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921/2015-9
RELATÓRIO
de marca específica para o módulo oximetria de pulso (peça 7, p. 53) o DLOG não apresentou
fundamentação técnica, laudo ou estudo que comprovasse a necessidade de se exigir as tecnologias
Nellcor ou Masimo. Limitou-se a mencionar que não houve restrição, uma vez que onze empresas,
entre dezesseis que participaram da licitação, além da vencedora do pregão, informaram possuir
tais tecnologias nos seus produtos.
16. Em consulta ao processo licitatório eletrônico (peça 34), cujo acesso foi concedido à
SecexSaude, observou-se que nos documentos mais antigos, ainda na fase de consulta pública,
apontava-se a necessidade de aquisição de monitor multiparâmetro, especificando-se a necessidade
de ‘tecnologia que permite monitoração em pacientes com baixa perfusão e em movimentação’,
porém sem apontar nome de qualquer marca (Processo nº 250000987092013-91, Volume 1, p.
102).
17. A exigência de tecnologia de monitoração para pacientes em movimento ou com baixa perfusão
é algo desejável para o tipo de uso que se espera dos equipamentos, por se tratar de uma
característica capaz de assegurar confiabilidade nas medições nas taxas de oxigênio de pacientes.
Entretanto, assiste total razão à representante quando defende a necessidade de se respaldar o
apontamento de marcas em comprovação inequívoca de ordem técnica, com estudos, laudos,
perícias e pareceres para demonstrar as vantagens econômicas e o interesse da administração em
não optar por tecnologias similares (peça 1, p. 17). A esse respeito o TCU tem entendimento
consolidado. A Súmula 270 estabelece: ‘Em licitações referentes a compras, inclusive de softwares,
é possível a indicação de marca, desde que seja estritamente necessária para atender exigências de
padronização e que haja prévia justificação.’
18. Em consulta a sites de hospitais que adquiriram monitores multiparâmetro ou oxímetros e
empresas que os comercializam, verificou-se que quando se descreve entre as caraterísticas do
equipamento a capacidade de monitorar pacientes com baixa perfusão ou em movimentação, em
todos os produtos encontrados também havia referência às tecnologias Nellcor ou Masimo
(www.businesswire.com, www.safesolucoes.com.br, www.mahospitalar.com.br, www.zoll.com,
http://engeclinical.com.br/, www.pulsartechnologies.com.br, Hospital Universitário de Santa Maria,
entre outros). Embora tal informação não exclua a possibilidade de existirem outras tecnologias que
atendam a essa exigência, é possível observar que ambas as marcas têm consolidação no mercado
em relação a esse tipo de funcionalidade.
19. Segundo a representante, a tecnologia Philips FAST SPO2, utilizada pela Dixtal, seria superior
à Nellcor e semelhante à Masimo. Apresenta, inclusive, estudo que comparou as três tecnologias.
Porém, em relação à compatibilidade do produto apresentado (DX 2021) com as tecnologias
Nellcor ou Masimo, diferente do informado pela representante em sua representação (peça 1, p.
17), na proposta apresentada por ocasião do pregão (peça 7) não há qualquer menção à utilização
de tecnologia FAST SPO2. Também não há referência a tal tecnologia no manual do produto
(peça 35), tampouco há no manual qualquer referência a tecnologia que permita monitoração em
pacientes com baixa perfusão e em movimentação. É importante destacar que nos manuais de
produtos da Philips há informação sobre essa tecnologia, como se observa no manual dos modelos
Intellivue MX400, MX450, MX500, MX550, MX600, MX700 e MX800, disponível em
http://www4.anvisa.gov.br/base/visadoc/REL/REL[35631-4-16789].PDF.
20. A Dixtal insiste que sua proposta continha a inserção da tecnologia Philips, mas definitivamente
não há essa informação em nenhum dos documentos relacionados ao produto DX 2021. Ainda que
a empresa tenha condições técnicas de agregar a tecnologia FAST SPO2 no monitor DX 2021, não
há segurança quanto a essa informação, pois não está registrado em nenhum documento formal, de
modo que a Administração pudesse se resguardar de que realmente seria cumprida.
