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É POSSÍVEL ESTUDAR O

MEIO-JOGO?

MN GÉRSON PERES
"TODA POSIÇÃO SE
CARACTERIZA POR CERTOS
INDÍCIOS"
WILHELM STEINITZ
Prólogo...............................................................4
Possibilidades quase infinitas....................6
Falta de material de profusão....................7
Fase mais longa da partida..........................9
Bom relacionamento com a abertura..10
Perspectiva do Final...................................11
Personalidade do jogador........................13
Elementos que governam as posições.15
Partida nº1 - Mecking vs Rocha.............18
Partida nº2 - Aranha vs Cesarini...........28
Partida nº3 - Karpov vs Browne............34
Partida nº4 - Kortchnoi vs Karpov........39
Referências....................................................44

Sumário

3
É dúvida recorrente no meio
enxadrístico se é possível ou não
estudar o meio-jogo? 

Essa questão é levantada em função do


gigantesco  número de possibilidades
que encontramos ao nos deparar com
as posições logo depois da abertura.

Afinal, dá para estudar meio-jogo? Se


sim, como fazemos isso?!

Numa partida entre jogadores fortes, o


vitorioso no  embate
comumente  tem  que vencer três
vezes seu rival:
Prólogo

⬛ Na abertura, adquirindo uma pequena vantagem;

⬛   No meio-jogo, ampliando esta vantagem conquistada na


fase anterior;

⬛ E no final, com a conversão destas vantagens acumuladas


nas duas fases anteriores.

4
O xadrez exige boa coordenação entre suas fases,
semelhante ao revezamento no  atletismo, onde o primeiro
atleta passa  o bastão redondinho para o companheiro
seguinte da  equipe (de preferência com um bom  tempo
conquistado na volta anterior) e assim sucessivamente até o
último colega do grupo pisar na linha de chegada. É exigida
muita  preparação individual, mas sobretudo  entrosamento
para o conjunto funcionar e obter a sonhada vitória.

Passada então a  fase de liberar as peças, ou seja, a


abertura,  entramos no MEIO-JOGO. E, tudo precisa
estar sincronizado, onde herdamos o que fizemos na abertura
e  trabalharemos agora o meio-jogo com vistas a  chegar em
boas condições  no final, se possível com alguma vantagem
palpável.

Vamos pontuar  alguns tópicos  importantes, para termos os


elementos e assim poder  responder à  delicada questão
proposta no título deste ebook com embasamento.

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POSSIBILIDADES QUASE
INIFINITAS

A versão de 1997 do supercomputador


Deep Blue, da IBM, calculava 200
milhões de lances por segundo. Em seu
Capítulo 1 confronto com o ex-campeão mundial
russo Garry Kasparov, onde cada partida durava  horas,
imagine quantos bilhões ou mesmo trilhões de possibilidades
no  meio-jogo a máquina fez ao  analisar  alguns minutos uma
dada posição? Mesmo assim, o computador não conseguia
encontrar o lance vencedor baseado nesta capacidade
gigantesca de calcular.

Isso porque no xadrez não há um elemento apenas para se


ganhar as partidas. Nisso nós humanos ainda nos destacamos
das máquinas, ou seja, pelo processo de pensamento seletivo,
em que ao invés de termos de calcular tudo nós conceituamos
previamente e calculamos só em cima do que é relevante.

6
FALTA DE MATERIAL EM
PROFUSÃO

Diferentemente de outros pilares do


xadrez, o meio-jogo não tem tanto
conteúdo específico em livros,
programas, sites ou vídeos. Tente
lembrar rapidamente aí de um bom
livro de meio-jogo?

Observe que você terá dificuldade para


se lembrar.  Há, sim, material sobre o
tema, mas em pouca quantidade
comparativamente. Isso porque o
estudo do meio-jogo habitual é feito
Capítulo 2 por "tabela", onde o enxadrista estuda
a tática do meio-jogo, a estratégia do meio-jogo, o cálculo do
meio-jogo...

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Tática, estratégia e cálculo também são levados em conta na
abertura e no final, porém é no meio-jogo que eles são mais
intensos  pelo confronto acirrado das forças. Afinal, já
preparamos  cavalaria, infantaria, artilharia... agora é hora de
fazer uso deste arsenal que está pronto para o combate!

