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Aspectos Teoricos Filosoficos Psicodrama PDF
Aspectos Teoricos Filosoficos Psicodrama PDF
ASPECTOS TEÓRICOS
E
FILOSÓFICOS DO PSICODRAMA
SALVADOR – BAHIA
Ano de Organização dos textos produzidos:
2000
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ÍNDICE
Introdução
Capítulo 1
História do Psicodrama:
Da Evolução do Criador à Evolução da Criação.
O Criador do Psicodrama
Jacob Levy Moreno nasceu em Bucareste- Romênia, em 18 de maio de 1889, às 16:00 horas.
Morreu em Beacon- Estados Unidos, quatro dias antes de completar os seus 85 anos, em 14
de maio de 1974, no Instituto Moreno de Nova York. Era descendente de família judia, oriunda
da Península Ibérica. Seu pai era judeu de origem espanhola e sua mãe eslava . Jacob Levy,
o primogênito entre seis irmãos. A família emigrou sucessivamente para a Turquia, Mar Negro
e para as margens do Rio Danúbio, local onde Moreno viveu até os 5 anos de idade. Em
1895, a sua família radicou-se na Áustria, em Viena, cidade onde Moreno cresceu, estudou
Filosofia e Medicina e desenvolveu as suas primeiras experiências com o Teatro Espontâneo,
até o ano de 1924.
Concepção do Psicodrama
Moreno conta que aos 4 anos e meio organizou uma brincadeira com algumas crianças no
porão da sua casa, empilhando cadeiras sobre uma mesa, até o teto, para brincar de ser
Deus : seus amigos faziam o papel de anjos e incentivavam para que ele voasse até o chão,
ação dramática assumida pelo pequeno protagonista embalado pelos sonhos de ser Deus. O
resultado imediato foi uma fratura no braço esquerdo. A longo prazo, essa experiência é
tomada como uma Cena precursora da criação do Psicodrama. Moreno ao mesmo tempo em
que dirige a cena, transforma-se em autor e ator do drama. Seu público compartilha e
estimula o protagonista à ação. A experiência marca e a idéia germina na adolescência.
Durante a adolescência (1908-1911), Moreno apaixona-se pelo teatro, pela filosofia e por
trabalhos comunitários de recreação. Lê Rousseau, Pestallozi , Froebel e gosta do contato
com pequenos grupos de crianças, nos jardins de Viena, onde propõe e improvisa
brincadeiras, distribuindo-lhes papéis. A experiência oferece-lhe estímulos para que realize
em 1911, no Kindergarden, um Teatro de Crianças, a sua primeira sessão de Teatro
Espontâneo, ainda como estudante.
Interpretação dos Sonhos, foi questionado acerca das suas ocupações e respondeu o
seguinte:
“ O Senhor vê as pessoas no ambiente artificial do seu Gabinete. Eu vejo-as na rua, na casa
delas, em seu ambiente natural. O Senhor analisa os sonhos das pessoas. Eu procuro dar-
lhes mais coragem para que sonhem de novo. Ensino as pessoas a como brincarem de ser
Deus”.
Ao que parece, a irreverência de Moreno para com os modelos sociais estabelecidos vai lhe
permitir a concepção da sua idéia original; mas, em contrapartida, o veremos passar anos a
fio aprimorando-se para assumir oficialmente o seu papel de psicoterapêuta e ser finalmente
aceito no meio científico. Enquanto não chega esse momento, Moreno vive, experimenta,
confunde-se nos papéis de criador – criatura- cidadão. Mas não desiste : Entre 1913 e 1914,
realiza a sua première como estudante de psiquiatria, participando de um trabalho com um
grupo de meretrizes do Spittelberg, bairro de Viena, assistido por um médico e um psiquiatra
psicanalista.
Em 1914, formula o seu Convite a um Encontro, onde já podemos ver alguns dos conceitos
básicos estabelecidos, posteriormente, para o Psicodrama : a psicoterapia frente a frente,
centrada no aqui e agora, a postura de contato direto e caloroso com o paciente e a técnica
de inversão de papéis:
Divisa
De 1915 a 1917, Moreno realiza um outro trabalho de grupo, dessa vez no campo de
Mittendorf, com soldados tirolesses refugiados em Viena. Após este trabalho, concebe
algumas idéias a respeito das estruturas grupais e do efeito terapêutico do grupo sobre o
indivíduo.
Em 1917, após formar-se em Medicina, Moreno publica a revista Daimon, tendo como
colaboradores alguns membros do movimento expressionista vienense: Franz Kafka, Martin
Buber, Max Scheller, Francis James, Jacob Wasserman, Arthur Schmitzler e Franz Werfel.
Moreno mantém a publicação da revista Daimon até 1920 e nela publica as suas primeiras
experiências e principais idéias.
Conta-nos Moreno que, no início da sua carreira , não conseguia conter o seu desejo
messiânico de recriação do universo social e de construir um palco para expurgar as dores e
sofrimentos dos pequenos grupos. Admirava Marx, pela sua preocupação social e
humanística em relação ao povo, mas, criticava-o por haver esquecido o cidadão enquanto
indivíduo. Moreno era então um socialista convicto e atuante, embora não adepto. Dirigia sua
energia para questões sociais, é certo , mas sem esquecer-se nunca da sua própria
existência, que queria libertária, espontânea e criativa. Parece profundamente religioso, ao
citar Cristo, Buda, Maomé e Gandhi, mas critica os existencialistas profetas que, do seu ponto
de vista, não conseguiram consolidar sua própria existência e que morreram prisioneiros dos
seus ideais, a exemplo de Nietzche e Kierkegaard. Admira e reconhece como verdadeiros
representantes do existencialismo, um grupo que estava inserido no seu contexto histórico e
social, surgido no período de 1900 a 1920, em Viena, e que praticava a filosofia do Seinismo ,
segundo a qual, Ser e Saber são condições inseparáveis, influindo-se mutuamente. Esta
filosofia, também chamada de Hassidismo, é originária da Cabala e do judaísmo místico.
Reúne numa só realidade a existência e o pensamento, e defende além da existência de um
Deus cósmico, presente em cada pessoa enquanto centelhas divinas, a manutenção do fluxo
natural e espontâneo da existência, a importância de viver-se o momento presente, sem ater-
se ao passado ou ao futuro, a importância da liberdade, espontaneidade e criatividade.
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A filosofia do Hassidismo aproxima-se em alguns aspectos das idéias de Bergson ( élan vital)
e da teoria do Eu e Tu de Martin Buber. Ao mesmo tempo, diferenciam-se : O Deus de
Moreno não é um Deus-Tu, um Deus-Ele é um Deus igual a ele próprio, presente nele e por
isso em relação direta, não hierárquica, inseparável, transcendente, tipo : “Eu sou Deus” e,
que lhe permite falar pelo outro. Moreno escreve na orelha do seu livro Psicodrama : “Deus é
espontaneidade. Daí o mandamento: Sê Espontâneo”.
Mas, a partir da sua fenomelogia existencial, já era possível a Moreno, investir numa ação
mais elaborada e abrir espaços onde pudesse explorar as suas idéias. Em 1920, Moreno
publicou o seu primeiro livro Das Testament des Vaters e depois, realizou o seu 1º Ato Público
Psicodramático, no dia 1 de abril de 1921, dia dos loucos, na Áustria, dia da mentira, para
nós. Neste evento, realizado no período de pós guerra e com o governo austríaco em plena
desordem, Moreno propôs como tema dramático a escolha do Rei da Áustria e conseguiu
vários voluntários para encená-lo. Mas o público não elegeu nenhum dos Reis representados,
o que deve ter sido bastante frustrante para Moreno, levando-se em conta inclusive que ali
estavam sendo lançadas as bases para o enquadre do Sociodrama, trabalhado
posteriormente.
Moreno persegue as suas idéias e projeta no ano seguinte ( 1922 ), com a ajuda do seu
irmão William, um Teatro da Espontaneidade (Das Stegreiftheater), em Viena, onde passa a
realizar improvisações espontâneas com um grupo de atores profissionais, até descobrir que
a representação espontânea de situações da vida cotidiana produzem efeitos terapêuticos
(1924) . A história que Moreno nos conta é que uma das atrizes que freqüentava o teatro com
o seu marido, e que elegia sempre papéis dóceis e carinhosos para representar; era segundo
o marido, uma verdadeira megera na intimidade do lar. Intrigado com a incongruência, Moreno
passou a dar-lhe papéis opostos aos que vinha representando. Soube posteriormente, através
do marido desta atriz, que ela tornara-se mais calma e carinhosa com ele. Descobriu, dessa
forma, os efeitos terapêuticos do seu manejo técnico e passou a designar o seu Teatro
Espontâneo como Teatro Terapêutico. Moreno atribuiu a essa atriz o nome de Bárbara e ao
marido, o nome de George, para citar o seu primeiro Caso Clínico. São eles os seus primeiros
“pacientes- espontâneos”, ou seja, isentos de um contrato terapêutico, já que a proposta de
Moreno era apenas de representação dramática, com atores profissionais.
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Nessa época, o trabalho de Moreno consistia em dirigir peças espontâneas a partir de temas
escolhidos pelo grupo. Costumava usar também, a leitura de jornais do dia, para escolha e
dramatização de matérias com as quais o grupo se identificava. Esse técnica ficou depois
conhecida com o nome de Jornal Vivo. Ao perceber o valor terapêutico do trabalho que vinha
fazendo, Moreno usou novamente o seu manejo técnico com outro casal , Robert e Diora.
Mas desta vez não conseguiu o sucesso que esperava : Diora separou-se de Robert e, no dia
seguinte ele suicidou-se. René Marineau cita, na bibliografia que fez de Moreno, que este
episódio abalou profundamente as convicções de Moreno, e provou uma parada para
reflexão. Incomoda a Moreno, o fato de não haver previsto a possibilidade de suicídio ele
resolve, no ano seguinte, mudar-se da Áustria.
Neste mesmo ano, é editado o O Teatro da Espontaneidade. Neste livro, Moreno definiu
quatro enquadres psicodramáticos : o Axiodrama, onde o público assume o papel de
instigador sistemático para desvendar a Cena a partir da pessoa privada do ator, derrubando
as suas máscaras e conservas culturais; o Teatro de Improviso, onde o drama é encenado da
forma como surge, com atores e protagonistas espontâneos; o Teatro Terapêutico, onde
existe um conflito a ser trabalhado e as pessoas representam a própria vida; e o Teatro do
Criador, mais próximo ao que mais tarde ficou conhecido pelo nome de Psicodrama Individual.
Moreno projeta também nesse livro, o seu palco psicodramático e refere os caminhos da
sociometria, da psicoterapia de grupo e do psicodrama terapêutico.
Tomemos, então, o ano de 1924 como o ano de nascimento do Psicodrama, na mesma Viena
de Freud e em plena efervescência da Psicanálise. Com certeza, não era este o contexto
histórico e cultural propício à Moreno e ao desenvolvimento do Psicodrama. Conta-se até, que
em 1921, Moreno tivera um sonho “antecipatório”, da sua saída da Áustria. Moreno decide,
finalmente, deixar Viena.
Em 1925 Moreno muda-se para os Estados Unidos e instala-se em Beacon- Nova York. Em
1927, casa-se com Beatrice Beecher e passa a assumir, sucessivamente, os papéis sociais
para os quais fora preparado : abre uma Clínica Psiquiátrica, anexa à sua residência e realiza
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no ano seguinte, a sua primeira demonstração pública do Psicodrama, no Carnegie Hall, onde
passa a dirigir sessões de Psicodrama Público, três vezes por semana, até 1931. Neste ano,
publica a Revista Improviso , abordando sobre os seus métodos de psicoterapia de grupo e
paulatinamente vai encontrando apoio às suas idéias, participando de Conferências e fazendo
demonstrações do seu trabalho em Escolas, Igrejas e Universidades. Em 1932, apresenta em
Filadélfia, no I Congresso de Psiquiatria da Sociedade Americana, o trabalho que realizara
com os prisioneiros de Sing Sing, denominando- o de Psicoterapia de Grupo. Compra briga
com Slavson, líder americano da psicoterapia de grupo, e vai adiante, dedicando-se a uma
pesquisa sobre as relações interpessoais na Comunidade de Hudson, com jovens
delinqüentes. Encontra a colaboração de Helen Jennings, que na época era orientada no seu
Curso de pós-graduação- Universidade de Colômbia, por Gardner Murphy , abrindo-se dessa
forma uma grande rede sociométrica para Moreno, no campo da Psicologia Social e da
Sociologia. Publica, em 1934, Quem Sobreviverá? reeditado posteriormente com o nome de
Fundamentos da Sociometria.
Disseminação do Psicodrama
Em 1954, Moreno realiza a sua primeira demonstração pública do Psicodrama na França, por
ocasião do I Congresso Internacional de Psicoterapia de Grupo. E em 1960, faz o mesmo na
Rússia, ano em que publica também, o seu livro Psicoterapia de Grupo e Psicodrama .
Em Salvador, Bahia, o Psicodrama foi introduzido por Waldeck e Graciela D’Almeida , casal
formado por Rojas-Bermúdez , na Argentina, após a realização da 1ª Semana de Psicodrama
da Bahia, em julho de 1973. Em abril de 1974, Waldeck D’Almeida fundou e assumiu a
presidência da Associação Bahiana de Psicodrama e Psicoterapia de Grupo – ASBAP, que
segue a orientação teórica de Rojas-Bermúdez.
Referências Bibliográficas
ANZIEU, D.- Psicodrama Analítico, Campus, RJ,1981
BERMÚDEZ, R.J.- Introdução ao Psicodrama, Mestre Jou, SP,1970
FONSECA FILHO, S.J.- Psicodrama da Loucura-Correlações entre Buber e Moreno, Ágora,
SP, 1980
MARINEAU, F.R.- Jacob Levy Moreno- 1889-1974 : Pai do psicodrama, da sociometria e da
psicoterapia de grupo, Ágora,SP,1992
MORENO, J.L. – Fundamentos do Psicodrama, 1ª ed. 1959,Summus,Vol.20, SP, 1983
..............................Psicodrama, Cultrix, 2ª Ed. em Português, SP., 1974
Observação:
Dados sobre Federadas : retirados do site da FEBRAP
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Capítulo 2
Sabe-se que, tanto a teoria quanto a prática psicodramática, traduzem uma postura
filosófica basicamente existencial , textualmente explícita e particularizada pelo seu criador,
Jacob Levy Moreno. Mas cabe sobre este tema, algumas reflexões, mesmo que sejam postas
a nível de um “ensaio psicodramático teórico”.
Comecemos, então, examinando a “panorâmica” traçada por Moreno (Fundamentos do
Psicodrama, 1983) a respeito do movimento existencialista moderno, iniciado por Hegel e
Kierkegaard e prosseguido por Sartre e Heidegger.
Vimos que, historicamente, Moreno divide o movimento existencialista moderno em
três fases, começando pelo Existencialismo Cristão de Kierkegaard, em meados do século
XIX, passando pelo Existencialismo Heróico encarnado pelo Seinismo e surgido antes da
Segunda grande guerra mundial ( 1900-1920), cujos principais expoentes filosóficos foram
John Kellmer, Leon Tolstoi e Charles Péguy , incluindo na terceira fase do movimento, o
Existencialismo comtemporâneo de Heidegger e Sartre.
