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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
Biblioteca

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Su m á r io
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EDtiSc
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Editora da Unlvarsidade do Sagrado Coraçlo


(f- 07 Questões para a História do presente -
Rua Irmã Arminda, 10-50 „/por Agnès Chauveau e Philippe Tétart
17044-160 - Bauru - SP
Tel.: (014) 235-7111 - Fax: (014) 235-7219
e-mail: edusc@usc.br Pode-se fazer uma história do presente? -
x por Jean-Pie rre Rioux
C397q 

Chauveau, Agnès -**51


-**51 O retorn o do político - por René Rémond
Questões para a história do presente / Agnès
Chauveau, Philippe Tétart; Tradução Ilka
Ilka Stern Cohen._ 
 _ Ba uru , SP: EDUSC, 1999  —  61 Marxismo e comunismo na história
recente - por Jean-Jacqu es Becker 
132 p.; 21 cm. __ 
 __ (Coleção História)
ISBN 85-86259-99-3 73 Ideologia, tempo e história - por Jean-
1. História -Filosof ia. I. Tétart , Philippe. D.
D. Título.
François Sirinelli
Hl. Série
 — 93 A visão dos outros: um medievalista
CDD 901
diante do presente - por Jacques Le Goff 
ISBN 2-87027-458-0 (original)
Copyright O 1992 Editions complexe — 103
103 Questões para as fontes do presente - por 
Copyright  © de
d e tradu ção 1999 EDUSC
EDUSC Robert Frank 
Tradução realizada a partir da Ia edição 1992.
DireltOl exclusivos de  publi caçã o e m l íngu a p ort ugu esa
—119 Entre história e jornalismo - por Jean-
para o Brasil adquiridos pela
adquiridos  pela Pierre Rioux
EDITORA DA UNIVERSIDADE DO SAGRADO CORAÇÃO
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F U - - 0 Ö 0 1 1 2 7 0 - 8
capítulo 1
QUESTÕES PARA A
HISTÓRIA DO PRESENTE
 po r Ag nès CHAUV EAU e P hil ipp e TÉTART

* Seria vão tentarmos nos tomar nosso próprio historia


dor: o historiador é também criatura histórica
 Jean Pau l Sartre1

O imediatismo do trabalho histórico diante da


história a acontecer, do fato, a presença ainda prenhe
dos fatos no que chamamos de história imediata, de
história próxima ou de história do presente, colocam
num erosos problem as metodológicos, epistemológicos
e, em certos aspectos, deontológicos.
Em sua relação com a história, na sua maneira
de fazer história - de fazer a história - o homem, o ci
dadão, intervêm como o cientista. Qual é então a par
te de "verdade" não histórica? Qual pode ser a na 
tureza da deformação da análise e que elementos con
correm para esta deformação? Quais são os jogos de
influência entre os climas ideológicos e os contextos
históricos? Qual é sua parte de responsabilidade na
emergência e na afirmação dos movimentos históricos
e historiográficos? Enfim, há um a responsabilidade do
historiador em seu papel cada vez mais valorizado de
comentarista do presente ou do imediato?

1In Situations II, Gallimard, 1964, p. 41.

7
f

Tais são as questões às quais os historiadores O ATESTADO HISTORIOGRÁFICO


aqui reunidos tentarão responder e que permitirão
abrir pistas a fim de apreen der a epistemologia da his Comecemos por debruçar-nos sobre a historio
tória do p resente2. grafia e a genealogia da história do presente. Dois ei
Questionar a história do presente de maneira xos determinam esta primeira observação: de um lado
exaustiva exigiria, entretanto, um verdadeiro aprofun a dimensão epistemológica e metodológica, de outro o
damento comparativo das diferentes vias de pesquisa aspecto historiográfico, universitário e social da afir
 pr óp rio s à epi ste mo log ia, à h ist ori ogr afi a ou à m et od o mação do presente.
logia de nossa especialidade. Para ser completo, seria Para o primeiro ponto, é inevitável constatar
 poi s nec es sár io de te rm in ar um pr oj eto ma is va sto qu e que, no fim dos anos 70, a investigação metodológica
aproximasse e confrontasse testemunhos e análises e epistemológica voltou-se essencialmente para o es
mu ito numerosos de historiadores - um corpo tem áti tudo d a Nova História, herdeira dos  Anna les   de Lucien
co e arquivístico representativo. Tal estudo deman da Febvre e Marc Bloch. Se tomarmos as três obras fun
ria igualmente a intervenção de não-historiadores, damentais que balizam essa interrogação: Faire de
 poi s as coisa s nã o po de m ser des cri tas so m en te de se u VHistoire  em 1974,  La nouvelle histoire   em 1978 e
interior. Enfim, seria necessário considerar o indivi  La teli er de Vhistoire   em 1982, veremos que o presente
dualismo metodológico de cada historiador, particula- nelas é quase inexiste nte3.
rismos das escolas, dimensão extranacional. Por que essa ausência? Pensamos que primeira
 Nã o é est a no ssa in ten çã o e es ta co ntr ibu içã o me nte essas diferentes obras são o trabalho de medie-
constitui uma afinação visando fazer o historiador pro valistas e modernistas que se interessaram sobretudo
gredir na com preensão e na prática de sua disciplina. O  po r s eu s p ró pr ios cam po s. Ma s, an te s diss o, se m dú vi 
objetivo deste estudo não é, antes de tudo, o de lhe da é preciso considerar o próprio procedimento da
fornecer um instrumento teórico, mas o de propor-lhe História nova. Considerando as estruturas duráveis
uma percepção renovada da história do presente. como mais reais e mais determinantes que os aciden
Além disso, esse deveria permitir melhor mensurar a tes de conjuntura, os fenômenos de longa duração
 pr es en ça do hi st or ia do r e m seu tem po , ass im com o as como mais decisivos do que os movimentos de curto
conseqüências dessa relação, qu e nós declinaríamos de alcance, erodindo a cadeia factual com o propósito de
modo interrogativo: climas ideológicos, modas histo-
riográficas, culturais, orientações científicas.
3 Faire de l’histoire,  sob a direção de Pierre Nora e
Jacques Le Goff, très volumes, Gallimard, 1974 [edi
ção brasileira pela Livraria Francisco Alves Editora,
Rio de Janeiro, 1976. N. do T.] ;  La nouvelle histoire,
2 Sob esta fórmula não exclusiva, agrupamos a his sob a direção de Jacques Le Goff, Retz, 1978 (nova
tória imediata, a história próxima e a história do edição, Complexe, 1988) ;  L'atelier de l ’histoire,
 presente. François Furet, Flammarion, 1982.

8 9
substituí-la pelo sentido econôm ico e social do tempo, mesmo tempo em que mostra a parcela de descon
essa "escola" histórica ignorou freqüentemente o con fiança com relação ao estudo do presente, revela bem
temporâneo, a fortiori o presen te e imediato. o interesse que então se voltava para as lições de uma
Mas o problema ultrapassa largamente o dos história do presente.
tempos históricos. Questão de hegemonia ou exclusi Foi, portanto, a despeito de um interesse inicial
vamente de escolas? Incompreensão ou desinteresse? convicto que a Nova História ignorou o presente, dei-
Todos esses elementos puderam contribuir para a si xando-o "sob controle"- para retomar a expressão de
tuação de ruptura entre o presente e a escola históri René Rémond. Essa ignorância conheceu ainda notá 
ca dominante, além de que, durante os anos 70, o do veis exceções, pois foi no próprio interior da citade-
mínio da história do presente era, sem dúvida, muito la, com o acordo e a participação de Pierre Nora e
novo, ou muito pouco cristalizado no plano editorial, Jacques Le Goff, que tiveram lugar duas reflexões es
 po r ex em pl o, pa ra ir co nt ra esse es tad o de fat o. senciais sobre o presen te. Provas disso são o artigo de
Entre tanto, os pais dos Ann ales  tinham dado um Pierre Nora , "Le retour de l'événement", páginas ca
lugar particular ao imediato, ao presente e mesmo ao  pit ais pü bl ica da s em Faire de VHistoire, e o capítulo de
 pol ític o. Ma rc Bl och esc revi a: in co m pr ee ns ão do Jean Lacouture: *L' Histoire immédiate", p áginas sim
 pa ssa do na sc e afi na l da ig no rân ci a do pr es en te ."  ból ica s pu bl ica da s em  La Nouvelle Histoire   (que consti
Quanto a Lucien Febvre, num curso intitulado "A His tuem o único ensaio sobre a noção de imediato). As
tória na vida contemporânea", / ele afirmava que "a sim, em 1978, às vésperas do nascime nto do Institut
análise do presente" podia d ar "a régua e o compasso" d'Histoire du Temps Présent e do Institut d'Histoire
à pesquisa histórica4. Os Annales d'Histoire économique Moderne et Contemporaine, só dois artigos notórios
et sociale faziam eco a essa análise. No curso dos anos tinham sido publicados. Nesse mesmo ano, em seu
30, encontra-s e aí um a série de artigos tratand o da  pre fác io a  La Nouvelle Histoire,   e à época em que ocu
evolução política da Alem anha e do fascismo europeu.  pa va co m R en é R ém on d o nú cl eo da com iss ão qu e
Assim, em 1934, aparecia um artigo de Borkenau: discutia a c riação do IHTP, Jacques Le Goff reafirmava ,
"Fascisme et syndicalisme". Nessa ocasião, Febvre es entretanto, que a história do presente é freqüente
crevia a Bloch: "Eu adociquei algumas fórmulas para mente melhor feita pelos sociólogos, politólogos, al
não assustar a casa editora (alusões a Arm and Collin). guns grandes jornalistas, do que pelos historiadores.
De resto ele (o artigo) não é nem um pouco brilhante Em decorrência dessa divisão bastante parado
mas evid entem ente mu ito atual"5. Este exemplo, ao xal, evitou-se largamente a problemática do presente
e há um desequilíbrio entre o estudo dos tempos his
tóricos em geral e o do nosso tempo e das questões
4 Peter Schõttler,  Lucie Varga. Les autorités invisibles, que lhe são inerentes.
Cerf, 1992, p. 101. O curso teve lugar no Collège de Há mais ou menos quinze anos, entretanto,
France na primavera de 1936. essa ignorância recuou de modo singular e a aproxi
5 Peter Scottler, ibid., p. 29. mação se efetua por meio de um a interrogação meto 

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dológica e historiográfica tomada comum : o interesse fundidade, não de uma atitude científica pontual; até
 pe las m en ta lid ad es , pe lo po lít ico e p el o cu lt ur al tr an s essa época , o interesse pelo tempo próximo nã o tinh a
cendend o as sociabilidades dos historiadores6. sido traduzido pela afirmação de um novo campo
Com efeito, num movimento que não se pode científico.
dissociar dos "retornos" (retorno do fato, retorno do Podem-se fixar algumas referências cronológi
 pol íti co) , em erg ia um a pr eo cu pa çã o cr es ce nt e co m o cas representativas dessa dupla afirmação do imediato
estudo do passado próximo e com o imediato7. Ora, e do presente. Depois que muitos universitários e in
esse movim ento finca raízes bem antes destes anos 80. telectuais inauguraram o costume das análises ime
O pós-guerra e os anos 50 tinham enterrado duas as diatas na imprensa, no centro dessa abundância de re
sociações consideradas, desde os anos 20, como pro vistas e periódicos do pós-guerra, foi a vez da Univer
fundamente antinômicas: História e imediato, História sidade de patente ar o presente. No meio dos anos 50,
e presente8. Trata-se pois de um movimento em pro o trabalho inovador de René Rémond sobre as direi
tas, por mais isolado que fosse, recebia uma acolhida
favorável e emblemática. Sabe-se, aliás, qua l é o papel
6 Uma transcendência que devemos igualmente de René Rém ond na promoção e na defesa da história
aproximar da complementaridade cada vez mais do presente.
marcada e voluntária da história, da sociologia, da Em 1963, Jean Lacouture lançav a a coleção " A
 politologia ainda que a incom preens ão de princípio História imediata" enquanto se tomava o hábito de es
 persista freq üente ment e.
tender a pesquisa contemporânea aos anos muito pró
7 O que não significa retorno à história política posi
tivista, o u u m retrocesso. ximos (particularmente os anos 30 e o pós-guerra).
 No de co rr er dos an os 70, a his tor iog raf ia do pe río do
8 Não se deve, no entanto, fazer disso uma regra. As
sim, a  Histoire de France contemporaine,  editada por La-  po st er io r a 1945 se de sd ob rav a à m ed id a qu e alg un s
rousse em 1916 cobre o período 1871 /1913. A exem dos talentos marcantes da história do político e do
 plo de outras obras, an terio res ou não, lê-se no pre   pr es en te ac ab av am sua s tes es. En fim , em 1978 , o
fácio: "A história contemporânea é, como se disse CNRS decidia a criação do IHTP e do IHMC, concreti
muitas vezes, aquela que menos conhecemos. Os fa zando assim o caminho percorrido e as novas aspira
tos que lhe darão no futuro sua fisionomia destacam- ções, as novas necessidades.
se confusamente, primeiro do caos de informações
contraditórias e tendenciosas, e é lentamente, à luz
dos documentos dos arquivos, que aparecem distin
tamente as idéias mestras nas quais se inspiraram os OS VETORES DE UMA AFIRMAÇÃO
homens de Estado e as caraterísticas da sociedade na
qual eles viveram. Um autor de boa fé pode, entre Essa cronologia e essas observações historiográ-
tanto, expor os acontecimentos contemporâneos tal ficas muito breves mascaram vários fatores conjuga
como lhe parecem e, sem pretender fazer uma obra dos que favoreceram a afirmação depois a expansão
 pur ame nte objetiva, ter a pre ocupaç ão const ante de da história do presente.
não ferir qualquer convicção."

12 13
 Ness e pro ces so, o es tu do do pol ític o, o re to rn o O retorno do político desempenhou, pois, cien
da história política tiveram e têm ainda um papel tifica e intelectualmente, um papel essencial na afir
aglutinador e dinâmico. Entretanto, o presente e o mação da história do presente. Se deixamos aqui em
imediato não podem nem devem limitar-se à história suspenso a história do imediato, é porque ela nos pa
renovada do político, mesmo que esta aja como um rece antes de tudo tributária dos dois outros fatores
agente dinamizador9. que determinaram o desabrochar da história do pre
Antes de tudo,^a história é mutável, e não se sente: o impacto "de geração" e o fenômeno concomi
 po de lim ita r a in te rr og aç ão so br e o pr es en te so m en te tante de demanda social.
aos campos, aos métodos, às teorias do político. jQual- O primeiro ponto é um elemento fundamental
quer obra sobre o político e a história política não na evolução historiográfica e científica que acabamos
 po de tr az er se nã o re sp ost as par cia is. Ou en tã o ser ia de descrever. Como mostrava recentemente Jean-
necessário considerar, num movimento extensivo, Pierre Rioux , a afirmação da história do presente é
que o político é a chave de tudo; mas se ele é dete r um fenôm eno de geração11. Quer nos coloqu emos do
minante, a transcendência é tal entre os campos so lado de uma história imediata para os jornalistas, po-
cial, econômico, intelectual, cultural, que não nos po litólogos, sociólogos, ou do lado da história do p resen 
deríamos prender às referências epistemológicas e te para os historiadores e alguns outros especialistas,
metodológicas propostas por um só entre eles. nota-se um efeito "de geração" muito nítido. Um fa
Deve-se, no en tanto, pond erar esse julgamento tor é comum às diferentes profissões: o impacto dos
na medida em que é verdade que a história política acontecimentos deste último século sobre os homens
aparece como ponto de partida e de ligação desse fe e sobre sua vontade de "reagir", isto é, de tenta r expli
nômeno de transcendência. Aliás, em numerosas car o presente. Mas pode-se também determinar fa
abordagens de historiadores, o político leva ao cultu tores próprios a cada profissão. Para os jornalistas,
ral, à opinião, etc.; inversame nte, o econôm ico e o so adiantaremos, entre outras razões, o papel da decom
cial podem determinar um desvio para o político, que  pos içã o da im pr en sa no s an os 30 e o su bs eq üe nt e de 
aglutina o presente. Cada campo conexo guarda, en sejo de propor, desde 1945, um comentário m ais rigo
tretanto , sua autono m ia.10Mais simplesmente, não se roso do presente, do imediato. Para os historiadores,
deve esquecer que os historiadores do político consti trata-se, sobretudo, como dizíamos acima, da germi
tuíram a vangua rda da história do presente. nação de um pressuposto metodológico maior: a his
tória não é somente o estudo do passado, ela também
 po de ser, co m um m en or re cu o e m ét od os pa rt ic ul a
9 Cf. René Rémond. Pour une histoire politique.  Seuil,
1998, pp. 7-31. [edição brasileira pela Fundação res, o estudo do presente.
Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, 1996.N. do T.] Ver
igualmente a contribuição do mesmo autor nesta
obra. 11 Cf. Jean-Pie rre Rioux, pp. 192-204 in  Histoire et 
10 Cf. René Rémond, ibid., p. 25. médias. Journalisme et journalistes français 1950/1990 ;
sob a direçâo de Marc Martin, Albin Michel, 1990.

14 15
Essa evolução induz uma novidade essencial observar que, nesse processo, o aumento e a acelera
que não se pode omitir na observação da história do ção da comunicação, a renovação progressiva da im
 pr es en te : a co nc or dâ nc ia cro no lóg ica en tr e a "ba na li-  pr en sa e da ediç ão, a ele vaç ão do nív el de es tu do e a
zação" dos estudos tratando do período posterior a força dos engajamentos ideológicos, morais, dos anos
1945 e o fato de que hoje os historiadores não" se re 50-60, tiveram um papel determinante. A demanda
cusam mais a trabalhar sobre os acontecimentos que social é, portanto, um vetor cen tral./
 pu de ra m vive r. Essa sin gu la rid ad e no s lev a a ref let ir Se nos restringirmos a uma observação sobre
sobre a natureza dessa  presença física  do historiador em os anos 80, vemos o extraordinário desabrochar das
seu tempo  e no seu tema.   Essa questão nos ajuda na de coleções de bolso. Algumas ja tem valor de referen
finição da história do presente e, integrando uma di cia: Seuil, Complexe, Champs-Flammarion, Folio-
men são "da geração", permite antes de tudo refletir Gallimard. Elas consagram, às vezes, coleções inteiras
um percurso científico no tempo. Por enqu anto, lem  ao presente. Nesse ponto, a evolução desde as cole
 br em os qu e essa co nc or dâ nc ia co rr es po nd e ao fe nô  ções Idées-NRF ou Kioske-Colin, duas das grandes
meno científico, historiográfico e institucional cujos coleções dos anos 60, é marcante tanto na forma
contornos traçamos. quanto no fundo. Podemos também mencion ar os
Esta apresentação seria subjetiva, porque leva múltiplos manuais universitários e escolares que tra 
ria diretamente ao cientista ou ao jornalista, ao co zem a menção "de 1945 a nossos dias", lema dos pro
mentarista, se não abordássemos em último lugar a gramas de ensino. Notaremos de outro lado a publi
dimensão social da afirmação da história do presente. cação cada vez mais freqüente das atas de coló
Pois ela determinou também a evolução histórica, ao quios,fenômeno em plena expansão, revelador da vi
mesmo tempo que é um dos fatores de definição da talidade simultânea da oferta e da demanda. A este
noção de geração de historiadores. Esta questão de respeito, a publicaçao quase sistematica dos trabalhos
mandaria um estudo específico e nós nos restringire do IHTP é significativa. Enfim, não nos devemos es
mos a algumas observações sobre ela. quecer das coleções como "UHistoire immédiate",
Hoje em dia, a história do presente e do im edia "UUnivers historique"... Na verdade, nenhuma das
to é traduzida por uma vasta produção editorial, jorna grandes editoras ignora esse fenômeno. Enfim, é pre 
lística e por uma difusão que ultrapassa os meios ex ciso citar algumas revistas: VIngtième Siècle, Les Cahiers
clusivamente universitários.|No momento este desen de V IHTP , e para um público mais amplo, UHistoire ^
volvimento corresponde à progressão dos gêneros his  No qu e co nc er ne ma is es pe cif ica me nte à hi st ó
tóricos que estudamos.»Assim, o crescimento editorial ria imediata, nota-se a multiplicação das edições de
não data de ontem. vEla tamb ém deita raízes nos anos compilação de artigos (Le Monde),   de números espe
50, no momento em que a situação nacional e interna ciais de sem anários12sobre tal aco ntecimento, presen-
cional demandava esclarecimentos.VNão nos demora
remos sobre as razões desta simetria entre produção 12 Nos quais se encontram lado a lado universitários,
histórica e demanda social, mas devemos ao menos  jornalis tas e intele ctuais.

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16
te ou imediato, como a publicação de obras de histo haveria ma téria para pesquisa nesta história da epis-
riadores ou não-historiadores sobre os problemas cru temologia, bem como na história da evolução histo-
ciais desses anos. riográfica. Mas, no final das contas, contin uamo s sem
Enfim, não se pode negligenciar a dimensão ra munição. Para o presente, não dispomos de um a refe
diofônica, cin ema tográfic a13, ma s sobretu do televisi rência como Faire de VHistoire.
va14, dessa presen ça da hist ória do p resen te. O mérito principal dessa obra é o de ter baliza
i do o terreno da maneira mais exaustiva possível, pres
tando assim um eminente serviço aos historiadores de
O INÍCIO DE UMA REFLEXÃO todos os períodos; é de ter, além disso, aberto a porta
ao contemporâneo, abrindo um espaço para o político
Em vinte anos, portanto, a história do presente
e para o concei to de fato15. En treta nto, esse balanço
se impôs, e desde o fim dos anos 70, uma reflexão m e
aparecia isolado num estudo voltado antes de tudo
todológica e epistemológica foi naturalmente em-
 pa ra os te m po s m od er no s e m ed iev ais .
 pr ee en di da . Po de -se le m br ar es pe ci al m en te a jo rn a
| Hoje em dia, só Pour une histoire politique  pode
da dos correspondentes departamentais do IHTP, em
respond er à expectativa dos historiadores do presente, j
1980, consagrada aos Tempos Atuais. Lembre-se
Mesmo se essas respostas permanecem parciais -
igualmente um seminário dirigido por François
como vimos, é quase a única baliza historiográfica e
Bédarida na Ecole des Hautes Études en Sciences
epistemológica desses dez últimos anos. Por causa dis
sociales. E para coroar esta curta lista, devemos lem
so, a obra figura como finalização no processo de afir
 br ar a ex ist ên ci a do  Dictionnaire des Sciences Historiques
dirigido por André Burguières, a única obra a consa mação da história do político - e por extensão da his
tória do presente - ao mesmo tem po em que marca a
grar algumas páginas - de comprimento desigual - aos
objetos de nosso estudo: Presente, História Imediata,  pa rt id a d e um a av en tu ra cie ntí fic a q ue co nq ui st ou daí
História Política. em diante sua carta de nobreza. Convém, portanto,
Estas balizas não representam a totalidade das considerá-lo como um texto fundador.
contribuições coletivas ou individuais que ajudam a Mas no que concerne diretamente à história do
imediato, só nos resta contemplar o deserto que a nós
compreensão ou a definição da história do presente e
se oferece. Não há instrumento de referência, tudo
está po r fazer.
O estudo historiográfico, metodológico e episte-
13 Dois filmes acabam de sair consecutivamente,  La
guerre sans nom  de Bertrand Tavernier e Patrick mológico dos tempos atuais está apenas desbravado.
Rotman, que se constitui de depoimentos sobre a  Nã o p od em os fica r ni sso . A h is tó ri a d o i m ed ia to e a do
guerra da Argélia (o livro aparece simultaneamente
 pela Seuil),  Diên Bien Phû  de Pierre Schoendorfer.
14 Pensamos particularmente em  Histoires Parallèles, 15 Jacques Julliard, "La politique", in Faire de l'histoire,
apresentado por Marc Ferro no canal Sete. Gallimard, 1974, tomo 2.; Pierre Nora, "Le retour de
l'événement", ibid.,  tomo 1.

