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ALMAS E ANGOLA

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O Ritual de ALMAS E ANGOLA teve sua origem no Rio de Janeiro, Estado que também serviu de berço
para o surgimento da UMBANDA.

A UMBANDA surgiu em 1908, a partir da primeira incorporação do médium Zélio de Moraes.

UMBANDA e ALMAS E ANGOLA são na realidade manifestações "ritualístico/religiosas" distintas, apesar


de utilizarem muitas coisas em comum, como por exemplo a incorporação de espíritos como : índios, velhos
escravos, crianças, etc.

Muitos são os terreiros de ALMAS E ANGOLA, por exemplo, que se reconhecem como UMBANDA em
ALMAS E ANGOLA, porém é muito importante lembrar que a UMBANDA em suas atividades internas é muito
diferente de ALMAS E ANGOLA, principalmente na forma de cultuar os Orixás. Em ALMAS E ANGOLA por
exemplo, existem rituais internos denominados "FEITURAS DE ORIXÁS" ou camarinhas. Nessas atividades o
médium é "raspado", "catulado" e como ocorre no CANDOMBLÉ, sai ao público em sessão especial
denominada "SAÍDA DE CAMARINHA".

ALMAS E ANGOLA e UMBANDA não podem ser vistas como uma mesma prática ritualístico / religiosa,
pois tem suas características internas próprias, ou seja , realizam rituais distintos, apesar de terem se
originado de troncos quase comuns.

A Origem do ritual de ALMAS E ANGOLA, ainda hoje é motivo de questionamento. Há quem afirme ser o
ritual de ALMAS E ANGOLA originário da CABULA, movimento religioso oriundo do sincretismo afro-católico
ainda ocorrido no período da escravidão, principalmente nas áreas rurais. A CABULA, segundo pesquisas
refere-se aos rituais negros mais antigos, envolvendo imagens de santos católicos, herança da fase
reprimida do CANDOMBLÉ, onde os negros mesclavam crenças e culturas. Quando no final do século XIX
ocorre a libertação dos escravos, a CABULA já era presente como atividade religiosa afro-brasileira. Talvez a
própria UMBANDA, tenha herança na CABULA, pois mantém forte a presença do Orixá em sua pratica
doutrinária.

No Rio de Janeiro, antes mesmo da origem oficial da UMBANDA (1908), eram comuns práticas afro-
brasileiras similares ao que hoje conhecemos como CABULA, OMOLOCÔ e ALMAS E ANGOLA. Talvez o
surgimento da UMBANDA tenha fornecido uma linha comum, possibilitando uma prática mais ordenada,
orientada no desenvolvimento da mediunidade e na prática da caridade e auxílio a população pobre e
marginalizada.

Um importante fato histórico ligado ao ritual de ALMAS E ANGOLA, e quemerece ser registrado, é o
"Terreiro do BABALÂO LUIZ D'ANGELO (clique no nome ao lado para ver foto histórica ), localizado na Rua Iguaçu
Nº57, no Bairro Engenho Leal - Estação do Trem - Rio de Janeiro. Segundo as pesquisas, o Babalâo Luiz
D'Angelo praticava em seu terreiro o ritual de ALMAS E ANGOLA e foi ele que trouxe o ritual para Sta
Catarina. Antes de abrir seu terreiro Luiz D'Angelo era filho de santo da Tenda Espírita Caboclo Tuiti,
localizada no Bairro Cordovil, também no Rio de Janeiro. Foi nessa tenda que GUILHERMINA BARCELOS
(Mãe Ida) (clique no nome ao lado para ver foto histórica) conheceu Luiz D'Angelo e o ritual de ALMAS E ANGOLA.
O ritual de ALMAS E ANGOLA era praticado na Tenda Espírita Fé Esperança e Caridade de Luiz D'Angelo
tendo como particularidade, daí a sua distinção da UMBANDA, as obrigações de camarinha. Nessas
obrigações os médiuns eram graduados, começando pelo Batismo, passando pelo "Obori" ou obrigação de
Anjo da Guarda, posteriormente pela obrigação de Pai ou Mãe Pequena e finalizando com a obrigação de
Babalâo (homem) ou Babá (mulher). As obrigações de SETE, QUATORZE e VINTE E UM anos reforçam a
obrigação de Babalâo ou Babá e fazem parte da atual fase do ritual já em Sta Catarina.

Santa Catarina conhece o ritual de ALMAS E ANGOLA após o fim da Segunda Guerra Mundial (1945),
quando Mãe Ida viaja com seu esposo para o Rio de Janeiro, a pedido de suas entidades espirituais, para
buscar novas orientações no que se referia ao culto aos Orixás. Na época, Mãe Ida já tinha um terreiro de
umbanda desenvolvendo muitos filhos de santo. A necessidade de fortalecer seus filhos com obrigações
mais "fortes" (conta Mãe Ida) a fez buscar novos recursos dentro da cultura afro.

Foi no Rio de Janeiro, na Tenda de ALMAS E ANGOLA do BABALÂO LUIZ D'ANGELO (clique no nome ao
lado para ver foto histórica ),
que Mãe Ida realiza, em janeiro de 1949, sua primeira obrigação no novo ritual. Na
época com 29 anos, Mãe Ida se consagra como a primeira pessoa em Santa Catarina a entrar para o ritual
de ALMAS E ANGOLA.

De 1949 até 1951, Mãe Ida faz algumas viagens ao Rio de Janeiro com o objetivo de conhecer o ritual
mais diretamente, pois afinal já era de seu interesse converter seu terreiro até então praticante de
UMBANDA para o ritual de ALMAS E ANGOLA.

Após um período necessário de adaptação, em 1951, Luiz D'Angelo vem à Florianópolis e oficialmente
"abre" a TENDA ESPÍRITA SÃO GERÔNIMO (clique no nome ao lado para ver foto histórica ) no Bairro dos Saco dos
Limões, primeira Tenda de ALMAS E ANGOLA fundada em Sta Catarina.

Mãe Tereza, Mãe Ida e Pai Evaldo

O ritual de ALMAS E ANGOLA foi praticado durante muitos anos na TENDA ESPÍRITA SÃO
GERÔNIMO (clique no nome ao lado para ver foto histórica ), no bairro Saco dos Limões por Mãe Ida. Nesse período
inúmeros filhos de santo foram iniciados no ritual e alguns deles receberam a graduação de Babalâo e
Babá, e a partir daí abriram seus próprios terreiros, ou em alguns casos de pais ou mães de santo com
terreiros já montados e praticantes de outros rituais, trocaram sua prática anterior para o ritual de ALMAS E
ANGOLA. Nesse período começa a se firmar o ritual na Grande Florianópolis.