KIERKEGAARD
Kierkegaard comtrapunha-se à compreensão do indivíduo enquanto manifestação do
Espírito Absoluto, a ser incorporado no sistema, como sugeria Hegel, insistindo na
necessidade de apropriação subjetiva da verdade e ligando o pensar racional a algo que
estivesse vinculado à raiz mais profunda da existência. Em nome do cristianismo pelo
indivíduo, Kierkegaard defendeu a subjetividade e a singularidade deste, assumindo como
bandeira a defesa pela liberdade e responsabilidade individuais. Sublinha dessa forma, as
diferenças que são características da subjetividade, de forma contrária a Hegel, que defende
a liberdade como razão de ser essencial de todo progresso, em detrimento do indivíduo livre.
As idéias de Kierkegaard , com quem Moreno conviveu por longo tempo, são tomadas
como uma das bases filosóficas do Psicodrama, embora Moreno realce em sua análise de
Kierkegaard que o mesmo não conseguiu consolidar a sua própria existência enquanto um
fenômeno geral, prejudicando a sua vida particular à favor da Igreja Cristã. Pensamos que,
com essa análise crítica, Moreno realça a sua própria proposta ao criar os pilares filosóficos
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do Psicodrama, ou seja, em vez de realizar uma análise da existência, Moreno propõe-se com
o seu método a realizar uma análise existencial.
Prosseguindo a sua análise acerca do movimento existencialista moderno, Moreno
situa o período de 1900 a 1920 como equivalente à existência profética de Kierkegaard, desta
vez “in actu” e “in situ” , marcado pela transformação da existência e do pensamento,
mesclados à uma só realidade.
Esta fase, chamada de Existencialismo Heróico, foi iniciada por John Kellmer, Leon
Tolstói e Charles Péguy, considerados grandes pensadores existencialistas. Moreno contudo,
critica-os veementemente, atribuindo aos mesmos uma “neurose de criatividade”, uma vez
que, tal como os seus antecessores profetas, não conseguiram realizar a sua própria
existência e também, aos seus sucessores do próximo período que, segundo Moreno, não
conseguiram dar à sua existência uma nova expressão de pensamento, isolando-se do
contexto histórico.
Moreno escolhe como verdadeiros representantes do Existencialismo Heróico o grupo
do “Seinismo” : representantes adeptos a uma “ciência do ser” , que expressava de forma
plena a filosofia existencial e fenomenológica, onde a idéia do Ser foi adotada e vivida, sem o
reconhecimento de limites e incluindo cada instante da existência. Surgido antes da 2a Guerra,
também em Viana, o Seinismo defendia o pensamento segundo o qual SER e SABER são
inseparáveis; sendo que o Ser é uma pre-condição do Saber, pois a partir do Saber nunca se
poderia alcançar o Ser. Os princípios básicos deste grupo consistiam em manter o fluxo
natural e espontâneo da existência sem ater-se ao passado ou ao futuro, vivendo sempre a
situação do momento presente, o instante, a espontaneidade e a criatividade.
É dispensável registrar que é desta idéia filosófica básica que decorrem os principais
conceitos teóricos do Psicodrama, delineados por Moreno na Teoria da Espontaneidade.
Chegamos então, à terceira fase do movimento existencialista moderno, denominado
por Moreno como Existencialismo Intelectual Contemporâneo, onde figuram como destaque
Heidegger e Sartre no campo da filosofia, e Jaspers, no campo da psiquiatria . Esta fase ficou
caracterizada por uma preocupação radical com o conhecimento dos problemas da existência,
adotando uma corrente de pensamento essencialmente racional .
Moreno não demonstra simpatias por esta corrente de pensamento, embora atribua-se
o conceito moreniano de subjetividade ao conceito de subjetividade de Sartre, o qual teria sido
ampliado para incluir o fenômeno como histórico.
Sartre acentua a questão da subjetividade como uma verdade inter-subjetiva, que
nesse sentido é a-histórica. Moreno, ao contrário, toma a subjetividade como um fenômeno
histórico, tal como Marx e Husserl, onde a verdade inter-subjetiva é encarada do ponto de
vista da realidade e do “aqui e agora” , ou seja, a partir do conhecimento vivencial do
indivíduo, o que inclui seu pensamento, sentimento e ação. Nesse sentido, não vimos como
chegar a uma correspondência de pensamento entre Moreno e Sartre no que se refere ao
conceito de subjetividade.
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A DIALÉTICA MARXISTA
De acordo com a dialética marxista – método dialético proposto pelo materialismo
histórico, a realidade ou o indivíduo não podem ser dicotomizados. O concreto é a síntese de
múltiplas inter-relações. Por isto não existe linearidade, ou seja, causa e efeito absolutos.
Dessa forma, cada fato ou fenômeno teriam múltiplas causas, formando uma rede de relações
intrínsecas de realidades subjetivas, que num dado momento existem e que por isso são
históricas.
Marx combateu o materialismo mecânico e abstrato da ciência natural, que excluía a
história e seus processos, defendendo o naturalismo ou humanismo, fortemente presente em
suas idéias. No seu entender, os cientistas naturais partiam do idealismo, filosofia segundo a
qual não é o mundo dos sentidos, em constante mutação, que constitui a realidade e sim
essências incorpóreas ou idéias.
O materialismo histórico de Marx, em contraste ao existencialismo de Hegel, ensina
que o processo vital da realidade humana deve partir de homens reais e atuantes, baseando-
se na realidade objetiva, a qual, traz os seus ecos ideológicos.
Vimos nesse ponto, uma correspondência importante entre os pensamentos de
Moreno e os de Marx, que estuda a existência e a sua história a partir do homem real e das
condições econômicas e sociais em que vive, e não a partir das suas próprias idéias.
Consideremos, também, que a crítica que Marx faz a Hegel no que se refere à
consciência transcendental esotérica, decorre do próprio conceito de transcendência de
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Hegel, que parte da lógica formal para alcançar a lógica transcendental. Em Husserl,
encontramos um outro conceito de transcendência, que parte de uma perspectiva naturalista,
defendida por Marx, e que é proveniente do mundo dos sentidos; 2) No que se refere ao
conceito de Deus, encontramos uma citação do próprio Moreno, criticando também os líderes
profetas, ao tempo em que personaliza o seu conceito de Deus :
“ Na atualidade, quando o Deus-Eu esta universalizado, como em meu livro, todo o conceito
de Deus se converte em humildade, debilidade e inferioridade : micromania mais que
megalomania. Deus jamais foi tão humildemente descrito e tão universal quanto em sua
dependência como em meu livro. Foi uma transformação importante a do Deus cósmico dos
hebreus, o Deus-Ele, em Deus vivo de Cristo, o Deus-Tu. Mas foi ainda muito mais
desafiante a transformação do Deus-Tu em Deus-Eu, que põe toda a responsabilidade em
mim e em nós, no Eu e no Grupo... Os líderes, profetas e terapeutas de todos os tempos,
sempre tentaram jogar o Deus e tentaram impor o seu magnífico poder e superioridade sobre
a pobre gente, ao homem pequeno. No mundo psicodramático, a moeda deu a volta. O que
encarna o Deus já não é mais o amo, o grande sacerdote ou o grande terapeuta” .
( Psicodrama da Loucura, Fonseca F., 1980).
Voltando à Marx, vimos que ele distingue claramente o seu materialismo histórico do
materialismo contemporâneo dos existencialistas ideológicos, criticados por J.L. Moreno, onde
o objeto e a realidade não são apreendidos pelos próprios sentidos e a realidade é tomada
como objeto de contemplação ( Anschawing) e não como uma prática da atividade sensorial.
Chegamos aqui a um outro ponto polêmico : até que ponto podemos considerar que
Moreno sofreu influências marcantes de Martim Buber , filósofo seguidor do hassidismo e
criador da Teoria do Eu-Tu, também judeu radicado em Viena e que trabalhou na revista
Daimon entre 1918 e 1920 ?
O HASSIDISMO
Segundo o que se sabe, o hassidismo é uma seita religiosa judia , originária da Cabala
e que provem do judaísmo místico, o qual prega a existência de um Deus cósmico, presente
em cada pessoa enquanto centelhas divinas. Embora este tipo de pensamento pareça ter
influenciado bastante a Moreno, no início dos seus trabalhos, vimos, a partir da citação
anteriormente colocada, que Moreno evoluiu posteriormente o seu conceito cósmico-místico.
Podemos verificar isso mais claramente ao estudar a Teoria Geral dos Papéis , a qual
parte de um conceito dialético ativo, mais condizente à Dialética Marxista, onde os papéis
emergem das formas reais e tangíveis que o eu adota, formando uma rede de relações
subjetivas e inter-subjetivas, lastreadas pela Tele e o Encontro. Em Buber, pelo que pudemos
ver, existe uma relação dialógica entre o EU-TU, sugerindo uma relação unilateral
contemplativa, passiva e idealizada, e que hierarquiza os pares. A perspectiva do Encontro
moreniano é pois, diferente da perspectiva do Encontro de Buber : Moreno defende a relação
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A palavra fenômeno ( aquilo que aparece) foi usada na filosofia desde Platão e Aristóteles,
adquirindo no decorrer do tempo um sentido cada vez mais subjetivo. Em Husserl, desliga-se
completamente da relação a qualquer objeto exterior à consciência, referindo-se ao puro
objeto imanente enquanto aparece na consciência.
A palavra fenomenologia foi usada inicialmente por Lambert, em 1764, assumindo o
significado de “doutrina da aparência” . Posteriormente foi usada por Kant e sobretudo por
Hegel, mas sempre num sentido diferente daquele que lhe deu Husserl.
Em sentido corrente, a palavra fenomenologia, derivada de logos ( razão, descrição), é
usada para descrever ou dar uma razão íntima ao fenômeno. Mas, recebe a partir de Husserl
um significado particular : “ a fenomenologia é também e principalmente um método filosófico
e uma atitude especificamente filosófica” .
Baseando-se nesta noção de fenomenologia Husserl elabora um método de depuração
rigorosa ( Epoché), de tudo o que não oferece garantia suficiente de uma Evidência
Apodíctica ( intuição pura, sensível, intelectiva e universal) . Toma como objeto o fenômeno
puro ( consciência inter-subjetiva) acerca do qual não poderá haver nenhuma dúvida. Seu
método de evidenciação é um método descritivo, que explora a intuição pura na presença do
objeto, e rigorosamente analítico, buscando averiguar tudo o que se pode incluir como
experiência transcendental.
O método fenomenológico de Husserl, como já foi dito, consiste em fazer reduções das
partes questionáveis ou sujeitas a deduções e contradições. Desenvolve-se gradualmente,
submetendo-se a várias epochés : 1) redução do objeto à consciência; 2) redução psicológica
do objeto; e 3) redução transcendental do objeto.
Durante a redução psicológica ainda não se põe “entre parênteses” a existência natural
ou mundana do eu, nem os seus atos ou vivências ( Erlebnis), os quais conservam um caráter
psicológico. Através da redução do objeto, Husserl pretende atingir a consciência
transcendental, chamada de consciência pura, pondo “entre parênteses”a existência
psicológica.
Assim, a fenomenologia de Husserl põe “fora de circuito” a realidade da natureza, até
mesmo a realidade do céu e da terra, dos homens e dos animais, do próprio eu e do eu
alheio. Mas retém o sentido de tudo isso. É este o eu puro que pode apreender, sem perigo
de erro, tudo o que se lhe apresentar como fenômeno da consciência. Foi dessa forma que
Husserl disse haver chegado a um idealismo transcendental fenomenológico. Esse idealismo
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1) O “APRIORI” ( EPOCHÉ)
Temos de proceder com plena ausência de pressupostos e com inteira liberdade ,
“reduzindo” ( epoché) todas as influências de opiniões científicas ou filosóficas, para
podermos nos orientar exclusivamente pelas coisas em si, aprioristicamente, admitindo-se
que “Não é das filosofias que deve partir o impulso da investigação, mas sim das coisas e dos
problemas”( Husserl) .
2) A EVIDÊNCIA
O fundamento radical tem de ser evidente por si mesmo, os fatos devem excluir as
dúvidas de modo absoluto e imediato ( evidência apodíctica), tal como um reflexo, uma auto-
reflexão, plenamente esclarecedora do sentido da coisa ( Sinn). Esta noção de evidência esta
relacionada ao conceito de intuição . A intuição enquanto uma evidência apodíctica é : -
uma intuição sensível ( evidência de sentimento)
- uma intuição intelectiva ( Imagem), aquilo que pode afirmar o conteúdo
- uma intuição eidética ( Perceptiva), evidência de conceitos universais, essências e “eidos” que
podem ser apreendidos de imediato através da presença do objeto e na sua corporiedade, ou
de modo indireto, através de uma recordação ou Imagem. No caso da Imagem, temos uma
intuição originária, também chamada de percepção, no sentido estrito (wahrnehmung).
3- A INTENCIONALIDADE
A intencionalidade parte do eu e invade temporariamente os dados materiais,
unificando-os em ordem à constituição e designação do objeto enquanto consciente e
significado. Informando os dados materiais, dá origem à compreensão subjetiva, que é o
elemento real da vivência, chamado de “Nóesis” . A nóesis é projetada ao objeto, originando a
vivência objetivamente orientada, que Husserl chama de “Noema” . O noema é o elemento
irracional ou intencional da vivência ( aquilo que foi colocado “entre parêntesis” ) . Esse
elemento irreal encontra o sentido do objeto intencional ou o sentido objetivo e, por isso,
transcende a vivência para um pólo oposto ao eu puro. Porém, essa transcendência efetua-se
na imanência. O objeto intencional difere pois do objeto real, existente em si mesmo, exterior
à consciência. Foi dessa forma que Husserl chegou a um idealismo transcendental
fenomenológico, admitido por poucos, onde por exemplo, o sentimento existe enquanto
qualidade ( amor, por exemplo), independentemente da vivência e de que realmente haja um
objeto intencional ( alguém, um outro ).
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4- A LÓGICA DA CONTRADIÇÃO
Husserl chama a atenção para o ato e a conteúdo do ato. Enquanto a Psicologia
Experimental diz que não pode haver um conteúdo do ato , sem o ato, ele argumenta que isso
não implica que as leis reguladoras do ato e do conteúdo sejam as mesmas; se assim fosse,
teríamos que reger os conteúdos pelas leis que regulam os atos. Neste caso, a verdade que
se refere ao conteúdo ficaria dependente do processo psicológico que se refere ao ato,
levando-nos a um puro subjetivismo e relativismo da verdade. Considerando que a verdade é
objetiva e absoluta, Husserl vê aí um contradição lógica. Afirma então que o que se dá é
justamente o contrário : é o ato que depende das leis do conteúdo, para estar em
conformidade com a matemática.