18 19
 pr es en te de m an da m um a def ini çã o m ais pre cis a, em imediata. Percebe-se a dificuldade quando se quer es
seu próprio funcionamento, a fim de ser melho r per  pec ific ar com pre cis ão o esp aço cro nol óg ico qu e cob re
cebidas, individualmente, e uma em relação à outra. o imediato. E, caso se faça uma escolha, ela logo pare 
ce arbitrária. A noção é obstinadamente fluida: algu
mas horas? algumas semanas? alguns anos? Parece
D O EMBARAÇO SEMÂNTICO À que pode ser tudo isso ao mesmo tempo.
LEGITIMIDADE CIENTÍFICA Em compensação, sabemos que o princípio des
sa literatura não é em nada particular aos últimos
A questão prévia a esta epistemologia da histó anos, nem mesmo a este século: sempre existiram
ria dos tempos atuais é dupla, uma vez que concerne análises judiciosas escritas no calor do acontecimento
ao mesmo tempo à pertinência da terminologia usual ou antes que seu eco se atenuasse.
e à legitimidade científica das histórias das quais Mas não é um sofisma dizer: escritos no calor do
falamos. acontecimento  ? Para ser fundamentada, a análise, mes
História do presente, história próxima, história m o a minima,  implica "tempo" necessário à consulta e
imediata: estas três locuções não fazem referência às à síntese dos docum entos logo disponíveis. Por conse
mesmas cronologias. Entretanto, esses três tempos qüência, porque o ato de escrita e análise imprim e
históricos pertencem ao campo do "muito contemp o um certo recuo em relação ao acontecimento, a leitu
râneo", o do século XX amp utado de seu primeiro ra imediata pertence ao presente antes que ao imedia
terço. Sob muitos aspectos, as questões que se colo to em sua definição primitiva de instante.
cam a um são válidas para os outros dois, porque a Além disso, todos os que se exercitam na histó
contração cronológica, o tipo de arquivos e a nature ria imediata, jornalistas, historiadores, politólogos, so
za dos objetos, dos campos fundam um só e mesmo ciólogos, tendem espontaneamente a se colocar, em
tema. Antes de tudo o problema concerne também à graus diversos, na horizontalidade cronológica e não
conformidade das expressões e ao valor real de cada na verticalidade sincrônica da análise pontual, verda
gênero. Ele se situa mesmo numa interpelação mais deiramente imediata, porque tal não é o método his
embaraçosa para nós: o próximo, o presente e o ime tórico, porque o próprio público espera um esboço do
diato são indistintamente objetos de história? futuro e um esclarecimento do presente pela "rever
A história imediata é a que mais suscita descon  be ra çã o his tór ica ".
fiança, pois é a que parece engendrar o maior parado Se nos restrin girm os a essa visão das coisas, a
xo fazendo rimar dois termos contraditórios: imediato história imediata não existe, e não passa de conse
e história.   Pode-se falar de uma história do imediato? qüência de uma manipulação lingüística fundada
Essa história é legítima? numa antinomia.
O fator cronológico não é nem suficiente, nem Mais precisamente, o estudo do jornalismo his
satisfatório para embasar uma definição de história tórico é instrutivo, porque a história do imediato foi

20 21
 pr im ei ro m ar ca da pe lo selo jo rn al íst ico . De ce rta m a mente à memória, Jean Lacouture, autor de  L'Egypte
neira, ela é mesmo filha da imprensa. De fato, foram en mouvement   (1956), do (Le) Maroc à l'épreuve em
a pressão jornalística e a demanda social conjugadas 1958, Charles André Julien, autor de  L’ Afr ique du
que impuseram o princípio da história imediata a par   Nord en marche,  publicado em 1972, depois de ter sido
tir da metade dos anos 50. co-signatário (com Charles Albert Ageron) de uma
A vida política francesa sob a IV República é n o  Histoire de l ’Algérie contemporaine,   publicada em 1964,
tavelmente caprichosa; no mesmo m omento, os múl apenas dois anos depois do acordo de Evian.
tiplos aspectos da guerra fria fornecem temas volumo De Jean Lacouture, pode-se dizer que é um jor-
sos, candentes e pertinazes. Pela intensidade dos en nalista-historiador. De Charles André Julien, diremos
gajamentos inerentes à situação de precariedade polí que é historiador-jornalista. Encontramos aqui essa
tica, diplomática e militar, pela elevação do nível de mestiçagem metodológica. Mas como o nota Jean-
estudo, o período se prestava, pois, ao desenvolvi Pierre Rioux, nem por isso há confusão de gêneros.
men to de um a literatura cujo papel devia ser o de es Acontece que a ambivalência ou a ambigüidade que
clarecer a nação sobre a instabilidade governamental, nasce dessa interseção leva a pensar a história imedia
sobre as guerras, sobre a descolonização, sobre as ten  ta como um gênero híbrido. Essa ambivalência, no en
sões internacionais. Mas esta afirmação é igualmente tanto, não é própria das obras dos anos 50-60, e esse
inseparável dos progressos audio-visuais, da acelera hibridismo se encontra em outras mais recentes.
ção da com unicação , do vigor da edição. Enfim, esse Assim em 1991, Solange e Christian Gras escre
 pe río do é t am bé m o de um a du pl a co nf irm aç ão ed it o vem uma  Histoire de la première République miterrandienne16.
rial e universitária: a da ciência política e da sociologia Eles têm acesso aos arquivos de Mauroy e Fabius; eles
que reclamavam, ambas, uma maior capacidade de têm a possibilidade de constituir arquivos orais interro
análise do presente.  __ 
gando alguns "figurões" políticos; enfim, eles compulsam
De fato, o procedimento da história imediata é os dossiês de imprensa. Mas nun ca eles dta m suas fontes,
mais parecido com as técnicas jornalísticas do que com suas  provas,  exceto aquelas que já foram publicadas.
as da ciência histórica. Os fatores conjugados que lhe Como distinguir, então, a parcela das informações tiradas
deram nascimento não resultam, em primeiro lugar, dos arquivos daquela nascida do boato, de suas próprias
do princípio inicial da história: o recuo, o desprendi hipóteses ou do pré-julgamento? Problema tanto mais
mento com relação ao fato. Isto não implica , aliás, complicado pelo fato de que Christian Gras não é s omen 
que a história imediata seja exclusivamente determi te historiador e testemunha do período: ele foi também
nada por essas técnicas e que não seja tributária da seu ator como memb ro do gabinete Mauroy. No limite,
 pe sq ui sa cie ntí fic a .
Da mesma forma ela é determinada pelo estatu
to dos homens que inauguraram de m aneira perene o
recurso à história imediata. Dois nomes vêm natura l
16 Robert Laffont, 1991.

22 23
tanto na forma q uanto no conteúdo, a obra não se distin xão, como todas as histórias, é verdade, mas ao preço
gue daquelas que a tinham precedido e cujos autores de uma releitura18.
eram jorna listas17. Esta análise formulada no calor da hora, que
O problema se coloca em termos análogos para seja a obra de um historiador reputado, de um jor na
Charles-André Julien. Ele foi conselheiro da Union lista experiente, e mesm o se o público pôde referir-se
Française, mem bro da SFIO, anticolonialista convicto, a ela (imediatamente ou mais tarde), deve ser consi
colaborador do  Monde,   e, na ocasião, associado a pu derada antes de tudo como testemunh o, como objeto
 bli caç ões be m m ar ca da s à es qu er da co m o France histórico. A qualidade dos autor es e a realidade da d e
Observateur.  Se sua  Histoire du Maroc  permanece ainda manda social não estão em causa, mas não são fatores
como referência, se ela resistiu ao tempo, como diz de cientificidade. Certamente, aquele que escreve his
Jean-François Sirinelli, acontece que, escrita no curso tória imediata é testemunha e historiador (enquanto
dos acontecimentos, na época do fechamento progres (d)escreve a história), ele nunca ignora o rigor cientí
sivo do Marrocos, ela comporta necessariamente um fico. Mas ele é igualmente ator, está em relação direta
certo número de falhas, esquecimentos voluntários ou com seu tema. Ele pode ser passivo ou ativo, neutro
não , devidos a pressões exteriores ou não, devidos, ou engajado, e sua obra pode se tom ar tomada de po 
eventualmente, à pressão do tempo e ao desecadear sição ideológica, moral, benevolente ou combativa. E
dos acontecimentos que vai sempre mais rápido do se seu trabalho adota a forma de uma observação
que o historiador.
 No exe rcí cio da hi st ór ia im ed iat a, est e nã o é
muito mais livre do que o jornalista. Estes exemplos 18 Sobre este pont o, as opini ões de um jo rnali sta -
 pe rm it em col oca r be m o pr ob le m a da na tu re za e do historiador e de um historiador-jornalista concor
grau de legitimidade científica desta história. dam. Jean-Raymond Tournoux escreve: “A   História
Vista como objeto, a história do imediato é tes escrita pelos contemporâneos é polêmica. Mas esse
livro não tem a intenção de escrever toda a História
temunho. Este é seu valor intrínseco. Esse testemu de alguns acontecimentos; em compensação, sem
nho pode tomar a forma de uma análise que, hierar alimentar controvérsias partidárias, ele espera trazer,
quizando um a primeira vez as questões, os fatos, for  para o futu ro, uma contribu ição p or me io de depoi 
nece conjuntamente arquivos, depoimentos, pistas de mentos, de documentos, de precisões." In Carnets
 pe sq ui sa e esb oço s de in te rp re ta çã o. Ai nd a qu e m a n  secrets de la politique, Plon, 1958, p. 1. Jacques Julliard
tenha um aspecto científico, a história do imediato confidencia a propósito de seu papel de cronista no
 pe rm an ec e pr in ci pa lm en te um a m at ér ia pa ra ref le -  Nouvel Observateur: “(...) Para além do jornal, supos
to de refletir o presente imediato em sua diversidade
 barroca, cabe-lhe fazer as primeiras seleções, em 
 pre ende r essa prime ira organização da atualidade,
destinada a torná-la legível a nossos contemporâ
17 Por exemplo Pierre Favier, Michel Martin Roland, neos, antes que a História por sua vez opere suas es
 La décennie Miterrand,  Le Seuil, Paris, 1990. colhas". In Chroniques du septième jour, Le Seuil,1991,
 p. 9.

24 25
científica rigorosa, de uma dedução dos fatos procu das obras (ou dos "últimos" capítulos) de historiado
rando a maior neutralidade, esta, nós bem o sabemos, res, sociólogos, politólogos ou de jornalistas especialis
não é menos objeto da história do que a leitura dos fa tas no presente é talvez mais justa do que a dos sim
tos através de um prisma ideológico, filosófico, moral  ple s "cr oni sta s", na m ed id a em qu e, pr ec is am en te , o
ou religioso. ato histórico consiste em pôr a história em perspecti
 Ni ng ué m esc ap a a es ta lei do gê ne ro . Re dig ind o va depois de ter re tirado desta os aspectos factuais que
 Létr ange défaite   em 1939, Marc Bloch é historiador, são apenas sua trama.
observador perspicaz19. Mas ele é igu almen te te stem u Apesar de sua imperfeição, de sua inexatidão
nha e ator e apesar da clarividência de suas análises, virtual, a história imediata tem um a função social. Ela
imprime, como qualquer outro, esperanças e inquie é o complemento da história do presente. Ambas for
tações de seu tempo sobretudo porque não está ins mam um todo. As duas são vetores da legibilidade do
truído pelo fut uro .   O mesmo ocorre quando a história  pr es en te pa ra um pú bli co am pl iad o e sol ici tan te: a
imediata é estudo ou avaliação da realidade. Na biblio história do imediato como a historia do presente res
grafia esquelética indispensável ao estudo das dissi  po nd em a essa de m an da . E nt re ta nt o, essa co ns ta taç ão
dências socialistas da IV República, o n úm ero especial não se deve prestar a confusões. Certamente, há uni
de Temps Modernes  sobre as Novas Esquerdas, publica dade cronológica com a história do presente. Certa
do na primavera de 1955, é central. Mas, apesar da mente, há uma demanda multiforme e uma resposta.
 pr eo cu pa çã o com a ob jet iv ida de e d o va lo r da rev ist a, Mas é preciso definitivamente distinguir o que se apu
a redação de Jean-Paul Sartre estava, bem mais que ra de uma verdadeira pesquisa histórica daquilo que
outras, ancorada em seu tempo, implicada nos deba não faz parte inteiramente desta: a história do imedia
tes contemporâneos20. to pertence a essa segunda categoria.
Voltado para seu tempo, insuficiente ou incom O debate terminológico é menos caloroso no
 pl et am en te pr ov id o do re cu rs o ne ce ssá rio pa ra da r a que tange às duas outras expressões corren teme nte
tal fato, a tal crise, seu verdadeiro valor, o docum ento empregadas: História Próxima, História do Presente.
de história imediata deve ser lido com distância. No li Alguns confessam sua preferência pela primeira, ou
mite, entretanto, a dimensão analítica ou prospectiva tros defendem, ou mais simplesmente, utilizam a se
gunda. Aqui as sensibilidades pessoais prevalecem so
 br e a es co lha se m ân tic a. Af ina l de con tas , po uc o im 
19 Uétrange défaite, Edition Franc Tireur, 1946.  po rt a qu e a hi st ór ia pr óx im a lev e va nt ag em se gu nd o
20 Quando essa subjetividade não é reconhecida de alguns, sobre os últimos trinta anos, e que a história
imediato por um autor no trabalho exemplar. "Nós do presente englobe, segundo outros pontos de vista,
nos ocupamos constantemen te com nossa época; fal os cinqüenta ou sessenta últimos anos. As duas fun
ta-nos qualquer recuo ou perspectiva; corramos o cionam de um m esmo modo, definem-se por caracte
risco de nos enganar." Conclusão de Maurice Nadeau rísticas comuns: a natureza dos arquivos e sua forma
no prefácio de  Le Roman français depuis la guerre, de acessibilidade, a natureza dos métodos, o círculo
Gallimard, 1963, 1970 (reedição, Le Passeur. 1992).

26 27
dos historiadores, a continuidade cronológica num sé "O autor destas linhas confessa que em 1944, aos
culo. As duas possuem, além disso, o recuo necessário cinco anos de idade, son hava prazerosamente diante
 pa ra de sa pa ix on ar a ab or da ge m cie ntíf ica . das vitrines vazias das confeitarias, mas que em
1958, estudando em Paris, ele acreditava ter o que
A locução "história do presente" é, entretanto, dizer contra essa guerra da Argélia que marcou dolo
a mais corrente, a mais reconhecida, aquela que se rosamente a entrada de sua geração na política. No
utiliza por convenção. O próprio nome do Institut ajuste de contas, lembranças felizes perturbaram-no.
d'Histoire du Temps Présen t traduz essa generalização. Ele não mais importunará seu leitor com eles, mas
Generalização fixada porque o valor científico dessa esse espectro de emoções o impede de almejar uma
história é doravante incontestável. objetividade cuja fragilidade e equívoco a prática da
Mas nosso tema não se contenta com um sim históri a lhe revelou ."22
 ple s at es ta do his tor iog ráf ico , edi tor ial , soci al ou u n i "Para terminar, permitiremos ao aut or falar - uma vez
versitário, pois, se o balanço respondesse apenas à exi só - de si mesmo. A geração à qual eu pertenço ouviu
gência científica, ele não teria razão de ser: a história apenas ecos longínquos e já abafados do segundo
do prese nte deu p rovas de sua distinção21. Convém, conflito mundial e seu despertar também não se dá,
 po rt an to , qu e no s vo lte m os pa ra o hi st or ia do r pa ra cronologicamente, sob o signo da Argélia. Por isso,
essa geração de historiadores tem uma relação com o
tentar especificar critérios de definição diferentes da  passado pré- quinta -repúb lica sem paixões, o q ue não
queles da própria ciência. quer dizer sem convicções. De resto, a corporação de
Antes de ser analista, o historiador é homem, historiadores não esperou essa nova extração de pes
cidadão, ator ou espectador, e há alguns anos, tanto quisadores para calcular e demonstrar que era possí
em seus escritos como em seus cursos, ele reivindica vel fazer uma história do tempo próximo oferecendo
todas as garantias de rigor e seriedade. Então, por que
ou reconhece cada vez mais seu próprio pertencimen- essa declaração de princípio? De fato, por essa razão
to à história, - e esse olhar que n ão foi necessariam en evidente mas que é preciso relembrar mais uma vez:
te o do historiador, mas talvez o do inocente ou da tes a história dos intelectuais é, em essência, uma histó
temunha, engajado ou não. O estudo da história do ria de forte teor ideológico, ainda mais se se pode ler
 pr es en te , a in te rro ga çã o epi ste mo ló gic a sob re se u va  nela em filigrana uma relato das grandes paixões
lor, não dizem respeito ao questionamento de sua francesas. Também o pesquisador, se baixa a guarda
no exercício de seu ofício, arrisca-se, consciente ou
existência social ou científica, nem à pertinência de inconscientemente, a ceder seu lugar ao moralista.
sua denominação, mas a seu próprio funcionamento, (...) Nem por isso o perigo deve proibir uma refle-
como testemu nham as linhas seguintes: xão(...) Uma história serena não significa uma histó
ria asséptica(...): assumir a subjetividade é meio cami
nho andado para con trolá-la" 23.

22 Jean-Pierre Rioux, in  La France de la IV. République,


Seuil, tomo 1,1980.
21 Ver a contribuição de Jean-Pierre Rioux, "Peut-on 23 Jean-François Sirinelli,  Intellectuels et passions
faire une histoire du temps présent? "  françaises,  Fayard, 1991.

28 29
Essas advertências falam por si. Devemos, en Se não se devem subestimar os fatores de defi
tretanto, completá-las a fim de compreender bem o nição anexos ou cone xos da história, especialmente os
sentido e as causas desta reivindicação pessoal  - reivindi que pudemos evocar nestas páginas, permanece o fato
cação que toca várias gerações de historiadores asso de que a observação da relação física entre o historia
ciados no estudo do presente. dor e seu tema, o historiador e seu tempo, mostra que
 Não de ix a de ser sig nif ica tiv o qu e Je an -P ie rr e a definição de história do presente passa principal
Rioux e Jean-François Sirinelli, nascidos respectiva mente pela referência de uma nova relação entre o
mente em 1939 e 1944, tenham a necessidade de (se) cientista e seu cam po de investigação.
 pô r e m al er ta co nt ra os efe ito s da su bje tiv ida de , p ois é Essa imersão do historiador do presente em seu
 pre cis o re co nh ec er qu e es ta at itu de ca rac ter iza um a tema distingue-se, parece-nos, da relação natural que
certa geração. Certam ente, eles não viveram os m es todo historiador tem com seu tema, seja ela passional
mos eventos, as mesmas tensões históricas e o dizem. ou não. Jamais um medievalista ou um m odenista po
Entretanto, tanto um quanto o outro, porque traba derá "viver" o que descreve. Ele deve recompor uma
lham com as elites, com a sociedade e a cultu ra de sua realidade que lhe escapa fisicamente. Não é senão no
 pr óp ria épo ca, po rq ue fa ze m pa rt e da ge ra çã o de hi s  pr es en te , po r re ve rb er aç ão de su a rel aç ão no pr es en 
toriadores que emancipou os campos históricos, que te, que ele pode (re)conhecer ou imaginar aquilo de
descobriu suas armadilhas, associam-se e insistem de que fala investindo-o de u ma presen ça física "real" .
liberadamente sobre as eventuais deformações, sobre A metáfora histórica nasce da associação entre ima
as dissimulações de uma história do presente. Isto não gens do presen te e representaçõe s do passado. Sobre
quer dizer que outros não tenham tido essa intuição este ponto, Jacques Le Goff faz uma relação demons
que permanece um princípio fundamental da hones trativa entre a representação da guerra medieval e seu
tidade intelectual. \ valor de realidade ilustrada, encarnada pela guerra
Mas esta interrogação está ligada a duas outras contemporânea.
novidades: o crescimento e a reputação da história Uma outra questão se coloca no próprio interior
cultural e intelectual, e a moda da ego-história, que da família de historiadores do presente. Os pesquisado
 pertencem,  ambas, antes de tudo, a esta geração de his res nascidos no meio dos anos 60 têm a m esma percep 
toriadores. Hoje em dia, a mistura das idéias, dos m é ção do acontecimento que seus mestres, a mesma rela
todos, dos campos e das gerações (os autores reu nidos ção física ou intelectual com o pre sente? Se não é este
aqui nasceram entre 1919 e 1965) é tal que este o caso, isto induz a evoluções fundamen tais?
alerta contra a subjetividade dos historiadores se Sobre a forma, nada há de novo. Como nossos
generalizou. antecessores, nós funcionamos com uma memória
É, portanto, indispensável refletir em termos de dupla: direta/indireta, mesmo que ela seja cada vez
 presença do histori ador em seu tema   - presença direta ou mais deformante e ativada por causa do desenvolvi
indireta no tempo, presença intelectual, moral, filosó mento incessante da comunicação e da comemoração.
fica, ou mais simplesmente psicológica e física.

30 31
Pode-se, no entanto, pensar que é uma falsa si Investido do mesmo valor. O que não significa de
militude, pois nós não conhecemos a crise aberta,  vive modo algum, aliás, que nós não estejamos presentes a
mos no mito de acontecimentos e engajamentos en esses acontecimentos, ao contrário.
cerrados24. Nada há em comu m e ntre a crise econô mi Encontra-se essa ambivalência na ação hum a
ca difusa dos anos 70-80 e as crises abertas dos anos nitária: consciência ou implicação moral de um lado,
50-60. Esta diferença é decisiva quand o a conjugamos  ba na liz açã o e ges tão in st itu ci on al da ca tás tro fe de
com dois fenômenos novos, correspondendo, desta outro.
vez, a nossa memória direta: o não-acontecimento e  Nã o se tra ta , po rt an to , de dis cu tir o va lo r re al
o recuo das grandes mitologias revolucionárias ou dos fatos na história, mas sua percepç ão e as condições
utopistas. históricas nas e pelas quais eles são percebidos.
Pierre Nora definia magistralmente "o aconteci-
mento-monstro". Mas, para nosa geração, essa mons A presença do historiador em seu tempo evolui,
truosidade parece ser paradoxalmente responsável por  po rt an to , em fu nç ão da pr óp ri a his tór ia. Nã o há na da
uma banalização do fato, tornado repetitivo, derreado de novo nisso. Em compensação, a evolução da rela
e sem substância. Por sua onipresença audio-visual, ção com o acontecimento, a mutação dos engajam en
 po r seu ca rá te r un iv er sa l e i ns ta nt ân eo , po rq ue se p o tos ou não-engajamentos intelectuais e políticos mar
deria finalmente apelar para seu caráter de normalida cam um a ruptura com as gerações precedentes de his
de, o acontecimen to se esvazia. Nós temos u ma relação toriadores. O contexto não é mais o mesmo. Isso ex
física com a história em movimento, mas ela não está  plica , tal ve z, o de sej o de ne ut ra lid ad e e de re co lh i
mais carregada - cumulada - das mesmas representa mento cada vez mais marcado das novas gerações: re
ções nem das mesmas esperanças que há vinte ou trin colhimento, neutralidade que se traduzem freqüente
ta anos porque, justamente, a história avançou. mente em termos de pessimismo, de desinteresse ou
 Ne sta evo luç ão , o re cu o dos ide ali sm os e o des - de resignação, mas que cientificamente, seriam os fru
'iocamento do político para uma política de gestão tos do encontro entre as lições epistemológicas da his
(econômica, social, ecológica, ética, humanitária...) tória do presente e a evolução do contexto histórico e
desempenham um papel central. Mesmo se ele é por da percepção imediata da história.
tador de uma grande violência ou de uma simbólica  Na ho ra em qu e a qu es tã o cu ltu ra l se so br ep õe
histórica impressionante (Tchernobil, queda do muro  po r v eze s à qu es tã o pol ític a, co ns ta ta -se qu e a h is tó ria
de Berlim, morte de Ceaucescu, guerra do Golfo, adota também um modo de análise centrado sobre a
 pu ts ch co nt ra Go rba tch ev, êx od o do s alb an ese s, de s noção de cultura; e que a nova geração de historiado
mem bramento da URSS), o acontecimento não é m ais res do presente se atém primeiro a uma explicação só-
cio-cultural,enquanto que no seu início, seus anteces
sores favoreceram em primeiro lugar o político.
24 Pensamos em particular na crise argelina, em
maio de 1958, mais ainda em maio de 1968.