Nas décadas de 50 , 60 e 70 o ritual de ALMAS E ANGOLA praticado em Sta Catarina já sofria algumas
alterações quando comparado com o do Rio de Janeiro, porém em muitos pontos mantinha-se fiel aos
ensinamentos trazidos por Luiz D’Angelo.

Com a entrada de GUILHERMINA BARCELOS (Mãe Ida) (clique no nome ao lado para ver foto histórica ) para o
Candomblé, as mudanças no ritual passam a ser marcantes, fato comum ainda hoje. Conforme relata a
própria Mãe Ida, ela resolve entrar para o CANDOMBLÉ , satisfazendo um interesse pessoal em dar aos
Orixás determinados "fundamentos" que não eram comuns à ALMAS E ANGOLA. Inicialmente Mãe Ida faz
uma obrigação em NAGÔ IGEXÁ, posteriormente em "TORIEFAM" e por último em KETO. Perguntada sobre
as mudanças de rituais e sabendo ter sido ela a precursora do ritual de ALMAS E ANGOLA em Sta Catarina,
Mãe Ida diz que na época foi fortemente atraída pelas possibilidades que o CANDOMBLÉ oferecia em
termos de culto aos Orixás. Atualmente, quando comparamos o ritual praticado no Rio de Janeiro com o
que se pratica em Santa Catarina, é possível identificar a forte presença de características adquiridas por
influência do Candomblé.

As poucas casas de ALMAS E ANGOLA, mesmo com o desligamento oficial de Mãe Ida, continuaram
praticando o ritual de ALMAS E ANGOLA. Como exemplo podemos citar os terreiros de: Pai Evaldo, no
bairro Bela Vista/São José ; Pai Fagundes, no bairro Saco dos Limões/Florianópolis ; PAI
TÊLES, NO BAIRRO JARDIM ATLÂNTICO/FLORIANÓPOLIS (clique no nome ao lado para ver foto histórica),
todos filhos espirituais de Mãe Ida - e também o terreiro de Pai Orlando*, no bairro Bela Vista
1/ São José - filho espiritual de Luiz D'Angelo.

* (Orlando Linhares Sobrinho - Pai Orlando, em 1976 viaja para o Rio de Janeiro e realiza sua obrigação
de Babalâo. Segundo relatos, nesse período o ritual de Almas e Angola praticado em Santa Catarina, já
sofria algumas alterações em relação ao do Rio de Janeiro, motivo que o levou a procurar Luiz D'Angelo para
que o consagra-se Babalâo. Pai Orlando afirma que hoje em Sta Catarina não encontram-se terreiros que
pratiquem o ritual da mesma forma que era praticado no Rio. Acredita Pai Orlando que essas mudanças
sejam resultado da influência exercida pelo Candomblé, pois afinal, no ritual original de ALMAS E ANGOLA os
orixás eram cultuados de forma muito "simples", a começar pelas oferendas ou comidas de santo. Pai
Orlando foi um dos últimos filhos de santo "feito" por Luiz D'Angelo).

No final da década de 70, poucos eram os terreiros praticantes do ritual de ALMAS E ANGOLA, porém os
números de adeptos e de novos iniciados ao ritual crescia, principalmente na década de 80. É nesse período
que são inaugurados vários terreiros mantedores do ritual. Segundo pesquisa, a maior parte dos terreiros
de ALMAS E ANGOLA que hoje a praticam, são raízes da Tenda Espírita Jesus de Nazaré, fundada e dirigida
ainda hoje por EVALDO LINHARES ( Pai Evaldo). É importante registrar que a Tenda Espírita Jesus de
Nazaré é o terreiro mais antigo e em atividade no Estado.

Na Tenda Espírita Jesus de Nazaré , o ritual de ALMAS E ANGOLA passa por algumas modificações, ou
seja, as obrigações de reforço de 7, 14 e 21 anos, não existentes no ritual no Rio de Janeiro, passam a
fazer parte dessa nova fase.

Conversando com Mãe Ida sobre as obrigações de 7, 14 e 21 anos, ficou claro que, no ritual praticado no
Rio de Janeiro, essas se limitavam as feituras de Babalâo e Babá. Os chamados reforços foram "criados"
por Pai Evaldo , inclusive algumas guias (colares de contas). A guia de sete fios, por exemplo, usada após a
obrigação de Sete Anos é uma "criação" de Pai Evaldo.

Segundo Pai Evaldo, após a realização da obrigação de Babalâo e já praticando o ritual de ALMAS E
ANGOLA e sendo na época a maior casa de santo do Estado mantenedora de uma das maiores correntes
mediúnicas , era preciso continuar o ritual, mesmo sem a presença de Mãe Ida. E foi assim , que com
ajuda de seus mentores e guias espirituais, principalmente do caboclo Peri, que Pai Evaldo , manteve-se
"fiel" ao ritual por ele assumido.

Ao completar seus sete anos de obrigação em ALMAS E ANGOLA , Pai Evaldo procura novamente Mãe
Ida e pede seu auxílio no sentido de orienta-lo quanto aos procedimentos necessários para seu
fortalecimento, pois afinal , a dedicação quase total aos trabalhos espirituais exigiam um reforço, ou seja,
um fortalecimento dele enquanto médium. Mãe Ida que na época praticava o ritual de CANDOMBLÉ,
segundo relatos do próprio Pai Evaldo, já estava muito comprometida com o seu novo ritual , ficando
impossibilitada de atender o pedido de seu filho, naquele momento. Consultando seu caboclo, o mentor
dirigente do terreiro, Pai Evaldo resolve buscar auxílio com Pai Orlando (Nessa época Luiz D'Angelo já
havia falecido) e orientado pelo próprio Caboclo Peri e auxiliado por Pai Orlando realizou sua obrigação de
SETE anos, iniciando aí uma fase nova dentro do ritual de ALMAS E ANGOLA. Segundo os mais antigos
praticantes do ritual, essa fase faz surgir uma bifurcação no ritual, criando duas correntes em ALMAS E
ANGOLA. Uma corrente que segue o ritual com as alterações criadas por Pai Evaldo e outra que mantém
as características originais trazidas por Luiz D'Angelo em 1951(Apesar de algumas mudanças).
Conversando com Pai Orlando, fica claro que o ritual de ALMAS E ANGOLA, hoje praticado, é bem
diferente daquele realizado no Rio de Janeiro. Como exemplo, podemos citar as feituras do Orixá OBALUAÊ;
no Rio de Janeiro esse Orixá não era "feito". Luiz D'Angelo não fazia filhos de OBALUAÊ, pois afinal, esse
Orixá era considerado o Senhor das Almas . No Rio de Janeiro, no Terreiro de Luiz D'Angelo a imagem desse
Orixá ficava separada em um altar especial.

