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MARTINELLI FILHO, Wagner; PONTES, José Carlos Alberto de. O Panorama Atual dos Acidentes
de Trabalho na Construção: Uma Análise a Partir do Anuário Estatístico da Previdência Social –
Triênio 2013 a 2015. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 03, Ed. 02, Vol.
04, pp. 19-29, Fevereiro de 2018. ISSN: 2448-0959
RESUMO
O ramo da construção civil emprega 8,58% da população ocupada do país e gera 6,1% do PIB, sendo de
grande importância para o desenvolvimento social e econômico do país. Pela sua importância social e
econômica é importante analisar o comportamento dos acidentes de trabalho na construção civil. Este
estudo de caráter descritivo e abordagem qualitativa tem como objetivo identificar os últimos índices de
acidentes de trabalho disponibilizados no Anuário Estatístico da Previdência Social que dizem respeito ao
triênio 2013, 2014 e 2015, fazendo a comparação regiões e estados do país, com ênfase na fração
correspondente aos acidentes no ramo da construção. Foram identificados mais de dois milhões de
acidentes sofridos e uma redução de 15,58% no período analisado. A região com o maior número
absoluto de acidentes foi a Sudeste e a menor foi o Norte. Entretanto, após cálculo que identificou os
acidentes para cada 1.000 contribuintes da Previdência Social, a região Sul teve o índice mais elevado e a
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região Nordeste o mais baixo. A atividade com maior número de acidentados foi a construção de
edifícios.
INTRODUÇÃO
A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) analisou que no triênio 2013, 2014 e 2015 a
população ocupada no segmento representa 8,58% do total no país, enquanto que economicamente, a
participação do valor adicionado bruto (parcela da atividade que contribui ao produto interno bruto) do
setor da construção civil em relação ao valor adicionado bruto total do país é de 6,1% (CÂMARA
BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO, 2017).
As normas regulamentadoras que protegem o trabalhador sofreram significativos avanços com o passar
dos anos. No Brasil, a Constituição Federal determina que o trabalhador tem direito à "redução dos riscos
inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança" (BRASIL, 1988). Além das
normas constitucionais previstas inerentes ao tema, o país é signatário da Organização Internacional do
Trabalho (OIT), agência da Organização das Nações Unidas (ONU).
A segurança do trabalho é um dos assuntos em destaque nas convenções publicadas pela OIT. Destaca-se
a Convenção nº 17, de 1925, que determina sobre a indenização por acidente do trabalho, a Convenção nº
127, de 1967, que especificou o peso máximo de carga para o transporte humano, a Convenção nº 148, de
1977, que tem como intuito a proteção dos trabalhadores contra contaminação do ar, ao ruído e às
vibrações no local do trabalho, e a Convenção nº 155, de 1981, que determina regras de segurança e saúde
dos trabalhadores no meio ambiente de trabalho (MARTINS, 2011). Os riscos físicos, abordados nessas
convenções, são aqueles em que os trabalhadores da Construção estão expostos diretamente e necessitam
de regulamentação para que acidentes de trabalho não sejam situações corriqueiras dentro do canteiro de
obras.
No que se refere a segurança do trabalho no ramo da construção, o Decreto nº 6.271 de 2007 promulgou a
Convenção nº 167 e a Recomendação nº 175 emitidas pela OIT, onde trouxe ao país normas com o
objetivo de proteger os trabalhadores da construção e prevenir acidentes, promovendo mais saúde e
segurança.
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É certo que existem inúmeras normas que tratam a respeito da prevenção de acidentes, além de órgãos
fiscalizadores que objetivam a preservação da saúde do trabalhador.
Com a modernização dos processos industriais durante a Revolução Industrial rompeu o trabalho
tradicional até então exercido pela sociedade em geral e os acidentes decorrentes das atividades laborais
se tornaram mais frequentes.
