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adi ga , tensão p ré-menstrual, de-

F pressão, sintomas da menopausa e


disfunções ginecológicas variadas são
problemas comuns em milhares d mu-
lheres ocidentais. Mas na China, ond e
os tratamentos e cuid ados pres ritos
pela Medi cin a Tradi ional Chinesa
(MTC) integram a vida e o cotidiano
feminin o há milênios , esses si ntomas
são muito mais raros .

Médica formada sim ultaneamente sob


os padrões da medicina ocidental e da
MTC, Xiaolan Zhao constatou a efi cá-
ci a da técnica ori ental em seus pa-
cientes. Em Sabedoria hinesa para a
saúde da mulher, ela nos expli a a filo-
, . sofi a singular em que se fund amenta
essa tradição de cura. Ao parLi.lhar his-
tórias pessoais, relembrando sua ado-
,'\ iescência durante o regime maoista , e
as experiências de seus parentes e pa-
,.. cientes, a Ora. Zhao mostra co mo de-
se nvo lver um novo relac ionamento
com o corpo e as emoções, criando um
estil o de vida li bertador e poderoso.

Com graça e simplicidade, a autora nos


ensina a prevenir e curar disfun ções
comuns e doenças graves equilibran-
do co rpo e mente po r meio do fun -
cionamento harmônico entre os três
órgãos-chave da sa bedori a oriental:
Fígad o , Baço e Rins . egund o a Ora.
Zhao, a forma co mo Iid amos co m a

l
rai va, por exempl o, é um fator extre-
I'

i ·.,
SABEDORIA CHINESA I

fr»tfl a s-cW/e Ja dk._

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ORA. XIAOLAN ZHAO
com Kanae Kinoshita

I
SABEDORIA CHINESA
fata a saúde la ~J~
Tradução
CLAUDIA PINHO

Revisão técnica
MÁRCIO D E LUNA
Presidente d a Associação Brasileira de Acupuntura
do Rio de Janeiro (ABA-R})


NOVA ERA
C IP-BRAS IL. CATALOGAÇÃO -NA - FON T E
SIN DI C ATO NAC ION AL D OS ED ITO RES DE LI V ROS, RJ.

Z61 s Zhao, Xiao la n


Sab ed o ria ch inesa pa ra a saúde d a mulhe r I Xi aola n Z hao; tradução
d e C láud ia Pin ho.- Rio de Jane iro : Nova Era, 2009.

T radução d e: Refl ec tio ns o f the moo n o n wa te r


ISBN 978-85-770 1- 173-5

I . Mu lheres- Sa úde e h igiene. 2. Medicina ch in esa. 3. Medici na a lte rn ativa .


I. Tít ul o.

CDD: 6 13.04 244


09- 1887. C DU : 6 13.99

T itu lo original em inglês:


Rctl ec ti o ns o f the moo n o n water
Cop)'ri ght d a trad ução © 2006 by ED ITO RA BEST SE LLER LTDA .
Copyright © 2006 by Xiaolan Zhao
Publi cado med iante aco rdo com Rando rn Ho use Canada,
uma divi são da Random Ho use of Ca nada Limited .
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Ell iot, T.S .. "East Coker·: Fo ur Q uartets, Copyright © 1944
T S. Ell iot, Faber and Faber Limited .
Maciocia, G iova nni , O bstet ri cs and Gyn necology in C h inese Medi cine,
Copyr ight © 1998 G io vanni Macioc ia , Churchi ll Li vingsto ne.

Proje to grático e diagram ação de miolo: ó de casa


Adaptação de ilustrações de miolo: Mi guel Ca rva lh o
Capa: Mi riam Lerner
Texto rev isado segundo o novo Aco rdo Ortogní fi co da Lín gua Po rt uguesa.
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Impresso no Brasil

ISBN 978-85 -770 1- 173-5

PED IDOS PELO REE MB O LSO POSTA L


Ca ixa Pos tal 23.052
Rio de Janeiro, RI - 20922 -970
Para mínha avó,
9ue tanto me ensínou

! '

.1
Sumárío

Prefácio da. Ora. Carotjm DeMarco 9


Prefácio à eáição 6ra.siCei.ra. 11
I n.troáução 15

PRIMEIRA PARTE
O r9 uídeas De sa broch a nd o no Un íve rso
Um Assim como é em cima, é embaixo 27
Dois Mantendo a harmonia 11

SEGUNDA PARTE

Água Ce lestía l
Três Minha introdução à Água Celesti al 61
Quatro Harm oni zando a Água Celesti al 68
Cinco Nosso relacionamento com nós m esmas 83
Seis Autoc uidados durante a Água Celesti al 86

TERC EI RA PARTE
Bo tões d e Ló tu s
Sete Cuidando de nossos seios 107
Oito Possibilidades no ramo superi or do continuum 117
QUARTA PARTE
Nu ve ns e C huva

Nove Sexo e bem-estar 139


Dez Experiências sexuais das mulheres 143

QUINTA PARTE
A ma durece ndo o Fruto

Ome Plantando a semente 161


D ou Amadurecendo o fruto 174
Treu O trabalho de se desprender 192

SEXTA PARTE
M ês d e O u ro

Quatoru Tradições diferentes 209


Quinze Abrindo o coração 223

SÉTIMA PARTE
S egund a Pr ím ave ra

Dezesseis Entrando na totalidade 23 1


Dezessete Uma transição natural 258

Condusão 283
A9raáecimentos 287
Apêrufu:e 291
Írufu:e 295
~
,@~@-
~6~

Pretácío

uando fui pela primeira vez, há muitos anos, à clínica de Xiaolan


Q Zhao, entrei em contato com um espaço de cura maravilhoso onde
me vi cercada de cuidados e compaixão. Xiaolan aplicou em mim acupun-
tura e massagem, um excelente tratamento curativo. Desde então, muitos
de meus amigos, familiares e pacientes passaram pelo seu consultório- na
verdade, meu marido não consulta outra médica a não ser ela.
O novo livro de Xiaolan, Sabedoria chinesa para a saúde da mulher,
é um trabalho de amor que traz ao mundo a atmosfera de cura de suas
práticas. É um livro esclarecedor e de valor imensurável, que deveria
estar na cabeceira de todas as mulheres. Trata-se de uma visão envolven-
te sobre os estágios da vida da mulher, incluindo inúmeras sugestões
práticas para viver esses estágios em harmonia com o ritmo da natureza,
o que possibilita manter a saúde e evitar doenças.
Na medicina ocidental, tratamos os estágios naturais e saudáveis da
vida das mulheres com inúmeros medicamentos. Prescrevemos grandes
quantidades de pílulas contraceptivas, compostos hormonais, tranquili-
zantes, antidepressivos e outras drogas, muitas das quais prejudiciais à
saúde feminina. Por outro lado, na medicina chinesa, os estágios da vida
da mulher são enaltecidos e celebrados. Quando falam da menstruação,
10 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

usam o termo Água Celestial; a gravidez é chamada de Amadurecimento


do Fruto; o período pós-parto é conhecido como Mês de Ouro, e ameno-
pausa, como Segunda Primavera. O Mês de Ouro, período de resguardo
que segue o parto, é um dos conceitos de que mais gosto na medicina chi-
nesa. Durante o Mês de Ouro, a mãe e o filho são envoltos pela família em
um casulo de amor e cuidados, momento em que recebem atenção inte-
gral, dia e noite, para que possam recuperar a energia perdida durante o
parto. Acredito que a depressão pós-parto e as dificuldades enfrentadas
pelas mulheres no Ocidente diminuiriam significativamente se ao menos
alguns desses princípios fossem adotados.
As antigas tradições da medicina chinesa nunca foram tão necessárias
em nossa sociedade, em que as mulheres se veem cada vez mais pressionadas
para se tornarem supermulheres e sentem-se cansadas, estressadas, não têm
tempo suficiente para dormir e têm de superar seus próprios limites. E em
que não param de aumentar os índices de câncer de mama, doenças cardía-
cas e doenças autoimunológicas, nas quais o corpo ataca seu próprio tecido.
Na arte chinesa do Feng Shui harmonizamos o ambiente para estimu-
lar o fluxo de Qi, ou força da vida. Nosso bem mais precioso, nosso corpo,
a morada onde vivemos, tem de atingir um equilíbrio similar para que
possamos ter a melhor saúde possível e assegurar uma Segunda Primavera
saudável e cheia de vida. Com este livro você aprenderá a cuidar do corpo
no qual vive e a desfrutar integralmente dele.

Carolyn DeMarco, médica


Autora de Take Charge of Your Body: Womens Health Advisor
@-
@ '8'@ -
~o~

Prefácío à edíção brasíleíra

J á faz mais de cinquenta anos que a acupuntura, a "filha mais famosa"


da Medicina Tradicional Chinesa (MTC), foi introduzida no Brasil,
em 1958, pelo Prof. Dr. Friedrich ]. Spaeth. De lá para cá, a MTC passou
por muitas transformações. Na década de 1970, por exemplo, o médico
que praticasse acupuntu ra era censurado publicamente, perseguido, dis-
criminado por seus pares e respondia a processo ético-profissional no
Conselho Regional de Medicina.
Tamanha era a rejeição no meio médico brasileiro que, em 1972, o
Conselho Fede ral de Medicina (CFM) chegou até a baixar a Resolução
467/72, na qual se lê: "A acupuntu ra não é especialidade médica!" No
entanto, tal medida não impediu que, nos anos seguintes, a prática
dessa especialidade crescesse de forma exponencial no Brasil. A maio-
ri a de todos os outros conselhos federais da área de saúde a reconhe-
ceu como recurso terapêutico complementar de seus inscritos (com
exceção dos biólogos e do s nutricionistas, o que não os impede de se
especializarem na área).
Somente em 1995, depois de muito ignorar e até ridicularizar quem
praticasse a acupuntura, é que o Conselho Federal de Medicina fez mea
culpa, voltando atrás na sua decisão ao revogar a Resolução 467/72,
12 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

passando, então, a reconhecer a acupuntura também como uma especia-


lidade do médico.
Durante todo o período compreendido do final dos anos 1950 até o
início da década de 1970, o público brasileiro leigo que desejasse co-
nhecer mais sobre essa maravilhosa ciência terapêutica chinesa não ti-
nha nenhuma opção literária em língua portuguesa. Os livros eram, em
sua totalidade, importados e destinados exclusivamente à formação
profissional dos acupunturistas. Não havia livros de MTC ao alcance
do público em geral.
Em 1972, na esteira da reaproximação comercial e diplomática da Chi-
na com os Estados Unidos, foi editado no Brasil o primeiro livro sobre o
tema voltado para a população leiga: Acupuntura, escrito pelo norte-ame-
ricano Marc Duke, num estilo de narrativa de viagem e com conteúdo ge-
nérico sobre o tema.
Mas somente no ano seguinte, com O que é acupuntura?, publicação
pioneira da Editora Record, que trazia uma abordagem mais detalhada
sobre o assunto e também era dirigida aos leigos, os brasileiros começaram
a conhecer mais sobre a Medicina Chinesa e seus métodos terapêuticos. A
partir daí, o mercado editorial brasileiro não parou de lançar livros sobre
terapias orientais, mais especificamente de origem chinesa.
Porém, até então, nenhum deles havia sido destinado exclusivamente
às mulheres e escrito por uma cirurgiã com formação em MTC e nascida
na China. É o caso de Sabedoria chinesa para a saúde da mulher.
Sua autora, Xiaolan Zhao, é uma médica "convencionar: formada na
China, que teve uma formação acadêmica integrada em MTC,* no próprio
curso de graduação. Logo aprendeu a usar todos os recursos: acupuntura,
fitoterapia, terapias manuais (Tui-Ná etc.), Qi Gong e dietoterapia tradi-
cional chinesa. Atualmente, está radicada no Canadá, onde dirige uma clí-

* Na China, há universidades exclusivas de Medi ci na Tradicional Chinesa (MTC) que for-


mam médi cos, acupunruristas e profissionais de saúde de nível superior nas di versas modali-
dades da MTC. Existem, também, universidades que oferecem o curso de medicina conven-
cional {"não o rienral", MC) . Algumas instituições possuem currículos inregrados que permi-
tem aos egressos, simultaneamente, ambas as formações acadêmicas: MC e MTC.
PREFÁCIO À EDIÇÃO BRASILEIRA 13

nica exclusiva de MTC, atendendo centenas de pacientes diariamente com


sua equipe de profissionais.
Sabedoria chinesa para a saúde da mulher é o primeiro livro da autora
e não pretende ser uma obra feminista (por mais que possa parecer em
alguns momentos), mas uma tentativa de responder as questões femininas
mais íntimas sob a perspectiva da Medicina Tradicional Chinesa com o
olhar atento e o viés de uma chinesa que, além de atuar como profissional
de MTC, também trabalha com medicina ocidental. Dirige-se em especial
às mulheres, mas não exclusivamente a elas, pois a Ora. Zhao transmite
um conhecimento universal, independente de gênero.
O texto é de linguagem fácil, agradável e informativa. Você terá a sen-
sação de estar lendo um romance cujo personagem principal é a própria
MTC, e o cenário são as pessoas que vão se submetendo a ela e têm suas
vidas transformadas profundamente pelas mãos da autora, a coadjuvante
que facilita a recuperação daqueles que a procuram.
O livro inicia o leitor nos fundamentos da Medicina Tradicional
Chinesa e na forma como essa ciência vê o fenômeno biológico, o ser
humano, sua corporeidade e o meio ambiente que o cerca e que com-
põe o contexto propiciador de saúde ou de doença, que a MTC tanto
valoriza no processo de cura que promove. A autora dá dicas simples
e preciosas sobre como as mulheres podem ter mais saúde, prevenir
doenças e viver melhor segundo os conhecimentos da sabedoria mi-
lenar da MTC: meditando; pressionando os pontos corporais de acu-
puntura; tomando chás medicinais; alimentando-se com sabedoria;
administrando com inteligência as emoções dissonantes da vida diá-
ri a e adotando comportamentos mais harmônicos e positivos como,
por exemplo, o uso do perdão co mo um instrumento de cura da ener-
gia vital , da mente e do es pírito femininos (e por que não dizer mas-
culinos também?).
Esta obra tem como ponto de partida e referência a vida da autora
na sua infância, adolescência e juventude na China, na época da Revo-
lução Cultural de Mao Tsé-tung. O clima conturbado daquele momen-
to hi stórico e a educação chinesa rígida da época são muito bem
14 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

retratados ao longo do livro, bem como a supervalorização da família e


dos idosos* pela sociedade chinesa. Tudo narrado de maneira interes-
sante e comparativa com os valores e a sociedade ocidentais.
A forma simbólica, quase poética, de o povo chinês nomear as fases
importantes da vida de uma mulher, como a menstru ação ("Água Celes-
tial"), a gravidez ("Amadurecendo o Fruto"), o puerpério ("Mês de Ouro")
e a menopausa ("Segunda Primavera"), é ressaltada no livro, juntamente
com valiosas dicas terapêuticas e preventivas da MTC, a fim de tornar mais
harmônica cada uma dessas fases feminin as.
Por fim , a autora defende seu ponto de vista a respeito do relaciona-
mento homossexual entre mulheres sob a ótica da MTC, disserta acerca da
importância do sexo como forma de promoção da saúd e e faz suas consi-
derações sobre a Terapia de Reposição Hormonal.
Tenho certeza de que este livro agradará a mulher brasileira e fará com
que ela busque mais os tratamentos da Medicina Tradicional Chinesa para
alívio de seus males.
Boa leitura!

Prof. Márcio De Lu na, MSc ...


diretoria@abarj. com. br

• O s chineses não costumam co memorar seus aniversári os até co mpletarem 60 anos,


quando, então, num sinal claro de va lo ri zação profund a d a. terceira idade, passa m a
celebrá- los. Cada ano é a mplamente fes tejado po r toda a fa m íli a do idoso, co mo um
impo rtante aco ntecimento fa mili ar.
•• Espec ialista em acupuntu ra desde 1984 e ex-aluno do res po nsável po r introduzir a
prática da acupuntura no Bras il , Pro f. Friedrich J. Spae th ; professo r de Acupuntura &
MTC desde 1999 ; mestre em C iência da Mo tricidade Humana pela Universidade
Castelo Bran co (UCB- RJ ); pres idente da Associação Bras ileira de Acupuntura d o Rio
de Janeiro (ABA- RJ ); fisioterapeuta graduado pela Faculdade de Reabilitação da AS-
CE-RJ (FRASCE- RJ) .
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~o~

Introdução

F m 1986, estava trabalhando como cirurgiã-geral no pronto-socorro do


L maior hospital da cidade de Kunming, na China, quando uma mulher
de 24 anos chamada Jiayu foi trazida às pressas. Estava vomitando sangue
vermelho vivo e, com base na coloração, presumi que se tratava de uma he-
morragia na parte superior do trato digestivo. Eu e minha equipe médica a
operamos imediatamente, mas não conseguimos descobrir a causa do san-
gramento. Três horas depois, Jiayu estava novamente vomitando sangue.
Intrigados e preocupados, consultamos o presidente da instituição,
que era o médico-chefe do hospital. Ele aconselhou-nos a tentar mais
uma cirurgia exploratória, desta vez procurando a causa da hemorragia
na região mais baixa, incluindo intestino delgado, pâncreas e vesícula bi-
liar. Depois de uma ou duas horas de cirurgia, utilizando toda a tecnolo-
gia médica que tínhamos à disposição, não havíamos conseguido localizar
a causa do sangramento de Jiayu. Todos estavam apavorados. Já havíamos
realizado inúmeras cirurgias abdominais bem-sucedidas para tratar doen-
ças graves, mas, dessa vez, não estávamos obtendo sucesso. Em questão de
horas, Jiayu estava mais uma vez vomitando sangue.
Decidimos realizar uma reunião de emergência com os cinco maiores
cirurgiões do hospital. Quando a enfermeira lhes telefonou, todos esta-
16 SAB EDORIA C HIN ESA PARA A SAÚDE DA MULHER

vam em casa, pois era m adrugada. Mesmo assim, chegaram ao hospital


logo em seguida e vestiram pro ntamente os trajes cirúrgicos. Realizamos,
em conjunto, uma tercei ra operação, analisa nd o co m cuid ado todos os lo-
cais examinados anteriormente. Não havia, porém, nenhum ferimento,
nenhum sangramento interno -estava tud o limpo. Já se havi am passado
ce rca de 24 horas desde a intern ação de Jiayu e não estávamos chegando
nem perto de descob rir o motivo de ela estar vomitando sangue. Uma sen-
sação de impotênci a tom ava conta de todos.
A família de Jiayu permaneceu no hospital o tempo todo. Até hoje, lem-
bro-me de seu marido que, como era de se esperar, estava completamente fora
de si e não conseguia ficar de pé nem articular qualquer pensamento. Só con-
seguia chorar o amor que tinha pela esposa. As esperanças, tanto para ele
quanto para a filhinh a de 8 meses do casal, estavam se esvai ndo. O presidente
do hospital procurou-me e disse: "Xiaolan , faça qualquer coisa que você acre-
dite que possa ajudar. Estamos a ponto de perdê-la:' Ele sabia que eu também
era m édica da Medicina Tradicional Chinesa (MTC) e pediu que tentasse sal-
var Jiayu com base nesse meu conhecimento.
Havia estudado várias fórmulas trad icion ais chinesas preparadas à
base de ervas, supostamente eficientes para estancar h emorragias. Le m -
brei-me de uma, em particul ar, chamada fórmula Yellow Ea rth.* Fui até
minha sala e consultei um livro de referências. D ei à família de Ji ayu a lista
com os ingredientes e as instruções. Eles teri am de prepara r o remédio em
casa e trazê-lo para o hospital pois não tínhamos instalações para cozinhar
as ervas. Quatro horas d epois, retornaram com o remédio.
Naquele momento, Jiayu já havia perdido tanto sangue que estava in -
consciente e extremamente fraca. Continuava viva graças apenas aos lí-

• Fórmula trad icio nal ch inesa patenreada cujo nome em chin ês é " Huang Tu Tang"; é
composta pelos seguinres componenres: Fu Long Gan (ter ra Fiava Usta), 37o/o; Baizhu
(Rhi zoma Arracrylodis macroceph alae), li o/o; Fuzi (radix Aco niti carmi chael i), 8o/o;
Sheng Huang (radix Rehmanniae G lu tinosae), li o/o; E J iao (gelatinum corri as ini), li o/o;
Huang Qin (radix Scutellariae Baicalensis), l i o/o; Ga ncao (radix G lycy rrhizae uralensis) ,
li o/o. Sua indicação é para controlar hemorragias (uterinas), melena (fezes hemordgi-
cas), hem atêmese (vômitos sangui nolentos) e episraxe (sangramento nasa l). (N. do R. T)
1 TRODUÇÃO 17

quidos intravenosos e às transfusões sanguíneas que havíamos realizado.


Administramos as ervas por um tubo colocado em seu nariz e ficamos
aguardando. Duas horas se passaram e ela não vomitou mais. Passaram-se
então três horas, seis horas, vinte horas e 24 horas. Algo no composto de
ervas estancou o sangramento.
Para mim, essa experiência foi uma demonstração extraordinaria-
mente poderosa da eficácia da MTC.* Até então, havia visto ervas ali-
viando sintomas de resfriados, acupuntura aliviando problemas de
sinusite ou Tui -Ná (massagem chinesa) aliviando dores nas costas, mas
nunca havia presenciado uma situação em que a medicina chinesa salva-
ra a vida de alguém em uma emergência na qual a medicina ocidental
não tinha dado resultados. Havia estudado em uma escola de medicina,
no mundo racional da ciência baseada em provas. Para mim, um mais
um era igual a dois, e considerava que as soluções para os problemas
poderiam ser encontradas com base na lógica. A medicina ocidental, no
entanto, não tinha uma explicação para a eficácia da fórmula Yellow Earth .
Apesar de tudo isso, a causa do sangramento de Jiayu continuou a ser um
mistério. Nunca descobrimos a fonte da hemorragia.
Vieses ou tendenciosidades vêm à tona quando se busca entender a
MTC aos olhos da medicina ocidental. A MTC começou a se desenvolver
há mais de cinco milênios, 4.500 anos antes das tradições científicas do
Ocidente, em uma cultura caracterizada por uma visão única do mundo e
pela proibição de dissecação de seres humanos. A fim de desenvolver um
sistema e uma terminologia médica, os antigos praticantes tiveram de se
basear em seu poder de observação e em métodos de tentativa e erro. Con-
sequentemente, tinham um entendimento do corpo e das doenças diferen-
te do do Ocidente. E, apesar disso, após séculos de julgamentos e avaliações,
a MTC sobreviveu à prova do tempo. Continua a ser parte integral do sis-
tema de saúde na China e é praticada em conjunto com a medicina ociden-

* MTC - para Medicina Tradicio nal Chinesa, composta por cinco grandes ramos:
acupuntura e moxibustáo, dietoterapia tradicional chin esa, exe rcícios terapêuticos chi-
neses, Tui- Ná e terapi as manuais chinesas, e Qi Gong. (N. do R. T)
18 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA M UL HER

tal em muitos hospitais. Na verdade, médicos da medicina ocidental e da


MTC recebem a mesma carga educacional e treinamento e são igualmente
respeitados. As pessoas buscam tanto a medicina ocidental quanto a chi-
nesa, dependendo da natureza da doença. Para problemas graves, tais
como ataques cardíacos, vão ao pronto-socorro de hospitais que adotam o
sistema de saúde ocidental. Para doenças crônicas, como artrite ou enxa-
queca, geralmente consultam um praticante da MTC. Cada disciplina tem
suas virtudes, o que faz com que a combinação das duas práticas gere óti-
mos resultados. Médicos praticantes da medicina ocidental convidam,
com frequência, um praticante da MTC para obter informações sobre um
caso em particular, e vice-versa.
No O cidente, a MTC co ntinua a ser considerada uma medicina alter-
nativa. Nas últimas décadas, porém, centenas de estudos vêm sendo rea -
lizados com o objetivo de trazer um a base mais científica para a MTC.
Uma série de estudos controlados de acupuntura, por exemplo, vem reve-
lando sua eficácia no tratamento de várias doenças, entre as quais dores
de cabeça, dores lombares, síndrome do túnel ca rpa!, derrames, vícios e
infertilidade, e também como forma de minimizar os efeitos colaterais
dos tratamentos de câncer. Em 2004, os resultados de um estudo impor-
tantíssi mo financiado pelo National lnstitutes of Health (NIH)* desco-
briu que, quando tratados com acupuntura, pacientes com osteoartrite
nos joelhos tiveram uma diminuição de quarenta por cento nas dores e
uma melhoria de quarenta por cento nas funções.
A ciência ocidental mostra que a acupuntura traz resultados, mas ain-
da não conseguiu explicar como ela funciona. Não acei ta a explicação apa-
rentemente irracional da MTC, baseada na premissa de que as agulhas
inseridas em pontos específicos ao longo de caminhos de nossos meridia-
nos são capazes de liberar o fluxo de Qi, ou energia vital, que afeta nossa
saúde. Por vezes, os fenômenos são inexplicáveis, mas nem por isso menos
eficien tes quanto à sua capacidade de obter res ultados.

* Órgão do gove rno dos Esrados Unidos similar ao Minisrério da Saúde no Brasil , que
n
fom enra pesqui sas na área de saúde. (N. do R.
INTRODUÇÃO 19

Em 1992, mudei-me para o Canadá e abri uma clínica de MTC em


Toronto, onde hoj e trato mais de sete mil pacientes que se beneficiam da
medicina chinesa. Em geral, têm dificuldade em explicar o alívio ou bem-
estar que sentem. Podem não conseguir explicar, de forma lógica, o que
aconteceu em seu corpo, mas passam a acreditar que as práticas da medi-
cina chinesa podem ajudá-los.
Grande parte das pacientes que me procuram apresenta problemas de
saúde similares. Sinto compaixão por elas. Vejo mulheres lutando contra o
cansaço, a depressão, os problemas menstruais, a infertilidade, as dores
crônicas e o câncer- em especial, câncer de mama. Prescrevo-lhes trata-
mentos que combinam acupuntura, Tui-Ná e ervas chinesas. Elas conse-
guem resultados eficiente e a maioria quer aprender mais sobre a medicina
chinesa. Cheguei à conclusão de que um livro como Sabedoria chinesa para
a saúde da mulher, que seria focado na saúde da mulher e em tornar a me-
dicina chinesa acessível a todos os leitores, poderia ser útil.
Para muitos ocidentais, a medicina chinesa parece complicada e esotérica.
Acham intimidadoras as discussões sobre Yin e Yang* ou sobre a energia da
vida conhecida como Qi. Na verdade, a medicina chinesa é extremamente di-
reta e de fácil compreensão e aplicação. Baseia-se na natureza, no antigo co-
nhecimento sobre ervas e nos recursos de cura do próprio organismo. Por
vezes, posso tratar a sinusite de uma paciente com eucalipto ou outras ervas
conhecidas e ela dirá: "Nossa, tem o cheiro de algo que minha avó co tumava
me dar:' Boa parte da medicina chinesa baseia-se na intuição e no bom senso.
Eu sempre soube que a medicina chinesa é capaz de tratar doenças,
mas uma das áreas na qual tive vontade de me concentrar neste livro é a da
prevenção das do enças. Antigamente, os praticantes da medicina chinesa
só recebi am seu pagamento quando os pacientes ficavam curados. Afinal
de contas, se estavam doentes, não tinham condições de trabalhar para

• Pode-se di zer que Yin é a co nrrapa rre ou polaridade negariva da energia vira! (Qi) , e
o Yang seria a conrraparre ou polaridade posiriva dessa mesma energia; embora os ideo-
gramas chineses represenrarivos dessas polaridades queiram representar a parre ilumina-
da pelo sol de uma monranha (Yang) e a parre sombria dessa mesma montanha (Yin).
(N. do R. T)
20 SABEDORIA CHINESA PARA A AÚDE DA MULHER

ganhar o necessário para pagar o médico. Assim sendo, era interesse de


todos evitar que as pessoas adoecessem.
Essa abordagem preventiva prioriza a harmonia e o equilíbrio em
nossa vida diária dando atenção e pecial aos alimentos que ingerimos, à
forma como nos exercitamos e como lidamos com nossas emoções, vida
sexual, trabalho e sono. É o equilíbrio entre esses diferentes aspectos que
gera mais energia e nos protege das doenças. A MTC pede que sejamos
responsáveis com nossa saúde e nos ajuda nesse processo. É isso que con-
sidero tão valioso nesse enfoque com a saúde: a MTC não visa somente a
cura das doenças, mas propõe viver a vida com mais equilíbrio, mais
consciência e vitalidade.
Muitas mulheres têm dificuldade em confiar em seu próprio corpo e
em se conectarem aos aspectos positivos do ciclo feminino. Independente-
mente do país onde vivemos, nossas experiências em sociedades machistas
são imilares: as mulheres têm pouco apoio cultural à medida que passam
por algumas transições importantes. Com isso, temos dificuldade em con-
fiar em nosso corpo e em nos ligarmos aos aspectos positivos do ciclo fe-
minino. No Ocidente, muitas vezes vemos a menstruação como algo sem
sentido ou como um sofrimento ("o incômodo"), em vez de percebê-la
como uma oportunidade de desenvolver um novo relacionamento com
nosso corpo. Podemos encarar o nascimento de um filho como uma inter-
rupção em nossa vida, em vez de algo que cria um novo sentimento de
união. Vemos a menopausa a partir de uma perspectiva sombria, como o
fim da juventude, em vez de percebê-la como o início de um período de
crescimento espiritual e de novas descobertas. A sexualidade feminina é,
geralmente, associada à juventude e à imagem do corpo. A sociedade espe-
ra que sejamos magras até envelhecermos e, quando envelhecemos, é como
se nossa vida sexual tivesse chegado ao fim. A medicina chinesa, por outro
lado, entende a sexualidade como um aspecto para toda a vida e algo vital
para a saúde e longevidade. A energia sexual é apenas uma corrente da
energia que flui em nós e nos mantém fortes.
Em minha clínica, as pacientes geralmente se abrem comigo e contam
o que lhes incomoda emocionalmente. Dado que a acupuntura libera o flu-
INTRODUÇÃO 21

xo de energia* no corpo, os sentimentos geralmente vêm à tona. Na MTC,


o corpo e a mente são inseparáveis, e sintomas psicológicos crônicos estão,
muitas veze , relacionados a emoções malresolvidas. Fico impressionada
com os medos e as ansiedades que as mulheres sentem com relação ao cor-
po, à vida sexual, à doença e com a possibilidade de envelhecer. Esses me-
dos sugam sua saúde e as deixam deprimidas. De acordo com a MTC, esses
sentimentos negativos contribuem para o desenvolvimento da doença.
Como podemos cuidar de nossa saúde se não cultivamos um nível bási-
co de amor e respeito pelo nosso corpo e pelos diferentes estágios da vida da
mulher? Ao escrever este livro, espero encorajar as mulheres a desenvolve-
rem um relacionamento mais delicado e apaixonado com elas mesmas. Po-
demos passar a ter consciência de novas maneiras de nos relacionarmos com
nosso corpo, coração e mente, e esse tipo de conscientização é uma parte
importante de minha prática, em que questiono determinadas situações:
como podemos nos reconectar à nossa verdadei ra natureza? Como pode-
mos nos convencer de que os ritmos de nosso corpo são naturais e bons?
Apaixona-me poder compartilhar os dons da Medicina Tradicional
Chinesa. Quero mostrar às mulheres como elas podem usá- la para evitar
doenças, proteger sua vitalidade e passar a ter consciência de sua própria
capacidade de se sentir bem e de autocura. A MTC utiliza um enfoque
colaborativo com relação à saúde e pede que nos liguemos à natureza. Ela
pressupõe que a capacidade de cura está dentro de nós mesmas, e não nas
mãos de médicos especialistas. A medicina ocidental, muitas vezes, carac-
teriza as transições naturais da vida da mulher como anormais. ºiscuti-
mos mais o risco da depressão pós- parto do que a emoção profunda que
acompanha o fato de uma mulher tornar-se mãe. Na menopausa, falamos
mais sobre a necessidade de reposição hormonal ou de outros medicamen-
tos do que sobre as chances de exploração e evolução espirituais que sur-
gem com a idade. A MTC trata as fases da vida da mulher como transições
saudáveis e oferece apoio à medida que passamos por elas.

* A MTC chama de "Qi" esse Auxo de energia (pronuncia-se "tchi " como em "tchau",
n
da expressão brasi leira informa l, ao se dar adeus a alguém). (N. do R.
22 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

Na MTC, a doença é uma expressão da pessoa como um todo - cor-


po, mente e espírito - em relação ao ambiente. A medicina chinesa não
trata os sintomas isolados em partes isoladas do corpo. Ela estimula, deli-
cadamente, uma conscientização do eu como um todo, o que, por sua vez,
gera força e cura. Consequentemente, tentei organizar este livro utilizando
os mesmos princípios holísticos, em vez de dividi-lo de forma a discutir as
partes do corpo e as condições médicas separadamente. Começo o livro
com uma pequena introdução sobre os princípios básico da MTC - o
conceito de Yin e Yang, do Qi , dos Orgãos Zang-Fu* e da Cinco Fases.**
Para diferenciar a forma como a medicina ocidental e a MTC veem deter-
minados órgãos e líquidos, optei por utilizar maiúsculas quando se trata
dos órgãos e líquidos na visão chinesa. I: preciso ter em mente que esses
conceitos podem ser novos para você e talvez de difícil apreensão, mas é
necessá rio ter algum conhecimento sobre eles para entender a medicina
chinesa. Não se preocupe caso não compreenda tudo de uma vez; os con-
ceitos irão se tornar mais claros à medida que você avança pelos capítulos,
além do fato de poder consultar a Primeira Parte sempre. Em todo o livro,
tentei relacionar as explicações teóricas a histórias tirada de minha pró-
pria vida e experiências que tive com minhas pacientes.
O livro segue a narrativa natural da vida de uma mulher conforme ela
evolui da puberdade para a gravidez, o parto, a menopausa e assim por

• Zang-Fu po d~ r-se- i a u aduzir co mo órgãos e vísceras, segundo a MTC. Essa expres-


são chinesa comp ree nde uma das teorias básica que Fundamenta a MTC , que class ifica
os órgãos intern os em: ó rgãos maciços (Za ng) e vísceras ou ó rgãos ocos (Fu), cujas
polaridades energéticas de cada um eriam, respecti va mente, Yin e Yang. Para a MTC,
os Zang são: co ração, baço, pân creas , pulm ão, rim e fígado ; e os Fu são: inte tino
grosso, intestino delgado, e tô rmgo , bexiga e vesícub biliar. (N. do R. T)
•• Cinco Fases ou "Wu Xing" é uma o utra impo rtante teoria Fundamental em Medici-
na Tradicional Chinesa que classifica os Zang-Fu em cinco catego rias (ou elementos da
natureza) : Fogo, terra, metal, água e madeira: endo que o Fogo compreenderia o coração
e o intestino delgado; a terra, o estômago, o baço e o pâncreas; o metal, o pulmão e o
imestin o grosso; a água, o rim e a bexiga: e a madeira, o fígado e a vesícula biliar. Essa
teori a também é co nhecida, em MTC, como teoria dos "Cincos Elemenro "o u "Cinco
Movimentos". (N. do R. T)
INTRODUÇÃO 23

diante. Utilizei termos chineses para essas fases, que são poéticos e basea-
dos na natureza. Assi m sendo, a Segunda Parte, sobre a menstruação, é
chamada d e "Água Celestial", e a Quinta Parte, sobre a gravidez, intitula-se
"Am ad urecendo o Fruto': O período pós-parto é cham ado de "Mês de
Ouro" (Sexta Pa rte) . A menopausa (Sétima Parte) é chamada de "Segunda
Primavera': Também inclu í uma seção intitulada "Botões de Lótus" (Ter-
ceira Parte), ded icad a à saúde dos seios, questão tão problemática no Oci-
d en te- um a em cada nove mulheres terá câ ncer de mam a- e intimamente
ligada a cada estágio dos ciclos femininos. A Qua rta Parte, "Nuvens e Chu-
va", trata d a sexualid ade e explora como podemos ap rofund ar e direcionar
nossas energias sex uais no decorrer da vida. Espero que esse esquema aju-
de as lei to ras a terem uma noção do espírito integ rado da MTC.
Espero que, ao compartilhar meu entendimento e minha experiência so-
bre a Medicina Tradicional Chinesa e contar histórias de minha vida e da vida
de minhas sábias e corajosas pacientes, você apreenda conhecimentos e práti-
cas que possam lhe ajudar em suas transições. Além disso, desejo de coração
que este livro ajude cada uma de nós a se conectar com o que há de autêntico
em nosso íntimo, em uma jornada de cura à cami nho da integridade.
Prímeíra parte

ORQUÍDEAS DESABROCHANDO
NO UNIVERSO
CAPÍTULO UM
,@-
,@~@­
B'('l~

Assím como é em címa, é embaíxo

uando se pergunta a um praticante da medicina ocidental sobre o


Q corpo humano, é provável que ele o descreva como "um organismo
que pode ser dividido em partes. É como uma máquina, na qual órgãos e
sistemas distintos podem ser desmembrados, examinados e entendidos':
Como praticante da Medicina Tradicional Chinesa, porém, eu diria: "Há
uma pessoa inteira, incluindo o corpo, um todo unificado. Todos os aspec-
tos de um indivíduo - físicos, emocionais, mentais e espirituais - são in-
ter-relacionados e interdependentes, e uma parte não pode ser entendida a
não ser se relacionada ao todo. Cada ser humano é um corpo-mente-espíri-
to orgânico unificado:' Quando uma paciente vem ao meu consultório, ob-
servo sua expressão, o brilho dos olhos, a pele, o comportamento, o formato
do corpo, a postura e o cheiro. Tomo seu pulso* e examino sua língua. Faço
perguntas para começar um bate-papo e ouço cuidadosamente o que ela
diz. Uso todos os meus sentidos para perceber sinais e sintomas externos
q~ refletem a dinâmica do que acontece em seu corpo, método de diagnós-

* O exame chinês do pulso (realizado no punho, na artéria radial) é um dos quatro mé-
todos de diagnó tico em MTC (observação, interrogação, ausculta e olfação e palpação) e
é considerado imprescindível à boa prática da MTC e da Acupuntura. (N do R. T)
28 SABEDORIA C HINES A PARA A SAÚDE DA M U LHER

tico que aprendi com antigos praticantes chineses. A forma como eles enten-
diam e desc reviam o funcionamento do corpo humano tinha por base a
filosofia taoista e foi moldada por ela. Essa filosofia considerava que os huma-
nos são um aspec to da natureza e, como tais, são regidos pelas mesmas leis
naturais que comandam o universo. Assim sendo, eles consideravam cada
indivíduo um universo em miniatura, ou um microcosmo, com analogias ao
universo maio r. O antigo tratado da medicina chinesa Huang Di Nei ]ing, • ou
Clássico da medicina do imperador amarelo, explica: "O céu tem o sol e a lua,
os humanos têm dois olhos( ... ) o céu tem o trovão e a luz, os humanos têm
o som e a fala; o céu tem o vento e a chuva, os humanos têm a alegria e a raiva.
( .. . ) o céu tem o inverno e o verão, os humanos têm o quente e o frio.( ... ) o
céu tem a manhã e a noite, os humanos têm o sono e o despertar:'
Os taoistas viam o unive rso como algo orga nizado e harmonioso.
Acreditavam que aqueles que viviam segundo suas leis alcançariam a
harmonia. Uma forma d e conseguir isso seria agir em harmonia com as
estações, recolhendo -se qu a ndo o sol se põe, levanta ndo quando o sol
nasce, vestindo -se adequadamente, de acordo com o tempo, e ingerindo
alimentos da estação. As mudanças no comportamento deve m espelhar
as mud anças ocorridas no âmbito universal, pois o que é benéfico para o
macrocosmo (o todo da nat ureza) é benéfico para o indivíduo (o micro-
cosmo) e vice-versa.
Esse conceito, visto de outra perspectiva, demonstra que o que sustenta
o ambiente sustenta os organismos vivos. Por exemplo, a chuva sustenta as
árvores e plantas e enche lagos, rios e riachos, os quais nos fornecem água
potável. No âmbito microcósmico, a água é necessária para todas as partes

• Primeiro livro de medicina da humanidade, co nsiderado a "Bíblia" da MTC. Divide-


se em duas partes: "Ling Sh u" e "Su Wen". A primeira parte é sobre a prática da ac upun-
tura em si e a segunda é escrita no formara de perguntas e respostas entre o imperador
amarelo {Huang Oi) e seu acupunrurista, Qi Bo, versando sobre saúde, doença e o o r-
ganismo e suas leis. Jing, em chinês, significa li vro, e "Nei" significa interno, portanto a
tradução literal poderia ser: "Tratado de med icina interna do imperador amarelo". Foi
compilado enrre o período dos Estados Combatentes (475-22 1 a.C.) e a dinas tia Han
do Oeste. (N. do R. T)
ORQUÍDEAS DE ABROCHANDO NO I VERSO

de meu corpo. Consequentemente, não é possível isolar uma pa1te de meu


corpo ou um sintoma sem a devida consideração do restante. Também não
deveríamos tratar uma doença sem entender de que forma ela afeta o restan-
te do corpo ou o que pode ter causado um sintoma específico. Se um pacien-
te ch ga ao meu consultório com manchas vermelhas e com coceira, observo
não apenas sua pele mas também pergunto sobre sua saúde gastrointestinal
e respiratória já que, na MTC, os três elementos estão relacionados. Também
me interesso em saber se a pessoa sofreu alguma perda significativa na vida,
já que a tristeza pode ser um fator que faz surgir as doenças pulmonares, o
que, por sua vez, pode levar à inflamação da pele.
Todas as disfunções e doenças são resultado de um desequilíbrio no
corpo. Os antigos chineses viam tudo no universo, inclusive nós, como
uma interação entre duas forças opostas que se alternam constantemente:
o frio, no inverno, transforma-se em calor no verão; a escuridão da noite
dá lugar à luz do dia; o descanso é substituído pela atividade. Essas duas
forças opostas são conhecida como Yin e Yang.

YIN EYANG

Tudo o que há na natureza, assim como todas as atividades da vida, apre-


senta dois aspectos contrários: o aspecto Yin e o aspecto Yang. Yin signi-
fica "o lado somb rio da montanha", enquanto Yang corresponde ao "lado
ensolarado da montanha". Yin está associado à sombra, ao frio, à contra-
ção, à lu a, à água, à inatividade, ao feminino e à matéria. Yang associa-se
à claridade, ao calor, à expansão, ao so l, ao fogo, à atividade, ao masculi-
no e à energia. Esses dois aspectos aparentemente opostos são os dois
lados da mesma moeda.
O ca lor e o frio são características de temperatura; o dia e a noite,
aspectos do tempo. Um depende do outro para existir, afinal, como
poderia haver a noite se não houvesse o dia, ou a parte de trás se não
houvesse a da frente?
A tensão dinâmica e a transformação constante entre o Yin e o Yang é o
que gera a energia que nutre a natureza e a vida humana. Yin e Yang são como
30 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

as forças elétricas entre o positivo e o negativo, ou o simples truísmo de que "os


opostos se atraem': Yin é feminino e Yang, masculino. E, obviamente, é a união
dessas duas energias que cria vida nova. Yin e Yang fazem o mundo girar.
O símbolo do Yin e Yang é um círculo, metade escuro (Yin) e me-
tade claro (Yang), dividido por uma linha curva que representa o mo-
vimento incessante e dinâmico que subjaz tudo o que tem vida, assim
como o equilíbrio harmônico que existe entre forças opostas (ver Fi-
gura 1). Há um ponto esc uro na metade clara e um ponto claro na
metade escura, o que indica que não há nenhum fenômeno exclusiva-
mente Yin ou Yang. Por exemplo, sou relativamente ba ixa comparada
a uma pessoa de l ,80m, mas alta comparada a uma criança de l ,20m.
Os pontos também mostram que a fonte de seu estado oposto é ineren-
te em qualquer fenôm eno. Por exemplo, logo após nosso nascimento,
passa a existir a possibilidade da morte. O conceito Yin e Yang reflete
a visão oriental de que os opostos* não devem competir nem derrotar
um ao outro, ou entrar em conflito, já que cada aspecto contém, com-
plementa ou equilibra o outro.
Como tudo o que há no universo, somos uma combinação de Yin e
Yang. Nossa cabeça, por posicionar-se no alto, é Yang, nossos pés, Yin.
Nossas costas são Yang e nossa frente é Yin. A MTC descreve cada parte
de nosso corpo, incluindo nossos órgãos e lí-
quidos, como predominantemente Yin ou Yang
e vê a saúde** como a capacidade de manter um
equilíbrio entre esses dois aspectos, o que se
consegue vivendo em harmonia com os princí-
pios naturais do universo. Quando há desequi-
líbrio entre o Yin e o Yang, o resultado pode ser
a doença. Se temos Yin em excesso, isso signi-
Fig ura 1: Yin Yang

* A reoria chinesa do Yin-Yang é rambém conhecida como a Teoria, ou a dialérica


chinesa, dos Oposros Complemenrares. (N. do R. T)
** Segundo a Organização Mundial de Saúde, saúde é definida como: "O esrado de
complero bem-esra r físico, menral e social, e não some nre a ausência de enfermida-
de ou invalid ez." (N. do R. T)
ÜRQ ÍOEAS DE ABROCHANDO NO U IVER O 31

fica que temos D efici ência de Yang,* e os sintomas podem incluir mãos e
pés frios, baixa pulsação e cansaço. Podemos descobrir que preferimos
ioga a ginástica aeróbica, que precisamos de tempo para tomar decisões e
que temos a tendência de ser bons ouvintes. Pode ser que tenhamos um
jeito meigo e suave de falar. Se temos excesso de Yang, temos Deficiência
de Yin,** e os sintomas podem incluir prisão de ventre, lábios secos e suor
excessivo. Uma pessoa assim provavelmente perceberá que sente calor ra-
pidamente, que gosta de se manter em atividade e que começa as ativida-
des naturalmente. Não hesita em buscar o que quer.
Na China, a maioria de minhas pacientes tinha Deficiência de Yang.
No Canadá, tenho muitas pacientes com Deficiência da energia Yin. Acre-
dito que isso é reflexo da preponderância da qualidade Yang na sociedade
canadense e no mundo ocidental em geral. Atividade, movimento, veloci-
dade, crescimento, expansão, juventude e o patriarcado são exemplos per-
feitos de nossa cultura. A sociedade ocidental não é inteiramente Yang,
mas seu excesso é visível no desequilíbrio que vejo em minhas pacientes
canadenses. Para equilibrar a qualidade Yang da cultura ocidental, sugiro
atividades Yin, tais como movimentos internos e calmos. Caminhar em
uma área arbori zada, refletir observando o pôr do sol, sentar-se calma-
mente ou meditar englobam características Yin. Essas atividades possuem
qualidades de repouso contrárias a qualidades de atividade.
Você deve estar se perguntando qual seria a causa desses excessos ou
deficiências. A causa é o movimento dinâmico do Qi (que se pronuncia
"tchi'' ), um conceito fundamental para a medicina chinesa.

• em roda D efic iência de Yang signifi ca que o Yin está em excesso. Pode aco ntecer o
que se chama de "fal o excesso do Yin", quando simplesmente o Yin está no rm al, mas
o Yang está D efi ciente, o que gera apare ntemente um "excesso" relati vo de Yin se com-
parado à Defi ciência do Yang. (N. do R. n
•• Assim como no exemplo da Defi ciência de Yang, nem toda Defi ciência de Yin sig-
rufica um excesso verdadeiro de Yang. Aqui pode, igualmente, aco ntecer uma outra
situação, chamada de "falso excesso de Yang", ou simplesmente "falso Yang" . É a quarta
possib ilidade defd esa rmo ni a energética possível, numa análise co mbin ató ria de dois
padrões de desarmo nia quantitativa do Yin e do Yang, o nde pode haver, também, uma
D efi ciência do Yin mas com o Yang estando no rmal. (N. do R. n
32 SAB EDO RIA C HIN ESA PARA A SAÚ D E DA MULHER

ENTENDENDO O Q 1

Não há, no mundo ocidental, uma palavra que equivalha a Qi, embora o ter-
mo seja geralmente descrito como "energia vital': Essa definição, no entanto,
não reflete integralmente seu significado. Qi é a energia estimuladora natural
do universo que gera mudança e movimento. É a força criativa que permeia
tudo: as estrelas que brilham, um riacho murmurando e um organismo em
decomposição, estão todos sob o poder de causa e efeito do Qi. É como o
vento, com sua capacidade de estimular mudanças e gerar atividade.
O Qi é a energia qu e ge ra a vida, nossa vi talidad e, a força vital que
sustenta co rp o, mente, coração e espí rito. É imaterial e invisível e ainda
assim tem a capacidade de prod uzir efeitos mate ri ais e visíveis, como na
concepção, qu ando um bebê é formado. O Qi também é transformador.
Por exe mpl o, gera a materia lidad e de nosso corpo da mesma forma que
a água pode se transfo rm a r em gelo. À medid a que o gelo se liquefaz e
derrete, tran sfo rma -se novamente em água. Da mesma maneira, pode-
mos se ntir qu e qu a ndo morremos, tornamo -nos espírito. As duas letras
que formam o ideog rama Qi (ver Figura 2) sig nifi ca m "vapor" ou "con-
densação" e "arroz não cozido" ou "grão". O vapor que surge a partir do
arroz cozido represe nta o Qi e m um estado disfo rme, enquanto o arroz
simboliza o aspecto substancial e co ncreto d a matéria. O vocábulo chi-
nês inclui a Essência transfor madora e mutável do Qi do material para o
imaterial e vice-versa.
O movimento do Qi em nosso corpo afeta todas as nossas atividades.
Quando criança na China, ensi naram-me: "Quando o Qi se une, o corpo físico
é formado; quando ele se dispersa, o corpo morre:· O Qi é a energia que esti-
mula a atividade - nossa capacidade de digerir os alimentos, mover nossas
pernas, pensar. Essa energia pode também se manifestar na forma de ressenti -
mentos ou em um nó na garganta quando estamos tristes. O Qi é uma maneira
radicalmente diferente. de os ocidentais perceberem a si mesmos, apesar de
termos frases tais como "cheio de vida" para descrever pessoas que transbor-
dam energia e que estão vivas. Em algum nível profundo temos a noção da
relação existente entre o movimento de uma força energética vital e a vida.
ORQUÍDEAS DESABROCHAN!=>O NO u !VERSO 33

A ciência ocidental não demonstrou a existência


do Qi - ele não pode ser visto em um microscópio,
dissecado ou escaneado por tomografia computadori-
zada. No entanto, isso não significa que não possamos
sentir o Qi. Aqui está um exercício simples que você
pode tentar: coloque as mãos na frente de sua barriga,
com as palmas voltadas uma para a outra. Aproxime,
então, lentamente, uma mão da outra, sem que se to-
Figura 2: Qi quem. Agora distancie uma da outra. Repita esse pro-
cesso lentamente (ver Figura 3). Observe a leve tensão,
o calor, a pulsação ou a pressão entre as palmas das mãos. O ar entre o espaço
que separa as mãos pode parecer mais den o. Isso é o Qi. Não tente entender o
Qi de forma racional. Tente senti-lo.
Conforme você aproxima as palmas das mãos, estenda, vagarosa e len-
tamente, seus dedos e flexione as palmas (ver Figura 3). A medida que você
as separa, deixe as mãos relaxadas. Agora mexa, delicadamente, os dedos
de sua mão direita sobre sua palma esquerda. Sem tocá -la, bata a palma
esquerda com as pontas dos dedos. Você sentirá um leve ardor. É o Qi
sendo liberado de se us dedos.

Figura 3: Exercício para sentir o Qi


34 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

Embora a ciência ocidental não reconheça o Qi, os praticantes chineses


trabalham há mais de três mil anos com a harmonização de seu fluxo. O Qi
flui pelo seu corpo através de uma rede de caminhos, ou Meridianos. Um
dos aspectos mais difíceis da medicina chinesa para os ocidentais é enten-
der o conceito dos Meridianos, que são os canais invisíveis* que fluem por
toda a extensão do corpo e conectam nossos órgãos vitais a outras partes do
organismo. Os Meridianos não são identificados na anatomia ocidental. Na
acupuntura, porém, é dentro desses condutos que alcançam a superfície da
pele em pontos específicos que as finas agulhas são inseridas, para estimular
o fluxo de Qi dentro do corpo. Quando o Qi flui de forma harmoniosa, há
saúde. Quando o Qi não flui suavemente, surge a doença. As agulhas de
acupuntura aumentam ou diminuem o fluxo de energia em certos Meridia-
nos, recuperando, assim, o equilíbrio da energia no corpo e gerando saúde.
É assim que a MTC explica o funcionamento da acupuntura. Os médicos
ocidentais têm experimentado o uso da acupuntura como anestésico em
cirurgias, e acreditam que esse efeito possa estar relacionado ao estímulo de
nervos que fazem a distribuição de analgésicos naturais. Podemos não ter
uma explicação racional para entender o funcionamento, como ou porque
a acupuntura traz resultados, mas não há como duvidar de sua eficácia.
O Qi é essencial para que nosso corpo produza Sangue. O Qi é tam-
bém o que faz o Sangue circular pelas veias e pelos Meridianos.** A rela-
ção entre o Sangue e o Qi é interdependente. Da mesma maneira que o Qi
é necessário para a produção e para o movimento do Sangue, o Sangue

• Tais canais de energia (ou Meridianos chineses de energia) são invisíveis ao olho
humano desapa relhado, pois são imateriais. Porém, podem ser detectados e medidos
por aparelhos eletrônicos específicos, como os impedanciômetros. Esses canais pos-
suem as propriedades de alta condutância e de baixa impedância (baixa resistência à
passagem da co rrem e elétrica) por onde passam na pele. (N. do R. T.)
"'* Na realidade, o sangue não circula nos Meridianos (ou canais de energia) . Sangue na
MTC ramo pode significar o líquido vital que materialmeme circula em nossos vasos,
como pode significar a comrapane Yin do qual o Qi é formado, jumameme com o Yang.
Dependerá sempre do comexro onde o termo Sangue (Xue em chinês) aparecer, pois,
para a MTC, Qi e Sangue (Xue) são frequentememe usados como sinônimos das polari-
dades energéticas Yang e Yin, respectivameme. (N. do R. T.)
ÜRQUÍDEAS DESABROCHA DO NO UNIVERSO 35

alimenta nossos Orgãos, os quais geram Qi e dão suporte a ele. Ou seja,


Qi e Sangue são inseparáveis. Sem o movimento do Sangue não haveria
um veículo transportador do Qi energético e amórfico. Por outro lado, o
Qi fornece a força que torna o Sangue vivo. Logicamente, o conceito de
Sangue da MTC é diferente do conceito ocidental. Sangue refere-se não
apenas ao líquido que circula em nossas veias, mas também à qualidade
energética que ativa o Sangue para que esse alimente nosso corpo e circu-
le por ele. Dado que o Sangue é Yin e o Qi, Yang, a harmonia entre os dois
simboliza um todo unitário representado pela saúde.
O Sangue fica armazenado em nosso Fígado e o Qi, em nossos Rins.
Sempre digo às minhas pacientes: "Os médicos que praticam a medicina
chinesa têm muita familiaridade com os principais órgãos da anatomia da
medicina ocidental. Mas, embora tenham nomes semelhantes, eles são
muito diferentes:' A medicina chinesa vê os órgãos como estruturas físi-
co-anatômicas, com funções similares às da medicina ocidental, mas a
partir de uma esfera energética mais ampla de funcionamento e influên-
cia que inclui os Meridianos que conectam os órgãos às outras partes do
corpo. Essas redes ou sistemas de Orgãos em pares são conhecidos como
os Orgãos Zang-Fu.

Os ÓRGÃos ZANc-Fu
O termo Zang-Fu é usado para descrever o princípio do Yin e Yang aplica-
do aos Orgãos. Os Orgãos Yin são conhecidos como Zang, e os Orgãos
Yang, como Fu. Cada um dos cinco Orgãos Zang- Fígado, Coração, Baço,
Pulmão e Rins- tem Orgãos Fu correspondentes- Vesícula Biliar, Intes-
tino Delgado, Estômago, Intestino Grosso e Bexiga, respectivamente. Cada
um desses pares de Orgãos está relacionado a um órgão do sentido, tais
como olhos e ouvidos, e também a tecidos (ver Tabela 1). O Fígado é res-
ponsável pelo movimento suave do Qi e do Sangue, pela armazenagem de
Sangue, pelo movimento dos tendões e pela alimentação dos olhos. (Isso
pode parecer estranho para você, mas lembre-se de que doenças no fígado,
como a hepatite, fazem com que o branco dos olhos fique amarelado.)
36 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

A teoria dos Orgãos Zang-Fu descreve nosso corpo e as funções dos


Orgãos em termos de interdependência com todos os outros sistemas. O
Baço* transforma o alimento que ingerimos em Qi de alimento, que o Co-
ração necessita para produzir Sangue. Os Rins fornecem Qi ao Coração
para que ele possa produzir Sangue.** Os Pulmões aj udam a transportar o
Qi de alimento ao Coração para que ele possa produzir Sangue. O Sangue
circula nas veias de nosso corpo como uma consequência do Qi de nosso
Coração. O funcionamento adequado de nosso Baço aj uda a assegurar que
o Sangue permaneça dentro das paredes das veias. O Fígado não apenas
rege o movimento suave de Qi, mas também armazena sangue e controla
seu volume. Assim sendo, cada um dos sistemas de Orgãos mantém uma
íntima relação com os outros, e nossa saúde depende do funcionamento
harmonioso de todos eles. Um bom funcioname nto é resultado de uma
distribuição suave de nosso Qi e da forma como o Sangue se move através
desses sistemas. Se o fluxo fica bloqueado em um desses Orgãos, há uma
"Estagnação" nesse Orgão. Se não há Qi suficiente, há uma "Deficiência':
Se há muito Qi, há um "Excesso" no Orgão. E dado que cada sistema de
Orgãos mantém uma relação próx1tna com os outros sistemas, esses dese-
quilíbrios têm um efeito profundo em todos os outros Orgãos, o que, por
fim , pode levar à ocorrência de doenças.

* Na MTC, o Baço e o Pâncreas formam um sistema integrado inseparável, energeti-


camente fa lando. Portanto, quando os chineses se referem ao Baço, muitas vezes estão
se referindo às funções do Pâncreas. A d iferenciação é feita no contexto escrito de um
texto ou na prática clínica de MTC e seus ramos. (N. do R. n
u Na fisiologia ocidental, sabe-se que não é o coração que produz o sangue, e sim a
medula óssea. Porém, na MTC, considerando-se sua fisiologia energética, o coração
"governa" o sangue; "controla" os vasos sanguíneos e o suor; se "manifesta" na face e
"abriga" a mente. Tais funções são oriundas de relações energéticas profundas do orga-
nismo, que o Ocidente e seu modelo biomédico predominante ainda não reconhecem
em sua totalidade. As expressões ehtre aspas (governa, controla, manifesta e abriga) são
termos usados rradicionalmente em MTC, relativos à fisiologia e às funções relativas ao
órgão coração. (N. do R. T)
ORQUÍDEAS DESABROCHANDO NO UNIVERSO 37

Tabela 1: Os Órgãos Zang-Fu

ÓRGÃO
Fígado Coração Baço Pulmão Rins
ZANG

FUNÇÃO Armazena Rege a trans- Rege a transfor- Rege a respi - Armazenam


BÁSICA Sangue, rege form ação de Qi mação de ali - ração, a t rans- o Qi e regem
o movimento de aliment o em mentoem Qi e fo rm ação do a reprodução,
livre de Qi Sangue; res- se u transport e, ar em Qi , leva o desenvolvi -
ponsável pelo manté m o San- ao Coração o mentoeo
pensamen to, gue dentro das Qi tra nsfo r- crescimento
pela co nsciên- ve ias mado a partir
c ia e pelo do alimento
E pirito
(Shen)

ÓRGÃO Vesícul a Intestino Estômago Intestino Bexiga


FU Biliar Delgado Grosso

Regeo arma - Recebe o ali - Transfo rma Respo nsável Responsável


zenamento ment o digerido aliment o e pela elimina- por armaze-
e a sec reção e separa o "lim - líquidos ção das fezes nar e eliminar
da bile po" do "turvo" a urina

ÓRGÃO Olhos Língua Bo a Nari z Ouvidos


DO
SENTIDO

TECIDO Tendão, Veias Múscul os, Pele, Ca belo O ssos,


Ligament os, Sanguín eas Go rdura Medula,
Unh as Cé rebro

Graças a milhares de anos de observação e prática clínicas, a medicina


chine a foi capaz de descrever a expressão sintomática de desequilíbrios
profundos nos Orgãos e Meridianos. Por exemplo, uma Estagnação do Qi
do Fígado pode ser expressa na forma de enxaquecas e ciclos menstruais
irregulares. Em conjunto, os sintomas formam um padrão que indica o
desequilíbrio subjacente que está causando os problemas. As relações en-
tre os Orgãos podem ser explicadas pelas classificações e leis do movimen-
38 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

to fornecidas pela teoria das Cinco Fases, que descreve como o Qi interage
e o que é necessário para que entre em harmonia.

A TEORIA DAS CI NCO FASES


O movimento harmônico do Qi no mundo é um reflexo do equilíbrio de
cinco fases* básicas: Madeira, Fogo, Terra, Metal e Água. A Madeira gera o
Fogo; o Fogo queima a Madeira, gerando, consequentemente, a Terra; den-
tro da Terra há o Metal; e o Metal, derretido pelo Fogo, gera a Água (ver
Figura 4). Todos os fenômenos no mundo natural correspondem a uma
das Cinco Fases, que se movem e mudam constantemente. Por exemplo,
a Primavera corresponde à Madeira, o Verão, ao Fogo, o Fim do Verão, à
Terra, o Outono, ao Metal, e o Inverno, à Água. As Fases não são atributos
que os antigos chineses designaram arbitrariamente a determinadas coi-
sas. Ao contrário, as qualidades de cada fase descrevem as características,
formas e funções do fenômeno ao qual foram designadas. Por exemplo, a
Madeira representa fases ativas e crescimento, razão pela qual relaciona-se
à Primavera. As estações mudam a forma através das quais as Fases se
transformam. A Primavera leva ao Verão, que leva ao Fim do Verão e, em
seguida, ao Outono e Inverno.

~ Promovendo
- - - controlando

Figura 4: As relações entre os Cinco Elementos

* Cinco Fases ou "Cinco Elementos" que, segundo a MTC, são elementos consriruri-
vos básicos da narureza , e que possuem co rrespondências fi siológicas e fisioparológicas
nos organismos humano e animal. (N. do R. T)
ORQUÍDEAS D ESABROCHANDO NO UNIVE RSO 39

Além dessas estações, as Cinco Fases são usadas para descrever as-
pectos de clima, cor e sabores - praticamente tudo o que há no univer-
so. E dado que cada ser humano é um microcosmo, possuímos dentro de
nós uma combinação única das influências das Cinco Fases. Cada um de
nossos ci nco Orgãos principais corresponde a uma das Fases. A Tabela 2
ilustra como o corpo humano está relacionado às Cinco Fases, aos ciclos
de vida, às emoções, aos sabores, às tendências, às virtudes, às estações,
ao clima, às direções e às cores.
Dado que o Coração tem propriedades de aquecimento, está relacio-
nado ao Fogo. O Fígado está associado à Madeira, o Baço, à Terra, os
Pulmões, ao Metal, e os Rins, à Água. Essas classificações ajudam a expli-
car como cada Orgão funciona em relação a outro Orgão. A teoria tam-
bém explica o que acontece quando há desarmonia, e os especialistas
chineses utilizam isso para diagnosticar e tratar desequilíbrios de Or-
gãos. Po r exemplo, se uma mulher tem "fogachos" da menopausa, é um
sintoma de que seu elemento Fogo é muito forte. Fogo que queima fora
de controle indica que o elemento Madeira está muito seco. Não está
sendo suficientemente nutrido com Água.* A Água é necessária para
controlar a temperatura do corpo e para umedecer olhos, órgãos sexuais,
art iculações e músculos. Dado que os Rins estão relacionados à Água,
fogachos são um sintoma de Deficiência do Qi do Rim, especificamente
o Yin do Rim. Outros sintomas dessa Deficiência seriam insônia, secura
vaginal e dores nas articulações e nos músculos. Tratar esse problema
significa forta lecer o Qi do Rim, em especial o Yin, ou nutrir a Água do
corpo para controlar o Fogo, atravé de acupuntura, Tui-Ná e ervas leve-
mente salgadas (sabor relacionado aos Rins).

• Aqui , a palavra água di z respeiro. segundo a MTC, ao elemento Água da teoria chinesa
d os C inco Elementos o u Cinco Fases; subentendidas rodas as inAuências, repercussões,
n
relações e co rres po ndências energéticas dessa energia oriunda dos rins. (N. do R.
40 SABEDOR IA CHINESA PARA A SAÚ DE DA MULH ER

Tabela 2:As cinco fases e suas associações

FASE Madeira Fogo Terra Metal Água

ÓRGÃO
Fígado Coração Baço Pulmão Rim
ZANG
FASE DO
CICLO DE Infância juve ntude Adulta Velhice Morte
VIDA
Sobrecarga de Medo,
EMOÇÃO Raiva Alegria Dor
Pensamentos Ansiedade

SABOR Ácido Amargo Doce Picante Salgado

I
TENDt NCIA Asse rtividade Expressão Cooperação Discriminação Contemplação i

VIRTUDE Generosidade Gratidão Fé Compaixão Sabedoria

ESTAÇÃO Primavera Verão Fim do Ve rão Outono Inverno

CLIMA Com vento Que nte Úmido Seco Frio

DIREÇÃO Leste Sul Centro Oeste Norte

COR Verde Ve rmelho Amarelo Branco Preto

Assim sendo, o que a medicina chinesa visa é recuperar a harmonia no


corpo. Em vez de descobrir a bactéria que causa a doença e administrar anti-
bióticos para acabar com ela, a MTC localiza a fraqueza e o desequilíbrio que
estão causando a suscetibilidade à doença e, em seguida, ajuda a pessoa a alcan-
çar um estado de bem -estar harmonioso e equilibrado através de ervas, acu-
puntura, Tui-Ná e recomendações quanto a seu estilo de vida. Saúde não é
apenas ausência de sintomas, é o funcionamento harmonioso e equilibrado do
corpo. Muitas variáveis contribuem para esse equil íbrio, tais como hereditarie-
dade, estilo de vida, o ambiente onde vivemos e a forma como respondemos a
ele e como ele nos afeta. O próxim o capítulo examina, em detalhes, o que é
necessário para que esse equilíbrio seja mantido.
CAPfTULO DOIS

Mantendo a harmonía

A lcançar um estado de bem-estar depende do funcionamento har-


monioso de nossos aspectos físico, emocional e espiritual -os três
níveis de energia conhecidos como os "Três Tesouros". São eles fing, ou
"Essência", Qi, a energia natural que estimula o universo, e Shen, que sig-
nifica "Espírito" ou "Mente". O Jing é herdado de nossos pais e é o mais
substancial e material dos Três Tesouros. Está intimamente ligado a nos-
sos traços genéticos e é a substância que forma nosso corpo. Qi é o que
nos torna vivos e gera nossas emoções. Shen, ou Espírito, é a energia
mais sutil dos Três Tesouros e depende da vitalidade do Qi e de Jing para
que tenha força e vigor. Quando o corpo é saudável e forte, as emoções
são sadias, fluem livremente e são adequadamente expressas, nossa saú-
de espiritual pode ser aprofundada.
Todos os Três Elementos estão intimamente ligados e devem ser culti-
vados e equilibrados de forma consciente para que tenhamos uma ótima
saúde. Para buscar, dentro de nós, a perspectiva dos Três Tesouros, re ·sa-
mo
- -
consciência de nossos estados emocionais, estilo de vida, alimenta-
-
ç_ão e interação com o ambiente e harmonizá-los a fim de cultivara integridade
espiritual. Tentar equilibrar os diferentes aspectos de nosso ser, representa-
dos nos Três Tesouros, é o objetivo mais sublime da medicina chinesa. So-
42 SABE DORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

mos estimulados a assumir essa responsabilidade já que esse equilíbrio


constitui a primeira barrei ra de defesa contra a invasão de doenças e é con-
siderado a forma mais elevada da medicina - a prevenção.
O enfoque preventivo concentra-se na manutenção e vitalização da for-
ça de nossos Três Tesouros ao evitar circunstâncias desfavoráveis. Quando
não há harmonia com a natureza e quando a moderação dá espaço ao ex-
cesso, manifestam-se as doenças e uma saúde debilitada. A medicina chine-
sa enfatiza a necessidade de conduzir a vida de uma maneira que seja capaz
de nutrir e aperfeiçoar os Três Tesouros, para que essas energias essenciais
não se esgotem. Quando fazemos escolhas adequadas quanto à alimenta-
ção, aos exercícios pr~ticados, quanto à forma como lidamos com· nossas
emoções e quanto ao tempo dedicado ao trabalho e ao descanso, consegui-
mos prevenir a doença e cultivar uma boa saúde. Na verdade, nenhum
tratamento superará uma alimentação prejudicial ou um estilo de vida de
má qualidade. -
Na Medicina Tradicional Chinesa há três categorias de causas de desar-
monia: Causas Exteriores, Causas Interiores e Causas Não Exteriores e
Não Interio res (ver Tabela 3). Esses fatores patogênicos que provocam as
doenças podem prejudicar o equilíbrio dos Três Tesouros dentro de nosso
corpo e gerar um ambiente propício à doença.

CAUSAS EXTERIORES DE DESARM O NI A

As Causas Exteriores, também conhecidas como os "Seis Excessos': são:


Frio, Vento, Calor, Umidade, Seca e Fogo. Dado que esses fatores patogêni-
cos estão relacionados ao clima, devemos prestar atenção ao tempo quan-
do nos vestimos. Por vezes, vestimo-nos segundo o calendário, em vez de
prestar atenção às condições climáticas. Sabemos que é junho e por isso
usamos roupas leves, muitas vezes ignorando que se trata de um junho
atípico e frio. * Ou no inverno, quando nos encapotamos porque é janeiro,

* A obra foi inici almente publicada no Canadá, ou seja, a autora refere-se às estações
do ano no hemisfério Norte. (N. da T.)
ÜRQ ÍDEAS DE ABROCHANDO NO U !VERSO 43

não prestando atenção ao fato de se tratar de um inverno incomum e mais


quente. Devemos também observar as condições Seca e Úmida do tempo,
tomando cuidado com a inge tão de líquidos em quantidade suficiente e
com nossa cabeça e nossos pés, que devem estar protegidos quando está
chovendo. A Umidade, como o Frio, pode se alojar em nossos Meridianos
ou impedir o fluxo de Qi nos Orgãos. No verão, muitas vezes os pacientes
vêm ao meu consultório com o pescoço enrijecido e dolorido. Geralmente
isso ocorre como consequência do ar condicionado do escritório, que faz
com que eles passem o dia todo recebendo rajadas de ar frio. Aplico trata-
mentos de acupuntura e Tui -Ná e os aconselho a usar cachecóis ou echar-
pes no trabalho.
Se uma criança, na China, desenvolve uma gripe forte, a mãe não ques-
tiona onde o filho pode ter pego o vírus, mas se estava usando um casaco
no dia anterior enquanto brincava ou se estava aquecida na noite anterior
quando foi se deitar. É a quantidade e a qualidade de nosso Qi que deter-
mina se os fatores Externos nos prejudicarão e se teremos um resfriado,
enquanto outros, também expostos às mesmas condições, não terão. Há
um ditado chinês_bastante conhecido que diz: "Se dentro de seu corpo há um
bom Qi, nenhum mal poderá pegá-lo:'

C AUSAS INTERIORES DE DESARMONIA

As Causas Interiores de desarmonia compreendem nossas sete emoções:


alegria, raiva, ansiedade, obses ão, tristeza, horror e medo. Se sentimos
qualquer uma dessas emoções de forma excessiva durante um período pro-
longado, nosso fluxo de energia será prejudicado e podemos ficar doentes.
Isso significa que somente devemos sentir as emoções moderadamente?
Não, somos humanos e temos sempre sentim~ntos profundos. O importan-
te é haver um equilíbrio em nossas emoções. No decorrer de uma semana,
por exemplo, podemos sentir alegria, raiva, ansiedade, tristeza e medo in-
tensos, a sim como pode haver momentos em que não sentimos emoções
de forma muito profunda. Se, porém, durante uma semana, sentimos ape-
nas raiva ou outra emoção, nossa saúde pode ficar comprometida.
44 S ABE D O RIA C HIN ESA PARA A SAÚ D E D A M U LH ER

Tabela 3: Causas exteriores, causas interiores e causas não ext eriores


e não interiores

Os Seis Excessos
. Frio
. Vento
CAUS AS
. Calor ou Fogo
EXTERIORES
. Umidade -

. Sec ura
. Calor do verão

As Sete Emoções
. Alegria
. Raiva

CAUSAS . Ansiedade
INTERIORES . Obsessão, excesso de pensament os
. Tristeza -
. Horror'
. Medo -

. Muito o u pouco exercício físico


. Falta de atividade sexual e gravidezes
frequentes

CAUSAS NÃO EXTE-


. Dieta:
RIORES ENÃO • Moderação na alime ntação e tempo certo
INTERIORES
e adequado para alimentar-se
. Ali ment os nut ri tivos
. Constituição
. Trauma I

I
-- --

* Também c ham ado d e terro r, pavor o u pâ ni co; na M TC sign ifi ca um g rau muito
mais acen tuad o da emoção m edo. (N do R. T)
ORQUÍDEAS DESABROCHANDO o IVERSO 45

A medicina chinesa sempre reconheceu a relação entre o corpo e a mente.


