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UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA

Trabalho para a matéria de Filosofia da religião – A experiência


religiosa

Catarina Machioni Spagnol

Universidade Católica Portuguesa

Sob a orientação do prof. Américo Pereira

Novembro de 2016
A experiência religiosa

Há na etimologia da palavra religião uma discussão acerca da sua real


origem. Por um lado, há quem afirme que o termo religião derive do latim ​religio
e que significa louvor e reverência aos deuses. Por outra ótica, afirma-se que o
termo seja a junção do prefixo ​re que reafirma uma determinada condição e
ligare que significa unir. No segundo caso, religião seria uma re- união. E para
encerrar as divergências, há ainda outro ponto de vista que afirma a origem
etimológica da palavra como advinda de ​relegere​, termo que significa “revisitar”
ou “reler”. Sendo assim, as duas primeiras versões da origem etimológica do
termo religar atribuem a ele a função de expressar uma condição de ligação com
outra realidade. Portanto, a religião denota uma relação entre o sujeito e essa
outra realidade que é objeto de interação. O sujeito e os deuses por ele
reverenciados no primeiro caso e o sujeito e a realidade abstrata a qual ele se une.

A relação entre o sujeito e os deuses por ele reverenciados ou entre o


sujeito e a realidade a qual ele interage (comumente denominada de Deus)
determina a experiência religiosa. «É inegável que há uma experiência religiosa:
esta existe, é comprovada por milhões de relatos diferentes, desde que há notícia
da própria humanidade » (PEREIRA, Américo. Fenomenologia da experiência
religiosa. P. 20). Considerando que a experiência religiosa é inegável, « será a
experiência religiosa algo de real em si mesma, irredutível a qualquer outra
realidade, ou será redutível?» (PEREIRA, Américo. Fenomenologia da
experiência religiosa. P. 21)

O objeto da relação que determina a experiência religiosa seria Deus ou os


deuses. Segundo Ricardo da Costa, em seu artigo intitulado de A Experiência
religiosa e mística de Ramon Llull: a infinidade e a eternidade divinas do livro da
contemplação, os medievais consideravam a contemplação como um caminho
para se estabelecer uma relação com Deus. Já as culturas antigas compreendiam
que essa relação ocorreria mediante o alcance de um estado mental sumamente
bom. Nesse último caso, cita o autor: «Por exemplo, Aristóteles disse que a
atividade da vida contemplativa – a vida que olha a verdade – era o que melhor
existia em nós, pois era a atividade virtuosa, a única estimada por si mesma, isto
é, a própria felicidade. O cristianismo nada mais fez que incorporar esse modo
supremo de vida e integrá-lo em sua concepção, em seu conceito de beatitude».

Diante da possibilidade de dizer que a experiência religiosa estabelece a


relação entre o homem e a sacralidade da vida, definimos a própria experiência
religiosa como constituinte de uma realidade ontológica daquilo que é sagrado
para o sujeito. Desse modo, a experiência religiosa passa a ser também uma
experiência mística, repetida incontáveis vezes, por diferentes pessoas e de
diferentes maneiras e por isso é possível afirmar que a ela possui um caráter
subjetivo e também ontológico.

A experiência religiosa tem origem numa postura numinosa do sujeito


perante a vida e está inserida na ordem do inefável. A relação é estabelecida no
âmbito do sensível ou no âmbito do logos e em ambas, as formas de
manifestação necessitam transpor a estrutura da linguagem para transformar-se
em narrativa. O sujeito que atua no dinamismo da relação é o único a princípio,
capaz de transmiti-la, mas necessita usar da semântica para fazê-lo. Ao encontrar
um receptor, a experiência é transferida a outrem, incapaz de absorvê-la de igual
maneira. «Se essa experiência for apreendida e compreendida (talvez fosse mais
adequado dizer não com – preendida, mas convivida) em seu mais próprio
sentido e vigor, - então este discurso que se propõe apresenta-lá deve
necessariamente frustrar-se enquanto discurso» (TORRANO, Jaa. Teogonia – A
origem dos deuses- Estudo e tradução. Roswitha kempf. P. 11). Única e
instransferível, a experiência religiosa pode ser compartilhada entre diferentes
sujeitos. Ainda que momentânea, a experiência religiosa permite a atribuição de
significado para a vida, que mesmo por um breve instante e depois interiorizado e
absorvido, passa a ser vivenciada como sagrada.

Bibliografia:

● COSTA, Ricardo de. A Experiência religiosa e mística de Ramon Llull: a


infinidade e a eternidade divinas do livro da contemplação. Revista de Filosofia e
Mística Medieval. Curitiba: Faculdade de Filosofia de São Boaventura, volume
3, nº 1, Janeiro/Junho 2006. P. 107-133. Disponível em:

http://www.ricardocosta.com/artigo/experiencia-religiosa-e-mistica-de-ramon-llu
ll-infinidade-e-eternidade-divinas-no-livro-da​ . ​Último acesso 14/03/2017

● PEREIRA, Américo. Fenomenologia da experiência religiosa. Lusofia. 2007.


Disponível em:

http://www.lusosofia.net/textos/americo_pereira_fenomenologia_experiencia_rel
igiosa.pdf​ . ​Último acesso 14/03/2017

● TORRANO, Jaa. Teogonia – A origem dos deuses- Estudo e tradução.


Roswitha kempf. São Paulo.

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