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cartilha de referência

BOAS PRÁTICAS
Gestão de Risco

1
BOAS PRÁTICAS
Gestão de Risco
APRESENTAÇÃO ABRACEEL APRESENTAÇÃO DCIDE

A Abraceel definiu como um dos seus principais focos de atuação para 2019 esti- A busca pela melhor compreensão dos riscos e a frequência com que esse assunto
mular o desenvolvimento de soluções que ampliem a segurança nas operações do surge nas discussões estratégicas do setor ilustra o cuidado com que empresas de
mercado de energia. Nesse sentido, buscando fomentar uma cultura de gestão de todos os segmentos vêm tratando o tema.
risco nas empresas que atuam no mercado livre, elaboramos em conjunto com a A Dcide vem contribuindo desde sua origem nas discussões sobre melhores prá-
Dcide a presente cartilha. ticas em gestão de risco e tem assessorado diversas empresas na modernização de
Sabemos que o risco é aspecto inerente a qualquer atividade econômica, por isso processos, capacitação de profissionais e disponibilização de ferramentas e infor-
seu gerenciamento é ferramenta essencial para garantir a integridade dos negócios. mações, acreditando que o mercado tem muito a ganhar com uma cultura de risco
Especialmente para a comercialização de energia, uma sólida e moderna estrutura madura.
de risco vem se mostrando como um grande diferencial competitivo. Sentindo a escassez de material condensado especificamente para o mercado de
Ao mapear, analisar, avaliar e monitorar os riscos envolvidos em uma operação, energia elétrica nacional encampamos em conjunto com a Abraceel, uma das asso-
é possível limitar a materialização de perdas, de forma que os riscos sejam com- ciações mais respeitadas e ativas do setor, a organização dessa cartilha que tem por
patíveis com capacidade financeira da empresa. Ou seja, gestão de risco é se pre- objetivo resumir anos de experiência em consultoria, pesquisa acadêmica, desen-
parar para a ocorrência de resultados adversos, e o primeiro passo nesse sentido volvimento de produtos e relacionamento com profissionais de todas as esferas
é o conhecimento. corporativas no que pode ser chamado de Boas Práticas em Gestão de Risco, com
Dessa forma, a presente cartilha busca nivelar o conhecimento sobre as melho- a esperança que elas possam servir de ponto comum para benchmark de estrutu-
res práticas para a gestão de riscos, reforçando o compromisso da Abraceel, não ras de gestão de risco e estimular a consolidação de uma cultura de risco de forma
apenas com os comercializadores, mas com todos os agentes, em prol de um mer- que o mercado de energia continue se desenvolvendo como um ambiente seguro,
cado de energia mais maduro e eficiente. saudável e sustentável de negociação.
Boa leitura! Focada nos riscos de mercado, crédito e liquidez a cartilha foi formatada em lin-
guagem acessível a profissionais de todas as esferas que possam vir a buscar diver-
sos níveis de compreensão sobre o tema, incluindo os que gostariam de se espe-
Reginaldo Medeiros cializar nessa área, aqueles que estão tomando o primeiro contato com o assunto
Presidente Executivo da Abraceel ou ainda os que objetivam validar ou aprimorar suas infraestruturas de risco.
Acreditamos que cada vez mais a gestão de risco vai se tornar uma atividade crítica
e imprescindível para as empresas de energia gerando oportunidades para aqueles
que como empresa ou como profissionais se especializem nessa área.
Esperamos que esse material possa ser útil e desejamos uma excelente leitura!

Henrique Leme Felizatti Patricio Martin Hansen


Diretores Dcide
2 3
Por que
gerenciar
- Ganho de credibilidade: através da melhora
na percepção de profissionalismo da empresa, o que
aumenta sua liquidez particular, com reflexo na sua

risco?
visão de crédito.

- Mecanismos de controle de perdas:


que evitam que cenários adversos possam trazer
consequências catastróficas para o negócio ou para
Inúmeros casos de sucesso em praticamente todos os o mercado.
setores econômicos não são por acaso. Infraestruturas
de gestão risco modernas geram frutos e têm se - Comunicação eficiente: enriquecendo a
tornado um importante diferencial de negócio também relação com os controladores e estimulando a tomada
no setor elétrico. de decisão quantitativa.

Em empresas que são referência nesse aspecto é - Alocação de capital sensível ao risco:
comum observar: permitindo dimensionar o capital necessário para
cobrir os níveis de risco assumidos e a priorização de
- Foco no crescimento sustentável: negócios onde a relação risco-retorno é mais positiva.
prevenindo os negócios de decisões que possam vir a
comprometer a saúde financeira da empresa, trazendo
mais previsibilidade aos resultados, com consequências Em resumo, a adoção de boas práticas na gestão de
positivas no planejamento, financiabilidade e custo risco é um aspecto fundamental para o sucesso de
de capital. qualquer empresa no mercado.

- Processos ágeis: que garantem autonomia


à execução e segurança aos controladores, através
da padronização de processos e formalização da
documentação.
O que é Classes de risco
gestão de risco? Os riscos financeiros podem ser desmembrados em classes, e as mais importantes
para o mercado de energia estão descritas abaixo.

RISCO DE MERCADO
MOVIMENTOS DESFAVORÁVEIS DE PREÇOS
Apesar de ter apenas cinco letras, a palavra risco parece ser uma das maiores do
dicionário, dada a ampla gama de interpretações e contextos em que ela se aplica. Essa classe de risco é a mais importante para empresas que atuam na comerciali-
Estamos interessados especificamente na gestão de risco quantitativa, aplicada ao zação de energia e historicamente tem se materializado em perdas financeiras, inde-
grupo de riscos financeiros. Esse conceito está relacionado com a chance de ocorrên- pendente do segmento de mercado.
cia de um resultado adverso, expresso em perdas severas, que ocorre em decorrên- Normalmente o risco é gerado por uma posição de energia em aberto (sobras
cia de movimentos dos fatores de risco, geralmente preços, na contramão do plane- ou déficits) ainda não convertida em contratos, exposta, portanto, a movimentos de
jado. preços de mercado que, em casos desfavoráveis para a empresa detentora da posi-
ção, fazem reduzir seu o valor da carteira de energia.
A raiz da gestão de risco se estrutura no pressuposto que retorno e risco são dire- Para empresas com carteiras de energia nas quais as decisões de contratação
tamente proporcionais, sendo necessário tomar um certo nível de risco para se obter podem se dar antes do suprimento, o que ocorre é que o volume da posição em
determinado retorno. Problemas ocorrem quando a capacidade financeira da empresa aberto é conhecido ou pode ser estimado com precisão, e os principais fatores de
não é compatível com o risco assumido, porque perdas não suportáveis podem se risco são os preços Forward.
materializar antes dos esperados retornos, pondo a saúde do negócio em perigo. Nas carteiras de energia de baixa previsibilidade, geralmente sensíveis à proje-
ções de consumo ou de geração, além do risco de desempenho associado à tecno-
Por esse motivo, a gestão moderna de risco defende o conceito de Risk Intelligence logia, e à exposição ao preço de curto prazo, há a própria incerteza relativa às quan-
com base em processos decisórios sensíveis ao risco, sendo que, primeiramente se tidades.
equaciona o risco, para depois maximizar os retornos.
RISCO DE CRÉDITO
DESCUMPRIMENTO DE CONTRATOS

Ocorre quando uma das partes não honra algum dos compromissos assumidos
em contratos de energia (registro, validação na CCEE ou pagamento bilateral), provo-
cando exposição financeira da contraparte. A depender da magnitude da falta, essa
pode gerar três efeitos nocivos para a contraparte afetada:

• exposição adicional ao risco de mercado, dada a substituição do contrato não adimplido


por exposição (sobra ou déficit) no mercado a preços de curto prazo, que podem ser
desfavoráveis a ela;
• crise de confiança, limitando a liquidez particular e aumentando o prêmio de risco para
fechamento de posições, especialmente em empresas de pequeno porte; e
• queda de liquidez de mercado em função de necessidade de ajustes de expectativas
e aumento da aversão ao risco dos agentes, impactando no tempo de fechamento de
posições.
riscos de mercado
O risco de crédito pode ter diversas origens, a depender do perfil da contraparte, MOVIMENTOS DESFAVORÁVEIS DE PREÇOS

e pode ser mitigado através da exigência de garantias bilaterais nos contratos. Espe-
cificamente para as empresas que possuem sua receita altamente dependente da

ercado
comercialização de energia, o risco de crédito costuma nascer do risco de mercado
mal gerenciado, principalmente se determinada contraparte possui apetite ao risco

Marcação-ao-M

d e Spot
incompatível com sua capacidade financeira. Essa é uma situação crítica, que pode

Volatilidades e Correlações
levar à falência da empresa, podendo levar a efeitos em cascata, com consequên- riscos de crédito

Preços Forwar
cias negativas a todos os participantes do mercado. DESCUMPRIMENTO DE CONTRATOS

o
Balanço Energétic
Eventos de crédito podem ainda estar associados com atrasos ou não pagamentos
de faturas, depósito de garantias bilaterais ou renegociação de contratos. A aborda-

Probabilidade de Default
gem de gestão de risco de crédito depende principalmente do perfil da contraparte

parte
avaliada e do tipo de evento de crédito de interesse.

Carteira
Marcação-ao-Mercado
Perfil da Contra
É importante observar que, conforme a legislação setorial, o registro de um con-
trato na CCEE não garante o seu cumprimento pela parte vendedora, o que só ocorre

Concentração da
após o processo de validação de contratos pela Câmara, que é realizado com base
na adimplência do vendedor perante a CCEE.

RISCO DE LIQUIDEZ
AUMENTO DE CUSTOS DE TRANSAÇÃO

riscos de liquidez
O risco de liquidez impacta principalmente três características da comercialização AUMENTO DE CUSTOS DE TRANSAÇÃO
de energia: redução de contrapartes disponíveis, aumento no tempo de fechamento
de posições e piora no prêmio de risco embutido no contrato.

as de Posições
O conceito de liquidez mais aceito é aquele que o relaciona com o chamado Bid

Liquidez Particular da Empresa


-Ask Spread, que reflete o custo de transação para entrada e saída simultânea em
uma operação. Quando o Bid-Ask Spread é muito amplo, então o custo de operação

Prêmio de Liquidez
é elevado e há pouco estímulo para negociação, reduzindo a celebração de contra-

Tempo de Saíd
tos, e portanto, demandando mais tempo para o fechamento de posições, fazendo
com que contrapartes que precisam tomar essa decisão aceitem pagar um prêmio
de risco maior. Por outro lado, se o Bid-Ask Spread é estreito, então tende a ocorrer
um grande número de operações.
O risco de liquidez pode ter diversas origens, como o desbalanço entre oferta e
demanda, que ocorre, por exemplo, em um período de alta migração de consumido-
res, ou ser consequência de um aumento da aversão ao risco do mercado.
Esse fator de risco tem íntima relação com o risco de mercado, dado que a redu-
ção da liquidez tende a aumentar o tempo de fechamento de posições de energia,
aumentando o potencial impacto de movimentos de preços adversos.
Pilares da gestão Estrutura (política) p20
A Estrutura é estabelecida por uma política de risco que governa as responsabilida-

de risco
des, as pessoas envolvidas e a abordagem para gestão de risco e especifica os níveis
de aversão ao risco, as esferas de competência e o grau de autonomia dessas, de
maneira a direcionar a execução da gestão do risco dentro dos processos.

Pessoas p26
A gestão de risco está ancorada em cinco grandes pilares: sua estrutura, as pessoas Ter Pessoas treinadas e preparadas para o cálculo, interpretação, parametrização,
envolvidas, os processos relacionados, os sistemas utilizados na sua execução e a comunicação e operacionalização dos processos de risco tem um grande peso na
metodologia adotada. qualidade de uma infraestrutura de risco.

As boas práticas de gestão de risco podem ser interpretadas como a argamassa des-
ses pilares, de maneira que a qualidade, a maturidade e a sofisticação da gestão de
risco estão associadas com o grau de aderência de uma infraestrutura de risco à Processos p32
essas práticas.
Os Processos dão vida à gestão de risco, porque são eles que garantem a disciplina
na execução e o fluxo de informação. Um dos cernes da gestão moderna de risco é
a construção de processos sensíveis ao risco, nos quais as decisões são justificadas
com base em interpretação de indicadores de risco.

Sistemas  p40
Os Sistemas têm um papel chave na infraestrutura de risco porque contribuem com
o compliance, segurança, padronização e documentação da execução do risco, redu-
zindo o fator rotatividade e alocando a responsabilidade da gestão de risco mais aos
processos do que às pessoas.

Metodologias  p 46
Metodologias adequadas para os fatores de risco de interesse, que permitam a cor-
reta interpretação do risco e que sejam capazes de mensurar de forma precisa os
indicadores e métricas escolhidos pela empresa, formam a espinha dorsal da ges-
tão de risco.
Conceitos
basilares das 3 Quantificação econômico-financeira do risco

Para ser uma ferramenta de gestão eficiente que permita acompanhar de forma
objetiva as chances de materialização e a magnitude de potenciais perdas, a abor-

boas práticas
dagem de gestão de risco deve ser quantitativa, baseada em métricas que se rela-
cionem com os principais indicadores financeiros e, portanto, possam ser compara-
dos com orçamentos, metas ou limites de exposição.

4 Integridade e governança dos dados e processos


1 Cultura e processos orientados a risco
O principal insumo dos modelos de risco são os dados e parâmetros de entrada, prin-
Dizemos que uma cultura de risco está presente na empresa quando a alta liderança cipalmente aqueles relacionados ao balanço energético e aos preços de mercado.
reconhece a importância da gestão de risco para a sustentabilidade do negócio, exi- Garantir a qualidade dessas informações assegura a credibilidade das métricas de
gindo dos tomadores de decisão que balizem suas estratégias e ações de forma a risco, fazendo as ferramentas de gestão úteis. As experiências mais bem sucedidas
equacionar primeiro as potenciais perdas para depois maximizar os ganhos (Risk nesse sentido são aquelas que conseguem construir a disciplina de incorporar em
Intelligence). seus processos decisórios as etapas de avaliação de risco.

