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Anexo B: Microrganismos

Anexo B: Microrganismos

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B.1 PATÓGENOS os tipos de doença é de aproximadamente 10
células. Como os dois tipos de sintomas são re-
A Tabela B1 traz um resumo das fontes e dos sin-
lativamente leves e de curta duração, acredita-se
tomas das bactérias patogênicas e a seção seguin-
que a incidência de intoxicação alimentar por
te traz uma breve descrição de cada patógeno.
B. cereus seja significativamente subestimada.
O tipo emético é principalmente associado com
B.1.1  Aeromonas spp. produtos de arroz, em que os esporos sobrevi-
Acredita-se que três espécies de Aeromonas se- vem ao aquecimento e germinam no produto
jam responsáveis ​pela gastrenterite, particular- durante o resfriamento, produzindo toxinas nos
mente em pessoas imunocomprometidas ou em alimentos. O tipo de toxina diarreica é encon-
pessoas com câncer: A. hydrophilia HG 1, A; A. trado em produtos de carne, leite e vegetais, nos
caviae HG 4 e A; e A. veronii HG 8, embora seu quais as células sobrevivem ao processamento
papel como enteropatogênico não foi definiti- térmico, multiplicam-se suficientemente antes
vamente estabelecido. Entre pessoas saudáveis, do consumo e produzem toxinas no intestino.
crianças com menos de 5 anos estão em maior Outras espécies semelhantes ao B. cereus tam-
risco. Dois tipos de sintomas são: diarreia leve bém causam intoxicação alimentar, incluindo B.
e uma doença grave semelhante à cólera, que subtilis, B. licheniformis e B. thuringiensis. O
pode ser fatal. A A. hydrophilia também está as- B. subtilis causa vômitos agudos após 2 a 3 ho-
sociada a uma série de outras doenças, incluin- ras de consumo, seguido de diarreia, enquanto o
do inflamação da vesícula biliar, septicemia e B. licheniformis causa diarreia após 8 horas, às
meningite, que podem causar a morte em mais vezes com vômitos. Eles crescem nos alimen-
de 60% dos casos (Motarjemi, 2002; Sutherland tos principalmente como resultado de abuso de
e Varnam, 2002). O patógeno invade células no temperatura e quantidades superiores a 106 po-
intestino e, embora seja conhecido por produzir dem causar intoxicação. O B. thuringiensis tam-
toxinas, seu papel não foi definitivamente esta- bém é conhecido por produzir toxinas, e houve
belecido. Já foi encontrado na água e em uma preocupação em relação ao seu uso como um
grande variedade de alimentos, incluindo ve- inseticida em vegetais (ele é letal para a lagarta-
getais, carnes, aves e peixe e camarão, embora -do-repolho) (Gibbs, 2002).
seja possível que a presença nesses alimentos
se deva à água contaminada usada no proces- B.1.3  Brucella spp.
samento.
As cepas de Brucella spp. que causam brucelose
humana são B. abortis (de vacas), B. melitensis
B.1.2  Bacillus cereus (de ovinos e caprinos) e B. suis (de porcos). Con-
Existem dois tipos de intoxicação alimentar traem a doença principalmente as pessoas que tra-
causada por B. cereus: (1) náuseas e vômitos balham em íntimo contato com animais da fazen-
semelhantes aos sintomas de intoxicação por da, mas também pode ser contraída pelo consumo
St. aureus, causada por uma toxina emética pro- de leite cru e produtos lácteos não pasteurizados.
duzida em alimentos; e (2) diarreia e dor abdo- Os sintomas agudos incluem fadiga, fraqueza, dor
minal sem vômito, semelhante aos sintomas da muscular e articular e perda de peso dentro de 2
toxina do Cl. perfringens, causada por toxinas meses após a infecção. Também pode resultar em
diarreiogênicas produzidas no intestino delga- problemas de saúde crônica, incluindo inflama-
do. A concentração celular mínima para ambos ção geniturinária e das articulações, doenças car-
TABELA B1  Fontes e sintomas de bactérias patogênicas
Condições mínimas
para crescimento
Alimentos típicos de
Patógeno Fontes Temperatura (°C) pH aa Valor D Valor z (°C) Sintomas da infecção alto risco
Aerobacter spp. Animais de sangue 15 5,5       Dor abdominal, diarreia  
quente dentro de 24–72 h
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Aeromonas Água fresca ou 1–5         Diarreia, vômito, febre Água, hortaliças, queijo,
hydrophilia salobre dentro de 12–36 h leite cru, aves, cordeiro,
moluscos e crustáceos
Bacillus cereus Solo, superfície de 4 (cepas 4,3 0,91–0,95 1,2–8 min a 6–9 Dois tipos: emético, Arroz requentado e
cereais, hortaliças e psicrotróficas) 35 100 °C náusea dentro de 1–5 h produtos contendo
carnes (cepas mesofílicas) ou diarreico, dentro de cereais ou especiarias
8–16 h (tipo emético), produtos
cárneos, molhos,
produtos lácteos (tipo
diarreico)
Brucella spp. Animais da fazenda           Dor aguda muscular Leite cru, produtos
e das articulações, lácteos não-
fadiga. Condições pasteurizados
crônicas geniturinárias,
cardiovasculares e
neurológicas
Campylobacter Animais de sangue > 25 3,6   1 min a 55 °C 5 Diarreia, dor de cabeça, Produtos de aves,
jejuni quente dor abdominal, dentro de leite cru e, em menor
24–72 h grau, carne e produtos
lácteos, água, moluscos
Clostridium Onipresente, 10 4,7 0,94 25 min a 100 °C   Sete tipos de toxinas: Hortaliças enlatadas e
botulinum especialmente no 3,3 5 0,97 e 0,1–0,2 min vômitos, visão turva, outros alimentos pouco
Grupo I solo e na água a 121 °C dificuldade progressiva na ácidos, peixe defumado
Grupo II < 0,1 min deglutição, insuficiência
a 100 °C e respiratória dentro de
< 0,001 min 12–36 h. Até 70% de
a 121 °C fatalidade