É nesse ponto que Husserl rompe com a lógica formal e parte para o estudo do fenômeno
puro, formulando a lógica da contradição ou a lógica da verdade, mais profunda e radical, no
domínio da qual se manifesta o impulso reflexo de evidenciação.
5- A INTERSUBJETIVIDADE
Quando a objetividade se fundamenta pela relação a um objeto exterior, basta provar esta
imposição como necessária, para garantir sua validez. Mas se o objeto é considerado como
meramente significado, o único modo absolutamente válido de garantir o seu caráter de
existência é esclarecer que o conhecimento dele não é meramente subjetivo
( em única direção ), mas intersubjetivo ( em direção dupla ). Dessa forma fica afastada a
idéia de anomalia individual.
CONCLUSÃO
Ao término do nosso estudo, e de acordo com tudo o que foi aqui colocado a respeito
das principais correntes filosóficas, que direta ou indiretamente, poderiam ter
influenciado o pensamento de Moreno, ao criar o método psicodramático, chegamos
também à conclusão de que, várias correlações metodológicas podem ser feitas entre
o Psicodrama e a fenomenologia de Husserl, como por exemplo :
Não obstante as semelhanças, não podemos deixar de perceber que Moreno, ao criar e
desenvolver o Psicodrama, partiu sempre de uma perspectiva própria, singular e específica a
cada momento de produção científica, utilizando-se plenamente da sua liberdade,
espontaneidade e criatividade, dando a todos os seus conceitos e métodos um sentido
particular ( Sinn) representante do seu próprio estilo pessoal de pensamento.
Sua visão do ser humano é tão ampla quanto o é sua proposta psicoterapêutica, através da
Socionomia, indo do teatro terapêutico espontâneo à sociatria e, quem sabe, à possibilidade
de “suspensão” real do personagem “analista- terapeuta” através da “Vídeo Terapia”, proposta
não desenvolvida até o momento , mas guardada talvez para o futuro?
BIBLIOGRAFIA
Capítulo 3
Jacob Levy Moreno, ao conceber a idéia do Psicodrama, talvez por ultrapassar, em muito, as
idéias científicas da sua época, mostrava-se uma pessoa inquieta, inconformada às
exigências sociais e aos conceitos e valores vigentes no meio científico, inclusive a nível
filosófico. A sua compressão do ser humano, vai além das noções do existencialismo de
Kierkergaard (1), embora delas se aproximem e, da mesma forma, das idéias do élan vital e
do conceito de momento, de Bergson. Sua noção de Encontro – olho no olho, face a face,
simétrico e em dupla via, difere, também, do conceito de Encontro de Martin Buber - onde se
prioriza uma relação mais comtemplativa, tipo sujeito-objeto. Dirigem-se para o Hassidismo
(2), mais ainda não é isso, ou só isso que lhe basta. Ele deseja um ser humano socialmente
atuante, tal como Marx, mas, preocupa-se com a preservação da liberdade individual e
coletiva, com a criatividade e espontaneidade que é aprisionada pelo sistema. Propõe, então,
uma análise existencial da existência – o Dasain ou Dasainálise, onde o indivíduo é convidado
a concretizar a sua própria existência, vivendo, existindo e fazendo-se existir em atos, não
apenas em palavras, e onde será estimulado a exercitar a sua espontaneidade e criatividade.
Pautado nessas idéias filosóficas, por muitos chamada de Religião do Encontro, Moreno
trilha caminhos que o levam à concepção do Teatro Espontâneo e descobre o valor
terapêutico da representação espontânea e inversão de papéis, através do Caso Bárbara
(1924). Em seguida, propõe-se a fazer um trabalho terapêutico , dentro do mesmo enquadre,
e assume o Caso Robert – Diora. Seu Teatro Terapêutico, falha - Moreno não obtém o
sucesso esperado, neste 2º Caso. Ao que parece, seus primeiros pacientes espontâneos ,
fazem-no entrar num novo ciclo evolutivo, a partir da sua própria experiência e da vivência do
seu papel profissional, despertando-lhe para novos aspectos referentes à sua descoberta :
uma 1ª via- valor terapêutico da dramatização de papéis, lhe indica o caminho inicial do
psicodrama: o Teatro Terapêutico; e uma 2ª via – limitações do Teatro Espontâneo, atinge a
consciência do seu papel de psicoterapeuta, a necessidade de reflexão, de método, de ação
social específica e especializada. Moreno, então, dirige-se para Nova Iorque (1925), em
busca de um novo espaço, e inaugura uma nova fase de aprimoramento científico da sua
proposta de trabalho. É dentro desse contexto de evolução pessoal que as suas idéias
realmente frutificam e surge, de fato, o psicodrama, a sociometria, a psicoterapia de grupo e a
sociodinâmica ( 1934).
Dentro dessa perspectiva, a Socionomia seria uma ciência - aquilo que é ao mesmo tempo o
nada e o tudo que contém, ou seja, uma proposta de estudar cientificamente, as leis que
regem o comportamento social e de grupo, levada a cabo por Moreno, desde a sua
adolescência.
Princípios Básicos
Além dos princípios filosóficos básicos, definidos por J.L. Moreno, que podem ser melhor
detalhados através da seita praticada pelo Seinismo ou Hassidismo – Filosofia Existencial
Fenomenológica, parece-nos essencial, a nível metodológico, que observemos as cinco
principais noções da fenomenologia de Husserl, adaptando-as à nossa prática
psicodramática, as quais, podem, em muito, enriquecê-la . Essas noções são as que se
seguem:
1) O APRIORI (ÉPOCHÉ) : Segundo Husserl, não é das filosofias que devem partir o impulso
da investigação, mas sim das coisas em si e dos problemas que temos à frente –
fenômeno puro. E para realizarmos essa investigação, é necessário uma total ausência de
pressupostos à vivência, que se considere o fenômeno puro, em seu estado original, e se
chegue à uma compreensão do mesmo através da vivência de um Evidência Apodíctica -
consciência intersubjetiva, da qual não se tem nenhuma dúvida.
No Psicodrama, é dessa forma que fazemos a entrada em Cena, com textos espontâneos,
improvisados no palco pelo Protagonista, fazendo atuar realidade e a fantasia, em busca da
Cena esclarecedora.
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2)A EVIDÊNCIA : Na Evidência Apodíctica, os fatos devem excluir a dúvida, via a vivência e
através,
Da intuição sensível – evidência de sentimentos
Da intuição Intelectiva – através de uma Imagem
Da intuição Perceptiva -Recordações que partem de Conceitos Universais : essências e
eidos apreendidos, de forma direta, na presença do objeto na sua corporiedade, ou
apreendidos de forma indireta, através de uma Imagem.
No Psicodrama, esta noção de Lógica da Verdade, também existe, pois, parte-se sempre
da Ação e da vivência psicodramática, para o estudo do fenômeno. Através da vivência da
dramatização ou da Construção de Imagens, pode-se chegar ao Conteúdo do Ato sem
precisar inferi-lo, através de uma Interpretação.
Observemos agora, o fator dinâmico da teoria moreniana, presente na sua concepção do ser
humano e que aproximam-se das idéias de Marx , para tentar verificar o Encontro das idéias
de Marx com as idéias de Moreno :
A DIALÉTICA MARXISTA
MARX diz que:
A realidade e o indivíduo não podem ser dicotomizados e por isso não existe linearidade
( causa e efeito absolutos);
Cada fato ou fenômeno possui múltiplas causas e formam uma cadeia de relações
intrínsecas e de realidades subjetivas, que num dado momento existe e que por isso é
Histórica;
Considera que existe uma Dialética entre a Realidade Objetiva e a Realidade Subjetiva,
onde a realidade subjetiva é tomada como uma prática da atividade sensorial, que é
apreendida pelos próprios sentidos e não através de uma atividade contemplativa do
pensamento – das idéias.
26
MORENO
Diz que a Organização da Personalidade decorre da interação dinâmica de três fatores:
forças hereditárias ( fatores biológicos)
forças sociais ( Tele = relações interpessoais x relações de fantasia = Átomo
Social)
forças ambientais ( papéis sociais = realidade externa x realidade interna)
Moreno decompõe o Universo Social em três Dimensões:
Sociedade Externa = família, estado, igreja, etc
Matriz Social ou Átomo Social = mundo socioafetivo
Realidade Social = que é o reflexo da oposição dialética entre a Realidade Social vigente (
Realidade Externa) e a realidade interna dos grupos ( Relações Tele = redes
sociométricas).
O QUE É A SOCIONOMIA ?
Moreno define a Socionomia como a ciência que estuda as leis que regem o
comportamento social e grupal, a partir de 3 pontos de referência :
RAMOS DA SOCIONOMIA
(SUB-DIVISÕES)
Objetivo do Sociodrama :
Propõe-se ao tratamento sociodinâmico das relações interpessoais, em grupos operativos-
grupos de estudo, trabalho, igrejas, comunidades.
Protagonista : o Grupo
NOTAS
(1) Para Kierkergaard, Hegel havia suprimido a distinção entre Deus, o mundo e o
indivíduo, mergulhando tudo num único sistema, representado pelo Espírito Absoluto ,
onde o racional é o real e onde o indivíduo e o seu extremo coincidem concretamente
no Universal. Dentro de um sistema assim fechado, que leva tudo à abstração, ele
considera que o próprio homem é absorvido no absoluto das idéias, restando-lhes
apenas delimitar um lugar dentro do Sistema. É com este aspecto da filosofia de
Kierkergaard que Moreno parece se identificar, uma vez que, tal como Kierkergaard,
defende uma doutrina onde o indivíduo, sua subjetividade, liberdade e singularidade,
são princípios básicos.
(2) O Hassidismo é uma seita religiosa proveniente da Cabala-Judaísmo Místico, que
defende a filosofia do Seinismo , segundo a qual, Ser e Saber são inseparáveis. Reúne
numa só realidade a existência e o pensamento. Defende o naturalismo, a manutenção
do fluxo natural e espontâneo da existência, o valor do momento presente e o estímulo
à espontaneidade e criatividade.
29
Capítulo 4
PAPÉIS PSICODRAMÁTICOS
E PAPÉIS SOCIAIS
FANTASIA REALIDADE
IMAGINÁRIO REAL
31
PAPÉIS PSICOSSOMÁTICOS
Maio de 1998.
Capítulo 5
Facilita-se tal compreensão fazendo-se uma leitura das formas em cena, com o
envolvimento do protagonista ou, como orienta Bermúdez, passa-se a “investigar as
relações existentes entre os seus elementos expressivos e a verificar as inter-relações
existentes entre cada parte e contra-parte da Imagem”. Através dessa metodologia,
normalmente o protagonista chega à auto-compreensão e à auto-avaliação.
Dentro da minha experiência com a técnica, houve ocasiões onde tornou-se desnecessário,
inclusive, passar o protagonista para a Imagem e pedir-lhe o Solilóquio. Ao fazê-lo tomar
distância da Imagem e visualizá-la, obtinha-se insights da situação, tornando-se
desnecessário o desdobramento técnico-metodológico do procedimento. Nessas ocasiões, a
qualidade da Imagem era muito boa. Notamos que certos pacientes conseguem mais
facilmente uma auto-compreensão significativa logo após o processo de produção da
Imagem ou, no momento seguinte, ao assumir o lugar de cada parte e contra-parte da
Imagem para realizar o Solilóquio, etapa do procedimento considerada por alguns como um
“assumir e inverter papéis” – embora particularmente acredite ser mais adequado utilizar
essa terminologia para “unidades de conduta”(desempenho de papéis) e não para unidades
de gestos e posturas corporais, que compõem representação plástica de uma situação,
como estados de ânimo, a percepção simbólica de um conflito ou papel, etc. ou seja, a
Imagem reflete, estrutura, decompõe elementos, mas é estática. Ela pode levar ao jogo de
papéis, mas se isto acontece, tecnicamente estaremos passando à fase clássica de
dramatização ( jogo de papéis).
A utilização desse método nem sempre é uma tarefa fácil. Requer muito tempo de prática,
determinação e paciência por parte do terapeuta. Principalmente quando estamos lidando
com pacientes muito bloqueados nos seus afetos, com poucos recursos expressivos e
muitas dificuldades de simbolização. Percebi, no entanto, que mesmo para essas pessoas, o
exercício continuado de produzir Imagens, pode servir-lhes de estímulo ao desenvolvimento
dos seus canais cenestésico e visual, permitindo-lhes de alguma forma ampliar o seu
contato com o seu mundo interno de sensações, sentimentos e fantasias, ajudando-os a
melhorar também a qualidade dramática das suas Imagens e a liberar o seu potencial
criativo para o desempenho de papéis.
Capítulo 6
Focar a atenção do paciente, diminuir o controle do eu, facilitar o acesso ao material inibido
e restabelecer a comunicação perturbada, são alguns dos aspectos mais corriqueiros para
quem lida com a psicoterapia psicodramática. A isenção ao método de exploração do
inconsciente através dos símbolos verbais e das técnicas de interpretação, impõem
permanentemente ao psicodramatista a busca de novos recursos interacionais. Não nos
basta “ouvir”, é preciso “operar”, entrar em setting, e aquecer o paciente para a produção
psicodramática.
Como no plano pessoal sempre tive interesse pela música, desde muito pequena, não tive
resistências em utilizá-la como recurso técnico no meu trabalho clínico. Mas, reconheço ser
às vezes delicado o manejo terapêutico da música, em sessões de psicoterapia. Precisamos
dispor de um grande repertório musical, que nem sempre faz parte das nossas preferências
e que, é claro, possa estar presente a cada sessão. Além disso, ter desenvolvido alguma, se
não muita, sensibilidade musical em relação ao grupo, ou ao protagonista, e usá-la com
adequação, observando-se os objetivos terapêuticos em cena.
Ela pode ser dirigida para o grupo ou para o indivíduo. Quando dirigida para o indivíduo,
levamos em consideração as suas dificuldades para criar vínculos entre o Papel e o seu
Complementar. Nesse caso, pode-se dirigir a música tanto para o Papel do protagonista
quanto para o Papel Complementar. Decorre daí a categorização da música enquanto
Complementar, Suplementar ou Indutora .
A MÚSICA COMPLEMENTAR
A MÚSICA SUPLEMENTAR
É usada quando o objetivo terapêutico é suprir uma parte carente do papel do protagonista.
Ou seja, quando ocorrem discrepância ou desintegração de conteúdos, fazendo com que o
protagonista pense, sinta e atue de forma descoordenada, gerando dificuldades para o
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estabelecimento de vínculos. Sabemos que, quando existe uma certa clareza entre os
conteúdos ( o que se pensa e o que se sente), integra-se melhor o agir no mundo. É isso o
que Bermúdez chama de papel bem desenvolvido, do qual surgirá determinado vínculo,
estabelecendo-se uma interação espontânea entre o papel e seu complementar, a partir da
qual pode-se adequar terapêuticamente a situação em cena e objetivar o vínculo no “aqui e
agora” .
A MÚSICA INDUTORA
A MÚSICA HOMOGENEIZANTE
A MÚSICA FACILITADORA
A MÚSICA INIBIDORA
Usada para desaquecer estados afetivos muito agitados, que podem chegar a desencadear
atos irracionais , maníacos ou violentos. A introdução de uma música sacra, por exemplo,
pode facilitar novas formas de expressão dramática da violência ou da produção maníaca,
inibindo a atuação irracional.
