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Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais

Campus Formiga

TRANSMISSÃO
DE
ENERGIA ELÉTRICA

Professor Eduardo Pereira

eduardo.pereira@ifmg.edu.br

2012
Sumário
Capítulo 1 – Introdução

1.1 Introdução.................................................................................................... 4
1.2 A Rede de Transmissão............................................................................... 5
1.3 A Rede de Subtransmissão.......................................................................... 5
1.4 A Transmissão de Energia Elétrica no Brasil.............................................. 5
1.5 Exercícios.................................................................................................... 7

Capítulo 2 – Características Físicas das Linhas Aéreas de Transmissão

2.1 Introdução.................................................................................................... 8
2.2 Cabos Condutores....................................................................................... 8
2.3 Isoladores e Ferragens................................................................................. 9
2.4 Estruturas das Linhas de Transmissão........................................................ 9
2.5 Cabos Para-Raios........................................................................................ 11
2.6 Exercícios.................................................................................................... 11

Capítulo 3 – Teoria da Transmissão da Energia Elétrica

3.1 Introdução.................................................................................................... 12
3.2 Linha de Transmissão Idelal....................................................................... 12
3.2.1 O Fenômeno da Energização da Linha........................................... 12
3.2.2 Relações de Energia........................................................................ 14
3.3 Linha de Transmissão Real......................................................................... 16
3.3.1 Análise das Linhas em Regime Permanente................................... 17
3.4 Exercícios.................................................................................................... 17

Capítulo 4 – Cálculo Prático das Linhas de Transmissão

4.1 Introdução.................................................................................................... 19
4.2 Linhas Curtas (até 80 km)........................................................................... 19
4.3 Linhas Médias (entre 80 km e 250 km)....................................................... 20
4.4 Linhas Longas (maiores que 250 km)......................................................... 22
4.5 Linhas de Transmissão como Quadripolos................................................. 22
4.6 Linha Artificial............................................................................................ 25
4.7 Potência nas Linhas de Transmissão........................................................... 26
4.8 Perdas de Potência e Rendimento............................................................... 27
4.9 Linhas Trifásicas Desequilibradas.............................................................. 27
4.10 Exercícios.................................................................................................. 28

Capítulo 5 – Operação das Linhas

5.1 Introdução.................................................................................................... 29
5.2 Modo de Operação das Linhas de Transmissão.......................................... 29
5.2.1 Linha Entre Central Geradora e Carga Passiva.............................. 30
5.2.1.1 Operação Com Tensão Constante no Transmissor...................... 31

2
5.2.2 Linha de Transmissão Ligando uma Central Geradora a um
Grande Sistema........................................................................................ 32
5.2.3 Linha de Interligação de Sistemas.................................................. 33
5.2.4 Linha de Interligação Entre Dois Pontos de um Mesmo Sistema... 34
5.3 Meios de Controlar Tensões e Ângulos de uma Linha (Compensação das
Linhas)............................................................................................................... 34
5.3.1 Regulação do Fator de Potência...................................................... 34
5.4 Compensação das Linhas de Transmissão.................................................. 35
5.4.1 Compensação em Derivação........................................................... 36
5.4.2 Compensação Série......................................................................... 38
5.5 Dispositivos FACTS................................................................................... 39
5.6 Exercícios.................................................................................................... 40

Capítulo 6 – Impedância em Série de Linhas de Transmissão

6.1 Introdução.................................................................................................... 41
6.2 Resistência................................................................................................... 41
6.3 Indutância.................................................................................................... 43

Capítulo 7 – Capacitância de Linhas de Transmissão

7.1 Introdução.................................................................................................... 48
7.2 Capacitância................................................................................................ 48

3
Capítulo 1 – Introdução

1.1 Introdução

As linhas de transmissão são condutores através dos quais a energia elétrica é


transportada de um ponto transmissor a um terminal receptor.

Os sistemas de transmissão proporcionam à sociedade um benefício reconhecido


por todos: o transporte de energia elétrica entre os centros produtores e os centros
consumidores.

Formas comuns de linhas de transmissão são:

 Linha aérea em corrente alternada ou em corrente contínua com


condutores separados por um dielétrico;
 Linha subterrânea com cabo coaxial com um fio central condutor, isolado
de um condutor externo coaxial de retorno;
 Trilha metálica, em uma placa de circuito impresso, separada por uma
camada de dielétrico de uma folha metálica de aterramento, denominado
microtrilha.

As linhas de transmissão podem variar em comprimento, de centímetros a


milhares de quilômetros. As linhas com centímetros de comprimento são usadas como
parte integrante de circuitos de alta frequência, enquanto que as de milhares de
quilômetros para o transporte de grandes blocos de energia elétrica.

As frequências envolvidas podem ser tão baixas quanto 50 Hz ou 60 Hz para


linhas de transporte de grandes blocos de energia ou tão altas como dezenas de GHz
para circuitos elétricos utilizados na recepção e amplificação de ondas de rádio.

Em frequências muito altas (VHF), o sistema de transmissão utilizado pode ser o


guias de ondas. Estes podem estar na forma de tubos metálicos retangulares ou
circulares, com a energia elétrica sendo transmitida como uma onda caminhando no
interior do tubo. Guias de ondas são linhas de transmissão na forma de apenas um
condutor.

A teoria básica de linhas de transmissão pode ser aplicada a qualquer das


modalidades de linhas mencionadas. Entretanto, cada tipo de linha possui propriedades
diferentes que dependem, por exemplo, de:

 Frequência;
 Nível de tensão;
 Quantidade de potência transmitida;
 Modo de transmissão (aéreo ou subterrâneo);
 Distância entre os terminais transmissor e receptor.

Os assuntos aqui tratados estão direcionados para linhas de transmissão de

4
potência. O sistema de transmissão de energia elétrica compreende toda rede que
interliga as usinas geradoras às subestações da rede de distribuição.

A eletricidade é em geral transmitida a longas distâncias através de linhas de


transmissão aéreas. A transmissão subterrânea é usada somente em áreas densamente
povoadas devido a seu alto custo de instalação e manutenção, e porque a alta potência
reativa produz elevadas correntes de carga e dificuldades no gerenciamento da tensão.

1.2 A Rede de Transmissão

A rede de transmissão liga as grandes usinas de geração às áreas de grande


consumo. Em geral apenas poucos consumidores com alto consumo de energia elétrica
são conectados às redes de transmissão onde predomina a estrutura de linhas aéreas.

A segurança é um aspecto fundamental para as redes de transmissão. Qualquer


falta neste nível pode levar a descontinuidade de suprimento para um grande número de
consumidores. A energia elétrica é permanentemente monitorada e gerenciada por um
centro de controle. O nível de tensão depende do país, mas normalmente o nível de
tensão estabelecido está entre 220 kV e 765 kV.

1.3 A Rede de Subtransmissão

A rede de subtransmissão recebe energia da rede de transmissão com objetivo de


transportar energia elétrica a pequenas cidades ou importantes consumidores industriais.
O nível de tensão está entre 35 kV e 160 kV.

Em geral, o arranjo das redes de subtransmissão é em anel para aumentar a


segurança do sistema. A estrutura dessas redes é em geral em linhas aéreas, por vezes
cabos subterrâneos próximos a centros urbanos fazem parte da rede.

A permissão para novas linhas aéreas está cada vez mais demorada devido ao
grande número de estudos de impacto ambiental e oposição social. Como resultado, é
cada vez mais difícil e caro para as redes de subtransmissão alcançar áreas de alta
densidade populacional.

Os sistemas de proteção são do mesmo tipo daqueles usados para as redes de


transmissão e o controle é regional.

1.4 A Transmissão de Energia Elétrica no Brasil

As linhas de transmissão no Brasil costumam ser extensas, porque as grandes


usinas hidrelétricas geralmente estão situadas a distâncias consideráveis dos centros

5
consumidores de energia. Hoje o país está quase que totalmente interligado de norte a
sul como pode ser visto na Figura 1.1.

Grande parte da região norte e uma parcela reduzida da região centro-oeste, além
de algumas localidades esparsas pelo território brasileiro, ainda não fazem parte do
sistema interligado, sendo o suprimento de energia elétrica efetuado, quando existente,
por meio de pequenos sistemas elétricos isolados.

Nesses casos, a produção de eletricidade é normalmente efetuada por meio de


unidades geradoras de pequeno porte, utilizando frequentemente motores diesel como
equipamento motriz.

Figura 1.1 – Sistema Interligado Nacional (SIN)

Para atender às políticas externa e energética, o Brasil está interligado aos países
vizinhos como Venezuela (para fornecimento a Manaus e Boa Vista), Argentina,
Uruguai e Paraguai.

O Sistema Interligado Nacional é responsável por mais de 95% do fornecimento

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nacional. Sua operação é coordenada e controlada pelo Operador Nacional do Sistema
Elétrico (ONS).

O SIN permite que as diferentes regiões permutem energia entre si, quando uma
delas apresenta queda no nível dos reservatórios. Como o regime de chuvas é diferente
nas regiões Sul, Sudeste, Norte e Nordeste, os grandes troncos (linhas de transmissão da
mais alta tensão: 500 kV ou 750 kV) possibilitam que os pontos com produção
insuficiente de energia sejam abastecidos por centros de geração em situação favorável.