2 Separação entre execução e controle 5 Comunicação adequada e coerente do risco

Um requisito importante para o bom funcionamento da gestão de risco é que as ins- A gestão de risco é essencialmente uma ferramenta de comunicação, que visa apro-
tâncias de controle tenham independência e autonomia para executar suas atribui- ximar as esferas executivas, gerenciais e operacionais, levando a um terreno comum
ções, com liberdade em relação às esferas de execução do negócio. De forma simi- de decisões e acompanhamento de resultados. Em diversas situações, a capacidade
lar, dentro de seus limites de atuação e no escopo de seu mandato de risco, as ati- de explicar a origem e consequências do risco define a importância que é dada à
vidades de operacionalização devem ter liberdade de decisão. gestão de risco na organização.
Perspectivas sazonalização anual costumam equacionar uma parcela desse risco, mas, no entanto,
é possível que uma parte do consumo fique exposta aos preços de curto prazo, que
possuem elevada volatilidade.

de risco para
O pior cenário em termos de risco para o consumidor é estar com uma elevada
quantidade de energia descontratada no curto prazo. Aumentos de 50% no preço
de curto prazo em uma semana são possíveis, o que pode comprometer seu custo
médio de produção. Por esse motivo, a gestão de risco de crédito, cuja materializa-
ção leva à necessidade de substituição de contratos, muitas vezes em cenários des-

cada segmento
favoráveis de preços, entrando em cena o fator liquidez, precisa ser feita pelo con-
sumidor, principalmente por um processo de seleção apropriado de contraparte.

GERADOR

O gerador é um vendedor de ofício, portanto sua posição inicial é de exposição


Minha empresa também está exposta a riscos? a risco de mercado enquanto não firmar contrato de venda. No entanto, o nível e a
natureza dessa exposição dependem da fonte geradora, do porte e da modalidade
típica de contratação escolhida. Para aqueles que negociam energia no mercado
livre, o risco de mercado se materializa principalmente na redução do preço médio
de venda, deteriorando o retorno do empreendimento. A volatilidade de receita tam-
Se sua empresa atua no mercado de energia elétrica, ela, em alguma magnitude, bém pode gerar problemas de planejamento e de fluxo de caixa.
deve estar exposta às classes de risco de mercado, crédito e liquidez. Para o gerador não participante do MRE, o risco de mercado está intimamente
Os agentes do mercado de energia são impactados de forma distinta pelos prin- ligado ao risco de produção. Se vender mais energia do que produz, ficará desprote-
cipais fatores de risco, a depender do segmento de mercado em que atuam. Apre- gido contra aumento dos preços de curto prazo, o que pode reduzir seu preço médio
sentamos a seguir a forma típica como cada segmento costuma se relacionar com de venda por unidade produzida. O mesmo efeito pode ocorrer se as vendas forem
as classes de risco. menores que a produção, ficando nesse caso exposto à eventual queda dos preços
de curto prazo.
CONSUMIDOR No caso de gerador participante do MRE, o risco de produção não é individuali-
zado, mas compartilhado com os demais participantes do mecanismo, de maneira
Qualquer consumidor está mais ou menos exposto a risco de mercado, a depen- que a exposição aos riscos de mercado ocorre caso a geração total dos participantes
der da forma de contratação de sua carga de energia. A materialização de perdas do MRE seja inferior ao somatório da garantia física de suas usinas. O GSF é o parâ-
associadas com o risco de mercado causa no consumidor típico um aumento em seu metro que mede essa relação.
custo por unidade de produção, reduzindo a sua competitividade e até inviabilizando Portanto, nesse caso, a gestão do risco de mercado do gerador deve ser feita em
sua produção, dependendo da participação do custo da energia em seu produto. conjunto com a gestão do risco de produção do MRE, de forma a que as vendas sejam
O dilema comumente enfrentado pelo consumidor é se deve buscar mitigar uma compatíveis com a quantidade de energia alocada a esse gerador, estando eventuais
parcela do risco de mercado mediante a contratação de longo prazo. Essa decisão diferenças expostas aos preços de curto prazo, que podem ser altamente voláteis.
resulta em uma troca de riscos por parte do consumidor, que substitui seu risco de Como geralmente existe grande incerteza na estimativa da produção, é muito difí-
mercado pelo de crédito e de indexação, dado que os preços de contratos de longo cil que geradores, dentro ou fora do MRE, consigam eliminar completamente o risco
prazo são comumente atualizados por algum índice de inflação. de mercado. No entanto, ela pode ser reduzida consideravelmente se existirem pro-
Um fator de risco adicional que pode trazer exposições a risco de mercado a agen- cessos organizados de planejamento da comercialização e gestão de risco.
tes de consumo é a incerteza na projeção de consumo de energia (carga), que orienta Geradores com uma postura tipicamente conservadora, que utilizam como princi-
as decisões de contratação. Contratos com flexibilidades contratuais e cláusulas de pal direcionador a redução da volatilidade da receita, tendem a negociar com grande
antecedência parte de sua energia disponível, podendo, antes de fazê-lo, ficar expos-
tos ao risco de liquidez, principalmente aqueles com volumes de energia negociados
relevantes em relação aos recursos da empresa. Nessas situações algumas empre-
sas preferem oferecer um prêmio adicional à contraparte para reduzirem sua expo-
sição ao risco de mercado.

COMERCIALIZADOR

O comercializador tem duas funções fundamentais no mercado: intermediação do


mercado físico, quando toma uma parcela do risco natural dos consumidores e gera-
dores em troca de um prêmio; e oferta de liquidez ao mercado, com operações de
compra e venda de energia que reduzem o risco de liquidez sistêmico, e criam refe-
rências de preço.
Especificamente o comercializador focado nas operações de trading, aquele que
possui a maior parcela de sua receita advinda da comercialização de energia, tem sua
posição em aberto exposta ao risco de mercado, de maneira que eventuais movimen-
tos desfavoráveis de preços podem corroer significativamente suas margens ou afe-
tar a saúde financeira do negócio. Dessa maneira, a gestão de risco é uma atividade
elementar e crítica para um comercializador, que deve garantir que o risco assumido
esteja dimensionado à capacidade financeira da empresa.
Para cumprir seu papel de fornecer liquidez ao mercado é comum que o leque
de contrapartes com quem o comercializador tenha negócios seja elevado. Por isso,
uma carteira bem diversificada tende a pulverizar efeitos negativos, podendo redu-
zir o impacto de eventual descumprimento de contrato.
Existem comercializadores com diversas estratégias no mercado de energia, aque-
les com foco no atendimento ao mercado físico, que trazem sinergia à gestão energé-
tica de eventuais ativos de geração ou consumo de grupos empresariais, os presta-
dores de serviços de representação e gestão na CCEE, com foco em operações casa-
das e aqueles que tomam posições direcionais com objetivos especulativos.
O último grupo tende a ser o mais exposto ao risco de mercado, principalmente
por alocar grande parte das exposições em produtos voláteis, o que exige um certo
grau de sofisticação na gestão de risco para garantir a sustentabilidade do negócio.
Boas práticas 4. Sistemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

4.a Orientação a processos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

4.b Governança e rastreabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . 44


Boas práticas de gestão de risco são o conjunto de procedimentos encon­
4.c Eficiência operacional e mitigação de rotatividade 44
trados na maioria das empresas, principalmente aquelas tidas como refe­
rência, e explicam em grande medida os benefícios que o gerenciamento
de risco têm oferecido a diversas empresas do mercado elétrico brasileiro.
5. Metodologia / Risco de Mercado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
Essas práticas foram organizadas por temas dentro dos pilares fundamentais e ser­
vem como orientadores de navegação para a cartilha. As páginas referenciadas 5.a Marcação-ao-mercado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
em cada subtema possuem a lista de boas práticas e sua explicação detalhada.
5.b Balanço energético e segregação de
carteiras (VaR e EaR) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50

1. Estrutura (política) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 5.c Volatilidade e correlações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51

1.a Definições e classes de risco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 5.d Portfólios físicos e pouco líquidos . . . . . . . . . . . . . . 53

1.b Papéis, atores e responsabilidades . . . . . . . . . . . . . 23 5.e Métricas e limites de risco de mercado . . . . . . . . . 54

1.c Aversão ao risco e estrutura de controle . . . . . . . . . 24 5.f Avaliação de operações e análises


adicionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
1.d Indicadores de risco oficiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
5.g Backtests e validação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56

2. Pessoas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
6. Metodologia / Risco de Crédito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
2.a Competências e trilha de aprendizado . . . . . . . . . . 29
6.a Análise qualitativa de crédito . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
2.b Atribuições e nível de autonomia . . . . . . . . . . . . . . 30
6.b Avaliação da documentação de crédito . . . . . . . . . 60
2.c Disseminação da cultura de risco . . . . . . . . . . . . . . . 30
6.c Análise quantitativa e métricas risco de
crédito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

6.d Gestão de carteiras de crédito . . . . . . . . . . . . . . . . . 63


3. Processos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
6.e Limites operacionais e habilitação de
3.a Validação de dados e premissas . . . . . . . . . . . . . . . 35
contrapartes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
3.b Operacionalização dos modelos e cálculos . . . . . . . 35
6.f Precificação e risco de crédito . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
3.c Controle de risco e gestão de alçadas . . . . . . . . . . . 36

3.d Documentação das decisões . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 7. Metodologia / Risco de Liquidez . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66

3.e Estratégia da comunicação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 7.a Liquidez de produtos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67

3.f Métricas de risco e indicadores financeiros. . . . . . . . 38 7.b Efeito de liquidez nos indicadores de risco . . . . . . . 68
A estrutura de risco precisa ser corretamente dimensionada para
Estrutura (política) a realidade da empresa, seu apetite ao risco e sua forma de
atuar no mercado. Não se usa um transatlântico para atravessar
um riacho, da mesma maneira que um caiaque não é o mais
apropriado para cruzar o oceano. A organização e correta imple-
mentação de uma estrutura de risco, formalizada a partir da
Política de Risco é um dos principais fatores críticos de sucesso.

caiaque balsa barco navio

infraestrutura

vs

desafio

apesar do esforço, é a balsa foi apesar de possível, é um pode até encalhar


possível atravessar o rio desenhada desperdício de recursos devido à baixa
com um caiaque especialmente profundidade, além de
para isto. ser um investimento
exagerado

impossível impossível este barco de carga foi o navio dá conta, mas se


desenhado para este trata de um investi-
tipo de travessia mento excessivo.

impossível impossível muito arriscado, a o navio foi desenhado


quantidade de prá este tipo de missão
combust[ivel pode não
ser suficiente

20 21
pilar

1  Estrutura (política)
1.a Definições e classes de risco uma superior em todos os aspectos,
 boas práticas relacionadas: 1.1 dependendo assim, da ordem hierár-
quica da empresa, seu porte e relações
A palavra risco tem uma abrangên- internas nos grupos empresariais.
cia muito grande e pode representar No entanto, uma boa prática é a cen-
vários conceitos diferentes, depen- tralização das atividades de risco em
A política de risco é o principal documento que rege a operacionalização da ges- dendo do contexto em que a empresa uma ou mais áreas dedicadas a esse
tão de risco na empresa, e assim não pode ser ambígua nem incompleta. Deve fazer se encontra. Por esse motivo é impor- propósito, que se reportem direta-
sentido para o negócio, sob pena de criar áreas cinzentas ou dar margem a interpre- tante definir com clareza os objetivos e mente à alta gestão da empresa, por-
tações, gerando os mais diversos efeitos colaterais. É ela quem define a estrutura escopo da política de risco, explicitando tanto tendo acesso rápido e irrestrito
de risco e seus elementos e, por isso, é um documento crucial para a gestão de risco quais são as classes de risco cobertas para comunicação de eventuais fatos
da empresa. e aqueles fatores de risco que serão relevantes.
Os principais benefícios de uma política de risco formal e aprovada são garantir acompanhados. Para empresas de menor porte, em
aos acionistas mecanismos formais para controle do negócio, assegurar a governança Na comercialização de energia, as fase de crescimento, é aceitável que
de processos, resguardar as camadas gerenciais e operacionais de decisões toma- classes de risco mais relevantes são essas atividades estejam centraliza-
das dentro do território especificado na política, mesmo quando resultam em per- risco de mercado, risco de crédito e das em uma ou mais pessoas dedica-
das, e criar uma estrutura de decisão ágil, de maneira a permitir às áreas tomadoras risco de liquidez, que se encontram no das a esse fim, desde que elas tenham
de risco aproveitar oportunidades de mercado, dentro de certo patamar de autono- grupo dos riscos financeiros, e costu- autonomia para exercer as atividades
mia. mam compor o escopo típico de uma de controle descritas na política de risco.
política de risco direcionada para esse Entende-se como estrutura de con-
segmento. Os principais fatores de trole aquela que tem poder para acio-
boas práticas risco são os preços de mercado e variá- nar decisões com o intuito de preser-
veis que compõem o balanço energé- var o risco dentro de limites aceitá-
1.1 Especificar escopo e classes de risco cobertas. tico, incluindo os contratos de compra veis. Exemplos típicos observados nas
1.2 Definir responsável pela gestão de risco. e venda e suas flexibilidades, além da empresas do setor são comitês de risco,
1.3 Garantir independência dos responsáveis pela gestão de risco. seleção das contrapartes comerciais. conselho de acionistas, reunião de dire-
1.4 Formalizar instâncias de controle. toria, entre outros fóruns. É importante
1.5 Documentar e aprovar política de risco. que essas instâncias sejam formaliza-
1.6 Elencar hierarquia de documentos. 1.b Papéis, atores e responsabilida- das e reconhecidas na empresa.
1.7 Indicar o nível de aversão ao risco da empresa. des Para que a estrutura de controle não
1.8 Determinar limites de competência em cada esfera. boas práticas relacionadas: 1.2, 1.3, 1.4, 1.5 e 1.6 retire a agilidade necessária para apro-
1.9 Explicitar o grau de autonomia e responsabilidade. veitar oportunidades de negócios, é
1.10 Detalhar repertório oficial de métricas de risco. A primeira diretriz nesse quesito é comum e importante conceder autono-
1.11 Apontar periodicidades oficiais de acompanhamento do risco. que precisa haver uma estrutura de mia ou mandatos de risco para as áreas
controle e outra de gestão e acompa- de negócio, aquelas tomadoras de risco,
nhamento do risco. O segundo aspecto de maneira que essas possam tomar
é que ela precisa ser independente decisões, dentro de condições delinea-
das áreas de execução do processo de das na política de risco, sem necessi-
negócios. dade de aprovação prévia da estrutura
É bem verdade que existem diversas de controle.
topologias e desenhos possíveis para
estruturas de gestão de risco e não há