(Continua)
TABELA B1  Fontes e sintomas de bactérias patogênicas (Continuação)
Condições mínimas
para crescimento
Alimentos típicos de
Patógeno Fontes Temperatura (°C) pH aa Valor D Valor z (°C) Sintomas da infecção alto risco
Clostridium Onipresente – solo, 12 5,5 0,95 1–3 min a 95 °C   Diarreia aguda, flatulência Carnes cozidas e cruas,
perfringens alimentos crus, secos (esporos dentro de 8–18 h, mas aves, peixe, produtos
e cozidos sensíveis pouca febre, náuseas ou lácteos, alimentos
ao calor) vômitos secos (p. ex., sopas,
18–64 min especiarias, massas)
(esporos
resistentes
ao calor)
Enteropathogenic Trato intestinal de 7–8 (todos os tipos) 4,4 0,95     Seis tipos de doenças, Carne, aves, hortaliças,
Escherichia coli humanos e animais 6,5 (O157:H7) incluindo hemorragia peixe, queijos macios,
de sangue quente intestinal, infecções da água, brotos de alfafa
bexiga/rim, septicemia,
coágulos sanguíneos no
cérebro dentro de 7 h a
4 dias.a Alguns tipos são
fatais
Listeria Onipresente – −0,4 4,39 0,92     Adultos: gastrenterite Leite, frutos do mar,
monocytogenes solo, maioria dos dentro de 24–48 h. peixe defumado ou
alimentos, seres Bebês recém-nascidos: marinado, sanduíches,
humanos e animais meningite e morte. hortaliças/saladas cruas,
saudáveis, superfícies Feto não nascido: coleslaw (NT: salada
aborto espontâneo, feto de repolho, cenoura e
natimorto ou meningite. maionese), carnes/patê
Indivíduos com cru ou cozido, produtos
sistemas imunológicos de aves, queijos macios
comprometidos:
meningite ou septicemia
Mycobacterium Leite 25 5,5   12 s (a 71 °C 8,6 Associado à doença de Leite e produtos lácteos
avium spp. no leite) Crohn
paratuberculosis
(Continua)
Tecnologia do processamento de alimentos: princípios e prática   937
TABELA B1  Fontes e sintomas de bactérias patogênicas (Continuação)
Condições mínimas
para crescimento
Alimentos típicos de
Patógeno Fontes Temperatura (°C) pH aa Valor D Valor z (°C) Sintomas da infecção alto risco
Plesiomonas Água doce           Diarreia, dor abdominal, Água ou moluscos
shigelloides náusea dentro de
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24–48 h
Salmonella Aves, gado, porcos, 5,2b 3,8c 0,94 0,28–10 s   Gastrenterite (entre 12– Ovos, aves, leite, carnes
enterica outros animais (no leite) 48 h, duração 2–7 dias): cozidas, salame, queijos
0,36 min (em náuseas, vômitos, febre
carne moída) alta, dor abdominal, pode
0,55–9,5 min ser fatal.
(no ovo líquido), Febre tifoide (dentro de
4,5–6,6 h 7–28 dias, duração 14
(em chocolate) dias): febre alta, náuseas,
dor abdominal. Portador
por meses/anos
Septicemia: febre alta,
dor abdominal e torácica
Shigella spp. Pessoas infectadas,           Disenteria, dor abdominal Saladas, leite, queijos
alimentos ou água severa, febre dentro de moles, arroz cozido
12–50 h
Staphylococcus Animais, pele 7 (10 para a         Náuseas, vômitos, às Alimentos processados
aureus humana e cavidade produção de toxina) vezes diarreia, dentro de aquecidos e
nasal, superfícies 2–4 h recontaminados, queijo,
salame, carnes cozidas,
leite em pó, sanduíches
Vibrio Águas marinhas 5–10         Gastroenterite, cólicas Peixe, moluscos
parahaemolyticus, costeiras abdominais, náuseas, crus, mal cozidos ou
V. cholerae febre dentro de 4–24 h. recontaminados, água
Cólera (V. cholerae)
dentro de 6 h a 3 dias
(Continua)
TABELA B1  Fontes e sintomas de bactérias patogênicas (Continuação)
Condições mínimas
para crescimento
Alimentos típicos de
Patógeno Fontes Temperatura (°C) pH aa Valor D Valor z (°C) Sintomas da infecção alto risco
Yersinia Porcos −1 a 7         Febre, diarreia, dor Carne de porco,
enterocolitica abdominal intensa, leite, tofu, chitterlings
vômitos, dor nas (intestino de porco)
articulações dentro
de 24–36 h
a
Veja o texto para detalhes.
b
A maioria dos sorotipos não cresce < 7 °C.
c
A maioria dos sorotipos não cresce abaixo de pH 4,5.
Fonte: Adaptada de Bell, C., Kyriakides, A., 2002a. Pathogenic Escherichia coli.In: de W. Blackburn, C., McClure, P.J. (Eds.), Foodborne Pathogens – Hazards, Risk Analysis and Control. Woodhead
Publishing, Cambridge, pp. 279-306; Bell, C., Kyriakides, A., 2002b. Salmonella. In: de W. Blackburn, C., McClure, P.J. (Eds.), Foodborne Pathogens – Hazards, Risk Analysis and Control.
Woodhead Publishing, Cambridge, pp. 307–335; Park, R.W.A., Griffiths, P.L., Moreno, G.S., 1991. Sources and survival of campylobacters – relevance to enteritis and the food industry. J. Appl.
Bacteriol. 70, S97–S106; McClure, P., de W. Blackburn, C., 2002. Campylobacter and Arcobacter. In: de W. Blackburn, C., Mc Clure, P.J. (Eds.), Foodborne Pathogens – Hazards, Risk Analysis
and Control. Woodhead Publishing, Cambridge, pp. 363–384; Sutherland, J., Varnam, A., 2002. Enterotoxin-producing Staphylococcus, Shigella, Yersinia, Vibrio, Aeromonas and Plesimona. In:
de W. Blackburn, C., Mc Clure, P.J. (Eds.), Foodborne Pathogens – Hazards, Risk Analysis and Control. Woodhead Publishing, Cambridge, pp. 386–415; Gibbs, P., 2002. Characteristics of spore-
forming bacteria. In: de W. Blackburn, C., Mc Clure, P.J. (Eds.), Foodborne Pathogens – Hazards, Risk Analysis and Control. Woodhead Publishing, Cambridge, pp. 418–435; Griffiths, M., 2002.
Mycobacterium paratuberculosis. In: de W. Blackburn, C., McClure, P.J. (Eds.), Foodborne Pathogens – Hazards, Risk Analysis and Control. Woodhead Publishing, Cambridge, pp. 489–500.
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940   P. J. Fellows