Atualmente, sabendo-se de algumas alterações que ocorreram no ritual de ALMAS E ANGOLA e


reconhecendo a forte influência de Pai Evaldo no culto em Sta Catarina é oportuno mencionar que dos
atuais terreiros que praticam o ritual, 90% seguem as práticas e as adaptações criadas por Pai Evaldo.

De 1951, até os dias atuais, encontramos uma série de mudanças ocorridas no ritual, principalmente no
que se refere as cerimônias externas. Se no início as obrigações se limitavam a graduação de babalâo e
Babá, hoje o mesmo não acontece. Para o ritual e ouvindo as explicações de Pai Evaldo, é possível
compreender os motivos que o levaram as adaptações realizadas em seu terreiro. Conforme ele mesmo
relata, após a entrada de Mãe Ida no CANDOMBLÉ, muita coisa mudou. Segundo ele, manter o ritual ,
principalmente com a "saída" de Mãe Ida , passou a ser um desafio. Mas , conforme relatos do próprio Pai
Evaldo, foi graças aos seus mentores, destacando o Caboclo Peri, o Exú Maré e o Preto Velho Pai Adão,
que o ritual se manteve em seu terreiro , com a mesma força e energia, pois segundo ele , o ritual sem os
mentores , os guias não conseguiria se manter. Conforme diz Pai Evaldo , "OS RITUAIS SÃO CRIAÇÕES DO
PRÓPRIO HOMEM, E SENDO ASSIM SÃO PASSÍVEIS DE MUDANÇAS". Fazendo uma comparação entre o
ritual praticado no Rio de Janeiro e o atualmente praticado em Sta Catarina é evidente que as mudanças
realizadas foram necessárias e oportunas.

Outro momento importante para o ritual de ALMAS E ANGOLA em Sta Catarina, foi a obrigação de 14
anos realizada por Pai Evaldo. Na ocasião, buscou novamente com Mãe Ida o resgate as origens de ALMAS E
ANGOLA e com ela realizou sua obrigação, confirmando aí a necessidade de se manter em obrigações e
reforços, mesmo após a realização da feitura ou graduação de Babalâo ou Babá. Em 1986 com a realização
do primeiro reforço de 14 anos no ritual de ALMAS E ANGOLA em Sta Catarina, realizado pelas mão de Mãe
Ida, o ritual vira uma nova página em sua história, consolidando-se como uma forte raíz no Estado.

No Rio de Janeiro, que foi berço do ritual de ALMAS E ANGOLA, são raros os registros sobre o ritual, as
poucas informações se limitam a histórias contadas por aqueles que de alguma forma conheceram Luiz
D'Angelo.

Hoje, viajando para o Rio de Janeiro é possível identificarmos as práticas da UMBANDA e do


CANDOMBLÉ, porém de ALMAS E ANGOLA não existem registros atuais de nenhum terreiro praticante desse
ritual. Isso nos leva a crer que o ritual de ALMAS E ANGOLA, que encontrou na década de 50 um espaço
aberto e amplo para sua instalação em Sta Catarina , aqui permaneceu, cresceu, mudou em alguns pontos e
se fez representar , inclusive para o restante do Brasil, pois afinal esse ritual outrora carioca é hoje , quase
que exclusivo de Sta Catarina.

Em 1979 com a morte de Luiz D'Angelo no Rio de Janeiro, aos 68 anos , o ritual de ALMAS e
ANGOLA vira uma página importante de sua história. Em Santa Catarina novas páginas estão
sendo escritas contribuindo para o registro e resgate dessa história que com certeza ainda se faz.

O SIGNIFICADO DO TERMO ALMAS E ANGOLA

O termo ALMAS E ANGOLA é originário do Rio de Janeiro. Segundo Guilhermina Barcelos (Mãe Ida),
quando de sua primeira visita ao Rio de Janeiro em meados de 1929, já era comum o uso do termo ALMAS
E ANGOLA, inclusive quando conheceu Luiz D'Angelo ele já era Babalaô "feito" em Almas e Angola.
Mãe Tereza e Mãe Ida

No Rio de Janeiro até 1940, era comum encontrarmos inúmeros termos para identificar os diversos
rituais afro-brasileiros praticados na época. Segundo pesquisas, existiam no Rio os termos: Umbanda de
Mesa, Umbanda de Almas, Almas e Angola, Umbanda de Angola entre outros. Todos praticantes da doutrina
Umbandista somados a rituais afro oriundos da cultura negra no país. A Angola, fortemente representada no
Rio de Janeiro, trazida pelos escravos Bantus, influenciou os rituais existentes na época, pois afinal a mesma
influência acontece no nordeste/Bahia com os escravos Sudaneses.

ALMAS E ANGOLA ,segundo Guilhermina Barcelos (Mãe Ida) teve forte influência da ANGOLA praticada
pelos terreiros no Rio de Janeiro. Luiz D'Angelo, segundo conta , tinha um irmão de santo angolano, que
muito o influenciou, principalmente no tocante a feituras de santo (Orixás).

ALMAS E ANGOLA, mescla as culturas dos Orixás africanos com o culto aos ancestrais (espíritos de
mortos). O termo ALMAS está fortemente representado pelos espíritos dos negros ancestrais africanos, que
aqui deportaram trazidos pelo tráfico negreiro, e que hoje se manifestam como mentores, guias, os
chamados pretos velhos. São também representados nos terreiros de ALMAS E ANGOLA os ancestrais de
índios brasileiros, os chamados caboclos, que "curimbam" nos terreiros e fazem sua caridade nos passes e
consultas. O interessante no ritual é o fato de conviverem harmonicamente entidades ou falanges de
diferentes origens, ou seja, pretos-velhos e caboclos trabalham conjuntamente nos terreiros, apesar de na
maioria das vezes serem envocados (chamados) em sessões distintas.

"No Rio de Janeiro o ritual de ALMAS E ANGOLA era praticado obedecendo alguns pontos importantes",
comenta Orlando Linhares (Pai Orlando). As sessões eram realizadas segundas, quartas e sextas. "Em
ALMAS E ANGOLA, todos os trabalhos devem iniciar na Segunda-Feira, em respeitos as ALMAS" afirma mais
uma vez Orlando Linhares (Pai Orlando).

O ritual de ALMAS E ANGOLA praticado no Rio de Janeiro tinha como característica principal, a
utilização de uma escala espiritual, ou seja, as SETE LINHAS ou Falanges.