21. Nessa mesma linha, a representante propõe-se a submeter a testes um de seus equipamentos,
para que o próprio Ministério da Saúde possa confirmar a adequação. Porém, ainda assim não
haveria garantias para a Administração quanto à qualidade dos produtos que seriam entregues, pois
no descritivo técnico contido nos documentos registrados na Anvisa para o modelo, e mesmo na
proposta da Dixtal, não há qualquer menção ao uso da tecnologia FAST SPO2. Assim, os
elementos agregados aos autos indicam que o produto DX 2021 ofertado pela Dixtal não cumpriam
as exigências de qualidade previstas no certame, ainda que não fossem restritas às tecnologias
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Nellcor ou Masimo.
22. Essa conclusão é importante porque evidencia que o produto ofertado pela Dixtal realmente não
era semelhante em termos de qualidade ao da vencedora do certame. Logo, não há como comparar
preços entre objetos com diferentes padrões.
23. Em 7/12/2015 a empresa Dixtal apresentou documento com elementos adicionais (peça 26), no
qual requer a juntada das pesquisas de preços e notas técnicas referentes à fase interna da licitação.
Alega que nessa fase seu produto foi aceito, mas na fase externa o Ministério da Saúde alterou o
entendimento, de modo a não o considerar aceitável, o que seria um contrassenso e comprovaria a
nulidade do item. Essas alegações não prosperam. Primeiro porque na consulta sequer estão
informados os modelos de monitores, sendo que as empresas dispõem de diversas possíveis
modelos que poderiam ofertar. Segundo porque a fase interna não é o momento hábil para
classificação, a pesquisa de preços tem o objetivo tão somente de estimar o preço de referência.
24. A representante também questiona o fato de onze empresas melhores classificadas que a
vencedora terem sido desclassificadas, ‘o que revela no mínimo um vício no termo de referência e
especificações técnicas do instrumento convocatório, padecendo-o de nulidade. ‘.
25. Analisando a ata do Pregão 12/2015 (peça 9) é possível verificar que das onze empresas, três
deixaram de ofertar novos lances depois de serem convocadas: Etica Med Comercio e
Representações de Produtos Hospitalares, Acromed Produtos de Biotecnologia e Diagnósticos
Eireli e MTB Tecnologia Ltda. As demais tiveram as propostas analisadas e rejeitadas, conforme
resumido abaixo:
Tabela 1- Resumo das razões para desclassificação das propostas
Empresa Motivos da desclassificação
Não permite inclusão de módulos intercambiáveis; não
apresenta softwares e menu em português; não possui
Conceitos Medical de Artigos de
auto teste; autonomia da bateria de apenas 60 minutos
Uso Comercial Ltda.
(eram exigidos 150); falta alarme de apneia; falta carta de
solidariedade do fabricante.
Não permite inclusão de módulos intercambiáveis; não
possui função stand by; autonomia da bateria de 120
Fokkus Trade Produtos e Serviços
minutos (eram exigidos 150); não possui as tecnologias
Hospitalares Ltda.
Nellcor ou Masimo; produto descrito na proposta não
possui certificação do Inmetro.
Omnimed Ltda. Não possui função Stand by.
Dixtal Biomédica Ind. E Com.
Não possui as tecnologias Nellcor ou Masimo.
Ltda.
Não permite a inclusão de módulos intercambiáveis; não
possui função stand by; medição programável entre 1 e 90
IMFtec - IMF Tecnologia Para
minutos (o edital exigia entre 1 e 120); não apresentou
Saúde Ltda.
certificado ABNT; não comprovou certificação pelo
Inmetro.
Não permite a inclusão de módulos intercambiáveis (a
Alfa Med Sistemas Médicos Ltda. empresa comercializa outros modelos que atenderiam esse
quesito).