diovasculares e neurológicas e insônia e depres- B.1.4.1  Clostridium botulinum


são (Motarjemi, 2002). Embora bactérias do gênero Clostridia possam
ser anaeróbicas a aerotolerantes, o Clostridium
B.1.4  Campylobacter spp. botulinum é estritamente anaeróbico e só pode es-
e Arcobacter spp. porular em condições anaeróbicas. É amplamen-
Campylobacter jejuni é o agente patogênico mais te encontrado em solos e sedimentos marinhos e
importante desse grupo, causando até 90% das de água doce. Existem quatro fenótipos (núme-
infecções por Campylobacter relatadas, com o C. ros I–IV), mas apenas os grupos I e II produzem
coli também sendo a causa de doenças menos co- intoxicação alimentar significativa. As diferentes
muns. Antes de 1991, duas espécies de Arcobacter toxinas produzidas pelo Cl. botulinum são rotula-
(A. butzleri e A. cryaerophilus) ficaram conhe- das A-G, em que bactérias proteolíticas do Gru-
cidas como Campylobacter aerotolerantes. Elas po I produzem toxinas A, B e F; e bactérias não
foram associadas à enterite em seres humanos proteolíticas do Grupo II produzem toxinas B,
e abortos e enterite em animais, mas não foram E e F. As toxinas estão entre as toxinas naturais
associadas a surtos generalizados de intoxicação mais venenosas e bloqueiam a liberação de ace-
alimentar. Tanto o Campylobacter quanto o Ar- tilcolina ao longo das sinapses nervosas, causan-
cobacter são flora intestinal normal de animais do paralisia muscular. Os sintomas do botulismo
e aves, e a doença geralmente é causada pela in- geralmente aparecem dentro de 12-36 horas, mas
gestão de alimentos recontaminados ou alimentos podem demorar até 10 dias. Eles incluem vômitos
crus ou inadequadamente cozidos. O Campylo- e náuseas, seguidos rapidamente por visão dupla,
bacter jejuni é uma causa importante de gastrente- impedimento da fala e dificuldade em engolir.
rite esporádica porque, embora as células não so- Isso é seguido por fraqueza muscular geral, falta
brevivam por períodos prolongados em alimentos, de coordenação e insuficiência respiratória. Foi
são altamente virulentas e apenas algumas cente- desenvolvida uma antitoxina que reduz a taxa de
nas de células são necessárias para causar intoxi- mortalidade quando é administrada rapidamente,
cação. C. jejuni é termofílico (ótimo a 37–42 °C), mas os pacientes ainda podem precisar de respira-
mas pode sobreviver a baixas temperaturas. É sen- ção artificial para permitir sua recuperação. Devi-
sível a aquecimento, secagem, congelamento, aci- do à gravidade da intoxicação, o setor de conser-
dez, oxigênio e baixas concentrações (2%) de sal. vas toma um cuidado especial para garantir que
A maior incidência de doenças em crianças muito sejam utilizadas combinações de tempo/tempe-
pequenas pode indicar que há imunidade protetora ratura corretas, e a incidência de intoxicação por
após a infecção. As pessoas imunocomprometidas produtos comerciais é baixa. A maioria dos casos
têm uma doença grave, prolongada, sepse ou ou- provém de conservas de vegetais caseiras (nos
tras infecções. A intoxicação por C. jejuni também Estados Unidos), peixe ou carnes mal curadas ou
está associada ao desenvolvimento da síndrome de malcozidas, ou inclusão de ervas e especiarias
Guillain-Barré (GBS), uma doença autoimune que frescas em óleos de cozinha (Gibbs, 2002).
causa fraqueza de membros e paralisia, que, às ve-
zes, é fatal. Também pode causar artrite crônica, B.1.4.2  Clostridium perfringens
meningite, aborto e sepse neonatal (Motarjemi, Cepas diferentes (A–E) de Cl. Perfringens (an-
2002). O C. jejuni pode formar células viáveis teriormente Cl. welchii) produzem alguns dos
mas não cultiváveis que são metabolicamente ati- quatro principais tipos de enterotoxina. O Cl.
vas, porém, não conseguem crescer quando cul- Perfringens Tipo A é mais comum e resulta em
tivadas. Isso pode ser provocado por condições intoxicação relativamente leve, que dura  24
ambientais que não causam sua morte, como dano horas. Devido à curta duração e aos sintomas re-
por congelamento-degelo. No entanto, surtos de lativamente leves, esse tipo de intoxicação é con-
doenças de células viáveis mas não cultiváveis são siderado subnotificado (Gibbs, 2002). O Cl. Per-
possíveis, indicando que podem se recuperar nos fringens tem uma temperatura ideal relativamente
intestinos (McClure e Blackburn, 2002). alta para seu crescimento (43–45 °C) e pode cres-
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cer até 50 °C, dobrando em número a cada 8 a 3. E. coli enteroinvasiva (EIEC) – Início den-
10 minutos em condições ideais, tornando-se uma tro de 8 a 72 h, duração dias-semanas. Es-
das bactérias de intoxicação alimentar de cresci- ses tipos invadem células epiteliais no cólon
mento mais rápido. As principais fontes são as causando disenteria, vômitos, febre, dor de
carnes cozidas que sofrem abuso de temperatura cabeça e cólicas abdominais.
ou refrigeração inadequada após o cozimento. O 4. E. coli enterohemorrágica (EHEC) – Início
cozimento inadequado também pode estimular a em 3 a 9 dias, duração de 2 a 9 dias. Esses
germinação do esporo no resfriamento. A refrige- sorotipos, incluindo a E. coli O157:H7, se
ração ou o congelamento matam células, mas os juntam a células mucosas e produzem toxi-
esporos podem sobreviver e germinam e crescem nas potentes, causando dor abdominal inten-
rapidamente ao serem reaquecidos ou desconge- sa, diarreia sangrenta e vômitos, mas sem
lados. O crescimento celular é inibido por 6 a 8% febre. Em crianças pequenas e idosos, podem
de sal e até 400 g/kg de nitrito, e as carnes cor- causar insuficiência renal aguda, convulsões,
retamente curadas geralmente não são uma fonte coma e morte.
desse patógeno. 5. E. coli enteroagregativa (EAEC) – Início em
7 a 48 h, duração de 14 dias a semanas. Es-
B.1.5  Escherichia coli ses tipos se ligam em aglomerados às células
enteropatogênica do intestino delgado e produzem toxinas que
causam diarreia persistente, mas não febre ou
E. coli é a flora não-patogênica mais comum no
vômitos.
intestino humano e tem sido usada há muito tem-
6. E. coli difusamente aderente (DAEC) – Iní-
po como indicador da contaminação fecal dos
cio e duração ainda não estabelecidos. A
alimentos. Algumas cepas desenvolveram a capa-
epidemiologia e os perfis clínicos da doença
cidade de causar doenças e as atribuídas à E. coli
ainda não estão estabelecidos, mas podem
têm sido reconhecidas há 100 anos. No entanto,
causar diarreia em crianças mais velhas.
nos últimos anos, a atenção aumentou devido a
morbidade e mortalidade significativas em surtos Os métodos para identificar e contro-
de intoxicação alimentar, particularmente aque- lar VTEC são descritos por Bell e Kyriakides
les associados à E. coli vero citotoxigênica (ou (2002a).
VTEC). Nos países industrializados, o foco foi na
E. coli O157:H7, mas outros, incluindo a E. coli B.1.5.1  Listeria monocytogenes
O26, O103, O111, O118 e O145, podem repre- Esse é o patógeno mais importante entre seis es-
sentar uma ameaça igual ou maior para a saúde pécies de Listeria e possui dois sorotipos (4b e
pública (Bell e Kyriakides, 2002a). Dos tipos pa- 1/2a). A listeriose é rara e em adultos saudáveis
togênicos de VTEC, existem diferenças nos genes somente provoca sintomas leves de gripe ou vô-
de virulência que resultam em seis tipos de pa- mitos e diarreia, quando um grande número de
togenicidade identificados até o momento (Bell e
células é ingerido. No entanto, no caso de pessoas
Kyriakides, 2002a; Scaletsky et al., 2002):
idosas ou pessoas que tenham o sistema imunoló-
1. E. coli enteropatogênica (EPEC) – Início gico comprometido (p. ex., pacientes que tomam
dentro de 9 a 72 h, duração de 6 h a 3 dias. drogas imunossupressoras após transplantes de
Esses tipos invadem células mucosas causan- órgãos, infecção por HIV/AIDS ou tratamento
do diarreia grave, febre, vômitos e cólicas contra o câncer) se infectarem, elas podem de-
abdominais. senvolver meningite, encefalite e/ou septicemia,
2. E. coli enterotoxinogênica (ETEC) – Início muitas vezes com altas taxas de mortalidade (Mo-
em 8 a 44 h, duração de 3 a 19 dias. Aderem tarjemi, 2002). A infecção cruzada em materni-
à mucosa do intestino delgado e produzem dades e infecções transmitidas por alimentos são
toxinas que agem sobre células mucosas cau- as principais fontes de transmissão. Se mulheres
sando diarreia, cólicas e náuseas. grávidas se infectam, a Listeria pode causar infec-
942   P. J. Fellows