Vantagens dos sistemas interligados:

 Aumento da estabilidade: o sistema torna-se mais robusto podendo


absorver, sem perda de sincronismo, maiores impactos elétricos;
 Aumento da confiabilidade: permite a continuidade do serviço em
decorrência da falha ou manutenção de equipamento, ou ainda, devido às
alternativas de rotas para fluxo de energia;
 Aumento da disponibilidade do sistema: a operação integrada acresce a
disponibilidade de energia do parque gerador em relação ao que se teria se
cada empresa operasse suas usinas isoladamente;
 Mais econômico: permite a troca de reservas que pode resultar em
economia na capacidade de reservas dos sistemas. O intercâmbio de
energia está baseado no pressuposto de que a demanda máxima dos
sistemas envolvidos acontece em horários diferentes. O intercâmbio pode
também ser motivado pela importação de energia de baixo custo de uma
fonte geradora, como por exemplo, a energia hidroelétrica para outro
sistema cuja fonte geradora apresenta custo mais elevado.

Desvantagens dos sistemas interligados:

 Distúrbio em um sistema afeta os demais sistemas interligados;


 A operação e proteção tornam-se mais complexas.

1.5 Exercícios

I. Quais são as formas comuns de linhas de transmissão?


II. Cite três características que influência as propriedades das linhas de
transmissão.
III. Escreva sobre o Sistema Interligado Nacional (SIN).
IV. Quais são as vantagens e desvantagens de um sistema interligado?

7
Capítulo 2 – Características Físicas das
Linhas Aéreas de Transmissão

2.1 Introdução

O desempenho elétrico de uma linha de transmissão depende quase


exclusivamente de suas características físicas, que ditam o seu comportamento em
regime normal de operação, definindo seus parâmetros elétricos.

2.2 Cabos Condutores

Constituem dos elementos ativos das linhas de transmissão. Sua escolha adequada
representa um problema de fundamental importância no dimensionamento das linhas,
pois determinam o desempenho e o custo da transmissão.

Condutores ideais para as linhas aéreas de transmissão seriam aqueles que


pudessem apresentar as seguintes características:

 Alta condutibilidade elétrica


 Baixo custo;
 Boa resistência mecânica;
 Baixo peso específico;
 Alta resistência à oxidação e à corrosão por agentes químicos poluentes.

Dentre os metais que apresentam o maior número dessas propriedades, estão o


cobre e o alumínio.

Quando comparamos condutores de cobre com os de alumínio, fixados um mesmo


comprimento e uma mesma resistência elétrica do circuito, o volume de alumínio será
maior, pois será necessária uma seção condutora maior para compensar sua
condutividade, inferior em relação à do cobre.

Apesar disso, devido à maior densidade do cobre, o peso em cobre será


aproximadamente o dobro em relação ao do alumínio. Isso confere uma vantagem
adicional ao alumínio, que pode ser utilizado com estruturas de sustentação mais leves,
além do seu custo mais baixo.

Outra vantagem do alumínio, em virtude de seus diâmetros maiores, é seu melhor


desempenho diante do Efeito Corona (ruptura da capacidade de isolamento do ar em
torno dos cabos devido ao campo elétrico elevado, produzindo perdas na linha e
distúrbios eletromagnéticos que podem causar interferência no sistema de
comunicação).

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2.3 Isoladores e Ferragens

Os cabos são suportados pelas estruturas através de isoladores, que, como seu
próprio nome indica, os mantêm isolados eletricamente das mesmas. Devem resistir
tanto as solicitações mecânicas como às elétricas.

As solicitações mecânicas são:

 Forças verticais, devido ao peso dos condutores;


 Forças horizontais axiais, no sentido dos eixos longitudinais das linhas,
necessárias para que os condutores se mantenham suspensos sobre o solo;
 Forças horizontais transversais, em sentido ortogonal aos eixos
longitudinais das linhas, devidos à ação da pressão do vento sobre os
cabos.

Esses solicitações são transmitidas pelos isoladores às estruturas, que devem


absorve-las.

As solicitações elétricas são:

 Tensões normais e sobretensões em frequência industrial;


 Surtos de sobretensões;
 Sobretensões atmosférica.

Um isolador eficiente deve ainda ser capaz de fazer o máximo uso do poder
isolante do ar que o envolve a fim de assegurar o isolamento adequado. A falha de um
isolador pode ocorrer tanto no interior do material (perfuração) ou pelo ar que o envolve
(descarga externa).

Suas superfícies devem ter acabamento capaz de resistir bem às exposições ao


tempo. Para sua fabricação empregam-se dois tipos de material: porcelana vitrificada e
vidro temperado.

2.4 Estruturas das Linhas de Transmissão

As estruturas consistem nos elementos de sustentação dos cabos das linhas de


transmissão. Suas dimensões e forma dependem de diversos fatores como:

 Disposições dos condutores;


 Distância entre condutores;
 Dimensões e formas de isolamento;
 Flecha dos condutores;
 Altura de segurança;
 Função mecânica;
 Materiais estruturais;
 Número de circuitos.

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Nas linhas trifásicas empregam-se, fundamentalmente, três disposições de
condutores:

 Disposição triangular (Figura 2.1)


 Disposição horizontal (Figura 2.2)
 Disposição vertical (Figura 2.3)

Figura 2.1 – Disposição triangular

Figura 2.2 – Disposição horizontal

Figura 2.3 – Disposição vertical

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Para as linhas a circuito duplo preferem-se as disposições indicadas na Figura 2.4.

Figura 2.4 – Linhas a circuito duplo

2.5 Cabos Para-raios

Ocupam a parte superior das estruturas e se destinam a interceptar descargas de


origem atmosférica e descarregá-las no solo, evitando que causem danos e interrupções
nos sistemas.

Sua colocação nas estruturas, com relação aos cabos condutores, é fundamental no
grau de proteção oferecido à linha, e merece ser cuidadosamente estudada.

2.6 Exercícios

I. Cite três características que um condutor deve ter para ser utilizado em
uma linha de transmissão.
II. Quais são os dois melhores metais para ser usados como condutores em
uma linha de transmissão? Qual é o mais utilizado, e quais são suas
vantagens sobre o outro?
III. O que é o Efeito Corona? Quando ele acontece? Como podemos atenua-
lo?

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Capítulo 3 – Teoria da Transmissão da
Energia Elétrica

3.1 Introdução

A expressão linha de transmissão se aplica a todos os elementos de circuitos que


se destinam ao transporte de energia, independente da quantidade de energia
transportada. A mesma teoria é aplicável, feitas as necessárias ressalvas,
independentemente do comprimento físico dessas linhas.

3.2 Linha de Transmissão Ideal

3.2.1 O Fenômeno da Energização da Linha

Consideremos uma linha de transmissão ideal constituída por dois condutores


metálicos, retilíneos e completamente isolados, suficientemente distantes do solo, ou de
estruturas, ou de outras linhas, para que não seja influenciada pela sua presença, e de
comprimento qualquer.

Tratando-se de uma linha de transmissão ideal, a resistência elétrica dos


condutores é considerada nula, como também o dielétrico entre os condutores é
considerado perfeito, de forma que não há perdas de energia a considerar.

Do eletromagnetismo, temos que, entre dois condutores separados por dielétricos,


podemos definir uma capacitância e uma indutância.

Consideremos ainda que junto ao receptor haja um dissipador de energia,


representado pela resistência R2. Um circuito equivalente está representado na Figura
3.1.

Em um instante de tempo imediatamente anterior ao fechamento da chave S, os


terminais da fonte estão sob uma diferença de potencial U. No instante em que a chave
for fechada entre os terminais 1 e 1’, aparecerá a mesma diferença de potencial U.

Devido aos elementos indutivos e capacitivos ao longo da linha, decorre um


tempo finito entre o instante em que se aplica uma tensão ao transmissor de uma linha
de transmissão e o instante em que esta tensão pode ser medida em seu receptor. A
corrente fornecida pela fonte, uma vez atingido o valor da corrente de carga, se mantém
constante.

Cargas elétricas em movimento dão origem a campos magnéticos e elétricos.


Portanto, ao se energizar uma linha, ao longo da mesma irão se estabelecendo,

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progressivamente, campos elétricos e campos magnéticos, do transmissor ao receptor.
Dizemos que esses campos se propagam do transmissor ao receptor.

Figura 3.1 – Linha bifilar ideal

A velocidade de propagação para uma linha de comprimento l (km) é definida


por:

l
v  km / s 
T

sendo T o tempo necessário para que a tensão no receptor atinja o valor U.

A impedância da entrada da linha é definida como:

U 1
Z0    Lv
I0 C  v

Isolando v, temos:

1
v
LC

que é a expressão da velocidade com a qual os campos elétricos e magnéticos se


propagam ao longo de uma linha.

Para uma linha a dois condutores, no ar ou no vácuo, desprezando o efeito do


fluxo magnético interno do condutor e da presença do solo:

v  3  105  km / s 

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Essa é a velocidade de propagação da luz no vácuo. Nas linhas reais, em que o
fluxo interno dos condutores não é desprezível, assim como o meio em que a linha se
encontra, v é um pouco menor.

A impedância de entrada da linha também pode ser definida como:

L
Z0 
C

Z0 não depende do comprimento da linha, somente do meio em que esta se


encontra e de suas dimensões físicas, distância entre os condutores e raio dos
condutores.

