Você está na página 1de 27

PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA

Portal Educação

CURSO DE
PSICOTERAPIA BREVE DINÂMICA

Aluno:

EaD - Educação a DistânciaPortal Educação

AN02FREV001/ REV 4.0

1
CURSO DE
PSICOTERAPIA BREVE DINÂMICA

MÓDULO I

Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para
este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou
distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do
conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências
Bibliográficas.

AN02FREV001/ REV 4.0

2
SUMÁRIO

MÓDULO I
1 CONCEITO DE PSICOTERAPIA BREVE DINÂMICA
1.1 HISTÓRICO E PRESSUPOSTOS
1.2 DEFINIÇÃO
1.3 CARACTERIZAÇÃO DA TÉCNICA E DO MÉTODO
1.4 OUTRAS CONSIDERAÇÕES SOBRE AS PSICOTERAPIAS BREVES
MAIS COMUNS E SUAS INDICAÇÕES
1.4.1 Psicoterapias baseadas na teoria psicanalítica – Psicanálise
1.4.2 Psicoterapia de Orientação Analítica
1.4.3 Psicoterapia Breve Psicanalítica
1.4.4 Psicoterapia Breve Dinâmica
1.4.4.1 Teoria
1.4.4.2 Técnica
1.4.4.3 Objetivos e indicações
1.4.4.4 Indicações
1.4.4.5 Contraindicações

MÓDULO II
2 INTERVENÇÃO DA PSICOTERAPIA DINÂMICA BREVE
2.1 INTERVENÇÃO TÉCNICA DA PSICOTERAPIA DINÂMICA BREVE
2.1.1 Quatro tarefas
2.1.1.1 Primeira tarefa
2.1.1.1.1 Apresentação
2.1.1.1.2 Primeira fala significativa do paciente
2.1.1.1.3 Reação emocional do terapeuta
2.1.1.2 Segunda tarefa
2.1.1.3 Terceira tarefa

AN02FREV001/ REV 4.0

3
2.1.1.4 Quarta tarefa
2.1.1.5 Limites e possibilidades das quatro tarefas
2.2 CONCEPÇÃO DE OUTROS AUTORES: O INÍCIO E ALTA DA
PSICOTERAPIA
2.2.1 O INÍCIO DA PSICOTERAPIA
2.2.1.1 Confirmação do diagnóstico, a escolha da psicoterapia e seu escopo
2.2.1.2 O contrato terapêutico
2.2.1.3 Desenvolvendo o hábito da auto-observação
2.2.1.4 A comunicação com o terapeuta
2.2.2 Alta em psicoterapia
2.2.2.1 A fase final da psicoterapia
2.2.2.2 A decisão da alta
2.3 A TEMPORALIDADE E A FOCALIZAÇÃO
2.3.1 Temporalidade
2.3.1 Focalização
2.3.1.1 A escolha do foco
2.3.1.2 Foco e profundidade

MÓDULO III
3 ESTUDOS DE CASO
3.1 INTERVENÇÕES BREVES E FOCAIS NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA
3.1.1 Introdução
3.1.2 Consultas terapêuticas
3.1.3 Intervenção a domicílio
3.1.4 Psicoterapia Breve na infância
3.1.5 Considerações finais quanto às intervenções breves na infância e
adolescência
3.2 PSICOTERAPIAS PSICODINÂMICAS PARA PSICÓTICOS
3.2.1 A etiologia e a psicoterapia breve dinâmica
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AN02FREV001/ REV 4.0

4
RESUMO

O curso tem por objetivo preparar e capacitar os profissionais para


desenvolver metodologias de trabalho, sob alguns aspectos concretos
vivenciados na prática de uma modalidade de trabalho psicológico possível de
ser realizada na área clínica, denominada Psicoterapia Breve Dinâmica.
No primeiro módulo, veremos o conceito de psicoterapia breve
dinâmica, o histórico e pressupostos, a definição, a caracterização da técnica
e do método e outras considerações sobre a fundamentação da Psicoterapia
Breve Dinâmica.
No segundo módulo, observaremos a Intervenção da Psicoterapia
Dinâmica Breve. Concepção de outros autores: o início e alta da psicoterapia;
a temporalidade; e focalização.
Já no terceiro módulo, analisaremos Estudos de Caso. Foram citados
alguns exemplos de estudos de casos sobre a aplicação da Psicoterapia Breve
Dinâmica e sobre psicoterapias psicodinâmicas para psicóticos.

AN02FREV001/ REV 4.0

5
MÓDULO I

1 CONCEITO DE PSICOTERAPIA BREVE DINÂMICA

A Psicoterapia Breve Dinâmica consiste em uma técnica psicoterápica


que usa de forma integrada conceitos teóricos oriundos de diferentes teorias,
além dos conceitos psicanalíticos que envolvem conflitos psíquicos
inconscientes, buscando a resolução destes conflitos mediante a eliminação de
defesas consideradas patológicas por intermédio do insight. Utiliza ainda os
conceitos de: reforço do ego, derivado da psicologia do ego; de foco; de
experiência emocional corretiva; de crises; e teorias de aprendizagem,
incluindo as teorias cognitivas e comportamentais (CORDIOLI, 1998).

