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É importante observar que o toque (volume) dos atabaques nunca deve exceder
as vozes da corrente. Quando o atabaque excede a corrente se desorganiza e o
médium perde a concentração, atrapalhando e muito o desenvolvimento dos
médiuns e o bom andamento do trabalho.
Cada atabaque produz um tipo de som diferente tendo no conjunto dos três uma
orquestra onde cada um tem seu papel em harmonia com os outros.
Todavia, este termo ogã também foi introduzido na Umbanda, mas é usado
exclusivamente para referir-se as pessoas; homens ou mulheres que podem tocar e
são os responsáveis pela parte musical de um terreiro. Sendo assim, podemos
chamar de ogã, atabaqueiro, mestre de cerimônia, curimbeiro, entre outros nomes
dados que viriam conforme orientação de cada casa/escola de Umbanda.
Entretanto, podemos observar na prática do dia a dia, o termo mais usado ficou
sendo o de ogã.
Vamos tentar elucidar algumas dúvidas comuns aos iniciantes que causam
confusão por crenças e práticas válidas no Candomblé, que quando refere-se a
Umbanda, as coisas mudam e muito, já que como somos outra religião, temos
autonomia de termos nossos próprios fundamentos e opiniões sobre a condução
de nossas práticas e tradições.
Na Umbanda isso varia conforme doutrina de cada casa. Todavia boa parte
das casas segue uma tradição de que somente homens podem tocar com uma
influencia forte das crenças de nação. Outras não têm restrição aceitando tanto
homens, quanto mulheres nos atabaques. Embora na prática, talvez por uma
questão de costumes, vemos muito mais homens e raras mulheres a frente dos
atabaques.
Sendo assim, em muitos casos uma entidade pode apontar o caminho de ogã
para uma pessoa, ou essa aptidão é evidenciada no dia a dia do contato com o
terreiro.
O mais correto seria que a casa possa oferecer subsídios para que a pessoa
aprenda dentro do próprio terreiro, mas isso está ficando cada vez mais difícil.
Porque pelo menos aqui em nossa cidade, está-se perdendo a tradição de Ogã
como filho da casa e sim, ganhado o espaço para os ogãs contratados, que são
pessoas que tocam em diversos terreiros, mediante a um pagamento, ou por
questões de amizade junto a filhos e pai de santo da casa. Porém isso não é o mais
indicado. Primeiro que um ogã é sim um filho do terreiro e não é um “tocador”
musical, nem músico, ou instrumentista. Ele é uma parte dos fundamentos do
terreiro, assim como os médiuns que incorporam. Porém dentro de nossa casa,
estamos preparando nosso primeiro ogã para que este fique responsável por
repassar seus conhecimentos para outros futuros filhos da casa que surgirem para
ocupar tal função.
Além disso, o Ogã desenvolve uma percepção das energias que circulam a
sua volta, tanto das entidades, quando de possíveis tráficos energéticos dos
trabalhos que estão ocorrendo. Podendo ele, puxar uma vibração através de
pontos específicos que gerará uma energia no ambiente a fim de ajudar no fluxo
energético, seja para descarregar, ou para fixar uma determinada energia.
Para entender melhor, vamos falar sobre o significado das ferramentas que um Ogã
trabalha.
O que são pontos cantados? São orações, rezas e evocações cantadas. São
ritmadas que nos conduz a uma frequência vibracional compatível com o tipo de
energia que se está evocando. Somado ao som emitido pelos atabaques, ressona no
ambiente, gerando ondas energéticas que ativam nosso mental e emocional,
facilitando e criando “chaves” mentais para nos conduzir a conexão com o plano
espiritual. Além disso, as batidas dos atabaques provoca a ativação de nossos
chacras inferiores e da kundaline, pela vibração telúrica que ele provoca, sentida
por nossos pés, levando uma corrente energética que percorrerá por todo nosso
campo eletro-magnético.
Então, podemos dizer que o conjunto: pontos cantados, mais o som dos
atabaques, são instrumentos formadores, e mantenedores de energias entre o
grupo, criando homogeneidade e harmonia nas vibrações e sendo assim, mantém o
grupo em mesma sintonia num “ritmo só”.