Passando a fazer uso das possibilidades de instrumentação clínica da Música como técnica
auxiliar ou de aquecimento grupal, pude ir percebendo aos poucos que, tal como as
técnicas verbais auxiliares, elas podem funcionar, de acordo com o alvo e a clientela , como
um “duplo” do paciente, como um “espelho”, ou ser usada para fazer uma “interpolação de
resistências”, facilitando sobremaneira o desenvolvimento do processo terapêutico Alguns
psicodramatistas podem continuar preferindo utilizar apenas as técnicas clássicas. Mas será
esta uma simples questão de escolha? Acho que talvez seja uma simples questão de
escolha ou de preferência de estilo , quando estamos trabalhando com pessoas que
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13ª sessão : Uma paciente chega à sessão deprimida e revoltada com a ausência da mãe ao
seu aniversário. É tomada como protagonista , mas recusa-se a passar ao Cenário. Como
todo o interesse do grupo se dirige para ela, faço uso da técnica de Construção de Imagens ,
como espelho, tentando com isso uma “interpolação de resistências”. O grupo vai mostrando
à paciente como percebe a sua relação com a mãe. No final, peço-lhe que escolha uma
Imagem e após algumas discussões sobre a escolha, a paciente aceita passar ao Cenário e
assumir o seu lugar na mesma. A partir daí passo a usar músicas com conteúdo materno e a
paciente reage extravasando os seus sentimentos através do choro. Após o alívio dessas
tensões, a paciente pôde passar à dramatização do tema trazido, desenvolvendo bem tanto
o seu papel, quanto o da mãe.
Essas foram as duas primeiras oportunidades que tivemos de fazer uso da música enquanto
objeto intermediário . A partir daí passamos a compreendê-la como um recurso de
ampliação do fenômeno tratado, como se estivéssemos a oferecer ao paciente uma “lupa”,
para a auto-compreensão dos seus sentimentos.
Referências Bibliográficas
Rojas-Bermúdez, G. Jaime. - Que és el Sicodrama Editorial Celcius – 1984
- Introdução ao Psicodrama –Ed. Mestre Jou –1977
- Títeres e Sicodrama –Editorial Celcius – 1985
- Avances en Sicodrama – Editorial Celcius-1988
41
Capítulo 7
AS TÉCNICAS DO INGERIDOR
Artigo decorrente de monografia de conclusão de Curso
Unitermos
Técnicas Auxiliares / Psicodrama Grupal / Técnicas de Aquecimento / Realidade
Suplementar / Comunicação Natural / Estrutura Social / Matriz de Identidade Total / Papéis
Psicossomáticos / Núcleo do Eu. / Papel de Defecador / Técnicas do Ingeridor.
Vimos a princípio que, durante a aplicação dessas técnicas, prioriza-se a comunicação não-
verbal com o paciente, intensificando-se dessa forma as suas sensações cenestésicas. O
procedimento técnico das mesmas, encontra-se então associado a um tipo de produção que
parte do Diretor para o protagonista, com o objetivo explícito de “aquecê-lo para a ação” .
Define Moreno que é através desse tipo de procedimento que o Diretor de Psicodrama
cumpre a sua função de produtor de cena, com a finalidade de “envolver o paciente na sua
própria experiência e tornar mais tangíveis as suas alucinações” , criando uma ponte,
através de uma realidade suplementar, onde o mesmo possa sentir-se em situação e atuar a
partir dos seus próprios fantasmas, compondo espaços entre o real e o imaginário da sua
existência.
Penso que uma das características mais marcante das Técnicas do Ingeridor seja
exatamente a de produzir uma realidade a nível simbólico, proporcionando ao protagonista
“tornar real o que é fictício” e “passar para fora o que esta dentro”, em busca da Catarse de
Integração, sem perder os parâmetros de vivência da realidade imediata.
Moreno esclarece ainda que o Psicodrama abrange todas as formas de expressão, as quais
podem ser estimuladas a emergir na sessão através de estímulos de várias espécies, sejam
eles visuais, corporais, musicais, cromáticos, olfativos, rítmicos ou psicoquímicos. O objetivo
é que estes estímulos sejam usados como impulsores, que sirvam ao processo de
aquecimento e que levem à Catarse de Integração . Voltaremos a essa questão
posteriormente.
Uma outra característica das Técnicas do Ingeridor, observada a partir deste estudo, refere-
se ao desencadeamento de “esquemas produtores” . Essas Técnicas fazem emergir uma
série de comportamentos espontâneos, a exemplo da resposta - sorriso e das imagens
mentais e cenestésicas que produzem. Vimos, por exemplo que a Técnica 1, ao focar a
atenção no olhar e no que acontece ao redor, instrumentando as noções de distância-
proximidade, evoca a “Gestalt–Sinal” ( resposta - sorriso), como produto da
43
A Técnica 2 (onde o protagonista é levantado pelo grupo), ao focar a atenção nas noções de
deslocamento no espaço e peso, parece produzir uma “vivência oceânica”, mesclando a
sensação de solidão e abandono a uma sensação de tranquilidade e sossego.
Provoca um desligamento total do ambiente, sem que o indivíduo perca a noção de onde
provêm os estímulos . Por exemplo, o protagonista sente “como se” estivesse morto, mas
sabe que não está morto. É similar ao que diz Bernis a respeito das imagens mentais :
“ Sabe-se de onde provêm as sensações experimentadas e que estas fazem parte das suas
próprias aspirações imaginárias, as quais são dotadas de existência durante a vivência”
(p.92,93).
Referendada nos conceitos teóricos vistos até aqui, supomos que a primeira parte do
procedimento das Técnicas do Ingeridor, incidem espontaneamente os iniciadores físicos,
mentais e ambientais necessários à produção de uma “realidade suplementar” , fazendo o
indivíduo entrar em contato com as suas fantasias e com partes dissociadas de si mesmo; e
que num segundo momento , cria-se uma fusão imaginária entre realidade e fantasia,
característica do Primeiro Universo da Matriz de Identidade Total, onde todos os papéis são
vivenciados em suplementariedade.
No que se refere aos “esquemas produtores”, conceito que provém da Etologia, sabe-se que
eles produzem certas “disposições anímicas” a partir da combinação estímulo externo –
estímulo interno, e que desencadeiam comportamentos inatos e estados de ânimo
específicos relacionados a um mesmo contexto, e que são reconhecidos e experimentados
por indivíduos da mesma espécie de forma conjunta e universal.
Discutimos até aqui sobre alguns aspectos de produção psicodramática das Técnicas do
Ingeridor, que facilitam ao protagonista durante a sua vivência concretizar e exteriorizar os
seus fantasmas, e ser acompanhado e compreendido pelo próprio grupo, também envolvido
na ação dramática enquanto egos-auxiliares.
É assim que, na patologia do Defecador, confunde-se o que é pensado com o que ocorre
fora de si mesmo
Dessa forma, se existe confusão entre as áreas Ambiente-Mente , a via de acesso mais
favorável seria através da área Corpo, ou seja, através dos seus sentimentos e emoções o
indivíduo teria maior capacidade de elaboração.
Isto esclarece porque na patologia do Defecador, pode-se utilizar como ponte o próprio
corpo, trabalhando-se à partir das Técnicas do Ingeridor, ou seja, desse lugar, o indivíduo
poderia discriminar melhor o que provém de fora e o invade- o luto conseqüente das suas
perdas afetivas, por exemplo; e o que provém de dentro e ele deposita no ambiente - por
exemplo: como foi que você adivinhou o meu pensamento? .
Usamos aqui como exemplo ilustrativo o caso clínico de uma paciente Melancólica -
porosidade no papel de Defecador relativa à área Mente, que apresentava breves períodos de
hipomania ( vicariância no papel de Urinador), intercalados a crises de vômito e distúrbios
gastrointestinais ( somatizações). As suas tentativas de interação e integração ao meio
ambiente vinham sendo frustadas, fazendo-a retornar freqüentemente à sua depressão .
Estava em Psicodrama Grupal há cerca de um ano e meio e ainda sentia grandes dificuldades
de estabelecer um relacionamento amoroso estável, um trabalho, ou mesmo ser bem
sucedida nos seus planos de ingresso numa universidade. Socialmente, mantinha-se apática
e reticente quanto aos seus atributos pessoais, demonstrando baixa auto-estima e evoluindo
silenciosamente em direção a pensamentos suicidas, após um rompimento amoroso.
Trabalhar essa paciente a partir do papel de Urinador, por exemplo, usando técnicas de
Dramatização, passou a ser pouco produtivo – colocando-nos em questão outras vias de
acesso terapêutico - e em determinado momento impossível, visto que em períodos de
depressão profunda a paciente recusava-se ao desempenho de papéis inviabilizando
quaisquer ação por parte do grupo e do Diretor de Psicodrama. Foi dentro desse contexto
clínico que utilizamos as Técnicas do Ingeridor como recurso técnico auxiliar, seguidas de
trabalho corporal e psicodramático, sendo essa intervenção muito bem sucedida.
Os resultados efetivos obtidos nesse caso, durante a sessão, logo após e muito tempo depois
da mesma, ficou gravado na memória grupal ao ponto de incentivar-me a buscar um
aprofundamento teórico das técnicas manejadas. Não sabemos porque razão foi
especificamente essa vivência que possibilitou uma “catarse de integração” tão significativa
para essa paciente, mas as mudanças efetivas ficaram cristalizadas num “renascer” histórico,
compartilhado por todo o grupo.
Talvez ajude nesse momento do trabalho levar em consideração o que diz Bermúdez em
relação ao manejo clínico das psicopatologias , principalmente no que se refere à função do
Eu : “... A principal fonte de riquezas que o Núcleo do Eu oferece ao Eu, a nível de atos, é
todo o processamento dos dados correspondentes à relação do corpo com o ambiente físico”
(Ibdem,p.130), ou seja, que através dos seu agir corpóreo o Eu pode reencontrar o equilíbrio
perdido através das suas próprias sensações.
É importante frisar entretanto, que não acreditamos que a aplicação dessas Técnicas, por si
mesmas, sejam capazes de refazer mecanismos reparatórios ou produzir catarses de
integração. De forma mais clara, estamos a dizer que o responsável pela elaboração ou
restauração dos mecanismos reparatórios é o Eu e não os papéis psicossomáticos ou alguma
“técnica clínica”.
Creio ser esta uma das preocupações mais presentes em toda esta comunicação, que se
propõe com cuidado e rigor a seguir um percurso científico, sem dar margem a engodos
tecnicistas, firmando conceitos que abrem novos horizontes para a discussão das questões
que coloca a respeito do valor terapêutico das técnicas apresentadas. Pode-se dessa maneira
aprender um pouco mais sobre os processos elaborativos psicodramáticos, estudados à luz
da teoria do Núcleo do Eu.
Pode-se também compreender melhor que em psicoterapia, lidamos com realidades internas
que se mesclam a fantasias cuja lógica normalmente transcende a compreensão objetiva dos
fenômenos observados, permitindo passagens, insights e vivências especiais . Talvez por isso
as técnicas psicodramáticas proponham-se a usar métodos de interação psicoativas para dar
vazão a esses fenômenos, ampliando a realidade objetiva para dar forma e conteúdo aos
mesmos.
O importante, como diz Moreno, é que essas técnicas sirvam ao processo de aquecimento,
funcionem como impulsores e levem à Catarse de Integração, pois são esses os objetivos
das técnicas psicodramáticas. O terapeuta como produtor psicodramático, buscará fazer com
que o paciente e o grupo funcionem como agentes da própria cura, facilitando-lhes o
desenvolvimento da tele existente , a catarse de integração, e a recuperação da
espontaneidade e criatividade perdidas .
O seu manejo clínico é bastante simples e ao mesmo tempo eficiente, permitindo o máximo
envolvimento do paciente e do grupo. Como acontece com as outras técnicas
psicodramáticas, haverá a necessidade de proceder uma objetivação dos conteúdos
expressos, durante e após a sua aplicação. Talvez seja preciso recorrer ao uso de outras
técnicas para complementar a vivência dentro dos parâmetros de uma “concretização
simbólica”, ou quem sabe, revitalizar condutas através de exercícios bioenergéticos. Contudo,
o canal para um acesso mais profundo ao paciente estará aberto e através desse canal pode-
se chegar à catarse de integração.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Capítulo 8
SINOPSE
Neste final de século, além das mudanças de paradigma científico, podemos contar com cerca de
setenta e oito anos de descoberta e uso clínico do Psicodrama. Pensamos, então, nas
possibilidades de atualizar algumas práticas psicodramáticas, a exemplo das Sessões Abertas de
psicodrama e Psicodrama Público.
Neste trabalho, coloco em foco alguns aspectos éticos - filosóficos e éticos terapêuticos, teóricos e
experienciais , que se insinuam incompatíveis aos eventos públicos psicodramáticos, assinalando
para a sua inadequação na atualidade.
UNITERMOS
Psicodrama Terapêutico, Psicodrama Público, Sessão Aberta, Choque Psicodramático e Choque
Emocional.
Freud e Marx ( 1) estiveram na linha de frente da ciência deste início de século, trazendo como
estandarte toda a força e a penetração científica do determinismo e materialismo psicológico do
século XIX. Podemos imaginar a tamanha dificuldade de se lançar alguma proposta científica
revolucionária no campo da psicologia e da psiquiatria, dentro deste contexto, ainda que incorporada
a um substancial movimento “corpo a corpo” junto à sociedade e aos profissionais da área.
Foi exatamente dentro deste cenário que o Psicodrama começou a ser praticado por Jacob Levy
Moreno, na mesma Viena onde estava em efervescência a psicanálise freudiana. A prática do
psicodrama moreniano começou nessa época, através do teatro espontâneo ( 1922) , depois
instituído como teatro terapêutico em sessões abertas de psicodrama ( 1924) e através de
demonstrações públicas dirigidas pelo autor, na qualidade de Psicodrama Público.
Historicamente, com a mudança de Moreno para os Estados Unidos, foram sendo formados vários
psicodramatistas e iniciou-se em muitos países um processo intenso de organização teórica do
psicodrama. Paralelamente, através dos Psicodramas Públicos em sessões abertas , Moreno
continuou processando o método psicodramático e a disseminação do seu enquadre terapêutico,
hoje chamado de Psicodrama Clássico . Aos poucos, o psicodrama ficou sendo reconhecido e
praticado no meio científico como uma linha psicoterapêutica alternativa, pertencente à terceira
força, também chamada de terceiro movimento psiquiátrico ou ainda, como dizia Moreno, “a terceira
via da psicanálise” ( 4 ).
Podemos considerar que este projeto inicial de disseminação do psicodrama deslanchado por
Moreno, teve pleno êxito, dado à grande aceitabilidade do método psicodramático e da sua filosofia
no meio psicológico e psiquiátrico, antes mesmo do seu criador ter podido se concentrar mais
detalhadamente no embasamento teórico do seu método à nível psicológico .
