atual código não dispõe sobre o direito de
habitação do companheiro. No caso concreto, é necessário fazer uma aplicação
analógica do mesmo direito assegurado ao cônjuge.

2.4 DOS EXCLUÍDOS DA SUCESSÃO

Precisamente, os excluídos da sucessão são aqueles que fizeram ou


praticaram ato contrário á dignidade de seus respectivos testadores.

São dois os institutos que determinam a exclusão da sucessão testamentária:


A indignidade prevista nos artigos 1814 a 1818 do Código Civil, e a deserdação,
previstos nos artigos 1961 a 1964 do Código Civil.

No que tange as valiosas lições de Gonçalves (2012,p.32)75 suas palavras


são as seguintes:

[...]“A sucessão hereditária assenta em uma razão de ordem ética: a afeição


real ou presumida do defunto ao herdeiro ou legatário. Tal afeição deve
despertar e manter neste o sentimento da gratidão ou, pelo menos, do
acatamento e respeito à pessoa do de cujus e às suas vontades e
disposições. A quebra dessa afetividade, mediante a prática de atos
inequívocos de desapreço e menosprezo para com o autor da herança, e
mesmo de atos reprováveis ou delituosos contra a sua pessoa, torna o
herdeiro ou o legatário indignos de recolher os bens hereditários”.[...]

INDIGNIDADE

Esta forma de exclusão pode atingir qualquer modalidade de sucessor, sendo eles
legais ou testamentários, desde que pratiquem qualquer dos atos previstos no artigo
1814 do Código Civil:

Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários:

I - que houverem sido autores, coautores ou partícipes de homicídio


doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se
tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente;

75
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, volume 6: Direito de Família. 8ª ed. Rev. Atual. São Paulo:
Saraiva, 2012, p.32.
II - que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da
herança ou incorrerem em crime contra a sua honra, ou de seu
cônjuge ou companheiro;

III - que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o


autor da herança de dispor livremente de seus bens por ato de última
vontade.

Portanto, para ser considerado indigno, é necessário que o herdeiro ou


legatário pratique atos atentatórios à vida, à honra e a liberdade do testador,
necessitando, em alguns casos, de comprovação no judiciário.

DESERDAÇÃO

O instituto da Deserdação possui origens remotas, não possuindo


regulamentação nova como alguns podem pensar, onde o pai, com o consentimento
do juiz, podia retirar do filho o direito à legitima.

Gonçalves (2007), explica tal origem: “Historicamente, a deserdação é uma


instituição que vem de remotas eras, pois se encontra no Código de Hamurabi, que
data de 2000 anos antes de Cristo, e pelo qual o pai podia deserdar o filho indigno,
dependendo, porém, o seu ato da confirmação do juiz”.

A legislação moderna sobre a deserdação procede do direito romano,


principalmente da Novela 115 de Justiniano, que deu lugar, depois dos glosadores, a
vivas controvérsias sobre a invalidade da instituição de herdeiro, em caso de
deserdação injustificada”.

Esta forma de exclusão atinge tão somente os herdeiros necessários do autor


da herança, retirando daqueles o seu direito garantido por lei à sucessão. Nas
palavras de Gonçalves:

[...]“Deserdação é o ato unilateral pelo qual o testador exclui da


sucessão herdeiro necessário, mediante disposição testamentária
motivada em uma das causas previstas em lei”.[...]

É indispensável a manifestação de vontade do testador através do


testamento, imputando ao herdeiro a prática desse ato reprovável. Ou seja, além de
apontar a pessoa que será deserdada, deve-se demonstrar a causa que justifica a
deserdação, devendo ser feito único e exclusivamente de forma testamentária.

As causas próprias de Deserdação encontram-se elencadas nos artigos 1962


e 1963, sendo eles:

Art. 1.962. Além das causas mencionadas no art. 1814, autorizam a


deserdação dos descendentes por seus ascendentes:

I - ofensa física;

II - injúria grave;

III - relações ilícitas com a madrasta ou com o padrasto;

IV - desamparo do ascendente em alienação mental ou grave


enfermidade.

Art. 1.963. Além das causas enumeradas no art. 1814, autorizam a


deserdação dos ascendentes pelos descendentes:

I - ofensa física;

II - injúria grave;

III - relações ilícitas com a mulher ou companheira do filho ou a do


neto, ou com o marido ou companheiro da filha ou o da neta;

IV - desamparo do filho ou neto com deficiência mental ou grave


enfermidade.

