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O Teorema de Pitágoras

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iv
Caitano de Oliveira Cintra
Renato José de Sobral Cintra

O Teorema de Pitágoras

Recife
2003
c 2003 by Caitano de Oliveira Cintra, Renato José de Sobral Cintra
Copyright °

Editoração Eletrônica (LATEX 2ε ): Renato José de Sobral Cintra.


Capa: Renato José de Sobral Cintra.
Ilustrações (PICTEX, TEX, PostScript e Xfig): Renato José de Sobral Cintra.

Todos os direitos reservados.

Cintra, Caitano de Oliveira & Cintra, Renato José de Sobral

O Teorema de Pitágoras: / Caitano de Oliveira Cintra e Renato José de Sobral


Cintra. — Recife : O Autor, 2003.
93, x folhas : il., fig., tab., diagramas.
Inclui bibliografia, ı́ndice e apêndice.
1. Geometria Euclidiana. I. Tı́tulo.
513.81 CDU (1.ed.) BC-FABEJA

Impresso no Brasil.

1a edição setembro 2003

Tiragem: 1.000 exemplares


À minha esposa, SÔNIA, pela
compreensão e o carinho.

A meu filho, HENRIQUE, pelo


amor que tem pelos estudos.

Aos meus pais, OTAVIANO e


CAMILA (in memoriam), que
não pouparam sacrifı́cios para
que eu pudesse aprender alguma
coisa.

2

A Deus.
viii
Prefácio

A idéia em escrever esse pequeno livro foi apenas para divulgar um


pouco mais o teorema de pitágoras, que, como sabemos, se trata de
um dos mais importantes teoremas da geometria plana. Não são
demonstrações de nossa própria autoria, apenas as refizemos com mais
detalhes para que sejam mais fáceis de ser entendidas.
Também aproveitamos a oportunidade para realizar um pequeno
acompanhamento histórico dos homens que contribuiram com o Te-
orema de Pitágoras. Nunca é demais um pouco de história da ma-
temática. Tomamos também algumas notas sobre as generalizações
do Teorema e suas conexões com outras áreas da matemática.
Não poderı́amos deixar de agradecer ao professor José Vieira da
Costa, da Faculdade de Formação de Professores de Belo Jardim, que
encontrou tempo para uma rápida leitura do texto original livrando-
nos de muitos erros linguı́sticos.

Recife, agosto de 2003.


c.o.c.
r.j.s.c.

ix
x PREFÁCIO
Sumário

Prefácio ix

1 O Teorema 1
1.1 Os Egı́pcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.2 Os Babilônicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.3 As Subalsutras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.4 Pitágoras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.5 Zhoubi suanjing . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

2 Demonstrações 19
2.1 Demonstração #1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.2 Demonstração #2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.3 Demonstração #3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
2.4 Demonstração #4 (Bhaskara) . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.5 Demonstração #5 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
2.6 Demonstração #6 (Euclides) . . . . . . . . . . . . . . . 29
2.7 Demonstração #7 (Garfield) . . . . . . . . . . . . . . . . 33
2.8 Demonstração #8 (Da Vinci) . . . . . . . . . . . . . . . 36
2.9 Demonstração #9 (Papus) . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
2.10 Demonstração #10 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
2.11 Demonstração #11 (Euclides) . . . . . . . . . . . . . . . 41
2.12 Demonstração #12 (Pólya) . . . . . . . . . . . . . . . . 43
2.13 Demonstração #13 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
2.14 Demonstração #14 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
2.15 Demonstração #15 (Perigal) . . . . . . . . . . . . . . . 53
2.16 Demonstração #16 (Heron) . . . . . . . . . . . . . . . . 57
xi
xii SUMÁRIO

3 Se. . . Então. . . 61
3.1 Norma Euclidiana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
3.2 Lei dos Cossenos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
3.3 Irracionalidade da Constante Pitagórica . . . . . . . . . 62
3.4 Cortes de Dedekind . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
3.5 Números Complexos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
3.6 Último Teorema de Fermat. . . . . . . . . . . . . . . . . 71
3.7 Axioma das Paralelas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75

2 85

Referências Bibliográficas 87

Índice Remissivo 89
Capı́tulo 1

O Teorema

“Os números regem o Universo”.


Pitágoras

Nosso propósito é apresentar algumas demonstrações do Teorema


de Pitágoras (em grego, ΠΥΘAΓOPEION ΘEΩPHMA), um dos mais im-
portantes teoremas da Geometria Plana, que pode ser anunciado da
seguinte forma:
“A área do quadrado cujo lado é a hipotenusa de um
triângulo retângulo é igual a soma das áreas dos quadrados
cujos lados são cada um dos catetos desse mesmo triângulo”.
Se indicarmos a hipotenusa por a e os catetos por b e c, temos:

a2 = b2 + c2 .

A demonstração desse teorema pelos pitagóricos foi muito lenta


e penosa. Inicialmente eles conheciam o fato para os triângulos que
têm lados proporcionais a 3, 4 e 5, como também para o triângulo de
lados 5, 12 e 13. Um resultado mais geral foi obtido para o triângulo
retângulo isósceles, que tem a seguinte demonstração.
1
2 CAPÍTULO 1. O TEOREMA

Considere o triângulo retângulo isósceles cuja hipotenusa mede a


e cada um dos catetos mede b.
Construindo quadrados de lados a e b, temos:

⑦ ⑥
B

① ⑧ ⑤
b a

b
A C

Figura 1.1

É fácil verificar que os triângulos numerados são todos congruentes


(Relação de Tales), logo:

área(⑤ + ⑥ + ⑦ + ⑧) = área(① + ②) + área(③ + ④)


∴ a2 = b2 + b2 .

No caso geral, não se conhece a demonstração de Pitágoras (eles


não costumavam escrever seus trabalhos), no entanto, os historiadores
acreditam que foi uma demonstração fundamentada em comparação
de áreas.
Existem muitas demonstrações do Teorema de Pitágoras. Por
exemplo, o professor Elisha Scott Loomis, que lecionou em Cleve-
land, Ohio, E.U.A., publicou um livro intitulado “The Pythagorean
Proposition 1 ” que contém 370 demonstrações diferentes. A primeira
1
Este livro foi reimpresso em junho de 1968 pelo National Council of Teachers
of Mathematics dos E.U.A.
1.1. OS EGÍPCIOS 3

edição desse livro foi publicada em 1927 com 270 demonstrações e


em 1940 saiu a segunda edição com mais 100 demonstrações. Em
nenhuma delas foram utilizados argumentos trigonométricos, pois a
identidade sen2 x + cos2 x = 1 já é um caso particular desse teorema,
sendo utilizados apenas argumentos geométricos e algébricos. Em ver-
dade, é mostrado que é possı́vel se ter um número infinito de provas
por métodos algébricos ou geométricos; e não pode haver prova que
utilize trigonometria, geometria analı́tica e cálculo [18].

1.1 Os Egı́pcios
Muitos anos antes de Cristo, os Egı́pcios conheciam o fato de que
todo triângulo cujos lados medem 3, 4 e 5, necessariamente é um
triângulo retângulo.
O historiador Cantor sugere que eles utilizavam esse fato para cons-
truir ângulos retos. Os usos mais evidentes dos ângulos retos no coti-
diano da sociedade egı́pcia seriam:

• remarcação das terras situadas às margens do rio Nilo, toda vez
que eram inundadas e tinham suas divisas destruı́das;

• construção de paredes verticais em relação ao solo;

• elaboração de cobertas de casas.

Dessa forma, no Antigo Egito, a Geometria era utilizada para fins


práticos da construção — as pirâmides são os exemplos mais expres-
sivos desse fato.
O uso da tripla pitagórica (3, 4, 5), pelos egı́pcios, parece ter sido
pontual. Não há registros do uso de outra tripla, nem para fins práticos
de Engenharia, nem de generalizações. Assim, não há evidências con-
clusivas que nos permitam afirmar que os egı́pcios conheciam de fato
o Teorema, apesar de fazerem uso prático do seu resultado.
4 CAPÍTULO 1. O TEOREMA

1.2 Os Babilônicos

O Teorema de Pitágoras já era conhecido dos babilônicos por volta


de 1900 a 1600 a.C. — época do Primeiro Império Babilônico.

Figura 1.2: Império Babilônico, atualmente Iraque.

A prova disso é encontrada em várias tábuas babilônicas. Em uma


tábua, em particular, encontra-se a seguinte tradução:

“4 é o comprimento e 5 a diagonal. Qual a abertura? Seu


tamanho não é conhecido. 4 vezes 4 é 16. 5 vezes 5 é 25.
Se tomar 16 de 25, restam 9. O que vezes o que devo ter
para obter 9? 3 vezes 3 é 9. 3 é a abertura”.

Outra tábua é ainda mais reveladora. Esta tábua é conhecida pelo


nome de “YBC 7289” (Yale Babylonian Collection, #7289). E tem a
seguinte aparência:
1.2. OS BABILÔNICOS 5

(a) Foto (b) Cópia

30

1,24,51,10
42,25,35

(c) Diagrama
Figura 1.3: A tábua babilônica YBC 7289.

Trata-se de uma tábua circular com a figura de um quadrado com


suas duas diagonais. Em um dos lados do quadrado vê-se o número 30
e nas diagonais os números 1;24,51,10 e 42;25,35. Os mesopotâmicos
usavam o sistema sexagesimal (base 60), assim, convertendo 1;24,51,10
para o sistema decimal, temos:

1; 24, 51, 10(60) =1 × 600 + 24 × 60−1 + 51 × 60−2 + 10 × 60−3


=1,414212963.

Sem dúvida, uma impressionante aproximação para 2 =
1,414213562 . . .. Calculando 30×1; 24, 51, 10, temos o segundo número
6 CAPÍTULO 1. O TEOREMA

42;25,35, ou seja, 30 2.
Resta, entretanto, uma dúvida: Por que foi feita a escolha de um
quadrado de lado 30?
É sabido que os babilônicos atribuı́am grande importância aos
números recı́procos. A escolha do valor 30 é a única que faz com
que a diagonal (42,25,35) seja igual ao recı́proco de (1,24,51,10). Mais

claramente: (42,25,35) ≈ 1/ 2.

1.3 As Subalsutras
Entre 2000 e 1500 a.C. o povo ária invade a região conhecida por
Vale do Pendjab, a noroeste da Índia. Esta vinda é descrita nos Vedas,
livros sagrados que contêm hinos, rituais, poesias e magia. Este texto
sagrado traz grande ênfase ao sacrifı́cio como forma de salvação. Nos
rituais védicos, não raro, animais eram sacrificados e os Vedas traziam
descrições detalhadas de como se proceder a estas cerimônias, com
detalhes dos recitais e cantos a serem executados.
As Subalsutras constituem um apêndice dos Vedas, que continham
instruções minuciosas de como se construir altares. Para que um ri-
tual de sacrifı́cio fosse aceito pelos deuses, o altar deveria ter medidas
exatas. Os sacrifı́cios também tinham objetivo de pedir aos deuses
boas colheitas, saúde e longa vida. Entretanto, para agradar aos deu-
ses, tudo tinha que ser feito com o máximo de atenção possı́vel aos
detalhes. Essa precisão só seria atingida com auxı́lio da matemática.
Assim, as Subalsutras contêm a matématica dos Vedas.
As regras matemáticas contidas nas Subalsutras não são demons-
tradas, apenas relatadas de maneira procedural. As Subalsutras se
aproximavam mais de um manual de construção de formas geométricas
do que de um tratado puramente matemático. Algumas fórmulas eram
exatas e outras aproximações, entretanto, o texto não faz distinção, o
que pode nos levar a acreditar que os autores julgavam estar sempre
1.3. AS SUBALSUTRAS 7

diante de procedimentos exatos.


Muito pouco é sabido dos autores das Subalsutras, a menos de
seus nomes. Os principais textos foram escritos por Baudhayana (800
a.C.), Apastamba (600 a.C.) e Katyayana (200 a.C.).
No documento Subalsutra de Baudhayana temos o primeiro indı́cio
do Teorema de Pitágoras com o seguinte texto (vide também a Fi-
gura 1.4):

“Uma corda esticada sobre a diagonal de uma quadrado


produz uma área de duas vezes a área do quadrado origi-
nal”.

D C F

A B
Figura 1.4

Uma versão mais geral é encontrada no documento Subalsutra de


Katyayana:

“Uma corda esticada sobre a diagonal de um retângulo


produz uma área que os lados vertical e horizontal fazem
juntos.”
8 CAPÍTULO 1. O TEOREMA

D C

A B
Figura 1.5

Na Subalsutra de Apastamba há uma descrição para a construção


de ângulos retos através do uso de triângulos retângulos “racionais”.
Apastamba denominava de “racional” um triângulo em que todos os
lados são racionais. Assim, algumas triplas pitagóricas foram estabe-
lecidas. As mais usadas foram:

(3, 4, 5), (5, 12, 13), (8, 15, 17),


(12, 35, 37), (15, 20, 25), (15, 36, 39).

Uma construção bem interessante está presente na maioria das


Subalsutras. Trata-se de uma construção baseada no próprio Teorema
de Pitágoras e tem o objetivo de construir um quadrado com área
igual à soma das áreas de dois quadrados dados.
Z

S R
D C Y

A B P X Q
Figura 1.6
1.4. PITÁGORAS 9

Observe a Figura 1.6. Sejam ABCD e P QRS dois quadrados


dados. Marque o ponto X em P Q de modo que P X seja igual a
AB. Assim, o quadrado em SX tem área igual à soma das áreas dos
quadrados ABCD e P QRS. E isto é um reflexo do próprio Teorema
de Pitágoras, pois
SX 2 = P X 2 + P S 2 .

Uma outra conquista dos matemáticos das Subalsutras, presente


tanto no texto de Apastamba quanto no de Katyayana, é a apro-

ximação para 2:

“Some a uma unidade sua terça parte e a quarta parte


dessa terça parte menos a trigésima quarta parte dessa
quarta parte”.

