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Alfa e Omega PDF
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LUIZ CARAMASCHI
GRANDES PONTÍFICES
1983
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ÍNDICE
Prólogo
I - Fala de Saldanha Marinho
II - Grande Projeto
III - Nossa Civilização em Queda
IV - O Iluminismo
V - O Progressismo
VI - Jerusalém Celeste
VII - Alfa e o Ômega
VIII - Acaso e a Necessidade
IX - Evolucionismo
X - O Pontificado da Razão
XI - A Crença no Desconhecido
XII - A Razão não é a Verdade
Enunciado Primeiro
Enunciado Segundo
Enunciado Terceiro
Enunciado Quarto
Enunciado Quinto
Enunciado Sexto
Enunciado Sétimo
Enunciado Oitavo
Enunciados Nono e Décimo
Enunciado Undécimo
Enunciado Duodécimo
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APRESENTAÇÃO
PRÓLOGO
mas antiga", e até pôs esta frase no seu sinete em que se lê: "NOVAE
SED ANTIQUAE". Quer dizer: quando ela se organizou, na Idade
Média, na sua forma moderna de pedreiros aceitos na Corporação dos
Pedreiros Operativos, ela, era nova; mas como a arte de lavrar
pedras vem de tempos imemoriais, ela é também antiga. Todavia, em
sua forma "moderna", a Maçonaria já tem quase quinhentos anos, se
admitirmos que ela estava completamente formada no Pré-
Renascimento, lá por volta de 1.500. Concedamos ainda que sua
idade é de apenas duzentos e sessenta e quatro anos até esta data,
tendo em vista sua remodelação a partir da fundação da Grande
Loja da Inglaterra em 1717. Com esse passado, já é tempo de
revitalizá-la outra vez, a começar pela inversão do dístico do seu
sinete, e, em lugar de NOVAE SED ANTIQUAE (porque já não é
nova), pôr: ANTIQUAE SED NOVAE. Por que ANTIGA MAS NOVA?
"Antiga" porque na sua forma "moderna" conta já duzentos e
sessenta e quatro anos: e "nova" porque, agora, ou ela se remodela
outra vez, ou desaparece!, com tudo o mais que se está deteriorando
hoje, e que bem pode ser que receba o golpe final por meio duma
guerra, como soe sempre acontecer no declínio das civilizações. No
entanto, é exatamente nesse momento do entardecer duma
civilização que a ave de Minerva, a coruja, levanta o seu vôo... Está,
pois, na hora!...
Por causa de a Sublime Instituição ter-se remodelado já duas
vezes: quando passou de Maçonaria Operativa para Maçonaria
Moderna, com a entrada dos maçons aceitos, não operativos, e,
depois, quando se reorganizou a Grande Loja da Inglaterra, por isto
mesmo ficou aberta a porta para suas renovações ulteriores. Nisto
consiste a segunda razão: a possibilidade de a Maçonaria renascer de
si mesma, isto é, revitalizasse, quantas vezes forem necessárias.
A terceira razão consiste em que a Maçonaria, em nenhum
lugar de sua Doutrina, se declara como detentora da verdade. Não
sendo dona da verdade, mantém-se aberta para a discussão
democrática. Como se não bastasse afirmar não possuir a verdade em
regime de exclusividade, nem em definitivo (que este é o calcanhar de
Aquiles de todas as religiões sectárias), ainda põe na cabeça do seu
Estatuto Mor, como ponto primeiro de sua Declaração de Princípios
que um dos três modos pelos quais ela luta pelo aperfeiçoamento
moral, intelectual e social da Humanidade, é a "investigação
constante da verdade". Ora, se ela se dá como investigadora incessan-
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A→C→Ω
A=Ω
IRMÃOS FALTOSOS
O GRANDE PROJETO – I I
ar, preparada desde há muito; para ser mais claro, tal idéia
despontara-se já na Grécia. Todavia, o tema pegou fogo mesmo, foi
nos fins do século XVIII e no século XIX. Tudo o que se previu,
então, que ia acontecer, se essa idéia triunfasse, de fato sucedeu.
Pouco a pouco aquelas previsões dos criacionistas se foi
realizando, até que chegamos ao hoje da nossa civilização em
plena queda. O evolucionismo afastou Deus do convívio humano;
declarou-se, enfaticamente, que Deus estava morto; que seu trono
é uma poltrona vazia. Contudo, como Deus é o fundamento da
moral... que disciplina os costumes, sem essa base para a moral, os
costumes principiaram a embrutecer-se.
Como a Natureza exterior não oferece base nenhuma para a
moral... exceto a moral natural de Nietzsche, que é a da força, ou
então, a da astúcia; e como Deus foi declarado morto, em que se
há de fundar a moral... que estende seus galhos como bons
costumes? E que é feito dos filósofos?, visto que ninguém enxergou
isto? Por que razão a Maçonaria deixou de ser filosófica, dado que,
nela, não há mais filósofos..., e, se os há, por que se omitiram eles
num caso tão grave, como é este, tão importante, visto que ele
implica na vida ou na morte da própria Subime Instituição, na vida ou
na morte da civilização?
A família tradicional está em colapso, não se tendo ainda
evidenciado uma forma moderna que lhe assegure a estabilidade
necessária à educação dos filhos. Estes, por sua parte, rebelam-se
contra os pais, tachando-os de "antiquados", de "quadrados", de
"coroas" etc. Tais adjetivos reservados aos mais velhos, fazem
parte de um vocabulário pobríssimo, próprio dessa que se
convencionou chamar: "geração sem palavras". O paupérrimo
vocabulário de gíria tem sua complementação nos gestos, numa
espécie de retorno às origens, quando os pré-homens conversavam
por acenos, por mímicas, por gestos, tal como ainda o fazem os
chimpanzés. Diz Ortega que "há povos centro-africanos nos quais à
noite, quando é plena a escuridão, os indivíduos não podem
conversar, porque não se vêem e, por não se verem, fica amputada
da fala a gesticulação". A música de tais jovens "prafrente", como
eles mesmos se auto-denominam, é um berreiro em meio ao
estridor das guitarras elétricas ensurdecedoras, e as letras de tais
gritarias, ou são nada, ou são protestos-sem-solução, tendentes a
destruir o estabelecido, para que, em seu lugar, reine o mais
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homem não podia achar nada superior a si, o deus não podia ser
senão o si mesmo projetado fora; como o homem era oriundo de um
projeto, o Projetista seu, finalmente, teria dito: "Façamos o homem à
nossa imagem e semelhança" (Gên. 1, 26). O duplo movimento de
para fora (constatação), e para dentro (reflexão) existiu desde sempre.