1.1 HISTÓRICO E PRESSUPOSTOS

A história da Psicoterapia Breve Dinâmica circunda a da psicanálise


freudiana onde, no início, Freud e seus discípulos obtinham curas por meio de
tratamentos psicanalíticos de curta duração. Com o passar das investigações
de Freud, por psicoterapias entre os anos de 1910 e 1920, sentiu-se a
necessidade de ir aumentando o tempo de duração e a quantidade das
sessões, e esse evento ficou conhecido como o Fenômeno da Inflação da
Psicanálise (LEMGRUBER, 1984).
Freud criou conceitos que são importantes para o processo da
Psicoterapia Breve Dinâmica, como a associação livre e o insight
(CORDIOLI, 1998).
Ferenczi, na década de 1920, foi um dos primeiros autores que tentou
modificar a técnica psicanalítica clássica com o objetivo de adaptá-la a alguns

AN02FREV001/ REV 4.0

6
tipos de pacientes. Denominou este novo processo de “terapia ativa”, pois
Ferenczi acreditava que a participação ativa do terapeuta contribuiria com a
diminuição do tratamento analítico. Ele encorajava o paciente a entregar-se a
fantasias sobre tópicos que surgiam espontaneamente nas associações
realizadas pelo paciente. Entretanto, determinar a data para o fim do
tratamento foi a mais ativa de suas inovações técnicas (CORDIOLI, 1998).
Alexander e French, em 1946, coordenaram um projeto de
investigação, no período de 1938 a 1946 com o objetivo de estabelecer
princípios básicos e técnicas que permitissem um tipo de psicoterapia que
fosse breve e eficaz. Como resultado da pesquisa, concluíram que o fator
curativo nas psicoterapias é o que os autores chamaram de “experiência
emocional corretiva”, ou seja, as vivências do cotidiano (CORDIOLI, 1998).
Alguns anos mais tarde, houve o desenvolvimento de teorias mais
estruturadas. Pesquisadores como Balint e colaboradores formaram um dos
grandes centros de pesquisa em Psicoterapia Breve, na Tavistock Clinic, em
Londres. A grande contribuição do centro pode ser resumida no conceito de
foco e no estabelecimento de técnicas focais. Postulavam que o tratamento de
curta duração deveria ter um objetivo específico, determinado precocemente
devendo o terapeuta intervir apenas interpretando os aspectos que facilitem o
trabalho no foco escolhido (CORDIOLI, 1998).
Pesquisas realizadas por Malan, em uma série de casos clínicos,
concluíram que a Psicoterapia Breve Dinâmica pode obter melhoras
duradouras em pacientes com enfermidades moderadamente graves e de
longa data. Ele preconizou o uso de interpretações transferenciais desde o
início do tratamento, o que poderia ser decisivo como instrumento terapêutico.
Verificou que a motivação e a focalização são fatores essenciais para um bom
prognóstico. Defendeu o tempo limitado, que deve ser discutido e combinado
entre as partes desde o início do tratamento, examinado e trabalhado durante o
mesmo (MALAN, 1981).
Além desses princípios, Malan desenvolveu o conceito dos triângulos
para um melhor desempenho no seu trabalho. O primeiro, o triângulo do
conflito, consiste em defesa, ansiedade (sintoma) e impulso. O segundo,
triângulo das pessoas, considera a relação do paciente com os pais (passado),

AN02FREV001/ REV 4.0

7
com outras pessoas significativas do presente (atual) e com o terapeuta
(transferência) (MALAN, 1981).
Depois de algum tempo, Sifneos partiu do conceito de crise para
construir novos aspectos técnicos na Psicoterapia Breve. Para ele, a crise
emocional é um ponto de transição que oferece a possibilidade de ações
preventivas na forma de intervenções breves. Com isso, há produção de
sintomas, havendo a possibilidade de prevenir a cristalização dos mesmos e a
instalação de uma neurose. Assim, a ansiedade, por exemplo, pode ser útil
para o paciente (SIFNEOS, 1989).
Para Mann (1973), os limites do tempo de tratamento são irrelevantes.
Ele estabeleceu um número de 12 sessões que deveriam ser estabelecidas
logo no início do tratamento. A alta deveria ser colocada em caráter definitivo,
sendo que, se houvesse a necessidade de estender o tratamento deveria ser
realizado de forma inesperada.
Em 1978, surgiu a chamada psicoterapia emergencial, desenvolvida
por Bellack e Small. A teoria era baseada na teoria da aprendizagem e indicada
para situações de crise ou aumento de demandas emocionais. Sendo assim,
exigia que o terapeuta fosse ativo na tentativa de provocar insight, não
esperando a elaboração dele (CORDIOLI, 1998).

AN02FREV001/ REV 4.0

8
1.2 DEFINIÇÃO

Para o encontro ser definido como psicoterapia, é preciso que duas


condições básicas estejam preenchidas: 1ª) o profissional deve utilizar a
relação com seu paciente com o escopo terapêutico, diferentemente de uma
conversa informal entre amigos, a qual, por vezes, pode ser até bastante útil;
2ª) a intervenção terapêutica precisa de um enquadre que possibilite ao
processo se desenrolar ao longo do tempo (HEGENBERG, 2010).

Um diálogo casual, um filme, um limite colocado pelos pais podem


ser terapêuticos quando acontecem na hora certa com a pessoa
disponível para compreendê-los. Estes acontecimentos não podem
ser denominados psicoterapia, porque a relação entre as pessoas
envolvidas não está combinada para tanto, não há enquadre
instituído (HEGENBERG, 2010, p.36).

Durante o processo psicoterápico, o terapeuta deixa de reagir ao


comportamento do paciente para entendê-lo. Por exemplo, se alguém é
agredido, em geral, reage proporcionalmente, ao passo que em uma sessão de
psicanálise, o analista responderá com interpretação e compreensão à
agressão do paciente. A relação é, utilizada com propósito terapêutico, cujo
objetivo daquele relacionamento é o tratamento de um deles pelo outro
(HEGENBERG, 2010).
Para que isso aconteça, são necessárias algumas condições, as quais
a sociedade oferece suporte.