22 23
Condições de independência do con- 1.c Aversão ao risco e estrutura de que a gestão de risco não retire opor- pretação da métrica de risco.
trole e autonomia na execução com- controle tunidades ou reduza a agilidade da No setor de energia elétrico brasi-
põem duas características importantes  boas práticas relacionadas: 1.7, 1.8 e 1.9 empresa. leiro, o indicador de risco de mercado
de estruturas de risco bem-sucedidas. Essa autonomia, no entanto, deve- típico é o VaR1 (Valor em Risco) 95%
Os papéis, responsabilidades e estrutu- O grau de aversão ao risco da empresa, ria ainda exigir que as decisões estejam em base mensal associado com o VPL
ras de controle têm chance de funcionar geralmente definido pelos sócios, acionis- sujeitas aos processos de avaliação de (Valor Presente Líquido) do portfólio em
bem se elas são formalizadas em uma tas ou controladores da empresa, deve risco, etapas que exigem um certo grau questão, comparável à Margem Bruta
política que esteja vigente e aprovada ser parte integrante da política de risco, de sistematização e padronização para (Receitas – Despesas, sem impostos).
pela empresa, caso contrário a Política de que deve ser moldada em torno dessa serem ágeis. A abordagem de risco de crédito
Risco é um mero guia de diretrizes, que diretriz. mais utilizada atualmente é baseada
não assegura o compromisso dos envol- A gestão de risco é então o que no conceito de perda máxima associada
vidos em segui-la. A partir desse elemento é possível garante a agilidade da comercialização, à determinada posição com uma con-
estipular limites de risco para cada cate- porque na sua inexistência todas as deci- traparte, que é convertida, por conse-
Muitos dos componentes da polí- goria de risco, que devem ser vincu- sões precisam ser aprovadas antes da quência em limites operacionais máxi-
tica de risco, como o nível de aver- lados com métricas de risco oficiais a execução. Esse é um dos principais bene- mos de compra e venda.
são ao risco e a estrutura de controle, serem acompanhadas pelas áreas de fícios de uma gestão de risco baseada em Os indicadores de risco oficiais têm
têm caráter duradouro e deveriam gerenciamento de risco e instâncias de esferas de competência. a função primordial de controle e aloca-
sofrer poucas modificações ao longo controle. ção de capital. No entanto, a gestão dos
do tempo. Por outro lado, outros com- A definição de esferas de competên- processos e as decisões de comerciali-
ponentes como a metodologia aplicável cias é muito particular das empresas e 1.d Indicadores de risco oficiais zação, principalmente para ativos mais
aos fatores de risco, estão mais sujei- costuma direcionar seu foco e forma de  boas práticas relacionadas: 1.10 e 1.11. voláteis, costumam exigir um outro con-
tos à evolução tecnológica ou atualiza- operar no mercado. Esses limites cos- junto de indicadores, a serem acompa-
ções da regulação e então costumam tumam ser entendidos como permis- O repertório de indicadores oficiais nhados nas camadas gerenciáveis e que
ser revistos com maior frequência. são e podem sofrer alguma graduação da empresa constitui o principal elo de podem dar origem a “gatilhos” ou ações
Para evitar o eventual desgaste a partir do qual gatilhos para redução relacionamento entre as camadas de para tentar evitar de forma preventiva
de modificar a política de risco oficial dos níveis de risco precisam ser acio- execução e de controle e precisa fazer que os patamares de risco ultrapassem
a cada alteração de menor relevância, nados. Eles também podem ser especi- sentido para ambas. os limites estabelecidos pela empresa.
costuma-se propor uma hierarquia de ficados para cada tipo de risco ou para
documentação, regida por uma polí- a somatória deles. Além de especificar exatamente a As escolhas dos indicadores e métri-
tica de risco principal, de maneira que Empresas que alocam mais permis- métrica de risco a ser utilizada para cada cas afetam o desenho da estratégia de
as aprovações daquela camada de são de risco de mercado a produtos de segmentação da carteira de energia e comunicação do risco e precisa ser pen-
documentos sejam feitas pela instân- curto prazo tendem a estimular a ativi- cada classe de risco gerenciada na polí- sada com sabedoria por ser uma das prin-
cia apropriada, sem prejuízo dos docu- dade de trading, ao passo que as que tica, é importante descrever com qual cipais responsáveis pelo bom funciona-
mentos que a governam. estabelecem limites mais amplos para periodicidade ela será atualizada e para mento de toda a infraestrutura.
Naturalmente o documento princi- o longo prazo encorajam estratégias qual agregação temporal ela se aplica.
pal precisa especificar as competências comerciais com base em formação de 1VaR (Value at Risk): representa a pior
e revisões possíveis, mas essa conven- posições direcionais. Igualmente indispensável é relacio-
perda esperada em uma carteira den­
ção ajuda a manter a política de risco Principalmente nas atividades que nar os cálculos de risco com os indica-
tro de um intervalo de confiança, dado
atualizada e aderente à realidade. demandam agilidade de decisão é uma dores financeiros (Margem Bruta, EBI-
um horizonte de tempo.
prática conceder um certo grau de auto- TDA, Capital Social, etc.) que devem ser
nomia dentro dos limites de risco para utilizados como referência para a inter-

24 25
Pessoas

clima desfavorável
15 dias

4 dias

4 dias

coral

1 dia

icebergs correntes

No que diz respeito as pessoas a qualidade supera a quanti-


dade. É essencial ter um time de gestão de risco qualificado,
que entenda as especificidades do mercado elétrico e que
ajude na interpretação do risco. Pessoas capazes costumam
ajudar a empresa a tomar decisões melhores, economizando
1 dia
recursos e atingindo os objetivos. Não se opera uma boa
gestão de risco sem pessoas bem formadas.
26 27
pilar

2 Pessoas 2.a Competências e trilha de gramação, especialmente as quantita-


aprendizado tivas; e
 boas práticas relacionadas: 2.1 e 2.2 • facilidade com planilhas eletrônicas ou
ferramentas alternativas.
As atividades de gerenciamento de
No final das contas, tanto as decisões quanto os cálculos são executados pelas pes- risco na comercialização de energia elé- Naturalmente, esse perfil não cos-
soas. Então, quanto mais capacitadas forem, melhor os resultados tendem a ser. trica demandam a capacitação dos pro- tuma estar centralizado em uma pes-
fissionais envolvidos. soa, mas desejavelmente deveria estar
coberto pelos envolvidos em uma estru-
boas práticas Uma boa prática que vem sendo ado- tura de risco, de forma que a depender
tada nas empresas é ter como referên- do cargo e das atribuições específicas
2.1 Desenhar a trilha de aprendizado esperada. cia uma trilha de aprendizado para pes- há que se dar mais ou menos peso a
2.2 Garantir a capacitação de pessoas envolvidas com risco. soas envolvidas com os processos de risco, determinado item.
2.3 Supervisionar a execução da Política de Risco. de modo a poder formar e lapidar pro- Ainda há uma trilha técnica, princi-
2.4 Implementar, validar e melhorar os modelos. fissionais para atuar nessas tarefas, com palmente associada com aspectos da
2.5 Acompanhar movimentos de mercado. o foco em consolidar a gestão de risco metodologia de risco, como a mode-
2.6 Alertar instâncias de controle. como etapa capital do negócio. lagem dos fatores e interpretação das
2.7 Assegurar a correta interpretação dos indicadores e seus movimentos. métricas. Os tópicos podem ser exten-
2.8 Fomentar a disseminação da cultura de risco. O perfil comportamental geralmente sos, sendo que listaremos aqui os mais
se forma por meio de combinação de voltados à gestão de risco, presumindo
alguns dos seguintes atributos: conhecimento do funcionamento do
mercado e das regras de comercializa-
• habilidades analíticas; ção:
• conhecimento de estatística e decisão
sob incerteza; • gestão de risco, especificamente risco
• sensibilidade para perceber mudanças de mercado, de crédito e de liquidez;
no mercado; • política e infraestrutura de risco;
• domínio da relação de causa-e-efeito • balanço energético e resultado finan-
entre fatores e risco e resultado finan- ceiro;
ceiro; • Regras de Comercialização;
• capacidade de articulação e comunica- • formação do PLD e preços Spot de ener-
ção voltadas à descrição de práticas e gia;
ocorrências relacionadas a cenários reais • metodologias de projeção e simulação
de risco, mudanças relevantes e atingi- de preços Spot;
mento dos limites de controle; • curvas Forward e seus processos de for-
• boa interlocução com diversas áreas da mação;
empresa; • marcação-ao-mercado de portfólios de
• capacidade para defender posiciona- energia;
mentos; • volatilidades e correlações dos preços
• conhecimento de linguagens de pro- Forward;

28 29
2 2 CVaR (Conditional Value at Risk):
• métricas de risco (VaR, CVaR , entre As boas práticas estão principalmente
outros). relacionadas com distribuir corretamente quantifica a perda média nos cená­
• abordagens para cálculo de risco (his- as responsabilidades especificadas na rios que excedem o intervalo de con­
tórico, variância-covariância e simula- política de risco, de maneira que cada fiança do VaR, ou seja, a perda da car­
ção de Monte Carlo3); envolvido tenha conhecimento de sua teira nos piores cenários.
• gestão de crédito no âmbito do acordo atribuição e possa aportar sua contribui-
de Basileia; ção à correta operacionalização da ges- 3 Simulação de Monte Carlo: metodo­
• principais modelos de gestão de crédito tão de risco, garantindo fluidez e robus- logia estatística que se baseia em uma
e probabilidade de inadimplência. tez aos processos. grande quantidade de amostragens
aleatórias para calcular probabilida­
2.b Atribuições e nível de autonomia des. Essa abordagem é muito flexível
boas práticas relacionadas: 2.3, 2.4, 2.5, 2.6 e 2.7 2.c Disseminação da cultura de risco e permite considerar modelos proba­
 boas práticas relacionadas: 2.8
bilísticos complexos que consideram
A política de risco deve descrever as principais características dos pre­
as responsabilidades e atribuições, mas Os conceitos básicos da gestão de ços de mercado, como volatilidades,
cabe às pessoas garantir o seu correto risco não são importantes somente para correlações dinâmicas e distribuições
cumprimento. aqueles envolvidos diretamente nessa não-normais, além de ser aplicável a
De fato, são as pessoas as respon- atividade, mas precisam ser naturais a carteiras que possuem ativos de gera­
sáveis por incluir nas rotinas as ativida- todas as esferas do negócio, para que a ção ou de consumo, ou aquelas com
des de gerenciamento de risco e atua- empresa viva uma cultura de risco que contratos menos típicos como os de
lização dos indicadores oficiais, assim vise o crescimento sustentável. opções.
como levar às instâncias apropriadas o Começando pela alta gestão, há um
cenário real de risco, justificando quais- processo de explicação e convenci-
quer mudanças relevantes e alertando mento que acaba sendo liderado pela
com relação ao atingimento dos limites área de risco, de mostrar o verdadeiro
de controle. valor que essas atividades têm para o
Por terem como atribuição garantir a negócio e que há maturidade suficiente
correta execução da operacionalização no mercado para que a gestão finan-
do risco, cabe aos perfis mais técnicos ceira do risco seja considerada nas deci-
atualizar e adequar os modelos de risco sões cotidianas.
e principalmente, calibrá-los para refle-
tir a maior aderência à realidade possí- Empresas que capacitam seus exe-
vel, de forma que as métricas de risco cutivos para entender e saber utilizar os
passem a correta sensação de chances benefícios da gestão de risco nos proces-
de perdas, o que contribui para a credi- sos da empresa geralmente se destacam
bilidade dos indicadores de risco. no mercado porque a gestão de risco vem
cada vez mais se mostrando um diferen-
cial competitivo.

30 31
Processos A partir de relatórios de
especialistas e tendo em
vista os objetivos do
Gestão de risco é seguir processos. Seguir processos é ter disciplina
empreendimento a
e organização. São os processos que tornam a gestão de risco direção comanda a frota.
racional e a aproxima dos tomadores de decisão. Uma boa gestão
de risco é aquela que consegue tirar do papel a Política de Risco
levando-a aos processos decisórios.
Da cabine de comando o
comandante recebe o
briefing de todas as
A comunicação fluida e equipes e se comunica
regulada pelo processo com a central,
entre as diversas equipes executando o plano de
garante a operação ótima ação.
das frotas.

Nos escritórios
centrais, equipes de
logística e
especialistas
recebem
informações de toda
a frota, e também
de outras fontes.