Ou seja:
1 1 1 577
1+ + − = ,
3 3 × 4 3 × 4 × 34 408
que dá aproximadamente 1,414215686. Comparado com o valor co-

nhecido de 2 até a nona casa decimal (1,414213562 . . .), vemos que
até a quinta casa decimal o valor contido nas Subalsutras é correto.
Cabe aqui um comentário. Apesar de terem obtido grandes êxitos,
os indianos não desenvolviam a matemática per se, como faziam os
gregos. Eles meramente procuravam formas de resolver problemas
bem especı́ficos de sua religião, sem nunca ter a preocupação de provar
seus resultados ou tentar generalizá-los.

1.4 Pitágoras

Os triângulos cujos lados medem 3, 4 e 5 têm a propriedade de


que 52 = 32 + 42 . Esse fato foi generalizado por Pitágoras para um
triângulo retângulo qualquer.
10 CAPÍTULO 1. O TEOREMA

Figura 1.7: Pitágoras de Samos.

Pitágoras nasceu por volta do ano 570 a.C. em Samos, república


grega. Foi discı́pulo de Tales, além de ter estudado com Ferecides
(Pherekydes) e Anaximandro.

Figura 1.8: Grécia antiga. Destaques das ilhas de Samos e Chios.

É dito que Pitágoras viajou a Mileto quando tinha entre 18 e 20


anos. Lá encontrou Tales, já um ancião, que provavelmente não teve
oportunidade de ensinar-lhe muito. Apesar disso, Tales influenciou
fortemente Pitágoras e despertou-lhe o interesse por matemática e
astronomia. Graças aos conselhos de Tales, Pitágoras empreenderia
uma jornada ao Egito, onde deveria — segundo Tales — se aperfeiçoar
1.4. PITÁGORAS 11

naquelas ciências. Na mesma cidade de Mileto, lecionava um aluno de


Tales — Anaximandro. Pitágoras esteve presente às suas aulas, que
lhe ofereceram novos pontos de vista para a interpretação do mundo.

Anaximandro de Mileto. Anaximandro (610-546 a.C.) foi o pri-


meiro a escrever um tratado em prosa sobre filosofia. Este tratado,
conhecido por Sobre a Natureza, tem importância seminal, pois é o
responsável pelo inı́cio da história da filosofia grega escrita. Não há
mais cópias deste importante trabalho, sendo provável que algumas
cópias estivessem sido abrigadas na Biblioteca de Alexandria, pois há
registros de que Apolodorus (séc. II a.C.) tenha feito uso desse exem-
plar. Outras evidências apontam que a obra de Anaximandro foi parte
da Biblioteca de Taormina, na Sicı́lia, onde um fragmento do texto foi
encontrado contendo o nome de Anaximandro. Apenas uma única pas-
sagem — um excerto — do livro sobreviveu ao teste do tempo e chegou
até nós. Assim mesmo, sob a forma de citação feita por Simplicius no
século VI:

Como as coisas têm sua origem,


Então sua destruição também acontece,
Como é a ordem das coisas;
Executam a sentença uns aos outros
— A condenação por um crime —
Em conformidade com a lei do Tempo.

Esta frase2 é uma das mais discutidas na história da Filosofia [16].


Ao contrário dos babilônicos e egı́pcios que obtiveram seus êxitos
no campo da astronomia observacional, Anaximandro fez marcantes
2
Tradução livre do inglês: Whence things have their origin, \\ Thence also their
destruction happens, \\ As is the order of things; \\ For they execute the sentence
upon one another \\ — The condemnation for the crime — \\ In conformity with
the ordinance of Time.
12 CAPÍTULO 1. O TEOREMA

contribuições à astronomia especulativa. Entre suas conjecturas mais


importantes, podemos destacar:

• que os corpos celestiais traçam órbitas circulares, passando por


debaixo da Terra;

• que a Terra está livre no espaço sem apoio algum (pilares, águas);

• que os corpos celestes podem se localizar um por trás dos outros


(profundidade).

No Egito. Durante sua viagem ao Egito, Pitágoras aprendeu dos


clérigos egı́pcos sobre a caracterı́stica do triângulo (3, 4, 5). Os sa-
cerdotes do Egito associavam ao cateto de comprimento 3 o nome do
deus Osı́ris3 ; ao cateto de comprimento 4, a deusa Ísis4 . E, finalmente,
a hipotenusa designava Hórus5 . Por essa razão, tal triângulo também
é conhecido por triângulo egı́pcio.

Figura 1.9: Mapa da região mediterrânea oriental, evidenciando a


cidade de Crotona.
3
Deus do mundo do além, encarreado de julgar as almas. Foi assassinado e
retalhado pelo seu irmão Set. Hórus e Thot o ressucitaram, com a ajuda de Anúbis
e Ísis.
4
Irmã e esposa de Osı́ris; mãe de Hórus.
5
Deus antropozoomórfico era ilustrado como tendo corpo de homem e cabeça
de falcão. Deus do céu. O Sol e a Lua eram reconhecidos como sendo seus olhos.
1.4. PITÁGORAS 13

Após ter viajado bastante pelo Egito e Sicı́lia, foi muito bem
recebido por Milos, tirano de Crotona, cidade localizada ao sul da
penı́nsula itálica (vide Figura 1.9). E lá, aos 56 anos, criou uma Es-
cola que era uma verdadeira sociedade secreta e tinha forte influência
dos costumes que ele observou no Egito.
Essa Escola tinha como emblema um pentágono estrelado — o
pentagrama. A Figura 1.10 ilusta o pentagrama pitagórico.

Γ EI

Υ A
Figura 1.10: Pentagrama.

As letras gregas nos vértices do pentagrama têm inúmeras inter-


pretações [24]. Uma delas é que cada vértice representa um elemento,
segundo a seguinte tabela:

Υ Υδωρ (Hudor) Água


Γ Γαια (Gaia) Terra
I Iδ²α (Idea) Idéia
EI Eιλη (Eile) Calor solar
A Aηρ (Aer) Ar

Os membros da Sociedade Pitagórica estavam proibidos de divul-


gar as suas descobertas. Não havia propriedade individual. Tudo
pertencia à Sociedade, inclusive as descobertas cientı́ficas.
14 CAPÍTULO 1. O TEOREMA

(a) Moeda (b) Medalhão (c) Moeda


Figura 1.11: (a) Pentagrama numa moeda de bronze de Pitana, (b)
Medalhão com o perfil de Pitágoras gravado entre 395 e 410 d.C., (c)
Observe a inscrição em grego: ΠΥΘAΓOPAΣ (Pitágoras).

A admissão na Escola era baseada em regras exigentes, incluindo


um perı́odo probatório de cinco anos e a exigência de total silêncio
perante os membros mais antigos da Sociedade Pitagórica. Os alunos
dessa Escola eram divididos em dois grupos: os “ouvintes” e os “ma-
temáticos”. Os “ouvintes” só passavam à categoria de “matemáticos”
após três anos de rigorosos estudos. Somente aos “matemáticos” eram
revelados os verdadeiros segredos dessa Sociedade.
A expressão “Teorema de Pitágoras” não significa necessariamente
que foi o filósofo e matemático grego Pitágoras que o descobriu e o
demonstrou, mas que foi a sua Escola.
A Escola Pitagórica tinha a concepção de que tudo no universo
era regido e explicado pelos números (números naturais). Para seus
membros, a razão entre dois segmentos era sempre dada pelo quoci-
ente de dois números naturais, isto é, dois segmentos quaisquer eram
sempre múltiplos de um mesmo segmento. Ao verificarem que no
triângulo retângulo isósceles de catetos unitários, a hipotenusa não
era um número natural, ficaram tão surpresos que procuraram escon-
der esse fato. Entretanto, o amor pela verdade fez com que eles não
só o aceitassem, como o divulgassem.
1.4. PITÁGORAS 15

Foram os pitagóricos os primeiros a fazer a distinção entre números


pares e ı́mpares. Deve-se também a eles a demonstração de que a soma
dos ângulos internos de um triângulo é 180◦ , bem como a criação das
escalas musicais.
Os pitagóricos dividiam sua doutrina em quatro partes:

1. Os números absolutos (Aritmética);

2. Os números aplicados (Música);

3. As grandezas em repouso (Geometria);

4. As grandezas em movimento (Astronomia).

Conheciam o cubo, o tetraedro, o octaedro, o icosaedro e o dode-


caedro que eles chamavam de sólidos “cósmicos”, por serem formados
cada um por justaposição de um mesmo polı́gono regular.
Por volta de 513 a.C., Pitágoras viaja a Delos a fim de tratar de
seu velho mestre, Ferecides, que estava bastante enfermo.
Em 510 a.C., Crotona ataca e vence a cidade vizinha de Sibaris
e, aparentemente, Pitágoras tem algum envolvimento nessa disputa.
Alguns anos mais tarde, em 508 a.C., Cilon, um nobre de Crotona que
não foi admitido na Sociedade, ataca os pitagóricos, forçando Pitágoras
a fugir para Tarento e em seguida para Metaponto.
O que ocorre após esse ponto é envolto em dúvidas. Alguns acre-
ditam que o governo de Milos foi derrubado, forçando Pitágoras a
fugir e cometer suicı́dio, provavelmente por causa dos ataques a sua
Sociedade, por volta do ano 500 a.C.
Outra vertente é que o ataque de Cilon foi um evento menor e
Pitágoras haveria retornado a Crotona e vivido bem até 480 a.C.,
vindo a falecer, em idade avançada, por volta de 475 a.C.
Em 460 a.C., a Sociedade recebeu outro ataque violento e várias de
suas casas foram destruı́das. Há relatos de que 50 a 60 pitagóricos fo-
ram assassinados num único ataque e que muitos fugiram para Tebas.
16 CAPÍTULO 1. O TEOREMA

A Sociedade, inicialmente apolı́tica, alinha-se politicamente e se frag-


menta em facções. O fato é que a Sociedade Pitagórica ainda existiu
por mais de 4 ou 5 séculos, espalhando-se por outras cidades.

1.5 Zhoubi suanjing


O método de calcular a hipotenusa de um triângulo retângulo
também era conhecio na China antiga. Dois trabalhos sobre ma-
temática e astonomia escritos do perı́odo de Han trazem o Teorema:
o Zhoubi suanjing 6 , a compilação mais importante, e o Jiuzhang su-
anshu 7 , um volume de nove capı́tulos, é o livro de Matemática da
China Antiga mais influente.
De acordo com David E. Joyce [14], a prova mais antiga do Teorema
de Pitágoras está no Zhoubi. O Jiuzhang é um livro bem eclético.
Observe os seus assuntos:

Capı́tulo 1 Medição de áreas de figuras planas, cálculos de m.m.c. e


m.d.c..

Capı́tulo 2, 3 e 6 Proporções, distribuições proporcionais, impostos


(taxas).

Capı́tulo 4 Sobre o problema de dado o volume ou área, encontrar


os lados. Contém algoritmos para extração de raiz quadrada e
cúbica.

Capı́tulo 5 Volumes de sólidos. Usa aproximações como π ≈ 3.

Capı́tulo 8 Matrizes retangulares, algoritmo de eliminação para solu-


ção de sistemas com três ou mais equações lineares. Regras para
sinais de números.
6
Uma tradução livre seria: “O Clássico Aritmético do Gnômon e dos Caminhos
Circulares do Céu”. Manteremos o nome original.
7
“Nove Capı́tulos da Arte Matemática.”
1.5. ZHOUBI SUANJING 17

Capı́tulo 9 Triângulos retângulos, aplicações do Teorema de Pitá-


goras.

Estas obras são datadas de aproximadamente 100 a.C. a 100 d.C na


dinastia Han.
O Zhoubi suanjing mostra figuras importantes conhecidas como
“diagrama da hipotenusa”. Acredita-se que este diagrama não estava
no texto original, mas foi adicionado numa edição comentada por Zhao
Shuang por volta do século III d.C.
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. . ...
. .
...... .
.... ..
.... ...
.... ...
....
.... ...
.... ...
.... ..
.... ....
....
.... ...
.... ...
......

Figura 1.12: O Diagrama da Hipotenusa.

O diagrama é construı́do como se segue. Constrói-se, adjacente


aos lados de uma quadrado de lado unitário, quatro retângulos de
dimensões 3 × 4, resultando num quadrado de lado sete. As quatro
diagonais dos retângulos formam um novo quadrado, cuja área é dada
por µ ¶
1
7×7− 4× ×3×4 = 25.
2
| {z }
Área dos quatro triângulos

Desse fato concluı́mos que cada um dos lados desse quadrado tem
medida igual a 5. Portanto, o quadrado inclinado tem lado 5 e seu
lado é a diagonal dos retângulos originais de lados 3 e 4.
Zhao Shuang se referia ao diagrama de modo bem geral, explici-
tando como cada lado, hipotenusa e quadrados poderiam ser encon-
trados em termos dos outros [13].
18 CAPÍTULO 1. O TEOREMA
Capı́tulo 2

Demonstrações

“Se ‘os números regem o Universo’ como disse Pitágoras,


eles apenas nos levam ao trono, pois nós os regemos”.
Eric Temple Bell (1883–1960)

Apresentaremos algumas provas interessantes do Teorema de Pitá-


goras, tanto do ponto de vista matemático quanto dos detalhes histó-
ricos por trás das provas. São mostradas provas oriundas de mentes
matemáticas brilhantes, tais como Bhaskara e Pólya; e também de
matemáticos amadores, como o ex-presidente americano J .A. Garfield
ou do entusiasta pelas ciências H. Perigal.
De modo geral, as provas do Teorema de Pitágoras se dividem em
três tipos:

• por áreas;

• por similaridade;

• por dissecção.

As provas por área dependem fundamentalmente dos teoremas de


áreas dos paralelogramos e triângulos: paralelogramos de mesmas base
19
20 CAPÍTULO 2. DEMONSTRAÇÕES

e altura têm mesma área, assim como triângulos. Já as provas por si-
milaridade dependem das relações de proporcionalidade entre os lados
de triângulos similares. E, finalmente, temos as provas por dissecção,
que estão ligadas ao fato de que os ângulos agudos de um triângulo
retângulo são complementares (somam 90◦ ) [2].
As provas do Teorema permeiam várias civilizações durante diver-
sas épocas. Como vimos no capı́tulo anterior, de maneira indepen-
dente, vários povos chegaram à prova do Teorema. A Figura 2.1 traz
alguns excertos de provas que percorreram o mundo e os tempos.