Ja a ciência ocidental reconheceu e a relação apenas recentemente. Estudos
mostram que acontecimentos estressantes, tais como morte do cônjuge ou
desemprego, aumentam muito o risco de uma pessoa ficar doente. Pesquisa-
dores traçaram caminhos neurológicos diretos entre o cérebro e o sistema
imunológico. Atualmente, muitos hospitais e centros médicos recomendam
programas de tratamento que incluem relaxamento, meditação e visualiza-
ção. Esse ramo da medicina é conhecido como psiconeuroimunologia.
Na MTC os sintomas físico s não estão separados dos emocionais ou
mentais. Doenças como tendências suicidas, psicose e esquizofrenia são
consideradas proble~as físicos provenientes de um desequilíbrio em um
sistema de Orgãos.
Os antigos chineses acreditavam que o Qi era herdado de nossos ances-
trais. O Qi que gerava doenças mentais graves era considerado defeituoso e
refletia imperfeições na linhagem ancestral de um indivíduo. Dado que
Confúcio enfatizava significativamente os ancestrais, essas imperfeições te-
riam sido a causa de grandes culpas e vergonhas. Esse talvez tenha sido um
fator que contribuiu para a adoção subsequente, pelos chineses, da visão de
qu e os sintomas psicológicos e mentais eram um resultado das Causas da
Desarmonia, tais como uma alimentação não balanceada ou um dos Seis
Excessos. Somatizar doenças psicológicas dessa forma deve ter contribuído
para aliviar as culpas geradas por essas doenças.
Na MTC as emoções são consideradas expressões de nosso Qi e, assim
sendo, gerarão problemas se estiverem bloqueadas, se forem canalizadas ou
expressadas de forma inadequada. Sobrecarregar a expressão de nossas emo-
ções inclui negá-las ou recusar-se a percebê-las e aceitá-las. Expressamos nossas
emoções inadequadamente quando choramos, em vez de ficarmos bravas, uma
forma de mostrar que se é uma "boa menina': ou quando culpamos as pessoas
por não nos ouvirem quando, na verdade, deveríamos enfrentar nossas fraque-
zas e nos fazer ouvir. Às vezes, essas táticas fazem com que não lidemos com as
emoções mais ameaçadoras, tais como nossos medos subjacentes.
O Nei Jing afirma: "Sabemos que todas as doenças surgem da perturbação
do Qi: a raiva faz subir o Qi, a alegria o abranda, a dor o dispersa, o medo o
46 SABEDORIA C HIN ESA PARA A SAÚ D E DA M ULH ER

faz descer, o terror o confunde e a ansiedade o deixa estagnado. A raiva pre-


judica o Fígado, a alegria, o Coração, a an siedade, o Baço, a perda ou a triste-
za, os Pulmões, e o m edo, os Rins:' Muitos ocidentais fi cam surpresos quando
alguém lhes di z que a alegri a, em particular, pode ter efe itos adversos no cor-
po. Sentir um a alegri a arrebatadora e contínua durante um período prolon-
gado de tempo traz excesso de estresse ao Coração. Com frequência, o corpo
tenta equilibrar a felicidade excessiva por meio de lágrimas.
Cada sistema de Orgãos relaciona-se a uma emoção específica, e cada uma
dessas emoções pode afetar um determinado sistema ou, por outro lado, trazer
alterações devido ao desequilíbrio nos Orgãos. Isso significa que, se você vem
há muito tempo sofrendo perdas e essa tristeza não é transformada, ela pode
gerar, do ponto de vista energético, uma desarmonia no fluxo de Qi do Pulmão
e, no âmbito fís ico, manifestar-se na forma de resfriado, asma ou até mesmo
psoríase. (A psoríase está, geralmente, associada a um desequilíbrio nos Pul-
m ões já que a pele é o tecido regido por eles.) Além disso, se você apresenta
Deficiência do Qi do Pulmão durante um período prolongado, poderá desco-
brir que tem tendência à melancolia, ou a chorar quando sofre pequenas ofen-
sas ou ouve histó rias tristes. Se você se preocupa e pensa demais, o Qi do Baço
pode ficar bloqueado, o que talvez se traduza em problemas digestivos ou san -
gran1entos excessivos durante a menstruação.
Consequentemente, o profissional de MTC diagnostica e trata os sintomas
emocionais dentro do contexto de sintomas físicos, buscando um padrão que
os direciona. Uma de minhas pacientes, por exemplo, era muito introvertida,
tinha períodos m enstruais longos e irregulares e sofria de distúrbio de articula-
ção têmpora -mand ibular, uma disfu nção que causa do r nas articulações da
mandíbu la ou nos músculos que controlan1 as articul ações. Todos esses sinto-
mas tinhan1 signi ficado clínico. Eram manifestações interligadas de desequilí-
brios que se refletiam em problemas físicos. O diagnóstico foi Estagnação do Qi
do Fígado, que contribuía para seus problemas menstruais e a raiva que detectei
escondida atrás de sua fachada quieta e despretensiosa. Sua doença também
estava relacionada a Excesso do Qi do Estômago, que pode ter se desenvolvido
a partir da Estagnação de Qi do Fígado. Cada um dos sintomas estava relacio-
nado a outro e não podia ser tratado isoladamente. Estavam ocorrendo dese-
ORQUÍDEAS DE ABROCHANDO NO UNIVE RSO 47

quilíbrios que prejudicavam seriamente minha paciente nos níveis físico,


emocional e mental. Dei-lhe ervas, apliquei acupuntura e Tui-Ná para suavizar
o fluxo de seu Qi do Fígado, e os sintomas acabaram desaparecendo.
A relação entre o emocional, o mental e o físico é particularmente sig-
n ificativa em disfunções ginecológicas, as quais englobam muitos sinto-
mas que não são físicos por natureza, tais como os ataques de choro ou as
explosões de raiva que, geralmente, precedem o período menstrual. Todas
as partes do conjunto mente-corpo estão relacionadas e ligadas.
t interessante ob ervar que, da mesma forma que há, na medicina chine-
sa, uma visão generalizada de que as emoções estão intimamente ligadas ao
bem-estar do indivíduo, pouco se fala sobre os sentimentos. Na verdade, a
sociedade chi nesa não estimula as pessoas a entenderem e expressarem as
emoções. O governo comunista, que desde 1949 tem promovido ativamente
a MTC como um sistema de saúde eficiente e de bom custo-benefício, não
enfatiza e até reprime muito de seus aspectos psicológicos e espirituais. O
governo, concentrado em sua posição ideológica de materialismo, não parece
valorizar o psicológico e o espiritual. Consequentemente, na China, a MTC é
ensinada sem se concentrar na integração completa dos elementos espiritual
e psicológico, que eram básicos e essenciais para os ensinamentos dos antigos.
Porém , dada a expansão da China em direção à globalização e a um ambiente
mais democrático, e com a emigração de médicos chineses, acredito que ha-
verá um interesse renovado na MTC como era ensinada séculos at rás. Espero
que esse renascimento faça justiça à concepção original da medicina chinesa
como um sistema cujo escopo é verdadeiramente holístico.
Por essa razão, há uma relutância cultural generalizada na China em se
d iscutir problemas emocionais com um estranho ou até mesmo com o
próprio médico. Um problema não deve se tornar objeto de vergonha pú-
blica, diz um provérbio chinês. E quando eu era médica-cirurgiã na China,
não tinha tempo para discutir nada além do necessário para diagnosticar e
tratar os problemas fí sicos de meus pacientes, m es mo quando eles mostra-
vam-se dispostos a falar sobre suas emoções.
Durante os dois primeiros anos de minha prática no Canadá, as mulheres
conversavam em particular comigo e me contavam sobre sua depressão e baixa
48 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

autoestima. Com frequência, a doença "emocional" delas era mais debilitante


do que muitos de seus sintomas físicos, o que me deixava intrigada. Lembro-me
de ficar perplexa com as palavras que minhas pacientes usavam para descrever
a forma como se sentiam; as palavras "deprirnidà' e "cansadà' eram extrema-
mente comuns. Eu não tinha uma ligação pessoal com esses termos. Na China,
a palavra "depressão" nem fazia parte de meu vocabulário e, embora trabalhasse
horas e horas no hospital, não me lembro de usar a palavra "cansadà' para des-
crever como me sentia. Fiquei particularmente chocada quando perguntei a
um garotinho de 6 anos como ele estava. Ele respondeu que se sentia cansado.
Quando tinha essa idade, o cansaço não era uma sensação consciente para
mim. Atividades, diversão e descoberta eram o que preenchiam meu mundo.
Passei a questionar se os problemas emocionais apresentados pelos meus
pacientes, cuja similaridade era impressionante, eram uma coincidência ou
parte de um padrão maior. Eu estava profundamente preocupada em como
trabalhar da melhor forma com os pacientes que sofriam de doenças emocio-
nais. Consultei meus colegas e pensei em retornar à China para fazer mais
cursos. Sentia que precisava de um conhecimento maior para tratar esses pa-
cientes, embora vários colegas não achassem que eu deveria retornar ao meu
país natal para mais treinamento. Achavam que eu tinha uma sólida expe-
riência médica e que, na verdade, precisava aprimorar meu entendimento da
psique ocidental e quanto ao acompanhamento das questões psicológicas.
Decidi ler mais a respeito da psicologia ocidental e submeter-me a um trata-
mento psicoterápico. Se eu conseguisse entender a forma como o psicoterapeuta
trabalhava comigo, teria melhores condições de trabalhar com meus pacientes.
A psicoterapia foi uma experiência muito diferente para mim, já que,
como médica, eu sempre tinha sido ouvinte. Ela me deu a primeira opor-
tunidade de olhar verdadeiramente para mim mesma e entender o papel
que meu inconciente tinha em minha vida. Descobri que grande parte do
meu sofrimento estava enraizada em acontecimentos ocorridos durante a
minha infância, quando a expectativa de meus pais e da cultura me opri-
miam e eu fazia de tudo para ser amada e aceita.
A terapia me ajudou a entender a dor que existe no âmago do sofri-
mento humano. Os problemas que enfrentamos são manifestações, em ní-
ÜRQ ÍDEAS DESABROCHANDO NO U !VERSO 49

veis distintos, de medo profundo, tristeza, raiva, preocupação, terror ou


obsessão que existe dentro de todos nós. À medida que fui reconhecendo
as causas de meu próprio sofrimento, também desenvolvi uma compaixão
pelos sofrimentos de meus pacientes. Embora os problemas deles fossem
diferentes dos meus, compartilhávamos a dor de nossa humanidade.
Essa minha nova perspectiva teve enorme impacto em meus próprios
relacionamentos. Isso pode ser entendido melhor por uma experiência que
tive com uma amiga na China. Hua estava engordando muito, e meus amigos
estavam preocupados com ela. Um amigo a repreendeu da forma direta e
prática que amigos chineses usam quando lidam uns com os outros: "Pare de
comer tanto, não seja uma porca. Gosto muito de você e me preocupo com
você:' Hua respondeu: "Tudo bem, vou ouvir seu conselho, vou parar de co-
mer:' Embora nos preocupássemos com a saúde de nossa amiga obesa, não
entendíamos as causas psicológicas e emocionais das desordens alimentares.
Quando voltei à China, pouco tempo depois de ter começado minha tera-
pia, meus amigos reuniram -se novamente e viram que Hua não havia emagre-
cido. Outros começaram a mandar que ela parasse de comer, e eu intervi: "Não
gritem com ela': disse, "acho que tenho um melhor entendimento do porquê
ela está obesa': Meus amigos que provocaram: "A Xiaolan é vidente!" Poste-
riormente, quando estava a sós com Hua, perguntei-lhe se ela estava passando
por problemas no casamento. Ela me contou que, após a Revolução Cultural,
seu marido havia se tornado um executivo muito bem-sucedido. Consequen-
temente, passava muito pouco tempo em casa e a vida sexual deles era quase
inexistente. Ela não se sentia mais amada. Dado que eles eram considerados
um casal perfeito, Hua não se sentia à vontade em falar sobre seus sentimentos
com ninguém. Chorou enquanto me contou sobre a falta de atenção e carinho
que sentia. Discutimos sobre seus sentimentos profundos de rejeição e sobre
como isso poderia contribuir com o fato de ela estar comendo demais. Talvez
sentisse necessidade de criar um motivo - sua falta de atratividade - para
justificar a falta de carinho e cuidados de seu marido. Ou talvez estivesse usan-
do a gordura como uma barreira física para se proteger da dor emocional.
Essa nossa experiência foi muito diferente da do nosso último encon-
tro, ocorrido cinco anos antes, quando teria me unido a meus amigos e
50 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

tentado convencê-la a perder peso. Por ter aprend ido a importância de


lidar com as emoções em vez de somatizá-las, consegui observar minha
amiga de uma forma diferente e conversar sobre sua solidão e seu sofri -
mento. Aprender sobre saúde emocional também enriqueceu muito mi-
nha prática. Embora tivesse consciência da relação entre as emoções e a
doen ça, essa consciência existia a partir de um pon to de vista objetivo.
Quando passei a perceber melhor a ligação do emocional, espiritual e fí-
sico, a integração ent re corpo, mente, emoções e espí rito passaram a faze r
parte mais integral de minha prática. Espero qu e este livro ajude você a
redescobrir aspectos de si mesma que possam ser integrados a um estilo
de vida mais saudável.

CAUSAS DE DESARMO N IA NÃO EXTERIORES E NÃO INTERIORES

As causas de desa rmonia não exteriores e não interiores compreendem


alimentação, esforço físico e atividade sexual.

D IETA

Uma alimentação desequilibrada, por gerar padrões de desarmonia no corpo,


pode ser a causa de doenças. Para a MTC, não é tanto a falta de nutrientes que
prejudica o equilíbrio do corpo, mas o excesso ou escassez de alguns tipos de
alimentos que ingerimos. Por exemplo, muito sal pode levar a um desequihbrio
nos Rins, provocando pressão arterial alta, retenção de água e dores de cabeça.
Muitos doces podem causar Umidade no Baço,* provocando problemas diges-
tivos, funcionam ento irregular dos intestinos e edema.
Na MTC, os alimentos podem, também, ser utilizados como remédio- na
verdade, há uma linha imperceptível entre os dois. Shen Nung, considerado

* " Umidade no Baço" é uma class ificaçáo da MTC para manifesraçáo energérica paroló-
gica, ou pad rão de desarmo nia energérica, que pode causa r náusea, vô miro, fezes amo le-
cidas, com muco, revesrimem o da língua com saburra pegajosa, peso e plenirude abdo-
minais na "boca do esrômago" após comer. O cidenralmenre fa lando, esrariam aqui com-
preendidos desde d isrúrb ios funcio nais aré infecções gasrroenrerológícas. (N. do R. T)
ÜRQUÍDEAS DE ABROCHANDO NO UN IVE RSO 5I

o pai da medicina chinesa, escreveu o primeiro estudo científico sobre as ervas


chinesas, o Shen Nung Ben Cao. Há mais de 5.400 anos ele classificou as ervas em
três categorias. Duas delas englobam as "ervas medicinais': fundame ntais para
equilibrar o funcionamento dos sistemas de Orgãos. A terceira categoria com-
preende as "ervas alimentares': que fazem parte de nossa alimentação diária e
são consumidas para nos dar força, prevenir doenças e ajudar a curá-las.

ERVAS MEDICINAIS

A medicina herbal é um aspecto integral da MTC e inclui uma ampla gama de


extratos de plantas, assim como produtos animais e minerais, todos encontra-
dos no mundo natural. A efetividade terapêutica das ervas chinesas é energé-
tica e, também, bioquímica. Colocando de outra forma, quando uma erva é
usada ressoa energeticamente com um Orgão específico identificado para tra-
tamento, e o afeta bioquimicamente. Essa ação cria o movimento suave do Qi
dentro desse sistema e, dessa forma, influencia os outros Orgãos também.
O s profissionais de MTC, geralmente, combinam ervas para prod uzi r
remédios destinados especificamente para a constituição única do pacien-
te, sua saúde emocional e física, e o ambiente que ele se encontra r. Essa
abordagem contrasta com o modelo biomédico ocidental, que presc reve
medicamentos similares para doenças comuns com base em pesquisas que
demonstram um grau relativo de eficácia do medicamento em determina-
do número de pacientes. Na MTC, pode haver cinquenta pacientes, todos
com a mesma doença, mas com desequilíbrios subjacentes e co nstituições
muito diferentes. Nesse caso, o médico prescreveria cinquenta tipos distin-
tos de combinações de ervas, e não o mesmo medicamento.
Na medicina chinesa também existem, porém, remédios patenteados*
que são comprimidos de ervas prontos, baseados em fórmulas clássicas. Na
China, fabricantes que atendem aos rígidos padrões estabelecidos pelo go-
verno podem produzir essas fórmulas. A desvantagem desses comprimidos

* Os cham ados patent medicines da MTC são fórmulas herbais chinesas consagradas
ao longo de milênios. de sua utilização por se mostrarem eficazes para os diversos pa-
drões de desarmonia energética classificados na MTC. (N. do R. T)
52 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

é que eles não são adaptados para atender às necessidades específicas do


desequilíbrio individual apresentado por cada pessoa. A principal vanta-
gem é seu baixo custo e a facilidade de uso, já que o preparo de medicamen-
tos à base de ervas leva tempo e seu sabor estranho e peculiar torna a
ingestão desagradável. Além disso, os comprimidos patenteados são uma
forma conveniente de se ter acesso ao poder terapêutico das ervas.

ERVAS ALIMENTARES

O Nei ]ing afirma: "Se não ingerimos nenhum alimento durante metade
do dia, o Qi enfraquece; se não ingerimos nenhum alimento durante o dia
todo, o Qi se esgota:' Os alimentos que ingerimos são de suma importância
para a manutenção do Qi e da saúde. Há mais de cinco mil anos, as práticas
alimentares são a base para a manutenção da saúde e para combater as doen-
ças na vida diária dos chineses. De maneira geral, devemos ingerir quantida-
des moderadas de alimentos, em horários regulares, segundo nosso próprio
apetite e nossa sede. Os alimentos, porém, também têm características man-
tenedoras que podem estimular ou contra-atacar padrões de desarmonia.
Uma forma de classificar os alimentos é pelo seu sabor. Como visto no
Capítulo Um, cada comida tem um sabor específico que ressoa com um
determinado Orgão (ver página 40). Isso é chamado de "afinidade" e permi-
te que as propriedades naturais do alimento ajam como agentes de cura
para um determinado sistema. Por exemplo, os alimentos ácidos, tais como
vinagre e frutas cítricas, estão relacionados ao Fígado; as comidas salgadas,
tais como aipo e algas marinhas, relacionam-se aos Rins; os alimentos
amargos, como legumes de folhas verde-escuras e melão amargo, ao Cora-
ção; os alimentos doces, como inhame e atum, ao Baço; os alimentos pican-
tes, tais como queijo tofu e alho, aos Pulmões. Em minha clínica, os
tratamentos quase sempre envolvem algum tipo de recomendação alimen-
tar. Se uma paciente tem um Fígado fraco, por exemplo, recomendo que
coma mais alimentos ácidos, tal como limão.
Além da classificação de sabor, os alimentos também são categorizados
segundo a temperatura: Quente, Morno, Neutro, Fresco e Frio. Essas elas-
ORQUÍDEAS DESABROCHANDO NO UNIVERSO 53

sificações não se referem apenas à temperatura térmica, mas também às


qualidades energéticas. Assim sendo, cevada, alface, tomate e carne de pato
são frescos ou frios, enquanto abóbora, gengibre, cebola e carne de galinha são
quentes ou mornos. As pessoas saudáveis e fortes são mais tolerantes aos
alimentos Quentes e Frios. Já as que se sentem doentes e fracas adaptam-se
melhor a alimentos Mornos e Frescos, tais como canja de galinha e suco de
laranja. Se uma de minhas pacientes está com febre alta, peço que não
coma alimentos Quentes e condimentados como, por exemplo, cravo e
pimenta-de-caiena, pois só agravariam os seus sintomas. No entanto, se
uma paciente está internamente "Fria" (uma consideração que só pode ser
diagnosticada por um profissional da MTC), sugiro que coma mais ali-
mentos condimentados.
Outra consideração quanto à manutenção do equilíbrio por meio da
alimentação relaciona-se ao clima. Comidas frescas, tais como frutas ele-
gumes crus, queijo tofu e arroz, podem ser ingeridas quando o tempo está
quente, para liberar Calor. Alimentos mornos, como raízes, carneiro, man-
teiga e creme de leite, são bons no frio.
Lembro que os fazendeiros na China ajustavam naturalmente sua ali-
mentação de acordo com a estação do ano e seus níveis de atividade. Quan-
do concluí o ensino médio, estávamos no meio da Revolução Cultural
( 1966- 1976), que foi iniciada por Mao Tsé-tung a fim de erradicar a cultu-
ra, os costumes e os pensamentos tradicionais chineses e substituí-los por
valores e crenças maoístas. Como Mao não acreditava nos inte-lectuais, ob-
jetos culturais e livros representativos desse grupo foram destruídos, e es-
colas, fechadas. Apropriaram -se dos bens das classes média e alta, e as
pessoas foram mandadas para campos de trabalho no interior, para apren-
derem com os camponeses. Eu tive de optar entre trabalhar em uma fa -
zenda como lavradora ou permanecer na cidade para trabalhar em uma
fábrica. Preferi ir para o campo para estar com meus amigos. Como os
outros milhares de lavradores, eu vivia em uma casa de fazenda térrea
cujo espaço consistia em um amplo dormitório com 12 camas. As camas
eram agrupadas em seis conjuntos, duas a duas, com um mosquiteiro se-
parando os colchões adjacentes. Cada pessoa tinha sua mesa de cabeceira
54 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

e uma bacia. A área para cozinhar/fazer as refeições ficava em outro pré-


dio, e a água era tirada de um poço, na área externa. As instalações de
banho eram estábulos malconstruídos, cada um com uma porta que dei-
xava a parte inferior das pernas, além da cabeça e dos ombros de seu
ocupantes, visíveis para quem olhasse de fora. Ripas de madeira coloca-
das no chão formavam um espaço retangular, onde se via a terra cavada.
Esse era o local onde, agachados, fazíamos nossas necessidades. Nos me-
ses quentes, ficávamos nas instalações de banho, ao lado do poço; durante
os meses frios, lavávamo-nos com esponjas no próprio dormitório e aque-
cíamos a água do poço no fogão da cozinha.
Os fazendeiros para quem trabalhávamos não tinham o costume de ir
ao médico, dada a distância do hospital da cidade e o custo do tratamento.
Em vez disso, praticavam medidas de autocuidados da Medicina Tradicio-
nal Chinesa. Adaptavam sua alimentação de acordo com as épocas de
plantio e colheita, comendo mais quando sabiam que precisariam de ener-
gia para os dias extenuantes de trabalho vindouros. Durante esses perío-
dos, geralmente matavam um porco e o salgavam para conservar a carne
durante as semanas seguintes. Em seguida, na época em que as plantações
não necessitavam de tantos cuidados, reduziam a quantidade de alimentos
ingerida. No café da manhã, comiam congee, ou mingau de arroz, com al-
guns legumes em conserva no lugar de um desjejum mais reforçado que
incluía arroz levemente frito, carne de porco e ovos.
A época do ano, os desequilíbrios subjacentes aos nossos sintomas e a
nossa constituição são fatores contribuidores inter-relacionados que deter-
minam quais são os alimentos terapêuticos adequados para nós. Com esse
entendimento da alimentação podemos incluir ou excluir alimentos espe-
cíficos, a fim de evitar doenças e manter a saúde. Mas para saber quais são
os alimentos terapêuticos apropriados para nós precisamos do diagnóstico
de um profissional da MTC que nos faça recomendações com base no fun-
cionamento de nossos sistemas de Orgãos. A transição de uma dieta dese-
quilibrada para uma dieta balanceada deve ser gradual. A medicina chinesa
não recomenda práticas alimentares que restringem o que podemos ou
não comer. Ao contrário, busca restabelecer o equilíbrio dentro de nosso
ÜRQUÍDIAS DESABROCHANDO NO UNIVERSO 55

corpo para que possamos ingerir uma variedade de alimentos de todos os


tipos com moderação, baseando-se em nossa própria constituição, saúde
atual e fatores climáticos.

EXERC[CIO FfSICO

Outra causa das doenças é a fadiga, que pode resultar do excesso ou da es-
cassez de exercício físico ou trabalho. Exercícios potentes e fortes, como ae-
róbica de alto impacto, levam o Qi e o Sangue aos músculos para sustentar
as atividades e servir-lhes de apoio, em vez de cumprir sua função, ou seja,
fazê-los circular pelos Orgãos do corpo. Exercícios pesados durante perío-
dos prolongados podem esgotar o Qi e o Sangue e levar à desarmonia.
Apesar de parecer que exercícios fortes são uma forma de aliviar os
sintomas originados pelo desequilíbrio do Qi e do Sangue, eles não são a
solução. É preciso tratar as raízes dos problemas ou corre-se o risco de o
exercício, que traz bem-estar, sensação aparentemente ligada à boa saúde,
ter efeitos prejudiciais. Além disso, exercícios pesados podem lesar ou es-
tirar os tendões, que é o tecido regido pelo Fígado.
No entanto, é importante fazer uma certa quantidade de exercícios fí-
sicos diariamente; caso contrário, o Qi e o Sangue ficam muito lentos.
Quando não há exercício físico durante um longo período de tempo, surge
uma Deficiência de Qi do Baço, resultando na vontade incontrolável de
comer doces, aumento de peso, diarréia, sangramentos excessivos no perío-
do menstrual, espasmos musculares e assim por diante.
Para se ter uma boa saúde é importante ter tempo para descansar e
atentar para o excesso de trabalho ou a sobrecarga do corpo dos pontos de
vista físico, emocional e mental. O tempo dedicado ao descanso e à ativi-
dade deve refletir um equilíbrio que não signifique nem sedentarismo nem
excesso de exercícios ou fadiga, respectivamente. A principal forma de
descanso é o sono. Devemos passar até um terço de nossa vida dormindo
e, assim sendo, é importante desenvolver práticas saudáveis de sono.
56 SABEDORIA CHINESA PARA A SA Ú DE DA MULHER

ATIVIDADE SEXUAL

A falta de atividade sexual pode levar à desarmonia nas mulheres. Os or-


gasmos promovem o fluxo suave do Qi através dos sistemas de Orgãos
(leia mais a respeito na Quarta Parte, "Nuvens e Chuva"). No entanto, gra-
videzes frequentes durante um curto período d e tempo esgotam a essência
da mulher e diminuem sua longevidade.
ÜRQUÍDEAS DESABROCHA DO NO UNIVERSO 57

RESUMO

Um enfoque preventivo e holístico dos cuidados da saúde é a essência da


medicina chinesa. Os antigos filósofos chineses defendiam uma ciência e
filosofia - o Tao - cujos objetivos eram a conscientização do Qi, o contro-
le de seu fluxo e uma vida em harmonia com a energia vital que estão pre-
sentes tanto no corpo humano quanto no universo. Ao defender um estado
de equilíbrio Yin Yang dentro de si mesmo, aplicado à sociedade e ao uni-
verso, os textos médicos chineses ensinavam formas de se atingir a saúde e,
consequentemente, evitar as doenças. Viver segundo o Tao permitia que os
antigos sábios tivessem uma vida muito longa. A Tabela 4 resume alguns
dos aspectos que são o alicerce do enfoque da MTC quanto à saúde.
58 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MU LHER

Tabela 4: Conceitos básicos da abordagem da MTC para a saúde

. A causa de um a di sfunção não se localiza,


necessariamente, na região do sintoma. Des-
sa forma, observam-se irregul ar idades fis io-
HOLfSTICO lógicas, fat ores psicológicos e personalidade
para identifi ca r um "padrão d e desa rmonia"
que pred omina sobre qualquer pesquisa de
causa e efeito.

. A MTC di agnostica e trata os desequ ilíbrios

. do Qi antes que se to rn em físicos.


A fim de evi tar o apareciment o de doenças,
deve mos adotar um es til o de vida e ativida-

PREVENTIVO . des que apoiem a boa saúde.


t. mais benéfico sa nar um problema subj acen-
te do que adotar medidas preventivas a fim de
se evi tar novas complicações. Por exemplo,
tomar aspirina para evitar ataques cardíacos
(enfa rte do mi ocá rdio) pode causar um novo
problema - gastrite.

• A MTC lança mão das forças naturais de cura de

. nosso corpo para aj udar a eliminar as doenças.


Os si ntom as de uma doe nça não são co nsi-
derados problemas que prec isa m ser corrigi-
NATURAL
dos de forma invasiva, através de cirurgias
o u drogas; ao con trário, são vistos como si-
nais d a existência de um desequilíbrio que
deve ser corrigido.

FUNDAMENTAÇÃO . A MTC identifica e trata a causa de uma


DO TRATAMENTO d oença em vez d e tratar se us sint omas.

TRATAMENTO
. Dado que os sintomas não são tratados segun -
do um protocolo uni versa l, mantém-se uma
FLEXÍVEL visão integ rada do conjunto de sintomas, diag-
nósti co e tratamento prescrito.
L _ __ _ _
~
~B'~
s-o~