Existem pontos para puxadas de várias energias. Pontos para louvor; são
pontos que trazem homenagens, oferendas cantadas, enredos e simbologia de cada
Orixá, linha ou entidade. Pontos de demanda que servem basicamente para evocar
e estabelecer, enviando uma distinta energia. Pontos de descarrego: são pontos
evocados que gerarão uma atuação mental e energética por consequência para
dissipar e descondensar energias do ambiente, geralmente cantadas em momentos
específicos na gira após dos trabalhos de passes e correntes de trabalhos, ou em
dados momentos da gira a comando das entidades ou quando o ogã chefe da casa,
perceber a necessidade da puxada.
Existem muitos pontos, principalmente no caso dos Exus que trazem uma
simbologia negativa, fruto de distorções sincréticas e “mitos” criados onde faz
menção a Exus como diabo, capeta, satanás. Tão pouco, pontos que remetem os
Malandros (falange auxiliar agrega a linha de Exu)a usuário e tráfico de drogas,
armas, tiros e vida marginal. Então dentro de nossa casa, em giras públicas e em
momentos de louvor e pontos evocativos/de chamadas, não são cantados tais
pontos.
Porém, entendemos que muitos pontos de demanda, tem seu teor agressivo
e até certo ponto com letras que trazem essas associações. Estes servem de
advertência a possíveis espíritos que estejam ligados mentalmente ao grupo,
querendo agir negativamente contra nós. Além disso, criam vibrações densas,
necessárias para o trabalho que será executado, como também integrando
mentalmente os médiuns em mesma sintonia, os preparando para este momento
tão importante de uma gira, onde requer total concentração e união de todo o
grupo num mesmo propósito.
Outro fato a colocar é que não cantamos pontos de Linhas/e entidades que
não faz parte de nosso entendimento sobre as linhas e falanges de Umbanda, como
pomba gira Odalisca, Pomba Gira do Lixo, Rainha de Sabá, Ogum Xoroque,
Boiadeira do Sobrado, Lampião e Maria Bonita, entre outros. Cabe ao Ogã passar
essa posição da casa numa ocasião em que outro ogã visitante esteja entoando
pontos para essas entidades. Não precisa interromper, causando possíveis
constrangimentos, mas depois não se esqueça de falar que não evocamos nem
louvamos essas entidades em nossa casa, então não cantamos seus pontos.
Existem pontos para vários fins e cabe ao ogã sabe-los pois é parte dos
fundamentos da casa. Além de tocar, ele precisa saber as curimbas (cantigas) que
compõe os rituais de seu terreiro. Pontos de defumação, bater cabeça, de batismo,
de amaci, de consagração de orixá, de abertura de gira, de chamada dos guias, de
encerramento, de agradecimento, de subida, de chamada. O ogã deve saber a hora
de puxa-los e muda-los conforme o andamento da gira. Ele deve prestar atenção a
tudo no terreiro, pois ele é quem acompanha o coro mediúnico e não ao contrário.
Ou seja, como já falado acima, o som dos atabaques jamais deve sobressair e
sufocar o canto dos médiuns. Os atabaques servem para acompanha-los, para
uniformizar a vibração que o canto ressona, somado as ondas sonoras das batidas
dos atabaques que precisam estar num tom harmonioso com o tom das vozes dos
cânticos.
Além disso, quanto ao canto, o ogã não tem a obrigação de ser um ótimo
cantor, mas pode e deve exercer o papel de puxar as diversas cantigas da gira. Ele
pode conduzir as puxadas, ou seja, começar os pontos para que a Zeladora e grupo
possa dar continuidade a cantiga e ele acompanha. Para isso, é preciso dispensar
atenção contínua no corpo mediúnico e na Zeladora, pois ela é a pessoa que está
conduzindo a gira. Podendo pedir pra parar, trocar uma puxada, ou dar
continuidade. É dela o comando da gira e de suas entidades quando incorporadas.
Claro que muitos sim, fazem jus a tais afirmações. Mas são adeptos que não
receberam disciplina e nem boas orientações em suas formações, claro, quando
não temos um problema de índole e caráter.
Ogã é aquele que faz o orixá vibrar através do som dos tambores,
distribuindo axé a todos que estão ao seu redor. Amor, respeito e dedicação
carinhosa são os pilares dos grandes ogãs de Umbanda, que realmente exercem em
sua plenitude sua função.