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TRIBUNAL MARÍTIMO

AR/MDG PROCESSO Nº 29.704/15


ACÓRDÃO

Barcaça “CANDANGO” e o Comboio: R/M “PATO BRAVO” e chata


“IARA”. Abalroação com danos materiais. Erro de manobra. Condenação.

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.


No dia 06 de outubro de 2013, cerca das 17h, na Lagoa Santo Antonio dos
Anjos, Laguna, SC, ocorreu o abalroamento da barcaça “CANDANGO” e o comboio
formado pelo R/M “PATO BRAVO” e chata “IARA”, com danos materiais.
No inquérito, realizado pela Capitania dos Portos de Santa Catarina, foram
ouvidas 6 (seis) testemunhas, realizado laudo pericial e juntada a documentação de praxe.
Josivaldo Pereira Nunes, de nacionalidade brasileira, filho de Antonio Pereira
Nunes e Maria das Dores Cosme, com 41 anos de idade, portador da Carteira de
Identidade nº 13.760.393-4 (SSP-PR), CPF 928.269.544-15, Taifeiro, Carteira nº.
201P2009000164, residente à Rua Tito Calderari, nº 291, Bairro Campina da Siqueira,
Curitiba-PR, telefone: (21) 980735839 / (21) 997166367 / (41) 95666477, relatou em seu
depoimento (fls. 76, 77 e 78), que não se recorda exatamente o dia do acidente em
questão, lembra que era a primeira sexta-feira de setembro de 2013 às 17 horas, sendo o
local o canal de acesso a ponte de Laguna, SC; relatou que no dia do acidente entre o
rebocador “PATO BRAVO” e a barcaça “CANDANGO”, o mesmo trabalhava como
Marinheiro Fluvial de Convés na embarcação “COMANDANTE MARINHO”, e que
todos os dias durante a troca de turno pegava carona na barcaça “CANDANGO” e que
portanto, não exercia nenhuma função a bordo da barcaça; relatou que no momento do
acidente não estava realizando atividade a bordo da barcaça “CANDANGO”; relatou que
no momento do acidente a barcaça “CANDANGO” estava navegando em sentido para o
porto; relatou que no momento do acidente a barcaça “CANDANGO” já havia
ultrapassado o rebocador “PATO BRAVO” e estavam a 30 (trinta) metros de distância do
mesmo; relatou que no momento do acidente havia a bordo da barcaça “CANDANGO”
Ele, o Sr. Josinaldo e o Sr. Silvio, sendo que o Sr. Josinaldo estava no comando; relatou
que o local do ocorrido estava a 50 (cinquenta) metros da curva do canal e 500
(quinhentos) metros do atracadouro; relatou que no momento do acidente a visibilidade
era boa, que havia pouco vento normal e o mar estava levemente mexido; relatou que a
embarcação “CANDANGO” ao sair da ponte em direção ao atracadouro, percebeu ao seu
lado a embarcação “PATO BRAVO” que também se deslocava no mesmo sentido, mas
em menor velocidade, tendo a mesma ficado para trás aproximadamente 30 (trinta)
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metros, de repente sem nenhum sinal ou aviso, aumentou sua velocidade e sem qualquer
oportunidade de reação da embarcação “CANDANGO”, colidiu a balsa que carregava,
com a popa da embarcação “CANDANGO”, tendo esta girado e entrado grande
quantidade de água, tendo caído na água o tripulante Silvio, o qual foi retirado da água
por outras embarcações que vieram do atracadouro para prestar socorro e também
rebocaram a embarcação “CANDANGO” até o atracadouro; relatou que não houve
vítimas; relatou que no momento do acidente eles não estavam fazendo ultrapassagem no
rebocador “PATO BRAVO” e que por isso não fez nenhum contato com o rebocador;
relatou que no local onde houve o acidente o canal das Laranjeiras oferece espaço com
margem de segurança para fazer ultrapassagem; relatou que não houve poluição hídrica
referente ao acidente; relatou que foi a balsa carregada pelo rebocador “PATO BRAVO”
que abalroou a embarcação “CANDANGO” e que no momento do abalroamento,
procurou ficar na parte mais alta da embarcação “CANDANGO”; relatou que amassou
algumas cantoneiras que sustentavam a cobertura da embarcação “CANDANGO” e que
também entrou água no seu porão; relatou que antes do ocorrido não houve falhas no
funcionamento da máquinas propulsoras e auxiliares da barcaça “CANDANGO” mas
depois do ocorrido houve falha por causa da água no porão; relatou que o rádio de
comunicação estava funcionando e que não houve nenhum tipo de comunicação; relatou
que não sabe informar a causa do acidente; relatou que o acidente poderia ter sido evitado
se o comandante da embarcação “PATO BRAVO” teria diminuído a velocidade.
Charles Aparecido Schiavinatto, de nacionalidade brasileira, filho de Antônio
Martins Schiavinatto e Maria Valderiza Pereira, com 41 anos de idade, casado, portador
da Carteira de Identidade nº 58.483.999-6 (SSP-SP), CPF 832.301.149-49, Contramestre
Fluvial, Carteira nº 961P2001012994, residente à Rua Marines Martins Batista nº 100,
Jardim das Palmeiras, Cândido Mota, SP, CEP 19880-000 Tel.: (18) 99730-6161, relatou
em seu depoimento (fls. 95 e 96), que não se recorda ao certo o dia, mas que o local do
acidente em questão foi próximo ao porto no canal das Laranjeiras; relatou que a função
que exercia no momento do acidente em setembro de 2013 era a de comandante do
rebocador “PATO BRAVO”; relatou que não comunicou a Autoridade Marítima sobre o
acidente ocorrido porque o procedimento da empresa Camargo Correia onde trabalhava,
era aguardar os técnicos de segurança da empresa constatarem as responsabilidades e
pelo que ele sabe a Autoridade Marítima não chegou a ser informada; relatou que no
momento do acidente o rebocador “PATO BRAVO” estava com manobra restrita,
empurrando a chata “IARA”; relatou que no momento do acidente o vento estava entre
80 e 85 km/h, céu claro e o mar estava difícil de navegar devido ao vento e vazão da água
que estava empurrando sentido ao mar; relatou que estava descendo o canal com sua