Acidente de trabalho, segundo o Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), pode ser definido como
aquele que ocorre durante a atividade laboral a serviço da empresa que provoca lesão corporal ou
perturbação funcional, de forma permanente ou transitória, ou causando óbito, ou a diminuição ou perda
da capacidade para o exercício laboral. O INSS, ainda, equipara ao acidente de trabalho aquela atividade
que contribui diretamente para a ocorrência da lesão, a doença oriunda de contaminação do trabalhador
durante a atividade e o acidente sofrido durante o trajeto entre a residência e o local de trabalho (BRASIL,
2015).
O Anuário Estatístico da Previdência Social (AEPS) é a principal ferramenta utilizada pelo INSS para a
divulgação dos dados que se referem aos seus segurados. Dessa maneira, é possível identificar através das
estatísticas publicadas informações relevantes no que tange aos acidentes de trabalhos sofridos no país.
Nesse contexto, a pesquisa tem como objetivo identificar os últimos índices de acidentes de trabalho
disponibilizados pelo INSS que dizem respeito ao triênio 2013, 2014 e 2015. Por meio das informações
obtidas, pretende-se comparar os dados por regiões e estados do país, com a finalidade de constatar o
panorama atual sobre a distribuição de acidentes de trabalho. Busca-se, por fim, apontar a fração
correspondente aos acidentes de trabalho relacionados no ramo específico da construção.
METODOLOGIA
O presente estudo tem natureza descritiva, de caráter bibliográfico e com abordagem quantitativa.
Com a finalidade de atingir o objetivo proposto, identificaram-se os dados trazidos no AEPS do triênio
2013, 2014 e 2015, disponível online na página oficial Previdência Social. De posse dos dados, foram
definidas as seguintes variáveis: acidentes sem Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) e acidentes
com CAT, sendo que os acidentes com CAT subdividem-se em típico, trajeto e doença do trabalho.
Os dados foram tabulados em planilha do software Microsoft Excel 2013 para posterior análise.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Segundo o AEPS, o Brasil sinalizou 2.050.598 acidentes de trabalho no triênio 2013, 2014 e 2015. Desta
totalidade, 725.644 ocorreram no ano de 2013, 712.302 no ano de 2014 e 612.632 no ano de 2015. De
logo, percebe uma diminuição na quantidade no período identificado, que em valores absolutos,
representa uma redução de 113.032 acidentes ou 15,58%.
Os acidentes com CAT Registrada representaram 79,53% do total, ou seja, 1.630.929, que se subdividem
conforme a Tabela 1.
A CAT Registrada divide-se em três categorias, quais sejam: típica, trajeto e doença do trabalho. O AEPS
(2015, p. 554) define acidente típico como aquele "decorrente da característica da atividade profissional
desempenhada pelo acidentado". O de trajeto "são os ocorridos no trajeto entre a residência e o local de
trabalho do segurado e vice-versa". Acidente devido à doença do trabalho "são os ocasionados por
qualquer tipo de doença profissional peculiar a determinado ramo de atividade constante na tabela da
Previdência Social".
Os acidentes típicos representam a maioria das ocorrências (60,88%), seguido pelo de trajeto (16,31%) e
os decorrentes de doença do trabalho (2,34%).
Os acidentes sem CAT Registrada representam o montante de 419.669 ou 20,47% da totalidade. Esta
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modalidade diz respeito aos acidentes que não tiveram o devido cadastro junto ao INSS, portanto, são
identificados através de outros meios, como parecer médico que atesta tecnicamente o nexo do acidente
ou doença com a sua causa no ambiente do trabalho.
A distribuição de acidentes sofridos por trabalhadores no Brasil no triênio analisado se deu de acordo com
o Gráfico 1.