Equipes de inspeção no
convés do navio identificam
Equipes de manutenção mantém
situações que merecem
a casa de máquinas e outros
atenção do comando.
sistemas operacionais.
32 33
pilar

3 Processos
3.a Validação de dados e premissas Muitas das variáveis utilizadas pelos
 boas práticas relacionadas: 3.1, 3.2, 3.3 e 3.4 modelos de risco são projeções ou
parâmetros e que podem reunir algum
Grande parte das boas práticas em componente subjetivo ou não conse-
gestão de risco está associada com a guir capturar corretamente a conjun-
operacionalização dos processos de tura do mercado. Expor os modelos de
Os processos são os pulmões da análise de risco. São eles que oxigenam e trazem risco. Um deles, comumente negligen- risco a esses componentes pode dei-
fluidez à gestão de risco e devem garantir que as cinco etapas da operacionalização ciado, mas extremamente importante xá-los vulneráveis, e é justamente por
da gestão de risco sejam cumpridas a rigor: validação, cálculo, comunicação, con- por se relacionar com a qualidade dos esse motivo que o processo de discus-
trole e documentação. dados de entrada, é o processo de vali- são e consenso geralmente molda as
dação de dados e premissas. premissas, de maneira a torná-las úteis.
Uma boa prática nesse sentido é
documentar todas as fontes de infor- Mesmo que os analistas de risco
boas práticas mações associadas com variáveis e tenham o domínio suficiente para con-
fatores de risco. tribuir com essa validação é uma boa prá-
3.1 Assinalar fornecedores de dados e premissas. Sob a ótica do risco de mercado, as tica criar formalmente um fórum de dis-
3.2 Especificar a frequência de atualização das informações. principais informações, a depender da cussão com os principais envolvidos, prin-
3.3 Assegurar fóruns e etapas para nivelamento e validação de premissas. complexidade do portfólio da empresa cipalmente os afetados pelo risco, que
3.4 Garantir atualização dos dados e parâmetros. são preços Forward, volatilidades, cor- tenha como saída a premissa oficial da
3.5 Verificar consistência dos modelos. relações, preços Spot e simulações, empresa, em especial aquelas mais sen-
3.6 Calcular métricas definidas na política de risco incluindo stress test. balanço energético e seus componen- síveis e que afetam diretamente as métri-
3.7 Separar gestão típica de risco de análises sob demanda. tes, energia e preços dos contratos, pro- cas de risco oficiais.
3.8 Subsidiar fóruns de controle com os indicadores oficiais. jeções de perdas, FID, GSF, geração das
3.9 Comparar atingimento de atribuições ou limites de controle. usinas e projeção de consumo. Essa instância acaba por solucionar
3.10 Relatar decisões tomadas em função ao cenário de risco em questão. Para o risco de crédito há necessi- diversos conflitos e aportar credibili-
3.11 Documentar premissas e dados utilizadas nas análises. dade de explicitar a lista de controle dade as métricas de risco já que o resul-
3.12 Armazenar relatórios e indicadores oficiais de risco. de informações que formam o insumo tado desses fóruns reflete o contraditó-
3.13 Montar estimativas de valores de mercado de ativos mediante da análise qualitativa, como perfil dos rio, decorrente da recepção de diversos
benchmark de mercado. sócios, balanço contábil, parecer de pontos de vistas.
3.14 Acompanhar ao longo do tempo a evolução dos indicadores. auditoria, entre outras informações
3.15 Apresentar métricas de risco em termos relativos por meio de comparação relevantes para análise de crédito.
com orçamentos ou metas. 3.b Operacionalização dos modelos e
3.16 Vincular métricas de risco com indicadores financeiros. O desafio então é garantir que cada cálculos
3.17 Escolher métricas intuitivas e que forneçam a direta percepção informação utilizada nos modelos de risco  boas práticas relacionadas: 3.5, 3.6 e 3.7.
de potenciais perdas. tenha um responsável, de forma a ser a
única realmente oficial e que essa infor- Os modelos de risco, independente-
mação esteja disponível e atualizada na mente da classe de risco a que se refe-
periodicidade necessária para análise de rem, têm caráter técnico e costumam
risco. Essa é a primeira etapa do processo envolver diversas etapas que podem
de validação. estar sujeitas a erro, principalmente

34 35
naqueles processos menos sistemati- 3.c Controle de risco e gestão de 3.d Documentação das decisões Para responder a primeira pergunta
zados. alçadas  boas práticas relacionadas: 3.10, 3.11, 3.12 é essencial considerar o conceito de
 boas práticas relacionadas: 3.8 e 3.9. marcação-ao-mercado (ou, depen-
Nesse sentido, os responsáveis pela Muitas das decisões que pareciam dendo da carteira, também marcação
execução das análises de risco deve- A organização dos processos envol- boas ideias em determinada conjun- -ao-modelo) de maneira a definir qual
riam ter como objetivo automatizar ou vidos com o controle é importante para tura podem não ser tão boas em outra, é o atual valor do ativo para determi-
criar mecanismos de validação e dupla garantir o cumprimento da política de principalmente em carteiras expostas a nado momento.
verificação de cada entrada do modelo, risco. produtos muito voláteis. Um dos bene- O conceito de marcação-ao-mercado
visando minimizar a chance de que métri- fícios da gestão de risco é exatamente consiste em atribuir à posição de ener-
cas de risco incorretas cheguem às ins- Tarefas importantes que precisam ser ajudar a justificar decisões e proteger os gia ainda em aberto um valor que seja
tâncias de controle ou decisões. equacionadas nessa etapa são a compa- envolvidos de eventuais responsabili- reconhecido pelo mercado, pelo que se
ração das métricas oficiais com os limi- zações, desde que as decisões tenham chama de preço de marcação-ao-mer-
Essa organização da execução dos tes e competências especificadas, a justi- sido tomadas dentro do domínio da cado. Esse processo ganha consistência
modelos e uma análise interna e crí- ficativa de qualquer movimento no risco, política de risco. se as referências de preço utilizadas são
tica das saídas e do comportamento do especialmente se relevante, tanto de confiáveis e validadas pelo benchmark,
modelo exige um certo conhecimento aumento quanto de redução, e prepara- É uma boa prática organizar os rela- com valores de outras empresas, com
dos analistas, mas costuma evitar muita ção do material para ser comunicado às tórios de risco, as métricas de risco ofi- o objetivo de eliminar o componente
confusão na comunicação e principal- instâncias de controle, que de preferên- ciais vigentes para cada período e todo o subjetivo da avaliação, dando a correta
mente perda de confiança nos indica- cia deveriam estar disponíveis assim que material de aprovação que é gerado no noção de realidade ao controlador.
dores. as métricas oficiais são atualizadas. decorrer dos processos, para que even- No entanto, para passar a correta
Além do processo base de gestão tualmente essa documentação possa ser mensagem aos tomadores de decisão
de risco, aquele especificado na política Idealmente, cada mudança na car- usada, quando necessária, para justificar é importante falar uma linguagem que
de risco e que afeta os indicadores ofi- teira ou atualização de variáveis de decisões, e também possa servir como seja intuitiva a eles. A forma mais ade-
ciais, existem uma série de demandas mercado deveria gerar uma atualização insumo para eventual processo de audi- quada de se comunicar diretamente
para análise de sensibilidade ou avalia- correspondente das métricas de risco, toria. com os tomadores de decisão é colo-
ção de situações específicas que aca- para que eventuais ações de hedge não car as métricas em termos de indicado-
bam por serem incorporadas pela área sejam tomadas tardiamente. A documentação também contribui res financeiros, porque essa padroniza-
de risco. Em muitas empresas, mesmo antes para mitigar os problemas gerados por ção aproxima as esferas executivas e de
É importante que o caminho desses de determinada decisão de compra e eventual troca de pessoas, principal- operação, reduzindo substancialmente
processos seja bem separado daquele venda de energia ser tomada, é ava- mente se feita dentro de uma estru- eventuais ruídos de comunicação.
da gestão de risco oficial, garantindo liado o desempenho da operação em tura sistematizada. Apesar de os principais indicado-
principalmente que as métricas de risco termos de marcação-ao-mercado, risco res de risco poderem ser interpreta-
do último, não sejam poluídas pelas de crédito e risco de mercado. Se ela 3.e Estratégia de comunicação dos em termos absolutos, para forne-
análises do primeiro. estiver de acordo com os critérios de  boas práticas relacionadas: 3.13, 3.14 e 3.15 cer uma ideia de magnitude palpável é
Muitas vezes essas questões técni- aprovação para todos os quesitos dá-se uma boa prática compará-los com refe-
cas, que parecem pequenas dentro do seguimento à concretização do negócio, A gestão de risco é essencialmente rências que façam sentido aos contro-
desafio da implantação de infraestrutu- que passa a compor a carteira oficial e uma ferramenta de comunicação que ladores, como orçamentos e metas.
ras de risco fazem toda a diferença na assim passa a influenciar o risco. tem por objetivo responder de forma Uma boa estratégia de comunicação
experiência da empresa e na confiança clara e inequívoca a duas perguntas consegue traduzir aos tomadores de
que ela tem nos indicadores. importantes para os controladores: esta- decisão duas visões complementares,
mos nos saindo bem? Se algo der errado, com base em indicadores que façam
qual o impacto? sentido para eles. A primeira é apre-

36 37
sentar a evolução temporal para ilustrar impacto de determinada ação no resul- devido à periodicidade da publicação do Se uma carteira de energia possui
se há alguma tendência ou padrão. A tado financeiro da empresa, e aos con- PLD e atualização das principais variá- produtos com diferentes características
segunda é destacar o aspecto de mag- troladores se os patamares de perdas veis de mercado e para permitir traçar de liquidez, o cálculo do VaR deve refle-
nitude e posicionamento, com o intuito a que estão expostos são aceitáveis. diretrizes de gestão a serem executa- tir essa informação, o que geralmente
de dizer se os resultados estão cami- Naturalmente, a característica da das no decorrer da semana. é feito corrigindo a volatilidade para o
nhando conforme o combinado e se as carteira ajuda a condicionar a escolha As carteiras expostas a ativos mais tempo de saída da posição. Nesse caso,
potenciais perdas estão adequadas ao desses parâmetros, já que em carteiras voláteis devem possuir métricas de a interpretação do VaR deve considerar
apetite ao risco da empresa. de energia expostas a produtos mais risco calculadas em base diária que, o tempo para fechamento da posição.
voláteis têm-se a necessidade de con- dentro de limites de competência, cos-
3.f Métricas de risco e indicadores trolar perdas em horizontes de tempo tumam fornecer autonomia para os O risco de liquidez geralmente é refle-
financeiros mais curtos e geralmente se requer tomadores de risco. No caso de indica- tido dentro do risco de mercado pela cor-
 boas práticas relacionadas: 3.16 e 3.17 proteção contra perdas mais extremas, dores de risco na base diária costuma- reta parametrização do período de possí-
aquelas com menor chance de materia- se usar o VaR 99%, prática emprestada vel saída de uma posição (holding period)
A escolha das métricas de risco ofi- lização. do mercado financeiro, principalmente e da incorporação do Bid-Ask Spread, que
ciais para questões de risco de mercado A estratégia de comunicação deve pelos requisitos do acordo de Basileia, reflete o prêmio adicional a ser pago em
deve ser reduzida a um grupo de esta- levar em conta essas características e e que também é uma boa prática para momento de baixa liquidez, quando os
tísticas que sejam ao mesmo tempo propor uma estrutura que consiga levar o setor elétrico. indicadores de risco de mercado exigem
fáceis de compreender e que incorpo- às instâncias de acompanhamento, exe- Nota-se em algumas empresas tam- o fechamento da posição.
rem as principais informações necessá- cução e controle o conjunto de indica- bém a utilização do cVaR (VaR condicio-
rias para estimular decisões e alocação dores necessários para uma operação nal), utilizada em complemento ao VaR, Com relação ao risco de crédito, a
de capital sensíveis ao risco. eficiente dos processos, fornecendo principalmente para definição de capi- estratégia de comunicação geralmente é
agilidade dentro dos níveis de compe- tal em reserva para cobertura. focada na avaliação da qualidade de cré-
A medida de risco mais utilizada no tência e exercendo o correto controle O cVaR (VaR condicio­nal) também é dito da contraparte, abordagem essen-
setor elétrico brasileiro é o Valor em Risco em caso de movimentos inesperados. uma escolha adotada em determinadas cialmente qualitativa, mas que pode ser
(VaR). Essa métrica depende de três infor- No setor elétrico brasileiro, para empresas e pode ser utilizado em com- transformada em métricas de risco simi-
mações, o horizonte de tempo para o carteiras compostas primordialmente plemento ao VaR, principalmente para lares às observadas nos mercados finan-
qual serão apuradas eventuais perdas, por produtos de médio e longo prazo, definição de capi­tal em reserva para ceiros, como a probabilidade de inadim-
a chance de ocorrência, que está rela- a métrica oficial mais utilizada para cobertura, ou para incluir uma camada plemento, a perda no inadimplemento e
cionada com o nível de aversão ao risco propósitos de controle é o VaR 95% adicional de gestão, já que para um a exposição no inadimplemento.
e a base de referência para interpreta- mensal com relação ao VPL da mar- dado nível de confiança, pela sua defi-
ção dos cálculos, marcação-ao-mercado, gem bruta de determinada carteira. A nição, o cVaR atinge o limite de risco
margem bruta, EBITDA, etc. periodicidade é escolhida por estar rela- antes do VaR.
cionada com a frequência de encontro Naturalmente, tanto a periodicidade
Os dois primeiros parâmetros depen- dos fóruns de controle e por se associar quanto a confiança do VaR dependem
dem essencialmente do apetite ao risco diretamente com os indicadores finan- das características da carteira, da estru-
da empresa e das características da sua ceiros, que geralmente são apresenta- tura de controle da empresa e de seu
carteira de energia. No entanto, a refe- dos com essa regularidade. nível de apetite ao risco, exigindo que
rência para interpretação da métrica de Para propósitos de gestão, que ocor- essas escolhas sejam feitas de maneira
risco é quem pode facilitar a comunica- rem geralmente na alçada das direto- individualizada para cada empresa,
ção entre as camadas da empresa, mos- rias, as métricas de risco são comu- não havendo uma prática superior às
trando aos tomadores de risco qual é o mente reportadas em base semanal, demais em todos os casos.

38 39
Sistemas

Com o processo automatizado


através de sistemas adequados, a
direção tem um arsenal de
ferramentas e informações sempre à
disposição para escolher a estratégia
alinhada com os objetivos da
empresa.