Antes da projeção de si no mundo, o primitivo constatou a existência
de coisas que correspondiam a um fim; e isto implicava projeto. E se
este projeto não era humano, só podia ser de Alguém sobrehumano. As
coisas que o homem fazia e faz são artificiais; as coisas naturais,
dentre as quais os seres vivos, se não foram feitas pelo homem, quem
as fez? 0 Planejador ou Projetista-Mor foi havido como um Homem-
Grande; depois, como Causa Incausada; como Ser; como Lei-das-
Coisas. Deus, antes de ser uma projeção do homem, foi uma Ne-
cessidade...; a de ser o Planejador que projetou o plano que o homem
constatou existir nos entes vivos da natureza. A descoberta de Deus
não é um produto só de imaginação; ela nasceu também de sua
observação objetiva, satisfazendo já o primeiro requisito da ciência - o
postulado da objetividade. Só que os cientistas têm disto mesmo uma
visão diametralmente oposta quando negam que a natureza seja
projetiva.
O fundamento do método científico é uma atitude psicológica
que se expressa no postulado da objetividade pelo qual se recusa,
sistematicamente, a admitir que a Natureza possa estar submetida a
algum projeto, o que implicaria numa pré-ideação ou telefinalismo.
Esse postulado evitaria ainda o empecilho para a ciência, que é o de o
homem centrar-se em tudo (antropocentrismo), numa projeção de si
nas coisas (animismo), no universo. O postulado conduziria a um
conhecimento "verdadeiro" pelo fato de o homem ser posto fora do
processo de investigação da verdade. Foi muito útil para o
conhecimento esta nova perspectiva psicológica, porque arrancou a
ciência do domínio da metafísica que padecia do vício crônico do
antropocentrismo, da idéia a priori de finalidade, da aceitação
antecipada de que para tudo na Natureza, no universo, havia
projeto. Quando Aristóteles afirmou que dois corpos da mesma forma
e da mesma matéria, mas de massas diferentes, abandonados em
queda livre no espaço, o maior batia no chão primeiro que o mais leve,
não foi fazer a experiência, como a fez Galileu, para constatar isso; em
vez de Aristóteles basear-se na experiência fundamentou-se na
intuição. A intuição nos faz crer que a massa maior sofre maior
aceleração, por ser solicitada com maior força pela gravidade. Galileu,
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projeto científico que estabelece aquilo que se vai procurar saber. Pois
claro: como procurar alguma coisa, sem, antecipadamente, se saber
aquilo que se quer? Como, uma vez achado o que se procura, isto
implica em conclusões inevitáveis para o homem; de que modo se
poderia afastar o homem desta jogada toda humana, desde a hipótese
até a conclusão, afora ainda que o próprio postulado da objetividade é,
também, humano? O homem para produzir algo, cria um projeto;
reparando a natureza, verifica que ela também realiza projetos. Ora, o
projeto humano, é distinto do projeto da natureza; como, logo, concluir
que o projeto da natureza seja projeção humana, só porque também o
homem é projetista?
Mas, apesar desta implicação humana, já na hipótese inicial; já no
postulado que formula (para todo sempre improvado); já nos
resultados fanais obtidos... de aplicação humana; apesar de tudo isto,
o maluco do cientista, por sua especialidade, afilosófico, pretende
realizar uma outra como quadratura do círculo qual seja: tirar o homem
da jogada; fazer do postulado da objetivdade um absoluto; postular
sem o homem que postulou (!?).
Imbuído desta idéia de objetividade absoluta (!), sem mesmo
uma hipótese inicial, vai o aprendiz de biologia com uma pipeta, e tira
um pouco de água de uma calha sob o beiral do telhado; põe algumas
gotas sobre uma lamínula que leva ao microscópio. Que são aquilo?...
que parecem miniaturas, aos milhares, de insetos? Ah!... - lembra-se -
são os infusórios; quer dizer: seres unicelulares protozoários,
animais de infusão..., donde lhes vem o nome. Dentre eles, ali está o
paramécio, grandalhão, comparado a muitos outros.
De um frasco ao lado, o cientista retira, com a ponta de um
estilete, ínfima porção de água, e a põe na mesma lamínula. O
frasco continha uma cultura de Didinium nazutum, uma espécie de
infusório esferóide com uma ponta ou tromba. Aquilo que se supõe
seja nariz ou tromba, é a goela que o bicho põe para fora. O didinium é
inimigo natural do paramécio. Tão logo foram postos juntos, começa a
guerra..., semelhante a uma batalha naval (conforme a descreve Fritz
Kahn), em que o paramécio, muito maior, assemelha-se a um navio
de guerra atacado por barcaças torpedeiras. Pelas trombas, os
didiniuns projetam dardos, fios curtos de plasma narcotizante, como se
as trombas foram canhões. O paramécio arrepia umas como escamas,
deixando ver uns furos laterais enfileirados, como as bocas de fogo
dos vasos de guerra antigos. Por esses furos são expelidos também
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O ILUMINISMO – IV
O PROGRESSISMO – V
JERUSALÉM CELESTE – VI
A primeira coisa que nos chama a atenção no Rito do grau
19, é a exigência da colocação das Constituições de 1762 e 1786
sobre o Altar. Ambas Constituições foram condensadas em um só
volume com o título: "Grandes Constituições Escocesas". Abrindo o
livreto na pág. 41 (4ª. Ed. - 1974), lemos o seguinte: "Resoluções
do Congresso de Lausanne em 1875. - Declarações de Princípios:
§ 2.º - A Maçonaria não impõe limite algum à investigação da
verdade, e é para garantir a todos esta liberdade que ela exige de
todos a tolerância".
Amparado por este § 2.º das Declarações de Princípios, e
armado das noções que dois mil e quinhentos anos de pensamento
nos proporcionaram, desde a Grécia até hoje, podemos, agora,
discutir a filosofia do grau 19.
O painel é a cidade quadrada de doze portas, descrita, por
miúdo no Apocalipse de S. João no capítulo 21, versículos 9 a 27.