Voltando à década de 1930, vimos o quanto esta mudança de Moreno para os Estados Unidos , foi
seguida de grandes avanços teóricos e metodológicos, tanto em relação à Sociometria que passou
a contar com a colaboração de vários profissionais ligados à área da psicologia social, quanto da
Psicoterapia de Grupo que começava a ser tema de grande interesse da psicologia e de psiquiatras
ligados à área da psicoterapia.
Sabemos também que os primeiros psicodramatistas formados por Moreno eram adeptos de outras
correntes teóricas e que receberam estímulos deste, não apenas para praticar, mas sobretudo para
enriquecer os seus métodos terapêuticos com o psicodrama. E que esta grande abertura foi
correspondida com entusiasmo pelos seus seguidores, resultando numa grande diversificação de
enquadres psicodramáticos.
Aqui no Brasil, tivemos inicialmente um acesso mais amplo ao modelo trazido pelo psiquiatra e
psicanalista argentino Jaime Rojas Bermúdez (1968) que segundo a sua prática clínica como
psicoterapeuta foi traçando limites e contornos ao método original moreniano, que diferiam
essencialmente da forma como Moreno inicialmente havia praticado o Psicodrama, ou seja, em
sessões abertas e públicas.
Nossos referenciais teóricos do Psicodrama – como segunda geração em diante, foram portanto
acrescidos das contribuições teóricas bermudianas, inicialmente quanto à adaptação da sessão
aberta de psicodrama para o setting psicoterápico em sessões sistemáticas e periódicas; e
posteriormente , através da teoria do Núcleo do Eu e da técnica de Construção de Imagens , que
acabou transformando-se numa nova metodologia psicodramática de trabalho clínico, que situa a
metodologia de Imagens entre a fase de aquecimento e a fase de dramatização, ou onde se substitui
a necessidade de dramatização pelo desdobramento do trabalho elaborativo da Imagem. Foi este o
Psicodrama Terapêutico trazido ao Brasil por Bermúdez, o qual na atualidade, dado ao seu nível de
desenvolvimento , direcionamento e aprofundamento teórico, já permite até dissidências .
Também os franceses, trouxeram para o Brasil uma outra abordagem teórica do psicodrama que
esta ganhando cada vez mais força e adesão, talvez pelo momento histórico que vivemos de
“transpessoalidade”, onde é dado maior prioridade a certos aspectos do desenvolvimento existencial
51
do ser humano. Trata-se do Psicodrama Triádico praticado por Anne Ancelin Schutzemberg e
inicialmente disseminado por Pierre Weil , que radicou-se no Brasil , e que atualmente vem
desenvolvendo uma nova linha de abordagem teórica chamada Psicodrama Transpessoal .
Esses são apenas alguns exemplos de bifurcações teóricas do psicodrama terapêutico, mais
evidentes para nós brasileiros, embora outras tendências já comecem a ganhar espaço,
principalmente através da teoria sistêmica e da PNL-Programação Neurolingüística. Pensamos que,
embora essas dissidências não tenham sido complicadas por rupturas mais significativas à nível da
técnica psicodramática, esta situação à nível teórico desencadeou uma visão incompleta e confusa
a respeito do que é o Psicodrama enquanto uma prática psicoterapêutica. Isto, aliado à diversidade
de propostas teórico-práticas do Psicodrama vem contribuindo, ao meu ver, para descaracterizar e
confundir ainda mais a prática do psicodrama como psicoterapia.
Queremos nos concentrar aqui, na discussão de alguns aspectos referentes à prática original do
psicodrama enquanto teatro em sessão aberta , principalmente em forma de demonstrações
públicas, como foi inicialmente praticado e divulgado por Moreno, ou seja, em sessões de
Psicodrama Público e que, neste momento, vem a ser o nosso objeto central de reflexão.
A prática da sessão aberta de psicodrama em sessão única merece toda a nossa atenção,
exatamente por tratar-se de uma técnica psicodramática original com objetivos muito bem
delineados, basicamente vinculados à sua disseminação, e ao que nos parece, fora de época e
propósito, já que deixou de ser necessária . Sobretudo porque encerra em si uma questão ética da
maior importância e que pode tornar-se bastante delicada quando, por exemplo, em situações de
grande aquecimento as relações grupais , sociais e interpessoais ultrapassam o momento emocional
ou a capacidade simbólica e elaborativa do grupo ou do protagonista – a exemplo dos choques
psicodramáticos.
Nesse sentido uma das questões que desejamos abrir para discussão refere-se ao uso do
Psicodrama Terapêutico, tal como hoje é praticado pelos terapeutas psicodramatistas, em contextos
descaracterizados, onde por exemplo, o auditório não esteja interessado em sofrer os seus efeitos
terapêuticos, ou até quando o estejam, mas de forma não comprometida quanto à sua função de
agentes terapêuticos de transformação pessoal .
Dessa forma, é preciso caracterizar melhor a prática dos eventos públicos de psicodrama, cujos
objetivos normalmente não levam em conta as situações de emergência que podem aflorar nas
sessões abertas, estimuladas pelos métodos de ação, fazendo perder de vista o fato de que, quer
estejamos ou não em contexto psicoterapêutico, nosso instrumento de trabalho é terapêutico por
excelência. Essa qualidade intrínseca ao instrumento parece ser inerente ao método psicodramático
e independe do treinamento de papel profissional do psicodramatista.
Vamos agora adentrar mais de perto neste tema, realçando os seus efeitos negativos e implicações
éticas mais comprometedoras.
Pela introdução ao assunto, fica claro que deixaremos ao fundo os acertos relativos à essa prática e
destacaremos dela os desacertos, para que possamos avaliar possibilidades de controle técnico da
prática das sessões abertas de psicodrama, ou não .
1 – CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
Pensamos que o espaço terapêutico e social recentemente aberto por essas pesquisas na área da
física quântica, trouxeram ao psicodrama e outras psicoterapias alternativas de caráter humanístico,
existencialista e holístico, um designe mais favorável à solidificação do psicodrama terapêutico,
enquanto escola psicoterápica técnica e teoricamente diferenciada da psicanálise ortodoxa,
basicamente ocupada na reintegração corporal, mental, física e espiritual do ser humano.
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Ponderamos que Moreno criou uma escola cujo modelo de ação se propõe a preservar tanto o
pensar reflexivo quanto a possibilidade de expressão emocional contida em cada ação.
Dentro dessa leitura teórica, que fazemos do Psicodrama, isto eqüivale a dizer que é exatamente no
intermédio dessa articulação entre o pensar - sentir - agir, que a espontaneidade e a criatividade vão
se produzindo, aos poucos, e vão sendo liberadas na psicoterapia ou na vida comum ou no teatro,
através do desempenho de papéis.
Esta noção esta de acordo com o que formula Bermúdez na sua teoria do Núcleo do Eu e representa
uma possibilidade de aprofundamento teórico da nossa clínica psicodramática.
Dentro desse pensar teórico – que é um pensar expressivo, através da atividade vital, proposta pela
ação psicodramática, encontramos a diferença entre a saúde e a doença, entre os papéis bem
desenvolvidos, mal desenvolvidos, pouco desenvolvidos ou patológicos. Isto define para o
psicodramatista um modus operandi bem articulado à proposta moreniana de representação
dramática de papéis, visando a cura e o desenvolvimento da espontaneidade, articulada a um bom
desempenho de papéis, visando possibilitar ao indivíduo uma ação social e existencial efetiva no
mundo.
Esta proposta de praticar uma psicoterapia de base existencial fenomenológica, baseada não
apenas na realidade subjetiva do paciente ou na noção de doença mental, passa pela circunstância
de testar a realidade, utilizando-se como filosofia de ação o desempenho social de papéis e , dessa
forma, ultrapassa a noção do valor exclusivo da introspeção para a resolução de conflitos mentais
ou relacionais tal como foi preconizado pela psicanálise .
Porém, dentro deste enquadre psicodramático trazido por Rojas Bermúdez , ainda continua em cena
a prática de sessões abertas de psicodrama , de psicodrama e sociodrama públicos, práticas que
estamos a questionar nesta comunicação como pouco adequadas à qualidade terapêutica do nosso
instrumento de trabalho.
Felizmente temos hoje algumas considerações publicadas sobre o choque psicodramático, não como
uma técnica psicodramática, mas como um efeito desagradável, arriscado e danoso. Capaz de ser
trabalhado psicodramaticamente sim, mas indesejável porque contém e desencadeia muitas
complicações e comprometimentos que ferem a nossa ética profissional :
Ponderando que a ocorrência dos choques psicodramáticos tem como cenário usual complicador as
sessões abertas de psicodrama, essa prática já se mostra, de início, inadequada aos nossos
propósitos terapêuticos.
Um outro aspecto dessa questão, refere-se aos “choques emocionais” sofridos na sessão aberta de
psicodrama, que são denominados igualmente de choque psicodramático mesmo sem trazer
nenhum benefício terapêutico ao paciente e que precisam ser devidamente discriminados do choque
psicodramático terapêutico, enquanto técnica psicodramática – aquele que pode ser manejado pelo
psicodramatista, como recurso técnico, normalmente através da técnica do espelho e é bastante
distinto em seus efeitos.
O psicodramatista, por exemplo, poderá usar a técnica do espelho sabendo que poderá produzir um
“choque psicodramático” no paciente, até que ele possa ir fazendo uso do espelhamento de uma
forma produtiva, durante várias sessões de psicodrama, sem que seja obtido nenhum efeito
terapêutico eficaz a nível de insight e catarse de integração, da parte do paciente; ou seja, embora
tenham sido revividos repetidas vezes na sessão de psicodrama, “choques emocionais”, os mesmos
não se transformaram em “choques psicodramáticos terapêuticos”.
Soeiro, C.A.( 8, p 141), acrescentou à 2ª edição do seu livro Psicodrama e Psicoterapia , um capítulo
da autoria de Carlos Alberto Saad onde o autor tece algumas avaliações interessantes sobre a ética
do psicodrama, confrontado à sua filosofia de ação, e que transcrevo a seguir :
“ O foco da apreciação ética recaí sobre o contexto psicoterápico, o que permite julgar o bom ou
mau uso do método. Dito de outra forma, o uso ético ou antiético do método psicodramático de
psicoterapia :
a) o bom uso do método ocorrerá sempre que o terapeuta cooperar no processo usando os
instrumentos e técnicas com vistas ao “aquecimento” para a ocorrência de “atos espontâneos” e,
como meta no horizonte, a conquista da “catarse total” ou “catarse de integração”...
b) o mau uso do método ocorrerá sempre que o terapeuta utilizar os instrumentos e técnicas do
Psicodrama como uma manipulação contentora da dinâmica grupal e as dramatizações servirem
somente para a percepção das situações da vida real, objetivando soluções estratégicas de
dentro da própria conserva cultural, o que produziria experts em sobrevivência social e nunca
revolucionários espontâneos, autores do próprio script de vida.
Na nossa forma de pensar o psicodrama, não bastaria percebe-lo como um instrumento em busca de
catarse, nem tampouco rebelar-se contra a utilização do método como um conjunto de técnicas
isoladas, e/ou preocupar-se apenas em estabelecer limites éticos à uma má utilização do método
psicodramático em contexto terapêutico ou aplicado . É preciso sim, aprofundar as nossas práticas
terapêuticas e ir estabelecendo os limites da técnica e do instrumento psicodramático; além disso,
entende-lo como um instrumento diretivo mobilizador de conteúdos emocionais e ajustá-los à este
contexto.
Ao que parece, pretende –se ainda deixar em aberto, com grande facilidade, o fato de que as
características terapêuticas intrínsecas ao instrumento e a sua qualidade de mobilizador espontâneo,
impõe necessariamente vários limites éticos ao seu uso enquanto método terapêutico, exigindo uma
postura mais clara dos seus usuários , psicodramatistas terapêuticos formados para o exercício da
psicoterapia e não da dramaterapia, termo com o qual vem sendo definido o psicodrama terapêutico,
fora do Brasil.
2 – COMENTÁRIOS E DISCUSSÃO
Da mesma forma, é certamente fácil compreender como operar o instrumento, desde que em
situação de controle sistemático : tudo depende do contexto, considerando-se o contrato com o
grupo – psicoterapia, grupo de formação ou de encontro, psicodramático ou sociodramático.
Embora seja este o trunfo do psicodrama, dispondo o psicodramatista de uma infinidade de técnicas
para operar de diversos modos, com caminhos e possibilidades de ação diferentes para cada
ocasião, é exatamente nesse contexto de excesso de possibilidades , que o psicodramatista poderá
ser chamado a exercer uma ação de controle sobre o instrumento e precisar suspender a ação
dramática dado à sua inoperância.
Num determinado trabalho público, por exemplo, tínhamos como proposta realizar uma vivência
tendo como suporte a técnica de retramatização -– técnica destinada a grandes grupos, criada por
Arnaldo Libermann a partir do enquadre sociodramático ( 3 ). Pelas circunstâncias apresentadas,
precisamos adaptar a técnica a um pequeno grupo de seis componentes, ao qual acrescentamos,
consentidamente, o nosso ego-auxiliar na condição de participante
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Vimos então, que várias adaptações precisaram ser feitas a fim de dar prosseguimento à proposta
deste trabalho, onde fomos chamados a tomar várias decisões que alteraram não apenas o
procedimento usual da técnica de retramatização como os resultados previstos, a nível dos seus
efeitos e produto final da vivência.
Prosseguimos então com a proposta. A partir das escolhas do grupo, o enquadre técnico foi sendo
adaptado : (1) inicialmente para acolher a um isolado sociométrico espontâneo e dar continuidade à
técnica de retramatização; (2) coloca-lo em contato indireto com o conteúdo produzido pelo grupo,
através da elaboração de uma história a respeito desse conteúdo; e (3) num terceiro momento, para
integrar o emergente a um dos grupos formados, através da tarefa conjunta de produzir a
dramatização de uma das três histórias elaboradas, durante o procedimento específico da técnica de
retramatização .
A adaptação do procedimento original teve êxito nessas fases de aquecimento e atingiu o seu ápice
durante a dramatização das historias, apresentadas em espelho, para o grupo.
O Sharing, porém, trouxe surpresas e ficou prejudicado pelo excesso de mobilização demonstrada
após as dramatizações das histórias, representadas com muita emotividade e qualidade dramática,
possibilitando fortes ressonâncias afetivas com os personagens representados.
Com a passagem para o contexto grupal, na fase de comentários, emergiu a situação imprevista : a
pessoa que funciora como emergente na fase de aquecimento, fazendo-nos alterar o enquadre para
um psicosociodrama, sofreu um rápido desaquecimento interacional conosco e com o grupo,
passando a desqualificar o trabalho realizado e a afrontar o grupo com a sua recusa à participação e
compartilhamento da vivência, afirmando “ não ter ido fazer psicodrama” e por isso “estar se sentindo
exposta” – choque psicodramático ?
Em conclusão, nada pode ser feito além de acolher este protagonista em sua recusa e passar a
compartilhar com ele os personagens representados, continuando a respeitar o seu momento
interno, a sua a privacidade e a sua nova escolha.
