Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
30097-Texto Do Artigo-34938-1-10-20120706 PDF
30097-Texto Do Artigo-34938-1-10-20120706 PDF
A OCUPAÇÃO
HUMANA
DO NORDESTE
BRASILEIRO
ANTES DA
COLONIZAÇÃO
PORTUGUESA
CARLOS ETCHEVARNE
Museu de Arqueologia e
Etnologia
Universidade Federal da
Bahia
E-mail: etchvrn@ufba.br
D
efinir o Nordeste significa, certamente,
VENEZUELA
GUIANAS
0O
COLÔMBIA
CEARÁ
MARANHÃO
RIO GRANDE DO NORTE
PIAUÍ PARAÍBA
8O
BRASIL PERNAMBUCO
ALAGOAS
SERGIPE
SCO
PERU
NCI
BAHIA
FRA
SÃO
ECOSSISTEMAS
RIO
DO NORDESTE 16O
BOLÍVIA
CERRADO
CAATINGA PARAGUAI
OCEANO ATLÂNTICO
ARGENTINA
ESCALA 1/25.000.000
URUGUAI
0 500 km
INSTALAÇÕES HUMANAS NO
LITORAL: OS SAMBAQUIS
Um tipo especial de sítio arqueológico,
o sambaqui é uma estrutura formada por
um conjunto de conchas, resultante dos
restos alimentares de populações essenci-
almente, mas não unicamente, marisqueiras
(12). Esses acúmulos podem chegar a for-
mar colinas de vários metros de altura, como
resultado do uso prolongado do mesmo
espaço. Essas estruturas serviam igualmen-
te como habitação para os povos coletores, Tembetás do sítio Surubabel (sobre dunas) no
razão pela qual podem ser encontrados submédio São Francisco (BA). Fonte: MAE-UFBA
outros vestígios de atividades, como obje-
tos em pedra e em osso, restos de fogueiras,
enterramentos e material cerâmico.
Evidentemente, dada sua natureza, os
sambaquis só podem ser encontrados em
locais onde a coleta de mariscos era uma
opção econômica para as populações pré-
coloniais do litoral: ilhas e territórios em
volta de baías, com desembocadura de rios
importantes. Até o presente foram locali-
zados sambaquis nas baías de São José, no
Maranhão, e na de Todos os Santos, na
Bahia, mas pessoalmente temos notícias de
sambaquis no litoral de Sergipe, e Gabriela
Martín alude a um provável sambaqui, ou Sítio Surubabel, Setor Paraíso (BA). Fonte: MAE-UFBA
assentamento conchífero, no litoral do Rio
A ARTE RUPESTRE
Nesta síntese da arqueologia das popu-
lações pré-coloniais, não poderíamos dei-
xar de falar de um tipo de sítio arqueológi-
co, talvez o mais conhecido pelo público
não-especializado, porque é reconhecível
Tradição Nordeste, Sítio Mirador, Parelhas (RN).
por todos e desperta questionamentos so-
Fonte: G. Martín 1996 bre suas origens: as representações gráfi-
cas rupestres. Numerosos sítios no Nordeste
são registrados sob a convencional deno-
minação de Arte Rupestre. Gabriela Martín
e André Prous apontam para a mais antiga
referência a uma gravura rupestre, no Bra-
sil, feita por Feliciano Coelho de Carvalho,
na Paraíba, em 1598 (Martín 1996: 208;
Prous 1992:509). Para a Bahia, encontra-
mos um documento do século XVIII, no
Arquivo Histórico Ultramarino, que faz
menção a locais com pinturas rupestres,
com figuras humanas e de animais, encon-
tradas durante uma viagem pelo interior do
estado à procura de salitre.
O território do Nordeste possui um enor-
me acervo de pinturas e gravuras realiza-
das sobre um suporte fixo pétreo, seja em
abrigos, em paredões tipo cânion ou em
afloramentos rochosos. Os grafismos fo-
Beltrão assegura ter encontrado represen- ao culto das águas (Martín 1996: 269). A
tações que evocam sóis e cometas, e que Pedra de Ingá, na Paraíba, é sem dúvida o
estariam associadas a períodos anuais ou mais conhecido dos sítios com gravuras do
calendários (Toca dos Búzios, Toca da Nordeste brasileiro, despertando no imagi-
Esperança e Toca do Cosmo, entre outros nário popular e no pensamento de pseudo-
sítios). Por isso, acredita estar diante de uma cientistas grande fascínio.
nova tradição pictórica que denominou de
Astronômica (Beltrão et al. 1990: 147).
Além das pinturas, o mundo das repre-
sentações gráficas contempla também as
OS GRUPOS INDÍGENAS
gravuras em rochas, denominadas regio-
nalmente de itaquatiaras. Os grafismos, em
DO NORDESTE À CHEGADA DOS
geral pouco ou nada identificáveis com
elementos naturalísticos, foram elaborados
COLONIZADORES
por técnica de raspagem ou picoteamento.
É constante a proximidade a fontes ou cur- A ocupação portuguesa do território
sos d’água, que em alguns períodos do ano nordestino pode ser considerada um divisor
cobrem os grafismos, se estes estão sobre de águas, em termos cronológicos, pelo
lajedos em área inundável. Por essa rela- impacto provocado no universo das socie-
ção de contigüidade alguns autores, como dades indígenas. Efetivamente, com o co-
Gabriela Martín, associam estas itaquatiaras lonizador, uma nova ordem irrompe, trun-
Datações do Nordeste
Maranhão
Fonte: G. Martín 1996. Pré-história do Nordeste do Brasil. Editora Universitária da UFPE, Recife.
Fonte: G. Martín 1996. Pré-história do Nordeste do Brasil. Editora Universitária da UFPE, Recife.