(a) Árabe (b) Chinês (c) Grego

(d) Latim (e) Francês (d) Inglês


Figura 2.1: Prova do teorema por várias civilizações.

2.1 Demonstração #1

Considere o triângulo retângulo ABC (Figura 2.2), onde a, b e c


são os comprimentos dos lados desse triângulo e h é o comprimento
da altura relativa à hipotenusa BC.
2.2. DEMONSTRAÇÃO #2 21

c b
h

n m
B D a C
Figura 2.2

1. Os ângulos AB̂C e C ÂD têm como complemento o ângulo B ÂD,


logo são congruentes. Disso resulta que AB̂C ≡ DÂC.

2. Os triângulos DAC e DBA são semelhantes ao triângulo ABC


(três ângulos congruentes). Dessas semelhanças temos

b m c n
= e = , e daı́ b2 = am e c2 = an.
a b a c

3. Somando membro a membro essas duas últimas igualdades e


observando na figura que a = m + n, obtemos

b2 + c2 = am + an = a(m + n) = a · a = a2 .

2.2 Demonstração #2

No triângulo retângulo ABC, construa sobre seus lados quadrados


BCDE, ACF G, ABHI e o segmento AJ, como mostra a Figura 2.3.
22 CAPÍTULO 2. DEMONSTRAÇÕES

F
I
A

b
c
H
n m
B C

a R2 R1 a

E J D
Figura 2.3

1. Nesta figura, R1 é um retângulo cujos lados medem a e m, e R2


é outro retângulo de lados medindo a e n.

2. É claro que área(BCDE) = área(R1 ) + área(R2 ), ou seja a2 =


am + an.

3. Do item 2 da Demonstração #1, temos que am = b2 , an = c2 , e


daı́
a2 = b2 + c2 .

2.3 Demonstração #3

Seja ABCD um quadrado de lado L. Tome b e c de modo que


b + c = L.
2.3. DEMONSTRAÇÃO #3 23

1. Forme os triângulos ②, ③, ④, ⑤ e o quadrado ① como na Fi-


gura 2.4.

b L c
A B
② ③
c a

④ ⑤
D C
Figura 2.4

2. Esses quatro triângulos são todos congruentes entre si. E, por-


tanto, têm a mesma área, dada por

1
bc. (Verifique!)
2

3. Concluı́mos da Figura 2.4 que área(ABCD) = área(①)+4 área(②),


ou seja,
1
L2 = a2 + 4 bc = a2 + 2bc. (2.1)
2

4. O mesmo quadrado ABCD pode ser dividido como mostra a


Figura 2.5.
24 CAPÍTULO 2. DEMONSTRAÇÕES

A b c B

c
⑥ ⑦

b ⑧ ⑨

D C
b c
Figura 2.5

Observando a Figura 2.5, temos que

L2 = área(⑥) + área(⑦) + área(⑧) + área(⑨)


=bc + c2 + b2 + bc.

Ou seja,
L2 = b2 + 2bc + c2 . (2.2)

Comparando as equações 2.1 e 2.2, temos

a2 + 2bc = b2 + 2bc + c2 .

Donde conclui-se que

a2 = b2 + c2 .

Observação. Na época de Pitágoras ainda não era conhecido o de-


senvolvimento de (b + c)2 . No entanto, esse resultado pode ser obtido
facilmente por comparação de áreas, como fizemos na Figura 2.5. Isto
2.4. DEMONSTRAÇÃO #4 (BHASKARA) 25


área(ABCD) = L2 = (b + c)2 . (2.3)

Comparando as Equações 2.2 e 2.3, temos

(b + c)2 = b2 + 2bc + c2 .

2.4 Demonstração #4 (Bhaskara)

Bhaskara é também conhecido pelo nome de Bhaskara II, devido


a existência de um outro matématico homônimo. Nascido em 1114,
em Vijayapura, Índia, Bhaskara é conhecido em sua terra natal pelo
nome de Bhaskaracharya — Bhaskara, o Professor. Filho de astrólogo
eminente, Bhaskara assumiu o posto de chefe no Observatório As-
tronômico em Ujjain, o centro avançado de matemática indiana na
época. Neste mesmo Observatório trabalhou Brahmagupta (introdu-
tor do conceito de numero zero e de aritmética com números negati-
vos).
O trabalho de Bhaskara é concentrado em seis livros. O Lilavati
(A Beleza) sobre matemática de modo geral; o Bijaganita (Extração
de Raı́zes) sobre Álgebra; o Siddhantasiromani sobre astronomia ma-
temática e sobre esferas; o Vasanabhasya que são os comentários de
Bhaskara sobre o Siddhantasiromani; o Karanakutuhala (Cálculo das
Maravilhas Astronômicas) que é uma versão reduzida do Siddhanta-
siromani e, finalmente, Vivarana que são comentários sobre o livro
Shishyadhividdhidatantra de Lalla. Lalla foi astrônomo e seu livro é
dividido em duas partes: Sobre o Cálculo da Posição dos Planetas e
Sobre a Esfera.
Bhaskara foi capaz de relizações notáveis como a expansão dos
conceitos de aritmética com o número zero de Brahmagupta. Bhaskara
comentou:
26 CAPÍTULO 2. DEMONSTRAÇÕES

Uma quantidade dividida por zero torna-se uma com


denominador zero. Esta fração é chamada de quantidade
infinita. Nesta quantidade consistindo daquela que tem
zero como divisor, não existe alterações, assim muito pode
ser inserido [adicionado] ou extraı́do [subtraı́do]. . .

Bhaskara estava tentando resolver n/0 = ∞, obviamente sem sucesso.


Os matemáticos indianos estavam presos ao paradigma de que esta
equação poderia ser resolvida!
Outro resultado importante devido a Bhaskara são as fórmulas do
seno da soma e da diferença de dois arcos:

sen(a + b) = sen a cos b + cos a sen b


sen(a − b) = sen a cos b − cos a sen b.

No nosso trabalho, estamos preocupados com um outro feito de


Bhaskara: a prova do Teorema de Pitágoras!
Considere o triângulo retângulo ABC com hipotenusa a e cate-
tos b e c. Construa um quadrado BCDE de lado a, como mostra a
Figura 2.6.
C D

b
a

A
c

B E
Figura 2.6

1. A partir da Figura 2.6 construa a Figura 2.7.


2.5. DEMONSTRAÇÃO #5 27

C D

b
a

A
c

B E
Figura 2.7

2. Os quatro triângulos sombreados são congruentes e cada um tem


área 12 bc, enquanto o quadrado Q tendo por lado b − c, tem área
(b − c)2 .

3. Assim podemos escrever área(BCDE) = área(Q)+4 área(ABC),


ou seja,
1
a2 = (b − c)2 + 4 bc.
2

4. Desenvolvendo o segundo membro dessa última equação obtemos

a2 = b2 + c2 .

2.5 Demonstração #5

Considerando o triângulo retângulo ABC de lados a, b e c (Fi-


gura 2.8), construı́mos a Figura 2.9, onde BCDE é um quadrado de
lado a.
28 CAPÍTULO 2. DEMONSTRAÇÕES

a
b

A c B
Figura 2.8

C
F

b a G E

A c B H I
Figura 2.9

1. Os quatro triângulos sombreados são congruentes entre si, resul-


tando que
AB = EI = GE = DF = c.
2.6. DEMONSTRAÇÃO #6 (EUCLIDES) 29

2. Comparando as áreas da Figura 2.9, temos

área(ACF H) + área(GEIH) =
= área(BCF GEB) + 2 área(ABC)
= área(BCDE).

Concluı́mos dessa equação que

b2 + c2 = a2 .

2.6 Demonstração #6 (Euclides)


Pouco se sabe a respeito de Euclides de Alexandria. Até mesmo
os locais e datas de nascimento e morte são incertos, acredita-se que
Euclides nasceu por volta de 325 a.C. e faleceu, aproximadamente em
265 a.C., em Alexandria. A Euclides é atribuı́da uma das maiores
obras da matemática: os Elementos.

Figura 2.10: Euclides de Alexandria.

Elementos. O mais famoso trabalho de Euclides foi o tratado Ele-


mentos. Euclides reuniu na sua obra toda matemática conhecida até o
30 CAPÍTULO 2. DEMONSTRAÇÕES

momento e este trabalho foi a base do ensino matemático por mais de


2000 anos, e é na realidade uma compilação e não uma obra original.
Elementos são divididos em 13 livros. Os seis primeiros volumes
tratam de geometria plana, os tomos de sete a nove contemplam a Teo-
ria dos Números, o livro dez lida com os números irracionais (Theaetus
e Eudoxus) e o restante se dedica à geometria espacial.
O ponto marcante do trabalho de Euclides é de ter organizado
o conhecimento, enunciando claramente os teoremas e provando os
resultados. O método de prova por redutio ad absurdum da escola
aristotélica foi fundamentalmente difundido por Euclides.
Há tanta névoa acerca da figura de Euclides que três hipóteses são
levantadas:

• Euclides existiu de fato; foi um personagem histórico que escre-


veu os Elementos

• Euclides foi o matemático principal de um time de matemáticos


de Alexandria, que contribuı́ram para a execução dos Elementos.
Esses matemáticos teriam continuado a usar o nome de Euclides
mesmo após sua morte.

• Euclides não existiu e as obras hoje atribuı́das a Euclides são


fruto de um time de matemáticos que assumiram o nome Eu-
clides do personagem histórico Euclides de Megara, filósofo, que
viveu 100 anos antes. (Algo parecido foi feito na França pelo
grupo Boubarki [1940–1950].)

Sobre a vida de Euclides, Proclo, o último grande filósofo grego,


que viveu cerca de 450 d.C. citou:

“Não muito mais jovem que estes [alunos de Platão], é


Euclides, que compilou os ‘Elementos’, pondo em ordem
muitos teoremas. Euclides aperfeiçoou muitos teoremas
2.6. DEMONSTRAÇÃO #6 (EUCLIDES) 31

de Theaeteus e também trouxe demonstrações irrefutáveis


para coisas que foram apenas fracamente ‘provadas’ por
seus predecessores. Este homem viveu na época do pri-
meiro Ptolomeu; Arquimedes, que seguiu de perto o pri-
meiro Ptolomeu, faz menção a Euclides, e ademais diz que
Ptolomeu certa vez lhe perguntou [a Arquimedes] se existe
um caminho mais curto para estudar Geometria que não
seja pelos Elementos, a que Arquimedes respondeu que não
há estrada real até a Geometria. Ele [Euclides] é então mais
jovem que o cı́rculo de Platão e mais velho que Erastótenes
e Arquimedes [. . . ].”

O nosso maior interesse porquanto está na Proposição 47 do Livro


Um de Elementos:

“Em um triângulo retângulo, o quadrado do lado oposto


ao ângulo reto é igual a soma dos quadrados dos lados que
formam o ângulo reto”.

Esta proposição até então sem nome especı́fico foi batizada de


Teorema de Pitágoras por Proclo séculos após Pitágoras e séculos
após Euclides.
Seja o triângulo retângulo ABC, de lados medindo a, b e c (Fi-
gura 2.11).
A

b
c

B a C
Figura 2.11

1. Construa a figura abaixo (Figura 2.12), onde BCKF é um qua-


drado de lado a, ALM C é um quadrado de lado b, ABGH é um
32 CAPÍTULO 2. DEMONSTRAÇÕES

quadrado de lado c e AD é a altura do triângulo ABC, relativa-


mente à hipotenusa BC.

2. Prolongando-se DA e GH, determinamos o ponto J; prolon-


gando-se F B, determina-se o ponto I sobre o segmento HJ e
prolongando-se AD, determina-se E sobre F K.

A b

G
c
B D C

F E K
Figura 2.12

3. AB̂C = H ÂJ = C ÂD (AB̂C e H ÂJ são complementos do


ângulo AĈB) e como AB = AH, vem que os triângulos ABC e
2.7. DEMONSTRAÇÃO #7 (GARFIELD) 33

HAJ são congruentes. Desse fato resulta que DE = BC = AJ.

4. O retângulo BDEF e o paralelogramo ABIJ têm a mesma base


DE e a mesma altura BD, portanto têm a mesma área, isto é,

área(BDEF ) = área(ABIJ). (2.4)

5. Também o quadrado ABGH e o paralelogramo ABIJ têm a


mesma base AB e a mesma altura BG, logo têm a mesma área,
isto é,
área(ABGH) = área(ABIJ). (2.5)

6. Das Equações 2.4 e 2.5, concluı́mos que

área(ABGH) = área(BDEF ).

7. Com um raciocı́nio análogo, podemos mostrar que área(DCKE) =


área(ACM L)

8. Desses dois últimos passos, podemos escrever

área(BCKF ) = área(DCKE) + área(BDEF )


= área(ABGH) + área(ACM L).

9. E, finalmente, resulta a validade do Teorema de Pitágoras, isto


é,
a2 = b2 + c2 .

2.7 Demonstração #7 (Garfield)


Republicano, James Abram Garfield assumiu a presidência dos
E.U.A. em quatro de março de 1881 e seu governo terminou subi-
tamente em apenas 200 dias.
34 CAPÍTULO 2. DEMONSTRAÇÕES

Em ida a uma reunião de classe no Colégio Williams (Williams


College) em Massachusets, Garfield foi assassinado com dois tiros por
Charles J. Guiteau (1841–1882) na estação ferroviária de Washington,
d.c. Um dos tiros apenas feriu o presidente, entretanto, o outro se
alojou nas costas e a medicina da época não foi capaz de salvá-lo (não
se dispunha de raios-x e anti-sépticos). Após 80 dias de agonia, o pre-
sidente faleceu, sendo um dos quatro presidentes americanos assassi-
nados durante o mandato1 . Seu assassino, Guiteau, que era partidário
da facção republicana que foi derrotada na Convenção Nacional Re-
publicana, atirou em Garfield dizendo: “Agora Arthur é presidente!”.
Chester Alan Arthur era o vice de Garfield. . .