Segunda parte

ÁGUA CELESTIAL
CAPrTULO TR~S
~
~~~
~ Q

Mínha íntrodução à Água Celestíal

T inha 13 anos quando me ensinaram, pela primeira vez, sobre o


ciclo feminino. Foi em 1969, três anos após o início da Revolução
Cultural. Embo ra as escolas tivessem sido fechadas, a China entrou em
uma nova fase e, com isso, os jovens passaram a ter a chance de obter
educação. Eu estava começando o ensino médio quando finalmente
deixaram que meus pais saíssem da faze nda coletiva onde haviam tra-
balhado como lavrado res, e meu pai pôde retornar ao se u cargo de ge-
rente em uma red e de televisão. Minhas duas irmãs mais velhas e meu
irmão também estiveram fora durante esse período já que, como todos
os outros ex-estudantes, foram cumprir o dever nacio nal de viajar a Pe-
quim para ver Mao. Assim sendo, vivi sozinha durante dois anos, em-
bora recebesse visitas frequentes de amigos da família.
Embora a China estivesse passando por um período aterrorizante e
instável, no qual os filhos denunciavam seus pais como traidores de Mao,
e as esposas traíam seus maridos, tenho lembranças maravilhosas do tem-
po que passei com meus pais e pude compartilhar as refeições com eles. A
comida era escassa e racionada - recebíamos tíquetes mensais para tro-
car por cerca de 150 gramas de carne e ap roximadamente 11 quilos de
arroz-, mesmo assim, adorávamos o tempo que passávamos juntos.
62 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

Lembro-me de minha mãe, nessa época, tocando, pouco a pouco, na


questão da puberdade. Eu sabia um pouco a respeito. Havia ouvido partes
de conversas na escola sobre a visita de "uma velha amiga" e lido livros que
mencionavam a menstruação. Não eram textos científicos, e sim roman-
ces. Embora a leitura de livros que não tivessem sido escritos por Mao
fosse proibida, eu era uma leitora ávida e tinha lido, às escondidas, ]ane
Eyre, Guerra e paz, romances de Charles Dickens e muitos, muitos outros,
entre os quais, clássicos chineses proibidos. Eu e um amigo tínhamos os
livros em casa e os trocávamos, levando-os escondidos em nossas roupas.
Em um dia de chuva torrencial, quando meu amigo veio me visitar, minha
mãe atendeu à porta e disse que eu não estava. Quando ele se virou para
sair, ela puxou-o pelo braço para que ele entrasse e enxugasse as roupas
antes de se aventurar novamente na chuva, quando vários livros escondi-
dos sob seu casaco caíram no chão. Minha mãe ficou furiosa. Sabia que os
comunistas consideravam a posse de livros - principalmente os clássi-
cos - motivo para prisão. Fui veementemente repreendida.
O pouco que havia conseguido descobrir sobre menstruação aguçou
minha curiosidade. Ficava imaginando como me sentiria. Minha mãe me
viu, certa vez, esfregando os seios e perguntou se estavam coçando. Expli-
cou-me que eu estava crescendo e desenvolvendo seios para amamentar um
bebê. Disse que se eu sentisse coceira ou dor, deveria aquecer um pouco de
óleo vegetal e com a ponta dos dedos massagear os seios delicadamente.
Minha mãe contou-me, em seguida, que eu passaria por algo "especial"
todos os meses e que isso era um sinal de amadurecimento. Com isso, vi-
riam novas responsabilidades. Tinha consciência de que não deveria ser
mais uma garotinha levada, que deveria cuidar de mim mesma e ter mais
consideração pelos outros. Minha mãe explicou que eu sangraria pelava-
gina e que talvez isso fosse causar dor e fazer com que eu sentisse enjoo,
mas que não deveria me preocupar; havia ervas que poderiam ajudar meu
corpo a se fortalecer e evitar as doenças.
Como forma de me preparar, ela me deu uma pilha de cinco centíme-
tros de altura de folhas de papel de arroz comum e um cinto com uma tira
de tecido retangular que se prendia a uma faixa de cintura. Preso ao tecido
ÁGUA CELESTIAL 63

havia uma aba que dava a volta por cima da faixa e era fechada por um bo-
tão. Minha mãe mostrou-me como dobrar as folhas de arroz em faixas mais
estreitas e como ajustar a largura para que ficasse confortável. Q uando qui-
sesse trocar o chumaço de papel, bastaria desabotoa r a faixa, retira r o papel
usado e substituir por papéis limpos, colocados sobre o tecido. Fiquei um
pouco envergonhada quando ela me explicou tudo isso, pois fez com que eu
pensasse na possibilidade de namorados, casamento e bebês. Talvez por ter
um desenvolvi mento um pouco mais lento comparado ao de minhas cole-
gas, senti vergonha dessa nova fase de minha vida. Minha mãe explicou-
me, porém , que era parte natural do processo de se tornar mulher.

O ciclo de desenvolvimento feminino é mencionado no Huang Di Nei ]ing


sécul os antes do nascimento de Cristo e da Era Comum. Segundo o Nei
]ing, a vida de uma mulher engloba uma série de ciclos de sete anos. Aos 7
anos de idade, o Qi da menina começa a se expandir. Aos 14 anos, ele deve
estar for te e robusto para que a garota possa se transformar em mul her
co m a chegada da menstruação. O corpo precisa ter a segu rança de que
temos vitalidade, de que nosso Qi e Sangue estão em seus níveis mais altos
antes do início das perdas contínuas e regu lares de Sangue.
Antigos praticantes chamavam a menstruação de Tian Gui, ou "Água
Celestial': pois acreditavam que o sangue menstrual era diferente do Sangue
que ci rcula por nosso corpo e que o nutre. Sabiam que um homem precisava
ejacular na vagina de uma mulher para que ela engravidasse, e que quando a
concepção realmente acontecia a menstruação parava. Como não ti nham
como ver o óvulo com os próprios olhos, identificavam a Essência reprodu-
tiva da mãe com o Sangue menstrual, o equivalente ao esperma nos homens.
No livro sobre ginecologia Fu Qing Zhu Nu Ke, o ginecologista chinês do
séc ulo XVII Fu Qing Zhu escreveu: "O sangue menstrual não é Sangue, mas
Água Celestial, que se origina dentro dos Rins( ... ) t. vermelho como san-
gue, mas não é sangue. Por isso é chamado de Água Celestial ~' O Nei ]ing
afirma: "'Celestial' indica que descende do Qi Verdadeiro do Céu; 'Gui' indi-
ca Água como as nuvens celestiais que geram água~' Os Rins são onde arma-
zenamos nosso Qi e nosso Jing (ver página 41 ), ou Essência, e são, portanto,
64 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHE R

responsáveis pelo nosso crescimento e desenvolvi mento. O sangue mens-


trual não é apenas uma descarga mensal de material descartado do Útero.
t Essência, a energia vital necessária para viver.
O principal componente da menstruação é o Sangue. O s antigos prati -
ca ntes ensinavam que o Sangue menstrual começa a fluir qua ndo, aos
14 anos, ocorre uma série de fatores. Nossa energia de Rim tem de estar
forte, e temos de ter acumulado Sangue suficiente para pode r liberá-lo do
Útero. Além disso, o Qi e o Sangue estão equilibrados e fluem suavem ente
através do Orgãos Zang-Fu, e os dois Canais responsáveis por comandar
nosso ciclo feminino de sete anos devem estar funcionando adequada-
mente. O Vaso de Concepção* (Ren Mai - o "Mar de todo o Yin") deve
estar fluindo com intensidade e o Vaso Penetrador** ( Chong Mai-o "Mar
de Sangue") deve receber Sangue em abundância. Quando essas va riáveis
ocorrem simultanea mente, começamos a menstruar.
O início da Água Celestial é um marco no ciclo fem inino. t o co-
meço de nossa fase reprodutiva e representa um momento dec isivo
para nossa saúde. Por ser uma transição radical, o início d a me nst rua-
ção é um período de intensa vulnerabilidade que deve ser tratado co m
atenção e carinho especiais.

Com o início de minha primeira menstruação, pude ingerir alimentos es-


peciajs que já tinha visto minha mãe comer. Durante os cerca de cinco dias
em que menstruava, minha mãe preparava uma sopa com ovos, açúcar não
refinado*** e vinho de arroz feito em casa. Esse prato, à base de ovos, aj uda a

"' Também chamado de " Vaso Direto r", o Ren Mai, juntamente com o Ou Mai , "Vaso
Governador", sãÓ os do is únicos meridianos chineses, ou ca nais de energia, do corpo
humano e do animal, que são ímpares. O Ren Mai e o Ou Mai , juntos, formam acha-
mada "pequena circulação de energia". (N. do R. T)
** Também chamado de "Vaso Penetrado r", o C hong Mai é um dos oiro meridianos chama-
dos de extrao rdinári os pela MT C , ou, também, de Vasos Maravilhosos pelos franceses, po r
seus trajetos serem irregulares e seus efeitos serem de fa ro extraordinários e/ou maravilhoso~.
(N. do R. T)
*** O açúca r de cana não refinado é a sacarose em seu estado bruto, ou seja, açúca r
mascavo. (N. da T)
ÁGUA CELESTIAL 65

aumentar a circulação, nutrir o corpo e mantê-lo aquecido, o que contribui


para o movimento suave e livre do Sangue e Q i e para o funcionamento
harmonioso de nossos Orgãos Zang-Fu. Até meu pai sabe preparar a sopa
de ovos. Quando ele sabia que eu estava menstruada, preparava-a para
mim . Os homens chineses têm um bom conhecimento dos alimentos com
valor terapêutico para a saúde das mulheres e a saúde em geral, já que a
prevenção e o tratamento são fatos incorporados à vida diária das fam ílias
chinesas e inseparáveis dela.

SoPA DE ovos
Serve uma porção

1 xícara de água
1 colher (sopa) d e açúcar não refi nado
2 ovos
3 colheres (sopa) de vinho de arroz

1. Coloque a água e o açúcar em uma panela média. Leve ao fogo


médi o-alto até ferve r.
2. Quebre do is ovos e adicione-os à água, até ferve r. Adicione o
vinho d e arroz e d esligue o fogo. Sirva quente.

Minha mãe também preparava congee de arroz-doce, que é u m mingau


fino com longan* seco, amendo ins e tâmaras vermelhas. O arroz-doce aju -
d a no fluxo da energi a do Fígad o, o longan ativa o fluxo de Q i e aumenta o
volume d e Sa ngue, as tâmaras nutrem o Sangue e energizam o Baço e o
amendoim também traz benefícios para o Baço.

* Fru to o rien tal cujo nome latino é Eupho ri a Longana (Dimocarpus longan), perten-
cente à famíl ia das Sapindaceae. ua "prima" próxima é a lichia. O utra fru ta d a mesma
n
. fa m íl ia do longan é o guaraná brasileiro. (N. do R.
66 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA M ULHER

CoNGEE DE ARROZ-DOCE

Serve quatro porções

6 xícaras de água
I xícara de arroz-doce preto
Y2 xícara de longan seco
IO tâma ras
2 colheres (sopa) de açúcar não refinado
I pedaço (de cerca de I ,5 centímetro) de gengibre fresco,
descascado e cortado em fatias finas

I. Em um a panela grande, adicione as 6 xícaras de água, o arroz-


doce, os /onga ns, as tâmaras e o açúcar. Coloque em fogo
médio-alto até levantar fervura. Abaixe o fogo e deixe cozinhar
por du as horas, mexendo de vez em quando. O congee final terá
a consistência de uma sopa. Sirva em uma tigela com as fatias
de gengibre salpicadas.

Como no início os períodos menstruais são irregulares, minha mãe me


deu comprimidos Wu ]i Bai Feng Wan, ou Black Chicken White Phoenix, *
a fim de regular meu ciclo. Esse medicamento patenteado foi especialmen-
te formulado para tratar doenças relacionadas, em geral, à Água Celestial.
Minha mãe também sugeriu que eu descansasse e aconselhou-me a não
beber água gelada, não comer alimentos frios, não levantar peso nem fazer
exercícios intensos e não nadar enquanto estava menstruada. Dado que
durante a Água Celestial o fluxo de sangue é liberado do Útero, o corpo
apresenta um estado de Deficiência de Sangue e Qi- assim como o San-
gue, o Qi também se perde. Com isso, tornamo-nos mais vulneráveis a

• Wu }i Pai Feng Wan (literalmente, comprim idos Fênix Branco de galinha preta)
rrara-se de um conhecido med icamento patenteado na China que passou a ser distri-
buído no mundo rodo. H á uma determinada galinha cujos ossos, carne e pele são
pretos, que é usada na China como alimento e medicamento para nutrir o Yin e o
Sangue. (N. da T)
ÁG UA CELESTIAL 67

invasões de fatores Externos, como o Frio. Inge rir alimentos ou líquidos


gelados durante a m enstruação pode obstruir o Qi e diminuir nossas fun-
ções vitais. Pisar em um chão gelado descalça e se m meias enquanto se está
menstru ada é outra forma de o Frio invadir nosso corpo.
Minhas pacientes geralmente perguntam qual a relação entre os alimen-
tos, as bebidas geladas e a menstru ação. Explico que a ingestão de alimentos
gelados ou crus pode roubar as energias do Baço e desvitalizá-lo, o que faz
com que ele não consiga cumprir eu papel, que é conter o Sangue dentro
das paredes dos vasos.* Quando ocorre um desequilíbrio em nosso Baço,
como órgão do sistema de Orgãos, podemos apresentar sangramentos in-
tensos, enjoas, espasmos musculares ou um desejo intenso de comer doces.
Minha mãe estava passando para mim o que minha avó havia ensina-
do a ela e o que havia sido passado de uma mulher para outra por meio das
incontáve is gerações de minha família. Ela estava me ensinando a cuidar
de mim m esm a adotando medidas preventivas para que eu ·p udesse otimi-
zar e proteger minha saúde. Há uma relação íntima entre essas práticas
alimentares, o estilo de vida e nossa saúde menstrual. Na verdade, ao se-
guir essas recomendações, as mulheres de minha fa mília nunca apresenta-
ram nenhum tipo de irregularidade menstrual.

• Essa é uma exp ressão trad icional que a MTC usa para descrever uma das funções
energéticas do Baço, que no Ocidente poderíamos interp retar como sen do uma fun-
ção anti -hemorrágica, antiequimose e responsável pelas fragi lidades capilares e altera-
ções hem ato lógicas e da crase sanguínea. (N. do R. T)
CAPÍTULO QUATRO
.@--
@~@-
-,....)·
~'.A.~.

Harmo níza ndo a Água Celestíal

N~ssa Água Celestial depende do funcionamento adequado e balanceado de


nossos sistemas de Orgãos Zang-Fu e do fluxo suave do Qi e do Sangue.
Qualquer distúrbio- por exemplo: dor nos seios, dores de cabeça, irritabi-
lidade - durante o período da Água Celestial é causa para preocupação.
Esses sintomas indicam a existência de desequilíbrios no corpo que se não
forem tratados podem levar ao surgimento de cistos, caroços, possíveis tu-
mores e problemas durante concepção, gravidez, parto e menopausa.
No Ocidente, o conjunto de sintomas identificados com a chegada da
Água Celestial, tais como inchaços, cólicas, ataques de choro e assim por
diante, são conhecidos como tensão pré-menstrual (TPM) .* Antes de chegar
ao Canadá, eu nunca havia ouvido falar da TPM. Foi uma surpresa saber
que, no Ocidente, as manifestações fí sicas e emocionais geradas pelos dese-
quilíbrios no corpo haviam sido rotuladas como uma síndrome, e eram ne-
gativamente associadas à Água Celestial. Ao nomear essas expressões de
desarmonia, encontrou-se uma forma de abordar - quase desconside-
rar - nosso desconforto, sofrimento psicológico e nossa dor, atribuindo
nossos sintomas à TPM. Ficava claro que esse período significativo de nosso
ciclo feminino era considerado uma tolice e uma fonte de aflição.
Em vez de agrupar sintomas sob a forma de tensão, a medicina chinesa
identifica padrões de desequilíbrio dentro dos sistemas de Orgãos Zang-Fu.
A síndrome conhecida como TPM no Ocidente é, na maioria das vezes, um
padrão que envolve Estagnação do Qi do Fígado. O fluxo de energia vital que

* Tensão pré-menstru al é um termo leigo para SPM (síndrome pré- men stru al).
(N. do R. T)
ÁGUA CELESTIAL 69

passa pelo nosso sistema de Orgão do Fígado fica bloqueado e não circula de
forma apropriada. Isso é significativo já que o Fígado é responsável pelo mo-
vimento equilibrado e suave do Qi em todo o nosso corpo. Dado que nossas
emoções são manifestações de Qi, o Fígado também é responsável por regu-
lar nossas emoções. E como o Fígado regula o fluxo de Sangue, e o Qi passa
pela rede do Fígado antes de chegar ao Útero, o Fígado também comanda
'1osso ciclo menstrual. Consequentemente, quaisquer distúrbios emocio-
nais, tais como irritabilidade ou sensação de depressão próximo do período
de nossa Água Celestial, podem ser um sinal de que o Qi do Fígado está
bloqueado. Quando há Estagnação do Qi do Fígado, as emoções ficam con-
gestionadas e há uma tentativa de se desbloquear a Estagnação por meio de
ataques de raiva e choro (as lágrimas são consideradas o líquido do Fígado).
Já que raiva, ressentimento, aborrecimento e frustração são emoções asso-
ciadas ao Fígado, se ele e tá desequilibrado, há maiores chances de sentirmos
essas emoções de forma mais intensa e com mais frequência.
Dado que o Sangue é o veículo para o Qi, se há um bloqueio no Qi, com o
passar do tempo o Sangue também pode Estagnar, gerando não apenas sinto-
mas emocionais, mas tan1bém físicos. Isso tem um impacto ainda maior du-
rante o período da Água Celestial, pois é o Fígado que armazena o Sangue que
alimenta o Útero. A Estagnação do Qi do Fígado pode se manifestar no nível
físico na forma de dores nas costas, seios doloridos, dores de cabeça, sensação
de inchaço abdominal, prisão de ventre, ciclos menstruais irregulares, depres-
são, caroços nos seios e cólicas menstruais (dismenorreia). O Meridiano atra-
vés do qual o Qi do Fígado flui começa no ângulo ungueal interno do primeiro
dedo de cada pé* e sobe em direção aos pés e à parte interna das pernas. Chega
à região pélvica, onde circula o Útero, sobe em direção ao abdome e, então, até
o Fígado e a Vesícula Biliar. Em seguida, egue para a parte frontal do corpo,
até os seios, ascendendo internamente até a garganta e os olhos (Ver Figura 5).
É por isso que um desequilíbrio de Qi de Fígado pode afetar a região baixa do
abdome, tais como ovários, Útero e Trompas de Falópio,** Intestino Grosso,

• No "dedão" do pé, coloquialmente falando , ou no primeiro pododáctilo. (N do R. T.)


•• Tubas uterinas. (N do R. T.)
70 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

além do Baço e dos Canais do Estômago. O movimento suave do Qi por todas


essas redes de Orgãos é prejudicado, levando a doenças como caroços nos
seios, instabilidade emocional, distensão abdominal, disfunções na tireóide,
disfunções vocais e problemas cardíacos.
O acúmulo de Estase do sangue* na região pélvica restringe o fluxo de
Sangue aos Ovários e ao Útero. Isso pode levar ao surgimento de coágulos,
cólicas e fibroide, ** no Útero, infertilidade, dor durante a relação sexual e
ausência do fluxo da Água Celestial (amenorreia).
A Estagnação do Qi do Fí-

~
gado e do Sangue é, na maioria
das vezes, resultado de emo-
ções reprimidas, não expressa-
das e excessivas. Dado que o
Fígado é o sistema de Orgãos
mais intimamente ligado às
emoções, é o que tem mais ten-
dência a sofrer restrições, con-
gestão e Estagnação. Em minha
clínica, atendo semanalmente
mulheres cuja Água Celestial
encontra-se interrompida de-
vido a emoções contidas das
quais elas não têm consciência
ou que não foram capazes de
Figura 5: O Meridi ano do Fígado exprimir. Entre elas está a cul-

• Estase do sa ngue (Xue) na MTC é um padrão de desa rm o nia energética que apre-
senta as segui nres mani festações clínicas genéricas: fi sio no mi a escura; lábios a rroxea-
dos; dor de ca rárer fi xo, perfuranre ou em punh alada; massas abdo min ais im óveis;
unhas arroxeadas; hemo rragias com san gue e coágulos escuros; língua púrpura; pulso
em corda, firm e o u ás pero. Quando tal padrão de desa rmo nia energética aco mere o
úrero, o quad ro clínico específico que surge é o seguinre: mensrruações do lorosas; do-
res pré- menstruais; ameno rreia; massas abdo m inais fi xas; sa ngue mensrrual escuro e
com coágul os escuros; língua púrpura; pulso em co rda o u firm e. (IV. do R. T.)
•• Fib ro m io mas o u mio mas. (IV. do R. T.)
ÁGUA CELESTIAL 7I

pa, que foi o que Jane vivenciou após o falecimento de sua mãe. Jane tinha
38 anos quando veio me consultar. À medida que fui trabalhando com ela,
]ane contou-me que havia sido adotada pela mãe, que era solteira. Sua mãe
era uma de suas melhores amigas, e Jane sentia enorme gratidão por seu
amor, sua aceitação e ajuda. As duas decidiram fazer um a viagem juntas e
começaram a planejá-la. Infelizmente, Jane teve de cancelar o passeio por
conta de compromissos profissionais. Sua mãe decidiu ir sozinha e, duran-
te o passeio, fa leceu em um acidente de carro. Jane caiu em desespero,
passando da dor da perda à culpa e vice-versa. Não conseguia se perdoar
por não ter acompanhado a mãe na viagem, remorso que tinha um grande
peso para ela. Por fim, Jane parou de menstruar e seu cabelo começou a
cair. Foi quando ela me procurou.
Sabendo que seus sentimentos de perda e culpa estavam bloqueando
seu Qi , conversei com Jane, deixando que ela expressasse suas emoções
mais profundas. Ela contou-me sobre sua infância e sobre como sua mãe
havia cuidado dela, fazendo com que se sentisse querida e especial. Pedi
que escrevesse seus sentimentos em um diário, onde poderia doc um en-
tar o tempo que havia compartilhado com sua mãe. Com o tratamento,
Jane conseguiu extravasar os sentimentos que estavam bloqueando e res-
tringindo eu Qi do Fígado e do Sangue e impedindo o fluxo de sua Água
Celestial. Colocou em seu diário sua tristeza e culpa profundas e foi acei-
tando, gradualmente, seus sentimentos. Sua menstruação volto u e seu
cabelo parou de cair.
Uma das vezes em minha vida na qual minha saúde emocional afetou
profundam ente minha Água Celestial foi em 1988. depois que me mudei
para o Canadá. Saí da China para fazer uma pós-graduação em Farma-
cologia na Quee n's University, em Kingston , Ontário. Tinha um conheci-
mento mui to limitado da língua inglesa e cheguei a e sa pequena cidade
canadense sem conhecer ninguém. Encon trei um quarto em uma casa
próxima da universidade, que dividia com outra aluna e com o proprie-
tário. Não cozin hava nem fazia as refeições em casa, pois não tinha uten-
sílios de cozinha nem pratos. Além disso, passava bem pouco tempo em
casa, pois saía às 7h30 e só retornava às 22h. Passava o dia todo assistin-
72 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

do às aulas e estudando inglês na biblioteca, onde ouvia, repetidamente,


as gravações que fazia das palestras. Acabava comendo alimentos com-
prados em lojas de conveniência, como pasta de amendoim e bi scoitos
doces; eram perfeitos para lanches rápidos na biblioteca. O proprietário
da casa onde eu morava também me ensinou a prepa rar sanduíches, ou
seja, minha alimentação compreendia basicamente refeições simples, in-
completas e mal balanceadas.
Quase todas as noites eu chorava de saudades de minha família, de
meus amigos e da China. Sentia profundamente a situação difícil pela
qual havia optado. Adormecia enquanto escutava as gravações em inglês;
na verdade, vivia tão grudada ao meu gravador de fitas cassete que se
formaram feridas e casquinhas na parte interna de meus ouvidos devido
à pressão dos fones que usava.
O Natal daquele ano será sempre uma lembrança desagradável para
mim. A universidade havia aberto uma seção da biblioteca para alunos
que, como eu, não tinham para onde ir durante o feriado. Quando a biblio-
teca fechou, às 18h, já estava escuro e muito frio. Fui para casa, que ficava
a alguns quarteirões, a pé. Quando cheguei, a porta da frente estava tran-
cada e percebi que havia deixado minha chave no quarto. Não havia seque r
uma loja ou um restaurante aberto na cidade e estava frio demais para eu
ficar sentada. Decidi, então, dar uma volta no quarteirão. Dei uma, duas,
três voltas, e continuei andando, contando meus passos e escutando mi-
nhas fitas. Queria chorar, mas fiquei com receio de que minhas lágrimas
congelassem no rosto. Felizmente, estava vestindo roupas quentes e não sen-
ti frio enquanto me movimentei. Aquilo parecia um pesadelo e não algo
que estava realmente acontecendo comigo. Passadas várias horas, perto da
meia-noite, o proprietário chegou e abriu a porta. Caí na cama e lá fiquei
um tempo enquanto soluçava de tanto chorar. Estava tão exausta que aca-
bei dormindo profundamente.
Minha Água Celestial fluiu em meu primeiro mês em Kingston, mas de-
pois parou. Fiquei apavorada, pois meu ciclo sempre havia sido muito regular,
uma constante em minha vida. Decidi comprar os comprimidos Black Chi-
cken White Phoenix, mas infelizmente não os encontrei na cidade. Pedi a
ÁGUA CELESTIAL 73

meus pais que os enviassem da China. Nesse meio-tempo, massageava a área


abaixo do umbigo para estimular o fluxo de Sangue. Por fim, os comprimidos
chegaram, mas o impacto da depressão e do estresse em meu sistema de Or-
gão do Fígado estancou minha Água Celestial durante oito meses.
Por vezes, as mulheres ocidentais acham difícil acreditar que suas emo-
ções, principalmente raiva, ressentimento, frustração e irritação, podem ter
um impacto tão direto em sua saúde menstrual, no entanto, problemas emo-
cionais e mentais são causas poderosas que geran1 desequilíbrios no corpo.
Quando a mente não descansa, o Qi torna-se superativo, e quando há uma
irritação constante, pode ficar obstruído e estagnado. Entender como pode-
mos trabalhar com nossos aspectos emocionais, físicos e mentais e o que
fazer para equilibrá-los têm grande influência sobre nossa saúde menstrual
e nosso bem-estar geral. Devido à dependência mútua entre todos os Or-
gãos, a raiva que fere o Fígado, o medo que machuca nossos Rins, a alegria
exagerada que estressa o Coração, a ansiedade que prejudica o Baço ou a
tristeza que causa danos aos Pulmões produzem, com o passar do tempo,
um desequilíbrio nos outros Orgãos. As emoções são expressões de energia
e, assim sendo, seu movimento suave e regular garante uma boa saúde.
Quando temos problemas com nossa Água Celestial, o primeiro passo
é perceber como nos sentimos, entrar em contato com o estresse e com as
preocupações emocionais que nos limitam e, em seguida, trabalhar para
nos libertarmos desses sentimentos.

SHARON

Sharon nunca havia tido problemas com sua Água Celestial. No entanto,
começou a perceber que não conseguiria ter o filho que tanto desejava com
seu marido e, com isso, passou a ter cólicas, inchaço e dores nos seios,
entre outros sintomas relacionados à TPM. Seu marido não mostrava in-
teresse em ter filhos e queria voltar para a faculdade para conseguir uma
qualificação adicional. Durante a maior parte de sua vida de casada Sha-
ron fora quem sustentara o casal. Embora amasse o marido, não achava
justo que o filho que desejava há tanto tempo não pudesse se tornar uma
74 S AB ED O RI A C HI NESA PARA A SAÚ D E D A M U LH ER

realidade. Es tava brava, mas não demonstrava isso para ele. "A possibili-
dade de briga r com ele me deixava apavo rada", contou-me. "Não sabia
como co n fro ntá-lo( .. . ) Não tinha experiê ncia. Vinha de uma fa mília tra-
dicional e agia da for ma co mo hav iam me ensinado - fi car ao se u lado
nos bo ns e maus mome ntos:'
A raiva de Sharon internali zo u-se e ela fico u dep ressiva. Embora tives-
se se ntimentos intensos, não sabia co mo expressá -los. Entendi a, de algu-
ma fo rma, se us problemas, mas não sabia lidar co m eles. Começo u a fazer
terapia, meditação em gru po e a mergulhar no traba lho. Nos sete anos se-
guin tes, sua sa úde menstrual pioro u. A menstruação vinha cada vez mais
cedo, as cólicas fo ram fica nd o mais fortes e passo u a se ntir dores e inchaço
mais frequentes nos seios. Co ntou-me: "Não tomei nenhuma atitude, pois
achava que era assim co m todas as mulheres. Achava que era normal."
A vida de Sharon com seu marido fo i fica nd o cada vez mais restrita, até
que eles passaram a sair apenas os dois. Ele ti nh a de se r o ce ntro das aten-
ções, e a subes timava co m frequência. Ela co ntinuou a reprimir se us se nti-
mentos e, com isso, sua autoest ima des moronou. "Nunca fi z nada em
público ou, quando estáva mos com nossa fa mília, que pudesse contradizê-
lo ou ser visto co mo uma crítica': contou. "Nunca agi de forma a fazê- lo
sentir-se envergo nhado ou se m graça. Ficava quase sempre calada':
A menstr uação de Sharon co meço u a se altern ar entre fluxos volumo-
sos e outros quase im perce ptíve is. Passo u a ter ciclos irregul ares que co-
meçavam oito di as após o fim da última menstruação. No meio do seu
ciclo, seus seios doíam e ela tinha cólicas fo rtes. O inchaço abdominal de
Sharon era tão visível que chegara m a lhe pe rguntar se es tava grávida. Seu
m édico disse que ela estava co m vári os fi bromiomas uterin os que, juntos,
chegavam ao tamanho de um feto de 16 semanas. Felizmente, eram be-
nignos. O médico explicou qu e os fi bromiomas eram resultado de altos
níveis de estrógeno, e q ue seu corpo não estava produ zindo proges tero na
em quantidade suficie nte.
Sharon começou a usar um creme natu ra l de progestero na e a fre-
quentar um programa agressivo de autoc ura. Passou a ler muito sobre o
assunto e deixou de comer carne vermelha, alimentos processados e lati-
ÁGUA CELESTIAL 75

cínios. Adotou uma roti na de exercícios que incluía ioga, aeróbica de bai-
xo impacto e cond icionamento muscular. Também começou a consultar
um médium. Ele a estimulou a olhar para dentro de si e entrar em contato
com sua raiva. Com isso, ela começou a perceber como a ideia de enfren-
tar seu casamento a deixava apavorada, mas decidiu, corajosamente, fazer
terapia com o marido.
Menos de um ano depois, Sharon decidiu pôr fim ao casamento. Disse
que, até então, "estava tomando conta dele. Hoje, consigo lembrar quem
sou': Assim que seu marido saiu de casa, Sharon começou a tirar de lá tudo
o que a fazia se lembrar dele. Pela primeira vez em quase vinte anos, sen-
tiu -se feliz ao acordar. Disse: "Deixei que minhas forças fossem levadas e
agora eu as estou recuperando:'
Um mês após sua separação, seu médico lhe deu a boa notícia de que a
quantidade de fibromiomas havia reduzido pela metade. Sharon não tem a
menor dúvida da relação entre as causas de seus sintomas e sua raiva con-
tida, sua menstruação 1. ~gular e o aparecimento dos fibro miomas.

Sharon contou com muito-apoio e continua a trabalhar com um profis-


sional que a ajuda a se relacionar com o que ela quer e ac redita. O papel
dessa pessoa em ajudá -la a n~cçnhecer o que a amedrontava e como tais
fatos haviam surgido foi fundam~ntal. O apoio social e profissional cum -
pre importan te papel em aj udar a aliviar o estresse emocional. Às vezes,
as causas de nosso estresse não são claras para nós, e conversar com al-
guém pode nos aj udar a ter consciência das razões. Geralmente, conse-
guimos lidar melhor com as emoções que nos incomodam e com
circunstânci as traumáticas sofridas na vida conversando com profiss io-
nais ou contando nossos segredos a fami liares ou amigos em quem con-
fiamos, os quais podem nos ajudar a sol ucionar nossos problemas. Muitas
pessoas tentam lidar sozinhas com as emoções que as perturbam, mas,
com certeza, ficariam agradavelmente su rpresas com o alívio e o bem-
estar que sentiriam ao compartilhar seus sentimentos, pensamentos e
suas experiências com os outros. Quando se age dessa forma, passamos
a identificar exatamente o que nos deixa estressados, conscientizamo-
76 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

nos da intensidade de nossas reações e entendemos o significado que


damos a elas. Podemos acabar percebendo como tudo isso prejudica o
progresso de muitos aspectos de nossa vida e saúde.
Se você não costuma compartilhar seus sentimentos com os outros,
escrever em um diário ou registrar fatos e sensações são formas terapêu-
ticas de se expressar. Ter um diário é algo que traz benefícios para sua
saúde; assim sendo, anote seus sentimentos mais íntimos e pensamentos
mais profundos. Ao documentar nossos sentimentos, passamos a nos iden-
tificar menos com eles. Essa prática cria um espaço onde podemos nos dis-
tanciar de nossos sentimentos negativos. Consequentemente, damos a
nós mesmas a oportunidade de nos ver com outros olhos e fazer opções
saudáveis e distintas. Adicionalmente, escrever sobre nossos sentimen-
tos nos permite transformá-los e conquistar uma saúde feminina me-
lhor. Se você se sente muito ocupada ou estressada para escrever, talvez
seja hora de pegar um diário, sentar-se e colocar as palavras no pa-
pel - ou dedos no teclado. Escrever em um diário, porém, não deve
significar mais uma tarefa desagradável. Ao contrário, tem de ser uma
forma que a ajude a reduzir sua carga emocional.

CATHERINE

Descobrir a causa dos sintomas relacionados à Água Celestial é, geralmente,


um processo longo e doloroso. Para Catherine foi uma jornada que cruzou o
oceano Atlântico diversas vezes e trouxe à tona, durante mais de duas déca-
das, dores lancinates que duravam cerca de duas semanas todos os meses.
Aos 14 anos, Catherine sentiu uma dor tão forte em seu abdome que
foi hospitalizada. Conheceu a Água Celestial através dessa dor intensa,
embora ninguém nunca tenha lhe explicado isso. Ela não sabia nada so-
bre menstruação; sua mãe e as duas irmãs mais velhas nunca haviam lhe
contado o que aconteceria com ela durante esses dias. E não tinha a me-
nor ideia de que sentiria essa dor terrível regularmente. No mês seguinte,
Catherine teve dores tão fortes nos dez dias anteriores à sua menstrua-
ção, e nos três primeiros dias de fluxo, que chegou a tomar analgésicos e
ÁGUA CELESTIAL 77

conhaque para conseguir algum alívio. Sua mãe disse que ela estava com
a "maldição". Na região rural da Inglaterra, onde Catherine vivia naquele
tempo, esse era o termo frequentemente usado para descrever a menstrua-
ção. Sua mãe também sofria de dores menstruais, mas como Catherine
não tinha co nsciência do fato, nunca soube que ela e a mãe compartilha-
vam a mesma experiência.
Dois m eses após sua primeira menstruação, Catherine e a família
mudaram -se d a Inglaterra para Toronto. Foi uma transição extrema-
mente difícil para ela. Deixar um vila rejo com ap roximad ame nte du-
zentas pessoas e mudar-se para Toronto, uma cidade com cerca de um
milhão de habitantes, naquela época, fez com que Catherine se se ntis-
se compl etamente deslocada e perdida. Embora falasse inglês, seu so-
taque era tão diferente que mais parecia outra língua. E ela não tinha
mais o campo e as montanhas onde, muitas vezes, buscava alívio fu-
gindo do vilarejo e da família.
A dor de Cather ine alastrou-se do abdome para todo o corpo e passou
a durar entre quatro e cinco dias durante sua menstruação. Depois de um
ano e meio vivendo no Canadá, foi diagnosticada com artrite reumatoide
no braço esquerdo. Quando Catherine tinha 16 anos, um médico deu uma
sugestão para aliviar sua dor- recomendou que ela tivesse um bebê! Dois
anos depois, prescreveram-lhe contraceptivos orais como forma de ate-
nuar as dores. Passados três anos, ela começou a ter dores de cabeça fortís-
simas. Quando perguntou a seu médico se era seguro tomar analgésicos
juntamente com os contraceptivos, ele ficou surpreso ao saber que as pílu-
las orais não haviam aliviado seus sintomas menstruais. Catherine come-
çou a achar que tal dor "era assim mesmo" para todas as mulheres e que
deveria aceitar a situação.
Catherine formou-se na universidade e começou a trabalhar na área edi-
torial. Continuou a utilizar analgésicos para sentir-se "confortavelmente entor-
pecidà' enquanto sua dor ia ficando, gradualmente, cada vez mais intensa.
Perdeu oportunidades de promoção devido às suas ausências frequentes. Sen-
tia-se cada vez mais isolada em sua dor. Após trabalhar no Canadá durante um
ano e meio, decidiu voltar para a Inglaterra, onde se sentia mais em casa.
78 SAB EDO RIA CHINESA PARA A SAÚDE OA MULHE R

Dois anos após retornar à Grã-Bretanha percebeu que o inchaço que


geralmente acompanhava sua dor não se limitava mais ao período anterior
e simultâneo à menstruação. Estava agora ocorre ndo todo final de semana!
Fez exames para checar se estava com endometriose (uma doença na qual
o tecido que circunda o útero, chamado endométrio, cresce em áreas além
da do útero), fibromioma, pólipos e cistos. Submeteu-se a uma laparosco-
pia, procedimento cirúrgico no qual se utiliza um instrumento similar a
um minitelescópio, que é inserido até a área abdominal para que a região
seja examinada. Quando acordou, ficou apavorada ao ver sangue em seu
umbigo. A médica afirmou: "Não há absolutamente nada de errado com
você': e sugeriu que Catherine fizesse exames em seu sistema di gestivo.
Dez dias após a laparoscopia Catherine ainda não havia conseguido
retornar ao traba lho. Quando voltou, corriam boatos de que ela havia tira-
do alguns dias de licença para fazer um aborto. Deram-lhe mais responsa-
bilidades, além de um cargo mais alto, mas não o aumento de salário que
haviam prometido. A mudança de cargo nunca foi divulgada dentro da
empresa. Foi nessa época que ela resolveu deixar o emprego. Encontrou
um trabalho de meio expediente e perto de casa. Durante quatro meses a
rotina de Catherine resumiu -se a trabalhar de manhã e dormir das 13h às
18h, levantar para comer algo e voltar para a cama, de onde só saia na
manhã seguinte. Durante esse período, decidiu retornar ao Canadá. Foi
também nessa época que resolveu procurar um homeopata que hav ia sido
recomendado por uma amiga que trabalhava em uma loja de alimentos
naturais. Embora tivesse o nome do homeopata há seis meses, relutava
em ligar; havia sido condicionada a acreditar que a homeopati a era "algo
sem pé nem cabeça, um charlatanismo':
Em sua primeira consulta, o homeopata ouvi u sua história e pergun-
tou -lhe o que ela buscava. Ela respondeu que queria ficar boa antes de
voltar ao Canadá, e que estava preparada para fazer o que fosse preciso.
Após medicá-la com alguns comprimidos homeopáticos que a fazia m pas-
sar do riso ao choro em questão de minutos, o homeopata perguntou se ela
conseguia perceber o histórico de perdas em sua vida. Essas palavras tive-
ram uma repercussão profunda.
ÁGUA CELESTIAL 79

Essa experiência intensa fez com que Catherine começasse um tra -


tamento homeopático radical de três meses. Trabalhou com o homeo-
pata e teve muitos, muitos sonhos e pesadelos e derramou lágrimas
que pareciam eternas, nem sempre ciente da razão de sua tristeza.
Pouco a pouco, sua vida foi se revelando. Começou a perceber que os
outros sempre haviam negado o que ela sentia. E quanto mais sua rea-
lidade e seu mundo de sentimentos mostravam-se reprimidos e igno-
rad os, maior era sua dor.
O retorno de Catherine ao Canadá foi o início de uma intensa jornada
espiritual. Participou de um programa intensivo de meditação orientada e,
enquanto as outras pessoas sentiam como se estivessem flutuando nas nu-
vens, ela tinha a sensação de estar se afogando. Foi então fazer um retiro
espiritual, durante o qual vivenciou um estado de relaxamento psíqui-
co - conseguiu sentir a energia de cura abrindo -se em suas mãos. Seus
antigos paradigmas sobre mente, corpo e emoções foram se desmembran-
do e ela pegou um caminho que fez com que visse maneiras de entender
sua dor e sua vida. Conheceu pessoas que a ajudaram a ter mais consciên-
cia dos traumas que havia enfrentado no passado e que lhe mostraram
man ei ras de lidar com eles. Suas lembranças compreendiam crianças, re-
lacion amentos com sua mãe e maternidade, tortura, estupro e desonra.
Essas experiências eram vazios dolorosos em sua realidade. Tinha a sensa-
ção de que os mecanismos de que dispunha para lidar com a situação esta-
vam se desintegrando.
Depois de dois anos no Canadá, continuava a sentir dores insuportá-
veis, mas com menor duração: aconteciam apenas um ou dois dias antes da
menstruação. A área da dor também diminuiu à medida que conseguiu
trazer à tona mais lembranças, e a dor relacionada a determinadas recorda-
ções foi ficando mais branda, até desaparecer. Catherine estava descobrindo
que quando conseguia admitir a lembrança de uma situação ocorrida no
passado, sentia menos dor. Conforme foi tendo melhor entendimento da
relação existente entre seu corpo, sua mente e suas emoções, estabelecem
um acordo com seu corpo: se ele lhe passasse uma nova informação, ela se
comprometeria a tomar uma medicação para aliviar a dor.
80 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

Três anos depois de ter assumido conscientemente esse compromisso,


fez uma descoberta decisiva: conseguiu se lembrar de que havia sido estu-
prada quando tinha apenas 3 anos! Esse foi um elemento extremamente
significativo para sua cura. As peças que formavam sua vida começaram a
se encaixar. Lembrou-se de que, aos 11 anos, havia tomado uma decisão
consciente- não queria nada que estivesse relacionado ao fato de ser mu-
lher. Por ter crescido em uma área rural da Inglaterra, viu mulheres sendo
desvirginadas e violentadas. Ainda muito nova, passou a rejeitar a denegri-
bilidade do que percebia como feminino. Ao agir dessa forma, negava o
discernimento que tinha sobre a feminilidade. Com as lembranças que
surgiram, hoje Catherine entende profundamente o porquê de não querer
nenhuma ligação com nada que remeta à feminilidade. Começou a enten-
der como a negação acabava lhe roubando seus sentimentos; quando mais
negava suas emoções, maior era sua dor.
À medida que foi tendo mais contato com seus sentimentos, sua artrite
reumatoide desapareceu. Hoje, Catherine não toma mais medicamentos
para a dor. Dedicar tempo e espaço para se ligar aos seus sentimentos fez
com que sua dor diminuísse e passasse a atingir apenas uma área em torno
de seu ovário direito. Conforme Catherine se recordava de quem é, sua dor
diminuía cada vez mais.
A jornada de Catherine até a causa de sua dor menstrual envolveu muita
coragem e compromisso. Como ela disse: "Segui minha sabedoria interior:'
Quando conseguimos agir assim, podemos confiar no processo de desco-
berta emocional e espiritual e descobrir a fonte de nossa dor física. Por vezes,
as origens de nossos sintomas residem na parte externa de nossos mundos
internos, em lugares que, conscientemente, nunca imaginaríamos.

As mulheres que sentem dores fortes durante o período da Água Celestial


geralmente tomam contraceptivos orais. Pílulas anticoncepcionais tam-
bém são prescritas para regular o ciclo no caso de mulheres que apresen-
tam sangramentos muito intensos (menorragia) ou para aquelas cuja
menstruação cessou (amenorreia). Na MTC acredita-se que os anticon-
cepcionais causem Estagnação do Qi do Fígado. As doenças e os sintomas
ÁGUA CELESTIAL 8r

que su rgem podem se manifestar no momento em que você está tomando


as pílulas ou até mesmo mais tarde.

SANDRA

Sandra era uma mulher de 28 anos que chegou à minha clínica por recomen-
dação de um médico praticante da medicina ocidental. Com apenas 13 anos
já tinha cólicas fortíssi mas durante o período de sua Água Celestial. Seu mé-
dico prescreveu pílulas anticoncepcionais para atenuar a dor menstrual. Pas-
sados 15 anos, decidiu consultar seu clínico geral em razão do desconforto e
da dor que sentia durante o ato sexual. O médico a examinou e checou seus
níveis hormonais. O resultado foi aterrorizante: Sandra estava começando a
entrar na menopausa! Depois de discutir as opções com o médico, optou por
não fazer terapia de reposição hormonal (TRH). Tinha receio de que, ao tratar
sua menopausa precoce com TRH, abrisse as portas para uma série de com-
plicações desconhecidas, tais como a possibilidade de câncer de ovário ou de
m ama. Quando Sandra veio à minha clínica, não sabia qual método seguir.
Também se preocupava com sua fertilidade. Após tratar Sandra com acupun-
tura, Tui-Ná e ervas durante cerca de seis meses, a dor que ela sentia d urante
as relações sexuais começou a melhorar, e sua Água Celestial voltou a fluir.

Quando o Qi do Fígado não consegue fluir livreme nte, o Sangue não chega
ao Útero e, com o passar do tempo, pode Estagnar. A Estase de Sangue
pode levar à infertilidade. Na China, a maioria das mulheres não toma
contraceptivos orais antes do nasci mento do único filho (em 1979, o go -
ve rno chinês estabeleceu a política de filho úni co a fim de conter o cresci-
mento populacional). Preocupa-lhes o fato de que o aumento dos níveis
hormonais por meios artificiais possam prejudicar sua capacidade de en-
gravidar por provocar um quadro de Estagnação do Sangue e do Qi do
Fígado. No caso de Sandra, a forma como a medicina ocidental tratou seu
sintoma, através de pílulas anticoncepcionais, gerou problemas mais com-
plicados e mais sérios: início precoce da menopausa, possíveis dificuldades
de engravidar e fortes dores durante as rel ações sexuais.
82 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

As intensas cólicas menstruais que Catherine e Sandra sentiam repre-


sentam um entre muitos sintomas, além dos classificados como TPM, que
podem se manifestar no período da Agua Celestial. A maior causa subjacen-
te dessas irregularidades pode ser encontrada nas Causas de Desarmonia
(ver páginas 43 a 57). Mais especificamente, incluem fadiga emocional, além
da exposição a fatores patogênicos Externos que invadem o corpo, alimenta-
ção irregular, sobrecarga de trabalho e excesso de exercícios físicos e men-
tais. Dada a íntima relação entre o sistema de Orgãos, cada um desses fatores
também cumpre um papel crucial no enfraquecimento do Qi do Rim.
Os Rins são um outro sistema que, quando em desequilíbrio, trans-
formam-se na principal causa dos sintomas relacionados à TPM. A Es-
sência do Rim, que origina a Agua Celestial, tem um papel fundamental
na reprodução, no crescimento e no desenvolvimento tanto na gravidez
quanto no parto. A Deficiência do Qi do Rim manifesta-se na forma de
medos de longa duração, que levam à retenção de líquidos no período
pré-menstrual, inchaço na região baixa do abdome, dores nas costas, di-
minuição da libido e infecções no trato urinário, todos sintomas relacio-
nados ao período da Água Celestial.
CAPfTULO CINCO
,@
,@Q~
8:09
Nosso relacíonamento com nós mesmas

ma das piores situações de fome da História aconteceu na China, entre


U 1959 e 1960. Lembro-me claramente das pernas de minha avó incha-
das até dobrarem de tamanho à medida que ela deixou de ingerir uma quan-
tidade significativa de proteína. A deficiência de proteína gerou complicações
no sistema de Rins, que afetaram o equilíbrio de água em seu organismo,
causando uma retenção extrema de líquidos em suas pernas.
Em minha clínica no Canadá conversei com uma mulher cujas pernas
inchadas lembravam, de forma clara e aterrorizante, as de minha avó. Além
disso, ela tinha perdido o fluxo de sua Água Celestial. Descobri que por
medo de engordar ela havia limitado sua alimentação a uma quantidade
diária mínima de arroz integral e água. Aquela mulher, com alto nível edu-
cacional e profissional, exibia os mesmos sintomas que minha avó malnu-
trida, mas por razões diferentes.
Antes de chegar ao Canadá, o conceito de magreza como algo belo e
desejável era completamente estranho para mim. No Ocidente, muitas
mulheres buscam o que a mídia considera um corpo perfeito. Na China,
ensinaram-me que a beleza da mulher é o reflexo do seu intelecto e do seu
coração e da forma como ela cuida de si mesma. Mulheres saudáveis, inte-
ligentes e amáveis eram consideradas mulheres belas. Talvez por ter vivido
84 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

na China e pelo fato de os chineses não serem, de forma geral, obesos, não
via nenhuma relação entre beleza e peso. Ou talvez a relação fosse insigni-
ficante devido à ausência de um mecanismo de propaganda e marketing
que promovesse o conceito da mulher perfeita.
No Canadá, conheci muitas mulheres que buscam aceitação com base
em um padrão idealizado de beleza. Já as ouvi falarem que se sentem inca-
pazes devido ao aspecto físico. Conheci mulheres que tiveram problemas
com sua Água Celestial por não terem uma boa aparência física e por apre-
sentarem baixa autoestima. É aflitivo ver mulheres com peso e aparência
corporal normais lutando para aderir a mais um regime alimentar severo,
ou exercitando-se de forma maníaca para perder peso. Digo a elas: "Você é
bonita", mas não conseguem ouvir minhas palavras e, quando ouvem, não
acreditam nelas. Já vi meninas de 10 anos de idade lutando para emagrecer,
e preocupo-me profundamente tanto com o impacto que isso pode ter so-
bre sua frágil estrutura psicológica quanto com a forma como dietas severas
e exercícios extenuantes podem repercutir em seu crescimento e ciclo
menstrual. Seus hábitos alimentares tornaram-se distorcidos, e elas acabam
optando por grandes quantidades de alimentos com baixo teor nutritivo, ou
por uma redução extrema na ingestão total de alimentos. As desordens ali-
mentares entre adolescentes e jovens mulheres de hoje são uma epidemia.
Embora sejam inteligentes e aparentemente bem -sucedidas em muitos as-
pectos de sua vida, o relacionamento que elas têm com a comida e com seu
corpo não é nem um pouco saudável.
O relacionamento que temos com nosso corpo torna-se muito mais
intenso durante a Água Celestial, dado que nesse período vivenciamos
mudanças extremas. A maneira como nos relacionamos com nossa forma
física tem um efeito profundo no valor que damos a nós mesmas. Lembro-
me de minha mãe dizendo, quando eu era menina, que era normal e boni-
to uma mulher ter um pouquinho de barriga. Ela me dizia que curvas
levemente arredondadas faziam parte do corpo feminino. Nenhum fami-
liar, amigo ou pessoa da sociedade na qual cresci enfatizava minha aparên-
cia física. Ao contrário, concentravam-se em como eu agia, como era como
pessoa e na forma como interagia com os outros. Quando um homem
AcuA CELESTIAL Bs

chinês de minha geração ou até mesmo um homem mais velho vê uma


mulher considerada bonita pelos padrões ocidentais, tem uma visão idea-
lizada de beleza que ele "pode apreciar mas não comer". Faz uma separa-
ção entre uma mulher com quem gostaria de se casar de uma mulhe•
ideal e interessante de admirar. Na per pectiva dos homens chineses, uma
mulher fisicamente bonita não corresponde à melhor opção como parcei-
ra para o casamento. Em vez disso, quando e colhe a e posa, qualidades
como lealdade, confiança e comprometimento são prioritárias. (Isso, logi-
camente, pode estar mudando à medida que a China torna-se mais expos-
ta à cultura ocidental.)
Quando vim para o Canadá, em 1988, não me preocupava com minh<
aparência física da mesma forma que as mulheres ocidentais se preocu-
pam. Não via nenhuma relação entre meu valor e minha aparência. Na
verdade, o valor que dava a mim mesma tinha por base minhas conquistas
acadêmicas, minha capacidade de ser bem-sucedida no que quer que fizes-
se, minha saúde, minha força e resistência físicas. Depois de viver um tem-
po em Toronto, porém, comecei a dizer que estava satisfeita quando, na
verdade, não estava. Nessa época, não questionava muito o motivo disso.
Uma amiga então perguntou por que eu andava comendo tão pouco e, à
medida que fomos conversando, percebi que estava querendo emagrecer!
Havia ab orvido as mensagens difundidas pela mídia sobre a relação entre
magreza e beleza. Fiquei chocada ao perceber que eu, que tinha tanta cons-
ciência dos perigos de acreditar nessas mensagens, havia sido pega, in-
conscientemente, por elas. A experiência fez com que eu passasse a entender
as enormes pressões que tanto as mulheres quanto os homens sofrem ao
serem continuamente bombardeados por padrões inatingíveis de beleza e
normas de aceitabilidade. Agora tenho maior entendimento da natureza
insidiosa e subliminar das imagens da mídia. É muito fácil incorporar os
padrões de beleza à nossa psique sem ter consciência disso. Mas acabamos
sendo afetados emocionalmente por nossos sentimentos de aceitação e re-
jeição e fisicamente quando tentamos mudar nosso corpo a fim de estar
em conformidade com ideais nem um pouco saudáveis.
CAP[TULO SEIS
~
~~~
~~~

Autocuídados durante a Água Celestíal

ma vez que os distú rbios relacionados à Água Celestial são principal-


U mente causados pelos sistemas de Orgãos do Fígado e dos Rins, deve-
mos seguir tratamentos de autocura que auxiliem essas redes. De forma
geral, a melhor m aneira de cuidarmos de nossa Água Celestial é traba lhar
nossas emoções, adotar novos hábitos alimentares, agir com moderação
com as at ividades físicas, além de outras mudanças no estilo de vida. Lem-
bre-se sempre de qu e a sensação de relaxamento é muito importante para o
movimento suave do Qi e do Sangue, razão pela qual todo e qualquer regime
de autocura deve ser feito com moderação e nunca de forma agressiva.

ALIMENTAÇÃO

De maneira geral, e principalmente durante o período da Água Celestial,


não se deve ingerir grandes quantidades de alimentos e líqu idos gelados e
comidas cruas, pois isso pode prejudicar o processo de tran sfo rmação do
alimento em Essência - Jing -, um dos Três Tesouros. Alimentos gelados
podem fazer com que o Baço trabalhe em ritmo mais lento e levar à D eficiência
de Qi do Baço, o que prejudica o fluxo de Qi no corpo e, se isso ocorre por
períodos prolongados, pode gerar acúmul o de Frio e Umidade. Essa Defi-
ÁGUA CELESTIAL 87

ciência causará dor, talvez nas articulações, um problema frequente durante


o período da Água Celestial, além de agravar o sintomas de inchaço, as có-
lica e o desconforto. Além disso, o Baço é responsável por manter o Sangue
dentro das veias e não permitir que ele passe para os tecidos, razão pela qual
seu funcionamento adequado é tão importante durante a menstruação. Uma
Deficiência de Qi do Baço pode se manifestar na forma de excesso de fluxo
menstrual, cólica, mãos e pés frios, diarreia e problemas digestivos. Quando
uma Deficiência de Qi do Baço leva a uma Deficiência de Sangue, podemos
ter problemas de insônia ou ausência do fluxo menstrual.
O que devemos comer para evitar Deficiências do Qi? Os alimentos
cozidos, mesmo que por pouco tempo, são digeridos mais facilmente e
a absorção dos nutrientes é mais rápida. Líquidos quentes e sopas aju-
dam a aliviar as dores menstruais. Por outro lado, deve-se evitar café,
bebidas alcoólicas, alimentos quentes e apimentados e excesso de carne
vermelha durante a Água Celestial, pois levam à Estagnação do movi-
mento livre de Qi do Fígado. Dado que o Meridiano do Fígado passa
pelo Útero, no caso de um bloqueio aqui, o movimento suave do Qi e do
Sangue será afetado e gerará sintomas desconfortáveis. Em geral, esti-
mulantes aumentam ainda mais a desarmonia de Excesso e acentuam a
gravidade dos sintomas.
Alimentos ricos em gordura afetam o movimento livre tanto do Qi do
Fígado quanto do Qi do Baço. Geralmente, alimentos oleosos fritos ou
gordurosos e doces acabam levando a uma Deficiência de Qi do Baço, ra-
zão pela qual devem ser evitados. Uma alimentação rica em gordura au-
menta a Estagnação de Qi e a Umidade, o que está relacionado à depressão
e à falta de energia. Além disso, quantidades excessivas de laticínios e ali-
mentos crus aumentam a Umidade e sobrecarregam o Baço.
Durante o período da Água Celestial, as mulheres geralmente têm
muita vontade de comer doces. Há uma teoria que sugere que isso é um
sinal de Defici · ncia no Baço. Outra teoria considera que essa vontade está
relacionada com o sistema de Orgãos do Fígado. Quando cheio, o Fígado
exerce sua qualidade assertiva inerente, enquanto o Baço, fatigado por ter
de transformar e transportar os produtos da digestão, acaba enfraquecido
88 SABEDORIA CH IN ESA PARA A SAÚDE DA MllLHER

e menos capaz de se defender do avanço agressivo* do Fígado. Supõe-se


que esse enfraquecimento leve o Baço a necessitar de ajuda, razão pela qual
o desejo por alimentos doces é visto como resultado de uma Deficiência do
Baço. A causa, no entanto, pode ser o funcionamento agressivo do Fígado
que, suscetível ao excesso de Qi, tende a ficar sobrecarregado antes do iní-
cio da menstruação devido ao estresse e a distúrbios emocionais. O exces-
so de Qi do Fígado gera enfraquecimento do Baço e desejo por alimentos
doces. Algumas mulheres têm muita vontade de comer chocolate e beber
café. Embora movimente temporariamente o Qi estagnado, a cafeína não
trata a causa do problema e, por fim, ocorre um efeito rebote, causando um
nível mais severo de Estagnação e Deficiência do Baço.
Também é preciso diminuir a quantidade de sal para minimizar o efeito
no sistema de Orgãos dos Rins. O sal em excesso pode gerar Deficiência de
Qi dos Rin s e levar à retenção de líquidos, a dores lombares e infecções no
trato urinário.
Para recuperar o Sangue perdido durante a Água Celestial devemos
comer alimentos cujas propriedades trazem melhorias do Sangue, tais
como legumes de folhas esc uras como espinafre, couve e dente-de -leão,
além de carne vermelha, fígado, carne branca, arroz-doce, peixe, ovos e
uvas-passas. Também é benéfico comer a sopa de ovos e o congee de arroz-
doce (ver páginas 65 e 66) que minha mãe me ensinou a preparar. Quando
as funcion árias de minha clínica sentem desconforto menstrual, digo -lhe
para descansa r e prepa rar a sopa de ovos.

ExERcrcJos Frs1cos
Mat ·y era uma mulher atlética, de 32 anos e que havia passado por algu ns
marcos em sua vida. Tinha casado e se formado em direito há pouco tem-
po. Ela e seu marido queriam ter um bebê, mas estavam preocupados de-

* Por "avanço agressivo" a aurora se refere a uma relação energética dentro da teoria
chinesa dos Cincos Elementos, ou Cinco Fases, da MTC de "inibição" do funciona-
mento do Baço e do Pânc reas exercida pelo Fígado. (N. do R. T)
ÁGUA CELE TIAL 89

vi do à esporad icidade da menstruação de Mary - às vezes, ela menstruava


quatro vezes no ano. Era extremamente magra e sua silhueta, reta. Lem-
bro-me de falar para ela: "Não sei onde o bebê crescerá, você terá, primei-
ramente, de engordar um pouco:'
Quando prescrevi ervas para Mary, ela comentou que estava preocupa-
da com a possibilidade de as ervas fazerem com que ela engordasse. A
preocupação de Mary com seu peso era o que direcionava a qualidade de
sua saúde e, possivelmente, sua capacidade de engravidar. Exercitava-se
arduamente todos os dias para continuar magra e manter a boa forma. A
tran piração excessiva resultante de exercícios aeróbicos puxados podem
esgotar o Q i e levar a uma Deficiência de Sangue, o que, por sua vez, afeta
o fluxo de nossa Água Celestial. É por isso que tantas atletas apresentam
irregularidades menstruais ou, simplesmente, não menstruam (amenor-
reia). Outro sintoma que mostra que o Sangue não está fluindo adequada-
mente é o crescimento de pelos em locais atípicos, já que os pelos estão
relacionados ao Sangue. Mary, por exemplo, tinha crescimento anormal de
pelos em seu queixo. Após tratá-la com ervas, acupuntura e Tui -Ná, o ciclo
men trual de Mary se regularizou.
O Qi e o Sangue têm de estar relaxados para encher o Útero e, em
seguida, derramá-lo na forma de Água Celestial. Assim sendo, não é
recomendável fazer exercícios puxados durante a menst ruação. Na fase
inicial da menstruação, o excesso de exercícios pode prejudicar a saúde
menstrual das adolescentes. Dado que o conjunto mente-corpo passa
por mudanças radicais nesse período, são neces árias atividades que co-
laboram para manter o equilíbr io. Atividades balanceadas também aj u-
dam as adolescentes a desenvolver uma imagem positiva do corpo e
melhor autoestima.
Quando eu trabalhava na fazenda, na China, tinha se mpre três dias
de folga a partir do primeiro dia de meu período de Água Celestial. Dis-
pensar as jovens de trabalhos físicos pesados durante a menstruação era
uma prática padrão. A visão chinesa do significado do período da Água
Celestial pode se r claramente percebida em uma pesquisa realizada em
1997 pelo departamento chinês de leis trabalhistas publicada na Asia
ÁGUA CELESTIAL 91

dos Unidos. Cancelou a cirurgia. Não sabia das complicações que a endo-
m etri ose pode causar à fertilidade. Posteriormente, descobriu que muitas
mulheres inférteis podem ter endometriose.
Retornou ao Canadá e marcou novamente a cirurgia. No entanto, e
felizmente, um mês após decidir que tentaria ter um bebê, engravidou. Seu
filho nasceu há dois anos e meio. "Não tinha a menor ideia': disse, "da sorte
que tive em conseguir engravidar tendo endometriose. Depois do nasci-
m en to d e meu filho, não sabia o que aconteceria. Geralmente, a endome-
triose melhora depois que a mulher dá à luz': Apesar de sua endometriose
não ter sido controlada, Lisa passou vários meses sem sentir dores. No
início, sua vida estava maravilhosa- sentia-se completa.
Alguns anos atrás, seu marido foi trabalhar na Rússia. Passava um
m ês no Canadá e um na Rússia, trabalhando. Lisa ficava sozinha durante
cerca d e sessenta por cento do tempo. Tentaram encontrar um local que
redu zisse o tempo de viagem e onde pudessem passar mais momentos
juntos, em família. Ela sabia que tinham de tomar uma decisão, m as
achava difícil. Começou a se sentir estressada. À medida que seu estresse
aumentava, su a dor piorava. Descreveu: "( ... ) é como a dor do parto,
como se estivesse tendo contrações. Lidar com a dor n ão era nem um
pouco fácil. Estava incapacitada, não conseguia fazer nada." Teve cólicas
durante alguns meses e seus ciclos ficaram desregulados. Nessa época,
começo u a tomar analgésicos.
Durante um ano e meio, a dor de Lisa piorou e passou a incomodá-la
durante mais da metade do mês. Estava tomada pelas dores, e a medicação
não proporcionara alívio. Embora não quisesse fazer a cirurgia, consultou
seu médico. "O que você tem feito?': perguntou-lhe. Lisa respondeu: "Acu-
puntura, massagem, ioga~' O médico retrucou: "Tudo isso envolve outras
pessoas lhe aj udando. O que você tem feito por si só?" Foi quando ele men-
cionou o Qi Gong. Embora conhecesse artes marciais e Tai Chi, o méd ico
não achava que eram exercícios apropriados para ela.
Em uma consulta de retorno, o médico informou a Lisa que ela estava
com um cisto de 4,5 centímetros no ovário esquerdo. Em questão de sema-
nas o cisto havia alcançado 6,5 centímetros. Ela e o médico decidiram, então,
97 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

fazer a laparoscopia. O cisto estava crescendo em um ritmo extremamente


perigoso; o risco de rompimento era altíssimo. Lisa queria engravidar nova-
mente, razão pela qual se preocupava em preservar sua fertilidade.
Para ajudar na recuperação de seu corpo após a cirurgia, Lisa começou
a fazer comigo um tratamento intensivo de acupuntura, com três sessões
semanais. Também começou a praticar meditação e técnicas de visualiza-
ção orientada. Ela tinha uma empregada que morava em sua casa e que a
ajudava com as tarefas domésticas e, graças a isso, pôde usar seu tempo fa-
zendo o que mais queria - ficar com o filho. Sua mãe ficava em sua casa
enquanto seu marido estava fora e Lisa contratou uma babá para aj udá -la a
cuidar do filho. Fez todo o possível para continuar a levar uma vida normal.
"Parar e sentir minha dor': disse, "foi pior do que seguir com a vida diária':
Continuou a buscar maneiras que a ajudassem a reduzir seu estresse e as
pressões que sofria. Contou: "Hoje, sei que o estresse afeto u meu cisto:'
Em uma cons ulta pré-operatória, Lisa comentou com o cirurgião
sobre as sessões que vinha fazendo comigo, e que eu era uma profissio-
nal da MTC. Ele então lhe falou sobre um curso intensivo que um mes-
tre de Qi Gong ministraria uma semana após sua cirurgia. Lisa decidiu
fazê-lo, mas não havia vagas.
O cisto de Lisa não se rompeu e ela foi diagnosticada com endometrio-
se. Quando acordou da cirurgia, o médico disse: "Conseguimos uma vaga
para você no curso de Qi Gong:' Conforme o efeito da anestesia ia passan-
do, Lisa balbuciava ideias confusas sobre o Qi Gong. Ao presenciar isso,
seu médico deu alguns telefonemas e conseguiu uma vaga para ela partici-
par do curso. "[Fazer o curso] foi uma experiência que mudou minha vida",
disse. "Sentia nuvens sobre minha cabeça. Desde o primeiro exercício, meu
corpo foi literalmente se movendo, sem instruções. Ele fazia o que queria.
Disseram que era para 'sorrirmos com nosso coração: Quando alguém
perguntou como fazê -lo, o mestre explicou: 'Não pense em como fazer,
apenas faça: Estimularam-nos a deixar tudo fluir e liberar o que acháva-
mos que deveria ser liberado."
Perguntei a Lisa como ela descreveria o Qi. Respondeu: "O Qi é a ener-
gia existente em cada célula. Tudo é feito a partir dessa energia. Imagine o
ÁGUA CELESTIAL 93

Qi como a energia que faz o mundo girar, faz o sangue correr pelo corpo,
as árvores crescerem, dá gravidade à Terra:· Lisa continuou praticando Qi
Gong: "Aprendi três exercícios que repito por cerca de 15 minutos diaria-
mente. Desde o dia em que fiz o curso intensivo, tenho experimentado
uma sensação maravilhosa de alegria e muito menos dores abdominais.
Não estou fazendo Qi Gong para curar minha endometriose. A prática
deixa minha mente limpa. Em alguns dias, sinto-me melhor, em outros,
nem tanto. O Qi Gong me traz bem-estar e o encaro como uma maneira de
me tornar uma pessoa melhor."
O Qi Gong e o Tai Chi cultivam nosso corpo através do movimento
físico e desenvolvem em nós uma consciência mental aguda. Também po-
demos fazer meditação regularmente para estimular nossa clareza de vi-
são. Através da prática regular de meditação, que pode ser tão simples
quanto fazer exercícios de respiração, conseguimos cultivar nossa cons-
cientização e clareza para lidar com nossas emoções de uma forma mais
saudável. Por meio da meditação desenvolvemos uma tranquilidade de es-
pírito que nos permite aceitar as circunstâncias adversas de nossa vida
com compaixão e docilidade.
Thich Nhat Hanh, um monge budista vietnamita, aprendeu a trans-
formar a raiva que sentia das injustiças que havia testemunhado em seu
país durante a Guerra do Vietnã através de caminhadas e da prática de
respiração consciente. A conscientização é um estado de consciência in-
tensificado através do qual percebemos melhor nossas experiências e o
que acontece ao nosso redor no momento presente, sem censura ou crí-
tica. Quando somos capazes de estar aqui e agora, desligamo-nos um
pouco de nossos compromissos e deixamos fluir mais prontamente o
que a vida nos traz. Quando inspiramos, sabemos que estamos inspiran-
do, e quando expiramos, sabemos que estamos expirando. Quando er-
guemos o pé para dar um passo, temos consciência de que o estamos
erguendo. Quando estamos bravos, sabemos que estamos bravos. Essas
percepções objetivas nos permitem perceber nossa raiva a partir de uma
nova perspectiva. A conscientização possibilita o desenvolvimento da
"testemunha", a qual aprimora nossa atenção e o significado de nossas
94 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

experiências. Ao concentrarmo-nos em nossa raiva, esse testemunho li-


berta o "fator que gera" a raiva e todas as respostas (conscientes e in-
conscientes) habituais que geralmente a acompanham.
Considerando que uma interpretação de Qi é "respiração': práticas
concentradas na respiração também podem aj udar a manter e estimular o
Qi. Exercícios respiratórios não se resumem simplesmente a realizar uma
ação, mas também a se conscientizar da respiração e permitir que ela ocor-
ra naturalmente. A seguir, está um exercício respiratório que você pode
fazer sentada, de pé ou deitada:
Inspire, profunda e lentamente, esticando a barriga. Expire profunda-
mente, contraindo a barriga. Agora observe sua respiração: é rápida ou
lenta, superficial ou profunda? Você está segurando o ar? Está expirando
totalmente? Consegue sentir o ar passando pelas narinas? É mais fácil
perceber isso quando inspira ou expira? Seu abdome está se contraindo e
dilatando? E seu peito? Algumas pessoas fazem com que você prenda a
respiração? Sua respiração é diferente quando você anda, está sentada, de
pé ou deitada? Deixe sua respiração fluir no seu próprio ritmo. Conforme
presta atenção, você perceberá os benefícios que surgem com a mudança
na respiração- apenas siga-a e perceba o que acontece. Este exercício irá
ajudá-la a ter mais consciência de sua respiração e do Qi e também levará,
naturalmente, a uma redução na tensão e no estresse que podem obstruir
o movimento suave do Qi.

ERVAS
Quando eu trabalhava na fazenda, todas as garotas com as quais dividia
o dormitório sabiam quais ervas tomar para ajudá-las durante o período
da Água Celestial. Tínhamos essas ervas à nossa disposição, frescas, no
campo. Lembro -me de sair para caminhar com minhas colegas após o
jantar, passeando pela beira da estrada empoeirada. Saíamos com frequên-
cia, não necessariamente para nos exercitar, mas para aliviar as saudades
que sentíamos de nossa família e amigos e o medo da possibilidade de
aquela vida ser o que o futuro nos reservava. Enquanto caminhávamos,
ÁGUA CHESTIAL 95

enco ntrávam os Yimu Cao, uma erva da famí lia das gramíneas que cresce
em va las, co nh ecida por sua capacidade de tonificar o útero que, além de
um Orgão, é também um músculo, razão pela qual precisa de tonifica-
ção. D urante o período da Água Celestial, se o Útero não estiver fortale-
cido, há maior possibilidade de ciclos irregu lares, excesso ou escassez de
flu xo e cólicas.
Em nossas caminhadas, colhíamos Yimu Cao umas para as outras e levá-
vamos a erva para a cozinha, onde preparávamos um chá, fervendo a planta
na água. Muitas vezes, juntávamos uma quantidade maior do que a necessá-
ria e, então, colocávamos a erva para secar, pendurando-a de ponta-cabeça
para os momentos em que não tínhamos tempo para nossas caminhadas ou
quan do não era época de colheita.
O uso de ervas medicinais era algo tão incorporado ao nosso dia a dia
que todas conhecíamos as ervas capazes de nos ajudar durante o período
da Água Celestial. Nenhuma mãe precisava ficar lembrando as filhas ou
insisti ndo para que tomassem as ervas medicinais indicadas para evitar
problemas menstruais ou melhorar a saúde. Essa autoconscientização fa-
zia pa rte da ed ucação das mulheres chinesas.
Há dois remédio à base de ervas patenteados que podem ser encon-
trados em lojas medicinais chinesas no Ocidente e que são extremamente
eficazes para regu lar o ciclo menstr ual. Um é o que minha mãe me in-
d ico u: Wu fi Bai Feng Wan,* ou os comprimidos Black Chicken White

• Wu }i Bai Feng Wán é mais uma fó rmula chinesa patenteada cuja traduçáo é: "Pílulas da
Fênix Branca da Galinha de osso-prero." Sua fórmula é compo ta de: Wu Ji (Pullus Cum
Osse Nigro), 33,80%; Sheng Oi Huang (Radix Rehmanniae Glutinosae), 12,90%; Shu Oi
Huang (Radix Rehmanniae Glutinosae Pmepamta), 12,90%; )(jang Fu (Rhizoma Cyperi
Rotundi) , 6,4 5o/o; Shan Yao (Radix Dioscoreae Oppositae), 6,4 5o/o; Lu Jiao Jiao ( Colfa Cornu
Cervr}, 6,45o/o; Ren Shen (Radix Ginseng), 6,45%; Oang Gui (Radix Angelicae Sinensis),
6,45o/o; Bai Shao Yao (Radix Paeoniae Lactijlorae), 6,45o/o; Huang Qi (Radix Astragali Mem-
branacei), I ,70o/o. As indicações clínicas dessa fórmula são para desordens menstruais como
menorragia, hipomenorreia e dismenorreia, sangramento uterino leve mas persistente (me-
tro taxe), leucorreia, dor lombar e nos joelhos, ovulação dolorosa, esterilidade, fraqueza das
pernas, menstruação adiantada, alteração de peso, sangramento pós-parto, fadiga pós-par-
to, síndrome pré- menstrual. (N. do R. n
96 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

Phoenix. Oferecem uma gama de aplicações seguras. Ao enriquecer o San-


gue e fortalecer o Qi, esse medicamento trata dor abdominal, corrimento
vaginal e seios doloridos. Os comprimidos podem ser tomados nos três
dias antes do início do ciclo até três dias após o fim do fluxo da Água Ce-
lestial. A dosagem e a frequência variam de acordo com o fabricante.*
A outra fórmula à base de ervas, chamada X i ao Yao Wan* * (pronuncia-
se "chao yao wan") é eficaz para suavizar o fluxo do Qi do Fígado e para
nutrir o Sangue e o Qi do Baço. Os comprimidos aliviam as cólicas mens-
truais e minimizam o estresse emocional, a irritabilidade e as alterações
de humor. Esse medicamento pode ser tomado diariamente durante seis
meses, segundo as instruções do fabricante, com grandes benefícios.

TRATAMENTOS DE AUTOCUIDADOS

Há inúmeras medidas que podemos tomar para cuidarmos de nós mesmas


durante o período da Água Celestial. Primeiramente, use absorventes co-
muns em vez de absorventes internos. Quando estamos menstruadas, o
Sangue e o Qi descem e vazam, e os absorventes internos bloqueiam o fluxo
natural. Além disso, na ocorrência de sangramentos intensos, o Sangue

* Converse com seu especialista ames de utiliza r medicamentos à base de ervas caso tenha
alergias, sensibilidade a drogas ou qualquer problema grave como doenças cardíacas, pressão
alta, diabetes, epilepsia ou glaucoma; ou caso esteja romando medicamentos por prescrição
médica. Pare de ro mar a erva e converse com seu médico se ap resentar algum dos seguintes
sintomas nas duas horas após sua ingestão: náusea, diarreia, do res de cabeça o u vômiros.
** Xiao Yao Wan é o utra fó rmula chinesa patenteada co nhecida como pílula da fe lici-
dade, extraro do relaxa mento ou viajante relaxado. Sua fó rmul a é co mposta de: C hai
Hu (Radix Bup leuri); Oang Gui (Radix A ngelicae Sinensis) ; Ba i Zhu (Rhizoma A trac-
tylodis M acrocephalae); Sai Shao Yao (Radix Paeoniae Lactiflorae) ; Fu Ling (Sclerorium
Poriae Cocos); G an C ao (Radix Glycyrrhizae Uralensis); Bo H e (Herba M enthae Haplo-
calycis}; Sheng Jiang (Rhizoma Z ingiberis Offici nalis Recens). É a fó rmula mais comu-
mente indicada para sinto mas de estagnação da energia (Qi) no Fígado e para mobili-
zar a energia (Qi) bloqueada no Fígado; fo rtalece o Baço e nutre o sa ngue (Xue) ; é be-
néfi ca para distensão e do res do abdome; menstruação irregular; fadi ga ; alteração de
humo r; do res de cabeça; é também útil nas alergias alimentares. Essa fó rmula fo i ela-
bo rada em 11 5 1 a.C. (N. do R. T.)
ÁGUA CELESTIAL 97

pode voltar, resultando em Estase de Sangue ou em Sangue Estagnado anti-


go que não é eliminado. No caso de o Sangue ficar obstruído nos tecidos,
podem surgir caroços e massas tais como cistos no ovário e fibromiomas
uterinos ou, em alguns casos, endometriose.
É importante manter o equilíbrio entre o trabalho e o descanso. Quan-
do se trabalha por períodos muito longos, seja fisicamente durante muitas
horas, ou mentalmente além do horário usual, há esgotamento do Qi do
Rim. Adicionalmente, a tensão física que surge quando ficamos muito
tempo de pé ou sentadas pode enfraquecer a energia vital do organismo.
Se fi camos sentada na frente do computador por horas a fio, o cansaço
nos olhos afetarão o Qi do Fígado, já qu e os olhos são os Orgãos do sentido
associados ao Fígado. Quando ficamos na mesma posição por um longo
período de tempo ou trabalhamos em ritmo acelerado, não temos tempo
para nos recuperar e acabamos consumindo nossa E sência, a preciosa
energia geral que recebemos de nosso pais. O esgotamento da Es ência
leva à Deficiência de Qi do Rim, o que o prejudica pois tira-lhe a capacida-
de de realizar suas funções de reprodução, desenvolvimento e crescimen-
to.* Quando temos de lidar com muitas exigências, ficamos mais estressadas,
e isso afeta o fluxo de nosso Qi do Fígado.
Para reduzir os problemas provenientes das poucas horas de sono
tão comuns no Ocidente e o estresse emocional que os acompanham,
durma em horários regulares. Tente tamb ém não comer antes de se dei-
tar e evite estimulantes como café, álcoo l e ciga rros, os quais podem
prejudicar seu sono. Além disso, o Nei ]ing afirma que devemos alterar
o horário em que nos levantamos e nos recolhemos segundo a estação
do ano. No verão, devemos acordar mais cedo e deitar ma i tarde; já no
inverno, o ideal é levantar mais tarde e deitar mais cedo. Com isso, en-
traremos em ressonância com a energia Yang do verão e a energia Yin
do inverno.

• Na MTC, o rim está relacio nado, energeticamenre falando, com as glândula


suprarrenais, articul ações, cabelo da cabeça, testículos ou ovários, medula óssea,
medula espinhal e cérebro, ânus e uret ra, os os, e co m nossa hereditariedade, enve-
lhecimento e longevidade. (N. do R. T)
98 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

Se você sente dores quando está menstruada, massageie a região baixa


do abdome com óleo de castor aquecido. Se suas cólicas melhoram com a
aplicação de calor, você também pode preparar uma mistura com 30 gramas
de cada um dos seguintes ingredientes: cravo em pó, canela, gengibre e ai ye
(artemísia seca), que deve ser colocada em um travessei ro de algodão de
cerca de 18 centímetros por 18 centímetros. Aqueça o travesseiro no micro-
ondas ou em uma frigideira de ferro fundido, em fogo baixo, até que fique
levemente quente. Não esquente demais a ponto de queimar a pele. Coloque
o travesseiro na região abdominal. Essa terapia pode ser usada, também,
para dores nas costas. Há também bolsas que podem ser aquecidas e que
ajudam a aliviar o desconforto.
Tratar e cuidar da dor é um passo importante para cuidarmos de nós
mesmas. Do ponto de vista da medicina chinesa, a dor é um alerta da Es-
tagnação do Qi e do Sangue. Geralmente, uma das formas de se lidar com
a dor é entrar em contato com nossos sentimentos, expressar nossas emo-
ções, fazer com que sejamos ouvidas ou, em um nível mais físico, através
de exercícios localizados, alimentação, atividade física e descanso.

AcuPRESSÃo*

A acupressão também pode aj ud ar muito nosso sistema de Orgãos dos


Rins. Pressione firmemente, fazendo movimentos para baixo com o pole-
gar ou com o nó dos dedos, os seguintes pontos de ac up ressão:

YoNG QUAN**

Na sola dos pés, en tre o segundo e o terceiro dedo, a uma distância de cer-
ca de um terço entre a base do segundo dedo e o tornozelo, há uma depres-

• Acupressão (do inglês acupmsure) é uma palavra erimologicamente cunhada de forma


eq ui vocada, pois "acu" significa agulha , e aq ui o que se quer significa r é a "p ressão com
os dedos". Portanto, o melhor rermo seria digiropressão (ou em inglês,finger pressure) o u
simplesmenre o rermo japonês mais conhecido: Do-in. (N. do R. n
.. Yong Quan é o nome chinês para o ponto número I do Canal do Rim . (N. do R. n
Á GUA C ELESTIAL 99

são abaixo da parte arredond ada do pé. Essa depressão é o ponto de


acupressão conhecido como Yong Quan, às vezes chamado de "Nascente
Borbulhante". Massageie esse ponto, pressionando a região com fo rça, fa-
zendo movimentos para dentro e em direção ao dedão do pé. Senti r um
pequeno desconforto ou uma leve dor é indicação da existência de blo-
queio. Pressio ne durante um minuto (ver ilustração a seguir).

SAN YIN JIAO *

Esse ponto, que auxilia o fluxo do Q i do Baço, do Fígado e dos Rins, está
localizado na parte interna das pernas, ce rca de três dedos** acima do torno-
zelo. Pressione esse ponto vi nte vezes, movendo seus dedos, ou nó dos de-
dos, como se estivesse amassando a área. Esse é um dos pontos da acupuntura
mais importantes para aj udar a Água Celestial. É o ponto de junção dos Ca-
nais do Baço, do Fígado e dos Rins. É capaz de equilibrar o Baço e promover
sua fun ção de transporte da água para d renar a Umidade;*** sedar o Fígado, o

.. Sa n Yin Ji ao é o nome ch inê pa ra o ponro n ú mero 6 d o Ca nal d o Baço e d o


Pâ nc reas. (N. do R. T)
•• A loca lização cor re ra desse ponro é qu arro ded os aci m a d o áp ice do m aléo lo in te rno ,
isro é, o osso d e d e nrro d o nosso to rn ozelo e m sua po rção mais alra, e imedi ara me nre
arrás d a bo rd a d a ríbi a. (N. do R. T)
...... N a MTC, o baço re m fun ções relacio nadas, energeri ca menre, com a circul ação linfá-
ti ca, o qu e pa ra os ch ineses pode ser visro co mo "transfo rm ação" de "água" pa ra drena r
a "u midade" no orga nismo. (N. do R. T)
100 SABEOORJA CHINESA PARA A SAÚDE OA MULHER

que leva à dispersão do Qi do Fígado; e dar suporte aos Rins. Massagear esse
ponto pode ajudar a aliviar sensações de irritabilidade, trazer calma e ate-
nuar dores na região abdominal (ver ilustração a seguir).

Zu SAN u
Na parte externa das pernas, cerca de quatro dedos abaixo do osso protu-
berante logo abaixo do joelho, localiza-se um ponto que pode ser massagea-
do para equilibrar o Qi do Baço e nutrir o Sangue. Pressione o local vinte
vezes, como se o estivesse esmagando (ver ilustração a seguir).
ÁGUA CELESTIAL 101

N EI GUAN

Esse ponto localiza-se na parte interna do antebraço, três dedos acima do


pulso, f!O meio do braço. Sua capacidade de influenciar o Qi do Rim e do Fí-
gado é muito importante. Pressione a região vinte vezes, fazendo pequenos
movimentos circulares e na direção da mão (ver ilustração a seguir).
102 SAB ED O RIA C HINESA PARA A SAÚ DE DA M U LHER

RESUMO

Quand o se trata de nossa Água Celes ti al, o mais importante para nossa
saúd e é a fo rm a co m o nos relacio namos co m nossas emoções . Na m edi -
cina chin esa, as emo ções são um a manifes tação d o Qi, nossa força vital.
Quand o o movime nto do Qi está impedid o, po dem oco rrer enfermida-
des o u doe nças. O Sa ngue e o Qi tamb ém es tão intim amente interliga -
d os e, ass im se nd o, um desequilíbri o em um deles frequ ent em ente gera
di sfun ções no o utro.
A noção de relac io namento e interco nec tivid ade permeia toda a
medi cina chin esa. Ao faze r um di agnós ti co, o profi ss ional da MTC
leva em co nsid eraçã o tod os os as pec tos de nosso se r - físicos, emo -
cion ais e es piritu ais. Não são as doe nças qu e são tratad as; em vez dis -
so, são reco m end adas solu ções terapêuti cas co m base em um a visão
holísti ca d a pessoa. Além di sso, os pró pri os tratame ntos são holísticos
e perso nali zado s de aco rdo co m o pac iente. O trata mento da di stensão
abdo min al pré- m enstru al, por exemplo, incluiria sugestões para lidar
com a raiva e a fr ust ração tanto qu an to reco m end ações de alimenta-
ção, es til o de vida, exe rcícios, desca nso e trabalh o. Bu sca-se o equilí -
brio em to d os os as pec tos da vid a.
Embora disfun ções ginecológicas possam ser rastread as até qu alquer
Orgão, dada inter-relação entre os sistemas de Orgãos, as redes de Orgãos
do Fígado e dos Rin s são bas ica mente as responsáveis por essas di sfunções.
O Fígado arm aze na o Sangue qu e é envi ado para o Útero e, então, liberado,
e os Rins fornece m a Essê ncia que é necessá ri a para suprir o Útero com
Sa ngue e Q i pa ra o fluxo no rmal da Água Celesti al.
Para a mulh er, a fo rm a bás ica de cuidar de si mes ma co nsiste em li-
dar co m os problem as emocion ais. Outras recomend ações incluem: tera -
pi as die téticas, entre as qu ais ervas, regimes reg ul ares de exercícios, Qi
Gong e Ta i Chi , med itação, aut omassage m e co nsiderações qu anto ao
estil o de vid a.
Para cuid ar de nossa sa úd e feminin a prec isa mos ter um relaciona-
m ent o ínt imo co m nossa fisiologia natural. É preciso ter con sc iência
ÁGUA CELESTIAL 103

tanto das mudanças sutis quanto das não tão sutis que aco ntecem, que
podem ser precursoras de doenças. Além disso, quando entendemos
como nossa saúde depende das atividades às quais nos dedicamos dia-
riamente, d as emo ções que expressamos, das atitud es que temos e dos
alimentos que ingerimos a cada refeição, passamos a ter uma melhor
ligação com o funcionamento do nosso corpo e nos sentim os mais ca-
pacitadas a tom ar as medidas necessárias em busca da saúde. A medi-
cina chinesa nos dá esperança para que nós mesmas possamos prevenir
d oe nças e cu idar de nossa saúde.

RECOMENDAÇÕES DE AUTOCU IDADOS


• Mantenha-se em contato com suas emoções e descubra
maneiras de expressá-las de forma construtiva.
• Mantenha a harmonia e a paz internas.
• Ingira alimentos e ervas que ajudem seu corpo e previnam
doenças.
• Busque o equilíbrio entre trabalho e descanso, atividade fí-
sica e sedentarismo.
• Faça automassagens para estimular o fluxo de Qi.
• Vista-se de acordo com o tempo.

SAú DE EMOCI ONAL

• Converse com alguém sobre seus sentimentos (um amigo,


familiar ou profissional da MTC).
• Desenvolva uma forma de perceber os momentos em que
nega suas emoções.
• Conheça quais fatores desencadeam seu estresse e pertur-
bam seu estado emocional.
• Faça um diário.
104 SAB EDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

ALIMENTAÇÃO

• Evite ingerir grandes quantidades de café, álcool, carne ver-


melha e comidas quentes e apimentadas.
• Evite o consumo excessivo de laticínios.
• Evite ingerir alimentos gordurosos, fritos e doces em excesso.
• Controle a quantidade de sal.
Durante o fluxo da Água Celestial
• Não ingira alimentos ou bebidas geladas, nem comidas cruas
e congeladas.
• Coma vegetais de folhas escuras, como espinafre e couve,
arroz-doce, peixes, ovos, uvas-passas, fígado e carne branca.

PRATICAS PARA A RESTAURAÇÃO ESPIRITUAL

• Qi Gong.
• Tai Chi.
• Meditação.

ESTILO DE VIDA

• Evite o excesso de trabalho.


• Faça as refeições, durma, trabalhe, exercite-se e descanse
em horários regulares.
• Vista-se de acordo com o tempo.
Durante o fluxo da Água Celestial
• Evite nadar.
• Não levante pesos.
• Não faça exercícios físicos extenuantes.
• Evite usar absorventes internos.
• Não ande descalça em pisos frios.
• Não mantenha relações sexuais.
Terceira parte

BOTÕES DE LÓTUS
CAPÍTULO SETE
.@
~~@.
~~~

Cuídando de nossos seíos

A saúde de nossos seios, assim como nossa Água Celestial, de-


pende do fluxo suave do Qi e do Sangue através dos sistemas de
Orgãos Zang -Fu. Dentro dos seios passam vários Meridianos: o Me-
rid iano do Fígado, o Meridiano do Rim, o Meridiano do Estômago e
o Chong Mai, ou Vaso Penetrador, que começa no Útero e se ramifica
em vasos finíssimos nos seios. Um bloqueio no fluxo do Qi e do San-
gue dentro de qualquer um desses Meridianos pode, portanto, causar
Estagnação nos seios e, com o passar do tempo, levar a uma séri e de
disfunçôes progressivas da mama, que podem começar com um a dis-
tensão pré -menstrual da mama até se transformar em doenças mais
graves, ent re a quais, o câncer de mama. A Figura 6 most ra a pro-
gressão de doenças mamárias, que podem surgir como conseq uência
da Estagnação progressiva do Qi e do Sangue.
108 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

Tumores beni gnos


de mama
Desejos intensos
Dores/ Inchaço nos Endometri ose
por comida
seios C iclos ment ruais
("Fissura")
Alt erações de irregulare
Caroços Câncer de mama
humor In fertilidade
periódi cos nos
Cólicas menstru ais Doe nças
seios
Desco nfort o fib rocís ti cas da
Mastite
mama
Adenofibroma

Figura 6: Progressão d as di sfunçõ es d e m a ma

Dores e caroços nos seios não levam necessariamente ao s~rgimen­


to do câncer de mama, e os sintomas nem sempre acontecem exata-
mente na ordem mostrada na Figura 6. As razões de os sintomas de
uma mulher manifestarem-se na forma de dores nos seios e os de ou-
tra, na forma de câncer de mama, dependem da gravidade, complexi-
dade e duração do desequilíbrio. Ter um histórico de caroços benignos
nos seios, no entanto, é considerado um fator de alto risco para o de-
senvolvimento do câncer de mama, já que a causa de ambas as doenças
é a mesma. A Estagnação de Qi do Fígado é a causa básica da maioria
dos problemas nos seios, e inchaços da mama durante o período pré-
menstrual, assim como caroços benignos na mama, podem ser parte da
evolução de uma Estagnação de Qi do Fígado que, por sua vez, pode
progredir e tornar-se um carcinoma. Assim sendo, diagnosticar e tratar
a Estagnação de Qi do Fígado é uma maneira eficaz de evitar a ocorrên-
cia de uma doença mais séria. Há muitas formas de colaborarmos com
a saúde de nossos seios.

MEDIDAS DE AUTOCUIDADOS

Embora a Estagnação de Qi do Fígado seja a principal causa das doenças


mamárias, a insuficiência de Qi do Estômago e do Fígado e a Estagnação
BOTÕES DE LÓTUS I 09

no Chong Mai também podem gerar desequilíbrios nessa região. Medidas


de autocuidados voltadas a suavizar, equilibrar e estimular o fluxo de Qi
dentro de todos esses sistemas de Orgãos podem, portanto, ajudar a redu-
zir o risco de doenças de mama.

EMOÇÕES

Como discutido no Capítulo Quatro, o estresse emocional é o fator que


mais prejudica, sobrecarrega e impede o fluxo de Qi do Fígado. Os antigos
especialistas chineses diziam que as emoções são a causa mai significativa
das doenças mamárias. Em um texto do século XVII, o Fu Quing Zhu Nu
Ke, consta a seguinte afirmação: "A depressão danifica o Fígado, o excesso
de pensamentos afeta o Baço, acúmulos se desenvolvem no Coração, o
Canal de Qi fica estagnado e gera nódulos:'
Uma das poucas mulheres que con heci na China que desenvolveu
câncer de mama era uma médica bem -sucedida de 45 anos, casada com
um médico renomado. Quando conversei com ela, o assunto que preva-
leceu durante nossa discussão foi se u casamento. Contou -me que seu
marido a havia traído e como isso a deixara aba lada emocionalmente.
Achava a situação de se u casamento extremamente depressiva, no en -
tanto, se ntia-se presa já que não considerava o divórcio uma opção. Dis-
se que poucos anos an tes de ser diagnosticada os ciclos e o fluxo de sua
Água Celestial eram irregulares, e que sentia pontadas nos seios. Sua
energia vital não era plena, sentia qu e estava estag nada, e comentou que
achava melhor morrer do que ter de lidar com os problemas que enfren-
tava em sua vida. Era possíve l perceber que os maus- tratos do marido
estavam, pouco a pouco, acabando com ela.
Em oções não reso lvid as, crô ni cas ou em excesso, podem danificar
ou prejudicar o sistem a de Orgãos do Fígado. Se o Fígado tem dificul-
dad es em fazer fluir o Sangue devido a um bloqueio no fluxo de Qi, o
Sangue pode se tornar lento e estagnar nos seios, área por onde pas-
sam os canais en ergéticos do Fígado. Assim sendo, nosso bem -estar
tem um papel fund amen tal na saúde de nossos seios. Não devemos sub -
I 10 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

jugar nem guardar nossas emoções, tampouco expressá-las de forma


explosiva, sem consciência ou limites. A forma como valorizamos, ex-
pressamos adequadamente e aceitamos nossos sentimentos e emoções
é vital para nossa saúde.
Quando eu vivia na China, a incidência de câncer de mama era bai-
xa, comparada ao que posteriormente testemunhei no Ocidente. Con-
siderando-se que o estresse emocional é tido como a principal causa da
doença, qual seria a diferença entre o Ocidente e o Oriente nesse aspec-
to? A diferença nos índices de câncer de mama poderia ser um reflexo
da capacidade de as mulheres chinesas resolverem suas emoções? Ou
seria porque as mulheres ocidentais vivenciam estresses emocionais di-
ferentes? Dando uma resposta típica da medicina chinesa, não acho que
haja outra explicação possível. Acredito que uma rede complexa de fa-
tores distintos estão em jogo, tais como o nível de estresse na sociedade
ocidental, comparado ao do Oriente, a forma como estamos cultural-
mente condicionadas a lidar com as emoções e, por falta de outro ter-
mo, nossos contextos filosóficos.
A medida que fui desenvolvendo minha prática clínica e construindo
minha vida no Canadá, ficou evidente para mim que o estresse é um as-
pecto disseminado na cultura ocidental. Há muitas variáveis, influências e
decisões que tenho de analisar ao viver minha vida. Onde irei morar? Devo
comprar ou alugar uma casa? Onde devo trabalhar? Qual é a melhor forma
de conduzir minha prática clínica para a cura de meus pacientes? Onde
encontro uma boa equipe de trabalho? O que desejo, por fim, fazer para
ajudar a maioria de meus pacientes? Como consigo realizar isso? Qual é a
maneira mais eficiente de resolver uma situação emocional volátil e de li-
dar com ela? As opções para as várias decisões que temos de enfrentar em
nosso dia a dia são muitas, e elas vêm, inevitavelmente, acompanhadas de
um alto nível de estresse. Na verdade, ter muitas opções é, com efeito, si-
milar a não ter nenhuma, já que na maioria das vezes nos sentimos parali-
sadas, sobrecarregadas e incapazes de tomar a decisão apropriada.
Muitas mulheres me contam sobre sua vontade de "fazer" algo a res-
peito de sua vida, mas não sabem exatamente o quê. Analisam as várias
BOTÕES DE LÓTUS 111

opções disponíveis, pesam os prós e os contras e, com isso, outras pos-


sibilidades vêm à tona. Essa situação acaba limitando ainda mais ases-
colhas e as opções iniciais com as quais têm de lidar. Passam, então, a se
concentrar em inúmeros questionamentos, e o medo de perder a "me-
lhor" alternativa ou fazer a escolha "errada" acaba deixando-as impo-
tentes, fazendo com que se sintam incapazes de tomar uma atitude ou
assumi r um compromisso.
Na China, decidiram por mim qual carreira eu seguiria. Minhas
esperanças, meus desejos e sonhos pessoais não foram levados em con-
ta. Quando deixei a fazenda coletiva, disseram que muitas de nós pode-
riam bu scar uma qualificação. Eu queria desesperadamente estudar,
mas tinha medo de concorrer com minhas amigas. No entanto, solicitei
meu ingresso e fui aceita. Por ter crescido com um pai que trabalhava
na área televisiva e uma mãe que se expressava articuladamente através
das palavras escritas, tinha enorme interesse pelo jornalismo. Ao escre-
ver, podia me relacionar com as pessoas transmitindo emoções e pen-
samentos que elas talvez não fossem capazes de colocar em palavras.
No entanto, meu sonho não se tornaria realidade. Avisaram-me que eu
iria para a faculdade de medicina. Que me tornaria uma médica. Quan-
do concluí meus estudos, fui indicada para um cargo em um hospital e
entendi o que esperavam de mim. Não tive praticamente nenhuma op-
ção quanto à minha carreira, mas estava feliz por tê-la e sou extrema-
mente grata pelo fato de a medicina ter se revelado uma profissão tão
satisfatória e recompensadora.
Na China, o local onde uma pessoa morava dependia do seu em-
pregador. As opções de moradia estavam relacionadas à empresa ou
ao departamento governamental onde a pessoa trabalhava e ao cargo
que ocupava. Todas as empresas dispunham de apartamentos que eram
alocados como parte dos termos do contrato de emprego. Em geral,
as deci ões referentes ao trabalho e à acomodação não faziam parte
da esfera de influências do cidadão comum. Não esto u sugerindo que
fosse um a situação boa, mas a tensão emocional que acompanha as
opções pessoais não existe na sociedade chinesa. Isso, porém, certa-
112 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

mente mudará à medida que a situação econômica e política no país


também mudar.
A forma através da qual os chineses expressam suas emoções e li-
dam com elas é determinada culturalmente. O confucionismo, com
seus códigos específicos de conduta, ainda exerce uma influência do-
minante no comportamento do povo chinês. A harmonia social é con-
siderada de suma importância, e alcançada por meio de funções e
responsabilidades, aceitas e apropriadas, com a família e com as outras
pessoas. Outros fatores que contribuem para a harmonia são a mode-
ração das emoções, a concordância, a conformidade com as autorida-
des e a submissão a elas. O taoismo reflete os ideais confucionistas de
tranquilidade e conformidade emocional, juntamente com um enfo-
que nos elementos místicos de natureza humana. Outro fator cultural
relaciona-se a "moral". Perder a "moral" ou a dignidade por meio de
"maus procedimentos ou delitos" faz com que o indivíduo e os fami-
liares envolvidos sintam enorme vergonha. Isso é algo profundamente
arraigado no povo chinês e tem o poder de direcionar ações e palavras.
Consequentemente, os chineses são comedidos quando se trata de ex-
pressar suas emoções, preocupam -se com a harmonia geral dentro do
grupo e têm a tendência de relacionar as dificuldades emocionais a
desequilíbrios fisiológicos. Talvez os chineses tenham pouca noção
das necessidades do ponto de vista psicológico ou tenham de traba-
lhar mais os sentimentos, já que os consideram manifestações das dis-
funções do corpo. Além disso, não há um sentido forte quanto a
esforçar-se emocionalmente por aquilo que desejam ou necessitam já
que, a princípio, as escolhas pessoais não fazem parte da cultura e, em
segundo lugar, as necessidades individuais são subordinadas às neces-
sidades da família ou do grupo e da sociedade em geral.
Esse panorama cultural afeta a forma como os chineses lidam com
suas emoções e como vivem sua vida. Visto que os distúrbios emocio-
nais são a principal causa do câncer de mama, esse condicionamento
cultural combinado ao nível de estresse comparativamente menor que
as chinesas apresentam, resultado de suas escolhas limitadas, podem
BOTÕES DE LÓTUS 113

ajudar a explicar por que a incidência do câncer de mama entre as


mulheres chinesas é a menor do mundo, enquanto entre as ocidentais
é a maior. No entanto, fatores externos como alimentação, estilo de
vida e ambiente, entre outros, também constituem razões pelas quais
as chinesas são muito menos propensas a desenvolver câncer de ma-
ma. Embora esses fatores não sejam considerados tão significativos
quanto a saúde emocional, não obstante, eles podem nos ajudar a ter
uma boa saúde.

A LIMENTAÇÃO

Uma alimentação que ajuda o fluxo livre do Qi do Fígado traz benefícios


para a prevenção do câncer de mama. Por outro lado, é importante evi-
tar ou diminuir a ingestão de alimentos que prejudicam, sobrecarregam
ou impedem o fluxo do Qi do Fígado. Se o Qi do Fígado fica lento, o
fluxo vai diminuindo, fica limitado e produz Calor, já que o Qi é ineren-
temente quente. Há alimentos específicos como comidas quentes, tem-
peradas, apimentadas ou gordurosas, juntamente com quantidades
excessivas de carne vermelha e bebidas alcoólicas, que levam ao acúmu-
lo de Calor do Fígado. Esses alimentos, aliados a chocolate e cafeína,
também estimulam a produção de Calor, razão pela qual devem ser con-
sumidos com moderação, já que prejudicam o Fígado. Os alimentos que
estimulam demais o Qi perturbam o equilíbrio entre ele e o Sangue, le-
vando o Qi à superfície do corpo. Isso causa problemas para o Fígado
manter o fluxo suave de Qi e Sangue pelo sistema.
Um sistema de Orgãos do Baço/Estômago saudável pode evitar o
bloqueio e desequilíbrio do Fígado. Se o Baço está fraco, pode ocorrer
Estagnação e Excesso de Qi do Fígado. Alimentos congelados, frios,
crus, gordurosos e os laticínios podem contribuir para a Estagnação
do Qi do Baço, razão pela qual devem ser consumidos com modera-
ção. Esses ali mentos tendem a levar à formação de Umidade ou ao
acúmulo de líquidos. A Umidade impede a capacidade do Baço de
transformar e transportar os líquidos, o que pode levar à formação
I 14 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚ D E DA M U LH ER

d e fleuma,* um dos principais responsáve is pelo desenvolvimento d e


m assas n os seios.
De modo geral, deveríamos ter uma alimentação balanceada e ingerir
quantidades adequadas de alimentos variados. É importante comer modera-
damente e de forma regular, já que tanto a fa lta como o excesso de alimentos
pode sobrecarregar o Baço na sua capacidade de extrair o Q i do Alimento,
ou levar a uma produção insuficiente de Qi do Alimento. A pri meira situa-
ção enfraquecerá o Baço, a segunda gerará Defici ência de Q i e Sangue.

EXERC[CI OS

Todas as pessoas devem fazer exercícios moderados. Praticar Qi Gong ou Tai


Chi (ver página 90) é uma forma efi caz de regular e promover o fluxo de Qi e
Sangue no corpo. Há várias modalidades de Qi Gong e muitos, m uitos exer-

* O co nceiro de "Fleu ma", na MTC, é mui ro amplo e frequente na prática clínica. A


principal causa para a fo rm ação de "Fleuma" é a Deficiência Energética do Baço. Se o
Baço não "transfo rma r e transportar" os líq uidos e Au idos corporais, eles se acumularão
e se transformarão em " Fleum a". O Pulmão. o Baço e os Rins, segundo a MTC, são os
três Órgãos pri nci pais envolvidos na "transformação e transporre" dos líquidos e Aui-
.dos co rporais. O conceiro de "Umidade" e "Fleuma" são simi lares em sua natureza,
pois ambos originam-se de uma d isfunção energética do Baço. Po rém, há impo rtantes
d iferenças ent re elas, em termos de manifestação clínica, po r exemplo: a " Umidade"
pode ser de origem exterior (o clima, por exempl o) ou interio r, mas a "Fleuma" só se
origina de uma disfun ção energética interior. Quando a " Umidade" é interna, em ge-
ral, sua causa princi pal é o enfraqueci mento do Baço, enq uanto na o rigem da " Fl euma"
o Pulmão e os Rins também estão envolvidos. A " Fleuma" afeta, pri nci palmente, as
parres superior e média do corpo, causando opressão ro rácica , muco na fa ringe, se nsa-
ção de "bolo e peso na garganta" (globus histericus), aro rdoamento e ro nteiras (síndro-
mes labirínticas); na cabeça, a "Fleuma" causa problemas mentais, desde co nfusão
mental , obnubilaçáo, ansiedade, depressão, esq uizofrenia, d istúrbios bi po lares, epilep-
sia e retardo mental in fa ntil. A "Fleuma" pode afetar, tam bém, os Canais de energia
{meridianos chineses) do corpo e o tecido celu lar subcutâ neo, causa ndo massas , tipo-
mas, tumefaçóes, aumenros ga nglionares lin fát icos, nervosos ou glandulares, e ento r-
peci mento ao longo dos trajetos dos ca nais de energia. Em parologia energética da
MTC, a " Um idade" pode ser aguda ou crônica, mas a "Fleuma" é sem pre um quadro
crônico. Ver N. do R. T na página 50. (N. do R. T)
BOTÕES DE LÓTUS I J5

cícios diferentes. O Qi Gong também pode ser combinado a movimentos de


Tai Chi, meditação, exercícios de relaxamento e práticas respiratórias.

EsTILO DE VIDA

É importante evitar situações de fadiga antes e durante o fluxo da Água


Celestial. Devemos diminuir os exercícios físicos e o esforço mental já que
fadiga excessiva e prolongada pode levar à exaustão de Qi e prejudicar o
Chong Mai.* A lentidão do flu xo de Qi e Sangue no Chong Mai é o fator
principal do desenvolvimento de massas nos seios.

FATORES DE RISCO
Além de um histórico de doenças mamárias, há diversos fatores de risco
que aumentam as chances de uma mulher desenvolver câncer de mama,
entre os quais:

IDADE

Dado que o Chong Mai origina-se no Útero e ramifica-se em pequenos


vasos por todo o seio, quando ocorre a interrupção de nossa Água Celes-
tial, ou seja, a menopausa, pode haver Estagnação de Qi e formação de
congestão, dores e massas nos seios.
Além disso, a capacidade de o Baço transformar o alimento digerido
em Qi diminui com a idade, o que geralmente resulta em Defi ciência de
Qi. Com a insufi ciência de Qi para fazer o Sangue se movimentar, ele pode
Estagn ar e, por fim , acumular-se em áreas específi cas tais como o peito e a
região do baixo abdome. Isso pode levar à Estase de Sangue, um dos prin-
cipais fatores do desenvolvimento de caroços no seios.

* Ch ong Mai é um dos oito ca nais ex trao rdinários de energia, também chamados
pelo franceses de "os oito va o maravi lh o os", e cuja tradução é Vaso Penetrado r. Ver
N. do R. T na págin a 64. (N. do R. T.)
116 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

H ISTÓRICO FAMILIAR

Um histórico familiar de doenças mamárias pode estar intimamente rela-


cionado à similaridade entre o estilo de vida das mulheres da família. Cer-
tos hábitos alimentares e respostas a distúrbios emocionais podem ser
fatores de desenvolvimento de doenças mamárias.

M ENARCA PRECOCE OU TARDIA

O início precoce ou tardio do fluxo da Água Celestial é considerado um


possível fator de desenvolvimento de doenças mamárias, já que pode re-
presentar excesso de Qi do Fígado. O início da menarca está intimamente
relacionado ao desenvolvimento dos seios, e o excesso de Qi pode fazer
com que se desenvolvam prematuramente.