Capítulo 2

8
FASE MAIS LONGA DA
PARTIDA

Se a abertura termina, a grosso modo,


entre os lances 10 e 15 (a depender a
abertura/defesa escolhida, se clássica
ou hipermoderna), e o final algumas
partidas sequer  chegam
(estatisticamente fala-se em cerca de
40% delas apenas que vão a esta fase),
conclui-se que é  no meio-jogo que por
mais tempo lutamos com nossos
adversários.

Bom, tendo então exposto  a


Capítulo 3 problemática do meio-jogo, vamos
agora para a "solucionática"!

Para o correto estudo do meio-jogo devemos focar em quatro


fatores:

9
BOM RELACIONAMENTO COM A ABERTURA

Uma abertura bem estudada leva em consideração a


colocação das peças na estrutura de peões escolhida, temas
táticos típicos, manobras estratégicas recorrentes e a
conexão com o meio-jogo.

Isto se faz, em grande parte, estudando partidas de modelo


conduzidas por jogadores especialistas na abertura ou defesa
que optarmos para integrar o nosso repertório.

Um estudo desta forma já entrega as peças redondinhas no


meio-jogo e sabemos de antemão os planos para elas nesta
fase.  Tente observar que tipo de posições suas aberturas o
têm levado, assim poderá se aprofundar diretamente nos
temas mais comuns, ganhando tempo de estudo e
conseguindo assim resultados práticos mais rapidamente.

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PERSPECTIVA DO FINAL

O meio-jogo tem um facilitador curioso: o final! Isso mesmo.


Ao estudarmos livros como Lecciones  Elementales  de
Ajedrez  e Fundamentos del Ajedrez, ambos do Capablanca,
que por sinal era exímio finalista, ele mostra em seus livros
com  absoluta clareza a leitura adequada do meio-jogo, onde
devemos manter no tabuleiro as peças que geram
desequilíbrio  a nosso favor (bispo melhor que cavalo, bispo
bom x bispo mau, estrutura superior de peões, etc.), enfim, é
um  raio x que fazemos no meio-jogo que já projeta um final
superior.

11
E, para isto, é necessário que conheçamos os princípios que
regem a última fase da partida  -  os "Finais Teóricos"! Assim,
nas posições  do meio-jogo você terá mais facilidade para
tomar a decisão se deve ou não passar ao final.

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PERSONALIDADE DO JOGADOR

O extra-tabuleiro é um fator extremamente relevante para o


sucesso numa partida, num torneio ou mesmo na carreira de
um jogador. A  personalidade do jogador, as suas
características pessoais, portanto, influenciam sobremaneira
nesta fase da partida.

Ao ter suas peças em jogo um enxadrista mais empreendedor,


mais aguerrido, já busca a iniciativa,  aumentando a pressão
sobre o adversário. Pode se aventurar num ataque na ala da
dama, numa incursão pelo centro ou mesmo em uma
investida direta sobre o monarca inimigo, que na maioria das
vezes  se protege através do roque pequeno, aquele feito  na
ala do rei. Características estas ligadas ao  xadrez tático-

13
combinatório.

Já um jogador de temperamento mais calmo, mais elaborado,


organizará suas forças de maneira cadenciada, lutando para
assegurar uma estrutura salutar de peões, dominar casas-
chaves, lutar pelo domínio de uma coluna... enfim,
características do xadrez posicional, onde o jogador tem uma
concepção estratégica da luta nas 64 casas, buscando
pequenas vantagens e através da soma delas derrubar a
posição contrária no momento exato.

Há também uma terceira via de personalidade enxadrística,


essa mais rara e muito eficiente: o jogador universal. Este tem
a habilidade de jogar tudo, parece um camaleão.

Os traços então psicológicos do jogador têm impacto direto


nas ações dele pelo tabuleiro como retratam os livros de
psicologia aplicada ao xadrez dos autores  Lapertosa, Fine e
Krogius.

O meio-jogo, sendo a fase mais densa da partida, é onde essa


forma de agir do jogador mais se sobressai.

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ELEMENTOS QUE GOVERNAM AS POSIÇÕES

Wilhelm Steinitz, primeiro campeão mundial oficial e pai da


Escola Moderna, preconizava que toda posição se caracteriza
por certos indícios. São estes "indícios"  que nos guiam.
Primeiro analisamos, onde o tabuleiro passa preliminarmente
por um filtro de identificação dos temas, e só então é que
recorremos ao cálculo para concretizar o que visualizamos no
abstrato, no mundo das ideias.

