TEXTO: Tratado de história das religiões – Cap. 1 – Aproximações estrutura e
morfologia do sagrado – Micea Eliade
O conceito de sagrado e profano é presente em diferentes culturas. Essa
distinção é um componente que fundamenta as diferentes experiencias religiosas e tem impactos em como as pessoas olham para o mundo a seu redor e como elas interagem com esse mundo. O autor aponta que o trabalho de estudar apenas uma religião pode ser um trabalho para vida toda, já o estudo comparativo das religiões pode levar muitas existências, por é preciso fazer algumas escolhas para poder estudar ser possível iniciar esse processo. Para trabalhar a comparação entre as religiões e apresentar os conceitos de sagrado e o profano Eliade introduz um conceito aos materiais que um historiador da religião trabalha que é chamado por ele de “hierofania”. Esse conceito se refere a experiencia do sagrado como uma manifestação em objetos animados ou inanimados, lugares e certos eventos que acontecem no mundo, que podem ter um caráter local ou universal. Todo e qualquer objeto que ultrapasse sua condição normal de mero objeto e tenha “algo para além de si mesma”, ou seja, que seja feita uma escolha desse objeto pela cultura, pode se tornar uma hierofania e se tornando adquire uma nova dimensão de sacralidade. Nesse sentido não existe uma experiencia que seja mais sagrada que outra pois faz parte da elite, do clero, da classe dominante, todas as manifestações de qualquer parte da sociedade, seja ela dominante ou não representa esse processo de profano e sagrado. O autor aponta que um mesmo objeto, como no exemplo da deusa Durga e do Shiva, ambos possuem diferentes entendimentos a depender da região da Índia e esse entendimento leva a uma relação com eles. Ambas têm sua validade e nenhuma é mais do que a outra pois ambas representam esse aspecto de relação com determinada manifestação. É através dessa manifestação que o sagrado se faz torna disponível ao acesso dos seres humanos e, em muitas culturas, seu mundo é moldado de muitos objetos sagrados e lugares que possuem, aos olhos dos que fazem parte dessa cultura, significado religioso. Uma outra questão que é apontada é com relação ao tempo e a sacralização do tempo, o autor observa que várias culturas possuem calendários religiosos, festivais e rituais que são eventos especiais de conexão com o divino. Esses momentos vão ser determinantes como uma forma de transcender a temporalidade mundana e são vistas pelos que estão ali praticando como, naquele momento, a entrada no mundo sagrado. Ao longo do texto o autor explora a ideia de que a diferença entre sagrado e profano é a divisão entre uma realidade, transcendência e uma valor absoluto do lado do sagrado em contraposição ao profano que é o mundo cotidiano e secular. No que se refere a experiencia religiosa essa divisão entre sagrado e profano é fundamental pois ela permite que os seres entrem em contato com o divino em determinados momentos considerados especiais. No que se refere aos rituais e mitos Eliade coloca que eles são uma tentativa de recriar o sagrado e de uma tentativa de participar da realidade desse sagrado. Os rituais, por exemplo, são considerados formas de entrar em comunhão com esse sagrado e de se conectar com essa dimensão transcendente que faz parte da existência dentro do campo do sagrado. Ademais, sobre o processo de reprodução, os rituais de iniciação estão frequentemente envolvendo o processo de morte e renascimento simbólico de um indivíduo, esse processo representa uma transformação individual e dessa forma uma conexão com o sagrado. É um processo que marca ainda mais a transição de um plano profano para um plano sagrado representando uma aquisição de conhecimentos novos e de um novo status espiritual. Isso é assim pois, esses rituais marcam a transição de um estado de ignorância para um estado de consciência e sabedoria. Segundo o autor muitos dos ritos religiosos tem como objetivo superar o caos e a desordem do mundo profano, eles seriam a forma de restabelecer a conexão com a ordem cósmica e como o divino. Esses rituais envolvem a repetição de padrões e gestos simbólicos, essa repetição não é mera redundância, mas é uma maneira de participar das ações dos seres divinos e dessa forma perpetuar o sagrado. Por fim, Mircea Eliade coloca que a separação do homem categorizado como de cultura arcaica e o homem moderno reside no fato de que o homem moderno é incapaz de viver uma sexualidade e uma nutrição de uma que estas sejam sacras. O autor aponta que para o materialismo histórico e para psicanálise essas funções não passam de funções fisiológicas e para os chamados de arcaicos é algo que se comunica com a força representativa da própria vida. Nesse sentido é preciso entender que as culturas arcaicas trabalham com símbolos e em uma analise de seu conjunto é possível entender um conjunto de verdades integradas que formam um sistema e resultam em uma teoria, por tanto uma visão moderna dizendo que esses povos são menos evoluídos pois não produzem uma teoria religiosa é equivocada, pois eles produzem uma teoria porém não da maneira que o povo categorizado moderno o faz.