Não permite a inclusão de módulos intercambiáveis pelo
Lifemed Industrial de
próprio usuário. As inserções precisam ser feitas pelo
Equipamentos e Artigos Médicos
fabricante (a empresa comercializa outros produtos que
E Hospitalares S.A.
atendem esse quesito).
Comércio de Materiais Médicos Possibilita a inclusão de apenas um módulo
Hospitalares Macrosul Ltda. intercambiável (o edital exige mais de um); não permite
visualização simultânea de 6 curvas; não possui o modo
Stand by; não permite auto teste; não armazena a última
configuração válida; bateria com autonomia de 120
minutos (o edital exigia 150); não possui as tecnologias
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Fonte: Processo eletrônico licitatório - análises das propostas (peça 36 - notas técnicas)
26. Dentre as razões das desclassificações, a mais frequente foi a impossibilidade de uso de
módulos intercambiáveis, critério que a Dixtal atenderia e outras duas empresas possuíam em seu
portfólio de produtos. Realmente a Pró-Life foi a primeira, na sequência das empresas
classificadas, a atender conjuntamente todos critérios.
27. Desse modo, embora os critérios exigidos no edital tenham levado à seleção da empresa Pró-
Life, ao menos 3 outras, entre as classificadas até a 11ª posição, teriam produtos que poderiam
atender ao objeto pretendido. Não é possível, portanto, afirmar que houve direcionamento para o
produto da empresa Pró-Life.
28. A despeito de não ter sido comprovado direcionamento, persiste a questão da exigência de
marca específica, ao indicar no edital as tecnologias Nellcor ou Masimo, tendo em vista que não foi
apresentado em nenhum momento pelo Ministério da Saúde embasamento técnico ou científico que
justificasse essa imposição. Mesmo não tendo impedido a participação de mais de uma empresa, a
exigência pode ter restringido a competitividade. Sendo assim, a tese aventada pela representante
quanto à falta de justificativa adequada para indicação das tecnologias Nellcor ou Masimo é
procedente.
29. Em sua manifestação, a empresa Pro-Life afirma que ‘...os argumentos debatidos ingressam em
área da qual não devem participar os licitantes, qual seja, a de oportunidade e qualidade dos
produtos a serem adquiridos.’. Totalmente acertado o ponto de vista da interessada. Ocorre,
todavia, que a pretexto da discricionariedade da Administração e da oportunidade, não se pode
avançar para a arbitrariedade. Todo ato administrativo deve ser motivado, ainda mais quando se
trata de indicação de marca específica em processo licitatório. Não se trata de invadir a
discricionariedade do administrador público, mas de garantir o atendimento dos requisitos legais.
30. Desse modo, os atos administrativos que ensejaram a seleção das propostas, homologação do
certame e a adjudicação do objeto à empresa Pro-Life não têm validade, uma vez que atos
anteriores não atendem determinantes legais.
31. O Ofício 798/2015, desta Secretaria, solicitou manifestação expressa do gestor sobre esse
ponto, porém nada foi esclarecido acerca da indicação das marcas. É verossímil que tenha sido
necessário indicá-las, pois, como dito no parágrafo 18, acima, tratam-se de marcas consolidadas no
mercado. Porém, existem outras tecnologias que se propõem às mesmas funções, que poderiam ter
sido acrescidas na lista ou simplesmente, como argumentado pelo relator em seu despacho: ‘pode
haver menção a uma marca de referência no ato convocatório como forma ou parâmetro de
qualidade do objeto simplesmente para facilitar a sua descrição. Nesses casos, deve-se
necessariamente acrescentar expressões do tipo ‘ou equivalente’, ‘ou similar’ e ‘ou de melhor
qualidade’.