Figura 2.13: J. A. Garfield, 20o presidente dos E.U.A.

Entretanto, o presidente Garfield não entrou para a Matemática


pela sua tragédia pessoal, mas sim pela sua prova do Teorema de
Pitágoras elaborada em 1876.
Seja ABC um triângulo retângulo de lados a, b e c (Figura 2.14).

1
Os outros foram Lincoln (um tiro), McKinley (dois tiros) e Kennedy (três tiros).
2.7. DEMONSTRAÇÃO #7 (GARFIELD) 35

a
c

A b C
Figura 2.14

1. Prolongue AC para obter o ponto D de forma que se tenha


CD = c.

2. Construa por D o segmento DE, que seja perpendicular a AD


e tal que DE = b.

3. Unindo os pontos B e E, obtemos o trapézio ABED de bases


AB = c; ED = b e altura b + c (Figura 2.15).

a E
c
a
b

A b C c D
Figura 2.15

4. Nessa figura, observamos que área(ABED) = área(ABC) +


área(BCE) + área(CDE), ou seja,

b+c 1 1 1
· (b + c) = bc + a2 + bc,
2 2 2 2
36 CAPÍTULO 2. DEMONSTRAÇÕES

que efetuando os cálculos, resulta no que queremos, isto é,

a2 = b2 + c2 .

2.8 Demonstração #8 (Da Vinci)

Leonardo Da Vinci nasceu na Itália em 15 de abril de 1452.


Durante um bom tempo ficou a serviço do Duque de Milão, exer-
cendo a função de pintor e engenheiro, sendo considerado um enge-
nheiro mecânico e hidráulico. Nessa época, começou a ter os primeiros
contatos com Geometria, estudando os trabalhos de Leon Battista e Pi-
ero della Francesca (Sobre a Pintura em Perspectiva), aprofundando-se
com o estudo de Euclides e Paccioli.

Figura 2.16: Auto-retrato de Leonardo da Vinci

Com tantas contribuições, Da Vinci ainda nos forneceu mais uma


outra prova para o Teorema de Pitágoras. Vamos analisá-la!
Considere um triângulo retângulo ABC, de lados a, b e c.

1. Construa quadrados BCDE, ABF H e ACGI sobre os lados


desse triângulo.
2.8. DEMONSTRAÇÃO #8 (DA VINCI) 37

B C
Figura 2.17

2. Construa também o triângulo EDJ, congruente ao triângulo


CBA e determine os segmentos HI, F G e AJ, como mostra
a Figura 2.18.

H
A

b
c
F

B L a C

M
E D

J
Figura 2.18

3. Os quadriláteros ACDJ e CBF G são congruentes (CD = BC,


DJ = AB = BF , EJ = AC = CG, AĈD = B ĈG e C D̂J =
38 CAPÍTULO 2. DEMONSTRAÇÕES

C B̂F ). Também são congruentes os quadriláteros ABEJ e


F HIG. Resulta, portanto, que área(ACDJ) = área(CBF G)
e área(ABEJ) = área(F HIJ), e daı́ área(F HIGCB) =
área(ACDJEB).

4. Como os triângulos HIA, EDJ e BCA são congruentes, temos

área(CDM L) = área(ACG) + área(ABF ) (2.6)


área(BLM E) = área(AF H) + área(AIG). (2.7)

5. Das Equações 2.6 e 2.7, temos que

área(BCDE) = área(ACGI) + área(ABF H),

ou seja,
a2 = b2 + c2 .

2.9 Demonstração #9 (Papus)


Pouco se sabe sobre Papus de Alexandria e acredita-se que tenha
nascido em 290 d.C. e morrido em 350. Mas o que é certo é a sua
obra máxima Synagoge (A Coleção Matemática ou, simplesmente, A
Coleção) (aprox. 340 d.C.). Nesse trabalho, Papus reuniu em oito
volumes uma coletânea diversificada de resultados. A esse trabalho
enciclopédico, foram acrescido seus próprios comentários, explicações
e ampliações.
Os oito tomos da Coleção podem ser estudados independente-
mente. O Livro Um trata sobre Aritmética e no segundo volume há
uma série de resultados de Apolônio. O Livro Três é sobre a construção
de médias aritméticas, geométricas e harmônicas. Papus mostra que
qualquer poliedro regular pode ser inscrito em uma esfera. O quarto
volume é sobre curvas com muitas contribuições de Arquimedes (287–
2.9. DEMONSTRAÇÃO #9 (PAPUS) 39

212 a.C.). É nesse exemplar que está o célebre exemplo das abelhas:

“As abelhas, então, sabem desse fato que lhes é útil,


que o hexágono é maior que o quadrado e o triângulo; e
não conterá mais mel para um mesmo gasto de material
para a construção de cada [hexágono]. Mas nós, tendo
mais sabedoria que as abelhas, investigaremos um pro-
blema um tanto maior, nominalmente, o de todas figuras
planas equiláteras e equiangulares tendo igual perı́metro,
que aquele que tiver maior número de ângulos é sempre
maior. . . ”

O exemplar cinco traz muitos resultados sobre sólidos e suas rela-


ções entre volume e área. Os livro seis e sete são um apanhado de
resultados de outros livros (Euclides, Erastóstenes, Apolônio, Ptolo-
meu, etc). O último exemplar é sobre mecânica.
A prova do Teorema de Pitágoras mostrada aqui é uma genera-
lização. Considere um triângulo qualquer ABC, de lados a, b e c,
e construa sobre os lados desse triângulo os paralelogramos ABF G,
ACDE e BCIJ (Figura 2.19).
H
G
E

K L
F A
D
c b

M
B C
a

J I
N
Figura 2.19
40 CAPÍTULO 2. DEMONSTRAÇÕES

1. Os paralelogramos ABF G e ACDE são arbitrários, enquanto o


paralelogramo BCIJ é construı́do da seguinte forma:

i. Prolonga-se DE e F G para determinar o ponto H.


ii. Prolongando-se HA, marca-se sobre BC o ponto M .
iii. Prolongando-se HM , determinamos o ponto N de modo que
M N = HA.
iv. O paralelogramo BCIJ é construı́do tomando-se CI para-
lelo a M N e sendo CI = M N .

2. Os trapézios BM HK e BAN J têm a mesma área, pois, M H =


AN , BK = BJ e têm a mesma altura. Também os trapézios
CM HL e CAN I têm a mesma área (Justifique!).

3. Os paralelogramos AHKB, ABF G e BM N J têm a mesma área.


Também têm a mesma área os paralelogramos CAED, CAHL
e CM N I.

4. Dos passos 2 e 3, concluı́mos que

área(BCIJ) = área(ACDE) + área(ABF G).

5. No caso particular em que o triângulo ABC é retângulo em A e os


paralelogramos BCIJ, ABF G e ACDE sejam quadrados, temos
área(BCIJ) = a2 , área(ACDE) = b2 e área(ABF G) = c2 .

6. Conseqüentemente,
a2 = b2 + c2 .

2.10 Demonstração #10


Seja o triângulo retângulo ABC, de lados a, b e c (Figura 2.20).
2.11. DEMONSTRAÇÃO #11 (EUCLIDES) 41

a
b

A c B
Figura 2.20

1. Considerando os lados desse triângulo como vetores, temos que

−−→ −→ −−→
a = kBCk, b = kACk e c = kBAk.

Além disso,

−−→ −−→ −→ −−→ −→


BC = BA + AC e BA · AC = 0.

2. Temos também que

−−→ −−→ −→
kBCk2 = kBA + ACk2
−−→ −→ −−→ −→
= (BA + AC) · (BA + AC)
−−→ −→
= kBAk2 + kACk2 .

3. E portanto, concluimos que

a2 = b2 + c2 .

2.11 Demonstração #11 (Euclides)

Seja ABC um triângulo retângulo de lados a, b e c (Figura 2.21).


42 CAPÍTULO 2. DEMONSTRAÇÕES

b c

C a B
Figura 2.21

1. Construa a Figura 2.22, onde BCED, ACIH e ABF G são qua-


drados sobre os lados desse triângulo e AJ paralelo a BE.

I G

C L B

D J E
Figura 2.22

2. Os triângulos ICB e ACD são congruentes (IC = CA, CD =


CB, I ĈB = AĈD = 90◦ + AĈB), logo têm a mesma área.
2.12. DEMONSTRAÇÃO #12 (PÓLYA) 43

1
3. Observe que área(ICB) = 2 área(ICAH) e área(ACD) =
1
2 área(CDJL), donde obtemos

área(ICAH) = área(CDJL).

4. Analogamente, área(BF GA) = área(BLJE).

5. área(BCDE) = área(CDJL) + área(BLJE) = área(ICAH) +


área(BF GA).

6. Como área(BCDE) = a2 , área(ICHA) = b2 e área(BF GA) =


c2 , temos
a2 = b2 + c2 .

2.12 Demonstração #12 (Pólya)


George Pólya (1887–1985) nasceu na Hungria e começou seus es-
tudos em Direito. Entretanto, logo achou as ciências enfadonhas, mu-
dando seus estudos para literatura e filosofia. E para entender com
mais amplitude os conceitos filosóficos, acabou mudando novamente
de curso, recebendo seu doutorado em Matemática no ano de 1912.

Figura 2.23: George Pólya.


44 CAPÍTULO 2. DEMONSTRAÇÕES

Atuou na Europa por muito tempo, trabalhando em várias áreas da


Matemática, como Teoria dos Números, Probabilidade e Astronomia.
Por volta de 1914, Pólya é convocado para a Guerra, algo que ele não
aceitaria, pois havia adotado a doutrina filosófico-pacifista de Russell.
Temendo ser preso por anti-patriotismo, Pólya se muda para os Es-
tados Unidos. Só retornaria à Hungria depois da II Guerra Mundial.

Na América, em 1945, ele publica o seu mais famoso livro: How


to Solve It 2 . Pólya nos ensina: “Se você não consegue resolver um
problema, então há um mais fácil que você também não consegue
resolver: encontre-o!” Nesse livro, Pólya trata sobre estratégia de
resolução de problemas. Os quatro passos de Pólya para a solução de
um problema são:

1. Entender o problema: Checar a possibilidade de solução, poder


explicar o problema.

2. Fazer um plano de ataque: Já viu o problema antes? Já viu


uma versão modificada do problema? Conhece um problema
similar? Existe um problema similar já resolvido? Esta solução
se aplica ao problema atual? O problema pode ser parcialmente
resolvido?

3. Implementar o plano de ataque: Checar a consistência lógica dos


passos envolvidos no ataque.

4. Rever o que foi feito: Tentar aplicar a estratégia usada em outros


problemas, generalizar.

Entre tantos problemas resolvidos por Pólya, um nos interessa mais


(por enquanto): a prova do Teorema de Pitágoras.
2
Há tradução para português: “A Arte de Resolver Problemas” [21].
2.12. DEMONSTRAÇÃO #12 (PÓLYA) 45

Suponha que seja possı́vel construir, sobre os lados de um triângulo


retângulo, figuras semelhantes F , F 0 e F 00 , de modo que

área(F ) = área(F 0 ) + área(F 00 ),

como ilustra a Figura 2.24.

A F0

c b
F 00

B a C

Figura 2.24

Sendo F , F 0 e F 00 figuras semelhantes temos

área(F ) a2 área(F ) a2 área(F 0 ) b2


= , = e = .
área(F 0 ) b2 área(F 00 ) c2 área(F 00 ) c2

1. Suponha agora que G, G0 , e G00 são quaisquer outras figuras


semelhantes construı́das, respectivamente, sobre a hipotenusa e
os catetos b e c do mesmo triângulo retângulo. Daı́,

área(G) área(G0 ) área(G00 )


= = = λ.
área(F ) área(F 0 ) área(F 00 )
46 CAPÍTULO 2. DEMONSTRAÇÕES

O que acarreta

área(G) = λ área(F ),
área(G0 ) = λ área(F 0 ),
área(G00 ) = λ área(F 00 ).

E daı́,
³ ´
área(G) = λ área(F ) = λ área(F 0 ) + área(F 00 )

= λ área(F 0 ) + λ área(F 00 )
= área(G0 ) + área(G00 ).

2. Esses fatos nos garantem que se existirem figuras semelhantes


particulares F , F 0 e F 00 , construı́das, respectivamente, sobre a
hipotenusa a e os catetos b e c de um triângulo retângulo, que
satisfaça a condição:

área(F ) = área(F 0 ) + área(F 00 ).

Então, quaisquer que sejam outras figuras semelhantes G, G0 e


G00 — construı́das, respectivamente, sobre a hipotenusa a e os
catetos b e c do mesmo triângulo retângulo — guardam a mesma
relação, isto é,

área(G) = área(G0 ) + área(G00 ).

3. No caso do triângulo retângulo ABC de altura AD (Figura 2.25),


temos claramente as semelhanças dos triângulos ABC, DBA e
DAC. Além disso,

área(ABC) = área(DBA) + área(DAC).


2.12. DEMONSTRAÇÃO #12 (PÓLYA) 47

b
c

B D a C
Figura 2.25

Neste caso, considere ABC = F , DAC = F 0 e DBA = F 00 como


sendo as figuras particulares.

4. Considere agora os quadrados Q, Q0 e Q00 , construı́dos, respecti-


vamente, sobre a hipotenusa e os catetos b e c do triângulo ABC
(Figura 2.26).

Q0
A

Q00 c b

B a C

Figura 2.26

5. Das considerações acima, uma vez que Q, Q0 e Q00 são figuras


48 CAPÍTULO 2. DEMONSTRAÇÕES

semelhantes, concluı́mos que

área(Q) = área(Q0 ) + área(Q00 ).

Ou seja:
a2 = b2 + c2 .

Observação. O resultado obtido no item 2 é aplicável a quaisquer


figuras, em particular às ilustrações da Figura 2.27.