A inadequação da sessão aberta como contexto
Após algum estudo desse caso acima relatado, concluímos sinteticamente que havia alguma
incompatibilidade que ia além de qualquer falha na adaptação da técnica ou de qualquer indisposição
momentânea do grupo para a vivência – resistência consciente. E que esta incompatibilidade dizia
respeito a algum aspecto situado entre o contexto e o instrumento, durante a ação dramática, ao
qual só tivemos acesso durante o fechamento do trabalho, quando então ficou patente a incoerência
de atitudes do protagonista que parecia encerrar através de uma incorreção em seu comportamento
ético e social, algum tipo de protesto contra uma ressentida ação manipulativa, a qual fora exposto
simplesmente por estar presente à vivência, e para todos os efeitos , sem a sua permissão. Nas
suas ambíguas palavras ele fora participar de um workshop e não de “uma sessão de psicodrama” -
o famoso “estou sofrendo, por favor não me toque” .
Ao que tudo indica, foi precisamente este contexto não-terapêutico que serviu de muralha para o
estancamento da espontaneidade e criatividade conseguidas até então, pelos participantes desta
vivência.
Podemos também concluir que a emergência de material com forte carga afetiva não processada,
aflorou durante as dramatizações ultrapassando o timing do grupo e assustando o protagonista,
servindo de barreira transferencial para o enfraquecimento da tele grupal e consequentemente,
suspendendo o trabalho da direção antes de obter-se algum insight da objetivação do instrumento
enquanto um técnica de representação dramática dos papéis significativos daquele grupo.
É importante frisar que a avaliação feita pelo protagonista pertence a uma pessoa culta porém “leiga
na área” e como tal , serve de parâmetro para demonstrar como o psicodrama pode ser visto de
fora, pela sociedade, através desse tipo de prática isolada. No caso relatado havia como contornar
os efeitos imediatos da técnica, sobre o protagonista – que dispunha de um contexto terapêutico
pessoal para a elaboração da vivência mas...
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Mas, consideremos outras circunstâncias onde pudesse ter havido um controle possível :
O psicodramatista poderia ter sido chamado a protagonizar a cena do grupo, no início da sessão, e
ter aceito o jogo, fazendo uso de alguma manobra de dispersão de conteúdos para sustar a ação
espontânea grupal e/ou do protagonista, conduzindo-os a uma situação de controle. Conforme refere
Saad, neste caso o psicodramatista estaria sendo antiético a nível filosófico, em relação ao
compromisso ideológico psicodramático de ir em busca da catarse de integração psicodramática,
indo também de encontro à proposta existencial-fenomenológica do psicodrama de seguir o paciente
e acolher o fenômeno puro.
Ao deixar de lado o tema trazido pelo grupo, por exemplo, introduzindo como estímulo outros temas
para serem trabalhados ou usando alguma técnica psicodramática específica, a exemplo do Jornal
Vivo , onde todos poderiam se propor a representar “papéis sociais” em conserva, estaria o
psicodramatista ultrapassando limites éticos ? Neste caso a técnica estaria sendo usada para
desaquecer o grupo, intencionalmente e estaria sendo desrespeitado o tema original e espontâneo
trazido pelo grupo .
Aparentemente, contudo, a monobra poderia dar certo havendo até grandes chances de aceitação
do jogo, por parte do grupo, principalmente pela porta que estaria se abrindo para a fuga de
conteúdos mais pessoais e/ou emocionalmente desconfortáveis.
Ocorre que, mesmo deixando-se de lado os compromissos ideológicos com a técnica, esse estado
de desaquecimento seria apenas superficial; embora o trabalho pudesse prosseguir mantendo-se o
tema na superfície, estava ele presente na corrente do co-inconsciente grupal, em estado
subliminar . Neste caso, poderiam ser prevenidos, por algumas horas, os acidentes típicos : choques
psicodramáticos, revelações de dados confidenciais comprometedores, injúrias e violências,
comportamentos antiético profissional ou agressão moral em forma de exposição pública...
Mas, de qualquer forma, a nível terapêutico, o que definiria o sucesso da dispersão do tema rejeitado
pelo psicodramatista, seria a resolução ou o processamento do tema emergente do grupo e, dessa
forma, se estaria apenas fugindo à uma temática que provavelmente retornaria, deixando clara a
ineficácia dessa estratégia, pouco usual em psicoterapia, contexto onde se reserva espaço total para
a verdade . Além disso, poderia se esperar um retorno do conteúdo grupal investido com mais força
ainda. Segundo Moreno ( 5) :
Pensamos que, seja qual for a direção dada ao trabalho público – aprofundar ou superficializar a
nível de conteúdos pessoais, o que definiria filosoficamente uma postura ética profissional adequada,
seria acolher o conteúdo grupal como soberano e inviolável ao manejo particular do protagonista, a
ser respeitado pelo terapeuta e pelo grupo, mesmo que nem sempre seja o mesmo conscientemente
sentido, expresso ou percebido como patrimônio particular – cabe ao psicoterapeuta investigar e
seguir, e não direcionar e se esquivar.
Todos esses aspectos reunidos, exige também uma postura ética muito flexível, no sentido de
avaliar qual seria a capacidade do protagonista e do grupo, de suportar o contato direto com o
conteúdo emergido ou que poderia vir a emergir, no caso de se estar fazendo um possível
planejamento da ação para o setting da sessão aberta. Seria necessário, nesse caso, avaliar as
possibilidades grupal e individual de entrar em contato direto com o próprio grupo, com o
psicodramatista e com uma situação não – resolvida ( 7 p.180-183) .
Neste ponto, me vem à lembrança o grande trabalho que foi para a psicanálise discriminar as
associações de idéias das associações livres. Os psicanalistas tiveram como pista o fato das
associações de idéias se dispersarem do conteúdo e as associações livres estarem relacionadas,
mesmo que simbolicamente, com o tema central que estava sendo tratado. E tiveram como trunfo,
também, o comportamento de evitação fóbica freudiano que redundou no uso do divã psicanalítico,
uma vez que determinados pacientes tendiam mais à dispersão de idéias quando no divã e outros
adaptavam-se melhor às associações livres quando em estado de relaxamento( Idem, 184).
A nível do psicodrama em sessão aberta, sabemos que poderá ocorrer uma formação reativa após a
sessão, por parte de algum membro do grupo que se sentiu “deixado pendente” ou “precisando de
um útero” ou “carente de atenção”, “desprestigiado” ou “preterido”, exatamente depois que terminou
a sessão e começou a “ver o filme” - Jonathan Moreno cita um caso de formação reativa após a
ocorrência de um choque psicodramático, onde um paciente foi trabalhar a sua raiva do terapeuta
numa sessão aberta de psicodrama, na ausência do terapeuta ...”relatando o que parecia ser um
trabalho mal feito” ( 2, p.144).
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(1) Temos a noção de que os choques psicodramáticos produzem catarses e são seguidos de
insights ou de formações reativas , ou seja :
(2) Segundo a definição dada por Moreno ao Choque Psicodramático sabemos que :
Resta-nos definir como lidar com essas possibilidades de choques acidentais, que são em princípio,
inadequados ao avanço do processo do paciente , à credibilidade do psicodrama, da competência
técnica do psicodramatista e ao conforto emocional do grupo em seu conjunto .
Uma das formas possíveis, já conhecidas no meio psicodramático, poderia ser o cuidado com o uso
da técnica de Espelho.
Outra possibilidade seria o uso sistemático da técnica de construção de imagens, antes da vivência,
para permitir uma introvisão da ação como dizia o próprio Moreno (5), tomando-se o cuidado
contudo, de não utilizar a Imagem como uma forma de desaquecimento ou fuga de conteúdos
pessoais do protagonista – conforme falamos anteriormente.
Com certeza existem outros caminhos e técnicas preventivas tão ou mais eficazes do que as
imagens, mas acredito que para o sucesso de qualquer uma delas talvez seja essencial uma
condição : a adequação do contexto.
Achamos necessário que o terapeuta psicodramatista se reserve o direito de atuar em contexto de
padronização geral, característico ao processo de qualquer psicoterapia convencional .
Fora deste contexto, haveriam de ser estudadas quais as técnicas mais adequadas a trabalhos deste
gênero, cujo objetivo não fosse servir de agente terapêutico ao grupo mas antes a cumprir
interesses de divulgação da técnica psicodramática, no fundo demonstrando poderes, sem saberes.
3 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
Consideramos que cabe a nos, psicodramatistas atuais, repensar a respeito de alguns métodos e
práticas psicodramáticas originais que possam estar em estado de conserva cultural, que seja
improdutiva, inadequada, ultrapassada ou até contraproducente ao avanço e à credibilidade do
psicodrama, principalmente como um método de psicoterapia, deixando brechas à uma má utilização
do mesmo enquanto instrumento terapêutico eficaz, ou reduzindo-o a uma mera técnica de ação
social manipulativa e consequentemente não - ética.
Não podemos perder de vista que ao lidar com as emoções das pessoas, estamos ativando além
das memórias coletivas, memórias individuais conscientes e inconscientes, comportamentos,
fantasias, desejos, sentimentos e vivências particulares experimentadas nos diversos grupos
percorridos ao longo de uma vida. Cabe, então, não apenas refletir a respeito do que pode e/ou deve
permanecer oculto, comportar-se como desejo, fantasia ou possibilidade dramática durante a
sessão. É preciso não perder de vista que geralmente são esses personagens ausentes que
compõem o mundo particular e individual potencialmente capaz de insinuar o drama individual ou
coletivo, a ser tratado como tal, impondo limites à utilização do instrumento em ambiente inadequado
ou contexto descaracterizado .
Pode acontecer do evento público torna-se um fracasso, no sentido de não deixar marcas ou
produtos além de um efeito de curiosidade ou complacência do auditório . Ou ele pode se configurar
num fracasso por ter deixado o protagonista ou o grupo muito mobilizado. Mas sabemos que a
elaboração de uma situação traumática pode emergir a partir de qualquer estímulo relacionado ao
protagonista, ao terapeuta, ao Ego-Auxiliar, ao grupo, ao momento de cada componente ou à
técnica utilizada. E que todos eles podem funcionar como obstáculo , dificultando a situação e
complicando a obtenção de uma discriminação objetiva do instrumento.
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Jonathan Moreno sugere que o objetivo da sessão aberta de psicodrama seja educacional ou
teatral , limitando-se o assunto :
(1) à uma exploração mais superficial a nível de jogo de papéis sociais ;
(2)ou que as sessões sejam conduzidas como um sociodrama onde não entre em cena conteúdos
pessoais mas representações dramáticas que visem ao bem – estar do grupo, encorajando a sua
coesão para uma atividade cooperativa : “Os membros do grupo desempenham papéis sociais, tais
como professor, guarda policial, burocrata ou político, mais do que papéis individuais, e as
representações baseiam-se inicialmente em protocolos familiares aos membros da cultura, então
modificados pelo grupo com base nas preocupações que dele emergem. Dessa forma, com
freqüência, resulta um sentimento de solidariedade social reforçado” ( 2, p 145-6 ).
Sugere ainda que este estilo de montagem do sociodrama em setting aberto, possa reduzir as
ambigüidades relativas à natureza do psicodrama, especialmente quanto ao fato do psicodrama
poder ser caracterizado como terapia ou como teatro. A finalidade segundo o autor, seria ao que
parece, manter a situação descaracterizada para que assim se possa obter uma mistura de terapia
social, entretenimento e teatro, que fosse eticamente segura ( Idem, p.147).
Conclusão
Embora em alguns aspectos consideremos válidas as suas sugestões, dentro da nossa realidade
teórico- prática e cultural , parece ser útil continuar questionando o uso dessa modalidade de
trabalho psicodramático como uma proposta isolada, não terapêutica, desde quando em suas raízes,
o que se quis demostrar foi exatamente o contrário, ou seja, os efeitos terapêuticos do psicodrama,
tratando-se de testar na realidade qual era o grau de potência ou impotência do instrumento.
Em função desses e de outros tantos aspectos abordados neste trabalho, como as questões éticas
e o respeito ao momento do paciente e à filosofia psicodramática, aspectos que consideramos
essenciais à continuidade da prática clínica psicodramática é que avaliamos ultrapassados os
propósitos dessa prática, pelo menos a nível sociátrico.
Este tipo de reflexão pode não estar de acordo com algumas das premissas de convivência entre
visões opostas mas pensamos ser possível um nível de diálogo quanto a reflexões e/ou resoluções
necessárias :
(1) continuar praticando o psicodrama em forma de teatro, já que toda ação é uma ação possui as
suas bases e interesses comunitários, mas como diferenciar essa prática do psicodrama
psicoterapêutico?
(2) é possívell que se torne mais evidente a diferenciação dos campos de aplicação do psicodrama,
não apenas como teatro terapêutico, como uma “dramaterapia” vinculada ao teatro, dirigida e
praticada por psicodramatistas teatrólogos , artistas e outros profissionais, ou enquanto um role-
playing, ou como uma simples técnica de abordagem ou de aquecimento, sem confusão de
enquadres ?
(5) Como cuidar para que o psicodrama não seja desvirtuado como prática clínica psicológica, como
psicoterapia individual e psicoterapia de grupo ?
Referências Bibliográficas
ANEXOS
Sobre a base de que a personalidade “normal” pura, praticamente não existe, podemos
estabelecer uma correlação entre distintos tipos de personalidades, procurando determinar a
possível capacidade entre os mesmos, com vistas a formação de uma UF psicodramática eficiente.
Podemos trabalhar com distintas tipologias : Jung, Krestchmer, Heymans, Sheldon, etc. para,
a partir de cada tipo descrito, tratar de determinar as possíveis correlações positivas ou negativas
para nosso objetivo.
Aplicando então este esquema comunicacional, a hipótese é que não resultará conveniente
que se forme uma UF entre dois integrantes ( eventualmente também pode ser mais de dois) cuja
possível incompatibilidade possa resultar numa tendência a gerar “ruídos” que possam alterar a
fidedignidade das mensagens, criando confusão no protagonista e no auditório.
Assim, por conseguinte, seria conveniente que tal integração se faça sobre a base de um
conhecimento prévio que permita, por exemplo, evitar a possibilidade de que se unam duas pessoas
que apresentem o mesmo tipo de alteração em seus receptores, de modo tal que nos dois
predominem os distais por sobre os proximais ou vice-versa; ou melhor, que apresentem dificuldades
semelhantes em sua função simbolizante; ou similar dificuldade para a interpretação das mensagens
metacomunicacionais; o predomínio do mesmo sistema de codificação ( digital ou analógico ) ; ou
idêntica dificuldade de correção das mensagens mediante “feedback”; etc. Resumindo : Se deverá
tratar de não combinar duas personalidades com escotomas coincidentes.
Segundo isto, então, a estruturação de uma UF ideal deveria achar-se sobre a base de uma
não coincidência, nas respectivas Fórmulas Estruturais de seus membros, de um mesmo papel
psicossomático poroso ou diatésico. Desta maneira se poderia obter uma Complementação entre os
membros da UF de modo tal que se verifique uma verdadeira suplementação do papel poroso de
um, por um papel indene do outro e vice-versa.