A sociedade garante que, a um sujeito que demande ajuda,


correspondam outros indivíduos oferecendo auxílio. Ela fornece
médicos, psicólogos, terapeutas e tenta coibir o charlatanismo.
Assim, quando uma pessoa vai ao terapeuta, ela sabe que ele estará
disponível, em seu ambiente apropriado, para que, juntos, possam
seguir um tratamento psicoterápico. O paciente atribui ao seu
terapeuta um suposto saber, atribui-lhe um poder, o poder de ajudá-lo
no seu sofrimento, amparado nas leis e costumes do país em que
habita (HEGENBERG, 2010, p. 37).

AN02FREV001/ REV 4.0

9
A psicoterapia tem uma continuidade garantida, uma sequência no
tempo, horários combinados, ou seja, uma influência bastante particular nos
dois integrantes da relação. O enquadre de permanência e regularidade, é o
fator que garante e dá suporte ao relacionamento, o que permite que ele
transcorra dentro de parâmetro definidos.

Esse enquadre, respaldado pelo enquadre mais amplo da sociedade,


influencia os dois participantes. Quando o enquadre varia, a relação
entre os membros da dupla também se altera. Faz muita diferença
um encontro dos dois ocorrer uma vez por semana ou todos os dias.
Um estar deitado e o outro não, ou os dois estarem sentados,
também é fator que modifica a relação. Também influi o fato de haver
ou não um prazo de término previsto para estarem juntos. Essas
variações do enquadre são significativas, promovendo alterações no
modo como um dos participantes se relaciona com o outro
(HEGENBERG, 2010, p. 37).

As intervenções breves são um ou mais encontros não programados.


Nas consultas terapêuticas de Winnicott, um encontro psicoterapêutico não
recebe o nome de “psicoterapia” porque não tem periodicidade definida,
ocorrendo de forma não programada, atendendo a necessidade que
manifesta os acontecimentos. Uma intervenção breve também pode ser
terapêutica. Pode se considerar que, às vezes, um acontecimento significativo
na vida do indivíduo é mais terapêutico do que anos de psicoterapia
(HEGENBERG, 2010).
O que diferencia uma Psicoterapia Breve de uma psicoterapia de longa
duração não é sua brevidade, mas, dependendo do autor, é sua focalização em
torno de uma questão específica ou é o prazo definido da terapia
(HEGENBERG, 2010).

O nome Psicoterapia Breve é inadequado porque o “breve” não é o


indicativo maior dessa forma de terapia. Alguns autores (Balint;
Ornstein, 1975; Sifneos, 1972) propuseram outras denominações,
mas o termo Psicoterapia Breve é universalmente aceito e utilizado,
tanto nos livros quanto em revistas especializadas ou em congressos
(HEGENBERG, 2010, p. 38).

O número de sessões de uma Psicoterapia Breve é variável, podendo


durar alguns meses, algumas sessões ou até um ano. Muitos serviços estipulam
o número de doze, porém, isso não é determinante (HEGENBERG, 2010).

AN02FREV001/ REV 4.0

10
Já a Psicoterapia Breve Dinâmica, tendo a psicanálise como origem e
referência, seguirá a definição geral para psicanálise, acrescida de dois
elementos constitutivos: o limite de tempo previamente estabelecido para
terapia e a presença de um foco, ligado à angústia que leva o paciente a
consultar-se (HEGENBERG, 2010).
A Psicoterapia Breve Dinâmica é a concordância entre paciente e
terapeuta em torno do entendimento da possível origem inconsciente do
problema que dá suporte à decisão de empreender a investigação pelo método
psicanalítico, investigação a qual o paciente deve estar engajado como sujeito
(PESSOA, 2011).
Braier (1997, apud KNOBEL, 1986, p.27) compara a Psicoterapia
Breve, a Psicanálise e a Psicoterapia Analítica e chega à conclusão que a
Psicoterapia Breve consegue levar adequadamente os conceitos psicanalíticos
tradicionais a uma teoria e prática de uma verdadeira psicoterapia breve de
base estritamente psicanalítica.
Knobel (1986) diz que “as psicoterapias breves são apresentadas como
modelos em expansão de técnicas diversas, e até com base conceitual e teórica
tão variada que fica [...] difícil determinar sua origem e [...] sua compreensão”.
A técnica da Psicoterapia Breve está sustentada resumidamente em
quatro princípios (KNOBEL, 1986):
1. é não transferencial;
2. não regressiva;
3. elaborativa de predomínio cognitivo (em aparente detrimento do
afetivo);
4. mutação objetal que se opera por meio de permitir experimentar a
mudança de uma informação falsa por uma informação verdadeira,
criando uma vivência real, de que a pessoa passa a ser um sujeito
ativo de sua própria história.
A finalidade da Psicoterapia Breve é ajudar a encarar os diversos
conflitos que produzem angústia, que acabam determinando quadros variados
de uma psicopatologia psicodinâmica (KNOBEL, 1986).