32. Nos termos do art. 251 do Regimento Interno do TCU:
Verificada a ilegalidade de ato ou contrato em execução, o Tribunal assinará prazo de até quinze
dias para que o responsável adote as providências necessárias ao exato cumprimento da lei, com
indicação expressa dos dispositivos a serem observados, sem prejuízo do disposto no inciso IV do
caput e nos §§ 1º e 2º do artigo anterior. (grifo nosso)
33. A exigência de marca específica, no caso em tela, fere o art. 3º, § 1º, inciso I, da Lei 8.666/93,
que estabelece:
Art. 3º A licitação destina-se a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia, a
seleção da proposta mais vantajosa para a administração e a promoção do desenvolvimento
nacional sustentável e será processada e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos
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41. Por fim, ante a ofensa ao art. 3º, § 1º, inciso I, da lei 8.666/93 e à Súmula 270 deste Tribunal, os
atos relativos à fase externa do Pregão 12/2015, quanto item 17, deverão ser considerados nulos e a
nova seleção deverá observar a adequação do Edital, modificando-se a menção a marca específica.
CONCLUSÃO
42. Após análise das manifestações do órgão responsável pelo Pregão 12/2015 e da empresa
declarada vencedora do certame, Pró-Life Equipamentos Médicos Eireli, bem como do conteúdo
do processo licitatório e de elementos trazidos pela representante, conclui-se pela procedência
parcial da representação.
43. No tocante à ilegalidade da exigência de marca específica para tecnologias de oximetria de
pulso, comprovou-se não constar justificativa fundamentada para inserção no descritivo do item 17
(monitor multiparâmetro) das tecnologias Nellcor ou Masimo, o que afronta o art. 3º, § 1º, inciso I,
da lei 8.666/93 e a Súmula 270 do TCU. Para adequação aos termos da lei, portanto, os atos
relativos à fase externa do certame, em relação ao item 17, devem ser considerados nulos e nova
seleção só deverá ocorrer após ajustes no edital (parágrafos 15 a 36). Entretanto, entende-se
desnecessária a apuração de responsabilidades, ante a falta de elementos que indiquem
direcionamento ou má-fé. (parágrafos 37 e 38)
44. Quanto a eventuais danos decorrentes da seleção da empresa vencedora do certame, por ter
apresentado preço consideravelmente superior ao da representante, não é possível concluir-se pela
existência de tal prejuízo. O produto apresentado pela Dixtal não demonstra as características de
qualidade exigidas no edital, logo não é possível estimar prejuízo com base na comparação entre as
duas propostas, por não terem equivalência. (parágrafos 19 a 22)
45. A respeito de falta de resposta a impugnação, mostrou-se improcedente, pois não foi
comprovada. (parágrafos 39 a 41)
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
46. Ante todo o exposto, submete-se os autos à consideração do Relator, propondo:
a) conhecer da presente representação, satisfeitos os requisitos de admissibilidade previstos nos
arts. 235 e 237 do Regimento Interno deste Tribunal c/c o art. 113, § 1º, da Lei 8.666/1993, para
considerá-la parcialmente procedente;
b) fixar, com fundamento no artigo 71, inciso IX, da Constituição Federal, c/c artigo 45 da Lei
8.443, de 1992 e art. 251 do Regimento Interno desta Corte, o prazo de 10 (dez) dias para que o
Departamento de Logística em Saúde do Ministério da Saúde (DLOG/MS) efetue as alterações no
edital descritas abaixo, dando continuidade ao certame somente após divulgação e reabertura do
prazo para a formulação das propostas, nos termos do art. 21, §4º, da Lei 8666/93:
b.1) o edital do Pregão 12/2015, quanto à descrição do item 17 (monitor multiparâmetro), Anexo I,
Termo de Referência 2083, página 52, afronta o art. 3º, § 1º inciso I, da lei 8.666/93. As
características técnicas do produto licitado devem ser alteradas, de modo que a expressão ‘com
oximetria de pulso de tecnologia Nellcor ou Masimo’ seja modificada ou suprimida, para não
limitar o objeto a marcas específicas.
c) dar ciência ao Departamento de Logística em Saúde do Ministério da Saúde (DLOG/MS) de que,
nos termos da Súmula 270 do TCU, a indicação de marca somente é permitida quando estritamente
necessária para atender exigências de padronização e que haja prévia justificação;
d) comunicar a empresa Pró-Life Equipamentos Médicos Eireli, CNPJ 66.783.630/0002-79, e a
representante, empresa Dixtal Biomédica Indústria e Comércio Ltda., CNPJ 63.736.714/0001-82, a
decisão que vier a ser adotada nestes autos.”