AS SETE LINHAS DENTRO DE ALMAS E ANGOLA / RIO DE JANEIRO

LINHA DE OXALÁ

LINHA DE XANGÔ

LINHA DE OGUM

LINHA DE OXOSSE

LINHA DE POVO D'AGUÁ ( Nanã, Yemanjá, Oxum e Inhasã)

LINHA DAS BEIJADAS


LINHA DAS ALMAS

A linha das ALMAS é chefiada por OBALUAÊ e estão incluídos nessa linha os Pretos-Velhos, Caboclos,
Exús e Pomba-Gira.

Conforme relata Orlando Linhares (Pai Orlando), Obaluaê representa a força do Ritual de Almas e
Angola. Segundo ele, no Rio de Janeiro as incorporações de Obaluaê aconteciam durante as aberturas dos
trabalhos, quando eram cantados os pontos para salvar as ALMAS. Na maioria das vezes, o médium era
derrubado no chão (desmaiado) quando entrava em transe com esse guia. Obaluaê, no Terreiro de Luiz
D'Angelo tinha um Altar Especial, pois era tido como a força de ALMAS E ANGOLA.

Atualmente, na Grande Florianópolis, Obaluaê continua tendo um lugar de destaque nos altares de
terreiros que praticam o ritual de ALMAS E ANGOLA. Além de também ter um lugar de destaque na Casa
das Almas.

O termo Almas, chefiada por Obaluaê, representa os chamados Orixás Menores (são aquelas entidades
espirituais que fazem a mediação entre o ser humano e o Orixá Maior).

O termo ANGOLA, está diretamente ligado aos Orixás Maiores, também cultuados no ritual, que segundo
Evaldo linhares (Pai Evaldo) e Guilhermina Barcelos (Mãe Ida), representam as forças da natureza, e que
nas sessões de camarinha envolvem o médium de força intensa. Em sessões outras, fora da camarinha os
orixás envocados e que incorporam nos médiuns, são representações dos próprios orixás, ou seja, são os
chamados "Eguns dos Orixás" ou "Orixás Menores" .

Pai Evaldo e Seu Filho de Santo Giovani Secretário Geral da TECCV

Almas e Angola não é UMBANDA e nem tão pouco CANDOMBLÉ, pois afinal segue rituais próprios e
doutrina específica. Por muitos seguidores é uma nação, porém não deve ser desvinculada da prática
original, onde envolve culturas afro e ameríndias, voltadas para a caridade e o auxílio ao próximo.

ORIXÁS
OS ORIXÁS VISTOS NO RITUAL DE ALMAS E ANGOLA

Quem são os Orixás? Esta é uma pergunta que a maioria das pessoas que freqüentam cultos afro-
brasileiros fazem a si mesmos e a outros. Orixás são entidades espirituais, dizem uns. Orixás são forças da
natureza, dizem outros. Orixás são espíritos de mortos que dependendo do lugar onde morreu pode retornar
na forma espiritual como Ogum, se morreu em batalhas, Povo d`Água se morreu no mar, rio ou lago. Todas
as alternativas podem estar certas, contudo elas sofrem o inconveniente de serem muito superficiais, haja
vista que o orixá deve ser algo muito mais complexo.

Saída de Camarinha / Oxalá

Para os seguidores dos rituais de Almas e Angola, os orixás além de simples forças da natureza ou
entidade espirituais, dividem-se em duas categorias - Orixá Maior e Orixá Menor.
Orixá Maior é aquela entidade celeste que faz com que a natureza tenha movimento, se transforme e
gere vida. É a essência da vida.
Por exemplo, Yemanjá é responsável pelo formação e manutenção da vida marinha. Xângo é o
responsável pelo energia do trovão que desencadeia as tempestades que limpam a atmosfera. Nanã faz com
que a chuva que cai na terra gere nova vida orgânica. Inhasã é a responsável pela limpeza do ar
atmosférico e com seus ventos espalha a vida, como pólens. Exú é o Orixá responsável pelo desejo sexual
que gera vida nas espécies sexuadas.
O Orixá Maior é pura energia, não passou pelo processo de encarnação como seres humanos.
Ele é pura energia cósmica, a força vital que tem origem em Olorum/Zambi e que faz com que a
mecânica do universo oscile entre o caos e a ordem gerando vida. Eles são chamados apenas pelo primeiro
nome, Ogum, Xângo, Oxum, Omulú... O Orixá Maior é uno e onipresente.
Orixás Menores são aquelas entidades espirituais que fazem a mediação entre o ser humano e o Orixá
Maior. Os Orixás Menores são, conforme as diversas lendas africanas, espíritos de antigos reis e heróis
africanos, índios, orientais, etc. Em essência, os Orixás Menores podem ser qualquer ser humano. Toma-se
por base, por exemplo as lendas de Xângo e Ogum. Esses seres humanos comuns, por terem sido
abençoados com poderes sobrenaturais concedidos pelos Orixás Maiores, tornaram-se seres humanos
especiais dotados de superpoderes físicos ou mentais para proteger seu povo; e que após a sua morte
voltam a ter contato com os seres humanos comuns na forma de Orixás Menores. Esses seres humanos
especiais seriam como semi-deuses.
O Orixá Menor possui o mesmo nome do Orixá Maior de onde provem seus poderes, acompanhado de um
sobrenome. Por exemplo, Ogum Beira-Mar, Yemanjá Obáomi, Xângo Kaô...A este segundo nome chamamos
de dijina ou sunam do Orixá. Assim podemos ter vários Oguns, Xângos, Oxóssis, Yemanjás...

Saída de Camarinha / Ogum


Os Orixás Menores passaram pelo processo da reencarnação, mas são espíritos dotados de poderes
sobrenaturais concedido pelo Orixá Maior e que por isso possuem uma grande luz e compreensão espiritual.
É isto que diferencia os eguns (espíritos de mortos que possuem compreensão ou luz espiritual mas ainda
passam, se necessário, por outras reencarnações por ainda estarem ligados ao mundo material) e kiumbas
(espíritos de mortos que ainda não alcançaram a luz espiritual, e nem compreendem que já vivem em outra
dimensão e que seu corpo carnal não mais existe). É isso que diferencia o Orixá Menor dos demais seres
espirituais que ainda não foram tocados pela energia do Orixá Maior.
A energia concedida ao Orixá Menor também provém de Zambi/Olorun; entretanto, ela é canalizada a ele
através do Orixá Maior, que é o elo de ligação entre eles, da mesma forma que o Orixá Menor é o elo de
ligação entre o ser humano e o Orixá Maior.
Dessa forma o Orixá Maior pode ser comparado grosseiramente a uma válvula que regula o fluxo de
energia entre Zambi /Olurum e o Orixá Menor, podendo dessa forma reduzir, aumentar ou até mesmo
retirar os poderes do Orixá Menor.
Em Almas e Angola, crê-se que são esses espíritos, os Orixás Menores que se manifestam nos omo-
orixás (médiuns). E somente em momentos muitíssimos especiais é que o filho de santo poderá realmente
ser tocado de forma muito rápida pelo Orixá Maior.
O culto do Orixá Menor está ligado ao antigo culto dos antepassados e que nos foi legado pela cultura
Bantu; enquanto o culto ao Orixá Maior está ligado ao culto das forças da natureza e nos foi legado pelos
yorubanos e gêjes. É importante frisar que na própria África esses dois cultos se mesclam e se completam;
da mesma forma que eles se completam aqui no Brasil.