ção do útero, corrente sanguínea ou sistema ner- em todo o mundo, e um surto individual pode afe-
voso central, resultando em aborto espontâneo, tar vários milhares de pessoas de uma só vez. Os
feto natimorto ou infecção fetal e nascimento de sintomas variam de intoxicação alimentar leve/
um bebê prematuro gravemente doente. A L. mo- severa (gastrenterite) à febre tifoide e paratifoi-
nocytogenes é psicotrópica e pode crescer a tem- de grave e septicemia. Essas condições severas
peraturas de refrigeração, e os padrões nacionais produzem altas taxas de morbidade e mortalida-
e internacionais, bem como as especificações da de. Existem  2.400 sorotipos, principalmente
empresa de alimentos, descrevem níveis máximos designados como S. enterica, mas novas cepas
de contaminação, especialmente para alimentos estão evoluindo, algumas das quais apresentam
refrigerados e prontos para consumo. Métodos múltipla resistência a antibióticos. A Salmonella
para identificar e controlar L. monocytogenes são spp. causa doença ao invadir células intestinais e
descritos por Bell e Kyriakides (2002b). liberar uma enterotoxina que causa inflamação e
diarreia. Ela também pode entrar nos vasos san-
B.1.5.2  Mycobacterium guíneos e no sistema linfático e causar doenças
paratuberculosis mais graves, incluindo artrite reativa, pancreatite,
osteomielite e meningite. O número necessário
Atualmente conhecido como Mycobacterium
de células ingeridas para causar doenças é de
avium spp. paratuberculosis, essa bactéria causa
>10.000, mas pode ser tão baixo quanto 10 a 100
a doença de Johne em gado e tem sido associada à
células quando alimentos gordurosos infectados,
doença de Crohn em humanos, que é semelhante
como queijo ou salame, são comidos e a gordura
(inflamação crônica do trato gastrintestinal alta-
protege as células. A Salmonella pode persistir
mente debilitante). Verificou-se no leite pasteuri-
nas fezes após a recuperação da doença, tornan-
zado, mas os resultados de uma série de estudos
do a pessoa um transmissor e, portanto, um pe-
de sua capacidade de sobreviver às condições de
rigo potencial se empregado como manipulador
pasteurização permanecem inconclusivos (Griffi-
de alimentos. Os dados anteriores e métodos para
ths, 2002).
identificar e controlar Salmonella são descritos
por Bell e Kyriakides (2002c). Por sua importân-
B.1.6  Plesiomonas spp. cia, os níveis especificados de Salmonella spp.
Uma única espécie, Pl. shigelloides, compartilha nos alimentos (negativo em amostras de 25 g) são
características semelhantes ao Vibrio spp. e à Ae- incorporados em legislações nacionais e padrões
romonas spp. Provoca três tipos de sintomas diar- internacionais. Alguns sorotipos podem sobrevi-
reicos: o secretor e o similar à shigella, os quais ver durante longos períodos sob armazenamento
são mais comuns e podem variar de gravidade, e congelado (p. ex., 4 meses em aves e carne moída
os sintomas menos comuns de cólera. Também a −18 °C, ou 7 anos em sorvete a −23 °C) e em
pode causar meningite e tem uma taxa de mor- condições de baixa aa (p. ex., 9 meses em choco-
talidade de  80% (Sutherland e Varnam, 2002). late com aa = 0,41, e 6 semanas na manteiga de
Pode invadir células intestinais e também tem a amendoim com aa = 0,2–0,33) (Bell e Kyriakides,
capacidade de produzir enterotoxinas, protease, 2002c).
elastase e hemolisina. As pessoas com maior risco
incluem crianças pequenas, idosos e portadores B.1.8  Shigella spp.
de câncer. A Plesiomonas é encontrada em água
O gênero Shigella da família Enterobacteriaceae
doce e a doença é mais frequentemente causada
possui quatro subgrupos (Sh. dysenteriae, Sh. fle-
pela ingestão de água contaminada ou de molus-
xneri, Sh. boydii e Sh. sonnei). Infectam pessoas
cos e crustáceos crus dessa mesma água.
principalmente por transmissão de pessoa a pes-
soa e alimentos e água contaminados em áreas
B.1.7  Salmonella spp. onde há práticas higiênicas ruins. As bactérias se
A Salmonella spp. está entre as causas mais im- multiplicam no cólon e invadem células epiteliais,
portantes de doenças transmitidas por alimentos causando lesões ulcerativas. A Sh. dysenteriae
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produz uma citotoxina sensível ao calor (toxina refrigeração o melhor método de controle para
shiga) que mata as células do cólon, e também produtos que não são aquecidos. O St. aureus é
pode produzir uma enterotoxina e uma neuroto- mais resistente a conservantes, como sal e nitrito
xina. Entre adultos saudáveis, causa sintomas que de sódio, do que muitos agentes patogênicos, per-
podem durar de 3 a 4 dias, mas raramente são cau- mitindo que ele cresça em carnes curadas. Tam-
sa de morte. No entanto, pode causar convulsões bém é capaz de crescer em alimentos embalados a
e delírio, e é uma causa comum de mortalidade vácuo e atmosfera modificada (veja Seção 24.3),
entre pessoas imunocomprometidas e lactentes embora a produção de toxina possa ser inibida.
em locais onde a higiene é ruim. A Shigella não é A sua tolerância relativamente alta à baixa aa em
encontrada no ambiente em geral, e a maioria das comparação com outras bactérias permite que ele
infecções é causada por pessoas que são transmis- cresça durante o fabrico de produtos com teores
soras e infectam alimentos ou por contaminação de umidades baixa e intermediária.
fecal das lavouras. Na prática, quase todos os ali-
mentos podem ser uma fonte de contaminação se B.1.10  Vibrio spp.
os padrões de higiene são baixos e há uma alta
Existem 10 espécies de Vibrio que causam doen-
incidência de intoxicação por Shigella na popu-
ças gastrointestinais, sendo as mais importan-
lação em geral.
tes V. parahaemolyticus e V. cholerae, a última
causando a cólera asiática. Outra (V. vulnificus)
B.1.9  Staphylococcus aureus também causa septicemia. Elas estão associadas
Esse patógeno é uma parte normal da flora que se à água do mar, e os frutos do mar são a fonte mais
encontra na pele e nas cavidades nasais de seres comum de intoxicação transmitida por alimentos,
humanos e animais. Pode produzir até 11 entero- embora o V. cholerae também esteja associado
toxinas quando cresce em alimentos, e a intoxi- com água doce contaminada e alimentos. O V.
cação pode resultar da ingestão de 94 a 184 ng cholerae possui dois sorotipos (O1 e O139) que
de uma dessas toxinas (Varnam e Evans, 1996). produzem uma série de enterotoxinas, incluindo
No entanto, é necessário um crescimento celular hemolisinas e citotoxinas. Eles causam diarreia
substancial para produzir toxina suficiente para abundante de 6 h a 3 dias, com perda rápida de
causar doenças e a produção de toxinas é mais fluidos corporais e sais minerais, causando desi-
facilmente inibida do que o crescimento celular dratação e levando à morte se não for tratada por
por controle da aa e do pH. As toxinas diferem reidratação e reposição de sais minerais. As cepas
das outras enterotoxinas na medida em que não não toxigênicas causam gastrenterite menos gra-
agem diretamente nas células do intestino, mas ve, cólicas abdominais e febre. Em contraste, o V.
atuam mais como uma neurotoxina, estimulando parahaemolyticus é um agente patogênico não tó-
os nervos, que, por sua vez, estimulam o centro xico invasivo, que causa diarreia que dura de 2 a 3
responsável pelo vômito no cérebro (Sutherland dias, raramente causando a morte. Existe também
e Varnam, 2002). Os sintomas raramente duram uma cepa mais grave que produz citotoxina e en-
mais de 24 h, seguido de recuperação rápida, e as terotoxina similar à toxina shiga e causa disente-
mortes são raras. Essa intoxicação relativamente ria. Ela está associada ao consumo de peixes crus
leve pode ser responsável pela significativa sub- e frutos do mar, ou frutos do mar cozidos que são
notificação de doenças causadas por St. aureus. recontaminados por falta de higiene. Em pessoas
As células de St. aureus são prontamente des- saudáveis, o V. vulnificus causa gastrenterite leve,
truídas por condições de aquecimento normais mas, em pessoas que sofrem de problemas de saú-
usadas no processamento, mas a toxina não. Por- de, incluindo hepatite, cirrose ou doença gástrica,
tanto, é possível que alimentos como leite em pó causa lesões cutâneas e septicemia, resultando
pasteurizado e salame contenham a toxina sem em morte em aproximadamente 50% dos casos.
evidência de contaminação celular. As células são Destrói os tecidos do corpo através da secreção de
incapazes de crescer abaixo de 7 °C e as toxinas hemolisinas, proteinases, colagenases e fosfolipa-
não são produzidas abaixo de 10 °C, tornando a ses. É fortemente associado ao consumo de ostras
944   P. J. Fellows