Conclui-se, portanto, que, apesar dos institutos da indignidade e deserdação


terem determinadas diferenças, os efeitos práticos de ambos são os mesmo, ou
seja, afastar o herdeiro considerado culpado da sucessão, privando-o de um direito
que lhe era garantido.

DA UNIÃO POLIAFETIVA

Talvez seja essa a união mais “nova” dentro do ordenamento jurídico


brasileiro. Vale ressaltar que, esse novo conceito de união ou novo tipo de entidade
familiar é composto por duas ou mais pessoas.

Ante a multiplicidade dos relacionamentos, o poliamor surge causando


divergências e debates doutrinários e jurisprudenciais. Tanto que inexiste uma
conceituação fixa e uniforme do que seria o poliamor, não havendo consenso
inclusive quanto ao seu reconhecimento e proteção jurídica no âmbito do direito de
família.

É uma entidade familiar na qual não encontra previsão constitucional ou


infraconstitucional, porém já com grandes avanços jurisprudenciais dentro do direito
brasileiro. Pode se dizer que a família homoafetiva causa certo preconceito e
estranheza, o que dizer então desse novo tipo de entidade familiar?

O poliamor ou relação poliafetiva é a relação afetiva entre duas ou mais


pessoas, que podem ser homossexuais ou heterossexuais, podem se relacionar
todos entre si sexualmente ou apenas dividir um parceiro, porque a relação, como o
próprio nome diz, não se restringe apenas ao âmbito sexual, há um real
envolvimento afetivo dos envolvidos. Não é algo eventual ou esporádico onde há um
casal fixo que se relaciona com várias outras pessoas. Nos relacionamentos
poliafetivos todos os parceiros são fixos e espera-se exclusividade e fidelidade,
como se todos fossem casados entre si.

Logo abaixo, destaca-se a primeira Escritura Pública de união poliafetiva


registrada no município de Tupã, no estado de São Paulo em 2012. Segue um
trecho do acontecimento conforme noticiado pelo G1:

“Um homem e duas mulheres, que já viviam juntos na mesma casa


há três anos, oficializaram a união em um cartório de notas de Tupã,
SP. A união dos três foi oficializada por meio de uma escritura
pública de União Poliafetiva. [...]

De acordo com o tabelião que fez o registro, Cláudia do


Nascimento Domingues, [...]’A declaração é uma forma de garantir
os direitos de família entre eles. Como eles não são casados, mas,
vivem juntos, portanto, existe uma união estável, onde são
estabelecidas regras para estrutura familiar’, destaca.

O jurista Natanael do Santos Batista Júnior, que orientou o trio na


elaboração do documento, explica que a escritura é importante no
sentido assegurar os direitos no caso de separação ou morte de uma
dos parceiros. "O documento traz regras que correspondem ao direito
patrimonial no caso de uma fatalidade, nele eles se reconhecem como
uma família, e dentro do previsto no código civil, é estabelecida a forma
de divisão do patrimônio no caso de um dos parceiros falecer ou num
caso de separação", destaca. O jurista afirma ainda que o documento é
o primeiro feito no país.

[...] ” O objetivo é assegurar o direito deles como uma família, com esse
documento eles podem recorrer a outros direitos, como benefícios no
INSS, seria o primeiro passo. A partir dele, o trio pode lutar por outros
direitos familiares". [...]

Assim, fundamentando em algumas das tantas conceituações existentes,


conclui-se que o poliamor é baseado na liberdade de escolha, sendo o
relacionamento múltiplo, estável e ético, entre pessoas, as quais se conhecem e
aceitam a relação, a qual não está restrita apenas a relação sexual, mas também à
conexão emocional.

3.2 DIFERENÇA DA UNIÃO POLIAFETIVA COM A POLIGAMIA E BIGAMIA

Antes de adentrar nas diferenciações desses institutos, precisa-se


compreender o que cada um deles significa, e, quais suas consequências perante a
legislação brasileira e suas sanções para quem é adepto dessa prática.

Trata-se da união conjugal com várias outras pessoas.No Brasil, a poligamia


é proibida de qualquer jeito – com pena máxima de 3 anos (para quem compartilha o
cônjuge) a 6 anos (para quem tem vários cônjuges).
A lei brasileira é clara: ”Um segundo casamento só pode ocorrer depois do
divórcio ou da anulação do primeiro”, diz Dirceu de Mello, professor de Direito Penal
da PUC-SP. Há gente, principalmente em áreas rurais, que vive com mais de um(a)
companheiro(a) sem ser perturbada – mas esses casos geralmente não ferem a lei,
pelo simples fato de não haver certidão de casamento.