Com ferramentas desatualizadas e


poucos recursos à disposição, é
difícil antever os riscos e as
82.4
oportunidades que se
152.2
Com apresentam
sistemas
adequados à
política de risco e
ao processo
desenhado, é possível
navegar de forma mais
suave enxergando claramente
os riscos e oportunidades a frente.
40 41
pilar

4 Sistemas 4.a Orientação a processos dos analistas e gestores;


 boas práticas relacionadas: 4.1, 4.2 e 4.3 • aplicação das regras de controle do risco,
criando alertas e facilitando a comuni-
O principal objetivo de um sistema de cação do risco;
risco é atender aos processos tais como • documentação e catalogação do cenário
definido na política, garantindo o cum- de risco, atendendo aos requisitos inter-
boas práticas primento de cada etapa crítica, respei- nos de governança e rastreabilidade.
tando os requisitos de governança, agili-
4.1 Executar todas as etapas dos processos críticos. zando a operacionalização e permitindo Merecem destaque a organização
4.2 Implementar a metodologia da política de risco. a rotatividade de pessoal, com baixo ou do workflow e a consequente minimi-
4.3 Organizar o workflow e mitigar risco operacional. nenhum impacto para as atividades de zação do risco operacional, porque têm
4.4 Documentar, catalogar e organizar análises e suas entradas. gestão de risco. estreita relação com a complexidade da
4.5 Controlar acesso e perfis respeitando as definições da política de riscos. carteira e a metodologia de risco ado-
4.6 Assegurar rastreabilidade, reprodutibilidade, inalterabilidade e integridade Sistematizações que conseguem tada.
de dados históricos. cumprir essas tarefas podem ser con- Por exemplo, a execução dos mode-
4.7 Facilitar a extração de dados para propósitos analíticos. sideradas bem-sucedidas e costumam los de risco de mercado depende do
4.8 Integrar com sistemas fornecedores de premissas. melhorar substancialmente a credibili- balanço energético, dos preços Forward,
4.9 Automatizar a construção de relatórios e análises padrão. dade e utilidade da gestão de risco. das volatilidades dos produtos e das
4.10 Manter o tempo de execução compatível com as necessidades dos processos. O foco da sistematização deve ser correlações. Em alguns casos depen-
4.11 Minimizar dependência de planilhas em processos críticos. nos processos, de forma que os siste- dem de simulações de preços Spot e
4.12 Facilitar transição de pessoas. mas devem funcionar como ferramen- podem depender ainda de outras variá-
tas para apoio nas seguintes atividades: veis como o GSF, diferença de preços
entre submercados, simulação da gera-
• controle de qualidade dos dados de ção, entre outros.
entrada e parametrização dos modelos, No caso do risco de crédito, exis-
disponibilizando funcionalidades com o tem etapas associadas a avaliações
objetivo de mitigar o risco operacional; qualitativas, que exigem conferên-
• organização do workflow de cálculo cia da lista de documentos, e etapas
de risco para garantir transparência e quantitativas, com o objetivo de defi-
segregar responsabilidades conforme nir os níveis de exposição e qualidade
definido na Política de Risco; de crédito da contraparte, que também
• execução dos modelos de risco e obten- podem depender de uma série de variá-
ção das métricas, auxiliando no cumpri- veis como o rating de crédito, a proba-
mento e interpretação de todas as eta- bilidade de inadimplemento, a marca-
pas envolvidas; ção-ao-mercado dos contratos, entre
• apoio na análise das saídas dos mode- outras.
los, disponibilizando indicadores com- Essa complexidade incorpora um
plementares, de forma a permitir a com- elevado risco operacional implícito, por-
preensão do cenário de risco por parte que para que os indicadores de risco

42 43
sejam precisos é necessário que todas trole vigentes em cada período, e às que 80% do tempo seja gasto na inter- continuidades nos processos quando há
essas etapas sejam cumpridas correta- consultas de determinado cenário de pretação e análise dos cenários de risco troca de pessoas.
mente. risco, para trazer transparência e cre- e 20% na sua operacionalização, o que No estágio de comunicação e elabo-
Assim, a principal diretriz para a sis- dibilidade à gestão de risco. pode ser atingido pela integração, orga- ração de relatórios, em especial aque-
tematização da política de risco é ter Por outro lado, a política de risco cos- nização e redução de etapas artesanais. les que não fazem parte do processo de
clareza do workflow de operação, pas- tuma definir com clareza as responsabi- risco padrão, as planilhas têm um papel
sando essa responsabilidade de acom- lidades e papéis de cada área ou pessoa, Portanto, ao avançar na sistematiza- relevante, pois trazem agilidade e per-
panhar e organizar cada etapa aos sis- de modo que a sistematização deve ção, é uma boa prática mapear e imple- mitem a execução de processos que
temas de risco. garantir que cada um cumpra somente mentar todos os pontos de integração não valem a pena ser sistematizados.
as atribuições que lhe cabem, restrin- necessários para obtenção das infor- No entanto, principalmente no pro-
gindo todas as demais atividades que mações da qual os modelos de risco cesso de risco especificado em política,
4.b Governança e Rastreabilidade não interessam a determinado usuário. dependem, garantindo sua consistên- a sistematização pode ser uma parceira
 boas práticas relacionadas: 4.4, 4.5 e 4.6 Em particular, os níveis de competên- cia e atualização. vital da perenidade da infraestrutura
cias e o workflow de aprovação preci- Nas saídas é importante que os sis- de risco, pois mitiga em grande parte
A sistematização dos processos de sam ser considerados com muita aten- temas de risco facilitem a extração o efeito de rotatividade de pessoas
risco também costuma trazer diver- ção nas decisões de sistematização. dos dados em formatos orientados à e encurta a curva de aprendizado de
sos ganhos de qualidade na estrutura análise que favoreçam seu processa- novos entrantes, conservando o conhe-
de governança corporativa, eliminando mento e à preparação de apresenta- cimento adquirido pela empresa.
vulnerabilidades encontradas na aborda- 4.c Eficiência operacional e mitigação ções, relatórios customizados e análises
gem manual, incluindo o controle das res- de rotatividade sob demanda, que acabam refletindo
ponsabilidades e organização do cenário boas práticas relacionadas: 4.7, 4.8, 4.9, uma grande parte da carga de traba-
de risco associado com cada tomada de 4.10, 4.11 e 4.12 lho de uma área de risco no dia-a-dia.
decisão. Nos casos dos indicadores de risco
Uma execução completa de risco oficiais, é também uma boa prática
Além disso, é uma boa prática reque- depende de uma diversidade de dados que existam relatórios padrão a serem
rer de sistemas de risco a reprodutibi- de entrada que podem estar descen- eventualmente automatizados e dispo-
lidade das análises, desde a consulta tralizadas em vários sistemas. Atribuir nibilizados conforme explicitado na polí-
das entradas utilizadas em determi- ao analista de risco a tarefa de orga- tica de risco, de maneira que o último
nado cenário, como a reexecução dos nizar manualmente essas informações indicador oficial vigente esteja sempre
modelos, esperando obter os mesmos pode trazer vulnerabilidades operacio- disponível para quem dele necessitar.
indicadores, para atender, entre outras nais e aumentar o custo e tempo de Nesse sentido, a redução da depen-
demandas, propósitos de auditoria. processamento, reduzindo o repertório dência de planilhas de cálculo tem um
Como diversas atividades de gover- de análises e sensibilidades que devem benefício duplo. Atenuar erros de ope-
nança estão associadas com controle, ser executadas, impactando a agilidade ração na execução das rodadas de risco,
especialmente os que garantem que a e qualidade do processo. trazendo integridade ao processo e
política de risco esteja sendo operada democratizar a análise de risco, princi-
como deveria, os sistemas de risco Uma boa estratégia na sistematiza- palmente por suavizar o efeito subje-
devem facilitar o acesso aos indicado- ção dos processos de risco é utilizar a tivo de planilhas eletrônicas customiza-
res de risco oficiais, às métricas de con- tática do 80-20, de maneira a assegurar das, que costumam culminar em des-

44 45
Metodologia técnicas de simulação permitem
analisar os possíveis resultados de
cada estratégia de ação.

Uma sólida metodologia oferece


informações confiáveis para que os ferramentas metodológicas sólidas
são a base de um processo de risco
tomadores de decisão possam navegar que gera resultados, tais como as
melhor pelo mar de possibilidades e descritas neste material.

oportunidades, evitando os piores riscos


sem comprometer os resultados.

riscos resultado: + 9.5 milhões


de liquidez V@R 95%: -2.3 milhões

riscos
de crédito

riscos
de mercado

46 47
pilar
5.a Marcação-ao-Mercado (MtM4)
5  Metodologia / risco de mercado
tica a partir da atual conjuntura, consi-
 boas práticas relacionadas: 5.1 e 5.2 derando a posição da empresa em par-
ticular e do mercado em geral.
Toda a gestão quantitativa de risco A curva Forward de marcação-ao-
de mercado está ancorada no conceito mercado adotada internamente não
de que é possível mensurar o ativo ener- necessariamente precisa ser igual às
gético em cada período, de maneira que referências de preço de mercado, por
boas práticas se possa prever a faixa de variação que questões de operacionalização da saída
ele pode ser atingida em determinado de uma posição ou por esta incorporar
5.1 Realizar marcação-ao-mercado. momento, com uma probabilidade espe- mecanismos de ajuste, quando a con-
5.2 Fazer benchmark das curvas Forward internas com as do mercado. cificada. Por esse motivo, o conceito mais dição de liquidez indicar. Um exemplo
5.3 Definir apenas um balanço energético oficial. fundamental para a gestão de risco de disso seria utilizar valores inferiores às
5.4 Manter o balanço energético oficial atualizado. mercado é a marcação-ao-mercado da referências de mercado em situações
5.5 Separar portfólios VaR (produtos expostos à curva Forward) posição em aberto de energia. de sobra de energia e superiores em
e EaR (produtos expostos a projeção de preços Spot). casos de déficits para reduzir o tempo
5.6 Atualizar volatilidades de acordo com movimentos de mercado. 4 MtM (Mark to Market): marcação de fechamento da posição.
5.7 Atualizar correlações de acordo com movimentos de mercado. Portanto, a curva Forward de marca-
a mercado, é o processo de refletir o
5.8 Assegurar independência e isonomia na definição de premissas. ção-ao-mercado não necessariamente
valor de mercado atual dos ativos que
5.9 Construir simulações oficiais para preços Spot futuros. é idêntica aos preços de contratos de
compõem a carteira.
5.10 Considerar efeito de posições em diferentes submercados. energia, apesar de servir de referên-
5.11 Considerar diferenças de preços entre fontes de energia. cia para estes. Uma curva de marca-
5.12 Especificar abordagem para agregação dos fatores de risco. O cálculo da marcação-ao-mercado ção-ao-mercado consistente é aquela
5.13 Calcular métricas de risco oficiais. é essencialmente simples, função da que consegue combinar a visão interna
5.14 Desmembrar métricas de risco agregadas para cada carteira separada. multiplicação da quantidade de ener- da empresa, validada por benchmark
5.15 Especificar indicadores financeiros para comparação com métricas e gia exposta pela referência de preço de outras curvas Forward do mercado,
limites de risco. de mercado (curva Forward), conhe- e comparada a preços de operações
5.16 Calcular métricas de risco considerando posição em aberto e contratos cida como curva de marcação-ao-mer- fechadas.
já firmados. cado. Essa quantidade monetária cos- A marcação-ao-mercado é um pro-
5.17 Especificar nível de confiança e período para fechamento da posição tuma ser trazida a valor presente pela cesso crítico da empresa porque é uma
(holding period) em cada produto. taxa de juros real, para efeitos de com- das principais entradas para diversas
5.18 Fazer análise de sensibilidade. paração com indicadores financeiros. outras atividades como planejamento
5.19 Fazer stress tests. A curva de marcação-ao-mercado energético, análise de risco, fecha-
5.20 Controlar propostas em aberto. deve refletir o valor de saída de posi- mento de balanço contábil e financeiro,
5.21 Avaliar impacto de propostas e novos contratos na carteira oficial. ções de energia em diferentes horizon- entre outros.
5.22 Executar backtests dos modelos e dos parâmetros. tes de tempo. Portanto, ela deve ser Se o processo de marcação-ao-mer-
5.23 Manter histórico de ganhos e perdas para as carteiras avaliadas. realista quanto à exposição específica cado não é consistente, toda a infraes-
5.24 Detalhar e documentar a metodologia de risco. da empresa e validada contra refe- trutura de risco fica comprometida, por-
rências de preço independentes. Para que ele é um dos alicerces da gestão de
garantir esse objetivo, uma boa prática risco de mercado e de crédito.
é ajustar a curva interna de marcação
-ao-mercado, fazendo uma análise crí-