Z0 é constante para cada linha e por isso é considerada uma grandeza


característica denominada impedância natural da linha ou impedância de surtos da
linha.

Com isso, temos:

U
I0   constante
Z0

A corrente de carga de uma linha, excitada por uma fonte de tensão constante,
também independe de seu comprimento.

3.2.2Relações de Energia

Em uma linha ideal, a quantidade de energia armazenada pelo campo elétrico é


exatamente igual à quantidade de energia armazenada pelo campo magnético. Cada um
dos campos armazena exatamente a metade da quantidade de energia fornecida pela
fonte. Esse processo durará indefinidamente, se a linha tiver um comprimento infinito.

As linhas de transmissão, porém, possuem comprimentos finitos. Neste caso,


ocorrerão fenômenos complexos, que dependem da forma com que a linha é terminada.

Imaginemos que a linha tenha um comprimento l e que na extremidade receptora


coloquemos um dissipador de energia R2, com a condição de que:

R 2  Z0

Temos então:

U  I 0 Z 0  I0 R 2

Uma vez que na terminação da linha não há campos magnéticos e elétricos a


armazenar energia, toda a energia fornecida pela fonte será dissipada na resistência R2.
Logo a corrente I0 continuará com a mesma intensidade inicial, como se a linha fosse de

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comprimento infinito, independente do valor de l. Uma linha assim terminada é
denominada linha de comprimento infinito.

Quando o valor de R2 for diferente de Z0 o equilíbrio da linha será alterado,


devemos considerar, portanto, dois casos:

a) R2 > Z0

Neste caso a corrente através de R2 e a potência dissipável será menor. Junto ao


terminal da linha haverá um excesso de energia. Um novo estado de equilíbrio deverá
ocorrer, pois esse excesso de energia não poderá ser destruído.

Uma redução da corrente da linha leva a uma redução da energia armazenada no


campo magnético. Por isso é o campo elétrico que recebe a energia excedente, que se
manifesta na forma de uma elevação da tensão e que se irá propagar ao longo da linha.

O aumento da tensão no receptor com relação à tensão no transmissor recebe o


nome de Efeito Ferranti. As principais implicações do Efeito Ferranti são:

I. Necessidade do aumento do nível de isolamento das linhas


II. Aumento do Efeito Corona
III. Necessidade de condutores com secções maiores
IV. Autoexcitação das máquinas síncronas, levando a tensões incontroláveis

Um caso extremo de operação da linha seria quando R2 = ∞, ou seja, a linha de


transmissão aberta junto ao receptor. Neste caso observamos que:

I. A corrente se reduz a zero, progressivamente, do receptor ao transmissor;


II. O campo elétrico tem que armazenar toda a energia excedente;
III. A tensão no receptor cresce o dobro do valor da tensão aplicada.

b) R2 < Z0

Neste caso a corrente através de R2 e a potência dissipável será maior. Junto ao


terminal da linha haverá um déficit de energia que não poderá ser suprimido de imediato
pela fonte que alimenta o sistema. O novo estado de equilíbrio somente poderá ser
atingido se essa deficiência for suprida pela própria linha, a custas da energia
armazenada por ela durante o processo de energização.

Uma vez que há um aumento no valor da corrente, o campo magnético não


somente não pode ceder energia, como também deve armazenar maior quantidade da
mesma, o que faz à custa do campo elétrico, que a cede. Haverá, portanto, uma redução
na tensão junto ao receptor, que caminha progressivamente em direção à fonte.

Outro caso extremo de operação da linha seria quando R2 = 0, ou seja, a linha de


transmissão está curto-circuitada. Neste caso observamos que:

I. A tensão junto ao receptor somente pode ser nula, propagando-se esse


valor do receptor ao transmissor;
II. Há um aumento no valor da corrente junto ao receptor que se propaga para
o transmissor.
III. Numa linha em curto-circuito a corrente crescerá, no receptor, ao dobro do

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seu valor.

3.3 Linha de Transmissão Real

Consideremos uma linha real, incluindo em seu circuito equivalente os elementos


representativos das perdas nos condutores r e das perdas nos dielétricos g, como mostra
a Figura 3.2.

Figura 3.2 – Circuito equivalente de uma linha real

Na análise das linhas de transmissão de energia elétrica, interessa-nos conhecer o


seu comportamento tanto em face de impulsos como em face às tensões e correntes
senoidais.

A função de propagação da onda é fornecida pela equação:

  r  jL    g  jC    r  jx L    g  jb     j
Nas linhas de transmissão de energia elétrica em regime permanente, nas quais a
frequência é constante, a função de propagação será constante.

Sua parte real, α, é responsável pelo amortecimento da onda e recebe o nome de


função de atenuação, tendo como unidade o néper/km. Dela dependem os módulos das
tensões ou correntes. Seu valor é diretamente relacionado com as perdas de energia da
linha.

A parte imaginária, β, recebe o nome de função de fase, tendo como unidade o


radianos/km, pois indica a forma como as fases da tensão e da corrente variam ao longo
da linha.

A impedância característica da linha de transmissão é dada por:

r  jL z
Zc  
g  jC y

Se fizermos r = g =0, obteremos exatamente a mesma expressão da impedância


natural da linha Z0. Nas linhas reais, como r e g são, em geral, relativamente pequenos
se comparados com L e C, respectivamente, seu valor numérico não difere muito do
valor de Z0.

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3.3.1 Análise das Linhas em Regime Permanente

A condição com carga é o regime normal de operação de linhas. Para o caso onde
a impedância da carga é igual a impedância característica da linha, o fator de potência é
constante e o defasamento entre a tensão e a corrente é sempre igual. A linha não
necessita de energia reativa externa para manutenção de seus campos elétricos e
magnéticos. A única energia absorvida pela linha é energia ativa e destina-se a cobrir as
perdas por efeito Joule e dispersão.

A potência característica da linha é definida como:

U 22
Pc  cos 
Zc

O ângulo δ é o argumento de Zc que corresponde à defasagem da corrente em


relação à tensão e está normalmente entre 1º e 5º, pois é função das perdas na linha.
Como cosδ ≈ 1 e Zc ≈ Z0, podemos definir a potência natural da linha como:

U 22
P0 
Z0

O conceito de potência natural (Surge Impedance Loading – SIL) vem recebendo


cada vez mais importância na técnica de transmissão de energia. Sendo uma potencia
ativa, foi adotada na prática como unidade base de potência, exprimindo-se os demais
valores das potências transmitidas através de uma linha, em função de sua potência
natural. Tornou-se preponderante no dimensionamento de linhas.

Sendo independente do comprimento da linha, devido ao fato de Z0 depender


essencialmente da distância entre os condutores e de seus raios, a potência natural das
linhas tornou-se fator importante na escolha das tensões de transmissão em primeira
aproximação e como orientação inicial dos estudos técnicos e econômicos para sua
fixação.

Apesar de ser a condição mais vantajosa, a operação constante de uma linha com
potência natural, na prática, ocorre só em condições especiais, já que a carga alimentada
não é constante, variando continuamente de acordo com a demanda do sistema.

3.4 Exercícios

I. O que ocorre com a energia dissipada pela carga, com a corrente e com a tensão
no receptor quando a carga é igual, menor e maior que a impedância natural da
linha?
II. O que é o Efeito Ferranti e quais são suas implicações?
III. Considere a linha de transmissão da Figura 3.3. Sendo f = 60 Hz a frequência
do sistema e considerando sempre, primeiramente a linha real e em seguida a
linha ideal:

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a. Calcule a função de propagação da onda
b. O que você sabe sobre a parte real e a parte imaginária da função de
propagação da onda?
c. Calcule a impedância característica da linha
d. Calcule a impedância natural da linha
e. Calcule a potência característica da linha para a tensão de 380 kV
f. Calcule a potência natural da linha para a tensão de 380 kV

Figura 3.3 – Linha de Transmissão

18
Capítulo 4 – Cálculo Prático das Linhas
de Transmissão

4.1 Introdução

Nos cálculos de linhas de transmissão procura-se obter valores de tensões,


correntes e potências com erros inferiores a 0,5%. As linhas de transmissão devem ser
representáveis através de seus circuitos equivalentes ou modelos matemáticos da forma
mais simples e racional possível, compatível com o grau de precisão almejado.

A partir de agora, a não ser que venha expressamente especificado de modo


diferente, trataremos exclusivamente de linhas aéreas trifásicas. Estas são
suficientemente equilibradas para que possam ser representadas através de circuitos
monofásicos.

De um modo geral, no cálculo elétrico das linhas de transmissão objetivamos:

 Conhecidas ou especificadas tensões e correntes em um ponto da linha,


determinar essas mesmas grandezas em outro ponto da linha;
 Conhecidas ou especificadas potências ativas e reativas em um ponto da
linha, determinar essas grandezas em outro ponto da linha;
 A determinação de grandezas de desempenho: regulação, rendimentos,
ângulos de potência, etc.;
 Estudo de compensação para correção de desempenho;

A regulação de tensão de uma linha, em um determinado regime de carga, é a


variação percentual entre os módulos das tensões entre transmissor e receptor, com
relação a esta última:

U1  U 2
Re g%  100%
U2

Seu valor depende do regime de carga da linha, principalmente da potência reativa


transmitida, como também dos parâmetros elétricos das linhas. Poderá ser positivo ou
negativo, como, por exemplo, nas linhas médias ou longas que operam em vazio, ou
com potências reduzidas. Pode ser controlado atuando-se sobre o fator de potência da
carga, ou sobre os parâmetros das linhas. Uma ou outra solução tem implicações
econômicas importantes, merecendo nossa atenção.