NÃo DAR À Luz

Durante a gravidez e o parto, o Úte ro abriga o feto para depois libe rar
o bebê. Com isso, ele elimina Sangue e Qi Estagnados, cumprindo uma
função de lim peza profunda. Se adiamos a gravidez ou n ão damos à
luz, há maior probabilidade de acúmulo de Sangue e Qi antigos. Ini-
cialmente, isso pode levar à estagnação no sistema do Fígado na região
inferior do corpo, a pélvis, que também pode, posteriormente, solidifi-
car-se na região das mamas como resultado do aumento progressivo da
Estagnação à medida que o tempo passa.
CAPfTULO OITO
,@
®~®
B'O B'
Possíbílídades no ramo superíor
do contínuum

m tumor não é a causa raiz das doenças mamárias, e sim a "ramifica-


U ção superior" da doença. Dado que dores nos seios e caroços benig-
nos fazem parte da evolução de doenças nas mamas, que podem progredir
e se transformar em um carcinoma, as medidas de autocuidados discuti-
das no Capítulo Sete devem ser seguidas caso você sinta dores nos seios ou
tenha sido diagnosticada com um tumor maligno. Logicamente, as mulhe-
res que têm câncer de mama devem também decidir quais tratamentos
farão entre os vários existentes.
Os antigos profissionais faziam uma diferenciação entre a capacidade
de tratar caroços malignos, que chamavam de Ru Yan, ou "pedras mamá-
rias", e caroços benignos, que eram conhecidos como Ru Pi, ou "nódulos
mamários". Na dinastia Yuan ( 1281 -1358 d.C.), o Dr. Zhu Dan Xi escreveu:
"Preocupação, raiva e depressão causam acúmulo, enfraquecem o Qi do
Baço, prejudicam o livre fluxo de Qi do Fígado, forma-se um nódulo ocul-
to similar a um ovo, sem dor nem coceira; após vários anos, forma -se uma
úlcera que é chamada de Ru Yan." Ele reconhecia que as pedras mamárias
eram mais difíceis de tratar do que os nódulos. Como a pedra é uma massa
endurecida, é mais densa e, na maioria das vezes, leva mais tempo para se
dispersar do que um desequilíbrio menos sólido.
I 18 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÓDE DA MULHER

A medicina ocidental trata o câncer de mama por meio de radiações,


quimioterapia, terapia hormonal (antiestrógeno) e cirurgia, sendo que
hoje as taxas de sobrevivência do câncer de mama são as mais altas já re-
gistradas até então. A MTC trata o câncer de mama com ervas, acupuntura
e Tui-Ná, a fim de equilibrar o Yin e o Yang no corpo, desintoxicar o siste-
ma do Fígado e sustentar a energia do Rim. Apesar de tanto o tratamento r
ocidental quanto o da MTC trazerem, muitas vezes, bons resultados, não
há uma garantia absoluta de cura do câncer.
As mulheres que são diagnosticadas com câncer de mama ficam ge-
ralmente amedrontadas e não sabem exatamente qual tratamento seguir.
Eu considero esse processo de decisão crucial. Entender os prós e os con-
tras de cada uma das possibilidades e oferecer-lhes o que for necessário
para que se sintam capazes de tomar essa decisão é fundamental para a
cura. Quando exploro as opções com uma paciente, levo em consideração
sua idade, seu histórico familiar, seus hábitos diários e alimentares, há quan-
to tempo ela sabe sobre o caroço, seu tamanho, sua localização, se há ou
não secreção pelos mamilos, a cor dessa secreção, o formato do caroço, se
sua superfície é lisa ou irregular como uma couve-flor e seu nível de mo-
bilidade. Em seguida, confirmo meu diagnóstico comparando-o aos re-
sultados de uma biópsia. Há muitas variáveis a serem levadas em conta
quando se tem de tomar uma decisão, mas um dos aspectos mais impor-
tantes é estar segura quanto à decisão tomada e receber o apoio incondi-
cional da família, dos amigos e médicos. Quando uma mulher decide qual
tratamento seguir, e recebe apoio e carinho, ela consegue se relacionar de
uma maneira ativa com a doença. Isso facilita a cura e permite que ela siga
com sua vida com a doença, pois tem a base material, mental e emocional
necessária para lidar com ela.
Algumas mulheres decidem seguir todas as opções de tratamento dis-
poníveis para elas. Fazem radiação e quimioterapia e também consultam
um profissional da MTC para ajudá-las a lidar com os efeitos colaterais do
tratamento. Outras mulheres concluem que certos tratamentos não são
adequados para elas. Tenho algumas pacientes, por exemplo, que decidi-
ram não fazer quimioterapia devido aos possíveis efeitos colaterais. Por
BOTÕES DE LÓTUS I 19

vezes, essas mulheres acabam sendo censuradas por seus familiares, e essa
falta de aprovação pode fazer com que fiquem em dúvida, sintam culpa ou
se arrependam de sua decisão. Emoções desse tipo podem prejudicar o
fluxo de Qi pelo sistema de Orgãos do Fígado - um sistema que já se en-
contra sobrecarregado. As emoções têm um impacto sign ificativo na capa-
cidade da mulher vencer o câncer. É importante manter o otimismo, olhar
o lado favorável da situação e nunca desistir.
A base filosófica e as raízes da cultura chinesa podem ajudar a enten-
der a doença e a lidar com seus aspectos emocionais. Duas perspectivas
filosóficas fundamentais na China são o Yin e Yang e o budismo. No con-
ceito do Yin e Yang, o universo muda, movimenta-se e transforma-se conti-
nuamente. Todos os fenômenos e acontecimentos estão relacionados e
envolvem forças opostas, mas complementares, e que estão sob a influên-
cia da energia universal. Isso significa que tudo tem dois lados e que um
estado saudável existe quando as duas forças estão em equilíbrio relativo.
Não há um estado em que haja apenas tristeza ou apenas alegria. Elas exis-
tem em equilíbrio ou desequilíbrio relativo e uma precisa da outra para
existir. A felicidade não é necessariamente um sentimento que ocorre ape-
nas na ausência da tristeza. A felicidade e a tristeza devem coexistir, já que
as raízes da felicidade podem ser encontradas na tristeza, e o estado de
sentir-se feliz carrega em si as sementes da tristeza.
Há uma parábola taoista que expressa a natureza relativa dos opos-
tos. Certo dia, um fazendeiro estava contando a seu vizinho que seu
cavalo havia fugido. O vizinho, sensibilizado com a situação do fazen-
deiro, disse: "Que ruim ." O fazendeiro respondeu: "Nunca se sabe o qu·e
é bom e o que é ruim." Na manhã seguinte, o cavalo voltou. Mas não
estava sozinho. Trouxe consigo vários cavalos selvagens. O vizinho disse
ao fazendeiro: "Parabéns, que bom que seu cavalo voltou e trouxe vários
outros." Mais uma vez, o fazendeiro respondeu: "Nunca se sabe o que é
bom e o que é ruim." Na manhã seguinte, o filho do fazendeiro resolveu
montar um dos cavalos selvagens, que o atirou longe. Na queda, que-
brou a perna. O vizinho foi novamente solidário com o fazendeiro. Pela
terceira vez, o fazendeiro respondeu: "Nunca se sabe o que é bom e o
120 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

que é ruim." No dia seguinte, chegaram soldados que estavam obrigan -


do jovens a ingressarem no Exército. Devido à perna quebrada, o filho do
fazendeiro não foi recrutado.
Como o vizinho da história, temos a tendência de considerar as coisas
de forma absoluta- boas ou ruins. Esse desejo de um ideal fixo e infalível
não está de acordo com o conceito chinês de Yin e Yang, que se baseia em
um fluxo e refluxo relativo e não em uma ideia fixa, estática. Uma mudança
nessa perspectiva leva a uma maneira muito diferente de interagirmos com
o mundo e com a vida. I: comumente conhecida como a perspectiva do
"tanto quanto': em vez de uma visão de "ou isso ou aquilo': Ou seja, os
acontecimentos da parábola são tanto bons quanto ruins.
O conceito de Yin e Yang tem implicações abrangentes no que se refere ao
significado das emoções e das doenças. No Ocidente, a doença é vista como o
"inimigo" a ser derrotado. Há uma ênfase na "curà' biológica, na qual a saúde
vence a doença. Do ponto de vista do Yin e Yang, não existe a ideia de que há
um estado exclusivo de saúde sem doença pois o bem-estar e a doença coe-
xistem. A boa saúde reflete um equilíbrio entre os dois estados, enquanto a
doença é uma manifestação da desarmonia no fluxo de Qi e Sangue.
Assim sendo, a doença e os estados de enfermidade são parte natural e
essencial da vida e da boa saúde. Encarar a doença como parte de um e~ta­
do normal de ser pode ajudar nossa "cura" nos níveis emocional, social,
espiritual e físico. A visão ocidental da doença pode estimular um estado
mental que leva, natu ralmente, a confl itos e oposições internas em vez da
aceitação da doença como um aspecto natural da existência e da realidade.
A influência filosófica do budismo na China também oferece uma for-
ma de explicar e entender a doença. Buda ensinou que o sofrimento é re-
sultado de uma mente enganada e das ações de uma pessoa em vidas
passadas, ou seja, seu carma. (Carma refere-se à ideia ãe que colhemos o
que plantamos e de que todos os fenômenos são interdependentes e sur-
gem como um efeito e uma causa de condições futuras.) O caminho espi-
ritual para aliviar o sofrimento é um processo gradual que consiste em "ver
a realidade como ela realmente é". Isso compreende o desenvolvimento da
autoconscientização e intuição e mudanças na forma como percebemos a
BOTÕES DE LÓTUS 12 I

realidade até que a ideia de separação entre o eu e o outro desaparece, e


passamos a vivenciar um forte sentido de interconectividade, além de
compaixão e aceitação profundas. A doença não é vista como uma punição
de um criador divino, mas~omo um estado físico que pode ser curado à
medida que nos aproximamos cada vez mais da noção que temos de nosso
"eu" e começamos a entender o conceito de impermanência. Do ponto de
vi ta budista, um "eu" que seja um conjunto fixo e uma personalidade fixa,
no meu ca~o conhecido como Xiaolan, não existe. Há apenas processos
fís icos e mentais. O fato de nos prendermos a uma noção falsa do "eu", que
incl ui "meu" corpo, é o que nos traz sofrimento. Sentir pavor e medo de
doenças é uma manifestação de nosso apego a nós mesmos. Q uando en-
tendemos isso, conseguimos seguir adiante e deixar para trás um estado de
estagnação e a sensação de que somos vítimas.
A forma como entendemos e damos significado às doenças, entre as
quais, o câncer de mama, é o que traz a cura. Podemos viver com câncer.
Não há um ponto de vista "ou/ou" no qual vivemos porque não temos
câncer de mama ou morremos porque temos. Conheci mulheres que
foram diagnosticadas com essa doença e depois disso entraram nas fa-
ses mais recompensadoras e satisfatórias de sua vida. Se o câncer de
mama for entendido como um catalisador espiritual, ele passa a ter ou-
tro significado e pode ser transformado em um processo de iniciação de
m udanças e cura.

LAURA
Aos 47 anos, Laura percebeu um caroço no seio - um aumento que não
havia sido detectado em sua última marnografia. Foi consultar seu médico,
que lhe explicou se tratar de um cisto. Por exibir sinais de malignidade, Lau-
ra submeteu-se a uma biópsia, feita com uma agulha finíssima. O diagnósti-
co foi de um cisto pré-canceroso. O médico lhe falou: "Não se preocupe.
Faça a cirurgia quando puder:' Laura decidiu fazê-la. Não estava preocupa-
da. Havia sofrido durante tantos anos de colite ulcerativa, uma doença dolo-
rosa no intestino, que achava que remover um cisto seria como brincadeira
122 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

de criança comparado ao que já havia passado. Seria como ir ao dentista.


Falou sobre a cirurgia para seus filhos na noite anterior ao procedimento.
Quando Laura acordou após a operação, o cirurgião estava ao seu lado,
observando-a, com um olhar de desolação. Disse que ela estava com cân-
cer e lhe pediu desculpas. Somente após a remoção do cisto ele pôde loca-
lizar um tumor cuja visão estava bloqueada. Laura havia sofrido tanto com
as complicações no seu intestino, que sabia que tinha condições de lidar
com o câncer. A doença no intestino, além de extremamente dolorosa, lhe
havia imposto muitas limitações. Não podia sair de casa se não soubesse
onde ficavam exatamente os banheiros. A colite ulcerativa também é vista
como uma doença "suja': Ela se sentia mal e tinha dificuldades com sua
feminilidade. Disse: "Sabia que poderia enfrentar o câncer de mama. Seria
muita perda de tempo ter sofrido tanto com a minha doença no intestino
e morrer depois de tudo:' Encontrou forças em experiências passadas que
a ajudaram a lidar com os desafios do presente.
Laura fez um tratamento de seis meses de quimioterapia e um de seis se-
manas de radiação. Enfrentou problemas de insônia e "viveu à base de calman-
tes': Também teve muitas dores devido à artrite, que havia se desenvolvido
após a progressão da doença no intestino. Os médicos receitaram-Lhe medica-
ções para os efeitos colaterais da quimioterapia, mas acabaram descobrindo
que ela era alérgica quando desenvolveu um coágulo sanguíneo.
Durante o período em que estava fazendo quimioterapia, Laura leu
que as mulheres que participavam de grupos de apoio tinham tendência a
viver mais do que aquelas que enfrentavam o tratamento de câncer sozi-
nhas. Escolheu cuidadosamente sete mulheres para participarem de um
grupo. Decidiu que não queria um grupo de apoio com pessoas à beira da
morte, por isso procurou mulheres que estavam aguardando os resultados
de seus testes sanguíneos. Buscou forças para reunir o apoio que precisava
para si mesma e para conseguir ajudar as outras mulheres.
Laura levou seu bom humor não apenas a esse grupo mas tatnbém a

-
outro grupo de trabalho voluntário do qual começou a participar. Dizia às
mulheres que estavam fazendo quimioterapia: "Seja uma princesa durante
seis meses. Aproveite ao máximo tudo que vale a pena:' Queria dar espe-
BOTÕES DE LÓTUS 123

ranças a elas. Dizia: "Vocês podem achar que o esperado é ficarem debili-
tadas, mas não deixem sua mente pensar dessa forma." Laura tinha uma
amiga que ficou largada no sofá durante os seis meses. Estava decidida a
mostrar às mulheres que não se deve deixar que as coisas tomem esse
rumo. Estimulava todas a fa zerem tud o o qu e estivesse a seu alcance para
se sentirem bem. Dizia: "Se você tem uma aparência péssi ma, acaba se
sentindo péssima, e os outros também acharão isso. Vocês irão se sentir
melhor com um pouco de maquiagem, independentemente de terem ou
não vontade de se maquiar:'
Laura não queria ser uma vítima do câncer e tentou viver "normal-
mente': Programou o tratamento de quimio de forma que pudesse prepa-
rar o jantar da Páscoa e manter as tradições de sua família. Também decidiu
que contaria a todos que estava com câncer. Sua experiência havia mostra-
do que, quando as pessoas não sabem sobre uma doença mas suspeitam ou
ouvem boatos, começam a imaginar as piores coisas possíveis, o que gera
muito desconforto. Laura con truiu uma forte rede de apoio formada por
pessoas que se preocupavam com ela e que mantinham uma visão positiva,
o que foi de grande ajuda durante uma fase tão difícil e desafiadora. Seu
grupo de apoio ao câncer reunia-se regularmente. Na verdade, passados
quase dez anos, as reuniões continuam, e algumas mulheres que participa-
ram do primeiro grupo continuam a frequentá -lo.
Na época em que Laura estava fazendo quimioterapia e radiação,
começou também a me consultar. A doença no intestino não havia sido
controlada, mesmo com um intestino artificial. Lembro-me de dizer a
ela: "Você está morrendo e não é o câncer que a está matando. Você não
tem ingerido os nutrientes necessários para a sustentação de seu cor-
po." Laura achava que os médicos não estavam dando nenhuma ajuda
significativa para sua colite. Havia se submetido a um tratamento in-
travenoso durante um mês para ajudar na cura e, assim que voltava a se
alimentar, ficava novamente doente. Estava tão fraca que, no início, dei
a ela ervas que são normalmente indicadas para bebês . Sua saúde esta-
va muito comprometida, e eu queria começar com algo que pudesse
d ar certo para ela. Laura se lembra de me ouvir dizendo: "Posso lhe
124 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

ajudar, mas você terá de confiar em mim, dar tempo ao tempo e parti-
cipar ativamente do tratamento."
Disse: "A Xiaolan foi a primeira pessoa que entendeu o que eu queria
dizer e não tentou fazer com que eu melhorasse apenas superficialmente.
Falava coisas que faziam sentido e foi sempre muito clara durante o tra-
tamento; me ajudou muito, além de ter sido muito atenciosa. Confiava
nela e, embora tivesse meus médicos, relutava em lhes contar os proble-
mas que surgiam. Não queria tomar mais remédios. Parecia que a única
maneira que eles tinham de me ajudar era com comprimidos ou por
meio de uma cirurgia. Quando me tratava com eles, sentia-me impoten-
te. Na Xiaolan descobri uma pessoa que buscou me ajudar a encontrar a
chave para a solução do problema."
Laura passou a seguir um regime alimentar que incluía mais alimentos
frescos e peixe e menos carne. Começou a comer tofu e a ouvir seu corpo.
Com o passar do tempo, conseguiu comer sem ficar doente. Também con-
seguiu parar de tomar remédios para sua enxaqueca que, de tão severa,
obrigou-a, algumas vezes, a ir ao hospital para tomar injeções de Deme-
rol. * À medida que foi recuperando sua força, foi conseguindo alcançar
um nível mais profundo de cura.
Laura enfrentou corajosamente inúmeras dificuldades em sua vida.
Mesmo assim, ela diz: "Acho que o câncer de mama foi a melhor coisa
que me aconteceu. Talvez tenha me dado um empurrão para a vida de
verdade." Confiava em sua capacidade de trabalhar seu câncer de mama
e sua doença no intestino para buscar um novo significado em sua vida.
Acredita piamente que a forma de pensar e as atitudes realmente fazem
a diferença quanto à capacidade de cura, assim como os relacionamen-
tos que cada pessoa tem consigo mesma e com aqueles que as apoiam e
cuidam delas.

* Nome comercial da subsrância ariva Meperidina (nome genérico), uma droga narcó-
rica similar à morfina, usada para rrarar dores moderadas a severas. (N do R. T)
BOTÕES DE LÓTUS 125

Relacionamentos que nos aj udam a crescer e conquistar integridade são


vitais quando estamos doentes. Todos precisamos compartilhar os altos
e baixos com alguém que se importa e se preocupa conosco. Não é a
quantidade de relacionamentos que importa, e sim a qualidade. Sem re-
lacionamentos próximos podemos nos sentir ignoradas e depressivas,
com sentimentos de vazio e isolamento. Relacionamentos que curam nos
dão a chance de compartilhar e não sermos julgadas. Precisamos sentir a
empatia do outro, e esses relacionamentos nos dão isso. A pessoa entra
em nosso mundo como se fosse seu próprio mundo, e a intimidade e o
carinho que esse tipo de relacionamento traz é um fator significativo
quando se trata de vencer a doença.

A PO IO APÓS O TRATAMENTO DE CÂNCER

Os medicamentos quimioterápicos e a radiação costumam esgotar o Baço


e enfraquecer a Essência do Rim, ou Jing. A terapia à base de drogas preju-
dica as paredes do Estômago e os Intestinos, causando náuseas, vômitos e
perda de apetite e de absorção de nutrientes. O Qi do Baço, que é vital para
a transformação e transporte do Sangue, também é afetado. Assim sendo,
qualquer tratamento de autocuidados que possamos realizar para ajudar
nosso Baço é benéfico após a quimioterapia.

A LIMENTAÇÃO

Os alimentos a seguir enfraquecem o Baço e devem ser evitados após o


tratamento de câncer:

• Comidas geladas, congeladas e cruas.


• Laticínios.
• Alimentos ricos em gordura.
• Comidas muito temperadas.
• Doces.
1 26 SA BEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHE R

Além disso, não se deve ingerir alimentos e bebidas estimul antes, tais como
chocolate, cafeína e álcool, já que eles podem prejudicar o fl uxo de Q i do
Fígado. Devemos comer moderadamente e em horários regulares. Comer
pouco ou muito pode ser prejudicial ao organismo.

EXERC[CIOS FfSICOS

Exercícios físicos balanceados ajudam o Baço. Devemos tentar manter um


equilíbrio balanceado entre o descanso e o trabalho; desca nso ou traba lho
em excesso não ajudam nosso corpo em nada.

AcuPRESSÃO

A autoaplicação de acupressão, como descrito nas páginas 98 a 1O1, é ca-


paz de ativar o fluxo de Qi e favorecer as redes do Baço e dos Rins.

Q1 GONG
O Q i Gong nutre e ajuda o Baço, o Fígado e os Rins, que ficam enfraqueci-
dos durante o tratamento de câncer. Geralmente, estimulamos os pacien-
tes de câncer a praticar essa antiga arte ch inesa.

KIM

Há 16 anos, um diagnóstico de câ ncer foi um choque to tal pa ra Kim.


Ela era consultora e professora de educação física, t inha uma óti ma
fo rma física e seguia uma alimentação macrob iótica. Submeteu -se a
uma mastectomia modificadora radical através da qual teve se u seio e
os nódulos linfáticos na axila retirados. Kim sabia que te ria de ap ren -
der a viver com seu câncer de mama, e decidiu frequentar u m curso
que era oferecido em um cent ro de câncer local, mesmo não sendo uma
pessoa que gostava de trabalhar em grupo. Participou das aul as da "Jor-
nada de Cura" no Princess Margaret Hospital, em Toronto, o nde apre n-
BOTÕES DE LÓTU I 27

deu técnicas como relaxamento, meditação e visualização. Foi um


grande passo-para ela. Considerava a meditação "esquisita", mas estava
disposta a tentar.
Essas aulas foram transformadoras para Kim. Aprendeu formas espi-
rituais e psicológicas de lidar com o câncer de mama ao mesmo tempo
em que era tratada com um medicamento chamado Tamoxifen.* Nessa
aulas, Kim iniciou uma profunda jornada espiritual, passou a questionar
qu em era e o que era importante para ela. Aprendeu técnicas de relaxa-
mento nas aulas de meditação e visualização e também teve a chance de
expressar seus sentimento profundos e aprender novas manei ras de es-
tar e lidar com eles de uma forma mais eficiente. Dois anos depois, foi
fazer um checkup e estava totalmente curada. Ficou extasiada e comemo-
rou a vitória tomando uma garrafa de vinho com seu médico.
Menos de um mês depois, enquanto dirigia, percebeu que suas mãos
estavam inchadas. Em dois meses, o inchaço foi piorando gradualmente
até que toda a região dos ombros ficou escura e intumescida. O câncer
de mama havia se alastrado para a região abaixo da clavícula, pressio-
nando nervos e vasos sanguíneos. Di sseram -lhe que essa era uma área
muito difícil de tratar. Mesmo que amputassem seu braço e ombro, o
câncer não pararia de se ala trar. Foi mandada para um dos melhores
oncologistas de radiação do Canadá, que lhe explicou que poderia ali-
viar para se us sintomas, mas que ela deveria considerar a radiação um
paliativo, não uma cura.
Kim continuou a praticar meditação e visualização e informou -se
sobre vários locais onde poderia tentar a cura. Não sabia o que fazer ou
para onde ir. Em um dos seminários de meditação de que participou,
perguntou ao moderador onde poderia encontrar a cura. O moderador
respondeu: "Se há um lugar para sua cura em algum canto do mundo,
esse lugar é aqui." Era isso que Kim precisava ouvir. Quando foi diag-

• Nome genérico de uma droga prescrita para o tratamento do câncer de mama. Mais
eficaz para o câncer de mama sensfvel ao estrogênio. É um agente não hormonal , com
propriedades anriestrogêni cas. (N. do R. T.)
128 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

nosticada com câncer de mama pela primeira vez, tentou faze r tudo o
que pôde e da melhor maneira possível para se rec uperar, e m esmo
assim o câncer voltou . Começou a questionar a natureza da cura. A
capacidade de cura era algo qu e já existia dentro dela? Como ela pode-
ri a chegar até essa capacidade?
Kim tentou ioga, mas descobriu que não conseg uiria fazer os exer-
cícios por causa de seu ombro. Decidiu então tentar Qi Gong, que es-
tava sendo oferecido em um centro local de apoio ao cânce r. O Qi
Gong foi ao encontro das ideias sobre cura nas quais ela ac reditava, ou
seja, que a autocura é po ssível e algo que sempre existiu na história. O
conceito de explorar a energia de cura para trazer harmonia e equi lí-
brio para seu corp o teve uma repercussão profunda nela. Na verdade,
ela compara a cura a um a cadeia que conecta toda sua existência, e
acredita que depende d e cada um a de nós fazer o melhor poss ível para
explorar essa energia.
Um ano após o reaparecimento de seu câncer, Kim passou a praticar
o Qi Gong. Para surpresa dos médicos, continuou viva no ano seguinte,
e o tumor desapareceu. Nunca deixou de praticar a arte e hoje dá aul as.
Trabalha para desenvolver compaixão pelo seu corpo, para se curar
emocional, mental, física e espiritualmente, e para permitir que a ener-
gia de cura flua em seu corpo.
Kim é extremamente cuidadosa quando fala sobre "curas': Para ela,
viver no momento presente sem câncer é o ponto no qual se encontra em
sua jornada. Sem ter certeza do que o futuro lhe reserva, diz: "A vida é um
mistério ... deixe que ela se desdobre:'
A seguir estão os exercícios de Qi Gong que Kim pratica diariamente:
BOTÕE DE LÓTUS I 29

0 CAVALO

De pé, mantenha os pés juntos e os braços posicionados ao lado do corpo. Seu


peso deve estar concentrado na parte da frente dos pés. Mantenha as costas
retas. Quando inspirar, faça-o através da sola dos pés em direção ao Dan
Tian, * um ponto abaixo do umbigo, e para dentro dos Pulmões. Respire pro-
fundamente algumas vezes. Dê um passo para a esquerda, mantendo uma
distância confortável. Mantenha os joelhos relaxados e levemente dobrados.
Feche lentamente as mãos e coloque-as na altura da cintura. As palmas das
mãos devem estar voltadas para cima. Dê um soco no ar, primeiran1ente com
o braço direito. Expire enquanto estica o braço. Muitos consideram que exa-

* Oan Tian, cuja tradução literal é "campo do cinábrio", é o nome que designa três re-
giões no corpo (Oan Tian superior, médio e inferior), que coincidem com pontos de
acupuntura, e que são muito utilizados na prática do Qi Gong e na chamada Alquimia
Tao ista. O Dan Tian superior está relacionado com o ponto ex tra de acupuntura chama-
do Yin Tang, situado entre as sobrancelhas, na glabela; O Dan Tian médio, na região do
acuoonto 12 VC (Zhong Wan), na "boca do estômago"; e o Dan T ian inferior, citado
aqui pela auto ra, é uma região que abrangeria os acupontos 4, 5 e Gdo VC (cujos nomes
des es acuponros, respectivamente, são G uan Yuan, Shi Men e Qi H ai). (N. do R. T)
130 SABEDORIA C HINESA PARA A SA U D E DA M U LHER

lar o ar com força e dar um soco ao mesmo tempo é uma ótima maneira de
expressar e liberar frustração e raiva reprimidas. Coloque novamente suas
mãos na altura da cintura. Repita o movimento com o braço esquerdo. Co-
mece o exercício dando três socos com cada braço, em seguida aumente para
cinco e depois para sete. Traga novamente os braços para o lado do corpo.
Estique os joelhos. Posicione os pés lado a lado.

A PONTANDO PARA A LUA

Esse exercício é extremamente benéfico para quem tem linfedema, doença


em que ocorre inchaço devido ao acúmulo de líquidos linfáticos nos tecidos
dos braços e das pernas e que pode se desenvolver após cirurgias nos seios ou
terapia de radiação. Inspire a partir das solas dos pés para o Dan Tian, um
ponto abaixo do umbigo, e para dentro dos Pulmões. O peso do corpo deve
estar concentrado na parte da frente dos pés. Mantenha as costas retas e os
joelhos relaxados e levemente dobrados. De pé ou sentado, posicione os bra-
ços ao lado do corpo. Se estiver de pé, dê um passo para a esquerda, manten-
do uma distância confortável. Pressione o polegar de ambas as mãos contra o
dedo médio. Mantenha as mãos na lateral do corpo com as palmas voltadas
para cima. Começando com o braço direito, gire o corpo na diagonal ao ex-
BOTÕES DE LÓTUS I 31

pirar, girando o peito e levando o braço para o lado esquerdo, até uma posição
confortável. Siga seus dedos com os olhos. Abaixe o braço e gire agora levan-
tando o braço esquerdo. O ritmo do exercício fluirá naturalmente. Lembre-se
de expirar a cada volta. Comece girando três vezes para o mesmo lado, em
seguida aumente para cinco, e, depois, para sete. Traga os braços novamente
para o lado do corpo. Estique os joelhos e posicione os pés lado a lado.

A GRUA

Esse é um exercício revelador que muitas vezes, durante sua execução, mos-
tra se nossa mente encontra-se em outro lugar. Requer concentração e foco,
o que é mais difícil se estamos pensando no que fazer para o jantar ou como
conseguiremos dar conta de todos os nossos afazeres. Preste atenção em sua
postura e respiração. Mantenha braços, ombros e punhos relaxados. Dê um
passo para a esquerda. Concentre-se em um ponto no chão ou na parede.
Ao inspirar, transfira o peso para qualquer um dos dois pés, o que seja mais
natural. Levante o outro pé e coloque-o ao lado ou atrás do joelho, inspiran-
do. Levante lentamente suas mãos, com as palmas para cima, até alcança-
I 32 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

rem a altura dos ombros. Fique nessa posição por algum tempo, sem respirar.
Em seguida, ao expirar, vá abaixando o pé lentamente até o chão. Abaixe
também os braços. Agora alterne o pé onde o peso está concentrado e repita
o movimento. Tente fazer movimentos lentos e suaves. Traga os braços no-
vamente para a lateral do corpo. Estique os joelhos. Alinhe os pés.

0 URSO

Dê um passo à esquerda, mantendo uma perna a uma distância confortável


da outra. Mantenha os joelhos relaxados e levemente dobrados. Deixe seu
corpo solto e relaxado. Expirando, curve-se para trás, movendo a cabeça e os
ombros até uma posição confortável. Levante um pouco os braços, com as
palmas abertas para cima; esse exercício é ótimo para abrir o peito. Em se-
guida, expire e deixe o corpo cair para a frente, com os joelhos relaxados,
ombros curvados, soltando o ar dos pulmões, deixando o ar sair. Repita o
exercício lentamente. Traga os braços para a lateral do corpo. Estique os joe-
lhos. Posicione os pés lado a lado.
BOTÕES DE LÓT US 133

CURA E RESTABELECIMENTO

Acredito que as pessoas têm a capacidade de autocura, e quando se cons-


cientizam dessa capacidade conseguem concretizar seu potencial e alcançar
um estado de bem-estar. Acho importante diferenciar restabelecimento de
cura. Vejo o restabelecimento como um processo de se tornar um todo com-
pleto e achar significado em nossas circuns-
tâncias. Envolve a harmonização de todos os
aspectos de nós mesmos - físicos, emo-
cionais, mentais e espirituais. A palavra chi-
nesa que se refere a todos esses aspectos é
Xin, que significa "coração-mente': A Figura
Figura 7: Xin
7 mostra o ideograma chinês para xin.
A cura, em geral, concentra-se na eliminação ou na redução dos
sintomas ou da doença. Geralmente, envolve trabalhar com o corpo ou
um processo corporal. O tratamento concentra-se em parar o desen-
volvimento d e uma condição específica, controlá-la ou eliminá-la. De
modo geral, a responsabilidade da cu ra é dada a u ma outra pessoa,
quase sempre um profissio nal da área de saúde. O restabelec imento é
algo que nós mesmos direcionamos. Quando entendemos o que é res-
tabelecer a saúde, sabemos que uma determinada condição física ou
psicológica específica não precisa limitar nossa qualidade de vida. Nos-
sas vidas compreendem mais do que õ"hlaterial, mais do que nossa cor-
poralidade. O restabelecimento nos ajuda a nos conectar com quem
somos dentro d e um contexto "maior", seja de que forma for que enten-
damos esse contexto. Traz à tona nosso sentimento interno de solidão,
que passa a se relacionar com algo "maior" do que nós mesmos. Entra-
mos em sincronia e em harmonia com nós mesmas e com os ambientes
em que vivemos. Mes mo em situações em que a cura não é possível, o
restabelecimento pode existir.
Isso tudo não quer dizer que a cura e o restabelecimento sejam dois
enfoques distintos da doença; ambos são necessários. Por ter estudado
a medicina ocidental, reconheço a necessidade de tratar sintomas agu-
134 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

dos e físicos que causam dores e deixam as pessoas debilitadas. Como


profissional da MTC também entendo a importância de encontrar as
causas de doenças e sofrimentos e de trabalhar com elas. Saúde não é
simplesmente a ausência da doença; é lidar de forma harmoniosa com
todos os níveis de nós mesmos, xin, e reconhecer que nosso e-s tado de
existência é mutante e dinâmico.

-
BOTÕES DE LÓTUS 135

RESUMO

As doenças de mama representam um continuum de disfunções que segue


uma progressão. Sintomas que acompanham o fluxo da Água Celestial, tais
como inchaço e dores nos seios, geralmente considerados normais, indi-
cam desequilíbrios em nossos sistemas de Orgãos que, quando não trata-
d~podem se intensificar e se acu mular, levando a doenças mais sérias e
di fíceis de curar com o passar do tempo. As doenças no continuum têm as
mesmas causas subjacentes e indicam a evolução de uma disfunção duran-
te um período prolongado. Na extremidade do continuum está o Ru Yan,
ou seja, o câncer de mama.
As causas das doenças de mama estão, geralmente, relacionadas a distúr-
bios emocionais, como raiva, fr ustração, desejos não realizados e excesso de
pensamentos. Quando essas emoções não se movimentam suavemente,
como quando as reprimimos, as liberamos de forma explosiva ou quando
permitimos que elas continuem a circular em nossa mente, acabam prejudi-
cando o fluxo livre de Qi em nossos seios, com o passar do tempo. Para
manter a saúde dos seios é fundamental aprender a administrar e reduzir o
estresse emocional de uma forma saudável. Aprender a lidar de maneira po-
sitiva com o estresse emocional é um caminho longo, no qual temos de cui-
dar de nossos seios, além de uma forma de evitar as doenças.
Além disso, devemos ter uma alimentação adequada, adotar um regime
de exercício físicos e mentais moderado e ter consciência dos fatores de risco
que nos tornam mais suscetíveis ao desenvolvimento de disfunções de mama.
Também podemos aj udar o Qi e lidar com nossas emoções e estresse por
meio da prática de exercícios restauradores tais como o Qi Gong.
Restabelecer-se é harmonizar os Três Tesouros- o físico, o emocional
e o espiritual. O restabelecimento de uma doença, como o câncer de mama,
é uma jornada em direção à totalidade e que compreende a integração e o
equilíbrio das diferentes manifestações de Qi, ou seja, Jing, Qi e Shen - o
funcionamento harmonioso de nosso corpo, mente e espírito.
Quarta parte

NUVENS E CHUVA
CAP(TULO NOVE
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<8'0 '8'
Sexo e bem-estar

a Medicina Tradicional Chinesa o sexo é considerado um fator impor-


N tante para a manutenção da saúde- tão importante quanto se alimen-
tar e dormir. O sexo não é apenas uma fonte imensa de prazer e realização
mas também um meio de se obter mais energia, bem-estar físico e longevi-
dade, além de ser uma expressão de nossa totalidade como seres humanos.
Os antigos taoistas descreviam o ato sexual metaforicamente como yun-
yu, ou "nuvens e chuvà: Para eles, as nuvens representavam a essência da
mulher, suas secreções vaginais, enquanto a chuva se referia à emissão do
sêmen. O fato de descreverem o sexo fazendo analogias com a natureza mos-
tra que o consideravam natural e necessário para a vida. Diferentemente do
que ocorre no Ocidente, onde o sexo era, com frequência, imbuído historica-
mente de culpa, e identificado como algo bom no contexto do casamento ou
objeto de repreensão fora dele, os antigos chineses não faziam julgamentos
morais a seu respeito. Ao contrário, encaravam-no como uma troca natural
entre o Yin e o Yang. Dado que os antigos especialistas chineses buscavam
alcançar a saúde e a longevidade através do equilibrio do Yin e Yang, as rela-
ções sexuais eram exploradas como uma forma de melhorar a saúde.
No momento do ato sexual, os líquidos corporais misturam-se, a respi-
ração entra em sincronia e não há um domínio nem do Yin nem do Yang.
140 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

A energia quente, inflamada e efêmera do Yang é equilibrada com a energia


fria e duradoura do Yin. O ato sexual acompanhado de orgasmo ajuda as
mulheres a nutrirem sua energia Yin ao absorverem Yang, enquanto os ho-
mens absorvem o Yin, o que ajuda seu Yang. O sexo é a harmonização da
água e do fogo. Como é preciso fogo para aquecer e ferver a água, os homens
devem estimular as mulheres com seu fogo, ou energia Yang. Quando há
esgotamento da energia inflamada, sobram apenas cinzas. A água, porém,
irá se manter aquecida por algum tempo, mesmo depois que o fogo tenha se
apagado. O fogo dos homens acende e apaga rapidamente, enquanto a água
das mulheres leva tempo para ferver e tempo para esfriar. Isso pode ser in-
terpretado da seguinte forma: as mulheres têm a capacidade de experimen-
tar uma quantidade ilimitada de orgasmos, enquanto os homens têm a
tendência de dormir após o sexo, com sua energia esgotada pela ejaculação.
Os antigos taoistas acreditavam que o sêmen de um homem era sua Es-
sência, ou Jing. Ejaculações frequentes, portanto, poderiam esgotar sua Essên-
cia vital, acelerar o processo de envelhecimento, levar a uma saúde debilitada
e encurtar seu tempo de vida. Os homens eram aconselhados a fazer sexo
regularmente, mas a ejacular somente para a procriação, a fim de preservar
sua Essência. Isso não significava que não deveriam chegar ao orgasmo to-
das as vezes que faziam sexo. Segundo os taoistas, a ejaculação e o orgasmo
não eram um acontecimento único. Como acontecem em uma rápida sucessão,
são, geralmente, considerados indistinguíveis. A ejaculação, porém, como
uma liberação física do líquido seminal do corpo, é separada do clímax, que
é uma sensação prazerosa e intensa que pode ser sentida por todo o corpo.
Para evitar a descarga de sêmen, uma técnica recomendada era pressionar o
períneo, um ponto localizado entre o ânus e o escroto, antes e durante o or-
gasmo. Os homens também aprendiam exercícios respiratórios como outra _
forma de evitar a ejaculação.
Esse ensinamento taoista de se controlar a descarga de sêmen é uma
ideia rejeitada por alguns na medicina ocidental que defendem que, quan-
do ocorre a ejaculação, o volume da próstata aumenta com o estímulo e
então se contrai. Com a ausência da ejaculação, não há contração e corre-se
o risco de a próstata aumentar. As glândulas que secretam o líquido semi-
NUVENS E CHUVA 141

na! podem deixar de funcionar adequadamente e, por fim, tornam-se fra-


cas, diminuindo a capacidade sexual e de ejaculação. Os taoistas, no
entanto, acreditavam que a retenção do líquido seminal aumentava a capa-
cidade sexual do homem por fortalecer sua vitalidade. Além disso, ao con-
trolar a liberação do sêmen, um homem seria capaz de participar do ato
sexual até que sua parceira atingisse o orgasmo, momento no qual ele po-
deria absorver sua energia Yin.
Embora os ensinamentos dos taoistas sobre sexo fossem direcionados
aos homens, eles reconheciam que ambos os sexos precisavam atingir o
orgasmo. Como opostos que se complementam, tanto o Yin quanto o Yang
tinham de ser estimulados e excitados para ocorrer a união perfeita. Ape-
sar de as mulheres liberarem líquidos quando atingem o orgasmo, essas
secreções ficam em seu corpo, razão pela qual elas não correm o risco de
perder sua vitalidade como os homens. As mulheres retêm sua Essência e
são capazes de absorver a energia Yang para se fortalecerem. Dessa forma,
as mulheres eram consideradas mais fortes, mais capacitadas para o sexo e
caracterizadas por terem mais apetite e energia sexuais. A água é mais forte
que o fogo - afinal, é capaz de apagá-lo.
Os antigos consideravam a união recíproca das secreções do outro
sexo importante para o equilíbrio das energias Yin e Yang nos homens e
nas mulheres. No entanto, é importante observar que as fêmeas têm den-
tro de si energia Yin e Yang da mesma forma que há energia Yin e Yang
nos machos. Em algumas circunstâncias, as mulheres podem apresentar
predominância de energia Yang, enquanto alguns homens podem ter uma
abundância de energia Yin. Uma fêmea com energia Yang interna forte.
pode alcançar o equilíbrio ao absorver, no ato sexual, energia Yin de outra
fêmea. Já que as mulheres têm fontes ilimitadas de energia Yin e não há
perda dessa energia durante o ato sexual, o lesbianismo não seria conside-
rado prejudicial à saúde ou à longevidade das pessoas. Da mesma forma,
um macho com predominância de Yin pode absorver Essência Yang de
outro macho. Se os homens, porém, não têm experiência na arte de reter
o sêmen, as relações sexuais poderiam levar ao esgotamento da energia
Yang e Essência de ambos.
142 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

Assim, para os taoistas, o ato sexual não era visto como uma forma de
liberar energias e emoções, e sim o contrário: consideravam-no um meio
de reabastecer a energia sexual e garantir um bem-estar físico, emocional
e mental. Eles também acreditavam que o sexo poderia ser uma experiên-
cia espiritual, já que era a união de opostos complementares qu e se liga-
vam com o macrocosmo do céu e da Terra. Diziam que o esgotamento da
energia sexual levava a um vazio da mente e dos sentidos. Quando isso
ocorre, podemos reprimir nossas necessidades sexuais ou deixar nossos
desejos de lado e buscar outras formas de estímulo, tais como álcool OL'
drogas, em uma tentativa de gerar a energia interna tão necessária que se
esgotou. No entanto, o excesso de bebidas alcoólicas e narcóticps acabam
esgotando ainda mais nossa energia. Podemos nos tornar obcecados em
nossa busca por estímulos maiores para compensar a energia que nos é
roubada. Ocorre, então, um ciclo vicioso, pois, à medida que nossa ener-
gia é consumida, nossa mente e nosso corpo se tornam cada vez mais
enfraquecidos, levando a um maior desejo de estímulos, que só serve para
nos empobrecer energeticamente. Nossos sentidos tornam-se superativos
e nossa Essência se esvai.
Dessa forma, é importante não reprimir nossa energia sexual, não dei-
xá-la de lado, não permitir que saia de nosso controle. Relações sexuais
acompanhadas de orgasmo são uma das formas mais eficientes de as mu-
lheres nutrirem sua energia sexual e sua Essência.
CAPÍTULO DEZ
,@-.
~0®
~~

Experíêncías sexuaís das mulheres

A pesar de uma vida sexual satisfatória ser um fator que traz muitos
benefícios à saúde geral e ao bem-estar das mulheres, muitas de
nós, infelizmente, não temos uma vida sexual harmoniosa e completa. Po-
demos não vivenciar o sexo como uma energia criativa que estimula nossa
paixão, que nutre nosso mundo interior ou fortalece nossa energia inter-
na. Muitas mulheres sentem-se insatisfeitas com suas experiências sexuais
e há uma série de fatores - internos e externos - que contribuem para
esse descontentamento, os dois maiores talvez relacionados a forças cultu-
rais e sociais.
Por ter crescido na China, nunca me falaram abertamente, mas eu
sabia, de alguma forma, que não deveria conversar com o garoto que
sentava perto de mim na escola. Via uma linha imaginária que separava
o meu espaço do dele, uma fronteira que ambos sabiam que não deveria
ser cruzada. Não olhava nos olhos dele, imagine então conversar ou ter
algum contato físico. Tinha um medo enorme das consequências que
poderiam surgir se eu interagisse verbal ou fisicamente com alguém do
sexo oposto. Quando penso nisso, é difícil entender exatamente do que
eu tinha medo. Não era porque minha mãe havia me dito que me re-
preenderia ou porque a professora iria desaprovar minha atitude. Mas
144 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

havia um entendimento tácito entre todos, pais, professores e nós, as


crianças, de que garotos e garotas que batiam papo do tipo "Tudo bem?"
ou que tinham contato físico poderiam ser marginalizados pelo grupo,
ridicularizados ou sentirem vergonha por serem "maus': Uma simples in-
teração entre um garoto e uma garota trazia à tona a ideia de pecado,
obscenidade, desgraça e degradação, o que seria uma desonra para minha
família e mostraria que eu não era uma filha de valor.
Conforme fui crescendo, essa ansiedade aumentou. Os adolescentes
e jovens de minha geração ficavam apavorados até mesmo com as emo-
ções que estavam surgindo pelo sexo oposto. Lembro-me de fazer de
tudo para não pensar nos homens de uma forma romântica. Quando
estava cursando o ensino médio, havia um aluno que me chamava a aten-
ção. Eu admirava sua forma de pensar e em muitas ocasiões me peguei
olhando fixamente para ele. Não demorou para começarem a falar, por
trás de mim: "A Xiaolan gosta do Y"; "Você viu Xiaolan olhando pra
ele?"; "O que eles estavam fazendo?': Os boatos começaram quando per-
ceberam meus olhares inocentes de admiração. Ficava apavorada em
pensar que os outros sabiam que eu sentia atração pelo rapaz e que seria
marginalizada em uma sociedade onde a conformidade tinha uma im-
portância enorme.
Assim era a China na década de 1970, período em que o comunismo
governava o país e o impacto do pensamento confucionista ainda prevale-
cia. Confúcio ensinou o comportamento ético que todos deveriam seguir
na sociedade, com obrigações específicas para cada relacionamento, fos-
sem as pessoas cônjuges, pais, filhos, os que determinavam as regras ou os
que as obedeciam. Confúcio dizia que se as regras fossem seguidas, tería-
mos uma sociedade justa e harmoniosa. As mulheres tinham um papel a
cumprir e eram valorizadas com base no cumprimento das obrigações que
tinham com o marido, com os pais e com os filhos. Além disso, dado o
pragmatismo do confucionismo, o sexo tinha como principal função a
procriação, mais especificamente a produção de filhos. O amor romântico
e a paixão eram malvistos, já que afetariam a ligação do filho com seus
pais, prejudicando, assim, a hierarquia da estrutura familiar.
NUVEN E CHUVA 145

A chegada do comunismo só intensificou a atitude de repressão ao


sexo. Embora os comunistas fossem contrários aos papéis de homens e
mulheres ditados pelo confucionismo, o que os levou a estabelecer a
igualdade das mulheres, um aspecto significativo da reforma, viam o de-
sejo apaixonado e o amor como possíveis ameaças para a estabilidade po-
lítica e social. Diziam que o amor romântico e o sexo eram indulgências
da classe burguesa, cujo enfoque era o desejo pessoal e, portanto, algo que
prejudicava o bem-estar coletivo. Devíamos expressar nossa paixão pela
revolução, não a "fraqueza" de nos apaixonar. As manifestações de sexua-
lidade eram reprimidas; demonstrações públicas de afeição, até mesmo
dar as mãos, eram inaceitáveis.
Por ter crescido em um cenário como esse, não seria uma surpresa o
fato de eu e meu marido termos casado sem nenhum entendimento so-
bre o sexo. Atrapalhava-me com a mecânica do sexo sem ter consciência
de que ele poderia ser uma experiência altamente prazerosa. A maioria de
minhas amigas compartilhava minha ignorância e, posteriormente, des-
cobri que os maridos, em geral, dedicavam menos de um minuto aos
momentos que antecediam o sexo, e que se concentravam apenas em sa-
tisfazer a si m es mos, sem se preocupar em dar prazer às mulheres. E nós,
as mulheres, não questionávamos o que acontecia na cama. Aceitávamos
nossa parte. Concentrávamo-nos em atender às nossas obrigações como
boas esposa , ou seja, garantir a sati fação de nossos maridos para que
eles não procurassem o sexo fora do casamento, além de dar continuida-
de à família com o nascimento de um filho.
Depois de vários anos trabalhando em minha clínica no Canadá, per-
cebi que muitas mulheres ocidentais sentem um desgosto similar, ou não
têm prazer no sexo. Lembro-me do dia em que Anne, uma paciente que se
tratava comigo há anos, me disse: "Não gosto de sexo e cheguei ao ponto
de preferir que meu marido satisfaça seus desejos sexuais em algum outro
lugar a ter de fazer algo de que não gosto nem um pouco:' Quando ouvi
essas palavras, me senti honrada, surpresa e confusa ao mesmo tempo.
Senti -me honrada por Anne compartilhar esses pensamentos confiden-
ciais comigo e surpresa com o fato de Anne permitir e até mesmo estimu-
146 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

lar o marido a procurar o sexo fora do casamento. Também me surpreendeu


o fato de Anne, uma mulher ocidental que havia vivenciado a revolução e
a liberdade sexuais dos anos 60, sentir o mesmo desinteresse pelo sexo que
as mulheres chinesas de minha geração.
Desde então, um grande número de pacientes confidenciou a mim a
falta de satisfação que sua vida sexual lhes traz. Algumas mulheres acham
que não o fazem da forma "certa"; outras acham o sexo um tédio e o enca-
ram como uma tarefa a mais em sua lista de afazeres. Para algumas, a rela-
ção sexual é desconfortável e dolorosa; enquanto outras não se sentem
desejadas. Há até mesmo algumas pacientes que acham que há algo de er-
rado com elas, pois não sentem desejo e não conseguem atingir o orgasmo.
A partir da década de 1950, a visibilidade das mulheres no ambiente de
trabalho aumentou como nunca; leis determinando salários iguais para
funções iguais e proibindo a discriminação com base no sexo ou estado
civil foram promulgadas; as mulheres têm mais controle de sua fertilidade;
o sexo e a sexualidade feminina são discutidos mais abertamente nos meios
de comunicação; há mais manuais, guias e terapias para se aperfeiçoar a
vida sexual, e muitas outras conquistas significativas. No entanto, a expe-
riência sexual de muitas mulheres não mudou em nada. Talvez seja porque
a revolução sexual não tenha, necessariamente, trazido igualdade à ques-
tão da satisfação sexual.
Enquanto os homens celebram sua sexualidade, as mulheres que fa-
zem o mesmo continuam correndo o risco de serem rotuladas como "pros-
titutas" ou "vagabundas': o que leva, consequentemente, a uma baixa
autoestima, falta de aceitação social e instabilidade financeira. Ensinaram
às mulheres que os homens procuram parceiras puritanas e moralmente
virtuosas. Se concordamos com esse tipo de moralidade, podemos acabar
reprimindo nossos impulsos sexuais. Dessa forma, abrimos mão de nossa
independência sexual em nome da aceitação social e para sermos deseja-
das como parceiras.
Ao mesmo tempo, há na sociedade uma enxurrada de imagens de cor-
pos femininos idealizados em anúncios, revistas e filmes que nos mostram
o que é ser "atraente" e "sexy': Se a mulher não se encaixa nesse padrão
NUVENS E CHUVA 147

idealizado, se é gordinha, tem seios pequenos, não é tão bonita nem tão
jovem assim, pode acabar achando que não é nem atraente nem sexy. Por
não atender aos padrões, desenvolvemos imagens negativas de nosso cor-
po, e nossa autoestima despenca. A percepção que temos de nós mesmas e
de nosso valor pessoal é um fator importante na satisfação sexual. As mu-
lheres precisam se sentir valorizadas e respeitadas durante o sexo, e não
envergonhadas ou criticadas. O fato de nos concentrarmos na aparência e
em imagens negativas de nosso corpo nos impede de nos doarmos por
inteiro nas relações sexuais, o que faz com que nos sintamos inadequadas,
indesejadas e desestimuladas com o sexo.
Isso me faz lembrar de uma historinha sobre sapos que me contaram.
Um grupo de sapos estava saltitando entre as árvores quando dois deles
caíram em um buraco muito fundo. Os outros sapos reuniram-se em tor-
no do buraco e gritaram, olhando para baixo: "Amigos, este buraco é muito
fundo, não sabemos como vocês conseguirão sair daí:' Os dois sapos co-
meçaram a pular com todas as forças, tentando sair do buraco. Os outros
sapos, do lado de fora do buraco, disseram: "Meu Deus, é muito fundo! É
melhor vocês pararem de tentar, a distância é muito grande!" Os dois sapos
continuaram tentando, batendo muito contra as laterais do buraco. Os sa-
pos que estavam na beira mal conseguiam olhar a cena. Gritavam: "Parem,
por favor, vocês estão se machucando, não vale a pena!" Por fim, um dos
sapos ouviu o que os outros diziam e desistiu. Sentou-se quieto e triste. O
outro sapo, porém, continuou a pular o mais alto que podia até que conse-
guiu dar um grande salto e sair! Os outros sapos reuniram-se à sua volta e
perguntaram: "Você não ouviu que nós estávamos falando para vocês pa-
rarem?" O sapo respondeu: "Tenho problemas de audição. Achei que vo-
cês estavam tentando me encorajar:'
Essa história mostra o poder das palavras e das mensagens. O sapo
que acreditou estar recebendo o estímulo dos amigos conseguiu superar
obstáculos que pareciam intransponíveis. Os dois sapos ouviram a mes-
ma mensagem, mas foi a crença dentro de cada um que parece ter feito a
diferença na forma como cada um lidou com a situação. Da mesma for-
ma, todas as mulheres ouvem as mesmas mensagens sobre como deve ser
148 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

sua aparência e o que devem vestir para serem valorizadas, mas não seria
a forma como lidamos com essas mensagens que faz a diferença? Não
podemos formar nossas próprias crenças sobre o valor de ser quem so-
mos e, com isso, deixar de confiar tanto no que os outros nos dizem? Não
podemos nos prender a essas crenças e não permitir que as palavras e
mensagens dos outros nos afetem?
Questiono a frequência com que as vozes às quais precisamos ser
surdas são não apenas vozes externas, mas também nossas próprias vo-
zes internas que nos dizem: "Não estou em forma. Por que, então, meu
parceiro iria sentir desejo por mim?" ou "Sou muito velha para ficar pen-
sando em sexo". Podemos ouvir essas vozes e nos sentir indesejadas, ridí -
culas ou cheias de falhas, ou podemos escolher a surdez e oferecer a nós
mesmas palavras que nos estimulem. Podemos começar a acreditar em
nós mesmas como seres sexuais, únicos e belos, cada qual à sua maneira.
E, talvez, ao fazê-lo, podemos começar a confiar em nossa sexualidade e
a explorar o que desejamos e o que nos agrada, deixando nossa energia
sexual fluir livremente.
Com base nos tipos de anúncios e artigos de revistas que vemos, é pos-
sível achar que a ra zão da existência de uma mulher é atender aos desejos
e às vontades de um homem. Parece que as mulheres estão condicionadas
a aceitar estereótipos de mulheres e homens que reforçam a noção de como
deve ser nossa aparência e como devemos agir para fazer os homens feli-
zes. Quando, ao se falar em sexo, a ênfase volta-se aos desejos e à satisfação
dos homens, há menos espaço para preenchermos nossas próprias neces-
sidades. As mulheres fingem orgasmos pois querem agradar seus parcei-
ros. Preocupa-nos o fato de nossos parceiros não se sentirem bem se não
chegarmos ao clímax, já que nos disseram que a autoestima de um homem
está relacionada às suas proezas sexuais, e ameaçar a autoestima de nosso
parceiro pode colocar em risco a base de nosso relacionamento. Achamos
mais fácil fingir um orgasmo do que atingi-lo, e não queremos que nossos
parceiros sintam-se obrigados a continuar tentando. Os orgasmos estão
além da esfera de nossas possibilidades, então é melhor acabar logo com
isso. Fingimos e dizemos a nós mesmas que isso não tem tanta importân-
NUV ENS E CHUVA 149

cia para nós quanto tem para os homens. Mentimos sobre o orgasmo em
grande parte porque queremos que nosso parceiro sinta-se bem sexual-
mente. Por que nos preocupamos tanto com os sentimentos de nosso par-
ceiro a ponto de desprezar nossas necessidades e nossos desejos?

EXPLORANDO NOSSA IDENTIDADE SEXUAL

Parece que perdemos o contato com quem somos sexualmente e com o


que desejamos. Mas devemos tentar, de alguma forma, superar os valores
sociais, culturais e pessoais que nos levam a ignorar nossas próprias ne-
cessidades. Acredito que perceber que não estamos nos relacionando com
nossos próprios desejos é fundamental para entender e transformar nossa
vida sexual. Precisamos analisar novamente nossas crenças e sentimen-
tos, a fim de cultivar nosso potencial sexual. Acredito piamente que um
dos valores mais importantes a que devemos nos apegar é que as mulheres
merecem se sentir satisfeitas e felizes sexualmente, e que têm direito a
isso. E merecemos isso sem antes nos preocuparmos em atender às neces-
sidades de nosso parceiro. Temos o direito de sentir integralmente nossos
próprios desejos e sentimentos sexuais, sejam quais forem, e, então, aten-
dê-los. Logicamente, isso significa entrar em contato com o que realmen-
te queremos sexualmente. Se não sabemos o que desejamos, o que nos
estimula, o que nos faz sentir bem e o que não faz, como podemos nos
reconhecer como seres sexuais? Os homens não nos dão o orgasmo, so-
mos nós que nos levamos a atingi-lo. Essa é uma ideia fortalecedora , pois
mostra que somos nós que determinamos nossa satisfação sexual. Não
somos vítimas inúteis, somos participantes ativas.
Como nós nos sentimos quando entramos em contato com nossa pró-
pria sexualidade? Entrar em contanto, de uma forma honesta, com um
aspecto profundo e íntimo de nós mesmas possibilita um conhecimento
melhor e maior aceitação e valorização. Mais uma vez, precisamos ignorar
as vozes interiores que nos desestimulam e que podem estar nos dizendo:
"O sexo não é uma experiência prazerosa" ou "Sou tão ridícula que tenho
medo de explorar minha sexualidade" ou "Não é certo dizer a um homem
150 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

o que desejo sexualmente': Em vez disso, devemos dar forças a nós mesmas
através de palavras e ações que nos ajudem. Quando entramos em sincro-
nia com nossa intimidade, podemos descobrir que nossas emoções são
menos fracas e menos voláteis. Quando temos uma vida sexual satisfató-
ria, temos mais chances de dormir melhor, de controlar nossos hábitos
alimentares e de nos sentirmos mais energizadas. Todos esses fatores me-
lhoram significativamente nossa saúde geral, inclusive nossa saúde -emo-
cional. Se não estamos felizes com nossa vida sexual, nossas emoções irão
prejudicar nosso corpo, nossa mente e nosso espírito.

RACHE L

Rachei é uma mulher bem-sucedida por quem os homens logo se en-


cantam. Quando começou a ter um relacionamento sério com um ra-
paz, passou a apresentar uma série de infecções recorrentes no trato
urinário. Após várias crises, veio me consultar. Enquanto conversáva-
mos, perguntei-lhe sobre seu relacionamento. Rachei disse que seu na-
morado "queria fazer sexo o tempo todo", mas devido à sua infecção o
sexo era algo pelo qual ela não sentia interesse. Fomos conversando, e
Rachei contou-me que achava que seu namorado estava com ela, princi-
palmente, por causa do sexo. De certa forma, sentia-se magoada, pois
achava que ele não se interessava verdadeiramente por aquilo que ela
tinha a dizer ou por aquilo que a excitava. À medida que o relaciona-
mento foi progredindo, a frequência das infecções aumentou. Perguntei
a Rachei se ela achava que suas infecções urinárias poderiam ser uma
forma de evitar o sexo com seu namorado ou "afastar-se" dele por se
sentir ferida. À medida que Rachei começou a perceber que o valor que
o namorado lhe dava estava relacionado à sua disposição sexual e atra-
tividade, ficou, além de magoada, com raiva. Sentia que não estava sen-
do valorizada e começou a se ressentir com o namorado.
Logo após nossa conversa, Rachei decidiu romper o relacionamento. E
pouco tempo depois, suas infecções urinárias melhoraram. Em seguida,
começou a se relacionar com outro homem, que a apoiava e estimulava.
NUVENS E CHUVA 151

Quando veio me consultar pela última vez, não havia tido mais nenhuma
infecção nos últimos dois anos. Rachei conseguiu entrar em contato com
seus sentimentos de mágoa e raiva, e fez uma escolha diferente que a levou
a se valorizar. Com isso, nunca mais teve infecções urinárias e voltou a ter
uma vida sexual regular.

Nas relações sexuais, algo tão íntimo, há inúmeras chances de nos sentir-
mos aceitas ou rejeitadas. A forma como nos sentimos com relação à nossa
sexualidade tem implicações que vão muito além da cama e que influen-
ciam nossos sentimentos e a maneira como nos expressamos através de
emoções, palavras, pensamentos e ações. Quando temos uma vida sexual
satisfató ri a, temos mais confiança em nós mesmas e acreditamos em nosso
valor e no que levamos para o relacionamento. Se sentimos que damos um
valor intrínseco ao que somos, não ficamos à mercê das mensagens que os
outros nos passam. Podemos descobrir que somos capazes de fazer esco-
lhas e, assim, não nos negligenciamos. Tomamos conta de nós mesmas de
uma forma amável e compassiva que ajuda nosso corpo, coração e mente.
Não se ntimos a necessidade de colocar a satisfação sexual de nosso parcei-
ro antes da nossa, pois nos tornamos parte integral da equação sexual. Te-
mos valor e o mesmo direito a nos sentirmos completas sexualmente, pois
agora nos valorizamos.
Tudo bem, você deve estar pensando. Aceito que tudo isso é verdadeiro,
mas como entro em contato com o que desejo sexualmente? A resposta para
cada uma de nós é diferente, depende de nossa história, da sociedade onde
crescemos e das principais influências em nossa vida. No meu caso, tive de
explorar como me sinto com relação ao sexo e a mim mesma como um ser
sexual. O que significa atração sexual para mim e como me sinto física e
emocionalmente quando atraída por alguém? Como desfruto de meu corpo,
o que me deixa excitada? O que me satisfaz sexualmente? Admito que quan-
do comecei a explorar essas perguntas, me senti sobrecarregada e perdida,
sem saber nem mesmo como conseguiria entender o significado delas, quan-
to m ais como poderia respondê-las. Talvez você também esteja se sentindo
assim. Nesse caso, quero compartilhar o que me ajudou.
I 52 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

Primeiramente, precisei de algum tempo para descobrir como me


sentia com relação ao sexo. Comecei com a pretensão de explorar isso.
Uma intenção sincera e contínua tem o poder de levar à ação, pois sem
ela a atividade, os pensamentos e as palavras nunca surgirão. Se dese-
jamos, consciente e honestamente, explorar nossa sexualidade, conse-
guimos achar tempo para isso. Também é importante sentir o que
acontece em nosso corpo à medida que dedicamos um tempo para ex-
plorar nossa sexualidade e perguntar a nós mesmas como nos sentimos.
Quando eu pensava em sexo, falava, escrevia ou assistia a um filme so-
bre o assunto, parava para perceber o que estava acontecendo com meu
corpo. Prestava atenção nos sentimentos, nas mudanças sutis, nas sen-
sações de formigamento, na intensidade, na agitação etc. Procurava sa-
ber se estava com medo, se me sentia excitada ou brava.
'!: preciso entrar em contato com nosso corpo e abri-lo, completa e
conscientemente, se quisermos saber o que desejamos e do que gosta-
mos. Se você o fizer, tente evitar julgamentos sobre o que é "certo" ou
"errado", assim como qualquer preconceito que possa surgir, seja um
sentimento, uma sensação, um pensamento ou ideias sobre o que você
gosta ou não. Muitas de nós fazemos julgamentos morais sobre nossos
desejos sexuais ou impulsos eróticos antes mesmo de ter a chance de
saber como nos sentimos, antes de nos conectarmos com a intensidade
desses sentimentos, ou antes mesmo de perceber se o sexo é algo de que
realmente gostamos ou que queremos, ou apenas algo que os outros
acham que devemos querer. Observe quaisquer sentimentos de vergo-
nha, timidez ou culpa por se sentir atraída por uma pessoa, ou por uma
ação ou situação que faz com que você abaixe sua guarda e vá além de
sua zona de conforto. Quando exploramos nossos desejos, podemos
acabar mergulhando em algumas de nossas emoções mais fortes e tam-
bém nos censurar quando entramos em contato com nossos sentimen-
tos. Tente ser paciente e entrar em contato com sentimentos, sensações
e pensamentos durante um tempo que lhe permita se identificar com
eles: "Isso é bom"; "Estou magoada"; "Estou excitada"; "Estou com
medo"; "Gosto disto"; "Sinto-me culpada"; "Não me sinto confortável".
NUVENS E CHUVA I 53

Entrar em contato com o que sentimos com relação ao sexo, a uma


pessoa, a um ato ou a nós mesmas como seres sexuais é fundamental
para que possamos aceitar nosso corpo, a forma como nos sentimos,
nosso cheiro, nossas ações ou a maneira como nos vestimos e nos des-
pimos. Entender o que queremos e desejamos sexualmente nos ajuda a
melhorar nossa vida sexual e, em última instância, nosso relaciona-
mento com nós mesmas e com os outros.
Tenha em mente que a forma como nos sentimos sexualmente muda
e evolui com o tempo. As sensações que eu tinha a respeito do sexo há
vinte anos são radicalmente diferentes das que tenho hoje e, certamente,
meus sentimentos continuarão a mudar enquanto envelheço. Uma pes-
soa, por exemplo, pela qual me sentia atraída sexualmente anos atrás
pode não despertar a mesma atração hoje. Apesar de todas as mudanças
que acontecem , a ligação que tenho com o que sinto como ser sexual é
uma constante. Sei quem sou e confio no que eu desejo.
Depoi que nos conectamos a nós mesmas como seres sexuais, há várias
práticas do taoismo que promovem a energia sexual. Incluem movimentos
físicos , exercícios respiratórios, massagem, visualizações, meditações e téc-
nicas sexuais para equilibrar o Yin e o Yang e, com isso, aproveitar os bene-
fícios que o ato sexual* nos traz. Um método de cultivar nossa energia
sexual é através da Orbita Microcósmica.**

A ÓRBITA M ICROCÓ SMICA

Quando se pratica essa técnica de respiração e visualização, a energia se-


xual sobe a partir do Vaso Governador,*** ou Canal Yang, que começa no
períneo, localizado entre a vagina e o ânus, segue em direção à coluna,
contorna a cabeça e, então, desce, até o céu da boca. Quando a língua toca
o palato atrás dos incisivos superiores, o circuito se fecha ao se conectar

• Essas práticas são descritas nos textos antigos de 7h( Handbook ofthe Pia in Girl e 7h(
Art ofthe Bedc!Jamber.
•• Em MT , chamada de Pequena ircul ação de En ergia. (N. do R. T)
••• Em chin ês, chama-se Ou Mai (DM ou VG). (N. do R. T)
154 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

com o Vaso de Concepção,* ou Canal


Yin, que começa no períneo, sobe
pelo tronco sobre o osso púbico, pas-
sa através dos órgãos internos, segue
em direção à garganta e termina na
porção final da língua (ver Figura 8).
Para se conscientizar da Orbita
Microcósmica, é preciso sentar-se em
silêncio por alguns minutos e con-
centrar-se na parte interna do corpo.
Escolha um lugar e um momento em
que não será interrompida e sente-
se, fique de pé ou deite-se conforta-
velmente. Deixe seu corpo e sua
respiração relaxarem. Coloque as
mãos no abdome, com os polegares
na região de seu umbigo, mantendo
Figura 8: A Orbita Microcósmica
os dedos indicadores juntos - isso
cria um tipo de triângulo sobre os ovários, região onde a energia sexual
feminina está armazenada. Coloque a língua no céu da boca, atrás dos
incisivos superiores. Inspire pelo nariz, concentrando-se na área onde
estão suas mãos.
A princípio, podemos não sentir nada. Ou podemos experimentar
uma sensação de calor, de energia sutil. Essa energia começa na área
do umbigo e desce, primeiramente, para o períneo. O períneo é um
ponto importante na medicina chinesa - é o local onde repousa a ener-
gia Jing. A energia flui então para a coluna, passa por trás da cabeça,
desce pela face e chega ao céu da boca, atravessa a língua, desce pela
garganta, pela parte frontal do tronco, passa pelo osso púbico, volta ao
períneo e faz novamente esse movimento circular. Tente sentir a energia
movendo-se e concentre-se no caminho que ela faz através do circuito.

* Em chinês, chama-se Ren Mai (RM ou YC) . (N. do R. T)


NUVENS E CHUVA I 55

Com a prática, conseguimos sentir a energia circulando pelas partes da


frente e de trás de nosso corpo. Podem ocorrer sensações de formiga-
mento ou excitação. Tente dedicar alguns minutos todos os dias para
praticar essa meditação simples, mas altamente eficiente e poderosa,
que melhora o prazer sexual, leva energia a várias partes do corpo e traz
equilíbrio e cura, além de conter o processo de envelhecimento.
156 SABEDORIA CH INESA PARA A SAÚDE DA MULHER

RESUMO

Na Medicina Tradicional Chinesa o sexo satisfatório é considerado ne-


cessário para a saúde e a longevidade. Essa perspectiva existe desde os
tempos dos antigos taoistas, que consideravam a vida uma troca dinâmi -
ca de opostos complementares, os quais as mulheres, Yin, e os homens,
Yang, eram uma de suas muitas manifestações. A uni ão do Yin e do Yang
traz benefícios espirituais e emocionais que se tornam parte do bem -es-
tar físico e dos relacionamentos harmoniosos que temos com nós mes-
m as e com os outros.
As mulheres chinesas da minha geração entend em o papel que o
sexo tem na saúde, porém, nossas atitudes em relação a isso foram radi-
calmente influenciadas pelo confucionismo e pelo com unismo, sistemas
de crenças que entediam que o sexo e a paixão tinham o poder de sepa-
rar os membros da família ou a fidelidade que um a pessoa tinha com o
partido, razão pela qual defendiam a ideia de que o sexo era prejudicial
à família e à sociedade.
Para muitas mulheres, tanto chinesas quanto ocidentais, o sexo não é
prazeroso nem satisfatório. Embora as razões para tais insatisfações sejam
as mais variadas, há uma explicação que está acima de todas as outras:
concentramo-nos na satisfação de nossos parceiros e deixamos nossas ne-
cessidades e desejos de lado.
No Ocidente, as mulheres têm se transformado em objetos sexuais. De
alguma forma, porém, ajudamos a perpetuar essa visão. Valorizamos nós
mesmas com base em nossa aparê ncia e capacidade de atender aos ideais
culturais da mulher desejável e sexy. Ao nos concentrarmos na satisfação
masculina e ignorarmos nossa própria satisfação, perdemos nossa identi-
dade e concordamos com a forma como os homens nos defi nem. Nossa
satisfação sexual, no entanto, não é menos importante do que a dos ho-
mens. Na verdade, os antigos taoistas acreditavam que as mulheres eram
mais poderosas do ponto de vista sexual do que os homens. Tanto o Yin
quanto o Yang devem ser estimulados e alcançar a satisfação para que se
atinja o equilíbrio. A energia sexual nos ajuda a alcançar saúd e e vigor físi-
NUVENS E CHUVA 157

co, emocional e mental, além de trazer longevidade. Com esses benefícios,


não se trata apenas de as mulheres terem direito a levarem uma vida sexual
satisfatória, mas sim de buscá-la ativamente. Espero do fundo do coração
que consigamos perceber e vivenciar a vitalidade e saúde física que acom-
panham nossa energia sexual como um aspecto integral de quem somos,
mulheres saudáveis e confiantes.

~0~
0o~

Quínta parte

AMADURECENDO O FRUTO
CAP[TULO ONZE
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,@-:;'~
~ ~

Plantando a semente

N a Medicina Tradicional Chinesa o sistema dos Rins é responsável pela


reprodução, pelo crescimento e desenvolvimento do ser humano. Os
Rins armazenam nosso Jing, ou Essência, o alicerce do corpo e de seu fun-
cionamento, e que pode ser transformado em Qi. Há dois tipos de Essên-
cia. A primeira é a Essência pré-natal, que é o material genético que
herdamos de nossos pais quando somos concebidos. Essa Essência deter-
mina nossa constituição, vitalidade e natureza únicas. Todos temos uma
quantidade limitada de Essência pré-natal e usamos um pouco dela todos
os dias .para produzir e fazer o Qi circular em nosso corpo. Quando ela se
esgota, conforme vivemos o curso de nossa vida, morremos naturalmente.
O segundo tipo de Essência é a Essência pós-natal, que produzimos a par-
tir dos alimentos que ingerimos e da forma como vivemos nosso dia a dia.
Se temos Essência pós-natal em abundância, usamos menos Essência pré-
natal e, com isso, prolongamos nossa vida.
A força de nossa Essência, ou Qi dos Rins, é também um fator signifi-
cativo na concepção e determina a saúde e a vitalidade de nossos filhos. A
Essência dos pais forma a Essência pré-natal de seus bebês, que os sustenta
e os nutre no ventre, e por toda sua vida. Assim sendo, saúde, idade e esta-
do de bem-estar dos pais na concepção contribuem para a saúde do bebê.
r62 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

Se os Rins dos pais estão fracos devido a uma deficiência constitucional,


idade ou sobrecarga de trabalho, isso pode resultar em Essência inadequa-
da, que pode levar a dificuldades de concepção e in fertilidade e, no caso de
ocorrer a concepção, à falta de nutrientes para que o feto possa se desen-
volver e crescer adequadamente.
Se pretendemos ter filhos, é importante buscar formas de ajudar nossa
Essência dos Rins. Podemos preservar nossa Essência pré- natal evitando
o excesso de trabalho ou a exaustão por excesso de atividade física (in-
cluindo exercícios muito puxados, tais como atividades esportivas), h ábi-
tos alimentares irregulares, descanso inadequado e doenças crônicas.
Também podemos ajudar nossa Essência pré-natal aumentando nossa Es-
sência pós-natal. Os alimentos e líquidos que ingerimos são processados
em Sangue e Qi, e consumidos em nossas atividades diárias. No firl? do
dia, se há excesso de Sangue e Qi, ele se rá transformado em Essência pós-
natal e armazenado nos Rins. Para ajudar a produção abundante da Es-
sência pós-natal, temos de manter uma dieta apropriada, lidar de forma
adequada com nosso estresse e nossas emoções, não consumir ou reduzir
o consumo de café, tabaco e álcool, manter padrões regulares de trabalho
e descanso e evitar exposição ao frio e à umidade. Uma dieta adequada
requer o corte de quantidades excessivas de alimentos gelados, crus e con-
gelados, e a redução do consumo de laticínios e comidas gordurosas.
Também devemos ingerir alimentos com ferro, tais como espinafre, arroz
integral, uvas -passas e longan seco, que enriquecem o Sangue. Uma dieta
rica em legumes frescos cozidos e peixes é facilmente digerida e ajuda a
transformar o alimento em Qi e Sangue, o que, por fim, traz benefícios
para nossa Essência pós-natal.
A manifestação física da Essência é a Água Celestial nas mulheres e o
sêmen nos homens. A concepção é a união no útero (chamado, na MTC,
de "o palácio do bebê") da Essência vermelha da mãe com a Essência bran-
ca do pai. Ambas dependem do funcionamento saudável dos Rins e do
movimento livre e desobstruído do Qi e do Sangue. Já que que o Sangue é
tão fundamental para o sistema reprodutivo feminino, seu fluxo suave e
em boa quantidade é vital para nossa capacidade de concepção. Podemos
AMADURECENDO O fRUTO 163

dizer que nosso Sangue está bom e fluindo suavemente quando o fluxo de
nossa Água Celestial é normal. Quando a mulher está se preparando para
a concepção, uma das principais práticas de autocuidado que pode realizar
é regular o fluxo de sua Água Celestial. Isso pode ser conseguido seguindo-
se as recomendações feitas na Segunda Parte deste livro, onde aprendemos
que o movimento livre do Sangue depende do funcionamento adequado
do Fígado. Se o sistema de Fígado está equilibrado, ajudará o Sangue e o Qi
a fluírem livremente para o Útero, dando apoio às redes dos Rins e do Baço
e aumentando as chances de gravidez. A concepção só acon tece quando os
Rins estão fo rtalecidos, quando o Vaso Penetrador está cheio de Sangue e
quando o Vaso de Concepção está aberto e fluindo livremente. Comer ali-
mentos quentes, apimentados ou gordurosos pode prejudicar o fluxo livre
do Q i do Fígado, no entanto, a principal causa da Estagnação do Qi do
Fígado, como já sabemos, é o estresse emocional. Até mesmo a medicina
ocidental recon hece que o estresse pode ter um impacto negativo em nos-
sa capacidade de concepção.