DIA DA SEMANA, CORES E SÍMBOLOS DOS ORIXÁS EM

ALMAS E ANGOLA

Orixá Cor Símbolo Dia da Semana


Cruz com raios, Paxorô, Cálice, Pilão e
Oxalá Branco Leitoso Sexta-Feira
Sol.
Branco, Azul,
Yemanjá Estrela, Peixe e Mar Sábado
Cristal

Ogum Vermelho Espada, Bandeira branca e vermelha Terça-Feira

Nanã Lilás Obiri e Coração Quarta-Feira


Xangô Marrom Machado Alado e Pedra Quarta-Feira
Amarelo
Inhasã Raio(relâmpago) e Espada Quarta-Feira / Sábado
Laranja
Oxosse /
Verde Arco, Flecha, Penas e Aves tropicais Quinta-Feira
Caboclo
Azul, Amarelo
Oxum Abebê, Cachoeira e Lua Crescente Sábado
Ouro
Obaluaê /
Branco e Preto Xaxará, Cruz e Palha da Costa Segunda-Feira
Omulú
Ibeji Azul e Rosa Brinquedos Domingo
Preto e
Exú Tridente Segunda-Feira
Vermelho

Preto-Velhos Preto e Branco Cruzeiro, Rosário e Cachimbo Segunda -Feira

OFERENDAS E COMIDAS AOS ORIXÁS


As comidas ofertadas aos Orixás, também representam uma outra característica marcante dentro dos
rituais afro-brasileiros. São pratos feitos pelas cozinheiras do santo e vão desde a Cangica dedicada à Oxalá,
passando pelo Acarajê de Inhasã até chegar ao pirão com peixe dedicado as Almas (Pretos-Velhos). Os
Orixás recebem suas oferendas/comidas no próprio terreiro, comidas essas que são entregues em ritual
próprio realizado na sexta-feira a noite em Lua Nova ou Crescente.

Entrega de Comida de Santo aos Orixás

Vejamos as Comidas correspondentes a cada Orixá

Orixá Comida Correspondente

Oxalá Canjica coberta com algodão.


Nanã Cangica coberta com folha de bananeira.
Xangô Rabada com polenta(feito no Dendê.
Yemanjá Canjica enfeitada com nove camarões cozidos.

Costela ou bagre assado enfeitado com rodelas de


Ogum
batata de farofa(feito no dendê).

Creme feito com feijão fradinho amassado, coberto


Oxum
com ovos cozidos e enfeitados com folhas de alface.

Milho verde e amendoim regados com mel e cobertos


Oxosse / Caboclo
com cocô ralado e enfeitado com morango.
Inhasã Acarajê coberto com molho de camarão.
Arroz branco coberto com pipoca e enfeitado com
Obaluaê / Omulú
fatias de Pão de trigo regadas de dendê.

Ibeji Mingau enfeitado com cocadas e balas coloridas.

Preto-Velhos Pirão de peixe coberto com postas de curvina frita.

Farofa de dendê coberta com um bife acebolado


Exú / Pomba Gira
(cebola roxa) e enfeitado com rodelas de limão e lima.

A comida de Exú é entregue na Segunda-feira na cangira. A comida das Almas é entregue na Sexta-
feira no altar, porém em alguns terreiros a mesma é entregue na própria Casa das Almas.
Acompanhando a Comida do Orixá, são também entregues a bebida corresponde, além de uma vela de
cêra grande. No caso de beijada são entregues três guaranás e três velas de cêra grandes.

Mesa com Oferendas aos Orixás

Vejamos as Bebidas correspondentes a cada Orixá

Orixá Bebida Correspondente


Oxalá Champanhe com rôtulo branco.
Nanã Soda Limonada
Xangô Cerveja Preta
Ogum Cerveja Branca
Yemanjá Água Mineral sem gás
Oxum Água Mineral sem gás
Oxosse / Caboclo Vinho Branco de Mesa
Inhasã Vinho Rosé
Obaluaê / Omulú Suco de Laranja Lima
Ibeji Guaraná
Preto-Velhos Vinho Tinto
Exú Cachaça

TECCV TECCV

ORGANIZAÇÃO
ORGANIZAÇÃO E MANUTENÇÃO DOS TERREIROS DE ALMAS E ANGOLA

Caminham juntas duas formas de organização dentro dos terreiros de ALMAS E ANGOLA , uma seguindo
o ritual religioso e outra referente a parte burocrática e administrativa .
A parte religiosa segue uma organização que vai desde a forma arquitetônica até as atividade anuais
praticadas da mesma forma em todos os terreiros. Nos terreiros que praticam o ritual ALMAS E ANGOLA são
encontrados:

- Uma Cangira, ou seja, uma casinha fora do terreiro, em alguns casos ao lado, onde ficam guardados
todos os fundamentos de Exú/Pomba-Gira (Objetos como: quartinhas de barro com água, quartinhas de
barro com cachaça, além das imagens de exú e pomba-gira).

Pomba Gira Cigana Maria Rosa

- Uma Casa das Almas, localizada também fora ou ao lado do terreiro, geralmente muito próxima da
cangira (quase sempre ao lado). Nessa casa encontram-se imagens de preto-velhos e de São Lázaro
representando Obaluaê (Em alguns terreiros essa imagem não aparece). A Casa das Almas , representa o
Cruzeiro das Almas, e ali são cultuados os ancestrais da casa.

- Uma cozinha do santo, onde são feitas as obrigações e demais atividades necessárias ao culto dos Orixás
e ou trabalhos de limpeza espiritual.