A F0
F 00 c b A F0
c b
C F 00
B a
C
F B a
F

(a) (b)

A
A
F0 F0
F 00 b
F c 00 b
c
B a C C
B a
F F

(c) (d)

Figura 2.27
2.13. DEMONSTRAÇÃO #13 49

2.13 Demonstração #13


Considere o triângulo retângulo ABC de lados a, b e c. Sem perda
de generalidade, podemos supor b > c (Figura 2.28).
C

b a

A c B
Figura 2.28

1. Faça as seguintes construções (Figuras 2.29(a), 2.29(b) e 2.29(c)).

b−c

② ⑤
c a a
c


b b
(a) (b)
b−c

⑦ b−c

(c)
Figura 2.29

2. Essas figuras podem ser reagrupadas nas Figuras 2.30(a) (qua-


drado de lado b) e 2.30(b) (quadrado de lado c) ou na Figura 2.30(c)
(quadrado de lado a).
50 CAPÍTULO 2. DEMONSTRAÇÕES

b−c


⑦ ③



c a c
a

b c
(a) (b)

b ⑤
a ⑦

c ③

b

a
(c)
Figura 2.30

3. Assim, a área da Figura 2.30(c) é igual à soma das áreas das


Figuras 2.30(a) e 2.30(b). Isto é,

a2 = b2 + c2 .
2.14. DEMONSTRAÇÃO #14 51

2.14 Demonstração #14


Considere o triângulo retângulo ABC, de lados a, b e c (Figura 2.31).

a
c

A C
b
Figura 2.31

1. Construa sobre os lados desse triangulo os quadrados BCDE,


ACIH e ABF G (Figura 2.32).

F B

G A C

H I
Figura 2.32

2. Sobre a Figura 2.32, faça as seguintes construções, para obter a


Figura 2.33:

i. Prolongue EB até encontrar AG em J.


52 CAPÍTULO 2. DEMONSTRAÇÕES

ii. Prolongue DC até encontrar HI em L.


iii. Construa LK perpendicular a CL (K em AH).
iv. Construa EM paralelo a AB e DO paralelo a AC (M em
BC e O em EM ).
v. Prolongue F B até encontrar EM em N .
vi. Marque P em BE de modo que BP = BJ.
vii. Trace P Q perpendicular a EM e marque o ponto Q em EM .


P Q ②
O D

F B ①
N


M

G J A C

K ⑦


H L I
Figura 2.33

3. Temos EBN ≡ ABC (BC = BE e AB̂C = E B̂N ), daı́ segue-se


que AB = BN e conseqüentemente BN M ≡ BAJ.

4. CIL ≡ CAB ≡ DOE (Verifique!).


2.15. DEMONSTRAÇÃO #15 (PERIGAL) 53

5. Decorre então que ODCM ≡ LCAK.

6. P QE ≡ KHL (EN = AH = HI; QN = F G = AB = LI), logo

HL = HI − LI = EN − QN = EQ

E além disso, os três ângulos de P QE são congruentes aos três


ângulos de KHL.

7. BF GJ ≡ BN QP (BP = BJ; F G = AB = BN ; F B̂J = P B̂N


ˆ ≡ B P̂ Q).
e B JG

8. Dessas considerações, concluı́mos que

área(① + ② + ③ + ④ + ⑤) =
área(⑥ + ⑦ + ⑧) + área(⑨ + ⑩),

Ou seja:

área(BCDE) = área(ACIH) + área(ABF G).

Donde se tem que


a2 = b2 + c2 .

2.15 Demonstração #15 (Perigal)

Henry Perigal, inglês, nasceu em 1 de abril de 1801 e faleceu em


junho de 1898. O que se sabe hoje a seu respeito é devido a seu irmão,
Frederick Perigal (dez anos mais jovem), que, na época da morte de
Perigal, reuniu em um pequeno livro dados da vida de Henry e de
outros.
54 CAPÍTULO 2. DEMONSTRAÇÕES

Figura 2.34: Henry Perigal.

Aos seus quarenta anos, conseguiu um emprego como corretor na


empresa de fundos de investimentos de um amigo onde permanceu até
a aposentadoria com 87 anos. Segundo ele próprio, teria se aposentado
para devotar mais tempo às causas cientı́ficas.

(a) Inı́cio do séc. XX (b) Atualmente (c) Detalhe


Figura 2.35: Túmulo de Perigal com a Dissecção gravada na tumba.

Membro (Fellow ) da Sociedade Astronômica Real, Perigal tinha


pontos de vista não ortodoxos para muitas questões da astronomia,
2.15. DEMONSTRAÇÃO #15 (PERIGAL) 55

como o de achar que a Lua não exibe o movimento de rotação em


relação às estrelas, haja vista que sempre exibe a mesma face para um
observador na Terra (!).

Apesar de assumir várias posições controversas, Perigal tinha um


bom relacionamento com a sociedade cientı́fica. Durante seu ani-
versário de 95 anos, estavam presentes: W. H. M. Christie, astrônomo
real; Lord Kelvin; Lord Rayleigh; George Garbriel Stokes e o vice-
almirante J. P. Maclear, comandante da nau cientı́fica Challenger. Ja-
mes Glaisher, pioneiro em Análise Numérica, não esteve presente, mas
enviou uma carta de desculpas. . .

Em 1830, anunciou uma prova simples e elegante do Teorema de


Pitágoras. Esta demonstração ficou conhecida como Dissecção de Pe-
rigal.

Seja o triângulo retângulo ABC de lados a , b e c com b > c (não


há perda de generalidade nesta suposição). Obtenha a Figura 2.36
com o seguinte procedimento.

1. Construa sobre o lado a desse triângulo o quadrado BCDE.

2. Construa o retângulo BACF e marque G sobre BF de modo


que BG = AB = c.

3. Prolongue EG para determinar H em AC.

4. O quadrilátero BGHA é um quadrado de lado c (os triângulos


BEG e BCA são congruentes).
56 CAPÍTULO 2. DEMONSTRAÇÕES

I J D

B
G F

A H C
Figura 2.36

5. Trace DI paralelo a AC e prolongue CF para determinar J em


DI.

6. Os triângulos GBE, JDC, IED e F CB são todos congruentes


ao triângulo ABC.

7. Considerando esses quatro triângulos e o quadrado F GIJ de


lado b − c, temos

área(BCDE) = 4 · área(ABC) + área(F GIJ).

Ou seja,
1
a2 = 4 · bc + (b − c)2 .
2

8. Desenvolvendo (b − c)2 e fazendo os devidos cálculos, obtemos

a2 = b2 + c2 .
2.16. DEMONSTRAÇÃO #16 (HERON) 57

2.16 Demonstração #16 (Heron)


Geômetra e mecânico, Heron (10?–75) viveu em Alexandria e tudo
leva a crer que trabalhou (lecionando) no Museu de Alexandria. É dele
a solução do problema dos raios luminosos que é enunciado da seguinte
forma. Sejam dois pontos P e Q do mesmo lado de uma reta r, que
ponto R em r faz a trajetória P R + RQ ser mı́nima (Figura 2.36)?
Este problema pode ser generalizado para o caso de mais de uma
reta. Por exemplo, dadas as retas r e s e os pontos P e Q, como na
Figura 2.37, que pontos R em r e S em s fazem a trajetória P R +
RS + SQ ser mı́nima?
P

r
R
Figura 2.36

S
P
s
Q
r
R
Figura 2.37

Heron escreveu vários livros e muitos deles chegaram até nós [19]:

Metrica Sobre métodos de medição. Tratava fundamentalmente do


cálculo de áreas e volumes de figuras planas e sólidos. É talvez
o seu trabalho mais importante.

Geometria Uma versão de Metrica com muitos exemplos.

Stereometrica Sobre a medição de sólidos. Trata-se de uma versão


ampliada de um capı́tulo de Metrica.
58 CAPÍTULO 2. DEMONSTRAÇÕES

Mensurae Sobre medição de forma geral.

Sobre a Dioptra Trabalho sobre o uso de teodolitos e sobre o cálculo


de distâncias através da diferença da hora local em pontos dis-
tintos no momento de um eclipse lunar.

Catoprica Trabalho sobre óptica, especialmente espelhos. Heron


acreditava que as imagens se formavam a partir de feixes de
luz emitidos pelos olhos e que a luz tinha velocidade infinita.

Mechanica Dividido em tomos. O Livro I trata sobre construção de


formas, examina também problemas de estática, movimento e
teoria do equilı́brio. No segundo Livro, as máquinas elementares
são estudadas: alavancas, roldanas, parafuso e cunha, bem como
uma análise sobre o centro de gravidade de figuras planas. E o
Livro III contempla o transporte de objetos através do uso de
trenós e guindastes. É um trabalho fortemente arquimediano.

Pneumatica Consiste de dois volumes sobre fluidos e pressões. Nesse


trabalho, há descrições de mais de 100 máquinas, como um órgão
musical à água, máquinas operadas a moedas (!) e um motor a
vapor: o aeolipile (“bola de vento” em grego).

O aeolipile foi o primeiro engenho concebido pelo homem que


transforma energia térmica em energia mecânica. Entretanto,
os gregos só utilizaram essa fantástica invenção para diversão e
curiosidade. Uma máquina similar concebida para o trabalho só
seria inventada em 1698 pelo inglês Thomas Savery, posterior-
mente melhorada por James Watt (1739–1819). Esta invenção
seria peça chave para a revolução industrial.
2.16. DEMONSTRAÇÃO #16 (HERON) 59

Figura 2.38: A Bola de Vento: aeolipile.

Belopoeica Sobre a arte de construir engenhos de guerra.

Cheirobalistra Sobre catapultas.

Usando os conhecimentos obtido através do Livro I de Metrica,


uma prova do Teorema de Pitágoras pode ser encontrada. Considere
o triângulo retângulo ABC de lados a, b e c como mostra a Figura 2.39.

a
c

C
A b
Figura 2.39

Pela fórmula de Heron, proposição oito no Livro I do tratado Me-


trica, a área desse triângulo é dada por
p
área(ABC) = p(p − a)(p − b)(p − c).
60 CAPÍTULO 2. DEMONSTRAÇÕES

1. Efetuando os produtos dentro do radical, com

1
p= · (a + b + c),
2

obtemos

1 p 2 2
área(ABC) = · 2a b + 2a2 c2 + 2b2 c2 − a4 − b4 − c4 .
4

2. Por outro lado


1
área(ABC) = · bc.
2
3. Comparando essas duas equações, temos

1 p 2 2 1
· 2a b + 2a2 c2 + 2b2 c2 − a4 − b4 − c4 = · bc.
4 2

Ou seja,

2a2 b2 + 2a2 c2 + 2b2 c2 − a4 − b4 − c4 = 4b2 c2 .

4. Rearrumando essa última expressão e efetuando as devidas sim-


plificações, temos

(b2 + c2 − a2 )2 = 0

a = b2 + c2 .
2
Capı́tulo 3

Se. . . Então. . .

Os desdobramentos do Teorema são fabulosos. Neste capı́tulo, fa-


remos alguns comentários sobre a influência do Teorema de Pitágoras
em alguns ramos da Matemática.

3.1 Norma Euclidiana


O uso do Teorema define a norma euclidiana: Sejam dois pontos
(x0 , y0 ) e (x1 , y1 ) pertencentes a R2 (espaço de dimensão 2), a distância
(ou norma) euclidiana é dada por
p
d= (x1 − x0 )2 + (y1 − y0 )2 .

y1

d
y0

x0 x1
Figura 3.1: Distância entre dois pontos.
61
62 CAPÍTULO 3. SE. . . ENTÃO. . .

O conceito de norma pode ser estendido para espaços n-dimensio-


nais.

3.2 Lei dos Cossenos


Uma generalização do Teorema de Pitágoras é verificada na Lei
dos Cossenos.
A c
b B
a
C
Figura 3.2: Lei dos Cossenos.

Em um triângulo qualquer ABC de lados a, b e c, temos que

a2 = b2 + c2 − 2bc cos(B ÂC),

onde B ÂC representa o ângulo determinado pelos lados b e c. No caso


em que B ÂC = 90◦ , temos o Teorema de Pitágoras.

3.3 Irracionalidade da Constante Pitagórica


À época de Pitágoras, os números conhecidos eram os inteiros e
as razões entre eles, i.e., os racionais. Entretanto, uma conseqüência
imediata do Teorema de Pitágoras é o fato de que um quadrado de
lado unitário tem diagonal cujo quadrado vale dois. O comprimento
dessa diagonal é conhecido como constante pitagórica.
Reza a lenda que Hippasus, um dos membros da Sociedade Pi-

tagórica, provou por métodos geométricos a irracionalidade de 2
durante uma viagem marı́tma. Ao comunicar a prova aos seus compa-
nheiros, tivera um fim trágico: os pitagóricos mais fanáticos teriam-no
jogado ao mar para morrer. . .
3.3. IRRACIONALIDADE DA CONSTANTE PITAGÓRICA 63

Romantismo à parte, mostraremos aqui uma das provas mais co-



nhecida para a irracionalidade de 2. Esta prova usa a técnica de
reductio ad absurdum, tão usada por Euclides. Partiremos de uma
hipótese e chegaremos a um absurdo, fazendo-nos, assim, concluir que
a negação da premissa original é verdadeira.

1

2

Figura 3.3: O quadrado que desafiou Pitágoras.

Lema 1 A constante pitagórica é irracional.

Prova:

1. Suponha que 2 é um número racional.

2. Como é um numero racional, pode ser escrito da forma p/q, onde



p e q são inteiros primos entre si. Ou seja, 2 = p/q é uma fração
irredutı́vel.

3. Tomando o quadrado, temos que p2 = 2q 2 . Isto é, p2 é par. Se


p2 é par, implica que p também é par (Verifique!)

4. Como p é par, p2 = 4k. Ou seja, p2 é divisı́vel por quatro.

5. Já que p2 = 2q 2 , temos que 4 também divide 2q 2 .

6. Simplificando, temos que 2 divide q 2 . Isto nos diz que q 2 é par.

7. Usando o mesmo argumento anterior, temos que se q 2 é par, q


também é par.
64 CAPÍTULO 3. SE. . . ENTÃO. . .

8. Se p e q são pares, a premissa de que p e q são primos entre si é



falsa. Portanto, 2 não pode ser escrito na forma p/q.