Só que lá no Apoc., tal cidade não é quadrada; senão cúbica: "E
mediu a cidade com a cana até doze mil estádios; e o seu
comprimento, largura e altura eram iguais" (Apoc. 21, 16). O muro
que rodeava a cidade tinha cento e quarenta e quatro côvados de
altura; e como diz o texto que a cana de ouro com que o anjo media
a cidade era “conforme a medida de homem”, então, temos: o
côvado mede 66 centímetros, e o estádio, 185,25 metros (Lello
Universal). Portanto, 12.100 estádios equivale a 2.223
quilômetros. Suposto que esse número é o do perímetro de
quaisquer das seis faces do cubo, mesmo assim, cada aresta sua
terá 555 quilômetros, desprezando-se a fração. E o muro? Pois é só
multiplicar os 66 centímetros de um côvado por 144; o produto é
95 metros, e essa é a altura da muralha que cerca a cidade. Se
cada aresta tem 555 Km, a área será de 308.025 Km 2. Comparada
esta área com as das vinte e seis unidades federais do Brasil, só são
maiores do que ela as de sete Estados: Amazonas, Pará,
Maranhão, Minas Gerais, Bahia, Goiás e Mato Grosso. Pondo-se essa
Jerusalém celeste sobre a terrestre, ela cobrirá toda a Jordânia,
parte da Arábia Saudita, todo a Líbano, parte da Síria, avançará pelo
Mediterrâneo cobrindo Chipre, o Delta do Nilo, indo ainda
sobrepor-se à toda península do Sinai. Jamais se imaginou cidade
tamanha.
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sábio é ser santo, e ser santo é ser sábio, sendo a ação sobre o
mundo, o começo e o fim da sabedoria. O sábio ama porque sabe;
o santo sabe porque ama.
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01 - Temporais 01 - Intemporais
02 - Móveis 02 - Fixos
03 - Mutáveis 03 - Imutáveis
04 - Transformáveis 04 - Intransformáveis
05 - Livres 05 - Determinísticos, sem liberdade
06 - Espaciais 06 - Inespaciais
07 - Causais 07 - Incausais
08 - Polarizados 08 - Sem polaridade
09 - Individuais 09 - Universais
10 - Particulares 10 - Gerais
11 - Relativos 11 - Absolutos
12 - Perspectiveis 12 - Sem perspectivas
13 - Representáveis 13 - Irrepresentáveis
14 - Passíveis 14 - Impassíveis
15 - Circunstanciais 15 - Incircunstanciáveis
16 - Qualitativos 16 - Inqualificáveis
17 - Dimensionáveis 17 - Indimensionáveis
18 - Fenomênicos 18 - Noumênicos
A→C→Ω
A=Ω
de Cristo: "Eis que faço novas todas as coisas" (Apoc. 21, 5), e da
parte da Maçonaria: "NOVAE SED ANTIQUAE.
Os filósofos primitivos de Mileto buscavam uma substância
que fosse primordial na ordem das coisas: ar, água, terra, fogo, os
quatro elementos juntos. Heráclito propõe que tudo é movimento e
transformação. Contra esta tese da substância-movimento,
Parmênides coloca a antítese do Ser-fixo-essência-pura. Que é da
SÍNTESE que devia seguir-se a essa tese e antítese do Realismo
greco-medieval? Ficou por fazer-se...
Essa antítese parmenídica que fixou o SER na imobilidade da
Essência pura sem matéria alguma, chamou-se Realismo... visto que
tudo o que não fosse essência foi considerado como não-ser,
irrealidade, sombra, ilusão. Se, contudo, tomarmos este Realismo,
este segundo movimento do pensar antigo (Mileto-Grécia), como
nova tese, sua Antítese será o Idealismo da pós Renascença...
que teve início no cogito de Descartes. O Realismo-tético partia das
coisas (res) para o sujeito (eu pensante). O idealismo-antitético
parte do sujeito que pensa (eu) para as coisas (res). Este Idealismo
que também se chama Psicologismo ou Filosofia Moderna, teve seu
pináculo em Kant, descendo, depois, pelas vertentes absolutistas
de Schelling, Fichte e Hegel. Que é desta nova SÍNTESE?... que
integraria o Realismo greco-medieval ao Idealismo, à Filosofia
Moderna? Outra vez ficou por fazer-se...
Vieram os filósofos ditos contemporâneos, e, em vez de
efetuarem a síntese esperada, perderam-se em criticar os filósofos
absolutistas e sistemáticos, sobretudo, Hegel. Além de não
sistematizarem nada, além de não darem unidade à filosofia... que
isto é torná-la sistema, ainda levaram o mundo à desesperança, à
angústia, ao caos, ao nada... O que faltou a todos? Faltou darem
SUBSTÂNCIA ao SER-DEUS.
A realidade da substância não pôde entrar na cogitação de
nenhum filósofo, nem antigo nem moderno, porque todos
supuseram ser este nosso mundo, o primário que Deus criou. Como
este nosso mundo se mostra ainda em grande parte invertido,
perverso e mau; ainda em grande parte maléfico, referto de
sofrimentos, de tragédias, de angústias, de caducidades, de
mortes, tal mundo não podia ter nenhuma relação com o SER,
exceto a de negação do que É. Contudo, este nosso mundo é real, e
74
EVOLUCIONISMO – IX
combinações.
Stanley Miller fez um jogo de dados semelhantes ao que
expusemos. Partindo ele da hipótese de que a atmosfera terrestre da
época pré-algonquiana era constituída de vapor de água, metano e
amoníaco, construiu um alambique em que meteu esses ingredientes:
posta a água em ebulição, a parte gasosa sofreu o efeito de descargas
elétricas, fingindo as tempestades medonhas de relâmpagos e de
trovões terríveis nos céus negros dos primórdios. Miller não precisou
de milhões de anos, como ocorreu in natura, mas apenas de algumas
horas. Examinando as substâncias restantes no aparelho, obteve, 10
compostos orgânicos dentre os quais 6 aminoácidos: "glicina, alamina,
sarcosina, alamina-beta, ácido aminobutírico-alfa, metil-alamina N; ami-
noácidos, isto é, as pedras fundamentais de albumina (...).
Acrescentaram-se-lhes doses perfeitamente comprováveis de ácidos
orgânicos, conhecidos igualmente como produtos de assimilação.