É parecido com a poligamia, mas com uma diferença de que trata-se de


apenas um outro novo casamento e não vários outros como mencionado no tópico
acima, ou seja, é a realização de novo casamento sem que se tenha dissolvido o
anterior. A pena do crime de bigamia é de reclusão de dois a seis anos de prisão.

Feita essas diferenciações entre bigamia e poligamia, conclui-se então que a


união poliafetiva trata-se da união de duas ou mais pessoas, com afeto, carinho e
reciprocidade entre ambas e, o mais importante, sem impedimentos anteriores que
os impeçam de se relacionar livremente.

3.3 O DIREITO SUCESSÓRIO NA UNIÃO POLIAFETIVA

Neste tópico abordaremos especificamente a repercussão patrimonial,


quando reconhecido o poliamor no âmbito do direito de família. Inicialmente será
apontado o conceito e aplicações práticas do instituto da triação de bens nos
relacionamentos simultâneos consentidos, que de forma vagarosa e restrita, vem
sendo aplicado por alguns tribunais pátrios.
Também discorreremos sobre os possíveis critérios garantidores do
reconhecimento jurídico do poliamor e a consequente repercussão jurídica
decorrente da triação de bens. Por fim, apreciaremos a partilha de bens no
poliamorismo e a necessidade de regulamentação acerca do direito patrimonial,
como garantia dos direitos mínimos do indivíduo e estabelecimento de segurança
jurídica aos sujeitos que dedicam e constituem grande parte de suas vidas, nos
relacionamentos de poliamor.
É importante lembrar, que o termo estudado, decorre do instituto da meação,
que é a metade ideal do patrimônio em comum assegurado ao cônjuge ou
companheiro, de acordo com o regime de bens adotado, ou seja, cada regime de
bens apresenta uma forma específica para delimitar os bens que se comunicam ou
não, para efeitos de meação, conforme já analisado no item 2.1. Sinteticamente a
meação decorre da partilha (50%) do patrimônio comunicável entre o casal.
Neste sentido, a triação consiste na partilha dos bens comunicáveis entre os
envolvidos da relação simultânea, resultando em 1/3 do patrimônio para cada um,
é geralmente aplicada quando findo o relacionamento de uma das partes ou de
todos os envolvidos, quer em decorrência do falecimento de um deles ou mesmo
pela decisão de não permanecer no relacionamento poliamoroso.
Assim, havendo a dissolução da união paralela em vida, quando geralmente
decorre de um desentendimento entre os companheiros, a partilha- triação será
executada entre as três partes, procedendo à divisão de todo o patrimônio
adquirido na constância da união simultânea, de forma igualitária entre os três.
Novamente apontamos a necessidade da observância dos bens comunicáveis, que
podem ingressar no patrimônio comum e ser procedida a partilha nos ditames do
regime legal de bens (comunhão parcial), previsto entre os artigos 1.658 e 1.666
do Código Civil Brasileiro em vigor (BRASIL, 2002).
Aponta-se ainda a possibilidade da partilha decorrente da morte de um dos
companheiros, ressaltamos ser matéria sucessória alheia ao objeto do presente
trabalho, no entanto, sinteticamente será apontada a concretização da triação dos
bens neste caso, onde havendo a dissolução com a morte, duas soluções podem
ser tomadas: a primeira seria proceder com a partilha igualitária, destinando 1/3 do
patrimônio para cada companheiro e para os herdeiros ou ainda conceder somente
a meação aos companheiros e os outros 50% serem destinados aos herdeiros,
conforme parte do entendimento jurisprudencial.
Há duas maneiras de se pensar a divisão patrimonial [...]. A primeira
maneira seria tomar, como ponto de partida, aqueles mesmos critérios que foram
considerados quando se tratava do fim da união dúplice em face do
desentendimento dos companheiros da união estável. Então se pode dividir o
patrimônio comum por três. É a ideia de “triação”. Um terço pertenceria a esposa,
outro terço pertenceria à companheira e o último terço seria a herança deixada
pelo "de cujus".
Posição minoritária, mas em evolução, parte da jurisprudência e doutrina
vem reconhecendo a entidade denominada poliamor, atribuindo efeitos jurídicos e
assinalando as características que o individualizam dos relacionamentos