WANDA

Wanda era uma mulher de 35 anos, magra, com constituição óssea peque-
na e cuja menstruação sempre fora irregul ar. Ela e seu marido queriam ter
um bebê, mas ela não conseguia engravidar. Wanda era projetista de inte-
riores e vivia quase sempre sob pressão devido aos prazos curtos em seu
trabalho. Tinha o costume de levar trabalho para ca a, literal e mental-
mente. Um de seus projetos obrigou-a a fi car seis meses no exterior. En-
qua~to esteve fora, o fluxo de sua Água Celestial parou. Sua saúde sentia os
efeitos de seu trabalho, que a consumia.
Quando Wanda retornou ao Canadá, veio me consultar. "Eu e o John
queremos muito ter um bebê", contou. "Já dediquei" tanto de mim ao meu
trabalho e ele não me deu de volta o que eu realmente quero. Na verdade,
acabou redu zindo minhas chances de ter um bebê porque hoje minha
menstru ação cessou. Todo o esforço que coloco em meu trabalho, quero
colocar na constituição de um a família:'
164 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

A irregularidade de sua menstruação e seu nível de estresse dificulta-


riam a concepção, a menos que ela fizesse algumas mudanças. "Este é outro
projeto que você pode transformar em realidade através de sua mente': dis-
se a ela, "Somos seres holísticos regidos por uma sabedoria que é maior do
que nossa mente. Nossa mente, nossas emoções e nosso corpo estão intima-
mente ligados. O estresse que você vive no trabalho afeta seu fluxo mens-
trual. Ter um filho sem ter consciência de como você se sente e como lida
com seus estresse poderá fazer com que a maternidade se torne outro pro-
jeto extremamente estressante, só que para o resto da vida. Aprender a lidar
com sua vida emocional irá ajudá-la a recuperar sua menstruação e â dar
início a esse novo projeto':
Wanda e eu conversamos sobre como ela poderia perceber quando es-
tava estressada, como isso afetava seu corpo e onde o estresse se localizava.
Wanda estava separada de sua fisicalidade; residia basicamente em sua ca-
beça. Discutimos formas de ela relaxar e lidar com sua tensão. Dado que
vivia concentrada em sua mente, em descobrir coisas, adquirir conheci-
mento e solucionar problemas muito mais do que em seus sentimentos e
em suas sensações, sugeri que tentasse a visualização. Aqui está uma medi-
tação orientada que utiliza imagens mentais para limpar a mente. A visua-
lização pode ser uma forma de revisitar ou criar uma experiência positiva.
Quem sabe você não sinta vontade de também fazer o seguinte e~ercício
simples de visualização de relaxamento:

EXERC[CIO SIMPLES DE VISUALIZAÇÃO DE RELAXAMENTO

Fique em uma posição confortável. Feche lentamente os olhos e respire pro-


fundamente. Pare para perceber sua respiração. Entre em contato com sua
inspiração e expiração. Pense em um lugar calmo que lhe traga sensação de
conforto - talvez um local onde você já tenha estado com seu parceiro,
uma lembrança de sua infância ou um lugar onde sempre tenha tido vonta-
de de ir. As pessoas geralmente escolhem a natureza para visualizar, mas
aonde quer que vá, vá a um lugar especial. Lançando mão de todos os seus
sentidos, comece a vivenciar os detalhes. Como é esse lugar? É colorido?
AMADURECENDO O fRUTO 165

Você consegue ouvir algum som? Você está de pé ou sentada? Como se


sente? O que toca sua pele? Está frio ou calor? Há vento ou você está em um
ambiente-fechado? Você consegue identificar algum cheiro? Vivencie esse
lugar especial e permita-se sentir todas as emoções que surjam. Fique assim
durante o tempo que quiser; não há um tempo determinado. Quando qui-
ser partir, respire profundamente algumas vezes. Abra então seus olhos de-
licadamente, perceba devagar onde está, repare no que há à sua volta.

Também recomendei a Wanda um exercício físico que é eficaz para as mu-


lheres que querem engravidar. Por vezes, o útero da mulher pode estar
posicionado para trás, principalmente quando ela tem o costume de dor-
mir de costas. Se é magra, como Wanda, com pouco tecido gorduroso para
apoiar o Útero, a probabi lidade é ainda maior, o que afeta sua capacidade
de engravidar. O exercício a seguir ajuda a superar essa situação: ajoelhe-se
e apoie-se sobre os braços cruzados no chão, deixando seu peso cair para a
frente de forma que suas costas formem um ângulo de 45 graus com o chão
(ver ilustração a seguir) . Repouse a cabeça nos braços. Fique nessa posição
durante dez minutos.
166 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

Esse exercício também foi uma forma de Wanda entrar em contato com
seu corpo, principalmente com seu Útero. Ela passou a praticá-lo religiosa-
mente uma vez por dia, dedicou mais tempo para o descanso e adotou uma
alimentação adequada, além de trabalhar maneiras de lidar com seu estres-
se. Logo em seguida, sua menstruação se regularizou, e cerca de seis meses
depois, Wanda engravidou. Hoje é mãe de um saudável garotinho.

Antes de Wanda conseguir engravidar, era preciso que sua Água Celestial
fluísse novamente. Para que a concepção ocorra, o Sangue menstrual pre-
cisa se regularizar e normalizar. Como o estresse emocional tem um im-
pacto significativo no fluxo da Água Celestial, é importante expressarmos
nossos sentimentos de forma adequada e livre para o movimento suave do
Sangue e Qi. Talvez a chegada de um bebê, um de nossos maiores projetos
criativos, muitas vezes traga à tona algumas de nossas maiores resistências
emocionais e espirituais. Com a possibilidade de trazer ao mundo um
novo ser, a maneira como nos vemos e nos definimos passa por mudanças
radicais. Se somos capazes de seguir adiante e livremente com os senti-
mentos que surgem, nasce aí a possibilidade para uma forma de cura nova
e diferente de nos enxergarmos. Às vezes, para que isso aconteça, precisa-
mos nos render às antigas maneiras de ser e estarmos abertas para aceitar
uma opção diferente. Nossa capacidade de seguir adiante, independente-
mente do que surja, e renunciar a crenças, expectativas e identidades for-
temente arraigadas em nós é um fator significativo quanto à nossa
capacidade de engravidar e dar à luz um recém -nascido saudável.

FRUTO CA[DO

Quando engravidei, minha vida estava se desdobrando em um enredo ideal.


Era bem-sucedida em minha carreira como médica, eu e meu marido éra-
mos considerados um casal perfeito, minha família e meus amigos ~e
AMADURECENDO O FRUTO 167

apoiavam muito, e eu tinha uma saúde excelente. Era bem-sucedida em


muitos aspectos de minha vida, sentia-me no topo do mundo.
Quando estava grávida de seis semanas, decidi jogar tênis com algu-
mas amigas. Como amo tênis, nesse dia joguei durante cerca de quatro
horas. Nos dois dias seguintes, tive sangramentos e fortes cólicas em meu
útero. Tomei prontamente algumas ervas chinesas e fui fazer um ultras-
som. Para meu alívio, estava tudo bem - o coração de meu bebê estava
batendo normalmente.
No período que se seguiu, não fiz nenhum tipo de atividade física in-
tensa- decidi esperar completar o primeiro trimestre de gravidez-, mas
continuei a trabalhar normalmente, em ritmo acelerado, sem descansar.
Por volta da 14il semana de gestação, decidi participar de um jogo leve de
tênis com uma colega que também estava grávida há cerca de três meses e
meio; achamos que seríamos boas parceiras. Não nos encontramos duran-
te algumas semanas e, quando a vi novamente, ela achou que havia algo de
errado comigo - minha barriga estava reta feito uma tábua. Não entendi
sua preocupação, pois estava bem e sentia o feto se movimentando.
Ela me convenceu a fazer um ultrassom. Quando olhei no monitor, entrei
em choque: não havia batimento cardíaco. O ultrassom revelou que o feto
havia diminuído. Não conseguia acreditar naquilo. Lembro-me claramente
de minhas colegas revendo o ultrassom, incrédulas, e também não entenden-
do os resultados dos exames. Chamaram o diretor do hospital para que ele
também opinasse. Não era comum um feto morrer no útero e a mãe não ter
febre, um forte sangramento ou pelo menos uma descarga de sangue.
Embora estivesse me sentindo bem fisicamente, estava passando por
situações infernais emocionalmente. Uma enxurrada de pensamentos e
emoções me bombardeavam. Sentia uma tristeza profunda e uma sensa-
ção descomunal de culpa e responsabilidade. Sendo médica, deveria saber
o que fazer para garantir uma gravidez segura e um bebê saudável. Viven-
ciei um sentimento profundo de perda, a perda de meu bebê e de todas as
esperanças e sonhos que acompanham o nascimento de um filho. Sentia
como se tivesse perdido tudo, inclusive minha "dignidade': Achava que as
outras pessoas iriam me julgar por ter deixado isso acontecer e sentia mui-
168 SAB EDORIA CH IN ESA PARA A SAÚDE DA MULHER

ta vergonha de mim mesma. Isso tudo fez surgir em mim uma sensação
enorme de fracasso e desapontamento.
A sensação de fracasso dificultou muito minha capacidade de enfren-
tar a situação, pois durante toda a minha vida tinha me superado em todas
as minhas realizações. Fosse como médica, filha, irmã, esposa, amiga, alu-
na, nunca havia enfrentado uma situação em que tivesse fracassado em
algo que havia decidido fazer. E nunca tivera nenhuma doença séria.
Quando parei para fazer um retrospecto, percebi que me sentia, de alguma
forma, invencível. Talvez tenha sido por isso que não segui os mesmos
conselhos que dava a outras grávidas. Se uma de minhas pacientes tivesse
cólicas e sangramentos, como eu havia tido, eu a teria aconselhado a passar
uma semana inteira em repouso total. Por que tive de fingir que tudo esta-
va bem até mesmo a ponto de sentir meu colo se mover e acred itar que o
feto estava se movimentando? Lembro-me de minha avó perguntando se
eu havia consultado um médico. Não sentia necessidade de ir ao médico e
não tinha tempo para isso devido à minha agenda lotada. E como minha
família confiava, implicitamente, na minha opinião, quando disse que es-
tava bem, todos me apoiaram.
Pressupus que meu corpo era capaz de me dar apoio. Deixei -mele-
var pela minha carreira e por outros aspec tos de minha vida, ignorando
todos os limites físicos que a gravidez impõe. Confiei em minha saúde e
em minha capacidade de fazer tudo e não parei para pensar, nem um
minuto sequer, no que a busca por meu sucesso poderia significar para
meu bebê. Reconhecer a importância que eu dava ao sucesso profissio-
nal ajudou-me a entender que eu havia, inconscientemente, determina-
do que minhas maiores prioridades eram minha carreira e ser uma boa
médica. Depois disso vinha meu marido e, então, um filho. Foi muito
difícil para mim reconhecer isso, e cheguei a pensar que não havia nas-
cido para ser mãe. Percebi que estava tão concentrada em minha carrei-
ra que talvez meu bebê tivesse sentido isso.
Tirei um mês de folga do trabalho e contei com o apoio total do meu
marido, de familiares, amigos e colegas. Nenhum deles demonstrou ver-
gonha, e sim carinho e preocupação comigo. Foram minhas próprias
AMADURECENDO O fRUTO 169

opiniões e meu desapontamento que me fizeram sofrer. Percebi que ha-


via perdido o controle de minha noção sobre o que é ser bem-sucedida,
fosse como médica ou como uma mulher saudável, competente e que
tem um corpo sadio. O aborto espontâneo acabou se transformando em
uma dádiva preciosa, pois me mostrou, de uma forma clara, embora do -
lorosa, a definição errônea que eu tinha de sucesso. Passei realmente a ter
consciência de como minha vida estava me consumindo com tanto tra-
balho e tantas expectativas. Lembrei-me de certa vez ter pensado que os
médicos não deveriam se casar. À época, achava que eles deveriam se
dedicar às pessoas que precisavam ser curadas e comprometer-se com
isso. Havia assistido o diretor do hospital onde trabalhava fazer de tudo
para equilibrar as responsabilidades familiares com as obrigações com
seus pacientes. Obviamente, assumi essa convicção, que veio se revelar
por meio do aborto que sofri.
Essa perda fez com que eu me tornasse mais capacitada a entender a
dor das mulheres que perdem seu bebê. As mulheres que sofrem abor-
tos precisam de carinho especial e apoio quando falam de seus senti-
mentos. Precisam deixar as emoções fluírem para alcançarem a cura e
seguirem adiante com as descobertas que fazem.

G LORIA

Filhos não eram uma prioridade para Gloria. Ela havia se casado quando
tinha 30 anos, já havia concluído seu mestrado e era totalmente voltada
à sua carreira. O conceito tradicional de "assentar-se" nunca havia lhe
chamado a atenção, e não era uma mulher que se sentia instintivamente
atraída por bebês e crianças.
A morte de seu sogro foi o que, por fim, acabou se tornando o catalisa-
dor para que ela e seu marido parassem para pensar na ideia da gravidez.
Depois de quatro anos de casamento, tentaram engravidar. Gloria come-
çou a tomar hormônios para melhorar sua fertilidade. Engravidou cinco
meses depois. Quando estava na sexta semana de gravidez, sofreu um
aborto. Três meses depois, engravidou novamente. Consultou um obstetra
170 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

e, passados dois dias, começou a ter pequenos sangramentos. Uma semana


depois, sofreu outro aborto espontâneo.
Gloria perdeu o controle e passou a apresentar um a eno rme reten-
ção de água. Foi nessa época que marcou consulta em minha clínica.
Devido à grande quantidade de hormônios qu e estava tomando, preci-
sava se desintoxicar e limpar o corpo. Prescrevi um a dieta alimentar de
duas semanas de legumes e depois comecei a forta lecer se u co rpo com
um tratamento de acup untura e ervas. Ao mesmo tempo, ela teve de
mudar emocionalmente e deixar de ser uma mu lher concentrada na
carreira para se tornar mãe. Em menos de seis meses Gloria engravidou
novamente. Dessa vez, felizmente, teve uma gravidez completa e deu à
luz uma menina linda e saudável.
Dois anos depois, quando tinha 38 anos, ela e seu marido decidiram
ter outro bebê. Engravidou em junho, mas sofreu um aborto espontâneo
em agosto. Seis meses depois, engravidou novamente, no entanto, quando
estava na 12a semana gestacional, começou mais uma vez a ter sangramen-
tos e abortou. Passados seis meses, Gloria engravidou novamente. Quando
estava grávida de seis semanas, fez um ultrassom no qual não foi detectado
nenhum batimento cardíaco. Gloria estava profundamente deprimida; ha-
via sofrido três abortos espontâneos em 16 meses. Além da depressão, ha-
via a pressão de ter um segundo filho antes de completar 40 anos. Depois
dos 40, achava que seria velha demais para ser mãe. Essa ide ia era um fardo
que ela carregava.
Sugeri que parasse de pensar na necessidade de ter um bebê antes dos
40 anos. Gloria diz que quando deixou de impor a si mesma um prazo,
engravidou novamente, e deu à luz um menino saudável.

Na concepção, o fluxo da Água Celestial para e o Sangue transfo rma-se


em Essência para nutrir o feto e a mãe. A Essência pós-natal é extraída
dos alimentos e líquidos pelo Baço e pelo Estômago. O cons umo excessi-
vo de alimentos gelados, crus ou doces, juntamente com desequilíbrios
emocionais, tais como excesso de preocupações ou de pensamentos, po-
dem prejudicar a capacidade do Baço e do Estômago de produzirem e
AMADURECENDO O fRUTO 171

transportarem o Sangue. Nesse caso, o fluxo de Sangue para o Útero pode


ficar obstruído ou lento demais.
Nossa tendência a nos prendermos a pensamentos e sentimentos pré-
concebidos pode bloquear o fluxo de Qi e Sangue. Do ponto de vista ener-
gético, podemos nos retrair. Quantas vezes nós, por não conseguirmos
expressar nossos sentimentos, sentimos um nó na barriga? Esse nó é uma
manifestação física de emoções e Qi Estagnado. Conflitos emocionais,
mentais ou espirituais internos podem levar à estagnação da energia nos
Meridianos e Orgãos. Dependendo da duração ou intensidade desse blo-
queio energético, a Estagnação pode vir à tona na forma de um sintoma
ou de uma doença física, ou diminuir nossa vitalidade em alguns outros
aspectos da vida. Tive de me libertar de meu medo de fracassar e de mi-
nha busca pelo sucesso. Gloria teve de se libertar de sua autoidentidade
como profissional e de sua necessidade de engravidar antes dos 40 anos.
Em ambos os casos, libertar-se de alguns fatores foi um aspecto significa-
tivo de cura para uma gravidez futura.

S EGUNDA CHANCE
Três anos após sofrer o aborto espontâneo, engravidei novamente. Estava
animada, mas também ansiosa. Conseguiria ter uma boa gravidez? Daria
à luz um bebê saudável? Logicamente, sentia uma certa pressão devido ao
aborto anterior. Dessa vez, fui cuidadosa quanto a não fazer exercícios pu-
xados durante o primeiro trimestre. Nos três primeiros meses, a energia
dos Rins e do Fígado é particularmente importante. Devem estar saudáveis
e vitais. Se a energia desses Orgãos não está boa, o feto torna-se altamente
vulnerável a lesões. Quando entrei na 12~ semana de gestação, passei a me
sentir confiante, pois havia superado o período mais crítico. Meu corpo
estava fortalecido, e eu me acostumei com o fato de estar grávida.
Eu e meu marido morávamos em um edifício de seis andares sem' eleva-
dor- como a grande maioria dos prédios na China. Voltei um dia do traba-
lho para casa de bicicleta e decidi que a carregaria para nosso apartamento,
no quinto andar. Cinco minutos depois de ter chegado em casa, senti algo
172 SABEDORIA C HINESA PARA A SA Ú DE DA MU LHER

escorrendo pelas minhas pernas, como uma cobra. Olhei para baixo e gritei.
Sangue escorria pelo meu corpo, molhando minhas meias. Fiquei paralisada
de medo e meu marido teve de me carregar até a cama. Em poucos minutos,
a cama estava encharcada de sangue. Fui levada ao pronto-socorro, me me-
dicaram e mandaram que voltasse para casa e repousasse.
Dessa vez fiqu ei em repouso durante du as ou três semanas. Estava tão
apavorada com a possibilid ade de perd er o bebê que fi cava o tempo todo
rep etindo para o feto: "Não me deixe, eu nunca mais farei isso." Havia
desafi ado meu corpo pela segunda vez por achar que ele era mais forte do
que realmente era. Ti nha um a vida sa ud ável, não bebia nem fumava, uma
alim entação nutriti va e balanceada e trabalhava em algo que amava. No
meu modo de pensar, tud o isso se rviu, de alguma form a, de desc ulpa para
exigir demais de meu corpo. Por um lado, tinha um a vida harmoniosa,
mas, por outro, estava desequilibrada e ia além de meus limites. Minha
mente es tava "no assento d o moto ri sta", e eu estava força ndo meu corpo a
fazer mais d o qu e ele poderi a suportar. Es perava muito de meu corpo,
queri a que ele fosse durão e forte e fi zesse o que minha mente pedisse.
Cheguei à co nclusão de qu e teri a de faze r um acordo comigo mesma: cui -
dari a de meu co rp o e ele não me trari a mais nenhum problema.
Perceber qu e minha mente não tinh a co ntrol e absoluto foi uma grande
lição. As experi ências qu e tive durante a gravidez possibilitaram que eu me
rend esse e abrisse mão da necessidade de controlar tudo. Passei a ter um
novo relacionam ento comigo mesma, muito mais saud ável e mais equili-
brado, em todos os níveis.
Há uma fá bula budista que mostra como nos prendemos às nossas
crenças e nem nos damos conta di sso. Ce rto di a, um jovem monge disse a
um m onge ancião: "Nossos votos de celibato são votos seriíssimos." O
monge mais velho co ncord ou. O jove m então acresce ntou: "Também pro-
metemos não es tar na companhi a de mulheres:' O monge idoso concor-
dou nova ment e e apontou para um a mulh er que es tava à beira do rio,
vestid a para ir a um casa mento.
"E qu ant o àqu ela mulh er, qu e perd erá o casa mento de sua irmã se nin -
guém aj ud á-la a atravessa r o ri o?"
AMADURECENDO O fRUTO 173

"Bem, regras são regras e não devem ser quebradas", disse o mais jo-
vem, que havia aprendido as regras há pouco tempo.
"E a compaixão?': perguntou o idoso. "Olhe para ela. Está muito chatea-
da, e se não a ajudarmos, não poderá comparecer ao casamento da irmã':
"Temos nossas regras:'
Sem dizer mais nada, o monge mais velho pegou a mulher nos braços,
atravessou a rio e deixou-a na outra margem. Quando retornou, os dois
monges continuaram sua viagem em silêncio.
Depois de horas, o jovem disse: "Não acho correto você ter carregado
aquela bela mulher até a outra margem do rio:'
O monge mais velho respondeu: "Caro monge, deixei aquela jovem do
outro lado do rio há horas. Parece que você a está carregando desde então:'
A gravidez é uma oportunidade de entrarmos em contato com nosso
corpo, nosso coração, nossa mente e nosso espírito . .t. preciso se render
às mudanças que surgem. Devemos confiar nesse processo natural que
nos prepara para uma forma de desapego muito maior - o nascimento
de um filho.
CAP[TULO DOZE
~
,@~~
~o'<>'

Amadurecendo o fruto

T er um filho traz mudanças físicas, emocionais e espirituais significa-


tivas em um curto espaço de tempo. Para cem por cento das grávidas
de que tratei seu estado emocional e suas atitudes com relação a se torna-
rem mães e o quanto isso significava para elas como mulher tiveram um
impacto profundo na natureza da gravidez. As mulheres que não queriam
engordar, que tinham medo de perder o controle sobre seu corpo ou que
tinham uma identificação muito forte com sua aparência física acabavam
lutando contra o fluxo e crescimento natural característico do período em
que uma criança é gerada.
A Essência e o Sangue e Qi da mãe nutrem e ajudam o desenvolvimen-
to do feto no útero. Assim sendo, a maneira como uma mãe cuida de si
mesma durante a gravidez tem um efeito profundo no desenvolvimento e
na saúde de seu bebê.
AMADURECENDO O fRUTO 175

O UVIA

Olivia ficou em estado de choque quando sugeri que ela estava grávida.
Disse: "Impossível, fiquei menstruada na semana passada:' Olivia não que-
ria engravidar novamente. Havia passado oito anos muito difíceis com
suas duas filhas, que tiveram vários problemas de saúde. Ela havia final-
mente chegado a um estágio de sua vida em que se sentia descansada, sau-
dável e em forma.
Quando Olivia estava grávida de Gabriela, sua primeira filha, enfren-
tou um período difícil. Ela e seu marido Victor moravam no México, após
terem fugido da guerra civil em El Salvador. A alimentação deles resumia-
se basicamente a feijão e milho. Para ter certeza de que seu irmão mais
novo deixaria o México com segurança, Olivia havia recusado um convite
para mudar-se para o Canadá como refugiada. Teve sorte de o Canadá ter
feito um segundo e raro convite que permitiu que ela e sua família se mu-
dassem para Toronto.
Quatro anos após imigrarem, Olivia engravidou de sua segunda filha,
Isabel. Naquela época, Victor estava enfrentando problemas de colesterol
alto e Gabriela sofria de sérios ataques de asma. O li via estava ansiosa e não
confiava no "sistema" no Canadá. Dizia: "Nunca sei realmente se minhas
informações pessoais estão sendo monitoradas ou como podem ser usadas
contra mim. Talvez sejam medos antigos provenientes do regime de opres-
são que enfrentei na América Central:'
Durante sua gravidez, Olivia comia tudo o que estava a seu alcance;
sentia muita fome e precisava comer para sentir-se satisfeita. Vivia segun-
do a crença de que estava "comendo por dois", sem perceber que isso sign i-
ficava que deveria comer a qualidade necessária para dois, não a quantidade.
Chegava a levantar no meio da noite e comia tudo o que encontrava na
geladeira. Quando chegou a hora de o bebê nascer, Olivia teve um parto
muito di fícil, e Isabel nasceu com uma coloração preta e azulada.
Durante os quatro anos seguintes, as duas meninas tiveram asma, aler-
gias e outras doenças infantis, o que deixou Olivia exausta. Ter de se adaptar
a um país novo, ir para a escola e cuidar de suas filhas doentes deixaram-na
176 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

cansada a ponto de afetar sua saúde. Uma tarde, enquanto dirigia para casa,
depois de ter levado Isabel ao hospital na noite anterior, viu um carro apro-
ximando-se em alta velocidade, mas não teve forças para reagir. "Simples-
mente vi o carro e o deixei bater em mim:'
Logo após o acidente comecei a cuidar de toda a família. Com o passa r
do tempo, Olivia perdeu o peso que havia ganhado durante as duas gesta-
ções e passou a se sentir menos cansada. Estava entusiasmadíssima com o
fato de sua filhas não terem mais ataques de asma ou alergias. O nível de
colesterol de Victor também havia diminuído. Para Olivia, a mudança no
bem-estar da família e em seu próprio bem-estar trouxe o alívio que tanto
desejava e, com isso, ela não queria mais engravidar.
Perguntei -lhe se ela queria um menino. Ela disse que sim. Brinquei que
se fosse um menino ela cuidaria dele, e que se fosse uma menina, eu ficaria
com a criança e cuidaria dela. Disse que se fosse realmente para ter esse bebê,
não queria outra criança doente. Olivia tomou a decisão consciente de ter
uma gravidez saudável, um bebê sadio e de seguir minhas recomendações.
Sugeri, primeiramente, que Olivia tentasse observar seu peso, já que
engordar demais não seria saudável nem para ela nem para o bebê. O
excesso de peso pode levar ao aumento da pressão arterial e dos níveis de
colesterol, além de dificultar o parto. Pedi a ela para diminuir a quanti-
dade de café e ajudei-a a seguir uma alimentação rica em frutas e legu-
mes frescos, peixe e sementes oleaginosas. Victor dizia a toda hora que
achava que Olivia iria dar à luz um porquinho-da-índia ou um coelhi-
nho de tanto comer cenoura e alface.
Olivia sentia que poderia confiar em mim pois éramos duas imigrantes
recentes e havíamos sobrevivido a governos repressivos similares. Dizia que
era muito importante para ela poder conversar comigo e que isso fazia com
que não se sentisse ansiosa. Para Olivia, isso foi um importante passo para a
cura. Ao permitir que eu a ajudasse e orientasse, sentia que tudo daria certo,
ou, pelo menos, que conseguiria lidar com a situação e administrá-la bem.
Olivia teve uma gravidez completa e deu à luz uma bela e saudável
menina. Alyssa é uma criança muito diferente de suas irmãs mais velhas.
Embora Olivia achasse que sua terceira filha fosse desenvolver asma ou fi-
AMADURECENDO O fRUTO I 77

car doente, como as duas primeiras, isso nunca aconteceu. Alyssa também
tem uma estrutura física e energética muito diferente das de Gabriela e
Isabel. É magra, enxuta e cheia de energia, enquanto suas irmãs são mais
gordinhas e menos ativas física e energeticamente.

A forma como cuidamos de nós mesmas e como nosso parceiro também


cuida de si é um fator importante na constituição de nossos filhos. Olivia e
Victor estavam saudáveis e descansados quando conceberam Alyssa. Da
mesma forma, durante sua gravidez, Olivia adotou cuidados a fim de man-
ter uma dieta adequada e capaz de ajudar no processo da gravidez. Também
lidou com questões emocionais profundas, livrando-se de sua desconfiança
e tornando-se uma nova pessoa. Durante a gravidez, é importante prestar
atenção ao nível de estresse. Devemos observar as situações nas quais con-
trolamos e reprimimos o fluxo de energia em nossas emoções e em nosso
corpo. Devemos evitar o excesso de trabalho e o cansaço. Quando acumu-
lamos energia, somos capazes de repassá-la para nossos filhos. Nosso esta-
do de saúde emocional, mental e espiritual, juntamente com nossos hábitos
alimentares e nosso estilo de vida, têm implicações enormes e grande impac-
to na gravidez e na saúde futura de nossos filhos. Podemos não ter muita
influência na evolução de nossa fisiologia durante a gravidez e o nascimento
do bebê, mas podemos influenciar de forma significativa a vitalidade geral e
a personalidade de nossos filhos.

CUIDANDO DE ZHAO Z HAO

Na China, a gravidez é considerada uma fase normal e esperada na vida de


uma mulher casada, e um período durante o qual certas práticas são segui-
das. Segundo a tradição chinesa, o que a grávida faz, vê, vivenda e sente
afeta o filho que irá nascer. Os pensamentos estão relacionados ao sistema
de Orgãos do Coração, e o que afeta a mente de uma mulher afetará seu
Coração e influenciará o bebê através do Sangue. Assim sendo, após a con-
cepção, a mulher conversa com seu bebê, lê bons livros, ouve música e
massageia a barriga. Não fica nervosa nem muito triste. Durante o estágio
I 78 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

inicial da gravidez, ela relaxa, descansa, evita carregar peso e segue uma
dieta adequada, a fim de garantir uma gravidez saudável e um bebê sadio.
Quando eu estava grávida de Zhao Zhao, não tive enjoos matinais, mas
tratei de muitas mulheres que sentiam náuseas e vomitavam durante a gra-
videz. Algumas mulheres sentem-se mal somente de manhã, após levan-
tarem; outras ficam enjoadas com o aroma de determinados alimentos;
outras sentem mais enjoo no fim do dia, e muitas ficam indispostas o dia
todo. Muitas mulheres descobrem que os enjoos matinais passam após o
primeiro trimestre, enquanto outras sofrem do problema durante toda a
gravidez. As náuseas são consequência do bloqueio do Qi do Estômago
que, em vez de fluir para baixo, flui para cima. As causas do contrafluxo do
Qi do Estômago são inúmeras, entre as quais: ingestão de alimentos gela-
dos, crus e congelados e de líquidos gelados, excesso de preocupações, ex-
cesso de trabalho e exaustão ou estresse emocional. Todos esses fatores
podem causar desequilíbrios nos Meridianos que afetam o Fluxo de Qi do
Estômago. É importantíssimo tentar normalizar e equilibrar esse fluxo du-
rante a gravidez, o que pode ser conseguido por meio de mudanças nos
hábitos alimentares, descanso e se evitando o excesso de carga mental e
pensamentos obsessivos.
Devemos também tomar bastante líquido e reduzir a quantidade de
alimentos processados. O gengibre é uma erva muito eficaz no tratamento
de enjoos. Pode-se preparar um chá com gengibre fresco, hortelã e mel ou,
se você preferir, com gengibre fresco e casca de laranja.

(HÁ DE GENGIBRE E HORTELÃ

Serve oito porções

I pedaço (de cerca de I ,5 centímetro) de raiz de gengibre fresco,


descascado e cortado em fatias finas
5 folhas de hortelã fresca
4 xícaras de água fervente
Mel a gosto
AMADURECENDO O fRUTO 179

I . Coloque o gengibre e a hortelã em um bule.


2. Adicione água fervente. Tampe e deixe em infusão de três a
cinco minutos antes de servir. Adicione mel a gosto.

C HÁ DE GENGI BRE E LARANJA

Serve oito porções

I pedaço (de cerca de 1,5 centímetro) de raiz de gengibre fresco,


descascado e cortado em fatia s finas
Y2 colher (sopa) de casca de laranja ralada
4 xícaras de água fervente
Mel a gosto

I . Coloque o gengibre e a casca de laranja, em um bule.


2. Adicione água fervente sobre o gengibre e a casca da laranja.
Tampe e deixe em infusão de três a cinco minutos antes de
servir. Adicione mel a gosto.

Outra opção é cortar o gengibre em rodelas de cerca de I ,5 centímetro


e colocá-las sobre a parte interna dos pulsos e no umbigo. Esses são os mes-
mos pontos de acupuntura* antináusea em que se usam as ditas "faixas de
mar': que são m unhequeiras usadas para ajudar a evitar o enjoo causado
por passeios no mar. Outra forma de se usar o gengibre para tratar os enjoos
matinais é mastigando arroz de gengibre.

• Tais pontos de acupuntura são, respectivamente, o ponto 6 CS (Neiguan), situado a


crês dedos da _própri a pessoa, da prega de Aexão interna do punho, e o ponto 8 VC
(ShenQue) , que se situa no próprio umbigo, mas cuja punção é proibida. (N. do R. T)
180 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

ARROZ DE GENGIBRE

Serve uma porção

1 raiz grande de gengibre fresco


1 xícara de arroz

1. Descasque a raiz de gengibre e corte-a em pedaços grandes.


Coloque o gengibre em uma tigela e use um mixer para esma-
gá-lo. Coloque essa massa de gengibre dentro de um pano e
esprema para obter o suco. Você terá uma quantidade de suco
de gengibre equivalente a uma colher de sopa.
2. Coloque o arroz em uma panela média, com fogo baixo.
Espalhe o suco de gengibre sobre o arroz e frite, mexendo
sempre, durante cinco minutos, até que o arroz adquira uma
coloração amarelada. Mastigue o arroz para aliviar o enjoo.

Quando eu estava grávida de Zhao Zhao, tive o cuidado de comer ali-


mentos capazes de ajudar no crescimento e desenvolvimento dele em
meu útero. Comia diversos tipos de sementes e oleaginosas, principal-
mente nozes, amêndoas e sementes de gergelim. Essas sementes são con-
sideradas "alimentos para o cérebro", pois contêm as gorduras essenciais
que o cérebro necessita para se desenvolver adequadamente. É interes-
sante observar que, quando cortadas ao meio, as nozes se parecem com
o cérebro ou o fígado. Acredita-se que as nozes aumentam o Qi do Fíga-
do. Elas também são benéficas para o desenvolvimento da medula espi-
nhal. A carne de peixe, também graças ao seu óleo benéfico, foi outro
alimento que comi bastante durante a gravidez.
Também comia regularmente sopas preparadas com ossos de carne de
vaca, porco ou galinha. Tomava pratos e mais pratos desse tipo de sopa para
evitar cólicas e também ajudar na formação dos dentes e ossos de Zhao Zhao.
Para conseguir extrair melhor o cálcio dos ossos, adicione duas colheres de
sopa de vinagre de maçã. Na China, o leite, inclusive o de soja, não é utiliza-
AMADURECENDO O fRUTO 181

do como fonte de cálcio, pois acredita-se que ele gera Umidade, o que pode
impedir o fluxo suave de Qi.

SoPA DE ossos
Serve seis porções

750 gramas de ossos de vaca, porco ou galinha


I Oxícaras de água fria
2 colheres (sopa) de vinagre de maçã

I. Coloque os ossos em uma panela grande. Adicione as dez xíca-


ras de água fria e o vinagre de maçã. Deixe ferver. Tampe e
cozinhe em fogo brando por quatro horas.

À medida que nosso volume de Sangue aumenta, durante a gestação,


é importante ingerir alimentos que nutram e ajudem o Sangue. Algumas
boas opções são ovos, uvas- passas, nozes, longan seco, arroz-doce preto,
espinafre e outros legumes de folhas verde-escuras. Em Kunming, cida-
de onde eu vivia, felizmente havia uma abundância de legumes e frutas
frescas durante todo o ano. Durante minha gravidez, comia muitos ali-
mentos frescos c legumes com alto teor de fibras, como mostarda, a fim
de evitar a constipação intestinal. Também comia uma mistura de pi-
nhão com mel. Para se preparar a mistura basta esmagar as sementes de
pinhão no mel e deixar descansar por duas semanas, e então ingerir
uma colher (sopa) diariamente (ver receita a seguir). Outro autocuida-
do que ajuda na prevenção ou redução da prisão de ventre é ingerir bas-
tante água - cerca de oito copos por dia-, além de comer quantidades
moderadas de alimentos regularmente, reduzir a ingestão de sal e fazer
exercícios, como caminhadas, com regularidade.
187 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

PINHÃO CURTIDO NO MEL

1 xícara de pinhão
Mel

1. Coloque os pinhões em uma jarra com tampa e acrescente


mel em quantidade suficiente para cobri-los. Tampe a jarra e
deixe a mistura descansar por duas semanas.

Fazer caminhadas também ajuda a evitar edemas ou retenção de líqui-


dos. No final da minha gravidez, para evitar o agravamento do edema, eu
costumava me sentar no fim do dia com as pernas suspensas, em uma altu-
ra acima da cintura. O edema, conjugado à alta pressão arterial, pode se
tornar um problema grave, razão pela qual deve ser sempre acompanhado
por um médico. O médico também deve ser consultado no caso de tontu-
ras ou diarreia. Para evitar os edemas é preciso reduzir a ingestão de sal e
o consumo diário de laticínios e alimentos gordurosos, aumentar a quan-
tidade de líquidos e comer pequenas porções de alimentos com regulari-
dade - cerca de cinco a seis vezes por dia. Além disso, é bastante benéfico
massagear o ponto de acupuntura do Baço, o San Yin Jiao, localizado na
parte interna da perna, cerca de quatro dedos acima do tornozelo (ver pá-
gina 100). Massageie esse ponto vinte vezes.
Durante o primeiro trimestre, deve-se evitar as relações sexuais. O Qi
dos Rins e do Fígado ainda não está fortalecido e firme o suficiente, e o feto
pode sofrer traumas físicos, estresse, além de danos emocionais. Também
é recomendável evitar as relações sexuais após o sétimo mês.
Para prevenir dores nas costas eu fazia alongamento regularmente. Um
exercício que ajuda muito é colocar as mãos e os joelhos no chão, em uma
posição que lembra uma mesa (ver ilustração a seguir) . As mãos devem fi-
car retas e alinhadas com o ombro, e os joelhos, alinhados com os quadris.
Inspire lentamente e, enquanto expira, enrijeça a barriga e arqueie as costas
para cima. Relaxe, então, a barriga e as costas conforme você inspira e retor-
na à posição original. Repita o exercício várias vezes, lentamente. Para ali-
viar dores lombares podemos esfregar uma mão na outra até sentir calor e
AMADURECENDO O fRUTO 183

colocá-las sobre os Rins, que se localizam acima da cintura, um de cada


lado da coluna vertebral (ver ilustração à esquerda). As grávidas têm, com
frequência, dificuldade de dormir à noite devido à tensão nas costas. Nos
últimos meses de gravidez, eu me sentia menos desconfortável dormindo
de lado com um travesseiro entre os joelhos. Dormir do lado direito pode
trazer benefícios, pois o Estômago consegue drenar para os Intestinos, além
de evitar que o Coração sofra uma pressão indevida e excessiva.
A insônia pode ser um problema durante a gravidez. Uma forma de mini-
mizá-la é manter um horário regular de descanso. Podemos tentar relaxar antes
de nos deitarmos e diminuir o ritmo de nossa mente. Meditação, música, uma
leitura silenciosa e um banho morno podem ajudar a grávida a desligar-se da
correria do dia. Massagear as têmporas também
ajuda a relaxar. Pode-se tentar massagear o ponto
de acupuntura chamado Yong Quan, ou Primave-
ra Borbulhante, localizado na sola dos pés, na de-
pressão abaixo da parte arredondada dos pés (ver
página 100). Faça um movimento firme para bai-
xo na região usando o dedo polegar ou os nós dos
dedos, fazendo pressão para dentro e em direção
ao dedão do pé. Pressione durante um minuto.
Também é possível posicionar essa parte do pé
com firmeza sobre um pequeno livro ou pedra
para estimular esse ponto de acupuntura.
184 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

Para preparar meus seios para amamentar meu bebê, três meses an-
tes do parto eu comecei a segurar meus mamilos e puxá-los para fora.
Inicialmente, a amamentação pode não ser um processo tão natural
quanto imaginamos quando vemos uma mãe amamentando seu bebê.
O recém-nascido tem um instinto de sucção, mas precisa de ajuda para
conseguir segurar os mamilos da mãe. Puxá-los ajuda a esticá-los e,
com isso, o bebê tem algo para sugar. Também pegava uma toalha nova
e úmida ou uma esponja rígida e esfregava cada mamilo durante cerca
de cinco minutos diariamente. Com isso, consegui preparar meus ma-
milos, pois eles ficaram menos sensíveis e doloridos quando comecei
a amamentar.
Quando estava grávida de sete meses, apareceram manchas escuras
em meu rosto. Essas manchas são, geralmente, resultado da Estagnação
de Qi do Fígado e Sangue; no Ocidente, são frequentemente chamadas de
manchas do fígado. Ervas como Xiao Yao Wan e Dong Quai, * recomen-
dadas para liberar o Qi do Fígado estagnado, podem ser eficazes para
diminuir a formação dessas manchas. Esses medicamentos patenteados
são encontrados na China em farmácias de ervas, mas recomendo que
sejam utilizados somente após uma consulta com um prafissional da
MTC. Também deve-se evitar tomar sol, pois ele estimula a formação e a
progressão de manchas do fígado.
É importante tratar os sintomas que surgem durante a gestação o
mais rápido possível. Corrigir desequilíbrios garante o bom funciona-
mento dos Órgãos e a saúde do bebê e da mãe, que poderá contar com
uma ajuda extra. A acupuntura é muitas vezes aplicada no caso de algu-
mas doenças, tais como edemas e enjoas matinais, ou para ajudar no
funcionamento saudável de sistemas de Órgãos enfraquecidos que não
estejam sustentando o feto. É preciso, porém, cuidado na hora de mas-
sagear ou aplicar acupuntura em determinados pontos, pois isso pode

* Dong Quai é uma erva chinesa considerada o tôni co maio r da energia Yin, con-
sequentemente, o tônico da mulher, embora não ten ha efe itos hormonais feminili-
zantes e esteja, inclusive, em muitas fórmulas herbais masculinas. Seu nome botâ-
nico em latim é Angelica sinensis. (N.do R. T)
AMADURECENDO O FRUTO 185

estimular o feto, ou os Orgãos da região abdominal. Durante a gestação,


o feto tem de descansar, e não ser estimulado. Segundo a medicina chi-
nesa, que se baseia no calendário lunar, a gravidez dura dez meses (o
equivalente a aproximadamente nove meses no calendário solar). Du-
rante cada um dos dez meses de gestação, uma rede específica de Or-
gãos nutre o feto.
Adicionalmente, há medidas de autocuidados específicas que pode-
mos tomar a cada mês para ajudar nosso corpo e nosso bebê durante
toda a gravidez. Entender o desenvolvimento de nosso bebê mês a mês
ajuda a harmonizar nossas atividades diárias com as necessidades dele.

C ALENDÁRIO GESTACIONAL

As informações encontradas na Tabela 5 nas páginas a seguir foram tiradas


de textos antigos e mostram o desenvolvimento do feto em cada um dos
dez meses de gestação no calendário lunar. A tabela também inclui a gra-
videz a partir da perspectiva da medicina ocidental.
186 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

Tabela 5: Calendário gestacional


r---
Medicina chinesa*
Mês Canal relacionado Descrição
(lunar)

• O embri ão é sustentado através do


I Fígado
Canal d o Fígado da mãe.

• O embrião é sustent ado através do


Canal da Vesíc ula Biliar da mãe.
• O Qi o ri gi nal (Essência Pré-Natal!Yuan Qi)
2 Vesíc ula Biliar
se manifesta.
• A medida que o embrião cresce,
a mãe pode sentir dores nas articul ações.

• O feto é sustent ado através do


Canal do Coração da mãe.
3 Pericárdio • O sexo e o formato corpo ral d o feto ainda
se rão definidos co m base em fatores
que influenci am a mãe.

• MACIOCIA, Giova nni. Obstetrícia e ginecologia em medicina chinesa. São Paulo:


Editora Roca, 2000.
AMADURECENDO O FRUTO 187

Medicina ocidental
Autocuidados Mês Descrição
(solar)

• Depois de implantado, formam- se


• A circulação do Sangue está enfra- o cordão umbilical e a placenta.
quecida, portanto, deve-se evitar O sexo é definido.
excessos físicos . • Coração, pulmões, cérebro e siste-
• Comer alimentos cozidos, que são ma nervoso começam a se for mar.
de fácil digestão. • Olhos, boca, ouvido interno e trato
I
• Se a gráv ida tiver vontade, pode digestivo começam a se formar.
ingerir alimentos ácidos. • Por volta do 25" dia o coração co-
• Evitar o excesso de calor (que pode meça a bater.
deixar o feto amedrontado) e de frio • Surge m po ntos que se torn arão os
(que faz com que o feto sinta dor). olhos, os ouvidos e o nariz. For-
mam -se "botões" dos membros.

• A maioria dos órgãos começa a se


formar.
• Desenvolvem -se os cotovelos, os
joelhos, os dedos dos pés e das mãos
• Evitar alimentos quentes e de sa- e os órgãos sexuais do embrião.
bor forte. • Os ossos começam a ficar mais
2
• Evitar as relações sexuais. rígidos.
• Evitar o excesso de trabalho. • Surge a medula espinhal.
• As pálpebras estão formadas, mas
se mantêm fechadas.
• O ouvido interno começa a se de-
senvolver.

• Para ter um menino a mãe deve


• Unhas macias começam a se desen-
praticar arremesso de setas.
volver nos pés e nas mãos.
• Se desejar uma menina, a mãe
• O cabelo começa a crescer. Formam-
deveu ar joias.
se os rins e a urina começa a ser en-
• Para ter um filho bonito a mãe deve 3
viada para a bexiga.
olhar para pedras do tipo jade.
• O sexo do bebê fica visível.
• Para ter um filho com bom coração a
• No final do terceiro mês, os órgãos do
mãe deve sentar-se e permanecer
bebê estão completamente formados.
quieta o máxi mo possivel.
188 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULH ER

Medicina chinesa*

Mês Canal relacionado Descrição


(lunar)

• O feto é sustentado através do Canal do Intestino


Delgado da mãe.
4 Triplo Aquecedor • O feto começa a absorver Essência dos Rins da mãe
para desenvolver os vasos sanguíneos.
• Formam-se os Orgãos Yang.••

• O fe to é sustentado através do Canal do Baço da


mãe.
5 Baço • A temperatura do feto desenvolve-se a partir do Qi
essencial do Coração da mãe.
• Formam-se braços e pernas.

• O feto é sustentado através do Canal do Estômago


da mãe.
6 Estômago • Tendões se desenvolvem a partir do Qi de Pulmão
da mãe.
• Formam-se boca e olhos.

• O fe to é sustentado através do Canal de Pulmões


da mãe.
7 Pulmões • Ossos se desenvolvem a partir do Qi essencial do
Fígado da mãe.
• Formam-se os cabelos e a pele.

-----

* Ve r pági na 186.
** O s Orgãos Yang na MTC são chamados de " Fu", o u vísceras ocas, não pa ren-
quimatosas, e são: Intestino D elgado, Es tô mago , Intestino Grosso, Bex iga , Vesícu-
la Biliar e uma fun ção e nergét ica chamada e m chinês de Sa n Jiao , o u Triplo Aque-
cedo r, que co mpreende os ó rgãos co n tidos e m cada cavidad e co rporal (to rácica,
abdominal e pélvica). Ver a N do R. T. na página 22 . (N do R. T)
AMADURECENDO O fRUTO 189

Medicina ocidental
Autocuidados Mês Descrição
(solar)

• A pele do feto é transpa rente e fina.


• Carne de peixe, arroz e carne de
• Formam -se cabelos, sobrancelhas
ga nso selvage m fortalecem o Qi e
e cílios.
o Sangue do feto, garantem olhos
• Formam-se vinte germens dos dentes.
e ouvidos luminosos e sensíveis e
• Formam -se as cordas vocais.
mantêm o Canal do Intestin o Del - 4
• O feto consegue chupar o polegar.
gado livre e limpo.
• Todos os membros estão completa-
• Mode rar a ingestão de alimentos.
mente formados.
• A mãe deve tentar se manter calma
• A pele é coberta por pelos finos, co-
e evitar o estresse emocional.
nhecidos como lanugo.

• Dormir por longos períodos.


• Manter-se aquecida. • Cabelos, sobrancelhas e cílios co-
• Ficar ao ar livre, no sol. meçam a crescer.
• Ingerir carne de vaca, trigo e carne 5 • O feto dorme e acorda em interva-
de carn ei ro. los regulares.
• Atentar para não comer nem mui - • O feto desenvolve músculos.
to nem pouco.

• Fazer exercícios leves. • Uma substãncia branca chamada vêr-


• Ficar ao ar li vre. nix cobre a pele.
• Para garantir tendões e músculos • O cérebro desenvolve-se rapida-
fort es, coluna e costas firmes, deve- mente.
6
se ingerir carne de an imais selvagens • As meninas desenvolvem óvulos em
e observar cães e cavalos correndo. seus ovários.
• Inge rir quan tidades moderadas de • Os pulmões ainda não estão total-
alimentos doces. mente desenvolvidos.

• Os ossos começam a endurecer e se


• Fazer exercícios (alongar e flexio- fortalecer.
nar as articulações) ajuda a estimu- • Forma-se uma camada de gordura
lar a circulação de Sangue e Qi. sob a pele.
• Ingerir arroz para aj ud ar na for- 7 • O rosto não é mais coberto de lanugo.
mação dos ossos e dentes do feto. • Cérebro e sistema nervoso crescem
• Manter-se aquecida. rapida mente.
• Não comer alimentos gelados. • Os testículos começam a descer para
dentro do escroto.
190 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA M ULHER

Medicina chinesa*
Mês Canal relacionado Descrição
(lunar)

• O feto é sustentado através do Canal do Intestino


Grosso da mãe.
8 Intestino Grosso
• O crescimento da pele é estimulado ao receber o Qi
essencial do Baço da mãe.

• O feto é sustentado através do Canal dos Rins da


mãe.
9 Rins • O crescimento da pele e dos cabelos é nutrido pela
Essência que o feto recebe da mãe.
• Todos os Orgãos estão formados.

• O feto é sustentado através do Canal da Bexiga da


mãe.
lO Bexiga • Os Orgãos Yin .. estão completamente desenvol -
vidos.
• Os Orgãos Yang não apresentam obstruções.

* Ver página 186.


** O s Órgãos Yin (Zang) são, na MTC, os órgãos parenquima tosos, a saber: Cora-
ção, Baço, Pâncreas, Pulmão, Rins, Fígado e Pericá rdio (mesmo sendo uma mem bra-
na serosa e não um órgão, a MTC o classifica como Yin = Zang). Ver a N. do R. T. na
página 22. (N. do R. T.)
AMADURECENDO O fRUTO 191

Medicina ocidental
Autocuidados Mês Descrição
(solar)

• Evitar perturbações emocionais.


• O cérebro continua a crescer rapi-
• O Qi da mãe é mantido por meio
da mente.
de práticas respi ratóriassi lenciosas,
• O bebê está maduro o suficiente ago-
o que promove o desenvolvimento
8 ra para sobreviver se nascer.
de uma pele vistosa no feto.
• Os olhos ficam abertos .
• Evitar a ingestão excessiva de ali-
• O bebê pode se movimentar e posi-
mentos.
ciona-se para o nascimento.
• Evitar ficar brava.

• O bebê está completamente desen-


• Ingerir alimentos doces.
volvido .
• Evitar ambientes úmidos.
9 • Os ossos da cabeça estão flexíveis e
• Vestir roupas largas.
moles para o nascime nto.
• Falar com calma.
• Quase todo o lanugo desapareceu .

• Para estimul ar a capacidade men-


tal do bebê e o desenvolvi mento de
suas articulações a mãe deve con -
centrar seu Qi três dedos abaixo do
umbigo, no Dan Tian Inferior."

* A autora, aq ui , atribui ao po nto 5VC (Shimen) como sendo o " D an Tian" infe-
rior. (N. do R. T )
CAP[TULO TREZE
,@
@-Ç\~
~~S'

O trabalho de se desprender

m dia antes de meu nascimento, minha mãe ficou em seu escritório até
U a meia-noite estudando os ensinamentos do governo comunista. Ela
estudava todas as noites pois, como todos os cidadãos, era pressionada pelo
governo a fazê-lo. O governo também pedia que as pessoas vigiassem umas
às outras e relatassem atividades contrarrevolucionárias suspeitas. Quando
minha mãe 'chegou em casa, começou a ter contrações. Naquele dia, meu pai
estava fora, em uma viagem de negócios, e minhas irmãs e meu irmão esta-
vam dormindo. Como minha mãe não queria acordá-los, saiu silenciosa-
mente e foi até o andar superior pedir à vizinha que a levasse para o hospital.
Durante o trabalho de parto, minha mãe não gritou nem berrou; na
verdade, não fez nenhum barulho. Disse que, apesar da dor, sentiu uma
força interna e não sentiu necessidade de gritar ou chorar. Ela também
dizia que como meu pai não estava lá para ouvi-la, se fizesse muito baru-
lho, as enfermeiras poderiam ficar cansadas dela. As outras mulheres na
enfermaria pensaram que minha mãe tivesse tido um parto sem dor, e
começaram a questionar se ela havia estudado as mulheres russas, que têm
a reputação de ter filhos sem sentir dor.
A forma como minha mãe lidou com meu nascimento refletia como
ela vivia sua vida e como continua a vivê-la até hoje. O nascimento dos fi-
AMADURECENDO O fRUTO 193

lhos é um marco no ciclo de vida feminino, e ela conseguiu enfrentar isso


naturalmente. Não passava muito tempo preocupando-se com o que po-
deria acontecer. Não havia sido condicionada a ver o nascimento de um
filho como algo difícil e temido. Minha mãe confiava em sua habilidade e
força para lidar com a dor e com o processo de dar à luz.

Mulheres de todos os tempos dão à luz filhos saudáveis que crescem e


têm seus próprios filhos. Ainda assim, o nascimento de um filho conti-
nua a ser encarado com ansiedade, medo e apreensão. Seria porque nos
preocupamos com a saúde de nossos bebês ou porque temos medo da
dor? Ficamos nervosas porque podemos vir a cometer erros ou porque
algo pode dar errado? Seria medo de perder a capacidad e d e controlar o
que se passa em no ssa m ente? Ou res ultado da total falta de confiança
no processo natural e em nossa sabedoria nata? Questiono, com frequên-
cia, o quanto os partos medi cados tecnologicamente têm nos distanciado
do que deveria se r uma experiência natural de se dar à luz. Será que o
fato de nos concentrarmos no que pode dar errado contribui para que
desconfiemos da inteligência de nosso corpo? Não nego o valor e os
benefícios da medicina moderna, mas acho importante entrarmos em
contato com a sabedoria inata do corpo feminino. Trata-se da mesma
inteligência de que nosso corpo lança mão quando ele "sabe" que preci-
sa curar um corte. Acreditar na sabedoria ajuda a diminuir a ansiedade
quanto a certas incertezas do nascimento de um filho e pode facilita r o
parto. Embora não possamos prever o que acontecerá, tampouco con-
trolar isso, podemos aprender a conviver com nossa incerteza de uma
maneira nova. Para que algo novo nasça em nossa vida precisamos vi-
venciar algo que não nos é familiar.
Uma forma de lidar com o desconhecido é estar preparada e entender
como podemos confiar em nossos recursos internos e nas habilidades de
lidar com as situações. Ter consciência da confiança que temos em nós
mesmas em lidar com situações imprevisíveis e estressantes pode nos mos-
trar quais serão nossas respostas durante o trabalho de parto. Como reagi,
no passado, a uma si tu ação desconhecida e fi sicamente dolorosa? O quan-
194 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

to confiei em minha capacidade de lidar com a situação ou com uma pes-


soa? Quais recursos internos busquei para me ajudar?
Ao refletir sobre estas questões, percebi que a confiança que tenho
em meus recursos interiores geralmente lutam contra outras vozes que
dizem: "Você não está fazendo a coisa certa"; "Você será repreendida por
seu comportamento"; "Você é uma vergonha"; "Você não é forte o sufi-
ciente, inteligente o suficiente, cuidadosa o suficiente ou profissional o
suficiente". Consigo subtrair o que sou, julgar o que quero ou banalizar
aquilo em que acredito. Sou dada a julgar minhas motivações e meu
comportamento e a ser dura comigo mesma. Tudo isso acaba com a con-
fiança que tenho em mim mesma.
~creditar em si é confiar nos recursos internos, uma intel.!_gência ine-

- ---
rente que reside dentro de todas nós. Como valorizo meus sentimentos e
!flinha in.tuição?. Entrar em contato com essa inteligência interna é entrar
em contato com a energia Yin, a energia feminina. É confiar na opinião
que tenho de uma pessoa, ouvir o palpite que tenho sobre uma situação ou
prestar atenção à dor que sinto dentro do coração. Para nutrir a autocon-
fiança, que nada mais é do que nossa inteligência interna, tenho de dar
espaço para aquilo que realmente quero que venha à tona. Tenho de desen-
volver um relacionamento com meu corpo e com meus sentimentos e
aprender a nutrir o que é melhor para mim. Agindo dessa forma, conse-
guimos perceber e respeitar a voz profundamente intuitiva que é uma sa-
bedoria coletiva, a sabedoria que sabe como dar à luz. Ao confiar que nosso
corpo conhece o processo do nascimento, sentimos menos ansiedade
quanto às incertezas relacionadas a ele e temos menos medo delas. Esse
acontecimento natural é um projeto milagroso que já está sendo posto em
prática, basta nos entregarmos a ele.
Além de nos capacitarmos para confiar na sabedoria inata que nosso
corpo tem de trabalhar com o desconhecido, podemos buscar informa-
ções sobre vários estágios do processo de nascimento frequentando cur-
sos para gestantes. Saber como uma contração se desenvolve e como
chega a seu nível mais elevado e ter uma visão geral de nossa fisiologia e
anatomia irão nos preparar para trabalhar com nosso corpo da melhor
AMADURECENDO O fRUTO 195

forma possível e participar do nascimento, em vez de nos sentirmos inú-


teis. Se não temos a menor ideia do que acontece com nosso corpo du-
rante o nascimento de uma criança, podemos ficar ansiosas e com medo,
o que geralmente aumenta a intensidade de qualquer dor que sentimos e
causa estresse no bebê.
Podemos nutrir nossa autoconfiança em torno do nascimento de um
filho trabalhando com o relacionamento íntimo que existe entre nossa
mente e nosso corpo. Utilizar técnicas de visualização que influenciem
nosso estado mental, emocional e físico nos ajuda quanto às incertezas de
se dar à luz, e a relaxar, o que nos permite lançar mão de nossa sabedoria
interna. Dado que mente e corpo estão ligados, práticas como visualiza-
ção e meditação podem beneficiar nosso estado físico, nossas experiên-
cias e nossas reações.

V ISUALIZAÇÃO

Na visualização criativa você pode criar imagens detalhadas de como gos-


taria de dar à luz, e como deseja que seja seu trabalho de parto e o nasci-
mento de seu bebê. Crie uma imagem clara de um parto seguro e de um
bebê sadio, ou q·ualquer outra imagem que queira. Identificar o que você
verdadeiramente quer e o que acredita ser possível é um primeiro e impor-
tante passo no processo da criação de sua visualização. Escolha imagens
que façam com que você se sinta confortável e com as quais tenha familia-
ridade. Após ter uma ideia do que você quer, e depois de formar imagens
claras em sua mente, imagine-as como se já tivessem acontecido, ou seja,
imagine que são mais do que apenas um desejo. Sua visualização pode in-
cluir o local onde você dará à luz. Em casa? No hospital? Na água? Como é
o cômodo? Que música estará tocando? Quem estará presente? Quanto
tempo durará seu parto? Como será cada contração?
Você também pode optar por trabalhar com imagens metafóricas. Esco-
lha imagens simbólicas que sejam significativas para você e que permitam
que sua mente entenda a relação. Se você quer que o colo de seu útero se abra
fácil e delicadamente, você pode visualizar o botão de uma flor desabrochan-
196 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

do e todas as pétalas se abrindo. As imagens metafóricas têm muito poder


nas visualizações, podem facilitar o processo e, com isso, diminuir o estresse
dos acontecimentos por vir.
Você pode, se desejar, começar a praticar a visualização logo no início
da gravidez, o que levará a uma sensação de familiaridade tranquila e cal-
ma no momento do parto. Tente fazer as visualizações diariamente. Você
poderá também descobrir que inspirar e expirar profundamente ajudam a
relaxar o corpo antes de iniciar a visualização.
Fazer visualizações da experiência de se dar à luz não significa ignorar
a possibilidade de haver dor e de ocorrerem acontecimentos inesperados.
Essa prática ajuda a desenvolver imagens positivas do parto que substi-
tuem as antigas imagens amedrontadoras ou negativas que temos. Você
pode visualizar a situação como um acontecimento natural que não traz
perigos nem necessita de intervenção médica. Ao criar uma imagem pró-
pria do nascimento, tornamo-nos mais aptas a confiar na sabedoria de
nosso corpo e desenvolvemos a autoconfiança necessária para dar à luz
segundo a natureza, o que torna, portanto, todo o processo mais positivo.

MEDITAÇÃO

A meditação é muito útil para relaxar o corpo e acalmar a mente. t capaz


de alimentar a confiança em nosso conhecimento interno e diminuir mui-
tos dos medos relacionados ao nascimento de uma criança. Entrar em con-
tato com a ordem natural do mundo e dedicar tempo para reconhecer os
ciclos e a cadência da natureza também podem nos ajudar a valorizar nos-
sa própria natureza.
Podemos meditar ouvindo uma canção com o som da água descendo
pelas rochas, pensar na sensação que sentimos quando o vento acaricia
nosso corpo com seu frescor enquanto o sol aquece nossa pele com seus
raios penetrantes, sentir o aroma fresco e revigorante após uma chuva na
primavera. Nesses momentos, não temos nada para fazer, nenhum lugar
aonde ir, nada para entender e nenhuma decisão a tomar. Tente relaxar e
sentir a harmonia e a paz da natureza. Permita que essas sensações per-
AMADURECENDO O fRUTO 197

meiem seu corpo e libertem-na de seus pensamentos, crenças e atitudes


por alguns instantes. Renda-se à energia que se movimenta por todo o seu
corpo e absorva a sensação profunda de relaxamento que ela oferece. Essas
meditações podem penetrar seu corpo e aliviar as tensões que vêm inun-
dando sua mente e interferindo na relativa facilidade desse processo natu-
ral, apesar de desconhecido.
Também podemos lidar com as energias negativas por meio de uma
variação da prática budista do Tonglen. Em tibetano, Tonglen significa
"dando e recebendo". O Tonglen é praticado para despertar a compaixão
por nós mesmos, em nosso medo e sofrimento. Ele abre nosso coração
para o que nos impede de nos ligarmos profundamente à nossa natureza
verdadeira. Ao ajudar a dissipar as obstruções que fazem com que não
confiemos em nossa sabedoria interna, descobrimos um novo relaciona-
mento com aquilo que nos traz dor e estresse.
O Tonglen ensina que para abrir o coração temos de nos aproximar do
que nos causa sofrimento. Não se trata de se livrar da dor, mas de atingir seu
núcleo. Ao manter nossa mente e nosso coração abertos conforme respira-
mos com nossos sentimentos de medo, ou qualquer coisa que se faça presen-
te, começamos a ver como coração e mente estão intimamente relacionados
ao medo. O Tonglen é uma prática que nos permite sentir os sentimentos
como qualidades em nosso corpo e transformá-los sem embarcarmos em
uma jornada infindável de sofrimento. Podemos ter medo do que pode
acontecer durante nosso parto e, sem perceber, ficamos imaginando as pio-
res situações possíveis. Prender-se a essas causas tangentes gera grande sofri-
mento. O Tonglen ajuda a nos libertar dessa reação em corrente.
Dizem que as sementes da compaixão são cultivadas nos campos de
nossas neuroses e nossos medos, e aquilo que consideramos negativo aca-
ba se transformando em confiança e relaxamento, despertando uma força
interna que nos ajuda no parto. Nossa dor tem valor se permitimos que as
energias transformadoras venham à tona e se trabalhamos efetivamente
com elas. Essa visão faz parte do conceito do Yin e Yang, que diz que as
raízes da compaixão são encontradas em emoções difíceis, e que a fonte de
sentimentos geralmente considerados negativos está na compaixão.
198 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

Não é preciso erradicar o medo. Podemos utilizá-lo como uma forma


de conscientização, parar de julgar o que é bom ou ruim, certo ou errado;
simplesmente tocá-lo e, então, desprender-se dele. A experiência do
medo em si não é prejudicial. O que nos prejudica são as reações contí-
nuas ou excessivas que surgem a partir dessa emoção humana tão natu-
ral; essa é a causa da doença. Quando conseguimos desenvolver uma
maneira saudável de conviver com nosso medo, o que evita entrarmos
em um estado de vazio sem uma experiência emocional, o fluxo livre de
Qi melhora. O Tonglen é uma prática que ajuda muito a nos aproximar-
mos da energia crua de nossos sentimentos difíceis e que possibilita que
tenhamos um novo relacionamento com essas emoções.

UMA MEDITAÇÃO ToNGLEN

• Sente-se em meditação e concentre-se em sua natureza ver-


dadeira; você pode encarar isso como sabedoria coletiva,
maior compaixão ou como o seu Eu Mais Elevado. .
• Agora pense em um sentimento desconfortável e difícil;
talvez o medo que muitas vezes acompanha os pensa-
mentos sobre o parto. Situe-se no meio do seu descon-
forto e da sua dor. É provável que a resposta automática
que você dará a essa situação é tentar se livrar desse
medo, tentar não senti-lo ou fazer algo que faça com que
você não o sinta. Perceba isso e inspire e expire em seu
desconforto, sabendo que o que você sente é o mesmo
que milhões de mulheres.
• Enquanto presta atenção nesse sentimento, comece a se cons-
cientizar do sofrimento que essa emoção tem lhe causado.
Faça um caminho mental do estresse e das preocupações que
você tem vivenciado como resultado desse medo. Talvez você
não esteja conseguindo dormir bem, ou esteja com os nervos
à flor da pele. Agora, comece a sentir ternura e carinho por
essa parte sua que sente medo.
AMADURECE DO O fRUTO 199

• Comece a inspirar esse sentimento difícil na forma de uma


fumaça preta e pesada ou uma nuvem preta. Inspire essa fu-
maça ou nuvem por todos os poros de seu corpo.
• Expire agora uma luz branca, fria e refrescante cuja nature-
za é de inspiração, espaçamento, uma alegria adorável e
uma sensação de desprendimento. Envie essa luz para a
parte de si mesma que sente dor e medo. Exale por todos os
poros de seu corpo.
• Se seus pensamentos fazem com que você se distraia, pen-
se neles sem se envolver e transforme-os em urra fumaça
preta.
• Perceba se sua respiração é mais longa e ma1s profun-
da enquanto inspira e expira. I: mais fácil para você
dar ou receber?
• Continue a dar e receber à medida que respira pelo maior
tempo possível, não exagerando a ponto de sentir descon-
forto. A medida que você aprofunda a prática e vai se fami-
liarizando com seus sentimentos, o mesmo acontecerá com
seu nível de conforto e confiança.

Ao praticar o Tonglen, fazemos amigos com nossas emoções difíceis e,


com isso, temos condições de conviver com qualquer situação que venha a
surgir. Ao nos aproximarmos de nossos medos, abrimos nosso coração e
passamos a ter compaixão não apenas de nós mesmas mas também dos
outros. Podemos nos livrar do medo do parto ou, pelo menos, conhecê-lo
melhor, o que faz com que ele não exerça um poder tão grande sobre nós.
Também nos ajuda a relaxar e nos prepara para lidar com os desafios e com
a enorme energia que acompanham o nascimento de um filho.

PESSOAS Q UE NOS APOIAM

Compartilhar a experiência do parto com pessoas que nos apoiam - par-


ceiros, familiares, amigos - é outra forma de trabalhar os medos e as an-
200 SAB EDORIA C HINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

siedades que temos com relação ao nascimento de um filho. Ter o apoio de


outras pessoas nesse processo é reconfortante em vários níveis, e ajuda
muito as mulheres que têm medo de se sentirem sós durante o parto.
Permitir-se depender do apoio de familiares e amigos ajuda a construir
confiança e aceitar o apoio dos outros. Fazemos com que a experiência vá
além do individual; não precisamos se r fortes e enfrentar isso sozinhas;
nesse caso, nos sentimos abandonadas, isoladas e sós. Receber a ajuda dos
outros durante esse período de tantas incertezas nos torna vulneráveis a
elas, o que, por fim, nos traz mais confiança. Ao agir dessa forma, nos ren-
demos a um processo que é nosso grande poder criativo, nossa sabedoria
coletiva, além de nossa força coletiva e conjunta.

AcuPRESSÃO

Uma form a de incluir as pessoas que nos apoiam em nosso parto é deixá-
las massagea r se us pontos de ac upressão. Para da r à luz, o Qi tem de des -
cer. Durante a gravidez, há ac úmulo de Yin - Sangue - , enquanto o
trabalho de parto e o processo de dar à luz representam uma mudança
para a energia ativa Yang, que é necessária pa ra a liberação do bebê e do
Sangue. A acupressão aj ud a o Qi a se movimentar para baixo e é uma for-
ma segura, não invasiva e eficaz de aj udar na hora do parto, além de aliviar
dores e outros desco nfortos.
Os pontos que aj udam o Qi a descer e que ativam as contrações são o
San Yin Jiao, o Jian Jing e o He Gu. O Ci Liao e o Yong Quan, juntamente
com o Jian Jing, são utilizados para acalmar a m ãe. É importante lembrar
que esses pontos n ão devem ser usados durante a gravidez.

SAN YIN jiAO

O San Yin Jiao locali za-se cerca de três dedos acima do tornozelo, na tíbia
(ver ilustração na página 100). É se nsível ao toque. Pressione esse ponto
com S(:!u polegar ou indicador. Pressione o ponto em direção à parte da
frente da perna da mãe durante trinta segundos e pare durante outros trin-
AMADURECENDO O fRUTO 201

ta segundos. Repita o processo três ou quatro vezes. Espere vinte minutos


e pressione o ponto San Yin Jiao da outra perna.

jiAN jiNG*

Para localizar o Jian Jing imagine o ponto mé-


dio no arco que se forma entre a vértebra
proeminente na base de seu pescoço (quando
você inclina a cabeça para a frente, é geral-
mente o osso de trás do pescoço mais saltado)
e a articulação do ombro. O Jian Jing fica no
ponto mais alto do músculo do pescoço. Como
o San Yin Jiao, também é sensível ao toque, e
você sentirá uma certa ardência, calor e entor-
pecimento no local. Pressionar o Jian Jing esti-
mula o Útero e ajuda durante o parto. Pressione
o ponto com o polegar, usando não apenas a
força do dedo mas de todo o braço. No início
de cada contração, pressione o local. O ponto também pode ser pressionado
continuamente e com mais intensidade a cada contração.

HE Gu**
O He Gu fica entre o indicador e o polegar, no V onde há a união entre os
ossos que vêm da base do indicador e do polegar, no ponto mais distante da
curva (ver ilustração a seguir). Pressione o ponto com o polegar três vezes,
durante dez segundos. Estimular esse ponto pode intensificar as contrações.

n
• É o ponro número 2 1 do Canal da Vesícula Bi liar Uian Jing). (N. do R.
** É o ponto número 4 do Canal do Intestino Grosso (He Cu). (N. do R. n
202 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

Cl LIAO*

Para que a mãe consiga relaxar e sentir menos dor, usa-se o Ci Liao. Esse
ponto fica entre as covinhas que se encontram abaixo do vinco do bum-
bum. Localiza-se aproximadamente a um dedo acima do fim do vinco do
bumbum e a um dedo de cada lado da coluna vertebral. Quando se toca o
local, é possível sentir uma leve depressão. Pressione o ponto com os nós
dos dedos, fazendo força no local e para baixo (ver ilustração a seguir).
Conforme o trabalho de parto progride, faça pressão para baixo e em dire-
ção à coluna vertebral, aproximando as mãos até o topo do vinco do bum-
bum e até que os nós dos dedos de cada mão se toquem.