Ácidos simples como o ácido fórmico - isto é, nada de especial; mas
também ácido aspártico, ácido acético, ácido sucínico, ácido láctico,
ácido imino-aceto-propiónico. Parece incrível. A própria uréia figurava
entre os produtos da reação. (Boschke). O passo seguinte foi
substituir o amoníaco por azoto e hidrogênio puros, e o resultado foi o
mesmo. Depois, substituíram-se as faíscas elétricas, em outras
experiências, pela luz carregada de energia, pelos raios ultravioletas e
pelos raios beta provenientes da radioatividade, e os resultados igual-
mente se repetiram.
A química orgânica que trabalha com os corpos que dão a sigla
CHON mais enxofre, ferro e fósforo, é tão complexa em seus
agrupamentos moleculares de aminoácidos, albuminas, açúcares,
benzóis, vitaminas, etc., que o melhor é pensar nas moléculas dela,
não como cadeias de átomos, mas como "padrões de tapeçaria". "No
cálculo de todas as possibilidades chegou-se a 101000 um número que
deixa muito longe a cifra dos elétrons no espaço universal, 1080. E
inútil dizer que essas combinações nunca se concretizarão, mas dão
uma idéia das possibilidades ilimitadas da vida, de produzir sempre
novas substâncias, cores, formas, de originar sempre novas e
fantásticas criaturas no nosso planeta ou em outros mundos". (Fritz
Kahn).
Não é, portanto, como pensava Aristóteles que dizia ser
impossível ao inferior produzir o superior: pois não há outro jeito, e
este é o caminho trilhado pela natureza. O átomo é superior aos
89
O PONTIFICADO DA RAZÃO – X
A CRENÇA NO DESCONHECIDO – XI
fica sendo uma ciência projetiva do próprio homem que a cria toda,
quanta, por meio do seu Psicologismo? E assim que, como se lê em
Gusdorf, "cada matemático apela para uma metafísica, escreve
Bouligand; esta varia consoante as pessoas, e, no conjunto, oscila
entre o pólo da simplicidade unida à generalidade máxima (...) e o
pólo da construtibilidade, que jamais deixará de fascinar os práticos dos
problemas." E prossegue:
"Por seu turno, o ilustre físico L. de Broglie realça as mesmas
implicações inevitáveis entre a ciência e a filosofia: A ciência, escreve
ele, em seu desenvolvimento é necessariamente levada a introduzir
em suas teorias conceitos dotados de valor metafísico, tais como os
conceitos de tempo, de espaço, de objetividade, de causalidade, de
individualidade, etc. Empenha-se a ciência em dar de tais conceitos
definições precisas, que se enquadrem nos métodos por ela
empregados, e em evitar toda e qualquer discussão filosófica a
respeito dos mesmos; talvez, procedendo assim ela faz muitas vezes
metafísica sem o confessar, o que decerto não é a maneira menos
perigosa de fazer metafísica".
Como se vê, no plano científico, não matemático tem-se que
apelar para o não provado, e, portanto, desconhecido, o qual se tem de
aceitar de fé.
Vejamos Skinner com sua teoria do reforço. Seu ponto de
partida são os reflexos condicionados de Pavlov, aos quais ele
acrescentou o conceito de condicionamento operante. Não se trata
mais, como em Pavlov, de reação a um estímulo, como, por exemplo,
o toque de uma campainha desencadeia a salivação no cão. Agora, um
rato ou uma galinha ficam condicionados aos resultados de suas
ações, e não mais, a determinados estímulos. O rato aprende a
mover uma alavanca que abre a portinhola do alimento. A galinha
aprende a dar um beliscão numa pequena trouxa de pano presa a
um fio que abre a porta da ração. Este condicionamento operante
é que põe, também, os homens em ação. As operações prazerosas,
gratificantes, são reforçadas, no passo que as que causam
desprazer, desgostos, sofrimentos, são postas de lado. Cada
homem tem lá suas múltiplas e complicadas “alavancas”, e todas as
suas ações são condicionamentos operantes... com reforços, por meio
da repetição, naquilo que dá prazer.
E já vai Skinner à prática, extrapolando, perigosamente, suas
112
uma base; pois bem: o último fundamento do que quer que seja,
não poder ser provado, demonstrado, e tem de ser aceito de fé.
Não há, portanto, pensamentos grandes, amplos, largos,
abrangentes, sem uma INSTÂNCIA METAFÍSICA (tenha esta o
nome que se quiser dar) que os fundamente, pelo que fica tendo razão
Aristóteles quando escreveu: "Dizeis que é preciso filosofar? (...)
Então, é preciso filosofar de fato. Dizeis que não é preciso filosofar?
Então, ainda é preciso filosofar (para o demonstrar). De qualquer
modo é necessário filosofar".
116
ENUNCIADO PRIMEIRO
se ou devir constante.
Por causa de a história desenvolver-se por um processo a que
Toynbee dá o nome de repto e réplica, que é o mesmo que desafio e
reposta ou tese e antítese, ao repto ou tese de Heráclito do mundo
perpetuamente movente, Parmênides de Eléa replicou, respondeu,
com a antítese do mundo da fixação em que nada se transforma,
nem se move, e tudo está parado.
Parmênides, para chegar à conclusão do seu imobilismo,
raciocinou por este modo: Há uma contradição lógica na doutrina de
Heráclito; porque ele diz que o que é não é; porque tudo o que é, no
mesmo tempo que é, está-se encaminhando a ser outra coisa na
qual não pára, mas se transforma em outra, em outra,
indefinidamente. Ora, aquilo que não é não pode ser chamado ser, e
sim, não-ser, donde se segue que o ser é... e o não-ser não é.
Deste ser que é, que, invariavelmente, sempre é, Parmênides
deduziu as propriedades: Se o ser sempre e invariavelmente é,
então ele é, então ele é fixo. Sendo fixo, é imóvel e imutável. Se
fixo, imóvel, imutável, sempre foi e será o que é agora; logo, é
intemporal (eterno). Se tivesse uma causa, ter-se-ia provindo dessa
causa por transformação; como o ser não se transforma, por isto é
incausal. Aquilo que é incausal, intemporal, imutável, imóvel, fixo, é,
por isto mesmo, imaterial porque tudo o que é material, ou
substancial, é móvel, mutável, temporal, causal, espacial. Portanto,
sendo o ser imaterial, pela mesma razão é inespacial, dado que só a
matéria ocupa lugar no espaço.
