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Barra Mansa
2020
FACULDADE EDUCAMAIS
CURSO DE PÓS - GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO
TRABALHO
Barra Mansa
2020
FACULDADE EDUCAMAIS
CURSO DE PÓS - GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO
TRABALHO
Data da aprovação:
Barra Mansa
2020
SEGURANÇA DO TRABALHO NO SERVIÇO PÚBLICO: PROBLEMAS COM
OMISSÃO LEGISLATIVA E FISCALIZAÇÃO GOVERNAMENTAL1
RESUMO
Com a evolução dos processos de trabalho, chegada da “Era da Indústria 4.0”, a segurança e
saúde no trabalho ganham importância significativa na redução dos agravos inerentes a riscos
existentes nas atividades laborais. Outros fatores de suma importância são os elevados custos
financeiros, sociais, saúde física, saúde psicológica para os trabalhadores e para as empresas,
decorrentes de eventuais acidentes ou incidentes. Desde século IV a.C. a relação entre
trabalho e saúde é observada. No Brasil, em 1943, foi publicada a Consolidação das Leis
Trabalhistas (CLT), a qual abrange os trabalhadores celetistas, que com a Lei 6.514/77, no art.
200, delegou ao Ministério do Trabalho a competência de não só regular, mas também
complementar as normas do Capítulo VII – Da Segurança e da Medicina do Trabalho. Porém
deixa de fora o trabalhador estatutário, que refere ao regime jurídico dos servidores públicos
da União, autarquias e fundações públicas federais, e também dos funcionários Estaduais e
Municipais que competem a legislação local. O objetivo geral deste estudo é propor
alternativas para cumprimento constitucional e regulamentar a saúde e a segurança no
trabalho do regime estatutário, com base em pesquisa bibliográfica e documental. Discute-se
possíveis alternativas para regulamentar e garantir maior isonomia no tratamento dos
trabalhadores de ambos regimes, no tocante da saúde e da segurança no trabalho.
1
Artigo apresentado à Universidade Educamais, como parte dos requisitos para obtenção do Título de
Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho, em 2020.
2
Pós-Graduando do Curso de Engenharia em Segurança do Trabalho pela Universidade Educamais. Bacharel em
Engenharia Elétrica, pelo Centro Universitário de Barra Mansa. E-mail: itallopo@hotmail.com.
3
Professor-Orientador. Pós-Graduado em Engenharia de Segurança do Trabalho (UCAM). Bacharel em
Engenharia Civil pela Universidade Nove de Julho.
ABSTRACT
With the evolution of work processes, the arrival of the "Age of Industry 4.0", safety and
health at work gain significant importance in reducing the aggravations inherent to existing
risks in work activities. Other factors of paramount importance are the high financial, social,
physical and psychological health costs for workers and companies resulting from possible
accidents or incidents. Since the fourth century B.C., the relationship between work and
health has been observed. In Brazil, in 1943, the Consolidation of Labor Laws (CLT) was
published, which includes workers from the state of celetist, which with Law 6.514/77, in art.
200, delegated to the Ministry of Labor the competence not only to regulate, but also to
complement the norms of Chapter VII - Safety and Occupational Medicine. However, it
leaves out the statutory worker, who refers to the legal regime of public servants of the Union,
federal autarchies and public foundations, and also of State and Municipal employees who
compete with the local legislation. The general objective of this study is to propose
alternatives for constitutional and regulatory compliance with health and safety at work of the
statutory regime, based on bibliographic and documentary research. Possible alternatives are
discussed to regulate and ensure greater equality in the treatment of workers of both regimes
in terms of health and safety at work.
Keywords: occupational safety, health, legislative omission, civil servants, local legislation.
INTRODUÇÃO
No Brasil, o direito no trabalho guarda exclusividades, devido o país ter sido uma
colônia de Portugal por muitos anos e no qual a economia até final do século XIX, ter sido
basicamente a agricultura e pecuária, havendo pouco destaque no desenvolvimento industrial.
Além de ter sua mão de obra praticamente realizada por escravos, vindos a força de países do
continente africano, divergindo bastante da questão socioeconômica europeia. Fazendo
pequeno comparativo, na Europa eram trabalhadores livres e questionadores das condições de
trabalho, já no Brasil era a luta constante por sobrevivência e liberdade.
Esse período se estende do período colonial até a abolição da escravidão em 1888,
havendo pouca manifestação voltada a normas ligadas ao trabalho, tendo em 1824, a outorga
da Constituição pelo Imperador Dom Pedro I, que posteriormente foi promulgada em 1891,
com fortíssima influência da Constituição americana, onde reconhece poucos direitos
trabalhistas.
Após várias mudanças ao longo do tempo e das Constituições Nacionais que o Brasil
teve em sua história, a Constituição Federal de 1988, conhecida também como a Constituição
cidadã, trouxe a primeira grande modificação na introdução dos direitos sociais e garantias
fundamentais, trazendo especificamente nos art. 7º a 11º da CF/88, as disposições acerca do
Direito do Trabalho (BRASIL, 1988):
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que
visem àmelhoria de sua condição social: [..]
Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte:
[..]
Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores
decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam
por meio dele defender.
§ 1º A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o
atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.
§ 2º Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei.
Art. 10. É assegurada a participação dos trabalhadores e empregadores nos
colegiados dos órgãos públicos em que seus interesses profissionais ou
previdenciários sejam objeto de discussão e deliberação.
Art. 11. Nas empresas de mais de duzentos empregados, é assegurada a
eleição de um representante destes com a finalidade exclusiva de promover-
lhes o entendimento direto com os empregadores.
Para Nascimento (2011), são diversas as formas de trabalho, algumas delas não se
dando a importância de se tratar como trabalho de finalidade, como os trabalhos religiosos,
familiares, voluntários, assistenciais e demais. Há ainda os trabalhadores informais, que como
podemos notar em grande parte em nosso território e que em outubro do ano de 2019 bateu
recorde histórico, como foi destacado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), atingindo 41,4% da força de trabalho ocupada no Brasil e que na maioria das
situações são desprotegidos pelo direito do trabalho, principalmente no que se diz a respeito
da saúde e da segurança laboral.
O direito do trabalho é tratado de formas diferentes dentro das legislações pertinentes
e especificas, pois, a Constituição Federal e outras legislações tratam do trabalho, mas não
com ênfase e enfoque. Podemos separá-la em duas vertentes, primeiro, o Direito do Trabalho,
que trata dos trabalhadores em geral, regidos pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT).
De outro lado, temos o Direito Administrativo, que trata dos funcionários de serviço público,
sejam eles federais, estaduais ou municipais.
Com essa definição, podemos tratar o Direito do Trabalho como Direito Privado, e
como principal amparo direto a maior parte dos trabalhadores, a Consolidação das Leis
Trabalhistas (CLT). Publicada em 1943 por meio do Decreto 5.452, que nas palavras de
Camisassa (2018), foi um marco na legislação trabalhista brasileira, pois consolidou em um
único documento as legislações esparsas sobre o direito do trabalho e segurança e saúde no
trabalho.
Daí, surge o Direito Administrativo, que para Di Pietro (2019), nasce e se desenvolve
baseado em duas idéias contrárias, sendo de um lado a proteção aos direitos individuais frente
ao Estado, amparado ao princípio da legalidade, um dos esteios do Estado de Direito. De
outro lado, a de necessidade de satisfação dos interesses coletivos, que traz prerrogativas e
privilégios a Administração Pública e define o serviço público como:
Toda atividade material que a lei atribui ao Estado para que exerça
diretamente ou por meio de seus delegados, com o objetivo de satisfazer
concretamente às necessidades coletivas, sob regime jurídico total ou
parcialmente público.
Segundo Mello (2015), os servidores públicos são uma espécie dentro do gênero
“agentes públicos”, expressão que é concebida para designar genericamente os sujeitos que
servem ao Poder Público. Estes são classificados em Agentes Políticos (Presidente da
República, os Governadores, Prefeitos e respectivos vices, Ministros e Secretários das
diversas Pastas, bem como os Senadores, Deputados federais e estaduais e os Vereadores),
Agentes Honoríficos (aqueles que são livremente designados a compor comissões técnicas
em razão reputação e conhecimentos em certas matérias), Servidores Estatais (Todos aqueles
que entretêm com o Estado e suas entidades da Administração direta, que são União, Estados,
Distrito Federal e Municípios, ou indireta, seja autarquias, fundações, empresas públicas e
sociedades de economia mista).
Seguindo o cumprimento legislativo constatado no art. 39º da CF/88, em 11 de
dezembro de 1990, nasceu a Lei 8.112, popularmente conhecida como Estatuto do Servidor
Público Federal, que dispõe sobre o regime jurídico dos servidores público civis da União, das
autarquias e das fundações públicas federais, trazendo uma atenção maior e mais detalhada ao
serviço público federal. Nos estados e municípios, as legislações são particularizadas de
acordo com sua legislação local, algumas com uma aplicabilidade e uma dada importância
maior ao servidor público e outras nem tanto.
Histórico Mundial
Como podemos notar na visão de Aloisio (2014), estes problemas com riscos à
segurança do trabalho estão evidentes há muito tempo, como fora registrado em um
documento egípcio, o papiro Anastacius V, no ano de 2360 a.C., uma insurreição geral dos
trabalhadores, deflagrada nas minas de cobre, evidenciou ao faraó a necessidade de melhoras
as condições de vida dos escravos.
Já no Império Romano, se aprofundou estudos de proteção médico-legal dos
trabalhadores, sendo elaboradas leis para sua garantia. Na Idade Média são reconhecidas as
primeiras ordenações para adoção de medidas de higiene do trabalho. Neste período se
destacaram dois principais pioneiros da inspeção médica no trabalho, Samuel Stockausen e
Bernardino Ramazzini. Este último conhecido como Pai da Medicina do Trabalho, publicou
em 1760 a obra “De morbisartificum”, traduzido para o português, “As Doenças dos
Trabalhadores” (OSÓRIO, 2014).