32 UWVERSIDADE^FEDERALDEUSERUn DR 33
OJDÍJQteC^
Q uais eixos de pesquisa ? é o historiador diante de seu tem po? Quais são as con
seqüências dessa presença do historiador em seu tem
Se nos ativermos à ordem que adotamos nesta  po, e po r i sso me sm o, o qu e ele es tá pr op en so a es tu 
apresentação, o historiador e sua disciplina   constituem dar, com recuo ou no instante?
um prim eiro eixo de pesquisa, e a história do p rese n  Nes se do m ín io, a co nt rib ui çã o da eg o-h ist óri a,
te deve ser estudada por meio de três temas: os novos a vontade crescente de integrá-la como fator causal
 pr ob le ma s, os n ov os ca mp os e as no va s a pr es en taç õe s.  pod e ser de gr an de aju da . A re ivi nd ica ção do bl oq ue io
Esta observação da renovação metodológica permiti  pes soa l tr ad uz um a no va et ap a na s pos sib ilid ade s de
ria definir precisamente a disciplina e apreender sua Interpretação. E se na origem, a ego-história não é e x
natureza substituindo-a no concerto das diferentes clusivamente feito dos especialistas em contemporâ
histórias. E para ser completo, seria necessário fazer nea- inaugurada que foi pelos medievalistas e moder
um estudo dos lugares de sociabilidade dessa história nistas - nem por isso ela se torna menos importante
a fim de avaliar a natureza da sensibilidade comum  pa ra nó s. Ma s ne ssa ob ser vaç ão do pe rc ur so dos hi s
aos historiadores desse período. toriadores, é necessário igualmente interrogar orien
Definitivamente, tudo volta a colocar a questão tações historiográficas e climas ideológicos.
da existência e da definição de um a "escola" histórica. Ego-história, "atmosfera" e orientações historio 
E ainda aqui, qualquer resposta comporta seu corolá gráficas misturam-se no processo de pesquisa e de
rio de interrogações. Por que a história política não se identificação do autor com seu tema. Jean-François
afiipiou abertamente como um a escola? Por que e Sirinelli mostra como um clima ideológico pode d eter
como os diferentes direcionamentos históricos se minar as orientações historiográficas. No mesmo senti
aproximam e se enriquecem? Há, hoje, um desejo de do, Jean-Jacques Becker alerta para os perigos de um a
homog eneização do m étodo em história25? história que cederia ao peso do acontecimento rejei
tando objetos históricos considerados moribundos.
Ora, para responder a essas questões, é preciso
abrir outros caminhos além da historiografia, da me Uma vez que o problema da disciplina coloca a
todologia, da sociabilidade, e devemos abordar o pro questão da relação entre o historiador e seu tema, mas
 bl em a do  percurso histórico. também da relação entre o historiador e seu tempo,
Como e por que se faz história do presente? qualquer resposta seria incompleta se esquecesse o
Como nos tornamos historiadores do presente? Quem historiador, a história e a sociedade.
Quer seja em sua relação com a testemunha,
com o arquivo oral, o que mostra Robert Prank, quer
25 E além, num percurso fixado na antropologia, no seja na sua relação com o público, com o jornalismo,
sentido etimológico do termo, um desejo de homo como nos descreve Jean-Pierre Rioux, o historiador é
geneização, de interdisciplinaridade real entre as
"ciências irmãs": história, sociologia, etnografia, cada vez mais parte integrante do contemporâneo -
sociologia.  po rq ue a for ça da hi st ór ia pas sad ist a, fa ctu al e h ist or i-

34 35
cista se esfumaça diante de uma demanda social insis questão a história do presente não é antes de tudo
tente, resolutamente ancorada no presente e no modo louvar sua capacidade explicativa. Não é defender e
"interpretativo". Em sua intervenção pública, a histó Ilustrar uma nova maneira de história, é ao contrário
ria, como a medicina ou a ciência da ecologia, é um ol)servá-la e pô-la em dúvida para melhor conhecer
fator de compreensão do presente e vetor de opinião seu funciona men to e assegurar-se de sua validade - de
 pa ra o co rpo soc ial. Co nv ém , po rt an to , sa be r co mo e sua capacidade heurística.
 po r qu e ess a re la çã o en tr e a ciê nc ia e a soc ied ade
funciona.
Agnès Chauveau
Como se percebe, a interrogação sobre a histó
Philippe Tétart
ria do presente toca "um pouco de tudo". Ela é histó
rica por essência, daí a dificuldade, e até mesmo o pe
rigo, de separar uma visão da outra. Quer se analisem (Centre d'Histoire de l'Europe du vingtième siècle)
os objetos, as formas, o método o u os objetivos da his
tória; quer se observe a disciplina, ou percurso ou a
função social, devem-se explorar os terreno s limítro
fes e conceber uma reflexão geral sobre a história do
 pr es en te , sob re o h ist ori ad or .
O historiador deve, pois, abstrair-se o mais
completamente possível das interferências da ideolo
gia e da subjetividade, estudando-as e procurando
apreender verdadeiramente seu objeto além de uma
acepção puramente histórica. A epistemologia da his
tória do presente consiste, portanto, em interrogar a
história a fim de propor novos dados que aum entarão
sua capacidade de explicitação   e de sug est ão26. Pôr em

26 Orientação bibliográfia suscinta ... Gilles Deleuze e


Félix Guattari, Qu'est-ce que la philosophie?, Éditions
de Minuit, 1991, p. I l l sq.; Reinhart Kosseleck,  Le
 fut ur passé. Contribution à la sémantiq ue des temps
historiques,  Éditions de l'EHESS, 1990, p. 19 sq.; Alain
Testart, Éssai d'épistémologie,  Christian Bourgois,
1991, especialmente pp. 75-92, pp. 105-110; G.
Gadoffre, Certitudes et incertitudes de l’histoire,  PUF,
1987.
capitulo 2
PODE-SE FAZER UMA
HISTÖRIA DO PRESENTE?
 pb r Je an -P ie rre RIOUX

Antes de adiantar uma argumentação que po


deria tornar plausível uma resposta positiva a esta
qu estão, é preciso estar de acordo acerca desta noção,
 a prior i  desconcertante, de história "do presen te"1. Pois
não se trata nem do "período" último de um recorte
do passado para uso escolar e universitário, nem de
um conceito de substituição por tempos de crise da
temporalidade nas nossas sociedades invadidas pelo
efêmero, nem mesmo de um paradigma regulador no
caos das ciências sociais. Uma história dita do pre sen
te participa de fato mais ou menos de todos esses vo
cábulos. Houve, não duvidemos disso, uma boa parte
de bricolage  na sua construção, enquanto que aqueles
que a questionam não depuseram as armas. Na Fran
ça, a questão se estabeleceu no finzinho da década de
1970, qua ndo o CNRS, sem fazer alarde, criou um la 
 bo ra tó rio , o In st it ut d'H ist oir e du Tem ps Pr és en t, cuj a
missão, precisamente, consistia em refletir ativamente
sobre a noção, conduzindo pesquisas específicas que
resumiriam o movimento. Ela não parou de agitar os
espíritos, e o dito Instituto nunca esteve resguardado
das atribulações.

1 Uma primeira versão desse tjixto foi publicada em


 Historical Reflections. Réfléxions historiques,  1991, vol.
17, n. 3, alfred University, Nova York, p. 297-305.

39
A formulação mais brutal da questão, aquela cronológica que deseja apenas espessar-se, mas tam-
que suporta a carga epistemológica mais forte, é evi liérn como um momento particularmente favorável à
dentemente esta: pode o presente ser objeto de histó observação da ação do tempo passado sobre o presen -
ria? Como de fato inscrever um presente fugaz na lc e, enfim, como uma perm uta tangível entre m em ó
construção, ou reconstrução, necessariamente temp o ria c acontecimento.
ral ou retroativa , que elabora o historiador confron
tando suas hipóteses de trabalho com a dura realida
de da documentação e do arquivo recebidos? Avan
çando um pouco a reflexão, percebe-se que essa dú 
A PROXIMIDADE E A INTELIGIBILIDADE
vida remete a uma inquietação propriamente filosófi O argumento mais freqüente invocado contra
ca: o presente tem sua chance diante de uma longa essa história é o da proximidade. A objeção, de fato, é
duração que parece ser - toda a obra de um Fernand forte. Como traduzir em termos de duração um pre
Braudel foi construída em cima desse "parece" - a sente, por definição, efêmero? Presente esse cuja pro
verdadeira modulação e a respiração vital do devir dução, além disso, é cada vez mais, ao longo do sécu 
humano? lo XX, fenômeno atual, cujos delineamentos são con
Por falta, sem dúvida, de ter recebido como seus fundidos nesse turbilhão denso e indistinto de mensa
colegas anglo-saxões, alemães ou italianos, uma for gens, nesse imenso rumor mundializado de um
mação filosófica suficiente, os historiadores franceses "atual" triturado, amassado, transformado sem tré
contornaram com bastante frieza essa provocação e gua, sob o triplo efeito da mediatização do acontecido,
lhe dão muito freqüentemente uma resposta de or da ideologização do ato e dos efeitos de moda na nos
dem mais metodológica do que epistemológica ou m e sa apreensão de um curso da história? Se nosso pre
tafísica. É verdade que um grande nome os ajuda a ul sente é doravante u m a sucessão de flashes, de delírios
trapassar sua deficiência conceituai oferecendo-lhes o  pa rti dá rio s e d e jo gos de esp elh os , co mo sai r d ele pa ra
aval do bom Pai: o de Tocqueville, que enga stou so- erigi-lo, em objeto de investigação histórica?
 be rb am en te co m o s e s abe , o t em po cu rto da de m oc ra  Ainda mais que o próprio historiador, acrescen
cia, na França e na América, no tempo longo dos An te-se, imerso em seu tempo, também oscila no curso
tigos Regimes. Graças a ele, os acontecimento s inau di da correnteza, mergulha nessa confusão de aconteci
tos e os messianismos datados que tecem um p resen mentos sem hierarquia nem causas aparentes e toma
te entraram nesse jogo do distinguo   entre rupturas e a sopa do dia no noticiário da TV. E se ele quiser se li
continuidades ao qual o historiador francês se entrega vrar da onda? Logo será grande nele a tentação de
com avidez e que, mais freqüentemente, faz as vezes simplificar seu curso p ela aplicação de algum a filoso
de bagagem diante de qualquer novidade desconcer fia curta que secará esse real desorientad or no fogo de
tante. Não nos espantaremos, pois, por vê-lo tratar tão seu voluntarismo. A armadilha assim está montada:
à vontade a história do presente ao mesmo tempo entre a marulhagem indistinta e a simplificação abusi
como o término de uma periodização e a fina película va, a inteligibilidade não teria nenhuma chance.

40 41
Admitindo mesmo que algum clarão pudesse mimlr suas forças e tornar insípidas suas lembranças
advir de uma navegação ao acaso, no entremeio des rtirllando privar de sentido sua experiência. Alguns
ses recifes, a ausência de fontes completas e de docu Ali queimam etapas, seja produzindo uma palavra
mentos confiáveis tornaria muito vã qualqu er tentati incdlatizável e logo consumível, seja fazendo-se a si
va exploratória, acrescentam os céticos. Impõe-se, en incsinos de historiadores por sua con ta e risco (leia-se,
tão, a conclusão, adocicada ou sentenciosa de acordo  por ex em plo , a feliz em pr ei ta da de Da nie l Co rdi er a
com o humor do detrator: que o historiador abando  pro pó sit o de Je an M ou li n3).
ne a partida, que ceda lugar aos jornalistas seriamen  Nã o se tr at a m ais aq ui , pe rc eb e-s e b em , de um a
te documentados que produzem desde os anos 1960 versão atualizada desse gosto generalizado pela histó
uma "história imediata" sem pretensões supérfluas e ria ou desse ativismo das raízes, das genealogias e das
mode lada por um T ournoux ou u m Lac outure2; que se celebrações patrimoniais que atacaram nossas socie
contente em ler haja o que hou ver e reun ir entre eles, dades às vésperas de um fim de século4. É antes de u m
como materiais para uma história em gestação que ele vivo desejo de identidade que nasce essa ambição de
deveria modelar, a produçã o dos sociólogos retrospec uma história atenta ao presente, cuja originalidade
tivos, politólogos de geometria variável, economistas será ser escrita sob o olhar dos atores e cuja vocação
ruminando suas imprevisões ou etnólogos repatriados desabrochará no balanço das temerosas especificida-
de seus longínquos rincões. des do século XX. Ela será uma espécie de evangelho
eterno para vivos, cujo historiador podera ser o após
tolo; um depoim ento de boa qualidade científica sobre
A BUSCA DE IDENTIDADE esse estranho sentimento próprio de nosso tempo,
Inédito na torrente do tempo e que atrapalha tão fre
De fato, essa desistência não resolveria nada. qüentemente nossos contemporâneos: a consciência,
É, pois, a própria sociedade que im pulsiona o historia  dolorosa ou exaltante, de ter sido, por bem ou por
dor a não desistir, que lhe sugere não tropeçar diante mal, tomados, triturados e designados por uma histó
do obstáculo da proximidade e até mesmo utilizá-lo ria catastrófica cujo curso eles jamais dominaram .
 pa ra m el ho r salt ar. Visto qu e at or es e te st em un ha s,
humildes ou não, não esperaram mais mu ito tempo e
dizem alto e claro, como mostra a proliferação de de
 po im en to s em livr os, qu e nã o pr et en de m de ix ar con - 3 Daniel Cordelier,  Jean Moul in. L'inc onnu du
Panthéon,  Paris, Jean-Claude Lattès, 2 vols., publica
dos, 1989.
2 Ver em particular Jean Lacouture,  De Gaulle,  Paris, 4 Ver sobre esse ponto Jean-Pierre Rioux, "L'émoi
Le Seuil, 3 vols., 1984-1986. Sobre essa "história  patrim onial", em  Le Temps de la réflexion,  VI, Paris,
imediata e, mais geralmente, sobre a ligação entre Gallimard, 1985, pp. 39-48 e, para uma comparação
história do tempo presente e jornalismo, ver Jean- com antes de 1901, Chronique d ’une fin de siècle.
Pierre Rioux, "Entre histoire et journalisme", infra. France, 1889-1900,  Paris, Le Seuil, 1991.

42 43
I

Duas guerras e duas crises mundiais, uma des Ijur seu próprio enigma, cujo sentido não perceberam,
colonização e uma gue rra fria, duas partilhas do mu n »|iu* lhes ensine o que queriam dizer suas palavras,
do, em 1919 e em 1945, espetacularmente arrumadas »r\!N aios, que não co mp reen deram . Eles precisa m de
nos anos 1930 e no alvorecer dos anos 1990, subver UIM Promete u, e que no fogo que ele roubou , as vozes
sões tecnológicas inauditas e u m progresso galopante: íjllc* flutuavam geladas no ar se revoltem, transfor
é muito, com efeito, no espaço em que ma l cabem três mem-se num som, ponham-se a falar.(...) Só então os
gerações cuja expectativa de vida, aliás, aumentou Itiortos se resignarão à sepultura".
sensivelmente. Assim, como estranhar que, tendo Essa recusa do efêm ero, esta necessidade de dar
mudado para tantos vivos a relação existencial com a KCiUldo enquanto não se acredita mais nem no pro
história - sem falar do peso inquisitório dos milhões de gresso linear, acompanham-se também de uma neces-
mortos -, o desejo de um relato linear resumido e de nliladc de transmitir com urgência esta experiência
uma investigação explicativa da aventura tenha atin embrionária e muito pouco loquaz às novas gerações
gido as consciências ? que, também elas, virgens de qualquer memória ajui
zada, arriscam-se a ser levadas no turbilhão e às quais
o "mocismo" ambiente renega ainda mais qualquer
A RECUSA DO EFÊMERO capacidade de fidelidade histórica. Não ressaltamos o
 ba st an te , m e pa rec e, o q ua nt o no ssa s soc ied ade s r ec o
E essa preocupação com uma relação fiel e com meçam com essa propensão a declinar mais uma vez
a coleta do dossiê é redobrada, com todos os efeitos da os grandes fatos de um presente memorável que in
rapidez adquirida pela ação generalizada da mídia, por ventou a Atenas de Heródoto ou de Tucídides. Desde
uma espécie de vontade comovente de lutar contra 1959 os estudantes colegiais da França deviam estudar
uma massificação das efemérides que mantêm uma te o mun do até 1945 e, desde 1983, os programas de his
merária amnésia n as nossas sociedades. "Aceleração da tória das classes de terceiro colegial e de último ano
história", mundialização das questões, imediatismo de dos liceus levam a investigação "até nossos dias" , sem
uma informação torrencial vertendo "seqüências" que que esta decisão de acender os fogos do presente nos
fazem as vezes de acontecimentos: esses lugares co  jov ens esp íri tos po ss a se r o fr ut o de um a pr es sã o co r
mu ns do analista apressado do século XX excitam in  po ra tiv a dos pro fes so res (a nte s sac ud ido s p or essa n o 
contestavelmente um desejo de conhecimento instan  vidade, e até mesmo hostis a uma nov a mudanç a dos
tâneo, nutrem uma inquietação surda em que se mis  pro gr am as de úl tim o an o em 198 9, qu e am pl ia a p a r
turam nostalgia das "belles-époques", reação de defesa te da história próxima): o sistema educacional, a pre
diante do futuro, necessidade de continuidades marca ço talvez de sua desarrumação interna e de sua inca
das e sede de identidade coletiva ou nacional. A pres  pa cid ad e a tu al de hi er ar qu iz ar val ore s e con cei tos , h o 
são social traduz assim no presente, tranfere para o mologou, sem reagir, uma ambição social que circula
 pr es en te , a fó rm ul a cél ebr e qu e M ich ele t apl ica va ao va na atmosfera.
 pas sad o: " Eles pre cis am de um Éd ipo qu e lhe s exp li-

44 45
O BOM SENSO DO ARTESÃO inoso "recuo" 5. A ambição científica constrói, a boa dis-
lAncla, o seu objeto de estudo, m étodos de investigação
É um mal ou um bem ? O debate não está fe lilNlórica acertados desde Langlois e Seignobos aneste-
chado, mas não faltam argumentos para resolvê-lo *|(im propriamente a carne de um presente alarmado,
o questionamento rigoroso apazigua a desordem parti
ousadamente num sentido positivo.Afinal de contas,
dária. Em poucas palavras: a construção de um relato
os programas escolares editados por Victor Duruy em
histórico hierarquizará, pois, tanto a perestróika gor-
1865 paravam no limiar do ano...1863 e os de 1902
davam conta ousadamente do Caso Dreyfus, enqu an luilcheviana quanto a decomposição do império caro-
língeo, tanto os "anos Miterrand" quanto a magistra
to o último volume da grande  Histoire de la France  diri
gida por Ernest Lavisse, publicado em 1923 por Cha r tura de Monsieu r Fallières.
r, '■■■ '■ n (L>, ',(> f   tyv-vvJ -> 'ir 
les Seignobos, integrava sem partidarismos a guerra
de 1914-1918. Como não sentir além disso que uma
reflexão histórica sobre o presente pode ajudar as ge A ATUALIDADE DO TEMPO
rações que crescem a combater a atemporalidade con
temporânea, a medir o pleno efeito destas fontes ori Somos instados a não sorrir diante de tanta can
ginais, sonoras e em imagens, que as mídias fabricam, dura anunciada por esses modestos pioneiros de Clio
\ a relativizar o hino à novidade tão comum ente entoa- atualizada. Pois a história do presente, experimentada
 —* do, a s e d esf az er des se im ed ia tis m o v ivi do qu e ap ris io  hoje a partir dessa argumentação considerada bem
na a consciência histórica como a folha de plástico simples, contribui, no entanto, para colocar questões
"protege" no congelador um alimento que não se  ba sta nt e te m er ár ia s à dis cip lin a hi stó ric a in te ir a .
consome? "Tudo o que é importante é repetido", dizia ou-
A história do presente, como vemos, naceu sem trora Ernest Labrousse. E meio século de combates
dúvida bem mais de uma impaciência social do que de dos  Ann ales   para apreender o repetitivo significativo,
um imperativo historiográfico, pelo menos na França.
E os historiadores do recente , nadando na indolência
conceptual assinalada há pouco, mas bastante bem ga 5 Também não nos esqueçamos que foram os histo
rantidos sobre suas retaguardas sociais, fizeram bonito, riadores do político que sempre estiveram na van
no final das contas, martelando o bom senso do velho guarda da história do tempo presente. Sobre sua con
artesão, metodologicamente pouco sofisticado mas tribuição, ver René Rémond (org.), Pour une histoire
 politique,  Paris, Le Seuil, 1988.
 pa ss av elm en te pe rc uc ien te : o ar gu m en to da "fa lta de
recuo" não se sustenta, dizem eles, pois é o próprio his 6 Sobre estas, ver o ensaio de mise en forme histórica
 pontual, "Les années Miterrand (1981-1991), UHistoire,
toriador, desempacotando sua caixa de instrumentos e n. 143, abril de 1991,  que compararemos utilmente
experimentando suas hipóteses de trabalho, que cria com um puro trabalho de jornalistas, Pierre Favier
sempre, em todos os lugares e por todo o tempo , o fa- e Michel-Martin Roland,  La décennie Miterrand, 1. Les
ruptures,  Paris, Le Seuil, 1990.

46 47
 pa ra af ir m ar a sér ie qu an ti fic ad a co mo via re al da in   Nós viv em os no re to rn o do rec ita tiv o, do de s
teligibilidade, para anunciar a longa duração portado
contínuo, do factual, do pessoal e do idealizado, num
ra do sentido oculto, forjou uma espécie de consenso nénilo XX que, no entanto, proclamou tão forte a
débil que o estudo do presente bem que poderia atro marcha forçada do progresso, a construção acelerada
 pel ar. Pois a lo ng a du ra çã o br au de li an a ad ici on a de- do homem novo, a densificação inelutável dos fenô
terminismos geográficos, socio-econômicos ou antro menos e a inflexibilidade da lei do número: este para
 pol ógi cos ne m se m pr e da nd o a ch av e de su a hi er ar 
doxo está no bojo de uma história do presente, ele dá
quização, porque perseverou na idéia de que o sólido a ela uma singular aptidão para a provocação retros
era perdurável e de que a apreensão das economias,  pec tiv a s ob re o t ra ba lh o do hi st or ia do r e à d es co ns tru -
das sociedades e das civilizações bastava para esclare
Çclo das filosofias da históri a mu ito apressadas.
cer uma leitura da história.
Essa história, de outro lado, torna tão jubilató-
Ora o presente, examinado sob o microscópio ria e tão cientificamente oportuna a exploração de um
do historiador, faz brotar da proximidade ambiente segundo paradoxo do presente, que ilumina toda
um conjunto de argumentos mais ideal, mais cultural a configuração do tempo humano: o imbricamento
e mais individual, uma outra composição hierarquiza constante, cruel e alimentador ao mesmo tempo, do
da do tempo, em que a ação combinada da personali
 pas sad o co m o pr es en te (in clu siv e sob a fo rm a de
dade (a do grande líder, tanto daquele que decide traumas, no choque de grandes eventos-datadores
como do vencido), do acontecimento (esta "esfinge" como as guerras mundiais, de recalque ou de balbu-
dizia Edgar Morin7, fruto ilegítimo do capricho dos fa cios da memória coletiva a propósito das guerras
tos e do escândalo da mídia) e do narrativ o (a crônica de descolonização, por exemplo), o trabalho do luto
massificada de um acontecido repetidamente provo como condição necessária para um apaziguamento ou
cando indivíduos cada vez menos agregados) põe em uma hierarquização de um presente invasivo, a ênfa
dúvida o valor operatório e explicativo de um quanti se da representação do passado como parte integrante
ficado maciço e de uma repetição considerada com-
do imediato. Uma vez que ela observa tão comoda
 pr ob at ór ia , um e o ut ro be m en cr av ad os de sd e os an os
mente a presença ativa do tempo na nossa construção
1930 nas boas velhas infra-estruturas do esquema do contemporâneo, ela contribui sem dúvida assim
marxiano, senão marxista.
 pa ra m el ho r col oca r a ve lh a qu es tã o do se nti do , no
mo me nto em que desabam as visões do curso das
coisas.
Essa história, de fato, por ser feita com testem u
7 Num número pioneiro da revista Communication, nhas vivas e fontes proteiformes, porque é levada a
18, 1972. Ver além disso Pierre Nora, *Le retour de desconstruir o fato histórico sob a pressão dos meios
1événement , em Jacques Le Goff e Pierre Nora de com unicação, po rque globaliza e unifica sob o fogo
(org.) Faire de l'histoire,  Paris, Gallimard, 1974 pp das representações tanto quanto das ações, pode aju
210-228. dar a distinguir talvez de forma mais útil do que nun

48 49
ca o verdadeiro do falso. Pois se ela tem como missão,
como toda história digna deste nome, mostrar a evi capítulo 3
dência científica das verdades materiais diante do es
quecimento, da amnésia ou do delírio ideológico,
O RETORNO DO POLÍTICO
(pensemos, por exemplo, nos que negam as câmaras
de gás), ela sem dúvida está mais apta a explicar do
que a verdade estatística da enumeração, da qual so  po r Re né RÉM OND
mos tão apreciadores; ela não evita ver em ação a ver
dade psicológica da intenção, a humilde verdade do
 pl aus íve l, a for ça da qu es tã o da m em ór ia so bre o cu r
so do tempo.  Nã o ins ist ire i em de m on st ra r qu e o po lít ico , os
Um vibrato do inacabado que anima repentina fenômenos assim chamados, retomaram, na história
men te todo um passado, um presente pouco a pouco contemporânea, e particularmente naquela do pre
aliviado de seu autismo, uma inteligibilidade perse sente, ainda com umente chamada de história imedia
guida fora de alamedas percorridas: é um pouco isto, ta, Um lugar que eles tinha m perdido . Admite-se, hoje
a história do presente. em dia, que o político também pode ser um objeto de
conhecimento científico assim como um fator de ex-
 pl ic aç ãa de ou tr os fat os al ém de si m es mo . B as i^ po r-
.tanto observar e considerar que é incontestável. Cita:
Jean-Pierre Rioux rei dois exemplos. Primeiro a recente entrevista entre
Jacques Le Goff e Pierre Lepape em que se coloca logo
a questão: "Mas a crise da Nova História expressou-se ,
também pôr um certo núm ero de retornos, retorno da
história-relato, da biografia, do acontecimento, mas
sobretudo da história política" que tinha sido ma nti
da sob controle pelos  An nal es   em proveito da história
econômica e social. Outro exemplo: a longa entrevis
ta publicada pelo UExpress  em 6 de fevereiro de 1992,
com Georges Duby, ele também medievalista. Seu in
terlocutor lhe diz, a propósito da Nova história: "Con
fesse que- ela conheceu também um sério revés. Por
interessar-se pelas profundidades e pelos detalhes" - o
que não é a mesma coisa, a questão me parece con
fundir duas orde ns de realidade - "vocês acabar am por
negligenciar os próprios acontecimentos". E G. Duby
responde: "É verdade, é por isso que há uns d ez anos