48 49
5.b Balanço energético e segregação balanço de ativos e balanço de flexibi- res agregados da comercialização de preços Forward. A volatilidade é fun-
de carteiras (VaR e EaR) lidades. Esse componente do balanço energia, visto principalmente em gran- ção da maturidade dos produtos de
 boas práticas relacionadas: 5.3, 5.4 e 5.5 energético estará exposto à previsão do des grupos integrados, que é a presta- energia (prazo para o suprimento), de
preço Spot na data de suprimento, por- ção de serviços para maximização do maneira que os produtos mais próxi-
Os modelos de risco dependem das tanto costuma-se nomear essa parcela valor dos ativos. mos ao suprimento são substancial-
características da carteira da empresa, do balanço energético como EaR (Ear- mente mais voláteis que os de mais
que ditam os fatores de risco e os pre- nings at Risk). De toda forma, para que a gestão de longo prazo. Para questões de compa-
ços subjacentes aos quais a empresa risco funcione é essencial definir somente ração, a volatilidade dos produtos de
está exposta. Separar a gestão de risco de mercado um balanço energético oficial e mantê curto prazo (próximos três meses) cos-
No setor de energia essas carteiras nos componentes VaR (preços Forward) -lo atualizado. Essa tarefa pode não ser tuma ser em média cerca de sete vezes
podem ser complexas, pois a depen- e EaR (previsão de preços Spot) é uma tão simples em portfólios com diversos maior do que a volatilidade dos produ-
der do perfil da empresa, podem com- boa prática e facilita substancialmente ativos físicos, pois projeções de gera- tos de longo prazo (mais de um ano).
binar ativos de geração de diversas fon- todos os aspectos da infraestrutura de ção, consumo, GSF, perdas, entre outros, As características empíricas dos pre-
tes, consumo e contratos nos ambientes risco, incluindo a alocação de pessoas, podem facilmente ficar desatualizadas. ços Forward indicam que existem blo-
livres e regulados (diagrama de causa-e construção de modelos e fluxo da infor- Em mesas de energia muito ativas tam- cos de volatilidade, momentos de alta
-efeito da página 66). mação, sistematização e principalmente bém é comum que a análise de risco tra- variação tendem a serem seguidos por
O balanço energético é formado comunicação e controle. balhe com uma carteira defasada, que períodos mais voláteis. Essas caracte-
pelo balanço de contratos, balanço de não reflete o real balanço energético da rísticas exigem que a volatilidade esteja
flexibilidades e balanço de ativos. O Sinais de alerta relacionados às empresa. sempre atualizada para que as métricas
balanço de ativos, por exemplo, pode métricas de risco associadas com a Quando isso ocorre a gestão de risco de risco reflitam essas características.
estar exposto a fatores de risco, como parcela VaR da carteira exigem ações perde utilidade e credibilidade. O dese- No setor de energia elétrica, a vola-
GSF, desempenho da geração, variação imediatas, dado que decisões de nho correto de processos e uma estrutura tilidade costuma ser acompanhada em
de consumo, entre outros. hedge podem ser tomadas e há ele- de sistematização podem contribuir para base semanal, refletindo a periodici-
Dessa forma, o balanço energético vada chance de materialização de per- reduzir esses problemas. dade de publicação do PLD. A exceção
é a referência sobre a qual é realizada das. Na parcela EaR da carteira, prin- é para os produtos de curto prazo (até
o planejamento da comercialização e cipalmente nas maturidades de mais três meses), que são produtos essen-
a análise de risco de mercado, porque longo prazo o propósito é mais infor- 5.c Volatilidades e correlações cialmente voláteis, e exigem atualiza-
as exposições podem ser fechadas no mativo porque existe um elevado com-  boas práticas: 5.6 e 5.7 ção diária da volatilidade. É evidente
mercado Forward, desde que levadas ponente de incerteza que não necessa- que com a introdução do PLD horário,
em consideração as condições de liqui- riamente está ligado à chance de mate- O conceito de volatilidade está asso- que será publicado diariamente, a base
dez. rialização de perdas, mas reflete muito ciado com a magnitude da variação que de acompanhamento deverá ser alte-
Costuma-se nomear essa parcela mais um risco de negócio ou stress test. os Preços Forward possam vir a sofrer rada.
previsível do balanço energético de Operacionalmente, existem diver- entre o período atual até o próximo A metodologia mais usada e que
balanço VaR (Value at Risk), porque a sas empresas do setor que costumam período de avaliação. Dessa forma, a apresenta bons resultados em back-
gestão de risco é feita com base nas separar integralmente as atividades volatilidade está associada com o con- tests é a abordagem EWMA (Exponen-
variações da curva Forward. de comercialização das de gestão dos ceito de desvio-padrão estatístico, por- tial Weighted Moving Average), também
Existe ainda uma outra parcela do ativos. Em termos de processos, essa tanto quanto mais volátil o valor do ativo conhecida como Risk Metrics, que atua-
balanço energético que geralmente é uma boa estratégia, pois pode-se maior é a chance de ocorrerem perdas liza a volatilidade com base na anterior
será descoberta somente próximo ao desenhar estruturas de controle e de extremas. e nas variações observadas no mercado.
suprimento, decorrente de eventuais níveis de aversão ao risco diferentes Essa abordagem permite manter
desvios de projeção das variáveis que para essas atividades. Essa organiza- O conceito de volatilidade somente a volatilidade atualizada para que os
formaram o balanço VaR. Esses erros ção muitas vezes facilita a gestão de se aplica à parcela previsível do balanço modelos de risco consigam capturar os
de projeção somente se aplicam ao risco e destaca um dos principais valo- energético (VaR), aquela exposta aos períodos de maior risco e possam aju-

50 51
dar os tomadores de decisão a adequa- estrutura dinâmica, é importante man- Na figura anterior pode-se ver um nais à carteira de energia. Dá-se o nome
rem suas carteiras para patamares acei- ter as correlações atualizadas. recorte de curvas Forward para energia de Earnings at Risk (EaR) a métricas de
táveis de perdas. A abordagem mais utilizada para convencional, com entrega no submer- risco que capturem esse conceito, porque
O conceito de correlação se aplica modelagem das correlações também cado SE/CO, medida na semana 13/2019 o risco não é o potencial de variação do
quando o balanço energético é for- é a proposta sugerida pela Risk Metrics (publicada no dia 26/03/2019) ,e nas valor do ativo do momento atual até o
mado por mais de um produto, situa- que é uma espécie de EWMA em ver- quatro semanas anteriores, para produ- próximo período, como na abordagem
ção quase sempre presente. Os preços são matricial. tos com maturidade em um horizonte VaR (Value at Risk), mas sim uma proje-
de energia possuem correlação positiva de cinco anos. A diferença de altura dos ção do resultado no suprimento.
em praticamente todos os vértices for- Empresas que costumam adotar a retângulos tem relação com o conceito
mando basicamente dois grupos: pro- estratégia de arbitrar margens implíci- de volatilidade e a direção de mudança Essa abordagem depende da mode-
dutos de curto e médio prazos e produ- tas em diferentes produtos, combinando dos preços está associada com o con- lagem dos fatores de risco associados
tos de longo prazo. posições invertidas, estão no fundo apos- ceito de correlação. Note-se que a cor- com a quantidade em risco (GSF, gera-
Esses grupos tendem a ser modera- tando na manutenção da correlação. Essa relação positiva faz com que todos os ção, consumo, etc.) e das simulações
damente correlacionados, porém exis- estratégia permite alto grau de alavanca- produtos caminhem na mesma direção. do preço Spot futuro, função principal-
tem períodos de maior acoplamento e gem e traz proteção contra volatilidade. mente do PLD.
outros de não correlação. No entanto, quando há descolamento das Portanto, para carteiras com essas
As correlações combinadas formam correlações, perdas severas podem ser 5.d Portfólios físicos e pouco líquidos características, é uma boa prática cons-
o que se chama de matriz de correla- verificadas, exigindo que aqueles com  boas práticas relacionadas: 5.8, 5.9, 5.10 e 5.11 truir simulações oficiais de preços Spot
ção, que é uma entrada importante para esse perfil compreendam o conceito de futuros que tenham consistência para
os modelos de risco. Assim, dada a sua correlação e suas implicações. As carteiras físicas podem estar apontar o tamanho do risco ao qual se
expostas a desvios de projeção de está exposto e orientar decisões de pla-
variáveis que podem mudar o balanço nejamento de longo prazo.
de ativos, como o GSF, geração de usi- Existem diversas abordagens que
nas, necessidade de unidades consu- costumam ser utilizadas para a cons-
midoras, perdas na rede básica, entre trução dessas simulações, exigindo na
outros. Nesses casos, a quantidade maioria das vezes etapas artesanais,
em exposição costuma ser conhecida que devido às especificidades do setor
somente próxima ao suprimento, o que de energia e à elevada complexidade
não permite a mitigação desse tipo de da configuração física do setor, não cos-
risco no mercado Forward. tumam ser completamente automatiza-
Portanto, carteiras de energia com das.
essas características precisam projetar Apesar das profundas diferenças
o valor dos desvios das variáveis ener- conceituais é comum em diversas situa-
géticas e dos preços Spot futuros na ções combinar simulações dos preços
data de suprimento de cada posição de Spot formadas pelos modelos compu-
energia. tacionais oficiais ou similares, com base
em “decks” encadeados ou não, com os
O risco então é que, além das quan- preços Forward para o mesmo período.
tidades de energia, também se alterem Adicionalmente, costuma-se implemen-
as projeções do preço Spot também se tar filtros fundamentalistas, principal-
Curva Forward nas maturidades M+1, M+2, M+3 e A+0 (gráfico esquerda) e A+1, A+2, A+3, A+4 (gráfico direita) alterem de modo a causar perdas adicio- mente em função de cenários de arma-
com a apuração da curva de consenso realizada na semana 13/2019, (publicada no dia 26/03/2019) junto
com as quatro apurações anteriores. Fonte: Dcide

52 53
zenamento e afluência, elimi- nando 5.e Métricas e limites de risco de As métricas de risco precisam ser cal- Essa gestão de limites deveria ainda
séries que não encontrem funda- men- mercado culadas com relação à carteira completa, considerar duas outras questões relevan-
tos racionais, a partir de eventuais cali- boas práticas relacionadas: 5.12, 5.13, 5.14, posição em aberto somada ao resul- tes: estímulo para alocação em produ-
brações para refletir expectativas par- 5.15 e 5.16 tado dos contratos fechados, o que cos- tos de menor risco, desde que os retor-
ticulares das empresas com relação ao tuma ser denominado de margem bruta, nos sejam similares, e especificação de
desempenho das variáveis físicas. A métrica de risco mais utilizada no no linguajar do setor de energia elétrica. gatilhos de risco do tipo Stop loss e Stop
Essa complexa combinação de eta- setor de energia é o VaR (Value at Risk), É importante que as métricas de gain.
pas acaba por ter como saídas cenários que reflete a perda máxima esperada risco sejam comparáveis a indicado-
de simulações de preços Spot futuros com determinada confiança para um res finan ceiros e possam ser conver- Os limites de Stop loss e Stop gain
que podem ser utilizadas nos mode- período definido. tidos em indicadores relativos a partir exigem que decisões de saída de posi-
los de risco para mensurar o compo- de com paração com referências como ções sejam tomadas sempre que o
nente EaR da carteira. Quando cons- Existem problemas conceituais com orça mento ou metas, porque isso ajuda risco atingir determinado patamar,
truídas com base nas saídas dos mode- VaR (sub aditividade), porém eles são na comunicação do risco e na sensibili- para evitar que o resultado da carteira
los computacionais oficiais ou similares, menos importantes que a sua a facili- zação das áreas tomadoras de risco que se deteriore ainda mais (Stop loss) ou
um benefício intrínseco é que junto com dade de compreensão e, pelas caracte- também costumam ter bônus vincula- que os ganhos se revertam em perdas
as simulações dos preços Spot obtêm- rísticas dos preços de energia, causam dos com esses indicadores. (Stop gain). Essas métricas fazem sen-
se simulações de diferenças de preços pouco impacto prático. Os limites de risco, para os quais são tido principalmente para a parcela de
entre submercados e geração hidráulica aplicadas estruturas de controle, preci- maior liquidez da carteira, que precisa
que pode ser convertida em GSF, entre Principalmente para empresas que sam refletir a capacidade financeira real ser acompanhada em uma escala com-
outras variáveis que ajudam na inter- possuem portfólios com posições de da empresa para honrar compromissos patível com sua volatilidade.
pretação do risco. médio e longo prazo, o VaR 95% (95% e não apenas métricas contábeis, sob a Por exigir a tomada de decisão em
Apesar da baixa capacidade predi- de confiança) costuma ser utilizado como pena de que perdas que eventualmente momentos tipicamente desfavoráveis,
tiva dos modelos computacionais para métrica tanto de gestão (periodicidade ocorram, mesmo que menos severas, esses gatilhos também ajudam a esti-
os preços Spot no longo prazo, os quais semanal) quanto de controle (periodici- possam levar a empresa à situação de mular a pulverização da carteira em
não foram construídos com esse obje- dade mensal). Nas carteiras compostas insolvência quando indicadores contá- mais de um produto e alocação de posi-
tivo, é uma boa prática formar cenários principalmente por ativos mais voláteis, beis apontam o contrário. ções em ativos de menor risco, para que
para análise de risco do componente a escolha mais comum é o cálculo do VaR O conceito de caixa livre tem sido movimentos pontuais de mercado não
EaR porque eles podem contribuir para diário, geralmente a 99% de confiança. adotado por diversas empresas por acabem por acionar esses limites de
estimular decisões de proteção dos ati- conseguir equacionar essas questões, maneira a prejudicar a estratégia dese-
vos, objetivo principal desse tipo de car- O cVaR, a média das perdas que ao passo que outras preferem usar indi- nhada.
teira. excedem o VaR, também é utilizado cadores mais tradicionais, na linha da Na maioria das situações, é prefe-
para questões de controle e alocação margem bruta ou EBITDA, principal- rível ganhos moderados, consistentes
de capital, por ser uma métrica que cor- mente quando o caixa da empresa não no médio e longo prazo, que elevados
rige algumas das inconsistências técni- é uma preocupação relevante. resultados de curtíssimo prazo em troca
cas do VaR. No entanto, o que se vê é De toda forma, as métricas de risco de um nível de risco incompatível com
uma maior dificuldade na compreen- oficiais precisam ser levadas à mesma a capacidade financeira da empresa.
são do cVaR, principalmente nos fóruns base de interpretação dos limites de
menos operacionais, o que limita a uti- risco para que a estrutura de controle
lização dessa métrica. funcione.