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embarcação de través, quando a embarcação “CANDANGO” veio ultrapassando por
bombordo próximo a uma curva também a bombordo, a embarcação “CANDANGO”
antes de ultrapassar completamente a balsa IARA empurrada pelo rebocador “PATO
BRAVO”, quinou para boreste em direção a proa da balsa IARA e ao perceber a
existência de um trapiche na proa da balsa empurrada pelo rebocador “PATO BRAVO”,
manobrou para bombordo, porem já estava muito próximo e atingiu com sua popa a balsa
“IARA” empurrada pelo rebocador “PATO BRAVO”; relatou que não houve vítimas;
relatou que não tinha como visualizar a barcaça “CANDANGO” na sua popa, pois a ré
do “PATO BRAVO” tem um dormitório que bloqueia a visibilidade, e que o rebocador
não dispõe de equipamento de visualização e que só conseguiu visualizar a barcaça
“CANDANGO” quando ela já estava em seu través; relatou que a barcaça
“CANDANGO” não sinalizou de nenhuma forma que tinha a intenção de ultrapassar;
relatou que no local onde ocorreu o acidente não há espaço para fazer ultrapassagem;
relatou que teve a certeza que a embarcação “CANDANGO” iria abalroar no momento
em que a mesma ainda não tinha completado a ultrapassagem da balsa e guinou para
boreste; relatou que sua atitude no momento em que percebeu que iria abalroar foi a de
dar máquinas a ré; relatou que tem conhecimento do RIPEAM no que diz respeito a
regras de ultrapassagem e acrescentou que embarcações maiores tem preferência em
relação as menores e que além disso é possível a comunicação pelo rádio entre os
comandantes em caso de necessidade; relatou que o rebocador “PATO BRAVO” só
possui o rádio portátil como equipamento de navegação e que o mesmo estava
funcionando; relatou que tentou contato pelo rádio portátil quatro vezes para alertar o
comandante da barcaça “CANDANGO” sobre o risco de abalroamento; relatou que a
barcaça “CANDANGO” teve avaria leve; relatou que não foi informado pelo pessoal em
terra que a barcaça “CANDANGO” estava fazendo uma ultrapassagem por bombordo da
chata “IARA”; relatou que momentos antes do acidente tentou contato quatro vezes com
o comandante da barcaça “CANDANGO”, sendo que não houve resposta, mesmo assim
alertou pelo rádio dizendo “ não entre aí não, que você vai fazer cagada”; relatou que não
houve falha nas máquinas propulsoras e auxiliares do rebocador “PATO BRAVO” antes
e depois do acidente; relatou que sua velocidade no momento do acidente era baixa, em
torno de 6 Km/h; relatou que não houve poluição hídrica decorrente do acidente em
questão; relatou que a possível causa do acidente em questão, ocorrido em o6 setembro
2013, foi a irresponsabilidade do comandante da barcaça “CANDANGO”, que colocou
em risco sua própria vida e a de sua tripulação; relatou que o acidente poderia ter sido
evitado se o comandante da barcaça “CANDANGO” tivesse aguardado o rebocador
“PATO BRAVO” atracar no cais.