Isto implicaria que em dita UF, tomada como uma integridade, não ficariam áreas de conduta
confusas; e dizer que se teria criado entre duas pessoas, um Núcleo do Eu idealmente são, o que
redundará em indubitável benefício para o trabalho terapêutico em equipe.
Cabe notar que, no caso em que a UF se forme com mais de dois integrantes, estes conceitos
são de similar aplicação porquanto sempre se tratará da associação de dois papéis com funções
perfeitamente delimitadas, para a consecução de um objetivo em comum : o trabalho terapêutico em
equipe.
Estes campos de trabalho estão também delimitados para cada etapa da sessão, a partir da
consideração das quatro distintas funções do Ego-Auxiliar.
Vamos mencionar aqui somente o referido a este papel do Ego-Auxiliar, entendendo que
constitui –se uma invasão de campo não trabalhar nessas condições estabelecidas para o papel.
AQUECIMENTO
É por isto que fica claro que ainda as perguntas que o Ego-Auxiliar faz, devem estar dirigidas
à obtenção de uma maior ou melhor identificação emocional e não para apontar o material
terapêutico que possa estar mobilizando o Diretor.
Durante essa etapa de aquecimento, o Ego-Auxiliar pode intervir ativamente, na medida em
que o faz para ir conformando seu campo de trabalho, o emocional ou afetivo.
DRAMATIZAÇÃO
Durante esta Segunda etapa da sessão, no contexto dramático, é claro que o Ego-Auxiliar,
como agente terapêutico do Diretor, deve seguir sua linha terapêutica; mas, ao distinguir dois
momentos na tarefa de agente terapêutico destacamos isto: trabalha-se a partir da consigna do
Diretor; é no entendimento dessa consigna que, dramaticamente, o Ego-Auxiliar tem a total liberdade
de complementar os papéis que oferece ao protagonista como um papel da sua criação. Num
momento posterior, deve-se então ajustar as características de seu papel com a linha terapêutica
que o Diretor marca. O mudar esta linha, constituiria uma invasão do campo de trabalho do Diretor.
Tratando-se desta etapa e desse contexto, o que o Ego-Auxiliar deve evitar é fazer uma
interpretação verbal direta ao protagonista. No cenário, dramaticamente, o Ego-Auxiliar conta com
um recurso técnico : a interpretação do papel. Esta lhe permite, sem afetar a sua relação com o
protagonista, fazer-lhe chegar a sua informação.
COMENTÁRIOS
Nesta etapa, na medida que o Ego-Auxiliar transmite ao grupo o resultado de suas vivências
no cenário, ou ainda do contexto grupal, completa sua tarefa dentro dos lineamentos que faz do seu
papel. Esta , talvez não seja demais dizer, não é uma fase de interpretações verbais da parte do
Ego-Auxiliar, tampouco do Diretor. Mas é permitido assinalar as condutas verbais e não-verbais que
tenham registrado no aqui e agora.
Como último ponto, queremos mencionar que no caso, não comum, mas possível, de invasão
do campo dramático a nível histriônico, da parte do Ego-Auxiliar, devido à sobreatuação do mesmo,
o campo invadido não seria o do Diretor, mas o do protagonista.
Teoricamente, uma UF bem treinada não teria motivos para apresentar comportamentos patológicos,
durante a sua tarefa ou fora dela. Todavia, eles podem aparecer de vez em quando, como resultado
de conflitos crônicos interpessoais não resolvidos, alheios à UF. Esta tarefa, compartilhada durante
meses e, às vezes, anos, pode dar lugar a situações de conflito pessoais, que cheguem a perturbar
a relação profissional, manifestando-se no dito vínculo. Em outras ocasiões, tratam-se de conflitos
interpessoais estimulados pela tarefa, e que depois de certo tempo irrompem a nível de UF.
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Uma das circunstâncias onde se evidenciam transtornos mais freqüentes na UF, sobretudo nos
principiantes, são os estados de alarme, que podem chegar a superar o papel profissional, levando
um dos membros a desvincular-se do seu companheiro de equipe. A falta de confiança em si mesmo
e no desempenho do outro, tende a eliminar o outro do vínculo. Para esses casos, toma-se como
uma medida profilática, começar a trabalhar em UF, com a ajuda de um profissional experiente, ao
qual se delegue a solução das situações agudas que podem apresentar-se.
Outro item a tratar relaciona-se com a ideologia psicoterapêutica. Se a mesma estiver centrada na
comunicação verbal, o Ego-Auxiliar se deshieriarquiza e deixa de ser funcional.
Por último, a necessidade do Diretor de não ter uma testemunha qualificada que possa avaliar o seu
trabalho.
O fator econômico pode também gerar conflito e deve ser levado em conta, sobretudo quando o
Ego-Auxiliar supervaloriza o seu trabalho e desvaloriza o trabalho do Diretor.
Por fim, a competência profissional e/ou pessoal do Ego-Auxiliar, pode dar origem ao
estabelecimento de relações alheias à tarefa, e em alguns casos, gerar relações substitutivas,
quando em um grupo terapêutico, “por casualidade” , o Ego-Auxiliar passa a tratar pacientes que
abandonaram o grupo.
YOGA KUNDALINI
A yoga kundalini, uma divisão da tantra yoga, tem ultimamente recebido bastante atenção nos
Estados Unidos. Deste desdobramento da yoga, decorre um método altamente estruturado de
autodesenvolvimento através de exercícios e meditações cuidadosas, e também uma maneira
fascinante de considerar os relacionamentos corpo-mente. Meu interesse pessoal pela kundalini
começou quando percebi pela primeira vez que a perspectiva kundalini quanto à estrutura do
processo psicossomático é em certos aspectos assombrosamente similar a algumas das abordagens
ocidentais, como a bioenergética, a energética reichiana, o rolfing e a quiroprática.
A idéia central do Kundalini é que dentro do miolo da coluna, numa região oca que se
denomina canalis centralis, encontra-se um conduto energético que os hindus chamam de
“Sushumna”. Ao longo deste conduto, desde a base do ânus até o alto da cabeça, flui a mais
poderosa de todas as energias psíquicas, a energia Kundalini. Além disso, existem de cada lado
deste canal, dois outros canais acessórios, um chamado “Ida”, cuja origem situa-se à direita da base
da coluna, e outro, chamado de “Pingala”, que se inicia à esquerda. Estas duas correntes psíquicas,
que correspondem ao masculino (IDA) e ao feminino (PINGALA) nas forças vitais, são consideradas
como energias que se enrolam em torno da coluna e de Sushumna, em sentido ascendente, como
cobras, entrecruzando-se em sete pontos importantíssimos. Cada um destes sete vértices é
denominado CHAKRA ou “círculo de energia” sendo considerado um centro de consciência.
Segundo a antiga literatura hindu, cada Chakra esta voltado para aspectos muito específicos do
comportamento e do desenvolvimento humano.
Exatamente o que são os sete Chakras e a quais aspectos do desenvolvimento humano
correspondem ? Conquanto eu vá responder a estas perguntas com maiores detalhes, conforme for
passando à investigação e à discussão de todas as regiões do corpo-mente envolvidas, apresentarei
aqui uma breve descrição de todos os Chakras. São os seguintes, em ordem ascendente, tal como
se manifestam no corpo-mente:
Chakra 1 – Chakra da raiz, Muladhara. Localizado na base da coluna; relaciona-se com o grande
potencial humano, com a energia primitiva e com as necessidades básicas de sobrevivência.
Chakra 2 – Chakra do baço, Svadhisthana. Localizado na altura dos genitais; relaciona-se com os
impulsos sexuais e com os relacionamentos interpessoais primários.
Chakra 3 – Chakra do umbigo, Manipura. Localizado no umbigo; relaciona-se com as emoções em
estado bruto, com impulsos do poder e com a identificação social.
Chakra 4 – Chakra do coração, Anahata. Localizado acima do coração, relaciona-se com
sentimentos de afeição, amor e auto-expressão.
Chakra 5 – Chakra da garganta, Vishudha. Localizado na frente da garganta; relaciona-se com a
comunicação, a expressão e a auto-expressão.
Chakra 6 – Chakra frontal, Ajna. Localizado no espaço entre as sobrancelhas; relaciona-se as
poderes da mente e à autopercepção intensificada.
Chakra 7 – Chakra da coroa, Sahasrara. Localizado no alto da cabeça; relaciona-se com a
experiência da autocompreensão ou do esclarecimento.
Percebemos de imediato que cada um destes Chakras não só correspondem a uma região
específica do corpo físico, como também se relaciona a uma categoria particular ou qualidade
peculiar do comportamento e do desenvolvimento humanos. Além disso, parece existir uma
progressão implícita nas localizações descritivas destes Chakras, a qual sugere um caminho a ser
percorrido pelo indivíduo em seu trajeto até a saúde corpomental ótima e até o entendimento
completo de suas potencialidades humanas. Pois, segundo o mapa oferecido pelo próprio corpo, o
explorador da vida atravessa sua própria história e suas raízes planetárias ( pés e pernas); as
necessidades básicas de sobrevivência ( ânus e a região do primeiro Chakra); os impulsos sexuais e
os relacionamentos interpessoais primários ( genitais e a região do segundo Chakra); as emoções
primárias, os impulsos de poder e a identificação social ( barriga, região lombar das costas e a região
do terceiro Chakra); a compaixão, o amor e a auto-expressão ( peito, braços, alto das costas e a
região do quarto Chakra); comunicação de pensamento e auto-identificação ( garganta, pescoço,
queixo e a região do quinto Chakra); ampliação dos poderes mentais e autopercepção intensificada
( face e região do sexto Chakra); e dirige-se para o auto-atendimento ou esclarecimento ( região do
sétimo Chakra).
Existem muitas pessoas que sentem a necessidade de cada Chakra ascendente, com suas
correspondentes em termos de comportamento humano, antes de estar desbloqueado e
desenvolvido para que a próxima região possa ser completa e proveitosamente aproveitada.
Segundo esta perspectiva, as diversas qualidades e características dos sete Chakras São vistas não
como elementos a serem ignorados ou evitados, mas antes como desafios criativos a serem
cultivados e transformados. Por este modelo, a evolução através dos Chakras e os vários poderes e
atributos que cada um representa podem ser entendidos como desenvolvimento natural e orgânico
da vida humana através de seus vários níveis de consciência e de percepção comportamental.
Uma vez que a natureza psicossomática de cada Chakra está relacionada a um ponto em
particular ao longo da coluna, bem como a um nível específico de desenvolvimento psicossocial, o
espaço de vida do Yogue Kundalini é devotado à tarefa de desenvolver-se de modo a evoluir através
das diversas qualidades e desafios dos Chakras; este caminho vai fazendo com que o enfoque da
energia Kundalini se dirija sempre para cima, subindo desde a base da coluna até chegar no alto da
cabeça.
O Yogue consciente é desafiado não só a ativar estes centros do corpo-mente e a liberar a
energia aí contida, como ainda a manter esta cumplicidade de forças energéticas entre IDA e
PINGALA em equilíbrio harmonioso.
Dentro do sistema Kundalini de considerar e de investigar o corpo-mente, existem muitas
metáforas úteis que lançam uma forte luz nos diversos níveis de envolvimento e de conscientização
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do organismo humano. Por este motivo, e visto que os relacionamentos dos Chakras do Kundalini
são tão similares aos que tenho descoberto em minhas próprias pesquisas, e nas de pessoas do
Ocidente, tais como Reich e Lowen, decidi incluir diversos elementos informativos oriundos do
sistema Kundalini em minha presente discussão. O interesse que possa haver da parte de vocês
pelo aspecto esotérico ou astrais do sistema Kundalini, não é relevante aos propósitos deste livro. O
importante é que vocês ouçam as descrições de unidade e de estrutura psicossomática oferecidas
por esta disciplina milenar, comparando-as com noções recentemente desvendadas e popularizadas
da psicologia humanista contemporânea e da medicina holista. Acho que vocês ficarão surpresos
com tantas similaridades.
Isto não quer dizer que cada região do corpo mente não possa ser estudada e atualizada a
menos que explorada segundo uma determinada ordem; o que se quer dizer é que a ordem implícita
dos Chakras parece sugerir o percurso mais sensato para orientar uma viagem dentro da
investigação de si mesmo. Diz-se que cada uma das regiões dos Chakras do corpo mente, projetam
uma vibração específica, muito semelhantes às vibrações que os instrumentos musicais produzem; o
Chakra mais baixo cria a vibração mais profunda e densa. Cada Chakra ascendente projeta uma
tonalidade vibratória menos densa, menos profunda, sendo que o sétimo representa o ponto da
energia mais elevada dentro de nós.
Segundo esta perspectiva, as regiões dos Chakras mais inferiores podem ser entendidas
como fundamentos sobre os quais repousam os outros mais elevados e refinados. Sugere-se ainda
que as pessoas que deixaram alguma tensão por resolver , nos Chakras mais inferiores, correm o
risco de contaminar os envolvimentos e os elementos dos seguimentos de Chakras superiores.
Um exemplo do tipo de problemas que surgem quando as pessoas “pulam” algum Chakra é
dado pela seguinte passagem de William Schtz :
Quanto mais o homem progride em sua evolução anímica, tanto mais regularmente estruturado
se tornará o seu organismo anímico. O homem com uma confusa vida anímica é embaraçado, não
estruturado. Mas até mesmo em tal organismo anímico, o clarividente pode perceber uma forma
nitidamente diferenciada do meio circundante. Esta se estende do interior da cabeça até o centro do
corpo físico; assemelha-se a uma espécie de corpo autônomo, provido de certos órgãos. Aqueles
órgãos que, por ora se pretendem abordar são espiritualmente percebidos nas imediações das
seguintes partes do corpo físico :
1- alto da cabeça
2- entre os olhos
3- nas imediações da laringe
4- região do coração
5- vizinho à chamada cavidade do estômago
6- no abdômen
7- no cóccix
Essas estruturações são denominadas pelos ocultistas de Chakras ( rodas) ou “flores de lótus”;
são assim chamadas por causa da semelhança com rodas ou flores . Essas “flores de lótus” são no
homem pouco evoluído de cores escuras e calmas ( imóveis). No homem evoluído elas estão em
movimento e possuem matizes brilhantes. Essas flores são os órgãos sensíveis da alma e sua
rotação representa a expressão de que estão se efetuando percepções no plano supra sensível.
O órgão sensível espiritual situado na vizinhança da laringe permite o discernimento clarividente
do modo de pensar de um outro ser anímico e possibilita a observação mais profunda das
verdadeiras leis dos fenômenos da natureza.
O órgão na vizinhança do coração desvenda um conhecimento clarividente da espécie de índole
de outras almas. Quem o desenvolveu também é capaz de reconhecer determinadas forças mais
profundas em animais e plantas. E o órgão que fica nas imediações da cavidade do estômago,
quando desenvolvido se alcança o conhecimento de faculdades e talentos das almas.
Certas atividades anímicas relacionam-se pois, com as formações desses órgãos sensíveis e
quem executa essas atividades de um modo bem determinado contribuirá de alguma forma para o
desenvolvimento dos respectivos órgãos ou respectivas “flores de lótus”.