AN02FREV001/ REV 4.0

11
1.3 CARACTERIZAÇÃO DA TÉCNICA E DO MÉTODO

Para o terapeuta em Psicoterapia Breve Dinâmica é muito importante


que o seu paciente tenha uma maior capacidade de insight, que significa para
a Psicanálise um novo conhecimento do paciente sobre si mesmo, assim
como também ser o principal fator curativo nesses tipos de psicoterapias
(CORDIOLI, 1998).
A Psicoterapia Breve Dinâmica exige que o terapeuta adote atitudes e
posturas ativas e dialéticas, utilizando além de intervenções que têm como
objetivo o insight, outras formas de apoio como: sugestão e educação,
clarificação e aconselhamento. Com isso, o foco da preocupação do terapeuta
está voltado para o futuro e em menor ênfase o passado (MARCON, 2010).
Dentro desta perspectiva, as características da Psicoterapia Breve
Dinâmica são diferenciadas. Segundo Marcon (2010), as características são:
a) delimitação de um foco, problema ou conflito central, em acordo com
o paciente no qual se centraliza todo o trabalho psicoterápico;
b) estabelecimento de uma hipótese psicodinâmica, explicativa do
problema principal ou do foco, que faz sentido ao paciente, ao qual
responde positivamente e que orienta as intervenções do terapeuta;
c) interpretação de forças inconscientes;
d) ensino de novas formas de lidar com os conflitos emocionais;
e) atitude ativa do terapeuta que utiliza, se necessário, medidas de
apoio como manipulação do ambiente, tranquilização e psicofarmacos;
f) delimitação do tempo, 12 a 40 sessões, em geral;
g) seleção adequada do paciente.
Com o fato da delimitação do tempo da psicoterapia é necessário que
se faça uma preparação prévia para a alta ou separação, com o intuito de o
paciente estabelecer autonomia, autoestima, independência onde são
reforçados aspectos positivos do Ego (MARCON, 2010).

AN02FREV001/ REV 4.0

12
O paciente ideal para o tratamento com Psicoterapia Breve Dinâmica
costuma ter problemas focados e aspectos da personalidade funcionantes: alta
motivação, boa capacidade de insight e de se vincular rapidamente ao
terapeuta. Mas são poucas as pessoas que se enquadram no perfil que este
tipo de psicoterapia exige (MARCON, 2010).
Para a seleção de pacientes, Sifneos destaca que é importante que o
paciente apresente as seguintes características (CORDIOLI, 1998):
1. queixa circunscrita;
2. inteligência;
3. no mínimo uma relação interpessoal significativa na infância;
4. motivação para mudanças e não somente alívio de sintomas,
sugerida pela capacidade de introspecção, disposição de tempo,
dinheiro e disponibilidade interna;
5. capacidade de tolerar ansiedade e frustração desencadeadas pela
psicoterapia;
6. capacidade de desenvolver uma relação com terapeuta e de
interagir com ele (MARCON, 2010 apud CORDIOLI, 1998).
O processo terapêutico deve acontecer ao longo de um período
aproximado de 5 a 20 sessões que este tipo de tratamento costuma durar. O
trabalho psicoterapêutico está baseado na formulação inicial de uma hipótese
psicodinâmica que engloba os sintomas apresentados pelo paciente, suas
relações com os conflitos atuais, nucleares, as possíveis manifestações na
transferência e o estabelecimento de critérios de melhora (CORDIOLI, 1998).
A prática terapêutica acontece da seguinte maneira: o paciente senta-
se frente a frente com o psicoterapeuta, em sessões que podem variar entre
uma ou duas vezes por semana inicialmente, tornando-se mais espaçadas
quando se aproxima da alta. No início da psicoterapia, é enfatizada a
interpretação dos diversos elementos do conflito: sintomas, impulsos, desejos
ou sentimentos, mecanismos de defesa. Num segundo momento, o conflito
manifesta-se nas várias situações interpessoais: transferência, relação com
pessoas significativas da vida atual e da vida passada (CORDIOLI, 1998 apud
MARCON, 2010).

AN02FREV001/ REV 4.0

13
A Psicoterapia Breve Dinâmica utiliza-se dos conceitos de Malan de
“atenção seletiva” e “negligência seletiva”, que consiste em direcionar a
atenção do terapeuta e do paciente para o foco (um tema escolhido
inicialmente por ambas às partes) onde se estabelece o terceiro conceito, a
“interpretação seletiva”. Para que isso ocorra, o paciente necessita iniciar
associações livres e o terapeuta procurar identificar no material as conexões
possíveis para que seja o foco, e passa a oferecer interpretações em sinal de
um papel ativo no processo terapêutico (CORDIOLI, 1998).
Estimula-se o paciente para que mantenha a concentração no foco da
terapia, e a partir disso o terapeuta examina-o por diversos ângulos e inclusive
pela transferência, que, sendo negativa, pode ser aproveitada como sendo um
exemplo do conflito atual. No relacionamento terapêutico, a transferência é
imediatamente remetida ao foco onde pode servir como um elemento a mais
para que o paciente possa perceber a vinculação de seu sintoma ou problema
atual com algum conflito inconsciente que foi indicado (CORDIOLI, 1998).
O silêncio é ativamente desencorajado e pode ser interpretado como
resistência, bem como também os atrasos, faltas, tentativas de encher o
tratamento de outras coisas que tiram o foco da terapia, entre outros aspectos
(CORDIOLI, 1998).
A contratransferência é um ponto também muito importante para o
andamento da terapia, onde o terapeuta está passível de identificar-se desde o
início da terapia, fato que é útil para orientá-lo na escolha do material a ser
trabalhado na sessão (CORDIOLI, 1998).
Após um exame completo do problema principal, e mantendo sempre a
motivação em um nível elevado, observa-se o estabelecimento progressivo de
um insight intelectual. Significa que o paciente obtém uma compreensão
interna sobre seus próprios sintomas ou problemas, o que vai além de apenas
um alívio de sintomas, pois o insight intelectual possui um valor terapêutico e
preventivo. Esse insight permite a reorganização da vida atual do seu paciente
por parte do mesmo, a capacitação para enfrentar e resolver problemas futuros
baseados na aquisição da compreensão cognitiva e autocompreensão
(CORDIOLI, 1998).