concubinários esporádicos, os quais não tem intenção de constituição de família e
são fundados em mero relacionamento sexual, que perdura às escondidas, o qual
deve sim, permanecer excluído da proteção jurídica.
Neste sentido, Dias (2010, p. 54) reconhece que “deixar de reconhecer a
família paralela como entidade familiar leva à exclusão de todos os direitos no
âmbito do direito das famílias e sucessório”.
Referidos relacionamentos, objeto do presente estudo, são realidade que
não podem permanecer marginalizados, restando inadmissível que o Judiciário e o
Legislativo se esquivem de tutelar os relacionamentos baseado no princípio da
afetividade. Tendo em vista que, a evolução e constantes modificações normativas
“visam preservar a coesão familiar e os valores culturais, conferindo-se à família
moderna um tratamento mais consentâneo à realidade social [...]” (GONÇALVES,
2011, p. 21-22).
Para fundamentar a possibilidade de reconhecimento do poliamor no âmbito
do Direito de Família, deve ser observado referido princípio da afetividade, o qual
vem sendo aplicado na proteção dos novos modelos de família que passaram a
surgir.
Neste sentido, a primeira Escritura de União Poliafetiva lavrada no Brasil, foi
realizada no Cartório de Notas e Protestos da Cidade de Tupã, interior de São
Paulo, no ano de 2012, onde as partes relacionadas eram duas mulheres e um
homem, que já viviam sobre o mesmo lar e buscaram declarar a relação e garantir
seus direitos, estabelecendo na Escritura Pública os direitos e deveres dos
conviventes e a adoção do regime de comunhão parcial de bens.
Assim, observando a garantia familiar das relações homoafetivas
reconhecida pelo STF ao serem julgadas as ADI 4.277 e a ADPF 132 e
principalmente ante as constantes adequações da sociedade, recentemente foi
lavrada a primeira Escritura Poliafetiva entre três mulheres, desta vez no 15º Ofício
de Notas do Rio de Janeiro. Referido documento trata da questão patrimonial e
sucessória, bem como dispõe sobre a dissolução da união poliafetiva e sobre os
efeitos jurídicos desse tipo de união.
No entanto, é importante salientar que “A escritura pública não é constitutiva
da união estável. É gerada por uma presunção de que aquelas próprias pessoas ali
compareceram e aquilo declararam, estando de gozo de suas faculdades mentais
e aparentemente livres de coação” (FACCENDA, 2014, p. 183).
Desta forma, verifica-se que a negativa geral ao reconhecimento ou ao
mínimo amparo jurídico a todo e qualquer tipo de concubinato simultâneo à união
estável ou ao casamento, sem que fosse realizada uma análise pontual sobre cada
caso em concreto e desde que seja garantida de forma excepcional esse direito à
“amante”, acarreta em grande injustiça.
Neste sentido, Hironaka apud Tartuce (2014, p. 308-309) observa que o
Direito não pode permanecer alheio à realidade social, onde assegura;
Que o direito não permaneça alheio à realidade humana, às realidade das
situações existentes, às mudanças sociais importantes que, sem dúvida, tem se
multiplicado na história das famílias, exatamente como ela é. Cerrar os olhos talvez
seja mais um dos inúmeros momentos de hipocrisia que o Legislativo e o Judiciário
têm repetido deixar acontecer, numa era que não mais se coaduna com as
histórias guardadas a sete chaves.
Com isso, aponta-se a necessidade de regulamentação legal acerca dos
critérios minuciosos, os quais deverão ser observados de forma equitativa pelo
magistrado ante o caso concreto e o reconhecimento dos efeitos jurídicos do
poliamor como entidade familiar, a fim de evitarem-se maiores injustiças, onde ao
mínimo deverá ser a concubina, quando da dissolução da união, amparada por
pensão alimentícia, caso preencha os requisitos legais e seja-lhe assegurada a
partilha dos bens adquiridos na constância da união, observando as regras da
comunhão parcial de bens, já analisada.
Neste sentido, atribuir tratamento jurídico divergente a esta realidade social,
importa na reiterada violação aos princípios constitucionais da igualdade e da
dignidade da pessoa humana, não sendo admissível que o Direito permaneça
insensível às mudanças sociais, não podendo o judiciário se esquivar de proteger
as relações fundadas no afeto.

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