4.2 Linhas Curtas (até 80 km)

Nas linhas de transmissão curtas podemos desprezar inteiramente os efeitos da


condutibilidade g e da capacitância C. O circuito equivalente de um linha curta está
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representado na Figura 4.1.

Figura 4.1 – Circuito equivalente de uma linha curta

Neste caso a equação de correntes será:

 
I  I  U1  U 2
1 2 
Z

4.3 Linhas Médias (entre 80 km e 250 km)

O circuito equivalente que buscamos para linhas médias deverá ser simples,
principalmente tendo em vista que deverá representar as linhas em circuitos bastante
complexos dos sistemas de energia elétrica.

Deparamos com dois circuitos conhecidos dos cursos de circuitos elétricos, o


circuito T representado na Figura 4.2 e o circuito Pi representado na Figura 4.3.

Figura 4.2 – Circuito T de uma linha de transmissão

As equações para o circuito T são:

 
 U   1  ZY   I Z   ZY 
U 1 2  2 1  
 2   4 

I  I 1  ZY   U
 Y 
1 2 2
 2 

20
Figura 4.3 – Circuito Pi de uma linha de transmissão

As equações para o circuito Pi são:


U U   1  ZY   I Z
1 2  2
 2 
 
I  I 1  ZY   U
 Y  1  ZY 
1 2 2
 2   4 

Mesmo que ambos os circuitos sejam aceitáveis, prefere-se hoje o circuito Pi


como representativo das linhas médias, pois, ao estabelecer os modelos matemáticos de
grandes sistemas, o circuito T obrigaria o estabelecimento de mais uma barra ou nó por
linha de transmissão incluída, o que se traduz em um aumento correspondente do
número de equações no modelo do sistema. A Figura 4.4 mostra a razão disso:

Figura 4.4 – Diferenças entre o circuito T e Pi para efeito de inclusão das linhas em
sistemas de energia elétrica

21
4.4 Linhas Longas (maiores que 250 km)

São aquelas em cujo cálculo os processos das linhas curtas e médias são
considerados insuficientemente precisos para os fins desejados.

O circuito Pi é adequado para a representação das linhas longas, em regime



permanente, desde que os valores de Z  e Y sejam adequadamente corrigidos, para
2
retratar a condição de parâmetros distribuídos:

l
' Y tgh
Z  senhl
 ' Z Y
 2
 l 2 2 l
2

4.5 Linhas de Transmissão como Quadripolos

Dadas as suas características próprias, os circuitos que representam as linhas


podem ser classificados como Quadripolos, que pode ser definido por seis pares de
equações lineares, todas elas inter-relacionadas entre si:

  z  I , I 
U I1  y 1  U
 ,U 
1 1 1 2 1 2

  z  I , I 
U I2  y 2  U
 ,U 
2 2 1 2 1 2

  a  U
U  , I    b  U
U  , I 
1 1 2 2 2 1 1 1

I  a  U
 , I  I  b  U
 , I 
1 2 2 2 2 2 1 2

I  g  E , I    h  U
U  , I 
1 1 1 2 1 1 2 1

  g  E , I 
U 2 2 1 2 I2  h 2  U
 , I 
2 1

Essas equações possuem, cada qual, duas variáveis independentes e duas variáveis
dependentes relacionadas entre si pelos parâmetros dos respectivos circuitos, aos quais
as seguintes restrições são impostas:

 Devem possuir apenas uma entrada e uma saída, representada por dois
pares de terminais, podendo um deles ser comum a ambos;
 Devem ser passivos, o que exclui a presença de fontes de tensão;
 Devem ser lineares, a fim de que a sua saída (resposta) tenha a mesma
forma que o estímulo aplicado à entrada, exigindo pois, impedâncias e
admitância de valores constantes independentes do valor da corrente e da
tensão a elas aplicados.
 Devem ser bilaterais, significando que sua resposta a um estímulo aplicado
a um par de terminais é a mesma que a um estímulo aplicado ao outro.
Essa exigência exclui os retificadores de corrente.

22
Se U  e I 2 do quadripolo da Figura 4.5 forem consideradas variáveis
2

independentes, U e I serão suas variáveis dependentes, relacionadas com as primeiras


1 1

através da impedância Z e da admitância Y  do circuito; ele fica definido pelo par de


equações:

  a  U
U  , I 
1 1 2 2

I  a  U
 , I 
1 2 2 2

ou seja,

U    BI
  AU 
1 2 2

I  CU   DI

1 2 2

Figura 4.5 – Quadripolo típico

ou, adotando a forma matricial,

U   A B
  U  
1 2
        
I 
 1   C D   I2 

 e I as variáveis independentes e U
Igualmente, se considerarmos U  e I as
1 1 2 2

variáveis dependentes, teremos:

U  DU
   BI

2 1 1
   AI
I  CU 
2 1 1

que correspondem ao par:

  b  U
U  , I 
2 1 1 1

I  b  U
 , I 
2 2 1 1

ou

U    D  B  U  
2 1
        
   
 I 2   C A   I1 

sendo necessário lembrar que, em circuitos simétricos, temos sempre:

23
 D
A 

Outra propriedade dos quadripolos a ser lembrada e que vale sempre é:

A B

   BC
     AD   1
 C D 

As linhas de transmissão satisfazem inteiramente às condições impostas aos


quadripolos no início deste estudo. As características das linhas são definidas pelas
 B,
constantes A,  C e D,
 que recebem o nome de constantes generalizadas das linhas de
transmissão e são definidas da seguinte forma:

Linhas curtas:

A D  1 B
 Z C  0
U   1 Z U  
1 2
       

I 0 1   I2 
 1  

Linhas médias:

Circuito T Circuito 
 
A   1  ZY
 D   1  ZY
 D
A
2 2

B  1  ZY 
 Z   Z
B
 
 4 

C  Y
  1  ZY 
 Y
C  
 4 

Linhas longas:

 D
A   cosh  l 

  Z senh  l 
B   1 senh  l 
C
Z
c
c

Na análise dos sistemas de energia elétrica temos basicamente duas formas de


associações de quadripolos:

 Associação em cascata: a conexão em cascata é obtida pela conexão dos


terminais de saída de um quadripolo com os terminais de entrada do outro,
como na Figura 4.6.
 Associação em paralelo: na conexão em paralelo, o estímulo U1 é comum
aos dois quadripolos, cuja resposta é também igual, U2, como na Figura
4.7.

24
Figura 4.6 – Associação em cascata de quadripolos

Figura 4.7 – Associação em paralelo de quadripolos

4.6 Linha Artificial

Quando, através de modelos elétricos, se deseja analisar fenômenos transitórios,


os circuitos π ou T equivalentes são inapropriados, pois, neste caso, o efeito real da
distribuição dos parâmetros ao longo da linha é importante.

Recorre-se então às chamadas linhas artificiais, compostas de um número


relativamente grande de células ligadas em série. Cada célula poderá representar o
circuito π nominal de um trecho de comprimento determinado, como mostra a Figura
4.8.

Figura 4.8 – Linha artificial

25
4.7 Potência nas Linhas de Transmissão

As cargas alimentadas pelos sistemas elétricos comerciais servidos pelas linhas de


transmissão são de tipo muito variado, compreendendo, entre outras, de lâmpadas,
motores síncronos e assíncronos, aparelhos domésticos e aparelhos comerciais, cujas
impedâncias não somente não são especificadas, como também variam bastante com o
valor da tensão a que são submetidos. Experiências efetuadas em sistemas reais
mostram que a representação por impedância é apenas aproximada.

Na prática da indústria da energia elétrica, as cargas são especificadas em termos


de demandas em potências ativas e reativas, ou potências aparentes e seus fatores de
potência correspondentes. Essas demandas, evidentemente, variam também com o valor
da tensão aplicada, porém, para efeito de cálculo, são especificadas em correspondência
às tensões nominais dos sistemas.

A Figura 4.9 mostra as curvas de variação das tensões no receptor de uma linha
em função da variação das potências ativas e reativas no receptor, alimentado no
transmissor por um barramento de tensão constante. As curvas demonstram claramente
a possibilidade de existência de duas raízes para uma mesma potência ativa transmitida,
bem como os limites máximos de transmissão. A raiz menor não possui significado
prático, pois a operação com tensões baixas envolveria correntes elevadas e perdas
inadmissíveis.

Figura 4.9 – Variação da tensão no receptor de uma linha com tensão constante no
transmissor

26
Considerando uma linha sem perdas a potência ativa transmitida ao receptor é
dada por:

U1U 2
P2  sen   
B

onde δ é a defasagem angular entre U1 e U2.

A máxima transferência de potência ativa ocorre quando sen(δ) é igual a 1.