Esta prova foi ponto chave para se perceber que o conjunto de


pontos de uma reta nos oferece muito mais do que simples razões
entre inteiros.
Embora não possa ser expressa por uma única fração, a cons-
tante pitagórica (bem como todo número irracional) pode ser expresso

por meios de frações contı́nuas. Observe a forma de 2 nessa repre-
sentação.
√ 1
2=1+ 1
2+ 1
2+ 2+···

Esta é uma tı́pica fração contı́nua periódica. Em toda a história, a


maior contribuição nesse tópico veio, sem sombra de dúvida, do gênio
matemático e criativo de Srinivasa Aiyangar Ramanujan (1887–1920).

Nascido num vilarejo na Índia e de famı́lia extremamente humilde,


Ramanujan não teve educação formal em Matemática. Durante o
colégio, com aproximadamente 15 anos de idade, Ramanujan teve con-
tato com o livro “Synopsis of elementary results in pure mathematics”
de G. S. Carr. Extremamente conciso, este livro enumera mais de 6000
teoremas e quando fornece as demonstrações o faz de forma curta. Ra-
manujan provou todos eles, de forma independente, sem ajuda. Nos
anos seguintes, sua fama nas vizinhanças de Madras (Índia) só cres-
ceu, chegando a ser conhecido (e reconhecido) pelos professores da
Universidade de Madras.
Entretanto, tendo dificuldades de todas as ordens, chegando a pas-
sar fome, Ramanujan, aconselhado por amigos, enviou uma carta para
Godfrey Harold Hardy1 (1877–1947) que continha o seguinte trecho:

“Eu não tenho educação universitária, mas passei pela


1
Trinity College, Cambridge, Inglaterra.
3.3. IRRACIONALIDADE DA CONSTANTE PITAGÓRICA 65

escola básica. Após sair da escola, tenho empregado todo


meu tempo livre para trabalhar com matemática. Eu não
tomei o caminho convencional que é seguindo por um curso
universitário, mas eu estou fazendo meu próprio novo cami-
nho. Eu tenho feito uma investigação especial sobre séries
divergentes em geral e os resultados que eu obtive são con-
siderados ‘surpreendentes’ pelos matemáticos locais.”2

(a) Ramanujan (b) Hardy


Figura 3.4: Ramanujan e Hardy, matemáticos de primeira grandeza.

Hardy foi extremamente receptivo, fazendo todos os esforços para


trazer Ramanujan para a Inglaterra, o que ocorreu em abril de 1914.
Durante três anos, a dupla Ramanujan-Hardy produziu matemática
intensamente, só cessando a colaboração em 1917. Neste ano, Rama-
nujan teve sua saúde muito debilitada3 e, em 1919, retornou à Índia
onde faleceu em 26 de april 1920.
2
“I have had no university education but I have undergone the ordinary school
course. After leaving school I have been employing the spare time at my disposal to
work at mathematics. I have not trodden through the conventional regular course
which is followed in a university course, but I am striking out a new path for myself.
I have made a special investigation of divergent series in general and the results I
get are termed by the local mathematicians as ‘startling’.”
3
Na época, diagnosticou-se tuberculose, mas acredita-se que Ramanujan foi aco-
metido por uma violenta hipovitaminose. Ele era vegetariano e a Inglaterra passava
por um racionamento alimentı́cio devido a I Guerra Mundial.
66 CAPÍTULO 3. SE. . . ENTÃO. . .

Em 1940, Hardy escreveu um livro excelente, exaltando os ma-


temáticos, falando sobre a forma de como os matemáticos pensam e
sobre a beleza, a elegância e o prazer da matemática. Trata-se de um
livro de leitura rápida (mas, profunda) e extremamente recomendada:
“A Mathematician’s Apology” [10].

3.4 Cortes de Dedekind



O problema da irracionalidade de 2 que tanto atormentou os
pitagóricos só seria resolvido em 1958 com a invenção dos números
reais por Julius Wilhelm Richard Dedekind (1831–1916).

Figura 3.5: Richard Dedekind, o último aluno de Gauss.

Os reais foram criados através de um isomorfismo com um conjunto


de racionais engenhosamente inventado por Dedekind e chamado de
corte (do original em alemão, schnitt). Dedekind teve a idéia dos
números reais em 24 de novembro de 1858, mas publicou apenas em
1872 no Stetigkeit und Irrationale Zahlen4 .
É interessante observar que as raı́zes de números inteiros são fa-
cilmente construtı́veis a partir de sucessivas aplicações do Teorema
de Pitágoras. Com régua e compasso, pode-se prontamente traçar o
seguinte desenho.
4
Tradução livre: “Continuidade e Números Irracionais”.
3.5. NÚMEROS COMPLEXOS 67

1 1
√ √
4 3 1

5 √
2
1

1
Figura 3.6

3.5 Números Complexos


Se por um minuto nos abstrairmos do contexto geométrico, poderia-
se pensar na solução da equação de Pitágoras para a = 1 e b = 2.
Tendo assim:

a2 = b2 + c2 =⇒ 12 = 22 + c2 ∴ c= −3.

Ao tentar resolver equações desse tipo,

x2 = −a, a > 0,

René Descartes (1596–1650) cunhou o termo “número imaginário”,


pois ele achava que este tipo de solução só existiria na imaginação.

Figura 3.7: René Descartes [Renatus Cartesius].

Os números imaginários apareceram pela primeira vez em 1545


no livro Ars Magna de Girolamo Cardano (1501–1576). Veja como
68 CAPÍTULO 3. SE. . . ENTÃO. . .

Cardano mostrou os números complexos:

“Livrando-se das torturas mentais5 , e se multiplicando


√ √
5 + −15 por 5 − −15, nós obtemos 25 − (−15). Assim
o produto é 40. [...] e assim até onde a sutileza aritmética
vai, de que esta, a extrema, é, como eu disse, tão sútil
quanto inútil.”

Figura 3.8: Girolamo Cardano [Hieronimus Cardanus].

Tanto sottile quanto inutile. . . Este sentimento de inutilidade era


compartilhado por outros matemáricos também. Rafael Bombelli (1526–
1572) escreveu seu Algebra estabelecendo as regras algébricas para a
manipulação dos números imaginários, baseando-se nas regras usuais.
Apesar do feito, Bombelli, pesaroso, admitia que estes “pensamentos”
eram vazios de sentido. Observe a notação de Bombelli:

“Mais de menos vezes mais de menos faz menos.


Mais de menos vezes menos de menos faz mais.
Menos de menos vezes mais de menos faz mais.
Menos de menos vezes menos de menos faz menos.”

“Mais de menos” significava + −x e assim por diante. Em notação
5
A “tortura mental” que Cardano se refere é obviamente o fato de se ter que
extrair a raiz quadrada de um número negativo.
3.5. NÚMEROS COMPLEXOS 69

atual, terı́amos:
√ √
+ −x · + −x = −x
√ √
+ −x · − −x = +x
√ √
− −x · + −x = +x
√ √
− −x · − −x = −x.

Figura 3.9: Frontispı́cio do Algebra de Bombelli.

Gottfried Wilhelm von Leibniz (1646–1716), co-inventor do Cálculo


Diferencial, consideou os números imaginários como:

“. . . um delicado e maravilhoso refúgio para o espı́rito


divino — quase um anfı́bio entre o ser e o não ser. . . ”.

Até o grande Leonhard Euler6 (1707–1783) embarcou nesse clima


de Metafı́sica, achando que o termo imaginário seria deveras apropri-
ado. Segundo Euler,

“Como todos os números são ou maior que zero, ou


menor que zero ou igual a zero, então é claro que a raiz
6
Euler é considerado o “Herói da Matemática” por sua vasta produção cientı́fica.
70 CAPÍTULO 3. SE. . . ENTÃO. . .

quadrada de números negativos não podem ser incluı́dos


entre os números possı́veis. . . E esta circunstância nos leva
ao conceito de tais números que por sua natureza são im-
possı́veis e ordinariamente são chamados imaginários ou
fantasiosos, pois eles existem apenas na imaginação”.


A notação i para o número imaginário −1 é devido a Euler (1777).

(a) Leibniz (b) Euler (c) Gauss


Figura 3.10: Leibniz, Euler e Gauss.

Johann Carl Friedrich Gauss7 (1777–1855), apesar de a princı́pio


ter se iludido por essa corrente metafı́sica, resgatou a percepção geomé-
trica dos números complexos em 1831. Gauss claramente observou
uma correspondência 1–1 entre os números complexos e pontos no
plano complexo. Isto deu força máxima à teoria dos números com-
plexos. É de Gauss a sugestão de usar o termo “número complexo”
em vez de “número imaginário”. Sem sucesso, ele também sugeriu o
termo “parte lateral” em substituição ao termo “parte imaginária”.
Esta última sugestão não foi aceita.
7
O rei George V de Hanover encomendou um medalha de honra em homenagem
a Gauss com o tı́tulo de Princeps Mathematicorum — Prı́ncipe da Matemática.
3.6. ÚLTIMO TEOREMA DE FERMAT. 71

(a, b)
b

a
Figura 3.11: O números complexos podem ser vistos
como pontos no plano cartesiano.

O cálculo do valor absoluto de um número complexo nada mais


é do que a aplicação do Teorema de Pitágoras. Considere o número
complexo z = a + bi, a, b ∈ R, então,

|z|2 = |a + bi|2 = a2 + b2 .

3.6 Último Teorema de Fermat.


O Teorema de Pitágoras é na realidade um caso particular de um
outro resultado: o Último Teorema de Fermat.

Figura 3.12: Pierre de Fermat.

Pierre de Fermat (1601–1665), considerado por muitos o pai da


moderna Teoria dos Números, tinha o hábito de não publicar suas
descobertas e limitava-se a comunicá-las por meio de cartas aos amigos.
72 CAPÍTULO 3. SE. . . ENTÃO. . .

E, em geral, essas cartas continham apenas o enunciado de seus êxitos


— sem as provas.
Por volta de 1637, numa cópia da tradução de Bachet do Arithme-
tica de Diofante, Fermat deixou escrito nas margens do livro algo que
viria a ser um dos maiores tormentos e motivadores dos matemáticos
que o seguiram. Lia-se o seguinte:

“Cubum autem in duos cubos, aut quadratoquadratum


in duos quadratoquadratos, et generaliter nullam in infini-
tum ultra quadratum potestatum in duos ejusdem nominis
fas est dividere: cujes rei demonstrationem mirabilem sane
detexi. Hanc marginis exiguitas non caperet.” 8

Os matemáticos amaldiçoaram o tamanho dessa margem por mais de


3 séculos.
O que Fermat disse, em notação moderna, é que se n > 2, então a
equação diofantina
xn + y n = z n

não possui solução nos inteiros, além da solução trivial em que um dos
inteiros é zero.
A busca pela prova desse teorema foi um dos grandes motivadores
para a criação de novos ramos da matemática. Muitos aceitaram o
desafio de Fermat, tais como John Wallis (1616–1703); Leonhard Eu-
ler (1707–19783), que provou o caso geral para n = 3; Marie-Sophie
Germain (1776–1831); Augustin Louis Cauchy (1789–1857); Gabriel
8
Numa tradução livre para o português, terı́amos algo como:

“É impossı́vel escrever um cubo como a soma de dois cubos, uma


quarta potência como a soma de duas quartas potências, e, em geral,
qualquer potência acima da segunda como uma soma de potências simi-
lares. Para isto, eu descobri uma prova verdadeiramente maravilhosa
que esta margem é muito curta para conter”.
3.6. ÚLTIMO TEOREMA DE FERMAT. 73

Lamé (1795–1870), que provou o caso geral para n = 7 e Ernst Edu-


ard Kummer (1810–1893) [23, 26].

Tabela 3.1: Alguns ataques ao Último Teorema de Fermat.


Matemático Ataque
Euler n=3
Fermat n=4
Lagrange n=5
Dirichlet n = 5 e n = 14
Lamé n=7
n primo tal que 2n + 1
Sophie Germain
também é primo
n primo tal que 4n + 1,
8n + 1, 10n + 1, 14n + 1
Legendre
ou 16n + 1 também é
primo
Todos os números primos
Granville & Monagan (1988)
até 714 591 416 091 398
Wiles ∀n

O Último Teorema de Fermat é talvez um dos teoremas que mais


chegou ao conhecimento do grande público. Uma quantidade assom-
brosa de amadores se interessou pelo problema e muitas “provas” apa-
receram. . . Muito disso se deve a quantidade de prêmios oferecidos por
academias e institutos a quem o provasse.
Heinrich Wilhelm Olbers (1758–1840), sabendo do prêmio ofere-
cido pela Academia de Paris, convidou o seu amigo Gauss para tentar
a prova do Teorema. Entretanto, Gauss não se interessou pelo pro-
blema, chegando mesmo a afirmar que [23]
“ Fico-lhe muito grato pela notı́cia referente ao prêmio
de Paris. Mas confesso que o Último Teorema de Fermat,
como uma proposição isolada, tem muito pouco interesse
para mim. Eu poderia facilmente apresentar uma série de
proposições semelhantes que ninguém poderia provar ou
desmentir.”
74 CAPÍTULO 3. SE. . . ENTÃO. . .

Sem dúvida a premiação mais famosa foi o Prêmio Wolfskehl. No


seu testamento, Paul Wolfskehl (1856–1906), um industrial alemão,
deixou um milhão de marcos (uma fortuna, na época) ao “primeiro que
provar o Grande Teorema de Fermat”. A hiper-inflação da Alemanha
corroeu a fortuna transformando-a em apenas 30 000 marcos na década
de ’90.

(a) Wallis (b) Germain (c) Cauchy

(d) Lamé (e) Kummer (f) Wolfskehl


Figura 3.13: Personalidades imporantes na prova do Último Teorema
de Fermat.