É o relatório.
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VOTO
10. Nesse sentido o Enunciado 270 da Súmula de Jurisprudência do TCU, segundo o qual “em
licitações referentes a compras, inclusive de softwares, é possível a indicação de marca, desde que
seja estritamente necessária para atender exigências de padronização e que haja prévia justificação”.
11. Em reforço, recentemente relatei o Acórdão 2.829/2015-TCU-Plenário, em cuja ementa
estão contidas as seguintes lições:
“2. O órgão licitante deve identificar um conjunto representativo de diversos modelos existentes no
mercado que atendam completamente as necessidades da Administração antes de elaborar as
especificações técnicas e a cotação de preços, de modo a evitar o direcionamento do certame para
modelo específico e a caracterizar a realização de ampla pesquisa de mercado (Acórdão
2.383/2014-TCU-Plenário).
3. A vedação à indicação de marca (arts. 15, § 7º, inciso I, e 25, inciso I, da Lei 8.666/1993) não se
confunde com a menção à marca de referência, que deriva da necessidade de caracterizar/descrever
de forma adequada, sucinta e clara o objeto da licitação (arts. 14, 38, caput, e 40, inciso I, da
mesma Lei). A diferença básica entre os dois institutos é que o primeiro (excepcionado pelo art. 7º,
§ 5º, da Lei 8.666/1993), admite a realização de licitação de objeto sem similaridade nos casos em
que for tecnicamente justificável, ao passo que o segundo é empregado meramente como forma de
melhor identificar o objeto da licitação, impondo-se a aceitação de objeto similar à marca de
referência mencionada.”
12. Conforme expus no Voto do precitado Acórdão, o direcionamento da licitação pode
ocorrer, por exemplo, mediante a utilização de critério subjetivo, o favorecimento a alguma empresa, a
preferência inadequada por determinada marca, a ausência do devido parcelamento ou o
estabelecimento de exigências excessivas/limitadoras. Para mitigar tal risco, é indispensável que o
órgão licitante, caso realize a indicação de marca específica no edital, observe a impessoalidade e,
logo, esteja amparada em razões de ordem técnica, motivada e documentada, demonstrando que
somente a adoção daquela marca específica pode satisfazer o interesse da Administração.
13. Por outro lado, pode haver menção a uma marca de referência no ato convocatório como
forma ou parâmetro de qualidade do objeto simplesmente para facilitar a sua descrição. Nesses casos,
deve-se necessariamente acrescentar expressões do tipo “ou equivalente”, “ou similar” e “ou de melhor
qualidade”. Tal obrigatoriedade tem por fundamento a possibilidade de existir outros produtos, até
então desconhecidos, que apresentem características iguais ou mesmo melhores do que o produto
referido no edital, podendo a Administração exigir que a empresa participante do certame demonstre
desempenho, qualidade e produtividade compatível com a marca de referência mencionada.
14. No presente caso, instado a se manifestar, o DLOG/MS não apresentou fundamentação
técnica, laudo ou estudo que comprovasse a necessidade de exigir as tecnologias indicadas no edital.
Assim, infiro que o órgão realizou indicação expressa de marca específica, sem, todavia, ter sido
apresentada a correspondente justificativa técnica, o que não pode ser convalidado por esta Corte.