4.8 Perdas de Potência e Rendimento

As perdas de potência de uma linha de transmissão são dadas pela diferença entre
a potência ativa P1, absorvida pela linha no transmissor, e a potência ativa P2, por ela
entregue no receptor:

Perdas  P1  P2

As perdas de potência numa linha de transmissão podem ser consideradas como


sendo compostas de:

 Perdas por efeito Joule nos condutores (representam a maior parcela das
perdas nas linhas);
 Perdas no dielétrico entre condutores;
 Perdas causadas por correntes de Foucault e por histerese magnética na
alma de aço de condutores e em peças metálicas próximas às linhas;
 Perdas por circulação nos cabos para-raios.

O rendimento de uma linha é dado por:

P2
%  100%
P1

4.9 Linhas Trifásicas Desequilibradas

Para a análise de determinados fenômenos relacionados com as linhas de


transmissão, nos quais o desequilíbrio elétrico e magnético existente ao longo das linhas
é fator importante, surge a necessidade da representação das linhas por seus modelos
matemáticos trifásicos, ou seja, sua configuração trifásica deve ser evidenciada.

Os modelos anteriormente desenvolvidos pressupunham equilíbrio


eletromagnético tal que as três fases de um circuito podiam ser representadas por um
circuito unipolar. Os mesmos modelos, desde que convenientemente adaptados, podem
ser usados nas representações trifásicas. Os parâmetros elétricos e magnéticos das linhas
de um sistema de vários condutores podem ser definidos através de um par de matrizes
27
de ordem 3 por 3.

Em se tratando de linhas longas, não é prático procurar determinar as matrizes


para as constantes generalizadas em virtude das dificuldades matemáticas que serão
encontradas. É preferível usar como modelo a linha artificial trifásica.

4.10 Exercícios

I. Uma linha de transmissão trifásica possui os seguintes parâmetros


elétricos: r = 0,107 Ω/km, L = 1,355 mH/km, C = 0,00845 μF/km, f = 60
Hz. Sendo seu comprimento de 100 km, fazer sua representação através de
seus circuitos nominais.
II. Para a linha de transmissão do exercício I, sendo a tensão no barramento
receptor igual a 135 kV, quando a carga no sistema é de 50 MVA com
fator de potência igual a 0,95 indutivo, calcular a tensão no barramento do
transmissor, bem como a potência entregue à linha, empregando os
métodos π nominal e T nominal. Calcular a regulação, o rendimento e as
perdas da transmissão.
III. Qual o valor da tensão em vazio no receptor e a corrente de carga da linha
do exercício I quando a tensão no barramento alimentador for igual a
138 kV? Qual a corrente de curto-circuito no receptor, quando a tensão
mantida no transmissor é igual a 138 kV?
IV. Calcular as constantes generalizadas para a linha do exercício I.

28
Capítulo 5 – Operação das Linhas

5.1 Introdução

Neste capítulo estudaremos o desempenho das linhas de transmissão em regime


permanente, dentro dos vários esquemas básicos em que são encontradas nos sistemas
elétricos comerciais e as influências das características dos sistemas alimentados, bem
como de sua adaptação a um desempenho desejado através da alteração de seus
parâmetros elétricos, ou compensação.

5.2 Modo de Operação das Linhas de Transmissão

Dentro dos sistemas elétricos, as linhas de transmissão podem ser operadas em


vários esquemas básicos distintos. Estes, bem como as características do transporte de
energia em cada um deles, serão examinados a seguir.

Os receptores das linhas de transmissão constituem-se normalmente de sistemas


elétricos que podem compor-se de:

 Sistemas de cargas passivas;


 Sistemas que, além de cargas passivas, contêm fontes de energia com
capacidade igual ou maior do que a do sistema alimentador.

Entendemos por cargas passivas os sistemas elétricos que não possuem fontes de
energia ou outras máquinas síncronas de capacidade comparável à das centrais dos
sistema alimentador.

Suas demandas variam com as tensões aplicadas e sua representação, por


intermédio de impedâncias de valor constante, é apenas aproximadamente correta.

O mesmo pode ser dito com relação a sua representação através de potências
ativas e reativas constantes, pois estas variam igualmente em função das tensões
aplicadas.

Uma representação correta das cargas deverá basear-se em suas características


N = f (U), que somente poderiam ser determinadas experimentalmente em um sistema e
seriam válidas somente para esse mesmo sistema, enquanto se mantivessem as
condições para as quais foram determinadas.

29
5.2.1 Linha Entre Central Geradora e Carga Passiva

É uma das formas clássicas de operação das linhas para efeito de estudos. Na
prática, encontra-se, geralmente, apenas em sistemas em estágios iniciais de
desenvolvimento.

Neste tipo de transmissão, cabe à central alimentadora a manutenção da


frequência do sistema. Às linhas de transmissão cabe o transporte da energia ativa
produzida na central alimentadora, cuja capacidade limita o valor da potência ativa
disponível no transmissor da linha.

A potência ativa deverá ser suficiente para atender às demandas do sistema


receptor, cuja capacidade de absorção de energia é limitada por suas características
peculiares, como também para suprir as perdas de energia ativa na transmissão.

Em sistemas pequenos, geralmente, também cabe à central geradora o suprimento


de energia reativa necessária ao sistema alimentado e à linha de transmissão.

Nos sistemas maiores, a energia reativa necessária ao sistema alimentado é, em


geral, produzida junto ao mesmo, evitando-se seu transporte através das linhas, pois
este, além de perdas adicionais de energia, pode ainda trazer problemas de regulação de
tensão.

Esse fato é claramente visível na Figura 5.1, na qual estão reproduzidas as curvas
de regulação de uma linha de 138 kV. Estas nos mostram que, por exemplo, é possível
transmitir 134 MW com uma variação de tensão de 5% sob FP = 1, enquanto que, com
FP = 0,8 IND, com a mesma variação de tensão podemos transmitir apenas 33,5 MW.
Seria igualmente possível transmitir cerca de 382 MW, com os mesmos 5% de variação
de tensão, desde que FP = 0,9 CAP.

Figura 5.1 – Variação das tensões no transmissor para tensão constante no receptor de
uma linha curta

30
A Figura 5.2 mostra para a mesma linha curta, as curvas representativas das
perdas de energia ativa nas mesmas condições anteriores de transmissão. Verifica-se
claramente o aumento das perdas com o aumento de energia reativa entregue ao
transmissor.

Figura 5.2 – Variação das perdas em função da variação da energia reativa no receptor
de uma linha curta

Essas considerações nos conduzem a algumas conclusões interessantes:

 Dentro das limitações impostas pela capacidade da central alimentadora, o


fluxo das potências ativas é controlado pelas demandas do sistema
alimentado, devendo as máquinas primárias ajustar-se a essa demanda, de
forma a manter constante a frequência do sistema. Os geradores, por sua
vez, devem ajustar-se para manter a tensão constante, em um ponto do
sistema;
 O fluxo das potências reativas através das linhas é um parâmetro
fundamental em seu desempenho, seja sob o aspecto técnico (regulação da
tensão), seja sob o ponto de vista econômico (rendimento da transmissão).
Quanto mais longa for a linha, maiores serão os problemas decorrentes;
 Nas linhas longas, a regulação de tensão e as perdas de potência são, em
geral, os fatores limitantes em sua capacidade de transmissão, enquanto
que, nas linhas curtas, o aquecimento dos condutores, causado pela
corrente transportada, pode ser o fator limitante principal.

5.2.1.1 Operação Com Tensão Constante no Transmissor

Admitamos que a central que alimenta o sistema mantenha tensão constante junto
ao transmissor, ou que o sistema seja alimentado por um barramento de um grande
sistema capaz de manter a tensão constante. A Figura 5.3 apresenta as curvas de
31
regulação de uma linha longa operada nessas condições.

Figura 5.3 – Curvas de regulação de uma linha longa operada com tensão constante no
transmissor alimentando uma carga passiva

Observamos que:

 Para cada valor de fator de potência no receptor há um limite máximo de


potência ativa transmissível, definido pelo ponto em que a equação
apresenta uma única raiz real;
 Para valores de potência ativas menores, encontramos sempre duas raízes
reais e positivas. A raiz maior é aquela que possui real significado, pois
atende a ambas as possibilidades no transmissor; central ou barramento
com tensão fixa. A raiz menor representa uma condição inviável de
operação e deve ser descartada.
 A regulação da linha, como o seu rendimento, dependem grandemente do
valor da potência reativa no receptor, ou seja, do fator de potência do
sistema alimentado.

5.2.2 Linha de Transmissão Ligando uma Central Geradora a um


Grande Sistema

É uma condição de operação frequentemente encontrada nos níveis mais altos dos
sistemas de energia elétrica. É o caso das centrais hidroelétricas, hoje cada vez mais
distantes e de potenciais maiores, que alimentam grandes sistemas de energia, contendo
outras centrais.

Análises preliminares de linhas funcionando nessas condições são feitas, em geral,


com algumas hipóteses simplificativas:

32
 O sistema alimentado pela linha é considerado infinito, ou seja, sua
capacidade de receber e fornecer energia ativa e reativa é infinita no
receptor da linha;
 A frequência do barramento de interligação é constante;
 A tensão no barramento do receptor da linha é constante.

Essas condições dificilmente serão encontradas em sistemas reais, no entanto,


podem apresentar condições bastante próximas às ideais.

Uma vez definidos os principais parâmetros dessas linhas, são as mesmas


integradas nos modelos dos sistemas e seu desempenho é estudado pelas técnicas de
estudos de fluxo de carga e de estabilidade dos sistemas.