Sendo o meio-jogo um "casamento" da tática e da estratégia,


em razão de ser o ambiente em que estes dois pilares são
mais fortes, que se chocam e se complementam o tempo todo,
é possível elaborar uma lista de elementos recorrentes que
governam as posições  e focarmos nestes elementos no
momento de analisar o melhor caminho.

15
Julgar uma posição corretamente e reconhecer suas
peculiaridades é um pré-requisito essencial. Devemos,
portanto, indagar quais os fatores que determinam o caráter
de uma posição, e qual o plano a ser conduzido.

A questão é ampla e carece de muito estudo.  No entanto,


colocaremos alguns temas a serem pesados durante o meio-
jogo:

► Maioria de peões numa das alas;


► Peão central isolado (é comum ser o peão de “d” o isolado,
o famoso PDI);
► Par de bispos x bispo e cavalo ou dois cavalos;
► Cadeia de peões;
► Bispo x cavalo;
► Bispo bom x bispo mau;
► Duas torres x dama;
► Centralização da dama;
► Troca das damas;
► Rei ativo no meio-jogo;
► Sacrifício posicional de qualidade;
► Casas críticas;
► Casas conjugadas;
► Tipos de centro: fixo, fechado, aberto e indefinido.

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Além dos quatro fatores abordados acima que
impactam  diretamente o  meio-jogo, deve-se
naturalmente  jogar muitas partidas para apurar a técnica
neste pilar, ajudando também nosso jogo a fluir melhor.

Finalmente, concluindo  sobre se podemos  ou não


estudar o meio-jogo: Yes, we can! (Sim, nós podemos!)

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Partidas Comentadas

Partida Nº 1:

Tema – Sacrifício posicional de


qualidade

Mecking, Henrique Costa - Rocha,


Welington Carlos

Indaiatuba (Brasil),1994      [E84]

Capítulo 4

18
1.d4 Cf6 2.c4 g6 3.Cc3 Bg7 4.e4 d6 5.f3

Entrando no Sistema Sämisch.

5 ... 0–0 6.Be3 Cc6 7.Dd2 a6 8.Cge2 Te8

Capítulo 4
Posição após 8...Te8

Para quando o branco jogar Bh6 poder responder ...Bh8,


evitando a troca do bispo (fundamental, nesse momento,
para a segurança do rei).

9.g4

O branco encarna perfeitamente o espírito da variante e


começa o ataque sobre o roque adversário.

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9 ... Tb8

Buscando contra-ataque no flanco da dama.

10.g5

Outra alternativa muito jogada é 10.h4. Com ideia de h5


e abrir a coluna h.

10 ... Cd7

Se 10...Ch5? Cg3 e o branco tem grande vantagem.

11.h4 b5!?
Capítulo 4

Posição após 11...b5!?

20
O segundo jogador inicia, com o sacrifício desse peão,
uma sequência de movimentos agressivos, que implicará
no futuro, a também sacrificar qualidade, porém, causará
ao branco muitas dificuldades no desenvolvimento de
suas forças.

12.cxb5 Ca5

Ameaçando eliminar o importante bispo de casas pretas


do adversário.

13.Cg3 axb5 14.Bxb5 c5

Pressionando o centro e abrindo a diagonal para a dama.


Capítulo 4
15.Cge2 Txb5!

Posição após 15...Txb5!

21
Sacrificando qualidade pela iniciativa.

16.Cxb5 Cc4 17.Dc3 Cxe3 18.Dxe3 Da5+ 19.Cbc3 Ba6

A partida toma o seguinte rumo: o branco tentará deixar


seu rei em segurança, simplificar a posição e ganhar o
final, já que possuem material a mais. O lance do texto
impede o roque. Porque, para realizá-lo, o branco terá
que devolver qualidade.

20.Rf2

Mecking não vê outra alternativa senão abrir mão do


roque.
Capítulo 4
20...cxd4 21.Cxd4 Ce5

Posição após 21...Ce5

22
Observa-se que a força das pretas, além do par de bispos,
está na posse da iniciativa. Se em algum momento ela
passar para o outro lado, a partida estará definida em
favor do primeiro jogador.

22.Cb3 Dc7 23.Rg2

Para em momento oportuno jogar f4 e expulsar o cavalo


de sua casa forte.

24 ... e6

Cobrindo a debilidade de d5.

24.Tad1 Cc4

Liberando a casa e5 para o bispo.

25.Df2 Be5!

25...Cb2? 26.Db2 Bc3 27.Da3 com vantagem decisiva.