Gráfico 1 –
Acidentes de trabalho por regiões no Brasil. Fonte: AEPS (2015) – Adaptado
A região Sudeste teve a maior concentração, totalizando 1.108.047 acidentes ou 54,04%. Em seguida, a
região Sul teve o segundo maior índice, com o total de 456.000 ou 22,24%. As regiões Nordeste, Centro-
Oeste e Norte tiveram os menores índices, os quais correspondem a 247.773, 147.449 e 91.329,
respectivamente.
Em números absolutos a região Sudeste representa a maior taxa de acidentes no país, uma vez que,
conforme o AEPS há uma média de 36.816.966 de pessoas físicas que contribuíram para a Previdência
Social anualmente durante o período dos anos 2013, 2014 e 2015. Comparado com as demais regiões, o
Sudeste representa 52,23% dos contribuintes de todo o país.
A região Norte, em números absolutos, registrou 91.329 acidentes durante o triênio analisado, o que
representou, consoante o gráfico, 4,45% do total de acidentes sofridos no país. A região contabilizou uma
média anual de 3.400.872 pessoas físicas que contribuíram para a Previdência Social, o que corrobora
com a ideia de que o menor número de trabalhadores contribuintes representa a menor quantidade de
acidentes.
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A Tabela 2 indica os estados brasileiros com a maior e menor quantidade de acidentes por região.
Tabela 2 - Estados Brasileiros com maior e menor quantidade de acidentes. Fonte: AEPS (2015) –
Adaptado
Foi identificado que o Estado de São Paulo possui o maior número de acidentes de trabalho no Brasil,
com o total de 701.257 ou 34,2%. Por sua vez, o Estado de Roraima ostenta o menor número de
acidentes, com o total de 2.185 ou 0,11% da quantidade total de acidentes registrados no país.
Entretanto, ao relacionar os acidentes sofridos com os contribuintes dentro de uma mesma região obtém-
se um índice regional que representa qual localidade com maior número de acidentes de trabalho por
número total de contribuintes.
Curiosamente, com os resultados obtidos do cálculo acima descrito, a região Sul apresenta o índice de
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12,24 acidentes para cada 1.000 contribuintes, o que representa 22,03% a mais de acidentes do que na
região Sudeste, previamente identificada como a com mais acidentados.
Na mesma linha de raciocínio, a região Nordeste possui o menor índice, totalizando 6,94 acidentes a cada
1.000 contribuintes, o que representa 22,46% a menos de acidentes do que na região Norte, previamente
identificada como a com menos acidentados, com 8,95 acidentes a cada 1.000 contribuintes.
A tabela 3 demonstra os valores de acidentes para cada 1.000 contribuintes, no triênio, em todas as
regiões e no país.
A análise dos dados apresentados evidência que as regiões Sudeste e Sul ultrapassam o valor da média
nacional, sendo a Região Sul àquela com o maior número de acidentes por contribuinte, enquanto abaixo
da média encontramos as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, sendo a Nordeste com o menor número
de acidentes por contribuinte em todo o país.
O AEPS utiliza a classificação do CNAE para categorizar os acidentes de acordo com as atividades
econômicas. No ramo da construção, encontram-se as seguintes divisões: construção de edifícios, obras
de infraestrutura e serviços especializados para a construção. A construção civil representa 7,51% dos
acidentes sofridos nas diversas áreas de trabalho, o que corresponde o valor absoluto de 154.082 do total
de 2.050.598.
A tabela 4 lista todos os acidentes do ramo da construção subdividindo por classes de serviço.