O Teorema de Fermat só foi provado em 1993 (356 anos após Fer-
mat ter enunciado o Teorema) por Andrew John Wiles (1953–) da
Universidade de Princeton, E.U.A. A prova, que usa a mais refinada e
avançada matemática, tem 125 páginas! A demonstração inicialmente
anunciada continha uma pequena sutileza que a comprometeria, sendo
corrigida pouco tempo depois.
3.7. AXIOMA DAS PARALELAS 75

Figura 3.14: Andrew John Wiles, célebre por vencer o Último


Teorema de Fermat.

Annals of Mathematics, 141 (1995), 443-552

Modular elliptic curves


and
Fermat’s Last Theorem
By Andrew John Wiles*
For Nada, Claire, Kate and Olivia
Pierre de Fermat Andrew John Wiles
Ring Theoretic Properties of Certain Hecke
Cubum autem in duos cubos, aut quadratoquadratum in duos quadra- Algebras
toquadratos, et generaliter nullam in infinitum ultra quadratum
potestatum in duos ejusdem nominis fas est dividere: cujes rei Richard Taylor Andrew Wiles
demonstrationem mirabilem sane detexi. Hanc marginis exiguitas D.P.M.M.S., Department of Mathematics,
non caperet. Cambridge University, Princeton University,
16 Mill Lane, Washington Road,
- Pierre de Fermat ∼ 1637
Cambridge, Princeton,
Abstract. When Andrew John Wiles was 10 years old, he read Eric Temple Bell’s The
CB2 1SB, NJ 08544,
Last Problem and was so impressed by it that he decided that he would be the first person U.K. U.S.A.
to prove Fermat’s Last Theorem. This theorem states that there are no nonzero integers
a, b, c, n with n > 2 such that an + bn = cn . This object of this paper is to prove that
7 October 1994
all semistable elliptic curves over the set of rational numbers are modular. Fermat’s Last
Theorem follows as a corollary by virtue of work by Frey, Serre and Ribet.
Introduction
Introduction
In the work of one of us (A.W.) on the conjecture that all elliptic curves defined
An elliptic curve over Q is said to be modular if it has a finite covering by over Q are modular, the importance of knowing that certain Hecke algebras
a modular curve of the form X0 (N ). Any such elliptic curve has the property are complete intersections was established. The purpose of this article is to
that its Hasse-Weil zeta function has an analytic continuation and satisfies a provide the missing ingredient in [W2] by establishing that the Hecke algebras
functional equation of the standard type. If an elliptic curve over Q with a considered there are complete intersections. As is recorded in [W2], a method
given j-invariant is modular then it is easy to see that all elliptic curves with going back to Mazur [M] allows one to show that these algebras are Gorenstein,
the same j-invariant are modular (in which case we say that the j-invariant but this seems to be too weak for the purposes of that paper. The methods of
is modular). A well-known conjecture which grew out of the work of Shimura this paper are related to those of chapter 3 of [W2].
and Taniyama in the 1950’s and 1960’s asserts that every elliptic curve over Q We would like to thank Henri Darmon, Fred Diamond and Gerd Faltings
is modular. However, it only became widely known through its publication in a for carefully reading the first version of this article. Gerd Faltings has also
paper of Weil in 1967 [We] (as an exercise for the interested reader!), in which, suggested a simplification of our argument and we would like to thank him for
allowing us to reproduce this in the appendix to this paper. R.T. would like to
moreover, Weil gave conceptual evidence for the conjecture. Although it had
thank A.W. for his invitation to collaborate on these problems and for sharing
been numerically verified in many cases, prior to the results described in this
his many insights into the questions considered. R.T. would also like to thank
paper it had only been known that finitely many j-invariants were modular.
Princeton University, Université de Paris 7 and Harvard University for their
In 1985 Frey made the remarkable observation that this conjecture should hospitality during some of the work on this paper. A.W. was supported by an
imply Fermat’s Last Theorem. The precise mechanism relating the two was NSF grant.
formulated by Serre as the ε-conjecture and this was then proved by Ribet in
the summer of 1986. Ribet’s result only requires one to prove the conjecture
for semistable elliptic curves in order to deduce Fermat’s Last Theorem. 1

*The work on this paper was supported by an NSF grant.

(a) (b)
Figura 3.15: Frontispı́cios da prova do Último Teorema de Fermat.
(a) Primeira versão, (b) Correção.

3.7 Axioma das Paralelas


A Geometria tradicional que usamos no dia-a-dia é a Geometria
Euclidiana, baseada nos postulados de Euclides enunciados nos Ele-
76 CAPÍTULO 3. SE. . . ENTÃO. . .

mentos. Os axiomas9 fundamentais de Euclides são:

1. É possı́vel traçar uma linha reta entre quaisquer pontos distintos.

2. Qualquer segmento pode ser prolongado de forma contı́nua em


uma reta.

3. É possı́vel traçar uma circunferência de centro em qualquer ponto


e raio qualquer.

4. Todos os ângulos retos são iguais.

5. Se uma reta corta duas outras retas fazendo com elas ângulos
internos que do mesmo lado somam menos do que dois retos,
então as retas cortadas se encontram necessariamente nesse lado.

É nesse último axioma que se baseia a Geometria Euclidiana e ele


é equivalente a:

“Por um ponto exterior a uma reta só se pode traçar


uma única paralela”. (Axioma de Playfair)

Esta versão alternativa do Quinto Postulado foi proposta primeira-


mente por Proclo10 de Alexandria, mas ficou mais conhecida após o
trabalho realizado por John Playfair11 (1748–1819). Proclo negou o
Quinto Postulado, acreditando se tratar de um teorema.
9
Conforme é lembrado por Castrucci [4], durante muito tempo havia distinção
entre axioma e postulado. Axiomas seriam proposições auto-evidentes, sem exigir
qualquer tipo de prova ou discussão. Postulados seriam proposições em que se
pedia a aceitação sem demonstração. Hoje em dia não há distinção, havendo uma
preferência para o termo axioma. Aqui usaremos os dois termos indistintamente e
sem preferência.
10
Vide p.30.
11
O livro “Illustrations of the Huttonian Theory of the Earth” de Playfair é pedra
fundamental da Geologia. Playfair era professor de Philosophia Naturalis (Filosofia
Natural ou Fı́sica).
3.7. AXIOMA DAS PARALELAS 77

Euclides claramente percebeu a natureza sutil desse último pos-


tulado, evitando o seu uso sempre que possı́vel (as primeiras 28 pro-
posições dos Elementos não fazem uso dele).
Devido a esta natureza do Quinto Postulado, muito esforço foi
feito no sentido de prová-lo através dos outros axiomas. Um resultado
importante foi encontrado pelo jesuı́ta italiado Girolamo Saccheri em
1697. Saccheri tentou provar o Quinto Postulado por contradição. To-
mando um quadrângulo, ele assumiu que a soma de dois ângulos in-
ternos adjacentes só pode ser maior (ângulos obtusos), igual ou menor
(ângulos agudos) que 90◦ . Usando duas das primeiras 28 proposições
de Euclides e partindo das hipóteses de ângulos obtusos e agudos,
Saccheri chegou erroneamente a contradições, concluindo assim, sua
“prova”. Foi Eugênio Beltrami (1835–1900) quem tornou popular o
até então obscuro trabalho de Saccheri12 [20].
Adrien-Marie Legendre (1752–1833) também atacou o problema
como Saccheri. Entretanto, Legendre notou que a hipótese de ângulos
agudos (descartada por Saccheri) não constituia contradição alguma
(!). Isto seria o caminho para uma nova geometria. Legendre mostrou
também um outra versão para o Quinto Postulado:

“A soma dos ângulos de um triângulo é igual a dois


retos.”

Esta conclusão é decorrente de uma extraordinária cadeia de im-


plicações observada por Legendre. Confira no diagrama abaixo [2]:

12
Euclides ab omni naevo vindicatus: sive conatus geometricus quo stabiliuntur
prima ipsa universae Geometrica Principia (1733), conhecida por Euclides vindi-
catus [4]
78 CAPÍTULO 3. SE. . . ENTÃO. . .

Existe algum triângulo cujos


ângulos internos somam dois retos.

Existe um triângulo retângulo
isósceles cujos ângulos internos
somam dois retos.

Existem triângulos retângulos
isósceles arbitrariamente grandes
(?)
cujos ângulos internos somam dois
retos.

Os três ângulos de qualquer
triângulo somam dois retos.

Axioma de Playfair.
Outros — sem sucesso — também investiram esforços na prova
do Quinto Postulado: Nasir al-Din13 (1201–1274), John Wallis (1616–
1703), Farkas Wolfgang Bolyai14 (1775–1856), Johann Heinrich Lam-
bert (1728–1777), para citar alguns.
Em 1813, Gauss, observando o estados das coisas e o pequeno
avanço realizado nesse campo da Geometria, escreveu:

“Na Teoria das Paralelas, ainda hoje não estamos muito


além de Euclides. Esta é uma parte vergonhosa da Ma-
temática. . . ”

É possı́vel provar que [2]:


13
Nasir al-Din al-Tusi (Nasiraldin) foi astrônomo e matemático nascido onde hoje
é o Irã. Sua obra Tratado sobre Quadriláteros é a primeira a encarar a Trigonome-
tria (plana e esférica) como ciência pura.
14
Farkas era pai de János Bolyai e amigo pessoal de Gauss. Farkas teve todos
seus esforços contra o Quinto Postulado frustrados. Ele comentou para seu filho:
“Ele [O Quinto Postulado] pode te privar de todo seu prazer, sua
saúde, seu descanço e toda a alegria de sua vida.”
3.7. AXIOMA DAS PARALELAS 79

Teorema de Pitágoras.

Existem triângulos retângulos
isósceles arbitrariamente grandes
(?)
cujos ângulos internos somam dois
retos.
E pela cadeia lógica de Legendre, tem-se que o Teorema de Pitágoras
é na realidade equivalente ao Axioma das Paralelas.
Nessa época, havia no ar um forte indı́cio de que o Axioma das
Paralelas poderia ser negado e ainda assim se construir uma Geome-
tria inteiramente consistente através dos primeiros quatro postulados
de Euclides. Em outras palavras, seria possı́vel se construir uma nova
geometria refutando o Teorema de Pitágoras? Isto começou a ser efe-
tivamente feito por János Bolyai (1802–1860) e Nikolai Ivanovich Lo-
bachevsky (1792–1856).

(a) Farkas Bolyai (b) János Bolyai


Figura 3.16: Farkas e János Bolyai, pai e filho num mesmo problema.

János Bolyai negou o Quinto Postulado e iniciou a busca de al-


guma contradição (para provar que o Postulado seria necessário). En-
tretanto, nada foi encontrado de errado e, muito pelo contrário, um
“estranho novo mundo” havia sido criado.
80 CAPÍTULO 3. SE. . . ENTÃO. . .

Em 1831, num apêndice do livro de seu pai15 , János publica seus


estudos. A Geometria Hiperbólica, como viria a ser conhecida, subs-
titui o Axioma das Paralelas pela seguinte proposição:

“Dados uma reta e um ponto fora desta, existem infini-


tamente muitas retas que passam por aquele ponto e não
interceptam a reta dada.”

Ao enviar a Gauss uma cópia de seu livro, Farkas Bolyai recebeu


uma carta daquele comentando o Apêndice escrito por János:

“Elogiá-lo [o trabalho de János] seria como me elogiar.


O conteúdo inteiro do trabalho. . . coincide quase que exa-
tamente com minhas próprias meditações que ocuparam
minha mente há 30 ou 35 anos atrás.”

Saber disso deixou János tão contrariado ao passo de fazê-lo nunca


mais publicar sequer um artigo. O motivo de Gauss não ter publicado
seu trabalho pode ser explicado pela sua aversão às querelas e con-
trovérsias. Como o pensamento kantiano16 que exaltava a Geometria
Euclidiana como necessária ao pensamento17 estava em voga, Gauss
preferiu manter seus trabalhos em segredo a ir de encontro a alguém18 .
O Disco de Poincaré19 é uma realização da Geometria Hiperbólica.
Aqui, as retas são arcos que interceptam perpendidularmente o disco.
Um reta pode ter infinitas paralelas (não se interceptam). Arcos que
se cruzam ortogonalmente são perpendiculares. Veja abaixo:
15
O livro se entitula Tentamen e o apêndice de János tem 26 páginas [9].
16
Immanuel Kant, o “supremo filósofo europeu” [9].
17
Publicado no livo Kritik der reinen Vernunft (1781) (Crı́tica da Pura Razão).
18
Gauss teria dito a H. C. Schumacher que possui “uma grande antipatia em ser
levado a qualquer tipo de polêmica.
19
Jules Henri Poincaré (1854–1912).
3.7. AXIOMA DAS PARALELAS 81

Figura 3.17: Disco de Poincaré.

Exercı́cio para o leitor: como seria um quadrilátero no disco de


Poincaré?
Farkas Bolyai sentindo o clima matemático da época, teria acon-
selhado János a não se envolver com o problema das Paralelas, pois
há “uma época em que [verdades] são descobertas em vários lugares
simultaneamente, como as violetas que aparecem por todos os lados
na primavera”. Farkas estava certo.
O primeiro a de fato publicar algo a respeito de Geometrias Não-
Euclidianas foi Nikolai Ivanovich Lobachevsky (1792–1856). Loba-
chevski foi aluno, professor, bibliotecário-chefe, decano, chefe do De-
partamento de Matemática e Fı́sica, chefe do Observatório e reitor da
Universidade de Kazan. Em 1829, Lobachevsky publicou seu traba-
lho em Kazan, entretanto, não chamou muita atenção: estava escrito
em russo e os seus compatriotas que o leram foram crı́ticos severos.
Quando em 1840 surgiu uma versão em alemão, Gauss tomou conheci-
mento, chegando até a enviar uma carta ao seu amigo Schumacher fa-
lando sobre seu pioneirismo nesse campo [9]. Lobachevsky chamou sua
Geometria de “Geometria Imaginária” e também de “Pan-geometria”.

Lobachevsky foi claramente contra a doutrina kantiana, conforme


ele escreveu em 1835:
82 CAPÍTULO 3. SE. . . ENTÃO. . .