De acordo com as hipóteses iniciais, a central elétrica que alimenta a linha de


transmissão não terá influência alguma sobre a frequência de todo o sistema, como
também não exercerá controle algum sobre a tensão do mesmo. Da mesma forma, em
virtude da constância da frequência e da tensão, o sistema alimentado não exerce
influencia sobre a quantidade de energia transmitida pela linha. Esta dependerá
exclusivamente do modo de operação da central elétrica junto ao transmissor da linha.

Os geradores fornecem às linhas potências ativas de valores iguais à potência


fornecida à sua máquina primária menos as perdas de geração e de transformação. A
linha de transmissão terá que transportar essas potências ao sistema infinito. O valor da
potência ativa transportada pode ser influenciado somente pelos reguladores de abertura
das turbinas da central alimentadora (ângulo de potência).

Como a tensão no barramento do receptor é mantida constante pelo sistema maior,


a regulação da tensão da central elétrica no transmissor da linha poderá ser empregada
para regular o fluxo de potências reativas da linha.

5.2.3 Linha de Interligação de Sistemas

Neste caso, a central é substituída por um novo sistema, de características


semelhantes às do sistema alimentado.

As tensões, nos pontos de interligação, podem ser consideradas constantes e


ambos os sistemas possuem características de sistemas infinitos. Ambos podem
absorver ou fornecer energia ativa e reativa e a linha poderá transportar energia em
ambos os sentidos.

O fluxo das potências ativas poderá ser controlado através de um controle


diferenciado das gerações em cada um dos sistemas interligados. O fluxo das potências
reativas será controlado através do controle das tensões nos transmissores e receptores.

Uma vez que a geração de energia reativa próxima aos locais de uso é mais
econômica do que sua geração remota e consequente transporte por linhas de
transmissão, esse tipo de linha deve operar, como em geral o faz, com fator de potência
unitário no receptor.

33
5.2.4 Linha de Interligação Entre Dois Pontos de um Mesmo Sistema

São linhas que normalmente se destinam a aumentar a segurança e a flexibilidade


de operação de um sistema, facilitando a circulação das potências e melhorando a sua
regulação geral.

O projeto de uma linha de interligação deve ser precedido de um estudo geral do


sistema que estabeleça as condições de operação da linha mais conveniente, como
também os pontos mais indicados a serem interligados.

Nesse tipo de linha, as tensões nos pontos de interligação variam de acordo com
as condições de carga no sistema e os ângulos de potência são função do próprio
sistema.

Transformadores reguladores de tensão e de fase podem ser empregados para


regular os fluxos de potência ativas e reativas nessas linhas.

5.3 Meios de Controlar Tensões e Ângulos de uma Linha


(Compensação das Linhas)

O transporte de energia através de uma linha de transmissão depende da diferença


em módulo e fase, das tensões no transmissor e no receptor e das características das
linhas e das cargas alimentadas. Atuando sobre qualquer desses elementos, alteraremos
suas condições de funcionamento.

Se uma linha é alimentada por uma central elétrica e a variação de tensão em seu
receptor é pequena, os reguladores automáticos de tensão dos geradores podem regular
a tensão no transmissor de forma a manter a variação da tensão junto do receptor dentro
de limites razoáveis.

Nas linhas de subtransmissão, essa compensação se realiza nos próprios


transformadores elevadores equipados com comutadores automáticos sob carga, ou
através de reguladores indutivos de tensão.

5.3.1 Regulação do Fator de Potência

A regulação e o rendimento de linhas que alimentam cargas passivas dependem


grandemente do fator de potência do sistema receptor.

Dependendo do valor da potência ativa a ser entregue no receptor, a linha poderá


ou não dispor de reativo suficiente para não só atender à demanda desse tipo de energia
pelo sistema alimentado, como também para consumo próprio, necessário para manter o
valor de tensão desejada no receptor.

34
Poderá também, dispor de excesso de reativo, obrigando-a a manter tensões
indesejavelmente altas junto ao receptor. O transporte de reativos pela linha, por outro
lado, dá origem a correntes mais elevadas, portanto a maiores perdas de energia.

A necessidade do controle das potências reativas junto aos receptores é de


importância primordial nesse tipo de transmissão. As empresas concessionárias, dentro
de certos limites, usam mesmo de medidas coercitivas contra consumidores cujos
fatores de potência são considerados baixos, empregando tarifas diversificadas. Essas
tarifas são fixadas de forma a compensar quaisquer investimentos que o consumidor
venha a ter que fazer para reduzir suas necessidades de energia reativa.

Nos receptores das linhas os problemas podem ser de dois tipos: necessidade de
geração de reativo para o sistema alimentado e eventualmente para a linha; e a absorção
do excesso de energia reativa da linha.

Para isso é necessário que haja compensação de energia reativa junto aos
terminais das linhas. Há dois tipos de equipamento de compensação: rotativos e
estáticos. Os primeiros são construídos principalmente por motores síncronos, enquanto
que, os segundos, por bancos de capacitores e reatores indutivos, associados ou
separados.

 Compensadores Síncronos: são motores síncronos que não fornecem


potência mecânica em seus eixos, ou seja, trabalham a vazio. São a forma
mais eficiente para a realização da compensação do fator de potência,
apesar de seu custo elevado. Seu funcionamento baseia-se na conhecida
propriedade dos motores síncronos, de absorver energia reativa ou de
fornecer esse mesmo tipo de energia ao sistema a que estão ligados,
dependendo do seu grau de excitação.
 Compensadores Estáticos: de custo inferior, são bastante utilizados, apesar
de apresentarem algumas desvantagens com relação à máquina síncrona,
principalmente devido ao fato de que equipamentos diferentes são
necessários para a produção ou absorção de energia reativa.
o Capacitores estáticos ligados em derivação: têm a capacidade de
gerar energia reativa. A fim de se obter a capacidade necessária e
para que operem sob determinadas tensões, é necessária a
formação de bancos de capacitores, por associação série-paralelo.
o Reatores indutivos em derivação: absorvem o excesso de energia
reativa existente no sistema.

Uma associação adequada de reatores indutivos e capacitores reguláveis permite


obter uma compensação com características semelhantes àquelas dos compensadores
síncronos.

5.4 Compensação das Linhas de Transmissão

Em uma determinada linha de transmissão, com seus parâmetros elétricos fixos e


definidos, vários equipamentos podem ser usados para regular os fluxos das potências
ativas e reativas e as relações entre as tensões terminais. O elemento aparentemente

35
menos flexível é a própria linha, cujo parâmetros são função de suas características
físicas, rígidas para uma determinada construção. Sua alteração seria um meio de
reduzir certos efeitos indesejáveis em sua operação. Estes são tão mais acentuados
quanto maior o seu comprimento, como, por exemplo, o efeito Ferranti.

Felizmente, para a técnica das transmissões a longa distância, sem alterarmos as


características físicas das linhas, possuímos meios para alterar suas características de
transmissão, atuando sobre o seu circuito elétrico.

Nessas condições, é possível neutralizar o efeito do excesso de reatância


capacitiva, ou o excesso de reatância indutiva, ou mesmo ambos. Também é possível
alterar artificialmente o comprimento elétrico da linha.

Uma linha de transmissão para poder funcionar, necessita para a manutenção de


seus campos elétricos e magnéticos, de energia reativa, cujo sinal depende do regime de
carga com o qual opera.

Essa energia reativa deverá ser-lhe fornecida pelo sistema gerador a alimenta linha
de transmissão, e seu valor depende de seu comprimento e de sua classe de tensão.
Quando a linha opera em vazio ou com cargas pequenas, ela se comporta como um
capacitor, representando para o sistema alimentador, um gerador de energia reativa. Por
outro lado, com cargas elevadas em cujo limite encontramos a operação em curto
circuito, a linha absorve energia reativa para o seu funcionamento, havendo nesse
regime de operação predominância dos campos magnéticos.

Há apenas um ponto intermediário em que a linha é autossuficiente, há equilíbrio


entre a energia necessária aos seus campos elétricos e magnéticos e ela deixa de
absorver energia reativa, passando o período transitório de energização; é quando opera
com potência natural. Nesse caso, seu fator de potência é constante ao longo de todo o
seu comprimento. Ela deixa de solicitar o sistema alimentador por energia reativa, em
geral de custo elevado.

Somente uma parcela bastante pequena dessas potências pode ser fornecida ou
absorvida pelos sistemas, de forma que outra fontes de energia reativa são necessárias.
Já vimos que a forma de evitar o transporte de energia reativa através das linhas consiste
na produção e absorção da energia reativa junto do receptor, inclusive daquela requerida
pela rede alimentada. Para tanto, sugerimos o emprego de condensadores síncronos, ou
reatores indutivos e bancos de capacitores. Vejamos como satisfazer as necessidades de
energia reativa das linhas.

5.4.1 Compensação em Derivação

Visa a neutralizar o efeito das reatâncias em derivação das linhas através de


elementos em derivação absorvendo energia reativa de sinal oposto. Em outras palavras,
empregam-se reatores indutivos para compensar as reatâncias capacitivas naturais das
linhas.