cruas, particularmente nos meses de verão, quan- de refrigeração. Não é inibida pela embalagem a
do as temperaturas da água do mar são mais altas vácuo, mas é sensível ao dióxido de carbono usa-
(Sutherland e Varnam, 2002). do em atmosfera modificada (veja Seção 24.3)
(Sutherland e Varnam, 2002).
B.1.11  Yersinia enterocolitica
A Yersinia enterocolitica, e em menor medida B.2 VÍRUS
a Y. pseudotuberculosis, são patógenos conta-
A Tabela B2 descreve as características das infec-
giantes transmitidos por alimentos, associados
ções virais transmitidas por alimentos.
principalmente com a carne de porco. Elas são
membros da família Enterobacteriaceae, mas, ao
contrário da maioria das outras bactérias nessa B.3  ENZIMAS DE
família, a Y. enterocolitica é capaz de crescer a
4 °C. Além dos sintomas em adultos saudáveis, MICRORGANISMOS
causados por infecção do trato intestinal, pode GENETICAMENTE
causar a doença tireoidiana autoimune, abscessos MODIFICADOS (GM)
hepáticos, pneumonia, infecções septicêmicas
A Tabela B3 lista as enzimas dos microrganismos
nos tecidos, conjuntivite e faringite, especial-
GM que são utilizadas no processamento de ali-
mente entre idosos e pessoas imunocomprometi-
mentos.
das. Crianças tanto pequenas como até a primeira
adolescência são mais suscetíveis à intoxicação.
A Y. enterocolitica não é particularmente resis- B.4 FERMENTAÇÃO
tente ao calor, e é destruída a temperaturas de
processamento normais. No entanto, a reconta- DE ALIMENTOS
minação de alimentos processados ​é importante A Tabela B4 descreve algumas fermentações co-
pela capacidade de crescimento a temperaturas muns dos alimentos.
TABELA B2  Características das infecções virais transmitidas por alimentos

