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Desde Darwin a relação de parentesco entre os humanos e os outros

animais é amplamente aceita por diversas ciências, no entanto o grau desse


parentesco e a diferenciação causa divergências entre as diversas áreas do
saber.

Para as ciências naturais o humano é apenas uma forma de vida no


processo de evolução. Já para as ciências sociais existe uma diferenciação
fundamental que é a cultura.

Essa relação de parentesco é assunto fundamental para a Antropologia,


tanto de uma perspectiva voltada para as questões biológica, quanto de
uma perspectiva preocupada com a origem da cultura, sendo este último
tema de divergências dentro da própria Antropologia.

Segundo Geertz, a teoria mais aceita para o tema da origem da cultura seria
a ideia de “ponto crítico” de Alfred Kroeber. De acordo com ela em
determinado momento histórico houve uma mudança prodigiosa na
estrutura cortical, que possibilitou a realização de ações como ensinar,
aprender, fazer generalizações, entre outros. Este processo de mudança,
que deu origem a cultura, foi, para esta teoria, um processo súbito e não
progressivo.

Três grandes razões apoiam essa teoria, a primeira dela é a diferença


abissal entre a capacidade mental dos humanos e dos grandes símios; a
segunda está relacionada com a impossibilidade de haver uma elaboração
simbólica parcial, ela necessita de um grande salto para se realizar, pois não
pode se dar pela metade; a terceira se refere à semelhança da capacidade
mental de toda a humanidade, tese apoiada pela etnografia.

Porém, se pensarmos a partir da anatomia, tal como propõe a Paleontologia


Humana, fica difícil encontrar elementos que comprovem essa mudança
súbita. A partir do estudo da anatomia de fósseis de “homens-macacos” ou
de “semi-homens”, a Paleontologia apresentou comprovações da tese de
uma transformação lenta dos seres vivos, ao menos no sentido corporal.

No que diz respeito à aquisição de cultura, Geertz afirma que esses “semi-
homens”, com cérebro que mediam 1/3 do tamanho do nosso,
desenvolveram alguns elementos culturais, mas não todos, o que não
condiz com a ideia de “ponto crítico”. “O que se supunha improvável, ou
mesmo logicamente impossível, tinha sido empiricamente verdadeiro: tal
como o próprio homem, a capacidade de aquisição de cultura surgiu gradual
e continuamente, pouco a pouco, durante longo período de tempo.” (p. 36)

A hipótese apresentada acima cria ainda outros embates com relação ao


“ponto crítico”, pois segundo esta o processo de aquisição de cultura teria
se dado após o desenvolvimento completo da estrutura nervosa,
consequentemente a cultura não transformaria a estrutura orgânica. “O
fato de ser errônea essa teoria, ao que parece (pois o desenvolvimento
cultural já se vinha processado bem antes de cessar o desenvolvimento
orgânico), é de importância fundamental para o nosso ponto de vista sobre
a natureza do homem, que se torna, assim, não apenas o produtor da
cultura, mas também, num sentido especificamente biológico, o produto da
cultura.” (p.37)

No entanto, tais estudos ainda estão em desenvolvimento, o estudo com


primatas e as grandes descobertas Paleontológicas são recentes e ainda
com muitas possibilidades a serem explorada. Porém para o autor, esses
estudos mostram que a ideia de natureza humana não é algo tão simples
quanto se pensava e que provavelmente deriva tanto da biologia quando da
cultura.

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