- Um salão amplo onde são realizados os trabalhos espirituais. Nesse salão destacam-se: O Altar, onde
estão as imagens dos santos católicos, caracterizando o sincretismo. Vejamos:

ORIXÁ
SANTO CATÓLICO DIA ALUSIVO
CORRESPONDENTE
Jesus Cristo 25 de dezembro Oxalá
Menino Jesus de Praga 25 de dezembro Oxalá Menino
Nossa Senhora Santana 26 de julho Nanã
São Miguel Arcanjo 29 de setembro Xângo( da Mãe Ida)
São João Batista 30 de setembro Xângo Alafim
São Pedro 29 de junho Xângo Agodô
Nossa Senhora dos Navegantes 02 de fevereiro Yemanjá
São Jorge 23 de abril Ogum
Santa Bárbara 04 de dezembro Inhasã
Santa Catarina 25 de novembro Inhasã
São Sebastião 20 de janeiro Oxosse
Nossa Senhora da Conceição 08 de dezembro Oxum
São Lázaro 17 de agosto Obaluaê / Omulú
São Roque 17 de agosto Obaluaê / Omulú
São Cosme e São Damião 27 de setembro Ibeji
São Crispim e São Crispimiano 25 de outubro Ibeji
Santo Antônio 13 de junho Exú
Negros e Escravos 13 de maio Pretos-Velhos

Essas imagem obedecem uma seqüência que difere de terreiro para terreiro, pois no alto do Altar fica a
imagem de Jesus Cristo (Oxalá), Do lado direito a imagem do santo padroeiro do terreiro, que na maioria
das vezes representa o Orixá do Babalâo ou Babá da Casa,e do lado esquerdo o segundo Orixá.

Altar da Tenda Espírita Caboclo Cobra Verde

Existem terreiros que colocam as imagens das Santas mulheres de um lado e dos santos homens do
outro. Comum nos terreiros de ALMAS E ANGOLA, é a forma de triângulo representada no altar, onde
aparecem Jesus Cristo (Oxalá) no Ápice , São Cosme e São Damião em uma das extremidades da base da
pirâmide e São Lázaro na outra.

Ainda no salão , destacam-se nos quatro cantos, o desenho (no chão) de uma

cruz pintada de branco as cruzes representam os locais onde estão enterrados os fundamentos de cada
orixá ali representado. Na Tenda Espírita Caboclo Cobra-Verde, as cruzes representam Oxosse, Inhasã, Nanã
e Ogum e no centro do salão pintado também no chão encontra-se uma estrela com uma cruz desenhada
no meio da estrela, representando Yemanjá.

Ao lado do Altar existem dois espaços destinados as obrigações de Camarinha. Em alguns terreiros esse
local é um quartinho fechado.

- Separada por um "murinho" no salão fica a assistência, local onde as pessoas permanecem durante a
realização das sessões. Nesse local ficam cadeiras ou bancos de madeira para acomodar a assistência.

- Outra característica dos terreiros de Almas e Angola é presença de três atabaques (Tumbadeiras) que são
utilizadas durante as sessões. Esses atabaques ficam próximos à assistência, geralmente virados para o
altar. São os ogãs os responsáveis pelas músicas cantadas durante as sessões.

- Durante as sessões os Homens ficam de um lado da corrente e as mulheres de outro, virados todos para
o altar, formando duas filas. A ordem na corrente obedece a hierarquia, principalmente as obrigações
realizadas (Graduação).Os Primeiros da fila são os mais antigos do terreiros. As sessões são realizadas as
segundas-feiras, quartas-feiras e sextas-feiras.

Segunda-feira : Sessão de Preto-velho onde são também chamados os orixás:

Xângo, Nanã e Obaluaê.


Quarta-feira : Sessão de desenvolvimento Mediúnico

Sexta-feira : Sessão de Caboclo onde são também chamados o orixás:

Ogum, Inhasã, Yemanjá e Oxum.

As sessões são realizadas a partir das 20 horas e terminam aproximadamente as 23 horas. Atualmente
muitos terreiros realizam um sessão por semana onde dividem as sessões em: sessão de ‘’Segunda’’ e
sessão de ‘’Sexta’’. Estas sessões são realizadas, dependendo do terreiro, as Quartas, Quintas e Sextas ou
mesmo no Sábado . São poucos terreiros de Almas e Angola que realizam três sessões por semana, mesmo
o terreiro do Pai Evaldo, o mais tradicional e antigo de Sta Catarina, também realiza somente um sessão por
semana. Os terreiros de ALMAS E ANGOLA , apesar de muitas mudanças ocorridas desde seu surgimento em
Santa Catarina até hoje, se mantém fiéis a algumas atividades como: Camarinhas, que são realizadas para
graduar os filhos de santo; Sessão de Amaci, realizada na Sexta-feira Santa ; Sessão de Quaresma, realizada
após o Carnaval durante a quaresma, onde os médiuns trabalham somente com os Pretos-velhos e Exús.
Alguns terreiros também trabalham com Caboclos. Os Orixás não são envocados nesse período. Sessão de
Cachoeira ou Obrigação de Cachoeira, trabalho realizado o dia todo na cachoeira. Sessão de praia ou
Obrigação de Praia, realizada dia 31 de dezembro ou dia 02 de fevereiro, nessa sessão é feita uma
homenagem a Yemanjá.

Obrigação de Cachoeira da TECCV


As atividades anuais dos terreiros de ALMAS E ANGOLA obedecem um amplo calendário, ocupando em
muito os filhos de santo. Por exemplo, durante a realização de camarinha as atividades são realizadas de
Domingo à Domingo, uma semana inteira de atividades.

A organização burocrática, fica a cargo de uma diretoria composta por presidente, secretário e
tesoureiro, além do conselho fiscal. A maioria dos terreiros de ALMAS E ANGOLA tem um Estatuto
devidamente registrado em cartório, além do Alvará de funcionamento cedido pela Federação Catarinense
Cultos Afro-brasileiros . Muitos terreiros tem CGC e alguns são reconhecidos como de utilidade pública
(municipal, estadual e federal).

Não sendo uma associação com fins lucrativos, a única fonte de renda dos terreiros é através de uma
mensalidade cobrada dos médiuns, que pode variar conforme o terreiros, de 5 reias até 10 reais em média.

Os próprios médiuns fazem a manutenção do terreiro, seja na limpeza ou mesmo na conservação das
instalações físicas. Alguns terreiros utilizam o sistema de rodízio, criando equipes de limpeza e manutenção.
Em alguns casos são contratados serviços profissionais, principalmente quando se trata de uma construção
para aumento das instalações físicas. Como os terreiros são construídos a partir de doações, é comum
estarem sempre em obras, visando o aumento do terreiro ou mesmo aprimorando o que já havia sido
construído.