50 51
voltamos ao relato político". As questões são quase tão ulões inesperadas levam-no s a question ar sobre a
significativas qu anto as respostas, elas atestam a idéia  pre car ied ad e do fe nô m en o, se nã o o fu nd am os na ra 
recebida de que o político voltou. Outros exemplos zão, se descuidamos de inscrevê-lo num a reflexão que
ainda? No volume de François Furet da grande seja fundamental.
 Histoire de la France  da Hachette, a sociedade está qua  j Em primeiro lugar desfaçamos a confusão entre

se totalmente ausente: essa história é política, quase história próxima e história política. Muito freqüente
 pol íti ca de m ais pa ra m eu gos to, e eu pl ei te ar ia um re  mente misturamos as duas porque os mesmos histo
torno da história da sociedade. Emmanuel Le Roy riadores militaram pelas duas causas. Mas as duas não
Ladurie organiza também seu volume em torno do coincidem. O interesse pelo político não é   próprio da
Estado, isto é, da fina ponta, da cúpula do político. Há, história recente e o político não esta exclusivamente
 po rt an to , um a in ve rs ão da s rela çõe s, co nv er sã o no ligado à proximidade no tempo. Certamente, cabe
sentido geométrico da palavra, senão reliogioso e  pe rg un ta r se o pol íti co, n a su a con sis tên cia e em seu s
intelectual. modos de intervenção, não evoluiu bastante no de
 Nã o m e de m or ar ei de ma is em re tr aç ar po r qu e correr das eras para pedir diferentes abordagens se
 pr oc ess o op er ou -s e essa rev ers ão , em qu ais ci rc un s gundo os períodos. Está bem claro que, desde que o
tâncias nem por que a história política tinha caído no governo é um governo de opinião, o político apresen
descrédito até tornar-se o alvo e o símbolo da história ta aspectos bem diferentes daqueles dos tempos em
obsoleta e desusada. Também não me demorarei mais que a decisão era atributo de um pequeno número.
sobre as razões e as influências que favoreceram a re Sofc o Antigo Regime, é o domínio do secreto, en
versão dessa tendência. Sobre este ponto, remeto-os quanto que em princípio, na democracia, ela faz par
ao livro Pour un e histoire politique,   onde tentei decifrar te do espaço público. Só isso já introduz diferenças
as razões do fenômeno. É um bom exemplo das m u singulares na abordagem. M as acontece que o político
danças que intervêm na atmosfera . Várias observa não está ligado à brevidade do prazo que separa o his
ções de Jean-François Sirinelli trazem elementos de toriador dos acontecimentos sobre os quais ele pousa
resposta a esta qu estão e a existência desse livro cole seu olhar. De resto, os historiadores da A ntigüidade e
tivo me permitirá ser breve. da Idade Média contribuíram enorm emen te para o re
Penso ser mais útil refletir sobre o significado torno do político. Uma parte da pesquisa de Claude
dessa reversão, sobre seu alcance, também sobre seus  Nic ole t tr at a do po lít ico e da cid ad an ia na Re púb lic a
limites. Pois receio que este sucesso repouse sobre romana. E Claude Nicolet não deixa de ser um histo
um mal-entendido e que implique muitos equívocos. riador do contemporâneo, um a vez que desenvolveu
Dessa presunção encontrarei provas nas respostas que uma reflexão sobre a idéia republicana, a fundação da
Georges Duby deu a seu interlocutor. Jean-Jacques República e sua filosofia inspiradora. Da mesma for
Becker colocava a questão da dependência do histo ma, em história medieval, Bernard Guenée contribuiu
riador e de sua pesquisa em relação aos fenômenos de  pa ra ch am ar a at en çã o sob re o fe nô m en o do Es tad o.
modas. Não há fenômeno de moda? Algumas reu- Adiantávamos o nome de Philippe Contamine a pro-

52 53
que não político. Por exemplo, um crash econômico
H S S H 5 S — ss
fusões sobre este po nt oA ste re^ speifo T'
 po de se r um ev en to de pr im ei ra gra nd ez a: a qu in ta -
feira negra de 1929 é um tipo desses, tão delimitado
de Georces Dubv n„ i ' B respeito, a entrevista no tempo quanto a queda de um governo - é um
acontecimento não político. Ou ainda uma catástrofe
= — = 5 natural: o terremoto de Lisboa - e sabemos quais fo
£T élZ 7 ' COnSldmi qu' as « * “ « l o liga-
verdade que elas freqüentemente o estão -
ram as incidências sobre os movimentos de idéias, no
debate sobre o mal - não foi político. E Tchernobyl,
que teve um papel na queda do regime comunista, é
um acidente tecnológico.O acontecimento não é, pois,
somente político. Há também distinções que convém
lembrar periodicamente para combater os amálgamas
u m bé m S t o lm d L d° P° K“ co Pod' entre o político, o relato e o acontecimento. Na reali
dade, o político, assim como o econômico ou o social,
inscreve-se no curto, no médio e no longo prazo.
í wv« x r r m i,itas vezes' a Méia * que De outro lado é preciso reavaliar o papel do
acontecimento: se trabalhamos sobre um período cur
to ou próxim o, somos levados a atribuir a ele um a par
t u ra n o S , f ^ nSClente: 05 “ m e n os d e c ul-
te mais impo rtante do qu e sobre períodos afastados em
que, pela força das coisas, os relevos se esfumaçam, e
em qu e o olh ar percebe conjuntos mais maciços e mais
r umn“ x monum entais. Com preender bem o fato não é reduzi-
lo a anedotá. É necessário distinguir as duas noções: o
fato não é o acidente e não se limita à superfície das
a» « s r s a « £ s" : - - r   coisas; ele introduzLMjaossa visão a contingência e isto
clamaria nuances entre a história do iato e história iraS'grande importância. O historiador do presenteie,
das estruturas - a história política não se encerra inM  necessariamente mais atento.aq.Mq,.£ s\ia exgetjgnjáa.
ra no pnmeiro compartimento. Apesar d C da “m  po de ser út il a t oâ os os h ist or iad or es aos qua is le m 
 bra o p eso da co nti ng ên cia na his tóri a- O his tori ado x é
S da r ^ to P O I,to d a “ e™ > ° Ío quetu,“ "’
Amda que um acontecimento possa ser outra sempre tentado a. introduzir a posteriori,   no çle&enrjpJâr
da história uma racionalidade, mesmo que ela não
exista. Jean-Jacqu es Becker observava que o risco para
o historiador do contemporâneo é que não há o aval
da seqüência. Mas a contrario   os historiadores que tra
* episódio da revolução de 1830 na França [N. do T.]  ba lh am em pe río do s so bre os qu ais se po de le gi tim a-

55
complexa que todos os sistemas. Se nos interessamos
 pel o p olí tico , é p or qu e ac red ita m os qu e a p ol iti ca ge m
uma certa importância. Se não, por que perder tempo
com ela? Já que é assim, mais vale observar a fonte
de luz.do que seus reflexos.
A lição da história também significou muito de
monstrando que as pessoas, de Churchiü a Gorbat-
h ^ S ^ ê ^ —sssã -
fizeram ^É um
um
firo ÍÜâiori a âtpnrãn 3a  x_+_

chev, podiam ter importância. Ela evidenciou também
que fatores, que sistemas redutores apresentavam-se
superestruturais, como as convicções, os sentimentos,
o apego à liberdade, as crenças religiosas, o sent ime n

= S S ? á g S 3 S to nacional, podiam ter um papel essencial. Uma das


contribuições mais incontestáveis dos estudos de ciên
cia política, em especial da sociologia eleitoral, foi a de

S i S S S ^ É
mostrar que não havia correlação entre as posições de
indivíduos na sociedade, seu estatuto sócio-profissio-
nal e suas escolhas políticas, suas convicções religio
sas. Se uma certeza se impôs, é esta. Se há correlação,
seria antes com as tradições de cultura, educação, do
que com fatores sócio-econômicos. Tais constatações
concorreram para fundam entar o retorno do político.
^ 0ò Z £ z % z : l ^ t - ^ ™ u s -
Dito isso, o político não deve ser exclusivo. Ele
não é sempre determinante e imutável. Deve-se evitar

5 = ^ *5 s S £ isolá-lo. Não se deve reconstituir, em proveito do.


P olítico, a sacr alização da qual outros "fatore s se
 be ne fic iar am .
Se me perm item fazer um pou co de ego-histó-
ria, se eu militei pela história do político, nã o me lim i

£ S ^ ~ —  tei a isso de mod o algum, e cheguei ali por outras vias.


Retomando a excelente expressão de Nicholas Rous-
selier em sua defesa de tese: interessei-me pelos fatos
r S r r " £ í5 E S 5 £ 5 " :  pol ític os "co m o ex pr es sã o de fat os cu ltu rai s" , com o
revelador de coisas mais profundas. Foi a opinião que
me levou ao político. Ela me inte ressou logo de início:
meu primeiro tema de pesquisa foi o estudo da opi
nião francesa sobre os Estados Unidos. Na época este
56
57
tema desconcertou os professores aos quais o expus. Último objeto de minha intervenção, o campo
Cheguei ao político pelo viés da opinião, da história do político não é definido de uma vez por todas ele e
das ideias, das ideias vivas e não das idéias estudadas mutável. Retomo o subtítulo da jornada: o político
como peças de anatomia. De onde a idéia, em 1950 também de geometria variável , às vezes retrátil, as vezes
de me interessar pelas direitas. extensivo. É verdadeiro nas cabeças e n a s mentalida-
A expressão "retorno do político" é discutível. des: politização - despolitização. É verdadeiro ta mbe m
Como o diz Jacques Le Goff: "A expressão retorno é  pa ra os obj eto s: os pr ob le m as nã o sao os m es mo s,
ambígua, fala-se dela como do retorno a uma concep  pr ov av el m en te um a exp lic açã o da cris e qu e at rav es sa
ção do passado que teria sido suprimida ou com primi o político, e da desafeição que o atmge: tais objetos
da pela Nova História". A expressão é imprópria e além tradicionais do político deixam de ser questões políti
disso desastrosa: ela pode indu zir a idéia de que é uma cas e novos problemas se colocam. Hoje em dia o po
volta atras, e portanto, uma regressão. Como se nós vi- lítico concerne a tudo o que toca a existencia indivi
vessemos num ciclo de dois tempos. Não é a mesma dual: o corpo, a vida, o nascimento, a mo rte. Teríamos
 pol ític a, ne m a m es m a hi stó ria polí tica , ne m a me sm a imaginado, há somente meio século, que caberia ao
abordagem, nem inteiramente o mesmo objeto. É legislador dar uma definição da morte? decidir se se
uma historia renovada. Foi isso que nós quisemos di
 po de faz er com érc io de órg ãos ? Est as no va s qu es tõ es
zer em Pour une histoire polüique, que é um pouco um
assustam os políticos. A sexualidade se torna uma
manifesto por uma nova história política, O prónrio
questão, um debate político; o mesmo vale para a cul
Preciso ter  tura, a ética, a justiça. Vejamos o exemplo dos minis
u m a d e f i n i ç a o ^ ^ p l a d e s t e , a in da m a is a m pl a d o W
J ac q ue s L e Goff. " co m r e f e i ç ã o . tros da Justiça. Era outrora uma funçao de confiança
 po de r . C er ta m en te o p od er é o p on to má xim o. Õ po - que se reservava a um homem político em fim de car
er supremo, aquele que se exerce numa sociedade reira. Hoje é um a função exposta: o ministro da Jus 
global, no interior de um território definido por fron tiça está constan teme nte sob o fogo da cnttca. Evo
teiras, dispondo do poder de coerção, definindo a regra car a seqüência dos ministros: Peyrefitte, Badmter,
com a lei e sancionand o as infrações, é o único poder Arpaillange, Chalandon, Nallet, equivale a evocar um
que tem todos esses atributos. Mas há também a con calvárioI Por quê? Não é somente o efeito da polem i
quista e a contestação desse poder, e a relação do indi ca é que hoje em d ia a opinião dirige ao exercício da
víduo com a sociedade global política - de onde o estu  ju st iç a e a su a in de pe nd ên ci a u m a at en ça o m ui to
do de comportamentos, das escolhas, das convicções, maior do que outrora. Assim, a política e mu tavel,^ o_
das lembranças, da memória, da cultura. O-político infprpsse que damos a ela expliça-se ^da_ co^ uB çao
toca a muitas outras coisas. Não é um fato isolado. Ele en tre a ev oluçã o d os fatos^e,a.dos i£ spíritos:_0_BSJÜ£0
esta evidentemente em relação, também, com os gru- i ^ r e ï e ^ S a n t o ' n a j o n g a d u ra çã o com o, m S & B S iS :
 po ss oc ia is e a s tra diç õe s do pe ns am en to . ça. Ora, não há nad a que defina melhor affitçjgSS fiã
histórica do que a percepção da dura ção e a distinçao

58 59
♦•■êfîtTC o Qnp fi ra p A
consagrar ao político ^ SOjá bastaria para capítulo 4
de investigação do historiad o^ lm p°rtantc no cai»Po
MARXISMO E COMUNISMO
 NA HIS TÓRIA RE CE NT E
René Rémond  po r Je an -J ac qu es BECK ER 

Há quarenta anos os estudos de história


eram balizados pelas obras da coleção "Peuples et
Civilisations", a "Ha lphen et Sagnac", como se dizia.
Os volumes do período da história moderna eram in
titulados  La prépondérance espagnole [A preponderância
espanhola], La prépondérance françatse [A preponderância
 francesa], L a prépondérance anglaise [A prepond erância i n
glesa].  Desde então esses títulos, em grande parte, de
sapareceram. Em sua última edição,  La prépondé rance
anglaise,  por exemplo, tornou-se  Le siècle des Lumiè res
[0 século das luzes],   traduzindo as mudanças de enfo
que do pensamento e o interesse dos historiadores...
Foi assim também que a  La prépondérance françatse:
 Luís XI V  de A. Saint-Léger e Philippe Sagnac tornou-
se  Luís XIV ,  depois  Luís X IV et son temps [Luís X IV e seu
tempo]  sob a pena de Robert Mandrou. No entanto,
esse esforço dos diretores do "Halphen e Sagnac" para
tentar captar o que, num século, tinha sido o princi
 pal , ou pe lo m en os o q ue lh es ha vi a p ar ec id o co mo tal
na época em que construíam sua coleção, levou-me a
 pe ns ar so br e o tí tu lo qu e po de ri a se r es co lhi do pa ra
caracterizar o século XX daqui a algumas dezenas de
anos ou daqui a vários séculos, se, então, autores su
ficientemente arrojados se lançarem à edição de uma
história geral da humanidade. O que lhes parecerá
nesse momento na história do nosso século dever fo-

61
cahzar a atenção das gerações futuras? A guerra o Estas observações preliminares devem simplifi
 pro gr ess o tec nol ógi co, a p rod igi os a ev ol uç ão da civi li car a resposta à questão colocada, “Marxismo e com u-
zação material...? Parece-me que eles poderiam reter Tiisino na historia rccente . ^
como titulo O século do comunismo. Não  que o comunis Até uma data muito pr óx im a, e mesmo ate ago
mo ten ha sido o único evento do século XX, mas foi ra a história do comunismo era uma historia "quen
tóZTrm   r tC T   a™ntecimento mais original, mais
te" Não se deve entender por isto somente um a his
topico, e alem de tudo ele teve seu florescimento no tória que suscita a polêmica ou que
começo do seculo e extinguiu-se com seu fim. Esta es de historiadores - debates mu ito vivos P °d em ter lu
 pé cie de un id ad e no te m po , est a re la tiv a br ev id ad e - gar sobre tal ou qual aspecto da guerra dos Cem ano
espantosa se comparamos, por exemplo, com os vinte - mas um a história inseparável do debate político,
séculos de cnstiamsmo - que permite a historiadores trabalho histórico era utilizado no debate político, ele
quas<: abarcado dura nte s ua vida , são em si mes  era mesmo intimado a tomar l ug ar naclue1^ e ^
mas uma fonte de interrogação. Pode-se dar do fenô se não o quisesse, mesmo se pretendesse f car no seu
meno uma explicação global bastante eficaz: o suces lugar - modesto -, ele era classificado, vilipendiado,
so do comunismo, depois seu fracasso são frutos do louvado pelos guardiães do templo. Como, se reto
voluntansmo de u m peque no grupo, talvez de um só marmos nosso ponto de partida, construir
homem, Lenin e nao Marx, para estabelecer pela for-  pia, se m to m ar m ui to cu id ad o pa ra qu e com ^
Ça um a utopia na terra, uma utopia que sacrificou m i heréticos não possam vir a trazer prejuízos a emprei
lhões e milhões de homens para instalar-se e tentar tada, sem combatê-los resolutamente? Encontramos
manter-se, mas que foi capaz de ser uma alavanca aí o correspo ndente de uma das ideias-força de Sta ,
 ba st an te po de ro sa pa ra qu e ou tr os m ilh õe s de h o  segundo a qual quanto mais os sucessos do comunis
mens se sacrificassem por ela... No entanto, desta ex- mo fossem estrondosos, mais as forças hostis tendiam
 pli caç ao glo bal e teó ric a ao es tu do co nc ret o dos fato s a agredi-lo e tom avam necessária uma repressão sem
e de sua imensa diversidade, que distância! falhas, sem fraquezas e sem limites.
a C°m ° e™ todos os fenôme nos históricos dessa Certamente a história nao esta ausente, a hist
amplitude, sobretudo quando passam tal como me ria é solicitada (em todos os sentidos do termo) no
teoros no ceu das sociedades humanas, há uma espé combate de muitas outras forças políticas, mas o par
cie de mistério bem amedrontador, e o que anima o tido comunista presumia, quanto a si, naosornene
historiador, mesmo se ele não o diz, mesmo se ele não ser o proprietário de sua historia, mas amda que ela
o sente, e a vontade de desvendar esse mistério, de era um elemento tão imp ortante de seu discurso polí
descer ao fundo dos mecanismos da alma humana tico, que esta história - mesmo se ele nao o dizia assim
 pa ra te n ta r co m pr ee nd er e diz er o qu e ac on te ce u. A ou de qualqu er outro modo - ele se dava o direito e
historia nao serve, antes de tudo, para compreender, interpre tá-la ou modificá-la em funçao das circuns
 pa ra co m pr ee nd er de m an ei ra pu ra , co m o se diz, " a tâncias; em definitivo, que esta historia nao podia ser
ciência pura", antes que dela se possa - talvez - tirar escrita sem seu aval.
ensinamentos.

62 63
Esse comportamento não dizia respeito somen- "drôle de guerre"*, cercado de um certo número de
colaboradores, cuidava atentamente^para que a vulg -
ggresso
r e^ dde
e“1920
« » pertencia
? ^ " 105' ““ “ “ imed1« “ : o Con-
tanto a esse "domínio reser  ta comunista referente ao penodo 1939‘194°
se questionada. A presença bastante numerosa de m
 Z L S Z Z T *  m0Ç5° da ma‘S ■"“ »> l it an te s, d o s qu ai s al gu n s co n fu n di am P r^ v el ^ n
um colóquio de história c om um a reumao_ poliüc ,
r J deixava sentir claramente um a vontade de n ao aceitar 
mesma uma história arriscada, ela precisa ser feita ouvir as questões que perturbavam ^ certeza^ re-eS'
toTn Uma mda de de Precauções; ela não dispõe de tabelecidas. Jean Bouvier, que presidia a uHima ses
todos os arquivos, que ainda não estão "abertos" são tinh a chegado a se pergu ntar sobre a possibilid
mesmo que os Arquivos não devam ser sacralizaSos é de de escrever uma história do partido com unista^
Para se ter um a boa medida, justamente no m
semn7eUl h e T r SíUbStÍtUtOS sejam ab und ante s, nem
P facil apreciar conv eniente me nte a hie m ento em q ue se abria o colóquio, o partido cormi-
rarquia dos fatos. Esses inconvenientes, no entanto S S tin ha publicado um a obra devida . . ] « » s;
n a o sao pr0prios à histór.a do com un.smo 0 ^ tas comunistas, Francis Cremieux e Jacques Estag ,
chamada Sur le parti 19)9-1940 Era um longo panfle
vL PrOPT CqUC ° hÍstoriador do comunismo, ou d e
via se conte ntar em vestir um a história "oficial" ou se to em tom de extrema violência contra os historia
res que tinham pesquisado uma realidade queo par
PÚ bl ic as T PreSSOCS dÍretaS ° U indir etas' às denún cias tido comunista, durante mais de quarenta a n o s a s
«ca e cu lm ™ rrHa'V02B dC “ma P° derosa P“lí- farçara com obstinação, livre, por outro ^ f 
d« i!es Basta Îlembrar
ciernes. f 1“ areCamOS mais
atmosfera doou men° s orga-
colóquio mi,ir, enfim, toda uma série de pontos ate
em 1983 P d» Institut d'Histoire du Temps S . mente negados. Assim admitia-se que, con tranamen
sem a Fondation Mtlona]e des ^ ^ T a uma versão tão longamente defendida, Maunce
 pe lo C en tre de re ch er ch es d' hi st oi re des m ou ve m en ts Thorez rinha chegado à URSS no mes de outubro, de
sociaux et du syndicalisme, "O Partido comunista nos 1939 Pode -se pensar, aliás, que a violência desses ]
naU stas c o J ® n ão er a s en ão a c om pe ns aç ao d *
K ï ï S T HUr m in em e diri*ente com unista, fa "concessões" que eles pensavam nao mais poder 
sua
sua Lhorar de
de3"gloria
r ' ienne FaJOn'
quarenta qUeantes,
anos tinha durante
conhecido
a evitar.

* A expressão refere-se ao período compreendido e n


’ ? ad° C°m ° lftul°  Le P«rti communiste des années tre a declaração das hostilidades em setembro de
sombres ( 938-1941) sob  a direçâo de Jean "
Ï 9 3 S e o in S da invasão à França pelos alemaes em
^ r ' , 9r ° mr Pr°St C Jean‘Pierre Rioux. Ed. du maio de 1940.{N. do T.]
Seuil,  1986 e  Les communistes français, de Munich a
Chateaubnant (1938-1941),  Presses de la FNSP 1987 2 Coleção “La vérité vraie”,  Messidor, 1983.

64 65
r |, ,Por hlst° na «riscad a, deve-se, pois, ente nde r a co Quantos temas históricos ficaram no l™ bo po r
alta de serenidade necessária ao historiador, as pres muitos anos, porque não interessavam mais. A_histo-
sões de toda espécie, a dissimulação dos documentos ria do comunismo estava na moda quando beirava a
as afirmações delibe radam ente falsas... enxofre, ela estava no centro de um debate do qua
"arrk A P''e! f °ú n° entanto' sublinhar, que esse lado nem sempre se sabia se era histórico ou político^ O^co
arriscado da historia do presente não é totalm ente munismo parece agora ser remetido a uma especie de
especifico da historia do partido comunista; mas, na  pr é- hi stó ria . Fica mo s ali via dos qu an do fal am os de o u 
nossa epoca, foi no domínio do comunismo que esta tra coisa I Não precisamos esconder o rosto, a hl sl° "
situaçao foi a mais durável e a mais constante. Nenhu do presente é freqüentemente um fenomeno de moda^
ma outra organização política dispunha a tal ponto de Essa história é oscilante entre os dois poios da
sem rarquivos, de seus  historiadores, de seus   institutos  pa ix ão e da in di fe ren ça , m as o his tor iad or, qu e na o se
de historia, de seus jornais, de suas   editoras... deve deixar levar pela paixão, tambem nao deve su
Digamos ainda assim, num país como a Franca cumbir à indiferença. No caso que nos interessa, ele
os desagrados em que podiam incorrer os historiado deve ainda menos pelo fato de que a historia do co
res do comunismo não eram suficientemente impor- munismo não esperou o declínio do comunismo, m es
antes para impedi-los de prosseguir seus trabalhos mo que sua queda tenha mudado o contexto e as
lo * , ° coloquio 30 <luaI acabo de aludir data de  per sp ec tiv as, pa ra alç ar- se, co nt ra os ve nt os e ma res ,
83, ha menos de dez anos, anos-luz na realidade ao nível de uma história cientifica.
em funçao de tudo o que se passou desde então. Pela  No n. 1 d a rev ist a Communisme,  que acabava de
força das coisas, esses hábitos do passado se desman criar3com Stéphane Courtois, Annie Kriegel escrevia:
cham, e quando ainda se manifestam, isso não tem "O movim ento da pesquisa nã o se decreta: observa-se.
mais a mínima importância; o comunismo pode en- O estudo do comunismo francês nao podia tornar-se
rar na historia comum, tornar-se um objeto de estu- objeto de pesquisa antes que este tivesse manifestado
o semelhante a outros. E, entretanto, essa história se a estabilidade de seu núcleo constante. O procedim en
encontra agora ameaçada de outra maneira, e talvez to científico começa quando, para alem ^variantes,
mais gravem ente I variedades e variações de um fenomeno dado, rnipoe
O historiador, queira ou não, sofre os efeitos da se a necessidade de decifrar a fórmula que comanda a
na° por "Parisianismo", mas porque mesmo se lógica de sua reprodução contínua" Reproduçao con-
trabalha e pesquisa como quer, onde quer, sobre o que tínua? Podia-se ainda acreditar msso em 1982 e e
ele quer, seu esforço é mais ou meno s sustentad o pelo dentemente mais duvidoso dez anos mais tarde. Per
mteresse dos editores, das revistas, dos outros h istoria manece, no entanto, o essencial, que o fenomeno se
dores, da opinião de mod o global... Depois de ter sido "reproduziu" por muito tempo para que se possa ob-
muito quente, a história do comunismo corre o risco
de ser muito fria. O perigo atual é o desinteresse. Isso
nao interessa a mais ninguém. Esse perigo não é míti 3 1982.
4 p. 4.