54 55
5.f Avaliação de operações e análises O stress test e a análise de sensibi- de risco são capazes de capturar esses
adicionais lidade complementam o processo de movimentos, de maneira a não subes-
boas práticas relacionadas: 5.17, 5.18, 5.19 e 5.20 risco padrão e ajudam a calibrar os limi- timar ou superestimar os valores histó-
tes de risco, que podem ser revisados ricos.
Além do que se chama de gestão de periodicamente se mudanças relevan- As conclusões desses processos de
risco padrão, cálculo das métricas de risco tes nas variáveis de mercado ocorre- calibração devem ser documentadas,
oficiais para a carteira em aberto, exis- rem. assim como os detalhes dos modelos,
tem diversos outros serviços que a área São geralmente análises de stress premissas, metodologias ou outras
de risco presta à empresa, como auxílio que permitem as empresas mensurar questões importantes que facilitem a
na precificação de contratos, avaliação o efeito de movimentos contra intuiti- curva de aprendizado de novos profis-
quantitativa de decisões e análises de vos de mercado que não são captura- sionais e a disseminação da cultura de
sensibilidades e stress test para apoiar dos nem pela volatilidade e nem pela risco na empresa.
estratégias de alocação de capital e pla- correlação e construir mecanismos de
nejamento da comercialização. proteção para evitar perdas financen-
rias catastróficas.
Por ser subproduto de infraestru-
turas de risco organizadas e por atuar 5.g Backtests e validação
principalmente na esfera da prevenção, boas práticas relacionadas: 5.21, 5.22 e 5.23
é uma boa prática que a área de gestão
de risco acompanhe e mensure o efeito Existem diversas abordagens para
de propostas em aberto no mercado, modelagem de risco, de forma que a
que no fundo funcionam como opção escolha de determinada maneira deve
para a contraparte, porque em caso de ser função da sua adequabilidade às
todas se materializarem em contratos, o características do mercado, especial-
nível de risco da carteira pode ser alte- mente sua capacidade de refletir os com-
rado substancialmente. portamentos típicos dos preços de mer-
Portanto, em complemento as aná- cado e exatidão na apuração das métri-
lises de risco oficiais, é uma boa prá- cas de risco.
tica gerenciar propostas em aberto no
mer- cado, executando avaliação prévia Como algumas características do
de propostas e ofertas, incluindo aque- mercado podem se alterar ao longo do
las disponíveis em plataformas eletrô- tempo, é necessário que haja também
nicas, para que em caso de conversão uma evolução constante dos modelos
em contratos, elas não levem os pata- de risco, que devem ser monitorados
mares de risco para fora dos limites. para garantir que ainda estejam ade-
Dessa maneira, o processo de con- quados às necessidades da empresa.
trole deve levar em consideração uma Por esse motivo, é uma boa prá-
camada de aprovação sensível ao risco, tica manter os históricos de perdas e
incluindo crédito e liquidez, para que ganhos observados nas carteiras de
novas propostas possam ser lançadas energia e executar o que se chama de
no mercado. backtests para verificar se as métricas

56 57
pilar

6  Metodologia / risco de crédito


6.a Análise qualitativa de crédito ção e de seu porte. A análise de risco
 boas práticas relacionadas: 6.1, 6.2, 6.8 de crédito deve levar isso em conside-
ração. Uma boa forma de começar essa
A etapa de análise qualitativa da con- organização é agrupando empresas de
traparte visa cumprir uma avaliação da acordo com as principais variáveis que
documentação da empresa considerando afetam sua situação financeira.
os aspectos societários, legais, tributá- No caso de consumidores de energia,
boas práticas rios e financeiros, bem como o histórico principalmente aqueles menos eletroin-
na CCEE e uma análise da estrutura da tensivos, fatores econômicos e particu-
6.1 Padronizar checklists de documentos.
empresa, incluindo o grau de sofisticação laridades de seu segmento geralmente
6.2 Organizar grupos e perfis de crédito.
de gestão de risco e seu foco de atuação, são mais importantes para explicar sua
6.3 Avaliar estrutura organizacional e social da empresa.
com o objetivo de inferir a qualidade da situação financeira do que os preços de
6.4 Analisar saúde do balanço financeiro das contrapartes.
contraparte com respeito ao crédito para energia. Portanto, uma boa análise de
6.5 Analisar documentação contábil e legal da empresa.
habilitação à comercialização. crédito passa pela avaliação setorial do
6.6 Avaliar infraestrutura de risco da contraparte.
ramo de atuação da empresa.
6.7 Assegurar integridade das informações e balanços financeiros.
Para melhores resultados nessa Para geradores, também é impor-
6.8 Assegurar independência e isonomia na avaliação de contraparte.
etapa, como reduzir a subjetividade tante separar os grandes grupos empre-
6.9 Definir um rating quantitativo para cada contraparte.
na avaliação garantindo a isonomia, é sariais, que possuem carteiras relevan-
6.10 Calcular marcação-ao-mercado das carteiras de contrapartes.
crucial a implantação de um processo tes de ativos, daqueles de menor porte,
6.11 Mensurar probabilidade de inadimplemento.
que especifique qual é a documen- que eventualmente possam estar mais
6.12 Calcular exposição e perda no inadimplemento.
tação necessária e que a padronize a expostos à estrutura de financiamento,
6.13 Acompanhar e controlar a qualidade do crédito das carteiras.
forma de captura e o fluxo de avalia- desempenho da geração, entre outros.
6.14 Definir métricas de pulverização sensíveis ao perfil de crédito.
ção interna, assegurando independên- No caso dos comercializadores, exis-
6.15 Especificar limites operacionais para contrapartes.
cia entre a área avaliadora e a interes- tem diversos perfis típicos: os vincula-
6.16 Revisar limites operacionais de acordo com condições de mercado e risco.
sada na negociação. dos a grupos empresariais, que usam a
6.17 Formalizar processo de aprovação de crédito e habilitação da contraparte.
Costuma ser necessária uma con- comercialização como complemento às
6.18 Incluir componente de crédito na precificação de operações.
jugação de perfis para que uma aná- demais atividades do grupo, empresas
lise da documentação de crédito seja mais focadas em serviços de represen-
robusta, o que inclui especialistas em tação e gestão, que usam a comercia-
direito, contabilidade, gestão financeira, lização para fazer o balanceamento da
mercado de energia e risco. energia de seus clientes, e comerciali-
A principal saída dessa etapa é um zadores mais focados no trading, que
parecer sobre o perfil de crédito da podem arbitrar margens entre produ-
empresa, que costuma incluir se ela tos ou se posicionar frente a movimen-
está ou não habilitada à negociação. O tos de preços.
perfil de crédito costuma ser agregado A avaliação qualitativa de crédito
em carteiras de maneira a segregar as deve ser capaz de identificar o perfil
contrapartes de acordo com suas carac- da empresa, a quais tipos de variáveis
terísticas de crédito. ela está mais exposta, se os indicado-
Existem perfis de empresas subs- res financeiros são robustos e se a sua
tancialmente distintos, a depender do forma de atuar é condizente com sua
segmento de mercado, forma de atua- capacidade financeira e política de ges-

58 59
tão de risco. De preferência, essas ativi- • Posição na indústria ou segmento de tura societária da empresa, seu grau de estratégia da empresa poderia mudar
dades devem ser executadas por meio atuação. transparência, particularidades do con- e gerar um cenário distinto daquele da
de processos transparentes e que, além • Reputação. trato social, perfil e histórico dos sócios avaliação.
de garantir a isonomia na avaliação, • Estrutura societária, organizacional e e da empresa, incluindo a documentação Por esse motivo também se consi-
assegure repetibilidade (uma mesma diretoria executiva. cível, trabalhista e outras que permitam dera na análise de crédito as políticas e
pessoa avaliando novamente a mesma • Histórico de negociação. entender quem é a empresa e quem está o grau de sofisticação de governança e
empresa produzirá o mesmo parecer) e por trás dela. gestão de riscos da contraparte. Além
a reprodutibilidade (duas pessoas ava- Políticas de divulgação da informação, disso, é considerado o histórico das
liando a mesma empresa chegarão ao às vezes relacionadas com aspectos Outra entrada crucial para a correta negociações no mercado, para tentar
mesmo resultado). regulatórios e de governança corpora- avaliação de crédito é a saúde finan- inferir de que forma as empresas vêm
Empresas de perfil de crédito similar tiva, ou ainda de preservação da estra- ceira do negócio, que geralmente é atuando.
e influenciadas pelas mesmas variáveis tégia da empresa, costumam dificultar estudada com base nos balanços finan- Mesmo com as particularidades e
deveriam fazer parte da mesma car- uma avaliação precisa de seu perfil. ceiros e contábeis. As empresas, prin- dificuldades de se inferir a qualidade
teira de crédito para facilitar a gestão No entanto, existem situações onde a cipalmente aquelas interessadas em de crédito de determinadas contrapar-
e a interação com as etapas da análise documentação é mais acessível, prin- melhorar seu acesso ao crédito, estão tes no setor de energia, as empresas
quantitativa. cipalmente em grandes empresas, que cada vez mais propensas à transparên- têm se preocupado em estruturar eta-
possuem ações listadas em bolsas ou cia nesse aspecto. No entanto, existem pas robustas de avaliação qualitativa
que estão sob o controle do Estado. diversas dificuldades que podem ene- em seu processo de concessão de cré-
6.b Avaliação da documentação de Essas empresas costumam ter muitas voar uma correta avaliação. dito e criar mecanismos de reavaliação
crédito informações disponíveis ao público e O caráter não padronizado des- periódica das contrapartes.
 boas práticas relacionadas: 6.3, 6.4, 6.5, 6.6, 6.7 fatos relevantes amplamente encon- sas informações é em si um desafio,
trados na mídia. porque aumenta substancialmente o
Uma das etapas mais complexas da Elas também tendem a adotar tempo de estudo das variáveis. Porém, 6.c Análise quantitativa e métricas de
avaliação de crédito é a operacionaliza- padrões de governança corporativa mais importante é garantir a integri- risco de crédito
ção da documentação necessária para mais rigorosos e, por isso, muitas vezes dade e confiabilidade das informações. boas práticas relacionadas: 6.8, 6.9, 6.10, 6.11,
garantir sua atualização e consistência. estão bem estruturadas em gestão Nesse sentido, empresas têm buscado 6.12
O cenário ideal é que toda a informa- financeira e de riscos. Por essas razões, gerar versões auditadas de seus balan-
ção importante para a análise do perfil acabam sendo ranqueadas como con- ços, que ajudam a dar credibilidade às A análise quantitativa de crédito uti­
de crédito esteja disponível. Porém, por trapartes de elevada qualidade na ava- informações disponibilizadas. liza as saídas da análise qualitativa e as
diversos motivos, esse não é o cená- liação de crédito. Contudo, a avaliação Um desafio ainda maior é que as complementa com indicadores mensu­
rio usual. do risco bilateral permanece imprescin- informações financeiras da empresa ráveis, que podem ser utilizados para a
O conjunto de informações geral- dível. podem mudar substancialmente de quantificação do impacto de eventos ou
mente necessário inclui, mas não se Em contrapartes menos conhecidas um período a outro, deixando a avalia- prêmios de crédito a serem utilizados
limita a: o processo de análise de risco pode ser ção de crédito desatualizada, principal- nos processos de precificação, controle
mais complexo, sendo fundamental mente se a receita ou a despesa é muito e prevenção.
• Rating de agências ou empresas de avaliar qual a atual capacidade finan- dependente de ativos voláteis, como os
classificação (Standard & Poors, Moo- ceira da empresa e se ela está ade- preços de energia de curto prazo. Isso Diversas boas práticas na gestão de
dy’s, Serasa, SCPC, etc). quada ao seu perfil de risco. dificulta a análise de crédito porque o crédito aplicáveis ao mercado de energia
• Declarações financeiras e balanços nível de risco tomado pela empresa são baseadas nas utilizadas no mercado
contábeis. Por isso, uma das primeiras etapas geralmente não está disponível para financeiro, em particular aquelas deri­
• Expertise de gestão e infraestrutura de que vem sendo utilizadas na avaliação complementar a avaliação de crédito e, vadas do acordo de Basileia. Especifica­
gestão de risco. de crédito é a compreensão da estru- mesmo que estivesse, o mercado ou a mente, as quantidades Probabilidade de

60 61
Default (PD), Exposição No Default (EAD) default), ou seja, o fato de a contraparte 6.d Gestão de carteiras de crédito porque ajuda a prevenir ou a manter
e Perdas Dado Default (LGD) podem ser não cumprir com determinadas obriga-  boas práticas relacionadas: 6.13 e 6.14 dentro do aceitável o efeito de perdas
utilizadas para precificar o risco de cré­ ções contratuais dá o direito a outra parte devido ao crédito.
dito de determinada operação, baseado de também não honrar os demais con- É uma boa prática organizar carteiras
na condição de crédito da contraparte. tratos que possui com essa empresa. de crédito de acordo com as chances de
default e perfil de crédito das contrapar- 6.e Limites operacionais e habilitação
A PD é a chance de uma contraparte Nessas situações, faz sentido cal- tes, porque um indicador importante da de contrapartes
não honrar alguma das obrigações do cular carteiras que agrupam todos os exposição da empresa é o nível de con­  boas práticas relacionadas: 6.14, 6.15 e 6.16
contrato, enquanto o EAD é o montante contratos de determinada contraparte centração de crédito em determinados
total de exposição gerado pelo evento e para essa situação é uma boa prática grupos. O controle de crédito para determi-
de default. O LGD é a perda incorrida acompanhar a evolução da MtM da car- nada contraparte costuma ser operacio-
após o acionamento de todos os meca- teira de energia com cada contraparte, A concentração de crédito é mais nalizado em duas etapas: habilitar a con-
nismos contratuais, jurídicos, regulató- de maneira a controlar eventuais níveis perigosa para carteiras formadas por traparte para negociação e disponibilizar
rios e comerciais disponíveis, expressa de exposição, para que se possa fazer empresas com perfis mais vulneráveis limites dentro dos quais a equipe comer-
como um percentual do EAD. Com base gestão de crédito. A depender do perfil de maneira que a estratégia de comer- cial está autorizada a negociar com deter-
nessas quantidades, a Perda Esperada de crédito da contraparte, quanto mais cialização deve considerar a possibili- minada contraparte.
(EL) é calculada pela multiplicação das positiva em termos de MtM a carteira dade de pulverizar o risco de crédito ou
variáveis (PD*EAD*LGD). estiver para a empresa, mais chance de melhorar o perfil de crédito do portfó- É uma boa prática separar essas eta-
Embora essas quantidades nem default há. lio agregado, revertendo posições com pas e formalizá-las, inclusive definindo
sempre são simples de serem calcula­ Em situações onde a cláusula de reci- contrapartes de crédito duvidoso ou os papéis e responsáveis, para melhorar
das, especialmente a probabilidade de procidade não se aplica, esse acompa- incluindo contratos com contrapartes o controle e questões de governança
default, elas têm relação com a mar­ nhamento deve ser feito considerando de melhor perfil de crédito. porque empresas que não passaram
cação-ao-mercado (MtM) da operação, a agregação apenas dos contratos com Da mesma forma que pode ser esti- pelo processo de habilitação, geral-
de maneira que quanto mais favorá­ MtM positiva para a empresa (portanto mada a Perda Esperada devido a default mente aquelas bloqueadas devido à
vel é a MtM para a empresa, maior é negativa para a contraparte), porque para um contrato, somando-se esses análise qualitativa, não deveriam ter
a chance de inadimplemento da con­ em caso de evento de default, não há resultados tem-se a perda esperada limites operacionais definidos.
traparte, especialmente aquelas com a possibilidade de mitigação da perda para toda a carteira, que dá ideia de Para contrapartes habilitadas, os
saúde financeira mais vulneráveis ou com outro contrato já vigente com a quanto a materialização de eventuais limites operacionais não precisam ser
naquelas onde a comercialização de mesma contraparte. situações de crédito pode vir a degra- necessariamente relacionados à quan­
energia representa uma parcela muita De toda maneira, é importante ran- dar o resultado comercial (receita de tidade de energia, podendo-se tam­
grande da receita da empresa. quear os contratos com marcação-ao- contratos menos despesa de contratos) bém restringir o montante financeiro a
mercado menos favoráveis para a con- da empresa. Esse indicador ajuda a tra- ser negociado com determinada con­
Um evento de default na maioria traparte, principalmente para aquelas çar estratégias para alocação de capi- traparte ou impor restrições baseadas
das vezes não corresponde à falência com perfis de créditos menos quali- tal sensível ao crédito e pode auxiliar na carteira, de maneira a não permi­
de empresa, mas está muito mais asso- ficados, porque são esses contratos na precificação de contratos e na atua- tir exposições superiores a determi-
ciado com o descumprimento de alguma que estão mais expostos a eventos de ção comercial. nado montante energético em produtos
obrigação contratual. Por isso, existe um default. Construir uma estrutura de gestão especificados, o que permitiria nego­
mecanismo geralmente incorporado em quantitativa de crédito que use indica- ciação em diversos contratos desde que
contratos de energia que permite a reci- dores padronizados como entrada dos o balanço energético com a con­traparte
procidade em caso de default (cross- processos decisórios é uma boa prática, se mantenha dentro dos limi­tes especi-