Tipo de vírus Tempo de incubação Sintomas Grupos etários de risco Duração da doença Gravidade
Adenovírus 7–14 dias Diarreia Crianças < 5 anos Dias/semanas Leve
Astrovírus 24–48 h Diarreia Crianças < 10 anos Dias Leve
Calicivírus 24–48 h Vômito/diarreia Todos (especialmente pessoas Dias Leve
internadas ou hospitalizadas)
Enterovírus 1–2 semanas Diarreia, meningite, Crianças < 15 anos Dias/semanas, pode durar a Pode ser grave
encefalite, doença paralítica vida toda
Hepatite A Até 50 dias Hepatite Se endêmica, todos Semanas A gravidade aumenta com a
idade da primeira infecção
Hepatite E Até 70 dias Hepatite Todos Semanas Leve, exceto para mulheres
grávidas
Rotavírus 24–48 h Vômitos, diarreia, febre Crianças < 5 anos Dias A principal causa de morte em
países em desenvolvimento
Fonte: Adaptada de Koopmans, M., 2002. Viruses. In: de W. Blackburn, C., McClure, P.J. (Eds.), Foodborne Pathogens – Hazards, Risk Analysis and Control. Woodhead Publishing, Cambridge, pp.
440–452.
Tecnologia do processamento de alimentos: princípios e prática   945
TABELA B3  Enzimas de microrganismos GM utilizadas no processamento de alimentos
Enzima Organismo hospedeiro Organismo doador Aplicação
-acetolactato descarboxilase Bacillus amyloliquefaciens ou subtilis Bacillus spp. Refrigerantes, cervejas, vinhos
  Saccharomyces cerevisiae Enterobacter spp. Refrigerantes, cervejas, vinhos
Aminopeptidase Trichoderma reesei ou longibrachiatum Aspergillus spp. Queijo, ovo, carnes, leite, temperos e aromatizantes
-amilase Bacillus amyloliquefaciens ou subtilis Bacillus spp. Produtos de panificação, refrigerantes, cervejas, vinhos,
946   P. J. Fellows