Como é que Parmênides fez para descobrir estas verdades?
Deduziu-as dum postulado que aceitamos de pronto, sem
necessidade de demonstração, e que diz: o ser é, e o não-ser não é.
Para deduzir tudo não fez mais do que pensar. O pensamento
participa da fixação quando afirma a iniludível sentença: o ser é, e o
não-ser não é. Ora, como todas as propriedades do ser saíram,
brotaram, dessa sentença, Parmênides gravou no granito eterno
com letras de ouro a frase: "Ser é idêntico a pensar". Ser e pensar
são uma e mesma coisa. Daqui saiu a doutrina dos dois mundos: o
mundo do Ser, alcançável pelo pensamento, e o mundo do não-ser,
Íninteligível, porque o pensamento só sabe trabalhar com
conceitos, essências, formas, fixos e imutáveis. Na dialética do
Mundo do Ser ou no mundo das essências, tudo é idêntico a si
123
ENUNCIADO SEGUNDO
poder material do faraó, com o quê? Nada mais do que com o seu
poder espiritual! ... E venceu ao faraó com todos os seus magos,
mágicos e feiticeiros; e contra os interesses materiais do monarca
do Egito, arrancou-lhe das unhas, com poder moral incontrastável,
toda aquela riqueza que eram os escravos israelitas de que o rei
se valia para fazer tijolos, arrancar blocos nas pedreiras e construir
palácios, templos e obeliscos. Por causa de Moisés ignorar (ó
estultícia! ó asnidade!) que "o interesse material é mais poderoso
que o moral", de príncipe egípcio, que era, desceu-se a pastor de
ovelhas da casa de Jetro, e de rico, limpo e perfumado antes, fez-
se pobre e encoscorado de esterco agora, e assim pobre, e não,
rico, recebeu a ordem divina de libertar o povo de Israel das
garras sanhudas do faraó!... E levou o povo da fartura e das
paneladas do Egito às agruras e misérias do deserto por quarenta
anos. Vendo que não podia conquistar a terra de Canaã com
aquele bando numeroso de escravos, criados na servidão, aviltados
pelo poder material do fértil vale do Nilo que propiciava desregra-
mentos e comezainas, esperou quarenta anos, vagando pelas
fraldas dos montes vizinhos ao golfo de Suez e ao golfo de Acaba,
até que se formasse a geração dos livres e indomáveis que
receberam a têmpera do aço impenetrável que só pode dar, não a
riqueza, o conforto, a frouxidão, mas a penúria, o desamparo e as
asperezas de um deserto.
Se o "interesse material é mais poderoso que o moral, dado
que, mediocridade não conta, a não ser como massa, como
número, como rebanho, onde estão os grandes valores da
humanidade que se sacrificaram, movidos pelo "interesse material"?
Acaso, são os conquistadores sanguinários de armas nas mãos?
Por ventura, todas as civilizações que se foram, não
desapareceram exatamente quando os valores morais se
apoucaram e tenderam para nada, no mesmo passo que as riquezas,
o conforto e a devassidão cresceram? As palavras gregas “kóros”,
“ubris”, “átê” são anotadas por Toynbee para marcar o fim ativo
duma civilização. "Objetivamente, kóros significa: "excesso no
comer e no beber ou saciedade"; ubris significa: "conduta
ultrajante"; e átê: "desastre".
O povo de Israel chegou à idade de ouro nos dias de
Jeroboão II, quando, então, renega Jeová. Contudo, já isto estava
escrito pelo profeta: "Jeshurum engorda e escoiceia. Jeshurum
147
como vulgar, trivial, ordinário? Mas, como não ser isto, se ele não
pode sacrificar-se por "visões", dado que tem por certo que "o
interesse material é mais poderoso que o moral"? Pois, então, que
aprenda o Grande Pontífice o que soletra o Aprendiz, quando lhe
perguntam: o que é o vício?
"É o hábito desgraçado que nos arrasta para o mal; e é para
impormos um freio salutar a esta impetuosa propensão, para nos
elevarmos acima dos VIS INTERESSES que atormentam o VULGO
PROFANO e acalmar o ardor das paixões, que nos reunimos neste
templo".
Que “vis interesses" são esses que pusemos em destaque,
senão os "interesses materiais"? E se tais interesses materiais
atormentam o "vulgo profano", acaso estariam incluídos neste "vulgo"
os Grandes Pontífices, visto que defendem a tese da prevalência
dos interesses materiais sobre o sentimento moral? E prossegue o
Aprendiz:
"Aqui trabalhamos para acostumar o nosso espírito a curvar-
se às grandes afeições e a não conceber senão idéias sólidas de
bondade e de virtude, porque é só regulando os nossos costumes
pelos PRINCÍPIOS ETERNOS DA MORAL, que poderemos dar à
nossa alma esse equilíbrio de força e de sensibilidade que constitui
a SABEDORIA, ou antes a CIÊNCIA DA VIDA". Estabeleçamos o
diálogo entre Grande Pontífice e Aprendiz:
– Quê? Os princípios da Moral são absolutos, eternos?, e
não, relativos?, dependentes duma cultura desenvolvida numa
época, num lugar e alicerçada numa ideologia?
– Sim, responde o Aprendiz, tais princípios são eternos...
desde que se trate de Moral, daquela Moral que merece ser escrita
com maiúscula, porque esta é a que impera no mundo angelical,
ou seja na Jerusalém Celeste. Como se vê, esta MORAL com
maiúscula, nada tem a ver com as várias morais deste mundo, todas
decorrentes de mores que quer dizer costumes. É por isto que o texto
distinguiu moral de costumes dizendo: "é só regulando os nossos
COSTUMES pelos PRINCÍPIOS ETERNOS DA MORAL ..."
– Em que, neste caso, se resume essa Moral de Serafins, de
Arcanjos e de Anjos?, que deve regular os nossos costumes (mores),
em vez de nossos costumes darem ser à moral? Então, é regulando
nossos costumes (mores) pelos princípios eternos dessa Moral
149
ENUNCIADO TERCEIRO
comer para viver. Muito pelo contrário, o homem deve viver para
comer... como muito bem o fazia a elite da Roma decadente:
depois que o "nobre" romano se empanturrava nos seus banquetes
lautos, ia esvaziar o estômago no vomitório, onde o esperava um
escravo com uma pena de pavão... com a qual o glutão irritava a
garganta e vomitava. Descarregado o estômago, voltava a comer...