62 63
ficados. É importante também acompa- Para viabilizar negócios com con­
nhar e revisar constantemente os limi- trapartes de todos os perfis, organi­
tes operacionais, principalmente pelo zar processos de precificação de opera­
dina­mismo das plataformas de nego- ções baseados no risco de crédito pode
ciação. aumentar substancialmente a liquidez da
Limites operacionais devem ser empresa e fornecer margens de preços
definidos para produtos específicos e atrativas, gerando um upside, desde que
devem considerar, além das caracterís­ mantido o risco de crédito dentro de con­
ticas de crédito da contraparte, o pata­ trole e as carteiras de crédito balancea­
mar de preços de mercado. Por exem­ das.
plo, para uma contraparte com saúde
financeira delicada, em um cenário de A precificação do risco de crédito e
preço teto, sob a ótica do risco de cré­ sua consideração nos processos de ava­
dito, vendas são mais arriscadas que liação de contratos e gestão de risco é
compras. uma boa prática e pode abrir espaço
Armazenar relatórios de limites ope- para novos produtos customizados e
racionais e acompanhar a utilização des- operações estruturadas, que costumam
ses limites para cada contraparte ajuda fornecer mais margens que os produ­
no controle do risco de crédito, princi- tos padrão de mercado.
palmente se existem restrições de alo-
cação máxima para determinado perfil Existem diversas abordagens possíveis
de crédito, independente da empresa para a precificação do prêmio de crédito,
em particular. incluindo a estimação da Perda Esperada,
que depende da Probabilidade de Default,
da Exposição no Default e da Perda Dado
6.f Precificação e risco de crédito Default. Se o valor da perda esperada
 boas práticas relacionadas: 6.17 for embutido no valor do contrato, tem-
se um preço de referência que serve de
Negociar com contrapartes com comparação com preços disponíveis para
baixa qualidade de crédito não é neces­ negociação que permitem avaliar se um
sariamente ruim, a depender do prê­ contrato, após corrigido pelo prêmio de
mio de crédito envolvido na negocia­ção. crédito, está com preços aderentes ao
Para terem liquidez no mercado, empre- mercado.
sas com perfis de crédito piores tendem
a pagar prêmios maiores, quando com-
paradas a empresas financeira­mente
mais robustas.
Por esse motivo, assim como é feito
em diversos mercados, o perfil de cré­
dito é em si um produto, que pode ser
explorado pelos participantes do mer­
cado exigindo, portanto, gestão de risco.

64 65
pilar fundamental

7  Metodologia / risco de liquidez


7.a Liquidez de produtos period), que pode ser expresso em
 boas práticas relacionadas: 7.1, 7.2, 7.3 e 7.4 dias, semanas ou meses, a depender
da característica do produto, do tama-
A liquidez de uma carteira de ener­ nho da posição e das particularidades
gia é uma função das característi­ da empresa, em especial seu acesso
cas de negociação dos produtos que ao mercado (contrapartes dispostas a
a compõem e da liquidez particular da negociar com ela).
boas práticas empresa, que depende de seu acesso Os produtos de maior liquidez e que
ao crédito e forma de atuar no mercado. são mais negociados pelo mercado de
7.1 Separar parcela da carteira exposta à baixa liquidez.
energia são os de curto prazo, com
7.2 Mensurar tempo de fechamento de posições no mercado Forward
Tradicionalmente o risco de liquidez é suprimento até três meses à frente. Em
(holding period) periodicamente.
entendido como o risco de determinada determinados períodos do ano, existe
7.3 Acompanhar eventos de mercado que possam impactar liquidez.
empresa não ter acesso a capital para uma maior demanda para negociação
7.4 Acompanhar quantidade de operações fechadas.
honrar seus compromissos, que pode ser de produtos trimestrais e semestrais,
7.5 Corrigir volatilidade e métricas de risco para considerar risco de liquidez.
gerado por descasamento de caixa, pelo sendo que os produtos com prazos de
estreitamento das políticas de crédito das suprimento superiores a um ano são
instituições financeiras ou por questões menos líquidos, por serem uti­lizados
individuais da empresa. principalmente para atender as neces-
sidades do mercado físico, que possui
No mercado de energia elétrica um processo particular e mais burocrá-
brasileiro, o termo é utilizado prin- tico para negociação.
cipalmente para definir a facilidade Esses produtos de mais longo prazo
de saída de determinada posição e a também são menos voláteis e mais
amplitude de acesso a agentes de mer- influenciados por oferta e demanda
cado, havendo então, em momentos de quando comparados aos produtos de
maior liquidez, uma maior quantidade curto prazo que possuem um grande
de energia sendo negociada em deter- componente de expectativa hidrológica.
minado produto, com diversos atores É uma boa prática entender a liqui­
participando dessas negociações. dez de cada componente que compõe
Sob a luz dessa definição, o risco de as carteiras de energia da empresa, de
liquidez para um produto de energia é forma a traduzir a conjuntura de liqui-
compreendido como a chance de que dez no indicador de tempo de fecha-
o tempo para fechamento e, eventual- mento da posição (holding period), para
mente os prêmios envolvidos, de deter- corri­gir as premissas de marcação-ao-
minada posição sejam incrementados, mer­cado e os cálculos das métricas de
deixando a empresa exposta a varia- risco e sua correspondente interpreta-
ções de preços por um período maior ção em função dessa conjuntura.
que o esperado e aumentando os cus- A liquidez de determinado produto
tos para neutralizar uma posição. está principalmente ligada ao conceito
Por esse motivo costuma-se tra- de Bid-Ask Spread (diferença entre o
duzir o efeito da liquidez no indicador preço de venda e o de compra para o
de tempo de saída da posição (holding mesmo produto). Bid-Ask Spread muito

66 67
amplos, têm como consequência a 7.b Efeito de liquidez nos indicadores ocorrer sempre que notícias relevantes,
redução das quantidades negociadas de risco como mudança de regras regulatórias,
para determi­nado produto, porque se  boas práticas relacionadas: 7.5 eventos de default, entre outros ocor-
exige um prê­mio de risco maior para rem.
tomar determi­nada posição. A materialização da falta de liquidez Nesses cenários, o aumento da aver-
Dessa maneira, é importante acom­ geralmente é percebida por dois efeitos: são ao risco dos agentes, além de redu-
panhar eventos que ocorrem no mer­ aumento no tempo típico para fechar zir a quantidade de negociações obser-
cado, como mudanças regulatórias uma posição de energia (maior holding vadas no mercado, costuma vir acom-
ou problemas de crédito, porque isso period) e incremento no prêmio exi­gido panhado de uma maior exigência de
tende a aumentar a aversão ao risco pelas contrapartes para fechar essa posi- prêmios para negociação. Por isso, é
dos agentes, reduzindo assim a liqui- ção. uma boa prática corri­gir as métricas de
dez. É interessante também organizar risco para considerar esses eventuais
as carteiras em função das caracterís- Em termos práticos, aumentar o hol­ aumentos de prêmios em cenário de
ticas de liquidez, porque a interpreta- ding period é o mesmo que incrementar baixa liquidez.
ção das métricas de risco em carteiras a volatilidade do produto. A forma mais No caso do VaR, uma forma de
com perfis de liquidez muito distintos é utilizada para mensurar quantitativa- fazer isso é somar um componente
menos intuitiva. Isso porque a métrica, mente esse efeito é multiplicar a volati- que reflete esse aumento de prêmio,
desde que corrigida para representar o lidade do produto pela raiz quadrada do que pode ser calculado pela metade
tempo de fechamento da posição, tem número de períodos até fechar a posi- do valor do Bid-Ask Spread do produto,
que ser interpretada como o risco até ção. Assim, no caso de uma volatilidade multiplicado pela quantidade de ener­gia
que a posição seja fechada, e não mais semanal, caso tenha que se esperar associada (em valor absoluto). Assim,
para um período específico. um mês para o fechamento da posição, quando há uma queda na liquidez do
O mercado de energia vem adqui- essa volatili­dade semanal será multipli- produto, o risco de mercado é incre-
rindo cada vez mais profundidade, ou cada pela raiz quadrada de 30 sobre 7 mentado duplamente: pelo aumento
seja, capacidade de absorver maio- (dias do mês por dias da semana) e as do holding period e pelo incremento do
res posições de energia sem modifi- métri­cas de risco (por exemplo, o VaR) prêmio de risco para fechamento da
cações relevantes de preços, princi- irão refletir agora uma nova periodici- posição.
palmente nos produtos de curto prazo. dade, o que nesse caso levaria com que
Nesses casos, o processo de marcação o risco não fosse mais semanal, mas
-ao-mercado não é tão dependente do mensal.
tamanho da posição, mas pode depen- Por esse motivo, existe uma rela-
der do perfil da empresa. Para produ- ção muito estreita entre o risco de liqui-
tos menos líquidos, o tamanho da posi- dez e risco de mercado. Em cenários
ção é um fator que deve ser levado em de liquidez baixa, a volatilidade da car-
consideração na precificação da carteira, teira aumenta porque cresce o período
porque pode haver necessidade de se para fechamento da posição, incremen-
pagar um prêmio relevante para fecha- tando, por sua vez, o risco de mercado.
mento rápido da posição.. Choques de falta de liquidez costumam

68 69
Causa e efeito
Preços INADIMPLÊNCIA componentes do financeiro
INDEXAÇÃO resultado
Sazonalização de Contratos BILATERAL

Outros
Balanço Balanço Resultado Margem Bruta
de Flexibilidades de Contratos Comercial (variável)
Take-or-Pay
SWAP
FONTES

Consumo/Geração
Cliente CURVA tributos de
FORWARD operação

Geração Consumo médio e longo prazo


Térmica PRÓPRIO royalties
Marcação e encargos
Geração Balanço Alocação ao Mercado
Hidráulica Energético Forward FORWARD
gastos admin.
Geração e financeiros
Biomassa
curto prazo
Geração
Eólica Posição
Balanço Geração Balanço CCEE
Fora MRE de Ativos
Geração
EBITDA
Solar

Alocação Marcação
Spot ao Modelo
(SPOT)
Perdas Balanço Garantia
Internas Física no MRE
impostos, depr.
Perdas DIFERENÇAS e amortização
Rede Básica SUBMERCADOS
Geração
FID MRE
(indisponibilidade) PLD

Sazonalização
Liquidação
Transferência
Financeira Lucro
MRE Líquido
CCEE
GSF
Inadimplência
CCEE
70 71
Conclusões

Esta cartilha tem como principal objetivo formar um material de referência vol-
tado totalmente ao mercado de energia elétrica nacional. A intenção foi consolidar
as discussões de boas práticas em gestão de risco, para que esta cartilha seja utili-
zada como guia para formação de profissionais, aprimoramento de estruturas e dis-
seminação da cultura de risco nas empresas do setor.

O sucesso que cada empresa venha a ter na implantação das práticas aqui dis-
cutidas depende principalmente do esforço interno em sensibilzar os tomadores de
decisão da importância que esse assunto tem para o seu negócio e ainda mais da
capacidade de executar, de maneira consistente e regular, os processos de gestão
de risco.

Não pretendemos nesse material esgotar o assunto, nem mesmo discutir cada
particularidade que as empresas têm, mas acreditamos na utilidade dos conteúdos
discutidos e na sua capacidade de provocar os profissionais que se interessam pelo
tema em investir nesse tipo de formação.

Agradecemos o apoio que as empresas e as instituições do setor vem dando ao


longo desses muitos anos, especialmente os comercializadores, que vem estimu-
lando iniciativas inovadoras e contribuindo para que o mercado atinja outros pata-
mares de sofisticação e o desenvolvimento.

Dcide e Abraceel

A presente cartilha possui cunho essencialmente didático e informativo, sendo voltada


à elucidação dos aspectos gerais concernentes à gestão de risco, sem que tenham sido
pormenorizados todos os aspectos relativos ao tema. A Abraceel e a Dcide não se res-
ponsabilizam pelos resultados das decisões e estratégias empresariais que venham a
ser adotadas pelos destinatários desta cartilha.

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Referências Bibliográficas

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74 75
76 77
SHS Quadra 06 Conjunto A R. Barão de Jaguara 1481, Sala
Bloco C, Sala 1707 191, Centro
CEP: 70322-915 CEP: 13015-002
Brasília - DF Campinas - SP
(61) 3223-0081 (19) 2513-4118
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