26.Cc1 Tb8

As peças do negro têm muita atividade e o branco está


encontrando muitas dificuldades em neutralizar o
adversário e valer sua vantagem material.

23
27.Cb3 Bf4 28.The1 h6!

Posição após 28...h6!

Visando quebrar a estrutura de peões do branco, o que


irá aumentar o raio de ação de seu bispo e abrir a
diagonal d8-h4, que será ocupada pela dama.

29.gxh6 Rh7 30.Rh1 De7 31.Ce2 Be3 32.Dg3 e5?!

Se por um lado reforça a pressão sobre as casas d4 e f4,


por outro enfraquece a casa d5.

33.Cc3 Bb7 34.Cd5 Bxd5

As pretas se veem forçadas a entregar o par de bispos.

24
35.exd5

Parece mais lógico retomar o bispo com a torre.

35 ... Bxh6 36.Te2

36.f4!? é uma opção tática interessante.

36 ... Rg7 37.Rg2 Df6 38.Te4 Cb6

Pretendendo levar o cavalo a f6, onde será mais útil.

39.Rf1 Bf4 40.Df2 Cd7 41.Tc4 Df5 42.Cc1 Cf6 43.b3


Tb5 44.Ce2 Txd5

Enfim, as negras conseguem, recuperar o peão


sacrificado, ainda na fase da abertura.

45.Txd5 Cxd5 46.Te4 Cf6 47.Tc4 d5

Agora as pretas têm um peão passado difícil de ser


bloqueado.

48.Tc6 Bh6 49.Rg2 Ch5 50.Dc5 Dd3 51.Dc2 De3 52.Tc3


Db6 53.Tc6 Db4 54.Dc5 De1

25
Com esses últimos lances, Wellington, consegue uma boa
posição para sua dama.

55.Df2 Dd2
 
Poderíamos dizer que a situação saiu de um equilíbrio
dinâmico (qualidade pela iniciativa) e começa a se definir
a favor das pretas.
 
56.Cg3 Cf4+ 57.Rf1 Dd3+?!
 
57...Dd1+ é mais simples.
 
58.Ce2 d4 59.Tc4 Cd5 60.Tc5 Be3 61.Dg3 Cf4-+ 62.De1
Bd2 63.Df2 Db1+ 64.Cc1 Be3!

Posição após 64...Be3!

26
Lance bonito, mas, o simples bispo toma cavalo também
é ganhador.
 
65.Dc2 Da1!

Lance finíssimo (consequência do anterior) e coerente


com o estilo brilhante do condutor das pretas. Deixa o
branco em uma situação muito delicada, pois ameaça d3-
d2-d1.

66.De4 Bxc1 67.Dxe5+ Rh7 68.De1 Db269.Df2 Dxf2+


70.Rxf2 Cd3+ 0-1

Uma obra-prima do talentoso enxadrista mineiro.

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Partida Nº 2

Tema: Par de bispos x Par de cavalos

Álvaro Aranha - Cesarini Da Silva, Leonardo


[E49]

XVII IRT da Hebraica Hebraica/SP, 2014

1.d4 Cf6 2.c4 e6 3.Cc3 Bb4 4.e3 d5 5.a3 Bxc3+ 6.bxc3


0–0 7.Bd3 c5 8.cxd5 exd5 9.Ce2 Cc6 10.0–0 c4?!
 
Um erro como pode ser visto na partida
Botvinnik, Mikhail - Capablanca, Jose Raul
Holland Holland, 22.11.1938.

28
11.Bc2 Bg4 12.f3 Bh5 13.Cf4 Bg6 14.Cxg6 hxg6 15.e4
 
Lance que avança o centro, ganha espaço e inicia um
ataque na ala do rei.
 
15...Da5 16.Bd2 dxe4 17.fxe4 Dh5

Posição após 17...Dh5

Na tentativa de aliviar a pressão trocando as damas. A


verdade é que a posição resultante é bastante sofrida e
trocar as damas facilita o serviço das brancas!
 
17...b5 18.e5 Cd5 19.Dg4 Seguido da passagem de torre
por f3, h3 parece ser decisivo!

19...Cxc3 20.Bxg6 fxg6 21.De6+ Rh7 22.Dh3+ Rg8


23.Bxc3+–
 
29
18.Dxh5 gxh5 19.Tab1 b6 20.Bg5 Ch7 21.Bh4 f6 22.Tf5
g5 23.Bg3

O par de bispos e espaço conferem muita vantagem para


as brancas.
 