Tal qual o sexo: é uma idiotice pensar, como o impõe a Natureza,
que o sexo deve servir aos objetivos da espécie. A espécie que se
dane! Comer para viver é de pobre... quando pode comer! Viver
para comer é de rico!... O idiota do pobre, porque sofre... e só por
isto se apega com Deus e tem religião, ele que faça sexo para ter
filhos! O afortunado não: este sim, sabe o que é sexo sem
"deturpações"!; o que é "compreensão do sexo"!...
Ora, todo meio é limitado: uma estrada pode ser simples
picada no mato, ou de terra, ou asfaltada, podendo chegar esta a
ter seis pistas. Contudo, será sempre limitada pelos extremos e na
largura. No entanto, se, em lugar de estrada, fosse feito um campo
imenso de macadame, os corredores iriam aí transitar com suas
máquinas, só pela emoção da velocidade, e nunca, com fim de
chegar a lugar algum. Tal qual o sexo tornado fim em si mesmo. E
como todo objetivo tende a ser transferido para cada vez mais longe,
seus limites tendem a ampliar-se até que se haja esgotado todas
as suas possibilidades. Face a isto, podemos estar seguros de que,
da cópula anal que "Glose" mostra de modo cru, iremos chegar a
todas as outras torpezas e aberrações possíveis que se podem ler
na "História da Prostituição". Foi contra esta prostituição, sobretudo a
sagrada, que se insurgiu Moisés para considerar o sexo coisa
impura ou imunda. Aberrações quais as da prostituição sagrada
podem ser vistas no livro sagrado hindú "Kama Sutra" de
Vatzyayana.
Todos os recursos modernos da tecnologia, inexistentes no
passado, serão empregados para exacerbar e fazer o sexo ir até o
inimaginável paroxismo da loucura, onde ele se confundirá com a
dor, e com o gosto de fazer sofrer. Enquanto isto, a família ir-se-á
acabando, na proporção em que a libertinagem cresce e se
generaliza. A perdição universal levará até os casais sadios a não
quererem filhos... para os não ver degradados a posição
infranimalesca, como acontece sempre quando uma civilização,
como a nossa, está indo para o caos.
156
* * *
Opondo-se à tese do Realismo grego que se continuou por
toda a Idade Média... nas sutilezas dos escolásticos, veio, por fim,
a reação antitética que foi o Racionalismo renascentista o qual,
desde o início, também se revelou bifrontal. Uma cara deste
Racionalismo é o Psicologismo ou Idealismo subjetivo encabeçado
por Descartes, a partir do seu cogito, e este modo de pensar se
opôs, frontalmente, ao Realismo greco-medieval. Porque, no
Realismo, o ponto de partida foram as coisas (res), e o ponto de
chegada, o eu pensante. Num movimento inverso, o Idealismo
subjetivo ou Psicologismo parte do eu que pensa e vai para as
coisas. O pensamento, num e noutro caso, é a ponte em que se
dá o trânsito das coisas para o eu, e, vice-versa, do eu para as
coisas.
A descoberta dos erros científicos de Aristóteles deu azo a
que se pusesse em dúvida, também, sua filosofia. A dúvida foi o
ponto de partida para o cogito do maçom René Descartes, e a
mesma dúvida motivou a crítica acrimoniosa de outro maçom,
Francis Bacon no seu "Novo Organo". Isto significa que a tese do
Realismo Greco-medieval suscitou duas antíteses ao mesmo tempo,
sendo que estas duas antíteses se mostraram, também, antitéticas
uma em relação a outra. Quer dizer que o Realismo Greco-
medieval produziu duas oposições as quais, também, se opõem
entre si, ou seja, dois Racionalismos: o Racionalismo metafísico,
também chamado Psicologismo ou Idealismo subjetivo, e o Racionalis-
mo empírico. Este Racionalismo empírico que também recebeu o
nome de Iluminismo, é o pai da Ciência experimental, esta que
frondeja na atualidade sob a forma de Cientismo, de Fisicalismo, de
Tecnicismo, de Industrialismo, de Automação que já se encaminha
para a Robotização. Esta corrente do Racionalismo empírico que
teve o seu nascedouro no "Novo Organo" de Francis Bacon,
surgido como uma das antíteses do medievalismo realista, veio
incorporar-se à nascente brotada do próprio Idealismo subjetivo,
agora, também tornado empírico, a partir de Locke, este que punha
os sentidos, as impressões, o sensualismo... por base de todo o saber.
Contudo, isto não significa que o Idealismo subjetivo, o Psicolo-
gismo, acabou em Locke; ele prosseguiu rumo a Kant e aos
filósofos pós kantianos Fichte, Schelling e Hegel.
A forma de saber empírico, ou Racionalismo objetivo nascido
162
8). Pois, então, Jeová era projeção de Moisés, assim como também
seu Decálogo... que foi calcado sobre o Código de Hamurabi.
Assim sendo, Protágoras está certo, e o homem, não
qualquer um, mas o de elite, o sábio, é a medida de todas as
coisas. Aceitamos isto como verdade para as ciências humanas,
onde tudo se reduz a opiniões; não, todavia, para as ciências da
natureza, dado que estas não são projetivas, mas, objetivas, isto é,
acontecem independentemente do homem. Um eclipse da Lua não
tem nada a ver com o homem; agora, o problema da
superpopulação, da criminalidade infantil, da violência, etc., muito
pouco tem a ver com leis da natureza; são isto assuntos
puramente humanos; e se tais problemas forem submetidos a
regras morais, temos de convir que a moral, a religião, Deus, são
projeções humanas dado que escapam à objetividade das ciências.
Se “o homem" como diz Pascal, "é, em si mesmo, o objeto
mais prodigioso da natureza", que outro objeto, coisa ou pessoa,
senão ele, para ser a medida de todas as coisas? É por isto que o
ponto de partida para Sócrates, dado como o princípio da
sabedoria, é a sentença famosa: "Conhece-te a ti mesmo!"; porque,
sendo o "homem a medida de todas as coisas" (Protágoras),
ninguém pode opinar sobre nada, sobretudo do que é humano, a
não ser a partir de si; então, este padrão de medida, que é o
próprio homem, terá de ser conhecido de si mesmo, antes de as
coisas a serem modificadas com e por ele. Conseqüentemente, como
escreve Gusdorf, "a fórmula de universo tem sempre validade para
um universo mental e vital particular". Descartes partiu do seu
primado inicial, do seu cogito: penso, logo, existo. O que significa
dizer que o pensamento próprio de cada um é a medida de todas
as coisas. Ora, não há homem onde não há o pensamento; ser e
pensar, já o afirmara Parmênides, são uma e a mesma coisa!
