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Eric Voegelin (1901–1985) foi um estudioso alemão que causou comoção nos meios
acadêmicos ao classificar movimentos políticos modernos — como o positivismo e o
marxismo — como gnósticos, de modo que não passariam de novas versões de uma
velha heresia combatida pela Igreja Católica. Nascido em Colonha, Voegelin chegou a
ser aluno de Hans Kelsen, mas acabou emigrando até a Louisiana, no sul dos Estados
Unidos, durante a ditadura de Hitler. Foi lá que escreveu a maioria de seus livros. Sua
“demonização” do marxismo — se não precisa, ao menos justa — lhe garantiu alguma
popularidade junto à direita americana, embora Voegelin também condenasse o
liberalismo e o protestantismo como movimentos gnósticos. Em grande parte devido à
difusão das teses de Voegelin, teses estas inspiradas por autores modernistas, tem
havido recentemente uma onda de estudos “revisionistas” sobre gnose, questionando a
validade do termo e buscando redefinir seu significado. O presente estudo visa mostrar
justamente como Voegelin está envolvido nesta confusão, e quais as suas razões.
Durante o 2001 Annual Meeting of the American Political Science Association, realizado
em San Francisco entre 30 de agosto e 2 de setembro de 2001, Stefan Rossbach
apresentou um interessantíssimo estudo intitulado “Gnosis” in Eric Voegelin’s
philosophy, que, como o próprio nome já diz, trata do uso do termo “gnose” por Eric
Voegelin.
É principalmente neste trabalho de Rossbach que nosso estudo se baseia, reproduzindo
várias de suas citações e descobertas (o autor teve acesso às cartas de Voegelin),
traduzidas para o português. Além disso, foi utilizada também, para a compreensão
geral da filosofia voegeliana, principalmente a tese de doutorado de Mendo Castro
Henriques, A Filosofia Civil de Eric Voegelin, apresentada à Universidade Católica de
Lisboa.
Como não podia deixar de ser, foram feitas consultas às obras tanto do próprio Voegelin,
como de outros autores, sobre ele e sobre o tema da gnose, além de certas contribuições
nossas, na medida em que eram pertinentes à elucidação do problema proposto: o
gnosticismo em Eric Voegelin.
Agradecimentos são devidos ao Prof. Orlando Fedeli, cujos estudos sobre gnose são
nossa principal base, por ensinar a encarar a questão do único ponto de vista capaz de
compreendê-la sem falhas: o da Santa Igreja Católica. Dentre seus trabalhos publicados,
o recente A Gnose “Tradicionalista” de René Guénon e Olavo de Carvalho contém um
bom resumo da gnose e indicações de grande valor, tanto teórico quanto apologético,
sobre esta doutrina, que é o coração de todas as heresias.
Inclusive, foi a polêmica que se seguiu a esse trabalho de Orlando Fedeli que motivou
nosso estudo sobre Voegelin, pois algo devia estar errado se um gnóstico em sentido
estrito como Olavo de Carvalho podia citar Voegelin em sua defesa, como foi feito,
apenas porque tanto um quanto o outro se opõem aos movimentos materialistas que
Voegelin condena como “gnose moderna” (positivismo, marxismo, etc.).
O presente estudo é dedicado ainda a D., um amigo que gastou todo o seu dinheiro
importando as caras obras de Voegelin, e ainda gasta tempo e dinheiro com um de seus
ecos. Que o que se segue possa lhe ser útil.
16. Bibliografia
Santo AGOSTINHO, A Cidade de Deus (Contra os Pagãos), Petrópolis: Editora Vozes,
1999, 4a. edição.
Prof. Orlando FEDELI, A Gnose “Tradicionalista” de René Guénon e Olavo de Carvalho,
<http://www.montfort.org.br/cadernos/guenon.html>.
_________________, “Gnose: Religião Oculta da História”,
<http://www.montfort.org.br/veritas/gnose.html>.
_________________, Conceituação, Causas e Classificação das Utopias,
<http://www.montfort.org.br/cadernos/utopia1.html>.
David GORDON, “The Fallacies of Voegelian Antiliberalism”, Fall 2000,
<http://www.mises.org/misesreview_detail.asp?control=166>.
Mendo Castro HENRIQUES, A Filosofia Civil de Eric Voegelin, Lisboa, Universidade
Católica Editora, 1994.
Stephen A. HOELLER, “What is a Gnostic?”,
<http://www.webcom.com/~gnosis/whatisgnostic.htm>.
Hans JONAS, The Gnostic Religion, Beacon Press, Boston, 1991, 2ª edição.
Bill McCLAIN, “Advice for those who want to read Eric Voegelin”,
<http://www.salamander.com/~wmcclain/ev-advice.html>.
___________, “Dictionary of Voegelian Terminology”,
<http://www.salamander.com/~wmcclain/ev-dictionary.html>.
Stephen McKNIGHT, Gnosticism and Modernity: Voegelin’s Reconsiderations in 1976,
<http://pro.harvard.edu/papers/091/091007McKnightSt.pdf>.
Joshua MITCHELL, Voegelin and the Scandal of Luther: Philosophy, Faith, and the
Modern Age, 2000, <http://www.artsci.lsu.edu/voegelin/EVS/PANEL5.html>.
Edward MOORE, “Gnosticism”, verbete da Internet Encyclopedia of Philosophy,
<http://www.utm.edu/research/iep/g/gnostic.htm>.
São PIO X, Pascendi Dominici Gregis
Stefan ROSSBACH, ‘Gnosis’ in Eric Voegelin’s Philosophy, July 2001.
<http://pro.harvard.edu/papers/091/091007RossbachSt.pdf>.
Robert A. SEGAL, “Gnosticism, Ancient and Modern”, Christian Century, November
1995.
<http://www2.gol.com/users/coynerhm/gnosticism_ancient_and_modern.htm>.
Eric VOEGELIN, Autobiographical Reflections, Louisiana State University Press, 1989.
_____________, A Nova Ciência da Política, Brasília, Universidade de Brasília, 1982,
2ª ed.
_____________, Plato, University of Missouri Press, 2000.
_____________, Order and History vol. V: In Search of Order, The Collected Works
of Eric Voegelin, Vol. XI, Ed. Ellis Sandoz, University of Missouri Press, 2000.
(Nota: Foram citadas também outras obras do autor, a partir de seus estudiosos.)
D.P. WALKER, Spiritual & Demonic Magic — from Ficino to Campanella, The
Pennsylvania State University Press, 2000.