O grande passo veio logo após o surgimento da Revolução Industrial, na Inglaterra,
entre os anos de 1763 e 1815. Fase moderna, onde o adoecimento dos trabalhadores passa a
ser diretamente ligado com o processo de produção ali implantando pelo Capitalismo,
passando os acidentes e as doenças laborais, serem entendidos como fenômeno coletivo e
passível de urgentes ações sociais e políticas para seu controle (PINHEIRO, 2012).
A medida da evolução das máquinas e dos processos de produção, foram sendo
necessárias mudanças nos métodos de segurança do trabalho e medidas foram sendo tomadas
pelos governantes e demais interessados, como podemos observar na cronologia de Pinheiro
(2012):
Em 1919, pós fim da Primeira Guerra Mundial, como parte do Tratado de Versalhes,
foi fundada a InternationalLabourOrganization (ILO), traduzida em português como
Organização Internacional do Trabalho (OIT), que tem como objetivo principal, promover a
justiça social. É ganhadora do Prêmio Nobel da Paz em 1969 e se destaca como a única
agência das Nações Unidas (ONU), que possui estrutura tripartite, na qual representantes de
governos, de organizações de empregadores e de trabalhadores de 183 Estados, participam em
situação de igualdade de diversas instâncias da Organização (OIT, 2019).
Dentre suas atribuições, está a responsabilidade pela formulação e aplicação das
normas internacionais do trabalho. O Brasil é um dos membros fundadores e participa
ativamente da Conferência Internacional do Trabalho desde a primeira reunião (OIT, 2019).
Hoje em dia não é possível falar em qualidade de um produto, se não for levado em
conta a qualidade de vida e de trabalho dos trabalhadores da empresa.
Estas evoluções foram muito importantes, mas a maior evolução estaria para vir a
partir de 1970, ano em que o país foi considerado o campeão mundial de acidentes do
trabalho, com mais de 1,7 milhões de acidentes. Inúmeras mobilizações foram iniciadas,
tendo como principal foco a redução dos acidentes e dos altos custos dos mesmos perante ao
INSS.
De acordo com o último Anuário Estatísticos de Acidentes do Trabalho (AEAT) do
ano de 2017, os acidentes reduziram e muito no país, chegando a 549.405 acidentes do
trabalho. Esta redução podemos perceber sua maior eficácia quando comparamos número
populacional em ambos os anos. Em 1970 o país tinha uma população de 95,33 milhões de
pessoas com 1,7 milhões de acidentes de trabalho, o que equivale 1,78% da população. Já em
2017, são 209 milhões de pessoas com 549.405 acidentes de trabalho, o que temos uma
equivalência de 0,26% da população (SECRETARIA DA PREVIDÊNCIA, 2020).
Órgãos Nacionais
Para Santos (2011), a CLT trata-se de uma junção de normas laborais inspiradas na
Carta del Lavoro, como cita, fazendo ligação ao documento do Partido Nacional Fascista de
Benito Mussolini, que foi promulgada em 1927, com a orientação as relações de trabalho na
sociedade italiana e que críticos dizem que Getúlio Vargas usou como inspiração para criar a
CLT:
Porém foi com a publicação da Lei 6.514 em 1977, com o propósito de retirar o país
de campeão mundial de acidentes, que as inovações no tema da Segurança e Saúde no
Trabalho ganharam maior importância. Devido as mudanças tecnológicas e econômicas
aceleradas, surgem o aumento significativo das demandas por aumento de justiça social, da
universalização de direitos e também da redução dos riscos ocupacionais. Sendo assim, houve
necessidade de alteração da CLT, para que fosse adotado o padrão internacional de segurança
e medicina do trabalho. Mais precisamente, com a influência das convenções da OIT.
Após a alteração na Lei 6.514, o capítulo V da CLT tem como título “Da Segurança
e da Medicina no Trabalho”, trazendo dezesseis itens relacionados à segurança e medicina do
trabalho, além do art. 200, que delega competência normativa ao Ministério do Trabalho não
apenas para regulamentar, mas também para complementar as normas do capítulo V.
5
Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.45, n. 75, jan./jun. 2007.
principalmente por se tratar de Estado, neste caso a Administração Direta.
Promulgado pelo Governo Federal em 1994 pelo Decreto 1.254, o texto cita na parte
de Decretos, art. 1º, determinação para que haja cumprimento integral do conteúdo da
Convenção 155 da OIT.
DISCUSSÃO
[...]
Elaboração de Lei Federal de exigência aos Estados e Municípios que insiram o tema no
estatuto de seus órgãos
[...]
[...]
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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BARROS, A. M., “Curso de direito do trabalho”. 10ª Edição. São Paulo. Ed. LTR, 2016.
BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho de 1943. Brasília, 1 mai.
1943. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm. Acesso
em: 20 de jan. 2020.
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2018.