    cereais e processamento de amido


  Thermoactinomyces spp. Produtos de panificação
Bacillus licheniformis Bacillus spp. Refrigerantes, cervejas, vinhos, processamento de cereais e
amido, processamento de açúcar e mel
Arabinofuranosidase Aspergillus niger Aspergillus spp.  
Catalase Aspergillus niger Aspergillus spp.  
Celulase Trichoderma reesei ou longibrachiatum Trichoderma spp. Refrigerantes, cervejas, vinhos
Ciclodextrina Bacillus licheniformis Thermoanaerobacter spp. Processamento de cereais e amido
glucanotransferase
-galactosidase Saccharomyces cerevisiae Guar Refrigerantes, cervejas, vinhos
-glucanase Bacillus amyloliquefaciens ou subtilis Bacillus spp. Refrigerantes, cervejas, vinhos
  Trichoderma reesei ou longibrachiatum Trichoderma spp. Processamento de cereais e amido
Glucoamilase ou Aspergillus niger Aspergillus spp. Refrigerantes, cervejas, vinhos, frutas e vegetais,
amiloglucosidase   processamento de cereais e amido
  Talaromyces spp. Processamento de cereais e amido
Glicose isomerase Streptomyces lividans Actinoplanes spp. Processamento de cereais e amido
  Streptomyces rubiginosus Streptomyces spp. Processamento de cereais e amido
Glicose oxidase Aspergillus niger Aspergillus spp. Produtos de panificação, queijo, ovo, leite
  Aspergillus oryzae Aspergillus spp. Produtos de panificação
Hemicelulase Bacillus amyloliquefaciens ou subtilis Bacillus spp. Produtos de panificação, processamento de cereais e amido
Hexose oxidase Hansenula polymorpha Chordrus spp. Produtos de panificação, queijos, gorduras e óleos, leite,
sopas e caldos, processamento de cereais e amido
Inulase Aspergillus oryzae Aspergillus spp. Processamento de cereais e amido
Lacase Aspergillus oryzae Myceliopthora spp. Refrigerantes, cervejas, vinhos
    Polyporus spp. Refrigerantes, cervejas, vinhos
(Continua)
TABELA B3  Enzimas de microrganismos GM utilizadas no processamento de alimentos (Continuação)
Enzima Organismo hospedeiro Organismo doador Aplicação
Lactase ou -galactosidase Aspergillus oryzae Aspergillus spp. Queijo, alimentos dietéticos, gelo comestível leite
  Kluyveromyces lactis Kluyveromyces spp. Gelo comestível, leite

Lipase triacilglicerol Aspergillus oryzae Candida spp. Gorduras e óleos


    Fusarium spp. Produtos de panificação, gorduras e óleos
   
Rhizomucor spp. Queijo, gorduras e óleos, especiarias e flavorizantes
   
Thermomyces spp. Produtos de panificação, gorduras e óleos
Lipoxigenase Escherichia coli Ervilha Produtos de panificação, temperos e aromatizantes
Amilase maltogênica Bacillus amyloliquefaciens ou subtilis Bacillus spp. Produtos de panificação, processamento de cereais e amido
Endo-1,4- -mananase Trichoderma reesei ou longibrachiatum Trichoderma spp. Processamento de cereais e amido
Pectina liase Aspergillus niger var. awamori Aspergillus spp. Refrigerantes, cervejas, vinhos, cacau, chocolate, café e chá,
  frutas e hortaliças
  Aspergillus niger Aspergillus spp. Refrigerantes, cervejas, vinhos, frutas e vegetais
Trichoderma reesei ou longibrachiatum Aspergillus spp. Refrigerantes, cervejas, vinhos, cacau, chocolate, café e chá,
frutas e hortaliças
Pectina metil-esterase ou Aspergillus niger Aspergillus spp. Refrigerantes, cervejas, vinhos, cacau, chocolate, café e chá,
pectinesterase frutas e hortaliças
  Aspergillus oryzae Aspergillus spp. Refrigerantes, cervejas, vinhos, frutas e hortaliças
 
Trichoderma reesei ou longibrachiatum Aspergillus spp. Refrigerantes, cervejas, vinhos, cacau, chocolate, café e chá,
frutas e hortaliças
Pentosanase Bacillus amyloliquefaciens ou subtilis Bacillus spp. Produtos de panificação
Fosfolipase A Aspergillus oryzae Fusarium spp. Produtos de panificação
  Trichoderma reesei ou longibrachiatum Aspergillus spp. Produtos de panificação, gorduras e óleos
Fosfolipase B Trichoderma reesei ou longibrachiatum Aspergillus spp. Produtos de panificação, processamento de cereais e amido
Poligalacturonase ou pectinase Aspergillus niger Aspergillus spp. Refrigerantes, cervejas, vinhos, cacau, chocolate, café e chá,
  frutas e hortaliças
Trichoderma reesei ou longibrachiatum Aspergillus spp. Refrigerantes, cervejas, vinhos, cacau, chocolate, café e chá,
frutas e hortaliças
(Continua)
Tecnologia do processamento de alimentos: princípios e prática   947
TABELA B3  Enzimas de microrganismos GM utilizadas no processamento de alimentos (Continuação)
Enzima Organismo hospedeiro Organismo doador Aplicação
Protease (incluindo enzimas de Aspergillus niger var. awamori Estômago de bezerro Queijo
coagulação do leite) Aspergillus oryzae Rhizomucor spp. Queijo, carne
 
Bacillus amyloliquefaciens ou subtilis Bacillus spp. Produtos de panificação, refrigerantes, cervejas, vinhos,
 
queijos, peixe, carne, leite, processamento de cereais e amido
 
948   P. J. Fellows

  Bacillus licheniformis Bacillus spp. Carne, peixe


  Cryphonectria or Endothia parasitica Cryphonectria spp. Queijo
Kluyveromyces lactis Estômago de bezerro Queijo
Pululanase Bacillus licheniformis Bacillus spp. Processamento de cereais e amido
  Bacillus subtilis Bacillus spp. Refrigerantes, cervejas, vinhos, processamento de cereais e
  amido
 
Klebsiella planticola Klebsiella spp. Refrigerantes, cervejas, vinhos, processamento de cereais e
amido
Trichoderma reesei ou longibrachiatum Hormoconis spp. Produtos de panificação
Xilanase Aspergillus niger Aspergillus spp. Produtos de panificação, refrigerantes, cervejas, vinhos
  Aspergillus niger var. awamori Aspergillus spp. Produtos de panificação
 