Tudo isto é verdadeiro, e, nos períodos de formação e
ascensão das sociedades, das civilizações, só os mais sábios
tiveram voz. Talvez, no entanto, em lugar de "mais sábios"
devêramos dizer "mais inteligentes", ou então, havemos de dizer que
a sabedoria é progressiva e apresenta graus. O certo é que o
homem não pode desvincular-se da vida, que é toda
problematicidade. O homem faz parte da vida, encontrando-se não
só inserido nela, como impregnado dela; ora, a vida não espera
pela sabedoria plena para agir, e antes, toca por diante, empregando
165
(?!), afirmando que Platão, que Sócrates são desonestos (!)... porque
partem de primados morais tais como Sumo Bem (Sócrates), como
a “Forma das formas que é a Forma do Bem". (Platão). Louva os
sofistas, os mecanicistas (Leucipo-Demócrito, Epicuro, etc.), porque
são filósofos sem preocupações morais. Afirma que, em
Anaxágoras, "não se encontra a preocupação ética e religiosa que,
passando dos pitagóricos a Sócrates, e de Sócrates a Platão, levou
algo da tendência obscurantista à filosofia grega"... Tendência
obscurantista!? B. Russell aspira a um impossível... que é uma
filosofia científica. Por que é isto um impossível? Porque a própria
ciência é filosófica em seus postulados iniciais, em seus primeiros
princípios, e as próprias matemáticas puras têm seus alicerces
postos em postulados indemonstráveis. Que seria, então, uma
filosofia científica? Como criar e manter a civilização sem a moral?,
e como haver moral sem religião? sem Deus? Onde é que está, em
Bertrand Russell... ou em qualquer outro, a tal de filosofia científica?
Dando-se à seta a significação depende da, temos: o industrialismo
→ tecnologia → ciência → civilização moral → religião → conceituação
de Deus. O tecnólogo e o científico, em sua miopia, cuidam que
podem rir-se de Deus? Pois sua ciência e tecnologia dependem de
que haja civilização, e esta não existe sem moral... a única que pode
desvirar a besta que o homem ainda é, em santo, em sábio... Que
faça a ciência, então, este trabalho!, que nisto se cifra o desafio
que já lançamos!
Diz B. Russell que "a causa tem de partir de algo e, origine-
se onde quer que seja, não se pode atribuir uma causa ao dado
inicial. Pode-se atribuir o mundo a um Criador, mas mesmo assim
o próprio Criador não pode ser explicado. Como, aliás, também, não
se podem explicar os postulados em que se fundamentam,
escandalosamente, as várias geometrias, sem que se saiba qual
delas é a verdadeira”. E prossegue Russell:
"Mas a experiência demonstrou que a pergunta mecanicista
conduz ao conhecimento científico, enquanto que a teológica não”. É
certo que a pergunta teológica não conduz ao conhecimento
científico, e a razão disto é por que a teologia, como vértice da
pirâmide, se opõe à sua base que é onde se situa a ciência
filamentar, fragmentária, pulverizante. E se considerarmos as
ciências todas, não como uma, mas como muitas pirâmides, todas
de bases hexagonais, como se foram pinhões arrumados numa
170
ENUNCIADO QUARTO
deve lutar contra sua natureza animal, negando-a, para ser o oposto
da animalidade, que nisto se cifra o ser santo?! Que é da moral
científica que a Ciência prometia, em razão do que, ufana, investiu
contra Deus, fundamento das religiões que alicerçam a moral?
Em "Sistema da Natureza" diz o Barão d'Holbach, irmão
nosso: "Se recuarmos até os começos, descobriremos que a
ignorância e o medo criaram os deuses; que a fantasia, o
entusiasmo ou o embuste os ornaram ou desfiguraram; que a
fraqueza os adora e a credulidade os conserva; e que o costume os
respeita e a tirania os ampara com o fim de fazer a cegueira do
homem servir a seus próprios interesses”. Pois bem, Holbach! Vem
cá, agora, e vê isto: já não estamos nos começos; cessou a nossa
ignorância científica, pelo que nossa tecnologia já vence a
automação e caminha para a robotização; o medo que, segundo
dizes, nos fez criar Deus, já não existe, e, por isto, retornamos à
Natureza cuja moral é a de Nietzsche: "ser justo é ser forte" ou
astuto; pelo que "a bondade ou a justiça é o desassombro do
forte". E agora que todos sabemos por Nietzsche, Sartre e outros
que "Deus morreu”, que "seu trono é uma poltrona vazia”; agora
que sabemos que "morreu, acabou", nada havendo depois da morte,
pelo que tanto faz ser um santo como ser um demônio; agora que
tudo isto aconteceu por obra do Cientismo, do Fisicalismo, do
Tecnicismo, nosso medo, aquele mesmo que, outrora, criou Deus,
tornou-se no medo dos homens-feras, medo dos bichos-homens com
os quais nos ombreamos nas grandes cidades, ninguém mais tendo
segurança, porque o homem se tornou no diabo materialista e ateu
capaz de todas as torpezas inimagináveis.