AN02FREV001/ REV 4.0

14
Os resultados, de certa forma, estão relacionados com a motivação
para alcançar a mudança, frequência de interpretações, transferências e a sua
ligação com figuras paternas a elementos envolvendo impulsos, desejos ou
sentimentos do conflito focal por parte do paciente (CORDIOLI, 1998).
A partir da resolução do conflito atual, as repercussões podem se
estender para além do foco, trazendo a possibilidade de ocorrer mudanças em
outras áreas da vida do paciente (CORDIOLI, 1998).
Outro ponto importante de ser observado na Psicoterapia Breve
Dinâmica é como a alta deve acontecer. Para Mann (1973), a alta deve ser
algo definitivo, dando ao terapeuta a responsabilidade de deixar claro nas
entrelinhas que após a alta não haverá possibilidade de entrevistas adicionais.
Sendo que se surgir a necessidade de acompanhamento posterior ao
tratamento, deve ser de forma completamente inesperada.
Segundo Mann (1973), a perspectiva de alta tende a produzir no
paciente quatro conflitos básicos e universais:
a) independência/ dependência;
b) atividade/ passividade;
c) autoestima adequada/ perda da autoestima;
d) luto não resolvido ou postergado.
Mann (1973) dá importância a esta fase do tratamento pelo fato de
possibilitar o afloramento de conflitos passados, como também o surgimento de
uma relação terapêutica que não idealiza a intervenção do terapeuta após o
término do tratamento. Com relação a isso, Mann diz que:

[...] é nesta fase final que terá lugar o trabalho definitivo de resolução,
o qual irá incorporar, necessariamente, a compreensão de todos os
eventos dinâmicos altamente concentrados e intensamente vividos
que a precederam. A fonte genética destes afetos é revivida na
decepcionante realidade da alta e da separação do terapeuta, com
quem o paciente se identificou profundamente [...] (MANN, 1973)

Malan (1981) ressalta que muito mais importante que o número de


sessões que serão realizadas é a questão: deve ou não deve se estabelecer
tempo limite definido em acordo com o paciente desde o início do tratamento?
Para Malan, o fato de não delimitar tempo de tratamento pode acarretar

AN02FREV001/ REV 4.0

15
desvantagens consideráveis, tanto para o terapeuta quanto para o paciente,
pois tendem a envolver-se profundamente durante o tratamento tornando assim
mais difícil a separação. Salientando assim, que a delimitação do tempo traz
muito mais benefícios ao processo terapêutico do que prejuízos, sendo que,
desta forma, a questão da alta pode ser discutida desde o início das terapias,
suavizando a separação.

FIGURA 1 - PSICOTERAPIA

FONTE: Disponível em: <http://www.fotosearch.com.br/fotos-imagens/fam%C3%ADlia.html>.


Acesso em: 16 jul. 2012.

1.4 OUTRAS CONSIDERAÇÕES SOBRE AS PSICOTERAPIAS BREVES


MAIS COMUNS E SUAS INDICAÇÕES

Psicoterapias são métodos de tratamento para problemas de natureza


emocional, nos quais o psicoterapeuta, mediante a utilização de meios
psicológicos, estabelece uma relação profissional com a pessoa que busca
ajuda, visando remover ou modificar sintomas existentes, retardar seu
aparecimento, corrigir padrões disfuncionais de relações interpessoais, bem
como promover o crescimento e o desenvolvimento da personalidade
(WOLBERG, 1988, apud CORDIOLI, 1998, p. 19). Nas diferentes intervenções,
o terapeuta utiliza a comunicação verbal e a relação terapêutica com a
finalidade de influenciar o paciente e fazer com que modifique emoções,
pensamentos, atitudes ou comportamentos considerados desadaptativos
(CORDIOLI, 1998).

AN02FREV001/ REV 4.0

16
As psicoterapias variam em relação às técnicas que utilizam, às teorias
nas quais se baseiam, aos objetivos, à frequência das sessões e ao tempo de
duração. Abrangem desde as psicoterapias breves de apoio – destinadas a
auxiliar o paciente a superar dificuldades momentâneas, por meio do
aconselhamento, apoio, catarse, sugestão –, a terapia comportamental que
utiliza exposição in vivo, a prevenção da resposta, o condicionamento clássico;
a hipnose; o brinquedo (crianças), as terapias de grupo, de família e de casais;
o psicodrama, até formas mais complexas como a psicanálise e a psicoterapia
de orientação analítica, que se propõem a modificar aspectos da personalidade
pela obtenção do insight interpretando defesas por meio da análise da neurose
de transferência (CORDIOLI, 1998).
Há alguns elementos que são comuns a todas as psicoterapias: a
relação paciente-terapeuta (ou cliente-terapeuta, como propõem algumas
escolas), a qual está inerente à aceitação e o apoio do paciente por parte do
terapeuta, proporcionando-lhe oportunidade para expressar emoções
perturbadoras; o contrato terapêutico; e uma teoria na qual a técnica específica
se fundamenta (ORLINSKY & HOWARD, 1987; ALTSHULLER, 1989).
O terapeuta e o paciente sentam-se frente a frente, ou então o paciente
deita-se num divã e o terapeuta senta-se às suas costas, em uma ou mais
sessões semanais, quinzenais e até mensais. Nas psicoterapias de grupo, um
ou eventualmente mais de um terapeuta encontram-se simultaneamente com
vários pacientes, num mesmo local, em frequência variável (CORDIOLI, 1998).
As psicoterapias são utilizadas por diferentes profissões: psiquiatras,
psicólogos, médicos clínicos, enfermeiros, assistentes sociais entre outros.
Suas origens históricas situam-se na Medicina antiga, na religião, na cura pela
fé e no hipnotismo. Mas, foi no final do século passado que elas começaram a
ser utilizadas no tratamento para as assim denominadas doenças nervosas e
mentais, tornando-se uma arte médica restrita aos psiquiatras. E foi no decorrer
do século XX que outras profissões passaram a exercê-la, conservando-se,
entretanto, os termos relacionados com sua origem médica: doença, etiologia,
diagnóstico, paciente, terapeuta, que de certa forma são inadequados
(STRUPP, 1989). Na verdade, a psicoterapia é muito mais uma atividade
colaborativa entre o paciente e o terapeuta, do que uma ação propriamente