A maior parte dos terreiros de ALMAS E ANGOLA são construídos no mesmo terreno, junto a casa do Pai
ou Mãe de Santo. Poucos são os terreiros que funcionam em terreno próprio. Alguns terreiros realizam rifas
para angariar fundos com o objetivo de pagarem os serviços de profissionais, como o de pedreiros por
exemplo.

Na grande Florianópolis, existem hoje, aproximadamente 50 terreiros que praticam o ritual de ALMAS E
ANGOLA. Segundo a CEUCASC ( Federação de Umbanda e Cultos Afro-Brasileiros de Santa catarina) os
terreiros de ALMAS E ANGOLA crescem em número a cada ano.

TECCV TECCV
HIERARQUIA
AS ETAPAS EVOLUTIVAS DE UM FILHO DE SANTO

Na Tenda Espírita Caboclo Cobra Verde, que desenvolve o Ritual de Almas e Angola o ingresso do futuro
filho de santo é realizado após uma limpeza espiritual denominada "SACUDIMENTO".

Após o Sacudimento o médium é levado até o terreiro onde recebe o Amaci. Nesse momento, o futuro
médium assume definitivamente um compromisso com o ritual, ficando de branco e de cabeça coberta por
24 horas. O futuro médium assume também o compromisso de acender durante 7 sextas- feiras ou 7
segundas-feiras, uma vela de cêra para o Anjo de Guarda.

O Amaci é produzido na Sexta-Feira Santa feito com o sumo de ervas amassadas pelos próprios médiuns
e também com bebidas representando cada orixá. No Amaci, bem como nos banhos de descarga, as folhas
é que são utilizadas, pois são ricas em energia. Devem ser colhidas quando não estão expostas ao sol (antes
das 6 horas/depois das 18 horas) pois com os raios solares as plantas realizam a fotossíntese e esse
momento não é bom para colher folhas. Vejamos o quadro abaixo:

Orixá Ervas Bebidas


Oxalá Boldo / Hortelã / Etc Champanhe
Nanã Colônia / Folha da Costa / Etc Soda Limonada
Xangô Saião / Barba Velho / Etc Cerveja Preta
Yemanjá Rosa Branca / Colônia / Etc Água Mineral
Ogum Espada de São Jorge / Etc Cerveja
Oxum Alfazema / Colônia / Etc Água Mineral
Oxosse Brejo Cheiroso / Guiné / Etc Vinho Branco
Inhasã Folha de Santa Bárbara Vinho Rosé
Obaluaê Gervão Grosso / Etc Água Mineral
Beijada Manjericão / Etc Guaraná
Almas Arruda Vinho Tinto

O Amaci é utilizado durante o ano todo, principalmente nos sacudimentos, obrigações de camarinha, nos
batizados (pois representa a Água Benta) e em determinadas trabalhos de limpeza. São guardados em
garrafões de vidro (5 litros) em local reservado no terreiro.

Preparação do Amaci

Após ingressar na corrente (trabalhos espirituais) o médium passa por um período de desenvolvimento.
Nesse período é desenvolvida a mediunidade e o novato passa a ser conhecido como médium em
desenvolvimento. O desenvolvimento é realizado nas quartas-feiras em ritual fechado , só participam desses
trabalhos os médiuns mais antigos da casa, que auxiliam a Mãe de Santo dirigente do terreiro. Nesses
trabalhos o médium passa a "girar" com o seu Pai e Mãe de Cabeça, ou seja, após o jogo de búzio são
vistos os Orixás do futuro médium e são esses que serão chamados a desenvolver o iniciado. Durante
alguns meses (ou anos conforme o médium) essa pessoa só pode receber o Pai e a Mãe de cabeça.

Nas sessões de desenvolvimento são realizadas palestras e doutrinas para o médium que está iniciando
sua "vida dentro do ritual". As palestras servem para situar o médium dentro da prática assumida, bem
como orienta-lo quanto ao seu papel (função) no terreiro.

Durante o período de desenvolvimento o médium passa pelo batismo. Nesse momento recebe a guia de
Anjo de Guarda (colar feito com contas branco/leitosas). O batismo só pode ser realizado em situações
muito especiais: na Sexta-feira Santa, na Cachoeira ou em semana de Obrigações de Camarinha (Sexta-
feira). O médium escolhe um padrinho e uma madrinha que representarão dois Santos de Igreja Católica . O
padrinho representa o Santo Católico e a madrinha a Santa Católica. O Sincretismo é muito presente no
ritual de ALMAS E ANGOLA.

AS SETE ETAPAS EVOLUTIVAS DE UM FILHO DE SANTO

Primeira - Etapa Batismo


Segunda Etapa Obori
Terceira Etapa Feitura de Pai ou Mãe Pequena

Feitura de Babá ou Babalaô


Quarta Etapa
Quinta Etapa Reforço Sete Anos
Sexta Etapa Reforço Quatorze Anos
Sétima Etapa Reforço Vinte Um Anos

As obrigações após o Obori devem ser realizadas respeitando um intervalo de sete anos, pois assim
,após passar por todas as etapas, o Pai ou Mãe no Santo recebe a denominação de TATA no Santo (Pai
Velho ou Mãe Velha no Santo).

Saída de Oborí / Xangô e Inhasã


Para cada etapa o médium é submetido a uma série de obrigações, principalmente a partir da terceira
etapa, ou seja, obrigação de Pai ou Mãe Pequena. Para realizar essa obrigação o médium ,
obrigatóriamente, deverá Ter passado pelo Batismo e o Obori.

Nessa obrigação que tem início na Segunda-feira, o médium recebe a coroa do seu Orixá Maior

Após cada obrigação realizada, o médium passa a usar guias (colares) diferentes. O médium Oborizado
usa uma guia branca leitosa e duas outras guias coloridas, que representam o Pai e Mãe de Cabeça (Orixá
Maior - Feminino e Masculino).

ORIXÁ COR DA GUIA CORRESPONDENTE


Oxalá Branca leitosa
Nanã Lilás cristal ou leitosa
Xângo Marrom cristal
Ogum Vermelho cristal
Oxum Azul cristal
Oxosse Verde cristal
Inhasã Amarelo cristal ou coral (laranja)
Beijada Azul claro e rosa
Almas Branco (em maior numero) e preto
Exú / Pomba Gira Preto e vermelho

O médium que já passou pela obrigação de Pai ou Mãe Pequena usa uma guia toda branca
(leitosa) e outra guia onde aparecem em destaque duas cores, que representam o primeiro e segundo
Orixás.

Após a obrigação de Babá ou Babalaô o médium passa a usar uma guia branca e outra colorida onde
estão representados todos os Orixás.