15. Conforme muito bem asseverado pela unidade técnica em sua instrução, é até verossímil
que tenha sido necessário mencionar tais marcas como referência, pois tratam-se de modelos
consolidados no mercado. Para tanto, seria necessário acrescentar expressões do tipo “ou equivalente”,
“ou similar” e “ou de melhor qualidade”. Consequentemente, por existirem outras tecnologias que se
propõem às mesmas funções, a especificação do objeto deveria ter ocorrido sem a indicação de marca
específica, salvo nos casos em que for tecnicamente justificável, o que, repita-se, não resta
demonstrado nestes autos.
16. Destarte, deve ser assinado prazo para que o DLOG/MS adote as providências necessárias
no sentido de anular o procedimento licitatório, a ata de registro de preço e eventuais contratos
exclusivamente no tocante ao item 17 do pregão eletrônico SRP 12/2015. O cumprimento da
deliberação deverá ser monitorado pela unidade técnica à luz da Portaria-Segecex 27/2009.
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17. Ante o exposto, voto por que seja adotada a deliberação que ora submeto à apreciação
deste Colegiado.
TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 27 de janeiro de
2016.
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1. Processo nº TC 031.921/2015-9.
2. Grupo I - Classe de Assunto: VII - Representação.
3. Representante/Interessado:
3.1. Representante: Dixtal Biomédica Indústria e Comércio Ltda.
3.2. Interessado: Pró-Life Equipamentos Médicos Eireli.
4. Órgão: Ministério da Saúde.
5. Relator: Ministro Bruno Dantas.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo da Saúde (SecexSaúde).
8. Representação legal:
8.1. Rita de Cássia Viana Cabral Firmino (OAB-SP 258.572) e outros, com substabelecimento,
representando Dixtal Biomédica Indústria e Comércio Ltda..
8.2. Augusto Barbosa de Mello Souza (OAB-SP 178.461) e outros, representando Pró-Life
Equipamentos Médicos Eireli.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de representação a respeito de possíveis
irregularidades relacionadas ao pregão eletrônico SRP 12/2015 do Departamento de Logística em
Saúde do Ministério da Saúde, cujo objeto é o registro de preços para eventual aquisição de
equipamentos a fim de aparelhar as Unidades de Pronto Atendimento,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão do
Plenário, ante as razões expostas pelo Relator, em:
9.1. conhecer da representação, porquanto presentes os requisitos de admissibilidade
previstos no art. 113, § 1º, da Lei 8.666/1993, c/c arts. 235, caput, e 237, inciso VII e parágrafo único,
do Regimento Interno do TCU, para, no mérito, considerá-la procedente;
9.2. com fulcro no art. 71, inciso IX, da Constituição Federal de 1988, c/c art. 45, caput, da
Lei 8.443/1992, assinar prazo de 15 (quinze) dias para que o Departamento de Logística em Saúde do
Ministério da Saúde adote as providências necessárias no sentido de, exclusivamente em relação ao
item 17 do pregão eletrônico SRP 12/2015, anular o procedimento licitatório, a ata de registro de preço
e eventuais contratos, em razão de cláusula restritiva ao caráter competitivo do certame, evidenciada
pela indicação de marcas específicas sem a correspondente justificativa técnica, contrariando os arts.
3º, caput e § 1º, 7º, § 5º, 15, § 7º, inciso I, e 25, inciso I, da Lei 8.666/1993, o Enunciado 270 da
Súmula de Jurisprudência do TCU e a jurisprudência do TCU (representada, por exemplo, pelo
Acórdão 2.829/2015-TCU-Plenário), informando a esta Corte, no mesmo prazo, as medidas adotadas;
9.3. comunicar o inteiro teor desta deliberação à unidade jurisdicionada e às empresas
Dixtal Biomédica Indústria e Comércio Ltda. e Pró-Life Equipamentos Médicos Eireli;
9.4. arquivar os presentes autos, com base no art. 169, inciso V, do Regimento Interno do
TCU, sem prejuízo que a unidade instrutiva monitore a deliberação.
Fui presente:
(Assinado Eletronicamente)
PAULO SOARES BUGARIN
Procurador-Geral
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