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ANÁLISE DO POEMA ''3 de maio''

O poema ''3 de maio'', de Oswald de Andrade, é construído com um terceto e com


versos livres e brancos. Essas características se atrelam ao estilo modernista do poema,
que justamente visam quebrar as ligações da poesia com o ''passadismo'', tornando-o
livre da métrica, da estrofação e das rimas clássicas, algo que em períodos como o do
Parnasianismo era considerado essencial e insubstituível.
Em termos gerais deste poema, é possível analisar o caratér metalinguístico do
mesmo, onde o eu lírico condiciona uma reflexão sobre a poesia e as criações desta.
Nestes versos, o eu lírico não busca definir a arte da poesia em um conceito concreto e
nem mesmo limitá-lo a uma área de atuação ou conjunto de práticas, mas sim abre
espaço para o exercício e reflexão filosófica de compreender que a arte da poesia é um
meio subjetivo em que o eu lírico tem liberdade para criar um universo próprio. Neste, não
existem limitações provindas das leis naturais e nem mesmo da lógica convencional,
sendo o eu lírico livre para criar um universo lirico da forma que o calhar.
É importante analisar que todo este ideal de liberdade poética é característíco do
período Modernista e antagoniza intrínsecamente os movimentos artísticos ''passadistas''.
Nestes movimentos, não apenas limitava-se a poesia no ramo da estética (com
metrificação, rimas e estrofação rigorosa), mas também a limitavam no ramo temático,
predispondo temas e assuntos a serem discutidos que, caso não fossem seguidos,
trariam a obra intensa rejeição popular.
Analisando minuciosamente os versos do poema, é possível observar que no verso
''Aprendi com meu filho de dez anos'' um caráter antiacademicista do eu lírico. O eu lírico,
ao predispor a ideia de que aprendeu com seu filho algo sobre a poesia, cria uma
metáfora para expor que a arte poética não é construida com padrões e vivencias
acadêmicas, mas sim é construida com a introspecção e compreensão de mundo própria
de cada indivíduo, sendo justamente isso o que traz à arte da poesia seu caráter plural e
individual.
Seguindo com os versos ''Que a poesia é a descoberta/ Das coisas que eu nunca
vi'' o eu lírico demonstra que a poesia é algo que sempre se renova e nunca se encontra
estática, de forma que a experiência poética sempre traz novas sensações e
compreensões a quem a vive. Além disso, o eu lírico também expõem através destes
versos que a poesia não mantem-se nos mesmos moldes, estando livre de ditames como
por exemplo a métrica clássica.
Analisando as figuras de linguagem do poema, é importante observar que, além da
construção metafórica expressa ao longo do poema, ''3 de maio'' conta com mais recursos
linguísticos. Pode-se citar o uso do pleonasmo em ''Que a poesia é a descoberta/ Das
coisas que eu nunca vi'', que reforça a ideia desenvolvida pelo eu lírico de que a
experiência poética está em constante transformação, e a disposição dos versos de forma
similar a um diário, que contribui para a noção desenvolvida ao longo do poema de que a
arte poética não tem forma fixa e nem mesmo padrão definido.

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