Com essa compensação procura-se, principalmente, a neutralização do efeito

36
Ferranti, ligando-se a ambas as extremidades das linhas reatores indutivos de indutância
variável. As tensões nas extremidades da linha são mantidas no valor desejado. Na
Figura 5.4 representamos o esquema unipolar da linha compensada e o seu circuito
equivalente.

Figura 5.4 – Esquema unipolar e circuito equivalente de uma linha compensada em


derivação.

O emprego dos reatores não elimina a elevação das tensões no meio da linha,
atuando somente em suas extremidades, como mostra a Figura 5.5. As tensões em
pontos intermediários podem também ser reduzidas ao nível da tensão do transmissor,
em vazio, com a instalação de reatores em pontos intermediários.

A conveniência da compensação total, como também do emprego de reatores


intermediários, está relacionada com a coordenação do isolamento da linha e os
investimentos necessários. Os reatores, em geral, são ligados diretamente ao barramento
de saída das linhas, nos sistemas em tensões mais elevadas, sendo, no entanto, comum
empregar para esse fim enrolamentos terciários dos transformadores terminais, em
sistemas de tensões mais baixas.

37
Figura 5.5 – Linha em vazio, perfis de tensão: a) sem compensação; b) com
compensação; c) compensação intermediária e no receptor.

5.4.2 Compensação Série

Os parâmetros série das linhas de transmissão, reatância indutiva e resistência, são


os responsáveis pelas grandes quedas de tensão nas linhas.

A reatância indutiva é também responsável pelo ângulo de potência da linha,


portanto, pelo seu grau de estabilidade, tanto estática como dinâmica. Para a
manutenção de seu campo magnético, necessita da energia reativa que absorve do
sistema alimentador. Seus efeitos são proporcionais à corrente na linha.

A compensação poderá então, ser feita através de capacitores ligados em série,


capazes de reduzir e mesmo anular os efeitos da indutância da linha, quando vistos de
seus terminais. Nessas condições, o emprego de capacitores estáticos em série com as
linhas de transmissão vem recebendo um crescente impulso, pois apresenta as seguintes
vantagens:

 Representam, em geral, a solução mais econômica para melhorar os


limites de estabilidade estática e transitória;
 Melhoram a regulação das linhas;
 Ajudam a manter o equilíbrio de energia reativa;

38
 Melhoram a distribuição de cargas e as perdas globais no sistema.

Dessa forma, aumentando as capacidades de transporte das linhas, sua instalação


em linhas existentes pode protelar e mesmo evitar a construção de nova linha,
possivelmente de custo superior.

Os capacitores série, para o funcionamento ideal, deveriam ser distribuídos ao


longo da linha, porém, em virtude do custo envolvido em cada uma dessas instalações,
seu emprego é em geral limitado à suas extremidades e a um ou dois pontos
intermediários.

A localização ideal para os capacitores série é junto ao meio da linha, o que requer
a construção de uma subestação e vias de acesso adequadas. Um cálculo econômico
poderá indicar a posição mais adequada: no meio ou junto à suas extremidades.

Em uma linha equipada com capacitores série, verifica-se uma redução sensível
na queda de tensão reativa, acompanhada de uma redução no ângulo de potência da
linha. Este último fato indica que o emprego dos capacitores série aumenta a capacidade
de transporte das linhas.

5.5 Dispositivos FACTS

O aumento dos custos e das restrições ambientais tornou impraticável a estratégia


do sobredimensionamento e, ao mesmo tempo, dificultou a construção de novas
unidades de produção e linhas de transmissão. Por outro lado, tem-se observado um
aumento contínuo do consumo de energia elétrica. Por isso, tornou-se necessário o
desenvolvimento de meios para controlar diretamente os fluxos de potência em
determinadas linhas de um sistema.

O conceito de sistemas com fluxos de potência controláveis, ou “Flexible AC


Transmission System” (FACTS) agrupa um conjunto de equipamentos de eletrônica de
potência que permitem maior flexibilidade de controle dos sistemas elétricos. Estes
dispositivos são desenvolvidos com dois objetivos principais:

1. Aumentar a capacidade de transmissão de potência das redes;


2. Controlar diretamente o fluxo de potência em trajetos específicos de
transmissão.

O fluxo de potência numa rede de transmissão está limitado por uma combinação
dos seguintes fatores:

 Estabilidade;
 Limites de tensão;
 Limites térmicos de linhas ou equipamentos.

Os dispositivos FACTS são aplicáveis, de forma mais direta, às restrições de

39
transmissão de potência relacionadas com problemas de estabilidade.

Os principais equipamentos FACTS são:

 SVC (Static Var Compensator)


 TSSC (Thyristor Switched Series Condensador)
 TCSC (Thyristor Controlled Series Condensador)
 STATCOM (Static Synchronous Shunt Compensator)
 SSSC (Static Synchronous Series Compensator)
 UPFC (Unified Power Flow Controller)
 IPFC (Interline Power Flow Controller)
 CSC (Convertible Static Compensator)

5.6 Exercícios

I. Quais são os fatores limitantes para a capacidade de transmissão nas linhas


longas e nas linhas curtas?
II. Comente sobre o gráfico abaixo:

III. Comente sobre os compensadores síncronos.


IV. Comente sobre os compensadores estáticos.
V. Comente sobre a compensação em derivação.
VI. Comente sobre a compensação em série
VII. Comente sobre os dispositivos FACTS

40
Capítulo 6 – Impedância em Série de
Linhas de Transmissão

6.1 Introdução

Uma linha de transmissão de energia elétrica possui quatro parâmetros:


resistência, indutância, capacitância e condutância, que influem em seu comportamento
como componentes de um sistema de potência. Estudaremos os dois primeiros neste
capítulo e a capacitância no próximo.

A condutância entre condutores ou entre condutor e terra leva em conta a corrente


de fuga nos isoladores das linhas aéreas de transmissão ou na isolação dos cabos
subterrâneos. No entanto, a condutância entre condutores de uma linha aérea pode ser
considerada nula, pois a fuga nos seus isoladores é desprezível.

6.2 Resistência

A resistência dos condutores é a principal causa da perda de energia das linhas de


transmissão e definida por

Potência perdida no condutor


R 2

I

onde a potência é dada em watts e I é o valor eficaz em ampères da corrente do


condutor. A resistência de um condutor só será igual à resistência em corrente contínua
se a distribuição de corrente no condutor for uniforme.

A resistência em corrente contínua é dada pela fórmula

l
R0  
A

onde ρ é a resistividade do condutor, l é o comprimento e A é a área de seção


transversal.

Pode ser usado qualquer conjunto coerente de unidades. Nos Estados Unidos às
vezes se usa especificar l em pés, A em circular mils (cmil) e ρ em ohms por circular
mil-pé. Em unidades do Sistema Internacional, l é dados em metros, A em metros
quadrados, e ρ em ohm-metro.

Um circular-mil (CM) é a área de um círculo com um diâmetro de um milésimo


de polegada. Como os fabricantes nos EUA identificam os condutores por sua área de

41
seção transversal em CM, devemos ocasionalmente usar esta unidade. A área em
milímetros quadrados é igual à área em CM multiplicada por 5,067 x 10-4.

Na faixa normal de operação, a variação da resistência de um condutor metálico


com a temperatura é praticamente linear. Num gráfico da resistência em função da
temperatura, como na Figura 6.1, um prolongamento da porção retilínea do gráfico
fornece um método conveniente para correção da resistência para variações de
temperatura. O ponto de interseção do prolongamento da reta com o eixo da temperatura
para resistência zero é uma constante do material. Graficamente, pela Figura 6.1

R 2 T  t2

R 1 T  t1

onde R1 e R2 são as resistências do condutor às temperaturas t1 e t2, respectivamente, em


graus Celsius e T é a constante determinada pelo gráfico.

Figura 6.1 – Resistência de um condutor metálico em função da temperatura

A distribuição uniforme de corrente pela seção transversal de um condutor ocorre


somente com corrente contínua. Uma corrente variável com o tempo provoca densidade
de corrente desuniforme e, à medida que aumenta a frequência de uma corrente
alternada, acentua-se a desuniformidade da distribuição de corrente alternada. Este
fenômeno é chamado efeito pelicular. Em um condutor circular, a densidade de corrente
usualmente cresce do interior para a superfície.

Exemplo 6.1: Um condutor possui 1000 pés, resistividade de 17 ohms por


circular mil-pé e área de seção transversal de 1113000 CM. Qual é a sua resistência em
corrente contínua?

Solução:

l 17 1000
R0  =  0, 01527 
A 1113000

42
Exemplo 6.2: A resistência em corrente contínua de um condutor é 0,01527 Ω à
temperatura de 20ºC. Sabendo que para este condutor T é igual a 228, qual é sua
resistência à temperatura de 50ºC?