Fonte: G. Martín 1996. Pré-história do Nordeste do Brasil. Editora Universitária da UFPE, Recife.
Pernambuco
Sergipe
Fonte: G. Martín 1996. Pré-história do Nordeste do Brasil. Editora Universitária da UFPE, Recife.
Bahia
Fonte: G. Martín 1996. Pré-história do Nordeste do Brasil. Editora Universitária da UFPE, Recife.
BaH: Laboratório de Física Nuclear Aplicada, Pós-Graduação em Geofísica, UFBA, Salvador - Brasil
Albuquerque, M. 1984 Horticultores pré-históricos do Nordeste. Arquivos Museu de História Natural. Universidade
Federal de Minas Gerais. vol. VIII/IX, pp. 131-43. Belo Horizonte.
________. 1991 Ocupação Tupiguarani no estado de Pernambuco. Anais do I Simpósio de Pré-História do
Nordeste. Clío no 4: 117-8.Universidade Federal de Pernambuco, Recife.
Albuquerque, P. T. S.; Spencer W. B. 1994 Projeto arqueológico: O Homem das Dunas. Clío vol. no 10: 175-88.
Universidade Federal de Pernambuco, Recife.
Barbosa, A. S. 1992 A Tradição Itaparica: uma compreensão ecológica e cultural do povoamento inicial do planalto
central brasileiro. Prehistoria Sudamericana, pp. 145-59. Editorial Universitaria, Santiago de Chile,
Beltrão, M. C. D. J.; Nader, R.; Mesquita, S. S.; Bomfin, M. T. M. P. 1990 Les représentations pictographiques de la
Serra da Pedra Calcaria: Les Tocas de Buzios et de Esperança. L’Anthropologie T. 94 no 1: 139-54. Paris.
Beltrão, M. C.; Leme, S. M. N.; Andrade, C. C.; Dória, F. M.1991 Projeto Central: Primeiros resultados. Anais I
Simpósio Pré-História Nordeste. Clío no 4: 39-47. Universidade Federal de Pernambuco, Recife.
Brochado, J. J. P. s/d A tradição cerâmica Tupi-guarani na América do Sul. Clío no 3: 47-60. Universidade Federal de
Pernambuco, Recife.
Calderón, V. 1964 O Sambaqui da Pedra Ôca. Universidade Federal da Bahia, Salvador.
________. 1967 Notícia preliminar sobre as seqüências arqueológicas do médio São Francisco e da Chapada
Diamantina, Estado da Bahia. Publicações Avulsas no 6: 107-19. Museu E. Goeldi, Belém.
________. 1968 A fase Aratu no Recôncavo e Litoral Norte do Estado da Bahia. Publicações Avulsas no 13: 161-
72. Museu E. Goeldi, Belém.
________. 1971 Breve notícia sobre a Arqueologia de duas regiões do Estado da Bahia. Publicações Avulsas no
15: 163-76. Museu E. Goeldi, Belém.
________. 1972 As Tradições Líticas de uma região do Baixo Médio São Francisco (Bahia). Universitas 12/13:
49-65. Universidade Federal da Bahia, Salvador.
________. 1974 Contribuição para o reconhecimento da Arqueologia do Recôncavo e do sul do Estado da Bahia.
Publicações Avulsas no 26: 141-56. Museu E. Goeldi, Belém.
Cardim, F. 1980 Tratado da gente e da terra do Brasil. Itatiaia/Edusp, B. Horizonte/São Paulo.
Dantas, B. G.; Sampaio, J. A.; Carvalho, M. A. G. 1992 Os povos indígenas do Nordeste Brasileiro. Um esboço
histórico. In: História dos Índios do Brasil, pp. 431-56. Fapesp/SMC/Companhia das Letras, São Paulo.
Diniz, J. F. O Projeto Arqueológico de Xingó e a Pré-História do Baixo São Francisco. Universidade Federal da
Sergipe/CHESF, Aracaju.
Etchevarne, C. 1992 Sítios dunares do Sub-Médio São Francisco, Bahia, Brasil. Journal de la Societé des
Americanistes vol. LXXVIII-I: 57-71.
________. 1993 Acerca das primeiras manifestações ceramistas da Bahia. In: Cerâmica popular, pp. 28-51.
Instituto Mauá, Salvador.
________. 1995 Etude de l’apppropriation des ressources du milieu: les populations pré-coloniales
sanfranciscaine, dans l’Etat de Bahia (Brésil). Tese de Doutorado.
Fausto, C. 1992 Fragmentos de História e Cultura Tupinambá. In: História dos Índios do Brasil, pp. 381-96. Fapesp/
SMC/Companhia das Letras, São Paulo.
Guidon, N. 1991a O Pleistoceno no Sudeste do Piauí. Anais Simp. Pré-História do Nordeste. Clío Série Arqueologia no
4: 17-8. Universidade Federal de Pernambuco, Recife.
________. 1991b Notas sobre dois sítios da área Arqueológica de São Raimundo Nonato (Piauí). Anais Simpósio
Pré-Hist. Nordeste. Clío Série Arqueologia no 4: 19-22. Univ. Federal de Pernambuco, Recife.
________. 1991 As ocupações Pré-Históricas do Brasil (excetuando Amazônia). In: História dos Índios do Brasil,
pp. 37-52. Fapesp/SMC/Companhia das Letras, São Paulo.
Kuhlmann, E. 1977 Vegetação. Geografia do Brasil. Região Nordeste, pp. 85-110. IBGE, Rio de Janeiro.
Machado, A L.; Corrêa, C.; Lopes, D. 1991 Os sambaquis da Ilha do São Luis – MA. Anais do 1o Simpósio de Pré-
História do Nordeste Brasileiro, pp. 99-100. Universidade Federal de Pernambuco, Recife.