“As tentativas infrutı́veras feitas desde o tempo de Eu-


clides. . . levantaram em mim a suspeita de que a verdade. . .
não está contida nos próprios dados [data]; de que para es-
tabelecê-la seria necessário o auxı́lio de experimentos, por
exemplo, de observações astronômicas, como no caso de
outras leis da natureza”.

Figura 3.18: Nikolai I. Lobachevsky.

Em 1854, como parte dos requisitos para o grau de doutor, sob


a orientação de Gauss20 , Georg Friedrich Bernhard Riemann (1826–
1866) foi apontado para dar uma aula sobre Geometria. Esta aula
— Über die Hypothesen welche der Geometrie zu Grunde liegen21 —
lançou os conceitos fundamentais para uma nova Geometria: a Geo-
metria Riemmaniana ou Geometria Elı́ptica.
Na Geometria Elı́ptica, o Axioma das Paralelas é trocado por:

“Não existem retas paralelas a uma dada reta com um


ponto fora desta”.

Veja abaixo algumas considerações na Geometria Elı́ptica:


20
Gauss escreveu: “A dissertação submetida por Herr Riemman oferece
evidências convincentes. . . de um mente criativa, ativa, verdadeiramente ma-
temática, e de uma imaginação gloriosamente fértil”. Que recomendação!
21
“Sobre as Hipóteses que se Baseam os Fundamentos da Geometria”.
3.7. AXIOMA DAS PARALELAS 83

• Um ponto é “um par de pontos antı́podas” (Felix Christian


Klein, 1849–1925).

• As linhas são cı́rculos máximos.

• As linhas têm comprimento finito.

• Todas as linhas perpendiculares a uma linha r não são paralelas


entre si, e são concorrentes se interceptando num ponto especı́fico
denominado pólo de r.
P

q
r

s
t

P
Figura 3.19: Geometria Elı́ptica.

Nesta configuração da Geometria Elı́ptica, as retas são cı́rculos


máximos (grandes cı́rculos) de uma esfera (meridianos, por exemplo).
Estes cı́culos são os lugares geométricos que nos fornecem o menor
percurso entre dois pontos (nada mais intuitivo para definir uma reta).
Observe que não existem paralelas nessa Geoemtria: todos os grandes
cı́rculos se interceptam.
Na Figura 3.19, vemos que as curvas r, s e t são retas e q, não. O
ponto P é o pólo da reta s. As retas r e s são perpendiculares.
Ao contrário do que possa parecer a primeira vista, estas Geome-
trias são extremamente práticas. Como a Geometria Elı́ptica é útil em
descrever superfı́cies esféricas, as navegações são regidas por ela. Coi-
sas não intuitivas aparecem quando usamos a Geometria Elı́ptica. O
84 CAPÍTULO 3. SE. . . ENTÃO. . .

caminho mais curto entre a Flórida (E.U.A.) e as Filipinas (Ásia) passa


pelo Alasca, por exemplo (pegue seu globo terrestre). Estas três loca-
lidades são aproximadamente colineares na Geometria Elı́ptica [22].
Em um outro escopo, a Teoria Geral da Relatividade de Albert
Einstein propôs que o espaço é curvo. A matéria e a energia distor-
cem o espaço e estas modificações afetam o movimento da matéria
e energia. Pela Teoria de Einstein, a Geometria que descreve estes
fenômenos é a Geometria Hiperbólica. A comprovação experimental
disso foi realizada com a observação da órbita de Mercúrio. Como este
planeta está muito próximo do Sol, a curvatura no espaço-tempo in-
duzida pela massa elevada Sol chega a influenciar significativamente o
movimento celeste de Mercúrio. A Mecânica Celeste de Newton (Geo-
metria Euclidiana) não oferece um modelo que satisfaça o movimento
de Mercúrio, mas o modelo de Einstein (Geometria Hiperbólica) ofe-
rece resultados melhores.
David Hilbert (1862–1943) provou a consistência (ausência de con-
tradição) da Geometria Euclidiana. Eugenio Beltrami (1835–1900) no
trabalho Saggio di interpretazione della geometria non euclidea (1868)
provou consistência lógica das Geometrias Não-Euclidianas (não há
prova possı́vel para o Axioma das Paralelas [9]). E, finalmente, Poin-
caré resumiu bem a mensagem:

“Uma Geometria não pode ser mais verdadeira que ou-


tra: pode apenas ser mais conveniente”.

2

Segue-se o valor da constante pitagórica expressa com 3000 casas


decimais.

2 ≈ 1,
41421 35623 73095 04880 16887 24209 69807 85696 71875 37694 80731
76679 73799 07324 78462 10703 88503 87534 32764 15727 35013 84623
09122 97024 92483 60558 50737 21264 41214 97099 93583 14132 22665
92750 55927 55799 95050 11527 82060 57147 01095 59971 60597 02745
34596 86201 47285 17418 64088 91986 09552 32923 04843 08714 32145
08397 62603 62799 52514 07989 68725 33965 46331 80882 96406 20615
25835 23950 54745 75028 77599 61729 83557 52203 37531 85701 13543
74603 40849 88471 60386 89997 06990 04815 03054 40277 90316 45424
78230 68492 93691 86215 80578 46311 15966 68713 01301 56185 68987
23723 52885 09264 86124 94977 15421 83342 04285 68606 01468 24720
77143 58548 74155 65706 96776 53720 22648 54470 15858 80162 07584
74922 65722 60020 85584 46652 14583 98893 94437 09265 91800 31138
82464 68157 08263 01005 94858 70400 31864 80342 19489 72782 90641
04507 26368 81313 73985 52561 17322 04024 50912 27700 22694 11275
73627 28049 57381 08967 50401 83698 68368 45072 57993 64729 06076
29969 41380 47565 48237 28997 18032 68024 74420 62926 91248 59052
18100 44598 42150 59112 02494 41341 72853 14781 05803 60337 10773
09182 86931 47101 71111 68391 65817 26889 41975 87165 82152 12822
95184 88472 08969 46338 62891 56288 27659 52635 14054 22676 53239
69461 75112 91602 40871 55101 35150 45538 12875 60052 63146 80171
27402 65396 94702 40300 51749 53188 62925 63138 51881 63478 00156
93691 76881 85237 86840 52287 83762 93892 14300 65586 95686 85964
59515 55016 44724 50983 68960 36887 32311 43894 15576 65104 08839
14292 33811 32060 52433 62948 53170 49915 77175 62285 49741 43899
85

86 2

91880 21762 43096 52065 64211 82731 67262 57539 59471 72559 34637
23863 22614 82742 62220 86711 55839 59992 65211 76252 69891 75409
88159 34864 00834 57085 18147 22318 14204 07042 65090 56532 33339
84364 57865 79679 65192 67292 39987 53666 17215 98257 88602 63363
61782 74959 94219 40377 77536 81426 21773 87991 94551 39723 12740
66898 32998 98953 86728 82285 63786 97749 66251 99665 83525 77619
89393 22845 34473 56947 94962 95216 88914 85492 53890 47558 28834
52609 65240 96542 88939 45386 46625 74492 75563 81964 41031 69798
33061 85201 93793 84940 05715 63337 20548 06854 05758 67999 67012
13722 39475 82142 63065 85132 21740 88323 82947 28761 73936 47467
83743 19600 01592 18880 73478 57617 25221 18674 90424 97736 69292
07311 09636 97216 08933 70866 11567 34585 33483 32952 54675 85164
47107 57848 60246 36008 34449 11481 85876 55554 28645 51233 14219
92631 13325 17970 60843 65597 04352 85641 00879 18500 76036 10091
59465 67067 68836 05571 74007 67569 05096 13671 94013 24935 60524
01859 99105 06210 81635 97726 43138 06054 67010 29356 99710 42425
10578 17495 31057 25593 49844 51126 92278 03449 13506 63756 87477
60283 16282 96055 32422 42695 75345 29028 83876 84464 29173 28277
08883 18087 02533 98523 38122 74999 08123 71892 54072 64753 67850
30482 15918 01886 16710 89728 69229 20119 75998 80703 81854 33325
36460 21108 22992 79293 07287 17807 99888 09917 67417 74108 98306
08003 26311 81642 79882 31171 54363 86966 17029 99934 16161 48786
86018 04550 55539 86913 11518 60103 86375 32500 45581 86044 80407
50241 19518 43056 74533 68361 36745 97374 42398 85532 85179 30896
03738 98915 17319 58741 34428 81784 21250 21916 95187 55934 44387
39618 93145 49999 90610 75870 49090 26088 35176 36224 74975 78588
58368 03745 79311 57339 80209 99866 22186 94992 25959 13276 42361
94105 92100 32802 61498 74566 59968 88740 67956 16739 18595 72888
64247 34635 85886 86449 68223 86006 98335 26427 99056 28316 56139
13942 55764 90620 65186 02164 72630 33362 97507 56978 70606 60685
64981 60092 71870 92921 53132 36828
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[26] Weisstein, E., Eric Weisstein’s World of Mathematics.


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Índice Remissivo

(b + c)2 , 24 tábuas, 4

2 Baudhayana, 7
aproximação, 5, 9, 85 Beltrami, 84
Babilônicos, 5 Bhaskara, 25
constante pitagórica, 62 Biblioteca
expansão em frações contı́nuas, de Alexandria, 11
64 de Taormina, 11
Hippasus, 62 Bolyai
irracionalidade, 62, 66 Farkas, 78

−1, veja Número imaginário János, 79
Redutio ad absurdum, 30, 63 Bombelli, 68

Abelhas, 39 Cı́rculos máximos, 83


Anaximandro, 11 Cardano, 67
aluno de Tales, 11 Cauchy, 74
Antı́podas, 83 Contradição, 79
Apastamba, 7 Dedekind, 66
Apolônio, 38, 39 cortes de, 66
Apolodorus, 11 Descartes, 67
Arquimedes, 31, 39 Diagrama da hipotenusa, 17
Astronomia Disco de Poincaré, 80
especulativa, 12 Dissecção, 19
matemática, 25 de Perigal, 55
observacional, 11
Pólya, 44 Egı́pcios, 3, 11
Perigal, 55 Einstein, 84
Axioma das Paralelas, 75–84 Estranho novo mundo, 79
Euclides, 29–31, 36, 39
Babilônicos, 4–6, 11 reductio ad absurdum, 63
sistema hexagesimal, 5 Quinto postulado, 77

90
ÍNDICE REMISSIVO 91

Eudoxus, 30 Lamé, 74
Euler, 69, 72 Lobachevsky, 79
Loomis, 2
Ferecides, 10, 15 Lord Kelvin, 55
Fermat, 71 Lord Rayleigh, 55
Último Teorema de , 72
Filipinas, 84 Mecânica, 39
Flórida, 84 Metafı́sica, 69
Motor a vapor, 58
Garfield, 33
Gauss Número
Último Teorema de Fermat, 73 complexo, 67
último aluno de, 66 imaginário, 67, 69
amigo pessoal de, 78 inteiro, 66
percepção geométrica, 70 irracional, 64
Geometria negativo, 68
Elı́ptica, 82 primo, 73
Elementos, 31 recı́proco, 6
Espacial, 30 zero, 25
euclidiana, 80 Nau cientı́fica Challenger, 55
Heron, 57 Olbers, 73
hiperbólica, 80, 84
Imaginária, 81 Pólya, 43
Plana, 30 Papus, 38
Riemmaniana, 82 Pensamento kantiano, 80
Germain, 74 Pentagrama, 13
Guerra, 44, 59, 65 Perigal, Henry, 53–55
aniversário de, 55
Hardy, 64 Perspectiva, 36
Heron, 57 Pitágoras, 9–16
aeolipile, 58 Pitagóricos, 1, 13–16, 62
Máquinas elementares, 58 Playfair
Hilbert, 84 Axioma de, 76
Hippasus, 62 Poincaré, 80
Precisão, 6
Kant, 80 Ptolomeu, 31, 39
Katyayana, 7
Klein, 83 Quinto postulado, veja Axioma das
Kummer, 73 Paralelas
92 ÍNDICE REMISSIVO

Régua e compasso, 66
Ramanujan, 64

Sólidos cósmicos, 15
Sociedade Pitagórica, veja Pitagóricos
Stokes, 55
Subalsutras, 6–9

Tales, 10
discı́pulo de, 10
Relação de, 2
Teoria dos Números, 30, 44, 71
Theaetus, 30
Tortura mental, 68

Universidade
de Kazan, 81
de Madras, 64
de Princeton, 74

Vedas, 6

Wallis, 74
Wiles, Andrew John, 74
Wolfskehl, 74

Zhai Shuang, 17
Zhoubi, 16–17
93

Caitano de Oliveira Cintra é professor adjunto aposentado da Universidade Fe-


deral Rural de Pernambuco. É mestre em Matemática, tendo como área de pesquisa a
Resolubilidade Local de Equações Diferenciais Parciais. Tem escrito livros em nı́vel de en-
sino médio e graduação sobre Cônicas, Quádricas, Geometria Plana e Álgebra. Foi Chefe
do Departamento de Matemática da Universidade Católica de Pernambuco por mais de
seis anos, sendo agraciado com a medalha do Jubileu de Prata desta universidade. Atual-
mente é professor de Matemática da Faculdade Boa Viagem e da Faculdade de Formação
de Professores de Belo Jardim. Seu interesse atual é Educação Matemática.

Endereço eletrônico: cocintra@operamail.com

Renato José de Sobral Cintra é mestre em Engenharia Elétrica (Processamento


Digital de Sinais) pela Universidade Federal de Pernambuco. Desde 1999, é membro do
Grupo de Pesquisa em Comunicações da UFPE (codec). É membro do The Institute of
Electrical and Electronics Engineers (ieee), American Mathematical Society (ams), Soci-
ety for Industrial and Applied Mathematics (siam) e da Sociedade Brasileira de Telecomu-
nicações (sbrt). Sua área de pesquisa inclui técnicas de transformação, análise espectral
e algoritmos rápidos. Tem grande interesse e entusiasmo pela História das Ciências e por
Tipografia. Atualmente é doutorando em Engenharia Elétrica na UFPE/University of
Calgary, Canadá. É recifense e torce pelo Santa Cruz Futebol Clube.

Endereço eletrônico: rjsc@member.ams.org

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