Temos sobre a mesa o jornal "O Estado de S. Paulo”, de
13/7/79, que traz uma nota com o título: O Limite da Crueldade. Isto
mostra que Joseph Mengele não está sozinho! Diz a nota que na
fronteira da Tailândia com a Malásia, a polícia tailandesa
descobriu... que um casal de contrabandista de drogas,
sequestrava criancinhas, matava-as, substituia-lhes as entranhas
por drogas, a fim de poder passar, com elas, na fronteira, como se
estivessem dormindo... Como é, então, Irmão Diderot: continua o
Irmão pensando que "o primeiro padre surgiu quando o primeiro
velhaco encontrou o primeiro tolo"? Pois agora, como não somos
mais tolos, todos somos velhacos..., e a civilização vai soçobrar na
barbárie!... Os homens ao deixarem de ser tolos, como o queria o
207
ENUNCIADO QUINTO
por ser antiga, mas pela verdade que estabelece. Se "o prestígio
da antiguidade" tivesse força para fazer perpetuar o que foi
considerado maléfico e errado pela crítica, a história não seria
diálética, isto é, feita de tese, antítese e síntese. A tese seria, então,
o passado consagrado contra o qual, em vão, a antítese lutaria;
mas não; a antítese vence a tese que a antecedeu no tempo, e se
impõe. A história, portanto, se desenvolve pelo método dialético
que copia, em tudo, o ensaio-e-erro animal; quer dizer: faz-se uma
experiência sem se saber no que vai dar, e isto é a tese; depois,
toca-se a fazer exatamente o contrário que é a antítese; numa
terceira fase, que é a da síntese, junta-se o que for bom da tese com
o bom da antítese. Um exemplo, para aclarar:
O Capitalismo do século XIX, com ser, em muitos aspectos,
execrável, suscitou a antítese do Comunismo, igualmente, em
muitos aspectos, também abominável. A síntese será a junção das
partes boas de um e de outro, do que resultará um Capitalismo
socializado ou a Socialização do capital, que é para onde, tanto os
países capitalistas como os comunistas estão indo. A propriedade
tem que ser privada, mas com função social.
A afirmação, portanto, de que o erro, o desacerto e o Mal se
perpetuam com base no prestígio da antiguidade, é uma
afirmação improcedente, injustificável, vazia, carente de provas e
exemplos históricos; por que? Porque, invariavelmente, quando o
erro, o desacerto e o Mal se perpetuam em determinada civilização,
esta se desfaz em nada... Não é preciso muita inteligência para
entender que o erro, o desacerto e o Mal, em vez de construir o que
quer que seja, destroem tudo o que, por ventura, haja sido feito em
épocas anteriores. O erro da construção das Pirâmides acabou com
o Egito; o erro da Guerra do Peloponeso, após ter-se desfeíta a Liga
de Delos, acabou com a Grécia; o erro, entre outros, de permitir
que loucos se fizessem imperadores em Roma, fê-la cair para
sempre. Nos últimos estertores de Roma, a guarda pretoriana
vendia o cargo de imperador, depois assassinava o ambicioso para
revender o cargo a outro idiota qualquer... "Gibbon descreve como o
senador Didius lulianus, cego pela ambição, gastou imensa fortuna
para comprar dos guardas pretorianos o cargo de imperador,
depois que aqueles acabavam de assassinar o ocupante
precedente. A história desenvolve-se rapidamente até o final
inevitável. O imperador recém-impossado mal teve tempo de comer
212
quer ver bem sua época, olhe-a de longe. A que distância? Muito
simples: à distância justa que o impeça ver o nariz de Cleópatra”. Um
exemplo disto, temos no século XVIII; toda a literatura dos
enciclopedistas, dos iluministas, orientou-se à derrubada da mo-
narquia, nobreza e clero. Ninguém reparou, então, que tudo não
passou de um grande equívoco, visto que o mal basilar permaneceu
incólume, intocado, e esse mal consiste em ser o homem filho da
vida... a qual se mostra egoísta e amoral, seguindo-se disto que onde
houver PODER há abuso. Como prova disto podemos apresentar três
casos:
I - Toda a fúria dos enciclopedistas contra a monarquia,
nobreza e clero redundou na queda temporária da monarquia e
nobreza..., temporária, porque tudo voltou ao que era dantes com
Napoleão, e a seguir deste. As cabeças do rei e da rainha caíram
aos golpes da guilhotina; depois das destes, rolaram também as
dos nobres, e, por fim, as dos próprios revolucionários. Mas, por
que não se guilhotinou um único padre? Por que a guilhotina não
decepou as cabeças dos bispos e dos cardeais? Porque a Igreja
era fonte da força que lhe vinha do próprio povo. E por que caíram
o rei e a nobreza? Porque o povo não os apoiou. Onde é, então,
que reside o mal? Pois o mal está no PODER, esteja ele nas mãos
de quem estiver, e apareça ele sob quaisquer das suas inúmeras
vestimentas. O poder sempre, sobretudo quando centralizado e por
isto mais forte, é perigoso..., e o perigo vem de o homem ter uma
ascendência animal, e, como filho que é da Natureza cega, egoísta
e amoral, ele tende a ser sempre um abusador do poder, mascare
este como quiser. O único caminho, pois não há outro, consiste
em o homem negar-se de animal, tornando-se sábio e santo, e só
nas mãos deste, poder-se-á pôr, sem perigo, as rédeas do governo.
Fora daqui, o poder precisa estar diluído entre muitos, e isto se
chama democracia. Democracia, logo, é o regime de máximo
esforço e mínimo rendimento; porém, dos males, este é o menor,
II - Quando, no século XIX, o Liberalismo dos revolucionários
franceses ficou vitorioso, o PODER que era antes da nobreza,
passou-se para a burguesia, e os industriais burgueses fizeram tanto
mal aos operários miseráveis, quanto os nobres e o rei ao povo de
França. O PODER deslocou-se apenas de umas para outras mãos;
porém, como os homens são sempre os mesmos, isto é, filhos
duma... Vida, duma Natureza egoísta e amoral, o efeito pernicioso
215
* * *
223
ENUNCIADO SEXTO
ENUNCIADO SÉTIMO
"Meu pai e o pai de meu pai, antes de mim, abriram aqui as suas
tendas... Há doze séculos que os verdadeiros crentes - Deus seja louvado,
só eles possuem a verdadeira sabedoria - se estabeleceram neste país,
e nenhum deles ouviu jamais falar em palácios subterrâneos, nem
tampouco os que os precederam. Então, eis que aparece um franco de
um país afastado muitos dias de viagem, vai diretamente ao lugar, pega
dum bastão e traça uma linha para cá, uma linha para lá: “Aqui", diz ele,
"está o palácio; e lá, diz ele, "está o portão"; e mostra-nos o que
durante toda a nossa vida esteve sob os nossos pés, sem que nada
soubéssemos. Maravilhoso! Maravilhoso! Aprendes isso pelos livros, por
artes mágicas ou pelos vossos profetas? Di-lo, ó Bei! Diz-me o segredo da
sabedoria !”...
ENUNCIADO OITAVO
ENUNCIADO UNDÉCIMO
ENUNCIADO DUODÉCIMO
A→C→Ω
A=Ω
FIM
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