marítimas e
fluviais
4292 - 7.379 6.785 5.952 758 75 594
Montagem de
instalações
industriais e de
estruturas
metálicas
4299 - Obras 8.037 7.382 6.173 1.079 130 655
de engenharia
civil não
especificadas
anteriormente
4311 - 197 178 138 36 4 19
Demolição e
preparação de
canteiros de
obras
4312 - 396 367 302 56 9 29
Perfurações e
sondagens
4313 - Obras 3.417 3.065 2.480 542 43 352
de
terraplanagem
4319 - 203 184 142 36 6 19
Serviços de
preparação do
terreno não
especificados
anteriormente
4321 - 6.466 5.937 4.396 1.473 68 529
Instalações
elétricas
4322 - 2.545 2.361 1.648 664 49 184
Instalações
hidráulicas, de
sistemas de
ventilação e
refrigeração
4329 - Obras 2.740 2.503 1.839 613 51 237
de instalações
em
construções
não
especificadas
anteriormente
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Conforme as informações trazidas pela Tabela 3, as classes que mais apresentaram acidentes no ramo
foram: construção de edifícios, com o total de 49.504, seguido por obras para geração e distribuição de
energia elétrica e para telecomunicações, com 20.820, e incorporação de empreendimentos imobiliários,
com o total de 13.905 acidentes.
Por sua vez, as classes que menos apresentaram acidentes foram: demolição e preparação de canteiros de
obra, com 197, serviços de preparação do terreno (não especificados), com 203, e perfurações e
sondagens, com 396 acidentes registrados.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Verificou-se com a presente pesquisa o atual panorama dos acidentes de trabalho no país, tendo como
objeto de estudo o AEPS divulgado no ano de 2015, que se refere ao triênio 2013, 2014 e 2015.
Com a análise dos dados, percebeu-se que foram identificados 2.050.598 de acidentes de trabalho, sendo
que houve uma redução de 15,58%. Os acidentes com CAT representaram 79,53% do total, o que
evidência que na maioria dos casos existe o cumprimento das normas regulamentadoras quanto ao
protocolo de comunicação de acidentes. Dos acidentes com CAT, os típicos expressaram a maioria com a
fração de 60,88%.
Em números absolutos, a região Sudeste apresentou o maior número de acidentes sofridos pelos
trabalhadores no país, enquanto que a região Norte foi a que apresentou a menor quantidade, com 4,45%.
Entretanto, ao calcular o índice regional, obteve-se a localidade com maior número de acidentes de
trabalho pelo número de contribuintes, o que tornou possível identificar qual região possui mais
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O índice demonstrou que a região Sul possui 22,03% mais acidentes do que a região Sudeste, considerada
em números absolutos com maior número de acidentes. Por sua vez, a região Nordeste teve o menor
índice, com 22,46% menos acidentes do que a região Norte, considerada em números absolutos com
menor número de acidentes.
O ramo da construção representou 7,51% dos acidentes de trabalho, o que em valor absoluto representou
154.082 acidentes. As atividades com o maior valor foram: construção de edifícios, obras para a geração e
distribuição de energia elétrica e para telecomunicação, e incorporação de empreendimentos imobiliários.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado
Federal: Centro Gráfico, 1988. 292 p.
BRASIL. Ministério da Fazenda. Anuário Estatístico da Previdência Social – AEPS 2015. v.24
Brasília: Secretaria da Previdência, 2015. 918 p. Disponível em: < http://www.previdencia.gov.br/wp-
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MARTINS, S. P. Direito do Trabalho, 27a ed. São Paulo: Editora Atlas, 2011.
TEIXEIRA, L. P. Desempenho da construção brasileira. Belo Horizonte: UFMG, 2010 apud OLIVEIRA,
V. F.; OLIVEIRA, E. A. de. A. Q. O papel da indústria da construção civil na organização do espaço
e do desenvolvimento regional. 4º Congresso Internacional de Cooperação Universidade - Indústria –
Taubaté, São Paulo – Brasil, 2012. Disponível em: < http://www.unitau.br/unindu/artigos/pdf570.pdf>
Acesso em: 25 jan. 2018
[1]
Pós-graduando em Engenharia de Segurança do Trabalho pela Universidade Tecnológica Federal do
Paraná, Bacharel em Engenharia Civil pela Universidade Estadual de Ponta Grossa.
[2]
Professor adjunto C da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Doutor em Física pela
Universidade Federal do Paraná.