66 67
servá-lo de maneira científica. A história do comunis- contra nessa abordagem. É o objeto da polêmica que,
num a obra recente,  Histoir e p oli tiqu e et sciences sociales ,
serv ir n°nga
servar ° SUfldente
o movimento para que.
da pesquisa se pudesse ob opõe Marc Lazar a B ernard Pudal a proposvto do livro
 Hiatn Em retanto o historiador do presente e do ime- deste último Prendre parti. Pour u ne sociologte histonqu e
d ato nao dispoe dessa arma inelutável que possui o T p c t .   No estilo complexo, que é para alguns uma
das diferenças entre a historia e a aenc ia p oi ,
r aç S astante
õ C a longa.
M TEle  *deve
”  *manifestar uma
“ nru- Bernard Pudal entrega o segredo do fenom eno co
encia particular, não se arriscar na prospecção em munista na França: a "fabricação" de um corpo de
 per man ent es q ue, s eg un do ele, " i n v e n t ; o u c r e 
t o Ele
sono E?e deve
r PreSCnK
tomar aque ni° ”°d'
história - -nelaío ép°„
tal como sem” ram" o partido comunista. É um estudo realmente m
 pr ej ul ga r o f ut ur o, ta nt o ma is qu e a h ist ór ia, co mo se teressante, de base biográfica até mesmo a ^ ro p o lo ^
ca Seu ponto crítico não esta na atençao dad a a esse
m e n to l« 11101053'" ° C°nteXt° 3tUaI de desmo rona- corpo d e  pe rm an en te s qu e t in h am ig ua lm en te ch am a-
men to do comunismo não deve refletir sobre as aná
lises que ele pode fazer do período anterior. d o^ a aK n çã o do s h is to ri ad or es d o — s mo p el o
r. ^rante muito tempo, a história do comunismo lugar primordial que ele ocupa - e que permite me
mo em certa medida ao fenômeno comunista sobrevi
£icam^ S a “e d0mlntoda ■*>'«“ ver - mas, como o faz notar Marc Lazar, eles nun ca ti
r *ampliou
gressivamente ela í rlao de ■ *« pro-
campo de sua pesquisa nham imaginado que o comunismo na França tinha
tornou-se uma história do poder ou dos poderei üma " 5 o - c 3 e i n ve n ta d o" p o r e ss es p e rm a n en t es . A
alise da luta pelo poder político, mas também pelo ciência política, sempre ávida por uma modelizaçao,
 po de r cu ltu ra l, na o se p od en do aliá s s ep ar ar re al m en - dava um elemento de explicação, mas nao a explica
cão O corpo de perman entes não explica as variações
dlimn?a°nr0Ut-r0;/ la t0rnou 'se' sobretudo, um estudo de adesão Sua existência tamb ém não permitiu con
dan dcf Ihp 30  w° COmunismo num* sociedade dada,
quistar este ou aquele setor operário, °
c h í m a d o % S Ua d lr " Sã° " s o ci et ár i^ c o m o is so fo i gráfico,... sempre mantido remtente ao comunismo.
ddade
a r i ^ao
n quadro a rdagens' em geral deram priori
T S nacional. Além disso, se bastasse fabricar um corpo de
risrar? Bsrsa1°pçâ0 ? el° n aciona l era ind ispensá vel e a r  pe rm an en te s ,u e . po r su a vez,
riscada Indispensável, pois como conhecer a realidade oartido comunista, como é que o modelo nao funcio
nou em países em que os operários eram, tanto qu an
S i" ,a sem aprofunda' - —  to na França, excluídos das esferas dirigentes e onde,
»d al em M - SM impiantaf“ - ™ «d grupo
t ™ Ó V regía°' Arriscada, en-
tretanto, porque isto podia conduzir a uma espécie de 5 Sob a direção de Denis Pechanslri, Michel Pollak,
d es vi o s o do ló gi co . o e s tu d o s od o ló g ic o d o K e n o Henry Rousso, Éd. Complexe, 1991.
comumsta produziu trabalhos admiriveis, mas e ” * ° 6 Presses de la Fondation nationale des Sciences
cado acreduar que toda a explicação histórica se en  politiques, 1989.

68 69
entretanto, o desenvolvimento do com unismo foi fra - partidos islandês e italiano, relativamente prós
co. Esse modelo na o serve para todos os casos, nem é  pe ros ma s cujo s laço s com o co m un ism o sov iéti co e
 pas sív el de fu nc io na r p ar a q ua lq ue r épo ca. Esse ad m i S n o comunismo em geral são cada vez mais «
rável instrumento foi capaz de frear o declínio do par - partidos cipriota, português, grego, bastante
tido comunista na França, mas não de impedi-lo Esse resistentes ao desgaste, mas cujo arcaísmo e de algum
corpo de permanentes foi a coluna vertebral de um modo ligado ao arcaísmo das sociedades nas quais eles
movim ento comunista, ele não a criou. É justamen te
n r^ r~ a 7 atUra Pd ° Criador- AIém disso' essa mter- se estabepartidos francês, espanhol, finlandês, sueco:
 pr et aç ao lev av a di re ta m en te a "n eg ar o fili açã o do falência ligada à incapacidade de se questionar sobre
PCF ao movim ento com unista internac ional"7. Uma as mutações da sociedade.
abordagem nacional e sociológica do fenômeno co Toda uma série de partidos comunistas euro
mu nista nao deve obscurecer o fato de que se trata de  pe us cu ja m arg in ali za çã o é an tig a (n or ue gu es , mg es,
um fenomeno internacional cujo modelo, o "enxer suíço, holandês, belga, dinamarquês) escapaa possibi
to veio do exterior (o exemplo mais concreto disso é lidade de análise real, sendo o ultimo o partido com
nelo vCí eV1ZaÇa°'' d° S partidos ^m un ist as decidida nista da Alemanha federal (DKP) cuja existencia e
 pe lo V c ong res so da In te rn ac io na l8). Um a ab or da ge m
quase simbólica. . c„r o~
exclusivamente nacional é mutiladora, na m edida em Para o estudo do fenomeno comunista, surge
que todos os partidos comunistas foram constituídos assim um a via particularm ente promissora a^da com 
riaT e ÚnÍC° COm ada Pta ÇÕes nec essá -  pa ra çã o d os p ar tid os na cio na is en tr e si. N ao se t ra ta de
e, alias, limitadas, em função das condições políti um estudo no nível internacional e bastante simpli
cas, sociais, econômicas de cada país. Tanto é assim cado, refle tindo grosso modo a ideologia simplificad -
que, no auge do comunismo, ao menos no nível da di ra da "mão de Moscou”, mas da valise concreta do
reção, um dirigente comunista não se encontrava des fenômeno comunista em países comparaveis. A ob
locado passando de um partido a outro, com exceção recente de Marc Lazar,  Ma ison s rouges. Les p art ts comu -
da língua e amda assim ...
nistesfrangais et italien de la Libération à nosjour", e um
H pc h ° decIínio do comunism o, as originalida-  bo m ex em pl o dess es.
des dos diferentes partidos se acentuaram, justamente  Nã o se dev eri a, le va do pe lo ím pe to , co ns id era r 
 po rq ue a au to ri da de da Un ião Sov iét ica se en fr aq ue - que a queda do comunismo permite à historia do co
c l n T t   PermÍtÍU tem ar Uma tÍpol°8ia dos Pa«idos munism o começar. Evidentemente não e nada disso
no^ ode r)35 eUr°peus9(com exceÇão daqueles então Essa história, mais do que no passado tem chances de
 po de r se r fei ta lon ge dos pr oj et or es da mo da , ela d
 põ e ai nd a de im en so s ca nte iro s de pe squ isa , e de
7 Marc Lazar, p. 121. campos de pesquisa, digamo-lo com prudência, be
S Junho-julho de 1924.
9 Communisme,  ns. 11-12, 1986.
10 Aubier, 1992.

70 71
astk Tii Um C°meÇO 6 Um fim- Aliás' cas° ^ capítulo 5
assistisse a um ressurgimento do comunismo, pode-se
considerar, prudentemente, que seria um fenômeno IDEOLOGIA, TEMPO E
de natureza bem diferente.
h is t ó r ia
~ fEu dfvia / aIar do "marxismo" e percebo que
ao o fiz. Nao ha, então, nada a dizer? Há, na Univer-  po r J ea n- Fr an ço is SIRINELLI
i n Í tu í a d a X ^ P u bl ic am r ev is ta
intitulada actuei.  Existe, portanto, uma corrente
que acredita na atualidade de Marx.
marvisiTm1?3^ ^ 6’ ^ Preciso *azer a distinção entre o A questão que me foi colocada pelos organiza
marxismo-leninismo que foi uma adaptação ou, por  dores desta jorna da de estudos é imp ortante Mas
es, uma criação nova do marxismo por Lênin e devo confessar minha perplexidade no ^m e n to de
OS   ' S£U eStUd° responder a ela, pelo menos por duas razoes. De um
 Z l n e T comunista
fenoneno - e on ã° SCSCParapropriamente
marxismo do e stud ° d °
lado, sob qual registro ten tar e s b o ç a r uma resposta. O
dito. As analises de Marx continuam interessantes e tema, de fato, tem a ver com a historiografia mas tam
uteis para certos aspectos da história do século XIX e  bé m co m ep ist em olo gia - um a vez q u e c o m o te la d e
do começo do XX, mas tiveram um papel ambíguo na fundo deste encontro , trata-se especialmente do es
istonografia dos últimos cinqüenta anos. Simplifica tatuto da história do presen te -, com a metodolog ia ,
das, adotadas de modo mecânico e em muitos casos em suma, com a concepção da história que sustenta a
inconsciente (quantos autores ficariam surpresos que abordagem de cada praticante, e da filosofia da histo
se possam descobrir em suas obras análises de caráter ria implícita ou explícita, que nutre frequentemente
marxista), elas tiveram um papel não negligenciável seus objetivos e seus métodos. De outro lado, sobre a
numa forma de esterilização do trabalho histórico questão das relações entre climas ideologicos e orien
 pr et en de nd o su bm et er to da a an áli se das soc ied ade s tações historiográficas, é possível, em primeira insta n
e nZTnH PratlCa™ente a um único tipo de explicação cia apoiar dois raciocínios exata men te opostos, um ti-
negando, ou m elho r, rejeitanto o pano de fundo das “ ria argumentos em favor da existência de correia-
explicações da evolução das sociedades e do compor-
tamemo dos homen, que são, por exemplo, o espin-
tual, a ideia naaonal...
1 Um subtítulo em forma de questão acompanhava,
tifí • iA hÍSt?ria imediata libertada de uma bússola ar
tificial so pode gan har com isso. de fato, o título que me era proposto: Como um cli
ma ideológico pode influir sobre as onentaçoes hist o
riográficas." Para responder a isto, afirmemos que ,
conforme o desejo dos organizadores, conservei nes
Jean-Jacques Becker  ta contribuição escrita o conteúdo mas tambem o es
tilo de minha comunicação oral.

72 73
t à ofracão argelina sua tintura própria.2É tam-

E = r r = = =
 pre sid iu p r ° rv an a *lue ° cI™ a "ide oló gic o" qu e
ídeolog . , observMeur, por exem-
mais amplamente no m ovimento das idéias da época X : C e " v a L nte.en 6 . n e n o s d e s ^ ã o
deP° iS Chamar™ “ de ^

" * ” £ £ , " £ £ «undo descreve.se desde então

s ão i n d i s c u t S ePOCaS ' “ i n di ví d“ “ - “ * e fe it os
nr> ^ fadI avaJiá-los? Quatro dificuldades pelo m e há menos de uma década por Pierre Goubert. Quan
nos, podem ser enumeradas de saída 7o a esta larga parte do século XX que eu vivi sinto-a
sobretudo através de minhas lembranças, mmha? ^ a
ções vivas e minhas duras análises; nunca tem che g^
do à idéia de escrever uma historia com elas, mesm

2 Quando de uma jornada de


J t i tu t d'histoire du temps r * en^ ^ ^ 2 Í
 A*  1q«8 sobre os intelectuais e a guerra da Argena,
histori.dores presentes

£ ^ “ ó8i? a su m a * ^

9?0  f n   Í ,Stonadores- nascidos no curso dos anÓs


í í ^ r r a r s ^ ^
S ip T r e r & r r r r ”“ Complexe 1991). Sobre os problem as de geraçao,
nemüto^me remeter em especial a um de meus arti
“ d í a r r d° " m d° ‘ “ gos sobre o tema, “Geração e historia pobüca.
Vingtième siècle. Revue d'Histoire,  n. 22, abnl-junho de
1989.

74 75
0 0 6 7 9  / 0 °

que com brevidade, e confesso compreender mal fere ao estudo dessas relações, está provavelmen te em
como outros ousaram, senão por vaidade, por interes outro lugar. Ela reside na constatação de que ess asr ^
se, ou por gosto pela facilidade"’. É o valor dos traba- lações não são unívocas. Pode acontecer, de fato, que
mos de historia do presente que dará uma resposta. seiam as orientações historiográficas que, po r sua vez,
Observemos somente que as supostas relações entre modelam um clima ideológico ou ao menos con ri-
os climas ideológicos e as orien taçõe s historiográfic as -  bu em pa ra m ol dá -l o. Assi m, a osc ilaç ao da hi st or io 
nao sao apenas matéria para reflexão e para jornadas grafia da Segunda G uerra mundial, no limiar dos anos
de estudos. Elas continuam a entabular processos e 1970, era certamente em parte produto de um con-
nutrir polemicas, processos, é verdade, cada vez mais tex to5- mas essa oscilação, por sua vez, pesou so re
raros e polemicas cada vez mais atenuadas. Uns e ou um certo número de grandes debates cívicos e sociais
da segundametade dos anos 1970- e desempenhou,
tros, no fim das contas, não constituem senão uma
assim, um papel na constituição de um contexto ideo
imagem retm iana daquilo que foi, no passado, o esta
tuto - ou antes a ausência de estatuto - da história do lógico dessa década. _ 
Mesmo enumeradas essas dificuldades, e preci
 pr es en te 4. Ma s a ve rd ad eir a dif icu lda de, no qu e se re-
so seguir adiante. Retomando o enunciado proposto,
"Ideologia, tempo e história", eu procederei em duas
fases. Primeiro questionarei o papel do contexto his-
3 Pierre Goubert,  Initiation à Vhistoire de la France, tórico, do "tempo" do historiador, depois a influencia
Paris, Tallandier, 1984, p. 9.
do clima ideológico. Teremos compreendido, a propo
4 Numa epoca - não tão longínqual - em que a his sição não recairá sobre o estatuto da historia do pre
toria política, igualmente, sofria de um tal estatuto
mcerto: ha menos de trinta anos, por exemplo, um sente, objeto de uma outra contribuição, mas sobre as
relatorio publicado pelas edições do CNRS formulava relações do historiador com seu presente.
um diagnostico segundo o qual 'a política não apare
ce mais quase nada, nos trabalhos recentes consagra
dos aos tempos modernos e contemporâneos, senão
na analise do comportamento dos grupos sociais
quando das grandes consultas eleitorais ou das mu
danças de regime" e "praticamente desapareceu dos 5 Cf. a obra de Henry Rousso apontada na nota
trabalh os relativos à Idad e Média "(Jean Glenisson seguinte; cf. tamb ém Jean-Pierre Azema, Vichy
em  La recherche historique en France de 1940 à 1965  Pa- et la mémoire savante: quarante-cmq ans
ns, Editions du CNRS, 1965,p. XXXVI.) Sobre essa d'historiographie" in Vichy et les Français,  sob a di
concomitanaa entre a revivescência da história polí reção de Jean-Pierre Azéma e François Bedarida,
tica e o reconhecimento da história do presente per- com a colaboração de Denis Pechansky e Henry
mito-me remeter o leitor, em complemento ao pre Rousso, Paris, Fayard, 1992, pp. 23-44.
sente texto, a minha contribuição - i e r etour du po-
litique - Comment écrire l ‘histoire du temps présent  6 Henry Rousso,  Le syndrome de Vichy. De 1944 à nos
JR°.™a ^ de est udos em hom enag em a François  jours,  2. ed.. Le Seuil, coleção "Points", 1990.
Bedarida, 14 de maio de 1992, a publicar.

76 77
O " TEMPO" DO HISTORIADOR tanto mais notável quanto não diz respeito a um his
toriador do presente, mas a um medievahsta .
/! O historiador trabalha sobre o passado, mesm o Outro exemplo, Antoine Prost, que, na intro
/que proximo, isto é, sobre o que está abolido. Não que dução de sua tese dedicada aos antigos combatentes
ele conceba sua prática unicamente como uma espé- na sociedade francesa do entre-guerras, diz também
cie de   retorno das cinzas do passado a um presente até que ponto sua participação na guerra da Argélia
" ! que s,e ria totalmente desconectado daquele. Bem ao teve um papel em seu interese e depois na com preen
contrano, esse historiador, qualquer que seja sua es são de um a ou tra geração do fogo5, aquela da G rande
 pe cia lid ad e cro nol ógi ca, be be em se u pr es en te e, lo n- Guerra. No calor desse conflito, também, forjaram-se
8u f ensar que "é   de nenhum tempo e de país ne fortes reflexões de historiadores. Relendo, por exem
nh um ”, ele sabe que está ligado por múltiplas fibras a  plo , a li ção in au gu ra l d e L uci en Fe bv re na Um ver sid a-
seu tempo e a comunidade à qual pertence . Podería
mos, de sobra, multiplicar os exemplos. Limito-me
aqui a constatação, significativa, do impacto da guer
ra sobre a obra de grandes historiadores, trabalhando 8 A primeira frase da introdução de sua tese j a evo
de resto, em domínios cronológicos afastados uns dos cava por antífrase, "a experiên cia vivida : Se eu
deixo de lado o essencial, ou seja, o papel das expe
outros. Em dezembro de 1991, Philippe Contamine, riências vividas, o peso dos problemas contemporâ
quando da cerimônia de sua recepção no Instituto, as neos, na origem desse livro coloca-se a leitura de  A
sinalava explicitamente em seu discurso que, perten arte militar e os exércitos na Idade Média na Europa e no
cendo a geração da guerra da Argélia, e tendo servido Oriente Próximo "(Estado e sociedade..., ref. cit., p.
na Argélia, esse episódio de sua vida tinha tido um influência do livro de Ferdinand Lot não foi, portan
 pe so na esc olh a d e se u te m a e s eu ca m po de est ud o: a to mais decisiva, de fato, que suas "expenenci as vi
guerra dos Cem Anos7. A correlação entre o historia- vidas" - sem dúvida Philippe Contamine pensa t am
 bém na de seu pai Henry Contam ine, grande espe
or e sua própria história - mesmo se esta só consti cialista em história militar e antigo combatente na
tui um parâmetro - é, portanto, real aqui, e o fato é Grande Guerra - nem mais decisiva que o impac
to dos "problemas contemporâneos".
9 Antoine Prost,  Le anciens combatants et la societe
 française 1914-1939,  vol. 1,  Histoire, Paris, Presse de la
Fondation nationale des sciences politiques, 1977. A
L ?hlIlP/ e C°ntamine' Guerre, Eta t et société à la fin du introdução ( Op. cit., p. 1) começa com estas palavras
 Moyen Age. Etudes sur les armées des rois de France, 1337 - "É preciso confessá-lo? A idéia desta obra nasceu na
1494, Paris, La Haye, Mouton, 1972, XXXVIII - 75 7  p Argélia". E o autor relata: "Por mais breve e limitada
Como síntese dos amplos e fecundos trabalhos de que tenha sido, minha experiência argelma me per
Philippe Contamine, poderemos reportar-nos a seus mitiu imaginar o que foi, na sua rea idade vm da a
capítulos no tomo I da  Histoire militaire de la France guerra de 1914" (ibid.). A mesma palavra, portanto,
 pubhca da sob su a dir eção (Paris, PUF, 1992). que Philippe Contamine, "experiência".

78 79
de de Estrasburg o no reinicio de 19 1910, comp reend e-  finisse nt,19 83) ,   e em que a Europa do Oeste oscila en
se melhor por que , dez anos mais tarde, e no decur tre uma atitude de firmeza - instalaçao dos mísseis
so dos anos 1930, os  Ann ales   trouxeram um firme in Pershing - e tentações de fraqueza. Ora, os jovens in
teresse pela história de seu tempo. telectuais sobre os quais eu trabalhava tmham sido,
, . . A Portanto' um fato incontestável: o contexto nos anos 1930, confrontados com a ascensao do feno-
historico influi sobre as orientações historiográficas, e meno totalitário e com as provocaçoes hitlenanas.
isso quaisquer que sejam os períodos estudados. Mas Diante desse duplo desafio, providos de um a especie de
as relações entre u m e outro n ão se restringem a tal in-  ba ga gem ge né tic a pac ifis ta he rd ad a de seu s en ga ja 
tluencia. Tambem a observação desse contexto históri mentos da década precedente, eles se encontrarao di
co ajuda o historiador na sua compreensão dos fenô lacerados entre fidelidades tornadas contraditórias. Se
menos que estuda. Permito-me, a esse respeito, intro gurame nte, o contexto histórico no qual eu circulava e
duzir uma nota pessoal nesse texto. Para a preparação a correspondência de idade com os atores estudados
de min ha tese, eu trabalhei sobre os alunos dos cursos me ajudaram a compreender e perceber melhor a in
que preparam para a École Normale Supérieure e nor- tensidade dos importúnios aos quais foram submetidos
malistas dos anos 1920, isto é, com jovens que eu pe esses atores.
gava com a idade de 18 a 20 anos e que seguia em  Nes se i nv en tá ri o de rel açõ es en tr e co nt ex to hi s
seus engajamentos cívicos, no curso dos anos 1930 tórico e historiografia, a prática comemorativa é cru-
quando eles tinham entre 25 e 35 anos“. Ora, os onze dal. De certo modo ela é, de fato, um fenomeno de
anos de preparo dessa tese fizeram com que eu traba contexto histórico, uma vez que a decisão de come
lhasse sobre esses jovens intelectuais qu ando tinha en- mo rar é um a decisão política. Ao mesm o tempo ela
engendra, por indução, orientações histonograficas
trC 2a C? 6 an0S- Havia' P°rta nto, já uma concom itân
cia de idade, observação em si banal se não se acres que podem, por sua vez, influir sobre o contexto cívi
centa que essa tese foi preparada en tre 1974 el985 co, ou, pelo menos, contribuir para esclarece-lo. Na
 pe rí od o qu e viu su rgi r a pa rt ir de 197 9 um a "se gu nd a sua contribuição ao primeiro tomo das atas do colo-
guerra fria". É a época em qu e a União Soviética pare quio internacional organizado em 1990 pelo Institut
ce ir de vento em popa, nas relações de força geoestra- Charles d e Ga ulle12, Pierre Nora insistia na densid ade
tegicas (Jean-François Revel, Comment les démocraties do fenômeno comemorativo em três ou quatro anos:
milênio capetíngeo, bicentenário da revoiuçaoem
1989, centenário do general de Gaulle em
10 Lucien Febvre, "L'histoire dans le monde en  pr op ós ito des se ce nt en ár io , ele m os tra va ta m be m
rumes", aula de abertura do curso de história moder como um a reflexão histórica sobre o gaullismo, vivih-
na na Universidade de Estrasburgo em 4 de dezem
 bro de 1919, Revue de synthèse historique,   t. XXX n 88
fevereir o de 1920, pp. 1-15. ' ' ' 12 Pierre Nora, "L'historien devant de Gaulle" em  De
11 Jean-François Sirinelli, Génération intellectuelle Gaulle en son siècle,  1.1.,  Dans la mémoire des hommes et 
Khagneux et normaliens dans l'entre-deux-guerres, Paris des peuples, Paris, La Documentation française - Pion,
Fayard, 1988 (tese defendida em 1986). 1991, pp. 172-178.

80 81
cada pela efervescência comemorativa, podia desem Com a condição, seguramente, de saber abs
 bo ca r n u m "di agn ós tic o so bre a id en ti da de po lít ica da trair-se quando u m "tempo" mal dominado pelo his
França e finalmente (em) uma m aneira nova de enca toriador leva ao risco de induzi-lo ao erro, falseando a
rar as relações dos franceses com o poder e su a própria  pe rs pe cti va . Ass im, no lim iar dos ano s 1950 , qu an do
representação, numa palavra, com seu passado, seus a direita francesa parecia uma corrente durável e, tal
sonhos e sua memória". A comemoração, produto - vez, definitivamente enfraquecida, René Rémond fa
diferenciado - de uma história, pode estimular e reno zia,’no mom ento de começar  La Droite en France,   esse
var um a historiografia que por sua vez pode influen esforço de abstração com relação à percepção comum
ciar na história ou, pelo menos, na representação que da ma ior parte de seus con temp orâneo s14. E quando,
dela se fazem os franceses. O rastro de um aconteci em junho de 1951, a direita moderada obtém mais de
mento ou o rastilho da ação de um h omem de Estado uma centena de deputados na Assembléia e volta a ser
são amplificados pela comemoração e, assim reativa um ator essencial do jogo político, é na con tra-corren-
dos, podem agir de novo, indiretamente e por canais te de uma outra opinião difundida, a do enterro defi
complexos, sobre a história de seu te mp o.13 nitivo da clivagem esquerda-direita, que ele precisará
Tudo o que expus acima demonstra, de um ir. Assim Jean-Jacques Servan Schreiber escrevia em
lado, que o papel do presente no ofício do historiador 1953, a propósito dessa clivagem: "Fora os parlam en
é inegável, mas que, de outro lado, as relações presen- tares, mais ninguém compreende o que isto quer di
te-historiografia não são unívocas. E, portanto, em zer. Na verdade, é um a língua morta" (Le Monde,  24 de
vez de formular votos piedosos para que surja uma  ja ne ir o de 195 3). O h is to ria do r é t am bé m aq ue le qu e,
ciência histórica que, tal como um a pepita, poderia às vezes, não dá crédito automaticamente às crônicas
ser limpa da ganga lamacenta da história circunvizi de uma morte anunciada, sabendo por experiência
nha - votos estes que estariam mais para o feitiço -, que os fenôm enos históricos são, salvo fratura revolu 
mais vale assumir o que chamamos comumente de cionária ou militar, de forte inércia e, portanto, de
subjetividade. A consciência dessa subjetividade per combu stão lenta 15. Quan do o "tempo" no qua l ele cir-
mite ao mesmo tempo freá-la - o historiador, insisti
mos nisso, dominando seu "tempo" com seu "ofício",
no sentido técnico do termo - e como vimos, utilizar- 14 A obra foi escrita "entre 1951 e 1953"(cf. o "Pre
se dela quando pode ajudar na reflexão histórica. Há, fácio da quarta edição",  Les droites en France,  Paris,
 po rt an to , de fat o, um a esp éci e de dia lét ica a m an te r Aubier, 1982, p. 9).
com o contexto histórico. 15 A observação continua válida para uma outra
 Histoire des droites, minha e de Eric Vigne, coletiva, co
meçada em 1987-1988, num momento em que nu
merosos observadores concluíam pela provável co
13 Sobre a produção suscitada pelo centenário de De  bert ura do fosso entr e esque rda e d ireita (cf. sobre
Gaulle, cf. o recenseamento ao mesmo tempo que a este ponto minha introdução geral no tomo I dessa
análise propostos por Oscar Rudelle, L'année De  Histoire des droites en France,  a publicar, com os dois
Gaulle en France", Tocqueville Review, 1992, a publicar. outros tomos, no outono de 1992 pela Gallimard).