23...Tad8 24.Td5 Txd5 25.exd5 Ce7 26.Bd6?!

Posição após 26.Bd6?!

26.d6 Cd5 27.Bf5+– Era a ideia e sequência mais precisa.


 
26...Tf7 27.Tb4
 
27.Bxe7 Txe7 28.Tb4 Tc7 29.d6 Td7 30.Txc4 Txd6
31.Tc7+– Era um jeito interessante de jogar trocando o
tipo de vantagem. Na partida manteve
momentaneamente o par de bispos.

30
27...Cxd5 28.Txc4 Rg7 29.Tc6 Ce7 30.Tc7

Posição após 30.Tc7

30.d5!? Cxc6 (30...Cxd5 31.Bb3+–) 31.dxc6+– Seguido


de c7 e Bf5 era um interessante recurso achado pelo
computador.
 
30...Cg6 31.Tc8 Chf8 32.Bf5 Ce7 33.Bxe7 Txe7 34.Rf2
h4 35.g4! Cg6
 
O erro decisivo. A posição preta, já era muito
desagradável, mas agora elas estão perdidas.

35...hxg3+ 36.hxg3 Rf7 37.g4


 
36.d5!+–

31
Posição após 36.d5!+-

Agora o peão passado decide a partida!


 
36...Cf4 37.d6 Te2+ 38.Rf1 Txh2 39.d7 Th1+ 40.Rf2
Th2+ 41.Rf3 Th3+ 42.Re4 Td3 43.d8D 1–0
 
Essa partida demonstra o perigo das pretas fecharem a
posição com c4 permitindo o avanço central das brancas.

32
Partida Nº 3

Tema: Controle de casas fracas

Anatoly Karpov - Walter Shawn Browne [A30]

San Antonio, Texas EUA, 20.11.1972

1.c4 c5 2.b3 Cf6 3.Bb2 g6 4.Bxf6


 
Troca o par de bispos mas visa manter o controle da casa
d5, de agora em diante Karpov junta todas suas forças
para controlar essa casa.
 
4...exf6 5.Cc3

33
Lance que impede qualquer tentativa das pretas em
jogar d5.
 
5...Bg7 6.g3 Cc6 7.Bg2
 
As brancas optam em colocar o bispo em g2 para
aumentar o controle de d5.
 
7...f5 8.e3

Posição após 8.e3

Para mover o cavalo de g1 para e2 e f4 e assim tendo


outro cavalo controlando a casa d5.
 
8...0–0
 

34
8...Bxc3 e depois de 9 bxc3 as torres brancas teriam uma
força terrível na coluna d e a pressão nas casas d5 e d6
seria letal.

9.Cge2 a6 10.Tc1 b5 11.d3 Bb7

Posição após 11...Bb7


 
11...bxc4 seria ruim pois 12.dxc4 e as brancas controlam
a coluna d.

12.0–0 d6 13.Dd2 Da5 14.Tfd1 Tab8 15.Cd5 Dxd2


16.Txd2 b4 17.d4 Tfd8 18.Tcd1

35
Posição após 18.Tcd1

Karpov comenta que 18.dxc5 dxc5 19 Tfc1 seria mais


preciso.
 
18...cxd4 19.exd4
 
As Brancas controlam d5 enquanto que as Pretas não
podem contra-atacar no centro, as brancas têm clara
vantagem nessa posição.
 
19...Rf8 20.c5 Ca7 21.Ce3 Bxg2 22.Rxg2 dxc5 23.dxc5
Txd2 24.Txd2 Tc8 25.Cd5 Txc5 26.Cxb4 a5 27.Cd5 Tc6
28.Ce3 Tc5 29.Cf4 Bh6 30.Td5 Txd5 31.Cfxd5 Bxe3
32.Cxe3 Re7

36
Posição após 32...Re7

Após todas essas trocas de peças veremos nos próximos


lances como Karpov vencerá esse final de cavalo com
maioria de peão na ala da Dama.
 
33.Rf3 Cc6 34.Cc4 Re6 35.Re3 Rd5 36.a3 Re6 37.Rd3
Rd5 38.f3 h6 39.Rc3 h5 40.Rd3 f6 41.f4 g5 42.Ce3+ Re6
43.h4 gxh4 44.gxh4

Agora os peões da ala do rei ficaram imóveis, mesmo as


pretas tendo um peão a mais de nada adianta, porque
estão dobrados na coluna f e bloqueado pelo peão
branco.