* É o ponto número 32 do Canal da Bexiga (Ci Liao) . (N do R. T.)


AMADURECENDO O fRUTO 203

YoNG QuAN
O Yong Quan, também conhecido como "Primavera Borbulhante': é outro
ponto utilizado para ajudar a mãe a relaxar. Esse ponto encontra-se na
depressão que se forma no terceiro topo da sola do pé quando os dedos
estão curvados em direção à sola. Pressione o ponto com força, empurran-
do para cima e em direção ao dedão (ver ilustração na página 99). O Yong
Quan pode ser pressionado durante todas as etapas do trabalho de parto.
204 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

RESUMO

Uma concepção e gravidez saudáveis estão intimamente ligadas ao fluxo


desobstruído e livre da Água Celestial. O Fígado armazena Sangue, que é
enviado ao Útero para ser liberado na menstruação e nutrir o feto no úte-
ro. Assim sendo, fatores que prejudicam o fluxo da Água Celestial também
afetam as chances de a mulher engravidar, e de nutrir adequadamente o
feto. A causa dos desequilíbrios energéticos que se manifestam fisicamente
na Água Celestial, tal como a TPM e a infertilidade, são os mesmos fatores
emocionais. Ou seja, para engravidar e ter uma gestação saudável os senti-
mentos devem ser expressados livremente e de forma adequada. Trabalhar
com nossos sentimentos, tais como a frustração e a raiva, ajuda a aliviar os
fatores físicos que bloqueiam a fertilidade e a concepção ou que afetam
nossa saúde durante a gravidez. Quando conseguimos nos sentir o mais
livre possível, do ponto de vista emocional, torna -se muito mais fácil en-
gravidar e enfrentar a gravidez e o parto.
Ter um bebê traz mudanças enormes - físicas, emocionais e espiri-
tuais -, em um espaço de tempo relativamente curto. A capacidade de
adaptar-se à situação e livrar-se de identidades e expectativas arraigadas
cumpre um papel importante quanto à capacidade de engravidar e de se
ter um recém-nascido saudável. Em minha carreira já presenciei mudan-
ças profundas no poder de concepção de minhas pacientes e também de
terem uma gravidez completa à medida que renunciam às crenças que
têm com relação a si mesmas. Seus sentimentos e suas expectativas in-
fluenciaram profundamente a qualidade da gravidez.
Por outro lado, cuidar de nossas doenças físicas, tais como o inchaço
nos seios no período pré-menstrual, pode transformar nossos sentimentos
de raiva e ressentimento. Cuidar de nossa saúde física antes da concepção
é um fator importante para uma gravidez e parto saudáveis. O bem-estar
físico depende do movimento equilibrado do Qi e do Sangue em nosso
corpo. O fluxo livre do Qi nada mais é do que nosso bem-estar emocional.
Dessa forma, embora seja preciso atentar para as manifestações físicas do
fluxo desequilibrado do Qi e do Sangue, também não podemos deixar de
AMADURECENDO O fRUTO 205

lado a causa da desarmonia, nossos desequilíbrios emocionais. Nosso so-


frimento emocional e a forma como ele nos prejudica à medida que passa-
mos por determinadas mudanças físicas devem ser levados em conta
durante os períodos pré-gestacional e gestacional.
O que nutre a Essência dos Rins ajudará na concepção e no desenvol-
vimento saudável do feto. A saúde da Essência de nossos pais também con-
tribui para nossa constituição e natureza. Se a Essência de nossos pais está
enfraquecida quando somos concebidos, isso é passado para nós. E nós
passamos nossa Essência para nossos filhos. Uma forma de ajudar nossa
Essência de Rins é evitar consumi-la muito rápido e descuidadamente, ou
preservá-la através de nossa Essência pós-natal. A Essência é consumida
mais lentamente quando evitamos o excesso de trabalho, gestações fre-
quentes, doenças crônicas, relações sexuais durante o período menstrual e
também quando entramos em acordo com nossos sentimentos.
Outra forma de conservar nossa Essência é por meio da alimentação. Se
a quantidade de Essência pós-natal extraída pelo Baço e pelo Estômago por
meio dos alimentos e líquidos que consumimos é maior do que a quantida-
de gasta diariamente, ela ficará armazenada nos Rins. A Essência pós-natal
é utili zada ante da Essência pré-natal. Consequentemente, ingerir alimen-
tos e criar um ambiente propício para que o Baço e o Estômago possam
transformar o alimento em Essência pós- natal abundante ajuda a aumentar
e a preservar a Essência dos Rins.
A maneira como lidamos com nosso bem-estar emocional e espiritual
e como cuidamos de nosso corpo através de nossas opções alimentares e
estilo de vida contribuem para nossa capacidade de permitir que a semen-
te amadureça naturalmente e se transforme em fruto, além de permitir que
a árvore (o "eu") também cresça.
Para ajudar na hora do parto, podemos explorar os medos que temos
do desconhecido entendendo como lidamos com a incerteza. A reação que
temos àquilo que não nos é familiar está geralmente relacionada ao nosso
nível de confiança ou falta de confiança em nosso "eu" interno. As crenças
que temos sobre nós mesmas muitas vezes sufocam a confiança que temos
no conhecimento inato que nosso corpo tem quando se trata de dar à luz.
2o6 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

Esse conhecimento interno, que podemos buscar dentro de nós mesmas, é


um aspecto de nossa sabedoria coletiva.
Quando valorizamos e desenvolvemos confiança em nosso conheci-
mento interno, temos condições de trabalhar com a incerteza do parto e do
nascimento. O nascimento de um filho é um período durante o qual a sabe-
doria instintiva e profunda do corpo está ativa; se não confiamos nela, po-
demos não conseguir aproveitar os recursos internos de que precisamos
para dar à luz nosso bebê. Outra forma de respeitar o desconhecido é bus-
car informações sobre o que acontecerá, praticar visualização ou meditação
ou pedir que nosso parceiro, familiares e amigos participem ativamente.
Seja qual for a forma, podemos nos livrar das noções préconcebidas que
temos sobre o nascimento e dos medos que temos da incerteza que ronda
esse processo e, assim, confiar na sabedoria coletiva de nosso corpo. Com
isso, ficamos abertas para nos conectarmos ao mistério da natureza através
do processo natural de dar à luz.
Sexta parte

M~S DE OURO
CAP[TULO QUATORZE
@
®~®
~~

Tradíções díterentes

ara algumas de nós o parto vaginal pode não ser uma opção. A data do
P parto de Zhao Zhao foi escolhida e planejada para 22 de fevereiro de
1984. Minha gravidez era considerada de "alto risco" por eu ter tido um
aborto anterior e por ter engravidado aos 27 anos, o que é considerado
tarde para os padrões chineses. Meus médicos achavam que por ser "mais
velha" meus ossos seriam menos flexíveis, além de também se preocupa-
rem com a possibilidade de a placenta aderir à parede uterina, o que pode-
ria levar a uma hemorragia pós-parto. Desde a implantação da política de
filho único na China, no final da década de 1970, medidas de precaução
sempre foram tomadas para garantir a segurança e saúde do filho único.
Zhao Zhao era chamado de um "Bebê Tesouro" devido às possíveis com-
plicações, e meus médicos recomendaram veementemente que eu fizesse
uma cesariana.
Q uando fui para o hospital, no dia prédeterminado, fui acompanhada
por cerca de vinte membros de minha família: marido, mãe, pai, sogra,
sogro, duas irmãs, meu irmão, cunhados, cunhadas, sobrinhas e sobri-
nhos. Para as famílias chinesas, o nascimento é um acontecimento auspi-
cioso, por isso é comum que várias pessoas acompanhem a mãe e levem
comida para ela.
210 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

Quando chegou a hora de minha cesariana, deram-me um bloqueio


epidural para que não sentisse nada da cintura para baixo. A acupuntura
não foi usada por considerarem que eu estava muito fraca. Lembro de que-
rer ver quando o médico fez a incisão, mas minha visão estava bloqueada
pelo lençol de algodão branco que foi estendido sobre a metade inferior de
meu corpo. Ouvia os sons metálicos dos instrumentos cirúrgicos e os pe-
didos de tesoura. Antes de Zhao Zhao ser tirado de mim, senti muita fra-
queza e ouvi um de meus colegas dizer que minha pressão arterial havia
caído. Colocaram rapidamente uma máscara de oxigênio sobre meu rosto.
Lembro que pude ouvir, a seguir, o choro de meu bebê! Mas tive de esoerar
até o dia seguinte para poder pegá-lo no colo.
O nome oficial de meu filho é ]in Zhao, sendo ]in seu sobrenome e
Zhao seu primeiro nome. Na China, o nome da família vem sempre antes
do primeiro nome, o que mostra a importância da família sobre o indivi-
dual. Escolhemos o nome Zhao por significar força interior, o que conti-
nuo a desejar para meu filho durante sua vida. Embora Zhao também seja
meu sobrenome, tem um caráter e significado diferente em chinês. Após
seu nascimento, demos a ele o apelido de Zhao Zhao.
Quando estava na sala de recuperação, senti uma vontade eno rme de
evacuar. Queria muito ir ao banheiro sozinha. Levantei-me lentamente,
tirei o cateter e vesti minhas calças. Lembro-me de pisar no chão e ter a
sensação de que não havia nada sólido sob meus pés. Foi como pisar em
um carpete grosso de bolas de algodão. Quando dei o segundo passo, meu
corpo começou a tremer com dor e meus dentes a bater. Coloquei, lenta-
mente, um pé para a frente. Em cerca de vinte minutos, havia conseguido
percorrer apenas três metros! Ainda assim, consegui chegar ao banheiro.
Depois de lutar contra a dor de urinar e evacuar, levantei devagar. No mo-
mento em que consegui ficar de pé, percebi que não tinha mais forças. Não
conseguiria voltar para a cama. Felizmente, uma enfermeira chegou e me
ajudou. A equipe médica ficou muito preocupada, achando que eu havia
desmaiado e que estava com hemorragia.
Após dar à luz, as mulheres geralmente têm receio de urinar ou eva-
cuar, por medo da dor. Por vezes acabam segurando a urina, o que pode
MÊS DE ÜURO 2II

levar a infecções no trato urinário ou na bexiga. Eu compreendia a impor-


tância de superar esse medo inicial e disse a mim mesma que, depois de ter
feito isso pela primeira vez, ir ao banheiro deixaria de ser algo tão doloro-
so. Para estimular o fluxo da urina pode-se usar uma bolsa quente de sal
para aquecer a região abdominal. Usa-se sal porque ele está associado aos
Rins, os qu ais, por sua vez, estão ligados à Bexiga. Por vezes, abrem-se as
pernas da mulhe r e joga-se água morna na vulva. Acredita-se que o som da
água estimule e promova o fluxo livre da urina.
Quando trouxeram Zhao Zhao para mim, eu não tinha muito leite. Em-
bora doloroso, comecei a ma sagear meu Útero e meus seios com toalhas
limpas para estimular a lactação. Minha mãe trouxe arroz-doce, um prato
de ovos e água com açúcar para estimular a produção de leite. Pouco tempo
depois, podia sentir o leite enchendo meus seios. Queria amamentar para
criar um vínculo com meu bebê, e também porque a amamentação gera
contrações no Útero, o que ajuda a evitar sangramentos pós-parto e a fazer
com que o Útero retome sua tonificação e volte à sua posição normal.
Compart il hei me u período pós-parto com outras duas mulheres que
dividiam o quarto comigo. Elas tinham vinte e poucos anos e eu era con-
siderada a idosa, com 27 anos. Conversávamos bastante e dávamos muita
risada. Ne nhuma de nós tinha privacidade. Os médicos e as enfermeiras
examinavam-nos e conversavam conosco no quarto, com a família toda lá
e com as visitas diárias, que nos traziam comida, que era dividida entre
todas. Meu marido não deixou o hospital durante três dias. Havia trazido
alguns pijamas limpos para que eu pudesse me trocar e não precisasse fi-
car usando roupas suadas e, com isso, correr o risco de me resfriar. Não
tomei ban ho nem lavei o cabelo. Limpava o rosto e os dentes com água
com sal, e as enfermeiras me ajudavam a lavar minha vulva e vagina com
uma solução sali na.
As enfermeiras aconselharam -me a me movimentar e começar a andar
lentam ente nos dias seguintes ao nascimento de Zhao Zhao. Isso é impor-
tante após uma cesariana, pois há a tendência de acúmulo de gases no es-
tômago. Movimentar-se também evita problemas no colo ou outras
complicações mais sérias, como obstrução do intestino.
212 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHE R

Quando chegou a hora de ir para casa, a empresa de meu marido man-


dou um carro para nos levar. Como era inverno, saí do hospital encapota-
da da cabeça aos pés, apenas com os olhos à vista. Foram tomados muitos
cuidados para assegurar que o Frio não invadisse meu corpo no curto es-
paço de tempo em que fui levada, de cadeira de rodas, do hospital até o
carro que nos aguardava.

Diferentemente do que acontece no Ocidente onde, após o parto, as mu-


lheres são muitas vezes estimuladas a deixar o repouso e retornar à vida
diária o mais rapidamente possível, e elogiadas por isso, na China,* as mães
passam os quarenta dias seguintes ao nascimento do filho, período conhe-
cido como "Mês de Ouro': descansando, recuperando-se e recobrando sua
saúde. Perde-se muito Sangue durante e após o parto, o que gera um a De-
ficiência de Qi e Sangue, e faz com que a mulher fique mais suscetível a
doenças. Acredita-se que qualquer enfermidade que a mãe contraia duran-
te o período pós-parto a acompanhará pelo resto da vida. Além d isso, to-
das as doenças que a mãe teve antes de dar à luz podem ser curadas dura nte
o Mês de Ouro. Na verdade, um médico pode, vez ou outra, aco nselhar
uma mulher doente a engravidar e usar seu Mês de Ouro para recuperar a
saúde. Esse período significativo tem o poder de cura, razão pela qual é
conhecido como "Mês de Ouro':
Durante esse período, as mulheres fazem todo o possível para produzir
Sangue e ajudar os Rins a recuperarem sua força e energia. Dar à luz ou
passar por vários partos pode gerar um esgotamento significativo da Es-
sência, ou Jing, o que leva à degeneração mental e física e a uma menor
expectativa de vida. A fim de ajudar os Rins e preservar a Essência, as mu-
lheres afastam-se da vida comum para evitar estresse excessivo, distúrb ios
emocionais, excesso de trabalho e fadiga, e tomam bastante cuidado para

* No interior do Brasil, é prática comum, também, as mulheres após o pa rto se pou-


parem, num período chamado popularmente de "resguardo". (N do R. T)
MÊS DE ÜURO 213

manter uma boa alimentação. Recebem o apoio da família e dos amigos.


Quando não têm familiares para ajudar, o marido geralmente contrata ou-
tras mulheres para auxiliar a nova mamãe. Tratamentos adequados duran-
te esse mês evitam uma saúde debilitada no futuro, o que pode ter custos
bem mais altos para a família.
No Canadá, certa vez fui ao hospital visitar uma de minhas pacientes
que havia acabado de dar à luz seu filho. Lembro-me de ficar assustada
quando cheguei no quarto, na noite do dia de seu parto, e ver muitas flores
mas nenhum acompanhante. Candy estava com muita dor, pois tinha se
submetido a uma cesariana e o recém-nascido chorava no berço ao lado de
sua cama. Os lábios dela estavam secos, o rosto pálido e não havia nin-
guém para ajudá-la. Perguntei se ela estava com fome, e ela disse que estava
com muita fome. Pedi a meu companheiro que fosse até Chinatown e com-
prasse um pouco de congee, ou mingau de arroz. Nesse meio-tempo, ajudei
Candy a beber um pouco de líquido e a trocar as fraldas do bebê.
Foi uma experiência completamente diferente daquela com que eu es-
tava acostumada. Naquele momento, senti um enorme abismo cultural.
Como descrevi anteriormente, o nascimento de um filho é, na China, uma
questão familiar, comemorada como um momento especial em que fami-
liares e amigos dão as boas-vindas ao bebê e atenção especial para a mãe,
algo de que ela necessita para ter condições de recuperar sua saúde. Há um
sentimento de ligação entre as gerações e uma ideia de continuação da li-
nhagem ancestral, um sentimento de que o nascimento da criança é um
acontecimento de vida coletivo e cooperativo.
No Ocidente, é comum vermos flores e mais flores mas nenhuma ajuda
dos familiares. A família quase nunca fica na maternidade com a mãe por
achar que ela precisa descansar. A responsabilidade por suas necessidades
físicas são delegadas ao hospital e à sua equipe. Embora as flores sejam
bonitas e tenham um significado simbólico, não ajudam a mãe a recuperar
sua energia e saúde em um momento crítico. Depois que Zhao Zhao nas-
ceu, minha família manteve-se presente mesmo quando eu descansava. O
apoio que me deram com sua presença foi muito importante e me ajudou
a enfrentar os primeiros dias, depois semanas, com amor, carinho e ajuda
214 SAB EDORIA CH IN ESA PARA A SAÚDE DA MULHE R

física. Talvez o envolvimento da família seja uma das razões da baixa inci-
dência de depressão pós-parto na China, comparada aos níveis registrados
no Ocidente. Até hoje, quando uma amiga ou paciente dá a luz, sempre
preparo uma sopa para dar de presente juntamen te com flores para que ela
possa dar início a um Mês de Ouro de cura e prevenção.
Dar à luz leva à perda de Yang, isso porque essa energia é utilizada para
liberar o bebê do Útero. Conseque ntemente, a mulher encontra-se em um
estado de Frio, o que significa que fica altamente suscetível à entrada e
alojamento de Frio em seu co rpo. Assim sendo, não se d eve tomar banho,
lavar o cabelo, levantar objetos pesados, expor-se à água gelada o u a baixas
temperaturas e vento, nadar, ingerir alimentos gelados (tais como saladas
ou comidas cruas), beber líquidos gelados, ter relações sexuais e fazer exer-
cícios físicos. Quando a mãe não leva essas práticas em conta, estará sujeita
a dores, artrite e outras doenças no futuro.
Para recuperar o Yang, ou Calor, restaurar a energia e equilibrar seu
sistema, a mãe deve ingerir alimentos Yang quentes por natureza, tais como
carne de carneiro e out ras carnes vermel has, feijão-vermelho e lentilhas.
Para qu e a mulher recobre sua saúde completa é preciso recuperar se u San-
gue. Um prato simples como a sopa de ovos mencionada no Capítulo Três
(ver receita na página 65) é eficiente para trazer melhoras para o Sangue.
Depois de meu nascimento, em maio de 1956, minha m ãe ficou no
hospital durante seis dias. Quando estava pronta para sai r, cobriu sua ca-
beça, vestiu roupas quentes e foi para casa, andando, com minha tia, que
me carregou nos braços. Quan do minha mãe chegou ao nosso apartamen-
to, o quarto estava frio, pois não havia aquecimento no prédio. Ela se lem -
bra de sentir o frio no corpo ao se deitar na cama. Preparar uma sopa de
ovos era algo difícil, pois naquele tempo, os apa rtamen tos na China não
tinham cozinha. As pessoas comiam em refeitórios no trabalho e ficavam
à mercê do que o cozinheiro decidisse colocar no m enu. Felizmente, a co-
mida servida nos refeitórios era fresca e de ó tima qu alid ade. Serviam dia -
riamente uma grande variedade de legumes levemente cozidos e carnes.
Não havia, porém, abundância de ovos, e qu ando eram servidos no refei-
tório, não eram preparados com açúca r de cana. Não sei como, mas minha
MÊs DE OuRo 215

avó conseguiu um ovo precioso e preparou uma sopa de ovo para minha
mãe usando álcool para produzi -la e uma lata, que serviu de panela.
A importância dessas práticas de autocuidados é algo arraigado em to-
das as mulheres chinesas desde o nascimento e passada de geração em ge-
ração. Embora minha mãe tivesse consciência delas, acabou levantando
peso durante seu Mês de Ouro e também colocando as mãos na água gelada
na hora de lavar roupas. Como a temperatura em nossa casa era baixa no
fim de maio, ela frequentemene ficava com frio. Com isso, desenvolveu uma
dor no punho e dores de cabeça que nunca havia tido antes de eu nascer, e
que permanecem com ela até hoje.

MEu M ~s DEOuRo
Q uando voltei para casa após o nascimento de Zhao Zhao, minha mãe
vinha cozinhar e me ajudar todos os dias. Chegava às 7h e ficava até as
14h. Cuidou de mim integralmente e com muita dedicação. Eu me sentia
nutrida e amada. Das 14h às 2lh, minha sogra ficava comigo. Me u mari-
do passava também pelo menos uma hora por dia cuidando de mim, e eu
tinha um a babá cujas únicas responsabilidades eram lavar fraldas e rou-
pas de Zhao Zhao e cuidar dele enquanto eu descansava. Para nós, isso
era uma forma de investir na minha recuperação naquele momento e em
minha saúde futura.
Durante o Mês de Ou ro, fiquei em casa sempre com a cabeça, os bra-~
ços, as pernas e o corpo cobertos. Eu e Zhao Zhao não saímos nenhuma
vez. O recém -nascido, como a mãe, é vulnerável a causas externas de de-
sarmonia. Nos dias após o parto, eu suava o tempo todo, o que é comum
devido à Deficiência de Qi e Sangue. De modo geral, quando a transpira-
ção acontece durante a noite, é devido à Deficiência de Yin ou Sangue, e
quando ocorre durante o dia, é resultado de uma insuficiência de Qi. A
transpiração não é considerada um problema, exceto se em quantidade
excessiva ou durante um período muito prolongado. Se isso acontecer, não
coma alimentos gelados e crus nem beba líquidos gelados, evite locais frios
e úmidos, mantenha o corpo e a cabeça cobertos e ingira alimentos que
216 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

ajudam o Sangue, tais como tâmaras, uvas-passas, ovos, espinafre, fígado,


arroz-doce preto e carne de porco. Ao enriquecer o Sangue, você também
nutrirá seu Qi e sua Essência.
Embora transpirasse muito, eu não tomei banho nem lavei o cabelo.
Em vez disso, usava uma esponja embebecida com água de gengibre, que é
preparada fervendo -se, em uma panela, gengibre fresco com água. Adora-
va o aroma do gengibre, que era absorvido pela minha pele e pelas roupas,
e embora não mergulhasse completamente meu corpo na água nem usasse
sabonete, sentia-me limpa e fresca. As propriedades de aquecimento do
gengibre esquentam o corpo quando há Deficiência de Qi e Smgue.
Minha mãe ou meu marido aplicavam em mim, diariamente, um tra-
tamento à base de gengibre para aliviar as dores de cabeça que eu sentia
mtes da gravidez. Enrolavam uma raiz inteira de gengibre fresco em folhas
de repolho verde e colocavam para assar no forno durmte uma hora. O
gengibre cozido era, então, fatiado e as rodelas eram colocadas, ainda
quentes, em minhas têmporas, entre as sobrancelhas e no topo da cabeça.
Enrolavam então minha cabeça com um pano para segurar o gengibre no
local. Depois disso, nunca mais tive dores de cabeça.
Meu marido também colocava gengibre em minhas costas, na região
dos Rins, segurmdo-o com um tecido cirúrgico cortado, para ajudar o sis-
tema de Orgãos dos Rins a eliminar o Frio e reduzir as dores nas costas.
Além do tratamento à base de gengibre, meu marido aplicava óleo de
castor em meu abdome e massageava meu Útero. Após a massagem, cobria
a área com um tecido cirúrgico e enrolava meu corpo. Isso servia para
contrair os músculos de meu abdome, fazer com que a pele ficasse firme e
rígida e ajudar meu Útero a recuperar sua tonificação e força.
Durante esse período, recebi a visita de muitos amigos. Os que eram
profissionais da MTC aplicavam acupuntura em mim para desbloquear
os Canais dos Rins, estimular e melhorar o fluxo da energia esgotada.
Outros traziam lembranças - geralmente alimentos - e, mantendo a
tradição, eu lhes oferecia comidas doces, tais como um prato de ovos e
açúcar de cana ou vinho de arroz. Esse gesto era uma forma de eu com-
partilhar minha alegria com eles.
MÊs DE OuRo 217

Além de receber amigos e familiares, descansava. Não devia sobrecar-


regar os olhos lendo ou assistindo à tevê. Durante a primeira semana, segui
essas práticas, mas passado algum tempo comecei a ler um pouco. Tomava
cuidado para não ler muito, pois sentia os olhos cansados. Depois de algu-
mas semanas, comecei a assistir a alguns programas na televisão.
Meus dias giravam em torno de minha dieta alimentar. Comia várias
e pequenas porções de alimentos durante o dia todo para fortalecer meu
Qi do Baço, o que, por sua vez, ajudava a nutrir e recuperar minha Essên-
cia de Rins. Fazer refeições leves e frequentes em vez de uma ou duas
refeições pesadas não sobrecarrega o sistema de Baço. Para produzir Qi
do Baço e enriquecer o Sangue, comia sopa de ovos no café da manhã
todos os dias. A maior parte dos problemas comuns que surge m após o
nascimento do filho está relacionada à perda de Sangue. A queda de ca-
belo, por exemplo, está intimamente ligada a esse fator, assim como a
depressão pós-parto, isso porque a perda excessiva de Sangue pode levar
à insuficiência de Sangue no Coração, que transforma a Essência do ali-
mento em Sangue e é responsável por sua circulação. O Espírito, ou Shen,
reside no Coração, razão pela qual a insuficiência de Sangue nesse siste-
ma de Úrgãos pode fazer com que a nova mãe sinta apatia, tenha insônia,
não consiga criar um vínculo com seu bebê, sinta um enorme desespero,
sensação de inutilidade, tristeza, ansiedade, desinteresse profundo e falta
de ligação com a realidade.
Assim sendo, é importante comer alimentos que nutram o Sangue e
ajudem o Coração, os Rins, a Bexiga e o Baço - que são os Úrgãos vitais
para a produção e circulação do Sangue. Alguns alimentos geralmente
usados para ajudar esses sistemas de Úrgãos são carne de galinha e peixe,
legumes de folhas escuras, ovos, uvas-passas, arroz-doce e longan seco.
Cerca de uma hora após o café da manhã, eu tomava uma sopa de ga-
linha com ervas que continha Yimu Cao, comumente conhecida como
agripalma, para ajudar o Útero a recuperar seu tamanho e sua tonificação,
e evitar sangramentos excessivos relacionados a uma Deficiência no Útero.
A sopa de galinha fornece o calor necessário para aumentar a energia Yang,
eliminar o estado de Frio do corpo e nutrir o Sangue. Comia sopa feita do
2 18 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

caldo de uma galinha diariamente. Durante sete dias, comi o caldo e a


carne equivalente a sete galinhas! Alguns dias, a sopa de galinha também
continha longan seco, que ajuda na produção de Sangue ao nut rir o sistema
de Órgãos do Coração. Seu sabor doce também ajuda o Baço a recuperar e
assimilar os nutrientes da sopa.

S OPA DE GALINHA COM ERVAS

1 galinha de até 2 quilos


12 xícaras de água fria
60 gramas de Yimu Cao (agripalma)
40 gramas de Dong Quai (angélica)

1. Coloque a galinha em uma panela grande e adicione a água


fria. Leve ao fogo até ferver. Cozinhe em fogo baixo durante
duas horas. Vá tomando o caldo e comendo a carne da galinha
durante todo o dia.

Eu tomava a sopa várias vezes ao dia. Minha mãe dizia para eu usar as
mãos ao comer a carne para lubrificá-las com a gordura. A sopa também
aj uda a recuperar o líquido perdido pela transpiração e perda de Sangue.
Além disso, as sopas e outros líquidos ajudam no caso de prisão de ventre
quando a mulher está amamentando e não ingere uma quantidade sufi-
ciente de líquidos.
As sopas de ossos, que contêm tutano, são boas para nutrir o Sangue, a
Essência e os Rins. Essas sopas também ajudam a prevenir dores nas arti -
culações, o que é comum após o parto (ver receita de sopa de ossos na
página 181). Outra forma de evitar as dores nas articulações é manter-se
aquecida e evitar a exposição a baixas temperaturas e correntes de ar.
Além da sopa, eu comia legumes levemente cozidos uma ou du as
vezes ao dia e frutas, também cozidas. Nunca ingeria alimen to cru,
pois eles dificultam a digestão pelo Baço e pelo Estômago, que já es tão
enfraquecidos. Acredita -se também que a ingestão de alimentos gela-
MÊs DE OuRo 219

dos durante o Mês de Ouro tornam os dentes das mães sensíveis para
o resto da vida.
Para produzir leite a mulher precisa de Sangue e Qi adequados. O fluxo
de leite pode ser estimulado eficientemente ingerindo-se alimentos que
ativam sua produção, entre os quais o mais tradicional é o jarrete* de porco
fervido no vinagre preto e gengibre, que nutre o Sangue e o Qi e aquece o
corpo. Durante o Mês de Ouro de minha mãe, minha avó, com recursos
muito limitados, preparou um jarrete de porco para ela em um fogão im-
provisado. Outros alimentos que também ajudam a estimular a lactação
são mamão e amendoim.

jARRETE DE PORCO

1 jarrete de porco
5 xícaras de vinagre preto (disponível em lojas de produtos
asiáticos)
100 gramas de raiz de gengibre fresco cortado em fatias

l. Lave o jarrete de porco com água fria. Coloque-o em uma pa-


nela grande e adicione água em quantidade suficiente para co-
bri-lo. Leve ao fogo até ferver. Abaixe o fogo e deixe cozinhar
por dez minutos.
2. Escorra e lave o jarrete novamente com água fria. Coloque-o
em uma panela e adicione o vinagre preto e o gengibre fatiado.
Leve ao fogo até ferver. Abaixe o fogo e deixe cozinhar por uma
hora. Escorra a carne e sirva fatiada.

Se você está amamentando, evite pratos condimentados, ricos em gor-


dura e alimentos de difícil digestão, tais como comidas e legumes crus. As
vezes, a mulher não consegue amamentar apesar de ter leite suficiente.
Isso é geralmente causado pela Estagnação de'Qi do Fígado nos Meridia-

* Parte traseira do joelho do porco. (N. da T)


220 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

nos que passam pelos seios, já que é preciso Qi para o leite se manifestar.
O que quer que você possa fazer para se conscientizar de raivas, ressenti-
mentos ou frustrações que esteja sentindo ajudará a estimular a lactação,
isso porque nosso sistema de Fígado está intimamente ligado ao bem-es-
tar emocional. O fluxo livre das emoções está diretamente relacionado ao
fluxo livre do Qi do Fígado e ao movimento livre do leite materno.
Quando estiver amamentando seu bebê, tente esvaziar seus seios
totalmente. Aperte e tente tirar o máximo de leite possível caso seu
bebê não mame tudo ou se sentir os seios pesados. Isso evita a estagna-
ção do leite e estimula sua produção. Se sentir que suas glândulas estão
obstruídas, coloque toalhas quentes e molhadas para ajudar na desobs-
trução. Se seu médico diagnosticar qualquer infecção nas glândulas,
use toalhas frias e molhadas. Tome também uma grande quantidade de
sopa e líquidos mornos.
Na segunda quinzena de meu Mês de Ouro, comecei a fazer alonga-
mentos leves para evitar a estagnação de Qi e Sangue. Tente fazer os exer-
cícios simples sugeridos a seguir - lembre-se de começar praticando
alongamentos lentos e delicados. Não é aconselhável fazer exercícios físi-
cos puxados, pois isso pode enfraquecer o Baço e os Rins.

• Deite-se de costas com as pernas esticadas e os braços na


lateral do corpo. Inspire lentamente e force seu umbigo
para dentro, pressionando as costas contra o chão. Perma-
neça nessa posição e então relaxe. Esse exercício também
pode ser feito de pé ou sentada.
• Deite-se de costas com os joelhos dobrados e os pés retos.
Contraia os músculos de sua vagina como se estivesse ten-
tando segurar o fluxo de urina. Se não tiver certeza de que
o músculo que está sendo trabalhado é o correto, certifi-
que-se colocando o dedo na vagina. Tente contrair o mús-
culo que a circunda. Se sentir uma pressão no dedo, você
saberá que está contraindo o músculo certo. Conte até cin-
co e, então, relaxe.
MÊs DE Ou ao 221

• D eite-se de costas com os joelhos dobrados e com os bra-


ços n a lateral do corpo. Contraia a barriga, forçando o
umbigo para dentro e levante a perna em direção ao pei-
to, com o joelho dobrado. Expire enquanto estica a per-
na, lentamente, até que ela fique paralela ao chão, porém
sem tocá-lo. Retorne à posição inicial. Repita o exercício
com a outra perna.
• Tente uma meditação enquanto caminha. Como os ou-
t ros tipos de meditação, caminhar pode ser relaxante,
além de uma forma de desenvolver a conscientização em
u m determinado momento. Essa caminhada lenta e na-
tural é baseada em prestar atenção em cada pé à medida
que ele entra em contato com o chão. Mantenha a postu-
ra reta e permita que o Qi circule por seus braços e per-
nas. Relaxe os ombros, certificando-se de que não estão
n a mesma altura que seus ouvidos. Mantenha u m ritmo
respiratório lento e regular. Tente inspirar para dentro do
abdome para que, a cada inspiração, sua barriga aumente
levemente e, a cada expiraçãp , se contraia. Relaxe a bar-
riga. Mantenha o olhar para baixo, concentrando-se em
u m ponto à sua frente. Se sua mente ficar vagando, ape-
n as observe onde ela foi e volte a prestar atenção em cada
um d e seus pés tocando o chão. Preste ateAção quando
você levanta o pé, estica-o para a frente e coloca-o nova-
mente n o chão. Continue o exercício durante o tempo
q ue quiser, desde que esteja se se ntindo confortável. A
meditação de caminhar, que acalma e desperta a cons-
cientização, pode ajudá-la a lidar com o estresse e as mu-
danças q ue acompanham o nascimento de um filho.

O fim do Mês de Ouro é celebrado com um banho ritualístico com uma


mistura de ervas prescrita por um profissional da MTC. Também significa
o fechamento do período "oficial" de descanso e recuperação da mãe, e
222 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

marca seu retorno à vida comum. As ervas são terapêuticas, removem a


Umidade dos músculos e das articulações da mãe e garantem um futuro
sem dores.
Fazia um mês que eu não lavava o cabelo nem ensaboava meu corpo
com água. Foi maravilhoso sentar na banheira e deixar a água correr sobre
mim, inalando o aroma das ervas. Senti-me rejuvenescida e renovada. O
banho com ervas é uma forma simbólica belíssima de começar a vida na
nova realidade como mãe.
(Acho importante dizer que, após sofrer o aborto espontâneo, segui as
mesmas práticas mencionadas acima durante cerca de 15 dias - um "Mês
de Ouro curto': As medidas preventivas ajudam a evitar problemas e com-
plicações de saúde futuros.)
Passado meu Mês de Ouro, minhas unhas estavam fortes, minha pele,
brilhante, e meu cabelo, luminoso. Estava descansada e nutrida física,
emocional e espiritualmente. Sentia-me restabelecida para retornar ao tra-
balho e, mais importante do que tudo, preparada para a cumprir meu pa-
pel de mãe. É difícil enfatizar o quanto esse momento é importante para o
bem-estar e a saúde de uma mulher. Hoje, mães que acabaram de dar à luz,
muitas vezes, vêm à minha clínica animadíssimas para me mostrarem seu
bebê de uma semana. Quando as vejo, estremeço. Minha vontade é dizer:
"Volte para casa e descanse por um mês. Seu corpo está muito vulnerável.
Você está se expondo ao risco de desenvolver problemas que lhe trarão
complicações futuras. Seu bebê não está forte e você pode estar compro-
metendo-o sem necessidade. Aproveite este momento para recobrar sua
saúde e curar as doenças que lhe afetam. É apenas um mês de sua vida, mas
que tem o poder de afetar sua saúde e a de seu bebê para sempre:'
Talvez algumas de vocês que estejam lendo este livro perceberão que as
práticas do Mês de Ouro assemelham-se aos ensinamentos de suas avós e bi-
savós. Espero que analisem a possibilidade de segui-las, e de passarem adiante
algumas dessas práticas de autocuidados. Essas práticas se baseiam em expe-
riências de vida acumuladas durante milhares de anos na China.
CAPfTULO QUINZE
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B" i8'

Abríndo o coração

á um ditado na China que diz: "Só quando você tiver um filho sabe-
H rá o quanto seus pais lhe deram:' Depois que Zhao Zhao nasceu,
todas as reclamações que eu fazia de meus pais e desentendimentos que
tive com eles passaram a soar extremamente triviais. Passei a ter uma
nova visão do que eles enfrentaram depois que eu nasci. Comecei a olhar
meus pais de uma outra perspectiva. A experiência de ter tido meu filho
fez com que eu compartilhasse um entendimento parecido com o deles
sobre o milagre do nascimento e, dessa forma, criou-se entre nós uma li-
gação diferente da que tínhamos até então. Sentimentos novos de grati-
dão surgiram em mim.
Durante o Mês de Ouro, começou a aflorar em mim a noção da res-
ponsabilidade com meu filho, um ser tão vulnerável e dependente. Em al-
guns momentos, tinha a sensação de estar sonhando. Embora tivesse
carregado Zhao Zhao dentro de mim, ficava maravilhada ao pensar que
aq uele ser tão pequeno havia saído de meu corpo. De onde ele havia vin-
do? Como isso aconteceu?
Às vezes, olhava para ele e achava estranho. Pegava suas mãozinhas e
examinava cada dedo e unha, observava seu nariz e seus olhos e era como
se estivesse vendo dedos, unhas, nariz e olhos pela primeira vez na vida. E,
224 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

de certa maneira, eu estava dando à luz uma nova forma de ver esse ser
humano minúsculo e perfeito.
Lavava o corpo de Zhao Zhao com delicadeza, sentia-me totalmente
concentrada no ato de banhá-lo e comprometida com ele. Era como se nada
mais tivesse importância, a não ser lavar e cuidar de braços e mãos minús-
culos, pernas e pés, corpo e a não ser. Percebia, nesses momentos, que não
esperava nada dele. Ele não precisaria me dar nada em troca. Sua presença
era a única coisa que importava. O que ele fazia não tinha consequências;
ele nunca foi uma preocupação ou algo que me deixasse irritada. Cada ação
e som que ele fazia era uma experiência nova e profunda para mim.
Adoro dormir e por vezes fico rabugenta e mal -humorada quando so u
incomodada. No passado, ninguém ficava ileso quando eu estava irritada.
Até mesmo minha adorada avó, que tanto cuidou de mim, enfrentava
meu mau humor quando me tirava, sem querer, de um sono profundo.
Com Zhao Zhao houve uma mudança radical. Qualquer barulho que ou-
visse vindo dele me acordava, e isso não era incômodo algum para mim.
Minha única preocupação era seu bem-estar. Dizia, com frequência: "Não
tenho medo do céu, não tenho medo da Terra. A única coisa de que tenho
medo é de Zhao Zhao adoecer:·
Zhao Zhao abriu meu coração para um amor incondicional. Em minha
vida, sempre recebi um amor integral de meus pais, avó e familiares. Eu
sentia um amor completo e sem fim pelo meu filho e não queria nada em
troca. O amor incondicional que tinha por ele me aproximou muito de mi-
nha mãe. Sentia o amor dela renovado e entendia profundamente o que ela
sentia por mim e por todos os seus filhos. Também sentia o amor de todas
as mães por seus filhos. Talvez nem todas as mães sintam o que eu senti, mas
para mim o nascimento de meu filho fez com que eu me abrisse e formasse
uma ligação profunda com meu filho, minha mãe e com as outras pessoas.
Antes de ter Zhao Zhao, minha vida era muito voltada a mim mesma,
meus objetivos, sonhos, planos, desejos e minhas necessidades. Não que eu
não levasse os outros em conta, mas percebi que minhas expectativas com
relação às outras pessoas quase sempre se relacionavam ao que eu queria,
necessitava ou desejava. Com Zhao Zhao tudo isso se esvaiu. Parece que o
MÊ DE ÜURO 225

amor que eu sentia por ele fez com que eu esquecesse do meu "eu" e, com isso,
consegui levar mais emoção e sensibilidade ao meu trabalho como médica.
Embora sempre tivesse sido uma médica atenciosa, percebi que cuidava de
meus pacientes apenas com o racional. Havia adotado um enfoque intelectual
ao trabalhar com meus pacientes, e não emocional. Deixar me levar pelos
sentimentos intensos que surgiram dentro de mim após o nascimento de
meu filho fez com que eu me ligasse mais às outras pessoas e de forma mais
profunda, além de possibilitar maior integração com meu trabalho, e melhor
entendimento de todos, mais compaixão, cuidado e paciência.
Certa vez, um mestre budista pediu que três de seus alunos falassem
algo a respeito das maçãs. Colocou uma maçã na mesa e disse: "Quem con-
seguir me falar melhor sobre maçãs participará de um retiro comigo:· Um
aluno falou sobre as origens das maçãs e como elas foram introduzidas no
país. O segundo aluno falou sobre os usos diversos das maçãs no preparo de
sobremesas, sidras e molhos. O terceiro aluno ficou em silêncio e tirou uma
pequena faca de seu bolso. Cortou a maça em pedaços e colocou-os na boca
do mestre. Em seguida, fechou delicadamente a arcada do mestre para que
ele mordesse a maçã. "Isso mesmo", disse o mestre ao terceiro aluno. "Não
se pode usar palavras para descrever uma maçã. Ela tem de ser sentida pela
língua, pelos dentes e pela boca. A verdadeira forma de se conhecer uma
maçã é com a boca fechada:· Assim como conhecer uma maçã, a única fo r-
ma de conhecermos nossos sentimentos profundos não é por meio de nos-
sa mente ou de pensamentos conceituais, e sim por meio das experiências
que vive nciamos através de nosso coração.
A maternidade traz consigo possibilidades incríveis de melhorarmos
todos os aspectos de nossa vida. Às vezes, isso acontece porque consegui-
mos nos render e confiar no processo. Nunca planejei nem pensei que ter
Zhao Zhao mudaria minhas ideias e minha identidade de forma tão signi-
ficativa; ou talvez, inconscientemente, tenha pensado. Talvez o medo que
todas nós temos de engravidar e dar à luz seja resultado disso: uma perda
de identidade ou transformação no relacionamento que temos com nós
mesmas e com os outros, uma mudança do conhecido e familiar para o
desconhecido. Acredito que todos os nossos conceitos e pensamentos so-
226 SABEDOIUA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

bre como as coisas "deveriam ser" são despedaçados ou deslocados no pro-


cesso do nascimento de um filho. Dar à luz não é um processo que se possa
controlar. Damos à luz e vivenciamos um desprendimento, uma confiança
em um processo muito além de nosso controle: o milagre da vida. Quando
nos livramos das ideias pequenas e limitadas que temos sobre o que deve
acontecer, ou de nossas expectativas, ou de quem deveríamos ser, surge
uma abertura para uma maior conscientização de que o processo de dar à
luz é poderosíssimo espiritualmente em sua interconectividade com algo
maior do que nós mesmas.
l'vfÊS DE ÜURO 227

RESUMO

O Mês de Ouro é um período especial após o parto, durante o qual a mãe


descansa, recupera e restabelece suas energias. Dado o foco da medicina chi-
nesa na prevenção, o Mês de Ouro é um período reconhecido culturalmente
de recuperação de forças e fortificação do corpo e, consequentemente, um
momento em que a mãe deve se resguardar de qualquer doença provável no
futuro. Acredita-se que quando a mãe não segue as práticas sugeridas ela
desenvolve doenças que irão acompanhá-la pelo resto da vida. Da mesma
forma, o Mês de Ouro é um período de cura. Doenças existentes podem ser
eliminadas e aliviadas quando se tomam os cuidados adequados.
As práticas de autocuidados durante o Mês de Ouro concentram-se,
principalmente, na recuperação do equilíbrio do corpo após uma grande
perda de Qi e Sangue durante o processo do parto. Com a liberação de
Sangue, também há perda de Essência. Uma mulher pode preservar e pro-
duzir Essência, Qi e Sangue descansando, evitando situações de fadiga,
mantendo o equilíbrio emocional, ingerindo alimentos que enriquecem o
Sangue e evitando fatores externos como o Frio, que pode comprometer
seu estado de enfraquecimento. Seguir essas práticas requer o apoio de
familiares e amigos, que devem cuidar das necessidades especiais da mãe e
do bebê para que ela possa descansar.
O Mês de Ouro dá à mulher a chance de recuperar sua força e energia
antes de começar a cumprir integralmente seu papel de mãe. Observar o
período durante o qual reconhecemos as mudanças radicais pelas quais
passamos e o impacto disso em nossa vida é uma forma de oferecer amor
e afeto a nós mesmas, algo que geralmente mostramo-nos tão dispostas a
dar aos outros. Esse período nos oferece tempo para vivenciar a ligação
existente entre nossos níveis físico, emocional e espiritual de bem -estar.
Surge uma humildade quando percebemos o milagre incrível da vida
desenvolvendo-se e nascendo sem nosso direcionamento ou intervenção.
O crescimento e desenvolvimento de Zhao Zhao dentro de mim direcio-
nou-me para uma sabedoria interna que não é intelectual nem conceitual.
Trata-se de algo que existe dentro de todas as mulheres. Essa conscientiza-
228 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

ção traz uma ligação maravilhosa com os outros. E o Mês de Ouro traz
outra ligação: é uma tradição passada de geração em geração, que ligou
minha mãe a mim, eu a minha avó, e que liga uma mãe à próxima mãe
através da experiência compartilhada de dar à luz um bebê. Todas as pes-
soas que estão vivas e que já viveram nasceram de uma mulher. É uma ta-
refa e tanto que temos a cumprir. Para mim, o Mês de Ouro é uma forma
de reconhecermos e respeitarmos o significado desse trabalho a fim de
desenvolver a autocapacitação, glorificar o milagre da criação e a sabedoria
coletiva e inata que existem dentro de nós.
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B0-8
Sétíma parte

SEGUNDA PRIMAVERA
CAP[TULO DEZESSEIS
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Entrando na totalídade

a Medicina Tradicional Chinesa o estágio na vida da mulher após o


N fim do fluxo da Água Celestial é conhecido como "Segunda Primave-
ra" e representa uma renovação de energia e oportunidades. No Ocidente,
a transição é conhecida como menopausa, termo derivado do grego que
significa o cessar da menstruação mensal. A associação da menopausa
com uma ausência abrupta do fluxo menstrual é, no entanto, uma visão
limitada dessa transição complexa. Nossa passagem para a Segunda Pri-
mavera acontece durante vários anos, e envolve uma série de mudanças
intrincadas e complexas que não se restringem à menstruação ou ao nível
físico. Para uma pequena porcentagem de mulheres, a menst ruação para
repentinamente, enquanto a maioria apresenta ciclos irregulares durante
um período de dois a cinco anos antes do fim permanente do ciclo mens-
trual. Algumas de nós percebem mudanças uma década antes do início da
Segunda Primavera. De forma geral, fala -se que a mulher chegou à meno-
pausa quando 9corre a interrupção completa da menstruação de seis a 12
meses após os 45 anos de idade. Segundo a medicina ocidental, isso se
deve à queda na produção hormonal quando a mulher atinge a fase da
meia-idade. O número de folículos ovarianos, responsáveis pela nossa for-
ça reprodutiva, cai de aproximadamente seiscentos mil, no nascimento,
232 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

para trezentos mil, no início da menstruação, e para dez mil no momento


em que nosso fluxo é interrompido. Assim sendo, a menopausa é um pro-
cesso progressivo que começa no nascimento.
Segundo o Nei Jing, a Segunda Primavera é a terceira fase importante na
vida reprodutiva de uma mulher, depois da Água Celestial e do processo de
dar à luz. Como sabemos, a vida da mulher compreende ciclos de sete anos,
e depois que nossa Água Celestial começa a fluir, aos 14 anos, chegamos ao
pico de nosso desenvolvimento entre os 21 e 28 anos. Aos 35 anos (sete
vezes cinco), o ritmo de nosso Baço começa a diminuir e a produção de
Sangue, Qi e Essência pós-natal cai. Dado que os músculos também são
regidos pelo Baço, conforme ele enfraquece, começam a perder a tonifica-
ção e formam-se as rugas. Aos 49 anos (sete vezes sete), temos menos San-
gue, Qi e Essência pós-natal e necessitamos de uma quantidade maior da
Essência pré-natal que temos armazenada. Com a diminuição na produção
de Sangue, o Vaso Penetrador, que leva o Sangue ao Útero, não se enche e,
consequentemente, o Útero não transborda o excesso. Nossa Água Celestial
diminui e, por fim, cessa. Em um esforço para conservar o máximo possível
de nossa Essência, a sabedoria de nosso corpo interrompe a descarga men-
sal de Sangue. É interessante observar que a interrupção de nossa menstrua-
ção é, na maioria das vezes, vista como o avanço da idade quando, na
verdade, é o esforço natural que nosso corpo faz para diminuir o ritmo
desse processo e trazer um novo equilíbrio para os anos vi ndouros.
Como deixamos de perder Sangue e Essência mensalmente, a energia que
havia sido utilizada para garantir o fornecimento adequado de Sangue é libe-
rada para que possamos utilizá-la como quisermos. Dessa forma, sentimo-
nos rejuvenescidas e vivenciamos um despertar para um novo potencial - a
Segunda Primavera. A transição marca uma mudança no Yin com relação
à energia Yang, já que há uma produção menor de Sangue, que é Yin. Tradi-
cionalmente, durante os anos que precedem a menopausa, concentramo-nos
em nossos relacionamentos, nossa carreira, nossa família e nosso lar. Nossa
atenção está, geralmente, voltada a amparar os outros e cuidar deles. As mu-
lheres que têm uma carreira fora de casa geralmente lidam com a responsabi-
lidade extra de cuidar das crianças e das tarefas domésticas. Muitas vezes,
SEGUNDA PRJMAVERA 233

nossa autoestima e identidade foram definidas e afetadas por nossos relacio-


namentos. Somos a esposa de fulano, a mãe de sicrano ou a filha de beltrano.
Apesar de termos uma carreira, as pressões culturais identificadas em um
relacionamento, tradicionalmente com um homem, são muito fortes.
Em muitos casos, portanto, estar no mundo é algo que chega mais tarde
na vida das mulheres, à medida que desenvolvem uma noção independente
de seu "eu': Nosso poder e nossas conquistas geralmente se manifestam na
meia-idade ou depois dela. Isso é uma manifestação mais clara de nossa ener-
gia Yang. Tornamo-nos mais apaixonadas por nossas crenças. Somos capazes
de expressar nossa raiva. Temos mais facilidade de nos defender. Há um di-
tado chinês conhecido que diz: "Aos trinta e poucos anos, as mulheres são
lobas; aos quarenta e poucos, tigresas, e aos cinquenta e poucos, dragoas:'

D IANE

Durante a maior parte de sua vida adulta Diane poderia certamente dizer
que confiava em seu poder de amar um homem e fazê-lo feliz. Não conse-
guia exercitar sua vontade no mundo, desenvolver uma carreira ou lidar com
o conflito, mas dizia que era uma mulher amiga e doce que sabia agradar as
outras pessoas e cuidar delas, principalmente dos homens. Seu lado Yin es-
tava desenvolvido, mas quando se tratava de sua energia Yang, era como
uma criança. Ela diz: "Não conseguia me apegar a um objetivo e levá-lo
adiante. Não havia concluído integralmente os estágios de autonomia neces-
sários para viver no mundo. Mas tinha confiança em minha capacidade de
apoiar os objetivos de um homem e fazer com que sua vida desse certo:'
Quando Diane tinha 48 anos, seu segundo marido a deixou. Seis me-
ses depois, ela conheceu Paul, um homem que preenchia se u senso de
valor e propósito. Encontrou apoio, energia e força que lhe faltavam e se
apaixonou por ele. Cinco anos depois, Paul teve um derrame. Ele perdeu
grande parte de sua capacidade e memória e deixou de ser capaz de rea-
lizar tarefas diárias. Embora tivesse atuado como engenheiro, não sabia
m ais ligar um rádio ou preparar uma xícara de chá. Repentinamente,
Diane teve de assumir a re ponsabilidade pela estrutura da vida de am-
234 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

bos. As qualidades que Paul tinha e que lhes eram necessárias deixaram
de existir, e ela sentiu-se sobrecarregada.
Três anos após seu derrame, Paul teve uma recaída de um câncer de prós-
tata que tinha tido quando mais jovem. O câncer apresentou metástase e ele
precisou se submeter a um tratamento de radiação no quadril para aliviar a
dor. Sua saúde foi ficando debilitada. Por sofrer de um tipo de demência, Paul
algumas vezes ficava bravo, paranóico e perdia a lucidez. Diane percebeu que
se ela ficasse brava com ele por causa de sua raiva, no minuto seguinte ele
podia virar para ela e dizer: "O que terá para o almoço?" Ela diz: "A princípio,
ficava surpresa ao descobrir que ele não havia partido. Continuava aqui~'
Quando Paul ficava paranóico e achava que as pessoas estavam tentando as-
sassiná-lo, Diane explicava que não havia ninguém ou tentava distraí-lo. Ain-
da assim, ele insistia que estavam entrando no apartamento. Um dia, Diane
olhou para ele em um momento desses e percebeu o quanto aquilo o deixava
apavorado: "Quando entendi seu pavor de uma nova forma, surgiu uma força
em mim. Falei para Paul: 'Não há ninguém entrando pela porta. Vou atacá-
los e matá-los. O poder do inferno não passará por aquela porta~" Paul olhou
para ela e disse: "Está bem~' E com isso sua paranóia desapareceu. Diane con-
seguiu usar sua força para fazer com que Paul se sentisse seguro.
Paul faleceu cerca de um ano após o reaparecimento do câncer, alguns
anos após seu derrame, e oito anos depois de ter conhecido Diane. Ela
afirma: "Estou saindo de tudo isso intacta e inteira, com uma sensação de
integridade e vazio, com uma noção maior de quem sou e de vazio ao mes-
mo tempo~' Hoje, aos 56 anos, Diane diz que na jornada para a totalidade
"é importante vivenciar tudo, e colocar à prova nossas crenças e quem so-
mos. E isso leva tempo':

Para muitas de nós, descobrir nosso "eu" pode significar ter de esperar o mo-
mento em que nossa energia Yang aumenta durante a Segunda Primavera.
Nessa hora, somos capazes de usar a experiência e o conhecimento acumula-
dos durante a vida para nos expressarmos com mais autenticidade, renovadas
em um novo estágio de nossa evolução. Dessa forma, podemos sentir que a
Segurida Primavera está nos presenteando com uma nova oportunidade.
SEGUNDA PRIMAVERA 235

O processo do envelhecimento é, realmente, uma jornada em direção à


totalidade, onde todos os aspectos de nosso ser, nosso Jing, ou Essência, Qi
e Shen - os Três Tesouros - são cultivados e equilibrados para, assim, al-
cançarem a harmonia. Na primeira metade de nossa vida, o Jing, a fisicali-
dade de nosso corpo, e o Qi, nossos sentimentos pelos outros e por nós
mesmas, parece m ocupar a maior parte de nossa atenção. Nosso Sangue, no
entanto, para de fluir para o Útero e fica livre para ser enviado ao nosso
Coração. Lá ele nutre o nosso Shen, que é o espírito interior do nosso "eu':
Assi m sendo, podemos sentir desejo de preencher nossas necessidades
maiores e espirituais. Temos a tendência de deixar de lado o material e bus-
car uma satisfação maior e uma qualidade de vida melhor, o universo do
Shen, que é profundamente afetado por nossa mente cognitiva, nossas emo-
ções e pelas experiências acumuladas durante nossa vida. Geralmente, pre-
cisamos dese nvolver maior entendimento de nossa identidade e de quem
somos, e fortalecer a ideia que temos de nosso "eu". As vezes, mergulhamos
em uma busca por significados e propósitos. Por vezes estamos à procura
d e paz, ou talvez de um amor autêntico. O movimento em busca de nossas
necessidades maiores e espirituais é individual. Podemos resolver escrever
a históri a d e nossa vida, mudar de país, livrar-nos de um antigo ressenti-
mento, aprofundar um relacionamento que temos, passar a fazer meditação
ou rezar em grupo, voltar a estudar, fazer trabalhos voluntários, fazer algo
com que se mpre son hamos ou parar de fazer algo que realizamos a vida
toda. Podemos começar a perceber nossa vida com base nos anos que te-
mos pela frente em vez de olhar os anos que fica ram para trás; concentrar-
mo-nos no que queremos fazer no lugar de observar o que já fizemos.
Ha rmonizar o Shen é fazer uma reflexão íntima sob re nossa jornada.
As vezes, é o acúmu lo de experiências de vida que nos leva a uma busca
espiritual. Talvez as mudanças ou perdas que enfrentamos em nossos anos
de menopausa sejam o que nos empurram ou atiram em direção ao que
precisamos espi ritualmente.
Entrei novam ente em contato com o budismo quando estava com qua-
se 40 anos, graças a uma paciente minha, que me ensinou a meditar. Mi-
nha avó era budista e eu me lembro de acompanhá-la com frequência ao
236 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

mercado para comprar peixe vivo para a cerimônia budista de libertação


de peixes e tartarugas. Essa cerimônia é um gesto simbólico através do
qual as pessoas libertam-se de seus próprios desejos. Livres, podem con-
centrar sua mente em ajudar os outros seres humanos e, por fim, atingir
um "despertar': No budismo, o "despertar" é um estado de conhecimento
puro e desqualificado e uma percepção intuitiva através da qual as coisas
são vistas realmente como são. A cerimônia é também uma demonstração
da compaixão de um ser por todas as criaturas vivas. Todos temos a capa-
cidade de alcançar uma consciência maior; assim sendo, não se deve impe-
dir, atrapalhar ou prejudicar os esforços de vida consciente. Ao libertar os
peixes, os budistas manifestam sua compaixão por todos os seres vivos não
apenas no âmbito físico, mas também simbólico.
Depois que minha avó comprava o peixe, íamos até a beira do canal e
ela o soltava na água. Eu observava isso e imaginava como deveria ser ma-
ravilhoso ser um peixe ou pássaro pois eles tinham muita liberdade. Além
dessa cerimônia, as outras lembranças que tenho do budismo na China são
de pessoas indo ao templo e rezando. Ouvia pessoas rezando para ter mais
dinheiro, mais saúde, notas melhores e pensava: "Por que a pessoa não
trabalha mais para conseguir mais dinheiro ou cuida melhor de sua saúde,
ou então estuda mais?" O budismo parecia algo ligado à superstição, e não
era um aspecto ativo de minha vida.
Ter entrado novamente em contato com o budismo no Canadá fez com
que eu redescobrisse e passasse a admirar esse antigo sistema de crenças.
Embora a Medicina Tradicional Chinesa tenha suas raízes no taoísmo, con-
fucion ismo e budismo, não é necessário praticar nem entender essas filoso-
fias e religiões para se purificar da medicina chinesa. O budismo, porém, me
ajudou a entrar em contato com minha espiritualidade e comigo mesma de
uma maneira nova e a ter mais compaixão por mim mesma e pelos outros.
Os sistemas de crenças podem nos fornecer perspectivas e discernimentos à
medida que tentamos encontrar um caminho para satisfazer nossas necessi-
dades espirituais na Segunda Primavera. Conforme seguimos em nossa bus-
ca, eles podem nos ajudar a sentir harmonia e paz, principalmente quando
enfrentamos as mudanças, o estresse, as alegrias e as tristezas de envelhecer.
SEGUNDA PRIMAVERA 237

A transição para a Segunda Primavera é um período repleto de sentimen-


tos, reações e experiências diversas e únicas para cada uma de nós. Podemos
enxergá-lo como uma porta de entrada para a aquisição da sabedoria r~unida
durante nossa vida. Algumas mulheres, porém, podem encarar essa transição
com receio e medo de envelhecer. Outras sentem que finalmente alcançaram
um estado de espírito que lhes coloca no controle de seus relacionamentos,
suas finanças e seu trabalho. Ou podem lamentar o fato de não terem conse-
guido realizar o que acreditavam que teriam conseguido quando chegassem
a essa fase da vida. Podemos ficar tristes com a perda de nossa fertilidade, ou
eufóricas por estarmos livres das preocupações da concepção. Podemos vi-
venciar momentos de incertezas e confusão, questionamentos, "Quem preci-
sará de mim ou me desejará agora?': Ou podemos nos sentir aliviadas ao
perceber que o que os outros pensam de nós não tem mais tanta importância
quanto antes. A forma como encaramos essa etapa da vida depende de nossas
experiências culturais, sociais e pessoais, e cumpre um papel crucial na ma-
neira como aceitamos e vivenciamos essa fase natural da vida.
Nossas atitudes têm tanta influência na forma como passamos por essa
transição quanto nossa bioquímica. Como mulheres, não faz parte de nos-
sa constituição biológica valorizar um determinado formato de corpo, pa-
pel ou idade ideal. Esses valores são definidos culturalmente. A forma
como nossa sociedade e a mídia definem as mulheres mais velhas afetam a
maneira como nós, mulheres em fase de envelhecimento, nos enxergamos.
Dado que nossas percepções moldam nossa emoções, elas afetam nosso
bem-estar do ponto de vista psicológico, fisiológico e espiritual. Dessa for-
ma, é útil estar ciente das definições específicas da nossa cultura sobre a
menopausa e o envelhecimento. Antes de explorar as atitudes ocidentais,
gostaria de compartilhar minhas percepções e meus sentimentos a respei-
to da transição para a Segunda Primavera como uma mulher nascida e
educada na China. As experiências que tive ao percorrer o caminho entre
meus anos reprodutivos e não reprodutivos estão profundamente enraiza-
das em meu histórico cultural e na forma como lidei com elas.
Na cultura chinesa, as pessoas têm uma visão boa da velhice, pois os
idosos são admirados e respeitados. Confúcio (551-479 a.C.) foi o funda-
238 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

dor da ética social e dos ensinamentos morais que afetam profundamente a


vida e o pensamento chinês. Ele ensinou que as pessoas não alcançarão a
paz nem a felicidade se não tratarem os pais como pais, os filhos como fi-
lhos, se não cuidarem dos doentes, se os capacitados não tiverem emprego,
se os jovens não receberem uma educação amparada e se os idosos não ti-
verem uma existência significativa até a morte. Essas condições básicas para
a harmonia baseiam-se no amor e na importância dos relacionamentos.
Uma grande estima pela velhice está embutida nesses ensinamentos
sobre os relacionamentos. Aprendemos que com a idade vem a sabedoria.
Na China, as pessoas geralmente não comemoram seu aniversário até
completarem 60 anos. Essa data é considerada um marco importante, uma
idade da qual as pessoas se orgulham. E é também uma chance de crianças,
familiares e amigos reconhecerem seus idosos e mostrarem respeito e gra-
tidão por tudo o que eles fizeram e doaram durante a vida. Quando mais
idosa a pessoa, mais razões para se comemorar. Os idosos são respeitados
e admirados pela sabedoria coletiva que têm e que agregaram na vida.
Essa perspectiva é muito diferente da do Ocidente, onde a juventude é
reverenciada, e os idosos, marginalizados, estereotipados negativamente
e desconsiderados. Quantas vezes não vemos uma mulher mais velha sendo
mostrada como tola, desmemoriada e desatenta, assexuada ou aposentada?
A ênfase que se dá no Ocidente ao individualismo e à independência talvez
seja um fator que contribui para a desvalorização dos idosos. O desejo de
não perder nossa autossuficiência corre risco à medida que nos tornamos
vulneráveis às fragilidades do envelhecimento, ou conforme perdemos nos-
sa capacidade de nos sustentarmos financeiramente. Se nos tornamo~ de-
pendentes dos outros, deixamos de ser pessoas com capacidade de livce ação.
Enxergamo-nos como fardos, e outros também nos veem assim. Se temos
condições de cuidar de nós mesmos, geralmente o fazemos longe da família,
já que o costume de vários membros de uma família viverem sob o mesmo
teto não faz parte da cultura norte-americana. Viver só, quando idoso, é vis-
to como um sinal positivo de independência. Mas também pode representar
a perda dos relacionamentos íntimos entre o idoso e as pessoas que ele ama,
e maior distanciamento entre ele e as outras pessoas em geral.
SEGUNDA PRIMAVERA 239

Na China, a família é a fonte principal dos cuidados físicos, econômi-


cos e emocionais dos idosos. A responsabilidade de sustentar os familiares
mais velhos é uma tradição e obrigação muito enraizada culturalmente. A
maioria dos idosos vive em lares juntamente com várias gerações e conti-
nua a ter um papel importante na família. Eles têm um lugar de respeito e
sentem-se úteis.
No Ocidente, há uma tendência de se definir o valor segundo nossa ativi-
dade. Estive muitas vezes em várias reuniões sociais onde o assunto inicial
das conversas era quase sempre "O que você faz?': Se somos aposentados ou
não estamos mais no auge de nossa carreira, nossa percepção de valor e im-
portância pode ser afetada. Da mesma maneira, podemos associar nossos
anos "produtivos" com nos a fertilidade. Com os sinais da menopausa, pode-
mos achar que nosso valor quanto à capacidade de procriação está ameaçado
e, com isso, vivenciar um sentimento profundo de "vazio" ou "incompletude':
Podemos achar que não somos mais parte produtiva e importante na socie-
dade. Com o declínio do corpo, ocorre uma mudança negativa das atitudes
diretamente relacionadas a normas culturais e designações distorcidas.
À medida que fui entrando na menopausa, comecei a refletir a respeito de
minhas atitudes com relação ao envelhecimento como uma mulher nascida
na China, que agora vive no Canadá. No Ocidente, somos bombardeadas por
mensagens que enaltecem a atratividade física, a vitalidade e a juventude. São
qualidades aceitas e valorizadas socialmente por definição cultural e sentimo-
nos, muitas vezes, pressionadas a concordar com elas, e nos moldamos literal
e metaforicamente para nos encaixarmos nesses ideais. À medida que enve-
lhecemos, torna-se cada vez mais difícil atender aos padrões adotados e refe-
renciados no Ocidente, e isso pode afetar a forma como nos sentimos e o
valor que damos a nós mesmas. Como mencionei na Segunda Parte, em
'i\gua Celestial': houve um tempo em que eu era muito mais vulnerável a es-
sas mensagens, no entanto, conforme fui envelhecendo, passei a me sentir
mais segura com relação a quem sou e me aceito melhor. Isso não quer dizer
que adoro os fios de cabelo branco, as rugas faciais, a perda de memória ou os
óculos para ler, e sim que encaro todos esses aspectos como algo natural na
evolução da vida, do nascimento à morte.
240 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

Podemos ter dificuldade em aceitar as inevitabilidades e os aspectos


desconhecidos do envelhecimento e das mudanças que ele traz. Podemos
achar que estamos perdendo nossa atratividade sexual e beleza. Medo e
preocupação podem surgir conforme aparecem as rugas, nossa pele fica
flácida, nossa cintura menos definida, ou quando surgem as manchas da
idade. Talvez relacionemos a autoestima com o significado que nos ensina-
ram de uma mulher desejável sexualmente ou participante integral da so-
ciedade. Nossas atitudes com relação à transição para a Segunda Primavera
podem causar sofrimento e dor em nosso corpo, já que nossos pensamen-
tos e sentimentos exercem uma influência energética tanto em nossa psique
quanto em nosso soma. Antes da manifestação de qualquer mudança fisio-
lógica ou física significativa, ocorre uma mudança energética. Essa trans-
formação pode ser causada por preocupações e sentimentos excessivos e
inadequados de tristeza, medo ou raiva do processo de envelhecimento.
Durante muito tempo, podemos não ter uma válvula de escape para expres-
sar nossas emoções. Podemos passar por situações em que nos sentimos
inúteis ou isoladas em nossa capacidade de mudar o que sentimos. Pode-
mos sentir um medo que nos deixa paralisadas e que não permite que nos
familiarizemos com nossas emoções ou, então, não perceber o que nos dei-
xa aflitas. Com o funcionamento normal e saudável de nosso corpo/mente,
o sofrimento emocional contínuo acaba se esvaindo.

MUDANÇA E IMPERMANÊNCIA

Crescemos e envelhecemos. Estamos em processo constante de mudanças.


Mudamos a todo instante. Não somos a mesma pessoa que éramos há um
segundo. Células dividiram-se e morreram, vimos algo novo, percebemos
uma nova perspectiva, tivemos uma nova ideia, ouvimos um som desco-
nhecido ou vivenciamos um sentimento. Não temos o mesmo conteúdo
mental, a mesma substância celular ou energia que tínhamos momentos
atrás. Cada momento vem e em seguida se vai, e então surge o próximo.
Não somos iguais ao que éramos quando jovens. Da mesma forma,
quando jovens, não éramos iguais a quando éramos crianças, e não seremos
SEGUNDA PRIMAVERA 241

a mesma pessoa quando formos mais idosas. Nossa vida é um processo de


transformação contínua. E é a esse processo de mudanças que tanto resisti-
mos. O movimento natural que ocorre durante a vida é inevitável e, ainda
assim, difícil de aceitar. Queremos de volta o que passou ou desejamos o
que não temos. Podemos pensar no passado e ficar felizes ou tristes e visua-
lizar o futuro como algo prazeroso ou amedrontador. Nossa vida passa e
vivemos em um estado de desejos, de querer, de medo ou arrependimento.
Nossa capacidade de aceitar a natureza impermanente da existência e viver
o momento presente traz alívio para nosso sofrimento. Trata-se de perceber
que o que dizemos, fazemos ou pensamos no momento presente faz com que
entremos em contato com nossa natureza autêntica.
A impermanência pode parecer tão óbvia para nós que temos a ten-
dência de esquecê-la. Você pode estar pensando é claro que sei que ases-
tações mudam e que o dia vira noite. Nós podemos aceitar isso. É tão óbvio
que acabamos não prestando atenção à impermanência. É ainda mais difí-
cil aceitar a impermanência de nosso corpo. Talvez porque não tenhamos
uma visão objetiva e distante da impermanência. É nossa experiência sub-
jetiva de impermanência em um nível íntimo muito profundo. Nesse caso,
nosso ego pode ser prejudicado. Estamos envelhecendo, sentimos mais
dores, temos mais rugas, menos energia. Gostamos de negar nossa idade e,
logicamente, a negação definitiva da idade é a negação da morte.
Seria útil perceber que resistir à impermanência de nossa vida, da de
outras pessoas e das coisas que nos cercam é o que nos causa mais dor?
Podemos perceber que a forma como nos prendemos à nossa juventude ou
à saúde que tínhamos aos 20 anos está nos causando um grande sofrimen-
to mental? Talvez possamos começar a aceitar as mudanças que acontece-
rão, quer as acompanhemos ou não.

LEAH

Leah diz que envelhecer é "como areia escorregando pelos dedos". O tempo
passa rápido. "Tenho a sensação de que nunca tenho tempo para o que
precisa ser feito:' Leah tem 52 anos, diz que está "ficando velha e que isso é
242 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

horrível". Em seu aniversário de 50 anos, passou o dia todo chorando.