AN02FREV001/ REV 4.0

17
unilateral, exercida por alguém sobre outra pessoa como ocorre com outros
tratamentos médicos (CORDIOLI, 1998).
Na literatura são mencionados mais de 400 tipos diferentes de
psicoterapias (KARASU, 1986). Muitos destes modelos se organizaram em
sociedades científicas, promovendo encontros, congressos, cursos de formação
e estabelecendo regras para sua prática. Como é um campo pertencente a
várias profissões, inexiste, entretanto, qualquer tipo de fiscalização oficial ou de
exigência mínima para quem as pratica (CORDIOLI, 1998).
Desde meados deste século, tem sido feito um enorme esforço de
pesquisa para sua validação por meio da comprovação de sua efetividade e
dos seus resultados. Como consequência, algumas formas vêm impondo-se ao
longo do tempo, seja pela comprovação clínica de sua utilidade no campo da
saúde mental e da saúde em geral, seja pelo resultado das pesquisas
(CORDIOLI, 1998).
Algumas psicoterapias são de uso corrente e se constituem num recurso
terapêutico de eficácia comprovada e eventualmente até superior a outras
técnicas, como é o caso das terapias comportamentais para o tratamento de
fobias específicas e rituais compulsivos ou das terapias de orientação analítica
para problemas caracterológicos ou de personalidade. Outras são utilizadas em
conjunto e de forma integrada com terapêuticas biológicas (terapias cognitivas
nas depressões, psicossociais nas esquizofrenias e demências), devendo o
psiquiatra e os outros profissionais da área da saúde conhecê-las e saber indicá-
las, quando necessário (CORDIOLI, 1998).

AN02FREV001/ REV 4.0

18
1.4.1 Psicoterapias baseadas na teoria psicanalítica – Psicanálise

Psicanálise, literalmente, significa dividir a mente em seus elementos


constitutivos e nos seus processos dinâmicos. Na prática, o termo é utilizado
em pelo menos três significados diferentes: 1) um conjunto de teorias
psicológicas sobre o funcionamento mental, sobre a formação da
personalidade e, aspectos do caráter, tanto aqueles considerados normais
como os psicopatológicos (sexualidade infantil, inconsciente dinâmico, conflito
psíquico, mecanismos de defesa e formação dos sintomas); 2) um método ou
procedimento de investigação dos conteúdos mentais, especialmente os
inconscientes (livre associação, análise dos sonhos, análise da transferência);
3) um método psicoterápico que se propõe a efetuar modificações no caráter
por meio da obtenção de insight mediante a análise sistemática das defesas na
neurose de transferência (HEGENBERG, 2010).
O analista adota uma atitude neutra, sentando-se às costas do paciente,
não havendo, portanto, um contato visual direto. O paciente é orientado a
expressar livremente e sem censura seus pensamentos, sentimentos, fantasias,
sonhos, imagens, assim como as associações que lhe ocorrem, sem prejulgar
sobre sua relevância ou significado (livre associação). O terapeuta senta atrás do
divã, mantendo uma atitude de curiosidade e de ouvinte atento. De tempos em
tempos, interrompe as associações do paciente, fazendo-o observar determinadas
conexões entre fatos de sua vida mental, particularmente emoções, fantasias
relacionadas com a pessoa do terapeuta, que passam despercebidas, e refletir
sobre o seu significado subjacente (HEGENBERG, 2010).
Segundo Lowenkron (1993), a Psicanálise Breve é definida como um
tratamento cujo prazo de duração é ajustado previamente entre o analista e o
cliente que busca ajuda para resolver um “problema específico”, ou seja, os
efeitos de um sofrimento psíquico que se manifesta em uma área demarcável
da vida do cliente e cuja origem possa ser atribuída a um conflito inconsciente
(HEGENBERG, 2010).

AN02FREV001/ REV 4.0

19
1.4.2 Psicoterapia de Orientação Analítica

O paciente é orientado a expressar livremente e sem censura seus


pensamentos, sentimentos, fantasias, sonhos, imagens, sem prejulgar sobre
sua relevância ou significado, bem como as associações que lhe ocorrem.
Essas associações não são tão livres como em psicanálise, pois habitualmente
são dirigidas pelo terapeuta para questões-chave da terapia, que, a princípio,
busca intervir em áreas circunscritas ou problemas delimitados. Dentro da área
selecionada (foco), o paciente é estimulado a explorar seus sentimentos,
ideias, atitudes, em suas relações com figuras importantes de sua vida atual,
do passado e com o próprio terapeuta, com vistas ao insight. Sem a utilização
do divã, com o uso menor da associação livre, com sessões menos frequentes,
a regressão é menor e a transferência não se desenvolve com a mesma
intensidade, primitivismo e rapidez que a psicanálise (GOSDSTEIN, 1988).
A psicoterapia de orientação analítica utiliza entre uma e três
sessões semanais, com o paciente sentando-se numa poltrona de frente
para o terapeuta, podendo o tratamento durar vários meses ou até anos
(CORDIOLI, 1998).

1.4.3 Psicoterapia Breve Psicanalítica

Freud descrevia o sujeito como provido de um aparelho psíquico,


aberto para o exterior, mas que não precisava do mundo externo para justificar
seu funcionamento. No Vocabulário da Psicanálise, de Laplanche e Pontalis
(1970), no verbete “relação de objeto”, registra-se a posição freudiana,
entendida como “one-body psychotherapy”, ou seja, a teoria freudiana da
psicanálise diz respeito ao sujeito em seu funcionamento isolado e não em
relação. Freud define os conceitos relativos ao sujeito em si como libido,

AN02FREV001/ REV 4.0

20
deslocamento, condensação, resistência, pulsão, etc. Freud estava mais
interessado na teoria do que na clínica e preocupava-se com a cientificidade do
seu corpo teórico, preferindo escapar da relação terapêutica, que ele
considerava passível de ser criticada como subjetiva. Em 1937, em Análise
Terminável e Interminável, Freud ratifica essa posição. Freud, enfim, não
propôs nenhuma modificação técnica por muitos anos, tendo até mesmo se
oposto a elas (HEGENBERG, 2010).