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O Laudo Pericial concluiu que a causa determinante foi a imprudência na
condução da embarcação “CANDANGO”, em virtude de não ser observada as regras do
RIPEAM 1972.
No Relatório o Encarregado concluiu que a causa determinante do acidente,
corroborada por todas as evidências extraídas dos Autos de Instrução do Inquérito
Administrativo sobre Acidentes e Fatos da Navegação, que se tratou de
“IMPRUDÊNCIA” (o mesmo que imprevidência, consiste na inobservância de medidas
de precaução e segurança, de conseqüências previsíveis, que se faziam necessárias no
momento, para evitar o acidente ou fato da navegação) do Comandante da Barcaça
“CANDANGO”, Sr. Josinaldo Batista da Silva, pois deixou de tomar medidas
preventivas indispensáveis e obrigatórias previstas no RIPEAM-72, como a
inobservância das regras no que concerne a navegação em canais estreitos, ultrapassagem
e responsabilidades entre embarcações.
De tudo que contém os presentes autos, conclui-se:
I - Fatores que contribuíram para o acidente:
a) Fator Humano - Não contribuiu;
b) Fator Material - Não contribuiu; e
c) Fator operacional - Contribuiu, por “IMPRUDÊNCIA” (o mesmo que
imprevidência, consiste na inobservância de medidas de precauções e segurança, de
consequências previsíveis, que se faziam necessárias no momento, para evitar o acidente
ou fato da navegação) do Comandante da Barcaça “CANDANGO”, Sr. Josinaldo Batista
da Silva, pois deixou de tomar todas a s medidas previstas no RIPEAM-72 para deixar o
caminho livre para o rebocador “PATO BRAVO” que estava com manobra restrita,
empurrando a chata “IARA” com 5 (cinco) caminhões betoneira no canal das Laranjeiras,
que é estreito e com limitações de calado, somando-se as condições meteorológicas no
momento do acidente que eram desfavoráveis, pois estava com ventos de 35 a 42 nós,
tornando a manobra de reboque difícil e insegura para outras embarcações no canal.
A Procuradoria Especial da Marinha (PEM), em uniformidade, ofereceu
representação em face do indiciado, com fulcro no art. 14, alínea “a” da Lei nº 2.180/54.
Citado o representado manteve-se silente, sendo declarada sua revelia.
Na fase de instrução nehuma prova foi produzida.
Em alegações finais, manifestaram-se as partes
É o Relatório.
De tudo o que consta nos presentes autos, verifica-se que a causa
determinante do acidente foi o erro de manobra cometido pelo condutor representado.
O conjunto probatório foi uníssono ao apontar a atitude imprudente e

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imperita do representado, condutor da barcaça, uma vez que descumpriu as regras mais
elementares de segurança.
Restou demonstrado que a barcaça conduzida pelo representado manobrava
descumprindo o RIPEAM, não deixando o caminho livre para o comboio, embarcação
essa com enorme restrição de manobra.
A revelia do representado corrobora as acusações da exordial, que não foram
relatadas.
Diante do exposto, deve ser julgado integralmente procedente a
representação, responsabilizando-se o representado.
Assim,
ACORDAM os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à
natureza e extensão do acidente da navegação: abalroação entre barcaça e comboio, com
danos materiais; b) quanto à causa determinante: erro de manobra, descumprimento do
RIPEAM; e c) decisão: julgar o acidente da navegação, como decorrente da imperícia e
imprudência do representado, condenando-o à pena de repreensão e ao pagamento das
custas, na forma dos artigos 14, alínea “a” e 121, inciso I, da LOTM.
Publique-se. Comunique-se. Registre-se.
Rio de Janeiro, RJ, em 21 de março de 2019.

MARCELO DAVID GONÇALVES


Juiz Relator

Cumpra-se o Acórdão, após o trânsito em julgado.

Rio de Janeiro, RJ, em 13 de setembro de 2019.

WILSON PEREIRA DE LIMA FILHO


Vice-Almirante (RM1)
Juiz-Presidente
PEDRO COSTA MENEZES JUNIOR
Capitão-Tenente (T)
Diretor da Divisão Judiciária
AUTENTICADO DIGITALMENTE

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Assinado de forma digital por COMANDO DA MARINHA
DN: c=BR, st=RJ, l=RIO DE JANEIRO, o=ICP-Brasil, ou=Pessoa Juridica A3, ou=ARSERPRO, ou=Autoridade Certificadora SERPROACF, cn=COMANDO DA MARINHA
Dados: 2019.10.03 16:55:55 -03'00'

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