Conforme chegavam flores e cartões, ela caía no choro. Ela lembra de seus
quarenta e poucos anos como os melhores de sua vida: casou novamente,
sua filha formou -se na universidade e sua mãe ainda estava viva.
Hoje, ela resume a imagem que tem do futuro da seguinte forma: "Ima-
gine que você está no topo de uma montanha, usando esquis, e não há
mais para onde subir, só descer:' Sente que está cada vez mais perto de ter
uma doença cardíaca ou diabetes, e que tem de fazer todo o possível para
lutar contra a perspectiva de envelhecer. Faz exercícios para manter a for-
ma e lê para entender o que a espera pela frente. Mas não tem como igno-
rar a perda de memória, a falta de energia ou as irritações que surgem. Diz:
"Vez ou outra, me dá um branco. É como se o computador estivesse lotado
e não houvesse mais espaço no disco:' Está descobrindo que não consegue
mais trabalhar em período integral, fazer as compras, limpar a casa e pre-
parar as refeições como costumava fazer.
Leah fica irritada e diz a seu marido: "Deixe-me ficar sozinha quando
estou de mau humor..Não entenda isso como algo pessoal:' Ela reconhece os
sentimentos que tem em relação às mudanças que estão ocorrendo à medida
que envelhece, e não tem medo nem vergonha de expressá-los; não quer ser
vista como rabugenta. Ao respeitar seus sentimentos, também consegue con-
centrar-se nos aspectos positivos de sua vida. Está relativamente satisfeita
com seu trabalho e com sua família, e tem um segundo marido maravilhoso.
Diz que se tivesse apenas mais um ano de vida pararia de trabalhar e se esfor-
çaria para ver os amigos e familiares com mais frequência. Sabe que as pes-
soas que fazem parte de sua vida não vão estar com ela por muito tempo,
principalmente os amigos mais velhos. ''As vezes, olho meu marido deitado
no sofá e penso que um dia ele poderá não estar mais lá e, com isso, sinto um
carinho ainda maior por ele': diz. "Digo a ele que o amo. Faço isso com minha
filha e com os bons amigos, e sempre os abraço. Tento aproveitar o tempo que
tenho com eles da melhor forma e, com isso, sinto-me melhor:'

Leah está fazendo seu presente valer a pena estando em contato com sua
família e com seus amigos. Ela tem conseguido transformar sua resistência
SEGUNDA PRIMAVERA 243

ao processo de envelhecimento em atos de amor. A capacidade de ver a


impermanência da vida traz mais valor àquilo pelo qual temos carinho. No
caso de Leah, reconhecer a qualidade transitória da vida tem feito com que
ela expresse o amor e a gratidão que sente pelas pessoas que ama. Não es-
pera uma ocasião especial; ela diz a essas pessoas que os ama naquele mo-
mento. Q uando percebemos a impermanência de todas as coisas, não nos
sentimos sobrecarregadas e debilitadas. Ao contrário, mantemos a calma e
a paz conforme enfrentamos os altos e baixos da vida.
Buscamos o permanente, pois apreciamos e desejamos as certezas.
Se algo se mantém como está e não muda, sentimo-nos reconfortadas.
Mas, infelizmente, buscamos as certezas na natureza impermanente da
existência. Trata-se de um propósito fadado ao fracasso e que nos traz
insati fação, sofrimento e dor. Aceitar a impermanência não é, na ver-
dade, o mesmo que ser pessimista e achar que, independentemente de
nossa vontade, tudo acabará. Quando pensamos assim, estamos predes-
tinadas à infelicidade. Como o Yin e o Yang, não há apenas um aspecto
de impermanência, e sim dois. A impermanência oferece novas possibi-
lidades. Se nada muda, ficamos presas ao que temos e às coisas de que
não gostamos na vida. Se nada mudasse, não teríamos a chance de con-
seguir o que não temos e desejamos. A impermanência faz com que
nossa saúde, felicidade ou o que quer que desejemos torne-se uma pos-
sibilidade. Há chances de cura e crescimento.
Na Segunda Primavera, aceitar a natureza impermanente da vida nos
aj uda a atingir a plenitude da existência. Quando percebemos que estamos
resistindo à Segunda Primavera, o que podemos fazer para nos ajudar a
enfrentar essa transição inevitável sem dificuldades e com compaixão?
Que medidas podemos tomar para nos capacitarmos?
Nossas emoções fortes são como sinais de alerta. Assim como nossos
sintomas físicos, elas nos dão indícios de que estamos vivenciando algo
significativo e importante. A insegurança que sentimos por ter de enfren-
tar as incertezas que a Segunda Primavera pode nos trazer nos níveis físi-
co, emocional e espiritual é geralmente a parte mais difícil de nossa jornada.
As palavras do poeta T. S. Eliot vêm à minha mente:
244 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

Para chegares ao que não sabes


Deves seguir por um caminho que é o caminho da ignorância.
Para possuíres o que não possuís
Deves seguir pelo caminho do despojamento.
Para chegares ao que não és
Deves cruzar pelo caminho em que não és.
E o que não sabes é apenas o que sabes
E o que possuis é o que não possuís
E onde estás é onde não estás.

A aparente contradição no poema de Eliot é a essência pura do conceito


Yin e Yang e um recado para acolhermos tudo, inclusive o desconhecido.
Buscar o conhecimento pode nos fazer tomar atitudes e chegar a conclu-
sões. Mas não devemos forçar os acontecimentos porque estamos com
medo. Quando agimos assim, perpetuamos o que realmente sabemos e não
damos espaço para que algo novo se desenvolva ou surja.
Para mim, o belo poema de Eliot diz que devemos começar de onde
estamos. Para alcançar um estágio de aceitação e serenidade à medida que
envelhecemos, o poema sugere que devemos seguir pelo caminho que esta-
mos trilhando neste momento. Tristeza e medo podem surgir, ou podemos
sentir alívio e entusiasmo. Para seguir adiante nesse território desconheci-
do, não é preciso tentar eliminar os sentimentos. Quando sentimos dor ou
estamos sofrendo, nossos sentimentos nos passam informações importan-
tes. Nossas emoções fortes carregam sementes de energia positiva. A fonte
de nossos anos pacíficos de velhice será descoberta nas dificuldades de nos-
sa transição. As raízes de nossas dificuldades são o alicerce de nossa com-
paixão, a qual nos acompanhará pelo resto da vida.
O que estamos sentindo hoje? O que queremos talvez seja a beleza, a saúde
ou a vitalidade de nossos anos de juventude. Talvez seja visibilidade ou inde-
pendência. Podemos sentir raiva das mudanças em nosso estado, de nossa
memória falha, da perda de energia, dos seios caídos, ou de qualquer uma das
inúmeras mudanças que possam estar ocorrendo. A raiva é uma emoção im-
portante relacionada ao movimento livre de energia em uma mulher. A forma
SEGUNDA PRIMAVERA 245

como lidamos com nossos sentimentos de raiva é importantíssima para o flu-


xo suave de Qi e Sangue e uma maneira de ajudar nosso Fígado e nossos Rins.
Lidar com a raiva ajuda na transição para a Segunda Primavera, nos leva a
aceitar as mudanças que enfrentaremos no futuro e nos prepara para isso.
Estou enfatizando a raiva porque tenho percebido que, no Ocidente, as
mulheres têm dificuldade em expressá-la. Sem dúvida, é mais aceitável que
elas demonstrem sentimentos considerados fracos do ponto de vista cultural,
como tristeza, medo ou decepção, enquanto os homens são educados para
usar a raiva para transmitir essas mesmas emoções. As mulheres de que tratei
achavam a raiva uma emoção negativa ou "ruim': uma visão que traduz as
atitudes culturais internalizadas nelas. Muitas mulheres guardam sua raiva e,
com isso, ficam depressivas. A depressão é, por vezes, descrita como "a raiva
voltada para dentro': As pessoas que estão depressivas geralmente alternam
sentimentos de raiva de si mesmas e sentimentos de raiva dos outros.
Já que as emoções são expressões de Q i, por si só não são boas nem
ruins. Na verdade, sentir raiva por ser tratada injustamente pode ser um
sinal que estamos nos valorizando e nos respeitando mais. A forma como
julgamos nossos sentimentos ou lançamos mão deles é o que prejudica a
livre expressão de nossas emoções. Podemos ter medo de demonstrar nos-
sa raiva por receio de sofrer rejeição ou abandono. Acabamos reprimindo
nossos sentimentos e comportamentos e internalizando a raiva, o que pode
nos fazer sentir impotentes, inúteis, desvalorizadas e infelizes.
Para lidar com nossa raiva precisamos, primeiramente, entrar em con-
tato com nossas emoções, ou seja, saber que estamos com raiva. Uma for-
ma é prestar atenção ao que sentimos em nosso corpo. Podemos nos
concentrar em nosso estado físico já que ele está intimamente relacionado
às nossas emoções. Não estou falando de ter consciência de nosso corpo da
forma como normalmente fazemos. Não se trata de observar os resultados
que os produtos hidratantes que usamos trouxeram às áreas ressecadas da
nossa pele, ou como ficamos depois de perder dois quilos ou tonificar os
músculos. Trata-se de sentir o corpo de maneira a oferecer percepções
para nossos estados emocionais. Que parte de meu corpo está tensa? Que
parte de m eu corpo está contraída? Examinar nosso corpo ajuda-nos a
246 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚIJE DA MULHER

perceber onde estamos guardando nossas emoções, e nos faz entrar em


contato com questões das quais estamos desligadas.

MEDITAÇÃO DE OBSERVAÇÃO DO CORPO

Quando examinamos nosso corpo em detalhes, passamos a ter consciên-


cia do que estamos sentindo, damos atenção a esse sentimento e em segui-
da nos libertamos dele. À medida que nos tornamos conscientes das
sensações em nosso corpo e dos sentimentos e pensamentos relacionados
a elas, temos mais condições de enfrentar o que quer que estejamos viven-
ciando no momento presente. Tente observar seu corpo lentamente, du-
rante pelo menos dez minutos - trinta minutos seria o ideal. Peça para
alguém ler as instruções a seguir para você, lentamente, ou grave-as e ou-
ça-as enquanto realiza sua meditação.

Sente-se ou deite-se silenciosamente e comece a entrar em contato com a


maneira como se sente. Feche os olhos e respire profundamente. Observe
sua inspiração e expiração. Sinta que partes de seu corpo tocam a cama, a
cadeira ou o piso. Continue a respi rar profundame nte. Traga agora sua
consciência para seu corpo. Dedique tempo para observar e perceber
como cada parte de seu corpo se sente. Comece com os dedos do pé direi-
to. Você consegue sentir os dedos? Observe quais sensações estão prese n-
tes. Você sente ~ensão, pressão, incômodo, desconforto ou dor, ou
sensações de calma e relaxamento? Direcione, lentamente, sua atenção
dos pés para o tornozelo. Flexione o tornozelo caso não esteja conseguin -
do senti -lo. Observe como ele se sente. Sua mente está pensando, fugindo
de seu corpo? Perceba calmamente onde ela está e traga sua consciência
novamente para a respiração. Lentamente, sinta a porção mais acima de
sua perna direita, da panturrilha até o joelho.
Agora preste atenção em suas coxas e depois no quadril. Lembre-se
de observar as sensações ou sentimentos sutis. Se há uma sensação de
desconforto, fique com ela. Visualize esse desconforto saindo do se u cor-
po. Você sente dores em diferentes regiões do corpo? Testemunhe a sen-
SEGUNDA PRIMAVERA 247

sação, e tente não se envolver com a "história" relacionada a tal sensação.


Se notar que sua atenção está se distanciando de seu corpo, simplesmen-
te observe que você está pensando em outra coisa e traga novamente sua
consciência para o seu corpo.
A princípio você poderá não vivenciar muitas sensações, principal-
mente se não estiver intimamente em contato com seus sentimentos. Mas
seu corpo revelará onde suas emoções estão armazenadas. Você sente um
peso no peito ou uma sensação de nervoso no estômago? Se estiver notan-
do sentimentos ou sensações desconfortáveis, observe como são. Não ten-
te mudar o sentimento. Tente testemunhá-lo até que ele mude. Se você
conseguir ficar com esse sentimento tempo suficiente, ele se movimentará.
Permita que o sentimento e a energia se movimentem; não deixe que seus
pensamentos os bloqueiem. A mudança pode ser sutil, mas acontecerá.
Fique com o sentimento, observe as sensações que ele traz para seu corpo.
Quando perceber a mudança, observe a diferença na sensação e visualize
o desconforto, a dor ou a tensão partindo.
Preste atenção agora nos dedos do pé esquerdo. Suba lentamente
para o tornozelo, a panturrilha e o joelho. Sinta sua coxa e, em segui-
da, seu q uadril. Que sensação você percebe agora no quadril? Ele está
mais relaxado do quando você começou a se conscientizar dele? Seu
qua d ril está em contato com o chão? Suas nádegas tocam a cadeira?
Que sensação você percebe em sua lombar? Se estiver se sentindo
desconfortável ou ansiosa, traga seus pensamentos para onde seu cor-
po toca o chão, a cama ou a cadeira, respire várias vezes e, em segui-
da, prossiga com a observação. Continue respirando, inspirando e
expirando profundamente.
Preste atenção agora em sua barriga e suba para o peito e para as costas.
Observe quaisquer sensações doloridas e fique com elas até que se transfor-
mem. Perceba tudo do ponto de vista de observadora; tente relaxar o máxi-
mo possível e se desligar das mensagens que tenha internalizado relacionadas
a esse sentimento. Acredite que haverá uma mudança na sensação. Observe
a mudança e visualize a dor partindo. Você sente seus ombros tocando o
chão ou encostados na cadeira? Estão contraídos ou relaxados? Observe
248 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

agora seu pescoço e sua cabeça. Repare nas características de sua cabeça.
Você está pensando e saindo de seu corpo? Respire profundamente, observe
o que sua mente estava pensando e volte para seu corpo. Sinta, lentamente,
ouvidos, olhos, nariz, língua e boca. Que sensação você tem nos olhos? Você
consegue sentir o ar entrando e saindo pelas narinas? Você está pressionan-
do os dentes? Qual a posição de sua língua? Preste atenção ao topo de sua
cabeça. Continue respirando profundamente. Agora, conscientize-se de
todo o seu corpo. Como ele se sente? Você está pensando ou está concentra-
da nas sensações e nos sentimentos em seu corpo? Observe onde sua mente
está. Volte então, vagarosamente, para o local onde se encontra. Sinta-se to-
cando a cadeira, a cama ou o chão. Inspire profundamente e, quando estiver
pronta, abra os olhos.

Essa meditação de observação do corpo ajuda-nos a perceber que corpo e


mente não estão separados. Ajuda-nos a descrever as sensações e os sentimen-
tos em nosso corpo físico e estar em contato com nossas emoções. Auxilia-
nos a desenvolver nossa capacidade de entrar em contato com pensamentos,
crenças e emoções que direcionam nossas experiências. Com essa cons-
cientização, sabemos que tudo, inclusive nossas sensações e sentimentos
agradáveis e desagradáveis, mudará.
Quando entramos em contato com nossa raiva, conseguimos fazer
opções conscientes e saudáveis sobre a forma como queremos ou não
queremos expressar esse sentimento. Muitas vezes, não sabemos como
expressar nossa raiva de maneira assertiva. Expressá-la é saudável se con-
seguimos atender às nossas necessidades sem machucar os outros ou per-
der o respeito que temos por nós mesmas. Quase sempre, não temos um
modelo para resolver os conflitos. Quando isso acontece, acabamos ob-
servando as falhas dos outros, fazendo comentários sarcásticos, sendo
indiretamente vingativas, recusamo-nos a enfrentar os problemas, guar-
damos motivos para comportamentos negativos ou adotamos, de forma
geral, uma postura pessimista.
Pense na história da jovem que vivia mal-humorada. Sua mãe lhe deu
uma caixa com pregos e disse para ela pregar um em uma cerca todas as
SEGUNDA PRIMAVERA 249

vezes que ficasse brava. No primeiro dia, a garota havia martelado 34 pre-
gos na cerca. Com o passar do tempo, porém, o número deles foi dimi-
nuindo cada vez mais. Ela começou a perceber que era mais fácil não ficar
brava do que martelar os pregos. Depois de algum tempo, houve um dia
em que a garota não ficou brava nenhuma vez. Procurou a mãe e deu -lhe a
boa notícia. Sua mãe sugeriu, então, que ela tirasse um prego da cerca para
cada dia que não perdesse o controle. Passado bastante tempo, a garota
disse à mãe, orgulhosa, que havia retirado todos os pregos. Sua mãe pegou
a mão da filha e conduziu-a até a cerca. "Querida, você trabalhou muito
bem com seu temperamento, mas olhe esta cerca, olhe os buracos. Suas
palavras de raiva podem machucar as outras pessoas e não haverá 'descul-
pe' que apague isso. As cicatrizes continuarão lá."
Todos temos feridas de raiva - os resíduos da raiva que expressamos
e as cicatrizes de ressentimentos de raiva que outras pessoas deixaram em
nós. Esses resíduos e cicatrizes nos acompanham durante muito tempo.
Como expressões inconscientes, elas podem determinar quem somos.
Aprender a expressar nossa raiva de uma forma que nos possibilite cres-
cer e ter respeito por nós mesmas e pelos outros permite que nossas emo-
ções se movimentem, não fiquem presas e evita que nos tornemos vítimas
delas mais tarde. Quando sentimos raiva, podemos tentar sentar em si-
lêncio durante dez minutos e observar o que está acontecendo em nossa
mente, sem reprimir nossos sentimentos. Não identifique a emoção como
"boa" ou "ruim" ou a rejeite. Reflita a seu respeito e procure entender por
que você está se sentindo assim. São as atitudes de outra pessoa que estão
me deixando com raiva ou sou eu mesma a responsável por estar me sen-
tindo assim? Como grande parte da raiva é fruto do medo, estou com
medo de quê? Examinar a raiva para entender sua origem pode levar a
novas perspectivas e descobertas e nos ajudar a entrar em contato com
sentimentos enraizados e profundos. Ter ciência dos sentimentos leva a
escolhas conscientes e nos liberta de antigos padrões de comportamento.
Isso faz com que sigamos adiante e nos ajuda a ter uma transição tranqui-
la para a Segunda Primavera.
250 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

PERDÃO

Nos anos de menopausa, e após, muitas mulheres fazem de tudo para se


transformarem no que elas acreditam que deveriam ser. É um movimento
consciente em busca da integridade. Acredito que, independentemente do
que venhamos a perceber, descobriremos respeito, amor, compaixão e per-
dão não apenas por nós mesmas, mas também pelas outras pessoas. Quero
me concentrar no perdão pois, quando perdoamos, somos capazes de curar
ressentimentos e raivas, sentimentos que têm grande peso na saúde femi-
nina. O perdão é uma transformação que nos liberta dos ressentimentos. É
uma forma importante de cura nos níveis do Qi e Shen.
Perdoar é difícil, pois nosso ego luta para estar certo ou exige justiça
e retaliação. Às vezes, achamos que se perdoarmos alguém estaremos va-
lidando o comportamento desse indivíduo. É fundamental separar esses
dois conceitos. Quando perdoamos, não estamos absolvendo o outro.
Estamos nos distanciando do poder que a pessoa ou atitude tem sobre
nós, e dando um passo para nos libertarmos do apego que temos por um
determinado sofrimento.
O perdão não é algo que se possa fazer forçadamente. Ele surge quan-
do deixamos o passado para trás. Rendemo-nos ao controle que nosso ego
exerce sobre nós e deixamos de ser controladas por atitudes passadas. O
perdão não é um esforço; envolve abrir o coração. Acontece quando temos
a percepção de que optamos por não nos identificarmos com tal ressenti-
mento. Conseguimos ver as outras pessoas além da ferida que elas nos
causaram e, dessa forma, deixar esse sentimento para trás e chegar a um
ponto onde há uma cura maior e mais profunda.
Indiscutivelmente, o perdão é mais difícil no Ocidente, onde nós temos
defendido o individualismo mais do que a interconectividade e os relacio-
namentos. Um relacionamento tem de levar em conta aquilo que eu, como
indivíduo, necessito. Da mesma forma, aprendemos a pensar em termos de
dualidade: certo ou errado, bom ou ruim, eu e você, problema e solução.
Esse tipo de pensamento gera julgamentos e comparações. O que podemos
fazer para equilibrar essa visão? Essa é a lição do Yin e Yang, que diz que
SEGUNDA PRIMAVERA 251

podemos viver em um ambiente de interconectividade tanto quanto nossos


egos são distintos. Quando pensamos: "Estamos todos no mesmo barco':
nossos julgamentos desaparecem. Não precisamos mais nos prender aos
julgamentos que fazemos dos outros com base em suas atitudes. Não somos
diferentes das outras pessoas. Esse movimento de ver um antigo ressenti-
mento de um novo ponto de vista nos traz para o presente e, com isso, dei-
xamos nossas feridas para trás e nos libertamos desse apego.
Quando penso em perdão, o que me vem à mente são atos que fazem
com que eu deixe ressentimentos, responsabilidades e culpas para trás e
aceite a outra pessoa mesmo que não concorde com suas atitudes, seus
sentimentos ou sua forma de pensar. Libertar-se de crenças e sentimentos
é geralmente muito difícil. Identificamo-nos com um ponto de vista e
achamos mais fácil mantê-lo a sermos menos críticos e abrir o coração. O
perdão não se trata de descobrir se estou certa ou de condenar o outro
porque ele está errado. Trata-se de perceber ao que estamos presas e de não
querer mais carregar o fardo da raiva ou do rancor.
Pense na parábola a seguir: certa vez, havia um governante que achava
que se tivesse as respostas para três perguntas teria certeza de que estaria
agindo da maneira correta, independentemente das circunstâncias. As três
perguntas eram:

1. Qual é o melhor momento para se fazer as coisas?


2. Quem são as pessoas mais importantes?
3. O que é mais importante?

Ele enviou as três perguntas para todos os cantos do país e pediu que seus
súditos as respondessem. Se ficasse satisfeito com as respostas, ofereceria à
pessoa uma recompensa generosa.
Como nenhuma resposta foi satisfatória, resolveu que ele mesmo iria
encontrá-las. Decidiu conversar com um velho mestre que vivia no topo
de uma montanha. Quando chegou ao topo, fez as três perguntas ao mes-
tre, que estava trabalhando em seu jardim. O mestre ouviu atentamente
as perguntas e voltou a cavar, sem dizer uma palavra. O governante ob-
252 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

servou o idoso e pensou: esse homem parece muito cansado, e disse:


"Deixe-me trabalhar cavando um pouco. Vá descansar." E, então, o go-
vernante pôs-se a cavar e o mestre descansou. Depois de várias horas, o
governante largou a pá e disse ao mestre: "Se você não quer responder
às minhas perguntas, vou-me embora."
Naquele momento, o mestre perguntou: "Você ouviu algo?': olhando
em direção à florest a. Repentinamente, surgiu um homem vindo da mata,
cambaleando e com a mão na barriga. O mestre e o governante correram
em sua direção e viram -no despencar no chão. Ao verem sangue em sua
camisa, rasgaram -na. Havia um corte profundo. O governante limpou o
fe rimento e usou sua camisa como bandagem. O homem abriu os olhos e
pediu que lhe dessem algo para beber. O governante correu até o rio mais
próximo e trouxe água para o homem, que a tomou apressadamente e en-
tão deitou -se e adormeceu. O mestre e o governante carregaram o homem
até a cabana e colocaram -no na cama. Nesse momento, o governante esta-
va tão cansado que também adormeceu.
Na manhã seguinte, quando acordou, o homem ferido estava de pé,
olhando fixa e atentamente para ele. "Perdão': disse. O governante sentou-
se: "Perdoá-lo? Perdoá-lo por quê?" O homem respondeu: "Nunca nos en-
contramos, mas achei que você fosse meu inimigo. Na última guerra, você
matou meu irmão e confiscou a propriedade de minha família. Jurei me
vingar em nome de minha família. Jurei que o mataria. Ontem, estava
aguardando na floresta o momento em que você retornaria e desceria a
montanha para que pudesse, finalmente, me vingar. Esperei durante muito
tempo, e como você não apareceu, decidi procurá-lo. Mas seus guardas me
viram e, ao perceberem quem eu era, atacaram-me e me machucaram des-
ta forma. Eu consegui fugir, mas se você não tivesse cuidado de mim, teria
morrido. Pretendia matá-lo, mas você salvou minha vida. Sinto-me enver-
gonhado e muito grato. Você me perdoaria?"
O governante ficou estarrecido: "É bom saber que seu ódio passou.
Ouvindo sua história, sinto muito pela dor que causei a você e à sua famí-
lia. A guerra é horrível. Perdoo e devolvo-lhe suas terras. Sejamos amigos
de agora em diante:' O governante pediu então aos guardas que levassem
SEGUNDA PRIMAVERA 253

o homem para casa, em segurança. Em seguida, disse ao mestre: "Tenho de


partir e descer a montanha. Continuarei a procurar as respostas para mi-
nhas perguntas. Talvez, um dia, as encontre. Adeus."
O mestre sorriu e respondeu: "Majestade, suas perguntas foram
respondidas."
"Como assim?': perguntou o governante, surpreso.
O mestre explicou: "Se você não tivesse me ajudado com o jardim ontem,
não teria se atrasado e poderia ter sofrido urna emboscada enquanto voltava
para casa. Assim sendo, a hora mais importante para você foi a hora que pas-
sou cavando meu jardim. E a pessoa mais importante fui eu, a pessoa que
estava com você, e a coisa mais importante foi simplesmente me ajudar. De-
pois, quando o homem ferido chegou, a hora mais importante foi a que você
passou cuidando dele, caso contrário, ele teria morrido, e a chance de perdão
e amizade teria sido perdida. Ele foi a pessoa mais importante naquele mo-
mento, e a coisa mais importante que você fez foi tratar de seu ferimento. Não
há nada além do momento presente. A pessoa mais importante é aquela que
está com você. E a coisa mais importante a se fazer é sempre fazer a pessoa
que está ao seu lado feliz. O que poderia ser mais simples e mais importante?"
O governante cumprimentou o mestre com gratidão e partiu em paz.
Essa parábola ensina que é nossa busca pela verdade e nossas respostas
compassivas diante do sofrimento que revelarão insights e nos trarão o
perdão. Como podemos abrir nosso coração? Como deixamos o passado
para trás, chegamos ao momento presente e começamos do nada? Esse é o
desafio que temos de enfrentar e a atitude que devemos tomar.

M EDITAÇÃO SOBRE O PERDÃO

Para realizar essa prática que o budismo oferece sente-se confortavelmente


e feche os olhos. Permita que sua respiração flua naturalmente. Relaxe seu
corpo e sua mente. Respire profundamente várias vezes e pense em alguém
que tenha lhe machucado, causado dor, seja de forma consciente ou não.
Inspire a partir do coração e diga: "Pensamentos, palavras e atitudes de
outras pessoas já me feriram de várias formas. Outras pessoas me feriram
254 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

e me machucaram, de inúmeras maneiras. Traíram-me, me abandonaram


e me causaram dor, consciente ou inconscientemente, por causa de sua
própria raiva, dor ou confusão. Reconheço isso neste momento. E farei o
máximo possível para oferecer meu perdão. Farei tudo o que estiver ao
meu alcance para me libertar de meu ressentimento e raiva. Guardarei es-
sas pessoas em meu coração:' Delicadamente, dê seu perdão. Não se force.
Você pode ainda se sentir ressentida e machucada. Reconheça que está se
prendendo a esses ressentimentos. Aceite esses sentimentos e continue a
praticar a meditação. Lembre-se de que não se trata de analisar o que os
outros fizeram para você. Trata-se de libertar seu ressentimento, sua dor,
sua tristeza e seu medo e de ver a pessoa em sua condição de ser humano,
em sua imperfeição. Abra seu coração para ela e, assim, abra também seu
coração para você mesma.
Agora permita-se lembrar e visualizar como você feriu outras pessoas.
Respire profundamente e repita: "Meus pensamentos, minhas palavras e
atitudes já feriram outras pessoas de várias formas. Já feri e machuquei
outras pessoas de inúmeras maneiras. Traí e abandonei outras pessoas, e
causei-lhes dor, consciente ou inconscientemente, por causa de minha
própria raiva, dor ou confusão. Reconheço isso neste momento. Peço que
os outros me perdoem. Que eu seja perdoada." Pedimos o perdão, não um
perdão manchado de culpa, mas um perdão que se baseia na consciência
de que não somos perfeitos. Tentamos nos libertar da autocrítica. Abran-
damos nosso coração e pedimos perdão a fim de libertar tudo o que existe
entre nós e as outras pessoas.
Por fim, oferecemos perdão a nós mesmas. Somente quando somos
capazes de oferecer um amor verdadeiro a nós mesmas é que conseguimos
receber o amor dos outros. Conseguimos reconhecer que temos defeitos,
mas que somos alguém além de nossos defeitos? Conseguimos reconhecer
que nem sempre fazemos tudo com perfeição, mas que fazemos o melhor
possível? Respirando profundamente, repita: "Meus pensamentos, minhas
palavras e atitudes já me feriram de várias maneiras. Já me fe ri e me ma-
chuquei de formas infinitas. Traí e abandonei eu mesma, e causei dor a
mim mesma, consciente ou inconscientemente, por causa de minha pró-
SEGUNDA PRIMAVERA 255

pria raiva, dor e confusão. Reconheço isso neste momento. Ofereço o per-
dão a mim mesma. Que eu seja perdoada:' Inspire amor e perdão para
dentro de seu coração e sinta o poder da cura de oferecer isso a si mesma.
Por vezes, achamos que o perdão está além de nossa capacidade. Não
conseguimos perdoar. No entanto, esse processo transformador é crucial
para nossa cura espiritual. Quando nos desprendemos de nosso ego, con-
seguimos alcançar integridade e vitalidade em todas as áreas de nosso ser.
A outra pessoa não precisa aceitar nosso perdão, nem precisamos que nos
perdoem pelo que fizemos. O perdão exige apenas envolvimento. Ele li-
berta nosso coração e põe fim ao ciclo de dor e ressentimento. Ele cria
uma ligação e um relacionamento. É um ato de aceitação compassiva de
nós mesmas e dos outros.

VIVENCIANDO A ACEITAÇÃO

Minha jornada em busca de minha própria aceitação está profundamente


enraizada em meu relacionamento com minha avó. Ela cuidou de mim dos
2 aos 6 anos, pois o governo comunista mandou meu pai trabalhar em
outra cidade e minha mãe para uma fazenda de reeducação. Quando eu
tinha 3 anos, minha avó me matriculou no jardim da infância. Lembro-me
dela me leva ndo para a escola no primeiro dia, antes de ir trabalhar. Quan-
do percebi que ela me deixaria lá, comecei a chorar e implorar para que
ficasse comigo. Em meio ao desespero de segurá-la, mordi sua mão e segu-
rei -a com toda a força que tinha. As professoras começaram a gritar, mas
eu não a soltava. Arranhei sua mão a ponto de sangrar. Comecei a soluçar
desesperadamente. Minha avó dizia para as professoras: "Não a deixem
apavorada, ela quer ficar comigo. Tudo bem:' Antes de partir, disse: "Não a
machuquem, volto logo:'
A mordida que dei em sua mão foi tão forte que minha avó teve de ir
ao hospital e acabou levando 12 pontos! Quando voltou para a escola para
me pegar, sorriu e contou que o pessoal de seu trabalho havia lhe dito para
ficar em casa por causa do machucado. "Não vou trabalhar nos próximos
três dias, então vamos ficar em casa juntas!", contou.
256 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

Minha avó entendeu o pavor de uma garota de 3 anos. Aceitava-me in-


condicionalmente. A impressão que tenho é que, independentemente do
que eu fizesse, ela sempre me respondia com carinho e preocupava-se com
meu bem-estar. Lembro-me de outra ocasião, em que fui extremamente le-
vada. No final da década de 1950, uma pessoa em Kunming que tivesse um
suéter de tricô tinha muita sorte. Minha avó tinha em seu armário uma des-
sas malhas tricotadas à mão. Um dia, peguei uma tesoura e comecei a cortar
cada ponto das costas da malha. Quando meu irmão e minhas irmãs viram
o que eu havia feito, começaram a me repreender, mas minha avó chegou
rapidamente para me defender. Disse: "Gritar com ela não trará nenhum
resultado. É preciso explicar que o que ela fez não é certo e que não deve fa-
zer novamente:' E disse para mim: "Para falar a verdade, acho que você sabe
usar a tesoura como ninguém:' Comecei a chorar e pedir desculpas.
Minha avó tinha a sabedoria de separar meu comportamento de quem
eu era e não tentava fazer com que eu parecesse uma criança má devido às
minhas travessuras. Aproveitava as situações para me ensinar, e não re-
preender, e eu sou eternamente grata ao seu amor e sua aceitação incondi-
cionais. Acredito que o carinho dela instilou a confiança e autoestima que
construí em minha vida com o passar dos anos.
Carl Rogers, fundador da psicologia humanística, cunho u a frase "con-
sideração positiva incondicional", e afirmou que essa visão é fundamental
para o processo de realização de uma pessoa. Quando ele falava em consi-
deração positiva incondicional estava se referindo a cuidados e aceitação
sem julgamentos e que não carregam o peso do sentimentalismo, da pos-
sessividade ou das obrigações. Quando vivenciamos uma consideração
positiva incondicional, sentimos que somos aceitas pelos outros indepen-
dentemente de como somos. Recebemos cuidados sem sermos avaliadas
ou julgadas pelo que sentimos ou fazemos. Com isso, conseguimos ser
pessoas independentes. Desenvolvemos uma consideração positiva incon-
dicional (autoestima) por nós mesmas e conseguimos nos aceitar.
Ser quem somos envolve aceitar tudo o que incorporamos. A autoacei-
tação nos permite reconhecer todos os nossos pensamentos, palavras, ati-
tudes e sentimentos sem negação, repúdio ou impedimentos. Abrimo-nos
SEGUNDA PRIMAVERA 257

e incorporamos todos os aspectos de nosso ser, as partes das quais gosta-


mos e também as que não gostamos. Aceitamos nossas imperfeições e hu-
manidade sem a imposição de condições.
Tentamos, com frequência, ignorar, negar ou reprimir a integralidade de
nossa condição de humanos buscando apenas felicidade, sucesso, saúde e
juventude em nossa vida. Quando nos conscientizamos de nossa não aceita-
ção, passamos a ter uma visão melhor da natureza da existência. Não somos
perfeitas. Nada é perfeito. A existência não é perfeita. A vida nem sempre é
justa, satisfatória ou doce. Tampouco sempre injusta, insatisfatória ou dura.
A existência muda. Ela não é absoluta. Não se pode achar que a vida é sem-
pre segura, mas podemos observar a tendência que temos de querer que ela
seja assim. Podemos observar a forma como estruturamos nosso mundo
interno e externo para garantir segurança a nós mesmas. Podemos observar
nosso desejo de aceitar apenas uma perspectiva após outra. E sabemos que
se abrangemos a plenitude de tudo, Yin e Yang, seguiremos em direção à
totalidade. Adotar esse ponto de vista mais amplo, uma perspectiva unitária,
possibilita-nos aceitar a natureza transitória da existência.
Consequentemente, a relação que temos com nossa Segunda Primavera
pode abrir as portas para um relacionamento harmonioso com nós mes-
mas e com os outros, o mesmo acontecendo em um contexto mais amplo.
À medida que nos abrimos para nossa espiritualidade, para o perdão, para
a aceitação de nós mesmas, nos abrimos a novas possibilidades, no período
de nossa Segunda Primavera - um período em que nossa criatividade é
renovada e um novo crescimento começa é abraçado e nutrido.
CAPÍTULO DEZESSETE
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®B'~
~~

Uma transíção natural

ara mim a palavra menopausa, e não a transição natural da vida a que


P ela se refere, evoca uma condição que impõe limites, uma série de
problemas que requerem intervenção médica. Esse é um conceito distorci-
do e uma crença popular que sei que absorvi da sociedade ocidental. O que
no Ocidente se conhece como menopausa, na China é, basicamente, um
acontecimento que passa despercebido. A menopausa é vista como algo
que antecede a velhice, um período pelo qual se tem muito respeito e que
nada mais é do que a progressão de nossa jornada de vida.
Minha mãe tinha 50 anos quando o fluxo de sua Água Celestial come-
çou a ficar desregulado. Nos cinco anos seguintes, ela menstruou algumas
vezes e, então, ficou sem menstruar durante meses. Aos 55 anos, seu fluxo
cessou completamente. Como uma mulher tipicamente chinesa, não pre-
viu nem sentiu ondas súbitas de calor, suores noturnos, insônia, depressão
ou fadiga durante esse período. O único sintoma significativo que acompa-
nhou sua transição foi irritabilidade. Percebia que em certas ocasiões fica-
va mais mal-humorada com meu pai e com os filhos do que de costume.
Ao entrar no estágio não reprodutivo de sua vida, minha mãe não mu-
dou seus hábitos alimentares ou estilo de vida, tampouco fez mudanças
propositais para manter o status quo em sua vida. Não encarou a passagem
SEGUNDA PRIMAVERA 259

para a Segunda Primavera como um período de grandes preocupações ou


uma etapa que exigisse considerações especiais. Na verdade, sempre aguar-
dou ansiosamente os anos não reprodutivos por ser um período de rejuve-
nescimento, e de novas possibilidades e potenciais.
A transição natural para a Segunda Primavera não traz, automatica-
mente, sintomas dolorosos e aflitivos. Esses sintomas podem surgir, mas
de forma gradual e progressiva. Isso não significa que não haja mudanças,
mas, como aconteceu com minha mãe, algumas mulheres enfrentam pou-
co ou até mesmo nenhum desconforto. Como no Ocidente as mulheres
estão condicionadas a associar a menopausa a doenças e à necessidade de
intervenção ou complementação médicas, podem vir a sentir apreensão e
medo das mudanças naturais que ocorrem. Talvez a medicalização da me-
nopausa seja resultado, em parte, da busca das mulheres por tratamentos
que aliviem os sintomas. Consequentemente, a menopausa é, muitas vezes,
vista como a causa de dificuldades debilitantes para as mulheres de meia-
idade. Muitas de nós acreditam que as coisas darão errado, e aguardam
isso. E o que antecipamos é geralmente o que vivenciamos. Se esperamos a
ocorrência de sintomas negativos, acabamos procurando-os. Podemos aca-
bar usando a menopausa como um atrativo para muitos desconfortos e di-
ficuldades que não estão nem mesmo relacionados a essa transição.

BERNIE

Quando Bernie veio ao meu consultório pela primeira vez, tinha 51 anos,
era professora de colégio e estava no período de transição para sua Segun-
da Primavera. Não conseguia dormir e sua insônia havia levado a uma
perda de apetite. Tudo tinha sabor de madeira para ela. Disse para mim:
"Sinto como se houvesse alguém pisando em meu esterno com sapatos
pesadíssimos e pressionando meu peito. Sinto uma tensão enorme em
meus olhos, como se estivessem sendo empurrados para dentro de minha
cabeça. Um dia, estava deitada no sofá e sentia que meu corpo tremia com
qualquer ruído, por mais baixo que fosse. Parecia que não conseguiria falar
e que qualquer coisa que dissesse não pareceria verossímil:'
260 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

Bernie estava passando por uma depressão profunda, que seu médico
havia associado à menopausa. No entanto, havia muitos fatores estressan-
tes convergindo nesse momento de sua vida. Estava apaixonada por um
homem que, embora não fo sse casado, não estava apaixonado por ela. Ele
não conseguia esquecer sua primeira esposa, falecida, e vivia se abrindo
com Bernie. Ao mesmo tempo, sua filha mais nova estava saindo de casa.
Na escola onde lecionava, estava tendo problemas com um aluno compli-
cado, desobediente e abusivo, que atrapalhava suas aulas. Bernie se sentia
inútil; achava que não havia conquistado nada de valioso em sua vida, e
que todos os seus esforços haviam sido em vão. Passou a adotar uma pos-
tura severamente crítica com relação a si mesma. Sua voz interior dizia o
tempo todo: "Como você pode fazer isso, Bernie? Você está totalmente
envolvida com sua vida, como pode, então, se sentir assim?"
Bernie livrou-se de sua depressão praticando ioga e adotando a postura de
"estou cansada de ser infeliz': No entanto, sofreu duas recaídas subsequentes nas
duas décadas seguintes. Embora provocadas por uma série de circunstâncias
diferentes, as experiências eram as mesmas. Estava debilitada e não conseguia
dormir nem levar a vida adiante. Decidir se iria ou não limpar os óculos tor-
nou-se uma tarefa estressante, e coisas simples passaram a ter um grande peso.
Bernie começou a fazer terapia e percebeu que o alto grau de exigência
que tinha consigo mesma estava enraizado nos abusos físicos que havia so-
frido quando criança nas mãos de sua mãe. Entre os 5 e 6 anos, sua mãe batia
nela com uma cinta de couro, o que deixou cicatrizes em seu corpo. Por fim,
Bernie começou a internalizar o julgamento que sua mãe fazia dela. Ela lem-
bra de cenas em que estava tirando grama de suas meias brancas e repetindo
para si mesma: "Bernie é uma menina má, Bernie é uma menina má~'
Com a ajuda do terapeuta e da família, Bernie começou a trabalhar os
problemas vividos na infância. Percebeu que, embora a depressão e o iní-
cio da transição para a Segunda Primavera tivessem ocorrido simultanea-
mente, sua doença não era um sintoma da menopausa.

Na fase da meia-idade, quando geralmente estamos passando pela transi-


ção para a Segunda Primavera, há, muitas vezes, uma série de fatores estres-
SEGUNDA PRIMAVERA 261

santes que leva a uma sobrecarga emocional e física, como cuidar de nossos
pais idosos, a necessidade de adaptação à mudança de papéis que cumpri-
mos em casa e no trabalho, o fato de os filhos estarem deixando nossa casa,
a aposentadoria e as mudanças mentais e físicas na imagem corporal, entre
outros. Se internalizamos estereótipos negativos de mulheres na menopau-
sa, é quase certo que acabaremos atribuindo à menopausa a tristeza e o
desconforto causados por outros fatores estressantes em nossa vida.
Muitas mulheres, porém, irão enfrentar alguns sintomas físicos verdadei-
ramente reais durante a transição para a Segunda Primavera. Com o funcio-
namento mais lento do Baço, há também uma redução de Sangue, Qi e outros
líquidos corporais que hidratam o corpo. Essa redução na umidade apresen-
ta-se na forma de secura e desconforto vaginal, cabelos, pele, olhos e unhas
secas. Também podemos apresentar prisão de ventre. A medida que nosso
Yin diminui e não é mais capaz de equilibrar nosso Yang, o excesso de energia
Yang toma a forma de Calor, que sobe ou segue em direção à cabeça e os om-
bros e também para a superfície do corpo, levando a ondas súbitas de calor e
suores noturnos. Esses sintomas também podem afetar nosso sono. Algumas
mulheres acordam durante a noite suando e precisam se levantar para trocar
de roupa. Com isso, não descansam o suficiente, o que pode fazer com que
fiquem irritadas e mal-humoradas, além de sentirem falta de energia. Esse
problema pode se agravar se há um bloqueio de Qi em nosso sistema de Fíga-
do, o que leva a maior Deficiência de Sangue. Qi de Fígado obstruído tende a
se transformar em Calor, e quando o Calor se movimenta aos trancos e bar-
rancos podemos expressar raiva ou irritação de forma explosiva e, dependen-
do das circunstâncias, inadequada. A raiva é uma emoção quente, o que se
reflete em expressões tais como "ardendo de raivà: "isso faz meu sangue fer-
ver': "estou soltando fumaça" ou quando falamos que uma pessoa tem um
"temperamento inflamado':
O Sangue Enfraquecido também pode prejudicar o fornecimento de
Sangue ao Coração. Se o Coração não recebe Sangue e Yin suficientes, não
tem como sustentar o Shen, nossa energia mais sublime e associada à mente
ou ao Espírito. Se o Shen não tem um alicerce, podemos ter problemas de
memória ou dificuldades em formular nossos pensamentos. Também po-
262 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

demos ficar agitadas e ansiosas com facilidade, e ter dificuldade em dormir


ou ter um sono relaxante.
O ritmo mais lento de funcionamento do Baço é outro fator que contri-
bui para o aumento de peso que afeta muitas mulheres nesse estágio da vida.
Um Baço enfraquecido irá se manifestar na forma de acúmulo de peso, prin-
cipalmente ao redor do torso, dos quadris e da cintura. Em geral, as mulhe-
res com Deficiências de Qi do Baço sentem-se cansadas depois de comerem
e tendem a se preocupar demais. A ciência médica ocidental normalmente
vê o ganho de peso como algo diretamente relacionado à ingestão excessiva
de alimentos e recomenda uma dieta alimentar. Na medicina chinesa, o peso
não é gerenciado por meio de dietas. Embora os profissionais da medicina
chinesa levem em consideração o tipo e a quantidade dos alimentos ingeri-
dos, concentram-se nos desequilíbrios nos sistemas de Orgãos importantes.
Com o passar do tempo, o declínio no Yin dos Rins afeta o funcio.namento
do sistema de Orgãos dos Rins e também pode levar a um enfraquecimento da
energia Yang dos Rins. É principalmente a Deficiência do Yin e do Yang dos
Rins que contribui para os sintomas do envelhecimento. Os Rins regem a Me-
dula, os ouvidos, a Bexiga e o cabelo. À medida que envelhecemos, há um de-
clínio no funcionamento dessas áreas devido ao enfraquecimento de nossa
energia dos Rins. Medula, na medicina chinesa, refere-se a medula óssea, cére-
bro, coluna vertebral e ossos. Dada a necessidade de Essência para a produção
de Medula, os Rins enfraquecidos não conseguem nutrir suficientemente o
cérebro, levando a uma perda de memória, falta de concentração, menor capa-
cidade de pensar e problemas de visão. Uma Medula saudável também está
relacionada à formação de medula espinhal, responsável pela produção de os-
sos e dentes fortes. É por isso que, conforme envelhecemos, apresentamos,
com frequência, perda de densidade óssea, artrite e problemas dentários. A
fraqueza dos Rins também se manifesta na forma de problemas auditivos, in-
cluindo tinido,* zumbidos nos ouvidos e falta de controle da Bexiga. A colora-
ção viva, a espessura e as características de nosso cabelo refletem a força de

* Ruído ou som anormal gerado no ouvido interno que pode se assemelhar a apiros,
so m de uma cascata de água, do bater de um martelo, zumbidos etc. (N. do R. T.)
SEGUNDA PRIMAVERA 263

nossõ Essência dos Rins. Essas mudanças são resultado direto da Deficiência
do Yin e/ou do Yang dos Rins e do declínio de Essência, que progridem gra-
dualmente, refletindo o processo normal do envelhecimento.
A gravidade de nossos sintomas será determinada pela forma como
cuidamos de nossos Rins, preservamos nossa Essência e pelos cuidados que
temos com nossa saúde feminina em geral. Nossa constituição, ou a quali-
dade da Essência de nossos pais quando fomos concebidos, juntamente
com nossa saúde emocional, nossos hábitos alimentares e nosso estilo de
vida são fatores que influenciam a saúde de nossos Rins. Os Rins estão as-
sociados ao medo. Dessa forma, se enfrentamos períodos longos de medo e
ansiedade, ou se essas emoções são algo subjacente em nosso ser, nossos
Rins ficarão enfraquecidos. Se, porém, nos anos que antecederam nossa
Segunda Primavera, fomos cuidadosas ao lidar com o estresse emocional,
se descansamos o suficiente, seguimos hábitos alimentares adequados e evi-
tamos o excesso de trabalho, exercícios físicos pesados, gravidezes frequen-
tes e doenças crônicas, e se conseguimos acumular Essência pós-natal,
nossa Essência pré-natal estará preservada e fortalecida e nossa transição
para a Segunda Primavera será relativamente fácil e pouco problemática.

ANITA

Anita tinha 44 anos quando sua menstruação parou abruptamente. Ela


não passou por nenhuma transição. A única irregularidade no fluxo de sua
Água Celestial antes de cessar foram dois ciclos de sangramentos excessi-
vos antes da interrupção completa do fluxo. Não teve ondas repentinas de
calor nem suores noturnos. As únicas mudanças que ela percebeu foram
uma leve perda na capacidade de memória e seu sono, que ficou mais leve.
De form a geral, sua transição foi algo que passou despercebido e que não
lhe trouxe nenhum desconforto.
A alimentação de Anita compreendia tofu, carne de frango, frutas e
legumes frescos, além do hábito de fazer pequenas refeições a cada duas
horas. Não comia laticínios nem carne vermelha. Além disso, tomava su-
plementos nutricionais como óleo de prímula, vitaminas E e C e um mui-
264 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

tivitamínico, o CoQIO, vitaminas do complexo B, cálcio, magnésio,


vitamina D3 e ginkgo biloba. Quanto à atividade física, corria diariamente,
praticava ioga e fazia musculação.
Anita considera seu marido seu melhor amigo e continua a ter uma
vida sexual satisfatória. Quando tem problemas que não pode controlar,
não fica tentando resolvê-los. Também faz de tudo para não se prender a
questões para as quais tenha internalizado preocupações. Considera que
sua vida tem sido boa e concentra-se nos aspectos positivos. Na fase de
seus 20 e 30 anos, Anita importava-se com o que os outros pensavam a seu
respeito e tentava agradar seus familiares e amigos. Conforme foi ficando
mais velha, sente que ganhou mais confiança, maturidade e experiência.
Isso ajudou-a a se aceitar e se importar menos com as opiniões alheias. Em
sua transição para a Segunda Primavera, sua vida emocional saudável e os
cuidados que sempre teve consigo mesma ajudaram-na e contribuíram
para que tivesse uma transição sem praticamente nenhum sintoma.

Você deve estar pensando: "Segundo a MTC, não cuidei de meu corpo, cora-
ção e mente no decorrer de minha vida:· Ou talvez você sinta que não foi
presenteada com uma constituição forte. Talvez você já esteja tendo problemas
com essa transição e sente que as opções que fez no passado não foram as me-
lhores. Não se preocupe; não é tarde demais para fazer mudanças em sua saú-
de e bem-estar. Embora o enfoque da medicina chinesa seja a prevenção, ainda
há muito o que se fazer para melhorar sua vida emocional, física e espiritual
em sua Segunda Primavera. Medidas apropriadas e mudanças específicas em
seu estilo de vida não são tudo, mas podem ajudar muito nessa transição.

AJUDANDO A SI MESMA

O enfoque gradual e integrado da medicina chinesa pode trazer inúmeros


benefícios à medida que passamos da fase reprodutiva para a não reprodu-
tiva. Apesar de as recomendações da MTC não trazerem necessariamente
uma cura rápida, são naturais, delicadas e seguras, e podem ajudar a elimi-
nar ou reduzir os sintomas que surgem com os desequilíbrios em nosso
SEGUNDA PRIMAVERA 265

corpo à medida que nossos sistemas de Orgãos começam a enfraquecer


naturalmente com a idade, e experimentamos os efeitos cumulativos das
escolhas que fizemos durante a vida.
Os sintomas relacionados à menopausa podem ser eliminados ou mi-
nimizados evitando-se um estilo de vida que prejudique o funcionamento
dos Rins e adotando-se medidas que ajudem tanto esse sistema de Orgãos
quanto o movimento livre de Qi. As recomendações características da medi-
cina chinesa evitam o esgotamento ou o consumo desnecessário de nossa
Essência. As práticas também ajudam na produção de Essência pós-natal e
equilibram o Yin e o Yang. Essas recomendações podem parecer apenas uma
questão de bom senso e, na verdade, são. No entanto, minha experiência tem
mostrado que o bom senso nem sempre é colocado em prática. Dadas as
exigências da vida moderna, muitas vezes não é fácil seguir as recomen-
dações. Por exemplo, uma das considerações mais importantes durante a
menopausa é tentar não se estressar, cansar-se demais ou trabalhar em ex-
cesso - tarefa nem sempre muito fácil de se cumprir.

ALIMENTAÇÃO

A alimentação é uma forma de ajudar, de maneira pró-ativa, nosso siste-


ma dos Rjns e as outras redes de Orgãos. Devemos fazer refeições nutriti-
vas e balanceadas em intervalos regulares. A quantidade de alimentos
ingeridos também é importante. Comer em excesso sobrecarrega nosso
Baço e comer pouco demais ou fazer regime pode levar a uma redução na
quantidade de Sangue e Qi produzido. Tente não comer após as 20h, pois
o alimento permanece em seu Estômago enquanto você dorme. Isso so-
brecarrega ainda mais o Baço e leva a problemas digestivos, absorção ine-
ficiente e ganho de peso.
Além disso, quando consumimos alimentos e bebidas gelados ou crus,
o Baço tem de trabalhar mais e contar com a ajuda dos Rins para obter Qi
adicional, ou Calor, para transformar e transportar o alimento. O corpo
também terá de produzir mais Calor para equilibrar o excesso de Frio, o
que reduz a umidade e aumenta as ondas súbitas de calor.
266 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

Dado que o Qi flui através dos sistemas do Estômago e Baço entre as 7h e


llh, é particularmente importante que os alimentos ingeridos no café da ma-
nhã sejam apropriados para esses Orgãos, ou seja, é aconselhável comermos
alimentos quentes e cozidos. Recomenda-se evitar comidas ricas em gordura
e alimentos oleosos e diminuir a quantidade de laticínios. A Tabela 6 traz um
resumo das recomendação alimentares da MTC para a Segunda Primavera.

Tabela 6: Recomendações alimentares para a Segunda Primavera

EVITAR OU REDUZIR O CONSUMO DE INGERIR

• Alimentos e bebidas geladas • Alimen tos cozidos e se rvidos quentes


• Alimentos congelados • Legumes frescos, levemente cozidos
• Alimentos crus • Legumes de folhas escuras, /ongan seco,
• Laticínios fígado, ovos e uvas -passas
• Alimentos ricos em gordura • Amêndoas, nozes, sementes de girassol, se-
• Alimentos oleosos mentes de abóbora
• Açúcares e carboidratos refi nados • Sopas de ossos
• Café • Produ tos à base de soja
• Bebidas alcoólicas • Feijão -verde, feij ão comu m e feijão -preto
• Refrigerantes • Feijão-mungo e broto de feijão -mungo
• Alimentos apimentados e condimen - • Sementes de gergelim pretas
ta dos • Algas marinhas
• Grandes quantidades de carne vermelha • Peixes como sardin ha, salmão, atum e cava-
linha
• Grãos integ rais

EXERCICIOS

Exercícios regulares ajudam na circulação do Qi e Sangue. Na China, a


atividade física é vista como um componente indispensável e um sinal de
saúde. Quando não nos movimentamos diariamente, nosso Qi não flui
suavemente e ficamos desequilibradas física e emocionalmente. Se no ssas
emoções estão bloqueadas, nosso Qi pode estagnar. As mulheres com ten-
dência à raiva, frustração ou irritabilidade deveriam se exercitar regular-
mente para m anter a movimentação do Qi.
O s exercícios também estimulam o Baço, trazem benefícios para os
Pulmões e podem nos ajudar a lidar com os sintomas da menopausa e com
SEGUNDA PRIMAV ERA 267

o processo natural de envelhecimento. Também ajudam a minimizar as do-


res. Se optarmos por exercícios ao ar livre, é comum descobrirmos que o ar
puro é revigorante e nos ajuda a dormir melhor. O peso que ganhamos na-
turalmente nessa fase da vida pode ser gerenciado com mais facilidade e é
provável que nossos intestinos funcionem melhor. Exercitar-se também
é uma for ma de trabalhar a depressão, pois os exercícios físicos trazem
uma melhora geral para nosso bem-estar.
Dado que exercícios de alto impacto, como aeróbica e corrida, podem
esgotar o Qi e levar a maior Deficiência de Sangue e Yin, devemos repensar
que tipo de exercício praticar. Caminhar, andar de bicicleta, nadar, dançar
e fazer alongamento são ótimas formas de se manter ativa. Nossas ativida-
des diárias regulares, tais como limpar a casa, andar no jardim e lavar o
carro, também são boas maneiras de se exercitar.
Praticar ioga, Tai Chie Qi Gong é particularmente benéfico para con-
serva r a Essência e trazer mais energia, além de, ao mesmo tempo, trazer
melhorias aeróbicas através das práticas de respiração e suporte de peso.
Os benefícios que oferecem são similares aos dos exercícios de alto impac-
to, com a vantagem de não deixarem o corpo cansado. Essas práticas bus-
cam o equilíbrio físico, mental e espiritual, o que é benéfico à medida que
passamos por desarmonias energéticas e enfrentamos outros sintomas.

TAl C HI

O Tai Chi é um exercício que traz inúmeros benefícios. Depois que com-
pletou 30 anos, minha mãe começou a ter artrite no joelho. Ela acredita
que a doença foi consequência dos vários anos de trabalho na fazenda re-
educativa e dos ambientes úmidos onde viveu. Aos trinta e poucos anos,
suas dores eram tão intensas que algumas vezes ela precisava de ajuda para
andar. Aos 35 anos, começou a praticar Tai Chi. Em dois ou três anos seu
joelho havia melhorado muito. Conseguia caminhar sem a ajuda de nin-
guém, e as dores desapareceram.
Nos quarenta anos seguintes, minha mãe nunca deixou de praticar Tai
Chi. Segundo ela, o exercício trouxe não apenas melhoras para sua artrite,
268 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

mas também ajudou a aliviar dores no pescoço e no estômago. Hoje, ela


pratica Tai Chi diariamente em um parque. Já ensinou muitas pessoas que
se aproximam dela querendo aprender essa antiga arte. Ela também faz
alongamentos durante mais uma hora e caminhadas em um parque próxi-
mo de sua casa. Minha mãe afirma que anda mais rápido e tem mais energia
hoje do que há quanrenta anos.
O Tai Chi envolve o cultivo do Qi, que tende a ficar Deficiente à me-
dida que envelhecemos. A prática usa a respiração para melhorar os ní-
veis de energia e movimentos físicos para fazer circular a energia e
eliminar bloqueios. Em vez de usar a energia dos músculos, o exercício
usa nossa força de vida, o Qi. Com a prática contínua, nosso nível de Qi
realmente aum enta.
Baseado no taoismo e tendo como princípios centrais a transfor-
mação e mudança, os movimentos doTai Chi são lentos e flu em como
a água, sendo que o fina l de um exercício transforma-se no início do
próximo, e a conclusão de uma postura também dá início a uma outra
etapa. Da mesma forma, quando um movimento alcança seu extremo,
como quando todo nosso peso está concentrado em uma perna, ele
muda para o inverso e o peso é transferido para a outra perna. Isso é a
mudança total de Yang para Yin e vice-versa. Considero o movimento
do Tai Chi uma belíssima metáfora para a transição para a Segunda
Primavera. Esse estágio de nosso ciclo fem inino é um reflexo d a matu-
rid ade que alcançamos nesse momento de nossa vida. A forma como
cuidamos de n ós mesmas durante a Água Celestial, gestações e o Mês
de Ouro dá frutos durante essa fase da vida da mesma forma que um
movimento leva ao próximo noTai Chi.
A princípio, a sensação é que estamos nos afastando do Yang, a energia
ativa da juventude, e nos aproximando do Yin, a energia receptiva da velhi-
ce. Mas, como o próprio nome diz, a Segunda Primavera é um período de
renascimento, reflorescimento e crescimento. Nossa energia volta, então,
novamente para Yang. À medida que envelhecemos, olhamos para nosso
íntimo a fim de descobrir o que queremos e buscar respostas para nossas
perguntas. Tudo está dentro de nós. f como trabalhar com o Tai Chi.
SEGU DA PRIMAVERA 269

O Tai Chi tem o poder de fortalecer os tecidos conectares e, dessa forma,


melhorar o escopo de nossos movimentos e aliviar as dores. Não requer
equipamentos ou roupas específicas e pode ser praticado em qualquer lugar.
Não é necessário ser jovem, magra, saudável ou rica para praticar Tai Chi.
Outro benefício importante que o Tai Chi traz é o desenvolvimento da
mente. Dado que o enfoque é interno, diferentemente da aeróbica e muscula-
ção comuns, o Tai Chi ajuda a melhorar a concentração e a percepção, traz
maior conscientização e intensifica os pensamentos positivos. A autoconfian-
ça e o alívio de ten ões resultantes desses benefícios são fatores significativos
para nosso bem-estar geral. Dessa forma, o Tai Chi é uma meditação em mo-
vimento que aprimora os Três Tesouros- Essência, Qi e Shen. :f: uma prática
de autocuidado excepcionalmente acolhedora que podemos adotar no perío-
do de transição para a Segunda Primavera.

Ac uPRESSÃO

A massagem de acupressão pode ser utilizada para estimular o fluxo de


Qi e Sangue e para desobstruir bloqueios. Ao se pressionar pontos espe-
cíficos, podemos levar o Qi a áreas de Deficiência e drenar as regiões
onde há Excesso, regulando seu fluxo através dos Meridianos. Nós mes-
mas ou outras pessoas podem pressionar firmemente os pontos Yong
Quan (ver página 99), San Yin Jiao (ver página 100) e Zu San Li (ver pá-
gina 100) por até dois minutos, uma vez por dia. Se há tensão ou resis-
tência, tente pressionar com um pouco mais de força . Se você sente que
o local está sensível, é porque provavelmente há um bloqueio, o que ten-
de a melhorar com a aplicação da acupressão.

AUTOMASSAGEM

A automassagem é outra maneira eficaz de ajudar o Qi e o Sangue a se mo-


vimentarem pelos Orgãos internos. As massagens mostradas a seguir aju-
dam a equilibrar o fornecimento de Qi e Sangue para o Baço, que fica
enfraquecido com o processo de envelhecimento. Também são bons para
270 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

evitar a estagnação dos Intestinos. Se possível, dedique de cinco a dez mi-


nutos por dia para as massagens.

1. Deite-se de costas, com as pernas retas. Começando pelo


centro de seu corpo, pressione a costela direita com os dedos.
Continue massageando cada costela até chegar à última (ver
ilustrações a seguir). Repita a massagem três vezes. Faça a
mesma série do lado esquerdo.

2. Pressione a região acima de seu osso pubiano com as mãos.


Traga suas mãos para cima em direção às costelas do lado
direito, pressionando e segurando enquanto conta até seis
(ver ilustrações a segui r) . Com isso você seguirá o caminho
do cólon ascendente. Repita o exercício três vezes.
SEGUNDA PRIMAVERA 27 I

3. Comece abaixo do esterno e pressione o centro do torso até


acima do osso pubiano (ver ilustrações a seguir). Repita o mo-
vimento três vezes.

4. Começando pelo lado direito da barriga, pressione como se


estivesse seguindo um caminho reto sobre o abdome, da direi-
ta para a esquerda (ver ilustrações a seguir). Repita o movi-
mento três vezes.

5. Começando de um ponto do lado esquerdo de sua cintura,


pressione a lateral do abdome, terminando acima do osso pu-
biano (ver ilustrações a seguir). Com isso você seguirá oca-
minho do cólon descendente. Repita o exercício três vezes.
272 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

;=f: :=3

Se há áreas sensíveis ou doloridas, massageie novamente. Com o passar do tem-


po, a dor desaparecerá. Liberar obstruções energéticas é muito benéfico para
prevenir disfunções futuras que podem surgir com os desequilibrios no corpo.

EXERC[CIOS PARA O MÚSCULO PUBOCOCC[GEO

Durante a Segunda Primavera, podemos apresentar menor controle ou


perda de controle da bexiga, já que os Rins regem a Bexiga. Exercitar o
músculo pubococcígeo melhorará o tônus da musculatura do assoalho
pélvico e evitará ou reduzirá problemas de incontinência. Esses exercícios
também trazem benefícios para a atividade sexual e o prazer. Certifique-se
de que está exercitando o músculo correto prestando atenção ao músculo
que você contrai quando quer interromper o fluxo de urina ou colocando
um dedo em sua vagina e contraindo os músculos em torno dele.
Você pode praticar esse exercício deitada, sentada ou de pé. Contraia o
músculo que você identificou de cinco a dez segundos. Relaxe lentamente. Re-
pita dez vezes. Se você está com problemas de incontinência devido ao enfra-
quecimento dos músculos, faça várias séries desse exercício ao longo do dia.

PRATICAS ADICIONAIS DE AUTOCUIDADOS

Outras práticas de autocuidados que podem ser realizadas durante a Se-


gunda Primavera compreendem deitar-se todas as noites no mesmo horá-
SEGUNDA PRIMAVERA 273

rio e ter um sono profundo e tranquilo. Evite o excesso de trabalho ou a


sobrecarga física, mental e emocional. Se possível, evite o tabaco e ambien-
tes com fuman tes, pois isso tende a secar os líquidos do corpo e o Yin. Além
disso, d iminua o uso de drogas como cortisona, diuréticos e antiácidos.

Essas recomendações de autocuidados ajudam a trazer equilíbrio para o


corpo. Lembre-se de que não é necessário realizar os exercícios com per-
feição. Não devemos abusar de práticas que englobam recomendações
saudáveis se elas nos causam estresse. Se as práticas criam desarmonia, é
bem provável que passem a ser algo desagradável para nós.
Algumas m ulheres podem achar que não têm condições de seguir es-
sas recomendações regularmente e que não há uma razão para segui-las.
Nesse caso, talvez possamos desenvolver um objetivo voltado à nossa saú-
de e bem-estar. Diga para si mesma: "Quero ser saudável e me livrar do
estresse para passar por esta transição natural sem problemas. Pretendo
me aj udar cuidando de meu corpo, coração e mente:· Quando nos concen-
tramos em nosso objetivo, aumentamos as chances de considerar mais se-
riamente essas recomendações e integrá-las à nossa vida diária.

RECONSIDERAÇÕES SOBRE A TERAPIA DE REPOSIÇÃO HORMONAL


Em julho de 2002, o National Institutes ofHealth (NIH) [Institutos Nacionais
de Saúde] divulgou a suspensão dos estudos sobre os efeitos da Terapia de
Reposição Hormonal (TRH), que utiliza estrógeno e progestina, devido aos
riscos para as participantes do estudo e a ausência de benefícios que compen-
sassem esses riscos. Comparadas às mulheres que ingeriram placebo, regis-
trou-se maior incidência de derrames, ataques cardíacos, coágulos sanguíneos
e maior risco de câncer de mama entre as participantes que tomaram suple-
mentos hormonais. Como era de se esperar, após a divulgação dos resultados
desse estudo, minha clínica passou a receber uma quantidade muito acima do
normal de telefonemas e visitas de mulheres confusas que não sabiam se deve-
riam ou não continuar a tomar os suplementos hormonais.
Considerando que cada mulher é única e tem suas próprias necessida-
des, cabe a cada uma de nós tomar suas próprias decisões. É importante
274 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

avaliar o risco pessoal e os fatores que trazem benefícios. Há histórico de


câncer de mama, cistos nos seios, Alzheimer, ataques cardíacos, derrames,
colesterol alto ou pressão arterial alta na família? A TRH pode aumentar o
risco de desenvolvimento dessas doenças. Não fazer TRH pode aumentar
o risco de osteoporose e sintomas extremos da menopausa, tais como on-
das repentinas de calor, suores noturnos, secura vagi nal, alterações de hu-
mor, aumento de peso ou baixa libido.
A TRH oferece alívio mais rápido para esses sintomas, comparada à
medicina chinesa. No entanto, a TRH não lida com as causas dos sintomas
nem fortalece os Rins. Teoricamente, os antigos profissionais da medicina
chinesa não aceitariam essa terapia, pois ela faz com que nosso corpo con-
sidere que ainda estamos ovulando. A TRH ativa o endométrio, levando à
liberação de sangue em ciclos regulares. A interrupção do ciclo menstrual
é o meio natural de nosso corpo evitar uma perda ainda maior de Essência.
Com o prolongamento da menstruação, Rins, Baço e Fígado ficam sobre-
carregados e, por fim, esgotados, o que é contrário aos acontecimentos
naturais que devem estar ocorrendo em nosso corpo.
O impacto do uso prolongado da TRH leva a uma Deficiência de San-
gue* (especificamente relacionado ao Coração e ao Fígado), de Qi do Baço
e, possivelmente, de Qi geral; da mesma forma, pode causar problemas de
Rins. Esses desequilíbrios podem se manifestar na forma de problemas
de audição e visão, insônia, prolapso uterino e possíveis doenças quando
estivermos mais idosas, tais como Alzheimer ou Parkinson. A Estagnação
do Qi pode resultar também em Estagnação de Sangue e em maior inci-
dência de coágulos de Sangue. Dado que o Fígado rege e controla o Qi, ele
pode ficar sobrecarregado por ter de monitorar o ciclo artificial de sangra-
menta. Bloqueios no fluxo de Qi do Fígado podem levar a doenças de
mama. Além disso, a Estagnação de Qi do Fígado pode resultar em Estag-
nação de Sangue na região pélvica. Isso pode gerar doenças uterinas. Ge-

'" Deficiência de Sangue, na MTC, vai sempre depender do co ntexto em que é referido
essa expressão, pois tanto pode ser alguma deficiência literal do próprio sangue quanto
uma Deficiência do aspecto Yin da energia vital. Ver segunda N do R. T na página 34
(N doR.n
SEGUNDA PRIMAVERA 275

ralmente, a Estagnação de Qi na região peitoral, com sintomas tais como


angina, pode ser atribuída à Estagnação de energia no sistema do Fígado.
O enfoque da MTC para lidar com os sintomas da menopausa engloba as
recomendações alimentares e mudanças no estilo de vida que se encontram
nas páginas 264 a 273, assim como tratamentos de acupuntura e fórmulas à
base de ervas que cuidam dos Rins, harmonizam as energias Yin e Yang e tra-
tam os desequilíbrios específicos dos Orgãos. Tratei muitas mulheres que uti-
lizavam os tratamentos e as recomendações da medicina chinesa juntamente
com a TRH. Ao tratar minhas pacientes, reconheço como alguns sintomas
podem ser debilitantes e, nesse caso, entendo o desejo delas de se submeterem
à TRH. Aconselho-as, porém, a encarar a TRH somente como uma solução de
curto prazo. Após alguns meses de MTC, muitas pacientes largam gradual-
mente a TRH através da red ução gradativa da dosagem durante um período
de tempo. Suspender a TRH abruptamente pode trazer de volta os sangramen-
tos e as ondas súbitas de calor, além de outros problemas de saúde devido à
dependência que o corpo criou dessa form a artificial de suplementação.
É importante fazer algumas outras considerações para as mulheres que
se submetem à TRH. Nossa experiência e resultados da reposição hormonal
diferem de acordo com a dose e o método de administração (pílulas orais,
adesivos transdérmicos, cremes hormonais vaginais, injeções intramuscula-
res ou implantes subcutâneos). De forma geral, a TRH adota o mesmo enfo-
que para todas as mulheres, desconsiderando suas necessidades individuais.
Muitas vezes, uma dosagem mais baixa já seria eficaz. No entanto, o fator
mais significativo da TRH é o tipo de hormônio utilizado, ou seja, sintético
ou natural. O s hormônios si ntéticos têm, na maioria das vezes, uma estrutu-
ra similar, mas não idêntica aos hormônios produzi dos pelo nosso corpo.
Assim sendo, eles funcionam de uma maneira diferente em nosso corpo e
levam a efeitos não d esejados, com possíveis riscos para a saúde.
O s horm ônios n aturais são idên ticos aos hormônios pro duzidos pelo
nosso corpo quanto à sua estrutura química. Eles são feitos a partir da
urina de éguas prenhas - uma substância natu ral para o corpo humano.
A terapia que utili za hormônios naturais não traz os mesmos efeitos ad-
versos apresen tados pela reposição hormonal sintética, já que o corpo
276 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

não os percebe como substâncias estranhas. Não há como comprar hor-


mônios naturais nas fa rm ácias - as companhias farmacêuticas não po-
dem patentear substâncias naturais, razão pela qual os médicos conhecem
muito mais os medicamentos produzidos pelas grandes empresas e sa-
bem muito pouco sobre as alternativas naturais.
Independentemente do tratamento que você escolha, lembre-se de que, na
ocorrência de problemas, sempre é possível mudar. Da mesma forma, nunca
esqueça que a Segunda Primavera é un1a progressão natural que não exige uma
ofensiva em grande escala contra nosso corpo. Se cuidarmos dos diversos níveis
de nosso ser, podemos aumentar as chances de termos uma ótima experiência
durante a menopausa com interferências artificiais ou complicações mínimas.