82
S E f,
- . “ ■ ü t s r r r - * " —  
eSC°la “ " i o X e m ntais atenta convence do
C c w p i g u r à ç õ e s id e o l ó g ic a s contrário: por outros canais que não as e^ na8e
t e n d ê n c i a s   HISTORIOGRÁFICAS
universitárias, a Action Française foi, no entre gu
ras um pólo historiográfico impo rtante. Pele eco e
nela difusão de seus Grandes Études Histories,  a L vra
i d e o I ó Í o r Spe, í d 0 l T ° q u e s e i ns er em os cI ím as ria Arthème Fayard era um vetor essencial daquela.  A 
cias nJ L fe ' m em 'gualmente nas tendên- í s t e respeTto hlve ria um belo estudo de historia polí
r q ua la ue r i ^ T ^ * hÍSt0ri8rafia? A nte s m es mo tica e cultural a desenvolver, sobre esse lugar, em tor 
sitiva Uma . , f gaçao' PeIa Wgica a resposta é po no do papel desempenhado por Pierre G axotte. E a
sitiva. Uma ideologia, com efeito, fornece uma grade
fluência de um homem como Jacques Bamville, ate
inteleo bíida0dr Und°' SUStentada Por princípio de . 1936 deve ser reavaliada e provável
sua mo rte em 1936., deve s leitura , por 
 pl tó a m e n í * P ° rt an t° t3m bé m' « p l íd ta ou im -
h I t J S dasehis,ÓIia'
T L T U ' e'T qua Desde
cia, con -•
frnnt P<>r essên
um «1 s e Z o T h i s t ô í há T “ “ “ ' °U "*
S,historia
. Scaoe Stínee a'-,i scompete,
= noSdespertar
S ímeicc
S
£ * - pata « c u + r jr s s r z r : ^ capenng . / , ^ js com a Sorbonne
várias   ct,=
Ideologias que impregnam uma sociedade e as nreo
cupaçoes científicas do historiador. P históricas sairão, de resto, alguns historiadores híb
d ^ d e g r an de talento: Philippe  Ariès, segur ament e,
 Na o d ese nv olv ere i, no en ta nt o, o ex em pl o t ón i
co do marxismo, tratado, aliás, no decorrer desta ior  ou Raoul Girardet. E Poder-se-ia
 vaç ão em outros domín ios que nao a his toria, em
~
 Z ^ eS*"dOS- Há * * « n t e . Z S ad a
emre uma ‘deologia em posição de forte  pe cia l com Ge org es Du m éz il17.
r S S r ™ de,em r da • ‘ ^ 4 l« u d e “ s
res ,o aküm â* “ his,OTM« « pedindo, de 16 philippe Ariès, Uh historien du
Z aL m Z , PeSqU‘Sa aProf™<Ma e um en laboração de Michel Winock, Pans, Le Semi, 1980^
quadramento em perspectiva cronológica - e aiüumas
17 Em abril de 1920 aparece o primeiro numero
c io T h S S r B ^ U"ladÍsciPlta‘>d™n'fica, aqui no  Revue universelle, cujo diretor é Jao*ucs
rica au am TS “ complexa, de fato, mas tão , . rhpf e Henri Massis. Publica-se nela espe
iV ”Sm“ emos é ■>caso da influência
maurrass,ana. Na medida em que a Action Brançaise

84 85
;. , Para £u em se dedíca a registrar as relações entre contemporâneos. Em Paris-Montpellia E m m a n u d L e
Roy Ladurie conta sobre um itinerário intelectual e
é  a S d fm a í“ ’ — ^ ' °
e ainda mais significativo,
da “ SIÓIia e“ n ™ k a
uma vez que o ambiente científico levando o jovem professor agregado do hce
 jdeolo gico engloba, certamen te, a esfera da ec^ nom k  de Montpellier, em suas pesqmsas sobre os « m pone-
E a literatura sobre o tema é superabundante. Remete- ses do Languedoc na época moderna, a passar
remos, por exemplo, em razão de sua publicação re- Marx para Malthus. Mas ele narra também u ma evo
cente, a um artigo de Hubert Bonin cujo início lembra lução política e ideológica paralela, marcada pela ade-
com conhedmento de causa que «a história e c < 5 £ rào ao comunismo e depois pela sua rejevçao em
ca nao e 'neutra', pois reflete as correntes de pensa- 19 56 “. outro exemplo, cronologicamente mais proxt-
d o que atravessam a sociedade"'«: aos anos 1960 e mo: a reflexão atual de Maurice Agulhon sobre a Re
, urante os quais numer osos historiadores da  pú bli ca , su a im ag éti ca e s eu s sím bo los 2 be m com o so 
economia, nutndos de marxismo, atacavam ainda ex  br e su a hi st ór ia re ce nt e23, in sc rev e-s e ce rta m en e no
 pr ol on ga m en to de su a ob ra an te ri or sob re a a c u lt o a
19 8 o T ente °U na°' ° Capitaíismo' sucederam os anos
1980 que viram, paralelamente à corrosão do marxis- cão da democracia republicana no seculo XIX, mas
mo, desenvolv eremse pesquisas que, por vezes reabi também é nutrida po r um a meditação implícita sobre
a cidadania e sobre a identidade republicana que,
m r al eS 1 t am en te 3 em pr esa e a e co n° m ia de
 Z T â ii f COm° U rêsistible déclin des sociétés
industnettes de François Caro n é, nesse sentido um
20 Emmanuel Le Roy Ladurie Paris-Montpellier, PC-
^a nr i St0nografíco significativo. Da mesma forma PSU 1945-1963,  Paris, Gallimard, 1982.
e^ h ltó r ia ^ T Asse.mbléia GeraI dos especialistas 21 Sobre o choque de 1956 sobre essa geração inte
m historia contemporanea do ensino superior e da lectual, que contava vários historiadores postenor-
 pes qu isa , em no ve m br o de 1991, n a qu al Fra nço is mente levados a adquirir grande notoriedade, d.
Jean-François Sirinelli,  Intellectuels et passions
S ^ T Mto u m a ,re s c o d a h lst“  françaises,  Fayard, 1990, capítulo VIII, "Un aut°™ne
1956" Para um outro depoimento descrevendo par
ticularmente um itinerário político e um percurso
2 ^ 2 ^ * as con“ científico, cf. Annie Kriegel, O que j ’ai cru comprendre
Paris, Lafîont, 1991, especialmente a terceira parte,
Essas relações entre ideologia e historiografia “En communisme" e as paginas da quarta parte de
perceptíveis num certo número de domínios, o são dicadas à "histori adora" e à "professsora .
gualmente na obra de vários grandes historiadores 22 Maurice Agulhon,  Mariann e au combat  e Marianne
au pouvoir, com o subtítulo  L’imagerie et la symbolique
républicaines de 1789 à 1880 puis de 1880 a 1914,  Pans,
U D é b a ^ ^ '  *MT le ? entrePrise dans 1'histoire", Flammarion, 1979-1989.
T of ' -• 67' novembro-dezembro de 1991, pp i67.
185, ataçao p. 167. ^ 23 Maurice Agulhon,  LaRéPubli^ Z ^ m l h Z e
François Miterrand (1880 a nos jours),  Pans, Hachette,
19 Paris, Perrín, 1985.
1990.

86 87
mesmo se não é suscitada por ela, insere-se em nossa quietação, cujos debates fazem eco largamente ha
terrogaçao coletiva de fim de século em to rno da cri guns anos. Não cabe aqui registrar os sintomasde tal
se do mod elo rep ublic ano 24. inquietação e particularmente a crise de identidade
Ao impacto das configurações ideológicas na Hns intelectuais que dela decorre .
 pr od uç ão hi sto rio grá fic a ac res ce nt a- se P2 a “ Sendo assim, essas correlações entre um a epoca
M u" n d f t^
S é ° SaÇÕeS" ktÍVaS * uma »odedade. e as tendências historiográficas que dela se desdo
Cão n ' por Vezes' sensível nessa pro du  br am , são , às vez es, m ui to co mp lex as
ção O sucesso atual da história cultural, que conhece interpretação dos progressos recentes da historia das
ma abertura em história contemporânea depois de e te T é por exemplo, um bom reflexo dessa comple
x i d a d e ’ Esses progressos são inegáveis. Pouco tempo
* n 0b re “
L f eXpIlCa'se Provavelm ente, de resto nela d è p l d« seu nascimento, o Insttm. d-ffistoire moder-
do m f enCla dCSSeS d° ÍS fat0res- De um ]ado, o recu o ne et contemporaine (CNRS) publicava em 1980 um
ca ™ ° engendrou uma libertação historiográfi «GUia de pesquisa" dedicado à Prosopographie des elites
ca das supe restrut uras", relegadas até então ao plano  françaises (XV I - XX siecles)™, cuja leitura, doze ano s de-
e secreções do substrato sócio-econômico o único  p o i / T á be m co nt a das cur ios id ade s co nv er ge nte s qu e
digno de interesse. A esse resneitn , w * ' •' ymco
nartiiViü r. , • . respeito, a historia cultural despertavam então sobre essas elites. Na mesma data,
partilha com a historia política essa reabilitação indu a Association for the study of modern and contempo-
da por uma deglaciação ideológica. Mas só o fator  rary Prance consagrava na Grã-Bretanha seu “ loquio
S n t “ í”iCa
S T éE necessa “ “ W de outro lado hiSS“sea fundador às "Elites en
cultural. no perguntar-se,  _no s m ais ta rd e, o In st it ut d'H ist oi re du Tem ps P re se nt
essa bonança nao é igualmente o reflexo de uma in tcNRS) e a École française de Rome organizavam um
deínfção°eCoT ÍVa “ f 1“ *3 com inquietação sobre a
Esta rL a Ug3r cultura em nossa sociedade
Esta, marcada por uma potencialização da imagem e
diiluente
ue™c Vdo
de„Po
rhfrr Slcultural.
objeto ^
T eMeDe onde uma surda in- 25 ,sobre i : e‘r « s . u X
 p m T S v U d ,  Notre Sücte
r s L '

• £ £  " 1 ”
S irinelli, ' l a ü n d es m t d l c a u d i i r W . s ^ K ™ '
ïc uf oaddesde
e re Poo KPeCtiVa dCSSeda
modd° ^ b República
li c a n o emrf um tomo XXVIII,
europ éenne des sciences sociales,
secuto, enraizamento terceira i.
153-161. , ,
26 Prosopographie des °
Guia de pesquisa, IHCM, Pans, CNRS, 1980.
27 Jolyon Howorth e Philip G. Cemy (dir.) Elites in
P r a n T Origins, Reproduction and Power,  Londres,
Prances Pinter, 1981.

88 89
encontro cientifico franco-italiano consagrado às eli influência da obra de Pierre Bourdieu . Ora essa in
tes nos dois países28. Depois virá o tem po da s teses de  fluência e essa obra são, por vezes, interpretadas como
fendidas sobre esse tema, aquelas, por exemplo, de uma forma se não de neomarxismo, ao menos de
François-Charles Mougel e de Christoph e Charle res reinserção de fortes determinações ou correlaçoes so-
 pe ct iv am en te em 198 3 e 19 86 ” Pr ogr ess os ine gáv eis , cio-econômicas na análise. A avaliação de um contex
 po rt an to , de no ss o co nh ec im en to das eli tes fra nce sas to ideológico é, pois, sempre complexa e as modifica
ou estrangeiras, mas difíceis de interpretar. De um ções nesse domínio devem ser observadas com cuida
lado, esse interesse científico pelas elites, depois de dé do, uma evolução aparente num sentido podendo es
cadas em que as "massas" estiveram no coração da conder um outro, circulando em sentido inverso.
historia social, e bem revelador da mudança de para
digma teoló gic o- Mas, de outro lado, alguns desses O historiador é bem de seu tempo e de seu país.
trabalhos sobre as elites mostram o impacto de uma Para um jornalista de televisão que o interrogava re
historia muito sociologizante, particularmente com a centemente sobre a objetividade em historia, o histo
riador americano Eugen Weber respondia maliciosa
mente que não havia objetividade, so profissionalis
mo 31 Através do anglicismo da resposta, o proposito e
28  Les élites in Francia e in Italia negli anni quaranta, claro: não há senão o "ofício". Só ele permite ao histo
Mélangés de l'Ecole Française de Rome - Moyen riador, calçado pelas regras do método e do rigor que
Age-Temps Modernes, tomo 95, 1982,2.
devem permanecer as suas em todas as circunstancia
29 François-Charles Mougel, Elites et système de de sua prática e em todos os períodos estudados, utili
 pouvoir en Grande-Bretagne 1945-1987,   Talence
Presses Universitaires de Bordeaux , 19 9 0 - zar, nessa m esma prática, as diversas temporalidades -
os ritmos diferentes segundo os objetos estudados - e
188oTç
 Ioo0- Pnn e  pPans,
Î900, Cha iïFayard,
'  Leî 1987.
élites de la République ma nter relações de geometria variável com seu prop no
30 A mudança de paradigma ideológico e o desblo- "tempo". Em outro s termos, pôr-se a escuta do prese n
quao concernente às elites também tiveram prova te para iluminar uma volta para o passado, mas evitar
velmente um papel no florescimento recente da his os efeitos não dom inados do eco entre esses dois ní
toria dos intelectuais. Mas acresce-se a isso provavel veis. Quan do tais efeitos vêm interferir sem controle
mente o "contexto histórico", na segunda metade entre o passado e o presente, mais tarde o julgam en
dos anos 1970, a crise dos intelectuais franceses que to do futuro revela-se impiedoso, pois todas as obras
 banaliza ndo pouco a pouco o lugar desses intelec-
ais no espelho social, deixa de fazer dele um obje- muito impregnadas de presente, ou nas quais o pre
to mtimidador para o historiador. Não retomo aqui a sente é mal controlado pelos autores, mal passam a
analise ja feita sobre esses pontos em minha contri ramp a da posteridade. Nada envelheceu tanto por
 buição, Les intell ectue ls", em Pour une histoire exemplo, como algumas histórias militantes no domi-
Politique,  sob a direção de René Rémon d, Paris Le
Seuil, 1988, pp. 199-231.
31 Caractères, FR3, 31 de janeiro de 1992.

90 91
° h ,s tM a d ” - «—   capítulo 6
A VISÃO DOS OUTROS: UM
MEDIEVALISTA DIANTE
Jean-François Sirinelli
DO PRESENTE
 po r J ac qu es LE G OFF

O presente me interessa antes de tudo como ci


dadão, como homem do presente, mas diante dos
acontecimentos, dos fenômenos, dos problemas im
 po rta nt es , m in ha rea çã o é a de um hi sto ria do r, de um
aluno de Marc Bloch. Esclarecer o presente pelo pas
sado e o passado pelo presente. O passado do qual m e
ocupo essencialmente é, evidentemente, aquele do
meu saber e de minha prática de historiador, isto é, a
Idade Média. Com certeza, não esqueço que "minha"
Idade Média ultrapassa largamente o período tradicio
nalmen te chamado Idade Média, em particular desde
os programas escolares e universitários do século XIX:
do fim do século V ao fim do XV. Eu acredito numa
longa Idade Média, que iria do fim do século II até a
Revolução Francesa, a Revolução Industrial, mas me
aterei à Idade Média tradicional. De qualquer manei
ra, considero a continuidade histórica desde a Anti
güidade até nossos dias.
Mas sem que eu me coloque também clara
men te a questão: houve na Idade Média fenômenos
históricos que esclarecem o presente imediato, o que
se passa hoje me perm ite melhor com preender o que
aconteceu na Idade Média? Essas duas questões com
 pl em en ta re s co ns ti tu em pa ra m im um a esp éci e d e l ei 
tura instintiva da história imediata e de minha refle
xão sobre ela.

93
reflejT ó W a“ ? vl t r; * "í*” *■ » de comparação. O primeiro problema evidente é que
-r.se,  c e n a J n t ^ Z ™ ^ ^ ^ é preciso recolocá-la nas relações entre cristãos e mu 
também   conexas que sãn a h ,duas Preocupações
çulmanos na longa duração. É preciso remontar às
cruzadas? As cruzadas foram um argumento para a
resistência e a propaganda iraquiana, o que poderia
modificar minha leitura das cruzadas? Considero-as
do do m o v i m e n t o p , historia e o estu- como um pseudo-acontecimento sem grande alcance
ma nas; não há histór ia mU<?an.Ça das so«e da des h u- na longa duração, mas se elas fazem parte negativa
mente da memória coletiva muçulmana, isto muda a
quais foram as grandes veadas  Mm S   precisamente' importância histórica das cruzadas. Em seguida, o lu
< -.« W eà ,sitnarSr.
tecimento n t Z i rur i e Z c concerne
ê r n “ ao
r acon-
“" “ gar de Israel: é ele, nesse caso, o sucessor do império
latino de Jerusalém considerado por Prawer como um
me coloco mais pa rõcu lal™ J ra“sta'™ estado colonial?  No   domínio econômico as motiva
ções econômicas das cruzadas foram fracas na Idade
Média. Hoje a importância do petróleo é enorme. No
Gostaria de tasisãr ” 'bre õ u o l T j domínio m ilitar não há um  desequilíbrio tecnológico
do pres ente , do hoie (P hp u~ esse aSuühão
outro discurso ) é ni™ •ma ' mas este  s^ria um nas cruzadas. São Luís em Joinville é prova disso, os
Cruzados ocidentais temiam o fogo-grego lançado pe
flexão de,! S t ó r r ^ ,nlnh* - los muçulmanos sobre os exércitos cristãos. Hoje a
m e nt e m in ha s i n t e r n e t j re to ma r co nstan te -
enorme superioridade dos ocidentais em mísseis in
confirmá-las ou corrigi -las e^no t Média   para verte a situação. Mas foram dois problemas que pro
os especialistas do p esent e da T ^ ' P " * vocaram em mim o historiador da longa duração.
 po uc o co mo re co rr o l “ , St0 na ,m ed ia ta um
Diante da Guerra Santa, o Djihad dos muçulmanos, a
aos economistas ou aosjuristas° Não*' ^ *ocid,08os' noção que tinham os cristãos, de guerra justa porque
entre tanto pois o sentiw a   completamente,
dirigida contra os infiéis, não mudou hoje? Não há
mais referência e a noção de agressor como justifica
“ “ 05 “““ “ Dou alguns exempte ção tornou-se essencial. Minha segunda preocupação
expressou-se em termos do ofício. Quais foram, como
foram recolhidas as fontes de informação? Para os be
P rimeiro o s a c o n t e c im e n t o s ligerantes primeiro, para os jornalistas em seguida,
enfim para os telespectadores. Que diferença haverá
entre as fontes da história imediata e as do historiador
reiaçâo .T aIguIls
quanto ;‘S a pontos
^ r cmais
 Lou t u “ r r om do futuro?

95
Fa t o s,d o c u m e n t o s,mídias Fenômenos de fundo
A reflexão aqui nasceu da paród ia de processo e o que me inquieta e me interessa mais e o m-
execução de Ceaucescu. Que método pa rt J ar de tegrismo. O que é legítimo pôr nessa etiqueta? Pare-
tica de uma emissora, de um programa de televisão ce-me que mesmo que os integrismos religiosos apre
 po de -s e en ca m in ha r? Nã o ob ed ec em elas ta m bé m às sentem grandes diferenças, é preciso considerar em
questões comuns do historiador: quem? quando? conjunto, integrismo cristão, integnsmo judaico e i
o nd e? co m q ue fim ? 0 q ue é q ue ^ a tegrismo muçulmano, ainda que este seja o mais im
 po rt an te e o ma is in qu ie ta nt e. Ma s o qu e diz er dos to 
 Nã o é pre cis o pe di r ma is crí tic a e ho ne st id ad e talitarismes religiosos e ideológicos, da intokranci^
cntica aos jornalistas, historiadores do imediato?  Nã o é pre cis o re m on ta r a sua s rai ze s m edi ev ais ? Na o
Mai->geralm ente o historiador não deve notar se deve considerar que o confronto entre ortodoxia e
e talvez, deplorar que, como bem o mo strou Pierre heresia emitiu intolerâncias duplas? As heresias dua
listas, opondo fundamentalmente bem e mal, nutri
rifem °f m ei°S dC comu nicaÇão privilegiam o fato,
° fato' como se viu, por exemplo, em 1968’ ram até hoje as intolerâncias mamqueistas. De ou_r
E Preaso louvar o esforço dos bons jornalistas lado a ortodoxia, que suscitou a partir do seculo XIII a
 po r f aze r m te rv ir um a ce rta es pe ss ur a h ist ór ica . Ma s é Inquisição, não desempenhou um papel determin
 pre cis o de pl or ar a fal ta de cu lt ur a hi stó ric a da m ai or te na instalação da tortura, nos costumes judiciários
 pa rt e del es, ma s tam bé m , é bo m diz ê-l o, de m ui to s  pol icia is oc ide nta is, n a b us ca da con fis são ? Se e la co n
economistas e políticos, atores eminentes da história duziu à confissão individual,suscitou o procedimento
imediata. Quando os economistas recorrem à história inquisitório e marcou fortemente o direito penal que
e em geral para invocar os teóricos e as teorias: o col- não consegue ainda hoje desembaraçar-se dele Para
 ber tisx no, os fi sio cr at as , A da m Sm ith , Ri ca rd o, compreender bem a gênese de todas essas intolera
Malthus, ou para remontar no mínimo à crise de cias e repressões, não é preciso remontar,com o histo
1929.   Nao ignoram eles as crises do Antigo Regime riador inglês R.I,.Moore, autor de The Birth of a
tao bem analisadas po r Labrousse e Meuvret e cujo es- Persecuting Society ,aos séculos XII e XIII?
u o e amd a esclarecedor, não ignoram eles os proble Dois pontos m e parecem especialmente impor
mas monetários em perspectivas históricas? Sabem tantes: para as religiões baseadas em escrituras, a im
que o descredito das desvalorizações remonta à Idade  po rt ân ci a pa ra li sa nt e de um a le it ur a e de u m a ap lic a
ção literais do texto sagrado. Creio que a evolução da
moeda? °nde ^ Pare°em como fabricação de má exegese bíblica foi uma das razões do florescimento e
do sucesso do Ocidente, fazendo desaparecer vanos
tabus da literalidade. Quando, na virada do seculo _XIX
 pa ra o XX, p ro du z- se a q ue re la M od er ni sta , a f acça

96 97
favor de uma interpretação adaptada à evolução his Média, na sociedade cristã, de uma outra maneira os
tórica da E scritura já havia ganho há muito. mortos ainda conduzem a sociedade. Peter Brown
Inversamente, uma desvantagem do pensa- mostrou que os santos eram mortos muto espectai .
dÍeM°H°Cldental fOÍ ° Ímpacto' a Partir do fim da Ida Michael Lauwers demonstrou que os mortos eram
de Media, particularmente na Espanha, da noção de
 pu re za , qu e al im en to u um a ide olo gia do sangue. De anCCStNo domínio judiciário, indicam-se evoluções
onde o erro de Giscard numa declaração feita a des semelhantes, inversões semelhantes. A embriaguez na
 pe ito da hi sto ria . Idade Média era uma circunstância atenuante nos de
litos e crimes. Hoje em dia, dirigir em estado de em
 bri ag ue z é um a cir cu ns tân ci a ag ra va nt e. ^
F e n ô m e n o s d e m e n t a l id a d e e Um tema revelador para o historiador, a crom
DE SENSIBILIDADE ca do quotidiano revela a construção de práticas e
mentalidades de longa duração desde a Idade Media,
 j l ° r   ex™ pl°' a usura- O delito da usura existe o boato e a reputação, o procedimento mquisitono (e
amda hoje. Ele e condenado e há definição do limite não mais acusatório) que conduz ao poder exorbitan
das taxas de lucro acima do qual o lucro é usurário e te do juiz de instrução são um a heran ça do seculo XII
e a dificuldade atual em corrigir esses excessos expli-
miúdo r i w PrÍm Íd0' MaS é u m asPecto m uito ca-se em grande parte pela interiorização, a ancora
miudo da atividade econômica. A usura contempo râ
nea n ao recobre mais, como no século XIII, operações gem dessas práticas, nas mentalidades e na sensibi 1-
s n h T n 5 da~VÍda eCOnÔmÍca' d0 Pré-capitalismo e, dade há séculos. , , ,
É preciso, ainda que seja banal, sublinhar as
dos hirt  s na
dos judeu na°sociedade
renT e maÍS
cristã. 30 Problema candente três grandes diferenças que a meu ver existem entre a
A evolução é, talvez, ainda nítida nas atitudes história imediata e a história de períodos anteriores É
dos ocidentais com relação à m orte e aos mortos. Para necessário especialmente considerar essas diferenças
as epocas do Antigo Regime, Philippe Ariès falou em no ensino e na vulgarização da historia, onde sua ig
morte domesticada; hoje a m orte não é mais domesti- norân cia ou seu desprezo podem fazer estragos. A esse
m Í ' ?„SJ 1VOS Procuram ignorá-la, camuflá-la. Na respeito, a história ime diata é o utra e difícil.
Idade Media, a morte súbita era a pior das mortes,
 po is tra zi a o risc o de su rp re en de r o m or to em est ad o 1. Por causa dos documentos e das fontes.
de pecado mortal. Hoje, ela é considerada como a me As fontes são superabundantes, é difícil domi
lhor das mortes. Na Antigüidade, os mortos tinham ná-las, apesar do recurso à informática.
um lugar essencial na cidade. Nicole Loraux, estudio Muitas fontes ficam inacessíveis muito tempo.
sa da oraçao fúnebre em Atenas, mostrou o lugar dos As fontes da história imediata não são imediatas.
mortos no sistema da cidade grega, da  polis. Na Idade Os meios de comunicação constituem um novo
tipo de fontes muito importante e muito particular, e