A Psicoterapia Breve, então, pode ser vista como desviante, porque


implica em maior presença do analista, visto preconceituosamente
como alguém “ativo”, ou seja, ele adquire uma atitude “não
psicanalítica”. A proposta freudiana permite e induz o analista a ficar
mais tempo em silêncio, sendo comprometedora sua intromissão.
Para Freud, é a construção (ou reconstrução) do passado que
importa. A interferência da pessoa real do analista é um ruído, é
prejudicial à análise – que deveria ser análise do cliente e não do par
terapeuta/analisando (HEGENBERG, 2010, p. 42).

Já Ferenczi (1988) estava interessado na prática clínica. Ele se


preocupou com as questões relativas ao enquadre e também com o par
analista/paciente (HEGENBERG, 2010).
Diante da reação terapêutica negativa, Ferenczi (1988) demonstrou
modificações no enquadre, como a “técnica ativa”. O princípio que o norteou foi a
noção de que no tratamento estão presentes dois elementos: o cliente/paciente e
o terapeuta. Ele é considerado o pai das Psicoterapias Breves, pensando a
prática e seus efeitos no par analítico (HEGENBERG, 2010).

Ferenczi (1988) escreveu vários artigos nos quais demonstra essa


preocupação. Em Confusão de língua entre adultos e crianças (1988)
aborda vários temas, entre eles a contratransferência, a necessidade
de análise pessoal por parte do analista, a transferência negativa e o
ambiente. Em A técnica psicanalítica (1980) discute a importância da
contratransferência. Em Princípios de ralaxação e neocatarse (1988)
aponta de fixar um término para o tratamento, refere-se ao potencial
traumático do mundo exterior, discorre sobre o analista como ser
humano (como diminuit sua rigidez, por exemplo). Em Elasticidade da
técnica psicanalítica (1988) analisa o “sentir com” tão a contragosto
de Freud. Em Perspectivas da psicanálise (1988), salienta a
importância da prática clínica, do narcisismo do terapeuta e da
vivência na transferência (HEGENBERG, 2010, p. 43, apud
FERENCZI, 1988, p. 43).

AN02FREV001/ REV 4.0

21
Ferenczi (1988) se preocupava com a prática clínica e com o papel do
terapeuta na análise, oportunizando a discussão da relação terapêutica e da
função do mundo real na psicanálise. Essa questão ainda hoje está presente,
com vários autores se recusando a considerar o mundo exterior como objeto de
preocupação da psicanálise (HEGENBERG, 2010).
Em 1909, Ferenczi (1988) introduziu o conceito de introjeção, em seu
artigo “Transferência e Introjeção” (1988), demonstrando seu interesse precoce
pela relação com o outro, lembrando que os conceitos de projeção e introjeção
são essenciais na teoria kleiniana do objeto. Ferenczi (1988) preocupou-se em
integrar o problema atual do indivíduo com sua história pessoal, em observar
como o sujeito se comporta no presente em função de seu passado
(HEGENBERG, 2010).
Com relação ao assunto sobre introjeção, contratransferência e
transferência, a importância do analista na terapia, o papel do mundo real e do
enquadre, Ferenczi (1988) abriu as portas para se refletir a prática
psicoterápica e a relação terapêutica, se tornando autor de leitura
imprescindível no estudo da Psicoterapia Breve (HEGENBERG, 2010).

A realidade do limite de tempo interferindo na relação terapêutica, a


realidade da relação com o analista, a realidade da crise em que o
sujeito está inserido, são questões fundamentais da Psicoterapia
Breve que tiveram início com Ferenczi (1988) e que se encontram
também na obra de Winnicott (1975a), por exemplo. É a partir deles
que se pode pensar a prática da Psicoterapia Breve sem considerá-la
um erro técnico sob o ponto de vista psicanalítico (HEGENBERG,
2010, p. 43, apud FERENCZI, 1988, p. 64).

Para Ferenczi (1988) e Winnicott (1975a), não há análise sem analista,


ou seja, a presença do analista no processo de análise é indispensável. Assim
como não há bebê sem a mãe (ambiente). Para esses autores, o terapeuta na
Psicoterapia Breve está sendo mais ativo, interferindo no processo de análise,
porque tal circunstância é inevitável, porque são duas as pessoas envolvidas e
não apenas uma (HEGENBERG, 2010).

AN02FREV001/ REV 4.0

22
Para muitos analistas, o terapeuta de Psicoterapia Breve estaria
cometendo um erro técnico ao ser mais ativo e para uma concepção
de psicanálise winniocottiana, o terapeuta de Psicoterapia Breve
apenas estará sendo ele mesmo. Cabe ressaltar que não se fala,
aqui, de terapeutas selvagens, com formação questionável, que
justificam intromissões grotescas a partir de uma concepção baseada
em Winnicott (1975a). Dizer que o analista interfere no processo de
análise não deve servir para justificar intromissões indevidas. Na
teoria de Winnicott (1975a), é clara a diferença entre invasão e
apresentação (HEGENBERG, 2010, p.44).

Segundo a concepção de Psicoterapia Breve, o terapeuta deve


acompanhar o seu cliente em suas associações livres, interpretar o material
inconsciente a partir de uma escuta psicanalítica baseada em experiência e
sólida formação teórica, buscando um encontro significativo, consciente de sua
participação como ser humano no processo analítico de seu cliente.
(HEGENBERG, 2010).