Solução:

R2 T  t2

R 1 T  t1
T  t2 228  50
R 2  R1   0, 01527   0, 01712 
T  t1 228  20

6.3 Indutância

Para um condutor cilíndrico, a indutância por unidade de comprimento


(henrys/metro) devida apenas ao fluxo magnético interno ao condutor, é dada por

1
Lint  107 H/m
2

A Figura 6.2 mostra um condutor e os pontos externos P1 e P2, a indutância


devida apenas ao fluxo entre P1 e P2 é

D2
L1,2  2 10 7 ln H/m
D1

Figura 6.2 – Um condutor e os pontos externos P1 e P2

A Figura 6.3 mostra um circuito com dois condutores de raios r1 e r2. A indutância
total do circuito devida apenas à corrente do condutor 1 é

43
1 D D
L1    2ln  10 7  2 10 7 ln H/m
2 r1  r '1

O raio r '1 corresponde a um condutor físico, sem fluxo interno, porém com a
mesma indutância do condutor real, de raio r1, r '1  0, 7788r1 . A indutância devida à
corrente no condutor 2 é

D
L 2  2 107 ln H/m
r '2

Para o circuito completo

D
L  L1  L 2  4 10 7 ln H/m
r '1 r '2

Se r '1  r '2  r ' , a indutância total se reduz a

D
L  4 107 ln H/m
r'

Para condutores compostos LX e LY

Dm
L X  2 107 ln H/m
Ds

onde Dm ou DMG é a distância média geométrica entre os condutores X e Y e Ds ou


RMG é o raio médio geométrico entre os fios dos condutores X.

A indutância do condutor composto Y é determinada de modo semelhante, e a


indutância da linha é

L  L X  LY

Exemplo 6.3: A Figura 6.3 mostra um circuito com dois condutores. Os fios do
condutor X possuem 0,25 cm de raio, os do condutor Y possuem 0,5 cm de raio.
Determine a indutância devida à corrente em cada lado da linha e a indutância completa.

Solução:

Determinemos a DMG entre os lados X e Y

D m  6 D ad D ae D bd D be D cd D ce  10, 743 m

Para o RMG do lado X:

Ds  9 0, 77883  D aa D bb Dcc Dab D ac D ba D bc D ca D cb  0, 481 m

44
e para o lado Y:

Ds  4 0, 77882  D dd Dee Dde Ded  0,153 m

10, 743
L X  2 107 ln  6, 212 10 7 H / m
0, 481
10, 743
L Y  2 107 ln  8, 503 10 7 H / m
0,153
L  LX  L Y  14, 715 10 7 H / m

Figura 6.3

A Figura 6.4 mostra uma linha trifásica com espaçamento equilátero. A equação
que dá a indutância por fase de uma linha trifásica é

D
La  L b  L c  2 10 7 ln H/m
Ds

Figura 6.4

45
O cálculo da indutância ficará mais complicado quando a linha trifásica tiver seus
condutores com espaçamento assimétrico, pois, a indutância em cada fase não é a
mesma. O circuito fica desequilibrado quando cada fase tem indutância diferente. Pode-
se restaurar o equilíbrio entre as três fases trocando, a intervalos regulares, a posição
relativa entre os condutores, de modo que cada condutor ocupe a posição original de
cada um dos outros por uma distância igual. Chama-se transposição a essa troca de
posições. Um ciclo completo de transposição é apresentado na Figura 6.5. Os
condutores de cada fase são designados pelas letras a, b e c, e as posições indicadas
pelos números 1, 2 e 3. A transposição resulta em que a indutância média de cada
condutor, em um ciclo completo de transposição, seja a mesma.

Figura 6.5

Para uma linha transposta a indutância média por fase será

Deq
L a  L b  Lc  2 10 7 ln H/m
Ds

onde

D eq  3 D ab D bc D ca

A colocação de dois ou mais condutores em paralelo por fase, bastante próximos


em relação à distância entre fases, reduz o efeito corona e a reatância. Os condutores
com esta disposição são denominados cabos múltiplos e consistem em dois, três ou
quatro condutores e são mostrados na Figura 6.6.

Figura 6.6

O RMG para um cabo múltiplo de dois condutores é

Dsb  D s  d

46
O RMG para um cabo múltiplo de três condutores é

Dsb  3 Ds  d 2

O RMG para um cabo múltiplo de quatro condutores é

Dsb  1, 09 4 Ds  d 3

Exemplo 6.4: Determine a reatância indutiva em ohms por km por fase para a
linha da Figura 6.7 por fase para d = 45 cm e Ds = 1,4 cm. Determine a reatância em
série em pu se a linha tem 160 km e uma base de 100 MVA, 345 kV.

Solução:

Dsb  0, 014  0, 45  0, 08 m
D eq  3 8  8 16  10, 08 m
10, 08 3
X L  2fL  260  2 10 7  ln 10  0, 365  /km por fase
0, 08
3452
ZBase   1190 
100
0,365 160
X=  0, 049 pu
1190

Figura 6.7

47
Capítulo 7 – Capacitância de Linhas de
Transmissão

7.1 Introdução

A admitância em derivação de uma linha de transmissão consiste em uma


condutância e uma reatância capacitiva. A condutância é usualmente desprezada devido
à sua pequena contribuição com a admitância em derivação. Por esta razão foi dado este
capítulo o título de capacitância e não o de admitância em derivação.

Outra razão para que se despreze a condutância reside no fato de não existir
nenhum meio apropriado de considera-la, por ser muito variável. A fuga pelos
isoladores, que é a principal fonte de condutância, varia com as condições atmosféricas
e com as propriedades de condução da poeira que se deposita sobre os isoladores.

A capacitância de uma linha de transmissão resulta da diferença de potencial entre


os condutores, ela faz com que estes se tornem carregados de modo semelhante às
placas de um capacitor entre as quais exista uma diferença de potencial. A capacitância
entre condutores em paralelo é uma constante que depende das dimensões e do
afastamento entre os condutores. Para linhas menores que 80 km de comprimento, o
efeito da capacitância é mínimo e usualmente é desprezado. Para linhas mais longas de
tensões elevadas, torna-se mais importante a capacitância.

7.2 Capacitância

A capacitância entre condutores de uma linha a dois fios é dada por

k
C ab 
D
ln  
 r 

onde k é a permissividade relativa, para o vácuo k vale 8,85 x 10-12 F/m.

A capacitância ao neutro é dada por

2k
C n  C an  Cbn 
D
ln  
r 

O conceito de capacitância ao neutro é ilustrado pela Figura 7.1. Esta equação


representa a capacitância ao neutro de linhas trifásicas com espaçamento equilátero e de
linhas monofásicas.

48
Figura 7.1

Tendo sido obtida a capacitância ao neutro, a reatância capacitiva entre um


condutor e o neutro, para uma permissividade relativa k = 1, é

1 2,862 9 D
XC   10 ln   m para o neutro
2fC f r
1, 779 6 D
XC  10 ln   mi para o neutro
f r

Exemplo 7.1 Determine a susceptância capacitiva por milha de uma linha


monofásica que opera a 60 Hz. O espaçamento entre centros é de 20 pés e o raio é de
0,0268 pé.

Solução:

1, 779 6 20
XC  10 ln =0,1961 106   mi para o neutro
60 0, 0268
1
BC   5,10 106 S  mi para o neutro
XC

O termo corrente de carregamento é aplicado à corrente associada com a


capacitância de uma linha. Para um circuito monofásico, a corrente de carregamento é o
produto da tensão de linha pela susceptância linha-linha, ou, em notação fasorial

I chg  jCab Vab

Para uma linha trifásica, a corrente de carregamento é obtida multiplicando a


tensão de fase pela susceptância capacitiva ao neutro. Com isto, obtemos a corrente de
carregamento por fase, o que está de acordo com o cálculo de circuitos trifásicos
equilibrados com base em um circuito monofásico com retorno pelo neutro. A corrente
de carregamento, em notação fasorial, para a fase a é

I chg  jCan Van

A capacitância ao neutro de uma linha trifásica transposta é dada por

2 k
Cn 
D 
ln  eq 
 r 

49
Exemplo 7.2: Determine a capacitância e a reatância por fase. Se o comprimento
da linha for de 175 milhas a tensão nominal de operação for de 220 kV, k = 8,85 x 10 -12,
r = 0,0462 m e Deq = 24,8 m, determine a reatância capacitiva ao neutro para toda linha
e a sua corrente de carregamento por milha, bem como os MVAr totais de
carregamento.

Solução:

2k 2  8,85 10 12


Cn    8,8466 10 12 F/m
D   24,8 
ln  eq  ln  
 r   0, 0462 

1012
XC   0,1864 106   mi
2  60  8,8466 1609

220
I chg  Can Van  260  8,8466 10 12 1609  0, 681 A/mi
3

Para um comprimento de 175 milhas

0,1864 106
XC   1066  para o neutro
175

I chg  0, 681  175  119 A

A potência reativa será

Q  3  220 119 10 3  45,3 MVAr

A capacitância para cabos múltiplos, como mostrada na Figura 7.2, é dada por

2k
Cn  F/m para o neutro
 Deq 
ln  b 
 DsC 

Para um cabo múltiplo de dois condutores


b
DsC  rd

Para um cabo múltiplo de três condutores

b
DsC  3 rd 2

50
Para um cabo múltiplo de quatro condutores

b
DsC  1, 09 4 rd 3

Figura 7.2

Exemplo 7.3: Determine a reatância capacitiva ao neutro em ohms por km por


fase para a linha da Figura 7.3 para d = 45 cm e r = 1,755 cm.

Solução:

DbsC  0,01755  0, 45  0, 0889 m


Deq  3 8  8 16  10, 08 m
2  8,85 10 12
Cn   11, 754 1012 F/m
 10, 08 
ln  
 0, 0889 
1012 10 3
XC   0, 2257 106   km por fase para o neutro
260 11, 754

Figura 7.3

51

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