44...Ce7 45.Rc4 Cg6 46.Cg2 Rd6 47.Rb5+-

37
Posição após 47.Rb5+-
 
E as brancas estão claramente ganhas.
 
47...Rd5 48.Rxa5 Re4 49.b4 Rf3 50.b5 Rxg2 51.b6 Cf8
52.Rb5 Cd7 53.a4 Cxb6 54.Rxb6 Rf3 55.a5 Rxf4 56.a6
Re3 57.a7 f4 58.a8D f3 59.De8+ 1–0

38
Partida Nº 4

Tema: peão de dama isolado

Viktor, Kortchnoi - Anatoly, Karpov [D30]

Merano Itália, 24.10.1981

1.c4 e6 2.Cc3 d5 3.d4 Be7 4.Cf3 Cf6 5.Bg5 h6 6.Bh4 0–0


7.Tc1 dxc4 8.e3 c5 9.Bxc4 cxd4 10.exd4

As brancas deixaram de jogar o lance 10.Cxd4, porém a


pequena vantagem no desenvolvimento seria pouco para
alterar a simetria da estrutura de peões. Temos aqui uma
típica posição de peão de Dama Isolado (PDI). Apesar da
desvantagem para as brancas apresenta como
compensação a vantagem espacial e de
desenvolvimento.

39
10...Cc6 11.0–0 Ch5!

Posição após 11...Ch5!


 
As pretas aproveitam o bispo em h4 e busca uma
simplificação para explorar o peão isolado.
 
12.Bxe7 Cxe7 13.Bb3
 
As brancas poderiam trocar o peão de dama com: 13.d5
exd5 14.Cxd5 Cxd5 15.Bxd5 Cf4 16.Be4 Dxd1 17.Tcxd1
Be6, ficando empatada a posição.

13...Cf6 14.Ce5 Bd7 15.De2 Tc8 16.Ce4?

Esse lance apenas auxilia as pretas a simplificar a posição


e explorar o peão isolado.

40
16...Cxe4 17.Dxe4 Bc6 18.Cxc6

Posição após 18.Cxc6


 
Seria mais razoável evitar esta nova troca, embora o
bispo negro ficasse forte na grande diagonal.
 
18...Txc6 19.Tc3 Dd6 20.g3

Neutraliza a passagem da torre para a ala do Rei e acaba


qualquer ideia de ataque nessa ala.
 
20...Td8 21.Td1 Tb6 22.De1 Dd7 23.Tcd3 Td6 24.De4
Dc6 25.Df4 Cd5 26.Dd2 Db6 27.Bxd5?! Txd5

Não existe mais peças menores e o peão preto em e6


auxilia na queda do peão de d4.

41
28.Tb3 Dc6 29.Dc3 Dd7 30.f4
 
Defende as ameaças das pretas, porém se as pretas
dominam a sétima fileira o rei branco estará em grandes
apuros.
 
30...b6 31.Tb4 b5 32.a4 bxa4 33.Da3 a5 34.Txa4
 
Agora as pretas deixam a busca do peão de d4 e passam a
buscar atacar o rei branco.
 
34...Db5 35.Td2 e5 36.fxe5 Txe5 37.Da1 De8 38.dxe5
Txd2

Posição após 38...Txd2

42
Agora fica claro que a ausência do peão em f2 leva a
grandes riscos ao rei branco.
 
39.Txa5 Dc6 40.Ta8+ Rh7 41.Db1+ g6 42.Df1 Dc5+
43.Rh1 Dd5+ 0–1
 
Seguido de 44.Td1 ganhando material.

43
- Lições Sobre Meio-jogo: Valtercides
Freitas;

- Psicologia e Xadrez: Julio Lapertosa;

- La Psicologia en Ajedrez: Nikolai


Krogius;

-  Psicologia del Jugador de Ajedrez:


Reuben Fine;

- Lecciones Elementales de Ajedrez:


José Raul Capablanca;

- Fundamentos del Ajedrez: José Raul


Referências Capablanca;

- Juegue como un Gran Maestro: Alexander Kotov;

- Winning Chess Middlegames: Ivan Sokolov;

- Understanding Chess Middlegames: John Nunn;

 
Vamos em frente rumo à
maestria no xadrez!

44
Realização

DIREITOS AUTORAIS

MATERIAL DE PROPRIEDADE DO CLUBE DE XADREZ ONLINE (CXOL).

PROIBIDA A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL SEM A


AUTORIZAÇÃO DA EMPRESA. 45

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