98 99
dao lugar a manipulações inéditas contra as quais a que aconteceu depois. Sobre esse tem aten tou m ad e-
critica das fontes ainda não está muito estabelecida fesa do emprego do futuro historico que e pura e sim
a a , Sena mtere ssante estudar as transformações li  pie sm en te^ a conf issã o ho ne st a do co nh ed m en to qu e
gadas a supressão do sermão como meio de comuníca- tem um historiador do futuro real daquilo de
e um meio de exposição útil e legitimo. Com a condi
n ov os m ei os ^113 “ M éd ia ' ° - p i m e n t o dos
novos meios de com unicação, da imprensa à televisão ção b em entendido, de que o emprego do futuro his o-
É   preciso, enfim, sublinhar os limites dos oro' rico não signifique que se considera o fu tu ro ic » , -
teiramente determinado pelo passado. A esse aspeito
E rt L fo ? T eto da ^ « “»en ia çã o. O o caso da história imediata, privada do « nh ea m en t
h s òri» rf» b PT “ “ P°de ‘»'"T» «" os atores da do futuro e do depois permite ao taston ador de toda
■ta S á ™ M eSC"la Socia1' mas a h‘s«ó- énocas apreciar melhor o peso do acaso, a liberdade
fia o film,* maiS 1S qUC   existem- A fotogra- contro lada mas real dos hom ens, as escolhas a^divers -
' ° .flJím e ' ° cassete, multiplicaram as fontes audio 
visuais do historiador e, no entanto, um acontecimen dade limitada, mas existente, das Posslb^ “ ' ói
to excepcional que se produziu sob os olhos de milha  Nã o te nt ar ei aq ui diz er po r qu e pre fir o hi st on
s a s s h L t ^ í ™ 6 m í lh ÕeS de te Ie sPe cta dores, o as -
eni1 Z /  J-RKennedy (1963), permaneceu um
r qUant° qUe ° assassínio da maior parte dos
grandes homens assassinados no passado nos entre
gou seu segredo através de simples fontes escritas. a m tem poran ea". ^ ^ ^ ^ his,orladores ^

soa!  / ' A SegUn?a diferen?a da implicação pes h is tó ri a i m ed ia ta sã o o s o ut ro s. Ma s n os ^ t e“ °


soal, da inevitável subjetividade que se impõe na his- ainda assim à mesma tribo, temos o mesmo oficio. O
tona imediata. O historiador preso entre seu eneaia oue espero dos historiadores da difícil histona im edia
ta inclusive dos jornalistas, que, se fizerem bem se
«tem
r mmuita
u t o 1dificuldade
dffic' Id í Ver
empr°"ssionaI
conciliá-los da objetividade
honestamente ofído são verdadeiros historiadores da histona une-
Mesmo se o passado desencadeia snas p at ef e para
dla*a ' í ; r „ a,Ip ° i S f ò acontecimento, com uma
tem poesta
tempo ^ á objetivamente
obi‘ t'° mar P”Esses
presente. S • ** ** %
problemas  pr of un di da de hi stó ric a su fic ien te e p er tm en en te
. manifestar quanto a suas fontes o espmto c
?aTsÔ eCUlT em e a« * * £ £ £ tico de todos os historiadores segundo os métodos
é em " ' o " “ “0  reCeMeS ” * m“ MlS
adap taí°nSão sTco nten tar e m descrever e contar, mas
3. A ignorância do futuro.
n3K ,Quf r reconheçam ou não, os historiadores do " T i S S - os fatos, distinguir o ^
 pas sad o sao m un o aju da do s pe lo fat o de qu e sa be m o dente do fato significativo e importante, fazer do

100
do passado reconhecê  hc PCI nilIirä aos histo riadores
•esra-to numa C a d Î a ^ T °mm ,amb™ to capítulo 7
quai todos os h ls S d ö ^ T ' nUma Probl«> «c a na
trora « * » c ™ ' * "*  * »«- QUESTÕES PARA AS
FONTES DO PRESENTE
 po r Ro be rt FRANK 
Jacques Le Goff 

Falar da especificidade das fontes do presente


não é tarefa fácil, pois existe uma ambigüidade funda
mental. Trata-se de refletir sobre as fontes de "nosso
tempo", que logo será um tempo passado, permane
cendo nosso? ou sobre aquelas que são específicas do
"presente", enquan to tal, tempo renovável à medida
que o tempo passa? No primeiro caso, pensamos em
fontes novas - o audiovisual, a imagem, o som - que
ainda são novas neste fim do século XX, mas não o
 pe rm an ec er ão po r m ui to tem po , po r for ça de ba na li 
zar-se, e não o serão mais para os futuros historiado
res de "seu" tempo. Decidi não falar disso, pensando
que Jean-Pierre Rioux voltaria a esse tema em sua re
flexão sobre os meios de comunicação. No segundo
caso, trata-se de fontes que estão marcadas pélõ pró
 pri o pr es en te , in er en te s a ele, qu al qu er qu e sej a a
época: os depoimentos de testemunhas vivas, as fon
tes orais. Aí há a contemporaneidade intrínseca entre
o historiador e a testemunha, ou entre o historiador e
o ator. É desta especificidade que gostaria de falar.
 Nã o é m in ha in te nç ão faz er a hi st ór ia da "h is
tória oral". Digamos simplesmente que a expressão
vem do inglês "oral history", e que os anglo-america-
íos tiveram algum avanço sobre a França. Basta re-
>ortar-se ao livro do britânico T hompson, The voice of 

103
the Past 1,  assim como à obra do historiador Philippe muitas instituições querem conservar sua memória,
Joutard, Ces voix qui nous viennent du passe'   publicado isto é, escrever sua história, recorrendo, com a ajuda
em 1983, onde se trata do "atraso” francês, "atraso" de historiadores, à pesquisa oral junto a atores e teste
que desde esssa época foi recuperado. munhas sobreviventes. A Previdência social4, o Seviço
Desde seu nascimento, e por vocação, o Institut histórico do Exército do Ar cumpriram um trabalho
d Histoire du Temps Présent mediu a importância e a  pi on ei ro ne ss e do m ín io. Po de -se cit ar ig ua lm en te
urgência de uma reflexão a desenvolver sobre esse o Quai d'Orsay, que constitui arquivos orais sob a di
tema. Jean-Pierre Rioux organizou em 1980 uma reção de Maurice Vaísse, da mesma forma que o
mesa redonda sobre os problemas de metodologia em Comitê para a história econômica e financeira da
história oral, cujos debates foram publicados num su França sob a direção de Florence D escamps5.
 pl em en to do  Bull etin de 1'IHTP1.  Seis anos mais tarde, Sobre a questão da história oral, existe um ver
uma outra mesa redonda "Questions à l'histoire ora dadeiro debate, em primeiro lugar sobre os vocábulos
le" foi organizada por Michael Pollak, Danièle empregados. Convém conservar essa expressão "his
Voldman sob a direção de Jean-Pierre Rioux e publi tória oral" que nos vem do inglês? Ela apresenta o in
cada nos Cahiers de l'IHTP,   n. 4, junho de 1 987.   Além conveniente de sugerir uma história unicamente fun 
disso, a sociedade francesa tornou-se ávida por histó dada na pesquisa oral, uma história militante, con
ria oral, e os historiadores estão submetidos a uma vencida da superioridade do "oral" sobre os arquivos
forte demanda sodal. Os ministérios, as empresas e escritos, na medida em que a palavra é assim dada ou
devolvida aos simples e humildes. A tendência hoje e
 pr ef er ir a ex pr es são "fo nte s ora is" , qu e te m a v an ta 
gem de banalizar o procedimento: todo historiador do
1 Paul Thompson, The Voice of the Past. Oral History, muito contemporâneo tem naturalmente, sem fazer
Oxford University Press, 1978, 257 p. (2. ed 1988 muito alarde, o recurso às testemunhas orais, que ele
314 p.)
registra em fitas magnéticas. Quando essas fontes são
2 Philippe Joutard, Ces voix qui nous viennent du passé,
Hachette, 1983, 268 p. Ver também: Chantai de
Tourtier-Bonazzi (dir.),  Le Témoignage oral aux
archives. De ta collecte à la communication,   prefácio de 4 Dominique Aron-Schnapper, Danielle Hanet,
Jean Favier, Archives Nationales, 1990, 100 p. A bi Sophie Deswarte, Dominique Pasquier,  Histoire orale
 bliografia relat iva à qu estão das fontes orais é  muito ou archives orales? Rapport d'activité sur la constitution
abundante para que se possa dar conta dela aqui. Um d'archives orales pour l’histoire de la Securité sociale,
 balanço (mais de 300   títulos) será efetuado pelo Association pour l'étude de la Securité sociale, 1980,
Institut d'Histoire du Temps Présent, na ocasião da
 publicação p róxim a de um guia das font es orais, c o 114 p.
mandada pelo Ministério de l'Équipement. 5 Ver Etudes et Documents,  III, Comité pour 1histoire
économique et financière. Imprimerie Nationale,
3 IHTP, Problèmes de méthode en histoire orale.Table
ronde, 20 jui n 1980,   Paris, 1981. 1991.

104 105
depositada
depositadass junto a um organismo,
organismo, para ser consultá Existe, no entanto, uma diferença essencial
veis,
veis, imedia tame nte ou segund o um prazo fixado, elas elas com relação à fonte oral: o Prefeito Prefeito escreve seu relató
se tornam "arquivos orais". rio para o ministro do Interior e não (na medida em
Para além das palavras, subsiste um outro deba que é raro que escreva para se inserir nas pregas da
te, do qual se diz que começa a ficar velho e sem ob história) para o historiador. Este não é nem o destina
 jet iv o, e q ue , no en ta nt o, re ssu rg e co ns ta nt em en en te : tário direto nem o autor da fonte escrita. O mesmo
qual é a confiabilidade da fonte oral? Esta será a pri não acontece com o depoimento oral, que é - como
meira questão que farei, a questão da prova. Dela de disse Jacques Ozouf - "u ma fonte provocada" pelo h is
correm uma segunda, a da memória, e uma terceira, a toriador. Quando o historiador, ou o arquivista, inter
do estatuto do historiador diante das testemunhas. roga a testemunha, ele mesmo constrói a fonte, e seu
usuário é ao mesmo tempo a seu modo o produtor.
 Nes se se nti do , há o i m ed ia tis mo en tr e a c on st ru çã o da
A QUESTÃO
QUESTÃO DA PROVA fonte oral e o historiador que a provoca.
Existe uma o utra particularidade. A fonte oral é
A história é, entre outras coisas, um inquérito  pri vil égi o do hi st or ia do r do pr es en te , se nd o qu e os
quase no sentido policial do termo, com indícios, de historiadores dos períodos mais antigos não têm essa
 po im en to s e te st em un ha s. O de po im en to ora l nã o chance de ter o que Philippe Joutard chama de "laço
constitui
constitui necessariamente
necessariamente uma prova, mas pode ser carnal"
carnal" com a testemunha. Poder-se-iaPoder-se-ia evidentemen
uma boa contribuição para a busca da prova ou das te son har com u m diálogo entre Jacques Le Goff Goff e São
São
 pro va s. A fo nt e esc rita , ta m bé m , co ns id er ad a co mo Luís, esperando que todas as televisões do do mu ndo fos
mais nobre. sem convocadas. Seria uma boa ideia de programa,
 j Entretanto, se comparamos fonte escrita escrita e fonte mas essa ficção
ficção não seria história oral.
oral,
oral, não se deveria acreditar que de um lado a fonte é Se há contemporaneidade entre o testemunha
 pu ra , na tu ra l - a f on te escr ita -, e q ue do ou tr o tr at am os e o historiador, existe em compensação uma distância
com uma fonte impura, porque construída. temporal entre a ação de testemun har e a ação conta
De fato, não é aqui que se encontra a oposição. da pela testemunha. É certo que, na construção da
A fonte escrita é também uma fonte construída, e fonte oral, há solicitação da memória daquele que de
também tem seu grau de impureza. O relatório de  põ e. A m em ór ia co mo fo nt e pa ra o h is to ria do r - v er e
Prefeito é escrito pelo Prefeito, que faz a síntese dos mos logo que a memória não é somente uma fonte
relatórios escritos para ele, por pessoas das quais se  pa ra o hi st or ia do r - é in su bs tit uí ve l em m ui to s casos ,
 po de im ag in ar o laç o de de pe nd ên ci a qu e co m ele mas ela é também geradora de erros, de mitos, de mi
mantêm; o Prefeito escreve a um ministro com o qual tologia e, evidentemente, o historiador tem muito o
também ele se se encontra num a relação relação hierárquica
hierárquica que fazer para corrigir e desmistificar.
 pa rti cu lar . A es cr itu ra nã o é liv re e nã o há pu re za es  Gostaria de dar alguns exemplos concretos.
 pec ífic a da fo nt e esc rita . Etienne Failloux e Dominique Veillon, em seu inqué

106 107
rito sobre a Libertação da Norm andia6,
andia6, tiveram depo i de 1943 até hoje, põe o historiador em pistas tão nu
mentos extraordinários, insubstituíveis, dentre os merosas quanto falsas. Se ele pensa poder aproximar-
quais o de uma senhora que lhes descreveudescreveu com mui se da verdade, é graças a dez dez ou doze docu mento s es
ta vivacidade coisas que eles não poderiam ter de ou critos,
critos, e considera que o depoim ento oral não só não
tra forma. Mas esta mesma senhora volta um mo me n serve
serve para nada como ainda embaralha com pletamen
to a 1940 e evoca os desfiles alemães, que descreve te as cartas.
quase em detalhe . Mas ela fala a propósito deles em Jean-Jacques Becker, nessa mesma mesa re
"capacetes de ponta" ... Basta dizer que essa senhora donda , fez uma intervenção, cujo título resume com
tem uma certa idade, que conheceu as duas guerras e  pl et am en te su a crít ica fu nd am en ta l da fo nt e ora l: "A
que evidentemente confundiu as imagens de ambas. desvantagem do a posteriori ". Por definição, essa fonte
Mas o que é importante- e aí, o trabalho do historia  pr ov oc ad a é co ns tr uí da dep ois do ac on tec ido . Je an -
dor não deve se limitar a apontar erro - é que nesse Jacques Becker assinala que se há um erro material, o
mesmo depoimento, ela mesma explica que o com historiador, como bom profissional, pode corrigi-lo.
 po rt am en to "c or ret o" dos al em ãe s em 194 0 dev e, se m Mas o que dizer dos sentimentos, das emoções expres
dúvida, ser criticado à luz da experiência da guerra de sas a posteriori ? Como pode o histo riador diferenciar as
1914-1918.
1914-1918. Em outros termos, termos, há o encavalamento duas coisas? A que tempo elas se conjugam? Perten
das imagens entre os dois conflitos, mas há ao mesmo cem elas
elas à época do depoimento
depoimento ou ao mom ento con
tempo consciência da espessura do tempo, da necessi tado pela testemun ha? D iante desse desse problema,
problema, o his
dade de comparar as duas épocas, o que para o histo toriador pode se encontrar desarmado. Além do mais,
riador é de um interesse
interesse m uito grande. a memória não é somente construção mas, mas, reconstru
Daniel Cordier, na mesa redonda à qual fiz alu ção,
ção, através da duração que separa o momen to rem e
são, interveio de modo relativamente crítico com rela morado do mo mento do relato. relato.
ção às fontes orais7.
orais7. Ele
Ele observava q ue elas podiam dar O "atraso francês" teve ao menos a vantagem
uma porção de informações sobre certos aconteci de fazer os historiadores
historiadores franceses refletirem mais lon 
mentos, mas uma porção enganosa. Sobre o caso de gamente , o que lhes perm itiu evitar alguns defeitos da
Caluire - a prisão de Jean Mo ulin em 1943 em Lyon - história oral militante, isto é, uma história que só se
ele julga que esse acúmulo de fontes orais no tempo, fundamenta sobre as fontes orais, sacralizadas e con
sideradas como as únicas válidas. É evidente que o
historiador deve, ao con trário, banalizá-las e tomá-lastomá-las
6 Etienne Fouilloux, Dominique Veillon, "Mémoires como são, a saber as fontes às quais convém aplicar o
du débarquement en Normandie", in François méto do histórico clássi
clássico:
co: fazer sua crítica
crítica interna, co
Bédarida (dir.),  Normandie
 Normandie 44,  IHTP- Albin Michel,
1987, p. 214 e segs. tejá-las entre si, e com as fontes escritas.
À atitude hipercrítica, os praticantes da pesqui
7 Ver também Daniel Cordier,  Jean Moulin.
Moulin. L'inconnu
L'inconnu sa oral têm respostas realmente interessantes. Reto
du Panthéon. Une ambition pour la République, juin
ju in 1899-
1936,,   Tomo 1, J. C. Lattès, 1989, pp. 294-303.
 juin 1936 marei em especial às últimas respostas trazidas nos

108 109
Études et documents   em que Patrick Fridenson toma a dou adotar o decreto. Ainda aí, as fontes escritas não
defesa das fontes orais de modo eloqüente8. Inspiran  ba st am pa ra re co ns tit ui r a re de de pre ssõ es, a m ea da
do-se em artigos de Nathalie Carré de Malberg e de de influências e a cadeia de decisões.
Florence
Florence Descamps9
Descamps9 publicados
publicados no m esmo núm ero, Insubstituíveis, as fontes orais o são igualmente
ele mostra em que as fontes orais são insubstituíveis, quando as fontes escritas são inexistentes. A história
não somente para cobrir lacunas, mas também para oral militante prevaleceu. Os militantes ou "integris-
apreender todo um sistema
sistema de informações.
informações. tas" da história oral opunham a história das elites vis
Se diante
diante de uma testem unha ou ator, tenta-se
tenta-se ta através das fontes escritas (vimos, aliás, que elas são
compreender suas motivações
motivações (por que um ho mem se insuficientes)
insuficientes) à história das massas e de todos aqueles
torna inspetor de finanças? para retomar o exemplo que não tinham tido a palavra e não tinham deixado
dado por Nathalie Carré de Malberg), as fontes escri vestígios.
vestígios. Evidentem ente, nesse caso, a pesquisa oral é
tas raramente trazem explicações. O estudo da mobli-  pr im or di al pa ra re ss uc ita r essa s m em ór ia s há ta nt o
dade profissional ou geográfica,
geográfica, a análise do percurso tempo ou muito freqüentemente mudas. Mas, ainda
de uma carreira, a reconstituição das redes de rela um a vez, ela deve ser cruzada com outras fontes escri
ções, profissionais e mundanas, dificilmente se fazem tas. Pois, como o diz Jean-Jacques Becker, se as fontes
a partir de fontes escritas. Uma longa e freqüentemen orais contribuem para cobrir os brancos da história,
te enfadonha pesquisa oral é necessária para encon elas não devem servir para cobrir esses esses vazios
vazios com fal
trar todos os fios dessa sociabilidade. sas informações.
Em segundo lugar, vantagem fundamental e De fato, conviria fazer uma tipologia dos depoi
central, as fontes orais revelam melhor do que as fon mentos e das testemunhas. Não há somente a oposi
tes escritas a complexidade dos mecanismos da toma ção ente elites e massas, entre os tomadores de deci
da de decisão. Não há tomada de decisão única, mas são de um lado, a quem se pedem , entre outras coisas, coisas,
todo um feixe de elementos conduzindo a esta. A pes mesmo se eles derem um "relato de vida", informa
soa que mais importou num a decisão
decisão não é necessa ções precisas através de um a grade relativam ente fe
riamente o ministro que assinou a sentença ou man chada de questões, e do outro lado testemunhas da
 bas e, com as qu ai s a en tre vi sta po de ser m en os "d ire 
tiva".
tiva". De fato,
fato, convém também tratar diferentemente
8 Patrick Fridenson, "Avant-propos", Etudes et  as épocas contadas: a Segunda Guerra mundial (com
 Docum
 Document s, III, op. cit., pp. I-VII.
ents, Vichy, a colaboração, a Resistência...) e a guerra da
9 Ver na mesma publicação, o artigo de Nathalie Argélia,
Argélia, por exemplo, são de tal forma períodos de re-
Carré de Malberg: "Pourquoi devient-on inspecteur questionamento coletivo
coletivo e individual
individual que um a teste
des finances, de 1919 à 1946?", Etudes et Documents,111 m unha não pode falar dela delass de uma m aneira comple
op. cit., pp. 293-403; e o artigo de Florence Descamps:
"Les archives orales du Comité pour l'histoire tamente simples. É grande o risco de defender  pro
économique et financière ou la fabrication des domo.  Em seu mecanismo de reconstrução,
reconstrução, a mem ória
Documents,  III, op. cit., pp. 511-538.
sources", Etudes et Documents, assume uma função de desculpabilização e, portanto,

110
^ aDAD\ ? S c a E U EE R Ll,IW 11
111
de mitificação, e mesmo de mistificação. O trabalho dever de tirar partido disso, descascando esses defei
crítico do historiador não se faz, pois, da mesma ma tos, procurando no que eles são significativos numa
neira segundo as diferentes questões de memória. época, ou em duas épocas - o tempo rememorado e o
tempo do ato de rememoração - assim como na dura
ção que os separa. Os lapsos, esquecimentos, não-di-
Questões para a memória tos, silêncios, esforços de ocultação são tam bém obje
tos de história e devem ser analisados. Essas palavras
A memória é uma fonte para o historiador, e a  pe rt en ce m ao m es m o reg ist ro, m as são , no en ta nt o,
 pr im ei ra qu es tã o qu e ele de ve se fazer , pa ra te nt ar re  separadas por nuances.
constituir os fatos, é a de saber até que ponto ela é ou O silêncio não é esquecimento. Um deportado
não confiável. Mas a memória é tam bém p ara o histo que não quer falar da deportação nem por isso a es-
riador, tomada globalmente, com suas verdades e \ queceu. Ou o que ele tem a dizer procede do indizí-
mentiras, suas luzes e suas sombras, seus problemas e \ vel,ou seu pudor comanda, por toda espécie de razões.
suas certezas, um objeto de estudo. O esquecimento não se reduz à ocultação. Na
Sociólogos como H albwachs10 e mais rec ente ocultação, encontramos uma vontade de esconder, de
men te Gérard Namer se perguntaram sobre a noção cobrir a fonte de luz para deixar na sombra um obje
de mem ória coletiva11. É tamb ém u m campo novo e to que nem por isso é esquecido. A operação pode ser
imenso para a pesquisa histórica. Depois de ter passa efetuada por memórias individuais, pelas memórias
do a memória no crivo da crítica e ter assinalado suas de grupo ou, mais ainda, pela memória oficial. O es
fraquezas, o historiador deve analisar os erros e os mi quecimento é uma noção mais larga: pode haver essa
tos que ela veicula, tomá-los tais como são, colocá-los vontade, mas pode haver também simplesmente re
em perspectiva histórica, em poucas palavras, fazer calcamento no inconsciente. Cabe ao historiador re
sua história. É uma grande sorte para o historiador do constituir esse trabalho da m emória da testemunha.
 pr es en te , gra ças às te st em un ha s qu e in te rro ga , po de r O historiador do presente tem uma sorte fantás
fazer a arqueologia da memória coletiva. tica quando pode ter acesso a depoimentos de uma
Assim, ele pode contribuir para fazer a história mesma testemunha em momentos diferentes. Tome
objetiva do subjetivo. Em outros termos, quando o mos o exemplo dos resistentes que foram interrogados
"sujeito" ou a testemunha se engana, desenvolve mi uma primeira vez entre 1945 e 1950 no decorrer do
tos, o historiador tem o direito de ficar satisfeito e o inquérito realizado pelo Comitê de História da Segun
da Guerra mundial, e que p uderam ser depois inque-
ridas por toda espécie de historiadores, inclusive
10 Maurice Halbwachs,  Les cadres sociaux de la aqueles do IHTP, nos anos 1980.
mémoire,  PUF, 1975, 298 p. (rééd.);  La mémoire As diferenças entre as duas séries são significa
collective,  PUF, 1968, 205 p. (reed.) tivas. Em 1945-1950, a maio r parte dos resistentes diz
11 Gérard Namer,  Mémoire et société,  Librairie des não te r ouvido o "apelo" do general De Gaulle. Alguns
Méridiens, 1987, 242 p.