A evolução de processa da seguinte forma: o indivíduo terá de dedicar atenção e cuidados a
certos processos que geralmente vem executando despreocupada e destraídamente. Existem oito
desses processos :
I – Consiste na maneira como se adquirem representações. Com relação a isso, o homem costuma
entregar-se ao acaso. Enquanto proceder assim, sua “flor de lótus” de 16 pétalas ( próximo à laringe)
permanecerá totalmente inerte; apenas começará a ativar quando ele tomar sobre si a
responsabilidade de auto educar-se nessa direção. Cada representação terá de ganhar importância
para ele. Nela ele terá de experimentar uma determinada mensagem, uma notícia sobre coisas do
mundo exterior. E não se deverá dar por satisfeito com representações carentes de tal importância.
II – Relaciona-se com as resoluções do homem. Ele deverá somente decidir-se, até mesmo nos
assuntos mais insignificantes, a partir de deliberações conscientes e fundadas. Todo agir irrefletido,
todo ato insignificante, deverão ser afastados de sua alma.
III – Refere-se à fala: Dizer apenas o que tem sentido e importância. Toda fala por falar desviar-lo-á
do seu caminho. A maneira costumeira de conversar, em que se fala de maneira desconexa e
entrecruzada, deve ser evitada. Isso não quer dizer que , porventura, ele deva renunciar ao contato
com seus semelhantes. É precisamente na vida social que sua fala terá de ganhar significado. A
cada um ele corresponderá com palavra e resposta, compenetrada e deliberadamente, e fará o
possível para não falar demais, nem de menos.
IV – Refere-se a estabelecer ordem nos atos exteriores : o indivíduo terá de procurar organizar seus
atos de tal forma que estejam em sintonia com os atos dos seus semelhantes e com o desenrolar
dos acontecimentos do seu meio ambiente. Procurar organizar seu agir de tal forma que este se
entrose harmoniosamente no seu meio ambiente, na sua situação de vida e assim por diante.
Quando algo de fora o impelir a agir, ele observará cuidadosamente de que forma poderá melhor
corresponder a esse estímulo. Quando agir, a partir de si mesmo, ponderará nitidamente sobre os
efeitos de seu procedimento.
V – Refere-se à organização da vida como um todo. O indivíduo procura viver em conformidade com
as leis da natureza e do espírito. Não se precipitará nem será inerte. Ele terá de considerar a vida
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um meio de trabalho e organizar-se de acordo. Organizará o cuidado com a saúde, com os hábitos e
assim por diante, de maneira a garantir uma vida harmoniosa.
VI – Diz respeito às aspirações humanas. O indivíduo examinará suas faculdades, suas
capacidades, e procederá de acordo com tal autoconhecimento. Evitará o que ultrapassar suas
forças e não deixará de fazer o que estiver dentro das mesmas. Por outro lado, estabelecerá
objetivos relacionados com os ideais, com os sagrados deveres de um homem. Não se acomodará
meramente como uma roda na engrenagem humana, mas tentará compreender suas tarefas,
procurando transcender o dia-a-dia. Aspirará a desempenhar cada vez melhor e mais perfeitamente
suas tarefas.
VII – Refere-se ao esforço para aprender da vida o mais possível. O indivíduo não deixará passar
nada sem que lhe seja motivo para acumular experiências que possam ser úteis para a vida. Se por
acaso, tem desempenhado algo de maneira inexata ou incompleta, isso o motivará para mais tarde
executá-lo de forma correta e perfeita. Ao olhar outros em ação, ele os observará para semelhante
finalidade. Procurar acumular um rico tesouro de experiências, a fim de sempre poder consultá-lo.
Nada fará então, sem remontar a vivências anteriores que lhe possam servir de ajuda para as suas
decisões e ações.
VIII – Finalmente, a oitava recomendação, consiste em efetuar de tempos em tempos, uma
introspeção no seu próprio íntimo. Procurar aprofundar-se em si próprio e auto-analisar-se, inclusive
quanto aos princípios de vida estabelecidos e deixar-se percorrer em revista mental sobre seus
conhecimentos, meditar sobre os seus deveres e sobre o conteúdo e o objetivo da sua vida.
Esses assuntos estão sendo abordados aqui, com vistas ao desenvolvimento da “flor de
lótus”. Por meio dessas atividades ela de tornará cada vez mais perfeita. Quanto mais aquilo que um
homem pensa e faz se sintonizar com o desenrolar do mundo exterior, mais rapidamente ele se
desenvolverá. Quem pensa ou fala algo inverídico, matará algo no germe da “flor de lótus”.
Veracidade, sinceridade, honestidade são, nessa relação, forças construtivas. Mentiras, falsidades e
deslealdade são forças destrutivas..
O indivíduo deve estar cônscio de que, nesse sentido, o que vale não é apenas a “boa
intenção” , mas a efetiva ação. Se eu penso ou digo algo que não corresponde à realidade, estou
destruindo algo no meu órgão sensível, mesmo acreditando possuir suficiente razão para isso, por
melhor que seja. É como no caso da criança que se queima quando põe a mão no fogo, embora isso
apenas ocorra por ignorância.
Referências :
Os chakras (Lead Beath) ; Yoga ( Hermógenes); Filosofia Hermética.
ANEXO III
O JARDIM ZOOLÓGICO
Extraído do livro “Treinamento em Dinâmica de Grupo” Lauro de Oliveira Lima
LEÃO O Rei da reunião, o dono do assunto, quando “urra” todos os participantes se calam.
Psicologicamente, possui uma “juba” imponente que torna inquestionável sua ascendência sobre os
demais “animais”. Os “ratinhos” tremem de medo de Ter de falar frente ao leão... Mas o Leão não é
agressivo : esta tão certo de sua superioridade que pode mostrar-se tranqüilo e senhor de si. Por
vezes, boceja despreocupado, paciente com as peraltices dos outros “animais”.
HIENA Não tem opinião própria. Adora o leão. Aprova tudo o que o leão diz e reclama do grupo não
dar a devida importância ao que disse ele. De vez em quando, lembra ao grupo o que disse o leão.
Acha o leão espirituoso e ri de tudo o que ele diz. Balança a cabeça aprovadoramente quando o leão
fala. Quando o grupo acaba, vai correndo cumprimentar o leão. O leão sabe que pode sempre contar
com as suas hienas : quando fala, nem sequer olha para elas, pois já sabe que dali virá aprovação.
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TIGRE É um leão ressentido por não ter suas hienas e não ser reconhecido pelo grupo como o Rei.
Por isso fica de mal humor – por vezes mesmo violento. Geralmente é mais competente que o leão,
mas não tem o charme do rei dos animais... Se fosse menos agressivo, destronaria facilmente o
leão. Mas, é por natureza, caustico e irônico, provocando irritação no grupo. O grupo procura colocá-
lo na jaula, ou não tomar conhecimento da sua presença.
RAPOSA Esta sempre surpreendendo o grupo com as suas artimanhas. Quando quer, faz o grupo
todo correr em sua perseguição, como uma matilha de cães de caça, ladrando em seu encalço.
Desvia o grupo do tema, sem que ninguém perceba. Sofisma, torce os argumentos, enleia o grupo.
Jamais caminha em direção ao objetivo. Vale a pena ver a raposa brincando de se esconder, com o
grupo atarantado...
PAVÃO Esta sempre de leque aberto, mostrando a policromia de sua “cultura”. Não se interessa
pelo grupo nem pelo seu objetivo : o grupo para ele é apenas platéia para quem desfila na
passarela... Não perde ocasião de mostrar conhecimentos, faz citações e demonstra que os outros
não sabem usar as palavras. É realmente coisa digna de se ver. Pena que seja tão preocupado
consigo mesmo...
COBRA Esta no grupo só para envenenar as relações. Fica enroscada, esperando a hora certa de
dar o bote. Se alguém comete uma asneira, ela salta do ninho e põe aos olhos de todos, a fraqueza
do participante. Chama sempre a atenção do grupo para tudo que possa envenenar as relações
entre os membros. Provoca briga entre duas pessoas e fica de fora. Esta sempre incitando os outros
a “comer a maçã” .
PAPAGAIO Fica “ no pau de arara” , falando por todos os poros : comenta tudo. Tem um caso a
contar a propósito de tudo o que se diz, fala alto e grita. Mas, ninguém dá importância ao que ele diz,
da mesma forma que, ele mesmo, não dá importância a si próprio. Fala por falar. É o que sabe fazer.
Geralmente, esta inteiramente por fora do assunto.
CORUJA É o inverso do papagaio. Não fala, mas presta muita atenção ! Olha com doçura para
cada um que intervém na discussão, mas se vê que não é para replicar. Pisca os olhos quando não
entende, mas sem franzir a testa. Vê-se que lamenta, mas não protestará. Toma susto quando
alguém a interpela . Pede desculpas, quando tem de participar.
CARCARÁ Não gosta de discussões : irrita-se com discussão, mesmo quando acha que o grupo
não progride de outro modo. Como ele é : PEGA, MATA E COME. Quer sempre decisões rápidas.
Não topa muita filigrana... Intervém só para liquidar com o assunto. Dá a impressão de que esta ali
para sanear o ambiente. Esta sempre trombudo e impaciente. Às vezes, não se contém, e se levanta
como protesto... mas volta. Por ele não haveria a discussão.
GIRAFA Pela maneira de sentar-se e de sorrir ironicamente, vê-se que acha o grupo indigno de sua
participação. Esta, em sua sabedoria, com a cabeça muito além das fronteiras que estão discutindo.
Seu silêncio não permite que se saiba se é mesmo assim tão competente... Se é interpelado, sorri
condescendentemente.
MACACO É o “ festivo” do grupo : Anedoteiro, espirituoso, bagunceiro, inteligente e superficial.
Sempre que intervém provoca o riso. Todos esperam dele uma gracinha... Ninguém o leva a sério.
Anima o grupo, mas acaba irritando. No final da reunião, esta amuado e sem graça...
GAIVOTA Fica voando por alto. Eleva a discussão para “os primeiros princípios e primeiras causas”.
Quem quiser acompanhá-lo terá de levantar vôo. Para não dizer que esta fora da realidade, de vez
em quando dá um “pique” no assunto e pega um “peixe” que vai deglutir lá nas alturas. Voa com
elegância, mas está distante do grupo. Nasceu para ser solitário.
CÃO Inteligente, fareja bem o assunto, mas ladra demais. Faz muito barulho por pouco.Esta sempre
vigilante para defender suas idéias : não deixa passar nada! Seu dono é sua crença. Não cede um
milímetro. Tem razão, mas poderia ser mais plástico.
BOI Difícil de mover, obstinado e lento. Nada o apressa. Fica sempre onde esta : não caminha no
passo do grupo. Tranqüilo, fala pouco. Quando todos esperam que ele esteja lá longe, percebem que
ele ficou parado na mesma idéia. Não se atemoriza com os outros animais. Vai devagar e sempre.
Pode-se obter dele um bom rendimento, mas sem pressa...
ELEFANTE Sem sutileza : não percebe as nuanças. Leva tudo “no peito”. Seria um ótimo
executivo, mas não tem habilidade para discussões. É pesado demais para viver em grupo. Quando
intervém, é para acabar a reunião : quer logo iniciar a ação.
GATO Mia para chamar a atenção, muito discretamente. Solicitado, se enrosca e não quer falar...
Comprador de simpatias, dengoso, podendo dar um salto, contudo, se aparecer um ratinho.
Conserva as unhas ocultas, prefere agir depois da reunião. Contempla a reunião com olhos
cândidos, como se não tivesse maldade e fosse inofensivo. É traiçoeiro.
COELHO Simpático, ágil e pulador. Não tem planos, não é conseqüente. Cheira e experimenta
todas as idéias que aparecem. Não se importa com a lógica. Salta de uma idéia para a outra sem
escrúpulo. Se os animais de grande porte aparecem, oculta-se. Quando eles saem da arena, o
coelho se esbalda... na arena.
ESQUILO Acanhado, fugidio, embaraçado. Fica “ quebrando sozinho suas nozes”. Se o interpelam,
enrubesce e se retrai. Dificilmente participa, apesar de estar muito interessado. Se insistirem muito,
não volta mais às reuniões dos dias seguintes...
ARAPONGA Tem canto monótono e insistente. É sempre igual e vibrante. Volta sempre ao tema.
Tem idéia fixa. Não é que seja cabeçuda : é que é monocórdio. Só tem uma idéia e é incapaz de
seguir uma discussão.
PICA-PAU Não tem o bom humor do macaco, mas interfere em tudo e é aparentemente
participante. Pega uma idéia e fica “picando-a” em mil pedacinhos. Para ele não há objetivo a atingir:
sua função é “picar” cada idéia que aparece, esmiuçando todos os detalhes. Mas só age às
bicadas... e atropeladamente. Os outros continuam, mas ficam ouvindo, de longe, o pica-pau picando
o que ficou para trás.
ARANHA É mestra em teia, onde se envolvem os mosquitos e besouros. Para ela a discussão é
uma obra de arte. Cada fio deve ficar amarrado no outro. Não prepara um plano, apenas constrói
uma armadilha para emaranhar os incautos. Torna a discussão um novelo de fios emaranhados.
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OURIÇO Fica espinhento a propósito de tudo. Para ele, não há no grupo, idéias : tudo são
intenções! Esta, pois, sempre eriçado em seus espinhos para que não o engulam. Ninguém pode
ajudá-lo com tantos espinhos à vista.
ANTÍLOPE ( BAMBI ) É arisco: esta sempre farejando o ar para ver se não o querem pegar se
surpresa. Examina cada idéia como se dentro dela houvesse perigo. As palavras para ele tem
estranha magia. Tem medo até da brisa. Esta sempre de sobreaviso. Com ele é difícil caminhar, pois
não confia em ninguém. Seu problema é de “nominalismo”...
HIPOPÓTAMO Fica mergulhado no assunto, até as narinas. Não tem leveza, nem sabe caminhar.
Cada tópico para ele é um “atoleiro” . Sai da discussão ainda impregnado de dúvidas e ”molhado” da
discussão. Não supera as etapas. Leva a discussão para casa.
RATINHO Circula entre os animais fugidios. Nunca aparece. Rói as idéias por” trás do pano”. Por
vezes, é ele quem salva o leão de um impasse, descobrindo como descoser a armadilha. Atravessa
a cena em diagonal, às correrias. Rói seu queijo no buraco onde vive metido.
ZEBRA Em cada fase da discussão, apresenta ponto de vista diferente. Concilia idéias opostas sem
perceber a incoerência. Pode-se dizer que tem o pensamento “listado”... Entusiasma-se igualmente,
por duas direções opostas. É preto ou branco, não tem meio termo. Não sabe somar as idéias.
CAMALEÃO Esta de acordo com a maioria: é ele mesmo quem afirma isto. A discussão para ele é
uma oportunidade de verificar para que lado está soprando o vento. Pretende sempre estar “de
acordo” com os participantes, por mais divergentes que sejam as posições tomadas.