NOSSA VIDA SEXUAL


Sendo o sexo e a atratividade física vistos no Ocidente como algo perten-
cente à juventude, há uma crença de que não há vida sexual para as mulhe-
res após a menopausa. Não temos desejo de sexo e não somos mais atraentes
do ponto de vista sexual. Essas percepções negativas podem inibir nossa
capacidade de agir como indivíduos completos e de satisfazer nossas ne-
cessidades naturais. Podemos, na verdade, sofrer uma pressão da socieda-
de para perder o interesse pelo sexo. E quando temos desejos sexuais, isso
realmente pode fazer com que fiquemos muito ansiosas. Se estamos en-
frentando problemas sexuais, muitas vezes relutamos em discuti-los. Ou
usamos essas concepções distorcidas como uma desculpa para não ter uma
vida sexual após um longo período de desinteresse. Será a falta de interesse
resultado da escassez de atividade sexual ou a causa dela?
A verdade é que o interesse das mulheres pelo sexo continua muito
além da menopausa. Muitas sentem um desejo sexual ainda maior durante
o período da Segunda Primavera. Por quê? A preocupação com a gravidez
já não existe mais. Os filhos já saíram de casa, o que traz mais liberdade e
espontaneidade. As mulheres geralmente vivenciam um aumento na auto-
confiança à medida que "passam a ter influência sobre seu próprio poder"
e deixam de sofrer as limitações impostas pelas expectativas alheias.
SEGUNDA PRIMAVERA 277

Manter-se sexualmente ativa envolve analisar as mudanças físicas, o bem-


estar emocional e as circunstâncias da vida. Pode ocorrer desconforto duran-
te o ato sexual devido à menor lubrificação vaginal ou à atrofia do revestimento
da vagina. t importante observar que isso não afeta nossa capacidade de atin-
gir o orgasmo. Os órgãos sexuais, incluindo o clitóris, continuam a ter sensi-
bilidade. Uma das maneiras mais benéficas para diminuir o desconforto e a
dor é ter relações sexuais frequentes, em vez de evitá-las. Isso ajuda a estimu-
lar a lubrificação natural do corpo. Para diminuir o desconforto, também se
pode usar lubrificantes, que são fac ilmente encontrados nas farmácias.
Por vezes, podemos sentir rejeição e raiva devido à menor frequência
das relações, o que é natural, por parte de nossos parceiros. Quando o casal
não consegue ser honesto, há maior probabilidade de surgirem dúvidas
quanto a como se adapta r sexualmente. Podemos acabar reprimindo o de-
sejo por causa de nossa raiva, por nos sentirmos machucadas e rejeitadas.
Conversas honestas, abertas e livres de julgamentos facilitam o entendi-
mento das dúvidas que surgem quanto ao desempenho. Podemos desco-
brir que nosso parceiro não consegue atender alguns de nossos desejos, no
entanto, conversar ajuda-nos a fazer concessões.
Nossa capacidade de expressar o que nos dá prazer e nos satisfaz é tão
importante quanto ouvir o que dá prazer e satisfaz nosso parceiro. Por meio
de conversas abertas podemos descobrir formas de nos adaptarmos às mu-
danças, como, por exemplo, aproveitar mais as carícias trocadas antes do
ato, ou expandir o escopo da relação além do coito. Um relacionamento
íntimo é um alicerce seguro a partir do qual podemos trabalhar as preocu-
pações sexuais que venham a surgir e também pode nos ajudar no processo
de transição quanto às mudanças que enfrentamos na vida.
Um dos principais desafios para as mulheres à medida que envelhecem
é a falta de parceiros disponíveis. Na fase pós-menopausa, há mais viúvas do
que viúvos da mesma idade. Da mesma forma, as mulheres solteiras mais
velhas têm menos tendência a se casarem comparando-se aos solteiros mais
velhos. Também há uma aceitação cultural maior de homens que mantêm
relacionamentos com mulheres mais jovens comparada a mulheres que se
envolvem com homens mais jovens. Apesar da maior liberdade sexual nes-
278 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

sas últimas três ou quatro décadas, continuamos a viver com base em ideias
e conceitos distorcidos de que as mulheres mais velhas não têm interesse por
sexo. Esses estereótipos culturais relativos às mulheres na fase pós-meno-
pausa podem influenciar muito nossos pensamentos, nossas ações, reações
e experiências. Entrar em contato com nossa sexualidade e desenvolver ma-
neiras de lidar com os conceitos distorcidos ajuda-nos a acabar com a ideia
de que somos seres assexuados. Podemos entender a visão que temos das
atitudes negativas, e se acreditamos nelas, e, com isso, educarmo-nos quanto
às mudanças físicas naturais que ocorrem conforme envelhecemos. Os pro-
blemas sexuais não são necessariamente um aspecto natural do envelheci-
mento. A atividade sexual é uma expressão saudável e natural da condição
de um ser humano adulto. Podemos ser seres sexuais e aproveitar a intimi-
dade e a afeição compartilhada do sexo durante toda a vida.
SEGUNDA PRIMAVERA 279

RESUMO

A transição para a Segunda Primavera envolve uma progressão natural de mu-


danças. A interrupção de nossa Água Celestial é resultado da inteligência ine-
rente de nosso corpo, o qual trabalha para preservar nossa Essência. Conforme
nosso Jing diminui naturalmente, a sabedoria inata de nosso corpo redirecio-
na a Essência, ou seja, o enfoque deixa de ser a reprodução e passa a ser o
acúmulo de energia e Sangue para ajudar nosso Coração e nossa jornada espi-
ritual. Conforme mudamos naturalmente da energia Yin para Yang, deixamos
para trás as funções e os cuidados da maternidade e saímos em busca de nosso
lugar no mundo, do que queremos e precisamos. Da mesma forma, é um mo-
mento de ajudar nossa natureza Yin à medida que preenchemos nossas neces-
sidades espirituais, nosso potencial e nossas aspirações mais profundas.
A transição para a Segunda Primavera pode ser uma fase confusa, liberta-
dora ou difícil em nossa vida A experiência que viveremos será determinada
por inúmeros fatores. Podemos influenciar alguns deles, mas há outros que es-
tão além de nosso controle. Entender o que podemos controlar é um passo
importante para nos sentirmos capacitadas e evitar disfunções e sofrimento.
Além disso, as mulheres que têm pavor do envelhecimento podem vir a adqui-
rir uma nova perspectiva durante os anos da menopausa. Podemos começar a
ver a menopausa como uma porta que se abre para novas possibilidades.
Ter consciência do que podemos fazer para ajudar nós mesmas pode
facilitar muito nossa transição. À medida que nossos sistemas de Orgãos
apresentam um declínio natural, há muitas práticas de autocuidados que
podem melhorar seu funcionamento e fortalecê-los. Equilibre cuidadosa-
mente seus esforços para agir com delicadeza, mesmo que precise se esforçar
muito - caso contrário, as práticas podem se tornar um problema a mais.
A MTC tem como enfoque a harmonização de nossa vida. Ver a si
mesma através desse filtro é, por si só, uma significativa prática de autocui-
dado. Reconhecer se estamos exigindo demais de nós mesmas, ou desistin-
do muito facilmente, é um primeiro passo extraordinário em direção à
harmonia e a um novo estado de equilíbrio. Ao agir dessa forma, começa-
mos a nos concentrar em nossas experiências e expressões de saúde. Mes-
280 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

mo percebendo que as recomendações têm sentido, por que não quero


segui-las? O que está me paralisando? Começamos a deixar para trás a
atenção que damos aos sintomas e passamos a procurar a fonte de energia
de nossa relutância, esforço e sofrimento. Praticamos a medicina chine-
sa - usamos nossos sintomas para conseguir mais informações sobre nós
mesmas, para ajudar nosso corpo a reencontrar o equilíbrio.
Sinto que esse é um passo significativo, pois muda a forma como nos
relacionamos com nossos sintomas. Nossa dor, nosso desconforto e nossos
sentimentos fortes não são inimigos que têm de ser erradicados. São tão
parte de nós quanto nossa saúde, felicidade e vitalidade. Conforme explora-
mos nossos sentimentos com relação aos nossos sintomas, ou a perda de
interesse pelo sexo, nossa raiva de parecermos invisíveis ou nossos seios
caídos, ficamos mais abertas para aceitar melhor todos os aspectos de quem
nós somos. Ingressamos no âmbito de uma perspectiva subjetiva. O que
estamos sentindo? O que sentimos que precisamos oferecer?
Podemos sentir raiva ou uma enorme tristeza. Podemos vivenciar uma
sensação de perda que surge à medida que deixamos para trás uma fase de
nossa vida e passamos a outra. A tristeza e o sofrimento, assim como a raiva, são
emoções normais e saudáveis. Nosso desafio é acolher nossos sentimentos e
permitir que eles se transformem em algo que nos traga a cura. Quando conse-
guimos entrar em contato com todos os nossos sentimentos, deixamos de ver
tudo com base em julgamentos. Permitimo-nos ser humanas. Familiarizamo-
nos com nossas vozes interiores que insistem em nos julgar. Diminuimos o
volume dessas vozes quando elas nos criticam por não estarmos de acordo com
os padrões culturais que achamos que devemos seguir. Assim como fazemos
quando perdoamos, passamos a ter uma visão mais ampla. Não precisamos
gostar de nossas rugas, da falta de energia, mas podemos desenvolver um novo
relacionamento com esses aspectos, onde eles não têm mais poder sobre nós.
Acabamos com sua capacidade de fazerem com que nos sintamos inúteis, inde-
sejadas ou sem esperanças. A autoaceitação começa a substituir o medo e as
críticas. Surge uma compaixão por nós mesmas. Não precisamos ser perfeitas.
Isso é uma mudança de uma perspectiva cultural para uma perspectiva pessoal,
que é única para cada mulher e cada experiência nesse momento específico.
SEGUNDA PRIMAVERA 281

Nunca conseguiremos ser quem somos integralmente se nos definirmos


com base em padrões socioculturais. Precisamos iniciar a jornada da auto-
descoberta. Adotar atitudes culturais específicas dificulta o processo que é
necessário para revelarmos nossa natureza única e autêntica. Nossa Segunda
Primavera é, geralmente, o período durante o qual examinamos nossas cren-
ças pessoais. Dedique tempo para pensar no que você acredita e comparar
isso ao que internalizou inconscientemente. Fazer essa separação pode ser
difícil. Mas, do ponto de vista energético, a mera intenção de questionar
atitudes e pensamentos pode influenciar significativamente nossa jornada.
Podemos descobrir que entimos raiva das normas e pressões culturais
que acreditamos dever seguir ou às quais precisamos nos adaptar. Talvez
venhamos a descobrir até que ponto perpetuamos o conceito cultural da
juventude como o principal meio de moldar nossa vida. Até que ponto a
forma como me defino baseia-se no quanto pareço jovem? Estou resistindo
ao processo natural do envelhecimento? Eu me aceito? Consigo aceitar tudo
o que a Segunda Primavera traz? Posso aproveitar essa oportunidade para
mudar? Quando alcançamos um nível de autoaceitação, somos capazes de
estar com nós mesmas de forma serena, tolerante e compassiva. Onde esta-
mos na vida, está bom. Quem nós somos também está bom. Isso não signi-
fica que não é preciso buscar o crescimento e a cura em nossa vida. Em vez
disso, familiarizamo -nos com nossos mundos interiores a fim de admitir,
honesta e corajosamente, o que realmente acreditamos ser verdade e quais
crenças nos guiam. Elas nos ajudam? Talvez tenham ajudado em algum
momento, mas funcionam para nós hoje? Essas forças podem estar sufo-
cando nosso comportamento, atitudes e a resistência que temos conosco, e
nos atrapalhando no processo de nos aceitarmos por aquilo que somos.
Esse não é um caminho para os covardes. Exige coragem, confiança e
perseverança na busca de verdades internas pessoais. Pode significar a ne-
cessidade de se libertar de crenças arraigadas. Essas mudanças energéticas,
porém, têm um poder tremendo sobre nosso bem-estar físico. Quando
somos honestas, do ponto de vista emocional, nosso Qi consegue fluir sua-
vemente. Os bloqueios ficam desobstruídos, a energia se move livremente.
O Sangue consegue circular com regularidade. Lidamos com os de equilí-
282 SAB EDO RIA C HIN ESA PA RA A SAÚDE DA MULHER

brios que geram muitas de nossas queixas físicas, os influenciamos e, por


fim, nos livramos deles.
Nas culturas em que as mulheres na fase da menopausa são valorizadas,
as dificuldades são mais improváveis. Os sintomas podem existir, mas são
interpretados de outra forma. Não são vistos como problemas que exigem
tratamento. Em vez disso, são considerados indicadores da chegada de uma
fase nova e respeitada da vida. Essas respostas energéticas são muito dife-
rentes. Os sintomas podem ser os mesmos, mas a forma como responde-
mos a eles e a interpretação que damos fazem uma diferença enorme.
Ampliamos nossa perspectiva e adotamos uma visão que vai além de
nosso "eu" físico. Analisamos nossos Três Tesouros - Jing, Qi e Shen.
Curar é harmonizar cada um desses níveis, é um movimento em direção à
totalidade. Isso engloba todos os aspec tos de quem somos e nossos rel acio-
namentos. Deixamos para trás uma perspectiva de separação e autonomia
e passamos a adotar uma de interligação e interdependência. Passamos a
ter uma visão holística de nós mesmas e não separamos mais nosso corpo
de nossas emoções ou nosso espírito. Da mesma forma, engajamo-nos em
novos relacionamentos com os outros e com o ambiente. Ao nos despren-
dermos de nosso ego protegido, conseguimos abri r nosso coração para um
contexto mais amplo. Há espaço para tudo, para nossas imperfeições e
qualidades, para as imperfeições e qualidades dos outros e do ambiente.
A cura é um processo de redescoberta em cada momento. É uma cons-
cientização sobre quais crenças e atitudes nos ajudam em nosso caminho em
direção à integridade e paz interior. Podemos encontrar nossa verdade, nossa
paz de espírito no momento presente. E não no passado ou no futuro, mas na
forma como optamos por viver cada momento. Momento a momento, con-
fiamos no fluxo, em nossa capacidade de enfrentar o que está por vir, seja
quando for. Conseguimos estar na companhia da natureza mutante do enve-
lhecimento, da doença, da saúde, da raiva, da incerteza, vivendo um momen-
to de cada vez. Assim como acontece na hora do parto, precisamos apenas
nos concentrar na contração que está começando, e depois na próxima. Ca-
minhamos ao seu lado. Libertamo-nos do poder que existe sobre nós. Educa-
mo-nos. Damos à luz nós mesmas nesse período da Segunda Primavera.
~
-®B'@
B-CQB
Conclusão

ma filha e sua mãe estavam andando nas montanhas. De repente, a jovem


U caiu e gritou: '1\hhhh!" Para sua surpresa, ouviu uma voz repetindo ·~­
hhh!': vinda de algum ponto distante. Curiosa, perguntou: "Quem é você?': e a
resposta foi: "Quem é você:' '~dmiro você!': dis e, e a voz falou: '~dmiro você!"
Irritada com a resposta, gritou: "Covarde!': e a voz respondeu: "Covarde!"
A garota olhou para sua mãe e perguntou: "O que está acontecendo?"
Sua mãe sorriu e disse: "Filha, preste atenção:' "Você é uma vencedora!", e
a voz retrucou: "Você é uma vencedora!" A garota ficou surpresa e não
entendeu. A mãe explicou: ·~s pessoas chamam isso de 'eco' mas, na ver-
dade, isso é a vida. Ela lhe devolve o que você diz ou faz. Nossa vida nada
mais é do que um reflexo de nossas ações e de nossos pensamentos. A vida
lhe devolverá tudo o que você deu a ela."
Essa história nos faz lembrar que ações, palavras, pensamentos e emoções
têm o poder de moldar quem somos. Há uma correlação similar na Medicina
Tradicional Chinesa. Nossa saúde física, emocional e espiritual é um reflexo de
como conduzimos nossa vida, como cuidamos de nós mesmas e das crenças
que temos em relaçao a nós mesmas e ao mundo. A maneira como lidamos
com nossos sentimentos, o que comemos e bebemos, nossas atividades físicas,
nossa vida sexual e a percepção de quem somos e o quanto descansamos afe-
tam profundamente o estágio do ciclo feminino que vivenciamos no presente
284 S ABEDO RI A C HIN ESA PARA A SAÚ D E DA MU LH ER

e em todas as fases subsequentes. A MTC reconhece essa interdependência ao


admitir que a raiva reprimida está relacionada às cólicas menstruais; que ocos-
tume de comermos alimentos gelados está ligado aos caroços nos seios; que
excesso de atividade física relaciona-se à perda de nossa Água Celestial; que os
desejos por determinados alimentos estão ligados à nossa infertilidade; que a
depressão pós-parto está relacionada à perda de Sangue depois que damos à
luz; que os suores noturnos associam -se ao uso de contraceptivos orais.
A base da inte r-relação na MTC é o Qi, a energia vital do universo. Um
Qi forte e que fl ui livremente em todas as suas manifestações é o que nos
traz vida e sa úd e. As doenças e os sintomas são refl exos do movimento de-
sa rm ôni co do Qi . O Yi n e o Ya ng são forças opostas, mas compl ementares,
qu e, regid as pelas leis do universo, alternam-se entre o equilíbrio e o dese-
quilíbri o. O equilíb rio de nosso corpo está diretamente relacionado à ex-
pressão de nossas emoções, qu e são uma manifestação do Qi. Sentimentos
reprimidos ou excessivos afetam o fl uxo suave do Qi e do Fígado, o sistema
de Orgãos responsável pelo movimento desobstruíd o do Qi no corpo. O
Fígado tamb ém rege nosso ciclo menstrual, e é por isso que qu alquer blo -
qu eio na circul ação do Qi leva a disfun ções durante a Água Celesti al que,
quando não tratadas, pode m causa r problemas durante nossos anos repro-
duti vos. Se fi camos doentes ou apresentamos sintomas nos anos em que
somos férteis e não lidamos com as causas subjacentes, na Segunda Prima-
vera iremos nos torna r nervosas ou apresentar a síndrome comum ente co-
nhecida no Ocidente co mo menopausa.
Entend er nossos sentim entos e ex pressá-los de maneiras saudáveis é
vital para nossa sa úd e fem inina. Pa ra tal, precisa mos reexaminar nossas
emoções e confiar em no sso co rp o e na sabedoria que temos dentro de nós
mes mas. A confi ança su rge quando ent end emos e ace itamos nós mesmas,
incluindo nossas necessidades sex uais. Uma vida sex ual satisfató ria é im -
porta nte para nosso be m-estar e pa ra nossa longevidad e e jornada espiri-
tu al. Ao entrarmos em co ntato com nossos sentim entos e determinar o
quan to eles são impo rta ntes para nós, estabelecemos novas maneiras de
estar com nós mes mas e de enca rar as mud anças qu e surgem à medida que
passamos de um a fa se fe minin a para outra.
CONCLUSÃO 28 5

No início da Água Celestial e durante os primeiros dez anos que mens-


truamos, desenvolvemos um novo relacionamento com nosso corpo e com
nossas emoções. Conforme passamos pelas mudanças radicais da puberda-
de, começamos a redefinir o relacionamento que temos com nós mesmas.
Durante a gravidez, aprendemos a nos desprender. Nessa fase, entra em
ação uma série natural de mudanças biológicas sob as quais temos pouca
influência. Conforme deixamos de lado o desejo de controlar o que está
acontecendo com nosso corpo, também precisamos nos desprender das ex-
pectativas que temos com relação à nossa identidade e aos nossos papéis.
O Mês de Ouro é um período durante o qual percebemos nosso amor
incondicional pelo recém -nascido. Nosso coração se abre e sentimos uma
relação profunda com a sabedoria inerente de nosso corpo e com todas as
outras mães. Maravilhamo-nos com o milagre da criação e, com isso, po-
demos vivenciar nós mesmas a partir de um contexto mais amplo.
Na Segunda Primavera, seguimos em direção à aceitação. Conforme
buscamos novas formas de nos definirmos e ir contra as mensagens cultu-
rais que absorvemos, temos a chance de aceitar quem somos e de encon-
trar a cura em um nível mais profundo à medida que harmonizamos os
Três Tesouros: Jing (corpo), Qi (emoções) e Shen (espírito).
Nossa jornada da Água Celestial para a Segunda Primavera reflete-se em
nossa jornada de cura em direção à totalidade. É uma evolução natural que
começa no conhecimento do nível físico da Água Celestial e segue em dire-
ção ao conhecimento de nossos aspectos emocionais no período de Amadu-
recimento do Fruto. Durante o Mês de Ouro, desenvolvemos um contato
profundo com os outros. Na Segunda Primavera, curamo-nos e alcançamos
a totalidade à medida que integramos todos os aspectos de nós mesmas.
Espero que, à medida que você vá lendo Sabedoria chinesa para a saúde
da mulher, tenha acesso a uma introdução construtiva quanto à saúde fe-
m inina do ponto de vista da Medicina Tradicional Chinesa. Como uma
mulher que viveu tanto na China quanto no Canadá, espero que meu
aprendizado quanto às fases e aos problemas do ciclo de vida de uma mu-
lher ressoe dentro de você e lhe traga novas perspectivas, novos enfoques
e novas práticas, que a ajudem a progredir. Por meio de medidas preventi-
286 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

vas, somos responsáveis pela nossa saúde física, emocional e espiritual no


decorrer de nossa vida. Assim sendo, recuperemos a autoridade que temos
sobre nosso bem-estar, e façamos disso uma prioridade. Ao incorporar a
Medicina Tradicional Chinesa à nossa vida, temos a chance de nos reco-
nectarmos ao ritmo da natureza e de acreditar na sabedoria de quem so-
mos. Podemos recuperar nossa saúde, valorizarmo-nos pelo que somos e
oferecermos a nós mesmas como um presente de volta ao mundo.
Agradecímentos

ostaria de agradecer a Marni Jackson que, após me entrevistar para


G seu livro, Pain, despertou em mim uma grande vontade de escrever
meu próprio livro, incentivou-me continuamente e deu sugestões valiosís-
simas durante o processo de criação. Foi ela quem me apresentou a Anne
Collins, editora da Random House Canada, e à editora sênior Sarah Davies
que, juntamente com Louise Dennys, vice-presidente executiva da Ran-
dom House Canada, receberam entusiasmadamente minha proposta de
duas páginas para o livro. Sou imensamente grata a elas pela forma como
me acolheram, estimularam e por terem acreditado neste livro.
O brigada a Kanae Kinoshita, que não apenas me ajudou a concei-
tu alizar e escrever este livro, mas que também é minha melhor amiga.
Agradeço-lhe pelo tempo que dedicou a mim, por sua compreensão,
paciência e seu carinho, por sempre me desafiar e por sua capacidade
de expressar nas páginas, de forma eloquente, o que eu tinha na mente
e no coração.
A Stacey Cameron, minha talentosa editora na Random House, que
me ajudou, pacientemente, a moldar e organizar este livro, sem que porém
perdesse sua essência. Ela foi realmente excepcional!
A Linda Spalding e Michael Ondaatje, Linda Haynes, Devin Connell,
Sara Rosenthal, Gabriella Martinelli e Ludwig Max Fischer, Barbara Minett,
288 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚ D E DA MULHER

Diane Bald e Michael Budman, que leram rasc unhos do manuscrito e me


deram a motivação, os conselhos e o apoio necessários.
A Ann-Marie MacDonald, Susan Swan, Wende Cartwright, Abberta
Noakes, Karen Minden, Tina Karpenchuk, Pauline Coutoure, Siamak Ha-
riri, Sasha Rogers, Roya Mostaghim-Vaezi, Lorraine Segato, Naomi D u-
guid, Jeffrey Alford, Kathy Vieira, Leslie Lester, Liz Upchurch, Kate Hunter,
Arlene Moscovitch, Ana Bodnar, Kristina Gordon, Debbi Haryett, Jessica
Melchiorre, Denise Richard, Gunilla Robert, Michelle Metivier e Beverley
Howell, pela amizade, estímulo e apoio.
A David Bray, que me ajudou a praticar a MTC no Canadá. É um ami-
go muito querido. Seu conhecimento sobre a MTC é insuperável. Foi ele
quem verificou, com disposição, as informações médicas encontradas nes-
te livro. Quaisquer erros existentes, porém, são somente meus.
A Yao Kemin, ex-diretora do Kunming Traditional Chinese Medicine
Hospital, que foi fonte de inspiração e que me ajudou muito durante os
anos em que estive sob sua liderança. Gostaria de agradecer a Cedric K. T.
Cheung, presidente da Chinese Medicine and Acupunture Association of
Canada, uma das primeiras profissionais a apresentar a MTC aos canaden-
ses e quem preparou o caminho para nós, que chegamos depois. Gostaria
de agradecer aos meus colegas da MTC pelo apoio e por divulga ram a
MTC no Canadá: Denise Boutilier, Tsiao Yan Li, Wang Chao, Angela War-
burton e Mary Wu.
Quero agradecer ao Dr. Aref Vaezi, Dr. Harvey Schipper, Ora. Carolyn
DeMarco e Dr. Vincent DeMarco, médicos da medicina ocidental que se
abriram à MTC e que apoiam seus pacientes dando-lhes a opção de escolha.
A Jennifer Shepherd, diretora de direitos e contratos na Random Hou-
se, por ter acreditado neste livro e por sua paciência e honestidade. A Sha-
ron Klein, minha talentosa jornalista. A meus queridos amigos Anka e Tom
Czudec, pela foto que tiraram para a capa, e a Lynn Ryan, por seu apoio. A
Kelly Hill, pela maravilhosa sobrecapa e pelo projeto gráfico. E a meu ama-
do e antigo amigo de Kunming, Hu Yaxong, por suas belas ilustrações.
Gostaria de agradecer aos membros da equipe da minha clínica, Jin
Nan, Gao Chao, Liu Yaokun, Xing Yuehua, Wei Hong e Shen Yilin, todos
AGRADECIMENTOS 289

excelentes profissionais da MTC, e especialmente a Zhao (Lisa) Hong, que


nasceu na mesma cidade que eu, formou-se na mesma escola de MTC e
tem meu sobrenome! Sem a ajuda dela, que é meu braço direito, eu não
teria conseguido escrever este livro. Quero também expressar minha gra-
tidão aos meus assistentes, Hellen Hajikostantinov e Tao Liang- que tra-
tam de mim enquanto eu trato de meus pacientes.
Sou grata a todas as mulheres que compartilharam comigo suas expe-
riências e histórias contadas neste livro. Espero que elas possam ajudar
outras mulheres em sua jornada de cura a caminho da totalidade.
Por fim, gostaria de agradecer à minha família: meus pais, minhas irmãs
e meu irmão, por seu amor e por estarem sempre comigo; meu parceiro,
Scott, por todo seu apoio e por entender minha vida atribulada; e, finalmente,
mas com certeza não menos importante, obrigada a meu filho Zhao Zhao,
que sempre tem bons conselhos para sua mãe e vive lembrando-a de cuidar
de si mesma.
,@
~1.3'®
~~

Apêndíce

Para atualizações e fontes, visite www.xiaolanclinic.com.

PRINCIPAIS ASSOCIAÇÕES DE MTC E ACUPUNTURA NA AM~RICA


DO NoRTE
Caso tenha interesse em encontrar um profissional da MTC ou acupuntu-
rista em sua região, entre em contato com umas das seguintes organiza-
ções para obter informações:

CANADÁ

ÜNTÁRIO
lHE CHINESE MEDICINE AND A cuPUNCTURE AssociATION oF CANADA
154 Wellington St.
London, ON
N6B 2K8
Telefone: (519) 642-1970
Fax: (519) 642-2932
website: www.cmaac.ca

lHE CANADIAN SociETY OF CH INESE MEDICINE AND AcuPUNCTURE


434 Dundas St. W., Suíte 303
Toronto, ON
M5T 1G7
Telefone/fax: (416) 597-6769
Website: www.tcmcanada.org
292 SAB EDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

BRITISH CoLUMBIA
AcuPUNCTURE AssociATION oF BRITISH CoLUMBIA

411 Dunsmuir St.


Vancouver, BC
V6B 1X4
Telefone: (604) 608-0608

TRADITIONAL CHINESE MEDICINE AssoCIATION OF BRITISH CoLUMBIA

1200 Burrard St., Suite 801


Vancouver, BC
V6Z2C7
Telefone: (604) 602-9603

UNITED AcuPUNCTURISTS AssociATION oF BRITISH CoLUMBIA

703 1 Westminster Hwy, Suite 102A


Richmond, BC
V6X 1A3
Telefone: (604) 82 1-1323

NovA SconA
AcuPUNCTURE & NATUROPATHY AssociATION oF NovA ScoTIA

6066 Quinpool Rd.


Halifax, NS
B2L lAl
Telefone: (902) 492 -8839
AP ÊN DICE 293

PRINCE EDWARD ISLAND

AssoCIATION OF REGISTERED AcuPUNCTURISTS OF PRINCE EowARD


ISLAND

44 Grafton St.
Charlottetown, PEI
C1A 1K5
Telefone: (902) 628-1478

QUÉBEC

AssoCIATION o' AcuPUNCTURE ou Qu~BEC

441 Sainte-Hélene St., Suíte 1


Longueuil, QC
]4K 3R3
Telefones: (450) 679-0853 ou (418) 623-9451
Fax: (450) 467-92 13
Website: www.acupuncture-quebec.com

ÜRDRE PROFESSIONNEL DES AcUPUNCTEURS DU Qu~BEC

1600 Henri-Bourassa Blvd. W., Bureau 500


Montréal, QC
H3M 3E2
Telefone: (514) 331 -8870 ou 1-800-474-59 14

EsTADos UNIDOS

NATIONAL CERTIFICATION CoMMISSION FORAcuPUNCTURE AND ORIEN-


TAL MEDICINE

11 Canal Center Plaza, Suíte 300


Alexandria, VA 22314
USA
Telefo ne: (703) 548-9004
Fax: (703) 548 -9079
Website: www.nccaom.org
,@
,@~..@­
'8'0 '8'
índíce

abóbora 53, 266 e emoções 70, 86, 93, 102- 103, 164, 166,
aborto es po nt âneo 78, 169- 17 1, 209, 222 285
absorve ntes co muns 96 e gravidez 204, 166
abso rventes internos 96, 104 e Qi 66, 69, 71, 89, 102, 166, 284
ace itação 255 -257, 284 ervas para a 94-95
de mudanças 173, 225, 227, 240-242, 244- excessiva (menorragia) 80, 95
245, 259,26 1, 277-278,284 exe rcícios d uran te 66, 82, 11 5
ac upressão. Ve r também ac upuntura Fígado e 69, 73, 86, 99, 102
e tratamento de câ ncer 18- 19, 11 8 har monizando 68
na meno pausa 275 in ício da 6 1, 64, 11 6,285
para aj ud ar no parto 200-203 interrupção da (a meno rreia) 70, 80, 89
para edemas 184 irregular 109, 263
para sinto mas menstruais 19, 89 na China 14, 89, 63 -64
acupuntura. Ver também ac upressão regul ando 68
após o pa rto 2 16 restri ções du ran te I04, 11 5
e endo metriose 9 1-92 Rins e 82-83,86,99, 102
Meridi anos na 34 água de gengibre 216
na gravidez 183- 184, 2 1O ai ye (a rtemísia seca) 98
po ntos para 13, 99, 129, 179, 182 aipo 52
aeróbica 31, 55, 75, 267, 269 álcool 87, 97, 104, 113, 126, 142, 162 2 15,266
agripalma ( Yimu Cao) 2 17-2 18 alegria 28, 40, 43-46, 73, 93, 11 9, 199, 216, 236
água alface 53, 176
como um símbolo 22, 29, 38-40, 140- 141 alga marinha 52, 266
ingestão de 66, 83, 18 1 al ho 52
Água Celestial (menstruação). Ve r também alimentação. Ve r também alimentos
problemas menstruais como causa de desarmonia 50, 52
alimentação e 86-88, 104 como fo rma de autoc uidado 4 1-42, I04,
antigos médicos e terapeut as 63 166
atitudes com relação à 74 e Baço 176, 265
autocuidado du rante 86, 96, 104 e doenças de mama 108, 11 3, 11 6, 135
co mo Essência 162, 170 e Essência 86
desco nfo rto duran te a 80-82, 135 e Estômago 37, 50, 170, 205, 265
dolorida (d ismenorreia) 69, 95 e Fígado 52, 65, 87, 113
296 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULH ER

e menstruação 86-88, 104 e Essência 168


e perda de peso 83 e Qi do Baço 87, 113
e Rins 50, 52, 83, 88,205,211,2 13,2 17-2 18, e Qi do Fígado 87
263,265 na menopausa 266
e Sangue 36, 67,87-88, 113-11 4, 161 , 181, amamentação
189,204,2 14,2 16-2 19,265-266 alim en tação durante a 2 19
e sistemas de Orgàos 67, 82, 87-88, 113 preparando-se para a 184
na gravidez 166, 172, 176 problemas com a 2 11
na menopausa 263, 265 amêndoas 180, 266
no Mês de Ouro 176,2 13 amendoi m 65, 72,2 19
para a cura 51-52, 86 amenorreia (ausência de menstruação) 70, 80,
tratamento de cânce r e 11 3, 135 89
alim entos. Ve r também alimentos específicos e am igos 9, 49, 53, 6 1, 72, 75, 94, 11 8, 147, 166,
tipos de alimentos; alimentação 168, 199-200,206,2 13,2 16-2 17,227,238,
ervas como 52 242,252,264,288
para amamentação 21 1 angéli ca (Dong Quai) 2 18
para ene rgia Yang 217 Anita 263-264
ricos em ferro 162 Ann e 145-146, 287
sabordos40,52, 187,2 18,259 ansiedade
temperatura dos 52-53 e Fígado 73
tempo e 44, 87 expressando a 37, 70, 187
terapêuticos 54, 65 mulheres e a 21, 144, 263
alimentos apimentados 87, 104, 163,266. Ver antiác idos 273
também alimentos Quentes arroz 32, 53-54, 6 1-65, 83, 88, I 04, 162, 18 1,
alim entos congelados. Ver alimentos Frios 189,2 11 , 2 13,2 16-2 17
alimentos crus arroz de ge ngibre 179- 180
após o parto 229, 233 art rite 18, 122. 2 13, 26 1, 266. Ver também do -
durante a menstruação 87 res nas articulações
e amamen tação 234 reumática 77, 80
e Baço 87 Asia Wom en Workers Newsletter 90
e Essência 168 au toconfia nça 205
e Estômago 2 18 au toc uid ado
e tratamento de cânce r 113, 125, 135 alimentação como uma forma de 41 -42,
e Umidade 87 104, 166
alimen tos Frios 53, 66, 11 3, 162, 178, 266 com os seios
após o parto 45, 47, 129, 168 durante a menstruação 86, 96, 103, 163
durante a menst ruação 66 exercícios co mo uma forma de 75, 273
e Baço 113 na menopausa 269, 272-273, 279
e Estô mago 113 para ede ma 19 1- 192
alimen tos gord urosos. Ver alim ent os ricos em para problemas men struais 163
gordura sexo e 157
alimen tos Mornos. Ve r alimentos Quentes autoestima
alimentos Quentes 52, 53, 87, 104, 113, 163, envelhecimento e 240
187,266 hom ens e 74, 146, 148,233, 240
alimentos ricos em gord ura 87,104, 113, 163, imagem corpo ral e 89, 147
182 menstruação e 84
após tratamen to do câ nce r 125 sexo e 146, 148, 240
e amamentação 2 19 automassagem I02, 269
e edema 192
f OICE 2 97

Baço. Vu também Qi do Baço cevada 53


ali ment ação e 176, 265 chá de ge ngibre e laranja 178
apoio para o 163 chá de gengibre e menta 179
estresse e 88 Chin a
Umidade e 50, 87, 99, 11 3,26 1, 265 amor ro mânti co na ISO
bebidas Frias budismo na 119- 120, 236
após o parto 227, 229 câ ncer de mama na 109- 110, 113, 117
durante a menstr uação 67, 87, 104 doe nça na 43
beleza 85, 240, 244 envelheci mento na 238-239
Bernie 259-260 família na lO, 14, 65, 84, 112, 144- 145,
Bexiga (Urin ári a) 22, 35, 37, 187- 188, 190, 156, 209-2 10, 213-2 14, 238-239
202,2 11 ,2 17,262, 272 fi losofi as na 119- 120
budi mo 11 9- 120, 234 -235, 252 governo da 47, 5 1, 8 1, 176, 192, 255
parábolas do 171, 224 grav idez na 177, 180, 184
menopausa na 237, 258, 266
MTC na 12, 17,47,5 1, 184,285
cabelo
padrões de beleza na 83-84
crescime nto ano rma l 89
parto na 2 12-214,222
menopausa e 239
política de filh o úni co 209
q ueda de 7 1, 217
repressão emocio nal na 47-48
café 87-88, 97, I 04 , 162, 176, 266
restrições de escolh a na 111
café da manh ã 54, 217, 266
Revolução Cult ural na 13,6 1
cafeí na 88, 13, 126
sexo na 143-144
Calo r 29, 3 1, 33, 42, 44, 53, 98, 11 3, 154, 165,
chocolate 88, 90, 11 3, 126
182, 187, 20 1, 214, 217, 26 1, 265. Ver
Chong Mai (Vaso Penetrador) 64, 107, 109, 11 5
também o ndas súbitas de calo r
choro 47, 49, 68-69, 78, 2 1O, 242
Ca minh ada
Ci Li ao (po nt o de acupuntura) 200, 202
como exe rclcio 93, 95, 18 1- 182, 268
ciclos femininos 9, 20-21, 63
como med itação 22 1
ciga rros. Ver fum o
Ca nais 59, 66, IOI, 160
Cinco Fases 22, 38-40, 88
anal do Baço 70, 99, 188,
cistos ovari anos 68, 78, 9 1-92, 23 1
Canal do Estô mago 70, 188
coágulos sa nguíneos 70, 122,273-274
anal do Fígado 186
cólicas 70, 73-74, 8 1, 82 , 87
Canal dos Rins 190
tratan do as 96, 97-99
Canal Yang (Vaso Govern ador) 153
colite ulcerativa 121- 123
Canal Yin (Vaso Oirecionado r) 154
cânce r compaixão 9, 19, 40, 49, 93, 121, 128, 173,
197- 199, 225, 236, 243 -244, 250, 280. Ver
grupos deaj uda 122- 123, 128
tratame nt o para o 117- 11 8, 121, 126- 128 também perd ão
câncer de mama. Ver também câ nce r; cura comp rimidos Black Chicken White Phoenix
na Chin a 109- 11 0, 11 3, 11 7 ( Wu fi Bai Feng Wa n ) 66,72
no Ocidente 10, 19, 23,8 1, 110, 113, 118 comunismo. Ver China
Candy 213 concepção 160- 173
carma 120 e estresse 164 - 166
ca rne branca 88, 104. Ver tam bém galinh a; Confúcio 45, 144, 237
sopa de gali nha confuc ionismo 112, 144- 145, 156,236
ca rneiro 53, 189, 214 congee de arroz-doce 65-66, 88
atherine 76-80, 82 consciência 20-21, 37, 4 1, 50, 62, 70, 75, 77,
cebolas 53 79, 85, 90, 93-94 , I02, 11 O, 135, 145, 164,
cesariana 209-2 11, 213 169, 193 , 215, 236, 24 5-247, 254 , 279
298 SABEDORIA C HINESA PARA A SA Ú DE DA MULHER

contraceptivos o rais 77, 80-8 1, 284 desprendimento 199,226. Ver também perdão
Coração na gravidez
e Shen 37, 2 17, 261 Diane 233-234
Sangue e 36-37, 177,2 17, 2 19, 235, 261 , diários. Ver registrar fatos e se nsações
265,274,279,28 1 di arreia 55, 87, 96, 18
co rpo. Ve r tam bém image m co rpo ral; relação di sfun ções aliment ares 49, 54, 84, 162
mente/co rpo dismeno rreia (cólicas menstruais) 69, 95
im agem corporal 20, 83-84, 89, 147, 174, diuréticos 273
237,26 1 doces
med itação sobre o 246, 248 desejo por 55, 67, 87-88
relacio namento com o IO, 20-2 1, 84, I03, e O rgàos 40, 50, 52, 87, 2 18
173- 174, 194,285 doença na bex iga 2 11
sabedoria do 63, 193, 196, 205-206, 232, doença 9, 10, 13, 15, 18-22, 28-30, 34 -36, 40,
279,285 42,45-46,48,50-52,54-55,57-58, 62,66,
cortisona 273 70, 78, 80, 90, 102 - 103, 107- 11 0, 11 5- 122,
couve 88, I 04, 11 8 125, 130, 133- 135, 162, 168, 17 1, 175,
cravo 53, 98 184, 198, 204-205, 2 12, 2 14, 222, 227,
cremes à base de progestt'rona 74 242,259-260,263,267,274,282,284. Ve r
cura tam bém enfe rm idades
alimentação para a 51 -52, 86 doenças de ma ma 8 1, 107- 109. Ver também
ervas para a 5 1 câncer de mama
mudança como uma opor tu nidade de ali ment ação e 108, 11 3, 11 6, 135
70, 86, 94, 120- 12 1, 164, 178, 235, 264, doenças ment ais 45
275 dot'nças ps icológicas 18, 45, 96
relacionamen tos e 125 Dong Quai (a ngélica) 2 18
Três Tesouros e 4 1-42, 86, 90, 135, 235, dor 40, 45, 48-49, 62,68-7 1, 73-74 76-82,
269,282,285 87-88,9 1-93, 95 -96,98 - 100, 108, 11 5,
versus restabelecimento 133 11 7, 124, 134 - 135, 184, 187, 192 -200,202,
curso pa ra gestan tes 194 2 10,2 13-2 14,234,240-24 1, 243-244,
Da r1 Tian 129- 130, 19 1 246-24 7, 252-255,267-269,272, 280. Ve r
Deficiência de Sangue também tipos específicos de do r e tra ta-
causas da 55, 87, 89, 114- 11 5, 120 mel/ tos; di sme norreia
duran te a menstru ação 63 -64, 87 dor de cabeça 18, 50, 68 -69, 96, 2 15
me nopausa e 26 1,265,267,274 dores nas artic ul ações 18, 39, 46, 95, 122, 186,
sintomas da 68, 2 15-2 17 2 15-2 16,2 18,222 . Ver tam bém artrite
den tes 180, 189,210-2 11 ,2 19,225,248,262
depressão
Estagnação de Qi do Fígado e 69, 73, 87, edema 50, 184
109, 11 7 prevenção de 182
exercício e 99, 260, 267 ejacu lação 140- 14 1
men opausa e 245, 258, 260, 267 Eliot, T. S. 243 -244
pós-parto 10, 2 1,2 14,2 17,284 emoções. Ve r também emoções específicas
desarmo nia. Ver também harmo ni a como ca usa de desa rm o ni a 46, 68, 205
ali mentação e 50, 52 e amament ação 220
causas de 3 1, 45-46, 50, 82, 120 e câncer 109- 11 0, 11 2, 11 8, 12 1-122, 124,
Causas Exteriores de 42 126- 127. 135
Causas Int eriores de 42-43 e doença 46, 48, 50, I 03, I 09- 11 O, 11 9-
emoções e 46, 68, 205 120, 125, 135, 17 1. 198,204
despertar 28, !53, 197, 232, 236 e Essê ncia 4 1
ÍNDICE 299

eQi45, 135, 162,171, 177,220,235,245, Essência 32, 41,56-57,63-64,86,97, 139-142,


266,284 -285 161 - 162, 170, 174, 190,205,2 12,2 16-2 18,
e saúde 2 I. 29, 41 -43, 49-5 I. 55, 7 1, 227,232,235,262-263,265,267,269,
73-74, 76, 102- 103, 11 0, 11 3, ISO, 157, 274, 287. Ver também Jing
177,204,24 1,243,250,263,279-280, Estagnação de Qi do Fígado
283-284 causas da 46,70-71,80,87, 109, 163
e saúde dos seios 109- 11 0, 11 2, 11 6, 11 8, e seios 37, 69, 108, 274
12 1- 122, 124, 126- 127, 135 sintomas de 37,46-47,68-69,8 1, 108,
estagnada 266 11 3, 184,2 19-220,274
exercício e 93 TRH e 274
Figado e 69-70,73, 109, 119- 120 Estagnação de Sangue (Estase)
memória e 77-79 causasda81,107,17 1,274
menopausa e 235, 237, 240, 243-245., e doença mamária 107
247,266,280 e dor 98
menstruação e 70, 86, 93, I 02- 103, 164, e in ferti1idade 70, 8 1
166,285 e manchas de fígado 184
naC hina 21,47, 11 2 TRH e 274
na gravidez 164, 17 1, 177 estim ulan tes 87, 97, 126
no Ocidente 73, 11 0. 120,245 Estômago 22, 35, 37, 125, 129, 183, 188,2 11 ,
Yin e Yang e 120, 197 247, 268. Ver também Qi do Estômago
endometriose 78,90-93,97, 108 estresse
energia. Ver também Yin e Yang apoio e 75
sexual1 4 1- 142, 148, 153- 154, 156- 157 durante a menopa usa 263, 273
Yang (mascu lin a) 57, 97, 140- 14 1. 200, e Baço 88
214.217,232-234,261-262,268,275,279 e concepção 164, 166
Yin (feminina) 57, 97, 140- 14 1, 184, 194, e do r 88, 92, 195
26 1-262,268,275,279 e Essência 168
enfermidades e Estômago 178
causas das I 02, 120 e menstruação 73, 96, 166
psicológicas 133 e Qi de Fígado 88, 109, 163, 182
enjoo 62, 67, 178- 180 e saúde 103
enjoos matinais 178- 179, 184 escolh as e 110, 11 2
envelhecimento 140, 26 1. Ver também na gravidez 162, 177,182, 189, 195, 197-
mudança 18
atitudes com relação ao 237, 239-240, no Ocidente 97, 110
244-245, 28 1 reduzindo o 75, 92, 94, 135, 196, 198
Yin e Yang no 244
equilíbrio 10, 20, 30, 34 , 38, 40, 42 -43, 50, aceitação de 121, 205
53-55, 57, 83, 89, 97, I 02- 103, 11 3, 119- menopa usa e 233-235
120, 126, 128, 135, 139, 14 1, 155- 156, na gravidez 205, 225
227,232,267,273,279-280,284. Ver tarn- exercícios. Ver também exercícios (especifi-
bém Yin e Yang cos); exercícios físicos pesados
ervas 16- 17, 19,39-40,47,5 1-52, 62,81,89, após o parto 214, 220-22 1
94-96, 102- 103, 11 8, 123, 167, 170, 184, beneficios dos 42, 55, 93, 98, 102, 11 4,
217,22 1-222,275 126, 130- 132, 135, 140,220
espasmos musc ul ares 55, 67 como autocuidado 75, 273
espinafre88,104,162, 18 1, 216 durante a men struação 66, 82, 115
Essência de Rins 82, 102, 125, 162, 188,205, e concepção 162, 165
217,263 e emoções 93
300 S ABEDO RI A C HI NESA PARA A SAÚDE DA M UL H ER

e equilíbrio de Qi 33, 55, 90, 94, 11 4, 135, e funções ginecológicas 68-69, 73, 86-87
266,268 102,274,284
e menopausa 241,266-267, 273, 242, 263, e olhos 35, 97
266-268 função do 35-37, 55, 69, 88, 274
e o tratamento de câncer 129 na gravidez 163, 171,204
nagravide.: 171, 181 - 182,189 fogo 22, 29,38-40,42,44, 140- 14 1
tipos de 88,90-91, 94, 98, 114, 130- 132, folha s de mostarda 18 1
164, 182,220, 267-268, 270-272 folha s de taráxaco 88
exercícios (específicos). Ver também Qi Gong; Frio 42-43,67,86. Ver também bebidas Frias;
TaiChi alimentos Frios
A Grua 131 após o parto 2 12,2 14-217,227,265
Apontando para a Lua 130 frustração 69, 73, 102, 130, 135,204,266
de alongamento 182, 220, 267-268 frutas 52-53,65, 176, 181,2 18,263
de automassagem 102, 269 Fu Qing Zhu Nu Ke 63
de relaxamento 45, 115, 127, 164 fumo 172, 273
para evitar dores nas costas 184 funcionamento dos intestinos 50, 267, 270. Ve r
de visualização 92, 164 também prisão de ventre; dia rreia
O Cavalo 129
O Urso 132
galin ha 53, 180- 181, 217
para o músculo pubococcígeo 272
ganho de peso
para sentir o Qi 33
na gravidez 55, 176
respiratórios 94, 11 5, 140, 153
na menopausa 262, 265, 267, 274
exercícios físicos pesados
gengibre 53 66, 98, 178- 180, 2 16, 219
após o parto 220
Gloria 169- 17 1
como causa de doenças 55, 89, 169
gravidez
durante a menstruação 82, 84, 89, 104
alimentação 166, 172, 176
na gravidez 171, 189
apoio durante 200
na menopausa 263
autocuidado 185, 187, 189, 19 1
calendário da 185- 186
desprendimento 199,226
fadiga
emoções 164, 171, 177
como causa de doenças 55, 82, 115, 212,
enjoos matinais 178- 179, 184
227
e o "eu" 205, 225
como um sintoma 258
estresse 162, 177, 182, 189, 195, 197- 18
e Estômago 178
excesso de exercícios físicos pesados 171,
menopausa e 258
189
família
exercício 17 1, 181- 182, 189
entrando em contato com a 75, 103, 118-
ganho de peso 176
11 9,199-200,206, 227,238
manchas do ffgado 184
na China 10, 14, 65, 84, 11 2, 144- 145,
massagem durante a 192, 193- 195
156, 209-210,213-214,238-239
primeiro trimestre 167, 171, 178, 182
no Ocidente 2 13-2 14,238-239
relação sexual 182, 187
feijão comum 266
saúde dos pais e 41, 16 1-162, 205, 263
fibroide (fibromioma) 70,74-75,78,97
sono 224
fígado (alimento) 88, 104,216,266
Fígado. Ver também Qi do Fígado
alimentação e 52, 65, 87, 11 3 harmonia 9, 20, 28, 30, 35, 38, 40-42, 57, 90,
Calor no 39, 113 103, 11 2, 128, 133, 196,235-236,238,
e emoções 69-70,73, 109, 11 9-120 279. Ver também desarmonia
ÍNDICE 301

He Gu (ponto de ac upuntura) 200-20 1 pós- natal1 6 1- 162, 170,205, 232,263,


hemorragia 15-17,70,209-210 265
homossexualidade 14 pré-natal1 6 1- 162, 186,205,232,263
hormônios reprodut iva 63
em tratament os de fertilid ade 169- 170 sêmen como 140
na TRH 275-276 tratame nto de câ ncer e 125
Hua49 "Jo rnada de Cura" 126
Huang Di Nei /ing (Clássico da medicina do jorn ada espiritual 79, 127,279,284
imperador amarelo)
sobre alimentos 28
sob re a menopausa 248 Kim 126- 128
sobre as emoções 28
sobre ciclos de vida 63
sobre o sono 99 lactação. Ver amamentação
laparoscopia 78, 90, 92
laticínios
identidade sexual149, 156 após o tratamento de cânce r 125
inchaço 68-69,73-74, 78, 82, 87, 108, 127, 130, e edema 182
135,204 e Essência pós- natal 162
in continência 272 e Qi do Baço 113
infecções urin ári as 150- 151 e Umidade 87, 113
infertilidade 18- 19,1 08, 162, 204,284 na menopausa 263, 265-266
inhame 52 Laura 121- 124
insônia 39, 87, 122, 11!3, 2 17,258-259,274. Ver Leah 24 1-243
tambérn sono legumes 53, 54, 162, 170, 18 1,2 14,2 18,2 19,
inteligência interior 13, 194 263
Intestino Delgado 15, 22, 35, 37, 188-189 de folhas verdes 52, 88, 104, 181 ,2 17,266
Intestino Grosso 22, 35, 37, 69, 188, 190, 20 1 lentilhas 214
Intestinos 12 1- 125, 183, 2 11 . Ver também In - lesbia nis mo 141
testino Grosso; Intesti no Delgado limão 52
ioga 31, 75, 9 1, 128, 260,264,267 li nfedema 130
irritabil idade Lisa 90-93, 289
durant e a menstruação 68-69,96, 100 longan (seco) 65-66, 162, 18 1, 217-218,266
menopausa e 258, 266 Lua 28-29

}ane 71 madei ra 22, 38-40, 54, 259


jarrete de po rco 219 mamão 219
}ian }ing (ponto de acupuntura) 200-20 1 mamil os 111!, 184
}iayu 15-17 Mao Tsé-Tung 13, 53, 6 1-62
Jin Zhao (Zhao Zhao) 2 10 Mary 88-89
}ing (Essência). Ve r também Essência de Rins; massagem. Ver tamb~m ac upressào;
Qi dos Rins automassagem
Água Celestial e 63-64 , 162, 170 após o parto (de abdo me) 216
alimentação e 86 na gravidez 192, 193- 195
emoções e 41 para dores menstruais 99
envelhecimento e 235, 262 para edema 192
menopausa e 279, 285, 263, 265, 279 para insô nia 183
períneo como apoio para a 154 maternidade 79, 164,2 13,225,279
302 SABEDORIA CHIN ESA PARA A SAÚ D E DA MUL HER

medicamentos 9, 21, 80, 96, 125, 127 gerenciamen to de peso 50


medicamentos à base de ervas medica mentos patenteados na 5 1-52, 184
para hemorragia 16 na Chin a 12, 17, 47, 5 1, 184, 285
para problemas menstruais 66, 96 relação men te/corpo 21-22, 27, 45, 264
patente 276 versus medicina ocidental 17- 18, 35, 11 8
medicamentos paten teados 276 muco 50, 11 4
medicina ocident al 9, 13, 17- 18, 21-22, 27, 35, mudança
8 1, 90, 11 8, 133, 140, 163, 185, 187, 189, aceitação de 173, 225, 227, 240-242, 244-
19 1,23 1,288 245,259,26 1,277-278,284
Med icina Tradicional Chin esa. Ver MTC como algo natural 28, 32, 103, 152- 153,
meditação. Ver tam bém exercícios respirató- 174,204 -205,23 1,240,247,279,285
rios, Qi Gong; Ta i Chi; visualização como opo rt unidade de cura 70, 86, 94,
caminhando 22 1 120- 121, 164, 178, 235, 264, 275
de observação do co rpo 246, 248 mulheres
e energia sexual ciclos de vida das 9, 20-2 1, 63
e parto 195- 196, 198, 206 e raiva 74, 244 -245, 266
e redução de estresse 74 esexo 14,56,139- 143, 145- 149, 156- 157,
e tratament o de cãncer 127 276-278
para o perdão 253-254 no Ocidente 9- 1O, 20-2 1, 23, 47, 73, 83-
medo 85, 11 0, 146, 156,2 12
do envelhecimento 21, 237, 240, 242 National Institutes o f Health (N IH ) 18, 273
e Rins 46, 73, 82, 263 Nei Gua n (ponto de acupuntura) !OI
lidando com o 45, 17 1, 196- 199, 205-206 Nei /ing. Ver Huang Di Nci fing
medula óssea 36, 97, 262 nozes 180- 181
mell 78- 179 e seme nt es 180, 266
melão amargo 52
memória
perda de 233, 238-239, 242, 244, 26 1-263 Ocidente
reprimida 77-79 câncer de mama no 110, 113, 11 8
menopausa. Ver Segu nda Primavera doenças no 17- 18, 120
menorragia (sangramentos intensos) 80, 95 envel hecimento no 238-239, 276
menstruação. Ver Agua Celestial família no 2 13-2 14, 238-239
Meridianos 18, 69-70 menopausa no 23 1,239,258-259,276,
nos seios I07 284
Mês de Ouro MTC no 18
alimentação durante o 176, 213 mulheres no 9- 1O, 20-2 1, 23, 47, 73, 83-
após aborto espon tâneo 222 85, 110, 146, 156,2 12
descanso durante o 22 1 níveis de estresse no 97, li O
tomando banho durante o 21 1,214,216, padrões de beleza no 83, 85, ! 56, 239
22 1-222 padrões duplos no 146- 147
tratamentos durante o 213, 216 parto no 2 13-2 14
metal 22, 38-40 perdão no 250
MTC (Medicina Tradicional Ch inesa) . Ver problemas emocionais no 10, 110,245
também ac upuntura; medicamentos à sexo no 139, 156,276
base de erva olhos
diagnóstico na 21 -22, 27,40, 45-46, 102 durante o Mês de Ouro 2 17
e concepção 162 Fígado e 35, 97
enfoque holísti co 58 men opausa e 259,26 1
enfoque preventivo 14, 20,58 Olivia 175- 177
ÍNDICE 303

ondas súbitas de calor 258, 26 1, 265, 275 problemas menstruais. Ver também cólicas;
Orbita m icrocósm ica 153-154 Água Celestia l; T PM
Orgãos do sentido. Ve r órgãos específicos autoc uidado pa ra 86, 96, 103, 163
Orgãos Fu 35 causas dos 73, 76, 80, 82, 86-87, 204
Orgãos Zang 35 Deficiência de Q i do Baço e 46, 55, 86-87,
Orgãos Za ng-Fu 22, 35-37, 64-65,68, 107. Ver 96
também sistemas de O rgãos ervas pa ra 89, 94-96, 104
orgas mo 56, 140- 142, 146, 148- 149, 277 Estagnação de Qi do Fígado e 37, 46,
ossos37,66,97, 180, 187- 189, 191,20 1, 209, 68-70,80, 163
262 exercício e 66, 82, 11 5
ouvidos 35, 37, 72, 187, 189,22 1,248,262 in chaço68-69, 73-74,78,82,87, 108, 127
ová rios 69, 70 130, 135, 204
cistos nos 97 seios doloridos 69, 96
ovo 54,88, 104, 18 1,2 11 ,2 14,2 16-2 17,266 próstata 140, 234
psicote rapia 48
psoriase 46
parto. Ve r também Mês de O uro puberdade 22, 62, 285
ansiedade com o 19, 193- 194, 217 Pulmõe 36, 39, 46, 52, 73, 187-189, 266
apoio du rante o 2 13, 227
ati tude com relação ao 193, 196- 197,
199-200,204 -206,2 12-2 14 Qi do Baço
depressão (pós-parto) lO, 2 1,2 14,2 17, acupressào para o 99- 100
284 alimentação e 86-87, 2 17
energia Ya ng e o 2 11 , 227 Deficiência de 46, 55, 86-87, 262, 274
med itação e 195- 196, 198, 206 ervas para o 96
na Chi na 2 12-2 14,222 Qi do Estômago 46, I08, 178
no Ociden te 2 13-2 14 Q i do Fígado. Ver também Estagnação de Qi
pe ríodo apó 10, 23, 95,2 11 -2 12,2 15, do Fígado
227 a cu pressão I 00
pato 53 álcool e87
peixe88, 104, 124, 162, 176, 180, 189,2 17, ali me ntaçãoe87, 11 3, 126, 163, 180
236,266 desequilíbrio de 97, 11 3
pe rdão 250-255 e Calor 87
medit ação pa ra o 253-255, 257 ervas para 96
períneo 140, 153- 154 Excesso de 88, 11 3, 11 6
peso 50, 84, 89, 95. Ve r também gan ho de peso saúde dos seios 108, 11 6
píl ulas ant iconcepcior.ais 80-8 1 Q i do Pul mão 46
pimenta-de-caie na 53 QidosRins99- IOO, 10 1, 16 1- 162, 179
pin hão 182 Deficiência de 39, 82, 88, 97
curtido no mel 18 1- 182 Q i Gong 12, 17,90-93, 102, 104, 11 4- 11 5, 126,
porco 54, 180- 18 1, 2 16, 2 19 128-129, 135,267
práticas espirituais. Ver meditação; Qi Gong; Qi. Ver também órgãos específicos
TaiChi acupu ntura e 18, 126, 200, 269
pres ão arterial alt a 50, 176, 182, 274 Deficiência de 36, 52, 55,66-67,69-70,
Princess Ma rgaret Hospital (Toronto) 126 87,89,96, 107, 11 5,2 12,2 15-2 16,227,
prisão de ventre 3 1, 69, 18 1, 2 18, 26 1 267-268,274
problemas cardíacos 18, 58, 70,273-274 desarmonia e 45-46, 55-56, 87, 2 15
problemas de voz 66 e Essência4 1, 135, 16 1, 174, 186,2 16,
problemas digestivos 15, 46, 50, 87, 265 232,235,269,282,285
304 SABEDORIA CHINESA PARA A SAÚDE DA MULHER

e menstruação 64-67,69-70,86,89,96, ressentimento 32, 69, 73, 204, 220, 235, 249-
102,284 25 1, 254-255
emoçõese45, 135, 162,17 1, 177,220, retenção de água. Ver ede ma
235,245, 266,284-285 revolução sexual1 46
envelhecimento e 11 5, 235, 268 Rins. Ve r também Essência de Rins; Qi dos
e Sangue 34-37,55,63,65-66,68-69, 71, Rins
8 1,86-87,89-90,93,96,98,100, 102, 107, acupressão para os 39, 98- 100, 126
109, 11 3- 11 6, 120, 161 - 163, 166, 17 1, 174, alimentação e 50, 52, 83, 88,205,2 11,
184,204,2 19, 227,232,245, 26 1,265- 213,2 17-2 18, 263, 265
266,269,281 desequilíbrio nos 39, 82, 88, 99, 102,262
Estagnação de 36, 87-88,98, 107, 11 5, e Agua 39,83
17 1,274 e envelhecimento 262-263, 265, 272
Excesso de 36, 88, 11 3, 11 6 e funções ginecológicas 82, 86, 99, 102
exercício e 25, 97-98 gengibre e 216
herdado 45 medo e 46, 73, 82, 263
menopausa e 15,235,245 26 1,265-266, na gravidez 16 1- 163, 171, 182, 190,205
275 tratamento de câncer e 274-275
eiose70,96,107, 109, 11311 5- 11 6, 135 Roge rs, Ca rl 256
sentimento 32 Ru Pi ("nódulos mamários") 11 7
quimioterapia 11 8, 122- 123, 125 Ru Yan ("ped ras mamárias" ) 11 7, 135

Rachei 150- 151


raiva. Ver também perdão sal 50, 88, 104, 181-182, 2 11
e Fígado 46 San Yin Jiao (ponto de ac upuntura) 99, 182,
expressando a 130, 233, 248 -249,26 1 200-20 1, 269
mulheres e a 74, 244-245, 266 Sandra 81-82
receitas Sangue. Ver também Deficiência de Sangue;
arroz de gengibre 180 Estagnação de Sangue; Agua Celestial
chá de gengibre e laranja 179 (menstruação)
chá de gengibre e menta 178 ac upressào para 100, 200, 269
congee de arroz-doce 66 alimentação e 36, 67, 87 -88, 11 3- 114,
jarrete de porco 219 16 1,1 8 1, 189, 204,2 14,2 16-2 19, 265-
pinhão curtido no mel182 266
sopa de galinha co m ervas 218 e concepção 68, 163, 170- 171
sopa de ossos 181 e Co ração 36-37, 177,217,219, 235, 26 1,
sopa de ovos 65 265,274,279, 28 1
refeições. Ver café da manhã; alimentação; e Essência 63, 16 1, 174,232
alimentos e Qi 34-37,55,63,65-66,68-69, 71,8 1,
regist rar fatos e se nsações 76 86-87,89-90,93,96,98, 100, 102, 107,
relação mente/corpo 109, 11 3- 11 6, 120, 16 1- 163, 166, 17 1, 174,
na MTC 21 -22, 27, 45, 264 184 , 204,2 19,227,232,245,26 1, 265 -266,
no parto 195-96 269,28 1
Tonglen e 197 e Útero 64, 66, 69-70, 8 1, 87, 89, I 02, 23 2,
relação sexual 235
dores durante 70, 8 1, 277 Fígado e 35, 37, 65, 69, 7 1, 73, 8 1,86-87,
gravidez e 182, 187 96, 102, 107, 109, 113, 11 6, 163, 184,204,
relacionamen tos 245
como co rpo 10,20-2 1,84,103,173- 174, menopausa e 245,26 1,265,279
194,285 tratamento de câ ncer e 15
Í DICE 305

saúde e autoesti ma 146, 148,240


emoções e 2 1, 29, 41 -43, 49-51, 55, 71, e saúdee20, 139, 141 , 143, 150, 156- 157,
73-74 . 76, 102 - 103, 11 0, 11 3, 150, 157, 283
177,204,241,243,250,263,279-280, estereótipos obre 145- 148, 152,276,278
283-284 homens e 140- 141 , 143, 145- 146, 148-
estresse e 76, 176 149, 156
relacio namentos e 67, 16 1, 174, 205,2 13 ignorância sobre 143- 145, 149, 156
sexo e 20, 139, 14 1, 143, 150, 156- 157, importância do 139, 14 2
283 menopausa e 276-278
secura 39, 44, 26 1, 274 mulheres e 14, 56, 139- 143, 145- 149,
Segunda Primavera (menopausa) 156- 157, 276-278
alimen tação na 263, 265 parceiros no 141 , 145- 146, 148, 156
atitudes com relação à 23 1-234, 236-237, satisfação no 143, 145- 146, 148- 15 1, 156
240-24 1,243,245,249,257,268,279-282 taoismo e 153
autocuidado 269, 272 -273, 279 sexualidade 20, 23, 146, 148- 149, 15 1, 152, 278
como um a transição natural 23 1-232, Sharon 73-75
259,268,279 Shen (Espírito) 37, 4 1, 90, 135,235,250,269,
defi ni ção da 23 1,279 282,285
e dep ressão 245, 258, 260, 267 Shen un g 50
e doenças de mama 8 1, 11 5, 273-274 Shen Nung Ben Cao 5 1
emoções 235, 237, 240, 243 -245, 247, sistemas de Orgãos
266,280 alimentação e 67, 82,87-88, 11 3
e o "eu" 233-235 emoções e 45-46, 70, 82, I09, 11 9, 284
e Qi 15, 235, 245 261 , 265-266,275 equilíbrio nos 36, 11 3, 262, 265
e sexo 276-278 na gravidez 177, 216-2 18
exerci cio e 24 1, 266-267, 273, 242, 263, sono 20, 28, 55, 97,224,26 1-263,273. Ver
266-268 também insônia
ganho de peso 262, 265, 267, 274 sopa
início 23 1, 279 de ga linha (com ervas) 2 17-2 18
ondas súbitas de calo r 258, 26 1, 265, 275 de ossos 218, 18 1, 266
precoce 8 1 deovo 64-65,2 14, 21 7
sinto mas fí sicos 23 1,259,26 1,263, 272, suco de lara nja 53
274,279 suor 31, 36. Ver também suo res noturnos
Yin e Yang na 244, 250, 257, 275 suores noturnos 258, 26 1, 263, 274, 284
seios. Ver tam bém doenças de mama; suplemen tos nutri cionais 263
amamentação
autoc ui dados com os I 08-109
se nsibilidade nos 184 TaiCh i 90-9 1, 93, 102, 104, 114 -11 5,267-269
dese nvolvimento dos 116 tâmara (frut a) 65-66, 216
Merid ianos nos 107 taoismo
Seis Excessos 42 , 44-45 e absolutismo 122
sêmen 139- 141, 162 e a MTC 236
sementes de gergelim 178- 179 e expressão emocional 11 2
sexo. Ver também ho mossexualidade; rel ação e sexo 153
sexual; o rgas mo; sexualidade eTai Chi 268
atitudes com rel ação ao 143, 145, 156,276 ten dões 35, 55, 188-189
como obrigação 144- 146, 148- 149 terapêutico 11 -12, 17, 52, 54, 65
como um a experi ência espi ritual14 2 Terra 16, 22, 38-40, 54, 93, 142, 224, 252
comunicação no 145 Thich Nhat Hanh 93
306 S ABE D O RIA CH INESA PARA A SA Ú DE DA MU LH ER

Tzan Gui. Ver Água Celestial (menstruação) vinagre 52, 180- 18 1,2 19
t ireoide 70 visuali zação45, 127, 153,1 64, 195- 196,206
tofu 52-53, 124, 263 vitaminas 263-264
tomate 53
To nglen 197- 199
to ntura 182 Wanda 163- 166
TPM (tensão pré- menstrual) 68, 73, 82, 204 Wu fi Bai Geng Wan (comprimidos Black
trabalh o de pa rto. Ver pa rto Chicken White Phoenix ) 95-96
transpiração 89, 2 15, 2 18. Ver também suores
noturnos
tratament o à base de rad iação 11 8, 122- 123, Xiao Yao Wan (medica mento à base de ervas)
125, 127. 130.234 96, 184
tratamentos homeopáti cos 78-79
Três Tesouros
e cura 4 1-42, 86, 90, 135, 235, 269, 282, Yellow Earth (medica mento à base de ervas)
285 16- 17
T RH (terapia de reposição ho rm onal) 8 1, 273- Yi mu Cao (agripalma) 95,2 17-2 18
275 Yin e Yang. Ver também equil íbrio
t rompas de Falópio (tubas uterinas) 69 e emoções 120, 197
Tui-Ná 12, 17, 19,39-40,43,47, 8 1, 89, 11 8. e envelheci mento 284, 292- 293
Ver também massagem e sexo 139, 14 1
menopausa e 244, 250, 257, 275
Yong Qua n (pon to de acupuntura) 98-99, 183,
Umidade 200,203,269
alimentação e 50, 87, 11 3, 162, 18 1,222
Baço e 50, 87, 99, 11 3,26 1,265
resultados de 42-44 Zhao, Xi aolan
unhas 37, 70, 87, 222-223, 26 1 aborto espont âneo 169, 171
urinar 210 avó 67, 83, 168, 2 15, 224, 228, 235-236,
uso de drogas 273 255-256
ú tero e maternid ade 215
após o parto 167, 2 11 ,2 14,2 16-2 17 e o Budismo 235-236
durante a menstruação 64, 66, 69, 95, 102 e o Mês de O uro 209-2 12, 2 15-220, 222-
uvas- passas 162, 18 1,2 16-2 17,266 224
grav idez 166- 167, 17 1, 178, 180, 184 222
mãe 62-67, 84, 88, 95, 143, 192- 193, 209,
vagina 39, 62-63, 96, 139, 153, 209, 2 11 , 220, 211, 214-2 16,2 18-2 19,223-224,228, 255,
26 1,272,274-275, 277 258-259, 267-268
Vaso de Concepção (Ren Mai) 64, 154, 163 naC hin a 12- 13, 15, 3 1-32, 47,49, 53,61,
Vaso Direcio nador (Canal Yin ) 154 71,83-84,89,1 09- 111, 143, 171, 236
Vaso Govern ador (Ca nal Yang) 64, 153 nasci mento de 192- 193,2 14
Vaso Penetrador (Chong Mai) 64, 107, 163, 231 no Canadá 12, 19, 31, 47, 7 1-72, 83-85,
e seios 107 145, 213,236
vento 28, 32, 40, 42, 44, 165, 196, 214 ZhaoZhao (J in Zhao) 177- 178, 180,209-2 11 ,
ver melh a (carne) 74,87-88, 104, 11 3, 214, 263, 213,2 15,223-225,227,289
266 Zhu Dan Xi 117, 223-226
Vesfcul a Biliar 15, 22, 35, 69, 186, 188,20 1 Zu San Li (ponto de acupuntura) 100, 269
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' L impresso em papel otf-white 80glm2 no Sistema Camer;>n
da Divisão Gráfica da Distribuidora Rt:cord.
mameme Importante para que o nuxu
de energm corporal no sangue se man-
tenha suave. A med1cma chmesa se ba-
se1a na natureza, no conhccnnemo so-
bre ervas c nos recursos de cura do
próprio orgamsmo. Usando técmcas
como TUI-Na (massagem chmesa),
acupuntura e preparados á base de cr-
\·as. a MTC não visa somente a cura de
doenças, mas propl'>e uma abordagem
prevcnuva e mccnuva o mdl\'tduo a vi-
ver com mms consciência c \'Jtahdade

I la muaas providC:ncias simples que


toda mulher pode tomar para prcvcmr
doenças rtsicas c desconrortos emo-
CIOnaiS. Ao deLUar pequenas mudan-
ças em hábuos ahmentarcs, no esulo
de \'tda e na rorma como hdamos com
o estresse e com as emoções, podemos
trazer progressos para a saúde c me-
lhorar nosso ruturo

XIAOLAN ZHAO exerCia a mechcma na


Chtna antes de emtgrar para o Canadà,
onde trabalhou como pesqutsadora na
Quccns Umversny. Depois de se mte-
rcssar pela medicma altcrnatl\·a, deci-
dm abnr sua própna chmca de Medi-
ema TradiciOnal Chmcsa, em Toronto.
ja atendeu mats de sete mtl pactentcs,
em sua maiona, mulheres.

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