112 113
anos mais tarde, sob a V República, essas mesm as tes  be r" , p or qu e nã o co m pr ee nd ia o in im ag in áv el. Os in s
temu nhas afirmam, então, ter entrado na resistência trumentos conceptuais que permitiriam a apreensão
graças ao apelo do 18 de junho. Há, pois, um deslize, do fenômeno do genocídio não existiam. Annette
uma reconstrução da memória, ao mesmo tempo in Wieviorka apóia-se em fontes escritas para mostrar
teressante e tributária da época no curso da qual essas que entre 1943 e 1948 a representação essencial, in
testemunhas se expressam. clusive entre os judeus da França, não é a de Aus
Mas ao mesm o tempo, enco ntramos nesses dife chwitz, mas a de Buchenwald. A distinção entre os
rentes d epoimento s frases similares, expressões idênti- campos de extermínio, como Auschwitz, e os outros
cas.A mem ória congelou. Ela criou para si mecanismos campos, não era aind a feita, e não podia, portanto, ser
de linguagem e automatismos verbais, e o historiador  pe rce bid a, m es m o po r u m gr an de nú m er o de de po r
deve tentar datar o momento dessa cristalização. tados. O vocabulário do pós-guerra é significativo a
É apaixonante fazer essa história da memória. esse respeito. Buchenwald parecia ser o símbolo do
Temos o exemplo da memória da deportação. Michael horror. Quando alguém emagrecia, diziam-lhe: "Pare
Pollak12mostra como ela ficou por muito te mpo silen ce que você saiu de Buchenwald". O símbolo de Aus
ciosa, por que ela não se revelou e expressou senão chwitz virá mais tarde.
muito tardiamente. A partir de depoimentos, ele assi Finalm ente, as problemáticas de Michael Pollak
nala en tre os deportados a parcela do indizível e expli e Annette Wieviorka não são incompatíveis, elas se
ca por que esse indizível pode m uda r de natureza, mas completam. As fontes escritas mostram que o "dito"
só muito tarde. foi mais freqüente desde 1945. Mas a emergência do
Uma tese recente, a de Annette Wieviorka "dito" não prova que ele representa mais do que a
 Déportation et génocide: mémoi re et oubl i 13 parece entrar  pa rt e im er sa do ind izív el. Só o de po im en to ora l po de
em contradição com essas conclusões. Ela mostra que esclarecer essa face oculta, da m esma forma q ue pode
esses depoimentos foram muito mais numerosos no revelar as fraquezas da recepção social e a incomuni-
imediato pós-guerra do que se acreditava. A opinião é cabilidade entre os deportados e a sociedade do ime
que não estava pronta para receber esse tipo de dis diato pós-guerra.
curso. Em outros termos, para Annette Wieviorka,
não há indizível do lado da emissão da mensagem,
mas antes má recepção da parte da sociedade do mo  A QUESTÃO DO ESTATUTO DO
mento. Esta não estava pronta em 1945 para "rece HISTORIADOR DIANTE DA TESTEMUNHA
O diálogo entre o historiador e a testem unh a é
12 Michael Pollak,  L'expérience concentrationnaire. complexo. Ele se situa numa contradição permanen te
Essai sur le maintien de l’identité sociale,  A.-M. Métailié, entre a cumplicidade e a tensão. Há, às vezes, conflito
1990.
silencioso entre o portador do vivido, que pensa ter
13 Annette Wieviorka,  Déportation etgénocide. Entre la direitos em nome desse vivido, e o historiador que,
mémoire et l’oubli.   Pion, 1992, 506 p.

114 115
torna ndo o fato inteligível, vai intelectualizá-lo. A O historiador deve, de uma maneira ou de ou
testemun ha ou o ator pode se prevalecer de sua supe tra, levar em conta essa emoção que pode perceber na
rioridade sobre o historiador que não conheceu o testemunha, mesmo co ntinuando seu ofício de histo
acontecimento: "Mas senhor, o senhor não estava lá, riador que consiste em selecionar, hierarq uizar e criti
o senhor é m uito jovem para ter conhecido aquilo". car. Ele deve estabelecer menos uma distância entre a
Um dos mais belos exemplos é esse diálogo en testemunha e ele do que um distanciamento entre o
tre um importante militante da Resistência e um a his depoimento e seu trabalho historiográfico.
toriadora. O militante empolga-se num momento e Em outros termos, há imediatismo entre o his
diz: "Senhora, eu faço a história e a senhora conten toriador do presente e a testemunha, e é preciso tirar
ta-se em escrevê-la." Essa reação é ainda mais inte   pa rt id o dis so. Mas o de ve r de hi st or ia do r con sis te em
ressante porque quando a historiadora submete-lhe o criar uma mediação entre o depoimento e ele. Eis por
texto da gravação, o militante fica espantado, conven que a noção de "história imediata" é sem dúvida criti-
cido de jamais ter pronunciado tal frase. cável. A mediação é necessária. Ela deve ser construí
O historiado r do presente dialoga com sua pró  da, e passa pela reflexão crítica sobre o tempo e pela
 pr ia fo nt e e t ra ba lh a, po rt an to , "sob vig ilâ nci a". Dess e colocação do depoimento na perspectiva da espessura
diálogo, dessa cumplicidade conflitual, pode surgir um da duração, aquela do passado próximo, mas tamb ém
trabalho extremam ente fecundo. De um lado, a teste menos próximo e longínquo. É essa consideração do
munha ou ator mostra simplesmente seu ponto de longo termo que faz a diferença fundamental e ntre a
vista, um ponto de vista parcial no sentido ótico do "história do presente" e o trabalho sobre a "atualida
termo, se não parcial no sentido ideológico. O histo de", entre o historiador e o jornalista.
riador está lá para tentar com preender o que há de re 
 pr es en ta ti vo ou nã o no de po im en to . O hi st or iad or
deve explicar, selecionar para hierarquizar. Há, por
tanto, desde o início, fonte possível de desacordo en
tre os interlocutores. Mas de outro lado, em seu trab a Robert Frank 
lho de intelectualização, não há mais lugar para o vi (Institut d'Histoire du Temps Présent - CNRS)
vido, o historiador tem possibilidades de ter passado
ao largo de numerosas realidades. Se a testemunha
não se reconhece no trabalho do historiador, este tem
o dever de reconsiderar sua cópia, seja para confirmar
as conclusões desta, desta vez com todo o conheci
mento de causa, seja para combiná-las, modificá-las
ou corrigi-las.

116
capítulo 8
ENTRE HISTÓR IA E
JORNALISMO
 po r Je an -P ie rre RIOUX

Eu não acho que uma "história do presente" te


ria podido afirmar-se nitidamente na França há alguns
anos se antes não se tivesse produzido paralelamente
/ um encontro, provocador mas frutífero, entre histo-
riadores sedentos de atualidade e jornalistas em busca
de legitimidade histórica. Esta afirmação, sei por expe-
 I riência, desagradará aos guardiãos - de todas as ida-
í des - dos templos da ciência histórica, que subord i
nam toda extensão do território da disciplina à de sua
( própria rede de influência, que m antêm a reflexão
epistemológica em fogo muito baixo comparando a
amplitude das honoráveis teses que orientam ou ela-
i boram, e que atiram sem remorsos naqueles que per-
l turbam a sesta. A seus olhos, o historiador do presen
te é um ingênuo, um marginal, agitador por defeito e
impotente por vocação. Esse acúmulo de erros intem
 pes tiv os ba st ar á pa ra de squ ali fic á-l o se ele nã o to m ou
a precaução de simplificar as regras. Mas, se ainda por
cima ele freqüenta as salas de redação ou passa por
mu ito "midiático", sua conta será alta. fQue r dizer que
\ o diálogo entre Tíistôria no presente e jornalismo re 
troativo faz não somente o historiador universitário
I que o pratica correr alguns riscos, mas que pode tam-
 I  bé m de sn ud ar cr ue lm en te al gu ma s fra qu eza s int ele c-
í tuais ou hu ma nas da confraria de seus "caros colegas".
Mas não se fala mais nisso. Pois, repito, esse diálogo é
/
119
| essencial, é preciso enco rajá-lo e é sobre ele que é in-j lhe o momento, torna objetivo seu propósito, preten
'^dispen sável refletir Hyremente.. J  ... ......
de dar sentido, enquan to que o jornalista é o hom em
Lembraremos antes de tudo que esse encontro, apressado que relata fatos juntados, que acredita en
essa discussão, podem sempre passar por perturbado tregar a vida em estado bruto, mas que a simplifica e
res ou ilegítimos, pois as profissões do jornalismo e da desfigura mediatizando-a em jato contínuo, que reco
história cresceram separadamente, há um século e lhe material de qualquer jeito e inventa fontes sem
meio, e, pouco a pouco, delimitaram seus respectivos  po de r tra tá -la s.
territórios numa indiferença recíproca. O jornalista, Esse duplo posicionamento, que se explica
quer tenh a os papéis de repórter, de redato r ou de  pe la hi st ór ia da s si tu aç õe s in co nt es tá ve is, das qu ais
cronista, é um Sísifo do efêmero que “escreve para o muitos historiadores sentem saudades e que eu aca
esquecimento", dizia justamen te Henry Béraud em  bo de de sc re ve r m al ca ri ca tu ra nd o, foi m od ifi ca da
1927 em  Le Flân eur salarié.   Sua missão quotidiana desde os anos 1960. E foram jornalistas que toma
consiste em forçar a atenção do leitor ou do ouvinte ram a iniciativa e atravessaram as fronteiras como
^ para cada "papel", em mergulhar sem enfado na tor desbravadores. Tentei fazer em outro lugar1um a his
rente ininterrupta de acontecimetnos confusos que tória dessa intervenção, que a corporação universitá
faz a atualidade, em vencer a angústia da pequena ria, é óbvio, ignorou ou desdenhou e, em conse
mo rte diária - a página de jornal é destina da ao lixo, a qüência, estudou muito pouco. O essencial não foi
 pa la vr a e a im ag em vo am se m de ix ar tra ço ta ng ív el e que o Nizan da Chronique de septembre   tenha ousado
são pouco arquivadas - redobrando de profissionalis- dizer, em 1939, que o redator diplomático era um
\ mo, só com o risco de acreditar que ele trabalha para "historiador do imediato" ou que o Camus de Cotnbat 
I o futuro ou de sonhar em editar um dia em volume e de  Actuelles  tenh a ido longe demais depois da Liber
seus trechos escolhidos. tação em sua célebre fórmula, "O jornalista é o his
 /  O historiador, este se mov e com odam ente des
de o fim do século XIX em seu triplo papel de sábio
mo derno exercido na crítica das fontes, de grão-sacer- 1 Ver Jean-Pierre Rioux, "Histoire et journalisme.
dote da memória nacional e de intelectual em pleno Remarques sur une rencontre'em Marc Martin, dir.
 Histoire et médias. Journalisme et journalistes français
exercício. Ele mantém uma discussão permanente (1950-1990),   Paris, Albin Michel, 1991, pp. 192-205.
com seus confrades e m ciências sociais, constrói e eri Ver igualmente dois de meus artigos bem anteriores.
ge a distância seu objeto de estudo e lhe dá assim um "Les métamorphoses d'Ernest Lavisse", Politique
estatuto científico, procura sempre inserir o aconteci aujourd'hui,  novembro-dezembro de 1975, pp. 3-12
mento singular na cadeia de um tempo significativo, e "L'histoire saisie par les médias". Esprit, setembro
tenta distinguir o perdurável do efêmero,relata os fa outubro de 1979, pp. 20-24. Ver, por fim, do lado da
imprensa, Yves Lavoinne, "Le journaliste, l'histoire
tos sem ser perseguido pela hora do "fechamento", et l'historien (1935-1991)",  Réseaux. Communication,
lembra , quando se oferece a ocasião, sua fidelidade technologie, société,   n. 51, janeiro-fevereiro de 1992,
aos grandes princípios de gestão da Cidade. Ele esco-  pp. 41-5 3.

121
120
toriador do instante": foi em 1962, quando Jean La- resse histórico do estudo da imprensa. O observador e
couture lançou nas Editions du Seuil sua coleção "A o observado, concluiu-se, agiam doravante um sobre
História imediata" que o passo foi dado, muito ale o outro, e o próprio acontecimento tinha se tornado
gremente e sob o aplauso dos leitores. Desde então,  pol issê mic o: um nú m er o cél ebr e de Communications
duas gerações de homens de imprensa que tinham em 1972, em boa parte devido a Edgar Morin e Pierre
crescido nos anos 1930 e participado das provas dos  No ra, ac ab ou de co nv en ce r al gu ns ra ros pe sq ui sa do 
"anos negros" e da descolonização, a de Bromberger res de que a história "imediata" podia ter introduzida
e de Tournoux, depois a de Amouroux, Rouanet, sub-repticiam ente uma tensão dolorosa e promissora
Viansson-Ponté, Fontaine, Nobécourt, Planchais, no trabalho do historiador, despojado de um lado de
Paillat ou o próprio Lacouture, começaram a dizer  bo a p ar te de su a ac ui da de vis ua l s ob re o p re se nt e e d e
 be m al to em se us liv ros e a rti go s qu e o j or na li st a nã o outro lado solicitado, ao mesmo tempo, pela antropo
se contentaria mais em registrar o eco da atualidade, logia e pelo estruturalismo que iam mais longe do que
que ele saberia produzir material elaborado e exercer as virtudes de uma longa duração bastante imóvel em
seu olhar crítico, que ele se daria o direito de fundar toda análise do passado2.
uma história "imediata" que inseriria "o aconteci Desde então, os jornalistas retomaram a luta,
men to mal esquadreado" cuspido pelos telex - a ex fortalecidos com as novidades de seu ofício. Uma das
 pr es sã o é de L ac ou tu re - n u m pe rc ur so re tro sp ec tiv o mais importantes para nosso propósito foi, sem dúvi
e num a problemática de interações entre o passado e da, o domínio da abundância documental no trabalho
o presente. O real vivido e midiatizado seria passado das redações: através da informação das bases, dos
no crivo do método e da duração.  ba nc os de dad os e d a p ró pr ia fab ric açã o d o "pa pel" qu e
Essa ambição jornalística vinha na hora certa e se pode alimentar quase à vontade no "doc", na pes
florescerá no curso dos "sixties". Foi, então , que se quisa mais avançada e multiplicada junto aos corres
 pe rc eb eu ma is cl ar am en te - e qu e foi vi go ro sa m en te  po nd en te s locai s, da fab rica ção do doss iê em estil o
criticado na ocasião, sobretudo, em m aio de 68 - o pa news,  da exibição da memória arquivada do jornal que
 pe l d eci siv o d os m eio s d e co m un ic aç ão n a t ran sc riç ão , dá consistência a seu propósito, pela fama também dos
na representação e até na produção do acontecimen suplementos que ajudam a relativizar a atualidade e a
to e, portanto, n a respiração da História, depois na im  refletir sobre ela, o exame da atualidade tornou-se
 pl an ta çã o tã o rá pid a de um a "c ul tu ra de ma ss a" da uma crônica durável, tomou um a textura e um a espes
qual Edgar Morin deu a primeira descrição para uso sura que o aproximam mais de um produto histórico.
francês em 1962 em UEsprit du temps.   Desde 1958, a Aliás, a importância logística, depois o triunfo
coleção "Ce jour-Ià" publicada por Robert Lafont tinha em audiência das formas radiofônicas e televisivas da
vendido muito bem d ocumento oscilando entre histó  pro fis são , a pr eo cu pa çã o ta m bé m em ga ra nt ir a qu al 
ria e jornalismo, inspirado no m odelo americano. Des quer preço a fidelidade de um público, levaram fre
de 1959, os primeiros volumes da coleção "Kiosque",
 pu bl ic ad a po r A rm an d Co lin m os tra va m to do o in te 
2 "L'Evènement", Communications  n. 18, 1972.

122
qüentemente a considerar qualquer scoop* como "his de imprensa e intelectuais. Mas, sobretudo, porque
tórico", qualquer intervenção excepcional sobre um uma história lançou-se , com suas magras forças, no
lugar privilegiado - com os benefícios e riscos desse começo dos anos 1980, à exploração do "presente".
tipo de operação, dos quais Berlim e Timisoara deram Certamente essa história não cultivou encon
exemplos opostos em novembro-dezembro de 1989 - tros muito freqüentes com a história "imediata" e, por
como uma contribuição à marcha da História, como isso, apre ndeu mu ito pouco com ela, enquan to privi
uma autenticação do acontecimento projetado na in legia o diálogo com o sociólogo ou o politólogo, o eco
timidade dos lares. De administrador do efêmero, o nomista ou o etnólogo, o expert prestigioso ou o hu
 jo rn al is ta pô de to rn ar -s e, às veze s, um m ed ia do r qu e milde narrador. Ela preferiu se ater à observação ati
se interessa bem m ais pelo vivo do que p elo inteligível va das questões de memória ou à participação em co
e não está longe de pretender instalar-se num papel memorações ao invés de encarar a crueza ostensiva e
de mestre de cerimônias, senão de demiurgo. Sua his as dimensões novas do acontecimento. Ela deixou a
tória “imediata” encheu-se da vibração de um "vívi análise histórica sem a mediação, seja a da ascensão
do" produzido, relatado e consumido sem ter que sair do individualismo ou a do retorn o do nacional. Ela su-
do dispositivo circular do meio termo.  pe ri nv es tiu na ex pl or aç ão do s esc om br os de 39 -45 ou
Tantas iniciativas jornalísticas acabaram por da colonização, lamentou pela impossibilidade de
abalar alguns poucos historiadores. Primeiro porque a acesso a algumas fontes, apressou-se, aceitou ser
 pe ne tr aç ão de alg un s del es no s m ei os de co m un ica çã o apon tada pelos trocistas. Mas, de um jeito ou de ou
na década de 1970, com best-sellers e passagens em tro, essa história tomou emprestado e interiorizou,
 Apostrophes  como prova, tinha favorecido o diálogo, e mais do que se diz, algumas boas receitas da impren
depois porque, ao mesm o tempo, duas gerações uni sa. Na escolha de seus temas, im pelida pela atualidade
versitárias, a que tinha vinte anos na época da Liber e submetida à pressão das testemunhas e dos atores
tação e aquela da guerra da Argélia, tinham delegado que desejam que sua experiência seja rememo rada
e depois instalado solidamente algum as de suas crias, num a produção ou n um a co-produção históricas. Em
 jo ga nd o "n os doi s ca mp os "3, n a cr ôn ica da im pr en sa , suas práticas de pesquisa de campo e no uso do grava
na emissão de rádio, na produção de séries para a te dor. No estilo mais conciso de sua escrita e na cor, por
levisão, a empresa editorial misturando profissionais vezes, mais cam biante de seu relato. Em suma, em seu
contacto permanente com a exigência dos vivos e a
impetuosidade do atual.
Ainda uma palavra. Nesse encontro, mal po
* furo de re portagem. Em inglês no original. [N. do T.] voado e pouco afirmado do lado da história, há pouca
3 Ver por exemplo Annie Kriegel, "Professeur et édi confusão de gêneros e essa retidão se deve à honra da
torialiste au Figaro: les conditions de légitimité d'un corporação de historiadores. Certamente houve dife
statut en partie double" em Marc Martin, dir .,op, cit., rença ou igualdade neste ou naquele aspecto, entre
 pp. 174-191, e o prefá cio de Jacq ues Julia rd, "história imediata" e "história do presente" (sobre a
Chroniques du septième jour,   Paris, Le Seuil, 1991.

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guerra da Argélia, por exemplo). As escorregadas, no
entanto, não foram freqüentes. Entre o jornalista tor  Co n c l u s ã o
nado na ocasião, para retomar a palavra de Pierre
Rouanet, um "memorialista da vida" e o historiador
ao qual a prática do ofício, retruca René Rémond, en  po r Ser ge BERN STEIN e Pi err e MILZA
sinou "a dar ao fato todo seu lugar e nada mais que
isso", o confronto foi pequeno, mas se desenrolou na
clareza dos papéis e, no final das contas, parece ter
sido estimulante para todos. Mesmo se a história, que
seja "do presente", permanece uma disciplina do rela  No fin al des se qu es ti on am en to sob re a hi stó ria
tivo que tenta colocar racionalmente em música a do presente, afirmemos primeiro muito claramente
marcha do tempo, e nquanto que a história "imediata" nossa convicção: a história do presente é primeira
se contenta em ressuscitar, incansavelmente e com mente e antes de tudo história. Sem negar as especifi-
altivez, a vida que vai e vem. cidades que a marcam e sobre as quais retornaremos,
importa considerar que por seus objetivos, seus méto
dos, suas fontes, a história do presente não difere em
nada da história do século XIX. Em outros termos, a
Jean -Pierre Rioux identidade do objeto entre o jornalista e o historiador
do presente não deve ser ilusão. O jornalista (o bom
 jo rn al is ta ) esf orç a-s e p ar a re co ns tit ui r e exp lic ar a s eu
leitor a trama dos eventos quotidianos que o assaltam
e faz trabalho útil de informação. O historiador tenta
restituir a evolução na duração que permite com
 pr ee nd er p or qu e pro ces so ch eg ou -se à sit uaç ão p re 
sente: ele se dedica a descrever as estruturas cujas
transformações dão conta da emergência factual de fe
nômenos cuja gênese se situa sempre a médio ou lo n
go prazo.
Assim fazendo, o historiador do presente está
mais próximo por suas preocupações de seu confrade
do século XIX, da Revolução ou dos tempos m odernos
do que daqueles que perseguem com talento os fatos
do dia ou da véspera e que restituem a crônica inteli
gível e seletiva dos fatos que constituem a trama de
uma informação moderna. Como os outros historia-

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dores, o historiador do presente está preocupado com O que não significa de modo algum que a his
o peso esmagador do passado, às vezes remoto, no tória do presente nã o tenh a especificidade. A nosso
qual se situa o princípio de toda explicação histórica. ver, a primeira e mais importante é que , situando-se
Como eles, ele é obrigado a cercar uma m ultiplicidade na emergência de fenômenos de longa duração no
de fontes para aí encontrar o necessário confronto en seio do presente , ela tem por função principal modi
tre múltiplas abordagens que, sozinhas, legitimam a ficar permanentemente o significado destes, mudando
veracidade do fato, tecido inexcedível de toda reflexão as perspectivas segundo as quais os consideramos,
histórica. Ainda como eles, ele é obrigado ao rigor na  pr oc ur an do no pa ssa do no vo s ob jet os de es tu do em
análise, ao conhecimento do contexto indispensável função das preocupações do presente, abandonando
 pa ra esc lar ec er e re lat ivi za r as inf or m aç õe s dos do cu  objetos julgados obsoletos. Diremos que o longo aban
mentos, à prudência da síntese que não pode ser esta- dono que conheceu a história política não tinha re la
 ble cid a se nã o ao fin al de um a sól ida de m on st ra çã o. ção com a influência mais ou menos direta do marxis
De resto, como distinguir a fronteira cronológica que mo no plano intelectual, que considerava negligenciá
separa uma história (do passado) de uma história do veis as superestruturas, para abandonar-se à fascina
 pr es en te ? Dig am os cl ar am en te qu e ess a fr on te ir a é ção das infra-estruturas consideradas capazes de cons
mutável, variável, e que nenhuma definição parece tituir a chave universal das explicações das socieda
capaz de convencer: a data de 1939 é, sem dúvida, im  des? E a moda atual da história cultural, não ensina
 po rt an te , m as te m os ce rte za de qu e a Se gu nd a G ue r sobre nossa sociedade contemporânea, ávida por per
ra mundial representaria melhor a ruptura entre o ceber os sinais mais sofisticados de representação das
 pa ssa do e o pr es en te do qu e o cr es cim en to ec on ôm i normas sociais dando conta dos valores como motiva
co, por exemplo? A existência de testemunhas ainda ções da ação?
vivas é, sem dúvida, um fator determinante, mas que Segunda especificidade da história do presente,
não garante de modo algum o caráter presente dos a abundância de instrumentos documentais capazes
acontecimentos que eles viveram; quanto à afirmação de fornecer fontes ao trabalho do historiador e que
segundo a qual seria definido como presente o perío contribui para modificar a própria natureza da noção
do vivido pelo próprio historiador, ela parece tão arb i de arquivos. Da abundância das publicações de toda
trária quanto tributária da visão felizmente ultrapas ordem à profusão das fontes audiovisuais, passando
sada de um a história positivista cuja objetividade seria  pel o de po im en to ora l, o hi st or ia do r do pr es en te é u m
garantida pela ausência de implicação pessoal do his  pri vil egi ad o co m re laç ão a se us con fra des , poi s ele
toriador no objeto que ele estuda. A nosso ver, e o fato  pr at ic am en te jam ais co rre o riso de se en co nt ra r pr i
reforça nossa afirmação inicial, não existem clivagens vado dos documentos necessários para seu trabalho.
 pe rm it in do se pa ra r um a hi st ór ia do pa ss ad o de um a Mas a moeda tem seu reverso. A profusão exige esco
hsitória do presente porque não há entre elas nen hu  lha e classificação e o rigor do ofício histórico é aqui
ma solução de continuidade. ainda mais indispensável que alhures. Como não se
afogar sob uma montanha de palavras ou imagens,

129
sem conhecimento aprofundado do contexto, sem um
método seguro de abordagem dos documentos, sem o
sentido do essencial? Para fontes novas, novos méto
dos: a análise das imagens, fixas ou m utáveis, decorre
de métodos próprios. O depoimento oral não poderia
se restringir à pura e simples transcrição das declara
ções de testemunhas. A imprensa também não é um
 pu ro e sim ple s ref lex o da op ini ão, m as o re su lta do de
uma mediação em que o conhecimento do meio de
comunicação é essencial. Isto significa que se a histó
ria do presente é mesmo história, é u ma história par
ticu larm ente delicada para se construir e analisar.
/ Do mesmo modo, e como demonstrou a jorna-
/ da de estudos do presente, a m etodologia específica
desse período da história está ainda em construção.
Sem dúvida, e há muito tempo, foi andando que os
historiadores do presente fizeram o caminho e realiza-
 j ram trabalhos que servem de alicerce para a reflexão
 j qu e ho je se esbo ça. Ma s o te m po dos se nh or es Jo ur -
\ dain da história do presente está talvez terminado ; eis
\que vem o da análise epistemológica e metodológica.

Serge Bernstein
Pierre Milza
(CHEVS - FNSP)
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