Aspergillus oryzae Aspergillus spp. Processamento de cereais e amido
 
  – Thermomyces spp. Produtos de panificação
  Bacillus amyloliquefaciens ou subtilis Bacillus spp. Produtos de panificação, refrigerantes, cervejas, vinhos,
processamento de cereais e amido
Bacillus licheniformis Bacillus spp. Processamento de cereais e amido
  Trichoderma reesei ou longibrachiatum Trichoderma spp. Refrigerantes, cervejas, vinhos, processamento de cereais e
amido
Fonte: Adaptada de AMFEP, 2015. AMFEP list of commercial enzymes, the Association of Manufacturers and Formulators of Enzyme Products. Disponível em: www.amfep.org/main.html (acessado
em fevereiro de 2016).
TABELA B4  Exemplos de fermentação de alimentos
Condições típicas de incubação
Alimentos fermentados e
Tipo de fermentação Matéria-prima exemplos de países/áreas Microrganismos Temp (°C) Tempo (h)
Ácido lático Repolho, rabanete, Chucrute (Europa, EUA), kimchi Leuconostoc mesenteroides,    
pimentão vermelho (Coreia) Lactobacillus brevis,
L. plantarum
Hortaliças, pepino, Pickles (Oriente Médio, Europa, Lactobacillus mesenteroides, Amba 48–260
azeitona, manga, limão EUA, Índia, Coreia, Tailândia, China) L. brevis, L. plantarum,
Penecillium cerevisiae
Leite Iogurte (em todo o mundo) Streptococcus thermophilus, 40–45 2–3
Lactobacillus bulgaricus
– Leites e cremes fermentados Lactococcus lactis spp.    
(p. ex., kefir [Rússia], liban [Iraque], cremoris, Lactococcus lactis
dahi [Índia], laban [Egito]). spp. Lactis, Acetobacter
orientalis, Lactobacillus
acidophilus, L. delbruecki
spp. bulgaricus, L. salivarius
– Queijos (mundo ocidental) Streptococcus cremoris, 32 14–16b
S. diacetylactis, S. lactis,
Penecillium spp.
Leite/trigo Kishk (Egito), trahanas (Grécia, -    
Turquia)
Tubérculos (p. ex., Kenkey (Gana), gari (Nigéria), pozol Corynebacterium spp., Amb 96
mandioca) (México) Geotrichum spp.
Arroz/camarões Balao balao, burong dalag (Filipinas) Bacillus pumilus, Amb 24–72
B. licheniformis
Trigo, arroz, milho, Pães sourdough (de fermentação Leuconostoc mesenteroides,    
lentilhas natural) (mundo ocidental), idli Streptococcus faecalis
(Índia), funis (Sri Lanka) injera
(Etiópia), kisra (Sudão), puto
(Filipinas)
Milho Bebidas não alcoólicas (p. ex., L. delbrueckii 45  
mahewu [Sul da África])
(Continua)
Tecnologia do processamento de alimentos: princípios e prática   949
TABELA B4  Exemplos de fermentação de alimentos (Continuação)
Condições típicas de incubação
Alimentos fermentados e
Tipo de fermentação Matéria-prima exemplos de países/áreas Microrganismos Temp (°C) Tempo (h)
Carne Salsicha fermentada (mundo Pediococcus cerevisiae, 15–26 24
ocidental, Tailândia) Lactobacillus plantarum,
L. curvatus
950   P. J. Fellows

Ácido acético Vinhos, água de coco Vinagres (mundo ocidental), Acetobacter aceti 25 72–120
kombucha (Europa, Indonésia,
Japão), nata de coco (Filipinas)
Alcoólica Uvas, outras frutas, mel, Vinhos (mundialmente, exceto Saccharomyces cerevisiae, S. 22–30 100–360c
seiva de palmeira, cana- países muçulmanos) cerevisiae var. ellipsoideus,
de-açúcar, arroz S. carbajali, S. oviformis, S.
chevalieri, Saccharomycopsis
fibuliger, Kloeckera apiculata,
Zymomonas mobilis,
Amylomyces rouxii, S. sake,
Zymomonas spp.
Cereais (p. ex., arroz, Cervejas (mundialmente, exceto Saccharomyces cerevisiae 20 120–240
milho) países muçulmanos) (levedura de alta fermentação), 12–15
S. carlesbergensis (levedura
de baixa fermentação),
Leuconostoc mesenteroides
Trigo e outros cereais Pães fermentados (países ocidentais, – 26 0,5–1
Oriente Médio)
Mista (ácido láctico e/ou Peixe, soja Molhos de peixe (p. ex., nuocmam Fase 1: Aspergillus oryzae, A. 30 48–72
leveduras/bolores) [Vietnã], shoyu e miso [Japão], patis soyae, Mucor spp., Rhizopus
[Filipinas], budu [Malásia]) e pastas spp.
(p. ex., bagoong [Filipinas], belachan Fase 2: Pediococcus soyae, 15–25 3–6 meses
[Malásia], mam [Vietnã], prahoc Saccharomyces rouxii
[Camboja] e molho de soja [China])
(Continua)
TABELA B4  Exemplos de fermentação de alimentos (Continuação)
Condições típicas de incubação
Alimentos fermentados e
Tipo de fermentação Matéria-prima exemplos de países/áreas Microrganismos Temp (°C) Tempo (h)
Queijo Roquefort, Stilton, Gorgonzola Penicillium roquefort    
Penecillium notatum    
Mandioca, arroz Tapé (Indonésia) Amylomyces rouxii    
Koji (Japão), ácido cítrico Aspergillus oryzae    
Soja Produtos texturizados – tempeh Rhizopus oligosporus    
(Indonésia)
Sementes de cacau Cacau (África Ocidental, América Lactobacillus plantarum, Amb 144
do Sul) L. mali, L. fermentum, L.
collinoides, Acetobacter
rancens, A. aceti, A. oxydans
Grãos de café Café (África Oriental, Ásia do Sul, Leuconostoc sp., Lactobacillus Amb 20–100
América do Sul) spp., Bacillus spp., Erwinia spp.,
Aspergillus spp., Fusarium spp.
Alcalina Alfarroba, sementes Dawadawa, iru, ogiri (África Bacillus subtilis Amb  
de melão, sementes de Ocidental), kenima (Índia), natto
gergelim, rícino (Japão)
a
Ambiente.
b
A fermentação de queijos maturados continua por 1 a 12 meses.
c
Os vinhos também são maturados entre 1 a 5 anos.
Fonte: Adaptada de Steinkraus, K.H., 2002. Fermentations in world food processing. Compr. Rev. Food Sci. Food Saf. 1(1), 23–32; Raimbault, M., 1998. General and microbiological aspects of
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Tecnologia do processamento de alimentos: princípios e prática   951
952   P. J. Fellows

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