1.4.4 Psicoterapia Breve Dinâmica

1.4.4.1 Teoria

Já na Psicoterapia Breve Dinâmica, foco deste material, é um exemplo


de psicoterapia que se usa de forma integrada conceitos teóricos oriundos de
diferentes teorias, além dos conceitos psicanalíticos de conflito psíquico
inconsciente, buscando sua resolução mediante a eliminação de defesas
consideradas patológicas por meio do insight. Emprega, ainda, os conceitos de:
reforço do ego, derivado da psicologia do ego; de foco (BALINT, 1972; MALAN,
1981); de experiência emocional corretiva (ALEXANDER, 1946); de crises
(ERIKSON, 1980; CAPLAN, 1980); e teorias da aprendizagem, incluindo-se as
teorias cognitiva e comportamental.

AN02FREV001/ REV 4.0

23
1.4.4.2 Técnica

Principais características da Psicoterapia Breve Dinâmica (CORDIOLI,


1986):
a) delimitação de um foco, problema, ou conflito principal, em acordo
com o paciente e no qual se centraliza toda a atividade psicoterápica;
b) estabelecimento de uma “hipótese psicodinâmica”, explicativa do
problema principal ou do “foco”, que faz sentido ao paciente, ao qual
ele responde positivamente e que orienta as intervenções do terapeuta;
c) interpretação de forças inconscientes;
d) ensino de novas formas de lidar com os conflitos emocionais;
e) atitude ativa do terapeuta que utiliza, se necessário, medidas de
apoio como manipulação do ambiente, tranquilização e psicofármacos;
f) delimitação do tempo, 12 a 40 sessões em geral;
g) seleção adequada do paciente.
O terapeuta adota atitudes ativas utilizando, além das intervenções que
visam ao insight, outras de caráter de apoio como: sugestão e educação,
clarificação, aconselhamento, etc. A preocupação maior é com o futuro e menor
com o passado (MALAN, 1981; SIFNEOS, 1979, 1984; MACKENZIE, 1988).
O paciente ideal para Psicoterapia Breve Dinâmica usualmente tem
problemas circunscritos (foco), mesmo que antigos, e áreas da personalidade
funcionantes; é altamente motivado; tem boa capacidade de insight e de se
vincular rapidamente ao terapeuta. Na verdade, são poucos os que preenchem
os critérios exigidos por esta forma de terapia (CORDIOLI, 1986).
A delimitação do tempo faz com que prematuramente surjam questões
envolvendo alta e separação e que precocemente sejam estimuladas a
autonomia, a autoestima, a atividade, a independência (reforço de aspectos
positivos do ego) (CORDIOLI, 1986).

AN02FREV001/ REV 4.0

24
O paciente senta-se frente a frente com o terapeuta, em sessões que
variam de uma a duas vezes por semana no período inicial, tornando-se mais
espaçadas quando se aproxima o término do tratamento (CORDIOLI, 1986).
No início da terapia, é enfatizada a interpretação dos diferentes
elementos do triângulo do conflito: sintomas, impulsos, desejos ou
sentimentos, mecanismos de defesa; num segundo momento, o conflito
manifestando-se nas várias situações interpessoais: transferência, relações
com pessoas significativas da vida atual e da vida passada (triângulo do
insight) (MALAN, 1981).
Os resultados parecem estar correlacionados com motivação para
mudança, frequência das interpretações transferenciais e a sua ligação com:
figuras paternas a elementos envolvendo impulsos, desejos ou sentimento do
conflito focal (MALAN, 1981).

1.4.4.3 Objetivos e indicações

A Psicoterapia Breve Dinâmica está indicada no tratamento de problemas


circunscritos ou mudanças de caráter em áreas restritas da personalidade.
Terapeuta e paciente devem poder rapidamente definir um foco ou problema
principal e estar de acordo em trabalhar sobre ele (CORDIOLI, 1986).
O paciente deve ser capaz de estabelecer rapidamente uma aliança de
trabalho e de vincular-se ao terapeuta; ter facilidade de expressar seus
sentimentos e interesse em compreendê-los. Deve ainda ser capaz de
facilmente separar-se por ocasião da alta e demonstrar motivação para efetuar
mudanças, através da compreensão de suas dificuldades. Não deve ter
problemas que possam ser agravados, se mobilizadas algumas defesas, nem
devem ser numerosos, difusos ou severos (CORDIOLI, 1986).

AN02FREV001/ REV 4.0

25
1.4.4.4 Indicações

 Paciente com transtornos de ajustamento e de personalidade leve,


organização neurótica de personalidade nos termos de Kernberg (1990);
 Situações ou problemas agudos, na vigência de transtornos
caracterológicos crônicos.

1.4.4.5 Contraindicações

Conforme Cordioli (1986).


 Psicoses;
 Transtornos do humor;
 Dependência ao álcool ou a outras substâncias;
 Transtorno obsessivo-compulsivo ou fóbico incapacitante;
 Transtorno do pânico;
 Transtorno de caráter grave: organização borderline ou psicótica da
personalidade, expressos sob a necessidade frequente de
hospitalização, tentativas de suicídio, condutas auto ou
heterodestrutivas graves, controle precário dos impulsos;
 Pacientes muito imaturos e dependentes que, em virtude das
reações transferenciais desenvolvidas, tenham dificuldade em se
separar do terapeuta;
 Situações emergenciais que exijam intervenções rápidas do tipo
mudança ambiental;
 Necessidade de modificações maiores ou mais profundas no
caráter;
 Problemas difusos, focos ou conflitos múltiplos.

AN02FREV001/ REV 4.0

26
FIM DO MÓDULO I

AN02FREV001/ REV 4.0

27

Você também pode gostar