No reforço de sete anos o médium recebe uma guia com sete fios da cor do seu Orixá Maior, intercalada
com sete firmas representando o segundo Orixá.

Na Obrigação de Quatorze anos o médium recebe uma guia com 16 fios da Cor do seu Orixá Maior e
uma outra guia , também de fios representando o segundo Orixá. A Segunda Guia recebe o número de fios
conforme o número corresponde ao Orixá.

A Numerologia dos Orixás


Oxalufã 10
Oxaguiã 08
Yemanjá 09
Xangô 04 / 12
Nanã 13
Ogum 03 / 14
Oxum 05
Oxosse 06
Inhasã 11
Obaluaê 13
Exú / Pomba Gira 01 / 07
Ibeji 02

Mãe Ida entregando a guia de Búzios (Brajá) para

Mãe Tereza em seu reforço de 21 anos

Após a obrigação de 21 anos o médium recebe uma guia de búzios denominada BRAJÁ.
Essa guia representa para o médium a "última" etapa ritualística dentro do ritual de Almas e Angola.

O SURGIMENTO DE ALMAS E ANGOLA

Texto original em: Centro Espírita


Luz Divina
Babalorixá
Pai Moacir http://www.celuzdivina.com.br
de Oxalá
Para informações mais aprofundadas visite
o site acima

As religiões afro-brasileiras, tem uma capacidade de assimilar outras idéias


religiosas, retrabalha-las e as integrar no próprio culto. A história da formação das
religiões afro-brasileiras, aconteceu de forma diferente nas diversas regiões do
Brasil, dando origem a formação de diversas sínteses religiosas, as tradições
africanas foram preservadas de acordo com muitas religiões, com as quais elas se
encontram.Uma dessas sínteses deu origem a religião afro- brasileira denominada
ALMAS E ANGOLA. Não encontramos com precisão o início de Almas e Angola no
Brasil. As primeiras noticias, que se tem datam da década de 40 na cidade do Rio de
Janeiro, onde o ritual era praticado, na Tenda Espírita do Caboclo Tuiti, localizado no
bairro Cordovil. E em uma de suas viagens ao Rio de Janeiro, Guilhermina Barcelos.-
Mãe Ida,conheceu Luiz D’Angelo e o ritual de ALMAS E ANGOLA. Um ritual onde havia
obrigações para os Orixás, onde médiuns ficavam recolhidos na camarinha e
recebiam feituras fortalecendo-se espiritualmente. Assim o iniciado passava por uma
limpeza espiritual, e ficava fazendo parte da corrente de médiuns da casa,mais tarde
havia o batismo e seguindo a hierarquia, o tempo de santo e as condições
mediúnicas; recebia sua primeira feitura a de OBORI que é o primeiro recolhimento
espiritual do médium no ritual de ALMAS E ANGOLA,é a realização de sua primeira
camarinha é feita para OXALÁ, O GRANDE ORIXÁ OCUPA UMA POSIÇÃO ÚNICA E
INCONTESTE DO MAIS IMPORTANTE ORIXÁ E O MAIS ELEVADO DOS DEUSES
YORUBÁS. Após sete anos como o médium oborizado, tempo este em que ele tem
oportunidade de ter um aprendizado dentro do ritual, identificar melhor as energias
com os Orixás e desenvolver melhor suas entidades para a prática da caridade. Após
esse período o médium realiza sua segunda camarinha a de PAI-PEQUENO OU MÃE
-PEQUENA, o nascimento do Orixá no seu Ori.É mais um grau na espiritualidade que
o médium recebe, sua responsabilidade com a casa de santo aumenta. E finalmente,
a sua última feitura para o santo, IALORIXÁ (MULHERES) BABALORIXÁ (HOMENS) é
a consagração maior do médium com seu Orixá. Além das feituras para os orixás,há
também obrigações para EXU, POMBA-GIRA E PARA AS ALMAS. Mãe Ida, sentiu a
necessidade de conhecer mais a fundo este ritual e impulsionada pelas suas
entidades as quais queriam seu fortalecimento espiritual e de seus filhos de santo.
Realizou várias viagens ao Rio de janeiro para obter maiores conhecimentos, e
finalmente em Janeiro de 1949, realiza sua primeira feitura no RITUAL DE ALMAS E
ANGOLA NA TENDA ESPIRITA FÉ ESPERANÇA E CARIDADE DE LUIZ D'ANGELO filho
de XANGO E IEMANJÁ, mãe Ida teve como padrinhos de camarinha o BABALORIXÁ
VIRGILINO(CIPOZEIRO) do ritual de Angola e a IALORIXÁ LÍDIA DE ALMAS E
ANGOLA. Voltando a Florianópolis MÃE IDA organizou sua TENDA ESPIRITA SÃO
GERONIMO para cultuar o ritual de ao qual havia sido consagrada .Em 1951, PAI
D’ANGELO veio em Florianópolis.

E MÃE IDA abre as portas da TENDA ESPIRITA SÃO GERONIMO ao público, iniciando
o RITUAL em Santa Catarina. O termo almas vem da Umbanda e tradição banto, culto
aos espíritos falecidos e antepassados, são o nossos preto-velhos(antigos escravos)
caboclos(índios brasileiros) Beijada(crianças brancas e negras que partiram na
adolescência.) Exu (o mensageiro dos Orixás). ANGOLA é o culto aos Orixás porém
de forma diferente compreendida na umbanda. Os Orixás são cultuados como
energia pura da natureza, porém com menos fundamentos que no Candomblé.
Segundo MÃE IDA LUIZ D’ANGELO tinha um irmão de santo Angolano que muito o
influenciou na feitura aos Orixás. Segundo pesquisas o Rio de Janeiro foi o berço de
ALMAS E ANGOLA porém hoje já não se encontra praticantes desse ritual.Tem em
Santa Catarina, sua maior expansão, hoje o estado em que é mais praticado. Com o
maior objetivo ALMAS E ANGOLA, coloca a prática da caridade e amor ao próximo. Ela
defende a bandeira da liberdade de hoje e a paz do amanhã. Apesar das diferenças
entre as diversas religiões afro-brasileiras, podemos dizer, que todas perseguem o
mesmo objetivo, apenas traçam caminhos distintos. Assim sendo, não cabe
julgarmos valores, não existe ‘Certo ou errado’. Cabe a cada ser buscar o caminho
com que mais tenha afinidade, na busca de sua evolução espiritual.

Texto de Norma de Ogum

Fonte: Tenda Espírita Luz Divina - CELD

http://www.celuzdivina.com.br/

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